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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Administração
Viviane Barreto de Azevedo Lamego
BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO:
um estudo de caso de projetos customizados internacionais de uma escola de negócios
Belo Horizonte
2015
Viviane Barreto de Azevedo Lamego
BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO:
um estudo de caso de projetos customizados internacionais de uma escola de negócios
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Administração da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito para obtenção do título de Mestra em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Fernando Loureiro
Rezende
Belo Horizonte
2015
Viviane Barreto de Azevedo Lamego
BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO:
um estudo de caso de projetos customizados internacionais de uma escola de negócios
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Administração da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito para obtenção do título de Mestra em
Administração.
Área de Concentração: Administração
___________________________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Sérgio F. L. Rezende (Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais/Fundação Dom Cabral)
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Vicente dos Santos Alves (Fundação Dom Cabral)
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Walter Marinho de Oliveira (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2015
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, professor Sérgio Rezende, por compartilhar tanto conhecimento
comigo. Agradeço pela disponibilidade, dedicação, empenho, persistência e apoio inesgotável
ao longo da elaboração desta dissertação.
Ao meu marido Alexandre, pela compreensão e pelo apoio para que este projeto se
tornasse realidade.
Às minhas filhas, Giovanna e Isabela, pela compreensão e companhia nas noites e
finais de semana de estudos.
Aos meus pais, José Maria e Terezinha, pelo incentivo e apoio, fazendo com que
minha ausência em momentos importantes na vida das minhas filhas fosse amenizada pela sua
presença.
Ao Roberto Sagot, pelo apoio, parceria, incentivo, e por me proporcionar tantas
oportunidades para o meu desenvolvimento.
À Direção da FDC, por apoiar essa iniciativa de desenvolvimento e por permitir e
facilitar o acesso às informações para a elaboração deste trabalho.
Aos meus amigos da FDC, agradeço o tempo e a generosidade durante as entrevistas e
por estarem sempre dispostos a sanar as minhas dúvidas.
Agradeço a Deus, por mais esta conquista.
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará a seu tamanho original.”
Albert Einstein
RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar as barreiras à internacionalização e analisar como
ocorre a sua evolução. Sobre a evolução das barreiras, a análise compreende entender se as
barreiras à internacionalização foram as mesmas ao longo do tempo ou se ocorreu alguma
alteração no período analisado. Para se alcançar esse objetivo, foi realizado um estudo de caso
de natureza qualitativa com perspectiva longitudinal, tendo como unidade de análise 17
projetos customizados internacionais de uma escola de negócios brasileira, compreendidos
entre o período de 2006 a 2015. A análise dos dados contemplou a identificação de barreiras à
internacionalização em cada um dos projetos selecionados. Dessa maneira, foi possível
verificar a presença ou não de cada barreira em cada ano analisado, assim como verificar a
sua recorrência. Os resultados demonstram que as barreiras à internacionalização identificadas
em projetos customizados internacionais foram idioma, rotinas para a internacionalização,
experiência internacional da equipe, adaptação internacional e concorrência internacional.
Sobre a evolução das barreiras, os resultados sugerem que, exceto a concorrência
internacional, todas as quatro se mantiveram ao longo do período de análise, tendo sido
registradas manifestações dessas barreiras de formas muito similares em períodos com
intervalo de até nove anos.
Palavras-chave: Internacionalização. Escolas de negócio. Barreiras.
ABSTRACT
The purpose of this study is to identify the barriers to internationalization and to analyze how
these barriers evolve. In terms of the evolution of barriers, the analysis comprises
understanding if the barriers to internationalization remained the same over time or if any
change happened within the observed period. In order to achieve this purpose, a qualitative
case study approach was used with a longitudinal perspective, looking into seventeen
international customized projects from a Brazilian business school, between 2006 and 2015.
The data analysis encompasses the identification of barriers to internationalization in each of
the selected projects. Based on this approach it was possible to identify the presence and
recurrence of each type of barrier in each year of the selected timeframe. Results suggest that
the barriers to internationalization identified in the customized international projects were
language, procedures to internationalization, teams’ international experience, international
adjustment, and international competition. In terms of the evolution of the barriers, results
suggest that all, but international competition, remained throughout the time considered in the
research. These barriers manifested themselves consistently in similar ways throughout the
nine year period contemplated in this research.
Keywords: Internationalization. Business Schools. Barriers.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Quadro Teórico .................................................................................................... 38
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categorização das barreiras à internacionalização ......................................... 30
Quadro 2 - Entrevistas realizadas ......................................................................................... 46
Quadro 3 - Projetos Customizados Internacionais - 2006 a 2015 ...................................... 58
Quadro 4 - Barreiras à internacionalização - 2006 ............................................................. 60
Quadro 5 - Barreiras à internacionalização - 2007 ............................................................. 64
Quadro 6 - Barreiras à internacionalização - 2008 ............................................................. 70
Quadro 7 - Barreiras à internacionalização - 2010 ............................................................. 73
Quadro 8 - Barreiras à internacionalização - 2013 ............................................................. 81
Quadro 9 - Barreiras à internacionalização - 2015 ............................................................. 83
Quadro 10 - Análise comparativa das barreiras à internacionalização: 2006 a 2015 ...... 84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CESA – Centre d´Enseignement Supérieur des Affaires
CEX – Centro de Extensão Universitária
COMn – Parceria Conexão, Organizações e Mundo
CTE – Centro de Tecnologia Empresarial
EUA – Estados Unidos da América
FDC – Fundação Dom Cabral
PGA – Programa de Gestão Avançada
PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
STC – Skills, Tools & Competences
UBC – University of British Columbia
UCMG – Universidade Católica de Minas Gerais
UNICON – Executive Education Consortium
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 23
1.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 23
1.2 Contextualização e questão de pesquisa ......................................................................... 23
1.3 Estrutura da dissertação .................................................................................................. 25
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 27
2.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 27
2.2 Barreiras à internacionalização ...................................................................................... 27
2.3 Evolução das barreiras à internacionalização ............................................................... 36
2.3 Quadro teórico .................................................................................................................. 38
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 41
3.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 41
3.2 Método de pesquisa .......................................................................................................... 41
3.3 Coleta de dados ................................................................................................................. 43
3.4 Análise de dados ............................................................................................................... 47
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ........................................................................... 51
4.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 51
4.2 Fundação Dom Cabral (FDC) ......................................................................................... 51
4.3 A internacionalização da FDC......................................................................................... 53
4.4 Barreiras à internacionalização: projetos customizados internacionais ..................... 58
4.4.1 Barreiras à internacionalização: 2006 .......................................................................... 58
4.4.2 Barreiras à internacionalização: 2007 .......................................................................... 60
4.4.3 Barreiras à internacionalização: 2008 .......................................................................... 64
4.4.4 Barreiras à internacionalização: 2010 .......................................................................... 70
4.4.5 Barreiras à internacionalização: 2013 .......................................................................... 73
4.4.6 Barreiras à internacionalização: 2015 .......................................................................... 81
4.4.6 Análise comparativa das barreiras à internacionalização: 2006 a 2015 ...................... 83
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 88
5.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 88
5.2 Principais resultados ........................................................................................................ 88
5.3 Revisitando a questão de pesquisa .................................................................................. 92
5.4 Contribuições, limitações e sugestões de pesquisa futura ............................................. 92
Referências ........................................................................................................................ 96
ANEXO A - Roteiro de Entrevista ............................................................................... 104
23
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
Esta introdução está dividida em duas partes. Na primeira parte, será realizada a
contextualização do tema, seguida da apresentação do objetivo e da questão de pesquisa.
Ainda nessa parte, serão sintetizados os aspectos metodológicos da pesquisa e apontados os
principais resultados obtidos. Na segunda parte, será apresentada a forma como o trabalho
está estruturado.
1.2 Contextualização e questão de pesquisa
A internacionalização pode trazer inúmeros benefícios para as firmas (Kadocsa &
Borbás, 2010; Toulova, Votoupalova, & Kubickova, 2015), por exemplo, acesso a novas
tecnologias (Jaffe, Pasternak, & Nebenzahl, 1989) e mercados (Cuervo-Cazurra, Maloney, &
Manrakhan, 2007), melhorias na eficiência de produção (Abor, 2011; Czinkota, & Ronkainen
2001), além da diversificação do risco (Daniels, Radebaugh, & Sullivan, 2009; Etemad,
2004). Apesar de tais benefícios, a entrada e operação em mercados internacionais tende a
apresentar obstáculos para as firmas (Rocha, Freitas, & Silva, 2008), os quais impedem ou
limitam a sua capacidade de iniciar, desenvolver ou sustentar suas operações em mercados
internacionais (Leonidou, 1995). Neste trabalho, esses obstáculos ou impedimentos são
chamados de barreiras à internacionalização.
Os primeiros estudos realizados acerca da percepção dessas barreiras remontam à
década de 70 (ver, por exemplo, Bilkey, 1978). Inicialmente, houve uma preocupação em
identificar e categorizar tais barreiras, sendo que os resultados desses estudos correspondem a
uma boa parte da literatura sobre barreiras à internacionalização (Kahiya, 2013).
Posteriormente, ocorreu a ampliação do escopo geográfico desses estudos, anteriormente mais
restrito a países anglo-saxões (Uner, Kocak, Cavusgil, & Cavusgil, 2013). Assim, a partir da
década de 1990, diversas pesquisas sobre barreiras à internacionalização foram conduzidas
em países como Portugal (Pinho & Martins, 2010), Espanha (Fernandez-Ortiz, Arteaga Ortiz,
& San Emeterio, 2014, 2015, Vila López, 2007), Brasil (Cahen, Lahiri, & Borini, 2015),
Turquia (Uner, Kocak, Cavusgil, & Cavusgil, 2013), República Tcheca (Toulova,
Votoupalova, & Kubickova, 2015) e Jordânia (Al-Hyari, Al-Weshah, & Muhammed Alnsour,
2012). De modo geral, os resultados sinalizam que as barreiras identificadas são similares às
24
identificadas nos países anglo-saxões. Por exemplo, Tesfom e Lutz (2006) sugerem que
praticamente todas as barreiras à internacionalização enfrentadas pelas firmas de países em
desenvolvimento, exceto a barreira país de origem, também podem existir nas firmas oriundas
de países desenvolvidos, especialmente as de pequeno e médio porte. Segundo os autores, o
que tende a variar é a importância dessas barreiras.
A literatura utilizada como referência para este trabalho sugere que as barreiras à
internacionalização podem ser classificadas de várias formas (Morgan, 1997). Apesar das
inúmeras variações propostas pelos autores, por exemplo, barreiras gerenciais e ou
organizacionais, acredita-se que tais barreiras possam ser, em maior ou menor grau,
categorizadas em externas e internas à firma (Casvusgil,1984; Leonidou,1995, 2004). Essas
barreiras, de acordo com Bilkey e Tesar (1977), Bilkey (1978), Cavusgil (1984) e Morgan
(1997), podem ser identificadas em todos os estágios do processo de internacionalização da
firma, ainda que em intensidades distintas e por razões diferentes (Kneller & Pisu, 2011).
Se a literatura é profícua e até certo ponto converge em torno da classificação de
barreiras à internacionalização, o mesmo não se pode dizer quanto à evolução dessas barreiras
ao longo do tempo (Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Isso significa que são escassos os estudos
longitudinais que investigam as variações (presença ou ausência, por exemplo) das barreiras à
internacionalização ao longo do processo de internacionalização da firma (Uner, Kocak, &
Cavusgil, 2013; Rocha, Freitas, & Silva, 2008, Leonidou, 2004). Considerando as escolas de
negócios, não foram identificados estudos longitudinais focados na compreensão da evolução
das barreiras à internacionalização.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo identificar as barreiras à
internacionalização e analisar a sua evolução em uma escola de negócios. A questão de
pesquisa proposta é a seguinte: “Como ocorre a evolução das barreiras à
internacionalização em uma escola de negócios?”. Esta questão de pesquisa implica,
inicialmente, identificar barreiras à internacionalização e, em caso positivo, analisar como foi
a evolução dessas barreiras. Com relação à evolução, faz parte da questão de pesquisa
entender se as barreiras à internacionalização foram as mesmas ao longo do tempo ou se
ocorreu alguma alteração no período analisado.
Para responder a essa questão de pesquisa, foi realizado um estudo de caso de natureza
qualitativa e perspectiva longitudinal, tendo como unidades de análise 17 projetos
customizados internacionais da Fundação Dom Cabral (FDC), uma escola de negócios
brasileira com atuação internacional criada há 39 anos. A coleta de dados envolveu múltiplas
fontes de dados, o que é condizente com as pesquisas que utilizam o estudo de caso de
25
natureza qualitativa e perspectiva longitudinal (Yin, 1994, 2005). A análise de dados consistiu
na identificação e descrição das barreiras apontadas em cada um dos 17 projetos analisados,
assim como a análise da recorrência dessas barreiras ao longo de quase uma década, que é o
período compreendido por esse estudo.
Os principais resultados indicam a existência de cinco barreiras à internacionalização
relacionadas aos projetos customizados internacionais analisados: idioma, rotinas para a
internacionalização, falta de experiência internacional da equipe, adaptação internacional e
concorrência internacional. Exceto a concorrência internacional, todas as quatro barreiras
foram identificadas no período de 2006 a 2015. Isso significa que, ainda que a FDC tenha
avançado no seu processo de internacionalização ao longo dos anos, barreiras como idiomas,
rotinas para a internacionalização, falta de experiência internacional da equipe e adaptação
internacional foram recorrentes nos projetos analisados, tendo sido registradas manifestações
dessas barreiras de formas muito similares em períodos com intervalo de oito anos entre eles.
1.3 Estrutura da dissertação
Esta dissertação está dividida em cinco capítulos. Para além deste capítulo, o segundo
detalha o referencial teórico utilizado para a elaboração deste trabalho. Na primeira parte,
aponta-se que a internacionalização da firma usualmente apresenta inúmeros benefícios e
obstáculos, sendo que tais impedimentos são entendidos como barreiras à internacionalização.
Apresentam-se, logo a seguir, algumas definições sugeridas pela literatura para tais barreiras e
detalham-se as classificações de barreiras propostas na literatura. Na segunda parte, discute-se
sobre a evolução das barreiras à internacionalização e, finalmente, na terceira parte, apresenta-
se o quadro teórico que ressalta as barreiras à internacionalização analisadas neste trabalho.
O terceiro capítulo detalha a metodologia dessa dissertação. Inicialmente, é descrito e
justificado o método escolhido para a realização da pesquisa. Posteriormente, expõe-se a
forma como foi realizada a coleta dos dados e detalhadas as fontes de dados utilizadas.
Finalmente, são descritas e detalhadas as etapas de análise dos dados obtidos.
O quarto capítulo contém a descrição e análise dos dados. Na primeira parte,
apresenta-se a escola de negócios, a FDC, onde os projetos customizados internacionais foram
pesquisados. Na segunda parte, procura-se descrever, ainda que de forma sucinta, marcos do
processo de internacionalização da FDC, desde a sua criação, em 1976, até 2006, ano da
realização do primeiro dos 17 projetos selecionados para este estudo de caso. Na terceira
parte, encontra-se a análise das barreiras à internacionalização identificadas nos projetos
26
selecionados no período compreendido entre os anos de 2006 a 2015. Essa etapa finaliza com
a apresentação da análise comparativa das barreiras nos projetos selecionados ao longo desse
período.
O quinto capítulo contém a conclusão desta dissertação. Primeiramente, são
apresentados e discutidos os principais resultados. Posteriormente, a questão de pesquisa é
revisitada. Em seguida, são sugeridas implicações gerenciais deste trabalho. As limitações da
pesquisa e sugestões para pesquisas futuras constituem a última parte da conclusão.
27
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Considerações iniciais
Este capítulo tem por objetivo discutir os conceitos e abordagens teóricas que norteiam
este trabalho. O referencial teórico está dividido em três partes. Na primeira, inicialmente,
avança-se o argumento de que a internacionalização usualmente apresenta inúmeros
benefícios para a firma, porém, como é um processo com elevado nível de incerteza, existem
diversos obstáculos ou impedimentos no decorrer desse processo, os quais, nesta dissertação,
são entendidos como barreiras à internacionalização. Com isso, apresentam-se algumas
definições sugeridas pela literatura para tais barreiras e respectivas classificações. Na segunda
parte, procura-se discutir a evolução das barreiras à internacionalização. Nessa parte
apresentam-se os antecedentes e consequências das barreiras à internacionalização e discute-
se como a experiência da firma ao longo do processo de internacionalização pode fazer com
que o impacto dessas barreiras seja diferente ao longo do tempo. Na terceira e última parte,
apresenta-se o quadro teórico que ressalta as barreiras à internacionalização aqui analisadas.
2.2 Barreiras à internacionalização
Inicialmente, é relevante destacar que grande e expressiva parte da literatura
relacionada a barreiras à internacionalização está voltada para a atividade de exportação
(Rocha, Freitas, & Silva, 2008; Leonidou, 2004; Tesfom & Lutz, 2006; Kahiya, 2013), o que
significa dizer que essa literatura foi essencialmente construída a partir de estudos sobre o
processo exportador. Neste trabalho, entende-se exportação como uma etapa do processo de
internacionalização da firma (Johanson & Vahlne, 1977).
Assim, a internacionalização da firma é vista como um fenômeno processual
(Johanson & Vahlne, 1990; Welch & Luostarinen, 1988), alinhada à perspectiva
comportamental de internacionalização (Johanson & Vahlne, 1977). Para essa perspectiva, à
medida que a firma adquire mais conhecimento sobre um mercado internacional, maior é o
grau de comprometimento de recursos nesse mercado (Johanson & Vahlne, 2006). Mais
especificamente, entende-se que a internacionalização da firma é um processo eminentemente
dinâmico (Coviello, 2006), guiado pelo mecanismo de feedback positivo, em que o
comprometimento de recursos e o conhecimento acerca de um determinado mercado
internacional são modificados pelas decisões de comprometimento de recursos e pelos
28
resultados das operações nesse mercado, e vice-versa (Johanson & Vahlne, 1990). Neste
sentido, a internacionalização contempla o processo de exposição da firma a experiências
internacionais distintas com efeito positivo na sua aprendizagem e acumulação de
conhecimento (Eriksson, Johanson, Majkgård, & Sharma, 2000).
A importância da internacionalização reside nos potenciais benefícios que a firma
pode auferir no decorrer desse processo (Toulova, Votoupalova, & Kubickova, 2015;
Kadocsa & Borbás, 2010). Por exemplo, a internacionalização permite à firma ter acesso a
novas tecnologias (Jaffe, Pasternak, & Nebenzahl, 1989), assim como diversificar riscos à
medida que amplia o seu escopo geográfico (Etemad, 2004; Daniels, Radebaugh, & Sullivan,
2009). Outro benefício apontado na literatura diz respeito à geração de receita para
reinvestimento e crescimento (Leonidou, 1995). Finalmente, a firma pode obter ganhos de
escala (Czinkota, Donath, & Ronkainen; 2004) e melhorias na eficiência de produção
(Czinkota & Ronkainen 2001; Abor, 2011).
Apesar desses benefícios, a entrada e operação em mercados internacionais
normalmente apresenta mais dificuldades do que a operação doméstica (Björkman &
Forsgren, 1997; Vila Lopez, 2007). Os produtos, serviços ou tecnologia aplicada, por
exemplo, geralmente são submetidos a níveis de exigência diferentes dos padrões do mercado
doméstico (Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Além disso, existem custos de transporte e
necessidade de competências específicas para as operações internacionais (Azzi da Silva &
Rocha, 2001). Ao atuar em mercados internacionais, a firma também pode precisar se adaptar
ao novo contexto em razão de diferenças culturais (Barnes, Leonidou, & Leonidou, 2015) e
ou institucionais (Leonidou, 1995), normalmente incorrendo em custos adicionais de
adequação do seu modelo de negócio (Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Assim, se comparada a
uma firma doméstica ou a uma firma estrangeira que já opera em determinado mercado
internacional, a firma entrante incorre em custos adicionais, o que é denominado liability of
foreigness (Zaheer, 1995).
É interessante notar que o impacto de cada uma dessas dificuldades na
internacionalização da firma tende a ser diferente de uma para outra (Kahiya, 2013). Entre
outras coisas, isso sugere que a experiência internacional acumulada interfere na percepção de
tais dificuldades (Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Por exemplo, firmas não internacionalizadas
tendem a enfatizar dificuldades relacionadas ao início do processo de internacionalização
(Leonidou, 2004), mais especificamente à exportação, como falta de recursos para obter o
investimento inicial, barreiras tarifárias e não tarifárias, e escassez e inadequação de
informação de mercado (Hook & Czinkota, 1988). Já as mais internacionalizadas também
29
enfrentam outras dificuldades à medida que buscam aumentar sua participação no mercado
internacional (Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan, 2007), por exemplo, dificuldades de
coordenação e controle de operações dispersas em múltiplos mercados (Cuervo-Cazurra,
Maloney, & Manrakhan, 2007).
Essas dificuldades de entrada e operação são vistas como barreiras à
internacionalização, cujos estudos remontam à década de 70 (ver, por exemplo, Alexandrides
1971; Bilkey, 1978; Pavord & Bogart, 1975). Conforme mencionado, tais estudos
concentraram-se, principalmente, nas primeiras fases da internacionalização, nas exportações
indiretas e ou diretas (Leonidou, 2004), e, dessa forma, adotam a terminologia barreiras à
exportação (Rocha, Freitas, & Silva, 2008).
Neste sentido, Vila Lopez (2007) entende barreiras à exportação como fatores que
inibem a migração das firmas do grupo de não exportadoras para o grupo das exportadoras.
Cuervo-Cazurra, Maloney e Manrakhan (2007) consideram como barreiras à
internacionalização os problemas que a firma encontra ao expandir para novos mercados
internacionais, e acrescentam que os problemas podem ser distintos de acordo com cada
mercado. Bryant (2013), no contexto de internacionalização de escolas de negócio, define
barreiras à internacionalização como fatores que impedem ou, pelo menos, dificultam o
processo de internacionalização de tais escolas. Em clássica definição, Leonidou (1995, p.31)
sugere que as barreiras à exportação ou internacionalização se referem “às limitações
atitudinais, estruturais, operacionais ou correlatas que impedem ou limitam a capacidade da
firma de iniciar, desenvolver ou sustentar suas operações em mercados internacionais”. Essa é
a definição de barreiras à internacionalização utilizada neste trabalho.
Na revisão de literatura, identificamos diversos trabalhos que buscam categorizar
barreiras à internacionalização (Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan, 2007; Eriksson,
Johanson, Majkgård, & Sharma, 2000), sendo que boa parte deles está voltada para as
atividades de exportação (Rocha, Freitas, & Silva, 2008; Leonidou, 2004; Tesfom & Lutz,
2006; López, 2007) (ver Quadro 1).
30
Quadro 1 - Categorização das barreiras à internacionalização
Autores Definição Classificação das
Barreiras Literatura
Katsikeas e
Morgan (1994) -----------
Barreiras Externas,
Barreiras Operacionais,
Barreiras Internas e
Barreiras de Divulgação
Literatura de
exportação
Leonidou (1995)
Limitações atitudinais,
estruturais, operacionais ou
correlatas que impedem ou
limitam a capacidade da
firma de iniciar,
desenvolver ou sustentar
suas operações em
mercados internacionais.
(p.31)
Barreiras Internas/ Externas
e Domésticas/ Estrangeiras
Literatura de
exportação
Eriksson,
Johanson,
Majkgård e
Sharma (2000)
---------
Falta de conhecimento de
internacionalização, de
mercado e institucional
Literatura de
internacionalização
Leonidou (2004)
Barreiras internas
(funcionais, informacionais
e de marketing - produto,
preço, distribuição,
logística e promoção) e
externas (procedimentais,
governamentais, tarefas e
ambientais - econômico,
político-legal,
sociocultural)
Literatura de
exportação
Tesfom e Lutz
(2006) -----------
Barreiras internas (da firma
e do produto) e externas
(indústria, do mercado e do
macroambiente)
Literatura de
exportação
Vila Lopez
(2007)
Fatores que inibem a
migração das firmas do
grupo de não exportadoras
para o grupo das firmas
exportadoras. (p.17)
Barreiras Gerenciais,
Organizacionais e Externas
Literatura de
exportação
Cuervo-Cazurra,
Maloney e
Manrakhan
(2007)
Problemas que a firma
encontra ao expandir para
novos mercados
estrangeiros. (p.709)
Perda de Vantagem:
Criação de Desvantagem:
Falta de Recursos
Literatura de
internacionalização
Continua
31
Conclusão
Autores Definição Classificação das Barreiras Literatura
Kahiya (2013) ------------
Barreiras internas (recursos,
gerenciais, marketing e
conhecimento) e Barreiras
externas (mercado de origem,
mercado estrangeiro, setor)
Literatura de
exportação
Bryant (2013)
Fatores que impedem ou,
pelo menos, dificultam o
processo de
internacionalização. (p.128)
Barreiras internas e Barreiras
externas
Literatura de
internacionalização
de escolas de
negócio
Fonte: Elaborado pela autora.
Mais especificamente, Katsikeas e Morgan (1994) dividem as barreiras de exportação
em internas, externas, operacionais e de divulgação. As barreiras externas são aquelas
relacionadas ao ambiente externo da firma, por exemplo, desvalorização da moeda (Czinkota
& Ricks, 1983), alto custo de financiamento das exportações (Bilkey, 1978) e falta de apoio
governamental (Weaver & Pak, 1990). Tais barreiras podem prejudicar a internacionalização
da firma, principalmente se associadas às barreiras operacionais, as quais, segundo Katsikeas
e Morgan (1994), são aquelas associadas à operacionalização do processo de exportação.
Dessa forma, essas barreiras englobam problemas relacionados à documentação de exportação
(Leonidou, 1995), custos elevados de distribuição (Czinkota & Ricks, 1983) e atrasos no
pagamento de distribuidores (Leonidou, 2004).
As barreiras internas, por sua vez, estão relacionadas ao ambiente interno da firma
(Katsikeas & Morgan, 1994). Alguns exemplos são problemas de embalagem (Czinkota &
Ricks, 1983), níveis de qualidade do produto ou serviço (Rocha, Freitas, & Silva, 2008), além
de falta de estruturação da firma para a internacionalização (Leonidou, 2004), como
inexistência de equipe experiente (Rocha, Freitas, & Silva, 2008), incapacidade de
autofinanciamento das exportações (Katsikeas & Morgan, 1994) e escassez de informação
sobre o mercado internacional (Eriksson, Johanson, Majkgård, & Sharma, 2000; Katsikeas &
Morgan, 1994). Katsikeas e Morgan (1994) acrescentam que essa falta de informação tem
relação com outro grupo de barreiras, representado pelas barreiras de divulgação, que
compreendem as falhas nas ações de marketing internacional devido ao desconhecimento das
especificidades de determinado mercado internacional.
32
Leonidou (1995) classifica as barreiras à exportação em duas categorias básicas:
internas e externas. As internas são entendidas como aquelas associadas aos recursos e ou à
estratégia de marketing de exportação da firma, enquanto as externas são aquelas provenientes
do ambiente externo da firma, representado pelo mercado doméstico e ou internacional, por
exemplo, falta de incentivos nacionais adequados (Arteaga-Ortiz & San Emeterio, 2014) ou
taxa de câmbio desfavorável (Leonidou, 2004). Leonidou (1995) acrescenta a essa
classificação a distinção de a barreira estar relacionada ao país de origem da firma (barreiras
domésticas) ou ao mercado internacional onde a firma opera ou pretende operar (barreiras
estrangeiras). A combinação de barreiras internas e externas com as domésticas e estrangeiras
resulta em quatro classificações para a internacionalização, sendo que as internas/domésticas
são aquelas decorrentes da própria firma e do mercado doméstico, enquanto as
externas/domésticas são as associadas ao mercado doméstico, mas que vão além de seu
controle. Para o autor, as barreiras internas/estrangeiras têm forte impacto na implementação
da estratégia de marketing no mercado internacional, e as externas/estrangeiras englobam os
obstáculos não controláveis encontrados pela firma no mercado internacional (Leonidou,
1995).
A falta de conhecimento é considerada por alguns autores (ver Johanson & Vahlne
2009; Katsikeas & Morgan, 1994; Leonidou, 2004) como uma barreira que a firma
eventualmente enfrenta no decorrer do seu processo de internacionalização. Conforme
apontado, Johanson e Vahlne (1977) sugerem que a internacionalização pode ser vista como
um processo de aprendizagem e acumulação de conhecimento de mercado, entendido o
conhecimento acerca de compradores e fornecedores inseridos em determinado mercado
internacional. Eriksson, Johanson, Majkgard e Sharma (1997) reforçam esse entendimento,
mas acrescentam dois conhecimentos ao processo de internacionalização: o conhecimento de
internacionalização e o conhecimento institucional. O conhecimento de internacionalização é
visto como a experiência acumulada pela firma ao conduzir suas operações internacionais
(Eriksson, Johanson, Majkgård, & Sharma,1997; Cavusgil, 1998). Já o conhecimento
institucional reflete o conhecimento sobre as condições institucionais locais, tais como leis,
normas e estrutura de governança dos países (Eriksson, Johanson, Majkgård, & Sharma,
2000).
Considerando novamente a divisão das barreiras em internas e externas, Leonidou
(1995) propõe um detalhamento dessas em trabalho posterior. O autor sugere que barreiras
internas podem ser classificadas em informacionais, funcionais e de marketing, enquanto as
externas podem ser enquadradas em processuais, governamentais, de atuação e ambientais.
33
No entendimento do autor, as barreiras informacionais se referem à falta de informação, por
exemplo, em relação à identificação de oportunidades e conhecimento de potenciais clientes
(Morgan & Katsikeas, 1997; Eriksson, Johanson, Majkgård, & Sharma, 2000).
Frequentemente, essas barreiras são consideradas como de grande impacto na atuação
internacional das firmas (Leonidou, 2004). Por sua vez, as barreiras funcionais referem-se aos
problemas organizacionais e à falta de preparo da firma para a internacionalização no que
tange a recursos humanos, produção, finanças, bem como ao processo de internacionalização
em si (Vozikis & Mescon, 1985). Finalmente, as barreiras de marketing são as relacionadas às
características do produto ou serviço ofertado, estratégia de promoção, precificação e
distribuição internacional (Morgan, 1997).
Desdobrando as barreiras externas anteriormente propostas, Leonidou (2004) indica
que as barreiras processuais dizem respeito aos aspectos operacionais da transação com
clientes internacionais e envolvem pouca familiaridade com técnicas e procedimentos,
problemas de comunicação e demora nos pagamentos. Já as barreiras governamentais
normalmente estão relacionadas à falta de incentivos do governo do país de origem, assim
como à existência de marcos regulatórios que dificultam as transações internacionais.
Concluindo, o autor sugere que as barreiras de atuação são aquelas que dizem respeito à ação
da concorrência internacional e hábitos diferentes do público-alvo no mercado internacional,
enquanto as barreiras ambientais englobam aspectos socioeconômicos do mercado
internacional onde a firma opera ou pretende operar, e também as barreiras tarifárias e não
tarifárias1.
Nessa mesma linha de raciocínio, Vila Lopez (2007) sugere a existência de dois
grupos diferentes de firmas, as exportadoras e as não exportadoras, e acrescenta que a
presença de barreiras justifica a existência de firmas domésticas que não se interessam e ou
não possuem capacidade para operar em mercados internacionais. A autora sugere que as
barreiras podem ser classificadas em gerenciais, organizacionais e externas. Barreiras
gerenciais são aquelas relacionadas ao perfil dos tomadores de decisões quanto à
internacionalização da firma. Por exemplo, Leonidou (2004) destaca a importância do gerente
no processo de internacionalização, indicando que firmas que têm gerentes/tomadores de
decisão menos avessos a riscos e mais flexíveis têm maiores chances de operarem em
mercados internacionais. Vila Lopez (2007) classifica como barreiras organizacionais as
características da própria firma, como tamanho, tempo de existência e situação financeira.
1 Essa classificação proposta por Leonidou (1995) é endossada por Tesfom e Luz (2006) e Kahiya (2013).
34
Finalmente, a autora sugere que as barreiras externas podem ser vistas como impedimentos
relacionados à indústria onde a firma opera, e acrescenta que tais barreiras englobam
situações sobre as quais a firma tem pouco ou nenhum controle, como as associadas ao fator
político.
Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan (2007) identificam três categorias de
barreiras encontradas pela firma ao expandir para novos mercados internacionais, e sinalizam
que algumas são específicas a ela e outras a um grupo de firmas. A primeira categoria, Perda
de Vantagem Competitiva, envolve situações nas quais recursos são transferidos para um
novo mercado internacional. Essa transferência representa uma redução da vantagem
competitiva. Isso pode ser ilustrado quando uma firma tem uma marca consolidada no
mercado doméstico e encontra competidores fortes no mercado internacional.
A segunda categoria contempla a criação de desvantagem competitiva ao operar em
novos mercados internacionais, por exemplo, situações em que o produto ou serviço oferecido
pela firma foi desenvolvido considerando o mercado doméstico e apresenta incompatibilidade
com os atributos demandados em determinado mercado internacional. A firma também pode
enfrentar barreiras relacionadas à discriminação ou resistência do governo ou do consumidor
estrangeiro, como rejeição ao país de origem, o que é, neste caso, inerente à atuação de um
grupo de firmas oriundas de um mesmo país (Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan,
2007).
Finalmente, a terceira categoria de barreiras de internacionalização está relacionada à
falta de conhecimento e recursos. Os autores sugerem que, devido a diferenças entre os
mercados internacionais, há custos de oportunidade elevados na transferência de recursos. Há,
ainda, recursos que podem ser necessários em determinado mercado internacional, os quais
são substancialmente diferentes daqueles inerentes às operações domésticas. Nessa categoria,
denominada Perda de Recursos, Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan (2007) detalham
como barreiras específicas da firma a sua falta de recursos para operar em escala e atender à
expansão para o mercado internacional (liability of expansion), a falta de recursos em função
de ser uma “recém-chegada” nesse mercado (liability of newness) e a falta de recursos para se
adaptar às particularidades de determinado mercado internacional (liability of foreignness)
(Zaheer, 2002). Adicionalmente, os autores complementam essa classificação com as
barreiras relacionadas ao mercado consumidor internacional, que pode não ter a infraestrutura
necessária para o consumo ou utilização do produto ou serviço oferecido por um grupo de
firmas (liabililty of infrastructure).
35
Considerando o fato de que esta dissertação tem como base uma escola de negócios, é
relevante destacar a classificação de barreiras à internacionalização sugerida por Bryant
(2013). O autor aponta que muitas escolas de negócios em todo o mundo, e, mais
particularmente nos países ocidentais, têm enfrentado problemas semelhantes às firmas no
processo de internacionalização. O autor traz a discussão sobre como o capital social,
networking2 e o conhecimento com base na experiência são utilizados por tais escolas para
fortalecer a internacionalização, e divide as barreiras entre externas e internas à escola de
negócio. O autor indica que as barreiras externas compreendem, por exemplo, a acreditação
internacional das escolas. Nesse ponto, ele pontua o aumento da concorrência internacional,
sugerindo que a abrangência internacional das escolas de negócios tem aumentado de forma
expressiva por meio da criação de escritórios, filiais ou novos campi em mercados
internacionais. Além disso, ele considera a ação dos governos no controle de imigração e
vistos, eventos geopolíticos e particularidades do mercado-alvo da escola de negócios como
barreiras externas.
Sobre as barreiras internas, Bryant (2013) ressalta a dificuldade de integração de
estudantes internacionais, a falta de convergência de estilos de ensino, o domínio de idiomas
por parte dos docentes e da equipe técnica e administrativa envolvida no processo de
internacionalização, barreiras psicológicas, envolvendo resistência à mudança, e falta de
recursos relacionados a pessoas, finanças e tempo.
Ao apreciar a literatura sobre barreiras à internacionalização, pode-se chegar à
conclusão de que há uma convergência na classificação de tais barreiras em internas e
externas à firma. Nota-se a existência de diferenças relacionadas às subclassificações
propostas por cada autor dentro de cada um desses grupos de barreiras, porém parece haver
mais congruências do que divergências entre as propostas3.
Apesar de tal convergência, sugere-se, de maneira oposta, que a literatura é mais
escassa e fragmentada no que diz respeito à transformação dessas barreiras ao longo do tempo
(Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Isso significa entender como as barreiras se modificam à
medida que a firma avança no processo de internacionalização. Este é o próximo assunto
deste referencial teórico.
2 Rede de relacionamento. 3 Em contraposição, Rocha, Freitas e Silva (2008) sugerem que existam diferentes entendimentos e pouco
consenso sobre barreiras à internacionalização, principalmente devido a diferenças nos métodos e conteúdo
dos estudos. Além disso, os autores sublinham que as pesquisas realizadas são fragmentadas e dispersas.
36
2.3 Evolução das barreiras à internacionalização
A partir da identificação e categorização das barreiras à internacionalização, diversos
estudos buscaram compreender as consequências dessas barreiras para o processo de
internacionalização da firma (Kahiya, 2013; Leonidou, 2004; Leonidou & Katsikeas 1996;
Pinho & Martins, 2010). A literatura sugere que essas barreiras contribuem para a decisão da
firma de não se internacionalizar (Rocha, Freitas, & Silva, 2008, Pinho & Martins, 2010;
Leonidou, 1995, 2004), inibem o desempenho internacional (Cuervo-Cazurra, Maloney, &
Manrakhan, 2007; Leonidou, 2004) ou então fazem com que a firma decida por interromper o
seu processo de internacionalização (Leonidou, 2004; Benito & Welch, 1997; Crick, 2002).
Neste sentido, essas consequências levam ao entendimento de que as barreiras à
internacionalização têm um efeito inibidor no processo de internacionalização da firma.
Com uma perspectiva complementar de análise, Kahiya (2013) sugere que as barreiras
à internacionalização percebidas pela firma influenciam a velocidade do seu processo de
internacionalização, que, grosso modo, pode ser um processo gradual ou mais rápido. O
processo gradual de internacionalização é associado à falta de conhecimento e expertise
(Johanson & Vahlne, 1977), aversão ao risco (Acedo & Galan, 2011; Figueira-de-Lemos,
Johanson, & Thillenius, 2011), dificuldade para gerenciar os obstáculos inerentes ao
desenvolvimento de mercados, assim como restrições externas e regulamentações (Leonidou,
2004). Já o processo mais rápido de internacionalização é visto como resultado de um forte
compromisso com a internacionalização por parte do corpo gerencial da firma, da capacidade
de desenvolver um mix de marketing customizado, além da falta de confiança da firma no
mercado doméstico, especialmente no que tange a políticas governamentais. Dessa forma, os
resultados do trabalho de Kahiya (2013) sugerem uma ampliação no entendimento das
consequências das barreiras à internacionalização, em que elas não são encaradas unicamente
como impeditivas do processo de internacionalização da firma, e sim como mecanismo
propulsor desse processo à medida que direcionam a firma para o desenvolvimento de
oportunidades internacionais (Johanson & Vahlne, 2006).
Por sua vez, outros estudos enfatizaram os antecedentes das barreiras à
internacionalização, ou seja, os fatores que causam tais barreiras (Cuervo-Cazurra, Maloney,
& Manrakhan, 2007). Autores como Arteaga-Ortiz e Fernandez-Ortiz (2010), Rocha, Freitas e
Silva (2008) e Tesfom e Lutz (2006) sugerem que as características do gestor, da firma e do
ambiente onde a firma opera podem ser vistos como antecedentes das barreiras à
37
internacionalização. Por exemplo, gestores com maior aversão ao risco podem perceber as
barreiras de maneira tal que optem pela não internacionalização (Leonidou, 2004).
Finalmente, os estudos buscaram ampliar o escopo geográfico do contexto (Pinho &
Martins, 2010), já que grande parte das pesquisas teve origem nos Estados Unidos (ver, por
exemplo, Alexandrides 1971; Bilkey 1978; Pavord & Bogart 1975). Assim, ao longo dos
anos, foram feitas inúmeras pesquisas em diversos países, as quais englobaram firmas
oriundas de países desenvolvidos e em desenvolvimento (ver, por exemplo, Pinho & Martins,
2010; Cahen, Lahiri, & Borini, 2015). Conforme apontado na introdução deste trabalho, os
resultados sinalizam que, à exceção da barreira relacionada ao país de origem, as firmas que
têm origem nos países em desenvolvimento se deparam com barreiras à internacionalização
semelhantes às enfrentadas pelas firmas de países desenvolvidos (Pinho & Martins, 2010).
Esse resultado é particularmente proeminente para firmas de pequeno e médio porte (Pinho &
Martins, 2010).
Em síntese, durante as cinco últimas décadas, vários estudos foram conduzidos sobre
barreiras à internacionalização (Cavusgil & Zou, 1994; Leonidou, 1995, 2004; Toulova,
Votoupalova, & Kubickova, 2015), incluindo investigações sobre suas consequências e
causas, englobando experiências de firmas em países desenvolvidos e em desenvolvimento
(Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Porém, é interessante notar que a mesma ênfase não foi dada
ao entendimento da evolução dessas barreiras (Uner, Kocak, Cavusgil, & Cavusgil, 2013).
Isso quer dizer que a literatura é pródiga em identificar e classificar barreiras à
internacionalização, apontar suas consequências e antecedentes, mas silencia quanto à sua
evolução (Rocha, Freitas, & Silva, 2008). Dito de outra maneira, são escassos os estudos
longitudinais que investigam as variações nas barreiras à internacionalização ao longo do
tempo (Uner, Kocak, Cavusgil, & Cavusgil, 2013; Rocha, Freitas, & Silva, 2008, Leonidou,
2004).
O estudo longitudinal, abrangendo um período de 27 anos, de Rocha, Freitas e Silva
(2008) pode ser considerado exceção. Nesse estudo, os autores buscam compreender até que
ponto a percepção das barreiras à exportação varia ao longo do tempo, e se tal percepção
depende de situações específicas, tais como contexto econômico e estímulo exportador do
país de origem. Segundo os autores, nenhum estudo havia sido encontrado na literatura que
respondesse a tais indagações. Os resultados apontam que as barreiras identificadas pelas
firmas que mantiveram sua atuação internacional no período analisado permaneceram as
38
mesmas, ou seja, as barreiras listadas pelas firmas no intervalo de quase três décadas não
sofreram variação4.
2.3 Quadro teórico
Com base na revisão de literatura, a qual contempla, principalmente, a classificação
das barreiras à internacionalização, nesta parte da dissertação apresenta-se o quadro teórico
utilizado (ver Figura 1), a partir do qual detalham-se as barreiras à internacionalização que
serão analisadas no estudo de caso5.
Figura 1 – Quadro Teórico
Fonte: Elaborado pela autora.
A primeira barreira aqui analisada é o idioma, uma vez que é o meio de comunicação
entre a firma e os demais stakeholders no mercado internacional (Turner & Robson, 2008).
Ademais, o idioma é um dos aspectos da cultura que se torna uma barreira à medida que a
relação entre cultura e idioma vai além do simples uso de palavras e compreensão de seu
4 Considerando escolas de negócios, não foram identificados estudos longitudinais focados no entendimento da
evolução das barreiras à internacionalização. 5 Essas barreiras foram selecionadas de maneira indutiva.
39
significado (Bryant, 2013). Inclui também ideias e valores que estão imbuídos nas palavras e
diferenças que esses valores representam de uma cultura para outra. (Fahmy, Bygholm, &
Jaeger, 2012). Para as escolas de negócios, De Wit (2005) analisa o desafio dos professores de
lecionarem em idioma que não seja o nativo, e complementa apontando a dificuldade de
utilização de materiais e textos em outro ambiente acadêmico. Bryant (2013) ressalta a
importância de as escolas de negócios contarem com equipes aptas a interagir e lecionar em
outros idiomas, considerando essa competência como fundamental para a internacionalização
das escolas de negócios.
A falta de rotinas para a internacionalização, segunda barreira analisada nesta
dissertação, é entendida como a falta de processos e procedimentos estruturados para suportar
as ações do processo de internacionalização da firma. Neste sentido, essa barreira engloba a
falta de rotinas relacionadas a ações e documentação sobre necessidade de vistos, exigências
dos países e questões tributárias para operação no mercado internacional, entre outros.
Considerando as escolas de negócios, Knight e De Wit (1995) ressaltam que, ainda que as
escolas tenham diversas atividades relacionadas à internacionalização, como programas e
pesquisas, a inexistência de uma estrutura e de processos rotinizados pode levar à perda das
informações e de conhecimento à medida que os indivíduos envolvidos mudam de área ou
deixam de trabalhar para tais escolas.
A terceira barreira mencionada no quadro teórico proposto é a falta de experiência
internacional da equipe, conforme definida por autores como Leonidou (2004), Julian e
Ahmed (2005) e Rhee e Cheng (2002). A atuação internacional demanda conhecimento
(Shaw & Darroch, 2004), cujo desenvolvimento está altamente relacionado com a
permanência dos indivíduos ao contexto que propiciou o acúmulo de conhecimento (Forsgren,
2002). Ademais, Johanson e Vahlne (1977) sugerem que a experiência em si é difícil de ser
transferida, uma vez que ela produz uma mudança, muitas vezes sutil, em indivíduos e,
portanto, não há como ser desagregada desses indivíduos. Em escolas de negócios,
particularmente no modelo de exportação de soluções educacionais, Hawawini (2005) sugere
que o envio de professores e equipe técnica para a atuação em mercados internacionais tem
como principal vantagem a exposição da equipe a outros países e culturas, o que
eventualmente pode contribuir para a aquisição de experiência e desenvolvimento de
conhecimento acerca desses mercados Knight e De Wit (1995) acrescentam que uma área
internacional com uma equipe experiente para prestar apoio consultivo, de coordenação e de
comunicação às demais áreas de uma escola de negócios, é de fundamental importância, dado
40
que, segundo os autores, essa área deve ser a propulsora da internacionalização da escola de
negócios como um todo.
A adaptação internacional do produto ou serviço ao mercado internacional, no quadro
teórico proposto, também é apontada como uma barreira à internacionalização (Leonidou,
2004). O autor exemplifica a adaptação do produto ou serviço a um determinado mercado
internacional, considerando características como atributos, marca e forma de entrega. Dessa
forma, muitas firmas não conseguem ser bem-sucedidas no mercado internacional por não
conseguirem adequar sua proposta de valor a um contexto distinto, sendo essa uma grande
dificuldade apontada (Hawawini, 2005).
Finalmente, a quinta barreira aqui analisada é a concorrência internacional. Essa
barreira pode ter origem em diversas fontes, seja doméstica ou do país de destino, por
exemplo. Além disso pode ser baseada em custo baixo, diferenciação do produto ou serviço e,
ainda, proteção governamental. A posição que a firma ocupa no mercado internacional vis-à-
vis a posição de líder ou seguidor, por exemplo, também terá impacto na concorrência
enfrentada pela firma (Leonidou, 2004). No caso das escolas de negócio, com o aumento do
número de opções ao longo dos anos, aquelas consideradas as melhores do mundo tendem a
buscar o fortalecimento das suas marcas para diferenciá-las, a fim de atraírem os melhores
alunos, professores e firmas. (Hawawini, 2005). Ademais, os rankings internacionais listam as
melhores escolas de negócios, que servem como referência internacional para as firmas
clientes e as acreditações internacionais se ocupam de certificar padrões internacionais
(Bryant, 2013).
Definidas e descritas as barreiras à internacionalização consideradas neste estudo,
questiona-se se tais barreiras são normalmente recorrentes ou não ao longo do processo de
internacionalização da firma. Conforme discutido, são escassos os estudos longitudinais sobre
a variação de barreiras à internacionalização (Rocha, Freitas, & Silva, 2008), o que torna
precipitado propor como é a evolução dessas barreiras ao longo do processo de
internacionalização das escolas de negócios.
41
3 METODOLOGIA
3.1 Considerações iniciais
Este capítulo tem por objetivo apresentar a metodologia utilizada para a realização
deste estudo. Está dividido em três partes. Na primeira, será descrito o método utilizado. Em
seguida, a maneira como foi realizada a coleta dos dados. Finalmente, na terceira parte, será
apresentada e detalhada como a análise de dados foi conduzida.
3.2 Método de pesquisa
Para o presente estudo foi utilizado o método de estudo de caso de natureza qualitativa
e perspectiva longitudinal (Yin, 2005). Tal método permite examinar um fenômeno que é
pouco conhecido (Yin, 1981, 2005; Eisenhardt, 1989), sendo indicado para pesquisas em que
se colocam questões do tipo “como” (Yin, 2005). Tal recomendação encontra respaldo no
presente trabalho, cuja investigação que norteou a análise da evolução das barreiras à
internacionalização foi conduzida a partir de uma questão de pesquisa do tipo “como”.
Outro ponto que normalmente justifica a escolha desse método de pesquisa é quando a
teoria que embasa o estudo ainda se encontra em processo de consolidação (Eisenhardt, 1989;
Ghauri, 2004). Conforme apontado, a literatura sobre barreiras à internacionalização, em
especial os trabalhos que buscam classificá-las (Leonidou, 2004), é relativamente abundante
(Toulova, Votoupalova, & Kubickova, 2015). O mesmo não se pode dizer sobre os estudos
relativos à evolução de tais barreiras. A nosso ver, o diagnóstico apontado por Rocha, Freitas
e Silva (2008) de que tal literatura é praticamente inexistente permanece nos dias atuais.
Portanto, entende-se que o estudo de caso é um método condizente com o atual estágio da
pesquisa sobre o assunto.
Já a pesquisa qualitativa foi escolhida, uma vez que, para se compreender a evolução
das barreiras à internacionalização, é recomendável que se analise detalhadamente não
somente esse processo, mas o contexto no qual ele está inserido (Dimitratos & Jones, 2005).
Neste trabalho, analisa-se o contexto de realização de cada um dos projetos customizados
internacionais, compreendendo, entre outros aspectos, como a demanda foi apresentada à
FDC, se já havia alguma experiência anterior com o cliente demandante, ou se alguma escola
parceira foi envolvida. Assim, cada projeto analisado é contextualizado na escola de negócios
42
onde o mesmo aconteceu, o que significa entender os projetos customizados internacionais
como parte da internacionalização da FDC.
Por fim, a perspectiva longitudinal permite maior compreensão de um processo que
evolui com o passar do tempo (Meyer, 2001; Yin, 2005). No caso desta dissertação, a
perspectiva longitudinal é apropriada para análise da evolução das barreiras à
internacionalização, pois permite a comparação entre as barreiras identificadas nos projetos
customizados internacionais ao longo dos anos.
A partir da escolha do método para a realização do estudo de caso, foi selecionada a
FDC, sendo que a unidade de análise, ou seja, o caso propriamente dito, diz respeito aos
projetos customizados internacionais que foram demandados a essa escola de negócios
realizados ou com o propósito de realização em determinado mercado internacional. Entende-
se necessária essa especificação, uma vez que a internacionalização de uma escola de
negócios engloba inúmeras atividades além dessa, como atração de professores e alunos
estrangeiros e operação de campus no exterior (Hawawini, 2005). Razões relacionadas à
experiência da pesquisadora em projetos customizados internacionais ao longo dos últimos
oito anos e, principalmente, a acessibilidade aos dados, muitos deles confidenciais, justificam
a seleção desses projetos como unidade de análise (Langley, 1999)6.
Dentre os projetos identificados para este estudo, priorizaram-se aqueles com as
seguintes características: a) não sejam palestras, por estas serem consideradas projetos de
menor complexidade, ou seja, são atuações pontuais e tradicionais de um professor voltadas
para a apresentação de um tema específico; b) existência de registros e disponibilidade dos
responsáveis técnicos para participar da pesquisa; c) realização do projeto em um mercado
internacional, para configurá-lo como uma atividade de exportação, sendo esta vista como
parte integrante da internacionalização da FDC como um todo. Como resultado, 17 projetos
foram selecionados, sendo que 12 são customizados internacionais cujas propostas
apresentadas foram aprovadas, e, consequentemente, realizadas. Os cinco projetos restantes se
referem a propostas apresentadas, mas que não foram aprovadas7.
6 Sobre os projetos internacionais customizados, é importante esclarecer que eles estão estruturados em quatro
etapas distintas, conforme classificação adotada pela FDC. São elas: a) escuta ou originação. Nessa etapa é
realizada a identificação da demanda. Os profissionais da firma cliente e da FDC analisam as necessidades do
cliente e os desafios estratégicos de forma a delinear os objetivos e identificar as variáveis que influenciarão a
proposta a ser elaborada; b) estruturação. Etapa em que, com base na anterior, e em conjunto com a firma
cliente, finaliza-se o desenho da solução educacional; c) entrega. É a etapa da execução da solução
educacional; e d) sustentação. Etapa em que a FDC oferece à firma cliente recomendações para a sustentação
dos resultados obtidos e para a continuidade de seu processo de desenvolvimento. 7 Ao se analisarem projetos customizados internacionais que foram realizados e propostas que não foram
aprovadas, evitou-se o viés da sobrevivência (survivorship bias), que, de maneira geral, se refere a limitações
de pesquisa relacionadas à inclusão somente de observações que se materializaram (Hallahan & Faff, 2001).
43
Mais detalhadamente, esses projetos foram selecionados da seguinte forma.
Inicialmente, foi realizado um levantamento dos projetos customizados internacionais
realizados e propostas não aprovadas para a realização desse tipo de projeto no período de
2006 a 2013. A razão de a seleção se iniciar em 2006 é que os primeiros projetos
customizados internacionais foram realizados nesse ano. Tal fato pode ser verificado na
Mensagem do Presidente, no Relatório Anual da FDC [FDC] (2006, p.3), que informava que
um "acontecimento marcante foi a intensificação do processo de internacionalização da FDC.
Ao formatarmos os primeiros programas customizados entregues no exterior (...), demos um
passo importante para o cumprimento dos objetivos estratégicos da instituição”. Por sua vez,
2013 foi escolhido como ano final de coleta de dados em função de esse ser o último relatório
anual disponível no momento dessa coleta8.
Como resultado, foi elaborada uma lista com 46 projetos. A partir dessa lista, foram
realizados levantamentos internos na FDC por meio de consulta a relatórios internos da área
de projetos customizados internacionais para identificar aqueles que atendessem aos critérios
anteriormente listados e ou que, porventura, não tivessem sido considerados nos relatórios
anuais. Com isso, o número de projetos foi reduzido para 31, já que foram excluídos os
classificados como palestras, os internacionais realizados no Brasil e os com alunos
estrangeiros realizados no Brasil.
Em seguida, foi feito contato por e-mail com os responsáveis por cada projeto para
conhecer mais detalhes, em especial se ele realmente atendia aos critérios previamente
estabelecidos. Também foi verificada a disponibilidade de os responsáveis participarem de
pelo menos uma entrevista. Com isso, o número de projetos reduziu para 16. Portanto,
realizamos a pesquisa sobre barreiras à internacionalização com base nesses projetos.
Conforme mencionado, incluímos o projeto realizado na Bolívia em 2015, o que eleva o
número final de projetos analisados para 17.
3.3 Coleta de dados
Estudos de caso geralmente combinam diversas fontes de coleta de dados, tais como
arquivos, entrevistas, questionários e observações (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989). Essa
variedade é considerada fundamental em se tratando de estudo de caso de natureza qualitativa,
pois permite aumentar a validade interna da pesquisa (Yin, 1994).
8 No decorrer da coleta de dados tomou-se conhecimento de um projeto que havia sido realizado na Bolívia em
2015. Esse projeto foi incluído no presente estudo.
44
A partir das sugestões de Eisenhardt (1989), Meyer (2001) e Yin (1981), os dados
secundários foram coletados em relatórios, e-mails relacionados aos projetos, atas de
reuniões, relatórios anuais da FDC, relatórios de viagem do professor Emerson de Almeida,
fundador e atual presidente estatutário da FDC, e planilhas de controle de projetos da área de
programas customizados. O objetivo foi levantar dados históricos que permitissem
compreender a internacionalização da FDC, identificar e descrever as barreiras encontradas
nos projetos selecionados para o estudo de caso, além de verificar a convergência ou
divergência com os dados primários obtidos (Yin, 1994). Essa coleta envolveu 3.747 páginas,
conforme o seguinte detalhamento:
a) 2.124 páginas de relatórios anuais da FDC, no período de 1976 a 2013.
b) 1.409 páginas de relatórios de viagem do professor Emerson de Almeida, no período
de 1987 a 2011.
c) 13 páginas do projeto sobre tendências da educação de executivos e movimentos
estratégicos das escolas – observações preliminares – versão 02 – professor Emerson
de Almeida – março /2008.
d) 5 páginas do documento Dibs – Definições institucionais básicas – e Visão Estratégica
para 2026.
e) 12 páginas do estatuto da FDC.
f) 65 páginas do documento elaborado pela Diretoria de Relações Internacionais em
2014 sobre os principais desafios e lacunas para a internacionalização da FDC,
contemplando entrevistas realizadas com 22 colaboradores da FDC.
g) 28 páginas de proposta enviada para realização de projeto na África.
h) 7 páginas do plano de ação para 1995, Brasilton.
i) 10 páginas de e-mails referentes aos projetos selecionados identificados como P-9, P-
10 e P-17.
j) Tabela de propostas de programas customizados não aprovadas – Relatório CRM.
k) 46 páginas do Relatório da Diretoria Internacional – 2012.
l) 28 páginas do Relatório sobre o Projeto Angola – 2008 (P-3).
Em termos de coleta de dados primários, essa foi feita por meio de entrevista pessoal.
Para Bauer e Gaskell (2002), a entrevista pessoal usualmente propicia uma compreensão mais
detalhada de crenças, atitudes, valores e motivações dos indivíduos em contextos sociais
específicos. No caso do presente estudo, as entrevistas foram realizadas com indivíduos que,
45
de alguma forma, estiveram envolvidos com os projetos selecionados, seja no papel de
gerente responsável, professor, professor coordenador técnico ou coordenador executivo.
Para tanto, foi elaborado um roteiro de entrevista cujo objetivo era propiciar condições
para que os entrevistados relatassem as principais dificuldades percebidas ao longo das quatro
fases de cada projeto selecionado: escuta ou originação, estruturação, entrega e sustentação.
Assim, o roteiro foi construído com a intenção de auxiliar o entrevistado a se lembrar dos
pontos que ele julgava mais importantes sobre a história do projeto, a partir do resgate da
origem da demanda, como foi a negociação, os indivíduos que estiveram envolvidos no
projeto, as dificuldades percebidas e, finalmente, verificar se, na percepção do entrevistado,
era notada uma variação nessas dificuldades em comparação com um outro projeto do qual
ele eventualmente tenha participado. Em cada entrevista, a entrevistadora procurou garantir
que cada projeto selecionado fosse abordado separadamente.
De maneira mais detalhada, este roteiro foi dividido em três partes (ver Anexo A). A
primeira parte, caracterização do projeto, consistiu de perguntas sobre como a demanda foi
originada e apresentada à FDC, a razão da escolha da FDC pelo cliente e quais departamentos
da FDC haviam sido envolvidos. A intenção era compreender um pouco mais sobre o
contexto de realização do projeto. Para tanto foram feitas as seguintes perguntas: a) “Como
aconteceu o contato e como a demanda foi apresentada à FDC?”, b) “Por que e como o
cliente escolheu a FDC?”, c) “Na FDC, outras áreas além da sua também estiveram
envolvidas? Como?”, d) “Como você classifica a preparação e prontidão das equipes e
processos da FDC para darem o suporte necessário para este projeto?”. A segunda parte do
roteiro da entrevista consistiu de uma pergunta cujo objetivo era conhecer as dificuldades
encontradas no projeto em cada uma de suas etapas. A pergunta formulada foi a seguinte:
a) “Quais foram as principais dificuldades encontradas neste projeto em cada uma das etapas:
escuta, estruturação, entrega e sustentação”. Finalmente, a terceira parte do roteiro teve
como objetivo conhecer a percepção do entrevistado sobre a variação dessas dificuldades nos
projetos nos quais ele esteve envolvido9.
Elaborado o roteiro, o próximo passo foi a seleção dos indivíduos a serem
entrevistados. Tal seleção se fez a partir da identificação dos gerentes responsáveis por cada
projeto selecionado, assim como do professor coordenador técnico e da coordenadora
executiva. Sempre que possível, buscou-se entrevistar o indivíduo que teve o maior
9 Apesar de o roteiro de entrevista ter sido apresentado a cada um dos entrevistados antes do início da entrevista,
a pesquisadora manteve os entrevistados à disposição para falarem livremente sobre a história do projeto.
Todos os entrevistados preferiram falar livremente, recorrendo ao roteiro quando surgia alguma dúvida ou
esquecimento em relação aos pontos a serem discutidos.
46
envolvimento possível no projeto e que, prioritariamente, foi envolvido em mais de um. Em
alguns casos, dois indivíduos foram entrevistados sobre o mesmo projeto. Como resultado,
foram realizadas nove entrevistas (ver Quadro 2), as quais foram agendadas por meio de
correio eletrônico e confirmadas posteriormente por telefone. Elas foram realizadas nas
cidades de Nova Lima/Minas Gerais, e Brasília/Distrito Federal, entre abril e junho de 2015.
Quadro 2 - Entrevistas realizadas
Cargo Local e hora Duração
Gerente de projetos dos projetos 1 e 2 e professor
coordenador técnico dos projetos 9 e 10 Brasília e Nova Lima
Entrevista sobre os projetos 1 e 2 Brasília, 28/04/15 00:38:49
Entrevista sobre os projetos 9 e 10 Nova Lima, 17/06/15 00:38:14
Gerente de projetos responsável pelo projeto 3 Nova Lima, 24/04/15 01:08:01
Gerente de projetos responsável pelos projetos 4,
13, 8 e envolvida no projeto 2 Nova Lima, 06/05/15 00:31:28
Gerente de projetos responsável pelos projetos 8 e
12 Nova Lima, 04/05/15 01:01:24
Professor coordenador técnico dos projetos 6 e 7 e
envolvido no projeto 1 Nova Lima, 03/06/15 00:41:29
Gerente de projetos responsável pelos projetos 14,
15 e 16 Nova Lima, 27/05/15 00:36:28
Gerente de projetos responsável pelo projeto 17
com a participação da coordenadora executiva do
projeto. A coordenadora executiva esteve
envolvida diretamente no projeto 4
Nova Lima, 17/06/15 00:49:59
Gerente de projetos responsável pelos projetos 5 e
11 Nova Lima, 20/04/15 00:47:26
Duração total
6:53:18
Fonte: Elaborado pela autora.
Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas, o que gerou um
documento com 128 páginas. Esse documento bem como os dados secundários forneceram a
base para a análise de dados, a qual é descrita a seguir.
47
3.4 Análise de dados
Primeiramente, as entrevistas transcritas foram divididas de acordo com os itens que
constavam do roteiro para que fosse possível identificar: a) características e contexto do
projeto, tais como demanda reativa ou proativa – uma vez que esse não foi um pré-requisito
para a seleção do projeto –, mercado internacional de realização do projeto, como a demanda
foi apresentada à FDC ou, ainda, se o cliente já havia participado de algum projeto da FDC; b)
dificuldades encontradas pelo entrevistado em cada uma das fases do projeto; c)
departamentos da FDC que estiveram envolvidos no projeto e o respectivo nível de
preparação para atender às demandas solicitadas, incluindo pessoas e processos. Com o
objetivo de facilitar a visualização, essas informações foram listadas em uma tabela, em cujo
preenchimento buscou-se relatar as barreiras à internacionalização da forma como elas foram
explicitadas nas entrevistas. Em várias situações, trechos dos depoimentos dos entrevistados
foram incluídos, a fim de assegurar que o desmembramento da entrevista não acarretasse uma
análise incorreta dos dados.
Em seguida, recorreu-se aos dados secundários para confirmar alguns dados primários,
e vice-versa, por exemplo, o ano de realização de cada projeto. Foi verificada divergência nos
projetos realizados na Argentina e no Chile, e uma proposta não aprovada. Nesses casos,
optou-se por utilizar a informação fornecida pelo entrevistado, que considerou como ano de
realização aquele que concentrou a maior parte do trabalho do projeto. Segundo relatos,
acontece de um projeto ser contratado no final do ano para realização no ano seguinte, e o
registro ser incluído no relatório anual no ano da contratação.
Adicionalmente, recorreu-se aos relatórios anuais para revisitar as informações sobre a
internacionalização da FDC e relacioná-la com as dos projetos. Por exemplo, identificou-se
que, em 2009, a FDC instalou seu conselho consultivo internacional com representantes de
diversos países, fato este considerado um marco no seu processo de internacionalização. Essa
ação teve impacto na realização de projetos customizados internacionais para firmas cujos
presidentes se aproximaram da FDC por meio da participação no conselho.
Também foram verificados documentos de trabalho dos projetos selecionados com o
objetivo de confirmar alguns dados primários. Por exemplo, foi analisado o relatório de um
projeto, o qual foi elaborado pela equipe técnica logo após a sua conclusão. Nesse relatório
são confirmadas as barreiras mencionadas pelo entrevistado, com ênfase nos relatos sobre a
falta de rotinas para a internacionalização. Também se teve acesso a e-mails trocados entre
gerente responsável, coordenadora executiva, professor coordenador técnico, professor de
48
escola parceira e cliente, relacionados a dois projetos. Em ambos os projetos, a consulta aos
dados secundários permitiu confirmar os relatos do entrevistado, trazendo mais clareza quanto
às barreiras à internacionalização, por exemplo, as dificuldades relacionadas ao envio de
material didático e à comunicação entre o professor coordenador técnico e os professores do
Oriente Médio e da Ásia que atuariam no projeto. Além disso, foi possível validar a
dificuldade na adaptação internacional vivenciada em um projeto, a qual foi explicitada em
troca de e-mails entre o professor coordenador técnico da FDC e o professor da escola
parceira. Também por meio de acesso aos e-mails trocados entre a coordenadora executiva de
um projeto e o despachante aduaneiro foi possível validar as dificuldades relacionadas ao
envio de material para determinado mercado estrangeiro, bem como a ausência de uma
assessoria aduaneira para esse tipo de atividade.
Finalmente, buscou-se contrastar os dados primários entre si por meio da comparação
entre os relatos de mais de um entrevistado sobre um mesmo projeto. Isso foi possível uma
vez que a terceira parte do roteiro de entrevista estimulava o entrevistado a comparar a
evolução das dificuldades nos projetos com os quais ele esteve envolvido. Especificamente,
tal procedimento foi feito em quatro projetos. Nesses casos, os relatos foram convergentes,
exceto em um deles, em que foi verificada divergência na percepção dos resultados obtidos
pelo cliente no projeto. Essa divergência não acarretou problemas na análise, uma vez que
houve convergência nas barreiras identificadas pelos dois entrevistados, com divergência
apenas na percepção relacionada à importância atribuída às barreiras.
Encerrada a triangulação de dados (Yin, 2005), prosseguimos na análise dos dados por
meio da identificação das barreiras à internacionalização. Isso foi feito de acordo com as
dificuldades relatadas pelos entrevistados nos projetos selecionados. Foram identificadas
cinco barreiras à internacionalização: idioma (Leonidou, 2004; Fahmy, Bygholm, & Jaeger,
2012), rotinas para a internacionalização (Knight & De Wit, 1995), falta de experiência
internacional da equipe (Bryant, 2013; Hawawini, 2005), adaptação internacional (Leonidou,
2004) e concorrência internacional (Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan, 2007).
Com relação à primeira barreira, idioma, foram classificadas como tal aquelas que se
referem a situações em que “é muito difícil encontrar um professor que tenha o domínio do
conteúdo, da metodologia e seja fluente no idioma”. Ainda sobre o idioma, também foram
consideradas as situações em que os demandantes, clientes, apresentaram limitações na
comunicação em outro idioma, como o inglês, por exemplo, dificultando a realização de uma
conversa mais técnica para a construção de uma solução educacional, com a interlocução com
49
professores estrangeiros. Adicionalmente, foi considerada a dificuldade de comunicação entre
a equipe técnica da FDC envolvida no projeto e os professores estrangeiros.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, foram
consideradas aquelas que se referem a situações em que “a FDC não tinha muito
conhecimento de como mandar os materiais didáticos para o exterior; não tinha nem agente
de carga aérea”. Ainda sobre a ausência de rotinas para a internacionalização, foram
consideradas as situações em que foram identificadas a falta de processos para atividades
administrativas inerentes aos programas customizados internacionais e a falta de processos
para se obter informações sobre tributos em transações internacionais e sobre os países e suas
exigências, tais como vistos. Ademais, também foram consideradas barreiras que dizem
respeito a problemas nos processos para a tradução do material didático dos projetos.
Com relação à terceira barreira, falta de experiência internacional da equipe, foram
classificadas aquelas que se referem a situações em que foi exposto que o projeto era uma das
primeiras experiências internacionais dos indivíduos envolvidos, os quais ressaltaram
dificuldades relacionadas a essa falta de experiência. Ainda sobre essa barreira, foram
considerados depoimentos que questionavam sobre “a capacidade da FDC de realizar
programas internacionais” devido à inexperiência na consecução desse tipo de projeto.
Com relação à quarta barreira, adaptação internacional, foram classificadas aquelas
que se referem a situações em que a solução educacional implementada não sofreu qualquer
adaptação em determinado mercado internacional, o que ocasionou dificuldades em alguma
etapa do projeto. Uma ilustração dessa barreira pode ser vista pelo depoimento de uma
entrevistada, que relata que “usou metodologia que usa no Brasil no Chile. Fez como seria o
programa no Brasil, só que exportado para o Chile”. Ela complementa afirmando que “se
houvesse adaptação, certamente teria sido diferente, melhor”. Ainda sobre a barreira
adaptação internacional, foram classificadas as relacionadas ao fato de a FDC ter uma
proposta de valor específica e diferente das escolas consideradas tradicionais, bem como as
dificuldades para “entregar projetos com parceiros que têm proposta de valor muito
diferentes, sem adaptação”.
Com relação à quinta barreira, concorrência internacional, foram classificadas aquelas
que se referem a situações em que foi identificada resistência de contratação e ou realização
do projeto, normalmente ocasionada pelo fato de o demandante e ou os executivos
participantes não conhecerem a FDC. Nesse sentido, esses indivíduos não consideravam as
escolas de negócios brasileiras como referências em educação executiva, privilegiando,
portanto, escolas de negócios localizadas nos Estados Unidos e ou Europa.
50
Após a identificação das cinco barreiras, para cada projeto foi verificada a ocorrência
dessas, a princípio considerando suas etapas separadamente. Pelos relatos dos entrevistados,
perceberam-se, no entanto, zonas de interseção entre elas, ou seja, ausência de entendimento
entre os entrevistados sobre as atividades que compõem cada uma das etapas do projeto.
Como resultado, optou-se por realizar a análise de maneira agregada. Assim, a ocorrência das
barreiras à internacionalização em cada projeto foi analisada em função da sua presença ou
não, e não por etapas do projeto.
Posteriormente, todos os projetos e respectivas barreiras foram listados em ordem
cronológica e aglutinados por ano de referência. Com isso, foi possível identificar a presença
ou não das cinco barreiras à internacionalização, agora considerando conjuntamente todos os
projetos em cada ano. Nos casos em que só havia um único projeto em dado ano, estabeleceu-
se que o resultado da existência ou não da barreira nesse projeto correspondia ao resultado da
existência ou não da barreira à internacionalização no ano de referência do projeto. Já nos
casos em que havia mais de um projeto em determinado ano, foram estabelecidos os seguintes
critérios: primeiro, se a barreira fosse identificada na metade dos projetos analisados no ano,
ela seria considerada indeterminada, uma vez que na outra metade ela não seria identificada.
Segundo, se a barreira fosse identificada em mais da metade dos projetos analisados no ano,
ela seria considerada presente. Terceiro, se ela fosse identificada em menos da metade dos
projetos analisados no ano, ela seria considerada ausente.
Ao final dessa etapa, obteve-se o resultado agregado das barreiras à
internacionalização por meio da construção de uma linha temporal (Langley, 1999). Tal
procedimento permitiu não somente a visualização da presença ou ausência anual de cada
uma das cinco barreiras previamente identificadas, como também possibilitou realizar a
análise comparativa dessas barreiras entre os anos de 2006 e 2015. Essa foi a última etapa de
análise de dados e compreendeu analisar a recorrência de cada barreira à internacionalização
ao longo desse período.
51
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
4.1 Considerações iniciais
O capítulo de descrição e análise de dados está dividido em três partes. Na primeira
parte, apresenta-se a FDC por meio de informações gerais sobre a sua criação e o
estabelecimento de parcerias com os meios acadêmico e empresarial. Na segunda parte,
procura-se descrever, de forma sucinta, marcos importantes do processo de
internacionalização da FDC, desde a sua criação até 2006, ano da realização do primeiro
projeto customizado internacional selecionado neste estudo. A terceira parte está voltada para
a análise das barreiras à internacionalização nos 17 projetos selecionados, enquanto a última
parte contém os resultados da análise comparativa de dados.
4.2 Fundação Dom Cabral (FDC)
A FDC é uma escola de negócios brasileira com atuação internacional, criada há 39
anos, e voltada para a realização de capacitação e treinamento para executivos dos setores
público e privado. De acordo com o Relatório Anual 2014, a FDC vem apresentando
crescimento anual por volta de 10% e registra a participação anual de aproximadamente
35.000 executivos nos seus programas.10
A FDC foi criada em agosto de 1976 como desdobramento do Centro de Extensão
Universitária (CEX) da Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG), atual PUC Minas, e
da antiga Associação Dom Cabral, que atuava no âmbito da Faculdade de Direito na
assistência ao aluno carente (FDC, Relatório Anual, 1976). A FDC é uma instituição
autônoma, de direito privado e sem fins lucrativos, e declarada de interesse público pelo
Decreto Presidencial 86.431, de 02/10/1981; Lei Estadual 7.773 de 08/09/1980 e Lei
Municipal 3.212, de 23/06/1980 (FDC, Relatório Anual, 1996).
O Relatório de Programação de Atividades da FDC (1977, p.6) indica que ela organizou
sua equipe de forma a ter “um composto de dois tipos de profissionais: homens de empresa,
com habilidade didática, e professores e pesquisadores de sólida formação acadêmica e
experiência em empresas. O traço comum entre eles é a vivência empresarial”. Assim, a equipe
da FDC vem sendo constituída por um corpo de professores em regime de tempo integral e um
10 Disponível em: http://www.fdc.org.br/sobreafdc/conhecaafdc/Paginas/Historico.aspx Acesso em: 17/10/2015.
52
corpo de técnicos qualificados, em regime de tempo parcial, exercendo simultaneamente
atividades em empresas (FDC, Relatório de Programação de Atividades, 1977).
Desde o início, por meio de inúmeras visitas técnicas realizadas pelo professor
Emerson de Almeida a escolas de negócios no exterior, a FDC procurou obter acesso ao
conhecimento em gestão a fim de atender à demanda de seus clientes em algumas
especialidades não disponíveis nos quadros da UCMG (Pimenta, 2006). Como resultado, a
história da FDC é marcada pelo desenvolvimento de acordos com escolas de negócios
internacionais, referência em suas respectivas áreas de atuação, assim como pela aproximação
com o setor produtivo, o que favoreceu a criação do CTE – Centro de Tecnologia Empresarial
– (FDC, Relatório Anual, 1998), marco na trajetória da FDC como um centro cujo objetivo
era trabalhar para a modernização das firmas. O CTE foi “concebido para atuar em parceria
com as organizações e tem como objetivo maior dar pronta e eficiente resposta aos desafios
que se colocam para as empresas”. Adicionalmente, apresentava como característica básica “o
fato de ter uma atuação nacional e estar voltado para a pesquisa e o desenvolvimento
empresarial, sendo capaz de gerar modelos gerenciais inovadores adequados aos valores
essenciais da sociedade brasileira”. Era apoiado por grandes executivos de renome nacional,
como Ozires Silva, Amaro Lanari Júnior e João Camilo Penna, dentre outros (FDC, Relatório
Anual, 1988).
Como resultado dessa proximidade, a FDC constituiu seu Conselho Consultivo
Internacional em 2009, atualmente composto por 69 membros de 21 países diferentes.
Ao longo dos anos, além do investimento na geração de conhecimento para garantir
acesso a pesquisas internacionais relevantes e ampliação de sua abrangência geográfica para
atendimento aos clientes, a FDC continuou a investir na celebração de novos acordos com
escolas de negócios internacionais. Por exemplo, em 2011, a FDC estimulou a criação da
Rede Enlaces, rede de escolas de negócios latino-americanas, com a presença de escolas de
negócios e universidades da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela.
Atualmente, a FDC pode ser representada por três grandes áreas de negócios, sendo
elas: programas customizados, parcerias empresariais voltadas para desenvolvimento de
firmas de médio porte, e programas abertos de curta duração e de longa duração com
titulação, como pós-graduação lato sensu e MBA executivo (FDC, Relatório Anual, 2014). Os
programas customizados se referem aos desenvolvidos especificamente para os executivos de
uma firma, segundo demanda específica. Os programas abertos de curta duração são aqueles
desenvolvidos para indivíduos de distintas firmas, em diversas áreas do conhecimento, com
53
duração de até 4 semanas. Esses programas são realizados no Brasil e ou no exterior, sendo
predominante a participação de alunos brasileiros.11
A FDC possui campi em Belo Horizonte, Nova Lima, Rio de Janeiro e São Paulo, e
está presente em todo o território brasileiro por meio de associados regionais. Em 2014, a
FDC contava com 338 indivíduos. Sua receita operacional nesse ano foi de R$ 219,2 milhões
de reais (FDC, Relatório Anual, 2014).
4.3 A internacionalização da FDC
Pode-se dizer que a internacionalização está presente desde a origem da FDC por meio
da busca de conhecimento junto a escolas de negócios internacionais e da atração de
professores estrangeiros para composição do seu quadro de professores. Por exemplo, em
1976, ano da sua criação, a FDC trouxe dois professores para ministrar treinamentos,
professor Michel Fleuriet, do CESA, Centre d´Enseignement Supérieur des Affaires, e
professor Kazuo Terasaki, da Ayoma Gakuin University. Nesse ano foi contabilizado apenas
um participante estrangeiro nos programas da UCMG/FDC.
No ano seguinte, a FDC reforçou a busca por escolas de negócios internacionais com o
intuito de apoiá-la tecnicamente nas áreas de conhecimento que ainda não eram
suficientemente desenvolvidas no Brasil. Em 1978, a FDC começou a se envolver em projetos
de maior complexidade com grandes firmas, tais como Usiminas e Acesita, e definiu como
meta básica e mais específica atender a firmas brasileiras, com ênfase nas de Minas Gerais.
No período de 1977-1979, a FDC recebeu mais de 10 missões de professores franceses, do
CESA, que participaram de atividades para firmas localizadas em Minas Gerais, Rio de
Janeiro e São Paulo, além de atividades de treinamento da equipe técnica da FDC.
O início da década de 1980 foi caracterizado pela desaceleração do crescimento
econômico brasileiro com impactos para a FDC, como supressão de alguns programas e
ênfase em programas que atendessem às necessidades das firmas para retomada do
crescimento, como ampliação da exportação (FDC, Relatório Anual, 1980). Em 1980, foi
realizado o Seminário Franco-Brasileiro, no Brasil, promovido pela FDC e pelo CESA, com a
participação de 197 empresários brasileiros e franceses. Esse ano também foi marcado pelo
aumento da atuação da FDC em demandas por capacitação em exportação ou rodas de
negócio, com professores da FDC e do CESA. Em 1981, o professor Emerson de Almeida
11 Programas desenvolvidos para estrangeiros, em geral, módulos internacionais de programas de MBA.
54
esteve na França para reuniões com o CESA e ficou encaminhada a ideia de realizar um
seminário para dirigentes de firmas brasileiras na França, junto ao CESA, além da
continuidade da ação de desenvolvimento de professores da FDC na França.
Em 1983, o professor Emerson de Almeida realizou viagem à América do Norte com
o objetivo de verificar a possibilidade de intercâmbio entre professores da FDC e professores
americanos, a convite do governo dos EUA, dentro do "International Visitor Program" (FDC,
Relatório Anual, 1983). Essas ações estavam alinhadas à intenção de internacionalização da
FDC e proporcionavam proximidade com potenciais clientes e professores estrangeiros que
poderiam atuar nos projetos da FDC. Três anos depois, a FDC celebrou sua primeira década e
realizou um estudo sobre a sua estrutura e atuação para os próximos anos, com apoio de
professor especialista do CESA. Foi também um ano marcado pela realização de eventos
institucionais com professores nacionais e estrangeiros (CESA) e executivos de renome
nacional, tais como Ozires Silva, na época presidente da Petrobras, e Francelino Pereira dos
Santos, na época vice-presidente do Banco do Brasil. Em 1987, a FDC recebeu uma missão
canadense e uma missão britânica, compostas por empresários interessados em manter contato
com empresários mineiros visando à realização de negócios internacionais.
Cabe salientar que, nos 11 primeiros anos da FDC, foram praticadas diversas ações
voltadas para a realização de missões a escolas de negócios internacionais e recepção de
professores estrangeiros na FDC. Apesar disso, o Relatório Anual FDC (1987) foi o primeiro
relatório anual a incluir um item específico para "viagem internacional", com o objetivo de inserir
essa iniciativa no projeto de desenvolvimento da FDC. Nesse ano, o professor Emerson de
Almeida realizou visitas a 20 escolas de negócios europeias, dedicadas ao ensino gerencial e ou
ao comércio exterior, com o objetivo de rever instituições visitadas há uma década, observar
tendências e criar oportunidades para a FDC (Relatório de Viagem do professor Emerson de
Almeida – 1987). É interessante observar que, no seu relatório de viagem, o professor Emerson de
Almeida chama atenção para a existência de um movimento de internacionalização de programas,
tanto no nível de participantes quanto no nível de professores, e reforça a importância do inglês
como idioma dominante nos programas das escolas de negócios internacionais.
Conforme relatado, em 1988 foi construído o CTE, cuja inauguração aconteceu em
1989, em cerimônia que contou com a presença de diversos executivos, além de diretores do
INSEAD, na época reconhecida como a mais importante escola de negócios europeia (FDC,
Relatório Anual, 1988). O CTE foi encerrado em 2008, após 18 de existência, e deu espaço a
um novo modelo de parceria com presidentes e diretores de firmas, a Parceria Conexão,
55
Organizações e Mundo – COMn. A COMn foi idealizada contemplando encontros para
discussão e desenvolvimento com a participação de presidentes e diretores.
Em 1990, foi realizado o 1º PGA - Programa de Gestão Avançada –, fruto dos
trabalhos desenvolvidos pelo CTE em parceria com o INSEAD. Esse programa, considerado
como piloto pela assembleia dos presidentes das firmas associadas ao CTE, foi realizado em
três módulos, no Brasil e na França, e teve como objetivo “desenvolver nos altos dirigentes
de firmas brasileiras a capacidade de atuar e empreender, num ambiente internacional,
preservando características culturais brasileiras, onde a competitividade e a eficiência eram,
cada vez mais, fatores-chave para o seu sucesso”. (FDC, Relatório Anual, 1990 p.12). Nesse
ano também foram firmados acordos para aproximação e ou condução de trabalhos conjuntos
entre a FDC e escolas de negócios da Itália, Portugal e da Alemanha.
Em 1991, a FDC realizou seminários internacionais juntamente com o INSEAD, da
França, e com o Gymnasium for Management, da Itália. Além disso, foram realizadas
diversas visitas e feitos contatos com outras escolas de negócios internacionais com o objetivo
de possibilitar maior acesso da FDC a novos conhecimentos sobre gestão. No ano seguinte,
foram conduzidos programas internacionais, como o PGA – Programa de Gestão Avançada –,
e seminários em parceria com o INSEAD. Ademais, um novo passo foi dado pela FDC no seu
processo de internacionalização. Em dezembro, foi assinado acordo com a J.L. Kellogg
Graduate School of Management, da Northwestern University (EUA), para o
desenvolvimento conjunto de programas de formação de executivos brasileiros. Ao longo
desse ano, professores e diretores da FDC realizaram várias visitas a firmas na Europa,
Estados Unidos e América Latina, assim como receberam a visita de professores dessa e de
outras escolas de negócios. Em linhas gerais, os objetivos dessas visitas eram a realização de
trabalhos conjuntos com os professores da FDC. Isso envolvia transferência e
desenvolvimento de tecnologias, participação nas pesquisas, na elaboração de casos de ensino
e em atividades dirigidas às firmas atendidas pela FDC.
Em 1993, foi lançado o programa aberto internacional STC – Skills, Tools &
Competences, em parceria com a J.L. Kellogg Graduate School of Management, que teve a
primeira turma realizada em 1994, com módulos no Brasil e nos Estados Unidos. Esse
programa foi destinado a executivos que necessitavam de uma vivência em termos de gestão
internacional e que estivessem sendo preparados para assumir responsabilidades adicionais
em suas firmas nos próximos anos.
Ainda em 1993, foram realizadas diversas visitas e contatos com escolas de negócios
na Europa, Estados Unidos e Ásia. Também foi elaborado um documento com as diretrizes da
56
FDC para o triênio. Dentre elas, anotadas na reunião realizada no Nacional Clube, em
07/11/92, constavam "ampliar o âmbito de atuação da FDC do mercado local para o
mercado internacional, já iniciando, inclusive, incursões no mercado internacional. Atuar na
linha de parcerias no sentido amplo - fornecedores, concorrentes, clientes ampliando e
fortalecendo o laço com parceiros internacionais." A FDC buscou estabelecer ações para
incentivar o aprendizado de idiomas entre os colaboradores, estabelecer parcerias no
Mercosul, ampliar e consolidar as parcerias nacionais e internacionais existentes e expandir o
mercado de atuação para a América Latina (FDC, Plano de Ação – Brasilton, 1995).
Em 1995, a realização de programas em parceria com o INSEAD e a J.L. Kellogg
School of Management foi destacada no relatório anual. Adicionalmente, foi promovido o
primeiro Dia Brasil na J.L. Kellogg School of Management. O Relatório Anual FDC (1995)
também acrescenta que, com a criação do Mercosul e a ampliação das perspectivas para a
educação de executivos nessa região, a FDC iniciou contatos com escolas de negócios de três
países membros. Assim, em 1996, ano da celebração do vigésimo aniversário da FDC, a
América Latina foi considerada como mercado-alvo prioritário, os programas internacionais
se consolidavam e uma equipe técnica da FDC se encarregava do desenvolvimento do MBA
Empresarial da FDC, com apoio do INSEAD e parceria com as firmas participantes do CTE.
Em 1998, a FDC lançou mais um programa aberto internacional em parceria com o
INSEAD, GEP – Gestão Estratégica de Pessoas, e coordenou seminários internacionais, como
o módulo brasileiro do Global Business Consortium Programme, da London Business School,
no Rio de Janeiro. Em 1999, foi celebrada a parceria de 10 anos com o INSEAD. Nesse ano,
foram ainda realizadas diversas visitas e contatos com escolas de negócios internacionais pelo
professor Emerson de Almeida.
O Relatório Anual FDC 2000 (2000, p.17) indica que “o processo de
internacionalização da FDC teve avanços significativos nesse ano, em três frentes: os
contatos e negociações de novas parcerias e associações com instituições das Américas do
Norte e do Sul e Europa, a constituição de células básicas de competência, que deverão gerar
conhecimento e tecnologias de gestão, e a implantação do Campus de Alphaville - Lagoa dos
Ingleses e do Espaço Residencial". Nesse mesmo ano, um professor da FDC, professor
Geraldo Sardinha, foi o primeiro brasileiro e segundo latino-americano a compor o quadro de
professores do INSEAD, na França. Também foi realizado um programa customizado
internacional para a Unilever América Latina. Tratou-se de um seminário internacional,
estruturado pela FDC e realizado em Itu, São Paulo, reunindo 30 gerentes latino-americanos
57
da área de logística da firma, provenientes da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,
México, República Dominicana e Venezuela.
Em maio desse ano, o professor Emerson de Almeida esteve presente à reunião anual
do Conselho Internacional do INSEAD como membro, e, como nos anos anteriores, diversas
visitas e contatos foram realizados com escolas de negócios estrangeiras. É importante ainda
ressaltar o fortalecimento do relacionamento da FDC com o UNICON, International
University Cosortium for Executive Education, que se dedica à troca de experiência entre
escolas de negócios do mundo inteiro em desenvolvimento de executivos. A FDC foi a
primeira escola de negócios da América do Sul a fazer parte do UNICON.
Em 2002, várias iniciativas relacionadas à internacionalização foram desencadeadas,
entre elas a parceria com a UBC Commerce, da University of British Columbia, Canadá, para
desenvolvimento de pesquisas e programas conjuntos (FDC, Relatório Anual, 2002). Em
2004, foram realizados programas customizados para grandes clientes, por ações de suas
universidades corporativas, nas instalações da FDC, com participantes internacionais. O
exemplo mais proeminente foi o programa Campus Arcelor, organizado pela Universidade
Corporativa de Arcelor em parceria com uma outra instituição de ensino internacional,
envolvendo 19 participantes europeus. Em setembro desse ano, a FDC firmou acordo com a
Shanghai Jiao Ton University (Aetna School of Management) e a Sauder School of Business
da UBC para a realização, em conjunto, de um programa para executivos brasileiros na China,
em 2005.
Em 2006, a FDC comemorou seus 30 anos. Nas festividades de celebração, foi
utilizada uma metáfora que comparava as décadas da FDC à culinária, na perspectiva do
processo de internacionalização (FDC, Relatório Anual, 2006). A culinária mineira
representava a primeira década da FDC, cujas atividades estavam orientadas para o mercado
doméstico com especial concentração no mercado mineiro. A culinária brasileira representava
a segunda década, quando a FDC mantinha a intenção de avançar no seu processo de
internacionalização, porém as atividades ainda eram muito concentradas no mercado
doméstico. A terceira década da FDC foi ilustrada pela culinária internacional, representando
um número maior de atividades internacionais, por meio de programas de desenvolvimento
internacionais ou intercâmbio de professores.
Nesse ano, a FDC formatou os seus primeiros programas customizados realizados no
exterior (FDC, Relatório Anual, 2006). Citando os projetos desenvolvidos para clientes baseados
em Angola, Canadá e Chile, o Relatório Anual da FDC (2006, p.3) afirma que a FDC deu um
“passo importante para o cumprimento dos objetivos estratégicos da instituição”.
58
Encerra-se aqui o breve relato da internacionalização da FDC como forma de
contextualizar a análise das barreiras à internacionalização pertinentes aos 17 projetos
customizados internacionais que fazem parte deste estudo. Esses projetos iniciam-se em 2006,
motivo pelo qual este breve relato foi encerrado.
4.4 Barreiras à internacionalização: projetos customizados internacionais
Esta parte do trabalho tem como objetivo identificar e analisar as barreiras à
internacionalização dos projetos customizados internacionais referentes ao período de 2006 a
2015, apresentados no Quadro 3, e está dividida por ano de realização dos projetos.
Quadro 3 - Projetos Customizados Internacionais - 2006 a 2015
Projetos Ano Realizado ou não? Região/País do cliente ou potencial cliente
1 2006 Realizado Argentina
2 2007 Realizado Peru
3 2007 Realizado Angola
4 2008 Realizado Chile
5 2008 Realizado Bolívia e Paraguai
6 2008 Realizado Portugal
7 2008 Realizado África do Sul e Brasil
8 2010 Realizado Argentina e México
9 2013 Realizado Estados Unidos
10 2013 Realizado Emirados Árabes Unidos
11 2013 Realizado Guiné Equatorial
12 2013 Não Realizado América Latina
13 2013 Não Realizado América Latina
14 2013 Não Realizado América Latina
15 2013 Não Realizado Brasil e França
16 2013 Não Realizado Estados Unidos, Austrália e Europa
17 2015 Realizado Bolívia
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.1 Barreiras à internacionalização: 2006
Como um dos primeiros resultados da expansão da atuação internacional da FDC para
mercados latino-americanos, em 2006, foi selecionado o Projeto 1, P1, realizado pela FDC
para uma firma na Argentina. Segundo os relatos de um professor entrevistado e gerente de
59
projetos naquela época, essa demanda foi apresentada à FDC por meio do gerente de projetos
da FDC que atendia ao grupo controlador dessa firma, baseada na Argentina, que era cliente
da FDC no Brasil. O professor acrescentou que “a Argentina estava enfrentando uma crise
econômica e social sem precedentes, e que a firma cliente havia procurado a FDC para
realizar um programa de intervenção focado em gestão de pessoas e equipes, em situações de
crise”.
Com relação à primeira barreira, idioma, no P1 essa barreira foi identificada nas etapas
de escuta, elaboração da proposta e negociação. Foi relatado que o gerente de projetos
responsável pelo relacionamento com o grupo controlador dessa firma no Brasil não falava
espanhol, o que comprometia a interação com os interlocutores argentinos. Um professor foi
envolvido por ter domínio do espanhol e experiência internacional, o que favoreceu a
negociação.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, um entrevistado
relatou que a FDC não tinha rotinas estabelecidas para a tradução do material para o espanhol.
Assim, a escolha de uma professora argentina para ministrar o programa foi a solução
encontrada, pois ela mesma produziu o material didático em espanhol. Além disso, a FDC não
tinha conhecimento sobre fornecedores naquele país para a produção do material didático.
Como forma de assegurar que o padrão de qualidade do material fosse o mesmo do utilizado
nos projetos realizados no Brasil, o gerente do projeto optou pela impressão e preparação do
material didático na FDC, bem como pelo envio do mesmo como bagagem da equipe técnica.
Esse entrevistado acrescentou que “a FDC não tinha muito conhecimento de como mandar os
materiais. A gente não tinha nem agente de carga aérea”, e reforçou dizendo que “naquela
altura a gente não tinha processo algum, a gente estava no começo da curva de
aprendizagem”.
Em se tratando da barreira relativa à experiência internacional da equipe, ela foi
evidenciada ao longo do programa, conforme relato do professor. Ele pontuou que várias
vezes, ao longo do programa, foi questionado na FDC: “Será que a Fundação tem cacife?”.
Segundo ele, essa polêmica gerada entre professores refletia a inexperiência da equipe e a
insegurança sobre o que oferecer para firmas e executivos de outros países. Outro
entrevistado, ao tecer comentários sobre a experiência internacional no P-1, relatou que “foi
um projeto amador, contando com amigos disponíveis para resolver questões complexas”.
Com relação à adaptação internacional, quarta barreira, ela pode ser ilustrada pelo fato
de o conteúdo e a metodologia não terem sido adaptados ao contexto organizacional do
cliente, segundo relato de um dos entrevistados. A equipe técnica desse programa foi
60
composta por renomado especialista no assunto, da FDC, dois professores brasileiros e uma
professora argentina, para quem foi confiado o trabalho em função da sua experiência naquele
país. Ela teria sido responsável por adequar e transferir toda a proposta de valor da FDC para
aquele contexto, segundo o primeiro professor entrevistado. Na entrevista com o segundo
professor, ele reforçou que os problemas que ocorreram ao longo da realização do programa
se deveram também à falta de adaptação do conteúdo e metodologia ao contexto
organizacional do cliente.
Considerando então o primeiro ano analisado, 2006, foram identificadas as seguintes
barreiras à internacionalização: idiomas, falta de rotinas para a internacionalização, falta de
experiência internacional da equipe e falta de adaptação internacional, conforme Quadro 4.
Quadro 4 - Barreiras à internacionalização - 2006
Barreiras 2006
Idioma Sim
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Sim
Adaptação Internacional Sim
Concorrência Internacional Não
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.2 Barreiras à internacionalização: 2007
Foram selecionados para análise dois projetos realizados pela FDC no ano de 2007. O
projeto 2, P-2, foi realizado para uma firma do setor financeiro no Peru. Essa demanda foi
apresentada à FDC por meio da universidade parceira da FDC no Peru, Universidad del
Pacífico. O acordo com essa escola de negócios foi feito nesse mesmo ano, e, conforme
relatado, fazia parte das iniciativas da FDC avançar a sua internacionalização na América
Latina.
De acordo com o professor entrevistado, tratava-se de “um treinamento a ser
contratado pelo novo gerente de recursos humanos da firma, um treinamento para a alta
direção do banco”, com foco em gestão de pessoas. Para a realização da escuta da demanda, o
gerente coordenador de programas customizados na época orientou que o professor, na época
gerente de projetos, fosse acompanhado de uma gerente de projetos da FDC com
61
conhecimento técnico sobre o tema. Além disso, a gerente de projetos falava espanhol e já
havia morado no Chile.
Por sua vez, o projeto 3, P-3, foi realizado para uma firma de grande porte em Angola.
Essa demanda foi apresentada à FDC pelo executivo responsável pelo programa de
capacitação e formação dos profissionais dessa firma, um brasileiro, que procurou a FDC para
auxiliá-lo na construção da universidade corporativa dessa firma, segundo relatos do gerente
de projetos responsável por esse projeto.
Com relação à primeira barreira, idioma, no P-2, ela foi identificada na entrega do
programa. Os dois entrevistados não apontaram dificuldades relacionadas a essa barreira nas
etapas de escuta e de estruturação, porém, durante a entrega, momento em que o professor
interage com o grupo de executivos, a gerente de projetos entrevistada sugeriu que o idioma
foi uma barreira “para passar o conteúdo com a mesma naturalidade”. A entrevistada
acrescenta que “a riqueza que a gente vê aqui nas nossas ideias a gente consegue transmitir
para o cliente, mesmo quando aquele cliente é mais rígido ou não capta bem. Aqui nós temos
o recurso da linguagem talvez, ou recurso da proximidade para poder falar, e cultura”. A
entrevistada concluiu ressaltando que no Peru não havia essa proximidade e tampouco o
idioma não favorecia essa interação. No P-3, o idioma não foi considerado uma barreira,
provavelmente pelo fato de o português ser idioma oficial de Angola12. Considerando a
barreira idioma nos projetos analisados referentes ao ano de 2007, entende-se como
indeterminada a sua presença, já que no primeiro projeto há registro, enquanto no segundo
tem-se a ausência da barreira.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, no P-2, o professor
entrevistado apontou que houve problemas na tradução do material para o espanhol, assim
como falta de conhecimento da FDC sobre processos de envio de material didático. Sobre os
problemas na tradução do material, segundo relatos, o material preparado pelo gerente de
projetos ou professor era encaminhado a uma área administrativa da FDC, responsável pela
parte de edição e produção de documentos e material didático, que tem uma relação de
tradutores credenciados para a realização da tradução dos materiais do português para outro
idioma e vice-versa.
12 O Relatório Anual FDC 2007 indica que 165 colaboradores estudaram idiomas, como inglês, espanhol ou
mandarim, com o apoio da FDC, porém esses colaboradores não necessariamente estavam envolvidos nos
projetos customizados internacionais. Vale ressaltar que esse benefício era concedido a colaboradores de
tempo integral, e não a colaboradores de tempo parcial, que era o caso de grande parte dos professores
cadastrados na FDC em constante interação com os clientes.
62
O professor acredita que o problema possa ter sido causado pelo fato de o tradutor
acionado para realizar a tradução não ter familiaridade com o assunto a ser traduzido,
negligenciando termos técnicos. No que tange ao envio de material didático ao exterior, o
professor entrevistado relata que não existia um processo estruturado e divulgado para os
gerentes de projetos e ou para a coordenação executiva sobre os procedimentos que deveriam
ser adotados para tal. Uma vez que a autonomia é um dos princípios da FDC – e o gerente de
projetos é o responsável pelo projeto em sua totalidade -, com o objetivo de evitar que o
material não estivesse disponível quando da realização do projeto, a opção do gerente era
despachar o material didático como bagagem acompanhada.
No P-3, a falta de rotinas para a internacionalização foi, segundo relatos, uma barreira
em diversos momentos do projeto, o que gerou retrabalho e ou esforço adicional do gerente de
projetos para viabilizar as atividades. Por exemplo, o gerente de projetos entrevistado
informou que não teve qualquer apoio da FDC para operacionalizar seu visto assim como o
dos professores para a viagem a trabalho a Angola. Além disso, verificou-se que não havia
processos ou informações disponíveis na FDC para orientar esse procedimento, ficando todas
as ações sob a direção e responsabilidade do gerente de projetos.
O gerente de projetos responsável por P-3 também ilustrou que a falta de rotinas para a
internacionalização o levava a entender que “a FDC queria que a realidade em Angola se
adaptasse às suas normas”. Por exemplo, as exigências de documentos de comprovação de
despesas para efetuar reembolso da despesa ao gerente de projetos e ou professores que
estivessem atuando no exterior eram exatamente as mesmas vigentes para os projetos no
Brasil, como no caso da exigência de nota fiscal. O gerente ilustra que “em Angola ninguém
dá nota fiscal, e a FDC exigia essa nota para que o reembolso fosse feito”. Outra evidência
dessa barreira no P-3 foi o excessivo número de erros nas faturas referentes ao reembolso de
despesas que eram apresentadas pela FDC à firma em Angola. Segundo o gerente de projetos
entrevistado, não havia controle ou uma rotina para a conferência e realização dessas
cobranças ao cliente na FDC, acarretando questionamentos referentes a cobranças indevidas.
Tratando-se da barreira de experiência internacional da equipe, no P-2, uma gerente
envolvida relata que o fato de as professoras que atuaram no programa não estarem
familiarizadas com o contexto cultural daquele país pode ter comprometido o desempenho no
projeto, que, aliás, ficou aquém ao esperado pela equipe técnica. A entrevistada reforçou o
impacto das diferenças culturais, assim como o modo peculiar de pensar dos alunos. Ademais,
foi dito que alguns professores nunca haviam atuado no Peru, enquanto, para outros, essa foi a
primeira experiência internacional.
63
Analisando essa barreira no P-3, o gerente de projetos entrevistado relatou que
acredita que, por falta de experiência, quando se falava de internacionalização, as pessoas na
FDC acabavam idealizando um contexto melhor do que o do Brasil, por exemplo, Paris. E
acrescentou que, por se tratar de um projeto em Angola, alguns professores reclamaram muito
da infraestrutura do lugar, das quedas de energia. Enfim, eles não sabiam o que esperar por
falta de experiência internacional, bem como tinham a expectativa de que o gerente de
projetos resolvesse todas as situações de desconforto. O gerente entrevistado reforçou que “as
pessoas precisam estar preparadas para tudo e não apenas achar que internacionalizar é ir
para Paris”.
Outro exemplo da falta de experiência internacional foi não ter bandeira de Angola na
FDC para hastear na ocasião de uma visita de executivos daquele país, fato classificado pelo
gerente entrevistado como “muito amadorismo nessa parte”. Considerando outros atores
relacionados à FDC envolvidos no projeto, o gerente de projetos relatou que as pessoas
responsáveis pela emissão de passagem aérea, por exemplo, não tinham familiaridade com
rotas para destinos internacionais, ocasionando transtornos para a equipe técnica e custos
adicionais para a firma cliente. Ele exemplificou relatando que “os atendentes da fornecedora
de passagens aéreas não sabiam nem que precisava de visto, não sabiam nem que tinha voo
direto para Angola”.
Com relação à barreira sobre adaptação internacional, no P-2, ela pode ser ilustrada
pela dificuldade em adaptar a solução educacional proposta pela FDC ao contexto da firma no
Peru. Conforme a gerente de projetos, como se tratava de um projeto com características
muito próximas de uma atividade de monitoria, com uma participação muito ativa dos
executivos durante as interações, era necessário que eles entendessem essa expectativa. Ela
enfatizou que “não era aula expositiva, era intervenção. A proposta de valor da FDC é
construção conjunta. É difícil entregar isso em contextos diferentes que não tenham essa
compreensão”, e lembrou que, normalmente, idealiza-se um projeto como se ele fosse
acontecer no Brasil e o transfere para o outro mercado internacional.
No P-3, o gerente de projetos entrevistado relatou dificuldades para a adaptação
internacional na estruturação do projeto, julgando necessário que os professores buscassem
uma solução adequada para o contexto do cliente, renunciando, com isso, a certas fórmulas
bem-sucedidas no Brasil. O gerente de projetos acrescentou que, como tudo em Angola era
diferente, era preciso considerar os aspectos político, cultural, a meritocracia, dentre outras
questões, para fazer o desenho da universidade corporativa e viabilizar a sua implementação
naquele mercado internacional.
64
Adicionalmente, a concorrência internacional foi uma barreira identificada no P-2.
Ainda que a demanda tivesse sido apresentada à FDC de forma reativa, por meio de
recomendação da universidade parceira da FDC no Peru, quando houve a primeira visita ao
novo gerente de recursos humanos da firma nesse mercado internacional, o professor
entrevistado indicou que houve resistência inicial da parte dele com relação à FDC: “ali o
interlocutor era o gerente de recursos humanos do banco que tinha poucos meses no cargo,
demonstrando assim muita insegurança porque era o primeiro programa que ele contratava
para a alta direção da empresa, ou seja, ele precisava mostrar serviço. E muito reticente em
experimentar um fornecedor novo. A Fundação era para esse sujeito, até então, uma ilustre
desconhecida mesmo”. No P-3, a concorrência internacional não foi apontada como uma
barreira pelo entrevistado. Assim, considerando-se que a concorrência internacional foi
apontada como barreira em somente um dos dois projetos realizados em 2007, ela foi
classificada como indeterminada.
Em relação ao segundo ano analisado, 2007, foram identificadas as barreiras falta de
rotinas para a internacionalização, falta de experiência internacional da equipe e falta de
adaptação internacional, conforme Quadro 5.
Quadro 5 - Barreiras à internacionalização - 2007
Barreiras 2007
Idioma Indeterminada
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Sim
Adaptação Internacional Sim
Concorrência Internacional Indeterminada
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.3 Barreiras à internacionalização: 2008
Foram selecionados para análise quatro projetos referentes ao ano de 2008. O projeto
4, P-4, foi realizado para uma firma da indústria de energia, no Chile. A demanda por esse
projeto foi apresentada por uma executiva brasileira dessa firma que havia sido membro do
CTE, quando trabalhava em outra firma, e valorizava a customização que a FDC apresentava
nos seus projetos. Ou seja, a proposta de valor da FDC e o envolvimento do cliente na
65
construção da proposta e durante a realização do programa eram um diferencial para a
demandante.
O projeto 5, P-5, foi realizado na Bolívia e no Paraguai para uma firma multinacional
que tinha como objetivo que toda a capacitação para seus executivos na América Latina fosse
conduzida pela mesma escola de negócios, no caso a FDC. A firma já era cliente da FDC,
tendo contratado um projeto para seus executivos baseados no Brasil. Por sua vez, o projeto 6,
P-6, foi realizado para uma firma multinacional brasileira, que já era cliente da FDC e decidiu
estender o projeto desenvolvido no Brasil para sua filial portuguesa. Ou seja, o projeto foi
uma adaptação do projeto realizado no Brasil, utilizando, inclusive, grande parte dos
professores que já haviam participado desse projeto. Finalmente, o projeto 7, P-7, foi
realizado na África do Sul, contratado por uma multinacional que já era cliente da FDC há
alguns anos, no Brasil, e buscava a realização de um projeto com um módulo no Brasil e um
na África do Sul, em parceria com a University of Cape Town13. Esse projeto contou com a
participação de alunos brasileiros, sul-africanos, australianos, americanos, entre outros.
Com relação à primeira barreira, idioma, no P-4, ela esteve presente na etapa da
estruturação da proposta e na entrega. De acordo com a gerente entrevistada responsável por
esse projeto, a sua interlocutora era brasileira, o que facilitava muito o entendimento. A
gerente do projeto relatou que a parte mais difícil foi “conseguir um professor que fala
espanhol e que ele entenda as idiossincrasias”. Como não foi possível encontrá-lo, a gerente
do projeto optou por dois professores que atuavam nos programas da FDC, contando com
tradução simultânea, e relatou que fez a gestão do workshop em espanhol, visto que dominava
o idioma. Como se tratava também de uma solução de construção conjunta ao longo do
projeto, ou seja, propunha-se uma metodologia que estimulava o diálogo frequente em
detrimento do modelo de aula tradicional, a gerente de projetos entrevistada reforçou que “o
idioma restringe a transmissão do conteúdo, comparado com o mesmo programa na língua
pátria”. Além disso, acrescenta que, na época, pelo menos na equipe de programas
customizados, não havia coordenadora executiva que falasse espanhol, o que apresentava
impacto nos trâmites operacionais do projeto.
No P-5, o idioma também foi considerado uma barreira. A gerente entrevistada,
responsável pelo projeto, ressaltou que o ideal seria se o professor “tivesse o espanhol fluente.
Então, de certa forma, o idioma acabou sendo uma barreira. Assim como no P-4, as aulas
13 O Relatório anual FDC (2008) ilustra que a FDC buscou fortalecer sua rede de parcerias e alianças,
direcionando esforços para atender às empresas multinacionais e empresas brasileiras com atuação
internacional que constavam no seu portfólio de clientes.
66
foram ministradas com tradução simultânea, e o “programa teria tido mais sucesso se tivesse
sido em espanhol". Segundo relatos, os professores que eram considerados os mais adequados
para conduzirem esses programas, pois dominavam o conteúdo e a metodologia, não tinham
fluência em outros idiomas, no espanhol, principalmente.
Já no P-6, o idioma não foi considerado uma barreira, considerando-se que o projeto
foi realizado em Portugal, em português.
No P-7, o idioma foi considerado uma barreira pelo professor coordenador técnico
entrevistado, que exemplificou que a gerente de projetos que era responsável por projetos
anteriores da firma na FDC precisou ser substituída por outro gerente de projetos, pois não era
fluente em inglês. Ele ilustrou que “a primeira etapa não foi complicada, porque eles já
sabiam que a Fundação fazia. A firma já valorizava muito, já vinha historicamente
trabalhando com a gente há muito tempo. Já havia uma relação de confiança com a gerente
de projetos e com a Fundação. Porque mudou da gerente anterior para o novo gerente foi
uma questão de língua. Realmente ela não tinha fluência”. Esse projeto foi realizado na
África do Sul e contou com professores daquele país. A FDC foi responsável por estabelecer a
conexão entre o módulo que foi realizado no Brasil e o conteúdo que seria abordado na
África.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, elas estiveram
evidenciadas no P-4 e podem ser exemplificadas, neste projeto, por meio da falta de
procedimentos e orientação sobre o envio de material didático e desembaraço aduaneiro no
país de realização do projeto, além de falhas na tradução do material didático do português
para o espanhol, segundo relatos da gerente de projetos e da coordenadora executiva
envolvida. Conforme ilustrado pela gerente responsável pelo projeto, os professores
elaboraram o material didático no Brasil, em português, e o encaminharam para a tradução,
seguindo os mesmos trâmites detalhados no P-2. Conforme relatado pela gerente entrevistada,
os problemas identificados foram os mesmos vivenciados naquele projeto. Porém, nesse, a
opção da gerente responsável foi despachar o material didático impresso, assim como pastas,
canetas e mochilas, para os executivos por transportadora. Como era costume nos projetos
realizados no Brasil, também incluiu goiabadas nas caixas, as quais seriam oferecidas aos
executivos como brindes. Quando a gerente de projetos e as professoras chegaram ao Chile,
na véspera do início das aulas, verificaram que as caixas com os materiais não haviam
chegado. Elas identificaram que as caixas estavam retidas na alfândega, pois não haviam
seguido as regras para envio de produtos para aquele país.
67
Segundo relatos da gerente de projetos, de forma bastante amadora, uma professora e a
coordenadora executiva da FDC foram para o porto tentar desembaraçar o material. Elas
conseguiram a liberação, porém as goiabadas ficaram retidas, pois o procedimento para envio
de itens alimentícios ao Chile não havia sido cumprido. A gerente de projetos reforçou que
não tinha conhecimento sobre o que poderia ser despachado para aquele país e informou que
não havia nenhum suporte de rotinas da FDC para esse tipo de orientação. Adicionalmente,
quando a equipe técnica apresentou o material didático à interlocutora no Chile, no dia
anterior à realização da primeira aula, foram identificados erros considerados grosseiros em
termos de tradução. A própria cliente acabou fazendo algumas correções nas traduções, por
exemplo, “onde a gente falava “construção conjunta”, estava “edificación” ao invés de
“construcción”, quer dizer, a palavra estava correta, mas o sentido, edificação é para
prédio. Fora isso um monte de coisa”. A gerente de projetos acredita que o problema
relacionado à tradução do material didático se deve às mesmas questões relatadas por ela no
P-2. Ademais, a gerente entrevistada se recorda de que “na hora de embarcar nós ficamos
sabendo que não tinha sido providenciado o seguro de viagem. Não havia qualquer
orientação sobre isso”, e acrescentou que todos esses procedimentos acabaram ficando por
conta do gerente de projetos, que era o responsável pelo projeto. Ou seja, ela não tinha
qualquer suporte de rotinas sobre o que era necessário ser providenciado para realizar a
entrega de um projeto em outro mercado internacional.
No P-5, essa barreira não foi identificada pela gerente responsável pelo projeto, que
acredita que, pelo fato de o projeto ter sido contratado e operacionalizado pela firma no Brasil
para entrega no exterior, essa eventual barreira pôde ser evitada.
A falta de rotinas para a internacionalização foi a única barreira listada pelo professor
coordenador técnico do P-6. Segundo seus relatos, a FDC não tinha rotinas para a realização
de projetos no exterior e aplicava as mesmas normas dos projetos realizados no Brasil, por
exemplo, não permitia a viagem dos professores em classe executiva, ainda que fossem viajar
a noite toda para ministrar aula no dia seguinte.
Os professores escalados pela gerente e pelo professor coordenador técnico eram
professores de tempo parcial na FDC e estavam habituados a atuar em projetos em diversos
mercados interacionais, porém sempre realizando os deslocamentos em classe executiva.
Assim, eles não aceitaram a condição proposta pela FDC. Para sanar o problema, o professor
coordenador técnico comentou que “a Fundação não pagava classe executiva, os professores
não concordavam atuar se não fosse de classe executiva, então aí o próprio banco, que tem a
política de classe executiva, absorveu tudo isso”.
68
O professor coordenador técnico entrevistado tem grande experiência internacional,
proximidade com as melhores escolas de negócios do mundo, atua como professor convidado
em algumas delas e participou de diversas das ações de internacionalização da FDC relatadas
na parte anterior. Ao fazer comparações, ele enfatizou que a FDC não tem rotinas para
suportar a internacionalização dos projetos e acaba realizando as ações de “forma não
planejada e amadora”.
Ainda sobre a falta de rotinas para a internacionalização no P-6, outro professor
entrevistado relatou que o envio de materiais passou a ser responsabilidade do cliente pelo
fato de a FDC ter tido diversos problemas acerca desse item devido ao desconhecimento e à
falta de rotinas para o envio de materiais ao exterior. Segundo relatos da coordenação
executiva, não existia um procedimento para o envio de material ao exterior. Em alguns casos,
utilizava-se o despachante aduaneiro, porém, normalmente, ele era acionado somente em caso
de emergência.
No P-7, a falta de rotinas para a internacionalização foi sinalizada pelo professor
coordenador do projeto como uma barreira importante. O professor ilustra que no módulo
inicial, realizado no Brasil, “a parte de tradução foi um desastre”. Os relatos indicam que os
trâmites para providenciar a tradução do material do português para outro idioma são os
mesmos relatados em P-2 e em P-4. O professor coordenador entrevistado ilustrou que foi
decidido não usar o material que havia sido traduzido, e, sim, utilizar o material originalmente
em inglês, que era um problema para muitos professores. Ele acrescentou que “isso gerou
muito estresse, historicamente em vários aspectos”.
Tratando-se da barreira de experiência internacional da equipe, no P-4, a gerente
entrevistada reforçou que “a principal barreira não é linguagem, é o modo de pensar
diferente" e complementou dizendo que a equipe técnica não tinha o hábito de entregar aquele
tipo de solução educacional em outros países para que pudesse minimizar essa lacuna. No P-
5, essa barreira foi identificada pela gerente de projetos, que atribuiu parte das dificuldades
encontradas ao fato de esse ter sido seu primeiro projeto na FDC. Ela enfatizou que “a gente
muda de acordo com nossa maturidade. Então hoje eu acho que a minha responsabilidade,
minha maturidade para vender um programa internacional é muito maior que quando eu
comecei na Fundação Dom Cabral”.
No P-6, a experiência internacional não foi ressaltada pelo professor entrevistado
como barreira. Recorda-se que, nesse caso, o professor coordenador técnico entrevistado tinha
grande vivência profissional internacional e participou de diversas ações de
internacionalização da FDC. Já no P-7, o mesmo professor coordenador técnico indicou que
69
percebia a falta de mindset global na FDC e sugeriu que a vivência internacional é “muito
localizada na FDC”. Analisando essa colocação, ele reforçou que acredita que isso se deve ao
fato de a internacionalização na FDC estar restrita a um grupo de pessoas, que normalmente
têm interesse e se mobiliza para participar desse tipo de ação, e exemplificou que
“internacionalização ainda é visto meio como Itamaraty, como privilégio de uma pequena
elite".
Com relação à barreira adaptação internacional, no P-4, ela pode ser ilustrada pela
exportação de uma metodologia desenvolvida para utilização em uma firma no Brasil para o
projeto do Chile sem qualquer adaptação ao contexto cultural do país e da firma, o que
impactou negativamente no resultado do projeto. A gerente de projetos ilustra que, para a
realização desse tipo de trabalho em outro mercado internacional, as características da firma
deveriam ser consideradas e somadas às questões culturais, para a construção e realização de
um projeto que realmente fizesse sentido para aqueles executivos. Ela relata que se o projeto
“acontecesse aqui, a vibração final seria maior. Talvez eu até esteja exigindo deles uma
vibração que nunca teria, porque eles são assim mesmo. Isso se a gente fizesse com um
cliente no Brasil ia ser bárbaro, para eles não foi bárbaro. Eu acho que eles não têm, e aí
talvez seja uma leitura nossa ou um esmero maior na hora de fazer, para eles entenderem a
riqueza que é esse processo de construção conjunta, porque eles não valorizam muito isso.
Eles vivem bem com o comando controle”. Assim como em P-2, a gerente de projetos
ressaltou que aquele projeto não era composto por aulas expositivas, e sim intervenção, o que
dificulta a entrega em contextos diferentes e que não tenham a compreensão da importância
da construção conjunta da solução educacional.
No P-5, a adaptação internacional não foi considerada pela gerente de projetos
entrevistada como uma barreira à internacionalização. Ela entende que o objetivo da firma, na
contratação do projeto, era realmente replicar o treinamento que havia sido realizado para os
seus executivos no Brasil. No P-6, a adaptação internacional também não foi considerada uma
barreira pelo professor coordenador técnico entrevistado, que relatou que 90% dos executivos
eram brasileiros. Nesse caso, era como uma filial portuguesa, porém com características muito
semelhantes às da firma no Brasil. O professor coordenador técnico acrescenta que o
demandante havia participado do projeto realizado no Brasil e conhecia os professores e o
conteúdo que havia sido ministrado nas aulas no Brasil. Ele ainda recorda que só foi
necessário contratar um professor local para o módulo de economia. Adicionalmente, no P-7,
esse mesmo professor coordenador técnico não considerou a adaptação internacional como
uma barreira à internacionalização. Assim, considerando que a barreira adaptação
70
internacional foi apontada em apenas um dos quatro projetos analisados referentes a 2008,
não foi considerada como presente nesse ano.
No terceiro ano analisado, 2008, foram identificadas as barreiras idiomas, falta de
rotinas para a internacionalização e falta de experiência internacional da equipe, conforme
Quadro 6.
Quadro 6 - Barreiras à internacionalização - 2008
Barreiras 2008
Idioma Sim
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Sim
Adaptação Internacional Não
Concorrência Internacional Não
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.4 Barreiras à internacionalização: 2010
Referente ao ano de 2010, foi selecionado um projeto para análise, o projeto 8, P-8,
realizado para uma multinacional americana, em suas operações no Brasil e em outros dois
países da América Latina: Argentina e México. A demanda foi originada pelo presidente da
empresa, que era membro do Conselho Consultivo Internacional da FDC e conhecia a
experiência da FDC no Brasil. Outros diretores também já haviam participado de projetos da
FDC quando estiveram trabalhando em outras firmas. Guardiã da metodologia e dos
conteúdos, a FDC coordenou uma atividade conjunta que envolvia outras escolas de negócios.
Com relação à primeira barreira, idioma, no P-8, ela esteve presente, principalmente,
nas etapas de escuta e entrega. O gerente de projetos entrevistado ressaltou que “ é mais a
questão da língua que dificulta, porque não estamos usando a língua correntemente, então é
mais fácil fazer a escuta em português, mas correu bem, fizemos por call, por telefone e
correu bem”. A gerente de projetos também entrevistada sobre P-8, confirmou a percepção do
seu colega e ilustrou que “não é a mesma coisa de fazer uma escuta em português”.
Sobre essa barreira na etapa da entrega, o gerente de projetos entrevistado sugeriu que,
se a entrega no Brasil, envolvendo professores da FDC, já apresenta seus desafios, a entrega
em outro mercado internacional, contando com a participação de um parceiro internacional, é
ainda mais difícil. Ele ilustrou a situação mencionando que “quando você fala de um parceiro
internacional é mais difícil ainda, porque é mais um interlocutor com barreira de língua,
71
então você está explicando em espanhol para alguém e ele vai ter que passar para o
professor deles e às vezes as coisas não fazem sentido. Eu lembro que a gente tinha
problemas de interpretação, de entendimento”.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, elas estiveram
evidenciadas no P-8 e, tais como nos P-2 e P-4, podem ser exemplificadas por problemas na
tradução do material. O gerente de projetos entrevistado relatou que “sofreu com as
traduções, não achava tradução de boa qualidade”. Reforçou que, devido às inadequações,
acabou tendo que se envolver na tradução das propostas e no envio do material para as escolas
parceiras para que elas pudessem contribuir para o desenho da solução educacional, atividades
que, segundo ele, não fazem parte do escopo de suas atribuições. O gerente responsável por
P-8 relata que contou com a colaboração da equipe da Célula de Edição de Documentos da
FDC, porém foram identificadas várias dificuldades na parte de tradução de materiais. Por
exemplo, sobre as informações necessárias para a elaboração da proposta a ser enviada ao
cliente, tais como questões tributárias para o pagamento de escolas em outros mercados
internacionais, assim como rotinas sobre a necessidade de vistos, havia a “boa vontade das
pessoas” do setor financeiro, da área de relações internacionais, porém não existiam rotinas
para orientar os gerentes sobre o que deveria ser considerado quando da elaboração de uma
proposta para um projeto customizado internacional.
O gerente entrevistado reforçou que a responsabilidade sobre o projeto era do gerente,
porém, com a falta de informações, o resultado do projeto poderia ter sido comprometido ao
não se considerar, por exemplo, os tributos a serem pagos para efetuar a remessa para
pagamento a um professor em outro país. O gerente se lembra de que “ficava assustado.
Então a gente não sabia dessas coisas. Muito a gente foi aprendendo na medida. O financeiro
ajudou tentando ver essa questão de como ia ser o pagamento”.
Assim como ressaltado pelo gerente responsável por P-3, o gerente entrevistado
acrescentou que não contou com rotinas para internacionalização para se obter informações
sobre necessidade de visto para o país onde o programa seria realizado. Houve, portanto,
desperdício de tempo e custos adicionais na tentativa de se identificar qual o tipo de visto era
necessário e qual era o trâmite correto para obtê-lo. Isso, de alguma forma, teve impacto no
resultado financeiro do projeto.
Tratando-se da barreira de experiência internacional da equipe, no P-8, o gerente de
projetos entrevistado classificou o projeto como um “aprendizado meu e da minha colega.
Foi a primeira vez que estávamos fazendo um projeto dessa natureza, então teve uma natural
dificuldade, pelo menos da minha inexperiência em fazer isso”. A gerente de projetos
72
entrevistada comentou que esse projeto havia sido melhor que o da firma de energia, do Chile,
que ela havia conduzido em 2008, pois ela já estava mais acostumada com essa experiência.
Porém, acrescentou que, em razão da falta de experiência internacional e por não conhecer o
contexto cultural, “você acha que vai bombar e todo mundo acha péssimo, ou o contrário.
Você julga sempre a partir do modelo mental do gerente, ou seja, do contexto brasileiro”.
Outro ponto relativo à experiência internacional é que, conforme relatado, P-8
envolveu outras duas escolas de negócios parceiras da FDC, sendo que os gerentes de projetos
responsáveis não tinham familiaridade com esse tipo de interação, assim como desconheciam
a forma de trabalho de cada uma delas e as diferenças culturais dos países. Isso, segundo ele,
teve impacto no resultado do projeto e expectativa do cliente, uma vez que as escolas de
negócios tiveram enormes dificuldades para se chegar a um acordo sobre precificação, por
exemplo.
Com relação à barreira adaptação internacional, em P-8, ela foi apontada pelos
gerentes de projetos entrevistados à medida que eles destacaram que a tendência é a de
construir um projeto como se fosse para o Brasil, e depois exportar para os outros países. O
gerente entrevistado lembrou que quem chamou atenção para isso foi uma das escolas de
negócios parceiras e acrescentou que era um erro achar “que esse programa, assim
desenhado, mas tendo professor local, escola local, estará resolvido [...] e a questão da
cultura também vai estar resolvida".
O gerente de projetos entrevistado relatou também a resistência dos professores de
uma das escolas de negócios parceiras para ouvir o cliente e ministrar as aulas de acordo com
o objetivo da FDC, mais focado na construção conjunta e abordagem participativa dos
executivos. Isso porque, de forma contrária, eles seguiam uma abordagem mais tradicional de
aporte de conteúdo exclusivamente por parte dos professores.
Os gerentes de projetos entrevistados concordam que um grande desafio foi entregar a
proposta de valor da FDC com professores de escolas de negócios com estilos e propostas de
valor completamente diferentes. Segundo o gerente de projetos entrevistado, “a gente tem
uma proposta de valor específica que é diferente das escolas tradicionais. Não tem como
prometer para o cliente a proposta de valor da FDC e entregar com parceiros que têm
propostas de valor muito diferentes. Esse é o grande desafio". A gerente de projetos concluiu
apresentando uma reflexão que indica que “o problema nesse projeto foi a parceria com
outras escolas, essas coisas de customizar, problema da escola com a gente, que é muito
difícil."
73
Considerando o quarto ano analisado, 2010, foram identificadas as barreiras idiomas,
falta de rotinas para a internacionalização, falta de experiência internacional da equipe e falta
de adaptação internacional, conforme Quadro 7.
Quadro 7 - Barreiras à internacionalização - 2010
Barreiras 2010
Idioma Sim
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Sim
Adaptação Internacional Sim
Concorrência Internacional Não
Fonte: Elaborado pela autora
4.4.5 Barreiras à internacionalização: 2013
Referente ao ano de 2013, quinto ano analisado, foram selecionados oito projetos. Três
foram realizados e cinco tiveram suas propostas apresentadas, mas não foram aprovadas pelos
clientes.
O projeto 9, P-9, foi realizado pela FDC nos Estados Unidos para um cliente brasileiro
que tinha como objetivo capacitar empresários e executivos brasileiros que buscavam
internacionalizar suas firmas para o mercado americano ou que já estivessem com operação
estabelecida naquele mercado internacional. A FDC já vinha realizando projetos similares
para esse cliente no Brasil. Para a edição do projeto nos Estados Unidos, ela foi responsável
por toda a parte técnica, contando com professores americanos, contratados diretamente, ou
professores brasileiros com sólidos conhecimentos no tema em questão. O projeto 10, P-10,
foi realizado para o mesmo cliente do P-9, com o mesmo objetivo, porém aconteceu nos
Emirados Árabes Unidos. O projeto foi conduzido pela mesma gerente de projetos e pelo
mesmo professor coordenador técnico do P-9. Contou com a atuação de professores dos
Emirados Árabes, os quais foram contratados diretamente pela FDC e selecionados por um
professor de uma escola de negócios parceira da FDC no Oriente Médio. Além disso, houve
participação de professores brasileiros, que se deslocaram para ministrar as aulas naquele
país. O projeto 11, P-11, foi contratado por uma firma brasileira para a realização de
treinamento de desenvolvimento gerencial na Guiné-Equatorial, onde a maioria dos alunos era
composta por brasileiros.
74
Os projetos a seguir, P-12 a P-16, não foram realizados. Porém, os gerentes de projetos
e outras áreas da FDC interagiram com o cliente nas etapas de escuta e estruturação, até a
apresentação da proposta. O P-12 trata de uma demanda da mesma firma que contratou P-8,
em 2010. A demanda foi de um “projeto de desenvolvimento de competências, definindo
competências para os gestores da América Latina, e a ideia era replicar esse trabalho em
vários países”. O gerente responsável por P-12 ressalta que a firma realizou módulos no
Brasil, com a FDC, mas o módulo internacional não foi contratado.
O projeto 13, P-13, diz respeito a uma proposta enviada a uma multinacional, com
presença no Brasil e demais países da América Latina, cujo presidente era membro do
Conselho Internacional da FDC. O demandante da firma era um executivo de recursos
humanos, baseado nos Estados Unidos, que era responsável pela operação no México,
Colômbia, Chile e Brasil. Inicialmente, o projeto foi aprovado para realização no Brasil e
nesses mercados internacionais. No entanto, após a marcação do primeiro módulo, os
executivos responsáveis por recursos humanos nas subsidiárias em alguns mercados
internacionais apresentaram resistência em liberar os executivos para o treinamento na FDC,
no Brasil. Como resultado, o projeto foi paralisado. A gerente de projetos responsável
acrescentou que a FDC foi contatada recentemente por parte do demandante para retomar esse
projeto.
O projeto 14, P-14, refere-se a uma proposta apresentada a uma firma multinacional da
indústria farmacêutica, cujo demandante era brasileiro e, segundo depoimentos, buscava a
FDC pela capacidade de organizar programas de desenvolvimento e realizá-los nos demais
países da América Latina, seja com professores próprios ou em parceria com escolas de
negócios locais, em espanhol. Essa proposta não foi aprovada.
O projeto 15, P-15, corresponde a uma proposta solicitada e apresentada pela FDC a
uma firma brasileira, cujo presidente, segundo a gerente de projetos responsável, tinha o
objetivo de “fazer um programa com uma experiência internacional para capacitar a alta
gestão: vice-presidente, superintendente e gerente nacional”. O programa teria um módulo
no Brasil e outro na França. A proposta não foi aprovada. O projeto 16, P-16, também se
refere a uma proposta apresentada pela FDC a uma firma brasileira. Segundo a gerente de
projetos responsável, a firma faria “uma seleção de potenciais cargos estratégicos e iria
oferecer uma capacitação bem robusta para essas pessoas. Uma das coisas que eles queriam
era proporcionar uma vivência, uma experiência internacional, inclusive em diferentes
lugares. Eles tinham um projeto básico inicial e a gente começou a fazer a proposta em cima
daquilo. Eles tinham interesse em alguns países específicos”. Ao final, após diversas
75
conversas com o cliente, a proposta foi elaborada contemplando a realização de módulos em
mercados internacionais diferentes, a serem realizados com a participação de escolas de
negócios parceiras da FDC. A proposta não foi aprovada.
Com relação à primeira barreira, idioma, em P-9, ela não foi ressaltada pelo professor
coordenador técnico entrevistado, uma vez que todos: professores, gerente de projetos e
coordenadora executiva envolvidos eram fluentes em inglês, idioma do país de realização do
programa. No P-10, o idioma foi uma barreira encontrada, conforme relatos do professor
entrevistado, que comentou que houve perda de qualidade na comunicação com alguns
professores e executivos convidados a fazerem depoimentos durante a realização do
treinamento, em função da qualidade do inglês falado por eles. O professor coordenador
técnico entrevistado enfatizou que o idioma era “algo muito mais amplo que transferir
palavras, estava repleto de questões culturais e estava sendo utilizado como segunda língua
pela maioria dos interlocutores14”.
No P-11, o idioma não foi percebido como barreira, dado que o treinamento
aconteceria em português para a maioria de brasileiros. Segundo a gerente de projetos, “na
parte da escuta, a gente tinha interlocutor tanto em espanhol quanto em português, então nós
pegamos uma coordenadora na época que fosse fluente em espanhol, porque ela ia estar em
contato direto com uma pessoa no país, via telefone”. O idioma também não foi relatado
como barreira no P-12, de acordo com a gerente de projetos, que foi a única pessoa da FDC
que teve interação com o cliente nessas etapas. Ela era fluente em espanhol e já havia
interagido com a demandante anteriormente, no P-8. Como o projeto não foi adiante, não
houve entrega ou interação entre os professores e os alunos, ou qualquer outra interação em
que o idioma pudesse ser uma barreira, como havia ocorrido no P-8. O idioma também não
foi considerado uma barreira no P-13. Porém, é importante ressaltar que a gerente responsável
pela proposta era fluente em espanhol, idioma utilizado para a elaboração da proposta.
No P-14, o idioma foi considerado uma barreira. A gerente de projetos entrevistada
relatou que o idioma era um limitador no envolvimento de professores com o cliente nas
etapas de escuta e estruturação da proposta, assim teria sido muito difícil “para você entregar
com sua equipe daqui”, caso o projeto tivesse sido aprovado. Ela acrescentou que a grande
“dificuldade seria entregar, você consegue até vender” e “com certeza a língua é um
problema”.
14 Os e-mails trocados entre os professores envolvidos ilustram problemas de entendimento ocasionados pela
dificuldade de comunicação em inglês dos professores árabes e asiáticos.
76
No P-15, o idioma foi considerado uma barreira nas etapas de escuta e estruturação da
proposta. Dentre as principais dificuldades encontradas nessas etapas, a gerente de projetos
entrevistada relatou que “neste caso a língua foi bem característica, porque o cliente não
falava direito o inglês, então a gente fazia call de estruturar conteúdo e tal, o cliente
patinava, ainda tinha o inglês com sotaque francês da escola parceira. Então eu ficava quase
que de tradutora durante as conference calls que a gente fazia.” Nesse projeto o idioma como
barreira à internacionalização se deu principalmente na interação entre o cliente e a escola de
negócio internacional parceira da FDC. Porém, o principal problema era a dificuldade de o
demandante se comunicar em inglês. Sobre esse ponto, a gerente de projetos entrevistada
aponta que grande parte dos clientes não apresenta nível de proficiência em inglês ou
espanhol que permita uma interação sem intercorrências com as escolas de negócio
internacionais para a construção de uma solução educacional. Um exemplo disso no Brasil é a
disponibilização de tradução simultânea em todos os programas abertos internacionais
realizados pela FDC.
Da mesma forma que no P-15, no P-16, o idioma foi considerado uma barreira pela
gerente de projetos entrevistada, que, novamente, precisou atuar como intérprete em várias
das interlocuções entre o cliente, a FDC e as escolas de negócios parceiras. Conforme seu
relato, “a língua eu lembro que foi uma barreira. A minha interlocutora do cliente também
era muito ruim de inglês. As poucas conversas que a gente teve, às vezes algum call, ela tinha
dificuldade de expressar, de traduzir”.
Considerando a análise da barreira idioma nos oito projetos selecionados referentes ao
ano de 2013, verificou-se que o idioma foi considerado barreira em metade dos projetos.
Dessa forma, entende-se como indeterminada a presença dessa barreira.
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, elas foram
evidenciadas no P-9 e exemplificadas pelo fato de os materiais didáticos terem sido enviados
ao cliente no Brasil para que ele fizesse o envio para os Estados Unidos. Conforme apontado,
a FDC não tinha familiaridade com esse tipo de procedimento, e o nível de problemas
similares ocorridos no passado era visto como elevado15. Anos passados desde as primeiras
experiências com o envio de materiais ao exterior, o professor coordenador entrevistado
indicou que sempre ouvia contar sobre problemas, como envio de lápis da FDC para
determinado mercado internacional sem declaração de uso de procedência da madeira,
acarretando a retenção do material na alfândega, e acrescentou que seria importante que a
15 Os e-mails acessados confirmam as dificuldades relatadas pelo entrevistado referentes a P-9 e P-10, e
confirmam o envio dos materiais ao cliente no Brasil para que ele o enviasse para o exterior.
77
FDC tivesse as rotinas estruturadas para a internacionalização. Segundo ele, “talvez
pagamento, recebimento, que a coisa que você vai fazer em todos os processos, envio de
material, ter um despachante para poder te orientar, essas coisas funcionais assim, eu acho
que processos assim são superbem-vindos”.
No P-10, as rotinas para a internacionalização foram identificadas e relatadas pelo
professor coordenador técnico entrevistado da mesma forma como nos P-1, P2 e P-9. O
professor entrevistado diz que, atualmente, a FDC acumulou certa experiência nesse tipo de
projeto, porém são registrados os mesmos problemas ocorridos no passado.
Houve também dificuldades relacionadas à falta de rotinas para a internacionalização
no P-11, conforme relato da gerente de projetos entrevistada. Ela sugeriu que a FDC não
estava estruturada para dar o suporte necessário à equipe técnica para a realização do
programa na África, tal como procedimentos relacionados a legislação, tributação e
orientações sobre visto. Segundo ela, na FDC “não tem um processo preocupado com isso,
com toda essa questão de estar pesquisando, devo ou não devo, qual suporte eu preciso para
ir. Acho que isso é por iniciativa do gerente. Hoje acho que na casa isso ainda não está
estruturado. Então nós buscamos o apoio da empresa para todas as informações
necessárias”.
Nos P-12 e P-13, não foi evidenciada a falta de rotinas para a internacionalização
como barreira à internacionalização. No P-13, entende-se que a gerente de projetos tinha
experiência em projetos anteriores (P-2, P-4 e P-8), o que lhe possibilitou evitar tal barreira
durante as etapas de escuta e estruturação.
Assim como relatado no P-8, no P-14, a gerente de projetos entrevistada indicou “que
a falta de processos para ter informações como tributos que incidem, por exemplo, com
agilidade, foi uma barreira”. A gerente de projetos acrescentou que não havia nenhum
processo na FDC para dar suporte referente à negociação em moeda estrangeira, tributos
incidentes para o pagamento a professores ou a escolas de negócios parceiras e hedge
cambial. Segundo ela, “não tem um processo estruturado, checklist, por exemplo, do que
você tem que olhar. Você vende um programa internacional, o que que você tem que olhar?
Você tem que olhar imposto, tem que olhar isso, olhar aquilo. Não tem, acho que isso
facilitaria talvez”.
Em linha com os relatos sobre a falta de rotinas para a internacionalização nos P-2, P-
4, P-7 e P-8, no P-15, a gerente relatou problemas relacionados à tradução da proposta e dos
materiais enviados pela escola de negócios parceira, e exemplificou que havia sido necessário
que ela mesma traduzisse materiais, pois “a Célula de Edição de Documentos não está
78
habituada. O tradutor também não foi muito bom. Então eu tive que revisar tudo”. A gerente
acrescentou que o custo da tradução havia aumentado, porém a qualidade ainda não estava
satisfatória. Essa mesma gerente de projetos foi responsável por P-16 e, uma vez mais,
reforçou que a falta de rotinas para a internacionalização foi uma barreira nesse projeto. Ela
reforçou a importância dessas rotinas para a FDC comentando que “a gente fica sabendo
muito mais no relacional, na coisa ali. Precisa de processo e precisa de informação também.
Assim, quanto mais a gente puder ter as informações já estruturadas e essa troca, eu acho
que agiliza, facilita o processo, com certeza”.
Tratando-se da barreira de experiência internacional da equipe, no P-9, o professor
coordenador técnico entrevistado relatou que não percebeu a presença dessa barreira. Ele
esteve envolvido também nos P-1 e P-2, além de algumas das ações de internacionalização da
FDC, e relatou a relevância da experiência internacional da equipe nos projetos. Ele acredita
que “o programa foi bem-sucedido porque esses profissionais da Fundação que estiveram à
frente desse programa se dedicaram muito e já vinham com experiência de programas
similares aqui no Brasil, como também são profissionais que têm experiência internacional,
traquejo internacional e conseguiram fazer o negócio e também saíram contando com os
apoios nas outras áreas”.
A experiência internacional da equipe também não foi apontada como uma barreira no
P-10, que contou com a mesma equipe de gerente de projetos, coordenadora executiva e
alguns dos professores do P-9. Relacionado a esse projeto, o professor coordenador técnico
entrevistado ressaltou que “experiências internacionais anteriores são fundamentais, porque
a gente poderia pensar: é um aprendizado organizacional? É, mas é uma aprendizagem na
perspectiva individual também, quer dizer, ela acontece à medida que aqueles profissionais
estão liderando coisas e tomando as iniciativas. Então eu acho que é um conjunto de
habilidades que a equipe acabou constituindo e que contribuíram para que essas duas
edições fossem bem-sucedidas”.
No P-11, a falta de experiência internacional da equipe foi exemplificada pelo
desconhecimento sobre questões culturais e pela dificuldade em conseguir identificar professores
que estivessem dispostos a viajar para o mercado internacional onde o projeto foi realizado. De
acordo com os depoimentos, havia grande desconhecimento por parte dos professores e da equipe
da FDC, além dos muitos comentários negativos de professores que haviam atuado em projetos
na África. Nos P-12, P-13 e P-14, a experiência internacional não foi considerada uma barreira.
Vale ressaltar que a gerente de projetos responsável por P-13 participou ou foi responsável por P-
79
2, P-4 e P-8, sendo a única pessoa envolvida nas etapas de escuta e estruturação. Da mesma
forma, o gerente responsável por P-12 esteve envolvido no P-8.
Quanto ao P-14, a gerente responsável pelo projeto entende que a experiência
internacional não foi uma barreira. No P-15, a mesma gerente de projetos responsável por P-
14 sugeriu que seria importante ter mais experiência internacional, considerando
conhecimentos relacionados à precificação e práticas relacionadas ao que seria considerado
para a realização de tal projeto no exterior. Ela relatou que “a gente fica querendo uma
experiência. Alguém que já fez, que já deu certo, que fez aquilo.” No P-16, a falta de
experiência internacional não foi considerada uma barreira pela gerente de projetos
entrevistada, que também esteve à frente dos P-14 e P-15. Em suma, a experiência
internacional não foi considerada uma barreira à internacionalização nos projetos referentes
ao ano de 2013, uma vez que foi apontada em apenas dois dos oito projetos analisados.
Com relação à barreira adaptação internacional, no P-9 ela foi apontada pelo professor
coordenador entrevistado como grande ponto de atenção no momento da entrega. Ele entendia
que o cliente estava acostumado a um padrão de entrega no Brasil e havia contratado o
mesmo projeto para ser realizado nos Estados Unidos. Segundo ele, foi muito “difícil alinhar
com professores americanos o conteúdo que deveria ser ministrado, alinhado ao modelo
FDC de Criação de Valor Internacional”.
Da mesma forma que ocorreu no P-9, a adaptação internacional foi considerada uma
barreira no P-1016. O professor coordenador técnico tinha a missão de alinhar o conteúdo
técnico com os professores dos Emirados Árabes, promover o nivelamento de conhecimento
sobre o Modelo FDC de Criação de Valor Internacional, e assegurar que o conteúdo fosse
abordado da forma esperada pelo cliente, seguindo a mesma abordagem que havia sido feita
nos módulos realizados no Brasil. Ele relatou que "na hora da entrega, como tínhamos
grande maioria dos professores da escola parceira, esse briefing à distância não é um
briefing tão efetivo quanto um briefing que você vai sentar com o professor, conversar com
ele, mostrar.” Considerou que “as entregas na edição do Oriente Médio poderiam ter sido
um pouco mais consistentes em alguns dos temas."
A adaptação internacional não foi considerada uma barreira no P-11, de acordo com a
gerente de projetos responsável. O projeto foi contratado por brasileiros, para alunos
brasileiros em grande maioria, e foi ministrado por professores que atuavam na FDC no
Brasil. Já no P-12, a adaptação internacional foi a única barreira apontada pelo gerente de
16 O acesso aos e-mails trocados entre os professores comprova as dificuldades relacionadas à adaptação
internacional nos P-9 e P-10.
80
projetos entrevistado, que indicou que, para a elaboração da proposta, foi necessário o
envolvimento de escolas de negócios parceiras em mercados da América Latina para a
elaboração de uma proposta adequada ao contexto do cliente. Porém, não foi possível chegar
a um acordo com essas escolas em termos de escopo da proposta, preço e adaptação da
solução ao contexto do cliente. O gerente de projetos entrevistado reportou que a atividade era
“entre nós e o pessoal das escolas tentando negociar. Tentando fazer com que eles baixassem
preço, enfim, adaptassem a solução ao contexto. Mas eu acho que foi uma dificuldade natural
no processo de tentar negociar, abaixar etc. Mas no fim eles não abaixaram e a gente não
realizou”.
A adaptação internacional não foi uma barreira evidenciada no P-13. A gerente de
projetos entrevistada relatou que “uma dificuldade foi conseguir um alinhamento entre as
próprias unidades da firma para a contratação e vontade dos gestores de cada unidade para
contratar e fazer o programa”. Ela acrescentou que, como não houve a entrega, não houve
essa barreira, a qual também não foi evidenciada no processo de elaboração da proposta e
apresentação ao cliente. No P-14, essa barreira foi ressaltada pela gerente de projetos, que
pontuou falhas na interação entre a FDC e as escolas de negócios parceiras, envolvendo
conteúdo e precificação, adaptação das soluções ao contexto do cliente, além da demora no
tempo de resposta das escolas de negócios aos questionamentos da FDC para a elaboração da
proposta, o que, no fim, comprometeu o aceite e a realização do projeto. Uma dificuldade
recorrente relatada era a resistência das escolas de negócios parceiras em construir de forma
conjunta uma solução adaptada ao contexto do cliente.
No P-15, a gerente de projetos identificou que a adaptação internacional agiu como
uma barreira e apontou que, como citado no P-8, é muito difícil conciliar a proposta de valor
da FDC com a proposta de aula dos professores de escolas mais tradicionais. Ela mencionou
que “as escolas de fora nos oferecem um cardápio de aulas. A gente não. Acho que a gente
customiza muito mais. Então eu tive um pouco de fazer o inverso. Como a escola parceira
falou: ‘Olha, eu te ofereço esses caixotinhos aqui’, que a gente minimamente foi ajustando”.
No P-16, a adaptação internacional foi considerada uma barreira pela gerente de
projetos entrevistada, que apontou dificuldades relacionadas à elaboração de uma solução
educacional envolvendo seis módulos, com escolas de negócios internacionais distintas.
Como a FDC não havia atuado com algumas delas anteriormente, não se conhecia bem a
expertise de cada escola para a composição do projeto e elaboração da proposta. Além disso, a
gerente de projetos sugeriu que outra dificuldade foi o estabelecimento do contato com
algumas das escolas de negócios, assim como a dificuldade em transformar o que cada escola
81
realizava no mercado doméstico em uma solução adaptada ao cliente, tratando questões do
mercado brasileiro.
Com referência à barreira concorrência internacional, ela foi identificada apenas no P-
13. Ainda que a demanda tivesse sido apresentada à FDC de forma reativa, houve resistência
das demais operações da América Latina do cliente em realizar uma capacitação no Brasil. A
gerente de projetos entrevistada ilustrou que, inicialmente, a proposta foi aprovada, o módulo
foi marcado e, logo em seguida, cancelado. Segundo ela, o cancelamento ocorreu pelo fato de
os executivos das subsidiárias de alguns países da América Latina se recusarem a realizar esse
treinamento no Brasil, na FDC. Isso porque, em alguns desses mercados internacionais,
normalmente as escolas dos Estados Unidos são a primeira opção em programas de
desenvolvimento de executivos.
Considerando o quinto ano analisado, 2013, foram identificadas as barreiras: falta de
rotinas para a internacionalização e falta de adaptação internacional, conforme Quadro 8.
Quadro 8 - Barreiras à internacionalização - 2013
Barreiras 2013
Idioma Indeterminado
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Não
Adaptação Internacional Sim
Concorrência Internacional Não
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.6 Barreiras à internacionalização: 2015
Referente ao ano de 2015, sexto ano analisado, foi selecionado o projeto 17, P-17,
realizado na Bolívia para uma grande firma daquele país. O projeto teve como objetivo a
capacitação dos gestores da firma, que passava por diversas mudanças, em temas relacionados
à gestão de pessoas. As negociações foram iniciadas em 2014, e o projeto foi realizado em
2015. Segundo a gerente responsável pelo projeto, o contato com a FDC foi realizado pela
“gerente de recursos humanos, que já tinha vindo para o Brasil em um congresso de recursos
humanos, e tinha ouvido falar muito bem sobre a Fundação Dom Cabral nessa época”.
Com relação à primeira barreira, idioma, no P-17, ela foi identificada pela gerente de
projetos e pela coordenadora executiva entrevistadas, na etapa de escuta e, principalmente, na
82
entrega do projeto. A gerente responsável pelo projeto contou que “na equipe era a única
pessoa que tinha o espanhol mais avançado, então essa demanda foi para mim”. Além disso,
segundo os relatos, na entrega houve dificuldade de identificar professores especializados no
tema que falassem espanhol fluentemente. Segundo ela, a maior parte dos professores, quando
da realização do cadastro no banco de professores, informa que fala outros idiomas, como
inglês ou espanhol, porém essa informação parece não ser confiável. A gerente acrescentou
que, dos seis professores que atuaram no programa, “dois eram fluentes e falavam muito bem
espanhol, outros dois médios e outros dois falavam portunhol, mas portunhol mesmo, de você
pegar a avaliação e o participante falar que o espanhol do professor é ruim."
Com relação à segunda barreira, rotinas para a internacionalização, elas foram
percebidas no P-17 e exemplificadas pela falta de rotinas para tradução de material didático e
conhecimento sobre trâmites aduaneiros para envio de materiais. A coordenadora executiva
afirmou que a tradução do material foi de “péssima qualidade” e ilustrou a situação citando
que " foram duas pessoas fazendo a tradução de um mesmo material. Quando junta, percebe-
se que foram duas pessoas que escreveram aquilo”.
Sobre o envio do material produzido para a Bolívia, a gerente responsável pelo projeto
relatou que o material de menor volume foi todo despachado como bagagem pela
coordenadora executiva do projeto na viagem para a realização do projeto. Elas relataram que
não havia qualquer orientação disponível sobre o que seria permitido na bagagem, e o que foi
despachado pela transportadora foi o “que era um volume maior que a gente não iria dar
conta de carregar. Ele foi com antecedência que eles indicaram, com toda documentação que
eles solicitaram, e depois não passou porque faltava uma tal de uma lista de empaque”.
Em entrevista realizada referente ao P-17, essa colaboradora relembrou seu trabalho de
conclusão de curso realizado há mais de dez anos e pontuou que ainda hoje não existem
rotinas para a internacionalização estabelecidas e que os problemas identificados por ela
relacionados ao envio de material didático no P-17 são os mesmos verificados no P-1.
Tratando-se da barreira experiência internacional da equipe, no P-17, a gerente de
projetos relatou que esse projeto era sua primeira experiência internacional e que, somado à
falta de orientação, poderia ter ocasionado diversos problemas durante a sua realização. Ela
ilustrou com uma situação ocorrida quando da viagem à Bolívia: “A gente foi no risco, na
cara e na coragem. E também com o objetivo de fazer uma entrega assim com aquele jeito da
Fundação de levar algumas lembranças do Brasil, um doce de leite, enfim. Enchi a mala
disso e fiz aquela entrega cheia de coisa, mas, e o risco que eu estava correndo de acontecer
alguma coisa e eles pegarem? E falar ‘olha, você não pode entrar com isso aqui’. Eles viram,
83
abriram minha mala e viram tudo que eu estava levando, mas podia ter acontecido alguma
coisa, e se acontecesse? Como ia ser a solução disso?". Cabe salientar que o relato da gerente
é semelhante ao relato da experiência vivenciada pela equipe do P-4, em 2008, sete anos antes
da realização do P-17.
Adicionalmente, a falta de experiência internacional foi percebida pela gerente do
projeto “na hora da escuta, a gente tem dificuldade porque é difícil a gente entender a
cultura da organização". Ainda que essas barreiras estivessem presentes, conforme relatos da
gerente responsável pelo projeto e da coordenadora executiva, o projeto foi bem-sucedido, e a
experiência foi, de certo modo, acumulada ao longo dos módulos realizados na Bolívia.
Com relação à barreira adaptação internacional, no P-17, a gerente de projetos
entrevistada relatou que elaborou uma proposta de trabalho de acordo com a forma como
estava acostumada a atuar no Brasil, porém percebeu que “muitas vezes o que eu apresentei
na verdade não fazia sentido para eles, e isso aconteceu mesmo, mesmo após a proposta ter
sido aprovada e eu ter feito a customização e tudo mais”.
Considerando o sexto ano analisado, 2015, foram identificadas as barreiras idioma,
falta de rotinas para a internacionalização, falta de experiência internacional da equipe e falta
de adaptação internacional, conforme Quadro 9.
Quadro 9 - Barreiras à internacionalização - 2015
Barreiras 2015
Idioma Sim
Rotinas para a internacionalização Sim
Falta de experiência internacional da equipe Sim
Adaptação Internacional Sim
Concorrência Internacional Não
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4.6 Análise comparativa das barreiras à internacionalização: 2006 a 2015
A análise comparativa das barreiras à internacionalização referentes aos 17 projetos
pesquisados entre 2006 e 2015 indica que as barreiras idioma, rotinas para a
internacionalização, falta de experiência internacional da equipe e adaptação internacional
foram recorrentes nos anos analisados. É interessante notar que algumas dessas barreiras
foram detalhadas de maneira similar pelos entrevistados em projetos que foram realizados
com oito anos de intervalo, por exemplo, os entraves relatados no envio de material didático
84
no P-4, de 2008, e no P-17, de 2015. Por sua vez, a barreira relativa à concorrência
internacional não se fez presente ao longo desses anos. Esses resultados estão sintetizados no
Quadro 10.
Quadro 10 - Análise comparativa das barreiras à internacionalização: 2006 a 2015
Barreiras 2006 2007 2008 2010 2013 2015
Idioma Sim Indeterminado Sim Sim Indeterminado Sim
Rotinas para a
internacionalização Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Experiência internacional da
equipe Sim Sim Sim Sim Não Sim
Adaptação Internacional Sim Sim Não Sim Sim Sim
Concorrência Internacional Não Indeterminado Não Não Não Não
Fonte: Elaborado pela autora.
Especificamente, o idioma foi a primeira barreira à internacionalização apontada e se
manifestou de três formas distintas nos projetos analisados: a) dificuldade em identificar
gerentes e ou professores que tenham amplo conhecimento do conteúdo a ser ministrado,
abordando a metodologia adequada, e que tenham pleno domínio de outro idioma, como o
inglês e ou o espanhol; b) dificuldade de os professores brasileiros interagirem com
professores estrangeiros, principalmente os do Oriente Médio e de alguns países da Ásia, que
não têm o inglês como língua pátria; e c) projetos cujos demandantes precisam interagir com
professores estrangeiros para o desenho de uma solução educacional, sendo que esses
demandantes só têm domínio do português. Entre essas três manifestações da barreira idioma,
a dificuldade de encontrar professores fluentes em outros idiomas é a mais recorrente nos
projetos selecionados, estando presente tanto no P-1, de 2006, quanto no P-17, em 2015.
Assim, a barreira de idioma envolve os professores e os gerentes de projetos da FDC,
os professores e gerentes de escolas de negócios internacionais, os participantes dos
programas e o próprio demandante da firma cliente. Em outras palavras, os dados indicam que
o idioma tem uma faceta interna e externa à FDC, com grande influência no desenho da
solução educacional a ser desenvolvida. A faceta interna diz respeito à fluência em idioma
estrangeiro (normalmente inglês ou espanhol) da equipe de professores e gerentes da FDC,
enquanto a externa se refere ao idioma como uma barreira relacionada aos participantes e ou
demandantes que não falam outro idioma além do português, sendo que esses últimos
85
usualmente têm um papel importante no desenho da solução educacional. Outra faceta externa
do idioma está relacionada à dificuldade de professores de escolas no Oriente Médio ou na
Ásia se comunicarem fluentemente em inglês. Isso causa problemas não somente no
desenvolvimento do programa, mas também no desenho da solução educacional.
A análise comparativa sinaliza que o idioma é uma barreira que foi identificada nos
projetos customizados internacionais selecionados em todos os anos analisados, ou seja, o
idioma é uma barreira que não foi alterada temporalmente. Em dois anos, 2007 e 2013, essa
barreira foi indeterminada, ou seja, parte dos projetos a apresentou e parte não a apresentou.
Entende-se, entretanto, que esse resultado não altera o sentido da análise comparativa que, no
geral, indica a permanência dessa barreira nos projetos customizados internacionais ao longo
dos anos.
A falta de rotinas para a internacionalização, segunda barreira identificada nas
entrevistas, é entendida como a falta de processos e procedimentos estruturados para suportar
as ações relacionadas à internacionalização (Leonidou, 2004) Os dados analisados indicam
que essa barreira à internacionalização abrange: a) falta de rotinas que assegurem que os
materiais didáticos sejam traduzidos por tradutores com amplo conhecimento técnico sobre o
assunto; b) falta de rotinas para despachar materiais para o exterior; c) falta de rotinas para
orientar os gerentes e equipe envolvida nos projetos customizados internacionais sobre
informações gerais, tais como visto e vacina e; finalmente, d) falta de rotinas relacionadas a
questões tributárias para precificação na elaboração de propostas.
Assim como apontado na barreira idioma, a análise de dados mostra que as mesmas
barreiras relacionadas à ausência de rotinas para a internacionalização são recorrentes ao
longo do período 2006-2015. Ela foi apontada no primeiro projeto, ocorrido em 2006, e
apareceu em grande parte dos projetos customizados internacionais realizados pela FDC nesse
intervalo de tempo, incluindo o último projeto selecionado (P-15), realizado em 2015. Em
outras palavras, ao longo de aproximadamente dez anos, barreiras referentes às rotinas para a
internacionalização têm se repetido tanto na elaboração da proposta quanto na entrega de
projetos customizados internacionais por parte da FDC17.
A terceira barreira analisada é a falta de experiência internacional da equipe, conforme
definida por Leonidou (2004) e Julian e Ahmed (2005). Entende-se que, no contexto das
escolas de negócio, a exposição internacional da equipe técnica promove o enriquecimento de
17 Destaca-se que essa foi uma barreira sempre presente, sem qualquer indicação de presença indeterminada ou
ausência em algum ano, o que, de alguma forma, reforça os resultados que indicam a sua recorrência no
período abrangido por esse estudo.
86
seu conhecimento e experiência, que podem ser compartilhados e empregados em outros
projetos (Hawawini, 2005). Essa barreira se manifestou, principalmente, de duas formas: a)
falta de experiência em projetos internacionais para facilitar a gestão de projetos que
envolvem escolas de negócios parceiras; e b) falta de experiência dos professores para
conduzir capacitações internacionais, incluindo o seu conhecimento sobre as especificidades
contextuais do projeto.
Em termos da análise comparativa de dados, verifica-se que a falta de experiência
internacional da equipe foi apontada como barreira à internacionalização em cinco dos seis
anos considerados. Ou seja, essa barreira não foi identificada apenas no ano de 2013. No
início do período analisado, nota-se que se tratava das primeiras experiências do gerente e ou
da coordenadora executiva em projetos internacionais. Em alguns dos projetos, era também a
primeira experiência internacional do professor. Porém, com o passar dos anos, mesmo com o
acúmulo da experiência dos professores e ou dos gerentes, verifica-se que essa barreira se
manteve no período analisado. Entende-se que a razão seja, provavelmente, a rotatividade de
pessoal, a qual é representada, em alguns projetos, por novos gerentes e professores com
menos experiência internacional, os quais passaram a assumir e ou participar de projetos
customizados internacionais.
A adaptação internacional também foi considerada uma barreira à internacionalização.
Em geral, ela foi ilustrada pelos entrevistados como a dificuldade em adaptar a solução
educacional proposta pela FDC a outros mercados internacionais. Verificou-se nos relatos a
tendência de a FDC replicar modelos considerados bem-sucedidos no Brasil em contextos
diferentes. Nesse sentido, os entrevistados consideram que um grande desafio é entregar a
proposta de valor dos programas customizados internacionais da FDC em outros mercados
internacionais, envolvendo professores de escolas de negócios parceiras e ou os próprios
professores da FDC, com a adaptação necessária. Especificamente, isso envolve três pontos:
a) entrega de uma solução educacional com a participação de uma escola de negócios
parceira, que opera de forma tradicional e que não está interessada e ou preparada para
realizar um projeto customizado para o cliente de acordo com o modelo proposto pela
FDC; b) entrega de uma solução educacional para um cliente que busca uma solução sem ou
com baixo grau de adaptação, ou seja, uma solução mais alinhada ao modelo tradicional e c)
entrega de uma solução educacional customizada para o cliente cujo grau de adaptação, no
entanto, não é suficiente para atender a essa demanda. Nesse sentido, a barreira adaptação
internacional envolve duas facetas. A primeira delas é que a adaptação envolve oferecer um
projeto customizado para o cliente, mas cuja adaptação é insuficiente, enquanto a segunda
87
faceta é o reverso da medalha, a adaptação envolve terceiros que dificultam ou impedem essa
adaptação.
Ao se fazer a análise da evolução da barreira adaptação internacional, verifica-se, tal como
as barreiras idioma e rotinas para internacionalização, que ela se manteve ao longo dos anos
analisados. Isso significa que as manifestações dessa barreira são recorrentes nos projetos,
repetindo em 2015 ações verificadas em projetos de 2007 e 2010. A exceção são os projetos
realizados em 2008. Isso porque, nesse ano, três dos quatro projetos selecionados se referem a
demandas para replicar no exterior um programa realizado para a firma cliente no Brasil. Além
disso, nesses programas, houve basicamente a participação de executivos brasileiros.
Menos recorrentes entre as barreiras identificadas neste estudo, a concorrência
internacional é entendida como uma barreira à internacionalização à medida que outras
escolas de negócios internacionais são priorizadas pelas firmas contratantes. De acordo com a
análise comparativa dos dados, essa barreira foi considerada como indeterminada em 2007 e
não foi identificada nos demais anos analisados.
Em síntese, conclui-se que quatro das cinco barreiras identificadas, idioma, rotinas
para internacionalização, experiência internacional da equipe e adaptação internacional
mantiveram-se ao longo do período compreendido entre os anos de 2006 e 2015. Em 2006, o
idioma era identificado como barreira da mesma forma como é apontado atualmente, em
2015, sendo ilustrado, principalmente, pela dificuldade em identificar gerentes e ou
professores que tenham amplo conhecimento do conteúdo a ser ministrado, abordando a
metodologia adequada, e que tenham o pleno domínio de outro idioma, como o inglês ou o
espanhol. As rotinas para a internacionalização também foram identificadas como barreira à
internacionalização dos programas customizados realizados no exterior com relatos repetidos
de falta de rotinas envolvendo a tradução de material didático, falta de rotinas para o envio de
materiais para o exterior, falta de rotinas para fornecer informações aos gerentes de projetos e
professores sobre, por exemplo, necessidade de visto e vacinas, e, finalmente, falta de rotinas
relacionadas a questões tributárias para a elaboração de propostas. A falta de experiência
internacional da equipe também foi vista como uma barreira que se manteve ao longo dos
anos. Finalmente, a adaptação internacional também é considerada uma barreira recorrente ao
longo dos anos, embasada por relatos repetidos que discorrem sobre a tentativa de replicação
de modelos bem-sucedidos no Brasil em mercados estrangeiros e da dificuldade de entregar a
proposta de valor dos projetos customizados da FDC no exterior com professores de escolas
parceiras tradicionais.
88
5 CONCLUSÃO
5.1 Considerações iniciais
Este capítulo contém as conclusões desta dissertação e está dividido em três partes.
Primeiramente, serão apresentados os principais resultados obtidos com esta pesquisa.
Posteriormente, a questão de pesquisa será revisitada. Finalmente, serão indicadas as
principais contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras.
5.2 Principais resultados
Os principais resultados obtidos com esta pesquisa foram: a) as barreiras à
internacionalização referentes aos projetos customizados internacionais da FDC são idioma,
rotinas para a internacionalização, experiência internacional da equipe, adaptação
internacional e concorrência internacional; e b) exceto a concorrência internacional, ao longo
do período de análise, compreendido entre o ano de 2006 e 2015, foram registradas
manifestações das outras quatro barreiras em períodos com intervalos de até oito anos.
Considerando as classificações propostas pela literatura, principalmente a
categorização das barreiras à internacionalização em externas e internas à firma (Casvusgil,
1984; Leonidou,1995, 2004), sugere-se, a partir dos resultados obtidos, que as barreiras
identificadas estejam distribuídas nesses dois grupos.
A barreira idioma, por exemplo, tende a ser classificada pela literatura como uma
barreira interna, ou seja, relacionada ao ambiente interno da firma (Katsikeas & Morgan,
1994). Porém, os nossos dados sugerem que o idioma tem uma faceta interna e externa à
FDC. A interna está relacionada à fluência em idioma estrangeiro da equipe de professores e
gerentes da FDC, enquanto a externa refere-se ao idioma como uma barreira afeita aos
participantes e ou demandantes que não falam outra língua além do português. Outra faceta
externa do idioma diz respeito à dificuldade de professores de escolas de negócios parceiras
de se comunicarem fluentemente em inglês, causando dificuldades não somente no
desenvolvimento do projeto, como também no desenho da solução educacional.
Já as barreiras relacionadas às rotinas para a internacionalização podem ser
classificadas de acordo com Katsikeas e Morgan (1994) como operacionais, ou seja, dizem
respeito às dificuldades oriundas dos processos e documentação de exportação e ou
internacionalização. Leonidou (2004) classifica essas barreiras como internas, ilustrando que
89
se trata de problemas ocasionados pela falta de estruturação da firma para a
internacionalização. Alinhado às características consideradas na classificação proposta por
esses autores, entende-se que as barreiras rotinas para a internacionalização identificadas
neste trabalho podem ser classificadas como internas à firma.
A barreira experiência internacional da equipe pode ser entendida como da firma
(Tesfom & Lutz, 2006) ou barreira gerencial (López, 2007), ambas com características de
barreira interna. Entende-se que a atuação internacional demanda conhecimento (Shaw &
Darroch, 2004) e que o desenvolvimento desse conhecimento está relacionado com a
permanência dos indivíduos ao contexto que propiciou o seu acúmulo (Forsgren, 2002). De
forma condizente com a literatura, as barreiras relacionadas à experiência dos indivíduos nos
diversos projetos customizados internacionais aqui pesquisados também podem ser
classificadas como internas.
A barreira adaptação internacional é frequentemente compreendida como relacionada
à adaptação do produto ou serviço ao mercado internacional. Essa barreira é classificada
como interna, mais especificamente de marketing (Leonidou, 2004). Entretanto, as suas
formas de manifestação neste trabalho revelam duas facetas da adaptação internacional. A
primeira delas indica que essa adaptação envolve oferecer um projeto customizado para o
cliente, mas cujo grau de adaptação não condiz com os resultados do projeto. A segunda
sinaliza que, no caso dos projetos customizados internacionais aqui selecionados, a adaptação
implica a participação de terceiros nesses projetos, escolas de negócios parceiras, as quais
impõem dificuldades ou impedem essa adaptação por priorizarem formatos distintos em
termos de solução educacional. Uma vez que a ênfase da literatura é na primeira faceta da
barreira adaptação internacional (ver, por exemplo Tesfom & Lutz, 2006 e Leonidou, 2004),
sugere-se que a segunda faceta é uma manifestação da barreira adaptação internacional que
não tem recebido a devida atenção. Isso significa dizer que a adaptação internacional não
pode ser entendida apenas considerando os relacionamentos da firma com o cliente para a
oferta de produtos e ou serviços. Em termos de adaptação internacional, o ponto de vista de
outros atores envolvidos nessa oferta pode, eventualmente, ter que ser levado em conta
(Hakansson & Snehota, 1995).
Finalmente, a concorrência internacional é compreendida como uma barreira
proveniente do ambiente externo da firma, representado pelo mercado doméstico e ou pelo
mercado internacional, conforme classificação de barreira externa proposta por Leonidou
(2004). Os resultados apresentados indicam que essa barreira diz respeito ao fato de os
demandantes priorizarem outras escolas de negócios em função de diversos fatores, tal como
90
o fato de o demandante e ou os executivos não conhecerem a FDC. Dessa forma, esses
indivíduos não consideravam as escolas de negócios brasileiras como referência em educação
executiva, privilegiando aquelas localizadas nos Estados Unidos e ou Europa.
O segundo e mais importante resultado desta dissertação foi obtido a partir da análise
da evolução das barreiras identificadas ao longo do período compreendido entre os anos de
2006 e 2015. Encontrou-se que das cinco barreiras identificadas, quatro delas se mantiveram
ao longo desses anos: idioma, rotinas para internacionalização, adaptação internacional da
equipe e adaptação internacional. Esse resultado é convergente com os achados de Rocha,
Freitas e Silva (2008) que, em raro estudo longitudinal, sugerem que as barreiras não variaram
ao longo do tempo nas firmas pesquisadas.
Partindo da análise da barreira considerada exceção nesta pesquisa, Concorrência
Internacional, acredita-se que ela não foi recorrente pelo fato de as demandas terem sido
apresentadas à FDC de maneira reativa, ou seja, os demandantes já haviam participado de
projetos anteriores, ou tinham referências positivas sobre a atuação dessa escola de negócios,
ou ainda algum executivo internacional da firma era membro do Conselho Consultivo
Internacional. Isso quer dizer que os projetos analisados foram oriundos de demandas que não
foram prospectadas pela FDC no mercado internacional. Conforme sugere Coviello e Munro
(1995), acredita-se que os relacionamentos formados entre esses atores e sua imersão em
redes de negócios possam ter minimizado o efeito da barreira concorrência internacional.
Outro ponto a ser ressaltado sobre essa barreira é que a realização dos projetos customizados
ocorreu basicamente em países da América Latina e da África. Considerando a presença das
escolas de negócios europeias e norte-americanas nesses mercados internacionais, entende-se
que a concorrência internacional em tais mercados tende a ser menor se comparada à existente
na Europa e Estados Unidos, onde há forte presença de tais escolas. Isso, de alguma maneira,
pode ter favorecido a internacionalização da FDC nos mercados internacionais compostos
pela América Latina e pela África por meio de projetos customizados internacionais.
Analisando a barreira Idioma, recorrente ao longo dos anos, e presente tanto no projeto
realizado em 2006 quanto no projeto realizado em 2015, nota-se que se mantém devido à
rotatividade de professores e gerentes (Forsgren, 2002), dificultando a conciliação entre
domínio do conhecimento e fluência em outros idiomas. Isso ocorre ainda que os registros
consultados indicassem o apoio da FDC aos seus colaboradores para o estudo de idiomas,
como inglês, espanhol ou mandarim. Porém, ressalta-se que, não necessariamente, esses
colaboradores estavam envolvidos nos projetos internacionais. Vale mencionar que esse
91
benefício era concedido a colaboradores de tempo integral, e não a pessoa jurídica, caso de
grande parte dos professores cadastrados na FDC e que atuam nos projetos customizados.
Analisando a barreira Rotinas para a Internacionalização, é importante ressaltar que
ela esteve presente ao longo de todos os anos analisados, sem qualquer indicação de
indeterminação ou ausência. Acredita-se que sua recorrência seja devida ao fato de que tais
rotinas não tenham sido formalizadas a contento (Knight & De Wit,1995). Ou seja, apesar de
serem similares entre os projetos customizados internacionais, os depoimentos indicam que o
grau de sistematização e formalização de tais rotinas é ainda insuficiente para evitar
dificuldades e obstáculos nos projetos customizados internacionais. Isso significa que o
desempenho de tais rotinas está fortemente atrelado aos indivíduos que participam de tais
projetos. Assim, na ausência de conhecimento explícito disponível em procedimentos sobre
como executar tais rotinas, os indivíduos fazem uso do próprio conhecimento (Johanson &
Vahlne, 1977). Os dados indicam, no entanto, que essa prática não tem sido suficiente para
minimizar ou eliminar as barreiras relacionadas às rotinas para internacionalização no período
analisado.
Analisando a recorrência da barreira Falta de Experiência Internacional da Equipe,
verifica-se que essa experiência tem sido percebida como uma barreira ao longo dos anos.
Novamente invoca-se a rotatividade dos gerentes e ou professores nos projetos como
mecanismo generativo da perpetuação dessas barreiras (Forsgren, 2002). Ou seja, a
experiência acumulada na participação em projetos internacionais customizados tende a não
gerar os benefícios esperados, caso haja uma elevada substituição dos indivíduos diretamente
envolvidos na consecução das atividades consideradas vitais para o projeto. É interessante
notar que, diferentemente das rotinas para a internacionalização, é muito difícil formalizar a
experiência internacional da equipe, pois essa experiência é praticamente indissociável dos
indivíduos que ali participam (Johanson & Vahlne, 1977).
Finalmente, a análise sobre a recorrência da barreira relacionada à adaptação
internacional da solução educacional sugere que as dificuldades identificadas na entrega do
modelo de negócios dos projetos customizados da FDC ficaram mantidas ao longo dos anos.
Entende-se que a FDC estende para os projetos internacionais seu modelo de negócios,
amplamente utilizado no Brasil com relativo sucesso. Acredita-se que qualquer mudança para
os projetos customizados internacionais envolveria em maior ou menor grau mudar esse
modelo de negócios, o que seria muito difícil, já que norteia a atuação de toda a FDC. Nesse
sentido, assume-se, ainda que implicitamente, que seja preferível contar com essa barreira e
92
encontrar maneiras de minimizá-la à medida que ela ocorra a oferecer uma solução
diametralmente oposta à que é proposta pelo modelo de negócios da instituição.
5.3 Revisitando a questão de pesquisa
Tendo em vista os resultados obtidos, a questão de pesquisa é aqui revisitada: “como
ocorre a evolução das barreiras à internacionalização em uma escola de negócios?”
Os resultados obtidos indicam a existência de cinco barreiras à internacionalização:
idioma, rotinas para a internacionalização, experiência internacional da equipe, adaptação
internacional e concorrência internacional. Dessas cinco, quatro delas são recorrentes (idioma,
rotinas para a internacionalização, experiência internacional da equipe e adaptação
internacional), o que indica que elas se mantiveram ao longo do período analisado.
Isso significa que, ainda que a escola de negócios tenha avançado no seu processo de
internacionalização, barreiras como idiomas, rotinas para a internacionalização, falta de
experiência internacional da equipe e adaptação internacional estiveram presentes ao longo do
período analisado no que se refere aos projetos customizados internacionais.
5.4 Contribuições, limitações e sugestões de pesquisa futura
Esta pesquisa apresenta algumas contribuições. Com relação às contribuições teóricas,
pode-se dizer que este estudo investiga uma questão que não tem sido priorizada na literatura
de exportação e ou internacionalização (Rocha, Freitas, & Silva, 2008): a evolução das
barreiras à internacionalização ao longo do tempo. Assim, considera-se que houve avanços
importantes na identificação e categorização de tais barreiras (Leonidou, 1995, 2004), bem
como no entendimento de seus antecedentes (Cuervo-Cazurra, Maloney, & Manrakhan, 2007)
e das suas consequências (Kahiya, 2013; Leonidou, 2004; Leonidou & Katsikeas, 1996; Pinho
& Martins, 2010). Porém, ainda se sabe muito pouco sobre como essas barreiras se modificam
ao longo do tempo, principalmente no contexto de escolas de negócios. Nesse sentido, este
estudo pode ser eventualmente visto como uma tentativa, ainda que modesta, de ampliar o
conhecimento sobre este tema de pesquisa.
Mais importante, este estudo possui contribuições ou implicações gerenciais para a
FDC. Primeiro, quanto à barreira idioma, este trabalho pode levar à reflexão sobre a
necessidade de priorizar a contratação de professores e gerentes de projeto com sólidos
conhecimentos específicos e com fluência em idiomas como inglês e espanhol. A recorrência
93
das barreiras relacionadas às rotinas para a internacionalização pode ser considerada uma
evidência importante para a priorização da gestão do conhecimento e da formalização de
procedimentos para as atividades envolvidas na realização de projetos internacionais.
Entende-se que essa ação inibirá a repetição dos mesmos erros ao longo dos projetos e
contribuirá para que os gerentes de projeto e professores possam se dedicar a questões mais
estratégicas e geração de novos negócios nos projetos customizados internacionais.
A recorrência da adaptação internacional como uma barreira identificada sugere uma
reflexão sobre a proposta de valor dos projetos customizados no exterior. Isso envolve avaliar
a adequação das escolas parceiras para a realização dos projetos segundo a expectativa gerada
por essa proposta de valor, assim como avaliar o quanto a customização está sendo realmente
realizada, ou seja, o quanto as características do contexto do cliente estão sendo consideradas
na realização do projeto internacional, alinhadas aos resultados esperados pactuados entre a
FDC e o cliente. Finalmente, para amenizar o impacto da concorrência internacional, reforça-
se a importância da presença da FDC nas primeiras posições dos principais rankings
internacionais de educação executiva, utilizados como referência pelas firmas clientes de
soluções educacionais.
Esta pesquisa, no entanto, possui algumas limitações. A primeira delas é a utilização
de um estudo de caso único. Apesar de o estudo de caso possibilitar uma compreensão maior
sobre o tema estudado (Yin, 1994), o estudo de um caso único limita a generalização
estatística dos resultados obtidos.
Outra limitação diz respeito à restrição da pesquisa aos projetos customizados
internacionais. Isso significa que a análise se ateve a uma área específica da FDC, o que não
permite a generalização dos achados para as demais áreas de negócios da escola. Sobre esse
ponto, deve-se ainda considerar como limitação o fato de todos os projetos analisados terem
sido demandados à FDC de maneira reativa, ainda que esse não tivesse sido um critério para a
seleção dos mesmos. Portanto, nesta pesquisa, não foram considerados projetos proativos.
A quarta limitação se refere à realização de entrevistas apenas com os funcionários da
FDC, ou seja, não foram realizadas entrevistas com indivíduos das escolas de negócios
parceiras, assim como com os clientes dos projetos.
A última limitação é a possível presença de vieses nas percepções dos entrevistados
acerca da identificação das barreiras à internacionalização. Não se pode descartar a hipótese
de os entrevistados terem apontado as barreiras que estivessem mais relacionadas ao seu
cotidiano, com impacto mais direto na realização ou não do projeto. Assim, determinadas
barreiras externas podem eventualmente ter sido desconsideradas.
94
Considerando-se as contribuições e as limitações desta pesquisa, como sugestão para
pesquisas futuras, apresenta-se a ideia de extensão desta para as demais áreas de atuação da
FDC envolvidas em projetos internacionais, por exemplo, a área de programas abertos,
parcerias empresariais e MBA. Dessa forma, é possível a identificação das barreiras em cada
uma das áreas assim como sua respectiva evolução, o que permite a identificação de pontos
comuns e sinergias. A partir daí, as ações para a redução ou eliminação das barreiras podem
ser corporativas, abrangendo todas as áreas da escola de negócios.
Adicionalmente, sugere-se realizar este estudo em outras escolas de negócios a fim de
identificar até que ponto as barreiras à internacionalização são similares e, principalmente, se
há pontos de convergência na evolução dessas barreiras ao longo do tempo. Outro ponto que
pode ser explorado em pesquisas futuras diz respeito ao entendimento mais refinado sobre a
evolução das barreiras à internacionalização. Nesta dissertação, analisamos a evolução dessas
barreiras a partir da presença e ou ausência ao longo do período analisado. Pesquisas futuras
poderiam contemplar o grau em que tais barreiras à internacionalização estão presentes.
95
96
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104
ANEXO A - Roteiro de Entrevista
1. Fale um pouco da experiência no projeto x.
a. Como aconteceu o contato e como a demanda foi apresentada à FDC?
b. Por que e como o cliente escolheu a FDC?
c. Na FDC, outras áreas, além da sua, também estiveram envolvidas? Como?
d. Como você classifica a preparação e prontidão das equipes e processos da FDC para
darem o suporte necessário para este projeto?
2. Quais foram as principais dificuldades encontradas neste projeto em cada uma das etapas:
a. Escuta
b. Estruturação
c. Entrega
d. Sustentação
3. Essas dificuldades aumentaram, diminuíram ou se mantiveram em relação a outros
projetos?