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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO
PARANÁ ESCOLADE COMUNICAÇÃO E ARTES
CURSO DE JORNALISMO
UNIVERSITAT CENTRAL DE CATALUNYA
FACULTAT D`EMPRESA I COMUNICACIÓ
GRAU EM PERIODISME
STEPHANIE GRAEML ABDALLA
A EVOLUÇÃO DO CONTEÚDO DOS JORNAIS IMPRESSOS AO FALAR SOBRE A MULHER NA POLÍTICA: UMA ANÁLISE DO ESTADÃO E PERIÓDICO ABC
DURANTE E APÓS AS DITADURAS NO BRASIL E ESPANHA
CURITIBA
2019
STEPHANIE GRAEML ABDALLA
A EVOLUÇÃO DO CONTEÚDO DOS JORNAIS IMPRESSOS AO FALAR SOBRE A MULHER NA POLÍTICA: UMA ANÁLISE DO ESTADÃO E PERIÓDICO ABC
DURANTE E APÓS AS DITADURAS NO BRASIL E ESPANHA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Jornalismoda Pontifícia Universidade Católica do Paraná, para fins de obtenção de titulo de Bacharel em Jornalismo.
Orientadora: Profa. Dra. Suyanne Tolentino de Souza
CURITIBA
2019
STEPHANIE GRAEML ABDALLA
A EVOLUÇÃO DO CONTEÚDO DOS JORNAIS IMPRESSOS AO FALAR SOBRE A MULHER NA POLÍTICA: UMA ANÁLISE DO ESTADÃO E PERIÓDICO ABC
DURANTE E APÓS AS DITADURAS NO BRASIL E ESPANHA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Jornalismo.
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Professora Doutora Suyanne Tolentino de Souza
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
_____________________________________
Professor Mestre Renan Colombo
Pontifíca Universidade Católica do Paraná
_____________________________________
Professora Mestre Criselli Montipó
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, 18 de junho de 2019.
Às mulheres, por tudo o que já fizeram.
Vocês são as protagonistas das histórias
que quero contar.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pela dedicação incondicional e por me ensinarem a persistir no que
me faz feliz. Amo vocês.
Aos meus irmãos, Tati, Rebecs e Nola, por estarem sempre ao meu lado e apoiarem
as minhas ideias, por mais loucas que elas sejam.
Aos meus amigos. Aos que estão perto e aos que estão longe; que eu vejo todos os
dias ou quase nunca. Vocês sabem como são especiais, cada um do seu jeitinho.
A todos os professores, mestres e técnicos que fizeram parte da minha vida.
Obrigada por dividirem seus conhecimentos comigo.
À minha orientadora, Suy, por ter enxugado minhas lágrimas quando eu me
desesperei e por ter acreditado no meu potencial desde o começo.
À tia Cris, por ter me apresentado ao mundo do jornalismo. É muito bom ter alguém
tão pertinho para compartilhar o amor por essa profissão.
Finalmente, agradeço às mulheres pela história que fizeram e fazem todos os dias.
Eu sei que ainda temos muito chão pela frente, mas vai dar tudo certo. Vocês são
minha inspiração.
“Eu conto a minha história não porque ela
é única, mas porque não é”
Malala, ao receber o prêmio Nobel da
paz, em 2014.
RESUMO
Socialmente, as tarefas do âmbito privado foram imcumbidas as mulheres, pois se acreditou, por muito tempo, que o público e o político cabiam ao sexo masculino. Os movimentos feministas questionaram a real fonte da supremacia do homem no mundo todo, pressionando os limites da ordem estabelecida, a fim de obter direitos igualitários. O jornalismo político exerce papeis fundamentais na construção da democracia e, consequentemente, na garantia desses direitos, porém, em alguns momentos da história, foi utilizado como instrumento de poder em governos autoritários. Sendo assim, a presente pesquisa questiona como se deu a evolução do conteúdo jornalístico dos jornais impressos ao falar sobre a mulher na editoria de política, no Brasil e na Espanha, desde os períodos ditatoriais em ambos os países, a partir de uma análise qualiquantitativa dos jornais Estadão e Periódico ABC. Além de responder esse questionamento, objetivou-se identificar como o conteúdo sobre a mulher na política e abordado nos dois veículos; compreender como o contexto histórico-político afeta na construção do conteúdo publicado sobre a temática; e identificar os elementos referentes a formato jornalístico, critérios de noticiabilidade, estrutura textual, fontes e estereótipos de gênero utilizados para tratar o assunto. A partir dos conceitos de Lakatos e Marconi (2017), Duarte e Barros (2008) e Caragnato e Mutti (2006), foram selecionadas seis edições de cada jornal, das quais foram contabilizadas as matérias jornalístico-informativas da editoria de política que pautassem temas do universo feminino ou tivessem mulheres como personagens. O recorte temporal foi feito de maneira transversal, com perspectiva longitudinal, focando em pontos específicos no tempo a fim de estabelecer noções mais amplas da evolução. Cada matéria, então, passou por cinco categorias de análise: 1) gênero e formato jornalístico; 2) critérios de noticiabilidade; 3) estrutura; 4) fontes de informação; e 5) estereotipo de gênero. Com isso, concluiu-se que os formatos mais utilizados pelos jornalistas foram notícia e reportagem, assim como a estrutura de pirâmide invertida, com título e lead clássicos. Os critérios de noticiabilidade mais pautados foram “atualidade”, “relevância social” e “proximidade” e foram usadas, exclusivamente, fontes primarias. A hipótese inicial do trabalho foi comprovada parcialmente, pois partiu-se do princípio de que o conteúdo dos jornais impressos sobre a mulher na política evoluiu positivamente, ainda que seja construído até hoje vinculado a estereótipos de gênero. De fato, as mulheres passaram a ser mais pautadas na editoria de política, mas isso porque mais cargos públicos são ocupados por elas, atualmente. Mesmo assim, temas que pautem as desigualdades e desafios enfrentados pelas mulheres foram quase inexistentes nas edições analisadas, o que impede uma conclusão sobre como se dá a discussão deles e atenta para o fato de que ainda existem vários obstáculos a serem percorridos.
Palavras-chave: Mulheres. Política. Jornalismo. Imprensa. Ditadura.
ABSTRACT
Socially, the tasks of the private sphere were imposed on women, since it was believed for a long time that the public and the politician were male tasks. Feminist movements questioned the real source of man's supremacy throughout the world, pushing the boundaries of the established order in order to obtain egalitarian rights. Political journalism plays a fundamental role in the construction of democracy and, consequently, in guaranteeing these rights, but in some moments of history it has been used as an instrument of power in authoritarian governments. Thus, the present research questions how the evolution of the journalistic content of printed newspapers has developed when talking about women in politics, in Brazil and in Spain, since dictatorial periods in both countries, based on a qualitative quantitative analysis of Periódico ABC and Estadão. In addition to answering this questioning, the objective was to identify how the content about women in politics is approached in both vehicles; understand how the historical-political context affects the construction of published content on the theme; and identify the elements related to journalistic format, noticiability criteria, textual structure, sources and gender stereotypes used to deal with the subject. Based on the concepts of Lakatos and Marconi (2017), Duarte and Barros (2008) and Caragnato and Mutti (2006), six editions of each newspaper were selected, from which were analysed journalistic-informative news of the political publishing that talked about the female universe or had women as characters. The temporal cut was made transversally, with a longitudinal perspective, focusing on specific points in time in order to establish broader notions of evolution. Each subject then went through five categories of analysis: 1) gender and journalistic format; 2) noticiability criteria; 3) structure; 4) sources of information; and 5) gender stereotype. With this, it was concluded that the formats most used by the journalists were news and reporting, as well as the inverted pyramid structure, with classic title and lead. The most prominent noticiability criteria were "actuality", "social relevance" and "proximity" and were used exclusively primary sources. The initial hypothesis of the work was partially proved, since it was based on the principle that the content of printed newspapers on women in politics evolved positively, even though it is built up to date with gender stereotypes. In fact, women are now more included in politics news, but this is because more public offices are currently occupied by them. Even so, themes that address the inequalities and challenges faced by women were almost non-existent in the editions analyzed, which precludes a conclusion on how to discuss them and calls attention to the fact that there are still several obstacles to be covered.
Key-words: Women. Politics. Journalism. Press. Dictatorship.
RESUMEN
Socialmente, las taréas del ámbito privado se imputa a las mujeres, pues se creyó, por mucho tiempo, que el público y el político cabían al sexo masculino. Los movimientos feministas cuestionaron la real fuente de la supremacía del hombre en todo el mundo, presionando los límites del orden establecido, a fin de obtener derechos igualitarios. El periodismo político ejerce papeles fundamentales en la construcción de la democracia y, consecuentemente, en la garantía de esos derechos, pero en algunos momentos de la história, fue utilizado como instrumento de poder en gobiernos autoritarios. Por lo tanto, la presente investigación cuestiona cómo se dio la evolución del contenido periodístico de los periódicos impresos al hablar sobre la mujer en la editorial de política, en Brasil y en España, desde los períodos dictatoriales en ambos países, a partir de un análisis cualquantitativo de los periódicos Estadao y Periodico ABC. Además de responder a ese cuestionamiento, se objetivó identificar cómo el contenido sobre la mujer en la política es abordado en los dos vehículos; comprender cómo el contexto histórico-político afecta en la construcción del contenido publicado sobre la temática; e identificar los elementos referentes a formato periodístico, criterios de noticiabilidad, estructura textual, fuentes y estereotipos de género utilizados para tratar el asunto. A partir de los conceptos de Lakatos y Marconi (2017), Duarte y Barros (2008) y Caragnato y Mutti (2006), se seleccionaron seis ediciones de cada periódico, de las cuales se contabilizaron las materias periodístico-informativas de la editorial de política que pautaran temas del universo femenino o tenían mujeres como personajes. El recorte temporal fue hecho de manera transversal, con perspectiva longitudinal, enfocándose en puntos específicos en el tiempo a fin de establecer nociones más amplias de la evolución. Cada materia, entonces, pasó por cinco categorías de análisis: 1) género y formato periodístico; 2) criterios de noticiabilidad; 3) estructura;
4) fuentes de información; y 5) estereotipo de género. Con ello, se concluyó que los formatos más utilizados por los periodistas fueron noticia y reportaje, así como la estructura de pirámide invertida, con titulo y lead clásicos. Los criterios de noticiabilidad más pautados fueron "actualidad", "relevancia social" y "proximidad" y se utilizaron exclusivamente fuentes primarias. La hipótesis inicial del trabajo fue comprobada parcialmente, pues se partió del principio de que el contenido de los periódicos impresos sobre la mujer en la política evolucionó positivamente, aunque sea construido hasta hoy vinculado a estereotipos de género. De hecho, las mujeres pasaron a ser más incluydas en la editorial de política, pero eso porque más cargos públicos son ocupados por ellas, actualmente. Sin embargo, los temas que persiguen las desigualdades y desafíos enfrentados por las mujeres fueron casi inexistentes en las ediciones analizadas, lo que impide una conclusión sobre cómo se trata de la discusión de ellos y se atenta al hecho de que todavía existen varios obstáculos a recorrer.
Palabras-clave: Mujeres. Politica. Periodismo. Prensa. Dictadura.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Tipologia analítica dos movimentos feministas.........................................17
Quadro 2 – Gêneros jornalísticos e suas funções ...................................................................... 25
Quadro 3 – Formatos jornalísticos ..................................................................................................... 25
Quadro 4 – Formatos do gênero informativo ................................................................................ 25
Quadro 5 – Funções dos títulos ..............................................................................................28
Quadro 6 – Tipos de fontes ................................................................................................................... 29
Quadro 7 – Representatividade das fontes ................................................................................... 29
Quadro 8 – Ação das fontes .....................................................................................................30
Quadro 9 – Crédito das fontes ............................................................................................................. 30
Quadro 10 – Qualificação das fontes................................................................................................ 31
Quadro 11– Categoria gênero e formato jornalístico ................................................................ 45
Quadro 12 – Categoria critérios de noticiabilidade .................................................................... 45
Quadro 13– Categoria estrutura - modelo ...................................................................................... 45
Quadro 14– Categoria estrutura – funções do título ................................................................. 46
Quadro 15 – Categoria estrutura – tipo de lead .......................................................................... 46
Quadro 16– Categoria fontes - tipo ................................................................................................... 46
Quadro 17– Categoria fontes - representatividade .................................................................... 46
Quadro 18– Categoria fontes - ação ................................................................................................. 47
Quadro 19 – Categoria fontes - crédito ............................................................................................ 47
Quadro 20– Categoria fontes - qualificação .................................................................................. 47
Figura 01– Nota – Periódico ABC – 15/11/1970 ......................................................................... 49
Figura 02 – Reportagem – Periódico ABC – 15/11/1990 ........................................................ 49
Figura 03– Reportagem – Periódico ABC – 15/02/2010 ......................................................... 50
Gráfico 01– Presença de cada critério de noticiabilidade nas matérias .......................... 51
Figura 04– Nota – Periódico ABC – 15/02/1970 ......................................................................... 55
Figura 05– Reportagem – Periódico ABC – 15/02/1990 ......................................................... 55
Figura 06 – Chamada de capa e notícia – Estadão – 15/11/1990 ..................................... 56
Figura 07– Notícia– Estadão – 15/02/2010 ................................................................................... 57
Figura 08– Reportagem – Estadão – 15/11/2010 ....................................................................... 57
Figura 09– Notícia – Periódico ABC – 15/02/2010..................................................................... 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados levantados sobre gênero e formato jornalístico .................................... 48
Tabela 2 – Dados levantados sobre critérios de noticiabilidade .................................... .50
Tabela 3 - Dados levantados sobre modelo estrutural ............................................................. 51
Tabela 4 - Dados levantados sobre o cumprimento das funções do título ................. .52
Tabela 5 - Dados levantados sobre o tipo de lead ..................................................................... 52
Tabela 6 - Dados levantados sobre o tipo de fonte ........................................................... 53
Tabela 7 - Dados levantados sobre representatividade das fontes ................................... 53
Tabela 8 - Dados levantados sobre ação das fontes ................................................................ 54
Tabela 9 - Dados levantados sobre crédito das fontes ............................................................ 54
Tabela 10 - Dados levantados sobre a qualificação das fontes .......................................... 54
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 13
2 FEMINISMO E POLÍTICA ........................................................................... 16
2.1 A MULHER NO JORNALISMO .................................................................... 18
2.2 REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA MÍDIA E ESTEREÓTIPO DE
GÊNERO .................................................................................................................. 20
3 JORNALISMO IMPRESSO ......................................................................... 24
3.1 HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL ...................................................... 31
3.2 HISTÓRIA DA IMPRENSA NA ESPANHA .................................................. 33
4 PAPÉIS DO JORNALISMO NA DEMOCRACIA ......................................... 36
4.1 A DITADURA MILITAR NO BRASIL ............................................................ 38
4.2 A DITADURA FRANQUISTA NA ESPANHA ............................................... 40
5 DESCRIÇÃO DE PESQUISA QUALIQUANTITATIVA: ANÁLISE
COMPARATIVA DE CONTEUDO JORNALISTICO ................................................ 42
5.1 OBJETOS DE PESQUISA: O PORQUÊ DA ESCOLHA .............................. 44
5.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE QUALIQUANTITATIVA .................................. 44
5.2.1 Categoria gênero e formato jornalístico .................................................. 44
5.2.2 Categoria critérios de noticiabilidade ...................................................... 45
5.2.3 Categoria estrutura .................................................................................... 45
5.2.4 Categoria fontes ......................................................................................... 46
5.2.5 Categoria estereótipo de gênero .............................................................. 47
6 LEVANTAMENTO DE DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
48
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 59
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 61
13
1 INTRODUÇÃO
Às mulheres, foram atribuídas características relacionadas à emoção, ao
carinho, à afetividade, à compreensão. Às mulheres, foram dedicados os papéis de
mãe, esposa e cuidadora do lar. A elas, foram incumbidas as tarefas do âmbito
privado, pois se acreditou, por muito tempo, que o público e o político cabiam ao
sexo masculino, dominador, independente e proativo. A elas e a todos, se fez
acreditar que a discrepância hierárquica entre homens e mulheres, que determinou
suas respectivas funções na sociedade, era decorrente de uma questão biológica.
Contudo, os vários movimentos feministas que se perpetuaram pelo tempo
questionaram a real fonte da supremacia masculina e, até hoje, colocam em xeque a
estrutura social dos gêneros, na qual vivemos. No mundo todo, o feminismo
pressiona os limites da ordem estabelecida e, ainda que o faça de maneira diferente,
dependendo de questões político-culturais em cada país, foi capaz de garantir
mudanças com relação ao direito de fala, espaço e representação.
Os meios de comunicação, enquanto difusores de informação e formadores
de opinião, possuem papel fundamental na conquista (ou não) de vários desses
direitos. Durante o século XIX e até a virada do século XX, o jornalismo era feito por
e para homens; as poucas mulheres que atuavam na área escreviam no anonimato
e as temáticas voltadas para o público feminino remetiam à esfera privada.
Desde a metade do século XX, a participação feminina nos jornais cresceu,
impulsionada pelas mídias alternativas, assim como a diversidade de temas, e a
figura da mulher passou a ser mais reconhecida no âmbito político. Mesmo assim, as
representações continuaram - algumas continuam até hoje – vinculadas aos
estereótipos de gênero e, ainda que não exista nenhuma limitação oficial ao sexo
feminino, a mulher continua em segundo lugar, com menos oportunidades e mais
desafios.
Tendo isso em perspectiva, a presente pesquisa consiste em uma análise da
evolução do conteúdo jornalístico dos jornais impressos sobre a mulher na editoria
de política dos veículos Estadão, no Brasil e Periódico ABC, na Espanha, desde o
período das ditaduras em ambos os países. Por evolução, considera-se o conceito
biológico, que significa mudança através do tempo e não, necessariamente,
melhora.
14
Além de constatar essa evolução, objetiva-se identificar como o conteúdo
sobre a mulher na política é abordado nos dois veículos; compreender como o
contexto histórico-político afeta na construção do conteúdo publicado sobre a mulher
nos mesmos; e identificar os elementos referentes a formato jornalístico, critérios de
noticiabilidade, estrutura textual, fontes e estereótipos de gênero utilizados para
tratar o tema.
A escolha dos objetos de análise foi feita considerando o tempo de existência
dos veículos, a abrangência deles em seus respectivos países e,
consequentemente, a influência que exercem sobre os mesmos. Também parte-se
do princípio de que o conteúdo dos jornais impressos sobre a mulher na política
evoluiu positivamente, influenciado pelas mudanças político-sociais que ocorreram
no Brasil e na Espanha desde as ditaduras, porém segue sendo construído
vinculado a estereótipos.
Baseando-se, principalmente, nos conceitos dos autores Lakatos e Marconi
(2017), Duarte e Barros (2008), Caragnato e Mutti (2006) e Richardson (1999), a
metodologia de análise qualiquantitativa de conteúdo jornalístico, vinculada à
comparação, foi determinada a fim de cumprir com os objetivos iniciais da pesquisa.
Foram estabelecidas cinco categorias (gênero e formato jornalístico, critérios
de noticiabilidade, estrutura, fontes e estereótipo de gênero) a serem consideradas
em cada uma das matérias analisadas, levando em consideração que o recorte de
cada um dos veículos consiste nos textos jornalístico-informativos sobre mulheres ou
que pautam o universo feminino dentro da editoria de política.
Por fim, a partir da quantificação da frequência de cada critério em suas
respectivas categorias, os resultados serão comparados qualitativamente a fim de
estabelecer um panorama da evolução do conteúdo no Brasil e Espanha, desde as
ditaduras militar e franquista.
A primeira seção do trabalho foi destinada à compreensão do carácter político
dos movimentos feministas em diferentes partes do mundo; à participação da mulher
no jornalismo enquanto profissional e leitora; e à representação da mulher na mídia
bem como os estereótipos de gênero construídos a partir dessa representação,
discutindo a importância dos meios de comunicação na formação de opinião.
Na segunda seção, é feito um apanhado conceitual, baseado nos autores
Jorge Pedro de Sousa, José Marques de Melo, Francisco de Assis, Nilson Lage,
15
Jorge Medina e Aldo Schmitz, do jornalismo impresso, assim como uma
contextualização histórica da imprensa no Brasil e Espanha.
A terceira seção é dedicada à descrição dos papéis do jornalismo na
democracia e dos períodos de ditadura militar, no Brasil e ditadura franquista, na
Espanha, com foco nas atividades jornalísticas e feministas durante eles. Por fim, as
duas últimas etapas da pesquisa consistem na fundamentação e aplicação
metodológica e interpretação dos resultados.
O trabalho está inserido na linha de pesquisa que abrange temas
relacionados à cultura e ambientes midiáticos e se justifica por sua relevância social
e atualidade. Ainda que os temas feminismo, jornalismo e política venham sendo
estudados abundantemente nas últimas décadas, é importante ampliar o leque de
pesquisas que abordam a convergência entre esses campos, ressaltando sua
importância.
16
2 FEMINISMO E POLÍTICA
Na maior parte da história, a desigualdade entre homens e mulheres foi
assumida como reflexo da natureza dos dois sexos e como necessária para a
sobrevivência e o progresso da espécie. O movimento feminista, manifestado na
prática em diferentes discursos, recusa essa condição, compondo uma ampla crítica
social ao denunciar a situação de opressão feminina (MIGUEL; BIROLI, 2014).
Esse movimento se faz crucial à teoria política, à medida que provoca a
reflexão sobre as noções de indivíduo, espaço público, autonomia, igualdade, justiça
e democracia. Enquanto corrente intelectual, o feminismo combina a militância pela
igualdade de gênero e as causas e mecanismos de reprodução da dominação
masculina. (MIGUEL; BIROLI, 2014).
Castells (2018) utiliza-se das palavras de Jane Mansbridge (1995) ao definir
feminismo como o compromisso de colocar um fim à dominação masculina, ainda
que tenha se manifestado de formas diferentes em várias áreas do mundo. De
acordo com o autor, em toda a Europa, Estados Unidos e Grã-Bretanha, o feminismo
se fragmentou, fazendo existir uma linha transversal que atravessa a sociedade,
“enfatizando os interesses e valores femininos, de convenções profissionais a
expressões culturais e partidos políticos” (CASTELLS, 2018, p. 308).
Na Ásia industrializada, ainda há um império patriarcal que limita o feminismo
aos círculos acadêmicos e discrimina acintosamente as mulheres profissionais. O
Japão é o país que mais apresenta os aspectos estruturais necessários para
desencadear uma crítica feminista, mas a ausência dela está fortemente relacionada
à força da família patriarcal e ao cumprimento, por parte do homem japonês, de seus
deveres patriarcais (CASTELLS, 2018).
Em países em desenvolvimento da América Latina, a partir dos anos 1980,
houve um aumento no número de organizações de base popular, em sua maioria,
criadas e dirigidas por mulheres.
Com o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, tanto em novos setores como na economia informal urbana, essas organizações transformaram a condição, organização e conscientização das mulheres. Esses esforços coletivos não resultaram apenas no desenvolvimento de organizações populares, causando impacto nas políticas e instituições, mas também no surgimento de uma nova identidade coletiva, na forma de mulheres capacitadas (CASTELLS, 2018, p. 310).
17
Apesar de que o movimento feminista apresenta formas de orientação muito
diferentes, ligadas aos contextos culturais, institucionais e políticos do local em que
surgem, é justamente essa diversidade que o torna adaptável. Castells (2018)
propõe uma tipologia analítica dos movimentos feministas a fim de investigar o que
eles têm em comum.
QUADRO 01: Tipologia analítica dos movimentos feministas
Tipo Identidade Adversário Meta
Direitos da mulher Mulheres como seres Estado patriarcal e/ou Direitos iguais (liberal socialista) humanos capitalismo patriarcal (inclusive direitos
reprodutivos)
Feminismo cultural Comunidade Instituições e valores Autonomia cultural feminina patriarcais
Feminismo Modo feminino de ser Modo masculino de ser Liberdade matriarcal essencialista (espiritualismo,
ecofeminismo)
Feminismo lésbico Irmandade Heterossexualidade Abolição de gênero sexual/cultural patriarcal pelo separatismo
Identidades Identidade Dominação cultural Multiculturalismo feministas autoconstruida destruído de gênero específicas (étnicas,
nacionais, autodefinidas: p. ex.,
feminista lésbica
negra)
Feminismo Donas de casa/ Capitalismo patriarcal Sobrevivência/ pragmático mulheres exploradas/ dignidade
(operárias, agredidas
autodefesa da comunidade,
maternidade, etc.)
Fonte: Castells, 2018, p. 316.
Com isso, Castells (2018) conclui que a defesa dos direitos da mulher é o
ponto crucial do feminismo e, portanto, o movimento é, positivamente, uma extensão
da luta pelos direitos humanos. Miguel e Biroli (2014) apontam, ainda, outra
convergência entre os vários movimentos feministas: a relação com a política.
Os autores explicam que, principalmente a partir de 1980, o feminismo definiu
uma agenda internacional mais ampla nas discussões teóricas e na prática política
(MIGUEL; BIROLI, 2014):
há, nesse campo teórico, um esforço para compreender permanências num processo histórico em que os direitos foram, de fato, ampliados. As explicações para a convivência entre o aumento da participação das mulheres em diversas áreas da sociedade e a persistência de limites a igualdade de oportunidades – para não falar numa igualdade mais
18
substantiva no acesso a recursos e nas formas de participação – levaram a redefinição de problemas e prioridades na análise das democracias e nos debates contemporâneos sobre justiça (MIGUEL; BIROLI, 2014, p. 2).
O feminismo pressionou os limites da ordem estabelecida e da maneira como
a sociedade pensava tópicos como o voto feminino, o acesso das mulheres a
educação, a exigência de direitos iguais no casamento e no divórcio, o direito da
integridade física e de controlar a capacidade reprodutiva (MIGUEL; BIROLI, 2014).
Essas conquistas reforçam a fala de Michele Perrot (1985) de que as
mulheres “não são passivas nem submissas. A miséria, a opressão, a dominação,
por reais que sejam, não bastam para contar a sua história. Elas estão presentes
aqui e além. Elas são diferentes” (PERROT, 1985, p. 212) e provam que o papel que
lhes foi dado de seres subordinados e dóceis não tem sustentação material.
2.1 A MULHER NO JORNALISMO
O trabalho jornalístico, durante muito tempo, foi uma atividade exclusivamente
masculina. A história da inserção das mulheres na área, ainda que apresente
diferenças relacionadas à cultura e sistema político organizacional em cada país,
partilha lutas similares no mundo todo. Essa subseção da pesquisa não busca focar
em eventos específicos da história das mulheres no jornalismo, por mais que se
aproprie de alguns deles como exemplos, mas sim da evolução como um todo para
compreender a demanda universal que esse tema propõe até os dias de hoje.
No século XIX e início do século XX, a profissionalização das mulheres era
alvo de muitos preconceitos e acreditava-se que a elas não cabia a intromissão nas
lutas políticas. Para Duarte (2003), as mulheres que já escreviam nessa época
possuíam um feminismo interno só pelo desejo de sair do fechamento doméstico.
Mesmo assim, um dos polos principais das publicações femininas valorizava a
mulher em sua função de mãe e esposa; ao mesmo tempo, o polo voltado à
conquista de direitos e emancipação tinha grande parte das publicações feitas em
anonimato, de acordo com Casadei (2011).
A imprensa feminina, como coloca Rodrigues (2004), criou um modelo ideal
de mulher e sugeriu que as demais fossem como ela. Esse ideal, geralmente, estava
19
vinculado ao lar, às compras e à vida social, reduzindo o universo feminino à esfera
privada.
A reprodução da imagem da mulher ligada a esse âmbito, de acordo com
Corrêa-Pinto (1992), convinha ao sistema socioeconômico, especialmente por seus
aspectos de industrialização e consumismo. Segundo a autora, à distância, as
mulheres não deslanchariam a nova distribuição de riquezas “como aconteceria se
passasse a ser paga a enorme quantidade de trabalho - não pago ou mal pago - que
realizavam” (CORRÊA-PINTO, 1992, p.13).
Dentro das redações, as jornalistas eram confinadas à área “marginalizada da
notícia” (CASADEI, 2011, p. 5), tratando de assuntos como moda e fofocas sociais.
Ethel de Souza, ao escrever um breve perfil sobre a imprensa feminina, em 1957,
constatou que eram “inúmeras as publicações feitas especialmente para mulheres. A
maior parte delas não representava, porém, a sua vida, seus anseios, seus
objetivos” (SOUZA, 1957, p.76).
Para o mesmo estudo, a autora analisou as revistas femininas publicadas em
1955, no Brasil, e descobriu que nove das publicações eram traduzidas inteiramente
de revistas do exterior (oito norte-americanas e uma italiana) e cinco eram histórias
de amor em quadrinhos deseducativos sobre condes e condessas. De acordo com
ela, nenhuma dessas publicações procurava elevar a condição da mulher, educá-la
ou apontar soluções para seus problemas.
Contrário à imprensa feminina, o jornalismo é, historicamente, uma atividade
política, que estimula a intervenção crítica na realidade. Melo (2006) explica que,
para a imprensa feminina, “trazer o jornalismo para as suas páginas seria ampliar a
dimensão do mundo e romper o isolamento da mulher em relação ao seu papel de
mãe-esposa-administradora do lar” (MELO, 2006, p.147).
Como isso implicaria em uma redistribuição de riquezas, houve um grande
esforço da imprensa feminina em fazer crer à sua leitora que ela pertencia ao mundo
descrito nas páginas das revistas por motivos biológicos (MELO, 2006).
De acordo com Casadei (2011), as tentativas de quebra desse padrão foram
pouco aceitas. Foi o caso do The Revolution, primeiro jornal explicitamente feminista
dos Estados Unidos, no qual a editora, Elisabeth Staton foi altamente criticada ao
escrever:
20
nós declaramos guerra até a morte à ideia de que a mulher foi criada para o homem. Nós conclamamos a mais alta verdade de que, como o homem, ela foi criada por Deus para a responsabilidade moral individual e para o progresso, aqui e para sempre (CASADEI, 2011, p.6).
Contudo, durante o século XX, à medida que a personagem da mulher surgiu
como decisiva na engrenagem de transição do arcaico para o novo, a imprensa feita
para ela passou a enfrentar a necessidade de se reconfigurar, preocupando-se em
introjetar nas leitoras os novos valores que se projetavam na sociedade (MELO,
2006).
Ao mesmo tempo em que grande parte das publicações femininas se
enquadrava no modelo de imprensa conformista e alienante, alguns jornais e
revistas surgiram com propostas distintas; muitos deles encontraram difíceis
condições de sobrevivência, permanecendo na marginalidade, mas foi assim que, da
imprensa feminina, surgiu a imprensa feminista (MELO, 2006). Para o autor, “trata-
se de uma imprensa na qual se cultiva o jornalismo, cuja intenção é não apenas
discutir a questão feminina, mas situar a mulher na conjuntura política e social em
que vive e atua” (MELO, 2006, p.149).
A imprensa feminista ganhou forma entrelaçada à mídia alternativa, partindo
de uma necessidade que as mulheres tinham de se fazerem ouvir. O discurso
combativo adotado por suas representantes “assumiu o duplo papel de denunciar e
de mobilizar as mulheres na defesa dos seus direitos e na conquista da cidadania”
(WOITOWICZ, 2012, p. 5).
Esse papel, atualmente, permanece válido no sentido de que ainda promove
discursos de diferentes correntes sociais, que buscam manifestar suas lutas através
da comunicação (WOITOWICZ, 2012).
2.2 REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA MÍDIA E ESTEREÓTIPO DE GÊNERO
A dinâmica social determinou papéis diferenciados e hierarquicamente
distintos para homens e mulheres, naturalizando a ausência de mulheres em
espaços e posições de maior poder. Tedeschi (2008), ao dedicar-se a compreender
como a sociedade enxergava o comportamento feminino e criava representações
21
para as mulheres em diferentes momentos na história, identificou discursos em
diversas áreas que justificavam a inferioridade destinada ao sexo feminino.
Essa inferioridade se manifesta, até hoje, na divisão sexual do trabalho, na
alimentação de estereótipos que responsabilizam o âmbito privado à mulher e o
público ao homem, na existência de um ideal feminino, no qual o corpo da mulher é
visto como objeto, e na construção de um self - feita por homens e mulheres - como
produto das aprendizagens que vão realizando ao longo do seu desenvolvimento
(PEREIRA; VERÍSSIMO, 2007).
Os discursos são diariamente impulsionados por agentes de força social, que
corroboram para com o mantimento de ideais coletivos. Os veículos de comunicação
encontram-se entre esses agentes. Biroli (2010) diz que eles podem ser pensados
como ativos participantes na (re)produção ou transformação de práticas, valores e
instituições. Além disso, “configuram as formas atuais da representação e da
participação política nas democracias e legitimam as formas assumidas pelas
relações de gênero” (BIROLI, 2010, p.271).
Miguel e Biroli (2009) explicam que, para tratar especificamente de como os
discursos são produzidos e difundidos pelo campo midiático, “é importante
considerar que o habitus primário dos agentes que constituem o campo é marcado
pelas relações históricas de dominação e subordinação da mulher” (MIGUEL;
BIROLI, 2009, p.65):
não se trata, nos noticiários, de uma exclusão simples da mulher, mas da afirmação de perspectivas sobre a mulher, referenciadas pela estrutura de diferenciações de gênero existente, sobrepondo-se a perspectivas de mulheres que potencialmente expusessem traços históricos que tornariam presentes não apenas as perspectivas dos dominados, isto é, perspectivas produzidas pela própria internalização das assimetrias e distinções que constituem a dominação, mas as tensões, confrontos e dissonâncias que essas relações assimétricas implicam (MIGUEL; BIROLI, 2009, p.65).
O impacto dos meios de comunicação de massa na vida política é
indiscutível, pois altera as formas de discurso, a relação entre representantes e
representados e as vias de acesso para a carreira política (THOMPSON, 1995;
MIGUEL, 2002; GOMES, 2004). Ao mesmo tempo, a mídia reforça a definição
dominante sobre o que é a política e quem participa legitimamente do campo.
Participar legitimamente do campo não se trata da simples presença,
quantitativamente falando, pois ela não é suficiente para indicar a reconfiguração
22
das posições de gênero, tanto no âmbito político quanto no jornalístico (BIROLI,
2010):
um número maior de mulheres no campo político ou jornalístico (...) não significa, necessariamente, a incorporação de discursos e práticas feministas ou mesmo um deslocamento mínimo em relação às práticas convencionais. Sua ausência, no entanto, demonstra que os obstáculos e dificuldades para a inclusão dos diferentes indivíduos e grupos sociais nesses espaços não têm o mesmo impacto sobre homens e mulheres (BIROLI, 2010, p.271).
A autora ainda explica que a existência de estereótipos dentro do discurso
midiático pode colaborar com o impacto e a permanência deles, pois ao serem
“difundidos para um grande número de pessoas, transformam-se em referencias
compartilhadas que fazem parte, simultaneamente, da experiencia individual e
social” (BIROLI, 2011, p.84).
Por isso, indivíduos e temas adquirem relevância e são julgados de acordo
com sua presença na agenda dos meios de comunicação de massa, que, através de
narrativas, atribuem sentido à experiência social. Essas narrativas, contudo, podem
apresentar diferenças e, até mesmo, conflitos de valores e julgamentos dentro de um
mesmo veículo e podem ser apreendidas, compreendidas e ativadas de diversas
formas pelo público (BIROLI, 2010).
Da sub-representação da mulher na política surgem dois conjuntos de
problemas: um é relativo ao funcionamento das democracias liberais, indicando que
a igualdade formal convive com a exclusão de alguns grupos sociais; o outro remete
mais especificamente à manutenção das mulheres em posições subalternas, mesmo
que elas tenham sido inseridas em uma sociedade na qual o direito foi
universalizado e não restringe formalmente sua participação (BIROLI, 2010).
Somada à sub-representação política está a sub-representação nos meios de
comunicação, que desencadeia o reforço de estereótipos de gênero e vincula as
mulheres a uma posição de menor prestígio, marginalizando-as na política.
O termo estereótipo pode ser definido como “padrão estabelecido pelo senso
comum e baseado na ausência de conhecimento sobre o assunto em questão” ou,
ainda, como “concepção baseada em ideias preconcebidas sobre algo ou alguém,
sem o seu conhecimento real, geralmente de cunho preconceituoso ou repleta de
afirmações gerais e inverdades” (ESTEREÓTIPO, 2019).
23
Se aplicado à psicologia, designa um sistema de crenças compartilhadas
acerca de atributos, geralmente traços de personalidade ou comportamentos
costumeiros, atribuídos a determinados grupos. Dessa maneira, os estereótipos
“funcionam como lentes que filtram as informações, retendo, organizando e
estruturando somente estímulos considerados concernentes à estrutura cognitiva”
(MELO; GIAVONI, 2004, p.251).
Quando relacionadas à questão de gênero, as crenças - sejam elas
individuais ou partilhadas - são direcionadas aos atributos considerados adequados
a homens e mulheres. Em 1972, os autores Broverman, Vogel, Broverman, Clarkson
e Rosenkrantz listaram as características que compõem o ideal de competência
masculina e feminina a partir de um questionário aplicado a estudantes
universitários, no qual os participantes deveriam elencar 15 características para cada
sexo. Aos homens, as características mais recorrentes foram atividade,
competitividade, independência, decisão e autoconfiança; enquanto às mulheres
foram selecionadas emocionalidade, gentileza, compreensão e dedicação
(BROVERMAN; VOGEL; BROVERMAN; CLARKSON; ROSENKRANTZ, 1972).
As competências consideradas pertencentes ao universo feminino
automaticamente incumbem à mulher funções do âmbito privado (mãe, esposa,
dona de casa etc.), acatadas socialmente como naturais de sua existência. Contudo,
considerando que o conceito de gênero não se restringe ao sistema binário
feminino/masculino, e sim composto por símbolos que determinam o que é aceito ou
não socialmente (PANKE, 2016), entende-se que essas funções não são de fato, da
natureza primitiva da mulher.
Biroli (2010), ao fazer uma interpretação de Pateman (1993), ressalta que é o
direito patriarcal moderno dos homens que constitui “as noções de indivíduo e
universalidade que estruturam a compreensão liberal da esfera pública” (BIROLI,
2010, p.275).
24
3 JORNALISMO IMPRESSO
Na antiga Grécia, nasceu a historiografia de acontecimentos vividos, que
misturava jornalismo e história; na Roma antiga, foram afixadas as Actas Diurnas,
que referenciavam assuntos importantes para o Império, combates de gladiadores e
atos públicos da família real; na Idade Média, as crônicas tornaram-se populares; e,
entre 1430 e 1440, com a invenção de inúmeros caracteres a partir de metal fundido
(tipografia), Guttemberg permitiu a explosão de conteúdo em papel (SOUSA, 2001).
Foi apenas no final do século XIX, de acordo com Sousa (2001), que, na
chamada segunda geração da imprensa popular, os jornais tornaram-se
economicamente acessíveis à maioria da população. Como explica o autor:
estas circunstâncias provocaram a primeira grande mudança na forma de fazer jornalismo. Os conteúdos tiveram de corresponder aos interesses de um novo tipo de leitores. O jornalismo tornou-se mais noticioso e factual, mas, por vezes, também mais sensacionalista. Seleção e síntese da informação e linguagem factual impuseram-se como fatores cruciais da narrativa jornalística, que posteriormente foram transmitidas de geração de jornalistas em geração de jornalistas, configurando-se como traços da cultura profissional, particularmente visível nas agências noticiosas (SOUSA, 2001, p.24).
Até os dias de hoje, algumas características pautam a forma de se produzir
conteúdo para jornal impresso; características tais são referentes a gênero e formato
jornalístico, critérios de noticiabilidade, estrutura e fontes de notícia. Essa subseção
se preocupa em fundamentar cada uma dessas características, pois elas serão
necessárias para a compreensão das categorias de análise estabelecidas
posteriormente na pesquisa.
José Marques de Melo e Francisco de Assis entendem o jornalismo como
categoria comunicacional, configurada por classes que se expressam sob distintas
formas que, por sua vez, são replicadas em espécies (MELO; ASSIS, 2016). Para os
autores, gênero jornalístico pode ser definido como:
classe de unidades da Comunicação massiva periódica que agrupa diferentes formas e respectivas espécies de transmissão e recuperação oportuna de informações da atualidade, por meio de suportes mecânicos ou eletrônicos (aqui referidos como mídia), potencialmente habilitados para atingir audiências anônimas, vastas e dispersas (MELO; ASSIS, 2016, p.49).
25
Além disso, Melo e Assis (2016) apontam duas características básicas que
definem os gêneros jornalísticos: aptidão para agrupar diferentes formatos e função
social. Assim, apresenta-se o seguinte panorama dos gêneros jornalísticos e de
suas respectivas funções:
QUADRO 02: Gêneros jornalísticos e suas funções
Gênero informativo Vigilância social
Gênero opinativo Fórum de ideias
Gênero interpretativo Papel educativo, esclarecedor
Gênero diversional Distração, lazer
Gênero utilitário Auxílio nas tomadas de decisões cotidianas
Fonte: adaptado de MELO; ASSIS, 2016, p. 49.
O formato jornalístico é o feitio de construção da informação. Essa construção
se dá em comum acordo com as “normatizações que estabelecem parâmetros
estruturais para cada forma, os quais incluem aspectos textuais e, também,
procedimentos e particularidades relacionados ao modus operandi de cada unidade”
(MELO; ASSIS, 2016, p.50).
A partir disso, os autores sugerem a seguinte distribuição de formatos
jornalísticos:
QUADRO 03: Formatos jornalísticos
Formatos do gênero informativo Nota, notícia, reportagem e entrevista
Formatos do gênero opinativo Editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, caricatura, carta e crônica
Formatos do gênero interpretativo Análise, perfil, enquete, cronologia e dossiê
Formatos do gênero diversional História de interesse humano e história colorida
Formatos do gênero utilitário Indicador, cotação, roteiro e serviço
Fonte: adaptado de Melo; Assis, 2016, p. 50-51.
Considerando os formatos indicados acima, a tabela a seguir explica
especificamente, a partir dos conceitos elaborados por Nilson Lage, Jorge Pedro
Sousa e Jorge Medina, cada um dos formatos pertencentes ao gênero informativo,
recorte desta pesquisa.
QUADRO 04: Os formatos do gênero informativo
Autores Nota Notícia Reportagem Entrevista
Nilson Lage Relato de uma Cuida do Qualquer
26
série de fatos a levantamento de procedimento de partir do fato um assunto apuração junto a mais conforme ângulo uma fonte capaz importante. preestabelecido. de diálogo; uma Constitui uma Os assuntos conversa de organização abordados estão duração variável relativamente sempre com personagem estável, ou disponíveis, notável ou portador componente podendo ou não de conhecimentos lógico e possui ser atualizados por ou informações de elementos um acontecimento. interesses para o escolhidos Estilo e linguagem público; matéria segundo são mais flexíveis e publicada com critérios de variam de acordo informações
valor. com veículo, colhidas nessa público e assunto. conversa.
Jorge Pedro Pequeno Informa com Desenvolve-se Sousa enunciado profundidade e através de uma
reportativo, de exaustividade, sequência de
geralmente até contando uma perguntas e
2000 história. Um respostas,
caracteres, no espaço apropriado segmentadas, se qual são para expor causas necessário, em
sempre e consequências blocos temáticos. relatados fatos de um Serve,
sob a forma de acontecimento, essencialmente, descrições ou para contextualizá- para revelar a
citações. lo, interpretar e personalidade de aprofundar, mas um ator social ou sempre num estilo para dar a
vivo, que aproxime conhecer o seu
o leitor do ponto de vista
acontecimento, que sobre uma
imerja o leitor na realidade.
história.
Jorge Relato de um Puro registro de Relato ampliado de Permite ao leitor Medina acontecimento fatos, sem um acontecimento. conhecer opiniões
entrevistados O jornalista vai ao e ideias das
local para apurar o pessoas
fato. envolvidas no
ocorrido ou em
determinado
assunto.
Fonte: a autora, 2019.
Outro conceito importante na prática jornalística é o de critérios de
noticiabilidade, relacionado à hierarquização de acontecimentos e à transformação
deles em notícia. Segundo Sousa (2001), “a necessidade de se fazerem escolhas
torna o jornalismo permeável a críticas. Mas valorizar, hierarquizar e selecionar são
atividades inerentes ao jornalismo” (SOUSA, 2001, p.38).
27
Os critérios de noticiabilidade não são rígidos nem universais; eles mudam ao
longo do tempo e são apresentados por diferentes autores, de maneira distinta.
Galtung e Ruge (1965) foram pioneiros ao listarem os valores-notícia. Dentre os
critérios selecionados estavam: proximidade, momento do acontecimento,
significância, proeminência social dos sujeitos envolvidos, proeminência das nações
envolvidas nas notícias, consonância, imprevisibilidade, continuidade, composição e
negatividade.
Altheide (1976) considerou na valoração do que era suscetível de virar notícia
a perspectiva prática dos acontecimentos, ou seja, a factualidade deles. Nessa
mesma linha, Golding (1981), sugeriu três critérios de valor notícia: audiência,
acessibilidade e adaptação e, um ano antes, Nisbett e Ross (1980) consideraram o
caráter “vivo” da história como fator determinante para virar informação.
Em 1987, Wolf classificou os critérios de valor notícia em relativos ao
conteúdo (importância e interesse das notícias), ao produto (que têm a ver com a
disponibilidade das informações e com as características do produto informativo), ao
meio, ao público e à concorrência. Logo após isso, Nelson Traquina, em 1988,
adicionou à lista o fator atualidade - uma adaptação do item ‘momento do
acontecimento’, proposto por Galtung e Ruge -, afirmando que o tempo pode
desencadear outras notícias.
Sintetizando todos os autores mencionados acima, Sousa (2001) diz que a
seleção e a hierarquização informativa partilham de critérios relacionados às
influências pessoais do jornalista, à postura social da organização noticiosa (como a
inter-relação desta com os restantes news media), a um pendor ideológico e um
pendor cultural, resultante das culturas profissional, de empresa e do meio.
Além de atentar-se aos gêneros, formatos e valores notícia, o jornalismo
impresso preocupa-se com a estrutura do conteúdo que oferece. Ainda que, de
acordo com Sousa (2001), os modelos estruturais não sejam essenciais para
garantir a qualidade de um texto jornalístico, eles são quotidianamente aplicados nos
jornais. Dentre esses modelos estão: a construção por blocos, na qual cada bloco é
autônomo; a pirâmide, que reserva a informação mais relevante para o final do texto;
a pirâmide invertida (talvez o modelo mais utilizado), que apresenta o mais
importante no lead da notícia; a progressão cronológica, útil para recordar, etapa por
etapa, como se chegou à determinada situação; a regra dos três tempos, que
consiste na estruturação de um texto em três etapas, unidas pela lógica e pela
28
coerência do texto (introdução, desenvolvimento e conclusão); pergunta e resposta;
e por itens, que corresponde à fragmentação do texto em vários subtemas (SOUSA,
2001).
Ainda na categoria de estrutura, discute-se título e lead. O título, segundo
Amaral (1987), chama a atenção do leitor para a matéria, de forma objetiva, clara,
apelativa, resumida e capaz de prender a atenção do leitor e levá-lo ao texto:
qualquer observador pode julgar um jornal por seus títulos. Eles dão bem o tom da publicação - séria, escandalosa, equilibrada. Informam, também, sobre a qualidade de seus redatores e sua capacidade criadora (...). Um mau título altera, até mesmo destrói, a qualidade de uma boa matéria (AMARAL, 1987, p.86).
Para o autor, as características exigidas no título são palavras curtas, usuais e
colocadas em estilo correto. Além disso, o título deve corresponder ao conteúdo do
texto que ele resume e interpreta (AMARAL, 1987).
Sousa (2001) completa o pensamento elencando as seguintes funções dos
títulos:
QUADRO 05: Funções dos títulos Revelar a essência da notícia Antecipar a história sem a esgotar Anunciar e apresentar a história e publicitá-la Despertar a atenção do leitor Atrair o leitor Agarrar o leitor Imprimir certa estética ao jornal, dentro de um determinado modelo gráfico Organizar graficamente o espaço do jornal Ajudar a hierarquizar as peças, tendo por base o esquema gráfico do jornal Fonte: adaptado de Sousa, 2001, p. 203.
O lead, de acordo com a teoria da forma da notícia clássica, de Nilson Lage, é
o primeiro parágrafo de um texto jornalístico, sendo uma designação mais
apropriada para notícias e reportagens. Conforme explica o autor, “trata-se do relato
sumário e particularmente ordenado do fato mais interessante de uma série” (LAGE,
1982, p.74), devendo responder às questões ‘o que?’, ‘quem?’, ‘quando?’, ‘onde?’,
por quê?’ e ‘como?’. O lead se caracteriza classicamente como:
aquele ordenado segundo o princípio da precedência da notação mais interessante; aquele constituído (estruturalmente ou na forma manifesta) de um único período, ocupando de três a cinco linhas datilografadas de 72 toques por linha; aquele constituído de uma única oração principal, isto é, de
29
uma proposição declarativa cujos termos podem ser palavras isoladas, locuções ou orações subordinadas (LAGE, 1982, p.74).
O lead que não se encaixa nas características descritas trata-se do soft lead
ou lead indireto, que tem a função de preparar o leitor para a obtenção da
informação principal e “são, geralmente, usados quando uma peça jornalística
aborda um assunto mais curioso, interessante ou insólito do que importante”
(SOUSA, 2001, p.228).
Por fim, outra categoria considerada em um texto jornalístico são as fontes de
notícia. Aldo Antonio Schmitz a partir de outros autores como Gierber e Jonhson
(1961), Sigal (1973), Gans (1980), McNair (1998), Pinto (2000), Lage (2001) e
Chaparro (2009), classifica as fontes jornalísticas e propõe uma taxonomia que lista
os tipos de fonte (primária e secundária), sua representatividade (oficial, empresarial,
institucional, individua, testemunhal, especializada e de referência), ação (proativa,
ativa, passiva e reativa), crédito (identificada e sigilosa) e qualificação (confiável,
fidedigna e duvidosa) (SCHMITZ, 2011).
A categorização taxonômica de Schmitz é fundamental para compreender o
vasto universo das fontes de informação e como elas são essenciais para a
construção do texto jornalístico.
QUADRO 06: Tipos de fontes
Fonte Aquela que fornece diretamente o essencial de uma matéria por estar próxima ou na primária origem da informação. Geralmente revela dados em primeira mão, que podem ser
confrontados com depoimentos de fontes secundárias (SCHMITZ, 2011, p.8).
Fonte O tipo de fonte que contextualiza, interpreta, analisa, comenta ou complementa a secundária matéria jornalística, produzida a partir de uma fonte primária. Igualmente, é com quem o
repórter repercute os desdobramentos de uma notícia. Também é consultada para a preparação de uma pauta ou a construção das premissas genéricas ou contextos ambientais (SCHMITZ, 2011, p.8).
Fonte: adaptado de Schmitz, 2011, p. 8.
QUADRO 07: Representatividade das fontes
Oficial Refere-se a alguém em função ou cargo público que se pronuncia por órgãos mantidos pelo Estado e preservam os poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário), bem como organizações agregadas (juntas comerciais, cartórios de ofício, companhias públicas etc.) (SCHMITZ, 2011, p.9).
Empresarial É quem representa uma corporação empresarial da indústria, comércio, serviços ou do agronegócio (SCHMITZ, 2011, p.10).
Institucional Representa uma organização sem fins lucrativos ou grupo social. Normalmente, a fonte institucional busca a mídia para sensibilizar e mobilizar o seu grupo social ou a sociedade como um todo e o poder público, para defender uma causa social ou
30
política (advocacy), tendo os meios de comunicação como parceiros (SCHMITZ, 2011, p.10).
Individual A fonte individual representa a si mesma. Pode ser uma pessoa comum, uma personalidade política, cultural, artística ou um profissional liberal, desde que não fale por uma organização ou grupo social (SCHMITZ, 2011, p.10).
Testemunhal A fonte testemunhal funciona como álibi para a imprensa, pois representa aquilo que viu ou ouviu, como partícipe ou observadora. Desempenha o papel de “portadora da verdade”, desde que relate exatamente o ocorrido (SCHMITZ, 2011, p.11).
Especializada Trata-se de pessoa de notório saber específico (especialista, perito, intelectual) ou organização detentora de um conhecimento reconhecido. Normalmente está relacionada a uma profissão ou área de atuação. Tem a capacidade de analisar as possíveis consequências de determinadas ações ou acontecimentos (SCHMITZ, 2011, p.11).
Referência A fonte de referência aplica-se à bibliografia, documento ou mídia que o jornalista consulta. Trata-se de um referencial que fundamenta os conteúdos jornalísticos e recheia a narrativa, agregando razões e ideias (SCHMITZ, 2011, p.12).
Fonte: adaptado de Schmitz, p. 10-12.
QUADRO 08: Ação das fontes Proativa Permanentemente disponíveis aos jornalistas e fornecem informações sobre seus eventos
com antecedência e de acordo com os critérios de noticiabilidade, buscando a ascendência ao meio jornalístico, para garantir notoriedade e reconhecimento, tendo em vista a divulgação contínua de seus fatos e interesses (SCHMITZ, 2011, p.13).
Ativa Mantém uma regularidade no relacionamento com a mídia e uma estrutura profissional de comunicação. Age de forma equilibrada na esfera pública, utilizando a mídia para defender os seus interesses e gerir a sua imagem e reputação perante os seus públicos prioritários (stakeholders) e a sociedade (SCHMITZ, 2011, p.14).
Passiva Algumas fontes são passivas e não alteram essa sua natureza, como é o caso das referências (bibliografia, documento e mídia), disponíveis à consulta dos jornalistas. Mas organizações, grupos e pessoas também podem ter uma atitude passiva, de se manifestarem somente quando consultadas por repórteres, fornecendo estritamente as informações solicitadas (SCHMITZ, 2011, p.14).
Reativa Pessoas e organizações que agem discretamente, sem chamar a atenção da mídia (low
profile) ou para evitar a “invasão de sua privacidade”, mesmo sendo notórias e detentoras de informações relevantes e de interesse público (SCHMITZ, 2011, p.14).
Fonte: adaptado de Schmitz, p. 13-14.
QUADRO 09: Crédito das fontes
Identificada Aquela que disponibiliza nome (de preferência completo ou como a pessoa é (on) conhecida), status, profissão, cargo, função ou condição, a quem representa e direito
de imagem (SCHMITZ, 2011, p.15).
Sigilosa (off) Quando entre o jornalista e a fonte se estabelece uma relação de confiança que pode incluir o compromisso do silêncio quanto à origem da informação (SCHMITZ, 2011, p.16).
Fonte: adaptado de Schmitz, p. 15-16.
31
QUADRO 10: Qualificação das fontes
Confiável Aquelas que mantêm uma relação estável, são acessíveis e articuladas, disponibilizam declarações ou dados de forma eficaz, isto é, a informação certa e verdadeira na hora esperada ou rapidamente (SCHMITZ, 2011, p.18).
Fidedigna Embora não mantenha um histórico de confiança mútua, exerce seu poder pela posição social, inserção ou proximidade ao fato (SCHMITZ, 2011, p.18).
Duvidosa Aquelas que expressa reserva, dúvida, hipótese, e mesmo suspeita. Sua posição contém crédito até que se prove o contrário (SCHMITZ, 2011, p.19).
Fonte: adaptado de Schmitz, p. 18-19.
3.1 HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL
Nilson Lage (1982) divide a história do jornalismo no Brasil em quatro
períodos distintos: o de atividade panfletária e polêmica, correspondente ao Primeiro
Reinado e Regências; o de atividade literária e mundana, correspondente ao
Segundo Reinado; o de formação empresarial, na República Velha; e a fase atual,
“marcada por oposições aparentes do tipo nacionalismo/dependência,
populismo/autoritarismo, tanto quanto pelo uso intensivo da comunicação no controle
social” (LAGE, 1982, p.29).
A Imprensa chegou oficialmente ao Brasil com a corte de D. João VI e sua
primeira fase culminou com a franca atividade política do período da Regência
(LAGE, 1982). Antes disso, durante a época colonial qualquer atividade gráfica era
proibida. Nelson Sodré (2004) diz que o livro era visto com extrema desconfiança,
“natural nas mãos dos religiosos e até aceito apenas como peculiar ao seu ofício, e a
nenhum outro” (SODRÉ, 2004, p. 11). Segundo o autor, a entrada de livros no país,
com exceção dos poucos cobertos pelas licenças da censura, era clandestina e
perigosa (SODRÉ, 2004).
Aponta-se o Correio Brasiliense como primeiro periódico no país, que era
editado na Inglaterra por Hipólito José da Costa e começou a circular no dia 1 de
junho de 1808. Três meses depois, foi lançada a Gazeta como órgão oficial do
Governo, no Rio de Janeiro, dirigida por Frei Tibúrcio José da Rocha e censurada
pelo Conde de Linhares (LAGE, 1982).
Na segunda fase da imprensa brasileira, na corte do segundo império, foram
fundados alguns jornais duráveis. Os mais antigos deles foram o Jornal do Comércio
(1827), a Gazeta das Notícias (1874), O Estado de S. Paulo (1875) e o Jornal do
32
Brasil, fundado no início da República, em 1891. Os redatores da época eram
literários como Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompéia, José Veríssimo e
os correspondentes internacionais eram Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Além
deles, os jornalistas eram Joaquim Nabuco, Quintino Bocaiúva, José do Perocínio,
Artur Azevedo e Rui Barbosa (LAGE, 1982).
Nesse mesmo período – referente às duas primeiras fases da imprensa -,
surgiram, também, vários pequenos jornais que, segundo Sodré (2004), eram muito
importantes para a conformação do ambiente político e social da época. O objetivo
do jornalismo era tomar posição, tendo em vista a mobilização dos leitores para
diferentes causas e sendo considerado um dos principais instrumentos de luta
política (SODRÉ, 2004).
O jornalismo da terceira fase “descobriu a publicidade e a perspectiva
empresarial” (LAGE, 1982, p. 30). Assim, os pequenos jornais de estrutura simples
começaram a ser substituídos por empresas jornalísticas, dotadas de equipamentos
gráficos sofisticados. Além disso, vários padrões europeus passaram a ser
adotados, lançando mão de folhetins e caricaturas e proliferando o leque de revistas
ilustradas, críticas e de costume. Nessa época, também, passaram a ser feitas
publicações voltadas para públicos específicos, como as mulheres, e a cobertura
jornalística se expandiu, explorando as editorias de esportes, casos policiais e
eventos populares (SODRÉ, 2004).
O fim da República Velha, marcado pela revolução de 1930 de Getúlio
Vargas, considerado por Lage (1982) como a quarta fase da imprensa, liquidou
temporariamente o jornalismo político e corrompeu jornalistas uma vez que a
imprensa foi submetida ao DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Além
disso, as transformações urbanas criaram “uma nova classe de leitores ‘avançados’,
‘modernos’, cosmopolitas que se propunham liberais” (LAGE, 1982, p.31):
por todo o pais, as inovações foram sendo imitadas, como signo do desejável, do hegemônico; longe de serem postas de lado, as reformas gráficas e editoriais se amiudaram a partir de 1964, quando a repressão do conteúdo estimulou a busca de apresentação atraente, moderna; e o regime autoritário ergueu a bandeira da eficiência, da tecnocracia, do cosmopolismo (LAGE, 1982, p.32).
Assim, projetou-se uma ideologia de distinção de classes e os jornais
deixaram de ser feitos para todos, mas para camadas do público. Enquanto as
33
colunas sociais ganharam seriedade, as sindicais perderam espaço e as editorias de
economia deram lugar aos press releases das multinacionais, dos lobbies e do
Governo. Além disso, a publicidade, sobretudo institucional, tornou-se abundante
nos veículos de comunicação (LAGE, 1982).
Posterior a divisão feita por Lage, Sodré (2004) adiciona uma nova fase, a
qual se vive até hoje, a história da imprensa, marcada pela expansão das mídias
eletrônicas, pela perda de peso dos grandes jornais e pela uniformidade de
posições, compatíveis as forças políticas dominantes (SODRE, 2004).
3.2 HISTÓRIA DA IMPRENSA NA ESPANHA
O período entre os séculos X e XVI foi chamado por Sáiz (1990) de pre-
historia do jornalismo; nele, a informação circulava por meio de “crônicas monacais,
contos de menestréis, peregrinos, viajantes, comerciantes, religiosos e soldados que
desempenhavam atividades desde o começo da Idade Média” (SÁIZ, 1990, p. 23,
tradução nossa).1 Depois disso, impulsionada pela invenção de Gutenberg, a notícia
deixou de ser principalmente transmitida por vias orais com o aparecimento dos
primeiros jornais. No século XVII, surgem as primeiras Gazetas, com notícias que se
relacionam entre si, oficializando, então, a produção de material impresso (SÁIZ,
1990).
Como coloca Idarreta (2000), no século seguinte, os periódicos se convertem
em divulgadores de novas ideias, se estabelecem os conceitos de imprensa legal e
clandestina, imprensa publicista – inspirada pelo centralismo da monarquia e que
provoca o auge do jornalismo em Madrid – e popularizam-se os periódicos políticos
e econômicos, muito diferentes dos literários e culturais que predominavam nos
séculos anteriores (IDARRETA, 2000).
A partir de 1808, há uma proliferação de periódicos, folhetos e panfletos de
todos os tipos e as discussões sobre liberdade de imprensa tornam-se mais
veementes. Na Constituição de 1812, o artigo 371 garante a todos os espanhóis o
direito de escrever e publicar suas ideias políticas sem a necessidade de licença,
revisão ou aprovação (IDARRETA, 2000):
_______________
1 (...) cronicas monacales, los relatos de juglares, peregrines, viajeros, comerciantes, religiosos y soldados que desarrollan su actividad desde el comienzo de la Edad Media (SAIZ, 1990, p.23).
34
os anos de reinado de Isabel II são quando se consolida progressivamente a liberdade de imprensa (...) fazendo nascer nos anos das regências (1833-1843) o até hoje chamado “quarto poder”. Ao longo de todo o reinado vemos se consolidar uma burguesia que se une, dentre outras questões, completamente ao desenvolvimento livre da imprensa e para que apareça o conceito de opinião pública (...). Assim se dão os primeiros passos para que a imprensa seja um verdadeiro meio de comunicação social, estabelecendo-se uma inquestionável relação entre povo e político (IDARRETA, 2000, p. 249,
tradução nossa).2
Segundo Seoane (1996), no século XX, acaba-se de se consolidar o modelo
jornalístico desenhado no último terço do século anterior, que separar os periódicos
de empresa dos de opinião. Além disso, impulsionados pelo desenvolvimento das
agências de notícias, do telegrafo e do telefone, novos gêneros jornalísticos
surgiram e começou-se a discutir mais sobre a profissão do jornalista (SEOANE,
1996).
É nesse período também que, mediante o progresso com relação à liberdade
de expressão, anteriormente conquistado, coloca-se um freio à imprensa, como
consequência da guerra civil (SEOANE, 1996). O jornalismo é, então, dirigido pelo
Estado, funcionando a seu serviço. Como coloca Idarreta (2000), a censura e o
slogan sobre as notícias e os registros dos jornalistas e a designação dos diretores
dos jornais mostraram “a verdadeira face do novo regime franquista” (IDARRETA,
2000, p. 251, tradução nossa).3
No fim do período ditatorial e durante a fase de transição para a democracia
na Espanha, os meios de comunicação e, em especial, a imprensa diária
desempenharam o papel tradicional que, até então, lhes havia sido vedado: o de
mediadores entre o poder político e a população (MONTERO; VIRGILI; ORTEGA,
2008):
nos últimos anos do franquismo, a imprensa se converteu em um “parlamento de papel” (Barrera, 1995; Chulia, 2001). Uma vez morto Franco, foram abolidos os artigos mais obstrutivos da lei de 1966, abrindo caminho para que
_______________
2 Los anos del reinado de Isabel II van a ser los del afianzamiento progresivo de la libertad de prensa (...) haciendo nacer en los anos de lãs Regencias (1833-1843) el au hoy denominado “cuarto poder”. A lo largo de todo el reinado veremos ir afianzandose uma burguesia que se unira, entre otras cuestiones, completamente al desarrollo libre de la prensa y a aparecer el concepto de opinion publica (...). Asi se daran los primeros pasos para que la prensa sea um verdadero médio de comunicacion social, estabeleciendose uma inudable relacion entre “pueblo” y “político” (IDARRETA, 2000, p. 249).
3 La verdadera cara del nuevo regimen franquista (IDARRETA, 2000, p. 251).
35
as eleições de junho de 1977 pudessem ser celebradas com todas as
garantias (MONTERO; VIRGILI; ORTEGA, 2008, p. 295, tradução nossa).4
De acordo com os autores, a partir desse momento, a imprensa começou a
introduzir em suas páginas, de maneira sistemática, novos valores associados ao
regime democrático e novos atores políticos, partidos e sindicatos que eram pouco
conhecidos pelos espanhóis (MONTERO; VIRGILI; ORTEGA, 2008).
_______________
4 En los últimos anos del franquismo la prensa se convertio en “el parlamento de papel” (Barrera, 1995; Chulia, 2001). Uma vez muerto Franco, se abolieron los artículos mas obstructivos de la ley del 66, despejando com ello el camino para que lãs elecciones de junio de 1977 pudieran celebrarse con todas las garantias (MONTERO; VIRGILI; ORTEGA, 2008, p. 295).
36
4 PAPÉIS DO JORNALISMO NA DEMOCRACIA
No campo acadêmico anglo-saxônico, com base na tradição dos pensadores
liberais ingleses e norte-americanos, o jornalismo como elemento essencial do
processo democrático desempenha três papéis: o de representação pública (o
Quarto Poder), o de “cão de guarda” do público e como fonte de informação pública
(SOARES, 2009).
Soares (2009) explica que “o jornalismo enquanto quarto poder pauta a
questão da representação política pela mídia” (SOARES, 2009, p.110). A expressão
foi cunhada por Edmund Burke para referir-se ao poder político da imprensa na
Inglaterra do século XVIII, ao lado dos três outros “estados”: os Lordes, a Igreja e os
Comuns. Essa ideia se manteve na estrutura dos três poderes (clero, nobreza e
burguesia) durante a Revolução Francesa, no século XIX. Nessa época, a imprensa
era identificada com escritores de terceira categoria, mas, ao mesmo tempo, os
jornalistas eram temidos como perigosos revolucionários por sua atitude antagônica
ao poder político. (TRAQUINA, 2005):
o jornalismo necessitava de uma legitimidade para tranquilizar os receios, justificar o seu lugar crescente na sociedade, e dar cobertura a um negócio rentável. Encontrou essa legitimidade nos intérpretes convincentes e influentes da teoria da opinião pública (...) Segundo o historiador George Boyce, a imprensa atuaria como um elo indispensável entre a opinião pública e as instituições governantes (TRAQUINA, 2005, p. 47).
A ideia de quarto poder foi interpretada por vários autores - interpretações
estas que contribuíram para a maneira como o jornalismo político se estrutura hoje:
Pierre RoyerCollard pensou na imprensa como responsável por verificar o poder do
governo central tal como os parlamentos o haviam feito antes; Réné de
Chateaubrian relacionou a opinião pública e o governo, estabelecendo que as
câmaras julgam os interesses particulares de um país, enquanto a nação faz esse
julgamento a partir da imprensa; James Mills, por fim, defendeu que o jornalismo
deveria ser um instrumento para obrigar o governo a efetuar reformas sociais
(TRAQUINA, 2005).
A partir disso, no mundo contemporâneo, o jornalismo foi além da função
antagônica do Quarto Poder; em parte, também, porque a compreensão de poder se
tornou mais complexa. De acordo com Seabra e Sousa (2006), “noções como
inclusão e exclusão, qualidade de vida, direitos humanos e da natureza
37
ultrapassaram a esfera clássica dos poderes republicanos e da democracia liberal”
(SEABRA; SOUSA, 2006, p.30).
Em busca do estabelecimento de uma sociedade plenamente democrática,
Rubim (2000) afirma que uma concepção atualizada da questão do poder e de sua
socialização torna-se essencial:
Michel Foucault, ao afirmar o caráter relacional do poder, agora formulado como relações que disseminam por toda a tessitura social, como complexa rede de dispositivos e mecanismos da qual nada ou ninguém escapa, tornou possível localizar o poder não como um ponto específico na estrutura societária - por exemplo, o Estado -, pensá-lo não como algo coisificado, objeto que se possui, sem mais. O poder emerge aqui como relação de força, como prática que se exerce em disputa. O poder aparece então como práticas que se alastram e perpassam todas as relações sociais (RUBIM, 2000, p. 9).
Essas perspectivas, vinculadas à teoria democrática, apontaram para que o
jornalismo cumprisse com seu segundo papel. O papel de cão de guarda remete à
função de tornar inaceitável publicamente aquilo que é aceitável no âmbito privado.
“Nesse sentido, a mídia atua como aliada dos cidadãos, que não detêm mandatos
nem poder, diante dos desmandos da autoridade” (SOARES, 2009, p.110).
Essa função foi listada por Schudson (2008) como investigação da ação dos
diversos agentes do poder e foi considerada pelo autor um dos pontos cruciais do
jornalismo para servir a democracia, ainda que ele não a produza e vice e versa.
Ao mesmo tempo em que tem a função de vigiar o poder político e proteger
os cidadãos de eventuais abusos dos governantes, o jornalismo deve fornecer à
população as informações necessárias para que possa desempenhar suas
responsabilidades cívicas. Isso remete à identidade jornalística um conceito central
de serviço público (TRAQUINA, 2005) e traz à tona o papel informativo da mídia, que
promove a racionalidade pública e a autodeterminação coletiva (SOARES, 2009).
Rubim (2004), ao estudar o enquadramento da mídia e política, afirmou que:
a mídia é entendida como “fonte de informação” e seu papel é definido como o de informar os cidadãos. Para bem servir a democracia, segundo este enfoque tradicional, a mídia deve transmitir informações de forma objetiva e imparcial para a audiência (...). Implícita, neste paradigma, está a visão de que, ao tratar de temas políticos, a mídia deve impedir que valores e ideologias (principalmente dos proprietários e jornalistas) interfiram no relato dos “fatos” (a noção de objetividade) ou evitar que os meios de comunicação favoreçam um grupo, partido ou candidato (a noção de imparcialidade) (RUBIM, 2004. p.74).
38
Como afirma Castells (2015), o que as pessoas pensam sobre as suas
instituições – a mídia é uma delas - e como elas se relacionam com a cultura de sua
economia e de sua sociedade “definem de quem é o poder que pode ser exercido e
como ele pode ser exercido” (CASTELLS, 2015, p.471).
O autor ressalta, contudo, que o meio de comunicação não é a mensagem,
embora condicione o formato e a distribuição dela. O jornalismo exerce a função de
emissor da mensagem e é apenas um dos formadores de seu significado; “o outro é
a mente receptora, tanto individual quanto coletiva” (CASTELLS, 2015, p.472).
4.1 A DITADURA MILITAR NO BRASIL
Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob um governo militar ditatorial que, de
acordo com Silva Filho (2008), situou-se no cenário de “política de campo, seleção
do inimigo objetivo, técnica de eliminação e negação do crime dentro do crime”
(SILVA FILHO, 2008, p. 154) que assolou o século XX, marcado por duas grandes
guerras e pela hostilidade entre seres humanos e suas ideologias.
Glenda Mezarobba (2010) completa esse pensamento ao dizer que a ditadura
brasileira seguiu a premissa de “Segurança Nacional”, instituída internacionalmente
durante a Guerra Fria, “constituída para eliminar a subversão interna de esquerda,
reestabelecer a ordem em seu território, e estruturada de forma a disseminar o medo
e desmobilizar a sociedade” (MEZAROBBA, 2010, p. 7), classificando como inimigos
do Estado todos os que se opunham as suas ideias.
A autora, ainda, contextualiza a ditadura militar no Brasil em três fases
diferentes. A primeira delas se inicia em 1964, com o aumento do poder Executivo
com a edição do AI-1. O ato, como coloca Mezarobba (2010), “suspendeu por seis
meses as garantias constitucionais da vitaliciedade e estabilidade” (MEZAROBBA,
2010, p. 8), permitindo a demissão ou dispensa de servidores civis ou militares, e
autorizou a suspensão dos direitos políticos e a cassação de mandato eletivo.
Após isso, o segundo e terceiro ato, respectivamente, tornaram as eleições
indiretas, extinguindo partidos políticos, e ampliaram os poderes das Assembleias
Legislativas, que nomeavam governantes e prefeitos (MEZAROBBA, 2010).
39
A segunda fase foi marcada pela implantação do AI-5, em dezembro de 1968,
que deu poderes ao presidente da república para fechar provisoriamente o
Congresso Nacional. Para Mezarobba (2010), “foi o período onde a repressão
atingiu seu grau mais elevado, com forte censura à imprensa e ações punitivas em
universidades” (MEZAROBBA, 2010, p. 9).
Por fim, a terceira fase começou em 1974, com a posse do general Ernesto
Geisel e foi marcada pela lenta abertura política. Quatro anos depois disso, os
banimentos políticos começaram a ser revogados, títulos de nacionalidade foram
concedidos aos exilados políticos e, dez anos mais tarde, o AI-5 deixou de vigorar no
país (MEZAROBBA, 2010, p.9).
No contexto de repressão do regime militar brasileiro, assim como em todos
os projetos políticos autoritários, “a construção dos sujeitos ocorre de forma unitária
e não diversificada” (COLLING, 2004, p. 7), o que contribuiu, ainda mais, para a
invisibilidade da figura da mulher no contexto político:
a sociedade é dividida em dois blocos antagônicos: situação e oposição, igualando-se os sujeitos. A esquerda tradicional repete a mesma formula: ou se é sujeito burguês ou proletário. As diversidades são entendidas como diversidades da luta principal. Estes dois discursos anulam as diferenças e constroem sujeitos políticos únicos, desconsiderando a presença feminina e enquadrando-a em categorias que a desqualificam. Nesta medida, instituiu-se a invisibilidade da mulher como sujeito político (COLLING, 2004, p. 7).
A autora coloca que a mulher militante da época era encarada como não
verdadeira, por não estar no espaço a ela destinado: o confinamento do lar,
cuidando de seu marido e filhos (COLLING, 2004). Sobre isso, Sarti (1998) diz que
“a presença das mulheres na luta armada implicava não apenas se insurgir contra a
ordem política vigente, mas representou uma profunda transgressão com o que era
designado à época para a mulher” (SARTI, 1998, p. 3).
A resistência das mulheres à ditadura aliou-se às mudanças que vinham
acontecendo no pais. Na década de 1970, a expansão do mercado de trabalho e do
sistema educacional gerou, ainda que de maneira excludente, mais oportunidades
para as mulheres (SARTI, 1998):
este processo de modernização, acompanhado da efervescência cultural de 1968, de novos comportamentos afetivos e sexuais relacionados ao acesso a métodos anticoncepcionais e ao recurso às terapias psicológicas e à psicanálise, impactou o mundo privado. Novas experiências cotidianas entraram em conflito com o padrão tradicional de valores nas relações
40
familiares, sobretudo por seu caráter autoritário e patriarcal (SARTI, 1998, p.5).
Nessas circunstancias, o ano de 1975 foi declarado pela ONU como Ano
Internacional da Mulher, propiciando o início do movimento feminista no Brasil.
Acoplado a ele, surgiram os primeiros jornais nacionais feitos por e para mulheres;
que compunham a imprensa denominada democrática ou alternativa, por uns, e, por
outros, imprensa nanica (LEITE, 2003).
De acordo com a autora, “tratava-se de uma imprensa com características de
esquerda e de oposição ao regime, artesanal e comercializada, prioritariamente,
mão a mão” (LEITE, 2003, p. 234), inovadora, não apenas em termos de linguagem,
reivindicações e propostas, como também na maneira de divulgar a visão de mundo
e concepção de política (LEITE, 2003).
4.2 A DITADURA FRANQUISTA NA ESPANHA
Na Espanha, com o término da Guerra Civil, no dia primeiro de abril de 1939,
instaurou-se o período chamado Primer Franquismo, que durou até o ano de 1945 e
se caracterizou pela intensa repressão aos grupos de resistência armada contra o
Estado Novo (SANTOS; GOMES; OLIVEIRA; ALMEIDA FILHO, 2012):
neste período, duas instituições se apresentavam significativamente reforçadas: as Forças Armadas, com um notável protagonismo político, mediante importante presença em todas as esferas da vida pública espanhola; e a Igreja Católica, suporte ideológico da nova sociedade em sua conformação mais conservadora (SANTOS; GOMES; OLIVEIRA; ALMEIDA FILHO, 2012, p. 347).
Além disso, até a criação do Ministério de Informação e Turismo, em 1951, as
autoridades franquistas aplicaram censura à imprensa e qualquer atividade cultural.
De acordo com Sinova (2006), a política da imprensa passou por quatro fases bem
diferenciadas durante o governo autoritário de Franco.
A primeira delas se caracterizou pelo protagonismo militar: o exército
submeteu “todas as publicações a censura militar e impôs aos jornais a obrigação de
reservar espaço suficiente para a publicação das notícias oficiais” (SINOVA, 2006, p.
41
92, tradução nossa).5 Na segunda fase, o controle da imprensa foi exercido Ramon
Serrano Suner, cunhado de Franco e sua mão direita no governo, levando em
consideração a lei de 22 de abril de 1938, que se inspirava no totalitarismo
(SINOVA, 2006).
Na terceira etapa definida pelo autor, “os organismos de controle da imprensa
passaram do Ministério da Governança a Secretaria Geral de Movimento” (SINOVA,
2006, p. 92, tradução nossa)6, o que garantiu alguns privilégios, ainda que não o
tenha isentado da censura. Finalmente, a quarta etapa se caracterizou pela distância
do autoritarismo e a proximidade com as democracias ocidentais.
_______________
5 Todas las punlicaciones a la censura militar y impusieron a los periódicos la obligacion de reservar espacio suficiente para la publicacion de las noticias oficiales
6 Los organismos del control de la Prensa pasaron del Ministerio de la Gobernacion a la Secretaria General del Movimiento.
42
5 DESCRIÇÃO DE PESQUISA QUALIQUANTITATIVA: ANÁLISE
COMPARATIVA DE CONTEÚDO JORNALISTICO
Para analisar a evolução do conteúdo jornalístico sobre a mulher na política,
desde a época das ditaduras militar, no Brasil, e franquista, na Espanha, foi utilizada
a metodologia de análise de conteúdo jornalístico qualiquantitativa, vinculada à
comparação dos dois jornais escolhidos. A análise de conteúdo se refere à
investigação de fenômenos simbólicos por meio de várias técnicas de pesquisa
(DUARTE; BARROS, 2008).
No contexto dos métodos de pesquisa em comunicação de massa, essa
metodologia se ocupa com a análise de mensagens e cumpre com os requisitos de
sistematicidade e confiabilidade (DUARTE; BARROS, 2008). Segundo Lozano
(1994), ela é sistemática porque se baseia em procedimentos que são aplicados da
mesma maneira a todo o conteúdo analisável, e é confiável porque permite que
pessoas diferentes, a partir da aplicação das mesmas categorias de análise,
cheguem às mesmas conclusões.
Esse método de investigação surgiu, de acordo com Caragnato e Mutti
(2006), no início do século XX, nos Estados Unidos, para analisar materiais
jornalísticos e, mais tarde, estendeu-se para outras áreas:
a maioria dos autores refere-se à AC como sendo uma técnica de pesquisa que trabalha com a palavra, permitindo de forma prática e objetiva produzir inferências do conteúdo da comunicação de um texto replicáveis ao seu contexto social (...) A AC pode ser quantitativa e qualitativa. Existe uma diferença entre essas duas abordagens: na abordagem quantitativa se traça uma frequência das características que se repetem no conteúdo do texto. Na abordagem qualitativa se considera a presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou conjunto de características num determinado fragmento da mensagem (CARAGNATO; MUTTI, 2006, p.682).
A pesquisa quantitativa, como coloca Richardson (1999), possui um
diferencial que é a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados,
conduzindo a um resultado com poucas chances de distorções. Fonseca (2002) diz
que como as amostras são geralmente grandes e consideradas representativas da
população, os resultados oferecem um retrato real de toda a população alvo da
pesquisa:
43
influenciada pelo positivismo, [a análise quantitativa] considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc (FONSECA, 2002, p. 20).
A pesquisa qualitativa, por outro lado, envolve uma abordagem interpretativa
do mundo; nela, os pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais,
tentando entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles
conferem (AUGUSTO; SOUZA; DELLAGNELO; CARIO, 2013).
Creswell (2007) destaca que, em um estudo qualitativo, o interesse do
pesquisador ao analisar um determinado problema é verificar como ele se manifesta
nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. O autor explica que
“na perspectiva qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta de dados e o
pesquisador, o principal instrumento, sendo que os dados coletados são
predominantemente descritivos” (CRESWELL, 2007, p.186).
Sendo assim, os objetos de estudo dessa pesquisa - as editorias políticas de
6 edições do jornal Estadão e de 6 edições do jornal Periódico ABC, dos dias 15 de
fevereiro e 15 de novembro dos anos 1970, 1990 e 2010 - foram determinados, bem
como as categorias de análise qualitativa e quantitativa, que baseiam a análise. Tais
categorias - que serão explicadas e justificadas posteriormente - são: 1) Categoria
gênero e formato jornalístico; 2) Categoria critérios de noticiabilidade; 3) Categoria
estrutura; 4) Categoria fontes e 5) Categoria estereótipo de gênero.
Constata-se que o conteúdo analisado consiste apenas em jornalístico
informativo e que protagonize mulheres, seja por meio de pautas que englobam o
universo feminino ou por incluir figuras femininas como personagens principais da
história contada.
O recorte temporal do trabalho tem cunho transversal com perspectiva
longitudinal. Essa maneira, de acordo com Richardson (1999), foca em um ponto no
tempo – anos previamente indicados e que remetem a momentos específicos na
história – e, ao mesmo tempo, inclui a noção de mudança ao longo de um período –
que se trata da evolução do conteúdo sobre as mulheres na política desde as
ditaduras em cada país.
A comparação à qual a metodologia foi vinculada permite identificar as
similaridades e explicar as diferenças dos resultados quanti e qualitativos da análise
44
de conteúdo nos jornais selecionados e, consequentemente, do tratamento
jornalístico sobre questão feminina na política em cada país.
O jornalismo comparado surgiu com os estudos do francês Jacques Kayser,
que se preocupou em realizar pesquisas que pudessem servir aos profissionais da
imprensa, com a intenção de estabelecer comparações nos planos nacional e
internacional (MELO, 1972). Lakatos e Marconi (2017) explicam que o método
ocupa-se da explicação de fenômenos e permite analisar o dado concreto,
deduzindo dele elementos constantes, abstratos e gerais, podendo ser utilizado em
todas as etapas de uma investigação.
5.1 OBJETOS DE PESQUISA: O PORQUÊ DA ESCOLHA
Ambos os jornais escolhidos para serem analisados compõem o corpo dos
veículos mais antigos e tradicionais ainda existentes em seus respectivos países,
além de possuírem abrangência nacional e reconhecimento internacional. Também,
trata-se de dois veículos que sobreviveram durante as ditaduras e permanecem
ativos até hoje, contribuindo para com o objetivo final dessa pesquisa que implica na
constatação da evolução do conteúdo sobre as mulheres na política.
5.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE QUALIQUANTITATIVA
Para a realização da análise qualiquantitativa foram estabelecidas cinco
categorias que serão aplicadas em todas as matérias selecionadas dos jornais
Estadão e Periódico ABC. Todas as categorias têm por objetivo quantitativo a
contabilização da frequência de cada elemento analisado e, por objetivo qualitativo,
compreender o significado dessa frequência.
5.2.1 Categoria gênero e formato jornalístico
Essa categoria de análise quantifica a frequência de cada um dos formatos do
gênero informativo (nota, notícia, reportagem e entrevista), a partir dos conceitos de
Nilson Lage, Jorge Pedro Sousa e Jorge Medina – elencados no quadro 04 - sobre
cada um deles.
45
QUADRO 11: Categoria gênero e formato jornalístico
Nota Notícia Reportagem Entrevista
Curto relato de um Descrição de um Relato mais Compilado de fato. acontecimento ou aprofundado de um informações obtidas
série de acontecimento, em uma conversa, acontecimentos, buscando, através de em forma de podendo apresentar fontes e pergunta e resposta, citações. levantamento de na qual o dados, a entrevistado ocupa compreensão de posição bastante suas causas e relevante na história. consequências.
Fonte: a autora, 2019.
5.2.2 Categoria critérios de noticiabilidade
Os critérios de noticiabilidade que serão considerados na análise foram
escolhidos a partir dos estudos realizados sobre o tema, previamente mencionados
no item quatro deste trabalho.
QUADRO 12: Categoria critérios de noticiabilidade
Relevância Atualidade Ineditismo Proximidade Conflito ou Negatividade Social Controvérsia
Tema de Tema Tema que Tema Tema polemico Tema de importância pertinente ao apresenta geograficamente ou que cunho
para a contexto novidade. próximo ao apresenta negativo.
comunidade. temporal. leitor. oposição.
Fonte: a autora, 2019.
5.2.3 Categoria estrutura
Com base em Sousa (2001), Amaral (1987) e Lage (1982), os quadros 13, 14 e
15 foram criados para analisar a estrutura, no que diz respeito ao modelo, título e
lead, das matérias.
QUADRO 13: Categoria estrutura – Modelo
Construção por blocos O corpo do texto é composto por blocos autônomos.
Pirâmide A informação mais relevante está no final do texto.
Pirâmide invertida A informação mais relevante está no começo do texto.
Progressão cronológica Recorda, etapa por etapa, como se chegou à determinada situação.
Regra dos três tempos O texto apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
46
Pergunta e resposta Texto organizado em forma de diálogo, com perguntas e respostas.
Por itens Fragmentação do texto em vários subtemas
Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 14: Categoria estrutura – funções do título FUNÇÃO DO TÍTULO SIM NÃO Revela a essência da notícia Antecipa a história sem a esgotar Desperta a atenção do leitor Organiza graficamente o espaço do jornal Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 15: Categoria estrutura – tipo de lead
Lead Clássico Soft Lead
Resume a informação da matéria, Primeiro parágrafo do texto jornalístico que respondendo as questões ‘o que?’, ‘quem?’, não se encaixa na definição de lead clássico ‘quando?’, ‘onde?’, por quê?’ e ‘como?’
Fonte: a autora, 2019.
5.2.4 Categoria fontes
A intenção dessa categoria de análise é identificar quais são as fontes
utilizadas na construção das matérias e o espaço dedicado às fontes femininas. Para
tal, será utilizada a classificação taxonômica das fontes de notícias, feita por Schmitz
(2011).
QUADRO 16: Categoria fontes – tipo
Fonte primaria Fonte secundaria
Aquela que está próxima ou na origem da Aquela que contextualiza, interpreta, analisa, informação, fornecendo informações complementa ou repercute as informações essenciais para a matéria. dadas pelas fontes primarias.
Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 17: Categoria fontes – representatividade
Oficial Alguém em função ou cargo público e que se pronuncia por ele.
Empresarial Alguém que representa uma corporação empresarial.
Institucional Alguém que representa uma organização sem fins lucrativos ou
grupo social.
Individual Aquela que representa a si mesma.
47
Testemunhal Aquela que participa como observadora, relatando o que viu e ouviu.
Especializada Uma pessoa especialista no tema abordado.
Referência Documentos, bibliografia ou mídia consultados pelos jornalistas.
Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 18: Categoria fontes – ação
Proativa Ativa Passiva Reativa
Disponíveis aos Mantem relação Que se manifestam Aquela que evita chamar jornalistas e que equilibrada com os somente quando atenção da mídia. oferecem jornalistas e usa a requisitadas, fornecendo
informações antes mídia para defender apenas o solicitado.
delas serem seus interesses.
requisitadas.
Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 19: Categoria fontes –crédito
Identificada (on) Sigilosa (off)
Aquela que disponibiliza dados pessoais. Aquela que se mantem no anonimato.
Fonte: a autora, 2019.
QUADRO 20: Categoria fontes – qualificação Confiável Fidedigna Duvidosa
Aquelaqueoferecea Exerce seu poder pela Aquela na qual não se pode informação verdadeira no posição social, inserção ou confiar. tempo esperado. proximidade ao fato.
Fonte: a autora, 2019.
5.2.5 Categoria estereótipo de gênero
Entende-se que a determinação dos critérios a serem analisados nessa
categoria não pode ser feita previamente à leitura das matérias selecionadas, uma
vez que depende dos temas nelas abordados. Contudo, com base na teoria sobre
estereótipo de gênero antes apresentada, três papéis da mulher – a mulher
enquanto mãe, esposa e profissional - serão observados a fim de elencar quais são
os estereótipos vinculados a cada um deles.
48
6 LEVANTAMENTO DE DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir dos recortes temporais e dos objetos de estudo dessa pesquisa,
citados previamente na seção de processos metodológicos, foram selecionadas sete
matérias do jornal Estadão e 18 matérias do Periódico ABC – todas elas
pertencentes ao gênero jornalístico informativo, pautando temas do universo
feminino dentro da política ou tendo como personagens as mulheres no mesmo
âmbito.
Na tabela 01, expõem-se o resultado da contabilização dessas matérias e a
divisão delas entre os quatro formatos do gênero jornalístico informativo. Nota-se,
primeiramente, que em ambos os jornais o número de matérias aumentou com o
passar do tempo, assim como o espaço físico destinado a elas nas páginas dos
veículos (como exemplificado na comparação entre as figuras 01, 02 e 03).
Uma exceção foi constatada com relação ao número superior de matérias
encontradas no Periódico ABC no ano de 1990, se comparado ao de 2010. Isso
aconteceu porque, no primeiro, temas relacionados ao meio ambiente foram
frequentemente pautados na editoria de política e, na época, a pessoa que ocupava
o cargo mais alto do Ministério do Meio Ambiente, na Espanha, era uma mulher:
Esperanza Aguirre.
Também é importante atentar para o fato de que nenhuma entrevista foi
contabilizada, indicando que esse formato é pouco explorado em pautas que
envolvem mulheres na política.
TABELA 01: Dados levantados sobre gênero e formato jornalístico
Categoria gênero e formato jornalístico Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Nota 0 1 0 2 2 1
Notícia 0 2 1 0 3 2
Reportagem 0 0 3 0 4 4
Entrevista 0 0 0 0 0 0
Total 0 3 4 2 9 7
Fonte: a autora, 2019.
49
FIGURA 01: Nota - Periódico ABC, 15/11/1970, pg.35
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 1970, p.35
FIGURA 02: Reportagem - Periódico ABC, 15/11/1990, pg.46
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 1990, p. 46
50
FIGURA 03: Reportagem - Periódico ABC, 15/02/2010, pg.16
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 2010, p. 16
Dentre os critérios de noticiabilidade selecionados, os mais frequentes foram,
respectivamente, “atualidade” (identificado em 96% das matérias), “relevância social”
(80% das matérias) e “proximidade” (60%).
TABELA 02: Dados levantados sobre critérios de noticiabilidade
Categoria critérios de noticiabilidade Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Relevância Social 0 2 4 0 8 6
Atualidade 0 3 4 1 9 7
Ineditismo 0 0 1 0 1 3
Proximidade 0 2 2 0 7 4
Conflito/Controvérsia 0 1 2 2 6 4
Negatividade 0 1 1 2 1 1
Fonte: a autora, 2019.
51
GRAFICO 01: Presença de cada critério de noticiabilidade nas matérias analisadas
Negatividade
Conflito/Controversia
Proximidade
Ineditismo
Atualidade
Relevancia Social
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
Fonte: a autora, 2019
As tabelas 03, 04 e 05 referem-se à categoria estrutura e indicam que o
modelo mais utilizado foi o de pirâmide invertida, o que justifica, também, a maior
quantidade de matérias escritas com lead clássico. Além disso, apenas duas
matérias analisadas cumpriram com as quatro funções pré-determinadas do título.
TABELA 03: Dados levantados sobre modelo estrutural
Categoria estrutura - modelo Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Construção por blocos 0 0 1 0 1 2
Pirâmide 0 0 0 0 0 0
Pirâmide Invertida 0 2 2 2 5 4
Progressão cronológica 0 0 0 0 1 0
Regra dos três tempos 0 1 0 0 0 0
Pergunta e resposta 0 0 0 0 0 0
Por itens 0 0 1 0 1 0
Não se aplica 0 0 0 0 1 1
Total 0 3 4 2 9 7 Fonte: a autora, 2019.
52
Tabela 04: Dados levantados sobre o cumprimento das funções do titulo
Categoria Estadão Periódico ABC
estrutura -
funções do
título
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Revela a 0 0 2 1 4 0 2 0 7 2 5 1
essência da
notícia
Antecipa a 0 0 1 2 3 1 2 0 7 2 3 3
história sem a
esgotar
Desperta a 0 0 0 3 4 0 2 0 8 1 5 1 atenção do
leitor
Organiza 0 0 3 0 4 0 2 0 9 0 6 0 graficamente o
espaço do
jornal
Não se aplica 0 0 0 0 0 1
Total 0 3 4 2 9 7
Fonte: a autora, 2019.
TABELA 05: Dados levantados sobre o tipo de lead
Categoria estrutura - tipo de lead Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Lead Clássico 0 2 4 2 7 3
Soft Lead 0 1 0 0 2 3
Não se aplica 0 0 0 0 0 1
Total 0 3 4 2 9 7
Fonte: a autora, 2019.
Dentro da categoria de fontes, algumas matérias não puderam ser
contabilizadas por não fazerem uso de depoimentos ou documentos para
discorrerem sobre o fato; como foi o caso de algumas notas. Essa categoria foi muito
esclarecedora para constatar que a maioria dos conteúdos dos jornais analisados
não foi construído com base em fontes de informação diversas; o número máximo de
fontes encontrado por matéria foi dois (consultar tabelas 06, 07, 08, 09 e 10).
53
Além disso, por conta do cunho político dos temas abordados, 80% das fontes
consultadas nas matérias são primarias; os outros 20% são referentes às matérias
que não utilizam fontes, isso indica que nenhum dos conteúdos faz uso de fontes
que analisam, interpretam ou discorrem sobre o fato informado.
TABELA 06: Dados levantados sobre o tipo de fonte
Categoria fontes – tipo Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Fonte primaria 0 3 4 1 7 5
Fonte secundaria 0 0 0 0 0 0
Não se aplica 0 0 0 1 2 2
Total 0 3 4 2 9 7
Fonte: a autora, 2019.
Nenhuma fonte empresarial, testemunhal ou de referência foi identificada.
Correspondendo ao cargo político que a maioria dos entrevistados ocupava, a
representatividade das fontes contabilizadas foi, majoritariamente, oficial e individual.
No Estadão, 100% das fontes eram ativas e identificadas, enquanto, no Periódico
ABC, os números correspondem, respectivamente, a 60% e 72,2%. Por fim, 24% de
todas as fontes identificadas são confiáveis, 40% fidedignas e 16% duvidosas.
TABELA 07: Dados levantados sobre representatividade das fontes
Categoria fontes - representatividade Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Oficial 0 2 3 1 5 4
Empresarial 0 0 0 0 0 0
Institucional 0 1 0 0 1 0
Individual 0 2 4 0 5 5
Testemunhal 0 0 0 0 0 0
Especializada 0 1 0 0 1 0
Referência 0 0 0 0 0 0
Não se aplica 0 0 0 1 2 2
Fonte: a autora, 2019.
54
TABELA 08: Dados levantados sobre a ação das fontes
Categoria fontes – ação Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Proativa 0 0 0 0 0 0
Ativa 0 3 4 0 7 5
Passiva 0 0 0 0 0 0
Reativa 0 0 0 1 1 0
Não se aplica 0 0 0 2 1 2
Fonte: a autora, 2019.
TABELA 09: Dados levantados sobre o crédito das fontes
Categoria fontes – crédito Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Identificada (on) 0 3 4 1 7 5
Sigilosa (off) 0 0 0 0 1 0
Não se aplica 0 0 0 1 2 2
Fonte: a autora, 2019.
TABELA 10: Dados levantados sobre a qualificação das fontes
Categoria fontes – qualificação Estadão Periódico ABC
Ano de análise 1970 1990 2010 1970 1990 2010
Confiável 0 1 1 0 3 1
Fidedigna 0 2 1 0 3 4
Duvidosa 0 0 2 1 1 0
Não se aplica 0 0 0 1 2 2
Fonte: a autora, 2019.
A parte dos critérios estabelecidos e considerados nas categorias de análise,
outras características nas matérias selecionadas chamaram a atenção e requerem
reconhecimento. A primeira delas se trata da sub-representação da figura feminina,
perceptível em alguns dos conteúdos analisados: na nota correspondente a figura 04
(ver abaixo), por exemplo, mais espaço de fala é dado ao general militar responsável
pelo ataque, do que a família da vítima assassinada. No caso, nenhuma informação
sobre a mulher é revelada e, ainda, sua morte é justificada tanto no título quanto no
corpo do texto.
55
FIGURA 04: Nota - Periódico ABC, 15/02/1970, pg.16
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 1970, p. 16
Outra característica percebida é a vinculação da figura feminina a de um homem. É o caso da reportagem indicada na figura 05, que usa frequentemente expressões como “a esposa do deputado” e “a senhora do deputado” para se referir à personagem da qual se fala.
FIGURA 05: Reportagem - Periódico ABC, 15/02/1990, pg.38
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 1990, p. 38
56
Também, nas matérias publicadas pelo Estadão, nota-se um protagonismo de
mulheres do exterior. Três das sete matérias analisadas são sobre mulheres
destaque de outros países, como pode ser observado das figuras 06, 07, e 08 (ver
abaixo).
FIGURA 06: Chamada de capa e Notícia – Estadão, 15/11/1990, pg.14
Fonte: adaptado do Estadão, 1990, p.14
FIGURA 07: Notícia – Estadão, 15/02/2010, pg.9
Fonte: adaptado do Estadão, 2010, p. 9
57
FIGURA 08: Reportagem – Estadão, 15/11/2010, pg.13
Fonte: adaptado do Estadão, 2010, p. 13
Por fim, entende-se que a categoria “estereotipo de gênero”, previamente
estabelecida como critério de análise, não pode ser utilizada para analisar as
matérias selecionadas, pois as mesmas não tratam pautas do universo feminino;
apenas mencionam mulheres por abordarem cargos públicos ocupados por elas.
58
Isso, portanto, não sustenta a discussão sobre estereótipos, mas indica que a não
representação continua significativa.
A figura 09 (abaixo) trata-se da matéria encontrada que mais se aproxima de
uma pauta do universo feminino, mas, ainda assim, trata-se de uma rasa
abordagem.
FIGURA 09: Notícia – Periódico ABC, 15/02/2010, p. 27
Fonte: adaptado do Periódico ABC, 2010, p. 27
59
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Escrever sobre a trajetória das mulheres através do tempo é uma tarefa mais
difícil do que parece ser. Muito foi feito, mas pouco foi reconhecido e, infelizmente, o
não reconhecimento pode, muitas vezes, levar ao esquecimento. A mulher é um ser
político, ao contrário do que a sociedade a fez crer. Ela não foi destinada ao
confinamento da casa, ao cuidado dos homens ou dos filhos e não tem uma
tendência biológica a se interessar mais pelo âmbito privado.
Tudo isso foi colocado em xeque à medida que o feminismo foi tomando
forma e, com ele, mais mulheres começaram a buscar maneiras de exercer seu
papel político no mundo.
O jornalismo é uma das ferramentas capazes de facilitar isso, embora nem
sempre tenha sido exercido de tal maneira. Sendo uma atividade política, ele
desempenha papeis relevantes na democracia, mas, em alguns momentos da
história também foi vítima e até instrumento de poder em governos autoritários. Isso
aconteceu no Brasil, durante a ditadura militar, e na Espanha, durante a ditadura
franquista.
Considerando a história da imprensa e a das mulheres, procurei entender,
através desse trabalho, como o conteúdo dos jornais impressos evoluiu ao tratar a
mulher na editoria de política, no Brasil e na Espanha, desde os períodos ditatoriais
em ambos os países. Para tal, analisei qualiquantitativamente as publicações de
dois grandes jornais: Estadão e Periódico ABC.
Além disso, quis compreender como o contexto histórico-político afeta na
construção do conteúdo publicado sobre a mulher nesses veículos e busquei
identificar os elementos referentes a formato jornalístico, critérios de noticiabilidade,
estrutura textual, fontes e estereótipos de gênero utilizados para tratar o tema.
Ao total, foram analisadas 18 matérias espanholas e sete brasileiras e pude
concluir que houve sim uma evolução quantitativa – lembrando aqui que me refiro à
evolução enquanto mudança e não, necessariamente, melhora. As mulheres são, a
cada dia, mais pautadas como personagens políticas porque ocupam cada vez mais
cargos políticos.
No entanto, temas sobre o universo feminino, referentes a direitos, conquistas
e desafios, continuam quase inexistentes, ao menos nos jornais analisados. Por
60
esse motivo, não fui capaz de identificar os estereótipos criados ao redor dessa
problemática.
Sobre os elementos referentes a formato jornalístico, critérios de
noticiabilidade, estrutura textual e fontes, identifiquei que notícias e reportagens
foram os formatos mais utilizados pelos jornais ao abordar a temática, porém não
provocam nenhuma crítica ou aprofundamento no assunto. Notas curtas, meramente
informativas, também foram um formato adotado, enquanto a entrevista não
apareceu em nenhuma das edições analisadas.
Os critérios de noticiabilidade que pautaram a maioria das matérias foram
atualidade, relevância social e proximidade e o modelo de estrutura textual mais
adotado pelos jornalistas foi o de pirâmide invertida, assim como título e lead
clássicos.
Considerando tudo isso, minha hipótese de que o conteúdo dos jornais
impressos evoluiu positivamente no Brasil e na Espanha desde os períodos
ditatoriais foi comprovada parcialmente.
O jornalismo, hoje em dia, e mais capaz de exercer seus papeis, contribuindo
para com a democracia e as vozes são mais plurais, uma vez que o feminismo tem
trilhado seu caminho na política e na imprensa. Ainda assim, obstáculos com relação
à maior e melhor representação da mulher precisam ser ultrapassados.
61
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