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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP Raizel Rechtman A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: identificando recursos facilitadores para a atuação profissional MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP

Raizel Rechtman

A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA:

identificando recursos facilitadores para a atuação profissional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO

2014

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Raizel Rechtman

A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA:

identificando recursos facilitadores para a atuação profissional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

como exigência parcial para a obtenção de título

de MESTRE em Educação – Psicologia da

Educação, sob orientação da Profª Drª Ana Mercês

Bahia Bock.

SÃO PAULO

2014

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ERRATA

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do

Brasil..............35

LISTA DE QUADROS

Quadro 4 – Disciplinas do Currículo Mínimo para os cursos de Psicologia

....................39

TABELAS

A partir da página 47, quando presente no texto o número da tabela, a tabela respectiva é, na verdade, um número a mais. Por exemplo, a “tabela 1” citada no texto diz respeito à tabela 2 apresentada graficamente.

ALTERAÇÕES NO TEXTO

Pág. Linha Onde se lê Deve ler-se 16 26 Araujo (2008) Araujo (2009) 19 2 Bock (2002, p.28) Bock (2009, p.28) 23 Quadro 1 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: carta serra negra (1992) 25 Quadro 3 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: Brasil (1995) 26 16 documento, em 1998, a

Secretaria documento, a Secretaria

29 7 Bock (2004) Bock (2004a) 29 10 Bock (2004, p.1) Bock (2004a, p.1) 32 3 Anita de Castilho e Marcondes

Cabral, da USP, publicaram Anita de Castilho Marcondes Cabral, da USP, publicou

36 7 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999) 36 12 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999) 40 4 Bock (2004) Bock (2004b) 43 13 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012) 43 19 (RECHTMAN et al. 2014) (RECHTMAN et al. 2012) 43 20 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012) 67 1 Na tabela X Na tabela 24 78 22 Em relação ao gênero, Em relação à cor/raça 79 3 (BOCK, 2002) (BOCK, 2009) No texto nos referimos às Diretrizes Curriculares Nacionais de 2004 como às últimas da Psicologia, no entanto, as diretrizes mais recentes são as de 2011. Assim, o fizemos, pois, as DCN de 2011 são apenas uma atualização das DCN de 2004 com o acréscimo

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de normas para o projeto pedagógico complementar para a formação de professores de Psicologia. ALTERAÇÕES NAS REFERÊNCIAS

Ausentes:

BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt. & GOMIDE, Paula Inez Cunha. O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional, in Psicologia, Ciência e Profissão, Ano 9, n°1, 1989, p.6-15.

BRASIL. Lei nº 4.119 de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro?. São Paulo: EDICON, 1988.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA; CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE PSICOLOGIA. Carta de serviços sobre Estágios e Serviços-Escola. Brasília, 2013.

LHULLIER, Louise A. (org.). Quem é a psicóloga brasileira? Mulher, Psicologia e Trabalho. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013.

Modificadas:

Pág. Referência Correta 87 BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; ACHCAR, Rosemary. Dinâmica

profissional e formação do psicólogo: uma perspectiva de integração. In: Psicólogo Brasileiro – práticas emergentes e desafios para a formação. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.

87 FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO: Parâmetros para a Formação. Disponível em <http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1997-forumnacionaldeformacao.pdf> Acessado em: 10 out. 2013.

88 BOCK, Ana Mercês Bahia. A inserção da Psicologia na Sociedade Brasileira. Psicologia Online – POL, 7 mai. 2004a. Disponível em <http://www2.pol.org.br/publicacoes/imprimir.cfm?id=34&materia=61> Acesso em: 02 fev. 2014.

88 BOCK, Ana Mercês Bahia. Diretrizes Curriculares: será que estamos chegando ao fim da longa história? Psicologia online, 2004b. Disponível em <http://www.pol.org.br/publicacoes/materia.cfm?Id=9&Materia=36> Acessado em 08 abr. 2013.

90 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Carta de Serra Negra, 1992. Disponível em < http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1992-cartadeserranegra.pdf> Acessado em 13 Ago. 2013.

92 RECHTMAN, Raizel; CASTELAR, Marilda; CASTRO, Rosângela B. Ética e Direitos Humanos na Formação de Psicologia em Salvador. Bahia, Revista

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Psicologia: Ensino & Formação, 2012.

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Banca Examinadora

______________________________________________

Profª Drª Ana Mercês Bahia Bock

Orientadora

______________________________________________

Profª Drª Maria da Graça Marchina Gonçalves

PUC – SP

_______________________________________________

Prof. Dr. Marcus Vinicius de Oliveira Silva

UFBA

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AGRADECIMENTOS

À minha família, agradeço pelo meu processo de humanização. Aos meus pais, pessoas

justas, sábias e trabalhadoras, que me educaram sob valores de cooperação, justiça e

humanidade, e aos meus irmãos, com quem compartilhei e compartilho o crescer.

Aos meus professores, agradeço pelo meu processo de formação. Aos professores de

graduação que me possibilitaram conhecer, compreender e atuar no mundo a partir da

Psicologia, e aos de pós-graduação, com os quais, a partir da convivência, me constitui mestre,

pesquisadora e professora.

Aos meus amigos, agradeço pelo meu processo de socialização. São aqueles com quem

divido as mais diversas experiências, que me acolhem, me divertem e, inclusive, me ajudam

com o Excel.

À minha orientadora e banca, agradeço pelo processo da dissertação. Agradeço pela

construção acadêmica, composta de tantas reuniões, leituras, escritos e análises, mas,

principalmente, pelo cuidado, carinho, ética e exemplo profissional.

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"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo

de diversas maneiras; a questão, porém, é

transformá-lo". (MARX, 1845)

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RESUMO

Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso Social e se

posicionado politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova postura da

Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente excluídas. A

formação em Psicologia é um momento crucial para a construção desse novo perfil de

psicólogo: o psicólogo comprometido socialmente. O objetivo desta pesquisa é verificar quais

recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como facilitadores para

atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade brasileira. A amostra é

constituída por estudantes de psicologia que se formarão no ano de 2014 de todo o Brasil. O

instrumento utilizado foi um questionário disponibilizado via plataforma online, composto por

perguntas fechadas, que pretenderam traçar um perfil sociodemográfico da amostra estudada, e

perguntas abertas, que tiveram como objetivo identificar questões da realidade brasileira e os

recursos teóricos e técnicos que os auxiliaram a lidar profissionalmente com elas. A importância

deste estudo é contribuir com a formação em Psicologia em âmbito nacional, para tanto, seus

resultados serão divulgados em congressos e revistas científicas.

Palavras-chave: Formação, Psicologia, Realidade brasileira.

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ABSTRACT

A few years the Brazilian Psychology has raised the banner of Social Commitment and

politically positioned for a performance that is not restricted to elites. This new attitude of

Psychology aims to expand its action to populations historically excluded. Training in

Psychology is a crucial time for the construction of this new psychologist profile, socially

committed psychologist. The objective of this research is to see which resources of training of

last year psychology students identify as facilitators to act professionally with who consider

issues of Brazilian reality. The sample consists of psychology students who will graduate in

2014 from all over Brazil. The tool used was a questionnaire made available through online

platform with closed questions, which intended to draw a socio-demographic profile of the

sample, and open ended questions, which aimed to identify issues of Brazilian reality and the

theoretical and technical resources that helped to deal professionally with them. The importance

of this study is to contribute to the formation in Psychology at national level, therefore, their

results will be disseminated at conferences and scientific journals.

Keywords: Formation, Psychology, Brazilian Reality.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro ........................... 36

Tabela 2 - Quantidade de questionários excluídos pelo Critério de Exclusão ........................ 48

Tabela 3 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Região ......................................... 50

Tabela 4 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por Região .................................... 50

Tabela 5 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Região

da IES ................................................................................................................. 51

Tabela 6 - Quantidade de alunos por Região da IES ............................................................. 51

Tabela 7 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Tipo de IES ................................. 52

Tabela 8 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por tipo de IES ............................. 52

Tabela 9 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Tipo de

IES ..................................................................................................................... 52

Tabela 10 - Quantidade de alunos por tipo de IES ................................................................ 53

Tabela 11 - Quantidade de sujeitos por sexo ......................................................................... 53

Tabela 12 - Quantidade de sujeitos por Faixa Etária ............................................................. 54

Tabela 13 - Quantidade de sujeito por Cor/Raça ................................................................... 54

Tabela 14 - População residente no Brasil, por raça/cor da pele em 2010 ............................. 55

Tabela 15 - Quantidade de sujeito por Classe social ............................................................. 56

Tabela 16 - População residente do Brasil por Rendimento mensal em salário mínimo em

2010.................................................................................................................. 56

Tabela 17 - Área/local que pretende atuar ............................................................................ 57

Tabela 18 - Quantidade de respostas de questão social por categoria .................................... 60

Tabela 19 - Quantidade de respostas de Iniciativas e movimentos sociais por categoria ........ 61

Tabela 20 - Quantidade de respostas “sim” e “não” se a questão social é foco da Psicologia

em relação à categoria ....................................................................................... 63

Tabela 21 - Quantidade de respostas por categoria de como a Psicologia pode atuar............. 64

Tabela 22 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação ......... 65

Tabela 23 - Disciplinas por categoria ................................................................................... 67

Tabela 24 - Áreas de estágio ................................................................................................ 68

Tabela 25 - Conhecimento teórico ........................................................................................ 68

Tabela 26 - Autores .............................................................................................................. 69

Tabela 27 - Como os recursos auxiliam ................................................................................ 71

Tabela 28 - Cruzamento recurso e nível de compreensão ...................................................... 72

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Tabela 29 - Quantidade de respostas por valor sobre a autoavaliação em relação ao preparo

para lidar com as questões sociais da realidade brasileira .................................. 73

Tabela 30 - Quantidade de respostas por valor sobre a avaliação em relação ao preparo

dado pela formação para lidar com as questões sociais da realidade brasileira ... 73

Tabela 31 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação

sugestões dos sujeitos ....................................................................................... 74

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Princípios norteadores da formação em psicologia .............................................. 23

Quadro 2 - Sugestões de operacionalização .......................................................................... 24

Quadro 3 - Diretrizes para a Formação e Avaliação Curriculares, 1995 ................................ 25

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LISTA DE SIGLAS

ABEP Associação Brasileira de Ensino de Psicologia

ANPPEP Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia

CES Câmara de Educação Superior

CFP Conselho Federal de Psicologia

CNE Conselho Nacional de Educação

CRP Conselho Regional de Psicologia

DC Diretrizes Curriculares

GT Grupo de Trabalho

IES Instituição de Ensino Superior

LDB Lei de Diretrizes Básicas

MEC Ministério da Educação

PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

UFPB Universidade Federal da Paraíba

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UnB Universidade de Brasília

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12

2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL ........................................................... 14

2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil .............................................................. 14

2.2 Psicologia e Compromisso Social ................................................................................. 16

2.3 Perfil do psicólogo brasileiro ....................................................................................... 19

3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA .................................................................................. 22

3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares ........................................................................... 22

3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo .................................................................... 31

3.3 Panorama dos cursos no Brasil .................................................................................... 35

4 POR UMA FORMAÇÃO PARA A REALIDADE BRASILEIRA ............................... 38

4.1 Análise da Legislação e Diretrizes Curriculares ......................................................... 38

4.2 Formação e Compromisso Social ................................................................................. 41

5 MÉTODO ........................................................................................................................ 46

6 RESULTADOS ............................................................................................................... 49

6.1 Parte I – Caracterização da Amostra .......................................................................... 49

6.2 Parte II – Realidade brasileira..................................................................................... 58

6.3 Parte III – Psicologia e Realidade ................................................................................ 61

6.4 Parte IV - Formação e Realidade ................................................................................ 64

6.5 Conclusões .................................................................................................................... 77

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 87

APÊNDICE A - Questionário…………………..……………………………………………………93

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1 INTRODUÇÃO

Toda a Psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas

da Psicologia à Psicologia Social; mas sim cada uma assumir dentro da sua especificidade a natureza histórico-social do ser humano. (LANE, 1984, p.19)

De acordo com Bernardi, a Psicologia científica teve seu início marcado por estudar

“os processos mentais através dos métodos experimentais e quantitativos que eram pertinentes

a outras ciências” (BERNARDI, 2010, p.2). A legitimidade da Psicologia foi conquistada a

partir da ação de classificar e adequar os sujeitos na noção construída de normalidade. Sendo

assim, serviu à população dominante da sociedade ao desenvolver formas de controle e

mecanismos discriminatórios e excludentes. Segundo a autora, com a aquisição do status de

científica, a Psicologia passou a mediar as necessidades do sujeito estudado e as demandas

sociais. Ao testar e tratar seus objetos de estudo, garantia a adaptação destes na sociedade, mas

psicologizava fenômenos que são, na verdade, consequência de diversos fatores que não

necessariamente psicológicos.

Bicalho et al. apontam que ao ser submetida, desde a sua criação, à perspectiva

epistemológica de corte positivista, a Psicologia assume um projeto dito neutro, asséptico e

objetivista. Neste contexto, “a tarefa que se espera da Psicologia é psicologizar (no sentido de

humanizar) e oferecer resultados, desvelando assim uma determinada, essência “do sujeito”

(BICALHO et al, 2009, p.21). Esta tradição da psicologia a levou a um percurso elitizado:

atendia principalmente à elite e servia, nas instituições, a interesses do projeto dominante.

Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso

Social e posicionado-se politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova

postura da Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente

excluídas, para além da prática dos consultórios particulares, e respondendo às demandas da

sociedade brasileira.

Neste contexto, é nevrálgico que a Psicologia não apenas se posicione, mas atue para

a modificação desta realidade. Porém, de acordo com Bock (1997), a Psicologia tem funcionado

sob a visão liberal dominante, que tem como teses fundamentais os direitos legais de segurança

e propriedade e os direitos naturais à liberdade e igualdade. Nesta visão, “o homem foi afastado

da realidade social e o fenômeno (psicológico) tornou-se uma entidade abstrata” (BOCK, 1997,

p.40). A Psicologia tem, assim, transformado problemas sociais em individuais e ignorado a

realidade política e social e, ao privilegiar este enfoque individual, não presta atenção às

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determinações históricas e contribuindo para a manutenção da situação de desigualdade da

sociedade brasileira (AZERÊDO, 2002).

A formação em Psicologia é um momento crucial de construção de um novo perfil de

psicólogo. Sua importância se justifica pela possibilidade de preparação do futuro psicólogo

para realizar uma análise da sociedade, compreender as demandas sociais e atuar

profissionalmente com compromisso social. Botomé (2010), ao analisar seu trabalho “A quem

nós, psicólogos, servimos de fato?” de 1979, afirma que mais de 30 anos se passaram, e, apesar

de inúmeros debates, escritos e reuniões voltadas para o tema realizadas pelos Conselhos

Federal e Regionais, uma dimensão de Psicologia Pública, acessível às populações até então

excluídas do trabalho do psicólogo, ainda não está clara na formação do psicólogo.

Partindo do pressuposto do projeto que defende a Psicologia atuando com

compromisso social e que a formação é um momento único de constituição de um psicólogo

que atue considerando a realidade brasileira, a presente pesquisa tem como objetivo verificar

quais recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como

facilitadores para atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade

brasileira.

Com o objetivo de embasar teoricamente esta pesquisa, construímos três capítulos que

servem de alicerce para a discussão sobre a formação do psicólogo no Brasil. O primeiro

capítulo teórico diz respeito à profissão do psicólogo no Brasil. Ao discutir a formação,

consideramos necessário realizar uma retrospectiva da profissão já que, como a perspectiva

sócio-histórica, entendemos que para compreender o fenômeno devemos considerá-lo dentro

de um processo e contextualizá-lo historicamente. O segundo tem como foco a formação em

psicologia e traz essa discussão em três aspectos principais: legislação, questões levantadas em

pesquisas e levantamento atual dos cursos de psicologia no Brasil. Como capítulo teórico final,

apresentamos uma análise sobre os limites e possiblidades de uma formação com compromisso

social.

Por fim, este trabalho tem como pretensão acrescentar às poucas pesquisas sobre

formação em psicologia na área social1 e fornecer um conhecimento que auxilie não apenas a

discussão, mas também a construção de uma formação comprometida socialmente.

1 Utilizamos a expressão área social na perspectiva afirmada por Lane (1984) de assumirmos a “natureza

histórico-social do ser humano”. (p.19)

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2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL

2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil

O surgimento de uma ciência e, sobretudo, as grandes transformações que nela se

registram são produto de um conjunto de determinações históricas, as quais

culminaram por estruturar ideias que fundamentaram e possibilitaram seu surgimento

como ciência (ARAÚJO, 2009, p.1)

No Brasil, a Psicologia tem sua presença reconhecida desde a época da Colônia, não

propriamente como área específica, mas caracterizada pela preocupação com o fenômeno

psicológico. Seu desenvolvimento em nosso país se deu no interior da Educação e da Medicina,

em consequência das ideias trazidas por brasileiros que estudaram no exterior ou por

estrangeiros que vieram para o Brasil (ANTUNES, 2004).

Temos uma Psicologia que surge colada ao projeto de modernização da sociedade

brasileira e com o objetivo de gerir essa vida em sociedade, os saberes foram importados para

nossas escolas, hospícios e indústrias (BOCK, 2008). Segundo Bock (2009), essa Psicologia

respondia ao interesse de higienização e ordem da sociedade. Na educação, eram abundantes as

práticas autoritárias e disciplinares para formação dos indivíduos. Já na medicina, a criação dos

hospícios demonstrava o tratamento moral dos sujeitos.

O movimento pela legalização da profissão começou a se organizar na segunda

metade dos anos 50, quando Lourenço Filho e outros diretores da Associação Brasileira de

Psicologia apresentaram ao Ministro da Educação uma petição para a criação da profissão

“psicologista” ou “psicotecnista” (ANTUNES, 2004). Apesar da polêmica e embate de

interesse, após diversos trâmites legislativos, no ano de 1962, a Psicologia foi reconhecida como

profissão no Brasil a partir da Lei nº 4.119.

Bock (2008) afirma que no período de sua regulamentação os envolvidos com a

Psicologia eram menos de mil pessoas. Isso representa a relação íntima com a elite brasileira

daqueles envolvidos com a Psicologia. O que nos possibilita afirmar que a própria

regulamentação da profissão se deu devido à força da classe dominante que apostava que o

projeto de Psicologia contribuiria para a modernização do Brasil.

Outro aspecto que nos aponta o compromisso da psicologia com a elite brasileira é a

legislação da profissão. Segundo o art. 4º do Decreto nº 53.464, de 21-01-1964, que

regulamenta a Lei n. 4.119, seriam as funções do Psicólogo:

1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de:

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a) diagnóstico psicológico;

b) orientação e seleção profissional;

c) orientação psicopedagógica;

d) solução de problemas de ajustamento.

1) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos,

paraestatais, de economia mista e particulares.

2) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino,

observadas as demais exigências da legislação em vigor.

3) Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Psicologia.

4) Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos,

paraestatais, de economia mista e particulares.

5) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia.

Podemos perceber uma clara visão tecnicista do profissional psicólogo. Sua primeira

função, utilizar métodos e técnicas com objetivos de ajustar o sujeito, demonstra uma resposta

às necessidades da elite brasileira, “a psicologia prometia colocar o homem certo no lugar certo;

prometia facilitar a aprendizagem; adaptar as pessoas (...)” (BOCK, 2008, p.2). O interesse das

elites com a Psicologia era o de prever e controlar comportamentos para instalar um novo

projeto de sociedade e esses objetivos estavam amparados pela lei.

Mais um fator que pode ser analisado por esse decreto é como a Psicologia é

regulamentada a partir da perspectiva positivista. A partir de suas funções, assume-se o foco de

atuação no indivíduo, aquele que deve ser ajustado para a sociedade. E, pressupostos como a

neutralidade e objetividade são aparentemente colocados como óbvios no atuar do psicólogo.

Segundo Antunes (2004), a Psicologia se firmou como profissão e ampliou suas ações

ao dar respostas às demandas da sociedade brasileira, inicialmente nos campos da Educação,

Trabalho e Clínica, e, mais tarde, em novas modalidades de intervenção, como a psicologia

jurídica, hospitalar, comunitária etc. Adiciona que contribuíram de forma decisiva para o

estabelecimento da Psicologia como ciência autônoma, a expansão da produção de

conhecimento, a criação de novas associações e entidades de diferentes campos da Psicologia

e a prática regular da realização de congressos.

Com o golpe militar no Brasil e os movimentos contestatórios que emergiam, Bock

(2008) afirma que o compromisso com as elites começou a se tornar um incômodo dentro da

Psicologia. Assim, aquela Psicologia que acreditava que poderia explicar o homem

desconsiderando sua realidade, passou a ser questionada e demandada a considerar a realidade

cultural, econômica e social do indivíduo.

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2.2 Psicologia e Compromisso Social

[...] compromisso com a sociedade a Psicologia sempre manteve, o seu compromisso

foi, na maior parte do tempo, um compromisso com as elites e seus interesses. O novo projeto de profissão significa um rompimento com esta tradição e a construção de um

novo lugar para a Psicologia; a construção de uma nova relação da Psicologia com a

sociedade (BOCK, 2008, p.3)

Os sinais de um novo projeto para a psicologia começam a aparecer com maior

visibilidade nos anos 70. A Psicologia Social faz seus questionamentos e inova na prática, com

a Psicologia comunitária, nascida nas academias a partir de estágios dos estudantes e inova nas

concepções teóricas, trazendo ao Brasil concepções críticas da França, da URSS, da Argentina

e de Cuba. A Psicologia inaugura sua presença nos ambulatórios de saúde em São Paulo, de

onde se expande e onde questionamentos importantes sobre as concepções e técnicas de

trabalho serão feitas, inaugurando um campo importante de psicologia da saúde. Em seguida, a

antipsiquiatria trará novas contribuições no campo da saúde mental, fortalecendo este

desenvolvimento. A psicologia organizacional aponta também, ainda que de forma tímida, seus

questionamentos. A psicologia da educação vai em busca do auxílio do pensamento crítico de

Paulo Freire e autores como Makarenko, Vigotski e outros. As entidades se proliferam, e a

psicologia fortalece sua voz social. Destacamos aqui uma reflexão sobre o campo da psicologia

social.

Ao retomar a história da Psicologia Social no Brasil, Araújo (2009) identifica autores

que, desde o século XIX, tratavam de uma Psicologia que considerava o meio social. Como

exemplos, a autora traz Sylvio Romero, que em 1886 declarava sua crença numa psicologia dos

povos, e Francisco José de Oliveira Viana, que em 1921 publicou o primeiro livro com título

referido à Psicologia Social que tratava sobre temas que carregavam a preocupação com o meio

social e político.

A abertura dos primeiros cursos de Psicologia Social ocorreu na década de 1930. Nos

anos 1950, o país era impregnado pela ideologia desenvolvimentista; dessa forma, muitos

estudos eram voltados para questões sociais como valores e normas, comunicação de massa etc.

(BOMFIM, 2003a apud ARAUJO, 2009).

Vale ressaltar que, apesar da Psicologia Social se fazer presente nesse período, a sua

concepção de homem é a mesma da ciência psicológica da época, individualizante, mecanicista

e objetivista. Segundo Kruguer (1986) apud Araujo (2008), a teorização da Psicologia Social

era centrada nos fatores cognitivos do indivíduo e numa perspectiva a-histórica. Sua influência

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foi fortemente norte-americana e ao considerar a importância do estudo do meio social como

objeto de estudo, a sociedade era vista apenas como um reflexo da soma das partes (indivíduos).

É na década de 1960 que essa Psicologia Social realizada no Brasil começa a ser

questionada. A crítica realizada era que a psicologia social, importada dos Estados Unidos, “de

base experimental e positivista, que falava de mecanismos psicológicos universais e abstratos,

desconsiderando o conteúdo histórico e social presente na constituição do homem” (BOCK et

al., 2007, p. 49), não cabia em nossa realidade.

Uma figura de extrema importância na construção da Psicologia Social brasileira (não

apenas realizada no Brasil) é Sílvia Lane. Segundo Bock et al. (2007):

[...] sua preocupação básica em construir uma psicologia social voltada para a realidade brasileira e latino-americana, com vistas a contribuir parça a superação das

desigualdades e das situações de opressão, demandava uma construção teórica que

permitisse compreender o homem como participante do processo social. Nesse

sentido, entendia que o conhecimento da psicologia deveria levar à compreensão dos

mecanismos que provocam a alienação e contribuir para ampliar a consciência dos

homens. Sua teoria sobre o psiquismo teve essa direção. (p. 49)

Lane é considerada a responsável pelo desenvolvimento da perspectiva sócio-histórica

na Psicologia Social no Brasil. Uma perspectiva que considera que a produção de conhecimento

deve ser comprometida com a transformação social. Assim, vai contribuir para a superação do

positivismo como forma de fazer ciência ao afirmar que sempre há uma intenção do sujeito

sobre o objeto, ao negar a neutralidade na elaboração de novos métodos de pesquisa a partir do

materialismo histórico e dialético e para a afirmação do homem como sujeito histórico,

assumido o marxismo como postura epistemológica (BOCK et al., 2007).

A década de 1970 foi importante pelo surgimento dos primeiros cursos de mestrado

em Psicologia Social. A partir destes, dissertações foram geradas com temas voltados para a

realidade brasileira, aumentando a produção científica deste novo projeto de Psicologia. Outro

marco significante deste momento foi a criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de

Psicologia a partir da Lei nº 5.776, de 20/12/1971, que representou uma maior organização da

Psicologia como profissão.

Em 1980, é criada a Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO e, em

1987, ocorre a publicação do livro Psicologia Social: o homem em movimento, organizado por

Sílvia Lane e Wanderley Codo, que concretizou uma alternativa teoricamente fundamentada da

Psicologia Social norte americana. Temos então dadas as condições para a construção de um

novo projeto de Psicologia, uma Psicologia com compromisso social com a realidade brasileira.

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Ferreira Neto (2004) aponta que o projeto da Psicologia Sócio-Histórica, que tem

como base a Psicologia histórico-cultural de Vigotsky, rompeu com alguns aspectos da

Psicologia hegemônica da época e: “influenciou, desde então, uma geração de psicólogos

preocupados com a construção de uma psicologia próxima da realidade brasileira” (FERREIRA

NETO, 2004, p.149). Na construção desse projeto, o autor assinala a importância de Ana

Mercês Bahia Bock, orientanda de Sílvia Lane, tanto em sua produção acadêmica, quanto na

ação política.

Em relação à produção, Ferreira Neto (2004) indica quatro críticas feitas por Bock a

aspectos da Psicologia, daquele momento, que deveriam ser superados a partir do novo projeto

de Psicologia: visão abstrata do fenômeno psicológico, tradição classificatória e

estigmatizadora da Psicologia, noção de neutralidade em Psicologia e positivismo e idealismo

na Psicologia. Essa análise foi de admirável ao reconhecer a ideologia que regia a Psicologia,

até então dita como neutra.

Já em relação à sua ação política, Bock e um conjunto de profissionais que se

dedicaram às entidades de Psicologia a partir dos anos 90 representaram e ainda representam a

bandeira do compromisso social na Psicologia. Bock foi presidente do Conselho Federal de

Psicologia em três gestões (1997 a 2007), período crítico para a afirmação no novo projeto de

Psicologia na sociedade brasileira, e é a atual presidente do Instituto Silvia Lane de Psicologia

e Compromisso Social. Grupos por todos Brasil procuram manter e desenvolver o projeto e têm

tido papel importante.

Na gestão do CFP, nos anos 2000, é defendido e construído ativamente o projeto do

compromisso social da Psicologia na I Mostra Nacional de Práticas em Psicologia: Psicologia

e Compromisso social, realizada pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa Mostra foi um

marco para o novo projeto de Psicologia no Brasil e contou com milhares de trabalhos que

apresentavam experiências interdisciplinares, que inovavam em instrumentos de trabalho não

“psicologizantes” ou atuavam com populações que normalmente não teriam acesso ao trabalho

do psicólogo (BOCK, 2009).

A 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia ocorreu doze anos após a primeira,

em 2012. Esta teve como tema “Compromisso com a construção do bem comum” e ampliou a

forma de organização ao ir além da apresentação de práticas profissionais, constituindo espaços

de debates sobre trabalhos dos psicólogos em diversas áreas de atuação visando à criação de

articulações e fortalecimento do compromisso com a realidade brasileira.

O compromisso da Psicologia com a realidade brasileira se torna, então, um tema de

debate nas universidades e cursos de Psicologia, nas entidades e nos eventos, sendo, no entanto,

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objeto de polêmica e debate. Apesar de disputas políticas e oposição, esse novo compromisso

social da Psicologia, caracterizado por Bock (2002, p.28) como “compromisso de trabalho pela

melhoria da qualidade de vida; um compromisso em nome dos direitos humanos e do fim das

desigualdades sociais”, se faz fortemente presente na discussão sobre a atuação do psicólogo

no Brasil.

2.3 Perfil do psicólogo brasileiro

“Uma profissão não é um fazer pronto que recebemos. Uma profissão se constrói na

história de uma sociedade em um tempo histórico que permita seu surgimento, ou seja, necessite

dela.” (BOCK, 2008, p.1)

O psicólogo é produto de sua história e, de forma dialética, são também produtores

dela. Assim como a Psicologia se constituiu como ciência “psicologizante”, positivista e ligada

às elites, devido ao seu contexto histórico, os psicólogos são, em sua maioria, um reflexo dessa

historicidade. Por serem sujeitos parte indissociável da sociedade, atuam e constroem a

Psicologia. Assim, é na mudança na base material que se realiza e se faz possível uma mudança

do perfil do psicólogo.

O primeiro aspecto a ser colocado ao se falar de um perfil do psicólogo brasileiro é em

relação ao gênero. Em pesquisa realizada pelo CFP em 1988, intitulada “Quem é o psicólogo

brasileiro?”, é apresentada uma Psicologia composta por 87% de mulheres. Esse dado converge

com os 89% encontrados na pesquisa realizada a partir do cadastro do CFP em 2012, chamada

“Quem é a psicóloga brasileira? Mulher Psicologia e Trabalho” (LHULLIER, 2013).

Importante ressaltar a mudança no título das pesquisas de psicólogo para psicóloga, que indica

um maior cuidado e atenção na questão do gênero dentro da psicologia.

Outro aspecto que tem recebido atenção da Psicologia nos últimos anos é a questão de

“cor ou raça” (termo adotado pelo padrão do IBGE). Essa atenção pode ser comprovada pelos

movimentos dentro da Psicologia que discutem esse aspecto, como a realização de dois

Encontros Nacionais de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) das Relações Raciais e

Subjetividades – PSINEP, e pelo fato de que o questionamento sobre “cor ou raça” não fez parte

da pesquisa do CFP de 1988, mas integrou a realizada pelo CFP em 2012.

Os resultados dessa pesquisa indicam que dos 1.331 respondentes 67% das

entrevistadas se autodefiniram como brancas, 25% como pardas, 3% como pretas, 3% como

amarelas, 1% como indígena e 1% afirmou não saber dizer (LHULLIER, 2013). Lhullier e

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Roslindo (2013) destacam que esse dado difere bastante em relação aos dados da população

brasileira e que temos uma Psicologia composta, em sua maioria, por mulheres de uma “cor ou

raça” historicamente privilegiada no Brasil.

Para analisar as áreas de atuação em que os psicólogos atuam, uma pesquisa essencial

foi realizada por Bastos et al. no ano de 2010, na qual os autores fazem uma comparação do

projeto “O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional” (BASTOS & GOMIDE,

1989), que analisava os dados da pesquisa do CFP “Quem é o psicólogo Brasileiro?” (CFP,

1988), com uma pesquisa realizada entre os anos de 2006 e 2008 sobre a profissão do psicólogo

no Brasil pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da Associação Nacional de Pesquisa

e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP.

Nesse estudo foi identificado que, da década de 80 para os anos 2000, há uma

manutenção da área clínica como maior área de concentração da atuação dos psicólogos. A área

organizacional e do trabalho cresce um pouco, mas perde o segundo lugar no ranking para a

saúde, nova área de inserção dos psicólogos, não contemplada na primeira pesquisa. A educação

tem uma queda expressiva como campo de atuação profissional, e as áreas social e jurídica

aparecem demonstrando sua consolidação como prática da Psicologia.

Em relação às atividades desenvolvidas, os autores apontam que o psicólogo

participante da pesquisa realizada pelo GT desenvolve, independente da área, ações

semelhantes aos anos 80. Identificam como sendo as atividades de maior incidência a avaliação

psicológica, psicodiagnóstico e aplicação de teste. E concluem que, apesar da expansão dos

campos de atuação dos psicólogos, ainda temos uma prática limitada.

Essa prática tecnicista da Psicologia pode ser considerada resultado da ideologia

discutida por Bock (2009), ao afirmar que alguns elementos ideológicos acompanham a maior

parte das práticas do psicólogo. Para a autora, a Psicologia tem naturalizado o fenômeno

psicológico ao vê-lo como universal, o que acarreta numa atuação corretiva do psicólogo.

Outro fator apontado por ela é o fato dos psicólogos não conceberem suas intervenções

como trabalho, eles consideram que sua ação apenas ajuda ao outro a se desenvolver, e que isso

tem como consequência uma visão de trabalho como neutra, negando sua intervenção em

determinada direção. Esse ponto concorda com a pesquisa do CFP de 1988 que constatou que

40,5% dos 2417 psicólogos que participaram da pesquisa escolheram a profissão por “motivos

voltados para o outro” ao expressarem querer conhecer, ajudar ou lidar com o ser humano

(CARVALHO et al., 1988).

Bock (2009) ainda coloca que há uma concepção na Psicologia de que o homem possui

em si a potencialidade de desenvolvimento, tendo a sociedade apenas o papel de favorecer ou

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prejudicar este desenvolvimento. Tais concepções isolam o sujeito da sociedade e isentam a

mesma de qualquer responsabilidade por sofrimentos psicológicos dos sujeitos.

Temos então uma Psicologia composta em sua maioria por mulheres, brancas que

trabalham em clínica/consultórios particulares. Podemos também concluir a partir dos estudos

apontados que, apesar de avanços na construção de uma Psicologia comprometida socialmente,

ainda está sendo formado um psicólogo que atua sob forte influência da ideologia dominante.

Dessa maneira, é imperativo repensarmos a formação desse profissional para concretizarmos

um perfil de psicólogo que atenda ao novo projeto de Psicologia.

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3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares

“Não existe políticas de formação sem a análise do contexto” (GRUPO DE

TRABALHO FORMAÇÃO, CFP, 2012, p. 11).

Apesar de ainda não ser regulamentada como profissão, a Psicologia já contava com a

sua formação institucionalmente regulamentada a partir do Decreto-Lei nº 9.092, de 1946.

Nesse período, para ser considerado psicólogo era necessário ser “aprovado nos três primeiros

anos do curso de Filosofia, bem como em cursos de Biologia, Fisiologia, Antropologia,

Estatística, e me curso de especialização de Psicologia. Finalmente, estágio em serviços

psicológicos, a juízo dos professores da seção” (SOARES, 1979, p.20). Foi a partir da emenda

que dispunha sobre a formação do psicólogo e fixava o currículo mínimo e que acompanhava

a Lei que regulamentava a profissão em 1962, que foram regulamentados cursos específicos de

Psicologia.

O Currículo Mínimo para os Cursos de Psicologia para Bacharelado e Licenciatura foi

o primeiro documento federal oficial. Com vigência a partir de 1963, era composto por matérias

obrigatórias, definição da obrigatoriedade do estágio supervisionado e sua carga horária, além

da duração do curso. Em decorrência do golpe militar de 1964, o Currículo Mínimo permaneceu

quase sem modificações, apenas com acréscimo ou retirada de algumas disciplinas (ROCHA

Jr., 1999).

Nico e Kovac (2003) afirmam que é a partir dos anos 80 que o Conselho Federal de

Psicologia passou a promover uma série de atividades com o objetivo de debater a formação

em Psicologia. As autoras acrescentam que neste período foram realizadas discussões sobre a

necessidade da reformulação dos currículos.

No início da década de 1990, o CRP-06 (São Paulo) realizou o I Encontro Regional

sobre Formação Profissional em Psicologia. Segundo Japur (1994), esse período foi marcado,

pois o Conselho Federal e os Regionais de Psicologia “desenvolveram um amplo processo de

discussão em todas as regiões do país, a respeito da questão da Formação em Psicologia” (p.43)

e foi publicado o livro “Psicólogo Brasileiro – construção de novos espaços” caracterizado por

ser uma revisão bibliográfica da literatura produzida no Brasil entre 1980 e 1992 sobre os novos

caminhos da profissão.

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Como produto dessas discussões foi elaborada a pauta do “I Encontro de

Coordenadores de Curso de Formação de Psicólogos”, realizado em Serra Negra. Encontro

onde foram criados os sete princípios norteadores da formação em psicologia e dez sugestões

de operacionalização respectivamente expostos nos Quadros 1 e 2 (CFP, 1992).

Quadro 1 - Princípios norteadores da formação em psicologia

1) Desenvolver a consciência política de cidadania e o compromisso com a realidade

social e a qualidade de vida.

2) Desenvolver a atitude de construção do conhecimento, enfatizando uma postura

critica, fomentando a pesquisa num contexto de ação – reflexão, bem como

viabilizando a produção técnico-científica.

3) Desenvolver o compromisso da ação profissional cotidiana baseada em princípios

éticos, estimulando a reflexão permanente destes fundamentos.

4) Desenvolver o sentido de Universidade, contemplando a interdisciplinaridade e a

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

5) Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão

epistemológica, visando à consolidação de práticas profissionais, conforme a

realidade sociocultural, adequando o currículo pleno de cada agência formadora ao

contexto regional.

6) Desenvolver uma concepção de Homem, compreendido em sua integralidade na

dinâmica de suas condições concretas de existência.

7) Desenvolver práticas de interlocução entre os vários segmentos acadêmicos, para

uma avaliação permanente do processo de formação.

Fonte: Carta Serra Negra (2002).

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Quadro 2 -Sugestões de operacionalização

1) Implementar uma política institucional de contratação, qualificação e avaliação do

corpo docente.

2) Implementar uma política institucional de acompanhamento do corpo discente em

sua formação.

3) Procurar garantir, junto às agências formadoras, o suporte institucional necessário à

formação profissional.

4) Elaborar uma estrutura curricular que possibilite ao aluno acesso às diferentes

concepções, levando-os a uma análise crítica das mesmas.

5) Oferecer campos de estágios que contemplem a prática destas diferentes concepções

na medido do possível.

6) Desenvolver um sistema de acompanhamento e avaliação contínua dos estágios nos

locais onde são desenvolvidos e dos resultados dos serviços prestados, buscando

verificar sua adequação às necessidades de formação do aluno.

7) Promover a produção escrita, dentro de padrões aceitáveis, de toda a atividade

acadêmica do aluno, inclusive trabalho de conclusão de curso ou monografia,

oferecendo condições de divulgação e discussão no âmbito e fora da universidade.

8) Divulgar as ementas das disciplinas para possibilitar o conhecimento pelo aluno do

seu conteúdo e cumprimento.

9) Manter um espaço de discussão da Ética Profissional do ponto de vista filosófico,

político e do Código de Ética nas diversas disciplinas e estágios.

10) Buscar integração dos Conselhos Regionais de Psicologia com os Cursos para

promoção de atividades relacionadas à formação e ao exercício profissional.

Fonte: Carta Serra Negra (1992).

Tais princípios marcam um avanço no projeto da Psicologia do Brasil ao colocar a

preocupação dos aspectos sociais na formação do psicólogo. Principalmente ao apostar na

importância da postura política, crítica, ética e com compromisso com a realidade social. Outro

ponto importante da carta é o fato de ela avançar ao apontar alguns princípios básicos para a

formação com uma postura propositiva, e não apenas crítica (BUETTNER, 2000).

Em 1994, foi realizado o Congresso Nacional Constituinte da Psicologia,

posteriormente chamado de I Congresso Nacional da Psicologia - CNP. A formação acadêmica

foi um dos três eixos temáticos, juntamente com a organização política dos psicólogos e

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exercício profissional. Dentro deste eixo, foram aprovadas propostas com o posicionamento do

sistema Conselhos sobre a formação em Psicologia que expandiam e aprofundavam os

princípios elaborados no Encontro de Serra Negra. Então, apesar de não ter sido o tópico mais

enfatizado, teve resultados importantes (BUETTNER, 2000).

No ano seguinte, com o objetivo de estudar e propor uma nova direção à formação em

Psicologia, foi indicada pelo MEC uma Comissão de Especialistas de Ensino de Psicologia

(CFP, 2003) composta por Mariza Monteiro Borges (UnB - Presidente), Antônio Virgílio

Bittencourt Bastos (UFBA) e Yvonne Alvarenga G. Khouri (PUC-SP). A Comissão reuniu

informações a partir das próprias instituições formadoras, de pesquisas realizadas pelo

Conselho Federal de Psicologia e das teses relativas à formação profissional (BRASIL, 1995)

e construiu um documento com dez diretrizes para a formação (Quadro 3), acompanhadas por

propostas de operacionalização.

Quadro 3 - Diretrizes para a Formação e Avaliação Curriculares, 1995

1. Uma formação básica pluralista e sólida

2. Uma formação generalista

3. Uma formação interdisciplinar

4. Preparar o psicólogo para uma atuação multiprofissional

5. Assegurar uma formação científica, crítica, reflexiva

6. Permitir uma efetiva integração teoria-prática

7. Compromisso com o atendimento das demandas sociais

8. O compromisso ético deve permear todo o currículo

9. Romper o modelo de atuação tecnicista

10. Precisar as terminalidades dos cursos de psicologia

Fonte: Carta Serra Negra (2002).

Segundo Buettner (2000), essas dez diretrizes representaram uma síntese das

principais discussões dos eventos e pesquisas sobre a formação em Psicologia. Elas

demonstravam uma proposta de formação articulada e orgânica que respondia à grande parte

dos problemas relacionados à formação daquele momento. Gomes (2002) acrescenta que este

“documento se impõe pela clareza e profundidade com que encaminha a solução de problemas

curriculares, pela sintonia com os interesses e avaliações da área, e pela abrangência histórica,

conceitual e inovador” (n.p.).

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O II Congresso Nacional de Psicologia ocorreu em 1996 e contou com os mesmos

eixos temáticos do congresso anterior. No eixo sobre a formação foram priorizados dois pontos

específicos: estágios e clínicas-escola e proliferação indiscriminadas de cursos. A discussão do

primeiro item serviu como aprofundamento do tópico pouco explorado no I CNP e a do segundo

deliberou sobre a necessidade de provocação e auxílio às avaliações dos cursos (BUETTNER,

2000).

No final daquele ano, houve a aprovação da Lei 9.394/96 de dezembro de 1996 que

instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Segundo Nico e Kovac (2003), “com a

promulgação da LDB, os currículos mínimos foram extintos e cada área tornou-se responsável

por formular suas diretrizes para o ensino superior” (p.56).

Em dezembro do ano seguinte, a partir do Parecer 776/97, o MEC orientou a

elaboração das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. No Parecer, as diretrizes

curriculares são definidas por constituírem “orientações para a elaboração dos currículos que

devem ser necessariamente respeitadas por todas as instituições de ensino superior” (BRASIL,

1997, p.2) e deveriam respeitar os seguintes princípios:

1) Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na composição da

carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como a

especificação das unidades de estudos a serem ministradas;

2) Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino

aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de

conteúdos específicos com cargas horárias predeterminadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos;

2) Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação;

3) Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado

possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional

e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e

habilitações diferenciadas em um mesmo programa;

4) Estimular práticas de estudo independente, visando a uma progressiva autonomia

profissional e intelectual do aluno;

5) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências

adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência

profissional julgada relevante para a área de formação considerada;

6) Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão;

7) Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas que utilizem

instrumentos variados e sirvam para informar a docentes e a discentes acerca do

desenvolvimento das atividades didáticas.

Com o objetivo de construir este novo documento, em 1998, a Secretaria de Educação

Superior (SESu) – Ministério da Educação – indicaram uma segunda Comissão de Especialistas

composta por: Maria Angela Guimarães Feitosa (Coordenadora), Anna Edith Bellico da Costa,

Antonio Virgílio Bittencourt Bastos, Carolina Martuscelli Bori, Marilia Ancona-Lopez e

William Barbosa Gomes. Segundo Buettner (2000), a nova Comissão praticamente

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desconsiderou as diretrizes elaboradas pela comissão anterior ao formular novas diretrizes

intituladas “Padrões de Qualidade para os cursos de Graduação em Psicologia”. Este documento

apresentava critérios de avaliação, autorização, reconhecimento e recredenciamento de cursos

de Psicologia e não fazia menção alguma às diretrizes anteriores.

O Conselho Federal e os Regionais de Psicologia decidiram realizar um evento voltado

para esta discussão chamado Fórum Nacional da Formação em Psicologia composto por

“composto por 38 delegados, eleitos nos Fóruns Regionais sobre o tema, por convidados e

ouvintes” (FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO, 1997). O Fórum foi iniciado com eventos

menores nas sedes (CFP) e subsedes (CRPs) e culminou num encontro nacional em Outubro de

1997 em Ribeirão Preto – São Paulo (BUETTNER, 2000). Sendo os objetivos do Fórum:

elaborar estratégias de intervenção institucional nos problemas da Formação do psicólogo;

construir as diretrizes curriculares para o curso de graduação em Psicologia e analisar a

propostas de avaliação dos cursos de Psicologia apresentada pela Comissão de Especialistas de

Ensino a Psicologia do MEC/SESU.

Como produto deste evento, foi elaborada uma série de princípios gerais e estratégias

de intervenção do CFP em relação a esta temática. Também foram criadas sugestões de

avaliação dos Cursos e de pedidos de abertura de novos cursos que modificavam as contidas no

documento “Padrões de Qualidade para Cursos de Graduação de Psicologia”. Além de

formuladas diretrizes curriculares para os cursos de Psicologia, que basicamente mantiveram

as diretrizes propostas pela primeira Comissão de Especialistas (BUETTNER, 2000).

Outra deliberação do Fórum Nacional de Formação foi a criação, em outubro de 1998,

da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP. Essa associação tem como objetivo

ser uma entidade de âmbito nacional que reflita, desenvolva e aprimore a formação em

Psicologia no Brasil. Desde seu nascimento, “a ABEP compreende que a formação em

Psicologia deve estar comprometida com a realidade social do país vinculado a ética e ao

exercício da cidadania” (ABEP, n.p.).

Poucos meses depois da realização do Fórum Nacional de Formação, foi apresentado

pelo SESU-MEC o Edital 04/97, que chamava as instituições de ensino superior a apresentar

propostas para as novas Diretrizes Curriculares para os cursos superiores. Sendo que a

formulação final destas seria elaborada pelas respectivas Comissões de Especialistas de cada

curso.

Após longo processo de discussões e construções, no início de 1998, a Comissão de

Especialistas do MEC divulgou o documento “Diretrizes Curriculares: Formulação

Preliminar”. Buettner (2000) afirma que “este documento não correspondia às discussões e

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deliberações que há mais de dez anos vinham sendo construídas pela Psicologia” (p.59). O CFP

(2003) ratificava esta posição ao afirmar que este documento não contemplava os princípios

aprovados no Fórum Nacional de Formação em Psicologia. Isso gerou ampla mobilização das

IES e demais entidades da Psicologia. E, em maio de 1998, o CFP encaminhou uma nova

proposta de Diretrizes Curriculares que reafirmava os princípios do Fórum.

Um ano depois, a Comissão de Especialistas divulgou a segunda versão da proposta e

em outubro deste ano, ela apresentou na XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de

Psicologia, o que afirmava ser a versão final das Diretrizes Curriculares para os cursos de

graduação em Psicologia (CFP, 2003). Segundo Nico e Kovak (2003), esse documento

conseguiu assegurar que ambos os grupos fossem contemplados ao definir um Núcleo Comum,

que contemplava a identidade do curso de Psicologia no país e assegurava uma base homogênea

para a formação, e também ênfases de aprofundamento, que possibilitam a capacitação em

determinada área ou campo de atuação. Gomes (2002) afirma que o Núcleo comum garante a

homogeneidade científico-profissional da formação em Psicologia, já as ênfases garantem a sua

heterogeneidade. Assim, apesar de as IES terem a autonomia de determinar suas ênfases de

aprofundamento, é obrigatório que o núcleo comum seja respeitado (NICO e KOVAC, 2003).

Já para o CFP (2003), esta versão não era satisfatória já que, apesar de superar algumas

inconsistências do documento anterior, mantinha pontos polêmicos, como os perfis de formação

e as ênfases curriculares.

Em setembro de 2000, foi realizado o I Encontro Nacional da ABEP, no qual o tema

das Diretrizes Curriculares foi um eixo de debate. Nesse evento, foi concluído que a versão das

Diretrizes apresentada pela Comissão desrespeitava o processo de discussões e construções

coletivas e decidiram por reivindicar ao Conselho Nacional de Educação - CNE –a revisão da

mesma (CFP, 2003). Em outubro de 2000, uma audiência pública foi realizada pelo CNE para

discutir uma proposta de resolução para as Diretrizes Curriculares.

Foi apresentada pela relatoria do CNE uma proposta de Diretrizes Curriculares para o

Curso de Graduação em Psicologia no dia 07 de novembro de 2001 a partir do Parecer

CNE/CES nº 1.314. De acordo com o CFP (2003), “este parecer mantinha quase que na íntegra

a proposta da Comissão de Especialistas” (p.11). Essa versão se mantinha estruturada a partir

de um núcleo comum de formação, contemplando os princípios e compromissos nos quais a

formação deve se basear, as competências gerais e habilidades do formado em Psicologia, os

eixos estruturantes e seus conteúdos curriculares, da organização do curso caracterizada pelas

atividades acadêmicas e colocações acerca dos estágios e atividades complementares, e de

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perfis de formação: Bacharel em Psicologia, Professor de Psicologia e Psicólogo, sendo que as

ênfases curriculares estão ligadas ao terceiro perfil.

O perfil de Bacharel em Psicologia tinha como objetivo um maior investimento na

atividade de pesquisa; o de Professor de Psicologia se voltava ao ensino da Psicologia em

diversos níveis e modalidades, e o de Formação do Psicólogo se caracterizava pela prática

profissional. Dessa forma, temos uma cisão da Psicologia em Ciência e Profissão.

De acordo com Bock (2004), “dividir a formação em três perfis ou apresentá-la em um

só perfil refletiam esta disputa (política). Os três perfis permitiriam que algumas escolas (a

maioria) se dedicassem à formação profissional e outras escolas (a minoria pública) se

dedicassem à pesquisa” (BOCK, 2004, p.1). Já para Gomes (2002), “a proposta trata com a

mesma seriedade a formação profissional e científica. A prática profissional apresenta-se

fundamentada em conhecimentos científicos, e a arte (poiesis) de fazer ciência renova a prática

profissional e a própria ciência” (n.p.). Assim, a dualidade entre opiniões sobre as Diretrizes

Curriculares se manteve.

O grupo que não foi contemplado pelas Diretrizes, composto pela Associação

Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP –, Conselho Federal de Psicologia – CFP –,

Conselho Nacional de Estudantes de Psicologia – CONEP –, entre outras entidades

participantes do Fórum Nacionais de Entidades de Psicologia Brasileira – FENPB –, reagiu

com uma manifestação em frente ao MEC reivindicando a refutação da proposta (BARBOSA,

2007). Também produziram uma carta aberta à população intitulada “Diretrizes Curriculares:

um risco à sociedade”, que analisava como as diretrizes reduziam a atividade do psicólogo ao

modelo médico e dissociavam a pesquisa da atividade profissional. Fundamentalmente, este

grupo acreditava que as diretrizes curriculares apresentadas colocavam em “risco o avanço

conquistado pela Psicologia no Brasil, na direção de uma ciência e de uma profissão mais

comprometidas com as necessidades da sociedade brasileira” (CFP, ABEP e CONEP, 2001, p.

1) e que, se aprovadas, permitiriam que os interesses dos empresários brasileiros do ensino

superior corrompessem a construção da Psicologia brasileira.

Outra entidade que também reagiu à proposta das Diretrizes foi a Associação Nacional

de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP. Na carta escrita pela Diretoria da

ANPEPP, composta por Maria Lúcia Seidl de Moura (UERJ) – Presidente –, Lino de Macedo

(USP) - Vice-Presidente –, Paulo Rogério Meira Menandro (UFES) – Secretário –, Oswaldo

Hajime Yamamoto (UFRN) – Tesoureiro – e Mitsuko Aparecida Makino Antunes (PUC/SP) -

Secretária Executiva – para o Simpósio de 2002, os pontos principais de preocupação da

entidade para com as Diretrizes foram: a abolição de qualquer parâmetro definidor de carga

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horária mínima, a supressão do ponto que não permitia o estágio supervisionado com mais de

12 alunos e que, apesar de as diretrizes tenderem para a formação diversificada do psicólogo, o

artigo 6º sugere que o profissional de Psicologia é exclusivamente da área da saúde (ANPEPP,

2001).

Segundo Barbosa (2007), devido às reivindicações e manifestações ocorridas, o

Ministério da Educação não homologou as Diretrizes Curriculares propostas pela Comissão de

Especialistas. Foi realizada uma reunião da assessoria do Ministro da época - Paulo Renato

Souza - com uma comitiva das entidades de Psicologia e ficou acordado que as entidades teriam

até o dia 28 de janeiro de 2002 para apresentar uma nova proposta para o documento (CFP,

2003).

O início do ano de 2002 foi conturbado, no mês de janeiro foi realizado o Fórum

Aberto de Entidades que contou com a participação de pelo menos 50 entidades de Psicologia

e elaborou um documento alternativo das Diretrizes Curriculares que foi entregue ao MEC neste

mesmo mês. Em fevereiro, a relatoria do CNE construiu e encaminhou ao MEC o Parecer

CNE/CES nº 072/02 que, segundo o CFP (2003), desconsiderava o documento encaminhado

pelo Fórum. Em consequência disso, a ABEP passou a realizar intensa mobilização

institucional e da categoria, e a homologação do Parecer não ocorreu. Assim, em julho de 2002,

foi constituída uma nova comissão, composta por Éfrem de Aguiar Maranhão, Marília Ancona-

Lopez, e Tereza Roserley Neubauer (que se desligou da comissão), para esclarecer as opiniões

de ambos os segmentos da categoria e tentar produzir um novo documento para ser

homologado.

Essa comissão realizou, em dezembro de 2003, uma audiência pública na qual ficou

clara a divergência entre dois grupos de entidades sobre, principalmente, a questão dos perfis

para os cursos de Psicologia (BARBOSA, 2007). Para tentar solucionar a problemática, foi

acatada a proposta do professor Éfrem Maranhão de se construir um grupo paritário com 2

representantes do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (composto por 16

entidades de Psicologia), Inara Barbosa Leão e Maria da Graça Marchina Gonçalves, e 2 da

Sociedade Brasileira de Psicologia, Antônio Virgílio Bittencourt Bastos e Maria Martha Costa

Hübner, para debater as diretrizes e se chegar a um consenso.

Como produto desse encontro ocorrido em fevereiro de 2004, apresentou-se uma

proposta consensual das Diretrizes Curriculares encaminhada à Comissão. Segundo Barbosa

(2007), este novo documento “respeitou grande parte das propostas anteriores e superou as

principais divergências até então apontadas” (p.35). Assim, no dia 07 de maio de 2004, foi

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homologada a Resolução CNE/CES nº 8, que instituía as Diretrizes Curriculares Nacionais para

os Cursos de Psicologia.

Segundo Cirino et al. (2007), as Diretrizes se modificaram substancialmente em

relação às anteriores, principalmente na forma em que estão organizadas. Também pelo fato de

que, apesar de manterem o núcleo comum com suas competências e habilidades, eixos

estruturantes, atividades acadêmicas e estágios com poucas modificações, elas abandonam os

perfis de formação e apresentam uma lista de possibilidades de ênfases curriculares e

determinam a obrigatoriedade do oferecimento de pelo menos duas delas.

A Psicologia segue por um processo de intensos e extensos debates em relação à

legislação que regula a sua formação. Foram muitos os espaços de discussão e construção

proporcionados pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais, e a criação da ABEP é um marco

importante que reafirma o compromisso da Psicologia com sua formação.

A história aqui apresentada demonstra mais uma vez a disputa entre diferentes projetos

de Psicologia para a realidade brasileira. Por um lado, o projeto defendido pelo Sistema

Conselhos de psicologia e entidades do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira

- FENPB – e por outro o defendido pela Sociedade Brasileira de Psicologia. São dois projetos

que divergiam e divergem na definição dos perfis, na presença obrigatória da pesquisa em todos

os cursos sem que se destaquem algumas universidades como “de pesquisa” e outras “de

formação profissional” e na definição das ênfases.

A formação está intimamente ligada ao projeto de profissão que queremos, assim, as

questões da formação são questões também da profissão. Falar de formação é falar de

ciência/profissão. A formação de hoje é regida sob as diretrizes curriculares nacionais de 2004,

que, na tentativa de solucionar essa tensão entres os projetos, aponta para uma formação

generalista com ênfases curriculares. Vale demarcar que a formação não se dá apenas no plano

abstrato do debate, mas é algo baseado no real e se dá concretamente a partir de seus atores e

suas concepções.

3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo

“Repensar a inserção social da Psicologia, implica também repensar a colocação da

dimensão do profissional no seio da formação” (HOLANDA, 1997, p.11)

A qualidade da formação do psicólogo é uma preocupação constante da categoria.

Desde sua regulamentação como profissão no Brasil pela Lei Federal nº 4.119, de 27 de agosto

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de 1962, a Psicologia passou por um longo processo objetivando sistematizar a formação do

futuro psicólogo. Antes mesmo dessa data, pesquisas já eram realizadas sobre a formação. Em

1953, Anita de Castilho e Marcondes Cabral, da USP, publicaram o primeiro artigo

contemplando a questão da formação. No ano seguinte, Carolina Bori abordou em seu artigo

“Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica” a importância da estatística e

da experimentação na formação do psicólogo (CÂNDIDO & MASSIMI, 2012).

Ferreira Neto (2004) ressalta o estudo de Sílvia Lesser Pereira, em 1975, pela USP,

como um pioneiro sobre a formação em Psicologia. Segundo o autor, neste trabalho, Pereira

constata que é comum a insatisfação em relação aos cursos entre alunos e professores e que a

formação daquele momento se prendia às formas tradicionais de utilização da Psicologia.

Anos depois, em pesquisa realizada pelo CFP em 1988 - “Quem é o psicólogo

brasileiro?” –, fica claro que a insatisfação dos psicólogos em relação à sua formação ainda se

apresenta (BORGES-ANDRADE, 1988). No conjunto de possíveis dificuldades específicas no

exercício da Psicologia, a “formação e experiências” foi a categoria de maior incidência. Não

apenas os psicólogos consideram que o que foi aprendido na graduação foi insuficiente, como

recorrem à formação complementar para alicerçar a sua prática profissional.

Resultados semelhantes foram evidenciados por Bardagi et al. (2008) em pesquisa

realizada com 79 alunos egressos do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul. As autoras identificaram que 52% dos psicólogos que participaram do estudo

se sentiam não ou “mais ou menos” preparados para atuar ao final do curso, enquanto os outros

48% afirmavam se sentirem preparados.

Isso se manteve em nova pesquisa realizada sobre a profissão do psicólogo no Brasil

realizada pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da ANPEPP ao discorrer que:

[...] os psicólogos reconhecem uma distância significativa entre as suas aprendizagens

na graduação e as demandas do exercício profissional. Os desafios da qualificação

profissional e as defasagens entre o que é necessário para bem exercer a profissão

(BASTOS et al., 2010, p.268)

Ao realizar um levantamento sobre a formação, Valle Cruces (2008) resume os

principais problemas detectados:

[...] a expansão desenfreada de cursos na área; e a sua precária qualidade, pois muitos

deles priorizam a teoria e o preparo técnico, dando pouca possibilidade de estágio e

pouca ênfase à investigação; além do enfoque na clínica curativa e individualizada,

centrada quase sempre na psicanálise, uma das fontes teóricas predominantes no

treinamento dos futuros profissionais (p.241).

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Consideramos que para falar de formação é necessário falar de profissão. Para Holanda

(1997), formação e o exercício profissional constituem um processo contínuo e, por isso, é

necessária uma parceria que “envolva um empenho mútuo na direção de uma formação

adequada para o futuro psicólogo” (HOLANDA, 1997, p.12) entre as entidades formadoras e

os Conselhos de Psicologia. Os cursos de graduação de Psicologia têm a enorme

responsabilidade de formar os futuros psicólogos, por outro lado, é função dos Conselhos, entre

outras coisas, “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo” e “zelar

pela observância do Código de Ética Profissional” (BRASIL, 1971).

Nos dias de hoje, o Documento do CFP sobre a Formação de Psicólogas e Psicólogos

(GRUPO DE TRABALHO FORMAÇÃO, 2012) adiciona que apesar da grande função do

Conselho na atuação sobre a formação do psicólogo, é responsabilidade imediata dos centros

universitários e associações científicas e profissionais, como a ANPPEP (Associação Nacional

de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia) e ABEP (Associação Brasileira de Ensino de

Psicologia), cuidar dessas questões.

É inegável a relação entre formação e profissão, porém ainda não se superou o

pensamento dicotômico, e estas instâncias indissociáveis não têm sido trabalhadas como tal.

Holanda (1997) exemplifica que, já que deve ser garantida a ética do psicólogo, o ideal seria

que durante a formação fosse proporcionado ao estudante condições para que construa o seu

compromisso ético e desde então assuma um papel como transformador social. E, Paiva e

Yamamoto (2010) afirmam que, ao isolarmos profissão e formação, temos como resultado não

apenas “formações insuficientes e desconectadas da realidade social” (p.156), mas também

geramos insegurança e angústia para os psicólogos ao se inserirem nos diversos campos de

atuação.

A formação deve servir de resposta às novas demandas da atuação profissional ao ser

um espaço de construção de superações das práticas já estabelecidas. Algumas mudanças na

profissão podem ser identificadas, mas será que elas refletem na formação?

Segundo Bastos e Achcar (1994), dentre os principais eixos de transformação da

prática do psicólogo, tem-se que a concepção do fenômeno psicológico passa do plano

individual para o contexto sociocultural, que a busca do conhecimento para embasar a prática

de unidisciplinar tende a virar multidisciplinar, assim como a natureza da intervenção tende

para a atuação multiprofissional, saindo do plano isolado do psicólogo. Os autores acrescentam

que a intervenção não foca mais apenas no indivíduo, mas começa a olhar para os contextos e

grupos, deixando o caráter remediativo para um caráter preventivo. Também afirmam que é

assumida uma postura crítica da psicologia frente aos seus conhecimentos e técnicas, que houve

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uma mudança na população atendida, somando os segmentos socialmente excluídos. Por fim,

o compromisso do profissional pela transformação social passa a ser colocado como importante.

Porém, Gonçalves e Bock apontavam em 1996 que “a formação dos psicólogos não

parece estar caminhando nesta direção” (GONÇALVES e BOCK, 1996, p.148). As autoras

afirmam que as mudanças identificadas no trabalho de Bastos e Achcar (1994) pouco têm sido

absorvidas pelos currículos de Psicologia e que ainda se está transmitindo um modelo de

atuação baseado na visão liberal de homem deslocado de sua realidade social.

Segundo Bock (1997), a formação dos psicólogos tem sido dominada pela visão

liberal, assim, os psicólogos têm-se formado na perspectiva da naturalização do homem e do

individualismo. Assim, ela coloca uma série de elementos para basear a construção de um novo

projeto de formação crítica, são eles: pluralidade, estímulo à pesquisa, criatividade,

interdisciplinaridade, formação generalista, treino da prática e, fundamentalmente, uma

formação colada à realidade brasileira. Este último ponto é confirmado por Mancebo (1997),

ao afirmar que os cursos são alheios às necessidades brasileiras.

Convergindo nesta mesma visão de Psicologia, Azerêdo (2002) acredita que para

responder às demandas da realidade brasileira, o grande desafio da Psicologia é introduzir a

dimensão política na formação com o objetivo de alcançar uma nova prática de pensamento que

atue contra o sistema de desigualdade. O que é corroborado pelo Grupo de Trabalho Formação

do CFP (2012) ao afirmar que um dos maiores problemas da formação do psicólogo brasileiro

é a ausência de um projeto ético-político para a profissão.

O Grupo de Trabalho Formação afirma que “o CFP está consciente da defasagem

ético-política no que tange à questão teórica e técnica da formação do psicólogo” (2012, p.7) e

que urge a necessidade de uma adequação da formação às novas demandas sociais. Adequar a

formação às demandas sociais implica-nos definir quais delas são foco da nossa atuação. Para

tanto, Bicalho et al. (2009) afirmam que:

[...] é preciso adquirir a clareza de que nosso trabalho profissional é também um

trabalho político, nunca isento nem neutro. Nossas práticas envolvem uma concepção

de mundo, de sociedade, de homem, de humano, exigindo um posicionamento sobre

a finalidade da intervenção que fazemos, a qual envolve a certeza de que nossas

práticas têm sempre efeitos, exigindo que tomemos, portanto, posições (p.33).

Concordamos com Holanda (1997) ao afirmar que formação e profissão são

indissociáveis. Parto do pressuposto da necessidade de um projeto político para a Psicologia,

pois, se quisermos construir uma nova formação, precisamos ter um projeto de profissão. E, se

quisermos ter um projeto de profissão, devemos nos perguntar: que psicologia o Brasil precisa?

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3.3 Panorama dos cursos no Brasil

O levantamento dos dados do Cadastro das Instituições de Ensino Superior do

Ministério da Educação, realizado por Lisboa e Barbosa (2009), identifica que, em 2007, o

psicólogo brasileiro está, em sua maioria, sendo formado “em um curso de graduação presencial

de uma universidade privada com fins lucrativos localizada no interior do País, principalmente

da Região Sudeste” (LISBOA e BARBOSA, 2009, p.734).

A partir do acesso ao Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da

Educação (e-MEC), no dia 27 de setembro de 2013, foi realizado um panorama dos cursos de

Psicologia na atualidade brasileira. A busca feita por bacharelado em cursos de Psicologia que

esteja em atividade apresentou como resultado de 454 diferentes IES divididas nos 27 estados

do Brasil.

A região Sudeste ainda é a de maior concentração de IES que oferecem cursos de

Psicologia, apresentando o total de 43% (Gráfico 1). Em segundo lugar, tem-se a região

Nordeste, com 21%, seguida da região Sul, com 20%. O Centro-Oeste apresenta 9%, e o Norte,

7%.

Gráfico 1 - Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao analisar este panorama, identifica-se que apenas o estado de São Paulo assume

18% das IES (Tabela 1), número próximo às regiões Nordeste e Sul, e superior às demais. Isto

demonstra a desigualdade presente na distribuição de cursos de Psicologia em nosso país.

7%

21%

9%

43%

20%

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

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Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro

Norte Nordeste Centro-

Oeste

Sudeste Sul Geral

Estad

o

IES Estad

o

IES Estad

o

IES Estad

o

IES Estad

o

IES

AC 2 AL 4 DF 7 ES 12 PR 34

AM 8 BA 37 GO 13 MG 47 RS 33

AP 3 CE 11 MT 8 RJ 23 SC 24

PA 4 MA 3 MG 11 SP 82

RO 10 PB 9

RR 2 PE 16

TO 3 PI 7

RN 5

SE 4

Total 32 96 39 196 91 454

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em geral, tem-se que a realidade da formação em psicologia não mudou muito nos

últimos cinco anos. Como dado complementar, Lisboa e Barbosa (2009) indicam que os cursos

possuem um caráter mediano em relação aos resultados do Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes (ENADE) e que este dado deve ser lido como um problema a ser enfrentado pela

Psicologia.

É apresentado aqui um panorama que demonstra a desigualdade dos cursos de

Psicologia em relação à região. Yamamoto et al. (1999) afirmam que a produção científica da

psicologia no Brasil tem sua concentração geográfica (80%) no eixo sul-sudeste, e que esse

dado indica uma “desigualdade na distribuição de recursos, na oferta de oportunidades

educacionais e de formação científica” (p.558). Esse dado pode ser relacionado com a grande

concentração de IES nas mesmas regiões brasileiras e escassez em outras, o que é consequência

e acaba produzindo os mesmos fatores identificados por Yamamoto et al. (1999).

O caráter mediano dos cursos apontado por Lisboa e Barbosa (2009) pode ser

analisado como uma das consequências dessa desigualdade em relação aos cursos. Mas também

deve ser visto como um reflexo das complexas condições do ensino superior de nosso país, que

valorizam a abertura de IES privadas e não avaliam a sua qualidade. Ambos os dados nos levam

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à reflexão de quais condições são dadas para os cursos de formação dos psicólogos. E, se

quisermos agir na direção de mudanças desse panorama, devemos retomar ao questionamento

inicial: que psicologia o Brasil precisa?

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4 POR UMA FORMAÇÃO PARA A REALIDADE BRASILEIRA

4.1 Análise da Legislação e Diretrizes Curriculares

A legislação da formação do psicólogo se deu concomitantemente à regulamentação

da profissão, portanto seguem uma mesma visão de profissional. Segundo a Lei n. 4.119, que

regulamenta a profissão do psicólogo:

Constitui função privativa do Psicólogo a utilização de método e técnicas psicológicas

conseguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento

(BRASIL, 1962, p.2)

Podemos analisar que a formação do psicólogo é regulamentada sob esta mesma ótica.

Das 9 disciplinas obrigatórias e 7 optativas, presentes no Currículo Mínimo (BRASIL, 1962),

presentes no Quadro 4, apenas duas disciplinas, Psicologia Social e Ética, possibilitam uma

formação que reflita sobre a sociedadbe brasileira.

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Quadro 4 – Disciplinas do Currículo Mínimo para os cursos de Psicologia

1. Fisiologia;

2. Estatística;

3. Psicologia Geral e Experimental;

4. Psicologia do Desenvolvimento;

5. Psicologia da Personalidade;

6. Psicologia Social;

7. Psicopatologia Geral;

8. Técnicas de Exame Profissional e Aconselhamento Psicológico;

9. Ética Profissional;

10. /12 Três dentre as seguintes:

a) Psicologia Excepcional;

b) Dinâmica de Grupo e Relações Humanas;

c) Pedagogia Terapêutica;

d) Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem;

e) Teorias e Técnicas Psicoterápicas;

f) Seleção e Orientação Profissional;

g) Psicologia da Indústria.

Fonte: Desenvolvido pela autora.

Já foi discutido neste trabalho que esta regulamentação reflete o caráter de profissional

liberal dado ao psicólogo com sua prática voltada ao atendimento individual a partir de práticas

“psicologizantes” dos sujeitos (BOCK, 1997). Do mesmo modo, Ribeiro e Luzio (2006)

analisam que o currículo mínimo aponta de forma clara para a formação de um profissional que

enxerga o sujeito de forma individual e tem como objetivo tratar problemas de ajustamento.

Segundo Ferreira Neto (2004), o Currículo Mínimo possuía um caráter conteudista e

enxergava a formação como uma aplicação de conhecimentos. Para tal autor, isso possibilitava

a importação de modelos teóricos estrangeiros sem uma devida crítica e contextualização deles

para a nossa realidade. É apenas a partir das diretrizes curriculares de 2001 que é podemos

identificar uma mudança da legislação da formação em relação ao compromisso social.

Esta mudança pode ser encontrada nas diretrizes curriculares de 2001 no item

”Relatório”, no qual é declarado o “compromisso (do psicólogo) com a superação dos

problemas sociais e humanos que marcam o nosso tempo” (BRASIL, 2001, p.3). Outro passo

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importante foi que, no item dos “Princípios Gerais”, mantido nas Diretrizes Curriculares de

2004, que se caracteriza por compromissos que o curso de psicologia deve assegurar na

formação do profissional, são encontrados dois quesitos que apontam para as preocupações

sociais, são eles:

c) Compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos do

País, fundamentais ao exercício da cidadania e da profissão;

d) Atuação em diferentes contextos considerando as necessidades sociais, os direitos

humanos, tendo em vista a promoção da qualidade de vida dos indivíduos, grupos,

organizações e comunidades (BRASIL, 2001, p.3)

Tal mudança legislativa é analisada por Bock (2004) de forma positiva ao apontar que

a Psicologia está construindo uma nova relação com a sociedade brasileira baseada no

compromisso social com os interesses da maioria da população e com a melhoria da qualidade

de vida. Assim, de acordo com Ribeiro e Luzio (2006), é possível reconhecer um avanço

significativo desde o Currículo Mínimo até as Diretrizes Curriculares atuais. Para os autores:

Há uma clara passagem da visão do psicólogo enquanto profissional liberal, voltado

aos atendimentos/avaliações dos indivíduos, ligados a questões de desajustamento

comportamental/emocional, para de um profissional que se pretende estar inserido em

diversos campos e junto a outros profissionais, em vários espaços sociais e também

na promoção do bem-estar coletivo (p.5).

Podemos perceber que apesar dos avanços na legislação para a formação em

psicologia, das pesquisas realizadas e dos debates dos movimentos sociais, ainda há muito a ser

feito. Bastos et al. afirmam que:

Apesar de tantas mudanças na estrutura da formação em Psicologia que nos levou a

superar os limites do antigo currículo mínimo, ainda são enormes os desafios que

cercam a formação do psicólogo, especialmente em um momento de expansão

acentuada de cursos (BASTOS et al., 2010, p.269).

O desafio não se encontra mais na legislação, mas na formação em si. É a partir da

ação na base concreta da formação, dentro dos cursos de Psicologia, que será possível garantir

uma formação com qualidade e comprometida com a população do Brasil. Para tanto, a

produção acadêmica, a partir das pesquisas empíricas e compartilhamento de experiências de

sucesso realizadas, podem contribuir como exemplo para a concretização dessa nova formação.

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41

4.2 Formação e Compromisso Social

“Não basta reconhecê-lo (o compromisso social) no discurso, é necessário senti-lo e

praticá-lo, assim como instrumentalizar seu desenvolvimento nos programas de formação”

(MARTÍNEZ, 2003, p.158).

Uma formação com compromisso social se traduz numa formação comprometida com

a realidade brasileira. Uma formação que prepare o futuro psicólogo para atuar de forma ética

independentemente da área que esteja inserido. Uma formação que tenha como base a afirmação

de Lane (1984) que toda psicologia é social e, nesse sentido, admita a natureza do homem como

histórico e social. Para tanto, é essencial que o psicólogo conheça a realidade social, cultural e

econômica na qual vai atuar.

Ao fazer uma revisão sobre pesquisas que tiveram como tema a formação Nico e

Kovac (2003) identificaram que diferentes pesquisas (WEBER; CARRAHER, 1982; WEBER,

1984; CARVALHO, 1989; BASTOS; GOMIDE, 1989; MALUF, 1994; MELLO, 1996)

apontavam para duas problemáticas principais da formação. Como primeira distorção

formativa, as autoras evidenciaram nas pesquisas levantadas à tendência nacional de preparar

o futuro psicólogo para atuar na área clínica, de modo que mesmo estando em outra área, o

ensino era conduzido de modo a reproduzir o modelo baseado no atendimento individual. Já

como segundo ponto, verificaram o privilégio dado, quase que exclusivamente, ao referencial

teórico da Psicanálise.

Ao analisarmos uma dessas pesquisas como exemplo, a pesquisa realizada pelo CFP

em 1988, foi identificado que 52% dos psicólogos participantes avaliaram insuficiente o

aprendizado sobre a realidade socioeconômico na qual o psicólogo atua e seu papel social

(GOMIDE, 1988). Mais de 20 anos se passaram desde essa pesquisa e, aparentemente, pouco

mudou. Neves (2008), ao entrevistar oito alunos de último ano do curso de Psicologia, constatou

que, para estes alunos, “a atuação psicológica comprometida socialmente não é algo transmitido

durante o curso de formação em psicologia, com vistas a capacitá-los para uma atuação mais

voltada para a realidade social brasileira” (p.46).

A autora conclui que “os determinantes sociais, políticos, culturais e econômicos são

minimizados frente aos psíquicos e naturais” (NEVES, 2008, p.47) e que a prática clínica,

majoritária entre as práticas dos psicólogos, ainda ocupa espaço privilegiado na formação. Esse

resultado também foi evidenciado na pesquisa realizada por Bardagi et al. (2008) na qual 29,4%

dos sujeitos responderam que a Psicologia clínica foi a área mais privilegiada em sua formação.

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Tais pesquisas corroboram a realizada por Paiva e Yamamoto (2010) que perguntaram

a 20 sujeitos como a graduação em Psicologia contribuiu para sua prática comunitária atual. A

conclusão a que chegaram foi de que “o debate a respeito dos problemas sociais não adentra a

formação básica da graduação do psicólogo” (p.155) e que a ênfase dos cursos de Psicologia

ainda está nas áreas tradicionais. Nesta direção, Nico e Kovac (2003) consideram

imprescindível ressaltar que “é fundamental que as possibilidades de atuação sejam delineadas

a partir da análise das necessidades sociais, em vez de reproduzirem o que classicamente tem

sido considerado como ocupações dos psicólogos” (p.58).

Outra questão essencial para a discussão da formação do psicólogo para a realidade

brasileira é a formação em Psicologia Social e Comunitária. Na pesquisa de 1988 do CFP,

Borges-Andrade concluíram que, em relação a outras áreas, é “na área comunitária (da

Psicologia) que é mais intensamente apontada a falta de preparo específico para o atendimento

de demandas sociais” (p.269). Também essa área foi a mais assinalada pela falta de

conhecimento, pelo psicólogo, da realidade socioeconômica.

Em pesquisas mais atuais, Paiva e Yamamoto (2010) afirmam que a formação em

Psicologia Social ainda é precária, o que desfavorece o desenvolvimento de trabalhos

interdisciplinares, a orientação para uma atuação para demandas específicas que se apresentam

e o enriquecimento o conhecimento e a discussão a respeito de políticas públicas. Essa

afirmação corrobora a conclusão chegada por Rechtman e Castelar (2011), que ao analisarem

as grades curriculares dos cursos de Psicologia de Salvador-BA, indicam que os psicólogos

formados na maioria desses cursos e que atuam na área social comunitária estão ”se formando

após formados” devido à falta de experiência prática durante a graduação.

As autoras encontraram que, de 13 cursos de Psicologia em Salvador, 10 possuem

disciplinas que contemplam conteúdos da Psicologia Social; entre essas, 2 afirmam que suas

disciplinas têm também atividades práticas. Em relação ao estágio, dos 13 cursos, 3 possuem

apenas o estágio básico, uma apenas o estágio específico, e uma possui os dois estágios. Assim,

apesar da maior parte dos cursos oferecerem pelo menos uma disciplina nesta temática, acaba

sendo responsabilidade de cada aluno articular o conteúdo em sua prática.

Costa et al. (2012), contribuíram à produção acadêmica ao realizarem um

levantamento das publicações sobre a formação graduada do psicólogo no Brasil até o ano de

2011. No estudo, concluem que das 134 (100%) publicações, 76 (56,7%) tem como foco a

formação de um modo geral, 46 (34,3%) abordam áreas tradicionais da psicologia (Educação,

Clínica e Trabalho), 10 (7.5%) trazem uma discussão sobre a área da saúde e apenas 2 trabalhos

(1.5%) ressaltam a temática da área social.

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Paiva e Yamamoto (2010) afirmam que “apenas uma prática aliada à reflexão, pode

levar a uma atuação comprometida” (p.159) e colocam a reflexão crítica e o conhecimento sobre

as políticas públicas como essenciais para a formação do psicólogo comprometido socialmente.

Assim, além dos temas da Psicologia Social ou de uma disciplina que contemple o debate da

realidade social imediata dos alunos, para uma formação que considera a atuação do psicólogo

para a realidade brasileira, se fazem importantes também os temas: Ética e Direitos Humanos.

Em pesquisa realizada por Bock e Gianfaldoni (2010) com cursos de Psicologia de

todo o Brasil, do total de 27 respostas, três cursos do Norte, um do Nordeste, dois do Centro-

Oeste, 9 do Sul e 12 do Sudeste. Em relação às atividades acadêmicas utilizadas para se

trabalhar os Direitos Humanos, foi identificado que 18 cursos (66,6%) desenvolvem atividades

de extensão envolvendo o tema, e 19 cursos (70,7%) indicaram pelo menos uma disciplina com

conteúdo explícito de Direitos Humanos.

Rechtman et al. (2014) obtiveram resultados semelhantes no estudo realizado com

psicólogos recém formados do Conselho Regional de Psicologia 03 – Bahia e Sergipe. A partir

das respostas sobre o quanto foi aprendido sobre Direitos Humanos em determinadas estratégias

de ensino de 0 a 5 (n=171), foi obtido que 78,5% dos participantes responderam entre 3 e 5, e

72,1% responderam estes mesmos valores para os estágios curriculares. Na mesma pergunta

sobre Ética, as disciplinas obtiveram 85,5% das respostas entre 3 e 5 e o estágio curricular

79,7% entre os mesmos valores (RECHTMAN et al., 2014).

Os resultados obtidos por Bock e Gianfaldoni (2010) e Rechtman et al. (2014)

convergem ao apontar que as atividades de estágio, e as disciplinas são as situações acadêmicas

mais frequentes ao se trabalhar Ética e Direitos Humanos durante a formação. Ambas as

pesquisas avaliam o “saber” e “saber fazer” oferecido pelos cursos de Psicologia. Porém,

Martínez (2003) alega que, para avançarmos na formação para o compromisso social, deve ser

estruturado um trabalho educativo que adicione o “ser” à formação.

Esse “ser” diz respeito à formação pessoal do estudante, que deve ser possibilitado e

incentivado a “desenvolver recursos subjetivos que permitam não apenas uma ação profissional

eficiente, mas socialmente comprometida” (MARTÍNEZ, 2003, p. 154) durante a sua formação.

A autora afirma que “uma ação social compromissada do psicólogo não pode ser

compreendida nem incentivada sem ter em conta as dimensões subjetivas que possibilitam e se

expressam nessa ação” (ibidem, p.148). Ela parte do pressuposto que os conhecimentos e

habilidades não funcionam por si mesmo, independentes do sujeito. E, coloca a importância da

formação do psicólogo na condição de sujeito ao afirmar que “a subjetividade não é um

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processo inato ou natural, mas constituída nos espaços sociais de relação e ação do indivíduo”

(ibidem, p.149).

Para tanto, é importante considerar que a formação se configura como um processo

complexo. Como afirmado por Delari Jr. et al., 2004: “quem educa não é o professor sozinho,

nem é o conjunto de professores apenas, mas todo o meio social, todas as possibilidades de

relacionamento do estudante com os recursos que sua unidade de ensino lhe proporciona, intra

e extra-muros” (p.8).

Nesse sentido, se quisermos superar a formação conteudista, fragmentada e tecnicista

atual, mudanças são necessárias. Gonçalves e Bock (1996) realizaram algumas reflexões sobre

a formação dos psicólogos e delimitaram aspectos importantes que os cursos de Psicologia

devem realizar para superar a formação tradicional, que são:

proporcionar aos alunos uma reflexão crítica sobre o fazer do psicólogo para

desconstruir imagens preestabelecidas;

criar um espaço para que os motivos assistencialistas que levam muitos

estudantes de psicologia à profissão sejam superados por motivos críticos;

ensinar os alunos a identificar o fenômeno psicológico e as possibilidades de

intervenção independente do campo de atuação;

superar a visão de homem deslocado de sua realidade histórica e construir novas

concepções de fenômeno e atuação psicológica, para a construção de novas

práticas condizentes com a realidade brasileira. (p.149)

Tais reflexões podem ser analisadas a partir da análise de Delari Jr. et al. (2004) como

mudanças em relação ao ensino da Psicologia. Os autores afirmam que o problema da

“responsabilidade ética” e do “compromisso social” na formação do psicólogo deve ser

superado em duas vias: ensino e extensão universitária.

Em relação ao ensino, eles propõem o princípio ético-epistemológico da Psicologia

Sócio-Histórica, que foram desenvolvidos nos tópicos sistematizados por Gonçalves e Bock.

Quanto à extensão universitária, indicam cinco princípios:

(a) de parceria e compromisso com os diferentes grupos e organizações sociais em

suas demandas e ações por direitos civis; (b) de uma inserção estratégica e continuada,

não fragmentária e/ou intermitente como muitas vezes ocorre, gerando descrédito por

parte da comunidade quanto às contribuições acadêmicas; (c) de uma ação integrada

com os equipamentos sociais disponíveis na sociedade política e na sociedade civil, com ênfase para responsabilização do poder público por seu próprio papel e função

social; (d) investimento na participação de fóruns sociais e conselhos,

democraticamente compostos, gestores de políticas públicas; (e) investimento na

participação de processos de constituição de redes de proteção a grupos em situação

de risco. (DELARI JR. et al., 2004, p.9)

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Ainda utilizando a divisão apresentada por Delari Jr. et al. (2004), outro fator relativo

à extensão universitária são as situações acadêmicas utilizadas durante a formação. Bardagi et

al. (2008) identificaram que a experiência do estágio foi considerada um aspecto positivo na

formação. E Rechtman e Castelar (2011) apontam para a necessidade de se investir nos estágios

e afirmam que “fora da sala de aula, integrando o que se é estudado com a ação de fazê-lo”

(p.13), é possível ter experiências que serão essenciais para quando se tornarem psicólogos.

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5 MÉTODO

O projeto do compromisso social apresenta-se assim como uma realidade, ou seja, um

projeto presente na formação. Esta pesquisa se interessou em saber se as IES estão formando

psicólogos com essa intenção ou se estão colocando à disposição dos alunos este projeto. Não

queremos apenas apontar o que não está dando certo, mas, ao contrário, queremos identificar

as experiências bem sucedidas de formação. Experiências que apontam para a formação de

psicólogos críticos e comprometidos socialmente.

Poderíamos avaliar a formação pelo que a grade curricular dos cursos nos apresenta,

pelo plano pedagógico e estratégico dos coordenadores de curso ou pela atuação dos professores

das disciplinas, mas escolhemos pesquisar os sujeitos que estão no final do processo de

formação acadêmica. Optamos por perguntar aos alunos de último ano de psicologia sobre as

experiências de formação que os auxiliaram a lidar com questões da realidade brasileira.

O método do materialismo histórico-dialético permite diversos procedimentos,

contanto que sob a epistemologia qualitativa. O objetivo não é descrever o imediato, no sentido

de apontar como é aquilo, mas realizar uma interpretação histórica, a partir da pergunta de como

aquilo se constituiu. Dessa forma, analisar o processo histórico em curso e a ideologia que

envolve aquele fenômeno.

Esta é uma pesquisa que, guiada pela epistemologia qualitativa, integra procedimentos

qualitativos e quantitativos e está baseada no referencial teórico da Psicologia Sócio-Histórica.

O que a caracteriza como quantitativa é a sua aplicação e instrumento. Por outro lado, foi

realizada uma análise qualitativa dos dados coletados. Costa et al. (2012) ressaltam a

importância da produção de trabalhos que obtenham dados empíricos e sirvam de subsídio para

“a melhor visualização da realidade estudada e, consequentemente, melhor planejamento sobre

os rumos a serem delineados para a formação na área” (p.136).

Ao estudarmos formação do Psicólogo, Botomé (1988) sugere a participação dos

alunos na avaliação do seu processo de ensino. A amostra é constituída por alunos de último

ano dos cursos de psicologia, no ano de 2014. Esta escolha se justifica pela proximidade

temporal com a formação que indica uma maior familiaridade com o tema estudado e pelo curso

de Psicologia ter se realizado integralmente sob as Diretrizes Curriculares de 2004.

O instrumento utilizado foi um questionário disponibilizado via plataforma online

durante o período de um mês, composto por perguntas fechadas, que pretendem traçar um perfil

sóciodemográfico da amostra estudada, e perguntas abertas, que tiveram como objetivo

identificar questões da realidade brasileira e os recursos teóricos e técnicos que os auxiliaram a

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lidar profissionalmente com elas. O objetivo foi abranger instituições de ensino superior de

diferentes cidades do Brasil superando o padrão das pesquisas sobre a formação em Psicologia

que são focadas em determinadas regiões, principalmente Sudeste (COSTA et al., 2012), e

produzir um conhecimento que inclua os psicólogos brasileiros de maneira geral.

Como estratégia de acesso aos possíveis participantes, foi realizado contato por e-mail

com os coordenadores de curso de Instituições de Ensino Superior de todas as regiões do Brasil.

A lista dos coordenadores foi disponibilizada pela ABEP. A partir desse contato, foi solicitada

a lista de e-mails dos alunos de Psicologia que estariam se graduando no ano de 2014 e, caso

não fosse possível, solicitou-se que o coordenador encaminha-se o e-mail da pesquisa para seus

alunos. Foram enviados 422 e-mails e obtivemos resposta de 84 coordenadores de curso.

Em relação aos participantes, o questionário foi respondido por um total de 467 alunos.

O critério de exclusão se caracterizou pelo aceite do termo de consentimento livre e esclarecido

– TCLE –, o ano de término do curso no ano de 2014, a explicitação da instituição de formação

do participante e o preenchimento das questões 10 e 14 (tabela 1).

Em relação ao TCLE, 3 participantes não aceitaram o termo, e 44 não responderam

essa questão, somando 47 questionários excluídos. Ao serem perguntados sobre o semestre e

ano de término do curso, 11 participantes não responderam, e 61 não se formariam no ano de

2014, e 6 sujeitos não explicitaram qual a sua instituição de formação. A questão 10 foi utilizada

como critério de exclusão por ser base para as respostas ao questionário. Nessa, foram

perguntadas ao sujeito 3 questões da realidade brasileira, variando como resultado entre 1 e 3

respostas. Verificou-se que 96 dos participantes não indicaram nenhuma questão. Já a questão

14 se justifica como critério de exclusão por ser o foco da pesquisa: aí foi solicitado que o

participante indicasse quais recursos da formação o auxiliaram para lidar profissionalmente

com as questões levantadas na questão 10. Foram excluídos a partir deste critério 97

questionários.

Após análise geral dos questionários cabíveis neste critério, fez-se necessária a

exclusão de outros 4 participantes. A partir de uma visão geral das respostas dos questionários,

esses 4 sujeitos demonstraram não responder às perguntas devidamente, apresentando um

padrão de respostas na maioria das questões de “não”, “não sei”, “nenhum” e “não lembro”.

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Tabela 2 - Quantidade de questionários excluídos pelo Critério de Exclusão

Critério de exclusão Questionários excluídos

Termo de consentimento livre e esclarecido 47

Ano do término do curso 72

Instituição de formação 6

Questão 10 96

Questão 14 97

Análise geral das respostas 4

Total 322

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Condizente com a perspectiva epistemológica, optamos por não excluir dados

considerados estatisticamente insignificantes, pois acreditamos que as pequenas porcentagens

representam também aspectos presentes no objeto que se está querendo conhecer e

compreender.

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6 RESULTADOS

Para melhor compreensão dos dados, os resultados foram sistematizados em 4

categorias: caracterização da amostra, realidade brasileira, psicologia e realidade e formação e

realidade. A primeira parte, categorização da amostra, abarca as questões sobre os dados gerais

dos participantes e de sua instituição de formação como: sexo, idade, cor/raça, classe social,

região da instituição de formação, etc. (questões 2 a 9).

A segunda categoria tem como objetivo agregar as questões relativas à caracterização

e compreensão da realidade brasileira pelos participantes. Nesta parte estão incluídas as

questões 10, que solicita que o participante indique 3 questões da realidade brasileira, e a 11,

que verifica quais movimentos e iniciativas sociais os sujeitos conhecem que lidam com as

questões que indicaram.

Psicologia e realidade brasileira é o tema da terceira categoria que apresenta as

respostas sobre quais daquelas situações sociais indicadas na parte anterior são foco da

psicologia (questão 12) e como ela pode atuar em relação a elas (questão 13). Esta parte tem

como objetivo identificar qual é a compreensão dos sujeitos sobre a atuação e compromisso da

Psicologia com a realidade brasileira.

Na quarta categoria, vinculamos a formação em psicologia à realidade brasileira. Aí

são colocadas as questões relativas aos recursos de formação (questões 14, 15 e 18) e a

autopercepção dos participantes sobre o seu preparo profissional para lidar com a realidade

brasileira (questões 16 e 17).

Vale ressaltar que a maioria das questões abertas foram analisadas por número de

resposta, de forma que um sujeito poderia ter respostas em várias categorias, totalizando um

número maior de respostas do que o número de sujeitos da pesquisa. Apenas a questão 15, que

diz respeito ao nível de compreensão possibilitado por determinados recursos de formação, foi

analisada de maneira que cada resposta caberia a apenas uma categoria.

6.1 Parte I – Caracterização da Amostra

Dos e-mails enviados às 422 IES, recebemos resposta de 84 e, ao final, 48 participaram

da pesquisa com uma amostra composta por 145 sujeitos das cinco regiões do Brasil. Destes e-

mails, 46,7% foram para IES da região sudeste, 22% do sul, 16,6% do nordeste, 8,3% do centro-

oeste e 6,4% do norte (tabela 2).

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O sudeste manteve um padrão de porcentagem do número de e-mails enviados,

respostas, quantidade de IES participantes e quantidade de alunos na amostra. Representando

ao final 42,1% da amostra (tabela 5).

As regiões sul e centro-oeste apresentaram um crescimento na porcentagem dos e-

mails enviados, 22% e 8,3% (tabela 2), para as respostas dos coordenadores (tabela 3),

quantidade de IES participantes (tabela 4) e quantidade de alunos na amostra, assumindo

respectivamente 36,6% e 13,8% da amostra (tabela 5).

Às IES do nordeste e norte foram enviados 16,6% e 6,4% dos e-mails (tabela 2),

havendo um decréscimo de representação da região na pesquisa. Finaliza compondo apenas

6,2% e 1,4% da amostra (tabela 5).

Tabela 3 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Região

Região da IES N %

Sudeste 197 46,7%

Sul 93 22,0%

Nordeste 70 16,6%

Centro-oeste 35 8,3%

Norte 27 6,4%

Total geral 422 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Tabela 4 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por Região

Região da IES N %

Sudeste 36 42,9%

Sul 27 32,1%

Nordeste 10 11,9%

Centro-oeste 7 8,3%

Norte 4 4,8%

Total geral 84 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

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Tabela 5 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Região da IES

Região da IES N %

Sudeste 22 45,8%

Sul 15 31,3%

Centro-Oeste 5 10,4%

Nordeste 5 10,4%

Norte 1 2,1%

Total geral 48 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Tabela 6 - Quantidade de alunos por Região da IES

Região da IES N %

Sudeste 61 42,1%

Sul 53 36,6%

Centro-Oeste 20 13,8%

Nordeste 9 6,2%

Norte 2 1,4%

Total geral 145 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

De forma geral, os participantes compõem uma maioria pertencente ao sul e sudeste

do país (tabela 5). Este dado serve para caracterizar a amostra de maneira descritiva, porém,

por ter se tratado de uma amostra por conveniência, temos uma não representatividade regional

em relação à realidade brasileira.

Em relação ao tipo de IES, foram enviados 55,5% dos e-mails para IES privadas,

29,9% para comunitária/filantrópica e 14,7% para IES públicas (tabela 6). Ao final, tivemos

49,7%, 32,4% e 17,9% da amostra composta por alunos de cada tipo de IES (tabela 9).

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Tabela 7 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Tipo de IES

Tipo de IES N %

Privada 234 55,5%

Comunitária/Filantrópica 126 29,9%

Pública 62 14,7%

Total Geral 422 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Tabela 8 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por tipo de IES

Tipo de IES N %

Privada 44 52,4%

Comunitária/Filantrópica 31 36,9%

Pública 9 10,7%

Total geral 84 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Tabela 9 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Tipo de IES

Tipo de IES N %

Privada 27 56,3%

Comunitária/Filantrópica 15 31,3%

Pública 6 12,5%

Total geral 48 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

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Tabela 10 - Quantidade de alunos por tipo de IES

Tipo de IES N de alunos % de alunos

Privada 72 49,7%

Comunitária/Filantrópica 47 32,4%

Pública 26 17,9%

Total geral 145 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Ao avaliarmos a quantidade de alunos em cada tipo de instituição encontramos uma

média geral de 3 alunos por tipo de instituição. Sendo a média de 3,1 alunos nas instituições

comunitárias/filantrópicas estando bem próxima à média geral, um pouco abaixo dela, 2,7 dos

alunos nas privadas e, um pouco acima, 4,3 de alunos nas públicas.

A amostra segue o padrão da realidade de gênero dos profissionais de psicologia ao

apresentar uma grande maioria de mulheres. Identificamos aproximadamente 79% de sujeitos

do sexo feminino e 21% do sexo masculino (tabela 10). Apesar de seguirem processos de

amostragem distintos, podemos afirmar que há uma proximidade da caracterização da amostra,

em relação ao gênero, com as pesquisas realizadas por Lhullier (2013) e CFP (1988).

Tabela 11 - Quantidade de sujeitos por sexo

Sexo N %

Feminino 114 78,6%

Masculino 30 20,7%

(vazio) 1 0,7%

Total geral 145 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Em relação à idade, é-nos apresentada uma amostra jovem, com sua grande maioria

de 78% dos participantes na faixa etária entre 20 e 29 anos (tabela 11). Esse dado é condizente

à realidade educacional brasileira em que os jovens de classe média entram na faculdade como

uma continuidade da escola.

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Tabela 12 - Quantidade de sujeitos por Faixa Etária

Faixa etária N %

20 a 29 113 77,9%

30 a 39 19 13,1%

40 a 49 9 6,2%

50 a 59 2 1,4%

vazio 2 1,4%

Total geral 145 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

A questão da cor/raça é algo emergente e que não aparece com frequência nas

pesquisas sobre o profissional da psicologia. Na pesquisa realizada pelo CFP (1988) para

caracterizar o psicólogo brasileiro, esta não foi uma pergunta, porém na realizada em 2013, sim.

Optamos por utilizar a definição de cor ou raça utilizada pelo IBGE desde 1940.

A grande maioria dos participantes se autodefinem como brancos, compondo 72,4%

da amostra, seguido de 17,4% pardos e 8,3% compostos por negros, indígenas e amarelos

(tabela 12). Os dados se aproximam dos encontrados por Lhullier (2013): 67% brancos, 25%

pardos, 3% pretos, 3% amarelos e 1% indígena.

Tabela 13 - Quantidade de sujeito por Cor/Raça

Cor/Raça N %

Branca 105 72,4%

Parda 26 17,9%

Preta 7 4,8%

Amarela 3 2,1%

Indígena 2 1,4%

vazio 2 1,4%

Total geral 145 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

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A predominância de brancos presentes nos dados reafirma a realidade de menor acesso

dos pardos e negros ao ensino superior, apesar de serem maioria em nosso país (tabela 13).

Podemos afirmar que isso também revela que a psicologia ainda é uma profissão procurada pela

elite.

Tabela 14 - População residente no Brasil, por raça/cor da pele em 2010

Raça/cor da pele %

Branca 47,7%

Parda 43,1%

Preta 7,6%

Amarela 1,0%

Indígena 0,4%

Total 100%

Fonte: Censo 2010 | IBGE.

Outro dado que corrobora para traçar um perfil de profissionais da Psicologia é a qual

classe social eles pertencem. Consideramos que a classe social vai além da questão objetiva

econômica, por isso, nesta pesquisa, optamos por perguntar aos participantes, sendo "A" a

classe mais rica da população e "E" a mais pobre, em qual classe social ele se inclui. Mas, por

considerarmos que o valor dá um parâmetro para a resposta do sujeito, além da letra que

representa a classe, também indicamos o valor referente a esta classe.

Como resultado, verificamos que a grande maioria (72,4%) se incluiu na classe “C”,

seguido das classes “D”, “B”, “A” e “E” (tabela 14). Segundo o censo de 2010 do IBGE, 3,1%

da população brasileira se declaram pertencentes às duas classes de maior poder econômico, e

71,9% faz parte da classe “E” (tabela 15). Na amostra desta pesquisa, 11,1% pertencem às

classes “A” e “B” e apenas 1,4%, à classe “E”, o que nos faz apontar, como o dado anterior,

que o profissional da psicologia faz parte de uma elite brasileira.

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Tabela 15 - Quantidade de sujeito por Classe social

Classe social N %

A – Acima de 20 salários mínimos – R$13.560,00 ou mais 3 2,1%

B – 10 a 20 salários mínimos – De R$6.780,00 a R$13.559,99 13 9,0%

C – 4 a 10 salários mínimos – De R$2.712,00 a R$6.779,99 105 72,4%

D – 2 a 4 salários mínimos – De R$1.355,99 a R$2.711,99 21 14,5%

E – Até 2 salários mínimos – Até R$1.355,99 2 1,4%

(vazio) 1 0,7%

Total geral 145 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Tabela 16 - População residente do Brasil por Rendimento mensal em salário mínimo em 2010

Rendimento %

Sem rendimento 6,6%

Até meio salário mínimo 8,1%

Entre meio e 1 salário mínimo 24,5%

De 1 a 2 salários mínimos 32,7%

De 2 a 3 salários mínimos 10,6%

De 3 a 5 salários mínimos 8,3%

De 5 a 10 salários mínimos 6,1%

De 10 a 20 salários mínimos 2,2%

Mais de 20 salários mínimos 0,9%

Fonte: Censo 2010 | IBGE.

Há uma discussão sobre como definir a atuação do psicólogo: se por local ou área de

atuação. Optamos por apresentar as categorias pelo local de atuação, especificamente pelo tipo

de instituições. Apesar de não termos utilizado essa nova forma de organizar, consideramos os

processos de trabalho construídos na 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia a melhor

opção para saber da atuação do psicólogo. Os processos de trabalho indicam especificamente

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como o psicólogo atua independentemente da área. Dessa forma, podemos visualizar melhor o

que ele faz, por exemplo, apesar de se encontrar numa instituição de saúde, o psicólogo pode

trabalhar de diferentes formas, RH, Pesquisa, clínica etc.

Vale ressaltar que construímos uma categoria “clínica/consultório” independente das

instituições de saúde por historicamente ela representar a opção mais escolhida da atuação do

psicólogo. Outra ressalva é o fato de termos mais respostas do que participantes, isso porque 4

participantes escolheram 2 opções de área/local que pretendem atuar.

Como de costume, a clínica ocupa o primeiro lugar das opções de atuação dos

participantes (tabela 16). O trabalho e educação, respectivamente, segunda e terceira opção dos

psicólogos, perdem lugar para as instituições de saúde, o que também é encontrado por Lhullier

(2013).

Tabela 17 - Área/local que pretende atuar

Área/local N %

Clínica/consultório 53 35,6%

Instituições da Saúde 32 21,5%

Instituições do Trabalho 22 14,8%

Instituições da Assistência Social 16 10,7%

Instituições da Educação e IES 10 6,7%

Instituições da Justiça 8 5,4%

Não resposta 6 4,0%

Instituições da Defesa Nacional 2 1,3%

Total geral 149 100%

Fonte: Censo 2010 | IBGE.

De forma geral, temos uma amostra composta por uma maioria de mulheres, jovens,

brancas, que estudam em IES privadas, de classe média e que pretendem atuar na clínica. Este

perfil é conhecido de longa data pela psicologia e demonstra uma continuidade histórica da

caracterização da categoria profissional da psicologia.

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6.2 Parte II – Realidade brasileira

Esta pesquisa tem como objetivo identificar quais recursos auxiliam os futuros

psicólogos a atuar considerando a realidade do nosso país. Assim, a primeira coisa que

precisamos fazer é caracterizar que realidade é essa. Para tanto, decidimos dar liberdade para

que essa caracterização fosse feita pelos próprios sujeitos ao não colocarmos opções de

resposta. Assim, solicitamos que os participantes citassem 3 das que consideravam grandes

questões sociais da realidade brasileira e, a partir das respostas, construímos 20 categorias

(tabela 17).

A questão social que teve maior incidência de resposta foi a “Educação”, que somou

20,4% das respostas. Em segundo e terceiro lugar estavam, respectivamente, a “Saúde”, com

15,7%, e a “Desigualdade Social”, com 13,0%.

Dentro da categoria “Educação”, incluímos as respostas que apontavam para a questão

educacional no Brasil. Surgiram temas no nível da educação infantil, básica e do ensino

superior/formação profissional. De forma mais geral, identificamos 2 temáticas principais

dentro da “Educação”: formação do cidadão e aspectos desafiadores da política educacional.

Em relação à formação do cidadão, temos apontada a falta de formação crítica dos

alunos, a falta de uma educação voltada para a cidadania emancipadora e a queixa sobre a

alienação da população gerada por uma educação pobre e massificada. As respostas que

indicaram aspectos desafiadores da política educacional discorrem sobre uma educação

precária e deficiente, a falta de qualidade educacional, o baixo nível de instrução da população,

o descaso com a educação em nosso país, a falta de educação para todos, a falta de estrutura

das escolas, falta de acesso à educação, falta de recursos para desenvolvimento profissional-

estudantil, falta iniciação científica nas faculdades, falta equipe multiprofissional na escola,

falta de preparo das escolas para realizar um atendimento apropriado para indivíduos com

necessidades especiais e criticam os programas de educação preocupados apenas com os índices

quantitativos, analfabetismo, o fracasso escolar, a dificuldade de aprendizagem e a

medicalização da educação.

A categoria “Saúde” foi composta por respostas que apontavam uma precariedade e

baixa qualidade da política pública de saúde e um descaso e negligência com a saúde. Outra

preocupação presente nas respostas foi em relação à saúde mental, apontando a necessidade de

uma reforma psiquiátrica, a desinstitucionalização do paciente de saúde mental e maior acesso

ao serviço de psicologia. Neste mesmo grupo também surgiram respostas que criticavam o

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modelo biomédico e questões específicas como lidamos com o aborto e a gravidez na

adolescência.

Foram agrupadas na “Desigualdade Social” as respostas que indicaram as seguintes

formas de desigualdade: econômica, social e educacional. Também foram agregados aí temas

que se referiam à marginalização da população, pobreza, miséria e fome.

As respostas agrupadas sob o tema da “Violência”, “Exclusão/Preconceito” e “Ética”

reuniram, respectivamente, 9,6%, 8,5% e 7% das respostas. As categorias “Drogas”, “Políticas

Públicas” e “Segurança Pública” tiveram, cada uma delas, 4% das respostas. E as demais

categorias, “Ideologia”, “Economia”, “Cultura”, “Segmento Etário”, “Organização Social”,

“Moradia”, “Religião”, “Ecologia”, “Família” e “Transporte Público”, representaram total de

resposta inferior à 3,1%.

Para contemplar 5 questões sociais diferentes que apareceram apenas uma vez e

representavam 1,1% das respostas, criamos a categoria “Outros”. Nesta categoria, foram

agrupadas as seguintes questões: como o psicólogo deve trabalhar com a espiritualidade,

importância do debate sobre os temas a serem usados dentro da entidade, conflitos de papéis

desenvolvidos pelos indivíduos na atualidade, a importância do trabalho em grupo e a falta de

reconhecimento do Psicólogo como profissional respeitável e que pode contribuir

significantemente na prevenção de doenças físicas, psíquicas e espiritual dentro da sociedade.

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Tabela 18 - Quantidade de respostas de questão social por categoria

Questão social N %

Educação 91 20,4%

Saúde 70 15,7%

Desigualdade social 58 13,0%

Violência 43 9,6%

Exclusão 38 8,5%

Ética 31 7,0%

Drogas 18 4,0%

Políticas públicas 18 4,0%

Segurança pública 18 4,0%

Ideologia 14 3,1%

Economia 9 2,0%

Cultura 8 1,8%

Segmento etário 7 1,6%

Organização social 5 1,1%

Outros 5 1,1%

Moradia 4 0,9%

Religião 3 0,7%

Ecologia 2 0,4%

Família 2 0,4%

Transporte público 2 0,4%

Total geral 446 100,0%

Fonte: Censo 2010 | IBGE.

Com o intuito de identificarmos qual é o engajamento social dos participantes, os

questionamos sobre quais iniciativas ou movimentos sociais eles conhecem que lidam com as

questões que citaram. Identificamos que apenas 12,8% da amostra admitem não conhecer

nenhuma ação que lide com as questões sociais apontadas. Entre os que afirmaram conhecer,

as Políticas Públicas (27,7%) e Movimentos e Organizações Sociais (22,6%) tiveram maior

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destaque, seguidos das ONGs, Iniciativas de formação e qualificação, Manifestações sociais,

Ações Individuais e Iniciativa privada (tabela 18).

Tabela 19 - Quantidade de respostas de Iniciativas e movimentos sociais por categoria

Iniciativas e movimentos sociais N %

Políticas públicas 54 27,7%

Movimentos e organizações sociais 44 22,6%

Não conheço 25 12,8%

ONG 25 12,8%

Iniciativas de formação e qualificação 19 9,7%

Manifestações sociais 15 7,7%

Ações Individuais 9 4,6%

Iniciativa privada 4 2,1%

Total geral 195 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Ao analisarmos as respostas das tabelas 12 e 13, podemos concluir que temos uma

amostra que, de maneira geral, identifica questões amplas da realidade brasileira e se mostra

atenta às iniciativas e movimentos sociais que se propõem a lidar com elas.

6.3 Parte III – Psicologia e Realidade

Na questão 12, foi perguntado ao participante se aquelas questões sociais que ele

considerou características da realidade brasileira eram foco da atuação da psicologia. Como

resultado, verificamos que a grande maioria de 89,1% considerou que as questões eram foco da

sua profissão, enquanto apenas 10,1% indicavam que não. Vale ressaltar que o número de

respostas varia entre 87 e 2, assim, não podemos compará-las percentualmente.

Apenas quatro questões sociais – “Drogas”, “Ecologia”, “Família” e “Outros” –

tiveram unanimidade ao serem consideradas como foco da Psicologia (tabela 19). Ao

analisarmos o número de respostas, concluímos que as categorias “Ética”, “Organização social”

e “Segurança pública” apresentam uma considerável parte das respostas negativas. De forma

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inversa, nas categorias “Políticas públicas”, “Ideologia” e “Segmento etário” as respostas

positivas superam em muito as respostas negativas.

Já as categorias “Cultura”, “Economia”, “Moradia”, “Religião” e “Transporte

público”, apesar de seu número absoluto de respostas “não”, em relação ao total de resposta,

não demonstram valor significativo.

Um dado importante a ser considerado é que “Educação”, “Saúde”, “Desigualdade

social”, “Violência” e “Exclusão” foram as categorias que apresentaram maior número de

respostas como questão social brasileira. Ao mesmo tempo, a maioria dos participantes

considerou que estas questões são foco da atuação do psicólogo, tendo uma porcentagem que

variou entre 89,7% e 97,4%.

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Tabela 20 - Quantidade de respostas “sim” e “não” se a questão social é foco da Psicologia em relação à

categoria

Questão social Não Sim Total

N % N % N

Educação 4 4,4% 87 95,6% 91

Saúde 4 5,8% 65 94,2% 70

Desigualdade social 6 10,3% 52 89,7% 58

Violência 3 7,0% 40 93,0% 43

Exclusão 1 2,6% 37 97,4% 38

Ética 7 23,3% 23 76,7% 31

Drogas 0 0,0% 17 100,0% 18

Políticas públicas 2 11,8% 15 88,2% 18

Ideologia 2 14,3% 12 85,7% 18

Segurança pública 7 38,9% 11 61,1% 14

Cultura 2 25,0% 6 75,0% 9

Economia 3 33,3% 6 66,7% 8

Segmento etário 1 14,3% 6 85,7% 7

Outros 0 0,0% 5 100,0% 5

Moradia 1 25,0% 3 75,0% 5

Ecologia 0 0,0% 2 100,0% 4

Família 0 0,0% 2 100,0% 3

Organização social 3 60,0% 2 40,0% 2

Religião 1 33,3% 2 66,7% 2

Transporte público 1 50,0% 1 50,0% 2

Total geral 48 10,9% 394 89,1% 446

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

wwQuando questionados sobre como a Psicologia pode atuar em relação às questões

que ela tem como foco, identificamos repostas que foram alocadas em quatro categorias

principais: “Intervenções e técnicas da Psicologia”, “Visando à transformação social”,

“Políticas públicas e movimentos sociais” e “Postura crítica/Base teórica” (tabela 20).

Verificamos uma amplitude de apenas 8,6% que indica uma proximidade nas porcentagens de

repostas das categorias.

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A primeira categoria aglutinou 28,5% das respostas que discorriam sobre ações e/ou

formas específicas do psicólogo atuar. Compondo 24,4% do total de respostas, estiveram

aquelas que indicavam ações do psicólogo que visavam à transformação social. Em seguida,

representando 22,6% do total geral, foram aglomeradas respostas que mencionavam a atuação

do psicólogo a partir de políticas públicas e/ou movimentos sociais. Por fim, com 19,9%,

estavam as respostas que apontavam para a necessidade de um aprofundamento teórico e/ou

postura crítica independentemente da ação do psicólogo.

Tabela 21 - Quantidade de respostas por categoria de como a Psicologia pode atuar

Como a psicologia pode atuar N %

Intervenções e técnicas da Psicologia 63 28,5%

Visando a transformação social 54 24,4%

Políticas públicas e movimentos sociais 50 22,6%

Postura crítica / Base teórica 44 19,9%

Não resposta 9 4,1%

Não pode atuar 1 0,5%

Total geral 221 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

As questões sociais, em sua maioria, são consideradas pelos participantes como foco

da psicologia. A amostra se revelou engajada ao apresentar formas de como o psicólogo pode

atuar na realidade brasileira, tendo menos de 5% de não repostas.

6.4 Parte IV - Formação e Realidade

O questionário, da maneira como foi construído, preparava o participante para chegar

até aqui, onde o problema de pesquisa é respondido de forma clara. Os sujeitos, inicialmente,

caracterizaram a realidade brasileira, depois demonstraram seu conhecimento e/ou engajamento

com ela, discorreram sobre como a psicologia pode atuar em relação a essa realidade e, nesta

etapa, puderam responder sobre como a formação os ajudou a construir essa visão demonstrada

até aqui (de realidade brasileira, de psicologia e de atuação do psicólogo).

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Esta parte é considerada por nós como o centro deste trabalho. Nas duas questões que

compõem essa parte, cada aluno foi solicitado a responder quais recursos da formação o

auxiliaram a lidar com as questões sociais que apontaram no início do questionário e de que

forma esse recurso os ajudou.

Vale ressaltar que, no enunciado da pergunta, disponibilizamos alguns exemplos de

recursos de intervenção/técnicos e de compreensão/teóricos (disciplinas, autores, livros,

estágios, eventos, iniciação científica, extensão etc). Analisando de forma geral as respostas,

concluímos que isto pode justificar a alta ocorrência destas respostas (tabela 21).

No entanto, entendemos que o procedimento qualitativo que utilizamos nos possibilita

analisar as respostas e garantir uma riqueza de respostas. Por exemplo, temos 28% das respostas

indicando que as disciplinas os auxiliaram a lidar com as questões sociais, se parássemos apenas

na categoria disciplina, esta estaria enviesada por se encontrar como exemplo no título da

questão. O que torna esta questão valiosa é sua análise qualitativa que nos permite avaliar quais

são essas disciplinas e do que tratam.

Tabela 22 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação

Recurso de Formação N %

Disciplinas 98 28,0%

Estágio 88 25,1%

Conhecimento teórico 78 22,3%

Atividade extracurricular 35 10,0%

Projeto de extensão 22 6,3%

Pesquisa 15 4,3%

Professor 9 2,6%

Não sei 5 1,4%

Total geral 350 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Na categoria “Disciplinas” foram aglomeradas respostas que falavam especificamente

de disciplinas da graduação. Na análise, aglutinamos as disciplinas por temáticas parecidas

apesar de diferentes títulos. Ao final, construímos 16 categorias (tabela 22).

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Em “Psicologia Social” foram agrupadas disciplinas de psicologia social e/ou

comunitária. Em “concepções teóricas” surgiram disciplinas que tratavam de abordagens

teóricas de forma geral ou específica. Disciplinas que tratavam de temas específicos foram

agregadas. Nesta categoria, surgiram as seguintes disciplinas: Direitos humanos e cidadania,

Homem e sociedade, Movimentos sociais e políticas públicas, Formação social e cultura

brasileira, Modos de produção, Trabalho e subjetividade, Projeto social, Psicologia, gênero e

processos de subjetivação, Prevenção e combate as drogas, Psicologia e orientação sexual,

Psicologia dos Portadores de Necessidades Especiais, Libras, Redes de Apoio e Intervenção

Psicossocial, Psicologia, Ciência e Profissão, Instituições, Ações Políticas de Transformação

Social, Ação comunitária, Política social, Políticas públicas, Intervenção Psicossocial em Saúde

Mental, Gênero, sexualidade, raça e saúde, Projeto Integrado de Trabalho, Psicologia,

diversidade e inclusão, Psicologia e políticas públicas, Atenção psicossocial, Cultura e

sociedade brasileira, Psicologia social e áreas emergentes da psicologia, Trabalho em rede,

Intervenção Psicossociais e Práticas Comunitárias, Estudos e Contextos culturais, Psicologia

ambiental, Políticas públicas em saúde, Psicologia do Excepcional, Educação Inclusiva e

Programa de Integração Escola e Comunidade.

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Tabela 23 - Disciplinas por categoria

Categoria de Disciplina N %

Psicologia social 80 29,1%

Com temas específicos 59 21,5%

Escolar / Educacional 29 10,5%

Concepções teóricas: 25 9,1%

Saúde / saúde coletiva / saúde mental / hospitalar 24 8,7%

Organizacional / trabalho 13 4,7%

Ética 8 2,9%

Todas 7 2,5%

Sociologia, Filosofia e Antropologia 7 2,5%

Desenvolvimento humano 6 2,2%

Jurídica 4 1,5%

Psicopatologia 4 1,5%

Dinâmica de grupo / psicologia grupal 4 1,5%

Psicofarmacologia e Bases Neurais 2 0,7%

História da psicologia 2 0,7%

Trânsito 1 0,4%

Total 275 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Os “Estágios” tiveram 25,1% do total geral de respostas. Na tabela X, eles foram

categorizados por área. Na categoria “Educacional”, foram agregados os estágios que se

referiam à atuação em Escola, Creche, IES, APAE, Psicodiagnóstico infantil e Educação

especial (Síndrome de Down, autistas). Em “Saúde” estão as práticas realizadas em CAPS,

CAPSad, Hospital, Posto de saúde, ESF, Hospital psiquiátrico, Comunidade terapêutica e

CEDIP. Os estágios na área da Psicologia Comunitária se referiam à atuação nas seguintes

instituições ou sobre os seguintes temas: ONG, CRAS, CREAS, Drogas, Idoso, Projeto social,

Moradores de rua, Orfanato, Abrigo, Delegacia da mulher, Bolsa-família, Cooperativas e

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Economia Solidária. A prática realizada em Fórum, Tribunal de Justiça, Ministério Público,

Defensoria Pública, CESENSA (menor infrator) e Presídio foram aglomeradas na categoria

“Justiça”. A categoria “Clínica” se refere à atuação em consultório, e “Organizacional”, em

empresas.

Tabela 24 - Áreas de estágio

Área do Estágio N %

Saúde 48 33,8%

Comunitária 42 29,6%

Educacional 32 22,5%

Clínica 9 6,3%

Justiça 8 5,6%

Organizacional 3 2,1%

Total 142 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Na categoria “Conhecimento teórico”, estão presentes livros, documentos, autores,

abordagens teóricas, documentários e conteúdos específicos citados (tabela 24).

Tabela 25 - Conhecimento teórico

Categoria N %

Autores 83 52,5%

Conteúdos específicos 32 20,3%

Livros 19 12,0%

Documentos legislativos 14 8,9%

Abordagens teóricas 9 5,7%

Documentário 1 0,6%

Total 158 100,0%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

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Na tabela 25, apresentamos os autores que foram citados entre 2 e 10 vezes. Vale

pontuar que 21 outros foram citados apenas uma vez. Em relação às obras citadas, em

“Documentos legislativos” surgiram: Resoluções e Manuais do CFP, documentos do Ministério

da Saúde, Legislações; cartilhas CFP, cartilhas do CRAS, NASF, CREAS, direitos da mulher,

Estatuto do Idoso, ECA, Estatuto da juventude, programas do Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome.

Tabela 26 - Autores

Autores Vezes citados

Michel Foucault. 10

Paulo Freire. 8

Sigmund Freud; Lev Vygotsky; Félix Guattari. 7

Gilles Deleuze. 6

Ana Bock; Zigmunt Bauman. 5

B. F. Skinner, Jacques Lacan; Pedrinho Guareschi. 4

Murray Sidman; Melanie Klein; Jean Piaget; Jacob Levy Moreno;

Antônio Ciampa; Maria Helena de Souza Patto; Silvia Lane.

3

Bader Sawaia; Friedrich Nietzsche; Donald Winnicott; José Bleger;

Carl Rogers; Karl Marx; Contardo Calligares; Ignácio Martín-Baró;

Demerval Saviani; Emerson Merhy.

2

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Foi apontada uma grande diversidade de livros escritos por autores citados

anteriormente. Também verificamos diversidade nas abordagens teóricas apresentadas: Sócio-

Histórica, Comportamental, Psicanálise, Fenomenologia, Humanista, Positiva, Transpessoal,

Sistêmica e Terapia Cognitivo-Comportamental.

Como último item que compõe a categoria “conhecimentos teóricos” temos os

conteúdos específicos. Identificamos os seguintes temas: pesquisa ação; teoria do

reconhecimento; mediação de conflitos; teorias de grupos; teorias cognitivas sociais;

atendimento psicossocial, educação libertadora, pirâmide de necessidades do indivíduo,

sociologia do trabalho, psicodinâmica do trabalho, filosofia, Desenvolvimento Humano,

Psicologia das Habilidades sociais, racismo e formas de combatê-lo, psicologia de emergências

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70

e desastres, aula sobre plantão psicológico, atendimento emergencial, discussões sobre os

programas de transferência de renda, SUS, Humaniza SUS, Políticas Públicas, Cuidando do

Cuidador, Intervenção breve, Testes, Violência e Psicanálise, sociologia e filosofia, violência,

processos psicológicos dentro do SUS e nos CAPS, grupo operativo, disciplinas sobre políticas

públicas, sobre psicodinâmicas institucionais, e outras que relacionam estrutura organizacional

e subjetividade.

Na categoria seguinte, “atividade extracurricular”, reunimos respostas que tratavam de

eventos, palestras, seminários, workshops, cursos, exposições, encontros de estudantes,

movimento estudantil, relação com o conselho, trabalho voluntário, semanas de psicologia das

IES. Essa categoria representou 10% das respostas.

Os projetos de extensão foram citados em 6,3% das respostas. Na maioria das vezes,

era apenas citado “projeto de extensão”, nas respostas que desenvolveram mais o tema,

surgiram os seguintes projetos: psicanálise, sexualidade, orientação profissional,

comportamental, clínica médica, Desenvolvimento de atividades com crianças e adolescentes

na Casa de Acolhimento de Assis, extensão em hospitais universitários, projeto de clínica

ampliada, Centro de Referência de Direitos Humanos, acolhimento na sala de espera da clínica-

escola, COMUPRA, Projeto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares; Atendimento

Psicológico, Projeto Rondon, Bolsista no PET-SAÚDE, Projeto de pesquisa e extensão

Madalena\União – CE, SPE - Saúde e Prevenção na Escola – e Comunidade Terapêutica -

Grupo com familiares de dependentes em tratamento e triagem.

Com menor porcentagem, a “Pesquisa” apareceu em 15 das respostas. Dessas, a

maioria apontou a iniciação científica de forma geral, sendo os temas específicos apresentados:

altruísmo, alfabetização, gênero, saúde coletiva, maternidade e loucura.

Nove participantes citaram professores específicos ou suas características como

recurso de formação. As características que apresentaram como positivas foram: visão mais

próxima das questões sociais, privilegia formar um profissional capaz de atender as demandas

regionais, capacitados, incentivaram a ser críticos, envolvidos em questões sociais, sensível e

atento.

A tabela 26 está organizando do nível mais alto de compreensão para o mais baixo.

Todas as respostas que indicavam um compromisso social da psicologia ou alguma ação que

visasse à transformação social foram aglutinadas na categoria “Projeto de transformação

social”. Em “Compreensão crítica”, estão aquelas respostas que indicam uma postura crítica e

compreensão mais aprofundada da realidade proporcionada pela formação, mas não indicam

uma ação para mudar essa realidade. A categoria “Base teórica e prática” tem como composição

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as respostas que apontam para o auxílio teórico e prático para a atuação do psicólogo dado pelos

recursos de formação. Como nível mais baixo, em “Conhecimento e vivência”, estão os

recursos que apenas proporcionaram um contato inicial com a realidade social, um descobrir

que existe aquela realidade, conhecê-la e vivenciá-la.

Nesta tabela, analisamos de que forma os recursos apontados pelos participantes o

auxiliaram a lidar com as questões sociais. Diferentemente das outras questões do questionário

em que era contado número de respostas, nesta questão, categorizamos cada resposta no nível

mais alto que ela assumia. Assim, se uma resposta apresentasse dois níveis, a categorizamos no

mais alto.

Tabela 27 - Como os recursos auxiliam

Nível de compreensão N %

Projeto de transformação social 39 26,9%

Compreensão crítica 38 26,2%

Base teórica e prática 38 26,2%

Conhecimento e vivência 22 15,2%

Não resposta 8 5,5%

Total geral 145 26,2%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Os resultados em relação ao nível de compreensão dos três níveis mais altos estão

relativamente equilibrados, apresentando uma média de 26,4% (N=38) por nível. Já o nível

mais baixo, “conhecimento e vivência”, destoa desse padrão ao apresentar apenas 15,2%

(N=22) dos sujeitos.

Com o objetivo de identificar quais recursos de formação proporcionam quais níveis

de compreensão, realizamos um cruzamento entre as questões 14 e 15. Como resultado,

obtivemos os resultados apresentados na tabela 27. Nas colunas dessa tabela, estão os recursos

de formação e, nas linhas, os níveis de compreensão. Cada recurso está dividido em número de

respostas absolutas e em porcentagem em relação ao seu total de respostas, não ao total geral.

Nas categorias “Atividade extracurricular”, “Disciplinas”, “Estágios” e “Teoria”,

identificamos que a maior parte das respostas se concentrou nos dois níveis mais altos de

compreensão. A “Pesquisa” foi apontada em 15 respostas, e o “Professor”, apesar de aparecer

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em apenas 9 respostas, também teve a maior quantidade de respostas nos dois níveis mais altos

de compreensão.

A única categoria que não seguiu um padrão decrescente entre níveis de compreensão

e número de respostas foi o “Projeto de extensão” que apresentou uma porcentagem maior do

nível “Base teórica e prática” do que de “Compreensão crítica”.

Tabela 28 - Cruzamento recurso e nível de compreensão

Atividade

extracurricular Disciplinas Estágio Pesquisa Professor

Projeto de

extensão Teoria

Projeto de

transformaçã

o social

13 37% 28 29% 28 32% 6 40% 3 33% 9 41% 22 29%

Compreensão

crítica 9 26% 27 28% 20 23% 6 40% 3 33% 4 18% 21 27%

Base teórica e

prática 7 20% 24 25% 20 23% 2 13% 0% 6 27% 18 23%

Conhecimento

e vivência 4 11% 14 14% 15 17% 1 7% 1 11% 2 9% 13 17%

Não resposta 2 6% 4 4% 4 5% 0% 2 22% 1 5% 3 4%

Total geral 35 100% 97 100% 87 100

% 15

100

% 9 100% 22

100

% 77

100

%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Nas questões 16 e 17, perguntamos aos participantes sobre como eles avaliavam o seu

preparo para atuar profissionalmente com questões sociais da realidade brasileira e como eles

avaliavam a preparação dada pela sua formação (tabelas 28 e 29). Em ambas as perguntas,

identificamos um nível elevado do preparo dos participantes, correspondendo a mais de 51,7%

de respostas 4 e 5 na questão 16 e 44,8% indicando esses mesmos valores na questão 17.

Também identificamos uma correlação de 0,64, o que indica que as respostas se

comportam de forma parecida. Assim, não houve grande variação da avaliação do preparo dos

participantes em relação à preparação proporcionada por sua formação.

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Tabela 29 - Quantidade de respostas por valor sobre a autoavaliação em relação ao preparo para lidar

com as questões sociais da realidade brasileira

Nível de preparo N %

5 9 6,2%

4 66 45,5%

3 49 33,8%

2 19 13,1%

1 2 1,4%

Total geral 145 100%

Nota: Sendo “1” o menor valor e “5” o maior valor.

Tabela 30 - Quantidade de respostas por valor sobre a avaliação em relação ao preparo dado pela

formação para lidar com as questões sociais da realidade brasileira

Nível de preparo N %

5 11 7,6%

4 54 37,2%

3 48 33,1%

2 26 17,9%

1 6 4,1%

Total geral 145 100%

Nota: Sendo “1” o menor valor e “5” o maior valor.

Como último espaço do questionário, foi disponibilizada a opção do participante de

sugerir elementos a serem agregados à formação que consideravam auxiliar na atuação

profissional frente à realidade brasileira (tabela 30).

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Tabela 31 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação sugestões dos

sujeitos

Recurso da formação N %

Prática 65 35,3%

Conhecimento teórico 42 22,8%

Estrutura do curso 17 9,2%

Atividade extracurricular 14 7,6%

Didática 13 7,1%

Pesquisa 8 4,3%

Contato com a profissão 7 3,8%

Visão da Psicologia 7 3,8%

Questões financeiras 7 3,8%

Qualificação individual 2 1,1%

Suficiente 2 1,1%

Total geral 184 100%

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

A necessidade da formação agregar mais experiências práticas representou o maior

número de respostas. Dentro desta categoria os participantes indicaram as seguintes áreas para

prática: psicologia escolar, psicologia hospitalar, saúde mental, delegacias, orientação

profissional, CRAS/CREAS, ONGS, políticas públicas, clínica crítica, área social, CAPS,

comunidade, unidades de saúde e clínica ampliada. Identificamos que muitas respostas

justificavam a necessidade da prática ao possibilitar a vivência direta com a realidade e

população. Em relação à estrutura dos estágios os participantes sugeriram campos variados de

estágio, maior carga horária, maior número de estágios, estágios fora da universidade e

possibilidade de ingressar no campo de trabalho antes do término da graduação.

Em relação ao “conhecimento teórico”, a necessidade de adicionar ao curso a

discussão sobre as temáticas da realidade brasileira foi marcante nas respostas. Os temas

apresentados nas respostas foram: política, programações de intervenções em grupo,

conhecimentos filosóficos, lutas e movimentos sociais, corrupção, discussões sobre

desigualdade social, Políticas Públicas, sociedade, Empreendedorismo, Psicologia social e

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comunitária, Farmacologia, políticas públicas de saúde, economia, genética humana, avaliação

psicológica, história, geografia, economia do desenvolvimento regional, Psicologia Social,

psicologia da Educação, conhecimento sobre Direito, temáticas atuais, Psicologia jurídica,

psicologia hospitalar, Aprendizagem de Filosofia, ciência política, antropologia, filosofia,

sociologia. Alguns dos participantes apontaram para a necessidade do conhecimento teórico

despertar a consciência crítica, auxiliar os alunos a pensar de modo crítico, ativo e consciente,

sobre nossa realidade e sobre o papel que desempenharemos na sociedade. Um sujeito ainda

colocou a importância de adicionar à formação o aprofundamento em leitura, análise, escrita,

oratória, apresentação.

Integração teoria e prática, estágios desde o início do curso, temas como gênero,

pobreza, racismo, homofobia, violência, desigualdade social como fazer parte do currículo

mínimo do curso, questões sociais do Brasil e Ética sejam abordadas em todas as disciplinas,

questões sociais desde início do curso, necessidade de maior foco ao atendimento comunitário,

saúde pública e educação, mais trabalhos na comunidade foram solicitadas como mudanças na

“estrutura do curso”. A respeito das abordagens, foi sugerida maior ênfase às Psicologias

Positivas, Humanistas, Sociais, Grupais, Cognitivas e Comportamentais e um pouco menos às

Psicologias Psicanalíticas ou Psicanálise em geral e necessidade de unidades de aprendizagem

e estágios pertinente a saúde Coletiva, com foco na Psicologia Social e comunitária. Ainda foi

apontada por dois participantes o imperativo da desobrigação de TCC e aprendizagem de pelo

menos três idiomas: português, espanhol, inglês.

Em relação à atividade extracurricular, foram sugeridos cursos sobre temáticas sociais,

participação dos alunos em eventos e movimentos sociais, extensão depois da graduação,

incentivo aos Centros e Diretórios Acadêmicos e gestão de carreira para os estudantes.

Alguns participantes assinalaram questões relacionadas à didática, atuação do

professor e métodos de ensino. Foi apontada que o método de ensino deve ser repensado e

atualizado, especificamente foram citados os estudos de caso, visitas a projetos sociais, debates

e oficinas. Os professores precisam ter maior conhecimento da realidade brasileira, devem ser

problematizados e não normativos, maior criatividade na execução dos estágios e oferecer ao

estudante a oportunidade de pensar por si sobre sua realidade. Também foi solicitado mais

espaços de troca entre os próprios acadêmicos para que possam falar de suas experiências de

estágio em diferentes locais.

Duas categorias aglutinaram as respostas que falavam sobre a Psicologia, “contato com

a profissão” e “visão de psicologia”. Em “contato com a profissão”, foi apontada a necessidade

de se pensar sobre o papel do psicólogo na sociedade durante a formação, aparecendo como

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sugestão a inserção dos estudantes em áreas de trabalho e compromisso da IES em oferecer

mais oportunidades aos acadêmicos de conhecer os espaços diversos em que o psicólogo

trabalha. Três respostas podem ser utilizadas como exemplo para a categorização desta

categoria:

“Diálogos e discussões acerca da mobilização da categoria profissional do

psicólogo. Possibilitar maior implicação de todos os acadêmicos com a

profissão.”;

“Trabalhar essa questão da função e do papel do psicólogo na realidade brasileira

é muito importante de ser sempre discutida, para que se possam pensar em

possibilidades e caminhos a serem trilhados, diminuindo a ansiedade, insegurança

e angústia que este início de carreira provoca no psicólogo recém-formado, para

que este lide melhor com essa construção atual do papel da psicologia, e possa

enfrentar sua insegurança sempre tentando buscar novas ideias, e não se

conformando com o jeito que está.”;

“Melhor orientação aos alunos sobre alternativas reais de inserção profissional

que possam conciliar a atuação "frente à realidade brasileira" e reconhecimento

profissional/financeiro adequados.”.

Na categoria “visão da psicologia”, foi demandada a descentralização da clínica na

formação, a reforma psiquiátrica, maior ênfase na psicologia social, trabalhar durante o curso a

função do psicólogo na sociedade brasileira, também a sustentabilidade e a formação de cultura

de aceitação das diferenças na clínica, nas instituições, na vida, dentro da nossa cultura e menos

“picuinha” entre linhas teóricas. Como por exemplo:

“Uma Psicologia focada na solução e prevenção dos problemas, com disciplinas

que ensinem como o psicólogo deve lidar com diferentes situações presentes na

sociedade, pois o que vejo é o foco em diferentes abordagens (humanista,

psicanálise, psicodrama, análise transacional, entre outras) e cada professor

preocupado em defender a sua, esquecendo de focar na solução ficando preso às

doenças e nas diferentes linhas de trabalho. O nosso foco tem que ser o SER

HUMANO e sua saúde Biopsicosocial e espiritual.”;

“Formação teórico-crítica para além dos enquadros da psicologia tradicional,

envolvendo, assim, o aprofundamento no estudo de teoria política, teórica da

filosofia política, teoria da sociologia e, porque não, de antropologia.”.

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Com menor representação de respostas da amostra, foram citadas sugestões sobre

questões financeiras, qualificação individual e pesquisa. Na primeira, identificamos os

seguintes temas: subsídio para cursos de extensão, necessidade de oferta de estágios

remunerados e bolsa de estudos, psicoterapia gratuita, auxílio na busca de recursos financeiros

e auxílio da IES aos alunos que estudam e trabalham. Dois participantes colocaram a

problemática da atenção para a qualificação individual dos estudantes. Nesta categoria surgiu a

necessidade de Psicoterapia para os alunos e mais oportunidades de capacitação ofertadas pela

universidade.

Em “Pesquisa”, verificamos apenas uma resposta que apontava para a necessidade de

estudos que se destinem a estudar a realidade/contexto social em que estamos inseridos; as

outras tratavam de pesquisa em geral. Por fim, outros dois sujeitos consideraram suficiente o

que tiveram durante a formação para lidar com as questões da realidade brasileira.

6.5 Conclusões

Pela análise das respostas, podemos considerar que acessamos uma amostra que

representa uma parcela dos alunos de último ano de psicologia que inclui em suas reflexões e

preocupações o compromisso do psicólogo com a realidade brasileira. Também percebemos

que o próprio instrumento já foi um critério de exclusão de outros alunos que não tomassem

esta questão como importante, pois se tratava de um questionário com questões abertas que

solicitavam uma reflexão e posicionamento dos participantes. Consideramos assim que temos

em nossa pesquisa uma amostra diferenciada e identificada com o debate do compromisso

social. O próprio ato de participar desta pesquisa indica que lidamos com estudantes de

psicologia que são comprometidos em algum nível com as questões sociais da realidade

brasileira.

Consideramos importante destacar este aspecto, mas também importante afirmar que

não o tomamos como um viés deste estudo, pois, identificada a questão, permite sabermos que

estamos analisando um conjunto de futuros profissionais que tomam a questão da realidade

brasileira como aspecto de preocupação, reflexão e estudo.

Ao caracterizarmos a amostra (Parte I) desta pesquisa, identificamos que, assim como

os estudos sobre os profissionais da Psicologia realizados pelo CFP em 1988 e 2013 que

apontaram, respectivamente, 87% e 89% da categoria formada por mulheres, nosso estudo

também apresenta uma maioria feminina de, aproximadamente, 78%. Percebemos que esse

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perfil da profissão é historicamente mantido e, há alguns anos, pauta do debate dentro da

Psicologia brasileira.

Rosemberg (1984) pode ser considerada uma das pioneiras na discussão de gênero

dentro da Psicologia. Em seu estudo “Afinal, por que somos tantas psicólogas?”, a autora relata

que essa maioria feminina na Psicologia tem relação com a expansão universitária em nosso

país. Porém, vai além ao discorrer acerca de como o reforço dos modelos sexuais tradicionais

(sexistas) e a segregação ocupacional das mulheres em relação aos homens no mercado de

trabalho justificam essa característica da profissão.

Apesar de ser uma profissão majoritariamente feminina, Bonassi e Muller (2013)

levantam, a partir da leitura de diversos autores, que a mulher sofreu e sofre muita

discriminação na história da Psicologia. Tanto no Brasil, quanto em outros países, essa

discriminação pode ser comprovada, principalmente, na distribuição de cargos e remuneração.

Diogo e Coutinho (2013) afirmam que as profissões tipicamente femininas, em sua maioria

voltada ao cuidar, tendem a ser desvalorizadas em nossa sociedade.

Por ser uma profissão feminina, em uma sociedade sexista, a mulher psicóloga desde

sempre sofreu preconceito. Rosemberg (1984) afirma a necessidade de um ajustamento dos

cursos de formação repensando a sua condição de manutenção da ideologia sexista na profissão.

Uma divisão mais igualitária do trabalho doméstico entre homens e mulheres é outro ponto que

contribui para a emancipação feminina. Para tanto, Bonassi e Muller (2013) apontam para a

necessidade de profundas mudanças sociais que possam repercutir e englobar as questões de

uma profissão basicamente feminina.

Em relação ao gênero, identificamos na pesquisa que a autopercepção sobre sua

cor/raça dos participantes se aproxima ao encontrado por Lhullier (2013). Em ambos os estudos,

é encontrada uma maioria branca, e aqueles que se definiram pretos ou pardos estão sub-

representados em relação à população brasileira. Vale ressaltar que a questão racial na categoria

dos psicólogos é algo ainda pouco estudada pela própria psicologia.

Outro ponto importante que identificamos ao caracterizar a amostra desta pesquisa é

que a maioria de 35,6% dos participantes escolhe a clínica como área/local de atuação. Para

justificar tal resultado, devemos considerar que diversos autores que publicaram sobre a

formação (BASTOS & GOMIDE, 1989; NEVES, 2008; BADARGI et al., 2008) apontam que

a clínica é privilegiada nos currículos e criticam essa manutenção da clínica como área/local de

atuação de preferência do psicólogo.

Faz-se relevante nessa discussão diferenciar clínica de modelo clínico. O modelo

clínico remete ao fazer “tradicional” do psicólogo voltado ao indivíduo e estreitamente ligada

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ao modelo médico (LO BIANCO et al., 1994). Este modelo se caracteriza por ser uma prática

da psicologia individualizante, conservadora e patologizante e é limitado ao não considerar o

homem como ser ativo, social e histórico (BOCK, 2002).

Por outro lado, entendemos que a clínica é uma prática da psicologia que produziu um

grande reconhecimento da profissão. Essa prática não se limita aos consultórios e clínicas

psicológicas. Assim, consideramos a clínica como estruturante da psicologia e, por isso, sua

presença forte como escolha de atuação dos estudantes não deve ser cegamente criticada. A

crítica contundente deve se dirigir ao modelo clínico que, muitas vezes, é utilizado em

intervenções na escola, nas instituições, nos mais diversos locais. As respostas oferecidas pelos

nossos sujeitos não nos permite concluir que adotam ou defendem um modelo clínico para o

exercício na clínica.

Além da clínica, outras áreas tiveram presença significativa nas respostas dos

participantes (vide tabela 16). Analisamos que isso se justifica pelo fato de que houve uma real

ampliação dos campos de atuação do psicólogo no Brasil. Essa ampliação está presente nas

diversas produções de referências técnicas para prática de psicólogas(os) realizados pelo

CREPOP – Centro de Referência em Psicologia e Políticas Públicas.

Acrescentamos que essa maior presença da Psicologia em diferentes campos de

atuação tenha relação ao reconhecimento social da profissão, comprovado, por exemplo, por

sua inserção na equipe mínima da atenção básica no sistema penitenciário, CRAS, CAPS,

NASF e CREAS. Assim, pelo fato de a ampliação de campo de atuação do psicólogo se tratar

de uma realidade, ela se encontra refletida na formação e na escolha dos participantes dessa

pesquisa.

Na segunda parte da pesquisa, solicitamos que os participantes citassem três que

consideravam grandes questões sociais da realidade brasileira. De maneira geral, foi-nos

apresentada uma grande diversidade de respostas sem que qualquer uma delas nos causasse

estranhamento. No entanto, para analisar o quanto essas respostas estão coladas à realidade,

utilizamos a publicação “Visão da realidade brasileira: A percepção dos conselheiros do

CDES”, da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil

e o Informe de 2013 da Corporación Latinobarómetro.

A primeira publicação se propõe a servir de subsídio na construção de uma Agenda

Nacional de Desenvolvimento. O que nos interessa neste trabalho é o fato de ele sintetizar as

opiniões dos conselheiros do CDES sobre os problemas mais relevantes do país. Foram

apresentados pelos conselheiros onze problemas mais relevantes do Brasil. Entre eles, três

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foram citados por nossos participantes, e os outros dizem respeito às questões econômicas

específicas.

O informe da Corporación Latinobarómetro nos é valioso ao realizar uma pesquisa de

opinião pública de amostra populacional representativa em 18 países da América Latina. Entre

as questões, pergunta aos participantes qual é o problema mais importante do seu país. Em

2013, foram apresentados nove problemas mais importantes que tiverem mais de 3% de

representatividade nas respostas. Destes, cinco convergem com as categorias produzidas por

nós a partir das respostas dos participantes desta nossa pesquisa.

A categoria Educação, que apareceu em nossa pesquisa como mais apontada, também

assume esta posição na visão dos conselheiros do CDES e ocupa o 3º lugar de maior problema

do Brasil no informe da Corporación Latinobarómetro. A “Saúde”, que é o segundo lugar nesta

pesquisa, surge como problema mais importante do país na opinião dos entrevistados pela

Corporación Latinobarómetro e não aparece na visão dos conselheiros do CDES. Verificamos

como terceiro problema deste trabalho a “Desigualdade Social”, esta categoria ocupa a segunda

posição na visão dos conselheiros do CDES e não está presente no informe da Corporación

Latinobarómetro. Outra categoria que converge entre as três pesquisas é a “Violência”.

A partir destas comparações, fica claro que os participantes dessa pesquisa

caracterizaram bem as questões sociais do nosso país, acompanhando visões majoritárias e/ou

referenciais. O interessante é como eles as consideraram, em sua maioria, como problemas foco

da atuação da Psicologia. Consideramos que este resultado pode nos indicar que houve uma

real mudança da concepção do fenômeno psicológico, como apontado por Bastos e Achcar

(1994), do plano individual para o contexto sociocultural. Mudança essa que pode estar sendo

influenciada pela emergência de novos campos de atuação para os psicólogos, que possibilita

uma ampliação do que pode ser considerado objeto de estudo da psicologia e se reflete na

formação.

Além de considerarem as questões como foco de atuação da psicologia, os

participantes também descreveram de que forma o psicólogo pode atuar nesses problemas.

Como resultado, tivemos uma boa diversidade de respostas. Surgiram intervenções tradicionais

da psicologia, práticas relacionadas ao projeto de compromisso social, questões relacionadas à

postura na e para uma atuação de qualidade e quais instituições ele deve estar inserido.

De forma geral, foi-nos apresentado um quadro amplo de possíveis práticas do

psicólogo em relação à realidade brasileira. Assim como o anterior, esse dado nos aponta para

uma ampliação de possibilidades das práticas do psicólogo que supera as atividades de maior

incidência, afirmadas pelo Grupo de Trabalho Formação (2012), desde os anos 80: avaliação

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psicológica, psicodiagnóstico e aplicação de testes. Não queremos afirmar com isso que essas

atividades tradicionais estão tendo menos incidência na atuação dos psicólogos, mas que outras

práticas se fazem presentes durante a formação como possibilidade de ação do profissional da

Psicologia.

Na última parte do questionário, identificamos quais recursos os alunos, participantes

da pesquisa, consideraram que os auxiliaram a lidar com as questões apontadas como problemas

da realidade brasileira. A partir desta parte, foi possível analisar como as respostas apresentadas

nas questões até aqui foram construídas.

O primeiro ponto que nos chama a atenção é de como foi apresentado um quadro

tradicional da formação. Assumimos que isto pode ter sido induzido pela formulação da

pergunta que apresentava alguns exemplos, mas é interessante como todos os participantes

apontaram de forma fragmentada o tripé: ensino, pesquisa e extensão. Valle Cruces (2008)

afirma que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão já estava presente nas

propostas de formação de psicólogos desde o século passado e acrescenta que a importância

dela se justifica, pois:

Na medida em que os graduandos em Psicologia sejam colocados em situações

práticas sobre as quais tenham que levantar questões, coletar dados que lhes permitam

responder às questões formuladas e preparar intervenções adequadas, avaliando-as

posteriormente, acredita-se que serão capazes de construir ciência de boa qualidade;

que se baseie em elementos teóricos sustentáveis, mas recria-os, reorganiza-os de

acordo com as reais necessidades, ao invés de conformar com a realidade das teorias já elaboradas. Nesse movimento, que relaciona teoria, prática e pesquisa parece

construir-se um verdadeiro profissional, capaz de lidar com as demandas que lhes são

impostas, baseando-se em uma formação sustentável e de alta qualidade, que lhe

permita fazer “boas” perguntas, para obter “boas” respostas. (p.251)

Entre os recursos de formação que foram citados pelos alunos, a categoria

“Disciplinas” assumiu a primeira posição da tabela 21, sendo que quase 30% das disciplinas

que foram citadas se referem à Psicologia Social ou Comunitária. Esse dado corrobora diversas

pesquisas que apontam a fragilidade, mas também importância desta disciplina na formação do

psicólogo (BORGES-ANDRADE, 1988; NICO & KOVAC, 2003; PAIVA & YAMAMOTO,

2010; RECHTMAN & CASTELAR, 2011) e nos faz reafirmar que as disciplinas de Psicologia

Social são, de fato, importantes na formação do psicólogo, carregando um potencial crítico que

pode contribuir significativamente para a adesão a um projeto de compromisso com as

demandas sociais.

O “Estágio” foi o recurso de formação que ocupou o segundo lugar na nossa pesquisa

e é tema muito presente nas pesquisas sobre formação no nosso país. Ele possibilita o contato

com a realidade, a vivência da teoria estudada em sala de aula, e diversos autores apontam para

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sua importância na formação (BADARGI et al., 2008; BOCK & GIANFALDONI, 2010;

RECHTMAN & CASTELAR, 2011). Segundo CFP (2013): “o estágio é a etapa inicial do

exercício profissional com supervisão, é a oportunidade do aprendizado na prática, é, portanto,

o principal elo do exercício profissional com a formação” (p. 8). Essa afirmação nos remete ao

defendido por Holanda (1997), de como a formação e profissão são um processo contínuo e

devem ser entendidos como tal. Para além disso, a pesquisa nos mostra que é um espaço onde

o aluno reconhece a contribuição para um exercício profissional voltado à realidade brasileira.

Um fato importante acrescentarmos nesta reflexão, que parece contribuir na formação

crítica e compromissada do psicólogo, é a mudança da clínica-escola para serviço-escola. Essa

alteração reflete a ampliação da profissão, pois os serviços de psicologia, que se resumiam à

clínica, surgem diversificados para outras possibilidades de estágio, o que contribui para o

fortalecimento de novos campos de atuação do psicólogo.

O alto índice de respostas que apontavam o estágio como auxiliar na formação para

lidar com a realidade brasileira pode se justificar, pois ele “oferece a possibilidade de

problematizar a realidade, sendo espaço privilegiado para o exercício profissional

supervisionado, para a intervenção em novos campos de atuação” (CFP, 2013, p.8).

Basicamente, essa afirmação abrange praticamente todas as respostas dos participantes sobre

como o estágio os auxiliou.

Na cartilha do CFP (2013), é apontada a importância do estágio para o levantamento

de questões de pesquisa. A afirmação da importância da pesquisa na formação do psicólogo

também está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em

Psicologia (2004), quando coloca entre as competências consideradas necessárias ao psicólogo:

[...] identificar, definir e formular questões de investigação científica no campo da

Psicologia, vinculando-as a decisões metodológicas quanto à escolha, coleta, e

características da população-alvo; escolher e utilizar instrumentos e procedimentos de coleta de dados em Psicologia, tendo em vista a sua pertinência; elaborar relatos

científicos, pareceres técnicos, laudos e outras comunicações profissionais, inclusive

materiais de divulgação; apresentar trabalhos e discutir ideias em públicos; saber

buscar e usar o conhecimento científico necessário à atuação profissional, assim como

gerar conhecimento a partir da prática profissional (p. 8)

Consideramos importante questionar a baixa frequência da pesquisa como recurso de

formação que auxilia a atuação com a realidade brasileira. Duas hipóteses podem ser colocadas:

ou esses estudantes não reconhecem a pesquisa como um recurso auxiliador da profissão,

indicando que mantêm separada a ciência e a profissão, ou a pesquisa não é difundida na

formação, permitindo o acesso mais ampliado. Ambas as hipóteses devem ser motivo de

preocupação dos formadores, pois, assim como Valle Cruces (2008), consideramos que o

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ensino de qualidade coloca dúvidas, ensina a fazer perguntas e a buscar as respostas, não dando

respostas prontas. A pesquisa é uma atividade que contribui para a problematização do

conhecimento, sendo um recurso importante em uma formação crítica.

Outro dado que nos cabe analisar é em relação aos autores citados. Dos 28 autores que

foram mencionados, apenas 9 deles são brasileiros. Isto indica que ainda temos em nossa

formação uma presença pequena de autores que discutem nossa realidade. Consideramos, no

entanto, interessante que autores de outras áreas (filosofia, pedagogia, sociologia, medicina e

biologia) foram indicados; os dois autores com maior frequência nas indicações foram Michel

Foucault e Paulo Freire, que apesar de muito utilizados pela Psicologia, não são psicólogos.

Essa variedade de autores e interdisciplinaridade são elementos muito importantes

para a construção do conhecimento e, principalmente, compreensão do mundo. Bastos e Achcar

(1994) já afirmavam que uma das transformações da prática dos psicólogos é a busca do

conhecimento para embasar a prática se ampliar da unidisciplinaridade (estudo apenas da

psicologia) para a multidisciplinaridade (contato com outras áreas).

Na parte final do questionário, reservada para serem feitas sugestões, ficou clara a

demanda dos participantes por mais atividades práticas na formação. Esse resultado converge

com o apontado por Valle Cruces (2008) ao afirmar que: “introduzir atividades práticas e de

pesquisa, nas quais os alunos possam desenvolver habilidades necessárias a um bom

profissional, vem sendo o desafio que se enfrenta nos cursos de formação, a fim de garantir

qualidade e eficiência” (p.251). Além disso, é importante destacar que dois aspectos

importantes das Diretrizes Curriculares Nacionais de 2004 não foram verificados nas respostas.

O primeiro é a integração teoria e prática, que aparece nas respostas dos alunos como uma

demanda ainda não suprida pela formação e a segunda seria a possibilidade de flexibilização

do currículo tradicional e inovação dos cursos de formação, o que verificamos é que apesar de

avançar nos conteúdos e práticas, estes não são reconhecidos pelos alunos como devidamente

integrados e ainda funcionam no modelo tradicional de disciplinas, estágios, sala de aula etc.

De maneira geral, podemos perceber que as transformações da prática do psicólogo

apontadas por Bastos e Achcar (1994), como indícios de transformações na direção de uma

formação mais voltada para a sociedade, podem ser reconhecidas pelos estudantes em sua

formação. Também é possível reconhecer avanços possibilitados pelas Diretrizes Curriculares

Nacionais de 2004, que indica a importância do trabalho multidisciplinar, da promoção do bem

estar coletivo, da implementação de mais espaços de estágios (estágios básicos) e da

obrigatoriedade de atividades complementares, muito presente nas respostas dos sujeitos a

partir das atividades extracurriculares.

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Os sujeitos de nossa pesquisa parecem, assim, apontar para uma psicologia voltada à

sociedade brasileira; uma profissão capaz de interferir nos problemas e urgências sociais a partir

de seu conhecimento técnico e teórico. Reconhecem, na formação, vários espaços onde estas

possibilidades estão sendo construídas. São teóricos, são professores, são conhecimentos,

experiências, debates e reflexões, atividades diversas que formam um importante campo de

formação crítica. O fato de reconhecerem estes espaços e indicarem sugestões para a melhoria

da qualidade deve ser tomado como expressão da adesão ao projeto do compromisso social da

psicologia. As dificuldades percebidas nas respostas, como a fragmentação do cenário da

formação construído por eles, são, com certeza, reflexos ou expressões de um projeto em

construção que carrega suas contradições e enfrenta o estabelecido pela tradição de uma

psicologia constituída e desenvolvida “de costas para a realidade”.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação é o lugar da reprodução, mas também de superação, de conservar e

também transformar.

O desafio da formação do psicólogo para a realidade brasileira é algo que deve ser

tomado na sua complexidade e nas suas contradições. São quatro os principais aspectos que

influenciam diretamente a formação. Primeiramente, temos que analisar as diretrizes

curriculares em todos os seus limites e possibilidades. Em segundo lugar, faz-se necessário

refletir e contextualizar a realidade do Ensino Superior de nosso país, da abertura desenfreada

de cursos, da falta de espaço e incentivo para mudanças, das amarras econômicas e interesses

privados. O currículo dos cursos é um terceiro aspecto importante para se refletir de forma

concreta como funcionará essa formação. Por fim, pontuamos o papel dos professores que

podem atuar pela mudança, mas também pela manutenção de determinada visão de psicologia.

Sendo que todos esses aspectos são atravessados e dependem do embate político, da visão de

psicólogo e da realidade econômica onde se está inserido, nossa reflexão demanda criticidade

que possa articular todos estes aspectos.

Além disso, é preciso tomar a formação, a ciência e a profissão como indissociáveis;

é preciso estudar a formação do psicólogo em todos os seus níveis e em todos os seus aspectos.

É a partir da análise do que temos que é possível caminharmos para o que queremos. Esta

pesquisa não nos possibilitou, por exemplo, analisar de forma mais profunda os currículos dos

cursos ou sob qual concepção de fenômeno psicológico os professores estão trabalhando,

aspectos de suma importância para analisar a formação.

Tomando a formação do psicólogo como um processo que se transforma com a

realidade social, esta pesquisa nos possibilitou afirmar que o projeto do compromisso social

está instalado (se instalando) e presente nos cursos de formação do psicólogo. Os formandos de

último ano do curso sabem do que se trata e têm as suas interpretações ou posições sobre o

tema, sendo capazes de olhar seus cursos e avaliá-los a partir deste projeto. Nossos sujeitos de

pesquisa nos permitiram estas afirmações, mas também sabemos que, todos aqueles que não

concordam ou partilham desta visão representam outras perspectivas e projetos para a profissão,

que também estão postos como possibilidade na formação.

Estamos frente a um processo de mudança na formação onde a diversidade de projetos

convive em uma mesma sala de aula, em um mesmo trabalho acadêmico e, às vezes, para um

mesmo aluno. Reconhecemos, a partir de nossa investigação, o processo de mudança ocorrendo

em dois níveis: o surgimento do novo e a transformação do tradicional. O primeiro nível

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contempla o que é novo: novos locais de estágio, disciplinas abordando temas jamais estudados,

como direitos humanos; experiências extracurriculares que permitem o contato com uma

realidade distante e muitas vezes desconhecida; professores com novos discursos e novos

projetos. No segundo nível, fica claro, ao verificarmos a enorme quantidade de disciplinas

apontadas pela amostra que pertencem ao que poderíamos chamar de currículo tradicional

(decorrentes ainda das propostas de currículo mínimo) e tratam dos mais diversos temas da

sociedade brasileira, inaugurando a partir do tradicional uma nova leitura da realidade

brasileira. Destaque-se a importância dada à Psicologia Social pelos estudantes, que parecem

encontrar ali o projeto do compromisso social da Psicologia. Constatamos que autores e

disciplinas tradicionais têm servido como recurso que auxilia os alunos a atuar na realidade

brasileira, o que nos sugere que o tradicional está sendo lido de forma diferente, possibilitando

novas formas de atuar. O tradicional e o novo convivem e disputam um mesmo espaço na

formação de cada estudante/futuro profissional.

Em relação ao “como se preparar para atuar comprometido socialmente”, é apontada

pelos sujeitos a necessidade do aprofundamento teórico, da aproximação com outras áreas

(sociologia, antropologia, filosofia), do posicionamento político, da atuação para o

empoderamento dos sujeitos para uma transformação social significativa, entendida como

superação das relações de opressão. São elementos avançados no sentido da superação das

visões naturalizadoras e das posições conservadoras. São aspectos progressistas na direção de

um profissional que se vê inserido em uma realidade social para a qual deve possuir saberes e

técnicas que lhe permitam a intervenção transformadora. A Psicologia vai sendo construída nos

cursos de psicologia de modo a reconhecer a realidade social como seu chão. A psicologia vai

sendo aprendida e exercida de modo a fortalecer a compreensão histórico-social do ser humano.

Assim, voltamos à frase que iniciou este trabalho:

Toda a Psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas

da Psicologia à Psicologia Social; mas sim cada uma assumir dentro da sua

especificidade a natureza histórico-social do ser humano. (LANE, 1984, p.19)

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APÊNDICE A – Questionário

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