221
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO TEREZA CATARINA FURTADO LOBATO PROINFO INTEGRADO À FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO AMAPÁ: CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE SÃO PAULO 2010

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017. 2. 22. · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo programa de estudos pÓs-graduados em educaÇÃo: currÍculo

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

    TEREZA CATARINA FURTADO LOBATO

    PROINFO INTEGRADO À FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO AMAPÁ: CONSTRUINDO UMA

    IDENTIDADE

    SÃO PAULO 2010

  • TEREZA CATARINA FURTADO LOBATO

    PROINFO INTEGRADO À FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO AMAPÁ: CONSTRUINDO UMA

    IDENTIDADE

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação: Currículo, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando José de Almeida.

    SÃO PAULO 2010

  • TEREZA CATARINA FURTADO LOBATO

    PROINFO INTEGRADO À FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO AMAPÁ: CONSTRUINDO UMA

    IDENTIDADE

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação: Currículo, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando José de Almeida.

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Fernando José de Almeida - Orientador Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

    Profª. Drª. Maria da Graça Moreira Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

    Profª. Drª. Marta Campos Maia Fundação Getúlio Vargas - FGV

  • AGRADECIMENTOS

    A todos que contribuíram com seu apoio por meio de palavras, gestos simples de

    amizade e companheirismo, durante a minha trajetória no curso de Mestrado no

    Programa Educação: Currículo da PUC-SP e na conclusão desta Dissertação.

    Especialmente, agradeço ao Prof. Dr. Fernando José Almeida, pelo grande incentivo

    à construção deste trabalho, sendo sempre atencioso e habilidoso em suas

    orientações, além de sua criticidade para com as questões que foram realmente

    relevantes para o desenvolvimento da presente pesquisa.

    À Prof.ª Drª. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, Coordenadora do Curso

    Educação: Currículo, por compartilhar sua larga experiência com seus alunos, de

    modo decisivo para minha trajetória acadêmica.

    À Profª. Drª. Marta Campos Maia da Fundação Getúlio Vargas, pela leitura atenciosa

    e criteriosa de todo o meu trabalho, com contribuições e observações

    completamente necessárias para o amadurecimento de minha pesquisa.

    À Profª. Drª. Maria da Graça Moreira, professora do Curso, que muito contribuiu com

    suas observações e colocações precisas.

    A todos os meus professores do Programa Pós-Graduação em Educação: Currículo,

    que por meio de suas disciplinas ampararam a formação das bases teóricas da

    minha Dissertação.

    À Secretária do Programa Educação: Currículo, Maria Aparecida da Silva (Cida)

    que, com alegria, dedicação e disponibilidade, atendeu a todas as minhas

    solicitações.

  • Às amigas e colegas do Programa Cristiane Tavares e Cleide Muñoz, pela ajuda

    com anotações, observações e palavras de apoio, que tanto contribuíram para a

    finalização de meu trabalho.

    À minha grande amiga Aline Kátia Cerqueira, que sempre me ajudou em todos os

    meus projetos, com amizade e dedicação e principalmente, no envio do material

    para a coleta de dados, pois, sem isso, seria impossível a realização da minha

    pesquisa.

    Ao amigo e colega de trabalho Joselito Ferreira, pelo apoio incondicional que

    sempre me dedicou.

    Ao Núcleo de Tecnologia Educacional Marco Zero do Amapá (NTE/AP), Gerência

    Geral e colegas de trabalho, por auxiliar-me nesta jornada.

    Ao Marcos, meu companheiro e a minha família que, com paciência e amor,

    ajudaram e contribuíram para eu ter serenidade ao concluir o Mestrado.

  • RESUMO

    Este trabalho desenvolve uma investigação sobre o Curso de Formação Continuada de Professores da Rede Pública de Ensino do Estado do Amapá em Tecnologias na Educação, como proposta do Programa Proinfo Integrado, a fim de auxiliar os professores no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), nas escolas, entre o período de 2009 a 2010. Dessa maneira, busca-se apresentar alguns aspectos analisados das políticas de inserção de tecnologias, tais como: os critérios, as alternativas, os ajustes e os mecanismos encontrados pelo NTE/AP para fazer adaptações, atender às dificuldades ao longo do processo de implementação que é efetivada, no âmbito escolar, por meio da construção de práticas que favoreçam os professores da integração das TICs ao currículo. Esta pesquisa tem como objetivo melhorar o entendimento de como os professores estão compreendendo e assimilando as propostas de implantação das tecnologias no âmbito escolar, verificando, dentre suas perspectivas de trabalho, suas necessidades de mudanças, para se adequarem às novas exigências do contexto social e educacional. Assim, uma dessas exigências atuais seria promover uma cultura digital, a fim de integrar as tecnologias ao currículo e desenvolver atividades com projetos de aprendizagem que propiciem aos alunos um conhecimento interdisciplinar, com o uso das TIC de forma inovadora. Nas considerações desta pesquisa, o que se almeja é que o NTE/AP inicie uma proposta ampla que atenda às necessidades das escolas, na construção de planejamento integrado, através do fortalecimento dos núcleos escolares que têm papel decisório na formação de seus professores e na formulação de mecanismos de avaliação e de adoção de tecnologias, nas escolas.

    Palavras-Chaves: Formação de Professores; Tecnologias na Educação; Currículo; Políticas Públicas; Proinfo.

  • ABSTRACT

    This paper develops a research on the continuing teacher education to adopt educational technologies at public schools in the state of Amapá, as proposed by Proinfo Integrated Program to assist teachers in using the Information and Communication Technology (ICT), in the period from 2009 to 2010. We seek to present some analyzed aspects established in the policies to introduce technologies, such as the criteria, the alternatives, the settings and mechanisms launched by NTE/AP to make adjustments to solve the difficulties along the process to implement the integration of ICT into the curriculum, carried out in the schools by developing practices which support teachers. This research aims to improve the comprehension of how teachers understand and assimilate the proposal to implement the technology in schools, what are their needs of changing according to their perspectives of work, suiting the new requirements of social and educational context. One of those current requirements would be to promote a digital culture in order to integrate technology into the curriculum, and adopt activities to develop learning projects that provide students with an interdisciplinary approach, with the use of ICT in innovative ways. This research aims that the NTE/AP initiates a broad proposal that meets the needs of schools, in the construction of integrated planning, strengthening the students, who have a decision-making role in the upbringing of their teachers and in the conception of mechanisms of evaluation and use of technology in schools.

    Keywords: Continuing Teacher Education; Educational Technologies; Public Politics; Curriculum, Proinfo.

  • LISTA DE TABELA

    TABELA 1 Estimativa da Proporção Relativa do Investimento Direto em Educação, por Esfera de Governo - Brasil 2000 – 2007.....

    32

    TABELA 2 Variação percentual do gasto com educação em relação ao PIB..............................................................................................

    33

    TABELA 3 Professores participantes da formação continuada no uso das tecnologias educacionais pelo nte marco zero..........................

    119

    TABELA 4 Os programas distribuídos nas escolas da rede pública da Rede Estadual no período de 1998 a 2009...............................

    122

    TABELA 5 Extraída dos Questionários de Sondagem do Primeiro Momento.....................................................................................

    131

    TABELA 6 Categorias Extraídas dos Fóruns de Discussão Bloco 01: unidade 01: Pensando Mudanças e Bloco 02: unidade 02: Refletindo sobre Projetos e Tecnologias....................................

    133

    TABELA 7 Por que fazer um curso a distância online.................................

    157

    TABELA 8 Para ser um bom aluno de um curso a distância depende......

    159

    TABELA 9 A Concepção de Aprendizagem Online.....................................

    162

    TABELA 10 O Curso “Tecnologias na Educação”.........................................

    164

    TABELA 11 Você acredita que o uso das ferramentas telemáticas melhora ou potencializa o trabalho colaborativo e cooperativo na aprendizagem.............................................................................

    167

    TABELA 12 Sobre a transmissão do conhecimento e processo de aplicação....................................................................................

    170

    TABELA 13 Sobre a transmissão do conhecimento e aplicação da aprendizagem.............................................................................

    173

    TABELA 14 Quadro comparativo do segundo e terceiro momentos das principais questões da pesquisa (Fórum e questionário)..........

    176

    TABELA 15 Categorias Retiradas da Reunião Pedagógica..........................

    179

  • LISTA DE FIGURA

    FIGURA 1 Tela Inicial do Curso na Plataforma E-Proinfo..........................

    91

    FIGURA 2 Localização Geográfica do Estado do Amapá..........................

    111

  • LISTA DE GRÁFICO

    GRÁFICO 1 Localização Geográfica dos Professores Cursistas..................

    126

    GRÁFICO 2 Você já fez algum Curso Online antes?....................................

    128

    GRÁFICO 3 Em que ambiente de Aprendizagem você atua ?.....................

    129

  • SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO...................................................................................... 12

    CAPÍTULO I.......................................................................................... 17

    REFERENCIAL TEÓRICO................................................................... 17

    1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL.................. 18

    1.1 CONCEITOS E BREVE HISTÓRICO................................................... 18

    1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL.................... 23

    1.3 POLÍTICAS DE INSERÇÃO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO.... 37

    1.4 HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO NO BRASIL....... 45

    1.5 PROINFO INTEGRADO....................................................................... 52

    1.6 POLÍTICAS PÚBLICAS E TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO............... 55

    1.6.1 Tecnologia na Educação: Escola e Currículo.................................. 55

    1.6.2 Formação de Professores em TIC: Práticas Curriculares e

    Competências Digitais.......................................................................

    70

    1.6.3 Políticas de Integração de Programas e Mídias na Educação....... 78

    1.6.4 Cultura Digital e Alfabetização Tecnológica do Professor............. 82

    1.6.5 Formação Online - Plataforma Virtual de Aprendizagem Eproinfo 87

    CAPÍTULO II......................................................................................... 94

    CENÁRIO E ESTRUTURA DA PESQUISA......................................... 94

    2 PROBLEMAS, OBJETIVOS E METODOLOGIA DA PESQUISA....... 94

    2.1 PROBLEMA DA PESQUISA................................................................. 94

    2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA................................................................ 96

    2.3 METODOLOGIA DA PESQUISA......................................................... 97

    2.3.1 Fundamentação Metodológica......................................................... 97

    2.3.2 Contexto da Pesquisa........................................................................ 100

    2.3.3 Os Sujeitos da Pesquisa.................................................................... 102

    2.3.4 Levantamento de Dados.................................................................... 103

    2.3.5 Coleta dos Dados................................................................................ 104

    2.3.6 Conclusões da Coleta de Dados....................................................... 107

    2.3.7 Caracterização do Campo da Pesquisa........................................... 108

    2.3.7.1 Contexto da Educação na Amazônia................................................... 108

  • 2.3.7.2 Aspectos Históricos do Amapá............................................................. 111

    2.3.7.3 Centralização de Poder e Políticas Públicas de Educação no Amapá 113

    2.3.7.4 As Políticas de Tecnologias para Educação no Amapá....................... 116

    CAPÍTULO III........................................................................................ 125

    ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA.............................................. 125

    3 3. DETALHAMENTO DA PESQUISA.................................................. 125

    3.1 3.1 ESTRATÉGIAS E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS............. 126

    3.1.1 A Análise de Dados do Primeiro Momento...................................... 126

    3.1.2 A Análise de Dados do Segundo Momento...................................... 131

    3.1.3 A Análise de Dados do Terceiro Momento....................................... 155

    3.1.4 Análise dos Dados do Quarto Momento.......................................... 179

    CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 190

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 201

    ANEXOS.............................................................................................. 211

  • 12

    INTRODUÇÃO

    As tecnologias de informação e comunicação (TICs) são realidades na

    conjuntura da sociedade contemporânea. A educação escolarizada é um dos

    segmentos sociais que tem sido contemplado pelos recursos tecnológicos derivados

    da TIC, que vem recebendo, do poder público federal, grande incentivo através de

    programas de inserção de tecnologias, com parcerias entre os governos municipais

    e estaduais.

    Nessa perspectiva, o PROINFO é um dos principais programas de grande

    repercussão nacional pela sua envergadura tecnológica e pedagógica, que teve

    como atribuição financiar a entrada da tecnologia informacional e das

    telecomunicações no ensino médio e fundamental das escolas de todo o país,

    envolvendo a aquisição de equipamentos aliados à formação continuada de

    professores, de modo a montar, nas escolas, laboratórios de informática em

    parceiras com os Estados.

    Trata-se de uma nova versão designada de Proinfo Integrado (Programa

    Nacional de Capacitação Continuada em Tecnologia Educacional), criado em 2007.

    Este programa, por sua vez, tem como finalidade promover o uso pedagógico das

    diversas mídias eletrônicas, nas escolas públicas de todo o Brasil e atua em duas

    frentes: equipando as escolas com tecnologias TIC e capacitando os professores

    para o uso adequado dos recursos no processo ensino-aprendizagem, sendo essas

    algumas das respostas dadas pelo poder público federal, com intuito de atender às

    necessidades das escolas públicas.

    É um programa extenso concebido numa perspectiva nacional e que deve ser

    executado nas circunstâncias regionais, requisitando, portanto, a atenção aos

    diferentes aspectos, tais como: o envolvimento e o grau de entendimento dos

    professores com e sobre o programa; as viabilizações e as dificuldades surgidas ao

    longo dos processos de implantações e de concretização das TIC, nas escolas; e,

    principalmente, qual o papel dos parceiros ente políticos nessa conjunção (Estados

    e Municípios).

  • 13

    Sobre esse último aspecto, em particular, questões são levantadas nesta

    pesquisa, a fim de procurar estabelecer os modelos das políticas que são

    construídas ao longo da inserção desses programas junto às escolas, no

    desempenho de suas atividades pedagógicas no uso das TIC, gerando um processo

    de construção de propostas. Uma dessas questões é a seguinte: Há uma política

    que absorve os programas federais, pois ou trabalham moldando as suas

    necessidades ou, simplesmente, executam tais quais as obrigações do

    programa maior?

    Nessa questão, as Políticas Públicas têm demonstrado que essas tecnologias

    vêm se organizando como um suporte estratégico e fundamental para o campo da

    educação em todos os seus níveis de atuação. O impacto e as implicações dessa

    relação entre educação e tecnologia estão evoluindo na medida em que todas as

    condições de ensino, da escola básica aos cursos de graduação e pós-graduação,

    vêm aos poucos incorporando as tecnologias em sua prática pedagógica. Assim, tal

    panorama tem provocado um debate constante, na área dos trabalhos docentes.

    No decorrer da minha atividade profissional como professora de Ensino Médio

    da Rede Pública Estadual do Amapá, surgiu a oportunidade para os professores da

    Rede Pública de Ensino de todo País de cursarem uma Especialização em

    Informática na Educação e de trabalharem como professores multiplicadores nos

    recém-criados Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTEs) 1.

    O Estado do Amapá aderiu ao Programa Nacional de Informática

    (PROINFO/MEC) 2 em 1997, que foi intitulado Programa Estadual de Informática na

    Educação (PROINFO/AP3). Ainda, neste mesmo ano, houve a seleção de

    professores para fazerem o curso de especialização em Informática e Educação, na

    cidade de Belém do Pará, pela Universidade Estadual do Pará (UEPA), de modo

    que fui uma dos doze professores escolhidos, no processo seletivo, realizado pela

    Secretaria de Educação do Amapá (SEED/AP).

    Após o término do curso de especialização, fui lotada como professora-

    multiplicadora no Núcleo de Tecnologia Educacional Marco Zero do Amapá (NTE),

    1 Para referir ao Núcleo de Tecnologia Educacional, será utilizada a sigla NTE.

    2 A partir deste ponto será utilizada apenas a sigla PROINFO/MEC para referir ao Programa Nacional

    de Informática na Educação. 3 Para referi-se ao programa Estadual de Informática na Educação, o termo utilizado será

    PROINFO/AP.

  • 14

    dando início aos cursos de capacitação para a introdução do Programa de

    Informática nas Escolas Públicas do Estado.

    Essa minha trajetória como multiplicadora do PROINFO/AP, na inserção dos

    Programas NTICs, funde-se de certa maneira, com a própria trajetória do programa

    PROINFO no Estado do Amapá e com a trajetória de outros dez (10) professores,

    que entraram para compor a equipe do recém-criado NTE, antigo CIED4.

    No decorrer desses doze anos, desenvolvemos inúmeras atividades, todas

    ligadas à introdução de novas tecnologias educacionais no NTE/AP, no papel de

    multiplicadores do PROINFO, aproximando os professores das escolas da rede

    pública de ensino às novas tecnologias voltadas para a educação.

    Participamos da implantação dos laboratórios de informática, nas escolas de

    ensino fundamental e da formação de professores do antigo magistério, tendo como

    finalidade assessorar e construir uma base para a introdução das tecnologias nas

    escolas. Outra ação de destaque foi também a entrada de cursos pela plataforma de

    e-Proinfo5, iniciando o processo de cursos online no Estado através do curso “Mídias

    na Educação”.

    Esse curso proporcionou a oportunidade de professores, que estavam fora da

    zona urbana de Macapá, conseguirem realizar cursos de formação para lidarem com

    as novas tecnologias que estavam chegando e com as que já existiam em suas

    escolas, mas que não tinham acesso e encontravam dificuldades de deslocamentos,

    para realizarem os cursos que o NTE vinha realizando desde que se implantou o

    programa.

    Passamos por todas as etapas de efetivação, construção e transformações

    que o programa sofreu a partir de 2008, tais como: a integração dos Programas

    como TV Escola, TV Digital, GESAC, PROINFO, RIVED, UCA, Banda larga na

    Escola, Pró- formação e Mídias na Educação no Portal do Professor, intitulado de

    Programa Proinfo Integrado.

    4 CIED-Centro de Informática Educação Tecnológica

    5 e-Proinfo- Plataforma Virtual de Aprendizagem, criando pela Secretaria de Tecnologia do MEC para

    promover os cursos online. Site www.eproinfo.mec.gov.br.

  • 15

    No decorrer desse período, venho assistindo e fazendo parte desse processo

    com sucessivas mudanças, redirecionamentos de estratégias e metodologias para o

    uso significativo das tecnologias na melhoria do ensino.

    Entretanto, muito pouco, foi efetivado com adequados resultados nas escolas,

    para uma mudança radical, na forma como os professores entendem o papel das

    tecnologias e como estas devem ser aplicadas a sua prática pedagógica.

    O programa, em sua etapa de implantação, tem lacunas na execução,

    principalmente, na fase de formação dos professores, que ainda não tem efeito

    desejado. Os cursos de capacitação para o uso das TIC são oferecidos unicamente

    à distância na modalidade online, através da plataforma virtual de aprendizagem e-

    Proinfo.

    Essa questão coloca em xeque a formação de professores, pois alguns dos

    aspectos que precisam ser melhor equacionados, nas propostas de formação dos

    professores até chegarem às escolas é como incentivar a adoção dos professores

    para o uso das TIC, nas práticas pedagógicas, respeitando suas fases tecnológicas,

    antes mesmo de uma formação sólida para tal finalidade.

    Desse modo, o Estado ainda não consolidou uma política consistente que

    tenha subsídios agregadores e que apresente propostas vindas das escolas para

    criar o elo com as políticas federais. Portanto, sem essa via de mão dupla, que se

    demonstra incompleta, tornam-se ineficazes todas as propostas e suas ações, pois

    não há uma ligação das necessidades e de todas as expectativas tanto de quem

    formaliza tais políticas para uma melhoria na educação, quanto, principalmente, para

    quem tem que aplicar em suas salas de aula.

    O Amapá tem notórias situações de desvantagens tecnológicas e sociais que

    ficam evidentes na construção de modelos prontos que são postos à nossa

    realidade. Sendo assim, os programas não conseguem atingir suas metas pelas

    limitações em que foram criados, uma vez que já estamos há mais de dez anos

    fazendo uso de vários programas federais (TV Escola, Salto para o Futuro,

    PROINFO, GESAC, TV Escola e os Desafios de Hoje, Mídias na Educação, entre

    outros) que deveriam ter ajudado a condução dos docentes e dos seus alunos a

    uma mudança profunda, na forma de ensinar e produzir conhecimento.

  • 16

    No entanto, não tivemos ainda o êxito esperado por fatores que são passíveis

    de se elucidar no decorrer da pesquisa, que buscará detalhar e analisar essas

    questões pelo ponto de vista da formação de professores, nos cursos oferecidos

    pelo programa Proinfo Integrado e além do mais no Estado do Amapá, ainda não

    temos estudos relevantes dos impactos dos programas de introdução das novas

    tecnologias na Educação.

    Portanto, há uma necessidade de se fazer uma análise sobre a nova fase

    dessa política pública de inserção de novas tecnologias na Educação, visualizando

    como o Estado do Amapá equaciona essa nova versão e quais os modelos

    apresentados que compõe esse novo período do programa, assim como de que

    forma as escolas por meio de seus professores com suas realidades implementam

    essas mudanças no seu fazer pedagógico.

    No capítulo seguinte, trataremos do referencial teórico que apresenta algumas

    questões que estão presentes em nossa análise como: conceitos de política pública

    e seu processo histórico no Brasil; um breve histórico sobre as políticas de inserção

    de tecnologias, formação de professores em ambientes TIC, competências digitais e

    integração de programas e mídias e cultura digital.

  • 17

    CAPÍTULO I

    REFERENCIAL TEÓRICO

    Para esclarecer melhor o referencial teórico, será realizada uma revisão sobre

    o conceito de Políticas Públicas e seu percurso no Brasil e suas aplicações à

    Educação, assim como um breve histórico sobre as Políticas Públicas voltadas para

    inserção de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), na rede

    pública de ensino do País, com seus respectivos teóricos, que sustentam as

    questões pedagógicas dos referidos programas, nas questões da construção de um

    currículo que englobe as novas tecnologias e a formação e professores.

    Essa revisão teórica pretende apresentar alguns importantes referenciais

    sobre Políticas Públicas que são “pano de fundo” para temas maiores que precisam

    ser melhor estudado , sob a dimensão das particularidades de cada Estado e suas

    configurações políticas, com as muitas variantes que podem explicar de alguma

    forma os avanços ou mesmo retrocessos, na implantação de programas federais,

    como no caso do Proinfo Integrado na Rede Pública de Ensino do Amapá.

    A abordagem metodológica escolhida para a pesquisa foi a qualitativa com

    um Estudo de Caso, tendo como objeto de pesquisa a Formação de Professores na

    Rede Pública de Ensino do Estado do Amapá através dos cursos oferecidos pelo

    Programa Proinfo Integrado, disponibilizado na plataforma virtual de aprendizagem

    e-Proinfo na modalidade online.

    A pesquisa utilizou como método de coleta para obtenção de dados

    questionários fechados na fase diagnóstica e análise de textos extraídos dos fóruns

    de discussão do curso de formação, assim como análise de documentos oficiais

    sobre o programa, relatórios de atividades, recolhimento de depoimentos e

    entrevistas informais com os professores responsáveis pelos ambientes TIC nas

    escolas, gestores das escolas, gerentes e multiplicadores do programa no Amapá,

    que estão envolvidos na formação de professores e gestores para uso de Ambientes

    TIC.

  • 18

    1POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL

    1.1 CONCEITOS E BREVE HISTÓRICO

    O papel das Políticas Públicas na sociedade é definido pelas várias funções

    sociais possíveis de serem exercidas através do Estado, tais como: saúde,

    educação, previdência, moradia, saneamento básico, entre outras.

    É necessário que os recursos das Políticas Públicas relacionadas às

    instituições sejam relevantes, em cada área social, determinando como são usados

    para o benefício de seus cidadãos, de forma a estarem relacionados às instituições

    que são responsáveis por esse processo de investimento e que, ao final, ocorra uma

    prestação de contas públicas do dinheiro gasto, em favor da sociedade e,

    principalmente, uma apresentação das escolhas políticas para esses investimentos.

    As Políticas Públicas podem ser percebidas como o Estado em ação, ou seja,

    é o Estado implantando um projeto de Governo, através de programas, com ações

    voltadas para os setores específicos da sociedade.

    O autor Cruz (2010) faz um resumo dos conceitos de Políticas Públicas

    utilizando três autores com visões diferentes sobre o tema, em questão: Fernandes

    (2007), Verza (2000), Meksenas (2002), que ajudam a reflexão sobre o conceito de

    Políticas Públicas trabalhadas nesta pesquisa.

    De acordo com Fernandes (2007), as Políticas Públicas estão presentes em

    duas circunstâncias, que se complementam entre si: o administrativo técnico e o

    aspecto político. Para esse autor, as atividades partidárias têm caráter decisório, nas

    escolhas, pois antes do Estado investir dinheiro público em um determinado setor

    que pode ser o da saúde ou o da educação passa por três categorias que são a

    regulatória, distributiva e a redistributivas.

    Verza (2000) acredita em uma política de solidariedade humana de alcance

    geral, apesar dos novos contornos da sociedade com a globalização. Esse autor faz

    uma discussão diferente sobre a política pública, ressaltando que a pressão da

    globalização para baixo cria a necessidade do Governo buscar caminhos

  • 19

    alternativos, isto é, uma busca de um contato mais direto com os cidadãos de

    maneira a superar as formas tradicionais de se fazer política pelo menos é uma

    tendência anunciada dentro desse novo contexto mundial. A sua crença é de que

    para formar futuros cidadãos, que participem do espaço público, é necessário

    incentivar as crianças, nas escolas, a participarem de atividades políticas decisórias

    e dessa forma tornando-se cidadãos conscientes, que se preocupam com o bem-

    estar de sua escola, de sua rua e de sua cidade, nesse caso, exemplos de cidadania

    ativa.

    Já Green (2009) abre um debate sobre a nova configuração cultural que

    determina as Políticas Públicas, para a busca de estados efetivos, com cidadãos

    ativos que podem mudar os antigos valores formados, a fim de manterem as ações

    políticas dentro de uma crença sobre o desenvolvimento econômico dos estados, o

    que traria automaticamente, a distribuição de renda e a melhoria do bem-estar

    social.

    O desenvolvimento pleno dessas sociedades faz parte de uma nova

    configuração de grupos sociais com diferentes escolhas em busca de uma

    qualidade, na estruturação social da atualidade. Fazendo uso do poder que cada

    indivíduo tem numa ação direta na participação efetiva da sociedade, reforçando as

    democracias, exigindo e fiscalizando com um olhar crítico as ações de nossas

    instituições políticas no provimento de ações eficazes no desenvolvimento de todos

    ou daqueles que mais precisam.

    No entanto, Meksenas (2002), que estuda a atuação das Políticas Públicas

    através de sua influência marxista, afirma que não é possível pensar em mudança

    dentro do sistema capitalista, pois as Políticas Públicas são uma forma que o Estado

    tem de manter no poder a parte periférica da sociedade, sem formar cidadãos

    críticos para a participação política. Esse posicionamento é contrário ao pensamento

    de Verza (2000), que acredita em uma mudança vivendo em um sistema capitalista,

    criando uma política pública educacional que começa pelos municípios e se estende

    para o resto do mundo como um pensamento global.

    O pensamento desse último se aproxima muito de alguns estudiosos da

    Educação, que acreditam na construção de uma consciência crítica formada através

    da educação. Essa mesma educação que Freire (1996) tanto alicerçava em seus

  • 20

    trabalhos sobre o poder da educação para criar cidadãos participativos e

    conscientes da ação ativa, nas mudanças para uma emancipação do homem, num

    processo que ele chamou de “Pedagogia da Autonomia”.

    Para compreender a ação das Políticas Públicas é importante conhecer o

    cenário de formação que alavancaram as mudanças dos Estados em estender seus

    serviços para a sociedade.

    Hobsbawm (1995) faz uma análise das grandes mudanças que a sociedade

    europeia ocidental vivenciou com o advento do capital industrial. Houve

    transformações nas cidades e no trabalho, assim como avanços dos meios

    tecnológicos, na construção da sociedade moderna, ocorrendo a consolidação dos

    estados nacionais.

    O Estado, até o século XX, assumia o papel de prover uma série de bens e

    serviços públicos visando à justiça social. Esse processo histórico adveio de dois

    grandes movimentos da história: o primeiro foi a mudança do papel do Estado na

    economia e o segundo foi o avanço da cidadania. Dessa maneira, esses dois

    movimentos tiveram origem no período entre as duas grandes guerras mundiais e

    intensificaram-se, nos pós-guerra, a partir de 1945, com as grandes transformações

    econômicas, políticas e sociais que incidiram sobre esse período.

    Segundo Hobsbawm (1995), com a democratização política através da

    universalização do voto, as classes trabalhadoras começaram a ter

    representatividade, politicamente. Desse modo, o Estado iniciou um processo de

    ampliação e melhorias dos serviços públicos e obras de infraestrutura, modificando,

    profundamente, a dinâmica de desenvolvimento econômico no mundo, provocando

    um maior aproveitamento das economias de transporte e aglomeração, que são

    necessárias ao avanço da industrialização.

    O Estado passa a ter um papel ativo nos investimentos públicos a partir da

    crise econômica dos anos 1930, com a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Os

    investimentos públicos tornaram-se um elemento fortemente, responsável pela

    geração de emprego e renda nos países, e a regulamentação da economia por parte

    do Estado e os investimentos públicos, assim como o controle de câmbio, os juros e

    a oferta tornaram-se fundamentais para estabilizar a economia.

  • 21

    Para Sevenko (2001), a partir do início da década de 1970 do século XX, os

    Estados Nacionais iriam conhecer as crises fiscais e os endividamentos que

    passariam a comprometer o financiamento das políticas sociais. Além disso, o

    aprofundamento da globalização econômica, com a desregulamentação dos

    mercados e a modernização tecnológica e gerencial da indústria e dos serviços

    eram processos que aumentariam o desemprego e diminuiriam a capacidade de

    arrecadação tributária, tornando os governos vulneráveis no que se refere à

    manutenção de seus gastos e investimentos sociais. Diante disso, passou-se a

    exigir dos Estados Nacionais uma redefinição na forma de administrar as políticas

    sociais que agora iriam experimentar os processos de privatização.

    Apesar da crise econômica, os gastos sociais dos governos tendiam a

    aumentar. Em todo caso os países foram encontrando saídas por meio de novos

    modos de gestão na prestação dos serviços públicos com privatizações, além de

    reformas em seus sistemas de pensão e aposentadoria, que tornariam possíveis de

    conservar os direitos sociais futuros.

    Por conta desse contexto histórico, reforça-se a ideia da atuação das Políticas

    Públicas unicamente vinculadas ao setor administrativo ou técnico, mas não há a

    contemplação dos aspectos político, que fica a cargo das atividades partidária e

    eleitoral. De acordo com Fernandes (2007), que faz um estudo da definição das

    Políticas Públicas, principalmente, no Brasil, as áreas técnico-administrativas são

    importantes, mas a dimensão política faz parte desse processo decisório. O Estado

    é que faz escolhas sobre onde e como vai atuar.

    Essas escolhas, que se transformam em decisões que são condicionadas por

    interesses de diversos grupos sociais, são aquisições que se traduzem legalmente,

    em direitos ou garantias defendidos pela sociedade. Assim, o Estado terá que

    intermediar e negociar esses interesses, por meio do Governo, na busca de

    estabelecer critérios de prioridade e justiça social, visando um conhecimento político

    sobre suas funções sociais e qual o alcance delas, na coletividade.

    Segundo esse mesmo autor, existem duas fases complexas da política

    pública que estão amparadas em dois conceitos clássicos importantes, que definem

    a implementação de Políticas Públicas que são: “agenda e arenas decisórias”. A

  • 22

    partir disso, uma política pública passa a contemplar tanto a dimensão técnico-

    administrativa como a sua dimensão política.

    É a “agenda” que determina os objetos e os agentes de conflitos, no poder

    político. É o objeto dessa política, que está em jogo, em qualquer processo

    decisório, que determina ou não a participação de grupos e de indivíduos, assim

    como a entrada de outros participantes, nesse processo. O autor indica exemplos

    clássicos que é o caso das políticas de Educação, Saúde e Assistência Social, no

    Brasil. Como relação ao outro conceito, a “arena decisória”, esse tem como objeto

    de decisão político três tipos: regulatório, distributiva e redistributivas.

    A arena redistributiva intervém na estrutura econômica da sociedade, criando

    mecanismos que diminuem as desigualdades sociais. As políticas sociais, na área

    da Educação e Saúde, são exemplos de arenas redistributivas indiretas, pois

    influenciam, em longo prazo, na diminuição da desigualdade social. Por outro lado,

    os programas sociais como Bolsa Escola e Bolsa Família são exemplos de arenas

    redistributivas diretas, pois caracterizam a transferência monetária direta para as

    pessoas mais pobres da sociedade.

    Dessa maneira, o tipo de processo político é que vai determinar a qualidade,

    a eficiência, a responsabilidade e o desempenho da administração, sem

    subordinação pública dos participantes das arenas de decisão política. Essas

    decisões são determinantes devido aos seus efeitos em longo prazo, para toda a

    sociedade envolvida nesse processo. Portanto, esses são alguns pontos importantes

    para definir as políticas e seus alcances sociais dentro da esfera de poder político da

    administração pública.

    A educação no Brasil, que faz parte da agenda resdistributiva indireta,

    necessita de arranjos e composições políticas para programar melhorias e

    transformações, que são medidas de longo alcance, mas que muitas vezes precisa

    de resultados imediatos para corresponder aos recursos e aos programas.

    No capítulo seguinte, apresentaremos como as Políticas Públicas são

    estruturas, no contexto histórico da educação no Brasil.

  • 23

    1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL

    De acordo com Fernandes (2007), no processo de construção do Estado

    Brasileiro, a questão da pobreza e da desigualdade no país mostra-se como algo

    gerado por um déficit histórico de cidadania, pois vivemos sob um regime de

    escravidão por quatro séculos, nos quais os direitos civis e políticos existiam apenas

    de forma “quase abstrata”, ou seja, somente no papel.

    Portanto, a formação inicial do povo e da cultura brasileira foi um processo

    estabelecido pela desigualdade social. As decisões políticas de governo não

    passavam pela participação política popular, logo nesse processo histórico,

    estabelecido pela colonização, a construção do hábito de uma participação foi

    totalmente nula.

    Com a falta de uma participação política, criou-se uma ausência de

    compromisso dos políticos com os bens públicos. Assim, uma cultura foi-se

    construindo, no imaginário do povo brasileiro que não tinha consciência de

    participação ativa, na administração direta dos bens públicos e poder decisório,

    enquanto os administradores dos bens, muitas vezes entendiam que os recursos do

    Estado estavam atrelados aos seus bens privados.

    De acordo com Faoro (1985) essa cultura advém do patrimonialismo, que foi

    construído, na colonização do Brasil, e se perpetuou na construção da política e

    ainda sobrevive, nos dias atuais, nos momentos das decisões políticas:

    O domínio tradicional se configura no patrimonialismo, quando aparece o estado maior de comando do chefe, junto à casa real, que se estende sobre um largo território, subordinando muitas unidades políticas. Sem o quadro administrativo a chefia dispersa assume o caráter patriarcal, identificável no mando do fazendeiro, do senhor de engenho dos coronéis. Num estágio inicial, o domínio patrimonial desta forma constituído pelo estamento apropria as oportunidades econômicas de desfrute dos bens, das concessões dos cargos, numa confusão entre o setor público e o privado, que, com aperfeiçoamento da estrutura, se extrema em competências fixas, com divisão de poderes, separando-se o setor fiscal do pessoal (p. 736).

  • 24

    Não houve, na origem do Estado brasileiro, uma consciência de separação

    entre os bens públicos e os privados. Essa inversão de valores vai marcar,

    profundamente, o papel das Políticas Públicas no Brasil, criando um Estado baseado

    em trocas e clientelismo, sendo que um dos enfoques desta pesquisa fundamenta-

    se nessa questão. As variantes da política local e seus contornos de uma política de

    fundo que tem grande influência na forma de escolhas políticas para atender as

    necessidades dos Estados na implantação de determinados programas.

    É com o período Vargas, precisamente, na segunda República, que o

    Estado brasileiro, estabelece Políticas Públicas, com fins sociais em três áreas: na

    previdência e na legislação trabalhista; na saúde e na educação e no saneamento

    básico, habitação e transporte. Não cabe neste trabalho fazer uma referência dessas

    áreas, mas sim tentar compreender em que momento as Políticas Públicas para

    Educação entraram na agenda do Governo Federal, para planificar melhorias nessa

    área.

    A educação, no Brasil, segue a lógica da previdência e da saúde, ou seja,

    como um atendimento deficitário para a população pobre, de modo que a renda é

    repassada à iniciativa privada e não ocorrendo uma redistribuição de recursos para

    uma perspectiva social.

    No campo da educação, a política pública no Brasil mantém as características que também estão presente na previdência, saúde e saneamento. Segue a lógica da expansão desigual no tempo e no espaço; do atendimento deficitário à população pobre; dos gastos excessivos, que se perdem na manutenção da burocracia e pouco contribuem para os fins propostos; do repasse dos recursos a setores do empresário, na perspectiva de sua concentração na esfera privada; da ausência da redistribuição da riqueza na perspectiva social (MEKSENAS, 2002, p.116).

    Com a entrada do século XX, mudanças significativas foram sentidas, no

    Brasil, principalmente, com as duas grandes guerras que alteraram os rumos do

    capital internacional e das sociedades como um todo, mudando o foco de capitais e

    investimentos. Desse modo, partes dos grandes investimentos industriais vieram

    para o Brasil e com isso surgiram oportunidades de trabalho industrial, na zona

  • 25

    urbana, ocasionando o deslocamento do trabalhador rural para as cidades, sendo

    que esses não tinham escolarização suficiente, ou nenhuma para atender ao capital

    industrial.

    Portanto, com o surgimento dessa demanda, a alfabetização do trabalhador

    passou a ser uma questão de Estado, criando a obrigação de uma estruturação para

    a Educação e assim o governo passou a desenvolver Políticas Públicas para

    atender essa necessidade. Diante disso, temos como exemplos os programas de

    alfabetização Mobral e o atual programa Brasil alfabetizado.

    De acordo com os autores que fazem estudos detalhados sobre as políticas

    educacionais do Brasil como Carvalho (2007); Souza (2006); Vieira (2007), a política

    avançou para a educação primária pública, obrigatória e gratuita. Houve por parte

    desta, investimentos em material didático, merenda escolar e transporte escolar

    gratuitos e até houve um incentivo, em dinheiro, para que as famílias mantivessem

    os seus filhos matriculados, na escola. Outros pontos a serem destacados foram o

    combate à repetência, à evasão escolar e os programas de aceleração da educação

    dos que ficaram à margem da política o ensino supletivo e por fim o semipresencial,

    pelo rádio (Projeto Minerva) e pela televisão (Telecurso). Portanto, o financiamento

    da educação pública passou a ser prioridade como vemos na Constituição Federal

    de 1988 que determina que 25% do orçamento seja gasto em Educação.

    A educação pública evoluiu para a universalização do ensino básico, ela

    passou a ser um direito da criança, incluindo os portadores de necessidades

    especiais, na mesma turma dos demais. A etapa da quantidade foi vencida e passa-

    se a melhorar a qualidade, através da melhoria da profissionalização dos docentes,

    da modernização dos equipamentos midiáticos, nas escolas públicas, do

    financiamento de computadores para os professores e a exigência de educação

    superior para o ingresso na carreira.

    Parte do objetivo da política pública foi atingida: a formação de profissionais,

    mestres, doutores e pesquisadores para suprir a mão-de-obra qualificada, na nova

    economia industrial. Entretanto, a outra parte do objetivo não foi atingida, que era

    beneficiar as classes mais pobres, com diplomas universitários, pois, as pessoas de

    famílias mais pobres tinham de pagar para entrar nas universidades privadas.

  • 26

    Porém, essa lógica perdurou até que foi criado e desenvolvido o Programa

    Universidade para Todos através do PROUNI, que seria um sistema de investimento

    público, em financiamento do ensino superior, voltado a alunos pobres ou oriundos

    de escolas públicas, todavia esse programa não resolve os problemas sérios de

    desigualdades sociais do país, mas de alguma forma ameniza a situação com a

    entrada de alunos com renda inferior a dois salários mínimos, no ensino superior.

    Segundo Vieira (2007), as universidades públicas tem ainda um sistema de

    reserva de vagas para estudantes negros, indígenas e egressos de escolas

    públicas, mas que ainda geram muita polêmica por parte da sociedade.

    Desse modo, diante desse panorama apresentado, esses são alguns

    exemplos de programas que de alguma forma tentam amenizar as situações de

    desequilíbrio de nossas políticas para atender as camadas da sociedade que mais

    precisam.

    Neste texto, não cabe uma análise criteriosa do alcance dessas políticas e

    sim de ressaltar apenas a necessidade da apresentação de um pequeno histórico da

    evolução dessas políticas no país.

    Portanto, a questão é mostrar os principais impactos dessa política pública de

    educação, que tem como objetivo ou perspectiva a melhoria de renda da população

    em consonância com as políticas de modo a estarem afinadas com as configurações

    mundiais globalizantes.

    A partir disso, o Estado melhora a sua capacidade de honrar os seus

    compromissos perante os seus credores e sua posição perante as agências de

    classificação de risco, levando o país a se aproximar do status de grau de

    investimento e de desenvolvimento, almejado pelas agências internacionais que

    demandam grandes investimentos e pressões, para um melhor nivelamento na

    educação do país.

    No entanto, depois de mais de um século a educação continua a ser um

    problema no Brasil, pois uma grande parte de sua população, que se matricula, no

    ensino fundamental, a quantia de menos de 1% segundo Vieira (2007) consegue

    concluí-lo, assim como ainda existe um grande número de analfabeto, porque faltam

    políticas que possam diminuir as dificuldades de acesso à educação, para todas as

    camadas da sociedade menos favorecidas.

  • 27

    A sociedade brasileira não dispõe de uma base institucional histórica forte, pelo contrário, nela se dá o desafio de buscar formas de melhorar a adaptação entre o mercado, o Estado e o sistema político, a fim de se modernizar para operarem em níveis mais próximos aos observados nas sociedades avançadas e dessa forma gerarem bases institucionais mais sólidas, estáveis e legítimas (Fernandes, 2007, p. 12).

    Desse modo, o Brasil sempre esteve diante de projetos que buscavam uma

    equivalência em suas estruturas arcaicas de desigualdades sociais, que são

    gritantes, no universo escolar. Assim, diante dessa conjuntura as Políticas Públicas

    para a educação sempre foram pensadas e praticadas, no âmbito de todas as

    esferas, em uma tentativa de minimizar tais situações desfavoráveis, mas que essas

    mesmas políticas ainda não conseguiram saná-las. Um exemplo disso é a situação

    das baixas taxas de alunos matriculados, na educação básica, nos últimos anos, na

    rede pública de ensino.

    Ainda nessa perspectiva, dados consolidados pelo Censo Escolar da

    Educação Básica divulgados pelo (MEC/2008a) mostram que o número de alunos

    matriculados, na escola, caiu 1,2% em 2008 em comparação à 2007. No total, o

    Brasil tem 52.580.452 estudantes matriculados em 197.468 estabelecimentos de

    ensino.

    Outros dados de indicadores foram divulgados pelo Instituto Nacional de

    Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e o Ministério da

    Educação (MEC): uma minoria estuda na rede privada, isto é, são 7.309.742 alunos

    (ou 13,9%), em escolas particulares. Entre os 45.270.710 estudantes (86,1% do

    total) estão na rede pública, quase a metade (46,2%) e são atendidos por escolas

    municipais.

    Os dados consolidados apresentados pelo instituto confirmam a tendência de

    queda, nas matrículas da educação básica. A redução em relação à 2008 foi de

    1,2%. Entretanto, de acordo INEP, que defende que essa queda não significa que as

    crianças estão saindo da escola, já que as taxas de atendimento aferidas,

    anualmente, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE)

    apontam para um aumento da cobertura.

  • 28

    Segundo o presidente do INEP, a diminuição das matrículas que passaram

    de 53.232.868 em 2008 para 52.580.452 em 2009 está relacionada à redução das

    taxas de natalidade no país, causando a diminuição da população, em idade

    escolar. Outro fator que pode contribuir é a correção de fluxo: “com menos

    repetência há uma queda no estoque de alunos da educação básica” 6.

    Dessa maneira, esses dados provocam muitas interpretações, dependendo

    das combinações e dos contextos apresentados. A questão maior é que as políticas

    para Educação existem e não conseguem rever os baixos índices de crianças do

    ensino básico, nas escolas públicas e, portanto, de alguma forma elas não estão

    conseguido alcançar seus objetivos. Novos arranjos e escolhas políticas precisam

    ser redimensionados para promover um nivelamento nessas disparidades. Essas

    questões fazem parte do pacote de orientações das grandes organizações mundiais

    que de uma maneira direta ou indireta promovem agendas, para a discussão da

    Educação, no mundo.

    De acordo com Haddad (2008) grande parte dos fundos, para promover essas

    políticas é procedente das organizações internacionais de controle, como o Fundo

    Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do

    Comércio (OMC). Os países em dificuldades buscam recursos, em curto prazo,

    nessas entidades que por sua vez determinam quais políticas são adotadas por eles,

    em acordos unilaterais.

    Esse processo impõe pensamento de agregação de valores, que neutraliza a

    ação de países em vias de desenvolvimento ou mesmo de subdesenvolvidos no

    caso do Brasil, China, Índia e México. Essa crescente integração de economias e

    sociedades, em todo mundo, é o processo complexo da globalização, que altera

    significativamente, os fatores sociais, econômicos e políticos de qualquer sociedade.

    De acordo com alguns autores, que são críticos contundentes dos modelos

    que se estabeleceram para uma educação voltada para atender as necessidades do

    capital globalizado, como Duarte (2003); Oliveira (2000); Frigotto (1995) e Gentili

    (1995) o campo da educação foi minado diante dos debates e das reformas

    educacionais enfatizando a sociedade do conhecimento, a pedagogia das

    6 Entrevista dada pelo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    (INEP), Reynaldo Fernandes, ao jornal Gazeta do Povo em 22/04/2010.

  • 29

    competências e o enaltecimento das pedagogias do aprender a aprender e a

    pedagogia da qualidade.

    Esse panorama foi se construindo à medida que esses discursos se

    cristalizavam como um processo de apropriação dentro e fora dos espaços

    escolares, caracterizando-se como uma forma sutil, para um não entendimento das

    contradições existentes dentro do contexto educacional.

    Assim, através de políticas que pudessem desenvolver tais conceitos de

    forma ampla e através de reformulações, no âmbito educacional, sem muita

    seriedade ou de forma equivocada, não se considerava a complexidade, em que

    cada elemento se insere, no contexto da sociedade da escola, pois cada dimensão

    citada tem sua singularidade mediante o contexto, que se apresenta e que, portanto,

    não pode simplesmente ser adotada e retida de forma aleatória e despretensiosa

    pelos nosso legisladores estudiosos da Educação, cirando apenas um modismo

    “bem intencionado”.

    Nas Conferências Mundiais de Educação e nos discursos oficiais dos empresários e de muitos intelectuais como afirmativa para buscar uma educação sólida para os novos trabalhadores como uma educação básica com elementos de ascensão das condições sociais, para uma cidadania expressiva como também para o desenvolvimento de novas habilidades, competências e conhecimento técnicos necessários para moldar esse novo enfoque que somente através da educação, essa agora incrementando esses novos saberes para o modelo educacional e para sociedade. (CARVALHO, 2007, p. 48).

    Segundo Oliveira (2000), a legislação de 1996, por exemplo, teve ampla

    repercussão sobre o sistema escolar. O Governo Federal assume a definição da

    política educacional como tarefa de sua competência, descentralizando sua

    execução para os Estados e Municípios. O controle do sistema escolar passa a ser

    exercido através de uma política de avaliação para todos os níveis de ensino. No

    caso, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), criado em

    1990, implementando um novo sistema.

  • 30

    O Exame Nacional de Cursos (Provão), criado em 1996, avalia os formandos

    de vários cursos de graduação da educação superior. Desde 1998, o Exame

    Nacional de Ensino Médio (ENEM), vem sendo aplicado com o objetivo de medir os

    conhecimentos e oferecer novas estratégias de avaliação ao vestibular.

    Paralelo a essas medidas, foi desencadeada uma extensa reforma curricular,

    no ensino fundamental, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), com

    a finalidade de propiciar aos sistemas de ensino, mais especificamente para o

    trabalho dos professores, subsídios à elaboração do currículo, tendo em vista a

    construção do projeto pedagógico e da cidadania do aluno (Brasil, 1998a). Os PCNs

    integram um conjunto de publicações para 1ª à 4ª e 5ª à 8ª séries, nas diferentes

    áreas de conteúdos.

    Na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso, alguns

    programas federais foram fortalecidos e consolidados, no caso: o Programa

    Nacional de Alimentação escolar (PNAE), o Programa Nacional do Livro Didático

    (PNLD) e outros criados a partir de 1995 como o Programa Dinheiro Direto na

    Escola; o Programa TV Escola; o Programa Nacional de Informática na Educação

    (PROINFO); o Programa de Formação de Professores em Exercício

    (PROFORMAÇÃO).

    De acordo com Vieira (2007), esse conjunto de encaminhamentos são

    iniciativas que introduz uma nova orientação governamental, para a agenda da

    política educacional brasileira, assumindo assim compromisso junto à agenda

    internacional, articulada pelo Banco Mundial, no decorrer da década de1990.

    A proposta do governo de FHC para reformas na Educação foi toda alinhada

    com as diretrizes do Banco Mundial, que englobava: a redução das taxas de

    responsabilidades do Ministério da Educação com a instância executora; o

    estabelecimento de conteúdos curriculares básicos e padrões de aprendizagem; e

    implementação de um sistema nacional de avaliação do desempenho das escolas e

    dos sistemas educacionais como forma de acompanhar as metas das melhorias da

    qualidade de ensino, no país.

    Buscando adequar o sistema de ensino à reforma do Estado brasileiro, em

    consonância com as orientações das instituições financeiras multilaterais, Haddad

    (2008) observa que a participação que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

  • 31

    do Ensino Fundamental e da Valorização do Magistério (FUNDEF), aprovado em

    1996, na gestão de FHC, e substituído em 2007, pelo Fundo de Manutenção e

    Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

    Educação (FUNDEB), contempla outro importante item do receituário do Banco

    Mundial: o foco, no ensino fundamental, com todos os reforços e recursos e também

    incentivo não só a esse grau, como também aos municípios, no processo de

    municipalização da educação como forma de descentralização administrativa.

    O quadro do INEP/MEC demonstra a questão dos gastos públicos com o

    ensino fundamental como centralizado, em recursos, como mostra tabela 01 a

    seguir.

  • 32

    Tabela 1

    Estimativa da Proporção Relativa do Investimento Direto em Educação, por Esfera de Governo

    - Brasil 2000 – 2007

    Ano

    Proporção do Investimento Público Direto

    Total

    Esfera de Governo

    União Estados e Distrito

    Federal Municípios

    2000 100,0% 19,9% 42,1% 38,0%

    2001 100,0% 19,6% 41,9% 38,5%

    2002 100,0% 18,6% 43,2% 38,2%

    2003 100,0% 19,9% 40,9% 39,2%

    2004 100,0% 17,2% 41,4% 41,4%

    2005 100,0% 18,0% 39,9% 42,1%

    2006 100,0% 17,0% 42,8% 40,2%

    2007 100,0% 18,2% 41,8% 40,0%

    Fonte: Inep/MEC/2007

    Para Haddad (2008), o Banco Mundial teve forte influência na demarcação e

    definição de Políticas Públicas educacionais brasileiras, nas últimas décadas, e isso

    não foi tanto por conta da entrada de recursos que injetou no setor, mas pelo

    alcance de sua influência, no grande aval, em liberar empréstimos aos programas de

    ajuste conforme as próprias metas do fundo.

    No governo Lula, ocorreu uma ruptura, no início de sua gestão, pois houve a

    orientação do Ministério da Educação para focalizar como prioridade a implantação

  • 33

    do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

    dos Profissionais da Educação (FUNDEB), que alcançava todos os níveis e

    modalidades da educação básica. No entanto, houve a continuação no que se

    referia à política restritiva de gastos públicos, que limitava os investimentos, em

    educação.

    Para Haddad (2008), o gasto, como porcentagem do PIB, apresenta dois

    patamares para o período: abaixo de 4% até 1997 e, em 1998 e 1999, em torno de

    4,2% do PIB, este nível de gasto parece refletir o total da destinação legal, para o

    setor educacional.

    Os municípios, em que o setor público federal ainda é responsável por uma

    parcela significativa das despesas, nos Estados e/ou recebem verbas do governo

    federal para programas específicos (Fundescola), tendem a refletir um porcentual de

    gasto com educação em relação ao PIB mais alto do que o esperado, já que esse

    gasto não se reflete no PIB estadual. Isto ocorre nos Estados do AC, AP, TO, MA,

    PI, RN, PB, AL e SE.

    Nota-se que, para as Regiões Norte e Nordeste, o crescimento do gasto em

    relação ao PIB é mais significativo que nas Regiões Sul e Sudeste, nesse período.

    Como mostra a tabela 02, a seguir:

    Tabela 2

    Variação percentual do gasto com educação em relação ao PIB

    REGIÃO 1994 1999 VAR (%)

    BRASIL 3,8 4,3 14,4

    NORTE 4,5 6,8 51,9

    NORDESTE 5,2 7,4 41,3

    SUDESTE 3,2 3,4 7,6

    SUL 3,5 3,6 4,9

    CENTRO-OESTE 4,3 5,5 27,9

    Fonte:Disoc/IPEA,Decnal/IBGE, INEP/MEC/2000.

  • 34

    A década de 1990 foi de acordo com as diretrizes das políticas federais, a

    busca da consolidação de uma política de qualidade, todavia nem tudo foi realizado

    a contento, pois os resultados esperados indicaram um distanciamento entre o

    planejado e o executado.

    Para Duarte (2003), o governo federal atribuiu essas falhas à situação das

    reformas estruturais, implantadas dentro do sistema de ensino. Diante disso, a

    questão mais significativa é que a escola não conseguiu absorver as reformas que

    têm sido planejadas e induzidas pelo governo federal, pois falta à União a realização

    de uma avaliação do seu próprio projeto, em uma perspectiva local porque as

    escolas não conseguem absorver as políticas por falta de uma identidade com o que

    é planejado, nas esferas federias sem consultar as bases responsáveis pela sua

    execução, no caso, os professores e gestores dos sistemas escolares.

    Dessa forma Gentili (1995), destaca um aspecto importante a ser

    considerado: a concretização das reformas educacionais como produto de

    mudanças, na estrutura jurídica, necessita ser verificada, nos espaços, em que

    efetivamente, acontece, no caso, as escolas. É importante considerar que o

    processo de efetivação das reformas somente ocorrerá se for assumido por aqueles

    que fazem da escola seu cotidiano e, portanto, com eles, os processos de formação

    de professores poderá alavancar modificações significativas, nos espaços

    educacionais.

    O Brasil é um país de características sociais, econômicas e geográficas

    heterogêneas, as deliberações elaboradas por políticos e demais governantes,

    deveria e devem ser voltadas para as diferenças de cada região, observadas suas

    especificidades individuais e, não simplesmente moldar determinada situação e criar

    modelos e a partir daí formular políticas, que não contemplem realmente, a realidade

    social dos diversos contextos nacionais.

    Diante disso, é esse estranhamento que deveria ser um dos objetos das

    Políticas Públicas, a fim de tentarem diminuir as lacunas existentes entre o jurídico e

    a realidade social de modo a atender melhor as especificidades locais e/ou equilibrar

    as diferenças destas com ações mais diretas.

    No entanto, os reais objetivos das políticas, que são formuladas e que

    acabam mal adaptadas à realidade social, geram uma grave frustração para os

  • 35

    vários seguimentos sociais. Com relação às políticas para as escolas públicas de

    todo o país, há uma grande fragilização, na formulação e na implementação, de

    Políticas Públicas, que muitas vezes não conseguem conduzir em todos os seus

    aspectos as necessidades do contexto educacional, em que as práticas verdadeiras

    de melhoria, principalmente, se realizam.

    Nesse sentido, um dos grandes problemas do Estado, além da má

    administração das Políticas Públicas, é a falta de políticas locais capazes de

    complementar os vazios deixados pelas políticas federais, de modo que as

    comunidades escolares muitas vezes não conseguem entender ou mesmo se

    identificar com aquelas.

    Dessa maneira, colocar em prática as políticas, no âmbito escolar, é algo

    complexo pela falta de mecanismos que possam entrelaçar os processos de adoção

    e execução às muitas realidades e às suas problemáticas, vivenciadas pela escola.

    De acordo com Carvalho (2007), os processos de elaboração, bem como os

    de implementação de Políticas Públicas são fatores cruciais constitutivos da

    competência governativa do Estado. A formulação bem sucedida de Políticas

    Públicas depende do sucesso dos grupos governamentais em apoiarem tais

    políticas, caso for de sua preferência, mediante a formação de alianças de

    sustentação e, da construção de um campo de discussões e negociações que

    evitem a paralisia decisória. O bom êxito do processo de implantação exige além de

    colisões de apoio ao governo, capacidade financeira, instrumental e operacional do

    Estado.

    Os modelos implantados pelas Políticas Públicas globalizantes são, na sua

    grande maioria, desconexos não cabendo na realidade do universo escolar, pois não

    aglutinam as novas diretrizes de uma escola democrática, em que as decisões de

    uso e de práticas e as escolhas são assentadas por uma conjuntura social e política

    das intenções e orientações, para o envolvimento dos sistemas educacionais de

    forma a criar novos modelos de acordo com as realidades já somadas a muitas

    outras s brasileiras.

    No capítulo seguinte, será discutido como as políticas de inserção de

    tecnologias, na educação, começaram a se estruturar no Brasil, de acordo com o

  • 36

    contexto estabelecido pela nova conjuntura política brasileira para atender as novas

    realidades mundiais.

  • 37

    1.3 POLÍTICAS DE INSERÇÃO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO

    Quando se faz uma análise sobre as políticas de implementação das

    tecnologias, nas escolas da rede pública de ensino, temos um cenário com muitas

    variantes e ramificações. Essas iniciativas fazem parte da conquista da educação de

    todo país e advêm da necessidade da escola pública em conseguir uma equidade

    diante das modificações de mercado nacional e mundial com a globalização.

    Portanto, essa questão engloba os movimentos políticos, os econômicos e os

    sociais para dar conta de atender as novas demandas essências para a sustentação

    de uma estrutura.

    De acordo com Pretto (2006), um dos maiores agravantes na implantação de

    Políticas Públicas, na educação brasileira, refere-se ao custo e ao tempo que é

    destinado ao emprego, em prática de determinada providência seja ela material e

    pedagógica; ou de gestão que muitas vezes não tem o alcance desejado, por falta

    de organização entre os entes do governo das esferas estaduais e municipais, assim

    como, nas escolas, principalmente, no que se refere à introdução de tecnologias.

    O autor enfatiza que tais medidas têm que ter um alcance mais efetivo dentro

    de um perfil de governo ou mesmo de governabilidade, na execução de planos

    complementares dessas políticas, nas esferas estaduais e municipais, para diminuir

    os entraves e vazios existentes no plano maior, em relação à questão das Políticas

    Públicas para promover a entrada das novas tecnologias, na educação da rede

    pública de ensino de todo país.

    Todavia, juntamente com essas providências deverá ser adotada uma postura

    mais adequada e eficaz, para esquematizar ações conjuntas e atender as várias

    situações com as propostas com a coligação de vários agentes, na participação e

    execução dessas políticas junto às escolas, às universidades e outros interessados,

    de modo a descentralizar as ações de estratégias e criar acordos, para manter as

    políticas sem quebrar a evolução à medida que os governos são substituídos,

    anulando toda uma rede de execução e implantação.

    Sabemos que implantação de tecnologias na Educação é um processo por si

    só complexo e longo, necessitando de um acompanhamento, que precisa ser

  • 38

    sistemático, na sua totalidade, equacionando medidas duradoras e com sequências

    estruturais, para não se perder os objetivos para os quais foram formulados à

    medida que governos vão sendo supridos.

    Outra grande dificuldade das políticas é, primeiramente, por ser concebida, no

    âmbito de um processo decisório, para em seguida serem implementadas mediante

    aos órgãos e aos mecanismos existentes ou, especialmente, criadas pelos técnicos,

    para serem avaliadas, quanto aos seus resultados, os quais podem ser entendidos

    como produtos sobre um contexto mais amplo e muitas vezes não esperados ou

    desejados.

    De acordo com Almeida (2007), um dos vícios das Políticas Públicas para

    Educação é apresentar primeiro a solução de um problema antes mesmo de se ter

    um diagnóstico preciso sobre a situação. Portanto, tal medida cria políticas

    enfraquecidas por não saberem qual a sua razão primária e a que se disponham, de

    modo que elas nascem para solucionar algo que nem sabe bem ao certo o que é.

    Dessa maneira, é a importância dos diagnósticos que cria a viabilidade das ações

    das Políticas Públicas e a clareza dos objetivos em que se inserem essas propostas

    e portanto, sem essa „ponte‟ fica difícil a viabilidade, na execução, na esfera escolar,

    em que os distanciamentos se consolidam de forma evidente.

    Dessa forma, ao se tratar de política, devemos, primeiramente, procurar

    entender a forma de organização social do contexto, em que se está prevendo a

    aplicação dessa prática, para não utilizar modelos de organização política e social

    copiados de uma realidade estabelecida que é totalmente, diferente, na área a ser

    trabalhada.

    Esse é um desafio muito grande, pelo qual passam governantes, políticos,

    administradores, gestores de escolas, enfim, todos aqueles que, de uma forma ou

    de outra, pretendem direcionar para a realidade local formas de governo, atuação

    político-econômica ou social seja de introdução de novas tecnologias na educação,

    ou não.

    Segundo Moraes (2006), principalmente, na questão da gestão de Políticas

    Públicas bem como nos incentivos governamentais de caráter coletivo, deve-se

    utilizar critérios de responsabilidade e coerência, nas medidas e nos planejamentos

    adotados.

  • 39

    Portanto, a importância de serem realmente contemplados nas diferentes

    esferas sociais, assim como analisados os diversos modelos de implementação que

    contemplam as tecnologias, na educação e seu real papel, na esfera escolar e seus

    grupos existentes, para que não se prolongue a histórica situação do mau

    planejamento e a má distribuição de verbas e projetos de desenvolvimento.

    Outro ponto importante é sobre o direcionamento dessas políticas e se

    realmente estas estão visando a melhorias para as escolas do país, ou seja, se

    envolvem o contexto onde atuam de fato e se suas metas tanto as técnicas quanto

    as pedagógicas são consistentes, em propiciar melhorias e ganhos e não somente

    adequarem-se aos interesses políticos, sem dar maiores importâncias às relações

    sociais presentes a todos os seus desdobramentos pelo que estão sendo atingidas,

    por meio de suas implementações.

    A história recente da Educação no Brasil é repleta de projetos

    governamentais que exigem uma leitura um pouco mais atenta dos imbricados

    movimentos que relacionam as políticas educacionais, culturais, científicas,

    tecnológicas e de comunicação. Não é a intenção, desta dissertação, aprofundar

    essas análises, em todas as suas múltiplas dimensões, mas sim resgatar alguns

    elementos significativos para o entendimento de como essas políticas que estão ou

    deveriam estar afetando diretamente, a escola funcionam.

    Nesse intuito, é importante fazermos um recorte temporal para melhor

    compreensão do período em questão que este trabalho vai elucidar.

    Os trabalhos de Pretto (2006), Moraes (2006) e Andrade (1996) observam

    que durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foi decisivo e eficaz, para as

    políticas, a privatização de estatais, destacando-se aí a área das telecomunicações.

    Assim, com a implantação, no país, de um sistema de rede, através do Ministério da

    Ciência e Tecnologia e com a criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), houve

    a introdução de forma definitiva da Internet, no país de modo que inúmeros decretos

    foram promulgados, com o objetivo de identificar e estimular possíveis usos, na área

    educacional, desse sistema de rede.

    No âmbito do Ministério da Educação, o governo FHC implantou dois grandes

    projetos: TV Escola e o Projeto de Informatização das escolas públicas brasileiras

    (PROINFO). Não cabe aqui, fazer uma longa descrição desses projetos, mas é

  • 40

    importante salientar que para autores como Pretto (2006) esses programas tiveram

    alguns equívocos, na sua concepção, principalmente, com a TV Escola.

    Esse programa não produziu conteúdos mais regionalizados dentro da

    proposta e que, portanto, deveriam ter uma relação mais direta com as atividades

    das universidades que por sua vez possuem canais universitários, que poderiam

    contribuir, na elaboração de uma programação mais de acordo com as realidades

    das escolas e não somente utilizar programas prontos, para uma mera reprodução

    de fitas e com o tempo restante para a pura ociosidade.

    No processo de migração do TV Escola para a TV Escola Digital e DVD

    Escola, novamente não foi previsto disponibilizar as Faculdades de Educação o

    mesmo material que foi fornecido às escolas do ensino básico e, com isso,

    possibilitar que os futuros professores possam estar preparados para trabalhar com

    o material, que vão encontrar nas suas práticas cotidianas em sala de aula.

    O MEC através do Programa DVD na Escola distribuiu para as escolas

    públicas de ensino básico um kit - um aparelho de reprodução de DVD e uma caixa

    com 50 mídias DVD, com, aproximadamente, 150 horas de programação produzida

    pela TV Escola. Entretanto, não houve um encaminhamento desse kit para as

    instituições públicas formadoras de professores, de modo a favorecer a construção

    de práticas, no uso das novas tecnologias que estavam sendo distribuídas, nas

    escolas. Essas informações foram extraídas do portal do MEC/SEED/2008.

    Disponível no site http://portal.mec.gov.br/tvescola

    Para Pretto (2006), esse panorama deixava evidente a perspectiva

    distanciada dessa política educacional com o contexto, a fim de impossibilitar

    maiores condições para formar uma estrutura mais coesa entre as escolas e as

    universidades, principalmente, afetando a questão da formação de professores, com

    o conhecimento dessas novas tecnologias aplicadas no seu cotidiano de formação.

    De acordo com Andrade (1996), no caso do PROINFO, o governo FHC

    substituiu o PRONINFE como processo de revitalização do Programa de Informática

    no País para Educação pelo PROINFO, ocorrendo uma mudança radical, na sua

    representação, que foi um dos avanços, no sentido de democratizar as decisões

    acerca dessa política, pois o PRONIFE tinha, na sua formação, uma participação

    direta dos docentes-pesquisadores das universidades, envolvidas no projeto

  • 41

    EDUCOM. Assim, era a comunidade científica conquistando o espaço e a voz, na

    burocracia estatal.

    Essa proposta tinha como agentes diretos, na sua concepção, seis membros:

    representantes das Secretarias da Educação Especial e Superior; Centros de

    Informática Federais; Escolas Técnicas Federais; Secretarias de Educação

    Estaduais, assessoradas pelo Comitê Especial de Informática na Educação e

    especialistas vindos das Universidades.

    Entretanto, na revitalização do programa PRONINFE, esse quadro

    contemplava apenas dois agentes diretos, no caso: o próprio MEC representando a

    Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC) e os recém-criados Núcleos de

    Tecnologia Educacional, que surgiram, no lugar do CIED‟s, ficando sob a

    responsabilidade das Secretarias de Educação, que respondia pela capacitação dos

    professores, que antes era compromisso das universidades.

    Para Moraes (2006), esse novo modelo de política de Tecnologia para

    Educação, o PROINFO, afastou as Universidades, enquanto espaço de excelência

    para a formação do professor, das escolas, por criar políticas locais também

    equivocadas e centralizou suas ações, nos NTE‟s, que não tinham o poder decisório

    por ser um Núcleo subordinado às Secretarias de Educação Estaduais e pouca ou

    mesmo nenhuma experiência na formação,, deixando frágil o trabalho com os

    professores, que antes era oferecido, nas Universidades.

    Essas questões explicam algumas ações produzidas, a partir de modelos

    equivocados ou mesmo intencionais, a fim de criarem uma política atrelada ao

    Banco Mundial, estabelecendo uma educação com a utilização de tecnologia mais

    eficiente, mas sem a mediação direta dos professores em sua formação, isto é, um

    padrão de formação em que os materiais pedagógicos seriam substituídos pela

    tecnologia, fundamentado, na racionalidade instrumental, com o uso intenso das

    tecnologias.

    A conclusão que essas questões esclarecem é que os modelos de política

    vão sendo substituídos de acordo com as necessidades do governo e suas

    orientações, ora de agencias reguladores, ora de processos políticos locais. Desse

    modo, as escolhas muitas vezes estão pautadas em somente resolver problemas

  • 42

    menores com ações sem um diagnóstico preciso das muitas realidade e conjunturas,

    que se apresentam, dentro de modelos políticos para educação.

    Tanto para Moraes (2006), quanto para Andrade (1996), as concepções que

    sustentam uma política de educação voltada para a introdução de tecnologias, na

    educação da rede pública de ensino, consideram uma dimensão de produção do

    conhecimento e de cultura, pautada, na larga experiência de muitas instituições, que

    se dedicaram ao estudo dessas práticas aliadas a teorias pedagógicas.

    Essas podem dar contar de ajudar a compreender o processo dentro de uma

    postura política, que contempla todos os setores que envolvem a entrada dessas

    tecnologias, no âmbito escolar.

    Dessa maneira, podemos notar que essa questão é ampla e, portanto, não se

    pode pensar que a simples presença de equipamentos associadas a um programa

    de capacitação de professores darão conta dessa transformação.

    Assim, muito mais do que isso, é imprescindível perceber a necessidade de

    montagem de uma estrutura que garanta o total funcionamento dos equipamentos

    com o acesso de todas as regiões, principalmente, aquelas com dificuldades com as

    conexões, e nos casos „mais gritantes‟, algumas regiões da Amazônia, que ainda

    estão tímidas quanto às políticas governamentais, para a educação.

    Para tanto, essa montagem de estrutura, requer uma forte articulação com

    outras áreas, tanto de governo quanto acadêmicas de modo a criar um diálogo

    franco com os agentes diretos, que vão consolidar essas propostas e diminuir as

    discrepâncias sociais, econômicas e geográficas, numa tentativa de consolidar os

    programas e as culturas locais.

    Segundo Pretto (2006), no atual governo de Luis Inácio da Silva (Lula), foram

    implementadas uma nova fase dessas políticas para as tecnologias, na Educação,

    não só para aglutinar ferramentas pedagógicas com a enorme capacidade de

    formação para os professores. No decorrer do seu governo, foram adicionadas

    diversas modificações, na composição de vários ministérios, entre os quais o da

    Educação e o das Comunicações e Ciência & Tecnologia, que se concentraram na

    área educacional, de forma que as Universidades voltaram a contribuir para o

    processo de concepção na formação de professores.

  • 43

    Essas mudanças de alguma forma criaram novas possibilidades de

    implantação de Políticas Públicas que superaram não só alguns entraves de ordem

    estrutural e política, no âmbito do governo, como também criaram novos acordos

    com seus entes federados, para resolver antigos impedimentos, sendo que, um

    deles era a falta de articulação de forma que, com esse novo arranjo, houve uma

    grande probabilidade de minimizar as distâncias entre as políticas concebidas e sua

    execução.

    De acordo com o governo federal, através da proposta de Diretrizes para

    Educação MEC (1996) foi criado novos arranjos para uma articulação dessas

    diversas vertentes, incorporando as pesquisas e novas produções, de forma a dar

    uma sustentabilidade a esses programas de inserção de tecnologias, na educação

    brasileira.

    Assim, as Universidades públicas de todo o país, a partir desse momento,

    estão colaborando, no desenvolvimento de Políticas Públicas que englobam a

    inserção de novas tecnologias na rede pública, sendo que nas políticas anteriores ao

    atual programa Proinfo Integrado, essas articulações ficavam meramente com os

    técnicos do MEC e com algumas universidades, que muito ajudam a desenvolver

    esses projetos.

    Para Moraes (2006), isso é um grande desafio e as novas tecnologias de

    comunicação e informação podem vir a se constituírem em importantes elementos

    de transformações, se pudermos vê-las por outras perspectivas, que não a de

    simples instrumentos metodológicos mais modernos, que ao serem implantados de

    forma isolada e desarticulada, mantêm as crianças, os jovens, os adolescentes e os

    professores como meros consumidores de um conhecimento pronto, que passa,

    agora, a circular e ser entregue pelas novas tecnologias.

    Em oposição a isso, se encararmos as tecnologias a serviço da produção de

    conhecimento e de cultura, pode-se pensar, na inserção do país, no mercado

    mundial dito globalizado e assim a partir de uma perspectiva de efetiva cidadania.

    No capítulo seguinte, será apresentado um breve histórico da construção da

    inserção de políticas de tecnologias para a educação, no Brasil, e que através dessa

    estruturação podemos entender que essa configuração não é algo da atualidade.

    Desse modo, o Brasil está a mais de três décadas trilhando um caminho, para a

  • 44

    introdução de uma tecnologia aliada a bases pedagógicas sólidas, na rede pública

    de ensino, para ajudar na transformação do ensino e aprendizagem dos nossos

    alunos.

  • 45

    1.4 HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO NO BRASIL

    O processo histórico esboçado, neste capitulo, faz um resumo da trajetória da

    entrada das tecnologias na educação, no Brasil, através de alguns autores que

    analisam esse movimento dentro de uma cronologia de entrada e implantação de

    programas pelo governo federal, na educação, até à atualidade tais como: Andrade

    (2006), Moraes (2006), Jóia (2001) e também de algumas informações retiradas do

    portal do MEC, disponível em http://portal.mec.gov.br/historico.

    O início da informática da educação, no Brasil, teve sua entrada pelas

    universidades, no início da década de 1970. Na USP/São Carlos foi discutido o uso

    efetivo de computadores, no ensino de física. Em 1973, na Universidade Federal do

    Rio de Janeiro/ UFRJ começaram aparecer experiências, no desenvolvimento de

    software educativo e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, a

    utilização de computadores de grande porte como recurso auxiliar do professor para

    o ensino e a avaliação em Química.

    Ainda na década de 1970, as experiências do Laboratório de Estudos

    Cognitivos do Instituto de Psicologia - LEC, da UFRGS, amparadas nas teorias de

    Piaget e Papert, tendo como foco crianças com dificuldades de aprendizagem de

    leitura, escrita e cálculo.

    A Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, iniciou esse processo em

    1975, com cooperação técnica com o Media Lab LAB do Massachussets Institute of

    Technology - MIT, criando um grupo interdisciplinar para pesquisar o uso de

    computadores com linguagem LOGO, na educação de crianças.

    De aco