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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP LUCIENE OLIVEIRA DA COSTA SANTOS LEITURA DIGITAL E SENTIDOS DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA São Paulo 2017

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP ... Oliveira da... · LEITURA DIGITAL E SENTIDOS Tese em andamento apresentada à Banca de Defesa da Pontifícia Universidade

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

LUCIENE OLIVEIRA DA COSTA SANTOS

LEITURA DIGITAL E SENTIDOS

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

São Paulo

2017

LUCIENE OLIVEIRA DA COSTA SANTOS

LEITURA DIGITAL E SENTIDOS

Tese em andamento apresentada à Banca

de Defesa da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, para obtenção do

título de Doutora em Língua Portuguesa, sob

orientação do Prof. Dr. João Hilton Sayeg de

Siqueira.

São Paulo

2017

Resumo

As diversas formas de comunicar em ambientes de hipermídia adquirem uma

relevância tal que mostram o quanto é presente a necessidade se desenvolver mais

pesquisas nesse âmbito. Diante disso, este trabalho volta-se para a leitura em

ambiente de rede e o estudo sobre a coerência em hipertextos, sem esquecer o fato

de que está inserida no cotidiano dos sujeitos. Assim, os objetivos desta tese

mostram-se em investigar a leitura no ambiente de hipermídia e refletir sobre a

coerência para construção de sentidos nesse suporte, considerando os aspectos

específicos dos hipertextos. A partir da observação de fragmentos extraídos de um

portal de notícias da internet, este trabalho apresenta definições exemplificadas da

coerência no hipertexto. O aporte teórico se dá em Dascal (2006), Elias (2011),

Hilgert (2005), Koch (2005, 2007, 2008), Koch e Travaglia (2008), Koch e Elias

(2011) Marcuschi (2012, 2007), Van Dijk (2012), entre outros. Há destaque para as

noções de que a coerência de um texto é uma construção que demanda alguns

aspectos como inteligibilidade e interpretabilidade (KOCH; TRAVAGLIA, 2008) e de

que não apenas os conhecimentos linguísticos são importantes na coerência, mas

também outros conhecimentos do leitor como conhecimento enciclopédico

(conhecimento de mundo guardado na memória), conhecimento de textos (para

ativar modelos preexistentes), conhecimentos interacionais (para ativar as práticas

de interação) (KOCH; ELIAS, 2011), pois é principalmente no âmbito mais amplo do

texto que se manifesta na estruturação de sentidos (MARCUSCHI, 2012). Os

resultados deste estudo evidenciam que a coerência se constrói para além dos

elementos linguísticos, estando ligada à interação. Numa visão global, o título

mantém relação com a notícia e com os comentários dos internautas que formam

uma sequência lógica dentro do próprio hipertexto que, ao mesmo tempo, depende

de intenções comunicativas e elementos extralinguísticos para produzir sentido.

Palavras-chave: Leitura. Hipertexto. Interação. Construção de Sentido. Coerência.

Abstract

The several forms of communicating in hypermedia atmospheres acquire a suc

relevance that show the all is present the need to grow more researches in that

extent. Before that, this work goes back to the reading in net atmosphere and the

study on the coherence in hypertexts, without forgetting the fact is inserted in the

daily of the subjects. The objectives of this theory are shown in to investigate the

reading in the hypermedia atmosphere and to contemplate on the coherence for

construction of senses in that support, considering the specific aspects of the

hypertexts. Starting from the observation of fragments of a portal of news of the

internet, this work presents exemplified definitions of the coherence in the hypertext.

The theoretical contribution feels in the Dascal (2006), Elias (2011), Hilgert (2005),

Koch (2005, 2007, 2008), Koch and Travaglia (2008), Koch and Elias (2011)

Marcuschi (2012, 2007), Van Dijk (2012) and others. There is prominence for the

notions that the coherence of a text is a construction that demands some aspects as

intelligibility and interpretable (KOCH; TRAVAGLIA, 2008 and that not just the

linguistic knowledge are important in the coherence, but also the reader’s other

knowledge as encyclopedic (work knowledge kept in the memory) knowledge,

knowledge of text (to activate preexistent models), knowledge interactional (to

activate the practices) (KOCH; ELIAS, 2011), because it in mainly in the widest

extent of the text than shows in the structuring of senses (MARCUSCHI, 2012). The

results of this study evidence that the coherence is built for besides the linguistic

elements, being linked to the interaction. In a global vision, the title maintains

relationship with the news and comments of the peoples form a logical sequence

inside of the own hypertext that, at the same time, it depends on communicative

intentions and elements extralinguistics to produce sense.

Keyword: Reading. Hypertext. Interaction. Construction of sense. Coherence.

BANCA EXAMINADORA

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Sumário

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 – LEITURA NO MEIO VIRTUAL 15

1.1 – Leitura na era da tecnocracia 15

1.2 – Texto, leitura e conhecimento científico 20

1.2.1 – Texto Digital e Hipertexto 25

1.2.2 – Princípios de textualidade no hipertexto e exemplos extraídos do site de

notícias Yahoo 28

CAPÍTULO 2 – HIPERTEXTO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 37

2.1 – Novas tecnologias e o ensino de Língua Portuguesa 38

2.2 – O hipertexto como lugar de interação 40

CAPÍTULO 3 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE CONSTRUÇÃO DE

SENTIDO 43

3.1 – Aspectos sociocognitivos e interacionais na construção de sentido 43

3.2 – Coerência no Hipertexto 54

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA 63

4.1 – A origem da ideia 63

4.2 – A pesquisa 65

4.3 – A composição do corpus e a proposta do estudo 66

4.4 – Categorias 82

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE 84

5.1 – Análise 84

5.2 – Resultados e Discussão 90

CONCLUSÃO 92

REFERÊNCIAS 98

8

INTRODUÇÃO

O mundo é regido por contradições e mudanças nas quais valores mudam,

interesses se transformam, uns são extintos, outros surgem, antigos eventos dão

lugar a novos fenômenos. Hoje, por exemplo, a língua escrita nos meios virtuais de

comunicação é parte do cotidiano das pessoas. E não apenas isso. A vida dos

usuários dos meios digitais é influenciada de forma direta pelo conteúdo recebido

em matéria escrita por tais meios. Admite-se, inclusive, que cada nova geração

cresça mais voltada para a comunicação digital do que a geração anterior. Essas

gerações são formadas pelos chamados nativos digitais (PRENSKY, 2001), cujas

formas de lidar com a língua e de construir o conhecimento já diferem dos não

nativos digitais.

Esse novo meio, o ambiente digital, exige do sujeito inserção por meio de

práticas e formula para si mesmo a capacitação para uso. Isso se explica através do

aspecto interativo do mundo virtual: quem precisa dele depende da sua direta

utilização, ou seja, suas funções são assimiladas quando praticadas. Além disso, é

um recurso de informação global e de contínuo trabalho que torna o acesso às

informações mais viável e cujos processos de interlocução passam a ter, por causa

do mundo virtual, uma universalização nunca antes ocorrida.

A vivência contemporânea impulsiona amplas possibilidades de acesso à

informação e ao aprendizado global por meio da palavra no meio virtual. É

importante pesquisar as relações existentes entre textos virtuais e o processo de

construção de sentidos. Há muito para se descobrir, por exemplo, em textos de

portais digitais de notícias, sobre como surgem diferentes interpretações do que está

escrito, uma vez que existem peculiaridades de construção de sentidos no hipertexto

que o tornam diferente de um texto de leitura linear, ou de um texto impresso.

A invenção de cada nova tecnologia no mundo é sempre reflexo de

necessidades sociais do momento histórico. Podem ser citados como exemplos

disso o próprio surgimento da escrita, a criação da imprensa – contemporânea do

momento em que as línguas nacionais se consolidaram –, o telégrafo, o cinema etc.,

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que repercutiram soluções para as necessidades humanas de determinadas épocas

e não excluíram umas as outras, mas coexistiram e coexistem até hoje, pois a

sociedade humana acomoda o fenômeno de que as mídias, mesmo em diversidade,

conquistam e mantêm seus espaços, ou seja, não são excludentes. E assim nasceu

a escrita digital.

Hoje, mais do que nunca, a contemporaneidade vive a necessidade de

convergência de saberes de forma tão intensa e urgente que o meio virtual pode ser

capaz de corresponder ao que se espera. A formação articulada e inclusiva das

sociedades se dá ao longo da história e por meio de um material simbólico

indispensável: a língua. Ela, incorporada à criação de novas formas de escrita,

marca o presente de forma diferenciada de séculos anteriores, pois agora há o

acesso facilitado à informação e à comunicação em ambiente virtual.

O século XXI será marcado pela conclusão da InfoviaGlogal, pela telecomunicação móvel e pela capacidade da informática, descentralizando e difundindo o poder da informação, concretizando a promessa da multimídia e aumentando a alegria da comunicação interativa. (CASTELLS, 2000, p. 430)

O sujeito contemporâneo, escolarizado, habitante dos meios urbanos ou

não, no Brasil e no mundo, utiliza frequentemente a escrita digital para se comunicar

de forma instantânea e estar inserido socialmente, pois “[...] a comunicação não

existe por si mesma, como algo separado da vida da sociedade. Sociedade e

comunicação são uma coisa só. Não poderia existir comunicação sem sociedade,

nem sociedade sem comunicação” (BORDENAVE, 1997, p. 16).

[...] a comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes globais. Então, a sua lógica chega a países de todo o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia. Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica do que o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes são seletivas de acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. De facto, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social. (CASTELLS, 2005, p. 18)

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Nesse cenário, o contato com os textos virtuais pode definir até, por

exemplo, qual será a rotina de um profissional se, antes de sair de casa, ele acessa

mensagens do Facebook, do WhatsApp, do e-mail, ou textos dos portais de notícias.

Hoje, isso pode fazer diferença entre ser bem ou mal sucedido em qualquer tipo de

relação, nas relações profissionais, afetivas etc. E, se por um lado, as mídias não

são por si mesmas excludentes, por outro lado, é preciso que todos possam

participar do mundo através delas para manter-se incluído e participante da

sociedade.

A cultura da atualidade está intimamente ligada à ideia de interatividade, de interconexão, de inter-relação entre homens, informações e imagens dos mais variados gêneros. Essa interconexão diversa e crescente é devida, sobretudo, à enorme expansão das tecnologias digitais na última década. Com o forte crescimento da oferta e consumo de produtos ditos de última geração, já não se pode mais falar do futuro que bate às nossas portas, mas simplesmente de alguns novos hábitos disseminados entre milhões de pessoas por todo o mundo. (COSTA, 2003, p. 8)

É por direito antropológico que a humanidade se apropria de um patrimônio

cultural. É isso que ocorre, por exemplo, na aquisição de habilidades como a escrita

e a utilização de meios virtuais de comunicação: a internet expande o saber comum

e o sujeito, que passa a ser um internauta, recorre à intertextualidade de forma

ampliada.

A língua em ambiente virtual revela estratégias comunicativas voltadas tanto

para a transmissão como para a renovação da cultura humana. Em outras palavras,

a linguagem escrita em texto virtual adapta-se não apenas ao propósito de dar

continuidade ao conhecimento, mas também ao de transformá-lo.

Observar o entendimento do sujeito sobre o que escreve, o que compreende

daquilo que lê, quando e como escreve, de que forma ocorre sua compreensão,

especialmente nas interações em ambientes digitais requeridas atualmente, pode

conduzir a descobertas sobre a construção de sentidos. As experiências do sujeito

podem resultar diferentes interpretações, pois os sentidos são negociados a partir

daquilo que o emissor diz e o que entende o receptor. Isso, que depende de

aspectos histórico-interacionais, revela a importância das pistas de contextualização

apresentadas ao longo do texto, pois são elas que direcionam o sujeito à construção

de sentidos. É preciso compreender as peculiaridades da linguagem no espaço

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digital, considerando a competência comunicativa do sujeito, e não apenas isso, mas

também as relações entre o cotidiano do produtor de escrita digital e o processo de

construção de sentido em ambientes virtuais.

Analisar o processo de construção de sentidos na escrita em ambiente

virtual pode revelar detalhes sobre essa escrita, o sujeito e suas relações com o

mundo. Afinal, o contato com o texto em ambiente virtual exige do sujeito a

capacidade de escolha e direção de informações a partir do que compreende e do

que elege relevante. Em outras palavras, o ambiente é interativo. Acrescenta-se a

esse fato, a descoberta de que a relação com a escrita é influenciada pela relação

com o contexto linguístico – por isso essa noção de contexto e sua importância

estão desenvolvidas, logo mais, nos segmentos posteriores neste trabalho.

Já na relação histórico-cultural, cujo processo de construção do saber

vincula-se à abordagem entre sujeito e objeto, a influência do mundo exterior é

manifestada no interior do sujeito. Uma vez que pensar é associado ao falar com a

mente – ou seja, que a consciência humana é a interiorização do diálogo – o centro

da questão encontra-se no caráter essencialmente social do pensamento.

Também se explica o aspecto interativo do mundo virtual pelo fato de que

quem precisa dele depende da direta utilização do meio, ou seja, depende da

aplicação de suas funções para aprendê-las. Nesse sentido, sua relação com a

língua escrita é evidente, pois tanto os meios digitais como a palavra escrita existem

na construção do conhecimento humano a partir de seus usos.

O texto virtual é especificamente estruturado sobre relações, sobre

conexões. Diferente do que se tinha como ambiente de escrita, o meio virtual implica

a compreensão de novo modo de escrita, de novas práticas, novos processos de

construção de conhecimento. Isso porque não é finito seu espaço, não é linear sua

leitura, entre outras características que podem ser encontradas, por exemplo, em um

texto impresso. Como disse Marcuschi (2004), “[...] todas as tecnologias

comunicacionais novas geram ambientes e meios novos”. Novidade de meios exige

novidade de observação e práticas.

A consciência humana existe sobre a base das relações dialógicas internas

e externas a si mesma. Em outras palavras, as formações discursivas na mente

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humana não existem sozinhas. Elas são formadas por diversas vozes originadas da

interação social para, assim, poderem refletir a postura ideológica do sujeito

(BAKHTIN, 1997, p. 36,37). E ainda, quando se trata de texto, também não se

excluem essas concepções, mas ampliam-se:

[...], na concepção interacional, (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores\construtores sociais, o texto passa a ser o próprio lugar da interação e os interlocutores, sujeitos ativos que – dialogicamente – nele se constroem e por ele são construídos. A produção de linguagem constitui atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer não apenas a mobilização de um vasto conjunto de saberes, mas também a sua reconstrução – bem como a dos próprios sujeitos – no momento da interação verbal. (KOCH, 2008, p. 19)

Sobre a escrita, pode-se dizer que é um processo de interlocução, de

diálogo, que se estabelece entre o sujeito e o texto. Nele, as palavras ganham

significados, valores que variam de acordo com as vivências, as experiências, enfim,

todo o universo cultural dos sujeitos. A escrita possui suas características

específicas e a própria relação dela com o tempo é específica e diferente da relação

mantida pela fala. A continuidade da escrita – aspecto determinado pelo tempo

dedicado à sua elaboração – produz para si relações subjetivas. Pode-se ainda

refletir sobre contextualização, enunciação, hierarquização dentro de textos escritos:

“[...] a escrita se constitui sob a égide da interação, se pensarmos que é sempre

possível escolhas quanto ao modo de dizer e que as escolhas se dão em função dos

sujeitos envolvidos nesse processo e dos objetivos pretendidos” (ELIAS, 2011, p.

162).

O ambiente digital não contradiz a cultura vigente, mas o representa. Das

novas lógicas exigidas para a estrutura da escrita digital e a construção de seus

textos surgem estratégias de interação também sob novos pontos de vista. No

entanto, os processos cognitivos do sujeito, em relação a esse tipo de texto, não são

novos. Mesmo antes de os modelos digitais entrarem no cenário mundial, tais

processos já buscavam seus links na memória humana de curto, médio e longo

prazo. Isso quer dizer que, psicofisiologicamente, a maneira de o sujeito lidar com a

escrita digital é de sua capacidade intelectual inata, ou seja, a mente humana já

nasce preparada para as habilidades exigidas pelo ambiente virtual. Os

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pesquisadores de hoje, inclusive, usufruem de uma oportunidade ímpar em relação

a tempos anteriores: a facilidade de acesso a informações pela internet – ela os

aproxima dos fenômenos sociais sem necessariamente depender do deslocamento

físico. Os pesquisadores podem observar pela internet “[...] o mundo social, em

todo seu desarranjo e complexidade, na soleira de sua porta.” (FRAGOSO et al.,

2013, p.11).

Há de se esclarecer, entretanto, que os métodos empregados nas pesquisas

contemporâneas não precisam ser substituídos, ou abandonados, mas adaptados

em seus processos e técnicas (FRAGOSO et al., 2013).

A partir disso, nesta tese, objetiva-se, em sentido geral, investigar como os

sujeitos que utilizam meios virtuais de comunicação constroem o sentido dos textos

que leem. Afinal, há traços distintivos importantes em cada texto em formato digital,

repletos de funções e significados. Por isso esta pesquisa parte da questão sobre

como se dá a compreensão em textos de portais digitais de notícias, buscando,

especificamente, entender como acontece o processo de construção de sentidos

nessa escrita digital.

Dessa forma, os procedimentos adotados para esta pesquisa não podem ser

baseados apenas em estudo bibliográfico de perspectiva interpretativo-

hermenêutica, pois requerem a constituição de um corpus específico. Assim, além

de um levantamento de literatura especializada no tema proposto, a constituição do

corpus se faz de textos digitais poliautorais compostos por comentários de

interlocutores, coletados de portais digitais de notícias.

Por esta ser uma pesquisa qualitativa, pretende-se obter as bases teóricas

sobre o processo de construção de sentidos em textos digitais, por meio de uma

amostra não probabilística por conveniência (THIOLLENT, 1996). Em outras

palavras, significa dizer que esta pesquisa preocupa-se em compreender fenômenos

humanos em seus significados.

Procura-se, então, analisar o processo de compreensão de sentido dos

interlocutores em textos de portais digitais de notícias; descrever o papel do contexto

no processo de construção de sentido em textos escritos pelos interlocutores em

portais digitais de notícias e identificar as pistas de contextualização em textos

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escritos pelos interlocutores em portais digitais de notícias e sua relação com o

processo de construção de sentidos.

Sobre o universo a ser pesquisado, serão abordados também aspectos

históricos e sociais, para se compreender como os comentários escritos dos

interlocutores em portais digitais de notícias revelam a compreensão dos artigos

lidos, especificamente do corpus constituído por textos poliautorais produzidos nas

situações de interação.

Os capítulos deste trabalho estão organizados da seguinte forma: Capítulo

1, Leitura no Meio Virtual, o qual aborda conceitos de tais habilidades nesta época

regida pela tecnologia digital, conceitos diferenciais de texto digital e hipertexto,

princípios de textualidade hipertextual a partir de exemplos extraídos de um portal da

internet; Capítulo 2, Hipertexto e Ensino de Língua Portuguesa, que apresenta

preocupações sobre as novas tecnologias e o ensino de Língua Portuguesa –

segmento que se justifica pelo propósito global deste trabalho em contribuir para a

educação brasileira –, como o hipertexto solicita novas práticas e forma de leitura,

em que nível de importância está a interação na leitura hipertextual; Capítulo 3,

Considerações Teóricas sobre Construção de Sentido, o qual traz abordagens

teóricas voltadas para o processo de construção de sentido, especificamente

sociocognitivas e interacionais, e desenvolve a noção de coerência a partir de um

exemplo hipertextual; Capítulo 4, Metodologia, no qual constam os nortes

metodológicos e epistêmicos seguidos da construção de categorias de análise;

Capítulo 5, Análise, em que são analisados os segmentos do corpus de pesquisa

com base nas categorias formuladas; Conclusão, em que se conclui ...; Referências,

a qual apresenta a lista do acervo consultado e pesquisado que serviram de aporte

teórico para esta tese composto por livros, artigos impressos e digitais.

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CAPÍTULO 1 – LEITURA NO MEIO VIRTUAL

Na leitura, os sentidos emanam da inter-relação do que emana do texto, do

leitor, do autor etc. e em várias direções. Um dos entendimentos sobre leitura revela

que a sequência do processo de ler se dá da seguinte forma: um autor pressupõe

um leitor para quem escreve e assim elabora o texto que, por sua vez, será lido pelo

leitor real. Esse procedimento não é diferente em texto virtual, mas requer em maior

grau a capacidade de seleção e direcionamento do leitor para o propósito da leitura

que, por sua vez não é uma leitura linear. A leitura de texto virtual é mais objetiva e

rápida do que a leitura em texto impresso.

Percebe-se que um novo meio e um novo ambiente para a leitura de texto

subentendem novas estratégias de interação e, apesar disso, há de se destacar que

não novos os processos cognitivos, pois a mente humana já ativava seus links na

memória mesmo antes do surgimento das tecnologias virtuais. Por isso é necessário

estudar como são engendradas as construções de sentido na leitura desse tipo de

texto. Afinal, tal leitura, contemporânea de uma enorme evolução tecnológica, revela

suas novas formas, as quais convergem em direção a sistemas cada vez mais

híbridos e interativos. Como disse Marcuschi (2004), “[...] todas as tecnologias

comunicacionais novas geram ambientes e meios novos”.

1.1 – Leitura na era da tecnocracia

Ao se tratar de construção de sentidos em texto, seja em qualquer âmbito de

pesquisa, é coerente abordar aspectos da leitura, ainda que de forma breve. Isso

porque esse processo, em sim mesmo, subentende a existência de um leitor, visto

que tal tecnologia foi criada com o intuito, não apenas de registrar, mas também de

transmitir significados. E embora haja uma enorme diversidade de textos e estudos

que tratem de leitura, este capítulo traz uma reflexão sobre essas habilidades,

especificamente, no campo da virtualidade da web.

Uma vez que o conhecimento humano e as pesquisas científicas devem

acompanhar as demandas sociais, deve-se compreender em nível mais profundo

como se dá a leitura de hipertexto e quais princípios os envolve, pois é intensa a

utilização do meio virtual por todos os seguimentos da sociedade. Dessa forma, é

importante entender os pontos de vista e conceitos que regem a leitura a partir da

utilização do hipertexto, o qual se apresenta fundamentalmente baseado na

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interação. Além disso, a pertinência temática deste estudo verifica-se quando se

entende que, diferente do que se tinha como meio de linguagem em momentos

anteriores, o meio virtual implica, no hipertexto, a compreensão de novo modo de

leitura, de novas práticas, de novos processos de construção de conhecimento.

Enfim, há, dentre várias, três questões fundamentais que se destacam aqui: de que

maneira o hipertexto demanda novas práticas e novas estruturas de linguagem e,

por assim dizer, nova forma de leitura; como se dá a influência do contexto sobre o

hipertexto; e, sobretudo, em que nível de importância está a interação na leitura do

hipertexto.

Adquirir a habilidade de leitura, no âmbito hipertextual, torna-se condição

sine qua non para o sujeito participante da sociedade nesta era. Isso porque a

revolução atual que envolve a tecnologia da linguagem escrita verbal alcança

patamares tão intensos que o ato de ler, agora, não se traduz apenas pela

compreensão de estruturas formadas exclusivamente por palavras ou palavras

associadas a imagens estáticas, pois a estrutura híbrida do texto virtual proporciona

estímulos multissensoriais.

Antonio Carlos Xavier (MARCUSCHI; XAVIER, 2010) defende que a

sociedade atual vive sob “uma nova ordem mundial”, a qual chama de tecnocracia

pela imposição tecnológica digital extensiva ao formato de texto que se apresenta

hoje: o hipertexto. Xavier ainda ressalta que há “[...] possibilidades de mudanças nos

processos de leitura por causa do uso intenso das novas tecnologias de

comunicação, especialmente do hipertexto on-line.” (MARCUSCHI; XAVIER, 2010,

p. 207). Dessa forma, é interessante, aqui, recapitular alguns entendimentos sobre

leitura, bem como aspectos do texto em ambiente virtual, pois este capítulo destaca

níveis de questionamento que envolvem as tecnologias empregadas no cotidiano

das pessoas, a interação humana e a evolução das habilidades que envolvem a

linguagem escrita verbal.

Um pequeno comentário comparativo em relação ao fenômeno humano da

leitura na História, sobretudo na História da Educação posterior à Idade Média, dá a

noção da significativa evolução dessa habilidade até hoje. Essa mudança, iniciada

principalmente no Renascimento – quando os interesses em se alfabetizar o povo

foram intensos –, foi também confirmada nos séculos XVIII e XIX, cujos contextos

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históricos faziam da modalidade escrita da língua elementos cotidianos da parcela

letrada da população. Por ser o predomínio da população de analfabetos, a

habilidade de ler concedia prestígio aos seus detentores. O domínio da leitura,

nesse período, denotava conhecimento elevado e os estudiosos da época

ultrapassavam as fronteiras da alfabetização e do letramento em busca de uma

formação humanista. E, embora, não se trate este de um trabalho de cunho

histórico, refletir sobre essas transformações colabora para a compreensão das

demandas sociais e, consequentemente, do avanço tecnológico.

A leitura sofreu expansão no decorrer do tempo – tornou-se condição para

inclusão social na maioria das culturas – e, associada à evolução tecnológica,

passou a incluir novos meios. Em outras palavras, significa dizer que as tecnologias

empregadas na interação humana inevitavelmente conduziram o homem a uma

adaptação, ou evolução, de suas habilidades. É a partir disso que se pode entender

que a vivência contemporânea revela a criação de novas formas de leitura,

mediadas por sistemas cada vez mais híbridos e convergentes, nos quais espaço e

tempo nem sempre são os mesmos entre os interlocutores – considerando-se

aspectos sociocognitivos e interacionais.

É nessa circunstância que se insere a leitura em ambiente virtual, a qual cria

para si mesma novas formas de construir sentido. Essa leitura em ambiente virtual,

por assim dizer, não ocorre de forma linear, entre outras características que a

distinguem, mas permanece com sua base na interação. Ou seja, embora as

tecnologias mudem, e, embora a leitura em ambiente virtual apresente traços

distintos, ela permanece com seus aspectos sociais e cognitivos básicos, ao mesmo

tempo em que se adapta às transformações dos meios.

Em sequência ao que se entende sobre leitura, no sentido amplo, ela pode

ser concebida como a habilidade de atribuir significados a algo. Por outro lado, a

leitura não está resumida à mera decodificação, pois ela se relaciona ao processo

de construção textual, para muito além da alfabetização. Nesse âmbito, o texto lido

não é um produto acabado, mas, por comportar aspectos externos ao sujeito que o

lê, torna-se um campo de trabalho sociocognitivo e interacional profundo e vasto.

Do ponto de vista do sujeito que produz o texto a ser lido, leitura pode ser

compreendida como:

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[...] uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que “tudo está dito no dito”. Se na concepção anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenções do autor, nesta concepção, cabe-lhe o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do texto. Em ambas, porém, o leitor é caracterizado por realizar uma atividade de reconhecimento, de reprodução. (KOCH & ELIAS, 2011, p.10)

Já a compreensão, nesse trabalho mental do sujeito que lê, não se restringe,

por sua vez, à decodificação, mas sim à criação de sentidos, direcionada pelas

condições sociais e históricas das quais ele fez ou faz parte, pois os sentidos são

elaborados da inter-relação daquilo que emana do texto, do leitor e do autor etc.,

ocorrendo simultaneamente e em várias direções. Com base na interação e nos

sujeitos (autor e leitor), a leitura é um processo relacionado ao conhecimento de

mundo e experiências do leitor, e baseia-se em estratégias cognitivas para a

construção de sentido. Especificamente, a construção de sentido de um texto é uma

atividade que depende da atuação do leitor, o qual parte de um modelo internalizado

em sua memória.

Entre os vários entendimentos sobre leitura, um deles revela que a

sequência do processo de ler se dá da seguinte forma: um autor pressupõe um leitor

para quem escreve e assim elabora o texto que, por sua vez, será lido pelo leitor

real. O autor jamais pode assegurar toda a polissemia do texto, mas o leitor real

pode assegurar o nível de legibilidade do texto, pois é com base na historicidade e

na ideologia que poderá construí-la em determinado grau.

Nesse caso, vale dizer que a leitura está limitada pelas idéias [sic] de interpretação e compreensão, como processos de instauração de sentidos, que estarão na dependência de diferentes gestos de interpretação, compromissados com diferentes posições do sujeito, com diferentes formações discursivas, com distintos recortes de memória, tanto podendo, por isso, estabelecer como deslocar sentidos. (CASSANO, 2003, p. 65)

Esse procedimento não é diferente em um texto virtual. No entanto, no

âmbito hipertextual, a leitura requer em maior grau a capacidade de seleção e

direcionamento do leitor para seu propósito que, por sua vez, não é uma leitura

linear. A leitura de um texto virtual pode ser mais objetiva e rápida do que a leitura

de um texto impresso, mas não menos complexa. Afinal, o novo meio e o novo

ambiente para a leitura de texto subentendem as novas estratégias de interação das

quais esta pesquisa também se ocupa com o objetivo de seguir à defesa de que há

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um novo processo de construção de sentido no campo hipertextual. Mas é preciso

destacar, como já se disse, que não são novos processos cognitivos, pois a mente

humana já ativava seus links na memória mesmo antes do surgimento das

tecnologias virtuais. Em outras palavras, isso quer dizer que o sujeito já nasce

psicofisiologicamente preparado para a prática da leitura de textos virtuais, pois a

inteligência humana possui mecanismos cognitivos capazes de assimilar a utilização

desses avanços.

Por séculos, compreendeu-se a relevância da leitura no que diz respeito ao

comportamento social. Mas pensar isso em relação aos textos, fora do meio

impresso e dentro de ambientes tecnológicos inovadores, é algo recente.

Os sentidos construídos pelo sujeito nesse tipo de leitura, numa sociedade

cada vez mais globalizada, voltada para as novas tecnologias e preocupada com a

facilitação da linguagem, estão em constante mudança. Afinal, o mundo é regido por

contradições que provocam mudança valores, transformação de interesses etc.

Como diz Marcuschi (2004), e novamente se ressalta aqui, “[...] todas as tecnologias

comunicacionais novas geram ambientes e meios novos”, e como afirma Roger

Chartier (1997) que, em sua obra A Aventura do Livro, reflete sobre essas

transformações nas “maneiras de ler” desde a leitura em rolo ao livro impresso e,

hoje, ao texto digitalizado.

Resta verificar, nesta pesquisa, a construção de sentido elaborada pelo leitor

de hipertexto, especificamente de hipertextos que compõem o corpus aqui

selecionado. Para tanto, primeiramente, é necessário retomar algumas concepções.

Parte-se, então, da concepção de leitura com base m aspectos do sujeito, da língua,

do texto e do sentido. Segundo Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias (2011), a

língua representa o pensamento do sujeito responsável por suas ações e vontades,

cujo objetivo é o de que seu interlocutor assimile e compreenda suas intenções. Ou

seja: “A leitura, assim, é entendida como a atividade de captação das ideias do

autor, [...]” (KOCH & ELIAS, 2011, p. 10). Ainda com base nas mesmas autoras, a

leitura também é entendida como uma habilidade na qual o leitor precisa realizar o

reconhecimento do sentido das palavras e da estrutura do texto. Além disso, requer

por parte dele uma grande mobilização de saberes armazenados pelo sujeito a partir

de seu convívio social. Ou seja: [...] a leitura é uma atividade na qual se leva em

20

conta as experiências e os conhecimentos do leitor; a leitura de um texto exige do

leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o texto não é

simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor

passivo” (KOCH & ELIAS, 2011, p. 11).

Ao lado disso, deve-se refletir também que existem estratégias das quais o

leitor lança mão para construir sentidos: seleção, antecipação, inferência e

verificação. Primeiro, o leitor seleciona o texto a ser lido, ocorre a escolha do que se

quer ler e, em seguida, ao se deparar com o texto, o sujeito elabora antecipações.

Em outras palavras, a leitura de elementos textuais, como autor, meio de veiculação,

gênero textual, título, distribuição e configuração de informações no texto, (KOCH &

ELIAS, 2011) possibilita ao leitor formular hipóteses sobre conteúdo que serão

acatadas ou reformuladas, à medida que a leitura se processa por completo, com o

respaldo de seus conhecimentos prévios arquivados na memória. Depois disso, o

leitor cria inferências, ou seja, ele chega a conclusões criadas a partir das

informações implícitas e explícitas ao texto e segue para a verificação, que é a

oportunidade de confirmar ou não as especulações levantadas.

Com o entendimento dessas concepções e sua aplicação ao estudo do

corpus desta pesquisa, será possível entender como ocorre a construção de sentido

na leitura desse novo tipo de texto – contemporânea da evolução tecnológica – para

revelar suas novas formas, as quais convergem em direção a sistemas cada vez

mais híbridos e interativos.

1.2 – Texto, leitura e conhecimento científico

Este trabalho preocupa-se em descobrir como se dá a construção de sentido

na leitura de hipertextos. No entanto, é interessante esclarecer, ainda que de forma

breve, alguns aspectos que envolvem a elaboração de textos escritos, revelando sua

importância para esta pesquisa e para a construção do conhecimento científico.

Também há, neste segmento, o interesse de destacar o que é textualidade para,

assim, poder se analisar seguramente aspectos pontuais do hipertexto.

Para iniciar esta reflexão, parte-se do seguinte raciocínio: um texto

subentende a existência de um leitor que o reconheça como tal e o compreenda

para dele extrair sentidos. Por exemplo, uma vez que a escrita, no sentido restrito, é

a habilidade que envolve processos gráfico-motores e, no sentido amplo, é a

21

habilidade que envolve os processos mental e linguísticos, em seu ato, aquele que

escreve pensa e a elabora, em forma de texto, para seu leitor. O texto, portanto, não

é apenas produto da escrita, mas sim trabalho, no qual o leitor-escritor avalia e

revisa o que pretende transmitir intencionalmente ao leitor que recebe e traduz. E

isso interessa ao desenvolvimento desta pesquisa pelo fato de o hipertexto ser,

antes de qualquer coisa, texto, e texto escrito – embora se apresente, diversas

vezes, multifacetado em palavra escrita, imagens, sons e movimento

simultaneamente.

A antiga ideia de que a escrita é a representação da linguagem por meio de

códigos de transcrição gráfica, além de reducionista, exclui importantes aspectos

como, por exemplo, o fator cultural, coletivo, em que sistemas simbólicos

socialmente construídos se traduzem graficamente. Nesse sentido, há de se

perceber que existe uma necessidade tal de comunicação escrita por meio de textos

que abrange, sobretudo, o âmbito da transmissão de conhecimentos. Diante disso,

entende-se que não existe ciência sem palavra e qualquer transmissão de

conhecimentos científicos depende do uso da escrita e, assim, da composição de

textos.

Sabe-se, também, que o conhecimento científico é posterior ao surgimento

da língua. E, embora esse conhecimento dependa do uso de um código complexo

de linguagem, ele (o conhecimento científico) não está reduzido à língua. A ciência

utiliza-se de um código específico de linguagem humana, na qual aquilo que é

reconhecido por ela é também confirmado pela participação em sua modalidade de

língua. Retomando, a ciência depende do uso da língua formalizada em texto

escrito. É por isso, inclusive, que a escola é e precisa continuar a ser o lugar

privilegiado da palavra, da palavra com sentido e na modalidade para além do uso

cotidiano.

Uma vez que a língua é um código cujo uso promove o entendimento e a

ambiguidade entre os sujeitos, então uma especificidade de conhecimento precisa

de seu próprio código. Por isso a autenticidade científica tem seu início na

compreensão e no domínio pleno desse código. Por exemplo, existem variados

códigos linguísticos representativos das diversas áreas de conhecimento humano. A

Matemática tem seu próprio código; a Química, a Biologia, a Linguística e outras

22

também o possuem. Em cada uma dessas áreas, o que não é absorvido pelo código

não pode ser considerado ciência.

Dessa forma, a escola, cujo papel deve ser o de transmitir o legado de

conhecimento humano ao sujeito, não pode desviar-se do uso efetivo da língua e

dos códigos próprios de cada ciência. Todavia, é preciso que se entenda que

ensinar uma ciência é fazer o aluno transpor seu universo cotidiano para além de

uma memorização vocabular. Então, se não há ciência sem palavra, por outro lado,

ciência não é apenas palavra. Nesse âmbito, o problema fundamental da educação

envolve a escola, o sujeito e a língua. Por isso, qualquer processo de aprendizagem,

de entendimento científico se dá num trânsito entre o que o sujeito vivencia e o que

pensa, a partir do uso da língua. Também por isso, na escola, quando o aluno não

compreende os códigos utilizados, ou não os domina, há um bloqueio na

aprendizagem. Se não há compreensão, não há sentido. Se não há sentido, não há

interesse e nem prazer em se aprender algo.

Assim, em sequência a esse raciocínio, entende-se que a maior parte do

conhecimento construído existe com o propósito da continuidade e não da

efemeridade que, por sua vez, está representada pela oralidade. A língua existe no

uso comunicativo, por isso não está relacionada a diferentes níveis de organização

do saber. Ela é o meio e a condição para evolução e transformação do

conhecimento. É por meio do elemento texto que as ações linguísticas vão além do

imediatismo e da individualidade. É na estrutura do texto que ocorrem as

modificações necessárias para adequação a novas formas de linguagem para a

transmissão e perpetuação do conhecimento. E esse processo de textualização não

se baseia no abandono completo da oralidade, mas passa a representar a situação

de linguagem a qual está inserida. Por exemplo, na estrutura de um texto virtual, é

possível perceber a adequação à situação de ambiente em meio virtual, o qual exige

para si uma separação tênue entre a escrita e a oralidade. Diferentemente, um texto

escrito, por sua vez, num meio impresso, de teor formal, assim como este a ser lido,

traz, em seu processo de textualização, elementos específicos para tal

circunstância. Mesmo assim, não ocorre o abandono total da oralidade. Afinal, o

simples ato de pensar – que pode ser comparado ao de “falar” com a mente – ocorre

em forma de texto, no qual antes de ser redigido numa modalidade formal, é gerado

trabalhosamente num trânsito entre a oralidade e a escrita.

23

Mas é preciso esclarecer que, quando se trata de texto e textualidade, é

preciso distinguir esses termos não como sinônimos, mas como portadores

conceitos inter-relacionados. A saber:

Chama-se de textualidade o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência [sic] de frases. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam com o material conceitual e linguístico[sic] do texto, e a intencionalidade, a informatividade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a intertextualidade, que têm a ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo. (COSTA VAL, 1991)

Adiante, no próximo capítulo desta tese, serão abordadas essas

características de textualidade com exemplos extraídos do corpus de pesquisa para

uma compreensão mais clara. Embora desde já, seja possível definir que texto, por

sua vez, é intuitivamente distinto do que não é texto pelo sujeito. Ou seja: cada

pessoa, enquanto ser social, consegue identificar o que é um texto. Ele pode ser

entendido como processo de mapeamento cognitivo, unidade semântica, ou, como

diz Van Dijk (apud MARCUSCHI, 2012), “texto é uma estrutura superficial governada

por uma estrutura semântica profunda motivada”.

De acordo com Ehlich (2009), a constituição de novas formas contidas no

texto é o que caracteriza a superação da efemeridade das ações linguísticas

individuais, e isso se dá pela mudança de estrutura dos recursos linguísticos.

Segundo esse autor, os métodos para conservação das ações linguísticas

ultrapassam o perímetro da textualização oral. Ele destaca, ainda, duas importantes

linhas: a semiótica-religiosa e a efêmero-econômica. As duas linhas contribuíram

para a formação da escrita, mas a segunda apresenta um caráter prático de solução

de problemas mais eficiente e eficaz, por exemplo, o registro de posses. No início, a

linha efêmero-econômica tinha a característica das ações linguísticas, com o passar

do tempo, houve a necessidade do distanciamento da fala concreta; e com o

advento das tecnologias de impressão tipográfica foi possível proporcionar “[...] à

escrita a possibilidade de ocupar, amplamente, o espaço da tradição oral e substituir

as ‘tradições do discurso oral (SHLIEBEN-LANGE, 1983)’ pela tradição do discurso

escrito.” (EHLICH, 2009, p.65).

24

Longe de uma concepção de sistema pronto e finalizado, a escrita é

resultado da sociedade e da cultura, situado na história, a qual se manifesta em

variados suportes de tecnologia, inclusive os digitais de hoje (CHARTIER, 2003). Em

outras palavras, significa dizer que a escrita é a habilidade de produzir texto, cujo

sentido não é pré-determinado, visto que ele nasce da interação entre os sujeitos e o

mundo ao qual se insere. Quem escreve escreve para um leitor, que pode ser o

outro ou si mesmo, numa determinada época da história, numa determinada

subjetividade cultural, com peculiares conhecimentos prévios e específicas

intenções. Dessa forma, vale dizer que é no texto que ocorrem as modificações

necessárias para a adequação a novas formas de linguagem para transmissão e

perpetuação do conhecimento. Por isso existe necessidade de comunicação escrita

e leitura e, a partir disso, a construção de textos e de sentidos. Ressalta-se,

novamente, que a maior parte do conhecimento transmitido na sociedade inclui o

objetivo de continuidade.

Já que a língua existe no uso comunicativo e, por isso mesmo, está

relacionada a diferentes níveis de organização do saber, ela é o meio e a condição

para evolução e transformação do conhecimento. Já a leitura é a habilidade da qual

se lança mão para, em texto, aplicar ações linguísticas que vão muito além da

individualidade e do imediatismo.

Mesmo que não se mencione corriqueiramente entre as pessoas que ler

subjaz o entendimento do que sejam linguagem e texto, isso está presente na

concepção de leitura, nas práticas cotidianas, nos usos espontâneos praticados pelo

sujeito. E, se há retomada das concepções de linguagem e de texto, é porque a

leitura possui suas bases em aspectos da cognição e da linguagem, como já se

esclareceu neste trabalho. Assim, entende-se que, para cada tipo de suporte

tecnológico, impresso ou virtual, há uma forma de ler e, daí, construir-se o sentido

do texto.

Dos passos iniciais do conhecimento científico na escola até sua

continuidade e seu progresso, tudo aponta para o engajamento tecnológico por meio

do texto escrito. Por isso o primeiro passo neste estudo é buscar o entendimento

sobre o que se pode chamar de texto digital e de texto virtual para, assim,

25

compreender o que envolve a leitura de um texto virtual, sua escrita e a construção

de sentido nesse âmbito, que é o foco principal deste trabalho.

1.2.1 – Texto Digital e Hipertexto

Entende-se que o texto digital é o que se constitui, na tela de um

computador (de um notebook, de um tablet, de um celular, de um smartphone etc.),

de forma em que cada sinal digital é configurado num fluxo de bits, os quais se

traduzem em sequências numéricas de 0 e 1 (SANTAELLA, 2008). Este texto, por

exemplo, foi escrito primeiramente na tela de um notebook para, num segundo

momento, passar de digital a impresso, o que não impediria sua permanência na

forma digitalizada apenas. Como afirma ainda Santaella (2008, p. 49), “foi a

digitalização computacional que ofereceu o suporte perfeito para a

operacionalização do hipertexto”, o qual será mencionado adiante.

Ainda sobre texto digital, também podem ser destacadas duas

peculiaridades na maneira de se proceder à sua leitura: a barra de rolagem que

geralmente se localiza à direita da tela do computador remete à forma de enrolar o

pergaminho na Antiguidade para dar sequência à leitura; a outra forma, hoje muito

utilizada nos livros digitais, frequentemente inseridos em tablets, é o toque na tela

que simula uma virada de página à semelhança dos livros impressos.

As vantagens da escrita digital vão desde sua enorme capacidade de

armazenagem e economia de espaço – pode-se, por exemplo, estocar uma enorme

quantidade de textos em um pequeno pen drive – até a redução do tempo de

transmissão e economia de meio de transporte, podendo manter a qualidade de sua

produção e agilizando todo o processo de troca de informação (SANTAELLA, 2008).

Ou seja, o tipo de suporte e a velocidade estão entre suas principais inovações.

Diferentemente de um texto impresso, o texto digital é produzido na tela do

computador, como já esclarecido; entende-se por isso que ele não se compõe

fisicamente. Além disso, observa-se que nem todo texto digital pode ser considerado

hipertexto, mas todo hipertexto é, antes, um texto digital. Outra distinção pode-se

fazer ainda é a de que todo texto impresso pode ser um hipertexto, mas nem todo

hipertexto pode ser um texto impresso (XAVIER, 2010).

26

Alguns dos questionamentos que recaem sobre o hipertexto são: o que é um

texto produzido no ambiente virtual? O que o difere dos demais tipos textos?

O hipertexto é, antes de mais, texto, o que significa dizer que é

atividade interacional, evento comunicativo de ações linguísticas, cognitivas e

sociais (BEAUGRANDE, 1997). Mas, para ser hipertexto propriamente dito, deve

apresentar algumas características.

Sua primeira distinção está no tipo de suporte que o acolhe, que é o

ambiente de hipermídia, no qual o leitor é quem constrói seu caminho de leitura de

acordo com sua necessidade, o que remete aos aspectos da virtualidade,

multiplicidade e reticularidade, em que surgem infinitas conexões, ou links, os quais

são “[...] dispositivos técno-informáticos[sic] que permitem efetivar ágeis

deslocamentos de navegação on-line, bem como realizar remissões que possibilitam

acessos virtuais do leitor a outros hipertextos de alguma forma correlacionados”

(KOCH, 2005, p. 64). Segundo a autora citada, hipertexto não é linear, e é volátil

(não é fixo, pois se transforma continuamente), sua espacialidade não possui limites

definidos, também não apresenta hierarquia entre seus elementos (não possui um

centro), é interativo e composto por uma diversidade de formas de linguagem, o que

remete ao conceito multimodalidade, que é, segundo Rojo (2011), múltiplas

linguagens que interagem no texto.

Para Lévy (1995), o hipertexto é formado por articulações e conexões. Além

disso, é uma produção escrita usualmente encontrada nas redes de computadores.

Qualquer pessoa pode localizá-lo de qualquer computador, e muitos usuários de

internet podem acessá-lo simultaneamente de qualquer lugar. O autor ainda delineia

algumas características que constituem o hipertexto, e os nomeia por princípios

abstratos: metamorfose, heterogeneidade, multiplicidade e de encaixe das escalas,

exterioridade, topologia e mobilidade dos centros.

O princípio de metamorfose diz respeito ao caráter de constante

transformação e reconstrução da rede hipertextual que ocorre de acordo com a

intervenção dos sujeitos envolvidos, pois podem ser alteradas as palavras, os sons,

as imagens, a extensão, a composição, o desenho e assim por diante. O princípio de

heterogeneidade representa aspectos heterogêneos das articulações do hipertexto

que podem ser imagens, sons, palavras e outros recursos. O princípio de

27

multiplicidade e de encaixe das escalas define que qualquer nó ou conexão do

hipertexto pode mostrar-se como parte uma rede indefinida de articulações com

outros textos. O princípio de exterioridade mostra que a rede hipertextual não possui

uma unidade organizacional interna rígida, ou seja, seu crescimento e diminuição,

composição e recomposição dependem da intervenção exterior para adicionar novos

elementos e articulações com outras redes. O princípio de topologia evidencia que o

fluxo das ações é norteado pela topologia, ou seja, o funcionamento do texto se dá

por proximidade, vizinhança. O princípio de mobilidade dos centros parte da ideia de

que o hipertexto possui diversos centros, os quais são continuamente móveis e são

transportados de um nó a outro, compondo em torno de si uma ramificação infinita

de pequenas raízes (textos), refazendo percursos e compondo adiante outros textos.

Esses nós são o que se entende como links de acesso. Segundo Lévy (1995), “[...] a

rede não está no espaço ela é o espaço”.

Dessa forma, um texto gera novos textos em sequência não linear, em que

cada leitor é também autor (ELIAS, 2005). Por conta disso, o hipertexto está em

constante transformação, não é fixo, não é permanente, mas sim volátil, sendo

mudado aos olhos do leitor. Cada novo caminho de leitura gera um novo texto.

[...] o texto passou por transformações, por uma verdadeira mudança de natureza na forma do hipertexto, isto é, de vínculos não-lineares entre fragmentos textuais associativos, interligados por conexões conceituais (campos), indicativas (chaves) ou por metáforas visuais (ícones) que remetem, ao clicar de um botão, de um percurso de leitura a outro, em qualquer ponto da informação ou para diversas mensagens, em cascatas simultâneas de interconectadas. (SANTAELLA, 2008, p. 47)

Reafirmando, o hipertexto é uma produção cuja primeira distinção se faz

pelo meio no qual é veiculado, ou seja, o tipo de suporte no qual se instala. E,

diferentemente de um texto impresso, toma sua forma em ambiente virtual. Todas

as informações veiculadas nesse ambiente se apresentam em rede. É, desse modo,

um texto com algumas diferenciações: ele transita entre a oralidade e a escrita, não

é de leitura linear, dispõe de elementos verbais e não verbais, é multimodal

(emprega variadas modalidades de formas linguísticas), interativo e poliautoral. O

hipertexto, em resumo, é marcado pela virtualidade (não se compõe fisicamente),

multiplicidade e reticularidade, cujos elementos de conexão, ou links, são escolhidos

28

pelo sujeito que o lê, o internauta. E, embora seja influenciado por formas de escrita

impressa, atualmente, percebe-se que também a influencia.

Enfim, são três os pressupostos que abrem esta reflexão: 1) a leitura é a

habilidade humana de atribuir sentidos, para a qual é um requisito importante

possuir a capacidade de observação, pois a articulação de significados parte,

também, de aspectos externos ao sujeito (CASSANO, 2003); 2) o hipertexto, que é

antes um texto digital, estrutura-se em novo meio e novo ambiente (MARCUSCHI;

XAVIER, 2004), e exige uma leitura específica, cujas principais características são

suas bases interativas e não lineares; 3) a leitura específica de um hipertexto

subentende uma específica construção de sentidos que, por um lado, é elaborada

com as mesmas capacidades inatas humanas da cognição e, por outro lado, há de

se entender a influência que os novos aspectos do meio virtual apresentam nessa

construção.

1.2.2 – Princípios de textualidade no hipertexto e exemplos extraídos

do site de notícias Yahoo

Cada texto é resultado de um esforço linguístico, cada texto nasce de uma

construção, ou seja, é uma organização linguística cujas partes precisam manter

relações linguisticamente hierárquicas, não sendo um mero agrupamento de

palavras ou frases.

Todo texto apresenta fatores de textualidade (BEAUGRANDE &

DRESSLER, 1983) os quais o identificam como tal. Esses fatores dividem-se entre

os que seguem apresentados neste parágrafo. Coerência: é relacionada ao sentido

do texto, assegura uma lógica interna nele e o nexo entre os conceitos e o

conhecimento de mundo de quem o assimila. Coesão: é a maneira de expressar as

ideias no texto, de encadear as ideias e referenciá-las, mantendo unidade e clareza.

Intencionalidade: trata da intenção do autor. Informatividade: designa em que

medida os materiais linguísticos apresentados no texto são operados ou não

operados, conhecidos ou não conhecidos da parte dos interlocutores. Segundo

Charaudeau (1992), o texto “[...] representa o resultado material do ato de

comunicação e resulta de escolhas conscientes ou inconscientes feitas pelo sujeito

falante dentre as categorias de língua e os modos de organização do discurso, em

função das restrições impostas pela situação”. A intencionalidade parte do

pressuposto de que todo texto apresenta uma finalidade, ou seja, o autor escolhe o

29

gênero textual empregado e suas características específicas, o modo como é

empregado, a escolha do léxico e suas finalidades. Intertextualidade: são as

diversas maneiras como um texto depende do conhecimento dos interlocutores

sobre outros textos anteriormente produzidos. A intenção do autor precisa da

aceitabilidade para se concretizar. Aceitabilidade: disposição de participar de um

discurso ou compartilhar um propósito. A aceitabilidade faz com que o leitor perceba

que o texto lhe transmite informações e conhecimentos, e por isso decide cooperar

com os objetivos do autor. O leitor procura aplicar a sua coerência, dando ao texto a

interpretação que lhe cabe, considerando os demais fatores de textualidade.

Situacionalidade: são aspectos que fazem com que o texto esteja adequado a uma

situação específica. São esses elementos, assim, que, juntos e relacionados,

oferecem ao texto condição para o sujeito extrair dele os sentidos.

Eis, a seguir, a apresentação de exemplos que podem demonstrar os

princípios de textualidade no hipertexto.

Abaixo, há fragmentos de um hipertexto extraído do portal de notícias

Yahoo, o qual compõe, ao lado de outros textos, o corpus desta pesquisa.

Figura 1

Na figura 1, podem ser observados elementos visuais que direcionam o leitor

para o entendimento do tema a ser tratado no texto. Em outras palavras, significa

que a cognição humana trabalha a partir de estímulos sensoriais e, nisso, os

30

elementos visuais (cores, ilustrações, fotos, formas e tamanho das letras, localização

etc.) estimulam o cérebro antes da assimilação do texto escrito.

Nesse texto virtual, o tipo de fonte de escrita, sua localização, a foto do

homem em determinada posição em contato direto com o tigre, bem como os

demais elementos que compõem a página, já revelam que se trata de uma matéria

jornalística. A estrutura visual da página virtual, portanto, indica o gênero textual do

qual se aproxima e ativa estratégias para compreensão do texto. Além disso, logo no

início da página, ao internauta são oferecidas várias possibilidades de escolha de

sequência textual, diversos links que o conduzirão a infinitos caminhos de leitura. Na

percepção dos detalhes que esse tipo de texto oferece, tem-se à mão múltiplas

possibilidades de trabalho com a escrita, por exemplo, uma análise textual partindo

dos elementos não verbais para, em seguida, analisar a escrita em seus diversos

aspectos.

A matéria que abre a página menciona um incidente ocorrido na China: um

homem entrou em uma jaula de tigres para ser devorado. No título da matéria, está

anunciado o local onde ocorreu o fato e, abaixo, a foto que registrou o momento. As

letras do título provocam, pelo tamanho da fonte usada e as cores, o destaque

necessário para que se possa perceber que se trata do anúncio do tema. Abaixo do

título, há uma logomarca que indica ser uma notícia veiculada numa agência

internacional. Na lateral, à direita, encontram-se, em letras menores, algumas

conexões de acesso a outras notícias, para as quais se pode seguir na escolha do

caminho de leitura entre as notícias mais populares e os blogs.

Figura 2

31

O texto ampliado:

32

Na figura 2, já se percebe uma organização em termos de linhas e

parágrafos que conduz o entendimento do leitor de que se trata de um texto escrito

em um gênero textual específico para o objetivo proposto pelo autor. Permanecem

na página os links que dão acesso a outras informações, que se localizam à direita

do texto em prosa e em seu intervalo de parágrafos. Tais links recebem destaque

pela variedade de cores, formas e logotipos, que chamam a atenção do internauta

para a escolha de caminhos de leitura. Essa coexistência de possibilidades de

sequência textual confere ao hipertexto o infinito de conexões.

Figura 3

Figura 4

33

Nas figuras 3 e 4, pode-se notar que há espaço para participação de

internautas, os quais podem se identificar com seus próprios nomes e fotos, ou

podem optar pelo uso de figuras gráficas digitais que os representem (avatar),

apelidos (nicknames), preservando sua verdadeira identidade.

Na figura 3, o texto apresenta os elementos de textualidade mencionados e

que conferem ao texto digital a qualidade de texto, os quais já foram mencionados:

situacionalidade, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade

(BEAUGRANDE & DRESSLER, 1983).

A situacionalidade representa a qualidade lógica que torna o texto pertinente

em relação à situação sociocomunicativa em que acontece. Eis o exemplo,

retomando o texto fonte, com destaque para os comentários dos internautas (Figura

3):

Comentário 1

Stefanie B.:

Como não sei o que se passa na cabeça de alguém assim, prefiro não julgar. Só

desejo uma boa recuperação e boa sorte.

Respostas ao comentário 1

R1

34

Carlos:

Seu comentário foi tão bonito quanto você. Stefanie B. Parabéns!

R2

Leandro:

Ah tah.

R3

Fabio:

Deve tá faltando #S%S na sua vida!

R4

Fernando:

coitado dos tigres!

Entende-se que a situacionalidade está bem representada no comentário 1,

em que Stefanie B. refere-se compassivamente em relação ao chinês que tentou

suicídio:

“[...] só desejo uma boa recuperação e boa sorte”.

A informatividade revela o quanto o texto é previsível ou não, se suas

informações são conhecidas, novas, ou não, para o interlocutor. Além disso, o nível

de sua informatividade deve favorecer a compreensão do texto em direção ao

objetivo do autor. Quanto maior o grau de informatividade, maiores dificuldades de

coerência haverá, pois o ideal é que o texto se mantenha num nível intermediário de

informatividade, diferentemente de um texto rico em informações novas, que

dificultaria a compreensão por parte de quem o lê.

A matéria diz “Os visitantes, chocados, observaram Yang fazendo

movimentos exagerados e tentando por 20 minutos incitar os tigres. O chinês, que

está desempregado, tem transtornos de saúde mental, segundo seu irmão”. O

35

trecho exemplifica a informatividade: o chinês é um desempregado, o que denota

uma situação de vida desfavorável; o chinês sofre de transtorno mental, indicando,

assim, que ele não é uma pessoa saudável, ou até mesmo que não tem condições

de controlar suas próprias ações, o que o caracteriza como vítima. O grau de

informatividade da matéria facilita o direcionamento da compreensão, e é altamente

previsível, pelas descrições dos fatos narrados, que o sentimento de piedade seja

suscitado por meio do texto. O comentário da internauta Stefanie B. confirma isso.

A primeira resposta (R1) ao comentário apresenta a frase do internauta

Carlos, que diz o seguinte:

“Seu comentário foi tão bonito quanto você. Stefanie B. Parabéns!”

Ele dá a indicação de que o comentário de Stefanie B. foi adequado à

situação. Porém, ao mencionar a beleza da interlocutora, são evidenciados os

aspectos ligados à intencionalidade. A intencionalidade se revela quando o

interlocutor emprega estratégias para alcançar seus objetivos comunicativos. A

expressão “[...] tão bonito quanto você” indica a intenção de elogiar internauta, que

pode ser entendida também como forma de conquista, ou galanteio. Isso se

confirma pela expressão usada pelo terceiro comentarista (R2) em tom de ironia,

enfatizando as intenções subentendidas no elogio:

“Ah tah.”

Nessa resposta, também a característica textual de aceitabilidade pode ser

exemplificada, pois representa a posição de o interlocutor aceitar ou não como

coerente o que foi dito, e isso favorece a compreensão dos objetivos propostos pelo

autor. A expressão manifestada por Leandro (R2), ao mesmo tempo em que indica a

incoerência do elogio do Carlos (R1) para a Stefanie, diante da situação em que a

matéria noticiada suscita sentimentos piedosos, chama a atenção para o interesse

oculto de galanteio iniciada pelo Carlos.

Agora, a resposta (R4) ao comentário, dita por Fernando:

“coitado dos tigres!”

36

A intenção do internauta é a de surpreender o leitor pela oposição da ideia,

que parece expressar desprezo pelo chinês suicida. Tal manifestação comunicativa

poderia levar o leitor a perceber, nas entrelinhas, por exemplo, algum preconceito

étnico, ou menosprezo pelo ser humano em geral.

Por meio desses exemplos, observa-se a textualidade nos elementos

interligados da matéria jornalística à participação escrita dos interlocutores. Os

comentários dos internautas complementam o texto-fonte de forma relevante,

formando um todo complexo e interativo. Entende-se, assim, que a escrita precisa

da participação tanto de quem a produz quanto de quem a lê. Ambos os

participantes utilizam diversas estratégias cognitivas e acionam conhecimentos

prévios durante a interação.

37

CAPÍTULO 2 – HIPERTEXTO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

A invenção de cada nova tecnologia no mundo foi sempre reflexo das

necessidades sociais de cada momento histórico. Podem ser citados como

exemplos disso o próprio surgimento da escrita, a criação da imprensa –

contemporânea do momento em que as línguas nacionais se consolidavam –, o

telégrafo, o cinema etc., que repercutiram soluções para as necessidades humanas

de determinadas épocas. Assim também, inserida em circunstâncias necessárias,

nasceu a escrita digital. E é isso que a sociedade vivencia hoje. Ela convive com a

necessidade de convergência de saberes de forma tão intensa e urgente que

somente o meio virtual pode ser capaz de corresponder ao que se espera e

necessita nos dias de hoje.

Dessa forma, este segmento pretende refletir sobre a importância do

ambiente de hipermídia no ensino de Língua Portuguesa na educação básica, uma

vez que não se pode desviar do principal caminho de progresso cultural e científico

da humanidade, que é a escola. A partir desse objetivo, então, discute-se sobre de

que forma essa mudança ocorre e traz benefícios, e quais são os cuidados que se

fazem necessários nesse processo. E, embora esta tese tenha o objetivo central de

defender a ideia de que existe um modo específico de construir sentido na leitura de

um hipertexto, é relevante dedicar uma parte, ainda que modesta de todo este

trabalho, para argumentar sobre o ambiente virtual em relação ao ensino.

Como se sabe, os ambientes virtuais fazem parte das Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC), os quais têm proporcionado a transmissão de

informações com velocidade e repercussão nunca antes vistos em épocas anteriores

e com grande envolvimento em todas as camadas sociais. Diante disso, entende-se

que, em primeira mão, professor e aluno precisam ter compreendido o que é um

ambiente de hipermídia. Que saibam defini-lo, que saibam diferenciar o que significa

aprender o uso de hipermídia e aprender por meio de hipermídia e que sejam

capazes de estabelecer definições acerca dos expedientes oferecidos por tal meio

são alguns dos critérios fundamentais para que professores e alunos estejam

preparados para essa nova forma de ensinar e de aprender.

38

É importante, para a compreensão deste tópico, esclarecer, ainda que de

forma sucinta, alguns pontos de vista e conceitos que regem a leitura do hipertexto –

o qual se apresenta fundamentalmente baseado na interação –, e enfatizar a

importância de se compreender em nível mais profundo como se dá esse tipo de

leitura e por quais princípios é conduzido.

2.1 – Novas tecnologias e o ensino de Língua Portuguesa

Tudo o que existe no universo, seja físico ou metafísico, comunica. E essa

comunicação se dá por meio verbal ou não. Isso quer dizer que tudo o que existe

possui alguma medida, ou volume, ou dimensão, ou função, e sempre há um

significado, um sentido. Tudo o que existe possui uma atribuição de valor e de

significado dados numérica ou verbalmente a partir do momento em que se faz

conhecido. Isso porque inclusive os números comunicam algo, atribuem significado

a alguma coisa. A própria ciência da computação comprova, em seus algoritmos,

que o mundo também é descrito e entendido por meio de cálculos, os quais

representam o que há de existente e seus significados. Dessa forma, pode-se ter

alguma ideia do quanto a Ciência da Computação está relacionada às ações do

sujeito para participar do mundo e compreendê-lo.

O Professor Daltro José Nunes explica:

O processo cognitivo utilizado pelos seres humanos para encontrar algoritmos para resolver problemas é chamado de pensamento computacional ou algorítmico. Este processo, que é a base da Ciência da Computação, pode, assim, ser aplicado a outras ciências como matemática, física, química, filosofia, economia, sociologia etc., capacitando-as a sistematizar ou organizar a solução de problemas. Advogados, por exemplo, podem ler textos e, usando o pensamento computacional, extrair deles fatos e regras, permitindo tirar conclusões lógicas que balizem um parecer irrefutável. Todos os tipos de procedimentos, como, por exemplo, organizar uma eleição, podem ser também colocados na forma algorítmica.

No estudo de algoritmos, conceitos como modularização, recursão, iteração, abstração etc., podem ser aplicados às outras ciências, aumentando de forma fantástica a capacidade de resolver problemas. (NUNES, 2011, http://www.adufrgs.org.br/artigos/ciencia-da-computacao-na-educacao-basica/)

O Professor Daltro José Nunes (2011) é enfático em dizer que o sujeito,

mesmo na infância, já apresenta evidências de que o raciocínio computacional é

39

intuitivo e inato, mas tal habilidade deixa de ser explorada na formação básica. Ele

defende:

A introdução de conceitos de Ciência da Computação na educação básica é fundamental para manter o raciocínio computacional das crianças, pelo seu caráter transversal às todas as ciências, para formar cidadãos neste importante ramo da ciência, para dominar suas aplicações, para viver num mundo cada vez mais globalizado e para tornar o País mais rico e mais competitivo na área de Tecnologia da Informação. (NUNES, 2011, http://www.adufrgs.org.br/artigos/ciencia-da-computacao-na-educacao-basica/)

O computador passou a fazer parte da vida das pessoas há anos, a qual é,

hoje, o que se pode chamar de vida digital – como já defendia Nicholas Negroponte

desde 1995.

A informática não tem mais nada a ver com a vida das pessoas. O

gigantesco computador central, conhecido como mainframe, já foi substituído por

microcomputadores em quase toda parte. Vimos os computadores mudarem-se das

enormes salas com ar-condicionado para os gabinetes, depois para as mesas e,

agora, para nossos bolsos e lapelas. Isso, contudo, ainda não é o fim.

(NEGROPONTE, 1995, p. 12)

A chegada da internet trouxe novas formas de aprendizagem. No ambiente

virtual, a aprendizagem pode contar com a interatividade, imprescindível e de forma

enfática, o que também permite ao sujeito distanciar-se dos métodos reprodutivos

anteriormente utilizados na educação, quando as mídias eram apenas impressas, de

rádio e de TV. Não que essas mídias anteriores impedissem o desenvolvimento da

interação, mas é fato que o alicerce do mundo virtual é a interatividade. Um exemplo

disso é a modalidade de ensino a distância (EAD).

A EAD baseia-se na possibilidade de ampliar o alcance do ensino a um

maior número de sujeitos, reduzindo a barreira de distância física, é possível estudar

em qualquer lugar em que haja internet, por exemplo, é possível ao aluno estipular

seu próprio momento de estudo e ritmo desde que cumpra os prazos estabelecidos

pelo curso. Nessa modalidade, o processo de aprendizagem é guiado pelo próprio

aluno que é o sujeito da interação virtual.

40

Os docentes, por sua vez, devem agora, em suas práticas educativas,

estruturar os currículos, planos de aulas, programas de disciplinas com ênfase para

as tecnologias de comunicação e informação. Isso porque a urgência de se associar

esses novos meios ao que se tem estudado nas licenciaturas, por exemplo, à

elaboração de projetos pedagógicos, ao desenvolvimento da interdisciplinaridade e

da transdisciplinaridade (GADOTTI, 2001), já tem sido exigência social prevista na

orientação do MEC.

A interação entre as disciplinas estudadas na escola (interdisciplinaridade) e

sua interdependência entre os saberes e a realidade (transdisciplinaridade) integram

aspectos apropriados ao uso das mídias digitais. Em outras palavras, entende-se

que esses novos meios são o ambiente propício para o exercício das mudanças no

modo de ensinar e de aprender, as quais estão inclusive descritas pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96).

Portanto, é indispensável que as aulas de Língua Portuguesa estejam

atualizadas e coordenadas em relação às transformações sociais. A vida digital é

uma transformação social sem precedentes e irremediável. Por isso o ensino formal

precisa com urgência assimilar a aplicação do ambiente de hipermídia no ensino,

inclusive o de Língua Portuguesa.

2.2 – O hipertexto como lugar de interação

A língua escrita nos meios virtuais de comunicação torna-se parte do

cotidiano das pessoas. E não apenas isso. A vida dos usuários dos meios digitais é

influenciada de forma direta pelo conteúdo recebido em matéria escrita por tais

meios. Admite-se, inclusive, que cada nova geração cresça mais voltada para a

comunicação digital do que a geração anterior.

Nessa realidade, o contato com o hipertexto exige do sujeito a capacidade

de escolha e direção de informações a partir do que considera importante e a partir

do que lhe faz sentido. Em outras palavras, o ambiente é altamente interativo, o que

explica a noção de que o ambiente virtual formula para si mesmo a capacitação de

seu usuário. Além disso, como já se disse, é um recurso de informação global e de

contínuo trabalho. Ele torna o acesso às informações mais viável.

41

Nesse sentido, sua relação com a língua escrita é evidente: leitura e escrita

são habilidades que, semelhantemente, dependem de prática para que sejam

aprendidas. Ou seja, os meios digitais e o texto existem na construção do

conhecimento humano a partir de seus usos.

O hipertexto é especificamente estruturado sobre relações, sobre conexões.

Diferente do que se tinha como ambiente de escrita, o meio virtual implica, com o

hipertexto, a compreensão de um novo tipo de texto, de novas práticas, novos

processos de construção de conhecimento. Isso porque não é finito, não é linear e

não é estanque como era em ambientes anteriores. Como disse Marcuschi (2004),

tecnologias comunicacionais novas provocam a criação de ambientes e meios

novos. Novidade de meios exige novidade de lógicas e práticas. A leitura adapta-se,

dessa forma, a novas estruturas juntamente com todos os aspectos que as

acompanham como, por exemplo, as estratégias de interação.

Para Lévy (1995), reforçando o que já foi mencionado na primeira parte

deste capítulo, o hipertexto compõe articulações e conexões, é uma produção

escrita usualmente encontrada nas redes de computadores, qualquer pessoa pode

localizar esse texto de qualquer computador, muitos usuários podem ter acesso

simultâneo ao mesmo hipertexto.

[...] na leitura do hipertexto a interação com o texto pressupõe respostas a perguntas como: o que pretende com essa escrita? Que conhecimentos são tidos como (não) compartilhados? Que pistas são dadas para a produção de sentidos? Que informações podem ser consideradas (não) relevantes? (MARQUESI et al., 2010, p. 368)

Considerando as características do hipertexto, evidencia-se que ele não

contradiz a cultura vigente, mas sim a representa. E, embora os processos

cognitivos do sujeito em relação a esse tipo de texto virtual não sejam novos – visto

que, mesmo antes de os modelos digitais entrarem no cenário mundial, tais

processos já buscavam seus links na memória humana de curto, médio e longo

prazo – das novas lógicas exigidas para a estrutura da escrita e da leitura de

hipertextos surgem as estratégias de interação também sob novos pontos de vista.

Se para ler/entender a palavra é necessário saber ler antes o mundo, [...], o hipertexto vem consolidar esse processo uma vez que viabiliza multidimensionalmente a compreensão do leitor pela exploração superlativa de informações, muitas delas inacessíveis sem os recursos da hipermídia. (MARCUSCHI; XAVIER, 2010, p. 210)

42

Dessa forma, diferente do que se tinha como meio de linguagem em

momentos anteriores, o meio virtual implica, no hipertexto, a compreensão de novo

modo de leitura, de novas práticas, de novos processos de construção de

conhecimento, mas considerando a retomada de procedimentos cognitivos já

utilizados pelo ser humano.

O contato com o texto em ambiente virtual exige do sujeito a capacidade de

escolha e direção de informações a partir do que compreende e do que elege

relevante. Em outras palavras:

A facilidade de produzir, publicar, editar, comentar, discutir e/ou votar conteúdos e a rapidez de armazenar textos tornam a Web um ambiente social e acessível a todos os usuários, um espaço onde cada um seleciona e controla a informação de acordo com suas necessidades e interesses. Nesse meio digital, o leitor torna-se potencialmente um interlocutor que interfere diretamente sobre o conteúdo apresentado pelo site. O leitor torna-se ao mesmo tempo um escritor em potencial. (MARQUESI et al., 2010, p.359)

As novas formas de interação são geradas a partir das transformações dos

modos de criação, transmissão e recepção textual nas múltiplas inovações

tecnológicas. A leitura hipertextual demanda um vasto esforço intelectual do sujeito

para organizar, escolher, relacionar e contextualizar informações. Ou seja, a leitura

hipertextual inclui (MARCUSCHI; XAVIER, 2010): leitura self-service;

deslinearização – não impõe ordem hierárquica; leitura multissensorial – alto

envolvimento por parte do leitor; emancipação do leitor – dessacralização do autor;

coparticipação sem limite espaço-temporal.

Em resumo, se, sob determinado aspecto, o meio virtual implica, com o

hipertexto, a compreensão de novo modo de escrita, de novas práticas, novos

processos de construção de conhecimento, por outro, considera a retomada de

procedimentos cognitivos já utilizados pelo ser humano. Enfim, na interação por

meio do texto digital são estabelecidas estratégias comunicativas voltadas tanto para

reprodução cultural como também para renovação.

43

CAPÍTULO 3 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE CONSTRUÇÃO

DE SENTIDO

3.1 – Aspectos sociocognitivos e interacionais na construção de

sentido

A partir do direcionamento de estudos da linguagem sob a perspectiva

sociocognitiva, a produção de texto na modalidade escrita recebe contribuições

conceituais que ampliam as possibilidades de pesquisa na área. E não apenas isso.

Há, com esse direcionamento, um aprofundamento na compreensão dos fenômenos

que envolvem a escrita.

As lacunas existentes nos estudos anteriores – em que não se

consideravam, por exemplo, o contexto em termos de um constructo –, hoje, estão

preenchidas com base na sociocognição. A própria noção do processo de

construção de sentido, que se tem atualmente, está em vias de renovação, pois já

se descobriu que os sentidos emanam da inter-relação que envolve texto, leitor,

autor etc., e ocorre em várias direções, sob aspectos internos e externos ao sujeito,

mas conduzida dentro do processo de textualização.

A construção de sentido envolve, assim, a direta participação do leitor,

prevista pelo autor. No entanto, autor e leitor nem sempre concordam em intenções

e sentidos, mas plenamente interagem e se relacionam por meio do texto. Dessa

forma, o primeiro obstáculo epistemológico a ser transposto para se compreender o

processo de construção de sentido no texto é reconhecer a tríplice cadeia de

interação: autor-texto-leitor.

Dessa forma, o texto deixa de ser analisado apenas como produto e passa a

ser compreendido como trabalho, levando-se em consideração o sujeito, seus

conhecimentos e a intersubjetividade. A grande questão sociocognitiva que direciona

os estudos do texto, e do texto escrito inclusive, no presente momento, trata de

tentar responder como é que a cognição se constrói na interação. E, neste trabalho,

a base para a reflexão do tema proposto se dá em Dascal (2006), Elias (2011),

Hilgert (2005), Koch (2005, 2007, 2008), Koch e Elias (2011) e Van Dijk (2012).

A expressão “sociocognitivismo interacional” não é meramente tautológica;

ela amplia de forma significativa as descobertas sobre texto e escrita. Enfim, só se

44

pode entender um fenômeno complexo se for possível compreender o contexto.

Este, por sua vez, não observado como sinônimo de circunstância, mas como

modelo mental específico baseado na interpretação subjetiva do homem, ser social,

situado coletivamente. Sem a perspectiva sociocognitiva, a produção de texto escrito

não seria analisada sob a expansão de conceitos importantes na evolução das

perspectivas e no aprimoramento do ensino e do aprendizado da modalidade de

escrita da língua.

Hoje, os desafios propostos, nos estudos relacionados à Linguística Textual

e à produção escrita, envolvem a compreensão do texto como locus do dialogismo.

Esse entendimento assegura que haja um vínculo indissociável entre produção de

linguagem e interação no processo cognitivo. E tal processo – que, por sua vez, não

resulta apenas da subjetividade individual – passa a ser visto também como produto

social. Em outras palavras, os novos desafios nascem da concepção da produção

escrita analisada sob a ótica sociocognitiva-interacional.

A necessidade de comunicação escrita revela que a maior parte do

conhecimento construído pelo homem mantém o propósito da continuidade. Não é

transitório o interesse de transmitir conhecimentos. Não existe ciência sem palavra e

qualquer transmissão de conhecimentos científicos depende do uso da língua

escrita, e da construção de textos se pensarmos de forma mais específica.

Assim, tanto a língua oral quanto a língua escrita, no sentido amplo,

cumprem o papel de mediar a relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento;

ambas propiciam o intercâmbio social, pois as palavras são signos mediadores da

relação do homem com o mundo na formação de conceitos. Esses pressupostos

devem ser entendidos como construções culturais, cotidianas ou científicas,

articuladas.

Tanto a oralidade, como a escrita, embora possuam seus usos com

especificidades, mantêm uma relação contínua de atividade discursiva e de forma

interdependente. Essas atividades variam do uso formal ao uso informal e nos mais

diversos ambientes: a família, a escola, o trabalho, o lazer etc. Esses ambientes e

ocasiões de utilização da escrita ampliam suas relações a ponto de surgirem novos

tipos textuais e novas expressões. As tecnologias digitais são um exemplo direto

45

disso, pois se utilizam da escrita sob uma diferenciada relação. Mas toda

concretização de ação linguística acontece pelo processo de textualização.

Existe a necessidade de comunicação escrita, isso é evidente. E tal

necessidade, como já mencionado, abrange, sobretudo, o âmbito da transmissão de

conhecimentos. A língua existe no uso comunicativo, por isso está relacionada a

diferentes níveis de organização do saber. Ela é o meio e a condição para a

evolução do conhecimento. E é através do elemento texto que as ações linguísticas

individuais vão além do imediatismo.

É na estrutura do texto que ocorrem as modificações necessárias para a

adequação a novas formas de linguagem para a perpetuação do conhecimento.

Esse processo, chamado de textualização, não se baseia no abandono completo da

oralidade, mas representa a situação de linguagem a qual está inserida. Por

exemplo, na estrutura de um hipertexto, é possível perceber a adequação à situação

de ambiente digital, o qual exige para si a tênue separação entre língua escrita e

língua oral. Diferentemente, um texto escrito em meio impresso, de teor formal, traz

em seu processo de textualização elementos específicos para tal situação. Mesmo

assim, não é possível dizer que há a negação da oralidade por completo, pois o

simples ato de pensar se assemelha a um “falar com a mente” – e isso se dá em

forma de texto.

A leitura está fundamentada na interação e na relação entre o sujeito, o texto

e o mundo, o que se estabelece a partir da materialidade linguística e da memória

enciclopédica do sujeito. Ativar conhecimentos é a ação de buscar, na memória, os

conhecimentos que envolvem a língua, o conhecimento de mundo e as práticas

sociais. Dessa forma, a memória passa a ocupar lugar de destaque na construção

do conhecimento (KOCH, 2005).

Para entendimento do que se pode chamar de construção de sentido, é

necessário observar as infinitas possibilidades dessa elaboração. Ou seja, não se

constrói o sentido definitivo de um texto, o que é construído é um sentido dentre os

vários possíveis. O sujeito ativa, nesse processo, sua compreensão acerca de sua

posição social, suas relações com o outro, os seus valores assimilados ao longo da

vida, as experiências pessoais, os conhecimentos oriundos de outros textos. Em

outras palavras, significa dizer que o processo de construção de sentido, quando

46

ativado no cérebro do sujeito, envolve o arcabouço sociocognitivo e cultural,

nitidamente demarcado pela localização espaço-temporal – ou seja, o sujeito situado

socialmente em determinado lugar e tempo.

Um mesmo texto pode comportar uma pluralidade infinita de significados, os

quais são direcionados pelas circunstâncias subjetivas que se apresentam para o

sujeito na ocasião em que ele se faz leitor e também pela materialidade linguística

revelada no texto, que pode, por sua vez, demandar maior ou menor ativação de

conhecimentos.

Ressalta-se, novamente, a participação ativa do sujeito na construção de

sentido do texto, pois sua contribuição (estratégia) sociocognitiva é que irá completar

o processo. Por meio das estratégias sociocognitivas, ocorre o processamento

textual que ativa os sistemas de conhecimento (KOCH, 2002) que todo ser humano

traz consigo: conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico, conhecimento

interacional.

O conhecimento linguístico pode ser traduzido como o conhecimento

gramatical e lexical. É a partir desse conhecimento que o sujeito que o sujeito

seleciona os recursos os quais são carregados de prestígio social em determinado

grau. O conjunto de palavras disponíveis na língua, assim como sua ortografia, a

adequação da pontuação, o emprego de recursos de referenciação etc. compõem as

opções de recursos linguísticos utilizadas pelo sujeito e que o caracterizam

enquanto leitor e definirão a trajetória do processo de construção de sentido.

O conhecimento enciclopédico, também chamado de conhecimento de

mundo, diz respeito à compreensão que parte de algo já vivenciado e situado além

das palavras e estruturas gramaticais. Ou seja, é o conhecimento acumulado pelo

sujeito referente às experiências pessoais em determinado tempo e determinado

espaço em sua história. O sujeito seleciona, no ato de ler, os conhecimentos

necessários e específicos que o auxiliam no entendimento do texto (KOCH e ELIAS,

2011).

O conhecimento interacional considera que “[...] nem tudo está dito no dito

ou, ainda, que nem tudo o que está dito é o que está dito.” (KOCH e ELIAS, 2011, p.

47). Isso evidencia o fato de que a elaboração de sentido envolve não apenas os

47

conhecimentos objetivos do autor do texto, mas também a escolha linguística

compatível àquela determinada circunstância na qual se apresenta, o gênero textual

e as informações que ao sujeito-autor serão úteis à assimilação e interpretação

mundo.

Esses conhecimentos – acumulados e organizados na memória do sujeito

por meio social e cultural – são os pilares da construção de um arcabouço de origem

sociocognitiva, em constante atualização, de experiências individuais para a criação

de modelos mentais. Isso significa dizer que o texto, enquanto construção com base

em conhecimentos e no princípio do compartilhamento, depende do contexto para

que haja a possibilidade de construção de sentido. Sem sentido não há texto e, para

a construção de sentido, precisa-se do contexto.

É por meio do contexto que os modelos mentais são elaborados e

colaboram para a construção de sentidos, e isso ocorre de forma social e interativa.

Os sentidos são sempre negociados. O que o sujeito diz e o que o outro entende

dependem do histórico interacional, ou seja, alguns aspectos que vão compondo a

memória são parte fundamental do contexto. Por isso as experiências podem

resultar diferentes interpretações.

O processo de construção de sentido demanda, por meio do sujeito que lê o

texto, observar a materialidade linguística, o gênero textual, o objetivo do que foi

escrito. Isso porque o texto é concebido como construção cujas partes envolvem

tanto conhecimentos linguísticos como conhecimento de mundo sob circunstância

de interação. Tudo isso é compartilhado. Como afirma Dascal (2006), quando se

compartilha conhecimento, em sua maior parte, compartilha-se o que já é

socioculturalmente conhecido e por isso não se faz necessário que haja explicações

sobre aquilo que se compartilha geralmente.

Na leitura do texto, o sujeito lança mão dos modelos mentais construídos a

partir de seu conhecimento de mundo compartilhado. E, embora a mente humana e

sua memória não possam ser totalmente compartilhadas, o necessário para uma

comunicação efetiva é o conjunto de informações que se compartilha.

Uma vez que o texto apresenta-se como um trabalho de múltiplos aspectos,

portanto, ressalta-se o quanto o contexto participa do processo de construção de

48

sentido. O contexto é, dessa forma, uma conexão entre os aspectos da língua, da

cultura, da sociedade e da cognição humana, é aquilo que se assimila do mundo,

filtrado e modelado pelas suposições pontuais do sujeito – dadas culturalmente sob

determinações sociais de recorte temporal de sua vida –, é um conjunto de

representações.

O contexto (DASCAL, 2006) condiciona as escolhas que o sujeito faz para

se relacionar com o outro. E, na leitura de um texto, no processo de construção de

sentido, é o contexto que atua na compreensão dos significados. Segundo Van Dijk

(2012, p. 11), “[...] os contextos não são um tipo de condição objetiva ou de causa

direta, mas antes constructos intersubjetivos concebidos passo a passo e

atualizados na interação pelos participantes enquanto membros de grupos de

comunidades.”.

Os modelos mentais formam o contexto, que, por sua vez, controla o que o

sujeito diz, suas formas de agir etc., sendo, assim, fundamental à ação cognitiva de

atribuir significados. E existe uma busca de adequação entre as escolhas subjetivas

das informações no contexto, ou seja, é necessário que o sujeito compreenda o que

é dito para formular o que é relevante.

Retomando noções já iniciadas nesta pesquisa, é preciso ressaltar o que diz

Koch (2008), quando menciona que a língua resulta da interação, ou seja, esse seu

aspecto social exerce função sine qua non para o efetivo exercício da linguagem.

Em sequência a esse raciocínio, o texto é entendido como construção a partir de

elementos linguísticos e extralinguísticos. A materialidade linguística é, dessa forma,

a parte visível de todo um implícito de conhecimento em circunstância de interação

entre sujeitos. Essa noção de compartilhamento é o princípio-chave deste estudo.

Em se tratando dessa materialidade do texto, o hipertexto apresenta

inovações – que vão desde a qualidade de visualização da tela, da página virtual,

até detalhes como quantidades de links, tamanho de fonte, cores, imagens em

movimento ou não etc. Os aspectos envolvidos nesse processo são de nível de

vocabulário, de norma utilizada, de emprego etc.

49

O texto, concebido com a noção de compartilhamento, retoma aspectos

bastante estudados na linguística, como, por exemplo, o princípio do dialogismo do

qual tratou Bakthin (1979).

A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, [1979]; 1992, p. 348)

E ainda:

Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/ Voloshinov, [1929] 1992a, p. 113)

Há de se ressaltar, ao lado desse princípio dialógico, a importância do

contexto, o qual nasce exatamente dessa visão de que o texto é uma múltipla

construção. O contexto parte de modelos. Nesse caso, contexto não é uma

circunstância, nem uma situação, é um modelo mental formulado na interpretação

subjetiva dos participantes da situação social, ou seja, é um modelo que se dá na

interação e por meio dela. Esse elemento, resultado das relações intersubjetivas, é a

associação de aspectos da linguística, da cognição e da coletividade. É esse modelo

mental que controla o que o sujeito diz, a forma como ele escolhe suas ações,

reações etc.

Os contextos são modelos mentais. Teoricamente, os construtos subjetivos dos participantes serão explicados em termos de modelos mentais de um tipo especial, a saber, os modelos de contextos. Esses modelos representam as propriedades relevantes do entorno comunicativo na memória episódica (autobiográfica) e vão controlando passo a passo os processos da produção e compreensão do discurso [...]. (VAN DIJK, 2012, p. 34)

E ainda:

Os contextos são um tipo específico de modelo de experiência. Se os contextos são modelos mentais que representam situações comunicativas, eles são também um tipo especial dos modelos mentais que as pessoas constroem passo a passo das situações e

50

entornos de suas vidas diárias, modelos esses que podemos chamar ‘modelos da experiência’. (VAN DIJK, 2012, p. 35)

Em outras palavras, significa dizer que existe uma focalização relacionada à

relevância naquilo que o sujeito diz em seu texto a qual se origina e se desenvolve

no compartilhamento de informações, conhecimento de mundo etc., para a formação

do contexto – elemento originado nas relações intersubjetivas.

Para se entender melhor a noção de contexto, é preciso relacionar diferentes

ciências, visto que todo texto inclui um contexto composto por intenções, objetivos,

representações, funções e sentidos em seu fundamento.

Dessa forma, uma vez que o contexto é um tipo específico de modelo mental

subordinado à interpretação subjetiva do sujeito em situação de interação social, é

capaz de integrar a memória episódica (individual) e a memória social (coletiva).

Construído esquematicamente, o contexto apresenta categorias formadoras da

identidade do sujeito, o que o capacita à expressão de opiniões e sentimentos (VAN

DIJK, 2012). Daí se intuir o grau de importância que o contexto possui para a

coerência de um texto.

A concepção de contexto tem base sobre o estudo dos aspectos que

interferem no texto dos sujeitos, e isso a relaciona a diferentes áreas científicas,

sendo, dessa forma, inserida no âmbito multidisciplinar. Por isso não é possível

entender contexto sem avançar por outras áreas do conhecimento. Apenas há de se

atentar para o fato de que, em cada disciplina, o contexto pode apresentar algumas

ligeiras diferenças de abordagens e sentidos, como afirma Van Dijk (2012, p. 28),

que diz que “Na verdade, poder-se-ia dizer que contexto não é apenas um conceito

ou categoria estudado em muitas disciplinas, em cada uma das quais tem um

sentido e implicações levemente diferentes”.

O contexto é elemento fundamental para a coerência do discurso, pois

elenca aspectos de cunho pessoal, subjetivo, com algumas restrições objetivas, as

quais partem de modelos de experiência específicos, que, por sua vez, podem

resultar diferentes interpretações. Dessa forma, entende-se que, por meio do

contexto, os sentidos são negociados entre o que foi dito e o que foi entendido, e tal

negociação depende de um histórico interacional.

51

Não são sinônimos os tipos de modelos mentais e os tipos de contexto

embora se relacionem. Entende-se, dessa forma, que contexto é um tipo de modelo

mental. Isso quer dizer que não se trata do sinônimo de situação, mas de um tipo de

modelo mental que integra elementos de determinada situação social e cultura os

quais estão sujeitos à interpretação subjetiva de cada participante.

[...], os contextos não são um tipo de condição objetiva ou de causa direta, mas antes construtos (inter)subjetivos concebidos passo a passo e atualizados na interação pelos participantes enquanto membros de grupos e comunidades. Se os contextos fossem condições ou restrições sociais objetivas, todas as pessoas que estão na mesma situação social falariam do mesmo modo. [...] os contextos são construtos do participante. (VAN DIJK, 2012, p.11)

E mais:

Uma definição dos contextos em termos de modelos mentais não implica que precisemos reduzir as influências sociais a influências mentais, muito pelo contrário. Por meio dessa definição, descrevemos e explicamos, antes de mais nada, como certas estruturas sociais locais e globais conseguem influenciar o texto e a fala. (VAN DIJK, 2012, p. 43)

O contexto influencia a fala. E as pistas para a contextualização também

estão nos aspectos prosódicos como entonação e volume, mudança de turno, olhar,

posição do corpo, pois são elementos que também o compõem de forma específica

(VAN DIJK, 2012).

Já se disse, neste trabalho, que há estratégias cognitivas das quais o leitor

lança mão para esse processo. De fato, as estratégias são sociocognitivas por

abarcarem os conhecimentos linguístico, enciclopédico e interacional. Os

conhecimentos linguísticos partem de elementos da língua, quais sejam, os

aspectos gramaticais e de léxico como, por exemplo, a organização coerente de

frases com elementos de coesão, a escolha do léxico etc. O conhecimento de

mundo, aqui, mencionado como conhecimento enciclopédico, é essencial na

ativação do processo de construção de sentido, pois retoma, na memória, elementos

já conhecidos pelo leitor, os quais o situam na circunstância, no lugar, no tempo

específicos para decifrar o sentido do que foi dito.

A construção do sentido é a de que a compreensão de algum texto tem

início antes mesmo de ele ser elaborado ou de ser lido linearmente, ou não – no

caso do hipertexto, o qual não se submete à leitura linear. E mais: a compreensão

52

ocorre antes de se formular o texto mentalmente, de se formular a compreensão

linguisticamente (DASCAL, 2006). Em sequência ao que se pode abstrair neste

âmbito, verifica-se que o processo de construção de sentido está intimamente ligado

às relações que o sujeito realiza mentalmente entre o que está a se compreender e

o que já foi compreendido e está guardado na sua memória.

Nesse sentido, é interessante reafirmar que a importância do contexto

linguístico está no fato de ser um tipo de modelo mental que está sujeito à

interpretação subjetiva do sujeito na situação social, que integra cultura e

circunstâncias determinadas. Em outras palavras, significa dizer que esse conceito

parte dos aspectos que influenciam, direta e indiretamente, a construção de sentido

na formulação de ideias do sujeito. O contexto linguístico envolve aspectos

pessoais, subjetivos e, embora apresente restrições objetivas, exprime opiniões e

sentimentos, relaciona-se à memória individual e à coletiva, é formulado em

esquema de categorias, reflete intenções e, por isso, é marca de identidade na

formação do eu do sujeito. Van Dijk (2012) esclarece de forma direta sobre

contextos que são construtos subjetivos dos participantes, são experiências únicas,

são modelos mentais, são um tipo específico de modelo de experiência, possuem

modelos de forma esquemática, controlam a produção e compreensão do discurso,

possuem bases sociais, são dinâmicos e amplamente planejados.

Acrescenta-se o fato de que está voltado para finalidades sociais, nas

operações das mais simples às mais complexas e nas mais diversas situações,

sendo sempre uma atividade consciente, criativa e interacional. E o processamento

cognitivo de um texto parte dos três amplos sistemas de conhecimento já

mencionados neste estudo: o linguístico, o enciclopédico e o interacional (KOCH,

2007). Dessa forma, a compreensão de um texto depende de conhecimentos

comuns entre os interlocutores.

Há de se destacar, ainda, que o sujeito, no ato comunicativo, sempre espera

ser compreendido (DASCAL, 2006), ou seja, o sujeito tem a expectativa de que o

seu interlocutor compreenda suas representações, seus sentimentos etc. No ato

comum de comunicação, ocorre o que se chama de não transparência e isso é

causa e efeito da dependência da interação. Em outras palavras, significa dizer que:

1) a pessoa que comunica espera ser compreendida; 2) ela espera que o outro entre

53

em contato direto com seus sentimentos; 3) o destinatário tem “um certo dever” de

compreender o remetente; 4) o ato comunicativo não é transparente, somente o

seria se o ser humano tivesse a capacidade onisciente de entrar na mente do outro;

4) sua não transparência é padrão; 5) a compreensão tem início no processo de

interpretação que parte da resolução de um problema, qual seja: determinar

(descobrir) o valor de uma incógnita, isto é, a mensagem a ser decifrada e

compreendida; 7) a comunicação bem sucedida é medida pela capacidade de o

destinatário chegar à compreensão, à interpretação; 8) a compreensão é sempre

pragmática mesmo no mais simples ato comunicativo; 9) a interpretação ocorre

quando o receptor alcança a ideia (intenção) do emissor seu contexto de elocução

específico, ou seja, não é a simples compreensão do significado literal das palavras,

mas sim descobrir o motivo das escolhas delas; 10) diz-se que o significado é

transmitido diretamente quando é idêntico ao das regras semântico-pragmáticas de

linguagem, e é transmitido indiretamente quando difere do significado da elocução, o

que, nesse caso, faz com que a interpretação ocorra a partir de elementos

implícitos, inferências, analogias, sentido figurado, pistas contextuais etc.; 12)

compreender envolve o domínio das questões: “O que ele disse?”, “Sobre o quê?”,

“Por que disse?”, “De que maneira disse?”, e as respostas para essas questões

perpassam por aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e de

interação, pois são também coletivos, são sociolinguísticos (DASCAL, 2006).

A compreensão, portanto, parte de um sistema de regras, estabelecido como

se fosse constituído por elementos algoritmos e elementos heurísticos, no qual cada

suposição é sempre compartilhada entre emissor e receptor. Dascal (2006) ainda

ressalta que o dever de compreender pode variar entre interlocutores, entre

contextos, na mesma interação ou em interação diversa, e há modalidades de

compreensão diversas em natureza e em função. Segundo o autor, o que se precisa

destacar é que o ato de compreender é um dever que pode: modificar o estado

mental de uma pessoa, conduzir a uma atitude, conduzir a uma tomada de atitude

ou não; compreender envolve, também, a expectativa (parte de um caráter dinâmico

desse processo), pois o que é esperado é que o outro seja capaz de entender além

do verbal, cuja habilidade se dá numa modalidade de com compreensão específica

e que se faz, muitas vezes, base para mal entendidos. Enfim, a forma ideal de

54

comunicação seria por meio da capacidade de se colocar dentro da mente do outro,

o que é impossível ao ser humano.

3.2 – Coerência no Hipertexto

As novas formas de interação são geradas a partir das transformações dos

modos de criação, transmissão e recepção textual nas múltiplas inovações

tecnológicas. A escrita hipertextual, por parte do leitor, demanda um vasto esforço

intelectual para organizar, escolher, relacionar e contextualizar informações. Isso em

contínua expansão. Por isso a construção da coerência no hipertexto não se

distancia da reflexão sobre a dupla função do sujeito leitor-escritor.

A coerência de um texto demanda algumas características como

inteligibilidade e interpretabilidade (KOCK; TRAVAGLIA, 2008), as quais são

esclarecidas da seguinte forma: a inteligibilidade é a condição de o texto ser

compreendido e a interpretabilidade é sua possibilidade de interpretações. Não

apenas os conhecimentos linguísticos são importantes na coerência, mas também o

conhecimento prévio do interlocutor, pois é principalmente no âmbito mais amplo do

texto que se manifesta a estruturação de sentidos (MARCUSCHI, 2012). Isso quer

dizer que a coerência se constrói para além dos elementos linguísticos, estando

ligada à interação e à interlocução de pessoas e de diversos textos.

Dessa forma, entende-se que a coerência em qualquer tipo de texto se

estabelece numa relação de sentido construída pelo produtor de escrita e pelo leitor

com base em lógicas preexistentes e compartilhadas. Seguem exemplos do texto

digital para se observar mais atentamente como isso acontece no ambiente em rede.

55

56

Retomando o texto fonte, há o seguinte título:

Homem tenta ser devorado por dois tigres na China

Numa visão global, o título do texto-fonte mantém relação com a matéria

jornalística e com os comentários dos internautas que formam uma sequência lógica

dentro do próprio texto que, ao mesmo tempo, depende de intenções comunicativas

e elementos extralinguísticos para produzir sentido. Por meio de relações

semânticas, sintáticas e pragmáticas, na superfície do texto, elementos de coesão

também colaboram para a unidade de sentido textual.

Seguem os comentários contidos sequência abaixo do texto-fonte:

Comentário 1

Stefanie B.:

Como não sei o que se passa na cabeça de alguém assim, prefiro não julgar. Só

desejo uma boa recuperação e boa sorte.

57

O conhecimento de mundo, as experiências, as convicções da internauta a

fazem associar o episódio ao fato de que não se deveria condená-lo por seu ato.

Além disso, o posiciona numa situação de vítima. Ela diz:

“[...] só desejo uma boa recuperação e boa sorte”.

Isso confirma o entendimento de que o personagem principal da história não

está saudável, o que retoma o trecho do texto-fonte em que diz que o chinês “tem

transtornos de saúde mental”. O desejo de “boa sorte” complementa o sentido de

que Stefanie B. entendeu que algo na vida do suicida não estava bem, que ele

precisaria vencer a adversidade pela qual havia passado.

Isso retoma também as noções de intertextualidade, a qual significa a

relação do texto em questão com diversos outros textos, complementando de forma

relevante a construção do sentido por parte do interlocutor.

A internauta possivelmente teria outra interpretação da história se não

soubesse o significado da expressão “transtornos de saúde mental” apresentada na

matéria. Mas ela ativou os links de memória e o conhecimento linguístico em seu

processo cognitivo para elaborar a compreensão do texto. E não apenas isso, nos

links de memória ativados, a internauta selecionou os modelos mentais, formadores

de sua identidade, carregados de intenção, os quais compõe o contexto, elemento

imprescindível para a coerência textual. O contexto, por sua vez, entendido como

construtos (inter)subjetivos modificados na interação dos participantes e que

representam as próprias situações comunicativas (VAN DJIK, 2012).

Isso mesmo pode ser exemplificado também no comentário apresentado na

figura 4 e suas respectivas respostas:

Comentário 2

Ronaldo:

O suicídio é uma doença que deve ser tratada e não banalizada com fraqueza do

ser humano.

58

O internauta Ronaldo, ao revelar sua opinião, elabora objetivamente uma

definição do que venha a ser o suicídio, partindo de noções subjetivas (seus

modelos de experiência), com base social:

“O suicídio é uma doença [...]”.

O comentário retoma o texto-fonte e busca na memória coletiva as noções

do que significa “doença”. Para além do plano semântico, ele representa um

conhecimento sociocultural compartilhado ao mesmo tempo em que constrói a

identidade do interlocutor (no caso, o internauta Ronaldo) por meio da escolha de

um posicionamento pessoal.

Isso se completa em relação aos outros posicionamentos apresentados

pelos demais participantes, pois o “eu” do Ronaldo se estrutura em oposição ao

mundo, ou seja, o “eu” existe em oposição ao “outro”. Para se compreender melhor

esse nível de análise, eis as respostas a esse comentário, que estão organizadas a

seguir:

R1

Fernando:

Tem toda a razão Ronaldo, só quem teve um caso de suicídio em sua família é que

sabe o que realmente é isso.

R2

Fernando:

Waldeck, tive uma prima e um tio que se suicidaram, minha prima pulou do 11º

andar do seu prédio, meu tio se enforcou. Ambos tiveram coragem sim de cometer

tal ato, mas também tiveram muita covardia para encarar seus problemas. Ambos

sempre se negaram a buscar ajuda psicológica.

R3

Waldeck Macêdo:

Um primo deu um tiro na cabeça. Ainda jovem, eu sei que devemos preservar a

vida, mas só quis dizer que tem que ter muita coragem ou perder o senso de

59

realidade para tal ato, as pessoas dizem que são covardes que se matam, eu não

acredito que sejam covardes, foi isso que quis dizer

R4

Todor:

Suicídio não é só “covardia”, mas na maioria dos casos é falta de tratamento para

desequilíbrio químico no cérebro.

As repostas R1, R2, R3 e R4 retomam o texto fonte, mantendo uma

sequência de sentidos e seus autores internautas interagem e dialogam sobre o

tema central, desenvolvendo temas paralelos. Ambas as respostas R1 e R2 (do

internauta Fernando) apresentam o tema sobre suicídio (são dirigidas ao comentário

do internauta Ronaldo), paralelamente ao caso específico abordado no texto fonte,

mas tratando do tema e introduzindo um modelo de situação num nível micro, em

que explica seu ponto de vista e relata casos particulares.

Nesses exemplos, a retomada do texto-fonte está assegurada pela presença

do tema global, suicídio, e pela retomada da ideia de suicídio como doença, pois o

autor diz:

“Ambos sempre se negaram a buscar ajuda psicológica”.

A escolha da expressão “ajuda psicológica” confirma, num nível macro e

para além do plano do texto, mas também vinculada à expressão usada no texto

fonte, a ideia de tratamento de doença psiquiátrica. Na matéria jornalística, a

tentativa de suicídio está associada ao fato de o chinês ser portador de transtornos

mentais. O texto-fonte traz: “O chinês, que está desempregado, tem transtornos de

saúde mental, segundo seu irmão.”.

E agora:

R3

Waldeck Macêdo:

Um primo deu um tiro na cabeça. Ainda jovem, eu sei que devemos preservar a

vida, mas só quis dizer que tem que ter muita coragem ou perder o senso de

60

realidade para tal ato, as pessoas dizem que são covardes que se matam, eu não

acredito que sejam covardes, foi isso que quis dizer

R4

Todor:

Suicídio não é só “covardia”, mas na maioria dos casos é falta de tratamento para

desequilíbrio químico no cérebro.

Na R3, o internauta Waldeck interage com o internauta Fernando,

esclarecendo seu ponto de vista (“foi isso que quis dizer”) e mantendo o tema global

do texto fonte. Deve-se destacar a expressão usada por ele, “as pessoas dizem que

[...]”, pois revela claramente a base social em que a compreensão está construída.

Na R4, Todor, que não apresenta definição de gênero em seu nickname,

mantém o tema global (texto fonte) e se posiciona em relação ao que foi dito pelo

internauta Waldeck, concordando:

“Suicídio não é só ‘covardia’ [...]”

Em seguida, acrescenta seu ponto de vista que retoma o texto-fonte ao

associar a causa do suicídio a um desequilíbrio orgânico, ou seja, algo que

necessita de tratamento medicinal:

“[...], mas na maioria dos casos é falta de tratamento para desequilíbrio químico no

cérebro.”

Enfim, isso exemplifica, no plano da coerência, que os modelos de contexto

aqui apresentados confirmam o seguinte: os internautas que escrevem seus textos

na página digital assumem que sabem o que foi dito antes no texto-fonte e nos

textos dos postados pelos demais internautas; cada leitor (tanto o próprio

participante dos comentários postados, como o simples leitor que não escreveu na

página digital) não sabe do conhecimento pessoal do outro (seja ele quem for); o

conhecimento é compartilhado à medida que os leitores possuem o nível de

conhecimento sociocultural compatível entre eles e em relação aos autores (autor do

texto-fonte e autores que postaram seus comentários).

61

A questão da coerência envolve o problema de o sujeito compreender ou

não compreender o texto. Muitas vezes, parece ao senso comum que isso se torna

mais evidente em situações que envolvem uma língua estrangeira. No entanto,

mesmo em língua materna os problemas relacionados à compreensão surgem, pois

a condição para que esse fenômeno ocorra parte da interação linguística (HILGERT,

2005).

Nesses exemplos, é possível perceber a frequência com que o hipertexto

está presente no cotidiano das pessoas e, por isso, leva a pensar a relação entre

essa nova forma de escrita, de leitura e a forma de construção da coerência. A ideia

de que a escrita virtual seja inovadora, não nega a cultura que a antecedeu, pois

essa “nova escrita” é, na verdade, a representação da mesma cultura vigente na

sociedade, mas por meio de novos suportes.

O que há, por conta disso, é o surgimento de novas estratégias de interação,

porém, com a utilização de antigos processos cognitivos do sujeito. Afinal, antes de

os modelos digitais existirem, o cérebro humano já usufruía de tais processos,

utilizando seus links na memória. É preciso lembrar, também, que a maneira de o

sujeito lidar com a escrita digital parte de sua capacidade intelectual inata, ou seja, a

mente humana já nasce preparada para as habilidades exigidas pelo ambiente

virtual.

No texto virtual, assim como em todos os tipos de textos, a ação do sujeito é

imprescindível na construção da coerência, exercendo, dessa forma, papel de

coautor. Por isso observa-se que a compreensão se desenvolve de forma coletiva e

depende, assim, das intenções e dos modelos mentais de cada participante. O

hipertexto só estará formado (e o adjetivo “formado”, aqui, não deve ser sinônimo de

finalizado) com a colaboração do internauta que acrescenta sua opinião por meio da

escrita, interagindo para a construção de sentido para si e para os demais

internautas. Entende-se que, em qualquer tipo de texto, inclusive no texto virtual, o

discurso é influenciado pela maneira como os participantes definem a situação

social. Mas isso não significa que o hipertexto se assemelhe em tudo a qualquer

outro tipo de texto. Isso garante a percepção de que o hipertexto é texto.

A compreensão na leitura do hipertexto é influenciada pela relação com o

contexto, o que pode revelar detalhes sobre os hábitos do sujeito e sua relação

62

com o mundo. É por isso que se enfatiza que estratégias cognitivas,

sociointeracionais, textuais e, ainda, a questão da contextualização na fala e na

escrita são aspectos que precisam ser amplamente pesquisados no âmbito virtual e

levados para sala de aula, inclusive, em forma de novos subsídios para o trabalho

com a Língua Portuguesa.

A escrita como objeto próprio do sujeito de apropriar-se do patrimônio

humano é o que a leva a ser produzida. Ele escreve e ele lê para manter relação

com o mundo que o cerca. Hoje, é por meio do hipertexto que a escrita faz o sujeito

se sentir atualizado, incluído a uma sociedade que, a cada dia, torna-se mais imersa

no mundo virtual.

63

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

4.1 – A origem da ideia

No ano de 2008, a autora deste trabalho deu início à pesquisa de Mestrado

em Educação O sentido da escrita para alunos de escolas brasileiras e francesas,

no Núcleo de Pós-Graduação em Educação, na Universidade Federal de Sergipe.

Tal pesquisa teve como alguns de seus pontos de origem o contato com a obra

Savoirs Quotidiens et Savoirs Scientifiques: l’éleve entre deux mondes , de autoria

da Professora Doutora Veleida Anahí da Silva, e o estudo da Teoria da Relação

com o Saber (CHARLOT, 2000, 2005). E, em 2010, na conclusão da pesquisa, os

resultados enfatizaram que havia, já na época, uma nítida separação entre o que se

escreve na escola e o que se escreve no cotidiano. A partir dessa descoberta,

surgiram novos questionamentos.

Nos resultados dessa pesquisa (SANTOS, 2010), os dados apontaram que

as atividades de escrita na escola, embora não destituídas de importância para os

alunos, não despertavam tanto interesse, e estavam voltadas para as lógicas

institucionalizadas. A escrita, nesse âmbito, estava relacionada à lição escolar,

dever, redação, assunto da prova, para passar de ano, para tirar boa nota etc. Além

disso, as atividades de escrita que correspondiam à lógica da escola preservavam

seu sentido oculto de que “só é inteligente”, só detém o saber quem se relaciona

eficazmente com elas. Ser bem-sucedido na escola passava pela obrigação de ser

não exatamente um produtor de escrita, copista das lições, um cumpridor de tarefas.

Isso é definido pela cultura através das formas de assimilação e transmissão. E não

apenas isso, ficou comprovado na pesquisa que os alunos, tanto brasileiros, quanto

franceses, escreviam bastante, para a escola, mas escreviam por prazer para fora

dela. As atividades escritas ligadas à escola denotavam, segundo os resultados,

obrigação não relacionada ao prazer, já as atividades escritas ligadas ao cotidiano

não escolar denotavam, em sua maioria, prazer. Eles escreviam, para a escola e na

escola, porque acreditam precisar, mas gostavam de escrever fora da escola,

principalmente em ambiente virtual. Eis o dado que, mesmo após a conclusão da

pesquisa, manteve a posição de questionamento.

Assim, a partir dos resultados dessa pesquisa, despertou-se para

questionamentos do tipo: “Que tipo de escrita, que tipo de texto seriam esses das

64

preferências dos alunos e o que havia de diferente neles para atraí-los tanto?”; ou

“Como se dava a compreensão deles na leitura e na escrita de textos nesse novo

suporte?”. O suporte em questão é o ambiente virtual, o novo tipo de texto é o

hipertexto, pois, como se afirmou no início deste trabalho, hoje, cada nova geração

surge mais voltada para a comunicação digital do que a geração anterior.

A língua escrita nos meios virtuais de comunicação é parte do cotidiano das

pessoas a tal ponto que chega a influenciar sua rotina diretamente. Os jovens que

formam as novas gerações são os chamados nativos digitais, os quais utilizam com

desenvoltura as tecnologias digitais por conviverem desde muito cedo com tais

inovações (PRENSKY, 2001) e cujas formas de lidar com a língua e de construir o

conhecimento já diferem dos não nativos digitais. É preciso destacar que esses

jovens escrevem muito, escrevem o tempo todo por meio das tecnologias digitais, o

que reforça a ideia de que a escrita, mais do que nunca, deve continuar a ser

estudada e compreendida, e, mais do que isso, deve-se pensar sobre quais

mudanças envolvem a escrita no contexto digital.

Devido às suas diversas formas de comunicar, os ambientes digitais

adquirem enorme relevância e, ainda que sua tecnologia esteja em constante

evolução, já alcança uma posição de destaque, com autonomia e

interdisciplinaridade, a qual gera, inclusive, propostas para um estudo linguístico

específico, a Linguística da Internet (CRYSTAL, 2013). Isso mostra o quanto é

presente a necessidade de a escola se adaptar a esse novo contexto e levanta

questões sobre o tema. Pode-se pensar sobre quais desafios aguardam o ensino da

escrita no cenário atual em que a conquista do saber se alia às novas tecnologias de

comunicação.

Dessa forma, a autora deste trabalho sentiu-se no dever de avançar nos

estudos, partindo, assim, da questão central:

Como se dá o processo de construção de sentidos no texto digital, mais

especificamente no hipertexto?

E as questões norteadoras:

1) Como se dá a compreensão (não compreensão) em textos de portais

digitais de notícias?

65

2) O sujeito reconhece o hipertexto como texto?

3) Há evidências dessa percepção da textualidade em ambiente virtual e, em

específico, em textos de portais digitais de notícias?

4) Existem peculiaridades na construção de sentido em hipertexto –

demonstradas em textos de portais digitais de notícias – que a difere da construção

de sentido em um texto impresso de leitura linear?

4.2 – A pesquisa

A partir de 2013, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua

Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no início desta

pesquisa, houve um preparo teórico desenvolvido nas seguintes disciplinas

cursadas: A Variação Linguística no Português do Brasil; Tópicos de Linguística

Textual: Leitura e Escrita; Texto e Escrita; Leitura, Argumentação e Persuasão;

Seminário sobre Obras Fundamentais da Literatura Linguística I; Seminário sobre

Obras Fundamentais da Literatura Linguística II. Essas disciplinas foram cursadas

no ano de 2013 e a disciplina Seminário sobre Oralidade e Interação foi cursada em

2014.

De acordo com o cronograma do projeto de pesquisa, no segundo semestre

de 2013, houve a realização de pesquisa bibliográfica e leituras e elaboração de

resenhas da bibliografia levantada. Foi possível iniciar a elaboração da primeira

versão de um capítulo da fundamentação teórica da tese a partir dos estudos

realizados e iniciar a composição do corpus da pesquisa. Nos encontros de

orientação, houve acompanhamento em pesquisa bibliográfica e sugestões de

leituras, bem como esclarecimento de dúvidas relacionadas ao projeto. A vasta

bibliografia selecionada foi lida e estudada para embasar o desenvolvimento do

projeto.

Em 2014, houve, além da pesquisa bibliográfica, leituras e elaboração de

resenhas de obras relacionadas à pesquisa, bem como encontros e orientação para

discussão das atividades desenvolvidas. Foi possível também realizar a coleta de

corpus de pesquisa e dar continuação à elaboração do capítulo teórico da tese. Foi

produzido o artigo Escrita e Coerência em Textos Digitais para publicação e

participação no 15º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa/6º Congresso

66

Internacional de Lusofonia - IP/PUC-SP, com apresentação do trabalho Texto,

Contexto e a Produção de Sentido em Portal de Notícias na Internet.

No primeiro semestre de 2015, além da revisão da bibliografia realizada, foi

concluído o primeiro capítulo teórico da tese e houve continuidade do capítulo sobre

o corpus relacionado à pesquisa, e ocorreram encontros com o orientador para

discussão das atividades desenvolvidas e orientação do trabalho. Foi possível

produzir o artigo Leitura e Escrita em Ambiente Virtual para publicação.

Em 2016, no primeiro semestre, foi produzido o artigo Leitura na internet: o

fundamento interativo do hipertexto para posterior publicação. E foi possível elaborar

o Sumário da tese, embasado no roteiro de trabalho previamente definido, o qual

conta com cinco capítulos, além da Introdução, da Conclusão e das Referências,

conforme a sequência: Capítulo 1 – Leitura no Meio Virtual; Capítulo 2 – Hipertexto e

Ensino de Língua Portuguesa; Capítulo 3 – Considerações Teóricas sobre

Construção de Sentido; Capítulo 4 – Metodologia; Capítulo 5 – Análise. E, no

segundo semestre, trabalhou-se em direção à conclusão da pesquisa.

A bibliografia sugerida na pesquisa foi constantemente consultada para

sustentar cada capítulo da tese e retomada a depender da necessidade no

desenvolvimento dos capítulos.

4.3 – A composição do corpus e a proposta do estudo

Novas formas de tecnologia têm alavancado transformações sociais,

inclusive no âmbito da educação. Hoje, é por meio da internet que ocorrem as

principais mudanças nas relações humanas. E, em se tratando de fenômenos

humanos, é preciso destacar o valor relevante da interação dentro desse contexto

social. Isso porque a internet acentua o aspecto coletivo da construção do

conhecimento, pois todo o saber nesse âmbito requer compartilhamento.

Ao lado disso, observa-se uma necessidade de aprimorar os métodos de

pesquisa, ou, até mesmo desenvolver novos, que sejam também capazes de

67

abarcar essa transposição entre o mundo face a face físico presencial e o mundo

virtual. Afinal, há diferenças consideráveis entre, por exemplo, uma interação física

face a face entre as pessoas e uma interação mediada pelo sistema virtual.

Uma vez que este trabalho tem o objetivo de estudar texto digital e seu

processo de construção de sentidos formulado pelos interlocutores em portais

digitais de notícias, faz-se necessária a composição de um corpus de pesquisa para

análise e defesa da tese em questão. Em outras palavras, significa dizer que esta é

uma pesquisa com base em análise de corpus e, por assim dizer, o empiricismo é o

que representa a maneira de se desenvolver tal estudo, o qual parte da observação

das experiências e não apenas da investigação no âmbito bibliográfico.

O empiricismo se baseia na capacidade dos observadores concordarem a respeito de uma representação de suas experiências, ou seja, de suas percepções de mundo. Mesmo quando não existem múltiplos observadores, o empiricismo requer que se assuma que alguém outro, em nosso lugar, faria os mesmo tipos de observação e as representaria de forma semelhante. (HALAVAIS, 2013, p. 11)

Por conseguinte, este estudo busca, em primeiro lugar, observar na

interação dos internautas alguns elementos que colaboram para a construção de

sentido. E isso não é uma tarefa simples. Subentende-se que esse processo de

interação, por ocorrer em ambiente on-line, esteja enriquecido com aspectos da

virtualidade, apesar de que cada vez menos se possa separar o mundo virtual do

mundo real. Se a coerência, em produção textual, se estabelece numa relação de

sentido construída pelo produtor e pelo leitor com base em modelos preexistentes e

compartilhados, em textos da internet isso não é diferente. Porém, como a internet

constitui um espaço para a interação num alcance amplo e sem medida e, por isso

mesmo, apresenta maior complexidade de análise, tal estudo requer do pesquisador

a habilidade de desenvolver nova maneira de observar o fenômeno, adaptando seus

métodos. Alexander Halavais, vice-presidente da Association of Internet

Researchers (AoIR), diz ainda o seguinte:

A internet constitui uma representação de nossas práticas sociais e demanda novas formas de observação, que requerem que os cientistas sociais voltem a fabricar suas próprias lentes, procurando instrumentos e métodos que viabilizem novas maneiras de enxergar. (HALAVAIS, 2013, p. 13).

Esta pesquisa não é, como se sabe, uma pesquisa sociológica, mas é uma

pesquisa de abordagem sociocognitiva interacional, em que não é possível ignorar

68

os aspectos sociais. O corpus, composto de textos autênticos, constituído de

material da internet, disponibiliza on-line esses aspectos relevantes com facilidade

de acesso nunca antes prevista. Se, por um lado, a pesquisa sobre textos da

internet apresenta uma enorme complexidade, por outro, concede ao pesquisador

uma riqueza imprevisível, pois em nível superlativo é como se pode verificar a

interação no ambiente em rede. Além disso, os estudos de objetos originados da

internet, por si mesmos, encontram-se em constante mudança e demandam o

campo da multidisciplinaridade. Afinal, a internet não pode ser pensada de forma

isolada, tampouco o corpus de pesquisa, que dela se extrai, pode ser analisado sob

uma ótica reducionista. O cuidado, no entanto, que se deve ter, em nível micro ou

macro, na observação do objeto selecionado é que não se permita que o

instrumento utilizado, pela riqueza de informações, direcione sozinho a pesquisa.

O corpus selecionado partiu de um planejamento que considerou as

estratégias usadas pelos internautas no ambiente para processo de construção de

sentido que, por sua vez, apresentam-se nos textos por eles produzidos. Assim,

foram selecionadas páginas digitais do portal de notícias Yahoo! Brasil, das quais se

buscou coletar os comentários dos interlocutores postados em relação a cada

matéria noticiada (texto fonte) em duas etapas, no período de dezembro de 2013 até

fevereiro de 2014, e no período de maio a agosto de 2014. É, dessa forma, uma

pesquisa de método de análise documental.

A motivação para coleta desse material no específico portal de notícias

partiu de suas próprias características: cada matéria acompanha espaço para que

os internautas postem suas opiniões abaixo do texto principal. Há, para eles, a

possibilidade de interação com os demais participantes que postam comentários, o

que resulta em, inclusive, discussões e equívocos de compreensão em relação à

matéria em destaque, ou ao comentário de outro participante. Esse dinamismo nas

trocas de opiniões desperta curiosidade de quem lê tanto quanto a matéria

jornalística postada pode despertar pela riqueza de detalhes linguísticos.

A escolha do corpus se deve, desse modo, pela diversificada e nem sempre

previsível elaboração de sentido na participação dos internautas que, ao lerem a

matéria, interagem opinando. Esses participantes abrem mão da necessidade de

desatenção civil da qual estão tão habituados em ambientes públicos presenciais

69

físicos. No ambiente virtual, que também é público, o participante expõe suas ideias

e revela, assim, pontos de vista que se distanciam, às vezes, ou se aproximam da

matéria jornalística que abre a página. Isso retoma a noção de um gênero textual

específico, a saber, o gênero opinativo, o qual se insere entre os gêneros

jornalísticos e que, neste caso de ambiente em rede, é formado pelo conjunto do

texto-fonte mais os comentários dos internautas. E retoma também os aspectos

relacionados aos fatores sociais indissociáveis do objeto de estudo. Melo (2003)

explicita que os textos jornalísticos de opinião se distinguem pela autoria, que

exprime o ponto de vista particular, e pela perspectiva de tempo e espaço, a qual dá

nexo à opinião do autor. Ele também menciona o comentário como um gênero

recente no jornalismo brasileiro, o qual acompanha a própria notícia. No corpus

selecionado para este estudo, os comentários não se apresentam na própria notícia,

mas na sequência dela, compondo, assim, o formato de página virtual, configurada

com seus hiperlinks.

A opinião, como ponto de vista, não se compromete necessariamente com a

informação, mas inserida no texto jornalístico origina uma fonte de informação, de

relatos de fatos, articulada a um posicionamento, do autor, que envolve interesses,

juízos de valor e persuasão. Melo (2003) esclarece que o posicionamento político e

a habilidade do jornalista, quando associados, criam essa fusão entre a opinião e o

jornalismo. No âmbito do corpus desta pesquisa, o texto a ser analisado é composto

pela matéria jornalística propriamente dita (o texto fonte), seguida pelos comentários

dos internautas que opinam sobre a matéria ou não. É um texto que comporta as

características do texto jornalístico mencionadas por Melo (2003): atualidade,

difusão, periodicidade e universalidade. Nesse caso, a opinião não está no texto

redigido pelo jornalista, mas nos comentários dos internautas. Eis, então, uma das

peculiaridades do corpus desta pesquisa, o qual se localiza no campo do espaço

virtual.

Assim, cada processo jornalístico tem suas particularidades, variando de

acordo com a estrutura sociocultural em que está inserida, com a disponibilidade de

canais de difusão coletiva e com o perfil do ambiente político-econômico em que se

baseia a coletividade (MELO, 2003).

70

Deve-se atentar para o fato de que o portal de notícias, embora seja uma

versão brasileira (br.yahoo.com) do site norte-americano (www.yahoo.com), divulga

notícias do mundo todo extraídas de reconhecidos veículos de comunicação dos

países de maiores destaques. Sobre o histórico do site, de acordo com algumas

informações divulgadas na Wikipedia:

A Yahoo! começou como um hobby de estudantes e evoluiu para uma marca global que tem mudado a maneira como as pessoas se comunicam uns com os outros, encontram e acessam informações e compram coisas. Os dois fundadores do Yahoo!, David Filo e Jerry Yang, candidatos a Ph.D. em Engenharia Elétrica da Universidade de Stanford, começaram o que inicialmente era uma espécie de guia para informações espalhadas na recente web em um trailer no campus em fevereiro de 1994 como uma forma de manter o controle de seus interesses pessoais na Internet. Em pouco tempo eles estavam gastando mais tempo em suas listas caseiras de links favoritos do que em suas teses de doutorado. Eventualmente, quando as listas de Jerry e David tornaram-se muito longas e complicadas eles resolveram dividi-la em categorias. Quando as categorias tornaram-se muito cheias, eles separaram em subcategorias [...] e então a ideia central por trás Yahoo! nasceu.

Yahoo! primeiramente foi hospedado na estação de trabalho de Yang , "Akebono", enquanto o software foi alojado no computador de Filo, "Konishiki" - ambos nomes de lendários lutadores de sumô.

Jerry e David logo descobriram que não estavam sozinhos em querer um único lugar para encontrar sites úteis. Em pouco tempo, centenas de pessoas estavam acessando seu guia bem além do trailer de Stanford. A notícia se espalhou de amigos para o que rapidamente se tornou um público significativo e leal em toda a comunidade da Internet. Yahoo! celebrou o seu primeiro um milhão de acessos no outono de 1994, com quase 100 mil visitantes únicos.

Devido à grande quantidade de tráfego e a entusiástica recepção que Yahoo! estava recebendo, os fundadores sabiam que tinham um negócio em potencial em suas mãos. Em março de 1995, a dupla incorporou o negócio e se reuniu com dezenas de capitalistas de risco do Vale do Silício. Eles eventualmente se depararam com a Sequoia Capital, uma empresa bem conceituada, cujos maiores investimentos de sucesso incluem Apple Computer, Atari, Oracle e Cisco Systems. Eles concordaram em financiar Yahoo! em abril de 1995 com um investimento inicial de quase US $ 2 milhões.

Percebendo o potencial que a nova empresa tinha para crescer rapidamente, Jerry e David começaram a contratar uma equipa de gestão. Eles contrataram Tim Koogle, um veterano da Motorola e um ex-aluno do departamento de engenharia de Stanford, como diretor executivo, e Jeffrey Mallett, fundador da divisão da Novell WordPerfect, como diretor operacional. Eles conseguiram uma segunda rodada de financiamento no segundo semestre de 1995 de investidores da Reuters Ltd. e Softbank. Yahoo! lançou IPO

71

altamente bem-sucedido em abril de 1996 com um total de 49 funcionários.

Hoje, o Yahoo! Inc. é uma empresa líder de comunicações globais via internet, comércio e empresa de mídia que oferece uma rede global de marcas de serviços para mais de 345 milhões de pessoas por mês em todo o mundo. Como o primeiro guia online de navegação na Web, www.yahoo.com é um dos principais guias principalmente em termos de tráfego, oferecendo serviços como o portal que hospeda uma vasta quantidade de conteúdo de áudio e vídeo em streaming, hospedagem de lojas virtuais e serviços de gestão, além de ferramentas de sites e serviços. A rede da empresa Web global inclui 25 propriedades mundiais. Com sede em Sunnyvale, Califórnia, o Yahoo! tem escritórios na Europa, Ásia, América Latina, Austrália, Canadá e Estados Unidos. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Yahoo!)

O corpus assim constituído – 23 matérias jornalísticas extraídas das páginas

digitais do portal de notícias Yahoo! Brasil, com o total de 1543 comentários

elaborados pelos internautas – colabora para a análise do processo de

compreensão (não compreensão) de sentido desses interlocutores em ambiente

virtual. Além disso, há chance de se identificar as pistas de contextualização nesses

textos-comentários e sua relação com o processo de construção de sentidos. Desse

total, foram eleitos alguns dos textos que de maior representatividade do fenômeno,

visto ser esta uma pesquisa qualitativa.

Para descrever de forma mais específica a unidade constituinte do corpus, a

saber, a página virtual do portal de notícias escolhido, pode-se dizer que: traz

notícias atualizadas do Brasil e do mundo que foram divulgadas em outros meios de

comunicação; tem o título da matéria jornalística em destaque; apresenta,

geralmente, uma foto ou imagem relacionada à matéria; abaixo, ao fim da notícia,

abre espaço para participação dos internautas sem limite de participantes, mas com

o limite de caracteres. Cada participante pode postar publicamente seu comentário

sobre a notícia, bem como interagir com outros participantes. Nesses pequenos

comentários, os internautas podem se identificar com nomes verdadeiros ou

apelidos, conforme escolha, e um avatar, imagem ou ícone que complementa sua

identidade.

Optou-se pelo Print Screen como recurso para captura da página digital com

todos os detalhes que a compõe como, por exemplo, figuras, fotos etc.

72

Os textos foram todos selecionados dentre os que figuravam como mais

lidos. O portal, como poderá ser visto logo a seguir, destaca no lado esquerdo da

página a lista com as notícias mais populares e que, consequentemente,

apresentam maior número de comentários de internautas.

As matérias dos textos coletados na primeira fase apresentam os seguintes

títulos: Acusado de matar cinegrafista admite ter acendido rojão; Cinegrafista agride

manifestante em frente à delegacia no Rio de Janeiro; CNT-MDA: Dilma tem 43% de

intenções de voto no 1º turno; ‘Estou mais sexy’, diz mulher que deixou sua barba

crescer; Governo diz que 24 cubanos já deixaram o Mais Médicos; Homem tenta ser

devorado por dois tigres na China; Idosa descobre que carrega feto de 44 anos em

seu abdômen; Menino refugiado sírio de 4 anos é encontrado vagando pelo deserto;

Morre cinegrafista atingido por rojão em protesto no Rio; Professora vira alvo de

polêmica após foto no Facebook; Professora é afastada da PUC-Rio por ironizar

passageiro; Sucesso de tratamento com maconha anima família de criança nos

EUA. As matérias dos textos coletados na segunda fase apresentam os títulos que

seguem: Por vestido curto, garota é expulsa de formatura nos EUA; 8 hábitos que

podem te ajudar a ficar rico mesmo com um salário baixo; Maior e mais assustador,

Godzila está de volta; Sudanesa grávida é condenada à morte por se converter ao

cristianismo; Infração no Facebook: você nunca viu uma multa dar tanta confusão;

Após saques e 234 detenções, greve da PM termina em Recife; Descobertos na

Argentina fósseis de dino de 40 metros e 100 toneladas; Virada Cultural em SP tem

duas pessoas baleadas e 100 detidas; Viaduto em construção desaba e deixa ao

menos dois mortos em Belo Horizonte; Dilma tem 38%, Aécio 20% e Campos 9%,

no Datafolha; “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”, diz Dilma a evangélicos. São

8 matérias com notícias de outros países e 15 matérias com notícias nacionais, das

quais seus autores não são identificados, mas há a descrição da fonte jornalística de

origem nacional ou internacional.

Na Descrição de Serviços do Yahoo! Brasil, é possível compreender um

pouco mais de seu funcionamento:

O Yahoo Brasil fornece ao Usuário acesso a uma grande variedade de recursos online, incluindo várias ferramentas de comunicação, programação, fóruns de debate online, serviços de comércio eletrônico e conteúdo personalizável que são acessíveis por vários meios hoje disponíveis e, eventualmente, a serem desenvolvidos

73

("Serviço(s)"). O Usuário entende e concorda que os Serviços poderão conter anúncios, publicidade e/ou propagandas, a critério do Yahoo Brasil. O Usuário também entende e concorda que o Serviço poderá incluir comunicações do Yahoo Brasil, tais como anúncios de serviço, mensagens administrativas e a Yahoo Brasil Newsletter, sendo tais comunicações condição de utilização dos Serviços. O Usuário não poderá se recusar a receber referidas comunicações. Salvo se estabelecido de forma diversa, qualquer novo recurso que aumente ou aprimore os Serviços atualmente disponibilizados, incluindo novos lançamentos no Yahoo Brasil, estará automaticamente sujeito aos Termos de Serviço. O Usuário está ciente e concorda que o Serviço é fornecido na forma como está disponibilizado e que o Yahoo Brasil não é responsável por exclusão, não entrega ou não arquivamento de qualquer comunicação do Usuário ou estabelecimento de suas opções de personalização. De forma a bem utilizar o Serviço, o Usuário deve obter, por si, acesso à "World Wide Web", seja diretamente ou através de dispositivos que possam disponibilizar o conteúdo existente na Web, pagando os valores cobrados por seu provedor de acesso, se este for o caso, e providenciando todo o equipamento necessário para efetuar sua conexão à World Wide Web, incluindo computador, modem ou outro dispositivo de acesso. Atente que certas áreas do Serviço contêm conteúdo dirigido a um público adulto. O Usuário precisará ter pelo menos 18 anos para acessar tais áreas.

(https://info.yahoo.com/legal/br/yahoo/utos/utos-173.html)

Os exemplos que seguem esclarecem a descrição do formato de textos que

compõem o corpus desta pesquisa. No primeiro exemplo, a figura A apresenta uma

seta que indica: o título da notícia em destaque, a fonte (ou agência) da notícia, a

foto que se relaciona com o texto e, à direita, a indicação de onde foram

selecionadas as notícias mais lidas e com maior número de comentários no portal. A

figura B apresenta a matéria jornalística, acompanhada nas laterais e entre seus

parágrafos, de links de acesso a outros textos. A figura C dá destaque para os

comentários dos internautas, as setas mostram onde há indicação do número de

comentários do texto, o nickname do internauta ao lado de seu avatar, o comentário

do internauta, um pequeno ícone à direita que indica quem apreciou ou não o

comentário e a resposta ao comentário formulada por outro internauta.

74

Exemplo 1:

Figura A

75

Figura B

76

Figura C

No segundo exemplo, as figuras confirmam os detalhes mencionados,

revelando que o portal mantém o padrão do formato a ser exibido:

Exemplo 2

Figura 3

77

A matéria que abre a página menciona um incidente ocorrido na China: um

homem entrou em uma jaula de tigres para ser devorado. No título da matéria, está

anunciado o local onde ocorreu o fato e, abaixo, a foto que registrou o momento. As

letras do título provocam, pelo tamanho da fonte usada e as cores, o destaque

necessário para que se possa perceber que se trata do anúncio do tema. Abaixo do

título, há uma logomarca que indica ser uma notícia veiculada numa agência

internacional. Na lateral, à direita, encontram-se, em letras menores, algumas

conexões de acesso a outras notícias e a um anúncio publicitário, para as quais se

pode seguir, escolhendo, assim, o caminho de leitura entre as notícias mais

populares e os blogs.

Figura 4

78

Na figura 4, acima, percebe-se uma organização em termos de linhas e

parágrafos que nos conduz ao texto. Permanecem na página os links que dão

acesso a outras informações, que se localizam à direita do texto e em seu intervalo

de parágrafos. Tais links recebem destaque pela variedade de cores, formas e

logotipos, que chamam a atenção do internauta para a escolha de caminhos de

leitura. Essa coexistência de possibilidades de sequência textual confere ao

hipertexto múltiplas conexões.

79

Figura 5

Na figura 5, pode-se notar que há espaço para participação de internautas,

os quais podem se identificar com seus próprios nomes e fotos, ou podem optar pelo

uso de figuras gráficas digitais que os representem (avatar), apelidos (nicknames),

preservando sua verdadeira identidade.

No portal de notícias, a ordem de postagem dos comentários se dá de baixo

para cima, ou seja, os comentários que foram publicados primeiro ficam abaixo dos

que foram publicados por último. Interessante notar que não há indicação desse

funcionamento na página digital e o leitor apreende esse mecanismo no próprio uso

ou com a compreensão que elabora a partir da leitura dos comentários.

Numa visão global, o título mantém relação com a matéria jornalística e com

os comentários dos internautas que formam uma sequência lógica dentro do próprio

texto que, ao mesmo tempo, depende de intenções comunicativas e elementos

extralinguísticos para produzir sentido.

80

Partindo-se da ideia de que existem peculiaridades na construção de

sentidos no hipertexto que o tornam diferente de um texto de leitura linear, ou um

texto impresso, a proposta deste estudo busca, especificamente, observar por meio

da interação que ocorre entre os internautas como eles se manifestam na

elaboração de seus comentários sobre o texto-fonte (a matéria jornalística) e os

comentários dos demais participantes. Em outras palavras, pretende-se investigar

como se dá a coerência, para analisá-la por meio dos modelos de contextos que se

apresentam no ambiente em questão. Também são verificados aspectos do

conhecimento compartilhado à medida que os leitores possuem o nível de

conhecimento sociocultural compatível ou não entre eles e em relação aos autores

(autor do texto-fonte e autores que postaram seus comentários), pois são elementos

fundamentais na formação dos modelos de contextos e, consequentemente, da

construção de sentido. Mas é importante lembrar que, nesse processo, a coerência

se constrói para além dos elementos linguísticos, estando sempre ligada, dessa

forma, à interação.

Para aplicação da análise, desta pesquisa de método documental, os

procedimentos adotados partem de apresentação e descrição da página digital

selecionada, com os comentários dos interlocutores virtuais, análise e verificação do

tema de cada texto e composição de categorias, que serão desenvolvidos em

capítulo posterior para a descoberta das respostas para a questão central e as

questões norteadoras.

Questão central:

Como se dá o processo de construção de sentidos no texto digital, mais

especificamente no hipertexto?

Questões norteadoras:

1) Como se dá a compreensão (não compreensão) em textos de portais

digitais de notícias?

2) O sujeito reconhece o hipertexto como texto?

3) Há evidências dessa percepção da textualidade em ambiente virtual e, em

específico, em textos de portais digitais de notícias?

81

4) Existem peculiaridades na construção de sentido em hipertexto –

demonstradas em textos de portais digitais de notícias – que a difere da construção

de sentido em um texto impresso de leitura linear?

Para aplicação da análise, os seguintes procedimentos são adotados:

Apresentação e descrição da página digital selecionada, com os comentários

dos interlocutores virtuais;

Verificação do tema central do texto;

Composição de categorias;

Análise de categorias;

Verificação dos resultados.

Uma vez que a pesquisa científica é o meio para se descobrir a realidade

(DEMO, 1995), a metodologia, por sua vez, é instrumento e a direção para essa

descoberta. E, em específico, para esta pesquisa, que é qualitativa (PATTON,

1990), são observados os seguintes itens para interpretação:

A fonte de dados tem origem no ambiente natural, ou seja, é ambiente

comum e cotidiano na sociedade hoje: a internet, o ambiente virtual.

O processo de estudo e análise é tão importante quanto o resultado.

Parte-se do subjetivo para o objetivo.

A amostra – no caso, o corpus selecionado – não precisa ser muito extensa.

A amostra, embora seja extraída de ambiente cotidiano, é selecionada

intencionalmente.

Cada variável analisada é importante parcela na composição global dos

resultados.

82

4.4 – Categorias

As categorias, aqui apresentadas, partem dos conceitos considerados, para

esta pesquisa, os mais importantes. Elas são entendidas como o agrupamento

conceitual análogo para organização e classificação dos dados.

As categorias de análise deste trabalho seguem aspectos relacionados à

textualidade do hipertexto, à coerência e à formação do contexto linguístico.

Apresentam-se as preocupações com verificar o tipo específico de direcionamento

da leitura, sua deslinearização e seu apelo multissensorial, as evidências de

textualidade, o nível de emancipação do leitor, a coparticipação do leitor, a ausência

de limite espaço-temporal, a inteligibilidade e a interpretabilidade por parte dos

comentários dos participantes, o conhecimento linguístico, o conhecimento

enciclopédico e o conhecimento interacional – tudo isso no âmbito do corpus

selecionado.

Categorias:

Focalização relacionada à relevância

Os modelos de contexto representam o que é relevante para o participante

em cada ocasião de comunicação (VAN DIJK, 2012, p. 116). O tema central do

texto-fonte se mantém nos comentários dos participantes no corpus selecionado?

Ou a que eles se referem?

Conhecimento sociocultural compartilhado

Há interação no corpus? Há, no corpus, compatibilidade de conhecimento

linguístico nessa interação? Há exemplos, no corpus, do conhecimento

enciclopédico que possuem os participantes? Se, como afirma Van Dijk (2012), a

relevância daquilo que se comunica é baseada ao que se ajusta ao modelo de

contexto culturalmente compartilhado, há de se verificar se a informação

compartilhada possui uma base sociocultural comum. Cada participante demonstra

corresponder a essa base comum?

Coparticipação sem limite espaço-temporal

Ressalta-se aqui uma peculiaridade no processo de construção de sentido

no hipertexto: cada participante colabora na construção do hipertexto, na

83

compreensão do hipertexto, mas sem delimitação de lugar, tempo, período

(MARCUSCHI; XAVIER, 2010). Os participantes que integram o corpus desta

pesquisa colaboram para a construção do hipertexto no mesmo lugar e no mesmo

tempo?

Evidências de textualidade

Retomando conceitos apresentados no primeiro capítulo deste trabalho, é

importante verificar no corpus: a situacionalidade, que representa a qualidade lógica

que torna o texto pertinente em relação à situação sociocomunicativa em que

acontece; a informatividade, que revela o quanto o texto é previsível ou não, se suas

informações são conhecidas, novas não para o interlocutor; o nível de

informatividade, o qual deve favorecer a compreensão do texto em direção ao

objetivo do autor, pois quanto maior o grau de informatividade, maiores dificuldades

de processamento haverá; a intertextualidade, a qual significa a relação do texto em

questão com diversos outros textos, complementando de forma relevante a

construção do sentido por parte do interlocutor; a intencionalidade, que se revela

quando o interlocutor emprega estratégias para alcançar seus objetivos

comunicativos; a intertextualidade, a qual significa a relação do texto em questão

com diversos outros textos, complementando de forma relevante a construção do

sentido por parte do interlocutor; a aceitabilidade, que representa a posição de o

interlocutor aceitar ou não como coerente o que foi dito, e isso favorece a

compreensão dos objetivos propostos pelo autor (BEAUGRANDE & DRESSLER,

1983). Esses cinco aspectos textuais ocorrem no corpus selecionado? Como se

apresentam?

A seguir, procede-se à análise do corpus selecionado.

84

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE

5.1 – Análise

A primeira finalidade desta análise é chegar à: compreensão dos dados

coletados; confirmação ou não dos pressupostos; obtenção de respostas para as

questões formuladas; ampliação do conhecimento sobre o tema pesquisado.

Posteriormente, o objetivo secundário da análise, mas não menos importante, é

oferecer fundamentos para novos planejamentos de trabalho na área, criação de

novos programas de estudos; criação de programas tecnológicos voltados para a

área de ensino de Língua Portuguesa etc.

5.1.1 - Focalização relacionada à relevância

5.1.1.1 - Tema central do texto-fonte

5.1.1.1.1 - Mantido

a) Retoma apenas o tema do texto-fonte.

b) Retoma o tema do texto-fonte e acrescenta novo tema paralelo.

5.1.1.1.2 - Não mantido

a) Desenvolve novo tema.

b) Apresenta outro tipo de expressão.

5.1.2 Compartilhamento

5.1.2.1 Os elementos textuais remetem ao conhecimento partilhado

(informação velha).

5.1.2.2 Os elementos textuais não remetem ao conhecimento partilhado

(informação nova).

5.1.3 Coparticipação sem limite espaço-temporal

5.1.4 Evidências de textualidade

5.1.4.1 Evidência de situacionalidade

5.1.4.1.1 Da situação para o texto

85

5.1.4.1.2 Do texto para a situação

5.1.4.2 Evidência de informatividade

5.1.4.2.1 Apenas informação previsível

5.1.4.2.2 Contém informação inesperada

5.1.4.2.3 Não contém informação

5.1.4.3 Evidências de intencionalidade

5.1.4.3.1 Intencionalidade explícita

a) Com qual objetivo?

5.1.4.3.2 Intencionalidade implícita

a) Com qual objetivo?

5.1.4.5 Evidências de intertextualidade

5.1.4.5.1 De forma

5.1.4.5.2 De conteúdo

a) Explícita

b) Implícita

86

Texto 1

87

88

Título do texto-fonte: Virada Cultural em SP tem duas pessoas baleadas e

100 detidas

Nesse hipertexto, o tipo de fonte de escrita, sua localização, a foto bem

como os demais elementos que compõem a página, já revelam que se trata de uma

matéria jornalística: a ênfase está para local e turno do evento, pois a foto revela a

paisagem noturna e uma aglomeração de pessoas ao ar livre. A estrutura visual da

página virtual, portanto, indica que o tipo de texto se aproxima e ativa as estratégias

para compreensão. Além disso, logo no início da página, ao participante são

oferecidas várias possibilidades de escolha de sequência de leitura, diversos links

que o conduzirão a infinitos caminhos de leitura.

Logo abaixo do texto-fonte, encontram-se os espaços destinados aos textos

dos participantes.

1ª sequência de comentários de participantes

89

Fabiano: Para mim tudo dentro da normalidade já faz parte da Cultura do nosso

lindo país. Ser Cultural é vestir uma camisa em defesa do homossexualismo, ir para

a paulista fumar maconha e assistir algumas bandinhas que fazem apologia as

drogas... Cultura é meu P...

Kecia comenta Fabiano: Virada Criminal...

Sincero: Virada cultural pra povo sem cultura dá nisso...

Paula comenta Sincero: kkkkkkkk...

Análise

Focalização relacionada à relevância

Fabiano – Mantém o tema do texto-fonte e acrescenta novo tema paralelo.

Kecia – Mantém o tema do texto fonte.

Sincero – Mantém o tema do texto fonte e acrescenta novo tema.

Paula – Não mantém o tema. Apresenta outro tipo de expressão: indicação de riso.

Compartilhamento

Fabiano – Os elementos textuais remetem ao conhecimento partilhado (informação

velha).

Kecia – Os elementos textuais remetem ao conhecimento partilhado (informação

velha).

Sincero – Os elementos textuais remetem ao conhecimento partilhado (informação

velha).

Paula – Os elementos textuais remetem ao conhecimento partilhado (informação

velha).

Coparticipação sem limite espaço-temporal

Fabiano – 11h57min do dia 18/05/2014.

Kecia comenta Fabiano – 35 minutos depois.

90

Sincero – 3 horas depois de Kecia.

Paula comenta Sincero – 1 hora e 31 minutos depois do Sincero.

Evidências de informatividade

Fabiano – Contém informação inesperada.

Kecia comenta Fabiano – Apenas informação previsível

Sincero – Apenas informação previsível

Paula comenta Sincero – Não contém informação

Evidências de intencionalidade

Fabiano – implícita – objetivo de crítica

Kecia comenta Fabiano – explícita – objetivo de crítica

Sincero – explícito – objetivo de crítica

Paula comenta Sincero – explícito – objetivo humor

Evidências de intertextualidade

Fabiano – de conteúdo – implícita

Kecia comenta Fabiano – de forma

Sincero – de conteúdo – de conteúdo – implícita

Paula comenta Sincero – de forma

5.2 – Resultados e Discussão

A maioria dos participantes manteve focalização relacionada à relevância

mantendo o tema do texto fonte. No entanto, há evidência de participante que não o

manteve e isso quer dizer que os participantes elegem o que lhes parece mais

importante para comentar ou expressar, sendo que essa relevância nem sempre

precisa estar fielmente relacionada ao tema central do texto-fonte. É o que diz Van

Dijk: “Os modelos de contexto representam o que é relevante para o participante em

cada ocasião de comunicação” (VAN DIJK, 2012, p. 116).

91

Sobre o conhecimento sociocultural compartilhado, pode-se retomar, nas

palavras de Van Dijk (2012), que a relevância daquilo que se comunica é baseada

ao que se ajusta ao modelo de contexto culturalmente compartilhado, há de se

verificar se a informação compartilhada possui uma base sociocultural comum. Não

houve indícios, na amostra, de participantes que introduzissem conhecimentos

novos. Todos, aqui, participaram e expuseram os conhecimentos no nível de mesma

base sociocultural.

No âmbito de evidências de ausência de limite espaço-temporal, a amostra

revela que nenhum participante atuou no ambiente com simultaneidade. Cada um

teve sua participação com intervalos temporais significativos e locais não revelados.

As informações apresentadas pelos participantes são, em sua maioria,

previsíveis. No entanto, há indícios de informação inesperada e indícios de

participação sem informação.

Sobre as evidências de intertextualidade, dividiram-se igualmente entre as

de conteúdo e implícitas e as de forma. Ou seja, metade dos participantes indica que

possui conhecimentos de outros textos na maneira de opinar e comentar sobre o

texto fonte ou o comentário de outro participante, enquanto a outra metade revela a

intertexualidade na própria forma de utilização do meio.

92

CONCLUSÃO

Uma vez que as aulas de Língua Portuguesa devem acompanhar as

demandas sociais, o professor, por sua vez, deve compreender em nível mais

profundo como se dá a leitura de hipertexto, pois é intensa a utilização do meio

virtual por todos os seguimentos da sociedade.

Para melhor desenvolver os argumentos em defesa dessa ideia, é

importante relembrar aqui alguns aspectos da língua. Émile Benveniste (1989), que

melhor representa a Teoria da Enunciação, ressalta o quanto a língua está longe de

ser um mero instrumento. Tal pressuposto, aparentemente simples, traz consigo

noções importantes que podem favorecer o embasamento teórico-metodológico de

professores de Língua Portuguesa, inclusive para os que ministram aulas no Ensino

Fundamental.

A língua, que para ele é a apropriação do sujeito que se enuncia ao outro,

envolve aspectos culturais e históricos de forma dinâmica. Dessa forma, o fenômeno

da língua e a capacidade de reflexão estabelecem a caracterização do homem como

ser racional e social. Isso quer dizer que o sujeito inserido em circunstâncias

adequadas manifesta certa autonomia nas suas relações com a linguagem. Em

termos de Educação, de formação humana e também de linguagem

consequentemente, o homem se torna mais homem a partir de apropriações

linguísticas e culturais. É na linguagem que se encontra o fundamento da

subjetividade humana (BENVENISTE, 1991).

Por esse motivo, é possível questionar o direcionamento dado pelas

instituições de ensino em relação às disciplinas de língua materna, uma vez que é

notório o fracasso cumulativo dos estudantes, não somente nessa área do

conhecimento, mas em versas áreas que dependem do domínio da linguagem. O

que também deixa margens a dúvidas é se os professores de Língua, nas escolas,

têm as noções corretas e atualizadas sobre linguagem, língua, fala e a modalidade

escrita, para trabalhá-las satisfatoriamente, requisito primário para esse tipo de

profissional (LUFT, 2000).

93

Longe de uma perspectiva positivista de ensino, confirma-se que os atos de

linguagem, falar, ler e escrever estão além do tecnicismo e do utilitarismo, embora

se utilizem, às vezes, de técnicas e sejam úteis à sociedade. Deve-se destacar,

também, que apesar de há muito já se tratar disso, a construção de um sujeito

linguisticamente competente, em sala de aula e fora dela, não se faz

automaticamente através da memorização de regras da gramática normativa. O

indivíduo somente pode se desenvolver, ou tornar-se sujeito (BENVENISTE, 1991),

se estiver imerso nos aspectos interacionais e discursivos que envolvem a língua.

Os atos de falar, ler e escrever não são simplesmente a repetição, a identificação ou

cópia de símbolos gráficos e linguísticos, pois entre o significante e o significado

está o conhecimento de mundo que cada pessoa traz consigo e todas as relações

que a envolvem, que se refletem no discurso, influenciam as interpretações

possíveis e colaboram na construção de saberes.

Sem dúvida, é necessário haver um generoso espaço para interlocução nas

aulas de Língua. Cabe à escola – e, de mesma forma, ao docente capacitado –

possibilitar ao aluno o domínio pleno da linguagem de forma que o habilite a elaborar

e a compreender textos em sua diversidade. Devem-se considerar os processos

universais da língua como importantes elementos culturais de interação e inclusão

sociais que conduzem à evolução do conhecimento. Outro ponto sobre o qual os

professores precisam se debruçar, no processo de ensino-aprendizagem de Língua

Portuguesa, é a relevância dos fundamentos que envolvem o campo hipertextual,

especificamente na relação do sujeito com a escrita, os saberes cotidianos (no caso,

a língua falada) com os saberes científicos, escolarizados (a língua escrita), que

pode ser presumida, inclusive, sob uma perspectiva fenomenológica.

Em primeiro lugar, é preciso relembrar o papel primordial da escola, o qual

deve ser o de transmitir o legado de conhecimento humano ao educando,

conhecimento este que não se desvia do uso efetivo da língua e dos códigos

próprios de cada ciência. Todavia, é preciso que se entenda que ensinar uma

ciência é fazer o aluno transpor seu universo cotidiano para além de uma

memorização vocabular. A escola deve esclarecer que, se não há ciência sem

palavra, por outro lado, ciência não é apenas palavra.

94

Dessa forma, retoma-se a ideia de que o problema fundamental da

educação envolve a escola, o sujeito e a língua. Afinal, nesse âmbito, qualquer

processo de aprendizagem, de entendimento científico se dá num trânsito entre o

que o sujeito vivencia e o que pensa, a partir do uso da língua. Na escola, quando o

aluno não compreende os códigos utilizados, há um bloqueio na aprendizagem,

pois, quando não há compreensão, não há sentido.

O segundo aspecto importante que se observa em relação ao destaque que

esse novo meio de aprendizagem tem conquistado é que o uso dessas novas

tecnologias surge como uma via de aprendizagem pela própria amplitude de

possibilidades e recursos de linguagem. Por exemplo: o ambiente digital exige do

sujeito inserção por meio de práticas e formula para si mesmo a capacitação para

uso. Isso pode ser explicado através do aspecto interativo do mundo virtual: quem

precisa dele depende da direta utilização do meio, ou seja, depende da sua

utilização prática para aprendê-las. Ele torna o acesso às informações mais viável e

os processos de interlocução passam a ter, por causa do mundo virtual, uma

universalização nunca antes ocorrida.

Os alunos utilizam com frequência a escrita digital para se comunicar de

forma instantânea e alcançarem aceitação social, pois já se sabe que “[...] a

comunicação não existe por si mesma, como algo separado da vida da sociedade.

Sociedade e comunicação são uma coisa só. Não poderia existir comunicação sem

sociedade, nem sociedade sem comunicação” (BORDENAVE, 1997, p. 16).

E, finalmente, mas sem encerrar este debate, a apropriação do patrimônio

cultural humano surge dentre os argumentos que respondem à necessidade de o

docente estar embasado teoricamente sobre o campo hipertextual. Hoje, é também

por esse campo que ocorre a apropriação do patrimônio cultural com a aquisição de

habilidades como leitura e escrita e a utilização de meios virtuais de comunicação,

pois a Internet expande o saber comum e o sujeito, na função de internauta, recorre

à intertextualidade de forma ampliada. O hipertexto torna-se um meio comunicativo

voltado tanto para reprodução como para renovação da cultura humana. Em outras

palavras, compreende-se dizer que ele se adequa não apenas ao propósito de dar

continuidade ao conhecimento, mas também ao de transformá-lo. Por isso pode-se

considerá-lo veículo de uma nova forma de leitura.

95

Nesse cenário, o contato com os textos digitais pode definir até, por

exemplo, qual será a rotina do sujeito uma vez que frequentemente acessa o mundo

virtual. Hoje, isso pode fazer diferença notória no sucesso de nas relações humanas,

pois o sujeito contemporâneo possui uma relação cotidiana com textos escritos

nesse novo ambiente, construída a partir da necessidade de interagir em um mundo

marcado por constantes inovações no plano da comunicação.

A escrita como objeto da busca do sujeito de apropriar-se do patrimônio

humano é o que a leva a ser produzida e não apenas para ter um bom desempenho

escolar. Um bom exemplo disso é que os alunos que escrevem porque gostam, fora

da lógica formal escolarizada, escrevem seus textos para manter relação com o

mundo que os cerca. É por meio das comunicações de sites de relacionamento

virtuais, ou aplicativos de conversa virtual, por exemplo, Whats App, que a escrita

desses alunos os faz sentir atualizados, incluídos a uma sociedade.

A língua escrita nos meios virtuais de comunicação é, assim, parte do

cotidiano das pessoas. E não apenas isso. A vida das pessoas, em todas as idades

e classes sociais, é influenciada de forma direta pelo conteúdo recebido em matéria

escrita por tais meios. E cada nova geração cresce mais voltada para a

comunicação digital do que a geração anterior – seus integrantes são os chamados

“nativos digitais” (PRENSKY, 2001), dentre os quais, a maioria ocupa os lugares nas

carteiras escolares e cujas formas de lidar com a língua e de construir o

conhecimento já diferem dos não nativos digitais.

Grande parte da geração de professores que atua hoje em sala de aula não

pode ser incluída entre os nativos digitais. Pode ser essa a origem das dificuldades

dos docentes de inserir as novas mídias em suas aulas. Ao lado disso, as atividades

escolares de escrita que eles oferecem em suas aulas, muitas vezes, não mobilizam

os alunos como um veículo para aprendizagem. Há uma nítida separação entre o

que se escreve na escola e o que se escreve no cotidiano fora da escola.

As atividades de texto na escola não são destituídas de sentido. Porém, o

valor de ler ou construir sentido de um texto atribuído pelos alunos nesse contexto

está voltado para as lógicas institucionalizadas, pois eles leem e escrevem lição,

dever, redação que o professor exige, assunto da prova, leem e escrevem para

passar de ano, para passar no Enem, para tirar boa nota, para melhorar a letra etc.

96

As atividades de escrita nessas situações que correspondem à lógica atual da

escola preservam o equívoco de que o melhor aluno é o que cumpre as tarefas

mencionadas. A solução para esse problema, então, é reformular a visão da escola

em direção à inserção social do aluno por meio da linguagem, como nunca deveria

ter deixado de acontecer. E mais: as aulas de Língua Portuguesa precisam

considerar a escrita sob a forma que as tecnologias digitais proporcionam, e para

isso é condição imprescindível que o docente esteja atualizado nas teorias que

regem os estudos sobre os meios virtuais.

Uma vez que as aulas de Língua Portuguesa devem acompanhar as

demandas sociais, o professor, por sua vez, deve compreender em nível mais

profundo como se dá a leitura de hipertexto e quais princípios os envolve, pois é

intensa a utilização do meio virtual por todos os seguimentos da sociedade.

Enfim, o meio virtual implica, no hipertexto, a compreensão de novo modo de

leitura, de novas práticas, de novos processos de construção de conhecimento. E os

professores precisam valorizar esses aspectos e, sobretudo, o nível de importância

da interação no hipertexto para que possam oferecer aulas compatíveis às

necessidades da sociedade atual.

As categorias de análise seguiram aspectos relacionados à textualidade do

hipertexto, à coerência e à formação do contexto linguístico. Apresentaram-se as

preocupações com verificar o tipo específico de direcionamento da leitura, sua

deslinearização e seu apelo multissensorial, as evidências de textualidade, o nível

de emancipação do leitor, a coparticipação do leitor, a ausência de limite espaço-

temporal, a inteligibilidade e a interpretabilidade por parte dos comentários dos

participantes, o conhecimento linguístico, o conhecimento enciclopédico e o

conhecimento interacional – tudo isso no âmbito do corpus selecionado.

Os modelos de contexto representam de fato o que é relevante para o

participante em cada ocasião de comunicação e se verificou que a informação

compartilhada possuiu uma base sociocultural comum. Ficou provada a

peculiaridade no processo de construção de sentido no hipertexto: na qual cada

participante colaborou na construção do hipertexto, na compreensão do hipertexto,

sem simultaneidade de lugar, tempo, período. Retomando conceitos apresentados

no primeiro capítulo deste trabalho, verificou-se no corpus: a situacionalidade, que

97

representou a qualidade lógica que torna o texto pertinente em relação à situação

sociocomunicativa em que acontece; a informatividade, que revelou o quanto o texto

é previsível ou não, suas informações conhecidas para o interlocutor; o nível de

informatividade, o qual favoreceu a compreensão do texto em direção ao objetivo do

autor; a intertextualidade, a qual complementou de forma relevante a construção do

sentido por parte do interlocutor; a intencionalidade, que revelou quando o

interlocutor empregou estratégias para alcançar seus objetivos comunicativos.

De fato, existem peculiaridades na construção de sentidos no hipertexto que

o tornam diferente de um texto de leitura linear, ou um texto impresso. Esta tese

observou, por meio da interação que ocorre entre os internautas, como eles se

manifestam na elaboração de seus comentários sobre o texto-fonte (a matéria

jornalística) e os comentários dos demais participantes. Em outras palavras, a

coerência do hipertexto foi analisada por meio dos modelos de contextos que se

apresentaram no ambiente em questão. Também foram verificados aspectos do

conhecimento compartilhado à medida que os leitores demonstraram o nível de

conhecimento sociocultural entre eles e em relação aos autores (autor do texto-fonte

e autores que postaram seus comentários), elementos fundamentais na formação

dos modelos de contextos e, consequentemente, da construção de sentido. Enfim,

é importante destacar que, nesse processo, a coerência se construiu para além dos

elementos linguísticos, estando sempre ligada, dessa forma, à interação.

98

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