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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Carolina Tavares da Silva Louback Entre a tradição e a tradução: um estudo de caso de uma associação de pais imigrantes brasileiros na Espanha DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA São Paulo 2017

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO …...base un proyecto pedagógico que valora las prácticas interculturales, el desarrollo de una identidad cultural afectiva, la convivencia

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Carolina Tavares da Silva Louback

Entre a tradição e a tradução:

um estudo de caso de uma associação de pais imigrantes brasileiros na Espanha

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

São Paulo

2017

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Carolina Tavares da Silva Louback

Entre a tradição e a tradução:

um estudo de caso de uma associação de pais imigrantes brasileiros na Espanha

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título

de doutor em Psicologia Clínica, sob orientação da

Profa. Dra. Rosane Mantilla de Souza.

São Paulo

2017

Sistema para Geração Automática de Ficha Catalográfica para Teses e Dissertações com dados fornecidos pelo autor

CDD 157.9

L886LOUBACK, CAROLINA TAVARES DA SILVA ENTRE A TRADIÇÃO E A TRADUÇÃO: UM ESTUDO DE CASODE UMA ASSOCIAÇÃO DE PAIS IMIGRANTES BRASILEIROS NAESPANHA / CAROLINA TAVARES DA SILVA LOUBACK. --São Paulo: [s.n.], 2017. 97p. il. ; 30 cm.

Orientador: ROSANE MANTILLA DE SOUZA.Tese (Doutorado em Psicologia Clínica)-- PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo, Programa deEstudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica, 2017.

1. Família Intercultural. 2. Identidade Cultural.3. Migração. 4. Internet. I. SOUZA, ROSANE MANTILLADE. II. Pontifícia Universidade Católica de SãoPaulo, Programa de Estudos Pós-Graduados emPsicologia Clínica. III. Título.

Banca Examinadora

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

Aos meus amados incentivadores:

Laerte, meu pai,

Eduardo, meu marido

e Priscila, minha filha.

Agradecimento especial ao Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) pelo incentivo financeiro para a realização

desta pesquisa.

AGRADECIMENTOS

Esta tese é a realização de um sonho e me sinto muito feliz em conquistá-lo.

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me permitido realizar este sonho e por ter me

dado forças para continuar nos momentos mais difíceis.

Agradeço a todos que generosamente contribuíram para feitura deste sonho, seja direta

ou indiretamente.

À Profa. Dra. Rosane Mantilla de Souza, minha orientadora, que tornou toda essa

trajetória uma experiência enriquecedora, inspirando-me a buscar o conhecimento e a refletir com

mais profundidade, minha profunda gratidão e admiração. Sem a sua firmeza, competência,

sensibilidade e objetividade, esta tese não teria acontecido. Desejo que muitos outros projetos

possam ser construídos em conjunto.

A todos os participantes desta pesquisa que anonimamente se dispuseram a contribuir de

forma generosa, compartilhando suas histórias migratórias em terras distantes. À Associação

de pais que apoiou e acolheu a pesquisa, principalmente a presidente que com simpatia e

prontidão estabeleceu contatos, o meu muito obrigada.

Aos meus pais pelo exemplo de vida e valores transmitidos. – Pai, como eu sinto você não

estar aqui para celebrar comigo esta conquista!

Ao meu marido, por ser meu porto seguro, esperando-me durante as idas e vindas entre

Rio e São Paulo. Pelo apoio e incentivo sempre presente, mostrando que companheirismo é algo

muito além do que eu imaginava ser.

A minha filha que me inspira e me motiva pelo fato de simplesmente existir. – Amo-te,

minha bonequinha.

Ao Leonardo, meu futuro genro, obrigada pelos esclarecimentos em Direito

Constitucional, acerca do Direito da Nacionalidade, pelo apoio e torcida afetuosa sempre

presentes.

Aos amigos de sempre, os de longe, os recentes, os que oram, torcem, os que perguntam:

– e a tese? Os que querem saber quando é que acaba e aqueles que estão ansiosos para

comemorar, vocês também são partes desta história.

Aos meus pacientes que estimulam o meu aprendizado e crescimento profissional.

A Priscila, minha filha, pelo belo trabalho gráfico das figuras e tabela desta tese.

Aos professores de toda minha vida, e especialmente aos professores Arthur Tavares,

Zaccharias Eduardo Carboni (in memorian), Profa. Dra. Lucília de Almeida Elias, Dr. Fábio

Damasceno Barreto, Profa. Dra. Andrea Soutto Mayor, Ma. Juliane Dominoni Gomes Oliveira,

que serviram de exemplo e me impulsionaram a chegar aqui.

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelo acolhimento e por abarcar uma

diversidade de áreas da Psicologia Clínica, que serve de atrativo para muitos alunos, assim como

eu, levando-nos a sair de nossas cidades e Estados, migrando de diversas partes do Brasil para

aprender e desenvolver nossas pesquisas nesta casa.

Aos professores da PUC-SP que durante os 8 anos de mestrado e doutorado foram

importantes para o conhecimento adquirido ao longo das disciplinas realizadas, Profa. Dra. Rosa

Maria Stefanini Macedo, Profa. Dra. Maria Helena Pereira Franco, Profa. Dra. Ceneide Maria

de Oliveira Cerveny, Profa. Dra. Edna Maria Severino Peters Kahhale e Profa. Dra. Ida

Kublikowski.

À Profa. Dra. Maria Thereza de Alencar Lima e Profa. Dra. Cíntia Gemmo Vilani, que

fizeram parte da banca de qualificação, pelos direcionamentos apontados.

Agradeço aos professores participantes da banca examinadora que dividiram comigo este

momento tão importante e esperado: Profa. Dra. Maria Thereza de Alencar Lima, Prof. Dr. Plínio

de Almeida Maciel Júnior, Profa. Dra. Valéria Maria Meirelles e Profa. Dra. Cíntia Gemmo

Vilani.

Aos colegas de pós-graduação, mestrado e doutorado, que estiveram ao meu lado nestes

anos de PUC-SP, pela alegria, sofrimento, conquistas e experiências compartilhadas, vocês

fizeram diferença, tornando a minha jornada mais suave.

À Catia, pelo suporte na administração da casa, em que eu pude descansar e confiar

cuidados.

A todos os funcionários desta Universidade que, de alguma maneira, contribuíram para

este momento.

À Paula, pela paciência e cuidado na revisão. Ao Diego, à Dolores e à Irene, pelo apoio

com as traduções.

Finalizo como tudo começou, agradecendo a Deus e celebrando a vida.

Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas

de rasa importância (...) Talvez então, a melhor coisa

seria contar a infância não como um filme em que a

vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra,

na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá

sentido, princípio, meio e fim, mas como um álbum

de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um

contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de

escrever sobre a alma em cuja memória se encontram

as coisas eternas, que permanecem...

Guimarães Rosa

RESUMO

LOUBACK, Carolina Tavares da Silva. Entre a tradição e a tradução: um estudo de caso de

uma associação de pais imigrantes brasileiros na Espanha. 97 p. Tese de Doutorado em

Psicologia Clínica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. São Paulo, 2017.

Sabemos que o homem não é um ser isolado e que desde seus primórdios sobrevive em grupos,

necessitando sempre de apoio para que possa se sentir integrado, orientado e protegido.

O mesmo acontece na vida daqueles que migram, utilizando-se da internet como meio de

conectar-se com outros imigrantes, organizando comunidades e associações para conviverem

e se auxiliarem mutuamente, atuando de forma presencial e on-line. Esta pesquisa teve como

objetivo compreender o funcionamento de uma associação de pais imigrantes brasileiros

na Espanha, e como objetivos específicos: compreender a formação, o funcionamento e a

manutenção de uma associação de pais imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha,

compreender como o imigrante se relaciona com a associação e qual o significado desta para

sua família e identificar como a associação de pais imigrantes brasileiros atua na manutenção da

relação com a cultura brasileira. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem sistêmica,

cujos acesso e realização se deram por meio da internet, tendo como estratégia metodológica

o estudo de caso instrumental. Foram realizadas entrevistas não-diretivas com três membros

da diretoria da Associação e com o idealizador do projeto, além de 20 questionários respondidos

por pais imigrantes brasileiros e observações netnográficas do site e da fanpage do Facebook.

Os resultados mostraram que a ação comunitária dos pais é centrada em torno de um objetivo em

comum: o aprendizado da língua e a transmissão da cultura, e tem como base um projeto

pedagógico que valoriza as práticas interculturais, o desenvolvimento de uma identidade cultural

afetiva, a convivência com falantes de português, sendo estes os meios encontrados pela

Associação para manutenção da relação com a cultura brasileira. A participação do imigrante e

seus filhos juntamente com outras famílias imigrantes brasileiras na Associação proporcionam

aos pais pertinência, informação, apoio emocional e convívio social.

Palavras-chave: Família Intercultural. Identidade Cultural. Comunidade. Migração. Internet.

.

ABSTRACT

LOUBACK, Carolina Tavares da Silva. Between tradition and translation: a case study of an

association of Brazilian immigrant parents in Spain. 97 p. Doctoral Thesis on Clinical

Psychology. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. São Paulo, 2017.

We know man is not an isolated being and that since his beginnings he survives in groups, always

in need of support in order to feel integrated, oriented and protected. The same happens in the

lives of those who migrate, recurring to internet as a mean to connect themselves to other

immigrants, organizing communities and associations to live with and help themselves mutually,

acting in person and online. This research aimed to comprehend the functioning of an association

of Brazilian immigrant parents residing in Spain, and had as specific aims: comprehend the

formation, functioning and maintenance of an association of Brazilian immigrant parents residing

in Spain, comprehend how the immigrant relates with the association and its meaning for his

family and identify how the association of Brazilian immigrant parents acts on the maintenance

of the relation with Brazilian culture. This was a qualitative research, of systemic approach,

whose access and making were made through the internet, having as methodological strategy an

instrumental case study. Non-directive interviews were made with three members of the

Association's direction and with the project's mastermind, in addition to 20 questionnaires

answered by Brazilian immigrant parents and netnographic observations about the association's

site and Facebook fanpage. The results showed that the parents communitary action is centered

on a common aim: language learning and transmission of culture, and has as basis a pedagogical

project that values intercultural practices, the development of an affective cultural identity and

the interaction with Portuguese speakers, those being the means found by the Association to

maintain its relation with Brazilian culture. Participation of the immigrant and his sons in the

Association, together with other Brazilian immigrant families, provides parents with a sense of

belonging, information, emotional support and social interaction.

Keywords: Intercultural Family. Cultural Identity. Community. Migration. Internet.

RESUMEN

LOUBACK, Carolina Tavares da Silva. Entre la tradición y la traducción: un estudio de caso

de una asociación de padres inmigrantes brasileños en España. 97 p. Tesis de Doctorado en

Psicología Clínica. Pontificia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. São Paulo, 2017.

Sabemos que el hombre no es un ser aislado y que desde sus orígenes sobrevive en grupos,

necesitando siempre apoyo para que pueda sentirse integrado, orientado y protegido. Lo mismo

sucede en la vida de aquellos que migran, utilizando internet como medio de conectarse con otros

inmigrantes, organizando comunidades y asociaciones para convivir y ayudarse mutuamente,

actuando de forma presencial y on-line. Esta investigación tuvo como objetivo comprender el

funcionamiento de una asociación de padres inmigrantes brasileños en España, y como objetivos

específicos: comprender la formación, el funcionamiento y el mantenimiento de una asociación

de padres inmigrantes brasileños domiciliados en España, comprender cómo el inmigrante se

relaciona con la asociación y cuál es el significado de esta para su familia e identificar cómo

la asociación de padres inmigrantes brasileños actúa en el mantenimiento de la relación con la

cultura brasileña. Se trató de una investigación cualitativa, de abordaje sistémico, cuyo acceso

y realización se dieron a través de internet, teniendo como estrategia metodológica el estudio

de caso instrumental. Se realizaron entrevistas no directivas con tres miembros del directorio

de la Asociación y con el idealizador del proyecto, además de 20 cuestionarios respondidos

por padres inmigrantes brasileños y observaciones netnográficas del sitio y de la fanpage

de Facebook. Los resultados mostraron que la acción comunitaria de los padres se centra en torno

a un objetivo en común: el aprendizaje de la lengua y la transmisión de la cultura, y tiene como

base un proyecto pedagógico que valora las prácticas interculturales, el desarrollo de una

identidad cultural afectiva, la convivencia con hablantes de portugués, siendo estos los medios

encontrados por la Asociación para mantener la relación con la cultura brasileña. La participación

del inmigrante y sus hijos junto con otras familias inmigrantes brasileñas en la Asociación

proporcionan a los padres pertinencia, información, apoyo emocional y convivencia social.

Palabras claves: Familia Intercultural. Identidad Cultural. Comunidad. Migración. Internet.

RESUMÉ

LOUBACK, Carolina Tavares da Silva. Entre la tradition et la traduction: une étude de cas

d’une association de parents immigrés en Espagne. 97 p. Thèse de Doctorat en Psychologie.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. São Paulo, 2017.

Nous savons que l’homme n’est pas un être isolé et que dès ses origines, il survit en groupes,

en ayant toujours besoin d’appui pour qu’il se sente intégré, orienté et protégé. Le même se passe

dans la vie de ceux qui immigrent, en utilisant l’internet comme moyen de se connecter

avec d’autres immigrés, en organisant des communautés, et des associations pour avoir une

convivialité et s’entraider, en agissant de façon présentielle et en ligne. Cette recherche a eu

comme but de comprendre le fonctionnement d’une association de parents immigrés brésiliens

résidants en Espagne et comme objectifs spécifiques: comprendre la formation, le

fonctionnement et l’entretien d’une association de parents immigrés brésiliens résidants

en Espagne; comprendre aussi comment l’immigré se rapporte avec une association et la

signification de celle-ci pour sa famille; identifier comment cette association de parents

immigrés brésiliens agit dans l’entretien du rapport avec la culture brésilienne. Il s’est agi d’une

recherche qualifiée d’approche systématique dont l’accès et la réalisation se sont construits

à travers l’internet, en ayant comme stratégie méthodologique l’étude de cas instrumental.

On a réalisé des interviews non directives avec trois membres de la direction de l’Association

et aussi avec le créateur du projet. En plus, vingt questionnaires ont été répondus par des parents

d’immigrés brésiliens et des observations netnographiques du site et de la fanpage du Facebook

ont été faites. Les résultats ont démontré que l’action communautaire des parents est centrée

autour d’un but comme: l’apprentissage de la langue et la transmission de la culture en ayant

comme base un projet pédagogique qui met en valeur les pratiques interculturelles,

le développement d’une identité affective, la convivialité avec ceux qui parlent portugais, bref,

ce sont ces moyens trouvés par l’Association pour maintenir un rapport avec la culture

brésilienne. La participation de l’immigré et ses enfants conjointement avec d’autres familles

brésiliennes d’immigrés dans l’Association offrent aux parents pertinence, information, soutien

émotionnel et la convivialité sociale.

Mots clés: Famille Interculturelle. Identité Culturelle. Communauté. Migration. Internet.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 13

CAPÍTULO I – FAMÍLIA IMIGRANTE................................................................ 19

1.1 CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL............................................. 28

CAPÍTULO II – ASSOCIAÇÕES DE IMIGRANTES.......................................... 38

2.1 COMUNIDADE E REDE SOCIAL PESSOAL................................................. 39

2.2 AS COMUNIDADES: O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM........................... 42

2.3 COMUNIDADES VIRTUAIS.......................................................................... 46

2.4 REDES SOCIAIS NA INTERNET.................................................................... 49

OBJETIVO.......................................................................................................... 55

3.1 OBJETIVO GERAL......................................................................................... 55

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 55

MÉTODO............................................................................................................ 56

CONTEXTO.......................................................................................................... 57

PARTICIPANTES.................................................................................................. 57

PROCEDIMENTO................................................................................................. 58

INSTRUMENTOS................................................................................................. 60

ANÁLISE DE DADOS........................................................................................... 60

RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 61

A. A Associação pesquisada: formação, funcionamento e manutenção.................. 61

A.1. A FORMAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO................................................................ 61

A.2. FUNCIONAMENTO E MANUTENÇÃO......................................................... 65

A.3. MANUTENÇÃO............................................................................................ 68

B. O imigrante: a relação com a Associação e o significado para sua família......... 71

C. Identificar como a Associação de pais imigrantes brasileiros atua na

manutenção da relação com a cultura brasileira.......................................................

77

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 80

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 84

APÊNDICE A – Questionário........................................................................................... 94

13

INTRODUÇÃO

A casa do homem é onde ele pousa seu amor, é onde

encontra paz e pertencimento.

(Desconhecido)

A presente pesquisa tem como objetivo compreender a formação, o funcionamento e a

manutenção de uma associação de pais imigrantes brasileiros.

O interesse pelo assunto foi desperto durante o processo de coleta de dados para a

Dissertação A conjugalidade intercultural de brasileiras: uma análise sistêmica de posts em

blogs (LOUBACK, 2012), quando realizei um levantamento dos blogs de imigrantes

brasileiros e tive acesso às comunidades on-line constituídas por pais imigrantes brasileiros,

desejando, com isso, saber o impacto e o significado dessas associações na vida da família.

Sendo descente de imigrantes, passei boa parte de minha infância ouvindo de meu pai as

histórias sobre as origens suíça e italiana de nossa família, dos imigrantes que vieram para o

Brasil, do apoio que receberam dos amigos durante a viagem e da comunidade que formaram

quando chegaram em nossa terra.

Bem sabemos que, atualmente, os contextos de imigração diferem significativamente

daqueles do passado, o que muito se deve ao impacto causado pela Tecnologia de Informação e

Comunicação (TIC), que veio transformar a vida dos imigrantes encurtando a distância entre

o país de recebimento e o país de origem, tornando possível ver, falar e ouvir em tempo real, e

assim acompanhar de perto os acontecimentos da vida diária de seus amigos e familiares,

propiciando a experiência de estar aqui e lá ao mesmo tempo. Além desse uso, que já se tornou

costumeiro na vida dos imigrantes, a internet tem facilitado o contato com as comunidades

on-line de imigrantes e, por meio destas, vem possibilitando a formação de redes sociais e de

apoio estabelecidas entre eles.

As comunidades on-line podem abranger uma gama de interesses sociais e culturais,

desde grupos de mães, de estilo de vida, luto, imigrantes, e muitos outros, com a vantagem de

acolher pessoas de todo o mundo. Essas comunidades propiciam aos seus participantes

pertinência, informação, apoio emocional e convívio social.

14

As comunidades de imigrantes são iniciativas organizadas em torno de um ou mais

elementos culturais (língua, etnia, religião), atuando de forma presencial e on-line através de

blogs e fanpage no Facebook, divulgando o seu trabalho e promovendo encontros entre seus

participantes. Quando organizadas juridicamente, transformam-se em associações e possuem um

estatuto e uma diretoria eleita pelos seus membros.

Objetivando pesquisar as associações de pais brasileiros imigrantes, catalogamos

34 comunidades situadas na Europa, por se tratar do continente onde se identifica o maior

número de associações de imigrantes brasileiros. Identificamos o maior número de comunidades

(7) na Espanha e procuramos encontrar mais dados sobre elas.

Os movimentos migratórios1 perpassam a história do Brasil desde a época da colonização.

No final do século XIX e início do XX, o Brasil teve um importante papel como país receptor de

imigrantes, mas, a partir de meados da década de 1980, este quadro se altera e o Brasil se

converte em um país de envio de emigrantes (CAMPOS, 2011). Paralelamente, durante a década

de 1980, inicia-se na Espanha um processo contrário a essas mudanças de fluxo migratório que se

deram no Brasil, convertendo-se em um dos principais destinos de imigração na Europa. É nesse

contexto que se dá a chegada dos imigrantes2 brasileiros na Espanha.

No decorrer do século XXI, segundo Solé, Cavalcanti e Parella (2011), o número de

imigrantes brasileiros com autorização de residência na Espanha aumentou progressivamente,

tendo como marco desse incremento o período que compreende os anos de 2005 e 2006, em que

o número de residentes de 17.524 passou para 26.868, chegando a 47.229 em 2009. Com base em

informações contidas no site Brasileiros no Mundo, do Ministério das Relações Exteriores

(BRASIL, 2017), atualizada em 29/11/2016, estima-se que cerca de 86.691 brasileiros imigrantes

em Espanha, conforme as avaliações contidas nos relatórios consulares (RCNs) enviados

anualmente pelo Consulado-Geral do Brasil em Madrid e pelo Consulado-Geral do Brasil, em

Barcelona. De acordo com esses dados, na última década, a Espanha se converteu em um dos

mais importantes destinos da imigração brasileira no exterior.

1 Por migração, entende-se o movimento de entrada ou saída de indivíduos em países diferentes ou dentro de um

mesmo país (OIM, 2009). Acessível em: <https://publications.iom.int/system/files/pdf/iml22.pdf.>. 2 A imigração é o movimento de pessoas ou grupos humanos que entram em um determinado país que não o seu de

origem a fim de ali se estabelecerem (OIM, 2009). Adotaremos em nossa pesquisa a perspectiva do país de

recebimento, ou seja, na Espanha, os brasileiros são imigrantes. Acessível em: <https://publications.iom.int/

system/files/pdf/iml22.pdf>.

15

Um dos efeitos da crescente população estrangeira na Espanha foi o aumento do número

de casamentos mistos ou binacionais (RODRÍGUEZ GARCÍA, 2004), também chamados de

biculturais, que são constituídos por cônjuges que possuem nacionalidades distintas, língua

materna distinta e famílias de origem pertencentes a diferentes países (LIND, 2008). Segundo os

dados da pesquisa realizada em 2007 por Solé, Cavalcanti e Parella (2011), 2.588 mulheres e 560

homens brasileiros contraíram matrimônio na Espanha naquele ano. Desses casamentos, 2.193

uniões foram oficializadas entre mulheres brasileiras e homens espanhóis, e 344 homens

brasileiros casaram com mulheres espanholas; levando os autores à conclusão de que os

brasileiros residentes na Espanha, tanto mulheres quanto homens, casam-se preferencialmente

com espanhóis, constituindo uniões biculturais. Já com relação ao número de nascimento de

filhos de mães brasileiras, a pesquisa aponta um total de 2.625 crianças, posicionando o Brasil em

sétimo lugar, aproximadamente 3% do total de nascimentos de mães estrangeiras em Espanha,

considerando que em termos absolutos é um dos coletivos que mais têm filhos em Espanha.

Devemos acrescentar que os demais 611 brasileiros que se casaram na Espanha, fizeram-no com

não espanhóis, gerando igualmente uma situação de casamento bicultural, em que ambos os

cônjuges são imigrantes, com o diferencial de que os filhos dessas uniões viverão em um

contexto de tríplice influência cultural.

Existem muitas definições de família e diferentes tipos de família. Para McGoldrick et al.

(2012), família é constituída por aqueles que estão ligados pela mesma história emocional,

biológica, legal e cultural, e pela história que possivelmente construirão no futuro juntos.

A criança compreende e constrói sua história a partir da história de sua família materna e

de sua família paterna. Nesse sentido, concordamos com Théry (1996) e Hurstel (1999) quando

dizem que é preciso que a história familiar seja transmitida à criança, para que ela se identifique e

consolide sua identidade, construindo seu lugar na rede de parentesco.

Além da família, o grupo social representa um aspecto significativo de reforço

identitário e suporte na transmissão cultural. Daure (2010) e Daure, Reveyrand-Coulon

e Forzan (2014) consideram que o contato frequente, a observação e a participação do

imigrante e de seus filhos em encontros com famílias da mesma origem cultural e

de origem cultural diferentes atuam como ponto de referência para que o desenvolvimento de

seus filhos se dê em uma atmosfera familiar e em um ambiente semelhante ao país de origem.

16

No entanto, devemos considerar que, ao longo de seu desenvolvimento, a relação com outras

crianças torna os filhos cada vez mais participantes da cultura local.

Quase todas as famílias de imigrantes pesquisadas por Daure e Reveyrand-Coulon (2009)

relataram que o contato com outras pessoas da mesma cultura proporcionou satisfação, segurança,

além de oferecer suporte na transmissão cultural. Os autores afirmam a importância do apoio do

grupo social no exercício da parentalidade, salientando que no processo de migração o grupo

de compatriotas pode representar um aspecto significativo de reforço identitário para o imigrante

e seus filhos, contribuindo para a organização da família intercultural.

Tanto a família quanto as associações funcionam como fonte de apoio no processo de

imigração, como demonstra o estudo realizado por Dominguez e Hombrados (2010), que ao

analisar a relação existente entre o apoio social e o sentimento de felicidade em mulheres

imigrantes residentes em Málaga, Espanha, mostrou que a família é a fonte de apoio emocional

e material mais importante em relação ao nível de felicidade, e as associações de ajuda ao

imigrante apareceram como fonte de apoio informacional.

Outro estudo que teve como objetivo analisar o impacto dos serviços sociais públicos e

dos comunitários sobre a vida das famílias interculturais residentes em Espanha foi realizado por

Moscato (2012). O resultado apontou a insatisfação dessas famílias em relação às fontes formais

de apoio social por serem incapazes de compreender seus problemas e acolherem suas demandas.

Além do fato de que as mulheres que participaram da pesquisa manifestaram a necessidade da

formação de grupos de discussão e de apoio como forma de obter ajuda para enfrentar e resolver

os problemas relacionados com a diferença cultural nas famílias interculturais. A autora pontua a

importância de se criar programas de redes de apoio informal às famílias interculturais, além de

programas de formação técnica a psicólogos, educadores, juristas e assistentes sociais, a fim

de que disponham de todas as ferramentas necessárias para que possam compreender e intervir

sobre as famílias interculturais de forma efetiva e integral.

Diante da necessidade de ajuda para lidar com questões relacionadas à adaptação no novo

país e a fim de obter suporte para o desafio de educar filhos longe da família de origem, dos

amigos, da comunidade e do próprio país, os brasileiros residentes no exterior vêm se

mobilizando e organizando comunidades e associações. Foi em resposta a essas demandas que

as comunidades brasileiras no exterior se multiplicaram pelo mundo, e até 2009 já tinham sido

17

identificadas 352 associações e organizações de brasileiros em 45 países, além de 216

veículos de mídia a eles dirigidos, segundo o relatório do III Encontro Europeu da Rede de

Brasileiras e Brasileiros no Exterior, realizado em 2009 na cidade de Barcelona, Espanha

(CARVALHO, 2009).

Frente à complexidade da situação, em 2008, o Ministério de Relações Exteriores realizou

no Rio de Janeiro a I Conferência das Comunidades Brasileiras no Mundo (CBM), reunindo

representantes das principais comunidades brasileiras nos EUA, América do Sul, Europa

Ocidental, Japão, Austrália, África e no Oriente Médio, tendo como finalidade debater de forma

aberta e abrangente assuntos referentes à emigração brasileira e sobre as políticas públicas para

brasileiros no exterior. E não parou por aí, outras cinco edições das CBM foram realizadas

(2009, 2010, 2013 e 2016), o que demonstra a importância e a necessidade do evento. Como

resultado dessas interlocuções entre representantes das comunidades e representantes de

diferentes Ministérios sobre os problemas e desafios enfrentados pelas comunidades brasileiras

no mundo, foram criadas uma via de diálogo e representação entre o governo e as comunidades

da diáspora e traçadas algumas políticas públicas para os brasileiros emigrados (BRASIL, 2012;

MORONI, 2015).

Outras iniciativas foram tomadas como a de alguns autores que realizaram, segundo relato

de Moroni (2015), um mapeamento nos cinco continentes e encontraram pelo menos 25 projetos

preocupados com a transmissão da língua de herança e da cultura brasileira junto às comunidades

locais, envolvendo associações, ONGs, iniciativas individuais de pais, professores e membros da

comunidade. Essas iniciativas surgiram antes de 2010 aproximadamente, através das redes sociais

que possibilitaram o encontro de pessoas geograficamente próximas, atuando inicialmente de

modo isolado. Já organizados, por volta dos anos 2010-2014, estes grupos criaram comunidades

virtuais (blogs, sites, fanpages no Facebook) que deram visibilidade ao projeto, possibilitando a

articulação com outras iniciativas geograficamente distantes, e que por terem as mesmas

necessidades e desejos, passaram a trabalhar conjuntamente por seus objetivos.

Um terceiro momento pontuado por Moroni (2015) se deu aproximadamente

a partir de 2013, em que foram promovidos cursos de formação para professores e

Conferências envolvendo participantes de diferentes continentes e países, gerando uma

rede de discussão, troca e difusão de conhecimento, e uma pauta de assuntos abordando

questões como currículo, planejamento, capacitação, pesquisa, políticas linguísticas.

18

E continuaram a surgir, desde 2010 e não pararam, mostrando o interesse considerável dos

brasileiros imigrantes em transmitir sua língua e cultura (MORONI, 2015) a seus filhos, bem

como a importância de se realizar pesquisas sobre o tema.

Realizando a revisão de literatura não encontramos ainda estudos dentro da Psicologia

Clínica que busquem compreender esses novos equipamentos sociais, que parecem ser

mobilizados pela transmissão da cultura brasileira junto aos imigrantes. Como não conhecemos

outras demandas de apoio, nem o seu funcionamento, cogitamos que essas associações possam

ser dispositivos importantes na manutenção da saúde mental dos imigrantes brasileiros, como

meio dos pais de brasileirinhos gerarem suas próprias estratégias para formação e manutenção de

vínculos, e consideramos relevante estudar o assunto.

Tendo em vista o exposto, decidimos realizar uma pesquisa qualitativa optando por

desenvolver um estudo de caso tendo como objetivo geral compreender o funcionamento de uma

associação de pais imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha. E como objetivos específicos:

a) compreender a formação, o funcionamento e a manutenção de uma associação de pais

imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha; b) compreender como o imigrante se relaciona

com a associação e qual o significado desta para a família e c) identificar como a associação de

pais imigrantes brasileiros atua na manutenção da relação com a cultura brasileira.

Este trabalho foi estruturado da seguinte maneira: no primeiro capítulo, apresentamos

algumas considerações sobre a Família Imigrante frente aos desafios do contexto migratório,

acerca do funcionamento da família em termos da dinâmica relacionada à mudança e à

continuidade, e da construção da identidade familiar e cultural.

No capítulo dois, discorremos sobre os temas referentes à Associação de Imigrantes e o

seu funcionamento, o papel das redes sociais e das comunidades virtuais na imigração.

Posteriormente, apresentaremos a proposta de pesquisa, seu objetivo geral e específico.

A seguir, apresentamos o Método. E, sucessivamente, os Resultados e Discussão. Por fim,

delineamos algumas Considerações Finais.

19

CAPÍTULO I – FAMÍLIA IMIGRANTE

Os cientistas dizem que somos feitos de átomos,

mas um passarinho me contou que somos feitos

de histórias.

(Eduardo Galeano)

Ao pensar nas famílias frente aos desafios do processo migratório, devemos considerar a

existência de um contexto multifacetado com inúmeros atravessamentos, mas que, em nossa

pesquisa, resolvemos abordar as implicações concernentes às etapas do ciclo de vida e aos tipos

de constituição familiar.

Nesse sentido, é importante ponderar, primeiramente, o estágio do ciclo de vida em que o

imigrante se encontra, levando em consideração que a vivência do processo de migração será

influenciada pela composição familiar do imigrante. Assim sendo, migrar solteiro é diferente de

migrar com uma família com filhos pequenos, e será também diferente de migrar com filhos

adolescentes, pois as demandas adaptativas no novo país serão distintas para cada uma dessas

configurações familiares.

Se, por um lado, a composição familiar repercute na vivência do processo migratório, por

outro lado, a migração atravessará a configuração da família na sua formação inicial e durante a

sua continuação ao longo do ciclo vital. E, assim, tomando como base a inferência da migração

na constituição da família, os casais parentais poderão ser formados a partir de conjugalidades

monoculturais ou biculturais.

Os casais monoculturais tendem a se constituir no país de origem, onde são frequentes as uniões

entre pessoas pertencentes à mesma nacionalidade, enquanto os casais biculturais se originam em

contexto migratório em que pelo menos um dos cônjuges é imigrante. Os cônjuges de mesma

nacionalidade vivenciarão, certamente, o processo migratório de modo diferenciado daqueles que são

biculturais, ou seja, que pertencem a nacionalidades distintas, com língua materna distinta e famílias de

origem pertencentes a diferentes países.

É importante considerar também a época no ciclo vital em que a família vivencia

o processo migratório, porque este fator determinará a nacionalidade dos seus membros.

Desse modo, a família formada a partir de uniões monoculturais poderá ter filhos da mesma

20

nacionalidade que seus pais no país de origem antes de migrarem e/ou ter filhos de outra

nacionalidade se a gestação ocorrer durante o período migratório. Já os filhos nascidos de casais

biculturais, fruto de união realizada no período de migração, terão a nacionalidade de apenas um

dos pais ou poderão pertencer a uma terceira nacionalidade nos casos em que ambos os pais são

migrantes, sendo denominadas de crianças de terceira cultura3 (REKEN; BETHEL, 2005).

Os casais biculturais terão que lidar com duas culturas distintas na formação da família

que constituíram, demandando deles a escolha de englobarem ou não ambas as culturas

de origem. Tal decisão resultará na construção de um sistema relacional familiar que valoriza

a interculturalidade.

A fim de entendermos o processo vivenciado na construção desse tipo de família,

partimos da definição de Walsh (2005) sobre interculturalidade e a adaptamos. Assim, definimos

família intercultural como aquela cujos pais buscam propiciar, no convívio familiar com seus

filhos, um intercâmbio equitativo entre ambas as culturas de suas famílias de origem,

favorecendo entre seus membros um processo permanente de relacionamento, aprendizagem

e comunicação que englobe as duas culturas, seus valores, tradições e conhecimentos, buscando

desenvolver um novo sentido de convivência em que duas ou mais culturas familiares se

encontram (no caso de terem filhos que pertençam a uma terceira cultura).

Com relação aos desafios enfrentados durante os estágios do ciclo de vida familiar

em contexto migratório, engendramos um quadro (Tabela 1) inspirado no modelo elaborado

por Carter e McGoldrick (2001), contendo alguns dos desafios enfrentados especificamente por

imigrantes nas seguintes etapas e/ou configurações do ciclo vital familiar, jovem adulto solteiro,

família monocultural e família intercultural, com intuito de melhor explicitar a complexidade

de tal evento. Quanto à interferência da migração no ciclo de vida familiar, McGoldrick

(2001, p. 77) enfatiza que a ¨migração é tão disruptiva em si mesma que acrescenta um estágio

extra ao ciclo vital, prolongando o processo desenvolvimental de ajustamento que afetará cada

membro da família de forma diferente, dependendo da fase do ciclo vital em que se encontram.

3 Crianças de Terceira Cultura (Third Culture Kids – TCK) são crianças que enfrentam ao crescer múltiplos mundos

culturais, como os filhos de expatriados, de casais biculturais, de imigrantes, de emigrantes, de refugiados, de

minorias étnicas e quando adotivos internacionais (REKEN; BETHEL, 2005).

21

Estágio do ciclo de

vida familiar durante

a migração

Desafios

Jovem adulto solteiro

Adaptação e/ou inserção ao novo projeto de vida: estudo ou trabalho no país de

migração.

Domínio da língua do país de migração.

Adaptação à cultura e ao modo de vida do novo país.

Relacionamento com pessoas de outras culturas.

Adaptação à vida em comunidade, nova rede de apoio (trabalho, vizinhos,

clube).

Manutenção do vínculo com a família e amigos no país de origem via internet.

Família monocultural Domínio da língua do país de migração.

Adaptação e/ou inserção no mercado de trabalho.

Formada por casais de

mesma nacionalidade,

cujos filhos podem

pertencer a uma

nacionalidade diferente

de seus pais devido à

migração.

Adaptação à cultura e ao modo de vida do novo país.

Adaptação à vida em comunidade, nova rede de apoio (escola, associações de

pais, igreja, etc.).

Adaptação dos filhos ao sistema de ensino.

Integrar a língua falada em casa com a língua falada na escola e na comunidade.

Relacionamento com pessoas de outras culturas.

Adoção de novos rituais culturais inerentes ao país de migração.

Construção da identidade cultural através dos elementos de transmissão da

cultura, os rituais e a língua de herança, dentro de um país de cultura diferente.

Manutenção do vínculo com a família de origem (principalmente os

intergeracionais, com avós) e os amigos no país de origem via internet, através

de viagens ao país de origem, etc.

Família intercultural Domínio da língua do país de nascimento do cônjuge e/ou do país de migração.

Adaptação e/ou inserção no mercado de trabalho.

Formada por casais

biculturais, em que ao

menos um dos cônjuges é

imigrante e cujos filhos

podem pertencer à mesma

nacionalidade de um dos

pais ou a uma terceira

nacionalidade (TCK).

Adaptação à cultura e ao modo de vida do novo país.

Adaptação à vida em comunidade, nova rede de apoio (escola, associações de

pais, igreja, vizinhos, etc.).

Adaptação dos filhos ao sistema de ensino (mesmo para as crianças que

nasceram no país de migração, pois os pais pertencem a outra cultura).

Integrar as muitas línguas faladas em casa com a língua falada na escola e na

comunidade.

Relacionamento com pessoas de outras culturas.

Escolha e adoção de rituais e rotinas que a família tomará para si, frente à sua

multiplicidade de culturas.

Adoção de novos rituais culturais referentes ao país de migração.

Construção da identidade cultural através dos elementos de transmissão da

cultura, os rituais e a língua de herança de ambas as famílias, materna e paterna.

Manutenção do vínculo com a família de origem de ambos os cônjuges

(principalmente os intergeracionais, com avós) e os amigos no país de origem

de ambos os cônjuges via internet, através de viagens ao país de origem de

ambos os cônjuges.

Tabela 1- Ciclo vital familiar e migração (elaborada pela autora).

22

Dentro desse contexto multifacetado, além dos pontos já mencionados, outros fatores

repercutem no processo de imigração e incidem sobre a família. Falicov (2016) enumera alguns

aspectos que podem ser vivenciados pelo imigrante tanto na qualidade de recurso quanto como

obstáculo antes da imigração, dentre eles estão os tipos de migração (se voluntária ou

involuntária); a situação em que ocorre a migração (documentada ou não documentada);

a proximidade entre a terra natal e a nova terra; gênero e a geração, (relativo às questões

desenvolvimentais); a composição familiar na época da migração; e, por último, o país de

acolhimento e a inserção na comunidade. Podemos acrescentar a inferência do contexto

histórico mundial e de cada país na época da migração (guerras, conflitos, economia, etc.)

e a relação política entre os países de origem e de migração.

Com o intuito de clarificar esse contexto diferenciado relativo à formação e à

continuidade das famílias em situação migratória, elaboramos um esquema gráfico de

forma a tornar mais fácil a sua compreensão (Figura 1). Ressaltamos que este resumo

não pretende abarcar toda a complexidade inerente ao tema. Em nosso esquema,

por exemplo, não foram incluídas as famílias transculturais (FALICOV, 2007, 2009),

que são aquelas que se dividem ao migrarem, permanecendo parte da família no país de

origem, tendo como uma de suas características a remessa de dinheiro para sustentação

econômica de seus parentes (o que acontece com a maioria dos imigrantes mexicanos nos

Estados Unidos)4

. Deteremo-nos, no entanto, em dois tipos de família: a família

intercultural, que é formada por casais biculturais e cujos filhos podem ter a mesma

nacionalidade de um dos pais ou uma terceira nacionalidade diferente da de seus pais;

e a família monocultural, formada por casais que possuem a mesma nacionalidade e

cujos filhos podem pertencer à mesma nacionalidade dos pais e/ou devido à migração

possuem uma nacionalidade diferente da de seus progenitores. As famílias monoculturais

imigrantes5

são atravessadas pela migração e transformadas por ela. Nesse processo,

elas se tornarão diferentes das famílias monoculturais não imigrantes ou por terem filhos

e educá-los em outra cultura ou pela influência do contexto migratório. Por essa razão,

4 O filme La Misma Luna (2007) conta a história de Rosário, que sai de sua terra no México e migra para os Estados

Unidos, deixando o seu filho aos cuidados de sua mãe. 5 O filme Nome de Família, (The Namesake, 2006) conta a história de um casal indiano que migra para os EUA e lá

tem um filho que durante a adolescência desenvolve conflitos com as duas culturas, a do país de origem dos pais e a

do país de migração, enquanto seus pais buscam um ponto de equilíbrio entre as antigas tradições e as necessidades

do cotidiano para viabilizar a convivência familiar.

23

em nosso esquema gráfico a designamos como família “[inter] cultural”, a fim de sublinhar

o atravessamento causado por uma nova cultura e diferenciá-la das famílias interculturais

por formação conjugal.

Figura 1 – A formação da família em contexto migratório (elaborada pela autora).

Não podemos deixar de ressaltar, frente ao processo que descrevemos, a importância do

vínculo que o imigrante possui com sua família de origem e com o seu país, bem como o vínculo

que estabelecerá com o país de destino. Considerando que a manutenção do vínculo com a

família de origem e a transmissão da língua e cultura do país de origem para seus filhos

dependerão da qualidade do vínculo dessas relações, nos casos em que o processo de migração é

vivenciado com esses vínculos rompidos, dificilmente interessará ao imigrante transmitir a seus

filhos a identidade familiar e os elementos de transmissão que sustentam a construção da

identidade cultural na família, a saber, os rituais e a língua.

24

Chamamos atenção para o fato de que esse cenário multifacetado inerente

ao processo de migração aponta a complexidade do tema que pretendemos abordar,

para seus dilemas e múltiplos desafios. A fim de que possamos discorrer sobre esse assunto,

é preciso antes de tudo entender o que vem a ser identidade familiar e identidade cultural.

Ao longo do ciclo vital, a família impulsiona o crescimento de seus membros através

do manuseio da dinâmica entre as constantes transformações suscetíveis (a migração pode

ser uma delas), e a continuidade do sistema familiar (MINUCHIN, 1982). No entanto,

para que ocorra crescimento de seus membros, é necessário que haja uma estrutura familiar

viável que possa promover apoio para a individuação ao mesmo tempo em que proporciona

sentido de pertinência (MINUCHIN; FISHMAN, 1990). O sentido de pertencimento de cada

membro está relacionado à idéia de pertencer a uma família específica, e o sentido de

individuação é adquirido através da participação do indivíduo em diferentes subsistemas

familiares, nos mais diferentes contextos, além de sua interação com outros grupos,

proporcionando-lhe autonomia. Esses dois elementos, individuação e pertencimento, fazem

parte da identidade do ser humano, que é formada dentro da família, a “matriz da identidade”.

(MINUCHIN, 1982, p. 53).

A identidade familiar, segundo Bennett, Wolin e McAvity (1988), é o sentido

subjetivo da família, é a situação atual e a continuidade da família ao longo do tempo, é o

seu caráter, as qualidades e os atributos que a torna particular e que a diferencia das

outras famílias.

A maioria das pessoas é influenciada por duas identidades familiares: a da família de

origem, em que foram criados, e da família nuclear, constituída através do casamento

(BENNETT; WOLIN; MCAVITY, 1988). Na constituição de uma nova família, o casal

levará consigo as atitudes, os valores, os padrões de comportamento de cada família de

origem e deverão elaborar a sua própria identidade familiar. É na formação do novo casal

que a identidade familiar é formada; no entanto, é no decorrer dos anos de educação dos

filhos, nas rotinas cotidianas e nas interações familiares que será construída na família

“a maneira como fazemos as coisas” (BENNETT, WOLIN; MCAVITY, 1988, p. 214),

e assim será consolidada a identidade familiar.

É necessário, no entanto, considerarmos que, caso a estrutura da família não seja

propícia ao estabelecimento de um efetivo processo de pertencimento e individuação de seus

25

membros, o afastamento geográfico acarretado pela migração reforçará o distanciamento

emocional já existente e, consequentemente, uma futura cisão na relação entre avós e netos,

comprometendo a continuidade do que possa vir a ser transmitido intergeracionalmente.

Tanto o caminho da construção da identidade familiar em contexto migratório como o

referente às questões acerca da identidade cultural possuem suas complexidades. Para

abordarmos o tema da identidade cultural, lançamos mão da concepção de Hall (2006) sobre

identidade do sujeito pós-moderno, caracterizado por não possuir uma identidade permanente,

mas uma identidade formada e transformada continuamente, sendo influenciada pelos diferentes

sistemas culturais de que participa.

Segundo Hall (2006), que toma o conceito de Robins (1991) sobre a oscilação existente

entre tradição e tradução para elucidar o tema, as identidades possuem um efeito contraditório.

Ainda de acordo com o autor, as pessoas que foram dispersadas para sempre de sua terra natal

retêm forte vínculo com suas tradições, com seus lugares de origem, com os traços das culturas,

das linguagens e das próprias histórias que foram marcadas, sendo, no entanto, obrigadas a

negociar com as novas culturas em que vivem, mas sem perderem as suas identidades e sem que

possam viver qualquer tipo de pureza cultural. Para ele, essas pessoas passam a ser traduzidas, ou

seja, são transportadas através do mundo e, por isso, precisam aprender a habitar no mínimo duas

identidades, a falar duas línguas, a negociar e traduzir entre elas, pois pertencem a dois mundos

ao mesmo tempo (HALL, 2006).

Assim, como sucedem com os pais imigrantes, os filhos de casais biculturais também

devem escolher se querem incorporar certas características de tradições culturais das quais são

herdeiros, tendo em vista que estão inseridos em um contexto de pluralidade de identidades

culturais.

Etimologicamente, a palavra cultura vem do latim cultura-ae, cognato do verbo

colo-colui-cultum-colére, que significa cultivar o solo, cuidar (ANDRADE; SOARES; HUCK,

1999). A cultura é um tema bastante amplo, pois engloba tudo o que é relativo ao homem e à

sociedade. Segundo Homem (2005), a cultura não é herdada geneticamente, mas, sim, aprendida,

e deriva do ambiente social de um indivíduo, afetando fortemente suas normas e seus

comportamentos, condicionando seu modo de interação e ação, influenciando o indivíduo como

um todo. A cultura é constituída por vários tipos de determinantes, como a cultura familiar,

a cultura do bairro, da região, da cidade, da sua religião e, principalmente, a cultura de uma nação.

26

Nessa direção, Falicov (1995, 2001a, 2001b) utiliza uma metáfora botânica que faz alusão

ao significado da palavra cultura, que vem de cultivar o solo, cuidar, para explicar o processo de

erradicação vivenciado pelos migrantes. A metáfora consiste na ação do jardineiro que ao

replantar uma planta em outro solo não remove a terra que a planta trás junto às raízes por causa

dos nutrientes que aquela possui, tornando possível minimizar o choque e garantir o sucesso do

transplante. O solo com nutrientes junto às raízes simboliza, segundo a autora, o tipo de família

que o imigrante venha criar, as tradições e identidades que transmite aos filhos, as amizades

estabelecidas, as conexões com o país de origem, os alimentos que serve a mesa, a língua que fala

e os rituais sociais e familiares que o imigrante desenvolve com o passar do tempo. Sendo assim,

parece plausível para autora que as famílias migrantes consigam desenvolver bases culturais e

familiares mais sólidas durante o processo de adaptação ao novo país, a partir do que trouxeram

consigo do país de origem, podendo dessa forma contribuir para que as gerações futuras tenham

um crescimento sadio (FALICOV, 2016). Porém devemos considerar que haverá sempre um

duplo desafio para as famílias imigrantes, o de preservar e o de mudar, para que possam se inserir

no novo cotidiano.

Não podemos deixar de atentar para o fato de que o imigrante vive a dicotomia de um

duplo pertencimento. Entre a terra de sua origem e a terra para a qual migrou, existe um mar de

perdas e ganhos. Falicov (2001b, 2016) utiliza o conceito de “perda ambígua”, proposto por

Pauline Boss (1999) para explicar a perda ocorrida com a migração.

Boss (1999) descreve dois tipos de perda ambígua: no primeiro tipo, os membros

da família estão fisicamente ausentes, mas psicologicamente presentes, e no segundo tipo,

os membros da família estão fisicamente presentes, mas psicologicamente ausentes.

Na migração, segundo Falicov (2001b, 2016), há uma intersecção de ambos os tipos de

perda ambígua que se apresentam simultaneamente. Assim, se, por um lado, as pessoas e lugares

queridos foram deixados para trás, ao mesmo tempo se fazem presentes na mente do imigrante,

por outro lado, a saudade de casa e o estresse da adaptação podem deixar alguns membros da

família psicologicamente ausentes, sem que consigam dar apoio aos outros, mesmo estando

presentes fisicamente.

As famílias sempre trabalham com algum grau de presença e ausência, perdas e

restituições, tristezas e alegrias (BOSS, 1999). Se na migração há perdas ambíguas, podemos

também considerar a possibilidade de ocorrência de ganhos ambíguos em alguns casos.

27

Para Lloyd e Stirling (2011), o ganho ambíguo é um suposto benefício que pode resultar em

aumento da incerteza, mesmo que não intencionalmente, levando à redução do bem-estar no nível

pessoal ou coletivo.

Com base nesses estudos, consideramos a incidência de três forças na vida do imigrante:

os sentimentos ambíguos, a perda ambígua (presença-ausência) e o ganho ambíguo (perda-ganho).

A primeira força diz respeito ao grau de ambiguidade de sentimentos existente no

processo de migração, entre perdas e restituições, tristezas e alegrias, que acompanha todo o

percurso migratório desde a partida, a chegada, até a adaptação e a “vida que segue” em outro

país. Digamos que esses sentimentos ambíguos são considerados como inerentes às transições do

ciclo vital, mas, no processo migratório, tendem a acompanhar o dia a dia daqueles que fantasiam

“viver o melhor de dois mundos”. À medida que a identidade dual vai sendo construída,

a migração deixará de ser a causa do desencadear de tais emoções.

A segunda força que salientamos é a referente à perda ambígua, já explicitada

anteriormente. Segundo Falicov (2001b, 2016), o processo de migração implica em perda, pesar e

luto. No entanto, para a autora, a perda na migração é maior que a na morte porque abarca muitos

tipos de perdas relacionadas à família e aos amigos que ficaram no país de origem, aos costumes

e rituais, à comunidade que ficou no país de nascimento, a língua familiar, a música, a comida,

além da perda da sensação confortante de identificação com a própria terra. As perdas para o

migrante não são completas, irremediáveis e claras, o que torna o luto incompleto, adiado e

ambíguo. Assim, a reprodução de lembranças que ficaram na memória, dos cheiros e gostos do

país de origem por intermédio dos eventos culturais nas comunidades de imigrantes e nos bairros

étnicos no país de destino, aliados à constante ausência dos amigos e parentes que estão vivos,

mas não se encontram imediatamente presentes, provoca no imigrante uma mistura de presença-

ausência (FALICOV, 2001b, 2016).

A terceira força por nós considerada é o ganho ambíguo, em que qualquer suposto

benefício em decorrência da migração pode provocar no imigrante dúvida e incertezas quanto à

sua tomada de decisão em relação à própria migração. A figura mitológica romana de Jano, que

contém duas faces, uma voltada para o futuro e a outra voltada para o passado (FALICOV, 2016),

metaforiza o imigrante que vivencia o ganho ambíguo, significando que o imigrante necessitará

arcar emocionalmente com sua escolha, reafirmando a todo tempo a sua decisão, um processo de

amadurecimento que implica levar em sua bagagem o pacote perda-ganho.

28

Essas forças ambivalentes – os sentimentos ambíguos, a perda ambígua (BOSS, 2006) e o

ganho ambíguo – podem imobilizar o imigrante, mas também podem provocar mudança em sua

vida, tornando-se propulsores de amadurecimento, levando-se em consideração o duplo desafio

que o imigrante e sua família possuem, ou seja, o de preservar e o de mudar, para que possam se

inserir no novo cotidiano.

1.1 CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL

Em nossa pesquisa destacamos dois importantes elementos de transmissão que sustentam

a construção da identidade cultural na família, a saber: os rituais e a língua.

Os rituais são importantes transmissores da cultura familiar e foram classificados por

Bennett, Wolin e McAvity (1988) em três grupos: celebrações, tradições e rotinas padronizadas.

Compreendemos que as celebrações e as tradições familiares fazem parte da cultura de

um país e que esses rituais ganham força e expressão quando motivados e comemorados por toda

uma comunidade, que os celebra conjuntamente, mesmo que cada família os realize em sua casa.

No caso das famílias de imigrantes, que estão longe de seu país de origem, é nos bairros típicos

de imigrantes ou nas associações de imigrantes que esses rituais podem ser celebrados

conjuntamente, oferecendo não somente cenário, mas pertinência aos imigrantes e às suas

famílias.

Assim, os rituais do tipo celebrações familiares englobam os feriados culturais

e as ocasiões consideradas especiais, como as celebrações religiosas (Natal, Páscoa) e os ritos

de passagem (casamentos, batismos, funerais), caracterizando-se pela sua relativa padronização

na maioria das famílias e pela universalidade dos seus símbolos, dentro daquela cultura.

Há, no entanto, variações culturais na prática dos rituais que nos ajudam a entender como as

famílias são semelhantes e diferentes em todas as culturas (FIESE et al., 2002). Os rituais de

celebração têm o poder de: a) afirmar a identidade do grupo familiar; b) esclarecer o status dos

membros dentro da família; c) manifestar a identificação da família com uma comunidade cultural,

étnica ou religiosa mais ampla; d) transmitir a identidade étnica ao longo das gerações (BENNETT,

WOLIN; MCAVITY, 1988).

29

Já nos rituais de tradição, mesmo havendo influência da cultura na forma de expressão

desses rituais, é a própria família que escolhe a ocasião que adotará, por exemplo, as refeições

especiais, as férias de verão, os costumes referentes à data de aniversário, a participação em

reuniões familiares, as visitas de membros da família alargada, as festas de vários tipos, a

participação em eventos comunitários, etc. (BENNETT, WOLIN; MCAVITY, 1988).

O terceiro grupo de rituais são as rotinas padronizadas, tidas como sendo as mais

características de cada família, por se tratar “da maneira como fazemos as coisas” e por serem

elas que ajudam a organizar a vida diária e a definir os papéis e responsabilidades dos membros

da família (BENNETT; WOLIN; MCAVITY, 1988). Como exemplos desses tipos de rituais

estão as práticas referentes à hora regular do jantar em família, ao tratamento para com as visitas,

às rotinas com as crianças, às atividades de lazer nos fins de semana e aquelas de fim do dia, à

hora de dormir, às saudações diárias ao despertar, ao sair, ao retornar à casa e na hora de dormir

(BENNETT; WOLIN; MCAVITY, 1988). Para os autores, as práticas de rotinas regulares podem

ser consideradas como uma indicação da organização familiar e são importantes para o bem-estar

e para a saúde psicológica dos seus membros.

Um elemento das rotinas que muito contribui para a manutenção da cultura é a

culinária, que sustenta o sensorial, as lembranças dos aromas e os sabores. Nessa direção,

é interessante mencionar o projeto de Seiffert et al. (2015) “Receitas da imigração: língua

e memória na preservação da arte culinária” que reuniu receitas culinárias utilizadas e

transmitidas de geração em geração como fio condutor para (re)contar a história e as

memórias do estabelecimento de comunidades linguísticas de imigrantes, falantes

de alemão, italiano e polonês, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Os autores destacam

que as receitas selecionadas pelos imigrantes eram dotadas de significações afetivas do

convívio familiar, carregadas da memória de infância, da cozinha, dos cheiros e sabores,

e também marcadas pelas dificuldades vividas na migração. Seiffert et al. (2015)

consideram que a promoção e a manutenção de uma tradição culinária funciona

como resistência cultural e como estratégia de socialização, enfatizando que a culinária

é um importante elemento de coesão de grupos sociais e de distinção social e cultural

entre os grupos. Para os autores, as festas com comidas típicas dos imigrantes carregam

consigo uma forte marca ritualística e identitária, expressada não apenas através dos pratos

típicos, mas na maneira como faziam, nos registros em suas línguas e memórias.

30

No entanto, diante da singularidade desses relatos, é importante lembrar que os pais

imigrantes enfrentam o delicado desafio de equilibrar a preservação da cultura de origem e

a pertinência à cultura local.

Resultados semelhantes aos de Seiffet et al. (2015) foram encontrados na pesquisa

realizada por Silva (2013) com imigrantes brasileiros em Barcelona sobre o processo de

adaptação alimentar, passando por questões como identidade e memória. Para a autora, a comida

aparece ligada à memória pelas lembranças e saudades que os imigrantes brasileiros evocam nos

rituais em volta da mesa, momento em que a memória atualiza a identidade e o pertencimento e

funciona como um marcador identitário, além de mitigar a dor da saudade.

A riqueza do tema levou, recentemente, o Museu da Imigração do Estado de São Paulo a

realizar uma exposição temporária “Migrações à Mesa”6 (novembro de 2016 a junho de 2017),

usando receitas tradicionais de famílias de imigrantes. A mostra foi desenvolvida juntamente com

a colaboração do público, que foi incentivado a enviar informações e fotos de cadernos familiares

que pertenceram a imigrantes e, posteriormente, foram selecionados os dez mais representativos,

além de contar com as famílias participantes que narraram a história do objeto. E, por uma dessas

coincidências que a vida não explica, por esses dias me chegou às mãos um caderno de receitas

da minha avó paterna. O caderno de mais de cem anos, uma preciosidade, e as receitas para

lá de sugestivas, de um tempo que já se foi: “beijinhos de amor”, “noivo arrependido”, “pudim

amarra marido”.

Gostaríamos de salientar que a prática dos rituais descritos por Bennett, Wolin e McAvity

(1988) será diferenciada na família intercultural, que por ser constituída por casais biculturais terá

que lidar com as múltiplas maneiras com que cada cônjuge celebra esses rituais, além de sofrer

influência da cultura local, que poderá vir a ser uma terceira cultura. O contexto da nossa

pesquisa é formado por pais imigrantes brasileiros residentes em Espanha, cujos cônjuges podem

ser brasileiros, espanhóis ou estrangeiros, mas que muito provavelmente no Natal terão que

responder à pergunta que as pessoas fazem umas as outras por lá: “De que lado você está, dos 3

Reis Magos ou do Papai Noel?” Isso porque, em boa parte da Espanha, no dia 24 de dezembro,

na “Nochebuena”, não é costume dar e receber presentes, pois a maioria das pessoas só abre os

seus presentes no dia 6 de janeiro, quando os 3 Reis Magos já os terão deixado embaixo da árvore

6 Exposição temporária “Migração à Mesa” - Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Acessível em:

<http://museudaimigracao.org.br/migracoes-a-mesa/>.

31

de Natal. Vivendo essas diferenças no processo migratório, nossos brasileirinhos receberão

múltiplas influências culturais, e a família intercultural deverá optar pela maneira como será feita

em suas casas as celebrações, as tradições e as rotinas, e é nesse contexto que, provavelmente, as

associações de imigrantes podem atuar como fonte de apoio.

Outro importante elemento de preservação e transmissão da identidade cultural é a língua.

A língua atua: 1) na preservação das conexões com a cultura do país de origem; 2) na preservação

do vínculo com os familiares afastados pela migração; e 3) na transmissão das histórias vividas

no país de origem pelos imigrantes aos seus filhos, fazendo ponte entre as duas culturas: a de

origem e a do país de migração. A língua, portanto, é mais do que a fala, é o meio afetivo de

construção de significados.

A língua faz parte do patrimônio cultural de um povo, que é por sua vez definido como

conjunto de bens materiais e imateriais herdados de gerações que antecedem.

A Constituição de 1988 estabelece no seu art. 216 que

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,

tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,

à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se

incluem: I) as formas de expressão; II) os modos de criar, fazer e viver; III) as criações

científicas, artísticas e tecnológicas; IV) as obras, objetos, documentos, edificações e

demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V) os conjuntos urbanos

e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico

e científico. (BRASIL, 1988).

Para Perini (2010) “cada língua é profundamente enraizada na cultura que serve”

(PERINI, 2010, p. 2). Assim, os vínculos entre língua e cultura existem e são evidenciados nas

manifestações, nas quais se incluem a cultura, que é marcada por expressões linguísticas

especiais, como os rituais (nascimento, casamento, funeral, etc.), a literatura, o humor e a poesia.

De acordo com o Ethnologue: Languages of the World (LEWIS et al., 2016),

o Português ocupa o sexto lugar das línguas mais faladas do mundo, com 202 milhões de falantes,

sendo a língua oficial em quatro continentes, em nove países: Brasil, Moçambique, Angola,

Portugal, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Guiné-Equatorial, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, além

da região administrativa de Macau, na China.

32

A língua pode ser classificada de diferentes maneiras, segundo Pupp Spinassé (2006),

Língua Materna, Segunda Língua, Língua Estrangeira. Para nossa pesquisa, interessa-nos a

definição de Storvik (2015) e Moroni (2015) sobre Língua de Herança, dada a sua ligação com as

famílias imigrantes e a transmissão e preservação da identidade familiar e cultural. Conforme

Storvik (2015), “o termo “língua de herança” é usado para descrever a língua ancestral de uma

família de imigrantes, aprendida em casa, e distinta de uma língua estrangeira aprendida em

ambiente escolar.” (STORVIK, 2015, p. 253). Em se tratando da nossa língua, o Português como

Língua de Herança (PLH) expressa o legado cultural do Brasil e vem a ser a língua falada por

famílias de brasileiros que residem fora do Brasil (os emigrantes) e por eles transmitida aos filhos

nas interações diárias (MORONI, 2015).

A transmissão da Língua de Herança (LH) se dá por uma questão emocional, porque é

através dela que o filho formará laços com o(s) pai(s) falante(s) da língua em questão, na qual a

criança poderá se comunicar com seus avós e parentes distantes e por meio do qual ela entrará em

contato com a cultura (ROCHA, 2015).

Quando pensamos em aprendizagem, é importante ressaltar que o maior potencial de

desenvolvimento das crianças reside na interação entre pais e filhos, em que o afeto atua abrindo

caminho para a aprendizagem. Por isso é importante que os pais não percam a oportunidade de

contar para os seus filhos o que eles faziam quando eram crianças, de cantar para eles as músicas

que aprenderam na infância, de contar o que comiam quando tinham a mesma idade que os filhos,

de como era ir para a escola no Brasil e do que brincavam na hora do recreio. É no cotidiano, no

convívio com seus filhos, que os pais levam aspectos culturais típicos do Brasil para a vida

familiar e, assim, aos poucos, essas práticas passam a estabelecer sentido e significado na vida

das crianças (LICO, 2015).

Na imigração, lembrança e transmissão estão associadas, pois lembrar, falar de si e

transmitir é uma maneira de revigorar sua história, uma parte de si mesmo e de sua cultura. É

contando a história da imigração, da família que ficou e do país de origem, que o imigrante

estabelece uma ponte intergeracional, entre seus filhos e avós (CHORON-BAIX, 2002;

FALICOV, 2001b).

33

E foi contando as histórias ouvidas durante a infância sobre a migração de sua família do

Líbano para o Brasil, na peça teatral Brimas7 (2016), que a atriz Simone Kalil fala do vínculo que

estabeleceu com os avós através da língua.

Eu me sinto libanesa, mesmo tendo nascido aqui e não lá. Fui alimentando isso aos

poucos de tanto ouvir sobre a vida no Líbano pela minha mãe e pelas minhas tias. Tenho

saudade sem conhecer. Saudade de uma avó que quase não conheci. Quando minha siite

morreu, a família parou de falar o árabe em casa, de ouvir as músicas... porque tudo

lembrava um vazio enorme que ela deixou. Eu fui aprender o árabe pra chegar mais

perto. É um idioma ríspido, mesmo para falar de mágoa ou de amor. Através da língua

eu entendi um pouco mais da cultura e da sabedoria dos meus avós. (KALIL, 2016).

Segundo Shikako-Thomas (2013), as conversas entre pais e filhos criam conexões

neuronais através do afetivo e conexões diretas, as quais levam a criança a comparar a sua

infância com aquela vivenciada pelos pais, trazendo o Brasil e a cultura brasileira para mais perto

de si. Nas famílias interculturais, em que a mãe é brasileira e o pai pertence à outra nacionalidade

(ou vice-versa), é comum que os pais falem com os filhos no seu idioma natal, aquele em que faz

sentido transmitir o afeto ou contar histórias e compartilhar memórias.

É possível, conforme Lico (2015), manter de forma criativa e atuante a conexão com a

identidade brasileira dos pais e entre os pais e filhos de diversas maneiras, reunindo a família em

torno dos álbuns de fotografias, em viagens ao Brasil, através de festas e conversas nos grupos

comunitários que falam a mesma língua (destacamos o papel das associações de pais imigrantes),

por meio das histórias de família contadas ou registradas de forma escrita pelos avôs e parentes,

entre tantas outras possibilidades. No entanto, não podemos nos esquecer de que os pais também

enfrentam o desafio de não isolar os filhos da cultura do país de residência, além de garantir-lhes

a socialização com as crianças locais, para que possam deles se diferenciar, gerando, assim, sua

própria identidade social.

Daure e Reveyrand-Coulon (2009) realizaram uma pesquisa com nove famílias imigrantes

de origem brasileira, portuguesa e italiana, com a finalidade de verificar de que maneira a cultura

de origem dos pais integra o cotidiano dos filhos na França, analisando o impacto dessa

transmissão cultural na construção identitária dos filhos. A pesquisa aponta como resultado que,

7 “Brimas” (“primas” pronunciada com sotaque árabe) é uma peça teatral encenada e escrita pelas atrizes Beth

Zalcman e Simone Kalil, inspira-se na história real de suas avós e retrata o encontro de duas imigrantes vindas do

Egito e do Líbano para o Rio de Janeiro no século XX.

34

nas famílias em que os pais falam da história migratória e das suas histórias no país de origem, as

crianças se sentem mais enraizadas e em segurança para se inscreverem mais facilmente na vida

do país de imigração, podendo circular entre as duas culturas (a do país de origem e a do país

de imigração), pois se reconhecem fazendo parte das duas, vivenciando seu duplo pertencimento

de forma positiva, ou, podemos acrescentar, mesmo o triplo pertencimento, quando ambos os pais

são imigrantes.

Para que o duplo pertencimento seja vivenciado, segundo Daure e Reveyrand-Coulon

(2009), é importante que as escolas, os grupos compatriotas, as instâncias sociais, o universo

médico-social e a família que ficou no país de origem se constituam em unidades que favoreçam

a criação e a transmissão de um espaço intermediário dentro e fora da família, propiciando a sua

expressão. O apoio do grupo de compatriotas no cotidiano das famílias imigrantes atua como

ponto de referência e de reforço identitário facilitador do processo de transmissão da cultura.

O contato com a família de origem, por meio de visitas familiares ou de viagens ao país

de origem, contribui para o sentimento de pertencimento, para a construção identitária, para o

desenvolvimento do duplo pertencimento cultural, através do compartilhamento da história

familiar (DAURE, 2010).

Como resultado de sua pesquisa, Daure (2010) destaca seis fatores que potencializam e

que são indispensáveis à transmissão cultural entre pais e filhos, e que valorizam a utilização do

duplo pertencimento na vida cotidiana do imigrante. São eles: as motivações que levaram a

imigração, a recepção no país de migração, o reconhecimento das representações de sua cultura,

a possibilidade de se expressar na língua de origem, o apoio do grupo de compatriotas no país

de migração e o contato com a família de origem. Os três primeiros fazem referência ao imigrante,

e os três últimos, à transmissão da cultura entre pais e filhos.

As famílias imigrantes enfrentam múltiplos desafios no sentido de manter a conexão com

a cultura do país de origem e favorecem a integração de seus membros com a cultura local.

Veremos a seguir estudos neste sentido que apontam alguns desafios e as estratégias adotadas

pela família para enfrentá-los.

Em seu artigo, Pauwels (2005) lista alguns tipos de desafios enfrentados pelas famílias

imigrantes australianas que desejam transmitir e manter a LH, lembrando que os desafios são

suscetíveis a variância, pois dependem das circunstâncias particulares de cada família. O primeiro

desafio é o da proficiência na língua de herança, em que os pais checam os próprios níveis de

35

proficiência, principalmente, se são eles que fornecem o único insumo para o desenvolvimento da

LH nos filhos. O segundo desafio se refere à quantidade significativa de esforço que os pais

necessitam fazer ao longo do tempo para manutenção da LH, como despesas com livros, vídeos,

filmes, jogos e atividades extracurriculares para apoiar a manutenção da LH, além dos gastos

com viagem para o país de origem. O terceiro desafio está relacionado às atitudes da comunidade

(parentes e amigos), que vão desde a aceitação absoluta até a rejeição total, afetando positiva ou

adversamente os esforços da família em relação à LH. O quarto desafio está relacionado ao grau

de familiaridade dos pais com ambientes bilíngues antes da imigração, pois, dependendo do que

foi vivenciado por eles, conseguirão lidar melhor com esses desafios.

Os estudos realizados por Pauwels (2005) identificaram três estratégias bem-sucedidas para

manutenção da LH. A primeira estratégia é a persistência de uso da língua de herança que leva os pais

a serem bem-sucedidos quando estes não abandonam ou diminuem seu uso em face aos desafios

encontrados e não forçam indevidamente os seus filhos a falar. A segunda estratégia é a consistência

na interação dos pais com seus filhos no uso da LH, principalmente nos primeiros estágios

de aquisição da linguagem. Finalizando, a terceira estratégia remete ao uso parental de técnicas de

ensino-aprendizagem de línguas que incluem a apresentação de um modelo, o ensaio da linguagem,

elicitação e os jogos com palavras, podendo, dessa forma, compensar a exposição limitada que as

crianças têm da LH, a fim de melhorar o processo de aprendizagem.

Outras estratégias para o desenvolvimento bilíngue dos filhos foram apontadas por

Schwartz, Moin e Leikin (2011), que constituem em ações internas e ações externas. Segundo os

autores, as ações internas são aquelas realizadas pelos pais para o desenvolvimento bilíngue dos

filhos dentro da família e incluem a escolha da linguagem para as interações entre pais e filhos,

os padrões de reação aos erros linguísticos das crianças e o uso de rituais e tradições culturais

familiares que são associados à língua nativa. Já as ações externas advêm de um esforço dos pais

para garantir o ambiente sociolinguístico fora da família através da escolha da educação

pré-escolar, da inclusão dos filhos em instituições étnico-religiosas que veiculem a língua e ao

optarem por estabelecer moradia em bairros com maior concentração de imigrantes.

Lico (2011, 2015) destaca em seu artigo o tripé em que atuam a família, a comunidade e o

professor de LH, fazendo um somatório de forças, papéis e contribuições frente ao processo de ensino

e aprendizagem do PLH. Segundo a autora, esse trabalho deve ser contínuo e integrado, e tem como

objetivo principal o fortalecimento do vínculo identitário dos filhos de imigrantes (Figura 2).

36

Figura 2 – Pilares de atuação das escolas comunitárias de herança (LICO, 2011, p. 225)

A autora destaca o importante papel das escolas comunitárias no processo de ensino e

aprendizagem, relacionando-o à criação de oportunidades de comunicação e de interação, bem

como no incentivo que se dá às crianças para que se sintam motivadas a participar mais

ativamente. Lico (2011) entende que o professor de PLH possui um grande desafio: o de levar o

aluno a viver a língua de forma que ele possa atribuir sentido de comunidade e que aos poucos

consiga construir seu senso de identidade.

Outro desafio para os professores e educadores é o de proporcionar uma educação

intercultural cujo alicerce ultrapassa os distintos conteúdos ou experiências culturais vivenciadas

pelas crianças, mas, para atender tal objetivo, necessitarão fomentar processos de interação social

na construção do conhecimento, requerendo, para isso, uma importante inovação tanto pedagógica

quanto curricular que valorize o respeito, o reconhecimento, as diferenças e a diversidade cultural

em todos os níveis (WALSH, 2005).

37

No transcurso para difundir e consolidar o PLH, Moroni (2015) destaca três fatores que

atuam simultaneamente, quais sejam: as políticas públicas para diáspora; as iniciativas locais e

em diferentes partes do mundo (associações e comunidades de pais imigrantes, entre outras); e a

utilização da internet e das redes sociais como veículos facilitadores e promotores. É sobre as

associações e comunidades de imigrantes em diferentes partes do mundo e a utilização que os

imigrantes fazem das redes sociais na internet como rede de apoio que falaremos a seguir.

38

CAPÍTULO II – ASSOCIAÇÕES DE IMIGRANTES

Ninguém vai a nenhum lugar sozinho, mesmo aqueles que

chegaram fisicamente sozinhos... Carregamos conosco a

memória de muitas tramas, um self impregnado em nossa

história e cultura.

(Paulo Freire)

Para compreender o funcionamento de uma associação de pais imigrantes brasileiros na

Espanha, propomo-nos a discutir o que vem a ser uma associação de imigrantes e como ela se

configura de um modo geral.

As associações de imigrantes são organizadas a partir de comunidades formadas por

imigrantes que se reúnem em torno de um ou mais elementos culturais de interesse em comum

(língua, etnia, religião), cujo funcionamento se dá através de encontros presenciais e das redes

sociais virtuais (blogs e fanpage no Facebook), que se encarregam da divulgação das atividades

do grupo. Quando as comunidades são organizadas juridicamente, transformam-se em

associações e possuem um estatuto e uma diretoria eleita pelos seus membros.

Vale lembrar que os imigrantes buscam apoio tanto nas diferentes redes sociais

comunitárias no país de migração em que estão inseridos, como também se utilizam da

Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para manterem a rede social de apoio que

deixaram no país de origem (família e amigos) e para tecerem novas redes, aqui ou lá. A internet

vem a ser um dos meios mais eficazes de comunicação e manutenção de vínculos dentro do

contexto migratório, já que os imigrantes se encontram longe do país de nascimento, da família e

dos amigos e estão buscando integrar-se à nova realidade no país de migração, tendo pela frente

desafios a enfrentar em relação a uma nova cultura e língua, e frequentemente com poucos

recursos para coisas muitas vezes simples, mas significativas, como, por exemplo, onde encontrar

um mercado que possa vender um feijãozinho com arroz para alegrar o dia. É através da internet

que tudo se encaixa, ou quase tudo, e é por meio dela que as comunidades ou associações

de imigrantes se fazem achar. Sem dúvida, um apoio potencialmente inestimável para a vida dos

que migram.

39

Embora os indivíduos pertençam a configurações amplas como um país, uma sociedade

urbana ou uma comunidade territorial específica, o seu dia a dia ocorre em torno de uma rede de

relações pessoais que sustentam seu sentido de pertinência e ao mesmo tempo permitem, em

maior ou menor escala, sua demanda de diferenciação.

O contexto de nosso trabalho exige lidar com termos semelhantes como “redes sociais”,

com significados diversos (rede pessoal e rede virtual), comunidades e associações com

elementos de conexão tanto pessoal quanto virtual, dado que provêm de proposições teóricas e

disciplinares diversas. Assim, tomamos a liberdade de diferenciá-las didaticamente para facilitar

a leitura. Utilizamos “redes sociais pessoais” quando tratamos das redes sociais que implicam

primordialmente vínculos de proximidade interpessoal, mesmo que se possa fazer uso de

mediação tecnológica e “redes sociais” (sem qualificativo) quando tratamos das redes de natureza

virtual. Ressaltamos, no entanto, que tal diferenciação não é simples e foi usada apenas em

sentido didático. Além disso, tomamos o cuidado de não alterar os termos usados em citações de

autores primários.

Assim, para entender como se organizam as redes sociais pessoais, recorremos aos

estudos de Sluzki (1997) e Dabas (2006, 2011), e para compreender como se organizam as redes

sociais na internet, aos estudos de Barcelos, Passerino e Behar (2010), que apresentam os

diferentes tipos de redes sociais virtuais e de comunidades virtuais.

E, por fim, interessa-nos explanar um pouco sobre o funcionamento do Facebook, um tipo

de rede social virtual, por ser um meio muito utilizado pelas comunidades de imigrantes no

sentido de se fazer achar pelos que migram, por ser uma forma de construírem conexões com

outras comunidades de imigrantes no mundo e por ser um importante meio de divulgação das

atividades presenciais desenvolvidas pela comunidade.

2.1 COMUNIDADE E REDE SOCIAL PESSOAL

Sabemos que o homem não é um ser isolado. Dos seus primórdios até os dias de hoje,

sobrevive em grupos, necessitando desde sempre de apoio para que possa se sentir integrado,

orientado e protegido. O mesmo acontece na vida daqueles que migram, os quais, além disso,

necessitam encontrar um lugar que os faça sentir “como se estivessem em casa”. Embora a

família seja, como afirmamos, no capítulo anterior, a estrutura primária de apoio do indivíduo,

40

seus vínculos e demandas se dirigem para além dela e, nessa circunstância que se contextualiza,

em uma perspectiva sistêmica: as redes sociais pessoais.

Para compreendermos a organização e o funcionamento de uma rede social pessoal,

precisamos, primeiramente, conceituá-la, e para isso lançamos mão dos conceitos utilizados por

Ross von Speck, referendado por Elkaïm (2000), Sluzki (1997) e Rizo García (2004).

Ross von Speck (apud ELKAÏM, 2000), define rede social como um grupo de pessoas,

amigos, membros da família, vizinhos e outras pessoas que fornecem ao indivíduo, ou à família,

apoio e ajuda reais e duráveis.

Sluzki (1997, p. 41) define rede pessoal “(...) como a soma de todas as relações que um

indivíduo percebe como significativas ou define como diferenciadas da massa anônima da

sociedade”.

E Rizo García (2004) conceitua nestes termos:

As redes são, acima de tudo, formas de interação social, espaços sociais de convivência e

conectividade. Elas são definidas fundamentalmente pelo intercâmbio dinâmico entre os

sujeitos que as formam. As redes são sistemas abertos e horizontais, e reúnem um

conjunto de pessoas que se identificam com as mesmas necessidades e problemas. As

redes, portanto, são erguidas como forma de organização social que permite a um grupo

de pessoas potencializar seus recursos e contribuir para a resolução de problemas. (RIZO

GARCÍA, 2004, p. 1).

Parece-nos que a definição de Ross von Speck (apud ELKAÏM, 2000) de rede social e o

conceito de Sluzki (1997) de rede pessoal são complementares e não apresentam muita diferença,

enquanto que a definição apresentada por Rizo García (2004) demonstra a influencia das TIC na

“conectividade” de como a interação social é feita.

No estudo sobre redes sociais pessoais, é importante considerar, primeiramente, que sem

vínculos não há redes, pois são as conexões interpessoais que determinam as redes, além de

cumprir função predominante dentro delas (RIZO GARCÍA, 2004). Nesse sentido, as redes

fazem parte do mesmo processo da vida, elas são dinâmicas, não se constroem, mas se visualizam

(DABAS; NAJMANOVICH, 1995; DABAS, 2011).

A autora acima mencionada metaforiza a relação existente entre rede e vida: “Se formos

capazes de visualizar redes, vemos vida. Se cortarmos ou diminuirmos as redes, restringimos

as possibilidades de vinculação, diminui a possibilidade de vida” (DABAS, 2011, p. 48).

41

Assim, uma vez que as redes são visualizadas, é possível fortalecê-las, potencializá-las e

desenvolvê-las ou debilitá-las, quando o seu fluxo dinâmico é detido (DABAS, 2011).

Outro ponto necessário que merece destaque é que a rede pessoal é ativada por

problemas, tornando-se o que determina a emergência de uma rede (DABAS, 2011). Assim

sendo, a característica fundamental de uma rede pessoal “é a construção de interações para

resoluções de problemas e satisfação de necessidades” (RIZO GARCÍA, 2004, p. 1).

As redes se organizam para os mais diferentes fins, como, por exemplo, dentro do

campo da educação, saúde, arte, investigação, pesquisa acadêmica, etc. (DABAS;

PERRONE, 1999), algumas se destacam por impulsionar o crescimento profissional, outras

são mais importantes do ponto de vista dos cuidados, utilizando-se muitas vezes da internet

para o seu funcionamento.

Tanto Sluzki (1997) como Rizo García (2004) destacam funções semelhantes

desempenhadas pelas redes sociais pessoais, tais como companhia, apoio social e emocional,

guia cognitivo, serviço comunitário, sendo que, além dessas funções, Sluzki (1997) salienta

também os conselhos, a regulação social, a ajuda material e o acesso a novos contatos.

Em geral, uma rede social pessoal exerce várias funções ao mesmo tempo, dependendo da

relação que a pessoa estabelece com a rede maior (FEIJÓ, 2002).

As principais características das redes, segundo Dabas (2011), são: hierarquia,

assimetria produtiva, fluxo dinâmico, associativismo, flexibilidade, reciprocidade, ativação

causada por problemas e multidimensionalidade. Quanto ao tamanho, é prat icamente

impossível delimitar e representar totalmente uma rede, pois estão interligadas, são móveis

e complexas (FEIJÓ, 2002).

Devemos considerar que, quando há um processo migratório, o papel exercido pelos

elementos proximais da rede pessoal tendem a estar afastados, mesmo que atualmente possam ser

acessados por meio das TIC, o indivíduo terá que construir uma nova rede pessoal que favoreça

seu processo de adaptação à nova cultura e que lhe dê apoio nos desafios amplos no novo

ambiente tanto quanto na transmissão de sua cultura de origem a seus descendentes.

Nesse sentido, a análise de Rizo García (2004) se torna relevante. Para a autora,

a função exercida determinará o tipo de rede e distingue seis tipos diferentes de redes sociais,

sendo: 1) redes pessoais; 2) redes categoriais; 3) redes estruturais; 4) redes formais e redes

funcionais; 5) redes de iniciativas ou redes associativas; e 6) redes mistas intersistêmicas.

42

Conforme a autora, as redes pessoais são aquelas em que se encontram mais sentido de

pertencimento, como as redes familiares, de amigos, vizinhos, etc. As redes categoriais são

aquelas que se formam a partir de ideais comuns, que são delimitadas por características culturais,

étnicas, socioeconômicas, sociodemográficas, etc. O terceiro tipo são as redes estruturais, que são

formadas por pessoas do mesmo âmbito profissional ou laboral. Já as redes formais e as redes

funcionais são aquelas que estão ligadas a práticas voluntárias de ação social, sendo que as redes

formais possuem um grau de dependência institucional maior do que as redes funcionais, que são

mais independentes (RIZO GARCÍA, 2004).

Outro tipo de rede considerado por Rizo García (2004) são as redes de iniciativas ou redes

associativas que se desenvolvem quando as organizações sociais e as associações possuem uma

grande vinculação formal e informal. E, por último, as redes mistas intersistêmicas que advêm da

produção de múltiplas relações entre as redes institucionais, redes associativas e redes informais,

e que são baseadas em princípios de cooperação e reciprocidade em diferentes escalas territoriais,

sendo considerado pela autora o mais complexo de todos os tipos de rede.

2.2 AS COMUNIDADES: O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM

Sob a análise de Rizo García (2004), devemos considerar que as associações de

imigrantes seriam do tipo redes sociais categoriais à medida que são formadas em torno de ideais

comuns e que são delimitados por características culturais, étnicas, socioeconômicas,

sociodemográficas, etc.

Na literatura, proveniente de outro contexto teórico, elas não são denominadas redes

sociais categoriais e, sim, “comunidades de imigrantes” ou “associações de imigrantes” (cuja

diferenciação, já apresentada ao início do capítulo, refere-se ao seu estatuto informal ou legal).

Propõem-se, de uma forma geral, a ser um lugar de refúgio para as pessoas que pertencem a uma

mesma cultura, a um mesmo território ou que possuem a mesma religião, mas que se encontram

longe de seu país de origem, de sua família e de seus amigos (ROSSI, 2012).

As bases essenciais do funcionamento de uma comunidade de imigrantes orientadas para

suprir essa demanda são as de socialização, solidariedade, identidade e participação (ROSSI,

2012). Nesse sentido, as associações oferecem assistência ao imigrante de diferentes formas,

acompanhando-o em seu percurso de integração, agindo em sua defesa na sociedade de acolhida,

43

além de proporcionar um espaço onde as tradições e os valores de sua cultura são afirmados. As

comunidades também são para os imigrantes um local de participação, onde eles podem realizar

projetos de serviços, e de representação de sua cultura de origem, tornando-se um importante

meio de estabelecer, desenvolver e dar visibilidade à sua identidade cultural (ROSSI, 2012).

É, portanto, por meio das práticas realizadas em conjunto que as associações de imigrantes

permitem a conservação dos vínculos estreitos com o país de origem, mesmo que remodelados e à

distância. É assim que em seu percurso elas deixam de ser um lugar de encontro de pessoas saudosas

e se torna organizações mobilizadas em torno de projetos comuns, cuja finalidade principal é a

vontade de promover, proteger e reconstruir a identidade cultural, por meio de um canal comum a

todos, que é a língua (ROSSI, 2012).

Embora se possa considerar que as associações de imigrantes dificultam a integração com a

sociedade de acolhimento, diferentes autores argumentam em seu favor. Para Sipi (2000),

as associações são espaços que fomentam, constituem e unificam as negociações que promovem a

integração social. Seguindo essa mesma linha de pensamento no estudo realizado por Furlanetto

(2011), as práticas associativas corroboram, demonstrando a importância do imigrante perante a

sociedade local ao atuarem como estratégias de construção e autoafirmação da identidade.

Portanto, as associações ocupam um espaço fundamental no processo de negociação do imigrante na

sociedade de chegada, no qual a visibilidade e o reconhecimento são valorizados pelos migrantes

(ROSSI, 2012).

É importante pensar o que motiva então os imigrantes integrarem-se às associações.

De acordo com Masanet Ripoll e Santacreu Fernández (2010), há diferentes posicionamentos

sobre o que motiva os imigrantes a participarem de associações, articulados em duas lógicas

opostas denominadas de “dimensão instrumental” e de “dimensão expressiva” da participação

(MASANET RIPOLL; SANTACREU FERNÁNDEZ, 2010, p. 75). Os autores chamam de

“dimensão instrumental” aquela em que os imigrantes são levados a participar das associações

por interesses individuais, por não serem capazes de satisfazer determinados tipos de

necessidades sozinhos. A outra posição, que é a “dimensão expressiva” da participação,

apregoa que o motivo pelo qual os imigrantes vinculam-se às associações baseia-se no fato

de estas proporcionarem espaços de encontros, que valorizam a subjetividade do indivíduo

nas inter-relações.

44

As associações de imigrantes foram classificadas por Morell Blanch (2005) e por Masanet

Ripoll e Santacreu Fernández (2010) de uma maneira muito semelhante, contudo, com algumas

diferenças que merecem destaque. Esses últimos (MASANET RIPOLL; SANTACREU

FERNÁNDEZ, 2010) classificam as associações em quatro tipos, conforme a sua finalidade:

social, político, cultural-recreativo e transnacional. Já Morell Blanch (2005) classifica as

associações em social, política e cultural, a partir das atividades realizadas, com o objetivo de

determinar se os interesses e as finalidades dessas atividades são orientados para o país de origem

ou se são direcionadas para o país de destino, sendo este o principal diferencial entre os autores,

além do fato de Masanet Ripoll e Santacreu Fernández (2010) agregarem um quarto tipo de

associação, a transnacional.

Preferimos adotar em nosso estudo a classificação legada por Morell Blanch (2005)

quanto às atividades promovidas pelas associações de imigrantes, cujo interesse e finalidade

valorizam as oportunidades e os desafios que os diferentes contextos nacionais, o de origem e o

de acolhida, têm para oferecer, por a considerarmos mais operacional aos nossos propósitos.

Assim, as atividades sociais desenvolvidas pelas associações de imigrantes, orientadas

para o país de origem, segundo Morell Blanch (2005), fazem parte de projetos impulsionados

pelas comunidades de origem, tem como objetivo apoiar o processo migratório, ajudar aos

imigrantes que não têm recurso para retornar a seu país, e dar ajuda e suporte aos familiares e

amigos que residem no país de origem do imigrante. Já as atividades sociais orientadas para o

país de destino são aquelas de ajuda mútua e solidária entre os membros da associação, as que

fazem parte do acompanhamento ao imigrante no processo de imersão na sociedade de acolhida,

que visam o fomento das relações sociais, que promovem o assessoramento administrativo e legal,

a capacitação profissional e a inserção no mercado de trabalho (MORELL BLANCH, 2005).

As atividades políticas orientadas para o país de origem são consideradas pelo autor

(MORELL BLANCH, 2005) como aquelas que prestam solidariedade para com as vítimas políticas,

que atuam na promoção de campanhas de sensibilização da opinião pública e as que denunciam e

criticam as políticas governamentais do país de origem. Quanto às atividades políticas orientadas para

o país de destino, atuam realizando denúncias à discriminação e à xenofobia, e reivindicam os direitos

sociais e políticos dos imigrantes.

As associações que possuem fins transnacionais, descrita por Masanet Ripoll e Santacreu

Fernández (2010), atuam de modo semelhante às associações que exercem atividades políticas

45

conforme Morell Blanch (2005), mas se diferenciam por participarem de projetos que visam a

auxiliar o retorno dos imigrantes ao país de origem, tendo em vista que a migração transnacional

é aquela em que somente alguns membros da família migram, resultando em grande sofrimento

para todos, pois divide a família nos que vão e nos que ficam (FALICOV, 2007, 2009).

Já as atividades culturais orientadas para o país de origem do imigrante, segundo Morell

Blanch (2005), são aquelas relativas à divulgação e à transmissão da cultura, da língua, do

folclore, da religião e da gastronomia, que se dá entre o coletivo de imigrantes e seus

descendentes e familiares. Quando as atividades culturais são orientadas para o país de destino,

elas buscam incentivar o aprendizado da língua e da cultura do país de acolhimento, além de

divulgar as manifestações culturais dos imigrantes, fomentando um clima de interculturalidade a

fim promover a tolerância e prevenir os conflitos.

Falicov (2016) chama atenção para o grande desafio que se constitui para aqueles que

tramitam em “zonas de fronteira cultural” (FALICOV, 2016, p. 305), entre a cultura de origem e

a cultura do país de migração. Chamamos atenção também para aqueles que constituíram famílias

interculturais, que apresentam na formação do casal a presença de mais de uma cultura, além

daquela do país de nascimento dos filhos.

Esse clima de interculturalidade e de “identificação dual” nas associações é denominada

por Sardinha (2010) de “associações hifenizadas”, tomando como base o estudo de Bhabha

(1998).

As “associações hifenizadas” (SARDINHA, 2010, p. 65), por serem representantes de

mais de uma nacionalidade, promovem uma “identificação dual”, “recolhendo os melhores frutos

que ambos os mundos têm para oferecer” (SARDINHA, 2010, p. 70), situação esta caracterizada

pelas oportunidades que os diferentes contextos, o de origem e o de migração, têm para lhes

proporcionar.

As hifenações híbridas enfatizam os elementos incomensuráveis - os pedaços teimosos –

como a base das identificações culturais. O que está em questão é a natureza

performativa das identidades diferenciais: a regulação e negociação daqueles espaços

que estão continuamente, contingencialmente, se abrindo, retraçando as fronteiras,

expondo os limites de qualquer alegação de um signo singular ou autônomo de diferença

– seja ele classe, gênero ou raça. (BHABHA, 1998, p. 301).

46

A interculturalidade não pode ser reduzida, segundo Walsh (2005), a uma simples fusão

ou combinação híbrida de elementos, características, tradições ou práticas culturalmente distintas.

Em vez disso, a interculturalidade deve ser entendida como um intercâmbio que se constrói entre

pessoas, conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, em processos permanentes e

dinâmicos de comunicação, relacionamento e aprendizagem entre culturas em termos de

legitimidade mútua, respeito, simetria e igualdade. Para a autora, essa articulação que se interpõe

não busca valorizar ou eliminar as diferenças culturais nem tão pouco procura formar identidades

mescladas, mas é nesse espaço fronteriço de negociação e relação que se objetiva o diálogo entre

inclusão e exclusão, pertinência e diferença, controle e resistência, que se constroem e emergem

novas estratégias, sentidos e práticas “[inter]” culturais que desafiam o controle cultural,

a homogeneidade e a hegemonia da cultura dominante (WALSH, 2005, p. 9).

Consideramos que a compreensão dessas múltiplas possibilidades de propósitos

identificadas pelos autores possam ser fundamento importante para a compreensão da

organização e funcionamento das comunidades. Mas é importante compreender também como as

TIC as favorecem e consolidam à medida que é principalmente por meio delas que as conexões

se tornam possíveis.

2.3 COMUNIDADES VIRTUAIS

Através da História observamos que o homem sempre viveu em comunidade. Nessas

comunidades, os laços eram estabelecidos com base na proximidade espacial, isto é, entre

pessoas que viviam na mesma área, onde a maioria dos indivíduos não tinha escolha quanto à

comunidade a que pertenciam, e invariavelmente nasciam, viviam e morriam no mesmo lugar

(PALACIOS, 1996).

Até que se deu o advento da internet, marco que revolucionou e reconfigurou as relações

humanas, facilitando a formação de grupos de pessoas com vínculos não formalizados

territorialmente, tornando cada vez mais comum as pessoas fazerem parte de uma variedade de

comunidades virtuais, de acordo com seu interesse.

As comunidades on-line podem abranger uma gama de interesses sociais e culturais,

desde grupos de mães, estilo de vida, luto, imigrantes, e muitos outros, com a vantagem de

47

acolher pessoas do mundo todo. Essas comunidades propiciam aos seus participantes pertinência,

informação, apoio emocional e convívio social.

Objetivando um maior entendimento das comunidades virtuais, consideramos que seja

importante a compreensão da sua estrutura e de seu funcionamento. Para entender os elementos

constituintes de uma comunidade virtual, Palacios (1996) contrapõe com os elementos

constituintes de uma comunidade clássica. Os elementos constituintes de uma comunidade

clássica são: “a) sentimento de pertencimento; b) territorialidade; c) permanência; d) sentimento

de comunidade, caráter cooperativo e emergência de um projeto comum; e) formas próprias de

comunicação; f) tendência à institucionalização.” (PALACIOS, 1996, p. 98)

Já os elementos constituintes de uma comunidade virtual não seguem a mesma lógica

espaço-tempo dos elementos constituintes de uma comunidade clássica. O sentimento de

pertencimento, por exemplo, não está vinculado à localização, o pertencimento em uma

comunidade virtual é sempre à distância, além do que, nas comunidades virtuais, ele é sempre

eletivo, possibilitando ao indivíduo pertencer à comunidade somente durante o tempo em que

estiver interessado. A territorialidade nas comunidades virtuais é simbólica, já que não existe uma

territorialidade física como nas comunidades clássicas.

Para Palacios (1996), um dos pontos mais difíceis de avaliar nas comunidades virtuais é a

permanência, devido à intensa prática de ativação e a desativação de grupos virtuais, sem falar

nas participações de caráter efêmero, com circulação de indivíduos de acordo com seus interesses.

Em se tratando da ligação entre sentimento de comunidade, caráter cooperativo e emergência de

um projeto comum, nas comunidades virtuais se observa o sentimento de cooperação e

solidariedade na troca de informação e intervenções, com objetivo de ajudar outros membros da

comunidade por meio de projetos pontuais. Quanto às formas de comunicação, é importante

considerar que não há separação entre a comunidade virtual e o meio de comunicação que a

origina, sendo este a razão de existir da comunidade (PALACIOS, 1996).

Sáez Soro (2006), por sua vez, classifica a comunidade virtual em cinco características

principais: 1) uma finalidade claramente identificada; 2) permanência no tempo; 3) existência de

produtos de interação; 4) canais de comunicação facilmente reconhecíveis; e 5) uma atividade e

um número mínimo de interlocutores interativos.

48

No entanto, comparando as duas perspectivas, observamos que tanto Palacios (1996)

como Saéz Soro (2006) apresentam em seus estudos sobre comunidade virtual uma descrição das

características gerais que a compõe, destacando basicamente os mesmos pontos relevantes, que

são: finalidade, permanência, interação, comunicação e atividade.

Diferentemente desses autores, Castells (2003) ressalta duas características que

consideramos fundamentais em relação às comunidades virtuais, por se tratar de recursos que são

formadores e alimentadores das redes virtuais. A primeira é a comunicação livre, de muitos para

muitos. A segunda é a formação autônoma de redes, onde qualquer pessoa tem a possibilidade de

criar e divulgar sua própria informação e, dessa forma, induzir a formação de uma rede. Para o

autor, as pessoas estão cada vez mais organizadas em redes sociais mediadas por computador, e a

interação social virtual possui um papel crescente e abrangente na organização social.

Gostaríamos de ressaltar que, desde o início dos anos 2000, as TIC – web e telefonia

móvel – desempenham um papel cada vez mais importante no dia a dia das pessoas em geral e

dos migrantes, em particular. No entanto, é importante considerar que o uso da internet por esses

últimos representa muito mais do que está contido na expressão “imigrantes conectados”, como é

ressaltado por Scopsi (2009). Em seu artigo Les sites web diasporiques: un nouveau genre

médiatique?, a autora apresenta a definição do termo Webdiáspora (“diáspora digital”)8

,

pontuando se tratar de um conceito mais abrangente do que uma simples conexão, fazendo alusão

à importante contribuição das comunidades de imigrantes que atuam em prol da consciência

identitária de seus membros, a favor de ações reivindicatórias, desejando alcançar afirmação

pública, entre outras ações.

(...) sites diaspóricos são sites produzidos pelas comunidades transnacionais a partir dos

lugares da dispersão, organizados em torno de um ou mais elementos culturais

compartilhados (língua, religião, etnia), destinado explicitamente a membros da

comunidade espalhados pelo mundo pela migração e, possivelmente, a população que se

manteve na terra natal, contribuindo para a consciência de uma ligação identitária, para a

sua afirmação pública e a sua realização por ações de reivindicação, de representação ou

de desenvolvimento econômico e cultural de seus membros. (SCOPOSI, 2009, p. 92).

8 O termo “diáspora”, originalmente atribuído à “dispersão dos judeus ao longo dos séculos”, passou a ser utilizado,

segundo o Glossário sobre Migração, da Organização Internacional para as Migrações (2009), de uma forma mais

abrangente para traduzir a realidade política, cultural e social de “qualquer pessoa ou população étnica que abandona

a pátria tradicional da sua etnia, estando dispersa por outras partes do mundo.” (OIM, 2009, p. 18).

49

O conceito de webdiáspora está relacionado, segundo Brignol e Costa (2016), com a

criação de múltiplos ambientes de comunicação na internet, que são criados, mantidos,

atualizados e acessados por migrantes que se apropriam de tal facilidade para suprir seus

objetivos e demandas. Como exemplo de “webdiaspóricos” (BRIGNOL; COSTA, 2016) estão, os

sites temáticos sobre migração, os weblogs, os sites das associações e ONGs, os perfis e páginas

em redes sociais (Facebook).

A pesquisa de Barth e Cogo (2009) sobre o uso da internet (Skype, MSN e chat UOL)

por imigrantes brasileiros na Espanha pontua como sendo fundamental a utilização das TIC na

preservação da relação afetiva com familiares e amigos distantes, reiterando essa perspectiva. Os autores

destacaram a contribuição das associações e dos coletivos de brasileiros que atuam na prestação de

assistência e orientação aos imigrantes, na obtenção de informação sobre oportunidades de emprego,

na regularização jurídica, no aprendizado linguístico, no lazer e na saúde, que se dão por meio de

práticas on-line combinadas com iniciativas off-line.

Podemos deduzir que, com ajuda da nova tecnologia de comunicação, os indivíduos estão

construindo novos padrões de interação social, ou seja, dando origem a uma nova forma social –

“a sociedade de rede” (CASTELLS, 2003, p. 111), em que tudo se encontra interligado, não

havendo distinção entre as comunidades presenciais e as comunidades virtuais, um mundo sem

fronteiras, bem na palma da mão. E, para vida do imigrante, tudo isso é particularmente relevante.

2.4 REDES SOCIAIS NA INTERNET

A constante evolução da internet tem nos propiciado nos últimos anos um uso cada vez mais

interativo e colaborativo da web. Conforme O‟Reilly (2005), na primeira geração da Web, a ênfase

era dada na publicação de informações e, posteriormente, na segunda geração, a Web 2.0, passa a ser

dada na participação, interação e compartilhamento dos participantes, que pode ser percebida no

Facebook (através dos comentários, curtidas e compartilhamento dos usuários), na Wikipédia,

(enciclopédia on-line, cujos verbetes são escritos de forma colaborativa), nos blogs etc. As redes

sociais on-line representam essa nova tendência de partilhar informações, conhecimentos e contatos.

Em seu artigo Barcelos, Passerino e Behar (2010) apresentam, de maneira esquemática,

diferentes tipos de redes sociais e comunidades (Figura 3), que consideramos particularmente

ilustrativa e apresentamos a seguir. Para conceituar e descrever estes elementos eles recorreram

50

a diversos autores. Segundo estes autores as redes sociais (escola, associação de imigrantes)

são compostas por diferentes tipos de comunidades, dentre elas estão às comunidades de prática

(CP), as comunidades de aprendizagem (CA) e as comunidades virtuais (CV). Como parte

das comunidades virtuais (CV) há as comunidades virtuais de participação (CVP), as

comunidades virtuais de interesse (CVI) e as comunidades virtuais de aprendizagem (CVA).

Essas comunidades virtuais integram as redes sociais na internet (RSI).

Figura 3 – Redes e comunidades. (BARCELOS; PASSERINO; BEHAR, 2010, s/p)

Descreveremos cada um dos tipos de comunidades, não virtuais e virtuais, para que

possamos melhor compreende-las. As comunidades de prática (CP), conforme Wenger (2010)

envolvem um conjunto de indivíduos com interesse comum na aprendizagem, e, sobretudo, na

aplicação do aprendido.

As comunidades de aprendizagem (CA), segundo Coll (2004), referem-se a grupos

de pessoas com diferentes níveis de conhecimento, perícia e experiência, que, por meio de

colaboração e ajuda mútua, produzem aprendizado e construção de conhecimento coletivo.

As comunidades virtuais (CV) foram conceituadas por Rheingold (1995) como

“agregados sociais que surgem na Rede, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante

essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos,

para formar redes de relações pessoais no ciberespaço” (RHEINGOLD, 1995, p. 20).

51

Conforme Recuero (2009), os elementos formadores da comunidade virtual destacados na

definição de Rheingold são: as pessoas, as discussões públicas, o tempo e o sentimento,

combinados no ciberespaço9.

De acordo com Coll, Bustos e Engel (2010) há três tipos de comunidades virtuais:

comunidades virtuais de participação (CVP), comunidades virtuais de interesse (CVI) e

comunidades virtuais de aprendizagem (CVA). Os autores chamam a atenção para o caráter

heterogêneo das comunidades virtuais que está relacionado aos objetivos de seus participantes,

fazendo com que as CVs não se limitem a essas três categorias. Além disso, conforme os autores,

as comunidades virtuais são dinâmicas e sujeitas a contínuos processos de transformação e

mudança, sendo assim, as fronteiras entre os três tipos de comunidades virtuais não podem ser

delimitadas com exatidão. Nesse processo dinâmico, uma CVI pode evoluir e se transformar em

CVP ou em uma CVA; e o processo também pode ser inverso: uma CVA pode evoluir e se

transformar em CVP ou CVI.

As comunidades virtuais de interesse (CVI), segundo Coll, Bustos e Engel (2010), são

baseadas no interesse e se caracterizam pelo acesso à informação a qualquer hora e lugar; pelo

acesso a outros indivíduos com grau de envolvimento afetivo e social; pelo senso de

pertencimento e por manter o participante atualizado.

Já as comunidades virtuais de participação (CVP) caracterizam-se por terem acesso

à informação e à experiência a qualquer hora e lugar; pelo acesso a outros indivíduos a partir de

um envolvimento mental; por questionarem e avaliarem as contribuições; por terem

responsabilidades coletivas, e por objetivarem a melhoria do resultado do grupo. A tópica que

permeia as CVP é o envolvimento (COLL, BUSTOS; ENGEL, 2010).

Para Coll, Bustos e Engel (2010), as comunidades virtuais de aprendizagem (CVA) são as

que possuem um conteúdo de aprendizagem específico; as que têm novas e dinâmicas propostas

de aprendizagem; as que inovam diante dos problemas; as que oferecem oportunidade de

aprender e colaborar com outros indivíduos e por auxiliarem aos seus membros no processo

de aprendizagem. As CVA se caracterizam pelo duplo uso das TIC, como instrumento facilitador

9 O ciberespaço segundo Lemos (1996, s/p) pode ser entendido sob duas perspectivas: “como o lugar onde estamos

quando entramos num ambiente virtual (realidade virtual), e como o conjunto de redes de computadores, interligadas

ou não, em todo o planeta (BBS, videotextos, internet...).” Acessível em: <http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/

lemos/estrcy1.html>.

52

da comunicação e do intercâmbio entre seus membros e como recurso na promoção de

aprendizagem (COLL, 2004).

Tomando como base a classificação de Barcelos, Passerino e Behar (2010),

bem como dos demais autores apresentados, podemos dizer que o imigrante possui

uma rede social (RS) localizada em mais de um país, o seu de origem e o de migração.

A nova rede social formada no país de imigração integra diferentes tipos de comunidades ou

associações, como a escola, o trabalho, a igreja, os vizinhos e grupos de imigrantes organizados

em associações, como a que nos propusemos a pesquisar. Já a rede que ficou no país de origem,

composta pela família e amigos, é acessada através da internet pelo Skype, WhatsApp e outras

mídias sociais que integram o grupo de comunidade virtual (CV).

Além dos diferentes tipos de redes sociais e de comunidades apresentadas por Barcelos,

Passerino e Behar (2010), as redes sociais podem ser classificadas quanto à referência tempo-

espaço e ao tipo de comunicação. Quanto à referência tempo-espaço, as redes sociais podem ser

analógicas ou digitais (CAMARERO CANO, 2015). As redes sociais analógicas são aquelas em

que as pessoas se encontram no mesmo espaço e tempo, como, por exemplo, uma associação

de pais de alunos de uma determinada escola. Já nas redes sociais digitais, as pessoas não se

encontram necessariamente próximas uma das outras, elas podem estar geograficamente distantes.

Quanto ao tipo de comunicação, as redes sociais digitais podem ter uma comunicação sincrônica

(simultânea) ou uma comunicação assincrônica (não simultânea), sabendo que, para que a

comunicação se estabeleça, necessitam de um computador ou dispositivo móvel (smartphone)

com acesso à internet (CAMARERO CANO, 2015).

Um exemplo de rede social digital é o Facebook. Além do Facebook, as associações

de imigrantes, em geral, fazem uso de outras mídias sociais, como o seu próprio site, blogs e

aplicativos, por exemplo, o WhatsApp, e do e-mail, a fim de dar visibilidade a sua proposta,

divulgar o seu serviço e se comunicar com os seus participantes.

Achamos relevante apresentar o modo de funcionamento do Facebook por se tratar da

rede social digital mais utilizada e por meio da qual encontramos as associações que deram

origem a nosso interesse e selecionamos aquela que analisaremos posteriormente.

Desde que foi criado, em 2004, o Facebook não para de crescer. Tendo como missão dar

às pessoas o poder de compartilhar e tornar o mundo mais conectado, o Facebook tornou-se uma

das redes sociais mais utilizadas em todo mundo. Segundo dados atuais do próprio Facebook,

53

em julho de 2016, a rede social contava com 1,13 bilhões de usuários ativos em média por dia

(FACEBOOK, 2016).

Em sua plataforma, o Facebook agrega recursos que permitem ações interativas como:

bate-papo, criar textos com a participação de outras pessoas, exibir fotos, filiar-se a grupos, criar

e divulgar eventos, realizar enquetes de pesquisa, etc. Segundo Keiserman (2012), o Facebook é

uma plataforma viva, presente na vida cotidiana dos usuários, que integra a rede virtual à sua vida

social. Funciona através de perfis e comunidades, além do perfil pessoal, possibilita a montagem

de fanpage para empresas, associações, serviços, que poderá ter ou não um cunho comercial.

O fácil acesso permite que o usuário compartilhe e disponibilize conteúdos com os seus

amigos conectados no “Face” a partir dos comandos “comentar”, “compartilhar” e “curtir”, com

apenas um click. Ao “compartilhar”, o usuário participa da distribuição de conteúdo com outros

integrantes através de um link de compartilhamento, cuja utilidade é de dar-lhe a possibilidade e

a facilidade de conectar com outros links, podendo integrar conteúdo de outras redes sociais,

como Twitter, YouTube, blogs, etc. O “comentar” indica uma participação mais ativa, mais

solidária da rede de amigos, em que os usuários podem opinar sobre os posts, as fotos e demais

conteúdos; expressando seus sentimentos e opiniões através da linguagem escrita (WIKIPÉDIA).

Há também os ícones que expressam emoções, as reactions, que foram criadas como

forma de ampliar a opção de reação emocional do usuário frente a uma postagem, que antes era

função exclusiva do botão “curtir” (like), são eles: “amei” (love), “haha”, “uau” (wow), “triste”

(sad) e “grr” (angry). Com esses botões, o usuário poderá demonstrar que gostou da publicação,

que amou ou está muito feliz, que achou divertido, que ficou surpreso ou triste e com raiva

(TEEHAN, 2016).

No caso das páginas das comunidades de imigrantes, a partilha de conteúdo pode ser

muito rica, pois, através de uma única página, várias comunidades dispersas pelo mundo podem

estar conectadas e ser acessadas. Para essas comunidades de imigrante, é interessante saber o que

a outra comunidade está articulando e, assim, poder trocar ideias, compartilhar aprendizagem,

além de servir de estímulo mútuo, havendo a possibilidade de formar uma rede de apoio

muito profícua.

Com foco mais individual, o imigrante poderá partilhar informações e obter acesso a

conteúdos que ajudarão tanto ele como sua família no processo de adaptação e de integração

na nova cultura. No caso das comunidades de pais imigrantes, cujo interesse é a transmissão da

54

cultura do país de origem aos filhos, as informações partilhadas estarão relacionadas à língua e à

cultura do país de origem, a divulgação do ensino da língua e da cultura, bem como dos eventos

culturais presenciais.

A interação realizada pelos participantes da rede social digital através de troca de

mensagens pode ocorrer de forma pública, no mural do usuário, ou de forma particular, através

do “Messenger” (aplicativo de mensagem do Facebook), por meio do qual é possível agregar um

grupo de pessoas partilhando da mesma conversa. Essas mensagens podem ser feitas de forma

instantânea, basta que a pessoa esteja conectada à rede (WIKIPÉDIA).

Existe a possibilidade da criação de grupos dentro do Facebook, que podem ser restritos

ou não. Ali se estabelece conversação e intercâmbio entre pares, privilegiando o debate, a troca

de informações e ideias, e a produção de conhecimento (WIKIPÉDIA). Os grupos temáticos

possuem diferentes critérios de privacidade, a saber, público, fechado ou secreto (MANNARA,

2016).

No mês de setembro de 2016, ao efetivar a busca no Google por “comunidades no

Facebook”, obtive como resultado 40.500.000 comunidades. Já a busca por “comunidades de

imigrantes brasileiros no Facebook”, resultou em 927.000 comunidades, demonstrando a força

que essas iniciativas possuem e a necessidade de pesquisas sobre o tema.

55

OBJETIVO

3.1 OBJETIVO GERAL

A presente pesquisa tem como objetivo compreender o funcionamento de uma associação

de pais imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Compreender a formação, o funcionamento e a manutenção de uma associação

de pais imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha.

b) Compreender como o imigrante se relaciona com a associação e qual o significado

desta para sua família.

c) Identificar como a associação de pais imigrantes brasileiros atua na manutenção

da relação com a cultura brasileira.

56

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa na abordagem qualitativa que, conforme Denzin e Lincoln

(2006), consiste em um conjunto de práticas interpretativas interligadas, que busca entender os

fenômenos a partir do significado atribuído pelas pessoas. A pesquisa qualitativa, portanto,

preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na

compreensão e na explicação da dinâmica das relações sociais.

Por estarmos interessadas na formação, o funcionamento e a manutenção de associações

de pais imigrantes brasileiros domiciliados na Espanha, ou seja, o estudo de uma comunidade

específica, esta pesquisa se caracterizaria como um estudo etnográfico que, de acordo com

Severino (2013, p. 119), “visa compreender, na sua cotidianidade, os processos do dia-a-dia em

suas diversas modalidades. Trata-se de um mergulho no microssocial, olhado com lentes de

aumento...” sendo na sua natureza, “descritivo por excelência”.

Mas, considerando que a existência, o acesso e a realização da pesquisa se fez por meio

de TIC, de fato, o estudo pode ser denominado netnográfico. A definição de netnografia remonta

à década de 1990, mais voltada ao estudo das características de consumo de comunidades on-line.

Atualmente, é considerada uma adaptação da etnografia ao estudo de comunidades on-line em

geral, sendo a netnografia considerada sinônimo de “etnografia na internet” (KOZINETS, 2002,

p. 61) ou, ainda, mais atualmente, como a “prática on-line da etnografia” (KOZINETS, 2006,

p. 279), cuja principal diferença entre ambas é que a netnografia parte da observação do discurso

textual no contexto on-line.

Neste contexto, a estratégia metodológica seria o estudo de caso que, segundo Yin (2001),

é o mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto

real, no nosso caso, virtual, em que os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente

percebidos. Para o autor, o estudo de caso tem como intuito compreender fenômenos sociais

complexos, e poderá levar à identificação de categorias de observação ou gerar hipóteses para

novos estudos, exigindo o recurso a técnicas variadas de coletas de dados.

Outro autor que nos norteia no uso desta estratégia é Stake (1994), que destaca dois

critérios essenciais para definir um estudo de caso, a saber: um caso é um sistema delimitado

cujas partes são integradas e é uma investigação que focaliza um fenômeno original. Segundo o

mesmo autor, tratamos de um estudo de caso instrumental na medida em que o interesse no caso

57

se deve à crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode

servir para fornecer insights sobre um assunto.

CONTEXTO

Nosso interesse recaiu em comunidades ou associações de pais imigrantes brasileiros

domiciliados na Espanha. Os critérios de inclusão delimitados para a escolha foram: estar ativa

nos últimos 6 meses, utilizar-se prioritariamente da língua portuguesa; autoidentificar-se como

uma associação de brasileiros, imigrantes e domiciliados na Espanha, dado que se trata de um

país onde se identifica um grande número de associações de imigrantes brasileiros.

Para identificar as comunidades e associações possíveis, foram feitas buscas no Facebook,

com uma análise prévia da fanpage, para relacioná-las aos objetivos e critérios de inclusão.

Selecionamos algumas possibilidades, entramos em contato por e-mail e, dentre as opções,

escolhemos a que pareceu mais dinâmica.

Para compreender a associação, foi feita a análise da fanpage no Facebook, em que se

observou sua dinâmica e o conteúdo das postagens, além da análise de documentos postados,

bem como entrevistas e coleta de questionários com participantes.

PARTICIPANTES

Quanto às pessoas que colaboraram com a pesquisa, foram acessadas a presidente da

Associação, a secretária, que vem a ser também uma das professoras, a coordenadora da

comissão de eventos, que vem a ser uma das administradoras da fanpage no Facebook, e o pai

idealizador deste projeto, escolhidas por propciarem o acesso a uma visão geral da comunidade e

poderem intermediar o contato com os membros da Associação.

No caso dos participantes convidados a responder ao procedimento individual, os critérios

de inclusão foram: ser de nacionalidade brasileira e ser imigrante domiciliado na Espanha;

ter pelo menos um filho de mais de 2 anos e menos de 12 anos (faixa etária na qual a necessidade

de transmissão da cultura é mais impactante); participar da Associação há pelo menos 6 meses.

Não foram critérios de exclusão: idade, sexo, estado civil do participante, número total de filhos

ou seu país de nascimento.

58

PROCEDIMENTO

A pesquisa foi realizada via mediação virtual, tendo em vista se tratar de uma associação

de pais imigrantes domiciliados na Espanha, após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.10

Primeiramente, entramos em contato com a presidente da Associação através de e-mail,

com objetivo de explicitar o interesse pelo tema, apresentar a pesquisadora, a instituição de

ensino e solicitar a colaboração para a pesquisa.

Depois do recebimento da resposta positiva, foi enviado outro e-mail contendo o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas cópias, uma assinada pelo pesquisador e

outra que foi assinado pela presidente da Associação e reenviada. A pesquisa foi explicada de

modo a aclarar possíveis dúvidas e foram realizados três encontros on-line, via Skype com o

objetivo de: a) conhecer a história de vida da presidente; b) conhecer a história da Associação;

c) conhecer o funcionamento da Associação a partir de sua perspectiva. Foram realizadas

entrevistas não-diretivas apenas com a introdução de tema e inclusão de perguntas de

esclarecimento. Os encontros foram gravados e transcritos.

A partir da intermediação da presidente da Associação (indicação e/ou facilitação de

convite por e-mail, Facebook e no grupo fechado da Associação), foram convidados a participar

da pesquisa os participantes da Associação que correspondam aos critérios de inclusão. Foi

enviado outro TCLE e um questionário (Apêndice A) o qual foi solicitado que fosse respondido e

enviado por e-mail para a pesquisadora.

A presidente da Associação indicou que realizássemos entrevistas não-diretivas com dois

membros da diretoria da Associação, com a secretária, que vem a ser também uma das

professoras, e a coordenadora da comissão de eventos que vem a ser uma das administradoras da

fanpage no Facebook, além do pai iniciador do projeto. Foi enviado ainda outro TCLE e,

posteriormente, agendamos um encontro on-line, via Skype e WhatsApp, em horário adequado ao

participante, recomendando-lhe a escolha de momento e local com privacidade e não interrupção,

com objetivo de conhecer o funcionamento da Associação a partir de sua perspectiva.

10

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob o

número CAAE 56306516.4.0000.5482.

59

Realizamos uma observação netnográfica do funcionamento da fanpage da Associação no

Facebook, percorrendo todas as publicações realizadas, desde a mais recente à mais antiga, que

vem a ser a primeira publicação, no período que compreende os meses de outubro a novembro de

2016 e janeiro a julho de 2017. Por indicação da presidente, fomos adicionadas ao grupo fechado

da Associação no Facebook em novembro de 2016. Naquele momento, fizemos uma observação

participativa e pudemos falar desta pesquisa, convidando os pais para responderem o questionário.

Posteriormente, realizamos a análise dos documentos postados, todos relacionados ao Brasil e à

cultura brasileira, publicados em sua maioria em língua portuguesa, com exceção das atividades

junto ao Centro Cívico e aquelas referentes à cultura local, que, além do português, empregam o

espanhol. As temáticas abordadas nas postagens referem-se à divulgação de atividades realizadas

ou relacionadas à Associação e à divulgação de publicações (links para outras páginas) referentes

aos temas: a) Educação – aprendizado da língua portuguesa e da cultura brasileira; b) Família –

caráter informativo (empoderamento) e integrativo das famílias associadas; c) Político-cultural –

abarca ações político-culturais de ambos os países, de origem e migração, pertinentes à

Associação, à imigração, à cidadania, etc. e d) Comunidades de pais imigrantes e outras

organizações afins – compreende na divulgação, no estabelecimento de rede de apoio e na

integração com outras associações e organizações de pais imigrantes brasileiros.

INSTRUMENTOS

Foram realizadas entrevistas não-diretivas e construído um questionário (Apêndice A).

As entrevistas não-diretivas com a presidente da Associação e com os outros membros da

diretoria versaram sobre: a) conhecer a história da Associação; b) conhecer o funcionamento da

Associação a partir de sua perspectiva. Quanto à presidente, focou-se, ainda, em sua história de

vida e intersecção com a construção da Associação.

Quanto aos pais, elaboramos um questionário dividido em duas partes. A primeira traz

dados sociodemográficos para serem preenchidos pelos participantes, como sexo, idade,

nacionalidade, nacionalidade do cônjuge, nacionalidade dos filhos, tempo de migração, a língua

falada em casa, a língua falada entre o casal, a língua falada entre pai e filhos e entre mãe e filhos,

como soube da Associação e desde quando participa da Associação. As informações específicas

compõem a segunda parte do questionário, nela estão contidas perguntas sobre a relação do

60

participante com a Associação, a motivação para participar, a razão para manter-se participando e

uma escala por meio da qual ele define seu tipo de participação, se presencial e/ou on-line,

através do Facebook. Indagamos também a relação com a cultura brasileira, o que considera

importante preservar e os hábitos e os costumes relacionados com a cultura que são mantidos pela

família. Concluímos com uma pergunta em aberto de forma que o participante pudesse ter um

espaço de livre expressão.

ANÁLISE DE DADOS

Para Stake (1994), ao se desenvolver um estudo de caso, busca-se o que é comum e

ordinário em um fenômeno, de forma que este possa ser entendido em sua especificidade e

complexidade, aproveitando o rico material das vivências e experiências de cada participante.

Um caso é uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas, sendo o

mais importante otimizar a compreensão do caso em vez de privilegiar a generalização para além

deste.

Para analisar o material obtido, seguiremos sua orientação no sentido de buscar tanto

o que é comum quanto o que é particular, de modo a retratar a natureza do caso , seu

histórico, o contexto (físico, econômico, político, legal, estético etc.) e as múltiplas

informações a seu respeito, gerando um estudo aprofundado do material coletado e levando

em conta o conteúdo das informações articulado ao arcabouço teórico. (STAKE, 1994).

De modo mais específico, seguiremos as orientações de Alves e Silva (1992), iniciando o

trabalho de sistematização das informações obtidas, relativas às questões advindas do problema

de pesquisa em um movimento constante em várias direções: das questões para a realidade das

informações obtidas e destas para a abordagem conceitual, até que a análise atinja pontos de

“desenho significativo de um quadro”, multifacetado, sim, mas passível de visões compreensíveis.

61

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa serão apresentados obedecendo à sequência proposta pelos

objetivos específicos, com o intuito de compreender o funcionamento de uma associação de pais

imigrantes brasileiros na Espanha.

Os objetivos específicos os quais nos propusemos a discutir são: a) compreender a

formação, o funcionamento e a manutenção de uma associação de pais imigrantes brasileiros

domiciliados na Espanha; b) compreender como o imigrante se relaciona com a associação e qual

o significado desta para sua família; c) identificar como a associação de pais imigrantes

brasileiros atua na manutenção da relação com a cultura brasileira.

A. A Associação pesquisada: formação, funcionamento e manutenção

As informações de que dispusemos sobre a Associação foram coletadas a partir

de entrevistas on-line realizadas através do Skype com a presidente, a secretária, que vem a ser

também uma das professoras, a coordenadora da comissão de eventos, que vem a ser uma das

administradoras da fanpage no Facebook, e uma conversa por WhatsApp com o pai idealizador

da Associação. Além das entrevistas realizadas, recebemos por e-mail a cópia de um documento

contendo uma breve apresentação da Associação e de um relatório com o histórico da Associação

enviado pela presidente. Utilizamos igualmente as informações colhidas através do questionário

respondido por pais participantes da Associação. Trabalhamos também com observação

netnográfica e coleta de dados em mídias sociais, compreendendo a fan page no Facebook, o

grupo fechado do Facebook (no qual fomos inseridos), o blog e o site da Associação.

A.1. A FORMAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO

Segundo dados fornecidos pela presidente, por volta dos anos 2006-2008,

os usuários do Orkut constituíam comunidades on-line de interesse em comum e, dentre elas,

haviam as destinadas a imigrantes, que buscavam agregar pessoas geograficamente próximas.

Em uma dessas comunidades de imigrantes residentes na mesma cidade na Espanha, além dos

62

conteúdos publicados com temas de interesse migratório, eram postados assuntos relacionados

à família, incitando-lhes o desejo, a partir deste convívio virtual, de estabelecerem contato real.

Foi assim que no ano de 2007 um pai, imigrante brasileiro, pertencente a esta comunidade

do Orkut, com o intuito de agregar famílias que desejassem contratar uma professora para dar

aulas de português para sua filha de seis anos, além das demais crianças filhas dessas famílias,

organizou, através da comunidade do Orkut, um churrasco reunindo um grupo de 80 pessoas.

Depois desse evento, uma série de sete encontros informais com almoço para famílias de

brasileiros se sucederam em 2007 e 2008, possibilitando a troca de ideias em meio as dúvidas que

tinham de como fazer para que os filhos aprendessem a falar português e soubessem mais sobre a

cultura do Brasil. Essas inquietações ainda sem respostas os levaram a formação de uma

comunidade específica no Orkut, a das famílias imigrantes brasileiras com filhos residentes nesta

localidade. Vemos aqui como o meio virtual possibilitou o encontro desses pais imigrantes

geograficamente próximos, conectando-os e propiciando a formação de uma rede de apoio no

país de migração, iniciada a partir do uso da web.

Paralelamente, o pai idealizador da Associação mantinha seu desejo de organizar aulas de

português para crianças a um preço mais acessível do que se cobrava por aulas particulares,

projetando também a formação de uma associação em que fosse mais fácil conseguir apoio

institucional para essas atividades.

Objetivando esclarecer o que motivou a formação da Associação de pais e a sua

formalização legal obtivemos uma entrevista por WhatsApp com o pai idealizador da Associação.

O desejo de formar um grupo de pais voltado para o ensino do português e para a transmissão da

cultura foi despertado a partir da observação do vocabulário empobrecido utilizado por

imigrantes brasileiros de seu conhecimento, que migraram de áreas carentes do Brasil,

transmitindo a seus filhos uma mistura de português com espanhol, segundo ele “um portunhol

horroroso”, como língua de herança. Incomodava a possibilidade de que o convívio de sua filha

com essas crianças lhe acarretasse a perda da língua. No mais, como pai, sempre falava português

com a filha e, dentro do possível, alfabetizava a criança, mas via a necessidade de que ela tivesse

uma professora para poder lhe transmitir a língua portuguesa e a cultura brasileira.

Havia, no entanto, uma insistência no ensino formal do português, de acordo

com a responsável pela comissão de eventos, devido a uma preocupação de se manter

um contato regular com a língua portuguesa e a cultura brasileira através de atividades frequentes.

63

Enquanto os pais se ocupariam da parte informal do aprendizado, colocando os filhos para falar

com os avós por Skype, articulando encontros com outros pais cujos filhos são amigos dos seus,

indo a eventos da cultura brasileira na cidade local, etc. Assim, os filhos teriam acesso a uma

educação formal que atuaria como apoio para a educação informal recebida em casa. Lembrando

que, conforme dados em entrevista on-line com o pai que iniciou o projeto, há dez anos, quando o

grupo começou a se reunir e formou a Associação, não havia a facilidade de contato por internet

em cidades do interior do Brasil, muito menos os avós estavam inseridos no uso das TIC e,

mesmo ainda hoje, precisam de auxílio para se conectar e falar com os netos. Por isso, segundo

ele, a necessidade de se pensar em um ensino formal da língua de herança e da cultura brasileira,

e mesmo dada a sua complexidade, não poderia ser feito mediante o uso da internet.

Ainda em entrevista com ele fomos informados que a ideia de transformar logo de início o

grupo de pais em associação foi baseada na necessidade de trabalhar seguindo o caminho

institucional, para que o grupo de pais pudesse abrir portas e obtivessem apoio financeiro, tanto

da parte do país de migração quanto da parte do governo brasileiro, e assim conseguir aceder os

espaços que facilitassem a entrada de professores e alunos, já que de início não tinham nem corpo

de alunos e não podiam contar com recursos dos pais.

Dando prosseguimento ao processo de formação da associação, segundo nos informou

a presidente, por iniciativa de alguns pais que também faziam parte de uma associação de

pesquisadores e estudantes brasileiros na mesma cidade, com o intuito de dar início ao projeto,

foram procurar apoio da direção do grupo. E foi assim que, em 2009, a partir da troca de e-mails

que a diretoria dessa Associação de pesquisadores e estudantes acolheu em sua reunião mensal

um grupo de pais interessados na criação de aulas de português e cultura brasileira para seus

filhos, para que pudessem juntos discutir o assunto, propiciando que uma mãe manifestasse o

interesse em ser a educadora do grupo.

Nesse momento, eles foram procurar a ajuda do Centro de Cultura Brasileira naquela

cidade, por ser um órgão vinculado ao Consulado Brasileiro, onde já funcionava um curso regular

de português para adultos, que os aconselhou a iniciar um projeto-piloto para que, uma vez

estabelecido, fosse encaminhado um pedido ao Ministério das Relações Exteriores (MRE)

pleiteando ajuda financeira.

Para que eles pudessem alcançar seus objetivos, alguns desafios iniciais tiveram que ser

transpassados, dentre eles, a necessidade de um espaço para o funcionamento do grupo.

64

A presidente conta que foi através de empenho próprio que encontraram uma garagem onde

funcionava uma biblioteca particular que lhes cedeu o lugar de forma gratuita e, com isso, deram

início ao projeto nas manhãs de sábado em janeiro de 2010. Para cobrir os custos com materiais e

professores, as famílias participantes concordaram em arcar com uma mensalidade.

Conforme informações colhidas no documento contendo uma breve apresentação da

Associação, o grupo, seguindo as ideias de quem idealizou o projeto de se constituir uma

associação sem fins lucrativos, registrou-se junto à prefeitura da cidade local como pessoa

jurídica, valendo-se de um Estatuto e uma Diretoria composta por três membros, um presidente,

um tesoureiro e um secretário.

Nesse documento, constam as intenções que regem a Associação. São elas: “fomentar a

integração entre as famílias com crianças de origem brasileira; promover atividades

socioculturais entre famílias associadas; promover o ensino da língua portuguesa entre as

crianças e o conhecimento da identidade e da cultura brasileira, através do Projeto Educativo-

Cultural (...); promover a extensão, integração e intercâmbio cultural entre Brasil e “Espanha”11

.

A Associação, conforme dados que colhemos junto à presidente, ocupou, primeiramente,

o espaço cedido pela biblioteca particular, depois foi acolhida durante um ano e meio pelo Centro

de Cultura Brasileira da cidade. Posteriormente, passou a funcionar dentro de um Centro Cívico

vinculado à prefeitura local, onde se mantém em funcionamento e com o qual estabeleceram um

convênio que implica uma troca de favores. Da parte do Centro Cívico, ocorre a concessão do

espaço de três salas e um escritório para manter suas atividades administrativas e guardar seu

patrimônio material; da parte da Associação, o envolvimento colaborativo na organização de

eventos culturais do Centro Cívico, bem como a divulgação destas atividades.

Segundo a presidente, as atividades sociais e culturais da Associação foram organizadas e

efetivadas durante esses anos, muitas delas em parceria com outros grupos locais, além dos

eventos que promoviam a convivência das famílias associadas, fortalecendo os laços entre elas

em torno de um mesmo objetivo, o de transmitir o português como língua de herança e o legado

cultural da brasilidade para seus filhos.

Atualmente, conforme dados colhidos nas entrevistas realizadas junto à presidente, a

Associação é composta por uma diretoria de 5 membros, 2 comissões de trabalho,

de eventos e de biblioteca, 4 professoras, 40 famílias e 50 crianças. Segundo a presidente, há uma

11

Omitimos o nome da cidade de modo a preservar a identidade e o substituímos pelo país: Espanha

65

predominância feminina na liderança da Associação e nas educadoras, mantendo o padrão de

maior presença de mulheres na educação infantil.

Ainda de acordo com os dados colhidos na entrevista com a presidente e a professora, a

Associação é composta por famílias interculturais, cujos filhos frequentam mais de uma

associação educativo-cultural de nacionalidades diferentes ou estão matriculadas em uma escola

internacional (francesa, italiana, alemã), sendo que as poucas famílias monoculturais de pais

brasileiros que passam pela Associação gostam de frequentar as atividades culturais e festivas,

mas geralmente não aderem à frequência das aulas.

Das 40 famílias associadas, 20 pais responderam ao nosso questionário, o que pode

representar um grupo razoavelmente indicador de suas características. Tomando como base o

resultado do levantamento sociodemográfico que realizamos, o imigrante brasileiro pesquisado

está em média há 11 anos fora do Brasil, com uma variância de 4 a 18 anos, e as suas famílias

frequentam a Associação uma média de quatro anos e meio, uma variância de 1 a 8 anos.

De acordo com estas narrativas e a descrição dos objetivos, bem como das atividades

realizadas pela Associação, partindo da classificação empregada por Masanet Ripoll e Santacreu

Fernández (2010), podemos dizer que a Associação é do tipo cultural-recreativo ou pode ser

entendida como uma rede social categorial, pelas suas características culturais, conforme Rizo

(2004), organizada a partir de um ideal comum de pais imigrantes brasileiros, com finalidade de

promover encontros socioculturais e de ensino da língua portuguesa para seus filhos, além de

fomentar um clima de interculturalidade entre o coletivo de imigrantes, seus descendentes e o

país de acolhimento. Isso indica que a manutenção da identidade cultural é um valor central na

vida destas famílias e aponta para um tipo de migração menos focada na completa absorção à

realidade local e/ou motivada pelas diferentes nacionalidades dos pais.

A.2. FUNCIONAMENTO E MANUTENÇÃO

Analisando os documentos e as entrevistas, fica evidente que a Associação permanece ao

longo do tempo tendo como foco a manutenção da língua portuguesa e da cultura brasileira.

Conforme informações colhidas no documento contendo uma breve apresentação da Associação,

a fim de efetivar seus objetivos, ela oferece um curso de língua portuguesa e cultura do Brasil aos

sábados pela manhã, para crianças de 2 a 12 anos, além de promover uma série de eventos

66

vinculados ao calendário cultural brasileiro somada a eventos da tradição da cultura local.

A Associação possui quatro turmas de curso de língua portuguesa e cultura brasileira, uma para

cada faixa etária: de 2 a 4 anos, de 4 a 5 anos, de 5 a 7 anos e de 7 a 12 anos.

Segundo dados colhidos na entrevista on-line com uma das professoras, as atividades

propostas em sala para as crianças menores, através do contar histórias, brincadeiras populares,

cantigas de roda, dispondo muitas vezes da participação dos pais, remetem à cultura. Já com as

crianças maiores, as professoras exploram a produção de conteúdos através da leitura e da escrita.

A cada novo programa elaborado por semestre, a Associação trabalha um projeto educativo-

cultural com um único eixo temático para todas as faixas etárias, como, por exemplo, Regiões do

Brasil (eleito por eles como melhor projeto), Ciências, Olimpíadas, Teatro (Saltimbancos) e Artes

(Tarsila e Portinari), entre outros.

As três entrevistas on-line que realizamos junto à presidente, uma das professoras, e a

coordenadora da comissão de eventos, descreveram os encontros culturais e de lazer mensal

realizados na Associação de acordo com o calendário do Brasil, a saber: Festa Junina, Dia do

Índio, Dia do Brasil, Dia da Consciência Negra, Dia do Livro, Carnaval, Dia do Português como

Língua de Herança (16 de Maio), Dia das Crianças, Páscoa, Natal com almoço de

confraternização, amigo secreto para as crianças e amigo da onça para os adultos, além de festas

de aniversário, aula de capoeira, piqueniques, oficinas de artesanato, narração de histórias, idas a

espetáculos, e das celebrações locais como o Halloween, entre outras organizadas conjuntamente

com o Centro Cívico. Alguns desses eventos são abertos à comunidade e outros são exclusivos

para os associados, oportunizando as famílias associadas um maior convívio, e às crianças, uma

maior exposição à língua portuguesa e à cultura brasileira.

Conforme informações colhidas no documento contendo dados sobre a Associação,

ocasionalmente são realizadas atividades voltadas para os pais, como palestras com advogados

especialistas sobre imigração, ou com psicólogos, ou bate-papo com adultos que cresceram tendo

o português como língua de herança.

Um dos temas enfocados durante a entrevista on-line com a professora foi a preocupação

da parte das docentes no sentido de não possuírem nenhum conhecimento formalizado quanto a

didática educativa relacionada ao ensino do PLH. Frente a essa inquietação, a Associação procura

inteirar-se sobre o que as demais associações de pais imigrantes brasileiros pelo mundo planejam

e têm executado junto às crianças e, dessa forma, procuram não funcionar isoladamente,

67

mantendo entre elas um diálogo. Um desses projetos construído conjuntamente envolveu

associações de pais imigrantes na Alemanha, Áustria, Emirados Árabes, Espanha, Inglaterra e

Irlanda, e promoveu a troca de cartas e desenhos entre brasileirinhos destes países a partir de uma

temática comum, “Como é o Natal em...?”, com objetivo de que as crianças pudessem expressar a

diversidade das tradições culturais nestes países com um toque brasileiro.

Nessa mesma direção, segundo informações obtidas junto à professora, outra iniciativa

agregadora voltada para o ensino do PLH foi inspirada no I Simpósio Europeu sobre o Ensino de

Português como Língua de Herança (SEPOLH)12

, que se deu em Londres, em 2013, quando quatro

educadores com intuito de unir forças e mobilizar professores, educadores e atuantes de PLH em

toda a Europa, criaram naquele mesmo ano o Elo Europeu de Educadores de Português como

Língua de Herança (Elo Europeu)13

, englobando associações na Alemanha, Suíça, Noruega, França,

Espanha e outros países. Um dos objetivos do Elo Europeu é promover um espaço de troca entre

associações, visando a apoiar os professores quanto à programação curricular e de eventos culturais.

Essas associações e iniciativas funcionam em parceria como redes de iniciativas ou redes

associativas (RIZO GARCÍA, 2004), mantendo entre elas um vínculo formal ou informal. É por

meio dessas práticas realizadas em conjunto em torno de projetos em comum que as associações de

pais imigrantes protegem, promovem e reconstroem a identidade cultural brasileira, através de um

canal peculiar a todas, que é a língua portuguesa (ROSSI, 2012).

O documento contendo dados sobre a Associação sintetiza quatro âmbitos

diretos de atuação, qual sejam: cultural, social, econômico (relacionado à geração de renda para as

educadoras e para os artistas brasileiros a partir de produtos e atividades culturais realizadas com a

Associação) e acadêmico (condizentes às quatro pesquisas de doutorado que a Associação abriga

no momento, uma em Linguística Aplicada, outra na área de Didática e Organização Educativa,

uma terceira em Antropologia e a nossa pesquisa em Psicologia Clínica).

Além do modus operandi por meio do qual a Associação se encontra vinculada,

o que significa ter um endereço fixo, uma estrutura administrativa, um programa educativo-cultural,

está também inserida no universo das comunidades virtuais (CV), no qual possui uma fanpage

no Facebook.

12

O III Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança acontecerá em Outubro de 2017,

em Genebra. 13

Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança (Elo Europeu). Disponível em:

<https://www.eloeuropeu.org>.

68

A.3. MANUTENÇÃO

Segundo informações obtidas em entrevista on-line com a administradora

da fanpage do Facebook, o perfil dos seguidores engloba, além de alguns associados, outros

imigrantes brasileiros interessados em obter informações sobre as atividades realizadas pela

Associação, bem como de informações sobre o melhor bairro para se morar, acerca da escola

mais aconselhável para colocar os filhos, referentes ao processo de migração, etc. Nesse sentido,

a Associação atua como rede de apoio para com os pais imigrantes, respondendo as mensagens

enviadas por inBox para a responsável pela administração da página.

Como observamos, a Associação exerce entre seus membros múltiplas funções, atuando

efetivamente nos encontros presenciais, sendo que algumas funções também são desempenhadas

em ambiente virtual. Segundo Sluzky (1997), o tipo de intercâmbio interpessoal entre os

membros da rede social determinará suas funções, são elas: companhia social, apoio social, apoio

emocional, guia cognitivo e conselhos, regulação social, ajuda material e de serviços, acesso a

novos contatos e todos podem ser observados.

A administradora do grupo fechado nos informou que sua composição comporta membros

associados e não associados (444 participantes), todos acionados mediante autorização prévia de

quem gerencia o grupo (5 administradores). Por meio de observação netnográfica, constatamos

que as informações postadas sobre as atividades a serem realizadas pela Associação possuem um

caráter mais pessoal, não só na forma como são postadas, mas na forma como são comentadas,

dando a entender que as pessoas se conhecem pessoalmente. Algumas postagens vêm

acompanhadas de fotos pós-evento, e há também publicações de assuntos relevantes para os pais,

como a educação de filhos bilíngues e interculturais. Todos os inscritos no grupo podem postar,

no entanto, necessitam de autorização prévia da parte de quem administra o grupo fechado.

O ambiente virtual possibilita ao imigrante o aporte de guia cognitivo e de conselhos, a

ajuda de serviços e o acesso a novos contatos (SLUZKI, 1997), além fornecer meios de

estabelecer contato com a família e os amigos, possibilitando estar presente na vida deles, mesmo

que estejam ausentes fisicamente, amenizando a perda ambígua presente na imigração (BOSS,

1999; FALICOV, 2001b, 2016).

69

Conforme a administradora da fanpage, o Facebook possibilita que o administrador tenha

acesso ao número de pessoas que visualizaram cada postagem, porém não se pode precisar este

tipo de informação na medida em que não apresenta maiores dados a respeito, como, por exemplo,

não indica se o que foi postado foi lido ou simplesmente visto.

Com base em observações netnográficas à página da Associação no Facebook, apuramos,

no mês de julho de 2017, a presença de 791 seguidores e 807 curtidas no total desde que a

fanpage foi formada. Consideramos que as postagens na fanpage do Facebook podem ser tidas

como dinâmicas, tendo em vista que as programações são sempre veiculadas. No mês de

fevereiro de 2017, por exemplo, houve 17 publicações atribuídas ao evento “Associação, Família

e Língua de Herança”, promovido pela associação junto à Universidade local e que envolveu pais,

professoras, avós e outras associações. E mesmo que, normalmente, se observe um número

menor de postagens, como sucedeu no mês de novembro de 2016, com nove publicações, elas

sempre abarcam toda a programação mensal.

No entanto, não podemos considerar que seja uma fanpage participativa. Tomando

como base os mesmos meses que mencionamos acima, no mês de fevereiro 2017, a

publicação mais admirada recebeu 38 curti (like) e 13 amei (love); e a segunda mais

pontuada recebeu 13 comentários e 13 compartilhamentos, o que vem a ser um número

pequeno para as redes socais virtuais frente ao número de seguidores que possui.

Observando os comentários publicados, constatamos que ou eles demandavam informação,

sendo respondidos pelos responsáveis, ou eram comentários elogiosos quanto ao t rabalho

desenvolvido. Quanto aos compartilhamentos efetivados pelos usuários da página,

indicam a existência de divulgação do material postado, o que significa uma valorização

do conteúdo através de sua propagação, mas cujo alcance na rede das redes, no entanto,

não é possível mensurar. Em relação ao mês de novembro de 2016, das nove postagens, a

que obteve maior participação contou com 13 curti (likes), dois compartilhamentos e um

comentário, sendo que em todas as postagens do mês havia pelo menos um curti (like).

Consideramos que o “curtir uma postagem” é uma forma simples de dizer que gostou, mas

que em si não expressa grande emoções, e que foi a partir do desejo de poder exprimir

mais amplamente suas emoções, reivindicado pelos usuários nas fanpages pessoais, que

levou o Facebook a disponibilizar outros botões, as assim chamadas reactions, abrindo o

leque de expressões emocionais (TEEHAN, 2016).

70

Tomando como base as respostas no questionário com relação à participação

nas comunidades on-line (Facebook e blog), todos os pais concordaram que o mais importante

são as atividades presenciais na Associação e o que elas proporcionam. Para eles, as redes sociais

na web exercem um papel importante na divulgação da cultura brasileira e das atividades

realizadas pela Associação, no contato inicial, que em muitos casos é estabelecido por este meio,

na troca de experiências e por seu caráter informativo, podendo atingir um público mais amplo,

mas que não atende à demanda de transmissão da língua e da cultura para seus filhos.

Segundo a administradora da página, muitos usuários conseguem as informações que

desejam e desaparecem, além de considerar o fato de que o público-alvo da fanpage da

Associação é formado por pais de crianças em uma faixa etária que demanda cuidado, não

disponibilizando de tempo livre para ficar lendo e comentando, ou como é possível conjecturar,

fecham-se no objetivo de ensino.

Conforme dados obtidos pela administradora da fanpage no Facebook, a Associação

manteve durante todos estes anos de funcionamento um blog que, além da divulgação das

atividades e dos eventos promovidos, fazia postagem sobre assuntos referentes à língua de

herança, bilinguismo, etc. Segundo a opinião dela, uma das funções importantes do blog durante

esse tempo foi a de manter um histórico contendo registro de tudo o que já foi feito na

Associação, com fotos, relatos, vídeos.

Acessando o blog recentemente, pudemos observar que há uma nota direcionando para o

novo site que a Associação lançou em substituição ao blog, e embora estejam ambos disponíveis,

somente o site tem sido atualizado.

O fato é que, conforme dados fornecidos pela presidente e por nossa observação

netnográfica, os pais recebem as informações das atividades e dos eventos, bem como

as comunicações enviadas pela diretoria da Associação, através de mais de um meio eletrônico,

por e-mail, através do grupo fechado no Facebook, no site e pelo WhatsApp, fora os avisos que

são dados presencialmente na Associação. A partir disso, podemos concluir a importância dos

múltiplos usos das TIC na vida do imigrante ao longo de todo o processo, desde as informações

iniciais sobre o país de migração até aquelas que no seu dia a dia lhe facilita a vida e economiza

tempo em um país em que ele não conhece nada, sem falar da importante função que exerce na

manutenção do vínculo com a família e amigos distantes, amenizando as perdas e diminuindo as

agruras decorrentes do processo migratório.

71

Assim, podemos dizer que a Associação em seu funcionamento e manutenção

se caracteriza em uma comunidade de prática (CP) envolvendo pais, filhos, professores e

colaboradores em torno de um interesse comum (WENGER, 2010), a aprendizagem

do português e a transmissão da cultura brasileira. Também pode ser entendida como uma

comunidade de aprendizagem (CA) que, por meio da colaboração e ajuda mútua dos pais e

professoras, produz a aprendizagem das crianças, instigando as professoras a buscarem métodos

novos de ensino do PLH, ou seja, aprendendo igualmente (COLL, 2004).

Além do que, se analisarmos a Associação dentro de uma proposta maior, ao estabelecer parceria

junto a outras associações e ao Elo Europeu, poderemos igualmente classificá-la como uma

comunidade de aprendizagem (CA), por envolver um grupo de pessoas com diferentes níveis de

conhecimento e experiência, que por ajuda mútua e colaboração, produzem aprendizado e

construção de conhecimento coletivo.

Essa efetividade regular presente no funcionamento da Associação, com hora e local

determinado, traduz-se na expressão maior de compromisso dos pais associados, seus filhos e

suas professoras, ou seja, é por meio de uma variedade de ações presenciais sistemáticas, formais

e informais (em casa), que a transmissão da língua e da cultura se dá. E um projeto com a

complexidade já explicada não poderia ser sistematizado através do meio on-line.

De acordo com a observação netnográfica que realizamos, podemos dizer que a fanpage

da Associação no Facebook se caracteriza por ser uma comunidade virtual de interesse (CVI),

por ser o meio pelo qual os pais imigrantes brasileiros realizam um primeiro contato, obtêm

informação sobre o funcionamento da Associação, entre outras questões inerentes ao processo

migratório, e ainda sobre diversos temas de interesse (COLL, BUSTOS; ENGEL, 2010), como

bilinguismo e educação intercultural, além de terem acesso a outros pais, membros da Associação.

Embora tal envolvimento lhes proporcione senso de pertencimento, não se traduz em substituto

do contato presencial que demanda o aprendizado da língua e da cultura.

B. O imigrante: a relação com a Associação e o significado para sua família

Considerando nosso interesse baseado na Psicologia Clínica voltado para conhecer como

imigrantes brasileiros criam e mantêm novos equipamentos sociais, como as comunidades e

associações, tendo como objetivo preservar a cultura brasileira para seus filhos que vivem no

72

estrangeiro, procuramos investigar como o imigrante se relaciona com a Associação e qual o

significado desta para a família. Para tanto, propusemos um questionário (Apêndice A) com 15

perguntas, 7 contendo informações gerais e 8 trazendo informações específicas sobre a

Associação e a relação do imigrante e de sua família com a cultura brasileira.

Das 40 famílias associadas, 20 pais imigrantes brasileiros responderam ao nosso

questionário, 15 são mulheres e 5 são homens. A média de idade dos participantes é de 40

anos, o mais novo tem 34 anos e o mais velho está com 46 anos, e todos têm filhos com idade

que compreende dos 2 aos 10 anos. Quanto à cidadania, 9 tem dupla cidadania, sendo que 6,

além da nacionalidade brasileira, possuem a cidadania espanhola e 3 a cidadania portuguesa.

Todos os participantes da pesquisa constituíram conjugalidades interculturais formadas por

15 brasileiros casados com espanhóis, 2 casados com imigrantes franceses, 1 com imigrante

belga, 1 com imigrante alemão e 1 com imigrante argentino. Essas 5 famílias diferenciadas

são compostas por terem ambos os membros dos pares conjugais como imigrantes

na Espanha e por conviverem em casa com pelo menos três diferentes culturas. Dos 20

participantes, 4 são separados ou divorciados.

Em relação à língua falada no lar, 12 famílias falam 2 línguas em casa, 7 famílias

falam 3 línguas em casa, e 1 família fala somente 1 língua em casa, o português. A língua

mais falada nestas famílias é o português, sendo falado na totalidade dessas casas, seguido do

espanhol, que é falado em 18 casas. Dos 20 pais brasileiros que responderam ao questionário,

16 pais falam somente em português com seus filhos e 4 pais falam em português e espanhol

com seus filhos.

Quanto à nacionalidade dos filhos desses casais, 13 famílias possuem filhos pertencentes

à nacionalidade brasileira e espanhola, 1 família tem filho brasileiro e português, e em 1 família

os filhos, além de brasileiros, são franceses; 2 famílias possuem filhos pertencentes a três

nacionalidades diferentes, na primeira, há filhos de nacionalidades brasileira, francesa e

espanhola, enquanto na segunda, há filhos de nacionalidade brasileira, alemã e espanhola,

além de 3 famílias com filhos de nacionalidade unicamente espanhola, o que nos leva a crer que

a mãe ou o pai brasileiro não requereu a cidadania brasileira do filho após o nascimento,

73

e por isso essas crianças não são consideradas brasileiras14

(para tanto, deverão residir no Brasil e

somente após ter completado a maior idade poderão optar pela nacionalidade brasileira).

Embora os equipamentos sociais como um todo (em nosso caso, a Associação e as mídias

sociais como Facebook, site, blog, WhatsApp) tenham finalidade e missões específicas, os

indivíduos que fazem parte deles o fazem de modo a ir ao encontro de suas demandas. Por isso,

é importante retomar os objetivos da Associação, conforme indicado no item A.1. – “fomentar a

integração entre as famílias com crianças de origem brasileira; promover atividades

socioculturais entre famílias associadas; promover o ensino da língua portuguesa entre as

crianças e o conhecimento da identidade e da cultura brasileira através do Projeto Educativo-

Cultural (...); promover a extensão, integração e intercâmbio cultural entre Brasil e „Espanha‟” –

e compará-los com as respostas dos participantes no que se refere a suas motivações para fazer

parte dela. O que observamos nos dados colhidos expande e restringe esses objetivos.

Tematizando as respostas obtidas nas perguntas “Cite as razões que o/a motivaram a

associar-se” e “O que o/a mantém participando?”, identificamos quatro motivos principais, que

não necessariamente são estanques: aprendizado da língua, convivência com falantes de

português, apoio aos pais para manterem a língua e a cultura, orgulho da cultura brasileira.

Embora a Associação tenha um projeto formal de aprendizado do português, o aspecto

de convivência com outras crianças “brasileiras”, que promovam sociabilidade entre iguais e

por decorrência do vínculo com a cultura brasileira, é o que mais se depreende das respostas

dos participantes, conforme pode ser obtido das respostas abaixo:

(...) Possibilidade de ter contato e conhecer outras famílias de brasileiros. (...) Mas um

dos objetivos de pais imigrantes ao participar desses grupos é que seus filhos, que

também tem a nacionalidade brasileira, mas não tem o vinculo social continuo, criem

esse vinculo social e cultural. Para conseguir alcançar esse objetivo as crianças

necessitam um contato “físico” com outros brasileiros para sentir-se parte de uma

comunidade. (M4)15

14

Segundo o art. 12, inc. I, "c" da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, “os nascidos no

estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou

venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,

pela nacionalidade brasileira.” Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/

constituicaocompilado.htm>. 15

Optamos por identificar as mães brasileiras participantes da pesquisa pela letra M seguida de um numeral e os pais

pela letra P seguida de um numeral.

74

Procurar atividades para meus filhos junto com outras crianças brasileiras, para que não

se sentissem tão isolados. (P4)

O fato dela poder manter um maior contato com brasileiros e aprender sobre a cultura

do Brasil. (M1)

Tendo em vista que esses pais e essas mães provêm de casamentos interculturais, fica

evidente a demanda da manutenção da identidade cultural brasileira e da manutenção de um

vínculo positivo com o Brasil. Assim, o contato frequente e a participação do imigrante e seus

filhos juntamente com outras famílias imigrantes brasileiras na Associação atua como ponto de

referência e rede de apoio, tanto no processo de adaptação à nova cultura como na transmissão da

cultura de origem a seus descendentes, oferecendo um apoio significativo no exercício da

parentalidade para o imigrante e seus filhos, contribuindo para organização da família

intercultural (DAURE, 2010).

Manter uma relação com outras pessoas que passam as mesmas dificuldades e buscam os

mesmos objetivos para os seus filhos. (M10)

Reforçar o português do meu filho e o meu, já que não tenho família aqui, manter o

vínculo com a cultura brasileira, criar relações estáveis com pessoas brasileiras. (M3)

Enquanto a presidente e a professora entrevistadas afirmam o esforço dos pais

em levarem seus filhos todos os sábados para as aulas e investirem esse tempo de

suas agendas nesse projeto comunitário, e sublinham as ações realizadas por eles em casa desde

a falar com os filhos predominantemente em português, as viagens que fazem anualmente para o

Brasil, os parentes que recebem em casa, a comida brasileira que vai para a mesa, as historinhas

contadas, a música brasileira colocada no CD do carro, os almoços compartilhados com os avós

no Brasil via Skype, a comunicação com a família pela web, se cotejarmos as respostas anteriores

dos pais com essas afirmações e com a pergunta de nosso questionário – “Você mantém hábitos e

costumes da cultura brasileira em sua família? Quais?” – constatamos que os pais se esforçam

para trazer um pouco da cultura brasileira para seus filhos dentro de casa, mas, de um modo geral,

relatam pouco, e na maioria das respostas predomina a música e a comida brasileira como parte

da rotina destas famílias, dando a entender que dependem ou transferem para a comunidade de

associados esta tarefa, o que pode ser atribuído ao fato de buscarem apoio entre iguais para

lidarem com o desafio de manejar em suas casas múltiplas culturas.

75

O idioma principalmente. Escuto muita música brasileira. Sempre dou livros de

português a eles dois. Quando tenho filmes infantis em português, assistimos juntos.

Buscamos culturas populares quando vamos ao Brasil, nas poucas vezes que fomos. E

sempre que houver algo possível de participar, onde moramos, estaremos juntos

assistindo ou participando. (P2)

Considero importante que ele conheça elementos gerais da cultura brasileira, tais como

músicas, festas, brincadeiras, instrumentos, comidas, animais, regiões, personagens

conhecidos, etc. Mas, de forma especial, considero fundamental compartilhar com ele os

elementos que fazem parte da minha própria formação como brasileira. O meu objetivo é

que coisas que são tão importantes e que sinto tão parte de mim não sejam consideradas

estranhas por ele. (M2)

Abrir a porta quando a visita vai embora é sagrado, ensino a rezar, leio algumas historias

para ela, as lendas folclóricas encantam a minha filha, a cuca, o lobisomem, saci-pererê,

bicho-papão etc. Conservo algumas brincadeiras, sobretudo aquelas que se brinca com

muita gente e ao ar livre, músicas e danças e ensino o respeito pelos outros à parte de

falar em português com ela. (M10)

No geral, acho importante que vivenciem como são as festas/comemorações e a forma

de comemorá-las, o que sempre acaba envolvendo música e comida. No particular, isto é,

coisas relacionadas ao “meu lugar” (interior de São Paulo), preocupo-me em transmitir

certos costumes da minha região. (M11)

Quanto ao aprendizado da língua, observamos entre alguns a importância da relação entre

língua e cultura.

Como está acostumado a falar português só comigo, achei importante criar outros

momentos em que ele fosse estimulado a falar português com outras pessoas, além de ter

a oportunidade de conhecer elementos da cultura brasileira que, por alguma razão, eu

não pudesse ou não tivesse a ocasião de apresentá-lo. (M2)

A preocupação que minha filha falasse bem o meu idioma e conhecesse a minha

cultura. (M11)

Embora o aprendizado da língua apareça como importante e o pai idealizador do projeto

que levou à criação da Associação se preocupe com a qualidade do português falado por sua filha,

a atitude da maioria dos pais parece mais instrumental ou subsidiária aos seus próprios limites em

manter a língua portuguesa em casa. Assim, observamos:

Reforçar o aprendizado do português para minha filha, já que em diversas situações

ela tem vergonha de falar o português porque se sente diferente em respeito ao seu

entorno. (M10)

Para mim é um pouco difícil manter o uso do português em casa, já que passo todo o

dia falando espanhol, e acabo falando espanhol também em casa. As atividades na

Associação ajudam a que as crianças aprendam um pouco mais o idioma. (P1)

76

Além obviamente da língua, tudo aquilo que transmita os valores de acordo com a

educação, por exemplo coisas da infāncia que inspiren doçura, contacto com a natureza,

alegría, musicalidad, etc. (M13)

A língua e a cultura para os pais tende a ser o meio de manter o apego à sua própria

identidade cultural quando provavelmente a adaptação ao país de acolhimento já o tornou

bastante aculturado, como observamos no registro em “portunhol” da M13. Assim, a Associação

torna-se um espaço de preservação, onde se pode manter algo perdido, mesmo que de modo

ambíguo, pois se por um lado a família, os amigos e os lugares queridos foram deixados para trás

no Brasil, por outro eles se fazem presente na mente do imigrante, que busca através do convívio

social com os compatriotas, na Associação, manter-se conectado à sua cultura.

O apego à identidade cultural e a transmissão da cultura aos filhos estão relacionadas ao

vínculo que o imigrante mantém com a sua família de origem e ao país de nascimento, uma

afetividade que pode aproximá-lo ou distanciá-lo de suas raízes culturais. A expressão dessa

afetividade pode conter, em alguns casos, dependendo das experiências vividas, sentimentos de

orgulho e, em outros, de vergonha pela nacionalidade brasileira.

O idioma, as raízes e tudo que se refere a cultura brasileira, porque é um país com uma

imensa diversidade, o orgulho de ser brasileira, tentar transmitir o que puder às minhas

filhas, desfrutar dos gibis (Monica, Cascão, Monteiro Lobato) sem esquece da MPB.

Quero que elas desfrutem e se sintam orgulhosa falando e descobrindo as raízes e a

cultura brasileira. (M5)

Transmitir aos filhos o orgulho que sentimos pelo nosso país ao ponto de que para eles

não seja uma imposição o fato de falar português, por exemplo, mas muito mais do que

isso, uma nova possibilidade, que lhes permite ser mais abertos, mais capazes de

compreender os outros e o mundo. (M13)

Na idade que meus filhos estão, só busco que eles tenham conhecimento do idioma

mesmo. Com o tempo espero que eles entendam mais o quadro geográfico, econômico e

social do Brasil. (M7)

Consideramos que na busca por estratégias frente à demanda da transmissão

da língua e da cultura a seus filhos, os imigrantes brasileiros necessitam lidar com

os sentimentos ambíguos, com a perda ambígua e com o ganho ambíguo inerente ao processo de

migração. Assim, a convivência, o contato frequente com outros imigrantes, vem mitigar a perda

ambígua ao mesmo tempo em que fornece apoio para transmissão e manutenção da língua e da

cultura, depreendendo de si orgulho pelo país de origem muitas vezes alicerçado em sentimentos

ambíguos que o impulsionou a migrar. Olhando para o passado e suas histórias e ao mesmo

77

tempo para o futuro que deseja construir, o imigrante se vê obrigado a lidar com o ganho

ambíguo, com as suas incertezas, na esperança de colher o que plantou, fruto de investimento,

de perdas e ganhos.

C. Identificar como a Associação de pais imigrantes brasileiros atua na manutenção da

relação com a cultura brasileira

Os participantes ressaltaram cinco formas de atuação da Associação que consideram

importantes na manutenção da relação do imigrante e de sua família com a cultura brasileira, a

saber: a ação comunitária dos pais em torno de um objetivo em comum, o aprendizado da língua

e a transmissão da cultura com base em um projeto pedagógico, práticas interculturais,

desenvolvimento de uma identidade cultural afetiva e a parceria entre família e Associação na

transmissão da língua e da cultura. Lembrando que estas formas de atuar se misturam e se

complementam.

Como já vimos, as famílias participantes da nossa pesquisa são interculturais,

e um dos recursos que recorreram para preservar a identidade cultural brasileira foi se agregarem

em comunidade, possibilitando a esses pais um lugar de pertinência e reforço identitário na

educação de seus filhos entre iguais.

O simples fato de estar com pessoas do Brasil e falar português é por si só uma forma

de preservar a cultura brasileira. Uma comunidade como a “Associação” contribui

especialmente para essa preservação já que mantêm vivos aspectos muito importantes

da cultura brasileira, como a música, as comidas, as brincadeiras de criança, as

festas populares, os diferentes sotaques e maneiras de viver no Brasil, e sem dúvida

o idioma. (M1)

São de extrema ajuda e importância já que tudo que é feito compartilhado com pessoas

afins (mesma origem, cultura, etc.) gera mais satisfação e cumplicidade na hora de

expressar os costumes e apresentá-los/vivenciá-los com as crianças. (M14)

Acho que, a partir do momento em que se juntam várias pessoas com algo em comum,

nesse caso (apesar da diversidade), a cultura brasileira, as pessoas atuam, mesmo que de

forma inconsciente, tentando preservar esse bem comum. Por isso, as comunidades de

imigrantes têm um papel importante na preservação da cultura. Entendo que as

atividades presenciais são importantes para consolidar o vínculo entre as famílias de

brasileiros na “Espanha”, que acho é um dos principais objetivos da „associação‟. (M4)

78

O aprendizado da língua e a transmissão da cultura vêm a ser a questão motivacional

central dos pais ao se proporem a formação da Associação, embora tais questões apareçam

sempre articuladas com outros fatores como aqueles inerentes às famílias interculturais. Nesse

sentido, a formação de rede de apoio entre os associados é valorizada tanto quanto um projeto

pedagógico apropriado.

Penso que o objetivo de qualquer comunidade de imigrante antes de qualquer coisa,

quando surge a ideia de existência, é a conservação da sua identidade cultural,

já que, uma vez que estamos inseridos dentro de outra cultura, é muito fácil ir perdendo

facetas da nossa, sobretudo à medida que vai passando o tempo, por isso é sempre

positivo iniciativas para preservação a cultura de qualquer comunidade, e se a parte tem

um fundo pedagógico, melhor ainda. A atenção e o projeto pedagógico diferenciado,

manter uma relação com outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e buscam

os mesmos objetivos para os seus filhos. (M10)

A interculturalidade vivenciada pelas famílias em seu interior, demanda da Associação

práticas que considere as múltiplas culturas que elas convivem.

Primeiro, eu acho importante preservar o idioma. É para os meus filhos uma

oportunidade poder pelo menos entender o idioma Português. Segundo, mais que

aspectos da cultura brasileira, eu acho importante que os meus filhos entendam desde

pequenos que são um pouco de aqui e um pouco de lá. Quero dizer, que eles cresçam

com a ideia de que são espanhóis mas também um pouco brasileiros. Acho que isso lhes

fará ver o mundo com mais perspectiva quando sejam maiores. Eu acho que o simples

fato de que pais e crianças se relacionem com outros pais e crianças brasileiras, é o

mecanismo mais importante de transmissão ou preservação da cultura. (P1)

É no processo de aprendizagem da língua e da cultura, nos rituais comunitários e nas

rotinas familiares, que se dá o desenvolvimento da identidade cultural. Nessas vivências

constitutivas, o valor afetivo carregado de pessoalidade, que é atribuído pelos pais à pátria, torna-

se um diferencial na construção do pertencimento.

Considero importante que ele conheça elementos gerais da cultura brasileira, tais como

músicas, festas, brincadeiras, instrumentos, comidas, animais, regiões, personagens

conhecidos, etc. Mas, de forma especial, considero fundamental compartilhar com ele os

elementos que fazem parte da minha própria formação como brasileira. O meu objetivo é

que coisas que são tão importantes e que sinto tão parte de mim não sejam consideradas

estranhas por ele. (M2)

79

Tanto o papel da Associação quanto o da família na transmissão da língua e da cultura é

considerado como importante pelos participantes. As histórias contadas da infância dos pais aos

filhos, as rotinas familiares recheadas de pessoalidade, somada as vivências em grupo de iguais

proporcionadas pela Associação dão o toque de equilíbrio necessário à jornada de pertencimento

tão necessária ao ser humano.

A questão é simples, uma comunidade que se junta para falar a língua, cantar,

fazer brincadeiras no idioma, festinhas com comidas típicas, acende a chama da cultura,

nos faz sentir em casa, pertencentes ao que já somos e um pouco satisfeitos que nossos

filhos compreendam melhor de onde viemos, por mais que em minha opinião o trabalho

mais intenso é em casa, falar com eles na língua materna, cozinhar as coisas da terra

natal, colocar para elas canções de que eu gosto, enfim, o trabalho da associação é

muito importante como reforço e também para que a criança perceba que não está em

uma bolha, que existe um mundo além da sua mãe, que compartilha com ela esta forma

de ser. (M8)

Podemos constatar nas práticas empregadas pela Associação o tripé destacado por Lico

(2011, 2015), em que atuam de forma integrada a família, a comunidade (associação) e o

professor de LH, tendo como objetivo principal o fortalecimento do vínculo identitário dos filhos

dos imigrantes.

Os resultados de nossa pesquisa mostraram que a ação comunitária dos pais é centrada

em torno de um objetivo em comum: o aprendizado da língua e a transmissão da cultura, e tem

como base um projeto pedagógico que valoriza as práticas interculturais, o desenvolvimento de

uma identidade cultural afetiva, a convivência com falantes de português, sendo esses os meios

encontrados pela Associação para manutenção da relação com a cultura brasileira. A participação

do imigrante e seus filhos juntamente com outras famílias imigrantes brasileiras na Associação

fornece aos pais pertinência, informação, apoio emocional, convívio social, proporcionando rede

de apoio e ponto de referência significativo no exercício da parentalidade, contribuindo para

organização da família intercultural.

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto atual, em que as imigrações se dão, não é mais o mesmo do passado devido ao

processo de globalização da economia, ao aumento da facilidade de mobilidade das pessoas e a

grande transformação causada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Não mais

as longas esperas por notícias e informações de parentes e amigos distantes e as expectativas

carregadas de ansiedade por não saber nada ou bem pouco sobre o novo país. Através da internet,

é possível acessar o Google Maps e ver, mesmo antes de sair de seu país, as ruas, as casas e a

cidade onde passará os próximos anos de sua vida. Com apenas um click, o imigrante do século

XXI obtém informações e dicas nos diários virtuais (blogs) de compatriotas já adaptados,

amenizando a sua angústia antes de migrar, além de poder falar, ouvir e ver em tempo real seus

amigos e familiares que ficaram no país de origem.

Foi no despontar dessa nova era tecnológica, que os brasileiros participantes desta

pesquisa migraram para a Espanha. E, para aqueles que embarcaram nessa, que atravessaram suas

fronteiras, que mudaram de trabalho, de casa e de país, seja por demanda de aperfeiçoamento

acadêmico ou em busca de melhor qualidade de vida, mesmo de posse de uma gama de

informações, certamente enfrentaram muitos desafios.

Esses brasileiros migrantes conheceram uma nova cultura, novas feições e línguas. Gentes

de toda parte do planeta. Apaixonaram-se e casaram-se com parceiros pertencentes à outra

cultura (francesa, alemã, espanhola, etc.) e com eles tiveram filhos. E se já é complicada a

educação de filhos dentro da mesma cultura e língua, com ambos os pais pertencentes à mesma

nacionalidade, com rituais e rotinas semelhantes, imagine dentro de um contexto de tríplice

influência cultural?

A partir dessas inquietações e desafios, surgiu a demanda por busca de apoio através

das redes sociais virtuais. Consideramos que as redes sociais virtuais têm um papel primordial na

imigração atual ao contribuir para a manutenção do vínculo com familiares distantes e ao auxiliar

na criação de uma nova rede de apoio na medida em que conectam pessoas que possuem um

objetivo em comum e estão próximas geograficamente. Assim, a questão, motivo de preocupação

desses pais, encontra aporte em outros pais, fazendo emergir uma rede social estratégica que vem

81

atuar na manutenção da saúde mental dos imigrantes brasileiros, ajudando-os na formação e

na manutenção de vínculos identitários com a família no Brasil e com a cultura brasileira.

Encontramos resultados semelhantes à pesquisa de Daure e Reveyrand-Coulon (2009)

quanto ao apoio social oferecido pelo grupo de compatriotas aos imigrantes no exercício da

parentalidade no que tange o reforço identitário. A rede de apoio que os imigrantes formam com

outros pais na Associação é citada pelos participantes de nossa pesquisa como uma das funções

e motivo principal para formação e manutenção da mesma. Como percebemos em nosso estudo,

o grupo de compatriotas atua como apoio no exercício da parentalidade, na referência e no

suporte para a formação identitária de seus filhos. Uma identidade multifacetada em que se

amalgamam e interatuam componentes culturais diversos e onde o vínculo com o país de origem

dos pais aparece como algo a ser preservado, levando-nos a perguntar como serão no futuro esses

cidadãos multiculturais, em que viverão e que línguas falarão?

As propostas de equipamentos sociais como os que foram analisados nesta Tese têm

despertado iniciativas semelhantes nos cinco continentes, com pelo menos 25 projetos

preocupados com a transmissão da língua de herança e da cultura brasileira, o que vem ratificar a

necessidade de novas pesquisas e estudos que possam gerar diferentes formas de suporte

operacional para essas famílias.

Algumas políticas públicas do governo brasileiro têm sido empregadas com relação às

comunidades da diáspora (BRASIL, 2012), fruto de diálogos que vem sendo realizados entre as

partes. Certamente, é o início de um processo que implicará em diálogos constantes e na escuta

das novas demandas que tendem a despontar, tendo em vista se tratar de projetos com pouco

tempo de funcionamento, o que significa que os brasileirinhos inseridos nessas comunidades e

associações de pais ainda não chegaram à adolescência, etapa do ciclo vital em que ganham mais

autonomia e possuem um maior leque de convivência social com a cultura em que estão inseridos.

O imigrante brasileiro transportado para terras distantes enfrenta múltiplos desafios ao

receber a influência de diferentes sistemas culturais e ser obrigado a negociar com essas novas

culturas, a do país de migração e a do país de seu cônjuge, sem que perca a sua identidade,

necessitando aprender a falar duas ou mais línguas, a negociar e traduzir entre elas, a habitar no

mínimo duas identidades, a viver entre a tradição que buscam preservar e a tradução que são

levados a fazer de si mesmos.

82

Consideramos que um estudo longitudinal acompanhando as famílias interculturais e

seus filhos acrescentaria maior entendimento sobre todo o processo de transmissão da cultura

e da língua de herança, além da possibilidade de ampliar o conhecimento sobre os percalços

vivenciados por essas famílias, suscitando discussões que apontariam novas estratégias para a

transmissão da língua portuguesa e da cultura brasileira.

Uma questão que fica em aberto e que requer novos estudos é o quanto da motivação

depreendida pelos pais imigrantes brasileiros em relação à manutenção da língua de herança e

dos rituais da cultura brasileira está relacionado com a disputa de território entre o casal parental,

considerando a possibilidade de representar uma tentativa dos pais de dividir de igual modo a

influência que exercem sobre o filho, além do sentimento de medo que o filho venha a se

distanciar caso não seja educado dentro dos mesmos padrões culturais.

Não podemos deixar de considerar o impacto da internet não somente na migração como

na elaboração desta Tese. Só de imaginar como as pesquisas eram feitas antes de 1980 no Brasil,

demandando do pesquisador horas debulhadas em livros na biblioteca, fazendo uso das famosas

máquinas Olivetti, sem que pudessem facilmente corrigir seus textos, quanta diferença. Em nossa

pesquisa, por um lado, através da internet, pudemos acessar as comunidades virtuais de pais

imigrantes, saber de suas atividades pelo Facebook, realizar as entrevistas por meio do Skype,

receber e enviar e-mails aos participantes, comunicar-se com eles através do WhatsApp, interagir

no grupo fechado do Facebook, ter acesso a journals de diferentes partes do mundo, corrigir texto

em poucos clicks, até mesmo receber orientação para elaboração desta pesquisa, enfim, foi por

meio das TIC e através da netnografia que tornou-se possível a construção desta Tese.

Por outro lado, também traz uma das limitações de procedimento de nossa pesquisa,

pois para compreender melhor as motivações parentais e como a identidade cultural

se preserva no cotidiano familiar fora da Associação, teria sido importante trabalhar com os pais

valendo-se de entrevistas em profundidade, mas, quando tentamos, não houve adesão e a

justificativa da vida assoberbada talvez também indique limitações na motivação das pessoas

de trabalhar via Skype ou outros dispositivos tecnológicos, sem a presença e o estabelecimento de

um rapport presencial com o pesquisador.

83

Outra limitação de nosso estudo refere-se ao fato de a Associação de pais imigrantes

aqui estudada se destacar pelo nível cultural diferenciado, sem que possamos saber se as

mesmas preocupações estariam presentes entre aqueles que não dispõem de nível econômico

e cultural semelhantes ou com menos recursos para lidar com a tecnologia.

Evidenciou-se em nossa pesquisa o importante papel desempenhado pelo uso das TIC na

vida do imigrante, no entanto, consideramos que ainda há muito a ser desenvolvido e/ou utilizado

(além do que já existe no mercado). Nessa direção, sugerimos, por exemplo, o recurso de

videoaulas envolvendo toda a família e a utilização de plataformas de games interativos e

integrativos com a possibilidade de participação de familiares e amigos do país de origem, tendo

como foco uma educação cultural calcada na interculturalidade. Tais recursos maximizariam o

que já vem sendo feito através das associações de imigrantes e das famílias, além do que poderia

ser usado como aplicabilidade terapêutica.

Nesse sentido, a Psicologia Clínica caminha a passos lentos, conservando as devidas

precauções, demandando o desenvolvimento de pesquisas sobre a aplicação das TIC na saúde

mental que englobe questões pertinentes às famílias interculturais que vivem em contexto

migratório.

84

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94

APÊNDICE A – Questionário

A mobilidade humana facilitada pelo aprimoramento tecnológico dos meios de transporte e

comunicação tem levado muitas pessoas para além de suas fronteiras geográficas. No entanto,

mesmo habitando novas terras, a busca por comunidades tem sido valorizada pelo migrante.

Esta pesquisa está sendo desenvolvida pela psicóloga Carolina Tavares da Silva Louback como

parte de sua Tese de Doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica

da PUC-SP, e tem como objetivo compreender como as comunidades na web e as comunidades

presenciais de imigrantes podem atuar na preservação da cultura brasileira.

Caso você se disponha a contribuir para esta pesquisa, deverá ter nacionalidade brasileira; ser

imigrante; ter pelo menos um filho de mais de 2 anos e menos de 12 anos, nascido no exterior e

ser membro de uma comunidade de imigrantes há pelo menos 6 meses.

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Esta pesquisa tem como objetivo compreender como as comunidades na web e as comunidades

presenciais de imigrantes podem atuar na preservação da cultura brasileira. Foi desenvolvida pela

Carolina Tavares da Silva Louback, Psicóloga e Doutoranda do Programa de Estudos Pós-

Graduados em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a

orientação da Profa. Dra. Rosane Mantilla de Souza.

A pesquisa consiste de 1 questionário cujo tempo aproximado de resposta tem sido de 20

minutos. Os dados serão utilizados de maneira confidencial e quando a pesquisa for publicada

não haverá possibilidade de identificação dos participantes. Esta pesquisa atende a Resolução 510

de 2016, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde do Brasil. Qualquer dúvida que

você tiver durante ou após ter terminado de responder, entre em contato pelo e-mail

[email protected] e responderemos assim que possível.

95

Fui suficientemente informado a respeito do objetivo e procedimento desta pesquisa.

Compreendo que a minha participação é voluntária, que não receberei compensação financeira e

poderei solicitar apoio em caso de desconforto produzido por minhas respostas. Estou ciente que

irei responder a um questionário via internet (on-line) e autorizo a divulgação dos resultados

obtidos no meio científico, sabendo que minha identidade não será revelada.

( ) Li e concordo voluntariamente em participar deste estudo.

( ) Não quero participar.

Informações gerais

1. Sexo: _____________________

2. Idade: _______anos

3. Nacionalidade: _____________________________________________________

4. Nacionalidade do cônjuge ou pai do(s) filho(s): ___________________________

5. Nacionalidade dos filhos: _____________________________________________

6. Tempo que está fora do Brasil: ________________________________________

7. Que língua é falada em casa:

a) Entre o casal (se for casado):__________________________________________

b) Entre pai e filhos: ___________________________________________________

c) Entre mãe e filhos: __________________________________________________

Informações específicas

8. Através de que meio soube da Associação ( ) amigos ( ) Internet ( ) outro, qual?

_____________________________________________________________

9. Desde quando participa da Associação _________________________________

96

10. Cite as razões que o/a motivaram a associar-se.

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

11. O que o/a mantém participando?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

12. Avalie o seu nível de envolvimento na Associação em termos de participação off-line

(comunidade presencial) ou on-line (comunidade na web). Explique.

13. Quais as coisas que você considera importante preservar e/ou transmitir da cultura brasileira?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

14. Você mantém hábitos e costumes da cultura brasileira em sua família? Quais?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Off-line On-line

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15. Outras informações que você considera importante me apontar no que se refere ao objetivo de

meu trabalho – compreender como as comunidades na web e as comunidades presenciais de

imigrantes podem atuar na preservação da cultura brasileira.

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Contato da Pesquisadora:

Psicóloga Carolina Tavares da Silva Louback / +55 (21) 98878-9698 (WhatsApp)