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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Adriana Soares Freitas de Souza Teoria da mente e contação de histórias: uma intervenção com professoras e alunos na Educação Infantil DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO São Paulo 2015

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação ... Em especial, às professoras Claudia Leme Ferreira Davis, Laurinda

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Adriana Soares Freitas de Souza

Teoria da mente e contação de histórias: uma intervenção com professoras e alunos na

Educação Infantil

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

São Paulo

2015

Adriana Soares Freitas de Souza

Teoria da mente e contação de histórias: uma intervenção com professoras e alunos na

Educação Infantil

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência

parcial para a obtenção do título de Doutor em

Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação

da Prof.ª Dr.ª Maria Regina Maluf.

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

São Paulo

2015

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

______________________________________

______________________________________

______________________________________

______________________________________

DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa

Ao maior projeto de Deus na minha vida, a minha família:

Marcelo, meu marido, meu amor, meu companheiro, meu amigo, meu presente divino,

homem que a cada dia ratifica a minha excelente escolha feita há 18 anos.

Renato, meu filho amado, minha primeira emoção, meu cúmplice, meu amigo fiel, coração de

ouro.

Mariana, minha menina linda, meu sonho de criança, minha amiga, minha confidente, minha

princesa.

Chegamos e somos uma FAMÍLIA, porque Deus é Deus.

AGRADECIMENTOS

À Prof.ª Dr.ª Maria Regina Maluf, sinto-me privilegiadíssima por ter ao meu lado a

sua efetiva, verdadeira e intensa presença durante todo o percurso do mestrado e doutorado.

Sua vontade incessante de nos ensinar e de nos fazer crescer desvela seu compromisso com a

Educação, com o desenvolvimento do seu orientando, representando um modelo a ser

seguido. Sentirei muita falta. Agradecer me parece tão pouco...

Aos meus extraordinários professores do Programa de Educação: Psicologia da

Educação da PUC/SP, pelos ensinamentos valiosos. Em especial, às professoras Claudia

Leme Ferreira Davis, Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Maria Nigro de Souza Placco,

pelas demonstrações de carinho e humildade para compartilhar seus saberes e experiências.

Profa. Laurinda, tenho que lhe dizer que a senhora me afetou positivamente desde o primeiro

dia em que te conheci, minha profunda admiração.

Às professoras doutoras Ceres Alves de Araújo, Eliana Cristina Gallo Penna, Laurinda

Ramalho de Almeida, Sara Del Prete Panciera, pelas valiosíssimas contribuições oferecidas

no exame de qualificação, essenciais para a efetivação desse trabalho.

A Edson Aguiar, Assistente de Coordenação do Programa de Educação: Psicologia da

Educação da PUC/SP, pela constante presteza e atenção.

À coordenadora, às professoras e alunos da instituição escolar que, sem nenhuma

restrição e com todo entusiasmo, apoiaram-me e possibilitaram a realização desta pesquisa.

Muitíssimo obrigada!

À Prof.ª Dr.ª Yara Castro, pela assessoria preciosa, paciente e competente no

tratamento estatístico dos dados.

Às pessoas especiais que nessa trajetória acadêmica me apoiaram, me motivaram,

partilharam seu saber, sua paciência, amizade, experiências, angústias e ansiedades: Célia

Oliveira de Jesus Sacramento, Dinair Santana dos Santos, Eliana Cristina Gallo Penna,

Ivanice Teles dos Santos, Luciene Aparecida Felipe Siccherino, Nilda Brito de Andrade,

Renan de Almeida Sargiani, Sandra Puliezi, Simone Priscila Paludeto e Valéria Batista.

Às psicólogas que marcaram positivamente a minha carreira como docente do ensino

superior: Candida Maria Plaza Teixeira (prefiro escrever: eterna em meu coração, em minha

vida pessoal e profissional), Maria Cristina de Oliveira e Marinez Vanucci Zamai.

Eternamente grata pelo incentivo, pela competência profissional abarrotada de ética,

humildade e respeito ao outro.

Aos meus alunos, vocês são peças fundamentais para o meu desenvolvimento, incitam

a minha vontade de melhorar a cada dia e de perseverar nesse mundo de desafios chamado

“Educação”.

À Rosiris Caratin, pela atenção e valiosa revisão textual.

À CAPES, pelo apoio financeiro desta pesquisa.

AGRADECIMENTOS PARTICULARES

A DEUS, ar que eu respiro, fé que me move, mão que me sustenta quando caio, meu

refúgio, minha fortaleza, meu TUDO. “Sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser

frustrado” (Jó 42:2).

A JESUS CRISTO, meu único, verdadeiro e suficiente Salvador.

À minha mãe, Maria Augusta Soares, mulher da minha vida, meu orgulho, mulher de

garra, forte, lutadora, corajosa, íntegra, valorosa. Uma Maria que me ensinou que “é preciso

ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”. Ensinou-me que é preciso levantar

após a queda quantas vezes forem necessárias. Mãe, jamais poderei recompensar toda a sua

luta para criar a mim e ao meu irmão. Você simplesmente abriu mão de si mesma por nossas

vidas e essa é uma dívida impagável. Amo você com toda força do meu ser e da minha alma.

Ao meu marido, companheiro fiel de todas as horas. Obrigada pela paciência, por

acreditar em mim, pela sabedoria, pela fé, pelo carinho, pela amizade, por estender a mão e

pelo seu empenho para entender (literalmente) sobre teoria da mente e contribuir com a

finalização dessa tese (sendo você um Engº Químico). Sem você eu não teria conseguido,

simples assim! Te amo intensamente!

Aos meus filhos Renato e Mariana, herança do Senhor, minha fonte de energia, minha

alegria, minha força, orgulho da mãe, companhia de estudo e vida. Obrigada pelos lanches

preparados com tanto carinho e me oferecidos quando eu estava estudando, por controlar o

barulho para não me atrapalhar (quanto esforço!), pelas conversas e pela paciência. Mari,

obrigada por ter crescido adaptando uma lugarzinho para dormir ao meu lado nas madrugadas

de estudo, sua presença me fez tão bem. Ah! Grata também pela elaboração da apresentação

em Power Point das histórias infantis. Re, grata pelas leituras de textos. Obrigada pelo zelo,

por sempre perguntar: mãe, acabou? Falta muito? Você não vai dormir? Pronto filho. Mas,

não acabou. Quero ser exemplo para vocês de que o conhecimento é uma construção

infindável...

Ao meu pai (in memoriam), pelo prenúncio nas cartas desde a infância quando

escrevia: “para Dr.ª Adriana Soares”. Enfim, tornei-me.

Aos melhores avós do mundo, José Augusto (in memoriam) e Zenita. Agradeço o

legado de ensinamentos que me constituiu como pessoa, que perpassa a ciência: fé, amor,

dignidade, honestidade, respeito e verdade.

Ao meu tio/pai, Gilson Soares, meu coração transborda de amor e gratidão por você.

Repito, grata por assumir com tanto afinco uma tarefa que não era sua: ser meu pai.

Ao Dr. Luciano Freitas, ainda bem que tive você ao meu lado nos momentos bons e

ruins da nossa difícil infância e adolescência. Passou, vencemos, te amo, meu irmão!

À tia Rosangela Batista Soares, meu primeiro referencial de estudante. Eu era

praticamente uma criança quando via a sua lida de trabalhar o dia inteiro e bancar uma

faculdade à noite. Olhava e pensava: é isso que quero pra mim!

Às famílias Soares e Freitas, inviável citar o nome de cada um, todos vocês me

ampararam de alguma forma. Portanto, só tenho a dizer: obrigada pela grande torcida, pelo

imenso amor, pelo carinho, pelas orações e por me tornarem quem sou. Amo vocês,

incondicionalmente!

Aos meus sogros queridos, Hélio e Maria Eugênia Souza, obrigada pelo extremo

amor, carinho e apoio de sempre.

À Martiliana Maria, ajudante do meu lar, dos meus filhos, minha fã, minha

queridíssima colaboradora.

Aos meus pastores e irmãos na fé, grandes líderes espirituais: Marcos Roberto Gomes

e Ana, Miguel Roberto da Silva e Juliana, Valdecir Soares e Sueli. Obrigada pelo imenso

amor, pela amizade franca, pelas orações, pela preocupação com a minha vida e com a minha

família. Deus os recompense!

Hoje, vocês estão a caminho de uma busca. Buscar é

próprio da juventude porque o sol da vida está aí,

pairando num jorro forte de luz para vocês se

afirmarem diante do esplendor de um mundo novo,

uma faculdade inteiramente nova de se determinar a

razão, a vontade, a alma.

O valor da razão, porque você é racional; a sua

energia íntima, o seu vigor jamais serão mais

profundos do que quando todos os seus pontos

imergirem inteligentemente no seio supremo,

luminoso, deslumbrante e consciente de Deus...

Quando, pois, a sua fé em Deus for a força íntima da

sua inteligência, vocês terão uma estabilidade

vigorosa em qualquer campo onde exerçam as

atividades das suas vidas.

Depois dos joelhos maternos, a primeira busca está

na Escola, no Professor.

Buscar, buscar o quê? – Essa decisão libertadora de

chegar ao seu sonho, ao seu ideal!

A formiguinha não parou. Foi até o fim...

Nagiba Maria Rizek Maluf

Souza, A. S. F. (2015). Teoria da mente e contação de histórias: uma intervenção com

professoras e alunos na Educação Infantil. 111p. Tese (Doutorado) – Programa de Estudos

Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, São Paulo.

RESUMO

A capacidade da criança para atribuir estados mentais como desejos, intenções e crenças a si

própria e às outras pessoas, denominada teoria da mente, é fundamental para o êxito das

relações sociais. Há indícios de que as histórias infantis contribuem com o desenvolvimento

da teoria da mente. A presente pesquisa de intervenção, realizada em uma escola da rede

pública municipal de ensino da cidade de Mogi das Cruzes/SP, teve por objetivo orientar

professoras da Educação Infantil a utilizarem uma linguagem envolvendo termos e verbos

mentais durante a contação de histórias para seus alunos, explicando os estados mentais dos

personagens. Participaram duas professoras e 50 alunos, sendo 27 meninos e 23 meninas, com

idade entre 5 anos e 5 anos e 11 meses. Foram realizados dois estudos (Estudo 1 e Estudo 2)

adotando o mesmo delineamento: a) pré-teste – foram aplicadas nas crianças as sete tarefas de

teoria da mente da escala de Wellman e Liu (2004); b) intervenção – foram realizadas 2

sessões nas quais a pesquisadora ofereceu às professoras explicações teóricas sobre a teoria da

mente, e dez sessões práticas nas quais trabalhou com histórias infantis e as orientou sobre

“como” deveriam contar histórias aos seus alunos, utilizando uma linguagem envolvendo

termos e verbos mentais; c) pós-teste – foram reaplicadas as sete tarefas de teoria da mente.

Todas as contações de histórias feita pelas professoras foram transcritas e submetidas ao

software SPAD-T. No Estudo 1, as professoras e suas respectivas turmas (cada uma com 25

alunos) foram escolhidas aleatoriamente para compor o grupo experimental (GE) e o grupo

controle (GC). A professora do GE recebeu as instruções teóricas e práticas da pesquisadora

na intervenção; já a professora do GC não recebeu nenhum tipo de orientação, apenas foi

instruída a contar as histórias à sua maneira habitual. No Estudo 2, a professora (grupo

controle do Estudo 1) passou a receber da pesquisadora as orientações para contar as histórias

aos seus alunos. Os resultados dos dois estudos indicaram que após a intervenção, as

professoras passaram a adotar uma linguagem enriquecida de termos mentais, e essa

linguagem foi favorecedora da manifestação da teoria da mente em seus alunos, os quais

tiveram um desempenho significativamente melhor nas tarefas de teoria da mente após as suas

professoras terem recebido as orientações da pesquisadora. Esses resultados dão sustentação à

hipótese de uma relação entre a atribuição de estados mentais e o desenvolvimento da

linguagem. A atividade de contação de histórias nas classes de Educação Infantil mostrou-se

como um recurso favorecedor do desenvolvimento da teoria da mente em crianças.

Palavras-chave: teoria da mente, linguagem, contação de histórias.

Souza, A. S. F. (2015). Theory of mind and story telling: an intervention with elementary

school teachers and students. 111p. Tese (Doutorado) – Programa de Estudos Pós-

Graduados em Educação: Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo.

ABSTRACT

Children’s capacity to attribute mental states such as desires, intentions and beliefs to

themselves and to others, named Theory of mind, is essential for successful social

relationships. There is evidence that children’s stories contribute to the development of the

theory of mind. The present intervention research, conducted in a municipal public school in

Mogi das Cruzes/SP, aimed to guide elementary school teachers to use some language

involving mental terms and verbs during story telling to their students, explaining the

characters’ mental states. The participants were two teachers and 50 students, 27 boys and 23

girls, between five years old and 5 years and 11 months old. Two studies were developed

(Study 1 and Study 2) by adopting the same design: a) a pre-test – Wellman and Liu’s (2004)

scale of seven theory of mind tasks was applied to the children; b) intervention – two

meetings were held in order that the researcher could offer the teachers theoretical guidelines

about the theory of mind, and ten practical workshops were carried out, in which the

researcher worked on children’s stories and taught the teachers “how” they should tell their

students the stories by using some language involving mental terms and/or verbs; c) a post-

test – the seven theory of mind tasks were reapplied. All story telling developed by the

teachers was transcribed and submitted to SPAD-T software. In Study 1, the teachers and

their respective groups (25 students each group) were randomly chosen to be the experimental

group (GE) and the control group (GC). The GE teacher received theoretical and practical

instructions from the researcher in the intervention, whereas the GC teacher did not receive

any instructions, she was just asked to tell the stories in her usual way. In Study 2, the teacher

(control group of Study 1) received from the researcher the instructions to tell their students

the stories. The results of both studies showed that after the intervention, the teachers started

to adopt some language that was rich in mental terms, and such languge helped trigger the

theory of mind in their students, who had a significantly better performance in the theory of

mind tasks after their teachers had received the researcher’s instructions. Such results support

the hypothesis of a relation between the attribution of mental states and language

development. The story telling activity in elementary school turned out to be a resource that

favors the development of the theory of mind in children.

Keywords: theory of mind, language, story telling.

SUMÁRIO

Índice de Tabelas ............................................................................................................ i

Índice de Figuras ............................................................................................................ ii

Índice de Anexos ............................................................................................................ iii

Introdução ...................................................................................................................... 1

1 Teoria da mente: a atribuição de estados mentais na infância .................................... 4

2 Considerações sobre a linguagem e a compreensão dos estados mentais ................... 8

3 A compreensão social sob a forma de atribuição de estados mentais ......................... 16

3.1 A escala de tarefas de teoria da mente de Wellman e Liu (2004) ............................ 20

4 Estudos de intervenção: contribuições da produção acadêmica das pesquisas em

teoria da mente ...............................................................................................................

23

5 Problema e Objetivos ................................................................................................. 33

6 Método......................................................................................................................... 35

6.1 Delineamento ............................................................................................................ 35

6.2 Local e Participantes ................................................................................................. 35

6.3 Procedimentos e Instrumentos .................................................................................. 38

6.3.1 Estudo 1 ................................................................................................................. 38

6.3.1.1 Pré-teste .............................................................................................................. 38

6.3.1.2 Intervenção ......................................................................................................... 42

6.3.1.3 Pós-teste ............................................................................................................. 45

6.3.2 Estudo 2 ................................................................................................................. 45

6.3.2.1 Pré-teste .............................................................................................................. 46

6.3.2.2 Intervenção ......................................................................................................... 46

6.3.2.3 Pós-teste ............................................................................................................. 46

6.4 Procedimentos de análise ......................................................................................... 46

6.4.1 Tarefas de teoria da mente ..................................................................................... 47

6.4.2 Linguagem empregada pelas professoras na contação das histórias ..................... 47

7 Apresentação e Análise dos Resultados ...................................................................... 48

7.1 Estudo 1 .................................................................................................................... 49

7.1.1 Desempenho das crianças do grupo experimental (GE) nas tarefas de teoria da

mente no pré e pós-teste .................................................................................................

49

7.1.2 Desempenho das crianças do grupo controle (GC) nas tarefas de teoria da mente

no pré e pós-teste ............................................................................................................

51

7.1.3. Análise comparativa dos resultados obtidos pelo grupo experimental (GE) e

pelo grupo controle (GC) nas tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste .................

53

7.2 Estudo 2 .................................................................................................................... 57

7.2.1 Desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste ....... 57

7.2.2 Análise comparativa dos resultados obtidos pelas crianças nas tarefas de teoria

da mente no pré e pós-teste ............................................................................................

60

7.3 Linguagem empregada pelas professoras na contação das histórias no Estudo 1 e

no Estudo 2 .....................................................................................................................

60

8 Conclusões e Considerações Finais ............................................................................. 71

Referências .................................................................................................................... 74

Anexos ............................................................................................................................ 79

i

INDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Tabela 1: Grupo experimental (GE) ................................................... 37

Tabela 2 – Tabela 2: Grupo controle (GC) ........................................................... 37

Tabela 3 – Tabela 3: Programa de intervenção .................................................. 44

Tabela 4 – Tabela 4: Escores das crianças do grupo experimental (GE) nas sete

tarefas de teoria da mente aplicadas no pré-teste ..............................

49

Tabela 5 – Tabela 5: Escores das crianças do grupo experimental (GE) nas sete

tarefas de teoria da mente aplicadas no pós-teste ...............................

50

Tabela 6 – Tabela 6: Escores das crianças do grupo controle (GC) nas sete

tarefas de teoria da mente aplicadas no pré-teste ................................

51

Tabela 7 – Tabela 7: Escores das crianças do grupo controle (GC) nas sete

tarefas de teoria da mente aplicadas no pós-teste ...............................

52

Tabela 8 – Tabela 8: Comparação do total de acertos das tarefas de teoria da

mente no pré e pós-teste entre o grupo experimental (GE) e grupo

controle (GC) ......................................................................................

53

Tabela 9 – Tabela 9: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da mente

no pré-teste do grupo experimental (GE) e grupo controle (GC) .......

53

Tabela 10 – Tabela 10: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da

mente no pós-teste do grupo experimental (GE) e grupo controle

(GC) ....................................................................................................

54

Tabela 11 – Tabela 11: Comparação entre os resultados das tarefas de teoria da

mente no pré e pós-teste do grupo experimental (GE) e grupo

controle (GC) .....................................................................................

56

Tabela 12 – Tabela 12: Escores das crianças nas sete tarefas de teoria da mente

aplicadas no pré-teste (isto é, no pós-teste do Estudo 1) ....................

58

Tabela 13 – Tabela 13: Escores das crianças nas sete tarefas de teoria da mente

aplicadas no pós-teste .........................................................................

59

Tabela 14 – Tabela 14: Comparação do total de acertos das tarefas de teoria da

mente no pré e pós-teste .....................................................................

59

Tabela 15 – Tabela 15: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da

mente no pré e pós-teste ...................................................................

60

Tabela 16 – Tabela 16: Linguagem das professoras na história Chapeuzinho

ii

Vermelho ............................................................................................. 62

Tabela 17 – Tabela 17: Categorização das expressões mentais utilizadas pelas

professoras ..........................................................................................

64

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Comparativo das médias dos resultados do pré-teste no grupo

experimental (GE) e no grupo controle (GC) ..................................

54

Figura 2 – Comparativo das médias dos resultados do pós-teste no grupo

experimental (GE) e grupo controle (GC) .......................................

55

Figura 3 – Médias das diferenças de acertos entre pré e pós-teste no grupo

experimental (GE) e grupo controle (GC) ........................................

56

Figura 4 – Escores de termos e verbos mentais utilizados pelas professoras

Sílvia (GE) e Ana (GC) em cada história .........................................

63

Figura 5 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pelas

professoras do grupo experimental (GE) e do grupo controle (GC)

65

Figura 6 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela

professora do grupo experimental (GE) ...........................................

65

Figura 7 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela

professora do grupo controle (GC) .................................................

66

Figura 8 – Escores de termos e verbos mentais utilizados pela professora Ana

antes e depois da intervenção em cada história ................................

67

Figura 9 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela

professora Ana .................................................................................

68

Figura 10 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela

professora Ana antes da intervenção ...............................................

69

Figura 11– Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela

professora Ana após a intervenção ...................................................

69

iii

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Escola .......................... 79

Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido das Professoras ................. 80

Anexo 3 – Orientações teóricas para as professoras: o desenvolvimento da Teoria

da Mente e a Educação Infantil ..................................................................

81

Anexo 4 – Protocolo de aplicação da escala de tarefas de teoria da mente ................. 88

Anexo 5 – Modelo fragmentado da lista geral de palavras geradas pelo software

SPAD-T (História Chapeuzinho Vermelho) ..............................................

94

Anexo 6 – Lista de termos e verbos mentais empregados pelas professoras na

atividade de contação de histórias infantis (História Chapeuzinho

Vermelho) ..................................................................................................

95

Anexo 7 – Modelo fragmentado da lista de frases contendo termos e verbos mentais

utilizados na linguagem das professoras (História Chapeuzinho

Vermelho) ..................................................................................................

96

1

Introdução

As pesquisas em psicologia do desenvolvimento humano vêm evoluindo no sentido de

uma compreensão mais aprofundada a respeito de como a criança estabelece contato com o

mundo social e como ela se torna parte desse mundo. Desde os primeiros anos de vida, no

âmbito das relações sociais, as crianças evoluem no sentido de compreender que as outras

pessoas têm emoções, pensamentos, sentimentos, desejos, intenções e crenças que podem ser

compartilhados e que podem ser diferentes dos seus. Essa compreensão é essencial para o

convívio social e permite à criança predizer o comportamento alheio, isto é, prever a reação

do outro, antecipar o comportamento de outra pessoa a partir da leitura dos estados mentais.

Um enfoque teórico que investiga a capacidade da criança de atribuir estados mentais

a si própria e ao outro, como desejos, intenções e crenças, é o denominado teoria da mente

(TdM) ou Theory of Mind (ToM)1. Trata-se de uma habilidade fundamental para o êxito das

relações sociais e que apresenta um importante avanço entre os quatro ou cinco anos de idade.

Nas investigações sobre essa temática, tem-se considerado que a linguagem é um fator

decisivo para o desenvolvimento dessa habilidade, aceitando-se uma estreita relação entre

linguagem e teoria da mente (Araújo & Sperb, 2013; Maluf & Domingues, 2010).

O meu interesse pessoal por esse campo de pesquisa surgiu no período em que cursei o

mestrado. Como conclusão final da minha dissertação2, em 2009, defendi que o procedimento

de intervenção que utilizei, com base em conversações em torno de termos e verbos mentais3,

favoreceu o desenvolvimento da teoria da mente nas crianças. Os resultados dessa pesquisa

sugeriram que conversações realizadas com as crianças acerca de eventos que aludem a ações

mentais podem influenciar na habilidade de atribuição de crença ao outro; assim, aceitamos a

existência de uma estreita relação entre teoria da mente e linguagem. Essa experiência do meu

mestrado na PUC-SP, juntamente com as discussões com o nosso grupo de pesquisa, EIDEP –

Escolarização Inicial e Desenvolvimento Psicológico, coordenado pela professora Maria

Regina Maluf, levaram-me ao desejo de ampliar ainda mais o meu conhecimento sobre o

entendimento que as crianças elaboram acerca da mente do outro nos primeiros anos de vida.

A literatura demonstra que muitos têm sido os avanços a respeito da habilidade da

criança de atribuir estados mentais ao outro e a si própria. Considerando a relevância das

1 Termo em inglês. 2 Souza, A. S. F. (2009). Teoria da mente e desenvolvimento infantil: um procedimento de intervenção

com crianças no interior da Bahia. Dissertação de Mestrado não-publicada. Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. 3 Palavras que expressam estados mentais, referindo-se a desejos, intenções, crenças. Estão ligadas a processos

mentais: pensamentos e emoções.

2

descobertas da teoria da mente para o desenvolvimento infantil e para a educação, e a fim de

contribuir para o crescimento e consolidação desse constructo teórico essencial para a vida em

sociedade e dar continuidade à minha pesquisa de mestrado, este projeto propõe-se a ampliar

os estudos nesse campo que está em grande expansão.

Entende-se que o desenvolvimento da habilidade de compreender os estados mentais

se configura como um aspecto central para explicar as ações humanas, bem como para

favorecer a manutenção e o aprimoramento da criança nas relações sociais, e isso é

fundamental para a socialização e a aprendizagem escolar na medida em que a educação deve

buscar formar pessoas capazes de lidar com o meio em que vivem e, principalmente, com as

pessoas ao redor.

O estudo dos distintos aspectos envolvidos no desenvolvimento humano tem

relevância em diversas áreas, principalmente na educação, pois pode oferecer muitas

contribuições para o planejamento adequado do ensino. Portanto, faz-se importante o

conhecimento acerca da teoria da mente, campo relevante para o desenvolvimento

sociocognitivo infantil.

Nessa perspectiva, percebe-se que a teoria da mente está diretamente vinculada à

educação, considerando-se que o desenvolvimento e a aprendizagem são processos em

interação (Vygotsky, 2000), e que a psicologia do desenvolvimento permite aprofundar

conhecimentos sobre a criança, os quais podem oferecer ao educador subsídios para organizar

situações e criar condições favorecedoras do desenvolvimento infantil, sobretudo, para

promover as capacidades de comunicação e de compreensão do outro. Portanto, é nesse

modelo de estudo que será desenvolvido o presente trabalho com professoras e alunos da

Educação Infantil.

A literatura ressalta a potencialidade das narrativas e histórias para favorecer

conversas sobre estados mentais e para considerar diferentes pontos de vista, aspectos

importantes para o desenvolvimento da teoria da mente (Adrian, Clemente & Villanueva,

2007; Araújo & Sperb, 2013; Maluf & Domingues, 2010). Portanto, a contação de histórias

pode ser uma ferramenta eficaz para favorecer a teoria da mente nas crianças.

A utilização de livros infantis mostra-se como um recurso potencialmente útil para o

entendimento dos estados mentais. Entretanto, a literatura da área, principalmente no Brasil, é

bastante limitada, tornando-se importante a realização de mais estudos.

Desse modo, o objetivo desta pesquisa é orientar professoras a utilizarem uma

linguagem que envolva verbos e termos mentais durante a contação de histórias para seus

alunos, explicando os estados mentais de personagens de livros de histórias infantis. Trata-se

3

de um estudo de intervenção, com base na linguagem, sobre a capacidade de atribuição de

estados mentais ao outro, em crianças da Educação Infantil.

O presente estudo está estruturado em oito capítulos. O primeiro, “Teoria da mente: a

atribuição de estados mentais na infância”, trata da manifestação dessa capacidade na criança.

O segundo, “Considerações sobre a linguagem e a compreensão dos estados mentais”,

apresenta uma discussão acerca das relações entre a linguagem e o desenvolvimento da teoria

da mente. O terceiro capítulo, “A compreensão social sob a forma de atribuição de estados

mentais”, traz uma explanação sobre as tarefas de teoria da mente, as quais têm fundamentado

as investigações sobre essa capacidade nas crianças. O quarto capítulo, “Estudos de

intervenção: contribuições da produção acadêmica das pesquisas em teoria da mente”, exibe

algumas pesquisas de intervenção que investigaram relações entre habilidades linguísticas e o

desenvolvimento da teoria da mente e que serviram de inspiração para o presente estudo. No

quinto capítulo, encontram-se expostos “Problema e objetivos” concernentes ao nosso estudo.

O sexto capítulo, intitulado “Método”, descreve o percurso seguido na realização desta

pesquisa, abarcando questões relacionadas aos cuidados éticos, delineamento, local e

participantes, procedimentos e instrumentos. No sétimo capítulo, “Apresentação e Análise dos

Resultados”, é feita a demonstração dos resultados. Por fim, no oitavo capítulo, são

apresentadas as conclusões e considerações finais.

4

1 Teoria da mente: a atribuição de estados mentais na infância

A criança, em seu cotidiano, está envolvida em interações sociais que ocorrem em

ambientes distintos. A adaptação ao mundo social exige o desenvolvimento de um conjunto

de habilidades sociocognitivas, dentre elas, a capacidade de compreender os seus próprios

estados mentais e os das outras pessoas, o que requer da criança a competência para realizar

inferências acerca desses estados mentais.

A habilidade de atribuir estados mentais, como desejos, intenções e crenças, a si

próprio e a outra pessoa e, a partir disso, tornar-se capaz de prenunciar o comportamento do

outro é denominada teoria da mente (Apperly, 2012; Wellman, Cross, & Watson, 2001). Para

a criança atribuir um estado mental a outra pessoa é preciso que compreenda que o outro

possui uma mente própria, que independe da sua e que, portanto, tem pensamentos, intenções,

desejos e crenças que divergem dos seus.

Ao atribuir estados mentais, a criança precisa se apropriar de um sistema de

referências que lhe possibilitará distinguir o mundo interno (eu) e o mundo social (outros),

isto é, diferenciar aquilo que ela sente, pensa, acredita e deseja, daquilo que o outro sente,

pensa, acredita e deseja (Wimmer & Perner, 1983). Ao fazer isso, a criança se torna capaz de

realizar inferências, deduções acerca dos estados mentais do outro e, dessa forma, predizer o

seu comportamento. Possuir uma teoria da mente, portanto, significa ser capaz de atribuir

estados mentais às outras pessoas e, por meio dessas atribuições, predizer o comportamento

do outro. Nossas inferências sobre os estados mentais de outras pessoas influenciam os nossos

comportamentos, ações e atitudes.

Com o objetivo de ilustrar essa forma de representação da realidade, Panciera (2002)

apresenta o seguinte exemplo:

Dois homens estão atravessando um túnel em construção. Quando saem do túnel,

um está com o rosto todo sujo e o outro tem o rosto completamente limpo. Então,

eles se olham. Nenhum dos dois diz uma palavra. Nesse instante, apenas o homem

com o rosto completamente limpo vai lavar seu rosto. Como você explica isso? (p.

4).

A análise que a autora faz dessa situação-problema é a de que certamente

responderíamos que quando o homem que está com o rosto limpo olha para o outro e vê o seu

rosto sujo, pensa que o seu rosto também está sujo (e vice-versa). Assim, chama a nossa

atenção para o fato de que nós (leitores) atribuímos um estado mental, uma crença ao outro,

na medida em que elaboramos a teoria de que “o rapaz de rosto limpo foi lavar-se porque

5

olhou para seu amigo com rosto sujo e, então, ele pensou que seu rosto estivesse sujo, apesar

de não estar”.

Quando imputamos estados mentais aos outros, podemos predizer suas ações e

adotamos uma estrutura explicativa em relação ao seu comportamento. Ao fazermos isso,

muitas vezes de modo espontâneo, não nos damos conta de que estamos levantando hipóteses

e elaborando uma teoria da mente.

Estudos recentes sugerem indícios dessa habilidade já nos bebês. Jou (2014) considera

que “esse poder de ‘adivinhar’, de interpretar pensamentos e emoções de nós mesmos e dos

outros é uma ferramenta social que começa a desenvolver-se a partir do nascimento e do

primeiro sorriso de resposta que o bebê oferece à sua mãe” (p.1). Essa citação nos remete a

refletir sobre o texto Como os bebês pensam, de Alison Gopnik (2010), publicado na revista

Scientific American Brasil. Nele, a psicóloga americana, autora de vários estudos sobre o

desenvolvimento da teoria da mente em crianças, discorre sobre algumas pesquisas recentes

as quais sugerem que as crianças, desde muito pequenas, têm um modo de descobrir o mundo

parecido ao de um cientista, isto é, por meio de experimentos, análises estatísticas e formação

de teorias intuitivas no âmbito dos mundos físico, biológico e psicológico. Afirma que

existem evidências de que nós nascemos com algumas noções importantes para

compreendermos o mundo, possuímos noções básicas de matemática, e até mesmo de como

interagirmos com as outras pessoas.

Dentre os vários estudos explicitados por Gopnik (2010), é relevante destacar um

estudo que a pesquisadora realizou com Betty Repacholi, em 1996. Uma experimentadora

mostrou a crianças de 14 meses e de 18 meses uma tigela com brócolis e outra com biscoitos

em formato de peixinhos; após, degustou um pouco do conteúdo das duas tigelas,

demonstrando para as crianças uma expressão de apreciação pelos brócolis e outra de

desagrado aos biscoitos. Em seguida, a experimentadora estendeu a mão e solicitou às

crianças: “vocês podem me dar um pouco?”. As crianças de 18 meses lhe ofereceram brócolis

dos quais ela demonstrou gostar, porém, não escolheram brócolis para si mesmas. Em

contrapartida, as crianças de 14 meses lhe ofereceram biscoitos. Desse modo, as

pesquisadoras concluíram que, mesmo de uma maneira simples, na tenra idade, as crianças

não são plenamente egocêntricas, pois já demonstram ser capazes de assimilar a perspectiva

de outra pessoa, e constataram que bebês de um ano e meio são capazes de entender que as

pessoas podem querer coisas diferentes.

O destaque dado a esse experimento é justificado por nos levar a pensar na habilidade

de atribuição de estados mentais de desejos em crianças de apenas 18 meses. Entretanto, esses

6

resultados divergem de outros estudos, os quais têm apontado que somente por volta dos 2

anos e 7 meses a 3 anos, num primeiro momento, a criança apresenta indícios da capacidade

de fazer alusão aos seus próprios estados mentais de desejos, seguidos de crenças, e num

segundo momento, são capazes de imputá-los às outras pessoas (Flavell & Miller, 1998;

Valério, 2008).

A literatura converge para a opinião de que a criança atribui estados mentais de crença

ao outro mais tardiamente. Pesquisadores asseguram que no início do quinto ano, muitas

crianças já são capazes de predizer o comportamento do outro, não apenas em função da

realidade tal como ela se apresenta, mas por meio da representação que essa pessoa tem, ainda

que essa representação não corresponda à realidade (Deleau, Maluf & Panciera, 2008). Desse

modo, a criança parece entender que a mente é composta de representações da realidade e tais

representações nem sempre são verdadeiras. Todavia, essa é uma discussão que retomaremos

mais adiante, de forma mais aprofundada, quando falarmos a respeito das tarefas de crença

falsa, primeiro modelo experimental criado para avaliar a teoria da mente.

O termo teoria da mente foi utilizado pela primeira vez por David Premack e Guy

Woodruff (1978) no artigo Does the chimpanzee have a theory of mind? Esses pesquisadores,

interessados na cognição animal, averiguaram, por meio de um experimento, a possibilidade

de chimpanzés serem capazes de imputar estados mentais e predizer o comportamento dos

humanos. Assim, os pesquisadores mostraram a um chimpanzé um vídeo no qual um ator

humano dentro de uma jaula tentava resolver vários problemas, dentre eles, apanhar bananas

fora da jaula. Depois de observar o filme, foram mostradas ao chimpanzé duas fotos, sendo

que em uma delas o ator humano, usando um bastão, alcançava as bananas solucionando o

problema. O chimpanzé escolheu exatamente essa foto, levando os pesquisadores a suporem

que o animal entendeu a intenção do protagonista do filme, aceitando a hipótese de que o

animal possuía uma teoria da mente.

Tendo em vista esse experimento, psicólogos do desenvolvimento cognitivo buscaram

entender o que significa uma pessoa compreender a mente de outra, e, de modo geral, as

pesquisas em teoria da mente têm buscado explicações sobre processos psicológicos do

desenvolvimento infantil, em crianças tanto com comportamento típico quanto com

comportamento atípico.

Dessa forma, essa área vem sendo amplamente estudada, constituindo-se em um

referencial de grande relevância para os psicólogos do desenvolvimento e os profissionais da

Educação Infantil. Afinal, como nos lembram Maluf, Deleau, Panciera, Valério e Domingues

(2004):

7

Compreender como se desenvolve na criança a compreensão da mente do outro é um

empreendimento da maior importância, tanto para psicólogos quanto para

educadores, dadas as implicações e aplicações desse conhecimento nas diversas

atividades voltadas para o favorecimento do desenvolvimento social e da

aprendizagem escolar durante os primeiros anos de vida (p. 53).

O período designado como sendo da Educação Infantil é visto como fundamental na

constituição e desenvolvimento da compreensão de estados mentais. Daí a importância de os

educadores conhecerem a respeito dessa habilidade, pois esse conhecimento lhes dará

subsídios para criarem estratégias facilitadoras do processo de socialização e aprendizagem

escolar dos seus alunos.

Em suma, entendemos que é importante estudarmos como e quando as crianças em

idade pré-escolar desenvolvem a compreensão da mente de outras pessoas, para

compreendermos como essas crianças estabelecem suas interações com seus parceiros,

agregando sentido ao comportamento social, nomeando seus desejos, intenções e crenças.

Permeando essa discussão, concordamos com Astington (2003) quando defende que a

compreensão de estados mentais é uma aquisição cognitiva basilar para a criança porque lhe

possibilita entender que o mundo é representado pela mente e que o modo como a pessoa

representa o mundo ao seu entorno determina o que essa pessoa diz ou faz.

Tendo explicado nosso entendimento acerca da importância de estudarmos o

desenvolvimento da teoria da mente em crianças, cabe citar um aspecto fundamental nessa

área, que vem sendo discutido entre os pesquisadores nas últimas décadas, o qual diz respeito

à existência de uma estreita relação entre a linguagem e a manifestação da teoria da mente.

Continuemos com a explanação dessa temática a seguir.

8

2 Considerações sobre a linguagem e a compreensão dos estados mentais

A linguagem é fundamental para as interações sociais; por meio dela os indivíduos

compartilham, expressam e comunicam seus pensamentos, ideias, sentimentos e intenções, e

atuam sobre o mundo, sobre o outro e sobre si mesmos.

Desde a tenra idade as crianças demonstram uma capacidade aguçada para

aprendizagem da linguagem, “parecem estar programadas, a partir do primeiro dia, a

sintonizar seu ambiente linguístico como meta específica de adquirir a língua” (Sternberg,

2010, p. 325).

De acordo com Sternberg (2010), a capacidade da criança para compreender a língua e

para processar informações de modo eficiente aumenta com a idade. Salienta que a principal

finalidade da linguagem é a de facilitar a capacidade do indivíduo para elaborar uma

representação mental de uma dada situação, o que lhe dá a possibilidade de compreendê-la e

realizar comunicações a respeito dela.

Por outro lado, a linguagem também permite a transmissão de valores culturais de uma

sociedade, isto é, a criança tem acesso a valores, regras, crenças e adquire o conhecimento de

sua cultura.

A relação do indivíduo com o mundo é mediada pela linguagem, originada e

aprimorada na e pela interação social. O sujeito se constitui e é constituído nesse processo no

qual a linguagem intermedeia o seu encontro com o mundo de relações sociais que o cerca e

produz uma rede de significações que orientarão suas condutas (Vygotsky, 2000).

Portanto, podemos considerar que a linguagem é uma das primeiras formas de

socialização da criança, a qual evidencia intenções comunicativas desde seus primeiros meses

de vida, nos quais se desenvolve a capacidade de conhecer sentimentos, emoções e crenças

mediante as relações em seu meio social.

Nos últimos anos, várias pesquisas têm demonstrado que a habilidade cognitiva de

compreender a mente, expressa na capacidade de atribuir a si mesma e ao outro os estados

mentais de desejos, crenças e intenções, parece estar diretamente relacionada ao

desenvolvimento linguístico, seja em crianças com desenvolvimento típico ou atípico (Alves,

Dias, & Sobral, 2007; Domingues & Maluf, 2013; Souza D., 2008; Tager-Flusberg, 2007).

Esses estudos estão sendo feitos na tentativa de compreender as relações entre a atribuição de

estados mentais e as diferentes dimensões da linguagem, como por exemplo, a sintaxe, a

semântica e a pragmática.

9

Para Sternberg (2010), a sintaxe, modo como os usuários de uma determinada língua

combinam as palavras para formar frases e sentenças, inclui um elemento nominal e um

verbal. O nominal contém pelo menos um substantivo, que geralmente exerce o papel de

sujeito da sentença, bem como os termos que o descrevem. O verbal (conhecido também

como predicado) contém pelo menos um verbo, que relata uma ação do sujeito. Segundo o

autor, aos 4 anos de idade, as crianças adquirem as bases da sintaxe, e grande parte das

crianças de 5 anos já consegue aprender e construir sentenças bem complexas e incomuns.

Quanto ao aspecto semântico, o autor explicita que diz respeito ao significado de cada palavra

em uma língua, formado pela denotação e conotação. A denotação é estritamente a definição

da palavra segundo o dicionário; já a conotação se refere às implicações emocionais, às

pressuposições e demais significados implícitos. Ainda sob esse crivo teórico, a pragmática

consiste no estudo do contexto social da linguagem por meio da qual o sujeito altera de modo

inconsciente seus padrões de linguagem para se adaptar a diferentes contextos.

Desse modo, é possível entender que os aspectos sintáticos estão ligados à

estruturação da fala e à disposição do discurso; os aspectos semânticos referem-se ao

significado do contexto; e o aspecto pragmático compreende as condições que governam o

uso da linguagem nas práticas sociais do falante.

Na opinião de alguns teóricos, as estruturas sintáticas são essenciais para se atribuírem

diferentes pontos de vista mediante o uso dos estados mentais. Admitem que a compreensão e

o domínio da sintaxe de complementação proporcionam uma estrutura de representações que

permitiria à criança representar atitudes proposicionais como crenças (de Villiers J. & de

Villiers P., 2000). Nesse contexto, é o domínio da sintaxe de complementação que permite a

um falante imputar pontos de vista distintos mediante o uso dos verbos mentais (acreditar,

pensar) e de comunicação (dizer). Vejamos o exemplo: Eu acredito que Renato não irá ao

meu aniversário sábado. O verbo mental “acredito” requer um complemento: que Renato

não irá ao meu aniversário sábado. Neste caso, a estrutura sintática expressa uma crença que

pode ou não concordar com a realidade ou com a crença de Renato.

Hale e Tager-Flusberg (2006) realizaram um estudo com o objetivo de investigar o

papel da linguagem na teoria da mente, mais especificamente, se complementos sentenciais

poderiam facilitar o desenvolvimento de uma teoria representacional da mente. Aceitaram a

hipótese de que as propriedades sintáticas e semânticas de complementação de sentenças

favoreceriam o desenvolvimento representacional da teoria da mente. Os sujeitos da pesquisa

foram 60 crianças, 25 meninas e 35 meninos, com idade de 36 a 58 meses. Esses participantes

foram separados aleatoriamente em dois grupos experimentais e um grupo controle. No prazo

10

de uma semana, foram efetivadas duas sessões de treino com quatro experimentações em cada

uma. Para cada um dos grupos foi dada uma tarefa específica, por exemplo, para um grupo

experimental foram dadas tarefas com complementação de sentenças; o outro grupo

experimental recebeu as tarefas de crença falsa; para o grupo controle foram atribuídas tarefas

com orações relativas. Após a última sessão de treino, foi realizado o pós-teste nessas

crianças, que já haviam demonstrado falhas nessas tarefas durante o pré-teste.

Os resultados evidenciaram que o grupo de complementação de sentenças adquiriu

conhecimento linguístico e apresentou um aumento significativo em uma escala de tarefas de

crença falsa. Diferentemente do grupo que treinou a crença falsa e, apesar de demonstrar

melhoria na pontuação da teoria da mente, não evidenciou maior habilidade linguística.

Quanto ao grupo controle, não foi percebida nenhuma melhora na teoria da mente. Com base

nesses achados, os autores aceitaram que a aquisição de complementação de sentenças

favorece o desenvolvimento da teoria da mente nas crianças pré-escolares.

Com relação ao aspecto semântico, alguns teóricos admitem que o desenvolvimento da

teoria da mente pode estar relacionado ao uso da linguagem nas conversas cotidianas e nas

experiências de conversação das quais a criança participa. Aludem que as crianças expostas a

ambientes onde os pais falam mais cedo dos estados mentais de desejos são aquelas que mais

precocemente conseguem explicitar desejos e crenças, conforme relata o estudo de Bartsch e

Wellman (1995). O aspecto semântico privilegia o conteúdo das conversações. As

experiências sociais da criança influenciariam o desenvolvimento da capacidade de

representação e de comunicação com as outras pessoas acerca dos próprios estados mentais e

os dos outros.

Outra dimensão da linguagem que está relacionada ao desenvolvimento da teoria da

mente é a pragmática. Tanto quanto a semântica, essa vertente também relaciona a

representação dos estados mentais às experiências de conversação das quais a criança

participa. Todavia, faz-se importante frisar que o enfoque semântico se refere ao “conteúdo”

das conversações, enquanto que a pragmática se preocupa mais com o uso da linguagem do

que com a sua estrutura; refere-se ao conjunto de regras que regem a conversação e que

permitem a comunicação eficaz.

É a competência pragmática que permite à criança atuar de modo efetivo nas

conversas cotidianas, compartilhar crenças e pensamentos e levar em conta as diferentes

perspectivas de seus interlocutores (Maluf, Gallo-Penna & Santos, 2011; Panciera & Roazzi,

2010). Assim, para haver entendimento em um diálogo é necessário que os interlocutores

saibam como utilizar a linguagem em interação com o outro. Nesse contexto, a criança precisa

11

possuir conhecimento, ao menos implícito, relacionado a um conjunto de regras ou

convenções que organizam o funcionamento das conversações.

Conforme dito anteriormente, a hipótese de que a linguagem exerce influência na

manifestação da teoria da mente também se aplica às crianças que possuem desenvolvimento

atípico. Tager-Flusberg e Joseph (2005) pesquisaram sobre essa correlação em crianças com

autismo, analisando a interação destas com suas mães em situações de brincadeiras. Os

participantes foram 51 crianças com idade de 5 anos e 4 meses até 14 anos e 2 meses. Nos

resultados, percebeu-se que a habilidade da utilização dos complementos falsos e dos verbos

de comunicação prenuncia mudanças na teoria da mente. O conhecimento de complementos

sentenciais mostrou-se importante no desempenho das tarefas de crença falsa. O complemento

sintático dos verbos de comunicação (explicar, dizer, pedir) permite uma estrutura sintática

que ajuda a criança com autismo a perceber o conteúdo de crença falsa, ainda que não

demonstre ter assimilado a abstração dos verbos de estado mental. A dimensão da sintaxe

mostrou-se significativamente mais relevante do que a semântica para o desempenho das

tarefas de teoria da mente.

De acordo com Garciá, Becerra e Espín (2012), as crianças com autismo, síndrome de

Down e com transtornos de linguagem não desenvolvem adequadamente a linguagem

convencional, e este é um dos motivos pelos quais apresentam resultados mais baixos nas

tarefas de crença falsa.

Na tentativa de se compreender a relação entre linguagem e teoria da mente, diversas

propostas têm sido apresentadas. Dentre elas, a ideia de que ao utilizarmos uma linguagem

rica em termos mentais (expressões relacionadas aos atos mentais), favorecemos a capacidade

da criança para entender os estados mentais. Bartsch e Wellman (1995) investigaram quando,

no desenvolvimento infantil, a criança faz uso de termos mentais em seu vocabulário.

Concluíram que inicialmente ela utiliza palavras que revelam desejos (querer, desejar) e, em

seguida, palavras que manifestam crenças (pensar, achar, saber). Relataram que

aproximadamente aos 3 anos, as crianças conversam a respeito de pensamentos e crenças, e

depois, são capazes de fazer conexões entre pensamentos e crenças.

Valério (2008) realizou um estudo longitudinal, ao longo de 18 meses, com o objetivo

principal de investigar a constituição da teoria da mente das crianças a partir de dois anos de

idade completos. A pesquisadora observou as manifestações mais precoces da capacidade de

atribuição de estados mentais ao outro, neste caso, emoções, desejos e crenças. Participaram

da pesquisa 58 crianças, 29 meninos e 29 meninas, com idade entre 1ano e 11 meses e 3anos e

7 meses. Inicialmente, para conhecer a capacidade de expressão verbal das crianças e

12

promover maior integração com elas, a pesquisadora contou a história de João e Maria e

solicitou que as crianças respondessem doze questões com o apoio visual da gravura do livro.

Após, foram feitas quatro coletas de dados, com espaço de tempo de 6 meses, utilizando dois

procedimentos: 1. observações em situações lúdicas em que as crianças foram vídeogravadas

brincando em grupos de quatro; 2. aplicação individual de tarefas de crença e crença falsa.

Nas observações em situações lúdicas, as crianças foram convidadas a participar de um jogo

de faz-de-conta, proposto por meio da encenação de histórias infantis, sendo uma história

diferente a cada coleta (Os Três Porquinhos, Cachinhos Dourados, Chapeuzinho Vermelho,

Rapunzel). Na aplicação das tarefas, foram utilizadas as seis primeiras tarefas de teoria da

mente da escala de Wellman e Liu (2004).

Nos resultados, verificou-se que as atribuições mais precoces de estados mentais ao

outro no que se refere à emoção ocorreram por volta dos 2 anos e 5 meses; referentes ao

desejo, com 2 anos e 7 meses; e referentes à crença, com 3 anos e 2 meses. Em relação aos

termos mentais, os mais encontrados foram os verbos gostar, querer e saber. No final do

segundo ano de vida, ficou evidenciado o uso frequente de palavras como medo, feliz e triste.

Durante o terceiro ano observaram-se as palavras pensar, conhecer, mentir e enganar.

Em 1997, Roazzi e Arcoverde verificaram o desenvolvimento da compreensão da

função semântica e da pragmática dos verbos mentais. Os participantes da pesquisa foram 53

crianças de 3 a 7 anos de idade, de nível socioeconômico médio, que frequentavam uma

escola particular. Os pesquisadores compararam a utilização de verbos fativos (saber e

descobrir) com a de verbos contrafativos (fazer de conta, fazer, acreditar). Foram distribuídas

às crianças duas listas de questões constituídas de sentenças com um verbo matriz e duas

perguntas. Na primeira, estava a propriedade semântica, e na segunda, a função pragmática.

Os resultados evidenciaram que as crianças tinham uma compreensão maior e mais

precoce dos verbos fativos do que dos contrafativos. Os verbos contrafativos foram pouco

compreendidos pelas crianças de 3 e 4 anos, sendo entendidos apenas pelas crianças a partir

do quinto ano, mas é aos 7 anos que o entendimento desses verbos parece estar

completamente desenvolvido. A partir dos 4 anos, as crianças demonstraram certo domínio

dos verbos fativos. Segundo os autores, a criança que é capaz de compreender e reconhecer

verbos mentais está não apenas reconhecendo-os como símbolos linguísticos possibilitando-

lhe comunicar-se, mas também identificando-os como termos designados apropriadamente a

estados internos cognitivos. Para eles, por meio da compreensão e da produção desses verbos

mentais a criança pode expressar os seus próprios estados mentais e os do outro.

13

Entende-se por verbo fativo um tipo de verbo por meio do qual o interlocutor se

compromete com a verdade da proposição, isto é, um verbo que implica a realidade (saber,

compreender, perceber); e o contrafativo compromete o locutor com a falsidade da proposição

expressa no complemento, isto é, um verbo que denota falsidade (fazer de conta, fingir,

inventar).

Na opinião de Astington e Gopnik (1991), é preciso, ao investigar os termos mentais

na teoria da mente, atentar para o fato de que a criança pode falar de estados internos (fome,

sono, calor, frio – estados internos relacionados às sensações) sem necessariamente falar

sobre a mente (perceber, gostar, querer, saber – estados internos relacionados à mente).

Valério (2008) argumenta que os termos mentais utilizados pela criança podem ser apenas

conversacionais, ela pode usá-los como simples palavras e não fazer atribuições de estados

mentais.

O artigo de Bermudez (2009) apresentou quatro hipóteses para a relação entre a

linguagem e a teoria da mente: 1. a linguagem precede a teoria da mente, assim, as crianças

são capazes de compreender as tarefas de crença falsa quando conseguem entender frases

complexas; 2. a teoria da mente e a linguagem exercem influência mútua, ambas se

desenvolvem simultaneamente; 3. a teoria da mente precede o desenvolvimento da linguagem,

pois exige uma atividade de representação fundamental para a implantação de toda a atividade

mental na qual estão incluídas as habilidades linguísticas; 4. a teoria da mente e a linguagem

se correlacionam devido a um fator externo comum, geralmente atribuído a funções de

memória, que permitem coordenar inúmeras atividades sobre os estados mentais e sobre as

atividades linguísticas.

A literatura demonstra a existência de relações entre a teoria da mente e a linguagem.

Ainda persistem muitas divergências na discussão sobre o papel preciso desempenhado pela

linguagem para o desenvolvimento da habilidade de atribuição de estados mentais na criança

(Deleau, et al. 2008; Souza D., 2006). Torna-se evidente que mais investigações sobre tais

relações sejam imprescindíveis para oferecer maior sustentação teórica acerca dessa

discussão.

Astington e Baird (2005) enfatizam que para relacionar linguagem e teoria da mente

tem-se que diferenciar a competência linguística individual da criança (domínio de

habilidades sintáticas, semânticas e pragmáticas) da influência do discurso social, ou do

ambiente linguístico, que compreende todas as formas de interação social que se desenvolvem

pela linguagem, tais como: leitura de livros, as conversações, canções e contação de histórias.

14

Para Deleau et al. (2008), essas trocas comunicativas são experiências verbais que exercem

papel fundamental na aquisição da teoria da mente.

A prática da conversação é um dos aspectos da linguagem que parece ser fundamental

para que a criança desenvolva a compreensão da mente do outro. É no contexto das relações

sociais, interagindo com os seus pares nas experiências que vivenciam no seu grupo social,

que as crianças desenvolvem a compreensão dos estados mentais.

É importante salientar que reconhecemos essa relação entre a linguagem e a teoria da

mente e concordamos com alguns teóricos (Domingues & Maluf, 2013) que consideram um

conceito mais global da linguagem oral, isto é, como ela se mostra em contextos de

conversação cotidiana, que geralmente ocorrem no ambiente familiar e escolar nos quais a

criança está inserida. Acreditamos que o envolvimento das crianças em situações de

conversas, com discussões acerca dos seus próprios estados mentais (desejos, intenções e

crenças) e os dos outros, contribui para o desenvolvimento da capacidade de atribuir crença ao

outro, habilidade relevante para a adaptação social das crianças. Uma situação de interação

linguística, que pode se constituir como uma ferramenta para favorecer a teoria da mente nas

crianças nos ambientes educacionais onde estão inseridas, diz respeito à contação de histórias

infantis.

Alguns estudos fornecem evidências de que a atividade de contação de histórias é

propícia para discutir estados mentais com as crianças. Isso se explica porque as histórias,

segundo Nelson (2005), denotam o que os personagens pensam, desejam, querem, sentem,

aspectos relevantes para a teoria da mente. Logo, por meio dessa atividade as crianças podem

adquirir um conhecimento mais avançado sobre os pensamentos, sentimentos e as crenças de

outras pessoas. Entretanto, autores (Adrian et al., 2007; Gallo-Penna, 2011; Oliveira, 2009)

apontam para a importância do emprego de uma linguagem envolvendo termos mentais na

prática de contação de histórias, para explicar os estados mentais dos personagens infantis;

isso daria à criança mais condições de reconhecer os seus próprios estados mentais e das

demais pessoas.

Ao assumirem a teoria da mente como uma habilidade intrínseca a uma rede social e

cultural, Pavarini e Souza (2010) destacam que tal habilidade caracteriza a interação social

humana. Para elas, habitamos em uma comunidade na qual compartilhamos o invisível de nós

mesmos, ou seja, aquilo que ocorre em nossas mentes e o que imaginamos se passar nas

mentes dos outros, por meio de diálogos utilizando termos mentais como pensar, sentir,

conhecer, imaginar, etc. As autoras referem Nelson (2007), que explica que conforme a

criança “adquire esta ‘linguagem da mente’ e torna-se mais capaz de compreender de que

15

forma diferentes estados mentais influenciam o comportamento humano, ela vai sendo

incorporada como um membro efetivo de uma comunidade de mentes” (p. 614).

Isto posto, é possível pensar que a compreensão que possuímos de nossas mentes nos

possibilita a interpretação da mente das outras pessoas, bem como nos oferece subsídios para

anteciparmos suas ações. Entendemos, em consonância com Souza (2008), que somos

membros de uma comunidade de mentes que partilham um conjunto de crenças e valores.

Portanto, ao favorecermos o desenvolvimento da teoria da mente na criança, contribuímos

para a sua adaptação social e escolar.

Afinal, como fundamentam Astington e Edward (2010), o desenvolvimento da teoria

da mente é um dos aspectos mais importantes na primeira infância no campo da cognição

social.

A seguir, daremos enfoque a um dos aspectos mais relevantes na investigação sobre a

concepção das crianças a respeito da mente, isto é, o que diz respeito à sua capacidade de

atribuir estados mentais.

16

3 A compreensão social sob a forma de atribuição de estados mentais

A capacidade de atribuição de estados mentais tem sido estudada por meio da

aplicação de “tarefas de teoria da mente”. Interessa-nos ressaltar que a primeira dessas tarefas

surgiu no ano de 1983, com um experimento realizado por Wimmer e Perner, o qual deu

origem a um paradigma experimental nesse campo de pesquisa.

A partir desse experimento, os estudos sobre a teoria da mente começaram a ser

desenvolvidos, pois até então, faltava a essa área um paradigma de pesquisa dentro do

tradicional experimentalismo daquela época.

Na perspectiva de Wimmer e Perner (1983), “a ação enganosa é uma boa maneira de

demonstrar a presença de uma teoria da mente” (p. 104). Partindo desse princípio, criaram a

história de Maxi e o chocolate. Nela, Maxi está juntamente com sua mãe guardando as

compras e coloca um chocolate num determinado armário (I). A mãe de Maxi, na sua

ausência, tira o chocolate do lugar e põe num outro armário (II). Mais tarde, Maxi retorna ao

local para pegar seu chocolate. A criança testada deverá responder à pergunta feita pelo

investigador: “Em que lugar Maxi vai procurar seu chocolate?” A criança capaz de

representar a crença falsa de Maxi (que não sabe que o chocolate está em outro lugar)

responderá que o garoto vai procurar no armário em que ele deixou o chocolate (I), embora a

criança testada saiba que o chocolate está num outro armário (II). Partindo dessa história, os

autores criaram mais duas versões, incluindo um irmão e posteriormente um avô para Maxi,

cuja finalidade era tornar mais firmes seus estudos.

O primeiro estudo de Wimmer e Perner (1983) foi realizado com 36 crianças, entre 3 e

9 anos de idade, provenientes de diversos jardins de infância e de lugares de veraneio da

Áustria. Os resultados mostraram que nenhuma criança entre 3 e 4 anos teve acerto nas

tarefas, porém 57% das crianças de 4 a 6 anos e 86% das crianças de 6 a 9 apontaram o lugar

certo onde o protagonista iria buscar seu objeto. Com esses resultados, os pesquisadores

sugeriram que a habilidade de atribuição de crença falsa surge aproximadamente entre 4 e 6

anos de idade.

Em 1985, Baroh-Cohen, Leslie e Frith, baseando-se na tarefa de Maxi, apresentaram

uma nova tarefa e realizaram um estudo para avaliar a atribuição de crença em crianças

normais e autistas, utilizando como grupo de controle crianças com síndrome de Down. Nessa

tarefa, são apresentadas duas amigas, Sally e Anne. Primeiramente, é constatado se a criança

sabe diferenciar as duas bonecas e seus nomes. Sally coloca uma bola de gude em sua cesta e

17

sai de cena. Nesse momento, Anne desloca a bola de gude da cesta para uma caixa. Quando

Sally retorna, o experimentador pergunta: “Onde Sally irá procurar sua bola de gude?” Esta

tem sido uma tarefa bastante replicada. Os autores afirmam que para assegurar que a criança

possui os conhecimentos do lugar real onde está a bola e a memória exata do local prévio,

devem ser apresentadas duas questões: a) “Onde realmente está a bola de gude?” (para

avaliar o conhecimento da realidade) e b) “Onde estava a bola de gude no início?” (para

avaliar a memória). Os resultados mostraram que as crianças autistas possuem dificuldade

específica em atribuir estados mentais.

Convém notar que as tarefas de crença falsa são constituídas por histórias que

possuem algumas informações por meio das quais seria possível a criança inferir que um

personagem possui uma crença que difere da realidade, e assim, verifica-se se a criança é

capaz de interpretar e prever o comportamento desse personagem diante de uma determinada

situação.

A exigência cognitiva desse tipo de tarefa determina que a criança assuma a

perspectiva de um personagem, compreenda a relação entre os comportamentos e os estados

mentais e siga uma narrativa. É essa capacidade de diferenciar o mundo real do mundo mental

que a tornará apta a prever as ações dos outros a partir dos estados mentais (Delgado &

Moreno, 2009).

Para Flavell e Miller (1998), a crença falsa é uma crença equivocada, baseada em fatos

que não são verdadeiros, que não condizem com a realidade, seja por desconhecimento dos

fatos, seja por falta de acesso à informação. Na crença falsa, a criança pensa e interpreta que a

crença da outra pessoa difere da sua própria, e que a crença do outro pode divergir da

realidade.

Dessa forma, os acertos nas tarefas experimentais de crença falsa evidenciam que a

criança compreende a diferença entre o pensamento de uma pessoa, que pode estar enganada a

respeito da realidade, e a realidade que é conhecida pela criança.

Como visto, essas tarefas avaliam a capacidade da criança de atribuir a outra pessoa

uma crença, ainda que diferente da sua própria e/ou de uma situação facilmente comprovada

por observação. Exemplificando, apresenta-se à criança uma história em que algo acontece na

ausência de um personagem e espera-se que ela antecipe a ação desse personagem levando em

conta que ele tem desconhecimento dos fatos (Valério, 2008).

Martins, Barreto e Castiajo (2013) expõem que prever o comportamento do

personagem que possui uma crença que não corresponde à realidade implica a capacidade da

criança de metarrepresentar, isto é, pensar nos estados mentais enquanto representações. E

18

assim, abandonar a sua própria perspectiva (o que sabe) para responder de acordo com aquilo

que o personagem acredita ser real. Para os pesquisadores, as tarefas de crença falsa são, por

excelência, um teste da capacidade da criança para metarrepresentar, representar a

representação. Defendem que essa habilidade metarrepresentativa, implícita no

desenvolvimento da teoria da mente, só estaria presente na criança por volta dos 4 anos de

idade.

Nessa mesma vertente, Perner (1991) expõe que a criança possui uma teoria da mente

quando entende que a mente é um sistema representacional, e então, torna-se capaz de

metarrepresentar. Isso ocorre por volta dos 4 anos de idade; nessa etapa, a criança torna-se

apta a compreender que objetos, figuras e situações podem suscitar representações distintas

para as pessoas.

Assim, para resolver as tarefas de crença falsa, a criança precisa fazer uso da

representação que ela faz de uma falsa representação do protagonista, ponderando duas

crenças contraditórias, concomitantemente, a do protagonista e a dela própria.

Inicialmente, a criança deve considerar a crença do personagem que não teve acesso

perceptual a um dado acontecimento. Posteriormente, pautando-se nas causas dessa crença,

deve ser capaz de inferir que comportamento será adotado pelo protagonista. Ou seja, precisa

considerar a crença do outro e não a sua, que é a de quem teve informações do evento (Moses

& Flavel, 1990). Mais especificamente, a criança demonstra entendimento de uma situação de

crença falsa quando ela passa a ler a mente do outro apoiando-se na perspectiva desse outro,

distinguindo o que essa pessoa acredita e o que é real. Nesse momento, a criança deixa de ler

a mente do outro ancorada na sua própria perspectiva da realidade concreta.

Portanto, pode-se dizer que um dos indícios de que a criança desenvolveu a teoria da

mente está presente quando ela compreende que as outras pessoas podem ter um pensamento

ou uma crença que não coincide com a realidade externa, isto é, uma crença falsa.

Há também uma distinção que pode ser feita com relação aos tipos de tarefas de

crenças falsas: crenças falsas de primeira e de segunda ordem. Nas de primeira ordem, a

criança deve compreender que o personagem A possui uma crença falsa sobre a realidade.

Nas tarefas de crença falsa de segunda ordem, a criança deve manifestar o entendimento de

que o personagem A possui uma crença falsa sobre a crença do personagem B, isto é, atribui

uma representação falsa a A sobre a representação de B (Freitas, O´Brien, Nelson, &

Marcovitch, 2012). Em outras palavras, exemplificando, na crença falsa de primeira ordem, a

criança demonstra compreender que “Marina acha que a boneca está no armário, quando, na

verdade, está no sofá” (crença sobre um estado mental); já na crença falsa de segunda ordem,

19

a criança compreende que “Luma acredita que o Gabriel pensa que o carrinho dele está no

quarto, quando, na verdade, está na sala” (crença sobre a crença de outra pessoa). Como

demonstram Roazzi e Santana (2008), há um grau de dificuldade diferenciado nessas tarefas,

e as de segunda ordem são adquiridas mais tardiamente do que as de primeira ordem.

A compreensão da criança a respeito de que uma pessoa possui uma crença falsa

elucida a sua capacidade de diferenciar mente e mundo, já que os estados mentais são internos

e mentais, distintos de acontecimentos reais (Wellman, Cross & Watson, 2001). Fica claro

que o acerto da criança nas tarefas de crença falsa confirma seu conhecimento de que o

personagem depende de sua própria crença e não da situação real; a criança deve diferenciar o

mundo real do mundo mental.

Quanto à idade em que as crianças apresentam bons resultados na resolução dessas

tarefas, grande parte dos estudos demonstra que é por volta de 4 e 5 anos, enquanto que

crianças de 3 anos fracassam (Lourenço, 1992; Moses & Flavel, 1990; Wimmer & Perner,

1983). De acordo com Moses e Flavel (1990), o insucesso apresentado pelas crianças abaixo

de 3 anos, dentre outras explicações, pode estar relacionado com as pistas disponíveis nas

tarefas; para estas, faltam explicações mais explícitas quanto às ações e reações dos

personagens. Ademais, na opinião desses pesquisadores, a criança pequena não consegue

entender a natureza representacional da crença. Astington e Jenkins (1999) defendem a

hipótese de que as tarefas de teoria da mente apresentam uma complexidade linguística que

pode dificultar o bom desempenho das crianças de 3 anos.

Diante do exposto até aqui, entendemos que o ser humano é movido por um sistema de

crenças que definem seu pensamento, seu comportamento, suas experiências sociais e

afetivas, suas atitudes cotidianas. Porém, além das suas próprias crenças, convive em

sociedade com outras pessoas, e por isso, torna-se imprescindível a compreensão de que os

outros também possuem sentimentos, crenças e desejos diferentes dos seus. Segundo a visão

de Carraro (2003), quando a criança, na tarefa de crença falsa, entende que se trata de uma

crença diferente da realidade, representando a representação, torna-se capaz de se colocar no

lugar do outro. Logo, ao admitirmos essa possibilidade, reconhecemos a teoria da mente como

uma habilidade fundamental para a vida em sociedade.

Zelazo (2011) argumenta que desenvolver a consciência social e cognitiva é

especialmente importante durante a infância para preparar as crianças para interagirem

adequadamente com o mundo social. Promover precocemente (em idade mais jovem) as

habilidades sociocognitivas, tais como a capacidade de compreender, descrever e prever

20

estados mentais (emoções, motivações, desejos, sentimentos, crenças) das pessoas, traz

benefício para o desenvolvimento social e acadêmico do aluno.

Vimos que interagimos interpretando os estados mentais dos outros e com o outro,

portanto, facilitar o desenvolvimento dessa habilidade na criança no período da Educação

Infantil torna-se fundamental. A seguir, será apresentado um estudo que se tornou relevante

para as pesquisas na área da teoria da mente.

3.1 A escala de tarefas de teoria da mente de Wellman e Liu (2004)

Após a criação da primeira tarefa de crença falsa, apresentada por Wimmer e Perner,

em 1983, surgiram diversas tarefas de teoria da mente, as quais foram modificadas,

reaplicadas, adaptadas aos diversos contextos culturais, inclusive para crianças com

desenvolvimento atípico (Síndrome de Down e Transtorno do Espectro do Autismo), e se

multiplicaram as pesquisas em teoria da mente que se serviram do paradigma das tarefas de

crença falsa.

Em 2004, Wellman e Liu realizaram um estudo que deu origem a uma escala de

tarefas de teoria da mente. Essa escala foi traduzida no Brasil por Domingues, Valério,

Panciera e Maluf (2007), configurando-se como uma importante contribuição para as

pesquisas nacionais.

Para dar origem à escala, Wellman e Liu efetivaram duas investigações: a primeira,

uma meta-análise, consistiu em um levantamento de todas as tarefas utilizadas em pesquisas

na área da teoria da mente até o ano de 2003, categorizando-as; a segunda testou em 75

crianças uma escala de tarefas de teoria da mente da primeira investigação e ordenou-as em

função do grau de dificuldade demonstrado pelas crianças para darem a resposta considerada

adequada.

Dessa forma, os pesquisadores construíram a escala, que será exposta a seguir,

obedecendo à ordem da tarefa mais fácil para a mais difícil. Será apresentada também a

autoria e o ano de cada uma das tarefas, conforme estudo de Wellman e Liu (2004).

1. Desejos diferentes (Repacholi & Gopnik, 1997; Wellman & Wooley, 1990) – a

criança aprecia a ação do outro quando duas pessoas, a própria criança e o outro,

têm desejos diferentes sobre os mesmos objetos.

2. Crenças diferentes (Wellman & Bartsch, 1989; Wellman et al., 1996) – a criança

julga a ação do outro quando duas pessoas, a própria criança e o outro, têm

21

diferentes crenças sobre os mesmos objetos e quando a criança não sabe qual

crença é verdadeira ou falsa.

3. Acesso ao conhecimento (Pillow, 1989; Pratt & Bryant, 1990) – a criança vê o que

há em uma caixa e julga (sim ou não) o conhecimento de outra pessoa que não teve

acesso ao conteúdo da caixa.

4. Crença falsa: conteúdo (Perner, Leekam & Wimmer, 1987) – a criança avalia a

crença falsa de outra pessoa sobre o que há em um recipiente bem característico

quando a criança conhece o conteúdo do recipiente.

5. Crença falsa: explícita (Siegal & Beattie, 1991; Wellman & Bartsch, 1988) – a

criança avalia onde um personagem vai procurar um objeto, sendo que esse

personagem tem uma crença equivocada.

6. Crença e emoção (Harris et al., 1989) – a criança julga como uma pessoa se sentirá

diante de uma crença equivocada.

7. Emoção real-aparente (Harris et al., 1986) – a criança avalia se uma pessoa pode se

sentir de uma forma, mas aparentar uma emoção diferente.

Os autores mencionam que a aquisição da teoria da mente ocorre de forma

desenvolvimental e a escala supõe uma aquisição processual da teoria da mente. Os resultados

desse estudo evidenciaram que a compreensão dos estados mentais de crença nas crianças

aparece depois dos estados mentais de desejos. Portanto, antes de perceber que duas pessoas

podem ter crenças diferentes sobre um mesmo objeto, a criança entende que duas pessoas

podem ter desejos diferentes. Apontaram também que primeiramente, a criança percebe que

as pessoas possuem crenças diferentes sobre uma mesma situação, para depois perceber que

as pessoas podem possuir uma crença falsa sobre uma situação. Por fim, concluíram que a

compreensão da criança para distinguir emoção real e aparente surge mais tardiamente em

relação às demais.

No próximo capítulo, trataremos de alguns estudos de intervenção que utilizaram a

escala de tarefas de teoria da mente de Wellman e Liu (2004). Além disso, serão apresentadas

outras pesquisas que não fizeram uso da escala, mas que, nessa linha de estudos de

intervenção, têm contribuindo para a expansão do conhecimento acerca dessa área tão

importante do desenvolvimento humano, configurando-se como alternativas de ação que têm

favorecido a cognição social da criança em idade pré-escolar.

Ressaltamos que todos esses estudos serviram de inspiração para a presente pesquisa e

demonstram que crianças que participam de conversas envolvendo frequentes termos mentais

22

obtêm um melhor desempenho nas tarefas que avaliam a teoria da mente, evidenciando a

existência de correlações entre linguagem e teoria da mente.

23

4 Estudos de intervenção: contribuições da produção acadêmica das pesquisas em teoria

da mente

Neste capítulo, serão apresentados alguns estudos de intervenção que investigaram

relações entre habilidades linguísticas e o desenvolvimento da teoria da mente.

Domingues (2006) realizou o primeiro estudo brasileiro de caráter interventivo, com o

objetivo de verificar os efeitos de uma intervenção sobre a habilidade de atribuição de estados

mentais de crença em crianças pequenas. Participaram desse estudo 44 crianças de ambos os

sexos, com idade entre 3a5m e 4a7m, de nível socioeconômico baixo, que frequentavam uma

creche na zona leste da cidade de São Paulo. A escolha das crianças para compor o grupo

experimental (GE) e o grupo controle (GC) foi aleatória; cada grupo foi constituído por 22

crianças. O procedimento de intervenção consistiu em quatro histórias envolvendo atribuição

de crença falsa. No grupo experimental, para contar as histórias, a pesquisadora utilizou um

cenário montado em uma casinha de madeira que media 67 cm de largura, 49 cm de

profundidade e 44 cm de altura. Os materiais utilizados eram modificados de acordo com cada

narrativa; além dos materiais, as histórias envolviam dois personagens.

Enquanto contava as histórias, a pesquisadora interagia verbalmente com os sujeitos,

manipulando os materiais e os personagens. Em seguida, discutia com as crianças a respeito

do cenário de cada trama. Nessas discussões, buscava utilizar uma linguagem fazendo

atribuições de estados mentais, desejos, intenções e crenças dos personagens. Ao grupo

controle (GC) foi proposto um conjunto de quatro atividades que não utilizavam linguagem,

de modo a não concorrerem para o desenvolvimento da habilidade de compreender e atribuir

estados mentais. As atividades propostas e realizadas pelas crianças do grupo controle foram:

desenho, massinha, colagem e quebra-cabeça. A fim de gerar condições semelhantes, as

atividades foram desenvolvidas individualmente na mesma sala onde as crianças do grupo

experimental (GE) também realizavam suas atividades.

A pesquisa foi realizada em três fases: pré-teste, intervenção e pós-teste. No pré-teste,

foram aplicadas duas tarefas de crença falsa a fim de selecionar para o estudo as crianças que

não acertassem essas tarefas aplicadas. A intervenção, feita com cada criança separadamente,

foi baseada na explicação de tarefas de crença falsa e acompanhada por demonstrações com a

ajuda de gestos e objetos, além da fala explicativa. Para o primeiro pós-teste, aplicado no dia

seguinte à última sessão de intervenção, a pesquisadora utilizou duas tarefas semelhantes às

tarefas do pré-teste. Com a finalidade de verificar se os acertos das tarefas após a intervenção

ocorreram apenas por memorização imediata, ou por ter, de fato, havido desenvolvimento na

24

habilidade de atribuição de crença falsa das crianças do grupo experimental, a pesquisadora

realizou um segundo pós-teste, três semanas após o primeiro. Para tanto, utilizou duas tarefas

semelhantes às do primeiro pós-teste.

Os resultados obtidos indicaram que as crianças do grupo experimental se

beneficiaram, parcialmente, com o procedimento de intervenção e, com exceção de uma única

tarefa, foi observada uma diferença significativa no desempenho do grupo experimental em

relação ao desempenho do grupo controle. As atividades favoreceram o surgimento da

habilidade de atribuição de estados mentais de crença e os efeitos se mantiveram no grupo

experimental após três semanas. Ficou evidenciado que as atividades favoreceram o

surgimento da habilidade de atribuição de estados mentais, bem como apontaram para a

existência de uma relação entre essa habilidade e o desenvolvimento da linguagem, o que

coincide com outros trabalhos já relatados.

Um estudo inovador que verificou como se apresentam as relações de precedência

entre a linguagem e a atribuição de crença em crianças de 3 a 5 anos de idade foi realizado no

ano de 2007, por Panciera. Os participantes foram 84 crianças, 44 meninos e 40 meninas, com

idade de 3a10m a 5a3m, com as quais foram formados quatro grupos experimentais e dois

grupos controle. O trabalho foi dividido em dois estudos: o estudo 1 foi realizado com

crianças provenientes de famílias de nível socioeconômico médio alto; o estudo 2 foi

realizado com crianças provenientes de famílias de nível socioeconômico baixo. Para ambos

estudos foi utilizado um delineamento em três fases: pré-teste, intervenção e pós-teste. No

pré-teste, as crianças foram avaliadas em três aspectos: 1. em relação ao seu nível verbal, por

meio de uma prova de nível verbal; 2. em relação ao seu domínio sobre aspectos específicos

da pragmática da linguagem, com um instrumento de compreensão conversacional; 3. em

relação à compreensão a respeito da mente do outro, através da escala de tarefas de teoria da

mente de Wellman e Liu (2004). Em seguida, foi realizada uma intervenção em pragmática da

linguagem, utilizando conversações a partir de personagens de livro de histórias, em que eram

explicados os estados mentais dos personagens, com as crianças dos dois grupos

experimentais. Para o pós-teste dos dois estudos foi utilizada a escala de tarefas de teoria da

mente de Wellman e Liu (2004).

Os resultados dos estudos indicaram que as crianças dos dois grupos experimentais

obtiveram um melhor desempenho nas tarefas de teoria da mente no pós-teste, ao serem

comparadas às crianças do grupo controle, admitindo-se a influência da linguagem no

desenvolvimento da teoria da mente. Verificou-se a eficácia das duas intervenções em

pragmática da conversação, no desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente,

25

incluindo a tarefa clássica de crença falsa. Os resultados também mostraram que as crianças

do estudo 2 (nível socioeconômico baixo), as quais obtiveram resultados inferiores no pré-

teste nas tarefas de teoria da mente, foram as mais beneficiadas pelas intervenções. Com esses

achados, a autora afirma que práticas linguísticas semelhantes às que foram adotadas nesse

estudo favorecem o desenvolvimento da teoria da mente em crianças pequenas e podem

diminuir diferenças inicialmente encontradas entre crianças das duas condições socioculturais

investigadas.

Os efeitos da participação da criança em situações de interação verbal, em que são

explicados estados mentais, sobre o desenvolvimento da habilidade de compreensão da mente

do outro também foram investigados por Oliveira (2009). Essas interações verbais foram

investigadas no contexto da relação mãe-criança. Aceitou-se a hipótese de que as

conversações que ocorrem entre mãe e criança, nas quais a mãe utiliza verbos mentais e

explica sentimentos, desejos e crenças dos personagens de histórias infantis, favorecem na

criança a habilidade de atribuição de crença falsa e compreensão da mente do outro.

Participaram do estudo 40 díades mãe-criança, moradoras de uma zona de periferia de Itajaí

(SC); a idade das mães variava entre 25-42 anos e a das crianças entre 3a a 5a4m. Das 40

díades mãe-criança, 20 fizeram parte do grupo controle e 20 do grupo experimental. Foi

utilizado um procedimento em três fases: pré-teste, intervenção e pós-teste. No pré-teste,

foram aplicadas as cinco primeiras tarefas de teoria da mente do estudo de Wellman e Liu

(2004). Já as mães foram convidadas a contar uma história para o(a) seu(sua) filho(a). Na

intervenção do grupo experimental, as mães foram orientadas para utilizarem verbos e outros

termos mentais para narrar histórias que envolvessem compreensão e atribuição de estados

mentais aos personagens, incluindo desejos, intenções e atribuição de crença ao outro. Foram

realizadas 4 sessões de treinamento para as mães, uma por semana. As mães do grupo

controle foram orientadas para narrar as mesmas histórias, porém, não receberam orientação

específica sobre o modo de narrá-las. Foram utilizadas as quatro histórias construídas por

Panciera, em 2007 (Chico Bento, Magali, Mônica, Cascão). Cada semana, a pesquisadora

tinha um encontro com a mãe e a entrevistava a respeito das atividades relacionadas às

instruções dadas durante a semana anterior. A mãe ficava com o livro de histórias durante a

semana e era orientada a exercitar a interação verbal com a criança, contando a mesma

história, sempre ressaltando os estados mentais. No pós-teste, uma semana após a última

intervenção, as crianças foram avaliadas com as mesmas tarefas do pré-teste. As mães foram

solicitadas novamente a contar a mesma história do pré-teste para a criança.

26

Os resultados mostraram um forte efeito da linguagem sobre o desenvolvimento da

teoria da mente nas crianças, sendo esse efeito maior no grupo experimental, no qual as mães

foram orientadas a utilizar verbos e termos mentais. No pós-teste, as crianças dos dois grupos

mostraram avanços na compreensão de estados mentais, porém, as do grupo experimental

progrediram mais e seu desempenho foi significativamente melhor nas tarefas de crença falsa.

Tais resultados sustentam a hipótese de uma relação entre a habilidade de atribuição de

estados mentais e o desenvolvimento da linguagem. Demonstraram também que as

conversações realizadas entre as díades mãe-criança possibilitaram o desenvolvimento da

compreensão de estados mentais, e que o uso intencional de termos mentais, nas condições do

grupo experimental, produziu maiores efeitos e favoreceu o desempenho nas tarefas de crença

falsa.

Em nossa dissertação de mestrado (Souza A., 2009), verificamos os efeitos de um

procedimento de intervenção em que foram explicados aos participantes os estados mentais de

crença de personagens de histórias por meio de conversações em situações lúdicas. Foi aceita

a hipótese de que a utilização desse procedimento contribuiria para a aquisição da habilidade

de atribuição de estados mentais de crença em crianças em idade pré-escolar. A pesquisa foi

feita em três fases: a) pré-teste - foi aplicada uma prova de nível verbal e as cinco primeiras

tarefas de teoria da mente da escala de Wellman e Liu; b) intervenção - foram realizadas

quatro sessões lúdicas, individuais, com narração de histórias que envolviam compreensão e

atribuição de estados mentais aos personagens, com ênfase no uso de verbos mentais; c) pós-

teste - no pós-teste 1, realizado no dia seguinte à última intervenção, foram reaplicadas as

cinco tarefas do pré-teste; no pós-teste 2, realizado duas semanas após o pós-teste 1, foram

utilizadas as mesmas tarefas. Participaram 10 crianças, sendo 6 meninos e 4 meninas, com

idade variando de 4a9m a 5a11m, provenientes de famílias de nível socioeconômico baixo,

que frequentavam uma escola municipal no interior do Estado da Bahia.

Os resultados mostraram que as crianças progrediram na compreensão da crença falsa

após o procedimento de intervenção. De modo geral, as estratégias de conversação

empregadas na intervenção favoreceram o avanço na capacidade de atribuição de estados

mentais de crença ao outro. Esses resultados amparam a hipótese de uma relação entre a teoria

da mente e o desenvolvimento da linguagem.

Em 2011, uma pesquisa com crianças de desenvolvimento atípico foi realizada por

Gallo-Penna. A autora investigou os efeitos de um procedimento, com base na linguagem,

sobre a habilidade de atribuição de estados mentais ao outro, em crianças com autismo.

Assim, orientou as mães dos filhos autistas acerca da utilização de uma linguagem baseada

27

nos estados mentais dos personagens durante a narração de histórias infantis para seus filhos.

Participaram 3 crianças e suas mães, com idade entre 11 e 16 anos, um menino e duas

meninas, que frequentavam escolas regulares do estado de Minas Gerais. Para avaliar a teoria

da mente no pré-teste e no pós-teste, a pesquisadora utilizou as sete tarefas da escala de

tarefas de teoria da mente de Wellman e Liu (2004).

A intervenção teve seis meses de duração e envolveu duas orientações coletivas e

quinze individuais. Quanto às orientações coletivas, na primeira, foi apresentada às mães a

proposta da pesquisa e enfatizada a relevância da linguagem como favorecedora do

desenvolvimento da compreensão social nas crianças. Na segunda, foi abordada a importância

do uso de verbos e termos mentais para explicar os desejos, crenças, intenções e emoções dos

personagens das narrativas infantis. No que diz respeito às orientações individuais, foram

realizadas semanalmente, nas casas das crianças. Em cada encontro, com duração de

aproximadamente uma hora, era trabalhado um conto infantil; esses contos foram

digitalizados para apresentação em Power Point: Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, João e o

Pé de Feijão, Ilha do Tesouro, A Pastorinha, Rapunzel, O Pequeno Polegar, O Príncipe Sapo,

O Soldadinho de Chumbo, Branca de Neve, O Gato de Botas, Cinderela, João e Maria, O

Patinho Feio, A Pequena Sereia. A pesquisadora chegava e era acolhida pela mãe e pela

criança. Inicialmente, a criança podia ver e/ou ler a história com a pesquisadora na tela do

computador. Enquanto isso, a mãe podia se familiarizar com a história lendo-a no livro ou

observando a leitura do filho no computador. Na etapa seguinte, a mãe lia a história para seu

filho; ela podia ler por completo e fazer explicações ao final, ou podia ler e dar explicações

conjuntamente. Quando a mãe terminava, a pesquisadora voltava a interagir com a dupla,

falava sobre a história e entregava um incentivo (adesivo, dedoche, painel da história) para a

criança, a fim de motivá-la à participação do estudo. Depois, a pesquisadora se despedia da

criança e permanecia apenas com a mãe para orientá-la; falava sobre a linguagem que deveria

ser utilizada para enfatizar os estados mentais dos personagens e reforçava a necessidade de a

mãe recontar a mesma história ao longo da semana para seu filho. A pesquisadora também se

propunha a esclarecer questões relacionadas à criança sobre comportamento, aprendizado e

outros assuntos que a mãe considerasse relevantes.

Os resultados demonstraram que a linguagem adotada pelas mães a partir das

orientações, contendo termos e explicações sobre os estados mentais, favoreceu o

desenvolvimento da teoria da mente de seus filhos. Em duas crianças foi possível perceber

uma relação entre a linguagem materna e o desempenho das tarefas de crença falsa. Foi

verificado o aumento no uso de termos emocionais nas falas das crianças, e de termos

28

cognitivos nas falas maternas. Considerou-se que a linguagem é preditora na atribuição de

estados mentais ao outro, em crianças autistas. A pesquisadora considerou que as crianças que

possuem melhores habilidades linguísticas podem evocar termos mentais e obter acerto nas

tarefas de crença falsa.

Em 2012, Rodrigues, Ribeiro e Cunha avaliaram a efetividade de um programa para

diversificar a prática docente de contar histórias e estimular a linguagem das crianças por

meio da leitura dialogada de livros infantis. Os participantes foram 5 docentes, com

aproximadamente 42 anos, e 57 alunos (30 meninos e 27 meninas), com idade média de 6

anos, pertencentes ao 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública de ensino.

Os instrumentos utilizados para coletar os dados e realizar o programa de intervenção foram:

a) Questionário caracterização sociocognitiva do pré-escolar, para identificar as concepções

das educadoras sobre as características do desenvolvimento sociocognitivo na infância,

incluindo aspectos evolutivos da teoria da mente e do processo de informação social; b)

Questionário Avaliativo 1 - buscou avaliar a percepção das professoras quanto à efetividade e

à adequação do conteúdo teórico-prático trabalhado na capacitação; c) Questionário

Avaliativo 2 - para avaliar as percepções, opiniões e sugestões docentes em relação à

adequação do plano de capacitação e sua convergência com a prática diferenciada de leitura

implementada. Na intervenção, foram utilizados 38 livros de histórias infantis, nos quais as

narrativas possuem uma quantidade expressiva de termos mentais e pistas sociais. Para

acompanhar e registrar as reuniões e observações do trabalho docente em sala de aula, as

pesquisadoras elaboraram um diário de campo com três eixos/categorias de registro. Com o

intuito de avaliar a linguagem infantil no que diz respeito aos estados mentais foram

utilizados os livros A Bruxinha e o Godofredo, uma história com imagem proposta às crianças

leitoras e pré-leitoras, bem como Lúcia já vou indo, uma narrativa textual enriquecida por

pistas sociais, com a qual se visou subsidiar a avaliação do processamento de informação

social infantil; d) Avaliação sociocognitiva de respostas infantis pós-exploração dialogada de

narrativa textual - este instrumento serviu para avaliar o repertório sociocognitivo de

respostas das crianças após a leitura dialogada do livro Lúcia já vou indo.

No grupo de professoras, foi aplicado o questionário caracterização sociocognitiva do

pré-escolar e, em seguida, a capacitação docente, com o emprego de meio magnético e de

livros de histórias, subdividida da seguinte forma: 1. atualização de informações sobre

capacidades sociocognitivas infantis (4 horas de duração); 2. fundamentos da teoria da mente

e sua relação com a linguagem (4 horas); 3. noções básicas sobre o processamento de

informação social (4 horas); 4. vivências práticas com a leitura mediada de livros de histórias

29

infantis com enfoque sociocognitivo (8 horas). Tal capacitação teve a duração de três meses,

com um encontro por semana. No último encontro, foi aplicado o Questionário Avaliativo 1.

Isto posto, as docentes iniciaram o programa de leitura mediada com os seus alunos, com uso

de dois livros semanais, e ao final do programa, foi aplicado o Questionário Avaliativo 2. No

grupo de crianças, realizou-se uma pré-avaliação. Foi oferecido um livro por imagem, por

meio do qual elas deveriam contar uma história, individualmente. Tais narrativas foram

gravadas e transcritas. Para identificar a ocorrência de palavras e expressões que aludiam a

estados mentais, as pesquisadoras utilizaram a categorização: a. termos cognitivos (expressões

que remetem ao conhecimento, memória, sonho, realidade versus pretensão); b. termos

emocionais (expressam comportamentos emocionais, como abraçar, e emoções ou

sentimentos atuais, como amor); c. termos de desejo/intenção (palavras como "desejar",

"querer" e "gostaria", indicando volição, motivação ou pedido/ação na direção de um objeto);

d. termos perceptivos (fazem referência às percepções atuais com base nos cinco sentidos:

visão, audição, paladar, olfato e tato). Após a leitura do primeiro livro, iniciou-se a leitura da

narrativa textual, explorando as pistas oferecidas pelas ilustrações dos livros: expressão de

medo e tristeza dos personagens ("Por que Lúcia está chorando tanto, o que aconteceu com

ela?"; "Por que a libélula ficou com pena de Lúcia?"). Ao término do programa de

intervenção realizado pelas professoras, foi feita a pós-avaliação individual das crianças com

releitura dos dois livros citados.

Os resultados mostraram que a intervenção foi eficaz quanto à diversificação da

prática docente com os livros de histórias infantis, favorecendo a linguagem referente aos

estados mentais e o processamento de informação social das crianças. Esses resultados

evidenciaram uma clara tendência quanto à ampliação de vocábulos mentais das crianças

participantes do referido programa nos diálogos sobre os estados mentais dos personagens das

histórias trabalhadas. Em relação às docentes, estas demonstraram a aquisição de um novo

olhar, tanto sobre o desenvolvimento dos alunos acerca das suas características e

potencialidades sociocognitivas, quanto em relação à leitura mediada.

Uma pesquisa de intervenção com o objetivo de implementar um programa dirigido a

promover a linguagem referente aos estados mentais (ênfase nos estados emocionais) e a

consciência metatextual, por meio da leitura mediada de livros de histórias, foi realizada em

2012 por Ribeiro. Objetivou-se também avaliar o possível efeito do programa sobre a

produção de histórias orais e sobre aspectos sociocognitivos, como a compreensão das

emoções e as habilidades sociais, bem como diferenças entre sexos. Participaram 70 alunos

do 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública federal, com idade aproximada de

30

6 anos e 9 meses, divididos em GI- grupo de intervenção, composto de 37 crianças, e GC-

grupo de comparação, composto de 33 crianças não participantes. A pré-intervenção foi

realizada em três etapas: aplicou-se o Teste de Inteligência Emocional para Crianças; a

escala de autoavaliação das habilidades sociais; e solicitou-se que cada criança contasse uma

história, a qual foi gravada, a partir de uma imagem de livro. Ao término da pré-intervenção,

iniciou-se a implementação do programa no GI, perfazendo dez encontros. Finalizado o

programa, realizou-se a pós-intervenção mediante os mesmos instrumentos descritos, bem

como sua implementação no GC. Os dados obtidos foram tabulados e analisados.

Os resultados indicaram que no GI, houve um avanço da compreensão emocional

entre a pré e a pós-intervenção, bem como quando comparado com o GC. Quanto às

habilidades sociais, apesar de os grupos não terem inicialmente sido pareados e de ambos

terem apresentado melhor desempenho na pós-intervenção, os resultados sugeriram um

aprimoramento superior do GI em relação ao GC. O mesmo foi verificado na avaliação da

produção oral de história infantil, ao encontrar um incremento no desempenho do GI, em

que as histórias passaram a apresentar uma estrutura textual mais completa e sofisticada. Tal

distinção não foi detectada no GC. Diferenças quanto ao sexo não foram verificadas nas três

variáveis investigadas. Os resultados obtidos sugeriram que o programa implementado

contribuiu para a promoção da compreensão emocional e das habilidades sociais infantis,

reforçando a relação entre linguagem, teoria da mente e desenvolvimento social. O propósito

de aprimorar a produção de histórias orais também foi atingido. Destaca-se a relevância da

utilização da literatura infantil para a promoção de aspectos sociocognitivos e da

consciência metatextual, bem como da conscientização de educadores para a

importância de atuarem como mediadores desse recurso para o desenvolvimento

infantil.

Sellabonna, Ortiz, Condony, Caballero, Roqueta, Lloveras e Badia (2012)

desenvolveram uma pesquisa para treinar a compreensão da crença falsa em crianças com

dificuldades de linguagem. Apesar de terem diagnósticos diferentes, todos tinham atraso no

desenvolvimento da linguagem e nenhuma compreensão da crença falsa, portanto, para efeitos

de formação, nesse estudo, foram considerados como um único grupo. A amostra constituiu-

se de 14 crianças, com idade de 5 anos e 10 meses a 8 anos e 9 meses. O procedimento

consistiu de três etapas: pré-teste, intervenção e pós-teste. As crianças foram avaliadas

individualmente. No pré-teste, foi aplicada uma tarefa de conteúdo inesperado para avaliar a

crença falsa de primeira ordem. Foram efetivadas três sessões de intervenção, com intervalo

de três dias de uma para a outra, nas quais o pesquisador, em interação com a criança, utilizou

31

expressões verbais e vários objetos lúdicos para trabalhar histórias baseadas em tarefas de

conteúdo inesperado, local inesperado e aparência e realidade, buscando direcionar a atenção

das crianças para as suas perspectivas e para as perspectivas dos personagens. O pós-teste foi

feito entre quatro e sete dias após a última sessão de treinamento e consistiu na aplicação de

uma tarefa de conteúdo inesperado, uma de local inesperado e uma de aparência e realidade.

Os resultados corroboram com a literatura que demonstra que as crianças com

distúrbios de linguagem apresentam atrasos nas resoluções das tarefas de crença falsa. Nesse

estudo, as crianças demonstraram compreender a crença falsa a partir dos 7 anos de idade.

Entretanto, quanto aos efeitos do treinamento sobre a compreensão da crença falsa, pôde-se

observar uma melhora significativa a partir da comparação das médias da pontuação total na

tarefa de conteúdo inesperado, local inesperado e aparência e realidade, dado tanto o pré-teste

como o pós-teste. Metade dos participantes melhorou sua pontuação no pós-teste, comparado

ao pré-teste. Consequentemente, os dados sugerem que a intervenção através de sessões de

treinamento melhorou a compreensão da crença falsa nos participantes treinados. A partir

desses resultados, os autores concluíram que a linguagem ajuda a desenvolver uma

compreensão de um dos aspectos mais estudados da teoria da mente, a compreensão da crença

falsa; um exercício simples que utiliza um vocabulário específico envolve melhorias para esse

entendimento.

A relação entre o léxico psicológico e o desenvolvimento da cognição social foi

investigada por Grazzani e Ornaghi, em 2014, com o objetivo de testar um procedimento de

formação linguística com crianças italianas. Os participantes, de origem socioeconômica de

classe média, foram 102 crianças com idade de 3, 4 e 5 anos, pertencentes a duas creches

localizadas na cidade e província de Milão. Essas crianças foram divididas aleatoriamente

para compor um grupo controle e um grupo experimental. O estudo foi constituído por três

fases: pré-teste, capacitação e pós-teste. No pré e pós-teste, as crianças foram avaliadas

individualmente, com os seguintes instrumentos: um teste para avaliar a compreensão da

linguagem; tarefas tradicionais de crença falsa (local inesperado, conteúdo inesperado,

explicação); teste de compreensão da emoção. A intervenção teve a duração de dois meses.

As crianças participaram (em pequenos grupos, compostos por 6 ou 4 crianças da mesma

idade, de cada vez) das sessões de intervenção que ocorreram duas vezes por semana. Durante

as sessões os participantes ouviram histórias enriquecidas com uma linguagem constituída por

termos que expressavam estados mentais, como por exemplo, pensar, decidir, acreditar,

querer. Após as crianças ouvirem as histórias, o pesquisador, por meio de perguntas ou

comentários sobre as histórias, estimulou os participantes a pensarem e usarem termos que se

32

referiam a estados mentais. Quanto ao grupo controle, depois de ouvir as mesmas histórias,

participou de algumas brincadeiras (jogos de construção, quebra-cabeça, brinquedos),

deliberadamente escolhidas para minimizar possíveis conversas e discussões sobre o conteúdo

das histórias.

Os resultados evidenciaram que todas as crianças participaram ativamente de

conversas baseadas em jogos de linguagem com léxico psicológico (mesmo as mais novas) e,

independentemente do sexo, beneficiaram-se da oportunidade de usar esse tipo de linguagem

no contexto da interação social. Isso é confirmado pelo fato de que todas as crianças que

receberam capacitação apresentaram ganhos significativos na compreensão da linguagem. O

capacitação foi particularmente eficaz na melhoria da compreensão de emoção das crianças

com idade de 3 anos; na promoção de todos os tipos de compreensão em estudo (ou seja,

teoria da mente, compreensão da emoção e linguagem de estado mental) em crianças de 4

anos; e no reforço da compreensão da linguagem de estado mental em crianças de 5 anos. Foi

evidenciado também que a partir dos 4 anos, é fundamental a realização de intervenções de

conversação com base na utilização do léxico mental, com o objetivo de melhorar o

desenvolvimento linguístico e cognitivo das crianças. É aos 4 anos de idade que as crianças

ganham uma maior consciência das perspectivas dos outros, tornando-se mais aptas a

compará-las com as suas próprias perspectivas, bem como com a realidade objetiva, e

adquirem maior capacidade para resolver tarefas de crença falsa.

Como visto, esses estudos corroboram com a efetividade das interações linguísticas

para o desenvolvimento da teoria da mente, hipótese também defendida pela presente

pesquisa.

33

5 Problema e Objetivos

O desenvolvimento da teoria da mente na criança tem sido um dos temas mais

investigados por pesquisadores do desenvolvimento cognitivo que possuem interesse em

saber como e quando a criança adquire conhecimento sobre os seus próprios estados mentais e

os das outras pessoas, isto é, desejos, intenções e crenças. Esses pesquisadores também

buscam entender quais as consequências psicológicas e comportamentais que são geradas na

criança a partir do surgimento dessa habilidade (Domingues & Maluf, 2008).

Conhecer a maneira como as crianças compreendem e adquirem noções acerca dos

estados mentais tem importância para sua educação. Tendo em vista a relevância da temática

para a aprendizagem, é fundamental que os professores da Educação Infantil possuam

conhecimento a respeito dessa habilidade sociocognitiva de grande valor. Esse conhecimento

poderá contribuir com o educador na elaboração de estratégias facilitadoras do

desenvolvimento social e aprendizagem escolar, sobretudo, em atividades relacionadas ao

desenvolvimento da linguagem. Portanto, o presente projeto de pesquisa deverá fornecer

subsídios para a prática educacional, com vistas ao desenvolvimento sociocognitivo da

criança.

Conforme Zelazo (2011), as habilidades sociocognitivas das crianças podem ter um

impacto direto sobre a qualidade de seus relacionamentos e o sucesso escolar. Crianças com

uma cognição social mais desenvolvida tendem a se comunicar melhor, são mais competentes

socialmente, mais populares com os colegas, mais felizes na escola e academicamente

demonstram mais avanços.

Alguns estudos (Rodrigues & Rubac, 2008; Rodrigues & Tavares, 2009) vêm

demonstrando que o envolvimento de crianças em atividades de contação de histórias infantis

pode ser uma ferramenta para a aprendizagem e aquisição da teoria da mente. Afirmam que

livros de histórias infantis, que possuem uma linguagem focada nas interações entre os

personagens e imagens que permitem a evocação de estados mentais de desejos, crenças,

intenções e emoções, contribuem para o entendimento e a atribuição desses estados mentais.

Para Domingues e Maluf (2008), “...o educador poderá criar, intencionalmente, situações de

dramatização e representação de histórias, que oferecem à criança a possibilidade de lidar

com o mundo imaginário de forma criativa e adaptativa” (p.14). Logo, acreditamos que

exercer essas práticas na escola poderá favorecer a compreensão dos estados mentais em

crianças.

34

Acredita-se que situações de interação verbal em sala de aula, em que a professora faz

a leitura de contos infantis e estimula as crianças a serem ouvintes ativos, podendo expressar-

se, fazer perguntas, levantar questões, ajudam as crianças a perceberem as emoções, os

desejos, as intenções, os pensamentos e as crenças dos personagens. Portanto, as histórias

infantis podem ser utilizadas como um recurso favorecedor do desenvolvimento da teoria da

mente.

A presente pesquisa de intervenção tem como objetivo orientar professoras da

Educação Infantil a utilizarem uma linguagem que envolva termos e verbos mentais durante a

contação de histórias para seus alunos, explicando os estados mentais dos personagens.

Tem-se como hipótese que a linguagem empregada pelas professoras na contação de

histórias, a partir das orientações dadas pela pesquisadora sobre a importância do uso de

termos e verbos mentais, contribui para a aquisição da teoria da mente em crianças na

Educação Infantil.

Pergunta-se:

▸ Práticas de contação de histórias, que enfatizam os estados mentais dos personagens

– desejos, intenções e crenças, contribuem para o desenvolvimento da teoria da mente em

crianças de 5 anos que frequentam classes de Educação Infantil?

35

6 Método

A seguir, serão apresentados o delineamento do estudo, a caracterização do local e

dos participantes, os procedimentos e os instrumentos.

Importante salientar que foram tomados todos os cuidados éticos para a realização

desta pesquisa. Foram entregues os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido para a

instituição escolar (Anexo 1) e para as professoras (Anexo 2).

6.1 Delineamento

O presente trabalho está dividido em dois estudos (Estudo 1 e Estudo 2), com o

mesmo delineamento: pré-teste, intervenção, pós-teste.

No Estudo 1, uma professora e seus alunos compuseram o grupo experimental (GE) e

outra professora e seus alunos constituíram o grupo controle (GC). O grupo experimental

passou por um procedimento de intervenção, no qual a professora foi orientada sobre como

contar histórias infantis aos seus alunos, enfatizando os estados mentais dos personagens. Já

no grupo controle, a professora não recebeu nenhuma instrução, contou as histórias infantis da

sua maneira habitual.

No Estudo 2, a professora do grupo controle, do Estudo 1, foi convidada a participar

do programa de intervenção, e passou a receber o mesmo tipo de orientação dada à professora

do grupo experimental sobre como contar histórias aos seus alunos explicando os estados

mentais dos personagens infantis.

6.2 Local e Participantes

A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública municipal de ensino,

localizada em um bairro central da cidade de Mogi das Cruzes/SP. A instituição, de modo

geral, possui uma boa estrutura administrativa e pedagógica. O edifício escolar possui

excelente arquitetura, salas arejadas, espaços livres, parques, brinquedoteca, há equipamentos,

mobiliários e materiais didáticos de ótima qualidade, um ambiente colorido, harmonioso,

organizado e muito limpo.

36

A instituição de Educação Infantil oferece atendimento ininterrupto, sem férias, a

crianças de zero a 3 anos (creche) e, a partir daí, até completarem 6 anos (pré-escola). As

classes estão organizadas em Infantil I, II, III e IV. Para o presente trabalho de pesquisa,

escolhemos as duas turmas do Infantil IV (A e B), porque eram as que mais nos interessavam

e eram classes semelhantes, isto é, no que diz respeito ao desenvolvimento da teoria da mente,

essas crianças poderiam ser comparadas. Ademais, foi realizada uma reunião com a

coordenadora da escola, a qual sugeriu que a pesquisadora trabalhasse com as professoras da

turma do Infantil IV, pois eram profissionais participativas, receptivas e certamente aceitariam

a ideia do projeto com muito ânimo, fato confirmado durante o desenvolvimento deste estudo.

As crianças participantes são provenientes de famílias de nível socioeconômico

diversificado, variando de médio baixo a médio alto.

Participaram da pesquisa:

Uma professora (Sílvia), 50 anos de idade, cursando Pedagogia e 25 alunos da

turma Infantil IV A, sendo 18 meninos e 7 meninas, com idade entre 5 anos e 5

anos e 11 meses, do período matutino. Esses participantes constituíram o grupo

experimental (GE).

Uma professora (Ana), 38 anos de idade, com formação técnica no curso de

Magistério e 25 alunos da turma Infantil IV B, sendo 16 meninas e 9 meninos,

com idade entre 5 anos e 5 anos e 11 meses, do período vespertino. Esses

participantes compuseram o grupo controle (GC).

Torna-se importante informar que a fim de preservarmos as identidades das

professoras utilizamos nomes fictícios.

As professoras com suas respectivas turmas foram designadas aleatoriamente para

comporem o grupo experimental e o grupo controle.

As Tabelas 1 e 2 explanam a formação dos grupos, identificando professora, crianças,

sexo e idade.

37

Tabela 1: Grupo experimental (GE)

Professora Sílvia – Turma A

Crianças Sexo Idade

A1 F 5a2m

A2 F 5a0m

A3 F 5a2m

A4 M 5a5m

A5 F 5a10m

A6 M 5a1m

A7 F 5a6m

A8 F 5a0m

A9 F 5a3m

A10 M 5a4m

A11 M 5a1m

A12 F 5a4m

A13 F 5a8m

A14 F 5a7m

A15 F 5a2m

A16 F 5a2m

A17 F 5a6m

A18 F 5a6m

A19 F 5a2m

A20 F 5a8m

A21 F 5a1m

A22 M 5a2m

A23 M 5a4m

A24 F 5a7m

A25 M 5a3m

Tabela 2: Grupo controle (GC)

Professora Ana – Turma B

Crianças Sexo Idade

B1 F 5a0m

B2 M 5a0m

B3 F 5a2m

B4 M 5a8m

B5 F 5a8m

B6 M 5a10m

B7 M 5a9m

B8 F 5a5m

B9 F 5a3m

B10 F 5a7m

B11 F 5a6m

B12 M 5a0m

B13 F 5a7m

B14 F 5a8m

B15 F 5a8m

B16 M 5a0m

B17 F 5a4m

B18 F 5a2m

B19 F 5a10m

B20 M 5a10m

B21 F 5a3m

B22 M 5a10m

B23 F 5a0m

B24 F 5a5m

B25 M 5a5m

38

6.3 Procedimentos e Instrumentos

Neste tópico, serão descritos os procedimentos e instrumentos do Estudo 1 e do Estudo

2.

6.3.1 Estudo 1

A pesquisadora desenvolveu atividades com uma professora e seus alunos da turma A

(GE) e com outra professora e seus alunos da turma B (GC). No grupo experimental (GE), a

pesquisadora orientou a professora a contar histórias infantis para seus alunos visando ao

favorecimento da teoria da mente nas crianças. No grupo controle (GC), a professora foi

orientada a contar as mesmas histórias para seus alunos, no entanto, não recebeu qualquer tipo

de instrução por parte da pesquisadora acerca de como contar essas histórias.

6.3.1.1 Pré-teste

Para avaliar a capacidade de atribuição dos estados mentais, a pesquisadora aplicou as

sete tarefas de teoria da mente da escala de Wellman e Liu (2004) nas crianças do grupo

experimental e do grupo controle, individualmente, em uma única sessão, em uma sala

apropriada na escola. É importante destacar que os nomes dos personagens e os objetos foram

modificados com o objetivo de adaptar à realidade cultural das crianças participantes.

A origem das tarefas abaixo já se encontra descrita no item 3.1.

Tarefa 1 – Desejos diferentes avalia a ação da criança ao perceber que duas

pessoas têm desejos diferentes em relação aos mesmos objetos.

Mostra-se à criança um boneco representando um adulto e uma prancha com os

desenhos de uma bolacha e pipoca. “Aqui está o Sr. Renato. Está na hora do lanche, então, o

Sr. Renato quer comer alguma coisa. Aqui estão dois lanches diferentes: uma bolacha e uma

pipoca. Qual lanche você iria preferir? Você iria gostar mais de uma bolacha ou mais de uma

pipoca?” Esta é a pergunta sobre o próprio desejo.

39

Se a criança escolhe bolacha: “Bem, é uma ótima escolha, mas o Sr. Renato gosta

muito de pipoca. Ele não gosta de bolacha. O que ele mais gosta é de pipoca”. (Ou, se a

criança escolhe a pipoca, diz-se a ela que o Sr. Renato gosta de bolacha). Em seguida, é feita a

pergunta alvo: “Então, agora está na hora de comer. O Sr. Renato só pode escolher um

lanchinho, só um. Qual lanche o Sr. Renato vai escolher? Uma bolacha ou uma pipoca?”.

Para obter sucesso na tarefa, a criança deverá responder na pergunta-alvo o oposto do

que foi respondido na pergunta sobre o próprio desejo.

Tarefa 2 – Crenças diferentes investiga a ação da criança ao perceber que duas

pessoas têm crenças diferentes em relação aos mesmos objetos e quando a criança não sabe

qual crença é verdadeira ou falsa.

Mostra-se à criança uma boneca e uma prancha com os desenhos de uma árvore e de

um carro. “Aqui está Mariana. Mariana quer encontrar o gato dela. O gatinho pode estar

escondido na árvore ou ele pode estar escondido no carro. Onde você acha que o gato dela

está? Na árvore ou no carro?”. Esta é a pergunta sobre a própria crença.

Se a criança escolhe a árvore, diz-se: “Esta é uma boa escolha, mas Mariana acha que

o gatinho está no carro. Ela pensa que o gatinho está lá no carro” (se a criança opta pelo carro,

inverte-se a opção da boneca). É feita a pergunta alvo: “Agora, a Mariana vai procurar o

gatinho dela. Onde a Mariana vai procurar o gato dela, na árvore ou no carro?”.

Para acertar a tarefa, a resposta da criança na questão alvo deverá ser o oposto do que

ela respondeu na questão sobre a própria crença.

Tarefa 3 – Acesso ao conhecimento a criança vê o conteúdo de uma caixa e avalia

o conhecimento de outra pessoa que não teve acesso a esse conteúdo.

Apresenta-se à criança uma caixa indeterminada, fechada, contendo um patinho de

brinquedo dentro. “Aqui está uma caixa. O que você acha que tem dentro dessa caixa?”. Esta

é uma questão sobre o conhecimento da criança, ela poderá dar qualquer resposta ou dizer que

não sabe o que há na caixa. Em seguida, abre-se a caixa e apresenta-se à criança seu conteúdo.

“Vamos ver... tem um patinho dentro!”. O experimentador fecha a caixa e diz: “Muito bem...

o que tem dentro da caixa mesmo?”.

Então, uma menininha de brinquedo é apresentada à criança: “Essa é Gigi, a Gigi

nunca olhou dentro dessa caixa. A Gigi nunca viu o que tem dentro dessa caixa”. É feita a

questão alvo: “Então, a Gigi sabe o que tem dentro dessa caixa?”. Em seguida, é feita a

pergunta de memória: “A Gigi olhou dentro dessa caixa?”.

40

Para a tarefa ser considerada correta, a criança deverá responder “Não” na questão-

alvo e “Não” na questão de controle de memória.

Tarefa 4 – Crença falsa: conteúdo a criança observa a crença falsa de outra pessoa

a respeito do que existe em um recipiente bem característico, quando a criança conhece o

conteúdo do recipiente.

Mostra-se à criança uma caixa de fósforos, fechada. Dentro dela há um gatinho de

brinquedo. O experimentador diz: “Aqui está uma caixa de fósforos. O que você acha que tem

dentro dessa caixa de fósforos?”. Em seguida, a caixa é aberta. “Vamos ver... tem um gatinho

dentro”. A caixa de fósforos é fechada. “Muito bem, o que tem dentro da caixa de fósforos?”.

Em seguida, é apresentado à criança um menininho de brinquedo. “Esse é Felipe. O

Felipe não olhou dentro dessa caixa de fósforos. Ele nunca viu aqui dentro. Agora, aqui vem o

Felipe”. É feita a pergunta alvo: “Então, o que o Felipe pensa que tem dentro da caixa?

Fósforos ou um gatinho?”. Após, é feita a pergunta de memória: “O Felipe olhou dentro dessa

caixa?”.

Para acertar a tarefa, a criança deverá responder “fósforos” na questão-alvo e

responder “Não” na questão de memória.

Tarefa 5 – Crença falsa: explícita a criança observa onde o personagem vai

procurar um objeto, sendo que sua crença é equivocada.

A criança vê um menininho de brinquedo e uma prancha com os desenhos de uma

gaveta e de um jarro. “Aqui está o Luciano. O Luciano quer encontrar o lápis dele. O lápis

dele pode estar na gaveta ou pode estar no jarro. De verdade, o lápis do Luciano está na

gaveta. Mas o Luciano pensa que o lápis dele está no jarro”. É feita a pergunta alvo: “Então,

onde o Luciano vai procurar o lápis dele? Na gaveta ou no jarro?”. Seguida da questão de

realidade: “Onde o lápis do Luciano está de verdade? Na gaveta ou no jarro?”.

Para estar correta, a criança deverá responder “jarro” na questão de crença falsa e

“gaveta” na questão de realidade.

Tarefa 6 – Crença e emoção a criança avalia o sentimento de outra pessoa frente a

uma crença equivocada.

Apresenta-se à criança um menino de brinquedo e uma caixa de bombons. “Aqui está

uma caixa de bombons e aqui está o Gustavo. O que você acha que tem dentro dessa caixa?”.

41

Então, o Gustavo está dizendo assim (o experimentador faz o personagem falar): “Que legal,

porque eu adoro bombom. Bombom é o meu lanche favorito. Agora eu vou brincar”. Gustavo

é então colocado fora do campo de visão da criança.

Em seguida, a caixa de bombons é aberta e o seu conteúdo é mostrado à criança:

“Vamos ver... tem pedra dentro desta caixa e não tem bombom! A única coisa que tem é

pedra”. A caixa de bombons é fechada e questiona-se à criança: “Qual é o lanche favorito do

Gustavo?”.

Veja agora, o Gustavo retornou (o personagem volta à cena). “O Gustavo nunca olhou

dentro desta caixa. O Gustavo não olhou aqui dentro. Agora, aqui vem o Gustavo. O Gustavo

está de volta e está na hora do lanche. Vamos dar esta caixa para o Gustavo”. É feita a questão

alvo: “Então, como o Gustavo se sente quando ele ganha esta caixa? Feliz ou triste?”.

O experimentador abre a caixa de bombons e deixa o menino de brinquedo olhar

dentro dela. Em seguida, faz a pergunta de controle-emoção: “Como o Gustavo se sente

depois de olhar dentro da caixa? Feliz ou triste?”.

Para estar correta, a criança deverá responder “Feliz” na questão-alvo e “Triste” na

questão de controle-emoção.

Tarefa 7 – Emoção real-aparente a criança avalia se uma pessoa pode se sentir de

uma determinada forma, mas demonstrar uma emoção diferente em sua aparência.

Antes de iniciar essa tarefa, deve-se mostrar à criança uma prancha com desenhos de

três faces (um rosto feliz, um neutro e outro triste). Em seguida, deve-se verificar se a criança

conhece essas expressões de emoção, pedindo que aponte o rosto feliz, o neutro e o triste.

Mostra-se à criança um cartão com a figura de um menino de costas, de modo que a

expressão facial deste não possa ser vista.

O experimentador diz para a criança: “Esta história é sobre um menino. Eu vou

perguntar para você como esse menino se sente por dentro e como ele parece se sentir no seu

rosto. Ele pode se sentir de um jeito por dentro, aqui dentro do peito, mas pode parecer de um

jeito diferente no seu rosto. Ou, ele pode se sentir de um jeito dentro dele e parecer do mesmo

jeito no seu rosto. Eu quero que você me diga como ele se sente por dentro e como ele parece

no seu rosto”.

Após essa explicação, o experimentador conta a seguinte história: “Essa é a história do

Maurício. Os amigos do Maurício estavam brincando e contando piadas. Uma das crianças

mais velhas, a Isabele, contou uma piada tirando sarro do Maurício e todo mundo riu dele.

Todo mundo achou muito engraçado, menos o Maurício, só o Maurício que não deu risada.

42

Mas o Maurício não queria que seus amigos vissem como ele se sentia por causa da piada,

porque eles iam chamar ele de bebezinho. Então, o Maurício tentou esconder como ele se

sentia”.

Em seguida, faz duas checagens de memória com a criança: “O que as outras crianças

fizeram quando a Isabele contou a piada tirando sarro do Maurício? E o que as outras crianças

fariam se elas soubessem como o Maurício se sentia?”.

Após, apresenta-se a prancha com desenhos de três faces (um rosto feliz, um neutro e

outro triste). É feita a questão alvo-sentimento: “Como o Maurício se sentiu quando todo

mundo riu dele? Ele se sentiu feliz, triste ou normal?”. Em seguida, é feita a questão alvo-

aparência: “E como Maurício tentou parecer no seu rosto quando todo mundo riu? Ele

pareceu feliz, triste ou normal?”.

Para estar correta, a resposta da criança para a questão-alvo-sentimento deverá ser

mais negativa que sua resposta na questão-alvo-aparência (por exemplo, “triste” para a

questão-sentimento e “feliz” ou “normal” para a questão-aparência, ou “normal” para a

questão-sentimento e “feliz” para a questão-aparência).

6.3.1.2 Intervenção

Grupo Experimental (GE)

O programa de intervenção, efetivado com a professora, consistiu em duas sessões

teóricas sobre a temática teoria da mente e dez sessões práticas nas quais a pesquisadora

utilizou livros de histórias infantis.

As histórias utilizadas foram: O Gato de Botas, Cinderela, Branca de Neve, O Patinho

Feio, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, O Príncipe Sapo, O Soldadinho de Chumbo, O

Pequeno Polegar, João e Maria. Todas essas histórias fazem parte da coleção “Clássicos

Ilustrados”, com a Turma da Mônica, de Maurício de Souza (2008). Grande parte desses

contos infantis (exceto O Príncipe Sapo, O Soldadinho de Chumbo, João e Maria) foi adotada

no estudo de Gallo-Penna, em 2011. A escolha desses contos se deu devido ao fato de a

pesquisadora demonstrar que o conteúdo dessas narrativas envolve situações que eliciam

linguagem pautada em desejos, crenças, intenções e emoções dos personagens. Ademais,

apresentam a repetição de personagens, semelhanças no vestuário e clareza nos seus traços

43

faciais e gestos, o que facilitou a compreensão da expressão das emoções, das ações e

intenções, de acordo com Gallo-Penna.

A intervenção teve como objetivo orientar a professora a utilizar uma linguagem que

envolvesse verbos e termos mentais durante a contação de histórias para seus alunos,

explicando os estados mentais dos personagens infantis.

As sessões com a professora tiveram duração de aproximadamente uma hora cada

uma, sendo duas sessões por semana, realizadas todas as quartas e sextas-feiras, perfazendo o

período de seis semanas.

Sessões 1 e 2: Orientações teóricas à professora

A pesquisadora ofereceu explicações teóricas, promoveu reflexões e esclareceu

dúvidas acerca do desenvolvimento da teoria da mente em crianças da Educação Infantil

(Anexo 3).

Sessões 3 a 12: Orientações práticas à professora

A pesquisadora ofereceu instruções à professora acerca de “como” contar as histórias

aos seus alunos para favorecer o desenvolvimento da teoria da mente. Constituíram-se em

encontros práticos, na narração de histórias infantis, que envolviam compreensão e atribuição

de estados mentais aos personagens, como desejos, intenções, e atribuição de crença falsa ao

outro.

A professora foi instruída a exercitar a interação verbal com as crianças, utilizando

uma linguagem expressiva, contando as histórias sempre enfatizando os estados mentais,

fazendo uso de termos mentais como entender, saber, acreditar, pensar, sentir, querer, desejar,

dentre outros.

Em cada uma dessas sessões, foi trabalhada uma história diferente, sempre às quartas e

sextas-feiras. Optou-se por esses dias porque os mesmos já faziam parte do cronograma

semanal da escola justamente para a contação de histórias, portanto, pôde-se manter a rotina

das crianças.

Nesses mesmos dias, logo após as orientações práticas recebidas, a professora

recontava a mesma história à sua turma, sempre ressaltando os estados mentais dos

personagens, exercitando a interação verbal com as crianças, incentivando a participação ativa

dos seus alunos. Cada narrativa das histórias realizada pela professora teve duração

aproximada de trinta minutos, foi gravada em áudio e transcrita para posterior análise.

44

Quando a professora terminava de contar a história aos seus alunos, a pesquisadora

conversava brevemente com ela a respeito da história trabalhada; o intuito era

estimular/provocar a reflexão sobre a atividade realizada, e já entregava o livro do próximo

conto infantil para que a professora se tornasse mais familiarizada com a história e já fosse

pensando de que maneira poderia explicar os estados mentais dos personagens.

Para facilitar a visualização das histórias pelo grupo de crianças, todos os livros foram

apresentados em Power Point (cf. – Cd em anexo), projetados para uma tela por meio de

data-show.

A Tabela 3 apresenta como foram estabelecidas as sessões teóricas e práticas do

programa de intervenção.

Tabela 3: Programa de intervenção

1ª semana

4ª feira

Explicações teóricas sobre TdM

6ª feira

Explicações teóricas sobre TdM

2ª semana

4ª feira

O Gato de Botas

6ª feira

Cinderela

3ª semana

4ª feira

Branca de Neve

6ª feira

O Patinho Feio

4ª semana

4ª feira

Chapeuzinho Vermelho

6ª feira

Rapunzel

5ª semana

4ª feira

O Príncipe Sapo

6ª feira

O Soldadinho de Chumbo

6ª semana

4ª feira

O Pequeno Polegar

6ª feira

João e Maria

Grupo Controle (GC)

No grupo controle, a pesquisadora solicitou que a professora contasse as mesmas

histórias infantis do grupo experimental, porém, não ofereceu nenhum tipo de orientação

45

acerca de “como” contar essas histórias. Dessa forma, a professora deveria contar as histórias

do modo que sabia, ou seja, à sua maneira habitual.

A mesma condição de visualização das histórias foi oferecida ao grupo controle, ou

seja, os livros também foram apresentados em Power Point (cf. - Cd em Anexo) e projetados

na tela. A pesquisadora permanecia na sala apenas para projetar as imagens, sem fazer

nenhum tipo de intervenção.

Lembremos que eram realizadas duas sessões por semana, às quartas e sextas-feiras,

nos mesmos dias do grupo experimental, porém, no período da tarde.

Cada narrativa das histórias realizada pela professora teve duração aproximada de dez

minutos, foi gravada em áudio e transcrita para posterior análise.

Ao término, a pesquisadora se despedia da professora, sem manter diálogo sobre a

história contada e lhe entregava o livro da história seguinte.

6.3.1.3 Pós-teste

Na semana após a última história contada pelas professoras, foi realizado o pós-teste

nas crianças.

As sete tarefas de teoria da mente utilizadas no pré-teste e já descritas foram

reaplicadas. O objetivo foi verificar se houve ou não aumento da habilidade de atribuição de

estados mentais nas crianças após as intervenções, por meio da contação de histórias nas quais

foram explicados os estados mentais dos personagens.

6.3.2 Estudo 2

A intervenção no Estudo 2 foi realizada com a professora e as crianças que

constituíram o grupo controle (GC) do Estudo 1. Nesse novo estudo, a professora Ana passou

a receber da pesquisadora orientações para contar as histórias infantis aos seus alunos,

objetivando o desenvolvimento da teoria da mente.

46

6.3.2.1 Pré-teste

Tomaram-se como medida de pré-teste os resultados obtidos pelas crianças nas sete

tarefas de teoria da mente do pós-teste do Estudo 1.

6.3.2.2 Intervenção

Nesse segundo estudo, a pesquisadora repetiu o mesmo programa efetivado no grupo

experimental (GE) do Estudo 1, descrito no item 6.3.1.2. .

Desse modo, a professora Ana também recebeu orientações teóricas sobre a teoria da

mente e orientações práticas para contar histórias aos seus alunos, explicando os estados

mentais dos personagens e utilizando uma linguagem que envolvesse termos e verbos

mentais.

6.3.2.3 Pós-teste

Na semana seguinte após a última história contada pelas professoras, foi realizado o

pós-teste nas crianças.

Foram reaplicadas as sete tarefas de teoria da mente da escala de Wellman e Liu

(2004), utilizadas e já descritas no pré-teste do Estudo 1 (vide item 6.3.1.1). O objetivo foi

verificar se houve ou não aumento da habilidade de atribuição de estados mentais nas crianças

após as intervenções, por meio da contação de histórias nas quais foram explicados os estados

mentais dos personagens.

6.4 Procedimentos de análise

Os mesmos procedimentos de análise foram utilizados no Estudo 1 e no Estudo 2.

47

6.4.1 Tarefas de teoria da mente

O critério de avaliação das tarefas de teoria da mente incidiu na atribuição de pontos.

Para cada resposta incorreta fornecida pela criança atribuiu-se o valor 0 (zero), e para cada

resposta correta, o valor 1 (um). Os resultados foram anotados em protolocos (Anexo 4). Para

ser incluída no estudo, a criança não poderia ter sucesso em todas as tarefas, ou seja, a criança

que acertou todas as tarefas foi excluída. As justificativas dadas pelos participantes não foram

consideradas para pontuação.

Esses dados foram submetidos à análise estatística do programa SPSS 20.0 e foi

aplicado o Teste t.

6.4.2 Linguagem empregada pelas professoras na contação das histórias

Todas as contações das histórias realizadas pelas professoras foram gravadas em áudio

e transcritas integralmente. Em seguida, foram submetidas ao tratamento estatístico do

software SPAD-T (Systeme Portable pour l´Analyse des Donnés).

48

7 Apresentação e Análise dos Resultados

A análise dos resultados é apresentada em três partes.

A primeira se refere ao Estudo 1 e expõe o desempenho das crianças do grupo

experimental (GE) e do grupo controle (GC) nas tarefas de teoria da mente aplicadas no pré e

no pós-teste.

A segunda parte, referente ao Estudo 2, aponta o desempenho das crianças nas tarefas

de teoria da mente no pré e pós-teste, ou seja, antes e depois da intervenção efetivada pela

professora.

A terceira parte trata da linguagem empregada pelas professoras na atividade de contar

histórias. No Estudo 1, comparamos a linguagem adotada pela professora do grupo

experimental (GE), que recebeu orientações teóricas e práticas da pesquisadora, com a

linguagem utilizada pela professora do grupo controle (GC), que não recebeu nenhuma

orientação da pesquisadora e contou as histórias ao seu modo. No Estudo 2, há uma

confrontação da linguagem utilizada pela professora Ana para contar histórias aos seus alunos

antes de receber as orientações da pesquisadora (grupo controle do Estudo 1), e depois,

quando passou pelas sessões de capacitação, recebendo as orientações teóricas e práticas da

pesquisadora.

Antes de darmos início à nossa análise, consideramos importante frisar que iniciamos

a pesquisa com dois grupos compostos por 25 crianças cada um, totalizando 50 crianças (vide

item 6.3). Porém, após a realização do pré-teste, houve uma perda amostral nos grupos e, ao

invés de 50 crianças, foram mantidas 43. No grupo experimental (GE), a criança A3 foi

excluída por obter êxito em todas as tarefas e a criança A21 saiu da escola, restando 23

crianças. No grupo controle (GC), a criança B16 acertou todas as tarefas e as B1, B2, B14,

B22 saíram da escola, permanecendo 20 crianças.

Cabe, portanto, informar que nas apresentações das tabelas a seguir, essas crianças que

representam essa perda amostral foram mantidas. Todavia, não lhes foram atribuídas notas,

isto é, as linhas das tabelas permaneceram sem preenchimento, o que não compromete a

análise dos resultados.

49

7.1 Estudo 1

7.1.1 Desempenho das crianças do grupo experimental (GE) nas tarefas de teoria da mente no

pré e pós-teste

Os resultados alcançados pelas crianças do grupo experimental (GE) nas sete tarefas

de teoria da mente, realizadas no pré e pós-teste, estão expostos nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 4: Escores das crianças do grupo experimental (GE) nas sete tarefas de teoria da

mente aplicadas no pré-teste

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

A1 1 1 1 1 0 1 0 5

A2 1 0 1 1 0 1 0 4

A3

A4 1 0 1 0 0 1 0 3

A5 1 0 0 0 0 0 0 1

A6 1 1 0 0 0 1 0 3

A7 1 0 1 0 0 1 0 3

A8 1 1 1 1 0 1 0 5

A9 1 1 0 0 1 1 0 4

A10 1 0 1 1 0 1 1 5

A11 1 1 1 0 0 1 1 5

A12 1 1 1 0 0 1 0 4

A13 1 1 1 0 0 1 0 4

A14 1 1 0 0 0 1 0 3

A15 1 1 1 1 0 1 1 6

A16 1 0 1 1 1 1 0 5

A17 1 1 0 0 0 1 0 3

A18 1 0 1 1 0 0 0 3

A19 1 0 1 0 0 1 0 3

A20 1 1 1 0 0 1 0 4

A21

A22 1 1 0 0 0 1 0 3

A23 1 0 1 0 0 1 0 3

A24 1 0 1 1 0 1 0 4

A25 1 0 1 1 1 1 0 5

Total 23 12 17 9 3 21 3 88

50

Tabela 5: Escores das crianças do grupo experimental (GE) nas sete tarefas de teoria da

mente aplicadas no pós-teste

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

A1 1 1 1 1 1 1 0 6

A2 1 1 1 1 1 1 0 6

A3

A4 1 1 1 1 1 1 0 6

A5 1 1 0 0 1 1 0 4

A6 1 1 1 1 0 1 0 5

A7 1 1 1 0 1 1 0 5

A8 1 0 1 1 1 1 0 5

A9 1 1 1 1 1 1 0 6

A10 1 1 1 1 1 1 0 6

A11 1 1 1 1 1 1 0 6

A12 1 1 1 1 1 1 0 6

A13 1 0 1 1 1 1 1 6

A14 1 0 1 1 1 1 0 5

A15 1 0 1 1 1 1 0 5

A16 1 0 1 1 1 1 0 5

A17 1 1 1 0 1 1 0 5

A18 1 1 1 0 1 1 0 5

A19 1 1 1 0 0 1 0 4

A20 1 0 1 1 1 1 0 5

A21

A22 1 1 0 0 0 1 0 3

A23 1 1 1 0 0 1 0 4

A24 1 0 1 0 0 1 0 3

A25 1 1 1 1 1 1 0 6

Total 23 16 21 15 18 23 1 117

Esses resultados, apresentados pelo grupo experimental nas sete tarefas de teoria da

mente, denotam que o desempenho das crianças, expresso pelo número de acertos, foi melhor

no pós-teste quando comparado ao pré-teste: no pré-teste, obtiveram 88 acertos, e no pós-

teste, 117.

51

7.1.2 Desempenho das crianças do grupo controle (GC) nas tarefas de teoria da mente no pré

e pós-teste

As Tabelas 6 e 7 exibem os resultados das crianças do grupo controle (GC) nas sete

tarefas de teoria da mente efetivadas no pré e pós-teste.

Tabela 6: Escores das crianças do grupo controle (GC) nas sete tarefas de teoria da mente

aplicadas no pré-teste

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

B1

B2

B3 1 0 1 0 0 1 0 3

B4 1 1 0 0 0 1 0 3

B5 1 1 1 0 0 1 0 4

B6 1 0 1 0 0 1 0 3

B7 1 1 1 0 1 1 0 5

B8 1 1 1 1 1 1 0 6

B9 1 1 1 0 0 1 1 5

B10 1 0 1 1 1 1 0 5

B11 1 1 0 0 0 1 0 3

B12 1 1 1 1 0 1 0 5

B13 1 1 1 0 0 1 0 4

B14

B15 1 1 1 0 0 1 0 4

B16

B17 1 1 0 0 0 0 0 2

B18 1 0 1 1 0 1 0 4

B19 1 0 1 0 0 1 0 3

B20 1 0 1 1 0 1 0 4

B21 1 0 1 0 0 1 0 3

B22

B23 1 0 1 1 0 1 1 5

B24 1 1 1 0 1 1 1 6

B25 1 0 1 1 0 1 0 4

Total 20 11 17 7 4 19 3 81

52

Tabela 7: Escores das crianças do grupo controle (GC) nas sete tarefas de teoria da mente

aplicadas no pós-teste

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

B1

B2

B3 1 1 1 1 0 1 0 5

B4 1 1 0 0 1 1 0 4

B5 1 1 1 1 0 1 1 6

B6 1 0 1 1 1 1 0 5

B7 1 0 1 0 0 1 0 3

B8 1 0 1 1 0 1 0 4

B9 1 1 1 1 1 1 0 6

B10 1 0 1 1 1 1 0 5

B11 1 0 1 1 0 1 0 4

B12 1 1 1 1 0 1 0 5

B13 1 1 1 0 1 1 1 6

B14

B15 1 1 1 1 0 1 0 5

B16

B17 1 1 1 0 0 1 0 4

B18 1 1 1 1 0 1 0 5

B19 1 1 1 0 0 1 0 4

B20 1 0 1 0 0 1 0 3

B21 1 0 0 0 0 1 0 2

B22

B23 1 0 1 1 0 1 0 4

B24 1 1 1 1 1 1 0 6

B25 1 0 1 0 0 1 0 3

Total 20 11 18 12 6 20 2 89

No grupo controle, é possível constatar, de acordo com o total de acertos explicitados

nas Tabelas 6 e 7, que as crianças também alcançaram um melhor resultado no pós-teste (89

acertos), quando confrontado com o pré-teste (81 acertos).

Em contrapartida, se compararmos em termos percentuais os resultados apresentados

no pré e pós-teste do grupo experimental (GE) e do grupo controle (GC), podemos dizer que o

progresso das crianças do GC foi inferior ao das crianças do GE, conforme a Tabela 8.

53

Tabela 8: Comparação do total de acertos das tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

entre o grupo experimental (GE) e grupo controle (GC)

Pré-teste Pós-teste %

Grupo Experimental (GE) 88 117 32,954

Grupo Controle (GC) 81 89 9,876

Observa-se que o desempenho das crianças do grupo experimental nas tarefas de teoria

da mente, expresso pelo número de acertos, foi aumentado em aproximadamente 33%,

enquanto no grupo controle, verifica-se um aumento de aproximadamente 10% de acertos.

Para dar maior sustentação aos dados supracitados, a seguir, será realizada a análise

estatística por meio do programa SPSS 20.0

7.1.3 Análise comparativa dos resultados obtidos pelo grupo experimental (GE) e pelo grupo

controle (GC) nas tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

A análise estatística dos dados foi realizada através do programa SPSS 20.0. Neste

estudo, foram aplicados os seguintes testes: Teste t para comparação de médias entre amostras

independentes a fim de comparar os grupos experimental e de controle; Teste t para

comparação de médias para amostras dependentes para comparar os resultados entre pré e

pós-teste.

Tabela 9: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da mente no pré-teste do grupo

experimental (GE) e grupo controle (GC)

Pré teste Grupo N Média Desvio Padrão Erro Padrão T P

Experimental 25 3,92 1,256 ,251 -0,697 0,489

Na análise do pré-teste do grupo experimental (GE) e do grupo controle (GC),

percebe-se que a diferença estatística entre os resultados obtidos pelos grupos não é

significativa (p=0,489). Isso denota a semelhança entre os grupos para efeito de intervenção,

como se pode ver na Figura 1.

54

Figura 1 – Comparativo das médias dos resultados do pré-teste no grupo experimental (GE) e no grupo controle

(GC)

A Figura 1 ilustra a proximidade entre as médias dos resultados do pré-teste entre os

grupos experimental e controle. O grupo experimental (GE) apresenta uma média de 3,92 e o

grupo controle (GC) de 4,16.

Na Tabela 10, pode-se verificar que o aumento dos acertos nas tarefas de teoria da

mente no pós-teste foi significativamente maior no grupo experimental (GE), quando

comparado ao grupo controle (GC), p=0,027.

Tabela 10: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da mente no pós-teste do grupo

experimental (GE) e grupo controle (GC)

Pós teste

Grupo N Média Desvio Padrão Erro Padrão t p

(uma cauda)

Experimental 23 5,09 ,949 ,198 1,994 0,027

Controle 20 4,45 1,146 ,256

55

Na Figura 2, identifica-se um maior distanciamento nas médias dos resultados do pós-

teste entre os grupos experimental e controle. O grupo experimental (GE) apresenta uma

média de 5,09 e o grupo controle (GC) de 4,45.

Figura 2 – Comparativo das médias dos resultados do pós-teste no grupo experimental (GE) e grupo controle

(GC)

Esses resultados indicam a melhora expressiva no desempenho das tarefas de teoria da

mente pelo grupo que passou pela intervenção, o que não ocorreu com o grupo controle, no

qual a professora contou as mesmas histórias para as crianças, entretanto, não recebeu

nenhum tipo de instrução por parte da pesquisadora sobre como contar as histórias, ou seja,

contou da maneira que sabia.

É possível afirmar que as crianças participantes do grupo experimental se

beneficiaram da intervenção na qual a professora, orientada pela pesquisadora, contou

histórias infantis, explicando para elas os estados mentais dos personagens. Esses resultados

fornecem evidências de que a atividade de contação de histórias é propícia para discutir

estados mentais com as crianças. Isso se explica porque as histórias denotam o que os

personagens pensam, desejam, querem e sentem, aspectos relevantes para a teoria da mente,

encontrados também em Nelson (2005). Nesse sentido, por meio dessa atividade as crianças

56

podem adquirir um conhecimento mais avançado sobre os pensamentos, sentimentos e as

crenças de outras pessoas.

Tabela 11: Comparação entre os resultados das tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

do grupo experimental (GE) e grupo controle (GC)

A Tabela 11 evidencia que, enquanto no grupo experimental, o desempenho das

crianças nas tarefas de teoria da mente foi significativamente maior no pós-teste do que no

pré-teste (p0,000), o grupo controle apresentou uma diferença não significativa entre o pré e

o pós-teste (p=0,101), como mostra a Figura 3.

Figura 3 – Médias das diferenças de acertos entre pré e pós-teste no grupo experimental (GE) e grupo controle

(GC)

Grupo Experimental Pós – Pré

Média Desvio Padrão Erro Padrão t GL P

(uma cauda)

1,261 1,096 ,229 5,516 22 ,000

Grupo Controle Pós – Pré

Média Desvio Padrão Erro Padrão t GL P

(uma cauda)

,400 1,353 ,303 1,322 19 ,101

57

A Figura 3 nos mostra que a média da diferença de acertos entre o pré-teste e o pós-

teste do grupo experimental (GE) é superior à média do grupo controle (GC).

Ao compararmos os resultados do pré e do pós-teste dos grupos experimental e

controle, identificamos que os avanços no grupo que passou pela experiência da intervenção

foram maiores do que o grupo que não teve essa experiência.

No grupo controle, a professora contou as histórias infantis sem atentar para a

importância de explicar os estados mentais – desejos, intenções e crenças – dos personagens e

de empregar uma linguagem utilizando verbos e termos mentais, pois não foi orientada pela

pesquisadora. Os dados indicam que até houve um aumento dos acertos das tarefas no pós-

teste em relação ao pré-teste, todavia, essa diferença não é significativa, ou seja, as crianças

permaneceram em níveis semelhantes de acertos no pré-teste e no pós-teste.

Não houve progresso expressivo no grupo controle no desempenho das tarefas de

teoria da mente, quando comparados ao grupo experimental.

Tais resultados fornecem evidências de que práticas de contação de histórias infantis

que enfatizam os estados mentais dos personagens, utilizando uma linguagem que envolve

expressões mentais, favorecem o desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente.

Esses dados são corroborados com outros estudos (Adrian et al., 2007; Araújo & Sperb, 2013;

Rodrigues & Tavares, 2009) que têm demonstrado que o envolvimento de crianças em

atividades de contação de histórias infantis favorece a aprendizagem e aquisição da teoria da

mente.

7.2 Estudo 2

7.2.1 Desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

Conforme já explicado no item 6.3.2.1, tomou-se como medida de pré-teste os

resultados obtidos pelas crianças nas sete tarefas de teoria da mente do pós-teste do Estudo 1.

Seguem nas Tabelas 12 e 13 os resultados obtidos pelas crianças nas tarefas realizadas

no pré e pós-teste.

58

Tabela 12: Escores das crianças nas sete tarefas de teoria da mente aplicadas no pré-teste

(isto é, no pós-teste do Estudo 1)

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

B1

B2

B3 1 1 1 1 0 1 0 5

B4 1 1 0 0 1 1 0 4

B5 1 1 1 1 0 1 1 6

B6 1 0 1 1 1 1 0 5

B7 1 0 1 0 0 1 0 3

B8 1 0 1 1 0 1 0 4

B9 1 1 1 1 1 1 0 6

B10 1 0 1 1 1 1 0 5

B11 1 0 1 1 0 1 0 4

B12 1 1 1 1 0 1 0 5

B13 1 1 1 0 1 1 1 6

B14

B15 1 1 1 1 0 1 0 5

B16

B17 1 1 1 0 0 1 0 4

B18 1 1 1 1 0 1 0 5

B19 1 1 1 0 0 1 0 4

B20 1 0 1 0 0 1 0 3

B21 1 0 0 0 0 1 0 2

B22

B23 1 0 1 1 0 1 0 4

B24 1 1 1 1 1 1 0 6

B25 1 0 1 0 0 1 0 3

Total 20 11 18 12 6 20 2 89

59

Tabela 13: Escores das crianças nas sete tarefas de teoria da mente aplicadas no pós-teste

Crianças T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Total

B1

B2

B3 1 1 1 1 1 1 0 6

B4 1 1 1 1 1 1 0 6

B5 1 1 1 1 1 1 1 7

B6 1 1 1 1 1 1 0 6

B7 1 0 1 1 0 1 0 4

B8 1 1 1 1 0 1 0 5

B9 1 1 1 0 0 1 0 4

B10 1 1 1 1 1 1 1 7

B11 1 1 1 0 0 1 0 4

B12 1 1 1 1 1 1 0 6

B13 1 1 1 1 1 1 0 6

B14

B15 1 1 1 1 0 1 0 5

B16

B17 1 1 1 1 1 1 0 6

B18 1 1 1 1 1 1 0 6

B19 1 0 1 1 0 1 0 4

B20 1 1 1 1 1 1 0 6

B21 1 0 1 0 1 1 0 4

B22

B23 1 1 1 1 0 1 0 5

B24 1 1 1 1 1 1 1 7

B25 1 1 1 1 1 1 0 6

Total 20 17 20 17 13 20 3 110

De acordo com as Tabelas 12 e 13, fica evidenciado que o desempenho das crianças,

expresso pelo número de acertos, foi maior no pós-teste quando comparado ao pré-teste (pré-

teste = 89 e pós-teste 110).

A Tabela 14 expressa esses valores em termos percentuais.

Tabela 14: Comparação do total de acertos das tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

Observa-se que o desempenho das crianças aumentou em 23,6%.

Para dar maior sustentação a esses dados, a seguir, será realizada a análise estatística

por meio do programa SPSS 20.0.

Pré-teste Pós-teste %

89 110 23,595

60

7.2.2 Análise comparativa dos resultados obtidos pelas crianças nas tarefas de teoria da mente

no pré e pós-teste

Para análise estatística dos dados utilizou-se o programa SPSS 20.0. Neste estudo, foi

aplicado o Teste t para comparação de médias para amostras dependentes para comparar os

resultados entre pré e pós-teste.

Tabela 15: Comparação dos resultados das tarefas de teoria da mente no pré e pós-teste

Grupo 2

Pós– Pré

Média Desvio Padrão Erro Padrão T GL P

(uma cauda)

1,05 1,15 0,26 4,10 19 0,001

Na análise comparativa entre os resultados obtidos no pré e pós-teste, observa-se que a

diferença estatística é significativa (p=0,001).

Esses dados revelam que as crianças apresentaram avanço no desempenho das tarefas

de teoria da mente após a intervenção. Portanto, pode-se dizer que as crianças foram

beneficiadas com o programa interventivo que orientou a professora a utilizar uma linguagem

envolvendo termos e verbos mentais durante a contação de histórias, explicando os estados

mentais dos personagens.

Nossa atenção se volta para a importância das orientações que foram fornecidas para a

professora. Os dados denotam o quanto o conhecimento adquirido por ela, bem como a sua

aplicabilidade, foram eficazes para o bom desempenho das crianças nas tarefas de teoria da

mente.

7.3 Linguagem empregada pelas professoras na contação das histórias no Estudo 1 e no

Estudo 2

A linguagem empregada pelas professoras na atividade de contação de histórias foi

gravada em áudio e transcrita integralmente por cada história.

61

No Estudo 1, foram transcritas as dez histórias contadas pela professora Sílvia (GE) e

as dez contadas pela professora Ana (GC). No Estudo 2, foram transcritas as contações das

dez histórias da professora Ana após receber as instruções da pesquisadora. Obteve-se um

total de trinta transcrições.

Posteriormente, as transcrições foram submetidas ao tratamento estatístico do software

SPAD-T (Systeme Portable pour l´Analyse des Donnés). O software gerou três listas

referentes à linguagem empregada pelas professoras em cada história, no Estudo 1 e no

Estudo 2. Nos anexos 5, 6 e 7, está exposto um modelo de cada lista, porém, devido à

extensão dos arquivos, isso é feito de modo fragmentado.

A primeira apresenta uma lista geral com várias palavras organizadas por frequência.

Dentre essas, selecionamos os termos e verbos mentais (palavras que expressam fatos mentais

e fazem referência a desejos, crenças, intenções, emoções) considerados importantes para a

presente pesquisa. Assim, foi organizada uma segunda lista, por ordem alfabética, indicando a

frequência em que essas palavras de interesse surgiram. A terceira lista aponta as frases nas

quais as expressões mentais (termos e verbos) foram citadas.

Em suma, optamos por considerar para análise a segunda lista. Antes de apresentarmos

a análise propriamente dita, torna-se necessário tecer alguns comentários. Para isso,

apresentamos um exemplo, o da história Chapeuzinho Vermelho (Tabela 16).

Na avaliação do Estudo 1, foi considerada a segunda e terceira colunas que

representam a professora Sílvia (GE - grupo experimental) e a professora Ana (GC - grupo

controle).

Para o Estudo 2, tomou-se como medida de análise a segunda coluna, que diz respeito

à linguagem usada pela professora Ana antes da intervenção (quando fez parte do GC), e a

coluna quatro, nomeada “Ana depois”, referente à linguagem que a professora Ana passou a

adotar depois que vivenciou a experiência da intervenção.

Desse modo, as expressões mentais que compuseram a segunda lista foram: verbos

(achar, acreditar, conhecer, desejar, entender, gostar, imaginar, lembrar, pensar, perceber,

querer, reconhecer, saber, sentir); adjetivos (alegre, apaixonado, assustado, bravo, chateado,

feliz, irritado, nervoso, surpreso, tranquilo, triste); substantivos (alegria, choro, felicidade,

medo, raiva, tristeza). As variações dos verbos também foram levadas em conta, como por

exemplo: quer, querendo, queria, quis foram ponderadas como verbo “querer”.

Para analisar essas palavras, foram criadas algumas categorias baseadas na literatura

da área (Gallo-Penna, 2011; Oliveira, 2009; Valério, 2008), são elas: a) emoções – expressões

que dizem respeito aos sentimentos e emoções dos personagens das histórias; b) desejos –

62

expressões que se referem à vontade dos personagens, seu querer e aspirações; c) crenças -

expressões que denotam aquilo em que os personagens acreditam, que julgam ser verdadeiro

ou falso.

Com base nessas categorias, levamos em conta o número total de termos mentais

empregado na linguagem das professoras, e assim, avaliamos os dois Estudos.

Tabela 16: Linguagem das professoras na história Chapeuzinho Vermelho

CHAPEUZINHO VERMELHO SÍLVIA GE ANA GC ANA DEPOIS TOTAL

ACHA 1 0 0 1

ACHAM 1 0 0 1

ACHO 1 0 0 1

ACHOU 0 0 1 1

ACHAR 3 0 1 4

ACREDITOU 3 0 0 3

APAIXONADA 1 0 0 1

APAIXONADO 3 0 0 3

APAIXONAR 4 0 0 4

ASSUSTADA 1 0 1 2

ASSUSTADO 1 1 1 3

ASSUSTOU 1 0 0 1

ASSUSTAR 3 1 2 6

BRAVO 1 1 1 3

FELIZ 1 0 0 1

FELIZES 1 1 2 4

FELIZ 2 1 2 5

GOSTOU 1 0 0 1

IMAGINA 1 0 0 1

MEDO 2 0 0 2

PENSANDO 3 0 0 3

PENSOU 2 1 1 4

PENSAR 5 1 1 7

QUER 1 0 1 2

QUERENDO 1 0 0 1

QUERIA 6 0 1 7

QUIS 2 1 1 4

QUERER 10 1 3 14

SENTIA 1 0 0 1

SENTIU 1 0 0 1

SENTIR 2 0 0 2

TOTAL 42 6 12 60

63

Estudo 1

A Figura 4 compara a linguagem utilizada pelas professoras Sílvia (GE) e Ana (GC)

em cada história.

Figura 4 – Escores de termos e verbos mentais utilizados pelas professoras Sílvia (GE) e Ana (GC) em cada

história

Observa-se que houve uma variação no uso dos termos e verbos mentais empregados

entre as histórias pelas duas professoras. De modo geral, das dez histórias infantis utilizadas,

as que evidenciaram maior número de termos foram: O Patinho Feio (85), Rapunzel (82) e O

Príncipe Sapo (71).

Ao compararmos a linguagem utilizada pela professora do grupo experimental (GE) e

do grupo controle (GC), verificamos que em todas as histórias, a frequência de termos

mentais utilizados na fala da professora Sílvia (GE) foi significativamente superior à

empregada pela professora Ana (GC). Dos 559 termos identificados, 485 foram proferidos

pela professora do grupo experimental, que recebeu orientações da pesquisadora para contar

histórias aos seus alunos, e apenas 74 foram ditos pela professora do grupo controle, que

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

42 3854

29 4268 67

4666

33

485

3 4 7 7 6 14 4 8 192

74

GrupoExperimental(GE)

GrupoControle (GC)

64

contou as histórias a seu modo porque não recebeu nenhuma instrução acerca de “como”

trabalhar essas histórias.

A Tabela 17 nos permite apreciar a categorização dos termos utilizados.

Tabela 17: Categorização das expressões mentais utilizadas pelas professoras

CATEGORIA EXPRESSÕES MENTAIS SÍLVIA GE ANA GC TOTAL

Crença Achar 53 3 56

Crença Acreditar 4 0 4

Crença Conhecer 3 0 3

Crença Entender 5 1 6

Crença Imaginar 11 3 14

Crença Lembrar 8 2 10

Crença Pensar 62 8 70

Crença Perceber 9 5 14

Crença Reconhecer 1 1 2

Crença Saber 28 5 33

Desejo Desejar 8 3 11

Desejo Querer 79 9 88

Emoção Alegre 5 1 6

Emoção Alegria 3 2 5

Emoção Apaixonado 12 2 14

Emoção Assustado 14 4 18

Emoção Bravo 7 2 9

Emoção Choro 8 3 11

Emoção Felicidade 2 0 2

Emoção Feliz 47 8 55

Emoção Gostar 23 0 23

Emoção Irritado 1 1 2

Emoção Nervoso 1 0 1

Emoção Medo 11 1 12

Emoção Raiva 1 2 3

Emoção Sentir 46 2 48

Emoção Surpreso 2 2 4

Emoção Tranquilo 1 0 1

Emoção Triste 23 3 26

Emoção Tristeza 7 1 8

TOTAL 485 74 559

No que se refere à categorização do número total de termos e verbos mentais

utilizados pelas duas professoras, vimos que: 37,94% expressa crença; 17,68% desejo;

44,38% emoção. Na atividade de contação das dez histórias realizada tanto pela professora do

grupo experimental quanto pela professora do grupo controle, houve uma maior frequência de

termos relativos à emoção (248), seguidos de crença (212) e desejo (99).

65

Figura 5 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pelas professoras do grupo experimental

(GE) e do grupo controle (GC)

É importante também comentarmos outro resultado encontrado ao compararmos os

dois grupos (GE e GC), que pode ser evidenciado nas Figuras 6 e 7.

Figura 6 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela professora do grupo experimental (GE)

37,94%

17,68%

44,38%

Crença

Desejo

Emoção

37,94%

17,94%

44,12%

Crença

Desejo

Emoção

66

Figura 7 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela professora do grupo controle (GC)

Ao olharmos para a categorização dessas expressões mentais, identificamos uma

equivalência entre ambos, ou seja, as professoras falaram mais sobre as emoções dos

personagens (GE=44,12% e GC=45,95%), depois as crenças (GE=37,94% e GC=37,84%) e,

por último, os desejos (GE=17,94% e GC=16,22%).

Estudo 2

A Figura 8 compara a linguagem utilizada pela professora Ana antes e depois do

procedimento de intervenção, em cada história.

37,84%

16,22%

45,95%

Crença

Desejo

Emoção

67

Figura 8 – Escores de termos e verbos mentais utilizados pela professora Ana antes e depois da intervenção em

cada história

Ao confrontarmos a linguagem utilizada pela professora Ana para contar histórias aos

seus alunos antes de receber as orientações da pesquisadora, ou seja, quando contou as

histórias à sua maneira habitual, e depois, quando passou pelas sessões de capacitação, vimos

o efeito positivo das orientações teóricas e práticas fornecidas pela pesquisadora.

Nas dez histórias, a professora empregou apenas 74 expressões mentais antes da

intervenção. Posteriormente, quando foi orientada acerca da importância do uso de uma

linguagem envolvendo termos e verbos mentais durante a contação de histórias para seus

alunos, explicando os estados mentais dos personagens, a professora Ana fez menção de 247

termos na sua fala. Então, ao observarmos esses dados, identificamos um grande avanço no

uso desses termos mentais pela professora em todas as histórias.

No que se refere à categorização dos termos e verbos mentais, vejamos a Figura 9.

0

50

100

150

200

250

3 4 7 7 614

4 819

2

74

23 23 2416 12

3522 25

43

24

247

ANA ANTES

ANA DEPOIS

68

Figura 9 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela professora Ana

Vemos que do total de 321 termos, 164 (51,09%) expressam emoção, 102 (31,78%)

expressam crença e 55 (17,13%) fazem alusão aos desejos dos personagens infantis.

Ao analisarmos a categorização das expressões mentais utilizadas pela professora

antes e após a intervenção, constatamos que houve um aumento dos termos que indicam

emoção e um decréscimo nos que se referem à crença, conforme as Figuras 10 e 11.

Figura 10 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela professora Ana antes da intervenção

31,78%

17,13%

51,09% Crença

Desejo

Emocao

37,84%

16,22%

45,95%

Crenca

Desejo

Emoção

69

Figura 11 – Categorização dos termos e verbos mentais empregados pela professora Ana após a intervenção

A Figura 10 mostra que antes da intervenção, do total de 74 termos mentais, a

professora empregou 34 (45,95%) referentes à emoção, 28 (37,84%) que expressam crença e

12 (16,22%) que dizem respeito a desejos. Já a Figura 11 ilustra que após a intervenção, do

total de 247 termos, 130 (52,63%) expressam emoção, 74 (29,96%) expressam crença e 43

(17,41%) fazem alusão aos desejos dos personagens infantis. Nota-se que o uso dos termos

referentes a desejos obteve um pequeno acréscimo, aumentando de 16,22% para 17,41%.

Cabe discutir que os dados obtidos nesta pesquisa concordam com estudos anteriores

(Gallo-Penna, 2011; Oliveira, 2009; Rodrigues et al., 2012), que apontam para a eficácia de

programas de intervenção que enfatizam a importância do emprego de uma linguagem

envolvendo termos mentais na prática de contação de histórias, para explicar os estados

mentais dos personagens infantis, e assim, favorecer o desenvolvimento da teoria da mente

nas crianças. Em consonância com esses autores, acreditamos que essa prática tem impacto

sobre o desenvolvimento da criança, permitindo-lhe o reconhecimento de seus próprios

estados mentais e das outras pessoas. Salientamos que partilhamos juntamente com esses

teóricos da tese de que há uma estreita relação entre a linguagem e a teoria da mente.

29,96%

17,41%

52,63% crenca

desejo

emocao

70

Reconhecemos também a potencialidade das histórias infantis para favorecer

conversas sobre estados mentais e para considerar diferentes pontos de vista, aspectos

importantes para o desenvolvimento da teoria da mente (Adrian et al., 2007; Araújo & Sperb,

2013; Maluf & Domingues, 2010).

De igual modo, podemos afirmar que, em nosso estudo, a contação de histórias se

mostrou como um recurso eficaz para favorecer a capacidade da criança para atribuir estados

mentais, ao passo que estas apresentaram um melhor desempenho nas tarefas de teoria da

mente após a intervenção efetivada com as professoras, conforme já evidenciado.

71

8 Conclusões e Considerações Finais

O desenvolvimento da teoria da mente configura-se como um aspecto central para

explicar as ações humanas, bem como para favorecer a manutenção e o aprimoramento da

criança nas relações sociais. Nesse sentido, vimos que a teoria da mente está vinculada à

educação e é fundamental para a socialização e aprendizagem escolar, na medida em que o

educador deve contribuir para a formação de pessoas capazes de lidar com o meio em que

vivem. Portanto, faz-se importante que o educador possua conhecimento acerca desse modelo

de estudo relevante para o desenvolvimento sociocognitivo infantil.

As habilidades sociocognitivas das crianças podem ter um impacto direto sobre a

qualidade de seus relacionamentos e sucesso escolar. Para Zelazo (2011), crianças com uma

cognição social mais avançada tendem a se comunicar melhor e são mais competentes

socialmente, mais felizes na escola e demonstram melhores resultados acadêmicos.

A literatura vem demonstrando que o envolvimento de crianças em atividades de

contação de histórias infantis se apresenta como uma ferramenta efetiva para a aprendizagem

e aquisição da teoria da mente (Rodrigues & Rubac, 2008; Rodrigues & Tavares, 2009).

Difundir esse conhecimento para professores da Educação Infantil faz parte do nosso

interesse. Buscamos oferecer subsídios para esses profissionais criarem condições

favorecedoras do desenvolvimento infantil, sobretudo, no que diz respeito à teoria da mente.

A presente pesquisa de intervenção teve por objetivo orientar professoras da Educação

Infantil a utilizarem uma linguagem envolvendo expressões mentais durante a contação de

histórias para seus alunos, explicando os estados mentais dos personagens. Buscamos

responder se práticas de contação de histórias que enfatizam os estados mentais dos

personagens – desejos, intenções e crenças, contribuem para o desenvolvimento da teoria da

mente em crianças de 5 anos que frequentam a Educação Infantil. Para tanto, foi desenvolvido

um estudo de intervenção baseado na linguagem, que consistiu em instruir as professoras a

contarem dez histórias para seus alunos fazendo uso de expressões mentais com o intuito de

favorecer a compreensão de estados mentais nas crianças. Assim, defendemos a hipótese de

que a linguagem empregada pelas professoras na contação de histórias, a partir dessas

instruções dadas pela pesquisadora sobre a importância do uso de termos e verbos mentais,

contribuiria para o desenvolvimento da teoria da mente.

Foram efetivados dois estudos (Estudo 1 e Estudo 2), seguindo o mesmo delineamento

(pré-teste, intervenção, pós-teste) e adotando os mesmos procedimentos de análise. Para

72

avaliar a atribuição de estados mentais ao outro, foram aplicadas nas crianças as sete tarefas

de teoria da mente da escala de Wellman e Liu (2004). A linguagem adotada pelas professoras

para contar as histórias foi transcrita e submetida ao software SPAD-T.

O Estudo 1 envolveu uma professora e seus alunos que formaram o grupo

experimental (GE), e outra professora e seus alunos que compuseram o grupo controle (GC).

A professora do GE recebeu as instruções da pesquisadora na intervenção; já a professora do

GC não recebeu nenhum tipo de orientação, apenas foi instruída a contar as histórias à sua

maneira habitual.

Os resultados obtidos no Estudo 1 demonstram que a professora do grupo

experimental empregou em sua linguagem uma frequência de termos e verbos mentais

significativamente superior à professora do grupo controle, após a intervenção efetivada. E, os

seus alunos tiveram um grande avanço no desempenho das tarefas de teoria da mente,

diferentemente dos alunos do grupo controle.

No Estudo 2, a professora (grupo controle do Estudo 1) passou a receber da

pesquisadora as orientações para contar as histórias aos seus alunos.

Os resultados do Estudo 2 evidenciam que a professora também passou a utilizar mais

termos e verbos mentais em todas as histórias após vivenciar as sessões de capacitação. Esse

efeito positivo também refletiu no desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente, as

quais expressaram um aumento no número de acertos.

Verifica-se nos dois estudos que, após a intervenção, as professoras passaram a adotar

uma linguagem enriquecida de termos e verbos mentais, e essa linguagem foi favorecedora na

manifestação da teoria da mente em seus alunos, que obtiveram um desempenho

significativamente melhor nas tarefas de teoria da mente após as suas professoras terem

recebido as orientações da pesquisadora. Acreditamos que o avanço no número de acertos das

crianças na escala de tarefas de teoria da mente se correlaciona positivamente com o aumento

da frequência de termos mentais utilizados pelas professoras na atividade de contação de

histórias. Quanto à categorização das expressões mentais empregadas nas falas das

professoras, cabe enfatizar que nos dois estudos houve uma maior manifestação de termos

emocionais, depois de crenças, identificando-se com menos frequência, os termos referentes

aos desejos dos personagens infantis.

Esses resultados deram sustentação à hipótese de que situações de interação verbal em

sala de aula, em que a professora faz a leitura de contos infantis e estimula as crianças a serem

ouvintes ativos, podendo expressar-se, fazer perguntas, levantar questões, ajudam as crianças

a perceberem as emoções, os desejos, as intenções, os pensamentos e as crenças dos

73

personagens, o que coopera para a aquisição da teoria da mente na Educação Infantil.

Corroboramos com Adrian et al. (2007), Araújo e Sperb (2013) e Maluf e Domingues (2010)

a tese de que ao utilizarmos uma linguagem rica em termos mentais, favorecemos a

capacidade da criança para entender seus próprios estados mentais e dos outros. Assim,

aceitamos a existência de uma forte correlação entre a linguagem e a teoria da mente.

A atividade de contação de histórias nas classes de Educação Infantil mostrou-se como

um recurso favorecedor do desenvolvimento da teoria da mente nas crianças estudadas. Então,

podemos afirmar que as práticas de contação de histórias que enfatizam estados mentais dos

personagens contribuem para o desenvolvimento dessa habilidade. Esses achados convergem

com os encontrados por outros pesquisadores (Gallo-Penna, 2011; Rodrigues, Ribeiro, &

Cunha, 2012). Entretanto, a literatura da área, principalmente no Brasil, é bastante limitada.

Foi tentativa desse trabalho de pesquisa oferecer uma contribuição nesse sentido.

Reconhecemos que a presente investigação possui relevância tanto teórica quanto prática e

pode oferecer contribuição para a educação.

Diante do que foi discutido, sugerimos que futuras pesquisas de intervenção sejam

desenvolvidas em contextos escolares, principalmente com docentes e alunos da Educação

Infantil, considerando a atividade de contação de histórias como uma rica possibilidade para

favorecer o desenvolvimento da teoria da mente nas crianças. Nessa direção, é relevante que

mais investigações incluam uma maior amostra de participantes, comparem níveis diferentes

de idade e analisem a frequência dos uso de termos e verbos mentais nas falas das crianças

durante as situações de interação verbal em sala de aula, em que o professor faz a leitura de

contos infantis.

74

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79

ANEXOS

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Escola

Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP

Curso de Doutorado em Educação: Psicologia da Educação

A Escola.........................................................................................., representada pela

coordenadora............................................................., aceita participar do estudo realizado pela

pesquisadora Adriana Soares Freitas de Souza, aluna do curso de Doutorado em Educação:

Psicologia da Educação da PUC-SP, tendo como orientadora a Profa. Dra. Maria Regina

Maluf, dando seu consentimento livre e esclarecido para que a coleta de dados seja realizada

nessa instituição com os seus alunos e professoras. A pesquisadora está desenvolvendo um

estudo intitulado: Teoria da mente e contação de histórias: uma intervenção com professoras e

alunos na Educação Infantil. O objetivo do estudo é orientar professoras da Educação Infantil

a utilizarem uma linguagem envolvendo termos e verbos mentais durante a contação de

histórias para seus alunos, explicando os estados mentais dos personagens.

A escola autoriza a pesquisadora a coletar os dados em ambiente escolar e está ciente de que

as crianças realizarão algumas tarefas que avaliarão a capacidade de atribuição de estados

mentais.

A pesquisadora assegura que a participação nessa pesquisa, por parte da escola, das

professoras e das crianças, será de caráter voluntário e sem ônus, estando garantido o sigilo, a

confidencialidade e a utilização dos dados obtidos somente para fins científicos. As

informações obtidas nas avaliações serão utilizadas para análise estatística e posterior

publicação dos resultados. Serão utilizadas imagens dos alunos e professoras para fins

acadêmicos, e isso, não implicará qualquer tipo de ônus para a pesquisadora. Os participantes

não estarão expostos a desconfortos ou riscos. Todos estão informados de que a participação

poderá ser suspensa a qualquer momento sem prejuízo a ninguém.

Caso sejam necessários maiores esclarecimentos a respeito do estudo ou seus participantes

desejem cancelar sua participação, poderão entrar em contado pessoalmente com a

pesquisadora.

--------------------------------- ---------------------------------

Assinatura da pesquisadora Assinatura do responsável

Coordenadora

São Paulo, ______/_______/2015

80

Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido das Professoras

Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP

Curso de Doutorado em Educação: Psicologia da Educação

Eu.............................................................................., professora da Educação Infantil, da

Escola.........................................................................................., aceito participar do estudo

realizado pela pesquisadora Adriana Soares Freitas de Souza, aluna do curso de Doutorado

em Educação: Psicologia da Educação da PUC-SP, tendo como orientadora a Profa. Dra.

Maria Regina Maluf. A pesquisadora está desenvolvendo um estudo intitulado: Teoria da

mente e contação de histórias: uma intervenção com professoras e alunos na Educação

Infantil. O objetivo do estudo é orientar professoras da Educação Infantil a utilizarem uma

linguagem envolvendo termos e verbos mentais durante a contação de histórias para seus

alunos, explicando os estados mentais dos personagens.

Conheço os meus direitos como participante de um projeto de pesquisa. Compreendo sobre o

que, como e o porquê este estudo está sendo realizado. Estou ciente de que a minha

participação nessa pesquisa, será de caráter voluntário e sem ônus, estando garantido o sigilo,

a confidencialidade e a utilização dos dados obtidos somente para fins científicos. Como

participante, compreendo que não estarei exposta a desconfortos ou riscos. As informações

obtidas nas avaliações serão utilizadas para análise estatística e posterior publicação dos

resultados. Autorizo a utilização da minha imagem para fins gráficos, audiovisuais, digitais,

para fins acadêmicos, e isso, não implicará qualquer tipo de ônus para a pesquisadora. Estou

informada de que a minha participação poderá ser suspensa a qualquer momento sem prejuízo

a ninguém.

--------------------------------- ---------------------------------

Assinatura da pesquisadora Assinatura da professora

São Paulo, ______/_______/2015

81

Anexo 3 – Orientações teóricas para as professoras: o desenvolvimento da Teoria da Mente

e a Educação Infantil

TEORIA DA MENTE E CONTAÇÃO DE

HISTÓRIAS: UMA INTERVENÇÃO COM

PROFESSORES E ALUNOS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Programa de Pós-Graduação em Educação: Psicologia da Educação da PUCSP

Pesquisadora: Adriana Soares Freitas de Souza

Contato: [email protected]

Tel (11) 98715-0472

O PROJETO DE PESQUISA

Estou fazendo um trabalho para melhorar as práticas de educação infantil baseado nalinguagem.

Desenvolver a linguagem nessa faixa etária é muito importante porque quandodesenvolvemos a linguagem oral da criança, desenvolvemos o seu pensamento também.

Contar história é uma prática comum na educação infantil, mas a presente pesquisa estábaseada na prática de contar histórias de modo “diferente”.

Vamos contar história de modo que a criança preste atenção nos personagens, para poderinterpretar os desejos, as intenções, as crenças, os pensamentos desses personagens. Então,é um tipo de trabalho que traz benefícios para as crianças e para vocês, pois irão aprender adesenvolver uma nova maneira de contar história.

Pretendo orientar vocês para trabalharem com seus alunos buscando desenvolver alinguagem oral, o vocabulário. As crianças irão aprender a usar verbos, a se referir apersonagens de histórias, a entender o que os personagens sentem, desejam, pensam,acreditam. E, a partir daí, estaremos favorecendo o desenvolvimento de uma habilidademuito relevante: a teoria da mente.

Teremos 2 encontros teóricos (explicações teóricas sobre a teoria da mente) e 10 encontrospráticos (narração de histórias infantis).

82

OBJETIVOS DE PESQUISA

No presente estudo de intervenção, temos o

objetivo de orientar professores da Educação

Infantil a utilizarem uma linguagem envolvendo

termos e verbos mentais durante a contação de

histórias para seus alunos, explicando os estados

mentais dos personagens. Trata-se de um estudo

de intervenção para favorecer na criança a

capacidade de atribuição de estados mentais ao

outro, por meio de contação de histórias, feita

pelas professoras (vocês), enfatizando uso de

termos mentais.

A TEORIA DA MENTE

Habilidade da criança de atribuir estadosmentais a si própria e a outra pessoa. E, dessemodo, ser capaz de prever o comportamento dosoutros. Essa habilidade é necessária para acriança participar das relações sociais e estádiretamente vinculada à Educação.

Em 1978, a partir dos experimentos comchimpanzés realizados por David Premack e GuyWoodruff.

Esse experimento despertou o interesse dospsicólogos desenvolvimentistas.

83

A TEORIA DA MENTE

Wimmer e Perner⇔ Maxi e o chocolate, em 1983.

A ação de enganar.

A capacidade de atribuir estados mentais tem

sido estudada por meio da aplicação de `tarefas

de teoria da mente`.

Crença falsa ⇒ crença que diverge da realidade

por estar pautada em informações perceptuais

parciais sobre uma dada situação (Santana &

Roazzi, 2006).

LINGUAGEM

X

TEORIA DA MENTE

Fundamental para as interações sociais, por meiodela, os indivíduos compartilham, expressam ecomunicam seus pensamentos, ideias, sentimentos eintenções, e atuam sobre o mundo, sobre o outro e simesmos.

A existência de uma relação entre o desenvolvimentoda linguagem e a aquisição de uma teoria da mentepela criança tem sugerido que a prática daconversação é um dos aspectos da linguagem queparecem ser fundamentais para que a criançadesenvolva a compreensão da mente do outro.

O desenvolvimento de uma teoria da mente, pareceestar associado às experiências linguísticas dacriança.

84

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

X

TEORIA DA MENTE

Pesquisas demonstram que o envolvimento de crianças ematividades de contação de histórias infantis pode ser umaferramenta para a aprendizagem e aquisição da teoria damente.

Livros de histórias infantis que possuem uma linguagemfocada nas interações entre os personagens e imagens quepermitem a evocação de estados mentais de desejos, crenças,intenções e de emoções, contribuem para o entendimento daatribuição desses estados mentais.

Para Domingues e Maluf (2008) “...o educador poderá criar,intencionalmente, situações de dramatização e representaçãode histórias, que oferecem à criança a possibilidade de lidarcom o mundo imaginário de forma criativa e adaptativa”(p.14).

Exercer essas práticas na escola, poderá favorecer acompreensão dos estados mentais em crianças.

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

X

TEORIA DA MENTE

Ao contar histórias para as crianças, o professordeve promover situações de interação verbal emsala de aula. Deve estimular as crianças a seremouvintes ativos, podendo expressar-se, fazerperguntas, levantar questões, para ajudar acriança a perceber as emoções, os desejos, asintenções, os pensamentos e as crenças dospersonagens das histórias.

O uso de termos e verbos mentais, poderácontribuir para a aquisição da habilidade deatribuição de estados mentais em crianças emidade na Educação Infantil.

85

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

X

TEORIA DA MENTE

O professor deve exercitar a interação verbal com

as crianças, utilizando uma linguagem

expressiva, contando as histórias sempre

enfatizando os estados mentais, fazendo uso de

termos mentais como entender, saber, acreditar,

pensar, sentir, querer, dentre outros.

Por meio de perguntas ou comentários sobre as

histórias, o professor deve estimular os alunos a

pensar e usar termos que referem a estados

mentais.

AS HISTÓRIAS QUE SERÃO UTILIZADAS

Serão utilizadas as seguintes histórias infantis:

História 1 - O Gato de Botas

História 2 - Cinderela

História 3 - Branca de Neve

História 4 - O Patinho Feio

História 5 - Chapeuzinho Vermelho

História 6 - Rapunzel

História 7 - O Príncipe Sapo

História 8 - O Soldadinho de Chumbo

História 9 - O Pequeno Polegar

História 10 - João e Maria

86

AS HISTÓRIAS QUE SERÃO UTILIZADAS

As histórias infantis que serão utilizadas fazemparte da coleção “Clássicos Ilustrados com aTurma da Mônica, de Mauricio de Souza (2008).Grande parte desses contos foi adotada no estudode Gallo-Penna, em 2011. A escolha dessashistórias se deu devido ao fato da pesquisadora,demonstrar que o conteúdo dessas narrativasenvolve situações que eliciaram linguagempautada em desejos, crenças, intenções e emoçõesdos personagens. Ademais, apresentam arepetição de personagens, semelhanças novestuário e clareza nos seus traços faciais egestos, o que facilitou a compreensão daexpressão das emoções, das ações e intenções, deacordo com Gallo-Penna.

AS ORIENTAÇÕES PRÁTICAS

10 sessões com duração de aproximadamente 1 hora, cada,sempre às quartas e sextas-feiras.

A pesquisadora oferecerá instruções às professoras acercade “como” contar história aos seus alunos para favorecer odesenvolvimento da teoria da mente. Logo após, nessesmesmos dias, a professora deve recontar essas histórias aosseus alunos, seguindo as instruções recebidas.

Serão encontros práticos, na narração de histórias infantis,que envolverão compreensão e atribuição de estadosmentais aos personagens, como desejos, intenções eatribuição de crença falsa ao outro.

Em cada uma dessas sessões, duas vezes por semana, serátrabalhada uma história diferente.

87

AS ORIENTAÇÕES PRÁTICAS

As contações das histórias realizadas pelas

professoras serão áudiogravadas e transcritas

para serem submetidas posteriormente ao

tratamento estatístico.

Buscar-se-á, ao final do nosso trabalho, verificar

se as professoras utilizaram verbos e termos

mentais, para explicar os sentimentos, desejos e

crenças dos personagens das histórias infantis.

VÍDEO SOBRE A TEORIA DA MENTE

https://www.youtube.com/watch?v=ApFYyQ3Or1A

88

Anexo 4 – Protocolo de aplicação da escala de tarefas de teoria da mente

Criança:

Turma:

Data da aplicação:

Tarefa 1 – Desejos diferentes avalia a ação da criança ao perceber que duas pessoas têm

desejos diferentes em relação aos mesmos objetos.

Material: um boneco representando um adulto, uma cenoura e uma bolacha de brinquedo.

“Aqui está o Sr. Renato. Está na hora do lanche, então o Sr. Renato quer comer alguma coisa.

Aqui estão dois lanches diferentes: uma bolacha e uma pipoca.

Qual lanche você iria preferir? Você iria gostar mais de uma bolacha ou mais de uma pipoca?

(Pergunta sobre o próprio desejo)

( ) bolacha ( ) pipoca

Se a criança escolhe bolacha: Bem, é uma ótima escolha, mas o Sr. Renato gosta muito de

pipoca. Ele não gosta de bolacha. O que ele mais gosta é de pipoca. (Ou, se a criança escolhe

a pipoca, diz-se a ela que o Sr. Renato gosta de bolacha).

Então, agora está na hora de comer. O Sr. Renato só pode escolher um lanchinho, só um.

Qual lanche o Sr. Renato vai escolher? Uma bolacha ou uma pipoca? (Pergunta-alvo)”

( ) bolacha ( ) pipoca

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Para obter sucesso na tarefa a criança deverá responder na pergunta-alvo o oposto do que foi

respondido na pergunta sobre o próprio desejo.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

Tarefa 2 – Crenças diferentes investiga a ação da criança ao perceber que duas pessoas

têm crenças diferentes em relação aos mesmos objetos e quando a criança não sabe qual

crença é verdadeira ou falsa.

Material: uma boneca representando Mariana, uma folha de papel com os desenhos de uma

árvore e de um carro.

“Aqui está Mariana. Mariana quer encontrar o gato dela. O gatinho pode estar escondido na

árvore ou ele pode estar escondido no carro.

Onde você acha que o gato dela está? Na árvore ou no carro? (Questão sobre a própria crença)

( ) árvore ( ) carro

89

Se a criança escolhe a árvore, diz-se: Esta é uma boa escolha, mas Mariana acha que o gatinho

está no carro. Ela pensa que o gatinho está lá no carro (se a criança opta pelo carro, inverte-se

a opção da boneca).

Agora a Mariana vai procurar o gatinho dela. Onde a Mariana vai procurar o gato dela, na

árvore ou no carro? (Questão alvo)”

( ) árvore ( ) carro

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Para acertar a tarefa a resposta da criança na questão alvo deverá ser o oposto do que ela

respondeu na questão sobre a própria crença.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

Tarefa 3 – Acesso ao conhecimento a criança vê o conteúdo de uma caixa e avalia o

conhecimento de outra pessoa que não teve acesso a esse conteúdo.

Material: caixa indeterminada, patinho de brinquedo, uma boneca representando Gigi.

Apresenta-se à criança uma caixa indeterminada, fechada, contendo um patinho de brinquedo

dentro.

“Aqui está uma caixa. O que você acha que tem dentro dessa caixa? (Questão sobre o

conhecimento da criança). A criança poderá dar qualquer resposta ou dizer que não sabe o que

há na caixa.

Resposta da criança:___________________________________________________

Em seguida, abre-se a caixa e apresenta-se à criança seu conteúdo: Vamos ver... tem um

patinho dentro!

Fecha-se a caixa e pergunta-se: Muito bem... o que tem dentro da caixa mesmo?

Resposta da criança: __________________________________________________

Então, uma menininha de brinquedo é apresentada à criança: Essa é Gigi, a Gigi nunca olhou

dentro dessa caixa. A Gigi nunca viu o que tem dentro dessa caixa.

Então, a Gigi sabe o que tem dentro dessa caixa? (Questão-alvo)

( ) sim ( ) não

A Gigi olhou dentro dessa caixa? (Questão de memória)”

( ) sim ( ) não

90

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Para a tarefa ser considerada correta a criança deverá responder “Não” na questão-alvo e

“Não” na questão de controle de memória.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

Tarefa 4 – Crença falsa: conteúdo a criança observa a crença falsa de outra pessoa a

respeito do que existe em um recipiente bem característico, quando a criança conhece o

conteúdo do recipiente.

Material: caixa de fósforos, um gatinho de brinquedo, um boneco representando Felipe.

A criança vê uma caixa de fósforos claramente identificada com um gatinho de brinquedo

dentro dessa caixa de fósforos fechada.

“Aqui está uma caixa de fósforos. O que você acha que tem dentro dessa caixa de fósforos?

Resposta da criança ___________________________________________________

Em seguida, a caixa é aberta: Vamos ver... tem um gatinho dentro! A caixa de fósforos é

fechada: Muito bem, o que tem dentro da caixa de fósforos?

Resposta da criança__________________________________________________

Em seguida, é apresentado à criança um menininho.

Esse é Felipe. O Felipe não olhou dentro dessa caixa de fósforos. Ele nunca viu aqui dentro.

Agora, aqui vem o Felipe.

Então, o que o Felipe pensa que tem dentro da caixa? fósforos ou um gatinho? (Questão alvo)

( ) fósforos ( ) gatinho

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

O Felipe olhou dentro dessa caixa? (Questão de memória)”

( ) sim ( ) não

Para acertar a tarefa a criança deverá responder “fósforos” na questão-alvo e responder “Não”

na questão de memória.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

91

Tarefa 5 – Crença falsa: explícita a criança observa onde o personagem vai procurar um

objeto sendo que sua crença é equivocada.

Material: um menininho de brinquedo representando o Luciano e uma folha de papel com os

desenhos de uma gaveta e de um jarro.

A criança vê um menininho de brinquedo e uma folha de papel contendo os desenhos de uma

gaveta e de um jarro.

“Aqui está o Luciano. O Luciano quer encontrar o lápis dele. O lápis dele pode estar na gaveta

ou pode estar no jarro. De verdade, o lápis do Luciano está na gaveta. Mas, o Luciano pensa

que o lápis dele está no jarro.

Então, onde o Luciano vai procurar o lápis dele? Na gaveta ou no jarro? (Questão-alvo)

( ) gaveta ( ) jarro

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Onde o lápis do Luciano está de verdade? Na gaveta ou no jarro? (Questão de realidade).”

( ) gaveta ( ) jarro

Para estar correta a criança deverá responder “jarro” na questão de crença falsa e “gaveta” na

questão de realidade.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

Tarefa 6 – Crença e emoção a criança avalia o sentimento de outra pessoa frente a uma

crença equivocada.

Material: um menino de brinquedo representando o Gustavo, uma caixa de bombons

claramente identificada, fechada e com pedras dentro.

“Aqui está uma caixa de bombons e aqui está o Gustavo. O que você acha que tem dentro

dessa caixa?

Resposta da criança:___________________________________________________

Então, o Gustavo está dizendo assim (o experimentador faz o personagem falar):

Que legal, porque eu adoro bombom. Bombom é o meu lanche favorito. Agora eu vou

brincar. Gustavo, é então colocado fora do campo de visão da criança.

Em seguida, a caixa de bombons é aberta e o seu conteúdo é mostrado à criança:

Vamos ver... tem pedra dentro desta caixa e não tem bombom! A única coisa que tem é pedra.

A caixa de bombons é fechada e questiona-se à criança: Qual é o lanche favorito do Gustavo?

92

Resposta da criança:___________________________________________________

Veja agora, o Gustavo retornou (o personagem volta à cena).

O Gustavo nunca olhou dentro desta caixa. O Gustavo não olhou aqui dentro. Agora, aqui

vem o Gustavo. O Gustavo está de volta e está na hora do lanche. Vamos dar esta caixa para o

Gustavo.

Então, como o Gustavo se sente quando ele ganha esta caixa? Feliz ou triste? (Questão-alvo).

( ) feliz ( ) triste

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

O experimentador abre a caixa de bombons e deixa o menino de brinquedo olhar dentro dela.

Como o Gustavo se sente depois de olhar dentro da caixa? Feliz ou triste? (Questão de

controle-emoção)

( ) feliz ( ) triste

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Para estar correta a criança deverá responder “Feliz” na questão-alvo e “Triste” na questão de

controle-emoção.

Pontuação: ( ) zero ( ) um

Tarefa 7 – Emoção real-aparente a criança avalia se uma pessoa pode se sentir de uma

determinada forma, mas demonstrar uma emoção diferente em sua aparência.

Antes de iniciar essa tarefa, deve-se mostrar à criança uma prancha com desenhos de três

faces (um rosto feliz, um neutro e outro triste). Em seguida, deve-se verificar se a criança

conhece essas expressões de emoção, pedindo que aponte o rosto feliz, o neutro e o triste.

Material: uma prancha com desenho de três faces, um cartão com a figura de um menino de

costas.

Mostra-se à criança um cartão com a figura de um menino de costas, de modo que a expressão

facial deste, não possa ser vista.

“Esta história é sobre um menino. Eu vou perguntar para você como esse menino se sente por

dentro e como ele parece se sentir no seu rosto. Ele pode se sentir de um jeito por dentro, aqui

dentro do peito, mas pode parecer de um jeito diferente no seu rosto. Ou, ele pode se sentir de

93

um jeito dentro dele e parecer do mesmo jeito no seu rosto. Eu quero que você me diga como

ele se sente por dentro e como ele parece no seu rosto.

Essa é a história do Mauricio. Os amigos do Mauricio estavam brincando e contando piadas.

Uma das crianças mais velhas, a Isabele, contou uma piada tirando sarro do Mauricio e todo

mundo riu dele. Todo mundo achou muito engraçado, menos o Mauricio, só o Mauricio que

não deu risada. Mas o Mauricio não queria que seus amigos vissem como ele se sentia por

causa da piada, porque eles iam chamar ele de bebezinho. Então, o Mauricio tentou esconder

como ele se sentia.

Em seguida, faz duas checagens de memória com a criança:

O que as outras crianças fizeram quando a Isabele contou a piada tirando sarro do Mauricio?

Resposta da criança:___________________________________________________

E, o que as outras crianças fariam se elas soubessem como o Mauricio se sentia?

Resposta da criança:___________________________________________________

Apresenta-se a prancha com desenhos de três faces (um rosto feliz, um neutro e outro triste)

Como o Mauricio se sentiu quando todo mundo riu dele? Ele se sentiu feliz, triste ou normal?

(Questão-alvo-sentimento).

( ) feliz ( ) triste ( ) normal

E, como Mauricio tentou parecer no seu rosto quando todo mundo riu? Ele pareceu feliz, triste

ou normal? (Questão-alvo-aparência).

( ) feliz ( ) triste ( ) normal

Por quê? Justificativa:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Para estar correta a resposta da criança para a questão-alvo-sentimento deverá ser mais

negativa que sua resposta na questão-alvo-aparência (por exemplo, “triste” para a questão-

sentimento e “feliz” ou “normal” para a questão-aparência, ou “normal” para a questão-

sentimento e “feliz” para a questão-aparência).

Pontuação: ( ) zero ( ) um

94

Anexo 5 – Modelo fragmentado da lista geral de palavras geradas pelo software SPAD-T

(História Chapeuzinho Vermelho)

CHAPEUZINHO VERMELHO SÍLVIA GE ANA GC ANA DEPOIS TOTAL

QUERIA 6 0 1 7

VO 3 2 2 7

CAMINHO 2 2 2 6

FAZER 3 1 2 6

JOVEM 2 2 2 6

MENINA 2 2 2 6

PELO 2 2 2 6

PERTO 2 2 2 6

PORQUE 4 1 1 6

PULOU 2 2 2 6

QUANDO 3 2 1 6

QUEM 4 1 1 6

TEMPO 2 2 2 6

VOVOZINHA 1 2 3 6

DELE 5 0 0 5

DEPOIS 1 2 2 5

FLORESTA 1 2 2 5

NO 2 1 2 5

OLHA 5 0 0 5

POR 3 1 1 5

TAO 2 0 3 5

VAI 5 0 0 5

ABRIU 2 1 1 4

ALI 2 1 1 4

APELIDO 2 1 1 4

BOLINHOS 1 1 2 4

CAPUZ 2 1 1 4

CARA 4 0 0 4

CHEGOU 1 1 2 4

CORACAO 4 0 0 4

FELIZES 1 1 2 4

GRANDES 0 2 2 4

LANCHINHO 2 1 1 4

LOGO 2 1 1 4

MAE 1 1 2 4

PENSOU 2 1 1 4

PRA 1 2 1 4

QUIS 2 1 1 4

TOTAL 645 312 434 1391

95

Anexo 6 – Lista de termos e verbos mentais empregados pelas professoras na atividade de

contação de histórias infantis (História Chapeuzinho Vermelho)

CHAPEUZINHO VERMELHO SÍLVIA GE ANA GC ANA DEPOIS TOTAL

ACHA 1 0 0 1

ACHAM 1 0 0 1

ACHO 1 0 0 1

ACHOU 0 0 1 1

ACHAR 3 0 1 4

ACREDITOU 3 0 0 3

APAIXONADA 1 0 0 1

APAIXONADO 3 0 0 3

APAIXONAR 4 0 0 4

ASSUSTADA 1 0 1 2

ASSUSTADO 1 1 1 3

ASSUSTOU 1 0 0 1

ASSUSTAR 3 1 2 6

BRAVO 1 1 1 3

FELIZ 1 0 0 1

FELIZES 1 1 2 4

FELIZ 2 1 2 5

GOSTOU 1 0 0 1

IMAGINA 1 0 0 1

MEDO 2 0 0 2

PENSANDO 3 0 0 3

PENSOU 2 1 1 4

PENSAR 5 1 1 7

QUER 1 0 1 2

QUERENDO 1 0 0 1

QUERIA 6 0 1 7

QUIS 2 1 1 4

QUERER 10 1 3 14

SENTIA 1 0 0 1

SENTIU 1 0 0 1

SENTIR 2 0 0 2

TOTAL 42 6 12 60

96

Anexo 7 – Modelo fragmentado da lista de frases contendo termos e verbos mentais

utilizados na linguagem das professoras (História Chapeuzinho Vermelho)

Chapeuzinho Vermelho - Frases

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ACHA

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 1

REPONSE

ELA ACHA QUE E A CHAPEUZINHO ENTAO O QUE A HISTORIA VAI CONTAR

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ACHAM

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 1

REPONSE

VOCES ACHAM QUE ELE FICOU APAIXONADO P SENTIU AMOR PELA AMIZADE DA

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ACHO

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 1

REPONSE

ACHO QUE QUANDO ELA SENTOU NA CAMA E CHAPEUZINHO VERMELHO SAIU

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ACHOU

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 1

REPONSE

A CHAPEUZINHO ACHOU QUE O LOBO ERA LEGAL

ANA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ACREDITOU

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 3

REPONSE

E CERTO TER UM CORACA CORACAO DO BEM QUE ACREDITOU QUE ERA A NETA DELA

SÍLVIA

O LOBO MAL ESTA ACREDITOU QUE ERA A VOVO

SÍLVIA

ELA NAO ACREDITOU PORQUE ELE ERA ESTRANHO

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: APAIXONADA

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 1

REPONSE

EU SOU APAIXONADA POR VOCES

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: APAIXONADO

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 3

REPONSE

VOCES ACHAM QUE ELE FICOU APAIXONADO P SENTIU AMOR PELA AMIZADE DA CHAPEUZINHO

SÍLVIA

A APAIXONADO SO COMO NAMORADO

SÍLVIA

SOU APAIXONADO PELA NO

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ASSUSTADA

--------------------------------------

FREQUENCE DE REPETITION 2

REPONSE

A CHAPEUZINHO FICOU MUITO ASSUSTADA ANA

ELA ESTA ASSUSTADA

SÍLVIA

CONCORDANCE DES FORMES EQUIVALENTES A: ASSUSTADO

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FREQUENCE DE REPETITION 3

REPONSE

ASSUSTADO COM O BRAVO RAPAZ

Antes

ASSUSTADO COM O BRAVO RAPAZ ANA

ASSUSTADO COM O BRAVO RAPAZ SÍLVIA