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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAI

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAI · No que tange a Angola, o local se tornou um satélite do processo industrial português, ou seja, uma base fornecedora para a

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAI

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LISTA DE SIGLAS

AGNU - Assembleia Geral das Nações Unidas

CIA – Central Intelligence Agency

FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola

MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola

ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte

SADF - Força de Defesa da África do Sul

UNITA - União Nacional para a Independência de Angola

URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO DA MESA ................................................................................................ 4

2. APRESENTAÇÃO DO TEMA ................................................................................................ 5

2.1 A colonização portuguesa ....................................................................................................... 6

2.2 Os grupos insurgentes e o início da guerra civil ...................................................................11

2.3 A internacionalização do conflito ..........................................................................................15

2.3.1 A dinâmica regional .........................................................................................................16

2.3.2 A internacionalização do conflito: o contexto da Guerra Fria ...........................................17

2.4 A década de 1980 ...................................................................................................................20

2.5 Tentativas de resolução do conflito .......................................................................................21

2.5.1 Resolução 435 ..................................................................................................................23

2.5.2 Acordos de Lusaka............................................................................................................24

3. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ ..............................................................................................24

4. POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES ................................................................25

4.1 Bloco capitalista .....................................................................................................................25

4.2 República Federativa do Brasil .............................................................................................26

4.3 Bloco Socialista ......................................................................................................................26

4.4 República Popular da China .................................................................................................26

5. QUESTÕES RELEVANTES ACERCA DO DEBATE .............................................................27

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................28

TABELA DE DEMANDA DE REPRESENTAÇÕES ...................................................................30

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1. APRESENTAÇÃO DA MESA

Karoline Victoria Sousa Tübben – Diretora

Meu nome é Karoline Victoria, tenho 21 anos e curso o sétimo período do curso de

Relações Internacionais. A educação tem um papel muito importante na minha vida desde antes

mesmo de eu nascer, venho de uma família de imigrantes e sempre me ensinaram que a única

coisa que ninguém pode tirar de nós é o conhecimento que adquirimos durante a vida. Assim,

eu cresci gostando muito de estudar e escrever, fui uma estudante apaixonada por história e que

sonhava em ser professora. Hoje escrevo minha monografia sobre educação no continente

africano e tenho o privilégio de ser diretora desse comitê.

Minha história no MINIONU começa em 2015, quando, no segundo ano do ensino

médio, eu representei a Colômbia na Convenção de Banimento das Minas Anti-Pessoais

(APMBC 2024). Mesmo falando somente três vezes nos três dias de simulação, eu saí da PUC

certa de que eu queria cursar Relações Internacionais e que aquela não seria minha última vez

no projeto. Dois anos depois eu fui voluntária da Conferência de Berlim, em 2018, diretora

assistente do Conselho de Paz e Segurança da União Africana (CPSUA-CSNU 2017) e, por

fim, em 2019 diretora assistente do Tribunal Penal para a ex-Iugoslávia (TPII 2001).

Como é possível perceber, a maioria das minhas participações no MINIONU foram

relacionadas ao continente africano, abordando minas terrestres, o processo colonial e missões

de paz. Cada uma dessas experiências, aliada à minha trajetória acadêmica, me fez apaixonar-

me por esse continente tão subestimado e ao mesmo tempo rico em história e cultura. Dessa

forma, meu intuito com esse comitê é que as senhoras e senhores delegados possam conhecer

mais sobre a África, desconstruam estereótipos e ouçam o que o Sul global tem a dizer para

além daquilo que os colonizadores construíram sobre ele.

Guilherme Nogueira de Oliveira – Diretor Assistente

Olá senhoras e senhores delegados, me chamo Guilherme Oliveira, nascido e criado em

Belo Horizonte, e estou cursando o 3° período de Relações Internacionais. Comecei minha

história com o MINIONU em 2017 quando deleguei na Corte Internacional de Justiça: Irã

versus Estados Unidos, representando um juiz russo, e dois anos depois participei como

voluntário nas Cúpulas de Presidentes Sul-americanos (2000-2004). Agradeço a oportunidade

de participar deste comitê e estou ansioso para os dias de simulação, espero que seja uma ótima

experiência para todos.

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Luís Henrique Batista Dias – Diretor Assistente

Meu nome é Luís Henrique Dias, curso Relações Internacionais na PUC-MG,

atualmente no 2° Período e serei diretor assistente da AGNU (1988). Eu nasci e cresci em Belo

Horizonte, estudei em escolas públicas da zona noroeste da cidade até conseguir ser aprovado

através do PROUNI na PUC, onde dei meu primeiro passo em direção ao sonho de ingressar

na carreira diplomática. Meu primeiro contato com o MINIONU foi ano passado quando

compus o comitê Organização dos Estados Americanos (2019) como voluntário. Dentre as

várias coisas que me cativaram no projeto, uma em especial foi ver alunos do interior do Pará

que viajaram 3 dias para o evento, além da grande quantidade de alunos de escola pública que

integravam o comitê. Espero que o MINIONU faça tanta diferença na vida das senhoras e

senhores delegados quanto fez na minha. Mal posso esperar para conhecê-los

2. APRESENTAÇÃO DO TEMA

Esta seção traçará um panorama do conflito angolano, desde seus antecedentes no

período colonial português até sua internacionalização no cenário bipolar. Assim, seus

subtópicos abordarão respectivamente: a retirada das forças portuguesas do território angolano

e seu impacto para a eclosão da guerra civil, uma apresentação dos grupos insurgentes que

disputam o poder, as consequências regionais e como esse conflito africano se tornou uma proxy

war1 da Guerra Fria. Desse modo, será possível explicitar a complexidade e gravidade do

conflito que marcou gerações, como demonstra o trecho abaixo.

A guerra, todas as guerras que foram muitas e todos os seus senhores que são afinal

poucos, roubaram tudo aos angolanos – roubam hoje, agora, e quando não estão a roubar conspiram o assalto seguinte. Tudo. Não apenas os diamantes, o petróleo, as

pernas, as casas e as lavras, o fogo e a liberdade, a vida e as sementes, a esperança e

os filhos, a normalidade, os bens, a dignidade [...]. A guerra roubou-lhes o futuro,

porque há um ponto [...] onde a destruição é tão completa, última e íntima que

imobiliza o tempo [...]. A guerra roubou-lhes o presente porque, depois de 30 anos, a

maior parte dos angolanos nunca conheceu outro quotidiano que não o dos combates,

fugas, sangue e lutos, medo, detonações, perdas e abusos. Roubou-lhes também o

passado, porque os que não morreram já não têm memória onde tudo começou ou, se

a memória lhes sobrevive, está turva de vergonha [...]. Não é poesia. É tragédia.

(MENDES apud PERSICI, 2010, p.7).

Portanto, o intento por trás desta seção é descrever o conflito, explicando suas causas e

desdobramentos tendo em vista o contexto inserido, de modo que se torne possível a

1 O fenômeno denominado Proxy Wars ou guerras substitutas, consiste na materialização do conflito ideológico

entre os Estados Unidos e a URSS em outros países tendo em vista a impossibilidade de um enfrentamento entre

as superpotências (CARVALHO, 2015).

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compreensão da complexidade que circunscreve a guerra civil, bem como sua violência

avassaladora.

2.1 A colonização portuguesa

A presença de Portugal no território hoje conhecido como Angola teve início em 1482,

quando o português Diogo Cão chega ao Reino do Congo, porém se intensifica enormemente a

partir de 1836, após a declaração de independência brasileira anos antes. Essa grande perda ao

poder colonial português, alterou o prisma de interesses da metrópole, intensificando

enormemente suas atividades exploratórias na África, visto que o Brasil era sua colônia mais

lucrativa. Nesse contexto, Angola, território de origem da maioria dos escravos levados para o

Brasil, se destacava para Portugal devido à sua importância geoestratégica. (WHEELER,

PÉLISSIER, 2009). Além disso, nas últimas décadas do século XIX, o império português

fortalece ainda mais sua presença na África devido ao medo de perder outros territórios após a

Conferência de Berlim (1884-1885) que, ao centralizar suas negociações na bacia do rio Congo,

onde se localizava Angola, acabou por aumentar a competição europeia, em especial por parte

do Reino Unido, pelo domínio dessa região majoritariamente controlada por Portugal. O

ultimato britânico foi um advento marcante nesse processo de corrida expansionista europeia,

tendo em vista que exigia a saída portuguesa dos territórios de Zâmbia e Zimbábue, que faziam

parte do plano imperialista lusitano chamado de Mapa Rosa, simbolizando um estremecimento

das relações anglo-lusitanas (PINTO, 2015).

O continente africano como um todo tem sua história marcada pela colonização, e

Angola não se difere desse padrão. Os séculos de domínio português moldaram o presente e o

futuro do país e de seus cidadãos em todos os seus aspectos simbólicos, sociais, culturais e

econômicos, como demonstrado pelo excerto abaixo.

Da escravidão ao trabalho forçado, da ausência de liberdade e de direitos políticos,

sociais e econômicos aos massacres, a história colonial angolana está marcada pelo

selo da barbárie e dos abusos cometidos pelo Estado colonial, pelos colonos e por

forças políticas angolanas. (SANTOS, 2001, p. 108).

Assim, é importante salientar algumas características do modelo colonial português,

pois esse se diferencia das outras formas de dominação europeias. O trabalho forçado é um

aspecto que se destaca pelo seu uso exacerbado nas colônias portuguesas em comparação às

demais, além disso, a forma como esse se dava era deveras peculiar: por meio de contratos que

sujeitavam, nas entrelinhas, todos os cidadãos masculinos ao trabalho compulsório. A diferença

entre a escravidão e o trabalho forçado se dava no tratamento ao indivíduo, que, quando

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comprado e tornado escravo era mantido vivo por seu proprietário, ao passo que, quando

‘contratado’, não havia preocupação com sua sobrevivência, como é percebido pelo trecho

abaixo.

Ao patrão pouco se importava que ele caísse doente ou morresse, desde que

trabalhasse duro enquanto vivesse [...] Quando um trabalhador ficava incapacitado de

trabalhar, tudo que o patrão tinha a fazer era pedir que lhe fornecessem outro

trabalhador [...] Só os mortos estavam realmente isentos do trabalho forçado.

(ANDERSON apud PINTO, 2014, p.138).

Entretanto, os eventos do começo do século XX em solo português, como a proclamação

da república em 1910 e o golpe de 1926, se tornaram a base para a construção do autoritarismo

de Antônio Salazar, institucionalizado na constituição de 1933. O discurso colonizador se

mostrou fundamental para o nacionalismo salazarista2 ao consolidar o imaginário social de que

as colônias representavam uma prova física da grandiosidade do império português, tornando-

se uma parte crucial do saudosismo e conservadorismo, aspectos estruturantes do regime de

Salazar (GUIMARÃES, 1992).

A crise econômica mundial da década de 1930 foi de suma importância para a mudança

de postura do governo português de integrar as colônias com a metrópole de forma que a

primeira se tornasse dependente da segunda. Assim, o regime de Salazar buscou, até os anos

1950, reduzir o máximo possível a autonomia econômica das colônias, por meio da introdução

de indústrias monopolistas nesses territórios, bem como a imposição de monoculturas, com

destaque ao algodão, cuja produção foi multiplicada 46 vezes desde a posse de Antônio Salazar.

Desse modo, os “territórios ultramarinos” portugueses se tornaram o núcleo do setor de

exportações do país, centralizado nas matérias primas fornecidas pelas colônias. No que tange

a Angola, o local se tornou um satélite do processo industrial português, ou seja, uma base

fornecedora para a economia colonial, o que dificultou o desenvolvimento de uma indústria

nacional angolana (MENEZES, 2000).

Se faz necessário salientar que, como destacado anteriormente, Angola recebia um lugar

central na política colonial portuguesa, em especial por sua escala territorial, que a tornava um

destino ideal para exportação de produtos lusitanos. Além disso, abundância de recursos

naturais, como diamantes e petróleo, é um aspecto substancial para a importância dada por

Portugal a Angola. A região de Cabinda é caracterizada por sua predominância de petróleo, o

2 O salazarismo foi uma ditadura de extrema direita que regeu Portugal por mais de quatro décadas (1933-1974),

se aproximando do fascismo italiano e alemão devido aos seus aspectos corporativistas e paternalistas. Além

disso, o regime autoritário português foi caracterizado por sua proximidade com a Igreja Católica e seu

monopartidarismo (LOPES, 2017).

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que atraiu múltiplas empresas internacionais que exploram o local desde o fim da década de

1950, além disso, o nordeste do país se mostra rico em minérios como diamantes e ouro

(MENEZES, 2000).

Portanto, é possível perceber que o colonialismo português trouxe diversas

consequências para Angola, em especial devido a imposição de seu modelo econômico

incompatível com as estruturas tradicionais da sociedade local. Assim, a relação colônia-

metrópole se baseou na exploração de fazendeiros, em especial durante o crescimento

exponencial da economia angolana baseada no café, o que impactou nas questões étnicas

regionais. Esse fato é exemplificado pela visão que os Bakongo e Mbundo construíram dos

Ovimbundo, população localizada no centro-sul do território, que eram em sua maioria

contratados pelo governo português em detrimento de seus rivais do Norte, fazendo com que

os últimos fossem vistos como favorecidos pelo colonialismo (GUIMARÃES, 1992). Essa

esfera étnica se mostra de extrema relevância para o continente africano como um todo, e,

portanto, elementar para a compreensão do conflito angolano – o que será explicado nas seções

abaixo – assim, o Quadro 1 apresenta o percentual da população referente a cada uma das etnias

mencionadas, e o mapa abaixo ilustra a distribuição geográfica das principais etnias angolanas.

É necessário salientar que os dados não são do ano de 1988, quando ocorre a reunião do comitê,

tendo em vista a dificuldade de se obter essas percentagens.

Quadro 1 – etnias angolanas

GRUPO LOCALIZAÇÃO LÍNGUA PROPORÇÃO

POPULACIONAL

COLONIZAÇÃO

Ovimbundo Parte ocidental e

regiões centro-sul

Umbundo 36% Se miscigenaram

mais com os

colonos em

comparação com

os demais.

Mbundo Regiões costeiras,

norte do rio Dande

e nordeste do país

Kimbundo 20% Pioneiro na

assimilação da

língua colonial e

destaque na

resistência

colonial.

Bakongo Província de

Cabinda, rio Congo

e a região Norte

Kikongo 15% Maior número de

escravos enviados

para o Brasil no

período colonial.

Fonte: Elaborado por Karoline Tübben adaptado de Menezes (1999)

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Figura 1 – Mapa político Angola

Fonte: Colaboração com o Departamento de Geografia da PUC Minas (2020).

É de suma importância compreender que houve diversas formas de resistência ao

domínio europeu desde sua chegada ao continente, variando da luta armada até esforços

diplomáticos como tentativa de preservar sua sobrevivência perante as invasões europeias

(LOPES, ARNAUT, 2008). Em relação aos esforços de libertação angolanos, esses tiveram

início com a lendária rainha Njinga no século XVII, conhecida como a Cleópatra angolana, essa

monarca é uma parte marcante do arcabouço cultura do país, tendo governado as ilhas do rio

Kuanza, lutado para retirar algumas delas do domínio lusitano e regido um exército fortalecido

de escravos fugidos da exploração colonial. (PINTO, 2015). Contudo, demonstraram maior

êxito a partir da década de 1960, isso se deve, principalmente, ao contexto doméstico português.

Dessa forma, os eventos que ocorreram em 1961, em sua maioria organizados pelo MPLA,

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como a invasão de alguns presídios da capital, Luanda, para libertar presos do governo

português, bem como a Revolta do Algodão e a Insurreição do Congo, foram marcos para a luta

independentista de Angola:

O ano de 1961 foi o ajuste de contas em Angola [...]. Despertaria os portugueses de

sua letargia e dos seus sonhos, acordaria as esperanças não concretizadas dos africanos

e daria a conhecer os horrores da guerra e da repressão [...]. Para os portugueses

marcou o final da tranquilidade colonial; para os africanos, o início de uma provação.

Para todos foi o ano do terror. (WHEELER, PÉLISSIER, 2009, p.249).

O início da luta anticolonial, portanto, foi caracterizado por muita violência, em especial

diversos massacres contra os brancos fazendeiros concentrados nas regiões norte e nordeste e

envolvendo os Mbundo e os Bakongo, em contraposição aos Ovimbundo que, em grande parte,

protegeram os colonos. A reação portuguesa foi de menor porte tendo em vista que sua presença

já se via enfraquecida em termos militares, de modo que o período da década de 1960 não foi

marcado por grandes confrontos envolvendo as forças armadas da metrópole. Tendo em vista

a carnificina perpetrada entre os movimentos e por Portugal, que acentuada pelos recursos

armados precários da resistência angolana, os civis, negros e brancos, aterrorizados recorreram

ao refúgio das forças de Portugal. Contudo, o auxílio das autoridades coloniais era apenas

oferecido àqueles que se sujeitassem a permanecer “primitivos”, ou seja, não se adaptassem aos

modos de vida ocidentais, recusando auxílio aos que eram considerados “semi ocidentalizados”,

em especial por terem tido acesso à educação europeia. Portanto, esse período foi caracterizado

por uma guerra de guerrilha fundamentada nas divisões étnicas locais que resultou em

deslocamentos em massa em todo o território angolano (WHEELER, PÉLISSIER, 2009).

O ano de 1974 marca o fim de mais de quatro séculos de domínio europeu sobre Angola.

Portugal sofre um golpe militar, a Revolução dos Cravos, que põe fim ao regime salazarista de

quatro décadas e resulta na retirada abrupta das forças portuguesas do território angolano dando

fim desorganizadamente a cerca de 500 anos do colonialismo em Angola. Desse modo, a

transição de poder caótica gerou um vácuo de poder no novo governo angolano e uma mudança

brusca na balança de poder da região. Apenas um ano depois da saída de Portugal da região foi

assinado o Acordo de Alvor (1975) que formaliza a independência3 em janeiro desse ano

negociada de Angola e arquiteta um governo provisório composto por representantes de todos

os grupos nacionalistas que se mostravam proeminentes desde a década de 1950 (PERSICI,

2010).

3 É necessário salientar a escolha conceitual do termo independência em detrimento de descolonização, isso se dá,

pois, esse segundo implica uma concessão da liberdade por parte da metrópole, e consequentemente, um

protagonismo das potências colonizadoras nesses processos (PINTO, 2015).

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O acordo assinado entre os três movimentos insurgentes, Movimento Popular pela

Libertação de Angola, Frente Nacional de Libertação de Angola e União Nacional pela

Independência Total de Angola, os reconheceu como representantes do povo, reafirmou a

permanência das fronteiras como determinado pelos portugueses no período colonial, e

estabeleceu um governo de transição. Essa governança provisória era composta por

representantes dos grupos e chefiada por uma autoridade militar portuguesa. Contudo, para os

movimentos de libertação, o documento não representou um avanço para a paz no novo país,

mas somente o fim das interferências diretas de Portugal nos assuntos africanos de modo que a

nova liderança angolana fosse decidida entre seus nacionais (PINTO, 2015).

Entretanto, o Acordo de Alvor não foi efetivo, tendo em vista que os movimentos não

cessaram o uso da violência, mas intensificaram a disputa pelo controle do poder, culminando

na marcante batalha de Kifagondo, em novembro de 1975. Essa região se mostrava

determinante para o controle da capital Luanda, e consequentemente para a proclamação da

independência, além de nela se localizar a principal fonte de abastecimento de água do país.

Ainda, é importante ressaltar que a intolerância por parte dos membros dos grupos insurgentes

aumentou de forma significativa, assim como as tensões entre as diferentes etnias da sociedade

angolana, pelo fato de que o território se viu dividido em zonas de influência de acordo com a

origem do líder do movimento que se localizava em cada uma dessas regiões (FRANCISCO,

2013).

2.2 Os grupos insurgentes e o início da guerra civil

De modo a compreender as origens do nacionalismo angolano, é necessário relembrar

seu passado colonial, que fundamentou os pontos centrais do movimento, em especial a violenta

repressão portuguesa no que tange a qualquer expressão política do povo. Ademais, o governo

salazarista foi marcado por seu autoritarismo, não só no âmbito doméstico, mas esse tratamento

se estendia para as colônias. A década de 1960, em especial, foi marcada pelo aumento da

violência governamental devido à maior presença militar – foram deslocados, no começo do

período, 22 mil membros do exército, o que levou os grupos insurgentes a fazerem uso de

métodos de guerrilha. Ainda, é necessário pontuar que essa década é deveras representativa

para a luta anticolonial subsaariana, tendo em vista que somente 3 países eram independentes

na região até 1959, e no fim desse período 17 países se livraram do domínio colonial

(GUIMARÃES, 1992).

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Além disso, a parcela mestiça da população se mostrou de extrema relevância para o

nascimento da luta anticolonial angolana. Esse povo, chamado dessa forma por serem os filhos

de relações inter-raciais, possuía maior status no processo de colonização, o que implicou em

sua presença na administração angolana, e no uso desses indivíduos como intermediários

culturais e políticos entre os colonizados e os colonizadores. Contudo, o elemento de destaque

dessa fração populacional é seu acesso à educação, o que, associado à sua posição de elite,

possibilitou que tivessem maior expressão política. Essa liberdade política fez com que esse

grupo, quando viu seu status ameaçado com a imigração branca, protestasse contra a metrópole.

Além disso, em Portugal, havia grupos anticoloniais que visavam confrontar o regime colonial

em seu interior, de forma que ampliaram o contato angolano com o governo e permitiram um

fluxo de ideias entre a Europa e a África, o que fez com que a colônia passasse a ser vista como

vítima (GUIMARÃES, 1992).

Para além das etnias, uma dinâmica explorada na seção anterior, a temática racial se

mostrou importante para a eminência do nacionalismo angolano, e consequentemente, um

tópico que influenciou no desenvolvimento das resistências anticoloniais. O elemento da

crioulidade4 é um fator necessário para se compreender a guerra civil angolana, sendo que os

crioulos se diferenciavam dos africanos nativos e dos europeus, eram o fruto da miscigenação

desses. A distribuição desses grupos pelo país se diferenciava de acordo com a cor, de forma

que as famílias crioulas predominantemente negras se localizavam nas áreas rurais ao passo

que as majoritariamente brancas eram encontradas nas regiões urbanas. Essas famílias crioulas

costumavam ocupar altos cargos na administração pública e no comércio colonial, o que não se

dava por vontade do Estado português, mas sim pela extrema necessidade que o obrigou, por

exemplo, a aceitar deportados para funções governamentais. Os crioulos, portanto, foram

significativos para os movimentos de contestação colonial angolanos, se autodenominando

filhos de Angola (BITTENCOURT, 1999).

A partir de 1950 surgem diferentes movimentos nacionalistas, que se assemelhavam em

seu desejo de acabar com o colonialismo português e ter Angola governada por angolanos.

Primeiramente, é fundado, por jovens intelectuais angolanos e com apoio do Partido Comunista

Português, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cujas bases eram o

4 É necessário salientar que o conceito de crioulo no contexto angolano possui implicações diferentes do que no

Brasil. Em angola, o termo se refere os indivíduos miscigenados que assimilavam valores europeus, sem perder a

cultura nativa, de modo que se diferenciavam dos outros indivíduos, sendo esses chamados pelos colonizadores

de gentios. Ainda, devido ao fato que eram descendentes de portugueses, os crioulos compunham a elite intelectual

de Angola, e ocupavam os espaços urbanos e administrativos do país. No entanto, a questão biológica não era o

mais relevante nessa divisão entre grupos. (NASCIMENTO, 2011).

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nacionalismo e o marxismo como forma de combate ao colonialismo. É preciso pontuar que a

promoção do pensamento marxista se deu por meio dos mestiços citados anteriormente, de

modo que essa parcela da população era maioria no interior do MPLA. O que difere os

movimentos de libertação nacional de cunho marxista defendidos pelo grupo e as lutas

anticoloniais nacionalistas é a expansão do conceito de independência, que, de acordo com os

nacionalismos marxistas, deveria perpassar a esfera econômica, tendo em vista que somente

com o fim da dependência econômica o colonialismo seria de fato erradicado (GUIMARÃES,

1992).

Ainda o MPLA representava os Mbundo, grupo étnico angolano predominante no Norte,

que contabilizava, até a década de 1960, mais de 700 mil indivíduos. Em sua busca pela

autodeterminação5 angolana, o movimento, que se definia revolucionário, se aproxima da

experiência maoísta chinesa e faz uso do marxismo para atrair a classe trabalhadora do campo

e o povo mestiço, tendo em vista que o movimento era centralizado nas regiões urbanas do país.

Além disso, para tornar-se mais atrativo, o MPLA colocava a luta de classes como uma questão

acima das disputas étnicas e raciais angolanas, de modo a unir todos os cidadãos em torno de

uma causa comum (GUIMARÃES, 1992). No fim do ano de 1962, foi realizada a Primeira

Conferência do MPLA, que tinha como intuito consolidar sua unidade como movimento político

e reafirmar seus princípios que incluíam:

Reforçar as alianças africanas com os movimentos nacionalistas dos países que lutam

pela sua independência e em particular com o centro e sul de África, [...]

internacionalizar o problema angolano pela redução do campo dos inimigos, levando

a um maior isolacionismo de Portugal na cena política mundial, participar nas

organizações do boicote político, diplomático e econômico contra este país pelo maior

número possível de governos dos Estados membros da ONU. (FRANCISCO, 2013,

p. 37).

A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), predominante no Norte, é criada

seis anos depois, em 1962, no Zaire, como uma junção de grupos de refugiados e da União das

Populações de Angola (UPA). A relação entre o movimento e o país vizinho de Angola, que

abrigava aproximadamente 60 outros grupos nacionalistas angolanos, é o elemento que o

destaca quando comparado com os outros, uma vez que a FNLA representava o povo Bakongo,

também presente no Zaire (GUIMARÃES, 1992). Ademais, o movimento compartilhava do

desejo de libertar o povo angolano do colonialismo português, através do nacionalismo

5 O princípio de autodeterminação dos povos consiste no direito reconhecido internacionalmente de uma sociedade

de decidir sobre seu futuro político, econômico e/ou cultural. A essência desse direito se dá na possibilidade de

escolha sem interferir em sua existência ou em qualquer outro direito. A reivindicação desse direito por parte de

colônias se dá na exigência de suas independências frente à metrópole (UNREPRESENTED NATIONS AND

PEOPLES ORGANIZATION, 2017).

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africano, mas inovou ao adicionar ao seu espectro ideológico o anticomunismo. Semanas após

a fundação da FNLA, Holden Roberto, presidente do grupo, se auto declara chefe do Governo

Revolucionário de Angola no Exílio, localizado no Congo. Com essa iniciativa, Roberto teve

como objetivo se projetar nacional e internacionalmente como líder do nacionalismo angolano,

bem como buscar legitimidade perante ao povo (FRANCISCO, 2013).

Finalmente, a partir de divergências internas da FNLA, é criada a União Nacional para

a Independência de Angola (UNITA), em 1966, dez anos depois do surgimento de seu maior

rival, o MPLA. O movimento surge completando lacunas étnicas e geográficas deixadas pelos

outros grupos. A UNITA passa a representar o maior grupo étnico local, composto de quase 2

milhões de pessoas até a década de 1960, os Ovimbundos, que se localizavam no centro-sul do

país, onde nenhum outro movimento havia chegado. É deveras significativa a relação entre esse

grupo e os Ovimbundos, que se deu devido à origem de seu líder Jonas Savimbi, visto que esse

povo foi o único que cooperou com os colonizadores, portanto, a UNITA insere a maior etnia

da região na luta anticolonial. Além disso, esse movimento se destacava por suas inclinações

pacíficas. Por exemplo, após a retirada portuguesa de Angola, a UNITA demonstrou preferência

pela realização de eleições ao invés da guerra civil, opção priorizada pelo MPLA e FNLA

(GUIMARÃES, 1992).

No campo ideológico, tal qual a FNLA, a UNITA se auto declarava anticomunista,

contudo, se diferenciava pela adaptação de aspectos maoístas6, semelhante ao MPLA, à

realidade angolana, devido a sua localização periférica nas regiões rurais do país e, assim, seu

enfoque no campesinato. Sua relação com um país vizinho também é uma característica do

grupo de Savimbi que se assemelha ao FNLA: a proximidade com Zâmbia também foi

determinante para o desenvolvimento da UNITA. Lusaka, capital de Zâmbia, portanto, pode

ser identificada como a base operacional de Savimbi, que preparava seus guerrilheiros para

adentrarem o território angolano (GUIMARÃES, 1992).

6 O maoísmo é uma corrente ideológica predominantemente chinesa que se instaurou no país depois da Revolução

Chinesa de 1949, protagonizada por Mao Tsé Tung, e se internacionalizou a partir da década de 1960. Essa

vertente comunista é caracterizada majoritariamente pela base de apoio rural como um segundo poder que

representava as massas, além de considerar a luta armada como a única forma de conquista do poder por parte

do proletariado, sendo esse conflito estruturado pelo setor campesino (RUPAR, 2018).

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Quadro 1 – grupos insurgentes angolanos

GRUPO ETNIA

PREDOMINANTE

PRESENÇA

TERRITORIAL

BASE

IDEOLÓGICA

MPLA Mbundo Nordeste e centros

urbanos

Marxismo e

maoísmo

FNLA Bakongo Norte Anticomunismo

UNITA Ovimbundo Centro-sul e região

rural

Anticomunismo e

aplicação do

maoísmo

Fonte: Elaborado por Karoline Tübben adaptado de Guimarães (1992).

Como mencionado anteriormente, o Acordo de Alvor falhou, e em março de 1975,

Angola emergiu em um cenário de guerra civil, alterando a dinâmica dos movimentos de

independência, que deixaram de lutar pelo fim do domínio português e passaram a disputar

entre si pelo governo central. A violência em território angolano escalou rapidamente e em

junho o conflito já acumulava mais de 5 mil mortes. Além disso, a rivalidade entre os grupos

se intensificava, de modo que os cidadãos passaram a viver em um contínuo estado de ameaça,

devido ao fato de que aqueles que não declarassem apoio ao movimento que controlava sua

região eram violentamente punidos e perseguidos (PEARCE, 2012).

Nessa luta pelo poder, o MPLA se mostrava na liderança por se localizar nos centros

urbanos e, consequentemente, tomar a capital Luanda antes dos outros grupos, o que contribuiu

para sua legitimidade perante o povo. Portanto, de forma a consolidá-la nas áreas urbanas do

país, o MPLA lança campanhas para aumentar o envolvimento dos cidadãos com o partido.

Assim, o movimento estabelece um governo central forte e passa a ser visto pelo povo como

um governo defensor. Portanto, em novembro de 1975, dois meses após a anulação do Acordo

de Alvor, o MPLA declara a independência da República Popular de Angola (PEARCE, 2012).

2.3 A internacionalização do conflito

Essa seção buscará explicitar o processo de transbordamento do conflito para além das

fronteiras de Angola nos âmbitos regionais e transcontinentais. É notório que uma guerra das

proporções da guerra civil angolana não permaneceria confinada na esfera doméstica, sobretudo

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porque o sistema internacional é caracterizado pela interdependência, o que facilita o

entendimento das diversas intervenções estrangeiras que ocorreram ao longo do conflito.

2.3.1 A dinâmica regional

Tendo em vista a complexidade da guerra civil de Angola e a balança de poder7 do

sudoeste africano, é de fácil compreensão que o conflito tenha extrapolado o território angolano,

desde influências de Estados fronteiriços nos movimentos nacionalistas até intervenções diretas

sul-africanas no país (Operação Savannah). Portanto, o contexto regional do sul da África é

crucial para o entendimento da internacionalização da guerra civil de Angola, em especial, o

protagonismo da República da África do Sul e sua política externa expansionista. O regime de

Pretória dominava o território da Namíbia – antes colônia alemã – e orientava suas políticas

para uma hegemonia regional alinhada com o Ocidente, um posicionamento que ditou seu

posicionamento contrário aos movimentos anticoloniais marxistas (GUIMARÃES, 1992).

Dos países africanos, a África do Sul se destacou no que tange à participação no conflito

angolano, tanto nos aspectos políticos, quanto militares. Como já foi destacado acima, a

expulsão de Portugal de Angola alterou a dinâmica de poder favorecendo a África do Sul, dado

que esses Estados cooperavam de forma a se alinhar com o Ocidente e garantir a sobrevivência

da elite branca de regimes considerados extremistas. A África do Sul adentrou a guerra civil

angolana em oposição ao MPLA, e assim, a Força de Defesa da África do Sul (SADF) deu

início a sua primeira intervenção em território angolano, um curso de ação que se seguiu durante

décadas, variando a presença entre 4 mil soldados em cada operação (FOREIGN POLICY,

2015). Assim, as interferências sul africanas prosseguiram apoiando militarmente a coalizão

UNITA-FNLA durante todo o ano de 1975. A atuação de Pretória na guerra civil se intensificou

à medida que o conflito escalou, chegando a uma tentativa de tomar a capital, Luanda, sob o

controle socialista do MPLA. Ainda, a questão econômica se mostrou importante para o

posicionamento sul africano perante o conflito, tendo em vista que um governo não aliado à

África do Sul ameaçaria a órbita econômica petrolífera do país, ou seja, a existência de uma

aliança de países produtores de petróleo próxima do Estado sul-africano (GUIMARÃES, 1992).

O Zaire se destaca dentre os atores regionais da guerra civil de Angola, por ser o único

país africano, além da África do Sul, a enviar tropas ao território angolano. Também

demonstrando oposição ao MPLA, o Zaire adentrou o conflito aliando-se à FNLA, movimento

que surgiu como um governo em exílio baseado no Estado congolês. A associação entre o Zaire

7 A balança de poder regional é a distribuição de poder entre os Estados daquela localidade, caracterizada pela

competição entre os atores, o que constitui um empecilho para a conquista do poder regional (DINIZ, 2006).

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e a FNLA se deve à relação próxima entre seus líderes, além da dimensão étnica que

fundamentou essa aliança, tendo em vista que o grupo angolano representava o povo Bakongo,

presente em ambos países. Desde sua fundação, em 1962, até sua dissolução em 1975, a FNLA

contou com o apoio material e simbólico congolês, no entanto, a invasão do Zaire ao território

angolano se baseou em interesses independentes do movimento. Assim, o Estado congolês

visava que a ex-colônia portuguesa tivesse um novo governo aliado, que necessariamente, na

visão congolesa, não poderia ser de extrema esquerda. Ademais, o principal interesse que

guiava as ações do Zaire era a intenção de se tornar uma potência regional africana,

independente do apoio ao movimento (GUIMARÃES, 1992).

Como ressaltado anteriormente, o território angolano é caracterizado por riquezas

minerais, e a região separatista de Cabinda, localizada no norte do país entre Congo e Zaire, se

destaca por sua riqueza petrolífera e se tornou um fator importante na dimensão regional da

guerra civil. Ambos os países fronteiriços, Congo Brazaville e Zaire, tinham em suas agendas

o desejo de anexar a região controlada, em 1975, pelo MPLA. Em oposição ao grupo socialista,

o Zaire, que se via diretamente ligado à economia de Cabinda, passou a apoiar os movimentos

separatistas no território, de modo a aumentar sua influência na região.

2.3.2 A internacionalização do conflito: o contexto da Guerra Fria

O fim da Segunda Guerra Mundial significou um novo momento para a ordem

internacional, com a derrotado nazismo, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e

o início de uma configuração bipolar no sistema internacional. A Guerra Fria, portanto, se

configura como uma disputa ideológica entre os Estados Unidos da América e a União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que extrapola a dimensão ideológica simbólica em

outros territórios do sistema internacional (CARVALHO, 2015). Na dimensão regional sul

africana, essa divisão internacional entre o bloco socialista e o bloco capitalista pode ser

demonstrada pela postura do Congo Brazaville e do Zaire, que demonstraram apoio a essas

ideologias, transpondo-as para suas alianças no conflito angolano, o MPLA e a FNLA,

respectivamente (GUIMARÃES, 1992).

É necessário salientar que a erupção dos processos de independência africanos coincide

com o fenômeno da Guerra Fria. Dessa forma, em face da divisão bipolar do sistema

internacional e, consequentemente, da competição por influência entre os Estados Unidos e a

União Soviética, os novos países que surgiam na África se tornaram parte dessa disputa.

Portanto, o bloco capitalista composto pelas antigas potências colonizadoras, agora membros

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da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), lideradas pelos Estados Unidos e a

URSS, a frente dos membros do Pacto de Varsóvia, para além de outros Estados socialistas,

fizeram uso de estratégias de forma a garantir que essas ex-colônias se aliassem aos seus

respectivos blocos, incluindo desde a concessão de bolsas de estudos universitárias até a

intervenção direta nas guerras de independência (FRANCISCO, 2013).

Esse fenômeno é chamado de proxy wars, ou guerras substitutas, que são uma

materialização do conflito ideológico entre os Estados Unidos e a URSS em outros países, tendo

em vista a impossibilidade de um enfrentamento entre as superpotências (CARVALHO, 2015).

A principal característica dessas guerras substitutas é o intuito das potências de, com o apoio a

uma das partes do conflito, expandir, para além de sua zona de influência direta, seu poder sobre

aquele local e propagar sua ideologia. Desse modo, a guerra civil de Angola se mostra um caso

clássico de proxy war “onde cada uma das potências apoiou um dos movimentos nacionalistas,

com o objetivo de aumentar sua área de influência e espalhar a sua ideologia” (CARVALHO,

2015, p.5).

No que tange ao conflito angolano, é necessário perceber que as presenças

estadunidense e soviética se deram antes mesmo da declaração de independência pelo MPLA

em novembro de 1975, no entanto, se intensificaram no conturbado ano de 1961, em que

começaram as insurgências angolanas pelo fim do colonialismo português e após o Acordo de

Alvor (1975).

Em relação às interferências estadunidenses no conflito angolano – pela primeira vez

desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com Francisco (2013) – de modo a combater a

entrada do comunismo soviético no território, entretanto, outros fatores foram determinantes,

como sua importante aliança no continente com o Zaire e seu interesse na rica região de

Cabinda. A União Soviética também baseou sua presença em território angolano na disputa

ideológica com os Estados Unidos, além de partir de um discurso de que o capitalismo seria

uma continuação do colonialismo. Ademais, a rivalidade chinesa também orientou a

intervenção da URSS, de modo que o apoio ao MPLA se deu como uma forma de mitigar a

área de influência chinesa na África Austral (GUIMARÃES, 1992).

Anteriormente à declaração de independência angolana, os Estados Unidos mantiveram

uma relação amistosa com Portugal durante seu domínio africano, em especial devido ao

contexto da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em que ambos são membros,

o que representava uma aliança entre eles no que tange à segurança. Contudo, essa aliança se

estremeceu com a erupção dos processos de independência no continente, de modo que o

governo estadunidense passou a apoiar, primeiramente, a FNLA, financiando, por meio da CIA

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(Central Intelligence Agency), seus líderes e suas operações em solo angolano e em seguida a

UNITA, fortalecendo relações com esse grupo (GUIMARÃES, 1992).

Com a Revolução dos Cravos em Portugal, a interferência estadunidense se intensificou

ao ponto de os movimentos angolanos aliados receberem, por intermédio do Zaire, não só

armamentos, mas guerrilheiros e mercenários para combaterem o MPLA. Além disso, as

relações amistosas entre os Estados Unidos e a África do Sul, em especial o apoio americano

ao governo autoritário e racista sul africano, foram importantes para a presença estadunidense

no conflito, visto que cooperavam de forma a apoiar militarmente a UNITA (CORREIA, 2016).

Entretanto, o Congresso estadunidense no ano de 1976 aprovou, através da Emenda

Tunney, a proibição da interferência financeira e militar desse Estado na guerra civil angolana,

o que abriu espaço para o crescimento da influência do bloco socialista no território.

Finalmente, a década de 1980 e, consequentemente, a eleição de Ronald Reagan, alteraram o

prisma da presença estadunidense no conflito angolano, fortalecendo sua aliança com a UNITA,

que culminou em 1986 na doação de 125 milhões de dólares e armamentos sofisticados como

mísseis antitanques e antiaéreos (FRANCISCO, 2013).

Assim como os Estados Unidos, a URSS iniciou sua presença em solo angolano mais

de uma década antes da saída portuguesa do local em 1975, desenvolvendo uma aliança

exclusiva com o movimento comunista MPLA. Esse apoio foi marcado pelo discurso de Nikita

Khruschev em que afirmava que o apoio soviético às guerras de libertação nacional eram o

caminho da revolução comunista daquele período. Assim, o amparo soviético ao movimento

angolano na década de 1960 foi deveras significativo, 80% dos armamentos do MPLA eram

de origem socialista, além da concessão de treinamentos militares, bolsas de estudo e

financiamento de operações em solo africano, consolidando-se esse apoio em 54 milhões de

dólares até 1975 (GUIMARÃES, 1992).

Após a independência, o primeiro presidente da República Popular de Angola,

Agostinho Neto, líder do MPLA, contou com o apoio da URSS para consolidar o novo Estado,

o qual consistiu no envio de conselheiros para orientar o governo ideologicamente. Na década

de 1980, quando a corrida armamentista angolana é acelerada, a aliança entre o movimento

angolano e a União Soviética se intensifica, culminando no envio de 3 navios cargueiros com

equipamentos sofisticados para que o MPLA derrotasse a UNITA (FRANCISCO, 2019).

É necessário salientar o papel cubano na guerra civil, tendo em vista que, no cenário da

Guerra Fria, é o país que mais se destaca em número de forças militares presentes em solo

angolano. Até 1976, o MPLA contava com o apoio de mais de 20 mil homens cubanos,

contabilizando mais de 10 mil mortos em combate (LA TIMES, 1987). A intervenção cubana

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tem início em 1965, com o envio de armamentos e oferecimento de treinamentos aos

guerrilheiros do grupo esquerdista angolano e é baseada em um princípio determinante da

política externa cubana, o de solidariedade revolucionária (GUIMARÃES, 1992). A relação

entre o MPLA, partido do governo central angolano após 1975, e Cuba se intensificou com a

independência da república, culminando na fala de Fidel Castro, em 1986, no congresso cubano

em que afirmava que estava preparado para permanecer em Angola por quantas décadas fossem

necessárias (FRANCISCO, 2013).

2.4 A década de 1980

A década que sucede a declaração de independência da República Popular de Angola

(1975) marca uma nova fase para o conflito, com a morte de Agostinho Neto em 1979, e o

fortalecimento da UNITA, se tornando o principal oponente do MPLA em 1980. No começo

dessa década a fome avassala uma das regiões mais importantes da agricultura angolana,

atingindo aproximadamente 150 mil camponeses, contribuindo para a insatisfação desses com

o regime do MPLA. Ademais, a CIA inicia uma campanha a favor do líder da UNITA, Jonas

Savimbi, promovendo-o como a voz da liberdade africana, de modo a enfraquecer a imagem

do governo central angolano. A ação sul-africana, visando combater o regime de esquerda

angolano, se intensifica, em especial, na fronteira sul do país, onde estavam presentes mais de

45 mil soldados da SADF. Além disso, as forças sul-africanas promoveram ataques aos centros

industriais angolanos, atribuindo o reconhecimento desses à UNITA (FRANCISCO, 2013).

Em 1982, há uma mudança significativa no posicionamento dos EUA, que se

demonstram abertos a dialogar com o MPLA e cessar o apoio à UNITA, a partir do momento

em que o governo central angolano se comprometesse a retirar as forças cubanas do território.

No ano seguinte ocorre a Batalha de Cagamba, que se torna a mais sangrenta desde o início da

guerra civil e representa ganhos significativos para a UNITA, que passa a controlar um quarto

do território angolano. O marco dessa batalha aumenta também a presença socialista em

Angola, Cuba nesse ano passa a alocar mais de 40 mil soldados na região (FRANCISCO, 2013).

No ano de 1984, a aliança entre a África do Sul e a UNITA havia se intensificado a ponto de os

insurgentes se integrarem quase completamente a SADF. Isso se deu tendo em vista que,

durante a primeira metade da década, o país organizou, sobre o território angolano, 168

bombardeios, 234 ataques aéreos, 74 operações terrestres e 4 interferências marinhas

(BROOKE, 1987).

Até 1986, a UNITA vinha se fortalecendo enormemente com os crescentes bombardeios

a civis e áreas de importância econômica, ainda somando o aumento do apoio estadunidense,

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que possibilitou que o grupo operasse em solo angolano com mais de 60 mil homens. A escalada

do conflito passou a asfixiar a economia de Angola, já que o governo do MPLA priorizava a

defesa nacional e cortava verbas de outros setores como saúde e educação. Ainda, desde outubro

de 1987, ocorrem uma série de 23 enfrentamentos, que culminam na batalha de Cuito Cuanavale

em 1988, representando uma reviravolta na guerra civil com a vitória do governo central contra

a África do Sul (FRANCISCO, 2013). Portanto, a década termina somando mais de 25 mil

mortos,8 3.5 milhões de refugiados e deslocamentos forçados, além de aproximadamente 70 mil

civis feridos em consequência do uso de minas terrestres em combate (GLOBAL SECURITY,

2017).

2.5 Tentativas de resolução do conflito

Tendo em vista que o principal intuito do comitê é pôr fim à guerra civil, é necessário

compreender como se dá a resolução de conflitos e quais foram as tentativas significativas em

relação ao enfrentamento angolano. No entanto, quando se pensa em resoluções de conflitos no

continente africano, é necessário levar em consideração seu passado colonial, tendo em vista

que esse é o elemento chave da complexidade bélica da região, como é explicado pelo trecho

abaixo.

Os legados do colonialismo predispuseram grande parte da África para conflitos

violentos sobre a distribuição de recursos nas sociedades, acesso ao poder político e identidades políticas básicas. Legados como esse impulsionaram a criação de um

padrão de formação de Estado e classes no qual os líderes políticos africanos

dependiam do apoio externo de modo a premiar aliados internos e ignoravam as

necessidades de seus cidadãos. (STEDMAN, 1996 p. 236, tradução nossa)9.

Esse processo consiste “na situação social na qual as partes, num acordo voluntário,

resolvem conviver pacificamente ou dissolver suas incompatibilidades e assim cessar a

violência” (WALLENSTEEN, p. 50, 2015, tradução nossa)10. Um aspecto de extrema

relevância da resolução de conflitos é o reconhecimento de si mesmas pelas partes envolvidas,

o que significa que elas aceitam sua existência como agentes conflitantes. Caso isso não ocorra,

é pouco provável que um acordo seja desenvolvido. Conflitos intraestatais, como a guerra civil

de Angola, têm maior probabilidade de que um ator não reconheça a existência do outro, em

8 A quantidade de mortos do conflito é de difícil contabilização, de forma que há variação na literatura sobre isso.

Contudo, neste guia foi utilizado o número de Leitenberg (WORLD PEACE FOUNDATION, 2015). 9 “Legacies from colonialism predisposed much of Africa to violent conflicts over the distribuition of resources

in societies, access to political power, and basic political identities. Such legacies helped to create a pattern of

state and class formation in which African political leaders relied on external support to reward internal allies

and ignored the needs of their citizends.” 10 “A social situation where the armed parties in a (voluntary) agrément resolve to peacefully live with – and/or –

dissolve their basic incompatibilities and henceforth cease to use arms against one another.”

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especial quando estão envolvidos governos centrais e movimentos rebeldes. Ademais, de forma

que o acordo de paz seja efetivo, é necessário que as partes compreendam seu papel, ou seja,

aquele que teve suas demandas mais atendidas – o vencedor – deve aceitar as possibilidades de

o outro de não concordar com o resultado e reagir (WALLENSTEEN, 2015).

A priori, as partes envolvidas devem acordar os termos de solução do conflito, ou seja,

elas precisam negociar e se comprometer de modo a dar legitimidade ao acordo de paz. Apenas

assim será possível que o uso da violência tenha fim, e, por conseguinte, que as partes entrem

em um processo de desmilitarização. Dessa forma, o acordo é um instrumento chave da

resolução, uma vez que o cumprimento dele pelas partes possibilita um futuro em que essas

possam lidar com e/ou eliminar suas incompatibilidades. Além disso, no que tange a conflitos

intraestatais, o processo de resolução se torna mais complexo pois o enfrentamento se dá em

um mesmo território, criando o desafio de desenvolver uma estrutura social em que os grupos

envolvidos possam conviver pacificamente a partir de um compromisso entre suas demandas

políticas (WALLENSTEEN, 2015).

Quando se aborda a questão das guerras civis, definidas por Wallensteen (2015) como

uma disputa entre partes sobre o controle do poder e a máquina administrativa estatal, a

resolução de conflitos se torna mais complexa. Assim, o elemento desafiador desses conflitos

se encontra em como desenvolver um governo inclusivo para todas as partes e suas demandas,

resultado que, quando alcançado, se dá por meio de incansáveis negociações. O aspecto crucial

quando se busca o fim de uma guerra civil é a representação, ou seja, a possibilidade de que

todos os envolvidos sejam ouvidos na construção do novo governo. Desse modo, entende-se

que o acordo de paz precisa contemplar o máximo de desejos das partes possíveis, bem como

buscar resolver as mais profundas incompatibilidades de forma a não arriscar um retorno do

conflito (WALLENSTEEN, 2015).

Finalmente, o envolvimento internacional pode ser uma via de resolução do conflito

quando o impasse se mostra de difícil negociação, os enfrentamentos consequentemente

escalam e o local adentra uma espiral de violência. Esse mecanismo costuma ser utilizado na

retomada de um conflito após o fracasso de outras tentativas de paz, de forma que um mediador

é incorporado na situação. Contudo, é necessário salientar que a intervenção de terceiros é uma

via complexa a ser tomada, tendo em vista que um simples mediador de negociações costuma

se mostrar inútil, e um ator que media e interfere diretamente corre o risco de adentrar

inteiramente no conflito (RAMSBOTHAM, WOODHOUSE, MIALL, 2005).

O uso da mediação em uma guerra, portanto, é um mecanismo extremamente relevante

quando se debate a resolução de conflitos, em especial por inserir novos padrões de

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comunicação entre as partes com a intervenção de terceiros. Esses agentes, quando somente

mediam diálogo entre as partes conflitantes podem ser considerados inúteis, pois sua função se

resume a melhorar a comunicação, não há alteração de comportamento. Contudo, quando a

terceira parte se insere no processo de resolução para além da negociação, ou seja, incentivando

as partes à tomarem determinados cursos de ação (RAMSBOTHAM, WOODHOUSE, MIALL,

2005).

Entretanto, de forma a se solucionar um conflito é necessário compreender os conceitos

de elaborados por Johan Galtung (1968) de paz negativa e paz positiva. A primeira consiste na

simples ausência de violência, o intuito principal dos esforços de resolução de conflito, e a

segunda, se dá pela inexistência da violência estrutural que não possui um agente específico

que a propaga, podendo ser identificada na distribuição intencionalmente injusta de poder ou

recursos, por exemplo, é estabelecido após a elaboração de um acordo de paz efetivo que

possibilite uma reestruturação da sociedade em questão.

É necessário compreender as causas da violência no continente africano e as formas de

cessá-la, em especial devido ao fato de que, entre 1960 e 1980, ocorreram oito guerras civis;

entre 1960 e 1988, onze genocídios; e entre 1960 e 1985, sessenta e um golpes de estado na

região. Contudo, é fundamental ter em mente que os conflitos são apenas uma parte da história

rica, complexa e diversa do continente africano, e não se deve concluir que o caos econômico

e político define a África (STEDMAN, 1996).

2.5.1 Resolução 435

A Resolução 435 do Conselho de Segurança da ONU, elaborada em 1978, demandou o

fim do domínio sul-africano sobre a Namíbia e o reconhecimento do princípio de

autodeterminação dos povos para a sociedade namibiana. Quatro anos depois, a África do Sul,

demonstrando se inclinar a favor da resolução, exigiu a saída das forças cubanas do território

angolano, em troca da implementação da decisão do Conselho de Segurança, adotando assim

uma estratégia de linkage11 (FRANCISCO, 2013).

11 A ideia de linkage se viu presente em algumas iniciativas de resolução do conflito angolano e consiste na

associação de concessões, ou seja, uma parte cede caso a outra ceda algo de seu interesse, como é o caso da

exigência sul-africana do fim da presença cubana em Angola em troca do fim de seu domínio no território da

Namíbia (FRANCISCO, 2013).

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2.5.2 Acordos de Lusaka

No ano de 1984, as relações entre Estados Unidos e o MPLA progrediram rumo a

negociações que culminaram nos Acordos de Lusaka entre Angola e África do Sul, com a

mediação da potência capitalista. O documento, que foi uma tentativa de cessar fogo entre as

partes sem abordar a presença militar cubana, estabelecia a retirada das tropas da SADF do

território angolano com a supervisão de uma comissão. No entanto, o acordo se mostrou não

efetivo, uma vez que não incluía todas as partes envolvidas do conflito, além de ter sido

interpretado diferentemente por diversos atores. Desse modo, em menos de um ano o

documento foi violado 142 vezes (FRANCISCO, 2013).

3. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ

A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) é um fórum multilateral pertencente

ao Sistema ONU, criado em 1945 pela Carta de São Francisco, que se reúne anualmente em

setembro, ou em sessões extraordinárias como é o caso deste comitê. No que tange aos seus

assuntos cabíveis, a AGNU “poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz

e da segurança internacionais, que a ela forem submetidas por qualquer membro das Nações

Unidas, ou pelo Conselho de Segurança” (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

Ademais, é necessário ressaltar que a assembleia se baseia em um sistema de votos, em

que cada membro tem direito a um voto, de modo que todos estejam em uma posição de

equidade, ou seja, nenhum possui maior importância. Ainda, após a conclusão das discussões

realizadas nesse fórum, se for decidido por seus membros a necessidade de uma posição por

parte do CSNU, cabe à assembleia submeter essa recomendação ao Conselho de Segurança.

Além disso, deve se ressaltar que as decisões da AGNU são de caráter recomendatório, de modo

que nenhum ator é obrigado a cumprir com elas (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

A Assembleia Geral poderá recomendar medidas para a solução pacífica de qualquer

situação, qualquer que seja sua origem, que lhe pareça prejudicial ao bem-estar geral

ou às relações amistosas entre as nações, inclusive em situações que resultem da

violação dos dispositivos da presente Carta que estabelecem os propósitos e princípios

das Nações Unidas. (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945, cap. V, art.14).

Dessa forma, o comitê consistirá na reunião de 38 delegações individuais, abrangendo

desde Estados membros da organização como: os Estados Unidos; a União Soviética; República

Popular de Angola; os grupos insurgentes, que deram início a luta armada como a UNITA e a

FNLA; e membros observadores da sociedade internacional, como a Organização da Unidade

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Africana e o Comitê Especial sobre a descolonização da ONU. É necessário ressaltar que as

delegações presentes na reunião representam a diversidade do sistema internacional, mas são

de maioria africana, tendo em vista a necessidade de que, após aproximadamente 500 anos de

colonização, o continente africano fale de forma autônoma sobre suas questões.

Portanto, essa reunião de urgência terá como objetivo debater diferentes perspectivas de

resolução de conflitos, de modo que possa ser elaborado um acordo de paz efetivo envolvendo

todas as partes para que a guerra civil angolana tenha fim. Nesse sentido, a conferência também

visa discutir a reestruturação governamental da República Popular de Angola, devido ao fato

de que seu sistema político e social vem sendo avassalado pelo conflito que, até o presente

momento, contabiliza mais de 25 mil mortos (WORLD PEACE FOUNDATION, 2015). Para

um debate efetivo desse aspecto, é necessário analisar as questões étnicas, territoriais e coloniais

da região, de forma que o novo Estado seja compatível com as especificidades angolanas,

incluindo os grupos insurgentes nesse modelo.

4. POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES

Nesta seção, serão abordados os posicionamentos das delegações com maior demanda

de pronunciamento, ou seja, aquelas centrais para o debate. Contudo, se faz necessário ressaltar

que o objetivo deste tópico é apresentar perspectivas diversas sobre o conflito em questão, de

forma que o posicionamento das delegações citadas abaixo não as torna mais importantes do

que qualquer outra presente no fórum. Assim, ressalta-se a posição dos Estados Unidos; África

do Sul; Zaire; União Soviética; Cuba; MPLA (representado pelo governo central de Angola);

FNLA e UNITA, divididos entre bloco capitalista, bloco socialista e grupos insurgentes,

respectivamente, tendo em mente o contexto internacional em que a guerra civil de Angola se

insere.

4.1 Bloco capitalista

Sob a liderança dos Estados Unidos da América, as intervenções do bloco capitalista no

conflito tinham como intuito impedir a consolidação da influência socialista na região. Ainda,

as ações desse bloco para com Angola eram orientadas por suas relações com Portugal, membro

da OTAN, e pela crença de que uma aliança com a antiga metrópole seria importante no

impedimento da expansão soviética na África. Dessa forma, os países capitalistas tinham

interesse no estabelecimento de um governo aliado na África, de forma que pudessem

permanecer com suas relações econômicas, em especial no que tange às reservas de petróleo

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angolanas. Portanto, alguns governos, em especial os Estados Unidos, passaram a fazer uso de

uma retórica de apoio ao princípio de autodeterminação dos povos, amparando-se nas

instituições internacionais (GUIMARÃES, 1992).

4.2 República Federativa do Brasil

Em um período de ditadura militar de extrema direita, o Brasil se alinha aos Estados

Unidos e compõe o bloco capitalista, contudo, é o primeiro país a reconhecer a República

Popular de Angola pelo MPLA, o que pode parecer contraditório tendo em vista o governo

socialista angolano. Assim, é necessário salientar que as relações desses dois territórios são

orientadas por um compartilhamento de um passado colonial, em especial devido aos escravos

angolanos trazidos para o Brasil desde 1538. Desse modo, a densa ligação entre esses países

era fomentada principalmente pelas trocas comerciais dentro do império português, contudo, a

contribuição angolana para a matriz cultural brasileira é extensa, impactando desde o

vocabulário até religião. De 1860 a 1960, houve um processo de afastamento econômico entre

Brasil e Angola, contudo, Jânio Quadros reaproximou esses Estados com sua Política Externa

Independente, que abriu espaço para o retorno da conexão comercial entre eles no regime

militar (VISENTINI, 2015).

4.3 Bloco Socialista

Sob a liderança da União Soviética, a participação do bloco socialista na guerra civil

angolana se assemelha à do bloco capitalista, pois visava impedir a expansão da zona de

influência ocidental sobre os Estados descolonizados por meio do incentivo à implantação de

governos socialistas. Assim como o do bloco capitalista, os aliados do Kremlin buscavam

exportar sua ideologia de esquerda, baseando, portanto, sua política externa em uma espécie de

solidariedade revolucionária, como se destaca o caso de Cuba, que, face ao insucesso da

revolução no continente americano, via na África uma possibilidade (GUIMARÃES, 1992).

4.4 República Popular da China

Opondo-se ao Pacto de Varsóvia12, bem como contrapondo-se ao Ocidente, a China, em seu

único modelo político, também interveio diretamente na guerra civil de Angola a partir de seus

12 O Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua de Varsóvia é um acordo entre a URSS, Bulgária,

Tchecoslováquia, Hungria, Polônia e Alemanha Oriental que, em oposição à OTAN, estabelecia uma coordenação

militar entre os signatários (Britannica, 2020).

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próprios interesses. É necessário ressaltar uma peculiaridade chinesa em sua atuação no

conflito: o governo não demonstrou apoio a nenhum movimento de forma exclusiva, de forma

que pôde, assim como os Estados Unidos, construir a retórica de “apoio à luta anticolonial até

o ponto em que a unidade se atingisse sob a supervisão da OUA” (GUIMARÃES, 1992, p.436,

tradução nossa)13. Ainda, a decisão chinesa de interferir no conflito partiu da crença de que o

movimento de independência africano se assemelhava à trajetória do Partido Comunista

Chinês, tendo em vista seu histórico de luta contra o imperialismo ocidental (GUIMARÃES,

1992).

4.5 Grupos insurgentes

A formação de grupos insurgentes é um marco na luta anticolonial africana e, por isso,

“é importante reconhecer que os movimentos de liberação estão formando e não expressando a

consciência nacional” (LUCENA 1976 apud GUIMARÃES, 1992 p. 147, tradução nossa) 14, ou

seja, esses grupos representam uma mudança radical no modo de pensar e viver nesses

territórios em face à repressão colonial. Além disso, é necessário ressaltar que, no caso

angolano, os movimentos nacionais emergem, mesmo em um cenário de rivalidade étnica

acentuada pelo domínio colonial, com um objetivo em comum: dar fim ao controle português.

Dessa forma, quando as forças portuguesas se retiram do território, esses movimentos perdem

seu propósito inicial e suas disparidades culturais, históricas e ideológicas são evidenciadas de

modo que o conflito se escala devido à disputa pelo controle político e territorial de Angola

(GUIMARÃES, 1992).

5. QUESTÕES RELEVANTES ACERCA DO DEBATE

A guerra civil de Angola acumula mortes desde 1961, estimando-se 25 mil baixas em

aproximadamente três décadas, o que se deve fazer para dar fim ao conflito?

Em relação ao papel da sociedade internacional na resolução do conflito, deveria esse

recorte ser feito regionalmente, por parte da Organização da Unidade Africana, ou

mundialmente, por intermédio das Nações Unidas?

No que tange a reconstrução do Estado angolano, como esse pode ser organizado tendo

em vista o papel da UNITA e da FNLA no conflito e na composição étnica do país?

13 “[...] the anti-colonial struggle in general up to the point when unity was achieved between the movements under

the auspices of the OAU”. 14 “It is important to recognize that the liberation movements are forming rather than expressing a national

consciousness”.

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Como a República Popular de Angola e Cuba deverão proceder em relação à alta

quantidade de tropas cubanas presentes nesse território?

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2020.

TABELA DE DEMANDA DE REPRESENTAÇÕES

A tabela abaixo classifica cada uma das delegações presentes no comitê segundo o nível de

demanda de participação nas discussões. Nela estão presentes 25 delegações, desde as partes

diretamente envolvidas no conflito angolano até membros dos blocos que configuravam o

caráter bipolar do período, passando pelos Estados europeus colonizadores, vizinhos regionais,

membros observadores e ex-colônias. Todos incluídos no comitê são relevantes para o debate,

contribuindo com seus diversos pontos de vista, do Norte ao Sul, sendo Estados ou não.

Delegação Status

Comitê Especial de Descolonização Membro Observador

Estados Unidos da América Membro Oficial

FNLA – Frente Nacional de Libertação de

Angola Membro Observador

Namíbia Membro Observador

Reino do Marrocos Membro Oficial

Reino da Noruega Membro Oficial

Reino da Suécia Membro Oficial

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do

Norte Membro Oficial

República da África do Sul Membro Oficial

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República da Libéria Membro Oficial

República da Zâmbia Membro Oficial

República de Cabo Verde Membro Oficial

República de Cuba Membro Oficial

República Democrática Federal da Etiópia Membro Oficial

República do Zaire Membro Oficial

República do Zimbábue Membro Oficial

República Federal da Nigéria Membro Oficial

República Federativa do Brasil Membro Oficial

República Popular da China Membro Oficial

República Popular de Angola (MPLA) Membro Oficial

República Popular do Congo Membro Oficial

República Popular de Moçambique Membro Oficial

República Portuguesa Membro Oficial

OUA – Organização da Unidade Africana Membro Observador

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Membro Oficial

UNITA – União Nacional para a

Independência Total de Angola Membro Observador