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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP AHMED SAMEER EL KHATIB DETERMINANTES E CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM BANCOS ISLÂMICOS DO CONSELHO DE COOPERAÇÃO DO GOLFO DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS SÃO PAULO 2018

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

AHMED SAMEER EL KHATIB

DETERMINANTES E CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA EM BANCOS ISLÂMICOS DO CONSELHO DE

COOPERAÇÃO DO GOLFO

DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

SÃO PAULO

2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

AHMED SAMEER EL KHATIB

DETERMINANTES E CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA EM BANCOS ISLÂMICOS DO CONSELHO DE

COOPERAÇÃO DO GOLFO

DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Tese apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para

obtenção do título de DOUTOR em

Administração de Empresas, sob a

orientação do Prof. Dr. Fábio Gallo

Garcia.

SÃO PAULO

2018

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AHMED SAMEER EL KHATIB

Determinantes e Consequências da Responsabilidade Social Corporativa em

Bancos Islâmicos do Conselho de Cooperação do Golfo.

Tese apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para

obtenção do título de DOUTOR em

Administração de Empresas, sob a

orientação do Prof. Dr. Fábio Gallo

Garcia.

Aprovado em: _________/__________/__________

BANCA EXAMINADORA

Professor Doutor Fábio Gallo Garcia (Orientador)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

Professor Doutor Leonardo Nelmi Trevisan

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

Professor Doutor Paulo Romaro

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

Professor Doutor William Eid Junior

Fundação Getúlio Vargas – FGV/EAESP

Professor Doutor Wilson Toshiro Nakamura

Universidade Presbiteriana Mackenzie – MACK/SP

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DEDICATÓRIA

Dedico esta Tese, assim como tudo

que conquistei até hoje e que venha

a conquistar no futuro, à minha

Mãe, Bouthaineh Abou Khadour,

pelo duplo papel desempenhado ao

longo da minha vida.

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AGRADECIMENTO

Agradeço imensamente a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP e a

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pela concessão

imprescindível da bolsa de estudos, durante meu doutoramento, sem a qual a realização

desta tese não seria possível.

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AGRADECIMENTOS

Em nome de Deus, o Clemente e o Misericordioso.

Agradeço a Deus, pela oportunidade de chegar até esse dia, sem sombra de dúvidas, o

mais importante da minha carreira acadêmica.

Esta tese é o fruto de uma intensa jornada de aprendizado sobre as finanças islâmicas que

começou antes do meu ingresso no doutorado. Refletindo sobre os últimos dez anos, vejo

como foram frutíferas todas as contribuições que recebi desde o final da minha graduação,

ponto de partida deste capítulo acadêmico que chega ao fim. De lá para cá, tive a ajuda

de inúmeros professores, pesquisadores, alunos, amigos e familiares que me deram todo

o suporte técnico, emocional e espiritual para atingir esse objetivo.

Nessas duas, e insuficientes, páginas pontuarei aqueles que foram determinantes para

mais essa conquista, sabendo que precisaria de outra tese para agradecer a todos no nível

que efetivamente merecem.

Não poderia deixar de começar meus agradecimentos com o meu principal alicerce,

minha mãe, Bouthaineh Abou Khadour. Sou muito grato pelo apoio incondicional dado

em todos os momentos da minha vida. Mesmo não tendo a oportunidade de estudar no

Brasil, nunca envidou esforços para subsidiar minhas peripécias acadêmicas desde meus

primeiros meses de vida! Obrigado, Mãe!

Dedico esse momento importante da minha vida também ao meu pai Sameer

Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos

meus cinco anos de idade. Tenho certeza de que estaria orgulhoso de mim por mais essa

conquista. Jamais o esquecerei, mesmo tendo raras, mas belas lembranças suas.

Agradeço ao meu orientador, Professor Fábio Gallo Garcia, pela oportunidade e honra

de ter sido seu aluno ao longo dos últimos anos, pela paciência e todos os conselhos

imprescindíveis para a conclusão desta tese. Meus sinceros agradecimentos pela

confiança em mim depositada e por acreditar no meu potencial. Nossos trabalhos estão

apenas começando! Muito obrigado, Professor!

Um profundo e eterno agradecimento ao Professor Luiz Nelson Guedes de Carvalho,

meu orientador por duas oportunidades na Universidade de São Paulo, nos cursos de

Ciências Contábeis e Ciências Atuariais. Sem a nossa conversa nos ritos de 2007, não

teria me interessado em estudar as finanças e a contabilidade islâmicas. Serei eternamente

grato por tudo que me proporcionou ao longo dos últimos anos. Obrigado, Professor!

Um agradecimento especial ao Professor Sérgio de Iudícibus, meu orientador no

mestrado de Ciências Contábeis e Ciências Atuariais na PUC/SP. Suas valiosas

contribuições me fizeram acreditar que seria possível estudar a contabilidade islâmica e

avançar ainda mais em nossas pesquisas. E assim, o fizemos!

Durante essa dura caminhada tive a ajuda de grandes nomes das finanças islâmicas. O

primeiro deles, da Sra. Ângela Martins, principal executiva do National Bank of Abu

Dhabi em São Paulo e, sem sombra de dúvidas, a maior especialista em finanças islâmicas

da América Latina. Serei eternamente grato pelas valiosas contribuições desde os meus

primeiros passos, há mais de dez anos, nos estudos desse tema tão interessante.

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Agradeço muito ao Professor Dr. Farhan Ahmad Nizami, Diretor do Centro de Estudos

Islâmicos, da Faculdade de Estudos Orientais da Universidade de Oxford pela acolhida

nos anos de 2014 e 2015 e pela disponibilização de um grande acervo de obras que me

ajudaram grandiosamente na construção desta pesquisa. Shukran!

Um agradecimento especial à Professora Dra. Intisar Rabb, Diretora do Programa de

Estudos Jurídicos Islâmicos da Harvard Law School pelas pertinentes e brilhantes

contribuições e por me colocar em contato com diversos pesquisadores do

SHARIAsource, talvez a maior plataforma de fontes primárias da Lei Islâmica.

Quero registrar meu profundo agradecimento e respeito à minha banca de qualificação do

doutorado, que contribuiu de forma singular para o avanço da minha pesquisa. Foi uma

honra muito grande ter em minha banca os Professores Doutores Paulo Romaro,

William Eid Junior e Wilson Toshiro Nakamura, nada menos do que os maiores

especialistas em finanças e economia do Brasil! Muito obrigado, Professores!

Agradeço também aos meus colegas da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado

(FECAP), Professores Régis Cunha, Pedro Barros, Ronaldo Frois, Joelson Sampaio,

Gabriela Zanardo, Luciana Barragan, Juliana Milan e tantos outros que me apoiaram

nesta longa jornada acadêmica e que serviram de espelho para a minha evolução docente.

Muito obrigado aos Professores da PUC-SP, em especial, aos Professores Alexandre

Luzzi Las Casas, Belmiro do Nascimento João, Francisco Antônio Serralvo,

Leonardo Nelmi Trevisan, Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, Rubens Famá

e também a Rita Sorrentino, pois ela é parte integrante deste grande momento!

Registro meu profundo respeito e agradecimento ao Ibracon - Instituto dos Auditores

Independentes do Brasil, em especial ao Eduardo Augusto Rocha Pocetti, Idésio da

Silva Coelho Júnior e Marco Aurélio Fuchida pela oportunidade de aprendizado

durante os anos de 2012 a 2016 e por permitirem que eu pudesse conciliar meus estudos

com o trabalho neste importante órgão dos contadores brasileiros. Muito obrigado!

Por fim, não menos importante (ao contrário!), o meu muito obrigado e eterna gratidão à

Cristiane Yendo Mizumoto, pelo amor, carinho, respeito, amizade, companheirismo e,

sobretudo pelo apoio inflexível nos momentos em que mais precisei! Obrigado, Habib!

Que Deus recompense cada um de vocês por tudo que fizeram por mim!

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"O Profeta disse que, no dia da Ressurreição, três serão os

primeiros a serem interrogados - de início, o homem culto, a

quem se indagará sobre o uso que fez de seus conhecimentos. E

ele responderá: `Fiz o possível para propagá-los'. Deus e os

anjos, porém, dirão: `Falas com falsidade. Teu único propósito

(e o atingiste!) era o de ser considerado sábio pelos outros'.

O segundo será o rico a quem se indagará sobre suas riquezas.

E ele responderá: `Dia e noite distribuí-as como esmola'. Deus e

os anjos, porém, dirão: `Falas sem verdade. O que querias (e o

conseguiste!) era simplesmente ser considerado generoso'.

O terceiro será o mártir a quem também se indagará sobre seus

atos. E ele responderá: `Õ Senhor, Tu ordenaste a jihad, e eu Te

obedeci: caí em combate!'. Deus e os anjos, porém, repicarão:

`Mentes. Teu objetivo (e o alcançaste!) era apenas o de ser

louvado como herói'. E o Profeta concluiu: `Estes três serão os

primeiros a serem lançados às chamas do Inferno'.

(Abu Hurairah, 603-681 a.D.)

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RESUMO

O objetivo desta tese foi analisar a divulgação da Responsabilidade Social

Corporativa (RSC) e examinar seus determinantes e consequências entre os

bancos islâmicos do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). No cumprimento

dos objetivos da pesquisa, foram analisados 40 bancos islâmicos e 40 bancos

convencionais dos países que compõem o CCG, durante o período de 2013 a 2017,

o que envolveu 200 observações em cada grupo. No tocante à RSC, foi construído

um índice para mensurar o nível de sua divulgação em bancos islâmicos e em

bancos convencionais, com base em 11 dimensões recomendadas pela norma nº 7

do Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions

(AAOFI), publicada em 2010. Com relação aos determinantes da divulgação,

foram construídas hipóteses, com base nas lacunas identificadas na literatura

precedente, nas Teorias de divulgação existentes e nos Modelos Islâmicos de

divulgação da RSC: Modelos de Chapra (1985), Ismail (1986) e Dusuki (2008).

A análise estatística compreendeu regressões econométricas utilizando o método

dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), para examinar os determinantes e as

consequências da divulgação de RSC na seleção amostral dos bancos. Os

resultados indicaram um nível de divulgação da RSC Islâmica de 41,05%, maior

do que o nível de seus pares convencionais da região que alcançaram um índice

de 30,65%. Usando mecanismos de Governança Corporativa (GC), para mensurar

os determinantes da divulgação de RSC, a pesquisa encontrou uma associação

positiva e significativa entre a divulgação da RSC e o tamanho do Conselho de

Administração (CA) dos bancos islâmicos estudados. Com isso, são fornecidas

evidências de que uma Governança Corporativa mais forte está associada a um

nível mais alto de divulgação de RSC. Outro resultado encontrado foi o

relacionamento significativamente negativo da Dualidade do CEO (DCEO) e do

Tamanho do Comitê de Auditoria (TCTA) com a divulgação da RSC. No entanto,

os resultados não mostraram associação significativa entre divulgação da RSC e

outras variáveis de governança corporativa. Para examinar as consequências

econômicas da divulgação da RSC nos bancos islâmicos e convencionais, o estudo

usou duas proxies diferentes (Market to Book Value e o Q de Tobin) para mensurar

o valor da empresa. O estudo não encontrou nenhuma relação significativa entre

as proxies analisadas. Sugere-se que há forte necessidade de melhorar a atual

prática de divulgação da RSC, especialmente nos bancos islâmicos do CCG,

impondo restrições adicionais às características do Conselho de Administração.

Os resultados corroboram com o debate global sobre a necessidade de reforma da

governança corporativa, fornecendo insights sobre o papel desempenhado pelos

mecanismos de governança corporativa no incentivo e aprimoramento das

práticas de divulgação da RSC e abre campo fértil para estudos envolvendo a

influência das raízes religiosas nas práticas de RSC.

Palavras-chave: AAOIFI. Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Sharia.

Nível de Divulgação de RSC. Bancos Islâmicos. Finanças Islâmicas.

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ABSTRACT

The main purpose of this thesis was to analyze the dissemination of Corporate

Social Responsibility (CSR) and to examine its determinants and consequences

for the Islamic banks of the Gulf Cooperation Council (GCC). In the fulfillment

of the research objectives, 40 Islamic banks from the countries that make up the

GCC were analyzed during the period from 2013 to 2017, which involved 200

observations to each group. With regard to CSR, an index was constructed to

measure the level of disclosure in Islamic banks and conventional banks, based

on 11 dimensions recommended by the Accounting and Auditing Organization

for Islamic Financial Institutions (AAOFI) No. 7 published in 2010 (1985), Ismail

(1986), and Dusuki (2008), were used in the literature on the dissemination of

CSR. Statistical analysis included econometric regressions using the Ordinary

Least Squares (OLS) method to examine the determinants and consequences of

CSR disclosure in the sample selection of banks. The results indicated a level of

disclosure of Islamic RSC of 41.05%, higher than the level of its conventional

peers in the region that reached a mark of 30.65%. Using Corporate Governance

(CG) mechanisms to measure the determinants of CSR disclosure, the survey

found a positive and significant association between the disclosure of CSR and

the size of the Board of Directors of the Islamic banks studied. Thus, evidence is

provided that stronger corporate governance is associated with a higher level of

CSR disclosure. Another result found was the significantly negative relationship

of the CEO's Duality (CEOD) and the Audit Committee Size (ACS) with the

disclosure of CSR. However, the results did not show a significant association

between disclosure of CSR and other variables of corporate governance. To

examine the economic consequences of CSR disclosure in Islamic and

conventional banks, the study used two different proxies (Market to Book Value

and Tobin's Q) to measure the value of the firm. The study found no significant

relationship between the proxies analyzed. It is suggested that there is a strong

need to improve the current CSR disclosure practice, especially in the Islamic

banks of the GCC, imposing additional restrictions on the characteristics of the

Board of Directors. The results corroborate the global debate on the need for

corporate governance reform, providing insights into the role-played by corporate

governance mechanisms in encouraging and enhancing CSR disclosure practices

and opens up fertile ground for studies involving the influence of religious roots

on practices.

Keywords: AAOIFI. Corporate Social Responsibility (CSR). Sharia. CSR

Disclosure Level. Islamic Banks. Islamic Finance.

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 – Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) ................................... 220

Equação 2 – Índice de Divulgação da RSC Convencional (IDRSCC).......................... 220

Equação 3 – Padronização do IDRSCI .......................................................................... 221

Equação 4 – Padronização do IDRSCC ........................................................................ 221

Equação 5 – Pontuação Total de Divulgação ................................................................ 221

Equação 6 – Regressão Múltipla utilizada no IDRSC ................................................... 223

Equação 7 – Modelo 1: VF de Bancos Islâmicos usando MTBV como proxy ............. 227

Equação 8 – Modelo 1: VF de Bancos Convencionais usando MTBV como proxy..... 227

Equação 9 – Modelo 2: VF de Bancos Islâmicos usando QT como proxy ................... 229

Equação 10 – Modelo 2: VF de Bancos Convencionais usando QT como proxy ......... 229

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura da Tese ............................................................................................ 34

Figura 2 – Influência do Islamismo nas Relações Sociais e Econômicas ....................... 40

Figura 3 – Princípios das Finanças Islâmicas .................................................................. 51

Figura 4 – Esquema de Compartilhamento de Lucros e Perdas (PLS) ........................... 63

Figura 5 – Mercados Financeiros Islâmicos por Relevância Sistêmica .......................... 74

Figura 6 – Crescimento e Composição dos Ativos Financeiros Islâmicos (2012-2022) 76

Figura 7 – Crescimento dos Ativos Financeiros no CCG (2013-2019) ......................... 85

Figura 8 – Inter-Relação entre Ética e Economia Islâmica ........................................... 108

Figura 9 – Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa (Pirâmide de Carroll) .. 131

Figura 10 – Pirâmide de Maslahah ............................................................................... 132

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo dos Objetivos, Questões e Métodos utilizados na Pesquisa ........... 27

Quadro 2 – Fundamentos Filosóficos da Economia Islâmica e Neoclássica ................. 43

Quadro 3 – Fatos relevantes da criação dos Bancos Islâmicos no CCG ........................ 82

Quadro 4 – Estrutura de Governança Corporativa Convencional e Islâmica ................. 95

Quadro 5 – Padrões de Governança Corporativa emitidos pelo AAOIFI ...................... 97

Quadro 6 – Diferenças entre o modelo Anglo-Saxão, Europeu e Islâmico de Governança

Corporativa ..................................................................................................................... 97

Quadro 7 – Principais agentes de Governança Corporativa em IFIs ............................ 100

Quadro 8 – Modelos de Governança Sharia ................................................................ 104

Quadro 9 – Arranjo Institucional de Governança Corporativa Convencional e Islâmica

....................................................................................................................................... 105

Quadro 10 – Seleção Amostral por País ....................................................................... 211

Quadro 11 – Dimensões e Subdimensões do índice de divulgação da RSC ................ 218

Quadro 12 – Definição das variáveis determinantes da divulgação da RSC ................ 224

Quadro 13 – Variáveis dependentes, independentes e de controle ............................... 230

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Principais Grupos Religiosos da Atualidade ................................................. 37

Tabela 2 – População Islâmica Mundial Regionalizada .................................................. 37

Tabela 3 – Diferenças entre a Riba e os Juros sob a Perspectiva Islâmica ..................... 56

Tabela 4 – Crescimento dos Ativos Financeiros Regionais ............................................ 83

Tabela 5 – Indicadores de Crescimento dos Ativos Islâmicos entre 2009 e 2017 .......... 84

Tabela 6 – Estudos precedentes sobre RSC e DRSC sob a Perspectiva Islâmica ........ 166

Tabela 7 – Estudos precedentes sobre o nível de DRSC em Bancos Islâmicos ........... 175

Tabela 8 – Principais resultados das pesquisas precedentes sobre DRSCI ................... 176

Tabela 9 – Variáveis de RSC utilizadas em estudos anteriores .................................... 197

Tabela 10 – Estatísticas Descritivas das Variáveis utilizadas ....................................... 235

Tabela 11 – Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Islâmicos ........................... 240

Tabela 12 – Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Islâmicos .................................. 241

Tabela 13 – Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Convencionais .................... 242

Tabela 14 – Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Convencionais ......................... 243

Tabela 15 – Estatística Descritiva das Variáveis da DRSCI (2013-2017) .................... 246

Tabela 16 – Resultado dos Coeficientes de Regressão ................................................. 250

Tabela 17 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Islâmicos ............................ 252

Tabela 18 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Convencionais .................... 254

Tabela 19 – Nível de Divulgação na Arábia Saudita .................................................... 257

Tabela 20 – Nível de Divulgação no Bahrein .............................................................. 258

Tabela 21 – Nível de Divulgação no Catar ................................................................... 259

Tabela 22 – Nível de Divulgação nos Emirados Árabes Unidos (EAU) ...................... 260

Tabela 23 – Nível de Divulgação no Kuwait ................................................................ 261

Tabela 24 – Nível Divulgação em Omã ........................................................................ 262

Tabela 25 – Pontuação Média dos Bancos Islâmicos do CCG (2013-2017) ................ 270

Tabela 26 – Pontuação Média dos Bancos Convencionais do CCG (2013-2017) ........ 270

Tabela 27 – Análise Multidimensional do nível de RSC em Bancos Islâmicos .......... 271

Tabela 28 – Análise Multidimensional do nível de RSC em Bancos Convencionais .. 272

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

AAOIFI Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions

ADB Asian Development Bank

BID Banco Islâmico de Desenvolvimento

BIMB Bank Islam Malasya Berhad

CA Conselho de Administração

CCG Conselho de Cooperação do Golfo

CSS Conselho de Supervisão Sharia

DIB Dubai Islamic Bank

DJSI Dow Jones Sustentability Index

DRSC Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa

EAU Emirados Árabes Unidos

GC Governança Corporativa

GISS Global Islamic Indexes Series

GRI Global Reporting Initiative

IAIB International Association of Islamic Banks

IAIS International Association of Insurance Supervisors

IASB International Accounting Standard Board

IDRSCI Índice de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica

IDRSCC Índice de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Convencional

IBFI Instituições Bancárias e Financeiras Islâmicas

IFI Islamic Financial Institution ou Instituições Financeiras Islâmicas

IFC Instituições Financeiras Convencionais

IFSB Islamic Financial Services Board

IFP Islamic Finance Project

IFRS International Finance Reporting Standards

IIFM International Islamic Financial Market

IILM International Islamic Liquidity Management Corporation

IIRA Islamic International Rating Agency

IRSA International Sharia Research Academy for Islamic Finance

ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial

KFH Kuwait Finance House

MGISA Mit Ghamr Islamic Saving Association

MQO Mínimos Quadrados Ordinários

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OIC Organisation of Islamic Cooperation

ONU Organização das Nações Unidas

PLS Profit and Loss Sharing

QP Questão de Pesquisa

RSC Responsabilidade Social Corporativa

VF Valor da Firma

VIF Variance Inflation Factor

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 21

1.1 Contextualização ....................................................................................................... 21

1.2 Objetivos da pesquisa: principal e secundários ......................................................... 26

1.3 Questões de pesquisa ................................................................................................. 26

1.4 Justificativas e contribuições ..................................................................................... 27

1.5 Síntese da metodologia utilizada ............................................................................... 30

1.5.1 Percurso metodológico ........................................................................................... 30

1.6 Limitações da pesquisa .............................................................................................. 31

1.7 Estrutura da tese......................................................................................................... 32

2 PLATAFORMA TEÓRICA: AS FINANÇAS ISLÂMICAS ................................. 35

2.1 Mundo Islâmico ......................................................................................................... 36

2.2 Bases doutrinárias das finanças Islâmicas ................................................................. 38

2.3 Epistemologia da econômica Islâmica ...................................................................... 41

2.4 Ensinamentos financeiros do Corão .......................................................................... 44

2.5 Desenvolvimento das finanças Islâmicas .................................................................. 45

2.5.1 Primeiro estágio ...................................................................................................... 45

2.5.2 Segundo estágio ...................................................................................................... 46

2.6 Princípios básicos das finanças Islâmicas ................................................................. 49

2.6.1 Proibição da riba .................................................................................................... 52

2.6.2 Proibição da incerteza ou do risco excessivo (gharar) ........................................... 58

2.6.3 Proibição da especulação (maysir) ......................................................................... 60

2.6.4 Proibição do financiamento em certos setores econômicos ................................... 62

2.6.5 Compartilhamento das perdas e lucros ou Profit and Loss Sharing (PLS) ............ 63

2.6.6 Dinheiro como capital potencial: características do dinheiro à luz do Islã ............ 64

2.6.7 As funções e o valor da moeda no Islamismo ........................................................ 65

2.6.8 Contratos de financiamento Islâmicos .................................................................... 68

2.7 Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs) ................................................................... 68

2.7.1 Instituições Financeiras Islâmicas no CCG ............................................................ 77

2.7.2 Desenvolvimento da indústria financeira moderna no CCG .................................. 80

2.7.3 Tamanho da indústria financeira Islâmica no CCG ............................................... 82

2.7.4 Interferência estatal sobre os bancos Islâmicos do CCG ........................................ 85

2.7.4.1 O papel regional do Bahrein nas Instituições Financeiras Islâmicas................... 87

2.7.4.2 O papel regional do Catar e dos Emirados Árabes Unidos nas Instituições

Financeiras Islâmicas ....................................................................................................... 89

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2.8 Desenvolvimento da Governança Corporativa nas IFIs ............................................ 90

2.8.1 Primeira fase (pré-Século XX): Ausência de Governança Corporativa ................ 91

2.8.2 Segunda fase (pré-Século XX): O surgimento da Governança Corporativa nas IFIs

modernas ......................................................................................................................... 92

2.8.3 Governança Sharia .............................................................................................. 103

2.9 Ética nas Finanças Islâmicas ................................................................................... 106

3 DIVULGAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)

SOB A PERSPECTIVA ISLÂMICA ......................................................................... 109

3.1 Contextualização ..................................................................................................... 109

3.2 Teorias de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ................. 111

3.2.1 Teoria da Agência ................................................................................................. 112

3.2.2 Teoria dos Stakeholders ou das Partes Interessadas ............................................. 113

3.2.3 Teoria da Legitimidade ......................................................................................... 115

3.2.4 Accountability ....................................................................................................... 116

3.2.5 Teoria da Sinalização............................................................................................ 117

3.2.6 Teoria Econômica ................................................................................................. 119

3.3 Responsabilidade Social no Islã .............................................................................. 120

3.3.1 Princípios Ético-Islâmicos na promoção da RSC ................................................. 122

3.3.2 O papel da Sharia na RSC .................................................................................... 124

3.3.3 O papel da Justiça no Bem-Estar Social ............................................................... 125

3.3.4 Zakat: O tributo religioso ..................................................................................... 127

3.3.5 Maslahah: Interesse Público ................................................................................ 128

3.3.6 Tawhid: Unidade .................................................................................................. 133

3.3.7 Ihsan: Benevolência ............................................................................................. 136

3.3.8 Transparência Islâmica ......................................................................................... 138

3.3.9 Accountability Islâmica ........................................................................................ 138

3.4 Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions ............. 139

3.4.1 Relevância do AAOIFI nas Instituições Financeiras Islâmicas............................ 142

3.4.2 Necessidade de normas específicas do AAOIFI................................................... 143

3.4.3 O papel do AAOIFI na RSC ................................................................................. 146

3.5 Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica (DRSCI) ................ 147

3.6 Modelos teóricos da RSC sob a perspectiva Islâmica ............................................. 149

3.6.1 Modelo de Chapra (1985) ..................................................................................... 150

3.6.2 Modelo de Ismail (1986) ...................................................................................... 151

3.6.3 Modelo de Dusuki (2008) ..................................................................................... 152

3.6.4 Reflexos dos Modelos Teóricos na RSC Islâmica................................................ 153

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3.7 Divulgação da RSC Islâmica: Obrigatoriedade versus Voluntariedade .................. 154

4 REVISÃO DA LITERATURA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA ISLÂMICA E CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES .................. 157

4.1 Bancos Islâmicos e Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ........................... 157

4.2 Estudos recentes sobre divulgação da RSC na perspectiva Islâmica ...................... 159

4.3 Estudos recentes sobre divulgação da RSC em Bancos Islâmicos .......................... 170

4.4 Estudos recentes sobre os determinantes da divulgação da RSC Islâmica.............. 176

4.5 Determinantes do desenvolvimento da RSC e Hipóteses da pesquisa .................... 179

4.5.1 Características da Governança Corporativa ......................................................... 180

4.5.1.1 Variáveis relacionadas ao Conselho de Administração (CA) ........................... 181

4.5.1.1.1 Variável 1: Tamanho do Conselho de Administração (TCA) ........................ 181

4.5.1.1.2 Variável 2: Gênero na Composição do Conselho de Administração (GCA) . 182

4.5.1.1.3 Variável 3: Composição do Conselho de Administração (CCA) ................... 183

4.5.1.1.4 Variável 4: Reuniões do Conselho de Administração (RCA) ........................ 184

4.5.1.1.5 Variável 5: Dualidade do CEO (DCEO) ........................................................ 185

4.5.1.1.6 Variável 6: Participação Cruzada em mais de um Conselho de Administração

(PCCA) .......................................................................................................................... 186

4.5.1.2 Variáveis relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia (CSS) .................... 187

4.5.1.2.1 Variável 7: Tamanho do Conselho de Supervisão Sharia (TCSS) ................. 188

4.5.1.2.2 Variável 8: Participação Cruzada em mais de um Conselho de Supervisão Sharia

(PCCSS) ........................................................................................................................ 189

4.5.1.3 Variáveis relacionadas ao Comitê de Auditoria (CTA)..................................... 189

4.5.1.3.1 Variável 9: Tamanho do Comitê de Auditoria (TCA) .................................... 189

4.5.1.3.2 Variável 10: Reuniões do Comitê de Auditoria (RCA) .................................. 190

4.5.1.4 Variáveis relacionadas com a Estrutura de Propriedade (EP) ........................... 191

4.5.1.4.1 Variável 11: Investidor Institucional (EPII) ................................................... 191

4.5.1.4.2 Variável 12: Investidor Estrangeiro (EPIE) .................................................... 191

4.5.2 Características dos bancos analisados e características específicas de cada país do

CCG como variáveis de controle ................................................................................... 193

4.6 Consequências das divulgações de RSC e desenvolvimento da Hipótese .............. 199

4.6.1 Índice de Divulgação da RSC e o Valor da Firma (VF) ....................................... 199

4.6.1.1 Tamanho do Conselho de Administração (TCA) .............................................. 200

4.6.1.2 Composição do Conselho de Administração (CCA) ......................................... 201

4.6.1.3 Dualidade do CEO (DCEO) .............................................................................. 201

4.7 Desenvolvimento da Hipótese ................................................................................. 203

4.8 Divulgação de informações financeiras e não financeiras....................................... 205

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5 PLATAFORMA METODOLÓGICA .................................................................... 207

5.1 Estratégia Metodológica .......................................................................................... 207

5.2 Percurso Metodológico ............................................................................................ 209

5.2.1 Métodos utilizados ................................................................................................ 209

5.2.2 Seleção Amostral .................................................................................................. 209

5.3 Instrumentos de Pesquisa utilizados na Análise da Divulgação .............................. 211

5.3.1 Análise de Conteúdo ............................................................................................. 211

5.3.2 Análise Qualitativa de Conteúdo .......................................................................... 213

5.3.2.1 Fonte dos dados ................................................................................................. 214

5.3.2.2 Unidade de análise ............................................................................................. 215

5.4 Definição do Índice de Divulgação da RSC (IDRSC) ............................................ 216

5.4.1 Processo de construção do Índice de Divulgação da Responsabilidade Social

Corporativa Islâmica (IDRSCI) e Convencional (IDRSCC) ......................................... 219

5.5 Determinantes para a divulgação da RSC ............................................................... 222

5.5.1 Modelo de Regressão............................................................................................ 222

5.6 Consequências da Divulgação da RSC .................................................................... 225

5.6.1 Variáveis dependentes .......................................................................................... 226

5.6.2 Market to Book Value (MTBV) ............................................................................ 226

5.6.3 Q de Tobin ............................................................................................................ 228

5.8 Normalidade, heterocedasticidade e multicolinearidade ......................................... 231

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 233

6.1 Consequências da divulgação da RSC: Análise empírica e respostas à primeira

questão de pesquisa (QP 1) ............................................................................................ 233

6.1.1 Estatísticas descritivas .......................................................................................... 234

6.1.2 Análise empírica ................................................................................................... 236

6.2 Determinantes da divulgação da RSC: Análise empírica e respostas à segunda questão

de pesquisa (QP 2) ......................................................................................................... 245

6.2.1 Estatísticas descritivas das variáveis dependentes e de controle .......................... 245

6.2.2 Análise empírica ................................................................................................... 246

6.3 Divulgação da RSC: Análise descritiva e respostas à terceira questão de pesquisa (QP

3) .................................................................................................................................... 251

6.3.1 Análise cross-country ........................................................................................... 251

6.3.2 Análise descritiva das dimensões da pesquisa ...................................................... 255

6.3.3 Discussões ............................................................................................................ 263

7 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 273

7.1 Resumo dos resultados da pesquisa ......................................................................... 273

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7.1.1 Respostas à Primeira Questão de Pesquisa (QP 1) ............................................... 273

7.1.2 Respostas à Segunda Questão de Pesquisa (QP 2) ............................................... 275

7.1.3 Respostas à Terceira Questão de Pesquisa (QP 3) ............................................... 277

7.2 Implicações teóricas e práticas ................................................................................ 278

7.2.1 Implicações teóricas ............................................................................................. 278

7.2.2 Implicações práticas ............................................................................................. 281

7.3 Recomendações para futuras pesquisas ................................................................... 282

7.4 Epílogo .................................................................................................................... 284

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 285

GLOSSÁRIO ............................................................................................................... 320

APÊNDICE A – Bancos selecionados para composição da amostra ..................... 335

APÊNDICE B – Evidências no Corão e Hadith da promoção da RSC ................. 337

APÊNDICE C – Hipóteses da Pesquisa ..................................................................... 340

APÊNDICE D – Teste de normalidade (Teste de Kolmogorov-Smirnov) ............... 341

APÊNDICE E – Teste de normalidade (Teste de Kolmogorov-Smirnov) ............... 345

APÊNDICE F – Modelo 1: Correlação de Pearson para o MTBV ........................ 343

APÊNDICE G – Modelo 2: Correlação de Pearson para o Q de Tobin .................. 344

APÊNDICE H – Ranking do Nível de Divulgação da RSC por País ...................... 345

APÊNDICE I – Detalhes das Dimensões de RSC desenvolvidas ............................ 346

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21

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

Nas últimas décadas, o tema Governança Corporativa ganhou espaço proeminente nos

estudos acadêmicos e nas discussões empresariais, como resultado das falhas corporativas

encontradas em grandes instituições financeiras e não financeiras, como Barings, Lehman

Brothers, Satyam Group, Siemens, Societé Générale e tantas outras. Tendo em vista o

fato de que a má governança corporativa pode afetar negativamente economias e a

estabilidade dos sistemas financeiros, além de provocar consequências sociais e

ambientais graves e endêmicas, o foco mudou da abordagem convencional, baseada

apenas na governança restrita aos acionistas, para um modelo de governança mais amplo

que identifica questões e prioridades de todas as partes interessadas no desempenho social

e financeiro das organizações (STRANDBERG, 2005; DUSUKI, 2011). Essa mudança,

baseada no novo modelo de boa governança corporativa, incorpora questões sociais e

valores éticos na estratégia de negócios das corporações, inclusive das instituições

financeiras, provocando uma busca pela aplicação e divulgação de sua Responsabilidade

Social Corporativa (RSC) aos stakeholders ou partes interessadas.

Dessa forma, inúmeros Bancos e Instituições Financeiras aceleraram nos últimos anos o

processo de incorporação da RSC em suas estratégias organizacionais e operacionais.

Trazendo o foco para o setor financeiro, pode-se afirmar que o setor bancário,

particularmente, é uma indústria única na sociedade e seu papel atualmente vai além de

trazer estabilidade financeira para as economias, pois envolve o estabelecimento de novas

tendências e estratégias, oferecendo serviços necessários aos clientes e reduzindo a

exclusão financeira da população. O setor bancário é o cerne da sociedade e, portanto,

espera-se que seja o mais socialmente responsável (CHAMBERS; DAY, 2009).

O pujante crescimento de pesquisas envolvendo a RSC reflete no número de

contribuições em periódicos como Harvard Business Review, Academy of Management

Journal, Academy of Management Review, reforçando o destaque da RSC no campo do

conhecimento acadêmico. Conjugado a esse fator, mas no campo empresarial, é notório

o crescimento dos chamados investimentos socialmente responsáveis ou Socially

Responsible Investments (SRI), com a finalidade de atender a um crescente número de

investidores que desejam aplicar seus recursos em empresas consideradas socialmente

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responsáveis. Em função desse crescimento, foram criados índices específicos que se

propuseram a mostrar o desempenho de mercado de carteiras formadas por empresas que

adotam integralmente os princípios de responsabilidade social corporativa e de gestão

sustentável, sendo o precursor desses índices o Dow Jones Sustentability Index (DJSI),

criado no ano de 1999. No que tange os países emergentes, cabe destaque ao

Johannesburg Stock Exchange, na África do Sul, criado em 2005 e o Índice de

Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Pesquisas sobre RSC demonstram que não há um consenso sobre o conceito do tema, de

forma que, muitas vezes as definições sobre a RSC podem estar direcionadas a atender

interesses específicos da empresa (CARROLL, 1979; MARGOLIS; WALSH, 2001).

Uma forma de elucidar essa discussão é analisar com maior profundidade as variáveis

que podem intervir na relação entre as divulgações de RSC e o desempenho financeiro

das organizações. Uma dessas variáveis é o alinhamento estratégico da RSC, uma vez que

diversos autores (e.g., BURKE; LOGSDON, 1996; MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001;

PORTER; KRAMER, 2006; NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008; VILANOVA et

al., 2009; DELMAS et al., 2013) têm defendido que o simples engajamento em atividades

consideradas socialmente responsáveis leva à geração de valor à empresa, desde que

estejam alinhadas à estratégia organizacional. Em outras palavras, a RSC levaria à criação

de valor para empresa, com potencial aumento do valor de seu valor de mercado, quando

alinhada à estratégia organizacional.

No ambiente econômico emergente, é vital que os intermediários financeiros integrem

preocupações morais, éticas e ambientais em suas operações comerciais

(EVANGELINOS et al., 2009; KRAMER; PFITZER, 2016). As Instituições Financeiras

Islâmicas (IFIs) adicionaram outra preocupação ao rol de suas operações comerciais, uma

vez que esse tipo de instituição financeira deve, compulsoriamente, seguir com retidão

um conjunto de regras e padrões definidos em suas bases doutrinárias religiosas.

Apesar das convicções modernistas, que aceitavam a religião como uma questão

completamente apartada do ambiente de negócios, sugeriu-se com o passar dos tempos

que as instituições financeiras também podem ser encorajadas a aplicar a RSC por meio

de um ponto de vista baseado na fé, derivando normas éticas das escrituras religiosas. Por

exemplo, no judaísmo, cristianismo e islamismo, os crentes consideram trabalhar como

parte da "adoração a Deus" e seu trabalho pode ser considerado como o cumprimento de

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suas obrigações para com Deus. Consequentemente, o objetivo da vida não é apenas ser

feliz, é viver na vontade de Deus e trabalhar eticamente, bem como servir a sociedade

para satisfazer o propósito da existência dos seres humanos na terra (LANTOS, 2002).

De fato, como foi mencionado na Bíblia, “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de

uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (LUCAS, 18:25). Esta citação

mostra a sensibilidade da implicação da responsabilidade social pelas instituições

financeiras contemporâneas em relação à sociedade e serve de motivação para

contribuírem eficientemente para o desenvolvimento social. Assim, além de fontes

humanísticas de RSC, como praticadas em várias partes do mundo, a religião também

pode constituir uma importante motivação para o cumprimento da responsabilidade social

individual e corporativa.

A indústria financeira islâmica, carregada de aspectos moralizantes, éticos e religiosos,

tem crescido rapidamente e de forma sustentável desde a sua criação na década de 70,

tanto em termos de volume de ativos quanto em termos de sua expansão territorial e

relevância sistêmica nos países nos quais as finanças islâmicas passaram a figurar. Além

disso, importante destacar que ativos financeiros islâmicos não são ofertados e

movimentados apenas aos países de maioria muçulmana. O crescimento se dá em países

não muçulmanos, como, por exemplo, no Reino Unido. Reforça esse crescimento o fato

de que no período de 2002 a 2017, o volume de ativos dessa indústria financeira saltou

de US$ 200 bilhões para cerca de US$ 3,48 trilhão (ADB, 2015; EY, 2016; IFSB, 2017;

S&P, 2017), experimentando um consistente e sustentado crescimento anual, sobretudo

a partir de 2008, após a última grande crise financeira internacional.

A influência do islamismo nas práticas empresariais está documentada em várias

passagens do Corão1, livro sagrado para os muçulmanos, e na Suna, conjunto de práticas

1 Corão, Corão ou Al-Qur’an é o Livro Sagrado dos muçulmanos e significa “A Recitação”. O verbete Al,

exerce a função de artigo definido. Diante disso, muitos autores e pesquisadores optaram por adotar a forma

transliterada “o Corão”. Os dicionários de língua portuguesa, contudo, preveem ambas as formas. Na

presente tese, adotar-se-á a segunda forma de transliteração, isto é, Corão.

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e dizeres do Profeta Muhammad2 (S.A.W.S)3, duas das principais fontes de ética moral

econômica e financeira do Islã. Os valores empresariais islâmicos, como a justiça, bem-

estar social, moral e honestidade são considerados o núcleo da RSC no Islã. As

Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs) são consideradas entidades que possuem uma

identidade ética e têm múltiplos objetivos sociais e econômicos, uma vez que sua

estrutura de negócios é baseada primariamente na religião. Semelhante a outras religiões,

o Islã tem em seu coração o bem-estar social, a boa governança, a constante preocupação

ambiental e o comportamento ético individual, organizacional e social (ARIBI; GAO

2012; ASUTAY, 2012; MUTTAKIN; KHAN, 2014).

Com isso, a RSC, em geral, evidencia como as empresas atendem suas obrigações aos

seus funcionários e comunidade (DUSUKI, 2008; ARIBI; GAO, 2015). No contexto

islâmico, as responsabilidades sociais representam o conceito de fraternidade ou

Ukhuwah de um para outro. Assim, o papel social é muito importante para os bancos

islâmicos e eles podem ser descritos como bancos que têm uma face social para a

sociedade (HANIFFA; HUDAIB, 2007; AL-MUBARAK; OSMANI, 2010; HASAN;

SITI-NABIHA, 2011). Este papel é principalmente um reflexo da importância de manter

os princípios islâmicos sobre os quais esses bancos operam e como abordam essas

questões sociais (MAALI et al., 2006; MAALI; NAPIER, 2010).

Em sintetizada e preliminar apresentação, as finanças islâmicas podem ser conceituadas

como o conjunto de operações financeiras que se realizam em conformidade com os

preceitos da doutrina religiosa islâmica, plenamente compatíveis com a Sharia ou Lei

Islâmica (ZAHER; HASSAN, 2001; MARTINS, 2004; AUSAF; SYED, 2007; KHATIB,

2013). Através dos processos de interpretação e aplicação das principais fontes religiosas

(Corão e Suna) os clérigos muçulmanos e pesquisadores consolidaram princípios

jurídicos, financeiros e econômicos fundamentais que, dentre outros, constituem a base

normativa para a conformação das relações comerciais entre os muçulmanos e o papel

2 O nome de Muhammad é usualmente transliterado como Maomé. O nome completo do Profeta, no entanto,

era Abu al-Qasim Muhammad ibn 'Abd Allah ibn 'Abd al-Muttalib ibn Hashim. Cabe ressaltar que os nomes

árabes são compostos em geral de cinco elementos: nome principal (chamado de Ism); nome do primogênito

(Kunya), que geralmente precede o nome próprio; patronímico (Nasab); adjetivos descritivos da pessoa

(Laqab); e a ocupação ou tribo da pessoa (Nisba), equivalente ao nome de família. Seguindo essa lógica, o

nome do profeta poderia ser transliterado e traduzido para o português como “Muhammad, pai (Abu) de al-

Qasim, servo de Deus (Abd Allah), filho de Abdullah Muttalib, da família Hashim”. 3 Por motivos religiosos, cada vez que um muçulmano falar ou escrever o nome de Muhammad (S.A.W.S),

deverá imediatamente proferir os dizeres “Sallallahu Alayhi Wa Salaam”, isto é, que a Paz esteja com Ele,

que será abreviada nesta tese por “S.A.W.S”.

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das instituições financeiras perante os stakeholders, incluindo a responsabilidade dos

bancos islâmicos em prestar contas às partes interessadas, por meio de seus relatórios

financeiros e não financeiros.

Dessa forma, a divulgação é um aspecto crucial da responsabilidade entre os bancos

islâmicos e suas partes interessadas. Portanto, espera-se que os bancos islâmicos

divulguem informações de RSC de forma sucinta, fidedigna e compreensível para atender

às necessidades do maior número de usuários externos da informação (HANIFFA;

HUDAIB, 2007). Por outro lado, as comunidades esperam que os bancos islâmicos

aumentem sua transparência e tenham maior envolvimento na resolução de questões

sociais e no aumento da ética de seus bancos (AL-QADI, 2012). Consequentemente,

espera-se que bancos que operam em ambientes islâmicos estejam conscientes do impacto

de suas atividades na comunidade. Em outras palavras, os bancos islâmicos devem ser

mais ativos na promoção da RSC, ao invés de se concentrar somente na maximização dos

lucros. Essas responsabilidades podem ser comprovadas através da divulgação e

transparência total, como afirmado no Corão Sagrado: Ó povo meu, disponde da medida

e do peso com equidade; não defraudeis os humanos em seus bens e não pratiqueis a

devassidão na terra, como corruptores (HUD, 11:85).4

O entendimento das Finanças Islâmicas, suas vertentes e meio de divulgação de seus

resultados, podem ajudar o mercado financeiro internacional ao propor maior

diversificação de carteiras. Essa modalidade não é apenas para os muçulmanos, mas para

todos os investidores. Ademais, pode oferecer novos valores éticos e socialmente

responsáveis às Finanças, de maneira que elas possam contribuir com justiça e cooperação

entre sociedade e empresas. Para os muçulmanos que pretendem respeitar a Sharia não

investindo em atividades ilícitas, as Finanças Islâmicas significam o acesso ao crédito

moralmente e eticamente aceito à luz da religião. Aos não muçulmanos, é uma opção de

investimento, na grande maioria das vezes, menos arriscada do que as operações

convencionais e socialmente mais responsáveis do ponto de vista empresarial e

corporativo, além de apresentarem taxas de crescimento orgânicas e sustentáveis.

4 HUD é a 11ª Surata do Corão Sagrado. A versão em português encontra-se disponível em:

http://www.islambr.com.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=54&Itemid=125

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1.2 Objetivos da pesquisa: principal e secundários

Este estudo teve como objetivo principal verificar de forma analítica qual é relação entre

o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos islâmicos do Conselho de Cooperação

do Golfo (CCG).

Os objetivos secundários da tese são:

Examinar o impacto da Governança Corporativa, especificamente a norma nº 7

do Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions

(AAOIFI), como determinante de divulgação de RSC nos bancos islâmicos do

CCG.

Mensurar a aderência à divulgação da RSC dos bancos islâmicos do CCG e

compará-los com os bancos convencionais que operam na mesma região.

1.3 Questões de pesquisa

A presente tese procurou respostas às seguintes questões de pesquisa, derivadas da lacuna

acadêmica e do problema de pesquisa identificados:

1. Quais são as consequências da divulgação da RSC na amostra de bancos da região

do CGG?

1.1 Qual é a relação entre o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos

islâmicos e convencionais?

2. Quais são os determinantes que levam a divulgação da RSC na amostra de bancos

islâmicos?

2.1 Em que medida a Governança Corporativa afeta a prática de divulgação de

RSC entre os bancos islâmicos nos países do CCG?

3. O que é a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos nos países do CCG?

3.1 O nível de divulgação de RSC dos bancos islâmicos no CCG aumentou após

a emissão de padrões do AAOIFI, nº 7, 2010?

3.2 Quais tipos de informações de RSC são divulgadas pelos bancos islâmicos nos

países da amostra?

3.3 Quais países do CCG têm níveis mais altos de divulgação de RSC?

3.4 Os níveis de divulgação da RSC dos bancos islâmicos são maiores do que os

de seus pares convencionais?

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27

As respostas analíticas a cada uma dessas questões foram fornecidas através das análises

empíricas no Capítulo 6. O Quadro 1 a seguir fornece um resumo dos objetivos da

pesquisa, questões e métodos que foram utilizados nesta tese:

Quadro 1 - Resumo dos Objetivos, Questões e Métodos utilizados na Pesquisa

Nº Objetivos Questões Principais Método/Ferramentas Fonte de dados

1

Calcular o valor do banco

(valor da firma) e

correlacioná-lo com o

nível de divulgação de

RSC dos bancos do CCG

Qual é a relação entre

o nível de divulgação

da RSC e o valor dos

bancos islâmicos e

convencionais?

- Análise de Conteúdo

- Índice de Divulgação

de RSC

- Análise de Regressão

utilizando o MQO

- Relatórios Anuais

-Base de Dados da

Orbis Bank Focus®

2

Examinar o impacto da

Governança Corporativa,

especificamente a norma

nº 7 do AAOIFI, como

determinante de

divulgação de RSC nos

bancos islâmicos do CCG

Quais são os

determinantes que

levam a divulgação

da RSC na amostra de

bancos islâmicos?

- Análise de Conteúdo

- Índice de Divulgação

de RSC

- Análise de Regressão

utilizando o MQO

Relatórios Anuais

3

Mensurar a aderência à

divulgação da RSC dos

bancos islâmicos do CCG

e compará-los com seus

pares convencionais da

mesma região

O que é a prática de

divulgação de RSC

dos bancos islâmicos

nos países do CCG

- Análise de Conteúdo

- Índice de Divulgação

de RSC

Relatórios Anuais

Fonte: Autor (2018).

1.4 Justificativas e contribuições

Apesar do excesso de pesquisas abordando as dimensões sociais e éticas de instituições

financeiras convencionais, sob diferentes abordagens, como as práticas de divulgação de

RSC, em relação à ligação entre religião e divulgação de RSC, há uma falta de literatura

sobre essas práticas de RSC nas IFIs, em particular em bancos islâmicos. Um número

limitado de estudos cobrindo relatórios sociais de bancos islâmicos incluem, entre outros,

Haniffa (2002), Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hassan e Harahap (2010),

Farook et al (2011), Hassan et al. (2012), Zubairu et al. (2012), Kamla e Rammal (2013),

Platonova (2014) e Adnan (2015). Além disso, embora haja um número limitado de

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28

estudos empíricos, em geral sobre a divulgação da RSC no financiamento islâmico, o

desempenho da RSC e o impacto de sua divulgação no valor dos bancos islâmicos não

foi estudado extensivamente na literatura internacional.

Dessa forma, há, ao menos, cinco motivações de extrema relevância, além do ineditismo

do assunto, que qualificam o desenvolvimento do tema, e que serão discutidas a seguir.

Primeiramente, esta tese contribui para a literatura de divulgação de informações

financeiras e não financeiras, pois utiliza a norma nº 7 da AAOIFI, um normatizador

exclusivamente voltado às instituições financeiras e não financeiras islâmicas, publicada

no ano de 2010 e pesquisas precedentes para mensurar a prática de divulgação da RSC

entre os bancos islâmicos selecionados. Foram utilizadas 11 dimensões das principais

áreas de RSC, enquanto estudos anteriores cobriram um número menor de dimensões,

como nas pesquisas de Hassan e Harahap (2010), Platonova (2014) e Rahman e Bukair

(2015). Outro fator de destaque é que esta pesquisa difere das anteriores no quesito

amostra, por possuir um maior número de bancos quando comparados as pesquisas de

Sobhani et al., 2009 (29 bancos); Hassan et al., 2012 (13 bancos) e Planotova (24 bancos)

A seleção amostral desta tese conta com 40 bancos islâmicos e contém 200 observações

entre os anos de 2013 a 2017, incluindo os bancos de Omã, que foram autorizados a operar

seguindo a Sharia somente a partir do ano de 2013, motivo pelo qual optou-se em escolher

o ano de 2013 como ponto de partida do recorte temporal. Além disso, foram analisados

outros 40 bancos convencionais da região, no mesmo período, para que obtivesse uma

matriz de comparação, contando, assim, com mais 200 observações entre 2013 e 2017.

Em segundo lugar, pesquisas anteriores aplicaram a técnica de análise de conteúdo em

períodos muito curtos ou dentro de um único país, além de suas amostras serem bastante

limitadas. Esta tese abrange bancos islâmicos que estão localizados em 6 países diferentes

do CCG, enquanto pesquisas anteriores focaram em apenas um único país, como nos

estudos de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007) e Anuar et al. (2009). A análise

de nível de divulgação em países diferentes de um único bloco de cooperação fornece

uma imagem consolidada das práticas adotadas na região, uma vez que se utiliza da

análise cross-country, em países com características macroeconômicas homogêneas.

Em terceiro lugar, o estudo dos padrões da AAOIFI cresceu nos últimos anos com

importantes contribuições de pesquisadores, como Hassan e Harahap (2010) e Ahmed e

Khatun (2013). É notório que o foco da maioria desses estudos seja de natureza descritiva,

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enfatizando em particular o nível de conformidade com AAOIFI, sem, no entanto, ampliar

o estudo para explorar os principais fatores por trás do nível de divulgação adotados pelos

países. Esta tese contribui para a literatura de divulgação de informações, especialmente

as não financeiras, explorando os determinantes da divulgação em relação às práticas de

Governança Corporativa, cuja estrutura conceitual é orientada pela religião islâmica.

Em quarto lugar, este estudo contribui para a literatura, através do desenvolvimento de

um grande número de variáveis de Governança Corporativa em seu modelo. O modelo

de pesquisa contém 12 variáveis de Governança Corporativa, enquanto pesquisas

anteriores, como Hidalgo et al. (2011), fora focado apenas em duas variáveis, que foram

independência do conselho de administração e estrutura de propriedade. Samaha et al.

(2012) e Gisbert e Navallas (2013) encontraram os determinantes da divulgação de

bancos localizados em um único país (Espanha e Egito, respectivamente). Por outro lado,

esta pesquisa explora essa relação, mas para bancos localizados em 6 países diferentes.

Além disso, este estudo está focado em bancos islâmicos, enquanto estudos anteriores

testaram essa associação para instituições convencionais ou não islâmicas como nos

estudos de Tsamenyi et al. (2007) e Liang et al. (2012) ou ainda em empresas não

financeiras, como em Alotaibi e Hussainey (2016).

Por fim, uma última contribuição está relacionada ao fato de termos estudos limitados

que mensuraram a associação entre divulgação e Valor da Firma (VF), como na pesquisa

de Uyar e Kiliç (2012). Esta vertente está ainda está em fase embrionária para bancos

islâmicos. No entanto, explorar as consequências da divulgação da RSC no VF ainda não

foi investigado empiricamente no contexto dos bancos islâmicos. Este estudo também

difere de Richardson e Welker (2001), que examinaram as consequências econômicas da

divulgação social e financeira usando apenas o custo do capital e também dos estudos de

Platonova (2014) que testou as consequências das divulgações da RSC em 24 bancos

islâmicos do CCG, com exceção de Omã, apenas nos retornos sobre os ativos dos bancos.

Ainda na esteira final das contribuições esperadas desta tese, encontra-se também a busca

pela aproximação ao tema das finanças islâmicas e todas as suas vertentes, especialmente

no que tange os bancos islâmicos, ainda incipiente em estudos latino americanos.

Em suma, há uma ampla variedade de perspectivas que denotam a relevância da temática,

que não se restringem apenas aos aspectos acadêmicos, mas extrapolam para o universo

empresarial, como oportunidade de desenvolvimento de um centro de estudos e pesquisas

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30

que analisem implicações teóricas e práticas, para o estabelecimento desse tipo de

indústria em países, como o Brasil, onde não se permite a operação dessa indústria.

1.5 Síntese da metodologia utilizada

A tipologia metodológica desta tese caracterizou-se como sendo: 1) documental, na

medida em que se utilizou dos relatórios anuais financeiros e não financeiros, publicados

pelos Bancos do CCG selecionados na amostra; 2) exploratória, uma vez que

proporcionou maior familiaridade com o tema da RSC nos Bancos Islâmicos, com vistas

a torná-lo mais explícito para a construção das hipóteses que foram delineadas no

Capítulo 4 e posteriormente testadas; 3) descritiva, visto que buscou descrever as

características do grupo de bancos islâmicos selecionados; e de natureza 4) quantitativa,

a qual é influenciada pelo positivismo, uma vez que considera que a realidade dos bancos

islâmicos só pode ser compreendida com base na análise dos dados brutos, recolhidos

com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros, além de recorrer à linguagem

estatística para descrever as causas do fenômeno financeiro islâmico e as relações das

diversas variáveis de Governança Corporativa e Responsabilidade Social Corporativa.

1.5.1 Percurso metodológico

Para fornecer respostas à primeira pergunta de pesquisa, foram observados estudos

anteriores, que usaram variáveis de controle como governança corporativa, características

da empresa e o PIB do país. Com base nos estudos precedentes de Morck et al. (1988),

Aggarwal e Yousef (2000), La Porta et al. (2002), Lins (2003), Haniffa e Hudaib (2007)

e Hassan et al. (2009) foi utilizado o Q de Tobin (QT) para mensurar a variável

dependente (Valor da Firma). Seguindo os estudos anteriores de Haniffa e Hudaib (2006),

Hassan et al. (2009) e Mohammed e Knapkova (2016), a relação Market-to-Book-Value

(MTBV) foi utilizada em uma análise adicional para verificar a robustez dos resultados.

Em relação ao MTBV foi mensurada como sendo a relação entre o valor de mercado do

patrimônio líquido e valor contábil (Book Value) do patrimônio líquido. Trata-se de um

bom indicador para identificar como uma empresa é avaliada pelos investidores. Por fim,

também foram utilizados todos os pressupostos dos Mínimos Quadrados Ordinários

(MQO) como normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto correlação,

para garantir que não houvesse problema com a variável testada. Além da matriz de

correlação de Pearson, os modelos de regressão de Mínimos Quadrados Ordinários foram

conduzidos para avaliar o significado da associação entre a RSC e o Valor da Firma (VF).

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Para responder a segunda pergunta de pesquisa, o estudo revisou as teorias relevantes

que explicarão as motivações por trás da maior Governança Corporativa, que culminaram

em maior divulgação corporativa e social. Consequentemente, foram propostos os

determinantes do relatório de RSC, baseando-se principalmente nas Teorias de Agência,

Teoria dos Stakeholders, Teoria da Sinalização, Accountability, Teoria da Legitimidade

e Teoria da Responsabilidade. Além dessas variáveis primárias, foram utilizadas

características da empresa e características específicas do país, como variáveis de

controle. Também foram verificados os pressupostos do método dos MQO, como

normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto correlação, para garantir que

não houvesse problema com as variáveis testadas. Além da matriz de correlação de

Pearson, os modelos de regressões de MQO foram conduzidos para avaliar o significado

da correlação entre variáveis de determinantes e escores de divulgação de RSC.

Para responder a terceira pergunta dessa pesquisa, foi desenvolvido um Índice de

Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) e um Índice de Divulgação da RSC Convencional

(IDRSCC) para medir a aderência dos bancos às práticas de RSC. Os Índices foram

construídos com base na norma nº 7 publicada pelo AAOFI em 2010 e apoiados pela

literatura precedente como nas obras de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007),

Hussainey e Elsayed, (2011), Aribi e Gao (2012) e Farag et al. (2014), onde foram

contempladas as 11 dimensões recomendadas pelo AAOIFI. A análise de conteúdo

manual e qualitativa foi utilizada para codificar o texto e classificar os índices divulgados

nas demonstrações financeiras e não financeiras que continham indicadores sociais em

cada uma das dimensões escolhidas.

Depois de analisar os diferentes bancos de dados, presentes em bancos centrais, sites e

relatórios anuais atualizados e na base de dados da base Orbis Bank Focus®, banco de

dados mantido pela Moody´s Analytics Company, foi analisada a divulgação dessas

informações de natureza social nos 40 bancos escolhidos na amostra, presentes em 6

países, entre os anos de 2013 a 2017. Estatísticas descritivas foram utilizadas para delinear

os níveis de divulgação dos bancos islâmicos, incluindo suas categorias de RSC e o

cumprimento das normas de governança nº 7 do AAOIFI (2010).

1.6 Limitações da pesquisa

Não há pesquisa sem limitação. Esta tese adotou índices de divulgação para investigar os

níveis de divulgação dos bancos islâmicos e bancos convencionais. Portanto, os

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resultados só são válidos na medida em que os índices de divulgação utilizados sejam

aplicáveis. A seleção dos itens incluídos no índice envolveu algum grau de julgamento e

subjetividade. No entanto, o teste de confiabilidade foi satisfatório. Uma limitação em

potencial para esta pesquisa foi o tamanho relativamente pequeno da amostra, que

envolveu apenas 40 bancos islâmicos e 40 bancos convencionais do CCG, o que pode

limitar a aplicação das conclusões de outras IFIs, como, por exemplo, a indústria do

Takaful (seguro islâmico). Mais estudos poderiam ser realizados usando uma grande

amostra de dados. Essa é uma limitação comum de estudos intensivos, que empregam a

técnica de análise de conteúdo manual para codificar o texto de relatórios financeiros e

não financeiros. Além disso, a coleta dados de RSC foi realizada lendo os relatórios

anuais dos bancos. Isso limitou a capacidade de aumentar o tamanho da amostra. Devido

à disponibilidade de dados durante esta pesquisa, os dados foram limitados apenas aos

anos de 2013 a 2017. Adicionalmente, não foi possível realizar entrevistas com os

acadêmicos em Sharia dos conselhos dos bancos islâmicos do CCG para obter suas

opiniões sobre as práticas de RSC e seu papel em incentivar os bancos islâmicos a serem

mais ativos socialmente, devido às dificuldades em abordá-los. Esse tipo de abordagem

poderia trazer esclarecimentos adicionais sobre os determinantes encontrados.

Apesar dessas limitações, o estudo forneceu fatos, evidências, dados e informações

suficientes para atender aos objetivos da pesquisa, além de fornecer respostas as três

questões de pesquisa e as treze hipóteses construídas.

1.7 Estrutura da tese

Esta tese compreende sete capítulos, sendo que neste Capítulo 1 apresenta-se a

Introdução ao tema que foi pesquisado. Nele o tema foi contextualizado, as questões de

pesquisa formuladas, a contribuição e relevância do estudo apresentadas, o percurso

metodológico sintetizado, bem como as principais limitações encontradas.

O Capítulo 2 apresenta os principais conceitos das finanças islâmicas, destacando suas

bases doutrinárias, normativas e religiosas, princípios islâmicos aplicados à indústria

financeira, com destaque para a proibição dos juros, especulação e operações envolvendo

riscos excessivos, seus principais produtos financeiros e lógica operacional. Será

discutido, também, o desenvolvimento e crescimento das finanças islâmicas nos países

do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), uma vez que seus seis países compuseram

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a amostra analisada. Adicionalmente, serão apresentados o desenvolvimento e conceitos

de governança corporativa islâmica e governança Sharia.

O Capítulo 3, ainda no espectro qualitativo da tese, apresentará os conceitos que

emergem da literatura de divulgação recente e as práticas que devem ser examinadas,

considerando a proposta desta tese de estudar RSC sob o ponto de vista islâmico, além da

estrutura conceitual das Teorias abordadas nesta pesquisa. Nessa perspectiva, estarão em

destaque os aspectos éticos da moral econômica islâmica, apoiados pelo Corão e pelas

Hadith. Uma breve apresentação da AAOFI, discussões acerca da Governança

Corporativa Islâmica e Ética Islâmica também está contida neste Capítulo.

O Capítulo 4 apresenta toda a discussão envolvendo a prática de divulgação da RSC

pelos Bancos Islâmicos, bem como seus determinantes e consequências. Será realizada

uma ampla revisão da literatura, para que se possa sustentar a construção das hipóteses

que serão construídas, todas baseadas nas lacunas identificadas em estudos precedentes.

No Capítulo 5 será apresentada a metodologia da tese, métodos utilizados para se atingir

os três objetivos de pesquisa. Serão apresentadas todas as variáveis dependentes,

independentes e de controle desenvolvidas. A discussão acerca da validade e

confiabilidade do índice de divulgação que será construído para os bancos islâmicos e

convencionais será desenvolvida neste capítulo, que também discute detalhadamente o

processo de exame do nível de divulgação da RSC, seus determinantes e consequências.

Os modelos de regressão econométrica serão construídos e discutidos nesta etapa.

O Capítulo 6 é destinado ao fornecimento das descobertas empíricas, apresentação das

respostas às três perguntas de pesquisa, além da discussão dos resultados. Serão

comparados os resultados dos níveis de divulgação descobertos para os bancos islâmicos

e convencionais, bem como destacado sua correlação, seja forte ou fraca, com o valor dos

bancos e com as variáveis e dimensões de responsabilidade social desenvolvidas.

O Capítulo 7 conclui a tese, resumindo seus principais achados, discutindo suas

principais implicações teóricas e práticas, apresentando e destacando alguns dos

caminhos a serem explorados em pesquisas futuras.

Como mencionado nos parágrafos anteriores, a presente tese está estruturada em sete

Capítulos, ilustrados na Figura 1 a seguir:

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Figura 1 – Estrutura da Tese

Fonte: Autor (2018).

Capítulo 1: Introdução

Contexto inicial, objetivos, perguntas e contribuições

da pesquisa

Capítulo 2: Plataforma Teórica:

Introdução às Finanças Islâmicas

Capítulo 3: Revisão da Literatura:

Literatura precedente em RSC sob a ótica

Islâmica

Capítulo 4 - Construção das Hipóteses:

Identificação das lacunas e construção das variáveis e

hipóteses de pesquisa

Capítulo 5 - Plataforma

Metodológica:

Apresentação da seleção amostral,

procedimentos, métodos e modelos

de regressão utilizados

Capítulo 6- Discussão dos

Resultados:

Análise dos resultados e respostas às

três perguntas de pesquisa

Capítulo 7: Encerramento

Apresentação das limitações encontradas,

implicações práticas e teóricas dos achados e

sugestões para futuras pesquisas

Estrutura Conceitual da Tese

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2 PLATAFORMA TEÓRICA: AS FINANÇAS ISLÂMICAS

O Islamismo não é meramente uma religião, mas também um sistema socioeconômico e

político abrangente para a sociedade islâmica, onde torna-se necessária a aplicação dos

princípios éticos do Corão e da Suna5 em todas as relações sociais, políticas e econômicas.

A economia islâmica refere-se a um sistema que identifica e promove ordens econômicas

e financeiras consistentes com os princípios da Lei Islâmica, a Sharia.

Um conjunto de princípios diferencia singularmente as finanças islâmicas das finanças

convencionais ou ocidentais, já que vai além das questões econômicas e financeiras puras,

alcançando a sociedade e visando seu bem-estar social. A Lei Islâmica proíbe, por

exemplo, a cobrança e o pagamento de juros. Fato ímpar que já causa estranheza aos

bancos ocidentais ou convencionais, à medida um banco supostamente só geraria riqueza

por meio dos juros cobrados de seus clientes.

Os ganhos dos muçulmanos devem vir de meios permitidos e também devem ser gastos

em categorias de despesas islamicamente aceitáveis. Consequentemente, o Islã proíbe o

investimento em empresas que são consideradas ilegais ou contrárias aos ensinamentos e

valores islâmicos. Além disso, a distribuição da riqueza é considerada a principal

preocupação na economia islâmica. A riqueza no Islã deve ser compartilhada, não se

concentrar em poucas mãos (pessoas ricas). Para os muçulmanos, a preocupação com os

outros, em particular os pobres e os necessitados, estão profundamente inscritos nos

pilares do Islã. O islamismo, portanto, encoraja os muçulmanos a maximizar suas

riquezas, desde que não criem uma situação de desequilíbrio social ou que violem as

normas da justiça e moral islâmicas.

As finanças islâmicas podem ser definidas inicialmente como o conjunto de operações de

natureza financeira e consoantes com a Sharia. À primeira vista, portanto, nada mais

seriam além de práticas financeiras sujeitas a um regramento específico, cujas bases

normativas, nesse caso, não seriam dadas por atos normativos seculares, tal como ocorrem

5 O verbete Suna significa “livro dos muçulmanos”, que contém os ditos e os feitos do Profeta Muhammad

(S.A.W.S.). Na cultura árabe, a palavra tem o significado literal de “caminho trilhado”, ou seja, as veredas

que foram seguidas pelo Profeta, das quais surgiram suas tradições. Além disso, Suna apresenta um

significado terminológico que indica todas as aprovações, dizeres e realizações de Muhammad (S.A.W.S.)

em mais de 20 anos como mensageiro divino. Assim, tudo que envolve a sua vida forma a Suna, que deve

ser praticada e seguida pelos muçulmanos segundo as tradições. Um exemplo de moralidade para o povo

em questão é a "Hadith", os registros que foram validados no caminho do profeta.

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em outros sistemas jurídicos, mas sim pelo Corão e pela Suna, as fontes primárias da

Sharia. Portanto, podemos utilizar essa expressão para designar o conjunto de operações

realizadas com a necessidade de se seguir e respeitar as orientações da Sharia, que por

sua vez direcionam todo o comportamento dos seguidores do Islã. Atualmente, é utilizada

a expressão Sharia Compliant6 para as atividades financeiras condizentes com as

orientações religiosas do Corão e todas as suas vertentes aceitas.

A lógica das finanças islâmicas são o reflexo da imagem de mundo adotada pelo

Islamismo, mais precisamente, de uma visão sobre o funcionamento da economia de

modo geral, estruturada sobre valores que permeiam funções e objetivos bastante

singulares para o sistema econômico, e da própria postura que a religião impõe aos seus

seguidores na sua relação mundana.

Diante do exposto, o presente Capítulo destina-se a esclarecer as bases doutrinárias

islâmicas, isto é, as fontes primárias e secundárias que que sustentam a elaboração das

normas que devem ser seguidas pelos bancos islâmicos, alicerce das finanças islâmicas.

Serão tratados, adicionalmente, os principais aspectos da economia no islamismo, bem

como apresentados seus principais produtos financeiros. A estruturação econômica,

financeira, contábil, de governança corporativa, de governança Sharia e de ética

empresarial também serão abordados. Além disso, serão discutidos os princípios

norteadores das finanças islâmicas, seguidos por todas as Instituições Financeiras

Islâmicas (IFIs), não restrita apenas aos bancos islâmicos. Aqui também serão

apresentados os principais estágios do desenvolvimento das finanças islâmicas no mundo,

especialmente, nos países pertencentes ao Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), com

destaque para seus primordiais participantes e apresentadas as principais características

do principal normatizador contábil, financeiro e de ética dos países do CCG, o AAOIFI.

2.1 Mundo Islâmico

Oportuno mencionar no início deste Capítulo, que o Islã atualmente é uma grande

comunidade de adeptos, e que, apesar de seus reveses políticos, frequentemente relatados

nas principais mídias internacionais, e diversidades ideológicas, mantém-se presente nas

diferentes regiões do planeta. Para se ter uma ideia, existe uma província chinesa de

6 Para mais detalhes, acesse o projeto SHARIAsource do Departamento de Estudos Jurídicos Islâmicos de

Harvard coordenado pela Professora Dra. Intisar A. Rabb em http://ilsp.law.harvard.edu/Shariasource/.

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maioria muçulmana em Xinjiang. De acordo com pesquisa recente divulgada pelo Pew

Research Center (2018), os muçulmanos formam uma comunidade de cerca de 1,7 bilhão

de pessoas, o que equivale a 23,2% da população mundial, afirmando-se como o segundo

maior grupo religioso da atualidade, conforme Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Principais Grupos Religiosos da Atualidade

Religião

População total Participação na

população mundial (%)

Cristãos 2.350.582.020 31,4

Muçulmanos 1.736.735.760 23,2

Sem religião 1.227.682.520 16,4

Hindus 1.122.889.500 15,0

Budistas 531.501.030 7,1

Judeus 14.971.860 0,2

Adeptos de religiões populares 441.669.870 5,9

Adeptos de outras religiões 59.887.440 0,8

Total 7.485.930.000 100,0

Fonte: Pew Research Center (2018).

Há natural prevalência do islamismo entre os habitantes da região do MENA, mas a

religião pode ser verificada em outras regiões. Embora o senso comum considere que a

maioria dos seguidores dessa religião estejam no norte da África ou no Oriente Médio,

apenas cerca de 20% deles encontram-se nessas regiões. A maioria dos 1,7 bilhão de

muçulmanos está na região Ásia-Pacífico, conforme apresentado na Tabela 2 a seguir:

Tabela 2 – População Islâmica Mundial Regionalizada

Região População total População muçulmana Participação de

muçulmanos (%)

Ásia-Pacífico 4.179.829.482 1.122.615.760 26,8

Mena 341.020.000 317.070.000 92,9

África Subsaariana 1.287.920.518 248.420.000 19,2

Europa 742.550.000 44.310.000 5,9

América do Norte 344.530.000 3.480.000 1,0

América Latina-Caribe 590.080.000 840.000 0,1

Total 7.485.930.000 1.736.735.760 23,2

Fonte: Pew Research Center (2018).

A conjugação desses dados evidencia que o Islã é, de fato, uma religião de alcance

mundial, e não apenas regional. Ademais, fornecem base empírica para ilustrar e

reafirmar uma clara distinção entre árabe (integrante de povo originário da península

arábica) e muçulmano (adepto da religião islâmica), designações que o senso comum

tende a confundir. Isso ocorre porque, embora, de fato, os primeiros muçulmanos tenham

sido árabes, os dados acima mostram que, atualmente, o maior contingente de

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muçulmanos, em termos absolutos, é precisamente de não árabes (PINTO, 2010). Por

outro lado, observa-se que na própria região do MENA é possível encontrar uma minoria

que não é adepta da religião islâmica, constituindo, assim, um contingente de árabes não-

muçulmanos (ALI, 2006).

2.2 Bases doutrinárias das finanças islâmicas

O islamismo pode ser definido como um sistema socioeconômico e político abrangente,

encarado, inclusive, como um modo de vida (RAHMAN, 1979; CHAPRA, 1979;

MARTINS, 2004; PINTO, 2010) ou, ainda, como um esquema de vida completo, uma

ordem social universal (ZAHER; HASSAN, 2001; ISBELLE, 2003; EL GAMAL, 2006),

sendo o resultado ou a expressão de uma determinada visão de mundo (CHAPRA, 1979;

DUSUKI, 2008; COSTA 2016). Não se trata de algo monolítico, mas sim um conjunto

plural e dotado de dogmas religiosos, valores morais e éticos, bem como regras de

conduta, todos voltados a estabelecer, nas mais diferentes dimensões, as bases para o

correto caminho dos seus adeptos, gerando, inclusive, uma identidade própria neles,

refletida na Ummah, que é considerada a identidade na comunidade dos crentes do mundo

islâmico (BALALA, 2011; KREINATH, 2011; HOURANI, 2013).

Com relação às fontes primárias do islamismo, podemos destacar as duas mais

importantes segundo a doutrina islâmica majoritária: (i) Corão e (ii) Suna. O Corão é a

fonte primária e mais importante de toda a Sharia, da qual todas as demais retiram seu

fundamento de validade. Trata-se do livro que contém o discurso ou a Mensagem de Deus

revelada a Muhammad em árabe, por meio do anjo Gabriel, transmitida inicialmente pelo

próprio Profeta inicialmente de forma verbal e, posteriormente, transcrita por seus

seguidores e transmitida por escrito (GALWASH, 1973; MARTINS, 2004; AYUB, 2007;

KAMALI, 2007; PINTO, 2010; KHATIB, 2013; COSTA, 2016).

O Corão é o resultado textual da recitação da palavra divina por Muhammad entre os anos

de 610 e 632 a.d. Em árabe o significado literal é “recitação”, e, efetivamente, ele foi

recitado oralmente antes de ser codificado como texto escrito. A linguagem poética do

Corão tem conexões com a poesia oral que era recitada publicamente pelos poetas da

Arábia pré-islâmica. No entanto, dada a dimensão e complexidade linguística e lógica do

texto corânico, pode-se afirmar que foi através dele que o árabe se tornou uma língua

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literária passível de servir de veículo para a vasta e variada produção cultural e artística

da civilização árabe-islâmica.

Em função de sua origem divina, seu texto é considerado como a manifesta revelação

(Wahy Zahir), destinando-se a servir de guia e de fonte primária de orientação para todos

os seguidores do Islã, a fim de adequarem sua conduta à vontade de Deus, com vistas ao

seu bem-estar e à sua salvação após a morte (BERQUE, 2001; ARMSTRONG, 2001). O

texto do Corão está organizado em 114 capítulos (chamados de Surata) e em mais de

6.200 versículos (chamados de Ayat), os quais não possuem uma extensão padronizada.

Os capítulos do Corão variam de 4 a 286 versículos. As suratas mais longas, que

correspondem aos longos sermões proféticos do período do islã triunfante em Medina e,

mais tarde, Meca, foram colocadas no início do texto, e as mais curtas, que correspondem

às revelações visionárias do início da trajetória profética de Muhammad, foram colocadas

na sua parte final. A mais longa das suratas, aquela de nominada Al-Baqara (“A Vaca”)

aparece logo após a surata de abertura Al-Fatiha (“A Abertura”).

O Corão trata de uma grande diversidade de temas, que vão desde questões puramente

religiosas até questões morais e de hábitos de alimentação e vestimenta a serem

observados pelos muçulmanos (MARTINS, 2004; COSTA, 2016; JANTALIA, 2016).

Ademais, possui em torno de 350 versículos tratando de direitos e deveres, com destaque

para os deveres com a religião (com aproximadamente 140 versículos); para os assuntos

cíveis e familiares (cerca de setenta); para os assuntos penais (cerca de trinta); para os

temas políticos (outros trinta); e para os temas econômicos (cerca de dez). Ainda assim,

em grande parte dos casos a parte jurídica do Corão é expressa em termos de enunciados

gerais de princípios, e apenas muito raramente o Livro faz uso de prescrições mais

detalhadas, diferentemente dos temas relacionados à economia e às finanças (KAMALI,

1989; JOMIER; 1992; BERQUE, 2001; ISBELLE, 2003; MARTINS, 2004; PINTO,

2010; JANTALIA, 2016).

Dessa forma, podemos definir o Islã, complementarmente, como um sistema doutrinal

dentro do qual se identificam três componentes ou subsistemas, que consistem em

conjuntos específicos, mas inter-relacionados de crenças e comandos normativos:

(i) Aqidah, de natureza teológica, trata de todos os aspectos da fé e crenças do

muçulmano, excluindo qualquer dúvida ou suposição acerca da religião,

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(ii) Sharia, de natureza predominantemente jurídica, que busca estabelecer os direitos e

os deveres dos muçulmanos, tanto em sua relação com Allah quanto em sua relação com

seus irmãos; e

(iii) Akhlaq, de natureza filosófica, abrange os valores e virtudes éticos e morais que

devem orientar o muçulmano, delineando o código islâmico e orientando as relações do

crente em sua conduta pessoal. Traz ainda comandos e proibições que governam os

interesses pessoais e profissionais de todo muçulmano e que tratam de comportamento,

atitudes, transações e éticas no ambiente de trabalho. A correta compreensão desses três

componentes é importante para a pesquisa que constitui objeto dessa tese porque propicia

uma visão geral da doutrina do Islã, permitindo assim posicionar o tema das finanças

islâmicas como expressão dessa visão de mundo e entender especificamente o papel dos

bancos islâmicos neste contexto.

A Figura 2 a seguir apresenta uma visão geral e ampliada do islamismo e sua influência

nas atividades sociais, políticas e econômicas que norteiam a vida de um muçulmano:

Figura 2 – Influência do Islamismo nas Relações Sociais e Econômicas

Fonte: Adaptado de Thomas et al. (2005) e Khatib (2013).

Islamismo

Aqidah

(Fé e Crenças)

Sharia

(Atividades e Práticas)

Akhlaq

(Ética e Moral)

Ibadat

(Obrigações com Allah)

Muamalat

(Regras Comerciais)

Atividades

Políticas

Atividades

Econômicas

Atividades

Sociais

Outras Atividades

Econômicas

Atividades Financeiras e

Bancárias

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2.3 Epistemologia da economia islâmica

A epistemologia da economia islâmica é única em comparação com o capitalismo.

Enquanto o último considera que o conhecimento econômico livre de valores é produzido

da mesma forma que o conhecimento científico, isto é, o uso de leis científicas

econômicas livres de valor, o primeiro consiste no Direito Divino e racionalismo humano

para investigar fenômenos de acordo com a lei divina. Isso implica que a epistemologia

da economia islâmica envolve juízos de valor e julgamentos positivos quando se trata de

fenômenos econômicos (KHAN, 1987; PLUTA, 1989; CHAPRA, 1995; NAQVI;

QADIR, 1997; MOHAMMAD et al., 2013).

Naqvi (1981) em sua obra seminal Ethics and Economics: An Islamic Synthesis, defende

que a ciência econômica islâmica está alicerçada em quatro axiomas fundamentados na

ética e ensinamentos do Islã. Esses axiomas são a Unidade, o livre arbítrio, equilíbrio e

responsabilidade social, todos derivados das principais fontes de conhecimento islâmico:

Corão e Hadith. A partir desses axiomas, é possível deduzir várias teorias econômicas a

serem aplicadas à realidade. No programa de islamização da economia, esses axiomas

podem ser os pontos de referência que guiam o desenvolvimento das teorias da economia.

Dessa abordagem, derivaram diversas proposições econômicas básicas (declarações) dos

primeiros princípios da ética religiosa, que podem fornecer as respostas aos diversos

problemas econômicos das relações humanas.

Para os muçulmanos, o núcleo da crença é representado pela Tawhid (Unidade ou

Consciência de Deus), o Criador e Sustentador de tudo, incluindo o conhecimento.

Portanto, Tawhid implica que a fonte de todo conhecimento é apenas de Allah (ARIF,

1987; MOTEN, 1990; MIR, 1999; CHOUDHURY, 2000). O Corão enfatiza isso em

várias passagens.7 Para que esse conhecimento seja sustentado e distribuído para a

humanidade, Deus escolheu seus profetas e mensageiros (ASUTAY, 2007) e os ensinou

como compartilhar diversos conhecimentos. Consequentemente, os muçulmanos

acreditam que o Corão e a Suna são as principais fontes de conhecimento, que

compreendem a lei divina segundo a qual todo o universo é organizado em leis cósmicas.

O papel do ser humano, individualmente, nesse sentido, não se limita a compreender a

Sharia, mas ligando os diferentes fenômenos do universo à Unidade de Deus através de

7 Para mais detalhes, ver a Surata 2:31 (Al Bácara), e na Surata 6:38 (Al An’am).

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raciocínio. Na realidade, isso implica para os muçulmanos que: (1) tudo na lei islâmica é

verdadeiro e absoluto; e (2) se houver um conflito entre a lei islâmica e o empreendimento

humano, em termos do fundamento de um fenômeno, então este último deve estar errado

ou a interpretação da lei divina está incompleta, mas nunca errada. Isso ocorre porque o

conhecimento humano é imperfeito em comparação com o conhecimento de Deus

(KHAN, 1987). Há uma diferença entre a verdade absoluta do Criador do conhecimento

e a verdade objetiva do humano (KHAN 1987; BIRAIMA 1998), porque a humanidade

tem capacidades limitadas e Deus, ilimitadas (KHAN 1987; NIENHAUS 1989).

Assim, a justificação dos fatos está no centro da epistemologia islâmica e recebe

cuidadosa atenção de estudiosos da revelação e jurisprudência islâmica, por um lado, e

cientistas de outras áreas do conhecimento, por outro. Em outras palavras, de acordo com

a epistemologia islâmica, é importante que o conhecimento resultante da interpretação e

revelação da lei divina, além do conhecimento resultante da razão humana sobre os

fenômenos reais, seja consistente com a lei divina (MOHAMMAD et al., 2013).

Os filósofos islâmicos consideram a Unidade de Deus e o conhecimento como a

orientação cognitiva fundamental de uma sociedade muçulmana individual ou

muçulmana, abrangendo a totalidade do conhecimento do indivíduo muçulmano ou da

sociedade muçulmana. Os economistas islâmicos não são exceção a esse respeito (e.g.,

Ahmad 1980, 2000, 2003; Naqvi 1981; 1994; Siddiqi,1981; Arif, 1985; Al-Habshi, 1987;

Khan 1987; El-Ghazali 1994, Chapra, 1995, 2000; Sirageldin 2002; Choudhury; Hussain

2005). Isso significa que as especificações do caráter e das propriedades do conhecimento

(PLUTA, 1989), na economia islâmica, como em qualquer outro campo de conhecimento

islamizado, se assentam em dois pilares: (1) a lei divina; e (2) a racionalidade dos

jurisprudentes e economistas islâmicos em justificar os fenômenos econômicos de acordo

com a lei divina (AL-SUWAILEM, 2013).

Em essência, isso é diferente das características do conhecimento na economia

neoclássica que é baseado apenas na racionalidade humana como fonte de conhecimento

(NIENHAUS, 1989), desprezando quaisquer outras fontes, especialmente aquelas

relacionadas aos aspectos religiosos.

O Quadro 2 a seguir sintetiza as diferenças entre os fundamentos filosóficos da economia

islâmica e neoclássica:

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Quadro 2 – Fundamentos Filosóficos da Economia Islâmica e Neoclássica

Fundamentos Filosóficos Economia Neoclássica Economia Islâmica

Ontologia

Micro Realidade (indivíduo)

O indivíduo é livre, com

interesse próprio, isto é, é o

homem econômico egoísta

O indivíduo é o vice regente ou

agente do principal (Deus), com

interesses espirituais e materiais

Macro Realidade (sociedade)

A sociedade é a soma dos

interesses dos indivíduos

materialistas.

A sociedade consiste em classes

sociais que são beneficentes,

baseados na fraternidade,

coordenada para se atingir um

objetivo social, político, religioso

e econômico

Realidade Intermediária

(integração entre a macro e

micro realidades)

Adoção do Laissez-faire,

com o livre mercado e a mão

invisível do governo

O mercado é livre, baseado na

Sharia, e ético. Deve integrar os

interesses materialistas e

espirituais dos indivíduos e da

sociedade, a fim de alcançar o

bem-estar social e o crescimento

econômico de todos os

indivíduos.

Epistemologia

Especificações e personagens

do conhecimento econômico

Direito Econômico

Científico

A Lei Divina e o racionalismo

humano são consistentes com as

diretrizes de Deus.

O assunto da disciplina, ou

seja, o problema central

A conduta do homem na

parte comercial de sua vida.

Desenvolvimento que leva ao

crescimento econômico e ao bem-

estar da sociedade.

Metodologias consiste nos

dois aspectos acima

Positivismo e julgamento

sem valor

Julgamentos de valor e

julgamentos positivos

Fonte: Adaptado de Pluta (1989).

Dados os dois pilares da epistemologia islâmica da lei divina e do raciocínio humano

coerentes com ela, as metodologias da economia islâmica dão a devida proeminência

tanto a juízos de valor quanto a julgamentos positivos ao fazer generalizações sobre uma

economia islâmica ideal (KHAN 1987; CHAPRA 1995; NAQVI; QADIR 1997). Isso

implica que a metodologia na economia islâmica tem uma base tanto normativa quanto

positiva (NIENHAUS, 1989). No entanto, o caso é diferente na economia neoclássica que

se baseia no positivismo e no julgamento sem valor.

O desenvolvimento que leva ao crescimento econômico e ao bem-estar social é o objetivo

final nos escritos dos economistas islâmicos ao tentar identificar as necessidades e desejos

da economia islâmica como uma ciência que lida com a solução de problemas na

realidade (e.g., Khan 1984; Arif 1985; Chapra 1995, 2000). O bem-estar social no nível

micro é reconhecido como falah, que é o objetivo final de um agente econômico islâmico

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(SIDDIQI, 1979). Isso significa alcançar interesses materiais e espirituais tanto nesta vida

quanto no futuro (CHAPRA, 1995). Atingir um nível de falah exige regras para uma

conduta econômica adequada (YUSOF; AMIN, 2007) e, consequentemente, os

economistas islâmicos se esforçam para resolver problemas econômicos de tal forma que

satisfaçam as necessidades materialistas e espirituais do indivíduo e da sociedade.

2.4 Ensinamentos financeiros do Corão

Diversos ensinamentos sobre finanças e economia estão presentes no Corão. Trata-se de

um compêndio de valores, princípios, valores, guias e regras que servem de base para um

desenvolvimento apropriado do sistema econômico e financeiro do mundo islâmico

(ABDEL-MAGID, 1981; JANTALIA, 2016). Os valores positivos discutidos no Corão

incluem: justiça, honestidade, moderação e bondade aos menos favorecidos, enquanto a

injustiça, avareza, extravagância, miséria e acumulação são consideradas como valores

negativos e encontradas em nossa sociedade atualmente (IQBAL; MOLYNEUX, 2005).

O sistema econômico baseado nos princípios fundamentais do islamismo garante a justiça

social e econômica, fraternidade humana, distribuição equitativa de riqueza e liberdade

individual relacionada ao bem-estar social ou Welfare State. De acordo com o Islã, a

busca pela fonte de renda e o rendimento Halal (permitido) é essencial. Isto é permissível,

perante Allah, para ganhar o que quer que seja, mas por meios justos. Além disso, todo

muçulmano deve pagar o Zakat aos necessitados, o que garante, desta forma, uma

distribuição equitativa da riqueza (ABDEL-MAGID, 1981; AYUB, 2007).

No Corão, o comércio é permitido, entretanto são elencadas algumas práticas proibidas

como a usura, amplamente discutida nesta tese, má apropriação e jogatina, incluindo nesta

última a incerteza e a especulação. São encontrados mais de duzentos versos do Corão os

quais, de uma forma ou de outra, estão relacionados à economia e às finanças: incluem

aqui o zakat, as transações e mercadorias proibidas e permitidas ao consumo, sobre a

riqueza, a propriedade privada, comércio, registros contábeis, débito, crédito, a fraude, as

associações, os contratos, governança e transparência etc. Existem, ao menos, cinco áreas

de comportamento econômico e financeiro que são pormenorizadamente mencionadas no

Corão que incluem justiça e responsabilidade social, aquisição da riqueza, distribuição da

riqueza, proteção dos menos favorecidos e regulação das transações através de contratos

(LEWIS et al., 2001; MAALI et al., 2006; MAALI; NAPIER, 2010)

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As atividades econômicas, incluindo as financeiras, direcionam os islâmicos a

aproveitarem plenamente as bênçãos de Deus (COSTA, 2016). O Corão enfatiza

reiteradamente que todas as coisas do universo pertencem a Allah, sendo que Ele criou

todas as coisas e permite ao homem explorá-las e usá-las para a satisfação de suas

necessidades. Entretanto, o homem deve distinguir entre as coisas dentro da lei e as coisas

fora da lei. O Corão ordena que a riqueza deve ser adquirida dentro dos meios legais e

que os meios ilegais devem ser descartados por completo (CHAPRA, 1979; ABDEL-

MAGID, 1981; MARTINS, 2004; COSTA, 2016).

2.5 Desenvolvimento das Finanças Islâmicas

2.5.1 Primeiro estágio

Os primeiros estudos para a reorganização do sistema financeiro convencional nos países

islâmicos, isto é, uma sistemática sem a cobrança de juros remonta aos anos 40, com

destaque para os trabalhos de Anwar Qureshi (1946), Naeem Siddiqui (1948) e Mahmud

Ahmad (1952) que iniciaram suas pesquisas na introdução do sistema financeiro em

consonância com a Sharia. Mawdudi (1950) e Hamidullah (1957) estudaram o tema com

profundidade. Um dos teóricos mais conhecidos das finanças islâmicas, Ayatollah Baqir

em seu livro Our Economy (nome original Iqtissaduna, publicado em 1961) defendeu um

sistema econômico que se fundamentasse exclusivamente em princípios compatíveis com

a Sharia. Até essa altura, todos os países islâmicos foram incorporados ao capitalismo

mundial ou em outros lugares envolvidos no sistema socialista controlado pela então

União Soviética e não se inscreveram em nenhuma teoria particular (KEPEL, 2006,

AYUB, 2007, COSTA 2016).

Todos os autores mencionados no parágrafo anterior reconheceram a importância e

relevância dos bancos convencionais, mas se recusaram a aceitar a cobrança de juros em

todas as operações comerciais e não somente bancárias. Dessa forma, tiveram que

encontrar uma maneira alternativa de substituir o banco convencional e fornecer

intermediação financeira sem a cobrança de juros. Como resultado, eles propuseram um

novo sistema bancário em que tanto o lucro como a perda são compartilhados de maneira

equitativa pelo provedor de capital e pelo usuário desse sistema. Esta prática é geralmente

chamada de Profit and Loss Sharing (PLS) ou Compartilhamento de Ganhos e Perdas.

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Nas três décadas seguintes, os economistas e estudiosos muçulmanos deram mais atenção

para as práticas financeiras sem a cobrança de juros. Foram apoiados também pelo

interesse político criado no Paquistão e pelo crescente número de jovens economistas

muçulmanos interessados neste tema (PINTO, 2010; COSTA 2016; JANTALIA, 2016).

Como resultado, muitos trabalhos que lidam com uma ideia de bancos islâmicos surgiram

no final dos anos sessenta e início dos anos setenta, com destaque para os trabalhos de

Uzair (1955), Al-Araby (1967), Siddiqui (1969) e Al-Najjar (1978).

No início dos anos 70, a prática de não cobrança de juros experimentou o

desenvolvimento institucional. A ideia de estabelecer o primeiro banco sem a cobrança

de juros, o Banco Islâmico de Desenvolvimento (BID)8, foi introduzida na Segunda

Conferência islâmica dos Ministros dos Negócios Estrangeiros, realizada em 1970 em

Karachi, Paquistão (HANIFFA; HUDAIB, 2002; BHATTI; BHATTI, 2009).

2.5.2 Segundo Estágio

O segundo estágio refere-se à aplicação da teoria à prática com a ajuda do envolvimento

institucional e governamental. O marco histórico dos bancos islâmicos é a Primeira

Conferência dos Ministros das Finanças dos Países Islâmicos realizada em Jeddah,

Arábia Saudita (1973), sob a Organização da Conferência Islâmica (OCI), onde

principalmente a abolição dos juros foi discutida. Além disso, a Declaração de Intenção

foi emitida e a decisão final de estabelecer o BID foi feita nesta reunião (PLATONOVA,

2014). No entanto, o banco foi inaugurado oficialmente dois anos depois, em 20 de

outubro de 1975 e atualmente é composto por 56 nações islâmicas (BID, 2017). No

mesmo ano, o primeiro banco privado sem juros, o Dubai Islamic Bank (DIB), foi

estabelecido por uma equipe de empresários de vários países muçulmanos (GAFOOR,

1995). Atualmente, o DIB é o maior banco islâmico nos Emirados Árabes Unidos.

8 O Banco islâmico de desenvolvimento é uma instituição internacional estabelecida em dezembro de 1973

e com abertura oficial dos trabalhos em 20 de outubro de 1975. O objetivo do banco é proporcionar o

desenvolvimento econômico e progresso social dos países membros. As funções principais do banco são

de emprestar capital a baixos juros para projetos e empresas, além de projetos especiais que visem a dar

assistência a países islâmicos não-membros do Banco. Além disso o Banco incentiva o comércio e a troca

de conhecimento entre os países-membros. São 56 os países-membros do Banco islâmico de

desenvolvimento, mas os principais acionistas do banco são: Arábia Saudita (27,33%), Líbia (10,96%), Irã

(9,59%), Egito (9,48%), Turquia (8,65%), Emirados Árabes Unidos (7,76%) e Kuwait (6,86%).

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Em 1977, outro banco islâmico de pleno direito, a Kuwait Finance House (KFH), foi

fundado pelo governo do Kuwait. Desde a sua criação, o KFH conseguiu

sistematicamente expandir seus negócios, estabelecer novas realizações e ampliar a gama

de serviços. Como resultado, o KFH atualmente opera em 7 países em todo o mundo

(Kuwait, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Turquia, Malásia e

Austrália) através de 355 agências (ABEDIFAR et al., 2015).

Tanto o Dubai Islamic Bank quanto a Kuwait Finance House são considerados pioneiros

do recém-desenvolvido sistema bancário islâmico. O segredo de seu sucesso foi o de

combinar adequadamente os melhores valores islâmicos tradicionais com a tecnologia

eficiente, acompanhada de inovação. Atualmente, esses dois bancos são, sem dúvida,

líderes mundiais no campo dos produtos financeiros islâmicos e seus padrões são

seguidos por muitas outras instituições financeiras. Mais dois bancos islâmicos privados

foram criados em 1977 no Sudão e no Egito sob o mesmo nome do Faisal Islamic Bank.

Duas foram as esferas do sistema financeiro islâmico que se diferenciam completamente

das instituições financeiras tradicionais, embora ambos se baseiem na mesma lógica. A

primeira esfera promoveu um mecanismo de redistribuição parcial das receitas do

petróleo entre os Estados membros da Organization of Islamic Cooperation (OIC) através

do BID. Após a aplicação desse mecanismo, a dependência entre os países membros

asiáticos e africanos mais pobres e os países ricos em exportação de petróleo aumentou e

a coesão islâmica se fortaleceu. A segunda esfera corresponde ao domínio exclusivo de

investidores privados e detentores. Após vários experimentos no Egito, tudo isso resultou

no estabelecimento de bancos comerciais islâmicos que começaram a surgir

extensivamente em 1975.

Apenas em dez anos desde a abertura do primeiro banco islâmico privado em Dubai

(1975), mais de 55 bancos sem juros surgiram. Quase todos eles estão localizados em

países muçulmanos, no entanto, alguns também são colocados na Europa, nomeadamente

no Reino Unido, Dinamarca, Suíça ou Luxemburgo (GAFOOR, 1995). A Casa de

Finanças Islâmicas, criada em 1978 no Luxemburgo, foi a primeira tentativa histórica de

lançar o banco islâmico no mundo ocidental (ARIFF, 1988; El-GALFY; KHIYAR,

2012). Seguiu-se a primeira companhia de seguros que cumpre os princípios islâmicos

(Takaful) que emergiu também em 1983 no Luxemburgo (DERBEL, 2011). Durante os

anos 80 e 90, muitos bancos ocidentais tradicionais criaram janelas islâmicas de

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oportunidade financeira (departamentos especiais de bancos convencionais que são

permitidos para os serviços financeiros islâmicos), por exemplo, o Barclays, Citibank,

HSBC, Merril Lynch, Goldman Sachs, Kleinnwort Benson e muitos outros, para atraírem

depósitos de investidores muçulmanos e satisfazer a demanda da população muçulmana

vivendo nesses países (HASSAN; LEWIS, 2007; MARCINKOWSKI, 2009).

Mais tarde, o sistema bancário em alguns países islâmicos mais conservadores, como Irã,

Sudão e Paquistão, foram completamente islamizados (GAFOOR, 2005,

SUNDARAJAN; ERRICO, 2002). Na maioria dos países, os bancos sem juros foram

estabelecidos pela iniciativa privada e coexistiram doravante com os bancos

convencionais. No entanto, os bancos no Irã e no Paquistão estavam sob supervisão do

governo que cobriam sucessivamente todos os bancos do país e os bancos comerciais

foram completamente abolidos. Em ambos os países mencionados anteriormente, o

sistema bancário sem juros foi introduzido em 1981. A partir de 1º de janeiro de 1981,

todos os bancos convencionais domésticos no Paquistão foram autorizados a aceitar

depósitos no princípio da participação nos lucros e perdas (GAFOOR, 2005). Em janeiro

de 1985, o processo de transformação completo do sistema bancário "antigo" para o

"novo" sistema compatível com a Sharia estava em andamento (SUNDARAJAN;

ERRICO, 2002). A partir de 1º de julho de 1985, nenhum banco paquistanês foi

autorizado a aceitar qualquer tipo de depósito com juros e todos os depósitos existentes

deveriam seguir as regras de Compartilhamento de Lucros e Perdas (GAFOOR, 2005).

No Irã, a situação era muito parecida com o Paquistão. Em fevereiro de 1981, foram

aplicadas certas restrições administrativas para eliminar o ganho de juros das atividades

bancárias. Especificamente, os juros de todas as transações foram substituídos por uma

taxa de serviço de até 4% e por uma “taxa de lucro” que variava de 4 a 8%, determinada

de acordo com o tipo de atividade econômica. Os juros sobre depósitos foram

transformados em uma espécie de "lucro mínimo garantido". Dois anos depois, em agosto

de 1983, a lei bancária livre de usura foi adotada pelo governo iraniano e, em janeiro de

1984, começou um período de transição duradouro de quatorze meses. A conversão de

todo o sistema bancário para o não-interesse foi realizada até março de 1985 (GAFOOR,

2005).

Em 1995, 144 instituições islâmicas operavam em todo o mundo, incluindo 33 bancos

estatais, 40 bancos privados e 71 empresas de investimento (KEPEL, 2006). Atualmente

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existem mais de 600 instituições financeiras islâmicas que operam em mais de 100 países

em todo o mundo. Esses números indicam expansão rápida e grande potencial de

financiamento islâmico. (NEWAZ et al, 2015, IFSB, 2017).

2.6 Princípios básicos das finanças islâmicas

As finanças islâmicas podem ser definidas como o conjunto de operações de natureza

financeira em alinhamento total com a Sharia. Numa primeira interpretação, nada mais

seriam além de práticas financeiras sujeitas a um regramento específico, cujas bases

normativas, nesse caso, não seriam dadas por atos normativos seculares, tal como ocorrem

na maior parte dos sistemas convencionais ou ocidentais, mas sim pelo Corão e pela Suna,

as fontes primárias da Sharia. (KHAN, 1987, MARTINS, 2004).

Dessa forma, esse modelo financeiro baseado na religião, resultou de uma articulação

diferenciada entre ideias e interesses materiais, servindo de base para que os muçulmanos

não se comprometam com atividades consideradas ilícitas, como a riba, maysir e gharar.

As finanças islâmicas não são orientadas apenas por princípios, mas por formas jurídicas

que dão vida, corpo e vazão aos interesses materiais dos muçulmanos. Dessa forma, as

finanças islâmicas configuram um modelo de relações econômico-financeiras que o

pensamento religioso concebeu para conformar as interações comerciais de seus fiéis à

Mensagem Divina, expressa no Corão e nas práticas do Profeta. (CHAPRA, 1979;

AYUB, 2007; KHATIB, 2013; JANTALIA 2016).

Sendo assim, uma adequada abordagem das finanças islâmicas não pode se limitar ao

exame de suas formas contratuais e institucionais, sob pena de não se conseguir alcançar

a sua essência e a sua racionalidade. Para alguns pesquisadores ocidentais, as finanças

islâmicas são apenas um conjunto de operações nos quais não há cobrança de juros.9 Por

conta do caráter fortemente moralizador e principiológico das prescrições da doutrina

religiosa islâmica, nenhuma análise ou teoria sobre a ação econômica dos muçulmanos

conseguirá alcançar um mínimo de consistência se não passar por uma investigação do

sentido que os fiéis atribuem a essa ação. É preciso, diante disso, compreender os valores

9 A vedação à usura, fato que está presente em diversas passagens do Corão, tem causado desconfiança e

ceticismo nos pesquisadores ocidentais, a ponto de enviesar os estudos sobre as finanças islâmicas. Não

são poucos os trabalhos que se dedicam a análises comparativas entre os instrumentos financeiros islâmicos

e aqueles utilizados nos mercados financeiros convencionais, com o objetivo declarado de infirmar a tese

da efetividade dessa vedação. Um bom exemplo disso é o trabalho de Chong e Liu (2007).

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que norteiam a visão da religião no campo econômico, a fim de estabelecer uma relação

entre esses valores e os contornos e formas das finanças islâmicas.

A riqueza no Islamismo, pelas práticas concretas presente no Corão e pelos próprios

ensinamentos da Sharia, deve ser compartilhada, isto é, não se concentrar nas mãos das

pessoas mais ricas. Para os muçulmanos, a preocupação com os outros, em particular os

pobres e os necessitados, estão profundamente inscritos nos pilares do Islã. O islamismo,

portanto, orienta todos os muçulmanos a maximizar suas riquezas, desde que não criem

uma situação socialmente perturbadora ou que violem as normas da justiça islâmica

(KHAN, 1996; KURAN, 2004; AYUB, 2007; RAHMAN, 2010; COSTA 2016).

O sistema financeiro islâmico não são se limita apenas ao conjunto de operações que

observam estritamente as diretrizes de um texto jurídico/religioso. Sua lógica, sua

dinâmica e até mesmo suas formas contratuais e institucionais são expressão de uma

imagem de mundo adotada pelo Islã, regrada pelos princípios a seguir:

Princípio da Equidade: A literatura internacional invoca esse princípio como a

justificativa para a proibição de pagamentos de juros, com vistas a proteger a parte

contratante mais fraca em uma transação financeira. O princípio da equidade é

também a base para proibir a incerteza excessiva (gharar), manifestada pela

ambiguidade contratual ou indefinição do pagamento. As partes envolvidas têm o

dever moral de divulgar informações antes de se envolverem em um contrato,

reduzindo assim a assimetria informacional, caso contrário, a presença de gharar

anularia o contrato. O princípio de equidade e distribuição de riqueza é também a base

do zakat ou imposto religioso.

Princípio da participação: Embora alguns arranjos financeiros islâmicos sejam

comumente conhecidos como financiamentos isento de juros, a proibição da riba não

implica que o capital não deva ser recompensado. De acordo com Sharia a

recompensa (isto é, o lucro) vem com risco e o retorno do investimento tem que ser

ganho em conjunto com o risco e não com a mera passagem do tempo, que é também

é condenável pelo Islã. Assim, o retorno sobre o capital é legitimado pela tomada de

riscos e determinado ex post com base no desempenho dos ativos ou na produtividade

do projeto, garantindo assim uma ligação entre atividades de financiamento e

atividades reais. O princípio da participação está no cerne das finanças islâmicas,

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garantindo que o aumento da riqueza advenha de atividades produtivas e não apenas

da mera passagem do tempo.

Princípio de propriedade: As decisões de não vender ativos que ainda não existem

(por exemplo, venda a termo) implica na realização de atividades em que os ativos

sejam direitos reais e tangíveis. O financiamento islâmico passou, assim, a ser

conhecido como financiamento baseado em ativos, forjando uma ligação robusta entre

as finanças e a economia real. Também exige preservação e respeito pelos direitos de

propriedade, bem como a manutenção das obrigações contratuais, ressaltando os

aspectos moralizantes e religiosos dos contratos.

Sob essa perspectiva, as finanças islâmicas poderiam ser entendidas como uma forma de

colocar em prática os valores da religião ou, de modo mais específico, os princípios

islâmicos acerca da economia (MARTINS, 2004; VISSER, 2009). A partir do dogma da

unicidade de Allah do qual, deriva a concepção da indivisibilidade entre vida espiritual e

vida mundana, a doutrina islâmica estabelece as bases fundamentais para as relações

econômicas e comerciais havidas entre os seres humanos (AYUB, 2007; COSTA, 2016).

A Figura 3 a seguir ilustra os princípios das finanças islâmicas, princípios esses, que serão

discutidos nas próximas seções:

Figura 3 – Princípios das Finanças Islâmicas

Fonte: Autor (2018).

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2.6.1 Proibição da riba

As doutrinas cristãs e judaicas, que antecederam a doutrina islâmica, fizeram diferentes

interpretações das escrituras bíblicas do Velho Testamento concernentes a empréstimo

com juro. A escritura de Deuteronômio é a que estabelece a doutrina cristã de maneira

diferente da lei judaica. O padrão duplo deuteromiceto faz distinção entre “irmão” e

outros. Porque os judeus consideram a si descendentes de Jacob, eles são “irmãos” e não

podem cobrar juro uns dos outros, mas podem cobrar juro de “estrangeiros” ou não judeus

como os cristãos (COSTA, 2016). Dessa forma, aos judeus era permitido ganhar dinheiro

com o empréstimo, ou seja, praticar a usura, e ao Estado era garantido ganhar dinheiro

com o empréstimo realizado pelos judeus, por meio das altas taxas de impostos. Decorre

daí que os judeus cobravam um excedente pelo valor emprestado, a fim de cobrir riscos

e também obter lucro, e o Estado cobrava dos judeus uma taxa para autorizar sua

atividade.

A Igreja, durante a Idade Média, acreditava que o usurário que obtivesse lucro sem

nenhum trabalho ou esforço contrariava a Palavra de Deus, que diz no livro de Gênesis

capítulo 3, versículo 19: “comerás teu pão com o suor do teu rosto”. Nesta interpretação,

o usurário credor não vendia a seu devedor algo que lhe pertencia, mas apenas o tempo,

que pertencia a Deus. Portanto, não poderia tirar nenhum proveito dessa relação.

A Igreja sempre proibiu e condenou a prática da usura, ou a cobrança de juros, mesmo

que isso tenha sempre existido como podemos perceber no código de Hamurabi10, que

impunha limitações à cobrança de juros nos empréstimos. Da mesma forma, o direito

romano tratou sobre a questão do empréstimo a juros, considerando-o lícito se fosse

cobrado dentro dos parâmetros autorizados, cujo índice era fixado em 1% ao mês, ou seja,

12% ao ano, mas acima disso “a usura tornava-se condenável (odiosum). Dessa forma, a

tradição falou mais forte que os acontecimentos dessa época. A Igreja considerava a

atividade tanto do mercador como do banqueiro condenáveis, visto que estes objetivavam

obter um lucro em cima de uma transação, o mercador, porque tinha como objetivo

10 O Código de Hamurabi uma compilação de 282 leis da antiga Babilônia (atual Iraque), composto por

volta de 1772 a.C. Hamurabi é o sexto rei da Babilônia, responsável por decretar o código conhecido com

seu nome, que sobreviveu até os dias de hoje em cópias parcialmente preservadas, sendo uma na forma de

uma grande estela (monolito) de tamanho de um humano médio, além de vários tabletes menores de barro.

Na verdade, como o Código de Hamurabi é a única legislação daquele povo, ele não deveria receber tal

nomenclatura, tendo em vista que não se apresenta da maneira de um código, noção que foi concebida após

o Código Civil Napoleônico. Vale lembrar que o este código é uma legislação que está composta por vários

fragmentos, sendo alguns civis, outros penais, alguns referentes ao direito do trabalho, etc.

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comprar para revender mais caro. Assim a Igreja Católica Romana considerava o usurário

um pecador que merecia o inferno, pois este não trabalhava, vivia do tempo. E isso era

inconcebível para a Igreja Católica, pois, nesse período, ainda reinava o pensamento de

Aristóteles que entendia que a função do dinheiro era apenas para troca.

No caso do islamismo, a proibição da riba é um dos mais importantes princípios

preconizados pela Sharia e pelo próprio Corão para as finanças islâmicas. Normalmente,

é traduzido como proibição da usura ou da cobrança de juros, mas extrapola esses

conceitos superficiais. A palavra árabe riba, a depender do contexto, pode ser traduzida

como ganho, excesso, aumento ou expansão (ISRA, 2012; JANTALIA, 2016). Todavia,

em sentido mais técnico, tal como adotado no âmbito financeiro islâmico internacional, a

riba pode ser definida como um acréscimo ilegítimo que beneficia apenas uma das partes

em determinado negócio. A riba consiste em ganho ilícito decorrente da desigualdade

quantitativa das contrapartes envolvidas em qualquer transação que tenham como efeito

a troca de duas ou mais espécies (anwa) que pertençam ao mesmo gênero (jins) e que

sejam norteadas pela mesma causa (illah). (SALEH, 1986). Em outra abordagem, pode

ser entendida como qualquer coisa, grande ou pequena, pecuniária ou não pecuniária, em

excesso ao principal de arranjo financeiro ou comercial que deve ser pago pelo devedor

ao credor, juntamente ao principal, como condição para a manutenção ou extensão do

contrato. (IQBAL; MOLYNEUX, 2005).

A cobrança ou pagamento da riba é expressamente proibida pelo Corão, pelas tradições

do Profeta Muhammad (S.A.W.S.) e também pelo consenso de clérigos muçulmanos

(ijma) e seguida por todas as Instituições Financeiras Islâmicas. No Corão, a vedação

mais forte encontra-se em Al Bácara (275:279):

Os que praticam usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado

por Satanás; isso, porque disseram que a usura é o mesmo que o comércio; no

entanto, Allah consente o comércio e veda a usura. Mas, quem tiver recebido

uma exortação do seu Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu

julgamento só caberá a Allah. Por outro lado, aqueles que reincidirem, serão

condenados ao inferno onde permanecerão eternamente. Allah abomina a usura

e multiplica a recompensa aos caritativos; Ele não aprecia nenhum incrédulo

pecador. Os fiéis que praticarem o bem e observarem a oração e pagarem o

zakat, terão a sua recompensa no Senhor e não serão presas do temor, nem se

atribuirão. Ó fiéis, temei a Allah e abandonai o que ainda vos resta da usura, se

sois crentes! Mas, se tal acatardes, esperei a hostilidade de Allah e do seu

Mensageiro; porém, se vos arrependerdes, reavereis apenas o vosso capital.

Não defraudais e não sereis defraudados.

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Existem outras evidências que condenam a prática de usura em passagens relatadas nos

caminhos trilhados pelo Profeta (Suna) como nas relatadas por Abu Huraira, Jabir, Ibn

Massud e Abu Said Al Khudri. A proibição de Riba é claramente declarada em muitos

versículos do Corão tais como:

a) Quando emprestardes algo com usura, para que vos aumente (em bens), às expensas

dos bens alheios, não aumentarão perante Allah; contudo, o que derdes em zakat,

anelando contemplar o Rosto de Allah (ser-vos-á aumentado). A estes, ser-lhes-á

duplicada a recompensa (AR RUM, 30:39)

b) E por praticarem a usura, sendo que isso lhes estava proibido, e por usurparem os

bens alheios com falsas pretensões. E preparamos para os incrédulos, dentre eles, um

doloroso castigo. (AN NISSÁ; 4:161)

c) Ó fiéis, não exerçais a usura, multiplicando (o emprestado) e temei a Allah para que

prospereis (AAL IMRAN, 3:140)

d) Os que praticam a usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado por

Satanás; isso, porque disseram que a usura é o mesmo que o comércio; no entanto, Allah

consente o comércio e veda a usura. Mas, quem tiver recebido uma exortação do seu

Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu julgamento só caberá a Allah.

Por outro lado, aqueles que reincidirem, serão condenados ao inferno, onde

permanecerão eternamente. (AL BÁCARA, 2:275)

e) Ó fiéis, temei a Allah e abandonai o que ainda vos resta da usura, se sois crentes! (AL

BÁCARA, 2:278).

Teoricamente, no Islã, a riba é considerada uma fonte importante de vantagem

injustificada, onde as atividades de negócios operam usando um sistema baseado em juros

(SARKER, 2000). Portanto, a proibição da riba é uma solução para estabelecer um

sistema econômico justo, no qual não há formas de exploração ou enriquecimento não

justificado (BJORKLUND, 2004). Isso é conhecido como um sistema econômico

islâmico, baseado na Sharia. Entre os principais pontos da proibição da riba estão:

provoca distribuição injusta de renda em favor dos ricos (financistas), que têm o capital

como juros garantidos em troca do credor sem assumir nenhum risco, enquanto o tomador

ou o empreendedor paga interesse, independentemente do resultado do negócio ou

investimento (ATTIAH, 1989). Portanto, a proibição da riba é a melhor solução para

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estabelecer a justiça socioeconômica entre os financiadores e os empreendedores

(BJORKLUND, 2004).

A maioria dos acadêmicos islâmicos afirma que a proibição dos juros, ou usura, (riba) no

Islã não é porque a religião não a vê como uma maneira de transformar o excesso de

capital em lucro, mas por causa de uma preocupação mais profunda com o moral, social

e bem-estar econômico da sociedade. Um sistema baseado na riba gera lucro sem fazer

nenhum trabalho e não compartilha o risco entre o credor e o mutuário (AL-

QARADAWI, 1985). A grande maioria das escolas islâmicas concorda que Riba

representa juros em todos os tipos e formas (CHAPRA, 1992). Estudiosos islâmicos

explicaram claramente que a riba, como mencionado no Corão Sagrado, refere-se a todas

as taxas excessivas de juros cobradas pelos bancos (e.g., AHMAD, 1989; HINDI, 1996).

O setor bancário islâmico envolve questões éticas e morais mais amplas com suas

transações livres de riba. Esse fator o torna, em tese, economicamente mais eficiente do

que o banco convencional e promove maior equidade e justiça econômica.

Em sentido mais técnico, riba é uma espécie de ganho ou de mais-valia cobrada por uma

das partes envolvidas em determinado negócio no qual se tenha a troca de bens da mesma

espécie. Importante destacar que o lucro não é proibido pela religião, pois o Islã encoraja

as pessoas a usar o dinheiro em investimentos Halal (islamicamente permissíveis). A

preocupação atual no setor financeiro islâmico é a aceitabilidade da taxa de lucro utilizada

pelos bancos islâmicos como alternativa à taxa de juros. De acordo com a Sharia, a riba

refere-se tecnicamente ao prêmio que deve ser pago pelo mutuário ao credor junto com o

principal como condição para tomar um empréstimo (CHAPRA, 1979; CHAPRA, 1984;

CHAPRA, 2000; AYUB, 2007).

Consequentemente, a riba está essencialmente em conflito com a clara e inequívoca

ênfase islâmica na justiça socioeconômica. Financiadores e credores que não desejam

assumir o risco têm direito apenas ao principal e não mais. Aqueles que insistem em

cobrar a riba, apesar de sua proibição, são declarados pelo Corão em guerra com Deus

(CHAPRA, 1979). A principal razão pela qual o Corão emitiu um veredicto tão duro

contra os juros é que o Islã desejou estabelecer um sistema econômico onde todas as

formas de exploração fossem eliminadas, e particularmente a injustiça perpetuada na

forma do financiador que está sendo assegurado de um retorno positivo, sem fazer

qualquer trabalho, enquanto o empresário, apesar de sua administração e trabalho árduo,

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não está seguro de um retorno tão positivo. O Islã, com isso, desejou estabelecer a justiça

entre o credor e o empreendedor.

A Tabela 3 a seguir resume brevemente a principal diferença entre riba e lucro de um

ponto de vista islâmico:

Tabela 3 – Diferenças entre Riba e Lucro sob a Perspectiva Islâmica

RIBA LUCRO

Riba é pré-fixado (garantido antecipadamente) e,

portanto, sempre positivo. É sempre vinculado ao

período de tempo e ao montante do empréstimo. Riba,

no entanto, pode, na melhor das hipóteses, ser muito

baixo ou zero.

O lucro é pós-fixado e, portanto, seu valor

não é conhecido até a atividade estar

concluída. O lucro, no entanto, pode ser zero,

positivo ou possivelmente negativo.

Por definição, Riba é um incremento em um

empréstimo ou dívida pagando dinheiro para o uso

(aluguel) de dinheiro, se isso se aplica ao consumo

empréstimos ou empréstimos de produção.

O lucro, por definição, representa o custo de

oportunidade total (explícitos e implícitos)

de uma empresa de um empreendedor ou

investidor.

Riba significa lucro sem esforço ou "mais valia sem

contrapartida", e assim, o empréstimo de juros não

agrega valor. Transfere apenas o uso de fundos

temporariamente de uma pessoa para outra.

O lucro também pode ser definido como o

retorno ao empregador do estoque de capital

(como máquinas, fábricas e arados), em

qualquer exercício que envolva o trabalho

produtivo.

Fonte: Adaptado de CHAPRA (2000), AYUB (2007) e JANTALIA (2016).

A proibição de riba claramente significa que o dinheiro pode ser, na prática, emprestado

legalmente apenas para fins de caridade ou para fazer negócios legais com base na

Participação nos Lucros e Perdas (PLS) (KHAN, 2008). O islamismo, no entanto, fez

uma clara distinção entre comércio e riba (CHAPRA, 1986). O risco comercial é alocado

uniformemente entre todas as partes envolvidas em uma negociação, enquanto que em

riba, muitas vezes reside forte e diretamente no mutuário. Em sua maior implicação geral,

riba significa qualquer aumento de capital não justificado por um risco assumido

(IQBAL, 2009).

Há diversas contribuições que buscam explicar a racionalidade que há por trás dessa

proibição da riba em geral, e da usura em particular. Uma das mais abrangentes é

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apresentada por Vogel e Hayes (1998), que sustentam a existência de quatro fundamentos

que justificam a proibição da usura:

1) A equivalência matemática, desenvolvida especialmente pelos adeptos da Escola

Malequita11, a vedação teria a finalidade de buscar a equidade das trocas ao determinar

que elas sejam feitas em uma mesma base de medida, de volume ou de valor;

2) A prevenção da exploração, pois a proibição teria por finalidade evitar abusos,

sobretudo por parte dos mais fortes contra os mais fracos, que, premidos pela necessidade,

invariavelmente se veem obrigados a se submeter a condições negociais desiguais;

3) O desestímulo ao comércio de dinheiro e ao uso dos gêneros alimentícios como moeda,

uma vez que a proibição se explicaria em decorrência da própria visão islâmica acerca da

moeda. A ideia, portanto, seria a de evitar o ganho de valor puramente monetário, não

associado a trabalho ou a esforço humano em busca da riqueza; e

4) A obrigatória relação entre risco e retorno, sendo que qualquer ganho previamente

determinado, independentemente do risco envolvido, é considerado ilegítimo, injusto e

moralmente reprovável à luz da moral Islâmica.

Khan (1984) argumentou ainda que a necessidade de bancos islâmicos surge somente

quando os lucros são realmente incertos. Assim, os bancos islâmicos atraem, em contraste

com os bancos convencionais, apenas os projetos (mais) arriscados. A receita do banco

islâmico com o financiamento do compartilhamento de lucros não seria, na sua opinião,

exceder as receitas dos bancos convencionais médios de seus negócios de empréstimo de

juros. No entanto, os bancos islâmicos aceitarão ganhar em um projeto marginal uma taxa

de retorno sobre seus fundos, o que equivale, pelo menos, à taxa de retorno esperada na

economia global (SIDDIQUI, 2004; VISHER, 2009). A taxa de retorno sobre o

investimento na economia deve ser maior do que a taxa de juros, por definição, porque

consistia tanto do prêmio de risco como do custo do capital. O retorno sobre todos os

11 O maliquismo (em árabe: كي transl.: Mālikī) é uma das quatro madhabs da fiqh, ou seja, uma escola ;مال

ou corrente de direito islâmico (corrente sunita). É seguida por 20% a 35% dos muçulmanos, sendo

predominante no Norte de África, África Ocidental e em alguns territórios isolados da península Arábica,

estando também presente nos Emirados Árabes Unidos, Kuwait e em algumas áreas da Arábia Saudita,

Omã e muitos outros países do Médio Oriente. No passado teve também grande relevância nas zonas da

Europa sob domínio islâmico, particularmente na Ibéria muçulmana e no Emirado da Sicília. A principal

diferença entre o maliquismo e as outras três escolas jurídicas está nas fontes usadas para determinar a

jurisprudência. Todas as madhabs usam o Corão, a suna, bem como a ijmâ' (consensos ou acordos dos

companheiros de Muhammad) e às qiyas (analogias), mas os maliquitas usam igualmente as práticas dos

primeiros habitantes muçulmanos de Medina (Amal ahl al-medina) como fonte de jurisprudência.

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projetos, portanto, será maior do que os juros cobrados pelos bancos convencionais. Este

fator é, de fato, considerado o fator mais importante que leva os clientes a abster-se de

retirar fundos de bancos islâmicos (AZIZ; FATIMA, 2012).

Especificamente no que se refere às operações financeiras, a vedação à riba traz

consequências importantes para a estruturação ou concepção dos modos ou arranjos de

financiamento, que estabelecem diferenças importantes na dinâmica da intermediação

financeira quando comparadas ao modelo financeiro convencional. A mais importante,

indubitavelmente, é que não se admite a concessão de empréstimos ou financiamentos

baseados na cobrança de juros (AYUB, 2007; MANSOUR et al., 2015).

Com isso, a vedação à cobrança de juros impõe para as instituições financeiras que

queiram atuar em conformidade com os preceitos da Sharia um modelo de negócios

substancialmente distinto daquele que prevalece nos mercados tradicionais (JANTALIA,

2016). Em lugar de atuar como meras rentistas, auferindo retorno apenas com base em

um percentual fixo de juros previamente determinado, tais instituições devem buscar

esses retornos de outras formas, a exemplo de lucros obtidos em negócios com seus

clientes e do aluguel de bens a esses mesmos clientes (AYUB, 2007; AZIZ; FATIMA,

2012; MANSOUR et al., 2015).

2.6.2 Proibição da incerteza ou do risco excessivo (gharar)

O segundo princípio que norteia as finanças islâmicas é o que preconiza a vedação à

incerteza ou risco excessivo, designado na língua árabe pela palavra Gharar. Embora o

verbete seja traduzido e genericamente empregado no sentido de risco, incerteza ou,

ainda, perigo (MARTINS, 2004; BALALA, 2011; ISRA, 2012; JANTALIA 2016), no

âmbito jurídico-financeiro ele é empregado de forma mais precisa e específica, para

designar apenas um nível extremado de incerteza ou indeterminação a respeito de um ou

mais elementos de um negócio jurídico, da qual possa decorrer um risco não previsto ou

mesmo imprevisível de perda para qualquer das partes envolvidas naquele negócio.

O gharar possui diversas definições como a incerteza, risco e jogo de azar (jogatina) (AL-

SAATI, 2003). Refere-se tecnicamente à venda de itens prováveis cuja existência ou

características não são certas, ou uma venda envolvendo risco excessivo ou risco moral

(AYUB, 2007). Isso, em certa medida, faz esse modo de negociar semelhante a um jogo.

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O motivo da proibição é que os especuladores gerem seus ganhos privados em detrimento

da sociedade em geral (MARTINS, 2004; ELMELIK, 2009). O gharar não cria riqueza

adicional, visto que só transfere a riqueza de seus proprietários (perdedores) para novos

proprietários (vencedores). No entanto, na prática, uma vez que está envolvido em todas

as atividades econômicas, pequenas incertezas e certo grau de risco são islamicamente

permitidos (AHMAD, 2002; AL-SAATI; SIDDIQUI, 2006).

Na prática financeira, portanto, a vedação ao gharar não implica a eliminação de todo e

qualquer risco do negócio. À vista de tudo o quanto já se expôs acerca do estreito vínculo

entre risco e retorno, que embasa, inclusive, a proibição de negócios nos quais ele não

esteja devidamente configurado, é preciso frisar que a teoria islâmica nem de longe busca

expurgar o fator de risco do mundo dos negócios (AYUB, 2007). O que se busca, na

verdade, é coibir a incerteza causada por defeitos de informação nos contratos firmados.

Por isso, não é qualquer risco que inquina de nulidade um negócio – no caso, uma

operação financeira – mas apenas aquele que se apresenta de forma injustificada,

excessiva ou desarrazoada (AHMAD, 2002; RAZALI, 2012; JANTALIA, 2016).

A teoria islâmica identifica moderna identifica basicamente três espécies de gharar:

(i) Gharar fahish (também chamado de gharar major), que designa a ausência,

desconhecimento ou omissão de informações consideradas essenciais, o que impede a (s)

parte (s) de conhecer (em), com um mínimo de segurança, suas possibilidades de perda

(AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003; RAZALI, 2012; ISRA, 2012).

(ii) Gharar yasir (também chamado de gharar minor ou inevitável), que recai sobre a

natureza do próprio negócio e que, apesar de importar risco para a (s) parte (s), não afeta

a validade do negócio, uma vez que todos os elementos essenciais estão devidamente

minudenciados no contrato ou acordo firmado (AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003;

RAZALI, 2012; ISRA, 2012).

(iii) Gharar intermediário (também denominado gharar moderado) transita entre as duas

categorias anteriores. No entanto, existem algumas opiniões legais dos juristas

muçulmanos sobre esta categoria, se esta modalidade pertence à primeira categoria ou à

segunda, dependendo de sua natureza. Um exemplo de gharar moderado seria vender

uma casa, embora suas fundações não tenham sido vistas, ou alugar uma casa por um

mês, onde o mês pode ser de trinta dias ou trinta e um ou até mesmo na venda do que está

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oculto no solo, na venda a preço de mercado sem especificar o valor exato e na venda,

por desconhecimento involuntário.

A vedação ao gharar não se baseia explicitamente no Corão, muito embora a teoria

islâmica vislumbre, em variados trechos do Livro Sagrado, uma restrição bastante ampla

e rigorosa a toda e qualquer forma de negócio que leve à apropriação de bens e direitos

alheios por meios considerados ilegítimos ou injustos. Por fomentar incerteza capaz de

ludibriar a compreensão da contraparte, o gharar constitui um subterfúgio para confundi-

lo ou enganá-lo, às custas de sua ignorância ou de sua boa fé, razão pela qual é alcançado

pela proibição genérica veiculada pelo Corão (CHAPRA, 1979; MARTINS, 2004;

AYUB, 2007; RAZALI, 2012).

Na prática, essa vedação traz para as finanças islâmicas algumas importantes restrições,

que podem ser resumidas em três pontos:

1) o bem negociado deverá existir no momento do contrato – o que, para muitos autores,

inibe a celebração de contratos futuros (MARTINS, 2004);

2) o bem deve estar na posse do vendedor, não se considerado válidos os negócios que

tomem por base as coisas cujo domínio não esteja sob a titularidade daquele (AHMAD;

HASSAN, 2006); e

3) o retorno do negócio deve ser devidamente especificado e pré-determinado – na forma

de percentual sobre os lucros do negócio ou de valor fixo pelo aluguel da coisa –, a fim

de que não paire qualquer dúvida acerca do quanto deve caber a cada parte envolvida na

empreitada (SALEH, 1986; VOGEL; HAYES, 1998)

Caso qualquer desses preceitos não seja observado, configura-se o gharar fahish e o

negócio é considerado nulo, perdendo sua legalidade (JANTALIA, 2016).

2.6.3 Proibição da especulação (maysir)

A palavra maysir é utilizada para designar toda e qualquer forma de jogos de azar

(jogatina), nas quais, portanto, haja algum tipo de aposta de bem ou valor, o qual, em caso

de insucesso, é integralmente perdido pelo jogador. Dessa forma, em sentido técnico, o

maysir refere-se a fácil aquisição de riqueza por um acaso, isto é, sem fundamentação

econômica. À diferença do que ocorre com o gharar, que trata dos riscos ordinários, que

são próprios ou comuns na vida cotidiana, exemplo dos riscos naturais (por exemplo,

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morte, desastres naturais e calamidades) e dos riscos empresariais, o maysir está

associado a riscos que a teoria islâmica considera extraordinários ou artificiais (AYUB,

2007). Compreende, assim, aqueles criados pelo próprio homem, nos quais ele incorre

por vontade própria, sem que haja uma circunstância da vida que o justifique ou demande

(IQBAL; MOLYNEUX, 2005). Nos mercados financeiros, a referência ao maysir é

usualmente feita para indicar qualquer atividade ou investimento de natureza puramente

especulativa (AHMAD, 2002; AL-SAATI, 2003).

A maysir, que é considerada um pecado grave, é fortemente condenada no Corão, em Al

Bácara (219), Al Máida (5) e na Hadith 645 de Sahih Bukhari. A razão por trás dessa

proibição é que o jogo suscita inquietação e discórdia entre os seres humanos, distraindo-

os e afastando-os de Allah (ISRA, 2012). Além disso, está associada à expectativa de

ganho fácil, sem trabalho, mas que também pode levar à exploração de uns pelos outros

(VOGEL; HAYES, 1998).

Embora a referência textual tenha sido originariamente empregada para jogatina, jogos

de azar e apostas propriamente ditas, é unânime a convicção de que ele também se aplica

no âmbito do mercado financeiro, que abrange variadas formas contratuais que podem

perfeitamente ser enquadradas no conceito de risco artificial ou desnecessário, antes

referido. Desse modo, o principal reflexo é a coibição de toda e qualquer forma de

operação que envolva exclusivamente um propósito especulativo. Entende-se, de modo

geral, que esse tipo de operação não agrega valor à economia real (IQBAL;

MOLYNEUX, 2005).

Em termos práticos, o princípio da vedação ao maysir justifica importantes restrições a

certas operações, como o uso de instrumentos derivativos. O argumento central é que esse

tipo de instrumento financeiro consubstancia uma forma extremada de especulação, cujos

resultados são, com frequência, absolutamente imprevisíveis, quase aleatórios. Dessa

forma, a decisão de contratação desses instrumentos acaba sendo mais baseada em

palpites e suposições sobre o movimento do mercado do que propriamente em

informações ou dados conhecidos e concretos. Por isso, são considerados pela grande

maioria dos autores islâmicos como assemelhados ao jogo, e, nessa medida, são tidos

como alcançados pelo princípio da vedação ao maysir. O enriquecimento injustificado

através de jogos de azar para amplificar a riqueza sem fazer esforço também é definido

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como uma espécie de maysir (ALGAOUD; LEWIS, 2007). A Maysir está envolvida em

contratos onde a propriedade de um bem depende da ocorrência de um evento

predeterminado, mas incerto no futuro (GASSNER; WACKERBECK, 2007). Isso

significa que, se o contrato comercial for assinado, será um ganho para uma das partes e

uma perda para a outra parte, mas não tem certeza previamente quem será o vencedor ou

o perdedor.

Dessa forma, a proibição de Gharar e Maysir tem especial relevância para os mercados

financeiros islâmicos, nomeadamente o mercado de derivativos e o negócio de seguros.

Portanto, o comércio de todos os instrumentos derivativos ofertados pelos bancos

convencionais são inaceitáveis nas finanças islâmicas.

2.6.4 Proibição do financiamento em certos setores econômicos

O Islã proíbe investimentos em atividades prejudiciais, tanto espectro ético quanto social.

Estes incluem, por exemplo, jogos de azar, pornografia, álcool e etc. também não é

permitido adquirir as ações das empresas que prestam serviços financeiros com juros,

como bancos convencionais e empresas de seguros, cujos negócios não são aceitáveis

pelo islamismo. O Islã incentiva os muçulmanos a evitar investimentos em empresas para

as quais a Dívida Total dividida pela Capitalização de Mercado Média de 12 meses seja

igual ou superior a 33% (SALEH, 1986; VOGEL; HAYES, 1998; ZAHER; HASSAN,

2001; MARTINS, 2004; AYUB; 2007; JANTALIA, 2016). Os muçulmanos também

devem excluir as seguintes empresas de suas carteiras de investimentos:

I) Empresas pelas quais a soma dos títulos de caixa e de juros divididos pela Capitalização

de mercado média de 12 meses seja igual a 33%.

II) Empresas pelas quais as Contas a Receber divididas pelo Ativo Total sejam maiores

ou iguais a 45%, onde as Contas a Receber = Recebíveis Correntes + Recebimentos de

Longo Prazo.

III) Empresas para as quais a receita de lucros não operacional dividida por receita seja

igual ou superior a 5% (DJI, 2005). No entanto, se uma empresa tiver uma receita de juros

não operacional, mas o lucro líquido é negativo, então é excluído. Uma empresa com

renda líquida negativa enquanto ainda não existe uma receita de juros não operacional

(VOGEL; HAYES, 1998; AYUB, 2007; OBAIDULAAH, 2009; ISRA, 2012).

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2.6.5 Compartilhamento das perdas e lucros ou Profit and Loss Sharing (PLS)

Existe uma diferença substancial entre os lucros resultantes das atividades empresariais e

os lucros gerados pela concessão de empréstimos. O último é definido como recebimento

de uma vantagem monetária sem dar um valor em contrapartida e, portanto, proibido por

razões éticas. O islamismo não se opõe ao lucro ou ganho financeiro, desde que um

esforço seja realizado e que o lastro dos investimentos seja um empreendimento

produtivo. O lucro, dessa forma, é dividido seguindo as regras da Sharia. (SCHACHT,

1964; SIDDIQUI, 2004; AYUB, 2007; IQBAL, 2012). A modelagem islâmica,

comumente conhecida como Compartilhamento de Perdas e Lucros (PLS), sugere uma

partilha equitativa dos riscos e lucros entre as partes envolvidas em numa transação

financeira. O arranjo básico dessa operação, na modalidade Musharakah, é ilustrado na

Figura 4 a seguir:

Figura 4 – Esquema de Compartilhamento de Lucros e Perdas (PLS)

Fonte: Autor (2018).

À luz do PLS, o credor e o mutuário assumem o risco do investimento com base em uma

fórmula previamente acordada. O PLS adquire várias formas dependendo do tipo de

contrato como o Mudaraba (espécie de joint venture) e Musharaka (parceria e

Capital

Empreendedor Financiador

Lucros

X% Y%

Trabalho

Perdas

Investimento

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colaboração), ambas serão exploradas mais adiante. Em ambas as formas, o financiador

disponibiliza os fundos, não como credor, mas sim como investidor (BENJELLOUN,

2010). Dessa forma, há o compartilhamento do lucro ou prejuízo de cada transação. As

perdas devem ser compartilhadas pelos envolvidos em proporção à sua participação no

financiamento total, enquanto os lucros podem ser compartilhados em qualquer

proporção mutuamente acordada ou pré-fixada. No entanto, o passivo financeiro

permanece limitado à extensão do financiamento por ele concedido, sem possibilidade de

extensão de seu valor. (LUCA; VASUDEVAN, 2002; SIDDIQUI, 2006; IQBAL, 2012).

2.6.6 Dinheiro como capital potencial: características do dinheiro à luz do Islã

Com base nos princípios econômicos islâmicos, o dinheiro é considerado capital

potencial. Ou seja, torna-se capital real somente quando é investido em uma atividade

produtiva (AYUB, 2007; COSTA, 2013; JANTALIA, 2016). O Islamismo reconhece o

valor do tempo do dinheiro, mas apenas quando atua como capital, e não quando é capital

potencial (IQBAL, 1997; AYUB, 2007; IQBAL, 2012). Levando-se em consideração que

as finanças modernas se baseiam no conceito de valor do dinheiro no tempo, as finanças

islâmicas não rejeitam a avaliação monetária do tempo. A Sharia não proíbe um aumento

do valor do empréstimo de uma mercadoria em qualquer contrato de venda com

vencimento em uma data futura. Proíbe, no entanto, fazer o valor do dinheiro no tempo

um elemento de uma relação de empréstimo onde é reivindicado como um valor

predeterminado (KHAN, 1991). Nesta situação, a Sharia exige que um empréstimo seja

devolvido na mesma moeda pela qual foi dada (AHMAD; HASSAN, 2006).

À luz da teoria capitalista, não há diferença entre dinheiro e commodity, na medida em

que as transações comerciais estão acabam sendo a causa e não a consequência. Ambas

são tratadas a parte e podem ser vendidos a qualquer preço que os partícipes concordem,

isto é, vender US$ 15 por US$ 20 é o mesmo que vender uma saca de café custando US$

15 por US$ 20. O dinheiro e a mercadoria, no entanto, têm diferentes características sob

a lei islâmica, em comparação com a teoria capitalista. O islamismo, por exemplo, não

reconhece o dinheiro como uma mercadoria, de modo que deve haver um preço por sua

utilização. O dinheiro é usado para comprar ou vender outros bens que não compram ou

vendem dinheiro por si só. A ação posterior poderia fazer com que o dinheiro não

desempenhasse sua função original de medida de valor, estoque de valor e meio de troca

em economia orientada a ativos, principalmente porque essa transação se tornará o

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objetivo principal da pessoa em sociedade (GHAZANFAR; ISLAHI, 1990; AYUB,

2007).

Em outras palavras, o dinheiro é reconhecido no Islã como um meio de troca e não pode

ser considerado como uma mercadoria de troca. O dinheiro não tem valor intrínseco em

si mesmo, mas é apenas uma medida de valor ou um meio de troca, portanto, não deve

ser usado para gerar mais dinheiro (AHMAD; HASSAN, 2006; AYUB, 2007). O

dinheiro, por si só, não é capaz de satisfazer as necessidades humanas, a menos que seja

convertido em uma mercadoria. Uma mercadoria pode, por outro lado, satisfazer as

necessidades humanas diretamente e pode ser de qualidade diferente enquanto o dinheiro

não tem qualidade diferencial no sentido que uma nova nota é exatamente igual em valor

e qualidade a uma nota antiga, isto é, não possui valor agregado. Além disso, as

commodities são transacionadas (ou vendidas) identificando a mercadoria em questão ou

pelo menos fornecendo determinadas especificações. O dinheiro não pode ser

identificado em uma transação de troca, se fosse, não seria útil, uma vez que as diferentes

denominações de dinheiro somando em igual montante são exatamente as mesmas.

2.6.7 As funções e o valor da moeda à luz do Islamismo

Existem inúmeras diferenças, como já mencionadas até aqui, entre o sistema financeiro

convencional e o sistema financeiro islâmico, sendo uma das mais marcantes a maneira

como os islâmicos se relacionam com a moeda. No sistema convencional, o dinheiro é

mais uma mercadoria, podendo ser comprado, vendido e especulado livremente. Em

outras palavras, o dinheiro possui um valor no tempo e quem usa o dinheiro de outras

pessoas, deve, obrigatoriamente, pagar por esse tempo, por meio do pagamento de juros.

A moeda é objeto de reflexões por parte dos estudiosos da religião islâmica, que possuem

uma posição firme e bem definida sobre o tema. Para os estudiosos e crentes da religião,

a moeda possui, apenas, uma função instrumental e, portanto, não pode ser tratada como

uma commodity (CHAPRA, 1992; MARTINS, 2004). A singularidade e os reflexos ou

repercussões dessa visão em termos da concepção de contribuições teóricas no campo das

finanças consonantes com os preceitos da Sharia se afirmam mais claramente quanto se

contrastam as funções ou propriedades defendidas pelo pensamento ocidental e no

pensamento muçulmano.

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Segundo a Teoria Islâmica, o dinheiro, em si, não pode ser considerado uma commodity,

objeto de transação ou fonte de renda ou de lucro, porque ele não possui uma utilidade

intrínseca direta (USMANI, 2002; MARTINS, 2004; JANTALIA, 2016). Em outros

termos, a moeda não pode ser usada para satisfazer diretamente as demandas humanas,

nos termos propostos pela teoria filosófica da Maqasid al-Sharia. A satisfação que ela

proporciona deriva exclusivamente de sua propriedade artificial, convencionada entre os

seres humanos, de servir de intermediário das trocas e, com isso, viabilizar a aquisição de

bens ou serviços. Disso decorre que, para os pensadores muçulmanos, a utilidade ou

proveito da moeda somente se fundamenta quando ela é trocada por um ativo real ou

usado para a contratação de um serviço, razão pela qual ele não pode ser vendido ou

comprado (USAMANI, 2002; AHMAD; HASSAN, 2006).

A visão islâmica acerca da moeda pode ser sintetizada nos seguintes pontos (ABU SAUD,

1980; AHMAD; HASSAN, 2006; AYUB, 2007; JANTALIA, 2016):

(i) a moeda tem a propriedade de gerar ao seu titular uma renda real simplesmente por

sua detenção, ou seja, sem ser trocada por outros bens, mas essa propriedade é

absolutamente artificial;

(ii) a moeda é dotada de máxima liquidez, que suplanta a de qualquer outro bem, e, em

princípio, não possui custos de produção e carregamento, o que também evidencia seu

caráter artificial;

(iii) a demanda de moeda é irreal, sendo, mais propriamente, derivada de demandas por

bens que ela pode comprar ou pelos quais pode ser trocada;

(iv) a moeda não está sujeita à depreciação ou deterioração, tal como ocorre com todos

os demais bens, contrariando a visão islâmica sobre a efêmera existência de tudo o que

há no mundo. Se isso, por um lado, não chega a levá-la a ser algo contrário aos preceitos

divinos, por outro impõe que ela não seja objeto de adoração; e

(v) a moeda é, na verdade, produto de uma convenção social, possuindo poder de compra

que resulta de sua supremacia sobre o valor intrínseco dos demais bens.

A conjugação dessas convicções com aquelas pertinentes ao funcionamento do sistema

econômico em geral – e aos fatores de produção em especial – tem implicações cruciais

e bastante peculiares na determinação das formas e do funcionamento das práticas

financeiras. Com efeito, se o trabalho ou esforço humano é o elemento central do sistema

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econômico professado pelo Islã, afirmando-se como a fonte de riqueza por excelência, e

se a moeda não deve cumprir outras funções além das de unidade de conta e intermediário

de trocas, não possuindo valor intrínseco, então qualquer ganho financeiro que não esteja

associado a uma atividade produtiva, com a assunção dos riscos a ela pertinentes, deve

ser considerado ilegítimo.

Para os muçulmanos, o esforço humano, a iniciativa, o trabalho e o risco associados aos

empreendimentos produtivos são mais importantes do que o dinheiro usado para os

financiar (AHMAD; HASSAN, 2006; COSTA, 2016; JANTALIA, 2016). Aqueles é que

estão associados à geração de riqueza e não este último, que nada mais é do que um meio

de as viabilizar. Nesse quadro, não se admite como legítimo o ganho puramente

financeiro, isto é, aquele decorrente da rentabilidade de depósitos bancários ou do

acréscimo cobrado como contrapartida à realização de um mútuo com outras pessoas.

Em geral, entende-se que, enquanto convenção humana, a moeda não foi feita para ser

acumulada, mas sim para instrumentalizar um poder de compra. E este, segundo os

autores islâmicos, não pode ser usado para gerar mais poder de compra sem que, antes,

cumpra sua finalidade precípua de servir à troca por bens e serviços que possam satisfazer

diretamente às demandas humanas (VOGEL; HAYES, 1998; AHMAD; HASSAN, 2006;

AYUB, 2007).

Na prática, isso promove uma importante dissociação entre os conceitos de capital e

dinheiro. Segundo a teoria islâmica, o dinheiro só é considerado como capital se estiver

associado a outros recursos e se for empregado a uma atividade produtiva (AHMAD;

HASSAN, 2006). Desse modo, enquanto estiver guardado, seja fisicamente com o

próprio detentor, seja por meio de títulos em um banco, por exemplo, não se apresenta

senão como capital em sua forma potencial e, nessa condição, é insuscetível de gerar

qualquer ganho ou renda legítima, em função da ausência do esforço e trabalho.

A partir da articulação das concepções, visões e formulações anteriormente expostas, a

teoria islâmica, além de propor princípios gerais atinentes ao funcionamento da economia

e dos mercados financeiros, promove uma exegese sistemática de diversas passagens do

Corão e da Suna para delas derivar princípios mais específicos, que devem orientar as

práticas negociais em geral e as financeiras em especial. São esses princípios que dão

sentido e forma às chamadas finanças islâmicas, e que, nessa medida, não podem ser de

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forma alguma negligenciados por qualquer muçulmano ou instituição operadora que

busque atuar em conformidade com os preceitos da religião.

Pacificamente, reconhece-se a existência de três princípios básicos, os quais, por sua

relevância, serão minudenciados em subseções específicas. São eles: a proibição da

vantagem excessiva (Riba); a proibição da incerteza (Gharar); e a proibição da

especulação (Maysir) (MARTINS, 2004; AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).

2.6.8 Contratos de financiamento Islâmicos

Existem muitos contratos e formas institucionais utilizados no setor financeiro islâmico.

As ferramentas de financiamento, que são amplamente utilizadas pelos bancos islâmicos

baseiam-se principalmente em dois princípios gerais: o princípio PLS e o princípio do

mark-up (MUP). O primeiro princípio afirma que o banco (financiador) pode lucrar com

um determinado empréstimo sob a condição de o banco estar disposto a compartilhar os

riscos e recompensas do investimento. Os contratos que se baseiam neste princípio (por

exemplo, financiamento Mudaraba e Musharaka) podem ser vistos como investimentos

de capital. De acordo com o princípio do MUP, o banco pode comprar um bem / serviço

ou alugar um bem em troca de uma margem. Nessa esteira, temos os contratos de

Murabaha, Salam, Istisnaa e Leasing (Ijarah e Iqtina).

2.7 Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs)

O desenvolvimento da teoria financeira e das operações dos bancos islâmicos passou a

contar com outro importante impulso a partir da criação, em 1977, da International

Association of Islamic Banks (IAIB), que passou a sediar e a patrocinar eventos e

pesquisas na área. Uma das primeiras e mais importantes medidas da entidade foi a

publicação de um manual de finanças islâmicas, elaborado por estudiosos da religião para

servir de guia científico e prático para banqueiros islâmicos (WARDE, 2010) e, assim,

servir de referência para a estruturação e a gestão das operações dos novos bancos. A

partir de então, houve uma proliferação de institutos e centros de pesquisa especializados

nos temas financeiros, potencializando ainda mais a produção de conhecimento na área.

A conjugação do desenvolvimento das técnicas, instrumentos e operações financeiras

especializadas, com o forte interesse político e econômico dos próprios governos

nacionalistas dos países muçulmanos criou um cenário bastante propício à expansão das

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finanças islâmicas, que se deu entre o final da década de 1970 e a década de 1980. Além

contribuir para o surgimento de algumas instituições de maior porte, deu ensejo à

islamização de alguns sistemas financeiros nacionais, o que ocorreu primeiramente do

Paquistão (1979), e, posteriormente, no Irã e no Sudão (ambos em 1983). Em linhas

gerais, essa islamização se deu mediante a edição ou reforma de leis bancárias nacionais,

que passaram a estabelecer a obrigatoriedade de que todas as operações dos bancos

fossem conformes aos preceitos da Sharia – o que implicava principalmente a

observância dos princípios da vedação à riba, ao gharar e ao maysir.

Paralelamente, verificou-se o surgimento de outras operações, para além daquela

tipicamente bancárias. Surgiram então os primeiros fundos de investimento, geridos por

agentes especializados, como formas alternativas de aplicação de recursos alinhadas aos

preceitos da lei islâmica. Diante da necessidade de se conferir alguma proteção às

operações, sobretudo aquelas relacionadas a financiamentos imobiliários, de prazo mais

alongado, surgiram também modelos bastante específicos de operações de seguro,

chamados de Takaful (AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).

Contudo, uma das etapas mais importantes nesse processo de ampliação das fronteiras

das finanças islâmicas foi, sem dúvida, sua difusão na Malásia. Em 1983, o governo

malaio editou o Islamic Banking Act, que, de forma inovadora, viabilizou um modelo

institucional dual, no qual a banca islâmica conviveria com a banca tradicional, embora

cada qual tivesse suas regras próprias. No mesmo ano, houve ainda a edição de outra lei,

o Government Investment Act, que permitiu ao governo malaio a emissão de títulos

consonantes com os preceitos da Sharia (KAMIL, 2014), e a criação do Bank Islam

Malaysia Berhad (1983). Por conta do forte apoio do governo, da força de sua economia

e de uma intensa produção teórico-acadêmica, a Malásia se afirmaria, doravante, como

um dos polos mais proeminentes e avançados de desenvolvimento das finanças islâmicas.

No início da década de 1990, as finanças islâmicas enfrentaram percalços importantes. O

modelo de negócios baseado exclusivamente no sistema de Profit and Loss Sharing

revelou-se, ao menos à época, um tanto problemático, e chegou a ter sua viabilidade

seriamente questionada. Por outro lado, a política de investimentos em ativos reais (como

ouro, imóveis e commodities), em detrimento de instrumentos de dívida, conquanto

estivesse em plena sintonia com os preceitos da religião, também não propiciava grande

retorno (CHAPRA, 2000; AYUB, 2007; WARDE, 2010).

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Nessa nova fase, um importante papel foi desempenhado pela Organização de

Contabilidade e de Auditoria para Instituições Financeiras Islâmicas (Accounting and

Auditing Organization for Islamic Financial Institutions – AAOIFI). Criada em 1991, seu

objetivo principal era justamente desenvolver regras de contabilidade, de auditoria, de

governança e até de natureza ética para a condução das atividades relacionadas às

Instituições Financeiras Islâmicas, com vistas a assegurar sua conformidade aos preceitos

da Sharia (AAOIFI, 2016).

Paralelamente, diversos governos nacionais passaram a criar leis e regulamentos

específicos para a banca islâmica, com o objetivo de garantir não apenas a sua

conformidade religiosa, mas também a satisfação de demandas e a acomodação de

particularidades internas de cada País. Um importante paradigma normativo foi o já citado

o Islamic Banking Act, da Malásia. O modelo dualista malaio, tido como bastante

pragmático, tornou-se uma referência internacional, sendo adotado por diversos países,

especialmente a partir da década de 1990. O compartilhamento de sua lógica para outros

ordenamentos nacionais acabou criando condições para que as finanças islâmicas

pudessem avançar para vários outros territórios, ainda que não possuíssem tradição ou

população majoritariamente muçulmana. Paralelamente a esse fator, contribuiu para que

bancos tradicionais pudessem iniciar suas operações com finanças islâmicas dentro de

uma base normativa e operacional mais consistente e segura do ponto de vista ocidental.

A década de 1990 foi um período de intensa convivência e de relevantes interações entre

os agentes das bancas tradicional e islâmica. Para Ayub (2007) e Warde (2010), foi uma

década de grande convergência entre esses diferentes modelos institucionalizados de

intermediação financeira. Ainda segundo os autores, essa convergência se expressou

basicamente por meio de cinco fenômenos, a saber:

(i) um crescente número de instituições financeiras convencionais já sediadas em países

de tradição muçulmana constituiu agências, unidades ou departamentos especializados na

oferta de produtos financeiros islâmicos, passando a oferecendo aos seus clientes locais

a possibilidade de escolher entre os produtos tradicionais e os islâmicos;

(ii) instituições financeiras sediadas fora desses países também passaram a criar estruturas

especializadas em finanças islâmicas, com o objetivo de passar a prestar serviços para

pessoas e governos de países muçulmanos, e, com isso, expandir seu universo de atuação;

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(iii) instituições financeiras islâmicas passaram a oferecer seus produtos financeiros

também para clientes não-muçulmanos, como alternativas aos produtos tradicionais;

(iv) instituições financeiras islâmicas passaram a constituir subsidiárias em países que

tradicionalmente não integravam o Islã, sobretudo na Europa, para atender a comunidades

ou minorias muçulmanas dispersas pelo mundo; e

(v) o processo de interpretação da Sharia no tocante às operações financeiras, além de

contar com a necessária análise por estudiosos da religião, passou a receber também

contribuições de estudiosos e pesquisadores de fora do mundo islâmico.

A expansão das finanças islâmicas e a convivência que se estabeleceu entre esta e as

finanças convencionais não se deram apenas pelas qualidades dos bancos islâmicos,

sejam elas morais ou de eficiência, mas sim pelo resultado de uma combinação de fatores

geopolíticos ocorridos na época, que contribuíram decisivamente para que isso ocorresse.

O fim da União Soviética reduziu significativamente a influência dos valores do

socialismo e do dirigismo econômico na região, aproximando ainda mais vários países

árabes dos Estados Unidos e seus aliados, especialmente europeus (WARDE, 2010). Esse

cenário foi ainda potencializado pela Guerra do Golfo (1991), na qual muitos países

árabes integraram formalmente a coalizão norte-americana contra o Iraque. Tudo isso

propiciou uma aproximação econômica maior com os EUA e os países europeus, em

especial, levando à ampliação dos fluxos financeiros, o que criou condições para a

expansão das finanças islâmicas.

Essa aproximação também despertou o interesse nos mercados de capitais islâmicos. Em

1998, a Financial Times Stock Exchange (FTSE) lançou uma primeira série de ações

islâmicas, denominada FTSE Global Islamic Indexes Series (GISS)12, um sub-índice de

ações de companhias de cerca de trinta países. Posteriormente, em 1999, a Bolsa de Nova

York criou o Dow Jones Islamic Market Index (DJIMI), para acompanhar o desempenho

de empresas cujos negócios são conformes aos preceitos da Sharia (ASKARI et al, 2010).

12 As principais séries de índices do mundo financeiro islâmico são: Dow Jones Islamic Market Index, da

Bolsa de Nova York (criada em 1999); FTSE Global Islamic Index, do grupo editorial Financial Times

(criada em 2006); S&P Shariah Index, da agência de risco Standard and Poors (também criada em 2006);

MSCI Global Islamic Index (criada em 2007); e Russel-Ideal Ratings Islamic Index (criada em 2013).

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Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 causaram importantes e inesperados

efeitos na trajetória da banca islâmica (MARTINS, 2004). No curto prazo, a resistência

ao Islã, causada pela sombra da ameaça de novas ações fundamentalistas, causou certa

resistência nos mercados financeiros internacionais e trouxe abalos aos fluxos de

operações com bancos islâmicos. Paradoxalmente, o que se viu nos anos seguintes foi um

novo período de expansão e desenvolvimento técnico e operacional das finanças

islâmicas (MARTINS, 2004; WARDE, 2010; JANTALIA, 2016), a ponto de a década de

2000 ser comumente referenciada no mercado como o período mais importante de

expansão desse tipo de operações. Foi, verdadeiramente, o período de expansão e

consagração definitiva das finanças islâmicas nos mercados internacionais, com forte

crescimento verificado nos últimos anos (AYUB, 2007; JANTALIA, 2016).

Inúmeras razões importantes contribuíram para esse crescimento. A primeira delas foi a

forte reação, por parte da própria comunidade muçulmana, à repercussão dos ataques

terroristas. Para muitos autores, o preconceito do Ocidente em relação à religião, causado

pelos atentados, trouxe um importante incremento da religiosidade e um reforço do

orgulho muçulmano. Dentre outros efeitos, isso gerou um importante incremento na

demanda por produtos financeiros tipicamente islâmicos (HENRY; WILSON, 2004;

AYUB, 2007), o que contribuiu para uma expansão do volume de negócios.

Outra importante causa foi a reação dos próprios agentes do mercado. Em busca de

respostas às críticas destinadas ao seu modelo de negócios, bem como da continuidade

do desenvolvimento da indústria bancária islâmica, eles empreenderam ações em diversas

frentes no sentido da padronização, do aprimoramento e da sofisticação das operações,

bem como da criação de uma melhor infraestrutura para esse segmento específico de

mercado. Ainda em 2001, deu-se a criação da International Islamic Financial Market

(IIFM), uma organização privada destinada a estabelecer padrões e boas práticas nos

mercados interbancário e de capitais (IIFM, 2016). Seu principal propósito, na realidade,

era lançar as bases para a criação de um mercado secundário de instrumentos financeiros

islâmicos.

Em 2002, foi criada a Islamic Financial Services Board (IFSB), com o objetivo principal

de editar normas prudenciais e princípios norteados para a indústria financeira islâmica,

aí abrangido não apenas o mercado bancário, mas também os de capitais e de seguros. A

ela se seguiram outras instituições, como a Islamic International Rating Agency (IIRA),

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também em 2002, e a International Islamic Liquidity Management Corporation (IILM),

em 2010, que contribuíram decisivamente para o amadurecimento da indústria, em termos

de gestão e avaliação de riscos, bem como de eficiência da banca islâmica.

A eclosão da crise financeira internacional, iniciada em 2007, criou um cenário ainda

mais propício para a expansão das finanças islâmicas. A convicção de que a crise fora

causada por falhas da regulação e na supervisão das instituições financeiras

internacionais, traduzindo-se em excessivas e descontroladas operações de securitização

de dívidas, evidenciou o contraste entre o modus operandi da banca tradicional e da banca

islâmica. Investidores mais atentos e pesquisadores foram praticamente unânimes em

afirmar que operações como as que estiveram na raiz da crise jamais seriam cursadas no

sistema bancário islâmico, por sua contrariedade aos mais básicos preceitos da teoria

financeira muçulmana (WARDE, 2010; KAYED; HASSAN, 2011).

Alguns trabalhos científicos pós-crise financeira, como o de Rehman (2009) e o de Hasan

e Jemma (2010), apontam outro atrativo: a maior segurança dos ativos financeiros

islâmicos. Isto porque como, por força das prescrições da Sharia, os recursos não podem

ser destinados para fins especulativos, a governança das instituições que adotam os

preceitos islâmicos está sujeita a uma disciplina mais rigorosa, razão pela qual, em tese,

a exposição a risco dessas instituições acaba ficando bastante limitada.

Todos esses fatores contribuíram que a indústria financeira islâmica experimentasse um

vigoroso crescimento na última década, tanto em termos de volume de ativos quanto em

termos de sua expansão territorial e relevância sistêmica nos países nos quais as finanças

islâmicas passaram a figurar. No período de 2003 a 2014, o volume de ativos dessa

indústria financeira saltou de US$ 200 bilhões para cerca de US$ 1,87 trilhão (EY, 2015;

IFSB, 2015; KAMMER et al, 2015), experimentando um consistente e sustentado

crescimento anual, sobretudo a partir de 2008, no pós- crise financeira, a ponto de

triplicarem de tamanho nos últimos seis anos.

Embora a representatividade de outras regiões como a Europa e a África Subsaariana

ainda seja muito baixa, estudos recentes indicam boas perspectivas de expansão das

finanças islâmicas. Isso porque diversos países vêm encetando medidas para viabilizar o

início ou a expansão desse tipo de operações em suas respectivas jurisdições, sobretudo

na seara dos mercados bancário e de capitais. Além de iniciativas recentes em praças

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menos expressivas, como Marrocos, Uganda, Senegal e África do Sul, iniciativas

consistentes de adaptação da legislação nacional têm sido feitas em países de maior

relevância no mercado internacional, como Reino Unido, Luxemburgo, Hong Kong,

França, Itália e Japão (IFSB, 2017).

Além da expansão em si, importa destacar que, paulatinamente, as finanças islâmicas vêm

adquirindo relevância sistêmica em um número crescente de países. Além do Irã e do

Sudão, que operam sistemas bancários totalmente conformes à Sharia, as finanças

islâmicas são consideradas sistemicamente relevantes em outros seis países: Arábia

Saudita; Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos e Omã. (IFSB, 2018). Nesses países,

que concentram 80% dos ativos financeiros islâmicos no Mundo, o volume de operações

tem crescido acima daquele verificado nos respectivos pares convencionais. A Figura 5 a

seguir fornece uma visão panorâmica dos níveis de relevância sistêmica dos diferentes

países, inclusive não islâmicos, nos quais apresenta participação:

Figura 5 – Mercados financeiros islâmicos por relevância sistêmica

Fonte: IFSB (2017).

Apesar de representarem apenas 2% do volume total de operações do sistema financeiro

mundial (KAMMER et al, 2015; JANTALIA, 2016; IFSB, 2017, EY, 2018), as finanças

islâmicas apresentam boas perspectivas de crescimento e difusão, à vista de alguns fatores

específicos (IFSB, 2017). O primeiro deles diz respeito à incipiente bancarização: dentro

dos próprios países de tradição muçulmana, estima-se que 75% da população ainda não

seja bancarizada – o que, por certo, confere uma boa margem para ampliação do volume

de operações conformes à Sharia (JANTALIA, 2016; IFSB, 2017). Além disso, muitas

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consultorias especializadas consideram que o nível de informatização dos canais de

acesso às instituições financeiras ainda é relativamente baixo, se comparado aos padrões

dos mercados financeiros convencionais, o que abre uma considerável margem para a

oferta de serviços financeiros às populações locais (EY, 2016). Todos esses dados

demonstram que, de fato, as finanças islâmicas avançam de maneira importante, rumo a

uma representatividade e a uma expressividade cada vez maiores no sistema financeiro

internacional. No esteio do que já se expôs na seção anterior, a institucionalização das

operações financeiras islâmicas teve como o mercado bancário como porta de entrada.

Durante muito tempo, o conceito de finanças islâmicas praticamente se circunscrevia às

operações realizadas por bancos, dada a inexistência ou mesmo à escassez de outras

formas ou modos de relações contratuais financeiras halal.

Esse quadro, no entanto, começou a mudar substancialmente em meados da década de

1980, quando o desenvolvimento da teoria jurídico-financeira islâmica e a própria

demanda dos agentes do mercado induziram à ampliação e à diversificação das operações.

Como resultado, teve início o desenvolvimento de uma verdadeira indústria de serviços

financeiros Sharia Compliant, que não mais se limitava aos contratos e às instituições

tipicamente bancários. Aos poucos, ela passou a contar também com contratos e

operações realizadas nos mercados de capitais e de seguros.

A estrutura do sistema financeiro islâmico é muito similar àquela que se conhece no

sistema financeiro convencional e pode ser classificada em quatro grandes segmentos:

i) mercado bancário,

ii) mercado monetário ou interbancário;

iii) mercado de capitais; e

iv) mercado de seguros.

De acordo com relatório anual divulgado pela Thomson Reuters em 2017, as operações

em ativos financeiros islâmicos têm crescido de forma sustentável em diversas partes do

globo, especialmente nos países do CCG. O crescimento e a composição desses ativos

estão representados na Figura 6 a seguir:

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Figura 6 – Crescimento e Composição dos ativos financeiros islâmicos (2012-2022, US$ bilhões)

Fonte: Adaptado de Thomson Reuters (2017).

Mercado financeiro (bancário e monetário): Islamic Banking

Mercado de Seguros: Takaful

Outras Instituições Financeiras Islâmicas (IFIs)

Mercado de Capitais: Sukuks ou bonds islâmicos

Mercado de Capitais (Fundo de Investimentos)

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2.7.1 Instituições Financeiras Islâmicas no CCG

Ainda no período pré-islâmico já eram muito comuns, entre os habitantes do Oriente

Médio, especialmente entre aqueles da Península Arábica, práticas comerciais baseadas

em parcerias e arrendamentos, nas quais uma das partes contribuía com recursos

financeiros ou equipamentos e a outra contribuía com o trabalho (CHAPRA, 1979; ISRA,

2012). Na medida em que importavam a injeção de capital em determinado

empreendimento ou negócio, essas práticas, baseadas nos usos e costumes comerciais que

se consolidaram ao longo dos séculos na civilização árabe antes mesmo do surgimento

do Islã, acabavam cumprindo a função de formas de financiamento de atividades

produtivas.

O advento do Islã impôs importantes modificações nesse cenário. Muitas práticas

comerciais até então adotadas na península arábica foram consideradas contrárias à

doutrina religiosa que surgira, e outras tantas tiveram que ser adaptadas ou

significativamente alteradas para garantir sua conformidade aos preceitos da fé islâmica.

Houve, assim, um relevante impacto causado pelo surgimento da religião, e dos preceitos

do Corão e da Suna, sobre os usos e costumes comerciais da região.

A origem mais aceita do processo de desenvolvimento das chamadas finanças islâmicas

remonta às práticas do próprio Muhammad (S.A.W.S.), muitas delas anteriores ao próprio

período da Revelação e, portanto, ao surgimento do Corão. Diversos autores sustentam

que muitas das formas de financiamento hoje conhecidas e amplamente difundidas no

Islã se baseiam em exemplos de práticas e modelos de negócio empregados pelo Profeta

para gerir os negócios de Khadija, seja na condição de empregado, seja na sua condição

posterior de marido (ISRA, 2012). A prosperidade dos negócios de Muhammad, aliada

ao notório reconhecimento de sua honestidade e retidão como comerciante, contribuíram

para a disseminação daquelas formas de financiamento do comércio e das atividades

produtivas de modo geral. Às formas adotadas pelo Profeta se somaram outras, que foram

por Ele expressamente reconhecidas como lícitas ou estimuladas, conforme atestam

variados Hadith.

A expansão territorial do Império Islâmico nos séculos que se seguiram após a morte do

Profeta e a difusão da própria religião levaram a uma disseminação também dessas

práticas financeiras, que já não mais se limitariam à Península Arábica, alcançando

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também amplas faixas de terra na África, na Ásia e, também, na Europa (ISRA, 2012). É

importante destacar, contudo, que essas práticas tinham como protagonistas os próprios

comerciantes ou, no máximo, investidores em busca de novas oportunidades de negócios.

Por muitos séculos, não houve qualquer registro, no Islã, de bancos ou instituições a eles

assemelhadas, que tivessem como objeto específico a intermediação financeira. Não há,

portanto, evidências que autorizem a se falar na existência de um “mercado financeiro

islâmico” naquela época.

Em termos funcionais, a visão islâmica acerca dos mercados financeiros não difere

daquela adotada no pensamento econômico ocidental. Com efeito, não se discute que a

função precípua de tais mercados é viabilizar a transferência ou a canalização de recursos

das unidades ou agentes superavitários – ou seja, aqueles que conseguem acumular

recursos que podem ser investidos – para as unidades ou agentes deficitários – isto é,

aqueles que necessitam de recursos para atender às suas necessidades.

Na medida em que tudo o que há no mundo foi criado por Deus, e que o homem é seu

mero representante na Terra ou o Khalifa13, os mercados financeiros, assim como todos

os demais segmentos de atividade econômica, devem seguir os preceitos dados pelo

Criador, consubstanciados na Sharia (ISRA, 2012). Assim sendo, o funcionamento do

mercado precisa convergir para a concretização do fallah (sucesso mensurado neste

mundo), não apenas em sua dimensão individual, mas também em sua dimensão coletiva,

sujeitando os agentes operadores e os instrumentos financeiros aos filtros morais

consagrados pela lei islâmica, a fim de evitar que a busca pelo bem-estar se opere a

qualquer preço (AYUB, 2007; CHAPRA, 2010; ISRA, 2012; JANTALIA, 2016).

É uma realidade que a indústria bancária islâmica avançou de nicho para massa crítica

nos últimos 30 anos, desde o estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento na

Arábia Saudita. Embora os princípios e noções de economia islâmica existam há séculos,

a institucionalização desses princípios na forma de instituições bancárias islâmicas é

relativamente nova, em comparação com o sistema bancário convencional.

Historicamente, o Mit Ghamr Saving Associations (MGISA) foi estabelecido como o

primeiro banco islâmico no Egito, em 1963, na forma de uma instituição bancária social

13 Al Khalifa ou simplesmente Khalifa é a palavra árabe usualmente traduzida como sucessor, representante,

líder ou vice-regente.

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islâmica que visa fornecer crédito a pequenos artesãos e empreendedores (ANNE, 1985).

Devido a mudanças nas circunstâncias políticas, este experimento não durou muito

tempo, embora tenha aberto o caminho para o Nasser Social Bank em 1971. Outro

experimento foi lançado na Malásia em 1967, na forma de associações de poupança de

peregrinos (conhecido como Lembaga Tabung Haji Malaysia), que, desde então, visa

investir as economias de potenciais peregrinos muçulmanos para ajudá-los a financiar

suas peregrinações a Meca.

Nos últimos anos, Instituições Bancárias e Financeiras Islâmicas (IBFIs) conseguiram

penetrar em outros sistemas financeiros, aproveitando as oportunidades criadas pela

reestruturação econômica e liberalização do sistema financeiro na maioria dos países

muçulmanos. Além disso, devido ao ímpeto proporcionado pela globalização, as

instituições bancárias e financeiras islâmicas foram internacionalizadas e conseguiram

entrar nos sistemas financeiros internacionais fornecendo produtos financeiros

compatíveis com a Sharia. A principal institucionalização veio com a criação do Banco

Islâmico de Desenvolvimento em 1974, como resultado do mandato político fornecido

pela Organização da Conferência Islâmica, que visava atuar como o Banco Mundial

'orientado para o desenvolvimento' do mundo muçulmano (MOLYNEUX, 2007). Isto foi

seguido pelo estabelecimento do Banco Islâmico de Dubai em 1975, que continua sendo

o maior banco islâmico do mundo (além do sistema bancário inteiramente islamizado do

Irã) e da Casa de Finanças do Kuwait em 1977 (WILSON, 1987).

A institucionalização, a capacidade de financiamento e a base de ativos das IBFIs

mostraram um crescimento sem precedentes desde os anos 90. Segundo o The Banker

(2017), havia 176 IBFIs operando em todo o mundo desde 1997 (LATIFFA, 2001), que

aumentaram para 261 em 2006. Em 2009, o número de instituições IBFIs aumentou para

cerca de 500, operando em 75 países. Sudeste Asiático (especialmente na Malásia,

Indonésia, Tailândia e Brunei) tem o maior número de instituições IBFIs, seguido por

África, e a região do CCG. No entanto, em termos de base de ativos, a participação dos

IBFIs do CCG é de mais de 70% de todo o setor. Assim, o que começou como um pequeno

experimento bancário rural nas aldeias remotas do Egito atingiu agora um nível em que

muitos bancos multinacionais estão oferecendo produtos bancários islâmicos (IQBAL,

2010). Com uma taxa de crescimento de cerca de 15% a 20% ao ano, a base de ativos dos

IBFIs atingiu cerca de US$ 822 bilhões, globalmente. Estima-se que dentro de uma

década, a indústria financeira islâmica irá capturar metade das economias do mundo

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muçulmano (KHAN, 2006). Nesta indústria impulsionada pelo mercado com

oportunidades, o CCG e a Malásia continuam sendo a principal região e país do mundo,

em termos de oferta de produtos financeiros islâmicos.

Devido ao rápido crescimento deste setor, vários órgãos de regulação e padronização

também foram formados para ajudar na consolidação da indústria financeira islâmica

estabelecida e para guiar as operações da indústria em todo o mundo. Estes organizamos

incluem a Organização de Auditoria e Contabilidade para Instituições Financeiras

Islâmicas (AAOIFI), com sede no Bahrein, estabelecida em 1991 para fornecer padrões

de contabilidade, auditoria e Sharia para relatórios financeiros em instituições financeiras

islâmicas. Em 2001, o International Islamic Financial Market (IIFM) no Bahrein foi

criado para desenvolver diretrizes para a emissão de instrumentos financeiros islâmicos

e para incentivar o comércio ativo no mercado secundário.

2.7.2 Desenvolvimento da indústria financeira moderna no CCG

O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) foi estabelecido em 26 de maio de 1981 em

Abu Dhabi, com o objetivo de fomentar e promover a cooperação entre os Estados

membros. As IFIs14 na região do têm sua própria estrutura de sistema de governança

Sharia. Dessa forma, as agências monetárias e as autoridades financeiras são responsáveis

pela regulamentação e supervisão das IFIs, inclusive em questões de governança de

Sharia.

O primeiro passo da modernização da indústria financeira no CCG foi a decisão de

criação do Banco Islâmico de Desenvolvimento (Islamic Development Bank – IDB), em

1974. Sediado em Jidá, na Arábia Saudita, o IDB foi concebido para ser uma instituição

financeira multilateral que teria como propósito fomentar o desenvolvimento econômico

e social dos seus países-membros e das comunidades muçulmanas, em consonância com

os preceitos da Sharia (IDB, 2013). Sua atuação, portanto, era, e ainda continua sendo,

típica de uma instituição multilateral de fomento.

14 Antes disso, no entanto, o estabelecimento das IFIs nos estados do Golfo foi feito por decreto de

governante. Por exemplo, o Banco Islâmico de Dubai, foi instituído pelo Decreto do Governante de Dubai

em 1975, a Casa de Finanças do Kuwait pelo Decreto Nº 72/1977 do Emir do Kuwait, o Banco Islâmico do

Bahrein pelo Decreto No. 2/1979 do Emir do Bahrein, o Masraf Qatar al-Islami pelo Decreto No. 45/1982

e o Qatar International Islamic Bank pelo Decreto No. 52/1990 do Emir do Qatar. Os EAU foram o primeiro

estado do Golfo que introduziu uma lei específica para governar o estabelecimento de IFIs em sua Lei No.

6 de 1985.

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Embora a criação do IDB fosse importante como passo inicial para viabilizar o

intercâmbio de recursos entre os países islâmicos, era ainda também necessário

desenvolver uma atividade bancária mais comercial e especializada. Ao longo da década

de 1970, desencadeou-se então um movimento de reversão desse quadro, a partir de uma

conjugação de forças entre governo, banqueiros, empresários e estudiosos da Sharia, que

teve como resultado a criação de bancos comerciais na região, sendo o primeiro deles o

Dubai Islamic Bank (DIB), criado em 1975.

É uma realidade que a indústria bancária islâmica avançou de nicho para massa crítica

nos últimos 30 anos, desde o estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento da

Arábia Saudita. Embora os princípios e noções de economia islâmica existam há séculos,

a institucionalização desses princípios na forma de instituições bancárias islâmicas é

relativamente nova, em comparação com o sistema bancário convencional.

Em um primeiro momento, as operações eram bastante rudimentares, principalmente se

comparadas àquelas realizadas pelas instituições ocidentais da época. Não havia muitos

parâmetros ou especificações técnicas para a realização das operações, tampouco manuais

ou instruções que pudesse conferir uma escala suficientemente ampla para as operações.

Contudo, a aliança estabelecida entre os agentes econômicos e os estudiosos da religião

estimulou fortemente a pesquisa dos temas econômicos e financeiros relacionados dentro

da Sharia, bem como fomentou novos debates e a atualização de diversos pontos ou temas

do fiqh al-muamalat (HENRY; WILSON, 2004).

Aos poucos, foram sendo concebidos, com o beneplácito e até mesmo a efetiva

participação dos líderes religiosos, novas e aprimoradas formas de financiamento, bem

como práticas de governança voltadas para assegurar o fiel cumprimento dos preceitos da

Sharia por parte das unidades de negócio e da própria direção das instituições financeiras.

Uma evidência disso foi a criação de diversas certificações internacionais para

credenciamento de profissionais especializados na emissão de pareceres sobre as

operações financeiras que cumpram fielmente os preceitos da Sharia.

O CCG está bem posicionado no coração do mundo muçulmano para servir como um

centro de finanças islâmico que o conecta à Europa, Ásia e África; A disseminação de

subsidiárias de bancos islâmicos baseados no CCG mostra que esse fato se impulsionou

nos últimos anos por meio de fatos relevantes para o mercado islâmico.

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O Quadro 3 a seguir apresenta os fatos mais importantes, no que tange a criação dos

bancos islâmicos na região do CCG:

Quadro 3 – Fatos relevantes da criação dos Bancos Islâmicos no CCG

Ano Países Fato (s)

1975 EAU e Arábia Saudita Criação do Dubai Islamic Bank (EAU) e do Islamic

Development Bank (Arábia Saudita)

1977 Kuwait Criação do Kuwait Finance House

1979 Bahrein Criação do Bahrein Islamic Bank

1982 Catar Criação do Qatar Islamic Bank

1988 Arábia Saudita Criação do AlRajhi Financial Company

2002 EAU Conversão do Banco Convencional National Bank of

Sharjah em banco islâmico (Sharjah Islamic Bank)

2005 Arábia Saudita Transformação do National Commercial Bank (banco

convencional) em banco islâmico

2006 Kuwait

Conversão do The Kuwait Real State Bank (banco

convencional) no banco islâmico The Kuwait

International Bank

2007 Arábia Saudita Transformação do Al Jazeera Bank em banco islâmico

2010 Kuwait Conversão do Bank of Kuwait and Middle East no banco

islâmico Ahli United Bank

2013 Omã Autorização da operação do Bank Nizwa, primeiro banco

islâmico autorizado a operar em Omã

Fonte: Autor (2017).

2.7.3 Tamanho da indústria financeira islâmica no CCG

De 2010 a 2017, a riqueza líquida no CCG cresceu a uma média de 17,5% ao ano,

dobrando de US$ 1,1 trilhão para US$ 2,2 trilhões (DIEMERS; KHALIL, 2017; EY,

2017). Isso se explica, em parte, pelos altos preços do petróleo durante esse período, pelos

gastos do governo local em infraestrutura, pelo crescente esforço de diversificação e pela

recuperação global geral. No total, os ativos em conformidade com a Sharia em todo o

mundo totalizavam US$ 2,252 bilhões no final de 2015, sendo que somente os países do

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CCG responderam por cerca de 28% deste total. Além disso, houve um crescimento

positivo dos ativos compatíveis com a Sharia no CCG em 2015, em comparação com

outras regiões, conforme será evidenciado na Tabela 4 a seguir.

Tabela 4 - Crescimento dos Ativos Financeiros Regionais (US$ bilhões)

Regiões Crescimento (%) 2015 2016 2017

CCG 54,06% 640 725 986

MENA, exceto CCG 75,22% 339 537 594

MENA 31,25% 979 1.098 1.285

África Subsaariana 87,5% 8 11 15

Ásia 80,29% 269 259 485

Austrália/Europa/Américas 82,35% 17 24 31

Total 2.252 2.654 3.396

Fonte: The Banker (2018).

Os ativos globais em conformidade com a Sharia representam uma parcela significativa

do total de ativos bancários do CCG (EY, 2017). Enquanto na região do Oriente Médio e

Norte da África (MENA) os ativos bancários islâmicos representam 14% do total de

ativos bancários, no CCG a participação de mercado dos bancos islâmicos chegou a 25%,

o que sugere que os bancos islâmicos se tornaram sistemicamente importantes nesses

países. Os ativos bancários islâmicos do CCG alcançaram US $ 490 bilhões no final de

junho de 2013, com a Arábia Saudita dominando a região com 49%, seguida pelos

Emirados Árabes Unidos (19%), Kuwait (16%), Catar (11%) e Bahrein. (5%), enquanto

este segmento ainda é nascente em Omã O setor bancário islâmico adquiriu proporções

sistêmicas no Kuwait, no Catar, na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.

O setor bancário islâmico de varejo no Bahrein alcançou proporções sistêmicas com uma

participação acionária de 27% no banco de varejo e uma participação de 13% no total de

serviços bancários de varejo e atacado. A entrada de Omã nas finanças islâmicas se deu

no final de 2012, sendo que os bancos começaram a operar em conformidade com a

Sharia no ano de 2013. O Banco Central de Omã desenvolveu um conjunto abrangente

de regulamentos para os Bancos Islâmicos a partir das seguintes modelos: (1) sistema

bancário convencional existente, baseado na Lei Bancária de Omã e Basileia II e

diretrizes (onde elas não contradizem a Sharia); (2) padrões de governança e

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contabilidade da Sharia emitidos pelo AAOIFI; (3) diretrizes do IFSB sobre adequação

de capital e gerenciamento de risco; e (4) práticas mundialmente aceitas na governança

da Sharia. No final de agosto de 2015, os ativos financeiros dos bancos islâmicos em

Omã representavam 6% do total de ativos do sistema bancário do país.

O crescimento da indústria global (crescimento anual de ativos financeiros) entre 2009 e

o final de 2014 ficou em 12,68%. Esse desempenho foi em grande parte impulsionado

pelos mercados dominantes do CCG e da Malásia. Por sua vez, o CCG registou um

crescimento médio de 17,49% durante este período, enquanto na Ásia, este número

atingiu 10,5%, seguido pela África subsaariana com 10,46%. O crescimento das finanças

islâmicas na região do Golfo foi sustentado pelos ganhos de bancos do Catar totalmente

compatíveis com a Sharia. Entre 2009 e 2014, esses bancos registraram um crescimento

nominal de 21,09%, superando seus pares regionais (THE BANKER, 2017).

Essas conquistas foram espelhadas, em menor escala, em outras partes do CCG. Os

credores em total conformidade com a Sharia nos Emirados Árabes Unidos alcançaram

um crescimento médio de 10,64% ao longo desse período, enquanto o ROA chegou a

1,5%. Em particular, o desempenho do Dubai Islamic Bank, que entrou na lista dos 10

bancos comerciais com maiores retornos sobre os ativos foi a principal contribuição dos

Emirados Árabes Unidos. Enquanto isso, o retorno do capital para bancos totalmente

compatíveis com a Sharia foi de 11,39%. A Tabela 5 a seguir mostra um resumo da taxa

anual composta de crescimento dos ativos do setor bancário do retorno dos ativos (ROA)

e do retorno sobre o capital investido (ROIC):

Tabela 5 – Indicadores de Crescimento dos Ativos Islâmicos entre 2009 e 2017

País Crescimento Médio (%) ROA (%) ROIC (%)

Catar 21,9% 2,28% 16,93%

Arábia Saudita 13,39% 2,41% 16,6%

Emirados Árabes Unidos 10,64% 1,5% 11,39%

Bahrein 9,2% 0,62% 4%

Malásia 7,32% 1,75% 17%

Turquia 6,4% 1,3% 12%

Kuwait 6,4% 0,8% 6%

Irã 1,3% 1,4% 18%

Fonte: The Banker (2017).

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A Figura 7 a seguir apresenta o crescimento dos ativos financeiros islâmicos em

comparação com seus pares convencionais:

Figura 7 – Crescimento dos ativos financeiros no CCG (2013-2019)

Fonte: Adaptado de Standard & Poors (2018).

Outro mercado chave da região do CCG, a Arábia Saudita, desfrutou de um crescimento

médio de 13,39%, acompanhado pelo mais alto ROA de 2,4%, maior do que qualquer

mercado no período de 2009 a 2014. Os bancos sauditas também alcançaram um ROIC

de 16,6%, atrás do Irã, da Malásia e do Catar. Enquanto isso, cinco das dez instituições

financeiras que mais cresceram, com ativos islâmicos, com mais de US$ 500 milhões em

ativos, são originárias da Arábia Saudita.

2.7.4 Interferência estatal sobre bancos islâmicos do CCG

Historicamente, nos países que agora compõem o CCG, não havia um modelo bancário

islâmico que pudesse ser aplicado para atender às necessidades financeiras da região antes

do estabelecimento do Banco Islâmico de Desenvolvimento (BID) em 1952. Na ausência

deste, o sistema bancário convencional (seguindo as regras dos grandes bancos

internacionais) ocupou esse vácuo, embora poucos cidadãos locais abrissem contas de

poupança que pagassem juros, ao invés disso eles simplesmente mantinham contas

correntes que não pagavam nenhum tipo de remuneração (WILSON, 2002).

O Decreto Real de 1952, que institui a Agência Monetária da Arábia Saudita (SAMA),

era semelhante a outras leis de bancos centrais, sendo a principal característica distintiva

a designação agência monetária, ao invés de banco central. A Lei de Controle Bancário

da Arábia Saudita de 1966, que ainda rege a regulamentação do país, menciona

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especificamente os empréstimos bancários nos termos dos seus Artigos 8º e 9º, o que não

é permitido pela Sharia. O artigo 10º proíbe os bancos de participarem no comércio que

os remunere por meio de juros, que poderia ser interpretado como excluindo as transações

Murabaha (custo mais margem). Grande parte da ênfase durante os anos do boom do

petróleo da década de 1970 foi na construção de um sistema bancário moderno para

atender às necessidades financeiras do país, mas a questão sensível do cumprimento da

Sharia não foi realmente abordada pela SAMA. Havia, no entanto, apoio a iniciativas

internacionais de financiamento islâmico, notadamente o estabelecimento do Banco

Islâmico de Desenvolvimento. Isso foi inaugurado em Jidá em 1975, com o objetivo de

servir como uma agência de assistência ao desenvolvimento para o mundo islâmico

(WILSON, 2002).

Em outras partes do CCG, havia uma atitude mais favorável das autoridades para aqueles

que desejavam estabelecer bancos islâmicos. O Emir de Dubai, por exemplo, aprovou um

decreto em 12 de março de 1975, autorizando o estabelecimento do Banco Islâmico de

Dubai e Kuwait aprovou a legislação em 23 de março de 1977, para permitir a criação da

Kuwait Finance House (KFH). Estas foram, por mais de duas décadas, os únicos bancos

islâmicos nesses estados (SAEED, 1999). Bahrein e Catar seguiram, estabelecendo

bancos islâmicos em 1979 e 1982, respectivamente.

O estabelecimento de bancos islâmicos em Dubai e no Kuwait poderia influenciar a

atitude das autoridades sauditas em relação aos bancos islâmicos, mas eles permaneceram

surpreendentemente cautelosos. De fato, havia uma relutância em fornecer ao Al-Rajhi

Bank, hoje o maior banco islâmico listado no mundo, uma licença bancária; a

preocupação é que isso possa destacar as transações de juros dos bancos convencionais

no reino (WILSON, 2002). O Al-Rajhi Bank recebeu finalmente uma licença bancária em

1987, em grande parte porque já tinha depósitos significativos, e considerou-se que seria

preferível que fosse regulamentado pela SAMA. O perigo era que, se houvesse uma

corrida aos seus depósitos, isso poderia ter prejudicado gravemente a confiança em todo

o sistema bancário, incluindo os bancos regulamentados. Com o lançamento do Al- Rajhi

Bank, cinco dos seis estados do CCG tinham bancos islâmicos, sendo a exceção Omã,

que se recusou a conceder quaisquer licenças bancárias islâmicas, devido às suas

condições políticas instáveis (ALAM, 2006).

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Outros governos têm apoiado muito mais nos últimos anos, notadamente o Kuwait, que,

em 2004, aprovou uma emenda à Lei 32 do Banco Central de 1968, trazendo a KFH sob

a autoridade reguladora do Banco Central do Kuwait. O novo quadro legislativo visava

assegurar que a concorrência dentro do setor financeiro islâmico fosse aberta com outros

bancos autorizados a solicitar licenças bancárias islâmicas. Como resultado, o Banco de

Imóveis do Kuwait converteu-se em um banco islâmico, mudando seu nome para Banco

Internacional do Kuwait. Uma nova instituição financeira islâmica, o Boubyan Bank,

também recebeu uma licença bancária islâmica. A legislação também continha

disposições sobre a governança financeira islâmica, especialmente os artigos 86, 87, 93 e

96, incluindo a estipulação de que cada instituição deveria ter uma junta da Sharia com

pelo menos três membros. Embora a provisão legislativa do Kuwait seja apenas parte de

sua lei bancária mais ampla, há mais detalhes sobre questões bancárias islâmicas

específicas do que na lei bancária islâmica dedicada à Malásia que criou seu sistema

dualista, o Malaysia Islamic Banking Act.

Em suma, os estados menores do CCG, além de Omã, aprovaram legislações que

facilitaram o desenvolvimento das finanças islâmicas. O Kuwait, em particular, atualizou

e ampliou sua legislação bancária para garantir a competição saudável entre os bancos

islâmicos em seu mercado doméstico. O apoio regional do Bahrein ao crescimento

financeiro islâmico no CCG será discutido em detalhes na próxima seção. A Arábia

Saudita, por sua vez, tem sido a mais atrasada, no que diz respeito às leis específicas que

regem as finanças islâmicas. A SAMA e a Autoridade do Mercado de Capitais ainda não

emitiram um único documento sobre finanças islâmicas, em contraste com o Bank Negara

e a Securities Commission of Malaysia ou mesmo com a Financial Services Authority no

Reino Unido, que emitiu vários documentos e diretrizes.

2.7.4.1 O papel regional do Bahrein nas Instituições Financeiras Islâmicas

Entre os membros ativos do CCG no fortalecimento da banca islâmica está o Bahrein. O

Bahrein funciona como um centro financeiro regional desde 1976, mantendo seu mercado

aberto a bancos estrangeiros, enquanto a Arábia Saudita e o Kuwait licenciaram apenas

instituições de propriedade majoritariamente local. O Bahrein tem mais instituições

financeiras islâmicas do que qualquer outro centro, com vinte e quatro bancos islâmicos

e onze empresas de seguro islâmico (Takaful), a maioria das quais serve o mercado

regional, e não o local. No entanto, é muito dependente dos negócios sauditas e, como

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este último abre seu setor financeiro, há desafios competitivos para o Bahrein, inclusive

no setor bancário islâmico.

A Agência Monetária do Bahrein, agora renomeada como Banco Central do Bahrein, tem

sido muito ativa na promoção do Bahrein como um centro financeiro islâmico. A ilha tem

sido a sede, desde a sua fundação em 1991, da AAOIFI, que serve como um corpo

normativo para relatórios financeiros (AAOIFI, 2015). A maioria das instituições

financeiras islâmicas em todo o mundo são membros da AAOIFI e muitas aderem aos

seus padrões, que se baseiam, em vez de substituir, as Normas Internacionais de Relatório

Financeiro (IFRS)15 emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB)

usadas pelos bancos mais convencionais da Europa e da Ásia.

O Bahrein também abriga International Islamic Financial Market (IIFM) cuja missão,

brevemente mencionada nas seções anteriores, é de ajudar o capital islâmico e os

mercados financeiros através da promoção de padrões comerciais comuns. Seu trabalho

está em um estágio inicial, mas conta com o apoio dos bancos centrais do Bahrein, Brunei,

Indonésia, Malásia e Sudão, bem como do Banco Islâmico de Desenvolvimento, baseado

em Jidá. No entanto, os bancos centrais de outros países do CCG não são membros,

preferindo concentrar seus esforços em seus próprios mercados e instituições. O Centro

de Gerenciamento de Liquidez, com sede no Bahrein, também demorou a decolar. Seu

objetivo é facilitar a colocação dos fundos excedentes das instituições financeiras

islâmicas em instrumentos negociados com lucro. O capital foi subscrito pelo KFH,

Bahrein e Dubai Islamic Banks, e pelo Islamic Development Bank, mas eles usaram

bancos de investimento internacionais para grande parte de sua própria emissão de sukuk,

ao invés do Centro de Gerenciamento de Liquidez. Outro papel importante do Centro de

Gestão de Liquidez é o de promover o comércio secundário de sukuk. Os volumes de

negociação foram limitados, no entanto, com 11 transações de compra e venda em 2005,

25 em 2006 e 15 em 2007 (IDB, 2012).

O Banco Central do Bahrein possui um guia de regras detalhado, que governa toda a

atividade financeira na ilha, incluindo o sistema bancário islâmico. No entanto, existem

15 IFRS são um conjunto de normas internacionais de contabilidade, emitidas e revisadas pelo IASB

- International Accounting Standards Board (Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade), que

visam uniformizar os procedimentos contábeis e as políticas existentes entre os países, melhorando a

estrutura conceitual e proporcionando a mesma interpretação das demonstrações financeiras.

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apenas dois requisitos específicos adicionais para os bancos islâmicos: cada banco

islâmico deve ter um Conselho de supervisão independente da Sharia (CSS), e os bancos

islâmicos devem adotar os padrões da AAOIFI para seus relatórios financeiros. É

discutível até que ponto o sucesso relativo do Bahrein em atrair instituições financeiras

islâmicas é devido a um fator de atração - o encorajamento do Banco Central do Bahrein

- ou um fator impulsionador - o passado a relutância dos seus vizinhos em conceder novas

licenças a bancos islâmicos e operadores de Takaful. Atualmente, existem mais de 15

bancos de varejo islâmicos que atendem ao mercado local no Bahrein. Espera-se que, com

o total apoio do Banco Central do Bahrein, possa aumentar o crescimento dos bancos

islâmicos em sua jurisdição.

2.7.4.2 O papel regional do Catar e dos Emirados Árabes Unidos nas Instituições

Financeiras Islâmicas

Ao contrário do Bahrein, o Catar e os Emirados Árabes Unidos estabeleceram centros

financeiros em zonas francas, governados por suas próprias leis e regulamentos, que são

baseados no direito comum inglês, aplicado ao financiamento (WILSON, 2004). Tanto o

Centro Financeiro do Catar como o Centro Financeiro Internacional de Dubai são

jurisdições separadas, com disputas não sujeitas à lei civil, que se aplicam fora das zonas

no Catar e nos Emirados Árabes Unidos. As instituições que funcionam nas zonas francas

também estão fora da jurisdição dos tribunais locais da Sharia.

O Qatar Financial Center (QFC) possui um conjunto detalhado de regras cobrindo as

finanças islâmicas, incluindo critérios para a supervisão da Sharia. No Catar, uma

proporção maior de depósitos bancários é compatível com a Lei Islâmica do que em

qualquer outro estado do CCG, mas instituições como o Qatar Islamic Bank, Masraf Al

Rayan e o Qatar International Islamic Bank estão estreitamente focadas no mercado

doméstico. Os principais bancos comerciais do Catar estabeleceram afiliadas islâmicas,

principalmente: o Banco Nacional do Catar, que tem uma subsidiária islâmica, o Banco

Comercial, Qatar Financial Center. Essa crescente concorrência em um mercado

relativamente pequeno está incentivando os bancos islâmicos do Catar a procurarem no

exterior uma maior diversificação e expansão. O Qatar Islamic Bank possui a European

Finance House, com sede em Londres, e o Asian Finance Bank, com sede em Kuala

Lumpur. Também possui subsidiárias no Líbano, Bahrein, Iêmen e Cazaquistão operando

sob seu próprio nome, e está realizando estudos de viabilidade dos mercados turco,

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egípcio e indonésio. A Masraf Al-Rayan estabeleceu uma operação de financiamento ao

consumidor na Arábia Saudita e está buscando para o ano de 2019 permissão para abrir

uma filial na Líbia.

A introdução de um sistema regulatório único nos EAU é improvável, já que o país é uma

federação na qual cada emirado goza de considerável autonomia, embora o Banco Central

supervisione todo o sistema bancário, com exceção dos bancos registrados no DIFC.

Assim como no Catar, os principais bancos islâmicos nos Emirados Árabes Unidos estão

focados no mercado doméstico. De fato, o Banco Islâmico de Dubai e o Banco Islâmico

de Abu Dhabi concentram-se principalmente em seus emirados nativos, embora tenham

redes de filiais em todo o país (ALJIFRI, 2008).

O mercado dos EAU voltado para o setor bancário islâmico tornou-se superlotado com

novos entrantes. O Banco Nacional de Sharjah converteu-se em Sharjah Islamic Bank e,

em Dubai, o Noor Islamic Bank foi fundado em 2008, com um quarto de seu capital

subscrito pelo governo de Dubai e mais um quarto pelo próprio governante, Sheikh

Mohammed bin Rashid, cujo objetivo é ser uma força regional de alto nível nas finanças

islâmicas no centro das atenções da região. Seu principal foco é em finanças pessoais e

cartões de crédito, indicando que é mais uma instituição de financiamento ao consumidor,

isto é, de varejo (ALJIFRI, 2008).

2.8 Desenvolvimento da Governança Corporativa nas Instituições Financeiras

Islâmicas

A governança corporativa é um dos elementos vitais em qualquer corporação. Tem havido

muito debate e discurso sobre a questão da governança corporativa por muitos anos. O

conceito de governança corporativa está se tornando muito mais popular, pois houve mais

fracassos corporativos devido à ineficácia da governança. Basicamente, não há consenso

sobre a definição e o conceito de governança corporativa (MALLIN, 2010). Isso se deve

aos diferentes entendimentos dos objetivos das empresas em relação aos diferentes

modelos de governança corporativa, bem como a um grande número de sistemas

econômicos distintos. Como resultado, existem várias definições e conceitos de

governança corporativa propostos por diferentes partes que basicamente refletem seu

interesse especial no campo.

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Basicamente, o conceito de governança corporativa sob uma perspectiva islâmica não

difere muito da definição convencional, pois se refere a um sistema pelo qual as empresas

são gerenciadas, dirigidas e controladas com o objetivo de atingir o objetivo da

corporação, protegendo todos os interesses e direitos das partes interessadas.

Excepcionalmente, o contexto de governança corporativa dentro do paradigma islâmico

apresenta certas características excepcionais em comparação com as teorias ocidentais.

Choudhury e Hoque (2006) discutiram o arcabouço teórico baseado na fé do governo

corporativo no Islã e o consideraram uma teoria pertencente a processos de tomada de

decisão que empregam a premissa da epistemologia sociocientífica islâmica de Tawhid.,

que será estudada no Capítulo 3. As implicações práticas da ideia islâmica de governança

corporativa são imensas, especialmente quando estão relacionadas à minimização de

custos de transação em ambientes de tomada de decisão e ao alcance das metas e objetivos

da corporação dentro dos limites das regras e princípios de Sharia (CHOUDHURY;

HOQUE, 2006). Nesse sentido, é essencial entender e refinar a definição conceitual de

governança corporativa de um ponto de vista islâmico, a fim de esclarecer qualquer

discussão adicional sobre o tema da governança Sharia.

O desenvolvimento da governança corporativa nas IFIs pode ser definido em duas fases

principais, a saber: (i) pré-século XX e (ii) pós-século XX século. A segunda fase pode

ainda ser classificada em dois estágios diferentes: o primeiro estágio (pré-1970) e o

segundo estágio (pós-1970) que serão discorridos nas próximas seções.

2.8.1 Primeira fase (Pré-Século XX): Ausência de Governança Corporativa

O termo "banco”16 é estranho ao período muçulmano primitivo, em que o termo bayt al-

mal17 é amplamente utilizado. Nos séculos VIII e IX, os financistas eram conhecidos

como sarraf e jahbadh e funcionavam como banqueiros modernos no Islã pré-moderno.

Sarrāf forneceu facilidades de financiamento principalmente com base em mudharabah

e musharakah, instrumentos negociáveis e facilidades comerciais, descontando cheques

e emitiu notas promissórias e cartas de créditos (CHAPRA; AHMED, 2002). Eles

16 O termo banco tem origem na palavra italiana banco, que significa "mesa", pois no passado os cambistas

da Lombardia costumavam colocar dinheiro numa mesa (BALDWIN, 1988). O primeiro banco moderno

foi iniciado em Veneza em 1584 a.D. e era conhecido como Banco di Rialto (IMAMUDDIN, 1997). 17 Bayt al-māl pode ser considerado um banco estatal; desempenhou o papel de um banco de crédito

agrícola, banco comercial e câmara de compensação para comerciantes para facilitar as atividades

comerciais desde o tempo dos omíadas (IMAMUDDIN, 1997).

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também forneceram serviços bancários ao público e ao setor privado, enquanto o jahbadh

serviu principalmente ao setor público.

A governança corporativa não era um problema em sarraf ou jahbadh, já que nenhuma

das instituições era classificada como uma entidade legal corporativa. Curiosamente,

mesmo sem qualquer tipo de estrutura de governança corporativa, as chamadas

instituições bancárias durante esse tempo, na forma de sarraf e jahbadh, foram capazes

de facilitar efetivamente as atividades econômicas tanto local quanto internacionalmente.

Embora não haja dados apropriados disponíveis para comprovar a eficiência de tal

sistema financeiro, a evidência histórica em muitos trabalhos da literatura fornece sua

clara indicação.

2.8.2 Segunda Fase (Pós-Século XX): O Surgimento da Governança Corporativa nas

IFIs Modernas

1º Estágio (Pré-1970): No final do século XIX, o papel dos muçulmanos nos

negócios de sarraf foi radicalmente reduzido pelo aumento das famílias de sarraf

não-muçulmanos e pelo surgimento de bancos modernos, estabelecidos em grande

parte pelos europeus e pelos armênios e gregos sarraf (SAEED, 2002). A

colonização da maioria dos países muçulmanos afetou ainda mais o sistema

financeiro islâmico existente e, portanto, foi substituído pelo sistema bancário

moderno ocidental, um sistema financeiro baseado em juros. Somente na década

de 1950 houve esforços para estabelecer IFIs, como no Paquistão, na ideia de

inserir uma cláusula para banir o interesse na constituição e no estabelecimento

de um banco islâmico local que fornecesse financiamento principalmente para os

pobres, com a abertura do Mitr Ghams Savings Bank em 23 de julho de 1963 e o

Nasser Social Bank em 1972. A criação do Banco de Poupança Mitr Ghams e do

Banco Social Nasser no Egito demonstra o potencial do sistema financeiro

islâmico na moderna infraestrutura econômica. O sucesso dos primeiros bancos

islâmicos, apesar de um avanço parcial, foi amplamente discutido por muitos

estudiosos, particularmente os aspectos de operações, procedimentos, atividades,

desempenho, natureza das facilidades de financiamento e questões sociais. A

governança corporativa, no entanto, não recebeu a devida preocupação e não há

nenhum discurso específico ou iniciativas sobre ela. Isso porque todos esses

bancos islâmicos foram incorporados na forma de sociedades cooperativas ou

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bancos sociais. De fato, os modos de atividades de financiamento também eram

muito limitados e só tentavam corrigir as necessidades sociais e pequenas da

comunidade. Nesse sentido, a governança corporativa é menos relevante para esse

tipo de organização empresarial.

2º Estágio (Pós-1970): O período entre 1975 e 1990 foi o período mais crucial no

desenvolvimento do setor financeiro islâmico. O estabelecimento de vários

bancos islâmicos, na forma de corporações como o Banco Islâmico de Dubai, o

Banco Islâmico Faisal e a Casa de Finanças do Kuwait, incluindo o Banco

Islâmico de Desenvolvimento em Jeddah, desencadeou a necessidade de um

sistema específico de governança corporativa. Na verdade, Devido a vários

fracassos corporativos e dificuldades das IFIs nas décadas de 1990 e 2000,

algumas instituições internacionais de infraestrutura foram criadas com o objetivo

de apoiar o setor financeiro islâmico para melhorar e fortalecer sua estrutura de

governança corporativa; estes incluem a Organização de Contabilidade e

Auditoria para IFIs (AAOIFI), o Mercado Financeiro Islâmico Internacional

(IIFM), a Agência Internacional de Classificação Islâmica (IIRA) no Bahrein, o

Conselho Geral de Bancos Islâmicos e Instituições Financeiras (CIBAFI) e a

Autoridade Financeira Islâmica (IFSB) na Malásia. O AAOIFI e o IFSB foram

estabelecidos para tratar de questões relativas à governança corporativa nas IFIs,

emitindo padrões de governança e diretrizes de melhores práticas, enquanto o

resto das instituições fornece suporte de infraestrutura para a implementação do

programa de finanças islâmicas. Além disso, o Hawkamah, o Instituto de

Governança Corporativa com sede em Dubai, também usou sua própria iniciativa

criando uma força-tarefa específica e um comitê de trabalho sobre governança

corporativa para bancos islâmicos e instituições financeiras com o objetivo de

estudar e desenvolver as melhores práticas de governança corporativa nas regiões

do Oriente Médio e Norte da África.

A governança corporativa religiosa deve compreender os seguintes processos (IFSB,

2009): (i) emissão de resoluções ou pronunciamentos Sharia, que consiste na edição de

pareceres jurídicos sobre questões relacionadas à aplicação da lei religiosa ao campo das

finanças islâmicas, a se dar por um colegiado específico, que denominado Comitê Sharia

(Sharia Board); (ii) divulgação de informações sobre essas resoluções ou

pronunciamentos para a equipe da instituição que monitora a conformidade de todos os

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níveis de operações e transações do dia-a-dia com esses pronunciamentos Sharia; (iii)

revisão ou auditoria interna de conformidade, a fim de verificar o cumprimento dos

preceitos da Sharia no cotidiano, que deverá registrar e relatar, e, tanto quanto possível,

encaminhar ou determinar a adoção de soluções para qualquer incidente de não-

conformidade; e (iv) revisão ou auditoria externa de conformidade, a fim de verificar se

os procedimentos de revisão ou auditoria interna de conformidade foram adequadamente

efetuadas e se seus resultados foram devidamente comunicados ao Comitê Sharia.

Ainda assim, é possível identificar quatro componentes clássicos nesse arcabouço de

governança: (i) o Conselho de Supervisão da Sharia (CSS); (ii) a auditoria externa; (iii)

as unidades de auditoria interna; e (iv) as unidades internas de gerenciamento da

conformidade das operações, situadas na retaguarda de mesas de operação ou de agências

da instituição (conhecidas no jargão do mercado como backoffices).

O primeiro componente, o Conselho de Supervisão Sharia é, sem dúvida alguma, o mais

importante deles, afirmando-se como o “coração” do sistema de governança religiosa. É

dele a competência para dar a palavra final sobre a aprovação ou a reprovação de novas

operações ou de novos arranjos contratuais de operações já existentes, antes que eles

sejam realizados. Compete-lhe, ainda, emitir relatórios sobre o grau de conformidade

religiosa da própria instituição como um todo, aí consideradas tanto as suas operações

como seus processos de governança e controle. Segundo as regras e recomendações do

IFSB e da AAOIFI, o comitê deve ser um órgão independente, com no mínimo três

membros, dotado de amplos poderes para análise e requisição de informações, e deve se

reportar apenas ao Conselho de Administração da companhia (IFSB, 2009; AAOIFI,

2010).

Os membros do CSS devem ser escolhidos diretamente pelos acionistas, durante as

assembleias gerais ordinárias da companhia, por proposta do Conselho de Administração,

para cumprir mandato previamente definido. A escolha deve recair sobre estudiosos

reconhecidos (não necessariamente clérigos), dotados de sólida formação nos assuntos da

Sharia, em geral, e do fiqh al-muamalat, em especial, com grande conhecimento da

filosofia da lei islâmica e dos métodos de usul al-fiqh, além domínio das línguas árabe e

inglesa (AAOIFI, 2005). A própria assembleia pode fixar sua remuneração ou conferir

autorização ao Conselho de Administração para que o faça. A fim de manter sua

independência e evitar conflitos de interesse, os membros do CSS não podem ser diretores

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ou titulares de participação societária relevante na companhia. Sua destituição, no curso

do mandato, só pode se dar mediante autorização da assembleia de acionista, após

provocação do Conselho de Administração, à vista de indícios ou evidências

minimamente razoáveis que deponham contra o estudioso (AAOIFI, 2005).

As demais unidades cumprem funções semelhantes àquelas desempenhadas por

estruturas de governança convencionais, mas com uma diferença importante: o foco de

sua análise é eminentemente religioso. Assim, não lhes cabe, em regra, opinar sobre o

grau de adesão das operações às normas seculares, como, por exemplo, uma lei ou ato

normativo hierarquicamente abaixo da lei, editado por autoridade governamental, mas

apenas sobre o efetivo cumprimento dos preceitos da religião, segundo as diretrizes

fornecidas pelo Comitê de Supervisão da Sharia ou por instituições de padronização,

como a AAOIFI. No interior do sistema de governança de Sharia, elas constituem

espécies de linhas de defesa dos dogmas da religião, obrigação que, no sistema doutrinal

islâmico, compete a todos os muçulmanos (JANTALIA, 2016).

Importante destacar que a atuação de tais componentes organizacionais não exclui ou

afasta a competência dos órgãos societários convencionais. Ou seja, não há uma rejeição

das regras e padrões de governança corporativa tradicionalmente adotados, sendo a

estrutura de governança religiosa complementar à estrutura de seus pares convencionais.

O Quadro 4 a seguir retrata de forma didática essa relação de complementariedade.

Quadro 4 – Estrutura de Governança Corporativa Convencional e Islâmica

Funções Estruturas típicas de

instituições financeiras

convencionais

Estruturas específicas

de instituições

financeiras islâmicas

Governança Conselho de Administração Comitê Sharia

Controle

Auditoria Externa Auditoria Sharia externa

Unidade ou departamento de

auditoria interna

Unidade ou departamento

de auditoria Sharia

interna

Conformidade

Unidades ou departamentos

internos de conformidade

regulatória

Unidades ou

departamentos internos

de conformidade Sharia

Fonte: Adaptado de ISRA (2012); IFSB (2009); JANTALIA (2016).

Diante disso, a função primária do sistema de governança Sharia é garantir a

conformidade das operações da instituição aos preceitos da lei islâmica. Verifica-se aí

uma expressão evidente da moralidade e do forte compromisso dos muçulmanos com a

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construção e a manutenção de um padrão de relações econômico-financeiras que esteja

em sintonia com a sua crença. Esse compromisso é tão forte que a teoria das finanças

islâmicas acabou concebendo, a seu modo, uma modalidade específica de risco

enfrentado pelas instituições que oferecem serviços financeiros halal: o risco de não-

conformidade de suas operações e de seus modelos de negócio com as prescrições da

Sharia. Sua construção teórica é bastante lógica, e pode ser assim resumida: se as

operações da instituição se afastam dos preceitos dados por Deus, levando-a ao pecado,

então aqueles que tomam parte em seus negócios acabam se beneficiando de algum modo

dos pecados por ela incorridos – e, portanto, são pecadores; logo, a mera suspeita de que

determinada instituição pode estar incorrendo em práticas ou operações proibidas pela

Sharia tende a despertar, nos seus clientes muçulmanos, um juízo de reprovação que pode

levá-los a romper seu vínculo com aquela instituição.

Nesses termos, a perda da credibilidade religiosa de uma instituição que oferece serviços

financeiros islâmicos tende a expô-la a riscos bastante similares àqueles experimentados

por instituições convencionais sobre as quais pese desconfiança quanto à sua solvência

ou à sua liquidez. Em função disso, a teoria das finanças islâmicas, desde seus primórdios,

trata o risco de não-conformidade religiosa como uma modalidade específica de risco

operacional à qual estão expostas essas instituições. Afirma-se aí então uma função

bastante específica do sistema de governança Sharia, que é também prevenir o risco de

não-conformidade das operações às regras da religião (RHODES; VAN APELDOOM,

1998; MARTINS, 2004; IFSB, 2009; ISRA, 2012, JANTALIA, 2016), contribuindo para

a manutenção da credibilidade da instituição operadora junto à comunidade muçulmana.

Para dar conta dessa tarefa, as normas do IFSB e da AAOIFI impõem, na prática, uma

dinâmica bem estruturada e integrada de ação entre os componentes do sistema de

governança religiosa e os componentes organizacionais que desenvolvem e negociam os

produtos e serviços financeiros com os clientes da instituição.

A estrutura ou arquitetura desse sistema de governança pode e até deve variar de

instituição para instituição. É um princípio básico, consolidado na prática do sistema

financeiro islâmico e nas recomendações do IFSB e da AAOIFI, que não há um modelo

único de governança.

O Quadro 5 a seguir, elenca os guias de Governança Corporativa, que são de observância

obrigatória em seus países membros, emitidos pelo AAOIFI.

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Quadro 5 – Padrões de Governança Corporativa emitidos pelo AAOIFI

Número Título

1 Conselho de Supervisão Sharia: nomeação, composição e relatórios

2 Avaliação Sharia

3 Avaliação interna da Sharia

4 Comitê de auditoria e governança de instituições financeiras islâmicas

5 Independência do Conselho de Supervisão Sharia

6 Declaração de princípios de governança para as instituições financeiras

islâmicas

7 Conduta de responsabilidade social corporativa e divulgação para instituições

financeiras islâmicas

Fonte: AAOIFI (2010).

O Quadro 6 a seguir sumariza as principais diferenças entre os modelos de governança

corporativa no mundo anglo-saxão, europeu e islâmico:

Quadro 6 – Diferenças entre o modelo Anglo-Saxão, Europeu e Islâmico de Governança Corporativa

Aspectos Modelo Anglo-Saxão Modelo Europeu Modelo Islâmico

Episteme

Racionalismo e

Racionalidade Racionalismo e Racionalidade

Racionalismo baseado na fé e

na Tawhid como um dos

alicerces.

Direitos e

interesses

Proteger os direitos e

interesses dos acionistas

Os direitos da comunidade em

relação a empresa.

Proteger os interesses de

todos os stakeholders ou

partes interessadas, mas desde

que respeite as regras da

Sharia.

Objetivo

corporativo

Acionistas controlando os

administradores com a

finalidade de maximizar

seus lucros

Sociedade controlando as

corporações com o

propósito de garantir o

bem-estar social

O objetivo corporativo deve

ser equilibrado com a Sharia

Natureza da

gestão Administração controlada

Acionista controlador

controlado

Conceito de vice regência,

vice gerente ou Khalifa

Conselhos de

Gestão

Conselho de

Administração

Dois níveis de Conselho:

Executivo e de Supervisão

Conselho de Supervisão da

Sharia como parte da

estrutura de Governança

Corporativa

Propriedade e

estrutura de

Capital

Propriedade amplamente

dispersa, com priorização

da distribuição dos

dividendos

Bancos e demais corporações

são os grandes acionistas, mas

com distribuição dos

dividendos menos priorizada

Acionistas, depositantes ou

titulares das contas de

investimento

Fonte: Adaptado de Rhodes e Van Apeldoom (1998).

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A versão simplificada acima das diferenças dos conceitos islâmicos e ocidentais de

governança corporativa fornece uma visão geral das diversas abordagens de estilo e

estrutura de governança corporativa. Com respeito ao método epistemológico, o

Islamismo rejeita a racionalidade e o racionalismo como a única episteme do governo

corporativo e o substitui pela episteme de Tawhid. Enquanto o modelo de acionistas

prioriza apenas o valor dos acionistas e a orientação ao valor das partes interessadas

protege todos os interesses e direitos das partes interessadas, o objetivo da governança

corporativa no Islã equilibra a meta corporativa de maximizar o lucro com o dever de

defender o princípio de justiça social e maqasid. Sharia e isso implica a noção de proteger

os interesses e direitos de todas as partes interessadas dentro das regras de Sharia.

A natureza da gestão do modelo de governança corporativa é baseada nos princípios

fundamentais da Shura, com o conselho de Sharia desempenhando um papel significativo

na supervisão e supervisão das atividades corporativas gerais, de modo a garantir que elas

cumpram os princípios de Sharia. Em contraste com o conceito ocidental, a natureza da

estrutura de propriedade na governança corporativa considera os acionistas e os IAH os

legítimos proprietários, e não só os acionistas. As características e características distintas

da governança corporativa combinam o elemento das regras da Tawhid, Sura, Sharia e

da moralidade islâmica para manter a meta privada sem ignorar o dever de bem-estar

social (RHODES; VAN APELDOOM, 1998).

De modo geral, diferentemente do modelo ocidental de governança corporativa, a

dimensão fundamental da governança corporativa islâmica está enraizada nos princípios

fundamentais do Tawhid, no processo que aplique a shura, nos direitos de propriedade e

na obrigação contratual. Com base nessas aspirações, os participantes-chave em

governança corporativa na corporação islâmica, particularmente IFIs, como o Conselho

de Administração, os acionistas, os depositantes, os gerentes e particularmente o conselho

de Sharia, desempenham papéis significativos na garantia dos objetivos da Sharia. Diante

disso, o objetivo da empresa é realizado dentro dos parâmetros do Sharia e dos valores

da ética islâmica. Na verdade, a disseminação dos negócios bancários islâmicos e o forte

crescimento do setor financeiro islâmico, juntamente com o crescente número de IFIs,

exigem um arranjo organizacional específico na forma de governança Sharia como parte

de um sistema corporativo islâmico e estrutura de governança (ABU-TAPANJEH, 2009).

Uma das versões da estrutura de governança corporativa islâmica é ilustrada por Abdul

Rahim (1998), que apresenta a estrutura que integra os preceitos morais islâmicos e

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enfatiza as instituições da shura, isbah e auditoria religiosa como principais componentes

da estrutura de governança corporativa. A instituição de shura, que consiste na

administração, Conselho de Administração, acionistas, funcionários, clientes e outras

partes interessadas, pode garantir a eficácia de qualquer tomada de decisão corporativa

que possa afetar a corporação. A instituição de isbah e o auditor religioso desempenham

um papel no monitoramento das atividades corporativas com relação aos aspectos

regulatórios e morais, enquanto os conselhos de Sharia estão preocupados com a emissão

de decisões legais e o fornecimento de serviços de assessoria e supervisão da Sharia.

Um quadro mais abrangente da governança corporativa islâmica é ilustrado por

Choudhury e Hoque (2004). Eles localizam claramente a estrutura de governança e o nível

apropriado de cada instituição, seus papéis e funções, objetivos e metas e as leis que

regem a corporação com base na epistemologia de Tawhid e shura. Nienhaus (2007)

também oferece outra ilustração da estrutura de governança corporativa islâmica,

insistindo nos aspectos da estrutura regulatória da lei islâmica, bem como leis e

regulamentos bancários gerais. Banaga et al. (1994) conceitua uma estrutura integrada

que incorpora uma cultura corporativa e mecanismo de controle dentro de um cenário

islâmico. No geral, Banaga et al. (1994), Choudhury e Hoque (2004), Abdul Rahman

(2007) e Nienhaus (2007) tendem a concluir que uma estrutura conceitual da governança

corporativa islâmica deve levar em conta o elemento da epistemologia de Tawhid, o

processo que aplique a shura, o conceito de vice regência (khalifah), a justiça social (al-

adl wal ihsan), prestação de contas (taklif), aspectos regulatórios da lei islâmica, leis e

regulamentações bancárias gerais e os princípios da moralidade islâmica. Apesar de ter

esta estrutura conceitual sólida, há um grande desafio sobre como abordar os problemas

na operacionalização de tal estrutura, para integrar todos os princípios e internalizar as

normas islâmicas na corporação. De fato, Banaga et al. (1994) mencionam que a

implementação de Sharia, padrões éticos e morais em uma organização empresarial

islâmica, não necessariamente será seguida com excelente desempenho econômico.

A fim de entender e apreciar a estrutura de governança corporativa nas IFIs, é essencial

examinar os papéis e deveres de vários de seus principais participantes, ou seja, os

acionistas e depositantes, o CA, a alta administração e o CSS. Ao contrário de suas

contrapartes convencionais, a junta de Sharia, auditores e depositantes religiosos,

especialmente os titulares de conta de investimento, são participantes-chave adicionais

para governança corporativa nas IFIs.

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O Quadro 7 ilustra os principais participantes em governança corporativa em IFIs e

menciona brevemente suas funções funcionais.

Quadro 7 – Principais agentes de Governança Corporativa em IFIs

Participantes Interesses Funções

Autoridade

Regulatória Estabilidade Econômica

Estabelecer diretrizes para o estabelecimento

de uma governança corporativa sólida e

adequada

Autoridade

Supervisora

Conformidade ou Compliance com

as Leis e Regulamentos

Supervisionar e monitorar a eficácia da

governança corporativa e verificar a

conformidade com os regulamentos

Acionistas

Maximização do lucro; lucro

satisfatório por ação; dividendos;

acima da media retorno do

investimento; e excelente

crescimento contínuo

Nomear conselheiros adequados, auditores de

gestão e Conselho de Supervisão da Sharia.

Titulares das

Contas Bancárias

Reembolso de depósitos no

vencimento nos prazos acordados;

proteção de seus interesses e lucros

Monitorar desempenho dos investimentos

Conselho de

Supervisão

Sharia

Compliance com a Sharia

Garantir o cumprimento da Sharia e proteger

os direitos e interesses dos depositantes e

demais partes interessadas

Conselho de

Administração

Compensação monetária e não

monetária; gerenciar a empresa de

forma eficiente, eficaz e com alta

integridade; e excelente reputação

corporativa e Técnica

Definir a direção e políticas das IFIs

Administradores

Compensação monetária e não

monetária; e compromisso com as

reivindicações dos acionistas

Implementar as políticas definidas pelo

Conselho de Administração

Fonte: Autor (2018).

A autoridade reguladora, como órgão externo de governança, desempenha um papel

fundamental na governança corporativa, definindo o ambiente regulatório e legal para

facilitar uma estrutura sólida de governança corporativa. Também tem responsabilidades

para fornecer diretrizes apropriadas para as IFIs, para desenvolver o controle interno,

procedimentos de gerenciamento de risco e padrão de transparência, e para monitorar a

operação geral da IFI. Dessa forma, a autoridade supervisora tem o dever de supervisionar

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e monitorar a eficácia do sistema de governança corporativa e de verificar o cumprimento

de tais regulamentos.

No que diz respeito à instituição interna de governança, os acionistas têm a

responsabilidade de nomear os Conselheiros adequadamente, auditores de gestão, bem

como um Conselho de Supervisão Sharia. Ao contrário dos bancos convencionais, as

funções dos acionistas nas IFIs são estendidas para incluir o dever de nomear um conselho

de Sharia. Isto é afirmado pelas Normas de Governança da AAOIFI, que exigem que a

nomeação do conselho de Sharia seja feita pelos acionistas na assembleia geral. Isso

demonstra a singularidade das IFIs, onde os acionistas desempenham um papel na eleição

e nomeação dos membros do conselho do Sharia. Esta posição é essencial para indicar

que o conselho de Sharia é independente do CA, de modo a capacitá-los a fornecer

funções de consultoria e supervisão sem vieses.

O escopo da governança corporativa foi ampliado para as IFIs incluírem não apenas a

proteção dos acionistas, mas também dos depositantes, especialmente os titulares das

contas bancárias. Isso ocorre porque os depositantes nas IFIs estão expostos a um risco

muito maior do que nos bancos convencionais. O modus operandi de um depósito em um

banco islâmico, especialmente uma conta de investimento, implica participação nos

resultados financeiros do emprego de fundos (NIENHAUS, 2007). Isso indica que a

governança corporativa nas IFIs deve levar em consideração o interesse dos depositantes

como uma das principais partes interessadas.

Os titulares das contas bancárias nas IFIs participam dos lucros e perdas, uma vez que

seus investimentos não são explicitamente garantidos, como no caso das instituições

financeiras convencionais. No contexto real das IFIs, os titulares das contas bancárias não

estão expostos diretamente aos riscos dos negócios bancários islâmicos, pois não estão

envolvidos na administração e não têm direito a voto nas assembleias de acionistas. Os

depositantes estão expostos indiretamente para os riscos incorridos em duas situações,

nomeadamente o sistema de seguro de depósito não garante depósito à vista para além de

um certo limite e as perdas sofridas pelos bancos nos seus pagamentos de lucros e perdas

podem ser substanciais e o capital e reservas mais depósito de investimento podem não

ser suficiente para cobri-los (CHAPRA; AHMED, 2002). Essa posição levanta várias

questões relativas aos direitos e interesses dos titulares das contas bancárias e exige

precauções extras em termos de boa governança, a fim de ganhar a confiança dos

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depositantes e, ao mesmo tempo, proteger os direitos e interesses dos principais

acionistas.

O CA desempenha um papel importante na especificação dos objetivos estratégicos,

princípios orientadores, código de conduta e padrão de comportamento adequado dos

funcionários (CHAPRA; AHMED, 2002). A boa governança exige que o CA seja não

apenas profissionalmente competente no aspecto de riscos, estratégias de negócios e

negócios bancários, mas também tenha as qualificações adicionais para entender e

apreciar o maqasid Sharia, além de ter pelo menos uma compreensão básica de Regras e

princípios de Sharia. A motivação de administrar a corporação não é apenas para fins de

maximização do lucro dos acionistas, mas para promover o bem-estar de todas as partes

interessadas. Neste ponto, os princípios 13 ao 17 do IFSB 3 estabelecem que o CA será

responsável por orientar o estabelecimento de uma estrutura de políticas de governança

(IFSB, 2006). Esses princípios exigem que o CA não se preocupe apenas com a estratégia

de negócios voltada para o lucro da empresa, mas também considere os interesses e

direitos de todas as partes interessadas, como depositantes, funcionários e consumidores.

Ao contrário do CA, a gerência tem o dever fiduciário de implementar as políticas e

estratégias definidas pelo CA. A administração é um agente ou wakil para o CA e atua

como fiduciário não apenas para o CA, mas também para os acionistas e outras partes

interessadas. Portanto, é importante que a administração seja honesta e coerente em todos

os momentos e em todos os assuntos. Isto é também é essencial que a administração esteja

verdadeiramente ciente do princípio do maqasid Sharia e de outros princípios islâmicos,

de modo a assegurar que os interesses de todos os interessados sejam protegidos no

exercício de suas funções. O IFSB 3 considera a gestão como uma entidade crucial para

garantir que a direção e todas as transações comerciais atendam aos requisitos do Sharia

e estejam alinhadas com os interesses de todas as partes interessadas, pois envolvem as

atividades diárias das IFIs (IFSB, 2006).

Um dos principais participantes essenciais da governança corporativa islâmica é o

conselho de Sharia. O conselho de Sharia é uma instituição que só pode ser encontrada

na estrutura organizacional das corporações islâmicas. O Princípio 13 do IFSB 3 exige

que cada IFI estabeleça um conselho de Sharia que inclua pelo menos três membros para

supervisionar e monitorar a implementação da estrutura de governança, trabalhando em

conjunto com a administração e o comitê de auditoria (IFSB, 2006). O Conselho de

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Supervisão Sharia (CSS) é considerado parte dos membros de governança corporativa

que desempenham papéis essenciais na supervisão e monitoramento das práticas da

Sharia. Basicamente, as funções do conselho de Sharia são duplas, isto é, consultivas e

de supervisão, e incluem aconselhar IFIs em suas operações, analisar e avaliar aspectos

de Sharia de quaisquer atividades bancárias e financeiras, e monitorar e supervisionar a

extensão de Conformidade de Sharia.

Em suma, a governança corporativa no Islã adiciona valor adicional à estrutura de

governança existente, uma vez que enfatiza os elementos de fé, ética e princípios de

Sharia. Uma característica única do modelo de governança corporativa islâmica requer

outra camada de estrutura de governança para realizar todos esses elementos. A esse

respeito, as IFIs precisam de um arranjo organizacional específico como parte de sua

estrutura de governança corporativa para fins de conformidade com Sharia e para

assegurar uma supervisão independente efetiva sobre questões relacionadas a Sharia.

2.8.3 Governança Sharia

O sistema de Governança Sharia, conforme definido pelo IFSB nº 1018, refere-se a um

conjunto de arranjos institucionais e organizacionais para supervisionar os aspectos de

conformidade de Sharia nas IFIs. A esse respeito, a maioria das IFIs estabeleceu suas

próprias diretorias de Sharia e algumas delas até criaram uma unidade de revisão ou

departamento interno dedicado a apoiar o Conselho de Supervisão Sharia no

cumprimento de suas funções. Isso indica um desenvolvimento positivo no aspecto do

sistema de governança Sharia nas IFIs. Olhando para as diferentes estruturas e estilos de

governança de Sharia em vários ambientes legais e diversos modelos bancários, vale a

pena examinar o marco regulatório do sistema de governança de Sharia nas jurisdições

que compõem a seleção amostral desta tese, isto é, os países do CCG.

Até agora, ainda é discutível se o primeiro ou o segundo é mais prevalente e apropriado

para uma possível adoção. Para ilustrar essas diversas abordagens, o Quadro 8 apresenta,

ao menos, quatro das perspectivas de governança corporativa, à luz da Sharia, sob a

perspectiva regulatória:

18 O guia completo dos princípios Sharia a serem serguidos pelas Instituições que oferecem serviços

financeiros islâmicos pode ser consultado em: https://ifsb.org/standard/IFSB-

10%20Shariah%20Governance.pdf

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Quadro 8– Modelos de Governança Sharia Modelos Características

Abordagem

Reativa

Este modelo é o mais prevalente em países do ambiente jurídico não-islâmico, como

o Reino Unido e a Turquia. Como os bancos convencionais, as IFIs são obrigadas a

cumprir a legislação e os regulamentos existentes. Além disso, as IFIs têm o dever de

garantir que todas as suas operações e produtos comerciais sejam compatíveis com

Sharia. Não há legislação específica que regule as IFIs ou qualquer diretiva das

autoridades reguladoras especificando os requisitos de governança da Sharia. Nesse

sentido, os reguladores só reagirão e intervirão nas questões de governança de Sharia

se houver qualquer questão significativa envolvida que possa afetar o setor financeiro.

Por exemplo, a Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido só vê o papel

desempenhado pelos Conselhos de Sharia das IFIs como sendo de assessoria e

supervisão e não como tendo autoridade executiva como no caso de um Conselho de

Administração.

Abordagem

Passiva

Este modelo é exclusivo do modelo de governança Sharia na Arábia Saudita. A

Agência Monetária da Autoridade Saudita (SAMA) trata as IFIs como iguais às suas

contrapartes convencionais. A SAMA ainda não emitiu legislação referente às

finanças islâmicas e diretrizes sobre um sistema de governança Sharia.

Abordagem

Minimalista

Este modelo é praticado principalmente pelos países do CCG, com exceção de Omã

e Arábia Saudita. Ao contrário da abordagem reativa, o modelo minimalista permite

uma ligeira intervenção por parte das autoridades reguladoras. As autoridades

reguladoras esperam que as IFIs tenham um sistema de governança Sharia adequado,

sem especificar os requisitos detalhadamente. Não há restrição para várias nomeações

do conselho de Sharia para se sentar em várias instituições em um determinado

momento. Algumas jurisdições em países do CCG, como Bahrein, Emirados Árabes

Unidos e Catar, favorecem a adoção dos padrões de governança da AAOIFI. A

abordagem minimalista prefere que o mercado desenvolva seu próprio sistema de

governança Sharia, em vez de ter maior intervenção por parte dos reguladores.

Abordagem

Intervencionista

Embora a abordagem passiva seja exclusiva da Arábia Saudita, o modelo

intervencionista é exclusivo do modelo de governança Sharia no Paquistão. O modelo

intervencionista permite que instituições terceiras tomem decisões sobre questões de

Sharia relativas às finanças islâmicas.

Fonte: Adaptado de Balz (2008).

A estrutura existente de finanças islâmicas em várias jurisdições, islâmicas e não

islâmicas, demonstra as diversas práticas e modelos do sistema de governança Sharia.

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Algumas jurisdições preferem um maior envolvimento das autoridades reguladoras e

alguns países preferem o contrário (OUSAMA; FATIMA, 2010).

Dessa forma, o arranjo institucional de governança de uma IFI, comparativamente ao de

se par convencional é ilustrado no Quadro 9 a seguir:

Quadro 9 – Arranjo Institucional de Governança Corporativa Convencional e Islâmica

Funções Presente nas Instituições Financeiras

Convencionais

Exclusivo de Instituições Financeiras

Islâmicas

Governança Conselho de Administração (CA) Conselho de Supervisão Sharia (CSS)

Controle Auditor Interno e Auditor Externo Revisão e validação da Sharia (interna e

externa)

Compliance Diretoria de conformidade regulatória e

financeira Unidade interna de Sharia Compliance

Fonte: Adaptado de IFSB (2009).

O quadro acima indica inicialmente que IFIs e instituições financeiras típicas

compartilham arranjos institucionais comuns para sua estrutura de governança

corporativa, particularmente nos aspectos de governança, controle e conformidade. O

único elemento que diferencia a governança corporativa nas IFIs é o arranjo institucional

para o mecanismo de governança do Sharia. As IFIs requerem outro conjunto de arranjos

organizacionais na forma de uma junta de Sharia, uma revisão interna ou externa de

Sharia e uma unidade de conformidade interna de Sharia para atender ao requisito

religioso de conformidade com Sharia em todos os aspectos de suas transações

comerciais e operações (OUSAMA, 2010).

Em termos de estrutura de governança, o sistema de governança Sharia acrescenta uma

camada adicional de governança à estrutura de governança corporativa existente. O

quadro acima demonstra ainda a estrutura única de governança corporativa em IFIs

típicas, na qual o conselho de Sharia e a revisão interna ou externa de Sharia são as

instituições adicionais que supervisionam os aspectos de conformidade do Sharia. Isto é,

na verdade, baseado nos padrões de governança da AAOIFI, que colocam o conselho de

Sharia em pé de igualdade com o CA na estrutura de governança corporativa e, portanto,

está sujeito diretamente aos acionistas. A abordagem do IFSB 1019, por outro lado, coloca

o conselho de Sharia como paralelo ou subordinado ao CA. No entanto, as diretrizes do

19 Para mais detalhes, ver: https://ifsb.org/standard/IFSB-10%20Shariah%20Governance.pdf

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AAOIFI e do IFSB concordam que o conselho do Sharia deve ser independente do CA e

ser responsável não apenas pelos acionistas, mas por todas as partes interessadas.

2.9 Ética nas Finanças Islâmicas

A ética é um conjunto de princípios morais que distinguem o que é certo do que está

errado. A ética avalia as práticas humanas invocando padrões morais. Também pode dar

conselhos prescritivos sobre como agir de forma moral em uma determinada situação.

(BLASI, 1980). Nessa mesma esteira, podemos diferenciar ética e moral, que muito

embora sejam temas relacionados, são diferentes, pois moral se fundamenta na

obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos e a

ética, busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano. Na filosofia, a ética

não se resume à moral, que geralmente é entendida como costume, ou hábito, mas busca

a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver; a busca do melhor estilo

de vida. A ética abrange diversos campos, como antropologia, psicologia, sociologia,

economia, pedagogia, política, e até mesmo educação física e dietética.

Alguns conceitos, princípios e abordagens poderiam ser questionados, considerando a

teoria positiva em Contabilidade como, por exemplo, a abordagem ética uma vez que no

pano de fundo das pesquisas sobre mercado de capitais o fato de os agentes econômicos

sempre procurarem o melhor para si, em termos econômicos, não deixa muita margem

para valores como ética, justiça, distribuição social e outros. Cada um age de acordo com

o que é melhor para sua situação econômica. Como disciplina eminentemente social,

todavia, a Contabilidade não pode ser imoral ou privilegiar, em prejuízo de outros, certos

stakeholders. Não impede que certos agentes possam ter um grau de detalhe de

informação maior do que outros, de acordo com as necessidades de seu modelo decisório.

Desde que os outros tenham o mínimo necessário para poder fazer inferências com

relação à entidade. Essa situação é bastante delicada e os limites entre o comportamento

hedonista, de um lado, e a inobservância de regras de equidade, de outro, são muito

tênues. Assim, a denominada abordagem ética da Contabilidade permanece quase que

como um santuário de propósitos, uma promessa que se faz, da mesma forma que os

crentes procedem com relação a Deus, ou seja, de não pecar, de comportar-se com justiça

e retidão, de não prejudicar ninguém (IUDÍCIBUS; MARTINS; CARVALHO, 2005).

Para os muçulmanos, a ética sempre foi considerada uma parte do seu modo de vida,

sendo indissociada da religião. Consequentemente, a ética comercial não pode ser

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separada da ética presente em todos os aspectos de sua vida. As finanças islâmicas

decorrem do princípio de que a religião não pode ser separada de qualquer aspecto da

vida, incluindo os negócios. As relações comerciais no quadro islâmico são

principalmente baseadas em éticas a partir de crenças religiosas, confiança e fé. As

normas, valores e crenças religiosas devem regular o comportamento humano na

sociedade. (BEEKUN, 1996).

Os ensinamentos do Islã visam permitir que valores morais estejam presentes em todos

os aspectos da vida cotidiana e em sociedade, incluindo a atividade financeira e

econômica. O islã como religião não se restringe à recitação diária do Corão ou ao jejum,

mas abrange toda a vida humana, uma vez que reconhece o secular e o espiritual.

O seguinte verso do Corão (HAYEK, 1994) afirma que:

A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao

poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Allah, no Dia do Juízo Final,

nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade

por amor a Allah, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e

em resgate de cativos (escravos). Aqueles que observam a oração, pagam o

zakat, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na

adversidade, ou durante os combates, esses são os verazes, e esses são os

tementes (AL BÁCARA, 2:177).

A partir das formulações e contribuições da teoria da Sharia e das consequentes

derivações de princípios e valores que devem orientar o funcionamento do sistema

econômico de modo geral, e cientes de que esse sistema requer estruturas de

financiamento ou provimento de recursos para operar, o pensamento muçulmano,

marcadamente a partir dos anos 1950, concebeu um conjunto específico de premissas e

princípios voltados para nortear as práticas financeiras no Islã (AL-QARADAWI, 1985).

As finanças islâmicas, genuinamente baseadas em valores éticos e morais atribuíveis aos

ensinamentos do Corão, também dão prioridade às questões éticas e sociais e, portanto,

representam uma alternativa não só para os adeptos da religião islâmica (WAJDI, 2008).

Os não-muçulmanos também procuram investimentos socialmente responsáveis.

Confiança, benevolência, justiça e equilíbrio representam os pilares da ética empresarial

islâmica. (EL GARAH, 2012).

As sucessivas crises financeiras internacionais levaram a uma atitude cada vez mais

crítica em relação ao mercado bancário tradicional. Embora a teoria da carteira de

Markowitz sugira que os investidores preferiam carteiras com um retorno máximo,

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minimizando seus riscos, questões éticas e religiosas podem ter um impacto sobre essas

decisões (ABDELSALAM et al., 2014)

Como uma alternativa, os investidores hoje em dia são capazes de escolher bancos

islâmicos, uma vez que não existem restrições. Com o objetivo de melhorar bem-estar

econômico e social, muitas vezes é visto como tendo sua própria identidade ética

(HANIFFA; HUDAIB, 2007). Isso resulta dos objetivos subjacentes da Sharia - justiça,

justiça e equilíbrio social - que desempenham um papel importante na sociedade.

Dessa forma, o papel primordial dos bancos islâmicos, observando o alicerce ético é o de

manter um equilíbrio entre a satisfação das necessidades do cliente em termos de retornos

suficientes e preços razoáveis, bem como atender às suas responsabilidades sociais e

religiosas. A Figura 8 a seguir ilustra uma visão sintetizada das inter-relações entre

princípios e instrumentos financeiros em uma economia islâmica, destacando sua vertente

ética, visto que os ensinamentos islâmicos contêm muitos deles. No Corão Sagrado, um

quinto de seus versos são dedicados a Muamalat (transações comerciais).

Figura 8 – Inter-relação entre Ética e Economia Islâmica

Fonte: Autor (2018).

O muçulmano segue tais diretrizes por acreditar que elas o ajudem a distinguir entre o

que é ético e moralmente aceito do que é ilícito e condenável. Para fazer isso, a economia

islâmica oferece uma série de alternativas e instrumentos que podem ajudar a atingir esses

valores.

Liberdade Justiça

Compaixão Moderação Fraternidade

investimento - consumo - poupança - comércio - distribuição - transações Atividades

Econômicas

Ética

Instrumentos

Financeiros

Proibição da

Riba, Maysir

e Gharar

Caridade e

atividades

benevolentes

Finanças

Islâmicas Papel

Econômico

do Estado

Propriedade

pertence à Deus Tawhid Crença no

Futuro

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3 DIVULGAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)

SOB A PERSPECTIVA ISLÂMICA

Este Capítulo delineará os principais conceitos que emergem da literatura de divulgação

e as práticas que devem ser examinadas, considerando a proposta desta tese, tais como o

conceito de RSC, do ponto de vista islâmico, os princípios éticos na promoção da

divulgação de RSC, o papel do AAOIFI e a divulgação da RSC em bancos islâmicos. Os

bancos islâmicos, como já discutido, têm como finalidade conduzir suas atividades com

base nos princípios da religião islâmica. Portanto, é importante discutir também o

conceito de RSC, sob uma perspectiva islâmica. Dessa forma, o Capítulo fornecerá uma

visão clara do motivo pelo qual os bancos islâmicos têm que ser socialmente responsáveis

perante a comunidade, ao mesmo tempo em precisam atingir os objetivos da empresa.

Será apresentada, inicialmente, a discussão acerca das diversas Teorias de Divulgação da

RSC, para posterior explanação das seguintes Teorias: Teoria da Agência, Teoria dos

Stakeholders, Teoria da Legitimidade, Teoria da Responsabilização, a Teoria da

Sinalização e a Teoria Econômica. Em seguida, avança para a Responsabilidade Social

sob a perspectiva islâmica, evidenciando as divulgações necessárias à luz do AAOIFI e

os modelos contemporâneos islâmicos de RSC.

3.1 Contextualização

A revisão da literatura envolvendo a divulgação da RSC demonstra que as pesquisas se

concentram na responsabilidade dos negócios em relação a seus stakeholders, incluindo

clientes, fornecedores, funcionários, comunidades e outras partes interessadas (ARIBI,

2009). Considera-se que essa responsabilidade se estende além da obrigação estatutária

de cumprir a legislação ou as normas vigentes e, voluntariamente, cuida e divulga

informações a esses interessados e a sociedade em geral. Atualmente, essas questões

tornaram-se tópicos fundamentais para acadêmicos, organizações e formuladores de

políticas de divulgação (CAPRON; GRAY, 2000; ARIBI, 2009; PLATONOVA, 2014).

Para responder a essa questão, o Accounting and Auditing Organization to Islamic

Financial Institutions (AAOIFI) assumiu a responsabilidade de emitir os padrões de

governança para as Instituições Financeiras Islâmicas (IFI), que fornecem orientações

claras sobre a divulgação de RSC para bancos islâmicos.

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Gray et al. (2009) afirmam que a lente da teoria nos permite avaliar a prática e a política

em relação a critérios que consideramos apropriados. Geralmente, a literatura apresenta

muitas teorias para explicar a variação entre entidades em termos de seu nível de

divulgação. Diversas vertentes teóricas foram desenvolvidas para explicar os incentivos

dos administradores à divulgação. No entanto, não existe uma teoria de divulgação geral

ou abrangente que possa ser aplicada, portanto, devem ser analisadas de forma

complementar (VERRECCHIA, 2001).

Aparentemente, cada teoria explica diferentes aspectos da divulgação corporativa ou olha

para este fenômeno a partir de diferentes perspectivas (AL-HTAYBAT, 2012). Portanto,

argumentou-se que várias teorias poderiam ser usadas em uma estrutura integrada para

fornecer uma explicação para incentivos gerenciais, que afetam a divulgação de RSC

(VERRECCHIA, 2001; AL-HTAYBAT, 2012). Inúmeras teorias poderiam explicar os

fenômenos da divulgação, como a Teoria dos Stakeholders, a Teoria da Agência, a Teoria

da Sinalização e a Teoria do Accountability. No entanto, explicar a divulgação apoiada

apenas por uma única teoria não é suficientemente razoável.

Al-Htaybat et al. (2012) argumentam que as teorias de divulgação, como a teoria da

agência e a teoria dos stakeholders, seriam de grande valia para explicar um fenômeno

particular, fornecendo insights claros na compreensão das práticas de divulgação da RSC.

Além disso, poderia ser considerada como um aspecto complementar das discussões de

divulgação. Estudos anteriores (e.g., FAROOK et al., 2011) argumentam que existe uma

consistência entre a teoria da agência e a Teoria dos Stakeholders. Portanto, a Teoria da

Agência e a Teoria dos Stakeholders podem ser consideradas como teorias inter-

relacionadas para explicar os determinantes da divulgação da RSC.

Em geral, a Teoria da Agência é de grande relevância nas áreas de Finanças, Economia e

Contabilidade. Jensen e Meckling (1976) descreveram a Teoria da Agência com base nos

conflitos de interesse originados da relação entre o principal (proprietário do capital da

empresa) e o agente (responsável pela gestão dos recursos da empresa). Segundo os

autores, a teoria pressupõe a existência de problemas de agência oriundos de decisões

tomadas pelos gestores da empresa que visam maximizar sua utilidade pessoal ao invés

da riqueza dos acionistas.

Tais evidenciações de informações pelas entidades são abordadas pela Teoria da

Divulgação. Na qual se destacam os estudos seminais de Verrecchia (1983) e Dye (1985)

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sobre o disclosure. Quase duas décadas depois desses estudos, Verrecchia (2001) foi

designado pelo periódico Journal of Accountig and Economics a fazer um compêndio das

pesquisas contábeis realizadas até então que buscassem explicar fenômenos relacionados

à divulgação de informações contábeis. Identificou três categorias de pesquisa sobre os

processos da divulgação de informações na contabilidade: a divulgação baseada em

associação (association based disclosure), a divulgação baseada em eficiência (efficiency

based disclosure) e a divulgação baseada em julgamento (discretionary based disclosure)

3.2 Teorias de Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa (DRSC)

Diversas teorias foram desenvolvidas para explicar as razões subjacentes às práticas de

divulgação da RSC. Garriga e Melé (2004), por exemplo, classificaram as teorias de RSC

em quatro categorias principais: Teorias Instrumental, Política, Integradora e Ética. Ao

classificar essas teorias, Gray et al. (1995) identificaram Teorias da Utilidade,

Econômicas, Sociais e Políticas que são usadas pelos pesquisadores para encontrar um

arcabouço teórico para estudos empíricos sobre a RSC e para relacionar

significativamente a teoria com suas descobertas.

As Teorias Sociais e Políticas estão preocupadas com o papel da informação e da

divulgação em relação às relações entre indivíduos, o estado e as organizações. Essas

teorias enfocam no poder das corporações na sociedade e o uso responsável do poder na

esfera política. Essas teorias são consideradas as mais adequadas para explicar a

divulgação da RSC. De fato, as teorias orientadas à sistemas, tais como a Teoria dos

Stakeholders, Teoria da Legitimidade e a Teoria Política, são as principais teorias que

dominaram a literatura de divulgação da RSC (DEEGAN et al., 2002).

Verrecchia (2001), ao iniciar seu estudo, sinaliza que não consegue identificar

prioritariamente uma Teoria da Divulgação. Na sequência, Dye (2001) tece críticas ao

trabalho realizado por Verrecchia (2001), ao contrapor que o aspecto endógeno seria o

coração da Teoria da Divulgação. A partir da categorização das pesquisas na temática da

divulgação, Verrecchia (2001) propõe uma taxonomia que engloba, de modo amplo, as

pesquisas identificadas, o momento de ocorrência da divulgação (ex ante ou ex post) e o

processo de divulgação (caráter endógeno ou exógeno). Assim, as pesquisas são

categorizadas em: Divulgação Baseada em Associação, Divulgação Baseada em

Julgamento e Divulgação Baseada em Eficiência.

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A Divulgação Baseada em Associação compreende as pesquisas que relacionam o

fenômeno da informação divulgada e seus reflexos para investidores e o mercado de

capitais. Busca-se identificar mudanças no comportamento dos preços dos ativos (opções

de ações negociadas) e o volume negociado. Nesta abordagem presume que os

investidores competem no mercado de capitais em busca da maximização de sua riqueza.

O estudo de Ball e Brown (1968), pioneiro neste aspecto, buscou evidenciar de modo

empírico a influência da informação contábil no mercado de capitais. Beaver (1968)

estudou o volume negociado e o comportamento dos preços nas semanas próximas à

divulgação das informações contábeis. Seu estudo encontrou forte relação entre a

evidenciação de informações e as reações do mercado de capitais refletidas nos preços e

no volume negociado.

3.2.1 Teoria da Agência

O mais dominante de todos os estudos de divulgação é a Teoria da Agência, que tem sido

amplamente referenciada em muitos estudos de divulgação. Essa teoria refere-se

basicamente a uma relação entre o principal e o agente. Jensen e Meckling (1976)

definiram o relacionamento de agência como um contrato, sob o qual o principal contrata

um agente para realizar um serviço em seu nome. Eles também identificaram os três tipos

de custos de agência, que estão associados a problemas de agência. Em primeiro lugar,

há custos de monitoramento que são incorridos, dando certos incentivos para o agente, o

que o motiva a agir pelos principais interesses. Em segundo lugar, os custos de ligação,

que ocorrem quando o agente utiliza recursos adicionais para garantir que suas ações não

sejam contra o principal dos juros. Em terceiro lugar, há a perda residual que resulta na

redução do bem-estar do principal.

Estudos anteriores também usaram a teoria da agência para explicar a decisão de divulgar

informações de RSC, como informações sociais e ambientais (e.g., SHANE; SPICER,

1983; BELKAOUI; KARPIK, 1989; MIRZA; BAYDOUN, 1999). A Teoria da Agência

sugere que existe uma separação entre a propriedade e o controle de uma empresa. O

potencial custo de agência existe a partir dos conflitos de interesse entre os principais e

os agentes (gestores ou administradores). Cada parte toma uma decisão com base em seus

objetivos autodeterminados (SAFIEDDINE, 2009). Do ponto de vista da teoria da

agência, as empresas são motivadas a divulgar mais informações de RSC para convencer

as partes interessadas de que estão se comportando de forma ideal em nome delas, sua

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preocupação com as questões de RSC e, como resultado, reduzir todos os custos da

agência entre agente e principal.

A Teoria da Agência também fornece uma estrutura conceitual para explicar as práticas

de divulgação por diferentes empresas, tais como empresas financeiras e não financeiras

(HILL; JONES, 1992). Alega-se que a teoria da agência prevê que os custos de agência

estão associados a diferentes características corporativas, como tamanho, alavancagem e

tipo de propriedade (WATSON ET AL., 2002). Além disso, mecanismos de governança

corporativa (GC) são introduzidos pelos acionistas para alinhar as ações dos

administradores aos interesses dos acionistas. Como resultado, muitos estudos empíricos

usaram características das empresas e mecanismos de GC como determinantes da

divulgação social corporativa de acordo com os pressupostos da teoria de agência (e.g.,

HO; WONG, 2001; HANIFFA; COOKE, 2002; AJINKYA et al., 2005; GHAZALI;

WEETMAN, 2006; TAURINGANA; MANGENA, 2009; HUSSAINEY; AL-NAJJAR,

2011). A implicação dessa teoria deu origem a várias hipóteses, como a influência do

Conselho de Supervisão Sharia (CSS), que atua como um agente em nome dos bancos na

promoção da prática de divulgação de RSC.

Em outras perspectivas, problemas de assimetria de informação e conflitos de agência

poderiam existir entre os administradores das empresas e os stakeholders (HEALY;

PALEPU, 2001). Os atores externos geralmente não têm acesso às informações internas

sobre a empresa, que estão disponíveis apenas para a equipe de administradores.

Pesquisas anteriores (e.g., SHEU et al., 2010) mostram que a divulgação pode reduzir a

assimetria de informações entre insiders (administradores) e outsiders (stakeholders) e,

portanto, reduzir os conflitos de agência entre as partes. Como resultado, isso leva ao

aumento do valor da empresa (SHEU et al., 2010). Assim, a influência da divulgação da

RSC no valor da empresa (VF) também pode ser entendida com base na teoria da agência.

Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da divulgação da RSC

(QP 2) quanto as consequências dessas divulgações (QP 1).

3.2.2 Teoria dos Stakeholders ou das Partes Interessadas

A Teoria dos Stakeholders ou Teoria das Partes Interessadas concentra-se na suposição

de que o comportamento de vários grupos de partes interessadas incentiva a administração

a relacionar as necessidades corporativas com seu ambiente socioambiental. Freeman e

Reed (1983) definiram uma parte interessada como qualquer grupo ou indivíduo que pode

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afetar ou é afetado pela realização dos objetivos das organizações e sugeriu que as

corporações devem identificar suas partes interessadas diretas e indiretas. Mais tarde, ele

indicou que a teoria do stakeholder poderia ser usada como uma metáfora ou uma

compilação de diferentes narrativas; assim, não pode ser descrito como uma teoria devido

aos vários interesses das partes interessadas envolvidas. Tornou-se cada vez mais

evidente que as partes interessadas têm a capacidade de influenciar a maneira pela qual

as corporações conduzem a si mesmas e, em última análise, influenciam sua 'licença para

operar' (WILSON, 1997). Isso implica que se uma empresa não corresponder uma parte

interessada relevante, essa parte interessada pode pressionar a empresa para que ela atinja

suas expectativas. Segundo Ullman (1985), quanto maior a importância dos recursos das

partes interessadas ou o apoio a uma organização, maior a probabilidade de que as

expectativas das partes interessadas sejam incorporadas à operação de uma organização.

Em outras palavras, o nível de poder das partes interessadas aumenta à medida que

aumenta a importância de atender às demandas das partes interessadas (DEEGAN, 2000).

A Teoria das Partes Interessadas também reflete a incorporação da responsabilidade

social na estrutura de planejamento corporativo, tentando desenvolver uma estratégia

corporativa que atenda à aprovação dos principais grupos de partes interessadas de uma

organização e também fornece a explicação potencial da divulgação da responsabilidade

social em termos de capacidade de resposta corporativa à intensidade das demandas das

partes interessadas, orientação estratégica corporativa em relação às suas

responsabilidades sociais e trade-off entre os objetivos econômicos e sociais corporativos

(PARKER, 2005). Vários estudos também investigaram a relação entre a divulgação

social e a teoria dos stakeholders (e.g., FREEMAN; REED, 1983; ADAMS; HARTE,

1999). Adams e Harte (1999) usaram a teoria das partes interessadas para explicar as

decisões dos gerentes de divulgar certas informações sociais e ambientais em seu relatório

anual. Eles descobriram que as empresas não divulgariam informações sociais se

houvesse pouca demanda por tais informações ou que aqueles que as solicitassem não

fossem consideradas altamente proeminentes pela organização.

No entanto, essa Teoria foi criticada por apoiar a divulgação corporativa, respondendo

primariamente às partes interessadas mais poderosas e influentes (GRAY et al., 1995,

1997; DEEGAN, 2002). De acordo com a teoria dos stakeholders, espera-se que as

características de GC possam afetar os relatórios de RSC. Por exemplo, o tamanho do

conselho afetaria a prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos, pois eles

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fornecerão mais informações de RSC para atender às demandas de seus stakeholders.

Essa teoria será usada para testar as variáveis determinantes da divulgação de RSC e

responder a segunda questão de pesquisa (QP 2).

3.2.3 Teoria da Legitimidade

Esta Teoria propõe que as divulgações corporativas são feitas como reações a fatores

ambientais e não ambientais (incluindo sociais, econômicos e políticos) a fim de legitimar

ações e atividades corporativas. Patten (2005) sugere que a teoria é baseada na noção de

que os negócios (bancos islâmicos) operam na sociedade por meio de um contrato social

e, como tal, são monitorados através da arena de políticas públicas, e não do mercado.

Adams e Roberts (1998) também sugerem que essa teoria é usada pelas empresas para

legitimar suas atividades buscando apresentar a empresa como um cidadão corporativo

responsável. Em outras palavras, na legitimação de suas ações, divulgando todas as

atividades de RSC no relatório anual e justificando sua continuidade no mercado.

A Teoria da Legitimidade afirma que as organizações buscam continuamente assegurar

que operam dentro dos limites e normas de suas respectivas sociedades, o que é uma

tentativa de garantir que suas atividades sejam percebidas por terceiros como sendo

legítimas (DEEGAN, 2002). Suchman (1995) define a teoria da legitimidade como uma

percepção ou suposição generalizada de que as ações de qualquer entidade são desejáveis,

adequadas ou apropriadas dentro de algum sistema socialmente construído de normas,

valores, crenças e definições. De acordo com a teoria da legitimidade, uma empresa que

opera na sociedade, como os bancos islâmicos, tem um contrato social pelo qual concorda

em realizar várias ações socialmente desejadas em troca da aprovação de seus objetivos,

outras recompensas e sua sobrevivência final (GUTHRIE; PARKER, 1989). Deegan

(2002) argumenta que o contrato social não é fácil de definir, mas o conceito é usado para

representar a multiplicidade de expectativas implícitas e explícitas que a sociedade tem

sobre como a organização deve conduzir suas operações.

Lindblom (1994) sugere quatro maneiras para uma organização legitimar suas ações:

primeiro, educar e informar seus clientes relevantes sobre mudanças no desempenho e

nas atividades da empresa; em segundo lugar, mudar as percepções do público relevante,

mas não alterar seu comportamento real; em terceiro lugar, manipular a percepção

desviando a atenção das questões de interesse para outras questões relacionadas por meio

de uma apelação; e, por último, alterar as expectativas externas de seu desempenho.

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Assim, a interpretação desses estudos sugere que a divulgação de informações sociais

parece ser uma prova para os bancos islâmicos fornecerem informações sobre suas

atividades para legitimar seus comportamentos. Eles têm que divulgar informações

suficientes para avaliar se representam ou não um bom cidadão corporativo (MAALI et

al., 2006). Vários estudos têm procurado empregar a teoria da legitimidade como uma

forma de divulgação (e.g., DEEGAN; RANKIN, 1996; CAMPBELL, 2000; O’DWYER,

2002; STADEN, 2003; AHMAD; SULAIMAN, 2004; OGDEN; CLARK, 2005; DE

VILLIERS; VAN STADEN, 2006; BRANCO; RODRIGUES, 2008). No entanto, Gray

et al. (1995) e Deegan (2002) afirmam que a teoria da legitimidade se sobrepõe à teoria

político-econômica e à teoria institucional. Além disso, a teoria da legitimidade também

tem sido criticada por falta de especificidade e é incerta em sua capacidade de antecipar

e explicar o comportamento gerencial (PARKER, 2005).

Preocupada com as consequências econômicas para a divulgação social, a teoria da

legitimidade também argumenta que as corporações podem estar entusiasmadas em

divulgar informações sociais para legitimar sua posição dentro da sociedade (DEEGAN

et al., 2002). McDonald e Rundle-Thiele (2008) encontraram influências da RSC na

lucratividade corporativa por meio da criação de ativos intangíveis, como boa reputação,

confiança e comprometimento, que impulsionam o sucesso a longo prazo do negócio.

Isso melhora a capacidade da empresa de atrair recursos, melhorar o desempenho e criar

vantagens competitivas e aumentar o valor da empresa (VF) (FOMBRUN et al., 2000).

Pesquisa anterior difundida propõe que os relatórios de divulgação podem influenciar

positivamente as percepções dos stakeholders sobre o desempenho da empresa e,

portanto, sobre a rentabilidade das empresas e o preço das ações (LOURENCO et al.,

2012). Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da divulgação

da RSC, especificamente em bancos islâmicos, (QP 2) quanto as consequências e

implicações no valor dos bancos da região do CCG (QP 1).

3.2.4 Accountability

De acordo com a Teoria da Prestação de Contas (Accountability), o termo “prestação de

contas refere-se ao dever dos contadores (agentes/diretores/gerentes) de fornecer uma

informação ou relatório aos stakeholders (partes interessadas/usuários/sociedade). Tal

Teoria demonstra a responsabilidade dos gestores de cumprir um conjunto definido de

deveres ou tarefas e de conformar as regras e padrões aplicáveis aos seus cargos nas

empresas (JAGADEESAN et al., 2009). Segundo Gray et al. (1995), para serem

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socialmente responsáveis, os gestores das empresas são obrigados a fornecer todas as

informações financeiras e não financeiras às partes interessadas.

De um ponto de vista islâmico, os muçulmanos, bem como os bancos islâmicos, são

responsáveis perante Allah para obedecê-lo e adorá-lo, bem como para cumprir a Sharia.

Pode ser entendido que a responsabilidade pode ser determinada pela relação contratual

entre as diferentes partes (GRAY et al., 1995). Por outro lado, alguns estudiosos têm uma

visão mais profunda sobre o significado de responsabilidade. Gallhofer e Haslam (1994)

afirmaram que a responsabilidade não é tanto sobre responsabilizar e julgar o

comportamento; nem assume uma relação agência-princípio simples, mas a prestação de

contas parece equivalente à capacidade de prestar contas conducentes ao bem-estar.

A prestação de contas, de uma perspectiva islâmica, refere-se a uma responsabilidade

para Allah como um dos principais responsáveis, depois para a sociedade e outras partes

interessadas. Assim, a teoria da prestação de contas é aplicável para este estudo através

da extensão deste conceito para conter mais do que investidores e proprietários de bancos

islâmicos. No Islã, como criador, Allah tem uma propriedade absoluta dos recursos. Os

seres humanos são meros administradores neste mundo, portanto, eles são obrigados a se

comportar de acordo com a vontade de Deus, protegendo e cuidando uns dos outros e

outras criações de Deus, como a humanidade será responsável por suas ações em este

mundo no Dia do Juízo ou Al Quiamah (BAYDOUN; WILLETT, 1997; MAALI et al.,

2006). Prestação de contas no Islã também inclui a responsabilidade perante a

comunidade; Baydoun e Willett (2000) argumentaram que empresas, como os bancos

islâmicos, deveriam divulgar todas as informações exigidas por seus stakeholders e pela

sociedade, a fim de cumprir sua responsabilidade no fornecimento de informações de

RSC. Essa teoria será usada para testar as variáveis determinantes da divulgação de RSC

por parte dos bancos islâmicos (QP 2).

3.2.5 Teoria da Sinalização

Os relatórios anuais da empresa contêm informações que servem como sinais exigidos

pelos investidores. Os investidores empregam sinais como considerações ao tomar uma

decisão. A Teoria da Sinalização é valiosa para empresas e investidores porque as

informações fornecidas pelas empresas fornecem sinais que podem reduzir a assimetria

de informação. Este estudo faz uso principalmente da Teoria da Agência. É importante

notar também que alguns estudos anteriores usam a Teoria de Sinalização para explicar

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as decisões de divulgação corporativa (WANG et al., 2008). A Teoria da Sinalização é

considerada uma extensão da Teoria da Agência (MECKLING, 1976 JENSEN;

BUSKIRK, 2012). Spence (1973) introduziu a Teoria da Sinalização em 1973 através de

sua pesquisa sobre a lacuna de informação entre empregado e empregador. Ele foi

desenvolvido para explicar a assimetria de informações entre gerentes e acionistas

(MORRIS, 1987; BLACK et al., 2006). A Teoria da Sinalização pode ser aplicada no

caso de assimetria de informação e, portanto, esse problema pode ser reduzido quando a

parte que tem mais informações a envia para outras partes interessadas. A sinalização é

um fenômeno comum, aplicável em qualquer mercado com assimetria de informação

(MORRIS, 1987). Portanto, essa teoria foi usada para explicar os incentivos dos

administradores em divulgar mais informações em relatórios financeiros (HANIFFA;

COOKE, 2002).

Os gestores têm que divulgar informações adequadas nas demonstrações financeiras para

transmitir sinais específicos aos usuários em potencial. Morris (1987) afirma que, para

garantir que a sinalização de informações das empresas seja eficaz na redução da

assimetria de informação, os custos de sinalização devem ser suportados pelo agente, para

que eles tenham um incentivo para sinalizar com veracidade.

De acordo com a teoria de sinalização, um gestor divulga informações para reduzir a

assimetria de informação e sinalizar a pessoas de fora que uma empresa está tendo um

desempenho melhor do que seus pares (SÁNCHEZ et al., 2011). A Teoria da Sinalização

postula que os investidores confiam nas informações fornecidas pelas empresas, por meio

destes gestores (ABHAYAWANSA; ABEYSEKERA, 2009), destacando que a

credibilidade da informação é crucial para garantir menos assimetria informacional

(HUGHES, 1986). A esse respeito, uma empresa boa pode se distinguir de uma empresa

ruim enviando um sinal confiável sobre sua qualidade para os mercados de capitais. k e

Dittmar (2004) argumentam que um sinal só será credível se a empresa ruim escolher não

imitar a boa empresa enviando o mesmo sinal.

Dessa forma, a Teoria da Sinalização é o principal referencial teórico utilizado para

explicar a associação entre divulgação e valor da firma (VF). Com base nessa teoria, a

divulgação abrangente sinaliza melhores mecanismos de GC e menos conflitos de

agência, levando, portanto, a um maior valor da empresa (VF) (SHEU et al., 2010).

Argumenta-se que as divulgações voluntárias no relatório anual enviam sinais ao mercado

que devem aumentar o valor presente líquido de uma empresa e, consequentemente, o

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valor do mercado de ações (GORDON et al., 2010). Curado et al. (2011) apontam que a

divulgação corporativa influencia o valor da firma (VF) como percebido pelos mercados.

Cormier et al. (2011) afirmam que a divulgação fornece informações relevantes para o

valor dos mercados de ações. Álvarez et al. (2010) forneceram evidências de que a

divulgação tem uma consequência positiva na criação de valor para o acionista.

A importância da divulgação corporativa surge de ser um meio de comunicação entre a

administração, investidores externos e participantes do mercado. Acredita-se que a

divulgação corporativa aprimorada atenua o problema de assimetria e os conflitos de

agência (LAMBERT et al., 2007). As consequências do aumento dos níveis de divulgação

são frequentemente discutidas em termos de redução de preços incorretos, lucratividade

acumulada e crescimento do valor da firma (VF) (BOTOSAN; PLUMLEE, 2002). Os

estudos empíricos resultantes fornecem evidências de apoio sobre a associação entre

divulgação e valor da empresa. Healy et al. (1999) constatam que as empresas com níveis

de divulgação expandidos experimentam aumentos substanciais correspondentes no valor

da empresa. Os efeitos diretos das divulgações corporativas têm a capacidade de alterar

o valor das empresas, afetando as decisões dos gerentes e, portanto, variando a

distribuição dos fluxos de caixa futuros (LAMBERT et al., 2007). Assim, a divulgação

corporativa aprimorada pode aumentar o valor de mercado para as empresas (ELZAHAR

et al., 2015). Essa teoria será usada para testar tanto as variáveis determinantes da

divulgação da RSC dos bancos islâmicos (QP 2) quanto as consequências para os bancos

que operam na região do CCG (QP 1).

3.2.6 Teoria Econômica

A Teoria Econômica foi desenvolvida por Jensen e Meckling em 1976. A hipótese

subjacente da teoria econômica é que a motivação para investir na aquisição de

informações é baseada no efeito esperado do investimento na participação de um contrato.

Uma parte investe na aquisição de informações na fase pré-contratual com base em sua

crença de que existe uma probabilidade alta o suficiente de que algumas informações

positivas sejam reveladas e que essas informações possam receber ou fornecer um ativo

cujo valor (custos) é maior (menor) que o preço pago (recebido). Quando uma obrigação

de divulgação é imposta, a parte investidora arca com os custos de aquisição de

informações antes que o contrato seja formado, mas não pode extrair os benefícios, uma

vez que o preço refletiria o valor real do ativo (JENSEN; MECKLING, 1976).

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Em particular, esta teoria tem sido amplamente utilizada por pesquisadores de

contabilidade para explicar e compreender o fenômeno da divulgação voluntária (e.g.,

HOSSAIN et al., 1995; MEEK et al., 1995; HANIFFA; COOKE, 2002; HOSSAIN;

TAYLOR, 2007; CHEN et al. al., 2008; AKHTARUDDIN; HOSSAIN, 2008). Um elo

importante entre a teoria econômica e o pensamento contábil contemporâneo é a noção

de que o compromisso de uma empresa com uma maior divulgação deve reduzir os custos

de capital que surgem das assimetrias de informação e afetam positivamente o valor da

empresa (LEUZ; VERRECCHIA, 2000). O compromisso de aumentar os níveis de

divulgação reduz a possibilidade de surgirem assimetrias de informação entre a empresa

e seus acionistas. Isso, por sua vez, deve reduzir o desconto pelo qual as ações firmes são

vendidas e, assim, diminuir os custos de emissão de capital e aumentar o valor da empresa

(BAIMAN; VERRECCHIA, 1996).

A teoria econômica também defende que maiores níveis de divulgações voluntárias

podem reduzir as assimetrias de informação entre a empresa e os participantes do mercado

e, como resultado, aumentar a liquidez das ações da empresa e aumentar o valor da

empresa (VF) (BEYER et al., 2010). Essa teoria será usada para testar as variáveis de

consequências da divulgação da RSC nos bancos que operam no CCG (QP 1).

3.3 Responsabilidade Social no Islã

A perspectiva islâmica sobre responsabilidade social indica que as atividades devem

ajudar diretamente os indivíduos ou as sociedades a melhorar suas condições de vida ou

ambientais ou ajudá-los a cumprir melhor as regras e normas religiosas (AAOIFI, 2010).

O Islã fornece orientação clara para seus seguidores em todos os aspectos da vida, que

são baseados no Corão e na Suna (PINTO, 2010). É reconhecido que ser responsável nos

negócios é mais valioso do que o que é feito com os lucros obtidos das atividades de

negócios; portanto, a existência de atividades que são consideradas no Islã como haram

(proibidas) foi claramente declarada no Corão para assegurar que a comunidade pratique

justiça social e econômica entre elas. O Islã também fornece um código de conduta

completo para seus seguidores e abrange todos os aspectos da vida.

Os bancos islâmicos são descritos como tendo uma face social, além da comercial

(MARTINS, 2004). Da perspectiva islâmica, a RSC gira em torno do conceito de

responsabilidade final para com Deus; os seres humanos são vice regentes, vice gestores

ou apenas gerentes (khalifah) e espera-se que se relacionem com outros seres humanos

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para cuidar do ambiente natural que lhes é confiado (AYUB, 2007). Siwar e Hossain

(2009) indicaram que o Islã não é apenas uma religião, mas um modo de vida holístico.

Muwazir et al. (2006) destacou que, como vice regente, os líderes das corporações de

negócios islâmicos são obrigados a praticar a RSC fundamentalmente a partir do princípio

da unidade (Tawhid). Kamla (2007) identificou que, como vice regente, a humanidade

precisa cuidar da terra e do meio ambiente. Portanto, a RSC não é isolada na visão

islâmica e é um dos principais conceitos do ensino islâmico. Zainal et al. (2013) afirmou

que o conceito de RSC está profundamente inscrito na Sharia e que quaisquer instituições,

como um banco islâmico, que afirma seguir os princípios baseados na Sharia, devem,

naturalmente, praticar a RSC, pois consagra o verdadeiro espírito do Islã.

Williams e Zinkin (2010) realizaram um estudo sobre a compatibilidade entre os

princípios do Islã e o Pacto Global das Nações Unidas (1999), encontraram que os

ensinamentos do Islã não só parecem estar em conformidade com os Dez Princípios do

Islã. O Pacto Global das Nações Unidas, mas, em muitos aspectos, os valores islâmicos

vão além dos padrões mínimos dessa estrutura. Também descobriram que os

ensinamentos islâmicos excedem os requisitos do Pacto Global da ONU de várias

maneiras:

1. O islamismo parece ser mais amplo: por exemplo, no desenvolvimento de capital

humano e requisitos de transparência nas transações comerciais.

2. O Islã tem uma codificação clara que define o que é permissível, ou halal, e o que é

proibido, ou haram.

3. O Islã também tem um mecanismo de aplicação explícito na Sharia, bem como na

comunidade, e há a responsabilidade final do indivíduo por comportamento antiético no

dia do julgamento.

No Islã, as proibições de certos tipos de atividades de negócios vêm da preocupação de

proteger a comunidade. Produtos e serviços que podem causar um impacto negativo na

vida humana são estritamente proibidos, tais como: álcool e jogos de azar (KREINATH,

2011). A justificativa para a proibição é melhor explicada nas palavras do Corão: Ó fiéis,

as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e as adivinhações com

setas, são manobras abomináveis de Satanás (AL MÁIDA, 5:90). O jogo, em particular,

é estritamente proibido no Islã, o que pode causar problemas sociais na comunidade e

interferir no funcionamento da vida adequadamente (POTENZA, 2013). A RSC é uma

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iniciativa moral e religiosa, baseada na crença de que uma empresa pode ser "boa"

independentemente de suas consequências financeiras, sejam elas positivas ou negativas.

Isso não é sugerir que o Islã é contra a lucratividade. Pelo contrário, é visto como uma

condição necessária, embora não seja o único propósito de sua existência (HASAN,

2005).

O Islã está intensamente preocupado com o problema do desenvolvimento econômico.

Portanto, o objetivo principal da economia islâmica é uma justiça social e econômica,

distribuição equitativa da riqueza e a eliminação da exploração nas atividades

empresariais, banindo todas as fontes de enriquecimento desleal (SARKER,1999;

ASUTAY, 2012). A ênfase no bem-estar da comunidade é muito significativa do ponto

de vista islâmico. Assim, trabalhar pelo bem-estar dos outros é a melhor maneira de

estender a utilidade de alguém em agradar a Allah (SULIMAN; WILLETT, 2003).

Nesse argumento, o Corão Sagrado declara: Jamais alcançareis a virtude, até que façais

caridade com aquilo que mais apreciardes. E sabei que, de toda caridade que fazeis,

Allah bem o sabe (AAL IMRAN, 3:92) e o que te fará entender o que é vencer as

vicissitudes? É libertar um cativo. Ou alimentar, num dia de privação. Ou parente órfão.

Ou um indigente necessitado. (AL BÁLAD, 90:12-16). A próxima seção discutirá os

valores éticos na RSC do ponto de vista islâmico, que é integrado à conduta bancária

islâmica.

3.3.1 Princípios Ético-Islâmicos na promoção da RSC

Os princípios ético-islâmicos fornecem uma estrutura mais ampla para a RSC. Em termos

de responsabilidade e responsabilização, os muçulmanos acreditam que serão

responsáveis por tudo o que fizerem neste mundo e no futuro. Assim, requer que todo ato

e palavra neste mundo estejam alinhados com os ensinamentos islâmicos.

Espera-se que os indivíduos se sintam socialmente responsáveis pelos outros na

comunidade. Em geral, o objetivo do sistema econômico islâmico é permitir que as

pessoas ganhem seu sustento de maneira justa e lucrativa com base na Sharia, sem a

exploração de outros, para que toda a sociedade possa se beneficiar. O Islã também

enfatiza o bem-estar da comunidade sobre os direitos individuais (AYUB, 2007;

SHAMIM; KARIM, 2010).

Pesquisas anteriores apoiam a ideia de que pessoas religiosas têm uma noção mais ampla

de RSC do que pessoas não religiosas (e.g., WEAVER; AGLE, 2002; BRAMMER et al.,

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2006; WILLIAMS; ZINKIN, 2010). Dado que o Islã, como o judaísmo, está preocupado

com a ortopraxia e a ortodoxia, no Islã, o desenvolvimento adequado da vida humana

requer duas coisas: (1) os recursos necessários para manter a vida e satisfazer as

necessidades materiais do indivíduo e da sociedade; (2) o conhecimento do indivíduo

sobre os princípios do comportamento individual e social para permitir a auto realização

individual, por um lado, e a manutenção da justiça social e tranquilidade por outro.

Ao contrário de algumas sociedades, onde há uma separação entre religião e estado, o que

levou à consideração da religião como um assunto privado em uma sociedade livre de

valores, o Islã influencia a decisão de fazer de seus seguidores em todos os contextos,

incluindo negócios. Talvez mais importante seja a necessidade de equilíbrio entre as

demandas deste mundo e as exigências da vida após a morte (CHAPRA, 1992). A

importância e natureza especial do culto (Ibadah) são elementos fundamentais do Islã; o

culto é a principal razão para a criação da humanidade (ALI, 2006).

A influência do Islã nas práticas de negócios está bem documentada no Corão Sagrado e

na Suna. Os valores do negócio islâmico, como justiça, medida socioeconômica, bem-

estar humano e honestidade, são considerados o núcleo da RSC no Islã. Os bancos

islâmicos são considerados como tendo uma identidade ética e têm diferentes objetivos

sociais e econômicos, uma vez que a fundação de seus negócios é baseada na religião

(MAALI et al, 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; ARIBI; ARUN, 2015). O objetivo

geral dos bancos islâmicos é contribuir para o desenvolvimento da economia dentro dos

limites do Islã. No âmbito da Sharia, espera-se que os bancos islâmicos sejam guiados

por uma visão de mundo da economia islâmica, baseada no princípio da justiça social e

no bem-estar da sociedade (DUSUKI, 2008).

Em geral, espera-se que os muçulmanos conduzam suas atividades comerciais de acordo

com a exigência da Sharia, que é justa e honesta em relação aos outros (RAHMAN, 1994;

HUSSAIN, 1999). A questão da RSC tem sido claramente destacada no Corão e no

Hadith, e tem sido praticada desde a época do Profeta Muhammad. O Apêndice B,

apresenta o exemplo de evidências do Corão e Hadith na promoção da RSC. As próximas

seções revisarão os princípios éticos islâmicos gerais na promoção da RSC, que é

integrada à conduta comercial islâmica.

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3.3.2 O papel da Sharia na RSC

No Islã, a Sharia é a base fundamental para entender a RSC. O conceito da Sharia no Islã

consiste em ética e valores que cobrem todos os aspectos da vida (pessoal, social, político,

econômico e intelectual). Dusuki e Abdullah (2007) afirmaram que o conceito da Sharia

reflete a visão holística do Islã, que é um código de vida completo e integrado. Abrange

todos os aspectos da vida, seja individual ou social, tanto neste mundo como no futuro.

Williams e Zinkin (2010) afirmaram que a Sharia não é apenas legal, mas também

funciona como uma estrutura moral.

A Sharia cresceu dentro das diretrizes estabelecidas pelo objetivo (Maqasid Al-Sharia),

que visa promover o bem-estar da humanidade. Dessa forma, o objetivo principal da

Sharia é promover o bem-estar de toda a humanidade, que está na salvaguarda de sua

religião (ad-din), da pessoa (nafs), do seu intelecto (aql), da sua família (nasl) e da sua

riqueza (mal) (DUSUKI; ABDULLAH 2007). Por exemplo, para alcançar o objetivo da

Sharia na proteção da riqueza, os bancos islâmicos fornecem uma alternativa aos bancos

convencionais, que operam com base em juros que dão um impacto negativo na

distribuição de renda e justiça econômica (BASAH; YUSUF, 2013). Não há apenas foco

na eliminação dos juros das transações, pois as atividades dos bancos islâmicos também

devem estar de acordo com o objetivo da Sharia e espera-se que eles estejam mais

preocupados com a questão da RSC que os bancos convencionais.

Para Mohammad e Shahwan (2013), existem três elementos principais na Sharia: (1) a

Aqidah que discute crença e fé; (2) o Akhlaq que discute moralidade e ética; e (3) o Fiqh,

ou decisões legais, governando os atos dos seres humanos. Os aspectos fundamentais,

como o Aqidah e o Akhlaq, não estão sujeitos a mudanças, no entanto, o Fiqh, ou decisões

legais, podem mudar e variar de acordo com o tempo (SIWAR; HOSSAIN, 2009). A

humanidade é responsável por suas ações a Deus (Allah), portanto, devem agir com

responsabilidade e se esforçar para se sair bem e evitar fazer o mal.

Além disso, Dusuki e Abdullah (2007) afirmaram que o conceito de Sharia tem três

implicações no conceito de responsabilidade social corporativa. Primeiro, no Islã, a

responsabilidade social corporativa é uma iniciativa religiosa e moral, baseada na crença

de que a corporação deve ser boa, apesar do impacto financeiro. Com base nesse conceito,

os negócios não são impulsionados apenas pela maximização do lucro, mas também pela

busca da felicidade suprema neste mundo e no futuro. Em segundo lugar, as diretrizes

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estabelecidas pelos princípios islâmicos de estabelecer um equilíbrio entre direitos e

deveres individuais, responsabilidades para com outras pessoas e entre interesse pessoal

e altruísmo. Finalmente, o conceito de recompensa é desenvolvido para incorporar em

sua recompensa neste mundo e no futuro. Isso proporciona uma forte motivação, sem

negar o instinto natural de uma pessoa para ganho pessoal. Os princípios abordados aqui

atuam como diretrizes e um valor agregado dos bancos islâmicos no setor financeiro. A

Sharia funciona como um controle interno sobre os bancos islâmicos, juntamente com a

legislação secular. Supõe-se que ele funcione como um controle interno, o que torna um

banco islâmico mais sensível à RSC do que os bancos convencionais.

3.3.3 O papel da Justiça no Bem-Estar Social

O Islã é uma religião que enfatiza a justiça na sociedade. Graafland et al. (2006) dividiram

os princípios da justiça no Islã com vários tipos de atividades empresariais, como a

justiça, incluindo o cumprimento de promessas, pactos e contratos. Portanto, os

muçulmanos devem ser honestos, sinceros e honestos em seus negócios e garantir a

exatidão em termos de produtos e especificações prometidos. Em segundo lugar,

incentiva a igualdade de tratamento na gestão do trabalho. Contratar pessoas e pagamento

de salário deve ser baseado no mérito e nas competências. Finalmente, a justiça no Islã

também inclui a distribuição equitativa da riqueza.

Além do acima exposto, o Islã também promove a justiça e o tratamento igual de todos

os seres vivos. Com base nos princípios da justiça, os muçulmanos têm que ser justos,

não apenas entre si, mas também em suas relações com os outros e até mesmo com seus

inimigos (WILLIAMS; ZINKIN, 2010). O conceito de justiça implica que os seres

humanos são iguais, exceto com base na piedade e bom caráter (DUSUKI, 2008). Como

vice regentes deste mundo, o conceito de justiça é importante, pois os humanos não são

apenas responsáveis perante Deus, mas também à sociedade. Em vez de preencher seus

próprios interesses, eles também devem se preocupar com a sociedade e o ambiente

natural. Kamla (2007) indicou que a responsabilidade do ser humano em relação à

natureza não está apenas relacionada aos benefícios para si, é uma responsabilidade

abrangente, que inclui a sociedade e as gerações futuras.

Segundo a AAOIFI (2010), os bancos islâmicos são incentivados voluntariamente a

divulgar sua política interna de preservação ambiental em seu relatório anual. Espera-se

que eles estejam mais preocupados e proativos na promoção da justiça socioeconômica e

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apliquem todos os valores e princípios islâmicos em suas práticas de RSC. Dusuki (2008)

discute que as interações humanas devem ser baseadas na confiança, equidade e justiça.

A atitude correta dos seres humanos não é servir apenas aos seus próprios, ou a “Interesse

próprio”, mas cooperar com os outros para satisfazer as necessidades básicas, desenvolver

todo o potencial humano e enriquecer a vida humana como um todo.

Nas atividades econômicas, a fim de alcançar a justiça social na sociedade, o Islã fornece

uma base para estabelecer a justiça socioeconômica para a sociedade. Por exemplo, o Islã

impõe um pagamento obrigatório de renda e riqueza (zakat), ajuda às entidades

filantrópicas (waqf), esmolas e caridade (sadaqah) e empréstimos sem juros (Qard al

Hassan). Outro aspecto importante nas atividades econômicas é a justiça socioeconômica.

A justiça socioeconômica é um elemento essencial no Islã; O objetivo do Islã é a formação

de uma justiça para a sociedade (AYUB, 2007). Ibin Al Qayim al-Jawziyyah afirma: "A

base da Sharia é a sabedoria e o bem-estar das pessoas neste mundo, assim como a outra,

que reside na completa justiça, misericórdia, bem-estar e sabedoria. Tudo o que opera da

justiça para a opressão, misericórdia para aspereza, bem-estar para a miséria e da

sabedoria para a insensatez, nada tem a ver com a Sharia (IBRAHIM et al. 2011; ARIS

et al. 2013).

A Responsabilidade social e a Justiça são baseadas no conceito islâmico de bem-estar

humano e uma boa vida; para fortalecer a irmandade e a irmandade entre os muçulmanos,

então promover a justiça socioeconômica, que requer uma satisfação equilibrada de

ambas as necessidades materiais e espirituais de todos os seres humanos (CHAPRA,

1992). A importância de pagar o Zakat, o incentivo à caridade, a proibição da usura e o

incentivo ao Qard Hassan20 (empréstimo benevolente) são exemplos claros da ênfase

islâmica na justiça social (MAALI et al., 2006). Com relação ao Qard Al-Hassan, o Corão

Sagrado declara: " Quem estaria disposto a emprestar a Allah, espontaneamente, para

que Ele se multiplique infinitamente? Allah restringe ou prodigaliza a Sua graça, e a Ele

retornareis " (AL BÁCARA, 2:245).

20 Um exemplo de fundo dessa natureza é o do Dubai Islamic Bank, que se destina a “ajudar os clientes a

superar seus problemas financeiros, a fim de salvá-los de circunstâncias e de exploração indesejáveis” (DIB,

2016). Segundo a política do banco, o qard pode ser concedido a pessoas de baixa renda para fins de custeio

de casamento, tratamento médico e despesas escolares. Outro exemplo é o do Jordan Islamic Bank, que se

destina a “ajudar os cidadãos a satisfazer a suas necessidades sociais” (JIB, 2016), emprestando recursos a

título gratuito também para o custeio de despesas com casamento, tratamento médico e ensino.

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3.3.4 Zakat: O tributo religioso

Um dos principais pilares do Islã é o Zakat, significa literalmente purificação

(MOHAMMED, 2007). Zakat é enunciado em muitos versos no Corão Sagrado e Suna.

O Zakat é visto como uma obrigação religiosa e um imposto aceito pelo Islã sobre uma

renda e riqueza muçulmana a ser distribuída aos beneficiários definidos, como os pobres

e os indigentes. Enquanto AAOIFI (2010) define o Zakat como uma obrigação religiosa

fixa calculada por referência a ativos líquidos que se valorizaram ou têm capacidade para

se valorizar em um período de tempo específico, exceto para ativos que foram adquiridos

para consumo ou uso na produção das receitas. Ele é coletado de indivíduos e empresas

muçulmanas (que atendem ao patrimônio líquido do zakat) e distribuído aos pobres,

necessitados e pelo interesse e bem-estar da comunidade. Portanto, o principal objetivo

do zakat é a redistribuição da riqueza e erradicar a pobreza na sociedade (LEWIS, 2001;

IBRAHIM et al., 2014). Os muçulmanos consideram, dessa forma, o zakat como um dos

principais deveres de mostrar sua responsabilidade para com a sociedade, os pobres e os

necessitados.

O significado do zakat no Islã é um pouco diferente de um programa de bem-estar normal

e é diferente do imposto geral, como é compreendido atualmente por algumas pessoas

(LEWIS, 2001). É um tipo específico de fundo que é compulsoriamente pago ao Tesouro,

quer seja necessário ou não (DUSULO, 2008). O estado islâmico pode assumir a

responsabilidade de coletar e distribuir o zakat, mas, quando este não é o caso, os

indivíduos e as empresas ainda são obrigados a pagá-lo diretamente pelo interesse e pelo

bem-estar da comunidade (MAALI, 2005). Nem todos os muçulmanos são obrigados a

pagar o zakat, o pagamento é obrigatório para pessoas físicas e jurídicas sujeitas ao

cumprimento de certas condições e após a dedução de dívidas e necessidades. O Zakat é

pagável uma vez por ano no final do período Zakat (ou seja, um ano lunar). O tributo

religioso é pago em um ativo produtivo que foi possuído por um ano inteiro. Entretanto,

os ativos que estão sendo usados ou consumidos estão isentos, desde que não estejam

sendo usados para fins comerciais (RAHMAN, 1999). O zakat é considerado um ato de

adoração; portanto, o Islamismo realmente encoraja seus seguidores a buscar riqueza, já

que isso não contradiz a Sharia. Quanto mais ricos eles são, mais eles podem contribuir

para a comunidade pagando o Zakat (NU et al., 2014).

De um ponto de vista institucional, os bancos islâmicos estão envolvidos no Zakat, seja

deixando de lado uma porcentagem de seus lucros para atividades de caridade ou através

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da administração dos fundos do Zakat. Espera-se que os bancos islâmicos estejam mais

preocupados com a administração do zakat para garantir que todos os grupos de

necessitados (Asnaf) se beneficiem da contribuição de Zakat. De acordo com AAOIFI

(2010), todos os bancos islâmicos têm que divulgar as informações do Zakat em relatórios

anuais como parte de sua obrigação de RSC para as partes interessadas. Outro aspecto do

valor ético na RSC da perspectiva islâmica é a eliminação da Riba (usura) nas atividades

bancárias islâmicas. Isso será discutido em detalhes na próxima seção.

3.3.5 Maslahah (Interesse Público)

Dusuki (2008) afirmou que o Maslahah (Interesse Público) é um dispositivo jurídico

usado na teoria jurídica islâmica. Por outro lado, Laldin (2010) afirmou que a Maslahah

é uma segunda fonte da Sharia no Islã. A Sharia considera a Maslahah como uma fonte

de direito para acomodar o desenvolvimento natural e as mudanças sociais. Representa

uma das fontes essenciais para lidar com questões e assuntos, para os quais não há

indicação explícita no Corão ou na Suna.

Laldin (2010) afirmou que o objetivo de decretar as regras da Sharia, com base na

Maslahah, é alcançar justiça e justiça, obtendo benefícios e removendo as dificuldades.

É importante para promover o bem público e prevenir o mal ou a corrupção da sociedade.

No contexto bancário islâmico, a diligência (ijtihad) baseada na Maslahah é essencial,

especialmente para órgãos reguladores e de governança corporativa, uma vez que exige

que forneçam padrões, parâmetros, regulamentos e políticas para o benefício da

sociedade. Ele também explicou que a Maslahah no Islã poderia ser diferenciada em duas

categorias principais. A primeira é a Maslahah pública, que é qualquer coisa que beneficie

toda a sociedade ou a maioria: por exemplo, salvar propriedades de qualquer forma de

dano ou transgressão, incluindo inundação, roubo ou contratos injustos. Em contraste, o

Maslahah privado é qualquer coisa que beneficie os indivíduos e a sociedade a que

pertencem (AYUB, 2007).

Além de ser pública e privada, a Maslahah pode ser diferenciada com base em suas

prioridades. Dusuki (2011) afirmou que Maslahah poderia ser classificada em três

categorias principais ou prioridades: (1) dharuriyat (fundamentos básicos), (2) hajiyat

(necessidades suplementares) e (3) tahsiniyat (complementar).

Dharuriyat é uma necessidade básica essencial na vida, que é um elemento muito

importante para os indivíduos e a sociedade sobreviverem. Deve ser protegido, pois é

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fundamental para a vida (AL-MUBARAK; OSMANI, 2010). Por exemplo, as

necessidades básicas da vida são eletricidade, água e comida. É um elemento importante

para a sobrevivência no mundo de hoje e qualquer perturbação para eles levará a uma

ruptura total.

O hajiyat é uma necessidade suplementar depois que o indivíduo ou a sociedade se tornam

dharuriyat (necessidades básicas). Se o hajiyat for negligenciado, isso não levará a uma

ruptura total, mas pode levar a dificuldades e angústia na vida humana (CEBECI, 2012).

Por exemplo, a Sharia valida a compra a termo (bai 'salam) em transações comerciais

porque essas transações são importantes para facilitar as transações comerciais e, se

negligenciadas, podem levar a dificuldades nos negócios.

A Tahsiniyat (complementar) refere-se àqueles interesses que, se realizados, levariam ao

refinamento e perfeição nos costumes e conduta das pessoas em todos os níveis de

realização (LALDIN, 2010). É importante, pois levará a uma vida pacífica e harmonia na

sociedade humana. Por exemplo, o Islã torna o pagamento do Zakat obrigatório para

indivíduos e organizações muçulmanos como um elemento complementar para a justiça

social e econômica na sociedade. Ao mesmo tempo, o Islã também encoraja os

muçulmanos a fazer caridade como atividade complementar para melhorar a vida social

da comunidade.

Dusuki e Abdullah (2007) viram o conceito de peso na Maslahah como um guia para o

julgamento moral de gestores e outras partes interessadas, particularmente na resolução

de conflitos que possam surgir quando se busca a responsabilidade social corporativa. O

conceito de peso na Maslahah é representado em uma forma de pirâmide. Funciona como

uma estrutura para fornecer aos gerentes três níveis de julgamento para resolver os

conflitos éticos que surgem inadvertidamente ao aplicar programas e iniciativas de RSC.

Cada nível constitui um grau diferente de importância. O nível inferior (dharuriyat) é a

responsabilidade mais fundamental a ser cumprida, depois o segundo nível (hajiyat),

seguido pelo nível superior (tahsiniyat). A pirâmide se move para cima e o grau de tomada

de decisão será menos fundamental à medida que o nível aumenta. As pirâmides dos

níveis de Maslahah não são mutuamente exclusivas; Todos os níveis são inter-

relacionados e mutuamente dependentes.

A pirâmide de Maslahah pode ser aplicada ao processo de tomada de decisão na RSC.

No primeiro nível (dharuriyyat), espera-se que os bancos islâmicos se esforcem para

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preservar e proteger as necessidades essenciais de suas partes interessadas (BASAH;

YUSUF, 2013). Por exemplo, para obter um lucro alto, deve garantir que todas as

atividades estejam de acordo com os princípios islâmicos. Qualquer atividade que possa

colocar em risco a vida das pessoas e causar degradação ambiental deve ser evitada. No

que diz respeito à relação entre o empregador e o empregado, as empresas devem proteger

o bem-estar dos funcionários, pagando salários a tempo e proporcionando um ambiente

de trabalho seguro.

Depois de cumprir o nível fundamental (dharuriyyat), os bancos islâmicos podem lutar

pelo segundo nível, o complementar (hajiyat). Nesta etapa, a oferta de treinamento e

desenvolvimento contínuo, bônus e promoções é considerada uma extensão da

responsabilidade fundamental. Para o mais alto nível de embelezamento (tahsiniyat),

espera-se que os bancos islâmicos estejam envolvidos em atividades de RSC que levem

à melhoria e obtenção da perfeição na vida pública. Por exemplo, o envolvimento em

atividades incentivadas pelo Islã, como doações, atividades de caridade e fundos

filantrópicos (waqf), pode contribuir para um melhor desenvolvimento social da

sociedade. O embelezamento levará à perfeição da comunidade e da sociedade. No geral,

a pirâmide de Maslahah fornece um guia básico para os bancos islâmicos gerenciarem

suas atividades de RSC, com base na priorização no desenvolvimento de sua estratégia

de gerenciamento de RSC. O peso da Maslahah também fornece princípios orientadores

e desenvolvimento estratégico para a gestão da RSC, com base em suas prioridades.

Carroll (1979) discutiu que a pirâmide da RSC também fornece uma visão abrangente de

uma estrutura de como as empresas devem agir em relação à RSC. Ela desenvolve sua

própria pirâmide de RSC, que é dividida em quatro categorias principais, a saber:

(1) Responsabilidades Econômicas,

(2) Responsabilidades Legais,

(3) Responsabilidades Éticas e;

(4) Responsabilidades Filantrópicas.

As principais características de sua pirâmide de RSC são: 1) essas quatro categorias não

são mutuamente exclusivas; 2) não são compostas apenas de preocupações econômicas

de um lado e preocupações sociais do outro; 3) não são cumulativos nem aditivos; e 4)

eles são ordenados na figura apenas para sugerir seu papel fundamental na avaliação de

importância. Carroll (1991) argumenta ainda que para ser aceita como legítima e aceita

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por homens de negócios a RSC deve tratar de toda uma gama de obrigações que a empresa

tem para com a sociedade. Segundo o autor, a RSC total das empresas engloba o

cumprimento das responsabilidades econômica, legal, ética e filantrópica. Em outras

palavras, a empresa socialmente responsável deve se esforçar para ter lucro, obedecer a

lei, ser ética, e ser uma boa cidadã corporativa (CARROLL, 1991).

A pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa de Carroll retrata as seguintes

reponsabilidades ilustradas na Figura 9 a seguir:

Figura 9 - Pirâmide de Responsabilidade Social Corporativa (Pirâmide de Carroll)

Fonte: Adaptado de CARROLL (1979)

A pirâmide retrata as quatro dimensões da RSC, começando com o desempenho

econômico que é o alicerce de todas as demais (CARROLL, 1991). Dessa forma, seu

principal papel consistiu em produzir bens e serviços que os consumidores necessitavam

e desejavam com um lucro aceitável nesse processo (CARROLL, 1991). Todas as outras

responsabilidades, segundo o autor, se baseiam na responsabilidade econômica da

empresa, pois sem ela as demais se tornariam de consideração irrelevante. O modelo foi

desenhado não para que tais categorias fossem atendidas em sequência, de baixo para

cima, mas sim que todas as dimensões deveriam estar contempladas nas ações da

organização em todos os momentos, como partes integrantes de suas atividades.

(CARROLL, 1991; SCHWARTZ; CARROLL; 2003).

Responsabilidades Filantrópicas

(Ser um bom cidadão corporativo)

Contribuir com recursos para a comunidade, melhorar sua qualidade de vida.

Responsabilidades Éticas (Ser Ético)

Obrigação de fazer o que é certo, justo, evitando danos.

Responsabilidade Legal (Obedecer as Leis)

A legislação é a codificação do certo e errado numa sociedade. Jogar dentro das regras do jogo.

Responsabilidades Econômicas (Ser lucrativo)

A base da pirâmide da qual derivam as demais responsabilidades.

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Carroll elaborou uma pirâmide conceitual direcionada aos gestores de empresas, que de

certa forma sintetiza o amplo significado do que a responsabilidade social se propõe a ser.

Na sua pirâmide, Carroll demonstra as responsabilidades que devem existir nos negócios

e sobretudo a preocupação destes enquanto inseridos numa comunidade, no social. É uma

visão que vai além do gerar lucros e obedecer à lei, é um princípio preocupado e genuíno.

Nessa esteira de RSC, pode-se traçar um paralelo com a RSC islâmica ilustrada na Figura

10 a seguir por meio da Pirâmide de Maslahah:

Figura 10 - Pirâmide de Maslahah

Fonte: Adaptado Dusuki e Abdullah (2010).

A pirâmide de Maslahah, acima, fornece uma estrutura abrangente sobre como os bancos

islâmicos devem encarar a RSC da perspectiva islâmica e é paralela à pirâmide geral da

RSC, conforme proposta por Carroll (1979). Ambos os modelos não são mutuamente

exclusivos; todos os níveis são inter-relacionados e mutuamente dependentes

(CARROLL, 1979; DUSUKI E ABDULLAH, 2007). Dusuki (2010) afirmou que o peso

da Maslahah pode ser útil para a RSC de três maneiras: (1) fornece uma estrutura para

tomar decisões e um mecanismo para se adaptar à mudança; (2) delineia o papel dos

bancos islâmicos em termos de RSC; e (3) oferece diretrizes para o julgamento moral dos

bancos islâmicos na solução de conflitos que possam surgir quando se busca a

responsabilidade social corporativa. É representado com base em uma pirâmide com três

níveis de julgamento (dharuriyat, hajiyat e tahsaniyat).

Tahsiniyat (residuais)

(crescimento de produtos. e.g., investimentos, fundos mútuos, qualidade dos serviços, satisfação dos clientes,

sustentabilidade e RSC).

Hajiyat (complementares)

(seguros ou produtos complementares. e.g., Takaful,descontos, contratos híbridos, comissões e honorários e

produtos inovadores).

Dharuriyat (essenciais)

(produtos básicos ou de sobrevivência. e.g., poupança, transparência, zakat, governança da Sharia, Sharia

Compliance, desenvolvimento de produtos em linha com a Sharia e eliminação da riba, gharar e maysir.

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Carroll (1979) apontou que a pirâmide da RSC não identifica o grau de responsabilidade

específica em cada categoria; Ele fornece um esquema de classificação para os tipos de

responsabilidade social que as empresas devem ter. A pirâmide da RSC fornece uma

estrutura abrangente de RSC para as empresas, uma vez que apresenta várias

responsabilidades que a sociedade espera que as empresas assumam. Cada uma das

categorias de RSC merece a mesma consideração e pode ser usada para justificar por que

a RSC é importante (CARROLL, 1991). Por outro lado, o peso da pirâmide de Maslahah

implica que os bancos islâmicos precisam se engajar e administrar suas atividades de RSC

de acordo com sua prioridade. Os bancos islâmicos não devem se concentrar apenas em

alcançar os embelezamentos, ao mesmo tempo em que comprometem o essencial de seus

acionistas (DUSUKI; ABDULLAH, 2007).

Finalmente, o peso da pirâmide de Maslahah é baseado na Sharia. Reflete a visão

holística do Islã, que apresenta um código de vida completo e integrado, englobando todos

os seus aspectos (DUSUKI; ABDULLAH, 2007; ARIS et al., 2013). O Maslahah é um

dos elementos para alcançar o objetivo da Sharia e, portanto, deve sempre ser discutido

e entendido dentro da estrutura e dos parâmetros da Sharia (LALDIN, 2010). A pirâmide

da RSC é o modelo principal, pois descreve como as empresas devem reagir às questões

de RSC e tem recebido mais atenção nos estudos de RSC (BASAH; YUSUF, 2013).

3.3.6 Tawhid

No Islã, o conceito de RSC também é consistente com o conceito de unidade (Tawhid).

De acordo com esse conceito, Deus é o Criador, Proprietário e Fonte de todas as coisas,

e confiou a humanidade como um khalifah (vice regente) para usar e gerenciar os ativos

neste mundo (ALI, 2006). Em troca do uso do universo físico, a humanidade tem que ser

responsável pelo que eles usam e administram neste mundo, todos os aspectos serão

responsáveis diante de Deus (Allah) no futuro. (FAROOK; LANIS, 2007). O axioma da

unidade (Tawhid) implica que todos os seres humanos são vice regentes de Deus na terra,

o que implica a necessidade de crescimento econômico sustentável e desenvolvimento

em termos de harmonia entre os vários componentes da vida econômica e social

(ASUTAY, 2007). No entanto, a lucratividade de uma empresa que atende à Sharia é um

objetivo individual dentro de um objetivo macro de sustentabilidade, incluindo o

crescimento econômico.

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O Islã reconhece que é uma natureza humana possuir propriedade a fim de satisfazer suas

necessidades e garante comércio. Nesse sentido, a propriedade da propriedade privada é

incentivada no Islã, e seu uso, que não é contrariado com a Sharia, é permitido (LEWIS,

2001). É claramente afirmado no Corão que toda a riqueza pertence a Allah e Ele colocou

os seres humanos no comando desta riqueza. O Islã aceita a disparidade de riqueza dentro

de um limite racional, mas não tolera essa diferença, de modo que algumas pessoas

gastam sua vida em luxo, enquanto a maioria das pessoas é deixada para levar uma vida

de miséria e fome. Como vice regente, a humanidade tem que administrar sua riqueza de

acordo com os comandos e orientação de Allah (RAHMAN, 1999).

Como um administrador (Agente) de Deus (Allah ou principal), todas as ações devem

basear-se em suas regras e regulamentos, ou seja, a Sharia. O conceito de vice regência

está inter-relacionado com o conceito de Tawhid (unidade) no Islã. O conceito de Tawhid

afirma que todas as posses, riqueza, perícia, habilidades, posições e poder pertencem a

Allah. O ser humano é apenas um administrador deles. O acúmulo de riqueza não é o

objetivo-chave dos proprietários de terra no Islã, mas sua capacidade de sustentar e trazer

benefícios a si e aos outros da terra. Este conceito é diferente do ponto de vista

convencional. No Islã, o gerenciamento de todos os recursos deve estar de acordo com os

requisitos religiosos.

O conceito de Khalifah (vice regente) define a responsabilidade da pessoa para Allah,

para a comunidade e para si mesmo. De acordo com Chapra (1992), a implicação de surgir

do conceito de Khalifah é que o indivíduo é considerado o depositário dos recursos de

Deus e deve assegurar que os recursos sejam bem administrados de maneira apropriada,

o que está de acordo com a Sharia. O conceito subjacente do vice gerente é o da

representação da propriedade real dentro dos limites de autoridade prescritos por Deus,

para fazer a vontade do proprietário, em oposição a sua própria vontade (WILLIAMS;

ZINKIN, 2010). Isso leva a diferentes significados de propriedade privada quando

comparados com a perspectiva convencional, como no trecho “Allah capacitou

indivíduos a possuírem, desfrutarem e transferirem o que Ele lhes concedeu”. Portanto,

o Islã percebe a riqueza como uma concessão, que foi dada como uma confiança de Allah

nas mãos dos seres humanos. Com isso, deve ser utilizado de maneira eficiente para

produzir o máximo de produção e cumprir a orientação de Allah. É dito no Corão: “E

lembre-se de que horas o Senhor disse aos anjos: Eu vou colocar um vice regente na

terra. 'Eles disseram:' Você colocará nele alguém que agirá corruptamente e derramou

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sangue, enquanto nós santificamos o Teu louvor e te glorificamos! 'Allah disse: Em

verdade eu sei o que não sabeis ” (HAYEK, 1994).

Com base no conceito de vice-gerência, não há inibições ligadas ao empreendimento

econômico e as pessoas são encorajadas a aproveitar todas as oportunidades disponíveis,

o que está de acordo com a Sharia (RICE, 1999). Não há conflito entre os requisitos

morais e socioeconômicos. As pessoas podem desfrutar de lucro e riqueza, mas devem

pagar o zakat. Além disso, o direito de acumular riqueza e lucro não é negado no Islã,

desde que não contradiga os princípios islâmicos (ULLAH; JAMALI, 2010). Os recursos

são para o benefício de todos e não apenas alguns, todos têm o direito de adquirir e utilizar

os recursos (RICE, 1999; JAMALI et al., 2008).

Ainda na esteira do princípio da vice-gerência, Chapra (1995) explica que essa tutela de

Deus para o homem não implica uma negação da propriedade privada, mas sim a utilidade

equitativa, a aquisição legítima e a destinação justa dos recursos e a proibição da

destruição e do desperdício de maneiras que são boas para a propriedade privada,

resultando no bem-estar dos outros. Essa explicação pode ser interpretada como um

resumo do conceito de sustentabilidade com seu resultado triplo: econômico, social e

ambiental. Além disso, as questões econômicas, sociais e ambientais são as principais

preocupações das práticas de responsabilidade corporativa de acordo com padrões

internacionais como GRI ou ISO, além do Accountability. Assim, a vice administração

está relacionada aos deveres dos indivíduos ao realizar transações com outros seres

humanos), criaturas e recursos na Terra. Na verdade, a tutela de Deus em relação ao

homem é estendida para moldar as relações da tutela em sociedade, não apenas em termos

de conduta nos negócios, mas também na vida cotidiana.

Dado o axioma de que os recursos são de propriedade de Deus, o homem gerencia as

propriedades de outros homens com base nesse relacionamento. Portanto, essa relação de

tutela leva a outro atributo importante da vice-gerência: a governança das coisas que lhe

são outorgadas à guarda. Do ponto de vista empresarial, o valor da tutela influencia a

estrutura de governança corporativa das instituições financeiras islâmicas (IFIs) e dos

stakeholders, que por sua vez contribuem para moldar modelos de negócios únicos para

as diferentes IFIs. A importância da governança foi manifestada pelo Profeta Muhammad

(S.A.W.S.) como Abdullah bin Umar, o Apóstolo de Allah, menciona:

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Certamente! Cada um de vocês é um guardião e é responsável pelos seus

encargos: O Imam (governante) do povo é um guardião e é responsável pelos

seus súditos; um homem é o guardião de sua família (casa) e é responsável por

seus súditos; uma mulher é a guardiã da casa do marido e de seus filhos e é

responsável por eles; e o escravo de um homem é um guardião da propriedade

de seu senhor e é responsável por ele. Certamente, cada um de vocês é um

guardião e responsável por seus encargos (SHAMIM; KARIM, 2010). Em resumo, a adoração a Allah não está restrita apenas aos cinco pilares do Islã. Envolve

todos os aspectos da vida. Williams e Zinkin (2010) afirmaram que no Islã não há

separação entre a vida pública e privada do indivíduo. Assim, toda decisão e ato na vida

e nos negócios devem se basear nos ensinamentos islâmicos. Este princípio não se aplica

apenas entre os muçulmanos, mas também na sua relação com os não-muçulmanos, a

sociedade e o meio ambiente.

3.3.7 Ihsan

O conceito de benevolência no Islã complementa o conceito de justiça. O Corão afirma

claramente a exigência de justiça e benevolência. Basah e Yusuf (2013) classificaram a

justiça como obrigatória e a benevolência como sendo além da obrigatória. Para aderir ao

conceito de justiça, as intenções e sentimentos interiores de uma pessoa devem ser

consistentes com suas palavras e ações. O conceito de benevolência está além do conceito

de justiça, que exige que as intenções e sentimentos internos da pessoa sejam melhores

do que suas ações externas. A benevolência reflete a importância de proteger e promover

o bem-estar de outros com quem se está em contato pessoal regular (SCHWARTZ, 1992).

Os estudos de Schwartz e Bardi (2001) indicam que a benevolência está entre os valores

mais importantes da sociedade. Desempenha um papel crucial em endossar a harmonia

social e prever comportamentos pró-sociais (BARDI; SCHWARTZ, 2003). Estudos

anteriores indicaram que a benevolência está positivamente associada a comportamentos,

como ajudar os outros, expressar sugestões construtivas, doar dinheiro e praticar o

voluntariado (GRANT; MAYER, 2009; ARIELI et al., 2014), demonstrando

sensibilidade social (VAN DOORN; OSBURN, 2002), com consciência sobre dilemas

morais (MYYRY; HELKAMA, 2002), e expressando prontidão para o contato social com

os outros (SAGIV; SCHWARTZ, 1995).

Para aliviar a pobreza da sociedade, os bancos islâmicos oferecem vários mecanismos,

como um empréstimo benevolente (Qard Hassan), um fundo de caridade (Sadaqa) e um

fundo Waqf (fundo de doação) (BHUIYAN et al., 2012). Qard Hasan é um empréstimo

livre de qualquer benefício ou retorno ao credor e é mais comumente referido como um

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empréstimo sem juros (OBAIDULLAH; KHAN, 2008). Praticamente, as concessões da

Qard Hassan são fornecidas pelos bancos islâmicos para apoiar e melhorar o

desenvolvimento de pequenas e médias empresas (PME). Também é conhecido como um

empréstimo sem juros, que é concedido para fins de bem-estar ou para atender aos

requisitos de financiamento de curto prazo. O Qard Hassan é um empréstimo, que é

concedido pelo credor sem expectativa de qualquer retorno sobre o principal, mas o

mutuário é obrigado a fazer um reembolso do principal. Os seguintes versos do Corão

Sagrado revelam a importância de Qard Hassan no Islã (HAYEK, 1994):

“Quem emprestar a Allah um Qard Hasan, ter para ele (o emprestador) muitas vezes

e para ele será uma recompensa generosa” (AL HADID, 57: 11).

“Na verdade, aqueles que dão sadaqa, homens e mulheres e emprestam a Allah um

qard hasan, terão sua bondade multiplicada (para seu crédito) e o deles será uma

honrosa boa recompensa” (SABA, 34:37).

“Se você emprestar a Allah um qard hasan, Ele multiplicará isso para você. Allah é

o mais apreciador, o mais tolerante ” (AL FÁTIHA, 1:63).

Além da benevolência, a prática do ihsan também implica uma proficiência, o que requer

qualificações, experiência prática e aquisição de conhecimento religioso (AAOIFI, 2007)

como em qualquer profissão na economia. Além disso, o ihsan implica consciência de

Deus, o que leva à auditoria interna. Em um dos Quarenta Hadiths do Imam An-Nawawi

(não datado), o Profeta Muhammad (S.A.W.S) explica ihsan como “adoração a Allah

como se você não o estivesse vendo ainda, verdadeiramente, Ele te vê”. Nesse sentido, o

ihsan é parte integrante da unidade. Allah criou os seres humanos para não adorar a

ninguém além Dele. O conceito de adoração não se limita a orações regulares. É mais

abrangente e se estende a todos os atos de um muçulmano. Consequentemente, Al-

Raysuni (2006) afirma que toda atividade humana, incluindo a atividade econômica, é a

adoração a Deus desde que seja acompanhada de intenção.

Com isso, o ihsan implica no cumprimento de ações e responsabilidades mais amplas

relacionadas ao papel dos seres humanos como vice-regentes de Allah na Terra. Além

disso, o culto articula as qualidades, a natureza e a ação correspondente em todos os

domínios da vida, ao invés de ser apenas um ritual, uma função ou simplesmente uma

obrigação (ZAMAN; ASUTAY 2009).

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3.3.8 Transparência Islâmica

Quando se trata de transparência nos negócios, o Islã vai muito além dos padrões de

transparência do Pacto Global da ONU de 1999 (WILLIAMS; ZINKIN, 2010). Por

exemplo, contratos escritos claros são exigidos para todas as transações comerciais,

conforme declarado no Corão. Além disso, no Islã, como no judaísmo, o princípio do

“Caveat Emptor” (risco sendo do comprador) não se aplica. Muitos hadiths descrevem

os princípios, tais como o que não permite vender itens sem esclarecer tudo, nem é

permitido a quem sabe sobre seus defeitos se abster de mencioná-los (FAROOK; LANIS,

2007). Espera-se, portanto, que as empresas muçulmanas garantam altos padrões de

qualidade na execução de seu trabalho e sejam transparentes em suas transações. A

questão dos padrões de qualidade também pode ser vista no ensino do Corão sobre pesos

e medidas (HAYEK, 1994). Por exemplo, dar apenas uma medida que não cause perdas

(para terceiros por fraude) (HAYEK, 1994). Embora isso não implique, por si só, que o

mesmo padrão deva ser aplicado em todos os lugares, é necessário que sejam fornecidas

informações completas sobre os padrões utilizados, o que requer maior transparência e

responsabilidade. Portanto, espera-se que os bancos islâmicos promovam uma maior

transparência na condução de seus negócios, de acordo com o código de conduta dos

negócios islâmicos (ARIFFIN, 2005).

3.3.9 Accountability Islâmica

Segundo Haniffa (2002), nos modelos de responsabilidade ocidentais, as empresas são

responsáveis perante seus stakeholders. Nesse modelo, não se considera que a

responsabilidade e a prestação de contas se estendam além da sociedade terrena, e as

estruturas não preveem qualquer responsabilidade para com Deus. De uma perspectiva

islâmica, a relação percebida de indivíduos e empresas com Deus (Allah) afeta o conceito

de responsabilidade (MAALI, 2006). Os muçulmanos, conforme exigido pelo Islã, têm

que questionar suas ações ou responsabilizar-se antes de serem responsabilizados por

Allah no Dia do Juízo pelo que fizeram em sua vida (ABDUL-RAHMAN; HASHIM,

2010). Como vice regente e curador de Allah, todo ato humano neste mundo será

questionado no dia do julgamento. Farook (2008) chamou esse conceito de

“responsabilidade divina”, e é a base para todas as ações dos muçulmanos e, por sua vez,

organizações representativas do Islã. O conceito de responsabilidade divina é claramente

declarado no Corão Sagrado, em versos como: “Quando fordes saudados cortesmente,

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respondei com cortesia maior ou, pelo menos, igual, porque Allah leva em conta todas

as circunstâncias. ” (AN NISSÁ, 4:86).

A palavra Hisab em árabe, que é sinônimo de conta ou prestação de contas, é repetida

mais de oito vezes em versos diferentes no Corão Sagrado (ASKARY; CLARKE, 1997).

Isso mostra a importância da responsabilidade no Islã. De acordo com Lewis (2006), a

semelhança básica entre o Hisab, ou contas e prestação de contas, está na

responsabilidade de indivíduos e empresas de cumprir os deveres prescritos pelo Islã.

Prestação de contas, neste contexto, significa prestação de contas à comunidade islâmica

em geral, que tem o direito de saber sobre os efeitos das operações das organizações em

seu bem-estar (LEWIS, 2005). Ibrahim et al. (2011) elaboram esse aspecto da

accountability, afirmando que ela é o dever de uma entidade de utilizar (e prevenir o uso

indevido) dos recursos que lhe são confiados de maneira eficaz, eficiente e econômica,

dentro dos limites do quadro moral e legal da sociedade e para fornecer uma conta de suas

ações para os contadores, que não são apenas a pessoa (s) que lhe forneceu os recursos

financeiros, mas para grupos dentro da sociedade e da sociedade em geral.

O conceito de responsabilidade é derivado do Corão e é poderoso no sistema islâmico de

negócios, o que significa responsabilidade diante de Allah não apenas neste mundo, mas

também no futuro. A prestação de contas a Allah reflete a confiabilidade, que inclui

instrumentos e metas. Abbasi et al. (2012) argumentam que o instrumento é aquele que é

iniciado com o objetivo de aumentar a eficiência e a efetividade, então, com o tempo, é

transferido para ser um objetivo em si. Como o Corão claramente explica: Quem tiver

feito o bem, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á. Quem tiver feito o mal, quer seja do

peso de um átomo, vê-lo-á. (AZ ZÁLZALA, 99:7-8). Allah disse: “Nem os portadores de

fardos podem carregar o fardo de outro. Se alguém fortemente carregado pode chamar

outro para carregar sua carga, a menor porção dele pode ser levada pelo outro, mesmo

que ele esteja quase relacionado” (FÁTER, 35:18). Afifuddin e Siti-Nabiha (2010)

acrescentam que esses versículos se aplicam a todas as organizações, não apenas à

responsabilidade pessoal.

3.4 Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Institutions

O desenvolvimento da contabilidade no estado islâmico entre 624 e 1500 d.C. foi

religiosamente motivado e associado à imposição do zakat (ZAID, 2000). De acordo com

Napier (2009), as evidências históricas sobre a contabilidade islâmica estão se tornando

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cada vez mais disponíveis e refletem pesquisas sobre os principais arquivos que

sobreviveram, bem como muitos tratados e outros materiais secundários sobre

contabilidade. Hayashi (1989) sugeriu que a contabilidade islâmica pensa na sociedade

antes da empresa, enquanto a contabilidade convencional pensa no lucro individual antes

do lucro social. Baydoun e Willett (2000) afirmaram que a responsabilidade privada e a

divulgação limitada (critérios contábeis ocidentais) são critérios insuficientes para refletir

os preceitos éticos da lei islâmica. A contabilidade islâmica pode ser descrita como um

sistema de informação que comunica posição econômica e resultado da operação de uma

entidade, e garante que as informações apresentadas estejam corretas, estejam em

conformidade com a Sharia e estejam isentas de qualquer informação enganosa

(HARAHAP, 2003). A consistência das práticas de divulgação com a lei islâmica requer

a aplicação dos critérios abrangentes de responsabilidade social e divulgação completa.

Desde o início das IFIs, tem havido um apelo para o desenvolvimento de normas

contábeis especiais para IFIs (KARIM, 1995; OMAR, 1997; KHATIB, 2013).

O estudo da contabilidade islâmica cresceu nos últimos anos com contribuições

substanciais de estudiosos, como Baydoun e Willet (1995, 1997), Gambling e Karim

(1986), Lewis e Algaoud (2001) e Vinnicombe (2010). É notável que o foco da maioria

desses estudos é de natureza descritiva ou analítica, enfatizando em particular as

implicações do Islamismo para os princípios e práticas contábeis, e estrutura teórica a

partir da qual os padrões contábeis para entidades islâmicas poderiam ser potencialmente

derivados (PERERA, 1989; BAYDOUN; WILLETT, 2000; LEWIS, 2001). Há pouco

reconhecimento de que uma resposta prática à necessidade de padrões contábeis islâmicos

surgiu na forma da Organização de Contabilidade e Auditoria para Instituições

Financeiras Islâmicas (AAOIFI). Essa organização foi estabelecida no Bahrein em 1991

para desenvolver e disseminar padrões de contabilidade e auditoria para implementação

por instituições financeiras islâmicas em todo o mundo (LEWIS; ALGAOUD, 2001;

AAOIFI, 2003).

De uma perspectiva islâmica, é fundamental que os princípios contábeis aplicados nas

organizações islâmicas estejam de acordo com a Sharia. A Sharia especifica claramente

quando a receita deve ser reconhecida e quando o ativo deve ser transferido. A natureza

dos instrumentos financeiros e transações nas IFIs não é abordada nos Princípios

Contábeis Geralmente Aceitos (GAAP) convencionais. Isso ocorre porque as funções das

IFIs são diferentes das de seus pares que adotaram o modelo ocidental de bancos

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(AAOIFI, 2005). A relação entre investidores e IFIs baseia-se principalmente na partilha

de lucros e perdas, que é diferente das Instituições Financeiras Convencionais (IFCs). De

acordo com o AAOIFI (2005), a contabilidade financeira convencional não oferece todas

as informações exigidas por aqueles que precisam tomar decisões relativas aos negócios.

Isso se deve à natureza dos processos de contabilidade financeira e aos relacionados a

custo e benefício.

Assim, os padrões contábeis desenvolvidos para as IFCs podem não ser relevantes para

as IFIs. Alguns novos regulamentos contábeis precisam ser projetados para atender à

singularidade dos instrumentos financeiros e contratos das IFIs. Portanto, os padrões

AAOIFI foram desenvolvidos para superar a limitação dos padrões contábeis

convencionais para as IFIs.

Em abril de 2009, o AAOIFI emitiu um padrão atualizado, que se concentra na prática de

RSC entre as IFIs (conhecidas como Padrões de Governança nº 7: Responsabilidade

Social Corporativa, Conduta e Divulgação para as IFIs). De acordo com o AAOIFI

(2010), responsabilidade social corporativa (RSC) para IFIs refere-se a todas as atividades

realizadas por um IFI (aqui refere-se a qualquer instituição que desempenhe o papel de

intermediário financeiro que cumpra estritamente as disposições da Sharia, incluindo,

mas não se limitando a, bancos islâmicos e companhias de seguros islâmicos) para

cumprir suas responsabilidades religiosas, econômicas, legais, éticas e discricionárias

como intermediários financeiros para indivíduos e instituições. A responsabilidade

religiosa refere-se à obrigação geral das IFIs de obedecer às leis do Islã em todas as suas

transações e operações. A responsabilidade econômica refere-se à obrigação dos bancos

islâmicos de serem financeiramente viáveis, lucrativos e eficientes. A responsabilidade

legal refere-se à obrigação das IFIs de respeitar e obedecer às leis e regulamentos do país

de operação. A responsabilidade ética refere-se à obrigação das IFIs de respeitar a massa

de normas sociais, religiosas e consuetudinárias, que não estão codificadas na lei.

Responsabilidade discricionária refere-se à expectativa das partes interessadas, as IFIs

desempenharão um papel social na implementação dos ideais islâmicos, além das

responsabilidades religiosas, econômicas, legais e éticas (AAOIFI, 2010).

Ao longo de duas décadas, o AAOIFI operou como um corpo de organizações de

contabilidade islâmicas, que preparam padrões para instituições financeiras islâmicas.

Até o momento, ainda há discussões limitadas na literatura sobre a conformidade de RSC

das IFIs e os padrões atualizados da AAOIFI nº 7, 2010 (e.g., VINNICOMBE, 2010;

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VINNICOMBE, 2012; ZAKARIA; ARUN, 2015; FARAG, MALLIN et al., 2014,

PLATONOVA, 2014; HARUN, 2016).

3.4.1 Relevância do AAOIFI nas Instituições Financeiras Islâmicas

Esta seção explica a história da AAOIFI, sua abordagem para o desenvolvimento de

padrões contíguos e os problemas enfrentados nos estágios iniciais de seu

estabelecimento. A abordagem pragmática adotada pelo AAOFI no desenvolvimento de

seus padrões tem sido criticada no contexto do debate conceitual, que é como os padrões

de contabilidade para as entidades que podem ser adaptadas a partir de padrões oceânicos

ou de um processo de uma estrutura islâmica (SAREA; HANEFAH, 2013). O AAOIFI

teve uma primeira abordagem, acreditando com a eficácia em trabalhos antigos

facilitando uma implementação de padrões de padrões, sem comprometer a Lei Islâmica

(AAOIFI, 2003).

O AAOIFI, sem suas operações no Bahrein em março de 1991 (11 Ramadan 1411H)

(AAOIFI, 2003). Inicialmente conhecida como uma Organização de Contabilidade

Financeira para Bancos Islâmicos e Instituições Financeiras (FAOIBFI), o nome foi

mudado para o AAOIFI em 1995 para uma ampla expansão do resumo para auditoria e

outros padrões, em resposta a demandas do mercado interno. O AAOIFI utiliza um

esquema organizacional de dois níveis, semelhante ao do IASB e outras semelhantes,

como o Financial Accounting Standards Board (FASB) nos Estados Unidos

(VINNICOMBE, 2010).

Os objetivos do AAOIFI evoluíram desde sua formação. Hoje, é incluída a preparação e

divulgação de padrões de contabilidade, auditoria e governança para instituições

financeiras islâmicas, com o objetivo de alcançar a harmonização na contabilidade

adotada pelas instituições financeiras islâmicas na preparação de suas demonstrações

financeiras (AAOIFI, 2003). O AAOIFI também fornece diretrizes para instituições

financeiras islâmicas em diversas áreas nas quais elas podem encontrar dificuldades em

encontrar tratamentos ou interpretações contábeis apropriadas, como questões

relacionadas a seguros islâmicos e novos produtos financeiros. Finalmente, o objetivo da

AAOIFI é promover a adoção de seus padrões pelas instituições financeiras islâmicas,

com o apoio das autoridades reguladoras competentes nos países onde essas instituições

operam. Para este fim, os organismos nacionais e transnacionais, incluindo bancos

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centrais, organizações de contabilidade e o IASB são encorajados a tornarem-se membros

da AAOIFI (AHMED; KARIM, 2001; KHATIB, 2013).

Em 1993, o AAOIFI emitiu as Demonstrações Contábeis Financeiras 1 e 2 (FAS 1 e FAS

2). Esses dois documentos representaram a finalização da tarefa inicial da AAOIFI de

desenvolver objetivos e conceitos de contabilidade financeira para os bancos islâmicos.

O FAS 1 delineou os objetivos e FAS 2 os conceitos (KARIM, 1995). Juntas, as duas

publicações foram frequentemente descritas como estruturas para o desenvolvimento

adicional dos padrões contábeis islâmicos (KARIM, 1995). Os dois normativos foram

seguidos pela Norma de Contabilidade Financeira nº.1, que detalhou os requisitos para a

apresentação geral e divulgação para as demonstrações financeiras dos bancos islâmicos.

A AAOIFI já publicou 26 Normas de Contabilidade Financeira (FAS 1–26), bem como

normas para companhias de seguros islâmicas, padrões de auditoria, padrões de

governança e códigos de ética para contadores, auditores e funcionários de instituições

financeiras islâmicas. Isso constitui um corpo substancial de trabalho em um período

relativamente curto de tempo. Em comum com todos os órgãos de definição de normas

contábeis, no entanto, o AAOIFI enfrenta vários desafios. Sua tarefa é comparável à do

International Accounting Standards Board (IASB), pois, diferentemente dos órgãos

contábeis nacionais, deve estabelecer padrões para bancos localizados em partes muito

diferentes do mundo. Os padrões, portanto, precisam ser aceitáveis para uma variedade

de regimes regulatórios e uma série de circunstâncias políticas, econômicas e sociais. O

AAOIFI não tem poder de fiscalização e, portanto, deve prosseguir obtendo o apoio dos

órgãos reguladores nacionais e dos principais bancos islâmicos (KARIM, 1995). Apesar

desses problemas, o AAOIFI obteve um sucesso considerável, em termos dos padrões

que produziu, aumento de membros e o que parece ser uma aceitação crescente por parte

das autoridades reguladoras em muitos países islâmicos, como o CCG. Parece oportuno,

portanto, testar até que ponto os padrões publicados pela AAOIFI são implementados

pelos bancos islâmicos.

3.4.2 Necessidade de normas específicas do AAOIFI

Devido à globalização, aumento da concorrência, revolução da comunicação, novas

regulamentações e o forte crescimento das IFIs, a AAOIFI segue em frente na formulação

e preparação da contabilidade, auditoria e governança corporativa, bem como nos padrões

de ética e Sharia para as IFIs com o mercado financeiro global (VINNICOMBE, 2012).

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A necessidade de padrões contábeis islâmicos também coincide com o desenvolvimento

de produtos financeiros islâmicos. Novos produtos financeiros exigem tratamentos

contábeis proporcionais, especialmente quando as instituições são obrigadas a produzir

demonstrações financeiras anuais. No entanto, o rápido crescimento das instituições

financeiras islâmicas, a partir da década de 1970, superou a capacidade do

desenvolvimento do padrão contábil de manter o ritmo (POMERANZ, 1997). Além disso,

a ênfase na islamização de produtos financeiros concentrou-se no desenvolvimento de

instituições financeiras e produtos financeiros, em vez de um quadro regulamentar

correspondente. O AAOIFI é uma organização internacional independente, que é apoiada

por membros institucionais (200 membros de 45 países), incluindo bancos centrais, IFIs

e outros participantes do setor bancário e financeiro islâmico internacional. Publicou seu

primeiro conjunto de padrões contábeis e de governança em 2004. Em seguida, foram

atualizados em 2008 e a última atualização foi em 2010. A edição de 2010 é considerada

o padrão mais adequado para este estudo, que abrange os anos entre 2010 e 2014

inclusive.

A contabilidade financeira desempenha um papel importante no fornecimento de

informações de que os usuários das demonstrações financeiras dos bancos islâmicos

dependem para avaliar a conformidade do banco com os preceitos da Sharia. No entanto,

para desempenhar esse papel de forma eficaz, os padrões contábeis precisam ser

desenvolvidos e cumpridos pelos bancos islâmicos. O desenvolvimento de tais padrões

deve ser baseado em objetivos claros de contabilidade financeira e definições acordadas

de seus conceitos. Em paralelo com o crescimento positivo da indústria de IFI, o AAOIFI

publicou 85 normas que são compostas por 26 normas de contabilidade, 5 guias de

auditoria, 7 guias de governança, 2 guias de ética e 45 guias de Sharia (AAOIFI, 2010).

O AAOIFI foi reconhecido e legitimado para desenvolver padrões de contabilidade,

auditoria, governança e ética para garantir que as IFIs operem de acordo com os princípios

da Sharia, a fim de promover informações contábeis comparáveis, transparentes e

confiáveis para as partes interessadas. Assim, pode-se concluir que os padrões da AAOIFI

são ferramentas importantes para melhorar o crescimento da indústria da IFI.

Muitos estudos examinaram a adequação e aderência da contabilidade convencional para

uma economia islâmica. Estudiosos como Karim e Tomkins (1987), Hamid et al. (1993),

Baydoun e Willett (1995), Haniffa e Hudaib (2001) e Haniffa (2002) sugeriram que o Islã

deve influenciar a abordagem e a maneira pela qual a contabilidade é praticada. Hameed

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(2001) apela a um forte apoio entre os contadores muçulmanos e acadêmicos de

contabilidade para a aplicação da contabilidade islâmica, bem como a estrutura de

responsabilização em vez de usar a estrutura de utilidade decisória da contabilidade

convencional, e a necessidade de desenvolver contabilidade específica que ajude os

muçulmanos a cumprir seus objetivos e alcançar o consentimento de Deus. Mirza e

Baydoun (1999) descobriram que as sociedades islâmicas precisam de padrões contábeis

e de relatórios que as apoiem na obediência a Allah e na satisfação de outras partes

interessadas. Além disso, os relatórios anuais das IFIs podem incluir uma divulgação

abrangente sobre as operações da empresa, conformidade financeira com a Sharia, bem

como informações sociais. Al-Mehmadi (2004) concluiu que os bancos islâmicos

precisam de padrões contábeis especiais. Além disso, as Normas Internacionais de

Contabilidade (IFRS) baseadas nessas técnicas criariam dificuldades para os muçulmanos

(SHADIA, 2007).

Hameed (2001) explica que a visão de mundo, princípios, objetivos e valores do Islã são

diferentes da sociedade secular ocidental. Como tal, as obrigações e proibições

particulares na arena econômica e social sob a Sharia, e o estabelecimento de

organizações islâmicas, requerem uma estrutura contábil diferente. Portanto, a

contabilidade convencional pode ser uma ferramenta inadequada para a tarefa. Dessa

forma, considera que uma economia islâmica precisa de um sistema contábil diferente

que corresponda aos valores islâmicos e forneça informações apropriadas para que os

usuários muçulmanos os ajudem a alcançar seus objetivos religiosos. Obviamente, muitos

estudos têm investigado diferentes questões e aspectos que afetam a natureza da

contabilidade no Islã, como zakat, riba, relato financeiro e não financeiro islâmico,

divulgação social, instrumentos financeiros islâmicos, Mudarabah e outras questões (e.g.,

SIDDIQUI, 2004; LEWIS, 2005; MAALI et al., 2006; AYUB, 2007). Haniffa e Hudaib

(2001) criticam a contabilidade convencional, bem como os padrões internacionais de

contabilidade, como as IFRS, como inadequados para os muçulmanos e para as IFIs. Os

autores afirmam que a contabilidade islâmica ajuda os muçulmanos a alcançar o

consentimento de Allah. Eles criticam a contabilidade convencional como sendo proibida

da religião, bem como não garantem o bem-estar da sociedade a longo prazo.

Ullah (2013) afirmou que, comparado a outras empresas gerais ou bancárias, os bancos

islâmicos são obrigados a cumprir os padrões da Sharia, como os padrões AAOIFI. Além

disso, Hossain (2010) afirmou que os bancos islâmicos devem cumprir mais regras e

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regulamentos do que os bancos convencionais, ou seja, os bancos convencionais não

cumprem os padrões da AAOIFI. Como as atividades dos bancos islâmicos são diferentes

daquelas de suas contrapartes, sua contabilidade e relatórios também são diferentes. Esses

bancos islâmicos precisam divulgar alguma informação; que os bancos convencionais

não são obrigados a divulgar. O AAOIFI foi reconhecido e legitimado para desenvolver

padrões que estão alinhados com os princípios da Sharia, a fim de promover informações

contábeis comparáveis, transparentes e confiáveis para os usuários. Assim, o objetivo

principal da AAOIFI é preparar e desenvolver padrões de contabilidade, auditoria,

governança e ética relacionados às atividades das IFIs (SAREA; HANEFAH, 2013).

No entanto, Hameed (2001) argumenta que as IFRS são inadequadas para as IFIs devido

à singularidade das transações dos bancos islâmicos. Além disso, as IFRS não são

compatíveis com os bancos islâmicos (MAALI; NAPIER, 2010). Para melhorar o nível

de divulgação entre os bancos islâmicos. As IFIs precisam de contabilidade islâmica e

padrões islâmicos, como os padrões AAOIFI, que cumpram com a Sharia e apoiem essas

instituições para obter responsabilidade em relação a Allah, bem como a todas as partes

interessadas. Consequentemente, esta pesquisa procura o AAOIFI como uma referência;

os modelos ideais e melhores práticas para todas as IFIs são aqueles que poderiam apoiá-

los a divulgar informações completas sobre as informações de RSC e ajudar os bancos

islâmicos a cumprir o contrato entre si e Allah primeiro, depois para acionistas, acionistas,

sociedade e outros.

3.4.3 O Papel da AAOIFI na RSC

A Responsabilidade social das empresas (RSC) para as IFIs refere-se a todas as atividades

realizadas por uma IFI para cumprir suas responsabilidades religiosas, econômicas,

legais, éticas e discricionárias, como intermediários financeiros para indivíduos e

instituições (AAOIFI, 2010). O AAOIFI emitiu a Norma de Governança n.º 7 (2010) para

organizar as atividades relacionadas à RSC. O objetivo principal desta norma é assegurar

que as atividades de RSC e a conformidade das IFIs sejam comunicadas de maneira

verdadeira, transparente e compreensível aos interessados relevantes (AAOIFI, 2010). A

responsabilidade pela divulgação de RSC sob este padrão é dividida entre 5 divulgações

obrigatórias (como ganhos e gastos proibidos pela Sharia e Zakat) e 6 divulgações

voluntárias (como Qard Hassan, atividades de caridade e gerenciamento da Waqf)

(AAOIFI, 2010). A literatura de RSC sobre bancos islâmicos revelou uma diferença de

expectativas entre divulgações reais / comunicadas e divulgações ideais.

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Haniffa e Hudaib (2001) afirmam que a divulgação em bancos islâmicos é um fator vital

que ajuda os muçulmanos a cumprir seus deveres religiosos. Eles acrescentam que os

bancos islâmicos devem divulgar qualquer informação relativa a transações proibidas que

façam, informações relacionadas à obrigação do zakat e à responsabilidade social do

banco, como instituições de caridade e proteção ambiental. Isso nos mostra que relatórios

financeiros em IFIs provavelmente serão mais detalhados do que os relatórios financeiros

em instituições convencionais.

Maali et al. (2006) descobriram que o nível de divulgação social pelos bancos de amostra

estava bem abaixo do seu índice de referência. Haniffa e Hudaib (2007) encontraram uma

lacuna significativa entre as divulgações éticas comunicadas e as ideais (esperadas) para

7 bancos islâmicos. Belal et al. (2014) encontraram um aumento geral em divulgações

particulares e universais durante o período de estudo. Hassan e Harahap (2010)

concluíram que alguns bancos islâmicos prestam pouca atenção à divulgação de suas

atividades sociais e, assim, defenderam um padrão de divulgação de RSC relevante para

as IFIs. Farook et al. (2011) encontraram variações substanciais nas divulgações de RSC

e essa variação é melhor explicada pela presença de governança do CSS e pela

preponderância dos muçulmanos em seus países de amostra. A partir da discussão acima,

pode-se concluir que existem vários fatores/determinantes que influenciam a prática do

nível de desrespeito à RSC entre os bancos islâmicos, como por exemplo, a existência de

um Conselho de Supervisão da Sharia que prestam assessoria a administradores de

bancos islâmicos.

3.5 Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica (DRSCI)

As últimas décadas testemunharam um interesse crescente na responsabilidade social

corporativa (RSC). O interesse na divulgação de responsabilidade social corporativa

(DRSC) aumentou com o tempo (TAHA, 2010). Hoje, à medida que os grupos de partes

interessadas começam a exigir informações sobre questões sociais e ambientais das

empresas financeiras, as empresas têm que justificar todas as suas atividades para um

público mais amplo, aumentando suas comunicações em uma série de questões e não

apenas se limitando a comunicar as dimensões econômicas de suas operações (DAUB,

2007). A DRSC é uma ferramenta fundamental para a comunicação com os stakeholders

sobre as atividades de responsabilidade social de uma empresa. Ele forma o cerne central

para as relações públicas na comunicação e criação de entendimento mútuo (sociedade e

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administradores), no gerenciamento de possíveis conflitos e na obtenção de legitimidade

(GOLOB; BARTLETT, 2007).

Existem vários pontos de vista sobre a divulgação de RSC definidos por pesquisadores

anteriores. McWilliams e Siegel (2006) e Huang (2015) definem responsabilidade social

corporativa como esforços das empresas para superar os cumprimentos legais,

participando voluntariamente de ações que pareçam promover algum bem social, além

dos interesses da empresa e aquilo que é exigido por lei. Isso significa incorporar

responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas na tomada de decisões

corporativas (CARROLL, 1979), além de representar um desvio potencial da Teoria do

Acionista, na qual as empresas se esforçam para maximizar a riqueza dos acionistas

dentro de restrições legais e normas sociais básicas (FRIEDMAN, 1970). A teoria do

acionista tem sido uma suposição dominante em toda a pesquisa em economia, finanças

e contabilidade. A responsabilidade social corporativa é intrigante porque sugere que as

empresas são motivadas a tomar decisões que nem sempre maximizam a riqueza para os

acionistas. Sob a Teoria dos Stakeholders, como sugerido por alguns estudiosos da RSC,

as empresas atingem um equilíbrio entre o acionista interesses e interesses de outras partes

interessadas (CARROLL, 1991).

A divulgação de RSC, em geral, pode ser definida como a prestação de informações

financeiras e não financeiras relacionadas à interação de uma empresa com seu ambiente

físico e social, conforme declarado em relatórios anuais corporativos ou em relatórios

sociais corporativos, e pode ser obrigatório ou voluntária (HACKSTON; MILNE, 1996).

Divulgação social e ambiental geralmente pode ser pensada com o fornecimento de

informações relacionadas às atividades, aspirações e imagem pública de uma empresa,

com relação às questões ambientais, comunitárias, de funcionários e de consumidores

(GRAY, et al. 2009). Said et al. (2009) indicam que a divulgação social pode fornecer

tanto informações positivas, que apresentam a empresa como operando em harmonia com

o ambiente, como declarar que a empresa está conduzindo programas de treinamento para

funcionários ou que políticas de gerenciamento de resíduos estão sendo realizadas, ou

informações negativas que apresenta a empresa como operando em detrimento do meio

ambiente, como a incapacidade de controlar ou reduzir a poluição, ou a incapacidade de

resolver um problema social. Do ponto de vista desta tese, a DRSC pode ser definida

como a capacidade de as empresas fornecerem informações relevantes e adequadas no

relatório financeiro ou em seus websites, das atividades de negócio, que atendam às

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necessidades dos acionistas e stakeholders, como uma informação de atividades de

caridade para a sociedade (LI et al., 2007; LU; ABEYSEKERA, 2014).

Aaronson e Reeves (2002) argumentam que há pressão pública para desenvolver políticas

de responsabilidade social corporativa decorrentes do fracasso da divulgação voluntária,

conforme sugerido pelos órgãos reguladores. Essa pressão pública atua como um

direcionador para governos, bem como para outras instituições, como o AAOIFI, para

fornecer diretrizes e padrões diferentes para práticas de divulgação e relatórios de RSC.

No entanto, esses esforços não tentam tornar a DRSC obrigatório por lei, mas buscam

encontrar o caminho, pelo qual as empresas sejam responsabilizadas por suas ações. Van

der Lann (2004) indica uma forma emergente de divulgação de RSC, a divulgação

solicitada, na qual as empresas são cada vez mais solicitadas a prestar contas, de várias

formas, sobre suas interações e impactos na sociedade. Organizações não-governamentais

(ONGs), agências reguladoras, administradores de fundos éticos ou socialmente

responsáveis, agências de classificação e outras partes interessadas estão solicitando

informações sociais das empresas. A diferença entre divulgação voluntária e solicitada é

o motivo pelo qual se solicita as informações. O motivo para a revelação voluntária da

RSC vem da gestão das empresas, seja em resposta a uma ameaça à sua legitimidade ou

a uma necessidade de prestar contas, enquanto o motivo para a divulgação solicitada da

RSC é um pedido direto dos stakeholders (VAN DER LANN, 2004).

3.6 Modelos teóricos da RSC sob a perspectiva islâmica

Esta seção tem como objetivo apresentar os modelos teóricos contemporâneos da RSC de

uma perspectiva financeira islâmica, baseando-se na discussão acima sobre a economia

moral islâmica e suas articulações. Embora a noção de RSC tenha sido uma parte

essencial das sociedades islâmicas e tenha sido sustentada no Islão há mais de catorze

séculos, as questões da RSC de um ponto de vista islâmico foram levantadas

significativamente na última década do século XX pelos economistas islâmicos

modernos.

A avaliação da literatura revela duas posições principais em relação aos papéis sociais

atribuídos às IFIs. De acordo com a primeira visão, que é apoiada pelos pais da economia

islâmica, as IFIs têm responsabilidades fundamentais e significativas de bem-estar social.

Por outro lado, seus oponentes sugerem que as IFIs, como as instituições financeiras

convencionais, operam no setor financeiro da economia; portanto, as iniciativas sociais

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devem ser atribuídas ao terceiro setor, sem fins lucrativos, enquanto as IFIs devem ter

atividades comerciais que não estendam suas fronteiras comerciais (SAIRALLY, 2007).

Esses diferentes posicionamentos serão discutidos a seguir.

3.6.1 Modelo de Chapra (1985)

Os primeiros escritos sobre economia islâmica, como os de Siddiqui (1983) e Chapra

(1985) sugerem que o papel social de todos os tipos de IFIs deve ser a busca pela

maximização do lucro, a fim de manter a justiça socioeconômica, apoiar e sustentar

desenvolvimento econômico da humanidade. Essa visão foi introduzida na literatura mais

recente como o modelo de Chapra (LEWIS; ALGAOUD, 2001).

Levando-se em conta o fato de que os bancos islâmicos e outras IFIs lidam com fundos

públicos, eles são obrigados a considerar a melhoria de toda a sociedade contra o

benefício dos indivíduos. Isso basicamente significa que as IFIs têm que cumprir a

obrigação social como uma complacência religiosa, bem como desempenhar outras

tarefas financeiras convencionais pré-estabelecidas.

Esse modelo considera, ainda, os bancos islâmicos como bancos universais ou

polivalentes que integram serviços bancários comerciais e fornecem uma ampla gama de

serviços financeiros (SAIRALLY, 2007: HASSAN; LEWIS, 2007). Essa visão tem sido

amplamente apoiada por pesquisadores como Sadr (1982), Siddiqui, (1983, 1985),

Ahmad (1984), Haron (1995), Ahmad (2000), Rosly e Bakar (2003), Haron e Hisham

(2003), Naqvi (2003) e Sidiqqui (2004), entre outros, que acreditam que para IFIs,

estabelecer objetivos para promover princípios, tradições e normas religiosas islâmicas

juntamente com a proteção das necessidades das sociedades muçulmanas é tão importante

quanto maximizar seu lucro (AYUB, 2007; DUSUKI, 2008).

Assim, pode-se dizer que esse modelo é compatível com os objetivos sociais e éticos da

Sharia e dos objetivos espirituais islâmicos. Portanto, os bancos islâmicos devem

promover programas e atividades de bem-estar social e fazer mais contribuições para os

necessitados e os pobres, sem prejudicar sua viabilidade comercial.

Espera-se que as implicações deste modelo em nível institucional sejam as seguintes:

enquanto os bancos centrais serão adicionalmente responsáveis pelo monitoramento das

IFIs para manter uma distribuição justa de renda, riqueza e poder, e prevenir e controlar

a vantagem injusta tomada deles por uma minúscula minoria, sugere-se que os bancos

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comerciais islâmicos nomeados aqui como bancos universais equilibrariam as atividades

orientadas para o lucro com atividades comunitárias orientadas para a sociedade .

De acordo com esse modelo, portanto, há uma grande expectativa de que os bancos

islâmicos sejam motivados a publicar suas ações de RSC e contribuam significativamente

para os problemas sociais e econômicos dos cidadãos menos favorecidos da sociedade e,

ao mesmo tempo, os bancos islâmicos devem ser capazes de manter seus direitos

viabilidade comercial (DUSUKI, 2008).

3.6.2 Modelo de Ismail (1986)

Uma visão alternativa sobre RSC para as IFIs foi proposta por Ismail (1986), que

argumentou que as IFIs fazem parte do setor comercial da economia e deveriam ser

responsáveis apenas pelas atividades econômicas e financeiras. Espera-se que todas as

atividades comerciais, do ponto de vista moral e social, sejam atribuídas ao terceiro setor,

cuja finalidade precípua não é o lucro.

Neste modelo, é desenhado um sistema econômico islâmico, que consiste em três setores

financeiros: o setor governamental ou siyasi, o setor comercial ou tijari e o setor de bem-

estar também conhecido como terceiro setor ou ijtimai (HASSAN; LEWIS, 2007. Ismail

(1986), assim, afirma que as instituições comerciais islâmicas do setor comercial ou tijari

são restritas a serem responsáveis perante os acionistas e depositantes e não a sociedade

como um todo. Portanto, dentro desse quadro, os objetivos de bem-estar social não são as

principais tarefas dos bancos islâmicos e devem ser cumpridos por outras instituições.

Em suma, a opinião de Ismail propaga a ideia de que os bancos islâmicos não são

diferentes de outras instituições financeiras comerciais com a mais alta prioridade para

conduzir seus negócios de maneira compatível com Sharia (LEWIS; ALGAUD, 2001;

SATKUNASEGARAN, 2003).

Ainda de acordo com esse modelo, os bancos islâmicos ainda precisam deduzir o zakat

dos retornos que proporcionam aos depositantes como uma obrigação religiosa, que exige

que os ricos contribuam para o bem-estar da sociedade (DUSUKI, 2008). Por outro lado,

instituições sem fins lucrativos que formam o terceiro setor devem realizar todos os tipos

de programas sociais e atividades de caridade (SAIRALLY, 2007).

O modelo de Ismail foi apoiado por Tag El-Din (2003), que articulou a posição de que as

necessidades socioeconômicas da sociedade deveriam ser deixadas para o setor social,

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como waqf e outras instituições de caridade. É importante, no entanto, afirmar que o

processo socioeconômico não pode ser feito sem incluir valores morais e éticos

(SAIRALLY, 2007).

3.6.3 Modelo de Dusuki (2008)

Ao estender os modelos disponíveis, Dusuki (2008) desenvolveu um modelo baseado na

economia moral islâmica ao nomear o paradigma taqwa, o que inspira a considerar a RSC

como parte das obrigações religiosas (DUSUKI, 2008). Taqwa ou Consciência de Deus

pode ser caracterizada como a capacidade individual, espiritual, moral, ética e psicológica

de elevar-se àquele nível superior que torna uma pessoa quase imune aos desejos

materiais excessivos do mundo, elevando o indivíduo a um nível mais alto de

autoconsciência profética. Dentro deste quadro, o propósito da criação é ser khalifa ou

ser um vice regente de Allah na Terra. Assim, supõe-se que as pessoas com o paradigma

Taqwa buscam continuamente o prazer de Deus e, como resultado, agem de acordo com

os princípios de Sharia. Harmonizar, integrar e combinar assuntos mundanos com valores

espirituais é essencial para os indivíduos, pois isso determinará o destino neste mundo e

no futuro. Indivíduos e corporações que adotam o paradigma Taqwa assumem suas

responsabilidades como vice regentes de Deus em todas as circunstâncias, o que os torna

responsáveis perante Deus, que é o dono deles mesmos e dos recursos que eles utilizam

e gerenciam (DUSUKI, 2008). O papel do khalifa fornece aos seres humanos a autoridade

sobre a criação e essa autoridade deve ser responsável.

Segundo Dusuki (2007), as corporações que operam em conformidade com os princípios

da Sharia e empregam o paradigma Taqwa em sua abordagem para conduzir atividades

de negócios não se concentram apenas na geração de lucros, pois reconhecem e enfatizam

a importância do social, dimensões éticas e morais em sua agenda.

Quatro pontos principais foram promovidos pelo paradigma Taqwa de Dusuki (2008): 1)

dignidade humana; 2) livre arbítrio; 3) igualdade e direitos, e confiança e

responsabilidade. Dusuki (2008) argumenta ainda que a RSC de uma perspectiva islâmica

adota uma abordagem mais holística, o que a distingue da abordagem ocidental. A ideia

central desta visão é que alcançar sucesso e felicidade neste mundo é tão crucial quanto

realizar a felicidade no plano divino. Dessa forma, a RSC tem um significado mais amplo

da marca islâmica, pois atribui mais valor à recompensa espiritual do que à recompensa

material ou monetária.

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Em geral, a estrutura moral islâmica cultiva uma consciência superior, a moral e um senso

de responsabilidade, que por sua vez mantém o equilíbrio e a harmonia na sociedade e

elimina a ganância. Como resultado, espera-se que entidades empresariais e indivíduos

no Islã abordem o aspecto central da justiça social e econômica. Moderar e atender às

necessidades dos indivíduos na sociedade por meio de atividades filantrópicas, projetos

de bem-estar social que ajudem a combater a pobreza e a desigualdade, têm sido

considerados como parte essencial da RSC nas IFIs. Assim, a responsabilidade do bem-

estar social de uma perspectiva islâmica foi colocada predominantemente sobre os

membros da comunidade que no contexto mais amplo abrangem também instituições

financeiras. Consequentemente, o governo não é o único órgão necessário para assumir

essa obrigação, como foi proposto por Friedman (1966, 1967), Marshall (1999) e Humber

(2002), e as IFIs devem praticar atividades de RSC explicitamente (DUSUKI, 2007). Este

modelo demonstra que as IFIs alinhadas ao paradigma Taqwa são capazes de lidar com

vários problemas sociais de forma mais adequada do que o governo.

3.6.4 Reflexos dos Modelos Teóricos na RSC Islâmica

Há semelhanças que podem ser traçadas entre o modelo de Chapra (1985) e a visão de

Carroll (1979) da RSC, assim como entre o modelo de Ismail (1986) e a visão de RSC de

Friedman (1970). Os dois principais modelos de RSC mencionados acima, atribuídos às

IFIs pelos economistas islâmicos modernos, também podem ser associados aos modelos

de RSC no Reino Unido, EUA e outros países ocidentais (SAIRALLY, 2007; HASSAN;

LEWIS, 2007; DUSUKI, 2008).

No modelo de Chapra, os bancos islâmicos são considerados instituições universais, onde

a provisão de serviços sociais é enfatizada além do objetivo de maximização do lucro.

Além disso, os projetos de bem-estar social das IFIs devem estar de acordo com os

princípios de Sharia, com o foco na maximização dos interesses das partes interessadas

ou stakeholders. Além disso, a responsabilidade ética e social é inerente e imposta às

atividades empresariais e econômicas, uma vez que a conformidade religiosa implicaria

que as atividades filantrópicas seriam integradas ao conceito de negócio das IFIs devido

ao seu papel esperado para o desenvolvimento da comunidade. Consequentemente, o

modelo de Chapra pode ser relacionado à conceituação de Carroll (1979) da RSC, que

engloba quatro focos principais: i) práticas empresariais responsáveis, ii)

responsabilidade do consumidor, iii) empresa sustentável; e filantropia corporativa.

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Além disso, os paralelos podem ser traçados entre a visão de Chapra e a abordagem do

Reino Unido para a RSC, onde as questões sociais são abordadas explicitamente por redes

institucionais. Nessa situação, a política de negócios em responsabilidade social é tomada

como parte do processo de criação de riqueza e para aumentar a competitividade do

negócio e o valor para a sociedade, com a motivação para atuar de forma socialmente

responsável dentro do paradigma islâmico sendo dirigido pela fé.

Por outro lado, o modelo de Ismail (1986) tem semelhanças com a nova posição clássica

defendida por Friedman (1970), que definiu a responsabilidade social em um sentido

econômico estritamente neoclássico, onde as corporações são responsáveis apenas por

seus stakeholders devido a sua considerável contribuição para a maximização do capital

(BICHTA, 2003). Em uma linha similar de argumentação, a visão de Ismail aceita

analogamente IFIs como instituições comerciais que funcionam dentro de uma estrutura

islâmica e que preenchem principalmente os interesses de seus acionistas e depositantes.

Como se espera que as IFIs sejam desenvolvidas em instituições lucrativas e sustentáveis,

as metas sociais neste modelo são perseguidas indiretamente. Esse modelo também pode

ser associado à abordagem implícita da RSC nos Estados Unidos, onde as questões sociais

são abordadas implicitamente pelas corporações por meio de suas políticas, programas e

estratégias de RSC (MATTEN; MOON, 2008). Assim, a RSC nesta situação não ocorre

no topo da agenda de gestão e não é parte integrante da estratégia de uma empresa. Como

resultado, no modelo de RSC de Ismail, as iniciativas devem ser empreendidas pelo

terceiro setor não lucrativo.

Dusuki (2008) estende essa discussão afirmando que os modelos de Chapra e Ismail não

têm diferenças significativas, exceto em grau e ênfase. De acordo com Satkunasegaran

(2003), a aplicação do modelo de RSC de Ismail seria mais apropriada aos bancos

islâmicos que operam em países multi-religiosos, com diferentes comunidades religiosas

tradicionais. Por outro lado, aplicar o modelo de Chapra aos bancos islâmicos pode ser

mais bem-sucedido nos países com população muçulmana dominante, como no caso da

grande maioria dos países árabes (SATKUNASEGARAN, 2003).

3.7 Divulgação da RSC Islâmica: Obrigatoriedade versus voluntariedade

A divulgação financeira é o fornecimento de informações quantitativas nas

demonstrações financeiras, informações do segmento de negócios, informações de

pesquisa, informações estrangeiras e informações sobre preços. Por outro lado, inclui os

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detalhes de informações não financeiras, como divulgação sobre os administradores,

funcionários ou ativos intangíveis (WILLIAMS, 2008).

Em geral, a divulgação voluntária pode ser definida como qualquer divulgação por

empresas não obrigadas por lei e/ou órgãos reguladores. Em outras palavras, a divulgação

voluntária é a situação em que as empresas divulgam informações que não são exigidas

por lei ou regulamentos e excede o requisito mínimo de divulgação de relatórios

financeiros obrigatórios. O disclosure voluntário é um canal fundamental de informação

entre os gestores e os stakeholders. Ele é uma das três principais fontes de informação

que formam o ambiente de informação corporativa e a percepção de influência dos

investidores de uma empresa (BEYER et al., 2010).

Ao contrário das demonstrações financeiras obrigatórias e os relatórios de ações de

analistas de mercado, a divulgação voluntária é discricionária dos gestores. Dessa forma,

gestores podem optar por transmitir ou não as informações sobre previsão de lucro, novo

portfólio de produtos, decisões de investimento e de outras políticas corporativas para

orientar o mercado ou para servir a certos incentivos gerenciais. Uma corrente da

literatura descobriu que os gerentes fazem a divulgação voluntária estrategicamente para

facilitar o insider trading, isto é, negociações com informações privilegiadas, (e.g.,

CHENG; LO, 2006; CHENG et al., 2013), fusões e aquisições (AMEL-ZADEH et al.,

2013), recompra de ações (BROCKMAN et al., 2008), concessão de opções de ações

(ABOODY; KASZNIK, 2000) e o exercício dessas opções (BROCKMAN et al., 2010).

As empresas evidenciam informações adicionais para se diferenciar das demais empresas,

captando mais recursos por parte dos investidores e mantendo um bom relacionamento

com o público externo, uma vez que a empresa objetiva futuras negociações com

emissões de títulos (SÁNCHEZ et al., 2011). De acordo com Lanzana (2004), trata-se de

uma ferramenta importante de diferenciação, já que possibilita às empresas fornecer

informações acerca de seu desempenho, estratégia, visão de mercado, programas de

investimento, dentre outros.

O processo de divulgação de informações estratégicas gera para as organizações

consequências favoráveis e desfavoráveis, dependendo da forma como é auferida a

respectiva divulgação, e de quais objetivos a empresa deseja atingir (SÁNCHEZ et al.,

2011). Além dos benefícios trazidos quanto ao monitoramento de informações por parte

dos usuários externos em relação às operações, estudos demonstram que a prática de

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disclosure voluntário traz benefícios para a própria empresa. Welker (1995), por exemplo,

analisou 427 empresas de 28 setores nos EUA, concluindo que o disclosure aumenta a

liquidez das ações no mercado de capitais. Botosan (1997), Hail (2002), Francis, Krurana

e Pereira (2005) e Alencar (2007) apontam que empresas com melhor disclosure

apresentam menor custo de capital próprio. Já Sengupta (1998) aponta para um menor

custo de capital de terceiros como benefício. Welker (1995), Healy et al. (1999), Leuz e

Verrecchia (2000) e Zhou (2004) identificaram ações mais líquidas. Já Healy et al. (1999)

e Lang e Lundholm (2000) mencionam ações mais líquidas como benefícios.

Como desvantagem de apresentação de informações voluntárias, tem-se, principalmente,

o custo para essas divulgações, custos esses relacionados à preparação e à certificação

(auditoria) das demonstrações contábeis, de oportunidade do pessoal envolvido nesse

trabalho (LEUZ; WYSOCKI, 2008) e os custos de publicação dos relatórios, em alguns

países, em jornais de grande circulação (PIRCH et al., 2007; MURCIA, 2009).

Do ponto de vista do cliente, eles tendem a solicitar mais informações, de forma rápida e

atempada ao longo dos anos. Ele gravou um papel para a Internet como um meio de

exposição (ALY, SIMON; HUSSAINEY, 2010) e tornou-se um meio alternativo para a

divulgação oportuna pelas empresas (ABDELSALAM; STREET, 2007). Uma empresa

com maior divulgação tem mais analistas que as seguem, falta de divulgação da previsão

dos analistas e menor volatilidade na previsão de transmissão (LUNDHOLM LANG,

1993). Piotroski (1999) descobriu que a divulgação voluntária poderia melhorar a

precisão das previsões dos analistas e reduzir a disseminação da previsão.

Ao melhorar as IFIs para cumprir sua responsabilidade religiosa e social, o AAOIFI tem

padrões uniformes sobre as atividades de RSC e o cumprimento das IFIs. O principal

objetivo da norma é assegurar que as atividades de RSC e a conformidade das IFIs sejam

comunicadas de maneira uniforme, verdadeira, transparente e abrangente às partes

interessadas relevantes, às quais as IFIs têm um dever de responsabilidade. Tal

responsabilidade, consiste em 5 condutas obrigatórias e 6 voluntárias, que abrangem

todos os aspectos da RSC (tratadas neste estudo como dimensões de RSC), como a

responsabilidade social em relação aos funcionários, clientes e sociedade. Essa diretriz

será usada para desenvolver o índice de divulgação, separando em divulgação voluntária

e obrigatória, para medir o nível de informações de RSC divulgadas entre os bancos

islâmicos e convencionais escolhidos para a composição da amostra.

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4 REVISÃO DA LITERATURA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA ISLÂMICA E CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES

O presente Capítulo discute os determinantes da divulgação da RSC nos bancos islâmicos

e suas consequências, tanto nos bancos islâmicos quanto convencionais, desenvolvendo

assim as hipóteses desta tese. Todas as hipóteses foram desenvolvidas com base nas

lacunas identificadas na revisão da literatura precedente e alicerçadas na teoria pertinente

para o estudo, conforme já apresentado e discutido nos Capítulos 2 e 3 desta tese.

4.1 Bancos Islâmicos e Responsabilidade Social Corporativa (RSC)

O surgimento dos bancos islâmicos se deu em função da crítica dos muçulmanos aos

bancos convencionais que cobravam juros sobre suas atividades bancárias, fato que

afrontava seus valores e princípios religiosos. Verificou-se, por parte dos muçulmanos,

que a prática dos juros poderia provocar um efeito negativo no desenvolvimento do

sistema socioeconômico ao redor do mundo, o que chocava frontalmente com os valores

econômicos do Islã (SIDDIQUI, 1980; ARIFF, 1988; LEWIS; ALGAOUD, 2001;

VOGEL, 2005; AHMAD; HASSAN, 2006). A proibição da cobrança da riba no Islã pode

ser vista como parte da visão geral da religião, que considera a economia islâmica

orientada à moralidade e ao bem-estar social (SHEU; LIU, 2010). Dessa forma, o banco

islâmico foi introduzido como uma alternativa ao sistema bancário convencional,

inicialmente nos países de maioria islâmica e nos tempos mais recentes em diversos países

ocidentais. Os bancos islâmicos possuem uma forte responsabilidade social e apresentam,

como uma de suas finalidades expressas, a de estabelecer a distribuição justa da renda e

equidade na mobilização eficiente do capital. Essas características sugerem claramente

que os bancos islâmicos devem mostrar um forte senso de responsabilidade social. O

exame da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) dos bancos islâmicos foi, portanto,

importante para determinar se a sua prática social está alinhada com o espírito de seu

estabelecimento, isto é, com a essência da religião islâmica e de suas bases doutrinárias.

O compromisso dos bancos islâmicos com a RSC deriva da forte influência exercida pela

religião em todos os seus aspectos sociais. O sistema bancário islâmico baseia-se em três

filosofias principais, que o distinguem dos bancos convencionais. Primeiro, os bancos

islâmicos devem buscar uma sociedade justa e equilibrada, conforme previsto pela

economia islâmica. Em segundo lugar, o banco islâmico é construído com base nos

princípios de fraternidade, cooperação e no sistema de compartilhamento de perdas e

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lucros. Por último, como um sistema fundamentado no quadro ético e moral da lei

islâmica da Sharia, as finanças islâmicas são caracterizadas por normas éticas e

compromissos sociais mais explícitos quando comparados aos seus pares convencionais

(DUSUKI; ABDULLAH, 2007).

Nesse sentido, um dos principais objetivos dos bancos islâmicos é o de trabalhar para o

estabelecimento de uma sociedade islâmica justa e criar um aprofundamento do espírito

religioso entre as pessoas. A existência dos bancos islâmicos baseia-se na visão e no

espírito religiosos. Assim, os bancos islâmicos devem garantir que suas atividades

respeitem estritamente as regras da Sharia. Portanto, eles devem garantir que todas as

ações e atividades empresariais reflitam todos os princípios islâmicos. Per si, as

obrigações dos bancos islâmicos em relação à sociedade são maiores do que as dos bancos

convencionais, pois um banco islâmico tem uma certa missão filosófica para alcançar.

Dessa forma, devem se curvar à ideia de que Allah é o verdadeiro controlador de todos

os recursos, inclusive o tempo. Os seres humanos e as instituições têm um papel

subjacente na sociedade, quando comparados com Deus, segundo a doutrina islâmica. Por

conseguinte, os bancos islâmicos não são livres para fazer o que desejam e devem

conjugar os valores morais com a ação econômica socialmente responsável. Um banco

islâmico deve, por exemplo, conceder crédito a quem tem talento e experiência para

geração de riqueza, fortalecendo assim os fundamentos econômicos da sociedade

(AHMAD; HASSAN, 2006; RASHID et al., 2013).

As atividades e as operações dos bancos islâmicos não são apenas baseadas em regras e

regulamentos governamentais, mas, ao mesmo tempo, devem cumprir a Sharia, conforme

verificado no Capítulo 2 desta tese. Como consequência direta dessa máxima, as

atividades permitidas aos bancos islâmicos são muito limitadas, quando comparadas com

as dos bancos convencionais, que não estão sujeitas a tais restrições, sendo obrigadas a

cumprir somente a legislação e não obrigações religiosas adicionais. Todas as atividades

que contradizem valores e princípios islâmicos devem ser evitadas e banidas de uma

operação bancária. Os bancos islâmicos também não devem investir em empresas que

violam os direitos humanos e afetam o meio ambiente (ULLAH; JAMALI, 2010).

Ademais, os bancos islâmicos não possuem permissão para financiar qualquer empresa

envolvida em atividades relacionadas com carne de porco, pornografia, tabaco, jogos de

azar e bebidas alcoólicas (NATHAN; RIBIÈRE, 2007). Como consequência, os bancos

islâmicos trazem valores éticos e responsabilidade social às práticas bancárias,

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simplesmente porque são obrigados a respeitar a Sharia, que está carregada de valores

morais (KAHF, 1996; DUSUKI; ABDULLAH, 2007).

Embora os princípios acima restrinjam, de certa forma, a atividade das empresas

islâmicas, as Instituições Financeiras Islâmicas, de maneira geral, apoiam os valores e

atividades essenciais das entidades econômicas que cultivem o empreendedorismo, o

comércio e que tragam desenvolvimento ou benefício social (BNM, 2010). Esses valores

fundamentais são um dos mais importantes princípios subjacentes aos bancos islâmicos.

Assim, a contribuição dos bancos islâmicos para a prática de RSC é muito relevante, uma

vez que são conduzidos pela filosofia religiosa e devem, teoricamente, evidenciar

políticas de RSC mais fundadas em valores éticos e morais (KHAN; MIRAKHOR, 1987).

4.2 Estudos recentes sobre divulgação da RSC na perspectiva Islâmica

Esta seção fará a revisão da literatura sobre a divulgação da RSC a partir de perspectivas

islâmicas. A discussão envolvendo a divulgação de RSC sob a perspectiva islâmica não

é tão recente. Consta e é explicada, inclusive, no próprio Corão. Lewis (2007) enfatiza

que, se o propósito da informação contábil é a de servir o interesse público, isso implica

que, em um contexto islâmico, a Ummah (Comunidade) tem o direito de conhecer o efeito

das operações ou do investimento dos bancos islâmicos no seu bem-estar e garantir que

ele esteja plenamente aderente aos requisitos da Sharia.

Uma vez que os valores e princípios que sustentam o ensino e a filosofia islâmicos estão

relacionados com a noção de RSC, vários estudos tentaram refletir a noção de

responsabilidade social e ambiental e suas relações com os valores do Islã, como nas

pesquisas de Lewis (2001) e Kamla (2009). Uma série de outros estudos investigaram a

prática da divulgação social e ambiental em empresas que conduzem seus negócios de

acordo com a Sharia como os de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hassan e

Harahap (2010), Williams e Zinkin (2010) e Aribi e Gao (2012), que investigaram se os

pilares do Islã são consistentes, inclusive, com os dez princípios dos negócios socialmente

responsáveis, delineados no Pacto Global das Nações Unidas. A pesquisa concluiu que,

com exceção do foco do Islã na responsabilidade de pessoal e o não reconhecimento da

empresa como uma pessoa jurídica, o que poderia prejudicar o conceito de

responsabilidade corporativa, não há divergência entre os pilares do Islã e os princípios

do Pacto da ONU. Na verdade, o Islã, muitas vezes, vai além e tem a vantagem de uma

codificação mais clara dos padrões éticos, bem como um conjunto de mecanismos

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explícitos de execução. Eles sugeriram focar nessa convergência de valores, pois poderia

ser útil ao desenvolvimento de uma nova compreensão da RSC em um contexto global,

bem como ajudar a evitar certos choques entre as Nações.

A pesquisa de Mohammed (2007) sobre valores e princípios de RSC investigou se as

divulgações realizadas pelas IFIs estavam de acordo com o que foi praticado pelas

Instituições Financeiras Ocidentais. O estudo foi conduzido em bancos islâmicos

concentrados na Malásia, nos Emirados Árabes Unidos, na Arábia Saudita e no Reino

Unido. A descoberta conclui que os bancos islâmicos que aderem aos princípios da Sharia

são naturalmente obrigados a adotar uma postura de maior responsabilidade social. Em

teoria, os bancos islâmicos estão totalmente compatíveis com a Sharia e implementam

todos os valores islâmicos em suas operações. No entanto, alguns pesquisadores

argumentam que não há como afirmar se existe aderência entre o que é produzido, em

termos informacionais, respeitando as Leis Islâmicas, por uma Instituição Financeira

Islâmica, uma vez que não há um órgão regulador acima dessas IFIs que assegure o nível

de conformidade com esses preceitos (KHAN, 2010; RASHID et al., 2013).

A configuração atual dos bancos islâmicos existe há quase sessenta anos, conforme já

mencionado no Capítulo 2, desde a sua criação durante a década de 1960. Durante esse

período, o banco islâmico se desenvolveu rapidamente e, atualmente, não é mais um

conceito estranho ou exótico para os pesquisadores e investidores. Os produtos e serviços

islâmicos prestados são bem aceitos, não só entre os países muçulmanos, mas também

nos países não muçulmanos, como no caso dos países europeus. No entanto, há uma falta

de discussão sobre o desempenho dos bancos islâmicos em termos de responsabilidade

social corporativa em comparação com os bancos convencionais. Basah e Yusuf (2013)

conduziram um estudo para analisar a relação entre bancos islâmicos e seu Desempenho

Social Corporativo (DSC). Examinaram e analisaram a literatura relevante, que

desenvolve a relação entre o conceito de bancos islâmicos e RSC. Foi uma tentativa

conceitual de discutir como os princípios dos bancos islâmicos podem influenciar a

implementação da RSC. Partiram do pressuposto de que as características religiosas que

atuaram como base para o estabelecimento dos bancos islâmicos devem ter influência na

responsabilidade social das empresas. A conclusão foi a de que o conceito do banco

islâmico que, ou seja, aquele que cumpre a disposição religiosa, deve exibir atividades e

políticas de RSC mais proativas. Como consequência da pesquisa, comprovou-se que o

desempenho dos bancos islâmicos foi superior em comparação com os seus pares

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convencionais ou ocidentais e concluiu-se que os bancos islâmicos devem ser mais

responsáveis para harmonizar a prática de RSC, domesticamente ou internacionalmente,

para que possam gerar maior valor agregado às suas operações e servir de base ou

referência aos seus pares convencionais.

A linha mais importante da estrutura de Governança Corporativa para implementar e

adotar valores éticos islâmicos na RSC é o Conselho de Administração dos bancos.

Assim, Aribi e Arun (2015) realizaram um estudo sobre como as Instituições Financeiras

Islâmicas (IFIs) no Bahrein estão respondendo às necessidades de RSC demandadas pela

sociedade. Foram usadas 18 entrevistas semiestruturadas, em profundidade e entre 9

administradores de IFI, e a técnica de análise de conteúdo das divulgações de 7 IFIs

durante o período de 2006 a 2010. Tentaram, dessa forma, entender as percepções

gerenciais da RSC nas IFIs. A descoberta indicou que a compreensão completa da RSC

pelos gestores dos bancos não foi totalmente traduzida e refletida nos relatórios das

instituições. O órgão islâmico de regulamentação bancária e financeira deveria, portanto,

ser mais proativo para mitigar esse problema e utilizar plenamente os valores das IFIs ao

invés de se concentrar, única e exclusivamente, na maximização de lucros. Assim, para

que se preencha essa lacuna conceitual, essa tese realizará um estudo para discutir os

principais determinantes que levam os bancos islâmicos a divulgarem suas informações

de RSC e as consequências das práticas de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos

e convencionais do CCG.

Haniffa (2002) adotou uma abordagem normativa e ética para desenvolver uma estrutura

conceitual de divulgação de RSC baseada na Sharia. O estudo argumentou ainda que o

uso deste quadro serve para cumprir com os objetivos de responsabilidade e transparência

com a abordagem de três dimensões inter-relacionadas: o alcance dos preceitos divinos

em estabelecer a justiça socioeconômica, a realização de benefícios para a comunidade

cumprindo a obrigação e a busca pela riqueza. Para tanto, abordou a relação entre o

homem e Deus, relação do homem em sociedade, e também do homem com a natureza.

Este quadro levou em consideração os recursos financeiros, os aspectos morais e

espirituais. De acordo com Haniffa (2002), a prática islâmica de divulgação de

responsabilidade social deve ser diferente dos relatórios sociais convencionais, porque os

princípios subjacentes são diferentes, embora os conceitos básicos de responsabilidade

social e responsabilidade sejam os mesmos em ambos os casos. O trabalho sugeriu dois

objetivos gerais da Divulgação da Responsabilidade Social Corporativa Islâmica

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(DRSCI). O primeiro objetivo é o de demonstrar a responsabilidade perante Allah e a

Ummah. Já o segundo, seria o de demonstrar transparência nas atividades comerciais. No

entanto, Haniffa (2002) não examinou empiricamente o impacto dos valores religiosos

no desempenho dos bancos islâmicos.

Sulaiman e Willett (2003) salientaram que as questões de responsabilidade social e

contabilidade ambiental seriam componentes essenciais e que precisariam ser divulgados

em relatórios corporativos islâmicos. Eles interpretaram as diretrizes de relatório de

sustentabilidade do Global Reporting Initiative (GRI), como base para fornecer

indicadores de desempenho social e ambiental num modelo de relatório corporativo

islâmico, uma vez que o GRI fornece uma lista muito abrangente dos problemas sociais

e ambientais que uma empresa precisaria divulgar. No entanto, os autores enfatizaram

que, para o caso específico de relatórios corporativos islâmicos, o GRI não é adequado

para ser usado como guia de orientação para a estruturação de relatórios islâmicos. Diante

dessa outra lacuna, esta tese usará o AAOIFI ao invés do GRI como diretriz principal para

medir a prática de divulgação de RSC em bancos islâmicos e convencionais.

Estudos anteriores foram realizados para examinar a relação entre a divulgação da RSC

e o Islã, com o uso de relatórios anuais dos bancos islâmicos (e.g., HAMEED; YAHYA,

2003; MAALI et al., 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; e ANUAR et al., 2009). Anuar

e Ahmad (2009) forneceram evidências que apoiam a visão de que a religião islâmica tem

efeito significativo sobre os relatórios corporativos com viés ambiental. Usando a técnica

de análise de conteúdo, os autores compararam a prática ambiental das empresas, que

conduziam suas atividades de acordo com os princípios islâmicos, com a prática

ambiental de empresas não aprovadas pela Sharia, que operam exclusivamente na

Malásia. Os resultados fornecem algumas evidências de que as empresas aprovadas pela

Sharia têm um nível mais alto de transparência em seus relatórios ambientais do que as

empresas não aprovadas pela Sharia, isto é, aquelas que não seguem as regras religiosas.

As conclusões deste estudo, portanto, sugerem que a maior extensão do relatório

ambiental entre as empresas aprovadas pela Sharia pode refletir uma tentativa de tais

empresas de praticar relatórios corporativos que incorporem os princípios islâmicos de

divulgação completa da responsabilidade social. Cabe ressaltar, no entanto, que o estudo

realizado por Anuar et al. (2009) limitou-se a examinar a influência do islamismo apenas

na divulgação ambiental, e sua amostra foi baseada em empresas industriais, excluindo

instituições financeiras islâmicas, como bancos islâmicos. Diante disso, torna-se

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necessário o estudo da influência do Islã sobre a RSC dos bancos islâmicos que devem

seguir a Sharia em todas as suas atividades e transações. Os stakeholders, portanto,

percebem os bancos islâmicos como entes dotados de responsabilidade social e

econômica. (MAALI et al., 2006). A presente tese, portanto, será conduzida também para

complementar as principais descobertas de Anuar et al. (2009).

Farook et al. (2011) mediram o nível de DRSC de 47 IFIs que operavam em 14 países e

fizeram observações sobre os determinantes ou motivadores dessa divulgação. Usando o

índice de divulgação, derivado dos estudos de Maali et al. (2006), mediram o nível de

DRSC em IFIs e desenvolveram um modelo que relaciona a DRSC com influências sócio-

políticas e fatores de governança corporativa. Seus resultados mostraram diferenças nos

níveis de divulgação dentro da amostra pesquisada. As principais fontes de variação

foram os contextos sociopolíticos dentro dos quais as IFIs operam, enquanto o driver mais

importante para a DRSC é a pressão do público externo ou stakeholders. No entanto,

concluem que é difícil generalizar e extrapolar os resultados sobre práticas comerciais em

todos os países do mundo islâmico, em função da sua diversidade étnica, uma vez que

estão em estados de desenvolvimento muito diferentes.

Yahya et al. (2005) mediram o nível de DRSC em empresas alinhadas com a Sharia na

Malásia. Das 194 empresas em sua amostra, apenas 102 empresas divulgaram suas

atividades sociais nos relatórios anuais. Eles investigaram ainda a relação entre o nível de

DRSC e o número de ações de fundos de ações de capital próprio nas mesmas empresas.

Seus resultados revelaram que o percentual do número de fundos de ações islâmicos que

investem em qualquer empresa é semelhante ao nível de atividades sociais divulgadas

pela empresa. Os estudos de Maali et al. (2006) é um dos estudos empíricos que tentaram

investigar a influência do Islã sobre os relatórios sociais das IFIs.

Com base no texto islâmico e nos estudos anteriores relevantes, Kamla (2007) elaborou

e discutiu alguns princípios islâmicos fundamentais. A pesquisa concluiu que o Islã

prestava atenção ao meio ambiente sob uma perspectiva holística. Além disso, ele

argumentou que os princípios islâmicos têm relevância muito geral em relação às

preocupações de governar o meio ambiente com suas implicações contábeis. No entanto,

os estudos acima são principalmente conceituais. Por conseguinte, é necessário investigar

empiricamente a influência religiosa sobre a divulgação da RSC na prática através da

medição da informação de divulgação da RSC sobre questões ambientais, que é uma das

propostas desta tese.

Page 164: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

164

Com base nos princípios islâmicos e no código de ética islâmico, Maali et al. (2006)

desenvolveram uma referência ou padrão para a divulgação social, isto é, o que eles

esperariam que os bancos islâmicos forneçam. No entanto, seus resultados indicam que a

extensão da divulgação social pelos bancos islâmicos está muito aquém do ponto de

referência desenvolvido. Suas descobertas indicam que há uma variação considerável nos

diferentes tipos de relatório social voluntário entre os bancos islâmicos. Maali et al.

(2006) concluem que os bancos islâmicos têm um longo caminho a percorrer para atender

às expectativas da comunidade islâmica.

No entanto, uma vez que a prática de relatórios corporativos, incluindo relatórios sociais

corporativos, varia de acordo com os países, alguns desses estudos compararam se o

volume e a extensão da divulgação de RSC entre bancos islâmicos que operam em países

islâmicos em desenvolvimento e países não islâmicos desenvolvidos. As pesquisas

possuem conclusões imprecisas na comparação de bancos islâmicos de países em

desenvolvimento com bancos islâmicos presentes em países desenvolvidos. Isso ocorre

porque essa comparação não leva em consideração as diferenças de fatores ambientais

entre diferentes países não islâmicos. Portanto, é necessário replicar este estudo em países

que possuem ambientes comerciais e sociais semelhantes. Dessa forma, a presente tese

escolheu os seis países que fazem parte do CCG, pois, em certa medida, estão inseridos

em ambientes econômicos, políticos e sociais similares.

Haniffa e Hudaib (2007) realizaram um estudo longitudinal dos relatórios anuais de sete

IFIs em quatro países da região do Golfo Pérsico. Eles usaram o método de análise de

conteúdo para examinar a eficácia dos bancos islâmicos na comunicação de sua

identidade ética. A pesquisa buscou verificar se existia alguma discrepância entre os

comunicados (com base na informação divulgada nos relatórios anuais) e a divulgação

ideal de informação (considerada vital com base no modelo de negócios éticos islâmicos).

Consequentemente, a expectativa era de que as IFIs deveriam cumprir os preceitos da

Sharia em seus relatórios. É interessante notar que suas descobertas estão muito aquém

do que se esperava numa comunicação perfeita, do ponto de vista ético e social no

contexto das IFIs e no contexto islâmico. No entanto, eles descrevem que os relatórios

variaram ao longo do período de três anos, sugerindo que a comunicação não é estática e

muitas vezes mínima. Isso pode ser atribuído a uma falta de pressão e a uma atitude

indiferente dos stakeholders e também da cultura mais rigorosa predominante na região.

De maneira semelhante aos estudos já mencionados, o resultado foi limitado à análise de

Page 165: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

165

conteúdo de uma pequena amostra. Assim, aumentar o tamanho da amostra

proporcionaria informações mais úteis sobre o plausível motivo de informações mínimas

e falta de clareza e consistência na prática de divulgação pelas IFIs (HANIFFA;

HUDAIB, 2004). Seguindo esse estudo, o tamanho da amostra nesta tese está ampliado,

uma vez que conta com 40 dos 62 bancos islâmicos da região do CCG, o que contribui

para o preenchimento desta lacuna identificada.

Rahman (2010) examinou os temas relacionados à RSC do Bank Islam Malaysia Berhad

(BIMB) no período de 1992 a 2005, bem como suas tendências de divulgação. Um índice

de divulgação, baseado numa lista de verificação e a extensão dessas divulgações foram

medidas, utilizando-se da análise de conteúdo e com base no número de frases dos

relatórios financeiros anuais. As descobertas deste estudo mostraram que o BIMB prefere

divulgar temas associados a empregados, produtos e contribuições de serviços e

envolvimento com a comunidade. Entre os temas locais mais populares de divulgação de

tais informações, constam, o relatório do presidente, as demonstrações financeiras e o

relatório da administração. Os resultados também revelaram que o banco melhorou, em

termos de volume e a maneira de apresentar ou divulgar RSC, com o passar dos anos.

Este estudo foi o primeiro a usar essa tipologia e metodologia e foi conduzido em uma

indústria específica na Malásia usando uma abordagem longitudinal. No entanto, as

descobertas não representam as tendências e práticas reais da prática de divulgação de

RSC no setor bancário islâmico, uma vez que apenas concentrou-se numa única

instituição financeira, num único país, a Malásia.

Em geral, os estudos anteriores deixaram lacunas na literatura para que se pudesse ampliar

a pesquisa de divulgação de RSC no contexto das IFIs e proporcionar uma oportunidade

para contribuir ainda mais para o conhecimento de RSC e DRSC. A maioria desses

estudos estavam preocupados com a prática geral de negócios numa perspectiva islâmica,

faltando uma discussão aprofundada e análise dos elementos envolvidos na RSC.

Portanto, a presente tese investigará empiricamente a relação entre o Islã, a RSC e

divulgação da RSC. Para tanto, serão replicados estudos prévios já mencionados e

ampliadas as discussões, para que se possa examinar os determinantes e as consequências

da prática de divulgação da RSC entre os bancos da amostra nos países do CCG.

A Tabela 6 a seguir fornece os resumos de estudos anteriores de RSC e DRSC a partir da

perspectiva islâmica:

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170

4.3 Estudos recentes sobre divulgação da RSC em bancos islâmicos

Uma série de estudos investigaram o nível de divulgação de RSC dos bancos islâmicos,

utilizando-se da técnica de análise de conteúdo e o índice de divulgação de RSC (e.g.,

MAALI et al. (2006); HANIFFA; HUDAIB (2007); RAHMAN et al. (2010); FAROOK

et al. (2011); ABDUL; BUKAIR (2013); BELAL et al. (2014); FARAG et al. (2014)).

PLATONOVA (2014) investiga a extensão das atividades sociais divulgadas por 29

bancos islâmicos em diferentes países. Foram comparadas as divulgações de tais

atividades com práticas sociais que os bancos islâmicos deveriam adotar e que são

particularmente relevantes para a sociedade. As práticas sociais esperadas foram então

combinadas em um padrão para relatórios sociais de bancos islâmicos. Usou-se a técnica

de análise de conteúdo e foi possível descobrir que as práticas de divulgação social

adotadas pelos bancos da amostra estavam muito abaixo das expectativas baseadas nos

princípios da Sharia. Portanto concluiu-se que os bancos que atendem a questões

obrigatórias, como o pagamento de Zakat e a adoção de padrões AAOIFI, tendem a

fornecer mais divulgações do que bancos que não estão em conformidade com esses dois

dispositivos. Além disso, a conclusão indica que a maioria dos bancos divulga informação

de RSC para construir uma imagem positiva perante a sociedade. A partir da análise,

observou-se que a maioria dos bancos islâmicos tendem a destacar a informação

divulgada pela RSC relacionada aos valores da realidade islâmica, como as atividades de

caridade.

Haniffa e Hudaib (2007) investigaram a identidade ética baseada no quadro de negócios

moral islâmico ideal (padrão definido) em 7 bancos islâmicos dos países do CCG usando

seus relatórios anuais como base para as conclusões. Eles criaram uma referência ideal

de divulgação ética, com base nas cinco características que distinguem os bancos

islâmicos dos bancos convencionais. Usando a análise de conteúdo de relatórios anuais

para determinar a extensão da divulgação de RSC, chegaram numa diferença significativa

entre a divulgação ética comunicada e ideal nos relatórios anuais de uma amostra de 7

bancos islâmicos ao longo de um período de 3 anos. Eles descobriram que os bancos

islâmicos divulgam informações adicionais relacionadas a quatro dimensões de oito

possíveis, que também estão sendo empregadas nesta tese. Essas dimensões são Visão e

Missão, Conselho de Administração e alta Administração, produtos e serviços, Zakat,

empréstimos de caridade e benevolentes, funcionários, devedores, comunidade e

sociedade e Conselho de Supervisão da Sharia (CSS). Eles concluíram que, para que os

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171

bancos islâmicos permaneçam competitivos, eles precisam se comunicar de forma mais

eficaz para melhorar sua imagem e reputação perante a sociedade islâmica e não islâmica.

Usando uma abordagem de estudo de caso longitudinal, Abdul Rahman et al. (2010)

investigaram os temas, locais, extensão e tendências da divulgação de RSC pelo Bank

Islam Malaysia Berhad (BIMB) durante o período de 1992 a 2005. O índice de divulgação

RSC foi desenvolvido, que consiste em nove temas: restrições da supervisão, transações

ilegais, obrigação do Zakat, fundo Qard, envolvimento da comunidade, funcionários,

meio ambiente, contribuição de produto/serviço e o Conselho de Supervisão da Sharia.

Os resultados mostraram que a maior pontuação de divulgação foi a do Conselho de

Supervisão da Sharia, seguido pelos funcionários. No entanto, o BIMB não fornece

nenhuma forma de informação relacionada aos temas de restrições de supervisão,

transações ilegais e meio ambiente. Os locais mais comuns na divulgação de informações

sobre RSC são a declaração do presidente e as demonstrações financeiras. Em geral, o

volume e a qualidade da divulgação da RSC melhoraram ao longo do período de estudo

de 14 anos e os bancos melhoraram, em termos de quantidade e forma de fornecer

informações de RSC nos relatórios anuais ano após ano.

Hassan e Harahap (2010) realizaram um estudo semelhante ao de Haniffa e Hudaib

(2007), focando na divulgação de atividades sociais nos relatórios anuais de sete bancos

islâmicos. Eles encontraram uma diferença de expectativas significativa em todos, exceto

um dos sete bancos islâmicos, e deduziram que as questões de RSC não são a principal

preocupação para a maioria dos bancos islâmicos. Eles concluíram que alguns bancos

islâmicos prestam pouca atenção nas divulgações de suas atividades sociais e, portanto,

defenderam um padrão de divulgação de RSC relevante para IFIs.

Farook et al. (2011), por sua vez, forneceram uma base prévia para a divulgação da RSC

em bancos islâmicos e investigaram a extensão e os determinantes da divulgação de

responsabilidade social corporativa nos relatórios anuais de 47 bancos islâmicos de 14

países. Analisaram empiricamente o nível de divulgação social em 47 relatórios anuais

dos bancos islâmicos, com base em um benchmark de RSC derivado do estudo de Maali

et al. (2006). Este estudo descobriu que o nível de liberdade social e política e a

porcentagem de depósitos em contas de investimento para ativos totais são fatores

importantes na determinação da divulgação de RSC pelos bancos islâmicos. A partir de

uma análise descritiva, eles encontraram diferenças significativas na divulgação da RSC

entre os bancos e sua variação substancial nas práticas de divulgação de RSC. Essa

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172

variação é melhor explicada pela presença da governança do Conselho de Supervisão da

Sharia (CSS) e pelo domínio dos muçulmanos em seus países de amostra é um fator

significativo que explica as variações de divulgação. Os autores concluíram que os órgãos

reguladores das IFIs deveriam considerar o CSS como obrigatório para todos os bancos

islâmicos, uma vez que garantiria a conformidade dos produtos financeiros com a Sharia.

Aribi e Gao (2012) analisaram as divulgações de RSC, através da leitura das

Demonstrações Financeiras, em 21 IFIs que operam nos países do CCG, para examinar a

influência do Islã sobre a RSC e a DRSC em IFIs. Eles descobriram que as principais

divulgações RSC estavam contidas nos relatórios de CSS com menos divulgação nos

relatórios anuais sobre outras informações islâmicas, como Zakat, empréstimos sem juros

ou benevolentes e doações às instituições de caridade.

Platonova (2014) analisou as atitudes e práticas de RSC dos bancos islâmicos na região

do CCG através de suas práticas de divulgação de RSC. Para tanto, analisou-se,

empiricamente, o impacto das práticas de divulgação da RSC em 24 bancos islâmicos do

CCG, com exceção de Omã, em relação ao seu desempenho financeiro. Os relatórios

anuais dos bancos islâmicos do CCG para o período de 2000 a 2011 foram avaliados pela

técnica da análise de conteúdo. O índice de divulgação RSC foi construído com base nas

oito dimensões desenvolvidas para esse fim. Apesar das altas expectativas de divulgação

completa e corporativamente responsável, os resultados da pesquisa não produziram

resultados encorajadores em termos de RSC. A maioria dos bancos islâmicos do CCG

revela significativamente menos informações do que é exigido, já que os índices de

divulgação da RSC para todos os bancos islâmicos permaneceram muito baixos em

comparação com a pontuação geral e também para cada uma das dimensões RSC

incluídas nos índices. Ao examinar o impacto das práticas de divulgação da RSC no

desempenho financeiro dos bancos islâmicos na região do CCG, os resultados indicaram

a relação positiva entre a divulgação da RSC e o desempenho financeiro. Concluiu-se,

por fim, que existe um vínculo positivo entre o desempenho social e financeiro

corporativo no setor bancário islâmico.

Belal et al. (2014) também adotaram um estudo longitudinal, mas com duas exceções

importantes. Em primeiro lugar, usaram um período de tempo mais longo de 28 anos e

observaram as tendências da divulgação de RSC de um banco islâmico de Bangladesh

em três fases distintas do setor bancário islâmico: pré-1990, durante os anos de 1990 e

2001 e pós-2001. Em segundo lugar, dividiram os requisitos dos relatórios éticos em duas

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173

vertentes: práticas de relatório: i) particulares, relativas à natureza dos bancos islâmicos

e especialmente às questões de conformidade da Sharia e ii) práticas de relatórios mais

genéricas que são mais relevantes para os grupos de stakeholders mais amplos, como

comunidade, funcionários e clientes. Foi encontrado um aumento geral nas divulgações

"Particulares” e "Genéricas" ao longo do período de estudo com uma mudança para

divulgações mais genéricas após o ano de 2006. Os autores concluíram em suas

descobertas que houve adesão do banco à abordagem minimalista de divulgação, sem

violar explicitamente a perspectiva mais ampla da Sharia.

Mallin et al. (2014) examinam a relação entre a RSC e o desempenho financeiro em

bancos islâmicos. Usaram, para tanto, um índice abrangente de RSC que envolveu dez

dimensões. Analisaram as divulgações de RSC em uma amostra de 90 bancos islâmicos

em 13 países. O índice de divulgação da RSC mostrou que os bancos islâmicos se

envolvem em uma variedade de atividades sociais. No entanto, os bancos islâmicos

pareceram demonstrar maior empenho na visão e missão, no conselho e na alta

administração, e nas dimensões dos produtos/serviços financeiros, ao mesmo tempo em

que é dada menor atenção à dimensão ambiental. Os bancos islâmicos também mostraram

uma consciência considerável das recomendações de divulgação obrigatória da

Organização de Contabilidade e Auditoria das Instituições Financeiras Islâmicas

(AAOIFI). No entanto, eles prestam menos atenção à divulgação voluntária de RSC.

Além disso, foi encontrada uma ênfase pronunciada na estratégia dos bancos islâmicos

para divulgações mais genéricas, sugerindo que a legitimidade desses bancos é reforçada

através do foco na divulgação aos stakeholders. A análise empírica destacou uma

associação positiva entre a divulgação da RSC e o desempenho financeiro. Pelo estudo

anterior há uma associação positiva e altamente significativa entre o tamanho do

Conselho de Supervisão da Sharia (CSS) e o Índice de Divulgação de RSC. Os resultados

da estimativa de mínimos quadrados de três estágios mostraram que a causalidade entre

as duas variáveis endógenas decorreram do desempenho financeiro para a divulgação da

RSC e pode-se concluir que a divulgação da RSC é determinada pelo desempenho

financeiro.

Rahman e Bukair (2015) examinaram empiricamente a influência do Conselho de

Supervisão da Sharia (CSS) e suas características no nível de DRSC em uma amostra de

53 bancos islâmicos que operavam nos países do Conselho de Cooperação do Golfo

(CCG) para o ano de 2008, com base em um índice de divulgação da perspectiva islâmica.

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174

Usaram, para tanto, a técnica de análise de conteúdo. As estatísticas descritivas mostraram

que existe um aumento na informação de RSC divulgada nos relatórios anuais de bancos

islâmicos. Além disso, foi utilizada a análise de regressão múltipla e, após ter avaliado o

tamanho do banco, o desempenho financeiro e o desempenho econômico, os resultados

indicam que a combinação de atributos CSS tem uma influência positiva e significativa

na divulgação de RSC. Tal fato evidencia que as características do CSS são fatores

importantes na determinação do nível de divulgação RSC.

A literatura precedente envolvendo a RSC em bancos islâmicos é em grande parte

composta por estudos quantitativos, que medem o volume de divulgações de RSC em

comparação com um padrão ideal, tirado de objetivos de RSC, baseados na Sharia e nos

padrões do AAOIFI. Geralmente encontram uma lacuna de expectativas entre

divulgações reais ou comunicadas e divulgações ideais ou esperadas. No entanto, as

principais limitações desses estudos são a dependência dos dados coletados dos relatórios

anuais e leitura dessas informações para inferir a divulgação da RSC. O relatório anual

em si não fornece a imagem verdadeira da divulgação da RSC, uma vez que os bancos

islâmicos podem divulgar alguns de seus fatores de responsabilidade social

separadamente em outros relatórios (por exemplo, relatório CSS, relatório de governança

corporativa e em seus sites). Nessa tese, portanto, os dados serão coletados principalmente

dos relatórios anuais. O número de bancos de amostras utilizados na literatura anterior

analisada é limitado, conforme reconhecido por Maali et al. (2006) e Haniffa e Hudaib

(2007). Neste estudo, o número de observações é relativamente grande (200 observações

no total, considerando 40 relatórios financeiros em 5 anos), em comparação com o maior

estudo até agora, 47 em Farook et al. (2011), mas também usa dados mais recentes de

2013 a 2017, o que fornece uma imagem clara da prática de divulgação da RSC nos

bancos islâmicos do CCG. Embora a maioria dos estudos tenha se referido a padrões do

AAOIFI (e.g., HASSAN; HARAHAP, 2010; AL-AJMI et al., 2015), nenhum deles foi

construído de forma abrangente usando o padrão AAOIFI nº7 de 2010. Portanto, essa tese

examinará a extensão da prática de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos de

amostra no CCG para o período de 2013 a 2017.

A Tabela 7 a seguir apresenta o resumo de estudos precedentes na literatura sobre

divulgação da RSC em bancos islâmicos.

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175

Tabela 7 – Estudos precedentes sobre o nível de DRSC em Bancos Islâmicos

Autores Período Índice Método Amostra Foco Dimensões

Maali et al. (2006) 2000 13,3 Análise de

Conteúdo

29 bancos em

16 países

Mensuração

da DRSC 9

Haniffa e Hudaib

(2007) 2002-2004 13,3

Análise de

Conteúdo

7 bancos em 6

países

Mensuração

da DRSC 8

Aribi (2009) 2004 48 Análise de

Conteúdo

42 IFIs no

CCG

Mensuração

da DRSC 8

Hassan e

Harahap (2010) 2006 37,6

Análise de

Conteúdo

7 Bancos

Islâmicos

Mensuração

da DRSC 8

Abdul Rahman et

al. (2010) 1992-2005 38

Análise de

Conteúdo

1 Banco

Islâmico na

Malásia

Mensuração

da DRSC 9

Farook et al.

(2011) 2007 17,0

Análise de

Conteúdo

47 Bancos em

14 países

Determinantes

da DRSC 3

Aribi et al. (2012) 2004 40 Análise de

Conteúdo

21 IFIs do

CCG

Mensuração

da DRSC 7

Hassan (2012) 2011 23 Análise de

Conteúdo

10 Bancos

Islâmicos

Mensuração

da DRSC 8

Abdul Rahman e

Bukhair (2013) 2008 83

Análise de

Conteúdo

53 Bancos

Islâmicos em

3 regiões

Mensuração

da DRSC 13

Hassan et al

(2013) 2001-2008 49

Análise de

Conteúdo

19 Bancos

Islâmicos

Mensuração

da DRSC 8

Kamla e Rammal

(2013) 2008 39

Análise de

Conteúdo

16 IFIs em 3

regiões

Mensuração

da DRSC 5

Platonova (2014) 2000-2011 49,9 Análise de

Conteúdo

7 Bancos

Islâmicos do

CCG

Mensuração

da DRSC 8

Belal et al. (2014) 1983-2010 42 Análise de

Conteúdo

11 Bancos

Islâmicos em

Bangladesh

Mensuração

da DRSC 16

Farag et al.

(2014) 2010-2011 44

Análise de

Conteúdo

90 Bancos

Islâmicos de

13 países

Determinantes

da DRSC 10

El-Halaby e

Hussainey (2015) 2013 26

Análise de

Conteúdo

138 bancos

islâmicos de

25 países

Determinantes

da DRSC 12

Fonte: Autor (2017).

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176

A Tabela 8 a seguir indica as áreas menos divulgadas pelos principais estudos envolvendo

divulgação da RSC islâmica. Por exemplo, informações sobre clientes insolventes, que

são cruciais para as instituições financeiras, foram as áreas menos divulgadas da DRSC

em Maali et al. (2006). Além disso, as divulgações ambientais foram as áreas que

contribuíram com a menor quantidade de informação que foi disponibilizada nos

relatórios anuais em Hassan e Harahap (2010) e nos outros estudos de Yusoff et al. (2013)

e Mallin et al. (2014). Isso pode ser devido à relativa irrelevância dessa categoria para as

entidades de serviços financeiros. No entanto, as informações sobre os gastos feitos com

a conscientização social de uma comunidade sobre os aspectos ambientais e as indústrias

prejudiciais ao meio ambiente financiadas por um banco seriam de grande importância.

Tabela 8 - Principais resultados das pesquisas precedentes da DRSCI

Autores Média do Nível de

Divulgação Área Menos Divulgada

Maali et al. (2006) 13,0% Clientes Insolventes

Hassan and Harahap (2010) 37,6% Meio Ambiente

Farook et al. (2011) 17,0% Não Detalhada

Yusoff et al. (2013) 37,5% Meio Ambiente

Mallin et al. (2014) 44,4% Meio Ambiente

Platonova et al. (2014) 49,9% Não Detalhada

Fonte: Autor (2017)

4.4 Estudos recentes sobre os determinantes da divulgação da RSC Islâmica

Esta seção destaca os estudos anteriores de divulgação de RSC em bancos islâmicos, que

examinaram o nível e os determinantes da divulgação de informações de RSC. Uma série

de estudos investigou o nível de divulgação da RSC em bancos islâmicos. Maali et al.

(2006) investigaram a extensão das atividades sociais divulgadas pelos bancos islâmicos.

O estudo comparou as divulgações de tais atividades com práticas sociais que os bancos

islâmicos deveriam adotar e que são particularmente relevantes para a sociedade. As

práticas sociais esperadas foram então combinadas com uma referência padronizada para

relatórios sociais por bancos islâmicos. Usou-se a análise de conteúdo, e as descobertas

indicaram que o nível de divulgação social pelos bancos de amostra estava bem abaixo

do índice de referência. Concluíram que os bancos que atendem a questões obrigatórias,

como o pagamento de Zakat e a adoção de padrões do AAOIFI, tendem a fornecer mais

divulgações do que bancos que não estejam em conformidade com tais dispositivos. Além

disso, os bancos islâmicos tendem a enfatizar divulgações que construam uma imagem

islâmica positiva, como atividades de caridade. Haniffa e Hudaib (2007) investigaram a

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177

divulgação de informações consideradas cruciais para a ética islâmica nos negócios. Eles

criaram uma referência ideal de divulgação ética com base em cinco características que

distinguem os bancos islâmicos dos bancos convencionais. Usaram também a técnica de

análise de conteúdo de relatórios anuais para determinar a extensão da divulgação de

RSC, encontrando diferenças significativas entre a divulgação ética comunicada e a ideal

nos relatórios anuais de uma amostra de 7 bancos islâmicos ao longo de um período de 3

anos. Concluíram que, para que os bancos islâmicos permaneçam competitivos, eles

precisam se comunicar de forma mais eficaz para melhorar sua imagem e reputação na

sociedade.

Abdul Rahman et al. (2010) examinaram a divulgação RSC de um banco islâmico da

Malásia. Eles descobriram que o volume e a qualidade da divulgação da RSC melhoraram

ao longo do período de estudo de 14 anos. Belal et al. (2014) também adotaram um estudo

longitudinal, mas com duas exceções particularmente significativas. Em primeiro lugar,

usaram um período de tempo mais longo de 28 anos, onde observaram tendências na

divulgação de RSC de um banco islâmico de Bangladesh em três fases distintivas do setor

bancário islâmico: pré 1990, entre 1990 e 2001 e pós 2001. Em segundo lugar, eles

dividem os requisitos éticos de relatórios em duas vertentes: práticas de relatório

"particulares", relacionadas à natureza dos bancos islâmicos e especialmente aos

problemas de conformidade da Sharia e práticas de relatórios "universais", que são mais

relevantes para os grupos de partes interessadas mais amplos, como comunidade,

funcionários e clientes. Eles encontraram um aumento geral em ambas as divulgações

após a obrigatoriedade de divulgação no país, por exigência dos reguladores.

Hassan e Harahap (2010) realizaram um estudo semelhante a Haniffa e Hudaib (2007),

focalizaram a divulgação de atividades sociais nos relatórios anuais de sete bancos

islâmicos. Os autores encontraram uma diferença de expectativas significativa em todos,

exceto um dos sete bancos islâmicos, e supuseram que as questões de RSC não são a

principal preocupação para a maioria dos bancos islâmicos. A pesquisa conclui que alguns

bancos islâmicos prestam pouca atenção para divulgar suas atividades sociais e, portanto,

defendeu um padrão de divulgação de RSC relevante para IFIs. Farook et al. (2011)

forneceram uma base prévia para a divulgação da RSC em bancos islâmicos. Eles

analisaram empiricamente o nível de divulgação social em 47 relatórios anuais dos bancos

islâmicos, com base em um padrão de RSC derivado do Maali et al. (2006). Eles

encontraram variações substanciais nas divulgações de RSC e esta variação é melhor

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178

explicada pela presença do conselho de supervisão da Sharia (CSS) e pela preponderância

de muçulmanos em seus países de amostra. Concluíram, dessa forma, que os órgãos

reguladores da banca islâmica devem considerar o CSS como obrigatório para todos os

bancos islâmicos. Aribi e Gao (2012) analisaram as divulgações narrativas da RSC em

21 IFIs, operam nos países do Golfo. Eles descobriram que as principais divulgações RSC

estavam contidas nos relatórios CSS com menos divulgação nos relatórios anuais sobre

outras informações islâmicas, como o Zakat, Qard Hassan (empréstimos benevolentes) e

doações de caridade. O conselho de supervisão da Sharia (CSS) também é um dos

principais determinantes da divulgação da RSC em bancos islâmicos. Um estudo de

Rahman e Bukair (2015) descobre que a combinação de atributos de CSS tem uma

influência positiva significativa na divulgação de RSC. Um estudo realizado por El-

Halaby e Hussainey (2015), para examinar os determinantes da RSC entre os bancos

islâmicos em 25 países, encontrou uma associação positiva entre os níveis de divulgação

da RSC e os padrões contábeis, o tamanho do comitê de auditoria e a existência de um

departamento de auditoria da Sharia.

Com base numa extensa revisão de estudos anteriores, percebe-se que ainda há uma falta

de estudos abrangentes que se concentrem em examinar o mecanismo de GC e a prática

de divulgação de RSC, especialmente entre os bancos islâmicos do CCG. Estudos

anteriores tendem a se concentrar em bancos islâmicos de forma isolada, como um estudo

realizado por Rahman (2010), que não são representativos da imagem completa da prática

de divulgação da RSC nas indústrias bancárias islâmicas. O número de bancos de

amostras utilizado na literatura foi limitado, conforme reconhecido por Maali et al. (2006)

e Haniffa e Hudaib (2007). Neste estudo, o número de observações dos bancos islâmicos

não são apenas maiores (200), em comparação com o maior estudo até agora (90 em Farag

et al., 2014), mas também fornecem dados mais recentes, que são de 2013 a 2017. Do

conhecimento da pesquisa, há apenas um estudo de El-Halaby e Hussainey, (2015) que

adotou AAOIFI (2010) para desenvolver seu índice de divulgação RSC. Outras pesquisas

anteriores tenderam a desenvolver seu índice com base em AAOIFI (2007). Assim, ao

usar um índice abrangente de divulgação de RSC desenvolvido com base nos padrões

AAOIFI atualizados e na literatura anterior, essa tese é um passo à frente na literatura

existente. A tese buscou preencher a lacuna em examinar os determinantes da divulgação

da RSC entre os bancos islâmicos no CCG. Motivado por estudos anteriores (e.g.,

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179

ZALATA; ROBERTS, 2016; HUANG; ZHANG, 2012), explora-se os determinantes da

divulgação da RSC e dos mecanismos de governança corporativa.

4.5 Determinantes do desenvolvimento da RSC e Hipóteses da pesquisa

Esta seção delineará as hipóteses que estão por trás dos determinantes de divulgação de

RSC dos bancos islâmicos do CCG, cumprindo o segundo objetivo e fornecendo uma

resposta para a segunda questão desta pesquisa (QP 2). Essa tese se concentrou na

governança corporativa (GC) com variáveis relacionadas ao Conselho de Administração

como uma categoria principal na estrutura de GC e não ignorou o CSS (variáveis

relacionadas ao CSS), que é um dos principais componentes de GC para bancos islâmicos.

A maioria dos estudos anteriores, que exploram a governança corporativa como um fator

por trás do nível de divulgação, focou apenas nas variáveis de GC relacionadas ao

Conselho de Administração sem considerar a estrutura singular do CSS (e.g., TAYLOR

et al., 2010; CONG; FREEDMAN, 2011; ELZAHAR; HUSSAINEY, 2012; BOKPIN,

2013; PLATONOVA, 2014; ALHAZAIMEH et al., 2014).

Um número limitado de estudos explora a GC relacionada ao CSS como um único

mecanismo para bancos islâmicos (e.g., ABDUL RAHMAN; BUKAIR, 2013; FAROOK

et al., 2011). Assim, a presente tese pretende preencher essa lacuna através da análise dos

impactos de variáveis relacionadas ao GC, CSS, Comitê de Auditoria e variáveis

relacionadas à propriedade para bancos islâmicos no CCG. Nessa esteira, mensura-se em

qual intensidade essas variáveis afetam os níveis de divulgação de RSC. Este estudo

contribui para a literatura RSC, uma vez que se examinam o os mecanismos da GC, que

contém variáveis relacionadas com o CA e o CSS, a fim de compreender de forma mais

completa como esses fatores afetam em conjunto o nível de conformidade islâmico.

O desenvolvimento da Teoria da Agência resultou na implementação de estruturas de

governança, pelo qual o controle das decisões é separado do gerenciamento das operações

(FAMA; JENSEN, 1983). Diversos estudos usaram o arcabouço teórico da Teoria da

Agência para testar hipóteses quanto à extensão da divulgação das características de

governança corporativa (XIAO; YUAN, 2007). A governança do setor bancário chamou

a atenção de estudiosos e reguladores. Hagendorff et al. (2007) concentraram suas

pesquisas no setor bancário apoiado pelo argumento de que requer uma análise de agência

separada. A singularidade das relações de agência nos bancos decorre do dever dos

administradores de proteger os fundos de todos os fornecedores de capital. Os bancos

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180

islâmicos devem seguir tanto os regulamentos estabelecidos pelos supervisores quanto os

princípios da Sharia (ARCHER et al., 1998). Portanto, enquanto os problemas de agência

em bancos convencionais surgem quando o Conselho de Administração se desvia de sua

responsabilidade para maximizar a riqueza dos acionistas, qualquer divergência dos

conselhos de bancos islâmicos de colocar todos os fundos fornecidos em investimentos

compatíveis com a Sharia cria uma fonte adicional de problemas de agência. A

divulgação corporativa apresenta uma oportunidade para aplicar a teoria da agência, como

gerentes com melhor acesso a uma empresa as informações privadas podem transmitir

uma comunicação credível e confiável ao mercado para otimizar o valor da empresa.

Os mecanismos de governança corporativa podem ser considerados fatores essenciais,

ilustrativos das decisões de divulgação corporativa relacionadas à RSC das perspectivas

da teoria da agência. Consequentemente, esses mecanismos serão medidos neste estudo.

Foram realizadas pesquisas muito limitadas para examinar o vínculo entre os mecanismos

de governança corporativa e a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos do

CCG. Para o melhor conhecimento, não há estudos prévios que explorem os

determinantes da divulgação da RSC entre os bancos islâmicos do CCG usando variáveis

do mecanismo de GC. Gul e Leung (2004) argumentam que o papel da governança

corporativa na relação da agência entre os gerentes e as partes interessadas é melhor

analisado, examinando vários mecanismos GC, mecanismos presentes nesta tese.

De acordo com Rahman e Bukair (2015), espera-se que vários fatores possam gerar

variações entre bancos islâmicos e suas práticas de divulgação de RSC. Estudos anteriores

(e.g., WAN; AMALINA, 2009; JO; HARJOTO, 2011) forneceram fortes evidências

sobre os mecanismos de governança corporativa que influenciaram a divulgação de

informações de RSC entre as empresas financeiras e não financeiras. Assim, no

desenvolvimento da hipótese de pesquisa, ao adaptar as hipóteses de Haniffa (1999) e El

Zahar (2013), esta tese usará características de governança corporativa como principais

variáveis explicativas e características da empresa como variáveis de controle na medição

dos determinantes da prática de divulgação de RSC em bancos islâmicos no CCG. As

próximas seções discutirão as variáveis de GC utilizadas nesta pesquisa.

4.5.1 Características da Governança Corporativa

Este estudo avaliará os determinantes de GC (como o tamanho do Conselho, a diretoria

de liderança do Conselho e a composição do quadro) e a prática de divulgação de RSC

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entre os bancos islâmicos. Para tanto, levará em consideração a maioria dos mecanismos

de GC (variáveis relacionadas ao quadro e variáveis relacionadas ao CSS) como

determinantes potenciais da divulgação de RSC de bancos islâmicos. A Organização de

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que a governança

corporativa envolve um conjunto de relações entre a administração, seu conselho, seus

acionistas e outras partes interessadas nos resultados econômicos da empresa.

De fato, os mecanismos de GC são introduzidos, com base na estrutura da teoria da

agência, para mitigar os comportamentos oportunistas dos gestores e reduzir a assimetria

da informação. Os mecanismos GC devem facilitar o monitoramento corporativo, pois

conduzem a uma melhoria no controle interno das empresas e, consequentemente,

estendem os níveis de divulgação (LEFTWICH et al., 1981; WELKER, 1995; HO;

WONG, 2001). Consequentemente, poderia prever-se que os mecanismos GC pudessem

melhorar os relatórios RSC. A maioria das pesquisas anteriores se concentrou em

mecanismos de GC que estão relacionados ao papel de monitoramento dos conselhos de

administração corporativos. No entanto, tais pesquisas não testaram a influência do

Conselho e suas características na quantidade de informações divulgadas, nem tampouco

as variáveis relacionadas ao CSS. Portanto, a presente tese irá preencher a lacuna testando

as variáveis relacionadas ao CA e CSS como se apresentará nas próximas seções.

4.5.1.1 Variáveis relacionadas ao Conselho de Administração (CA)

4.5.1.1.1 Variável 1: Tamanho do Conselho de Administração (TCA)

O Conselho de Administração é composto pelo número total de administradores

executivos e não executivos nesta estrutura de governança. Ele desempenha um papel

importante na governança corporativa de uma empresa, especialmente em bancos

islâmicos. Healy e Palepu (2001) declararam que eleger um conselho de administração

que atue em nome dos investidores é um mecanismo eficiente que afeta as decisões de

divulgação e controla os conflitos de agência. Em geral, o tamanho dos conselhos em uma

empresa, como um banco islâmico, pode melhorar sua eficiência no gerenciamento e

solução de problemas, tais como problemas relacionados à RSC. No entanto, Wang e

Hussainey (2013) alegaram que a eficácia dos conselhos maiores é negativamente afetada

pela presença de problemas de comunicação e coordenação. Por sua vez, alguns estudos

indicaram que os CAs maiores incorporam uma variedade de conhecimentos, o que

resulta em maior eficácia em termos de papel de monitoramento dos CAs (e.g., SINGH

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et al., 2004; ABDEL-FATTAH, 2007). Pode-se argumentar que os diretores que atuam

em conselhos maiores teriam mais incentivos para sinalizar seu papel na melhoria do

desempenho para várias partes e aumentar a conscientização sobre a divulgação de

informações RSC.

A evidência empírica na governança corporativa sugere que o tamanho do CA afeta o

nível de controle, monitoramento e divulgação (RAHMAN; BUKAIR, 2015). De acordo

com Chen e Jaggi (2000), um tamanho de CA maior pode diminuir a possibilidade de

assimetria de informação. A Teoria da Agência prevê que os maiores CAs incorporam

uma variedade de conhecimentos que resultam em maior eficácia no papel de

monitoramento de suas funções (SINGH et al., 2004). Além disso, um número maior de

membros do conselho também pode reduzir a incerteza e a falta de informação

(BIRNBAUM, 1984). O tamanho do conselho provavelmente afetará sua capacidade de

controlar e rever todas as transações para garantir suas operações. Argumenta-se que os

administradores mais talentosos são motivados a incentivar divulgações voluntárias

(GRAHAM et al., 2005). Este incentivo é relatado como sendo mais importante para

gerentes de empresas de menor e alto crescimento (GRAHAM et al., 2005). Diante disso,

diversos estudos apontam que um conselho com maior número de membros pode

melhorar o nível de monitoramento dos gestores, trazendo ganhos no nível de

evidenciação de informações, incluindo as de caráter não financeiras.

Com base na Teoria da Agência e na Teoria da Sinalização, espera-se, nesta tese, que os

tamanhos de CAs influenciem as capacidades de monitoramento do CA. Como resultado,

isso fornecerá influências positivas à prática de divulgação em bancos islâmicos. O

benefício de ter um CA maior é que ele pode aumentar o valor de uma empresa, pois

fornece variedade de membros de diferentes campos de especialização (KHAN, 2010).

Com base nesses argumentos, a presente tese estabelece a seguinte hipótese:

H1: Existe uma relação positiva entre a Divulgação de Responsabilidade Social

Corporativa (DRSC) e o tamanho do Conselho de Administração (TCA)

4.5.1.1.2 Variável 2: Gênero na composição do Conselho de Administração (GCA)

Foi evidenciado na literatura de GC que abordar a diversidade tornou-se um elemento

significativo do arranjo de governança nos últimos anos. Branco e Rodrigues (2008)

mencionaram que o tema da diversidade do quadro corresponde corretamente à estrutura

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da Teoria dos Stakeholders. Pesquisas anteriores indicaram que a diversidade do conselho

está associada a uma orientação mais forte para o relatório social corporativo e uma maior

intensidade de desempenho social (e.g., SICILIANO, 1996; IBRAHIM et al., 2011). De

acordo com Amran et al. (2014), a diversidade de gênero mostra-se positivamente

associada aos relatórios sociais corporativos. Os CAs com composição feminina são mais

sensíveis aos problemas de RSC do que os CAs predominantemente masculinos

(ADAMS, 2004). Também é sugerido que os conselhos com uma maior proporção de

diretores de mulheres tendem a fazer mais reuniões de conselho possíveis e padrões de

atendimento especiais nas reuniões do conselho, o que torna diferentes fóruns mais bem-

sucedidos do que CAs homogêneos. Portanto, as organizações com maior proporção de

mulheres na direção se envolvem em mais práticas de divulgação de RSC e atividades de

RSC, como atividades de caridade (WILLIAMS, 2003; HANIFFA; HUDAIB, 2007).

Com base na Teoria dos Stakeholders, pode-se formular a hipótese de que uma maior

proporção de mulheres presentes no CA pode influenciar a divulgação da RSC em bancos

islâmicos, com maior divulgação nos relatórios e maior segurança dessas informações

(FERNEEZ-FEIJOO et al., 2012). Em face desse contexto, é estabelecida a seguinte

hipótese:

H2: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC e o Gênero na

Composição do Conselho de Administração (GCA)

4.5.1.1.3 Variável 3: Composição do Conselho de Administração (CCA)

Além do tamanho, a composição do CA também reflete o quanto os bancos estão ligados

ao mundo exterior; como resultado, eles estarão mais conscientes dos problemas de RSC

e melhorarão sua prática de divulgação de RSC. A composição da diretoria é definida

como a proporção de diretores externos (não executivos/independentes) e diretores

internos (executivos/não independentes) em função do número total de diretores

nomeados na empresa (AL-SAIDI; AL-SHAMMARI, 2013). A composição do conselho

é vista como um indicador importante da independência do conselho; É afirma que a

independência dos diretores pode fortalecer o conselho através do acompanhamento,

assessoria e aconselhamento da alta administração (EERSON et al, 2004), protegendo os

interesses dos investidores, além de reduzir o custo da agência (CHOE; LEE, 2003). A

presença de diretores não executivos nos conselhos fornece janelas adicionais no mundo

(TRICKER, 1984). Em outras palavras, os diretores não executivos são percebidos para

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trazer uma visão nova e ampla para abordar a discussão e a tomada de decisões, como a

prática de divulgação de RSC.

Tricker (1984) ilustrou que o esforço de relatórios da RSC pode ser visto como uma

estratégia para o fechamento de um fosso de legitimidade percebido entre a administração

e os acionistas (especialmente os acionistas estrangeiros) através de diretores não

executivos. Os diretores não executivos são vistos como o mecanismo de verificação e

equilíbrio, não só para garantir que as empresas atuem nos melhores interesses dos

proprietários, mas também outras partes interessadas; aconselhando na apresentação

pública das atividades e desempenho da empresa e fornecendo janelas adicionais no

mundo. Além disso, Zahra e Stanton (1988) apontaram que são suscetíveis de responder

a preocupações sobre honra e obrigações e, em geral, estarão mais interessados em

satisfazer as responsabilidades sociais da empresa porque isso pode melhorar seu

prestígio e honra social. Fama e Jensen (1983) explicaram que os diretores não executivos

são considerados como um método confiável, equipado para disseminar conflitos de

agência entre gerentes e proprietários. Em vista das ideias derivadas da discussão acima,

a posição neste momento é que os diretores não executivos têm um papel essencial a

desempenhar nas empresas bancárias para assumir atividades de RSC com o objetivo de

assegurar a semelhança entre ações organizacionais e valores societários ou empresas

"Legitimidade". Com base na teoria da legitimidade, este estudo prevê que uma maior

composição dos conselhos não executivos melhoraria a prática de divulgação de RSC em

bancos islâmicos, onde os diretores não executivos reduzem o fosso de legitimidade entre

a administração e o acionista. Assim, surge a terceira hipótese deste estudo:

H3: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a

composição do Conselho de Administração (CCA)

4.5.1.1.4 Variável 4: Reuniões do Conselho de Administração (RCA)

As reuniões frequentes do conselho são importantes como um mecanismo de governança

corporativa porque permitem aos diretores controlarem efetivamente a empresa

(HOSSAIN, 2008; TUGGLE et al. 2010). Pode-se argumentar que os conselhos ativos

em bancos islâmicos (aqueles com reuniões mais frequentes) são mais propensos a

monitorar as atividades e relatórios financeiros de suas empresas. Os membros dos fóruns

ativos tendem a sinalizar seu desempenho para potenciais empregadores (HASAN, 2011).

Laksamana (2008) e Taha (2010) acham que existe uma associação positiva entre as

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reuniões do conselho e a transparência da divulgação da remuneração. De acordo com a

teoria da sinalização onde a reunião frequente do conselho representa um conselho mais

proativo, uma associação positiva entre as reuniões do conselho e a divulgação da RSC é

esperada e os membros ativos do conselho tendem a sinalizar seu desempenho para

potenciais empregadores (ZARITH, 2014). Portanto, a quarta hipótese deste estudo:

H4: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e o número de

reuniões do Conselho de Administração (CA)

4.5.1.1.5 Variável 5: Dualidade do CEO (DCEO)

A dualidade do CEO existe quando o Chief Executive Officer (CEO) ou diretor executivo

também é o presidente do Conselho de Administração. Gul e Leung (2004) declararam

que as empresas com dualidade de CEOs são mais propensas a estar associadas a níveis

mais baixos de divulgação, uma vez que é menos provável que o conselho seja efetivo no

gerenciamento de monitoramento e assegure um maior nível de transparência. A teoria

da Agência prevê que a dualidade do papel crie o poder individual para o CEO que afetaria

o controle efetivo exercido pelo conselho (RAHMAN, 2007; ZAHIR, 2008). Com base

na Teoria da Agência, a dualidade do CEO é considerada prejudicial porque o agente

pode prosseguir seus próprios interesses em detrimento dos proprietários.

Um aspecto da governança corporativa, que suscitou preocupação, é o fenômeno da

"personalidade dominante" e isso foi associado à falta de divulgação (FORKER, 1992).

Esse fenômeno também inclui a dualidade do papel, ou seja, quando o diretor executivo

(CEO) ou o diretor-gerente também é o presidente do conselho. Foi sugerido na literatura

anterior (e.g., TUGGLE et al., 2010; HASHIM; DEVI, 2008; RAMDANI;

WITTELOOSTUIJN, 2010; PENG et al., 2007) que esses dois papéis deveriam ser

separados, principalmente por razões de independência. Apesar da separação de papéis

sugerida, algumas empresas não estão preparadas para ser absolutamente categóricas

sobre a divisão dos papéis (RAHMAN; BUKAIR, 2015). Na prática de divulgação, a

presente tese acredita que a separação de papéis entre presidente do CA e o CEO

aumentará a qualidade de monitoramento e reduzirá os benefícios da retenção de

informações, o que pode resultar em uma melhor prática de divulgação de RSC em bancos

islâmicos. Com base na Teoria da Agência, os bancos islâmicos que apresentam a

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dualidade de CEOs devem ter uma melhor pontuação de divulgação RSC. Portanto, pode-

se formular a quinta hipótese de pesquisa:

H5: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a dualidade

do CEO (DCEO)

4.5.1.1.6 Variável 6: Participação cruzada em mais de um Conselho de

Administração (PCCA)

Outros determinantes potenciais relacionados às características do CA dizem respeito a

participação cruzada de seus membros. As participações cruzadas das administrações

referem-se à situação em que os conselheiros (executivo ou não executivo) ocupam mais

de um conselho. Quando um profissional da alta administração de uma determinada

companhia ocupa o cargo de membro do conselho de administração de outra empresa,

surge o fenômeno do board interlocking. Esta definição engloba a possibilidade de não

apenas os conselheiros, mas também os diretores, serem os elos de ligação entre

empresas. De acordo com a Teoria da Agência, o controle efetivo sobre o desempenho da

gestão será fornecido pela separação entre as duas posições (JENSEN; MECKLING,

1976; HANIFFA; COOKE, 2002). A concentração do poder decisório pode resultar em

um comportamento oportunista por esse conselheiro que venha a ocupar diversas cadeiras

em outros Conselhos (KHAN, 2010).

Embora a maioria dos trabalhos empíricos sobre o tema tenha observado uma correlação

negativa entre a participação de conselheiros em múltiplas empresas e os indicadores

financeiros das companhias (FICH; WHITE, 2001; LODERER; PEYER, 2002, FICH;

SHIVDASANI, 2006) faz-se necessário citar os trabalhos teóricos que preveem frutos

benéficos desta prática.

Do ponto de vista desta tese, é importante investigar o impacto dessa variável no relatório

de RSC, pois os resultados de estudos anteriores que examinaram a relação entre

dualidade de função e divulgação corporativa apresentaram resultados divergentes. Por

exemplo, sugeriu-se na literatura nas obras de Haniffa (1999), Lee (2009) e Ahmed (2013)

que a participação cruzada pode ajudar a tornar a informação mais transparente, além de

incentivar o compartilhamento de experiências. No entanto, também há pesquisadores

(AGUILERA; JACKSON, 2003; YOUNG et al., 2008; TAN; LEE; CHU, 2006) que

acreditam que isso irá colocar a empresa em desvantagem competitiva e, no caso de

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diretores executivos, pois sua participação em mais de um conselho os tornará menos

independentes.

Ao desenvolver a hipótese sobre a associação entre as participações cruzadas e a

divulgação da RSC, argumenta-se que as participações cruzadas irão encorajar as

empresas a serem transparentes porque esses diretores terão melhor conhecimento das

práticas nas empresas em que se sentam (LEWIS, 2005). Usando a mesma linha de

raciocínio, diretores que anteriormente experimentaram uma questão de relatório social e

como foi tratado, poderiam compartilhar esse conhecimento em outra empresa na qual

eles se sentam. No entanto, depende da quantidade de energia que eles têm para

influenciar as políticas de divulgação das empresas. Da mesma forma, quando o

presidente tem participações cruzadas, ele /ela estaria em melhor posição para influenciar

os conselhos, uma vez que eles não só têm relativamente mais poder, mas também mais

experiência sobre políticas de divulgação em outras empresas nas quais eles se sentam.

Mas, se a demanda por tais informações fosse baixa, então seria difícil para as cadeiras

influenciar a administração a divulgar mais informações. Com base na Teoria da Agência,

espera-se que bancos islâmicos que não tenham administrador possuindo participação

cruzada (em múltiplos Conselhos) tenham um melhor controle de gestão e desempenho

efetivo, como resultado, têm melhor pontuação de divulgação RSC.

Diante do exposto, surge a sexta hipótese deste estudo:

H6: Existe uma relação positiva entre a divulgação da RSC (DRSC) e a

participação cruzada dos Conselheiros em mais de um Conselho de Administração

(PCCA)

4.5.1.2 Variáveis relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia (CSS)

O CSS tem influência e autoridade social no monitoramento dos bancos islâmicos

"conformidade com os princípios da Sharia e proporciona confiança aos stakeholders

sobre a legitimidade das transações comerciais. A divulgação pelo CSS pode ver como

um aspecto fundamental da prestação de contas pelos bancos islâmicos aos seus

stakeholders. No entanto, o grau em que as atividades sociais são divulgadas depende do

raciocínio subjacente do papel de monitoramento do CSS em nome dos bancos islâmicos

"investidores". Além disso, o grau em que o CSS influencia o nível de divulgação RSC

depende das características do CSS, como o tamanho do CA. Portanto, espera-se que o

tamanho do CSS tenha um impacto positivo na divulgação da RSC (FAROOK et al.,

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2011). Evidências empíricas sugerem que o tamanho do CSS pode afetar o nível de

divulgação (AKHTARUDDIN et al., 2009).

Por outro lado, a literatura de governança indica que o nível de divulgação pode aumentar

ou diminuir, dependendo se os mecanismos se substituem ou se complementam (HO;

WONG, 2001). Quando os mecanismos de governança se substituem, as empresas podem

não fornecer divulgações adicionais, uma vez que os múltiplos mecanismos de

governança deveriam ter aumentado o nível de monitoramento. Portanto, o tamanho do

CSS pode não exigir a divulgação de RSC adicional se os investidores já tiverem certeza

da conformidade do banco islâmico no relatório de conformidade da Sharia (MAALI et

al., 2006)

4.5.1.2.1 Variável 7: Tamanho do Conselho de Supervisão Sharia (TCSS)

A partir das perspectivas AAOIFI, eles recomendam que o conselho do CSS seja

nomeado por várias pessoas diferentes de diferentes profissões, tais como: banqueiros e

economistas que podem aumentar a eficácia do CSS (AAOIFI, 2004). Isso permite a

implementação de diversas perspectivas sobre a aplicação da Sharia. Para permitir que

isso aconteça, um grande CSS seria necessário para representar essas profissões

seccionais. Evidências empíricas sugerem que o tamanho do CA pode afetar o nível de

divulgação (AKHTARUDDIN et al., 2009). O número comum de CSS membros em

bancos islâmicos tem entre três e cinco membros, com base na Norma de Governança nº

1 do AAOIFI. De acordo com Chen e Jaggi (2000), um tamanho de CA maior pode

diminuir a possibilidade de assimetria de informação. A teoria da agência prevê que os

Conselhos maiores incorporem uma variedade de conhecimentos que resultam em maior

eficácia no papel de monitoramento dos Conselhos (SINGH et al., 2004). Além disso, um

número maior de membros do conselho também pode reduzir a incerteza e a falta de

informação (BIRNBAUM, 1984). O tamanho do painel provavelmente afetará sua

capacidade de controlar e rever todas as transações para garantir suas operações. Com

mais membros, o conhecimento e a experiência coletiva do CSS aumentarão, levando a

uma maior divulgação. Preocupado com o setor bancário, e especialmente os bancos

islâmicos, Farag et al. (2014) encontram uma associação significativa positiva entre o

tamanho e índice de divulgação do Conselho de Supervisão da Sharia (CSS), no entanto,

os estudos são limitados à amostra específica de bancos islâmicos em Bahrein, diferença

fundamental para a presente tese que proporcionará uma melhor visão usando mais países

em sua amostra. Assim, com base na Teoria da Agência, espera-se que o tamanho maior

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do CSS seja mais eficaz no monitoramento da prática de divulgação entre os bancos

islâmicos, portanto, surge a sétima hipótese deste estudo:

H7: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC (DRSC) e o tamanho

do Conselho de Supervisão Sharia (CSS)

4.5.1.2.2 Variável 8: Participação cruzada dos membros do Conselho de Supervisão

Sharia (PCCSS)

As associações transversais de membros da CSS também podem levar a maior divulgação

de informações de RSC (DAHYA et al.,1996). Farook et al. 2011, sugerem que os

diretores cruzados irão aumentar a transparência e a responsabilidade no relatório

financeiro por dois motivos. Em primeiro lugar, os membros com diretrizes cruzadas

podem fazer comparações com o conhecimento adquirido em outras empresas. Em

segundo lugar, "as decisões em um conselho se tornam parte da matéria-prima para

decisões em outros conselhos" (HANIFFA; COOKE, 2002). Os membros do CSS com

membros cruzados serão expostos a mais discussões sobre a aplicação da lei islâmica no

setor bancário. Isso aumenta seu conhecimento sobre a aplicação dos princípios islâmicos

aos relatórios corporativos e, em particular, à prática de divulgação de RSC. Como

resultado, eles aumentam sua transparência e responsabilidade para Allah, em seguida,

em direção a outras partes interessadas. A participação cruzada dos membros do CSS é

preferível por causa do conhecimento e da credibilidade que se seguem (LORSCH;

MACIVER, 1989). Além disso, os membros do CSS com membros cruzados poderão

adotar seu conhecimento tácito e explícito sobre sua aplicação das decisões da Sharia em

bancos islâmicos. Com base na teoria da responsabilidade, a participação cruzada dos

membros do CSS pode aumentar sua transparência e responsabilidade para a divulgação

de informações RSC. Assim, pode-se formular a oitava hipótese desta tese:

H8: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e a participação

cruzada dos membros do Conselho de Supervisão Sharia (PCCSS)

4.5.1.3 Comitê de Auditoria (CTA)

4.5.1.3.1 Variável 9: Tamanho do Comitê de Auditoria (TCTA)

Barako et al. (2006) afirmam que o Comitê de Auditoria (CTA) deve monitorar a

integridade das demonstrações financeiras e rever o sistema de controle financeiro interno

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da empresa, bem como melhorar sua divulgação de informações corporativas. O

monitoramento de CA não é apenas sobre o processo de relatório financeiro; se estende

ao relatório de informações não financeiras (e.g., LI et al., 2012), como a divulgação de

informações RSC. Mangena e Pike (2005) sugerem que grandes comitês de auditoria dão

lugar a um monitoramento mais efetivo, uma vez que é mais provável que envolva os

conhecimentos e os pontos de vista essenciais para fazer isso. No entanto, resultados

mistos podem ser obtidos em estudos anteriores. Mangena e Pike (2005) e Tauringana e

Mangena (2009) não encontraram relação estatisticamente significante entre o nível de

divulgação e o tamanho do CTA. Felo et al. (2003) e Li et al. (2012) relatam uma relação

positiva entre o tamanho do CTA e a qualidade dos relatórios financeiros. Com o mesmo

argumento de Rahman e Bukhair (2015), espera-se que o tamanho do comitê de auditoria

possa afetar o nível de controle, monitoramento e divulgação. Um tamanho maior do

comitê de auditoria pode diminuir a possibilidade de conflitos de assimetria e agência de

informações (CHEN; JAGGI, 2000). A necessidade de auditoria independente deriva da

premissa de que não se pode confiar totalmente nos gestores, responsáveis pelo processo

de divulgação das informações corporativas (MURCIA, 2009).

Com base na Teoria da Agência, este estudo espera que o tamanho maior do comitê de

auditoria aumente as capacidades de monitoramento do CTA; como resultado, dá

influências positivas à prática de nível de divulgação nos bancos islâmicos. Portanto, o

presente estudo explorará empiricamente a relação entre o tamanho da CTA e a prática

de divulgação de informações RSC. Com isso, nasce a nona hipótese deste estudo:

H9. Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o Tamanho do

Comitê de Auditoria (TCTA)

4.5.1.3.2 Variável 10: Reuniões do Comitê de Auditoria (RCTA)

Amran et al. (2014) recomendam que as reuniões do CTA não sejam menos de três

reuniões por ano para melhorar os relatórios sustentáveis das empresas. Um CTA ativo

com alta frequência de reuniões terá tempo suficiente para desempenhar suas funções.

Pesquisas anteriores fornecem evidências sobre uma relação positiva entre as reuniões de

AC e subcategorias de relatórios financeiros, como relatórios da Internet (e.g., KELTON;

YANG, 2008; LI et al., 2012). De acordo com Gray et al. (1995), para ser socialmente

responsável, os gerentes são obrigados a fornecer todos os financeiros e não financeiros

para suas partes interessadas; A realização de reuniões frequentes de auditoria permite

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que eles desempenhem suas funções em relação às partes interessadas. Portanto,

considera-se que as reuniões CTA ativas podem supervisionar e monitorar o relatório de

RSC. Com base na teoria da agência, a reunião frequente da CTA pode fornecer

monitoramento às atividades dos bancos islâmicos; como um resultado fornecer

informações RSC melhores em seu relatório anual. Surge, assim, a décima hipótese:

H10. Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o número de

Reuniões do Comitê de Auditoria (RCTA)

4.5.1.4 Variáveis relacionadas com a Estrutura de Propriedade

4.5.1.4.1 Variável 11: Investidor Institucional (EPII)

A teoria da Agência prevê que a estrutura de propriedade afeta o nível de divulgação

(ENG; MAK, 2003). A relação entre propriedade institucional e divulgação foi

examinada em estudos prévios. No entanto, a evidência empírica é mista. Barako et al.

(2006), e Mangena e Pike (2005), encontraram uma associação positiva enquanto

Schadewitz e Blevins (1998) encontraram uma associação negativa. Hannifa e Cooke

(2002) não encontram uma associação significativa entre as duas variáveis. Hidalgo et al

(2011) apoiaram os estudos prévios afirmando que os resultados parecem corroborar a

visão de que um aumento na participação dos investidores institucionais tem um efeito

negativo na divulgação voluntária, apoiando a hipótese de retratamento, enquanto que

uma participação excessiva por investidores institucionais pode tem efeitos adversos nas

decisões de divulgação estratégica. Os bancos islâmicos com uma estrutura de

propriedade concentrada não precisam divulgar mais informações porque os principais

acionistas podem obtê-lo facilmente, pois geralmente eles têm acesso a essa informação.

Akhigbe e Martin (2006) encontraram uma associação positiva entre divulgação e

propriedade institucional, com base no setor de serviços financeiros. Com base na Teoria

da Agência, pode-se formular décima primeira hipótese desta pesquisa:

H11: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC (DRSC) e a estrutura

de Propriedade de Investidores Institucionais (EPII)

4.5.1.4.2 Variável 12: Investidor Estrangeiro (EPIE)

O uso da divulgação dos acionistas estrangeiros é sustentado pelo fato de serem

"desfavorecidos" de informações em comparação com os acionistas nacionais (CHOE et

al., 2005). A estrutura de propriedade da empresa pode levar a lacunas de legitimidade.

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Branco e Rodrigues (2008) explicaram que o envolvimento entre as proporções de

propriedade estrangeira e relatórios pode levar a levantar a questão da causalidade. Fields

e Keys (2003) descobriram que a heterogeneidade de experiências, ideias e inovações que

os indivíduos carregam para uma empresa tende a afetar o desempenho da empresa. Ao

mesmo tempo, Ayuso e Argeona (2007) ilustram que os proprietários estrangeiros são

tipicamente assumidos como desempenhando um papel fundamental no apoio às

estratégias de relatórios de RSC. No entanto, um estudo de Branco e Rodrigues (2008)

sobre os bancos do Quênia não encontrou associação entre a proporção de participação

estrangeira no conselho e as iniciativas de relatórios da RSC.

Com base na Teoria da Agência, Fama e Jensen (1983) sugerem que, à medida que o

número de acionistas aumenta e a propriedade se torna mais dispersa, as demandas de

informações adicionais aumentam. Vários estudos encontraram uma associação entre

divulgação e propriedade estrangeira. Por exemplo, de acordo com Xiao et al. (2004), a

maior participação estrangeira não só incentiva a divulgação de informações, mas

também motiva as empresas a criar páginas web para facilitar a divulgação de

informações financeiras. A extensão da propriedade do investidor estrangeiro é um

determinante importante da demanda por informações financeiras (SODERSTROM;

SUN, 2007). As exigências de divulgação geralmente são maiores quando há maior

participação de capital estrangeiro, devido à separação entre o conselho e os proprietários

geograficamente (BRADBURY, 1991). Além disso, as partes interessadas estrangeiras

têm diversos valores e conhecimentos devido à exposição no mercado externo. Haniffa e

Cooke (2005) encontram uma associação positiva entre propriedade estrangeira e

divulgações. Quanto ao setor bancário, Sharma (2014) também encontrou um positivo

significativo relação entre divulgações e propriedade estrangeira. Usando diferentes

amostras e dados de estudos prévios, como complemento de estudos prévios, este estudo

avaliará a associação entre divulgação de RSC e propriedade estrangeira. Portanto, com

base na Teoria da Agência, a décima segunda hipótese deste estudo é:

H12: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e a estrutura de

Propriedade de Investidores Estrangeiros (EPIE)

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193

4.5.2 Características dos bancos analisados e características específicas de cada país

do CCG como variáveis de controle

Como a amostra contém bancos islâmicos de 6 países do CCG, foram utilizadas as

características da empresa como uma variável de controle, como tamanho, idade,

rentabilidade, alavancagem e liquidez dos bancos islâmicos da amostra. Também foram

usadas as características específicas do país, como o crescimento do PIB e a taxa de

corrupção dos países do CCG, como variáveis de controle. Olken e Pande (2012)

argumentaram que existe uma associação positiva entre o PIB e a corrupção ao nível de

divulgação entre os países, enquanto que Erés e Vallelado (2009) não encontraram

nenhuma relação significativa entre essas variáveis e a prática de divulgação. A presente

tese também usa o ano como uma variável dummy.

Argumenta-se na literatura que o tamanho do banco tem um impacto no nível de

atividades sociais corporativas. Uma grande vertente da literatura sobre RSC encontra

uma associação entre o tamanho da empresa e as atividades RSC (e.g., BRAMMER et

al., 2006 MALLIN; MICHELON, 2011; AL-TUWAIJRI et al., 2004). Roberts (1992)

encontra uma relação positiva entre tamanho e RSC e argumenta que quanto maior a

empresa, maior será envolvimento nas atividades de RSC, o que dá um impacto positivo

em sua reputação. De acordo com a Teoria das Agência, as grandes empresas precisam

divulgar mais informações a diferentes grupos de usuários, o que leva a um declínio nos

custos da agência e reduz as assimetrias de informação (INCHAUSTI, 1997). Em estudos

de divulgação recentes, a associação entre o tamanho da empresa e o relatório de

divulgação produziu resultados mistos. Por exemplo, enquanto alguns estudos

encontraram uma associação positiva (e.g., PIKE, 2005; AL-SAEED, 2006; CHAVENT

et al., 2006; MANGENA; VEEMELE et al., 2009; HASSAN et al., 2009; ELSHEIDY et

al., 2011), outros encontraram uma associação insignificante (e.g., RAJAB;

SCHACHLER, 2009). O tamanho do banco é um determinante significativo da escolha

da política de divulgação e contabilidade e um discriminador da qualidade contábil

(RAHMAN et al., 2002; GOODWIN et al., 2008;). Além disso, os grandes bancos

enfrentam maior demanda por informações de clientes, analistas e público em geral

(COOKE, 1989). Alguns estudos empíricos sobre divulgação bancária (e.g., HOSSAIN;

TAYLOR, 2007, HOSSAIN; REAZ, 2007) documentaram evidências empíricas em

relação a relação positiva entre o tamanho do banco e a extensão da divulgação.

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194

Pesquisas anteriores descobriram que há uma associação entre a idade do banco e a prática

de divulgação (e.g., HANIFFA; COOKE, 2002; AKHTARUDDIN, 2005). Eles

argumentam que a idade de uma corporação afeta o envolvimento da empresa na RSC e

que as empresas há muito estabelecidas são susceptíveis de fazer maiores divulgações

sociais voluntárias. Por exemplo, Roberts (1992) relatou uma relação positiva entre RSC

e idade das empresas. Essa relação pode existir porque os bancos há muito estabelecidos

receberam mais apoio da sociedade do que bancos recém estabelecidos e essa asociação

amadurece à medida que o banco assume um papel de liderança maior, desenvolvendo

um maior senso de responsabilidade social. Hossain e Hammami (2009) descobriram que

empresas mais velhas tendem a divulgar mais informações do que empresas jovens. É

provável que as empresas mais antigas e bem estabelecidas divulguem muito mais

informações em seus relatórios anuais do que as empresas mais jovens porque são menos

propensas a sofrer qualquer desvantagem competitiva. Além disso, o custo e a facilidade

de coleta, processamento e disseminação da informação necessária pode ser um fator

contributivo (OWUSU-ANSAH, 1998). Muitos estudos mostraram que o nível de

divulgação voluntária está positivamente associado à idade da empresa (e.g., CORMIER

et al., 2005; HOSSAIN; HAMMAMI, 2009), enquanto outros (AKHTARUDDIN, 2005;

AL-SAEED, 2006; HOSSAIN, 2008; GALANI ET AL., 2011) concluíram que a idade

da corporação tem associação insignificante com o nível de divulgação. Abdul Hamid

(2004) sugeriu que a idade de um banco pode influenciar o nível de divulgação de

informações. No caso das indústrias bancárias, Hossain (2008) afirmou que não existe

relação entre a idade de uma empresa bancária e a extensão da divulgação monetária. Em

contraste, Owusu-Ansah (1998) encontrou uma significativa associação positiva entre a

idade do banco e a extensão da divulgação.

A influência da rentabilidade na divulgação em estudos anteriores provocou conclusões

mistas. Singhvi e Desai (1991) argumentaram que quando a taxa de retorno é alta, os

gerentes são motivados a divulgar informações mais detalhadas para apoiar a

continuidade de suas posições e remuneração. Por outro lado, quando a taxa de retorno é

baixa, os gerentes podem divulgar menos informações para ocultar os motivos dos efeitos.

A rentabilidade é fundamental para a discussão da divulgação corporativa. Inchausti

(1997) sugeriu que a rentabilidade é capaz de influenciar a medida em que as empresas

divulguem itens de informação.

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195

Em consonância com a Teoria da Sinalização, a gestão, quando em posse de boas notícias

devido ao melhor desempenho, tem mais chances de divulgar informações mais

detalhadas para o mercado de ações do que as fornecidas por empresas detentoras de más

notícias para evitar a desvalorização de suas ações. Chavent et al. (2006) e Wallace e

Naser (1995) propõem que as empresas com maior rentabilidade proporcionem mais

informações. Ahmed e Courtis (1999) mostraram que os resultados de estudos

precedentes fornecem provas contraditórias sobre a associação entre a rentabilidade de

uma empresa e o nível de divulgação corporativa. Elsheidy et al. (2011), Othman et al.

(2009), Chavent et al. (2006), Hossain et al. (2006) e Gray et al. (2001) relatam uma

associação positiva entre as duas variáveis. A Teoria da Agência argumenta que os

gestores corporativos de bancos rentáveis estão motivados a divulgar mais informações

para aumentar sua remuneração (ABDEL SALAM, 1999). Galani et al. (2011) relatam

uma relação insignificante entre a rentabilidade dos bancos e o nível de divulgação. Na

mesma esteira, a pesquisa empírica anterior sobre divulgação voluntária bancária por

Hossain e Taylor (2007) não mostrou relação significativa entre a extensão da divulgação

voluntária nos relatórios anuais dos bancos comerciais de Bangladesh e a variável de

rentabilidade. Em contraste, o estudo de Hossain (2008) encontrou uma relação positiva

significativa entre os níveis agregados de divulgação das empresas bancárias listadas na

Índia e sua rentabilidade.

A Teoria da Legitimidade justifica essa correlação positiva pelo fato de que os conselhos

corporativos de empresas altamente lucrativas são mais propensos a divulgar mais

informações para aumentar a confiança dos acionistas e, portanto, elevar sua remuneração

e aumentar o capital ao menor custo (MARSTON; POLEI, 2004). No entanto, a partir de

uma perspectiva islâmica, onde a divulgação completa representava uma

responsabilidade perante os líderes diante de Allah, Haniffa (2002) argumenta que uma

corporação pode fornecer uma divulgação completa em qualquer situação, seja com lucro

ou de outra forma, isto é, diante de notícias ruins.

Com base na Teoria da Agência, Xiao et al. (2004) argumentam que o aumento da

divulgação pode reduzir as inclinações dos titulares de dívidas para proteger os preços

contra as transferências de si para os acionistas. Debreceny e Rahman (2005) descobriram

que os aumentos no índice de dívida e capital criam custos de agência adicionais.

Portanto, os gestores corporativos relatam mais informações voluntárias para ajudar os

credores a monitorar continuamente os assuntos da corporação e ajudá-los a avaliar a

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196

capacidade da empresa para pagar suas obrigações em Tempo. Os gerentes tendem a

fornecer mais informações para enviar um bom sinal aos detentores da dívida sobre a

capacidade corporativa de cumprir suas obrigações. Evidências empíricas sobre a

associação entre alavancagem e divulgação também apresentam resultados diferentes.

Enquanto Barako et al. (2006), Marshall e Weetman (2007), Taylor et al. (2010) e

Elsheidy (2011) encontraram uma relação positiva, Abraham e Cox (2007) e Rajab e

Schachler (2009), eencontram associação insignificante. Em relação ao setor bancário,

Sharma (2014) encontrou uma correlação positiva e significativa entre divulgações e a

alavancagem das empresas analisadas.

A última variável de controle da divulgação de informações RSC é a liquidez e é possível

argumentar que os administradores corporativos de empresas com baixo índice de

liquidez podem publicar mais informações voluntárias em seus relatórios anuais para

satisfazer as informações exigidas pelas partes interessadas. Além disso, Ezat (2010)

encontrou uma associação positiva entre os níveis de relatórios corporativos da Internet e

liquidez, enquanto Aly et al. (2010) não encontram associação entre as duas variáveis.

Além disso, Samaha e Dahawy (2010) encontram uma associação positiva entre o nível

geral de divulgação voluntária e liquidez; no entanto, eles não encontram os mesmos

resultados em seu estudo em 2011, ao testarem a associação entre RSC e liquidez. A

presente tese, no entanto, também implementa um controle para os fatores

macroeconômicos usando o índice de crescimento e corrupção do PIB.

A Tabela 9 apresenta um resumo das variáveis utilizadas nesta tese (variáveis

independentes e de controle) e sua relação esperada com a divulgação da RSC, com base

em estudos prévios apresentados até este ponto.

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199

4.6 Consequências das divulgações de RSC e desenvolvimento da hipótese

Uma vez que investigar o efeito da quantidade de RSC no valor da empresa é a parte-

chave das análises para responder a primeira questão de pesquisa (QP 1), esta seção irá

discutir estudos prévios sobre a divulgação de RSC e o valor da empresa. Em seguida,

desenvolverá as hipóteses, baseada nas perspectivas teóricas.

4.6.1 Índice de Divulgação da RSC e o Valor da Firma (VF)

A literatura sobre RSC é extensa e explora os impactos da divulgação em geral, mas o

número de estudos que investigou a influência da divulgação da RSC sobre o valor da

empresa (VF) nos bancos islâmicos ainda é muito limitado. Vários estudos empíricos

concluíram que a divulgação voluntária aumenta a capacidade dos investidores de prever

os lucros futuros e que isso tem consequências sobre o valor da empresa (VF) (e.g.,

HUSSAINEY et al., 2003). Rhodes e Soobaroyen (2010) argumentam que a divulgação

pode reduzir os problemas da agência ao diminuir a assimetria da informação,

aumentando assim o valor da empresa (VF). Al-Akra et al. (2010) encontraram associação

de existência entre a divulgação e o valor da empresa (VF) usando dados em painel para

empresas listadas na Jordânia.

Sheu et al. (2010), por outro lado, concluíram que o mercado apenas fornece uma

avaliação mais alta para as empresas que optam por divulgar informações inclusivas.

Gordon et al. (2010) realizaram um estudo nos Estados Unidos (EUA) sobre a relevância

do valor das divulgações de segurança da informação e forneceu evidências fortes de que

informações voluntariamente divulgadas estão associadas positivamente ao valor da

empresa (VF). Anam et al. (2011) comprovaram que a extensão da divulgação tem um

efeito positivo significativo sobre o valor da empresa (VF) com base na capitalização de

mercado.

Estudos anteriores revelam que o aumento do nível de divulgação resulta na diminuição

da atualização do preço da ação, aumentando a capitalização de mercado da empresa

(ANAM et al., 2011). Garay et al. (2013) descobriram que um aumento de 1% na

divulgação da empresa causa um aumento de 0,15% no Q de Tobin e um aumento de

0,0119% no ROA (Retorno sobre os Ativos) da empresa. Dhaliwal et al. (2011)

encontram uma associação positiva entre o valor da empresa (VF) e a divulgação, com

base em uma investigação da relação entre o custo do capital e o nível de DRSC. Estudos

de De Villiers e Marques (2016) examinam o efeito das medidas de governança de uma

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200

empresa sobre a relação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa (VF).

Mecanismos de governança mais fortes podem reduzir a capacidade dos gerentes de

divulgar informações de RSC de maneira oportunista, tornando as divulgações de RSC

mais credíveis e, assim, aumentar o peso dos participantes do mercado de capital sobre

essas divulgações. Isso sugeriria uma ligação mais forte entre as divulgações da RSC e o

valor da empresa (VF) em países de governança mais fortes. No entanto, as divulgações

financeiras em si podem ser mais opacas nos países com pouquíssima governança.

Alotaibi e Hussainey (2016) encontram uma relação positiva entre a qualidade da

divulgação da RSC e a capitalização de mercado das empresas não-financeiras da Arábia

Saudita, não listadas na Bolsa, em 2013 e 2014.

No entanto, a divulgação aprimorada pode ter efeitos adversos se colocar a empresa em

desvantagem competitiva em comparação com seus rivais (HEALY; PALEPU, 1993;

HASSAN et al., 2009) ou se isso faz mais ruído para os investidores, o que afeta

negativamente sua avaliação (CHUNG et al., 2012). Portanto, a literatura existente não

apresenta evidências fortes sobre a associação positiva entre divulgação corporativa e

valor da empresa. Além disso, verifica-se que a direção e a magnitude da relação estão

associadas à pontuação de divulgação (HASSAN et al., 2009) e a proxy usada para o valor

da empresa (UYAR; KILIÇ, 2012). Alotaibi e Hussainey (2016) argumentaram que não

encontraram os mesmos resultados ao usarem o Q de Tobin ou ROA como proxies para

o valor da empresa. Eles sugerem que a quantidade e a qualidade da divulgação RSC têm

o mesmo impacto no valor da empresa (VF), o significado desse impacto depende da

proxy usada na medição do valor da empresa.

4.6.1.1. Tamanho do Conselho de Administração (TCA)

A literatura sobre o relacionamento entre o tamanho do CA e o valor da empresa oferece

resultados discrepantes. Jensen (1983) acredita que, à medida que o tamanho do CA

aumenta, a tomada de decisões torna-se mais lenta e, com problemas de equitação, torna-

se menos eficiente, leve-o a um menor valor corporativo. Yermack (1998), Eisenberg et

al. (1998), Mak e Kusnadi (2005), De Eres et al. (2005), Gill e Marthur (2011), Ujunwa

(2012) e Kumar e Singh (2013) fornecem evidências de tais argumentos e acham que os

conselhos menores estão relacionados ao maior valor da empresa. Jakling e Johl (2009)

fornecem evidências contraditórias ao estudar as principais empresas indianas.

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201

Por outro lado, Coles et al. (2007) fornecem evidências de que tamanhos de CA muito

grandes e muito pequenos afetam positivamente o valor da empresa. Acredita-se que tal

fator se deve à complexidade do negócio. Raheja (2005) apoia Coles et al. (2007),

sugerindo que não há tamanho do CA ideal, uma vez que o tamanho do Conselho

geralmente depende das necessidades de assessoria ou monitoramento, e isso muda de

empresa para empresa. Afirma-se que a experiência coletiva e o conhecimento dos

membros do conselho são cruciais no ambiente empresarial complexo de hoje

(CONGER; PECK, 1998). No entanto, estudos anteriores mostraram associação positiva

entre o tamanho do CA e o valor da empresa (VF) (UJUNWA, 2012). Outros

pesquisadores, como Lehn et al. (2009) em suas pesquisas de 88 empresas dos EUA entre

1935 e 2000, não encontraram relação significativa entre tamanho e valor. Boone et al.

(2007) encontraram uma relação positiva entre o tamanho do CA e o tamanho

corporativo, mas não encontraram relação entre o tamanho do CA e o valor da empresa.

4.6.1.2 Composição do Conselho de Administração (CCA)

A literatura sobre a composição do CA (características) é mais abundante do que a

literatura sobre o seu tamanho. Existe uma evidência mista na composição do Conselho

e sua influência positiva sobre o valor da empresa. Jackling e Johl (2009) e Giraldez e

Hurtado (2014) descobriram que os conselheiros externos (não pertencentes ao quadro da

empresa) fornecem um melhor acompanhamento da gestão (assim, diminuindo os custos

da agência) porque são independentes. Rosenstein (1990), Hermalin e Weisenbach

(2001), De Eres et al. (2005), e Baghat e Black (1998) sugerem que a estrutura do quadro

não mostra uma relação positiva com o valor da empresa. No entanto, Baglioni e Colombo

(2008) fornecem provas da Itália sobre uma relação positiva, contrariando estudos

prévios. A estrutura do conselho deve basear-se na realidade corporativa, especialmente

na prioridade da empresa entre o conselho (mais executivo) e o monitoramento (menos

executivo) (SARIN, 1999; HARRIS; RAVIV, 2005; LINK et al., 2008; LEHN et al.,

2009).

4.6.1.3 Dualidade do CEO (DCEO)

Tal como acontece com outras variáveis de governança, a literatura sobre dualidade de

CEO apresenta visões contraditórias sobre a relação entre a dualidade do CEO e o valor

da empresa. A dualidade do CEO é apoiada pela teoria da administração, uma vez que

defende uma liderança mais forte e mais unida, onde os interesses estão alinhados e onde

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202

o conselho, mais do que o controle, é necessário (VINTILA; GHERGHINA, 2012).

Outros autores, como Daily e Dalton (1992), Jo e Kim, (2007), Coles et al. (2007), Kiel

e Nicholson (2003), Chen et al. (2005), Chanie e Thome (2009), Ehikoya (2009), Lam e

Lee (2008), Dogan et al. (2013) e Buallay et al. (2017) usaram a teoria da agência como

apoio na avaliação de uma possível relação negativa entre a dualidade do CEO e o valor

da empresa. Finalmente, autores, como Agrawal e Knoebler (1996), Peng, Zhang e Li

(2007), Yang e Zhao (2014), e Baptista et al. (2008) encontraram uma relação positiva

entre Dualidade de CEO e valor de empresa.

Para as variáveis das características da empresa, Almilia (2009) descobriu que o tamanho

da empresa é a principal determinação do relatório financeiro. Ezat (2010) descobriu que

existe uma associação positiva relatada entre o tamanho da empresa e o valor da empresa

(VF). Ele também afirma que as grandes empresas têm mais recursos do que empresas

menores. Portanto, uma associação positiva é relatada entre o tamanho da empresa e o

valor da empresa em vários estudos prévios (e.g., HASSAN ET AL., 2009; EZAT, 2010).

No que diz respeito à rentabilidade, as empresas que relatam maiores lucros sinalizariam

suas capacidades para os investidores.

Pode ser percebido que essas empresas têm vantagens competitivas que lhes permitem

alcançar maiores lucros, o que afeta positivamente o valor para o acionista. Assim, de

acordo com Hassan et al. (2009), espera-se uma relação positiva entre rentabilidade e

valor da empresa (VF). A alavancagem está associada negativamente ao desempenho

financeiro, o que é consistente com a Teoria do Peccking Order21 (MYERS; MAJLUF,

1984). Hodgson e Stevenson-Clarke (2000) declararam que uma alavancagem elevada

leva a uma mudança positiva no valor da empresa (VF). Ao realizar este estudo, também

usamos o PIB como variável de controle, como a maioria da literatura faz (e.g.,

YERMACK, 1998; COLES ET AL., 2007). Nesta tese será usada essa variável para

controlar o crescimento que o país está tendo em sua economia. A informação de essa

variável foi tirada da base de dados do Banco Mundial, que mostra o crescimento do PIB

nos países do CCG durante os anos de 2013 a 2017.

Em resumo, a maioria dos estudos anteriores (e.g. RHODES; SOOBAROYEN, 2010;

AL-AKRA et al., 2010; SHEU et al., 2010; GORDON et al., 2010; ANAM et al., 2011;

21 Para mais detalhes, ver Donaldson, G. Corporate Debt Capacity: A Study of Corporate Debt Policy and

the Determination of Corporate Debt Capacity. Boston: Harvard University, Graduate School of Business

Administration, Division of Research, 1961.

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203

DHALIWAL et al., 2011; GARAY et al. 2013; ALOTAIBIE; HUSSAINEY, 2016)

encontram uma relação positiva entre o nível de divulgação e o valor da empresa.

4.7 Desenvolvimento da Hipótese

Esta seção centra-se principalmente em examinar se divulgar mais informações RSC

afetam o valor da empresa. Os estrangeiros geralmente não têm acesso à informação

interna sobre a empresa, que está disponível apenas para a equipe de gerentes / gerentes.

A pesquisa prévia (e.g., SHEU et al., 2010) mostra que a divulgação reduz a assimetria

de informações entre os administradores e pessoas de fora da empresa (stakeholders) e,

portanto, reduz conflitos de agência entre as duas partes. Isso leva a um aumento no valor

da empresa (SHEU et al., 2010).

A influência da divulgação da RSC no valor da empresa (VF) pode ser entendida com

base em agência, sinalização e teoria econômica. A teoria da sinalização é a principal

estrutura teórica que é usada para explicar a associação entre divulgação e valor da

empresa (VF). Com base nessa teoria, a divulgação abrangente melhora os mecanismos

de GC e menos conflitos de agência, leve o ao maior valor da empresa (VF) (SHEU et

al., 2010). Argumenta-se que as divulgações voluntárias no relatório anual enviam sinais

para o mercado que se espera que aumentem o valor de uma empresa e,

consequentemente, seu valor no mercado de ações (GORDON et al., 2010). Curado et al.

(2011) ressaltam que a divulgação corporativa influencia o valor da empresa (VF),

conforme percebido pelos mercados. Cormier et al. (2011) afirmam que, a divulgação

fornece informações relevantes para o valor mercado de ações. Álvarez et al. (2010)

evidenciaram que a divulgação tem uma consequência positiva na criação de valor para

o acionista.

A Teoria Econômica sugere que o aumento da divulgação corporativa tem influência no

valor da empresa (VF) (LUNDHOLM; VAN WINKLE, 2006). Em primeiro lugar, uma

informação de melhor qualidade permite que os investidores façam avaliações precisas

dos parâmetros subjacentes ao retorno futuro das ações, diminuindo o risco de estimativa

não diversificável e a incerteza sobre os fluxos de caixa futuros, bem como a rentabilidade

futura (CLARKSON, 1995). Em segundo lugar, através de divulgação aprimorada, a

vontade dos investidores de negociar é aumentada, além de aumentos nas ações "liquidez

e melhoria do valor da empresa (VF) (EASLEY; O" HARA, 2004).

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204

A Teoria Econômica defende que o aumento do nível de divulgação voluntária reduz as

assimetrias de informação entre a empresa e os participantes do mercado, o que aumenta

a liquidez das ações da empresa e melhora o valor da empresa (VF) (BEYER et al., 2010).

A importância da divulgação corporativa surge de ser um meio de comunicação entre a

gerência e investidores externos e participantes do mercado. Acredita-se que a divulgação

corporativa aprimorada mitigue o problema da assimetria e os conflitos das agências

(LAMBERT et al., 2007). As consequências do aumento do nível de divulgação são

frequentemente discutidas em termos de redução de preços, rentabilidade cumulativa e

crescimento do valor da empresa (VF) (BOTOSAN; PLUMLEE, 2002). Estudos

empíricos consequentes fornecem evidências de apoio sobre a associação entre

divulgação e valor da empresa (VF). Por exemplo, Healy et al. (1999) acham que as

empresas com níveis de divulgação expedidos experimentam aumentos significativos

substanciais no valor da empresa (VF). Os efeitos diretos das divulgações corporativas

têm a capacidade de alterar o valor da empresa (VF) afete as decisões dos gerentes e,

portanto, variaram a distribuição dos fluxos de caixa futuros (LAMBERT et al., 2007).

Assim, a divulgação corporativa melhorada pode aumentar o valor de mercado das

empresas (PLUMLEE, 2009; ELZAHAR et al., 2015).

Preocupado com as consequências econômicas para a divulgação social, a teoria da

legitimidade sugere que as corporações possam estar entusiasmadas com a divulgação de

informações sociais para legitimar sua posição na sociedade (DEEGAN et al., 2002).

McDonald e Rundle-Thiele (2008) descobrem a influência da RSC sobre a rentabilidade

corporativa através da criação de ativos intangíveis como boa reputação, confiança e

compromisso, o que impulsiona o sucesso a longo prazo do negócio. Isso melhora a

capacidade da empresa de atrair recursos, melhorar o desempenho e criar vantagens

competitivas, aumente assim o valor da empresa (VF) (FOMBRUN et al., 2000). A

pesquisa precedente generalizada propõe que os relatórios de divulgação possam

influenciar positivamente as percepções do desempenho da empresa das partes

interessadas e, assim, sobre a rentabilidade das empresas e o preço da ação (LOURENCO

et al., 2012). Portanto, com base na teoria acima, pode-se a última hipótese deste estudo:

H13: Existe uma relação positiva entre a Divulgação da RSC e o Valor da Firma

(VF)

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205

4.8 Divulgação de informações financeiras e não financeiras

Uma variedade de mídias pode ser usada para divulgar informações financeiras, sociais e

ambientais, como por exemplo: relatórios anuais, propagandas ou artigos publicados

detalhando as atividades da empresa, folhetos das empresas para abordar as atividades

sociais e ambientais, relatórios comunitários, relatórios ambientais, rotulagem nos

produtos para promover preocupações ambientais, comunicados de imprensa,

suplementos ao relatório anual ou produzidos em datas intermediárias e sites (JENKINS;

YAKOVLEVA, 2006). Isto é apoiado por Campbell (2000), que indica que as empresas

podem usar mídias diferentes de seus relatórios anuais para divulgar informações sociais

e ambientais. Além disso, a Internet é uma ferramenta poderosa no fornecimento de

informações sociais, já que o site de uma empresa tem potencial para alcançar um público

muito maior que os relatórios anuais.

Taha (2010) afirmou que é importante que as empresas forneçam relatórios de RSC

separados para os usuários; as tendências crescentes em relação à divulgação da RSC são

acompanhadas pelo lançamento de um número crescente de empresas que fornecem

relatórios RSC autônomos para atender às necessidades das partes interessadas. Jenkins

e Yakovleva (2006) argumentam que a indústria petroquímica foi o primeiro setor que

emitiu relatórios autônomos, começaram na década de 1980, enquanto o setor de

mineração começou a produzir relatórios ambientais gradualmente a partir da década de

1990. De acordo com as pesquisas trienais da KPMG (iniciadas em 1993), os relatórios

de RSC têm aumentado constantemente e aumentaram substancialmente nos últimos

anos. Em 2008, 79% das empresas G250 (250 globais) e 45% das empresas N100 (100

nacionais) em 16 países emitiram relatórios RSC separados, contra 52% e 33%,

respectivamente, em 2005, 45% e 28% em 2002, e 35% e 24% em 1999 (KPMG, 2002,

2005, 2008). Atualmente, a tendência atual das empresas divulgar suas informações RSC

é através de um relatório anual e no próprio site. Com o rápido crescimento do acesso à

internet em todo o mundo, as partes interessadas tendem a encontrar informações de

RSC online através do site da empresa.

No setor bancário islâmico é raro encontrar um relatório RSC autônomo produzido pelas

empresas para divulgar suas informações RSC. Mas, para o objetivo deste estudo, ao

mensurar o nível de divulgação da RSC entre os bancos islâmicos no CCG, uma fonte

principal de informações será coletada dos relatórios anuais das empresas. Nesta tese foi

negligenciada, propositalmente, a utilização de sites, que não fossem dos bancos

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206

islâmicos, como fonte de dados de suporte devido a problemas de consistência da

informação. Os relatórios anuais foram amplamente utilizados como principais

ferramentas para medir o nível de conformidade de pesquisadores anteriores (E.G.,

MAALI et. al., 2006; ELZAHAR; HUSSAINEY, 2012; ZAINAL et al., 2013;

PLATONOVA, 2014; FARAG et al., 2014; BELAL et al., 2014; HUANG, 2015). Ao

adotar essa abordagem, os relatórios anuais serão utilizados como documento principal

na medição da prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos do CCG.

Os relatórios anuais são documentos públicos formais produzidos por empresas em

resposta aos requisitos obrigatórios de relatórios corporativos existentes na maioria das

economias ocidentais (SANTON; SANTON, 2002). Daub (2007) afirmou que o relatório

anual às vezes é referido como um cartão de visita da empresa, o que reflete que fornece

aos leitores uma imagem abrangente da organização de publicação (DAUB, 2007). O

relatório anual é um dos múltiplos canais através dos quais as empresas se comunicam

com suas partes interessada. Em apoio desta escolha, a literatura mostra que é o principal

veículo de divulgação (MALAFRONTE et al., 2013) e é uma fonte influente de

informação devido à sua ampla cobertura e disponibilidade (BERETTA; BOZZOLAN,

2004). Os níveis de divulgação dos relatórios anuais também se correlacionaram

positivamente com a quantidade de divulgação corporativa fornecida através de outros

meios de comunicação, como os sites (MARSTON; SHRIVES, 1991, LANG;

LUNDHOLM, 1993).

Com a informação divulgada no relatório anual, permite a resolução do problema de

informação assimétrica entre o principal e o agente (HILL; JONES, 1992). A abordagem

da informação assimétrica assume que os gerentes conhecem mais da empresa do que os

seus acionistas, uma vez que aqueles estão inseridos no dia a dia da companhia, tendo,

dessa forma, mais informação sobre a empresa. Os acionistas, por sua vez, têm acesso

apenas às informações públicas da empresa, que podem ou não sintetizar o estágio atual

da companhia (MOREIRAS; TAMBOSI; GARCIA, 2012). As empresas estão

conscientes do papel crucial assumido pela divulgação, pode ser benéfico, mas também

dispendioso; requer investimento e experiência. Assim, a escolha não está mais a ser

revelada ou não, mas estrategicamente decidindo como e o que comunicar

(MALAFRONTE et al., 2013).

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5 PLATAFORMA METODÓLOGICA

Metodologia diz respeito aos métodos utilizados para obter conhecimento sobre o mundo

social (CRESWELL, 2014). Em outras palavras, é um quadro de pesquisa mais amplo

que consiste em projetos e métodos de pesquisa que são sublinhados pelos conceitos e

teorias já estudadas ou a serem desenvolvidas. Portanto, escolher uma metodologia de

pesquisa apropriada ajuda na construção de um quadro de pesquisa claro que, como

consequência, leva ao atingimento dos objetivos previamente delineados.

Dessa forma, a presente tese caracteriza-se como sendo: 1) documental, na medida em

que se utilizou dos relatórios anuais financeiros e não financeiros, publicados pelos

Bancos Islâmicos e Convencionais selecionados na amostra; 2) exploratória, uma vez

que proporcionou maior familiaridade com o tema da RSC sob a ótica dos Bancos

Islâmicos, desenvolvida no Capítulo 3, com vistas a torná-lo mais explícito para a

construção das hipóteses no Capítulo 4 que foram testadas no Capítulo 6; 3) descritiva¸

visto que buscou descrever especificamente as características do grupo de bancos

islâmicos selecionados; e 4) de natureza quantitativa, a qual é influenciada pelo

positivismo, uma vez que considerou que a realidade dos bancos islâmicos só poderia ser

compreendida com base na análise dos dados brutos, recolhidos com o auxílio de

instrumentos padronizados e neutros, além de recorrer à linguagem estatística para

descrever as causas do fenômeno financeiro islâmico e as relações das diversas variáveis

de Governança Corporativa e Responsabilidade Social.

Dessa forma, neste Capítulo serão apresentadas as estratégias, os percursos e

procedimentos metodológicos empregados para a verificação e teste das hipóteses já

construídas no Capítulo 4. Posteriormente serão expostos os modelos de regressão

econométricos utilizados na verificação das relações estabelecidas entre todas as variáveis

de controle, variáveis dependentes e variáveis independentes.

5.1 Estratégia metodológica

Existem duas principais estratégias de pesquisa que são amplamente empregadas nas

ciências sociais aplicadas: quantitativas e qualitativas. A estratégia quantitativa enfatiza

a quantificação na coleta de dados, usando modelos matemáticos e estatísticos que se

conectam numa relação de causa e efeito, testando as hipóteses das teorias escolhidas.

Por outro lado, a estratégia qualitativa enfatiza palavras e interpretações para descobrir o

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208

conhecimento necessário, ao invés da quantificação na coleta e análise de dados

(MARTINS, 2004; CRESWELL, 2014).

A estratégia quantitativa é mais adequada à filosofia do positivismo (CROTTY, 1998).

Além disso, a natureza desses objetivos e questões de pesquisa sugeriram o uso de uma

estratégia quantitativa. Essa estratégia permitiu a quantificação na coleta e análise de

dados para testar e interpretar a associação entre variáveis (variáveis independentes e

dependentes) e a formulação das respostas às questões de pesquisa, com a generalização

de seus resultados à toda a população estudada.

Numa outra esteira, existem duas principais abordagens de pesquisa, a saber: as

abordagens dedutiva e indutiva. A abordagem dedutiva se inicia a partir de uma teoria

(ou teorias), e então as hipóteses são desenvolvidas. Uma estratégia de pesquisa é

projetada para testar as hipóteses dependendo dos dados coletados (SAUNDERS;

LEWIS, 2009). Ao contrário da abordagem dedutiva, sob o espectro indutivo, os dados

relacionados ao fenômeno são coletados e analisados e, então, uma teoria é construída

como resultado da conclusão da análise de dados (BRYMAN; BELL, 2003).

Para fins desta tese, a abordagem dedutiva foi a mais apropriada. Sob esta abordagem, as

questões de pesquisa foram estabelecidas (Capítulo 1), então várias hipóteses foram

desenvolvidas com base nas teorias existentes (Capítulo 4, conjugado com os dois

capítulos anteriores) e, finalmente, técnicas estatísticas foram usadas no Capítulo 6 para

testar as hipóteses desenvolvidas, que levaram a aceitar ou rejeitar a relação entre

variáveis de acordo com o suporte teórico escolhido (LAKATOS; MARCONI, 2001;

GIL; 2002; CRESWELL, 2010).

Essa tese foi delineada como exploratória e descritiva, pois discutiu e apresentou relações

entre variáveis já abordadas cientificamente em literatura precedente. A pesquisa

exploratória teve como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com

vistas a torná-lo mais explícito e a construir hipóteses. A pesquisa descritiva está

estruturada sob o enfoque de averiguar associações entre diferentes variáveis e busca

conhecer as relações de causa e efeito entre elas. Essa estratégia permitiu, além da análise

ou da base para tanto, a totalidade do objeto estudado, sem a preocupação com detalhes

que a investigação não persiga, assumindo a forma de síntese (MARTINS; THEÓPHILO,

2009; CRESWELL, 2014).

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5.2 Percurso metodológico

Esta tese investigou, portanto, a divulgação da RSC e examinou as hipóteses de seus

determinantes e consequências. Os dados relacionados à divulgação de RSC, seus

determinantes e consequências foram coletados dos relatórios anuais (dados secundários)

dos bancos escolhidos na amostra. Os relatórios anuais foram baixados do site dos bancos

(os sites de cada banco constam no Apêndice A). De acordo com Creswell (2014), os

dados coletados das revisões e publicações da literatura (como periódicos, jornais, livros

e sites) são categorizados como dados secundários. Neste estudo, todos os dados

coletados foram analisados usando o software IBM SPSS Statistics 16® que serviu de

suporte para mensurar a aderência dos bancos islâmicos às práticas de RSC, testar as

hipóteses construídas no Capítulo 4 e à apresentação dos dados no Capítulo 6.

5.2.1 Métodos utilizados

Os métodos, de acordo com Martins (2010) são as técnicas ou procedimentos utilizados

para reunir e analisar dados relacionados a algumas questões ou hipóteses de pesquisa.

Esta pesquisa adotou métodos de pesquisa quantitativos na mensuração do nível de

divulgação da RSC dos bancos islâmicos no CCG. Adicionalmente, foram analisados

bancos convencionais do CCG, para que se pudesse comparar os níveis de divulgação

entre os dois tipos de bancos, isto é, entre islâmicos e convencionais. O relatório anual da

amostra de bancos islâmicos de 2013 a 2017 foi analisado usando a análise manual do

seu conteúdo e a construção de um índice para mensurar a divulgação. Não há na literatura

internacional uma definição geral para RSC, nem um certo conjunto de itens de RSC a

serem divulgados pelos bancos islâmicos ou convencionais do CCG. Dessa forma, além

da utilização das normas de divulgação presentes no AAOIFI, especificamente a nº 7,

para os bancos islâmicos, os bancos centrais dos seis países foram consultados, para

entender se as divulgações requeridas estão alinhadas com as práticas do AAOIFI.

5.2.2 Seleção amostral

Para o propósito desta tese, foram coletados os relatórios anuais dos bancos islâmicos em

seus websites. Seguindo os achados de Farook et al. (2011), concluiu-se que os bancos

islâmicos se referem a bancos comerciais, bancos de serviços e bancos de investimentos.

Esses bancos operam tanto como companhias abertas (públicas), privadas ou empresas

com fortes vínculos governamentais. Neste estudo, nenhuma distinção foi estabelecida

entre os tipos de bancos, uma vez que todos os bancos islâmicos de amostra afirmam

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cumprir as orientações presentes na Sharia. De acordo com o banco de dados The

Banker22, do registro atualizado em junho de 2017, existiam 62 bancos islâmicos

licenciados a operar no CCG. Por uma questão de consistência na amostra de pesquisa,

foram excluídas as subsidiárias de bancos islâmicos e bancos que não publicaram uma

versão em inglês do seu relatório anual. Portanto, foram excluídos 22 bancos. Com isso,

a amostra final deste estudo foi constituída por 40 bancos dos 6 países do CCG: Arábia

Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã. Cabe ressaltar que o

Banco Central de Omã aprovou e licenciou dois primeiros bancos islâmicos (AlIzz Islamic

Bank e Bank Nizwa) autorizados a operar seguindo as regras da Sharia apenas em 2013.

Com isso, a seleção amostral representa 64% da população e está em linha com o tamanho

mínimo necessário para o uso de regressões múltiplas (GREEN, 1991; WOOLDRIDGE,

2002; COAKES, 2005). Este conjunto de dados coletados forneceu informações

suficientes sobre práticas de divulgação em bancos islâmicos que operam no CCG para

os anos 2013 a 2017 e envolveu 200 observações ao longo de cada ano. Ademais, outros

40 bancos convencionais dos mesmos 6 países foram escolhidos, para que fosse possível

comparar os níveis de divulgação dos bancos islâmicos com seus pares convencionais. O

critério de seleção desses últimos bancos foi a média de ativos financeiros transacionados

nos anos de 2013 a 2017. Dessa forma, foram escolhidos os maiores bancos, considerando

essa variável, até que se alcançasse o número de bancos de cada país. Por exemplo, no

caso de Omã, foram escolhidos 3 bancos islâmicos para a composição da amostra e os 3

maiores bancos convencionais, considerando o volume total de ativos transacionados no

período analisado23, isto é, entre os anos de 2013 a 2017.

Os dados para análise das amostras escolhidas foram obtidos da base Orbis Bank Focus®

(OBF). O OBF é uma base de dados detalhada provida por uma joint venture entre a

agência Moody’s e o Bureau van Dijk que possui informações de mais de 43.000 bancos

no mundo todo e é amplamente utilizada em pesquisas acadêmicas e por instituições

privadas globais. Trata-se de uma ferramenta única que integra Informações estruturais

em até 10 níveis de vinculação e participação acionária e de subsidiaria a partir de 0,01%,

o que permite encontrar correlações de eventos de empresas globais e sua vinculação em

22 Para mais detalhes, ver: http://www.thebanker.com 23 Os Bancos Centrais dos países do CCG possuem a relação de todas as IFIs e convencionais autorizadas

a operar em cada país, bem como o agregado total de ativos movimentados anualmente. Mais informações

em: http://www.cbb.gov.bh (Bahrein), http://www.qcb.gov.qa (Catar), https://government.ae (EAU),

http://www.cbk.gov.kw (Kuwait) e https://cbo.gov.om/ (Omã).

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211

todo o mundo, incluindo bancos islâmicos. Também contém informações financeiras,

comerciais, contábeis, mercadológica, informação de atividades de fusões e aquisições.

Integrando um banco de dados com capacidade de fazer pesquisas flexíveis e avançadas,

sendo utilizada é usado por entidades como ONU, OCDE, dentre outras entidades

internacionais, em suas pesquisas publicações e planejamento estratégico (OBF, 2017).

A seleção amostral de cada país é demonstrada no Quadro 10 a seguir:

Quadro 10 – Seleção Amostral por País

Países População de

Bancos Islâmicos

Bancos Islâmicos

Selecionados

Arábia Saudita 6 4

Bahrein 27 16

Catar 9 6

Emirados Árabes Unidos 9 8

Kuwait 6 3

Omã 5 3

Total 62 N = 40

Fonte: Autor (2017).

Importante destacar que os números acima não se confundem com a população de

Instituições Financeiras de cada país, haja vista que nestes países prevalece um sistema

dualista, possuindo tanto bancos islâmicos, quanto bancos ocidentais ou convencionais,

bem como um número elevado de IFIs, como, por exemplo, as seguradoras islâmicas.

5.3 Instrumentos de Pesquisa utilizados na Análise da Divulgação

Esta seção fornece informações detalhadas sobre a construção do índice de divulgação da

RSC em relatórios anuais através da análise de conteúdo e da literatura sobre finanças e

economia islâmicas.

5.3.1 Análise de Conteúdo

Existem muitas definições de análise de conteúdo. A definição mais amplamente aceita é

a oferecida por Berelson (1952) em sua obra seminal Content Analysis in Communication

Research, onde define a análise de conteúdo como uma técnica de pesquisa para a

descrição objetiva, sistemática e quantitativa de o conteúdo manifesto da comunicação.

Do mesmo modo, Carney (1972) descreve esse método como uma técnica de pesquisa

para fazer inferências, identificando de forma objetiva e sistemática determinadas

características das mensagens. Krippendorff (1980) descreve essa abordagem como uma

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técnica de pesquisa para fazer inferências replicáveis e válidas de dados para seu contexto.

De acordo com Gray et al. (1995), a análise de conteúdo é um método ou técnica

empregada para medir objetivamente, sistematicamente e quantitativamente o conteúdo

da comunicação.

Para Bardin (1977, p. 42), a técnica da análise de conteúdo pode ser definida como:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicações, visando a obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) das mensagens. Este conceito foi ainda mais definido por Guthrie e Abeysekera (2006) como uma técnica

para coletar dados contidos nos relatórios anuais e envolve a codificação de informações

qualitativas e quantitativas e categorias pré-definidas, a fim de derivar padrões na

apresentação e relatório de informações. A divulgação social pode ser medida de maneiras

diferentes. Belkaoui e Kaprik (1989) propuseram quatro medidas a serem utilizadas: a)

escala de divulgação social por Ernst (1973), b) Porcentagem da proposta no relatório

anual, c) Qualidade da divulgação no relatório anual; e d) quantidade de divulgação no

relatório anual.

Dessa forma, a análise de conteúdo é um dos métodos de pesquisa mais utilizados na

avaliação de divulgações sociais e ambientais, como se percebe nos trabalhos de Abbott

e Monsen (1979), Gray et al. (1995), Haniffa e Cooke (2005), Maali et al. (2006) e Haniffa

e Hudaib (2007). É definida como uma técnica de coleta de dados que consiste em

codificar a informação qualitativa em formas anedóticas e literárias em categorias, a fim

de derivar escalas qualitativas de diferentes níveis de complexidade (ABBOTT;

MONSEN, 1979, CRESWELL, 2014). Em termos operacionais, também pode ser

definida como um método onde os dados são codificados em categorias com base em

princípios previamente selecionados (KRIPPENDORFF,1980; WEBER, 1988; GIL,

1995). Portanto, uma característica fundamental da análise de conteúdo é o uso de

categorias selecionadas e desenvolvidas para classificar as unidades de conteúdo

(HANIFFA; COOKE, 2005; MORAES, 1999). As questões metodológicas de utilização

de análise de conteúdo para mensurar as divulgações de RSC nos relatórios anuais são

discutidas no seminal estudo de Gray et al. (1995).

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213

As questões metodológicas para a utilização da técnica de análise de conteúdo para medir

as divulgações de RSC nos relatórios anuais foram discutidas no estudo de Gray et al.

(1995). A metodologia proposta ocorre em três etapas e responde a três perguntas: "o

que", "onde" e "como"? No primeiro estágio, as categorias e os tipos de RSC foram

claramente definidos, a fim de responder à pergunta sobre o que é considerado e o que

não é considerado RSC de bancos islâmicos e bancos convencionais. Vale ressaltar que

as categorias de RSC podem mudar ao longo do tempo, em função de mudanças

regulatórias (emissão de uma nova norma, por exemplo), refletindo as mudanças na

prática da divulgação da RSC. Portanto, a escolha das categorias de RSC foi realizada

com base em estudos anteriores para manter um nível de comparabilidade. A segunda

etapa referiu-se à localização da divulgação da RSC. Responde à questão de onde devem

ser coletadas as informações sobre RSC e examinadas, determinando os tipos de

documentos empregados na análise. Na terceira etapa, as principais preocupações do

trabalho foram em como analisar e codificar dados e calcular as pontuações, como a

construção do índice de divulgação de RSC neste estudo. As seções a seguir respondem

as três perguntas formuladas nos estudos de Gray et al. (1995).

5.3.2 Análise Qualitativa de Conteúdo

O termo análise de conteúdo tem sido utilizado na descrição quantitativa. A análise

quantitativa de conteúdo que representa a codificação computadorizada com uma

contagem de frequência de palavras começou por volta dos anos 60 (FRANZOSI, 2007).

Entretanto, recentemente muitos pesquisadores aplicaram a análise de conteúdo para uma

abordagem qualitativa para obter maiores profundidades de interpretação

(GRANEHEIM; LUNDMAN, 2004). Na análise de conteúdo qualitativa, a codificação é

manual e não computadorizada e o pesquisador passa pelas sentenças enquanto as

codifica (HYDE, 2000; WOLFE, 2001). Atualmente o NVivo® e o ATLAS.ti® são as

opções de softwares mais populares usadas para apoiar a análise de dados qualitativos.

Tanto a análise de conteúdo quantitativa quanto a qualitativa buscam identificar padrões

observados a partir da contagem de palavras em frases ou páginas (GRAY, et al., 1995;

(BAKKER et al., 2005). Este método tem sido amplamente utilizado para investigar

documentos corporativos (GRAY, et al., 1996; LUNGU et al., 2011). O benefício de uma

análise de conteúdo quantitativa computadorizada é que esse método permite que os

pesquisadores codifiquem grandes volumes de conteúdo de maneira eficiente em termos

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214

de custos (MORRIS, 1994). No entanto, há uma desvantagem na análise de conteúdo

informatizada, pois é dificilmente possível definir com exatidão quais palavras se referem

à Responsabilidade Social Corporativa (GÖSSLING; VOCHT, 2007). Gray et al. (1995)

argumentam que, para a análise quantitativa de conteúdo, os pesquisadores precisam

dispor e fornecer um extenso dicionário de palavras e expressões que são atribuídas a uma

categoria de codificação, no entanto, os computadores não podem reconhecer quais

palavras estão dentro ou fora das categorias de RSC. Como os computadores não são

capazes de fazer juízos de valor (MORRIS, 1994), uma análise de conteúdo

computadorizada conta apenas a palavra, deixando assim de fora os contextos muito

informativos possíveis que poderiam ser os mais valiosos para a interpretação subjetiva,

especialmente no caso dos bancos islâmicos, cujos termos são particulares e exclusivos.

Como os relatórios de RSC foram tratados como um documento rico em informações

para esta tese, a codificação computadorizada não foi considerada apropriada. Por outro

lado, a análise de conteúdo qualitativa codificada manualmente é como outras

ferramentas analíticas qualitativas. Embora exija um procedimento sistemático para

revisar ou avaliar documentos impressos e eletrônicos (BOWEN, 2009), o conteúdo pode

ser examinado e interpretado para entender e desenvolver o conhecimento (CORBIN;

STRAUSS, 2008). Como os documentos são fatos sociais, que são produzidos,

compartilhados e usados em uma abordagem socialmente organizada (ATKINSON;

COFFEY, 1997), é uma ferramenta útil para entender além do que é observável e

disponível no presente contexto e situação nas esferas sociais e religiosas

(KHANDELWAL; MOHENDRA, 2010). Métodos qualitativos permitem aos

pesquisadores sintetizarem discretamente os valores, intenções e ideologias dos principais

gestores das empresas, o que geralmente é difícil por métodos mais automatizados

(MORRIS, 1994). Diante do exposto, esta pesquisa utilizou a análise qualitativa de

conteúdo para a coleta das informações nos relatórios dos bancos selecionados.

5.3.2.1 Fonte dos dados

Os relatórios anuais são empregados pelas instituições financeiras como uma das

principais ferramentas para divulgar seu comportamento socialmente responsável (TILT,

1994) e são utilizados por numerosos pesquisadores para mensurar as divulgações de RSC

em bancos islâmicos (e.g., MAALI et al., 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007; HASSAN

et al., 2010) através da informação comunicada aos usuários externos. Além dos relatórios

anuais, as divulgações de RSC podem ser monitoradas por meio de uma ampla variedade

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215

de mídias, que incluem anúncios de rádio e televisão, brochuras da empresa, folhetos ou

panfletos para abordar as atividades sociais da empresa, relatórios da comunidade,

relatórios ambientais e rótulos de produtos, para a promoção de preocupações ambientais

e outras, comunicados de imprensa, suplementos ao relatório anual ou produzidos em

datas intermediárias, vídeos e sites (AHMED; NICHOLLS, 1993; JENKINS;

YAKOVLEVA, 2006). Deve-se notar que, no entanto, para a elaboração desta tese tornar-

se-ia infactível identificar todas as formas de comunicação de divulgações sociais e

ambientais (GRAY et al., 1995), restando, dessa forma, a limitação do uso dos relatórios

anuais. Portanto, levando em conta esse argumento e a disponibilidade limitada dos

documentos que transmitem atividades socialmente responsáveis dos bancos islâmicos

nos países do CCG, esta pesquisa empregou relatórios anuais como fonte de dados

secundários (HUSSEY; HUSSEY, 1997) para avaliar as práticas de divulgação de RSC

dos bancos islâmicos e convencionais do CCG no período de 2013 a 2017.

Estudos sobre a divulgação de relatórios anuais têm sido motivados pela importância

desse método, destacando que a apresentação, dentro do mesmo documento ou processo

de relato, do financeiro, por um lado, e do social e ambiental, por outro, torna-se um

importante elemento que demonstra a extensão (se é que é possível) da organização em

que a organização concilia essas questões (GRAY et al., 1995). Além disso, escolheu-se

relatórios anuais, pois tem sido frequentemente usado na literatura de divulgação de RSC

como os principais relatórios externos preparados sob o controle de auditores

independentes ou externos e contadores ou preparadores e devido à sua disponibilidade e

oportunidade de oferecer uma medida consistente (TILT, 1994).

5.3.2.2 Unidade de análise

Um dos estágios mais importantes da análise de conteúdo é destacar a unidade de análise.

Os métodos mais comuns utilizados nos estudos de análise de conteúdo para quantificar

a divulgação são o número de caracteres, palavras, frases, páginas e proporção do volume

de divulgação de RSC sobre a divulgação total (TAHA, 2010). A literatura anterior

pesquisada nos trabalhos de Street e Bryant (2000), Aribi (2009), Rahman et al. (2011),

Farook (2011), Belal et al. (2014) não forneceu uma justificativa teórica para a escolha

de qualquer uma dessas medidas. A medida da quantidade de divulgação, em termos de

palavras, justificou-se por manter esse volume de divulgação pode assim ser registrado

com maior detalhe (DEEGAN; GORDON, 1996; KOLK; PINKSE, 2010). Dessa forma,

as palavras são a menor unidade de medida e pode-se esperar que forneçam a força

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216

máxima para o estudo na avaliação da quantidade de divulgação (ZEGHAL; AHMED,

1990; MORAES, 1999).

5.4 Definição do Índice de Divulgação da RSC (IDRSC)

Um elemento essencial da análise de conteúdo é a seleção e o desenvolvimento de

categorias nas quais as unidades de conteúdo podem ser classificadas. Deve-se notar aqui

que a seleção de dimensões de RSC semelhantes às dimensões selecionadas por

pesquisadores anteriores é essencial para fins de comparabilidade (GRAY et al., 1995).

Diferentes estudos utilizaram uma variedade de dimensões de RSC. Por exemplo,

Scholtens (2009) identificou as seguintes categorias de RSC dos bancos: i) códigos de

ética, ii) relatórios de sustentabilidade, iii) gestão ambiental, iv) produtos financeiros

responsáveis; e v) conduta social. Revisando a literatura de divulgação, Gray et al. (1995)

observam quatro categorias principais para a RSC: funcionários, meio ambiente,

comunidade e clientes. De forma semelhante, mas localizando diferentes agentes, Turker

(2009) em seu estudo propõe que a RSC consiste em quatro dimensões: responsabilidade

para com os atores sociais e não sociais, funcionários, clientes e governo.

Levando-se em consideração que o objetivo desta tese é avaliar as práticas de divulgação

de RSC dos bancos islâmicos, as categorias e os itens da RSC devem ser cuidadosamente

retirados do quadro de responsabilidade social da perspectiva das finanças islâmicas com

base na literatura existente sobre finanças islâmicas e RSC, mencionado no capítulo

anterior. Ao fornecer uma estrutura específica, certos padrões da indústria podem ser

utilizados, como o padrão estabelecido pelo AAOFI, que desenvolveu o Padrão de

Governança N ° 7: Responsabilidade Social Corporativa, conduta e divulgação para IFIs,

que trata de diretrizes para a RSC. Entre as 13 categorias sugeridas pela AAOIFI estão o

gerenciamento de Zakat e Waqf, o bem-estar dos funcionários, o envolvimento da

empresa com o cliente, atividades de caridade, desenvolvimento social e quotas de

investimento baseadas no meio ambiente (DINAR; DARUL, 2010).

Para fornecer uma resposta à terceira questão desta tese, foi conduzida uma investigação

empírica sobre o nível de divulgação da RSC, usando-se um índice abrangente de

divulgação não ponderada. Os estudos do índice de divulgação baseiam-se nos princípios

gerais da análise de conteúdo, um método bem estabelecido nas ciências sociais

(BEATTIE et al., 2004). Os estudos do índice de divulgação formam parte do conteúdo

análise, que envolve a classificação de unidades de texto em categorias (DRAGOMIR,

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2010) . Yusoff et al. (2006,) argumentam que usar o índice de divulgação como parte da

análise de conteúdo é considerada uma técnica muito útil como resultado de seu papel

importante, onde baseia-se na amplitude (número de tópicos diferentes) e profundidade

(especificidade das informações fornecidas) e pode evitar elementos de subjetividade.

Muitos estudos utilizaram um índice de divulgação como um método de pesquisa como

nas pesquisas de Guthrie et al. (2004), Maali et al. (2006), Hossain et al. (2006), Cheung

et al. (2010) e Platonova (2014).

Um índice de divulgação é um instrumento de pesquisa que compreende uma série de

itens pré-selecionados que, quando pontuados, fornecem uma medida que indica um nível

de divulgação no contexto específico para o qual o índice foi concebido. Nesta tese,

identificou o nível de divulgação e informações particulares predefinidas no relatório

anual dos bancos islâmicos. Neste estudo, procedeu-se com a construção dos escores de

divulgação de RSC para os bancos islâmicos, primariamente, e num segundo momento,

para bancos convencionais. Basicamente, a abordagem principal que foi utilizada nos

estudos anteriores foi inicializada selecionando um grupo de itens que representaram o

índice de divulgação, que foi usado para exibir os relatórios anuais dos bancos

(GUTHRIE; ABEYSEKERA, 2006).

Pesquisas anteriores como as de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Williams

e Zinkin (2010), Hassan e Harahap (2010) e Kamla e Rammal, (2013) desenvolveram o

índice de divulgação usando várias etapas, que também foram implementadas nesta tese.

Primeiro, ao mensurar a divulgação da RSC, os itens do índice de divulgação foram

desenvolvidos com base em AAOIFI, nº 7, 2010 e apoiados por extensa literatura passada

como nas obras de Maali et al. (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Hussainey e Elsayed,

(2011), Aribi e Gao (2012), Platonova (2014) e Farag et al. (2014). O objetivo da revisão

de pesquisas anteriores na construção do índice é obter uma melhor compreensão e ideia

sobre os itens construídos em estudos anteriores de divulgação da RSC.

Em segundo lugar, a seleção dos itens a serem incluídos no índice foi escolhida

considerando sua relevância. Em seguida, foi dividido com base em sua categoria,

obrigatória ou voluntária, conforme sugerido pela AAOIFI, nº 7, 2010. As principais

dimensões do índice consistem em quatro aspectos principais, que abrangem as questões

de responsabilidade social nas organizações, responsabilidade social no relacionamento

com clientes, responsabilidade social na triagem de seus investimentos e responsabilidade

social em sua relação a sociedade em geral.

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O índice verificável e testável, que consistiu em 11 dimensões, foi projetado para medir

o volume de divulgações. O objetivo das dimensões foi o de determinar os temas de RSC

usando a lista de verificação de divulgação e a localização dos itens RSC nos relatórios

anuais dos bancos, seguindo a abordagem utilizada no estudo por Mustafa (2004). Como

resultado, foram selecionadas 11 dimensões principais através das quais os relatórios

anuais dos bancos islâmicos submetidos à análise de conteúdo.

O Quadro 11 descreve dimensões e sub-dimensões que compuseram o índice de

divulgação de RSC desenvolvido:

Quadro 11 - Dimensões e Sub-dimensões do índice de divulgação da RSC

Dimensão

Principal Sub-dimensão Conduta Sigla Fonte

Responsabilidade

Social dentro das

Organizações

1) Bem estar do Empregado O BEE

Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;

Vinnicombe, 2010; Taha,

2010; Ullah, 2013

2) Políticas para o

desenvolvimento social e

investimentos destinados ao

meio ambiente

V PMA Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;

Aribi; Gao, 2012

3) Ganhos e perdas

proibídos pela Sharia O GPS

Maali et al., 2006; Aribi,

2009; AAOIFI, 2010; Aribi e

Gao, 2012

Responsabilidade

Social na relação

com clientes e

fornecedores

4) Excelência no

Atendimento ao Cliente V EAC

AAOIFI, 2010; Vinnicombe

2010; Ullah, 2013; Aribi,

2009; Taha, 2010

5) Política interna para

tratamento dos clientes O PIC

AAOIFI, 2010; Belal et al.,

2014

6) Qard Hassan –

Empréstimo Benevolente O Qard

Haniffa, 1999; Aribi, 2009;

AAOIFI, 2010; Vinnicombe,

2010; Taha, 2010; Ullah, 2013

Responsabilidade

Social na escolha

dos

Investimentos

7) Investimento Social ,

poupança social e

desenvolvimento de

Pequenas e Médias

Empresas

V PME Maali et al., 2006; AAOIFI,

2010; Taha, 2010

8) Política interna para a

seleção dos Clientes O PSC

Maali et al., 2006; Aribi,

2009; AAOIFI, 2010; Aribi e

Gao, 2012

Responsabilidade

Social e sua

relação com a

Sociedade

9) Zakat O Zakat

Haniffa, 1999; Aribi, 2009;

AAOIFI, 2010; Vinnicombe,

2010; Taha, 2010; Ullah, 2013

10) Atividades de Caridade V CAR

Haniffa, 1999; Nadzri, 2006;

Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;

Vinnicombe, 2010; Taha,

2010; Ullah, 2013

11) Gestão do Waqf V Waqf Aribi, 2009; AAOIFI, 2010;

Aribi e Gao, 2012

Nota: Conduta obrigatória (O) - Conduta voluntária (V)

Fonte: Adaptado de Maali et al. (2006); Hanifa e Hudaib (2007); AAOFI (2010); Hasan (2012); Kamia e

Rahman (2013); Belal et al. (2014); Platonova (2014) e El Halaby e Hussainey (2015).

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Em terceiro lugar, após a validação do índice, foi decidido pela atribuição ou não de uma

ponderação ao índice de divulgação. Nessa tese, um índice de divulgação não ponderado

foi utilizado para determinar o nível de divulgação da RSC de bancos islâmicos e bancos

convencionais. Este método tem sido comumente utilizado em pesquisas anteriores como

nos estudos de Maali et al., (2006), Haniffa e Hudaib (2007), Elzahar et al. (2015) na

medição de práticas de divulgação. Dessa forma, foi adotada nesta tese o método de

mensuração com base na quantidade de divulgação de RSC dos bancos islâmicos no

CCG. De acordo com Gray et al. (1992), aqueles que querem empregar um índice de

divulgação ponderado devem tratar todos os itens da lista como igualmente importantes

e o método dicotômico será usado para marcar o item. O banco islâmico recebeu uma

pontuação de "1", caso tenha divulgado o item e "0", caso não o tenha divulgado.

Embora o índice de divulgação esteja sujeito à controvérsia, especialmente sobre a

subjetividade envolvida pelos pesquisadores, pode-se admitir que o índice de divulgação

tem sua própria força (CHOW; WONG-BOREN, 1987). O índice de divulgação completo

que será usado para exibir o relatório anual pode revelar a extensão da qualidade e

quantidade da divulgação (GRAY et al., 1995). O índice de divulgação é de natureza

muito abrangente e robusta, pois será criado com base em múltiplas fontes, incluindo

literatura passada e padrões contábeis, conjugados com os itens de divulgação, e

normatizadores, sempre validados por especialistas (MAALI et al., 2006).

5.4.1 Processo de construção do Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI) e

Convencional (IDRSCC)

Os métodos comuns utilizados nos estudos de análise de conteúdo para quantificar a

divulgação são o número de caracteres, palavras, frases, páginas e proporção do volume

de divulgação de RSC para divulgação total (TAHA, 2010). A maioria das pesquisas

anteriores utiliza caracteres e palavras na mensuração da informação de RSC do relatório

anual. A medida da quantidade de divulgação, em termos de palavras, justificou-se por

manter esse volume de divulgação pode assim ser registrado com maiores detalhes

indicaram que as palavras são a menor unidade de medida e pode-se esperar que forneça

a força máxima para o estudo na avaliação da quantidade de divulgação (e.g., ZEGHAL;

AHMED, 1990; DEEGAN; GORDON, 1996; KOLK; PINKSE, 2010; FAROOK, 2011;

BELAL et al. 2014, PLATONOVA, 2014, HARUN, 2016).

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Ao examinar o nível de divulgação da RSC, esta tese usou palavras-chave para encontrar

informações de RSC no relatório anual, com base nas dimensões RSC desenvolvidas

usando os padrões AAOIFI (2010). Para superar um problema de medição ambígua, foi

tomada uma medida preventiva para aumentar a validade e a confiabilidade da análise.

Todos os relatórios anuais foram cuidadosamente lidos em sua totalidade para encontrar

a informação RSC usando palavras-chave relacionadas à medida de itens. Por exemplo,

ao medir a informação de RSC sobre o Zakat no relatório anual do Banco Al Rajhi, várias

palavras-chave foram usadas para encontrar essa informação como zakat, reserve for

zakat, etc. Em seguida, a pontuação “1” foi atribuída se houvessem informações

relacionadas ao Zakat e “0”, caso contrário.

Em geral, para explorar as práticas de divulgação de RSC dos bancos islâmicos na forma

de um índice, foi calculado um índice do Índice de Divulgação de Responsabilidade

Social Corporativa Islâmico (IDRSCI). A quantidade de divulgação é medida através da

construção de um índice de divulgação. Este processo consiste na análise do conteúdo da

informação. A abordagem dos itens de pontuação é essencialmente dicotômica na medida

em que um item no instrumento de pesquisa pontuação "1" se comunicado e "0" se não

estiver seguindo os estudos de Haniffa e Cooke (2002), Haniffa e Hudaib (2007), Fatma,

Rahman e Khan (2014) e Aribi e Arun (2015).

A métrica utilizada para medir o nível de divulgação de RSC da amostra de bancos

islâmicos e convencionais é apresentada nas Equações 1 e 2 a seguir:

Índice de Divulgação da RSC Islâmica (IDRSCI):

IDRSCIi,t = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛

𝑖=1 (1)

e

Índice de Divulgação da RSC Convencional (IDRSCC):

IDRSCCi,t = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛

𝑖=1 (2)

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Em que:

i) IDRSCI (i,t): corresponde ao score do índice de divulgação da RSC do banco islâmico

i no período t.

ii) IDRSCC (i,t): corresponde ao score do índice de divulgação da RSC do banco

convencional i no período t.

iii) n: número de itens do índice.

iv) j: indica cada item adicionado ao índice.

Assim, o valor do índice, para cada empresa i no período t, foi obtido como a soma das

pontuações atribuídas a cada item em Score (j). Como consequência, os itens

disponibilizados nos relatórios anuais dos bancos receberam o valor “1” e aqueles não

evidenciados receberam o valor “0”. Para cada banco islâmico e convencional, procedeu-

se, como acima, a divisão da soma desses valores para o ano em destaque.

Por fim, padronizou-se, para esta tese as Equações 3, 4 e 5 a seguir:

IDRSCI (i,t) = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛

𝑖=1 X 100 (3)

N

e

IDRSCC (i,t) = ∑ 𝑆𝑐𝑜𝑟𝑒 (𝑗)𝑛

𝑖=1 X 100 (4)

N

Dessa forma, chega-se à pontuação total: Total Score (i,t) X 100 (5)

N

Um segunda métrica de divulgação foi construída, considerando apenas as dimensões de

observância voluntária. Isso se deve ao fato de que a divulgação voluntária da RSC

demonstra uma maior preocupacão dos bancos em cumprir seu papel com a sociedade,

independentemente do enforcement governamental ou normativo. Dessa forma, para essa

segunda métrica, foram consideradas apenas as seguintes sub-dimensões:

1) Políticas para o desenvolvimento social e investimentos destinados ao meio ambiente

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222

2) Excelência no Atendimento ao Cliente

3) Investimento Social, poupança social e desenvolvimento de Pequenas e Médias

Empresas

4) Atividades de Caridade

5) Gestão do Waqf

Os resultados com base nestes dois métodos serão apresentados no Capítulo 6.

5.5 Determinantes para a divulgação da RSC

5.5.1 Modelo de regressão

Para mensurar os determinantes de divulgação de RSC dos 40 bancos islâmicos

selecionados, essa tese usou a análise de conteúdo como um método de codificação, que

tem sido amplamente empregado em estudos anteriores de divulgação corporativa,

especialmente nos bancos islâmicos, como nos estudos de Maali et al. (2006) e Abdul

Rahman et al., (2010). Para testar uma associação entre os níveis de divulgação

corporativa com variáveis GC (Conselho de Administração, Conselho de Supervisão

Sharia, Comitê de Auditoria e Estrutura de Propriedade), um índice abrangente que

consiste em 6 variáveis relacionados ao Conselho de Administração, 2 variáveis

relacionadas ao Conselho de Supervisão Sharia, 2 variáveis relacionadas ao Comitê de

Auditoria e 2 variáveis relacionadas à estrutura de propriedade foi construído e calculado.

Também foram adicionadas variáveis de controle nesse índice, que consistem em 5

variáveis de características dos bancos e 2 variáveis específicas do país de origem do

banco. As pontuações do índice foram calculadas atribuindo-se ponderações iguais a cada

item de divulgação e os índices foram obtidos calculando a proporção de pontuações reais

atribuídas ao limite máximo possível alcançável para itens que eram aplicáveis a cada

banco islâmico. Cada item de divulgação foi marcado sem uma ponderação em uma base

dicotômica, tomando a abordagem comumente usada para dar ao item uma pontuação de

um (1) e zero (0) (HANIFFA; COOKE, 2002; GHAZALI; WEETMAN, 2006) . Para

investigar empiricamente a relação entre a divulgação da RSC e as características

específicas de GC em bancos islâmicos, foi usada a regressão MQO para estimar a

associação entre o IDRSCI e as variáveis de Governança Corporativa (GC), seguindo os

estudos de Chan et al. (2012).

O método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) é a técnica mais utilizada em

estudos de divulgação (LEVENTIS, 2001), onde a variável dependente é o nível de

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223

conformidade (pontuação) de divulgação de RSC e as variáveis independentes incluem

todas as variáveis de Governança Corporativa dos bancos islâmicos e convencionais.

Portanto, foi utilizada a Equação 6 de regressão múltipla apresentada a seguir:

IDRSCit = α + β1TCAit + β2GCAit + β3CCAit + β4RCAit + β5DCEOit + β6PCCA it +

β7TSit + β8PCCSS it + β9TCTAit + β10RCTAit + β11PII.it + β12PIE.it + β13TBit+ β14IBit +

β15ROEit + β16ALAVit + β17LIQit + β18PIBit + β19CORRUPit + Ano + εit (6)

Em que:

i) IDRSCit: representa a medida de disclosure de RSC para o banco islâmico ou

convencional i no período t.

ii) α: corresponde ao intercepto da regressão.

iii) β1 - β12: representam as variáveis independentes. As variáveis de Governança

Corporativa (GC) consistem no: β1) Tamanho do Conselho de Administração (CA), β2)

Gênero do CA, β3) Composição do CA, β4) Número de Reuniões do CA, β5) Dualidade

do CEO, β6) Participação Cruzada de membros do banco em outros CAs, β7) Tamanho

do Conselho de Supervisão Sharia (CSS), β8) Participação Cruzada dos membros do CSS

em outros Conselhos, β9)Tamanho do Comitê de Auditoria, β10)Número de Reuniões do

Comitê de Auditoria, β11)Participação de Investidores Locais; e β12) Participação de

Investidores Externos.

iv) β13 - β19: representam as variáveis de controle. As empresas (neste estudo se referem

a bancos islâmicos) e as variáveis específicas do país consistem em: β13) Tamanho do

Banco, β14) Idade do Banco, β15) Rentabilidade do banco, β16) Alavancagem do Banco,

β17) Liquidez do Banco, β18) PIB do país; e β19) Índice de Corrupção do paíse analisado.

v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado

(Anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017).

vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto

para a RSC e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.

O Quadro 12 a seguir resume as variáveis dependentes, independentes e de controle para

fins de investigação dos determinantes por trás da divulgação de RSC:

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224

Quadro 12 – Definição das variáveis determinantes da divulgação da RSC

Variável Definição Mensuração Fonte

IDRSCI Pontuação de RSC por

bancos da amostra

Percentual de divulgação de RSC

por banco islâmico e convencional

Relatórios

Anuais

1 – TCA Tamanho do CA Número total de Conselheiros Relatórios

Anuais

2 – GCA Gênero do CA Variável dummy onde 1 representa

gênero masculino e 0, feminino

Relatórios

Anuais

3 - CCA Composição do CA Total de não executivos do banco

pelo total de Conselheiros

Relatórios

Anuais

4 – RCA Reuniões do CA Número de reuniões anuais Relatórios

Anuais

5 - DCEO Dualidade CEO

Variável dummy onde 1 representa

que o presidente do CA é CEO do

banco e 0, caso contrário

Relatórios

Anuais

6 – PCCA Participação em outros

CAs

Variável dummy onde 1 representa

que o membro do CA participa em

outros Conselhos e 0, caso não se

aplique

Relatórios

Anuais

7 – TS Tamanho do Conselho de

Supervisão Sharia (CSS) Número total de Conselheiros

Relatórios

Anuais

8 – PCCSS Participação em outros

CSSs

Variável dummy onde 1 representa

que o membro do CSS participa em

outros Conselhos e 0, caso não se

aplique

Relatórios

Anuais

9 – TCTA Tamanho do Comitê de

Auditoria Número total de Membros

Relatórios

Anuais

10 – RCTA Reuniões do Comitê de

Auditoria Número de reuniões anuais

Relatórios

Anuais

11 – PII

Participação de

investidores

institucionais

Percentual de participação de

investidores institucionais nas ações

do banco islâmico

Banco de

Dados e

Relatórios

Anuais

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225

Variável Definição Mensuração Fonte

12 – PIE Participação de

investidores externos

Percentual de participação externa

nas ações do banco islâmico

Banco de

Dados (Orbis

Bank Focus®)

e Relatórios

Anuais

13 – TB Tamanho do Banco

Islâmico

Logaritmo natural do total de ativos

do banco islâmico

Banco de

Dados (Orbis

Bank

Focus®))

14 – IB Idade do Banco Islâmico Idade do Banco Islâmico

Banco de

Dados (Orbis

Bank Focus®)

15 – ROE Rentabilidade do Banco

Islâmico Return on Equity (ROE)

Banco de

Dados (Orbis

Bank Focus®)

16 – ALAV Alavancagem do Banco

Islâmico

Relação entre o Passivo e o PL

(Relação Debit/Equity)

Banco de

Dados (Orbis

Bank Focus®)

e Relatórios

Anuais

17 – LIQ Liquidez do Banco

Islâmico

Relação entre o Ativo Circulante e

o Passivo Circulante

Banco de

Dados (Orbis

Bank Focus®)

18 – PIB PIB do país de origem do

Banco Islâmico

PIB do país de origem do Banco

Islâmico

Banco

Mundial

19 – CORRUP

Índice de corrupção no

país de origem do Banco

Islâmico

Índice de corrupção no país de

origem do Banco Islâmico

Transparência

Internacional

Fonte: Autor (2017).

5.6 Consequências da divulgação da RSC

Esta seção explica os testes estatísticos utilizados para verificação da existência de relação

entre os níveis de divulgação encontrados e os valores dos bancos islâmicos. A finalidade

principal é a de testar as hipóteses desenvolvidas e medir o impacto das divulgações de

RSC sobre os desempenhos financeiros dos bancos islâmicos nos países do CCG.

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226

5.6.1 Variáveis dependentes

Para medir as consequências da divulgação da RSC para bancos da amostra (islâmicos e

convencionais), estudos empíricos anteriores usaram proxies diferentes para medir o

valor da empresa (VF). Entre os 95 estudos que Margolis e Walsh (2001) revisaram, 49

adotaram medidas contábeis, 12 medidas de mercado conhecidas e o restante usou um

conjunto misto.

O presente estudo utilizou duas variáveis dependentes alternativas associadas ao valor da

empresa (VF) para testar a hipótese, fato consistente com diversos estudos prévios como

os de Hillman e Keim, (2001) Barontini e Caprio (2006), Sheu et al. (2010) e Servaes e

Tamayo (2013).

5.6.2 Market to Book Value (MTBV)

Ao medir o impacto do IDRSCI e IDRSCC no valor do banco, foram utilizados diversos

indicadores, como o Market to book value (MTBV). Trata-se da razão entre o valor de

mercado do PL e valor contábil do PL. Empresas com maiores valores de mercado estão

associadas a melhor governança e menores riscos.

Outros estudos utilizaram valor de mercado para refletir o valor de mercado da empresa

em comparação com seu valor contábil como nas obras de Hassan et al. (2009) e Uyar e

Kiliç (2012). Além disso, a relação book-value também foi usada em uma análise

adicional para verificar a robustez dos resultados seguindo outras pesquisas (e.g.,

HANIFFA; HUDAIB, 2006; HASSAN et al., 2009).

Em relação ao MBTV, é caracterizada como sendo a relação entre o valor de mercado do

patrimônio líquido e o valor contábil do patrimônio líquido. Esta relação é um bom

indicador de como uma empresa é avaliada pelos investidores. Se o índice exceder 1,

significa que a empresa está sobrevalorizada pelos investidores e vice-versa (HASSAN

et al., 2009). A relação MBTV é utilizada pelos analistas de mercado para determinar se

uma ação está subvalorizada ou sobrevalorizada. Se uma ação estiver subvalorizada, o

preço deverá aumentar. Se estiver sobrevalorizada, o preço deverá cair.

Sendo assim, na análise do índice MTBV tem-se a possibilidade de obter dois resultados

distintos. O primeiro é obter um valor maior do que uma unidade (maior que 1)

evidenciando que o mercado reconhece que determinada empresa tem um valor maior do

que está registrado nas suas demonstrações contábeis, ou seja, o mercado está

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227

reconhecendo algo que não está sendo reconhecido pela contabilidade de maneira

completa. Quanto ao segundo resultado ocorre quando a razão é menor que uma unidade

(menor que 1) significando que o mercado não está reconhecendo os valores expressos

nas demonstrações contábeis da empresa.

Nesta tese, os dados do MTBV da amostra dos bancos do CCG foram coletados do banco

de dados da Orbis®. Para investigar empiricamente a relação entre o valor da empresa

(usando MTBV como proxy) e RSC nos bancos islâmicos e convencionais, o estudo usa

a regressões de MQO apresentadas nas Equações 7 e 8 a seguir, através de dois Modelos:

Modelo 1: Valor da Firma (VF) usando MTBV como proxy:

VF (MTBV) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n

+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε (7)

e

VF (MTBV) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n

+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε (8)

Em que:

i) VF (MTBV): representa o valor da empresa usando MTBV como uma proxy para a

amostra de bancos islâmicos e convencionais, também conhecida como a variável

dependente. Os dados foram coletados do banco de dados Orbis®.

ii) α: corresponde ao intercepto.

iii) β1: representam as variáveis independentes.

iv) β2 - β8: representam as variáveis de controle. Consistem em: β2) Tamanho do

Conselho de Administração (CA), β3) Composição do CA, β4) Participação Cruzada de

membros do banco em outros CAs, β5) Tamanho do Banco), β6) Rentabilidade do banco,

β7) Alavancagem do banco; e β8) PIB do país onde o banco está inserido.

v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado

(Anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017).

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228

vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto

para o MTBV e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.

5.6.3 Q de Tobin

O Q de Tobin, originalmente, é definido pela razão entre o valor de mercado das empresas

e o custo de reposição dos ativos, e indica a capacidade da companhia de gerar valor

mediante investimentos. Face à dificuldade de calculá-lo, utiliza-se a fórmula

simplificada proposta por Chung e Pruitt (1994), que considera a soma do valor de

mercado das ações e do valor de mercado das dívidas dividida pelo valor contábil do ativo

total. Essa simplificação é definida pelos autores como:

The formula requires only basic financial and accounting information. Results

of a series of regressions comparing our approximate Q values with those

obtained via Lindenberg and Ross (1981) more theoretically correct model

indicate that at least 96.6% of the variability of Tobin's Q is explained by

approximate Q.

Com isso, a coleta dos dados se torna facilitada, pois estão disponíveis nas demonstrações

financeiras de cada banco islâmico e convencional. Esse método é comparável ao de

Lindenberg e Ross (1981), que após regressões com os resultados obtidos por ambos os

métodos, provaram serem equivalentes.

Estudos empíricos usaram proxies diferentes para capturar as reações dos investidores às

informações divulgadas. Por exemplo, o retorno foi usado em muitos estudos anteriores

para investigar o efeito da informação divulgada, como nas obras de exemplo Conover e

Wallace (1995), Healy et al. (1999), Bloomfield e Wilks (2000), Lang e Lundholm

(2000), Bushee e Leuz (2005), Hussainey e Mouselli (2010), Tsalavoutas (2011) e

Roychowdhury e Sletten (2012).

Além disso, o Q de Tobin também foi usado para medir o valor da empresa em alguns

estudos como os de Morck et al. (1988), La Port et al., (2002), Haniffa e Hudaib (2006),

Setia-Atmaja, (2008), Hassan et al. (2009), Aggarwal (2009), Ezat (2010), Platonova

(2014) e Harun (2016).

Adotando uma abordagem utilizada em estudos recentes como os de Khlif et al. (2015) e

Alotaibi e Hussainey (2016), a presente tese também utiliza o Q de Tobin como proxy

para mensurar o valor do banco. Para investigar empiricamente a relação entre o valor do

banco (usando o Q de Tobin como proxy) e o IRSC em bancos islâmicos e convencionais

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229

(IDRSCI e IDRSCC, respectivamente), o estudo usou as regressões apresentadas na

Equações 9 e 10 a seguir:

Modelo 2: Valor da Firma (VF) usando Q de Tobin (QT) como proxy

VF (QT) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +

β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε (9)

e

VF (QT) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +

β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε (10)

Em que:

i) VF (QT): representa o valor da empresa usando QT como uma proxy para a amostra

de bancos islâmicos e bancos convencionais, também conhecido como a variável

dependente. Os dados foram coletados do banco de dados Orbis®.

ii) α: corresponde ao intercepto.

iii) β1: representam as variáveis independentes.

iv) β2 - β8: representam as variáveis de controle. Consistem em: β2) Tamanho do

Conselho de Administração (CA), β3) Composição do CA, β4) Participação Cruzada de

membros do banco em outros CAs, β5) Tamanho do Banco), β6) Rentabilidade do banco,

β7) Alavancagem do banco; e β8) PIB do país onde o banco está inserido.

v) Ano: corresponde a variável dummy, que representa cada ano do período analisado

(Anos de 2013, 2014, 2015 e 2016).

vi) εit: representa o termo de erro da regressão, isto é, a diferença entre o valor previsto

para o QT e o valor observado para cada banco islâmico da amostra.

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230

O Quadro 13 a seguir resume as definições de variáveis dependentes, independentes e de

controle:

Quadro 13 – Variáveis dependentes, independentes e de controle

Dep

end

ente

s

Variável Definição Mensuração Fonte

Market to Book

Value (MTBV)

Valor de Mercado

das Ações

Logaritmo natural da

divisão do valor de

mercado das ações sobre o

Patrimônio Líquido

Banco de Dados

(Orbis Bank Focus®)

Q de Tobin

(QT)

Representa o Valor

de Mercado do

Banco Islâmico ou

Banco

Convencional

Trata-se do logaritmo

natural do valor contábil

dos ativos subtraído do

valor contábil do

Patrimônio Líquido e

somado ao valor de

mercado do Patrimônio

Líquido

Banco de Dados

(Orbis Bank Focus®)

Ind

epen

den

te

1) IRSCI ou

IRSCC

Nível de

divulgação de RSC

dos Bancos

Islâmicos ou

Convencionais da

Amostra

Representa o percentual de

informações de RSC

divulgadas pelos Bancos

Islâmicos e Convencionais

da Amostra

Relatórios Anuais

Co

ntr

ole

2) Tamanho do

Conselho de

Administração

(CA)

Tamanho do CA Número total dos membros

do Conselho Relatórios Anuais

3) Composição

do Conselho de

Administração

(CA)

Composição do

Conselho

representada pela

relação de

executivos e não

executivos do

Banco

Calculado pelo número

total de não executivos do

Banco pelo número total de

Conselheiros

Relatórios Anuais

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231

Variável Definição Mensuração Fonte

4) Dualidade

(CEO X

Presidente do

Conselho)

Dualidade do CEO

Se o CEO do Banco

presidir o CA, seu valor

será “1”. Caso contrário,

“0”

Relatórios Anuais

5) Tamanho do

Banco Tamanho do Banco

Log natural do total de

ativos do banco

Banco de Dados

(Orbis Bank Focus®)

6) Rentabilidade

do Banco Rentabilidade Retorno sobre o PL

Banco de Dados

(Orbis Bank Focus®)

7) Alavancagem

do Banco Alavancagem Relação entre Passivo e PL

Banco de Dados

(Orbis Bank Focus®)

e Relatórios Anuais

8) PIB Produto Interno

Bruto PIB dos países da amostra Banco Mundial

Fonte: Autor (2017).

5.8 Normalidade, heterocedasticidade e multicolinearidade

Gujarati e Porter (2009) afirmaram que a suposição de normalidade não é crucial para

dados grandes. Enquanto isso, como o número de bancos islâmicos é de apenas 40, ele

deve ser testado pela normalidade. Este estudo conduziu o Teste de Kolmogorov-Smirnov

para garantir que os dados sejam normalmente distribuídos. Com base nesse teste, o

estudo constata que todos os dados são normalmente distribuídos. Os resultados dos testes

de normalidade são apresentados nos Apêndices D e E.

Cooke (1998) afirma que a transformação de dados é útil em muitos casos: quando existe

uma relação não linear entre variáveis dependentes e independentes, no caso de erros que

não são quase normais, onde um problema de heterocedasticidade está presente, ou

quando a relação entre variáveis dependentes e independentes é monótona. Seguindo a

maioria dos estudos de divulgação (e.g., LI et al., 2012), variáveis de controle são

transformadas: Tamanho do Banco (Tamanho da Firma) é transformado usando um

logaritmo (log) dos valores originais para se tornar mais aproximado da distribuição

normal (e.g., COOKE, 1998; PALLANT, 2005; TABACHNICK E FIDELL, 2007). Foi

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232

adotado para essa tese o método utilizado por Aryani (2015) na realização de um teste de

heteroscedasticidade. Com base na análise, o resultado mostra que todas as variáveis são

maiores que 0,05 e menores que a tabela t, o que implica que todas as variáveis não

apresentavam um problema de heteroscedasticidade.

A matriz de correlação de Pearson foi a ferramenta inicial utilizada para detecção de

multicolinearidade. Também foi utilizada para medir a força e a direção da associação

linear entre qualquer par de variáveis. Gujarati (2003) indica que a colinearidade entre as

variáveis independentes é aceitável se o coeficiente de correlação (r) estiver no máximo

em 0,80. A matriz de correlação de Pearson é ilustrada nos Apêndices F e G. Isso mostra

que não há problema de multicolinearidade neste estudo, pois a associação entre as

variáveis está abaixo de 0,80.

Após a realização de cada regressão, calculou-se o Fator de Inflação da Variância (FIV).

Este procedimento é um passo adicional para garantir que as variáveis explicativas não

sejam extremamente correlacionadas. A regra que foi aplicada é: a correlação entre

variáveis independentes é aceita desde que o FIV seja ainda menor que 10 (GUJARATI,

2003; ACOCK, 2008).

Os resultados do FIV são superiores a 0,1 e inferiores a 10, o que significa que essas

variáveis não apresentavam um problema de multicolinearidade. Os resultados também

mostraram que os modelos estão livres de problemas de autocorrelação. Devido aos dados

não apresentarem problema de normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e

autocorrelação, os dados puderam ser processados para responder às questões e hipóteses

da pesquisa.

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233

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi amplamente discutido nesta tese que os bancos islâmicos, orientados pela Sharia, são

Instituições Financeiras responsáveis por cumprir seus papéis sociais e éticos

concomitantemente às suas atividades financeiras. Conforme identificado no Capítulo 2,

as operações dos bancos islâmicos são fundamentadas pelo uso do Corão e da Suna, as

duas principais fontes de conhecimento e de regras no Islã, sendo o primeiro o Livro

Sagrado do Islã e os últimos provérbios e práticas diárias do Profeta Muhmammad

(S.A.W.S.). Conjugando os valores sociais com os religiosos, a expectativa inicial era de

que os bancos islâmicos desempenhassem o seu papel social, em termos de contribuições

efetivas para o bem estar e a justiça social, através das atividades sociais, o que implicaria

em maior nível de divulgação de sua RSC, fator consistente com os princípios da

economia, finanças, moral e transparência islâmicas.

Este Capítulo fornecerá uma análise descritiva da divulgação de RSC nos bancos

islâmicos, resultados empíricos de seus determinantes e consequências de divulgação,

tanto para bancos islâmicos quanto convencionais, com base na plataforma metodológica

delineada anteriormente.

Serão oferecidos subsídios para responder às seguintes questões de pesquisa:

QP 1: Qual é a relação entre o nível de divulgação da RSC e o valor dos bancos

islâmicos e convencionais?

QP 2: Quais são os determinantes que levam à divulgação da RSC na amostra de

bancos islâmicos?

QP 3: O que é a prática de divulgação de RSC dos bancos islâmicos nos países

do CCG?

6.1 Consequências da divulgação da RSC: análise empírica e respostas à primeira

questão de pesquisa (QP 1)

Ao responder à primeira questão de pesquisa (QP 1), esta seção apresentará as estatísticas

descritivas das variáveis utilizadas neste estudo e fornecerá uma análise empírica das

consequências da divulgação da RSC, isto é, o reflexo no valor dos bancos selecionados.

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234

6.1.1 Estatísticas descritivas

As estatísticas descritivas são apresentadas na Tabela 10, que indica os valores médios de

todas as variáveis usadas para medir as consequências da RSC em uma amostra de 40

bancos islâmicos e 40 bancos convencionais no CCG entre os anos de 2013 a 2017,

envolvendo 200 observações, para cada grupo analisado. Ficou demonstrado que, em

média, os bancos islâmicos divulgam 37,89% das informações voluntárias de RSC em

seus relatórios anuais, enquanto seus pares convencionais, apenas 24,26%. Ao

considerarmos o nível de divulgação geral, isto é, contemplando variáveis voluntárias e

obrigatórias, o nível de divulgação dos bancos islâmicos continua superior ao dos seus

pares convencionais (41,05% e 30,65%, respectivamente). Isso demonstra, num primeiro

momento, uma maior preocupação dos bancos islâmicos no que diz respeito à divulgação

de itens relacionados à RSC aos stakeholders.

Analisando as proxies de valor, percebeu-se que logaritmo natural médio do valor de

mercado do patrimônio líquido sobre o valor contábil do patrimônio líquido (MTBV) foi

de 1,5960 os bancos islâmicos e de 1,7569 para os bancos convencionais. Já o índice

médio do Q de Tobin para os bancos islâmicos do CCG foi de 81,02% e para os bancos

convencionais, 88,98%, demonstrando que, no limite, os bancos convencionais

apresentam um desempenho superior, uma vez que apresentam uma maior diversificação

em seus produtos, visto que não possuem limitações restritivas como no caso dos bancos

islâmicos (por exemplo, riba, maysir e gharar), ainda que divulguem menos informações

relacionadas à RSC, quando comparados aos seus pares islâmicos.

Para as variáveis de controle, a média do número de Conselheiros no CA de bancos

islâmicos é de 9 membros, enquanto a composição média entre executivos e não

executivos é de 33%. No caso dos bancos convencionais, o número médio de

Conselheiros no CA é de 7 membros e sua composição média entre executivos e não

executivos é de 58%. Em média, 18 bancos islâmicos têm o problema da Dualidade do

CEO (DCEO), ao passo que nos bancos convencionais esse número chegou a 21. Outras

variáveis de controle são tamanho médio do banco (3,5987 para o islâmico e 4,1223 para

o convencional), lucratividade do banco ou ROE (8,22 para os islâmicos e 25,65 para o

convencional), alavancagem do banco (110,423 para os islâmicos e 89,69 para os

convencionais) e PIB médio dos países analisados do CCG (10,8787). A Tabela 10 a

seguir fornece a estatística descritiva das variáveis:

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23

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0,8

102

0,8

89

9

0,1

48

03

0,1

11

23

IDR

SC

I *

20

0

0,0

9

0,7

3

0,4

105

0

,13

02

6

IDR

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2

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0,0

7

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,30

65

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,14

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) *

*

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789

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2

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V)

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20

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0

,13

25

6

TC

A

20

0

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0

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0

16,0

0

14,0

0

9,1

538

6,9

86

3

2,2

42

27

2,1

85

20

CC

A

20

0

0,1

0

0,2

0

0,7

5

0,6

5

0,3

386

0,5

89

6

0,1

25

57

0,8

53

65

DC

EO

2

00

0

,00

0,0

0

1,0

0

1,0

0

0,1

795

0,2

16

9

0,3

84

75

0,5

23

69

TB

2

00

1

,10

1,4

0

5,8

4

6,1

2

3,5

987

4,1

22

3

1,0

59

47

1,7

25

33

RO

E

20

0

-12

7,1

5

17,8

5

24,1

9

42,5

8

8,2

287

25

,65

69

14

,12

63

1

17

,96

39

AL

AV

2

00

0

,04

0,0

1

771,1

6

678,9

8

110,4

239

89

,693

6

10

8,2

21

84

12

,36

96

PIB

2

00

1

0,3

2

10,3

2

11,7

2

11,7

2

10,8

787

10

,87

87

0,4

82

87

0,4

82

87

AN

O:

2013

20

0

0,0

0

0,0

0

1,0

0

1,0

0

0,2

000

0,1

00

0

0,4

01

03

0,3

71

51

AN

O:

2014

20

0

0,0

0

0,0

0

1,0

0

1,0

0

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000

0,1

00

0

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01

03

0,3

71

51

AN

O:

2015

20

0

0,0

0

0,0

0

1,0

0

1,0

0

0,2

000

0,1

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0

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01

03

0,3

71

51

AN

O:

2016

20

0

0,0

0

0,0

0

1,0

0

1,0

0

0,2

000

0,1

00

0

0,4

01

03

0,3

71

51

AN

O:

2017

20

0

0,0

0

0,0

0

1,0

0

1,0

0

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0,1

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01

03

0,3

71

51

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div

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ação

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Page 236: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

236

6.1.2 Análise empírica

As Tabelas 11, 12, 13 e 14 apresentam uma análise empírica das consequências da

divulgação de RSC nos valores dos bancos islâmicos e convencionais do CCG. Os

resultados das regressões econométricas podem ser interpretados de acordo com as

hipóteses desenvolvidas neste estudo. Os resultados evidenciam uma relação

significativamente negativa entre o valor do banco e o escore de divulgação da RSC para

ambos os grupos (bancos islâmicos e convencionais). Esse resultado é consistente com

pesquisas anteriores, como as de Elliott, Jackson, Peecher e White (2014), que mostraram

que a divulgação da RSC está negativamente associada ao valor da empresa. No entanto,

segundo Klein et al. (2005), o valor da empresa aumenta com maior divulgação social e

espera-se que cause um impacto positivo no valor da empresa. Estudos anteriores como

os de Sheu et al., (2010), Gordon et al. (2010) e Platonova (2014) apontaram que a

divulgação social tem um impacto no valor da empresa com base na Teoria de

Sinalização, mas o presente estudo encontrou um efeito contraditório entre a divulgação

da RSC e o valor dos bancos analisados.

Com base nos resultados, pode-se afirmar que a divulgação não pode reduzir os

problemas de agência, diminuindo a assimetria de informação e, como resultado,

aumentando o valor da empresa, como argumentado por Rhodes e Soobaroyen (2010).

Também é contraditório com a hipótese da Teoria Econômica, que argumenta que o

aumento da divulgação corporativa tem uma influência no valor da firma (VF)

(LUNDHOLM; VAN WINKLE, 2006). O resultado também contradiz o pressuposto da

Teoria de Sinalização, como afirmam McDonald e Rundle-Thiele (2008), que consideram

que a influência da RSC na lucratividade corporativa através da criação de ativos

intangíveis, como boa reputação, confiança e comprometimento, impulsiona o longo

sucesso a longo prazo do negócio. Considerando o exposto, a H13, que esperou uma

relação significativamente positiva entre a quantidade de divulgação de RSC e o valor da

empresa (VF) da amostra dos bancos islâmicos e convencionais do CCG, é rejeitada.

Com relação ao efeito negativo da DRSC sobre o valor da empresa, esse resultado

aumenta as evidências contraditórias sobre a relação entre divulgação e valor da empresa.

Esse resultado é inconsistente com os achados de alguns estudos que se basearam na

estrutura da Teoria da Agência, como os de Healy et al. (1999). Esses estudos sugeriram

um impacto positivo da divulgação aprimorada na avaliação da empresa para a redução

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237

da assimetria de informações entre administradores e acionistas (agente versus principal).

O efeito negativo do nível de RSC pode ser explicado de diferentes ângulos:

Primeiro, consistentemente com a afirmação de Chung et al. (2012) que as informações

extras poderiam ter um efeito negativo no valor da empresa, as informações excessivas

de RSC divulgadas podem causar um ruído extra aos investidores, o que afeta

negativamente a sua avaliação da empresa. Em segundo lugar, o efeito negativo sobre o

valor da empresa poderia ser impulsionado pelo conteúdo das informações de RSC

divulgadas e pela percepção dos investidores. Existe a possibilidade de que a própria

informação de RSC aumente preocupações sobre o desempenho das empresas, o que leva

os investidores a reduzir sua avaliação. Nessa proposição, quanto mais informações de

RSC divulgadas, maior a possibilidade de que o valor da empresa diminua. Em contraste,

as informações de RSC podem oferecer notícias positivas para as partes interessadas, mas

essas notícias podem estar sob suas próprias expectativas, ou podem ser suspeitas, porque

são muito diferentes das informações obtidas de outras fontes que não os relatórios anuais.

Consequentemente, ter mais informações de RSC divulgadas pode resultar em uma queda

no valor da empresa. Terceiro, as partes interessadas podem interpretar erroneamente

essa prática da empresa para divulgar mais informações sobre RSC. Eles podem perceber

o fornecimento de divulgação aprimorada como uma maneira de enganá-los sobre o

desempenho da empresa. Os investidores também podem considerar que os rivais

(concorrentes) da empresa se beneficiariam com essa informação crítica excessiva, que

pode afetar negativamente sua expectativa sobre o desempenho da empresa e,

consequentemente, diminuir sua avaliação (HASSAN et al., 2009).

Com base na análise, o estudo não encontrou nenhuma relação significativa entre as

proxies escolhidas (MTBV e Q de Tobin) na mensuração da associação entre o valor da

empresa e o nível de divulgação de sua RSC. Os resultados estão associados aos achados

de Alotaibi e Hussainey (2016), que também argumentaram que não encontraram os

mesmos resultados ao usar proxies diferentes (Q de Tobin ou ROA) ao medir uma

associação entre a divulgação de RSC (quantidade e qualidade) e o valor da empresa. Os

autores sugerem que a significância do impacto entre o nível de RSC e o valor da empresa

depende da proxy usada na mensuração para fins de seu cálculo. Consequentemente, essa

escassez de significância estatística sustenta a visão de que existe uma relação conflitante

entre a determinação da relação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa. Além

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238

disso, não há concordância na literatura sobre uma medida ideal para o valor da empresa

(e.g., MANGENA et al., 2012; ALBASSAM, 2014; PLATONOVA, 2014).

Com respeito às variáveis de GC, em geral, o estudo constatou que uma melhor

governança leva a um maior valor da empresa. Em particular, o TCA tem um resultado

positivo e significativo efeito sobre o valor da empresa, tanto para bancos islâmicos,

quanto para os convencionais, como indicado no Modelo 1. Este resultado é consistente

com diversos outros estudos (e.g., CONGER; PECK, 1998; RAHEJA, 2005; COLES et

al., 2007; UJUNWA, 2012; PLATONOVA, 2014), que fornecem evidências de que não

importa o tamanho do CA, pois eles sempre afetam positivamente o valor da empresa,

visto que acreditam que essa relação entre valor da empresa e tamanho do CA se dá em

função da complexidade do negócio. Raheja (2005) apoia Coles et al. (2007) sugerindo

que não há um tamanho ideal de CA, já que suas dimensões tendem a depender das

necessidades de consultoria ou monitoramento, e isso muda de empresa para empresa.

Alega-se que a experiência coletiva e o conhecimento dos membros do conselho são

cruciais no complexo ambiente de negócios atual (CONGER; PECK, 1998).

Além disso, a Composição do Conselho de Administração (CCA) mostrou um impacto

positivo, mas fraco de 0,089 no valor dos bancos islâmicos, como mostrado no Modelo

1. Este resultado sugere que os outsiders aos bancos fornecem um melhor monitoramento

da gestão (diminuindo assim os custos da agência), porque eles são independentes,

consistentes com os resultados de Jackling e Johl (2009) e Giraldez e Hurtado (2014). Os

achados não estão associados às conclusões de Barnard e Rosenstein (1990), Baghat e

Black (1998), Hermalin e Weisenbach (2001) e de De Andres et al. (2005), que

consideram que a estrutura do conselho não mostra uma relação positiva com o valor da

empresa. Por outro lado, Baglioni e Colombo (2008) fornecem evidências da Itália sobre

uma relação positiva, contrariando estudos anteriores. Tal como acontece com o tamanho

do CA, é igualmente aceito que não há composição ideal da diretoria, a estrutura do

conselho deve ser baseada na realidade corporativa, especialmente na prioridade da

empresa entre aconselhamento (mais executivo) e monitoramento (menos executivo)

(DENIS; SARIN, 1999; HARRIS; RAVIV, 2005 e LINK et al., 2008; LEHN et al., 2009).

A Dualidade do CEO (DCEO) mostrou um efeito positivo no valor da empresa, conforme

apresentado no Modelo 1 e no Modelo 2. Essa descoberta pode ser explicada pela Teoria

de Sinalização, mas não pela Teoria da Agência. A Teoria da Agência não suporta a

dualidade do CEO porque limita a principal responsabilidade do conselho de monitorar o

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239

CEO. A literatura apresenta limites mistos à principal responsabilidade do conselho de

monitorar o CEO. A literatura apresenta evidências mistas sobre a relação entre a

dualidade do CEO e o valor da empresa. Autores, como Braun e Sharma (2007), Faleye

(2007), Sharma (2007), Chen et al. (2008), Chen, Lin e Yi (2008), Vintila e Gherghina

(2012); Raluca (2013), Platonova (2014) e Harun (2016) não encontraram relação entre

a dualidade do CEO e o desempenho ou o valor da empresa. A dualidade do CEO parece

ser percebida pelas partes interessadas como um sinal de controle e liderança eficazes.

Pode-se considerar que a dualidade do CEO leva a empresa a obter um melhor

desempenho usando seu conhecimento técnico. Os resultados desta tese estão de acordo

com estudos precedentes de Agrawal e Knoebler (1996), Peng et al. (2007), Baptista et al

(2008) e Yang e Zhao (2014) que também encontraram uma relação positiva entre a

Dualidade do CEO (DCEO) e o valor da empresa (VF).

Finalmente, os resultados destacam a importância relativa da DRSC dos bancos em

influenciar o valor da empresa. Em particular, em variáveis específicas da firma, o

resultado mostra que a rentabilidade do banco está positivamente associada ao valor da

firma, como mostrado no Modelo 2. Tais achados estão em linha com as conclusões de

estudos anteriores, que encontram uma relação positiva e significativa entre o valor da

firma e a RSC, como as de Setia-Atmaja (2008). O estudo encontra ainda uma relação

negativa significativa entre o tamanho e o valor do banco, que é contraditório com os

achados de Hassan et al. (2009) e Ezat (2010), que consideraram que existe uma

associação positiva entre o tamanho da empresa e o valor da firma (VF). Esta tese não

encontrou nenhuma relação significativa entre a alavancagem da empresa e o valor da

empresa. Portanto, o estudo não pode se apoiar nos achados de Haniffa e Hudaib (2006),

que encontram uma relação significativa positiva entre a alavancagem da empresa e o

valor da empresa. Por último, o PIB de cada país possuí relação negativa fraca com o

valor dos bancos islâmicos, de 0,090, como indicado no Modelo 2.

Referindo-se ao Modelo 2, que utiliza o Q de Tobin como proxy na mensuração do valor

da firma (VF), o estudo não encontrou associação entre todas as variáveis de controle

(GC, TB, LIQ, ALAV e PIB) e o Valor da Firma. Dybvig e Warachka (2015) argumentam

que o Q de Tobin não mede o desempenho da empresa e fornecem duas novas medidas

para o valor da empresa, que são a medida de eficiência e avalia a disciplina de custos.

Isso também se deve ao baixo nível de R2 (0,014), que mostra um efeito de associação

muito fraco entre o teste de variáveis no Modelo 2 testado para bancos islâmicos.

Page 240: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

240

Tabela 11 - Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Islâmicos

VF (MTBV) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +

β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε

Mod

elo

1

Variáveis

Sinal Coeficientes

Padronizados t Sig.

Diagnóstico de

Colinearidade

Esperado Atual Beta Tolerância FIV

Constante

-1,482 0,140

IDRSCI + 0 0,036 0,461 0,645 0,782 1,279

TCA + + 0,192 2,619 0,010** 0,893 1,120

CCA + 0 0,006 0,077 0,938 0,923 1,084

DCEO + + 0,238 3,150 0,002*** 0,840 1,190

TB + + -0,192 -2,166 0,032** 0,608 1,645

ROE + 0 0,111 1,400 0,163 0,764 1,309

ALAV - 0 0,073 0,907 0,366 0,730 1,369

PIB 0 0 0,178 1,906 0,058 0,548 1,826

ANO: 2013 0 0 -0,077 -0,841 0,401 0,571 1,753

ANO: 2014 0 0 -0,093 -0,990 0,324 0,547 1,828

ANO: 2015 0 0 -0,028 -0,316 0,752 0,591 1,691

ANO: 2016 0 0 -0,007 -0,071 0,943 0,560 1,785

ANO: 2017 0 0 -0,008 -0,069 0,896 0,563 1,812

R2 Ajustado 0,072

Erro Padrão 1,077

Sig. 0,011

N 200

Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos

bancos islâmicos no CCG, sendo:

* significante a 10%,

** significante a 5%

*** significante a 1%

(-) indicando as correlações negativas

(+) indicando uma correlação positiva

(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.

A constante é o MTBV (variável dependente).

Fonte: Autor (2018).

Page 241: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

241

Tabela 12 - Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Islâmicos

VF (QT) = α + β1IDRSCI + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +

β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε

Mod

elo

2

Variáveis Sinal

Coeficientes

Padronizados T Sig.

Diagnóstico de

Colinearidade

Esperado Atual Beta Tolerância FIV

Constante

1,783 0,076

IDRSCI + 0 0,052 0,643 0,521 0,782 1,279

TCA + 0 0,038 0,501 0,617 0,893 1,120

CCA + 0 -0,020 -0,274 0,785 0,923 1,084

DCEO + 0 0,120 1,549 0,123 0,840 1,190

TB + 0 0,079 0,865 0,388 0,608 1,645

ROE + 0 0,083 1,016 0,311 0,764 1,309

ALAV - 0 0,083 0,998 0,319 0,730 1,369

PIB 0 0 0,034 0,352 0,725 0,548 1,826

ANO: 2013 0 0 0,125 1,324 0,187 0,571 1,753

ANO: 2014 0 0 0,127 1,323 0,188 0,547 1,828

ANO: 2015 0 0 0,141 1,518 0,131 0,591 1,691

ANO: 2016 0 0 0,180 1,892 0,060 0,560 1,785

ANO: 2017 0 0 0,179 1,836 0,069 0,560 1,785

R2 Ajustado 0,014

Erro Padrão 0,14696

Sig. 0,261

N 200

Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos

bancos islâmicos no CCG, sendo:

* significante a 10%,

** significante a 5%

*** significante a 1%

(-) indicando as correlações negativas

(+) indicando uma correlação positiva

(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.

A constante é o MTBV (variável dependente).

Fonte: Autor (2018).

Page 242: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

242

Tabela 13 - Coeficientes do Modelo 1 (MTBV): Bancos Convencionais

VF (MTBV) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n

+ β7ALAV n + β8PIB n + Ano + ε

Mod

elo

1

Variáveis Sinal

Coeficientes

Padronizados t Sig.

Diagnóstico de

Colinearidade

Esperado Atual Beta Tolerância FIV

Constante -1,784 0,076

IDRSCC + 0 0,033 0,393 0,713 0,698 1,113

TCA + + 0,123 3,136 0,013** 0,714 1,036

CCA + 0 0,065 0,012 0,896 0,903 1,098

DCEO + + 0,453 2,963 0,003*** 0,798 1,213

TB + + -0,363 -1,789 0,046** 0,597 1,798

ROE + 0 0,236 1,963 0,178 0,789 1,506

ALAV - 0 0,089 0,789 0,296 0,703 1,703

PIB 0 0 0,223 1,639 0,043 0,632 1,698

ANO: 2013 0 0 -0,156 -0,663 0,203 0,663 1,883

ANO: 2014 0 0 0,096 0,090 0,413 0,708 1,619

ANO: 2015 0 0 0,033 0,369 0,812 0,598 1,758

ANO: 2016 0 0 0,123 0,256 0,879 0,637 1,369

ANO: 2017 0 0 0,098 0,113 0,763 0,708 1,829

R2 Ajustado 0,093

Erro Padrão 1,081

Sig. 0,014

N 200

Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos

bancos islâmicos no CCG, sendo:

* significante a 10%,

** significante a 5%

*** significante a 1%

(-) indicando as correlações negativas

(+) indicando uma correlação positiva

(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.

Constante é o MTBV (variável dependente).

Fonte: Autor (2018).

Page 243: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

243

Tabela 14 - Coeficientes do Modelo 2 (QT): Bancos Convencionais

VF (QT) = α + β1IDRSCC + β2TCA n + β3CCA n + β4DCEO n + β5TB n + β6ROE n +

β7ALAVn + β8PIB n + Ano + ε

Mod

elo

2

Variáveis Sinal

Coeficientes

Padronizados t Sig.

Diagnóstico de

Colinearidade

Esperado Atual Beta Tolerância FIV

Constante

-4,248 0,00

IDRSCC + 0 -0,096 -1,705 0,090* 0,698 1,113

TCA + 0 -0,026 -0,496 0,621 0,714 1,036

CCA + 0 0,088 1,712 0,089* 0,903 1,098

DCEO + 0 0,143 2,651 0,009*** 0,798 1,213

TB + 0 -0,030 -0,477 0,634 0,597 1,798

ROE + 0 0,202 3,560 0,000*** 0,789 1,506

ALAV - 0 0,020 0,350 0,727 0,703 1,703

PIB 0 0 0,647 9,665 0,000*** 0,632 1,698

ANO: 2013 0 0 -0,097 -1,474 0,142 0,663 1,883

ANO: 2014 0 0 -0,137 -2,052 0,042 0,708 1,619

ANO: 2015 0 0 -0,060 -0,938 0,350 0,598 1,758

ANO: 2016 0 0 -0,079 -1,186 0,237 0,637 1,369

ANO: 2017 0 0 -0,087 -1,236 0,412 0,708 1,829

R2 Ajustado 0,042

Erro Padrão 0,649

Sig. 0,00

N 200

Esta tabela apresenta os resultados da regressão para as consequências da divulgação de RSC dos

bancos islâmicos no CCG, sendo:

* significante a 10%,

** significante a 5%

*** significante a 1%

(-) indicando as correlações negativas

(+) indicando uma correlação positiva

(0), que indica que não foi encontrada correlação no modelo de regressão.

A constante é o MTBV (variável dependente).

Fonte: Autor (2018).

Diversos estudos encontraram uma relação negativa entre o desempenho social e

financeiro das empresas. De acordo com as pesquisas contrárias a divulgação da RSC, ser

socialmente ativo através de projetos de caridade, apoiar e promover o bem-estar do

pessoal e minimizar os danos ambientais, pode custar caro e causar encargos

administrativos, diminuindo o valor da empresa (BARNETT; SALOMON, 2006).

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244

O vínculo negativo entre o desempenho social e o financeiro foi apoiado pela hipótese de

trade-off de Preston e O’Bannon (1997), que sugeriram que quanto melhor for o

desempenho das empresas, em termos sociais, menor será seu desempenho financeiro.

Consequentemente, as empresas socialmente responsáveis terão menos vantagem em

comparação com as empresas que não se preocupam com a RSC. Os proponentes dessa

hipótese argumentam que as empresas, tomando iniciativas socialmente responsáveis,

solapam o objetivo principal da empresa de maximização do lucro. Como argumentam

Waddock e Graves (1997), Preston e O'Bannon (1997), Simpson e Kohers (2002), essa

hipótese baseia-se na visão dos economistas neoclássicos que supõe que estratégias

socialmente responsáveis resultam em custo adicional e, portanto, criar uma desvantagem

competitiva (FRIEDMAN, 1970). Os recentes defensores sugerem que os recursos

dedicados a programas ou ações sociais devem ser vertidos aos gastos com a eficiência

das empresas ou devolvidos aos acionistas na forma de dividendos (PERRINI et al.,

2011), já que não é responsabilidade das empresas lidar com questões sociais e devem ser

realizadas pelos governos ou pelo terceiro setor.

Os proponentes da Teoria de Agência, como Jensen e Meckling (1976), também apoiaram

a ligação negativa entre desempenho social e financeiro, pois argumentam que o consumo

de recursos valiosos de empresas para ter estratégias de desempenho social positivas

maximizaria significativamente os benefícios gerenciais pessoais, ao invés de benefícios

financeiros dos acionistas (BRAMMER; MILLINGTON, 2008).

Com base nas teorias que relacionam RSC e desempenho financeiro, McWilliams e

Siegel (2001) afirmam que os estudos empíricos têm sido inconclusivos, resultando

relações neutras, positivas e negativas. Na mesma linha de pensamento, Jones e Murrell

(2001) dizem que a relação entre práticas de responsabilidade social e desempenho

econômico-financeiro é inconclusiva, porque, de acordo com o contexto, poderão existir

correlações positivas e negativas entre o investimento em ações de responsabilidade

social e o desempenho financeiro. Esse tipo de correlação é motivo de discussão em

diversos estudos acadêmicos, mas com resultados contraditórios.

De forma contrária à Teoria dos Stakeholders, a Teoria dos Shareholders aponta uma

relação negativa entre RSC e desempenho financeiro e que as empresas que investem em

projetos sociais e ambientais ficam em desvantagem econômica em relação àquelas

empresas que não apresentam esse tipo de investimento, como é caso da fraca correlação

encontrada nos dois modelos testados nesta pesquisa, resultados que valem tanto para

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245

bancos islâmicos quanto convencionais. No que tange os bancos islâmicos, cuja RSC

deveria ser uma premissa vista positivamente pelos investidores, os resultados apontam

em direção contrária, isto é, ainda que os bancos islâmicos apresentem níveis de

divulgação maiores, quando comparados aos seus pares convencionais, tal vantagem não

apresentou reflexos no valor dos bancos.

6.2 Determinantes da divulgação da RSC: análise descritiva e respostas à segunda

questão de pesquisa (QP 2)

Ao responder a segunda questão de pesquisa, esta seção fornecerá estatísticas descritivas

das variáveis dependentes e de controle, além de uma análise empírica dos determinantes

da divulgação de RSC nos bancos islâmicos analisados.

6.2.1 Estatísticas descritivas das variáveis dependentes e de controle

A Tabela 15 fornece a estatística descritiva das variáveis dependentes e das variáveis de

controle utilizadas neste estudo. Fornece a descrição da quantidade de divulgação de

RSC, bem como as variáveis independentes e de controle (TCA, GCA, CCA, RCA,

DCEO, PCCA, TS, PCCSS, TCTA, RCTA, PII, PIE, TB, IB, LIQ, ALAV e ROE). O

valor médio da quantidade de divulgação da RSC Islâmica (DRSCI) é 0,4105 ou 41,05%,

com um valor mínimo e máximo de 0,09 (9%) e 0,73 (73%), respectivamente. O desvio

padrão do nível de DRSCI é de 0,130. O Tamanho do Conselho de Administração (TCA)

tem um valor mínimo de 4 e valor máximo de 16 conselheiros.

O valor médio do TCA dos bancos islâmicos de amostra é de 9,15. O GCA tem um valor

mínimo de 0, um valor máximo de 1 e um valor médio de 0,82. A CCA tem um valor

mínimo de 0,10 e valor máximo de 0,75, sendo seu valor médio de 0,75. O RCA tem um

valor mínimo de 4 e valor máximo de 11, sendo seu valor médio é 6,46. O DCO, PCCA

e PCCSS têm um valor mínimo de 0 e valor máximo de 1, enquanto, os valores médios

são 0,18, 0,85 e 0,79, respectivamente. O tamanho do CSS tem um valor mínimo de 3 e

um valor máximo de 6 com seu tamanho médio de 4,08. O tamanho da CTA tem um valor

médio de 4,12, onde seus valores mínimo e máximo são 2 e 7, que é o mesmo valor das

reuniões do CTA.

No que diz respeito as variáveis de controle, o Tamanho do Banco (TB) tem um valor

mínimo de 1,10 e máximo de 5,84. A Idade do Banco (IB) tem um valor mínimo de 1 e

valor máximo de 57. A Lucratividade (ROE) e Liquidez (LIQ) tem um valor mínimo de

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246

0,36 e -127,15, seus valores máximos são 84,44 e 24,19. A Alavancagem (ALAV) tem

um valor médio de 108,22 e um valor mínimo de 0,04. Para características específicas do

país, PIB e Corrupção (CORRUP) têm valores médios de 10,87 e 5,5662,

respectivamente, sendo seus valores mínimo e máximo de 10,32, 4,30 e 11,72, 7,70,

respectivamente. A seguir, um resumo de todas as variáveis:

Tabela 15 - Estatística Descritiva das Variáveis da DRSCI (2013-2017)

Variável Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

IDRSCI 200 0,4105 0,13026 0,09 0,73

1 – TCA 200 9,1538 2,24227 4,00 16,00

2 – GCA 200 0,8205 0,38475 0,00 1,00

3 - CCA 200 0,3386 0,12557 0,10 0,75

4 – RCA 200 6,4564 1,16738 4,00 11,00

5 - DCEO 200 0,1795 0,38475 0,00 1,00

6 – PCCA 200 0,8462 0,36173 0,00 1,00

7 – TS 200 4,0769 1,02506 3,00 6,00

8 – PCCSS 200 0,7949 0,40483 0,00 1,00

9 – TCTA 200 4,1282 1,04486 2,00 7,00

10 – RCTA 200 5,2564 0,90582 2,00 7,00

11 – PII 200 0,1926 0,06671 0,11 0,40

12 – PIE 200 0,1852 0,04811 0,11 0,33

13 – TB 200 3,5987 1,05947 1,10 5,84

14 – IB 200 17,8000 14,61379 1,00 57,00

15 – ROE 200 48,8651 22,18020 0,36 84,44

16 – ALAV 200 8,2287 14,12631 -127,15 24,19

17 – LIQ 200 110,4239 108,22184 0,04 771,16

18 – PIB 200 10,8787 0,48287 10,32 11,72

19 – CORRUP 200 5,5662 1,03724 4,30 7,70

Fonte: Autor (2018).

6.2.2 Análise empírica

A Tabela 16 apresenta uma análise empírica dos determinantes da divulgação de RSC

dos bancos islâmicos no CCG. A análise mostra que o tamanho do conselho tem um

impacto significativo positivo nos níveis de divulgação social (0,042), considerando um

nível de significância de 0,05. Portanto, H1 é aceito. Isso mostra que o tamanho do

Conselho tem um impacto positivo na pontuação de divulgação de RSC dos bancos

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247

islâmicos. Esse resultado é consistente com os estudos de Singh et al. (2004), Lakhal

(2005), Cheng e Courtenay (2006), Abdel-Fattah et al. (2008), e Laksamana (2008), que

também encontraram uma associação positiva entre divulgação e o tamanho do Conselho

em seus estudos. Pode-se afirmar que o tamanho do conselho está positivamente

associado à prática de divulgação de RSC. Portanto, as organizações com mais

conselheiros em seus órgãos deliberativos se engajam em maior medida nas práticas de

divulgação de RSC e nas atividades de RSC, como atividades de caridade, como afirmado

por Williams (2003) e Haniffa e Hudaib (2007). Segundo Khan (2010), o benefício de ter

um conselho maior é que ele pode melhorar a eficiência da empresa, uma vez que

fornecem à entidade um corpo estratégico composto por membros de diferentes áreas de

especialização, multidisciplinar, o que aumenta a pontuação da RSC.

O estudo conclui que há uma correlação negativa significativa de 0,045 entre a Dualidade

do CEO (H5) e a prática de divulgação de RSC entre bancos islâmicos do CCG, com o

nível de significância é de 0,05 ou com 95% de confiança. É contraditório com os

pressupostos da Teoria da Agência, em que a Dualidade do CEO é vista como prejudicial,

porque o agente pode perseguir apenas seu interesse próprio às custas dos proprietários.

Um aspecto da governança corporativa, que deu origem à preocupação, é o fenômeno da

personalidade dominante, e isso foi identificado como associado à fraca divulgação

(FORKER, 1992). Esse fenômeno também inclui a dualidade de papéis, que é a ocasião

em que o diretor executivo (CEO) ou o diretor administrativo também é o presidente do

conselho. O resultado é contraditório com a literatura anterior (e.g., PENG et al., 2007;

HASHIM; DEVI, 2008; TUGGLE et al., 2010; RAMDANI; WITTELOOSTUIJN,

2010;), que sugeriram que esses dois papéis devem ser separados no aprimoramento da

prática de divulgação.

Embora a separação de papéis (também conhecida como segregação de funções) seja

sugerida, algumas empresas não estão preparadas para serem absolutamente categóricas

sobre a divisão dessas funções (RAHMAN; BUKAIR, 2015). A análise mostra que a

dualidade do CEO é negativamente significativa com a prática de divulgação de RSC

entre os bancos islâmicos do CCG. Assim, a suposição de que a separação dos papéis

entre presidente e diretor executivo aumentará a qualidade do monitoramento e reduzirá

os benefícios da retenção de informações, o que pode consequentemente resultar na

melhoria da prática de divulgação de RSC, pode ser rejeitada. Portanto, a Hipótese (H5)

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248

de que existe associação positiva entre a dualidade do CEO e as divulgações de

informações de RSC também pode ser rejeitada.

A análise também mostra que existe uma relação negativa e significativa de 0,037 entre

o TCTA e a prática de divulgação do RSC entre os bancos islâmicos do CCG,

considerando um nível de significância de 0,05 ou com 95% de confiança. Os resultados

são contraditórios com os achados de Mangena e Pike (2005), que sugerem que os comitês

de auditoria maiores dão origem a um monitoramento mais efetivo, uma vez que é mais

provável que ele envolva os conhecimentos e visões essenciais para fazer isso. No

entanto, resultados mistos podem ser obtidos em estudos anteriores. Mangena e Pike

(2005) e Tauringana e Mangena (2009) não encontraram relação estatisticamente

significativa entre o nível de divulgação e o tamanho do CTA. Felo et al. (2003) e Li et

al. (2012) relataram uma relação positiva entre o tamanho do AC e a qualidade do

relatório financeiro. Portanto, a Hipótese 9 (H9) de que existe uma relação positiva entre

o tamanho do CTA e o nível de divulgação de RSC pode ser rejeitada. No entanto, os

resultados também mostram que não há associação entre a divulgação da RSC e outras

variáveis do GC, o que é consistente com o argumento de Ho e Wong (2001).

Mecanismos de governança corporativa podem ser substitutivos e não afetar os escores

de divulgação. Portanto, a presente tese rejeita as hipóteses H2, H3, H4, H5, H7, H8,

H10, H11 e H12. Esse resultado também contrasta com os achados de Anderson et al.

(2004), que afirmaram que a independência dos diretores pode fortalecer o conselho

monitorando e aconselhando a alta administração. O resultado também evidencia que a

composição do conselho não tem efeito significativo sobre o nível de prática de

divulgação de RSC entre os bancos islâmicos. A análise também mostra que não existe

uma relação significativa entre o tamanho do CSS e a PCCSS com o nível de divulgação

de RSC, conforme afirmado por Maali et al. (2006). O CSS pode não ver necessidade de

enfatizar divulgações adicionais de RSC, caso as atividades do banco estiverem em

conformidade com as leis e princípios islâmicos.

A partir da análise acima, fica evidenciado que o tamanho do conselho de administração

desempenha um papel importante nos bancos islâmicos do CCG para melhorar a prática

de divulgação de RSC. Esses achados são consistentes com a Teoria da Agência, que

prevê que os conselhos maiores incorporam uma variedade de especializações, resultando

em maior eficácia no monitoramento do conselho, o que poderia afetar as decisões de

divulgação de RSC dos administradores e a extensão do nível de divulgação de RSC

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249

(SINGH et al., 2004). Observando os coeficientes das variáveis de controle

(características específicas do banco e do país), a análise mostra que apenas o PIB tem

uma relação positiva com o nível de divulgação da RSC. Os achados desta tese estão de

acordo com um estudo de Olken e Pande (2012), que consideraram que existe uma

associação positiva entre o PIB e o nível de divulgação entre os países, enquanto

contrastam com os de Andres e Vallelado (2009), que não encontraram nenhuma relação

significativa entre essas variáveis e prática de divulgação. As variáveis de Liquidez,

Alavancagem e nível de Corrupção não têm relação significativa com a divulgação de

RSC nos bancos islâmicos analisados.

Com isso, algumas dessas implicações são:

Em primeiro lugar, a análise presente nesta tese fornece forte suporte para o argumento

da Teoria da Agência, que sugere que as corporações financeiras com um forte

mecanismo de GC (por exemplo, tamanho maior de seus Conselhos de Administração)

são mais propensas a divulgar informações de RSC às partes interessadas (TAYLOR et

al., 2010). O resultado mostra que existe uma relação positiva e significativa entre o nível

de RSC e o Tamanho do Conselho. Ao aumentar a pontuação do nível de RSC, os bancos

islâmicos podem ter que aumentar o tamanho dos seus conselhos.

Em segundo lugar, não há associação significativa entre a composição do conselho e o

escore da DRSCI. Assim, o estudo não conseguiu provar empiricamente que as partes

interessadas têm a capacidade de influenciar o modo como as corporações se comportam

e, em última análise, influenciam sua licença para operar.

Em terceiro lugar, com um baixo nível de divulgação, o resultado é inconsistente com a

Teoria da Legitimidade, como argumentado por Guthrie e Parker (1989), em que as

empresas que operam na sociedade e para a sociedade, como os bancos islâmicos, têm

um contrato social no qual concordam em realizar várias ações socialmente desejadas em

troca da aprovação de seus objetivos, outras recompensas e sua sobrevivência final. Isso

mostra que a questão da RSC ainda é negligenciada pelos bancos islâmicos no CCG.

Em quarto lugar, os resultados apoiam a raiz teórica da responsabilidade pelos bancos

islâmicos, em que a prestação de contas a Allah pode vir antes das partes interessadas.

Esta tese constrói um modelo abrangente de prestação de contas de RSC que é aplicável

aos bancos islâmicos e mostra a ligação entre o principal agente de monitoramento dessas

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250

contas (Allah), bem como o agente secundário (partes interessadas), além da ligação entre

os elementos de GC e seu real papel de divulgação, para satisfazer essa responsabilidade.

Com base na média das pontuações de divulgação de RSC pelos bancos islâmicos do

CCG, ficou evidenciado que os administradores dos bancos islâmicos ainda são menos

responsáveis perante os stakeholders em divulgar suas informações de RSC.

Tabela 16 – Resultado dos Coeficientes de Regressão

Variáveis Sinal

Coeficientes

Padronizados T Sig.

Diagnóstico de

Colinearidade

Esperado Atual Beta Tolerância VIF

1) Constante 0 0 0 -1,784 0,076 0 0

2) TCA + + +0,176 2,049 0,042** 0,584 1,711

3) GCA + + +0,129 1,571 0,118 0,637 1,570

4) CCA + - -0,032 -0,368 0,713 0,574 1,742

5) RCA + - -0,014 -0,131 0,896 0,401 2,496

6) DCEO + - -0,204 -2,021 0,045** 0,424 2,356

7) PCCA + - -0,010 -0,124 0,902 0,709 1,411

8) TS + + +0,172 1,364 0,174 0,272 3,681

9) PCCSS + - -0,010 -0,103 0,918 0,439 2,279

10) TCTA + - -0,194 -2,100 0,037** 0,507 1,972

11) RCTA + + +0,127 1,449 0,149 0,562 1,780

12) PII + + +0,000 0,002 0,999 0,797 1,255

13) PIE + - -0,025 -0,337 0,736 0,808 1,237

14) TB -0,073 -0,662 0,509 0,352 2,838

15) IB +0,034 0,318 0,751 0,375 2,668

16) ROE +0,149 1,498 0,136 0,438 2,285

17) ALAV -0,015 -0,190 0,850 0,694 1,442

18) LIQ +0,119 1,423 0,156 0,621 1,611

19) PIB +0,268 2,216 0,028 0,294 3,396

20) CORRUP +0,018 0,172 0,864 0,400 2,502

ANO: 2013 +0,277 3,144 0,002 0,555 1,803

ANO: 2014 -0,113 -1,345 0,180 0,606 1,651

ANO: 2015 +0,126 1,427 0,155 0,550 1,820

ANO: 2016 +0,006 0,070 0,944 0,560 1,786

ANO: 2017 +0,003 0,030 0,121 0,310 1,436

R2 Ajustado 0,164

Erro Padrão 0,11910

Sig. 0,0000

N 200

A Tabela representa os resultados da regressão para os determinantes da quantidade de divulgação de RSC dos bancos

islâmicos no CCG.

* indica significância a 10%

** indica significância a 5%

*** indica significância a 1%

(-) indica as correlações negativas

(+) indica uma correlação positiva

(0) indica que não foi encontrada correlação na regressão modelo.

A constante é o nível de DRSC (variável dependente).

Fonte: Autor (2018).

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251

Os resultados resumidos nesta seção têm algumas implicações teóricas importantes, seja

em apoio a teorias existentes na literatura internacional ou na missão de ampliar o escopo

de trabalhos anteriores e criar ligações adicionais dentro da literatura existente, para

fomentar mais pesquisas desta natureza, onde pode ser possível explicar divulgações

financeiras e não financeiras em países ou setores em que a religião exerce influência

significativa.

6.3 Divulgação da RSC: análise descritiva e respostas à terceira questão de pesquisa

(QP 3)

Ao responder terceira questão de pesquisa (QP3), esta seção fornecerá as estatísticas

descritivas dos níveis de divulgação de RSC entre os bancos do CCG selecionados para

a amostra. A importância deste Capítulo reside em fornecer uma visão clara para a prática

de divulgação de RSC entre os bancos do CCG, com base no índice criado a partir das

diretrizes recomendadas pelo AAOIFI (2010) e estudos precedentes. Serão apresentados

os resultados da análise estatística da medição da divulgação e análises cross-country e

multidimensional da prática de divulgação de RSC entre bancos islâmicos da amostra

para o período compreendido entre os anos de 2013 e 2017.

6.3.1 Análise cross-country

A Tabela 17 apresentará a análise entre os países da amostra e suas divulgações de RSC

durante os anos de 2013 a 2017. Nesta esteira analítica, pode-se perceber que em 2013,

os bancos islâmicos do Kuwait obtiveram o maior escore de divulgação de RSC, 54,6%,

seguido pelos Emirados Árabes Unidos (51,1%), Catar (47%), Bahrein (45,5%), Arábia

Saudita (43,2%). O menor escore ficou com Omã (27,3%). Já em 2014, a Arábia Saudita

apresentou o maior nível de divulgação de RSC (50%), seguido por Kuwait (45,5%),

Emirados Árabes Unidos (43,2%), Catar (34,9%), Bahrein (34,6%) e Omã (24,2%).

A partir das observações, ficou evidenciado que os bancos islâmicos de Omã têm a

pontuação mais baixa de divulgação de RSC desde o primeiro ano de operação dos bancos

islâmicos em sua jurisdição, no ano de 2013, (27,3%), quando comparado a outros bancos

islâmicos do CCG. A partir de 2016, os bancos de Omã mostraram sua preocupação com

relação à questão de divulgação de RSC e apresentaram suas maiores pontuações de

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252

divulgação de RSC em 2016 (51,5%) e 2017 (60,6%), em comparação com os demais

bancos islâmicos do CCG.

Tabela 17 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Islâmicos

Ano País Nº Bancos Média da DRSCI Mínimo Máximo Desvio Padrão

2013

Arábia Saudita 4 43,2 0,0 1,0 4,5

Bahrein 16 45,5 0,0 1,0 9,1

Catar 6 47,0 0,0 1,0 12,1

EAU 8 51,1 0,0 1,0 10,8

Kuwait 3 54,6 0,0 1,0 0,0

Omã 3 27,3 0,0 1,0 9,1

2014

Arábia Saudita 4 50,0 0,0 1,0 17,4

Bahrein 16 34,6 0,0 1,0 13,0

Catar 6 34,9 0,0 1,0 16,7

EAU 8 43,2 0,0 1,0 9,4

Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 0,0

Omã 3 24,2 0,0 1,0 5,3

2015

Arábia Saudita 4 38,6 0,0 1,0 11,4

Bahrein 16 30,9 0,0 1,0 9,0

Catar 6 36,4 0,0 1,0 12,9

EAU 8 37,5 0,0 1,0 10,2

Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 9,1

Omã 3 24,2 0,0 1,0 10,5

2016

Arábia Saudita 4 45,5 0,0 1,0 0,0

Bahrein 16 41,2 0,0 1,0 12,3

Catar 6 33,3 0,0 1,0 4,7

EAU 8 45,5 0,0 1,0 6,9

Kuwait 3 45,5 0,0 1,0 15,7

Omã 3 51,5 0,0 1,0 5,2

2017

Arábia Saudita 4 52,3 0,0 1,0 13,6

Bahrein 16 35,2 0,0 1,0 14,1

Catar 6 30,3 0,0 1,0 13,7

EAU 8 43,2 0,0 1,0 13,5

Kuwait 3 33,3 0,0 1,0 5,3

Omã 3 60,6 0,0 1,0 13,9

N = 200; Média = 41,05%

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Fonte: Autor (2018).

O nível médio de divulgação de RSC, considerando todos os bancos islâmicos de amostra

de 2013 a 2017, foi de 41,05%. Com base na análise de vários países pertencentes ao

mesmo bloco econômico, este estudo constata que o nível de prática de divulgação de

RSC entre os bancos islâmicos no CCG não foi influenciado pela emissão da norma nº 7

do AAOIFI. A média de pontuação de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos de

amostra é relativamente menor em comparação com estudos anteriores (e.g., HASSAN

et al, 2013; BELAL et al, 2014; FARAG et al, 2014), o que reforça essa constatação.

Para os bancos islâmicos do Bahrein, que estão totalmente em conformidade com os

padrões da AAOIFI, sua pontuação de divulgação de RSC é ainda menor, sendo a mais

baixa pontuação pontuação média de divulgação de RSC variando de 30,9% a 45,5%, o

que é menor do que outros bancos islâmicos do CCG que não estão regulamentados para

cumprir todas as regras editadas pelo AAOIFI.

A divulgação de informações não financeiras e não obrigatória para bancos convencionais

e islâmicos são reguladas e normatizadas de acordo com os principais reguladores dos

países do CCG. Os bancos centrais e órgãos reguladores dos seis países esboçaram as

Diretrizes de Governança Corporativa para os bancos em 2009, que estipulou a

transparência e correta divulgação de GC. Portanto a divulgação pública é desejável nas

seguintes áreas: (1) estrutura da diretoria e conselho de administração; (2) estrutura

organizacional do banco; (3) Estrutura de incentivos como: políticas de remuneração,

remuneração executiva, bônus, opções e distribuição de resultados ; e (4) transações com

coligadas e partes relacionadas. No pronunciamento acima mencionado, os bancos

centrais utilizaram a palavra“ desejável” , portanto, não é obrigatório que os bancos do

bloco divulguem, por exemplo, informações sobre sua governança corporativa.

Além disso, os normatizadores desenvolveram um conjunto de requisitos de divulgação

pública (atualizado em janeiro de 2017), que exige a divulgação pública dos seguintes

elementos de informação: Capital, adequação de capital, exposições a risco e exposições

de securitização. Portanto, a divulgação pública de informações extra financeiras não é

obrigatória para um banco a fim de ser listada no mercado de ações do CCG. Além disso,

os bancos islâmicos são supervisionados por um órgão regulador internacional, que é o

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254

Conselho de Serviços Financeiros Islâmico (IFSB) e segue (obrigatoriamente ou

voluntariamente) os padrões de Auditoria, Governança e Ética emitidos pelo AAOIFI.

Tabela 18 – Análise cross-country da DRSC em Bancos Convencionais

Ano País Nº Bancos Média da DRSCC Mínimo Máximo Desvio Padrão

2013

Arábia Saudita 4 37,4 0,0 1,0 4,5

Bahrein 16 29,3 0,0 1,0 9,1

Catar 6 46,1 0,0 1,0 12,1

EAU 8 26,2 0,0 1,0 10,8

Kuwait 3 33,9 0,0 1,0 0,0

Omã 3 25,6 0,0 1,0 9,1

2014

Arábia Saudita 4 26,9 0,0 1,0 17,4

Bahrein 16 29,6 0,0 1,0 13,0

Catar 6 33,8 0,0 1,0 16,7

EAU 8 29,3 0,0 1,0 9,4

Kuwait 3 39,6 0,0 1,0 0,0

Omã 3 22,3 0,0 1,0 5,3

2015

Arábia Saudita 4 36,9 0,0 1,0 11,4

Bahrein 16 29,6 0,0 1,0 9,0

Catar 6 33,8 0,0 1,0 12,9

EAU 8 27,9 0,0 1,0 10,2

Kuwait 3 25,3 0,0 1,0 9,1

Omã 3 24,2 0,0 1,0 10,5

2016

Arábia Saudita 4 20,1 0,0 1,0 0,0

Bahrein 16 37,8 0,0 1,0 12,3

Catar 6 33,8 0,0 1,0 4,7

EAU 8 25,6 0,0 1,0 6,9

Kuwait 3 29,3 0,0 1,0 15,7

Omã 3 26,3 0,0 1,0 5,2

2017

Arábia Saudita 4 27,9 0,0 1,0 13,6

Bahrein 16 29,3 0,0 1,0 14,1

Catar 6 33,8 0,0 1,0 13,7

EAU 8 30,1 0,0 1,0 13,5

Kuwait 3 38,3 0,0 1,0 5,3

Omã 3 29,7 0,0 1,0 13,9

N = 200; Média = 30,65%

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Fonte: Autor (2018).

Dessa forma, no que diz respeito aos bancos convencionais, a Tabela 18 apresentou a

análise entre os países da amostra e suas divulgações de RSC durante os anos de 2013 a

2017, que mescla divulgações dos bancos centrais dos países do bloco e que possuem

aderência às exigências de disclosure do AAOIFI. Os resultados evidenciam que os países

estão em fase embrionária de divulgação de suas resultados sociais corporativos.

Pode-se perceber que em 2013, os bancos islâmicos do Catar obtiveram o maior escore

de divulgação de RSC, 46,1%, seguido pela Arábia Saudita (37,4%), Kuwait (33,9%),

Bahrein (29,3%) e Emirados Árabes Unidos (26,2%). O menor escore ficou com Omã

(25,6%). A partir das observações, ficou evidenciado que os bancos convencionais de

Omã também apresentaram a menor pontuação de divulgação da RSC, assim como seus

pares convencionais. Ao longo dos anos o cenário vem mudando, muito provavelmente

por influência dos órgãos de fiscalização locais e internacionais que tem exigido maior

transparência dos bancos dessa região.

6.3.2 Análise descritiva das dimensões da pesquisa

Com base nas 200 observações obtidas dos relatórios anuais islâmicos escolhidos para

composição da amostra, entre os anos de 2013 a 2017, descobriu-se que a

responsabilidade social na dimensão do Bem-Estar do Empregado (BEE), em média, tem

as maiores pontuações em todos os bancos islâmicos e convencionais do CCG, enquanto

a Responsabilidade Social no pagamento em atraso de clientes insolventes, a menor.

Importante mencionar que no caso dos bancos convencionais, por óbvio, as dimensões

relacionadas aos aspectos religiosos apresentaram as menores, em alguns casos nulas,

pontuações.

As diferenças nos níveis de divulgação entre os temas precisam de alguma discussão. A

luz da Teoria dos Stakeholders, adota-se que os valores são necessariamente para os

negócios e espera-se que os administradores articulem o senso compartilhado de que o

valor criado está aderente às expectativas de suas partes interessadas. As IFIs são

instituições baseadas em valor e dão os devidos direitos a cada parte interessada, de

acordo com sua participação relativa, o que implica que todos os interessados obtêm o

que é justo para eles.

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Tentativas foram feitas anteriormente para identificar a importância relativa de várias

partes interessadas nas IFIs. No entanto, alguns dos resultados encontrados nesta tese

contradizem rankings anteriores. Por exemplo, os funcionários são considerados como a

categoria mais importante de partes interessadas juntamente com os proprietários, por

Beekun e Badwai (2005). Os resultados aqui encontrados, porém, indicam uma pontuação

baixa para os funcionários. A mesma preocupação é relevante para a falta de divulgação

sob as categorias de meio ambiente e política para devedores, por causa de sua eminência

nos princípios islâmicos.

Independentemente dessas tendências intrigantes, a alta classificação obtida por

instituições de caridade e doações para atividades sociais é distinta. Como esses

pagamentos são de natureza voluntária, a tendência revela uma compreensão mais ampla

do bem-estar social nas IFIs. Além disso, esse tipo de transferência de renda tem se

espalhado pelo mundo como uma medida para reduzir os custos de transação em projetos

de desenvolvimento, e os resultados implicam que as IFIs estão seguindo a nova tendência

no desenvolvimento internacional.

As Tabelas 19 a 24 apresentarão os detalhes da pontuação de cada dimensão, a qual foi

medida neste estudo, tanto para bancos islâmicos quanto convencionais, por país, sendo:

1) Bem-Estar do Empregado (BEE, Obrigatória)

2) Políticas para o desenvolvimento social e investimentos destinados ao meio ambiente

(PMA, Voluntária);

3) Ganhos e perdas proibidos pela Sharia (GPS, Obrigatória);

4) Atendimento de excelência aos clientes (EAC, Voluntária);

5) Política interna para tratamento dos clientes (PIC, Obrigatória);

6) Qard Hassan – Empréstimo Benevolente (Qard, Obrigatória;

7) Investimento Social , poupança social e desenvolvimento de Pequenas e Médias

Empresas (PME, Voluntária);

8) Política interna para a seleção dos Clientes (PSC, Obrigatória);

9) Zakat (Zakat, Obrigatória);

10) Atividades de Caridade (CAR, Voluntária); e

11) Gestão do Waqf (Waqf, Voluntária).

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A partir das observações, constatou-se que os bancos islâmicos e convencionais da

amostra tendem a dar mais ênfase a divulgação de informações relacionadas ao bem-estar

dos funcionários em comparação com outros temas de divulgação. Esse fator pode ser

explicado em funcao da pressão das partes interessadas e a preocupação externa com a

gestão com o bem-estar do empregado e a manutenção de um ambiente empresarial

saudável, capaz de gerar melhores resultados aos acionistas.

6.3.3 Discussões

Como indicam os resultados do índice de divulgação da RSC, por meio de divulgação, os

bancos islâmicos do CCG não tiveram bom desempenho, mas apresentaram-se superiores

em relação aos seus pares convencionais. Considerando que a RSC é essencializada como

o aspecto fundamental das normas éticas do Islã no setor bancário e financeiro, encontrar

esses resultados caminha em sentido oposto à expectativa inicial. Uma possível e

primeira explicação dos resultados poderia estar relacionada ao fato de que as atividades

de RSE dos bancos islâmicos são bastante limitadas, conforme identificado em outras

pesquisas, o que sugere que o problema talvez seja estrutural, e não governança

corporativa.

Em segundo lugar, e mais importante, a "natureza da doação" no Islã deve ser considerada

ao refletir sobre os resultados encontrados. A ética islâmica não encoraja, pelo contrário,

desencorajara alguém a revelar suas atividades socialmente responsáveis e doações

sociais, pois tal revelação é considerada contra a dignidade daqueles que a recebem, o o

que pode ser usado como uma possível explicação para os níveis encontrados na pesquisa.

Portanto, pode-se presumir que os bancos islâmicos do CCG, de fato e de forma efetiva,

realizam atividades de RSC, mas devido a ética do próprio islã, evitam divulgá-las.

Assim, a ética islâmica pode ter implicações na baixa divulgação. No entanto,

considerando que a transparência como parte do sistema de governança é justificada

através de fiqh e, portanto, endogeneizada pelos padrões disponíveis, os bancos islâmicos

podem não ser capazes de usar tal desculpa para esconder seu eventual fracasso social.

Em terceiro lugar, a economia política das questões de governança corporativa deve ser

discutida em cada país, uma vez que os regulamentos dos países do CCG não têm

expectativas em termos de divulgação de muitas informações. Sob tais circunstâncias, as

empresas, incluindo os bancos islâmicos, não divulgariam informações voluntariamente.

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264

Assim, a natureza de governança corporativa dos países do CCG em relação à

transparência e à divulgação deve ser discutida criticamente.

Além disso, a abordagem dos fiqh pode indicar que os bancos islâmicos, como apenas

uma entidade legal, não devem contribuir para o bem social por definição. Isto assemelha-

se ao caso do zakat, os bancos islâmicos, uma vez que não se espera que empresas com a

entidade legal paguem ao zakat o lucro ou a riqueza. Argumenta-se, da mesma forma, que

a condução de atividades de RSC e o trabalho em prol do bem-estar social são

consideradas como uma fonte de um ato individual e, conseqüentemente, uma corporação

não pode obter a graça de Deus. Portanto, argumenta-se com esta abordagem fiqhi que os

bancos islâmicos não devem contribuir para o bem social nem devem entregar

responsabilidade social, já que eles não são "pessoas reais". No entanto, conforme

explicado no Capítulo 3, a economia moral islâmica se relaciona com a substância e não

com a compreensão baseada única e simplesmente na forma.

Em conclusão, ao avaliar criticamente os achados empíricos estabelecidos por este

estudo, esses fatores também devem ser considerados em relação ao desempenho da RSC

dos bancos islâmicos, em vez de concluir imediatamente que eles não estão fazendo o

suficiente, ainda mais quando comparados aos seus pares convencionais. Portanto, talvez

consubstanciando os resultados, é essencial observar as operações e explorar os pontos

de vista dos administradores dos bancos islâmicos em termos de seu ativismo orientado

para a responsabilidade social, que será essencial para alcançar um resultado conclusivo.

De acordo com os resultados da pesquisa, as implicações práticas da RSC nos bancos

islâmicos do CCG parecem ser consistentes com a concepção teórica de RSC nas finanças

islâmicas proposta por Ismail (1986), que percebe e teoriza bancos islâmicos como parte

do setor comercial de economia e sugere que as atividades financeiras voltadas para a

sociedade devem ser realizadas pelo terceiro setor ou por setores não lucrativos. Os

resultados empíricos deste estudo mostram que os bancos islâmicos conduzem suas

operações de acordo com os princípios financeiros islâmicos, no entanto, cumprem

principalmente os interesses de seus acionistas e depositantes. Consequentemente, os

objetivos sociais não são colocados no topo da agenda dos bancos islâmicos.

As Tabelas mencionadas acima forneceram uma imagem clara da prática de divulgação

de RSC entre os bancos islâmicos de amostra após a emissão de AAOIFI, n º 7 , 2010. A

partir da análise de vários países, mostra uma melhoria da prática de divulgação de RSC

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265

entre os bancos de Omã. Eles têm a menor pontuação RSC de 2013 a 2015, mas de 2016

a 2017, eles estão no topo em comparação com os outros bancos islâmicos do CCG. Para

os bancos do Bahrein, esperava-se que fossem totalmente compatíveis com o AAOIFI,

conforme declarado pelos estudos de Vinnicombe (2012), que concluíram que o Bahrein

apresenta um baixo nível de divulgação de RSC em comparação ao Catar e Kuwait, que

não são legalmente obrigados a estar em conformidade com o AAOIFI.

Portanto, os achados desta tese são contraditórios com os achados de Vinnicombe (2012)

e Sherif El-Halaby (2016), que consideram que o Bahrein tem o maior número de bancos

islâmicos compatíveis com o AAOIFI do que com outros países do CCG e, por

consequência, deveriam apresentar um nível mais elevado de divulgação da RSC. Com

base nas conclusões, não há diferença significativa da prática de divulgação de RSC entre

os bancos islâmicos do CCG alguns anos após a emissão da norma de governança do

AAOIFI. Como resultado, ficou evidenciado que AAOIFI não tem influência na prática

de divulgação de RSC entre os membros islâmicos do CCG. Isso talvez se deva à falta de

ações proativas do AAOIFI em relação aos bancos islâmicos no CGG para o

aprimoramento das suas práticas de divulgação de RSC. Portanto, espera-se que o

AAOIFI, como normatizador, possa aumentar a conscientização sobre a prática de

divulgação de RSC entre outros países do CCG no futuro. Espera-se que a ação proativa

do órgão regulador, seja o AAOIFI ou os Bancos Centrais nos países pertencentes ao

CCG, possam melhorar sua pontuação de divulgação de RSC.

Os baixos níveis de desempenho de divulgação de RSC dos bancos convencionais

pesquisados indicam que eles não equilibram atividades orientadas para o lucro com

objetivos moral e socialmente motivados, como sugerido pelo modelo de RSC Carroll

(1979). Os resultados mostram que as atividades filantrópicas não são aceitas pelos

bancos convencionais, como uma política integral de RSC. Assim, os pares dos bancos

islâmicos do CCG não desempenham um papel pró-ativo e significativo no

desenvolvimento da comunidade, nem parecem apoiar uma agenda desenvolvimentista,

como indicado pela economia moral islâmica da região.

Ademais, o baixo nível de divulgação, provocaram resultados inconsistentes com a Teoria

da Legitimidade, conforme argumentado por Guthrie e Parker (1989). Uma empresa, que

opera em prol de uma sociedade tem um contrato social em que concorda em realizar

várias ações socialmente desejadas em troca da aprovação de seus objetivos, outras

recompensas e sua sobrevivência. O resultado mostra que os bancos islâmicos estão

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menos preocupados, assim como seus pares convencionais, com a sua prática de

divulgação de RSC, uma vez que não há impacto de legitimidade para os bancos, quer a

informação de RSC esteja sendo divulgada ou não.

Além disso, os resultados deste estudo não se alinham com a visão de RSC de Dusuki

(2008), onde os bancos islâmicos deveriam ser socialmente ativos como parte de suas

obrigações religiosas. De acordo com esse modelo, os bancos islâmicos idealmente não

devem se concentrar apenas nas atividades de geração de lucros, pois eles devem

reconhecer e enfatizar a importância das dimensões éticas, sociais e morais em suas

agendas.

No entanto, os resultados da pesquisa mostram o impacto negativo das práticas de

divulgação de RSC sobre o valor dos bancos islâmicos e convencionais. Estes resultados

refletem que as atividades de RSC devem ser incorporadas nas agendas dos bancos

islâmicos, pois isso resultaria em benefício mútuo da sociedade e dos bancos. Com

relação ao efeito negativo da DRSC sobre o valor da empresa (medida usando a proxy de

Q de Tobin), essa constatação aumenta a evidência contraditória sobre a relação entre

divulgação e valor da empresa. Esse resultado é inconsistente com os achados de alguns

estudos que se baseiam na estrutura da Teoria da Agência (e.g., HEALY et al., 1999).

Esses estudos sugerem um impacto positivo da divulgação aprimorada na avaliação da

empresa para a redução da assimetria informacional entre administradores e acionistas.

Com base nos resultados, ficou nítido que a divulgação da RSC não deu qualquer impacto

significativo ao valor dos bancos da seleção amostral, o que é contraditório com os

pressupostos teóricos discutidos neste estudo. Isso pode ser devido ao baixo nível de

conscientização entre as partes interessadas em relação à questão da RSC antes de fazer

seu investimento e também devido à orientação do lucro como objetivo principal do

investidor e não o objetivo social.

É importante observar que essas reflexões teóricas devem ser consideradas dentro das

reflexões críticas fornecidas na seção anterior, uma vez que os bancos islâmicos podem

ter se envolvido proativamente na RSC, mas podem não comunicar tais atividades devido

a várias razões apresentadas acima. Dito isto, é também um facto que os resultados

baseados no questionário do inquérito, tal como apresentado no Capítulo 3, também não

fornecem confiança na comunicação oral.

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A partir da análise dimensional, pode-se observar que os bancos islâmicos do CCG

tendem a divulgar informações relacionadas aos funcionários em seu relatório anual mais

do que outras informações de RSC. Consiste em informações como: a) disposições da

política de RH, inclusive grupos desfavorecidos; b) quotas/ metas; e c) relação entre as

previsões e realizações anuais. A menor informação divulgada pela amostra dos bancos

islâmicos do CCG diz respeito à sua política de lidar com os seus clientes. De acordo com

o AAOIFI (2010), os bancos islâmicos são recomendados a divulgar tais informações

específicas em seu relatório anual, tais como:

i. Procedimento das IFIs para evitar a imposição de cláusulas contratuais onerosas aos

clientes que estão em posição de barganha mais fraca em relação às suas entidades.

ii. Garantir que campanhas e ações de marketing sejam eticamente balanceadas e suas

informações sejam claras e compreensíveis ao maior número de clientes.

iii. A obrigação e os direitos de ambas as partes (partes interessadas e acionistas), de

forma clara e concisa.

iv. Processos e termos e condições responsáveis sob os quais o crédito é estendido aos

clientes, incluindo o processo pelo qual a capacidade de pagamento do cliente e o efeito

no bem-estar financeiro e geral do cliente são avaliados.

v. Os recursos disponíveis no caso de uma ou ambas as partes violarem seus termos

contratuais.

vi. Opinião do Conselho de Supervisão da Sharia sobre a permissibilidade de cobrar taxas

de pagamentos em atraso.

vii. Taxas de pagamento atrasadas impostas aos clientes inadimplentes.

viii. Como as IFIs alocam as taxas de pagamento atrasado em suas contas (alocação para

receita ou caridade).

ix. As condições sob as quais as IFIs adiarão a cobrança de dívidas de clientes insolventes.

No geral, os resultados encontrados mostram um baixo nível de divulgação de relatórios

de RSC para os bancos islâmicos e menor ainda para os bancos convencionais. A

divulgação média de RSC dos bancos islâmicos de amostra de 2013 a 2017 foi de 41,05%,

menor em comparação com estudos anteriores. As descobertas, no entanto, estão de

acordo com os achados de Maali et al. (2006), Hassan e Harahap (2010) e Farook et al

(2011), que também encontraram que a extensão da divulgação da RSC pelos bancos

islâmicos estava aquém da expectativa (16,8%, 13,3% e 38%, respectivamente). Com

base nas observações e descobertas, a presente tese vai ao encontro da afirmação de Maali

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et al. (2006), que indicam que os bancos islâmicos não estão cumprindo completamente

seu papel social de acordo com as prescrições do Islã, já que se espera que eles estejam

mais conscientes sobre as questões de RSC no futuro. Segundo Gray et al. (1995), para

ser socialmente responsável, os administradores dos bancos islâmicos são obrigados a

fornecer todas as informações financeiras e não financeiras para seus stakeholders.

Devido ao baixo nível de divulgação RSC, fica evidenciado, entretanto, que a alta

administração dos bancos islâmicos são menos responsáveis no desempenho de suas

funções e tendem a se concentrar em divulgar vários temas de informações de RSC,

ignorando outros temas de informações de RSC, como atividades de caridade e

relacionadas a informações Waqf, por exemplo.

A partir das perspectivas da Teoria da Agência, os administradores dos bancos islâmicos

teriam de divulgar mais informações de RSC para convencer as partes interessadas de que

estão se comportando de forma ideal em seus nomes, sua preocupação com as questões

de RSC e, como resultado, reduzir o custo da agência. Da perspectiva desta tese, essa

questão ainda aparece, pois não há pressão das partes interessadas para que os bancos

islâmicos sejam mais socialmente responsáveis, fator que é acentuado nos seus pares

convencionais, uma vez que inexistem regras religiosas a serem seguidas.

A pesquisa fornece, ainda, forte suporte para os argumentos da Teoria da Agência, que

sugerem que as corporações com forte mecanismo de GC são mais propensas a divulgar

informações de RSC às partes interessadas (TAYLOR et al., 2010). O resultado mostra

que existe uma relação positiva e significativa entre o nível de divulgação da RSC e o

tamanho do Conselho de Administração. Os resultados comprovam que o tamanho do

conselho influencia significativamente a prática da divulgação de RSC nos bancos

islâmicos. Portanto, ao aumentar a prática de divulgação de sua responsabilidade social,

os bancos islâmicos poderiam ter como consequência o aumento de seus Conselhos.

Não há associação significativa entre a composição do conselho e o escore da DRSC. O

estudo não conseguiu comprovar que as partes interessadas têm a capacidade de

influenciar a maneira pela qual as corporações se comportam e, em última análise,

influenciam sua legitimidade em operar. Isto implica que, se uma empresa não atender os

anseios de uma parte interessada relevante, esta parte interessada não poderia aplicar uma

pressão sobre a empresa para satisfazer as suas expectativas. O resultado prova que o

stakeholder não tem influência na prática de divulgação de RSC nos bancos islâmicos.

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Por fim, essa pesquisa contradiz a base teórica das Teorias de Sinalização e Econômicas,

que argumentam que o aumento da divulgação e transferência de informações para outras

partes tem um impacto positivo no valor de uma empresa (e.g., EASLEY; O´HARA,

2004; GORDON et al., 2010). No entanto, o resultado do estudo não encontrou qualquer

relação significativa e positiva entre a RSC e o valor da empresa. Também ilustra que a

divulgação não financeira (como divulgação de RSC) não tem impacto superior quando

comparado com a divulgação financeira, especialmente para instituições éticas, como

bancos islâmicos.

As Tabelas 25 e 26, a seguir, apresentarão os rankings de divulgação dos bancos islâmicos

e convencionais. Em seguida, as Tabelas 27 e 28 apresentarão a análise multidimensional

nos dois conjuntos de bancos. Importante ressaltar que a maior pontuação média de

divulgação do índice de RSC é a informação relacionada ao bem-estar dos empregados

(BEE), que foi de 64%, seguida pelo Zakat com 57% e pelo Investimento Social,

Poupança Social e Desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas (PME) 34,3%.

Na sequência, temos o Qard Hassan ou Empréstimo Benevolente com 31,7%, as

Atividades de Caridade com 31% e Ganhos e Perdas proibidos pela Sharia (GPS) com

24,3%. Por fim, o Atendimento de Excelência aos Clientes (EAC) com 19%, Política para

o Desenvolvimento Social e investimentos destinados ao Meio Ambiente (PMA) com

10%,Política para seleção de Clientes com (7%) e Gestão do Waqf com 5%.

O menor índice médio de divulgação relacionado ao índice de RSC é o pagamento

atrasado e os clientes insolventes com 2,7%. A partir das observações dos relatórios

anuais dos bancos islâmicos do CCG sobre as informações do Zakat, que é um dos

principais itens da RSC no Islã, alguns dos bancos de amostra não divulgaram os detalhes

dos montantes alocados para esse fim, embora seja um exigência obrigatória de acordo

com o AAOIFI (2010).

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Tabela 25 – Pontuação Média dos Bancos Islâmicos do CCG (2013-2017)

PAÍS 2013 (%) Ranking 2014 (%) Ranking 2015 (%) Ranking 2016 (%) Ranking 2017 (%) Ranking

Arábia Saudita 43,2 5 50,0 1 38,6 2 45,5 2 52,3 2

Bahrein 45,5 4 34,6 5 30,9 5 41,2 3 35,2 4

Catar 47,0 3 34,9 4 36,4 4 33,3 4 30,3 6

EAU 51,1 2 43,2 3 37,5 3 45,5 2 43,2 3

Kuwait 54,6 1 45,5 2 45,5 1 45,5 2 33,3 5

Omã 27,3 6 24,2 6 24,2 6 51,5 1 60,6 1

Pontuação média da Divulgação da RSC entre 2013 e 2017: 41,05%

Tabela 26 – Pontuação Média dos Bancos Convencionais do CCG (2013-2017)

PAÍS 2013 (%) Ranking 2014 (%) Ranking 2015 (%) Ranking 2016 (%) Ranking 2017 (%) Ranking

Arábia Saudita 37,4 2 26,9 5 36,9 1 20,1 6 27,9 6

Bahrein 29,3 4 29,6 3 29,6 3 37,8 1 29,3 5

Catar 46,1 1 33,8 2 33,8 2 33,8 2 33,8 2

EAU 26,2 5 29,3 4 27,9 4 25,6 5 30,1 3

Kuwait 33,9 3 39,6 1 25,3 5 29,3 3 38,3 1

Omã 25,6 6 22,3 6 24,2 6 26,3 4 29,7 7

Pontuação média da Divulgação da RSC entre 2013 e 2017: 30,65%

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7 CONCLUSÕES

A presente tese investigou analiticamente a extensão das práticas de divulgação de

informações da RSC nos bancos islâmicos, sua divulgação e implementação à luz das

diretrizes do AAOIFI nos países do CCG, por meio de seus relatórios anuais. Para obter

uma visão clara da prática de divulgação da RSC entre os bancos da seleção amostral

também foram examinados os determinantes da divulgação de informações de RSC e suas

consequências nos valores dos bancos analisados. Este estudo foi motivado pelos

limitados estudos anteriores de contabilidade e de divulgação corporativa islâmicas, pelas

raras obras sobre o tema publicadas na América Latina, bem como pelo recente interesse

nos estudos de divulgação de práticas de RSC em bancos islâmicos ao redor do mundo.

Com base nessas motivações, três questões de pesquisa foram abordadas, bem como o

alcance do objetivo principal e secundário desta pesquisa.

7.1 Resumo dos resultados da pesquisa

7.1.1 Respostas à Primeira Questão de Pesquisa (QP 1)

Para fornecer respostas à primeira questão de pesquisa (QP 1), a literatura precedente e

relevante foi revisada. As Teorias da Agência, Sinalização, Econômica e de Legitimidade

foram utilizadas para explicar como os relatórios de RSC, no que tange sua divulgação,

poderiam afetar o valor da empresa com base em medidas de mercado, que foram

consistentes com os estudos de Sheu et al. (2010). Seguindo o exemplo de estudos

precedentes, esta tese controlou as variáveis de governança corporativa, as características

da empresa e o PIB de cada país. Na esteira de estudos anteriores (e.g., MORCK et al.,

1988; LA PORTA et al., 2002; LINS, 2003; HANIFFA; HUDAIB, 2006; HASSAN et

al., 2009; AGGARWAL, 2009; PLATONOVA, 2014; HARUN, 2016) a relação Q de

Tobin (QT) foi usada como um proxy para medir a variável dependente (valor da empresa)

na análise principal. Adotando pesquisas anteriores (e.g., HANIFFA E HUDAIB, 2006;

HASSAN et al., 2009), a relação Market to Book Value (MTBV) também foi usada em

uma análise mais aprofundada para verificar a robustez dos resultados. Em relação ao

MTBV, foi medido como sendo a razão entre o valor de mercado do patrimônio líquido

e o valor contábil do patrimônio líquido. Em seguida, foram verificadas todas as

premissas da regressão MQO, como normalidade, heterocedasticidade,

multicolinearidade e auto correlação, para garantir que não houvesse problema com a

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274

variável testada. Além da matriz de correlação de Pearson, modelos de regressão MQO

foram realizados para avaliar a significância da associação entre a divulgação da RSC e

valor da empresa (VF).

Essa tese fornece uma série de argumentos teóricos e uma série de evidências empíricas

sobre o motivo pelo qual tal associação pode surgir. O elo negativo entre a divulgação e

o valor da empresa (VF) prova a inconsistência dos resultados anteriores, que se baseiam

na estrutura da Teoria da Agência. Além disso, o efeito negativo da divulgação da RSC

pode ser explicado de diferentes ângulos. Consistentemente com Chung et al. (2012),

informações extras podem ter um efeito negativo no valor da empresa, pois o excessivo

número de divulgações poderia, de certa forma, causar um ruído extra aos investidores, o

que afeta negativamente sua avaliação da empresa. Em segundo lugar, o efeito negativo

sobre o valor da empresa poderia ser impulsionado pelo conteúdo das informações de

RSC divulgadas e pela percepção dos investidores. Existe a possibilidade de a própria

informação de RSC levantar preocupações sobre o desempenho da empresa, o que leva

os investidores a reduzirem sua avaliação. Nessa proposição, quanto mais informações de

RSC forem divulgadas, maior a possibilidade de que o valor da empresa diminua. Em

contraste, as informações de RSC poderiam oferecer notícias positivas para as partes

interessadas, mas essas notícias poderiam estar enviesadas ou poderiam ser suspeitas,

uma vez que são muito diferentes das informações obtidas de outras fontes que não os

relatórios anuais, fato que vale para os bancos islâmicos e convencionais analisados.

Dessa forma, aumentar a quantidade de informações de RSC divulgadas poderia resultar

em uma queda no valor da empresa. Com isso, as partes interessadas poderiam interpretar

erroneamente essa prática da empresa em divulgar mais informações sobre a RSC. Os

stakeholders podem perceber o fornecimento de divulgação aprimorada como uma

maneira de enganá-los sobre o desempenho real da empresa. Os investidores também

poderiam considerar que os concorrentes de uma empresa se beneficiariam dessa

informação excessiva, faroe que poderia afetar negativamente sua expectativa sobre o

desempenho da empresa e, consequentemente, diminuir sua avaliação, fato que vai ao

encontro dos estudos de Hassan et al. (2009) e Platonova (2014).

Os resultados encontrados, no entanto, estão em contradição com os achados de Gelb e

Zarowin (2002), que consideraram que empresas com alta divulgação têm maior

probabilidade de apresentar um valor de firma (VF) superior. Além disso, o resultado

relacionado à divulgação da RSC mostra um impacto adverso da empresa socialmente

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275

responsável, que corresponde às questões sociais e ao valor da firma (VF). Este resultado

também não suporta a ideia de que os bancos islâmicos possam usar a divulgação

corporativa para se diferenciar e aumentar sua vantagem competitiva através do aumento

do valor da empresa (VF). Usando o Q de Tobin como indicador de valor da firma, o

resultado não mostrou nenhuma relação significativa, o que se deve a menor preocupação

do stakeholder em relação à questão da RSC antes de fazer uma transação com o banco

(produtos e investimentos). Dessa forma, pode-se concluir que a divulgação da RSC não

teve impacto significativo no valor banco islâmico e no valor do banco convencional.

7.1.2 Respostas à Segunda Questão de Pesquisa (QP 2)

Para fornecer respostas à segunda questão de pesquisa (QP 2), o estudo revisou as teorias

relevantes que explicam as motivações de GC para permitir o aumento da divulgação

corporativa. Consequentemente, os determinantes dos relatórios de RSC foram propostos,

com base nas Teorias da Agência, Teoria dos Stakeholders, Teoria da Legitimidade e

Accountability. As principais variáveis testadas, relacionadas a GC, consistiram naquelas

relacionadas ao Conselho de Administração, ao Conselho de Supervisão Sharia, ao

Comitê de Auditoria e a Estrutura de Propriedade. Além dessas variáveis principais,

foram usadas características da empresa e características específicas do país como

variáveis de controle. Foram garantidas as suposições de MQO, como normalidade,

heteroscedasticidade, multicolinearidade e auto correlação, para que se comprovasse a

não existência de problemas com as variáveis testadas. Além da matriz de correlação de

Pearson, modelos de regressão MQO foram conduzidos para avaliar a significância da

associação entre as variáveis dos determinantes e os escores de divulgação de RSC.

O objetivo principal dessa segunda questão de pesquisa foi o de examinar o nível de

discrepância e de aderência da RSC e seus determinantes entre 40 bancos islâmicos e 40

bancos convencionais do CCG através de 200 observações, para cada grupo. Tal exame

contribui com a literatura de relatórios de RSC existente sendo o primeiro a examinar os

determinantes de divulgação da RSC nos bancos islâmicos do CCG para os anos 2013 e

2017 usando variáveis abrangentes de GC. O estudo testou o grau em que os mecanismos

de GC (Conselho de Administração, Conselho de Supervisão Sharia, Comitê de Auditoria

e Estrutura de Propriedade) afetam a decisão dos bancos islâmicos de divulgar suas

informações de RSC em seus relatórios anuais. O estudo utilizou métodos quantitativos

para testar as hipóteses de pesquisa. Foi desenvolvido um índice abrangente de divulgação

de RSC Islâmico e Convencional baseado na literatura anterior e na diretriz do AAOIFI

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e foi utilizado o método de análise de conteúdo qualitativo para encontrar as informações

de divulgação de RSC na amostra selecionada. A análise de regressão MQO também foi

utilizada para a análise empírica. A variável dependente consistiu no número total de

divulgações de RSC enquanto as variáveis independentes foram um conjunto de

mecanismos de GC. Já as variáveis de controle consistiram em um conjunto de

características dos bancos e variáveis de características específicas dos seis países que

compuseram a seleção amostral.

A análise empírica constatou que o Tamanho do Conselho de Administração (TCA) tem

relação significativamente positiva com a prática de divulgação de RSC entre os bancos

islâmicos do CCG. Este resultado é consistente com os estudos de Singh et al. (2004),

Lakhal (2005), Cheng e Courtenay (2006), Abdel-Fattah (2008), Laksamana (2008),

Platonova (2014) e Harun (2016), que também encontraram associação positiva entre a

divulgação e a composição do Conselho de Administração em seus estudos. Pode-se

afirmar que o tamanho do Conselho está positivamente associado à prática de divulgação

de RSC. Portanto, organizações com mais membros em seus Conselhos de Administração

se engajam em maior medida nas práticas de divulgação de RSC e nas atividades de RSC,

como atividades de caridade e benevolência em prol dos mais necessitados, resultados

consistentes com os de Williams (2003), Haniffa e Hudaib (2007) e Platonova (2014).

A presente tese também constatou que a Dualidade do CEO (DCEO) e o Tamanho do

Comitê de Auditoria (TCTA) impactam negativamente na prática de divulgação da RSC

entre os bancos islâmicos do CCG. As outras variáveis características de GC (composição

do conselho, gênero do conselho, número de reuniões do conselho, tamanho do CSS e

participação cruzada de membros do CSS) não apresentaram relação significativa com o

nível de divulgação total de RSC entre os bancos islâmicos. Dessa forma, foi mantida a

consistência com o argumento de Ho e Wong (2001) de que os mecanismos de

governança corporativa podem ser substitutivos e podem não afetar os escores de

divulgação. Para formar a análise, pode-se concluir que o tamanho do conselho tem uma

influência significativa no aprimoramento da prática de divulgação da RSC entre os

bancos islâmicos no CCG. No entanto, os bancos que têm a mesma pessoa no cargo de

CEO e de presidente do Conselho de Administração (Dualidade do CEO) podem perceber

alguma influência em suas práticas de divulgação de RSC, pois a mesma pessoa nos dois

cargos pode possuir o poder de influenciar e aprimorar a prática de divulgação de RSC

na organização. Por sua vez, o tamanho do Comitê de Auditoria não apresentou efeito

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277

significativo na prática de divulgação da RSC, que pode explicado devido à sua falta de

função e de legitimidade para influenciar o Conselho e a própria Administração.

7.1.3 Respostas à Terceira Questão de Pesquisa (QP 3)

Para fornecer respostas à terceira questão de pesquisa (QP 3), um índice de divulgação de

RSC foi desenvolvido para mensurar a efetiva divulgação da RSC nos relatórios anuais

dos bancos islâmicos. Em seguida, o instrumento de pesquisa foi construído com base na

orientação nº 7 da AAOIFI (2010), que trata das melhores práticas de divulgação

corporativa, bem como índices sugeridos pelas pesquisas precedentes. A técnica de

análise de conteúdo foi utilizada para codificar o texto e classificar os índices divulgados

em relatórios financeiros e não financeiros que contivessem fatores sociais. Depois de

analisar as diferentes bases de dados, bancos centrais, sites e relatórios atualizados, bem

como os critérios para a amostra de pesquisa selecionada, o estudo aplicou o índice de

RSC abrangente em 40 bancos islâmicos e 40 bancos convencionais dos 6 países do CCG,

o que envolveu 200 observações, para cada grupo, entre os anos de 2013 e 2017.

Estatísticas descritivas foram usadas para delinear os níveis de divulgação para os bancos

islâmicos, incluindo suas categorias de RSC e conformidade com os padrões de

governança do AAOIFI. Dessa forma, foi possível comparar os índices dos dois grupos

analisados (bancos islâmicos e bancos convencionais).

Este estudo mediu, principalmente, em qual escala os bancos islâmicos do CCG da

amostra cumprem os padrões de divulgação exigidos pelo AAOIFI e forneceu

informações descritivas do nível de divulgação da RSC. Um índice abrangente de

divulgação de RSC, desenvolvido com base neste padrão foi construído. Os relatórios

anuais foram utilizados como a principal fonte de informações para mensurar a pontuação

de divulgação da RSC dos bancos islâmicos e convencionais da amostra.

No geral, entre os países analisados, Omã apresentou a maior pontuação de divulgação

da RSC em comparação com os outros países do CCG. Os achados deste estudo também

indicam um nível de escore geral de divulgação de RSC, que é de 41,05%, que é menor

do que a expectativa que se tinha no início da pesquisa, mas maior em comparação com

seus pares convencionais, que apresentaram um resultado global de 30,65%. Os

resultados também mostraram que os bancos islâmicos do Bahrein, que formalmente

implementaram os padrões contábeis do AAOIFI de maneira compulsória, não

melhoraram significativamente sua divulgação, ao contrário, apresentaram pontuações de

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divulgação inconsistentes da RSC entre os anos de 2013 a 2017. A análise mostrou ainda

que os bancos islâmicos de amostra tendem a divulgar e privilegiar informações

relacionadas aos funcionários, ao invés de outras informações obrigatórias, conforme

estabelecido nos padrões da AAOIFI (como ganhos e gastos proibidos pela Sharia,

política para lidar com os clientes, política de seleção de clientes e Zakat). Com base na

análise cross-country e multidimensional, pode-se concluir que a emissão da norma de

governança do AAOIFI, que foca na divulgação de RSC, não melhorou a prática de

disclosure entre os países islâmicos do CCG. Os escores de divulgação ainda são

relativamente mais baixos em comparação com o estudo realizado antes da emissão da

norma nº 7 do AAOIFI no ano de 2010 (e.g., MAALI, 2006; HANIFFA; HUDAIB, 2007).

7.2 Implicações teóricas e práticas

Os resultados resumidos na seção anterior têm algumas implicações práticas e teóricas

distintas. A principal força deste estudo está contida em suas implicações teóricas e

práticas e sua utilidade em fornecer evidências das práticas de RSC, bem como o impacto

dessas divulgações no valor dos bancos islâmicos e convencionais analisados.

Este estudo demonstrou como as atividades de RSC têm sido incorporadas nas agendas

dos bancos islâmicos do CCG através da análise de suas práticas de divulgação de RSC,

que devem demonstrar um alto nível de transparência e transparência com base nos

princípios financeiros islâmicos que destacam os aspectos morais e sociais de atividades

de negócio. Este estudo, no entanto, indica que a maioria dos bancos islâmicos, apesar

das altas expectativas de divulgação total da RSC, revelam significativamente menos

informações do que a expectativa inicial. Parece que a prioridade é dada às informações

relacionadas às suas obrigações financeiras em relação aos seus acionistas, e não aos

interesses de uma gama mais ampla de partes interessadas. Esta pesquisa confirma os

resultados dos estudos anteriores, que mostraram evidências de que as práticas de

divulgação de RSC dos bancos islâmicos carecem de informações essenciais, apesar de

divulgarem mais do que seus pares convencionais.

7.2.1 Implicações teóricas

O estudo introduziu uma medida válida e confiável de divulgação da RSC, bem como um

modelo para mensurar o valor do banco frente a divulgação da RSC. Esta tese forneceu

evidências de que as consequências econômicas para a divulgação da RSC, pelos bancos

islâmicos, podem ser avaliadas com base nas características quantitativas, como usadas

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por Uyar e Kiliç (2012), Monsuru e Adentuji (2014), El-Halaby e Hussainey (2015) e

Khlif et al. (2015). Adotando, como referência, estudos prévios que medem as

consequências da divulgação, que adotaram a análise de conteúdo para o relatório anual

baseado em MQO (e.g., HUSSAINEY et al., 2003; KOTHARI et al., 2009; ELZAHAR

et al., 2015;), este estudo contribui com ferramentas teóricas, verificando as suposições

do MQO, que são normalidade, heterocedasticidade, multicolinearidade e auto

correlação, que trouxeram maior confiabilidade aos resultados encontrados.

Além do exposto, a tese fornece outras implicações teóricas:

Primeiro, por fornecer uma discussão clara sobre a RSC a partir de perspectivas

islâmicas, uma vez que se discutiu o princípio ético islâmico na promoção da prática de

divulgação de RSC, conforme declarado no Corão, na Suna e na Sharia. Pesquisas

anteriores tenderam a se concentrar em medir a pontuação de divulgação de RSC em

bancos convencionais e bancos islâmicos espalhados em países heterogêneos. Assim, este

estudo contribui para a literatura de divulgação, fornecendo uma discussão clara da

divulgação de RSC a partir de uma perspectiva islâmica em países com características

semelhantes, do ponto de vista econômico e de aplicação de normas financeiras islâmicas.

Segundo, pois a maioria dos estudos precedentes, que investigaram a divulgação de RSC,

mediram o nível de disclosure usando um índice desenvolvido com base em pesquisas

anteriores (e.g., FAROOK et al., 2011), enquanto outras exploraram os padrões de

governança da AAOIFI sobre conformidade com a divulgação social. Portanto, este

estudo contribui para a literatura de divulgação por ser o primeiro que desenvolve um

índice usando o AAOIFI e pesquisas anteriores para medir a prática de divulgação de

RSC entre bancos islâmicos de amostra. Em seguida, mediu-se os fatores por trás das

variações do nível de divulgação, considerando que estudos anteriores tenderam a adotar

índices sugeridos anteriormente, como os de Maali et al. (2006) e Haniffa e Hudaib

(2007).

Terceiro, na medida em que pesquisas anteriores aplicaram a análise de conteúdo a um

período de um ano, ou dentro de um país, além de amostras muito limitadas (e.g.,

SOBHANI et al., 2009; BELAL et al., 2014; EL-HALABY; HUSSAINEY, 2015). Este

estudo contém um tamanho de amostra maior (40 bancos islâmicos), distribuído por 6

países do CCG entre 2013 e 2017 e envolveu 200 observações, o que fornece uma imagem

melhor da prática de divulgação de RSC entre os países do CCG.

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Quarto, pois o estudo dos padrões do AAOFII cresceu nos últimos anos com

contribuições substanciais de estudiosos, como Hassan e Harahap (2010) e Ahmed e

Khatun (2013). É notório que o foco da maioria desses estudos é de natureza descritiva,

enfatizando em particular o nível de conformidade com o AAOIFI, sem estender, no

entanto, seu estudo para explorar os principais fatores por trás do nível de divulgação.

Este estudo contribui para a literatura de divulgação de informações não necessariamente

financeiras, uma vez que explora os determinantes da divulgação relacionados com a GC

para os bancos islâmicos do CCG.

Quinto, visto que o presente estudo explorou, usando a análise dos mecanismos de GC,

os determinantes da divulgação da RSC, usando variáveis de controle específicas para o

banco e para o país. Embora a literatura anterior forneça evidência empírica mista para

divulgação, estudos limitados examinaram a prática de divulgação de RSC no CCG. Além

disso, as pesquisas precedentes forneceram evidências empíricas mistas para variáveis

relacionadas às características da GC. Há trabalhos limitados que examinaram a

existência de um CSS interno e de um comitê de auditoria, fato que poderia influenciar

potencialmente a prática de divulgação de RSC. Este estudo, portanto, é avançado

considerando-se o mecanismo de GC e as variáveis do CSS que têm impactos diversos

sobre a prática de divulgação, ao invés de investigar apenas associações entre tipos únicos

de variáveis e práticas de divulgação como em estudos precedentes (e.g., PINCUS et al.,

1989; HASSAN et al., 2012; KAMLA; RAMMAL, 2013).

Sexto, pois poucos estudos empíricos anteriores se propuseram a investigar a associação

entre as divulgações de RSC e as variáveis de GC que contivessem variáveis do CA, CSS,

CTA e estrutura de propriedade do setor bancário islâmico. Este é o primeiro estudo que

investiga empiricamente a associação dessas variáveis com a divulgação da RSC.

Sétimo, visto que se utilizou da aplicação de dois métodos para examinar a associação

entre as principais variáveis e realizar testes nos modelos desenvolvidos: MQO e

estatística descritiva, que têm sido usados com frequência na literatura internacional. Este

estudo fornece variáveis de GC mais abrangentes para testar sua associação com a prática

de divulgação de RSC. Como resultado, forneceu uma imagem melhor da prática de

divulgação de RSC na região do CCG.

Por último, porém não menos importante, em função da existência de estudos empíricos

limitados que investigaram a conexão entre a divulgação e as consequências econômicas

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281

no setor bancário (e.g., DHALIWAL et al., 2011; SERVAES; TAMAYO, 2013). Este,

portanto, é o primeiro estudo que investiga empiricamente essa relação entre Bancos

Islâmicos e fornece uma valiosa contribuição para os pesquisadores, pois amplia a

compreensão de como as divulgações de RSC afetam o valor dos bancos islâmicos,

distintos dos estudos que avaliaram apenas os efeitos em bancos convencionais.

7.2.2 Implicações práticas

Esta tese fornece diversas implicações práticas que serão apresentadas a seguir:

O número total de sentenças textuais nos relatórios anuais dos bancos islâmicos variou e

houve uma grande diferença entre o maior e o menor número. Além disso, os relatórios

anuais não foram relevantes para os stakeholders. Por essas razões, os reguladores e os

administradores dos bancos deveriam se atentar ao aumento da utilidade da divulgação

para as partes interessadas, à integridade de suas informações de RSC e à forma de

fornecer informações de maneira mais compreensível para as partes interessadas.

Os resultados sugerem que os bancos islâmicos da amostra variaram na medida em que

relataram suas atividades de RSC. Alguns bancos usaram muitas sentenças (foram mais

prolixos, enquanto outros relataram sua responsabilidade social em apenas algumas

frases). Isso indica que os bancos tinham um estilo diferente em expressar suas

informações de RSC em seus relatórios anuais, sem um padrão pré-definido. As partes

interessadas deveriam, nestes casos, entender esse ponto e ler criticamente os relatórios

anuais, filtrando as informações úteis em um relatório anual, para garantir uma correta

tomada de decisão. Portanto, sugere-se que os bancos islâmicos possam fornecer uma

seção específica no relatório anual, com a finalidade de apresentar informações de RSC.

As descobertas fornecem importantes implicações para investidores, administradores,

órgãos reguladores, formuladores de políticas e bancos islâmicos. Esses resultados

demonstram aos investidores que o nível de DRSC tem um efeito negativo no valor de

mercado de seus bancos, com base nas proxies analisadas. Para aqueles que se abstêm de

fornecer informações às partes interessadas, os resultados exigem mais transparência na

RSC, se desejam que os bancos sejam mais valiosos para os stakeholders.

Os resultados demonstram ainda que a divulgação de informações de RSC esteve ausente

nos relatórios anuais dos bancos islâmicos selecionados do CCG. Portanto, os órgãos

reguladores e os formuladores de políticas poderiam identificar um padrão de referência

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mínimo para a divulgação de RSC, semelhante às dimensões que são recomendadas pelo

AAOIFI e que seja publicado por cada banco em seu relatório anual. Além disso, essa

constatação é importante para os bancos islâmicos, que podem estar cientes de que mais

divulgação da RSC pode ter um impacto significativo na imagem das empresas. Assim,

espera-se que eles estejam mais conscientes sobre as questões de divulgação de RSC, ao

invés de se concentrarem exclusivamente no objetivo de maximização dos seus lucros.

Para os reguladores ou futuros reguladores (países que pretendem abrir as portas para as

finanças islâmicas, como é o caso do Brasil), este estudo fornece algumas informações

relacionadas à divulgação da RSC. Este estudo fornece evidências de que uma governança

corporativa mais forte está associada a um maior nível de divulgação de RSC. Portanto,

os órgãos reguladores, como o AAOIFI, devem ser mais proativos ao orientar os bancos

islâmicos em direção às melhores práticas de divulgação, uma vez que os bancos

procuram por tal orientação. A GC desempenha um papel motivador nessa área de

divulgação de informações. Espera-se também que o AAOIFI tenha uma forte

colaboração com os órgãos reguladores dos países no aprimoramento das práticas de

divulgação da RSC entre os bancos islâmicos.

As pontuações de divulgação de RSC entre os bancos islâmicos e convencionais do CCG

são variadas, mas a tendência era de uma maior transparência, em função de suas

obrigações religiosas presentes em suas operações comerciais. Recomenda-se que os

reguladores aprimorem as regulamentações para motivar os bancos de forma voluntária e

transparente a revelarem suas informações de RSC. Além disso, os reguladores também

precisariam considerar os níveis de divulgação dentro dos relatórios anuais para outras

IFIs, com relação aos níveis de divulgação que são necessários para as partes interessadas.

7.3 Recomendações para futuras pesquisas

Há um número limitado de variáveis de GC que foram testadas na presente tese, que se

concentrou apenas nas variáveis relacionadas ao Conselho de Administração, no

Conselho de Supervisão da Sharia, do Comitê de Auditoria e nas variáveis de Estrutura

de Propriedade. Pesquisas futuras poderiam considerar outros mecanismos de GC, como

número de subsidiárias e tipo de propriedade (familiar, estatal ou privada). Esta tese

limitou-se apenas a analisar os determinantes que levaram a divulgação da RSC dos

bancos islâmicos. Portanto, pesquisas futuras poderiam explorar os determinantes da

divulgação da RSC em outras instituições islâmicas, como companhias de seguros

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islâmicas (Takaful) e companhias de investimento islâmicas, bem como explorar de forma

analítica os determinantes da divulgação da RSC em bancos ocidentais que operam em

países de maioria islâmica. Isso poderia comprovar os resultados dos estudos de

divulgação da RSC, de maneira mais consolidada. O estudo também se limitou a discutir

a norma de nº 7 do AAOIFI (2010) e sua conformidade entre os bancos islâmicos da

amostra. Mais estudos poderiam ser realizados para medir o nível de conformidade com

outros padrões de governança da AAOIFI ou padrões nacionais estabelecidos em cada

jurisdição, por meio de seus bancos centrais, por exemplo.

A presente tese concentrou-se em duas medidas ou proxies do valor da empresa, que são

MTBV e Q de Tobin. Seria interessante usar outras medidas para o valor da empresa,

como medidas de eficiência de escala, conforme sugerido por Dybvig e Warachka (2015).

Esta tese também se concentrou estritamente nas consequências da divulgação de RSC

entre os bancos islâmicos. Seria interessante também, para um estudo mais aprofundado,

examinar a associação entre a divulgação da RSC e o valor da empresa também para

outras instituições financeiras islâmicas, como companhias de seguro islâmicas (Takaful).

Outra recomendação está relacionada ao exame da relação entre as práticas de RSC e a

reputação dos bancos islâmicos, que é uma questão crítica que precisa ser avaliada. Além

disso, o impacto das práticas de RSC na exposição ao risco no setor bancário islâmico

pode ser outro tópico dinâmico que precisa ser explorado para avaliar se a promoção das

práticas de RSC tem uma influência positiva no fortalecimento da posição dos bancos e,

portanto, aumentar sua confiança no setor bancário. Por sua vez, isso evitará

positivamente alguns riscos potenciais críticos que os bancos podem enfrentar, como um

banco que ocorre quando os depositantes entram em pânico e sacam seus fundos

simultaneamente em um momento inconveniente. Com respeito aos métodos estatísticos

utilizados, outra recomendação diz respeito à utilização de dados em painel, muito

provavelmente com dados balanceados, uma vez que existem todas as informações

disponíveis, para que se possa analisar a evolução da divulgação da RSC anualmente, o

que facilitaria a identificação de possíveis motivações não capturadas nesta pesquisa.

Ressalte-se que, com a finalidade de aumentar o potencial social dos bancos islâmicos, a

dimensão social estudada nesta tese poderia ser integrada nas estratégias de negócios dos

bancos islâmicos, para reduzir as diferenças entre as realidades das publicações e as

expectativas criadas, uma vez que melhorariam a imagem e reputação dos bancos. Dessa

forma, como última contribuição, sugere-se que outras pesquisas examinem as

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consequências não econômicas da divulgação da RSC e do valor da empresa, como a

imagem e a reputação dos bancos perante à sociedade.

7.4 Epílogo

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar as práticas de divulgação de RSC dos bancos

islâmicos no caso da região do CCG e também examinou o impacto das práticas de

divulgação de RSC no desempenho financeiro dos bancos. Apesar das evidências

empíricas desta pesquisa indicarem um baixo nível de divulgação de RSC, os bancos

islâmicos desempenham um papel significativo em termos de agrupamento de fundos e

demonstraram fornecer serviços valiosos que equilibram as necessidades dos credores e

clientes. No entanto, a fim de aumentar o potencial social dos bancos islâmicos, a

dimensão social deve ser integrada nas estratégias de negócios dos bancos islâmicos para

reduzir as diferenças entre as realidades do sistema bancário islâmico e as aspirações dos

objetivos da Lei Islâmica.

Diversas ideias foram discutidas e analisadas nesta tese, as quais podem ser consideradas

como uma agenda para futuras pesquisas para pesquisadores, profissionais, reguladores e

estudiosos das Finanças Islâmicas. O investimento em melhores sistemas e ferramentas

de governança corporativa deve ser visto como um desenvolvimento estratégico, e não

como uma necessidade situacional. A gestão desses sistemas para os bancos islâmicos

não é um destino ou um projeto, mas uma jornada e um processo contínuo.

Para o Brasil, é altamente recomendável a sua integração com foros e entidades

internacionais de finanças islâmicas, a fim de estabelecer canais institucionais e

acadêmicos de troca de experiências com entidades de padronização, como a AAOIFI e

o IFSB, bem como com autoridades supervisoras de países nos quais as finanças islâmicas

já estejam bem desenvolvidas, como a Arábia Saudita, Indonésia Malásia e Reino Unido.

Isso criaria condições para que o Brasil aprendesse com a trajetória desses países, tanto

no âmbito acadêmico quanto empresarial, fomentando novos negócios e pesquisas.

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GLOSSÁRIO

1) Accounting and Auditing Organization for Islamic Financial Instituions

(AAOIFI): Organização de Contabilidade e Auditoria voltada às Instituições

Financeiras Islâmicas. Criada em 1991 para desenvolver novos padrões e

incentivar a aplicação desses padrões, o AAOIFI é atualmente reconhecido

internacionalmente como a principal organização de definição de padrões para as

Finanças Islâmicas. Desde o início, já emitiram mais de 70 padrões em

contabilidade, auditoria e governança, além de códigos de ética e Sharia.

2) Al-kharaj bi al-daman: o conceito de que o tamanho da recompensa deve

corresponder ao nível de risco envolvido.

3) Amanah: não é um contrato como tal, mas é uma característica ou um requisito

em alguns contratos específicos que impõem a uma das partes divulgar o preço de

custo real, como na venda de Murabahah em comparação com a venda de preço

negociado (Musawwamah). O Amanah relaciona-se com a parte da relação

comprador/vendedor, sempre baseada na confiança. Isso pode ocorrer quando a

instituição financeira compra mercadorias de um fornecedor terceirizado a pedido

dos clientes da instituição, que posteriormente compra as mercadorias da

instituição financeira. Ao comprar as mercadorias do fornecedor, a instituição

financeira assume riscos relacionados ao ativo especificado até o momento da

compra pelo comprador. Um Amanah, ou tutela, é exigido do vendedor/financista

para divulgar o custo real dos bens adquiridos do fornecedor antes de vendê-lo ao

cliente, ao custo acrescido de margem de lucro (cost plus).

Outro exemplo de Amanah, introduzido em um arranjo financeiro islâmico, seria

o Wadiah Yad-Amanah, que acontece quando um banco, como custodiante,

assume a tarefa de guardar os ativos ou fundos depositados por um cliente em um

contrato de custódia segura, com base nesta tutela. É executado entre duas partes,

nomeadamente o depositante (proprietário) e o banco (custodiante). A

responsabilidade do custodiante desencadeia apenas em casos de negligência e má

conduta negocial. Isso serve para distinguir os contratos de custódia segura, que

são baseados em responsabilidade, e este contrato de custódia segura, que depende

da tutela. Estabelece a responsabilidade de uma das partes, em que um contrato

que é caracterizado como Amanah não infligirá qualquer responsabilidade legal

por parte do custodiante, exceto no caso de negligência e má conduta.

Princípios-chave de Amanah:

• Requer uma divulgação verdadeira e honesta do preço (fair falue ou valor justo)

de custo em todas as vendas baseadas em Amanah.

• Estabelece responsabilidade sobre os fiduciários apenas em casos de negligência

e má conduta.

4) ‘Aqd: contrato.

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5) ‘Ariyah: permissão de uso de um ativo sem direito a compra (empréstimo).

6) Ashum: compartilhamentos.

7) Bay: venda.

8) Bay 'al-dayn: venda da dívida.

9) Bay 'al-Inah: venda e recompra para obter dinheiro.

10) Bay al-murabahah: venda de uma mercadoria ao preço de custo acrescido de um

lucro conhecido (margem de lucro pré-definida).

11) Bay 'al-tawliyah: venda a preço de custo, sem lucro ou perda.

12) Bay'al-wadiah: venda abaixo do preço de custo ou com um preço com desconto.

13) Bay 'mu'ajjal: venda de pagamento diferido.

14) Bayt al-mal: tesouro do governo.

15) Darurah: uma necessidade ou emergência. Essa é uma condição na qual os

aspectos da Sharia podem ser suspensos para preservar a vida, ou para garantir a

segurança da comunidade muçulmana ou de um indivíduo, em casos extremos.

16) Dayn: uma dívida ou a obrigação de entregar um ativo.

17) Dhamarah: Garantia.

18) Fasakh: Dissolução contratual.

19) Fiqh: Lei substantiva Islâmica.

20) Fiqh al-muamalah: Lei comercial Islâmica.

21) Gharar: incerteza.

22) Gharar fahish: grande incerteza.

23) Gharar yasir: menor incerteza.

24) Hadiah al-thawaab: um presente com a intenção de receber a recompensa (troca)

do destinatário no futuro.

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25) Hajj (Haj, Haji): Peregrinação Islâmica à Meca.

26) Halal: aceitável, lícito e puro.

27) Hamish Jiddyah: um depósito de segurança pago por uma parte antes de entrar

em um contrato de câmbio, como venda e arrendamento, por seu compromisso

com este contrato pretendido. Caso a parte deixe de celebrar o contrato, a outra

parte pode usar o depósito para cobrir quaisquer perdas incorridas.

28) Hanafi: escola particular de direito.

29) Haram [Haraam]: inaceitável, proibido, ilícito ou impuro.

30) Hasuna: agradável e conveniente.

31) Hiba [Hibah]: presente.

32) Hiwalah [Hawala]: transferência de uma dívida.

33) Hukm: uma decisão no Corão ou nas Tradições do Profeta Muhammad

(S.A.W.S.), ou derivada do raciocínio dos juristas.

34) Ibra': pode ser definido como um desconto. Um exemplo de Ibra' ocorre quando

um banco, possuidor de um valor devido definido de um dos seus clientes, aceita

receber antecipadamente esse valor com deságio. Esta prática de desconto ou

desconto evita o enriquecimento sem causa e mantém a competitividade do banco.

Princípios fundamentais do Ibra’:

• Relaciona-se com a perda dos direitos de reivindicação.

• Envolve um desconto ou abatimento para o recebimento antecipado de uma

quantia devida.

35) Islamic Research and Training Institute (IRTI) ou Instituto Islâmico de

Pesquisa e Treinamento: Fundado em 1981 para realizar pesquisas e fornecer

treinamento e serviços de informação nos países membros do Banco Islâmico de

Desenvolvimento (BID) e comunidades muçulmanas em países não-membros.

36) 'I’fa: renúncia contratual.

37) Ijarah: um contrato de arrendamento.

38) Ijarah al-a’yan: arrendamento de ativos.

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39) Ijarah mawsuufah fi dhimmah: uma locação com uma descrição específica da

propriedade a ser construída e entregue no futuro, segundo a qual o pagamento da

locação pode ser cobrado antes da entrega do ativo.

40) Ijarah muntahia bi tamleek: ocorre quando uma opção para transferir o título do

ativo para o cliente é prevista no contrato de arrendamento, chamada de Ijarah

muntahia bi tamleek. É também conhecido como Ijarah thumma al bay

(arrendamento seguido de venda) ou Ijarah wa al-iqtina'(contratar e comprar). O

objetivo deste financiamento é o de transferir o título legal do ativo arrendado para

o arrendatário no final do período de arrendamento. No final deste contrato, o

banco entregará a propriedade do ativo ao cliente em consideração ao total

acumulado de reivindicação de aluguel que inclui o lucro.

O conceito de Ijarah muntahia bi tamleek é uma alternativa para financiar o

leasing e, em particular, o financiamento de compra e venda.

Há várias formas de financiamento que refletem as diferentes formas de transferir

a propriedade do ativo, como doação, venda e transferência de reivindicação de

equidade do locador para o locatário.

Princípios-chave de Ijarah Muntahia Bi Tamleek

• Envolve um arrendamento com a opção de comprar o ativo arrendado.

• No final do período de locação, o título é transferido para o locatário.

• Existem várias formas para refletir o modo de transferência de propriedade.

41) Ijarah tasqhilliyyah: refere-se a um arrendamento operacional, em que a

instituição financeira transfere o usufruto (direito de uso benéfico) de uma

determinada propriedade para outra pessoa em troca de uma renda destinada ao

locatário. A instituição financeira, como um banco, comprará um ativo, por

exemplo, fábrica e maquinário, de um fornecedor e o arrendará ao arrendatário ou

cliente a uma taxa acordada por um período definido.

A locação operacional indicará claramente que o locatário tem o direito sobre o

usufruto em troca de uma reivindicação de locação. A propriedade do ativo não

será transferida para o locatário durante o período do contrato do Ijarah. No final

de cada período do Ijarah, o banco negociará uma nova locação com o locatário e

o período de locação continuará até que o banco opte por eliminar o ativo.

Nenhuma opção ou direito de compra é concedido ao locatário.

Princípios-chave do Ijarah tasqhilliyyah:

• Envolve uma locação operacional simples.

• No final do período de locação, o título não é transferido para o locatário.

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• No final do período de locação, o proprietário do ativo negociará uma nova

locação ou venderá / descartará o ativo.

42) Ijarah thumma al bay’: ver Ijarah muntahia bi tamleek.

43) Ijarah wa al-iqtina ’: ver Ijarah muntahia bi tamleek.

44) Ijtihad: interpretação.

45) Ijma': consenso ou acordo de todos os estudiosos muçulmanos sobre um

determinado assunto ou interpretação.

46) ‘Illah: causa efetiva, em ação relativa à propriedade e não à pessoa.

47) Istihsan: consideração de equidade.

48) Istishab: presunção de permissibilidade.

49) Istisna': é um contrato para construir, fabricar ou desenvolver o objeto de venda

a um preço definido, por um período de tempo definido, de acordo com as

especificações acordadas entre as partes (comprador e vendedor). Um contrato de

Istisna pode ser estabelecido entre um banco e um empreiteiro, desenvolvedor ou

produtor, que permite ao banco efetuar pagamentos progressivos à medida que a

construção avança (avanço físico). O financiamento do Istisna é fornecido na

forma de pagamento antecipado por progresso ao cliente que constrói, fabrica,

constrói ou desenvolve o objeto de venda. Após a conclusão do projeto, o ativo é

entregue às partes que concordaram em receber o ativo.

O Parallel Istisna’ surge quando a parte que pretende receber a entrega fornece

um pagamento antecipado ao banco para envolver o construtor, o fabricante, o

contratado e o desenvolvedor.

Variações de expectativas de tempo e fluxo de caixa, entre o comprador e as partes

que entregam o objeto de venda, são formatadas pelo banco.

Princípios-chave do Istisna

• Envolve a compra de um item que ainda precisa ser construído, fabricado ou

desenvolvido.

• Os pagamentos pelo avanço físico são normalmente feitos em parcelas à medida

que a construção avança.

• Na conclusão do projeto, o ativo é entregue àqueles que originalmente o

encomendaram.

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• Parallel Istisna é onde aqueles que encomendam o ativo fazem pagamentos

progressivos para o financiador, pois o ativo é construído por outro contratado ou

desenvolvedor.

• Parallel Istisna permite qualquer incompatibilidade no tempo ou quantidade de

fluxos de caixa entre aqueles que encomendam o ativo e aqueles que o constroem.

50) Istána 'muwazi (Istisna paralelo'): veja acima.

51) Ju’alah – recebimento baseado em comissão.

52) Kafalah: é um contrato de garantia que fornece garantia em termos de

desempenho e valor quando o objeto da transação está exposto a mudanças

adversas devido a variações resultados. No financiamento ao comércio, uma

garantia bancária é emitida quando o proprietário das mercadorias libera a

responsabilidade pelos bens em nome de um terceiro. Tais garantias são

frequentemente utilizadas em casos de bens importados se apresentam variações

cambiais. O exportador sabe que as mercadorias serão pagas e o importador pode

ser obrigado a oferecer alguma forma de garantia e normalmente pagará uma taxa

pelo serviço. O objetivo de um contrato de Kafalah é facilitar o comércio

internacional.

Princípios-chave da Kafalah

• Envolve uma garantia ou garantia.

• Usado quando algo que está sendo comprado ou vendido pode mudar em valor

se exposto a condições adversas.

• Usado frequentemente ao importar/exportar mercadorias.

• Facilita o comércio internacional entre os países.

53) Kafil: fiador

54) Khiyar Al Majlis: Opção de sessão.

55) Khiyar Al Shart: Opção Condicional.

56) Madhhab: escolas da Lei Islâmica.

57) Madhahib: plural de Madhhab.

58) Mafsadah: mal e dano.

59) Maisir [Maysir]: jogo de azar.

60) Majallah al-ahkam al-adliyyah: o Código Civil Islâmico do Império Otomano.

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61) Makhatir: risco que é integral em qualquer negócio ou transações comerciais.

62) Maliki: escola particular de direito.

63) Marhun: Garantia prometida pelo vendedor.

64) Maqasid: objetivos e finalidades finais da Lei Islâmica.

65) Maslahah: o que é bom ou benéfico e de interesse público.

66) Mudarabah [Mudarabah, Mudharabah, Modaraba] (provedor de capital - Rabb

al-mal, empresário - Mudarib): um contrato de Mudarabah é um contrato de

participação nos lucros. Sob um contrato de Mudarabah, o provedor de capital

concorda em compartilhar os lucros entre eles e o empreendedor em uma

proporção ou porcentagem acordada.

(1) Como fonte de capital para um empreendimento comercial, um empresário

pode considerar a possibilidade de empreender um projeto comercial financiado

por fundos de um banco sob um contrato de Mudarabah. Se for agradável, o banco

fornece o financiamento ao empresário, com o entendimento de que ambas as

partes compartilharão os lucros do empreendimento

(2) Como uma atividade de depósito, o dinheiro depositado em um banco por um

indivíduo ou instituição sob um contrato de Mudarabah é tratado como um

investimento no banco pelo indivíduo ou instituição. O banco usará esse

investimento para ajudar a obter lucros de suas atividades de negociação, ou seja,

financiamento de indivíduos e empresários. Sob o contrato de Mudarabah, o

banco terá concordado em dar ao depositante uma parte de seus lucros em troca

do investimento, com base em uma taxa pré-acordada.

O financiamento de investimentos através da Mudarabah é um compromisso de

participar do risco associado a empreendimentos comerciais, com o objetivo de

compartilhar o lucro gerado a partir de um determinado empreendimento. As

partes do contrato de Mudarabah só se beneficiarão se o empreendimento for

bem-sucedido. Caso o projeto falhe, o financiador perderá seu investimento,

enquanto o empresário perderá apenas o tempo e o esforço gastos no projeto.

Em geral, as condições impostas e acordadas por ambas as partes limitam a

mobilização dos fundos arrecadados sob esse tipo de contrato, como o

agrupamento com outros fundos, tipos de negócios ou investimentos, bem como

a divisão de lucros e perdas entre os fundos. No caso de uma conta de poupança,

geralmente é adotado um contrato de Mudarabah sem condições e restrições, que

é destinado a investidores públicos e de varejo. Mudarabah, ao contrário do

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Musharakah, não autoriza o provedor de capital para uma função executiva na

gestão do empreendimento.

Princípios-chave de Mudarabah

• Contrato de participação nos lucros.

• Os retornos dependem de um lucro ganho.

• Condições podem ser aplicadas para o que o investimento possa ser usado.

• Requer um compromisso de participar do risco associado ao empreendimento

comercial.

• O empresário perde apenas o tempo e o esforço gastos no projeto, onde o

financiador assume a perda financeira.

• Não autoriza o financiador a opiniar alguma na execução do empreendimento.

67) Mudarabah muqayyadah: Esse tipo de contrato é usado em contas bancárias

específicas conhecidas como contas de investimento restrito, em que o banco atua

como um agente para o(s) investidor(es) simplesmente agindo de acordo com suas

instruções. Aqui, os fundos depositados com base no contrato de Mudarabah

nunca estão realmente sob o controle do banco porque o(s) depositante(s)

determinam a maneira como, onde e para que finalidade os fundos devem ser

investidos.

A mescla dos fundos arrecadados sob esse tipo de contrato com o acionista do

banco e outros fundos de depósito é geralmente restrita ou proibida.

Os retornos distribuídos aos titulares de contas de investimento baseiam-se em um

índice (percentual) de participação nos lucros previamente acordado e limitado

aos retornos obtidos em uma carteira de investimentos específica designada

envolvendo os fundos acordados pelos titulares das contas de investimento.

Qualquer distribuição entre o banco e o depositante estará de acordo com uma

relação de participação nos lucros acordada.

Os lucros ou rendimentos distribuíveis para os beneficiários do Mudarabah são

derivados do desempenho de ativos de financiamento designados ou de

investimentos administrados pelo banco.

Princípios-chave da Mudarabah muqayyadah

• As instituições financeiras atuam como empreendedores ou agentes de

investidores.

• Os investidores decidem onde os fundos serão investidos.

• A mistura de fundos é restrita ou proibida.

• Os retornos pagos aos investidores vêm apenas dos retornos obtidos nos

investimentos especificados.

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68) Mudarabah mutlaqah: ao contrário de Mudarabah muqayyadah, este contrato

refere-se a contas de investimento em que o titular da conta autoriza totalmente o

banco a investir os fundos sem restrições impostas pelo titular da conta e está de

acordo com os princípios e regras de Sharia. Os fundos são reunidos com os

fundos de acionistas do banco e outros depósitos para facilitar o financiamento e

os investimentos do banco. Os retornos dependem do nível de lucros obtidos e são

compartilhados e distribuídos entre as diferentes classes de titulares de contas de

investimento com base em diferentes horizontes de investimento de um a 60

meses ou mais. Normalmente, os retornos aos titulares de contas de investimento

são calculados e provisionados mensalmente. O titular da conta de investimento

deve enviar uma notificação por escrito aos bancos islâmicos antes da retirada dos

fundos e um período mínimo de notificação é necessário. Os lucros ou

rendimentos de Mudarabah que podem ser distribuídos a titulares de contas de

investimento irrestrito são derivados do desempenho dos ativos de financiamento

e investimentos do banco.

Princípios-chave Mudarabah mutlaqah

• As instituições financeiras estão totalmente autorizadas a investir fundos

depositados sem restrições.

• Mistura de fundos pode ocorrer.

• Os retornos pagos aos investidores vêm apenas dos retornos obtidos em todos os

investimentos da instituição financeira.

• Os retornos pagos aos investidores dependem da classe e horizonte de tempo do

investimento.

69) Mujtahid: a pessoa que realiza Ijtihad Mumalah [mumalat] - transação financeira.

70) Muqasah: compensação.

71) Murabahah: um contrato Murabahah refere-se a um custo acrescido de transação

de mark-up entre as partes.

O financiamento de Murabahah é o modo predominante de financiamento de

ativos realizado por um grande número de bancos islâmicos. Representa uma

parcela significativa do financiamento bancário islâmico de financiamento de

ativos a curto ou longo prazo. Sob este contrato, um acordo de três partes é feito

quando o cliente faz um pedido com a instituição financeira para comprar

mercadorias de um fornecedor. O cliente pode pagar uma caução com a instituição

financeira e o montante do financiamento pendente pode ser garantido sob a forma

de garantia ou garantia. A instituição financeira, tendo comprado as mercadorias

do fornecedor, as vende ao cliente a um preço de crédito incluindo margem de

lucro, com um período de crédito fixo. A natureza da relação entre comprador e

vendedor é baseada no princípio da confiança (Amanah), mencionado

anteriormente, em que o vendedor ao comprar as mercadorias de seu fornecedor

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329

deve divulgar honestamente ao cliente o preço de custo real da compra, antes de

vender o produto. ativo para o cliente sob um Murabahah.

Sob este contrato, o cliente está sempre ciente da margem de lucro, ou seja, ela é

definida antecipadamente e paga o preço de venda de Murabahah em uma base de

parcela ou no final do período de financiamento. A margem ou lucro acordado no

preço não muda durante o período. Portanto, há um teto de preço para o

financiamento de Murabahah para garantir a certeza no preço. Os descontos

podem ser concedidos para liquidação antecipada, desde que a cláusula de

desconto não seja contratualmente documentada no contrato. Por outro lado, a

provisão para multas por pagamentos inadimplentes poderia ser incluída no

contrato como uma forma de compensação, mas para ser distribuída a instituições

de caridade, já que a provisão é apenas para deter o comportamento de risco. O

banco pode tomar parte desse dinheiro de compensação para cobrir o custo real

incorrido pelo banco devido à inadimplência. Compensação por perda de custo de

oportunidade ou custo de fundos não é aceitável.

Princípios chaves de Murabahah

• Custo mais uma margem (mark-up).

• Geralmente envolve uma instituição financeira, o cliente e um fornecedor

terceirizado.

• Baseado em uma relação de confiança entre as partes.

• Pode ser garantido por garantia ou garantia.

• Define um preço fixo entre o financiador e o cliente.

• O preço é pago durante um período de tempo acordado.

• Pagamentos antecipados são permitidos e podem resultar em uma redução do

preço total cobrado.

As penalidades podem ser aplicadas por atraso no pagamento como um

impedimento.

72) Murabahah-tawarruq: contrato para conversão em dinheiro.

73) Murabahah li al-amir al-shira: Murabahah para o comprador.

74) Musawamah: venda negociada, um tipo geral de venda em que o preço da

mercadoria a ser negociada é negociado entre o vendedor e o comprador sem

qualquer referência ao preço pago ou ao custo incorrido pelo vendedor.

75) Musawamah, Tawliyah: venda negociada a um preço previamente acordado.

76) Musharakah [Musyarakah]: um contrato Musharakah é uma forma de

investimento de parceria de capital. É semelhante ao investimento de capital em

um mercado de capitais convencional, mas os investimentos feitos devem ser

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limitados a ações e títulos financeiros ou outros ativos que sejam consistentes com

os princípios da Sharia.

Note-se que os contratos de parceria vêm em três formas, nomeadamente Shirkah

al-Amal (parceria de trabalho), Shirkah al Wujoh (parceria de reputação) e Shirkah

al-Amwal (parceria de capital).

O financiamento de Musharakah é baseado em Shirkah al-Amwal (parceria do

capital). Como uma forma de financiamento baseado em capital, como o

financiamento de investimento de Mudarabah, o financiamento Musharakah é

um compromisso do financiador de participar dos riscos associados a

empreendimentos comerciais. Musharakah também significa uma empresa

conjunta na qual todos os parceiros compartilham os lucros ou perdas do

empreendimento. Embora o índice de participação nos lucros possa ser negociado,

o índice de participação nos lucros deve ser sempre proporcional à contribuição

de capital. Também permite que a instituição se envolva na decisão executiva

sobre administração, operações e gerenciamento da atividade empresarial. A

instituição financeira seria capaz de mitigar qualquer forma de risco operacional,

assumindo um elemento de controle na condução dos negócios.

O mecanismo de financiamento Musharakah opera com base na contribuição de

capital para um projeto ou ativo existente ou potencial definido. O valor do

financiamento pendente pode aumentar ou diminuir dependendo das demandas de

financiamento durante o período de financiamento. A qualquer momento, a

contribuição de capital pendente fornece a base para determinar o índice de

participação nos lucros ou perdas. Como um acordo de participação nos lucros e

perdas, Musharakah toma várias formas, dependendo da contribuição de capital

das partes e do seu esforço na gestão do empreendimento. Musharakah é

considerada a forma mais flexível de reivindicação financeira de capital que pode

ser adotada para vários setores econômicos, incluindo serviços, produção e

distribuição.

Princípios-chave de Musharakah

• Contrato de participação nos lucros e perdas.

• O financista investe no empreendimento.

• Requer que os participantes trabalhem em parceria.

• A instituição financeira ou credor tem a prerrogativa de interferir no

funcionamento do projeto.

• Relaciona-se a um projeto ou ativo específico.

• Os retornos dependem de um lucro ganho.

• Permite que o nível de financiamento pendente flutue para cima ou para baixo.

• Requer um compromisso de participar do risco e perda associados a um

empreendimento comercial.

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77) Musharakah mutanaqisah: é uma variedade de contrato Musharakah, onde o

termo Mutanaqisah significa "diminuir". Assim, Musharakah mutanaqisah,

também referido como Musharakah “diminuto”, significa uma forma de parceria

que cria uma via para o provedor de capital reduzir ou ficar livre da propriedade

conjunta após o período de investimento inicial ter sido satisfeito. Como

mencionado acima, um contrato normal de Musharaka permite níveis flutuantes

de investimento, mas um contrato Musharakah mutanaqisah se refere

especificamente a um investimento redutor.

78) Musharakah decrescente: fornece uma avenida para a instituição financeira

reduzir sistematicamente a sua exposição durante o período de financiamento,

com o resgate planejado e programado do valor da contribuição. Esta forma de

financiamento é frequentemente utilizada na compra de uma casa sob a forma de

uma joint venture.

O financiador contribui com a maior parte do preço da casa com o cliente

individual contribuindo com o saldo restante. A joint venture aceita pagamentos

de aluguel do indivíduo que agora está morando na casa. A locação é dividida

entre a instituição financeira e o comprador de imóveis, com a participação do

comprador, em direção ao resgate ou à diluição da participação do financiador.

Princípios-chave de Musharakah mutanaqisah

• Como com Musharakah acima.

• Permite uma diminuição planejada do investimento até o ponto em que o

financiador sai do empreendimento.

• Financia efetivamente o cliente para adquirir um ativo por meio de um esquema

de joint venture.

79) Parallel Istisna '- ver Istisna': dois contratos operados em paralelo.

80) Parallel Salam - ver Salam: dois contratos operados em paralelo.

81) Qard Hassan: empréstimo benevolente.

82) Qiyas: analogia.

83) Qiyas al-tard: extensão de uma regra legal de um caso para outro devido a uma

similaridade material.

84) Rahn: penhor.

85) Ramadã: é o nono mês do calendário islâmico, no qual os muçulmanos praticam

o seu jejum ritual (saum) o quarto dos cinco pilares do Islamismo. A palavra

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Ramadã encontra-se relacionada com a palavra árabe ramida, “ser ardente”,

possivelmente pelo fato de o Islamismo ter celebrado este jejum pela primeira vez

no período mais quente do ano. É um tempo de renovação da fé, da prática mais

intensa da caridade, e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida

familiar. Neste período pede-se ao crente maior proximidade dos valores

sagrados, leitura mais assídua do Corão, frequência da oração na mesquita,

correção pessoal e autodomínio. É o único mês mencionado pelo nome no Corão.

86) Ra'y: opinião pessoal.

87) Riba: juros ou usura.

88) Sukuk: De acordo com a definição oficial da AAOIFI, os sukuks consistem em

certificados de igual valor que representam frações indivisíveis da propriedade de

ativos tangíveis, usufruto e serviços ou da propriedade de ativos de projetos

específicos ou atividades de investimento especial (AAOIFI, 2010). Já o IFSB os

define como certificados que representam uma fração dos direitos de propriedade

sobre ativos tangíveis, sobre um conjunto de ativos predominantemente tangíveis

ou sobre empreendimentos específicos (IFSB, 2009).

Sua origem e sua formatação remontam a antigas práticas verificadas no califado

omíada, ainda no primeiro século do Islã (ou seja, século VII no calendário

cristão), época em que era comum a emissão e negociação de títulos

representativos de mercadorias, que conferiam aos seus adquirentes direitos sobre

frações ou lotes de commodities (sobretudo grãos), sendo, inclusive, usados como

meio de pagamento. Apesar de suas raízes antigas, a concepção dos sukuk como

instrumento de captação e aplicação de recursos nos mercados financeiros

islâmicos é algo bastante recente. Sua utilização como títulos financeiros

negociáveis somente ganhou força a partir de 1988, quando o Conselho da

Academia Internacional de Jurisprudência Islâmica, da OIC, baseada na

interpretação de um trecho do Corão, editou uma resolução reconhecendo, que,

desde que observadas algumas condições, esses certificados de investimento são

de fato compatíveis com a Sharia.

A remuneração dos emprestadores é feita de forma diferente. Primeiro, a empresa

que busca recursos atrela um de seus ativos ao sukuk. Esse ativo é repassado ao

emprestador, que se beneficia por meio do lucro gerado por ele. No final, o ativo

é vendido novamente para o emissor do sukuk.

89) Takaful: O takaful é um arranjo de natureza contratual por meio do qual um grupo

de pessoas, de comum acordo, pactua a realização de contribuições periódicas

para a formação de um fundo destinado a arcar com os prejuízos decorrentes de

riscos previamente pactuados sobre bens ou interesses específicos. Trata-se, na

verdade, de uma forma bastante peculiar de um contrato que, no Ocidente, é

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conhecido como seguro cooperativo, seguro mútuo ou, ainda, como socorro

mútuo, cuja finalidade essencial é criar meios para viabilizar o rateio, por

determinado grupo de pessoas expostas às mesmas espécies de risco, dos prejuízos

sofridos em decorrência destes.

90) Usul al-fiq: Teoria jurídica islâmica fornecendo princípios e diretrizes sobre

interpretação.

91) Wa'd: é um recurso anexado a um contrato e é uma promessa unilateral de uma

parte a outra, vinculando a parte que faz a promessa. Em transações de

financiamento, esse recurso garante que a transação será executada de acordo com

as especificações do contrato. Por exemplo, um importador que tem exposição a

transações de câmbio em termos de pagamento de importações em moeda

estrangeira mediante entrega de mercadorias pode proteger o risco de valorização

de moeda estrangeira, assumindo uma promessa de comprar a moeda estrangeira

no futuro que corresponda à exposição real. ao risco cambial da transação de

importação no momento da entrega.

Princípios fundamentais de Wa'd

• Envolve uma promessa unilateral feita por uma parte a outra.

• Vincula o promitente para cumprir alguma obrigação no futuro.

• Garante que o contrato seja cumprido conforme estabelecido nos termos.

92) Wadiah [Wadi'ah]: custódia segura.

93) Wadiah yad dhamanah: garantia de contratos, por meio de um depósito.

94) Wakalah: é um contrato entre um agente e um diretor. Este contrato permite ao

agente prestar serviços e receber uma taxa (Ujrah). Por exemplo, em um caso em

que o importador solicita uma carta de crédito baseada em Wakalah, o importador

autorizará o banco a emitir a carta de crédito em seu nome para o banco do

exportador. O banco emissor atuará como o agente para processar a emissão da

carta de crédito e para isso irá impor uma taxa no importador pelos serviços

prestados.

Princípios-chave do Wakalah

• Envolve um contrato de agência entre um agente e o principal.

• Usado como uma instalação para permitir que transações ocorram.

• O agente recebe uma taxa (Ujrah) por seus serviços.

95) Wakalah fi al-istithmar: um investimento da Wakalah.

96) Wakil: agente.

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97) Waqf: dotação permanente.

98) Wasiyyah: contratação futura.

99) Zahiris: literalistas, ou seja, aqueles que aderem ao significado literal do Corão.

100) Zakat [Zakah]: é uma forma de imposto religioso sobre a riqueza excedente dos

muçulmanos. Baseia-se na riqueza que excede o quantum especificado por um

período definido (quando relevante) e destina-se aos pobres e necessitados, bem como

a outros beneficiários especificados mencionados no Corão. É o terceiro pilar do Islã

e é obrigatório para os muçulmanos que têm recursos financeiros para cumprir tais

obrigações. Os métodos de cálculo do Zakat são prescritos para facilitar a

determinação do que constitui a riqueza da Zakat, bem como a taxa prescrita. No caso

de fundos de investimento ou depósito, não há data específica definida para o

pagamento do Zakat, mas ele deve ser pago em toda a riqueza acumulada para o

período de 12 meses lunares. O Zakat não é pago sobre o valor da casa, mobiliário,

transporte do indivíduo, nem é pago em jóias pessoais.

Princípios-chave do Zakat:

• Imposição religiosa sobre a riqueza dos muçulmanos que possuem acima de um

certo nível de ativos específicos.

• Pagável em todo o patrimônio acumulado para o período de 12 meses lunares.

• Não pagável em itens especificados que tenham caráter pessoal.

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an

k K

SC

P

2)

Wa

rba

Ba

nk

3)

Ku

wa

it I

nte

rna

tio

na

l B

an

k

ww

w.b

ankb

oub

yan

.co

m

ww

w.w

arb

aban

k.c

om

ww

w.k

ib.c

om

.kw

1)

Na

tio

na

l B

an

k o

f K

uw

ait

2)

Co

mm

erci

al

Ba

nk

of

Ku

wa

it

3)

Gu

lf B

an

k

ww

w.n

bk.c

om

ww

w.c

bk.c

om

ww

w.e

-gu

lfb

ank.c

om

Om

ã

1)

Al

Izz

Isla

mic

Ba

nk

2)

Na

tio

na

l B

an

k o

f O

man

3)

Ba

nk

Niz

wa

ww

w.a

lizz

isla

mic

.co

m

ww

w.n

ob

.om

ww

w.b

ank

niz

wa.

om

1)

Om

an

Ara

b B

an

k

2)

Ba

nk

Mu

sca

t

3)

HS

BC

Ba

nk

Om

an

ww

w.o

manar

abb

ank.c

om

ww

w.b

ank

mu

scat

.co

m

ww

w.h

sbc.

co.o

m

Page 337: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

33

7

AP

ÊN

DIC

E B

– E

vid

ênci

as

no

Corã

o e

Hadit

h d

a p

rom

oçã

o d

a R

SC

Fo

nte

do

Co

rão e

Had

ith

V

alo

res

pa

ra a

Prá

tica

Em

pre

sari

al

Va

lore

s p

ara

a P

ráti

ca d

a R

SC

O S

anto

Pro

feta

dis

se:

“Eu s

ere

i o

inim

igo

de

três

pes

soas

no

dia

do

julg

am

ento

,

send

o u

ma

del

as q

uem

quand

o e

le e

mp

rega

um

a p

esso

a q

ue

ten

ha

cum

pri

do

seu

dev

er,

não

lhe

o d

evid

o "

(Al

Buk

har

i, n

. 2

10

9).

- “N

en

hu

m á

rab

e te

m s

up

erio

rid

ade

sob

re u

m n

ão á

rab

e e

nen

hu

m n

ão á

rab

e te

m

algu

ma

sup

erio

rid

ade

sobre

um

ára

be;

nenh

um

a p

esso

a neg

ra t

em

sup

erio

rid

ade

sob

re u

ma

pes

soa

bra

nca

e n

enh

um

a p

esso

a b

ranca

tem

sup

erio

rid

ade

sob

re u

ma

pes

soa

neg

ra.

O c

rité

rio

de

ho

nra

ao

s o

lho

s d

e D

eus

é a

just

iça

e a

vid

a ho

nest

a ”

(dec

lara

ção

do

pro

feta

Muham

mad

.

Tra

tam

ento

just

o a

o e

mp

regad

o,

igual

dad

e

de

op

ort

unid

ades

e c

om

po

rtam

ento

não

dis

crim

inat

óri

o

Res

po

nsa

bil

idad

e co

m o

s F

un

cio

nár

ios

Deu

s go

sta

que

quand

o a

lguém

faz

alg

um

a co

isa,

dev

e se

r fe

ito

per

feit

am

ente

. E

xce

lência

e q

ual

idad

e no

tra

bal

ho

R

esp

onsa

bil

idad

e d

o e

mp

regad

or

- U

ma

vez

que

ele

se v

ira

par

a tr

ás,

ele

se m

ove

pel

a te

rra

tenta

nd

o e

spal

har

des

ord

em,

e d

estr

uir

a l

avo

ura

e o

est

oq

ue;

e A

lla

h n

ão g

ost

a d

e d

eso

rdem

(C

orã

o,

2:

20

5).

- Ó

fil

ho

s d

e A

dão

! P

egue

seu

ad

orn

o e

m t

od

as a

s m

esq

uit

as:

co

ma

e b

eba,

e n

ão

seja

extr

avag

ante

; C

erta

mente

Ele

não

go

sta

do

extr

avagan

te ”

(C

orã

o 7

:31

).

- "E

não

faç

a d

ano

na

terr

a, d

epo

is d

e te

r si

do d

efin

ido

em

ord

em,

e in

vo

cá-l

o c

om

med

o e

esp

eran

ça;

Cer

tam

ente

, a

mis

eric

órd

ia d

e A

lla

h e

stá

(sem

pre

) p

róxim

a d

os

bem

-ed

uca

do

s ”(

Co

rão

, 7

:56

).

- “S

e a

Ho

ra F

inal

(A

l-Q

iam

ah)

cheg

ar,

e u

m d

e vo

cês

tiv

er u

ma

sem

ente

ira

de

pal

ma

na

mão

e e

stiv

er a

o s

eu a

lcan

ce p

lanta

r, e

ntã

o d

eixe-o

faz

ê-lo

” (N

arra

do

por

Ah

med

, H

adit

h N

o.1

2.6

89).

Imp

ort

ânci

a d

e se

pro

teger

o m

eio

am

bie

nte

R

esp

onsa

bil

idad

e so

bre

o m

eio

am

bie

nte

- "Ó

meu

po

vo

, ap

erfe

iço

e a

med

ida

e o e

quil

íbri

o c

om

a j

ust

iça

e não

dei

xe

as

pes

soas

aq

uém

das

suas

cois

as,

e n

ão p

ross

iga

pel

a d

eso

rdem

que

se e

spal

ha

na

terr

a (C

orã

o, 1

1:

85

).

- "A

quel

e q

ue

trap

acei

a não

é u

m d

e nó

s" (

dit

o d

o P

rofe

ta M

uham

mad

- o

re e

paz

sob

re E

le).

Ho

nes

tid

ade

e tr

ansp

arên

cia

na

cond

uçã

o

das

tra

nsa

ções

co

mer

ciai

s R

esp

onsa

bil

idad

e co

m o

s C

liente

s e

Fo

rnec

edo

res

- ".

.. n

ão s

up

eram

um

ao

ou

tro

em

par

a au

menta

r o

pre

ço,

não

entr

ar e

m u

ma

tran

saçã

o q

uand

o o

utr

os

já e

ntr

aram

em

ess

a tr

ansa

ção

e s

er t

ão i

rmão

s u

m a

o o

utr

o

(Diz

eres

do

pro

feta

Mu

ha

mm

ad

)

Just

iça

nas

nego

ciaç

ões

co

ntr

atu

ais

Res

po

nsa

bil

idad

e co

m o

s ac

ionis

tas

(sh

are

ho

lder

s) e

dem

ais

par

tes

inte

ress

adas

(st

ake

ho

lder

s)

Page 338: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

33

8

- A

aq

uis

ição

de

con

hec

imen

to é

um

dever

que

cab

e a

tod

o m

uçulm

ano

, ho

mem

e

mu

lher

(d

ito

do

pro

feta

Mu

ham

mad

).

Imp

ort

ânci

a d

a b

usc

a d

e co

nh

ecim

ento

,

pes

quis

a e

des

envo

lvim

ento

, ati

vid

ades

cien

tífi

cas

e p

rogra

ma

de

trei

nam

ento

Res

po

nsa

bil

idad

e p

elo

pro

gra

ma

de

des

envo

lvim

ento

pes

soal

do

funcio

nár

io e

to

da

equip

e d

e co

lab

ora

dore

s

- “N

ão é

just

iça

que

vir

e o

ro

sto

par

a o O

rien

te e

par

a o O

cid

ente

; m

as

just

o é

aq

uel

e

que

acre

dit

a em

All

ah

e n

o Ú

ltim

o D

ia e

os

anjo

s e

as E

scri

tura

s e

os

pro

feta

s; e

riq

uez

a, p

or

amo

r a

Ele

, a

par

ente

s e

órf

ãos

e ao

s nec

essi

tad

os

e via

jante

s, e

àq

uel

es

que

ped

em

e l

iber

am

esc

ravo

s; e

ob

serv

a ad

ora

ção

ad

equad

a e

pag

a ao

s p

ob

res

dev

ido

.

E a

quel

es q

ue

mantê

m s

eu t

rata

do

quan

do

faz

em

um

, e

o p

acie

nte

na

trib

ula

ção

e

adver

sid

ade

e te

mp

o d

e es

tres

se. T

ais

são

aq

uel

es q

ue

são

sin

cero

s. T

ais

são

os

que

tem

em

a D

eus

” (C

orã

o 2

: 1

77).

Just

iça

eco

mic

a p

ara

tod

as a

s ca

mad

as

soci

ais

Res

po

nsa

bil

idad

e co

m a

Co

munid

ade

- “E

se

o d

eved

or

esti

ver

em

cir

cun

stân

cias

dif

ícei

s, e

ntã

o (

haj

a) a

dia

mento

par

a (o

tem

po

de)

tra

nq

uil

idad

e; e

qu

e re

met

es a

dív

ida

com

o e

smo

la s

eria

mel

ho

r p

ara

ti

se n

ão s

oub

esse

s ”

(Co

rão

, 2

: 2

80

).

To

lerâ

nci

a co

m o

dev

edo

r q

uan

do

est

e

esti

ver

pas

sand

o p

or

dif

iculd

ades

R

esp

onsa

bil

idad

e co

m o

s D

ev

edo

res

- “V

ocê

s, q

ue

cree

m,

seja

m d

efen

sore

s d

a ju

stiç

a -

test

em

unhas

de

All

ah

, em

bo

ra

contr

a (o

inte

ress

e d

e) v

ocê

s m

esm

os

ou o

s p

ais

e o

s p

aren

tes.

Um

po

de

ser

rico

ou

po

bre

; A

llah

é m

elho

r cu

idad

or

de

amb

os.

Po

rtan

to,

não

sig

a o

s d

esej

os,

par

a não

se d

esvia

r. S

e vo

cê to

rce

ou e

vit

a (a

evid

ênci

a), en

tão

, A

lla

h e

stá

tod

o c

iente

do

que

vo

cê f

az ”

. (C

orã

o,

4:1

3)

Pro

mo

ção

da

Just

iça

So

cial

R

esp

onsa

bil

idad

e co

m a

So

cied

ade

- “A

lla

h d

iz: E

u s

erei

um

op

on

ente

a trê

s p

esso

as

no

dia

do

ju

lgam

ento

: A

quel

e q

ue

faz

um

pac

to e

m M

eu n

om

e, m

as e

le s

e m

ost

ra t

raiç

oei

ro,

e q

ue

ven

de

um

a p

esso

a

livre

(co

mo

esc

ravo

) e

com

e o

pre

ço e

aq

uel

e q

ue

em

pre

ga

um

tra

bal

had

or

e re

ceb

e

o t

rab

alho

co

mp

leto

feit

o p

or

ele,

mas

não

lhe p

aga

salá

rio

s ”

(Sah

ih A

l-B

uk

har

i,

Vo

l. 3

: H

adit

h N

o.

2).

Pro

mo

ção

da

Just

iça

So

cial

en

tre

a

Co

mun

idad

e R

esp

onsa

bil

idad

e co

m o

Funcio

nár

io e

Co

mu

nid

ade

- V

ocê

s, q

ue

acre

dit

am

, não

dev

ora

m a

pro

pri

edad

e uns

do

s o

utr

os

po

r m

eio

s fa

lso

s,

a m

eno

s q

ue

seja

um

co

mér

cio

co

nd

uzi

do

co

m o

seu c

onse

nti

men

to m

útu

o.

Não

mat

e u

m a

o o

utr

o. D

e fa

to, A

lla

h t

em s

ido

muit

o m

iser

ico

rdio

so c

om

vo

cê. (C

orã

o,

4:

29

)

Ho

nes

tid

ade

com

a g

est

ão d

a ri

quez

a e

neg

óci

os

com

erci

ais

Res

po

nsa

bil

idad

e so

cial

na

cond

uçã

o e

ges

tão

do

s

neg

óci

os

com

erci

ais

-Qual

quer

pes

soa

que

acre

dit

a e

m A

lla

h e

no

Dia

do

Juíz

o n

ão d

eve

pre

jud

icar

o

seu p

róxim

o,

e q

uem

acr

edit

a em

All

ah

e o

Dia

do

Juíz

o d

evem

entr

eter

seu

co

nvid

ado

gener

osa

mente

, e

qual

quer

um

que

acre

dit

ar e

m A

lla

h e

no

Dia

do

Juíz

o d

eve

fala

r o

qu

e é

bo

m o

u f

icar

quie

to

(ou s

eja,

ab

ster

-se

de

tod

o t

ipo

de

mal

e c

on

ver

sa s

uja

) (A

l-B

uk

har

i, V

ol.

8).

,

Had

ith N

o.4

7).

Pro

mo

ção

da

Éti

ca e

m S

oci

edad

e

Res

po

nsa

bil

idad

e S

oci

al c

om

a C

om

unid

ade

Page 339: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

33

9

- “E

ntã

o,

ob

serv

e ta

qw

a (

tota

l o

bed

iênci

a a

All

ah

em

res

pei

to a

Ele

) ta

nto

quanto

vo

cê p

ud

er,

ouça

, o

bed

eça

e g

aste

(no

cam

inho

de

All

ah

), s

end

o b

om

par

a vo

cê.

E

os

que

são

sal

vo

s d

a ganânci

a d

o s

eu c

ora

ção

são

bem

-suce

did

os

” (C

orã

o 6

4:1

6).

- O

Pro

feta

Mu

ha

mm

ad

(S

.A.W

.S.)

dis

se: “T

od

o m

uçulm

ano

dev

e p

agar

a s

ad

aqa

h

(car

idad

e).”

Entã

o o

s C

om

panhei

ros

per

gu

nta

ram

: “Q

ue

tal

alg

uém

que

não

tem

nad

a p

ara

dar

? ”

O P

rofe

ta r

esp

ond

eu:

“Entã

o d

eix

e-o

faz

er a

lgo

co

m a

s d

uas

mão

s e

se b

enefi

ciar

.

Isso

ser

á ca

rid

ade

”. O

co

mp

anhei

ro p

ergun

tou n

ovam

ente

: “

Mas

e s

e el

e não

pud

er

faze

r is

so? ”

O P

rofe

ta r

esp

ond

eu:

“ E

ntã

o e

le p

od

e aj

ud

ar a

lguém

que

é ca

rente

”.

No

vam

ente

o c

om

pan

hei

ro p

ergu

nto

u:

“ E

se

ele

não

pud

er f

azer

iss

o? ”

O P

rofe

ta r

esp

ond

eu:

“Entã

o e

le d

eve

ord

enar

o b

em. ”

O c

om

pan

hei

ro p

ergun

tou n

ovam

ente

: “M

as

e se

ele

não

pud

er f

azer

iss

o? ”

O P

rofe

ta d

isse

que:

“E

ntã

o e

le d

ever

ia d

ar d

esca

nso

do

mal

, p

ois

est

a é

um

a fo

rma

de

cari

dad

e. ”

(H

adit

h n

arra

do

por

Al-

Bu

khar

i, H

adit

h,

No

.22

5).

Fil

antr

op

ia

Res

po

nsa

bil

idad

e co

m o

s F

un

cio

nár

ios

e a

Co

mun

idad

e

Fo

nte

: A

dap

tad

o d

e M

oham

med

(2

00

7),

Zak

aria

(2

00

9)

e Z

akar

ia e

Aru

n (

20

15

).

Page 340: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

34

0

AP

ÊN

DIC

E C

- H

ipóte

ses

da P

esq

uis

a

V

ari

áv

eis

Hip

óte

ses

Vari

áv

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cio

na

da

s a

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on

selh

o d

e

Ad

min

istr

açã

o (

CA

)

H1

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

o t

aman

ho

do

CA

H2

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

a c

om

po

siçã

o d

o g

êner

o d

o C

A

H3

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

a c

om

po

siçã

o d

o C

A

H4

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

o n

úm

ero

de

reu

niõ

es d

o C

A

H5

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

a d

ual

idad

e d

o C

EO

.

H6

Exis

te u

ma

rela

ção p

osi

tiva

entr

e a

div

ulg

ação

da

RS

C e

a p

arti

cip

ação

cru

zad

a d

os

mem

bro

s

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Page 341: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

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0.227

Nega

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345

APÊNDICE H – Ranking do Nível de Divulgação da RSC por País

Bancos Islâmicos Bancos Convencionais

Nome Posição País Nome Posição País

Al Rajhi Bank 1º Arábia Saudita Al Khaliji Bank 1º Catar

Boubyan Bank 2º Kuwait Qatar National Bank 2º Catar

Masraf Al Rayan 3º Catar Gulf International Bank 3º Bahrein

Qatar Islamic Bank 4º Catar Arab Bank plc 4º EAU

Albaraka Banking Group 5º Bahrein Samba Financial Group 5º Arábia Saudita

Al Izz Islamic Bank 6º Omã Standard Chartered Bank 6º Bahrein

Bank Nizwa 7º Omã The Alawwal Bank 7º Arábia Saudita

Alinma Bank Public 8º Arábia Saudita Askari Bank 8º Bahrein

Kuwait International Bank 9º Kuwait National Bank of Fujairah 9º EAU

National Bank of Oman 10º Omã Commercial Bank International 10º EAU

Al Hilal Bank PJSC 11º EAU Bank Al Habib 11º Bahrein

Barwa Bank 12º Catar The Saudi British Bank 12º Arábia Saudita

Arcapita Bank B.S.C. 13º Bahrein MCB Bank 13º Bahrein

Doha Bank 14º Catar HSBC Middle East Bahrain 14º Bahrein

Bank AlJazira JSC 15º Arábia Saudita Banque Saudi Fransi 15º Arábia Saudita

Bahrain Islamic Bank B.S.C. 16º Bahrein Qatar Development Bank 16º Catar

Warba Bank 17º Kuwait Abu Dhabi Commercial Bank 17º EAU

Bank of Bahrain 18º Bahrein Finansbank 18º Bahrein

Ibdar Bank BSC 19º Bahrein Union National Bank 19º EAU

Bank AlBilad 20º Arábia Saudita Canara Bank 20º Bahrein

Doha Bank 21º Catar Emirates NBD 21º EAU

ABC Islamic Bank (E.C.) 22º Bahrein Denizbank 22º Bahrein

Qatar International Islamic Bank 23º Catar BPB Paribas 23º Bahrein

Al-Salam Bank-Bahrain B.S.C. 24º Bahrein Union National Bank 24º EAU

Noor Bank 25º EAU Standard Chartered Bank Catar 25º Catar

National Bank of Bahrain BSC 26º Bahrein Alled Bank Corporation 26º Bahrein

Ithmaar Bank B.S.C. 27º Bahrein National Bank of Kuwait 27º Kuwait

Venture Capital Bank BSC 28º Bahrein HDFC Bank 28º Bahrein

Bank Alkhair B.S.C. 29º Bahrein First Gulf Bank 29º EAU

Khaleeji Commercial Bank 30º Bahrein Gulf Bank 30º Kuwait

Investment Dar Bank 31º Bahrein Mashreq Bank 31º Bahrein

Habib Bank BSC 32º Bahrein Oman Arab Bank 32º Omã

Emirates Islamic Bank PJSC 33º EAU Maybank 33º Bahrein

Ahli United Bank BSC 34º Bahrein HSBC Qatar 34º Catar

Sharjah Islamic Bank 35º EAU The Commercial Bank of Qatar 35º Catar

Amlak Finance PJSC 36º EAU HSBC Bank Oman 36º Omã

Mashreq Al Islami 37º EAU State Bank of India 37º Bahrein

Gulf Finance House BSC 38º Bahrein Bank Muscat 38º Omã

Abu Dhabi Islamic Bank 39º EAU United Bank Limited 39º Bahrein

Dubai Islamic Bank PJSC 40º EAU Commercial Bank of Kuwait 40º Kuwait

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pri

r ta

is a

tivid

ades

.

Est

e q

uad

ro f

oi

des

envo

lvid

o c

om

bas

e na

no

rma

de

mer

o 7

do

AA

OIF

I (2

01

0),

dis

po

nív

el e

m:

htt

p:/

/aao

ifi.

com

/sta

nd

ard

/acc

ounti

ng

-sta

nd

ard

s/?la

ng=

en

Cla

ssif

ica

ções

D

imen

sões

(P

rin

cip

ais

Ite

ns

de

Div

ulg

açã

o)

Su

bit

ens

Co

nd

uta

ob

rig

ató

ria

de

div

ulg

açã

o

1)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Sel

eção

de

Cli

ente

s

i) D

isp

osi

ções

esp

ecíf

icas

da

po

líti

ca d

e se

leçã

o d

e cl

iente

s, i

ncl

uin

do

os

crit

ério

s uti

liza

do

s p

ara

med

ir o

cu

mp

rim

ento

da

Sh

ari

a.

ii)

Co

mp

rovaç

ão d

e q

ue

essa

Po

líti

ca d

e S

eleç

ão f

oi

apro

vad

a p

elo

CS

S.

2)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Tra

tam

ento

do

s C

liente

s

i) P

roce

dim

ento

da

IFI

par

a ev

itar

a i

mp

osi

ção

de

cláu

sula

s co

ntr

atuai

s o

ner

osa

s a

clie

nte

s q

ue

se e

nco

ntr

am

em

po

siçã

o

de

bar

gan

ha

mai

s fr

aca

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rel

ação

ao

IF

I.

ii)

Gar

anti

r q

ue

cam

panhas

e d

ocu

men

tos

de

mar

ket

ing s

ejam

eti

cam

ente

bal

ance

ado

s.

iii)

A o

bri

gaç

ão e

os

dir

eito

s d

e am

bas

as

par

tes.

iv)

Pro

cess

os

e te

rmo

s e

cond

içõ

es r

esp

onsá

vei

s so

b o

s q

uai

s o

cré

dit

o é

est

end

ido

ao

cli

ente

, in

cluin

do

o p

roce

sso

pel

o

qual

a c

apac

idad

e d

e p

agam

ento

do

cli

ente

e o

efe

ito

no

bem

-est

ar f

inance

iro

e g

eral

do

cli

ente

são

aval

iad

os.

v)

Os

recu

rso

s d

isp

onív

eis

no

cas

o d

e u

ma

ou a

mb

as

as p

arte

s vio

lare

m s

uas

em

pre

sas

con

trat

uai

s.

vi)

O p

arec

er d

o C

SS

so

bre

a a

dm

issi

bil

idad

e d

e co

bra

nça

de

taxas

de

pag

am

ento

atr

asad

o.

vii

) T

axas

de

pag

am

ento

atr

asad

as i

mp

ost

as a

os

clie

nte

s.

vii

i) C

om

o a

IF

I al

oca

o a

tras

o n

o p

agam

ento

, en

carg

os

em

sua

conta

(al

oca

ção

par

a re

ceit

a o

u c

arid

ade)

.

ix)

As

cond

içõ

es s

ob

as

quai

s a

IFI

vai

ad

iar

a co

bra

nça

de

dív

idas

de

clie

nte

s in

solv

ente

s.

3)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Gan

ho

s e

Per

das

pro

ibid

as p

ela

Sh

ari

a

i) D

escr

ição

agre

gad

a, v

alo

res,

cla

ssif

icaç

ão d

a co

nta

(re

ceit

a, d

esp

esa,

pas

sivo

ou a

tivo

) e r

azão

par

a re

aliz

ar o

s ti

po

s

de

tran

saçõ

es.

ii)

O v

ered

ito

do

SS

B s

ob

re a

nec

essi

dad

e d

as t

ransa

ções

.

iii)

Co

mo

o I

FI

pre

tend

e d

isp

or

de

tais

qu

anti

as.

iv)

A e

stra

tégia

do

IF

I p

ara

enco

ntr

ar a

lter

nat

ivas

per

mis

síveis

viá

vei

s, s

e ho

uver

, p

ara

tran

saçõ

es n

o f

utu

ro.

4)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

o

Bem

-Est

ar d

os

Fu

nci

onár

ios

i) D

isp

osi

ções

da

po

líti

ca,

incl

uin

do

gru

po

s d

esfa

vo

reci

do

s.

ii)

Met

as p

ara

real

izaç

ão d

e at

ivid

ades

no

ano

.

iii)

Raz

ão p

ara

alte

raçã

o d

as m

etas

par

a ci

ma

ou p

ara

bai

xo

.

5)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

o

Za

kat

I) A

div

ulg

ação

dev

e se

r fe

ita

par

a o

Za

kat,

nas

dem

onst

raçõ

es f

inan

ceir

as,

de

aco

rdo

co

m a

s d

isp

osi

ções

das

No

rmas

de

Rel

ató

rio

Fin

ance

iro

N º

: 1

e N

º:

9 d

o A

AO

IFI.

Page 347: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · Mohammed Yousif El Khatib (in memorian) levado dessa vida, precocemente, aos meus cinco anos de idade. Tenho certeza de

34

7

Cla

ssif

ica

ções

D

imen

sões

(P

rin

cip

ais

Ite

ns

de

Div

ulg

açã

o)

Su

bit

ens

Co

nd

uta

vo

lun

tári

a d

e

div

ulg

açã

o

1)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Des

envo

lvim

ento

So

cial

e d

e

Mei

o A

mb

iente

i. D

ivu

lgaç

ão d

as C

lass

es d

o in

ves

tim

ento

p

or

final

idad

e fi

nal

/

ben

efi

ciár

io d

e in

ves

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ento

s (e

xem

plo

: ó

rfão

s,

des

envo

lvim

ento

de

PM

Es,

cult

ura

isl

âm

ica

e re

duçã

o n

a ex

plo

raçã

o m

adei

reir

a, r

eduçã

o d

e gas

es d

e ef

eito

est

ufa

am

bie

nta

is a

um

enta

m e

m r

ecic

lagem

, ci

ênci

a e

tecno

logia

).

ii.

A r

enta

bil

idad

e d

e ta

l in

ves

tim

ento

par

a o

ano

.

iii.

Met

a e

real

izaç

ões

par

a o

ano

.

iv.

Raz

ão p

ara

revis

ões

das

met

as

2)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Açõ

es d

e R

eduçã

o d

e ef

eito

s no

Mei

o A

mb

iente

i. E

stab

elec

imento

de

dir

etri

zes

par

a to

da

a o

rgan

izaç

ão s

ob

re o

uso

efi

ciente

e m

ínim

o d

e re

curs

os

não

ren

ovávei

s.

ii. In

icia

tivas

par

a ed

uca

r o

s fu

nci

onár

ios

a u

sar

recu

rso

s não

ren

ováv

eis

de

form

a ef

icie

nte

e a

um

enta

r o

uso

de

recu

rso

s

reno

váv

eis

.

iii.

Ince

nti

vo

s e

inic

iati

vas

par

a en

contr

ar a

lter

nat

ivas

ao

s re

curs

os

não

ren

ovávei

s d

e en

ergia

e m

ater

iais

par

a o

per

açõ

es

(po

r ex

emp

lo:

extr

ato

s b

ancá

rio

s p

or

e-m

ail

ao

in

vés

vez

de

extr

ato

s b

ancá

rio

s em

pap

el).

iv.

Ince

nti

vo

s e

inic

iati

vas

par

a re

cicl

ar f

onte

s re

no

váv

eis

de

mat

eria

is d

entr

o d

a o

rgan

izaç

ão.

3)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e

Ate

nd

imen

to c

om

Exce

lênci

a ao

s

Cli

ente

s

i. M

edid

a to

mad

a p

elo

s ges

tore

s p

ara

o m

elho

r at

end

imento

ao

s cl

iente

s e

pes

quis

as e

mo

nit

ora

mento

s co

nst

ante

s q

ue

dem

onst

rem

a m

elh

ori

a.

4)

Div

ulg

ação

de

Po

líti

cas

par

a

mic

ro e

peq

uen

as e

mp

resa

s e

po

up

ança

so

cial

e i

nves

tim

ento

s

i. D

ivulg

ação

do

s re

curs

os

dis

po

nív

eis

par

a P

ME

s.

iii.

Med

idas

to

mad

as p

ela

adm

inis

traç

ão p

ara

imp

lem

enta

r as

dis

po

siçõ

es d

a p

olí

tica

.

iv.

Co

tas

/ m

eta

e co

nq

uis

tas

do

ano

.

v.

Raz

ões

par

a re

vis

ões

nas

met

as d

o a

no

.

5)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e Q

ard

Ha

san

i. S

e exis

te u

m e

squem

a fo

rmal o

per

ado

pel

o b

anco

par

a d

epo

sita

nte

s, a

cio

nis

tas

e o

utr

as p

arte

s p

ara

colo

car

seus

fund

os

par

a o

uso

de

mutu

ário

s d

e Q

ard

Ha

san

.

ii.

Dis

po

siçõ

es d

a p

olí

tica

/ e

squem

a in

cluin

do

co

nd

içõ

es p

ara

aquel

es q

ue

não

pud

erem

par

a p

agar

os

emp

rést

imo

s.

iii.

Fo

nte

s d

e fi

nanci

am

ento

par

a em

pré

stim

os

Qa

rd H

asa

n.

iv.

Fin

alid

ades

agre

gad

as p

ara

as q

uai

s o

s em

pré

stim

os

Qa

rd H

asa

n f

ora

m f

eito

s.

v.

Met

a p

ara

aum

enta

r o

fin

anci

am

ento

inte

rno

e e

xte

rno

do

Qa

rd H

asa

n e

co

nq

uis

tas

par

a o

ano

a e

ste

resp

eito

.

vi.

Raz

ões

par

a re

vis

ões

das

met

as e

stab

elec

idas

.

6)

Div

ulg

ação

de

Po

líti

ca d

as

ativ

idad

es d

e ca

rid

ade.

i. C

lass

es ag

regad

as d

e at

ivid

ades

b

enef

icente

s p

elo

s b

enef

iciá

rio

s fi

nai

s e

quanti

as

dis

trib

uíd

as p

ara

cad

a cl

ass

e

agre

gad

a.

ii.

Met

as e

rea

liza

ções

par

a o

ano

.

iii.

Raz

ões

par

a re

vis

ões

das

met

as e

stab

elec

idas

.

7)

Div

ulg

ação

da

Po

líti

ca d

e W

aq

f i.

Tip

os

de

Wa

qf

ger

enci

ado

s p

ela

IFI.

ii.

Ser

viç

os

finance

iro

s e

outr

os

ofe

reci

do

s ao

Wa

qf.