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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
AHMED SAMEER EL KHATIB
DETERMINANTES E CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA EM BANCOS ISLÂMICOS DO CONSELHO DE
COOPERAÇÃO DO GOLFO
DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
SÃO PAULO
2018
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
AHMED SAMEER EL KHATIB
DETERMINANTES E CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA EM BANCOS ISLÂMICOS DO CONSELHO DE
COOPERAÇÃO DO GOLFO
DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
Tese apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de DOUTOR em
Administração de Empresas, sob a
orientação do Prof. Dr. Fábio Gallo
Garcia.
SÃO PAULO
2018
AHMED SAMEER EL KHATIB
Determinantes e Consequências da Responsabilidade Social Corporativa em
Bancos Islâmicos do Conselho de Cooperação do Golfo.
Tese apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de DOUTOR em
Administração de Empresas, sob a
orientação do Prof. Dr. Fábio Gallo
Garcia.
Aprovado em: _________/__________/__________
BANCA EXAMINADORA
Professor Doutor Fábio Gallo Garcia (Orientador)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
Professor Doutor Leonardo Nelmi Trevisan
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
Professor Doutor Paulo Romaro
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
Professor Doutor William Eid Junior
Fundação Getúlio Vargas – FGV/EAESP
Professor Doutor Wilson Toshiro Nakamura
Universidade Presbiteriana Mackenzie – MACK/SP
DEDICATÓRIA
Dedico esta Tese, assim como tudo
que conquistei até hoje e que venha
a conquistar no futuro, à minha
Mãe, Bouthaineh Abou Khadour,
pelo duplo papel desempenhado ao
longo da minha vida.
AGRADECIMENTO
Agradeço imensamente a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP e a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pela concessão
imprescindível da bolsa de estudos, durante meu doutoramento, sem a qual a realização
desta tese não seria possível.
AGRADECIMENTOS
Em nome de Deus, o Clemente e o Misericordioso.
Agradeço a Deus, pela oportunidade de chegar até esse dia, sem sombra de dúvidas, o
mais importante da minha carreira acadêmica.
Esta tese é o fruto de uma intensa jornada de aprendizado sobre as finanças islâmicas que
começou antes do meu ingresso no doutorado. Refletindo sobre os últimos dez anos, vejo
como foram frutíferas todas as contribuições que recebi desde o final da minha graduação,
ponto de partida deste capítulo acadêmico que chega ao fim. De lá para cá, tive a ajuda
de inúmeros professores, pesquisadores, alunos, amigos e familiares que me deram todo
o suporte técnico, emocional e espiritual para atingir esse objetivo.
Nessas duas, e insuficientes, páginas pontuarei aqueles que foram determinantes para
mais essa conquista, sabendo que precisaria de outra tese para agradecer a todos no nível
que efetivamente merecem.
Não poderia deixar de começar meus agradecimentos com o meu principal alicerce,
minha mãe, Bouthaineh Abou Khadour. Sou muito grato pelo apoio incondicional dado
em todos os momentos da minha vida. Mesmo não tendo a oportunidade de estudar no
Brasil, nunca envidou esforços para subsidiar minhas peripécias acadêmicas desde meus
primeiros meses de vida! Obrigado, Mãe!
Dedico esse momento importante da minha vida também ao meu pai Sameer
Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos
meus cinco anos de idade. Tenho certeza de que estaria orgulhoso de mim por mais essa
conquista. Jamais o esquecerei, mesmo tendo raras, mas belas lembranças suas.
Agradeço ao meu orientador, Professor Fábio Gallo Garcia, pela oportunidade e honra
de ter sido seu aluno ao longo dos últimos anos, pela paciência e todos os conselhos
imprescindíveis para a conclusão desta tese. Meus sinceros agradecimentos pela
confiança em mim depositada e por acreditar no meu potencial. Nossos trabalhos estão
apenas começando! Muito obrigado, Professor!
Um profundo e eterno agradecimento ao Professor Luiz Nelson Guedes de Carvalho,
meu orientador por duas oportunidades na Universidade de São Paulo, nos cursos de
Ciências Contábeis e Ciências Atuariais. Sem a nossa conversa nos ritos de 2007, não
teria me interessado em estudar as finanças e a contabilidade islâmicas. Serei eternamente
grato por tudo que me proporcionou ao longo dos últimos anos. Obrigado, Professor!
Um agradecimento especial ao Professor Sérgio de Iudícibus, meu orientador no
mestrado de Ciências Contábeis e Ciências Atuariais na PUC/SP. Suas valiosas
contribuições me fizeram acreditar que seria possível estudar a contabilidade islâmica e
avançar ainda mais em nossas pesquisas. E assim, o fizemos!
Durante essa dura caminhada tive a ajuda de grandes nomes das finanças islâmicas. O
primeiro deles, da Sra. Ângela Martins, principal executiva do National Bank of Abu
Dhabi em São Paulo e, sem sombra de dúvidas, a maior especialista em finanças islâmicas
da América Latina. Serei eternamente grato pelas valiosas contribuições desde os meus
primeiros passos, há mais de dez anos, nos estudos desse tema tão interessante.
Agradeço muito ao Professor Dr. Farhan Ahmad Nizami, Diretor do Centro de Estudos
Islâmicos, da Faculdade de Estudos Orientais da Universidade de Oxford pela acolhida
nos anos de 2014 e 2015 e pela disponibilização de um grande acervo de obras que me
ajudaram grandiosamente na construção desta pesquisa. Shukran!
Um agradecimento especial à Professora Dra. Intisar Rabb, Diretora do Programa de
Estudos Jurídicos Islâmicos da Harvard Law School pelas pertinentes e brilhantes
contribuições e por me colocar em contato com diversos pesquisadores do
SHARIAsource, talvez a maior plataforma de fontes primárias da Lei Islâmica.
Quero registrar meu profundo agradecimento e respeito à minha banca de qualificação do
doutorado, que contribuiu de forma singular para o avanço da minha pesquisa. Foi uma
honra muito grande ter em minha banca os Professores Doutores Paulo Romaro,
William Eid Junior e Wilson Toshiro Nakamura, nada menos do que os maiores
especialistas em finanças e economia do Brasil! Muito obrigado, Professores!
Agradeço também aos meus colegas da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
(FECAP), Professores Régis Cunha, Pedro Barros, Ronaldo Frois, Joelson Sampaio,
Gabriela Zanardo, Luciana Barragan, Juliana Milan e tantos outros que me apoiaram
nesta longa jornada acadêmica e que serviram de espelho para a minha evolução docente.
Muito obrigado aos Professores da PUC-SP, em especial, aos Professores Alexandre
Luzzi Las Casas, Belmiro do Nascimento João, Francisco Antônio Serralvo,
Leonardo Nelmi Trevisan, Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, Rubens Famá
e também a Rita Sorrentino, pois ela é parte integrante deste grande momento!
Registro meu profundo respeito e agradecimento ao Ibracon - Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil, em especial ao Eduardo Augusto Rocha Pocetti, Idésio da
Silva Coelho Júnior e Marco Aurélio Fuchida pela oportunidade de aprendizado
durante os anos de 2012 a 2016 e por permitirem que eu pudesse conciliar meus estudos
com o trabalho neste importante órgão dos contadores brasileiros. Muito obrigado!
Por fim, não menos importante (ao contrário!), o meu muito obrigado e eterna gratidão à
Cristiane Yendo Mizumoto, pelo amor, carinho, respeito, amizade, companheirismo e,
sobretudo pelo apoio inflexível nos momentos em que mais precisei! Obrigado, Habib!
Que Deus recompense cada um de vocês por tudo que fizeram por mim!
"O Profeta disse que, no dia da Ressurreição, três serão os
primeiros a serem interrogados - de início, o homem culto, a
quem se indagará sobre o uso que fez de seus conhecimentos. E
ele responderá: `Fiz o possível para propagá-los'. Deus e os
anjos, porém, dirão: `Falas com falsidade. Teu único propósito
(e o atingiste!) era o de ser considerado sábio pelos outros'.
O segundo será o rico a quem se indagará sobre suas riquezas.
E ele responderá: `Dia e noite distribuí-as como esmola'. Deus e
os anjos, porém, dirão: `Falas sem verdade. O que querias (e o
conseguiste!) era simplesmente ser considerado generoso'.
O terceiro será o mártir a quem também se indagará sobre seus
atos. E ele responderá: `Õ Senhor, Tu ordenaste a jihad, e eu Te
obedeci: caí em combate!'. Deus e os anjos, porém, repicarão:
`Mentes. Teu objetivo (e o alcançaste!) era apenas o de ser
louvado como herói'. E o Profeta concluiu: `Estes três serão os
primeiros a serem lançados às chamas do Inferno'.
(Abu Hurairah, 603-681 a.D.)
RESUMO
O objetivo desta tese foi analisar a divulgação da Responsabilidade Social
Corporativa (RSC) e examinar seus determinantes e consequências entre os
bancos islâmicos do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). No cumprimento
dos objetivos da pesquisa, foram analisados 40 bancos islâmicos e 40 bancos
convencionais dos países que compõem o CCG, durante o período de 2013 a 2017,
o que envolveu 200 observações em cada grupo. No tocante à RSC, foi construído
um índice para mensurar o nível de sua divulgação em bancos islâmicos e em
bancos convencionais, com base em 11 dimensões recomendadas pela norma nº 7
do Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions
(AAOFI), publicada em 2010. Com relação aos determinantes da divulgação,
foram construídas hipóteses, com base nas lacunas identificadas na literatura
precedente, nas Teorias de divulgação existentes e nos Modelos Islâmicos de
divulgação da RSC: Modelos de Chapra (1985), Ismail (1986) e Dusuki (2008).
A análise estatística compreendeu regressões econométricas utilizando o método
dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), para examinar os determinantes e as
consequências da divulgação de RSC na seleção amostral dos bancos. Os
resultados indicaram um nível de divulgação da RSC Islâmica de 41,05%, maior
do que o nível de seus pares convencionais da região que alcançaram um índice
de 30,65%. Usando mecanismos de Governança Corporativa (GC), para mensurar
os determinantes da divulgação de RSC, a pesquisa encontrou uma associação
positiva e significativa entre a divulgação da RSC e o tamanho do Conselho de
Administração (CA) dos bancos islâmicos estudados. Com isso, são fornecidas
evidências de que uma Governança Corporativa mais forte está associada a um
nível mais alto de divulgação de RSC. Outro resultado encontrado foi o
relacionamento significativamente negativo da Dualidade do CEO (DCEO) e do
Tamanho do Comitê de Auditoria (TCTA) com a divulgação da RSC. No entanto,
os resultados não mostraram associação significativa entre divulgação da RSC e
outras variáveis de governança corporativa. Para examinar as consequências
econômicas da divulgação da RSC nos bancos islâmicos e convencionais, o estudo
usou duas proxies diferentes (Market to Book Value e o Q de Tobin) para mensurar
o valor da empresa. O estudo não encontrou nenhuma relação significativa entre
as proxies analisadas. Sugere-se que há forte necessidade de melhorar a atual
prática de divulgação da RSC, especialmente nos bancos islâmicos do CCG,
impondo restrições adicionais às características do Conselho de Administração.
Os resultados corroboram com o debate global sobre a necessidade de reforma da
governança corporativa, fornecendo insights sobre o papel desempenhado pelos
mecanismos de governança corporativa no incentivo e aprimoramento das
práticas de divulgação da RSC e abre campo fértil para estudos envolvendo a
influência das raízes religiosas nas práticas de RSC.
Palavras-chave: AAOIFI. Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Sharia.
Nível de Divulgação de RSC. Bancos Islâmicos. Finanças Islâmicas.
ABSTRACT
The main purpose of this thesis was to analyze the dissemination of Corporate
Social Responsibility (CSR) and to examine its determinants and consequences
for the Islamic banks of the Gulf Cooperation Council (GCC). In the fulfillment
of the research objectives, 40 Islamic banks from the countries that make up the
GCC were analyzed during the period from 2013 to 2017, which involved 200
observations to each group. With regard to CSR, an index was constructed to
measure the level of disclosure in Islamic banks and conventional banks, based
on 11 dimensions recommended by the Accounting and Auditing Organization
for Islamic Financial Institutions (AAOFI) No. 7 published in 2010 (1985), Ismail
(1986), and Dusuki (2008), were used in the literature on the dissemination of
CSR. Statistical analysis included econometric regressions using the Ordinary
Least Squares (OLS) method to examine the determinants and consequences of
CSR disclosure in the sample selection of banks. The results indicated a level of
disclosure of Islamic RSC of 41.05%, higher than the level of its conventional
peers in the region that reached a mark of 30.65%. Using Corporate Governance
(CG) mechanisms to measure the determinants of CSR disclosure, the survey
found a positive and significant association between the disclosure of CSR and
the size of the Board of Directors of the Islamic banks studied. Thus, evidence is
provided that stronger corporate governance is associated with a higher level of
CSR disclosure. Another result found was the significantly negative relationship
of the CEO's Duality (CEOD) and the Audit Committee Size (ACS) with the
disclosure of CSR. However, the results did not show a significant association
between disclosure of CSR and other variables of corporate governance. To
examine the economic consequences of CSR disclosure in Islamic and
conventional banks, the study used two different proxies (Market to Book Value
and Tobin's Q) to measure the value of the firm. The study found no significant
relationship between the proxies analyzed. It is suggested that there is a strong
need to improve the current CSR disclosure practice, especially in the Islamic
banks of the GCC, imposing additional restrictions on the characteristics of the
Board of Directors. The results corroborate the global debate on the need for
corporate governance reform, providing insights into the role-played by corporate
governance mechanisms in encouraging and enhancing CSR disclosure practices
and opens up fertile ground for studies involving the influence of religious roots
on practices.
Keywords: AAOIFI. Corporate Social Responsibility (CSR). Sharia. CSR
Disclosure Level. Islamic Banks. Islamic Finance.
LISTA DE EQUAÇÕES
Equação 1 – Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) ................................... 220
Equação 2 – Índice de Divulgação da RSC Convencional (IDRSCC).......................... 220
Equação 3 – Padronização do IDRSCI .......................................................................... 221
Equação 4 – Padronização do IDRSCC ........................................................................ 221
Equação 5 – Pontuação Total de Divulgação ................................................................ 221
Equação 6 – Regressão Múltipla utilizada no IDRSC ................................................... 223
Equação 7 – Modelo 1: VF de Bancos Islâmicos usando MTBV como proxy ............. 227
Equação 8 – Modelo 1: VF de Bancos Convencionais usando MTBV como proxy..... 227
Equação 9 – Modelo 2: VF de Bancos Islâmicos usando QT como proxy ................... 229
Equação 10 – Modelo 2: VF de Bancos Convencionais usando QT como proxy ......... 229
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura da Tese ............................................................................................ 34
Figura 2 – Influência do Islamismo nas Relações Sociais e Econômicas ....................... 40
Figura 3 – Princípios das Finanças Islâmicas .................................................................. 51
Figura 4 – Esquema de Compartilhamento de Lucros e Perdas (PLS) ........................... 63
Figura 5 – Mercados Financeiros Islâmicos por Relevância Sistêmica .......................... 74
Figura 6 – Crescimento e Composição dos Ativos Financeiros Islâmicos (2012-2022) 76
Figura 7 – Crescimento dos Ativos Financeiros no CCG (2013-2019) ......................... 85
Figura 8 – Inter-Relação entre Ética e Economia Islâmica ........................................... 108
Figura 9 – Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa (Pirâmide de Carroll) .. 131
Figura 10 – Pirâmide de Maslahah ............................................................................... 132
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Resumo dos Objetivos, Questões e Métodos utilizados na Pesquisa ........... 27
Quadro 2 – Fundamentos Filosóficos da Economia Islâmica e Neoclássica ................. 43
Quadro 3 – Fatos relevantes da criação dos Bancos Islâmicos no CCG ........................ 82
Quadro 4 – Estrutura de Governança Corporativa Convencional e Islâmica ................. 95
Quadro 5 – Padrões de Governança Corporativa emitidos pelo AAOIFI ...................... 97
Quadro 6 – Diferenças entre o modelo Anglo-Saxão, Europeu e Islâmico de Governança
Corporativa ..................................................................................................................... 97
Quadro 7 – Principais agentes de Governança Corporativa em IFIs ............................ 100
Quadro 8 – Modelos de Governança Sharia ................................................................ 104
Quadro 9 – Arranjo Institucional de Governança Corporativa Convencional e Islâmica
....................................................................................................................................... 105
Quadro 10 – Seleção Amostral por País ....................................................................... 211
Quadro 11 – Dimensões e Subdimensões do índice de divulgação da RSC ................ 218
Quadro 12 – Definição das variáveis determinantes da divulgação da RSC ................ 224
Quadro 13 – Variáveis dependentes, independentes e de controle ............................... 230
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Principais Grupos Religiosos da Atualidade ................................................. 37
Tabela 2 – População Islâmica Mundial Regionalizada .................................................. 37
Tabela 3 – Diferenças entre a Riba e os Juros sob a Perspectiva Islâmica ..................... 56
Tabela 4 – Crescimento dos Ativos Financeiros Regionais ............................................ 83
Tabela 5 – Indicadores de Crescimento dos Ativos Islâmicos entre 2009 e 2017 .......... 84
Tabela 6 – Estudos precedentes sobre RSC e DRSC sob a Perspectiva Islâmica ........ 166
Tabela 7 – Estudos precedentes sobre o nível de DRSC em Bancos Islâmicos ........... 175
Tabela 8 – Principais resultados das pesquisas precedentes sobre DRSCI ................... 176
Tabela 9 – Variáveis de RSC utilizadas em estudos anteriores .................................... 197
Tabela 10 – Estatísticas Descritivas das Variáveis utilizadas ....................................... 235
Tabela 11 – Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Islâmicos ........................... 240
Tabela 12 – Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Islâmicos .................................. 241
Tabela 13 – Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Convencionais .................... 242
Tabela 14 – Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Convencionais ......................... 243
Tabela 15 – Estatística Descritiva das Variáveis da DRSCI (2013-2017) .................... 246
Tabela 16 – Resultado dos Coeficientes de Regressão ................................................. 250
Tabela 17 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Islâmicos ............................ 252
Tabela 18 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Convencionais .................... 254
Tabela 19 – Nível de Divulgação na Arábia Saudita .................................................... 257
Tabela 20 – Nível de Divulgação no Bahrein .............................................................. 258
Tabela 21 – Nível de Divulgação no Catar ................................................................... 259
Tabela 22 – Nível de Divulgação nos Emirados Árabes Unidos (EAU) ...................... 260
Tabela 23 – Nível de Divulgação no Kuwait ................................................................ 261
Tabela 24 – Nível Divulgação em Omã ........................................................................ 262
Tabela 25 – Pontuação Média dos Bancos Islâmicos do CCG (2013-2017) ................ 270
Tabela 26 – Pontuação Média dos Bancos Convencionais do CCG (2013-2017) ........ 270
Tabela 27 – Análise Multidimensional do nível de RSC em Bancos Islâmicos .......... 271
Tabela 28 – Análise Multidimensional do nível de RSC em Bancos Convencionais .. 272
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
AAOIFI Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions
ADB Asian Development Bank
BID Banco Islâmico de Desenvolvimento
BIMB Bank Islam Malasya Berhad
CA Conselho de Administração
CCG Conselho de Cooperação do Golfo
CSS Conselho de Supervisão Sharia
DIB Dubai Islamic Bank
DJSI Dow Jones Sustentability Index
DRSC Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa
EAU Emirados Árabes Unidos
GC Governança Corporativa
GISS Global Islamic Indexes Series
GRI Global Reporting Initiative
IAIB International Association of Islamic Banks
IAIS International Association of Insurance Supervisors
IASB International Accounting Standard Board
IDRSCI Índice de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica
IDRSCC Índice de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Convencional
IBFI Instituições Bancárias e Financeiras Islâmicas
IFI Islamic Financial Institution ou Instituições Financeiras Islâmicas
IFC Instituições Financeiras Convencionais
IFSB Islamic Financial Services Board
IFP Islamic Finance Project
IFRS International Finance Reporting Standards
IIFM International Islamic Financial Market
IILM International Islamic Liquidity Management Corporation
IIRA Islamic International Rating Agency
IRSA International Sharia Research Academy for Islamic Finance
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial
KFH Kuwait Finance House
MGISA Mit Ghamr Islamic Saving Association
MQO Mínimos Quadrados Ordinários
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIC Organisation of Islamic Cooperation
ONU Organização das Nações Unidas
PLS Profit and Loss Sharing
QP Questão de Pesquisa
RSC Responsabilidade Social Corporativa
VF Valor da Firma
VIF Variance Inflation Factor
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 21
1.1 Contextualização ....................................................................................................... 21
1.2 Objetivos da pesquisa: principal e secundários ......................................................... 26
1.3 Questões de pesquisa ................................................................................................. 26
1.4 Justificativas e contribuições ..................................................................................... 27
1.5 Síntese da metodologia utilizada ............................................................................... 30
1.5.1 Percurso metodológico ........................................................................................... 30
1.6 Limitações da pesquisa .............................................................................................. 31
1.7 Estrutura da tese......................................................................................................... 32
2 PLATAFORMA TEÓRICA: AS FINANÇAS ISLÂMICAS ................................. 35
2.1 Mundo Islâmico ......................................................................................................... 36
2.2 Bases doutrinárias das finanças Islâmicas ................................................................. 38
2.3 Epistemologia da econômica Islâmica ...................................................................... 41
2.4 Ensinamentos financeiros do Corão .......................................................................... 44
2.5 Desenvolvimento das finanças Islâmicas .................................................................. 45
2.5.1 Primeiro estágio ...................................................................................................... 45
2.5.2 Segundo estágio ...................................................................................................... 46
2.6 Princípios básicos das finanças Islâmicas ................................................................. 49
2.6.1 Proibição da riba .................................................................................................... 52
2.6.2 Proibição da incerteza ou do risco excessivo (gharar) ........................................... 58
2.6.3 Proibição da especulação (maysir) ......................................................................... 60
2.6.4 Proibição do financiamento em certos setores econômicos ................................... 62
2.6.5 Compartilhamento das perdas e lucros ou Profit and Loss Sharing (PLS) ............ 63
2.6.6 Dinheiro como capital potencial: características do dinheiro à luz do Islã ............ 64
2.6.7 As funções e o valor da moeda no Islamismo ........................................................ 65
2.6.8 Contratos de financiamento Islâmicos .................................................................... 68
2.7 Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs) ................................................................... 68
2.7.1 Instituições Financeiras Islâmicas no CCG ............................................................ 77
2.7.2 Desenvolvimento da indústria financeira moderna no CCG .................................. 80
2.7.3 Tamanho da indústria financeira Islâmica no CCG ............................................... 82
2.7.4 Interferência estatal sobre os bancos Islâmicos do CCG ........................................ 85
2.7.4.1 O papel regional do Bahrein nas Instituições Financeiras Islâmicas................... 87
2.7.4.2 O papel regional do Catar e dos Emirados Árabes Unidos nas Instituições
Financeiras Islâmicas ....................................................................................................... 89
2.8 Desenvolvimento da Governança Corporativa nas IFIs ............................................ 90
2.8.1 Primeira fase (pré-Século XX): Ausência de Governança Corporativa ................ 91
2.8.2 Segunda fase (pré-Século XX): O surgimento da Governança Corporativa nas IFIs
modernas ......................................................................................................................... 92
2.8.3 Governança Sharia .............................................................................................. 103
2.9 Ética nas Finanças Islâmicas ................................................................................... 106
3 DIVULGAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)
SOB A PERSPECTIVA ISLÂMICA ......................................................................... 109
3.1 Contextualização ..................................................................................................... 109
3.2 Teorias de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ................. 111
3.2.1 Teoria da Agência ................................................................................................. 112
3.2.2 Teoria dos Stakeholders ou das Partes Interessadas ............................................. 113
3.2.3 Teoria da Legitimidade ......................................................................................... 115
3.2.4 Accountability ....................................................................................................... 116
3.2.5 Teoria da Sinalização............................................................................................ 117
3.2.6 Teoria Econômica ................................................................................................. 119
3.3 Responsabilidade Social no Islã .............................................................................. 120
3.3.1 Princípios Ético-Islâmicos na promoção da RSC ................................................. 122
3.3.2 O papel da Sharia na RSC .................................................................................... 124
3.3.3 O papel da Justiça no Bem-Estar Social ............................................................... 125
3.3.4 Zakat: O tributo religioso ..................................................................................... 127
3.3.5 Maslahah: Interesse Público ................................................................................ 128
3.3.6 Tawhid: Unidade .................................................................................................. 133
3.3.7 Ihsan: Benevolência ............................................................................................. 136
3.3.8 Transparência Islâmica ......................................................................................... 138
3.3.9 Accountability Islâmica ........................................................................................ 138
3.4 Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions ............. 139
3.4.1 Relevância do AAOIFI nas Instituições Financeiras Islâmicas............................ 142
3.4.2 Necessidade de normas específicas do AAOIFI................................................... 143
3.4.3 O papel do AAOIFI na RSC ................................................................................. 146
3.5 Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica (DRSCI) ................ 147
3.6 Modelos teóricos da RSC sob a perspectiva Islâmica ............................................. 149
3.6.1 Modelo de Chapra (1985) ..................................................................................... 150
3.6.2 Modelo de Ismail (1986) ...................................................................................... 151
3.6.3 Modelo de Dusuki (2008) ..................................................................................... 152
3.6.4 Reflexos dos Modelos Teóricos na RSC Islâmica................................................ 153
3.7 Divulgação da RSC Islâmica: Obrigatoriedade versus Voluntariedade .................. 154
4 REVISÃO DA LITERATURA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA ISLÂMICA E CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES .................. 157
4.1 Bancos Islâmicos e Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ........................... 157
4.2 Estudos recentes sobre divulgação da RSC na perspectiva Islâmica ...................... 159
4.3 Estudos recentes sobre divulgação da RSC em Bancos Islâmicos .......................... 170
4.4 Estudos recentes sobre os determinantes da divulgação da RSC Islâmica.............. 176
4.5 Determinantes do desenvolvimento da RSC e Hipóteses da pesquisa .................... 179
4.5.1 Características da Governança Corporativa ......................................................... 180
4.5.1.1 Variáveis relacionadas ao Conselho de Administração (CA) ........................... 181
4.5.1.1.1 Variável 1: Tamanho do Conselho de Administração (TCA) ........................ 181
4.5.1.1.2 Variável 2: Gênero na Composição do Conselho de Administração (GCA) . 182
4.5.1.1.3 Variável 3: Composição do Conselho de Administração (CCA) ................... 183
4.5.1.1.4 Variável 4: Reuniões do Conselho de Administração (RCA) ........................ 184
4.5.1.1.5 Variável 5: Dualidade do CEO (DCEO) ........................................................ 185
4.5.1.1.6 Variável 6: Participação Cruzada em mais de um Conselho de Administração
(PCCA) .......................................................................................................................... 186
4.5.1.2 Variáveis relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia (CSS) .................... 187
4.5.1.2.1 Variável 7: Tamanho do Conselho de Supervisão Sharia (TCSS) ................. 188
4.5.1.2.2 Variável 8: Participação Cruzada em mais de um Conselho de Supervisão Sharia
(PCCSS) ........................................................................................................................ 189
4.5.1.3 Variáveis relacionadas ao Comitê de Auditoria (CTA)..................................... 189
4.5.1.3.1 Variável 9: Tamanho do Comitê de Auditoria (TCA) .................................... 189
4.5.1.3.2 Variável 10: Reuniões do Comitê de Auditoria (RCA) .................................. 190
4.5.1.4 Variáveis relacionadas com a Estrutura de Propriedade (EP) ........................... 191
4.5.1.4.1 Variável 11: Investidor Institucional (EPII) ................................................... 191
4.5.1.4.2 Variável 12: Investidor Estrangeiro (EPIE) .................................................... 191
4.5.2 Características dos bancos analisados e características específicas de cada país do
CCG como variáveis de controle ................................................................................... 193
4.6 Consequências das divulgações de RSC e desenvolvimento da Hipótese .............. 199
4.6.1 Índice de Divulgação da RSC e o Valor da Firma (VF) ....................................... 199
4.6.1.1 Tamanho do Conselho de Administração (TCA) .............................................. 200
4.6.1.2 Composição do Conselho de Administração (CCA) ......................................... 201
4.6.1.3 Dualidade do CEO (DCEO) .............................................................................. 201
4.7 Desenvolvimento da Hipótese ................................................................................. 203
4.8 Divulgação de informações financeiras e não financeiras....................................... 205
5 PLATAFORMA METODOLÓGICA .................................................................... 207
5.1 Estratégia Metodológica .......................................................................................... 207
5.2 Percurso Metodológico ............................................................................................ 209
5.2.1 Métodos utilizados ................................................................................................ 209
5.2.2 Seleção Amostral .................................................................................................. 209
5.3 Instrumentos de Pesquisa utilizados na Análise da Divulgação .............................. 211
5.3.1 Análise de Conteúdo ............................................................................................. 211
5.3.2 Análise Qualitativa de Conteúdo .......................................................................... 213
5.3.2.1 Fonte dos dados ................................................................................................. 214
5.3.2.2 Unidade de análise ............................................................................................. 215
5.4 Definição do Índice de Divulgação da RSC (IDRSC) ............................................ 216
5.4.1 Processo de construção do Índice de Divulgação da Responsabilidade Social
Corporativa Islâmica (IDRSCI) e Convencional (IDRSCC) ......................................... 219
5.5 Determinantes para a divulgação da RSC ............................................................... 222
5.5.1 Modelo de Regressão............................................................................................ 222
5.6 Consequências da Divulgação da RSC .................................................................... 225
5.6.1 Variáveis dependentes .......................................................................................... 226
5.6.2 Market to Book Value (MTBV) ............................................................................ 226
5.6.3 Q de Tobin ............................................................................................................ 228
5.8 Normalidade, heterocedasticidade e multicolinearidade ......................................... 231
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 233
6.1 Consequências da divulgação da RSC: Análise empírica e respostas à primeira
questão de pesquisa (QP 1) ............................................................................................ 233
6.1.1 Estatísticas descritivas .......................................................................................... 234
6.1.2 Análise empírica ................................................................................................... 236
6.2 Determinantes da divulgação da RSC: Análise empírica e respostas à segunda questão
de pesquisa (QP 2) ......................................................................................................... 245
6.2.1 Estatísticas descritivas das variáveis dependentes e de controle .......................... 245
6.2.2 Análise empírica ................................................................................................... 246
6.3 Divulgação da RSC: Análise descritiva e respostas à terceira questão de pesquisa (QP
3) .................................................................................................................................... 251
6.3.1 Análise cross-country ........................................................................................... 251
6.3.2 Análise descritiva das dimensões da pesquisa ...................................................... 255
6.3.3 Discussões ............................................................................................................ 263
7 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 273
7.1 Resumo dos resultados da pesquisa ......................................................................... 273
7.1.1 Respostas à Primeira Questão de Pesquisa (QP 1) ............................................... 273
7.1.2 Respostas à Segunda Questão de Pesquisa (QP 2) ............................................... 275
7.1.3 Respostas à Terceira Questão de Pesquisa (QP 3) ............................................... 277
7.2 Implicações teóricas e práticas ................................................................................ 278
7.2.1 Implicações teóricas ............................................................................................. 278
7.2.2 Implicações práticas ............................................................................................. 281
7.3 Recomendações para futuras pesquisas ................................................................... 282
7.4 Epílogo .................................................................................................................... 284
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 285
GLOSSÁRIO ............................................................................................................... 320
APÊNDICE A – Bancos selecionados para composição da amostra ..................... 335
APÊNDICE B – Evidências no Corão e Hadith da promoção da RSC ................. 337
APÊNDICE C – Hipóteses da Pesquisa ..................................................................... 340
APÊNDICE D – Teste de normalidade (Teste de Kolmogorov-Smirnov) ............... 341
APÊNDICE E – Teste de normalidade (Teste de Kolmogorov-Smirnov) ............... 345
APÊNDICE F – Modelo 1: Correlação de Pearson para o MTBV ........................ 343
APÊNDICE G – Modelo 2: Correlação de Pearson para o Q de Tobin .................. 344
APÊNDICE H – Ranking do Nível de Divulgação da RSC por País ...................... 345
APÊNDICE I – Detalhes das Dimensões de RSC desenvolvidas ............................ 346
21
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
Nas últimas décadas, o tema Governança Corporativa ganhou espaço proeminente nos
estudos acadêmicos e nas discussões empresariais, como resultado das falhas corporativas
encontradas em grandes instituições financeiras e não financeiras, como Barings, Lehman
Brothers, Satyam Group, Siemens, Societé Générale e tantas outras. Tendo em vista o
fato de que a má governança corporativa pode afetar negativamente economias e a
estabilidade dos sistemas financeiros, além de provocar consequências sociais e
ambientais graves e endêmicas, o foco mudou da abordagem convencional, baseada
apenas na governança restrita aos acionistas, para um modelo de governança mais amplo
que identifica questões e prioridades de todas as partes interessadas no desempenho social
e financeiro das organizações (STRANDBERG, 2005; DUSUKI, 2011). Essa mudança,
baseada no novo modelo de boa governança corporativa, incorpora questões sociais e
valores éticos na estratégia de negócios das corporações, inclusive das instituições
financeiras, provocando uma busca pela aplicação e divulgação de sua Responsabilidade
Social Corporativa (RSC) aos stakeholders ou partes interessadas.
Dessa forma, inúmeros Bancos e Instituições Financeiras aceleraram nos últimos anos o
processo de incorporação da RSC em suas estratégias organizacionais e operacionais.
Trazendo o foco para o setor financeiro, pode-se afirmar que o setor bancário,
particularmente, é uma indústria única na sociedade e seu papel atualmente vai além de
trazer estabilidade financeira para as economias, pois envolve o estabelecimento de novas
tendências e estratégias, oferecendo serviços necessários aos clientes e reduzindo a
exclusão financeira da população. O setor bancário é o cerne da sociedade e, portanto,
espera-se que seja o mais socialmente responsável (CHAMBERS; DAY, 2009).
O pujante crescimento de pesquisas envolvendo a RSC reflete no número de
contribuições em periódicos como Harvard Business Review, Academy of Management
Journal, Academy of Management Review, reforçando o destaque da RSC no campo do
conhecimento acadêmico. Conjugado a esse fator, mas no campo empresarial, é notório
o crescimento dos chamados investimentos socialmente responsáveis ou Socially
Responsible Investments (SRI), com a finalidade de atender a um crescente número de
investidores que desejam aplicar seus recursos em empresas consideradas socialmente
22
responsáveis. Em função desse crescimento, foram criados índices específicos que se
propuseram a mostrar o desempenho de mercado de carteiras formadas por empresas que
adotam integralmente os princípios de responsabilidade social corporativa e de gestão
sustentável, sendo o precursor desses índices o Dow Jones Sustentability Index (DJSI),
criado no ano de 1999. No que tange os países emergentes, cabe destaque ao
Johannesburg Stock Exchange, na África do Sul, criado em 2005 e o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
Pesquisas sobre RSC demonstram que não há um consenso sobre o conceito do tema, de
forma que, muitas vezes as definições sobre a RSC podem estar direcionadas a atender
interesses específicos da empresa (CARROLL, 1979; MARGOLIS; WALSH, 2001).
Uma forma de elucidar essa discussão é analisar com maior profundidade as variáveis
que podem intervir na relação entre as divulgações de RSC e o desempenho financeiro
das organizações. Uma dessas variáveis é o alinhamento estratégico da RSC, uma vez que
diversos autores (e.g., BURKE; LOGSDON, 1996; MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001;
PORTER; KRAMER, 2006; NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008; VILANOVA et
al., 2009; DELMAS et al., 2013) têm defendido que o simples engajamento em atividades
consideradas socialmente responsáveis leva à geração de valor à empresa, desde que
estejam alinhadas à estratégia organizacional. Em outras palavras, a RSC levaria à criação
de valor para empresa, com potencial aumento do valor de seu valor de mercado, quando
alinhada à estratégia organizacional.
No ambiente econômico emergente, é vital que os intermediários financeiros integrem
preocupações morais, éticas e ambientais em suas operações comerciais
(EVANGELINOS et al., 2009; KRAMER; PFITZER, 2016). As Instituições Financeiras
Islâmicas (IFIs) adicionaram outra preocupação ao rol de suas operações comerciais, uma
vez que esse tipo de instituição financeira deve, compulsoriamente, seguir com retidão
um conjunto de regras e padrões definidos em suas bases doutrinárias religiosas.
Apesar das convicções modernistas, que aceitavam a religião como uma questão
completamente apartada do ambiente de negócios, sugeriu-se com o passar dos tempos
que as instituições financeiras também podem ser encorajadas a aplicar a RSC por meio
de um ponto de vista baseado na fé, derivando normas éticas das escrituras religiosas. Por
exemplo, no judaísmo, cristianismo e islamismo, os crentes consideram trabalhar como
parte da "adoração a Deus" e seu trabalho pode ser considerado como o cumprimento de
23
suas obrigações para com Deus. Consequentemente, o objetivo da vida não é apenas ser
feliz, é viver na vontade de Deus e trabalhar eticamente, bem como servir a sociedade
para satisfazer o propósito da existência dos seres humanos na terra (LANTOS, 2002).
De fato, como foi mencionado na Bíblia, “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de
uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (LUCAS, 18:25). Esta citação
mostra a sensibilidade da implicação da responsabilidade social pelas instituições
financeiras contemporâneas em relação à sociedade e serve de motivação para
contribuírem eficientemente para o desenvolvimento social. Assim, além de fontes
humanísticas de RSC, como praticadas em várias partes do mundo, a religião também
pode constituir uma importante motivação para o cumprimento da responsabilidade social
individual e corporativa.
A indústria financeira islâmica, carregada de aspectos moralizantes, éticos e religiosos,
tem crescido rapidamente e de forma sustentável desde a sua criação na década de 70,
tanto em termos de volume de ativos quanto em termos de sua expansão territorial e
relevância sistêmica nos países nos quais as finanças islâmicas passaram a figurar. Além
disso, importante destacar que ativos financeiros islâmicos não são ofertados e
movimentados apenas aos países de maioria muçulmana. O crescimento se dá em países
não muçulmanos, como, por exemplo, no Reino Unido. Reforça esse crescimento o fato
de que no período de 2002 a 2017, o volume de ativos dessa indústria financeira saltou
de US$ 200 bilhões para cerca de US$ 3,48 trilhão (ADB, 2015; EY, 2016; IFSB, 2017;
S&P, 2017), experimentando um consistente e sustentado crescimento anual, sobretudo
a partir de 2008, após a última grande crise financeira internacional.
A influência do islamismo nas práticas empresariais está documentada em várias
passagens do Corão1, livro sagrado para os muçulmanos, e na Suna, conjunto de práticas
1 Corão, Corão ou Al-Qur’an é o Livro Sagrado dos muçulmanos e significa “A Recitação”. O verbete Al,
exerce a função de artigo definido. Diante disso, muitos autores e pesquisadores optaram por adotar a forma
transliterada “o Corão”. Os dicionários de língua portuguesa, contudo, preveem ambas as formas. Na
presente tese, adotar-se-á a segunda forma de transliteração, isto é, Corão.
24
e dizeres do Profeta Muhammad2 (S.A.W.S)3, duas das principais fontes de ética moral
econômica e financeira do Islã. Os valores empresariais islâmicos, como a justiça, bem-
estar social, moral e honestidade são considerados o núcleo da RSC no Islã. As
Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs) são consideradas entidades que possuem uma
identidade ética e têm múltiplos objetivos sociais e econômicos, uma vez que sua
estrutura de negócios é baseada primariamente na religião. Semelhante a outras religiões,
o Islã tem em seu coração o bem-estar social, a boa governança, a constante preocupação
ambiental e o comportamento ético individual, organizacional e social (ARIBI; GAO
2012; ASUTAY, 2012; MUTTAKIN; KHAN, 2014).
Com isso, a RSC, em geral, evidencia como as empresas atendem suas obrigações aos
seus funcionários e comunidade (DUSUKI, 2008; ARIBI; GAO, 2015). No contexto
islâmico, as responsabilidades sociais representam o conceito de fraternidade ou
Ukhuwah de um para outro. Assim, o papel social é muito importante para os bancos
islâmicos e eles podem ser descritos como bancos que têm uma face social para a
sociedade (HANIFFA; HUDAIB, 2007; AL-MUBARAK; OSMANI, 2010; HASAN;
SITI-NABIHA, 2011). Este papel é principalmente um reflexo da importância de manter
os princípios islâmicos sobre os quais esses bancos operam e como abordam essas
questões sociais (MAALI et al., 2006; MAALI; NAPIER, 2010).
Em sintetizada e preliminar apresentação, as finanças islâmicas podem ser conceituadas
como o conjunto de operações financeiras que se realizam em conformidade com os
preceitos da doutrina religiosa islâmica, plenamente compatíveis com a Sharia ou Lei
Islâmica (ZAHER; HASSAN, 2001; MARTINS, 2004; AUSAF; SYED, 2007; KHATIB,
2013). Através dos processos de interpretação e aplicação das principais fontes religiosas
(Corão e Suna) os clérigos muçulmanos e pesquisadores consolidaram princípios
jurídicos, financeiros e econômicos fundamentais que, dentre outros, constituem a base
normativa para a conformação das relações comerciais entre os muçulmanos e o papel
2 O nome de Muhammad é usualmente transliterado como Maomé. O nome completo do Profeta, no entanto,
era Abu al-Qasim Muhammad ibn 'Abd Allah ibn 'Abd al-Muttalib ibn Hashim. Cabe ressaltar que os nomes
árabes são compostos em geral de cinco elementos: nome principal (chamado de Ism); nome do primogênito
(Kunya), que geralmente precede o nome próprio; patronímico (Nasab); adjetivos descritivos da pessoa
(Laqab); e a ocupação ou tribo da pessoa (Nisba), equivalente ao nome de família. Seguindo essa lógica, o
nome do profeta poderia ser transliterado e traduzido para o português como “Muhammad, pai (Abu) de al-
Qasim, servo de Deus (Abd Allah), filho de Abdullah Muttalib, da família Hashim”. 3 Por motivos religiosos, cada vez que um muçulmano falar ou escrever o nome de Muhammad (S.A.W.S),
deverá imediatamente proferir os dizeres “Sallallahu Alayhi Wa Salaam”, isto é, que a Paz esteja com Ele,
que será abreviada nesta tese por “S.A.W.S”.
25
das instituições financeiras perante os stakeholders, incluindo a responsabilidade dos
bancos islâmicos em prestar contas às partes interessadas, por meio de seus relatórios
financeiros e não financeiros.
Dessa forma, a divulgação é um aspecto crucial da responsabilidade entre os bancos
islâmicos e suas partes interessadas. Portanto, espera-se que os bancos islâmicos
divulguem informações de RSC de forma sucinta, fidedigna e compreensível para atender
às necessidades do maior número de usuários externos da informação (HANIFFA;
HUDAIB, 2007). Por outro lado, as comunidades esperam que os bancos islâmicos
aumentem sua transparência e tenham maior envolvimento na resolução de questões
sociais e no aumento da ética de seus bancos (AL-QADI, 2012). Consequentemente,
espera-se que bancos que operam em ambientes islâmicos estejam conscientes do impacto
de suas atividades na comunidade. Em outras palavras, os bancos islâmicos devem ser
mais ativos na promoção da RSC, ao invés de se concentrar somente na maximização dos
lucros. Essas responsabilidades podem ser comprovadas através da divulgação e
transparência total, como afirmado no Corão Sagrado: Ó povo meu, disponde da medida
e do peso com equidade; não defraudeis os humanos em seus bens e não pratiqueis a
devassidão na terra, como corruptores (HUD, 11:85).4
O entendimento das Finanças Islâmicas, suas vertentes e meio de divulgação de seus
resultados, podem ajudar o mercado financeiro internacional ao propor maior
diversificação de carteiras. Essa modalidade não é apenas para os muçulmanos, mas para
todos os investidores. Ademais, pode oferecer novos valores éticos e socialmente
responsáveis às Finanças, de maneira que elas possam contribuir com justiça e cooperação
entre sociedade e empresas. Para os muçulmanos que pretendem respeitar a Sharia não
investindo em atividades ilícitas, as Finanças Islâmicas significam o acesso ao crédito
moralmente e eticamente aceito à luz da religião. Aos não muçulmanos, é uma opção de
investimento, na grande maioria das vezes, menos arriscada do que as operações
convencionais e socialmente mais responsáveis do ponto de vista empresarial e
corporativo, além de apresentarem taxas de crescimento orgânicas e sustentáveis.
4 HUD é a 11ª Surata do Corão Sagrado. A versão em português encontra-se disponível em:
http://www.islambr.com.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=54&Itemid=125
26
1.2 Objetivos da pesquisa: principal e secundários
Este estudo teve como objetivo principal verificar de forma analítica qual é relação entre
o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos islâmicos do Conselho de Cooperação
do Golfo (CCG).
Os objetivos secundários da tese são:
Examinar o impacto da Governança Corporativa, especificamente a norma nº 7
do Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions
(AAOIFI), como determinante de divulgação de RSC nos bancos islâmicos do
CCG.
Mensurar a aderência à divulgação da RSC dos bancos islâmicos do CCG e
compará-los com os bancos convencionais que operam na mesma região.
1.3 Questões de pesquisa
A presente tese procurou respostas às seguintes questões de pesquisa, derivadas da lacuna
acadêmica e do problema de pesquisa identificados:
1. Quais são as consequências da divulgação da RSC na amostra de bancos da região
do CGG?
1.1 Qual é a relação entre o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos
islâmicos e convencionais?
2. Quais são os determinantes que levam a divulgação da RSC na amostra de bancos
islâmicos?
2.1 Em que medida a Governança Corporativa afeta a prática de divulgação de
RSC entre os bancos islâmicos nos países do CCG?
3. O que é a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos nos países do CCG?
3.1 O nível de divulgação de RSC dos bancos islâmicos no CCG aumentou após
a emissão de padrões do AAOIFI, nº 7, 2010?
3.2 Quais tipos de informações de RSC são divulgadas pelos bancos islâmicos nos
países da amostra?
3.3 Quais países do CCG têm níveis mais altos de divulgação de RSC?
3.4 Os níveis de divulgação da RSC dos bancos islâmicos são maiores do que os
de seus pares convencionais?
27
As respostas analíticas a cada uma dessas questões foram fornecidas através das análises
empíricas no Capítulo 6. O Quadro 1 a seguir fornece um resumo dos objetivos da
pesquisa, questões e métodos que foram utilizados nesta tese:
Quadro 1 - Resumo dos Objetivos, Questões e Métodos utilizados na Pesquisa
Nº Objetivos Questões Principais Método/Ferramentas Fonte de dados
1
Calcular o valor do banco
(valor da firma) e
correlacioná-lo com o
nível de divulgação de
RSC dos bancos do CCG
Qual é a relação entre
o nível de divulgação
da RSC e o valor dos
bancos islâmicos e
convencionais?
- Análise de Conteúdo
- Índice de Divulgação
de RSC
- Análise de Regressão
utilizando o MQO
- Relatórios Anuais
-Base de Dados da
Orbis Bank Focus®
2
Examinar o impacto da
Governança Corporativa,
especificamente a norma
nº 7 do AAOIFI, como
determinante de
divulgação de RSC nos
bancos islâmicos do CCG
Quais são os
determinantes que
levam a divulgação
da RSC na amostra de
bancos islâmicos?
- Análise de Conteúdo
- Índice de Divulgação
de RSC
- Análise de Regressão
utilizando o MQO
Relatórios Anuais
3
Mensurar a aderência à
divulgação da RSC dos
bancos islâmicos do CCG
e compará-los com seus
pares convencionais da
mesma região
O que é a prática de
divulgação de RSC
dos bancos islâmicos
nos países do CCG
- Análise de Conteúdo
- Índice de Divulgação
de RSC
Relatórios Anuais
Fonte: Autor (2018).
1.4 Justificativas e contribuições
Apesar do excesso de pesquisas abordando as dimensões sociais e éticas de instituições
financeiras convencionais, sob diferentes abordagens, como as práticas de divulgação de
RSC, em relação à ligação entre religião e divulgação de RSC, há uma falta de literatura
sobre essas práticas de RSC nas IFIs, em particular em bancos islâmicos. Um número
limitado de estudos cobrindo relatórios sociais de bancos islâmicos incluem, entre outros,
Haniffa (2002), Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hassan e Harahap (2010),
Farook et al (2011), Hassan et al. (2012), Zubairu et al. (2012), Kamla e Rammal (2013),
Platonova (2014) e Adnan (2015). Além disso, embora haja um número limitado de
28
estudos empíricos, em geral sobre a divulgação da RSC no financiamento islâmico, o
desempenho da RSC e o impacto de sua divulgação no valor dos bancos islâmicos não
foi estudado extensivamente na literatura internacional.
Dessa forma, há, ao menos, cinco motivações de extrema relevância, além do ineditismo
do assunto, que qualificam o desenvolvimento do tema, e que serão discutidas a seguir.
Primeiramente, esta tese contribui para a literatura de divulgação de informações
financeiras e não financeiras, pois utiliza a norma nº 7 da AAOIFI, um normatizador
exclusivamente voltado às instituições financeiras e não financeiras islâmicas, publicada
no ano de 2010 e pesquisas precedentes para mensurar a prática de divulgação da RSC
entre os bancos islâmicos selecionados. Foram utilizadas 11 dimensões das principais
áreas de RSC, enquanto estudos anteriores cobriram um número menor de dimensões,
como nas pesquisas de Hassan e Harahap (2010), Platonova (2014) e Rahman e Bukair
(2015). Outro fator de destaque é que esta pesquisa difere das anteriores no quesito
amostra, por possuir um maior número de bancos quando comparados as pesquisas de
Sobhani et al., 2009 (29 bancos); Hassan et al., 2012 (13 bancos) e Planotova (24 bancos)
A seleção amostral desta tese conta com 40 bancos islâmicos e contém 200 observações
entre os anos de 2013 a 2017, incluindo os bancos de Omã, que foram autorizados a operar
seguindo a Sharia somente a partir do ano de 2013, motivo pelo qual optou-se em escolher
o ano de 2013 como ponto de partida do recorte temporal. Além disso, foram analisados
outros 40 bancos convencionais da região, no mesmo período, para que obtivesse uma
matriz de comparação, contando, assim, com mais 200 observações entre 2013 e 2017.
Em segundo lugar, pesquisas anteriores aplicaram a técnica de análise de conteúdo em
períodos muito curtos ou dentro de um único país, além de suas amostras serem bastante
limitadas. Esta tese abrange bancos islâmicos que estão localizados em 6 países diferentes
do CCG, enquanto pesquisas anteriores focaram em apenas um único país, como nos
estudos de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007) e Anuar et al. (2009). A análise
de nível de divulgação em países diferentes de um único bloco de cooperação fornece
uma imagem consolidada das práticas adotadas na região, uma vez que se utiliza da
análise cross-country, em países com características macroeconômicas homogêneas.
Em terceiro lugar, o estudo dos padrões da AAOIFI cresceu nos últimos anos com
importantes contribuições de pesquisadores, como Hassan e Harahap (2010) e Ahmed e
Khatun (2013). É notório que o foco da maioria desses estudos seja de natureza descritiva,
29
enfatizando em particular o nível de conformidade com AAOIFI, sem, no entanto, ampliar
o estudo para explorar os principais fatores por trás do nível de divulgação adotados pelos
países. Esta tese contribui para a literatura de divulgação de informações, especialmente
as não financeiras, explorando os determinantes da divulgação em relação às práticas de
Governança Corporativa, cuja estrutura conceitual é orientada pela religião islâmica.
Em quarto lugar, este estudo contribui para a literatura, através do desenvolvimento de
um grande número de variáveis de Governança Corporativa em seu modelo. O modelo
de pesquisa contém 12 variáveis de Governança Corporativa, enquanto pesquisas
anteriores, como Hidalgo et al. (2011), fora focado apenas em duas variáveis, que foram
independência do conselho de administração e estrutura de propriedade. Samaha et al.
(2012) e Gisbert e Navallas (2013) encontraram os determinantes da divulgação de
bancos localizados em um único país (Espanha e Egito, respectivamente). Por outro lado,
esta pesquisa explora essa relação, mas para bancos localizados em 6 países diferentes.
Além disso, este estudo está focado em bancos islâmicos, enquanto estudos anteriores
testaram essa associação para instituições convencionais ou não islâmicas como nos
estudos de Tsamenyi et al. (2007) e Liang et al. (2012) ou ainda em empresas não
financeiras, como em Alotaibi e Hussainey (2016).
Por fim, uma última contribuição está relacionada ao fato de termos estudos limitados
que mensuraram a associação entre divulgação e Valor da Firma (VF), como na pesquisa
de Uyar e Kiliç (2012). Esta vertente está ainda está em fase embrionária para bancos
islâmicos. No entanto, explorar as consequências da divulgação da RSC no VF ainda não
foi investigado empiricamente no contexto dos bancos islâmicos. Este estudo também
difere de Richardson e Welker (2001), que examinaram as consequências econômicas da
divulgação social e financeira usando apenas o custo do capital e também dos estudos de
Platonova (2014) que testou as consequências das divulgações da RSC em 24 bancos
islâmicos do CCG, com exceção de Omã, apenas nos retornos sobre os ativos dos bancos.
Ainda na esteira final das contribuições esperadas desta tese, encontra-se também a busca
pela aproximação ao tema das finanças islâmicas e todas as suas vertentes, especialmente
no que tange os bancos islâmicos, ainda incipiente em estudos latino americanos.
Em suma, há uma ampla variedade de perspectivas que denotam a relevância da temática,
que não se restringem apenas aos aspectos acadêmicos, mas extrapolam para o universo
empresarial, como oportunidade de desenvolvimento de um centro de estudos e pesquisas
30
que analisem implicações teóricas e práticas, para o estabelecimento desse tipo de
indústria em países, como o Brasil, onde não se permite a operação dessa indústria.
1.5 Síntese da metodologia utilizada
A tipologia metodológica desta tese caracterizou-se como sendo: 1) documental, na
medida em que se utilizou dos relatórios anuais financeiros e não financeiros, publicados
pelos Bancos do CCG selecionados na amostra; 2) exploratória, uma vez que
proporcionou maior familiaridade com o tema da RSC nos Bancos Islâmicos, com vistas
a torná-lo mais explícito para a construção das hipóteses que foram delineadas no
Capítulo 4 e posteriormente testadas; 3) descritiva, visto que buscou descrever as
características do grupo de bancos islâmicos selecionados; e de natureza 4) quantitativa,
a qual é influenciada pelo positivismo, uma vez que considera que a realidade dos bancos
islâmicos só pode ser compreendida com base na análise dos dados brutos, recolhidos
com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros, além de recorrer à linguagem
estatística para descrever as causas do fenômeno financeiro islâmico e as relações das
diversas variáveis de Governança Corporativa e Responsabilidade Social Corporativa.
1.5.1 Percurso metodológico
Para fornecer respostas à primeira pergunta de pesquisa, foram observados estudos
anteriores, que usaram variáveis de controle como governança corporativa, características
da empresa e o PIB do país. Com base nos estudos precedentes de Morck et al. (1988),
Aggarwal e Yousef (2000), La Porta et al. (2002), Lins (2003), Haniffa e Hudaib (2007)
e Hassan et al. (2009) foi utilizado o Q de Tobin (QT) para mensurar a variável
dependente (Valor da Firma). Seguindo os estudos anteriores de Haniffa e Hudaib (2006),
Hassan et al. (2009) e Mohammed e Knapkova (2016), a relação Market-to-Book-Value
(MTBV) foi utilizada em uma análise adicional para verificar a robustez dos resultados.
Em relação ao MTBV foi mensurada como sendo a relação entre o valor de mercado do
patrimônio líquido e valor contábil (Book Value) do patrimônio líquido. Trata-se de um
bom indicador para identificar como uma empresa é avaliada pelos investidores. Por fim,
também foram utilizados todos os pressupostos dos Mínimos Quadrados Ordinários
(MQO) como normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto correlação,
para garantir que não houvesse problema com a variável testada. Além da matriz de
correlação de Pearson, os modelos de regressão de Mínimos Quadrados Ordinários foram
conduzidos para avaliar o significado da associação entre a RSC e o Valor da Firma (VF).
31
Para responder a segunda pergunta de pesquisa, o estudo revisou as teorias relevantes
que explicarão as motivações por trás da maior Governança Corporativa, que culminaram
em maior divulgação corporativa e social. Consequentemente, foram propostos os
determinantes do relatório de RSC, baseando-se principalmente nas Teorias de Agência,
Teoria dos Stakeholders, Teoria da Sinalização, Accountability, Teoria da Legitimidade
e Teoria da Responsabilidade. Além dessas variáveis primárias, foram utilizadas
características da empresa e características específicas do país, como variáveis de
controle. Também foram verificados os pressupostos do método dos MQO, como
normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto correlação, para garantir que
não houvesse problema com as variáveis testadas. Além da matriz de correlação de
Pearson, os modelos de regressões de MQO foram conduzidos para avaliar o significado
da correlação entre variáveis de determinantes e escores de divulgação de RSC.
Para responder a terceira pergunta dessa pesquisa, foi desenvolvido um Índice de
Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) e um Índice de Divulgação da RSC Convencional
(IDRSCC) para medir a aderência dos bancos às práticas de RSC. Os Índices foram
construídos com base na norma nº 7 publicada pelo AAOFI em 2010 e apoiados pela
literatura precedente como nas obras de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007),
Hussainey e Elsayed, (2011), Aribi e Gao (2012) e Farag et al. (2014), onde foram
contempladas as 11 dimensões recomendadas pelo AAOIFI. A análise de conteúdo
manual e qualitativa foi utilizada para codificar o texto e classificar os índices divulgados
nas demonstrações financeiras e não financeiras que continham indicadores sociais em
cada uma das dimensões escolhidas.
Depois de analisar os diferentes bancos de dados, presentes em bancos centrais, sites e
relatórios anuais atualizados e na base de dados da base Orbis Bank Focus®, banco de
dados mantido pela Moody´s Analytics Company, foi analisada a divulgação dessas
informações de natureza social nos 40 bancos escolhidos na amostra, presentes em 6
países, entre os anos de 2013 a 2017. Estatísticas descritivas foram utilizadas para delinear
os níveis de divulgação dos bancos islâmicos, incluindo suas categorias de RSC e o
cumprimento das normas de governança nº 7 do AAOIFI (2010).
1.6 Limitações da pesquisa
Não há pesquisa sem limitação. Esta tese adotou índices de divulgação para investigar os
níveis de divulgação dos bancos islâmicos e bancos convencionais. Portanto, os
32
resultados só são válidos na medida em que os índices de divulgação utilizados sejam
aplicáveis. A seleção dos itens incluídos no índice envolveu algum grau de julgamento e
subjetividade. No entanto, o teste de confiabilidade foi satisfatório. Uma limitação em
potencial para esta pesquisa foi o tamanho relativamente pequeno da amostra, que
envolveu apenas 40 bancos islâmicos e 40 bancos convencionais do CCG, o que pode
limitar a aplicação das conclusões de outras IFIs, como, por exemplo, a indústria do
Takaful (seguro islâmico). Mais estudos poderiam ser realizados usando uma grande
amostra de dados. Essa é uma limitação comum de estudos intensivos, que empregam a
técnica de análise de conteúdo manual para codificar o texto de relatórios financeiros e
não financeiros. Além disso, a coleta dados de RSC foi realizada lendo os relatórios
anuais dos bancos. Isso limitou a capacidade de aumentar o tamanho da amostra. Devido
à disponibilidade de dados durante esta pesquisa, os dados foram limitados apenas aos
anos de 2013 a 2017. Adicionalmente, não foi possível realizar entrevistas com os
acadêmicos em Sharia dos conselhos dos bancos islâmicos do CCG para obter suas
opiniões sobre as práticas de RSC e seu papel em incentivar os bancos islâmicos a serem
mais ativos socialmente, devido às dificuldades em abordá-los. Esse tipo de abordagem
poderia trazer esclarecimentos adicionais sobre os determinantes encontrados.
Apesar dessas limitações, o estudo forneceu fatos, evidências, dados e informações
suficientes para atender aos objetivos da pesquisa, além de fornecer respostas as três
questões de pesquisa e as treze hipóteses construídas.
1.7 Estrutura da tese
Esta tese compreende sete capítulos, sendo que neste Capítulo 1 apresenta-se a
Introdução ao tema que foi pesquisado. Nele o tema foi contextualizado, as questões de
pesquisa formuladas, a contribuição e relevância do estudo apresentadas, o percurso
metodológico sintetizado, bem como as principais limitações encontradas.
O Capítulo 2 apresenta os principais conceitos das finanças islâmicas, destacando suas
bases doutrinárias, normativas e religiosas, princípios islâmicos aplicados à indústria
financeira, com destaque para a proibição dos juros, especulação e operações envolvendo
riscos excessivos, seus principais produtos financeiros e lógica operacional. Será
discutido, também, o desenvolvimento e crescimento das finanças islâmicas nos países
do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), uma vez que seus seis países compuseram
33
a amostra analisada. Adicionalmente, serão apresentados o desenvolvimento e conceitos
de governança corporativa islâmica e governança Sharia.
O Capítulo 3, ainda no espectro qualitativo da tese, apresentará os conceitos que
emergem da literatura de divulgação recente e as práticas que devem ser examinadas,
considerando a proposta desta tese de estudar RSC sob o ponto de vista islâmico, além da
estrutura conceitual das Teorias abordadas nesta pesquisa. Nessa perspectiva, estarão em
destaque os aspectos éticos da moral econômica islâmica, apoiados pelo Corão e pelas
Hadith. Uma breve apresentação da AAOFI, discussões acerca da Governança
Corporativa Islâmica e Ética Islâmica também está contida neste Capítulo.
O Capítulo 4 apresenta toda a discussão envolvendo a prática de divulgação da RSC
pelos Bancos Islâmicos, bem como seus determinantes e consequências. Será realizada
uma ampla revisão da literatura, para que se possa sustentar a construção das hipóteses
que serão construídas, todas baseadas nas lacunas identificadas em estudos precedentes.
No Capítulo 5 será apresentada a metodologia da tese, métodos utilizados para se atingir
os três objetivos de pesquisa. Serão apresentadas todas as variáveis dependentes,
independentes e de controle desenvolvidas. A discussão acerca da validade e
confiabilidade do índice de divulgação que será construído para os bancos islâmicos e
convencionais será desenvolvida neste capítulo, que também discute detalhadamente o
processo de exame do nível de divulgação da RSC, seus determinantes e consequências.
Os modelos de regressão econométrica serão construídos e discutidos nesta etapa.
O Capítulo 6 é destinado ao fornecimento das descobertas empíricas, apresentação das
respostas às três perguntas de pesquisa, além da discussão dos resultados. Serão
comparados os resultados dos níveis de divulgação descobertos para os bancos islâmicos
e convencionais, bem como destacado sua correlação, seja forte ou fraca, com o valor dos
bancos e com as variáveis e dimensões de responsabilidade social desenvolvidas.
O Capítulo 7 conclui a tese, resumindo seus principais achados, discutindo suas
principais implicações teóricas e práticas, apresentando e destacando alguns dos
caminhos a serem explorados em pesquisas futuras.
Como mencionado nos parágrafos anteriores, a presente tese está estruturada em sete
Capítulos, ilustrados na Figura 1 a seguir:
34
Figura 1 – Estrutura da Tese
Fonte: Autor (2018).
Capítulo 1: Introdução
Contexto inicial, objetivos, perguntas e contribuições
da pesquisa
Capítulo 2: Plataforma Teórica:
Introdução às Finanças Islâmicas
Capítulo 3: Revisão da Literatura:
Literatura precedente em RSC sob a ótica
Islâmica
Capítulo 4 - Construção das Hipóteses:
Identificação das lacunas e construção das variáveis e
hipóteses de pesquisa
Capítulo 5 - Plataforma
Metodológica:
Apresentação da seleção amostral,
procedimentos, métodos e modelos
de regressão utilizados
Capítulo 6- Discussão dos
Resultados:
Análise dos resultados e respostas às
três perguntas de pesquisa
Capítulo 7: Encerramento
Apresentação das limitações encontradas,
implicações práticas e teóricas dos achados e
sugestões para futuras pesquisas
Estrutura Conceitual da Tese
35
2 PLATAFORMA TEÓRICA: AS FINANÇAS ISLÂMICAS
O Islamismo não é meramente uma religião, mas também um sistema socioeconômico e
político abrangente para a sociedade islâmica, onde torna-se necessária a aplicação dos
princípios éticos do Corão e da Suna5 em todas as relações sociais, políticas e econômicas.
A economia islâmica refere-se a um sistema que identifica e promove ordens econômicas
e financeiras consistentes com os princípios da Lei Islâmica, a Sharia.
Um conjunto de princípios diferencia singularmente as finanças islâmicas das finanças
convencionais ou ocidentais, já que vai além das questões econômicas e financeiras puras,
alcançando a sociedade e visando seu bem-estar social. A Lei Islâmica proíbe, por
exemplo, a cobrança e o pagamento de juros. Fato ímpar que já causa estranheza aos
bancos ocidentais ou convencionais, à medida um banco supostamente só geraria riqueza
por meio dos juros cobrados de seus clientes.
Os ganhos dos muçulmanos devem vir de meios permitidos e também devem ser gastos
em categorias de despesas islamicamente aceitáveis. Consequentemente, o Islã proíbe o
investimento em empresas que são consideradas ilegais ou contrárias aos ensinamentos e
valores islâmicos. Além disso, a distribuição da riqueza é considerada a principal
preocupação na economia islâmica. A riqueza no Islã deve ser compartilhada, não se
concentrar em poucas mãos (pessoas ricas). Para os muçulmanos, a preocupação com os
outros, em particular os pobres e os necessitados, estão profundamente inscritos nos
pilares do Islã. O islamismo, portanto, encoraja os muçulmanos a maximizar suas
riquezas, desde que não criem uma situação de desequilíbrio social ou que violem as
normas da justiça e moral islâmicas.
As finanças islâmicas podem ser definidas inicialmente como o conjunto de operações de
natureza financeira e consoantes com a Sharia. À primeira vista, portanto, nada mais
seriam além de práticas financeiras sujeitas a um regramento específico, cujas bases
normativas, nesse caso, não seriam dadas por atos normativos seculares, tal como ocorrem
5 O verbete Suna significa “livro dos muçulmanos”, que contém os ditos e os feitos do Profeta Muhammad
(S.A.W.S.). Na cultura árabe, a palavra tem o significado literal de “caminho trilhado”, ou seja, as veredas
que foram seguidas pelo Profeta, das quais surgiram suas tradições. Além disso, Suna apresenta um
significado terminológico que indica todas as aprovações, dizeres e realizações de Muhammad (S.A.W.S.)
em mais de 20 anos como mensageiro divino. Assim, tudo que envolve a sua vida forma a Suna, que deve
ser praticada e seguida pelos muçulmanos segundo as tradições. Um exemplo de moralidade para o povo
em questão é a "Hadith", os registros que foram validados no caminho do profeta.
36
em outros sistemas jurídicos, mas sim pelo Corão e pela Suna, as fontes primárias da
Sharia. Portanto, podemos utilizar essa expressão para designar o conjunto de operações
realizadas com a necessidade de se seguir e respeitar as orientações da Sharia, que por
sua vez direcionam todo o comportamento dos seguidores do Islã. Atualmente, é utilizada
a expressão Sharia Compliant6 para as atividades financeiras condizentes com as
orientações religiosas do Corão e todas as suas vertentes aceitas.
A lógica das finanças islâmicas são o reflexo da imagem de mundo adotada pelo
Islamismo, mais precisamente, de uma visão sobre o funcionamento da economia de
modo geral, estruturada sobre valores que permeiam funções e objetivos bastante
singulares para o sistema econômico, e da própria postura que a religião impõe aos seus
seguidores na sua relação mundana.
Diante do exposto, o presente Capítulo destina-se a esclarecer as bases doutrinárias
islâmicas, isto é, as fontes primárias e secundárias que que sustentam a elaboração das
normas que devem ser seguidas pelos bancos islâmicos, alicerce das finanças islâmicas.
Serão tratados, adicionalmente, os principais aspectos da economia no islamismo, bem
como apresentados seus principais produtos financeiros. A estruturação econômica,
financeira, contábil, de governança corporativa, de governança Sharia e de ética
empresarial também serão abordados. Além disso, serão discutidos os princípios
norteadores das finanças islâmicas, seguidos por todas as Instituições Financeiras
Islâmicas (IFIs), não restrita apenas aos bancos islâmicos. Aqui também serão
apresentados os principais estágios do desenvolvimento das finanças islâmicas no mundo,
especialmente, nos países pertencentes ao Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), com
destaque para seus primordiais participantes e apresentadas as principais características
do principal normatizador contábil, financeiro e de ética dos países do CCG, o AAOIFI.
2.1 Mundo Islâmico
Oportuno mencionar no início deste Capítulo, que o Islã atualmente é uma grande
comunidade de adeptos, e que, apesar de seus reveses políticos, frequentemente relatados
nas principais mídias internacionais, e diversidades ideológicas, mantém-se presente nas
diferentes regiões do planeta. Para se ter uma ideia, existe uma província chinesa de
6 Para mais detalhes, acesse o projeto SHARIAsource do Departamento de Estudos Jurídicos Islâmicos de
Harvard coordenado pela Professora Dra. Intisar A. Rabb em http://ilsp.law.harvard.edu/Shariasource/.
37
maioria muçulmana em Xinjiang. De acordo com pesquisa recente divulgada pelo Pew
Research Center (2018), os muçulmanos formam uma comunidade de cerca de 1,7 bilhão
de pessoas, o que equivale a 23,2% da população mundial, afirmando-se como o segundo
maior grupo religioso da atualidade, conforme Tabela 1 a seguir:
Tabela 1 – Principais Grupos Religiosos da Atualidade
Religião
População total Participação na
população mundial (%)
Cristãos 2.350.582.020 31,4
Muçulmanos 1.736.735.760 23,2
Sem religião 1.227.682.520 16,4
Hindus 1.122.889.500 15,0
Budistas 531.501.030 7,1
Judeus 14.971.860 0,2
Adeptos de religiões populares 441.669.870 5,9
Adeptos de outras religiões 59.887.440 0,8
Total 7.485.930.000 100,0
Fonte: Pew Research Center (2018).
Há natural prevalência do islamismo entre os habitantes da região do MENA, mas a
religião pode ser verificada em outras regiões. Embora o senso comum considere que a
maioria dos seguidores dessa religião estejam no norte da África ou no Oriente Médio,
apenas cerca de 20% deles encontram-se nessas regiões. A maioria dos 1,7 bilhão de
muçulmanos está na região Ásia-Pacífico, conforme apresentado na Tabela 2 a seguir:
Tabela 2 – População Islâmica Mundial Regionalizada
Região População total População muçulmana Participação de
muçulmanos (%)
Ásia-Pacífico 4.179.829.482 1.122.615.760 26,8
Mena 341.020.000 317.070.000 92,9
África Subsaariana 1.287.920.518 248.420.000 19,2
Europa 742.550.000 44.310.000 5,9
América do Norte 344.530.000 3.480.000 1,0
América Latina-Caribe 590.080.000 840.000 0,1
Total 7.485.930.000 1.736.735.760 23,2
Fonte: Pew Research Center (2018).
A conjugação desses dados evidencia que o Islã é, de fato, uma religião de alcance
mundial, e não apenas regional. Ademais, fornecem base empírica para ilustrar e
reafirmar uma clara distinção entre árabe (integrante de povo originário da península
arábica) e muçulmano (adepto da religião islâmica), designações que o senso comum
tende a confundir. Isso ocorre porque, embora, de fato, os primeiros muçulmanos tenham
sido árabes, os dados acima mostram que, atualmente, o maior contingente de
38
muçulmanos, em termos absolutos, é precisamente de não árabes (PINTO, 2010). Por
outro lado, observa-se que na própria região do MENA é possível encontrar uma minoria
que não é adepta da religião islâmica, constituindo, assim, um contingente de árabes não-
muçulmanos (ALI, 2006).
2.2 Bases doutrinárias das finanças islâmicas
O islamismo pode ser definido como um sistema socioeconômico e político abrangente,
encarado, inclusive, como um modo de vida (RAHMAN, 1979; CHAPRA, 1979;
MARTINS, 2004; PINTO, 2010) ou, ainda, como um esquema de vida completo, uma
ordem social universal (ZAHER; HASSAN, 2001; ISBELLE, 2003; EL GAMAL, 2006),
sendo o resultado ou a expressão de uma determinada visão de mundo (CHAPRA, 1979;
DUSUKI, 2008; COSTA 2016). Não se trata de algo monolítico, mas sim um conjunto
plural e dotado de dogmas religiosos, valores morais e éticos, bem como regras de
conduta, todos voltados a estabelecer, nas mais diferentes dimensões, as bases para o
correto caminho dos seus adeptos, gerando, inclusive, uma identidade própria neles,
refletida na Ummah, que é considerada a identidade na comunidade dos crentes do mundo
islâmico (BALALA, 2011; KREINATH, 2011; HOURANI, 2013).
Com relação às fontes primárias do islamismo, podemos destacar as duas mais
importantes segundo a doutrina islâmica majoritária: (i) Corão e (ii) Suna. O Corão é a
fonte primária e mais importante de toda a Sharia, da qual todas as demais retiram seu
fundamento de validade. Trata-se do livro que contém o discurso ou a Mensagem de Deus
revelada a Muhammad em árabe, por meio do anjo Gabriel, transmitida inicialmente pelo
próprio Profeta inicialmente de forma verbal e, posteriormente, transcrita por seus
seguidores e transmitida por escrito (GALWASH, 1973; MARTINS, 2004; AYUB, 2007;
KAMALI, 2007; PINTO, 2010; KHATIB, 2013; COSTA, 2016).
O Corão é o resultado textual da recitação da palavra divina por Muhammad entre os anos
de 610 e 632 a.d. Em árabe o significado literal é “recitação”, e, efetivamente, ele foi
recitado oralmente antes de ser codificado como texto escrito. A linguagem poética do
Corão tem conexões com a poesia oral que era recitada publicamente pelos poetas da
Arábia pré-islâmica. No entanto, dada a dimensão e complexidade linguística e lógica do
texto corânico, pode-se afirmar que foi através dele que o árabe se tornou uma língua
39
literária passível de servir de veículo para a vasta e variada produção cultural e artística
da civilização árabe-islâmica.
Em função de sua origem divina, seu texto é considerado como a manifesta revelação
(Wahy Zahir), destinando-se a servir de guia e de fonte primária de orientação para todos
os seguidores do Islã, a fim de adequarem sua conduta à vontade de Deus, com vistas ao
seu bem-estar e à sua salvação após a morte (BERQUE, 2001; ARMSTRONG, 2001). O
texto do Corão está organizado em 114 capítulos (chamados de Surata) e em mais de
6.200 versículos (chamados de Ayat), os quais não possuem uma extensão padronizada.
Os capítulos do Corão variam de 4 a 286 versículos. As suratas mais longas, que
correspondem aos longos sermões proféticos do período do islã triunfante em Medina e,
mais tarde, Meca, foram colocadas no início do texto, e as mais curtas, que correspondem
às revelações visionárias do início da trajetória profética de Muhammad, foram colocadas
na sua parte final. A mais longa das suratas, aquela de nominada Al-Baqara (“A Vaca”)
aparece logo após a surata de abertura Al-Fatiha (“A Abertura”).
O Corão trata de uma grande diversidade de temas, que vão desde questões puramente
religiosas até questões morais e de hábitos de alimentação e vestimenta a serem
observados pelos muçulmanos (MARTINS, 2004; COSTA, 2016; JANTALIA, 2016).
Ademais, possui em torno de 350 versículos tratando de direitos e deveres, com destaque
para os deveres com a religião (com aproximadamente 140 versículos); para os assuntos
cíveis e familiares (cerca de setenta); para os assuntos penais (cerca de trinta); para os
temas políticos (outros trinta); e para os temas econômicos (cerca de dez). Ainda assim,
em grande parte dos casos a parte jurídica do Corão é expressa em termos de enunciados
gerais de princípios, e apenas muito raramente o Livro faz uso de prescrições mais
detalhadas, diferentemente dos temas relacionados à economia e às finanças (KAMALI,
1989; JOMIER; 1992; BERQUE, 2001; ISBELLE, 2003; MARTINS, 2004; PINTO,
2010; JANTALIA, 2016).
Dessa forma, podemos definir o Islã, complementarmente, como um sistema doutrinal
dentro do qual se identificam três componentes ou subsistemas, que consistem em
conjuntos específicos, mas inter-relacionados de crenças e comandos normativos:
(i) Aqidah, de natureza teológica, trata de todos os aspectos da fé e crenças do
muçulmano, excluindo qualquer dúvida ou suposição acerca da religião,
40
(ii) Sharia, de natureza predominantemente jurídica, que busca estabelecer os direitos e
os deveres dos muçulmanos, tanto em sua relação com Allah quanto em sua relação com
seus irmãos; e
(iii) Akhlaq, de natureza filosófica, abrange os valores e virtudes éticos e morais que
devem orientar o muçulmano, delineando o código islâmico e orientando as relações do
crente em sua conduta pessoal. Traz ainda comandos e proibições que governam os
interesses pessoais e profissionais de todo muçulmano e que tratam de comportamento,
atitudes, transações e éticas no ambiente de trabalho. A correta compreensão desses três
componentes é importante para a pesquisa que constitui objeto dessa tese porque propicia
uma visão geral da doutrina do Islã, permitindo assim posicionar o tema das finanças
islâmicas como expressão dessa visão de mundo e entender especificamente o papel dos
bancos islâmicos neste contexto.
A Figura 2 a seguir apresenta uma visão geral e ampliada do islamismo e sua influência
nas atividades sociais, políticas e econômicas que norteiam a vida de um muçulmano:
Figura 2 – Influência do Islamismo nas Relações Sociais e Econômicas
Fonte: Adaptado de Thomas et al. (2005) e Khatib (2013).
Islamismo
Aqidah
(Fé e Crenças)
Sharia
(Atividades e Práticas)
Akhlaq
(Ética e Moral)
Ibadat
(Obrigações com Allah)
Muamalat
(Regras Comerciais)
Atividades
Políticas
Atividades
Econômicas
Atividades
Sociais
Outras Atividades
Econômicas
Atividades Financeiras e
Bancárias
41
2.3 Epistemologia da economia islâmica
A epistemologia da economia islâmica é única em comparação com o capitalismo.
Enquanto o último considera que o conhecimento econômico livre de valores é produzido
da mesma forma que o conhecimento científico, isto é, o uso de leis científicas
econômicas livres de valor, o primeiro consiste no Direito Divino e racionalismo humano
para investigar fenômenos de acordo com a lei divina. Isso implica que a epistemologia
da economia islâmica envolve juízos de valor e julgamentos positivos quando se trata de
fenômenos econômicos (KHAN, 1987; PLUTA, 1989; CHAPRA, 1995; NAQVI;
QADIR, 1997; MOHAMMAD et al., 2013).
Naqvi (1981) em sua obra seminal Ethics and Economics: An Islamic Synthesis, defende
que a ciência econômica islâmica está alicerçada em quatro axiomas fundamentados na
ética e ensinamentos do Islã. Esses axiomas são a Unidade, o livre arbítrio, equilíbrio e
responsabilidade social, todos derivados das principais fontes de conhecimento islâmico:
Corão e Hadith. A partir desses axiomas, é possível deduzir várias teorias econômicas a
serem aplicadas à realidade. No programa de islamização da economia, esses axiomas
podem ser os pontos de referência que guiam o desenvolvimento das teorias da economia.
Dessa abordagem, derivaram diversas proposições econômicas básicas (declarações) dos
primeiros princípios da ética religiosa, que podem fornecer as respostas aos diversos
problemas econômicos das relações humanas.
Para os muçulmanos, o núcleo da crença é representado pela Tawhid (Unidade ou
Consciência de Deus), o Criador e Sustentador de tudo, incluindo o conhecimento.
Portanto, Tawhid implica que a fonte de todo conhecimento é apenas de Allah (ARIF,
1987; MOTEN, 1990; MIR, 1999; CHOUDHURY, 2000). O Corão enfatiza isso em
várias passagens.7 Para que esse conhecimento seja sustentado e distribuído para a
humanidade, Deus escolheu seus profetas e mensageiros (ASUTAY, 2007) e os ensinou
como compartilhar diversos conhecimentos. Consequentemente, os muçulmanos
acreditam que o Corão e a Suna são as principais fontes de conhecimento, que
compreendem a lei divina segundo a qual todo o universo é organizado em leis cósmicas.
O papel do ser humano, individualmente, nesse sentido, não se limita a compreender a
Sharia, mas ligando os diferentes fenômenos do universo à Unidade de Deus através de
7 Para mais detalhes, ver a Surata 2:31 (Al Bácara), e na Surata 6:38 (Al An’am).
42
raciocínio. Na realidade, isso implica para os muçulmanos que: (1) tudo na lei islâmica é
verdadeiro e absoluto; e (2) se houver um conflito entre a lei islâmica e o empreendimento
humano, em termos do fundamento de um fenômeno, então este último deve estar errado
ou a interpretação da lei divina está incompleta, mas nunca errada. Isso ocorre porque o
conhecimento humano é imperfeito em comparação com o conhecimento de Deus
(KHAN, 1987). Há uma diferença entre a verdade absoluta do Criador do conhecimento
e a verdade objetiva do humano (KHAN 1987; BIRAIMA 1998), porque a humanidade
tem capacidades limitadas e Deus, ilimitadas (KHAN 1987; NIENHAUS 1989).
Assim, a justificação dos fatos está no centro da epistemologia islâmica e recebe
cuidadosa atenção de estudiosos da revelação e jurisprudência islâmica, por um lado, e
cientistas de outras áreas do conhecimento, por outro. Em outras palavras, de acordo com
a epistemologia islâmica, é importante que o conhecimento resultante da interpretação e
revelação da lei divina, além do conhecimento resultante da razão humana sobre os
fenômenos reais, seja consistente com a lei divina (MOHAMMAD et al., 2013).
Os filósofos islâmicos consideram a Unidade de Deus e o conhecimento como a
orientação cognitiva fundamental de uma sociedade muçulmana individual ou
muçulmana, abrangendo a totalidade do conhecimento do indivíduo muçulmano ou da
sociedade muçulmana. Os economistas islâmicos não são exceção a esse respeito (e.g.,
Ahmad 1980, 2000, 2003; Naqvi 1981; 1994; Siddiqi,1981; Arif, 1985; Al-Habshi, 1987;
Khan 1987; El-Ghazali 1994, Chapra, 1995, 2000; Sirageldin 2002; Choudhury; Hussain
2005). Isso significa que as especificações do caráter e das propriedades do conhecimento
(PLUTA, 1989), na economia islâmica, como em qualquer outro campo de conhecimento
islamizado, se assentam em dois pilares: (1) a lei divina; e (2) a racionalidade dos
jurisprudentes e economistas islâmicos em justificar os fenômenos econômicos de acordo
com a lei divina (AL-SUWAILEM, 2013).
Em essência, isso é diferente das características do conhecimento na economia
neoclássica que é baseado apenas na racionalidade humana como fonte de conhecimento
(NIENHAUS, 1989), desprezando quaisquer outras fontes, especialmente aquelas
relacionadas aos aspectos religiosos.
O Quadro 2 a seguir sintetiza as diferenças entre os fundamentos filosóficos da economia
islâmica e neoclássica:
43
Quadro 2 – Fundamentos Filosóficos da Economia Islâmica e Neoclássica
Fundamentos Filosóficos Economia Neoclássica Economia Islâmica
Ontologia
Micro Realidade (indivíduo)
O indivíduo é livre, com
interesse próprio, isto é, é o
homem econômico egoísta
O indivíduo é o vice regente ou
agente do principal (Deus), com
interesses espirituais e materiais
Macro Realidade (sociedade)
A sociedade é a soma dos
interesses dos indivíduos
materialistas.
A sociedade consiste em classes
sociais que são beneficentes,
baseados na fraternidade,
coordenada para se atingir um
objetivo social, político, religioso
e econômico
Realidade Intermediária
(integração entre a macro e
micro realidades)
Adoção do Laissez-faire,
com o livre mercado e a mão
invisível do governo
O mercado é livre, baseado na
Sharia, e ético. Deve integrar os
interesses materialistas e
espirituais dos indivíduos e da
sociedade, a fim de alcançar o
bem-estar social e o crescimento
econômico de todos os
indivíduos.
Epistemologia
Especificações e personagens
do conhecimento econômico
Direito Econômico
Científico
A Lei Divina e o racionalismo
humano são consistentes com as
diretrizes de Deus.
O assunto da disciplina, ou
seja, o problema central
A conduta do homem na
parte comercial de sua vida.
Desenvolvimento que leva ao
crescimento econômico e ao bem-
estar da sociedade.
Metodologias consiste nos
dois aspectos acima
Positivismo e julgamento
sem valor
Julgamentos de valor e
julgamentos positivos
Fonte: Adaptado de Pluta (1989).
Dados os dois pilares da epistemologia islâmica da lei divina e do raciocínio humano
coerentes com ela, as metodologias da economia islâmica dão a devida proeminência
tanto a juízos de valor quanto a julgamentos positivos ao fazer generalizações sobre uma
economia islâmica ideal (KHAN 1987; CHAPRA 1995; NAQVI; QADIR 1997). Isso
implica que a metodologia na economia islâmica tem uma base tanto normativa quanto
positiva (NIENHAUS, 1989). No entanto, o caso é diferente na economia neoclássica que
se baseia no positivismo e no julgamento sem valor.
O desenvolvimento que leva ao crescimento econômico e ao bem-estar social é o objetivo
final nos escritos dos economistas islâmicos ao tentar identificar as necessidades e desejos
da economia islâmica como uma ciência que lida com a solução de problemas na
realidade (e.g., Khan 1984; Arif 1985; Chapra 1995, 2000). O bem-estar social no nível
micro é reconhecido como falah, que é o objetivo final de um agente econômico islâmico
44
(SIDDIQI, 1979). Isso significa alcançar interesses materiais e espirituais tanto nesta vida
quanto no futuro (CHAPRA, 1995). Atingir um nível de falah exige regras para uma
conduta econômica adequada (YUSOF; AMIN, 2007) e, consequentemente, os
economistas islâmicos se esforçam para resolver problemas econômicos de tal forma que
satisfaçam as necessidades materialistas e espirituais do indivíduo e da sociedade.
2.4 Ensinamentos financeiros do Corão
Diversos ensinamentos sobre finanças e economia estão presentes no Corão. Trata-se de
um compêndio de valores, princípios, valores, guias e regras que servem de base para um
desenvolvimento apropriado do sistema econômico e financeiro do mundo islâmico
(ABDEL-MAGID, 1981; JANTALIA, 2016). Os valores positivos discutidos no Corão
incluem: justiça, honestidade, moderação e bondade aos menos favorecidos, enquanto a
injustiça, avareza, extravagância, miséria e acumulação são consideradas como valores
negativos e encontradas em nossa sociedade atualmente (IQBAL; MOLYNEUX, 2005).
O sistema econômico baseado nos princípios fundamentais do islamismo garante a justiça
social e econômica, fraternidade humana, distribuição equitativa de riqueza e liberdade
individual relacionada ao bem-estar social ou Welfare State. De acordo com o Islã, a
busca pela fonte de renda e o rendimento Halal (permitido) é essencial. Isto é permissível,
perante Allah, para ganhar o que quer que seja, mas por meios justos. Além disso, todo
muçulmano deve pagar o Zakat aos necessitados, o que garante, desta forma, uma
distribuição equitativa da riqueza (ABDEL-MAGID, 1981; AYUB, 2007).
No Corão, o comércio é permitido, entretanto são elencadas algumas práticas proibidas
como a usura, amplamente discutida nesta tese, má apropriação e jogatina, incluindo nesta
última a incerteza e a especulação. São encontrados mais de duzentos versos do Corão os
quais, de uma forma ou de outra, estão relacionados à economia e às finanças: incluem
aqui o zakat, as transações e mercadorias proibidas e permitidas ao consumo, sobre a
riqueza, a propriedade privada, comércio, registros contábeis, débito, crédito, a fraude, as
associações, os contratos, governança e transparência etc. Existem, ao menos, cinco áreas
de comportamento econômico e financeiro que são pormenorizadamente mencionadas no
Corão que incluem justiça e responsabilidade social, aquisição da riqueza, distribuição da
riqueza, proteção dos menos favorecidos e regulação das transações através de contratos
(LEWIS et al., 2001; MAALI et al., 2006; MAALI; NAPIER, 2010)
45
As atividades econômicas, incluindo as financeiras, direcionam os islâmicos a
aproveitarem plenamente as bênçãos de Deus (COSTA, 2016). O Corão enfatiza
reiteradamente que todas as coisas do universo pertencem a Allah, sendo que Ele criou
todas as coisas e permite ao homem explorá-las e usá-las para a satisfação de suas
necessidades. Entretanto, o homem deve distinguir entre as coisas dentro da lei e as coisas
fora da lei. O Corão ordena que a riqueza deve ser adquirida dentro dos meios legais e
que os meios ilegais devem ser descartados por completo (CHAPRA, 1979; ABDEL-
MAGID, 1981; MARTINS, 2004; COSTA, 2016).
2.5 Desenvolvimento das Finanças Islâmicas
2.5.1 Primeiro estágio
Os primeiros estudos para a reorganização do sistema financeiro convencional nos países
islâmicos, isto é, uma sistemática sem a cobrança de juros remonta aos anos 40, com
destaque para os trabalhos de Anwar Qureshi (1946), Naeem Siddiqui (1948) e Mahmud
Ahmad (1952) que iniciaram suas pesquisas na introdução do sistema financeiro em
consonância com a Sharia. Mawdudi (1950) e Hamidullah (1957) estudaram o tema com
profundidade. Um dos teóricos mais conhecidos das finanças islâmicas, Ayatollah Baqir
em seu livro Our Economy (nome original Iqtissaduna, publicado em 1961) defendeu um
sistema econômico que se fundamentasse exclusivamente em princípios compatíveis com
a Sharia. Até essa altura, todos os países islâmicos foram incorporados ao capitalismo
mundial ou em outros lugares envolvidos no sistema socialista controlado pela então
União Soviética e não se inscreveram em nenhuma teoria particular (KEPEL, 2006,
AYUB, 2007, COSTA 2016).
Todos os autores mencionados no parágrafo anterior reconheceram a importância e
relevância dos bancos convencionais, mas se recusaram a aceitar a cobrança de juros em
todas as operações comerciais e não somente bancárias. Dessa forma, tiveram que
encontrar uma maneira alternativa de substituir o banco convencional e fornecer
intermediação financeira sem a cobrança de juros. Como resultado, eles propuseram um
novo sistema bancário em que tanto o lucro como a perda são compartilhados de maneira
equitativa pelo provedor de capital e pelo usuário desse sistema. Esta prática é geralmente
chamada de Profit and Loss Sharing (PLS) ou Compartilhamento de Ganhos e Perdas.
46
Nas três décadas seguintes, os economistas e estudiosos muçulmanos deram mais atenção
para as práticas financeiras sem a cobrança de juros. Foram apoiados também pelo
interesse político criado no Paquistão e pelo crescente número de jovens economistas
muçulmanos interessados neste tema (PINTO, 2010; COSTA 2016; JANTALIA, 2016).
Como resultado, muitos trabalhos que lidam com uma ideia de bancos islâmicos surgiram
no final dos anos sessenta e início dos anos setenta, com destaque para os trabalhos de
Uzair (1955), Al-Araby (1967), Siddiqui (1969) e Al-Najjar (1978).
No início dos anos 70, a prática de não cobrança de juros experimentou o
desenvolvimento institucional. A ideia de estabelecer o primeiro banco sem a cobrança
de juros, o Banco Islâmico de Desenvolvimento (BID)8, foi introduzida na Segunda
Conferência islâmica dos Ministros dos Negócios Estrangeiros, realizada em 1970 em
Karachi, Paquistão (HANIFFA; HUDAIB, 2002; BHATTI; BHATTI, 2009).
2.5.2 Segundo Estágio
O segundo estágio refere-se à aplicação da teoria à prática com a ajuda do envolvimento
institucional e governamental. O marco histórico dos bancos islâmicos é a Primeira
Conferência dos Ministros das Finanças dos Países Islâmicos realizada em Jeddah,
Arábia Saudita (1973), sob a Organização da Conferência Islâmica (OCI), onde
principalmente a abolição dos juros foi discutida. Além disso, a Declaração de Intenção
foi emitida e a decisão final de estabelecer o BID foi feita nesta reunião (PLATONOVA,
2014). No entanto, o banco foi inaugurado oficialmente dois anos depois, em 20 de
outubro de 1975 e atualmente é composto por 56 nações islâmicas (BID, 2017). No
mesmo ano, o primeiro banco privado sem juros, o Dubai Islamic Bank (DIB), foi
estabelecido por uma equipe de empresários de vários países muçulmanos (GAFOOR,
1995). Atualmente, o DIB é o maior banco islâmico nos Emirados Árabes Unidos.
8 O Banco islâmico de desenvolvimento é uma instituição internacional estabelecida em dezembro de 1973
e com abertura oficial dos trabalhos em 20 de outubro de 1975. O objetivo do banco é proporcionar o
desenvolvimento econômico e progresso social dos países membros. As funções principais do banco são
de emprestar capital a baixos juros para projetos e empresas, além de projetos especiais que visem a dar
assistência a países islâmicos não-membros do Banco. Além disso o Banco incentiva o comércio e a troca
de conhecimento entre os países-membros. São 56 os países-membros do Banco islâmico de
desenvolvimento, mas os principais acionistas do banco são: Arábia Saudita (27,33%), Líbia (10,96%), Irã
(9,59%), Egito (9,48%), Turquia (8,65%), Emirados Árabes Unidos (7,76%) e Kuwait (6,86%).
47
Em 1977, outro banco islâmico de pleno direito, a Kuwait Finance House (KFH), foi
fundado pelo governo do Kuwait. Desde a sua criação, o KFH conseguiu
sistematicamente expandir seus negócios, estabelecer novas realizações e ampliar a gama
de serviços. Como resultado, o KFH atualmente opera em 7 países em todo o mundo
(Kuwait, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Turquia, Malásia e
Austrália) através de 355 agências (ABEDIFAR et al., 2015).
Tanto o Dubai Islamic Bank quanto a Kuwait Finance House são considerados pioneiros
do recém-desenvolvido sistema bancário islâmico. O segredo de seu sucesso foi o de
combinar adequadamente os melhores valores islâmicos tradicionais com a tecnologia
eficiente, acompanhada de inovação. Atualmente, esses dois bancos são, sem dúvida,
líderes mundiais no campo dos produtos financeiros islâmicos e seus padrões são
seguidos por muitas outras instituições financeiras. Mais dois bancos islâmicos privados
foram criados em 1977 no Sudão e no Egito sob o mesmo nome do Faisal Islamic Bank.
Duas foram as esferas do sistema financeiro islâmico que se diferenciam completamente
das instituições financeiras tradicionais, embora ambos se baseiem na mesma lógica. A
primeira esfera promoveu um mecanismo de redistribuição parcial das receitas do
petróleo entre os Estados membros da Organization of Islamic Cooperation (OIC) através
do BID. Após a aplicação desse mecanismo, a dependência entre os países membros
asiáticos e africanos mais pobres e os países ricos em exportação de petróleo aumentou e
a coesão islâmica se fortaleceu. A segunda esfera corresponde ao domínio exclusivo de
investidores privados e detentores. Após vários experimentos no Egito, tudo isso resultou
no estabelecimento de bancos comerciais islâmicos que começaram a surgir
extensivamente em 1975.
Apenas em dez anos desde a abertura do primeiro banco islâmico privado em Dubai
(1975), mais de 55 bancos sem juros surgiram. Quase todos eles estão localizados em
países muçulmanos, no entanto, alguns também são colocados na Europa, nomeadamente
no Reino Unido, Dinamarca, Suíça ou Luxemburgo (GAFOOR, 1995). A Casa de
Finanças Islâmicas, criada em 1978 no Luxemburgo, foi a primeira tentativa histórica de
lançar o banco islâmico no mundo ocidental (ARIFF, 1988; El-GALFY; KHIYAR,
2012). Seguiu-se a primeira companhia de seguros que cumpre os princípios islâmicos
(Takaful) que emergiu também em 1983 no Luxemburgo (DERBEL, 2011). Durante os
anos 80 e 90, muitos bancos ocidentais tradicionais criaram janelas islâmicas de
48
oportunidade financeira (departamentos especiais de bancos convencionais que são
permitidos para os serviços financeiros islâmicos), por exemplo, o Barclays, Citibank,
HSBC, Merril Lynch, Goldman Sachs, Kleinnwort Benson e muitos outros, para atraírem
depósitos de investidores muçulmanos e satisfazer a demanda da população muçulmana
vivendo nesses países (HASSAN; LEWIS, 2007; MARCINKOWSKI, 2009).
Mais tarde, o sistema bancário em alguns países islâmicos mais conservadores, como Irã,
Sudão e Paquistão, foram completamente islamizados (GAFOOR, 2005,
SUNDARAJAN; ERRICO, 2002). Na maioria dos países, os bancos sem juros foram
estabelecidos pela iniciativa privada e coexistiram doravante com os bancos
convencionais. No entanto, os bancos no Irã e no Paquistão estavam sob supervisão do
governo que cobriam sucessivamente todos os bancos do país e os bancos comerciais
foram completamente abolidos. Em ambos os países mencionados anteriormente, o
sistema bancário sem juros foi introduzido em 1981. A partir de 1º de janeiro de 1981,
todos os bancos convencionais domésticos no Paquistão foram autorizados a aceitar
depósitos no princípio da participação nos lucros e perdas (GAFOOR, 2005). Em janeiro
de 1985, o processo de transformação completo do sistema bancário "antigo" para o
"novo" sistema compatível com a Sharia estava em andamento (SUNDARAJAN;
ERRICO, 2002). A partir de 1º de julho de 1985, nenhum banco paquistanês foi
autorizado a aceitar qualquer tipo de depósito com juros e todos os depósitos existentes
deveriam seguir as regras de Compartilhamento de Lucros e Perdas (GAFOOR, 2005).
No Irã, a situação era muito parecida com o Paquistão. Em fevereiro de 1981, foram
aplicadas certas restrições administrativas para eliminar o ganho de juros das atividades
bancárias. Especificamente, os juros de todas as transações foram substituídos por uma
taxa de serviço de até 4% e por uma “taxa de lucro” que variava de 4 a 8%, determinada
de acordo com o tipo de atividade econômica. Os juros sobre depósitos foram
transformados em uma espécie de "lucro mínimo garantido". Dois anos depois, em agosto
de 1983, a lei bancária livre de usura foi adotada pelo governo iraniano e, em janeiro de
1984, começou um período de transição duradouro de quatorze meses. A conversão de
todo o sistema bancário para o não-interesse foi realizada até março de 1985 (GAFOOR,
2005).
Em 1995, 144 instituições islâmicas operavam em todo o mundo, incluindo 33 bancos
estatais, 40 bancos privados e 71 empresas de investimento (KEPEL, 2006). Atualmente
49
existem mais de 600 instituições financeiras islâmicas que operam em mais de 100 países
em todo o mundo. Esses números indicam expansão rápida e grande potencial de
financiamento islâmico. (NEWAZ et al, 2015, IFSB, 2017).
2.6 Princípios básicos das finanças islâmicas
As finanças islâmicas podem ser definidas como o conjunto de operações de natureza
financeira em alinhamento total com a Sharia. Numa primeira interpretação, nada mais
seriam além de práticas financeiras sujeitas a um regramento específico, cujas bases
normativas, nesse caso, não seriam dadas por atos normativos seculares, tal como ocorrem
na maior parte dos sistemas convencionais ou ocidentais, mas sim pelo Corão e pela Suna,
as fontes primárias da Sharia. (KHAN, 1987, MARTINS, 2004).
Dessa forma, esse modelo financeiro baseado na religião, resultou de uma articulação
diferenciada entre ideias e interesses materiais, servindo de base para que os muçulmanos
não se comprometam com atividades consideradas ilícitas, como a riba, maysir e gharar.
As finanças islâmicas não são orientadas apenas por princípios, mas por formas jurídicas
que dão vida, corpo e vazão aos interesses materiais dos muçulmanos. Dessa forma, as
finanças islâmicas configuram um modelo de relações econômico-financeiras que o
pensamento religioso concebeu para conformar as interações comerciais de seus fiéis à
Mensagem Divina, expressa no Corão e nas práticas do Profeta. (CHAPRA, 1979;
AYUB, 2007; KHATIB, 2013; JANTALIA 2016).
Sendo assim, uma adequada abordagem das finanças islâmicas não pode se limitar ao
exame de suas formas contratuais e institucionais, sob pena de não se conseguir alcançar
a sua essência e a sua racionalidade. Para alguns pesquisadores ocidentais, as finanças
islâmicas são apenas um conjunto de operações nos quais não há cobrança de juros.9 Por
conta do caráter fortemente moralizador e principiológico das prescrições da doutrina
religiosa islâmica, nenhuma análise ou teoria sobre a ação econômica dos muçulmanos
conseguirá alcançar um mínimo de consistência se não passar por uma investigação do
sentido que os fiéis atribuem a essa ação. É preciso, diante disso, compreender os valores
9 A vedação à usura, fato que está presente em diversas passagens do Corão, tem causado desconfiança e
ceticismo nos pesquisadores ocidentais, a ponto de enviesar os estudos sobre as finanças islâmicas. Não
são poucos os trabalhos que se dedicam a análises comparativas entre os instrumentos financeiros islâmicos
e aqueles utilizados nos mercados financeiros convencionais, com o objetivo declarado de infirmar a tese
da efetividade dessa vedação. Um bom exemplo disso é o trabalho de Chong e Liu (2007).
50
que norteiam a visão da religião no campo econômico, a fim de estabelecer uma relação
entre esses valores e os contornos e formas das finanças islâmicas.
A riqueza no Islamismo, pelas práticas concretas presente no Corão e pelos próprios
ensinamentos da Sharia, deve ser compartilhada, isto é, não se concentrar nas mãos das
pessoas mais ricas. Para os muçulmanos, a preocupação com os outros, em particular os
pobres e os necessitados, estão profundamente inscritos nos pilares do Islã. O islamismo,
portanto, orienta todos os muçulmanos a maximizar suas riquezas, desde que não criem
uma situação socialmente perturbadora ou que violem as normas da justiça islâmica
(KHAN, 1996; KURAN, 2004; AYUB, 2007; RAHMAN, 2010; COSTA 2016).
O sistema financeiro islâmico não são se limita apenas ao conjunto de operações que
observam estritamente as diretrizes de um texto jurídico/religioso. Sua lógica, sua
dinâmica e até mesmo suas formas contratuais e institucionais são expressão de uma
imagem de mundo adotada pelo Islã, regrada pelos princípios a seguir:
Princípio da Equidade: A literatura internacional invoca esse princípio como a
justificativa para a proibição de pagamentos de juros, com vistas a proteger a parte
contratante mais fraca em uma transação financeira. O princípio da equidade é
também a base para proibir a incerteza excessiva (gharar), manifestada pela
ambiguidade contratual ou indefinição do pagamento. As partes envolvidas têm o
dever moral de divulgar informações antes de se envolverem em um contrato,
reduzindo assim a assimetria informacional, caso contrário, a presença de gharar
anularia o contrato. O princípio de equidade e distribuição de riqueza é também a base
do zakat ou imposto religioso.
Princípio da participação: Embora alguns arranjos financeiros islâmicos sejam
comumente conhecidos como financiamentos isento de juros, a proibição da riba não
implica que o capital não deva ser recompensado. De acordo com Sharia a
recompensa (isto é, o lucro) vem com risco e o retorno do investimento tem que ser
ganho em conjunto com o risco e não com a mera passagem do tempo, que é também
é condenável pelo Islã. Assim, o retorno sobre o capital é legitimado pela tomada de
riscos e determinado ex post com base no desempenho dos ativos ou na produtividade
do projeto, garantindo assim uma ligação entre atividades de financiamento e
atividades reais. O princípio da participação está no cerne das finanças islâmicas,
51
garantindo que o aumento da riqueza advenha de atividades produtivas e não apenas
da mera passagem do tempo.
Princípio de propriedade: As decisões de não vender ativos que ainda não existem
(por exemplo, venda a termo) implica na realização de atividades em que os ativos
sejam direitos reais e tangíveis. O financiamento islâmico passou, assim, a ser
conhecido como financiamento baseado em ativos, forjando uma ligação robusta entre
as finanças e a economia real. Também exige preservação e respeito pelos direitos de
propriedade, bem como a manutenção das obrigações contratuais, ressaltando os
aspectos moralizantes e religiosos dos contratos.
Sob essa perspectiva, as finanças islâmicas poderiam ser entendidas como uma forma de
colocar em prática os valores da religião ou, de modo mais específico, os princípios
islâmicos acerca da economia (MARTINS, 2004; VISSER, 2009). A partir do dogma da
unicidade de Allah do qual, deriva a concepção da indivisibilidade entre vida espiritual e
vida mundana, a doutrina islâmica estabelece as bases fundamentais para as relações
econômicas e comerciais havidas entre os seres humanos (AYUB, 2007; COSTA, 2016).
A Figura 3 a seguir ilustra os princípios das finanças islâmicas, princípios esses, que serão
discutidos nas próximas seções:
Figura 3 – Princípios das Finanças Islâmicas
Fonte: Autor (2018).
52
2.6.1 Proibição da riba
As doutrinas cristãs e judaicas, que antecederam a doutrina islâmica, fizeram diferentes
interpretações das escrituras bíblicas do Velho Testamento concernentes a empréstimo
com juro. A escritura de Deuteronômio é a que estabelece a doutrina cristã de maneira
diferente da lei judaica. O padrão duplo deuteromiceto faz distinção entre “irmão” e
outros. Porque os judeus consideram a si descendentes de Jacob, eles são “irmãos” e não
podem cobrar juro uns dos outros, mas podem cobrar juro de “estrangeiros” ou não judeus
como os cristãos (COSTA, 2016). Dessa forma, aos judeus era permitido ganhar dinheiro
com o empréstimo, ou seja, praticar a usura, e ao Estado era garantido ganhar dinheiro
com o empréstimo realizado pelos judeus, por meio das altas taxas de impostos. Decorre
daí que os judeus cobravam um excedente pelo valor emprestado, a fim de cobrir riscos
e também obter lucro, e o Estado cobrava dos judeus uma taxa para autorizar sua
atividade.
A Igreja, durante a Idade Média, acreditava que o usurário que obtivesse lucro sem
nenhum trabalho ou esforço contrariava a Palavra de Deus, que diz no livro de Gênesis
capítulo 3, versículo 19: “comerás teu pão com o suor do teu rosto”. Nesta interpretação,
o usurário credor não vendia a seu devedor algo que lhe pertencia, mas apenas o tempo,
que pertencia a Deus. Portanto, não poderia tirar nenhum proveito dessa relação.
A Igreja sempre proibiu e condenou a prática da usura, ou a cobrança de juros, mesmo
que isso tenha sempre existido como podemos perceber no código de Hamurabi10, que
impunha limitações à cobrança de juros nos empréstimos. Da mesma forma, o direito
romano tratou sobre a questão do empréstimo a juros, considerando-o lícito se fosse
cobrado dentro dos parâmetros autorizados, cujo índice era fixado em 1% ao mês, ou seja,
12% ao ano, mas acima disso “a usura tornava-se condenável (odiosum). Dessa forma, a
tradição falou mais forte que os acontecimentos dessa época. A Igreja considerava a
atividade tanto do mercador como do banqueiro condenáveis, visto que estes objetivavam
obter um lucro em cima de uma transação, o mercador, porque tinha como objetivo
10 O Código de Hamurabi uma compilação de 282 leis da antiga Babilônia (atual Iraque), composto por
volta de 1772 a.C. Hamurabi é o sexto rei da Babilônia, responsável por decretar o código conhecido com
seu nome, que sobreviveu até os dias de hoje em cópias parcialmente preservadas, sendo uma na forma de
uma grande estela (monolito) de tamanho de um humano médio, além de vários tabletes menores de barro.
Na verdade, como o Código de Hamurabi é a única legislação daquele povo, ele não deveria receber tal
nomenclatura, tendo em vista que não se apresenta da maneira de um código, noção que foi concebida após
o Código Civil Napoleônico. Vale lembrar que o este código é uma legislação que está composta por vários
fragmentos, sendo alguns civis, outros penais, alguns referentes ao direito do trabalho, etc.
53
comprar para revender mais caro. Assim a Igreja Católica Romana considerava o usurário
um pecador que merecia o inferno, pois este não trabalhava, vivia do tempo. E isso era
inconcebível para a Igreja Católica, pois, nesse período, ainda reinava o pensamento de
Aristóteles que entendia que a função do dinheiro era apenas para troca.
No caso do islamismo, a proibição da riba é um dos mais importantes princípios
preconizados pela Sharia e pelo próprio Corão para as finanças islâmicas. Normalmente,
é traduzido como proibição da usura ou da cobrança de juros, mas extrapola esses
conceitos superficiais. A palavra árabe riba, a depender do contexto, pode ser traduzida
como ganho, excesso, aumento ou expansão (ISRA, 2012; JANTALIA, 2016). Todavia,
em sentido mais técnico, tal como adotado no âmbito financeiro islâmico internacional, a
riba pode ser definida como um acréscimo ilegítimo que beneficia apenas uma das partes
em determinado negócio. A riba consiste em ganho ilícito decorrente da desigualdade
quantitativa das contrapartes envolvidas em qualquer transação que tenham como efeito
a troca de duas ou mais espécies (anwa) que pertençam ao mesmo gênero (jins) e que
sejam norteadas pela mesma causa (illah). (SALEH, 1986). Em outra abordagem, pode
ser entendida como qualquer coisa, grande ou pequena, pecuniária ou não pecuniária, em
excesso ao principal de arranjo financeiro ou comercial que deve ser pago pelo devedor
ao credor, juntamente ao principal, como condição para a manutenção ou extensão do
contrato. (IQBAL; MOLYNEUX, 2005).
A cobrança ou pagamento da riba é expressamente proibida pelo Corão, pelas tradições
do Profeta Muhammad (S.A.W.S.) e também pelo consenso de clérigos muçulmanos
(ijma) e seguida por todas as Instituições Financeiras Islâmicas. No Corão, a vedação
mais forte encontra-se em Al Bácara (275:279):
Os que praticam usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado
por Satanás; isso, porque disseram que a usura é o mesmo que o comércio; no
entanto, Allah consente o comércio e veda a usura. Mas, quem tiver recebido
uma exortação do seu Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu
julgamento só caberá a Allah. Por outro lado, aqueles que reincidirem, serão
condenados ao inferno onde permanecerão eternamente. Allah abomina a usura
e multiplica a recompensa aos caritativos; Ele não aprecia nenhum incrédulo
pecador. Os fiéis que praticarem o bem e observarem a oração e pagarem o
zakat, terão a sua recompensa no Senhor e não serão presas do temor, nem se
atribuirão. Ó fiéis, temei a Allah e abandonai o que ainda vos resta da usura, se
sois crentes! Mas, se tal acatardes, esperei a hostilidade de Allah e do seu
Mensageiro; porém, se vos arrependerdes, reavereis apenas o vosso capital.
Não defraudais e não sereis defraudados.
54
Existem outras evidências que condenam a prática de usura em passagens relatadas nos
caminhos trilhados pelo Profeta (Suna) como nas relatadas por Abu Huraira, Jabir, Ibn
Massud e Abu Said Al Khudri. A proibição de Riba é claramente declarada em muitos
versículos do Corão tais como:
a) Quando emprestardes algo com usura, para que vos aumente (em bens), às expensas
dos bens alheios, não aumentarão perante Allah; contudo, o que derdes em zakat,
anelando contemplar o Rosto de Allah (ser-vos-á aumentado). A estes, ser-lhes-á
duplicada a recompensa (AR RUM, 30:39)
b) E por praticarem a usura, sendo que isso lhes estava proibido, e por usurparem os
bens alheios com falsas pretensões. E preparamos para os incrédulos, dentre eles, um
doloroso castigo. (AN NISSÁ; 4:161)
c) Ó fiéis, não exerçais a usura, multiplicando (o emprestado) e temei a Allah para que
prospereis (AAL IMRAN, 3:140)
d) Os que praticam a usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado por
Satanás; isso, porque disseram que a usura é o mesmo que o comércio; no entanto, Allah
consente o comércio e veda a usura. Mas, quem tiver recebido uma exortação do seu
Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu julgamento só caberá a Allah.
Por outro lado, aqueles que reincidirem, serão condenados ao inferno, onde
permanecerão eternamente. (AL BÁCARA, 2:275)
e) Ó fiéis, temei a Allah e abandonai o que ainda vos resta da usura, se sois crentes! (AL
BÁCARA, 2:278).
Teoricamente, no Islã, a riba é considerada uma fonte importante de vantagem
injustificada, onde as atividades de negócios operam usando um sistema baseado em juros
(SARKER, 2000). Portanto, a proibição da riba é uma solução para estabelecer um
sistema econômico justo, no qual não há formas de exploração ou enriquecimento não
justificado (BJORKLUND, 2004). Isso é conhecido como um sistema econômico
islâmico, baseado na Sharia. Entre os principais pontos da proibição da riba estão:
provoca distribuição injusta de renda em favor dos ricos (financistas), que têm o capital
como juros garantidos em troca do credor sem assumir nenhum risco, enquanto o tomador
ou o empreendedor paga interesse, independentemente do resultado do negócio ou
investimento (ATTIAH, 1989). Portanto, a proibição da riba é a melhor solução para
55
estabelecer a justiça socioeconômica entre os financiadores e os empreendedores
(BJORKLUND, 2004).
A maioria dos acadêmicos islâmicos afirma que a proibição dos juros, ou usura, (riba) no
Islã não é porque a religião não a vê como uma maneira de transformar o excesso de
capital em lucro, mas por causa de uma preocupação mais profunda com o moral, social
e bem-estar econômico da sociedade. Um sistema baseado na riba gera lucro sem fazer
nenhum trabalho e não compartilha o risco entre o credor e o mutuário (AL-
QARADAWI, 1985). A grande maioria das escolas islâmicas concorda que Riba
representa juros em todos os tipos e formas (CHAPRA, 1992). Estudiosos islâmicos
explicaram claramente que a riba, como mencionado no Corão Sagrado, refere-se a todas
as taxas excessivas de juros cobradas pelos bancos (e.g., AHMAD, 1989; HINDI, 1996).
O setor bancário islâmico envolve questões éticas e morais mais amplas com suas
transações livres de riba. Esse fator o torna, em tese, economicamente mais eficiente do
que o banco convencional e promove maior equidade e justiça econômica.
Em sentido mais técnico, riba é uma espécie de ganho ou de mais-valia cobrada por uma
das partes envolvidas em determinado negócio no qual se tenha a troca de bens da mesma
espécie. Importante destacar que o lucro não é proibido pela religião, pois o Islã encoraja
as pessoas a usar o dinheiro em investimentos Halal (islamicamente permissíveis). A
preocupação atual no setor financeiro islâmico é a aceitabilidade da taxa de lucro utilizada
pelos bancos islâmicos como alternativa à taxa de juros. De acordo com a Sharia, a riba
refere-se tecnicamente ao prêmio que deve ser pago pelo mutuário ao credor junto com o
principal como condição para tomar um empréstimo (CHAPRA, 1979; CHAPRA, 1984;
CHAPRA, 2000; AYUB, 2007).
Consequentemente, a riba está essencialmente em conflito com a clara e inequívoca
ênfase islâmica na justiça socioeconômica. Financiadores e credores que não desejam
assumir o risco têm direito apenas ao principal e não mais. Aqueles que insistem em
cobrar a riba, apesar de sua proibição, são declarados pelo Corão em guerra com Deus
(CHAPRA, 1979). A principal razão pela qual o Corão emitiu um veredicto tão duro
contra os juros é que o Islã desejou estabelecer um sistema econômico onde todas as
formas de exploração fossem eliminadas, e particularmente a injustiça perpetuada na
forma do financiador que está sendo assegurado de um retorno positivo, sem fazer
qualquer trabalho, enquanto o empresário, apesar de sua administração e trabalho árduo,
56
não está seguro de um retorno tão positivo. O Islã, com isso, desejou estabelecer a justiça
entre o credor e o empreendedor.
A Tabela 3 a seguir resume brevemente a principal diferença entre riba e lucro de um
ponto de vista islâmico:
Tabela 3 – Diferenças entre Riba e Lucro sob a Perspectiva Islâmica
RIBA LUCRO
Riba é pré-fixado (garantido antecipadamente) e,
portanto, sempre positivo. É sempre vinculado ao
período de tempo e ao montante do empréstimo. Riba,
no entanto, pode, na melhor das hipóteses, ser muito
baixo ou zero.
O lucro é pós-fixado e, portanto, seu valor
não é conhecido até a atividade estar
concluída. O lucro, no entanto, pode ser zero,
positivo ou possivelmente negativo.
Por definição, Riba é um incremento em um
empréstimo ou dívida pagando dinheiro para o uso
(aluguel) de dinheiro, se isso se aplica ao consumo
empréstimos ou empréstimos de produção.
O lucro, por definição, representa o custo de
oportunidade total (explícitos e implícitos)
de uma empresa de um empreendedor ou
investidor.
Riba significa lucro sem esforço ou "mais valia sem
contrapartida", e assim, o empréstimo de juros não
agrega valor. Transfere apenas o uso de fundos
temporariamente de uma pessoa para outra.
O lucro também pode ser definido como o
retorno ao empregador do estoque de capital
(como máquinas, fábricas e arados), em
qualquer exercício que envolva o trabalho
produtivo.
Fonte: Adaptado de CHAPRA (2000), AYUB (2007) e JANTALIA (2016).
A proibição de riba claramente significa que o dinheiro pode ser, na prática, emprestado
legalmente apenas para fins de caridade ou para fazer negócios legais com base na
Participação nos Lucros e Perdas (PLS) (KHAN, 2008). O islamismo, no entanto, fez
uma clara distinção entre comércio e riba (CHAPRA, 1986). O risco comercial é alocado
uniformemente entre todas as partes envolvidas em uma negociação, enquanto que em
riba, muitas vezes reside forte e diretamente no mutuário. Em sua maior implicação geral,
riba significa qualquer aumento de capital não justificado por um risco assumido
(IQBAL, 2009).
Há diversas contribuições que buscam explicar a racionalidade que há por trás dessa
proibição da riba em geral, e da usura em particular. Uma das mais abrangentes é
57
apresentada por Vogel e Hayes (1998), que sustentam a existência de quatro fundamentos
que justificam a proibição da usura:
1) A equivalência matemática, desenvolvida especialmente pelos adeptos da Escola
Malequita11, a vedação teria a finalidade de buscar a equidade das trocas ao determinar
que elas sejam feitas em uma mesma base de medida, de volume ou de valor;
2) A prevenção da exploração, pois a proibição teria por finalidade evitar abusos,
sobretudo por parte dos mais fortes contra os mais fracos, que, premidos pela necessidade,
invariavelmente se veem obrigados a se submeter a condições negociais desiguais;
3) O desestímulo ao comércio de dinheiro e ao uso dos gêneros alimentícios como moeda,
uma vez que a proibição se explicaria em decorrência da própria visão islâmica acerca da
moeda. A ideia, portanto, seria a de evitar o ganho de valor puramente monetário, não
associado a trabalho ou a esforço humano em busca da riqueza; e
4) A obrigatória relação entre risco e retorno, sendo que qualquer ganho previamente
determinado, independentemente do risco envolvido, é considerado ilegítimo, injusto e
moralmente reprovável à luz da moral Islâmica.
Khan (1984) argumentou ainda que a necessidade de bancos islâmicos surge somente
quando os lucros são realmente incertos. Assim, os bancos islâmicos atraem, em contraste
com os bancos convencionais, apenas os projetos (mais) arriscados. A receita do banco
islâmico com o financiamento do compartilhamento de lucros não seria, na sua opinião,
exceder as receitas dos bancos convencionais médios de seus negócios de empréstimo de
juros. No entanto, os bancos islâmicos aceitarão ganhar em um projeto marginal uma taxa
de retorno sobre seus fundos, o que equivale, pelo menos, à taxa de retorno esperada na
economia global (SIDDIQUI, 2004; VISHER, 2009). A taxa de retorno sobre o
investimento na economia deve ser maior do que a taxa de juros, por definição, porque
consistia tanto do prêmio de risco como do custo do capital. O retorno sobre todos os
11 O maliquismo (em árabe: كي transl.: Mālikī) é uma das quatro madhabs da fiqh, ou seja, uma escola ;مال
ou corrente de direito islâmico (corrente sunita). É seguida por 20% a 35% dos muçulmanos, sendo
predominante no Norte de África, África Ocidental e em alguns territórios isolados da península Arábica,
estando também presente nos Emirados Árabes Unidos, Kuwait e em algumas áreas da Arábia Saudita,
Omã e muitos outros países do Médio Oriente. No passado teve também grande relevância nas zonas da
Europa sob domínio islâmico, particularmente na Ibéria muçulmana e no Emirado da Sicília. A principal
diferença entre o maliquismo e as outras três escolas jurídicas está nas fontes usadas para determinar a
jurisprudência. Todas as madhabs usam o Corão, a suna, bem como a ijmâ' (consensos ou acordos dos
companheiros de Muhammad) e às qiyas (analogias), mas os maliquitas usam igualmente as práticas dos
primeiros habitantes muçulmanos de Medina (Amal ahl al-medina) como fonte de jurisprudência.
58
projetos, portanto, será maior do que os juros cobrados pelos bancos convencionais. Este
fator é, de fato, considerado o fator mais importante que leva os clientes a abster-se de
retirar fundos de bancos islâmicos (AZIZ; FATIMA, 2012).
Especificamente no que se refere às operações financeiras, a vedação à riba traz
consequências importantes para a estruturação ou concepção dos modos ou arranjos de
financiamento, que estabelecem diferenças importantes na dinâmica da intermediação
financeira quando comparadas ao modelo financeiro convencional. A mais importante,
indubitavelmente, é que não se admite a concessão de empréstimos ou financiamentos
baseados na cobrança de juros (AYUB, 2007; MANSOUR et al., 2015).
Com isso, a vedação à cobrança de juros impõe para as instituições financeiras que
queiram atuar em conformidade com os preceitos da Sharia um modelo de negócios
substancialmente distinto daquele que prevalece nos mercados tradicionais (JANTALIA,
2016). Em lugar de atuar como meras rentistas, auferindo retorno apenas com base em
um percentual fixo de juros previamente determinado, tais instituições devem buscar
esses retornos de outras formas, a exemplo de lucros obtidos em negócios com seus
clientes e do aluguel de bens a esses mesmos clientes (AYUB, 2007; AZIZ; FATIMA,
2012; MANSOUR et al., 2015).
2.6.2 Proibição da incerteza ou do risco excessivo (gharar)
O segundo princípio que norteia as finanças islâmicas é o que preconiza a vedação à
incerteza ou risco excessivo, designado na língua árabe pela palavra Gharar. Embora o
verbete seja traduzido e genericamente empregado no sentido de risco, incerteza ou,
ainda, perigo (MARTINS, 2004; BALALA, 2011; ISRA, 2012; JANTALIA 2016), no
âmbito jurídico-financeiro ele é empregado de forma mais precisa e específica, para
designar apenas um nível extremado de incerteza ou indeterminação a respeito de um ou
mais elementos de um negócio jurídico, da qual possa decorrer um risco não previsto ou
mesmo imprevisível de perda para qualquer das partes envolvidas naquele negócio.
O gharar possui diversas definições como a incerteza, risco e jogo de azar (jogatina) (AL-
SAATI, 2003). Refere-se tecnicamente à venda de itens prováveis cuja existência ou
características não são certas, ou uma venda envolvendo risco excessivo ou risco moral
(AYUB, 2007). Isso, em certa medida, faz esse modo de negociar semelhante a um jogo.
59
O motivo da proibição é que os especuladores gerem seus ganhos privados em detrimento
da sociedade em geral (MARTINS, 2004; ELMELIK, 2009). O gharar não cria riqueza
adicional, visto que só transfere a riqueza de seus proprietários (perdedores) para novos
proprietários (vencedores). No entanto, na prática, uma vez que está envolvido em todas
as atividades econômicas, pequenas incertezas e certo grau de risco são islamicamente
permitidos (AHMAD, 2002; AL-SAATI; SIDDIQUI, 2006).
Na prática financeira, portanto, a vedação ao gharar não implica a eliminação de todo e
qualquer risco do negócio. À vista de tudo o quanto já se expôs acerca do estreito vínculo
entre risco e retorno, que embasa, inclusive, a proibição de negócios nos quais ele não
esteja devidamente configurado, é preciso frisar que a teoria islâmica nem de longe busca
expurgar o fator de risco do mundo dos negócios (AYUB, 2007). O que se busca, na
verdade, é coibir a incerteza causada por defeitos de informação nos contratos firmados.
Por isso, não é qualquer risco que inquina de nulidade um negócio – no caso, uma
operação financeira – mas apenas aquele que se apresenta de forma injustificada,
excessiva ou desarrazoada (AHMAD, 2002; RAZALI, 2012; JANTALIA, 2016).
A teoria islâmica identifica moderna identifica basicamente três espécies de gharar:
(i) Gharar fahish (também chamado de gharar major), que designa a ausência,
desconhecimento ou omissão de informações consideradas essenciais, o que impede a (s)
parte (s) de conhecer (em), com um mínimo de segurança, suas possibilidades de perda
(AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003; RAZALI, 2012; ISRA, 2012).
(ii) Gharar yasir (também chamado de gharar minor ou inevitável), que recai sobre a
natureza do próprio negócio e que, apesar de importar risco para a (s) parte (s), não afeta
a validade do negócio, uma vez que todos os elementos essenciais estão devidamente
minudenciados no contrato ou acordo firmado (AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003;
RAZALI, 2012; ISRA, 2012).
(iii) Gharar intermediário (também denominado gharar moderado) transita entre as duas
categorias anteriores. No entanto, existem algumas opiniões legais dos juristas
muçulmanos sobre esta categoria, se esta modalidade pertence à primeira categoria ou à
segunda, dependendo de sua natureza. Um exemplo de gharar moderado seria vender
uma casa, embora suas fundações não tenham sido vistas, ou alugar uma casa por um
mês, onde o mês pode ser de trinta dias ou trinta e um ou até mesmo na venda do que está
60
oculto no solo, na venda a preço de mercado sem especificar o valor exato e na venda,
por desconhecimento involuntário.
A vedação ao gharar não se baseia explicitamente no Corão, muito embora a teoria
islâmica vislumbre, em variados trechos do Livro Sagrado, uma restrição bastante ampla
e rigorosa a toda e qualquer forma de negócio que leve à apropriação de bens e direitos
alheios por meios considerados ilegítimos ou injustos. Por fomentar incerteza capaz de
ludibriar a compreensão da contraparte, o gharar constitui um subterfúgio para confundi-
lo ou enganá-lo, às custas de sua ignorância ou de sua boa fé, razão pela qual é alcançado
pela proibição genérica veiculada pelo Corão (CHAPRA, 1979; MARTINS, 2004;
AYUB, 2007; RAZALI, 2012).
Na prática, essa vedação traz para as finanças islâmicas algumas importantes restrições,
que podem ser resumidas em três pontos:
1) o bem negociado deverá existir no momento do contrato – o que, para muitos autores,
inibe a celebração de contratos futuros (MARTINS, 2004);
2) o bem deve estar na posse do vendedor, não se considerado válidos os negócios que
tomem por base as coisas cujo domínio não esteja sob a titularidade daquele (AHMAD;
HASSAN, 2006); e
3) o retorno do negócio deve ser devidamente especificado e pré-determinado – na forma
de percentual sobre os lucros do negócio ou de valor fixo pelo aluguel da coisa –, a fim
de que não paire qualquer dúvida acerca do quanto deve caber a cada parte envolvida na
empreitada (SALEH, 1986; VOGEL; HAYES, 1998)
Caso qualquer desses preceitos não seja observado, configura-se o gharar fahish e o
negócio é considerado nulo, perdendo sua legalidade (JANTALIA, 2016).
2.6.3 Proibição da especulação (maysir)
A palavra maysir é utilizada para designar toda e qualquer forma de jogos de azar
(jogatina), nas quais, portanto, haja algum tipo de aposta de bem ou valor, o qual, em caso
de insucesso, é integralmente perdido pelo jogador. Dessa forma, em sentido técnico, o
maysir refere-se a fácil aquisição de riqueza por um acaso, isto é, sem fundamentação
econômica. À diferença do que ocorre com o gharar, que trata dos riscos ordinários, que
são próprios ou comuns na vida cotidiana, exemplo dos riscos naturais (por exemplo,
61
morte, desastres naturais e calamidades) e dos riscos empresariais, o maysir está
associado a riscos que a teoria islâmica considera extraordinários ou artificiais (AYUB,
2007). Compreende, assim, aqueles criados pelo próprio homem, nos quais ele incorre
por vontade própria, sem que haja uma circunstância da vida que o justifique ou demande
(IQBAL; MOLYNEUX, 2005). Nos mercados financeiros, a referência ao maysir é
usualmente feita para indicar qualquer atividade ou investimento de natureza puramente
especulativa (AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003).
A maysir, que é considerada um pecado grave, é fortemente condenada no Corão, em Al
Bácara (219), Al Máida (5) e na Hadith 645 de Sahih Bukhari. A razão por trás dessa
proibição é que o jogo suscita inquietação e discórdia entre os seres humanos, distraindo-
os e afastando-os de Allah (ISRA, 2012). Além disso, está associada à expectativa de
ganho fácil, sem trabalho, mas que também pode levar à exploração de uns pelos outros
(VOGEL; HAYES, 1998).
Embora a referência textual tenha sido originariamente empregada para jogatina, jogos
de azar e apostas propriamente ditas, é unânime a convicção de que ele também se aplica
no âmbito do mercado financeiro, que abrange variadas formas contratuais que podem
perfeitamente ser enquadradas no conceito de risco artificial ou desnecessário, antes
referido. Desse modo, o principal reflexo é a coibição de toda e qualquer forma de
operação que envolva exclusivamente um propósito especulativo. Entende-se, de modo
geral, que esse tipo de operação não agrega valor à economia real (IQBAL;
MOLYNEUX, 2005).
Em termos práticos, o princípio da vedação ao maysir justifica importantes restrições a
certas operações, como o uso de instrumentos derivativos. O argumento central é que esse
tipo de instrumento financeiro consubstancia uma forma extremada de especulação, cujos
resultados são, com frequência, absolutamente imprevisíveis, quase aleatórios. Dessa
forma, a decisão de contratação desses instrumentos acaba sendo mais baseada em
palpites e suposições sobre o movimento do mercado do que propriamente em
informações ou dados conhecidos e concretos. Por isso, são considerados pela grande
maioria dos autores islâmicos como assemelhados ao jogo, e, nessa medida, são tidos
como alcançados pelo princípio da vedação ao maysir. O enriquecimento injustificado
através de jogos de azar para amplificar a riqueza sem fazer esforço também é definido
62
como uma espécie de maysir (ALGAOUD; LEWIS, 2007). A Maysir está envolvida em
contratos onde a propriedade de um bem depende da ocorrência de um evento
predeterminado, mas incerto no futuro (GASSNER; WACKERBECK, 2007). Isso
significa que, se o contrato comercial for assinado, será um ganho para uma das partes e
uma perda para a outra parte, mas não tem certeza previamente quem será o vencedor ou
o perdedor.
Dessa forma, a proibição de Gharar e Maysir tem especial relevância para os mercados
financeiros islâmicos, nomeadamente o mercado de derivativos e o negócio de seguros.
Portanto, o comércio de todos os instrumentos derivativos ofertados pelos bancos
convencionais são inaceitáveis nas finanças islâmicas.
2.6.4 Proibição do financiamento em certos setores econômicos
O Islã proíbe investimentos em atividades prejudiciais, tanto espectro ético quanto social.
Estes incluem, por exemplo, jogos de azar, pornografia, álcool e etc. também não é
permitido adquirir as ações das empresas que prestam serviços financeiros com juros,
como bancos convencionais e empresas de seguros, cujos negócios não são aceitáveis
pelo islamismo. O Islã incentiva os muçulmanos a evitar investimentos em empresas para
as quais a Dívida Total dividida pela Capitalização de Mercado Média de 12 meses seja
igual ou superior a 33% (SALEH, 1986; VOGEL; HAYES, 1998; ZAHER; HASSAN,
2001; MARTINS, 2004; AYUB; 2007; JANTALIA, 2016). Os muçulmanos também
devem excluir as seguintes empresas de suas carteiras de investimentos:
I) Empresas pelas quais a soma dos títulos de caixa e de juros divididos pela Capitalização
de mercado média de 12 meses seja igual a 33%.
II) Empresas pelas quais as Contas a Receber divididas pelo Ativo Total sejam maiores
ou iguais a 45%, onde as Contas a Receber = Recebíveis Correntes + Recebimentos de
Longo Prazo.
III) Empresas para as quais a receita de lucros não operacional dividida por receita seja
igual ou superior a 5% (DJI, 2005). No entanto, se uma empresa tiver uma receita de juros
não operacional, mas o lucro líquido é negativo, então é excluído. Uma empresa com
renda líquida negativa enquanto ainda não existe uma receita de juros não operacional
(VOGEL; HAYES, 1998; AYUB, 2007; OBAIDULAAH, 2009; ISRA, 2012).
63
2.6.5 Compartilhamento das perdas e lucros ou Profit and Loss Sharing (PLS)
Existe uma diferença substancial entre os lucros resultantes das atividades empresariais e
os lucros gerados pela concessão de empréstimos. O último é definido como recebimento
de uma vantagem monetária sem dar um valor em contrapartida e, portanto, proibido por
razões éticas. O islamismo não se opõe ao lucro ou ganho financeiro, desde que um
esforço seja realizado e que o lastro dos investimentos seja um empreendimento
produtivo. O lucro, dessa forma, é dividido seguindo as regras da Sharia. (SCHACHT,
1964; SIDDIQUI, 2004; AYUB, 2007; IQBAL, 2012). A modelagem islâmica,
comumente conhecida como Compartilhamento de Perdas e Lucros (PLS), sugere uma
partilha equitativa dos riscos e lucros entre as partes envolvidas em numa transação
financeira. O arranjo básico dessa operação, na modalidade Musharakah, é ilustrado na
Figura 4 a seguir:
Figura 4 – Esquema de Compartilhamento de Lucros e Perdas (PLS)
Fonte: Autor (2018).
À luz do PLS, o credor e o mutuário assumem o risco do investimento com base em uma
fórmula previamente acordada. O PLS adquire várias formas dependendo do tipo de
contrato como o Mudaraba (espécie de joint venture) e Musharaka (parceria e
Capital
Empreendedor Financiador
Lucros
X% Y%
Trabalho
Perdas
Investimento
64
colaboração), ambas serão exploradas mais adiante. Em ambas as formas, o financiador
disponibiliza os fundos, não como credor, mas sim como investidor (BENJELLOUN,
2010). Dessa forma, há o compartilhamento do lucro ou prejuízo de cada transação. As
perdas devem ser compartilhadas pelos envolvidos em proporção à sua participação no
financiamento total, enquanto os lucros podem ser compartilhados em qualquer
proporção mutuamente acordada ou pré-fixada. No entanto, o passivo financeiro
permanece limitado à extensão do financiamento por ele concedido, sem possibilidade de
extensão de seu valor. (LUCA; VASUDEVAN, 2002; SIDDIQUI, 2006; IQBAL, 2012).
2.6.6 Dinheiro como capital potencial: características do dinheiro à luz do Islã
Com base nos princípios econômicos islâmicos, o dinheiro é considerado capital
potencial. Ou seja, torna-se capital real somente quando é investido em uma atividade
produtiva (AYUB, 2007; COSTA, 2013; JANTALIA, 2016). O Islamismo reconhece o
valor do tempo do dinheiro, mas apenas quando atua como capital, e não quando é capital
potencial (IQBAL, 1997; AYUB, 2007; IQBAL, 2012). Levando-se em consideração que
as finanças modernas se baseiam no conceito de valor do dinheiro no tempo, as finanças
islâmicas não rejeitam a avaliação monetária do tempo. A Sharia não proíbe um aumento
do valor do empréstimo de uma mercadoria em qualquer contrato de venda com
vencimento em uma data futura. Proíbe, no entanto, fazer o valor do dinheiro no tempo
um elemento de uma relação de empréstimo onde é reivindicado como um valor
predeterminado (KHAN, 1991). Nesta situação, a Sharia exige que um empréstimo seja
devolvido na mesma moeda pela qual foi dada (AHMAD; HASSAN, 2006).
À luz da teoria capitalista, não há diferença entre dinheiro e commodity, na medida em
que as transações comerciais estão acabam sendo a causa e não a consequência. Ambas
são tratadas a parte e podem ser vendidos a qualquer preço que os partícipes concordem,
isto é, vender US$ 15 por US$ 20 é o mesmo que vender uma saca de café custando US$
15 por US$ 20. O dinheiro e a mercadoria, no entanto, têm diferentes características sob
a lei islâmica, em comparação com a teoria capitalista. O islamismo, por exemplo, não
reconhece o dinheiro como uma mercadoria, de modo que deve haver um preço por sua
utilização. O dinheiro é usado para comprar ou vender outros bens que não compram ou
vendem dinheiro por si só. A ação posterior poderia fazer com que o dinheiro não
desempenhasse sua função original de medida de valor, estoque de valor e meio de troca
em economia orientada a ativos, principalmente porque essa transação se tornará o
65
objetivo principal da pessoa em sociedade (GHAZANFAR; ISLAHI, 1990; AYUB,
2007).
Em outras palavras, o dinheiro é reconhecido no Islã como um meio de troca e não pode
ser considerado como uma mercadoria de troca. O dinheiro não tem valor intrínseco em
si mesmo, mas é apenas uma medida de valor ou um meio de troca, portanto, não deve
ser usado para gerar mais dinheiro (AHMAD; HASSAN, 2006; AYUB, 2007). O
dinheiro, por si só, não é capaz de satisfazer as necessidades humanas, a menos que seja
convertido em uma mercadoria. Uma mercadoria pode, por outro lado, satisfazer as
necessidades humanas diretamente e pode ser de qualidade diferente enquanto o dinheiro
não tem qualidade diferencial no sentido que uma nova nota é exatamente igual em valor
e qualidade a uma nota antiga, isto é, não possui valor agregado. Além disso, as
commodities são transacionadas (ou vendidas) identificando a mercadoria em questão ou
pelo menos fornecendo determinadas especificações. O dinheiro não pode ser
identificado em uma transação de troca, se fosse, não seria útil, uma vez que as diferentes
denominações de dinheiro somando em igual montante são exatamente as mesmas.
2.6.7 As funções e o valor da moeda à luz do Islamismo
Existem inúmeras diferenças, como já mencionadas até aqui, entre o sistema financeiro
convencional e o sistema financeiro islâmico, sendo uma das mais marcantes a maneira
como os islâmicos se relacionam com a moeda. No sistema convencional, o dinheiro é
mais uma mercadoria, podendo ser comprado, vendido e especulado livremente. Em
outras palavras, o dinheiro possui um valor no tempo e quem usa o dinheiro de outras
pessoas, deve, obrigatoriamente, pagar por esse tempo, por meio do pagamento de juros.
A moeda é objeto de reflexões por parte dos estudiosos da religião islâmica, que possuem
uma posição firme e bem definida sobre o tema. Para os estudiosos e crentes da religião,
a moeda possui, apenas, uma função instrumental e, portanto, não pode ser tratada como
uma commodity (CHAPRA, 1992; MARTINS, 2004). A singularidade e os reflexos ou
repercussões dessa visão em termos da concepção de contribuições teóricas no campo das
finanças consonantes com os preceitos da Sharia se afirmam mais claramente quanto se
contrastam as funções ou propriedades defendidas pelo pensamento ocidental e no
pensamento muçulmano.
66
Segundo a Teoria Islâmica, o dinheiro, em si, não pode ser considerado uma commodity,
objeto de transação ou fonte de renda ou de lucro, porque ele não possui uma utilidade
intrínseca direta (USMANI, 2002; MARTINS, 2004; JANTALIA, 2016). Em outros
termos, a moeda não pode ser usada para satisfazer diretamente as demandas humanas,
nos termos propostos pela teoria filosófica da Maqasid al-Sharia. A satisfação que ela
proporciona deriva exclusivamente de sua propriedade artificial, convencionada entre os
seres humanos, de servir de intermediário das trocas e, com isso, viabilizar a aquisição de
bens ou serviços. Disso decorre que, para os pensadores muçulmanos, a utilidade ou
proveito da moeda somente se fundamenta quando ela é trocada por um ativo real ou
usado para a contratação de um serviço, razão pela qual ele não pode ser vendido ou
comprado (USAMANI, 2002; AHMAD; HASSAN, 2006).
A visão islâmica acerca da moeda pode ser sintetizada nos seguintes pontos (ABU SAUD,
1980; AHMAD; HASSAN, 2006; AYUB, 2007; JANTALIA, 2016):
(i) a moeda tem a propriedade de gerar ao seu titular uma renda real simplesmente por
sua detenção, ou seja, sem ser trocada por outros bens, mas essa propriedade é
absolutamente artificial;
(ii) a moeda é dotada de máxima liquidez, que suplanta a de qualquer outro bem, e, em
princípio, não possui custos de produção e carregamento, o que também evidencia seu
caráter artificial;
(iii) a demanda de moeda é irreal, sendo, mais propriamente, derivada de demandas por
bens que ela pode comprar ou pelos quais pode ser trocada;
(iv) a moeda não está sujeita à depreciação ou deterioração, tal como ocorre com todos
os demais bens, contrariando a visão islâmica sobre a efêmera existência de tudo o que
há no mundo. Se isso, por um lado, não chega a levá-la a ser algo contrário aos preceitos
divinos, por outro impõe que ela não seja objeto de adoração; e
(v) a moeda é, na verdade, produto de uma convenção social, possuindo poder de compra
que resulta de sua supremacia sobre o valor intrínseco dos demais bens.
A conjugação dessas convicções com aquelas pertinentes ao funcionamento do sistema
econômico em geral – e aos fatores de produção em especial – tem implicações cruciais
e bastante peculiares na determinação das formas e do funcionamento das práticas
financeiras. Com efeito, se o trabalho ou esforço humano é o elemento central do sistema
67
econômico professado pelo Islã, afirmando-se como a fonte de riqueza por excelência, e
se a moeda não deve cumprir outras funções além das de unidade de conta e intermediário
de trocas, não possuindo valor intrínseco, então qualquer ganho financeiro que não esteja
associado a uma atividade produtiva, com a assunção dos riscos a ela pertinentes, deve
ser considerado ilegítimo.
Para os muçulmanos, o esforço humano, a iniciativa, o trabalho e o risco associados aos
empreendimentos produtivos são mais importantes do que o dinheiro usado para os
financiar (AHMAD; HASSAN, 2006; COSTA, 2016; JANTALIA, 2016). Aqueles é que
estão associados à geração de riqueza e não este último, que nada mais é do que um meio
de as viabilizar. Nesse quadro, não se admite como legítimo o ganho puramente
financeiro, isto é, aquele decorrente da rentabilidade de depósitos bancários ou do
acréscimo cobrado como contrapartida à realização de um mútuo com outras pessoas.
Em geral, entende-se que, enquanto convenção humana, a moeda não foi feita para ser
acumulada, mas sim para instrumentalizar um poder de compra. E este, segundo os
autores islâmicos, não pode ser usado para gerar mais poder de compra sem que, antes,
cumpra sua finalidade precípua de servir à troca por bens e serviços que possam satisfazer
diretamente às demandas humanas (VOGEL; HAYES, 1998; AHMAD; HASSAN, 2006;
AYUB, 2007).
Na prática, isso promove uma importante dissociação entre os conceitos de capital e
dinheiro. Segundo a teoria islâmica, o dinheiro só é considerado como capital se estiver
associado a outros recursos e se for empregado a uma atividade produtiva (AHMAD;
HASSAN, 2006). Desse modo, enquanto estiver guardado, seja fisicamente com o
próprio detentor, seja por meio de títulos em um banco, por exemplo, não se apresenta
senão como capital em sua forma potencial e, nessa condição, é insuscetível de gerar
qualquer ganho ou renda legítima, em função da ausência do esforço e trabalho.
A partir da articulação das concepções, visões e formulações anteriormente expostas, a
teoria islâmica, além de propor princípios gerais atinentes ao funcionamento da economia
e dos mercados financeiros, promove uma exegese sistemática de diversas passagens do
Corão e da Suna para delas derivar princípios mais específicos, que devem orientar as
práticas negociais em geral e as financeiras em especial. São esses princípios que dão
sentido e forma às chamadas finanças islâmicas, e que, nessa medida, não podem ser de
68
forma alguma negligenciados por qualquer muçulmano ou instituição operadora que
busque atuar em conformidade com os preceitos da religião.
Pacificamente, reconhece-se a existência de três princípios básicos, os quais, por sua
relevância, serão minudenciados em subseções específicas. São eles: a proibição da
vantagem excessiva (Riba); a proibição da incerteza (Gharar); e a proibição da
especulação (Maysir) (MARTINS, 2004; AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).
2.6.8 Contratos de financiamento Islâmicos
Existem muitos contratos e formas institucionais utilizados no setor financeiro islâmico.
As ferramentas de financiamento, que são amplamente utilizadas pelos bancos islâmicos
baseiam-se principalmente em dois princípios gerais: o princípio PLS e o princípio do
mark-up (MUP). O primeiro princípio afirma que o banco (financiador) pode lucrar com
um determinado empréstimo sob a condição de o banco estar disposto a compartilhar os
riscos e recompensas do investimento. Os contratos que se baseiam neste princípio (por
exemplo, financiamento Mudaraba e Musharaka) podem ser vistos como investimentos
de capital. De acordo com o princípio do MUP, o banco pode comprar um bem / serviço
ou alugar um bem em troca de uma margem. Nessa esteira, temos os contratos de
Murabaha, Salam, Istisnaa e Leasing (Ijarah e Iqtina).
2.7 Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs)
O desenvolvimento da teoria financeira e das operações dos bancos islâmicos passou a
contar com outro importante impulso a partir da criação, em 1977, da International
Association of Islamic Banks (IAIB), que passou a sediar e a patrocinar eventos e
pesquisas na área. Uma das primeiras e mais importantes medidas da entidade foi a
publicação de um manual de finanças islâmicas, elaborado por estudiosos da religião para
servir de guia científico e prático para banqueiros islâmicos (WARDE, 2010) e, assim,
servir de referência para a estruturação e a gestão das operações dos novos bancos. A
partir de então, houve uma proliferação de institutos e centros de pesquisa especializados
nos temas financeiros, potencializando ainda mais a produção de conhecimento na área.
A conjugação do desenvolvimento das técnicas, instrumentos e operações financeiras
especializadas, com o forte interesse político e econômico dos próprios governos
nacionalistas dos países muçulmanos criou um cenário bastante propício à expansão das
69
finanças islâmicas, que se deu entre o final da década de 1970 e a década de 1980. Além
contribuir para o surgimento de algumas instituições de maior porte, deu ensejo à
islamização de alguns sistemas financeiros nacionais, o que ocorreu primeiramente do
Paquistão (1979), e, posteriormente, no Irã e no Sudão (ambos em 1983). Em linhas
gerais, essa islamização se deu mediante a edição ou reforma de leis bancárias nacionais,
que passaram a estabelecer a obrigatoriedade de que todas as operações dos bancos
fossem conformes aos preceitos da Sharia – o que implicava principalmente a
observância dos princípios da vedação à riba, ao gharar e ao maysir.
Paralelamente, verificou-se o surgimento de outras operações, para além daquela
tipicamente bancárias. Surgiram então os primeiros fundos de investimento, geridos por
agentes especializados, como formas alternativas de aplicação de recursos alinhadas aos
preceitos da lei islâmica. Diante da necessidade de se conferir alguma proteção às
operações, sobretudo aquelas relacionadas a financiamentos imobiliários, de prazo mais
alongado, surgiram também modelos bastante específicos de operações de seguro,
chamados de Takaful (AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).
Contudo, uma das etapas mais importantes nesse processo de ampliação das fronteiras
das finanças islâmicas foi, sem dúvida, sua difusão na Malásia. Em 1983, o governo
malaio editou o Islamic Banking Act, que, de forma inovadora, viabilizou um modelo
institucional dual, no qual a banca islâmica conviveria com a banca tradicional, embora
cada qual tivesse suas regras próprias. No mesmo ano, houve ainda a edição de outra lei,
o Government Investment Act, que permitiu ao governo malaio a emissão de títulos
consonantes com os preceitos da Sharia (KAMIL, 2014), e a criação do Bank Islam
Malaysia Berhad (1983). Por conta do forte apoio do governo, da força de sua economia
e de uma intensa produção teórico-acadêmica, a Malásia se afirmaria, doravante, como
um dos polos mais proeminentes e avançados de desenvolvimento das finanças islâmicas.
No início da década de 1990, as finanças islâmicas enfrentaram percalços importantes. O
modelo de negócios baseado exclusivamente no sistema de Profit and Loss Sharing
revelou-se, ao menos à época, um tanto problemático, e chegou a ter sua viabilidade
seriamente questionada. Por outro lado, a política de investimentos em ativos reais (como
ouro, imóveis e commodities), em detrimento de instrumentos de dívida, conquanto
estivesse em plena sintonia com os preceitos da religião, também não propiciava grande
retorno (CHAPRA, 2000; AYUB, 2007; WARDE, 2010).
70
Nessa nova fase, um importante papel foi desempenhado pela Organização de
Contabilidade e de Auditoria para Instituições Financeiras Islâmicas (Accounting and
Auditing Organization for Islamic Financial Institutions – AAOIFI). Criada em 1991, seu
objetivo principal era justamente desenvolver regras de contabilidade, de auditoria, de
governança e até de natureza ética para a condução das atividades relacionadas às
Instituições Financeiras Islâmicas, com vistas a assegurar sua conformidade aos preceitos
da Sharia (AAOIFI, 2016).
Paralelamente, diversos governos nacionais passaram a criar leis e regulamentos
específicos para a banca islâmica, com o objetivo de garantir não apenas a sua
conformidade religiosa, mas também a satisfação de demandas e a acomodação de
particularidades internas de cada País. Um importante paradigma normativo foi o já citado
o Islamic Banking Act, da Malásia. O modelo dualista malaio, tido como bastante
pragmático, tornou-se uma referência internacional, sendo adotado por diversos países,
especialmente a partir da década de 1990. O compartilhamento de sua lógica para outros
ordenamentos nacionais acabou criando condições para que as finanças islâmicas
pudessem avançar para vários outros territórios, ainda que não possuíssem tradição ou
população majoritariamente muçulmana. Paralelamente a esse fator, contribuiu para que
bancos tradicionais pudessem iniciar suas operações com finanças islâmicas dentro de
uma base normativa e operacional mais consistente e segura do ponto de vista ocidental.
A década de 1990 foi um período de intensa convivência e de relevantes interações entre
os agentes das bancas tradicional e islâmica. Para Ayub (2007) e Warde (2010), foi uma
década de grande convergência entre esses diferentes modelos institucionalizados de
intermediação financeira. Ainda segundo os autores, essa convergência se expressou
basicamente por meio de cinco fenômenos, a saber:
(i) um crescente número de instituições financeiras convencionais já sediadas em países
de tradição muçulmana constituiu agências, unidades ou departamentos especializados na
oferta de produtos financeiros islâmicos, passando a oferecendo aos seus clientes locais
a possibilidade de escolher entre os produtos tradicionais e os islâmicos;
(ii) instituições financeiras sediadas fora desses países também passaram a criar estruturas
especializadas em finanças islâmicas, com o objetivo de passar a prestar serviços para
pessoas e governos de países muçulmanos, e, com isso, expandir seu universo de atuação;
71
(iii) instituições financeiras islâmicas passaram a oferecer seus produtos financeiros
também para clientes não-muçulmanos, como alternativas aos produtos tradicionais;
(iv) instituições financeiras islâmicas passaram a constituir subsidiárias em países que
tradicionalmente não integravam o Islã, sobretudo na Europa, para atender a comunidades
ou minorias muçulmanas dispersas pelo mundo; e
(v) o processo de interpretação da Sharia no tocante às operações financeiras, além de
contar com a necessária análise por estudiosos da religião, passou a receber também
contribuições de estudiosos e pesquisadores de fora do mundo islâmico.
A expansão das finanças islâmicas e a convivência que se estabeleceu entre esta e as
finanças convencionais não se deram apenas pelas qualidades dos bancos islâmicos,
sejam elas morais ou de eficiência, mas sim pelo resultado de uma combinação de fatores
geopolíticos ocorridos na época, que contribuíram decisivamente para que isso ocorresse.
O fim da União Soviética reduziu significativamente a influência dos valores do
socialismo e do dirigismo econômico na região, aproximando ainda mais vários países
árabes dos Estados Unidos e seus aliados, especialmente europeus (WARDE, 2010). Esse
cenário foi ainda potencializado pela Guerra do Golfo (1991), na qual muitos países
árabes integraram formalmente a coalizão norte-americana contra o Iraque. Tudo isso
propiciou uma aproximação econômica maior com os EUA e os países europeus, em
especial, levando à ampliação dos fluxos financeiros, o que criou condições para a
expansão das finanças islâmicas.
Essa aproximação também despertou o interesse nos mercados de capitais islâmicos. Em
1998, a Financial Times Stock Exchange (FTSE) lançou uma primeira série de ações
islâmicas, denominada FTSE Global Islamic Indexes Series (GISS)12, um sub-índice de
ações de companhias de cerca de trinta países. Posteriormente, em 1999, a Bolsa de Nova
York criou o Dow Jones Islamic Market Index (DJIMI), para acompanhar o desempenho
de empresas cujos negócios são conformes aos preceitos da Sharia (ASKARI et al, 2010).
12 As principais séries de índices do mundo financeiro islâmico são: Dow Jones Islamic Market Index, da
Bolsa de Nova York (criada em 1999); FTSE Global Islamic Index, do grupo editorial Financial Times
(criada em 2006); S&P Shariah Index, da agência de risco Standard and Poors (também criada em 2006);
MSCI Global Islamic Index (criada em 2007); e Russel-Ideal Ratings Islamic Index (criada em 2013).
72
Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 causaram importantes e inesperados
efeitos na trajetória da banca islâmica (MARTINS, 2004). No curto prazo, a resistência
ao Islã, causada pela sombra da ameaça de novas ações fundamentalistas, causou certa
resistência nos mercados financeiros internacionais e trouxe abalos aos fluxos de
operações com bancos islâmicos. Paradoxalmente, o que se viu nos anos seguintes foi um
novo período de expansão e desenvolvimento técnico e operacional das finanças
islâmicas (MARTINS, 2004; WARDE, 2010; JANTALIA, 2016), a ponto de a década de
2000 ser comumente referenciada no mercado como o período mais importante de
expansão desse tipo de operações. Foi, verdadeiramente, o período de expansão e
consagração definitiva das finanças islâmicas nos mercados internacionais, com forte
crescimento verificado nos últimos anos (AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).
Inúmeras razões importantes contribuíram para esse crescimento. A primeira delas foi a
forte reação, por parte da própria comunidade muçulmana, à repercussão dos ataques
terroristas. Para muitos autores, o preconceito do Ocidente em relação à religião, causado
pelos atentados, trouxe um importante incremento da religiosidade e um reforço do
orgulho muçulmano. Dentre outros efeitos, isso gerou um importante incremento na
demanda por produtos financeiros tipicamente islâmicos (HENRY; WILSON, 2004;
AYUB, 2007), o que contribuiu para uma expansão do volume de negócios.
Outra importante causa foi a reação dos próprios agentes do mercado. Em busca de
respostas às críticas destinadas ao seu modelo de negócios, bem como da continuidade
do desenvolvimento da indústria bancária islâmica, eles empreenderam ações em diversas
frentes no sentido da padronização, do aprimoramento e da sofisticação das operações,
bem como da criação de uma melhor infraestrutura para esse segmento específico de
mercado. Ainda em 2001, deu-se a criação da International Islamic Financial Market
(IIFM), uma organização privada destinada a estabelecer padrões e boas práticas nos
mercados interbancário e de capitais (IIFM, 2016). Seu principal propósito, na realidade,
era lançar as bases para a criação de um mercado secundário de instrumentos financeiros
islâmicos.
Em 2002, foi criada a Islamic Financial Services Board (IFSB), com o objetivo principal
de editar normas prudenciais e princípios norteados para a indústria financeira islâmica,
aí abrangido não apenas o mercado bancário, mas também os de capitais e de seguros. A
ela se seguiram outras instituições, como a Islamic International Rating Agency (IIRA),
73
também em 2002, e a International Islamic Liquidity Management Corporation (IILM),
em 2010, que contribuíram decisivamente para o amadurecimento da indústria, em termos
de gestão e avaliação de riscos, bem como de eficiência da banca islâmica.
A eclosão da crise financeira internacional, iniciada em 2007, criou um cenário ainda
mais propício para a expansão das finanças islâmicas. A convicção de que a crise fora
causada por falhas da regulação e na supervisão das instituições financeiras
internacionais, traduzindo-se em excessivas e descontroladas operações de securitização
de dívidas, evidenciou o contraste entre o modus operandi da banca tradicional e da banca
islâmica. Investidores mais atentos e pesquisadores foram praticamente unânimes em
afirmar que operações como as que estiveram na raiz da crise jamais seriam cursadas no
sistema bancário islâmico, por sua contrariedade aos mais básicos preceitos da teoria
financeira muçulmana (WARDE, 2010; KAYED; HASSAN, 2011).
Alguns trabalhos científicos pós-crise financeira, como o de Rehman (2009) e o de Hasan
e Jemma (2010), apontam outro atrativo: a maior segurança dos ativos financeiros
islâmicos. Isto porque como, por força das prescrições da Sharia, os recursos não podem
ser destinados para fins especulativos, a governança das instituições que adotam os
preceitos islâmicos está sujeita a uma disciplina mais rigorosa, razão pela qual, em tese,
a exposição a risco dessas instituições acaba ficando bastante limitada.
Todos esses fatores contribuíram que a indústria financeira islâmica experimentasse um
vigoroso crescimento na última década, tanto em termos de volume de ativos quanto em
termos de sua expansão territorial e relevância sistêmica nos países nos quais as finanças
islâmicas passaram a figurar. No período de 2003 a 2014, o volume de ativos dessa
indústria financeira saltou de US$ 200 bilhões para cerca de US$ 1,87 trilhão (EY, 2015;
IFSB, 2015; KAMMER et al, 2015), experimentando um consistente e sustentado
crescimento anual, sobretudo a partir de 2008, no pós- crise financeira, a ponto de
triplicarem de tamanho nos últimos seis anos.
Embora a representatividade de outras regiões como a Europa e a África Subsaariana
ainda seja muito baixa, estudos recentes indicam boas perspectivas de expansão das
finanças islâmicas. Isso porque diversos países vêm encetando medidas para viabilizar o
início ou a expansão desse tipo de operações em suas respectivas jurisdições, sobretudo
na seara dos mercados bancário e de capitais. Além de iniciativas recentes em praças
74
menos expressivas, como Marrocos, Uganda, Senegal e África do Sul, iniciativas
consistentes de adaptação da legislação nacional têm sido feitas em países de maior
relevância no mercado internacional, como Reino Unido, Luxemburgo, Hong Kong,
França, Itália e Japão (IFSB, 2017).
Além da expansão em si, importa destacar que, paulatinamente, as finanças islâmicas vêm
adquirindo relevância sistêmica em um número crescente de países. Além do Irã e do
Sudão, que operam sistemas bancários totalmente conformes à Sharia, as finanças
islâmicas são consideradas sistemicamente relevantes em outros seis países: Arábia
Saudita; Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos e Omã. (IFSB, 2018). Nesses países,
que concentram 80% dos ativos financeiros islâmicos no Mundo, o volume de operações
tem crescido acima daquele verificado nos respectivos pares convencionais. A Figura 5 a
seguir fornece uma visão panorâmica dos níveis de relevância sistêmica dos diferentes
países, inclusive não islâmicos, nos quais apresenta participação:
Figura 5 – Mercados financeiros islâmicos por relevância sistêmica
Fonte: IFSB (2017).
Apesar de representarem apenas 2% do volume total de operações do sistema financeiro
mundial (KAMMER et al, 2015; JANTALIA, 2016; IFSB, 2017, EY, 2018), as finanças
islâmicas apresentam boas perspectivas de crescimento e difusão, à vista de alguns fatores
específicos (IFSB, 2017). O primeiro deles diz respeito à incipiente bancarização: dentro
dos próprios países de tradição muçulmana, estima-se que 75% da população ainda não
seja bancarizada – o que, por certo, confere uma boa margem para ampliação do volume
de operações conformes à Sharia (JANTALIA, 2016; IFSB, 2017). Além disso, muitas
75
consultorias especializadas consideram que o nível de informatização dos canais de
acesso às instituições financeiras ainda é relativamente baixo, se comparado aos padrões
dos mercados financeiros convencionais, o que abre uma considerável margem para a
oferta de serviços financeiros às populações locais (EY, 2016). Todos esses dados
demonstram que, de fato, as finanças islâmicas avançam de maneira importante, rumo a
uma representatividade e a uma expressividade cada vez maiores no sistema financeiro
internacional. No esteio do que já se expôs na seção anterior, a institucionalização das
operações financeiras islâmicas teve como o mercado bancário como porta de entrada.
Durante muito tempo, o conceito de finanças islâmicas praticamente se circunscrevia às
operações realizadas por bancos, dada a inexistência ou mesmo à escassez de outras
formas ou modos de relações contratuais financeiras halal.
Esse quadro, no entanto, começou a mudar substancialmente em meados da década de
1980, quando o desenvolvimento da teoria jurídico-financeira islâmica e a própria
demanda dos agentes do mercado induziram à ampliação e à diversificação das operações.
Como resultado, teve início o desenvolvimento de uma verdadeira indústria de serviços
financeiros Sharia Compliant, que não mais se limitava aos contratos e às instituições
tipicamente bancários. Aos poucos, ela passou a contar também com contratos e
operações realizadas nos mercados de capitais e de seguros.
A estrutura do sistema financeiro islâmico é muito similar àquela que se conhece no
sistema financeiro convencional e pode ser classificada em quatro grandes segmentos:
i) mercado bancário,
ii) mercado monetário ou interbancário;
iii) mercado de capitais; e
iv) mercado de seguros.
De acordo com relatório anual divulgado pela Thomson Reuters em 2017, as operações
em ativos financeiros islâmicos têm crescido de forma sustentável em diversas partes do
globo, especialmente nos países do CCG. O crescimento e a composição desses ativos
estão representados na Figura 6 a seguir:
76
Figura 6 – Crescimento e Composição dos ativos financeiros islâmicos (2012-2022, US$ bilhões)
Fonte: Adaptado de Thomson Reuters (2017).
Mercado financeiro (bancário e monetário): Islamic Banking
Mercado de Seguros: Takaful
Outras Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs)
Mercado de Capitais: Sukuks ou bonds islâmicos
Mercado de Capitais (Fundo de Investimentos)
77
2.7.1 Instituições Financeiras Islâmicas no CCG
Ainda no período pré-islâmico já eram muito comuns, entre os habitantes do Oriente
Médio, especialmente entre aqueles da Península Arábica, práticas comerciais baseadas
em parcerias e arrendamentos, nas quais uma das partes contribuía com recursos
financeiros ou equipamentos e a outra contribuía com o trabalho (CHAPRA, 1979; ISRA,
2012). Na medida em que importavam a injeção de capital em determinado
empreendimento ou negócio, essas práticas, baseadas nos usos e costumes comerciais que
se consolidaram ao longo dos séculos na civilização árabe antes mesmo do surgimento
do Islã, acabavam cumprindo a função de formas de financiamento de atividades
produtivas.
O advento do Islã impôs importantes modificações nesse cenário. Muitas práticas
comerciais até então adotadas na península arábica foram consideradas contrárias à
doutrina religiosa que surgira, e outras tantas tiveram que ser adaptadas ou
significativamente alteradas para garantir sua conformidade aos preceitos da fé islâmica.
Houve, assim, um relevante impacto causado pelo surgimento da religião, e dos preceitos
do Corão e da Suna, sobre os usos e costumes comerciais da região.
A origem mais aceita do processo de desenvolvimento das chamadas finanças islâmicas
remonta às práticas do próprio Muhammad (S.A.W.S.), muitas delas anteriores ao próprio
período da Revelação e, portanto, ao surgimento do Corão. Diversos autores sustentam
que muitas das formas de financiamento hoje conhecidas e amplamente difundidas no
Islã se baseiam em exemplos de práticas e modelos de negócio empregados pelo Profeta
para gerir os negócios de Khadija, seja na condição de empregado, seja na sua condição
posterior de marido (ISRA, 2012). A prosperidade dos negócios de Muhammad, aliada
ao notório reconhecimento de sua honestidade e retidão como comerciante, contribuíram
para a disseminação daquelas formas de financiamento do comércio e das atividades
produtivas de modo geral. Às formas adotadas pelo Profeta se somaram outras, que foram
por Ele expressamente reconhecidas como lícitas ou estimuladas, conforme atestam
variados Hadith.
A expansão territorial do Império Islâmico nos séculos que se seguiram após a morte do
Profeta e a difusão da própria religião levaram a uma disseminação também dessas
práticas financeiras, que já não mais se limitariam à Península Arábica, alcançando
78
também amplas faixas de terra na África, na Ásia e, também, na Europa (ISRA, 2012). É
importante destacar, contudo, que essas práticas tinham como protagonistas os próprios
comerciantes ou, no máximo, investidores em busca de novas oportunidades de negócios.
Por muitos séculos, não houve qualquer registro, no Islã, de bancos ou instituições a eles
assemelhadas, que tivessem como objeto específico a intermediação financeira. Não há,
portanto, evidências que autorizem a se falar na existência de um “mercado financeiro
islâmico” naquela época.
Em termos funcionais, a visão islâmica acerca dos mercados financeiros não difere
daquela adotada no pensamento econômico ocidental. Com efeito, não se discute que a
função precípua de tais mercados é viabilizar a transferência ou a canalização de recursos
das unidades ou agentes superavitários – ou seja, aqueles que conseguem acumular
recursos que podem ser investidos – para as unidades ou agentes deficitários – isto é,
aqueles que necessitam de recursos para atender às suas necessidades.
Na medida em que tudo o que há no mundo foi criado por Deus, e que o homem é seu
mero representante na Terra ou o Khalifa13, os mercados financeiros, assim como todos
os demais segmentos de atividade econômica, devem seguir os preceitos dados pelo
Criador, consubstanciados na Sharia (ISRA, 2012). Assim sendo, o funcionamento do
mercado precisa convergir para a concretização do fallah (sucesso mensurado neste
mundo), não apenas em sua dimensão individual, mas também em sua dimensão coletiva,
sujeitando os agentes operadores e os instrumentos financeiros aos filtros morais
consagrados pela lei islâmica, a fim de evitar que a busca pelo bem-estar se opere a
qualquer preço (AYUB, 2007; CHAPRA, 2010; ISRA, 2012; JANTALIA, 2016).
É uma realidade que a indústria bancária islâmica avançou de nicho para massa crítica
nos últimos 30 anos, desde o estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento na
Arábia Saudita. Embora os princípios e noções de economia islâmica existam há séculos,
a institucionalização desses princípios na forma de instituições bancárias islâmicas é
relativamente nova, em comparação com o sistema bancário convencional.
Historicamente, o Mit Ghamr Saving Associations (MGISA) foi estabelecido como o
primeiro banco islâmico no Egito, em 1963, na forma de uma instituição bancária social
13 Al Khalifa ou simplesmente Khalifa é a palavra árabe usualmente traduzida como sucessor, representante,
líder ou vice-regente.
79
islâmica que visa fornecer crédito a pequenos artesãos e empreendedores (ANNE, 1985).
Devido a mudanças nas circunstâncias políticas, este experimento não durou muito
tempo, embora tenha aberto o caminho para o Nasser Social Bank em 1971. Outro
experimento foi lançado na Malásia em 1967, na forma de associações de poupança de
peregrinos (conhecido como Lembaga Tabung Haji Malaysia), que, desde então, visa
investir as economias de potenciais peregrinos muçulmanos para ajudá-los a financiar
suas peregrinações a Meca.
Nos últimos anos, Instituições Bancárias e Financeiras Islâmicas (IBFIs) conseguiram
penetrar em outros sistemas financeiros, aproveitando as oportunidades criadas pela
reestruturação econômica e liberalização do sistema financeiro na maioria dos países
muçulmanos. Além disso, devido ao ímpeto proporcionado pela globalização, as
instituições bancárias e financeiras islâmicas foram internacionalizadas e conseguiram
entrar nos sistemas financeiros internacionais fornecendo produtos financeiros
compatíveis com a Sharia. A principal institucionalização veio com a criação do Banco
Islâmico de Desenvolvimento em 1974, como resultado do mandato político fornecido
pela Organização da Conferência Islâmica, que visava atuar como o Banco Mundial
'orientado para o desenvolvimento' do mundo muçulmano (MOLYNEUX, 2007). Isto foi
seguido pelo estabelecimento do Banco Islâmico de Dubai em 1975, que continua sendo
o maior banco islâmico do mundo (além do sistema bancário inteiramente islamizado do
Irã) e da Casa de Finanças do Kuwait em 1977 (WILSON, 1987).
A institucionalização, a capacidade de financiamento e a base de ativos das IBFIs
mostraram um crescimento sem precedentes desde os anos 90. Segundo o The Banker
(2017), havia 176 IBFIs operando em todo o mundo desde 1997 (LATIFFA, 2001), que
aumentaram para 261 em 2006. Em 2009, o número de instituições IBFIs aumentou para
cerca de 500, operando em 75 países. Sudeste Asiático (especialmente na Malásia,
Indonésia, Tailândia e Brunei) tem o maior número de instituições IBFIs, seguido por
África, e a região do CCG. No entanto, em termos de base de ativos, a participação dos
IBFIs do CCG é de mais de 70% de todo o setor. Assim, o que começou como um pequeno
experimento bancário rural nas aldeias remotas do Egito atingiu agora um nível em que
muitos bancos multinacionais estão oferecendo produtos bancários islâmicos (IQBAL,
2010). Com uma taxa de crescimento de cerca de 15% a 20% ao ano, a base de ativos dos
IBFIs atingiu cerca de US$ 822 bilhões, globalmente. Estima-se que dentro de uma
década, a indústria financeira islâmica irá capturar metade das economias do mundo
80
muçulmano (KHAN, 2006). Nesta indústria impulsionada pelo mercado com
oportunidades, o CCG e a Malásia continuam sendo a principal região e país do mundo,
em termos de oferta de produtos financeiros islâmicos.
Devido ao rápido crescimento deste setor, vários órgãos de regulação e padronização
também foram formados para ajudar na consolidação da indústria financeira islâmica
estabelecida e para guiar as operações da indústria em todo o mundo. Estes organizamos
incluem a Organização de Auditoria e Contabilidade para Instituições Financeiras
Islâmicas (AAOIFI), com sede no Bahrein, estabelecida em 1991 para fornecer padrões
de contabilidade, auditoria e Sharia para relatórios financeiros em instituições financeiras
islâmicas. Em 2001, o International Islamic Financial Market (IIFM) no Bahrein foi
criado para desenvolver diretrizes para a emissão de instrumentos financeiros islâmicos
e para incentivar o comércio ativo no mercado secundário.
2.7.2 Desenvolvimento da indústria financeira moderna no CCG
O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) foi estabelecido em 26 de maio de 1981 em
Abu Dhabi, com o objetivo de fomentar e promover a cooperação entre os Estados
membros. As IFIs14 na região do têm sua própria estrutura de sistema de governança
Sharia. Dessa forma, as agências monetárias e as autoridades financeiras são responsáveis
pela regulamentação e supervisão das IFIs, inclusive em questões de governança de
Sharia.
O primeiro passo da modernização da indústria financeira no CCG foi a decisão de
criação do Banco Islâmico de Desenvolvimento (Islamic Development Bank – IDB), em
1974. Sediado em Jidá, na Arábia Saudita, o IDB foi concebido para ser uma instituição
financeira multilateral que teria como propósito fomentar o desenvolvimento econômico
e social dos seus países-membros e das comunidades muçulmanas, em consonância com
os preceitos da Sharia (IDB, 2013). Sua atuação, portanto, era, e ainda continua sendo,
típica de uma instituição multilateral de fomento.
14 Antes disso, no entanto, o estabelecimento das IFIs nos estados do Golfo foi feito por decreto de
governante. Por exemplo, o Banco Islâmico de Dubai, foi instituído pelo Decreto do Governante de Dubai
em 1975, a Casa de Finanças do Kuwait pelo Decreto Nº 72/1977 do Emir do Kuwait, o Banco Islâmico do
Bahrein pelo Decreto No. 2/1979 do Emir do Bahrein, o Masraf Qatar al-Islami pelo Decreto No. 45/1982
e o Qatar International Islamic Bank pelo Decreto No. 52/1990 do Emir do Qatar. Os EAU foram o primeiro
estado do Golfo que introduziu uma lei específica para governar o estabelecimento de IFIs em sua Lei No.
6 de 1985.
81
Embora a criação do IDB fosse importante como passo inicial para viabilizar o
intercâmbio de recursos entre os países islâmicos, era ainda também necessário
desenvolver uma atividade bancária mais comercial e especializada. Ao longo da década
de 1970, desencadeou-se então um movimento de reversão desse quadro, a partir de uma
conjugação de forças entre governo, banqueiros, empresários e estudiosos da Sharia, que
teve como resultado a criação de bancos comerciais na região, sendo o primeiro deles o
Dubai Islamic Bank (DIB), criado em 1975.
É uma realidade que a indústria bancária islâmica avançou de nicho para massa crítica
nos últimos 30 anos, desde o estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento da
Arábia Saudita. Embora os princípios e noções de economia islâmica existam há séculos,
a institucionalização desses princípios na forma de instituições bancárias islâmicas é
relativamente nova, em comparação com o sistema bancário convencional.
Em um primeiro momento, as operações eram bastante rudimentares, principalmente se
comparadas àquelas realizadas pelas instituições ocidentais da época. Não havia muitos
parâmetros ou especificações técnicas para a realização das operações, tampouco manuais
ou instruções que pudesse conferir uma escala suficientemente ampla para as operações.
Contudo, a aliança estabelecida entre os agentes econômicos e os estudiosos da religião
estimulou fortemente a pesquisa dos temas econômicos e financeiros relacionados dentro
da Sharia, bem como fomentou novos debates e a atualização de diversos pontos ou temas
do fiqh al-muamalat (HENRY; WILSON, 2004).
Aos poucos, foram sendo concebidos, com o beneplácito e até mesmo a efetiva
participação dos líderes religiosos, novas e aprimoradas formas de financiamento, bem
como práticas de governança voltadas para assegurar o fiel cumprimento dos preceitos da
Sharia por parte das unidades de negócio e da própria direção das instituições financeiras.
Uma evidência disso foi a criação de diversas certificações internacionais para
credenciamento de profissionais especializados na emissão de pareceres sobre as
operações financeiras que cumpram fielmente os preceitos da Sharia.
O CCG está bem posicionado no coração do mundo muçulmano para servir como um
centro de finanças islâmico que o conecta à Europa, Ásia e África; A disseminação de
subsidiárias de bancos islâmicos baseados no CCG mostra que esse fato se impulsionou
nos últimos anos por meio de fatos relevantes para o mercado islâmico.
82
O Quadro 3 a seguir apresenta os fatos mais importantes, no que tange a criação dos
bancos islâmicos na região do CCG:
Quadro 3 – Fatos relevantes da criação dos Bancos Islâmicos no CCG
Ano Países Fato (s)
1975 EAU e Arábia Saudita Criação do Dubai Islamic Bank (EAU) e do Islamic
Development Bank (Arábia Saudita)
1977 Kuwait Criação do Kuwait Finance House
1979 Bahrein Criação do Bahrein Islamic Bank
1982 Catar Criação do Qatar Islamic Bank
1988 Arábia Saudita Criação do AlRajhi Financial Company
2002 EAU Conversão do Banco Convencional National Bank of
Sharjah em banco islâmico (Sharjah Islamic Bank)
2005 Arábia Saudita Transformação do National Commercial Bank (banco
convencional) em banco islâmico
2006 Kuwait
Conversão do The Kuwait Real State Bank (banco
convencional) no banco islâmico The Kuwait
International Bank
2007 Arábia Saudita Transformação do Al Jazeera Bank em banco islâmico
2010 Kuwait Conversão do Bank of Kuwait and Middle East no banco
islâmico Ahli United Bank
2013 Omã Autorização da operação do Bank Nizwa, primeiro banco
islâmico autorizado a operar em Omã
Fonte: Autor (2017).
2.7.3 Tamanho da indústria financeira islâmica no CCG
De 2010 a 2017, a riqueza líquida no CCG cresceu a uma média de 17,5% ao ano,
dobrando de US$ 1,1 trilhão para US$ 2,2 trilhões (DIEMERS; KHALIL, 2017; EY,
2017). Isso se explica, em parte, pelos altos preços do petróleo durante esse período, pelos
gastos do governo local em infraestrutura, pelo crescente esforço de diversificação e pela
recuperação global geral. No total, os ativos em conformidade com a Sharia em todo o
mundo totalizavam US$ 2,252 bilhões no final de 2015, sendo que somente os países do
83
CCG responderam por cerca de 28% deste total. Além disso, houve um crescimento
positivo dos ativos compatíveis com a Sharia no CCG em 2015, em comparação com
outras regiões, conforme será evidenciado na Tabela 4 a seguir.
Tabela 4 - Crescimento dos Ativos Financeiros Regionais (US$ bilhões)
Regiões Crescimento (%) 2015 2016 2017
CCG 54,06% 640 725 986
MENA, exceto CCG 75,22% 339 537 594
MENA 31,25% 979 1.098 1.285
África Subsaariana 87,5% 8 11 15
Ásia 80,29% 269 259 485
Austrália/Europa/Américas 82,35% 17 24 31
Total 2.252 2.654 3.396
Fonte: The Banker (2018).
Os ativos globais em conformidade com a Sharia representam uma parcela significativa
do total de ativos bancários do CCG (EY, 2017). Enquanto na região do Oriente Médio e
Norte da África (MENA) os ativos bancários islâmicos representam 14% do total de
ativos bancários, no CCG a participação de mercado dos bancos islâmicos chegou a 25%,
o que sugere que os bancos islâmicos se tornaram sistemicamente importantes nesses
países. Os ativos bancários islâmicos do CCG alcançaram US $ 490 bilhões no final de
junho de 2013, com a Arábia Saudita dominando a região com 49%, seguida pelos
Emirados Árabes Unidos (19%), Kuwait (16%), Catar (11%) e Bahrein. (5%), enquanto
este segmento ainda é nascente em Omã O setor bancário islâmico adquiriu proporções
sistêmicas no Kuwait, no Catar, na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.
O setor bancário islâmico de varejo no Bahrein alcançou proporções sistêmicas com uma
participação acionária de 27% no banco de varejo e uma participação de 13% no total de
serviços bancários de varejo e atacado. A entrada de Omã nas finanças islâmicas se deu
no final de 2012, sendo que os bancos começaram a operar em conformidade com a
Sharia no ano de 2013. O Banco Central de Omã desenvolveu um conjunto abrangente
de regulamentos para os Bancos Islâmicos a partir das seguintes modelos: (1) sistema
bancário convencional existente, baseado na Lei Bancária de Omã e Basileia II e
diretrizes (onde elas não contradizem a Sharia); (2) padrões de governança e
84
contabilidade da Sharia emitidos pelo AAOIFI; (3) diretrizes do IFSB sobre adequação
de capital e gerenciamento de risco; e (4) práticas mundialmente aceitas na governança
da Sharia. No final de agosto de 2015, os ativos financeiros dos bancos islâmicos em
Omã representavam 6% do total de ativos do sistema bancário do país.
O crescimento da indústria global (crescimento anual de ativos financeiros) entre 2009 e
o final de 2014 ficou em 12,68%. Esse desempenho foi em grande parte impulsionado
pelos mercados dominantes do CCG e da Malásia. Por sua vez, o CCG registou um
crescimento médio de 17,49% durante este período, enquanto na Ásia, este número
atingiu 10,5%, seguido pela África subsaariana com 10,46%. O crescimento das finanças
islâmicas na região do Golfo foi sustentado pelos ganhos de bancos do Catar totalmente
compatíveis com a Sharia. Entre 2009 e 2014, esses bancos registraram um crescimento
nominal de 21,09%, superando seus pares regionais (THE BANKER, 2017).
Essas conquistas foram espelhadas, em menor escala, em outras partes do CCG. Os
credores em total conformidade com a Sharia nos Emirados Árabes Unidos alcançaram
um crescimento médio de 10,64% ao longo desse período, enquanto o ROA chegou a
1,5%. Em particular, o desempenho do Dubai Islamic Bank, que entrou na lista dos 10
bancos comerciais com maiores retornos sobre os ativos foi a principal contribuição dos
Emirados Árabes Unidos. Enquanto isso, o retorno do capital para bancos totalmente
compatíveis com a Sharia foi de 11,39%. A Tabela 5 a seguir mostra um resumo da taxa
anual composta de crescimento dos ativos do setor bancário do retorno dos ativos (ROA)
e do retorno sobre o capital investido (ROIC):
Tabela 5 – Indicadores de Crescimento dos Ativos Islâmicos entre 2009 e 2017
País Crescimento Médio (%) ROA (%) ROIC (%)
Catar 21,9% 2,28% 16,93%
Arábia Saudita 13,39% 2,41% 16,6%
Emirados Árabes Unidos 10,64% 1,5% 11,39%
Bahrein 9,2% 0,62% 4%
Malásia 7,32% 1,75% 17%
Turquia 6,4% 1,3% 12%
Kuwait 6,4% 0,8% 6%
Irã 1,3% 1,4% 18%
Fonte: The Banker (2017).
85
A Figura 7 a seguir apresenta o crescimento dos ativos financeiros islâmicos em
comparação com seus pares convencionais:
Figura 7 – Crescimento dos ativos financeiros no CCG (2013-2019)
Fonte: Adaptado de Standard & Poors (2018).
Outro mercado chave da região do CCG, a Arábia Saudita, desfrutou de um crescimento
médio de 13,39%, acompanhado pelo mais alto ROA de 2,4%, maior do que qualquer
mercado no período de 2009 a 2014. Os bancos sauditas também alcançaram um ROIC
de 16,6%, atrás do Irã, da Malásia e do Catar. Enquanto isso, cinco das dez instituições
financeiras que mais cresceram, com ativos islâmicos, com mais de US$ 500 milhões em
ativos, são originárias da Arábia Saudita.
2.7.4 Interferência estatal sobre bancos islâmicos do CCG
Historicamente, nos países que agora compõem o CCG, não havia um modelo bancário
islâmico que pudesse ser aplicado para atender às necessidades financeiras da região antes
do estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento (BID) em 1952. Na ausência
deste, o sistema bancário convencional (seguindo as regras dos grandes bancos
internacionais) ocupou esse vácuo, embora poucos cidadãos locais abrissem contas de
poupança que pagassem juros, ao invés disso eles simplesmente mantinham contas
correntes que não pagavam nenhum tipo de remuneração (WILSON, 2002).
O Decreto Real de 1952, que institui a Agência Monetária da Arábia Saudita (SAMA),
era semelhante a outras leis de bancos centrais, sendo a principal característica distintiva
a designação agência monetária, ao invés de banco central. A Lei de Controle Bancário
da Arábia Saudita de 1966, que ainda rege a regulamentação do país, menciona
86
especificamente os empréstimos bancários nos termos dos seus Artigos 8º e 9º, o que não
é permitido pela Sharia. O artigo 10º proíbe os bancos de participarem no comércio que
os remunere por meio de juros, que poderia ser interpretado como excluindo as transações
Murabaha (custo mais margem). Grande parte da ênfase durante os anos do boom do
petróleo da década de 1970 foi na construção de um sistema bancário moderno para
atender às necessidades financeiras do país, mas a questão sensível do cumprimento da
Sharia não foi realmente abordada pela SAMA. Havia, no entanto, apoio a iniciativas
internacionais de financiamento islâmico, notadamente o estabelecimento do Banco
Islâmico de Desenvolvimento. Isso foi inaugurado em Jidá em 1975, com o objetivo de
servir como uma agência de assistência ao desenvolvimento para o mundo islâmico
(WILSON, 2002).
Em outras partes do CCG, havia uma atitude mais favorável das autoridades para aqueles
que desejavam estabelecer bancos islâmicos. O Emir de Dubai, por exemplo, aprovou um
decreto em 12 de março de 1975, autorizando o estabelecimento do Banco Islâmico de
Dubai e Kuwait aprovou a legislação em 23 de março de 1977, para permitir a criação da
Kuwait Finance House (KFH). Estas foram, por mais de duas décadas, os únicos bancos
islâmicos nesses estados (SAEED, 1999). Bahrein e Catar seguiram, estabelecendo
bancos islâmicos em 1979 e 1982, respectivamente.
O estabelecimento de bancos islâmicos em Dubai e no Kuwait poderia influenciar a
atitude das autoridades sauditas em relação aos bancos islâmicos, mas eles permaneceram
surpreendentemente cautelosos. De fato, havia uma relutância em fornecer ao Al-Rajhi
Bank, hoje o maior banco islâmico listado no mundo, uma licença bancária; a
preocupação é que isso possa destacar as transações de juros dos bancos convencionais
no reino (WILSON, 2002). O Al-Rajhi Bank recebeu finalmente uma licença bancária em
1987, em grande parte porque já tinha depósitos significativos, e considerou-se que seria
preferível que fosse regulamentado pela SAMA. O perigo era que, se houvesse uma
corrida aos seus depósitos, isso poderia ter prejudicado gravemente a confiança em todo
o sistema bancário, incluindo os bancos regulamentados. Com o lançamento do Al- Rajhi
Bank, cinco dos seis estados do CCG tinham bancos islâmicos, sendo a exceção Omã,
que se recusou a conceder quaisquer licenças bancárias islâmicas, devido às suas
condições políticas instáveis (ALAM, 2006).
87
Outros governos têm apoiado muito mais nos últimos anos, notadamente o Kuwait, que,
em 2004, aprovou uma emenda à Lei 32 do Banco Central de 1968, trazendo a KFH sob
a autoridade reguladora do Banco Central do Kuwait. O novo quadro legislativo visava
assegurar que a concorrência dentro do setor financeiro islâmico fosse aberta com outros
bancos autorizados a solicitar licenças bancárias islâmicas. Como resultado, o Banco de
Imóveis do Kuwait converteu-se em um banco islâmico, mudando seu nome para Banco
Internacional do Kuwait. Uma nova instituição financeira islâmica, o Boubyan Bank,
também recebeu uma licença bancária islâmica. A legislação também continha
disposições sobre a governança financeira islâmica, especialmente os artigos 86, 87, 93 e
96, incluindo a estipulação de que cada instituição deveria ter uma junta da Sharia com
pelo menos três membros. Embora a provisão legislativa do Kuwait seja apenas parte de
sua lei bancária mais ampla, há mais detalhes sobre questões bancárias islâmicas
específicas do que na lei bancária islâmica dedicada à Malásia que criou seu sistema
dualista, o Malaysia Islamic Banking Act.
Em suma, os estados menores do CCG, além de Omã, aprovaram legislações que
facilitaram o desenvolvimento das finanças islâmicas. O Kuwait, em particular, atualizou
e ampliou sua legislação bancária para garantir a competição saudável entre os bancos
islâmicos em seu mercado doméstico. O apoio regional do Bahrein ao crescimento
financeiro islâmico no CCG será discutido em detalhes na próxima seção. A Arábia
Saudita, por sua vez, tem sido a mais atrasada, no que diz respeito às leis específicas que
regem as finanças islâmicas. A SAMA e a Autoridade do Mercado de Capitais ainda não
emitiram um único documento sobre finanças islâmicas, em contraste com o Bank Negara
e a Securities Commission of Malaysia ou mesmo com a Financial Services Authority no
Reino Unido, que emitiu vários documentos e diretrizes.
2.7.4.1 O papel regional do Bahrein nas Instituições Financeiras Islâmicas
Entre os membros ativos do CCG no fortalecimento da banca islâmica está o Bahrein. O
Bahrein funciona como um centro financeiro regional desde 1976, mantendo seu mercado
aberto a bancos estrangeiros, enquanto a Arábia Saudita e o Kuwait licenciaram apenas
instituições de propriedade majoritariamente local. O Bahrein tem mais instituições
financeiras islâmicas do que qualquer outro centro, com vinte e quatro bancos islâmicos
e onze empresas de seguro islâmico (Takaful), a maioria das quais serve o mercado
regional, e não o local. No entanto, é muito dependente dos negócios sauditas e, como
88
este último abre seu setor financeiro, há desafios competitivos para o Bahrein, inclusive
no setor bancário islâmico.
A Agência Monetária do Bahrein, agora renomeada como Banco Central do Bahrein, tem
sido muito ativa na promoção do Bahrein como um centro financeiro islâmico. A ilha tem
sido a sede, desde a sua fundação em 1991, da AAOIFI, que serve como um corpo
normativo para relatórios financeiros (AAOIFI, 2015). A maioria das instituições
financeiras islâmicas em todo o mundo são membros da AAOIFI e muitas aderem aos
seus padrões, que se baseiam, em vez de substituir, as Normas Internacionais de Relatório
Financeiro (IFRS)15 emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB)
usadas pelos bancos mais convencionais da Europa e da Ásia.
O Bahrein também abriga International Islamic Financial Market (IIFM) cuja missão,
brevemente mencionada nas seções anteriores, é de ajudar o capital islâmico e os
mercados financeiros através da promoção de padrões comerciais comuns. Seu trabalho
está em um estágio inicial, mas conta com o apoio dos bancos centrais do Bahrein, Brunei,
Indonésia, Malásia e Sudão, bem como do Banco Islâmico de Desenvolvimento, baseado
em Jidá. No entanto, os bancos centrais de outros países do CCG não são membros,
preferindo concentrar seus esforços em seus próprios mercados e instituições. O Centro
de Gerenciamento de Liquidez, com sede no Bahrein, também demorou a decolar. Seu
objetivo é facilitar a colocação dos fundos excedentes das instituições financeiras
islâmicas em instrumentos negociados com lucro. O capital foi subscrito pelo KFH,
Bahrein e Dubai Islamic Banks, e pelo Islamic Development Bank, mas eles usaram
bancos de investimento internacionais para grande parte de sua própria emissão de sukuk,
ao invés do Centro de Gerenciamento de Liquidez. Outro papel importante do Centro de
Gestão de Liquidez é o de promover o comércio secundário de sukuk. Os volumes de
negociação foram limitados, no entanto, com 11 transações de compra e venda em 2005,
25 em 2006 e 15 em 2007 (IDB, 2012).
O Banco Central do Bahrein possui um guia de regras detalhado, que governa toda a
atividade financeira na ilha, incluindo o sistema bancário islâmico. No entanto, existem
15 IFRS são um conjunto de normas internacionais de contabilidade, emitidas e revisadas pelo IASB
- International Accounting Standards Board (Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade), que
visam uniformizar os procedimentos contábeis e as políticas existentes entre os países, melhorando a
estrutura conceitual e proporcionando a mesma interpretação das demonstrações financeiras.
89
apenas dois requisitos específicos adicionais para os bancos islâmicos: cada banco
islâmico deve ter um Conselho de supervisão independente da Sharia (CSS), e os bancos
islâmicos devem adotar os padrões da AAOIFI para seus relatórios financeiros. É
discutível até que ponto o sucesso relativo do Bahrein em atrair instituições financeiras
islâmicas é devido a um fator de atração - o encorajamento do Banco Central do Bahrein
- ou um fator impulsionador - o passado a relutância dos seus vizinhos em conceder novas
licenças a bancos islâmicos e operadores de Takaful. Atualmente, existem mais de 15
bancos de varejo islâmicos que atendem ao mercado local no Bahrein. Espera-se que, com
o total apoio do Banco Central do Bahrein, possa aumentar o crescimento dos bancos
islâmicos em sua jurisdição.
2.7.4.2 O papel regional do Catar e dos Emirados Árabes Unidos nas Instituições
Financeiras Islâmicas
Ao contrário do Bahrein, o Catar e os Emirados Árabes Unidos estabeleceram centros
financeiros em zonas francas, governados por suas próprias leis e regulamentos, que são
baseados no direito comum inglês, aplicado ao financiamento (WILSON, 2004). Tanto o
Centro Financeiro do Catar como o Centro Financeiro Internacional de Dubai são
jurisdições separadas, com disputas não sujeitas à lei civil, que se aplicam fora das zonas
no Catar e nos Emirados Árabes Unidos. As instituições que funcionam nas zonas francas
também estão fora da jurisdição dos tribunais locais da Sharia.
O Qatar Financial Center (QFC) possui um conjunto detalhado de regras cobrindo as
finanças islâmicas, incluindo critérios para a supervisão da Sharia. No Catar, uma
proporção maior de depósitos bancários é compatível com a Lei Islâmica do que em
qualquer outro estado do CCG, mas instituições como o Qatar Islamic Bank, Masraf Al
Rayan e o Qatar International Islamic Bank estão estreitamente focadas no mercado
doméstico. Os principais bancos comerciais do Catar estabeleceram afiliadas islâmicas,
principalmente: o Banco Nacional do Catar, que tem uma subsidiária islâmica, o Banco
Comercial, Qatar Financial Center. Essa crescente concorrência em um mercado
relativamente pequeno está incentivando os bancos islâmicos do Catar a procurarem no
exterior uma maior diversificação e expansão. O Qatar Islamic Bank possui a European
Finance House, com sede em Londres, e o Asian Finance Bank, com sede em Kuala
Lumpur. Também possui subsidiárias no Líbano, Bahrein, Iêmen e Cazaquistão operando
sob seu próprio nome, e está realizando estudos de viabilidade dos mercados turco,
90
egípcio e indonésio. A Masraf Al-Rayan estabeleceu uma operação de financiamento ao
consumidor na Arábia Saudita e está buscando para o ano de 2019 permissão para abrir
uma filial na Líbia.
A introdução de um sistema regulatório único nos EAU é improvável, já que o país é uma
federação na qual cada emirado goza de considerável autonomia, embora o Banco Central
supervisione todo o sistema bancário, com exceção dos bancos registrados no DIFC.
Assim como no Catar, os principais bancos islâmicos nos Emirados Árabes Unidos estão
focados no mercado doméstico. De fato, o Banco Islâmico de Dubai e o Banco Islâmico
de Abu Dhabi concentram-se principalmente em seus emirados nativos, embora tenham
redes de filiais em todo o país (ALJIFRI, 2008).
O mercado dos EAU voltado para o setor bancário islâmico tornou-se superlotado com
novos entrantes. O Banco Nacional de Sharjah converteu-se em Sharjah Islamic Bank e,
em Dubai, o Noor Islamic Bank foi fundado em 2008, com um quarto de seu capital
subscrito pelo governo de Dubai e mais um quarto pelo próprio governante, Sheikh
Mohammed bin Rashid, cujo objetivo é ser uma força regional de alto nível nas finanças
islâmicas no centro das atenções da região. Seu principal foco é em finanças pessoais e
cartões de crédito, indicando que é mais uma instituição de financiamento ao consumidor,
isto é, de varejo (ALJIFRI, 2008).
2.8 Desenvolvimento da Governança Corporativa nas Instituições Financeiras
Islâmicas
A governança corporativa é um dos elementos vitais em qualquer corporação. Tem havido
muito debate e discurso sobre a questão da governança corporativa por muitos anos. O
conceito de governança corporativa está se tornando muito mais popular, pois houve mais
fracassos corporativos devido à ineficácia da governança. Basicamente, não há consenso
sobre a definição e o conceito de governança corporativa (MALLIN, 2010). Isso se deve
aos diferentes entendimentos dos objetivos das empresas em relação aos diferentes
modelos de governança corporativa, bem como a um grande número de sistemas
econômicos distintos. Como resultado, existem várias definições e conceitos de
governança corporativa propostos por diferentes partes que basicamente refletem seu
interesse especial no campo.
91
Basicamente, o conceito de governança corporativa sob uma perspectiva islâmica não
difere muito da definição convencional, pois se refere a um sistema pelo qual as empresas
são gerenciadas, dirigidas e controladas com o objetivo de atingir o objetivo da
corporação, protegendo todos os interesses e direitos das partes interessadas.
Excepcionalmente, o contexto de governança corporativa dentro do paradigma islâmico
apresenta certas características excepcionais em comparação com as teorias ocidentais.
Choudhury e Hoque (2006) discutiram o arcabouço teórico baseado na fé do governo
corporativo no Islã e o consideraram uma teoria pertencente a processos de tomada de
decisão que empregam a premissa da epistemologia sociocientífica islâmica de Tawhid.,
que será estudada no Capítulo 3. As implicações práticas da ideia islâmica de governança
corporativa são imensas, especialmente quando estão relacionadas à minimização de
custos de transação em ambientes de tomada de decisão e ao alcance das metas e objetivos
da corporação dentro dos limites das regras e princípios de Sharia (CHOUDHURY;
HOQUE, 2006). Nesse sentido, é essencial entender e refinar a definição conceitual de
governança corporativa de um ponto de vista islâmico, a fim de esclarecer qualquer
discussão adicional sobre o tema da governança Sharia.
O desenvolvimento da governança corporativa nas IFIs pode ser definido em duas fases
principais, a saber: (i) pré-século XX e (ii) pós-século XX século. A segunda fase pode
ainda ser classificada em dois estágios diferentes: o primeiro estágio (pré-1970) e o
segundo estágio (pós-1970) que serão discorridos nas próximas seções.
2.8.1 Primeira fase (Pré-Século XX): Ausência de Governança Corporativa
O termo "banco”16 é estranho ao período muçulmano primitivo, em que o termo bayt al-
mal17 é amplamente utilizado. Nos séculos VIII e IX, os financistas eram conhecidos
como sarraf e jahbadh e funcionavam como banqueiros modernos no Islã pré-moderno.
Sarrāf forneceu facilidades de financiamento principalmente com base em mudharabah
e musharakah, instrumentos negociáveis e facilidades comerciais, descontando cheques
e emitiu notas promissórias e cartas de créditos (CHAPRA; AHMED, 2002). Eles
16 O termo banco tem origem na palavra italiana banco, que significa "mesa", pois no passado os cambistas
da Lombardia costumavam colocar dinheiro numa mesa (BALDWIN, 1988). O primeiro banco moderno
foi iniciado em Veneza em 1584 a.D. e era conhecido como Banco di Rialto (IMAMUDDIN, 1997). 17 Bayt al-māl pode ser considerado um banco estatal; desempenhou o papel de um banco de crédito
agrícola, banco comercial e câmara de compensação para comerciantes para facilitar as atividades
comerciais desde o tempo dos omíadas (IMAMUDDIN, 1997).
92
também forneceram serviços bancários ao público e ao setor privado, enquanto o jahbadh
serviu principalmente ao setor público.
A governança corporativa não era um problema em sarraf ou jahbadh, já que nenhuma
das instituições era classificada como uma entidade legal corporativa. Curiosamente,
mesmo sem qualquer tipo de estrutura de governança corporativa, as chamadas
instituições bancárias durante esse tempo, na forma de sarraf e jahbadh, foram capazes
de facilitar efetivamente as atividades econômicas tanto local quanto internacionalmente.
Embora não haja dados apropriados disponíveis para comprovar a eficiência de tal
sistema financeiro, a evidência histórica em muitos trabalhos da literatura fornece sua
clara indicação.
2.8.2 Segunda Fase (Pós-Século XX): O Surgimento da Governança Corporativa nas
IFIs Modernas
1º Estágio (Pré-1970): No final do século XIX, o papel dos muçulmanos nos
negócios de sarraf foi radicalmente reduzido pelo aumento das famílias de sarraf
não-muçulmanos e pelo surgimento de bancos modernos, estabelecidos em grande
parte pelos europeus e pelos armênios e gregos sarraf (SAEED, 2002). A
colonização da maioria dos países muçulmanos afetou ainda mais o sistema
financeiro islâmico existente e, portanto, foi substituído pelo sistema bancário
moderno ocidental, um sistema financeiro baseado em juros. Somente na década
de 1950 houve esforços para estabelecer IFIs, como no Paquistão, na ideia de
inserir uma cláusula para banir o interesse na constituição e no estabelecimento
de um banco islâmico local que fornecesse financiamento principalmente para os
pobres, com a abertura do Mitr Ghams Savings Bank em 23 de julho de 1963 e o
Nasser Social Bank em 1972. A criação do Banco de Poupança Mitr Ghams e do
Banco Social Nasser no Egito demonstra o potencial do sistema financeiro
islâmico na moderna infraestrutura econômica. O sucesso dos primeiros bancos
islâmicos, apesar de um avanço parcial, foi amplamente discutido por muitos
estudiosos, particularmente os aspectos de operações, procedimentos, atividades,
desempenho, natureza das facilidades de financiamento e questões sociais. A
governança corporativa, no entanto, não recebeu a devida preocupação e não há
nenhum discurso específico ou iniciativas sobre ela. Isso porque todos esses
bancos islâmicos foram incorporados na forma de sociedades cooperativas ou
93
bancos sociais. De fato, os modos de atividades de financiamento também eram
muito limitados e só tentavam corrigir as necessidades sociais e pequenas da
comunidade. Nesse sentido, a governança corporativa é menos relevante para esse
tipo de organização empresarial.
2º Estágio (Pós-1970): O período entre 1975 e 1990 foi o período mais crucial no
desenvolvimento do setor financeiro islâmico. O estabelecimento de vários
bancos islâmicos, na forma de corporações como o Banco Islâmico de Dubai, o
Banco Islâmico Faisal e a Casa de Finanças do Kuwait, incluindo o Banco
Islâmico de Desenvolvimento em Jeddah, desencadeou a necessidade de um
sistema específico de governança corporativa. Na verdade, Devido a vários
fracassos corporativos e dificuldades das IFIs nas décadas de 1990 e 2000,
algumas instituições internacionais de infraestrutura foram criadas com o objetivo
de apoiar o setor financeiro islâmico para melhorar e fortalecer sua estrutura de
governança corporativa; estes incluem a Organização de Contabilidade e
Auditoria para IFIs (AAOIFI), o Mercado Financeiro Islâmico Internacional
(IIFM), a Agência Internacional de Classificação Islâmica (IIRA) no Bahrein, o
Conselho Geral de Bancos Islâmicos e Instituições Financeiras (CIBAFI) e a
Autoridade Financeira Islâmica (IFSB) na Malásia. O AAOIFI e o IFSB foram
estabelecidos para tratar de questões relativas à governança corporativa nas IFIs,
emitindo padrões de governança e diretrizes de melhores práticas, enquanto o
resto das instituições fornece suporte de infraestrutura para a implementação do
programa de finanças islâmicas. Além disso, o Hawkamah, o Instituto de
Governança Corporativa com sede em Dubai, também usou sua própria iniciativa
criando uma força-tarefa específica e um comitê de trabalho sobre governança
corporativa para bancos islâmicos e instituições financeiras com o objetivo de
estudar e desenvolver as melhores práticas de governança corporativa nas regiões
do Oriente Médio e Norte da África.
A governança corporativa religiosa deve compreender os seguintes processos (IFSB,
2009): (i) emissão de resoluções ou pronunciamentos Sharia, que consiste na edição de
pareceres jurídicos sobre questões relacionadas à aplicação da lei religiosa ao campo das
finanças islâmicas, a se dar por um colegiado específico, que denominado Comitê Sharia
(Sharia Board); (ii) divulgação de informações sobre essas resoluções ou
pronunciamentos para a equipe da instituição que monitora a conformidade de todos os
94
níveis de operações e transações do dia-a-dia com esses pronunciamentos Sharia; (iii)
revisão ou auditoria interna de conformidade, a fim de verificar o cumprimento dos
preceitos da Sharia no cotidiano, que deverá registrar e relatar, e, tanto quanto possível,
encaminhar ou determinar a adoção de soluções para qualquer incidente de não-
conformidade; e (iv) revisão ou auditoria externa de conformidade, a fim de verificar se
os procedimentos de revisão ou auditoria interna de conformidade foram adequadamente
efetuadas e se seus resultados foram devidamente comunicados ao Comitê Sharia.
Ainda assim, é possível identificar quatro componentes clássicos nesse arcabouço de
governança: (i) o Conselho de Supervisão da Sharia (CSS); (ii) a auditoria externa; (iii)
as unidades de auditoria interna; e (iv) as unidades internas de gerenciamento da
conformidade das operações, situadas na retaguarda de mesas de operação ou de agências
da instituição (conhecidas no jargão do mercado como backoffices).
O primeiro componente, o Conselho de Supervisão Sharia é, sem dúvida alguma, o mais
importante deles, afirmando-se como o “coração” do sistema de governança religiosa. É
dele a competência para dar a palavra final sobre a aprovação ou a reprovação de novas
operações ou de novos arranjos contratuais de operações já existentes, antes que eles
sejam realizados. Compete-lhe, ainda, emitir relatórios sobre o grau de conformidade
religiosa da própria instituição como um todo, aí consideradas tanto as suas operações
como seus processos de governança e controle. Segundo as regras e recomendações do
IFSB e da AAOIFI, o comitê deve ser um órgão independente, com no mínimo três
membros, dotado de amplos poderes para análise e requisição de informações, e deve se
reportar apenas ao Conselho de Administração da companhia (IFSB, 2009; AAOIFI,
2010).
Os membros do CSS devem ser escolhidos diretamente pelos acionistas, durante as
assembleias gerais ordinárias da companhia, por proposta do Conselho de Administração,
para cumprir mandato previamente definido. A escolha deve recair sobre estudiosos
reconhecidos (não necessariamente clérigos), dotados de sólida formação nos assuntos da
Sharia, em geral, e do fiqh al-muamalat, em especial, com grande conhecimento da
filosofia da lei islâmica e dos métodos de usul al-fiqh, além domínio das línguas árabe e
inglesa (AAOIFI, 2005). A própria assembleia pode fixar sua remuneração ou conferir
autorização ao Conselho de Administração para que o faça. A fim de manter sua
independência e evitar conflitos de interesse, os membros do CSS não podem ser diretores
95
ou titulares de participação societária relevante na companhia. Sua destituição, no curso
do mandato, só pode se dar mediante autorização da assembleia de acionista, após
provocação do Conselho de Administração, à vista de indícios ou evidências
minimamente razoáveis que deponham contra o estudioso (AAOIFI, 2005).
As demais unidades cumprem funções semelhantes àquelas desempenhadas por
estruturas de governança convencionais, mas com uma diferença importante: o foco de
sua análise é eminentemente religioso. Assim, não lhes cabe, em regra, opinar sobre o
grau de adesão das operações às normas seculares, como, por exemplo, uma lei ou ato
normativo hierarquicamente abaixo da lei, editado por autoridade governamental, mas
apenas sobre o efetivo cumprimento dos preceitos da religião, segundo as diretrizes
fornecidas pelo Comitê de Supervisão da Sharia ou por instituições de padronização,
como a AAOIFI. No interior do sistema de governança de Sharia, elas constituem
espécies de linhas de defesa dos dogmas da religião, obrigação que, no sistema doutrinal
islâmico, compete a todos os muçulmanos (JANTALIA, 2016).
Importante destacar que a atuação de tais componentes organizacionais não exclui ou
afasta a competência dos órgãos societários convencionais. Ou seja, não há uma rejeição
das regras e padrões de governança corporativa tradicionalmente adotados, sendo a
estrutura de governança religiosa complementar à estrutura de seus pares convencionais.
O Quadro 4 a seguir retrata de forma didática essa relação de complementariedade.
Quadro 4 – Estrutura de Governança Corporativa Convencional e Islâmica
Funções Estruturas típicas de
instituições financeiras
convencionais
Estruturas específicas
de instituições
financeiras islâmicas
Governança Conselho de Administração Comitê Sharia
Controle
Auditoria Externa Auditoria Sharia externa
Unidade ou departamento de
auditoria interna
Unidade ou departamento
de auditoria Sharia
interna
Conformidade
Unidades ou departamentos
internos de conformidade
regulatória
Unidades ou
departamentos internos
de conformidade Sharia
Fonte: Adaptado de ISRA (2012); IFSB (2009); JANTALIA (2016).
Diante disso, a função primária do sistema de governança Sharia é garantir a
conformidade das operações da instituição aos preceitos da lei islâmica. Verifica-se aí
uma expressão evidente da moralidade e do forte compromisso dos muçulmanos com a
96
construção e a manutenção de um padrão de relações econômico-financeiras que esteja
em sintonia com a sua crença. Esse compromisso é tão forte que a teoria das finanças
islâmicas acabou concebendo, a seu modo, uma modalidade específica de risco
enfrentado pelas instituições que oferecem serviços financeiros halal: o risco de não-
conformidade de suas operações e de seus modelos de negócio com as prescrições da
Sharia. Sua construção teórica é bastante lógica, e pode ser assim resumida: se as
operações da instituição se afastam dos preceitos dados por Deus, levando-a ao pecado,
então aqueles que tomam parte em seus negócios acabam se beneficiando de algum modo
dos pecados por ela incorridos – e, portanto, são pecadores; logo, a mera suspeita de que
determinada instituição pode estar incorrendo em práticas ou operações proibidas pela
Sharia tende a despertar, nos seus clientes muçulmanos, um juízo de reprovação que pode
levá-los a romper seu vínculo com aquela instituição.
Nesses termos, a perda da credibilidade religiosa de uma instituição que oferece serviços
financeiros islâmicos tende a expô-la a riscos bastante similares àqueles experimentados
por instituições convencionais sobre as quais pese desconfiança quanto à sua solvência
ou à sua liquidez. Em função disso, a teoria das finanças islâmicas, desde seus primórdios,
trata o risco de não-conformidade religiosa como uma modalidade específica de risco
operacional à qual estão expostas essas instituições. Afirma-se aí então uma função
bastante específica do sistema de governança Sharia, que é também prevenir o risco de
não-conformidade das operações às regras da religião (RHODES; VAN APELDOOM,
1998; MARTINS, 2004; IFSB, 2009; ISRA, 2012, JANTALIA, 2016), contribuindo para
a manutenção da credibilidade da instituição operadora junto à comunidade muçulmana.
Para dar conta dessa tarefa, as normas do IFSB e da AAOIFI impõem, na prática, uma
dinâmica bem estruturada e integrada de ação entre os componentes do sistema de
governança religiosa e os componentes organizacionais que desenvolvem e negociam os
produtos e serviços financeiros com os clientes da instituição.
A estrutura ou arquitetura desse sistema de governança pode e até deve variar de
instituição para instituição. É um princípio básico, consolidado na prática do sistema
financeiro islâmico e nas recomendações do IFSB e da AAOIFI, que não há um modelo
único de governança.
O Quadro 5 a seguir, elenca os guias de Governança Corporativa, que são de observância
obrigatória em seus países membros, emitidos pelo AAOIFI.
97
Quadro 5 – Padrões de Governança Corporativa emitidos pelo AAOIFI
Número Título
1 Conselho de Supervisão Sharia: nomeação, composição e relatórios
2 Avaliação Sharia
3 Avaliação interna da Sharia
4 Comitê de auditoria e governança de instituições financeiras islâmicas
5 Independência do Conselho de Supervisão Sharia
6 Declaração de princípios de governança para as instituições financeiras
islâmicas
7 Conduta de responsabilidade social corporativa e divulgação para instituições
financeiras islâmicas
Fonte: AAOIFI (2010).
O Quadro 6 a seguir sumariza as principais diferenças entre os modelos de governança
corporativa no mundo anglo-saxão, europeu e islâmico:
Quadro 6 – Diferenças entre o modelo Anglo-Saxão, Europeu e Islâmico de Governança Corporativa
Aspectos Modelo Anglo-Saxão Modelo Europeu Modelo Islâmico
Episteme
Racionalismo e
Racionalidade Racionalismo e Racionalidade
Racionalismo baseado na fé e
na Tawhid como um dos
alicerces.
Direitos e
interesses
Proteger os direitos e
interesses dos acionistas
Os direitos da comunidade em
relação a empresa.
Proteger os interesses de
todos os stakeholders ou
partes interessadas, mas desde
que respeite as regras da
Sharia.
Objetivo
corporativo
Acionistas controlando os
administradores com a
finalidade de maximizar
seus lucros
Sociedade controlando as
corporações com o
propósito de garantir o
bem-estar social
O objetivo corporativo deve
ser equilibrado com a Sharia
Natureza da
gestão Administração controlada
Acionista controlador
controlado
Conceito de vice regência,
vice gerente ou Khalifa
Conselhos de
Gestão
Conselho de
Administração
Dois níveis de Conselho:
Executivo e de Supervisão
Conselho de Supervisão da
Sharia como parte da
estrutura de Governança
Corporativa
Propriedade e
estrutura de
Capital
Propriedade amplamente
dispersa, com priorização
da distribuição dos
dividendos
Bancos e demais corporações
são os grandes acionistas, mas
com distribuição dos
dividendos menos priorizada
Acionistas, depositantes ou
titulares das contas de
investimento
Fonte: Adaptado de Rhodes e Van Apeldoom (1998).
98
A versão simplificada acima das diferenças dos conceitos islâmicos e ocidentais de
governança corporativa fornece uma visão geral das diversas abordagens de estilo e
estrutura de governança corporativa. Com respeito ao método epistemológico, o
Islamismo rejeita a racionalidade e o racionalismo como a única episteme do governo
corporativo e o substitui pela episteme de Tawhid. Enquanto o modelo de acionistas
prioriza apenas o valor dos acionistas e a orientação ao valor das partes interessadas
protege todos os interesses e direitos das partes interessadas, o objetivo da governança
corporativa no Islã equilibra a meta corporativa de maximizar o lucro com o dever de
defender o princípio de justiça social e maqasid. Sharia e isso implica a noção de proteger
os interesses e direitos de todas as partes interessadas dentro das regras de Sharia.
A natureza da gestão do modelo de governança corporativa é baseada nos princípios
fundamentais da Shura, com o conselho de Sharia desempenhando um papel significativo
na supervisão e supervisão das atividades corporativas gerais, de modo a garantir que elas
cumpram os princípios de Sharia. Em contraste com o conceito ocidental, a natureza da
estrutura de propriedade na governança corporativa considera os acionistas e os IAH os
legítimos proprietários, e não só os acionistas. As características e características distintas
da governança corporativa combinam o elemento das regras da Tawhid, Sura, Sharia e
da moralidade islâmica para manter a meta privada sem ignorar o dever de bem-estar
social (RHODES; VAN APELDOOM, 1998).
De modo geral, diferentemente do modelo ocidental de governança corporativa, a
dimensão fundamental da governança corporativa islâmica está enraizada nos princípios
fundamentais do Tawhid, no processo que aplique a shura, nos direitos de propriedade e
na obrigação contratual. Com base nessas aspirações, os participantes-chave em
governança corporativa na corporação islâmica, particularmente IFIs, como o Conselho
de Administração, os acionistas, os depositantes, os gerentes e particularmente o conselho
de Sharia, desempenham papéis significativos na garantia dos objetivos da Sharia. Diante
disso, o objetivo da empresa é realizado dentro dos parâmetros do Sharia e dos valores
da ética islâmica. Na verdade, a disseminação dos negócios bancários islâmicos e o forte
crescimento do setor financeiro islâmico, juntamente com o crescente número de IFIs,
exigem um arranjo organizacional específico na forma de governança Sharia como parte
de um sistema corporativo islâmico e estrutura de governança (ABU-TAPANJEH, 2009).
Uma das versões da estrutura de governança corporativa islâmica é ilustrada por Abdul
Rahim (1998), que apresenta a estrutura que integra os preceitos morais islâmicos e
99
enfatiza as instituições da shura, isbah e auditoria religiosa como principais componentes
da estrutura de governança corporativa. A instituição de shura, que consiste na
administração, Conselho de Administração, acionistas, funcionários, clientes e outras
partes interessadas, pode garantir a eficácia de qualquer tomada de decisão corporativa
que possa afetar a corporação. A instituição de isbah e o auditor religioso desempenham
um papel no monitoramento das atividades corporativas com relação aos aspectos
regulatórios e morais, enquanto os conselhos de Sharia estão preocupados com a emissão
de decisões legais e o fornecimento de serviços de assessoria e supervisão da Sharia.
Um quadro mais abrangente da governança corporativa islâmica é ilustrado por
Choudhury e Hoque (2004). Eles localizam claramente a estrutura de governança e o nível
apropriado de cada instituição, seus papéis e funções, objetivos e metas e as leis que
regem a corporação com base na epistemologia de Tawhid e shura. Nienhaus (2007)
também oferece outra ilustração da estrutura de governança corporativa islâmica,
insistindo nos aspectos da estrutura regulatória da lei islâmica, bem como leis e
regulamentos bancários gerais. Banaga et al. (1994) conceitua uma estrutura integrada
que incorpora uma cultura corporativa e mecanismo de controle dentro de um cenário
islâmico. No geral, Banaga et al. (1994), Choudhury e Hoque (2004), Abdul Rahman
(2007) e Nienhaus (2007) tendem a concluir que uma estrutura conceitual da governança
corporativa islâmica deve levar em conta o elemento da epistemologia de Tawhid, o
processo que aplique a shura, o conceito de vice regência (khalifah), a justiça social (al-
adl wal ihsan), prestação de contas (taklif), aspectos regulatórios da lei islâmica, leis e
regulamentações bancárias gerais e os princípios da moralidade islâmica. Apesar de ter
esta estrutura conceitual sólida, há um grande desafio sobre como abordar os problemas
na operacionalização de tal estrutura, para integrar todos os princípios e internalizar as
normas islâmicas na corporação. De fato, Banaga et al. (1994) mencionam que a
implementação de Sharia, padrões éticos e morais em uma organização empresarial
islâmica, não necessariamente será seguida com excelente desempenho econômico.
A fim de entender e apreciar a estrutura de governança corporativa nas IFIs, é essencial
examinar os papéis e deveres de vários de seus principais participantes, ou seja, os
acionistas e depositantes, o CA, a alta administração e o CSS. Ao contrário de suas
contrapartes convencionais, a junta de Sharia, auditores e depositantes religiosos,
especialmente os titulares de conta de investimento, são participantes-chave adicionais
para governança corporativa nas IFIs.
100
O Quadro 7 ilustra os principais participantes em governança corporativa em IFIs e
menciona brevemente suas funções funcionais.
Quadro 7 – Principais agentes de Governança Corporativa em IFIs
Participantes Interesses Funções
Autoridade
Regulatória Estabilidade Econômica
Estabelecer diretrizes para o estabelecimento
de uma governança corporativa sólida e
adequada
Autoridade
Supervisora
Conformidade ou Compliance com
as Leis e Regulamentos
Supervisionar e monitorar a eficácia da
governança corporativa e verificar a
conformidade com os regulamentos
Acionistas
Maximização do lucro; lucro
satisfatório por ação; dividendos;
acima da media retorno do
investimento; e excelente
crescimento contínuo
Nomear conselheiros adequados, auditores de
gestão e Conselho de Supervisão da Sharia.
Titulares das
Contas Bancárias
Reembolso de depósitos no
vencimento nos prazos acordados;
proteção de seus interesses e lucros
Monitorar desempenho dos investimentos
Conselho de
Supervisão
Sharia
Compliance com a Sharia
Garantir o cumprimento da Sharia e proteger
os direitos e interesses dos depositantes e
demais partes interessadas
Conselho de
Administração
Compensação monetária e não
monetária; gerenciar a empresa de
forma eficiente, eficaz e com alta
integridade; e excelente reputação
corporativa e Técnica
Definir a direção e políticas das IFIs
Administradores
Compensação monetária e não
monetária; e compromisso com as
reivindicações dos acionistas
Implementar as políticas definidas pelo
Conselho de Administração
Fonte: Autor (2018).
A autoridade reguladora, como órgão externo de governança, desempenha um papel
fundamental na governança corporativa, definindo o ambiente regulatório e legal para
facilitar uma estrutura sólida de governança corporativa. Também tem responsabilidades
para fornecer diretrizes apropriadas para as IFIs, para desenvolver o controle interno,
procedimentos de gerenciamento de risco e padrão de transparência, e para monitorar a
operação geral da IFI. Dessa forma, a autoridade supervisora tem o dever de supervisionar
101
e monitorar a eficácia do sistema de governança corporativa e de verificar o cumprimento
de tais regulamentos.
No que diz respeito à instituição interna de governança, os acionistas têm a
responsabilidade de nomear os Conselheiros adequadamente, auditores de gestão, bem
como um Conselho de Supervisão Sharia. Ao contrário dos bancos convencionais, as
funções dos acionistas nas IFIs são estendidas para incluir o dever de nomear um conselho
de Sharia. Isto é afirmado pelas Normas de Governança da AAOIFI, que exigem que a
nomeação do conselho de Sharia seja feita pelos acionistas na assembleia geral. Isso
demonstra a singularidade das IFIs, onde os acionistas desempenham um papel na eleição
e nomeação dos membros do conselho do Sharia. Esta posição é essencial para indicar
que o conselho de Sharia é independente do CA, de modo a capacitá-los a fornecer
funções de consultoria e supervisão sem vieses.
O escopo da governança corporativa foi ampliado para as IFIs incluírem não apenas a
proteção dos acionistas, mas também dos depositantes, especialmente os titulares das
contas bancárias. Isso ocorre porque os depositantes nas IFIs estão expostos a um risco
muito maior do que nos bancos convencionais. O modus operandi de um depósito em um
banco islâmico, especialmente uma conta de investimento, implica participação nos
resultados financeiros do emprego de fundos (NIENHAUS, 2007). Isso indica que a
governança corporativa nas IFIs deve levar em consideração o interesse dos depositantes
como uma das principais partes interessadas.
Os titulares das contas bancárias nas IFIs participam dos lucros e perdas, uma vez que
seus investimentos não são explicitamente garantidos, como no caso das instituições
financeiras convencionais. No contexto real das IFIs, os titulares das contas bancárias não
estão expostos diretamente aos riscos dos negócios bancários islâmicos, pois não estão
envolvidos na administração e não têm direito a voto nas assembleias de acionistas. Os
depositantes estão expostos indiretamente para os riscos incorridos em duas situações,
nomeadamente o sistema de seguro de depósito não garante depósito à vista para além de
um certo limite e as perdas sofridas pelos bancos nos seus pagamentos de lucros e perdas
podem ser substanciais e o capital e reservas mais depósito de investimento podem não
ser suficiente para cobri-los (CHAPRA; AHMED, 2002). Essa posição levanta várias
questões relativas aos direitos e interesses dos titulares das contas bancárias e exige
precauções extras em termos de boa governança, a fim de ganhar a confiança dos
102
depositantes e, ao mesmo tempo, proteger os direitos e interesses dos principais
acionistas.
O CA desempenha um papel importante na especificação dos objetivos estratégicos,
princípios orientadores, código de conduta e padrão de comportamento adequado dos
funcionários (CHAPRA; AHMED, 2002). A boa governança exige que o CA seja não
apenas profissionalmente competente no aspecto de riscos, estratégias de negócios e
negócios bancários, mas também tenha as qualificações adicionais para entender e
apreciar o maqasid Sharia, além de ter pelo menos uma compreensão básica de Regras e
princípios de Sharia. A motivação de administrar a corporação não é apenas para fins de
maximização do lucro dos acionistas, mas para promover o bem-estar de todas as partes
interessadas. Neste ponto, os princípios 13 ao 17 do IFSB 3 estabelecem que o CA será
responsável por orientar o estabelecimento de uma estrutura de políticas de governança
(IFSB, 2006). Esses princípios exigem que o CA não se preocupe apenas com a estratégia
de negócios voltada para o lucro da empresa, mas também considere os interesses e
direitos de todas as partes interessadas, como depositantes, funcionários e consumidores.
Ao contrário do CA, a gerência tem o dever fiduciário de implementar as políticas e
estratégias definidas pelo CA. A administração é um agente ou wakil para o CA e atua
como fiduciário não apenas para o CA, mas também para os acionistas e outras partes
interessadas. Portanto, é importante que a administração seja honesta e coerente em todos
os momentos e em todos os assuntos. Isto é também é essencial que a administração esteja
verdadeiramente ciente do princípio do maqasid Sharia e de outros princípios islâmicos,
de modo a assegurar que os interesses de todos os interessados sejam protegidos no
exercício de suas funções. O IFSB 3 considera a gestão como uma entidade crucial para
garantir que a direção e todas as transações comerciais atendam aos requisitos do Sharia
e estejam alinhadas com os interesses de todas as partes interessadas, pois envolvem as
atividades diárias das IFIs (IFSB, 2006).
Um dos principais participantes essenciais da governança corporativa islâmica é o
conselho de Sharia. O conselho de Sharia é uma instituição que só pode ser encontrada
na estrutura organizacional das corporações islâmicas. O Princípio 13 do IFSB 3 exige
que cada IFI estabeleça um conselho de Sharia que inclua pelo menos três membros para
supervisionar e monitorar a implementação da estrutura de governança, trabalhando em
conjunto com a administração e o comitê de auditoria (IFSB, 2006). O Conselho de
103
Supervisão Sharia (CSS) é considerado parte dos membros de governança corporativa
que desempenham papéis essenciais na supervisão e monitoramento das práticas da
Sharia. Basicamente, as funções do conselho de Sharia são duplas, isto é, consultivas e
de supervisão, e incluem aconselhar IFIs em suas operações, analisar e avaliar aspectos
de Sharia de quaisquer atividades bancárias e financeiras, e monitorar e supervisionar a
extensão de Conformidade de Sharia.
Em suma, a governança corporativa no Islã adiciona valor adicional à estrutura de
governança existente, uma vez que enfatiza os elementos de fé, ética e princípios de
Sharia. Uma característica única do modelo de governança corporativa islâmica requer
outra camada de estrutura de governança para realizar todos esses elementos. A esse
respeito, as IFIs precisam de um arranjo organizacional específico como parte de sua
estrutura de governança corporativa para fins de conformidade com Sharia e para
assegurar uma supervisão independente efetiva sobre questões relacionadas a Sharia.
2.8.3 Governança Sharia
O sistema de Governança Sharia, conforme definido pelo IFSB nº 1018, refere-se a um
conjunto de arranjos institucionais e organizacionais para supervisionar os aspectos de
conformidade de Sharia nas IFIs. A esse respeito, a maioria das IFIs estabeleceu suas
próprias diretorias de Sharia e algumas delas até criaram uma unidade de revisão ou
departamento interno dedicado a apoiar o Conselho de Supervisão Sharia no
cumprimento de suas funções. Isso indica um desenvolvimento positivo no aspecto do
sistema de governança Sharia nas IFIs. Olhando para as diferentes estruturas e estilos de
governança de Sharia em vários ambientes legais e diversos modelos bancários, vale a
pena examinar o marco regulatório do sistema de governança de Sharia nas jurisdições
que compõem a seleção amostral desta tese, isto é, os países do CCG.
Até agora, ainda é discutível se o primeiro ou o segundo é mais prevalente e apropriado
para uma possível adoção. Para ilustrar essas diversas abordagens, o Quadro 8 apresenta,
ao menos, quatro das perspectivas de governança corporativa, à luz da Sharia, sob a
perspectiva regulatória:
18 O guia completo dos princípios Sharia a serem serguidos pelas Instituições que oferecem serviços
financeiros islâmicos pode ser consultado em: https://ifsb.org/standard/IFSB-
10%20Shariah%20Governance.pdf
104
Quadro 8– Modelos de Governança Sharia Modelos Características
Abordagem
Reativa
Este modelo é o mais prevalente em países do ambiente jurídico não-islâmico, como
o Reino Unido e a Turquia. Como os bancos convencionais, as IFIs são obrigadas a
cumprir a legislação e os regulamentos existentes. Além disso, as IFIs têm o dever de
garantir que todas as suas operações e produtos comerciais sejam compatíveis com
Sharia. Não há legislação específica que regule as IFIs ou qualquer diretiva das
autoridades reguladoras especificando os requisitos de governança da Sharia. Nesse
sentido, os reguladores só reagirão e intervirão nas questões de governança de Sharia
se houver qualquer questão significativa envolvida que possa afetar o setor financeiro.
Por exemplo, a Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido só vê o papel
desempenhado pelos Conselhos de Sharia das IFIs como sendo de assessoria e
supervisão e não como tendo autoridade executiva como no caso de um Conselho de
Administração.
Abordagem
Passiva
Este modelo é exclusivo do modelo de governança Sharia na Arábia Saudita. A
Agência Monetária da Autoridade Saudita (SAMA) trata as IFIs como iguais às suas
contrapartes convencionais. A SAMA ainda não emitiu legislação referente às
finanças islâmicas e diretrizes sobre um sistema de governança Sharia.
Abordagem
Minimalista
Este modelo é praticado principalmente pelos países do CCG, com exceção de Omã
e Arábia Saudita. Ao contrário da abordagem reativa, o modelo minimalista permite
uma ligeira intervenção por parte das autoridades reguladoras. As autoridades
reguladoras esperam que as IFIs tenham um sistema de governança Sharia adequado,
sem especificar os requisitos detalhadamente. Não há restrição para várias nomeações
do conselho de Sharia para se sentar em várias instituições em um determinado
momento. Algumas jurisdições em países do CCG, como Bahrein, Emirados Árabes
Unidos e Catar, favorecem a adoção dos padrões de governança da AAOIFI. A
abordagem minimalista prefere que o mercado desenvolva seu próprio sistema de
governança Sharia, em vez de ter maior intervenção por parte dos reguladores.
Abordagem
Intervencionista
Embora a abordagem passiva seja exclusiva da Arábia Saudita, o modelo
intervencionista é exclusivo do modelo de governança Sharia no Paquistão. O modelo
intervencionista permite que instituições terceiras tomem decisões sobre questões de
Sharia relativas às finanças islâmicas.
Fonte: Adaptado de Balz (2008).
A estrutura existente de finanças islâmicas em várias jurisdições, islâmicas e não
islâmicas, demonstra as diversas práticas e modelos do sistema de governança Sharia.
105
Algumas jurisdições preferem um maior envolvimento das autoridades reguladoras e
alguns países preferem o contrário (OUSAMA; FATIMA, 2010).
Dessa forma, o arranjo institucional de governança de uma IFI, comparativamente ao de
se par convencional é ilustrado no Quadro 9 a seguir:
Quadro 9 – Arranjo Institucional de Governança Corporativa Convencional e Islâmica
Funções Presente nas Instituições Financeiras
Convencionais
Exclusivo de Instituições Financeiras
Islâmicas
Governança Conselho de Administração (CA) Conselho de Supervisão Sharia (CSS)
Controle Auditor Interno e Auditor Externo Revisão e validação da Sharia (interna e
externa)
Compliance Diretoria de conformidade regulatória e
financeira Unidade interna de Sharia Compliance
Fonte: Adaptado de IFSB (2009).
O quadro acima indica inicialmente que IFIs e instituições financeiras típicas
compartilham arranjos institucionais comuns para sua estrutura de governança
corporativa, particularmente nos aspectos de governança, controle e conformidade. O
único elemento que diferencia a governança corporativa nas IFIs é o arranjo institucional
para o mecanismo de governança do Sharia. As IFIs requerem outro conjunto de arranjos
organizacionais na forma de uma junta de Sharia, uma revisão interna ou externa de
Sharia e uma unidade de conformidade interna de Sharia para atender ao requisito
religioso de conformidade com Sharia em todos os aspectos de suas transações
comerciais e operações (OUSAMA, 2010).
Em termos de estrutura de governança, o sistema de governança Sharia acrescenta uma
camada adicional de governança à estrutura de governança corporativa existente. O
quadro acima demonstra ainda a estrutura única de governança corporativa em IFIs
típicas, na qual o conselho de Sharia e a revisão interna ou externa de Sharia são as
instituições adicionais que supervisionam os aspectos de conformidade do Sharia. Isto é,
na verdade, baseado nos padrões de governança da AAOIFI, que colocam o conselho de
Sharia em pé de igualdade com o CA na estrutura de governança corporativa e, portanto,
está sujeito diretamente aos acionistas. A abordagem do IFSB 1019, por outro lado, coloca
o conselho de Sharia como paralelo ou subordinado ao CA. No entanto, as diretrizes do
19 Para mais detalhes, ver: https://ifsb.org/standard/IFSB-10%20Shariah%20Governance.pdf
106
AAOIFI e do IFSB concordam que o conselho do Sharia deve ser independente do CA e
ser responsável não apenas pelos acionistas, mas por todas as partes interessadas.
2.9 Ética nas Finanças Islâmicas
A ética é um conjunto de princípios morais que distinguem o que é certo do que está
errado. A ética avalia as práticas humanas invocando padrões morais. Também pode dar
conselhos prescritivos sobre como agir de forma moral em uma determinada situação.
(BLASI, 1980). Nessa mesma esteira, podemos diferenciar ética e moral, que muito
embora sejam temas relacionados, são diferentes, pois moral se fundamenta na
obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos e a
ética, busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano. Na filosofia, a ética
não se resume à moral, que geralmente é entendida como costume, ou hábito, mas busca
a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver; a busca do melhor estilo
de vida. A ética abrange diversos campos, como antropologia, psicologia, sociologia,
economia, pedagogia, política, e até mesmo educação física e dietética.
Alguns conceitos, princípios e abordagens poderiam ser questionados, considerando a
teoria positiva em Contabilidade como, por exemplo, a abordagem ética uma vez que no
pano de fundo das pesquisas sobre mercado de capitais o fato de os agentes econômicos
sempre procurarem o melhor para si, em termos econômicos, não deixa muita margem
para valores como ética, justiça, distribuição social e outros. Cada um age de acordo com
o que é melhor para sua situação econômica. Como disciplina eminentemente social,
todavia, a Contabilidade não pode ser imoral ou privilegiar, em prejuízo de outros, certos
stakeholders. Não impede que certos agentes possam ter um grau de detalhe de
informação maior do que outros, de acordo com as necessidades de seu modelo decisório.
Desde que os outros tenham o mínimo necessário para poder fazer inferências com
relação à entidade. Essa situação é bastante delicada e os limites entre o comportamento
hedonista, de um lado, e a inobservância de regras de equidade, de outro, são muito
tênues. Assim, a denominada abordagem ética da Contabilidade permanece quase que
como um santuário de propósitos, uma promessa que se faz, da mesma forma que os
crentes procedem com relação a Deus, ou seja, de não pecar, de comportar-se com justiça
e retidão, de não prejudicar ninguém (IUDÍCIBUS; MARTINS; CARVALHO, 2005).
Para os muçulmanos, a ética sempre foi considerada uma parte do seu modo de vida,
sendo indissociada da religião. Consequentemente, a ética comercial não pode ser
107
separada da ética presente em todos os aspectos de sua vida. As finanças islâmicas
decorrem do princípio de que a religião não pode ser separada de qualquer aspecto da
vida, incluindo os negócios. As relações comerciais no quadro islâmico são
principalmente baseadas em éticas a partir de crenças religiosas, confiança e fé. As
normas, valores e crenças religiosas devem regular o comportamento humano na
sociedade. (BEEKUN, 1996).
Os ensinamentos do Islã visam permitir que valores morais estejam presentes em todos
os aspectos da vida cotidiana e em sociedade, incluindo a atividade financeira e
econômica. O islã como religião não se restringe à recitação diária do Corão ou ao jejum,
mas abrange toda a vida humana, uma vez que reconhece o secular e o espiritual.
O seguinte verso do Corão (HAYEK, 1994) afirma que:
A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao
poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Allah, no Dia do Juízo Final,
nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade
por amor a Allah, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e
em resgate de cativos (escravos). Aqueles que observam a oração, pagam o
zakat, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na
adversidade, ou durante os combates, esses são os verazes, e esses são os
tementes (AL BÁCARA, 2:177).
A partir das formulações e contribuições da teoria da Sharia e das consequentes
derivações de princípios e valores que devem orientar o funcionamento do sistema
econômico de modo geral, e cientes de que esse sistema requer estruturas de
financiamento ou provimento de recursos para operar, o pensamento muçulmano,
marcadamente a partir dos anos 1950, concebeu um conjunto específico de premissas e
princípios voltados para nortear as práticas financeiras no Islã (AL-QARADAWI, 1985).
As finanças islâmicas, genuinamente baseadas em valores éticos e morais atribuíveis aos
ensinamentos do Corão, também dão prioridade às questões éticas e sociais e, portanto,
representam uma alternativa não só para os adeptos da religião islâmica (WAJDI, 2008).
Os não-muçulmanos também procuram investimentos socialmente responsáveis.
Confiança, benevolência, justiça e equilíbrio representam os pilares da ética empresarial
islâmica. (EL GARAH, 2012).
As sucessivas crises financeiras internacionais levaram a uma atitude cada vez mais
crítica em relação ao mercado bancário tradicional. Embora a teoria da carteira de
Markowitz sugira que os investidores preferiam carteiras com um retorno máximo,
108
minimizando seus riscos, questões éticas e religiosas podem ter um impacto sobre essas
decisões (ABDELSALAM et al., 2014)
Como uma alternativa, os investidores hoje em dia são capazes de escolher bancos
islâmicos, uma vez que não existem restrições. Com o objetivo de melhorar bem-estar
econômico e social, muitas vezes é visto como tendo sua própria identidade ética
(HANIFFA; HUDAIB, 2007). Isso resulta dos objetivos subjacentes da Sharia - justiça,
justiça e equilíbrio social - que desempenham um papel importante na sociedade.
Dessa forma, o papel primordial dos bancos islâmicos, observando o alicerce ético é o de
manter um equilíbrio entre a satisfação das necessidades do cliente em termos de retornos
suficientes e preços razoáveis, bem como atender às suas responsabilidades sociais e
religiosas. A Figura 8 a seguir ilustra uma visão sintetizada das inter-relações entre
princípios e instrumentos financeiros em uma economia islâmica, destacando sua vertente
ética, visto que os ensinamentos islâmicos contêm muitos deles. No Corão Sagrado, um
quinto de seus versos são dedicados a Muamalat (transações comerciais).
Figura 8 – Inter-relação entre Ética e Economia Islâmica
Fonte: Autor (2018).
O muçulmano segue tais diretrizes por acreditar que elas o ajudem a distinguir entre o
que é ético e moralmente aceito do que é ilícito e condenável. Para fazer isso, a economia
islâmica oferece uma série de alternativas e instrumentos que podem ajudar a atingir esses
valores.
Liberdade Justiça
Compaixão Moderação Fraternidade
investimento - consumo - poupança - comércio - distribuição - transações Atividades
Econômicas
Ética
Instrumentos
Financeiros
Fé
Proibição da
Riba, Maysir
e Gharar
Caridade e
atividades
benevolentes
Finanças
Islâmicas Papel
Econômico
do Estado
Propriedade
pertence à Deus Tawhid Crença no
Futuro
109
3 DIVULGAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)
SOB A PERSPECTIVA ISLÂMICA
Este Capítulo delineará os principais conceitos que emergem da literatura de divulgação
e as práticas que devem ser examinadas, considerando a proposta desta tese, tais como o
conceito de RSC, do ponto de vista islâmico, os princípios éticos na promoção da
divulgação de RSC, o papel do AAOIFI e a divulgação da RSC em bancos islâmicos. Os
bancos islâmicos, como já discutido, têm como finalidade conduzir suas atividades com
base nos princípios da religião islâmica. Portanto, é importante discutir também o
conceito de RSC, sob uma perspectiva islâmica. Dessa forma, o Capítulo fornecerá uma
visão clara do motivo pelo qual os bancos islâmicos têm que ser socialmente responsáveis
perante a comunidade, ao mesmo tempo em precisam atingir os objetivos da empresa.
Será apresentada, inicialmente, a discussão acerca das diversas Teorias de Divulgação da
RSC, para posterior explanação das seguintes Teorias: Teoria da Agência, Teoria dos
Stakeholders, Teoria da Legitimidade, Teoria da Responsabilização, a Teoria da
Sinalização e a Teoria Econômica. Em seguida, avança para a Responsabilidade Social
sob a perspectiva islâmica, evidenciando as divulgações necessárias à luz do AAOIFI e
os modelos contemporâneos islâmicos de RSC.
3.1 Contextualização
A revisão da literatura envolvendo a divulgação da RSC demonstra que as pesquisas se
concentram na responsabilidade dos negócios em relação a seus stakeholders, incluindo
clientes, fornecedores, funcionários, comunidades e outras partes interessadas (ARIBI,
2009). Considera-se que essa responsabilidade se estende além da obrigação estatutária
de cumprir a legislação ou as normas vigentes e, voluntariamente, cuida e divulga
informações a esses interessados e a sociedade em geral. Atualmente, essas questões
tornaram-se tópicos fundamentais para acadêmicos, organizações e formuladores de
políticas de divulgação (CAPRON; GRAY, 2000; ARIBI, 2009; PLATONOVA, 2014).
Para responder a essa questão, o Accounting and Auditing Organization to Islamic
Financial Institutions (AAOIFI) assumiu a responsabilidade de emitir os padrões de
governança para as Instituições Financeiras Islâmicas (IFI), que fornecem orientações
claras sobre a divulgação de RSC para bancos islâmicos.
110
Gray et al. (2009) afirmam que a lente da teoria nos permite avaliar a prática e a política
em relação a critérios que consideramos apropriados. Geralmente, a literatura apresenta
muitas teorias para explicar a variação entre entidades em termos de seu nível de
divulgação. Diversas vertentes teóricas foram desenvolvidas para explicar os incentivos
dos administradores à divulgação. No entanto, não existe uma teoria de divulgação geral
ou abrangente que possa ser aplicada, portanto, devem ser analisadas de forma
complementar (VERRECCHIA, 2001).
Aparentemente, cada teoria explica diferentes aspectos da divulgação corporativa ou olha
para este fenômeno a partir de diferentes perspectivas (AL-HTAYBAT, 2012). Portanto,
argumentou-se que várias teorias poderiam ser usadas em uma estrutura integrada para
fornecer uma explicação para incentivos gerenciais, que afetam a divulgação de RSC
(VERRECCHIA, 2001; AL-HTAYBAT, 2012). Inúmeras teorias poderiam explicar os
fenômenos da divulgação, como a Teoria dos Stakeholders, a Teoria da Agência, a Teoria
da Sinalização e a Teoria do Accountability. No entanto, explicar a divulgação apoiada
apenas por uma única teoria não é suficientemente razoável.
Al-Htaybat et al. (2012) argumentam que as teorias de divulgação, como a teoria da
agência e a teoria dos stakeholders, seriam de grande valia para explicar um fenômeno
particular, fornecendo insights claros na compreensão das práticas de divulgação da RSC.
Além disso, poderia ser considerada como um aspecto complementar das discussões de
divulgação. Estudos anteriores (e.g., FAROOK et al., 2011) argumentam que existe uma
consistência entre a teoria da agência e a Teoria dos Stakeholders. Portanto, a Teoria da
Agência e a Teoria dos Stakeholders podem ser consideradas como teorias inter-
relacionadas para explicar os determinantes da divulgação da RSC.
Em geral, a Teoria da Agência é de grande relevância nas áreas de Finanças, Economia e
Contabilidade. Jensen e Meckling (1976) descreveram a Teoria da Agência com base nos
conflitos de interesse originados da relação entre o principal (proprietário do capital da
empresa) e o agente (responsável pela gestão dos recursos da empresa). Segundo os
autores, a teoria pressupõe a existência de problemas de agência oriundos de decisões
tomadas pelos gestores da empresa que visam maximizar sua utilidade pessoal ao invés
da riqueza dos acionistas.
Tais evidenciações de informações pelas entidades são abordadas pela Teoria da
Divulgação. Na qual se destacam os estudos seminais de Verrecchia (1983) e Dye (1985)
111
sobre o disclosure. Quase duas décadas depois desses estudos, Verrecchia (2001) foi
designado pelo periódico Journal of Accountig and Economics a fazer um compêndio das
pesquisas contábeis realizadas até então que buscassem explicar fenômenos relacionados
à divulgação de informações contábeis. Identificou três categorias de pesquisa sobre os
processos da divulgação de informações na contabilidade: a divulgação baseada em
associação (association based disclosure), a divulgação baseada em eficiência (efficiency
based disclosure) e a divulgação baseada em julgamento (discretionary based disclosure)
3.2 Teorias de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa (DRSC)
Diversas teorias foram desenvolvidas para explicar as razões subjacentes às práticas de
divulgação da RSC. Garriga e Melé (2004), por exemplo, classificaram as teorias de RSC
em quatro categorias principais: Teorias Instrumental, Política, Integradora e Ética. Ao
classificar essas teorias, Gray et al. (1995) identificaram Teorias da Utilidade,
Econômicas, Sociais e Políticas que são usadas pelos pesquisadores para encontrar um
arcabouço teórico para estudos empíricos sobre a RSC e para relacionar
significativamente a teoria com suas descobertas.
As Teorias Sociais e Políticas estão preocupadas com o papel da informação e da
divulgação em relação às relações entre indivíduos, o estado e as organizações. Essas
teorias enfocam no poder das corporações na sociedade e o uso responsável do poder na
esfera política. Essas teorias são consideradas as mais adequadas para explicar a
divulgação da RSC. De fato, as teorias orientadas à sistemas, tais como a Teoria dos
Stakeholders, Teoria da Legitimidade e a Teoria Política, são as principais teorias que
dominaram a literatura de divulgação da RSC (DEEGAN et al., 2002).
Verrecchia (2001), ao iniciar seu estudo, sinaliza que não consegue identificar
prioritariamente uma Teoria da Divulgação. Na sequência, Dye (2001) tece críticas ao
trabalho realizado por Verrecchia (2001), ao contrapor que o aspecto endógeno seria o
coração da Teoria da Divulgação. A partir da categorização das pesquisas na temática da
divulgação, Verrecchia (2001) propõe uma taxonomia que engloba, de modo amplo, as
pesquisas identificadas, o momento de ocorrência da divulgação (ex ante ou ex post) e o
processo de divulgação (caráter endógeno ou exógeno). Assim, as pesquisas são
categorizadas em: Divulgação Baseada em Associação, Divulgação Baseada em
Julgamento e Divulgação Baseada em Eficiência.
112
A Divulgação Baseada em Associação compreende as pesquisas que relacionam o
fenômeno da informação divulgada e seus reflexos para investidores e o mercado de
capitais. Busca-se identificar mudanças no comportamento dos preços dos ativos (opções
de ações negociadas) e o volume negociado. Nesta abordagem presume que os
investidores competem no mercado de capitais em busca da maximização de sua riqueza.
O estudo de Ball e Brown (1968), pioneiro neste aspecto, buscou evidenciar de modo
empírico a influência da informação contábil no mercado de capitais. Beaver (1968)
estudou o volume negociado e o comportamento dos preços nas semanas próximas à
divulgação das informações contábeis. Seu estudo encontrou forte relação entre a
evidenciação de informações e as reações do mercado de capitais refletidas nos preços e
no volume negociado.
3.2.1 Teoria da Agência
O mais dominante de todos os estudos de divulgação é a Teoria da Agência, que tem sido
amplamente referenciada em muitos estudos de divulgação. Essa teoria refere-se
basicamente a uma relação entre o principal e o agente. Jensen e Meckling (1976)
definiram o relacionamento de agência como um contrato, sob o qual o principal contrata
um agente para realizar um serviço em seu nome. Eles também identificaram os três tipos
de custos de agência, que estão associados a problemas de agência. Em primeiro lugar,
há custos de monitoramento que são incorridos, dando certos incentivos para o agente, o
que o motiva a agir pelos principais interesses. Em segundo lugar, os custos de ligação,
que ocorrem quando o agente utiliza recursos adicionais para garantir que suas ações não
sejam contra o principal dos juros. Em terceiro lugar, há a perda residual que resulta na
redução do bem-estar do principal.
Estudos anteriores também usaram a teoria da agência para explicar a decisão de divulgar
informações de RSC, como informações sociais e ambientais (e.g., SHANE; SPICER,
1983; BELKAOUI; KARPIK, 1989; MIRZA; BAYDOUN, 1999). A Teoria da Agência
sugere que existe uma separação entre a propriedade e o controle de uma empresa. O
potencial custo de agência existe a partir dos conflitos de interesse entre os principais e
os agentes (gestores ou administradores). Cada parte toma uma decisão com base em seus
objetivos autodeterminados (SAFIEDDINE, 2009). Do ponto de vista da teoria da
agência, as empresas são motivadas a divulgar mais informações de RSC para convencer
as partes interessadas de que estão se comportando de forma ideal em nome delas, sua
113
preocupação com as questões de RSC e, como resultado, reduzir todos os custos da
agência entre agente e principal.
A Teoria da Agência também fornece uma estrutura conceitual para explicar as práticas
de divulgação por diferentes empresas, tais como empresas financeiras e não financeiras
(HILL; JONES, 1992). Alega-se que a teoria da agência prevê que os custos de agência
estão associados a diferentes características corporativas, como tamanho, alavancagem e
tipo de propriedade (WATSON ET AL., 2002). Além disso, mecanismos de governança
corporativa (GC) são introduzidos pelos acionistas para alinhar as ações dos
administradores aos interesses dos acionistas. Como resultado, muitos estudos empíricos
usaram características das empresas e mecanismos de GC como determinantes da
divulgação social corporativa de acordo com os pressupostos da teoria de agência (e.g.,
HO; WONG, 2001; HANIFFA; COOKE, 2002; AJINKYA et al., 2005; GHAZALI;
WEETMAN, 2006; TAURINGANA; MANGENA, 2009; HUSSAINEY; AL-NAJJAR,
2011). A implicação dessa teoria deu origem a várias hipóteses, como a influência do
Conselho de Supervisão Sharia (CSS), que atua como um agente em nome dos bancos na
promoção da prática de divulgação de RSC.
Em outras perspectivas, problemas de assimetria de informação e conflitos de agência
poderiam existir entre os administradores das empresas e os stakeholders (HEALY;
PALEPU, 2001). Os atores externos geralmente não têm acesso às informações internas
sobre a empresa, que estão disponíveis apenas para a equipe de administradores.
Pesquisas anteriores (e.g., SHEU et al., 2010) mostram que a divulgação pode reduzir a
assimetria de informações entre insiders (administradores) e outsiders (stakeholders) e,
portanto, reduzir os conflitos de agência entre as partes. Como resultado, isso leva ao
aumento do valor da empresa (SHEU et al., 2010). Assim, a influência da divulgação da
RSC no valor da empresa (VF) também pode ser entendida com base na teoria da agência.
Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da divulgação da RSC
(QP 2) quanto as consequências dessas divulgações (QP 1).
3.2.2 Teoria dos Stakeholders ou das Partes Interessadas
A Teoria dos Stakeholders ou Teoria das Partes Interessadas concentra-se na suposição
de que o comportamento de vários grupos de partes interessadas incentiva a administração
a relacionar as necessidades corporativas com seu ambiente socioambiental. Freeman e
Reed (1983) definiram uma parte interessada como qualquer grupo ou indivíduo que pode
114
afetar ou é afetado pela realização dos objetivos das organizações e sugeriu que as
corporações devem identificar suas partes interessadas diretas e indiretas. Mais tarde, ele
indicou que a teoria do stakeholder poderia ser usada como uma metáfora ou uma
compilação de diferentes narrativas; assim, não pode ser descrito como uma teoria devido
aos vários interesses das partes interessadas envolvidas. Tornou-se cada vez mais
evidente que as partes interessadas têm a capacidade de influenciar a maneira pela qual
as corporações conduzem a si mesmas e, em última análise, influenciam sua 'licença para
operar' (WILSON, 1997). Isso implica que se uma empresa não corresponder uma parte
interessada relevante, essa parte interessada pode pressionar a empresa para que ela atinja
suas expectativas. Segundo Ullman (1985), quanto maior a importância dos recursos das
partes interessadas ou o apoio a uma organização, maior a probabilidade de que as
expectativas das partes interessadas sejam incorporadas à operação de uma organização.
Em outras palavras, o nível de poder das partes interessadas aumenta à medida que
aumenta a importância de atender às demandas das partes interessadas (DEEGAN, 2000).
A Teoria das Partes Interessadas também reflete a incorporação da responsabilidade
social na estrutura de planejamento corporativo, tentando desenvolver uma estratégia
corporativa que atenda à aprovação dos principais grupos de partes interessadas de uma
organização e também fornece a explicação potencial da divulgação da responsabilidade
social em termos de capacidade de resposta corporativa à intensidade das demandas das
partes interessadas, orientação estratégica corporativa em relação às suas
responsabilidades sociais e trade-off entre os objetivos econômicos e sociais corporativos
(PARKER, 2005). Vários estudos também investigaram a relação entre a divulgação
social e a teoria dos stakeholders (e.g., FREEMAN; REED, 1983; ADAMS; HARTE,
1999). Adams e Harte (1999) usaram a teoria das partes interessadas para explicar as
decisões dos gerentes de divulgar certas informações sociais e ambientais em seu relatório
anual. Eles descobriram que as empresas não divulgariam informações sociais se
houvesse pouca demanda por tais informações ou que aqueles que as solicitassem não
fossem consideradas altamente proeminentes pela organização.
No entanto, essa Teoria foi criticada por apoiar a divulgação corporativa, respondendo
primariamente às partes interessadas mais poderosas e influentes (GRAY et al., 1995,
1997; DEEGAN, 2002). De acordo com a teoria dos stakeholders, espera-se que as
características de GC possam afetar os relatórios de RSC. Por exemplo, o tamanho do
conselho afetaria a prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos, pois eles
115
fornecerão mais informações de RSC para atender às demandas de seus stakeholders.
Essa teoria será usada para testar as variáveis determinantes da divulgação de RSC e
responder a segunda questão de pesquisa (QP 2).
3.2.3 Teoria da Legitimidade
Esta Teoria propõe que as divulgações corporativas são feitas como reações a fatores
ambientais e não ambientais (incluindo sociais, econômicos e políticos) a fim de legitimar
ações e atividades corporativas. Patten (2005) sugere que a teoria é baseada na noção de
que os negócios (bancos islâmicos) operam na sociedade por meio de um contrato social
e, como tal, são monitorados através da arena de políticas públicas, e não do mercado.
Adams e Roberts (1998) também sugerem que essa teoria é usada pelas empresas para
legitimar suas atividades buscando apresentar a empresa como um cidadão corporativo
responsável. Em outras palavras, na legitimação de suas ações, divulgando todas as
atividades de RSC no relatório anual e justificando sua continuidade no mercado.
A Teoria da Legitimidade afirma que as organizações buscam continuamente assegurar
que operam dentro dos limites e normas de suas respectivas sociedades, o que é uma
tentativa de garantir que suas atividades sejam percebidas por terceiros como sendo
legítimas (DEEGAN, 2002). Suchman (1995) define a teoria da legitimidade como uma
percepção ou suposição generalizada de que as ações de qualquer entidade são desejáveis,
adequadas ou apropriadas dentro de algum sistema socialmente construído de normas,
valores, crenças e definições. De acordo com a teoria da legitimidade, uma empresa que
opera na sociedade, como os bancos islâmicos, tem um contrato social pelo qual concorda
em realizar várias ações socialmente desejadas em troca da aprovação de seus objetivos,
outras recompensas e sua sobrevivência final (GUTHRIE; PARKER, 1989). Deegan
(2002) argumenta que o contrato social não é fácil de definir, mas o conceito é usado para
representar a multiplicidade de expectativas implícitas e explícitas que a sociedade tem
sobre como a organização deve conduzir suas operações.
Lindblom (1994) sugere quatro maneiras para uma organização legitimar suas ações:
primeiro, educar e informar seus clientes relevantes sobre mudanças no desempenho e
nas atividades da empresa; em segundo lugar, mudar as percepções do público relevante,
mas não alterar seu comportamento real; em terceiro lugar, manipular a percepção
desviando a atenção das questões de interesse para outras questões relacionadas por meio
de uma apelação; e, por último, alterar as expectativas externas de seu desempenho.
116
Assim, a interpretação desses estudos sugere que a divulgação de informações sociais
parece ser uma prova para os bancos islâmicos fornecerem informações sobre suas
atividades para legitimar seus comportamentos. Eles têm que divulgar informações
suficientes para avaliar se representam ou não um bom cidadão corporativo (MAALI et
al., 2006). Vários estudos têm procurado empregar a teoria da legitimidade como uma
forma de divulgação (e.g., DEEGAN; RANKIN, 1996; CAMPBELL, 2000; O’DWYER,
2002; STADEN, 2003; AHMAD; SULAIMAN, 2004; OGDEN; CLARK, 2005; DE
VILLIERS; VAN STADEN, 2006; BRANCO; RODRIGUES, 2008). No entanto, Gray
et al. (1995) e Deegan (2002) afirmam que a teoria da legitimidade se sobrepõe à teoria
político-econômica e à teoria institucional. Além disso, a teoria da legitimidade também
tem sido criticada por falta de especificidade e é incerta em sua capacidade de antecipar
e explicar o comportamento gerencial (PARKER, 2005).
Preocupada com as consequências econômicas para a divulgação social, a teoria da
legitimidade também argumenta que as corporações podem estar entusiasmadas em
divulgar informações sociais para legitimar sua posição dentro da sociedade (DEEGAN
et al., 2002). McDonald e Rundle-Thiele (2008) encontraram influências da RSC na
lucratividade corporativa por meio da criação de ativos intangíveis, como boa reputação,
confiança e comprometimento, que impulsionam o sucesso a longo prazo do negócio.
Isso melhora a capacidade da empresa de atrair recursos, melhorar o desempenho e criar
vantagens competitivas e aumentar o valor da empresa (VF) (FOMBRUN et al., 2000).
Pesquisa anterior difundida propõe que os relatórios de divulgação podem influenciar
positivamente as percepções dos stakeholders sobre o desempenho da empresa e,
portanto, sobre a rentabilidade das empresas e o preço das ações (LOURENCO et al.,
2012). Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da divulgação
da RSC, especificamente em bancos islâmicos, (QP 2) quanto as consequências e
implicações no valor dos bancos da região do CCG (QP 1).
3.2.4 Accountability
De acordo com a Teoria da Prestação de Contas (Accountability), o termo “prestação de
contas refere-se ao dever dos contadores (agentes/diretores/gerentes) de fornecer uma
informação ou relatório aos stakeholders (partes interessadas/usuários/sociedade). Tal
Teoria demonstra a responsabilidade dos gestores de cumprir um conjunto definido de
deveres ou tarefas e de conformar as regras e padrões aplicáveis aos seus cargos nas
empresas (JAGADEESAN et al., 2009). Segundo Gray et al. (1995), para serem
117
socialmente responsáveis, os gestores das empresas são obrigados a fornecer todas as
informações financeiras e não financeiras às partes interessadas.
De um ponto de vista islâmico, os muçulmanos, bem como os bancos islâmicos, são
responsáveis perante Allah para obedecê-lo e adorá-lo, bem como para cumprir a Sharia.
Pode ser entendido que a responsabilidade pode ser determinada pela relação contratual
entre as diferentes partes (GRAY et al., 1995). Por outro lado, alguns estudiosos têm uma
visão mais profunda sobre o significado de responsabilidade. Gallhofer e Haslam (1994)
afirmaram que a responsabilidade não é tanto sobre responsabilizar e julgar o
comportamento; nem assume uma relação agência-princípio simples, mas a prestação de
contas parece equivalente à capacidade de prestar contas conducentes ao bem-estar.
A prestação de contas, de uma perspectiva islâmica, refere-se a uma responsabilidade
para Allah como um dos principais responsáveis, depois para a sociedade e outras partes
interessadas. Assim, a teoria da prestação de contas é aplicável para este estudo através
da extensão deste conceito para conter mais do que investidores e proprietários de bancos
islâmicos. No Islã, como criador, Allah tem uma propriedade absoluta dos recursos. Os
seres humanos são meros administradores neste mundo, portanto, eles são obrigados a se
comportar de acordo com a vontade de Deus, protegendo e cuidando uns dos outros e
outras criações de Deus, como a humanidade será responsável por suas ações em este
mundo no Dia do Juízo ou Al Quiamah (BAYDOUN; WILLETT, 1997; MAALI et al.,
2006). Prestação de contas no Islã também inclui a responsabilidade perante a
comunidade; Baydoun e Willett (2000) argumentaram que empresas, como os bancos
islâmicos, deveriam divulgar todas as informações exigidas por seus stakeholders e pela
sociedade, a fim de cumprir sua responsabilidade no fornecimento de informações de
RSC. Essa teoria será usada para testar as variáveis determinantes da divulgação de RSC
por parte dos bancos islâmicos (QP 2).
3.2.5 Teoria da Sinalização
Os relatórios anuais da empresa contêm informações que servem como sinais exigidos
pelos investidores. Os investidores empregam sinais como considerações ao tomar uma
decisão. A Teoria da Sinalização é valiosa para empresas e investidores porque as
informações fornecidas pelas empresas fornecem sinais que podem reduzir a assimetria
de informação. Este estudo faz uso principalmente da Teoria da Agência. É importante
notar também que alguns estudos anteriores usam a Teoria de Sinalização para explicar
118
as decisões de divulgação corporativa (WANG et al., 2008). A Teoria da Sinalização é
considerada uma extensão da Teoria da Agência (MECKLING, 1976 JENSEN;
BUSKIRK, 2012). Spence (1973) introduziu a Teoria da Sinalização em 1973 através de
sua pesquisa sobre a lacuna de informação entre empregado e empregador. Ele foi
desenvolvido para explicar a assimetria de informações entre gerentes e acionistas
(MORRIS, 1987; BLACK et al., 2006). A Teoria da Sinalização pode ser aplicada no
caso de assimetria de informação e, portanto, esse problema pode ser reduzido quando a
parte que tem mais informações a envia para outras partes interessadas. A sinalização é
um fenômeno comum, aplicável em qualquer mercado com assimetria de informação
(MORRIS, 1987). Portanto, essa teoria foi usada para explicar os incentivos dos
administradores em divulgar mais informações em relatórios financeiros (HANIFFA;
COOKE, 2002).
Os gestores têm que divulgar informações adequadas nas demonstrações financeiras para
transmitir sinais específicos aos usuários em potencial. Morris (1987) afirma que, para
garantir que a sinalização de informações das empresas seja eficaz na redução da
assimetria de informação, os custos de sinalização devem ser suportados pelo agente, para
que eles tenham um incentivo para sinalizar com veracidade.
De acordo com a teoria de sinalização, um gestor divulga informações para reduzir a
assimetria de informação e sinalizar a pessoas de fora que uma empresa está tendo um
desempenho melhor do que seus pares (SÁNCHEZ et al., 2011). A Teoria da Sinalização
postula que os investidores confiam nas informações fornecidas pelas empresas, por meio
destes gestores (ABHAYAWANSA; ABEYSEKERA, 2009), destacando que a
credibilidade da informação é crucial para garantir menos assimetria informacional
(HUGHES, 1986). A esse respeito, uma empresa boa pode se distinguir de uma empresa
ruim enviando um sinal confiável sobre sua qualidade para os mercados de capitais. k e
Dittmar (2004) argumentam que um sinal só será credível se a empresa ruim escolher não
imitar a boa empresa enviando o mesmo sinal.
Dessa forma, a Teoria da Sinalização é o principal referencial teórico utilizado para
explicar a associação entre divulgação e valor da firma (VF). Com base nessa teoria, a
divulgação abrangente sinaliza melhores mecanismos de GC e menos conflitos de
agência, levando, portanto, a um maior valor da empresa (VF) (SHEU et al., 2010).
Argumenta-se que as divulgações voluntárias no relatório anual enviam sinais ao mercado
que devem aumentar o valor presente líquido de uma empresa e, consequentemente, o
119
valor do mercado de ações (GORDON et al., 2010). Curado et al. (2011) apontam que a
divulgação corporativa influencia o valor da firma (VF) como percebido pelos mercados.
Cormier et al. (2011) afirmam que a divulgação fornece informações relevantes para o
valor dos mercados de ações. Álvarez et al. (2010) forneceram evidências de que a
divulgação tem uma consequência positiva na criação de valor para o acionista.
A importância da divulgação corporativa surge de ser um meio de comunicação entre a
administração, investidores externos e participantes do mercado. Acredita-se que a
divulgação corporativa aprimorada atenua o problema de assimetria e os conflitos de
agência (LAMBERT et al., 2007). As consequências do aumento dos níveis de divulgação
são frequentemente discutidas em termos de redução de preços incorretos, lucratividade
acumulada e crescimento do valor da firma (VF) (BOTOSAN; PLUMLEE, 2002). Os
estudos empíricos resultantes fornecem evidências de apoio sobre a associação entre
divulgação e valor da empresa. Healy et al. (1999) constatam que as empresas com níveis
de divulgação expandidos experimentam aumentos substanciais correspondentes no valor
da empresa. Os efeitos diretos das divulgações corporativas têm a capacidade de alterar
o valor das empresas, afetando as decisões dos gerentes e, portanto, variando a
distribuição dos fluxos de caixa futuros (LAMBERT et al., 2007). Assim, a divulgação
corporativa aprimorada pode aumentar o valor de mercado para as empresas (ELZAHAR
et al., 2015). Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da
divulgação da RSC dos bancos islâmicos (QP 2) quanto as consequências para os bancos
que operam na região do CCG (QP 1).
3.2.6 Teoria Econômica
A Teoria Econômica foi desenvolvida por Jensen e Meckling em 1976. A hipótese
subjacente da teoria econômica é que a motivação para investir na aquisição de
informações é baseada no efeito esperado do investimento na participação de um contrato.
Uma parte investe na aquisição de informações na fase pré-contratual com base em sua
crença de que existe uma probabilidade alta o suficiente de que algumas informações
positivas sejam reveladas e que essas informações possam receber ou fornecer um ativo
cujo valor (custos) é maior (menor) que o preço pago (recebido). Quando uma obrigação
de divulgação é imposta, a parte investidora arca com os custos de aquisição de
informações antes que o contrato seja formado, mas não pode extrair os benefícios, uma
vez que o preço refletiria o valor real do ativo (JENSEN; MECKLING, 1976).
120
Em particular, esta teoria tem sido amplamente utilizada por pesquisadores de
contabilidade para explicar e compreender o fenômeno da divulgação voluntária (e.g.,
HOSSAIN et al., 1995; MEEK et al., 1995; HANIFFA; COOKE, 2002; HOSSAIN;
TAYLOR, 2007; CHEN et al. al., 2008; AKHTARUDDIN; HOSSAIN, 2008). Um elo
importante entre a teoria econômica e o pensamento contábil contemporâneo é a noção
de que o compromisso de uma empresa com uma maior divulgação deve reduzir os custos
de capital que surgem das assimetrias de informação e afetam positivamente o valor da
empresa (LEUZ; VERRECCHIA, 2000). O compromisso de aumentar os níveis de
divulgação reduz a possibilidade de surgirem assimetrias de informação entre a empresa
e seus acionistas. Isso, por sua vez, deve reduzir o desconto pelo qual as ações firmes são
vendidas e, assim, diminuir os custos de emissão de capital e aumentar o valor da empresa
(BAIMAN; VERRECCHIA, 1996).
A teoria econômica também defende que maiores níveis de divulgações voluntárias
podem reduzir as assimetrias de informação entre a empresa e os participantes do mercado
e, como resultado, aumentar a liquidez das ações da empresa e aumentar o valor da
empresa (VF) (BEYER et al., 2010). Essa teoria será usada para testar as variáveis de
consequências da divulgação da RSC nos bancos que operam no CCG (QP 1).
3.3 Responsabilidade Social no Islã
A perspectiva islâmica sobre responsabilidade social indica que as atividades devem
ajudar diretamente os indivíduos ou as sociedades a melhorar suas condições de vida ou
ambientais ou ajudá-los a cumprir melhor as regras e normas religiosas (AAOIFI, 2010).
O Islã fornece orientação clara para seus seguidores em todos os aspectos da vida, que
são baseados no Corão e na Suna (PINTO, 2010). É reconhecido que ser responsável nos
negócios é mais valioso do que o que é feito com os lucros obtidos das atividades de
negócios; portanto, a existência de atividades que são consideradas no Islã como haram
(proibidas) foi claramente declarada no Corão para assegurar que a comunidade pratique
justiça social e econômica entre elas. O Islã também fornece um código de conduta
completo para seus seguidores e abrange todos os aspectos da vida.
Os bancos islâmicos são descritos como tendo uma face social, além da comercial
(MARTINS, 2004). Da perspectiva islâmica, a RSC gira em torno do conceito de
responsabilidade final para com Deus; os seres humanos são vice regentes, vice gestores
ou apenas gerentes (khalifah) e espera-se que se relacionem com outros seres humanos
121
para cuidar do ambiente natural que lhes é confiado (AYUB, 2007). Siwar e Hossain
(2009) indicaram que o Islã não é apenas uma religião, mas um modo de vida holístico.
Muwazir et al. (2006) destacou que, como vice regente, os líderes das corporações de
negócios islâmicos são obrigados a praticar a RSC fundamentalmente a partir do princípio
da unidade (Tawhid). Kamla (2007) identificou que, como vice regente, a humanidade
precisa cuidar da terra e do meio ambiente. Portanto, a RSC não é isolada na visão
islâmica e é um dos principais conceitos do ensino islâmico. Zainal et al. (2013) afirmou
que o conceito de RSC está profundamente inscrito na Sharia e que quaisquer instituições,
como um banco islâmico, que afirma seguir os princípios baseados na Sharia, devem,
naturalmente, praticar a RSC, pois consagra o verdadeiro espírito do Islã.
Williams e Zinkin (2010) realizaram um estudo sobre a compatibilidade entre os
princípios do Islã e o Pacto Global das Nações Unidas (1999), encontraram que os
ensinamentos do Islã não só parecem estar em conformidade com os Dez Princípios do
Islã. O Pacto Global das Nações Unidas, mas, em muitos aspectos, os valores islâmicos
vão além dos padrões mínimos dessa estrutura. Também descobriram que os
ensinamentos islâmicos excedem os requisitos do Pacto Global da ONU de várias
maneiras:
1. O islamismo parece ser mais amplo: por exemplo, no desenvolvimento de capital
humano e requisitos de transparência nas transações comerciais.
2. O Islã tem uma codificação clara que define o que é permissível, ou halal, e o que é
proibido, ou haram.
3. O Islã também tem um mecanismo de aplicação explícito na Sharia, bem como na
comunidade, e há a responsabilidade final do indivíduo por comportamento antiético no
dia do julgamento.
No Islã, as proibições de certos tipos de atividades de negócios vêm da preocupação de
proteger a comunidade. Produtos e serviços que podem causar um impacto negativo na
vida humana são estritamente proibidos, tais como: álcool e jogos de azar (KREINATH,
2011). A justificativa para a proibição é melhor explicada nas palavras do Corão: Ó fiéis,
as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e as adivinhações com
setas, são manobras abomináveis de Satanás (AL MÁIDA, 5:90). O jogo, em particular,
é estritamente proibido no Islã, o que pode causar problemas sociais na comunidade e
interferir no funcionamento da vida adequadamente (POTENZA, 2013). A RSC é uma
122
iniciativa moral e religiosa, baseada na crença de que uma empresa pode ser "boa"
independentemente de suas consequências financeiras, sejam elas positivas ou negativas.
Isso não é sugerir que o Islã é contra a lucratividade. Pelo contrário, é visto como uma
condição necessária, embora não seja o único propósito de sua existência (HASAN,
2005).
O Islã está intensamente preocupado com o problema do desenvolvimento econômico.
Portanto, o objetivo principal da economia islâmica é uma justiça social e econômica,
distribuição equitativa da riqueza e a eliminação da exploração nas atividades
empresariais, banindo todas as fontes de enriquecimento desleal (SARKER,1999;
ASUTAY, 2012). A ênfase no bem-estar da comunidade é muito significativa do ponto
de vista islâmico. Assim, trabalhar pelo bem-estar dos outros é a melhor maneira de
estender a utilidade de alguém em agradar a Allah (SULIMAN; WILLETT, 2003).
Nesse argumento, o Corão Sagrado declara: Jamais alcançareis a virtude, até que façais
caridade com aquilo que mais apreciardes. E sabei que, de toda caridade que fazeis,
Allah bem o sabe (AAL IMRAN, 3:92) e o que te fará entender o que é vencer as
vicissitudes? É libertar um cativo. Ou alimentar, num dia de privação. Ou parente órfão.
Ou um indigente necessitado. (AL BÁLAD, 90:12-16). A próxima seção discutirá os
valores éticos na RSC do ponto de vista islâmico, que é integrado à conduta bancária
islâmica.
3.3.1 Princípios Ético-Islâmicos na promoção da RSC
Os princípios ético-islâmicos fornecem uma estrutura mais ampla para a RSC. Em termos
de responsabilidade e responsabilização, os muçulmanos acreditam que serão
responsáveis por tudo o que fizerem neste mundo e no futuro. Assim, requer que todo ato
e palavra neste mundo estejam alinhados com os ensinamentos islâmicos.
Espera-se que os indivíduos se sintam socialmente responsáveis pelos outros na
comunidade. Em geral, o objetivo do sistema econômico islâmico é permitir que as
pessoas ganhem seu sustento de maneira justa e lucrativa com base na Sharia, sem a
exploração de outros, para que toda a sociedade possa se beneficiar. O Islã também
enfatiza o bem-estar da comunidade sobre os direitos individuais (AYUB, 2007;
SHAMIM; KARIM, 2010).
Pesquisas anteriores apoiam a ideia de que pessoas religiosas têm uma noção mais ampla
de RSC do que pessoas não religiosas (e.g., WEAVER; AGLE, 2002; BRAMMER et al.,
123
2006; WILLIAMS; ZINKIN, 2010). Dado que o Islã, como o judaísmo, está preocupado
com a ortopraxia e a ortodoxia, no Islã, o desenvolvimento adequado da vida humana
requer duas coisas: (1) os recursos necessários para manter a vida e satisfazer as
necessidades materiais do indivíduo e da sociedade; (2) o conhecimento do indivíduo
sobre os princípios do comportamento individual e social para permitir a auto realização
individual, por um lado, e a manutenção da justiça social e tranquilidade por outro.
Ao contrário de algumas sociedades, onde há uma separação entre religião e estado, o que
levou à consideração da religião como um assunto privado em uma sociedade livre de
valores, o Islã influencia a decisão de fazer de seus seguidores em todos os contextos,
incluindo negócios. Talvez mais importante seja a necessidade de equilíbrio entre as
demandas deste mundo e as exigências da vida após a morte (CHAPRA, 1992). A
importância e natureza especial do culto (Ibadah) são elementos fundamentais do Islã; o
culto é a principal razão para a criação da humanidade (ALI, 2006).
A influência do Islã nas práticas de negócios está bem documentada no Corão Sagrado e
na Suna. Os valores do negócio islâmico, como justiça, medida socioeconômica, bem-
estar humano e honestidade, são considerados o núcleo da RSC no Islã. Os bancos
islâmicos são considerados como tendo uma identidade ética e têm diferentes objetivos
sociais e econômicos, uma vez que a fundação de seus negócios é baseada na religião
(MAALI et al, 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; ARIBI; ARUN, 2015). O objetivo
geral dos bancos islâmicos é contribuir para o desenvolvimento da economia dentro dos
limites do Islã. No âmbito da Sharia, espera-se que os bancos islâmicos sejam guiados
por uma visão de mundo da economia islâmica, baseada no princípio da justiça social e
no bem-estar da sociedade (DUSUKI, 2008).
Em geral, espera-se que os muçulmanos conduzam suas atividades comerciais de acordo
com a exigência da Sharia, que é justa e honesta em relação aos outros (RAHMAN, 1994;
HUSSAIN, 1999). A questão da RSC tem sido claramente destacada no Corão e no
Hadith, e tem sido praticada desde a época do Profeta Muhammad. O Apêndice B,
apresenta o exemplo de evidências do Corão e Hadith na promoção da RSC. As próximas
seções revisarão os princípios éticos islâmicos gerais na promoção da RSC, que é
integrada à conduta comercial islâmica.
124
3.3.2 O papel da Sharia na RSC
No Islã, a Sharia é a base fundamental para entender a RSC. O conceito da Sharia no Islã
consiste em ética e valores que cobrem todos os aspectos da vida (pessoal, social, político,
econômico e intelectual). Dusuki e Abdullah (2007) afirmaram que o conceito da Sharia
reflete a visão holística do Islã, que é um código de vida completo e integrado. Abrange
todos os aspectos da vida, seja individual ou social, tanto neste mundo como no futuro.
Williams e Zinkin (2010) afirmaram que a Sharia não é apenas legal, mas também
funciona como uma estrutura moral.
A Sharia cresceu dentro das diretrizes estabelecidas pelo objetivo (Maqasid Al-Sharia),
que visa promover o bem-estar da humanidade. Dessa forma, o objetivo principal da
Sharia é promover o bem-estar de toda a humanidade, que está na salvaguarda de sua
religião (ad-din), da pessoa (nafs), do seu intelecto (aql), da sua família (nasl) e da sua
riqueza (mal) (DUSUKI; ABDULLAH 2007). Por exemplo, para alcançar o objetivo da
Sharia na proteção da riqueza, os bancos islâmicos fornecem uma alternativa aos bancos
convencionais, que operam com base em juros que dão um impacto negativo na
distribuição de renda e justiça econômica (BASAH; YUSUF, 2013). Não há apenas foco
na eliminação dos juros das transações, pois as atividades dos bancos islâmicos também
devem estar de acordo com o objetivo da Sharia e espera-se que eles estejam mais
preocupados com a questão da RSC que os bancos convencionais.
Para Mohammad e Shahwan (2013), existem três elementos principais na Sharia: (1) a
Aqidah que discute crença e fé; (2) o Akhlaq que discute moralidade e ética; e (3) o Fiqh,
ou decisões legais, governando os atos dos seres humanos. Os aspectos fundamentais,
como o Aqidah e o Akhlaq, não estão sujeitos a mudanças, no entanto, o Fiqh, ou decisões
legais, podem mudar e variar de acordo com o tempo (SIWAR; HOSSAIN, 2009). A
humanidade é responsável por suas ações a Deus (Allah), portanto, devem agir com
responsabilidade e se esforçar para se sair bem e evitar fazer o mal.
Além disso, Dusuki e Abdullah (2007) afirmaram que o conceito de Sharia tem três
implicações no conceito de responsabilidade social corporativa. Primeiro, no Islã, a
responsabilidade social corporativa é uma iniciativa religiosa e moral, baseada na crença
de que a corporação deve ser boa, apesar do impacto financeiro. Com base nesse conceito,
os negócios não são impulsionados apenas pela maximização do lucro, mas também pela
busca da felicidade suprema neste mundo e no futuro. Em segundo lugar, as diretrizes
125
estabelecidas pelos princípios islâmicos de estabelecer um equilíbrio entre direitos e
deveres individuais, responsabilidades para com outras pessoas e entre interesse pessoal
e altruísmo. Finalmente, o conceito de recompensa é desenvolvido para incorporar em
sua recompensa neste mundo e no futuro. Isso proporciona uma forte motivação, sem
negar o instinto natural de uma pessoa para ganho pessoal. Os princípios abordados aqui
atuam como diretrizes e um valor agregado dos bancos islâmicos no setor financeiro. A
Sharia funciona como um controle interno sobre os bancos islâmicos, juntamente com a
legislação secular. Supõe-se que ele funcione como um controle interno, o que torna um
banco islâmico mais sensível à RSC do que os bancos convencionais.
3.3.3 O papel da Justiça no Bem-Estar Social
O Islã é uma religião que enfatiza a justiça na sociedade. Graafland et al. (2006) dividiram
os princípios da justiça no Islã com vários tipos de atividades empresariais, como a
justiça, incluindo o cumprimento de promessas, pactos e contratos. Portanto, os
muçulmanos devem ser honestos, sinceros e honestos em seus negócios e garantir a
exatidão em termos de produtos e especificações prometidos. Em segundo lugar,
incentiva a igualdade de tratamento na gestão do trabalho. Contratar pessoas e pagamento
de salário deve ser baseado no mérito e nas competências. Finalmente, a justiça no Islã
também inclui a distribuição equitativa da riqueza.
Além do acima exposto, o Islã também promove a justiça e o tratamento igual de todos
os seres vivos. Com base nos princípios da justiça, os muçulmanos têm que ser justos,
não apenas entre si, mas também em suas relações com os outros e até mesmo com seus
inimigos (WILLIAMS; ZINKIN, 2010). O conceito de justiça implica que os seres
humanos são iguais, exceto com base na piedade e bom caráter (DUSUKI, 2008). Como
vice regentes deste mundo, o conceito de justiça é importante, pois os humanos não são
apenas responsáveis perante Deus, mas também à sociedade. Em vez de preencher seus
próprios interesses, eles também devem se preocupar com a sociedade e o ambiente
natural. Kamla (2007) indicou que a responsabilidade do ser humano em relação à
natureza não está apenas relacionada aos benefícios para si, é uma responsabilidade
abrangente, que inclui a sociedade e as gerações futuras.
Segundo a AAOIFI (2010), os bancos islâmicos são incentivados voluntariamente a
divulgar sua política interna de preservação ambiental em seu relatório anual. Espera-se
que eles estejam mais preocupados e proativos na promoção da justiça socioeconômica e
126
apliquem todos os valores e princípios islâmicos em suas práticas de RSC. Dusuki (2008)
discute que as interações humanas devem ser baseadas na confiança, equidade e justiça.
A atitude correta dos seres humanos não é servir apenas aos seus próprios, ou a “Interesse
próprio”, mas cooperar com os outros para satisfazer as necessidades básicas, desenvolver
todo o potencial humano e enriquecer a vida humana como um todo.
Nas atividades econômicas, a fim de alcançar a justiça social na sociedade, o Islã fornece
uma base para estabelecer a justiça socioeconômica para a sociedade. Por exemplo, o Islã
impõe um pagamento obrigatório de renda e riqueza (zakat), ajuda às entidades
filantrópicas (waqf), esmolas e caridade (sadaqah) e empréstimos sem juros (Qard al
Hassan). Outro aspecto importante nas atividades econômicas é a justiça socioeconômica.
A justiça socioeconômica é um elemento essencial no Islã; O objetivo do Islã é a formação
de uma justiça para a sociedade (AYUB, 2007). Ibin Al Qayim al-Jawziyyah afirma: "A
base da Sharia é a sabedoria e o bem-estar das pessoas neste mundo, assim como a outra,
que reside na completa justiça, misericórdia, bem-estar e sabedoria. Tudo o que opera da
justiça para a opressão, misericórdia para aspereza, bem-estar para a miséria e da
sabedoria para a insensatez, nada tem a ver com a Sharia (IBRAHIM et al. 2011; ARIS
et al. 2013).
A Responsabilidade social e a Justiça são baseadas no conceito islâmico de bem-estar
humano e uma boa vida; para fortalecer a irmandade e a irmandade entre os muçulmanos,
então promover a justiça socioeconômica, que requer uma satisfação equilibrada de
ambas as necessidades materiais e espirituais de todos os seres humanos (CHAPRA,
1992). A importância de pagar o Zakat, o incentivo à caridade, a proibição da usura e o
incentivo ao Qard Hassan20 (empréstimo benevolente) são exemplos claros da ênfase
islâmica na justiça social (MAALI et al., 2006). Com relação ao Qard Al-Hassan, o Corão
Sagrado declara: " Quem estaria disposto a emprestar a Allah, espontaneamente, para
que Ele se multiplique infinitamente? Allah restringe ou prodigaliza a Sua graça, e a Ele
retornareis " (AL BÁCARA, 2:245).
20 Um exemplo de fundo dessa natureza é o do Dubai Islamic Bank, que se destina a “ajudar os clientes a
superar seus problemas financeiros, a fim de salvá-los de circunstâncias e de exploração indesejáveis” (DIB,
2016). Segundo a política do banco, o qard pode ser concedido a pessoas de baixa renda para fins de custeio
de casamento, tratamento médico e despesas escolares. Outro exemplo é o do Jordan Islamic Bank, que se
destina a “ajudar os cidadãos a satisfazer a suas necessidades sociais” (JIB, 2016), emprestando recursos a
título gratuito também para o custeio de despesas com casamento, tratamento médico e ensino.
127
3.3.4 Zakat: O tributo religioso
Um dos principais pilares do Islã é o Zakat, significa literalmente purificação
(MOHAMMED, 2007). Zakat é enunciado em muitos versos no Corão Sagrado e Suna.
O Zakat é visto como uma obrigação religiosa e um imposto aceito pelo Islã sobre uma
renda e riqueza muçulmana a ser distribuída aos beneficiários definidos, como os pobres
e os indigentes. Enquanto AAOIFI (2010) define o Zakat como uma obrigação religiosa
fixa calculada por referência a ativos líquidos que se valorizaram ou têm capacidade para
se valorizar em um período de tempo específico, exceto para ativos que foram adquiridos
para consumo ou uso na produção das receitas. Ele é coletado de indivíduos e empresas
muçulmanas (que atendem ao patrimônio líquido do zakat) e distribuído aos pobres,
necessitados e pelo interesse e bem-estar da comunidade. Portanto, o principal objetivo
do zakat é a redistribuição da riqueza e erradicar a pobreza na sociedade (LEWIS, 2001;
IBRAHIM et al., 2014). Os muçulmanos consideram, dessa forma, o zakat como um dos
principais deveres de mostrar sua responsabilidade para com a sociedade, os pobres e os
necessitados.
O significado do zakat no Islã é um pouco diferente de um programa de bem-estar normal
e é diferente do imposto geral, como é compreendido atualmente por algumas pessoas
(LEWIS, 2001). É um tipo específico de fundo que é compulsoriamente pago ao Tesouro,
quer seja necessário ou não (DUSULO, 2008). O estado islâmico pode assumir a
responsabilidade de coletar e distribuir o zakat, mas, quando este não é o caso, os
indivíduos e as empresas ainda são obrigados a pagá-lo diretamente pelo interesse e pelo
bem-estar da comunidade (MAALI, 2005). Nem todos os muçulmanos são obrigados a
pagar o zakat, o pagamento é obrigatório para pessoas físicas e jurídicas sujeitas ao
cumprimento de certas condições e após a dedução de dívidas e necessidades. O Zakat é
pagável uma vez por ano no final do período Zakat (ou seja, um ano lunar). O tributo
religioso é pago em um ativo produtivo que foi possuído por um ano inteiro. Entretanto,
os ativos que estão sendo usados ou consumidos estão isentos, desde que não estejam
sendo usados para fins comerciais (RAHMAN, 1999). O zakat é considerado um ato de
adoração; portanto, o Islamismo realmente encoraja seus seguidores a buscar riqueza, já
que isso não contradiz a Sharia. Quanto mais ricos eles são, mais eles podem contribuir
para a comunidade pagando o Zakat (NU et al., 2014).
De um ponto de vista institucional, os bancos islâmicos estão envolvidos no Zakat, seja
deixando de lado uma porcentagem de seus lucros para atividades de caridade ou através
128
da administração dos fundos do Zakat. Espera-se que os bancos islâmicos estejam mais
preocupados com a administração do zakat para garantir que todos os grupos de
necessitados (Asnaf) se beneficiem da contribuição de Zakat. De acordo com AAOIFI
(2010), todos os bancos islâmicos têm que divulgar as informações do Zakat em relatórios
anuais como parte de sua obrigação de RSC para as partes interessadas. Outro aspecto do
valor ético na RSC da perspectiva islâmica é a eliminação da Riba (usura) nas atividades
bancárias islâmicas. Isso será discutido em detalhes na próxima seção.
3.3.5 Maslahah (Interesse Público)
Dusuki (2008) afirmou que o Maslahah (Interesse Público) é um dispositivo jurídico
usado na teoria jurídica islâmica. Por outro lado, Laldin (2010) afirmou que a Maslahah
é uma segunda fonte da Sharia no Islã. A Sharia considera a Maslahah como uma fonte
de direito para acomodar o desenvolvimento natural e as mudanças sociais. Representa
uma das fontes essenciais para lidar com questões e assuntos, para os quais não há
indicação explícita no Corão ou na Suna.
Laldin (2010) afirmou que o objetivo de decretar as regras da Sharia, com base na
Maslahah, é alcançar justiça e justiça, obtendo benefícios e removendo as dificuldades.
É importante para promover o bem público e prevenir o mal ou a corrupção da sociedade.
No contexto bancário islâmico, a diligência (ijtihad) baseada na Maslahah é essencial,
especialmente para órgãos reguladores e de governança corporativa, uma vez que exige
que forneçam padrões, parâmetros, regulamentos e políticas para o benefício da
sociedade. Ele também explicou que a Maslahah no Islã poderia ser diferenciada em duas
categorias principais. A primeira é a Maslahah pública, que é qualquer coisa que beneficie
toda a sociedade ou a maioria: por exemplo, salvar propriedades de qualquer forma de
dano ou transgressão, incluindo inundação, roubo ou contratos injustos. Em contraste, o
Maslahah privado é qualquer coisa que beneficie os indivíduos e a sociedade a que
pertencem (AYUB, 2007).
Além de ser pública e privada, a Maslahah pode ser diferenciada com base em suas
prioridades. Dusuki (2011) afirmou que Maslahah poderia ser classificada em três
categorias principais ou prioridades: (1) dharuriyat (fundamentos básicos), (2) hajiyat
(necessidades suplementares) e (3) tahsiniyat (complementar).
Dharuriyat é uma necessidade básica essencial na vida, que é um elemento muito
importante para os indivíduos e a sociedade sobreviverem. Deve ser protegido, pois é
129
fundamental para a vida (AL-MUBARAK; OSMANI, 2010). Por exemplo, as
necessidades básicas da vida são eletricidade, água e comida. É um elemento importante
para a sobrevivência no mundo de hoje e qualquer perturbação para eles levará a uma
ruptura total.
O hajiyat é uma necessidade suplementar depois que o indivíduo ou a sociedade se tornam
dharuriyat (necessidades básicas). Se o hajiyat for negligenciado, isso não levará a uma
ruptura total, mas pode levar a dificuldades e angústia na vida humana (CEBECI, 2012).
Por exemplo, a Sharia valida a compra a termo (bai 'salam) em transações comerciais
porque essas transações são importantes para facilitar as transações comerciais e, se
negligenciadas, podem levar a dificuldades nos negócios.
A Tahsiniyat (complementar) refere-se àqueles interesses que, se realizados, levariam ao
refinamento e perfeição nos costumes e conduta das pessoas em todos os níveis de
realização (LALDIN, 2010). É importante, pois levará a uma vida pacífica e harmonia na
sociedade humana. Por exemplo, o Islã torna o pagamento do Zakat obrigatório para
indivíduos e organizações muçulmanos como um elemento complementar para a justiça
social e econômica na sociedade. Ao mesmo tempo, o Islã também encoraja os
muçulmanos a fazer caridade como atividade complementar para melhorar a vida social
da comunidade.
Dusuki e Abdullah (2007) viram o conceito de peso na Maslahah como um guia para o
julgamento moral de gestores e outras partes interessadas, particularmente na resolução
de conflitos que possam surgir quando se busca a responsabilidade social corporativa. O
conceito de peso na Maslahah é representado em uma forma de pirâmide. Funciona como
uma estrutura para fornecer aos gerentes três níveis de julgamento para resolver os
conflitos éticos que surgem inadvertidamente ao aplicar programas e iniciativas de RSC.
Cada nível constitui um grau diferente de importância. O nível inferior (dharuriyat) é a
responsabilidade mais fundamental a ser cumprida, depois o segundo nível (hajiyat),
seguido pelo nível superior (tahsiniyat). A pirâmide se move para cima e o grau de tomada
de decisão será menos fundamental à medida que o nível aumenta. As pirâmides dos
níveis de Maslahah não são mutuamente exclusivas; Todos os níveis são inter-
relacionados e mutuamente dependentes.
A pirâmide de Maslahah pode ser aplicada ao processo de tomada de decisão na RSC.
No primeiro nível (dharuriyyat), espera-se que os bancos islâmicos se esforcem para
130
preservar e proteger as necessidades essenciais de suas partes interessadas (BASAH;
YUSUF, 2013). Por exemplo, para obter um lucro alto, deve garantir que todas as
atividades estejam de acordo com os princípios islâmicos. Qualquer atividade que possa
colocar em risco a vida das pessoas e causar degradação ambiental deve ser evitada. No
que diz respeito à relação entre o empregador e o empregado, as empresas devem proteger
o bem-estar dos funcionários, pagando salários a tempo e proporcionando um ambiente
de trabalho seguro.
Depois de cumprir o nível fundamental (dharuriyyat), os bancos islâmicos podem lutar
pelo segundo nível, o complementar (hajiyat). Nesta etapa, a oferta de treinamento e
desenvolvimento contínuo, bônus e promoções é considerada uma extensão da
responsabilidade fundamental. Para o mais alto nível de embelezamento (tahsiniyat),
espera-se que os bancos islâmicos estejam envolvidos em atividades de RSC que levem
à melhoria e obtenção da perfeição na vida pública. Por exemplo, o envolvimento em
atividades incentivadas pelo Islã, como doações, atividades de caridade e fundos
filantrópicos (waqf), pode contribuir para um melhor desenvolvimento social da
sociedade. O embelezamento levará à perfeição da comunidade e da sociedade. No geral,
a pirâmide de Maslahah fornece um guia básico para os bancos islâmicos gerenciarem
suas atividades de RSC, com base na priorização no desenvolvimento de sua estratégia
de gerenciamento de RSC. O peso da Maslahah também fornece princípios orientadores
e desenvolvimento estratégico para a gestão da RSC, com base em suas prioridades.
Carroll (1979) discutiu que a pirâmide da RSC também fornece uma visão abrangente de
uma estrutura de como as empresas devem agir em relação à RSC. Ela desenvolve sua
própria pirâmide de RSC, que é dividida em quatro categorias principais, a saber:
(1) Responsabilidades Econômicas,
(2) Responsabilidades Legais,
(3) Responsabilidades Éticas e;
(4) Responsabilidades Filantrópicas.
As principais características de sua pirâmide de RSC são: 1) essas quatro categorias não
são mutuamente exclusivas; 2) não são compostas apenas de preocupações econômicas
de um lado e preocupações sociais do outro; 3) não são cumulativos nem aditivos; e 4)
eles são ordenados na figura apenas para sugerir seu papel fundamental na avaliação de
importância. Carroll (1991) argumenta ainda que para ser aceita como legítima e aceita
131
por homens de negócios a RSC deve tratar de toda uma gama de obrigações que a empresa
tem para com a sociedade. Segundo o autor, a RSC total das empresas engloba o
cumprimento das responsabilidades econômica, legal, ética e filantrópica. Em outras
palavras, a empresa socialmente responsável deve se esforçar para ter lucro, obedecer a
lei, ser ética, e ser uma boa cidadã corporativa (CARROLL, 1991).
A pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa de Carroll retrata as seguintes
reponsabilidades ilustradas na Figura 9 a seguir:
Figura 9 - Pirâmide de Responsabilidade Social Corporativa (Pirâmide de Carroll)
Fonte: Adaptado de CARROLL (1979)
A pirâmide retrata as quatro dimensões da RSC, começando com o desempenho
econômico que é o alicerce de todas as demais (CARROLL, 1991). Dessa forma, seu
principal papel consistiu em produzir bens e serviços que os consumidores necessitavam
e desejavam com um lucro aceitável nesse processo (CARROLL, 1991). Todas as outras
responsabilidades, segundo o autor, se baseiam na responsabilidade econômica da
empresa, pois sem ela as demais se tornariam de consideração irrelevante. O modelo foi
desenhado não para que tais categorias fossem atendidas em sequência, de baixo para
cima, mas sim que todas as dimensões deveriam estar contempladas nas ações da
organização em todos os momentos, como partes integrantes de suas atividades.
(CARROLL, 1991; SCHWARTZ; CARROLL; 2003).
Responsabilidades Filantrópicas
(Ser um bom cidadão corporativo)
Contribuir com recursos para a comunidade, melhorar sua qualidade de vida.
Responsabilidades Éticas (Ser Ético)
Obrigação de fazer o que é certo, justo, evitando danos.
Responsabilidade Legal (Obedecer as Leis)
A legislação é a codificação do certo e errado numa sociedade. Jogar dentro das regras do jogo.
Responsabilidades Econômicas (Ser lucrativo)
A base da pirâmide da qual derivam as demais responsabilidades.
132
Carroll elaborou uma pirâmide conceitual direcionada aos gestores de empresas, que de
certa forma sintetiza o amplo significado do que a responsabilidade social se propõe a ser.
Na sua pirâmide, Carroll demonstra as responsabilidades que devem existir nos negócios
e sobretudo a preocupação destes enquanto inseridos numa comunidade, no social. É uma
visão que vai além do gerar lucros e obedecer à lei, é um princípio preocupado e genuíno.
Nessa esteira de RSC, pode-se traçar um paralelo com a RSC islâmica ilustrada na Figura
10 a seguir por meio da Pirâmide de Maslahah:
Figura 10 - Pirâmide de Maslahah
Fonte: Adaptado Dusuki e Abdullah (2010).
A pirâmide de Maslahah, acima, fornece uma estrutura abrangente sobre como os bancos
islâmicos devem encarar a RSC da perspectiva islâmica e é paralela à pirâmide geral da
RSC, conforme proposta por Carroll (1979). Ambos os modelos não são mutuamente
exclusivos; todos os níveis são inter-relacionados e mutuamente dependentes
(CARROLL, 1979; DUSUKI E ABDULLAH, 2007). Dusuki (2010) afirmou que o peso
da Maslahah pode ser útil para a RSC de três maneiras: (1) fornece uma estrutura para
tomar decisões e um mecanismo para se adaptar à mudança; (2) delineia o papel dos
bancos islâmicos em termos de RSC; e (3) oferece diretrizes para o julgamento moral dos
bancos islâmicos na solução de conflitos que possam surgir quando se busca a
responsabilidade social corporativa. É representado com base em uma pirâmide com três
níveis de julgamento (dharuriyat, hajiyat e tahsaniyat).
Tahsiniyat (residuais)
(crescimento de produtos. e.g., investimentos, fundos mútuos, qualidade dos serviços, satisfação dos clientes,
sustentabilidade e RSC).
Hajiyat (complementares)
(seguros ou produtos complementares. e.g., Takaful,descontos, contratos híbridos, comissões e honorários e
produtos inovadores).
Dharuriyat (essenciais)
(produtos básicos ou de sobrevivência. e.g., poupança, transparência, zakat, governança da Sharia, Sharia
Compliance, desenvolvimento de produtos em linha com a Sharia e eliminação da riba, gharar e maysir.
133
Carroll (1979) apontou que a pirâmide da RSC não identifica o grau de responsabilidade
específica em cada categoria; Ele fornece um esquema de classificação para os tipos de
responsabilidade social que as empresas devem ter. A pirâmide da RSC fornece uma
estrutura abrangente de RSC para as empresas, uma vez que apresenta várias
responsabilidades que a sociedade espera que as empresas assumam. Cada uma das
categorias de RSC merece a mesma consideração e pode ser usada para justificar por que
a RSC é importante (CARROLL, 1991). Por outro lado, o peso da pirâmide de Maslahah
implica que os bancos islâmicos precisam se engajar e administrar suas atividades de RSC
de acordo com sua prioridade. Os bancos islâmicos não devem se concentrar apenas em
alcançar os embelezamentos, ao mesmo tempo em que comprometem o essencial de seus
acionistas (DUSUKI; ABDULLAH, 2007).
Finalmente, o peso da pirâmide de Maslahah é baseado na Sharia. Reflete a visão
holística do Islã, que apresenta um código de vida completo e integrado, englobando todos
os seus aspectos (DUSUKI; ABDULLAH, 2007; ARIS et al., 2013). O Maslahah é um
dos elementos para alcançar o objetivo da Sharia e, portanto, deve sempre ser discutido
e entendido dentro da estrutura e dos parâmetros da Sharia (LALDIN, 2010). A pirâmide
da RSC é o modelo principal, pois descreve como as empresas devem reagir às questões
de RSC e tem recebido mais atenção nos estudos de RSC (BASAH; YUSUF, 2013).
3.3.6 Tawhid
No Islã, o conceito de RSC também é consistente com o conceito de unidade (Tawhid).
De acordo com esse conceito, Deus é o Criador, Proprietário e Fonte de todas as coisas,
e confiou a humanidade como um khalifah (vice regente) para usar e gerenciar os ativos
neste mundo (ALI, 2006). Em troca do uso do universo físico, a humanidade tem que ser
responsável pelo que eles usam e administram neste mundo, todos os aspectos serão
responsáveis diante de Deus (Allah) no futuro. (FAROOK; LANIS, 2007). O axioma da
unidade (Tawhid) implica que todos os seres humanos são vice regentes de Deus na terra,
o que implica a necessidade de crescimento econômico sustentável e desenvolvimento
em termos de harmonia entre os vários componentes da vida econômica e social
(ASUTAY, 2007). No entanto, a lucratividade de uma empresa que atende à Sharia é um
objetivo individual dentro de um objetivo macro de sustentabilidade, incluindo o
crescimento econômico.
134
O Islã reconhece que é uma natureza humana possuir propriedade a fim de satisfazer suas
necessidades e garante comércio. Nesse sentido, a propriedade da propriedade privada é
incentivada no Islã, e seu uso, que não é contrariado com a Sharia, é permitido (LEWIS,
2001). É claramente afirmado no Corão que toda a riqueza pertence a Allah e Ele colocou
os seres humanos no comando desta riqueza. O Islã aceita a disparidade de riqueza dentro
de um limite racional, mas não tolera essa diferença, de modo que algumas pessoas
gastam sua vida em luxo, enquanto a maioria das pessoas é deixada para levar uma vida
de miséria e fome. Como vice regente, a humanidade tem que administrar sua riqueza de
acordo com os comandos e orientação de Allah (RAHMAN, 1999).
Como um administrador (Agente) de Deus (Allah ou principal), todas as ações devem
basear-se em suas regras e regulamentos, ou seja, a Sharia. O conceito de vice regência
está inter-relacionado com o conceito de Tawhid (unidade) no Islã. O conceito de Tawhid
afirma que todas as posses, riqueza, perícia, habilidades, posições e poder pertencem a
Allah. O ser humano é apenas um administrador deles. O acúmulo de riqueza não é o
objetivo-chave dos proprietários de terra no Islã, mas sua capacidade de sustentar e trazer
benefícios a si e aos outros da terra. Este conceito é diferente do ponto de vista
convencional. No Islã, o gerenciamento de todos os recursos deve estar de acordo com os
requisitos religiosos.
O conceito de Khalifah (vice regente) define a responsabilidade da pessoa para Allah,
para a comunidade e para si mesmo. De acordo com Chapra (1992), a implicação de surgir
do conceito de Khalifah é que o indivíduo é considerado o depositário dos recursos de
Deus e deve assegurar que os recursos sejam bem administrados de maneira apropriada,
o que está de acordo com a Sharia. O conceito subjacente do vice gerente é o da
representação da propriedade real dentro dos limites de autoridade prescritos por Deus,
para fazer a vontade do proprietário, em oposição a sua própria vontade (WILLIAMS;
ZINKIN, 2010). Isso leva a diferentes significados de propriedade privada quando
comparados com a perspectiva convencional, como no trecho “Allah capacitou
indivíduos a possuírem, desfrutarem e transferirem o que Ele lhes concedeu”. Portanto,
o Islã percebe a riqueza como uma concessão, que foi dada como uma confiança de Allah
nas mãos dos seres humanos. Com isso, deve ser utilizado de maneira eficiente para
produzir o máximo de produção e cumprir a orientação de Allah. É dito no Corão: “E
lembre-se de que horas o Senhor disse aos anjos: Eu vou colocar um vice regente na
terra. 'Eles disseram:' Você colocará nele alguém que agirá corruptamente e derramou
135
sangue, enquanto nós santificamos o Teu louvor e te glorificamos! 'Allah disse: Em
verdade eu sei o que não sabeis ” (HAYEK, 1994).
Com base no conceito de vice-gerência, não há inibições ligadas ao empreendimento
econômico e as pessoas são encorajadas a aproveitar todas as oportunidades disponíveis,
o que está de acordo com a Sharia (RICE, 1999). Não há conflito entre os requisitos
morais e socioeconômicos. As pessoas podem desfrutar de lucro e riqueza, mas devem
pagar o zakat. Além disso, o direito de acumular riqueza e lucro não é negado no Islã,
desde que não contradiga os princípios islâmicos (ULLAH; JAMALI, 2010). Os recursos
são para o benefício de todos e não apenas alguns, todos têm o direito de adquirir e utilizar
os recursos (RICE, 1999; JAMALI et al., 2008).
Ainda na esteira do princípio da vice-gerência, Chapra (1995) explica que essa tutela de
Deus para o homem não implica uma negação da propriedade privada, mas sim a utilidade
equitativa, a aquisição legítima e a destinação justa dos recursos e a proibição da
destruição e do desperdício de maneiras que são boas para a propriedade privada,
resultando no bem-estar dos outros. Essa explicação pode ser interpretada como um
resumo do conceito de sustentabilidade com seu resultado triplo: econômico, social e
ambiental. Além disso, as questões econômicas, sociais e ambientais são as principais
preocupações das práticas de responsabilidade corporativa de acordo com padrões
internacionais como GRI ou ISO, além do Accountability. Assim, a vice administração
está relacionada aos deveres dos indivíduos ao realizar transações com outros seres
humanos), criaturas e recursos na Terra. Na verdade, a tutela de Deus em relação ao
homem é estendida para moldar as relações da tutela em sociedade, não apenas em termos
de conduta nos negócios, mas também na vida cotidiana.
Dado o axioma de que os recursos são de propriedade de Deus, o homem gerencia as
propriedades de outros homens com base nesse relacionamento. Portanto, essa relação de
tutela leva a outro atributo importante da vice-gerência: a governança das coisas que lhe
são outorgadas à guarda. Do ponto de vista empresarial, o valor da tutela influencia a
estrutura de governança corporativa das instituições financeiras islâmicas (IFIs) e dos
stakeholders, que por sua vez contribuem para moldar modelos de negócios únicos para
as diferentes IFIs. A importância da governança foi manifestada pelo Profeta Muhammad
(S.A.W.S.) como Abdullah bin Umar, o Apóstolo de Allah, menciona:
136
Certamente! Cada um de vocês é um guardião e é responsável pelos seus
encargos: O Imam (governante) do povo é um guardião e é responsável pelos
seus súditos; um homem é o guardião de sua família (casa) e é responsável por
seus súditos; uma mulher é a guardiã da casa do marido e de seus filhos e é
responsável por eles; e o escravo de um homem é um guardião da propriedade
de seu senhor e é responsável por ele. Certamente, cada um de vocês é um
guardião e responsável por seus encargos (SHAMIM; KARIM, 2010). Em resumo, a adoração a Allah não está restrita apenas aos cinco pilares do Islã. Envolve
todos os aspectos da vida. Williams e Zinkin (2010) afirmaram que no Islã não há
separação entre a vida pública e privada do indivíduo. Assim, toda decisão e ato na vida
e nos negócios devem se basear nos ensinamentos islâmicos. Este princípio não se aplica
apenas entre os muçulmanos, mas também na sua relação com os não-muçulmanos, a
sociedade e o meio ambiente.
3.3.7 Ihsan
O conceito de benevolência no Islã complementa o conceito de justiça. O Corão afirma
claramente a exigência de justiça e benevolência. Basah e Yusuf (2013) classificaram a
justiça como obrigatória e a benevolência como sendo além da obrigatória. Para aderir ao
conceito de justiça, as intenções e sentimentos interiores de uma pessoa devem ser
consistentes com suas palavras e ações. O conceito de benevolência está além do conceito
de justiça, que exige que as intenções e sentimentos internos da pessoa sejam melhores
do que suas ações externas. A benevolência reflete a importância de proteger e promover
o bem-estar de outros com quem se está em contato pessoal regular (SCHWARTZ, 1992).
Os estudos de Schwartz e Bardi (2001) indicam que a benevolência está entre os valores
mais importantes da sociedade. Desempenha um papel crucial em endossar a harmonia
social e prever comportamentos pró-sociais (BARDI; SCHWARTZ, 2003). Estudos
anteriores indicaram que a benevolência está positivamente associada a comportamentos,
como ajudar os outros, expressar sugestões construtivas, doar dinheiro e praticar o
voluntariado (GRANT; MAYER, 2009; ARIELI et al., 2014), demonstrando
sensibilidade social (VAN DOORN; OSBURN, 2002), com consciência sobre dilemas
morais (MYYRY; HELKAMA, 2002), e expressando prontidão para o contato social com
os outros (SAGIV; SCHWARTZ, 1995).
Para aliviar a pobreza da sociedade, os bancos islâmicos oferecem vários mecanismos,
como um empréstimo benevolente (Qard Hassan), um fundo de caridade (Sadaqa) e um
fundo Waqf (fundo de doação) (BHUIYAN et al., 2012). Qard Hasan é um empréstimo
livre de qualquer benefício ou retorno ao credor e é mais comumente referido como um
137
empréstimo sem juros (OBAIDULLAH; KHAN, 2008). Praticamente, as concessões da
Qard Hassan são fornecidas pelos bancos islâmicos para apoiar e melhorar o
desenvolvimento de pequenas e médias empresas (PME). Também é conhecido como um
empréstimo sem juros, que é concedido para fins de bem-estar ou para atender aos
requisitos de financiamento de curto prazo. O Qard Hassan é um empréstimo, que é
concedido pelo credor sem expectativa de qualquer retorno sobre o principal, mas o
mutuário é obrigado a fazer um reembolso do principal. Os seguintes versos do Corão
Sagrado revelam a importância de Qard Hassan no Islã (HAYEK, 1994):
“Quem emprestar a Allah um Qard Hasan, ter para ele (o emprestador) muitas vezes
e para ele será uma recompensa generosa” (AL HADID, 57: 11).
“Na verdade, aqueles que dão sadaqa, homens e mulheres e emprestam a Allah um
qard hasan, terão sua bondade multiplicada (para seu crédito) e o deles será uma
honrosa boa recompensa” (SABA, 34:37).
“Se você emprestar a Allah um qard hasan, Ele multiplicará isso para você. Allah é
o mais apreciador, o mais tolerante ” (AL FÁTIHA, 1:63).
Além da benevolência, a prática do ihsan também implica uma proficiência, o que requer
qualificações, experiência prática e aquisição de conhecimento religioso (AAOIFI, 2007)
como em qualquer profissão na economia. Além disso, o ihsan implica consciência de
Deus, o que leva à auditoria interna. Em um dos Quarenta Hadiths do Imam An-Nawawi
(não datado), o Profeta Muhammad (S.A.W.S) explica ihsan como “adoração a Allah
como se você não o estivesse vendo ainda, verdadeiramente, Ele te vê”. Nesse sentido, o
ihsan é parte integrante da unidade. Allah criou os seres humanos para não adorar a
ninguém além Dele. O conceito de adoração não se limita a orações regulares. É mais
abrangente e se estende a todos os atos de um muçulmano. Consequentemente, Al-
Raysuni (2006) afirma que toda atividade humana, incluindo a atividade econômica, é a
adoração a Deus desde que seja acompanhada de intenção.
Com isso, o ihsan implica no cumprimento de ações e responsabilidades mais amplas
relacionadas ao papel dos seres humanos como vice-regentes de Allah na Terra. Além
disso, o culto articula as qualidades, a natureza e a ação correspondente em todos os
domínios da vida, ao invés de ser apenas um ritual, uma função ou simplesmente uma
obrigação (ZAMAN; ASUTAY 2009).
138
3.3.8 Transparência Islâmica
Quando se trata de transparência nos negócios, o Islã vai muito além dos padrões de
transparência do Pacto Global da ONU de 1999 (WILLIAMS; ZINKIN, 2010). Por
exemplo, contratos escritos claros são exigidos para todas as transações comerciais,
conforme declarado no Corão. Além disso, no Islã, como no judaísmo, o princípio do
“Caveat Emptor” (risco sendo do comprador) não se aplica. Muitos hadiths descrevem
os princípios, tais como o que não permite vender itens sem esclarecer tudo, nem é
permitido a quem sabe sobre seus defeitos se abster de mencioná-los (FAROOK; LANIS,
2007). Espera-se, portanto, que as empresas muçulmanas garantam altos padrões de
qualidade na execução de seu trabalho e sejam transparentes em suas transações. A
questão dos padrões de qualidade também pode ser vista no ensino do Corão sobre pesos
e medidas (HAYEK, 1994). Por exemplo, dar apenas uma medida que não cause perdas
(para terceiros por fraude) (HAYEK, 1994). Embora isso não implique, por si só, que o
mesmo padrão deva ser aplicado em todos os lugares, é necessário que sejam fornecidas
informações completas sobre os padrões utilizados, o que requer maior transparência e
responsabilidade. Portanto, espera-se que os bancos islâmicos promovam uma maior
transparência na condução de seus negócios, de acordo com o código de conduta dos
negócios islâmicos (ARIFFIN, 2005).
3.3.9 Accountability Islâmica
Segundo Haniffa (2002), nos modelos de responsabilidade ocidentais, as empresas são
responsáveis perante seus stakeholders. Nesse modelo, não se considera que a
responsabilidade e a prestação de contas se estendam além da sociedade terrena, e as
estruturas não preveem qualquer responsabilidade para com Deus. De uma perspectiva
islâmica, a relação percebida de indivíduos e empresas com Deus (Allah) afeta o conceito
de responsabilidade (MAALI, 2006). Os muçulmanos, conforme exigido pelo Islã, têm
que questionar suas ações ou responsabilizar-se antes de serem responsabilizados por
Allah no Dia do Juízo pelo que fizeram em sua vida (ABDUL-RAHMAN; HASHIM,
2010). Como vice regente e curador de Allah, todo ato humano neste mundo será
questionado no dia do julgamento. Farook (2008) chamou esse conceito de
“responsabilidade divina”, e é a base para todas as ações dos muçulmanos e, por sua vez,
organizações representativas do Islã. O conceito de responsabilidade divina é claramente
declarado no Corão Sagrado, em versos como: “Quando fordes saudados cortesmente,
139
respondei com cortesia maior ou, pelo menos, igual, porque Allah leva em conta todas
as circunstâncias. ” (AN NISSÁ, 4:86).
A palavra Hisab em árabe, que é sinônimo de conta ou prestação de contas, é repetida
mais de oito vezes em versos diferentes no Corão Sagrado (ASKARY; CLARKE, 1997).
Isso mostra a importância da responsabilidade no Islã. De acordo com Lewis (2006), a
semelhança básica entre o Hisab, ou contas e prestação de contas, está na
responsabilidade de indivíduos e empresas de cumprir os deveres prescritos pelo Islã.
Prestação de contas, neste contexto, significa prestação de contas à comunidade islâmica
em geral, que tem o direito de saber sobre os efeitos das operações das organizações em
seu bem-estar (LEWIS, 2005). Ibrahim et al. (2011) elaboram esse aspecto da
accountability, afirmando que ela é o dever de uma entidade de utilizar (e prevenir o uso
indevido) dos recursos que lhe são confiados de maneira eficaz, eficiente e econômica,
dentro dos limites do quadro moral e legal da sociedade e para fornecer uma conta de suas
ações para os contadores, que não são apenas a pessoa (s) que lhe forneceu os recursos
financeiros, mas para grupos dentro da sociedade e da sociedade em geral.
O conceito de responsabilidade é derivado do Corão e é poderoso no sistema islâmico de
negócios, o que significa responsabilidade diante de Allah não apenas neste mundo, mas
também no futuro. A prestação de contas a Allah reflete a confiabilidade, que inclui
instrumentos e metas. Abbasi et al. (2012) argumentam que o instrumento é aquele que é
iniciado com o objetivo de aumentar a eficiência e a efetividade, então, com o tempo, é
transferido para ser um objetivo em si. Como o Corão claramente explica: Quem tiver
feito o bem, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á. Quem tiver feito o mal, quer seja do
peso de um átomo, vê-lo-á. (AZ ZÁLZALA, 99:7-8). Allah disse: “Nem os portadores de
fardos podem carregar o fardo de outro. Se alguém fortemente carregado pode chamar
outro para carregar sua carga, a menor porção dele pode ser levada pelo outro, mesmo
que ele esteja quase relacionado” (FÁTER, 35:18). Afifuddin e Siti-Nabiha (2010)
acrescentam que esses versículos se aplicam a todas as organizações, não apenas à
responsabilidade pessoal.
3.4 Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions
O desenvolvimento da contabilidade no estado islâmico entre 624 e 1500 d.C. foi
religiosamente motivado e associado à imposição do zakat (ZAID, 2000). De acordo com
Napier (2009), as evidências históricas sobre a contabilidade islâmica estão se tornando
140
cada vez mais disponíveis e refletem pesquisas sobre os principais arquivos que
sobreviveram, bem como muitos tratados e outros materiais secundários sobre
contabilidade. Hayashi (1989) sugeriu que a contabilidade islâmica pensa na sociedade
antes da empresa, enquanto a contabilidade convencional pensa no lucro individual antes
do lucro social. Baydoun e Willett (2000) afirmaram que a responsabilidade privada e a
divulgação limitada (critérios contábeis ocidentais) são critérios insuficientes para refletir
os preceitos éticos da lei islâmica. A contabilidade islâmica pode ser descrita como um
sistema de informação que comunica posição econômica e resultado da operação de uma
entidade, e garante que as informações apresentadas estejam corretas, estejam em
conformidade com a Sharia e estejam isentas de qualquer informação enganosa
(HARAHAP, 2003). A consistência das práticas de divulgação com a lei islâmica requer
a aplicação dos critérios abrangentes de responsabilidade social e divulgação completa.
Desde o início das IFIs, tem havido um apelo para o desenvolvimento de normas
contábeis especiais para IFIs (KARIM, 1995; OMAR, 1997; KHATIB, 2013).
O estudo da contabilidade islâmica cresceu nos últimos anos com contribuições
substanciais de estudiosos, como Baydoun e Willet (1995, 1997), Gambling e Karim
(1986), Lewis e Algaoud (2001) e Vinnicombe (2010). É notável que o foco da maioria
desses estudos é de natureza descritiva ou analítica, enfatizando em particular as
implicações do Islamismo para os princípios e práticas contábeis, e estrutura teórica a
partir da qual os padrões contábeis para entidades islâmicas poderiam ser potencialmente
derivados (PERERA, 1989; BAYDOUN; WILLETT, 2000; LEWIS, 2001). Há pouco
reconhecimento de que uma resposta prática à necessidade de padrões contábeis islâmicos
surgiu na forma da Organização de Contabilidade e Auditoria para Instituições
Financeiras Islâmicas (AAOIFI). Essa organização foi estabelecida no Bahrein em 1991
para desenvolver e disseminar padrões de contabilidade e auditoria para implementação
por instituições financeiras islâmicas em todo o mundo (LEWIS; ALGAOUD, 2001;
AAOIFI, 2003).
De uma perspectiva islâmica, é fundamental que os princípios contábeis aplicados nas
organizações islâmicas estejam de acordo com a Sharia. A Sharia especifica claramente
quando a receita deve ser reconhecida e quando o ativo deve ser transferido. A natureza
dos instrumentos financeiros e transações nas IFIs não é abordada nos Princípios
Contábeis Geralmente Aceitos (GAAP) convencionais. Isso ocorre porque as funções das
IFIs são diferentes das de seus pares que adotaram o modelo ocidental de bancos
141
(AAOIFI, 2005). A relação entre investidores e IFIs baseia-se principalmente na partilha
de lucros e perdas, que é diferente das Instituições Financeiras Convencionais (IFCs). De
acordo com o AAOIFI (2005), a contabilidade financeira convencional não oferece todas
as informações exigidas por aqueles que precisam tomar decisões relativas aos negócios.
Isso se deve à natureza dos processos de contabilidade financeira e aos relacionados a
custo e benefício.
Assim, os padrões contábeis desenvolvidos para as IFCs podem não ser relevantes para
as IFIs. Alguns novos regulamentos contábeis precisam ser projetados para atender à
singularidade dos instrumentos financeiros e contratos das IFIs. Portanto, os padrões
AAOIFI foram desenvolvidos para superar a limitação dos padrões contábeis
convencionais para as IFIs.
Em abril de 2009, o AAOIFI emitiu um padrão atualizado, que se concentra na prática de
RSC entre as IFIs (conhecidas como Padrões de Governança nº 7: Responsabilidade
Social Corporativa, Conduta e Divulgação para as IFIs). De acordo com o AAOIFI
(2010), responsabilidade social corporativa (RSC) para IFIs refere-se a todas as atividades
realizadas por um IFI (aqui refere-se a qualquer instituição que desempenhe o papel de
intermediário financeiro que cumpra estritamente as disposições da Sharia, incluindo,
mas não se limitando a, bancos islâmicos e companhias de seguros islâmicos) para
cumprir suas responsabilidades religiosas, econômicas, legais, éticas e discricionárias
como intermediários financeiros para indivíduos e instituições. A responsabilidade
religiosa refere-se à obrigação geral das IFIs de obedecer às leis do Islã em todas as suas
transações e operações. A responsabilidade econômica refere-se à obrigação dos bancos
islâmicos de serem financeiramente viáveis, lucrativos e eficientes. A responsabilidade
legal refere-se à obrigação das IFIs de respeitar e obedecer às leis e regulamentos do país
de operação. A responsabilidade ética refere-se à obrigação das IFIs de respeitar a massa
de normas sociais, religiosas e consuetudinárias, que não estão codificadas na lei.
Responsabilidade discricionária refere-se à expectativa das partes interessadas, as IFIs
desempenharão um papel social na implementação dos ideais islâmicos, além das
responsabilidades religiosas, econômicas, legais e éticas (AAOIFI, 2010).
Ao longo de duas décadas, o AAOIFI operou como um corpo de organizações de
contabilidade islâmicas, que preparam padrões para instituições financeiras islâmicas.
Até o momento, ainda há discussões limitadas na literatura sobre a conformidade de RSC
das IFIs e os padrões atualizados da AAOIFI nº 7, 2010 (e.g., VINNICOMBE, 2010;
142
VINNICOMBE, 2012; ZAKARIA; ARUN, 2015; FARAG, MALLIN et al., 2014,
PLATONOVA, 2014; HARUN, 2016).
3.4.1 Relevância do AAOIFI nas Instituições Financeiras Islâmicas
Esta seção explica a história da AAOIFI, sua abordagem para o desenvolvimento de
padrões contíguos e os problemas enfrentados nos estágios iniciais de seu
estabelecimento. A abordagem pragmática adotada pelo AAOFI no desenvolvimento de
seus padrões tem sido criticada no contexto do debate conceitual, que é como os padrões
de contabilidade para as entidades que podem ser adaptadas a partir de padrões oceânicos
ou de um processo de uma estrutura islâmica (SAREA; HANEFAH, 2013). O AAOIFI
teve uma primeira abordagem, acreditando com a eficácia em trabalhos antigos
facilitando uma implementação de padrões de padrões, sem comprometer a Lei Islâmica
(AAOIFI, 2003).
O AAOIFI, sem suas operações no Bahrein em março de 1991 (11 Ramadan 1411H)
(AAOIFI, 2003). Inicialmente conhecida como uma Organização de Contabilidade
Financeira para Bancos Islâmicos e Instituições Financeiras (FAOIBFI), o nome foi
mudado para o AAOIFI em 1995 para uma ampla expansão do resumo para auditoria e
outros padrões, em resposta a demandas do mercado interno. O AAOIFI utiliza um
esquema organizacional de dois níveis, semelhante ao do IASB e outras semelhantes,
como o Financial Accounting Standards Board (FASB) nos Estados Unidos
(VINNICOMBE, 2010).
Os objetivos do AAOIFI evoluíram desde sua formação. Hoje, é incluída a preparação e
divulgação de padrões de contabilidade, auditoria e governança para instituições
financeiras islâmicas, com o objetivo de alcançar a harmonização na contabilidade
adotada pelas instituições financeiras islâmicas na preparação de suas demonstrações
financeiras (AAOIFI, 2003). O AAOIFI também fornece diretrizes para instituições
financeiras islâmicas em diversas áreas nas quais elas podem encontrar dificuldades em
encontrar tratamentos ou interpretações contábeis apropriadas, como questões
relacionadas a seguros islâmicos e novos produtos financeiros. Finalmente, o objetivo da
AAOIFI é promover a adoção de seus padrões pelas instituições financeiras islâmicas,
com o apoio das autoridades reguladoras competentes nos países onde essas instituições
operam. Para este fim, os organismos nacionais e transnacionais, incluindo bancos
143
centrais, organizações de contabilidade e o IASB são encorajados a tornarem-se membros
da AAOIFI (AHMED; KARIM, 2001; KHATIB, 2013).
Em 1993, o AAOIFI emitiu as Demonstrações Contábeis Financeiras 1 e 2 (FAS 1 e FAS
2). Esses dois documentos representaram a finalização da tarefa inicial da AAOIFI de
desenvolver objetivos e conceitos de contabilidade financeira para os bancos islâmicos.
O FAS 1 delineou os objetivos e FAS 2 os conceitos (KARIM, 1995). Juntas, as duas
publicações foram frequentemente descritas como estruturas para o desenvolvimento
adicional dos padrões contábeis islâmicos (KARIM, 1995). Os dois normativos foram
seguidos pela Norma de Contabilidade Financeira nº.1, que detalhou os requisitos para a
apresentação geral e divulgação para as demonstrações financeiras dos bancos islâmicos.
A AAOIFI já publicou 26 Normas de Contabilidade Financeira (FAS 1–26), bem como
normas para companhias de seguros islâmicas, padrões de auditoria, padrões de
governança e códigos de ética para contadores, auditores e funcionários de instituições
financeiras islâmicas. Isso constitui um corpo substancial de trabalho em um período
relativamente curto de tempo. Em comum com todos os órgãos de definição de normas
contábeis, no entanto, o AAOIFI enfrenta vários desafios. Sua tarefa é comparável à do
International Accounting Standards Board (IASB), pois, diferentemente dos órgãos
contábeis nacionais, deve estabelecer padrões para bancos localizados em partes muito
diferentes do mundo. Os padrões, portanto, precisam ser aceitáveis para uma variedade
de regimes regulatórios e uma série de circunstâncias políticas, econômicas e sociais. O
AAOIFI não tem poder de fiscalização e, portanto, deve prosseguir obtendo o apoio dos
órgãos reguladores nacionais e dos principais bancos islâmicos (KARIM, 1995). Apesar
desses problemas, o AAOIFI obteve um sucesso considerável, em termos dos padrões
que produziu, aumento de membros e o que parece ser uma aceitação crescente por parte
das autoridades reguladoras em muitos países islâmicos, como o CCG. Parece oportuno,
portanto, testar até que ponto os padrões publicados pela AAOIFI são implementados
pelos bancos islâmicos.
3.4.2 Necessidade de normas específicas do AAOIFI
Devido à globalização, aumento da concorrência, revolução da comunicação, novas
regulamentações e o forte crescimento das IFIs, a AAOIFI segue em frente na formulação
e preparação da contabilidade, auditoria e governança corporativa, bem como nos padrões
de ética e Sharia para as IFIs com o mercado financeiro global (VINNICOMBE, 2012).
144
A necessidade de padrões contábeis islâmicos também coincide com o desenvolvimento
de produtos financeiros islâmicos. Novos produtos financeiros exigem tratamentos
contábeis proporcionais, especialmente quando as instituições são obrigadas a produzir
demonstrações financeiras anuais. No entanto, o rápido crescimento das instituições
financeiras islâmicas, a partir da década de 1970, superou a capacidade do
desenvolvimento do padrão contábil de manter o ritmo (POMERANZ, 1997). Além disso,
a ênfase na islamização de produtos financeiros concentrou-se no desenvolvimento de
instituições financeiras e produtos financeiros, em vez de um quadro regulamentar
correspondente. O AAOIFI é uma organização internacional independente, que é apoiada
por membros institucionais (200 membros de 45 países), incluindo bancos centrais, IFIs
e outros participantes do setor bancário e financeiro islâmico internacional. Publicou seu
primeiro conjunto de padrões contábeis e de governança em 2004. Em seguida, foram
atualizados em 2008 e a última atualização foi em 2010. A edição de 2010 é considerada
o padrão mais adequado para este estudo, que abrange os anos entre 2010 e 2014
inclusive.
A contabilidade financeira desempenha um papel importante no fornecimento de
informações de que os usuários das demonstrações financeiras dos bancos islâmicos
dependem para avaliar a conformidade do banco com os preceitos da Sharia. No entanto,
para desempenhar esse papel de forma eficaz, os padrões contábeis precisam ser
desenvolvidos e cumpridos pelos bancos islâmicos. O desenvolvimento de tais padrões
deve ser baseado em objetivos claros de contabilidade financeira e definições acordadas
de seus conceitos. Em paralelo com o crescimento positivo da indústria de IFI, o AAOIFI
publicou 85 normas que são compostas por 26 normas de contabilidade, 5 guias de
auditoria, 7 guias de governança, 2 guias de ética e 45 guias de Sharia (AAOIFI, 2010).
O AAOIFI foi reconhecido e legitimado para desenvolver padrões de contabilidade,
auditoria, governança e ética para garantir que as IFIs operem de acordo com os princípios
da Sharia, a fim de promover informações contábeis comparáveis, transparentes e
confiáveis para as partes interessadas. Assim, pode-se concluir que os padrões da AAOIFI
são ferramentas importantes para melhorar o crescimento da indústria da IFI.
Muitos estudos examinaram a adequação e aderência da contabilidade convencional para
uma economia islâmica. Estudiosos como Karim e Tomkins (1987), Hamid et al. (1993),
Baydoun e Willett (1995), Haniffa e Hudaib (2001) e Haniffa (2002) sugeriram que o Islã
deve influenciar a abordagem e a maneira pela qual a contabilidade é praticada. Hameed
145
(2001) apela a um forte apoio entre os contadores muçulmanos e acadêmicos de
contabilidade para a aplicação da contabilidade islâmica, bem como a estrutura de
responsabilização em vez de usar a estrutura de utilidade decisória da contabilidade
convencional, e a necessidade de desenvolver contabilidade específica que ajude os
muçulmanos a cumprir seus objetivos e alcançar o consentimento de Deus. Mirza e
Baydoun (1999) descobriram que as sociedades islâmicas precisam de padrões contábeis
e de relatórios que as apoiem na obediência a Allah e na satisfação de outras partes
interessadas. Além disso, os relatórios anuais das IFIs podem incluir uma divulgação
abrangente sobre as operações da empresa, conformidade financeira com a Sharia, bem
como informações sociais. Al-Mehmadi (2004) concluiu que os bancos islâmicos
precisam de padrões contábeis especiais. Além disso, as Normas Internacionais de
Contabilidade (IFRS) baseadas nessas técnicas criariam dificuldades para os muçulmanos
(SHADIA, 2007).
Hameed (2001) explica que a visão de mundo, princípios, objetivos e valores do Islã são
diferentes da sociedade secular ocidental. Como tal, as obrigações e proibições
particulares na arena econômica e social sob a Sharia, e o estabelecimento de
organizações islâmicas, requerem uma estrutura contábil diferente. Portanto, a
contabilidade convencional pode ser uma ferramenta inadequada para a tarefa. Dessa
forma, considera que uma economia islâmica precisa de um sistema contábil diferente
que corresponda aos valores islâmicos e forneça informações apropriadas para que os
usuários muçulmanos os ajudem a alcançar seus objetivos religiosos. Obviamente, muitos
estudos têm investigado diferentes questões e aspectos que afetam a natureza da
contabilidade no Islã, como zakat, riba, relato financeiro e não financeiro islâmico,
divulgação social, instrumentos financeiros islâmicos, Mudarabah e outras questões (e.g.,
SIDDIQUI, 2004; LEWIS, 2005; MAALI et al., 2006; AYUB, 2007). Haniffa e Hudaib
(2001) criticam a contabilidade convencional, bem como os padrões internacionais de
contabilidade, como as IFRS, como inadequados para os muçulmanos e para as IFIs. Os
autores afirmam que a contabilidade islâmica ajuda os muçulmanos a alcançar o
consentimento de Allah. Eles criticam a contabilidade convencional como sendo proibida
da religião, bem como não garantem o bem-estar da sociedade a longo prazo.
Ullah (2013) afirmou que, comparado a outras empresas gerais ou bancárias, os bancos
islâmicos são obrigados a cumprir os padrões da Sharia, como os padrões AAOIFI. Além
disso, Hossain (2010) afirmou que os bancos islâmicos devem cumprir mais regras e
146
regulamentos do que os bancos convencionais, ou seja, os bancos convencionais não
cumprem os padrões da AAOIFI. Como as atividades dos bancos islâmicos são diferentes
daquelas de suas contrapartes, sua contabilidade e relatórios também são diferentes. Esses
bancos islâmicos precisam divulgar alguma informação; que os bancos convencionais
não são obrigados a divulgar. O AAOIFI foi reconhecido e legitimado para desenvolver
padrões que estão alinhados com os princípios da Sharia, a fim de promover informações
contábeis comparáveis, transparentes e confiáveis para os usuários. Assim, o objetivo
principal da AAOIFI é preparar e desenvolver padrões de contabilidade, auditoria,
governança e ética relacionados às atividades das IFIs (SAREA; HANEFAH, 2013).
No entanto, Hameed (2001) argumenta que as IFRS são inadequadas para as IFIs devido
à singularidade das transações dos bancos islâmicos. Além disso, as IFRS não são
compatíveis com os bancos islâmicos (MAALI; NAPIER, 2010). Para melhorar o nível
de divulgação entre os bancos islâmicos. As IFIs precisam de contabilidade islâmica e
padrões islâmicos, como os padrões AAOIFI, que cumpram com a Sharia e apoiem essas
instituições para obter responsabilidade em relação a Allah, bem como a todas as partes
interessadas. Consequentemente, esta pesquisa procura o AAOIFI como uma referência;
os modelos ideais e melhores práticas para todas as IFIs são aqueles que poderiam apoiá-
los a divulgar informações completas sobre as informações de RSC e ajudar os bancos
islâmicos a cumprir o contrato entre si e Allah primeiro, depois para acionistas, acionistas,
sociedade e outros.
3.4.3 O Papel da AAOIFI na RSC
A Responsabilidade social das empresas (RSC) para as IFIs refere-se a todas as atividades
realizadas por uma IFI para cumprir suas responsabilidades religiosas, econômicas,
legais, éticas e discricionárias, como intermediários financeiros para indivíduos e
instituições (AAOIFI, 2010). O AAOIFI emitiu a Norma de Governança n.º 7 (2010) para
organizar as atividades relacionadas à RSC. O objetivo principal desta norma é assegurar
que as atividades de RSC e a conformidade das IFIs sejam comunicadas de maneira
verdadeira, transparente e compreensível aos interessados relevantes (AAOIFI, 2010). A
responsabilidade pela divulgação de RSC sob este padrão é dividida entre 5 divulgações
obrigatórias (como ganhos e gastos proibidos pela Sharia e Zakat) e 6 divulgações
voluntárias (como Qard Hassan, atividades de caridade e gerenciamento da Waqf)
(AAOIFI, 2010). A literatura de RSC sobre bancos islâmicos revelou uma diferença de
expectativas entre divulgações reais / comunicadas e divulgações ideais.
147
Haniffa e Hudaib (2001) afirmam que a divulgação em bancos islâmicos é um fator vital
que ajuda os muçulmanos a cumprir seus deveres religiosos. Eles acrescentam que os
bancos islâmicos devem divulgar qualquer informação relativa a transações proibidas que
façam, informações relacionadas à obrigação do zakat e à responsabilidade social do
banco, como instituições de caridade e proteção ambiental. Isso nos mostra que relatórios
financeiros em IFIs provavelmente serão mais detalhados do que os relatórios financeiros
em instituições convencionais.
Maali et al. (2006) descobriram que o nível de divulgação social pelos bancos de amostra
estava bem abaixo do seu índice de referência. Haniffa e Hudaib (2007) encontraram uma
lacuna significativa entre as divulgações éticas comunicadas e as ideais (esperadas) para
7 bancos islâmicos. Belal et al. (2014) encontraram um aumento geral em divulgações
particulares e universais durante o período de estudo. Hassan e Harahap (2010)
concluíram que alguns bancos islâmicos prestam pouca atenção à divulgação de suas
atividades sociais e, assim, defenderam um padrão de divulgação de RSC relevante para
as IFIs. Farook et al. (2011) encontraram variações substanciais nas divulgações de RSC
e essa variação é melhor explicada pela presença de governança do CSS e pela
preponderância dos muçulmanos em seus países de amostra. A partir da discussão acima,
pode-se concluir que existem vários fatores/determinantes que influenciam a prática do
nível de desrespeito à RSC entre os bancos islâmicos, como por exemplo, a existência de
um Conselho de Supervisão da Sharia que prestam assessoria a administradores de
bancos islâmicos.
3.5 Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica (DRSCI)
As últimas décadas testemunharam um interesse crescente na responsabilidade social
corporativa (RSC). O interesse na divulgação de responsabilidade social corporativa
(DRSC) aumentou com o tempo (TAHA, 2010). Hoje, à medida que os grupos de partes
interessadas começam a exigir informações sobre questões sociais e ambientais das
empresas financeiras, as empresas têm que justificar todas as suas atividades para um
público mais amplo, aumentando suas comunicações em uma série de questões e não
apenas se limitando a comunicar as dimensões econômicas de suas operações (DAUB,
2007). A DRSC é uma ferramenta fundamental para a comunicação com os stakeholders
sobre as atividades de responsabilidade social de uma empresa. Ele forma o cerne central
para as relações públicas na comunicação e criação de entendimento mútuo (sociedade e
148
administradores), no gerenciamento de possíveis conflitos e na obtenção de legitimidade
(GOLOB; BARTLETT, 2007).
Existem vários pontos de vista sobre a divulgação de RSC definidos por pesquisadores
anteriores. McWilliams e Siegel (2006) e Huang (2015) definem responsabilidade social
corporativa como esforços das empresas para superar os cumprimentos legais,
participando voluntariamente de ações que pareçam promover algum bem social, além
dos interesses da empresa e aquilo que é exigido por lei. Isso significa incorporar
responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas na tomada de decisões
corporativas (CARROLL, 1979), além de representar um desvio potencial da Teoria do
Acionista, na qual as empresas se esforçam para maximizar a riqueza dos acionistas
dentro de restrições legais e normas sociais básicas (FRIEDMAN, 1970). A teoria do
acionista tem sido uma suposição dominante em toda a pesquisa em economia, finanças
e contabilidade. A responsabilidade social corporativa é intrigante porque sugere que as
empresas são motivadas a tomar decisões que nem sempre maximizam a riqueza para os
acionistas. Sob a Teoria dos Stakeholders, como sugerido por alguns estudiosos da RSC,
as empresas atingem um equilíbrio entre o acionista interesses e interesses de outras partes
interessadas (CARROLL, 1991).
A divulgação de RSC, em geral, pode ser definida como a prestação de informações
financeiras e não financeiras relacionadas à interação de uma empresa com seu ambiente
físico e social, conforme declarado em relatórios anuais corporativos ou em relatórios
sociais corporativos, e pode ser obrigatório ou voluntária (HACKSTON; MILNE, 1996).
Divulgação social e ambiental geralmente pode ser pensada com o fornecimento de
informações relacionadas às atividades, aspirações e imagem pública de uma empresa,
com relação às questões ambientais, comunitárias, de funcionários e de consumidores
(GRAY, et al. 2009). Said et al. (2009) indicam que a divulgação social pode fornecer
tanto informações positivas, que apresentam a empresa como operando em harmonia com
o ambiente, como declarar que a empresa está conduzindo programas de treinamento para
funcionários ou que políticas de gerenciamento de resíduos estão sendo realizadas, ou
informações negativas que apresenta a empresa como operando em detrimento do meio
ambiente, como a incapacidade de controlar ou reduzir a poluição, ou a incapacidade de
resolver um problema social. Do ponto de vista desta tese, a DRSC pode ser definida
como a capacidade de as empresas fornecerem informações relevantes e adequadas no
relatório financeiro ou em seus websites, das atividades de negócio, que atendam às
149
necessidades dos acionistas e stakeholders, como uma informação de atividades de
caridade para a sociedade (LI et al., 2007; LU; ABEYSEKERA, 2014).
Aaronson e Reeves (2002) argumentam que há pressão pública para desenvolver políticas
de responsabilidade social corporativa decorrentes do fracasso da divulgação voluntária,
conforme sugerido pelos órgãos reguladores. Essa pressão pública atua como um
direcionador para governos, bem como para outras instituições, como o AAOIFI, para
fornecer diretrizes e padrões diferentes para práticas de divulgação e relatórios de RSC.
No entanto, esses esforços não tentam tornar a DRSC obrigatório por lei, mas buscam
encontrar o caminho, pelo qual as empresas sejam responsabilizadas por suas ações. Van
der Lann (2004) indica uma forma emergente de divulgação de RSC, a divulgação
solicitada, na qual as empresas são cada vez mais solicitadas a prestar contas, de várias
formas, sobre suas interações e impactos na sociedade. Organizações não-governamentais
(ONGs), agências reguladoras, administradores de fundos éticos ou socialmente
responsáveis, agências de classificação e outras partes interessadas estão solicitando
informações sociais das empresas. A diferença entre divulgação voluntária e solicitada é
o motivo pelo qual se solicita as informações. O motivo para a revelação voluntária da
RSC vem da gestão das empresas, seja em resposta a uma ameaça à sua legitimidade ou
a uma necessidade de prestar contas, enquanto o motivo para a divulgação solicitada da
RSC é um pedido direto dos stakeholders (VAN DER LANN, 2004).
3.6 Modelos teóricos da RSC sob a perspectiva islâmica
Esta seção tem como objetivo apresentar os modelos teóricos contemporâneos da RSC de
uma perspectiva financeira islâmica, baseando-se na discussão acima sobre a economia
moral islâmica e suas articulações. Embora a noção de RSC tenha sido uma parte
essencial das sociedades islâmicas e tenha sido sustentada no Islão há mais de catorze
séculos, as questões da RSC de um ponto de vista islâmico foram levantadas
significativamente na última década do século XX pelos economistas islâmicos
modernos.
A avaliação da literatura revela duas posições principais em relação aos papéis sociais
atribuídos às IFIs. De acordo com a primeira visão, que é apoiada pelos pais da economia
islâmica, as IFIs têm responsabilidades fundamentais e significativas de bem-estar social.
Por outro lado, seus oponentes sugerem que as IFIs, como as instituições financeiras
convencionais, operam no setor financeiro da economia; portanto, as iniciativas sociais
150
devem ser atribuídas ao terceiro setor, sem fins lucrativos, enquanto as IFIs devem ter
atividades comerciais que não estendam suas fronteiras comerciais (SAIRALLY, 2007).
Esses diferentes posicionamentos serão discutidos a seguir.
3.6.1 Modelo de Chapra (1985)
Os primeiros escritos sobre economia islâmica, como os de Siddiqui (1983) e Chapra
(1985) sugerem que o papel social de todos os tipos de IFIs deve ser a busca pela
maximização do lucro, a fim de manter a justiça socioeconômica, apoiar e sustentar
desenvolvimento econômico da humanidade. Essa visão foi introduzida na literatura mais
recente como o modelo de Chapra (LEWIS; ALGAOUD, 2001).
Levando-se em conta o fato de que os bancos islâmicos e outras IFIs lidam com fundos
públicos, eles são obrigados a considerar a melhoria de toda a sociedade contra o
benefício dos indivíduos. Isso basicamente significa que as IFIs têm que cumprir a
obrigação social como uma complacência religiosa, bem como desempenhar outras
tarefas financeiras convencionais pré-estabelecidas.
Esse modelo considera, ainda, os bancos islâmicos como bancos universais ou
polivalentes que integram serviços bancários comerciais e fornecem uma ampla gama de
serviços financeiros (SAIRALLY, 2007: HASSAN; LEWIS, 2007). Essa visão tem sido
amplamente apoiada por pesquisadores como Sadr (1982), Siddiqui, (1983, 1985),
Ahmad (1984), Haron (1995), Ahmad (2000), Rosly e Bakar (2003), Haron e Hisham
(2003), Naqvi (2003) e Sidiqqui (2004), entre outros, que acreditam que para IFIs,
estabelecer objetivos para promover princípios, tradições e normas religiosas islâmicas
juntamente com a proteção das necessidades das sociedades muçulmanas é tão importante
quanto maximizar seu lucro (AYUB, 2007; DUSUKI, 2008).
Assim, pode-se dizer que esse modelo é compatível com os objetivos sociais e éticos da
Sharia e dos objetivos espirituais islâmicos. Portanto, os bancos islâmicos devem
promover programas e atividades de bem-estar social e fazer mais contribuições para os
necessitados e os pobres, sem prejudicar sua viabilidade comercial.
Espera-se que as implicações deste modelo em nível institucional sejam as seguintes:
enquanto os bancos centrais serão adicionalmente responsáveis pelo monitoramento das
IFIs para manter uma distribuição justa de renda, riqueza e poder, e prevenir e controlar
a vantagem injusta tomada deles por uma minúscula minoria, sugere-se que os bancos
151
comerciais islâmicos nomeados aqui como bancos universais equilibrariam as atividades
orientadas para o lucro com atividades comunitárias orientadas para a sociedade .
De acordo com esse modelo, portanto, há uma grande expectativa de que os bancos
islâmicos sejam motivados a publicar suas ações de RSC e contribuam significativamente
para os problemas sociais e econômicos dos cidadãos menos favorecidos da sociedade e,
ao mesmo tempo, os bancos islâmicos devem ser capazes de manter seus direitos
viabilidade comercial (DUSUKI, 2008).
3.6.2 Modelo de Ismail (1986)
Uma visão alternativa sobre RSC para as IFIs foi proposta por Ismail (1986), que
argumentou que as IFIs fazem parte do setor comercial da economia e deveriam ser
responsáveis apenas pelas atividades econômicas e financeiras. Espera-se que todas as
atividades comerciais, do ponto de vista moral e social, sejam atribuídas ao terceiro setor,
cuja finalidade precípua não é o lucro.
Neste modelo, é desenhado um sistema econômico islâmico, que consiste em três setores
financeiros: o setor governamental ou siyasi, o setor comercial ou tijari e o setor de bem-
estar também conhecido como terceiro setor ou ijtimai (HASSAN; LEWIS, 2007. Ismail
(1986), assim, afirma que as instituições comerciais islâmicas do setor comercial ou tijari
são restritas a serem responsáveis perante os acionistas e depositantes e não a sociedade
como um todo. Portanto, dentro desse quadro, os objetivos de bem-estar social não são as
principais tarefas dos bancos islâmicos e devem ser cumpridos por outras instituições.
Em suma, a opinião de Ismail propaga a ideia de que os bancos islâmicos não são
diferentes de outras instituições financeiras comerciais com a mais alta prioridade para
conduzir seus negócios de maneira compatível com Sharia (LEWIS; ALGAUD, 2001;
SATKUNASEGARAN, 2003).
Ainda de acordo com esse modelo, os bancos islâmicos ainda precisam deduzir o zakat
dos retornos que proporcionam aos depositantes como uma obrigação religiosa, que exige
que os ricos contribuam para o bem-estar da sociedade (DUSUKI, 2008). Por outro lado,
instituições sem fins lucrativos que formam o terceiro setor devem realizar todos os tipos
de programas sociais e atividades de caridade (SAIRALLY, 2007).
O modelo de Ismail foi apoiado por Tag El-Din (2003), que articulou a posição de que as
necessidades socioeconômicas da sociedade deveriam ser deixadas para o setor social,
152
como waqf e outras instituições de caridade. É importante, no entanto, afirmar que o
processo socioeconômico não pode ser feito sem incluir valores morais e éticos
(SAIRALLY, 2007).
3.6.3 Modelo de Dusuki (2008)
Ao estender os modelos disponíveis, Dusuki (2008) desenvolveu um modelo baseado na
economia moral islâmica ao nomear o paradigma taqwa, o que inspira a considerar a RSC
como parte das obrigações religiosas (DUSUKI, 2008). Taqwa ou Consciência de Deus
pode ser caracterizada como a capacidade individual, espiritual, moral, ética e psicológica
de elevar-se àquele nível superior que torna uma pessoa quase imune aos desejos
materiais excessivos do mundo, elevando o indivíduo a um nível mais alto de
autoconsciência profética. Dentro deste quadro, o propósito da criação é ser khalifa ou
ser um vice regente de Allah na Terra. Assim, supõe-se que as pessoas com o paradigma
Taqwa buscam continuamente o prazer de Deus e, como resultado, agem de acordo com
os princípios de Sharia. Harmonizar, integrar e combinar assuntos mundanos com valores
espirituais é essencial para os indivíduos, pois isso determinará o destino neste mundo e
no futuro. Indivíduos e corporações que adotam o paradigma Taqwa assumem suas
responsabilidades como vice regentes de Deus em todas as circunstâncias, o que os torna
responsáveis perante Deus, que é o dono deles mesmos e dos recursos que eles utilizam
e gerenciam (DUSUKI, 2008). O papel do khalifa fornece aos seres humanos a autoridade
sobre a criação e essa autoridade deve ser responsável.
Segundo Dusuki (2007), as corporações que operam em conformidade com os princípios
da Sharia e empregam o paradigma Taqwa em sua abordagem para conduzir atividades
de negócios não se concentram apenas na geração de lucros, pois reconhecem e enfatizam
a importância do social, dimensões éticas e morais em sua agenda.
Quatro pontos principais foram promovidos pelo paradigma Taqwa de Dusuki (2008): 1)
dignidade humana; 2) livre arbítrio; 3) igualdade e direitos, e confiança e
responsabilidade. Dusuki (2008) argumenta ainda que a RSC de uma perspectiva islâmica
adota uma abordagem mais holística, o que a distingue da abordagem ocidental. A ideia
central desta visão é que alcançar sucesso e felicidade neste mundo é tão crucial quanto
realizar a felicidade no plano divino. Dessa forma, a RSC tem um significado mais amplo
da marca islâmica, pois atribui mais valor à recompensa espiritual do que à recompensa
material ou monetária.
153
Em geral, a estrutura moral islâmica cultiva uma consciência superior, a moral e um senso
de responsabilidade, que por sua vez mantém o equilíbrio e a harmonia na sociedade e
elimina a ganância. Como resultado, espera-se que entidades empresariais e indivíduos
no Islã abordem o aspecto central da justiça social e econômica. Moderar e atender às
necessidades dos indivíduos na sociedade por meio de atividades filantrópicas, projetos
de bem-estar social que ajudem a combater a pobreza e a desigualdade, têm sido
considerados como parte essencial da RSC nas IFIs. Assim, a responsabilidade do bem-
estar social de uma perspectiva islâmica foi colocada predominantemente sobre os
membros da comunidade que no contexto mais amplo abrangem também instituições
financeiras. Consequentemente, o governo não é o único órgão necessário para assumir
essa obrigação, como foi proposto por Friedman (1966, 1967), Marshall (1999) e Humber
(2002), e as IFIs devem praticar atividades de RSC explicitamente (DUSUKI, 2007). Este
modelo demonstra que as IFIs alinhadas ao paradigma Taqwa são capazes de lidar com
vários problemas sociais de forma mais adequada do que o governo.
3.6.4 Reflexos dos Modelos Teóricos na RSC Islâmica
Há semelhanças que podem ser traçadas entre o modelo de Chapra (1985) e a visão de
Carroll (1979) da RSC, assim como entre o modelo de Ismail (1986) e a visão de RSC de
Friedman (1970). Os dois principais modelos de RSC mencionados acima, atribuídos às
IFIs pelos economistas islâmicos modernos, também podem ser associados aos modelos
de RSC no Reino Unido, EUA e outros países ocidentais (SAIRALLY, 2007; HASSAN;
LEWIS, 2007; DUSUKI, 2008).
No modelo de Chapra, os bancos islâmicos são considerados instituições universais, onde
a provisão de serviços sociais é enfatizada além do objetivo de maximização do lucro.
Além disso, os projetos de bem-estar social das IFIs devem estar de acordo com os
princípios de Sharia, com o foco na maximização dos interesses das partes interessadas
ou stakeholders. Além disso, a responsabilidade ética e social é inerente e imposta às
atividades empresariais e econômicas, uma vez que a conformidade religiosa implicaria
que as atividades filantrópicas seriam integradas ao conceito de negócio das IFIs devido
ao seu papel esperado para o desenvolvimento da comunidade. Consequentemente, o
modelo de Chapra pode ser relacionado à conceituação de Carroll (1979) da RSC, que
engloba quatro focos principais: i) práticas empresariais responsáveis, ii)
responsabilidade do consumidor, iii) empresa sustentável; e filantropia corporativa.
154
Além disso, os paralelos podem ser traçados entre a visão de Chapra e a abordagem do
Reino Unido para a RSC, onde as questões sociais são abordadas explicitamente por redes
institucionais. Nessa situação, a política de negócios em responsabilidade social é tomada
como parte do processo de criação de riqueza e para aumentar a competitividade do
negócio e o valor para a sociedade, com a motivação para atuar de forma socialmente
responsável dentro do paradigma islâmico sendo dirigido pela fé.
Por outro lado, o modelo de Ismail (1986) tem semelhanças com a nova posição clássica
defendida por Friedman (1970), que definiu a responsabilidade social em um sentido
econômico estritamente neoclássico, onde as corporações são responsáveis apenas por
seus stakeholders devido a sua considerável contribuição para a maximização do capital
(BICHTA, 2003). Em uma linha similar de argumentação, a visão de Ismail aceita
analogamente IFIs como instituições comerciais que funcionam dentro de uma estrutura
islâmica e que preenchem principalmente os interesses de seus acionistas e depositantes.
Como se espera que as IFIs sejam desenvolvidas em instituições lucrativas e sustentáveis,
as metas sociais neste modelo são perseguidas indiretamente. Esse modelo também pode
ser associado à abordagem implícita da RSC nos Estados Unidos, onde as questões sociais
são abordadas implicitamente pelas corporações por meio de suas políticas, programas e
estratégias de RSC (MATTEN; MOON, 2008). Assim, a RSC nesta situação não ocorre
no topo da agenda de gestão e não é parte integrante da estratégia de uma empresa. Como
resultado, no modelo de RSC de Ismail, as iniciativas devem ser empreendidas pelo
terceiro setor não lucrativo.
Dusuki (2008) estende essa discussão afirmando que os modelos de Chapra e Ismail não
têm diferenças significativas, exceto em grau e ênfase. De acordo com Satkunasegaran
(2003), a aplicação do modelo de RSC de Ismail seria mais apropriada aos bancos
islâmicos que operam em países multi-religiosos, com diferentes comunidades religiosas
tradicionais. Por outro lado, aplicar o modelo de Chapra aos bancos islâmicos pode ser
mais bem-sucedido nos países com população muçulmana dominante, como no caso da
grande maioria dos países árabes (SATKUNASEGARAN, 2003).
3.7 Divulgação da RSC Islâmica: Obrigatoriedade versus voluntariedade
A divulgação financeira é o fornecimento de informações quantitativas nas
demonstrações financeiras, informações do segmento de negócios, informações de
pesquisa, informações estrangeiras e informações sobre preços. Por outro lado, inclui os
155
detalhes de informações não financeiras, como divulgação sobre os administradores,
funcionários ou ativos intangíveis (WILLIAMS, 2008).
Em geral, a divulgação voluntária pode ser definida como qualquer divulgação por
empresas não obrigadas por lei e/ou órgãos reguladores. Em outras palavras, a divulgação
voluntária é a situação em que as empresas divulgam informações que não são exigidas
por lei ou regulamentos e excede o requisito mínimo de divulgação de relatórios
financeiros obrigatórios. O disclosure voluntário é um canal fundamental de informação
entre os gestores e os stakeholders. Ele é uma das três principais fontes de informação
que formam o ambiente de informação corporativa e a percepção de influência dos
investidores de uma empresa (BEYER et al., 2010).
Ao contrário das demonstrações financeiras obrigatórias e os relatórios de ações de
analistas de mercado, a divulgação voluntária é discricionária dos gestores. Dessa forma,
gestores podem optar por transmitir ou não as informações sobre previsão de lucro, novo
portfólio de produtos, decisões de investimento e de outras políticas corporativas para
orientar o mercado ou para servir a certos incentivos gerenciais. Uma corrente da
literatura descobriu que os gerentes fazem a divulgação voluntária estrategicamente para
facilitar o insider trading, isto é, negociações com informações privilegiadas, (e.g.,
CHENG; LO, 2006; CHENG et al., 2013), fusões e aquisições (AMEL-ZADEH et al.,
2013), recompra de ações (BROCKMAN et al., 2008), concessão de opções de ações
(ABOODY; KASZNIK, 2000) e o exercício dessas opções (BROCKMAN et al., 2010).
As empresas evidenciam informações adicionais para se diferenciar das demais empresas,
captando mais recursos por parte dos investidores e mantendo um bom relacionamento
com o público externo, uma vez que a empresa objetiva futuras negociações com
emissões de títulos (SÁNCHEZ et al., 2011). De acordo com Lanzana (2004), trata-se de
uma ferramenta importante de diferenciação, já que possibilita às empresas fornecer
informações acerca de seu desempenho, estratégia, visão de mercado, programas de
investimento, dentre outros.
O processo de divulgação de informações estratégicas gera para as organizações
consequências favoráveis e desfavoráveis, dependendo da forma como é auferida a
respectiva divulgação, e de quais objetivos a empresa deseja atingir (SÁNCHEZ et al.,
2011). Além dos benefícios trazidos quanto ao monitoramento de informações por parte
dos usuários externos em relação às operações, estudos demonstram que a prática de
156
disclosure voluntário traz benefícios para a própria empresa. Welker (1995), por exemplo,
analisou 427 empresas de 28 setores nos EUA, concluindo que o disclosure aumenta a
liquidez das ações no mercado de capitais. Botosan (1997), Hail (2002), Francis, Krurana
e Pereira (2005) e Alencar (2007) apontam que empresas com melhor disclosure
apresentam menor custo de capital próprio. Já Sengupta (1998) aponta para um menor
custo de capital de terceiros como benefício. Welker (1995), Healy et al. (1999), Leuz e
Verrecchia (2000) e Zhou (2004) identificaram ações mais líquidas. Já Healy et al. (1999)
e Lang e Lundholm (2000) mencionam ações mais líquidas como benefícios.
Como desvantagem de apresentação de informações voluntárias, tem-se, principalmente,
o custo para essas divulgações, custos esses relacionados à preparação e à certificação
(auditoria) das demonstrações contábeis, de oportunidade do pessoal envolvido nesse
trabalho (LEUZ; WYSOCKI, 2008) e os custos de publicação dos relatórios, em alguns
países, em jornais de grande circulação (PIRCH et al., 2007; MURCIA, 2009).
Do ponto de vista do cliente, eles tendem a solicitar mais informações, de forma rápida e
atempada ao longo dos anos. Ele gravou um papel para a Internet como um meio de
exposição (ALY, SIMON; HUSSAINEY, 2010) e tornou-se um meio alternativo para a
divulgação oportuna pelas empresas (ABDELSALAM; STREET, 2007). Uma empresa
com maior divulgação tem mais analistas que as seguem, falta de divulgação da previsão
dos analistas e menor volatilidade na previsão de transmissão (LUNDHOLM LANG,
1993). Piotroski (1999) descobriu que a divulgação voluntária poderia melhorar a
precisão das previsões dos analistas e reduzir a disseminação da previsão.
Ao melhorar as IFIs para cumprir sua responsabilidade religiosa e social, o AAOIFI tem
padrões uniformes sobre as atividades de RSC e o cumprimento das IFIs. O principal
objetivo da norma é assegurar que as atividades de RSC e a conformidade das IFIs sejam
comunicadas de maneira uniforme, verdadeira, transparente e abrangente às partes
interessadas relevantes, às quais as IFIs têm um dever de responsabilidade. Tal
responsabilidade, consiste em 5 condutas obrigatórias e 6 voluntárias, que abrangem
todos os aspectos da RSC (tratadas neste estudo como dimensões de RSC), como a
responsabilidade social em relação aos funcionários, clientes e sociedade. Essa diretriz
será usada para desenvolver o índice de divulgação, separando em divulgação voluntária
e obrigatória, para medir o nível de informações de RSC divulgadas entre os bancos
islâmicos e convencionais escolhidos para a composição da amostra.
157
4 REVISÃO DA LITERATURA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA ISLÂMICA E CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES
O presente Capítulo discute os determinantes da divulgação da RSC nos bancos islâmicos
e suas consequências, tanto nos bancos islâmicos quanto convencionais, desenvolvendo
assim as hipóteses desta tese. Todas as hipóteses foram desenvolvidas com base nas
lacunas identificadas na revisão da literatura precedente e alicerçadas na teoria pertinente
para o estudo, conforme já apresentado e discutido nos Capítulos 2 e 3 desta tese.
4.1 Bancos Islâmicos e Responsabilidade Social Corporativa (RSC)
O surgimento dos bancos islâmicos se deu em função da crítica dos muçulmanos aos
bancos convencionais que cobravam juros sobre suas atividades bancárias, fato que
afrontava seus valores e princípios religiosos. Verificou-se, por parte dos muçulmanos,
que a prática dos juros poderia provocar um efeito negativo no desenvolvimento do
sistema socioeconômico ao redor do mundo, o que chocava frontalmente com os valores
econômicos do Islã (SIDDIQUI, 1980; ARIFF, 1988; LEWIS; ALGAOUD, 2001;
VOGEL, 2005; AHMAD; HASSAN, 2006). A proibição da cobrança da riba no Islã pode
ser vista como parte da visão geral da religião, que considera a economia islâmica
orientada à moralidade e ao bem-estar social (SHEU; LIU, 2010). Dessa forma, o banco
islâmico foi introduzido como uma alternativa ao sistema bancário convencional,
inicialmente nos países de maioria islâmica e nos tempos mais recentes em diversos países
ocidentais. Os bancos islâmicos possuem uma forte responsabilidade social e apresentam,
como uma de suas finalidades expressas, a de estabelecer a distribuição justa da renda e
equidade na mobilização eficiente do capital. Essas características sugerem claramente
que os bancos islâmicos devem mostrar um forte senso de responsabilidade social. O
exame da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) dos bancos islâmicos foi, portanto,
importante para determinar se a sua prática social está alinhada com o espírito de seu
estabelecimento, isto é, com a essência da religião islâmica e de suas bases doutrinárias.
O compromisso dos bancos islâmicos com a RSC deriva da forte influência exercida pela
religião em todos os seus aspectos sociais. O sistema bancário islâmico baseia-se em três
filosofias principais, que o distinguem dos bancos convencionais. Primeiro, os bancos
islâmicos devem buscar uma sociedade justa e equilibrada, conforme previsto pela
economia islâmica. Em segundo lugar, o banco islâmico é construído com base nos
princípios de fraternidade, cooperação e no sistema de compartilhamento de perdas e
158
lucros. Por último, como um sistema fundamentado no quadro ético e moral da lei
islâmica da Sharia, as finanças islâmicas são caracterizadas por normas éticas e
compromissos sociais mais explícitos quando comparados aos seus pares convencionais
(DUSUKI; ABDULLAH, 2007).
Nesse sentido, um dos principais objetivos dos bancos islâmicos é o de trabalhar para o
estabelecimento de uma sociedade islâmica justa e criar um aprofundamento do espírito
religioso entre as pessoas. A existência dos bancos islâmicos baseia-se na visão e no
espírito religiosos. Assim, os bancos islâmicos devem garantir que suas atividades
respeitem estritamente as regras da Sharia. Portanto, eles devem garantir que todas as
ações e atividades empresariais reflitam todos os princípios islâmicos. Per si, as
obrigações dos bancos islâmicos em relação à sociedade são maiores do que as dos bancos
convencionais, pois um banco islâmico tem uma certa missão filosófica para alcançar.
Dessa forma, devem se curvar à ideia de que Allah é o verdadeiro controlador de todos
os recursos, inclusive o tempo. Os seres humanos e as instituições têm um papel
subjacente na sociedade, quando comparados com Deus, segundo a doutrina islâmica. Por
conseguinte, os bancos islâmicos não são livres para fazer o que desejam e devem
conjugar os valores morais com a ação econômica socialmente responsável. Um banco
islâmico deve, por exemplo, conceder crédito a quem tem talento e experiência para
geração de riqueza, fortalecendo assim os fundamentos econômicos da sociedade
(AHMAD; HASSAN, 2006; RASHID et al., 2013).
As atividades e as operações dos bancos islâmicos não são apenas baseadas em regras e
regulamentos governamentais, mas, ao mesmo tempo, devem cumprir a Sharia, conforme
verificado no Capítulo 2 desta tese. Como consequência direta dessa máxima, as
atividades permitidas aos bancos islâmicos são muito limitadas, quando comparadas com
as dos bancos convencionais, que não estão sujeitas a tais restrições, sendo obrigadas a
cumprir somente a legislação e não obrigações religiosas adicionais. Todas as atividades
que contradizem valores e princípios islâmicos devem ser evitadas e banidas de uma
operação bancária. Os bancos islâmicos também não devem investir em empresas que
violam os direitos humanos e afetam o meio ambiente (ULLAH; JAMALI, 2010).
Ademais, os bancos islâmicos não possuem permissão para financiar qualquer empresa
envolvida em atividades relacionadas com carne de porco, pornografia, tabaco, jogos de
azar e bebidas alcoólicas (NATHAN; RIBIÈRE, 2007). Como consequência, os bancos
islâmicos trazem valores éticos e responsabilidade social às práticas bancárias,
159
simplesmente porque são obrigados a respeitar a Sharia, que está carregada de valores
morais (KAHF, 1996; DUSUKI; ABDULLAH, 2007).
Embora os princípios acima restrinjam, de certa forma, a atividade das empresas
islâmicas, as Instituições Financeiras Islâmicas, de maneira geral, apoiam os valores e
atividades essenciais das entidades econômicas que cultivem o empreendedorismo, o
comércio e que tragam desenvolvimento ou benefício social (BNM, 2010). Esses valores
fundamentais são um dos mais importantes princípios subjacentes aos bancos islâmicos.
Assim, a contribuição dos bancos islâmicos para a prática de RSC é muito relevante, uma
vez que são conduzidos pela filosofia religiosa e devem, teoricamente, evidenciar
políticas de RSC mais fundadas em valores éticos e morais (KHAN; MIRAKHOR, 1987).
4.2 Estudos recentes sobre divulgação da RSC na perspectiva Islâmica
Esta seção fará a revisão da literatura sobre a divulgação da RSC a partir de perspectivas
islâmicas. A discussão envolvendo a divulgação de RSC sob a perspectiva islâmica não
é tão recente. Consta e é explicada, inclusive, no próprio Corão. Lewis (2007) enfatiza
que, se o propósito da informação contábil é a de servir o interesse público, isso implica
que, em um contexto islâmico, a Ummah (Comunidade) tem o direito de conhecer o efeito
das operações ou do investimento dos bancos islâmicos no seu bem-estar e garantir que
ele esteja plenamente aderente aos requisitos da Sharia.
Uma vez que os valores e princípios que sustentam o ensino e a filosofia islâmicos estão
relacionados com a noção de RSC, vários estudos tentaram refletir a noção de
responsabilidade social e ambiental e suas relações com os valores do Islã, como nas
pesquisas de Lewis (2001) e Kamla (2009). Uma série de outros estudos investigaram a
prática da divulgação social e ambiental em empresas que conduzem seus negócios de
acordo com a Sharia como os de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hassan e
Harahap (2010), Williams e Zinkin (2010) e Aribi e Gao (2012), que investigaram se os
pilares do Islã são consistentes, inclusive, com os dez princípios dos negócios socialmente
responsáveis, delineados no Pacto Global das Nações Unidas. A pesquisa concluiu que,
com exceção do foco do Islã na responsabilidade de pessoal e o não reconhecimento da
empresa como uma pessoa jurídica, o que poderia prejudicar o conceito de
responsabilidade corporativa, não há divergência entre os pilares do Islã e os princípios
do Pacto da ONU. Na verdade, o Islã, muitas vezes, vai além e tem a vantagem de uma
codificação mais clara dos padrões éticos, bem como um conjunto de mecanismos
160
explícitos de execução. Eles sugeriram focar nessa convergência de valores, pois poderia
ser útil ao desenvolvimento de uma nova compreensão da RSC em um contexto global,
bem como ajudar a evitar certos choques entre as Nações.
A pesquisa de Mohammed (2007) sobre valores e princípios de RSC investigou se as
divulgações realizadas pelas IFIs estavam de acordo com o que foi praticado pelas
Instituições Financeiras Ocidentais. O estudo foi conduzido em bancos islâmicos
concentrados na Malásia, nos Emirados Árabes Unidos, na Arábia Saudita e no Reino
Unido. A descoberta conclui que os bancos islâmicos que aderem aos princípios da Sharia
são naturalmente obrigados a adotar uma postura de maior responsabilidade social. Em
teoria, os bancos islâmicos estão totalmente compatíveis com a Sharia e implementam
todos os valores islâmicos em suas operações. No entanto, alguns pesquisadores
argumentam que não há como afirmar se existe aderência entre o que é produzido, em
termos informacionais, respeitando as Leis Islâmicas, por uma Instituição Financeira
Islâmica, uma vez que não há um órgão regulador acima dessas IFIs que assegure o nível
de conformidade com esses preceitos (KHAN, 2010; RASHID et al., 2013).
A configuração atual dos bancos islâmicos existe há quase sessenta anos, conforme já
mencionado no Capítulo 2, desde a sua criação durante a década de 1960. Durante esse
período, o banco islâmico se desenvolveu rapidamente e, atualmente, não é mais um
conceito estranho ou exótico para os pesquisadores e investidores. Os produtos e serviços
islâmicos prestados são bem aceitos, não só entre os países muçulmanos, mas também
nos países não muçulmanos, como no caso dos países europeus. No entanto, há uma falta
de discussão sobre o desempenho dos bancos islâmicos em termos de responsabilidade
social corporativa em comparação com os bancos convencionais. Basah e Yusuf (2013)
conduziram um estudo para analisar a relação entre bancos islâmicos e seu Desempenho
Social Corporativo (DSC). Examinaram e analisaram a literatura relevante, que
desenvolve a relação entre o conceito de bancos islâmicos e RSC. Foi uma tentativa
conceitual de discutir como os princípios dos bancos islâmicos podem influenciar a
implementação da RSC. Partiram do pressuposto de que as características religiosas que
atuaram como base para o estabelecimento dos bancos islâmicos devem ter influência na
responsabilidade social das empresas. A conclusão foi a de que o conceito do banco
islâmico que, ou seja, aquele que cumpre a disposição religiosa, deve exibir atividades e
políticas de RSC mais proativas. Como consequência da pesquisa, comprovou-se que o
desempenho dos bancos islâmicos foi superior em comparação com os seus pares
161
convencionais ou ocidentais e concluiu-se que os bancos islâmicos devem ser mais
responsáveis para harmonizar a prática de RSC, domesticamente ou internacionalmente,
para que possam gerar maior valor agregado às suas operações e servir de base ou
referência aos seus pares convencionais.
A linha mais importante da estrutura de Governança Corporativa para implementar e
adotar valores éticos islâmicos na RSC é o Conselho de Administração dos bancos.
Assim, Aribi e Arun (2015) realizaram um estudo sobre como as Instituições Financeiras
Islâmicas (IFIs) no Bahrein estão respondendo às necessidades de RSC demandadas pela
sociedade. Foram usadas 18 entrevistas semiestruturadas, em profundidade e entre 9
administradores de IFI, e a técnica de análise de conteúdo das divulgações de 7 IFIs
durante o período de 2006 a 2010. Tentaram, dessa forma, entender as percepções
gerenciais da RSC nas IFIs. A descoberta indicou que a compreensão completa da RSC
pelos gestores dos bancos não foi totalmente traduzida e refletida nos relatórios das
instituições. O órgão islâmico de regulamentação bancária e financeira deveria, portanto,
ser mais proativo para mitigar esse problema e utilizar plenamente os valores das IFIs ao
invés de se concentrar, única e exclusivamente, na maximização de lucros. Assim, para
que se preencha essa lacuna conceitual, essa tese realizará um estudo para discutir os
principais determinantes que levam os bancos islâmicos a divulgarem suas informações
de RSC e as consequências das práticas de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos
e convencionais do CCG.
Haniffa (2002) adotou uma abordagem normativa e ética para desenvolver uma estrutura
conceitual de divulgação de RSC baseada na Sharia. O estudo argumentou ainda que o
uso deste quadro serve para cumprir com os objetivos de responsabilidade e transparência
com a abordagem de três dimensões inter-relacionadas: o alcance dos preceitos divinos
em estabelecer a justiça socioeconômica, a realização de benefícios para a comunidade
cumprindo a obrigação e a busca pela riqueza. Para tanto, abordou a relação entre o
homem e Deus, relação do homem em sociedade, e também do homem com a natureza.
Este quadro levou em consideração os recursos financeiros, os aspectos morais e
espirituais. De acordo com Haniffa (2002), a prática islâmica de divulgação de
responsabilidade social deve ser diferente dos relatórios sociais convencionais, porque os
princípios subjacentes são diferentes, embora os conceitos básicos de responsabilidade
social e responsabilidade sejam os mesmos em ambos os casos. O trabalho sugeriu dois
objetivos gerais da Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica
162
(DRSCI). O primeiro objetivo é o de demonstrar a responsabilidade perante Allah e a
Ummah. Já o segundo, seria o de demonstrar transparência nas atividades comerciais. No
entanto, Haniffa (2002) não examinou empiricamente o impacto dos valores religiosos
no desempenho dos bancos islâmicos.
Sulaiman e Willett (2003) salientaram que as questões de responsabilidade social e
contabilidade ambiental seriam componentes essenciais e que precisariam ser divulgados
em relatórios corporativos islâmicos. Eles interpretaram as diretrizes de relatório de
sustentabilidade do Global Reporting Initiative (GRI), como base para fornecer
indicadores de desempenho social e ambiental num modelo de relatório corporativo
islâmico, uma vez que o GRI fornece uma lista muito abrangente dos problemas sociais
e ambientais que uma empresa precisaria divulgar. No entanto, os autores enfatizaram
que, para o caso específico de relatórios corporativos islâmicos, o GRI não é adequado
para ser usado como guia de orientação para a estruturação de relatórios islâmicos. Diante
dessa outra lacuna, esta tese usará o AAOIFI ao invés do GRI como diretriz principal para
medir a prática de divulgação de RSC em bancos islâmicos e convencionais.
Estudos anteriores foram realizados para examinar a relação entre a divulgação da RSC
e o Islã, com o uso de relatórios anuais dos bancos islâmicos (e.g., HAMEED; YAHYA,
2003; MAALI et al., 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; e ANUAR et al., 2009). Anuar
e Ahmad (2009) forneceram evidências que apoiam a visão de que a religião islâmica tem
efeito significativo sobre os relatórios corporativos com viés ambiental. Usando a técnica
de análise de conteúdo, os autores compararam a prática ambiental das empresas, que
conduziam suas atividades de acordo com os princípios islâmicos, com a prática
ambiental de empresas não aprovadas pela Sharia, que operam exclusivamente na
Malásia. Os resultados fornecem algumas evidências de que as empresas aprovadas pela
Sharia têm um nível mais alto de transparência em seus relatórios ambientais do que as
empresas não aprovadas pela Sharia, isto é, aquelas que não seguem as regras religiosas.
As conclusões deste estudo, portanto, sugerem que a maior extensão do relatório
ambiental entre as empresas aprovadas pela Sharia pode refletir uma tentativa de tais
empresas de praticar relatórios corporativos que incorporem os princípios islâmicos de
divulgação completa da responsabilidade social. Cabe ressaltar, no entanto, que o estudo
realizado por Anuar et al. (2009) limitou-se a examinar a influência do islamismo apenas
na divulgação ambiental, e sua amostra foi baseada em empresas industriais, excluindo
instituições financeiras islâmicas, como bancos islâmicos. Diante disso, torna-se
163
necessário o estudo da influência do Islã sobre a RSC dos bancos islâmicos que devem
seguir a Sharia em todas as suas atividades e transações. Os stakeholders, portanto,
percebem os bancos islâmicos como entes dotados de responsabilidade social e
econômica. (MAALI et al., 2006). A presente tese, portanto, será conduzida também para
complementar as principais descobertas de Anuar et al. (2009).
Farook et al. (2011) mediram o nível de DRSC de 47 IFIs que operavam em 14 países e
fizeram observações sobre os determinantes ou motivadores dessa divulgação. Usando o
índice de divulgação, derivado dos estudos de Maali et al. (2006), mediram o nível de
DRSC em IFIs e desenvolveram um modelo que relaciona a DRSC com influências sócio-
políticas e fatores de governança corporativa. Seus resultados mostraram diferenças nos
níveis de divulgação dentro da amostra pesquisada. As principais fontes de variação
foram os contextos sociopolíticos dentro dos quais as IFIs operam, enquanto o driver mais
importante para a DRSC é a pressão do público externo ou stakeholders. No entanto,
concluem que é difícil generalizar e extrapolar os resultados sobre práticas comerciais em
todos os países do mundo islâmico, em função da sua diversidade étnica, uma vez que
estão em estados de desenvolvimento muito diferentes.
Yahya et al. (2005) mediram o nível de DRSC em empresas alinhadas com a Sharia na
Malásia. Das 194 empresas em sua amostra, apenas 102 empresas divulgaram suas
atividades sociais nos relatórios anuais. Eles investigaram ainda a relação entre o nível de
DRSC e o número de ações de fundos de ações de capital próprio nas mesmas empresas.
Seus resultados revelaram que o percentual do número de fundos de ações islâmicos que
investem em qualquer empresa é semelhante ao nível de atividades sociais divulgadas
pela empresa. Os estudos de Maali et al. (2006) é um dos estudos empíricos que tentaram
investigar a influência do Islã sobre os relatórios sociais das IFIs.
Com base no texto islâmico e nos estudos anteriores relevantes, Kamla (2007) elaborou
e discutiu alguns princípios islâmicos fundamentais. A pesquisa concluiu que o Islã
prestava atenção ao meio ambiente sob uma perspectiva holística. Além disso, ele
argumentou que os princípios islâmicos têm relevância muito geral em relação às
preocupações de governar o meio ambiente com suas implicações contábeis. No entanto,
os estudos acima são principalmente conceituais. Por conseguinte, é necessário investigar
empiricamente a influência religiosa sobre a divulgação da RSC na prática através da
medição da informação de divulgação da RSC sobre questões ambientais, que é uma das
propostas desta tese.
164
Com base nos princípios islâmicos e no código de ética islâmico, Maali et al. (2006)
desenvolveram uma referência ou padrão para a divulgação social, isto é, o que eles
esperariam que os bancos islâmicos forneçam. No entanto, seus resultados indicam que a
extensão da divulgação social pelos bancos islâmicos está muito aquém do ponto de
referência desenvolvido. Suas descobertas indicam que há uma variação considerável nos
diferentes tipos de relatório social voluntário entre os bancos islâmicos. Maali et al.
(2006) concluem que os bancos islâmicos têm um longo caminho a percorrer para atender
às expectativas da comunidade islâmica.
No entanto, uma vez que a prática de relatórios corporativos, incluindo relatórios sociais
corporativos, varia de acordo com os países, alguns desses estudos compararam se o
volume e a extensão da divulgação de RSC entre bancos islâmicos que operam em países
islâmicos em desenvolvimento e países não islâmicos desenvolvidos. As pesquisas
possuem conclusões imprecisas na comparação de bancos islâmicos de países em
desenvolvimento com bancos islâmicos presentes em países desenvolvidos. Isso ocorre
porque essa comparação não leva em consideração as diferenças de fatores ambientais
entre diferentes países não islâmicos. Portanto, é necessário replicar este estudo em países
que possuem ambientes comerciais e sociais semelhantes. Dessa forma, a presente tese
escolheu os seis países que fazem parte do CCG, pois, em certa medida, estão inseridos
em ambientes econômicos, políticos e sociais similares.
Haniffa e Hudaib (2007) realizaram um estudo longitudinal dos relatórios anuais de sete
IFIs em quatro países da região do Golfo Pérsico. Eles usaram o método de análise de
conteúdo para examinar a eficácia dos bancos islâmicos na comunicação de sua
identidade ética. A pesquisa buscou verificar se existia alguma discrepância entre os
comunicados (com base na informação divulgada nos relatórios anuais) e a divulgação
ideal de informação (considerada vital com base no modelo de negócios éticos islâmicos).
Consequentemente, a expectativa era de que as IFIs deveriam cumprir os preceitos da
Sharia em seus relatórios. É interessante notar que suas descobertas estão muito aquém
do que se esperava numa comunicação perfeita, do ponto de vista ético e social no
contexto das IFIs e no contexto islâmico. No entanto, eles descrevem que os relatórios
variaram ao longo do período de três anos, sugerindo que a comunicação não é estática e
muitas vezes mínima. Isso pode ser atribuído a uma falta de pressão e a uma atitude
indiferente dos stakeholders e também da cultura mais rigorosa predominante na região.
De maneira semelhante aos estudos já mencionados, o resultado foi limitado à análise de
165
conteúdo de uma pequena amostra. Assim, aumentar o tamanho da amostra
proporcionaria informações mais úteis sobre o plausível motivo de informações mínimas
e falta de clareza e consistência na prática de divulgação pelas IFIs (HANIFFA;
HUDAIB, 2004). Seguindo esse estudo, o tamanho da amostra nesta tese está ampliado,
uma vez que conta com 40 dos 62 bancos islâmicos da região do CCG, o que contribui
para o preenchimento desta lacuna identificada.
Rahman (2010) examinou os temas relacionados à RSC do Bank Islam Malaysia Berhad
(BIMB) no período de 1992 a 2005, bem como suas tendências de divulgação. Um índice
de divulgação, baseado numa lista de verificação e a extensão dessas divulgações foram
medidas, utilizando-se da análise de conteúdo e com base no número de frases dos
relatórios financeiros anuais. As descobertas deste estudo mostraram que o BIMB prefere
divulgar temas associados a empregados, produtos e contribuições de serviços e
envolvimento com a comunidade. Entre os temas locais mais populares de divulgação de
tais informações, constam, o relatório do presidente, as demonstrações financeiras e o
relatório da administração. Os resultados também revelaram que o banco melhorou, em
termos de volume e a maneira de apresentar ou divulgar RSC, com o passar dos anos.
Este estudo foi o primeiro a usar essa tipologia e metodologia e foi conduzido em uma
indústria específica na Malásia usando uma abordagem longitudinal. No entanto, as
descobertas não representam as tendências e práticas reais da prática de divulgação de
RSC no setor bancário islâmico, uma vez que apenas concentrou-se numa única
instituição financeira, num único país, a Malásia.
Em geral, os estudos anteriores deixaram lacunas na literatura para que se pudesse ampliar
a pesquisa de divulgação de RSC no contexto das IFIs e proporcionar uma oportunidade
para contribuir ainda mais para o conhecimento de RSC e DRSC. A maioria desses
estudos estavam preocupados com a prática geral de negócios numa perspectiva islâmica,
faltando uma discussão aprofundada e análise dos elementos envolvidos na RSC.
Portanto, a presente tese investigará empiricamente a relação entre o Islã, a RSC e
divulgação da RSC. Para tanto, serão replicados estudos prévios já mencionados e
ampliadas as discussões, para que se possa examinar os determinantes e as consequências
da prática de divulgação da RSC entre os bancos da amostra nos países do CCG.
A Tabela 6 a seguir fornece os resumos de estudos anteriores de RSC e DRSC a partir da
perspectiva islâmica:
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4.3 Estudos recentes sobre divulgação da RSC em bancos islâmicos
Uma série de estudos investigaram o nível de divulgação de RSC dos bancos islâmicos,
utilizando-se da técnica de análise de conteúdo e o índice de divulgação de RSC (e.g.,
MAALI et al. (2006); HANIFFA; HUDAIB (2007); RAHMAN et al. (2010); FAROOK
et al. (2011); ABDUL; BUKAIR (2013); BELAL et al. (2014); FARAG et al. (2014)).
PLATONOVA (2014) investiga a extensão das atividades sociais divulgadas por 29
bancos islâmicos em diferentes países. Foram comparadas as divulgações de tais
atividades com práticas sociais que os bancos islâmicos deveriam adotar e que são
particularmente relevantes para a sociedade. As práticas sociais esperadas foram então
combinadas em um padrão para relatórios sociais de bancos islâmicos. Usou-se a técnica
de análise de conteúdo e foi possível descobrir que as práticas de divulgação social
adotadas pelos bancos da amostra estavam muito abaixo das expectativas baseadas nos
princípios da Sharia. Portanto concluiu-se que os bancos que atendem a questões
obrigatórias, como o pagamento de Zakat e a adoção de padrões AAOIFI, tendem a
fornecer mais divulgações do que bancos que não estão em conformidade com esses dois
dispositivos. Além disso, a conclusão indica que a maioria dos bancos divulga informação
de RSC para construir uma imagem positiva perante a sociedade. A partir da análise,
observou-se que a maioria dos bancos islâmicos tendem a destacar a informação
divulgada pela RSC relacionada aos valores da realidade islâmica, como as atividades de
caridade.
Haniffa e Hudaib (2007) investigaram a identidade ética baseada no quadro de negócios
moral islâmico ideal (padrão definido) em 7 bancos islâmicos dos países do CCG usando
seus relatórios anuais como base para as conclusões. Eles criaram uma referência ideal
de divulgação ética, com base nas cinco características que distinguem os bancos
islâmicos dos bancos convencionais. Usando a análise de conteúdo de relatórios anuais
para determinar a extensão da divulgação de RSC, chegaram numa diferença significativa
entre a divulgação ética comunicada e ideal nos relatórios anuais de uma amostra de 7
bancos islâmicos ao longo de um período de 3 anos. Eles descobriram que os bancos
islâmicos divulgam informações adicionais relacionadas a quatro dimensões de oito
possíveis, que também estão sendo empregadas nesta tese. Essas dimensões são Visão e
Missão, Conselho de Administração e alta Administração, produtos e serviços, Zakat,
empréstimos de caridade e benevolentes, funcionários, devedores, comunidade e
sociedade e Conselho de Supervisão da Sharia (CSS). Eles concluíram que, para que os
171
bancos islâmicos permaneçam competitivos, eles precisam se comunicar de forma mais
eficaz para melhorar sua imagem e reputação perante a sociedade islâmica e não islâmica.
Usando uma abordagem de estudo de caso longitudinal, Abdul Rahman et al. (2010)
investigaram os temas, locais, extensão e tendências da divulgação de RSC pelo Bank
Islam Malaysia Berhad (BIMB) durante o período de 1992 a 2005. O índice de divulgação
RSC foi desenvolvido, que consiste em nove temas: restrições da supervisão, transações
ilegais, obrigação do Zakat, fundo Qard, envolvimento da comunidade, funcionários,
meio ambiente, contribuição de produto/serviço e o Conselho de Supervisão da Sharia.
Os resultados mostraram que a maior pontuação de divulgação foi a do Conselho de
Supervisão da Sharia, seguido pelos funcionários. No entanto, o BIMB não fornece
nenhuma forma de informação relacionada aos temas de restrições de supervisão,
transações ilegais e meio ambiente. Os locais mais comuns na divulgação de informações
sobre RSC são a declaração do presidente e as demonstrações financeiras. Em geral, o
volume e a qualidade da divulgação da RSC melhoraram ao longo do período de estudo
de 14 anos e os bancos melhoraram, em termos de quantidade e forma de fornecer
informações de RSC nos relatórios anuais ano após ano.
Hassan e Harahap (2010) realizaram um estudo semelhante ao de Haniffa e Hudaib
(2007), focando na divulgação de atividades sociais nos relatórios anuais de sete bancos
islâmicos. Eles encontraram uma diferença de expectativas significativa em todos, exceto
um dos sete bancos islâmicos, e deduziram que as questões de RSC não são a principal
preocupação para a maioria dos bancos islâmicos. Eles concluíram que alguns bancos
islâmicos prestam pouca atenção nas divulgações de suas atividades sociais e, portanto,
defenderam um padrão de divulgação de RSC relevante para IFIs.
Farook et al. (2011), por sua vez, forneceram uma base prévia para a divulgação da RSC
em bancos islâmicos e investigaram a extensão e os determinantes da divulgação de
responsabilidade social corporativa nos relatórios anuais de 47 bancos islâmicos de 14
países. Analisaram empiricamente o nível de divulgação social em 47 relatórios anuais
dos bancos islâmicos, com base em um benchmark de RSC derivado do estudo de Maali
et al. (2006). Este estudo descobriu que o nível de liberdade social e política e a
porcentagem de depósitos em contas de investimento para ativos totais são fatores
importantes na determinação da divulgação de RSC pelos bancos islâmicos. A partir de
uma análise descritiva, eles encontraram diferenças significativas na divulgação da RSC
entre os bancos e sua variação substancial nas práticas de divulgação de RSC. Essa
172
variação é melhor explicada pela presença da governança do Conselho de Supervisão da
Sharia (CSS) e pelo domínio dos muçulmanos em seus países de amostra é um fator
significativo que explica as variações de divulgação. Os autores concluíram que os órgãos
reguladores das IFIs deveriam considerar o CSS como obrigatório para todos os bancos
islâmicos, uma vez que garantiria a conformidade dos produtos financeiros com a Sharia.
Aribi e Gao (2012) analisaram as divulgações de RSC, através da leitura das
Demonstrações Financeiras, em 21 IFIs que operam nos países do CCG, para examinar a
influência do Islã sobre a RSC e a DRSC em IFIs. Eles descobriram que as principais
divulgações RSC estavam contidas nos relatórios de CSS com menos divulgação nos
relatórios anuais sobre outras informações islâmicas, como Zakat, empréstimos sem juros
ou benevolentes e doações às instituições de caridade.
Platonova (2014) analisou as atitudes e práticas de RSC dos bancos islâmicos na região
do CCG através de suas práticas de divulgação de RSC. Para tanto, analisou-se,
empiricamente, o impacto das práticas de divulgação da RSC em 24 bancos islâmicos do
CCG, com exceção de Omã, em relação ao seu desempenho financeiro. Os relatórios
anuais dos bancos islâmicos do CCG para o período de 2000 a 2011 foram avaliados pela
técnica da análise de conteúdo. O índice de divulgação RSC foi construído com base nas
oito dimensões desenvolvidas para esse fim. Apesar das altas expectativas de divulgação
completa e corporativamente responsável, os resultados da pesquisa não produziram
resultados encorajadores em termos de RSC. A maioria dos bancos islâmicos do CCG
revela significativamente menos informações do que é exigido, já que os índices de
divulgação da RSC para todos os bancos islâmicos permaneceram muito baixos em
comparação com a pontuação geral e também para cada uma das dimensões RSC
incluídas nos índices. Ao examinar o impacto das práticas de divulgação da RSC no
desempenho financeiro dos bancos islâmicos na região do CCG, os resultados indicaram
a relação positiva entre a divulgação da RSC e o desempenho financeiro. Concluiu-se,
por fim, que existe um vínculo positivo entre o desempenho social e financeiro
corporativo no setor bancário islâmico.
Belal et al. (2014) também adotaram um estudo longitudinal, mas com duas exceções
importantes. Em primeiro lugar, usaram um período de tempo mais longo de 28 anos e
observaram as tendências da divulgação de RSC de um banco islâmico de Bangladesh
em três fases distintas do setor bancário islâmico: pré-1990, durante os anos de 1990 e
2001 e pós-2001. Em segundo lugar, dividiram os requisitos dos relatórios éticos em duas
173
vertentes: práticas de relatório: i) particulares, relativas à natureza dos bancos islâmicos
e especialmente às questões de conformidade da Sharia e ii) práticas de relatórios mais
genéricas que são mais relevantes para os grupos de stakeholders mais amplos, como
comunidade, funcionários e clientes. Foi encontrado um aumento geral nas divulgações
"Particulares” e "Genéricas" ao longo do período de estudo com uma mudança para
divulgações mais genéricas após o ano de 2006. Os autores concluíram em suas
descobertas que houve adesão do banco à abordagem minimalista de divulgação, sem
violar explicitamente a perspectiva mais ampla da Sharia.
Mallin et al. (2014) examinam a relação entre a RSC e o desempenho financeiro em
bancos islâmicos. Usaram, para tanto, um índice abrangente de RSC que envolveu dez
dimensões. Analisaram as divulgações de RSC em uma amostra de 90 bancos islâmicos
em 13 países. O índice de divulgação da RSC mostrou que os bancos islâmicos se
envolvem em uma variedade de atividades sociais. No entanto, os bancos islâmicos
pareceram demonstrar maior empenho na visão e missão, no conselho e na alta
administração, e nas dimensões dos produtos/serviços financeiros, ao mesmo tempo em
que é dada menor atenção à dimensão ambiental. Os bancos islâmicos também mostraram
uma consciência considerável das recomendações de divulgação obrigatória da
Organização de Contabilidade e Auditoria das Instituições Financeiras Islâmicas
(AAOIFI). No entanto, eles prestam menos atenção à divulgação voluntária de RSC.
Além disso, foi encontrada uma ênfase pronunciada na estratégia dos bancos islâmicos
para divulgações mais genéricas, sugerindo que a legitimidade desses bancos é reforçada
através do foco na divulgação aos stakeholders. A análise empírica destacou uma
associação positiva entre a divulgação da RSC e o desempenho financeiro. Pelo estudo
anterior há uma associação positiva e altamente significativa entre o tamanho do
Conselho de Supervisão da Sharia (CSS) e o Índice de Divulgação de RSC. Os resultados
da estimativa de mínimos quadrados de três estágios mostraram que a causalidade entre
as duas variáveis endógenas decorreram do desempenho financeiro para a divulgação da
RSC e pode-se concluir que a divulgação da RSC é determinada pelo desempenho
financeiro.
Rahman e Bukair (2015) examinaram empiricamente a influência do Conselho de
Supervisão da Sharia (CSS) e suas características no nível de DRSC em uma amostra de
53 bancos islâmicos que operavam nos países do Conselho de Cooperação do Golfo
(CCG) para o ano de 2008, com base em um índice de divulgação da perspectiva islâmica.
174
Usaram, para tanto, a técnica de análise de conteúdo. As estatísticas descritivas mostraram
que existe um aumento na informação de RSC divulgada nos relatórios anuais de bancos
islâmicos. Além disso, foi utilizada a análise de regressão múltipla e, após ter avaliado o
tamanho do banco, o desempenho financeiro e o desempenho econômico, os resultados
indicam que a combinação de atributos CSS tem uma influência positiva e significativa
na divulgação de RSC. Tal fato evidencia que as características do CSS são fatores
importantes na determinação do nível de divulgação RSC.
A literatura precedente envolvendo a RSC em bancos islâmicos é em grande parte
composta por estudos quantitativos, que medem o volume de divulgações de RSC em
comparação com um padrão ideal, tirado de objetivos de RSC, baseados na Sharia e nos
padrões do AAOIFI. Geralmente encontram uma lacuna de expectativas entre
divulgações reais ou comunicadas e divulgações ideais ou esperadas. No entanto, as
principais limitações desses estudos são a dependência dos dados coletados dos relatórios
anuais e leitura dessas informações para inferir a divulgação da RSC. O relatório anual
em si não fornece a imagem verdadeira da divulgação da RSC, uma vez que os bancos
islâmicos podem divulgar alguns de seus fatores de responsabilidade social
separadamente em outros relatórios (por exemplo, relatório CSS, relatório de governança
corporativa e em seus sites). Nessa tese, portanto, os dados serão coletados principalmente
dos relatórios anuais. O número de bancos de amostras utilizados na literatura anterior
analisada é limitado, conforme reconhecido por Maali et al. (2006) e Haniffa e Hudaib
(2007). Neste estudo, o número de observações é relativamente grande (200 observações
no total, considerando 40 relatórios financeiros em 5 anos), em comparação com o maior
estudo até agora, 47 em Farook et al. (2011), mas também usa dados mais recentes de
2013 a 2017, o que fornece uma imagem clara da prática de divulgação da RSC nos
bancos islâmicos do CCG. Embora a maioria dos estudos tenha se referido a padrões do
AAOIFI (e.g., HASSAN; HARAHAP, 2010; AL-AJMI et al., 2015), nenhum deles foi
construído de forma abrangente usando o padrão AAOIFI nº7 de 2010. Portanto, essa tese
examinará a extensão da prática de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos de
amostra no CCG para o período de 2013 a 2017.
A Tabela 7 a seguir apresenta o resumo de estudos precedentes na literatura sobre
divulgação da RSC em bancos islâmicos.
175
Tabela 7 – Estudos precedentes sobre o nível de DRSC em Bancos Islâmicos
Autores Período Índice Método Amostra Foco Dimensões
Maali et al. (2006) 2000 13,3 Análise de
Conteúdo
29 bancos em
16 países
Mensuração
da DRSC 9
Haniffa e Hudaib
(2007) 2002-2004 13,3
Análise de
Conteúdo
7 bancos em 6
países
Mensuração
da DRSC 8
Aribi (2009) 2004 48 Análise de
Conteúdo
42 IFIs no
CCG
Mensuração
da DRSC 8
Hassan e
Harahap (2010) 2006 37,6
Análise de
Conteúdo
7 Bancos
Islâmicos
Mensuração
da DRSC 8
Abdul Rahman et
al. (2010) 1992-2005 38
Análise de
Conteúdo
1 Banco
Islâmico na
Malásia
Mensuração
da DRSC 9
Farook et al.
(2011) 2007 17,0
Análise de
Conteúdo
47 Bancos em
14 países
Determinantes
da DRSC 3
Aribi et al. (2012) 2004 40 Análise de
Conteúdo
21 IFIs do
CCG
Mensuração
da DRSC 7
Hassan (2012) 2011 23 Análise de
Conteúdo
10 Bancos
Islâmicos
Mensuração
da DRSC 8
Abdul Rahman e
Bukhair (2013) 2008 83
Análise de
Conteúdo
53 Bancos
Islâmicos em
3 regiões
Mensuração
da DRSC 13
Hassan et al
(2013) 2001-2008 49
Análise de
Conteúdo
19 Bancos
Islâmicos
Mensuração
da DRSC 8
Kamla e Rammal
(2013) 2008 39
Análise de
Conteúdo
16 IFIs em 3
regiões
Mensuração
da DRSC 5
Platonova (2014) 2000-2011 49,9 Análise de
Conteúdo
7 Bancos
Islâmicos do
CCG
Mensuração
da DRSC 8
Belal et al. (2014) 1983-2010 42 Análise de
Conteúdo
11 Bancos
Islâmicos em
Bangladesh
Mensuração
da DRSC 16
Farag et al.
(2014) 2010-2011 44
Análise de
Conteúdo
90 Bancos
Islâmicos de
13 países
Determinantes
da DRSC 10
El-Halaby e
Hussainey (2015) 2013 26
Análise de
Conteúdo
138 bancos
islâmicos de
25 países
Determinantes
da DRSC 12
Fonte: Autor (2017).
176
A Tabela 8 a seguir indica as áreas menos divulgadas pelos principais estudos envolvendo
divulgação da RSC islâmica. Por exemplo, informações sobre clientes insolventes, que
são cruciais para as instituições financeiras, foram as áreas menos divulgadas da DRSC
em Maali et al. (2006). Além disso, as divulgações ambientais foram as áreas que
contribuíram com a menor quantidade de informação que foi disponibilizada nos
relatórios anuais em Hassan e Harahap (2010) e nos outros estudos de Yusoff et al. (2013)
e Mallin et al. (2014). Isso pode ser devido à relativa irrelevância dessa categoria para as
entidades de serviços financeiros. No entanto, as informações sobre os gastos feitos com
a conscientização social de uma comunidade sobre os aspectos ambientais e as indústrias
prejudiciais ao meio ambiente financiadas por um banco seriam de grande importância.
Tabela 8 - Principais resultados das pesquisas precedentes da DRSCI
Autores Média do Nível de
Divulgação Área Menos Divulgada
Maali et al. (2006) 13,0% Clientes Insolventes
Hassan and Harahap (2010) 37,6% Meio Ambiente
Farook et al. (2011) 17,0% Não Detalhada
Yusoff et al. (2013) 37,5% Meio Ambiente
Mallin et al. (2014) 44,4% Meio Ambiente
Platonova et al. (2014) 49,9% Não Detalhada
Fonte: Autor (2017)
4.4 Estudos recentes sobre os determinantes da divulgação da RSC Islâmica
Esta seção destaca os estudos anteriores de divulgação de RSC em bancos islâmicos, que
examinaram o nível e os determinantes da divulgação de informações de RSC. Uma série
de estudos investigou o nível de divulgação da RSC em bancos islâmicos. Maali et al.
(2006) investigaram a extensão das atividades sociais divulgadas pelos bancos islâmicos.
O estudo comparou as divulgações de tais atividades com práticas sociais que os bancos
islâmicos deveriam adotar e que são particularmente relevantes para a sociedade. As
práticas sociais esperadas foram então combinadas com uma referência padronizada para
relatórios sociais por bancos islâmicos. Usou-se a análise de conteúdo, e as descobertas
indicaram que o nível de divulgação social pelos bancos de amostra estava bem abaixo
do índice de referência. Concluíram que os bancos que atendem a questões obrigatórias,
como o pagamento de Zakat e a adoção de padrões do AAOIFI, tendem a fornecer mais
divulgações do que bancos que não estejam em conformidade com tais dispositivos. Além
disso, os bancos islâmicos tendem a enfatizar divulgações que construam uma imagem
islâmica positiva, como atividades de caridade. Haniffa e Hudaib (2007) investigaram a
177
divulgação de informações consideradas cruciais para a ética islâmica nos negócios. Eles
criaram uma referência ideal de divulgação ética com base em cinco características que
distinguem os bancos islâmicos dos bancos convencionais. Usaram também a técnica de
análise de conteúdo de relatórios anuais para determinar a extensão da divulgação de
RSC, encontrando diferenças significativas entre a divulgação ética comunicada e a ideal
nos relatórios anuais de uma amostra de 7 bancos islâmicos ao longo de um período de 3
anos. Concluíram que, para que os bancos islâmicos permaneçam competitivos, eles
precisam se comunicar de forma mais eficaz para melhorar sua imagem e reputação na
sociedade.
Abdul Rahman et al. (2010) examinaram a divulgação RSC de um banco islâmico da
Malásia. Eles descobriram que o volume e a qualidade da divulgação da RSC melhoraram
ao longo do período de estudo de 14 anos. Belal et al. (2014) também adotaram um estudo
longitudinal, mas com duas exceções particularmente significativas. Em primeiro lugar,
usaram um período de tempo mais longo de 28 anos, onde observaram tendências na
divulgação de RSC de um banco islâmico de Bangladesh em três fases distintivas do setor
bancário islâmico: pré 1990, entre 1990 e 2001 e pós 2001. Em segundo lugar, eles
dividem os requisitos éticos de relatórios em duas vertentes: práticas de relatório
"particulares", relacionadas à natureza dos bancos islâmicos e especialmente aos
problemas de conformidade da Sharia e práticas de relatórios "universais", que são mais
relevantes para os grupos de partes interessadas mais amplos, como comunidade,
funcionários e clientes. Eles encontraram um aumento geral em ambas as divulgações
após a obrigatoriedade de divulgação no país, por exigência dos reguladores.
Hassan e Harahap (2010) realizaram um estudo semelhante a Haniffa e Hudaib (2007),
focalizaram a divulgação de atividades sociais nos relatórios anuais de sete bancos
islâmicos. Os autores encontraram uma diferença de expectativas significativa em todos,
exceto um dos sete bancos islâmicos, e supuseram que as questões de RSC não são a
principal preocupação para a maioria dos bancos islâmicos. A pesquisa conclui que alguns
bancos islâmicos prestam pouca atenção para divulgar suas atividades sociais e, portanto,
defendeu um padrão de divulgação de RSC relevante para IFIs. Farook et al. (2011)
forneceram uma base prévia para a divulgação da RSC em bancos islâmicos. Eles
analisaram empiricamente o nível de divulgação social em 47 relatórios anuais dos bancos
islâmicos, com base em um padrão de RSC derivado do Maali et al. (2006). Eles
encontraram variações substanciais nas divulgações de RSC e esta variação é melhor
178
explicada pela presença do conselho de supervisão da Sharia (CSS) e pela preponderância
de muçulmanos em seus países de amostra. Concluíram, dessa forma, que os órgãos
reguladores da banca islâmica devem considerar o CSS como obrigatório para todos os
bancos islâmicos. Aribi e Gao (2012) analisaram as divulgações narrativas da RSC em
21 IFIs, operam nos países do Golfo. Eles descobriram que as principais divulgações RSC
estavam contidas nos relatórios CSS com menos divulgação nos relatórios anuais sobre
outras informações islâmicas, como o Zakat, Qard Hassan (empréstimos benevolentes) e
doações de caridade. O conselho de supervisão da Sharia (CSS) também é um dos
principais determinantes da divulgação da RSC em bancos islâmicos. Um estudo de
Rahman e Bukair (2015) descobre que a combinação de atributos de CSS tem uma
influência positiva significativa na divulgação de RSC. Um estudo realizado por El-
Halaby e Hussainey (2015), para examinar os determinantes da RSC entre os bancos
islâmicos em 25 países, encontrou uma associação positiva entre os níveis de divulgação
da RSC e os padrões contábeis, o tamanho do comitê de auditoria e a existência de um
departamento de auditoria da Sharia.
Com base numa extensa revisão de estudos anteriores, percebe-se que ainda há uma falta
de estudos abrangentes que se concentrem em examinar o mecanismo de GC e a prática
de divulgação de RSC, especialmente entre os bancos islâmicos do CCG. Estudos
anteriores tendem a se concentrar em bancos islâmicos de forma isolada, como um estudo
realizado por Rahman (2010), que não são representativos da imagem completa da prática
de divulgação da RSC nas indústrias bancárias islâmicas. O número de bancos de
amostras utilizado na literatura foi limitado, conforme reconhecido por Maali et al. (2006)
e Haniffa e Hudaib (2007). Neste estudo, o número de observações dos bancos islâmicos
não são apenas maiores (200), em comparação com o maior estudo até agora (90 em Farag
et al., 2014), mas também fornecem dados mais recentes, que são de 2013 a 2017. Do
conhecimento da pesquisa, há apenas um estudo de El-Halaby e Hussainey, (2015) que
adotou AAOIFI (2010) para desenvolver seu índice de divulgação RSC. Outras pesquisas
anteriores tenderam a desenvolver seu índice com base em AAOIFI (2007). Assim, ao
usar um índice abrangente de divulgação de RSC desenvolvido com base nos padrões
AAOIFI atualizados e na literatura anterior, essa tese é um passo à frente na literatura
existente. A tese buscou preencher a lacuna em examinar os determinantes da divulgação
da RSC entre os bancos islâmicos no CCG. Motivado por estudos anteriores (e.g.,
179
ZALATA; ROBERTS, 2016; HUANG; ZHANG, 2012), explora-se os determinantes da
divulgação da RSC e dos mecanismos de governança corporativa.
4.5 Determinantes do desenvolvimento da RSC e Hipóteses da pesquisa
Esta seção delineará as hipóteses que estão por trás dos determinantes de divulgação de
RSC dos bancos islâmicos do CCG, cumprindo o segundo objetivo e fornecendo uma
resposta para a segunda questão desta pesquisa (QP 2). Essa tese se concentrou na
governança corporativa (GC) com variáveis relacionadas ao Conselho de Administração
como uma categoria principal na estrutura de GC e não ignorou o CSS (variáveis
relacionadas ao CSS), que é um dos principais componentes de GC para bancos islâmicos.
A maioria dos estudos anteriores, que exploram a governança corporativa como um fator
por trás do nível de divulgação, focou apenas nas variáveis de GC relacionadas ao
Conselho de Administração sem considerar a estrutura singular do CSS (e.g., TAYLOR
et al., 2010; CONG; FREEDMAN, 2011; ELZAHAR; HUSSAINEY, 2012; BOKPIN,
2013; PLATONOVA, 2014; ALHAZAIMEH et al., 2014).
Um número limitado de estudos explora a GC relacionada ao CSS como um único
mecanismo para bancos islâmicos (e.g., ABDUL RAHMAN; BUKAIR, 2013; FAROOK
et al., 2011). Assim, a presente tese pretende preencher essa lacuna através da análise dos
impactos de variáveis relacionadas ao GC, CSS, Comitê de Auditoria e variáveis
relacionadas à propriedade para bancos islâmicos no CCG. Nessa esteira, mensura-se em
qual intensidade essas variáveis afetam os níveis de divulgação de RSC. Este estudo
contribui para a literatura RSC, uma vez que se examinam o os mecanismos da GC, que
contém variáveis relacionadas com o CA e o CSS, a fim de compreender de forma mais
completa como esses fatores afetam em conjunto o nível de conformidade islâmico.
O desenvolvimento da Teoria da Agência resultou na implementação de estruturas de
governança, pelo qual o controle das decisões é separado do gerenciamento das operações
(FAMA; JENSEN, 1983). Diversos estudos usaram o arcabouço teórico da Teoria da
Agência para testar hipóteses quanto à extensão da divulgação das características de
governança corporativa (XIAO; YUAN, 2007). A governança do setor bancário chamou
a atenção de estudiosos e reguladores. Hagendorff et al. (2007) concentraram suas
pesquisas no setor bancário apoiado pelo argumento de que requer uma análise de agência
separada. A singularidade das relações de agência nos bancos decorre do dever dos
administradores de proteger os fundos de todos os fornecedores de capital. Os bancos
180
islâmicos devem seguir tanto os regulamentos estabelecidos pelos supervisores quanto os
princípios da Sharia (ARCHER et al., 1998). Portanto, enquanto os problemas de agência
em bancos convencionais surgem quando o Conselho de Administração se desvia de sua
responsabilidade para maximizar a riqueza dos acionistas, qualquer divergência dos
conselhos de bancos islâmicos de colocar todos os fundos fornecidos em investimentos
compatíveis com a Sharia cria uma fonte adicional de problemas de agência. A
divulgação corporativa apresenta uma oportunidade para aplicar a teoria da agência, como
gerentes com melhor acesso a uma empresa as informações privadas podem transmitir
uma comunicação credível e confiável ao mercado para otimizar o valor da empresa.
Os mecanismos de governança corporativa podem ser considerados fatores essenciais,
ilustrativos das decisões de divulgação corporativa relacionadas à RSC das perspectivas
da teoria da agência. Consequentemente, esses mecanismos serão medidos neste estudo.
Foram realizadas pesquisas muito limitadas para examinar o vínculo entre os mecanismos
de governança corporativa e a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos do
CCG. Para o melhor conhecimento, não há estudos prévios que explorem os
determinantes da divulgação da RSC entre os bancos islâmicos do CCG usando variáveis
do mecanismo de GC. Gul e Leung (2004) argumentam que o papel da governança
corporativa na relação da agência entre os gerentes e as partes interessadas é melhor
analisado, examinando vários mecanismos GC, mecanismos presentes nesta tese.
De acordo com Rahman e Bukair (2015), espera-se que vários fatores possam gerar
variações entre bancos islâmicos e suas práticas de divulgação de RSC. Estudos anteriores
(e.g., WAN; AMALINA, 2009; JO; HARJOTO, 2011) forneceram fortes evidências
sobre os mecanismos de governança corporativa que influenciaram a divulgação de
informações de RSC entre as empresas financeiras e não financeiras. Assim, no
desenvolvimento da hipótese de pesquisa, ao adaptar as hipóteses de Haniffa (1999) e El
Zahar (2013), esta tese usará características de governança corporativa como principais
variáveis explicativas e características da empresa como variáveis de controle na medição
dos determinantes da prática de divulgação de RSC em bancos islâmicos no CCG. As
próximas seções discutirão as variáveis de GC utilizadas nesta pesquisa.
4.5.1 Características da Governança Corporativa
Este estudo avaliará os determinantes de GC (como o tamanho do Conselho, a diretoria
de liderança do Conselho e a composição do quadro) e a prática de divulgação de RSC
181
entre os bancos islâmicos. Para tanto, levará em consideração a maioria dos mecanismos
de GC (variáveis relacionadas ao quadro e variáveis relacionadas ao CSS) como
determinantes potenciais da divulgação de RSC de bancos islâmicos. A Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que a governança
corporativa envolve um conjunto de relações entre a administração, seu conselho, seus
acionistas e outras partes interessadas nos resultados econômicos da empresa.
De fato, os mecanismos de GC são introduzidos, com base na estrutura da teoria da
agência, para mitigar os comportamentos oportunistas dos gestores e reduzir a assimetria
da informação. Os mecanismos GC devem facilitar o monitoramento corporativo, pois
conduzem a uma melhoria no controle interno das empresas e, consequentemente,
estendem os níveis de divulgação (LEFTWICH et al., 1981; WELKER, 1995; HO;
WONG, 2001). Consequentemente, poderia prever-se que os mecanismos GC pudessem
melhorar os relatórios RSC. A maioria das pesquisas anteriores se concentrou em
mecanismos de GC que estão relacionados ao papel de monitoramento dos conselhos de
administração corporativos. No entanto, tais pesquisas não testaram a influência do
Conselho e suas características na quantidade de informações divulgadas, nem tampouco
as variáveis relacionadas ao CSS. Portanto, a presente tese irá preencher a lacuna testando
as variáveis relacionadas ao CA e CSS como se apresentará nas próximas seções.
4.5.1.1 Variáveis relacionadas ao Conselho de Administração (CA)
4.5.1.1.1 Variável 1: Tamanho do Conselho de Administração (TCA)
O Conselho de Administração é composto pelo número total de administradores
executivos e não executivos nesta estrutura de governança. Ele desempenha um papel
importante na governança corporativa de uma empresa, especialmente em bancos
islâmicos. Healy e Palepu (2001) declararam que eleger um conselho de administração
que atue em nome dos investidores é um mecanismo eficiente que afeta as decisões de
divulgação e controla os conflitos de agência. Em geral, o tamanho dos conselhos em uma
empresa, como um banco islâmico, pode melhorar sua eficiência no gerenciamento e
solução de problemas, tais como problemas relacionados à RSC. No entanto, Wang e
Hussainey (2013) alegaram que a eficácia dos conselhos maiores é negativamente afetada
pela presença de problemas de comunicação e coordenação. Por sua vez, alguns estudos
indicaram que os CAs maiores incorporam uma variedade de conhecimentos, o que
resulta em maior eficácia em termos de papel de monitoramento dos CAs (e.g., SINGH
182
et al., 2004; ABDEL-FATTAH, 2007). Pode-se argumentar que os diretores que atuam
em conselhos maiores teriam mais incentivos para sinalizar seu papel na melhoria do
desempenho para várias partes e aumentar a conscientização sobre a divulgação de
informações RSC.
A evidência empírica na governança corporativa sugere que o tamanho do CA afeta o
nível de controle, monitoramento e divulgação (RAHMAN; BUKAIR, 2015). De acordo
com Chen e Jaggi (2000), um tamanho de CA maior pode diminuir a possibilidade de
assimetria de informação. A Teoria da Agência prevê que os maiores CAs incorporam
uma variedade de conhecimentos que resultam em maior eficácia no papel de
monitoramento de suas funções (SINGH et al., 2004). Além disso, um número maior de
membros do conselho também pode reduzir a incerteza e a falta de informação
(BIRNBAUM, 1984). O tamanho do conselho provavelmente afetará sua capacidade de
controlar e rever todas as transações para garantir suas operações. Argumenta-se que os
administradores mais talentosos são motivados a incentivar divulgações voluntárias
(GRAHAM et al., 2005). Este incentivo é relatado como sendo mais importante para
gerentes de empresas de menor e alto crescimento (GRAHAM et al., 2005). Diante disso,
diversos estudos apontam que um conselho com maior número de membros pode
melhorar o nível de monitoramento dos gestores, trazendo ganhos no nível de
evidenciação de informações, incluindo as de caráter não financeiras.
Com base na Teoria da Agência e na Teoria da Sinalização, espera-se, nesta tese, que os
tamanhos de CAs influenciem as capacidades de monitoramento do CA. Como resultado,
isso fornecerá influências positivas à prática de divulgação em bancos islâmicos. O
benefício de ter um CA maior é que ele pode aumentar o valor de uma empresa, pois
fornece variedade de membros de diferentes campos de especialização (KHAN, 2010).
Com base nesses argumentos, a presente tese estabelece a seguinte hipótese:
H1: Existe uma relação positiva entre a Divulgação de Responsabilidade Social
Corporativa (DRSC) e o tamanho do Conselho de Administração (TCA)
4.5.1.1.2 Variável 2: Gênero na composição do Conselho de Administração (GCA)
Foi evidenciado na literatura de GC que abordar a diversidade tornou-se um elemento
significativo do arranjo de governança nos últimos anos. Branco e Rodrigues (2008)
mencionaram que o tema da diversidade do quadro corresponde corretamente à estrutura
183
da Teoria dos Stakeholders. Pesquisas anteriores indicaram que a diversidade do conselho
está associada a uma orientação mais forte para o relatório social corporativo e uma maior
intensidade de desempenho social (e.g., SICILIANO, 1996; IBRAHIM et al., 2011). De
acordo com Amran et al. (2014), a diversidade de gênero mostra-se positivamente
associada aos relatórios sociais corporativos. Os CAs com composição feminina são mais
sensíveis aos problemas de RSC do que os CAs predominantemente masculinos
(ADAMS, 2004). Também é sugerido que os conselhos com uma maior proporção de
diretores de mulheres tendem a fazer mais reuniões de conselho possíveis e padrões de
atendimento especiais nas reuniões do conselho, o que torna diferentes fóruns mais bem-
sucedidos do que CAs homogêneos. Portanto, as organizações com maior proporção de
mulheres na direção se envolvem em mais práticas de divulgação de RSC e atividades de
RSC, como atividades de caridade (WILLIAMS, 2003; HANIFFA; HUDAIB, 2007).
Com base na Teoria dos Stakeholders, pode-se formular a hipótese de que uma maior
proporção de mulheres presentes no CA pode influenciar a divulgação da RSC em bancos
islâmicos, com maior divulgação nos relatórios e maior segurança dessas informações
(FERNEEZ-FEIJOO et al., 2012). Em face desse contexto, é estabelecida a seguinte
hipótese:
H2: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC e o Gênero na
Composição do Conselho de Administração (GCA)
4.5.1.1.3 Variável 3: Composição do Conselho de Administração (CCA)
Além do tamanho, a composição do CA também reflete o quanto os bancos estão ligados
ao mundo exterior; como resultado, eles estarão mais conscientes dos problemas de RSC
e melhorarão sua prática de divulgação de RSC. A composição da diretoria é definida
como a proporção de diretores externos (não executivos/independentes) e diretores
internos (executivos/não independentes) em função do número total de diretores
nomeados na empresa (AL-SAIDI; AL-SHAMMARI, 2013). A composição do conselho
é vista como um indicador importante da independência do conselho; É afirma que a
independência dos diretores pode fortalecer o conselho através do acompanhamento,
assessoria e aconselhamento da alta administração (EERSON et al, 2004), protegendo os
interesses dos investidores, além de reduzir o custo da agência (CHOE; LEE, 2003). A
presença de diretores não executivos nos conselhos fornece janelas adicionais no mundo
(TRICKER, 1984). Em outras palavras, os diretores não executivos são percebidos para
184
trazer uma visão nova e ampla para abordar a discussão e a tomada de decisões, como a
prática de divulgação de RSC.
Tricker (1984) ilustrou que o esforço de relatórios da RSC pode ser visto como uma
estratégia para o fechamento de um fosso de legitimidade percebido entre a administração
e os acionistas (especialmente os acionistas estrangeiros) através de diretores não
executivos. Os diretores não executivos são vistos como o mecanismo de verificação e
equilíbrio, não só para garantir que as empresas atuem nos melhores interesses dos
proprietários, mas também outras partes interessadas; aconselhando na apresentação
pública das atividades e desempenho da empresa e fornecendo janelas adicionais no
mundo. Além disso, Zahra e Stanton (1988) apontaram que são suscetíveis de responder
a preocupações sobre honra e obrigações e, em geral, estarão mais interessados em
satisfazer as responsabilidades sociais da empresa porque isso pode melhorar seu
prestígio e honra social. Fama e Jensen (1983) explicaram que os diretores não executivos
são considerados como um método confiável, equipado para disseminar conflitos de
agência entre gerentes e proprietários. Em vista das ideias derivadas da discussão acima,
a posição neste momento é que os diretores não executivos têm um papel essencial a
desempenhar nas empresas bancárias para assumir atividades de RSC com o objetivo de
assegurar a semelhança entre ações organizacionais e valores societários ou empresas
"Legitimidade". Com base na teoria da legitimidade, este estudo prevê que uma maior
composição dos conselhos não executivos melhoraria a prática de divulgação de RSC em
bancos islâmicos, onde os diretores não executivos reduzem o fosso de legitimidade entre
a administração e o acionista. Assim, surge a terceira hipótese deste estudo:
H3: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a
composição do Conselho de Administração (CCA)
4.5.1.1.4 Variável 4: Reuniões do Conselho de Administração (RCA)
As reuniões frequentes do conselho são importantes como um mecanismo de governança
corporativa porque permitem aos diretores controlarem efetivamente a empresa
(HOSSAIN, 2008; TUGGLE et al. 2010). Pode-se argumentar que os conselhos ativos
em bancos islâmicos (aqueles com reuniões mais frequentes) são mais propensos a
monitorar as atividades e relatórios financeiros de suas empresas. Os membros dos fóruns
ativos tendem a sinalizar seu desempenho para potenciais empregadores (HASAN, 2011).
Laksamana (2008) e Taha (2010) acham que existe uma associação positiva entre as
185
reuniões do conselho e a transparência da divulgação da remuneração. De acordo com a
teoria da sinalização onde a reunião frequente do conselho representa um conselho mais
proativo, uma associação positiva entre as reuniões do conselho e a divulgação da RSC é
esperada e os membros ativos do conselho tendem a sinalizar seu desempenho para
potenciais empregadores (ZARITH, 2014). Portanto, a quarta hipótese deste estudo:
H4: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e o número de
reuniões do Conselho de Administração (CA)
4.5.1.1.5 Variável 5: Dualidade do CEO (DCEO)
A dualidade do CEO existe quando o Chief Executive Officer (CEO) ou diretor executivo
também é o presidente do Conselho de Administração. Gul e Leung (2004) declararam
que as empresas com dualidade de CEOs são mais propensas a estar associadas a níveis
mais baixos de divulgação, uma vez que é menos provável que o conselho seja efetivo no
gerenciamento de monitoramento e assegure um maior nível de transparência. A teoria
da Agência prevê que a dualidade do papel crie o poder individual para o CEO que afetaria
o controle efetivo exercido pelo conselho (RAHMAN, 2007; ZAHIR, 2008). Com base
na Teoria da Agência, a dualidade do CEO é considerada prejudicial porque o agente
pode prosseguir seus próprios interesses em detrimento dos proprietários.
Um aspecto da governança corporativa, que suscitou preocupação, é o fenômeno da
"personalidade dominante" e isso foi associado à falta de divulgação (FORKER, 1992).
Esse fenômeno também inclui a dualidade do papel, ou seja, quando o diretor executivo
(CEO) ou o diretor-gerente também é o presidente do conselho. Foi sugerido na literatura
anterior (e.g., TUGGLE et al., 2010; HASHIM; DEVI, 2008; RAMDANI;
WITTELOOSTUIJN, 2010; PENG et al., 2007) que esses dois papéis deveriam ser
separados, principalmente por razões de independência. Apesar da separação de papéis
sugerida, algumas empresas não estão preparadas para ser absolutamente categóricas
sobre a divisão dos papéis (RAHMAN; BUKAIR, 2015). Na prática de divulgação, a
presente tese acredita que a separação de papéis entre presidente do CA e o CEO
aumentará a qualidade de monitoramento e reduzirá os benefícios da retenção de
informações, o que pode resultar em uma melhor prática de divulgação de RSC em bancos
islâmicos. Com base na Teoria da Agência, os bancos islâmicos que apresentam a
186
dualidade de CEOs devem ter uma melhor pontuação de divulgação RSC. Portanto, pode-
se formular a quinta hipótese de pesquisa:
H5: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a dualidade
do CEO (DCEO)
4.5.1.1.6 Variável 6: Participação cruzada em mais de um Conselho de
Administração (PCCA)
Outros determinantes potenciais relacionados às características do CA dizem respeito a
participação cruzada de seus membros. As participações cruzadas das administrações
referem-se à situação em que os conselheiros (executivo ou não executivo) ocupam mais
de um conselho. Quando um profissional da alta administração de uma determinada
companhia ocupa o cargo de membro do conselho de administração de outra empresa,
surge o fenômeno do board interlocking. Esta definição engloba a possibilidade de não
apenas os conselheiros, mas também os diretores, serem os elos de ligação entre
empresas. De acordo com a Teoria da Agência, o controle efetivo sobre o desempenho da
gestão será fornecido pela separação entre as duas posições (JENSEN; MECKLING,
1976; HANIFFA; COOKE, 2002). A concentração do poder decisório pode resultar em
um comportamento oportunista por esse conselheiro que venha a ocupar diversas cadeiras
em outros Conselhos (KHAN, 2010).
Embora a maioria dos trabalhos empíricos sobre o tema tenha observado uma correlação
negativa entre a participação de conselheiros em múltiplas empresas e os indicadores
financeiros das companhias (FICH; WHITE, 2001; LODERER; PEYER, 2002, FICH;
SHIVDASANI, 2006) faz-se necessário citar os trabalhos teóricos que preveem frutos
benéficos desta prática.
Do ponto de vista desta tese, é importante investigar o impacto dessa variável no relatório
de RSC, pois os resultados de estudos anteriores que examinaram a relação entre
dualidade de função e divulgação corporativa apresentaram resultados divergentes. Por
exemplo, sugeriu-se na literatura nas obras de Haniffa (1999), Lee (2009) e Ahmed (2013)
que a participação cruzada pode ajudar a tornar a informação mais transparente, além de
incentivar o compartilhamento de experiências. No entanto, também há pesquisadores
(AGUILERA; JACKSON, 2003; YOUNG et al., 2008; TAN; LEE; CHU, 2006) que
acreditam que isso irá colocar a empresa em desvantagem competitiva e, no caso de
187
diretores executivos, pois sua participação em mais de um conselho os tornará menos
independentes.
Ao desenvolver a hipótese sobre a associação entre as participações cruzadas e a
divulgação da RSC, argumenta-se que as participações cruzadas irão encorajar as
empresas a serem transparentes porque esses diretores terão melhor conhecimento das
práticas nas empresas em que se sentam (LEWIS, 2005). Usando a mesma linha de
raciocínio, diretores que anteriormente experimentaram uma questão de relatório social e
como foi tratado, poderiam compartilhar esse conhecimento em outra empresa na qual
eles se sentam. No entanto, depende da quantidade de energia que eles têm para
influenciar as políticas de divulgação das empresas. Da mesma forma, quando o
presidente tem participações cruzadas, ele /ela estaria em melhor posição para influenciar
os conselhos, uma vez que eles não só têm relativamente mais poder, mas também mais
experiência sobre políticas de divulgação em outras empresas nas quais eles se sentam.
Mas, se a demanda por tais informações fosse baixa, então seria difícil para as cadeiras
influenciar a administração a divulgar mais informações. Com base na Teoria da Agência,
espera-se que bancos islâmicos que não tenham administrador possuindo participação
cruzada (em múltiplos Conselhos) tenham um melhor controle de gestão e desempenho
efetivo, como resultado, têm melhor pontuação de divulgação RSC.
Diante do exposto, surge a sexta hipótese deste estudo:
H6: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a
participação cruzada dos Conselheiros em mais de um Conselho de Administração
(PCCA)
4.5.1.2 Variáveis relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia (CSS)
O CSS tem influência e autoridade social no monitoramento dos bancos islâmicos
"conformidade com os princípios da Sharia e proporciona confiança aos stakeholders
sobre a legitimidade das transações comerciais. A divulgação pelo CSS pode ver como
um aspecto fundamental da prestação de contas pelos bancos islâmicos aos seus
stakeholders. No entanto, o grau em que as atividades sociais são divulgadas depende do
raciocínio subjacente do papel de monitoramento do CSS em nome dos bancos islâmicos
"investidores". Além disso, o grau em que o CSS influencia o nível de divulgação RSC
depende das características do CSS, como o tamanho do CA. Portanto, espera-se que o
tamanho do CSS tenha um impacto positivo na divulgação da RSC (FAROOK et al.,
188
2011). Evidências empíricas sugerem que o tamanho do CSS pode afetar o nível de
divulgação (AKHTARUDDIN et al., 2009).
Por outro lado, a literatura de governança indica que o nível de divulgação pode aumentar
ou diminuir, dependendo se os mecanismos se substituem ou se complementam (HO;
WONG, 2001). Quando os mecanismos de governança se substituem, as empresas podem
não fornecer divulgações adicionais, uma vez que os múltiplos mecanismos de
governança deveriam ter aumentado o nível de monitoramento. Portanto, o tamanho do
CSS pode não exigir a divulgação de RSC adicional se os investidores já tiverem certeza
da conformidade do banco islâmico no relatório de conformidade da Sharia (MAALI et
al., 2006)
4.5.1.2.1 Variável 7: Tamanho do Conselho de Supervisão Sharia (TCSS)
A partir das perspectivas AAOIFI, eles recomendam que o conselho do CSS seja
nomeado por várias pessoas diferentes de diferentes profissões, tais como: banqueiros e
economistas que podem aumentar a eficácia do CSS (AAOIFI, 2004). Isso permite a
implementação de diversas perspectivas sobre a aplicação da Sharia. Para permitir que
isso aconteça, um grande CSS seria necessário para representar essas profissões
seccionais. Evidências empíricas sugerem que o tamanho do CA pode afetar o nível de
divulgação (AKHTARUDDIN et al., 2009). O número comum de CSS membros em
bancos islâmicos tem entre três e cinco membros, com base na Norma de Governança nº
1 do AAOIFI. De acordo com Chen e Jaggi (2000), um tamanho de CA maior pode
diminuir a possibilidade de assimetria de informação. A teoria da agência prevê que os
Conselhos maiores incorporem uma variedade de conhecimentos que resultam em maior
eficácia no papel de monitoramento dos Conselhos (SINGH et al., 2004). Além disso, um
número maior de membros do conselho também pode reduzir a incerteza e a falta de
informação (BIRNBAUM, 1984). O tamanho do painel provavelmente afetará sua
capacidade de controlar e rever todas as transações para garantir suas operações. Com
mais membros, o conhecimento e a experiência coletiva do CSS aumentarão, levando a
uma maior divulgação. Preocupado com o setor bancário, e especialmente os bancos
islâmicos, Farag et al. (2014) encontram uma associação significativa positiva entre o
tamanho e índice de divulgação do Conselho de Supervisão da Sharia (CSS), no entanto,
os estudos são limitados à amostra específica de bancos islâmicos em Bahrein, diferença
fundamental para a presente tese que proporcionará uma melhor visão usando mais países
em sua amostra. Assim, com base na Teoria da Agência, espera-se que o tamanho maior
189
do CSS seja mais eficaz no monitoramento da prática de divulgação entre os bancos
islâmicos, portanto, surge a sétima hipótese deste estudo:
H7: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC (DRSC) e o tamanho
do Conselho de Supervisão Sharia (CSS)
4.5.1.2.2 Variável 8: Participação cruzada dos membros do Conselho de Supervisão
Sharia (PCCSS)
As associações transversais de membros da CSS também podem levar a maior divulgação
de informações de RSC (DAHYA et al.,1996). Farook et al. 2011, sugerem que os
diretores cruzados irão aumentar a transparência e a responsabilidade no relatório
financeiro por dois motivos. Em primeiro lugar, os membros com diretrizes cruzadas
podem fazer comparações com o conhecimento adquirido em outras empresas. Em
segundo lugar, "as decisões em um conselho se tornam parte da matéria-prima para
decisões em outros conselhos" (HANIFFA; COOKE, 2002). Os membros do CSS com
membros cruzados serão expostos a mais discussões sobre a aplicação da lei islâmica no
setor bancário. Isso aumenta seu conhecimento sobre a aplicação dos princípios islâmicos
aos relatórios corporativos e, em particular, à prática de divulgação de RSC. Como
resultado, eles aumentam sua transparência e responsabilidade para Allah, em seguida,
em direção a outras partes interessadas. A participação cruzada dos membros do CSS é
preferível por causa do conhecimento e da credibilidade que se seguem (LORSCH;
MACIVER, 1989). Além disso, os membros do CSS com membros cruzados poderão
adotar seu conhecimento tácito e explícito sobre sua aplicação das decisões da Sharia em
bancos islâmicos. Com base na teoria da responsabilidade, a participação cruzada dos
membros do CSS pode aumentar sua transparência e responsabilidade para a divulgação
de informações RSC. Assim, pode-se formular a oitava hipótese desta tese:
H8: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e a participação
cruzada dos membros do Conselho de Supervisão Sharia (PCCSS)
4.5.1.3 Comitê de Auditoria (CTA)
4.5.1.3.1 Variável 9: Tamanho do Comitê de Auditoria (TCTA)
Barako et al. (2006) afirmam que o Comitê de Auditoria (CTA) deve monitorar a
integridade das demonstrações financeiras e rever o sistema de controle financeiro interno
190
da empresa, bem como melhorar sua divulgação de informações corporativas. O
monitoramento de CA não é apenas sobre o processo de relatório financeiro; se estende
ao relatório de informações não financeiras (e.g., LI et al., 2012), como a divulgação de
informações RSC. Mangena e Pike (2005) sugerem que grandes comitês de auditoria dão
lugar a um monitoramento mais efetivo, uma vez que é mais provável que envolva os
conhecimentos e os pontos de vista essenciais para fazer isso. No entanto, resultados
mistos podem ser obtidos em estudos anteriores. Mangena e Pike (2005) e Tauringana e
Mangena (2009) não encontraram relação estatisticamente significante entre o nível de
divulgação e o tamanho do CTA. Felo et al. (2003) e Li et al. (2012) relatam uma relação
positiva entre o tamanho do CTA e a qualidade dos relatórios financeiros. Com o mesmo
argumento de Rahman e Bukhair (2015), espera-se que o tamanho do comitê de auditoria
possa afetar o nível de controle, monitoramento e divulgação. Um tamanho maior do
comitê de auditoria pode diminuir a possibilidade de conflitos de assimetria e agência de
informações (CHEN; JAGGI, 2000). A necessidade de auditoria independente deriva da
premissa de que não se pode confiar totalmente nos gestores, responsáveis pelo processo
de divulgação das informações corporativas (MURCIA, 2009).
Com base na Teoria da Agência, este estudo espera que o tamanho maior do comitê de
auditoria aumente as capacidades de monitoramento do CTA; como resultado, dá
influências positivas à prática de nível de divulgação nos bancos islâmicos. Portanto, o
presente estudo explorará empiricamente a relação entre o tamanho da CTA e a prática
de divulgação de informações RSC. Com isso, nasce a nona hipótese deste estudo:
H9. Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o Tamanho do
Comitê de Auditoria (TCTA)
4.5.1.3.2 Variável 10: Reuniões do Comitê de Auditoria (RCTA)
Amran et al. (2014) recomendam que as reuniões do CTA não sejam menos de três
reuniões por ano para melhorar os relatórios sustentáveis das empresas. Um CTA ativo
com alta frequência de reuniões terá tempo suficiente para desempenhar suas funções.
Pesquisas anteriores fornecem evidências sobre uma relação positiva entre as reuniões de
AC e subcategorias de relatórios financeiros, como relatórios da Internet (e.g., KELTON;
YANG, 2008; LI et al., 2012). De acordo com Gray et al. (1995), para ser socialmente
responsável, os gerentes são obrigados a fornecer todos os financeiros e não financeiros
para suas partes interessadas; A realização de reuniões frequentes de auditoria permite
191
que eles desempenhem suas funções em relação às partes interessadas. Portanto,
considera-se que as reuniões CTA ativas podem supervisionar e monitorar o relatório de
RSC. Com base na teoria da agência, a reunião frequente da CTA pode fornecer
monitoramento às atividades dos bancos islâmicos; como um resultado fornecer
informações RSC melhores em seu relatório anual. Surge, assim, a décima hipótese:
H10. Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o número de
Reuniões do Comitê de Auditoria (RCTA)
4.5.1.4 Variáveis relacionadas com a Estrutura de Propriedade
4.5.1.4.1 Variável 11: Investidor Institucional (EPII)
A teoria da Agência prevê que a estrutura de propriedade afeta o nível de divulgação
(ENG; MAK, 2003). A relação entre propriedade institucional e divulgação foi
examinada em estudos prévios. No entanto, a evidência empírica é mista. Barako et al.
(2006), e Mangena e Pike (2005), encontraram uma associação positiva enquanto
Schadewitz e Blevins (1998) encontraram uma associação negativa. Hannifa e Cooke
(2002) não encontram uma associação significativa entre as duas variáveis. Hidalgo et al
(2011) apoiaram os estudos prévios afirmando que os resultados parecem corroborar a
visão de que um aumento na participação dos investidores institucionais tem um efeito
negativo na divulgação voluntária, apoiando a hipótese de retratamento, enquanto que
uma participação excessiva por investidores institucionais pode tem efeitos adversos nas
decisões de divulgação estratégica. Os bancos islâmicos com uma estrutura de
propriedade concentrada não precisam divulgar mais informações porque os principais
acionistas podem obtê-lo facilmente, pois geralmente eles têm acesso a essa informação.
Akhigbe e Martin (2006) encontraram uma associação positiva entre divulgação e
propriedade institucional, com base no setor de serviços financeiros. Com base na Teoria
da Agência, pode-se formular décima primeira hipótese desta pesquisa:
H11: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC (DRSC) e a estrutura
de Propriedade de Investidores Institucionais (EPII)
4.5.1.4.2 Variável 12: Investidor Estrangeiro (EPIE)
O uso da divulgação dos acionistas estrangeiros é sustentado pelo fato de serem
"desfavorecidos" de informações em comparação com os acionistas nacionais (CHOE et
al., 2005). A estrutura de propriedade da empresa pode levar a lacunas de legitimidade.
192
Branco e Rodrigues (2008) explicaram que o envolvimento entre as proporções de
propriedade estrangeira e relatórios pode levar a levantar a questão da causalidade. Fields
e Keys (2003) descobriram que a heterogeneidade de experiências, ideias e inovações que
os indivíduos carregam para uma empresa tende a afetar o desempenho da empresa. Ao
mesmo tempo, Ayuso e Argeona (2007) ilustram que os proprietários estrangeiros são
tipicamente assumidos como desempenhando um papel fundamental no apoio às
estratégias de relatórios de RSC. No entanto, um estudo de Branco e Rodrigues (2008)
sobre os bancos do Quênia não encontrou associação entre a proporção de participação
estrangeira no conselho e as iniciativas de relatórios da RSC.
Com base na Teoria da Agência, Fama e Jensen (1983) sugerem que, à medida que o
número de acionistas aumenta e a propriedade se torna mais dispersa, as demandas de
informações adicionais aumentam. Vários estudos encontraram uma associação entre
divulgação e propriedade estrangeira. Por exemplo, de acordo com Xiao et al. (2004), a
maior participação estrangeira não só incentiva a divulgação de informações, mas
também motiva as empresas a criar páginas web para facilitar a divulgação de
informações financeiras. A extensão da propriedade do investidor estrangeiro é um
determinante importante da demanda por informações financeiras (SODERSTROM;
SUN, 2007). As exigências de divulgação geralmente são maiores quando há maior
participação de capital estrangeiro, devido à separação entre o conselho e os proprietários
geograficamente (BRADBURY, 1991). Além disso, as partes interessadas estrangeiras
têm diversos valores e conhecimentos devido à exposição no mercado externo. Haniffa e
Cooke (2005) encontram uma associação positiva entre propriedade estrangeira e
divulgações. Quanto ao setor bancário, Sharma (2014) também encontrou um positivo
significativo relação entre divulgações e propriedade estrangeira. Usando diferentes
amostras e dados de estudos prévios, como complemento de estudos prévios, este estudo
avaliará a associação entre divulgação de RSC e propriedade estrangeira. Portanto, com
base na Teoria da Agência, a décima segunda hipótese deste estudo é:
H12: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e a estrutura de
Propriedade de Investidores Estrangeiros (EPIE)
193
4.5.2 Características dos bancos analisados e características específicas de cada país
do CCG como variáveis de controle
Como a amostra contém bancos islâmicos de 6 países do CCG, foram utilizadas as
características da empresa como uma variável de controle, como tamanho, idade,
rentabilidade, alavancagem e liquidez dos bancos islâmicos da amostra. Também foram
usadas as características específicas do país, como o crescimento do PIB e a taxa de
corrupção dos países do CCG, como variáveis de controle. Olken e Pande (2012)
argumentaram que existe uma associação positiva entre o PIB e a corrupção ao nível de
divulgação entre os países, enquanto que Erés e Vallelado (2009) não encontraram
nenhuma relação significativa entre essas variáveis e a prática de divulgação. A presente
tese também usa o ano como uma variável dummy.
Argumenta-se na literatura que o tamanho do banco tem um impacto no nível de
atividades sociais corporativas. Uma grande vertente da literatura sobre RSC encontra
uma associação entre o tamanho da empresa e as atividades RSC (e.g., BRAMMER et
al., 2006 MALLIN; MICHELON, 2011; AL-TUWAIJRI et al., 2004). Roberts (1992)
encontra uma relação positiva entre tamanho e RSC e argumenta que quanto maior a
empresa, maior será envolvimento nas atividades de RSC, o que dá um impacto positivo
em sua reputação. De acordo com a Teoria das Agência, as grandes empresas precisam
divulgar mais informações a diferentes grupos de usuários, o que leva a um declínio nos
custos da agência e reduz as assimetrias de informação (INCHAUSTI, 1997). Em estudos
de divulgação recentes, a associação entre o tamanho da empresa e o relatório de
divulgação produziu resultados mistos. Por exemplo, enquanto alguns estudos
encontraram uma associação positiva (e.g., PIKE, 2005; AL-SAEED, 2006; CHAVENT
et al., 2006; MANGENA; VEEMELE et al., 2009; HASSAN et al., 2009; ELSHEIDY et
al., 2011), outros encontraram uma associação insignificante (e.g., RAJAB;
SCHACHLER, 2009). O tamanho do banco é um determinante significativo da escolha
da política de divulgação e contabilidade e um discriminador da qualidade contábil
(RAHMAN et al., 2002; GOODWIN et al., 2008;). Além disso, os grandes bancos
enfrentam maior demanda por informações de clientes, analistas e público em geral
(COOKE, 1989). Alguns estudos empíricos sobre divulgação bancária (e.g., HOSSAIN;
TAYLOR, 2007, HOSSAIN; REAZ, 2007) documentaram evidências empíricas em
relação a relação positiva entre o tamanho do banco e a extensão da divulgação.
194
Pesquisas anteriores descobriram que há uma associação entre a idade do banco e a prática
de divulgação (e.g., HANIFFA; COOKE, 2002; AKHTARUDDIN, 2005). Eles
argumentam que a idade de uma corporação afeta o envolvimento da empresa na RSC e
que as empresas há muito estabelecidas são susceptíveis de fazer maiores divulgações
sociais voluntárias. Por exemplo, Roberts (1992) relatou uma relação positiva entre RSC
e idade das empresas. Essa relação pode existir porque os bancos há muito estabelecidos
receberam mais apoio da sociedade do que bancos recém estabelecidos e essa asociação
amadurece à medida que o banco assume um papel de liderança maior, desenvolvendo
um maior senso de responsabilidade social. Hossain e Hammami (2009) descobriram que
empresas mais velhas tendem a divulgar mais informações do que empresas jovens. É
provável que as empresas mais antigas e bem estabelecidas divulguem muito mais
informações em seus relatórios anuais do que as empresas mais jovens porque são menos
propensas a sofrer qualquer desvantagem competitiva. Além disso, o custo e a facilidade
de coleta, processamento e disseminação da informação necessária pode ser um fator
contributivo (OWUSU-ANSAH, 1998). Muitos estudos mostraram que o nível de
divulgação voluntária está positivamente associado à idade da empresa (e.g., CORMIER
et al., 2005; HOSSAIN; HAMMAMI, 2009), enquanto outros (AKHTARUDDIN, 2005;
AL-SAEED, 2006; HOSSAIN, 2008; GALANI ET AL., 2011) concluíram que a idade
da corporação tem associação insignificante com o nível de divulgação. Abdul Hamid
(2004) sugeriu que a idade de um banco pode influenciar o nível de divulgação de
informações. No caso das indústrias bancárias, Hossain (2008) afirmou que não existe
relação entre a idade de uma empresa bancária e a extensão da divulgação monetária. Em
contraste, Owusu-Ansah (1998) encontrou uma significativa associação positiva entre a
idade do banco e a extensão da divulgação.
A influência da rentabilidade na divulgação em estudos anteriores provocou conclusões
mistas. Singhvi e Desai (1991) argumentaram que quando a taxa de retorno é alta, os
gerentes são motivados a divulgar informações mais detalhadas para apoiar a
continuidade de suas posições e remuneração. Por outro lado, quando a taxa de retorno é
baixa, os gerentes podem divulgar menos informações para ocultar os motivos dos efeitos.
A rentabilidade é fundamental para a discussão da divulgação corporativa. Inchausti
(1997) sugeriu que a rentabilidade é capaz de influenciar a medida em que as empresas
divulguem itens de informação.
195
Em consonância com a Teoria da Sinalização, a gestão, quando em posse de boas notícias
devido ao melhor desempenho, tem mais chances de divulgar informações mais
detalhadas para o mercado de ações do que as fornecidas por empresas detentoras de más
notícias para evitar a desvalorização de suas ações. Chavent et al. (2006) e Wallace e
Naser (1995) propõem que as empresas com maior rentabilidade proporcionem mais
informações. Ahmed e Courtis (1999) mostraram que os resultados de estudos
precedentes fornecem provas contraditórias sobre a associação entre a rentabilidade de
uma empresa e o nível de divulgação corporativa. Elsheidy et al. (2011), Othman et al.
(2009), Chavent et al. (2006), Hossain et al. (2006) e Gray et al. (2001) relatam uma
associação positiva entre as duas variáveis. A Teoria da Agência argumenta que os
gestores corporativos de bancos rentáveis estão motivados a divulgar mais informações
para aumentar sua remuneração (ABDEL SALAM, 1999). Galani et al. (2011) relatam
uma relação insignificante entre a rentabilidade dos bancos e o nível de divulgação. Na
mesma esteira, a pesquisa empírica anterior sobre divulgação voluntária bancária por
Hossain e Taylor (2007) não mostrou relação significativa entre a extensão da divulgação
voluntária nos relatórios anuais dos bancos comerciais de Bangladesh e a variável de
rentabilidade. Em contraste, o estudo de Hossain (2008) encontrou uma relação positiva
significativa entre os níveis agregados de divulgação das empresas bancárias listadas na
Índia e sua rentabilidade.
A Teoria da Legitimidade justifica essa correlação positiva pelo fato de que os conselhos
corporativos de empresas altamente lucrativas são mais propensos a divulgar mais
informações para aumentar a confiança dos acionistas e, portanto, elevar sua remuneração
e aumentar o capital ao menor custo (MARSTON; POLEI, 2004). No entanto, a partir de
uma perspectiva islâmica, onde a divulgação completa representava uma
responsabilidade perante os líderes diante de Allah, Haniffa (2002) argumenta que uma
corporação pode fornecer uma divulgação completa em qualquer situação, seja com lucro
ou de outra forma, isto é, diante de notícias ruins.
Com base na Teoria da Agência, Xiao et al. (2004) argumentam que o aumento da
divulgação pode reduzir as inclinações dos titulares de dívidas para proteger os preços
contra as transferências de si para os acionistas. Debreceny e Rahman (2005) descobriram
que os aumentos no índice de dívida e capital criam custos de agência adicionais.
Portanto, os gestores corporativos relatam mais informações voluntárias para ajudar os
credores a monitorar continuamente os assuntos da corporação e ajudá-los a avaliar a
196
capacidade da empresa para pagar suas obrigações em Tempo. Os gerentes tendem a
fornecer mais informações para enviar um bom sinal aos detentores da dívida sobre a
capacidade corporativa de cumprir suas obrigações. Evidências empíricas sobre a
associação entre alavancagem e divulgação também apresentam resultados diferentes.
Enquanto Barako et al. (2006), Marshall e Weetman (2007), Taylor et al. (2010) e
Elsheidy (2011) encontraram uma relação positiva, Abraham e Cox (2007) e Rajab e
Schachler (2009), eencontram associação insignificante. Em relação ao setor bancário,
Sharma (2014) encontrou uma correlação positiva e significativa entre divulgações e a
alavancagem das empresas analisadas.
A última variável de controle da divulgação de informações RSC é a liquidez e é possível
argumentar que os administradores corporativos de empresas com baixo índice de
liquidez podem publicar mais informações voluntárias em seus relatórios anuais para
satisfazer as informações exigidas pelas partes interessadas. Além disso, Ezat (2010)
encontrou uma associação positiva entre os níveis de relatórios corporativos da Internet e
liquidez, enquanto Aly et al. (2010) não encontram associação entre as duas variáveis.
Além disso, Samaha e Dahawy (2010) encontram uma associação positiva entre o nível
geral de divulgação voluntária e liquidez; no entanto, eles não encontram os mesmos
resultados em seu estudo em 2011, ao testarem a associação entre RSC e liquidez. A
presente tese, no entanto, também implementa um controle para os fatores
macroeconômicos usando o índice de crescimento e corrupção do PIB.
A Tabela 9 apresenta um resumo das variáveis utilizadas nesta tese (variáveis
independentes e de controle) e sua relação esperada com a divulgação da RSC, com base
em estudos prévios apresentados até este ponto.
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4.6 Consequências das divulgações de RSC e desenvolvimento da hipótese
Uma vez que investigar o efeito da quantidade de RSC no valor da empresa é a parte-
chave das análises para responder a primeira questão de pesquisa (QP 1), esta seção irá
discutir estudos prévios sobre a divulgação de RSC e o valor da empresa. Em seguida,
desenvolverá as hipóteses, baseada nas perspectivas teóricas.
4.6.1 Índice de Divulgação da RSC e o Valor da Firma (VF)
A literatura sobre RSC é extensa e explora os impactos da divulgação em geral, mas o
número de estudos que investigou a influência da divulgação da RSC sobre o valor da
empresa (VF) nos bancos islâmicos ainda é muito limitado. Vários estudos empíricos
concluíram que a divulgação voluntária aumenta a capacidade dos investidores de prever
os lucros futuros e que isso tem consequências sobre o valor da empresa (VF) (e.g.,
HUSSAINEY et al., 2003). Rhodes e Soobaroyen (2010) argumentam que a divulgação
pode reduzir os problemas da agência ao diminuir a assimetria da informação,
aumentando assim o valor da empresa (VF). Al-Akra et al. (2010) encontraram associação
de existência entre a divulgação e o valor da empresa (VF) usando dados em painel para
empresas listadas na Jordânia.
Sheu et al. (2010), por outro lado, concluíram que o mercado apenas fornece uma
avaliação mais alta para as empresas que optam por divulgar informações inclusivas.
Gordon et al. (2010) realizaram um estudo nos Estados Unidos (EUA) sobre a relevância
do valor das divulgações de segurança da informação e forneceu evidências fortes de que
informações voluntariamente divulgadas estão associadas positivamente ao valor da
empresa (VF). Anam et al. (2011) comprovaram que a extensão da divulgação tem um
efeito positivo significativo sobre o valor da empresa (VF) com base na capitalização de
mercado.
Estudos anteriores revelam que o aumento do nível de divulgação resulta na diminuição
da atualização do preço da ação, aumentando a capitalização de mercado da empresa
(ANAM et al., 2011). Garay et al. (2013) descobriram que um aumento de 1% na
divulgação da empresa causa um aumento de 0,15% no Q de Tobin e um aumento de
0,0119% no ROA (Retorno sobre os Ativos) da empresa. Dhaliwal et al. (2011)
encontram uma associação positiva entre o valor da empresa (VF) e a divulgação, com
base em uma investigação da relação entre o custo do capital e o nível de DRSC. Estudos
de De Villiers e Marques (2016) examinam o efeito das medidas de governança de uma
200
empresa sobre a relação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa (VF).
Mecanismos de governança mais fortes podem reduzir a capacidade dos gerentes de
divulgar informações de RSC de maneira oportunista, tornando as divulgações de RSC
mais credíveis e, assim, aumentar o peso dos participantes do mercado de capital sobre
essas divulgações. Isso sugeriria uma ligação mais forte entre as divulgações da RSC e o
valor da empresa (VF) em países de governança mais fortes. No entanto, as divulgações
financeiras em si podem ser mais opacas nos países com pouquíssima governança.
Alotaibi e Hussainey (2016) encontram uma relação positiva entre a qualidade da
divulgação da RSC e a capitalização de mercado das empresas não-financeiras da Arábia
Saudita, não listadas na Bolsa, em 2013 e 2014.
No entanto, a divulgação aprimorada pode ter efeitos adversos se colocar a empresa em
desvantagem competitiva em comparação com seus rivais (HEALY; PALEPU, 1993;
HASSAN et al., 2009) ou se isso faz mais ruído para os investidores, o que afeta
negativamente sua avaliação (CHUNG et al., 2012). Portanto, a literatura existente não
apresenta evidências fortes sobre a associação positiva entre divulgação corporativa e
valor da empresa. Além disso, verifica-se que a direção e a magnitude da relação estão
associadas à pontuação de divulgação (HASSAN et al., 2009) e a proxy usada para o valor
da empresa (UYAR; KILIÇ, 2012). Alotaibi e Hussainey (2016) argumentaram que não
encontraram os mesmos resultados ao usarem o Q de Tobin ou ROA como proxies para
o valor da empresa. Eles sugerem que a quantidade e a qualidade da divulgação RSC têm
o mesmo impacto no valor da empresa (VF), o significado desse impacto depende da
proxy usada na medição do valor da empresa.
4.6.1.1. Tamanho do Conselho de Administração (TCA)
A literatura sobre o relacionamento entre o tamanho do CA e o valor da empresa oferece
resultados discrepantes. Jensen (1983) acredita que, à medida que o tamanho do CA
aumenta, a tomada de decisões torna-se mais lenta e, com problemas de equitação, torna-
se menos eficiente, leve-o a um menor valor corporativo. Yermack (1998), Eisenberg et
al. (1998), Mak e Kusnadi (2005), De Eres et al. (2005), Gill e Marthur (2011), Ujunwa
(2012) e Kumar e Singh (2013) fornecem evidências de tais argumentos e acham que os
conselhos menores estão relacionados ao maior valor da empresa. Jakling e Johl (2009)
fornecem evidências contraditórias ao estudar as principais empresas indianas.
201
Por outro lado, Coles et al. (2007) fornecem evidências de que tamanhos de CA muito
grandes e muito pequenos afetam positivamente o valor da empresa. Acredita-se que tal
fator se deve à complexidade do negócio. Raheja (2005) apoia Coles et al. (2007),
sugerindo que não há tamanho do CA ideal, uma vez que o tamanho do Conselho
geralmente depende das necessidades de assessoria ou monitoramento, e isso muda de
empresa para empresa. Afirma-se que a experiência coletiva e o conhecimento dos
membros do conselho são cruciais no ambiente empresarial complexo de hoje
(CONGER; PECK, 1998). No entanto, estudos anteriores mostraram associação positiva
entre o tamanho do CA e o valor da empresa (VF) (UJUNWA, 2012). Outros
pesquisadores, como Lehn et al. (2009) em suas pesquisas de 88 empresas dos EUA entre
1935 e 2000, não encontraram relação significativa entre tamanho e valor. Boone et al.
(2007) encontraram uma relação positiva entre o tamanho do CA e o tamanho
corporativo, mas não encontraram relação entre o tamanho do CA e o valor da empresa.
4.6.1.2 Composição do Conselho de Administração (CCA)
A literatura sobre a composição do CA (características) é mais abundante do que a
literatura sobre o seu tamanho. Existe uma evidência mista na composição do Conselho
e sua influência positiva sobre o valor da empresa. Jackling e Johl (2009) e Giraldez e
Hurtado (2014) descobriram que os conselheiros externos (não pertencentes ao quadro da
empresa) fornecem um melhor acompanhamento da gestão (assim, diminuindo os custos
da agência) porque são independentes. Rosenstein (1990), Hermalin e Weisenbach
(2001), De Eres et al. (2005), e Baghat e Black (1998) sugerem que a estrutura do quadro
não mostra uma relação positiva com o valor da empresa. No entanto, Baglioni e Colombo
(2008) fornecem provas da Itália sobre uma relação positiva, contrariando estudos
prévios. A estrutura do conselho deve basear-se na realidade corporativa, especialmente
na prioridade da empresa entre o conselho (mais executivo) e o monitoramento (menos
executivo) (SARIN, 1999; HARRIS; RAVIV, 2005; LINK et al., 2008; LEHN et al.,
2009).
4.6.1.3 Dualidade do CEO (DCEO)
Tal como acontece com outras variáveis de governança, a literatura sobre dualidade de
CEO apresenta visões contraditórias sobre a relação entre a dualidade do CEO e o valor
da empresa. A dualidade do CEO é apoiada pela teoria da administração, uma vez que
defende uma liderança mais forte e mais unida, onde os interesses estão alinhados e onde
202
o conselho, mais do que o controle, é necessário (VINTILA; GHERGHINA, 2012).
Outros autores, como Daily e Dalton (1992), Jo e Kim, (2007), Coles et al. (2007), Kiel
e Nicholson (2003), Chen et al. (2005), Chanie e Thome (2009), Ehikoya (2009), Lam e
Lee (2008), Dogan et al. (2013) e Buallay et al. (2017) usaram a teoria da agência como
apoio na avaliação de uma possível relação negativa entre a dualidade do CEO e o valor
da empresa. Finalmente, autores, como Agrawal e Knoebler (1996), Peng, Zhang e Li
(2007), Yang e Zhao (2014), e Baptista et al. (2008) encontraram uma relação positiva
entre Dualidade de CEO e valor de empresa.
Para as variáveis das características da empresa, Almilia (2009) descobriu que o tamanho
da empresa é a principal determinação do relatório financeiro. Ezat (2010) descobriu que
existe uma associação positiva relatada entre o tamanho da empresa e o valor da empresa
(VF). Ele também afirma que as grandes empresas têm mais recursos do que empresas
menores. Portanto, uma associação positiva é relatada entre o tamanho da empresa e o
valor da empresa em vários estudos prévios (e.g., HASSAN ET AL., 2009; EZAT, 2010).
No que diz respeito à rentabilidade, as empresas que relatam maiores lucros sinalizariam
suas capacidades para os investidores.
Pode ser percebido que essas empresas têm vantagens competitivas que lhes permitem
alcançar maiores lucros, o que afeta positivamente o valor para o acionista. Assim, de
acordo com Hassan et al. (2009), espera-se uma relação positiva entre rentabilidade e
valor da empresa (VF). A alavancagem está associada negativamente ao desempenho
financeiro, o que é consistente com a Teoria do Peccking Order21 (MYERS; MAJLUF,
1984). Hodgson e Stevenson-Clarke (2000) declararam que uma alavancagem elevada
leva a uma mudança positiva no valor da empresa (VF). Ao realizar este estudo, também
usamos o PIB como variável de controle, como a maioria da literatura faz (e.g.,
YERMACK, 1998; COLES ET AL., 2007). Nesta tese será usada essa variável para
controlar o crescimento que o país está tendo em sua economia. A informação de essa
variável foi tirada da base de dados do Banco Mundial, que mostra o crescimento do PIB
nos países do CCG durante os anos de 2013 a 2017.
Em resumo, a maioria dos estudos anteriores (e.g. RHODES; SOOBAROYEN, 2010;
AL-AKRA et al., 2010; SHEU et al., 2010; GORDON et al., 2010; ANAM et al., 2011;
21 Para mais detalhes, ver Donaldson, G. Corporate Debt Capacity: A Study of Corporate Debt Policy and
the Determination of Corporate Debt Capacity. Boston: Harvard University, Graduate School of Business
Administration, Division of Research, 1961.
203
DHALIWAL et al., 2011; GARAY et al. 2013; ALOTAIBIE; HUSSAINEY, 2016)
encontram uma relação positiva entre o nível de divulgação e o valor da empresa.
4.7 Desenvolvimento da Hipótese
Esta seção centra-se principalmente em examinar se divulgar mais informações RSC
afetam o valor da empresa. Os estrangeiros geralmente não têm acesso à informação
interna sobre a empresa, que está disponível apenas para a equipe de gerentes / gerentes.
A pesquisa prévia (e.g., SHEU et al., 2010) mostra que a divulgação reduz a assimetria
de informações entre os administradores e pessoas de fora da empresa (stakeholders) e,
portanto, reduz conflitos de agência entre as duas partes. Isso leva a um aumento no valor
da empresa (SHEU et al., 2010).
A influência da divulgação da RSC no valor da empresa (VF) pode ser entendida com
base em agência, sinalização e teoria econômica. A teoria da sinalização é a principal
estrutura teórica que é usada para explicar a associação entre divulgação e valor da
empresa (VF). Com base nessa teoria, a divulgação abrangente melhora os mecanismos
de GC e menos conflitos de agência, leve o ao maior valor da empresa (VF) (SHEU et
al., 2010). Argumenta-se que as divulgações voluntárias no relatório anual enviam sinais
para o mercado que se espera que aumentem o valor de uma empresa e,
consequentemente, seu valor no mercado de ações (GORDON et al., 2010). Curado et al.
(2011) ressaltam que a divulgação corporativa influencia o valor da empresa (VF),
conforme percebido pelos mercados. Cormier et al. (2011) afirmam que, a divulgação
fornece informações relevantes para o valor mercado de ações. Álvarez et al. (2010)
evidenciaram que a divulgação tem uma consequência positiva na criação de valor para
o acionista.
A Teoria Econômica sugere que o aumento da divulgação corporativa tem influência no
valor da empresa (VF) (LUNDHOLM; VAN WINKLE, 2006). Em primeiro lugar, uma
informação de melhor qualidade permite que os investidores façam avaliações precisas
dos parâmetros subjacentes ao retorno futuro das ações, diminuindo o risco de estimativa
não diversificável e a incerteza sobre os fluxos de caixa futuros, bem como a rentabilidade
futura (CLARKSON, 1995). Em segundo lugar, através de divulgação aprimorada, a
vontade dos investidores de negociar é aumentada, além de aumentos nas ações "liquidez
e melhoria do valor da empresa (VF) (EASLEY; O" HARA, 2004).
204
A Teoria Econômica defende que o aumento do nível de divulgação voluntária reduz as
assimetrias de informação entre a empresa e os participantes do mercado, o que aumenta
a liquidez das ações da empresa e melhora o valor da empresa (VF) (BEYER et al., 2010).
A importância da divulgação corporativa surge de ser um meio de comunicação entre a
gerência e investidores externos e participantes do mercado. Acredita-se que a divulgação
corporativa aprimorada mitigue o problema da assimetria e os conflitos das agências
(LAMBERT et al., 2007). As consequências do aumento do nível de divulgação são
frequentemente discutidas em termos de redução de preços, rentabilidade cumulativa e
crescimento do valor da empresa (VF) (BOTOSAN; PLUMLEE, 2002). Estudos
empíricos consequentes fornecem evidências de apoio sobre a associação entre
divulgação e valor da empresa (VF). Por exemplo, Healy et al. (1999) acham que as
empresas com níveis de divulgação expedidos experimentam aumentos significativos
substanciais no valor da empresa (VF). Os efeitos diretos das divulgações corporativas
têm a capacidade de alterar o valor da empresa (VF) afete as decisões dos gerentes e,
portanto, variaram a distribuição dos fluxos de caixa futuros (LAMBERT et al., 2007).
Assim, a divulgação corporativa melhorada pode aumentar o valor de mercado das
empresas (PLUMLEE, 2009; ELZAHAR et al., 2015).
Preocupado com as consequências econômicas para a divulgação social, a teoria da
legitimidade sugere que as corporações possam estar entusiasmadas com a divulgação de
informações sociais para legitimar sua posição na sociedade (DEEGAN et al., 2002).
McDonald e Rundle-Thiele (2008) descobrem a influência da RSC sobre a rentabilidade
corporativa através da criação de ativos intangíveis como boa reputação, confiança e
compromisso, o que impulsiona o sucesso a longo prazo do negócio. Isso melhora a
capacidade da empresa de atrair recursos, melhorar o desempenho e criar vantagens
competitivas, aumente assim o valor da empresa (VF) (FOMBRUN et al., 2000). A
pesquisa precedente generalizada propõe que os relatórios de divulgação possam
influenciar positivamente as percepções do desempenho da empresa das partes
interessadas e, assim, sobre a rentabilidade das empresas e o preço da ação (LOURENCO
et al., 2012). Portanto, com base na teoria acima, pode-se a última hipótese deste estudo:
H13: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o Valor da Firma
(VF)
205
4.8 Divulgação de informações financeiras e não financeiras
Uma variedade de mídias pode ser usada para divulgar informações financeiras, sociais e
ambientais, como por exemplo: relatórios anuais, propagandas ou artigos publicados
detalhando as atividades da empresa, folhetos das empresas para abordar as atividades
sociais e ambientais, relatórios comunitários, relatórios ambientais, rotulagem nos
produtos para promover preocupações ambientais, comunicados de imprensa,
suplementos ao relatório anual ou produzidos em datas intermediárias e sites (JENKINS;
YAKOVLEVA, 2006). Isto é apoiado por Campbell (2000), que indica que as empresas
podem usar mídias diferentes de seus relatórios anuais para divulgar informações sociais
e ambientais. Além disso, a Internet é uma ferramenta poderosa no fornecimento de
informações sociais, já que o site de uma empresa tem potencial para alcançar um público
muito maior que os relatórios anuais.
Taha (2010) afirmou que é importante que as empresas forneçam relatórios de RSC
separados para os usuários; as tendências crescentes em relação à divulgação da RSC são
acompanhadas pelo lançamento de um número crescente de empresas que fornecem
relatórios RSC autônomos para atender às necessidades das partes interessadas. Jenkins
e Yakovleva (2006) argumentam que a indústria petroquímica foi o primeiro setor que
emitiu relatórios autônomos, começaram na década de 1980, enquanto o setor de
mineração começou a produzir relatórios ambientais gradualmente a partir da década de
1990. De acordo com as pesquisas trienais da KPMG (iniciadas em 1993), os relatórios
de RSC têm aumentado constantemente e aumentaram substancialmente nos últimos
anos. Em 2008, 79% das empresas G250 (250 globais) e 45% das empresas N100 (100
nacionais) em 16 países emitiram relatórios RSC separados, contra 52% e 33%,
respectivamente, em 2005, 45% e 28% em 2002, e 35% e 24% em 1999 (KPMG, 2002,
2005, 2008). Atualmente, a tendência atual das empresas divulgar suas informações RSC
é através de um relatório anual e no próprio site. Com o rápido crescimento do acesso à
internet em todo o mundo, as partes interessadas tendem a encontrar informações de
RSC online através do site da empresa.
No setor bancário islâmico é raro encontrar um relatório RSC autônomo produzido pelas
empresas para divulgar suas informações RSC. Mas, para o objetivo deste estudo, ao
mensurar o nível de divulgação da RSC entre os bancos islâmicos no CCG, uma fonte
principal de informações será coletada dos relatórios anuais das empresas. Nesta tese foi
negligenciada, propositalmente, a utilização de sites, que não fossem dos bancos
206
islâmicos, como fonte de dados de suporte devido a problemas de consistência da
informação. Os relatórios anuais foram amplamente utilizados como principais
ferramentas para medir o nível de conformidade de pesquisadores anteriores (E.G.,
MAALI et. al., 2006; ELZAHAR; HUSSAINEY, 2012; ZAINAL et al., 2013;
PLATONOVA, 2014; FARAG et al., 2014; BELAL et al., 2014; HUANG, 2015). Ao
adotar essa abordagem, os relatórios anuais serão utilizados como documento principal
na medição da prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos do CCG.
Os relatórios anuais são documentos públicos formais produzidos por empresas em
resposta aos requisitos obrigatórios de relatórios corporativos existentes na maioria das
economias ocidentais (SANTON; SANTON, 2002). Daub (2007) afirmou que o relatório
anual às vezes é referido como um cartão de visita da empresa, o que reflete que fornece
aos leitores uma imagem abrangente da organização de publicação (DAUB, 2007). O
relatório anual é um dos múltiplos canais através dos quais as empresas se comunicam
com suas partes interessada. Em apoio desta escolha, a literatura mostra que é o principal
veículo de divulgação (MALAFRONTE et al., 2013) e é uma fonte influente de
informação devido à sua ampla cobertura e disponibilidade (BERETTA; BOZZOLAN,
2004). Os níveis de divulgação dos relatórios anuais também se correlacionaram
positivamente com a quantidade de divulgação corporativa fornecida através de outros
meios de comunicação, como os sites (MARSTON; SHRIVES, 1991, LANG;
LUNDHOLM, 1993).
Com a informação divulgada no relatório anual, permite a resolução do problema de
informação assimétrica entre o principal e o agente (HILL; JONES, 1992). A abordagem
da informação assimétrica assume que os gerentes conhecem mais da empresa do que os
seus acionistas, uma vez que aqueles estão inseridos no dia a dia da companhia, tendo,
dessa forma, mais informação sobre a empresa. Os acionistas, por sua vez, têm acesso
apenas às informações públicas da empresa, que podem ou não sintetizar o estágio atual
da companhia (MOREIRAS; TAMBOSI; GARCIA, 2012). As empresas estão
conscientes do papel crucial assumido pela divulgação, pode ser benéfico, mas também
dispendioso; requer investimento e experiência. Assim, a escolha não está mais a ser
revelada ou não, mas estrategicamente decidindo como e o que comunicar
(MALAFRONTE et al., 2013).
207
5 PLATAFORMA METODÓLOGICA
Metodologia diz respeito aos métodos utilizados para obter conhecimento sobre o mundo
social (CRESWELL, 2014). Em outras palavras, é um quadro de pesquisa mais amplo
que consiste em projetos e métodos de pesquisa que são sublinhados pelos conceitos e
teorias já estudadas ou a serem desenvolvidas. Portanto, escolher uma metodologia de
pesquisa apropriada ajuda na construção de um quadro de pesquisa claro que, como
consequência, leva ao atingimento dos objetivos previamente delineados.
Dessa forma, a presente tese caracteriza-se como sendo: 1) documental, na medida em
que se utilizou dos relatórios anuais financeiros e não financeiros, publicados pelos
Bancos Islâmicos e Convencionais selecionados na amostra; 2) exploratória, uma vez
que proporcionou maior familiaridade com o tema da RSC sob a ótica dos Bancos
Islâmicos, desenvolvida no Capítulo 3, com vistas a torná-lo mais explícito para a
construção das hipóteses no Capítulo 4 que foram testadas no Capítulo 6; 3) descritiva¸
visto que buscou descrever especificamente as características do grupo de bancos
islâmicos selecionados; e 4) de natureza quantitativa, a qual é influenciada pelo
positivismo, uma vez que considerou que a realidade dos bancos islâmicos só poderia ser
compreendida com base na análise dos dados brutos, recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros, além de recorrer à linguagem estatística para
descrever as causas do fenômeno financeiro islâmico e as relações das diversas variáveis
de Governança Corporativa e Responsabilidade Social.
Dessa forma, neste Capítulo serão apresentadas as estratégias, os percursos e
procedimentos metodológicos empregados para a verificação e teste das hipóteses já
construídas no Capítulo 4. Posteriormente serão expostos os modelos de regressão
econométricos utilizados na verificação das relações estabelecidas entre todas as variáveis
de controle, variáveis dependentes e variáveis independentes.
5.1 Estratégia metodológica
Existem duas principais estratégias de pesquisa que são amplamente empregadas nas
ciências sociais aplicadas: quantitativas e qualitativas. A estratégia quantitativa enfatiza
a quantificação na coleta de dados, usando modelos matemáticos e estatísticos que se
conectam numa relação de causa e efeito, testando as hipóteses das teorias escolhidas.
Por outro lado, a estratégia qualitativa enfatiza palavras e interpretações para descobrir o
208
conhecimento necessário, ao invés da quantificação na coleta e análise de dados
(MARTINS, 2004; CRESWELL, 2014).
A estratégia quantitativa é mais adequada à filosofia do positivismo (CROTTY, 1998).
Além disso, a natureza desses objetivos e questões de pesquisa sugeriram o uso de uma
estratégia quantitativa. Essa estratégia permitiu a quantificação na coleta e análise de
dados para testar e interpretar a associação entre variáveis (variáveis independentes e
dependentes) e a formulação das respostas às questões de pesquisa, com a generalização
de seus resultados à toda a população estudada.
Numa outra esteira, existem duas principais abordagens de pesquisa, a saber: as
abordagens dedutiva e indutiva. A abordagem dedutiva se inicia a partir de uma teoria
(ou teorias), e então as hipóteses são desenvolvidas. Uma estratégia de pesquisa é
projetada para testar as hipóteses dependendo dos dados coletados (SAUNDERS;
LEWIS, 2009). Ao contrário da abordagem dedutiva, sob o espectro indutivo, os dados
relacionados ao fenômeno são coletados e analisados e, então, uma teoria é construída
como resultado da conclusão da análise de dados (BRYMAN; BELL, 2003).
Para fins desta tese, a abordagem dedutiva foi a mais apropriada. Sob esta abordagem, as
questões de pesquisa foram estabelecidas (Capítulo 1), então várias hipóteses foram
desenvolvidas com base nas teorias existentes (Capítulo 4, conjugado com os dois
capítulos anteriores) e, finalmente, técnicas estatísticas foram usadas no Capítulo 6 para
testar as hipóteses desenvolvidas, que levaram a aceitar ou rejeitar a relação entre
variáveis de acordo com o suporte teórico escolhido (LAKATOS; MARCONI, 2001;
GIL; 2002; CRESWELL, 2010).
Essa tese foi delineada como exploratória e descritiva, pois discutiu e apresentou relações
entre variáveis já abordadas cientificamente em literatura precedente. A pesquisa
exploratória teve como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito e a construir hipóteses. A pesquisa descritiva está
estruturada sob o enfoque de averiguar associações entre diferentes variáveis e busca
conhecer as relações de causa e efeito entre elas. Essa estratégia permitiu, além da análise
ou da base para tanto, a totalidade do objeto estudado, sem a preocupação com detalhes
que a investigação não persiga, assumindo a forma de síntese (MARTINS; THEÓPHILO,
2009; CRESWELL, 2014).
209
5.2 Percurso metodológico
Esta tese investigou, portanto, a divulgação da RSC e examinou as hipóteses de seus
determinantes e consequências. Os dados relacionados à divulgação de RSC, seus
determinantes e consequências foram coletados dos relatórios anuais (dados secundários)
dos bancos escolhidos na amostra. Os relatórios anuais foram baixados do site dos bancos
(os sites de cada banco constam no Apêndice A). De acordo com Creswell (2014), os
dados coletados das revisões e publicações da literatura (como periódicos, jornais, livros
e sites) são categorizados como dados secundários. Neste estudo, todos os dados
coletados foram analisados usando o software IBM SPSS Statistics 16® que serviu de
suporte para mensurar a aderência dos bancos islâmicos às práticas de RSC, testar as
hipóteses construídas no Capítulo 4 e à apresentação dos dados no Capítulo 6.
5.2.1 Métodos utilizados
Os métodos, de acordo com Martins (2010) são as técnicas ou procedimentos utilizados
para reunir e analisar dados relacionados a algumas questões ou hipóteses de pesquisa.
Esta pesquisa adotou métodos de pesquisa quantitativos na mensuração do nível de
divulgação da RSC dos bancos islâmicos no CCG. Adicionalmente, foram analisados
bancos convencionais do CCG, para que se pudesse comparar os níveis de divulgação
entre os dois tipos de bancos, isto é, entre islâmicos e convencionais. O relatório anual da
amostra de bancos islâmicos de 2013 a 2017 foi analisado usando a análise manual do
seu conteúdo e a construção de um índice para mensurar a divulgação. Não há na literatura
internacional uma definição geral para RSC, nem um certo conjunto de itens de RSC a
serem divulgados pelos bancos islâmicos ou convencionais do CCG. Dessa forma, além
da utilização das normas de divulgação presentes no AAOIFI, especificamente a nº 7,
para os bancos islâmicos, os bancos centrais dos seis países foram consultados, para
entender se as divulgações requeridas estão alinhadas com as práticas do AAOIFI.
5.2.2 Seleção amostral
Para o propósito desta tese, foram coletados os relatórios anuais dos bancos islâmicos em
seus websites. Seguindo os achados de Farook et al. (2011), concluiu-se que os bancos
islâmicos se referem a bancos comerciais, bancos de serviços e bancos de investimentos.
Esses bancos operam tanto como companhias abertas (públicas), privadas ou empresas
com fortes vínculos governamentais. Neste estudo, nenhuma distinção foi estabelecida
entre os tipos de bancos, uma vez que todos os bancos islâmicos de amostra afirmam
210
cumprir as orientações presentes na Sharia. De acordo com o banco de dados The
Banker22, do registro atualizado em junho de 2017, existiam 62 bancos islâmicos
licenciados a operar no CCG. Por uma questão de consistência na amostra de pesquisa,
foram excluídas as subsidiárias de bancos islâmicos e bancos que não publicaram uma
versão em inglês do seu relatório anual. Portanto, foram excluídos 22 bancos. Com isso,
a amostra final deste estudo foi constituída por 40 bancos dos 6 países do CCG: Arábia
Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã. Cabe ressaltar que o
Banco Central de Omã aprovou e licenciou dois primeiros bancos islâmicos (AlIzz Islamic
Bank e Bank Nizwa) autorizados a operar seguindo as regras da Sharia apenas em 2013.
Com isso, a seleção amostral representa 64% da população e está em linha com o tamanho
mínimo necessário para o uso de regressões múltiplas (GREEN, 1991; WOOLDRIDGE,
2002; COAKES, 2005). Este conjunto de dados coletados forneceu informações
suficientes sobre práticas de divulgação em bancos islâmicos que operam no CCG para
os anos 2013 a 2017 e envolveu 200 observações ao longo de cada ano. Ademais, outros
40 bancos convencionais dos mesmos 6 países foram escolhidos, para que fosse possível
comparar os níveis de divulgação dos bancos islâmicos com seus pares convencionais. O
critério de seleção desses últimos bancos foi a média de ativos financeiros transacionados
nos anos de 2013 a 2017. Dessa forma, foram escolhidos os maiores bancos, considerando
essa variável, até que se alcançasse o número de bancos de cada país. Por exemplo, no
caso de Omã, foram escolhidos 3 bancos islâmicos para a composição da amostra e os 3
maiores bancos convencionais, considerando o volume total de ativos transacionados no
período analisado23, isto é, entre os anos de 2013 a 2017.
Os dados para análise das amostras escolhidas foram obtidos da base Orbis Bank Focus®
(OBF). O OBF é uma base de dados detalhada provida por uma joint venture entre a
agência Moody’s e o Bureau van Dijk que possui informações de mais de 43.000 bancos
no mundo todo e é amplamente utilizada em pesquisas acadêmicas e por instituições
privadas globais. Trata-se de uma ferramenta única que integra Informações estruturais
em até 10 níveis de vinculação e participação acionária e de subsidiaria a partir de 0,01%,
o que permite encontrar correlações de eventos de empresas globais e sua vinculação em
22 Para mais detalhes, ver: http://www.thebanker.com 23 Os Bancos Centrais dos países do CCG possuem a relação de todas as IFIs e convencionais autorizadas
a operar em cada país, bem como o agregado total de ativos movimentados anualmente. Mais informações
em: http://www.cbb.gov.bh (Bahrein), http://www.qcb.gov.qa (Catar), https://government.ae (EAU),
http://www.cbk.gov.kw (Kuwait) e https://cbo.gov.om/ (Omã).
211
todo o mundo, incluindo bancos islâmicos. Também contém informações financeiras,
comerciais, contábeis, mercadológica, informação de atividades de fusões e aquisições.
Integrando um banco de dados com capacidade de fazer pesquisas flexíveis e avançadas,
sendo utilizada é usado por entidades como ONU, OCDE, dentre outras entidades
internacionais, em suas pesquisas publicações e planejamento estratégico (OBF, 2017).
A seleção amostral de cada país é demonstrada no Quadro 10 a seguir:
Quadro 10 – Seleção Amostral por País
Países População de
Bancos Islâmicos
Bancos Islâmicos
Selecionados
Arábia Saudita 6 4
Bahrein 27 16
Catar 9 6
Emirados Árabes Unidos 9 8
Kuwait 6 3
Omã 5 3
Total 62 N = 40
Fonte: Autor (2017).
Importante destacar que os números acima não se confundem com a população de
Instituições Financeiras de cada país, haja vista que nestes países prevalece um sistema
dualista, possuindo tanto bancos islâmicos, quanto bancos ocidentais ou convencionais,
bem como um número elevado de IFIs, como, por exemplo, as seguradoras islâmicas.
5.3 Instrumentos de Pesquisa utilizados na Análise da Divulgação
Esta seção fornece informações detalhadas sobre a construção do índice de divulgação da
RSC em relatórios anuais através da análise de conteúdo e da literatura sobre finanças e
economia islâmicas.
5.3.1 Análise de Conteúdo
Existem muitas definições de análise de conteúdo. A definição mais amplamente aceita é
a oferecida por Berelson (1952) em sua obra seminal Content Analysis in Communication
Research, onde define a análise de conteúdo como uma técnica de pesquisa para a
descrição objetiva, sistemática e quantitativa de o conteúdo manifesto da comunicação.
Do mesmo modo, Carney (1972) descreve esse método como uma técnica de pesquisa
para fazer inferências, identificando de forma objetiva e sistemática determinadas
características das mensagens. Krippendorff (1980) descreve essa abordagem como uma
212
técnica de pesquisa para fazer inferências replicáveis e válidas de dados para seu contexto.
De acordo com Gray et al. (1995), a análise de conteúdo é um método ou técnica
empregada para medir objetivamente, sistematicamente e quantitativamente o conteúdo
da comunicação.
Para Bardin (1977, p. 42), a técnica da análise de conteúdo pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicações, visando a obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) das mensagens. Este conceito foi ainda mais definido por Guthrie e Abeysekera (2006) como uma técnica
para coletar dados contidos nos relatórios anuais e envolve a codificação de informações
qualitativas e quantitativas e categorias pré-definidas, a fim de derivar padrões na
apresentação e relatório de informações. A divulgação social pode ser medida de maneiras
diferentes. Belkaoui e Kaprik (1989) propuseram quatro medidas a serem utilizadas: a)
escala de divulgação social por Ernst (1973), b) Porcentagem da proposta no relatório
anual, c) Qualidade da divulgação no relatório anual; e d) quantidade de divulgação no
relatório anual.
Dessa forma, a análise de conteúdo é um dos métodos de pesquisa mais utilizados na
avaliação de divulgações sociais e ambientais, como se percebe nos trabalhos de Abbott
e Monsen (1979), Gray et al. (1995), Haniffa e Cooke (2005), Maali et al. (2006) e Haniffa
e Hudaib (2007). É definida como uma técnica de coleta de dados que consiste em
codificar a informação qualitativa em formas anedóticas e literárias em categorias, a fim
de derivar escalas qualitativas de diferentes níveis de complexidade (ABBOTT;
MONSEN, 1979, CRESWELL, 2014). Em termos operacionais, também pode ser
definida como um método onde os dados são codificados em categorias com base em
princípios previamente selecionados (KRIPPENDORFF,1980; WEBER, 1988; GIL,
1995). Portanto, uma característica fundamental da análise de conteúdo é o uso de
categorias selecionadas e desenvolvidas para classificar as unidades de conteúdo
(HANIFFA; COOKE, 2005; MORAES, 1999). As questões metodológicas de utilização
de análise de conteúdo para mensurar as divulgações de RSC nos relatórios anuais são
discutidas no seminal estudo de Gray et al. (1995).
213
As questões metodológicas para a utilização da técnica de análise de conteúdo para medir
as divulgações de RSC nos relatórios anuais foram discutidas no estudo de Gray et al.
(1995). A metodologia proposta ocorre em três etapas e responde a três perguntas: "o
que", "onde" e "como"? No primeiro estágio, as categorias e os tipos de RSC foram
claramente definidos, a fim de responder à pergunta sobre o que é considerado e o que
não é considerado RSC de bancos islâmicos e bancos convencionais. Vale ressaltar que
as categorias de RSC podem mudar ao longo do tempo, em função de mudanças
regulatórias (emissão de uma nova norma, por exemplo), refletindo as mudanças na
prática da divulgação da RSC. Portanto, a escolha das categorias de RSC foi realizada
com base em estudos anteriores para manter um nível de comparabilidade. A segunda
etapa referiu-se à localização da divulgação da RSC. Responde à questão de onde devem
ser coletadas as informações sobre RSC e examinadas, determinando os tipos de
documentos empregados na análise. Na terceira etapa, as principais preocupações do
trabalho foram em como analisar e codificar dados e calcular as pontuações, como a
construção do índice de divulgação de RSC neste estudo. As seções a seguir respondem
as três perguntas formuladas nos estudos de Gray et al. (1995).
5.3.2 Análise Qualitativa de Conteúdo
O termo análise de conteúdo tem sido utilizado na descrição quantitativa. A análise
quantitativa de conteúdo que representa a codificação computadorizada com uma
contagem de frequência de palavras começou por volta dos anos 60 (FRANZOSI, 2007).
Entretanto, recentemente muitos pesquisadores aplicaram a análise de conteúdo para uma
abordagem qualitativa para obter maiores profundidades de interpretação
(GRANEHEIM; LUNDMAN, 2004). Na análise de conteúdo qualitativa, a codificação é
manual e não computadorizada e o pesquisador passa pelas sentenças enquanto as
codifica (HYDE, 2000; WOLFE, 2001). Atualmente o NVivo® e o ATLAS.ti® são as
opções de softwares mais populares usadas para apoiar a análise de dados qualitativos.
Tanto a análise de conteúdo quantitativa quanto a qualitativa buscam identificar padrões
observados a partir da contagem de palavras em frases ou páginas (GRAY, et al., 1995;
(BAKKER et al., 2005). Este método tem sido amplamente utilizado para investigar
documentos corporativos (GRAY, et al., 1996; LUNGU et al., 2011). O benefício de uma
análise de conteúdo quantitativa computadorizada é que esse método permite que os
pesquisadores codifiquem grandes volumes de conteúdo de maneira eficiente em termos
214
de custos (MORRIS, 1994). No entanto, há uma desvantagem na análise de conteúdo
informatizada, pois é dificilmente possível definir com exatidão quais palavras se referem
à Responsabilidade Social Corporativa (GÖSSLING; VOCHT, 2007). Gray et al. (1995)
argumentam que, para a análise quantitativa de conteúdo, os pesquisadores precisam
dispor e fornecer um extenso dicionário de palavras e expressões que são atribuídas a uma
categoria de codificação, no entanto, os computadores não podem reconhecer quais
palavras estão dentro ou fora das categorias de RSC. Como os computadores não são
capazes de fazer juízos de valor (MORRIS, 1994), uma análise de conteúdo
computadorizada conta apenas a palavra, deixando assim de fora os contextos muito
informativos possíveis que poderiam ser os mais valiosos para a interpretação subjetiva,
especialmente no caso dos bancos islâmicos, cujos termos são particulares e exclusivos.
Como os relatórios de RSC foram tratados como um documento rico em informações
para esta tese, a codificação computadorizada não foi considerada apropriada. Por outro
lado, a análise de conteúdo qualitativa codificada manualmente é como outras
ferramentas analíticas qualitativas. Embora exija um procedimento sistemático para
revisar ou avaliar documentos impressos e eletrônicos (BOWEN, 2009), o conteúdo pode
ser examinado e interpretado para entender e desenvolver o conhecimento (CORBIN;
STRAUSS, 2008). Como os documentos são fatos sociais, que são produzidos,
compartilhados e usados em uma abordagem socialmente organizada (ATKINSON;
COFFEY, 1997), é uma ferramenta útil para entender além do que é observável e
disponível no presente contexto e situação nas esferas sociais e religiosas
(KHANDELWAL; MOHENDRA, 2010). Métodos qualitativos permitem aos
pesquisadores sintetizarem discretamente os valores, intenções e ideologias dos principais
gestores das empresas, o que geralmente é difícil por métodos mais automatizados
(MORRIS, 1994). Diante do exposto, esta pesquisa utilizou a análise qualitativa de
conteúdo para a coleta das informações nos relatórios dos bancos selecionados.
5.3.2.1 Fonte dos dados
Os relatórios anuais são empregados pelas instituições financeiras como uma das
principais ferramentas para divulgar seu comportamento socialmente responsável (TILT,
1994) e são utilizados por numerosos pesquisadores para mensurar as divulgações de RSC
em bancos islâmicos (e.g., MAALI et al., 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; HASSAN
et al., 2010) através da informação comunicada aos usuários externos. Além dos relatórios
anuais, as divulgações de RSC podem ser monitoradas por meio de uma ampla variedade
215
de mídias, que incluem anúncios de rádio e televisão, brochuras da empresa, folhetos ou
panfletos para abordar as atividades sociais da empresa, relatórios da comunidade,
relatórios ambientais e rótulos de produtos, para a promoção de preocupações ambientais
e outras, comunicados de imprensa, suplementos ao relatório anual ou produzidos em
datas intermediárias, vídeos e sites (AHMED; NICHOLLS, 1993; JENKINS;
YAKOVLEVA, 2006). Deve-se notar que, no entanto, para a elaboração desta tese tornar-
se-ia infactível identificar todas as formas de comunicação de divulgações sociais e
ambientais (GRAY et al., 1995), restando, dessa forma, a limitação do uso dos relatórios
anuais. Portanto, levando em conta esse argumento e a disponibilidade limitada dos
documentos que transmitem atividades socialmente responsáveis dos bancos islâmicos
nos países do CCG, esta pesquisa empregou relatórios anuais como fonte de dados
secundários (HUSSEY; HUSSEY, 1997) para avaliar as práticas de divulgação de RSC
dos bancos islâmicos e convencionais do CCG no período de 2013 a 2017.
Estudos sobre a divulgação de relatórios anuais têm sido motivados pela importância
desse método, destacando que a apresentação, dentro do mesmo documento ou processo
de relato, do financeiro, por um lado, e do social e ambiental, por outro, torna-se um
importante elemento que demonstra a extensão (se é que é possível) da organização em
que a organização concilia essas questões (GRAY et al., 1995). Além disso, escolheu-se
relatórios anuais, pois tem sido frequentemente usado na literatura de divulgação de RSC
como os principais relatórios externos preparados sob o controle de auditores
independentes ou externos e contadores ou preparadores e devido à sua disponibilidade e
oportunidade de oferecer uma medida consistente (TILT, 1994).
5.3.2.2 Unidade de análise
Um dos estágios mais importantes da análise de conteúdo é destacar a unidade de análise.
Os métodos mais comuns utilizados nos estudos de análise de conteúdo para quantificar
a divulgação são o número de caracteres, palavras, frases, páginas e proporção do volume
de divulgação de RSC sobre a divulgação total (TAHA, 2010). A literatura anterior
pesquisada nos trabalhos de Street e Bryant (2000), Aribi (2009), Rahman et al. (2011),
Farook (2011), Belal et al. (2014) não forneceu uma justificativa teórica para a escolha
de qualquer uma dessas medidas. A medida da quantidade de divulgação, em termos de
palavras, justificou-se por manter esse volume de divulgação pode assim ser registrado
com maior detalhe (DEEGAN; GORDON, 1996; KOLK; PINKSE, 2010). Dessa forma,
as palavras são a menor unidade de medida e pode-se esperar que forneçam a força
216
máxima para o estudo na avaliação da quantidade de divulgação (ZEGHAL; AHMED,
1990; MORAES, 1999).
5.4 Definição do Índice de Divulgação da RSC (IDRSC)
Um elemento essencial da análise de conteúdo é a seleção e o desenvolvimento de
categorias nas quais as unidades de conteúdo podem ser classificadas. Deve-se notar aqui
que a seleção de dimensões de RSC semelhantes às dimensões selecionadas por
pesquisadores anteriores é essencial para fins de comparabilidade (GRAY et al., 1995).
Diferentes estudos utilizaram uma variedade de dimensões de RSC. Por exemplo,
Scholtens (2009) identificou as seguintes categorias de RSC dos bancos: i) códigos de
ética, ii) relatórios de sustentabilidade, iii) gestão ambiental, iv) produtos financeiros
responsáveis; e v) conduta social. Revisando a literatura de divulgação, Gray et al. (1995)
observam quatro categorias principais para a RSC: funcionários, meio ambiente,
comunidade e clientes. De forma semelhante, mas localizando diferentes agentes, Turker
(2009) em seu estudo propõe que a RSC consiste em quatro dimensões: responsabilidade
para com os atores sociais e não sociais, funcionários, clientes e governo.
Levando-se em consideração que o objetivo desta tese é avaliar as práticas de divulgação
de RSC dos bancos islâmicos, as categorias e os itens da RSC devem ser cuidadosamente
retirados do quadro de responsabilidade social da perspectiva das finanças islâmicas com
base na literatura existente sobre finanças islâmicas e RSC, mencionado no capítulo
anterior. Ao fornecer uma estrutura específica, certos padrões da indústria podem ser
utilizados, como o padrão estabelecido pelo AAOFI, que desenvolveu o Padrão de
Governança N ° 7: Responsabilidade Social Corporativa, conduta e divulgação para IFIs,
que trata de diretrizes para a RSC. Entre as 13 categorias sugeridas pela AAOIFI estão o
gerenciamento de Zakat e Waqf, o bem-estar dos funcionários, o envolvimento da
empresa com o cliente, atividades de caridade, desenvolvimento social e quotas de
investimento baseadas no meio ambiente (DINAR; DARUL, 2010).
Para fornecer uma resposta à terceira questão desta tese, foi conduzida uma investigação
empírica sobre o nível de divulgação da RSC, usando-se um índice abrangente de
divulgação não ponderada. Os estudos do índice de divulgação baseiam-se nos princípios
gerais da análise de conteúdo, um método bem estabelecido nas ciências sociais
(BEATTIE et al., 2004). Os estudos do índice de divulgação formam parte do conteúdo
análise, que envolve a classificação de unidades de texto em categorias (DRAGOMIR,
217
2010) . Yusoff et al. (2006,) argumentam que usar o índice de divulgação como parte da
análise de conteúdo é considerada uma técnica muito útil como resultado de seu papel
importante, onde baseia-se na amplitude (número de tópicos diferentes) e profundidade
(especificidade das informações fornecidas) e pode evitar elementos de subjetividade.
Muitos estudos utilizaram um índice de divulgação como um método de pesquisa como
nas pesquisas de Guthrie et al. (2004), Maali et al. (2006), Hossain et al. (2006), Cheung
et al. (2010) e Platonova (2014).
Um índice de divulgação é um instrumento de pesquisa que compreende uma série de
itens pré-selecionados que, quando pontuados, fornecem uma medida que indica um nível
de divulgação no contexto específico para o qual o índice foi concebido. Nesta tese,
identificou o nível de divulgação e informações particulares predefinidas no relatório
anual dos bancos islâmicos. Neste estudo, procedeu-se com a construção dos escores de
divulgação de RSC para os bancos islâmicos, primariamente, e num segundo momento,
para bancos convencionais. Basicamente, a abordagem principal que foi utilizada nos
estudos anteriores foi inicializada selecionando um grupo de itens que representaram o
índice de divulgação, que foi usado para exibir os relatórios anuais dos bancos
(GUTHRIE; ABEYSEKERA, 2006).
Pesquisas anteriores como as de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Williams
e Zinkin (2010), Hassan e Harahap (2010) e Kamla e Rammal, (2013) desenvolveram o
índice de divulgação usando várias etapas, que também foram implementadas nesta tese.
Primeiro, ao mensurar a divulgação da RSC, os itens do índice de divulgação foram
desenvolvidos com base em AAOIFI, nº 7, 2010 e apoiados por extensa literatura passada
como nas obras de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hussainey e Elsayed,
(2011), Aribi e Gao (2012), Platonova (2014) e Farag et al. (2014). O objetivo da revisão
de pesquisas anteriores na construção do índice é obter uma melhor compreensão e ideia
sobre os itens construídos em estudos anteriores de divulgação da RSC.
Em segundo lugar, a seleção dos itens a serem incluídos no índice foi escolhida
considerando sua relevância. Em seguida, foi dividido com base em sua categoria,
obrigatória ou voluntária, conforme sugerido pela AAOIFI, nº 7, 2010. As principais
dimensões do índice consistem em quatro aspectos principais, que abrangem as questões
de responsabilidade social nas organizações, responsabilidade social no relacionamento
com clientes, responsabilidade social na triagem de seus investimentos e responsabilidade
social em sua relação a sociedade em geral.
218
O índice verificável e testável, que consistiu em 11 dimensões, foi projetado para medir
o volume de divulgações. O objetivo das dimensões foi o de determinar os temas de RSC
usando a lista de verificação de divulgação e a localização dos itens RSC nos relatórios
anuais dos bancos, seguindo a abordagem utilizada no estudo por Mustafa (2004). Como
resultado, foram selecionadas 11 dimensões principais através das quais os relatórios
anuais dos bancos islâmicos submetidos à análise de conteúdo.
O Quadro 11 descreve dimensões e sub-dimensões que compuseram o índice de
divulgação de RSC desenvolvido:
Quadro 11 - Dimensões e Sub-dimensões do índice de divulgação da RSC
Dimensão
Principal Sub-dimensão Conduta Sigla Fonte
Responsabilidade
Social dentro das
Organizações
1) Bem estar do Empregado O BEE
Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;
Vinnicombe, 2010; Taha,
2010; Ullah, 2013
2) Políticas para o
desenvolvimento social e
investimentos destinados ao
meio ambiente
V PMA Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;
Aribi; Gao, 2012
3) Ganhos e perdas
proibídos pela Sharia O GPS
Maali et al., 2006; Aribi,
2009; AAOIFI, 2010; Aribi e
Gao, 2012
Responsabilidade
Social na relação
com clientes e
fornecedores
4) Excelência no
Atendimento ao Cliente V EAC
AAOIFI, 2010; Vinnicombe
2010; Ullah, 2013; Aribi,
2009; Taha, 2010
5) Política interna para
tratamento dos clientes O PIC
AAOIFI, 2010; Belal et al.,
2014
6) Qard Hassan –
Empréstimo Benevolente O Qard
Haniffa, 1999; Aribi, 2009;
AAOIFI, 2010; Vinnicombe,
2010; Taha, 2010; Ullah, 2013
Responsabilidade
Social na escolha
dos
Investimentos
7) Investimento Social ,
poupança social e
desenvolvimento de
Pequenas e Médias
Empresas
V PME Maali et al., 2006; AAOIFI,
2010; Taha, 2010
8) Política interna para a
seleção dos Clientes O PSC
Maali et al., 2006; Aribi,
2009; AAOIFI, 2010; Aribi e
Gao, 2012
Responsabilidade
Social e sua
relação com a
Sociedade
9) Zakat O Zakat
Haniffa, 1999; Aribi, 2009;
AAOIFI, 2010; Vinnicombe,
2010; Taha, 2010; Ullah, 2013
10) Atividades de Caridade V CAR
Haniffa, 1999; Nadzri, 2006;
Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;
Vinnicombe, 2010; Taha,
2010; Ullah, 2013
11) Gestão do Waqf V Waqf Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;
Aribi e Gao, 2012
Nota: Conduta obrigatória (O) - Conduta voluntária (V)
Fonte: Adaptado de Maali et al. (2006); Hanifa e Hudaib (2007); AAOFI (2010); Hasan (2012); Kamia e
Rahman (2013); Belal et al. (2014); Platonova (2014) e El Halaby e Hussainey (2015).
219
Em terceiro lugar, após a validação do índice, foi decidido pela atribuição ou não de uma
ponderação ao índice de divulgação. Nessa tese, um índice de divulgação não ponderado
foi utilizado para determinar o nível de divulgação da RSC de bancos islâmicos e bancos
convencionais. Este método tem sido comumente utilizado em pesquisas anteriores como
nos estudos de Maali et al., (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Elzahar et al. (2015) na
medição de práticas de divulgação. Dessa forma, foi adotada nesta tese o método de
mensuração com base na quantidade de divulgação de RSC dos bancos islâmicos no
CCG. De acordo com Gray et al. (1992), aqueles que querem empregar um índice de
divulgação ponderado devem tratar todos os itens da lista como igualmente importantes
e o método dicotômico será usado para marcar o item. O banco islâmico recebeu uma
pontuação de "1", caso tenha divulgado o item e "0", caso não o tenha divulgado.
Embora o índice de divulgação esteja sujeito à controvérsia, especialmente sobre a
subjetividade envolvida pelos pesquisadores, pode-se admitir que o índice de divulgação
tem sua própria força (CHOW; WONG-BOREN, 1987). O índice de divulgação completo
que será usado para exibir o relatório anual pode revelar a extensão da qualidade e
quantidade da divulgação (GRAY et al., 1995). O índice de divulgação é de natureza
muito abrangente e robusta, pois será criado com base em múltiplas fontes, incluindo
literatura passada e padrões contábeis, conjugados com os itens de divulgação, e
normatizadores, sempre validados por especialistas (MAALI et al., 2006).
5.4.1 Processo de construção do Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) e
Convencional (IDRSCC)
Os métodos comuns utilizados nos estudos de análise de conteúdo para quantificar a
divulgação são o número de caracteres, palavras, frases, páginas e proporção do volume
de divulgação de RSC para divulgação total (TAHA, 2010). A maioria das pesquisas
anteriores utiliza caracteres e palavras na mensuração da informação de RSC do relatório
anual. A medida da quantidade de divulgação, em termos de palavras, justificou-se por
manter esse volume de divulgação pode assim ser registrado com maiores detalhes
indicaram que as palavras são a menor unidade de medida e pode-se esperar que forneça
a força máxima para o estudo na avaliação da quantidade de divulgação (e.g., ZEGHAL;
AHMED, 1990; DEEGAN; GORDON, 1996; KOLK; PINKSE, 2010; FAROOK, 2011;
BELAL et al. 2014, PLATONOVA, 2014, HARUN, 2016).
220
Ao examinar o nível de divulgação da RSC, esta tese usou palavras-chave para encontrar
informações de RSC no relatório anual, com base nas dimensões RSC desenvolvidas
usando os padrões AAOIFI (2010). Para superar um problema de medição ambígua, foi
tomada uma medida preventiva para aumentar a validade e a confiabilidade da análise.
Todos os relatórios anuais foram cuidadosamente lidos em sua totalidade para encontrar
a informação RSC usando palavras-chave relacionadas à medida de itens. Por exemplo,
ao medir a informação de RSC sobre o Zakat no relatório anual do Banco Al Rajhi, várias
palavras-chave foram usadas para encontrar essa informação como zakat, reserve for
zakat, etc. Em seguida, a pontuação “1” foi atribuída se houvessem informações
relacionadas ao Zakat e “0”, caso contrário.
Em geral, para explorar as práticas de divulgação de RSC dos bancos islâmicos na forma
de um índice, foi calculado um índice do Índice de Divulgação de Responsabilidade
Social Corporativa Islâmico (IDRSCI). A quantidade de divulgação é medida através da
construção de um índice de divulgação. Este processo consiste na análise do conteúdo da
informação. A abordagem dos itens de pontuação é essencialmente dicotômica na medida
em que um item no instrumento de pesquisa pontuação "1" se comunicado e "0" se não
estiver seguindo os estudos de Haniffa e Cooke (2002), Haniffa e Hudaib (2007), Fatma,
Rahman e Khan (2014) e Aribi e Arun (2015).
A métrica utilizada para medir o nível de divulgação de RSC da amostra de bancos
islâmicos e convencionais é apresentada nas Equações 1 e 2 a seguir:
Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI):
IDRSCIi,t = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛
𝑖=1 (1)
e
Índice de Divulgação da RSC Convencional (IDRSCC):
IDRSCCi,t = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛
𝑖=1 (2)
221
Em que:
i) IDRSCI (i,t): corresponde ao score do índice de divulgação da RSC do banco islâmico
i no período t.
ii) IDRSCC (i,t): corresponde ao score do índice de divulgação da RSC do banco
convencional i no período t.
iii) n: número de itens do índice.
iv) j: indica cada item adicionado ao índice.
Assim, o valor do índice, para cada empresa i no período t, foi obtido como a soma das
pontuações atribuídas a cada item em Score (j). Como consequência, os itens
disponibilizados nos relatórios anuais dos bancos receberam o valor “1” e aqueles não
evidenciados receberam o valor “0”. Para cada banco islâmico e convencional, procedeu-
se, como acima, a divisão da soma desses valores para o ano em destaque.
Por fim, padronizou-se, para esta tese as Equações 3, 4 e 5 a seguir:
IDRSCI (i,t) = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛
𝑖=1 X 100 (3)
N
e
IDRSCC (i,t) = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛
𝑖=1 X 100 (4)
N
Dessa forma, chega-se à pontuação total: Total Score (i,t) X 100 (5)
N
Um segunda métrica de divulgação foi construída, considerando apenas as dimensões de
observância voluntária. Isso se deve ao fato de que a divulgação voluntária da RSC
demonstra uma maior preocupacão dos bancos em cumprir seu papel com a sociedade,
independentemente do enforcement governamental ou normativo. Dessa forma, para essa
segunda métrica, foram consideradas apenas as seguintes sub-dimensões:
1) Políticas para o desenvolvimento social e investimentos destinados ao meio ambiente
222
2) Excelência no Atendimento ao Cliente
3) Investimento Social, poupança social e desenvolvimento de Pequenas e Médias
Empresas
4) Atividades de Caridade
5) Gestão do Waqf
Os resultados com base nestes dois métodos serão apresentados no Capítulo 6.
5.5 Determinantes para a divulgação da RSC
5.5.1 Modelo de regressão
Para mensurar os determinantes de divulgação de RSC dos 40 bancos islâmicos
selecionados, essa tese usou a análise de conteúdo como um método de codificação, que
tem sido amplamente empregado em estudos anteriores de divulgação corporativa,
especialmente nos bancos islâmicos, como nos estudos de Maali et al. (2006) e Abdul
Rahman et al., (2010). Para testar uma associação entre os níveis de divulgação
corporativa com variáveis GC (Conselho de Administração, Conselho de Supervisão
Sharia, Comitê de Auditoria e Estrutura de Propriedade), um índice abrangente que
consiste em 6 variáveis relacionados ao Conselho de Administração, 2 variáveis
relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia, 2 variáveis relacionadas ao Comitê de
Auditoria e 2 variáveis relacionadas à estrutura de propriedade foi construído e calculado.
Também foram adicionadas variáveis de controle nesse índice, que consistem em 5
variáveis de características dos bancos e 2 variáveis específicas do país de origem do
banco. As pontuações do índice foram calculadas atribuindo-se ponderações iguais a cada
item de divulgação e os índices foram obtidos calculando a proporção de pontuações reais
atribuídas ao limite máximo possível alcançável para itens que eram aplicáveis a cada
banco islâmico. Cada item de divulgação foi marcado sem uma ponderação em uma base
dicotômica, tomando a abordagem comumente usada para dar ao item uma pontuação de
um (1) e zero (0) (HANIFFA; COOKE, 2002; GHAZALI; WEETMAN, 2006) . Para
investigar empiricamente a relação entre a divulgação da RSC e as características
específicas de GC em bancos islâmicos, foi usada a regressão MQO para estimar a
associação entre o IDRSCI e as variáveis de Governança Corporativa (GC), seguindo os
estudos de Chan et al. (2012).
O método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) é a técnica mais utilizada em
estudos de divulgação (LEVENTIS, 2001), onde a variável dependente é o nível de
223
conformidade (pontuação) de divulgação de RSC e as variáveis independentes incluem
todas as variáveis de Governança Corporativa dos bancos islâmicos e convencionais.
Portanto, foi utilizada a Equação 6 de regressão múltipla apresentada a seguir:
IDRSCit = α + β1TCAit + β2GCAit + β3CCAit + β4RCAit + β5DCEOit + β6PCCA it +
β7TSit + β8PCCSS it + β9TCTAit + β10RCTAit + β11PII.it + β12PIE.it + β13TBit+ β14IBit +
β15ROEit + β16ALAVit + β17LIQit + β18PIBit + β19CORRUPit + Ano + εit (6)
Em que:
i) IDRSCit: representa a medida de disclosure de RSC para o banco islâmico ou
convencional i no período t.
ii) α: corresponde ao intercepto da regressão.
iii) β1 - β12: representam as variáveis independentes. As variáveis de Governança
Corporativa (GC) consistem no: β1) Tamanho do Conselho de Administração (CA), β2)
Gênero do CA, β3) Composição do CA, β4) Número de Reuniões do CA, β5) Dualidade
do CEO, β6) Participação Cruzada de membros do banco em outros CAs, β7) Tamanho
do Conselho de Supervisão Sharia (CSS), β8) Participação Cruzada dos membros do CSS
em outros Conselhos, β9)Tamanho do Comitê de Auditoria, β10)Número de Reuniões do
Comitê de Auditoria, β11)Participação de Investidores Locais; e β12) Participação de
Investidores Externos.
iv) β13 - β19: representam as variáveis de controle. As empresas (neste estudo se referem
a bancos islâmicos) e as variáveis específicas do país consistem em: β13) Tamanho do
Banco, β14) Idade do Banco, β15) Rentabilidade do banco, β16) Alavancagem do Banco,
β17) Liquidez do Banco, β18) PIB do país; e β19) Índice de Corrupção do paíse analisado.
v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado
(Anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017).
vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto
para a RSC e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.
O Quadro 12 a seguir resume as variáveis dependentes, independentes e de controle para
fins de investigação dos determinantes por trás da divulgação de RSC:
224
Quadro 12 – Definição das variáveis determinantes da divulgação da RSC
Variável Definição Mensuração Fonte
IDRSCI Pontuação de RSC por
bancos da amostra
Percentual de divulgação de RSC
por banco islâmico e convencional
Relatórios
Anuais
1 – TCA Tamanho do CA Número total de Conselheiros Relatórios
Anuais
2 – GCA Gênero do CA Variável dummy onde 1 representa
gênero masculino e 0, feminino
Relatórios
Anuais
3 - CCA Composição do CA Total de não executivos do banco
pelo total de Conselheiros
Relatórios
Anuais
4 – RCA Reuniões do CA Número de reuniões anuais Relatórios
Anuais
5 - DCEO Dualidade CEO
Variável dummy onde 1 representa
que o presidente do CA é CEO do
banco e 0, caso contrário
Relatórios
Anuais
6 – PCCA Participação em outros
CAs
Variável dummy onde 1 representa
que o membro do CA participa em
outros Conselhos e 0, caso não se
aplique
Relatórios
Anuais
7 – TS Tamanho do Conselho de
Supervisão Sharia (CSS) Número total de Conselheiros
Relatórios
Anuais
8 – PCCSS Participação em outros
CSSs
Variável dummy onde 1 representa
que o membro do CSS participa em
outros Conselhos e 0, caso não se
aplique
Relatórios
Anuais
9 – TCTA Tamanho do Comitê de
Auditoria Número total de Membros
Relatórios
Anuais
10 – RCTA Reuniões do Comitê de
Auditoria Número de reuniões anuais
Relatórios
Anuais
11 – PII
Participação de
investidores
institucionais
Percentual de participação de
investidores institucionais nas ações
do banco islâmico
Banco de
Dados e
Relatórios
Anuais
225
Variável Definição Mensuração Fonte
12 – PIE Participação de
investidores externos
Percentual de participação externa
nas ações do banco islâmico
Banco de
Dados (Orbis
Bank Focus®)
e Relatórios
Anuais
13 – TB Tamanho do Banco
Islâmico
Logaritmo natural do total de ativos
do banco islâmico
Banco de
Dados (Orbis
Bank
Focus®))
14 – IB Idade do Banco Islâmico Idade do Banco Islâmico
Banco de
Dados (Orbis
Bank Focus®)
15 – ROE Rentabilidade do Banco
Islâmico Return on Equity (ROE)
Banco de
Dados (Orbis
Bank Focus®)
16 – ALAV Alavancagem do Banco
Islâmico
Relação entre o Passivo e o PL
(Relação Debit/Equity)
Banco de
Dados (Orbis
Bank Focus®)
e Relatórios
Anuais
17 – LIQ Liquidez do Banco
Islâmico
Relação entre o Ativo Circulante e
o Passivo Circulante
Banco de
Dados (Orbis
Bank Focus®)
18 – PIB PIB do país de origem do
Banco Islâmico
PIB do país de origem do Banco
Islâmico
Banco
Mundial
19 – CORRUP
Índice de corrupção no
país de origem do Banco
Islâmico
Índice de corrupção no país de
origem do Banco Islâmico
Transparência
Internacional
Fonte: Autor (2017).
5.6 Consequências da divulgação da RSC
Esta seção explica os testes estatísticos utilizados para verificação da existência de relação
entre os níveis de divulgação encontrados e os valores dos bancos islâmicos. A finalidade
principal é a de testar as hipóteses desenvolvidas e medir o impacto das divulgações de
RSC sobre os desempenhos financeiros dos bancos islâmicos nos países do CCG.
226
5.6.1 Variáveis dependentes
Para medir as consequências da divulgação da RSC para bancos da amostra (islâmicos e
convencionais), estudos empíricos anteriores usaram proxies diferentes para medir o
valor da empresa (VF). Entre os 95 estudos que Margolis e Walsh (2001) revisaram, 49
adotaram medidas contábeis, 12 medidas de mercado conhecidas e o restante usou um
conjunto misto.
O presente estudo utilizou duas variáveis dependentes alternativas associadas ao valor da
empresa (VF) para testar a hipótese, fato consistente com diversos estudos prévios como
os de Hillman e Keim, (2001) Barontini e Caprio (2006), Sheu et al. (2010) e Servaes e
Tamayo (2013).
5.6.2 Market to Book Value (MTBV)
Ao medir o impacto do IDRSCI e IDRSCC no valor do banco, foram utilizados diversos
indicadores, como o Market to book value (MTBV). Trata-se da razão entre o valor de
mercado do PL e valor contábil do PL. Empresas com maiores valores de mercado estão
associadas a melhor governança e menores riscos.
Outros estudos utilizaram valor de mercado para refletir o valor de mercado da empresa
em comparação com seu valor contábil como nas obras de Hassan et al. (2009) e Uyar e
Kiliç (2012). Além disso, a relação book-value também foi usada em uma análise
adicional para verificar a robustez dos resultados seguindo outras pesquisas (e.g.,
HANIFFA; HUDAIB, 2006; HASSAN et al., 2009).
Em relação ao MBTV, é caracterizada como sendo a relação entre o valor de mercado do
patrimônio líquido e o valor contábil do patrimônio líquido. Esta relação é um bom
indicador de como uma empresa é avaliada pelos investidores. Se o índice exceder 1,
significa que a empresa está sobrevalorizada pelos investidores e vice-versa (HASSAN
et al., 2009). A relação MBTV é utilizada pelos analistas de mercado para determinar se
uma ação está subvalorizada ou sobrevalorizada. Se uma ação estiver subvalorizada, o
preço deverá aumentar. Se estiver sobrevalorizada, o preço deverá cair.
Sendo assim, na análise do índice MTBV tem-se a possibilidade de obter dois resultados
distintos. O primeiro é obter um valor maior do que uma unidade (maior que 1)
evidenciando que o mercado reconhece que determinada empresa tem um valor maior do
que está registrado nas suas demonstrações contábeis, ou seja, o mercado está
227
reconhecendo algo que não está sendo reconhecido pela contabilidade de maneira
completa. Quanto ao segundo resultado ocorre quando a razão é menor que uma unidade
(menor que 1) significando que o mercado não está reconhecendo os valores expressos
nas demonstrações contábeis da empresa.
Nesta tese, os dados do MTBV da amostra dos bancos do CCG foram coletados do banco
de dados da Orbis®. Para investigar empiricamente a relação entre o valor da empresa
(usando MTBV como proxy) e RSC nos bancos islâmicos e convencionais, o estudo usa
a regressões de MQO apresentadas nas Equações 7 e 8 a seguir, através de dois Modelos:
Modelo 1: Valor da Firma (VF) usando MTBV como proxy:
VF (MTBV) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n
+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε (7)
e
VF (MTBV) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n
+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε (8)
Em que:
i) VF (MTBV): representa o valor da empresa usando MTBV como uma proxy para a
amostra de bancos islâmicos e convencionais, também conhecida como a variável
dependente. Os dados foram coletados do banco de dados Orbis®.
ii) α: corresponde ao intercepto.
iii) β1: representam as variáveis independentes.
iv) β2 - β8: representam as variáveis de controle. Consistem em: β2) Tamanho do
Conselho de Administração (CA), β3) Composição do CA, β4) Participação Cruzada de
membros do banco em outros CAs, β5) Tamanho do Banco), β6) Rentabilidade do banco,
β7) Alavancagem do banco; e β8) PIB do país onde o banco está inserido.
v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado
(Anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017).
228
vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto
para o MTBV e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.
5.6.3 Q de Tobin
O Q de Tobin, originalmente, é definido pela razão entre o valor de mercado das empresas
e o custo de reposição dos ativos, e indica a capacidade da companhia de gerar valor
mediante investimentos. Face à dificuldade de calculá-lo, utiliza-se a fórmula
simplificada proposta por Chung e Pruitt (1994), que considera a soma do valor de
mercado das ações e do valor de mercado das dívidas dividida pelo valor contábil do ativo
total. Essa simplificação é definida pelos autores como:
The formula requires only basic financial and accounting information. Results
of a series of regressions comparing our approximate Q values with those
obtained via Lindenberg and Ross (1981) more theoretically correct model
indicate that at least 96.6% of the variability of Tobin's Q is explained by
approximate Q.
Com isso, a coleta dos dados se torna facilitada, pois estão disponíveis nas demonstrações
financeiras de cada banco islâmico e convencional. Esse método é comparável ao de
Lindenberg e Ross (1981), que após regressões com os resultados obtidos por ambos os
métodos, provaram serem equivalentes.
Estudos empíricos usaram proxies diferentes para capturar as reações dos investidores às
informações divulgadas. Por exemplo, o retorno foi usado em muitos estudos anteriores
para investigar o efeito da informação divulgada, como nas obras de exemplo Conover e
Wallace (1995), Healy et al. (1999), Bloomfield e Wilks (2000), Lang e Lundholm
(2000), Bushee e Leuz (2005), Hussainey e Mouselli (2010), Tsalavoutas (2011) e
Roychowdhury e Sletten (2012).
Além disso, o Q de Tobin também foi usado para medir o valor da empresa em alguns
estudos como os de Morck et al. (1988), La Port et al., (2002), Haniffa e Hudaib (2006),
Setia-Atmaja, (2008), Hassan et al. (2009), Aggarwal (2009), Ezat (2010), Platonova
(2014) e Harun (2016).
Adotando uma abordagem utilizada em estudos recentes como os de Khlif et al. (2015) e
Alotaibi e Hussainey (2016), a presente tese também utiliza o Q de Tobin como proxy
para mensurar o valor do banco. Para investigar empiricamente a relação entre o valor do
banco (usando o Q de Tobin como proxy) e o IRSC em bancos islâmicos e convencionais
229
(IDRSCI e IDRSCC, respectivamente), o estudo usou as regressões apresentadas na
Equações 9 e 10 a seguir:
Modelo 2: Valor da Firma (VF) usando Q de Tobin (QT) como proxy
VF (QT) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +
β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε (9)
e
VF (QT) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +
β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε (10)
Em que:
i) VF (QT): representa o valor da empresa usando QT como uma proxy para a amostra
de bancos islâmicos e bancos convencionais, também conhecido como a variável
dependente. Os dados foram coletados do banco de dados Orbis®.
ii) α: corresponde ao intercepto.
iii) β1: representam as variáveis independentes.
iv) β2 - β8: representam as variáveis de controle. Consistem em: β2) Tamanho do
Conselho de Administração (CA), β3) Composição do CA, β4) Participação Cruzada de
membros do banco em outros CAs, β5) Tamanho do Banco), β6) Rentabilidade do banco,
β7) Alavancagem do banco; e β8) PIB do país onde o banco está inserido.
v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado
(Anos de 2013, 2014, 2015 e 2016).
vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto
para o QT e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.
230
O Quadro 13 a seguir resume as definições de variáveis dependentes, independentes e de
controle:
Quadro 13 – Variáveis dependentes, independentes e de controle
Dep
end
ente
s
Variável Definição Mensuração Fonte
Market to Book
Value (MTBV)
Valor de Mercado
das Ações
Logaritmo natural da
divisão do valor de
mercado das ações sobre o
Patrimônio Líquido
Banco de Dados
(Orbis Bank Focus®)
Q de Tobin
(QT)
Representa o Valor
de Mercado do
Banco Islâmico ou
Banco
Convencional
Trata-se do logaritmo
natural do valor contábil
dos ativos subtraído do
valor contábil do
Patrimônio Líquido e
somado ao valor de
mercado do Patrimônio
Líquido
Banco de Dados
(Orbis Bank Focus®)
Ind
epen
den
te
1) IRSCI ou
IRSCC
Nível de
divulgação de RSC
dos Bancos
Islâmicos ou
Convencionais da
Amostra
Representa o percentual de
informações de RSC
divulgadas pelos Bancos
Islâmicos e Convencionais
da Amostra
Relatórios Anuais
Co
ntr
ole
2) Tamanho do
Conselho de
Administração
(CA)
Tamanho do CA Número total dos membros
do Conselho Relatórios Anuais
3) Composição
do Conselho de
Administração
(CA)
Composição do
Conselho
representada pela
relação de
executivos e não
executivos do
Banco
Calculado pelo número
total de não executivos do
Banco pelo número total de
Conselheiros
Relatórios Anuais
231
Variável Definição Mensuração Fonte
4) Dualidade
(CEO X
Presidente do
Conselho)
Dualidade do CEO
Se o CEO do Banco
presidir o CA, seu valor
será “1”. Caso contrário,
“0”
Relatórios Anuais
5) Tamanho do
Banco Tamanho do Banco
Log natural do total de
ativos do banco
Banco de Dados
(Orbis Bank Focus®)
6) Rentabilidade
do Banco Rentabilidade Retorno sobre o PL
Banco de Dados
(Orbis Bank Focus®)
7) Alavancagem
do Banco Alavancagem Relação entre Passivo e PL
Banco de Dados
(Orbis Bank Focus®)
e Relatórios Anuais
8) PIB Produto Interno
Bruto PIB dos países da amostra Banco Mundial
Fonte: Autor (2017).
5.8 Normalidade, heterocedasticidade e multicolinearidade
Gujarati e Porter (2009) afirmaram que a suposição de normalidade não é crucial para
dados grandes. Enquanto isso, como o número de bancos islâmicos é de apenas 40, ele
deve ser testado pela normalidade. Este estudo conduziu o Teste de Kolmogorov-Smirnov
para garantir que os dados sejam normalmente distribuídos. Com base nesse teste, o
estudo constata que todos os dados são normalmente distribuídos. Os resultados dos testes
de normalidade são apresentados nos Apêndices D e E.
Cooke (1998) afirma que a transformação de dados é útil em muitos casos: quando existe
uma relação não linear entre variáveis dependentes e independentes, no caso de erros que
não são quase normais, onde um problema de heterocedasticidade está presente, ou
quando a relação entre variáveis dependentes e independentes é monótona. Seguindo a
maioria dos estudos de divulgação (e.g., LI et al., 2012), variáveis de controle são
transformadas: Tamanho do Banco (Tamanho da Firma) é transformado usando um
logaritmo (log) dos valores originais para se tornar mais aproximado da distribuição
normal (e.g., COOKE, 1998; PALLANT, 2005; TABACHNICK E FIDELL, 2007). Foi
232
adotado para essa tese o método utilizado por Aryani (2015) na realização de um teste de
heteroscedasticidade. Com base na análise, o resultado mostra que todas as variáveis são
maiores que 0,05 e menores que a tabela t, o que implica que todas as variáveis não
apresentavam um problema de heteroscedasticidade.
A matriz de correlação de Pearson foi a ferramenta inicial utilizada para detecção de
multicolinearidade. Também foi utilizada para medir a força e a direção da associação
linear entre qualquer par de variáveis. Gujarati (2003) indica que a colinearidade entre as
variáveis independentes é aceitável se o coeficiente de correlação (r) estiver no máximo
em 0,80. A matriz de correlação de Pearson é ilustrada nos Apêndices F e G. Isso mostra
que não há problema de multicolinearidade neste estudo, pois a associação entre as
variáveis está abaixo de 0,80.
Após a realização de cada regressão, calculou-se o Fator de Inflação da Variância (FIV).
Este procedimento é um passo adicional para garantir que as variáveis explicativas não
sejam extremamente correlacionadas. A regra que foi aplicada é: a correlação entre
variáveis independentes é aceita desde que o FIV seja ainda menor que 10 (GUJARATI,
2003; ACOCK, 2008).
Os resultados do FIV são superiores a 0,1 e inferiores a 10, o que significa que essas
variáveis não apresentavam um problema de multicolinearidade. Os resultados também
mostraram que os modelos estão livres de problemas de autocorrelação. Devido aos dados
não apresentarem problema de normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e
autocorrelação, os dados puderam ser processados para responder às questões e hipóteses
da pesquisa.
233
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi amplamente discutido nesta tese que os bancos islâmicos, orientados pela Sharia, são
Instituições Financeiras responsáveis por cumprir seus papéis sociais e éticos
concomitantemente às suas atividades financeiras. Conforme identificado no Capítulo 2,
as operações dos bancos islâmicos são fundamentadas pelo uso do Corão e da Suna, as
duas principais fontes de conhecimento e de regras no Islã, sendo o primeiro o Livro
Sagrado do Islã e os últimos provérbios e práticas diárias do Profeta Muhmammad
(S.A.W.S.). Conjugando os valores sociais com os religiosos, a expectativa inicial era de
que os bancos islâmicos desempenhassem o seu papel social, em termos de contribuições
efetivas para o bem estar e a justiça social, através das atividades sociais, o que implicaria
em maior nível de divulgação de sua RSC, fator consistente com os princípios da
economia, finanças, moral e transparência islâmicas.
Este Capítulo fornecerá uma análise descritiva da divulgação de RSC nos bancos
islâmicos, resultados empíricos de seus determinantes e consequências de divulgação,
tanto para bancos islâmicos quanto convencionais, com base na plataforma metodológica
delineada anteriormente.
Serão oferecidos subsídios para responder às seguintes questões de pesquisa:
QP 1: Qual é a relação entre o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos
islâmicos e convencionais?
QP 2: Quais são os determinantes que levam à divulgação da RSC na amostra de
bancos islâmicos?
QP 3: O que é a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos nos países
do CCG?
6.1 Consequências da divulgação da RSC: análise empírica e respostas à primeira
questão de pesquisa (QP 1)
Ao responder à primeira questão de pesquisa (QP 1), esta seção apresentará as estatísticas
descritivas das variáveis utilizadas neste estudo e fornecerá uma análise empírica das
consequências da divulgação da RSC, isto é, o reflexo no valor dos bancos selecionados.
234
6.1.1 Estatísticas descritivas
As estatísticas descritivas são apresentadas na Tabela 10, que indica os valores médios de
todas as variáveis usadas para medir as consequências da RSC em uma amostra de 40
bancos islâmicos e 40 bancos convencionais no CCG entre os anos de 2013 a 2017,
envolvendo 200 observações, para cada grupo analisado. Ficou demonstrado que, em
média, os bancos islâmicos divulgam 37,89% das informações voluntárias de RSC em
seus relatórios anuais, enquanto seus pares convencionais, apenas 24,26%. Ao
considerarmos o nível de divulgação geral, isto é, contemplando variáveis voluntárias e
obrigatórias, o nível de divulgação dos bancos islâmicos continua superior ao dos seus
pares convencionais (41,05% e 30,65%, respectivamente). Isso demonstra, num primeiro
momento, uma maior preocupação dos bancos islâmicos no que diz respeito à divulgação
de itens relacionados à RSC aos stakeholders.
Analisando as proxies de valor, percebeu-se que logaritmo natural médio do valor de
mercado do patrimônio líquido sobre o valor contábil do patrimônio líquido (MTBV) foi
de 1,5960 os bancos islâmicos e de 1,7569 para os bancos convencionais. Já o índice
médio do Q de Tobin para os bancos islâmicos do CCG foi de 81,02% e para os bancos
convencionais, 88,98%, demonstrando que, no limite, os bancos convencionais
apresentam um desempenho superior, uma vez que apresentam uma maior diversificação
em seus produtos, visto que não possuem limitações restritivas como no caso dos bancos
islâmicos (por exemplo, riba, maysir e gharar), ainda que divulguem menos informações
relacionadas à RSC, quando comparados aos seus pares islâmicos.
Para as variáveis de controle, a média do número de Conselheiros no CA de bancos
islâmicos é de 9 membros, enquanto a composição média entre executivos e não
executivos é de 33%. No caso dos bancos convencionais, o número médio de
Conselheiros no CA é de 7 membros e sua composição média entre executivos e não
executivos é de 58%. Em média, 18 bancos islâmicos têm o problema da Dualidade do
CEO (DCEO), ao passo que nos bancos convencionais esse número chegou a 21. Outras
variáveis de controle são tamanho médio do banco (3,5987 para o islâmico e 4,1223 para
o convencional), lucratividade do banco ou ROE (8,22 para os islâmicos e 25,65 para o
convencional), alavancagem do banco (110,423 para os islâmicos e 89,69 para os
convencionais) e PIB médio dos países analisados do CCG (10,8787). A Tabela 10 a
seguir fornece a estatística descritiva das variáveis:
23
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51
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236
6.1.2 Análise empírica
As Tabelas 11, 12, 13 e 14 apresentam uma análise empírica das consequências da
divulgação de RSC nos valores dos bancos islâmicos e convencionais do CCG. Os
resultados das regressões econométricas podem ser interpretados de acordo com as
hipóteses desenvolvidas neste estudo. Os resultados evidenciam uma relação
significativamente negativa entre o valor do banco e o escore de divulgação da RSC para
ambos os grupos (bancos islâmicos e convencionais). Esse resultado é consistente com
pesquisas anteriores, como as de Elliott, Jackson, Peecher e White (2014), que mostraram
que a divulgação da RSC está negativamente associada ao valor da empresa. No entanto,
segundo Klein et al. (2005), o valor da empresa aumenta com maior divulgação social e
espera-se que cause um impacto positivo no valor da empresa. Estudos anteriores como
os de Sheu et al., (2010), Gordon et al. (2010) e Platonova (2014) apontaram que a
divulgação social tem um impacto no valor da empresa com base na Teoria de
Sinalização, mas o presente estudo encontrou um efeito contraditório entre a divulgação
da RSC e o valor dos bancos analisados.
Com base nos resultados, pode-se afirmar que a divulgação não pode reduzir os
problemas de agência, diminuindo a assimetria de informação e, como resultado,
aumentando o valor da empresa, como argumentado por Rhodes e Soobaroyen (2010).
Também é contraditório com a hipótese da Teoria Econômica, que argumenta que o
aumento da divulgação corporativa tem uma influência no valor da firma (VF)
(LUNDHOLM; VAN WINKLE, 2006). O resultado também contradiz o pressuposto da
Teoria de Sinalização, como afirmam McDonald e Rundle-Thiele (2008), que consideram
que a influência da RSC na lucratividade corporativa através da criação de ativos
intangíveis, como boa reputação, confiança e comprometimento, impulsiona o longo
sucesso a longo prazo do negócio. Considerando o exposto, a H13, que esperou uma
relação significativamente positiva entre a quantidade de divulgação de RSC e o valor da
empresa (VF) da amostra dos bancos islâmicos e convencionais do CCG, é rejeitada.
Com relação ao efeito negativo da DRSC sobre o valor da empresa, esse resultado
aumenta as evidências contraditórias sobre a relação entre divulgação e valor da empresa.
Esse resultado é inconsistente com os achados de alguns estudos que se basearam na
estrutura da Teoria da Agência, como os de Healy et al. (1999). Esses estudos sugeriram
um impacto positivo da divulgação aprimorada na avaliação da empresa para a redução
237
da assimetria de informações entre administradores e acionistas (agente versus principal).
O efeito negativo do nível de RSC pode ser explicado de diferentes ângulos:
Primeiro, consistentemente com a afirmação de Chung et al. (2012) que as informações
extras poderiam ter um efeito negativo no valor da empresa, as informações excessivas
de RSC divulgadas podem causar um ruído extra aos investidores, o que afeta
negativamente a sua avaliação da empresa. Em segundo lugar, o efeito negativo sobre o
valor da empresa poderia ser impulsionado pelo conteúdo das informações de RSC
divulgadas e pela percepção dos investidores. Existe a possibilidade de que a própria
informação de RSC aumente preocupações sobre o desempenho das empresas, o que leva
os investidores a reduzir sua avaliação. Nessa proposição, quanto mais informações de
RSC divulgadas, maior a possibilidade de que o valor da empresa diminua. Em contraste,
as informações de RSC podem oferecer notícias positivas para as partes interessadas, mas
essas notícias podem estar sob suas próprias expectativas, ou podem ser suspeitas, porque
são muito diferentes das informações obtidas de outras fontes que não os relatórios anuais.
Consequentemente, ter mais informações de RSC divulgadas pode resultar em uma queda
no valor da empresa. Terceiro, as partes interessadas podem interpretar erroneamente
essa prática da empresa para divulgar mais informações sobre RSC. Eles podem perceber
o fornecimento de divulgação aprimorada como uma maneira de enganá-los sobre o
desempenho da empresa. Os investidores também podem considerar que os rivais
(concorrentes) da empresa se beneficiariam com essa informação crítica excessiva, que
pode afetar negativamente sua expectativa sobre o desempenho da empresa e,
consequentemente, diminuir sua avaliação (HASSAN et al., 2009).
Com base na análise, o estudo não encontrou nenhuma relação significativa entre as
proxies escolhidas (MTBV e Q de Tobin) na mensuração da associação entre o valor da
empresa e o nível de divulgação de sua RSC. Os resultados estão associados aos achados
de Alotaibi e Hussainey (2016), que também argumentaram que não encontraram os
mesmos resultados ao usar proxies diferentes (Q de Tobin ou ROA) ao medir uma
associação entre a divulgação de RSC (quantidade e qualidade) e o valor da empresa. Os
autores sugerem que a significância do impacto entre o nível de RSC e o valor da empresa
depende da proxy usada na mensuração para fins de seu cálculo. Consequentemente, essa
escassez de significância estatística sustenta a visão de que existe uma relação conflitante
entre a determinação da relação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa. Além
238
disso, não há concordância na literatura sobre uma medida ideal para o valor da empresa
(e.g., MANGENA et al., 2012; ALBASSAM, 2014; PLATONOVA, 2014).
Com respeito às variáveis de GC, em geral, o estudo constatou que uma melhor
governança leva a um maior valor da empresa. Em particular, o TCA tem um resultado
positivo e significativo efeito sobre o valor da empresa, tanto para bancos islâmicos,
quanto para os convencionais, como indicado no Modelo 1. Este resultado é consistente
com diversos outros estudos (e.g., CONGER; PECK, 1998; RAHEJA, 2005; COLES et
al., 2007; UJUNWA, 2012; PLATONOVA, 2014), que fornecem evidências de que não
importa o tamanho do CA, pois eles sempre afetam positivamente o valor da empresa,
visto que acreditam que essa relação entre valor da empresa e tamanho do CA se dá em
função da complexidade do negócio. Raheja (2005) apoia Coles et al. (2007) sugerindo
que não há um tamanho ideal de CA, já que suas dimensões tendem a depender das
necessidades de consultoria ou monitoramento, e isso muda de empresa para empresa.
Alega-se que a experiência coletiva e o conhecimento dos membros do conselho são
cruciais no complexo ambiente de negócios atual (CONGER; PECK, 1998).
Além disso, a Composição do Conselho de Administração (CCA) mostrou um impacto
positivo, mas fraco de 0,089 no valor dos bancos islâmicos, como mostrado no Modelo
1. Este resultado sugere que os outsiders aos bancos fornecem um melhor monitoramento
da gestão (diminuindo assim os custos da agência), porque eles são independentes,
consistentes com os resultados de Jackling e Johl (2009) e Giraldez e Hurtado (2014). Os
achados não estão associados às conclusões de Barnard e Rosenstein (1990), Baghat e
Black (1998), Hermalin e Weisenbach (2001) e de De Andres et al. (2005), que
consideram que a estrutura do conselho não mostra uma relação positiva com o valor da
empresa. Por outro lado, Baglioni e Colombo (2008) fornecem evidências da Itália sobre
uma relação positiva, contrariando estudos anteriores. Tal como acontece com o tamanho
do CA, é igualmente aceito que não há composição ideal da diretoria, a estrutura do
conselho deve ser baseada na realidade corporativa, especialmente na prioridade da
empresa entre aconselhamento (mais executivo) e monitoramento (menos executivo)
(DENIS; SARIN, 1999; HARRIS; RAVIV, 2005 e LINK et al., 2008; LEHN et al., 2009).
A Dualidade do CEO (DCEO) mostrou um efeito positivo no valor da empresa, conforme
apresentado no Modelo 1 e no Modelo 2. Essa descoberta pode ser explicada pela Teoria
de Sinalização, mas não pela Teoria da Agência. A Teoria da Agência não suporta a
dualidade do CEO porque limita a principal responsabilidade do conselho de monitorar o
239
CEO. A literatura apresenta limites mistos à principal responsabilidade do conselho de
monitorar o CEO. A literatura apresenta evidências mistas sobre a relação entre a
dualidade do CEO e o valor da empresa. Autores, como Braun e Sharma (2007), Faleye
(2007), Sharma (2007), Chen et al. (2008), Chen, Lin e Yi (2008), Vintila e Gherghina
(2012); Raluca (2013), Platonova (2014) e Harun (2016) não encontraram relação entre
a dualidade do CEO e o desempenho ou o valor da empresa. A dualidade do CEO parece
ser percebida pelas partes interessadas como um sinal de controle e liderança eficazes.
Pode-se considerar que a dualidade do CEO leva a empresa a obter um melhor
desempenho usando seu conhecimento técnico. Os resultados desta tese estão de acordo
com estudos precedentes de Agrawal e Knoebler (1996), Peng et al. (2007), Baptista et al
(2008) e Yang e Zhao (2014) que também encontraram uma relação positiva entre a
Dualidade do CEO (DCEO) e o valor da empresa (VF).
Finalmente, os resultados destacam a importância relativa da DRSC dos bancos em
influenciar o valor da empresa. Em particular, em variáveis específicas da firma, o
resultado mostra que a rentabilidade do banco está positivamente associada ao valor da
firma, como mostrado no Modelo 2. Tais achados estão em linha com as conclusões de
estudos anteriores, que encontram uma relação positiva e significativa entre o valor da
firma e a RSC, como as de Setia-Atmaja (2008). O estudo encontra ainda uma relação
negativa significativa entre o tamanho e o valor do banco, que é contraditório com os
achados de Hassan et al. (2009) e Ezat (2010), que consideraram que existe uma
associação positiva entre o tamanho da empresa e o valor da firma (VF). Esta tese não
encontrou nenhuma relação significativa entre a alavancagem da empresa e o valor da
empresa. Portanto, o estudo não pode se apoiar nos achados de Haniffa e Hudaib (2006),
que encontram uma relação significativa positiva entre a alavancagem da empresa e o
valor da empresa. Por último, o PIB de cada país possuí relação negativa fraca com o
valor dos bancos islâmicos, de 0,090, como indicado no Modelo 2.
Referindo-se ao Modelo 2, que utiliza o Q de Tobin como proxy na mensuração do valor
da firma (VF), o estudo não encontrou associação entre todas as variáveis de controle
(GC, TB, LIQ, ALAV e PIB) e o Valor da Firma. Dybvig e Warachka (2015) argumentam
que o Q de Tobin não mede o desempenho da empresa e fornecem duas novas medidas
para o valor da empresa, que são a medida de eficiência e avalia a disciplina de custos.
Isso também se deve ao baixo nível de R2 (0,014), que mostra um efeito de associação
muito fraco entre o teste de variáveis no Modelo 2 testado para bancos islâmicos.
240
Tabela 11 - Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Islâmicos
VF (MTBV) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +
β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε
Mod
elo
1
Variáveis
Sinal Coeficientes
Padronizados t Sig.
Diagnóstico de
Colinearidade
Esperado Atual Beta Tolerância FIV
Constante
-1,482 0,140
IDRSCI + 0 0,036 0,461 0,645 0,782 1,279
TCA + + 0,192 2,619 0,010** 0,893 1,120
CCA + 0 0,006 0,077 0,938 0,923 1,084
DCEO + + 0,238 3,150 0,002*** 0,840 1,190
TB + + -0,192 -2,166 0,032** 0,608 1,645
ROE + 0 0,111 1,400 0,163 0,764 1,309
ALAV - 0 0,073 0,907 0,366 0,730 1,369
PIB 0 0 0,178 1,906 0,058 0,548 1,826
ANO: 2013 0 0 -0,077 -0,841 0,401 0,571 1,753
ANO: 2014 0 0 -0,093 -0,990 0,324 0,547 1,828
ANO: 2015 0 0 -0,028 -0,316 0,752 0,591 1,691
ANO: 2016 0 0 -0,007 -0,071 0,943 0,560 1,785
ANO: 2017 0 0 -0,008 -0,069 0,896 0,563 1,812
R2 Ajustado 0,072
Erro Padrão 1,077
Sig. 0,011
N 200
Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos
bancos islâmicos no CCG, sendo:
* significante a 10%,
** significante a 5%
*** significante a 1%
(-) indicando as correlações negativas
(+) indicando uma correlação positiva
(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.
A constante é o MTBV (variável dependente).
Fonte: Autor (2018).
241
Tabela 12 - Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Islâmicos
VF (QT) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +
β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε
Mod
elo
2
Variáveis Sinal
Coeficientes
Padronizados T Sig.
Diagnóstico de
Colinearidade
Esperado Atual Beta Tolerância FIV
Constante
1,783 0,076
IDRSCI + 0 0,052 0,643 0,521 0,782 1,279
TCA + 0 0,038 0,501 0,617 0,893 1,120
CCA + 0 -0,020 -0,274 0,785 0,923 1,084
DCEO + 0 0,120 1,549 0,123 0,840 1,190
TB + 0 0,079 0,865 0,388 0,608 1,645
ROE + 0 0,083 1,016 0,311 0,764 1,309
ALAV - 0 0,083 0,998 0,319 0,730 1,369
PIB 0 0 0,034 0,352 0,725 0,548 1,826
ANO: 2013 0 0 0,125 1,324 0,187 0,571 1,753
ANO: 2014 0 0 0,127 1,323 0,188 0,547 1,828
ANO: 2015 0 0 0,141 1,518 0,131 0,591 1,691
ANO: 2016 0 0 0,180 1,892 0,060 0,560 1,785
ANO: 2017 0 0 0,179 1,836 0,069 0,560 1,785
R2 Ajustado 0,014
Erro Padrão 0,14696
Sig. 0,261
N 200
Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos
bancos islâmicos no CCG, sendo:
* significante a 10%,
** significante a 5%
*** significante a 1%
(-) indicando as correlações negativas
(+) indicando uma correlação positiva
(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.
A constante é o MTBV (variável dependente).
Fonte: Autor (2018).
242
Tabela 13 - Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Convencionais
VF (MTBV) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n
+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε
Mod
elo
1
Variáveis Sinal
Coeficientes
Padronizados t Sig.
Diagnóstico de
Colinearidade
Esperado Atual Beta Tolerância FIV
Constante -1,784 0,076
IDRSCC + 0 0,033 0,393 0,713 0,698 1,113
TCA + + 0,123 3,136 0,013** 0,714 1,036
CCA + 0 0,065 0,012 0,896 0,903 1,098
DCEO + + 0,453 2,963 0,003*** 0,798 1,213
TB + + -0,363 -1,789 0,046** 0,597 1,798
ROE + 0 0,236 1,963 0,178 0,789 1,506
ALAV - 0 0,089 0,789 0,296 0,703 1,703
PIB 0 0 0,223 1,639 0,043 0,632 1,698
ANO: 2013 0 0 -0,156 -0,663 0,203 0,663 1,883
ANO: 2014 0 0 0,096 0,090 0,413 0,708 1,619
ANO: 2015 0 0 0,033 0,369 0,812 0,598 1,758
ANO: 2016 0 0 0,123 0,256 0,879 0,637 1,369
ANO: 2017 0 0 0,098 0,113 0,763 0,708 1,829
R2 Ajustado 0,093
Erro Padrão 1,081
Sig. 0,014
N 200
Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos
bancos islâmicos no CCG, sendo:
* significante a 10%,
** significante a 5%
*** significante a 1%
(-) indicando as correlações negativas
(+) indicando uma correlação positiva
(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.
Constante é o MTBV (variável dependente).
Fonte: Autor (2018).
243
Tabela 14 - Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Convencionais
VF (QT) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +
β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε
Mod
elo
2
Variáveis Sinal
Coeficientes
Padronizados t Sig.
Diagnóstico de
Colinearidade
Esperado Atual Beta Tolerância FIV
Constante
-4,248 0,00
IDRSCC + 0 -0,096 -1,705 0,090* 0,698 1,113
TCA + 0 -0,026 -0,496 0,621 0,714 1,036
CCA + 0 0,088 1,712 0,089* 0,903 1,098
DCEO + 0 0,143 2,651 0,009*** 0,798 1,213
TB + 0 -0,030 -0,477 0,634 0,597 1,798
ROE + 0 0,202 3,560 0,000*** 0,789 1,506
ALAV - 0 0,020 0,350 0,727 0,703 1,703
PIB 0 0 0,647 9,665 0,000*** 0,632 1,698
ANO: 2013 0 0 -0,097 -1,474 0,142 0,663 1,883
ANO: 2014 0 0 -0,137 -2,052 0,042 0,708 1,619
ANO: 2015 0 0 -0,060 -0,938 0,350 0,598 1,758
ANO: 2016 0 0 -0,079 -1,186 0,237 0,637 1,369
ANO: 2017 0 0 -0,087 -1,236 0,412 0,708 1,829
R2 Ajustado 0,042
Erro Padrão 0,649
Sig. 0,00
N 200
Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos
bancos islâmicos no CCG, sendo:
* significante a 10%,
** significante a 5%
*** significante a 1%
(-) indicando as correlações negativas
(+) indicando uma correlação positiva
(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.
A constante é o MTBV (variável dependente).
Fonte: Autor (2018).
Diversos estudos encontraram uma relação negativa entre o desempenho social e
financeiro das empresas. De acordo com as pesquisas contrárias a divulgação da RSC, ser
socialmente ativo através de projetos de caridade, apoiar e promover o bem-estar do
pessoal e minimizar os danos ambientais, pode custar caro e causar encargos
administrativos, diminuindo o valor da empresa (BARNETT; SALOMON, 2006).
244
O vínculo negativo entre o desempenho social e o financeiro foi apoiado pela hipótese de
trade-off de Preston e O’Bannon (1997), que sugeriram que quanto melhor for o
desempenho das empresas, em termos sociais, menor será seu desempenho financeiro.
Consequentemente, as empresas socialmente responsáveis terão menos vantagem em
comparação com as empresas que não se preocupam com a RSC. Os proponentes dessa
hipótese argumentam que as empresas, tomando iniciativas socialmente responsáveis,
solapam o objetivo principal da empresa de maximização do lucro. Como argumentam
Waddock e Graves (1997), Preston e O'Bannon (1997), Simpson e Kohers (2002), essa
hipótese baseia-se na visão dos economistas neoclássicos que supõe que estratégias
socialmente responsáveis resultam em custo adicional e, portanto, criar uma desvantagem
competitiva (FRIEDMAN, 1970). Os recentes defensores sugerem que os recursos
dedicados a programas ou ações sociais devem ser vertidos aos gastos com a eficiência
das empresas ou devolvidos aos acionistas na forma de dividendos (PERRINI et al.,
2011), já que não é responsabilidade das empresas lidar com questões sociais e devem ser
realizadas pelos governos ou pelo terceiro setor.
Os proponentes da Teoria de Agência, como Jensen e Meckling (1976), também apoiaram
a ligação negativa entre desempenho social e financeiro, pois argumentam que o consumo
de recursos valiosos de empresas para ter estratégias de desempenho social positivas
maximizaria significativamente os benefícios gerenciais pessoais, ao invés de benefícios
financeiros dos acionistas (BRAMMER; MILLINGTON, 2008).
Com base nas teorias que relacionam RSC e desempenho financeiro, McWilliams e
Siegel (2001) afirmam que os estudos empíricos têm sido inconclusivos, resultando
relações neutras, positivas e negativas. Na mesma linha de pensamento, Jones e Murrell
(2001) dizem que a relação entre práticas de responsabilidade social e desempenho
econômico-financeiro é inconclusiva, porque, de acordo com o contexto, poderão existir
correlações positivas e negativas entre o investimento em ações de responsabilidade
social e o desempenho financeiro. Esse tipo de correlação é motivo de discussão em
diversos estudos acadêmicos, mas com resultados contraditórios.
De forma contrária à Teoria dos Stakeholders, a Teoria dos Shareholders aponta uma
relação negativa entre RSC e desempenho financeiro e que as empresas que investem em
projetos sociais e ambientais ficam em desvantagem econômica em relação àquelas
empresas que não apresentam esse tipo de investimento, como é caso da fraca correlação
encontrada nos dois modelos testados nesta pesquisa, resultados que valem tanto para
245
bancos islâmicos quanto convencionais. No que tange os bancos islâmicos, cuja RSC
deveria ser uma premissa vista positivamente pelos investidores, os resultados apontam
em direção contrária, isto é, ainda que os bancos islâmicos apresentem níveis de
divulgação maiores, quando comparados aos seus pares convencionais, tal vantagem não
apresentou reflexos no valor dos bancos.
6.2 Determinantes da divulgação da RSC: análise descritiva e respostas à segunda
questão de pesquisa (QP 2)
Ao responder a segunda questão de pesquisa, esta seção fornecerá estatísticas descritivas
das variáveis dependentes e de controle, além de uma análise empírica dos determinantes
da divulgação de RSC nos bancos islâmicos analisados.
6.2.1 Estatísticas descritivas das variáveis dependentes e de controle
A Tabela 15 fornece a estatística descritiva das variáveis dependentes e das variáveis de
controle utilizadas neste estudo. Fornece a descrição da quantidade de divulgação de
RSC, bem como as variáveis independentes e de controle (TCA, GCA, CCA, RCA,
DCEO, PCCA, TS, PCCSS, TCTA, RCTA, PII, PIE, TB, IB, LIQ, ALAV e ROE). O
valor médio da quantidade de divulgação da RSC Islâmica (DRSCI) é 0,4105 ou 41,05%,
com um valor mínimo e máximo de 0,09 (9%) e 0,73 (73%), respectivamente. O desvio
padrão do nível de DRSCI é de 0,130. O Tamanho do Conselho de Administração (TCA)
tem um valor mínimo de 4 e valor máximo de 16 conselheiros.
O valor médio do TCA dos bancos islâmicos de amostra é de 9,15. O GCA tem um valor
mínimo de 0, um valor máximo de 1 e um valor médio de 0,82. A CCA tem um valor
mínimo de 0,10 e valor máximo de 0,75, sendo seu valor médio de 0,75. O RCA tem um
valor mínimo de 4 e valor máximo de 11, sendo seu valor médio é 6,46. O DCO, PCCA
e PCCSS têm um valor mínimo de 0 e valor máximo de 1, enquanto, os valores médios
são 0,18, 0,85 e 0,79, respectivamente. O tamanho do CSS tem um valor mínimo de 3 e
um valor máximo de 6 com seu tamanho médio de 4,08. O tamanho da CTA tem um valor
médio de 4,12, onde seus valores mínimo e máximo são 2 e 7, que é o mesmo valor das
reuniões do CTA.
No que diz respeito as variáveis de controle, o Tamanho do Banco (TB) tem um valor
mínimo de 1,10 e máximo de 5,84. A Idade do Banco (IB) tem um valor mínimo de 1 e
valor máximo de 57. A Lucratividade (ROE) e Liquidez (LIQ) tem um valor mínimo de
246
0,36 e -127,15, seus valores máximos são 84,44 e 24,19. A Alavancagem (ALAV) tem
um valor médio de 108,22 e um valor mínimo de 0,04. Para características específicas do
país, PIB e Corrupção (CORRUP) têm valores médios de 10,87 e 5,5662,
respectivamente, sendo seus valores mínimo e máximo de 10,32, 4,30 e 11,72, 7,70,
respectivamente. A seguir, um resumo de todas as variáveis:
Tabela 15 - Estatística Descritiva das Variáveis da DRSCI (2013-2017)
Variável Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
IDRSCI 200 0,4105 0,13026 0,09 0,73
1 – TCA 200 9,1538 2,24227 4,00 16,00
2 – GCA 200 0,8205 0,38475 0,00 1,00
3 - CCA 200 0,3386 0,12557 0,10 0,75
4 – RCA 200 6,4564 1,16738 4,00 11,00
5 - DCEO 200 0,1795 0,38475 0,00 1,00
6 – PCCA 200 0,8462 0,36173 0,00 1,00
7 – TS 200 4,0769 1,02506 3,00 6,00
8 – PCCSS 200 0,7949 0,40483 0,00 1,00
9 – TCTA 200 4,1282 1,04486 2,00 7,00
10 – RCTA 200 5,2564 0,90582 2,00 7,00
11 – PII 200 0,1926 0,06671 0,11 0,40
12 – PIE 200 0,1852 0,04811 0,11 0,33
13 – TB 200 3,5987 1,05947 1,10 5,84
14 – IB 200 17,8000 14,61379 1,00 57,00
15 – ROE 200 48,8651 22,18020 0,36 84,44
16 – ALAV 200 8,2287 14,12631 -127,15 24,19
17 – LIQ 200 110,4239 108,22184 0,04 771,16
18 – PIB 200 10,8787 0,48287 10,32 11,72
19 – CORRUP 200 5,5662 1,03724 4,30 7,70
Fonte: Autor (2018).
6.2.2 Análise empírica
A Tabela 16 apresenta uma análise empírica dos determinantes da divulgação de RSC
dos bancos islâmicos no CCG. A análise mostra que o tamanho do conselho tem um
impacto significativo positivo nos níveis de divulgação social (0,042), considerando um
nível de significância de 0,05. Portanto, H1 é aceito. Isso mostra que o tamanho do
Conselho tem um impacto positivo na pontuação de divulgação de RSC dos bancos
247
islâmicos. Esse resultado é consistente com os estudos de Singh et al. (2004), Lakhal
(2005), Cheng e Courtenay (2006), Abdel-Fattah et al. (2008), e Laksamana (2008), que
também encontraram uma associação positiva entre divulgação e o tamanho do Conselho
em seus estudos. Pode-se afirmar que o tamanho do conselho está positivamente
associado à prática de divulgação de RSC. Portanto, as organizações com mais
conselheiros em seus órgãos deliberativos se engajam em maior medida nas práticas de
divulgação de RSC e nas atividades de RSC, como atividades de caridade, como afirmado
por Williams (2003) e Haniffa e Hudaib (2007). Segundo Khan (2010), o benefício de ter
um conselho maior é que ele pode melhorar a eficiência da empresa, uma vez que
fornecem à entidade um corpo estratégico composto por membros de diferentes áreas de
especialização, multidisciplinar, o que aumenta a pontuação da RSC.
O estudo conclui que há uma correlação negativa significativa de 0,045 entre a Dualidade
do CEO (H5) e a prática de divulgação de RSC entre bancos islâmicos do CCG, com o
nível de significância é de 0,05 ou com 95% de confiança. É contraditório com os
pressupostos da Teoria da Agência, em que a Dualidade do CEO é vista como prejudicial,
porque o agente pode perseguir apenas seu interesse próprio às custas dos proprietários.
Um aspecto da governança corporativa, que deu origem à preocupação, é o fenômeno da
personalidade dominante, e isso foi identificado como associado à fraca divulgação
(FORKER, 1992). Esse fenômeno também inclui a dualidade de papéis, que é a ocasião
em que o diretor executivo (CEO) ou o diretor administrativo também é o presidente do
conselho. O resultado é contraditório com a literatura anterior (e.g., PENG et al., 2007;
HASHIM; DEVI, 2008; TUGGLE et al., 2010; RAMDANI; WITTELOOSTUIJN,
2010;), que sugeriram que esses dois papéis devem ser separados no aprimoramento da
prática de divulgação.
Embora a separação de papéis (também conhecida como segregação de funções) seja
sugerida, algumas empresas não estão preparadas para serem absolutamente categóricas
sobre a divisão dessas funções (RAHMAN; BUKAIR, 2015). A análise mostra que a
dualidade do CEO é negativamente significativa com a prática de divulgação de RSC
entre os bancos islâmicos do CCG. Assim, a suposição de que a separação dos papéis
entre presidente e diretor executivo aumentará a qualidade do monitoramento e reduzirá
os benefícios da retenção de informações, o que pode consequentemente resultar na
melhoria da prática de divulgação de RSC, pode ser rejeitada. Portanto, a Hipótese (H5)
248
de que existe associação positiva entre a dualidade do CEO e as divulgações de
informações de RSC também pode ser rejeitada.
A análise também mostra que existe uma relação negativa e significativa de 0,037 entre
o TCTA e a prática de divulgação do RSC entre os bancos islâmicos do CCG,
considerando um nível de significância de 0,05 ou com 95% de confiança. Os resultados
são contraditórios com os achados de Mangena e Pike (2005), que sugerem que os comitês
de auditoria maiores dão origem a um monitoramento mais efetivo, uma vez que é mais
provável que ele envolva os conhecimentos e visões essenciais para fazer isso. No
entanto, resultados mistos podem ser obtidos em estudos anteriores. Mangena e Pike
(2005) e Tauringana e Mangena (2009) não encontraram relação estatisticamente
significativa entre o nível de divulgação e o tamanho do CTA. Felo et al. (2003) e Li et
al. (2012) relataram uma relação positiva entre o tamanho do AC e a qualidade do
relatório financeiro. Portanto, a Hipótese 9 (H9) de que existe uma relação positiva entre
o tamanho do CTA e o nível de divulgação de RSC pode ser rejeitada. No entanto, os
resultados também mostram que não há associação entre a divulgação da RSC e outras
variáveis do GC, o que é consistente com o argumento de Ho e Wong (2001).
Mecanismos de governança corporativa podem ser substitutivos e não afetar os escores
de divulgação. Portanto, a presente tese rejeita as hipóteses H2, H3, H4, H5, H7, H8,
H10, H11 e H12. Esse resultado também contrasta com os achados de Anderson et al.
(2004), que afirmaram que a independência dos diretores pode fortalecer o conselho
monitorando e aconselhando a alta administração. O resultado também evidencia que a
composição do conselho não tem efeito significativo sobre o nível de prática de
divulgação de RSC entre os bancos islâmicos. A análise também mostra que não existe
uma relação significativa entre o tamanho do CSS e a PCCSS com o nível de divulgação
de RSC, conforme afirmado por Maali et al. (2006). O CSS pode não ver necessidade de
enfatizar divulgações adicionais de RSC, caso as atividades do banco estiverem em
conformidade com as leis e princípios islâmicos.
A partir da análise acima, fica evidenciado que o tamanho do conselho de administração
desempenha um papel importante nos bancos islâmicos do CCG para melhorar a prática
de divulgação de RSC. Esses achados são consistentes com a Teoria da Agência, que
prevê que os conselhos maiores incorporam uma variedade de especializações, resultando
em maior eficácia no monitoramento do conselho, o que poderia afetar as decisões de
divulgação de RSC dos administradores e a extensão do nível de divulgação de RSC
249
(SINGH et al., 2004). Observando os coeficientes das variáveis de controle
(características específicas do banco e do país), a análise mostra que apenas o PIB tem
uma relação positiva com o nível de divulgação da RSC. Os achados desta tese estão de
acordo com um estudo de Olken e Pande (2012), que consideraram que existe uma
associação positiva entre o PIB e o nível de divulgação entre os países, enquanto
contrastam com os de Andres e Vallelado (2009), que não encontraram nenhuma relação
significativa entre essas variáveis e prática de divulgação. As variáveis de Liquidez,
Alavancagem e nível de Corrupção não têm relação significativa com a divulgação de
RSC nos bancos islâmicos analisados.
Com isso, algumas dessas implicações são:
Em primeiro lugar, a análise presente nesta tese fornece forte suporte para o argumento
da Teoria da Agência, que sugere que as corporações financeiras com um forte
mecanismo de GC (por exemplo, tamanho maior de seus Conselhos de Administração)
são mais propensas a divulgar informações de RSC às partes interessadas (TAYLOR et
al., 2010). O resultado mostra que existe uma relação positiva e significativa entre o nível
de RSC e o Tamanho do Conselho. Ao aumentar a pontuação do nível de RSC, os bancos
islâmicos podem ter que aumentar o tamanho dos seus conselhos.
Em segundo lugar, não há associação significativa entre a composição do conselho e o
escore da DRSCI. Assim, o estudo não conseguiu provar empiricamente que as partes
interessadas têm a capacidade de influenciar o modo como as corporações se comportam
e, em última análise, influenciam sua licença para operar.
Em terceiro lugar, com um baixo nível de divulgação, o resultado é inconsistente com a
Teoria da Legitimidade, como argumentado por Guthrie e Parker (1989), em que as
empresas que operam na sociedade e para a sociedade, como os bancos islâmicos, têm
um contrato social no qual concordam em realizar várias ações socialmente desejadas em
troca da aprovação de seus objetivos, outras recompensas e sua sobrevivência final. Isso
mostra que a questão da RSC ainda é negligenciada pelos bancos islâmicos no CCG.
Em quarto lugar, os resultados apoiam a raiz teórica da responsabilidade pelos bancos
islâmicos, em que a prestação de contas a Allah pode vir antes das partes interessadas.
Esta tese constrói um modelo abrangente de prestação de contas de RSC que é aplicável
aos bancos islâmicos e mostra a ligação entre o principal agente de monitoramento dessas
250
contas (Allah), bem como o agente secundário (partes interessadas), além da ligação entre
os elementos de GC e seu real papel de divulgação, para satisfazer essa responsabilidade.
Com base na média das pontuações de divulgação de RSC pelos bancos islâmicos do
CCG, ficou evidenciado que os administradores dos bancos islâmicos ainda são menos
responsáveis perante os stakeholders em divulgar suas informações de RSC.
Tabela 16 – Resultado dos Coeficientes de Regressão
Variáveis Sinal
Coeficientes
Padronizados T Sig.
Diagnóstico de
Colinearidade
Esperado Atual Beta Tolerância VIF
1) Constante 0 0 0 -1,784 0,076 0 0
2) TCA + + +0,176 2,049 0,042** 0,584 1,711
3) GCA + + +0,129 1,571 0,118 0,637 1,570
4) CCA + - -0,032 -0,368 0,713 0,574 1,742
5) RCA + - -0,014 -0,131 0,896 0,401 2,496
6) DCEO + - -0,204 -2,021 0,045** 0,424 2,356
7) PCCA + - -0,010 -0,124 0,902 0,709 1,411
8) TS + + +0,172 1,364 0,174 0,272 3,681
9) PCCSS + - -0,010 -0,103 0,918 0,439 2,279
10) TCTA + - -0,194 -2,100 0,037** 0,507 1,972
11) RCTA + + +0,127 1,449 0,149 0,562 1,780
12) PII + + +0,000 0,002 0,999 0,797 1,255
13) PIE + - -0,025 -0,337 0,736 0,808 1,237
14) TB -0,073 -0,662 0,509 0,352 2,838
15) IB +0,034 0,318 0,751 0,375 2,668
16) ROE +0,149 1,498 0,136 0,438 2,285
17) ALAV -0,015 -0,190 0,850 0,694 1,442
18) LIQ +0,119 1,423 0,156 0,621 1,611
19) PIB +0,268 2,216 0,028 0,294 3,396
20) CORRUP +0,018 0,172 0,864 0,400 2,502
ANO: 2013 +0,277 3,144 0,002 0,555 1,803
ANO: 2014 -0,113 -1,345 0,180 0,606 1,651
ANO: 2015 +0,126 1,427 0,155 0,550 1,820
ANO: 2016 +0,006 0,070 0,944 0,560 1,786
ANO: 2017 +0,003 0,030 0,121 0,310 1,436
R2 Ajustado 0,164
Erro Padrão 0,11910
Sig. 0,0000
N 200
A Tabela representa os resultados da regressão para os determinantes da quantidade de divulgação de RSC dos bancos
islâmicos no CCG.
* indica significância a 10%
** indica significância a 5%
*** indica significância a 1%
(-) indica as correlações negativas
(+) indica uma correlação positiva
(0) indica que não foi encontrada correlação na regressão modelo.
A constante é o nível de DRSC (variável dependente).
Fonte: Autor (2018).
251
Os resultados resumidos nesta seção têm algumas implicações teóricas importantes, seja
em apoio a teorias existentes na literatura internacional ou na missão de ampliar o escopo
de trabalhos anteriores e criar ligações adicionais dentro da literatura existente, para
fomentar mais pesquisas desta natureza, onde pode ser possível explicar divulgações
financeiras e não financeiras em países ou setores em que a religião exerce influência
significativa.
6.3 Divulgação da RSC: análise descritiva e respostas à terceira questão de pesquisa
(QP 3)
Ao responder terceira questão de pesquisa (QP3), esta seção fornecerá as estatísticas
descritivas dos níveis de divulgação de RSC entre os bancos do CCG selecionados para
a amostra. A importância deste Capítulo reside em fornecer uma visão clara para a prática
de divulgação de RSC entre os bancos do CCG, com base no índice criado a partir das
diretrizes recomendadas pelo AAOIFI (2010) e estudos precedentes. Serão apresentados
os resultados da análise estatística da medição da divulgação e análises cross-country e
multidimensional da prática de divulgação de RSC entre bancos islâmicos da amostra
para o período compreendido entre os anos de 2013 e 2017.
6.3.1 Análise cross-country
A Tabela 17 apresentará a análise entre os países da amostra e suas divulgações de RSC
durante os anos de 2013 a 2017. Nesta esteira analítica, pode-se perceber que em 2013,
os bancos islâmicos do Kuwait obtiveram o maior escore de divulgação de RSC, 54,6%,
seguido pelos Emirados Árabes Unidos (51,1%), Catar (47%), Bahrein (45,5%), Arábia
Saudita (43,2%). O menor escore ficou com Omã (27,3%). Já em 2014, a Arábia Saudita
apresentou o maior nível de divulgação de RSC (50%), seguido por Kuwait (45,5%),
Emirados Árabes Unidos (43,2%), Catar (34,9%), Bahrein (34,6%) e Omã (24,2%).
A partir das observações, ficou evidenciado que os bancos islâmicos de Omã têm a
pontuação mais baixa de divulgação de RSC desde o primeiro ano de operação dos bancos
islâmicos em sua jurisdição, no ano de 2013, (27,3%), quando comparado a outros bancos
islâmicos do CCG. A partir de 2016, os bancos de Omã mostraram sua preocupação com
relação à questão de divulgação de RSC e apresentaram suas maiores pontuações de
252
divulgação de RSC em 2016 (51,5%) e 2017 (60,6%), em comparação com os demais
bancos islâmicos do CCG.
Tabela 17 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Islâmicos
Ano País Nº Bancos Média da DRSCI Mínimo Máximo Desvio Padrão
2013
Arábia Saudita 4 43,2 0,0 1,0 4,5
Bahrein 16 45,5 0,0 1,0 9,1
Catar 6 47,0 0,0 1,0 12,1
EAU 8 51,1 0,0 1,0 10,8
Kuwait 3 54,6 0,0 1,0 0,0
Omã 3 27,3 0,0 1,0 9,1
2014
Arábia Saudita 4 50,0 0,0 1,0 17,4
Bahrein 16 34,6 0,0 1,0 13,0
Catar 6 34,9 0,0 1,0 16,7
EAU 8 43,2 0,0 1,0 9,4
Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 0,0
Omã 3 24,2 0,0 1,0 5,3
2015
Arábia Saudita 4 38,6 0,0 1,0 11,4
Bahrein 16 30,9 0,0 1,0 9,0
Catar 6 36,4 0,0 1,0 12,9
EAU 8 37,5 0,0 1,0 10,2
Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 9,1
Omã 3 24,2 0,0 1,0 10,5
2016
Arábia Saudita 4 45,5 0,0 1,0 0,0
Bahrein 16 41,2 0,0 1,0 12,3
Catar 6 33,3 0,0 1,0 4,7
EAU 8 45,5 0,0 1,0 6,9
Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 15,7
Omã 3 51,5 0,0 1,0 5,2
2017
Arábia Saudita 4 52,3 0,0 1,0 13,6
Bahrein 16 35,2 0,0 1,0 14,1
Catar 6 30,3 0,0 1,0 13,7
EAU 8 43,2 0,0 1,0 13,5
Kuwait 3 33,3 0,0 1,0 5,3
Omã 3 60,6 0,0 1,0 13,9
N = 200; Média = 41,05%
253
Fonte: Autor (2018).
O nível médio de divulgação de RSC, considerando todos os bancos islâmicos de amostra
de 2013 a 2017, foi de 41,05%. Com base na análise de vários países pertencentes ao
mesmo bloco econômico, este estudo constata que o nível de prática de divulgação de
RSC entre os bancos islâmicos no CCG não foi influenciado pela emissão da norma nº 7
do AAOIFI. A média de pontuação de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos de
amostra é relativamente menor em comparação com estudos anteriores (e.g., HASSAN
et al, 2013; BELAL et al, 2014; FARAG et al, 2014), o que reforça essa constatação.
Para os bancos islâmicos do Bahrein, que estão totalmente em conformidade com os
padrões da AAOIFI, sua pontuação de divulgação de RSC é ainda menor, sendo a mais
baixa pontuação pontuação média de divulgação de RSC variando de 30,9% a 45,5%, o
que é menor do que outros bancos islâmicos do CCG que não estão regulamentados para
cumprir todas as regras editadas pelo AAOIFI.
A divulgação de informações não financeiras e não obrigatória para bancos convencionais
e islâmicos são reguladas e normatizadas de acordo com os principais reguladores dos
países do CCG. Os bancos centrais e órgãos reguladores dos seis países esboçaram as
Diretrizes de Governança Corporativa para os bancos em 2009, que estipulou a
transparência e correta divulgação de GC. Portanto a divulgação pública é desejável nas
seguintes áreas: (1) estrutura da diretoria e conselho de administração; (2) estrutura
organizacional do banco; (3) Estrutura de incentivos como: políticas de remuneração,
remuneração executiva, bônus, opções e distribuição de resultados ; e (4) transações com
coligadas e partes relacionadas. No pronunciamento acima mencionado, os bancos
centrais utilizaram a palavra“ desejável” , portanto, não é obrigatório que os bancos do
bloco divulguem, por exemplo, informações sobre sua governança corporativa.
Além disso, os normatizadores desenvolveram um conjunto de requisitos de divulgação
pública (atualizado em janeiro de 2017), que exige a divulgação pública dos seguintes
elementos de informação: Capital, adequação de capital, exposições a risco e exposições
de securitização. Portanto, a divulgação pública de informações extra financeiras não é
obrigatória para um banco a fim de ser listada no mercado de ações do CCG. Além disso,
os bancos islâmicos são supervisionados por um órgão regulador internacional, que é o
254
Conselho de Serviços Financeiros Islâmico (IFSB) e segue (obrigatoriamente ou
voluntariamente) os padrões de Auditoria, Governança e Ética emitidos pelo AAOIFI.
Tabela 18 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Convencionais
Ano País Nº Bancos Média da DRSCC Mínimo Máximo Desvio Padrão
2013
Arábia Saudita 4 37,4 0,0 1,0 4,5
Bahrein 16 29,3 0,0 1,0 9,1
Catar 6 46,1 0,0 1,0 12,1
EAU 8 26,2 0,0 1,0 10,8
Kuwait 3 33,9 0,0 1,0 0,0
Omã 3 25,6 0,0 1,0 9,1
2014
Arábia Saudita 4 26,9 0,0 1,0 17,4
Bahrein 16 29,6 0,0 1,0 13,0
Catar 6 33,8 0,0 1,0 16,7
EAU 8 29,3 0,0 1,0 9,4
Kuwait 3 39,6 0,0 1,0 0,0
Omã 3 22,3 0,0 1,0 5,3
2015
Arábia Saudita 4 36,9 0,0 1,0 11,4
Bahrein 16 29,6 0,0 1,0 9,0
Catar 6 33,8 0,0 1,0 12,9
EAU 8 27,9 0,0 1,0 10,2
Kuwait 3 25,3 0,0 1,0 9,1
Omã 3 24,2 0,0 1,0 10,5
2016
Arábia Saudita 4 20,1 0,0 1,0 0,0
Bahrein 16 37,8 0,0 1,0 12,3
Catar 6 33,8 0,0 1,0 4,7
EAU 8 25,6 0,0 1,0 6,9
Kuwait 3 29,3 0,0 1,0 15,7
Omã 3 26,3 0,0 1,0 5,2
2017
Arábia Saudita 4 27,9 0,0 1,0 13,6
Bahrein 16 29,3 0,0 1,0 14,1
Catar 6 33,8 0,0 1,0 13,7
EAU 8 30,1 0,0 1,0 13,5
Kuwait 3 38,3 0,0 1,0 5,3
Omã 3 29,7 0,0 1,0 13,9
N = 200; Média = 30,65%
255
Fonte: Autor (2018).
Dessa forma, no que diz respeito aos bancos convencionais, a Tabela 18 apresentou a
análise entre os países da amostra e suas divulgações de RSC durante os anos de 2013 a
2017, que mescla divulgações dos bancos centrais dos países do bloco e que possuem
aderência às exigências de disclosure do AAOIFI. Os resultados evidenciam que os países
estão em fase embrionária de divulgação de suas resultados sociais corporativos.
Pode-se perceber que em 2013, os bancos islâmicos do Catar obtiveram o maior escore
de divulgação de RSC, 46,1%, seguido pela Arábia Saudita (37,4%), Kuwait (33,9%),
Bahrein (29,3%) e Emirados Árabes Unidos (26,2%). O menor escore ficou com Omã
(25,6%). A partir das observações, ficou evidenciado que os bancos convencionais de
Omã também apresentaram a menor pontuação de divulgação da RSC, assim como seus
pares convencionais. Ao longo dos anos o cenário vem mudando, muito provavelmente
por influência dos órgãos de fiscalização locais e internacionais que tem exigido maior
transparência dos bancos dessa região.
6.3.2 Análise descritiva das dimensões da pesquisa
Com base nas 200 observações obtidas dos relatórios anuais islâmicos escolhidos para
composição da amostra, entre os anos de 2013 a 2017, descobriu-se que a
responsabilidade social na dimensão do Bem-Estar do Empregado (BEE), em média, tem
as maiores pontuações em todos os bancos islâmicos e convencionais do CCG, enquanto
a Responsabilidade Social no pagamento em atraso de clientes insolventes, a menor.
Importante mencionar que no caso dos bancos convencionais, por óbvio, as dimensões
relacionadas aos aspectos religiosos apresentaram as menores, em alguns casos nulas,
pontuações.
As diferenças nos níveis de divulgação entre os temas precisam de alguma discussão. A
luz da Teoria dos Stakeholders, adota-se que os valores são necessariamente para os
negócios e espera-se que os administradores articulem o senso compartilhado de que o
valor criado está aderente às expectativas de suas partes interessadas. As IFIs são
instituições baseadas em valor e dão os devidos direitos a cada parte interessada, de
acordo com sua participação relativa, o que implica que todos os interessados obtêm o
que é justo para eles.
256
Tentativas foram feitas anteriormente para identificar a importância relativa de várias
partes interessadas nas IFIs. No entanto, alguns dos resultados encontrados nesta tese
contradizem rankings anteriores. Por exemplo, os funcionários são considerados como a
categoria mais importante de partes interessadas juntamente com os proprietários, por
Beekun e Badwai (2005). Os resultados aqui encontrados, porém, indicam uma pontuação
baixa para os funcionários. A mesma preocupação é relevante para a falta de divulgação
sob as categorias de meio ambiente e política para devedores, por causa de sua eminência
nos princípios islâmicos.
Independentemente dessas tendências intrigantes, a alta classificação obtida por
instituições de caridade e doações para atividades sociais é distinta. Como esses
pagamentos são de natureza voluntária, a tendência revela uma compreensão mais ampla
do bem-estar social nas IFIs. Além disso, esse tipo de transferência de renda tem se
espalhado pelo mundo como uma medida para reduzir os custos de transação em projetos
de desenvolvimento, e os resultados implicam que as IFIs estão seguindo a nova tendência
no desenvolvimento internacional.
As Tabelas 19 a 24 apresentarão os detalhes da pontuação de cada dimensão, a qual foi
medida neste estudo, tanto para bancos islâmicos quanto convencionais, por país, sendo:
1) Bem-Estar do Empregado (BEE, Obrigatória)
2) Políticas para o desenvolvimento social e investimentos destinados ao meio ambiente
(PMA, Voluntária);
3) Ganhos e perdas proibidos pela Sharia (GPS, Obrigatória);
4) Atendimento de excelência aos clientes (EAC, Voluntária);
5) Política interna para tratamento dos clientes (PIC, Obrigatória);
6) Qard Hassan – Empréstimo Benevolente (Qard, Obrigatória;
7) Investimento Social , poupança social e desenvolvimento de Pequenas e Médias
Empresas (PME, Voluntária);
8) Política interna para a seleção dos Clientes (PSC, Obrigatória);
9) Zakat (Zakat, Obrigatória);
10) Atividades de Caridade (CAR, Voluntária); e
11) Gestão do Waqf (Waqf, Voluntária).
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263
A partir das observações, constatou-se que os bancos islâmicos e convencionais da
amostra tendem a dar mais ênfase a divulgação de informações relacionadas ao bem-estar
dos funcionários em comparação com outros temas de divulgação. Esse fator pode ser
explicado em funcao da pressão das partes interessadas e a preocupação externa com a
gestão com o bem-estar do empregado e a manutenção de um ambiente empresarial
saudável, capaz de gerar melhores resultados aos acionistas.
6.3.3 Discussões
Como indicam os resultados do índice de divulgação da RSC, por meio de divulgação, os
bancos islâmicos do CCG não tiveram bom desempenho, mas apresentaram-se superiores
em relação aos seus pares convencionais. Considerando que a RSC é essencializada como
o aspecto fundamental das normas éticas do Islã no setor bancário e financeiro, encontrar
esses resultados caminha em sentido oposto à expectativa inicial. Uma possível e
primeira explicação dos resultados poderia estar relacionada ao fato de que as atividades
de RSE dos bancos islâmicos são bastante limitadas, conforme identificado em outras
pesquisas, o que sugere que o problema talvez seja estrutural, e não governança
corporativa.
Em segundo lugar, e mais importante, a "natureza da doação" no Islã deve ser considerada
ao refletir sobre os resultados encontrados. A ética islâmica não encoraja, pelo contrário,
desencorajara alguém a revelar suas atividades socialmente responsáveis e doações
sociais, pois tal revelação é considerada contra a dignidade daqueles que a recebem, o o
que pode ser usado como uma possível explicação para os níveis encontrados na pesquisa.
Portanto, pode-se presumir que os bancos islâmicos do CCG, de fato e de forma efetiva,
realizam atividades de RSC, mas devido a ética do próprio islã, evitam divulgá-las.
Assim, a ética islâmica pode ter implicações na baixa divulgação. No entanto,
considerando que a transparência como parte do sistema de governança é justificada
através de fiqh e, portanto, endogeneizada pelos padrões disponíveis, os bancos islâmicos
podem não ser capazes de usar tal desculpa para esconder seu eventual fracasso social.
Em terceiro lugar, a economia política das questões de governança corporativa deve ser
discutida em cada país, uma vez que os regulamentos dos países do CCG não têm
expectativas em termos de divulgação de muitas informações. Sob tais circunstâncias, as
empresas, incluindo os bancos islâmicos, não divulgariam informações voluntariamente.
264
Assim, a natureza de governança corporativa dos países do CCG em relação à
transparência e à divulgação deve ser discutida criticamente.
Além disso, a abordagem dos fiqh pode indicar que os bancos islâmicos, como apenas
uma entidade legal, não devem contribuir para o bem social por definição. Isto assemelha-
se ao caso do zakat, os bancos islâmicos, uma vez que não se espera que empresas com a
entidade legal paguem ao zakat o lucro ou a riqueza. Argumenta-se, da mesma forma, que
a condução de atividades de RSC e o trabalho em prol do bem-estar social são
consideradas como uma fonte de um ato individual e, conseqüentemente, uma corporação
não pode obter a graça de Deus. Portanto, argumenta-se com esta abordagem fiqhi que os
bancos islâmicos não devem contribuir para o bem social nem devem entregar
responsabilidade social, já que eles não são "pessoas reais". No entanto, conforme
explicado no Capítulo 3, a economia moral islâmica se relaciona com a substância e não
com a compreensão baseada única e simplesmente na forma.
Em conclusão, ao avaliar criticamente os achados empíricos estabelecidos por este
estudo, esses fatores também devem ser considerados em relação ao desempenho da RSC
dos bancos islâmicos, em vez de concluir imediatamente que eles não estão fazendo o
suficiente, ainda mais quando comparados aos seus pares convencionais. Portanto, talvez
consubstanciando os resultados, é essencial observar as operações e explorar os pontos
de vista dos administradores dos bancos islâmicos em termos de seu ativismo orientado
para a responsabilidade social, que será essencial para alcançar um resultado conclusivo.
De acordo com os resultados da pesquisa, as implicações práticas da RSC nos bancos
islâmicos do CCG parecem ser consistentes com a concepção teórica de RSC nas finanças
islâmicas proposta por Ismail (1986), que percebe e teoriza bancos islâmicos como parte
do setor comercial de economia e sugere que as atividades financeiras voltadas para a
sociedade devem ser realizadas pelo terceiro setor ou por setores não lucrativos. Os
resultados empíricos deste estudo mostram que os bancos islâmicos conduzem suas
operações de acordo com os princípios financeiros islâmicos, no entanto, cumprem
principalmente os interesses de seus acionistas e depositantes. Consequentemente, os
objetivos sociais não são colocados no topo da agenda dos bancos islâmicos.
As Tabelas mencionadas acima forneceram uma imagem clara da prática de divulgação
de RSC entre os bancos islâmicos de amostra após a emissão de AAOIFI, n º 7 , 2010. A
partir da análise de vários países, mostra uma melhoria da prática de divulgação de RSC
265
entre os bancos de Omã. Eles têm a menor pontuação RSC de 2013 a 2015, mas de 2016
a 2017, eles estão no topo em comparação com os outros bancos islâmicos do CCG. Para
os bancos do Bahrein, esperava-se que fossem totalmente compatíveis com o AAOIFI,
conforme declarado pelos estudos de Vinnicombe (2012), que concluíram que o Bahrein
apresenta um baixo nível de divulgação de RSC em comparação ao Catar e Kuwait, que
não são legalmente obrigados a estar em conformidade com o AAOIFI.
Portanto, os achados desta tese são contraditórios com os achados de Vinnicombe (2012)
e Sherif El-Halaby (2016), que consideram que o Bahrein tem o maior número de bancos
islâmicos compatíveis com o AAOIFI do que com outros países do CCG e, por
consequência, deveriam apresentar um nível mais elevado de divulgação da RSC. Com
base nas conclusões, não há diferença significativa da prática de divulgação de RSC entre
os bancos islâmicos do CCG alguns anos após a emissão da norma de governança do
AAOIFI. Como resultado, ficou evidenciado que AAOIFI não tem influência na prática
de divulgação de RSC entre os membros islâmicos do CCG. Isso talvez se deva à falta de
ações proativas do AAOIFI em relação aos bancos islâmicos no CGG para o
aprimoramento das suas práticas de divulgação de RSC. Portanto, espera-se que o
AAOIFI, como normatizador, possa aumentar a conscientização sobre a prática de
divulgação de RSC entre outros países do CCG no futuro. Espera-se que a ação proativa
do órgão regulador, seja o AAOIFI ou os Bancos Centrais nos países pertencentes ao
CCG, possam melhorar sua pontuação de divulgação de RSC.
Os baixos níveis de desempenho de divulgação de RSC dos bancos convencionais
pesquisados indicam que eles não equilibram atividades orientadas para o lucro com
objetivos moral e socialmente motivados, como sugerido pelo modelo de RSC Carroll
(1979). Os resultados mostram que as atividades filantrópicas não são aceitas pelos
bancos convencionais, como uma política integral de RSC. Assim, os pares dos bancos
islâmicos do CCG não desempenham um papel pró-ativo e significativo no
desenvolvimento da comunidade, nem parecem apoiar uma agenda desenvolvimentista,
como indicado pela economia moral islâmica da região.
Ademais, o baixo nível de divulgação, provocaram resultados inconsistentes com a Teoria
da Legitimidade, conforme argumentado por Guthrie e Parker (1989). Uma empresa, que
opera em prol de uma sociedade tem um contrato social em que concorda em realizar
várias ações socialmente desejadas em troca da aprovação de seus objetivos, outras
recompensas e sua sobrevivência. O resultado mostra que os bancos islâmicos estão
266
menos preocupados, assim como seus pares convencionais, com a sua prática de
divulgação de RSC, uma vez que não há impacto de legitimidade para os bancos, quer a
informação de RSC esteja sendo divulgada ou não.
Além disso, os resultados deste estudo não se alinham com a visão de RSC de Dusuki
(2008), onde os bancos islâmicos deveriam ser socialmente ativos como parte de suas
obrigações religiosas. De acordo com esse modelo, os bancos islâmicos idealmente não
devem se concentrar apenas nas atividades de geração de lucros, pois eles devem
reconhecer e enfatizar a importância das dimensões éticas, sociais e morais em suas
agendas.
No entanto, os resultados da pesquisa mostram o impacto negativo das práticas de
divulgação de RSC sobre o valor dos bancos islâmicos e convencionais. Estes resultados
refletem que as atividades de RSC devem ser incorporadas nas agendas dos bancos
islâmicos, pois isso resultaria em benefício mútuo da sociedade e dos bancos. Com
relação ao efeito negativo da DRSC sobre o valor da empresa (medida usando a proxy de
Q de Tobin), essa constatação aumenta a evidência contraditória sobre a relação entre
divulgação e valor da empresa. Esse resultado é inconsistente com os achados de alguns
estudos que se baseiam na estrutura da Teoria da Agência (e.g., HEALY et al., 1999).
Esses estudos sugerem um impacto positivo da divulgação aprimorada na avaliação da
empresa para a redução da assimetria informacional entre administradores e acionistas.
Com base nos resultados, ficou nítido que a divulgação da RSC não deu qualquer impacto
significativo ao valor dos bancos da seleção amostral, o que é contraditório com os
pressupostos teóricos discutidos neste estudo. Isso pode ser devido ao baixo nível de
conscientização entre as partes interessadas em relação à questão da RSC antes de fazer
seu investimento e também devido à orientação do lucro como objetivo principal do
investidor e não o objetivo social.
É importante observar que essas reflexões teóricas devem ser consideradas dentro das
reflexões críticas fornecidas na seção anterior, uma vez que os bancos islâmicos podem
ter se envolvido proativamente na RSC, mas podem não comunicar tais atividades devido
a várias razões apresentadas acima. Dito isto, é também um facto que os resultados
baseados no questionário do inquérito, tal como apresentado no Capítulo 3, também não
fornecem confiança na comunicação oral.
267
A partir da análise dimensional, pode-se observar que os bancos islâmicos do CCG
tendem a divulgar informações relacionadas aos funcionários em seu relatório anual mais
do que outras informações de RSC. Consiste em informações como: a) disposições da
política de RH, inclusive grupos desfavorecidos; b) quotas/ metas; e c) relação entre as
previsões e realizações anuais. A menor informação divulgada pela amostra dos bancos
islâmicos do CCG diz respeito à sua política de lidar com os seus clientes. De acordo com
o AAOIFI (2010), os bancos islâmicos são recomendados a divulgar tais informações
específicas em seu relatório anual, tais como:
i. Procedimento das IFIs para evitar a imposição de cláusulas contratuais onerosas aos
clientes que estão em posição de barganha mais fraca em relação às suas entidades.
ii. Garantir que campanhas e ações de marketing sejam eticamente balanceadas e suas
informações sejam claras e compreensíveis ao maior número de clientes.
iii. A obrigação e os direitos de ambas as partes (partes interessadas e acionistas), de
forma clara e concisa.
iv. Processos e termos e condições responsáveis sob os quais o crédito é estendido aos
clientes, incluindo o processo pelo qual a capacidade de pagamento do cliente e o efeito
no bem-estar financeiro e geral do cliente são avaliados.
v. Os recursos disponíveis no caso de uma ou ambas as partes violarem seus termos
contratuais.
vi. Opinião do Conselho de Supervisão da Sharia sobre a permissibilidade de cobrar taxas
de pagamentos em atraso.
vii. Taxas de pagamento atrasadas impostas aos clientes inadimplentes.
viii. Como as IFIs alocam as taxas de pagamento atrasado em suas contas (alocação para
receita ou caridade).
ix. As condições sob as quais as IFIs adiarão a cobrança de dívidas de clientes insolventes.
No geral, os resultados encontrados mostram um baixo nível de divulgação de relatórios
de RSC para os bancos islâmicos e menor ainda para os bancos convencionais. A
divulgação média de RSC dos bancos islâmicos de amostra de 2013 a 2017 foi de 41,05%,
menor em comparação com estudos anteriores. As descobertas, no entanto, estão de
acordo com os achados de Maali et al. (2006), Hassan e Harahap (2010) e Farook et al
(2011), que também encontraram que a extensão da divulgação da RSC pelos bancos
islâmicos estava aquém da expectativa (16,8%, 13,3% e 38%, respectivamente). Com
base nas observações e descobertas, a presente tese vai ao encontro da afirmação de Maali
268
et al. (2006), que indicam que os bancos islâmicos não estão cumprindo completamente
seu papel social de acordo com as prescrições do Islã, já que se espera que eles estejam
mais conscientes sobre as questões de RSC no futuro. Segundo Gray et al. (1995), para
ser socialmente responsável, os administradores dos bancos islâmicos são obrigados a
fornecer todas as informações financeiras e não financeiras para seus stakeholders.
Devido ao baixo nível de divulgação RSC, fica evidenciado, entretanto, que a alta
administração dos bancos islâmicos são menos responsáveis no desempenho de suas
funções e tendem a se concentrar em divulgar vários temas de informações de RSC,
ignorando outros temas de informações de RSC, como atividades de caridade e
relacionadas a informações Waqf, por exemplo.
A partir das perspectivas da Teoria da Agência, os administradores dos bancos islâmicos
teriam de divulgar mais informações de RSC para convencer as partes interessadas de que
estão se comportando de forma ideal em seus nomes, sua preocupação com as questões
de RSC e, como resultado, reduzir o custo da agência. Da perspectiva desta tese, essa
questão ainda aparece, pois não há pressão das partes interessadas para que os bancos
islâmicos sejam mais socialmente responsáveis, fator que é acentuado nos seus pares
convencionais, uma vez que inexistem regras religiosas a serem seguidas.
A pesquisa fornece, ainda, forte suporte para os argumentos da Teoria da Agência, que
sugerem que as corporações com forte mecanismo de GC são mais propensas a divulgar
informações de RSC às partes interessadas (TAYLOR et al., 2010). O resultado mostra
que existe uma relação positiva e significativa entre o nível de divulgação da RSC e o
tamanho do Conselho de Administração. Os resultados comprovam que o tamanho do
conselho influencia significativamente a prática da divulgação de RSC nos bancos
islâmicos. Portanto, ao aumentar a prática de divulgação de sua responsabilidade social,
os bancos islâmicos poderiam ter como consequência o aumento de seus Conselhos.
Não há associação significativa entre a composição do conselho e o escore da DRSC. O
estudo não conseguiu comprovar que as partes interessadas têm a capacidade de
influenciar a maneira pela qual as corporações se comportam e, em última análise,
influenciam sua legitimidade em operar. Isto implica que, se uma empresa não atender os
anseios de uma parte interessada relevante, esta parte interessada não poderia aplicar uma
pressão sobre a empresa para satisfazer as suas expectativas. O resultado prova que o
stakeholder não tem influência na prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos.
269
Por fim, essa pesquisa contradiz a base teórica das Teorias de Sinalização e Econômicas,
que argumentam que o aumento da divulgação e transferência de informações para outras
partes tem um impacto positivo no valor de uma empresa (e.g., EASLEY; O´HARA,
2004; GORDON et al., 2010). No entanto, o resultado do estudo não encontrou qualquer
relação significativa e positiva entre a RSC e o valor da empresa. Também ilustra que a
divulgação não financeira (como divulgação de RSC) não tem impacto superior quando
comparado com a divulgação financeira, especialmente para instituições éticas, como
bancos islâmicos.
As Tabelas 25 e 26, a seguir, apresentarão os rankings de divulgação dos bancos islâmicos
e convencionais. Em seguida, as Tabelas 27 e 28 apresentarão a análise multidimensional
nos dois conjuntos de bancos. Importante ressaltar que a maior pontuação média de
divulgação do índice de RSC é a informação relacionada ao bem-estar dos empregados
(BEE), que foi de 64%, seguida pelo Zakat com 57% e pelo Investimento Social,
Poupança Social e Desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas (PME) 34,3%.
Na sequência, temos o Qard Hassan ou Empréstimo Benevolente com 31,7%, as
Atividades de Caridade com 31% e Ganhos e Perdas proibidos pela Sharia (GPS) com
24,3%. Por fim, o Atendimento de Excelência aos Clientes (EAC) com 19%, Política para
o Desenvolvimento Social e investimentos destinados ao Meio Ambiente (PMA) com
10%,Política para seleção de Clientes com (7%) e Gestão do Waqf com 5%.
O menor índice médio de divulgação relacionado ao índice de RSC é o pagamento
atrasado e os clientes insolventes com 2,7%. A partir das observações dos relatórios
anuais dos bancos islâmicos do CCG sobre as informações do Zakat, que é um dos
principais itens da RSC no Islã, alguns dos bancos de amostra não divulgaram os detalhes
dos montantes alocados para esse fim, embora seja um exigência obrigatória de acordo
com o AAOIFI (2010).
270
Tabela 25 – Pontuação Média dos Bancos Islâmicos do CCG (2013-2017)
PAÍS 2013 (%) Ranking 2014 (%) Ranking 2015 (%) Ranking 2016 (%) Ranking 2017 (%) Ranking
Arábia Saudita 43,2 5 50,0 1 38,6 2 45,5 2 52,3 2
Bahrein 45,5 4 34,6 5 30,9 5 41,2 3 35,2 4
Catar 47,0 3 34,9 4 36,4 4 33,3 4 30,3 6
EAU 51,1 2 43,2 3 37,5 3 45,5 2 43,2 3
Kuwait 54,6 1 45,5 2 45,5 1 45,5 2 33,3 5
Omã 27,3 6 24,2 6 24,2 6 51,5 1 60,6 1
Pontuação média da Divulgação da RSC entre 2013 e 2017: 41,05%
Tabela 26 – Pontuação Média dos Bancos Convencionais do CCG (2013-2017)
PAÍS 2013 (%) Ranking 2014 (%) Ranking 2015 (%) Ranking 2016 (%) Ranking 2017 (%) Ranking
Arábia Saudita 37,4 2 26,9 5 36,9 1 20,1 6 27,9 6
Bahrein 29,3 4 29,6 3 29,6 3 37,8 1 29,3 5
Catar 46,1 1 33,8 2 33,8 2 33,8 2 33,8 2
EAU 26,2 5 29,3 4 27,9 4 25,6 5 30,1 3
Kuwait 33,9 3 39,6 1 25,3 5 29,3 3 38,3 1
Omã 25,6 6 22,3 6 24,2 6 26,3 4 29,7 7
Pontuação média da Divulgação da RSC entre 2013 e 2017: 30,65%
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273
7 CONCLUSÕES
A presente tese investigou analiticamente a extensão das práticas de divulgação de
informações da RSC nos bancos islâmicos, sua divulgação e implementação à luz das
diretrizes do AAOIFI nos países do CCG, por meio de seus relatórios anuais. Para obter
uma visão clara da prática de divulgação da RSC entre os bancos da seleção amostral
também foram examinados os determinantes da divulgação de informações de RSC e suas
consequências nos valores dos bancos analisados. Este estudo foi motivado pelos
limitados estudos anteriores de contabilidade e de divulgação corporativa islâmicas, pelas
raras obras sobre o tema publicadas na América Latina, bem como pelo recente interesse
nos estudos de divulgação de práticas de RSC em bancos islâmicos ao redor do mundo.
Com base nessas motivações, três questões de pesquisa foram abordadas, bem como o
alcance do objetivo principal e secundário desta pesquisa.
7.1 Resumo dos resultados da pesquisa
7.1.1 Respostas à Primeira Questão de Pesquisa (QP 1)
Para fornecer respostas à primeira questão de pesquisa (QP 1), a literatura precedente e
relevante foi revisada. As Teorias da Agência, Sinalização, Econômica e de Legitimidade
foram utilizadas para explicar como os relatórios de RSC, no que tange sua divulgação,
poderiam afetar o valor da empresa com base em medidas de mercado, que foram
consistentes com os estudos de Sheu et al. (2010). Seguindo o exemplo de estudos
precedentes, esta tese controlou as variáveis de governança corporativa, as características
da empresa e o PIB de cada país. Na esteira de estudos anteriores (e.g., MORCK et al.,
1988; LA PORTA et al., 2002; LINS, 2003; HANIFFA; HUDAIB, 2006; HASSAN et
al., 2009; AGGARWAL, 2009; PLATONOVA, 2014; HARUN, 2016) a relação Q de
Tobin (QT) foi usada como um proxy para medir a variável dependente (valor da empresa)
na análise principal. Adotando pesquisas anteriores (e.g., HANIFFA E HUDAIB, 2006;
HASSAN et al., 2009), a relação Market to Book Value (MTBV) também foi usada em
uma análise mais aprofundada para verificar a robustez dos resultados. Em relação ao
MTBV, foi medido como sendo a razão entre o valor de mercado do patrimônio líquido
e o valor contábil do patrimônio líquido. Em seguida, foram verificadas todas as
premissas da regressão MQO, como normalidade, heterocedasticidade,
multicolinearidade e auto correlação, para garantir que não houvesse problema com a
274
variável testada. Além da matriz de correlação de Pearson, modelos de regressão MQO
foram realizados para avaliar a significância da associação entre a divulgação da RSC e
valor da empresa (VF).
Essa tese fornece uma série de argumentos teóricos e uma série de evidências empíricas
sobre o motivo pelo qual tal associação pode surgir. O elo negativo entre a divulgação e
o valor da empresa (VF) prova a inconsistência dos resultados anteriores, que se baseiam
na estrutura da Teoria da Agência. Além disso, o efeito negativo da divulgação da RSC
pode ser explicado de diferentes ângulos. Consistentemente com Chung et al. (2012),
informações extras podem ter um efeito negativo no valor da empresa, pois o excessivo
número de divulgações poderia, de certa forma, causar um ruído extra aos investidores, o
que afeta negativamente sua avaliação da empresa. Em segundo lugar, o efeito negativo
sobre o valor da empresa poderia ser impulsionado pelo conteúdo das informações de
RSC divulgadas e pela percepção dos investidores. Existe a possibilidade de a própria
informação de RSC levantar preocupações sobre o desempenho da empresa, o que leva
os investidores a reduzirem sua avaliação. Nessa proposição, quanto mais informações de
RSC forem divulgadas, maior a possibilidade de que o valor da empresa diminua. Em
contraste, as informações de RSC poderiam oferecer notícias positivas para as partes
interessadas, mas essas notícias poderiam estar enviesadas ou poderiam ser suspeitas,
uma vez que são muito diferentes das informações obtidas de outras fontes que não os
relatórios anuais, fato que vale para os bancos islâmicos e convencionais analisados.
Dessa forma, aumentar a quantidade de informações de RSC divulgadas poderia resultar
em uma queda no valor da empresa. Com isso, as partes interessadas poderiam interpretar
erroneamente essa prática da empresa em divulgar mais informações sobre a RSC. Os
stakeholders podem perceber o fornecimento de divulgação aprimorada como uma
maneira de enganá-los sobre o desempenho real da empresa. Os investidores também
poderiam considerar que os concorrentes de uma empresa se beneficiariam dessa
informação excessiva, faroe que poderia afetar negativamente sua expectativa sobre o
desempenho da empresa e, consequentemente, diminuir sua avaliação, fato que vai ao
encontro dos estudos de Hassan et al. (2009) e Platonova (2014).
Os resultados encontrados, no entanto, estão em contradição com os achados de Gelb e
Zarowin (2002), que consideraram que empresas com alta divulgação têm maior
probabilidade de apresentar um valor de firma (VF) superior. Além disso, o resultado
relacionado à divulgação da RSC mostra um impacto adverso da empresa socialmente
275
responsável, que corresponde às questões sociais e ao valor da firma (VF). Este resultado
também não suporta a ideia de que os bancos islâmicos possam usar a divulgação
corporativa para se diferenciar e aumentar sua vantagem competitiva através do aumento
do valor da empresa (VF). Usando o Q de Tobin como indicador de valor da firma, o
resultado não mostrou nenhuma relação significativa, o que se deve a menor preocupação
do stakeholder em relação à questão da RSC antes de fazer uma transação com o banco
(produtos e investimentos). Dessa forma, pode-se concluir que a divulgação da RSC não
teve impacto significativo no valor banco islâmico e no valor do banco convencional.
7.1.2 Respostas à Segunda Questão de Pesquisa (QP 2)
Para fornecer respostas à segunda questão de pesquisa (QP 2), o estudo revisou as teorias
relevantes que explicam as motivações de GC para permitir o aumento da divulgação
corporativa. Consequentemente, os determinantes dos relatórios de RSC foram propostos,
com base nas Teorias da Agência, Teoria dos Stakeholders, Teoria da Legitimidade e
Accountability. As principais variáveis testadas, relacionadas a GC, consistiram naquelas
relacionadas ao Conselho de Administração, ao Conselho de Supervisão Sharia, ao
Comitê de Auditoria e a Estrutura de Propriedade. Além dessas variáveis principais,
foram usadas características da empresa e características específicas do país como
variáveis de controle. Foram garantidas as suposições de MQO, como normalidade,
heteroscedasticidade, multicolinearidade e auto correlação, para que se comprovasse a
não existência de problemas com as variáveis testadas. Além da matriz de correlação de
Pearson, modelos de regressão MQO foram conduzidos para avaliar a significância da
associação entre as variáveis dos determinantes e os escores de divulgação de RSC.
O objetivo principal dessa segunda questão de pesquisa foi o de examinar o nível de
discrepância e de aderência da RSC e seus determinantes entre 40 bancos islâmicos e 40
bancos convencionais do CCG através de 200 observações, para cada grupo. Tal exame
contribui com a literatura de relatórios de RSC existente sendo o primeiro a examinar os
determinantes de divulgação da RSC nos bancos islâmicos do CCG para os anos 2013 e
2017 usando variáveis abrangentes de GC. O estudo testou o grau em que os mecanismos
de GC (Conselho de Administração, Conselho de Supervisão Sharia, Comitê de Auditoria
e Estrutura de Propriedade) afetam a decisão dos bancos islâmicos de divulgar suas
informações de RSC em seus relatórios anuais. O estudo utilizou métodos quantitativos
para testar as hipóteses de pesquisa. Foi desenvolvido um índice abrangente de divulgação
de RSC Islâmico e Convencional baseado na literatura anterior e na diretriz do AAOIFI
276
e foi utilizado o método de análise de conteúdo qualitativo para encontrar as informações
de divulgação de RSC na amostra selecionada. A análise de regressão MQO também foi
utilizada para a análise empírica. A variável dependente consistiu no número total de
divulgações de RSC enquanto as variáveis independentes foram um conjunto de
mecanismos de GC. Já as variáveis de controle consistiram em um conjunto de
características dos bancos e variáveis de características específicas dos seis países que
compuseram a seleção amostral.
A análise empírica constatou que o Tamanho do Conselho de Administração (TCA) tem
relação significativamente positiva com a prática de divulgação de RSC entre os bancos
islâmicos do CCG. Este resultado é consistente com os estudos de Singh et al. (2004),
Lakhal (2005), Cheng e Courtenay (2006), Abdel-Fattah (2008), Laksamana (2008),
Platonova (2014) e Harun (2016), que também encontraram associação positiva entre a
divulgação e a composição do Conselho de Administração em seus estudos. Pode-se
afirmar que o tamanho do Conselho está positivamente associado à prática de divulgação
de RSC. Portanto, organizações com mais membros em seus Conselhos de Administração
se engajam em maior medida nas práticas de divulgação de RSC e nas atividades de RSC,
como atividades de caridade e benevolência em prol dos mais necessitados, resultados
consistentes com os de Williams (2003), Haniffa e Hudaib (2007) e Platonova (2014).
A presente tese também constatou que a Dualidade do CEO (DCEO) e o Tamanho do
Comitê de Auditoria (TCTA) impactam negativamente na prática de divulgação da RSC
entre os bancos islâmicos do CCG. As outras variáveis características de GC (composição
do conselho, gênero do conselho, número de reuniões do conselho, tamanho do CSS e
participação cruzada de membros do CSS) não apresentaram relação significativa com o
nível de divulgação total de RSC entre os bancos islâmicos. Dessa forma, foi mantida a
consistência com o argumento de Ho e Wong (2001) de que os mecanismos de
governança corporativa podem ser substitutivos e podem não afetar os escores de
divulgação. Para formar a análise, pode-se concluir que o tamanho do conselho tem uma
influência significativa no aprimoramento da prática de divulgação da RSC entre os
bancos islâmicos no CCG. No entanto, os bancos que têm a mesma pessoa no cargo de
CEO e de presidente do Conselho de Administração (Dualidade do CEO) podem perceber
alguma influência em suas práticas de divulgação de RSC, pois a mesma pessoa nos dois
cargos pode possuir o poder de influenciar e aprimorar a prática de divulgação de RSC
na organização. Por sua vez, o tamanho do Comitê de Auditoria não apresentou efeito
277
significativo na prática de divulgação da RSC, que pode explicado devido à sua falta de
função e de legitimidade para influenciar o Conselho e a própria Administração.
7.1.3 Respostas à Terceira Questão de Pesquisa (QP 3)
Para fornecer respostas à terceira questão de pesquisa (QP 3), um índice de divulgação de
RSC foi desenvolvido para mensurar a efetiva divulgação da RSC nos relatórios anuais
dos bancos islâmicos. Em seguida, o instrumento de pesquisa foi construído com base na
orientação nº 7 da AAOIFI (2010), que trata das melhores práticas de divulgação
corporativa, bem como índices sugeridos pelas pesquisas precedentes. A técnica de
análise de conteúdo foi utilizada para codificar o texto e classificar os índices divulgados
em relatórios financeiros e não financeiros que contivessem fatores sociais. Depois de
analisar as diferentes bases de dados, bancos centrais, sites e relatórios atualizados, bem
como os critérios para a amostra de pesquisa selecionada, o estudo aplicou o índice de
RSC abrangente em 40 bancos islâmicos e 40 bancos convencionais dos 6 países do CCG,
o que envolveu 200 observações, para cada grupo, entre os anos de 2013 e 2017.
Estatísticas descritivas foram usadas para delinear os níveis de divulgação para os bancos
islâmicos, incluindo suas categorias de RSC e conformidade com os padrões de
governança do AAOIFI. Dessa forma, foi possível comparar os índices dos dois grupos
analisados (bancos islâmicos e bancos convencionais).
Este estudo mediu, principalmente, em qual escala os bancos islâmicos do CCG da
amostra cumprem os padrões de divulgação exigidos pelo AAOIFI e forneceu
informações descritivas do nível de divulgação da RSC. Um índice abrangente de
divulgação de RSC, desenvolvido com base neste padrão foi construído. Os relatórios
anuais foram utilizados como a principal fonte de informações para mensurar a pontuação
de divulgação da RSC dos bancos islâmicos e convencionais da amostra.
No geral, entre os países analisados, Omã apresentou a maior pontuação de divulgação
da RSC em comparação com os outros países do CCG. Os achados deste estudo também
indicam um nível de escore geral de divulgação de RSC, que é de 41,05%, que é menor
do que a expectativa que se tinha no início da pesquisa, mas maior em comparação com
seus pares convencionais, que apresentaram um resultado global de 30,65%. Os
resultados também mostraram que os bancos islâmicos do Bahrein, que formalmente
implementaram os padrões contábeis do AAOIFI de maneira compulsória, não
melhoraram significativamente sua divulgação, ao contrário, apresentaram pontuações de
278
divulgação inconsistentes da RSC entre os anos de 2013 a 2017. A análise mostrou ainda
que os bancos islâmicos de amostra tendem a divulgar e privilegiar informações
relacionadas aos funcionários, ao invés de outras informações obrigatórias, conforme
estabelecido nos padrões da AAOIFI (como ganhos e gastos proibidos pela Sharia,
política para lidar com os clientes, política de seleção de clientes e Zakat). Com base na
análise cross-country e multidimensional, pode-se concluir que a emissão da norma de
governança do AAOIFI, que foca na divulgação de RSC, não melhorou a prática de
disclosure entre os países islâmicos do CCG. Os escores de divulgação ainda são
relativamente mais baixos em comparação com o estudo realizado antes da emissão da
norma nº 7 do AAOIFI no ano de 2010 (e.g., MAALI, 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007).
7.2 Implicações teóricas e práticas
Os resultados resumidos na seção anterior têm algumas implicações práticas e teóricas
distintas. A principal força deste estudo está contida em suas implicações teóricas e
práticas e sua utilidade em fornecer evidências das práticas de RSC, bem como o impacto
dessas divulgações no valor dos bancos islâmicos e convencionais analisados.
Este estudo demonstrou como as atividades de RSC têm sido incorporadas nas agendas
dos bancos islâmicos do CCG através da análise de suas práticas de divulgação de RSC,
que devem demonstrar um alto nível de transparência e transparência com base nos
princípios financeiros islâmicos que destacam os aspectos morais e sociais de atividades
de negócio. Este estudo, no entanto, indica que a maioria dos bancos islâmicos, apesar
das altas expectativas de divulgação total da RSC, revelam significativamente menos
informações do que a expectativa inicial. Parece que a prioridade é dada às informações
relacionadas às suas obrigações financeiras em relação aos seus acionistas, e não aos
interesses de uma gama mais ampla de partes interessadas. Esta pesquisa confirma os
resultados dos estudos anteriores, que mostraram evidências de que as práticas de
divulgação de RSC dos bancos islâmicos carecem de informações essenciais, apesar de
divulgarem mais do que seus pares convencionais.
7.2.1 Implicações teóricas
O estudo introduziu uma medida válida e confiável de divulgação da RSC, bem como um
modelo para mensurar o valor do banco frente a divulgação da RSC. Esta tese forneceu
evidências de que as consequências econômicas para a divulgação da RSC, pelos bancos
islâmicos, podem ser avaliadas com base nas características quantitativas, como usadas
279
por Uyar e Kiliç (2012), Monsuru e Adentuji (2014), El-Halaby e Hussainey (2015) e
Khlif et al. (2015). Adotando, como referência, estudos prévios que medem as
consequências da divulgação, que adotaram a análise de conteúdo para o relatório anual
baseado em MQO (e.g., HUSSAINEY et al., 2003; KOTHARI et al., 2009; ELZAHAR
et al., 2015;), este estudo contribui com ferramentas teóricas, verificando as suposições
do MQO, que são normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto
correlação, que trouxeram maior confiabilidade aos resultados encontrados.
Além do exposto, a tese fornece outras implicações teóricas:
Primeiro, por fornecer uma discussão clara sobre a RSC a partir de perspectivas
islâmicas, uma vez que se discutiu o princípio ético islâmico na promoção da prática de
divulgação de RSC, conforme declarado no Corão, na Suna e na Sharia. Pesquisas
anteriores tenderam a se concentrar em medir a pontuação de divulgação de RSC em
bancos convencionais e bancos islâmicos espalhados em países heterogêneos. Assim, este
estudo contribui para a literatura de divulgação, fornecendo uma discussão clara da
divulgação de RSC a partir de uma perspectiva islâmica em países com características
semelhantes, do ponto de vista econômico e de aplicação de normas financeiras islâmicas.
Segundo, pois a maioria dos estudos precedentes, que investigaram a divulgação de RSC,
mediram o nível de disclosure usando um índice desenvolvido com base em pesquisas
anteriores (e.g., FAROOK et al., 2011), enquanto outras exploraram os padrões de
governança da AAOIFI sobre conformidade com a divulgação social. Portanto, este
estudo contribui para a literatura de divulgação por ser o primeiro que desenvolve um
índice usando o AAOIFI e pesquisas anteriores para medir a prática de divulgação de
RSC entre bancos islâmicos de amostra. Em seguida, mediu-se os fatores por trás das
variações do nível de divulgação, considerando que estudos anteriores tenderam a adotar
índices sugeridos anteriormente, como os de Maali et al. (2006) e Haniffa e Hudaib
(2007).
Terceiro, na medida em que pesquisas anteriores aplicaram a análise de conteúdo a um
período de um ano, ou dentro de um país, além de amostras muito limitadas (e.g.,
SOBHANI et al., 2009; BELAL et al., 2014; EL-HALABY; HUSSAINEY, 2015). Este
estudo contém um tamanho de amostra maior (40 bancos islâmicos), distribuído por 6
países do CCG entre 2013 e 2017 e envolveu 200 observações, o que fornece uma imagem
melhor da prática de divulgação de RSC entre os países do CCG.
280
Quarto, pois o estudo dos padrões do AAOFII cresceu nos últimos anos com
contribuições substanciais de estudiosos, como Hassan e Harahap (2010) e Ahmed e
Khatun (2013). É notório que o foco da maioria desses estudos é de natureza descritiva,
enfatizando em particular o nível de conformidade com o AAOIFI, sem estender, no
entanto, seu estudo para explorar os principais fatores por trás do nível de divulgação.
Este estudo contribui para a literatura de divulgação de informações não necessariamente
financeiras, uma vez que explora os determinantes da divulgação relacionados com a GC
para os bancos islâmicos do CCG.
Quinto, visto que o presente estudo explorou, usando a análise dos mecanismos de GC,
os determinantes da divulgação da RSC, usando variáveis de controle específicas para o
banco e para o país. Embora a literatura anterior forneça evidência empírica mista para
divulgação, estudos limitados examinaram a prática de divulgação de RSC no CCG. Além
disso, as pesquisas precedentes forneceram evidências empíricas mistas para variáveis
relacionadas às características da GC. Há trabalhos limitados que examinaram a
existência de um CSS interno e de um comitê de auditoria, fato que poderia influenciar
potencialmente a prática de divulgação de RSC. Este estudo, portanto, é avançado
considerando-se o mecanismo de GC e as variáveis do CSS que têm impactos diversos
sobre a prática de divulgação, ao invés de investigar apenas associações entre tipos únicos
de variáveis e práticas de divulgação como em estudos precedentes (e.g., PINCUS et al.,
1989; HASSAN et al., 2012; KAMLA; RAMMAL, 2013).
Sexto, pois poucos estudos empíricos anteriores se propuseram a investigar a associação
entre as divulgações de RSC e as variáveis de GC que contivessem variáveis do CA, CSS,
CTA e estrutura de propriedade do setor bancário islâmico. Este é o primeiro estudo que
investiga empiricamente a associação dessas variáveis com a divulgação da RSC.
Sétimo, visto que se utilizou da aplicação de dois métodos para examinar a associação
entre as principais variáveis e realizar testes nos modelos desenvolvidos: MQO e
estatística descritiva, que têm sido usados com frequência na literatura internacional. Este
estudo fornece variáveis de GC mais abrangentes para testar sua associação com a prática
de divulgação de RSC. Como resultado, forneceu uma imagem melhor da prática de
divulgação de RSC na região do CCG.
Por último, porém não menos importante, em função da existência de estudos empíricos
limitados que investigaram a conexão entre a divulgação e as consequências econômicas
281
no setor bancário (e.g., DHALIWAL et al., 2011; SERVAES; TAMAYO, 2013). Este,
portanto, é o primeiro estudo que investiga empiricamente essa relação entre Bancos
Islâmicos e fornece uma valiosa contribuição para os pesquisadores, pois amplia a
compreensão de como as divulgações de RSC afetam o valor dos bancos islâmicos,
distintos dos estudos que avaliaram apenas os efeitos em bancos convencionais.
7.2.2 Implicações práticas
Esta tese fornece diversas implicações práticas que serão apresentadas a seguir:
O número total de sentenças textuais nos relatórios anuais dos bancos islâmicos variou e
houve uma grande diferença entre o maior e o menor número. Além disso, os relatórios
anuais não foram relevantes para os stakeholders. Por essas razões, os reguladores e os
administradores dos bancos deveriam se atentar ao aumento da utilidade da divulgação
para as partes interessadas, à integridade de suas informações de RSC e à forma de
fornecer informações de maneira mais compreensível para as partes interessadas.
Os resultados sugerem que os bancos islâmicos da amostra variaram na medida em que
relataram suas atividades de RSC. Alguns bancos usaram muitas sentenças (foram mais
prolixos, enquanto outros relataram sua responsabilidade social em apenas algumas
frases). Isso indica que os bancos tinham um estilo diferente em expressar suas
informações de RSC em seus relatórios anuais, sem um padrão pré-definido. As partes
interessadas deveriam, nestes casos, entender esse ponto e ler criticamente os relatórios
anuais, filtrando as informações úteis em um relatório anual, para garantir uma correta
tomada de decisão. Portanto, sugere-se que os bancos islâmicos possam fornecer uma
seção específica no relatório anual, com a finalidade de apresentar informações de RSC.
As descobertas fornecem importantes implicações para investidores, administradores,
órgãos reguladores, formuladores de políticas e bancos islâmicos. Esses resultados
demonstram aos investidores que o nível de DRSC tem um efeito negativo no valor de
mercado de seus bancos, com base nas proxies analisadas. Para aqueles que se abstêm de
fornecer informações às partes interessadas, os resultados exigem mais transparência na
RSC, se desejam que os bancos sejam mais valiosos para os stakeholders.
Os resultados demonstram ainda que a divulgação de informações de RSC esteve ausente
nos relatórios anuais dos bancos islâmicos selecionados do CCG. Portanto, os órgãos
reguladores e os formuladores de políticas poderiam identificar um padrão de referência
282
mínimo para a divulgação de RSC, semelhante às dimensões que são recomendadas pelo
AAOIFI e que seja publicado por cada banco em seu relatório anual. Além disso, essa
constatação é importante para os bancos islâmicos, que podem estar cientes de que mais
divulgação da RSC pode ter um impacto significativo na imagem das empresas. Assim,
espera-se que eles estejam mais conscientes sobre as questões de divulgação de RSC, ao
invés de se concentrarem exclusivamente no objetivo de maximização dos seus lucros.
Para os reguladores ou futuros reguladores (países que pretendem abrir as portas para as
finanças islâmicas, como é o caso do Brasil), este estudo fornece algumas informações
relacionadas à divulgação da RSC. Este estudo fornece evidências de que uma governança
corporativa mais forte está associada a um maior nível de divulgação de RSC. Portanto,
os órgãos reguladores, como o AAOIFI, devem ser mais proativos ao orientar os bancos
islâmicos em direção às melhores práticas de divulgação, uma vez que os bancos
procuram por tal orientação. A GC desempenha um papel motivador nessa área de
divulgação de informações. Espera-se também que o AAOIFI tenha uma forte
colaboração com os órgãos reguladores dos países no aprimoramento das práticas de
divulgação da RSC entre os bancos islâmicos.
As pontuações de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos e convencionais do CCG
são variadas, mas a tendência era de uma maior transparência, em função de suas
obrigações religiosas presentes em suas operações comerciais. Recomenda-se que os
reguladores aprimorem as regulamentações para motivar os bancos de forma voluntária e
transparente a revelarem suas informações de RSC. Além disso, os reguladores também
precisariam considerar os níveis de divulgação dentro dos relatórios anuais para outras
IFIs, com relação aos níveis de divulgação que são necessários para as partes interessadas.
7.3 Recomendações para futuras pesquisas
Há um número limitado de variáveis de GC que foram testadas na presente tese, que se
concentrou apenas nas variáveis relacionadas ao Conselho de Administração, no
Conselho de Supervisão da Sharia, do Comitê de Auditoria e nas variáveis de Estrutura
de Propriedade. Pesquisas futuras poderiam considerar outros mecanismos de GC, como
número de subsidiárias e tipo de propriedade (familiar, estatal ou privada). Esta tese
limitou-se apenas a analisar os determinantes que levaram a divulgação da RSC dos
bancos islâmicos. Portanto, pesquisas futuras poderiam explorar os determinantes da
divulgação da RSC em outras instituições islâmicas, como companhias de seguros
283
islâmicas (Takaful) e companhias de investimento islâmicas, bem como explorar de forma
analítica os determinantes da divulgação da RSC em bancos ocidentais que operam em
países de maioria islâmica. Isso poderia comprovar os resultados dos estudos de
divulgação da RSC, de maneira mais consolidada. O estudo também se limitou a discutir
a norma de nº 7 do AAOIFI (2010) e sua conformidade entre os bancos islâmicos da
amostra. Mais estudos poderiam ser realizados para medir o nível de conformidade com
outros padrões de governança da AAOIFI ou padrões nacionais estabelecidos em cada
jurisdição, por meio de seus bancos centrais, por exemplo.
A presente tese concentrou-se em duas medidas ou proxies do valor da empresa, que são
MTBV e Q de Tobin. Seria interessante usar outras medidas para o valor da empresa,
como medidas de eficiência de escala, conforme sugerido por Dybvig e Warachka (2015).
Esta tese também se concentrou estritamente nas consequências da divulgação de RSC
entre os bancos islâmicos. Seria interessante também, para um estudo mais aprofundado,
examinar a associação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa também para
outras instituições financeiras islâmicas, como companhias de seguro islâmicas (Takaful).
Outra recomendação está relacionada ao exame da relação entre as práticas de RSC e a
reputação dos bancos islâmicos, que é uma questão crítica que precisa ser avaliada. Além
disso, o impacto das práticas de RSC na exposição ao risco no setor bancário islâmico
pode ser outro tópico dinâmico que precisa ser explorado para avaliar se a promoção das
práticas de RSC tem uma influência positiva no fortalecimento da posição dos bancos e,
portanto, aumentar sua confiança no setor bancário. Por sua vez, isso evitará
positivamente alguns riscos potenciais críticos que os bancos podem enfrentar, como um
banco que ocorre quando os depositantes entram em pânico e sacam seus fundos
simultaneamente em um momento inconveniente. Com respeito aos métodos estatísticos
utilizados, outra recomendação diz respeito à utilização de dados em painel, muito
provavelmente com dados balanceados, uma vez que existem todas as informações
disponíveis, para que se possa analisar a evolução da divulgação da RSC anualmente, o
que facilitaria a identificação de possíveis motivações não capturadas nesta pesquisa.
Ressalte-se que, com a finalidade de aumentar o potencial social dos bancos islâmicos, a
dimensão social estudada nesta tese poderia ser integrada nas estratégias de negócios dos
bancos islâmicos, para reduzir as diferenças entre as realidades das publicações e as
expectativas criadas, uma vez que melhorariam a imagem e reputação dos bancos. Dessa
forma, como última contribuição, sugere-se que outras pesquisas examinem as
284
consequências não econômicas da divulgação da RSC e do valor da empresa, como a
imagem e a reputação dos bancos perante à sociedade.
7.4 Epílogo
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar as práticas de divulgação de RSC dos bancos
islâmicos no caso da região do CCG e também examinou o impacto das práticas de
divulgação de RSC no desempenho financeiro dos bancos. Apesar das evidências
empíricas desta pesquisa indicarem um baixo nível de divulgação de RSC, os bancos
islâmicos desempenham um papel significativo em termos de agrupamento de fundos e
demonstraram fornecer serviços valiosos que equilibram as necessidades dos credores e
clientes. No entanto, a fim de aumentar o potencial social dos bancos islâmicos, a
dimensão social deve ser integrada nas estratégias de negócios dos bancos islâmicos para
reduzir as diferenças entre as realidades do sistema bancário islâmico e as aspirações dos
objetivos da Lei Islâmica.
Diversas ideias foram discutidas e analisadas nesta tese, as quais podem ser consideradas
como uma agenda para futuras pesquisas para pesquisadores, profissionais, reguladores e
estudiosos das Finanças Islâmicas. O investimento em melhores sistemas e ferramentas
de governança corporativa deve ser visto como um desenvolvimento estratégico, e não
como uma necessidade situacional. A gestão desses sistemas para os bancos islâmicos
não é um destino ou um projeto, mas uma jornada e um processo contínuo.
Para o Brasil, é altamente recomendável a sua integração com foros e entidades
internacionais de finanças islâmicas, a fim de estabelecer canais institucionais e
acadêmicos de troca de experiências com entidades de padronização, como a AAOIFI e
o IFSB, bem como com autoridades supervisoras de países nos quais as finanças islâmicas
já estejam bem desenvolvidas, como a Arábia Saudita, Indonésia Malásia e Reino Unido.
Isso criaria condições para que o Brasil aprendesse com a trajetória desses países, tanto
no âmbito acadêmico quanto empresarial, fomentando novos negócios e pesquisas.
285
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GLOSSÁRIO
1) Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Instituions
(AAOIFI): Organização de Contabilidade e Auditoria voltada às Instituições
Financeiras Islâmicas. Criada em 1991 para desenvolver novos padrões e
incentivar a aplicação desses padrões, o AAOIFI é atualmente reconhecido
internacionalmente como a principal organização de definição de padrões para as
Finanças Islâmicas. Desde o início, já emitiram mais de 70 padrões em
contabilidade, auditoria e governança, além de códigos de ética e Sharia.
2) Al-kharaj bi al-daman: o conceito de que o tamanho da recompensa deve
corresponder ao nível de risco envolvido.
3) Amanah: não é um contrato como tal, mas é uma característica ou um requisito
em alguns contratos específicos que impõem a uma das partes divulgar o preço de
custo real, como na venda de Murabahah em comparação com a venda de preço
negociado (Musawwamah). O Amanah relaciona-se com a parte da relação
comprador/vendedor, sempre baseada na confiança. Isso pode ocorrer quando a
instituição financeira compra mercadorias de um fornecedor terceirizado a pedido
dos clientes da instituição, que posteriormente compra as mercadorias da
instituição financeira. Ao comprar as mercadorias do fornecedor, a instituição
financeira assume riscos relacionados ao ativo especificado até o momento da
compra pelo comprador. Um Amanah, ou tutela, é exigido do vendedor/financista
para divulgar o custo real dos bens adquiridos do fornecedor antes de vendê-lo ao
cliente, ao custo acrescido de margem de lucro (cost plus).
Outro exemplo de Amanah, introduzido em um arranjo financeiro islâmico, seria
o Wadiah Yad-Amanah, que acontece quando um banco, como custodiante,
assume a tarefa de guardar os ativos ou fundos depositados por um cliente em um
contrato de custódia segura, com base nesta tutela. É executado entre duas partes,
nomeadamente o depositante (proprietário) e o banco (custodiante). A
responsabilidade do custodiante desencadeia apenas em casos de negligência e má
conduta negocial. Isso serve para distinguir os contratos de custódia segura, que
são baseados em responsabilidade, e este contrato de custódia segura, que depende
da tutela. Estabelece a responsabilidade de uma das partes, em que um contrato
que é caracterizado como Amanah não infligirá qualquer responsabilidade legal
por parte do custodiante, exceto no caso de negligência e má conduta.
Princípios-chave de Amanah:
• Requer uma divulgação verdadeira e honesta do preço (fair falue ou valor justo)
de custo em todas as vendas baseadas em Amanah.
• Estabelece responsabilidade sobre os fiduciários apenas em casos de negligência
e má conduta.
4) ‘Aqd: contrato.
321
5) ‘Ariyah: permissão de uso de um ativo sem direito a compra (empréstimo).
6) Ashum: compartilhamentos.
7) Bay: venda.
8) Bay 'al-dayn: venda da dívida.
9) Bay 'al-Inah: venda e recompra para obter dinheiro.
10) Bay al-murabahah: venda de uma mercadoria ao preço de custo acrescido de um
lucro conhecido (margem de lucro pré-definida).
11) Bay 'al-tawliyah: venda a preço de custo, sem lucro ou perda.
12) Bay'al-wadiah: venda abaixo do preço de custo ou com um preço com desconto.
13) Bay 'mu'ajjal: venda de pagamento diferido.
14) Bayt al-mal: tesouro do governo.
15) Darurah: uma necessidade ou emergência. Essa é uma condição na qual os
aspectos da Sharia podem ser suspensos para preservar a vida, ou para garantir a
segurança da comunidade muçulmana ou de um indivíduo, em casos extremos.
16) Dayn: uma dívida ou a obrigação de entregar um ativo.
17) Dhamarah: Garantia.
18) Fasakh: Dissolução contratual.
19) Fiqh: Lei substantiva Islâmica.
20) Fiqh al-muamalah: Lei comercial Islâmica.
21) Gharar: incerteza.
22) Gharar fahish: grande incerteza.
23) Gharar yasir: menor incerteza.
24) Hadiah al-thawaab: um presente com a intenção de receber a recompensa (troca)
do destinatário no futuro.
322
25) Hajj (Haj, Haji): Peregrinação Islâmica à Meca.
26) Halal: aceitável, lícito e puro.
27) Hamish Jiddyah: um depósito de segurança pago por uma parte antes de entrar
em um contrato de câmbio, como venda e arrendamento, por seu compromisso
com este contrato pretendido. Caso a parte deixe de celebrar o contrato, a outra
parte pode usar o depósito para cobrir quaisquer perdas incorridas.
28) Hanafi: escola particular de direito.
29) Haram [Haraam]: inaceitável, proibido, ilícito ou impuro.
30) Hasuna: agradável e conveniente.
31) Hiba [Hibah]: presente.
32) Hiwalah [Hawala]: transferência de uma dívida.
33) Hukm: uma decisão no Corão ou nas Tradições do Profeta Muhammad
(S.A.W.S.), ou derivada do raciocínio dos juristas.
34) Ibra': pode ser definido como um desconto. Um exemplo de Ibra' ocorre quando
um banco, possuidor de um valor devido definido de um dos seus clientes, aceita
receber antecipadamente esse valor com deságio. Esta prática de desconto ou
desconto evita o enriquecimento sem causa e mantém a competitividade do banco.
Princípios fundamentais do Ibra’:
• Relaciona-se com a perda dos direitos de reivindicação.
• Envolve um desconto ou abatimento para o recebimento antecipado de uma
quantia devida.
35) Islamic Research and Training Institute (IRTI) ou Instituto Islâmico de
Pesquisa e Treinamento: Fundado em 1981 para realizar pesquisas e fornecer
treinamento e serviços de informação nos países membros do Banco Islâmico de
Desenvolvimento (BID) e comunidades muçulmanas em países não-membros.
36) 'I’fa: renúncia contratual.
37) Ijarah: um contrato de arrendamento.
38) Ijarah al-a’yan: arrendamento de ativos.
323
39) Ijarah mawsuufah fi dhimmah: uma locação com uma descrição específica da
propriedade a ser construída e entregue no futuro, segundo a qual o pagamento da
locação pode ser cobrado antes da entrega do ativo.
40) Ijarah muntahia bi tamleek: ocorre quando uma opção para transferir o título do
ativo para o cliente é prevista no contrato de arrendamento, chamada de Ijarah
muntahia bi tamleek. É também conhecido como Ijarah thumma al bay
(arrendamento seguido de venda) ou Ijarah wa al-iqtina'(contratar e comprar). O
objetivo deste financiamento é o de transferir o título legal do ativo arrendado para
o arrendatário no final do período de arrendamento. No final deste contrato, o
banco entregará a propriedade do ativo ao cliente em consideração ao total
acumulado de reivindicação de aluguel que inclui o lucro.
O conceito de Ijarah muntahia bi tamleek é uma alternativa para financiar o
leasing e, em particular, o financiamento de compra e venda.
Há várias formas de financiamento que refletem as diferentes formas de transferir
a propriedade do ativo, como doação, venda e transferência de reivindicação de
equidade do locador para o locatário.
Princípios-chave de Ijarah Muntahia Bi Tamleek
• Envolve um arrendamento com a opção de comprar o ativo arrendado.
• No final do período de locação, o título é transferido para o locatário.
• Existem várias formas para refletir o modo de transferência de propriedade.
41) Ijarah tasqhilliyyah: refere-se a um arrendamento operacional, em que a
instituição financeira transfere o usufruto (direito de uso benéfico) de uma
determinada propriedade para outra pessoa em troca de uma renda destinada ao
locatário. A instituição financeira, como um banco, comprará um ativo, por
exemplo, fábrica e maquinário, de um fornecedor e o arrendará ao arrendatário ou
cliente a uma taxa acordada por um período definido.
A locação operacional indicará claramente que o locatário tem o direito sobre o
usufruto em troca de uma reivindicação de locação. A propriedade do ativo não
será transferida para o locatário durante o período do contrato do Ijarah. No final
de cada período do Ijarah, o banco negociará uma nova locação com o locatário e
o período de locação continuará até que o banco opte por eliminar o ativo.
Nenhuma opção ou direito de compra é concedido ao locatário.
Princípios-chave do Ijarah tasqhilliyyah:
• Envolve uma locação operacional simples.
• No final do período de locação, o título não é transferido para o locatário.
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• No final do período de locação, o proprietário do ativo negociará uma nova
locação ou venderá / descartará o ativo.
42) Ijarah thumma al bay’: ver Ijarah muntahia bi tamleek.
43) Ijarah wa al-iqtina ’: ver Ijarah muntahia bi tamleek.
44) Ijtihad: interpretação.
45) Ijma': consenso ou acordo de todos os estudiosos muçulmanos sobre um
determinado assunto ou interpretação.
46) ‘Illah: causa efetiva, em ação relativa à propriedade e não à pessoa.
47) Istihsan: consideração de equidade.
48) Istishab: presunção de permissibilidade.
49) Istisna': é um contrato para construir, fabricar ou desenvolver o objeto de venda
a um preço definido, por um período de tempo definido, de acordo com as
especificações acordadas entre as partes (comprador e vendedor). Um contrato de
Istisna pode ser estabelecido entre um banco e um empreiteiro, desenvolvedor ou
produtor, que permite ao banco efetuar pagamentos progressivos à medida que a
construção avança (avanço físico). O financiamento do Istisna é fornecido na
forma de pagamento antecipado por progresso ao cliente que constrói, fabrica,
constrói ou desenvolve o objeto de venda. Após a conclusão do projeto, o ativo é
entregue às partes que concordaram em receber o ativo.
O Parallel Istisna’ surge quando a parte que pretende receber a entrega fornece
um pagamento antecipado ao banco para envolver o construtor, o fabricante, o
contratado e o desenvolvedor.
Variações de expectativas de tempo e fluxo de caixa, entre o comprador e as partes
que entregam o objeto de venda, são formatadas pelo banco.
Princípios-chave do Istisna
• Envolve a compra de um item que ainda precisa ser construído, fabricado ou
desenvolvido.
• Os pagamentos pelo avanço físico são normalmente feitos em parcelas à medida
que a construção avança.
• Na conclusão do projeto, o ativo é entregue àqueles que originalmente o
encomendaram.
325
• Parallel Istisna é onde aqueles que encomendam o ativo fazem pagamentos
progressivos para o financiador, pois o ativo é construído por outro contratado ou
desenvolvedor.
• Parallel Istisna permite qualquer incompatibilidade no tempo ou quantidade de
fluxos de caixa entre aqueles que encomendam o ativo e aqueles que o constroem.
50) Istána 'muwazi (Istisna paralelo'): veja acima.
51) Ju’alah – recebimento baseado em comissão.
52) Kafalah: é um contrato de garantia que fornece garantia em termos de
desempenho e valor quando o objeto da transação está exposto a mudanças
adversas devido a variações resultados. No financiamento ao comércio, uma
garantia bancária é emitida quando o proprietário das mercadorias libera a
responsabilidade pelos bens em nome de um terceiro. Tais garantias são
frequentemente utilizadas em casos de bens importados se apresentam variações
cambiais. O exportador sabe que as mercadorias serão pagas e o importador pode
ser obrigado a oferecer alguma forma de garantia e normalmente pagará uma taxa
pelo serviço. O objetivo de um contrato de Kafalah é facilitar o comércio
internacional.
Princípios-chave da Kafalah
• Envolve uma garantia ou garantia.
• Usado quando algo que está sendo comprado ou vendido pode mudar em valor
se exposto a condições adversas.
• Usado frequentemente ao importar/exportar mercadorias.
• Facilita o comércio internacional entre os países.
53) Kafil: fiador
54) Khiyar Al Majlis: Opção de sessão.
55) Khiyar Al Shart: Opção Condicional.
56) Madhhab: escolas da Lei Islâmica.
57) Madhahib: plural de Madhhab.
58) Mafsadah: mal e dano.
59) Maisir [Maysir]: jogo de azar.
60) Majallah al-ahkam al-adliyyah: o Código Civil Islâmico do Império Otomano.
326
61) Makhatir: risco que é integral em qualquer negócio ou transações comerciais.
62) Maliki: escola particular de direito.
63) Marhun: Garantia prometida pelo vendedor.
64) Maqasid: objetivos e finalidades finais da Lei Islâmica.
65) Maslahah: o que é bom ou benéfico e de interesse público.
66) Mudarabah [Mudarabah, Mudharabah, Modaraba] (provedor de capital - Rabb
al-mal, empresário - Mudarib): um contrato de Mudarabah é um contrato de
participação nos lucros. Sob um contrato de Mudarabah, o provedor de capital
concorda em compartilhar os lucros entre eles e o empreendedor em uma
proporção ou porcentagem acordada.
(1) Como fonte de capital para um empreendimento comercial, um empresário
pode considerar a possibilidade de empreender um projeto comercial financiado
por fundos de um banco sob um contrato de Mudarabah. Se for agradável, o banco
fornece o financiamento ao empresário, com o entendimento de que ambas as
partes compartilharão os lucros do empreendimento
(2) Como uma atividade de depósito, o dinheiro depositado em um banco por um
indivíduo ou instituição sob um contrato de Mudarabah é tratado como um
investimento no banco pelo indivíduo ou instituição. O banco usará esse
investimento para ajudar a obter lucros de suas atividades de negociação, ou seja,
financiamento de indivíduos e empresários. Sob o contrato de Mudarabah, o
banco terá concordado em dar ao depositante uma parte de seus lucros em troca
do investimento, com base em uma taxa pré-acordada.
O financiamento de investimentos através da Mudarabah é um compromisso de
participar do risco associado a empreendimentos comerciais, com o objetivo de
compartilhar o lucro gerado a partir de um determinado empreendimento. As
partes do contrato de Mudarabah só se beneficiarão se o empreendimento for
bem-sucedido. Caso o projeto falhe, o financiador perderá seu investimento,
enquanto o empresário perderá apenas o tempo e o esforço gastos no projeto.
Em geral, as condições impostas e acordadas por ambas as partes limitam a
mobilização dos fundos arrecadados sob esse tipo de contrato, como o
agrupamento com outros fundos, tipos de negócios ou investimentos, bem como
a divisão de lucros e perdas entre os fundos. No caso de uma conta de poupança,
geralmente é adotado um contrato de Mudarabah sem condições e restrições, que
é destinado a investidores públicos e de varejo. Mudarabah, ao contrário do
327
Musharakah, não autoriza o provedor de capital para uma função executiva na
gestão do empreendimento.
Princípios-chave de Mudarabah
• Contrato de participação nos lucros.
• Os retornos dependem de um lucro ganho.
• Condições podem ser aplicadas para o que o investimento possa ser usado.
• Requer um compromisso de participar do risco associado ao empreendimento
comercial.
• O empresário perde apenas o tempo e o esforço gastos no projeto, onde o
financiador assume a perda financeira.
• Não autoriza o financiador a opiniar alguma na execução do empreendimento.
67) Mudarabah muqayyadah: Esse tipo de contrato é usado em contas bancárias
específicas conhecidas como contas de investimento restrito, em que o banco atua
como um agente para o(s) investidor(es) simplesmente agindo de acordo com suas
instruções. Aqui, os fundos depositados com base no contrato de Mudarabah
nunca estão realmente sob o controle do banco porque o(s) depositante(s)
determinam a maneira como, onde e para que finalidade os fundos devem ser
investidos.
A mescla dos fundos arrecadados sob esse tipo de contrato com o acionista do
banco e outros fundos de depósito é geralmente restrita ou proibida.
Os retornos distribuídos aos titulares de contas de investimento baseiam-se em um
índice (percentual) de participação nos lucros previamente acordado e limitado
aos retornos obtidos em uma carteira de investimentos específica designada
envolvendo os fundos acordados pelos titulares das contas de investimento.
Qualquer distribuição entre o banco e o depositante estará de acordo com uma
relação de participação nos lucros acordada.
Os lucros ou rendimentos distribuíveis para os beneficiários do Mudarabah são
derivados do desempenho de ativos de financiamento designados ou de
investimentos administrados pelo banco.
Princípios-chave da Mudarabah muqayyadah
• As instituições financeiras atuam como empreendedores ou agentes de
investidores.
• Os investidores decidem onde os fundos serão investidos.
• A mistura de fundos é restrita ou proibida.
• Os retornos pagos aos investidores vêm apenas dos retornos obtidos nos
investimentos especificados.
328
68) Mudarabah mutlaqah: ao contrário de Mudarabah muqayyadah, este contrato
refere-se a contas de investimento em que o titular da conta autoriza totalmente o
banco a investir os fundos sem restrições impostas pelo titular da conta e está de
acordo com os princípios e regras de Sharia. Os fundos são reunidos com os
fundos de acionistas do banco e outros depósitos para facilitar o financiamento e
os investimentos do banco. Os retornos dependem do nível de lucros obtidos e são
compartilhados e distribuídos entre as diferentes classes de titulares de contas de
investimento com base em diferentes horizontes de investimento de um a 60
meses ou mais. Normalmente, os retornos aos titulares de contas de investimento
são calculados e provisionados mensalmente. O titular da conta de investimento
deve enviar uma notificação por escrito aos bancos islâmicos antes da retirada dos
fundos e um período mínimo de notificação é necessário. Os lucros ou
rendimentos de Mudarabah que podem ser distribuídos a titulares de contas de
investimento irrestrito são derivados do desempenho dos ativos de financiamento
e investimentos do banco.
Princípios-chave Mudarabah mutlaqah
• As instituições financeiras estão totalmente autorizadas a investir fundos
depositados sem restrições.
• Mistura de fundos pode ocorrer.
• Os retornos pagos aos investidores vêm apenas dos retornos obtidos em todos os
investimentos da instituição financeira.
• Os retornos pagos aos investidores dependem da classe e horizonte de tempo do
investimento.
69) Mujtahid: a pessoa que realiza Ijtihad Mumalah [mumalat] - transação financeira.
70) Muqasah: compensação.
71) Murabahah: um contrato Murabahah refere-se a um custo acrescido de transação
de mark-up entre as partes.
O financiamento de Murabahah é o modo predominante de financiamento de
ativos realizado por um grande número de bancos islâmicos. Representa uma
parcela significativa do financiamento bancário islâmico de financiamento de
ativos a curto ou longo prazo. Sob este contrato, um acordo de três partes é feito
quando o cliente faz um pedido com a instituição financeira para comprar
mercadorias de um fornecedor. O cliente pode pagar uma caução com a instituição
financeira e o montante do financiamento pendente pode ser garantido sob a forma
de garantia ou garantia. A instituição financeira, tendo comprado as mercadorias
do fornecedor, as vende ao cliente a um preço de crédito incluindo margem de
lucro, com um período de crédito fixo. A natureza da relação entre comprador e
vendedor é baseada no princípio da confiança (Amanah), mencionado
anteriormente, em que o vendedor ao comprar as mercadorias de seu fornecedor
329
deve divulgar honestamente ao cliente o preço de custo real da compra, antes de
vender o produto. ativo para o cliente sob um Murabahah.
Sob este contrato, o cliente está sempre ciente da margem de lucro, ou seja, ela é
definida antecipadamente e paga o preço de venda de Murabahah em uma base de
parcela ou no final do período de financiamento. A margem ou lucro acordado no
preço não muda durante o período. Portanto, há um teto de preço para o
financiamento de Murabahah para garantir a certeza no preço. Os descontos
podem ser concedidos para liquidação antecipada, desde que a cláusula de
desconto não seja contratualmente documentada no contrato. Por outro lado, a
provisão para multas por pagamentos inadimplentes poderia ser incluída no
contrato como uma forma de compensação, mas para ser distribuída a instituições
de caridade, já que a provisão é apenas para deter o comportamento de risco. O
banco pode tomar parte desse dinheiro de compensação para cobrir o custo real
incorrido pelo banco devido à inadimplência. Compensação por perda de custo de
oportunidade ou custo de fundos não é aceitável.
Princípios chaves de Murabahah
• Custo mais uma margem (mark-up).
• Geralmente envolve uma instituição financeira, o cliente e um fornecedor
terceirizado.
• Baseado em uma relação de confiança entre as partes.
• Pode ser garantido por garantia ou garantia.
• Define um preço fixo entre o financiador e o cliente.
• O preço é pago durante um período de tempo acordado.
• Pagamentos antecipados são permitidos e podem resultar em uma redução do
preço total cobrado.
As penalidades podem ser aplicadas por atraso no pagamento como um
impedimento.
72) Murabahah-tawarruq: contrato para conversão em dinheiro.
73) Murabahah li al-amir al-shira: Murabahah para o comprador.
74) Musawamah: venda negociada, um tipo geral de venda em que o preço da
mercadoria a ser negociada é negociado entre o vendedor e o comprador sem
qualquer referência ao preço pago ou ao custo incorrido pelo vendedor.
75) Musawamah, Tawliyah: venda negociada a um preço previamente acordado.
76) Musharakah [Musyarakah]: um contrato Musharakah é uma forma de
investimento de parceria de capital. É semelhante ao investimento de capital em
um mercado de capitais convencional, mas os investimentos feitos devem ser
330
limitados a ações e títulos financeiros ou outros ativos que sejam consistentes com
os princípios da Sharia.
Note-se que os contratos de parceria vêm em três formas, nomeadamente Shirkah
al-Amal (parceria de trabalho), Shirkah al Wujoh (parceria de reputação) e Shirkah
al-Amwal (parceria de capital).
O financiamento de Musharakah é baseado em Shirkah al-Amwal (parceria do
capital). Como uma forma de financiamento baseado em capital, como o
financiamento de investimento de Mudarabah, o financiamento Musharakah é
um compromisso do financiador de participar dos riscos associados a
empreendimentos comerciais. Musharakah também significa uma empresa
conjunta na qual todos os parceiros compartilham os lucros ou perdas do
empreendimento. Embora o índice de participação nos lucros possa ser negociado,
o índice de participação nos lucros deve ser sempre proporcional à contribuição
de capital. Também permite que a instituição se envolva na decisão executiva
sobre administração, operações e gerenciamento da atividade empresarial. A
instituição financeira seria capaz de mitigar qualquer forma de risco operacional,
assumindo um elemento de controle na condução dos negócios.
O mecanismo de financiamento Musharakah opera com base na contribuição de
capital para um projeto ou ativo existente ou potencial definido. O valor do
financiamento pendente pode aumentar ou diminuir dependendo das demandas de
financiamento durante o período de financiamento. A qualquer momento, a
contribuição de capital pendente fornece a base para determinar o índice de
participação nos lucros ou perdas. Como um acordo de participação nos lucros e
perdas, Musharakah toma várias formas, dependendo da contribuição de capital
das partes e do seu esforço na gestão do empreendimento. Musharakah é
considerada a forma mais flexível de reivindicação financeira de capital que pode
ser adotada para vários setores econômicos, incluindo serviços, produção e
distribuição.
Princípios-chave de Musharakah
• Contrato de participação nos lucros e perdas.
• O financista investe no empreendimento.
• Requer que os participantes trabalhem em parceria.
• A instituição financeira ou credor tem a prerrogativa de interferir no
funcionamento do projeto.
• Relaciona-se a um projeto ou ativo específico.
• Os retornos dependem de um lucro ganho.
• Permite que o nível de financiamento pendente flutue para cima ou para baixo.
• Requer um compromisso de participar do risco e perda associados a um
empreendimento comercial.
331
77) Musharakah mutanaqisah: é uma variedade de contrato Musharakah, onde o
termo Mutanaqisah significa "diminuir". Assim, Musharakah mutanaqisah,
também referido como Musharakah “diminuto”, significa uma forma de parceria
que cria uma via para o provedor de capital reduzir ou ficar livre da propriedade
conjunta após o período de investimento inicial ter sido satisfeito. Como
mencionado acima, um contrato normal de Musharaka permite níveis flutuantes
de investimento, mas um contrato Musharakah mutanaqisah se refere
especificamente a um investimento redutor.
78) Musharakah decrescente: fornece uma avenida para a instituição financeira
reduzir sistematicamente a sua exposição durante o período de financiamento,
com o resgate planejado e programado do valor da contribuição. Esta forma de
financiamento é frequentemente utilizada na compra de uma casa sob a forma de
uma joint venture.
O financiador contribui com a maior parte do preço da casa com o cliente
individual contribuindo com o saldo restante. A joint venture aceita pagamentos
de aluguel do indivíduo que agora está morando na casa. A locação é dividida
entre a instituição financeira e o comprador de imóveis, com a participação do
comprador, em direção ao resgate ou à diluição da participação do financiador.
Princípios-chave de Musharakah mutanaqisah
• Como com Musharakah acima.
• Permite uma diminuição planejada do investimento até o ponto em que o
financiador sai do empreendimento.
• Financia efetivamente o cliente para adquirir um ativo por meio de um esquema
de joint venture.
79) Parallel Istisna '- ver Istisna': dois contratos operados em paralelo.
80) Parallel Salam - ver Salam: dois contratos operados em paralelo.
81) Qard Hassan: empréstimo benevolente.
82) Qiyas: analogia.
83) Qiyas al-tard: extensão de uma regra legal de um caso para outro devido a uma
similaridade material.
84) Rahn: penhor.
85) Ramadã: é o nono mês do calendário islâmico, no qual os muçulmanos praticam
o seu jejum ritual (saum) o quarto dos cinco pilares do Islamismo. A palavra
332
Ramadã encontra-se relacionada com a palavra árabe ramida, “ser ardente”,
possivelmente pelo fato de o Islamismo ter celebrado este jejum pela primeira vez
no período mais quente do ano. É um tempo de renovação da fé, da prática mais
intensa da caridade, e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida
familiar. Neste período pede-se ao crente maior proximidade dos valores
sagrados, leitura mais assídua do Corão, frequência da oração na mesquita,
correção pessoal e autodomínio. É o único mês mencionado pelo nome no Corão.
86) Ra'y: opinião pessoal.
87) Riba: juros ou usura.
88) Sukuk: De acordo com a definição oficial da AAOIFI, os sukuks consistem em
certificados de igual valor que representam frações indivisíveis da propriedade de
ativos tangíveis, usufruto e serviços ou da propriedade de ativos de projetos
específicos ou atividades de investimento especial (AAOIFI, 2010). Já o IFSB os
define como certificados que representam uma fração dos direitos de propriedade
sobre ativos tangíveis, sobre um conjunto de ativos predominantemente tangíveis
ou sobre empreendimentos específicos (IFSB, 2009).
Sua origem e sua formatação remontam a antigas práticas verificadas no califado
omíada, ainda no primeiro século do Islã (ou seja, século VII no calendário
cristão), época em que era comum a emissão e negociação de títulos
representativos de mercadorias, que conferiam aos seus adquirentes direitos sobre
frações ou lotes de commodities (sobretudo grãos), sendo, inclusive, usados como
meio de pagamento. Apesar de suas raízes antigas, a concepção dos sukuk como
instrumento de captação e aplicação de recursos nos mercados financeiros
islâmicos é algo bastante recente. Sua utilização como títulos financeiros
negociáveis somente ganhou força a partir de 1988, quando o Conselho da
Academia Internacional de Jurisprudência Islâmica, da OIC, baseada na
interpretação de um trecho do Corão, editou uma resolução reconhecendo, que,
desde que observadas algumas condições, esses certificados de investimento são
de fato compatíveis com a Sharia.
A remuneração dos emprestadores é feita de forma diferente. Primeiro, a empresa
que busca recursos atrela um de seus ativos ao sukuk. Esse ativo é repassado ao
emprestador, que se beneficia por meio do lucro gerado por ele. No final, o ativo
é vendido novamente para o emissor do sukuk.
89) Takaful: O takaful é um arranjo de natureza contratual por meio do qual um grupo
de pessoas, de comum acordo, pactua a realização de contribuições periódicas
para a formação de um fundo destinado a arcar com os prejuízos decorrentes de
riscos previamente pactuados sobre bens ou interesses específicos. Trata-se, na
verdade, de uma forma bastante peculiar de um contrato que, no Ocidente, é
333
conhecido como seguro cooperativo, seguro mútuo ou, ainda, como socorro
mútuo, cuja finalidade essencial é criar meios para viabilizar o rateio, por
determinado grupo de pessoas expostas às mesmas espécies de risco, dos prejuízos
sofridos em decorrência destes.
90) Usul al-fiq: Teoria jurídica islâmica fornecendo princípios e diretrizes sobre
interpretação.
91) Wa'd: é um recurso anexado a um contrato e é uma promessa unilateral de uma
parte a outra, vinculando a parte que faz a promessa. Em transações de
financiamento, esse recurso garante que a transação será executada de acordo com
as especificações do contrato. Por exemplo, um importador que tem exposição a
transações de câmbio em termos de pagamento de importações em moeda
estrangeira mediante entrega de mercadorias pode proteger o risco de valorização
de moeda estrangeira, assumindo uma promessa de comprar a moeda estrangeira
no futuro que corresponda à exposição real. ao risco cambial da transação de
importação no momento da entrega.
Princípios fundamentais de Wa'd
• Envolve uma promessa unilateral feita por uma parte a outra.
• Vincula o promitente para cumprir alguma obrigação no futuro.
• Garante que o contrato seja cumprido conforme estabelecido nos termos.
92) Wadiah [Wadi'ah]: custódia segura.
93) Wadiah yad dhamanah: garantia de contratos, por meio de um depósito.
94) Wakalah: é um contrato entre um agente e um diretor. Este contrato permite ao
agente prestar serviços e receber uma taxa (Ujrah). Por exemplo, em um caso em
que o importador solicita uma carta de crédito baseada em Wakalah, o importador
autorizará o banco a emitir a carta de crédito em seu nome para o banco do
exportador. O banco emissor atuará como o agente para processar a emissão da
carta de crédito e para isso irá impor uma taxa no importador pelos serviços
prestados.
Princípios-chave do Wakalah
• Envolve um contrato de agência entre um agente e o principal.
• Usado como uma instalação para permitir que transações ocorram.
• O agente recebe uma taxa (Ujrah) por seus serviços.
95) Wakalah fi al-istithmar: um investimento da Wakalah.
96) Wakil: agente.
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97) Waqf: dotação permanente.
98) Wasiyyah: contratação futura.
99) Zahiris: literalistas, ou seja, aqueles que aderem ao significado literal do Corão.
100) Zakat [Zakah]: é uma forma de imposto religioso sobre a riqueza excedente dos
muçulmanos. Baseia-se na riqueza que excede o quantum especificado por um
período definido (quando relevante) e destina-se aos pobres e necessitados, bem como
a outros beneficiários especificados mencionados no Corão. É o terceiro pilar do Islã
e é obrigatório para os muçulmanos que têm recursos financeiros para cumprir tais
obrigações. Os métodos de cálculo do Zakat são prescritos para facilitar a
determinação do que constitui a riqueza da Zakat, bem como a taxa prescrita. No caso
de fundos de investimento ou depósito, não há data específica definida para o
pagamento do Zakat, mas ele deve ser pago em toda a riqueza acumulada para o
período de 12 meses lunares. O Zakat não é pago sobre o valor da casa, mobiliário,
transporte do indivíduo, nem é pago em jóias pessoais.
Princípios-chave do Zakat:
• Imposição religiosa sobre a riqueza dos muçulmanos que possuem acima de um
certo nível de ativos específicos.
• Pagável em todo o patrimônio acumulado para o período de 12 meses lunares.
• Não pagável em itens especificados que tenham caráter pessoal.
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345
APÊNDICE H – Ranking do Nível de Divulgação da RSC por País
Bancos Islâmicos Bancos Convencionais
Nome Posição País Nome Posição País
Al Rajhi Bank 1º Arábia Saudita Al Khaliji Bank 1º Catar
Boubyan Bank 2º Kuwait Qatar National Bank 2º Catar
Masraf Al Rayan 3º Catar Gulf International Bank 3º Bahrein
Qatar Islamic Bank 4º Catar Arab Bank plc 4º EAU
Albaraka Banking Group 5º Bahrein Samba Financial Group 5º Arábia Saudita
Al Izz Islamic Bank 6º Omã Standard Chartered Bank 6º Bahrein
Bank Nizwa 7º Omã The Alawwal Bank 7º Arábia Saudita
Alinma Bank Public 8º Arábia Saudita Askari Bank 8º Bahrein
Kuwait International Bank 9º Kuwait National Bank of Fujairah 9º EAU
National Bank of Oman 10º Omã Commercial Bank International 10º EAU
Al Hilal Bank PJSC 11º EAU Bank Al Habib 11º Bahrein
Barwa Bank 12º Catar The Saudi British Bank 12º Arábia Saudita
Arcapita Bank B.S.C. 13º Bahrein MCB Bank 13º Bahrein
Doha Bank 14º Catar HSBC Middle East Bahrain 14º Bahrein
Bank AlJazira JSC 15º Arábia Saudita Banque Saudi Fransi 15º Arábia Saudita
Bahrain Islamic Bank B.S.C. 16º Bahrein Qatar Development Bank 16º Catar
Warba Bank 17º Kuwait Abu Dhabi Commercial Bank 17º EAU
Bank of Bahrain 18º Bahrein Finansbank 18º Bahrein
Ibdar Bank BSC 19º Bahrein Union National Bank 19º EAU
Bank AlBilad 20º Arábia Saudita Canara Bank 20º Bahrein
Doha Bank 21º Catar Emirates NBD 21º EAU
ABC Islamic Bank (E.C.) 22º Bahrein Denizbank 22º Bahrein
Qatar International Islamic Bank 23º Catar BPB Paribas 23º Bahrein
Al-Salam Bank-Bahrain B.S.C. 24º Bahrein Union National Bank 24º EAU
Noor Bank 25º EAU Standard Chartered Bank Catar 25º Catar
National Bank of Bahrain BSC 26º Bahrein Alled Bank Corporation 26º Bahrein
Ithmaar Bank B.S.C. 27º Bahrein National Bank of Kuwait 27º Kuwait
Venture Capital Bank BSC 28º Bahrein HDFC Bank 28º Bahrein
Bank Alkhair B.S.C. 29º Bahrein First Gulf Bank 29º EAU
Khaleeji Commercial Bank 30º Bahrein Gulf Bank 30º Kuwait
Investment Dar Bank 31º Bahrein Mashreq Bank 31º Bahrein
Habib Bank BSC 32º Bahrein Oman Arab Bank 32º Omã
Emirates Islamic Bank PJSC 33º EAU Maybank 33º Bahrein
Ahli United Bank BSC 34º Bahrein HSBC Qatar 34º Catar
Sharjah Islamic Bank 35º EAU The Commercial Bank of Qatar 35º Catar
Amlak Finance PJSC 36º EAU HSBC Bank Oman 36º Omã
Mashreq Al Islami 37º EAU State Bank of India 37º Bahrein
Gulf Finance House BSC 38º Bahrein Bank Muscat 38º Omã
Abu Dhabi Islamic Bank 39º EAU United Bank Limited 39º Bahrein
Dubai Islamic Bank PJSC 40º EAU Commercial Bank of Kuwait 40º Kuwait
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