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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Elisabeth Cristina de Faria DO ENSINO PRESENCIAL AO ENSINO A DISTÂNCIA: A INOVAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SÃO PAULO 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Elisabeth Cristina de Faria

DO ENSINO PRESENCIAL AO ENSINO A DISTÂNCIA:

A INOVAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES

DE MATEMÁTICA

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

SÃO PAULO

2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Elisabeth Cristina de Faria

DO ENSINO PRESENCIAL AO ENSINO A DISTÂNCIA:

A INOVAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES

DE MATEMÁTICA

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTORA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Celina Aparecida Almeida Pereira Abar.

SÃO PAULO

2012

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BANCA EXAMINADORA

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Dedico este trabalho:

A Deus,

Criação...

À Mãe Santíssima,

Esteio...

Aos meus pais, Darci e Mário (in memorian),

Base...

Ao meu filho, Júlio,

Razão...

... da minha existência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço

A Deus, por tudo e por cada momento.

À Mãe Santíssima, por sua companhia permanente.

À minha mãe, por estar ao meu lado, incondicionalmente, sendo a extensão dos meus braços:

direito e esquerdo, para tudo e por tudo.

Ao meu filho, por me lembrar do belo motivo que eu tenho para sorrir.

À minha orientadora, Profa. Dra. Celina Aparecida Almeida Pereira Abar,

pela oportunidade de aprender em todos os sentidos, pela paciência, dedicação e valiosas

orientações.

Aos professores membros da Banca Examinadora, pelas preciosas contribuições dadas na

qualificação deste trabalho.

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática, pelos

exemplos e pela oportunidade de aprender.

Aos Professores participantes desta investigação pela: disponibilidade, paciência e simpatia,

na contribuição dada por seus relatos fundamentais a este estudo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), pela bolsa de

estudos e consequentemente pela oportunidade de realizar este doutorado.

À Universidade Federal de Goiás (UFG),

de modo especial, aos professores e funcionários do Instituto de Matemática e Estatística

(IME), companheiros de trabalho, que compreenderam e apoiaram o meu afastamento das

atividades acadêmicas para realizar meus estudos.

Aos amigos, pela torcida, pelas puxadas de orelhas e pelo colo.

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Põe amor em tudo que fazes e as coisas terão sentido.

Retira delas o amor e elas tornar-se-ão vazias.

Santo Agostinho

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RESUMO

FARIA, Elisabeth Cristina de. Do ensino presencial ao ensino a distância: a inovação na prática pedagógica de professores de Matemática. 2012. 154 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) − Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

Esta tese tem como objetivo principal compreender o processo de transição pelo qual passam os professores de uma equipe de ensino de conteúdos de Cálculo ante o trabalho de autoria e tutoria de um curso de Licenciatura em Matemática na modalidade a distância. A problemática da pesquisa busca compreender que componentes estão presentes no processo de transição do ensino presencial para o ensino a distância e que estratégias são adotadas pela equipe de professores no desenvolvimento de suas atividades. Os aportes teóricos que fundamentam o trabalho têm como base o Processo de Inovação-Decisão de Everett M. Rogers com o apoio de autores que discutem inovação educacional, formação de professores e educação a distância. A investigação se apoia, metodologicamente, na análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, a partir da qual foi desenvolvida uma análise temática do material coletado por meio de entrevistas semiestruturadas, observações de campo e análise documental. A pesquisa foi realizada com quatro professores da equipe de Cálculo de um Curso de Licenciatura em Matemática, ministrado a distância. Ao relacionar as temáticas analisadas com a questão da pesquisa, verificou-se que os conhecimentos prévios dos professores, ainda que não diretamente ligados ao ensino a distância, podem facilitar a relação com a inovação, ou seja, a aceitação do ensino a distância com suas especificidades. Contribuiu, ainda, positivamente para a aceitação da inovação o trabalho em equipe, pelo fato de a mesma ser formada por membros que já haviam desenvolvido experiências acadêmicas afins. Crenças e expectativas são elementos que, também, surgem na abordagem da inovação, verificando-se que os professores, no tempo próprio de cada um, desenvolvem uma relação particular com a inovação e, ao mesmo tempo, a equipe cria uma relação coletiva com a mesma, facilitando a superação de certos receios diante da novidade. A principal contribuição desta investigação está no entendimento das relações que a equipe de professores estabelece ao longo do trabalho de transposição didática de um curso presencial para um curso a distância. A compreensão de como os professores se relacionam com situações inovadoras na prática docente pode representar uma contribuição significativa para a formação de professores para atuar em modalidade de ensino a distância.

Palavras-chave: Inovação. Ensino a distância. Educação Matemática.

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ABSTRACT

FARIA, Elisabeth Cristina de. Do ensino presencial ao ensino a distância: a inovação na prática pedagógica de professores de Matemática. 2012. 154 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) − Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

This study has the principal aim to understand the transition process which a group of teachers who work with Calculus content regarding tutoring and mentoring in distance Mathematics Degree course. The research task aims to understand what components there are in the transition from classroom teaching to distance teaching and what strategies are used by the teachers group in developing their activities. The theoretical framework of this study is based on the Everett M. Rogers Innovation-Decision Process supported by authors who discuss educational innovation, teacher training and distance education. The research, methodologically, relies on content analysis proposed by Laurence Bardin, from which we developed a thematic analysis from the collected material through semi-structured interviews, field observations and document analysis. The research was conducted with four teachers from a Calculus group of Mathematics Degree course which was taught at distance. Linking the analyzed themes and the research it was found that the teachers prior knowledge, though not directly connected to on line education may facilitate the relationship with innovation, it means, the distance acceptance with its specificities. It also positively contributed to the acceptance of innovation, group work, because it is made up of members who had already developed similar academic experiences it was facilitated. Beliefs and expectations are elements that also raise by using the innovation, verifying that teachers, at their own time, develop a special relationship with the innovation and at the same time, the group develops a collective relationship making easier to overcome some fears toward the novelty. The main contribution of this research is to understand the relationships that teachers establish throughout the work doing the didactic transposition from a classroom course to distance course. To understand how teachers deal with innovative situations teaching in practice may represent a significant contribution to teachers training to work with distance teaching way.

Keywords: Innovation. Distance Learning. Mathematics Education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo do processo de inovação-decisão ................................................................ 21

Figura 2- Variáveis que determinam a taxa de adoção de inovações ....................................... 25

Figura 3 - Categorização de adotantes com base em innovativeness ....................................... 28

Figura 4- Desenvolvimento de uma análise de conteúdo ......................................................... 60

Figura 5 : Tela principal do Atlas.ti, versão 6.2 ....................................................................... 65

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Componentes da tela principal do Atlas.ti e sua descrição .................................... 66

Quadro 2 - Principais elementos constitutivos do Atlas.ti ........................................................ 67

Quadro 3: Distribuição das atividades entre os docentes do curso ........................................... 70

Quadro 4: Relação de temas e subtemas .................................................................................. 79

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ i

LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ ii

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 – APORTES TEÓRICOS: O PROCESSO DE INOVAÇÃO-DECISÃO .. 11 1.1 A inovação como campo de pesquisa ........................................................................ 11 1.2 Inovação educacional .................................................................................................... 13 1.3 A inovação sob o olhar de Everett Rogers .................................................................. 15 1.4 Um breve histórico ........................................................................................................ 16 1.5 Elementos da difusão de inovação ............................................................................... 17 1.6 O processo de inovação-decisão ................................................................................... 20

1.6.1 O estágio de Conhecimento ...................................................................................... 21 1.6.2 O estágio de Persuasão ............................................................................................ 23 1.6.3 O estágio de Decisão ................................................................................................ 27 1.6.4 O estágio de Implementação .................................................................................... 30 1.6.5 O estágio de Confirmação ........................................................................................ 31

CAPÍTULO 2 - ENSINO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ........... 33 2.1 Ensino a distância, formação de professores e inovação ........................................... 33 2.2 A formação do professor de matemática no contexto da inovação .......................... 38 2.3 A prática docente no ensino a distância ...................................................................... 41 2.4 A configuração de novos papéis ................................................................................... 43 2.5 A formação para novas competências ......................................................................... 46

CAPÍTULO 3 - APORTES METODOLÓGICOS .............................................................. 49 3.1 A abordagem qualitativa .............................................................................................. 49

3.1.1 Instrumentos de coleta .............................................................................................. 52 3.2 A análise de conteúdo ................................................................................................... 54

3.2.1 A análise temática como opção metodológica ......................................................... 57 3.2.2 Organização da análise de conteúdo ........................................................................ 59 3.2.3 O uso do software para o trabalho de codificação dos dados ................................... 62 3.2.4 O software Atlas.ti .................................................................................................... 64

CAPÍTULO 4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................ 69 4.1 O contexto da pesquisa ................................................................................................. 69 4.2. Participantes da pesquisa ............................................................................................ 70 4.3 A coleta de dados ........................................................................................................... 71

4.3.1 Observações de campo (diário da pesquisadora) ..................................................... 71 4.3.2 Documentos .............................................................................................................. 72 4.3.3 Entrevista .................................................................................................................. 73

4.4 Procedimentos para a análise dos dados ..................................................................... 76 4.4.1 Pré-análise ................................................................................................................ 76

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4.4.2 Definição dos temas e subtemas ............................................................................... 78 4.5 Exploração do material ................................................................................................ 81

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................ 83 5.1. Sistema de trabalho ...................................................................................................... 83

5.1.1 Formação da equipe ................................................................................................. 84 5.1.2 Relações de trabalho ................................................................................................. 85 5.1.3 Desenvolvimento do trabalho ................................................................................... 87 5.1.4 Suporte pedagógico e tecnológico ............................................................................ 90

5.2 Conhecimentos prévios ................................................................................................. 92 5.2.1 Conhecimento do curso presencial ........................................................................... 93 5.2.2 Experiências com o ensino a distância ..................................................................... 95

5.3 Formação para o trabalho com o ensino a distância ................................................. 97 5.3.1 Formação para o trabalho ......................................................................................... 97 5.3.2 Formação ao longo do trabalho .............................................................................. 100

5.4. Relação com o processo de transição ....................................................................... 102 5.4.1 Atitudes .................................................................................................................. 102 5.4.2 Crenças e expectativas ........................................................................................... 105 5.4.3 Avaliação da experiência ....................................................................................... 107

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 111

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 121

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................. 127

APÊNDICE B – RELATÓRIO DAS CITAÇÕES GERADO PELO SOFTWARE ATLAS.TI .............................................................................................................................. 131

APÊNDICE C – RELATÓRIO DE FREQUÊNCIA DOS TEMASGERADO PELO SOFTWARE ATLAS.TI ....................................................................................................... 133

APÊNDICE D – FREQUÊNCIA DOS TEMAS ................................................................ 137

APÊNDICE E – AGRUPAMENTO DOS DADOS POR TEMA ..................................... 139  

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INTRODUÇÃO

A construção do projeto desta investigação teve seu início com as experiências

de pesquisas e estudos realizados ao longo da minha trajetória acadêmica, sobretudo,

durante o mestrado, em que surgiram muitas perguntas para as quais não conseguia, de

imediato, ensaiar uma resposta e nem mesmo me aprofundar nas reflexões que

demandavam.

Paralelamente, vivenciava uma experiência como aluna de um curso de

Especialização em Informática Educativa, no ano de 2000, quando, convivendo com

outros professores, observava suas reações nos primeiros contatos com o computador

como instrumento para auxiliar as atividades de ensino e de aprendizagem.

Muitos desses professores-alunos chegaram ao curso com praticamente

nenhum conhecimento em relação ao uso do computador, nem mesmo para uso pessoal.

Por se tratar de um curso de capacitação de professores para atuarem nos Núcleos de

Tecnologia Educacional (NTEs), que dariam suporte às escolas de cada região do

Estado de Goiás, alguns professores haviam sido “convocados” para exercerem esta

função, isto é, não haviam escolhido participar por vontade própria desta formação.

Em meio a esse cenário, notava que estar diante daquela situação significava,

para alguns dos professores-alunos, uma experiência que gerava muitas expectativas:

alguns desistiram, outros prosseguiram e foram vivenciando, ao longo da formação, um

envolvimento com as tecnologias; uns propuseram projetos e demonstraram ter

perspectivas para o trabalho proposto, outros participaram do curso, mas com a

perspectiva de não se envolver com esse trabalho no futuro.

Revisitando essa experiência de capacitação para o uso de tecnologias

aplicadas à educação, percebo, hoje, que aqueles professores se deparavam com uma

novidade em seus caminhos, mesmo que essa situação tenha sido impositiva ou não. Os

que resolveram enfrentar o desafio de experimentar se relacionar com essa “nova” ideia

encontravam-se diante de uma relação que se estabelecia com um novo conhecimento e,

consequentemente, uma inovação em suas práticas.

Então, a forma como se relacionaram com a inovação, durante o curso, ainda

que não fosse a vivência prática que era proposta para ser realizada em seus locais de

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trabalho, era uma preparação para tal, portanto, esses professores-alunos tiveram uma

preocupação com o “colocar em prática”, também, durante o curso de formação,

conjecturando, trocando opiniões, simulando situações com as quais deveriam lidar no

dia a dia, estabelecendo, assim, um aprofundamento daquele curso.

Ao longo da experiência proporcionada pelo curso, os professores, cada um a

seu modo, estabeleceram uma relação com a inovação, quer assimilando-a, quer

manifestando resistências a ela. Ao final, aqueles que se viram prontos para assumir o

trabalho nos NTEs, aqueles que não se consideravam suficientemente preparados, e

mesmo aqueles que desistiram passaram, todos, por um processo de experiência e de

tomada de decisão com relação a uma inovação.

Este fato me deixou intrigada com as possibilidades que uma vivência como

esta pode proporcionar: resistência, ansiedade, expectativas, enfrentamentos e

descobertas. E esta situação me chamava a atenção pelas reações que os professores

tiveram diante da inovação, me conduzindo a reflexões referentes: aos motivos que

levam o professor a aceitar o desafio de se envolver com uma situação nova; às reações

que o professor apresenta diante de ferramentas com as quais não possui familiaridade;

às estratégias que o professor teria para lidar com o desconhecido, na tentativa de

desenvolver novas competências e novos conhecimentos e o que precisa conhecer a

respeito da nova situação, realizando a transposição dos conhecimentos que adquire

para a sua prática pedagógica.

Como professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), desde 1998,

ministro disciplinas de didática e prática de ensino de Matemática, desde o ano de 2000.

O contato com a sala de aula e a vivência da prática educativa me levaram a retomar

aquelas questões que haviam ficado paradas no tempo, principalmente, devido à

constatação do distanciamento existente entre o que os alunos estudam no curso de

Matemática e sua formação e prática pedagógica.

Com a criação da UFG Virtual em 1999 e, mais tarde, no ano de 2007, do

Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR), órgãos responsáveis pela

coordenação das ações relacionadas à oferta de cursos de Graduação e Pós-Graduação

por meio da educação a distância, tive a oportunidade de participar das primeiras

iniciativas de estruturação de cursos a distância na UFG. A dificuldade de integrar

pessoas que tivessem o perfil desejado, que entendessem deste ou daquele aspecto

específico, era o maior obstáculo a ser vencido naquele momento.

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A oferta do Curso de Física no ano de 2008, a distância se tornou uma

experiência muito interessante não só para mim, como para um conjunto de professores

do Instituto de Matemática e Estatística da UFG, que puderam observar e compreender

as especificidades de um curso a distância, sobretudo, no que diz respeito aos agentes

que atuam neste processo e aos aspectos tecnológicos e pedagógicos propriamente ditos.

Paralelamente às minhas atividades docentes no ensino presencial, continuei

minha formação para atuar em EAD nos anos de 2007 e 2008. Ao lidar diretamente com

a formação de tutores, geralmente recém-formados dos cursos de graduação e sem

experiência no ensino superior, e mesmo com Professores Formadores, os quais

raramente haviam tido alguma experiência em Educação a Distância, pude avaliar as

dificuldades que encontram ao se depararem com situações educacionais inovadoras.

Por fim, a oportunidade de estar diretamente em contato com os professores

que estavam envolvidos no processo de trabalho, tanto de autoria como de tutoria de

disciplinas da área da Matemática, adquiri uma experiência que foi muito importante

para a construção de conhecimento acerca deste processo. Acompanhar tudo desde o

início, ou seja, desde a implantação do curso, me proporcionou uma visão sobre os

aspectos que envolvem a equipe de professores, a relação com alunos, a produção de

material e toda a mediação pedagógica que se faz necessária em cursos a distância.

Longe, porém, de fornecer respostas às perguntas que me inquietavam, o

contato mais estreito com a realidade do ensino a distância me fez amadurecer,

permitindo a sistematização de uma série de questões que deram origem ao início do

projeto desta pesquisa, voltada a pensar, na perspectiva da inovação educacional, a

formação de professores para trabalharem com a Educação a Distância.

Meu ingresso no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação

Matemática da PUC-SP, no ano de 2009, coincidiu com o início da oferta, pelo

Departamento de Matemática desta instituição, do Curso de Licenciatura em

Matemática, ministrado a distância. No Programa de Doutorado, como integrante do

Grupo de Tecnologias Digitais e Educação Matemática, comecei a participar de

algumas atividades do Curso de Licenciatura a distância, podendo observar o ambiente

do curso, conversar com professores e alunos e acompanhar o andamento de atividades

realizadas no ambiente virtual.

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A convivência com a equipe de professores e o conhecimento de aspectos

relacionados à gestão de cursos a distância foram decisivos para a definição dos sujeitos

a serem pesquisados: os professores da equipe de Cálculo do Curso de Licenciatura em

Matemática. Com isso, ficava claro, também, que aquela situação que estavam

vivenciando constituía o meu objeto de estudo. Daí, resultava o processo de inovação a

ser estudado para ser mais bem compreendido, sob o título: Do ensino presencial ao

ensino a distância: a inovação na prática pedagógica de professores de matemática.

As minhas inquietações iniciais foram convergindo para a compreensão de que

estes professores estariam, ao iniciar um processo de transição do ensino presencial para

o ensino a distância, expostos a um processo de inovação. Com uma longa prática de

ensino de Cálculo no ensino presencial, este grupo de professores passava a integrar

uma equipe de profissionais para atuar no ensino a distância, cabendo a eles a

elaboração de materiais didáticos e o ensino de conteúdos matemáticos em um ambiente

virtual de aprendizagem.

A partir das observações e do acompanhamento do desenvolvimento do Curso,

novas questões surgiram a respeito das ideias que os professores tinham sobre como

iriam desenvolver suas atividades. Tais questões se referiam, principalmente, ao novo

contexto de ensino no qual iriam atuar, à forma como imaginavam formular os

conteúdos matemáticos, ao desenvolvimento do curso no ambiente virtual, à relação

com o aluno, à relação com as tecnologias.

Naquela situação, os professores estavam definitivamente diante de um processo

de inovação de técnicas e métodos de ensino. Tudo isso era relativamente novo para os

professores e significava para eles uma mudança, não só nos seus hábitos pessoais, mas,

sobretudo, nas suas práticas educativas. Como estes professores imaginavam transpor o

que faziam no ensino presencial para o ensino a distância? Existiriam barreiras? Quais

seriam? O que facilitaria e o que dificultaria esta nova experiência?

Pesquisas na área de Educação Matemática apontam o ensino de Cálculo

como uma fonte de preocupações com relação ao ensino e à aprendizagem. Em

trabalhos, como os de Palis (1995), Koga (1998), Barbosa (2004), Nasser, Freire e

Cardador (2008) e Alves (2010), foram encontradas referências a fatores que

evidenciam tal preocupação com o ensino dos conteúdos de Cálculo devido ao alto

índice de reprovação e evasão de alunos.

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A maior parte, porém, do que foi encontrado na literatura se refere ao ensino

presencial. Atualmente, no entanto, este cenário tem mudado por vários motivos, dentre

eles o apoio tecnológico e as necessidades de compreender a prática do professor em

outro ambiente de ensino, aquele que é realizado a distância.

É para este momento que voltei minha atenção, ciente das dificuldades que

envolvem o ensino de Cálculo. Como tais situações estariam fazendo parte das

formulações do professor que vai atuar no ensino a distância? Seria este mais um fator

de interferência na prática do professor, também neste novo ambiente de ensino?

Entre tantos autores que se preocupam com a utilização de tecnologias no ensino

de Cálculo, Melo (2002), Alves (2010) e Marin e Penteado (2011) compartilham a ideia

de que existem diferentes recursos tecnológicos disponíveis para apoio ao professor que

atua no ensino presencial. O ensino de Cálculo na modalidade a distância, porém, ainda

é pouco discutido e investigado pelos pesquisadores. Diante disso e partindo do

pressuposto de que o ensino a distância requer o uso de tecnologias, como podem ser

utilizados os recursos da internet e de ambientes virtuais de aprendizagem no ensino da

disciplina de Cálculo?

No contexto do ensino a distância, o trabalho a ser desenvolvido pelo professor

passa, também, por uma reconfiguração, desde a concepção do material a ser utilizado

no curso, − o qual pode ser elaborado pelos próprios professores ou adquirido de outros

−; até a atuação no ambiente virtual de aprendizagem. Sendo assim, como os

professores encaram essa nova configuração da prática docente? Qual é a visão do

professor com relação ao ensino realizado a distância? O que dificulta e o que facilita a

aceitação de uma forma inovadora de trabalho em educação?

Este trabalho tem, portanto, como temática principal a relação com a inovação.

Mas não se trata da inovação como é entendida no contexto da economia, no sentido

estrito de desenvolvimento e comercialização de tecnologias, produtos ou serviços

novos, com o objetivo de se alcançar maior produtividade e competitividade no

mercado. A inovação é tratada, aqui, em um contexto educacional, considerando-se o

que há de novo na situação analisada e, sobretudo, privilegiando o processo a partir dos

seus agentes, não do produto, do serviço ou das tecnologias empregadas.

Para tanto, reconheceu-se um processo de inovação na situação educacional que

se iniciava com a oferta do Curso de Licenciatura em Matemática na modalidade a

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distância, ou seja, uma situação nova, sobretudo, para os principais agentes envolvidos.

Assim, elegeu-se como objeto de investigação o trabalho de uma equipe de professores

envolvidos na atividade de preparar um curso de graduação a ser ministrado a distância.

Embora a oferta de cursos a distância seja uma prática corrente nas Instituições

de Ensino Superior, neste caso, tal situação se configura como uma experiência nova

para todos os professores envolvidos, cuja experiência acumulada é marcada pela

atuação profissional no ensino presencial. Quando um professor que trabalha no ensino

presencial se depara com a possibilidade de trabalhar com o ensino a distância, sem

dúvida, se sente diante de um desafio e se reconhece participante de um processo

inovador em educação por entender que o ensino a distância representa a

implementação de novos ou diferentes processos de ensino e aprendizagem.

Trata-se, portanto, de compreender como agem e reagem as pessoas envolvidas

em um processo de inovação educacional, procurando identificar o significado que

atribuem às suas ações e em que medida se adaptam e abraçam a inovação ou a rejeitam

parcial ou totalmente.

A oportunidade de estabelecer relações entre o que já conhecem e o novo, − que

desconhecem ou que só agora estão conhecendo, − leva os professores a formularem

estratégias para desenvolver seu trabalho nesse processo de transição do ensino

presencial para o ensino a distância. E é este o contexto no qual esta investigação busca

identificar quais componentes se encontram presentes, a fim de compreender o que

facilita e o que dificulta esta relação entre professores e o processo de inovação de que

participam.

O interesse pela área do ensino da Matemática a distância vem crescendo nos

últimos anos, como demonstram as temáticas das pesquisas apresentadas em

congressos, que procuram aliar o uso de tecnologias ao processo de ensino de

Matemática.

Analisando pesquisas mais recentes sobre esta temática, constatei que grande

parte do interesse dos pesquisadores está voltada para a aprendizagem da Matemática,

com propostas referentes à formação inicial ou continuada do professor. Observei,

porém, que a produção de trabalhos sobre a prática educativa do professor que atua no

ensino de Matemática a distância e sobre questões relacionadas à sua formação

específica para atuar no ensino de Matemática a distância é praticamente inexistente.

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Acredito, portanto, que esta investigação representa apenas o início de um futuro

bastante fértil para as questões que regem as pesquisas voltadas à compreensão da

relação entre a formação do professor de Matemática e o ensino a distância, inclusive

por este representar atualmente uma possibilidade concreta de trabalho.

Entendo que a formação do professor de Matemática para atuar no ensino a

distância é um campo a ser explorado, principalmente, por buscar compreender os

fenômenos que ocorrem com relação à transição do ensino presencial para o ensino a

distância e as implicações daí decorrentes. Atualmente, os professores, em geral, e os

professores de Matemática, em especial, encontram-se desafiados pelo processo de

inovação das práticas educativas, representado pela mediação tecnológica inerente ao

ensino a distância, e pelas especificidades pedagógicas e de gestão próprias desta

modalidade de ensino.

Para compreender esta realidade, foram realizados, ao longo do percurso desta

pesquisa, estudos teóricos buscando situar a ideia de inovação em alguns autores, sendo

que o modelo de processo de inovação-decisão de Everett M. Rogers se mostrou o de

maior poder explicativo da situação observada, tornando-se a base para direcionar a

investigação. As etapas do processo de inovação descritas por Rogers se apresentaram

como um quadro conceitual que ajuda na compreensão de como ocorre um processo de

inovação e como se comportam as pessoas nele envolvidas.

Utilizando-se uma abordagem qualitativa, os dados colhidos por meio de

entrevistas semiestruturadas, realizadas com professores do Curso investigado, foram

submetidos, metodologicamente, às técnicas de análise de conteúdo, com referência em

Laurence Bardin.

Nessa investigação, o campo de observação do pesquisador é formado por um

ambiente totalmente natural, uma vez que o período de pesquisa coincidiu com a

decisão do Departamento de Matemática da PUC/SP de ofertar o Curso. Dessa forma,

não foi necessário alterar a rotina das atividades de planejamento e execução das

disciplinas, mas simplesmente acompanhar o cronograma do Curso e a atuação dos

professores, coletando dados e registrando observações por meio de um diário de

campo.

Esta pesquisa está voltada ao estudo de uma situação em que quatro professores

da área de Cálculo da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia da Pontifícia

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Universidade Católica de São Paulo, com longa experiência no ensino presencial, se

deparam com uma situação inusitada para todos eles: ministrar disciplinas de conteúdos

de Cálculo em um curso de graduação a distância.

Considerando-se as especificidades didático-pedagógicas, metodológicas,

tecnológicas e de gestão do ensino a distância, pode-se afirmar que tal situação se

enquadra como um típico processo de inovação nas práticas educativas destes

professores.

O foco desta pesquisa está, portanto, nas relações que se estabelecem entre esses

professores e uma nova forma de ensinar e aprender, procurando identificar as

dificuldades e as facilidades encontradas no trabalho desenvolvido pelos professores de

Cálculo na transposição didática de um curso presencial para um curso a distância.

Assim, a questão central desta pesquisa pode ser expressa da seguinte maneira:

que componentes estão presentes nas estratégias adotadas por uma equipe de

professores no processo de transposição didática de um curso presencial para um

curso ministrado a distância e em que medida podem interferir na decisão de aceitar ou

não a inovação?

O objetivo geral desta pesquisa é, pois, compreender como se dá o processo de

inovação na prática pedagógica de professores envolvidos na transposição didática do

ensino presencial para o ensino a distância.

São objetivos específicos:

- caracterizar as etapas do processo de inovação, de acordo com o referencial

teórico adotado;

- levantar, por meio de entrevistas, elementos significativos deste processo,

associando-os às etapas do processo de inovação.

- identificar componentes que estão presentes nas estratégias adotadas pela

equipe de professores durante o processo de transposição didática de um

curso presencial para um curso ministrado a distância.

- discutir os fatores que interferem na decisão desses professores de adotar ou

não a inovação, a partir dos componentes que emergiram e das ações

realizadas pelos membros da equipe.

O desenvolvimento do trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos:

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O primeiro capítulo se refere aos fundamentos da teoria da inovação, a partir do

modelo estruturado por Everett Rogers, relacionando-o com a formação de professores

e com a educação a distância, como campos a serem considerados numa reflexão sobre

o trabalho do professor nesta modalidade de ensino.

O segundo capítulo traz uma revisão de literatura, destacando os conceitos

considerados relevantes para se compreender o processo de inovação em um contexto

educacional e, mais especificamente, em uma situação de passagem do ensino

presencial para o ensino a distância.

No terceiro capítulo, são apresentados os aportes metodológicos, estabelecendo-

se a base para a construção deste estudo a partir da abordagem qualitativa de pesquisa

em educação. São descritos, ainda, os procedimentos técnicos próprios da análise de

conteúdo, de Laurence Bardin, técnica adotada no tratamento e interpretação dos dados.

No quarto capítulo são descritos o contexto da investigação, caracterizando-se

os sujeitos da pesquisa e os direcionamentos tomados dentro das fases propostas por

Bardin para o desenvolvimento da análise de conteúdo.

O quinto capítulo finaliza o processo de análise de conteúdo ao apresentar as

interpretações e os resultados, sob a luz dos aportes teóricos que fundamentaram todo o

processo de investigação.

As considerações finais compõem a última parte do trabalho, apresentando as

reflexões proporcionadas pela análise dos dados e as respostas do questionamento que

conduziu esta investigação.

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CAPÍTULO 1 – APORTES TEÓRICOS: O PROCESSO DE INOVAÇÃO- DECISÃO

Neste capítulo, é abordada a temática da inovação como um campo de pesquisa

presente, também, na área da educação, enfocando suas relações com os professores e

tomando o processo de inovação-decisão, proposto por Rogers, como base teórica que

fundamenta esta investigação.

1.1 A inovação como campo de pesquisa

A inovação se configura como tema de pesquisa em áreas tais como

administração, marketing, medicina, agropecuária, economia, ciências sociais,

informática e educação, existindo diferentes entendimentos sobre o que seja inovação,

dependendo da área e do contexto a que estiver relacionada.

Uma das primeiras sistematizações sobre o tema da inovação remonta à década

de 1950 e se deve a Everett M. Rogers em seus estudos de sociologia rural sobre a

difusão da inovação. Ao procurar entender a difusão da inovação, Rogers identificou

como elemento principal deste processo a própria relação dos agentes com a inovação.

Rogers, basicamente, trabalha com as categorias de adotantes e com o processo de

inovação-decisão, oferecendo uma importante chave de leitura sobre inovação do ponto

de vista de seus agentes, os seres humanos, que carregam consigo diferentes visões,

crenças e valores.

A inovação tem sido foco de estudos de pesquisadores, além de Rogers, em

diferentes áreas do conhecimento, inclusive, na área educacional. Fullan (2009), Fullan

e Hargreaves (2000), Senge (1996), Cardoso (1997, 1999), Hernandez et al. (2000),

Hoerup (2001), Medlin (2001), Sahin (2006) e Liao (2005) são autores estrangeiros que

discutem aspectos da inovação na área educacional. No Brasil, autores como Saviani

(1980), Ferreti (1980), Garcia (1985), Farias (2006), Teixeira (2010), Bagnato, Mercuri

e Pereira (2010) e Cavalcante (2010), entre outros, contribuem com formulações sobre

inovação educacional relacionada à formação de professores, a estudos de currículo, à

implementação de políticas e programas educacionais, ao uso de tecnologia em

educação e à modalidade de educação a distância.

Para Saviani (1980, p. 25), a inovação pode ser entendida de diferentes

maneiras, dependendo da concepção filosófica adotada:

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De acordo com a concepção “humanista” tradicional, a inovação será entendida de modo acidental, como modificações superficiais que jamais afetam a essência das finalidades e métodos preconizados em educação. Inovar é, pois, sinônimo de retocar superficialmente. De acordo com a concepção “humanista” moderna, inovar será alterar essencialmente os métodos, as formas de educar. Já do ponto de vista analítico, inovar não será propriamente alterar nem acidental e nem essencialmente. Inovar será utilizar outras formas. [...] Quer dizer, inovação educacional traduz-se pelo uso de outros meios (os “media”) que se acrescentam aos meios convencionais, compõem-se com eles ou os substituem. [...] Já para a concepção dialética, inovar, em sentido próprio, será colocar a educação a serviço de novas finalidades, vale dizer, a serviço da mudança estrutural da sociedade.

Nesse trabalho a inovação é entendida no sentido analítico, como apresentado

por Saviani (1980), pois a prática do professor não é alterada essencialmente, embora

incorpore novos elementos e outros meios. Ou seja, a experiência anterior do professor

é ressignificada em um novo contexto ao mesmo tempo em que atribui um sentido

próprio à inovação de acordo com a relação que estabelece com ela. Portanto, não

significa uma alteração da prática de ensino do professor, em sua essência, mas uma

composição, uma integração entre o que ele possui de conhecimentos e experiências

profissionais e o que é necessário para trabalhar com esta nova situação.

Hernandez et al. (2000, p. 26) apresentam um estudo sobre inovações nas

escolas, e uma das principais ideias desenvolvidas é a que relaciona a inovação com as

atitudes dos professores. Neste sentido, afirmam que as múltiplas aproximações da ideia

de inovação educativa se situam em um “contínuo”, no qual, em um extremo, se

encontra o sentido sociopedagógico da inovação que se define como ‘uma ideia, prática

ou material percebido como novo por parte da unidade de adoção pertinente’. Já no

outro extremo, os autores dizem que a inovação ‘implica uma mudança planejada’ com

a finalidade de capacitar a organização ou o professor para alcançar seus objetivos

(VANDENBERGHE, 1980 apud HERNANDEZ et al., 2000).

Sobre as dimensões das inovações tecnológicas no campo educacional, Teixeira

(2010, p. 1) afirma que as iniciativas de aplicação de inovações “nos sistemas

educativos em diferentes países ensejaram pesquisas que viriam a constituir a inovação

educacional como objeto de estudos de especialistas e políticos”. Esta autora ressalta os

estudos sobre difusão de inovação, destacando Everett M. Rogers, o qual é apontado,

também, por outros estudiosos, como sendo o pesquisador que “abriu caminhos para se

referendar a conexão da comunicação, educação e desenvolvimento [...]”. Teixeira

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(2010, p. 2), apoiando-se em Garcia (1985), chama a atenção para o fato de que

“inovação não é solução mágica que possa resolver todos os problemas da educação” e

que “deve ser acompanhada de questionamentos como: a quem interessa? por quem foi

proposta ou implementada? e a quem poderá beneficiar?”.

Outros estudos, como os de Hernandez et al. (2000) e Farias (2006) alertam para

a necessidade da adesão do professor ao processo inovador para que este tenha

consistência e efetividade. Para esses autores, a inovação é entendida na perspectiva de

algo a ser construído pelo professor ou a se construir com o professor.

Bagnato, Mercuri e Pereira (2010), em seus estudos sobre currículo,

complementam a ideia de inovação, em acordo com Senge (1996) chama a atenção para

atitudes fundamentais em qualquer inovação, que são:

abertura para aprender, para alterar conceitos e ideias, para assumir novos comportamentos e atitudes, para repensar a cultura pessoal e organizacional, para mudar crenças, adquirir novos conhecimentos e aderir a novas formas de pensar e agir. A dimensão da inovação é, portanto, mais ampla que uma simples renovação, pois é uma mudança deliberada e conscientemente assumida (BAGNATO, MERCURI e PEREIRA, 2010, p. 202).

Neste sentido, Hernandez et al. (2000, p. 23), em suas pesquisas, constatam que

“as inovações não perduram se não se conta com os docentes”. Ao considerar o papel

do professor como importante no processo de inovação, Fullan, também, é enfático ao

afirmar que “a mudança em educação depende do que os professores fazem e pensam. É

tão simples e complexo como isto” (FULLAN, 1982 apud HERNANDEZ et al., 2000,

p. 25).

Como se vê, a ideia de inovação, não é algo recente e tem sido objeto de

reflexão de alguns educadores que reconhecem a centralidade do professor para o êxito

de um processo de inovação educacional.

1.2 Inovação educacional

Pesquisas como a de Motejunas (1980), Warde (1980), Cardoso (1999), Fullan e

Hargreaves (2000), Hernandez et al. (2000), Farias (2006) e Fullan (2009), entre outros,

fazem referências a mudanças que acontecem na escola por meio de reestruturação

curricular, pela inserção de novos métodos de ensino ou pela implantação de projetos.

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Esses estudos ressaltam importantes aspectos da relação dos professores com o processo

de mudança e dizem respeito à forma de inclusão, à maneira como é feita a

sensibilização, à predominância da imposição dos agentes externos ou da adesão do

professor ao processo. Tais aspectos são considerados determinantes nos rumos da

inovação.

Muitas dessas iniciativas de inovação têm origem em instituições

governamentais ou particulares; outras são formuladas pela escola e, ainda, existem

aquelas que emergem de anseios dos próprios professores.

A inserção da informática na escola ou a adoção de novos métodos de ensino

são situações que promovem discussões acerca da entrada e da permanência da

inovação no meio educacional. Pesquisas como as de Cardoso (1999), Hernandez et al.

(2000) e Farias (2006) evidenciam que, quando impostas de cima para baixo, essas

mudanças possuem baixo grau de adesão da comunidade escolar, em particular dos

professores.

No que se refere à inclusão das tecnologias da informação e comunicação no

sistema escolar e à sua relação com professores e alunos, destacam-se, entre outros, os

estudos de educadores como Valente (1999), Masetto (1998, 2000, 2003), Moran

(2000); Belloni (2003, 2005), Behrens (2007) e Kenski (2006), que veem nas

tecnologias, potencial para a instauração de novas concepções no processo de ensino e

de aprendizagem.

De acordo com Teixeira (2010, p. 3), “ao fazerem uso de instrumentos

tecnológicos, os sujeitos, de alguma forma, podem modificar seu uso e por eles serem

modificados”. Para a autora, no que se refere à educação, “intensifica-se o discurso da

necessidade do uso dos ‘novos’ instrumentos tecnológicos, bem como, na formação de

professores”.

Já pesquisadores, como Pais (2005), Kenski (2006), Belloni (2003 e 2005),

Neder (2005), Palloff e Pratt (2004), entre outros, empreendem esforços no sentido de

explorar o uso pedagógico das tecnologias por meio da educação a distância. Assim, se

preocupam com a prática educativa que se dá em um novo contexto, marcado pela

presença da tecnologia, o que interfere significativamente na construção dos materiais e

na interação entre professor e aluno, estabelecendo múltiplas mediações no processo

ensino-aprendizagem.

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Introduzir uma inovação educativa implica em uma “mudança planejada”, com o

objetivo de “dotar de capacidade a organização, instituição ou sistema, para satisfazer

aos objetivos que motivam a própria inovação” (TEIXEIRA, 2010, p. 4). Esta autora

aponta que as conceituações de inovação pesquisadas por ela, levam-na a perceber que

existe

uma constante referência da relação que esta pode ter com mudanças na mediação pedagógica através, sobretudo, da inserção de novos materiais, recursos, atividades e, até mesmo, novas técnicas no âmbito da ação/prática pedagógica, visando alcançar novos objetivos e/ou resultados (p. 4).

Ao trazer para o foco da discussão a inovação no campo educacional, isto é,

ligada às práticas dos professores, faz-se referência aos aspectos pedagógicos,

tecnológicos e de gestão no contexto da criação de cursos na modalidade a distância.

Some-se a isso o fato de que os professores envolvidos na situação estudada vêm de

uma experiência profissional no ensino presencial, experiência que será confrontada

com as especificidades do ensino a distância, requerendo deles novas competências e

habilidades.

As contribuições dos autores apresentados sinalizam para situações que esta

pesquisa se propõe investigar e compreender. Considerando a necessidade de identificar

uma nova forma de olhar para o percurso pelo qual passa o professor que se inicia no

ensino a distância, o processo de inovação-decisão, tal como proposto por Rogers

(2003), pareceu o referencial mais adequado para esta investigação.

1.3 A inovação sob o olhar de Everett Rogers

Para Rogers (2003, p. 12),

uma inovação é uma ideia, prática, ou objeto que é percebido como novo pelo indivíduo ou por outra unidade de adoção. Pouco importa, no que diz respeito ao comportamento humano, se a ideia é ou não “objetivamente” nova, medida pelo período de tempo que vai de sua primeira utilização ou descoberta. A novidade percebida da ideia, para o indivíduo, é uma inovação.1

Rogers é pesquisador da sociologia, especificamente da sociologia rural, e a sua

contribuição teórica se concentra nos estudos de difusão da inovação. Ao estudar a

difusão da inovação, no entanto, este autor apresenta um modelo para o estudo do

                                                                                                                         1 No original: “An innovation is an idea, practice, ou object that is perceived as new by an individual or

other unit of adoption. It matters little, so far as human behavior is concerned, whether or not an idea is ‘objectively’ new as measured by the lapse of time since its first use or discovery. The perceived

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comportamento das pessoas diante da inovação e é, justamente, por isso que foi

escolhido para a fundamentação desta investigação.

Este autor é referência em grande parte da literatura estudada, ultrapassando a

área da sociologia rural e servindo de base para trabalhos na área da economia,

administração e educação a distância, entre outras.

Ao longo da apresentação dos vários autores, principalmente os ligados à

inovação educacional, verifica-se que as discussões com relação ao trabalho docente são

realizadas a partir de reflexões teóricas que não enfatizam a compreensão das

características da inovação como são percebidas pelos envolvidos no processo. Já o

modelo de Rogers permite identificar comportamentos, valores e atitudes diante de uma

inovação.

Outro elemento importante é a sistematização que o autor faz das etapas pelas

quais as pessoas, influenciadas pelos meios de comunicação e pela experiência pessoal,

passam durante o processo de formulação de sua decisão, no sentido de aceitar ou

rejeitar a inovação.

A teoria de Rogers é centrada nos indivíduos e nas suas relações com a

inovação, mostrando-se, portanto, pertinente aos objetivos desta investigação.

A opção de tomar como objeto de estudo a equipe de professores de Cálculo

permitiu compreender como os professores estabelecem relações com a inovação,

entrando em contato direto com ela por um determinado período de tempo, para tomar

uma atitude diante da novidade experimentada.

1.4 Um breve histórico

O trabalho de Rogers inicia-se a partir de sua tese de doutoramento, em 1957,

com observação do comportamento de fazendeiros com relação à difusão de inovações

agrícolas. Foi em seus trabalhos de pós-graduação em Sociologia Rural que Rogers se

aprofunda nos estudos de difusão de inovações inspirado pelo seu professor George

Beal, o qual desenvolvia um projeto sobre sementes híbridas.

Rogers (2003, p. xvi) menciona que encontrou em sua pesquisa estudos

relacionados à difusão que vão desde escolas de jardins de infância, de formação de

motoristas à disseminação de uso de antibióticos entre médicos, levando-o a argumentar

em sua tese que a “difusão era um processo geral, não vinculado ao tipo de inovação

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estudado, aos adotantes, ou pelo local ou cultura. Eu estava convencido de que a difusão

de inovações era uma espécie de processo universal de mudança social”2.

No prefácio de seu livro, Rogers afirma que seu trabalho “é sobre regularidades

na difusão de inovações, padrões que têm sido encontrados em diferentes culturas,

inovações, e as pessoas que os adotam”3 (p. xvii). Para este autor, a difusão de inovação

procura explicar a mudança social, considerada por ele como um dos processos

humanos fundamentais, e o significado de uma inovação é criado gradualmente por um

processo de construção social.

Por difusão, Rogers entende ser “o processo no qual uma inovação é

comunicada por meio de certos canais ao longo do tempo entre os membros de um

sistema social”4 (p. 5, 2003). É importante ressaltar que, para a teoria de Rogers, a

palavra “difusão” inclui a propagação espontânea ou planejada de novas ideias.

Um fator fundamental para o processo de difusão é a comunicação. Rogers

destaca que esta é um tipo especial de comunicação na qual as mensagens se referem a

novas ideias.

Assim, comunicação, para ele, “é um processo no qual os participantes criam e

compartilham informações entre si para um entendimento mútuo” 5 (p. 5), implicando

que a comunicação é um processo de troca de informações entre dois ou mais

indivíduos na medida em que atribuem significado aos acontecimentos.

1.5 Elementos da difusão de inovação

Em seu modelo explicativo da difusão da inovação, Rogers apresenta quatro

elementos principais: a inovação, os canais de comunicação, o tempo, e o sistema

social.

- Inovação: Rogers ofereceu a seguinte descrição de uma inovação, conforme

citada anteriormente: "Uma inovação é uma ideia, prática ou projeto que é                                                                                                                          2 No original: “diffusion was a general process, not bound by the type of innovation studied, who the

adopters were, or by place or culture. I was convinced that the diffusion of innovations was a kind of universal process of social change”

3 No original: “is about regularities in the diffusion of innovations, patterns that have been found across cultures, innovations, and the people who adopt them”.

4 No original: “the process in which an innovation is communicated through certain channels over time among the members of a social system”.

5 No original: “is a process in which participants create and share information with one another in order to reach a mutual understanding”.

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percebido como novo por um indivíduo ou outra unidade de adoção".

(Rogers, 2003, p. 12). Uma inovação pode ter sido inventada há muito

tempo, mas se as pessoas a percebem como nova, então ela pode ainda ser

uma novidade para elas. Rogers argumenta que

Novidade em uma inovação precisa envolver não apenas novos conhecimentos. Alguém pode ter conhecimento sobre uma inovação por algum tempo, mas ainda não ter desenvolvido uma atitude favorável ou desfavorável com relação a ela, nem tê-la adotado ou rejeitado6 (p. 12).

- Canais de comunicação: o segundo elemento do processo de difusão de

inovação são os canais de comunicação. Para Rogers, e como citada

anteriormente, comunicação é “um processo no qual os participantes criam e

compartilham informações entre si, para chegar a um entendimento mútuo"

(p. 5). Essa comunicação ocorre por meio de canais entre as fontes. Uma

fonte é um indivíduo ou uma instituição que se origina de uma mensagem.

Um canal é o meio pelo qual recebe uma mensagem da fonte ao receptor.

Rogers afirma que a difusão é um tipo específico de comunicação e inclui os

seguintes elementos: uma inovação, dois indivíduos ou outras unidades de

adoção, e um canal de comunicação. Mídia de massa e canal interpessoal são

exemplos. Enquanto os canais de mídia de massa incluem uma mídia, como

televisão, rádio ou jornal, os canais interpessoais são constituídos de uma

comunicação de mão dupla entre dois ou mais indivíduos. Para o autor,

"difusão é um processo social que envolve muito mais relações de

comunicação interpessoal"7 (p. 19). Assim, canais interpessoais são mais

poderosos para criar ou alterar fortemente atitudes tomadas por um

indivíduo. Em canais interpessoais, a comunicação pode ter uma

característica de homofilia, ou seja, "é um nível em que dois ou mais

indivíduos que interagem são semelhantes em determinados atributos, tais

como crenças, educação, situação socioeconômica, e outros" 8 (p. 19). Mas a

                                                                                                                         6 No original: “Newness in an innovation need not just involve new knowledge. Someone may have known

about an innovation for some time but not yet developed a favorable or unfavorable attitude toward it, nor have adopted or rejected it.”

7 No original: “diffusion is a very social process that involves interpersonal communication relationships”. 8 No original: “is a degree to which two or more individuals who interact are similar in certain

attributes, such as beliefs, education, socioeconomic status, and the like”.

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difusão de inovações requer pelo menos um certo grau de heterofilia, ou

seja, "o nível em que dois ou mais indivíduos que interagem são diferentes

em certos atributos"9 (p. 19).

- Tempo: Segundo Rogers, o aspecto temporal é ignorado na maioria das

pesquisas comportamentais. Ele argumenta que a inclusão da dimensão

tempo na pesquisa de difusão ilustra um dos seus pontos fortes. O processo

de difusão da inovação, a categorização dos adotantes e a taxa de adoção,

todos incluem uma dimensão de tempo. O elemento tempo está presente no

processo de inovação-decisão, innovativeness10 e na taxa de adoção de uma

inovação. O processo de inovação-decisão é o processo por meio do qual o

indivíduo passa do conhecimento inicial de uma inovação para a formação

de uma atitude para com ela, tomando ou não a decisão de adotá-la ou de

rejeitá-la.

- Sistema social: sistema social é "um conjunto de unidades inter-

relacionadas envolvidas na resolução conjunta de problemas para alcançar

um objetivo comum"11 (p. 23). A difusão de inovações que ocorre no sistema

social é influenciada por sua estrutura. Rogers afirma, ainda, que a estrutura

do sistema social afeta a difusão de inovações de várias maneiras,

constituindo uma barreira dentro do próprio processo, atingindo a difusão e,

consequentemente, a relação com os adotantes.

Outro elemento presente na relação com a inovação é o Agente de Mudança. É

uma pessoa externa ao sistema, mas que possui conhecimento a respeito da inovação e

seu papel consiste em transmitir, da melhor maneira possível, esse conhecimento aos

demais. A sua relação com os integrantes do sistema é no sentido de fornecer o suporte

necessário para que os indivíduos possam lidar com o processo de inovação,

diminuindo as incertezas e aumentando, consequentemente, as chances de adoção. O

                                                                                                                         9 No original: “the degree to which two or more individuals who interact are different in certain

attributes”. 10 Neste trabalho, innovativeness foi mantido em inglês por ser um termo que possui uma característica

própria que difere do termo innovation. De acordo com Mazzon et al. (2011), embora possuam a mesma tradução, diferem em sua essência. Enquanto o primeiro se refere a uma característica ligada a certa atitude da pessoa diante de uma nova ideia, o segundo se refere à ideia em si.

11 No original: “a set of interrelated units that are engaged in joint problem solving to accomplish a common goal”.

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Agente de Mudança “é quem representa a agência externa de mudança ao sistema” 12 (p.

27), podendo influenciar, positiva ou negativamente, as atitudes ou comportamentos dos

demais membros deste sistema.

Faz-se necessário mencionar os conceitos da difusão da inovação a fim de situar

o leitor, já que a teoria de Rogers não se limita ao estudo da inovação em si, mas a

compreende dentro de um processo, no qual a difusão depende da relação estabelecida

entre os indivíduos e a inovação. Deste modo, para a realização deste estudo, o foco é o

processo estabelecido entre as pessoas envolvidas, ou seja, os professores e o ensino a

distância como a nova situação - a inovação.

A partir da apresentação dos principais elementos da teoria de Rogers sobre a

difusão da inovação, será descrito, a seguir, o processo de inovação-decisão, o qual

representa os estágios da relação com a inovação, desde o conhecimento inicial até a

decisão pela adoção da nova ideia – o que representa a base dos fundamentos para o

desenvolvimento deste trabalho.

1.6 O processo de inovação-decisão

Rogers apresenta um modelo em que esquematiza o processo pelo qual o

indivíduo passa do conhecimento mais geral sobre a inovação, aprofundando esse

conhecimento, formando uma opinião ou uma atitude a seu respeito, até chegar à

decisão de adotá-la ou rejeitá-la para, enfim, no caso de adoção, trabalhar com a

implementação e confirmar esta decisão.

Para Rogers,

O processo de inovação-decisão é o processo pelo qual um indivíduo (ou outra unidade de tomada de decisão) passa do conhecimento inicial obtido sobre uma inovação à formação de uma atitude para com ela, para tomar a decisão de aceitar ou rejeitar, a implementação da nova ideia, assim como a confirmação desta decisão13 (p. 168).

O autor ainda descreve o processo de inovação-decisão como sendo,

"essencialmente uma busca de informações e de processamento de informações, quando

                                                                                                                         12 No original: “is professional who represent change agencies external to the system”. 13 No original: “The innovation-decision process is the process through which an individual (or other

decision-making unit) passes from gaining initial knowledge of an innovation, to forming an attitude toward the innovation, to making a decision to adopt or reject, to implementation of the new idea, and to confirmation of this decision.”

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um indivíduo está motivado a reduzir a incerteza sobre as vantagens e desvantagens de

uma inovação " 14 (p. 172).

Para Rogers, o modelo do processo de inovação-decisão envolve cinco estágios:

conhecimento, persuasão, decisão, implementação e confirmação, os quais são

representados na Figura 1.

Figura 1: Modelo do processo de inovação-decisão Adaptado de Rogers (2003, p. 170)

1.6.1 O estágio de Conhecimento  

O contato com uma inovação não acontece acidentalmente. Normalmente este

encontro é ocasionado por um motivo inicial, determinado por experiências anteriores

que geram a busca por novas possibilidades, por aquilo que responda melhor às

necessidades do que a situação atual ou, ainda, pelo próprio sentimento de lidar com

algo inovador.

                                                                                                                         14 No original: “essentially an information-seeking and information-processing activity in which an

individual is motivated to reduce uncertainty about the advantages and disadvantages of an innovation.”

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Ao abordar este estágio, Rogers (2003, p. 171) questiona se o que precede o

contato com uma inovação é a necessidade ou a consciência da sua existência. Para ele,

“alguns observadores afirmam que um indivíduo desempenha um papel relativamente

passivo quando expostos a uma inovação”15,; já outros indivíduos “podem tomar

consciência do conhecimento sobre uma inovação por meio de um comportamento que

eles iniciam, então sua consciência do conhecimento não é uma atividade passiva”16.

A predisposição do indivíduo influencia o seu comportamento em direção à

comunicação de mensagens sobre uma inovação e os efeitos que tais mensagens podem

causar. As pessoas tendem a considerar ideias que estão de acordo com os seus

interesses, necessidades e atitudes existentes. Os indivíduos, consciente ou

inconscientemente, evitam mensagens que estão em conflito com suas predisposições.

Esta tendência é chamada de “exposição seletiva, definida como a tendência

para atender às mensagens de comunicação que são consistentes com as atitudes e

crenças do indivíduo”17 (2003, p. 171). Rogers conclui que algumas vezes a necessidade

pode preceder a nova ideia e outras vezes a ideia nova pode gerar a necessidade, como

acontece no caso, por exemplo, do uso das novas mídias digitais.

Neste estágio do processo de relação com a inovação, o indivíduo toma

conhecimento da existência da inovação e busca informações com o intuito de diminuir

a incerteza sobre as vantagens e desvantagens desta inovação.

Tipicamente, "o quê?", "como?" e "por quê?" são questões que acompanham a

inovação nesta fase, na qual o indivíduo tenta determinar “o que é a inovação?”, “como

ela funciona?” e “por que ela funciona?" (p. 172). Segundo Rogers, estas perguntas

formam três tipos de conhecimento: consciência do conhecimento, como conhecer e

princípios do conhecimento.

- Consciência do conhecimento (o que é a inovação): representa a

informação da existência de uma inovação. Esse tipo de conhecimento pode

                                                                                                                         15 No original: “some observers claim that an individual plays a relatively passive role when being

exposed to awareness-knowledge about an innovation.” 16 No original: “may gain awareness-knowledge about an innovation through behavior that they initiate,

so their awareness-knowledge is not a passive activity.” 17 No original: “selective exposure, defined as the tendency to attend to communication messages that are

consistent with the individual’s existing attitudes and beliefs.

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incentivar o indivíduo a saber mais sobre a inovação e, eventualmente,

adotá-la.

- Como conhecer (como utilizar a inovação): contém informações sobre

como fazer para usar uma inovação corretamente. Rogers viu esse

conhecimento como uma variável fundamental no processo de inovação-

decisão. Para aumentar as chances de adoção de uma inovação, um

indivíduo deve ter um nível suficientemente elevado de conhecimento de

como fazer inicialmente para tomar a decisão de adoção, pois, quando tal

conhecimento não é obtido previamente, a rejeição e a descontinuidade do

processo são os resultados mais comuns. Assim, esse conhecimento se torna

mais crítico para as inovações relativamente complexas.

- Princípios do conhecimento (procedimentos de funcionamento da

inovação): inclui os princípios de funcionamento, descrevendo como e

porque uma inovação funciona. Uma inovação pode ser adotada sem esse

conhecimento, mas o risco do uso indevido pode provocar a desistência. No

entanto, a competência de a pessoa julgar a efetividade de uma inovação é

facilitada pela sua compreensão dos princípios de know-how.

Segundo Rogers, as atitudes ou as crenças sobre uma inovação têm muito a dizer

a respeito do percurso do indivíduo pelos estágios do processo de inovação-decisão,

pois uma coisa é conhecer uma nova ideia e outra é usá-la. O indivíduo pode saber a

respeito da inovação, mas não considerá-la relevante para sua situação. Além disso, “a

importância de uma nova ideia não vai além da função de conhecimento se um

indivíduo não define a informação como relevante para a sua situação, ou se o

conhecimento necessário não for obtido adequadamente, de modo que a persuasão

possa se realizar” 18 (ROGERS, 2003, p. 174).

1.6.2 O estágio de Persuasão

A etapa de persuasão ocorre quando o indivíduo tem uma atitude positiva ou

negativa em relação à inovação, embora "a formação de uma atitude favorável ou

                                                                                                                         18 No original: “consideration of a new idea does not go beyond the knowledge function if an individual

does not define the information as relevant to his or her situation, or if sufficient knowledge is not obtained to become adequately informed, so that persuasion can then take place.”

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desfavorável com relação à inovação nem sempre leva, direta ou indiretamente, a uma

decisão de aceitação ou rejeição" 19 (p. 176).

Rogers afirma que a fase de conhecimento é mais centrada na cognição e a fase

de persuasão é mais centrada na afetividade. Assim, o indivíduo está envolvido com

mais sensibilidade com a inovação na fase de persuasão. Para o autor, “na fase da

persuasão o indivíduo se torna psicologicamente mais envolvido com a inovação. Busca

ativamente informações sobre a nova ideia, decide quais as mensagens considera dignas

de confiança e decide como interpretar a informação recebida”20 (p. 175).

Nesse estágio, além da influência dos canais de comunicação, são percebidas as

características da inovação. Essas características influenciam diretamente o processo de

adoção, determinando o perfil do indivíduo que adota a nova ideia ao longo do tempo.

A velocidade com a qual uma inovação é adotada pelos membros de um sistema

social é denominada de pelo autor de taxa de adoção. Ela é, geralmente, medida pelo

número de indivíduos que adotam uma nova ideia em um determinado período de

tempo. Para Rogers, “as características da inovação, como percebidas pelas pessoas,

ajudam a explicar suas diferentes taxas de adoção”21 (p. 15). Rogers aponta como

principais características percebidas de uma inovação a vantagem relativa, a

compatibilidade, a complexidade, a testabilidade e a observabilidade (Figura 2).

                                                                                                                         19 No original: “the formation of a favorable or unfavorable attitude toward an innovation does not

always lead directly or indirectly to an adoption or rejection decision.” 20 No original: “at the persuasion stage the individual becomes more psychologically involved with the

innovation. He or she actively seeks information about the new idea, decides what messages he or she regards as credible, and decides how he or she interprets the information that is received.”

21 No original: “The characteristics of innovations, as perceived by individuals, help to explain their different rates of adoption.”

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Figura 2- Variáveis que determinam a taxa de adoção de inovações Adaptada de Rogers (2003, p. 222)

Essas características são indicadores significativos e fornecem importantes

explicações sobre certos comportamentos da taxa de adoção de uma inovação. Além

destas características, conforme esquema de Rogers sobre as variáveis que determinam

a taxa de adoção de inovações, existem outros elementos que interferem na taxa de

adoção, como o tipo de inovação-decisão (opcional, coletivo ou de autoridade), os

canais de comunicação (mídia de massa ou canais interpessoais), o sistema social

(normas ou interligação de rede) e os agentes de mudança, que podem aumentar ou

diminuir a previsibilidade de adoção da inovação. Por exemplo, as inovações pessoais e

opcionais são, geralmente, adotadas mais rapidamente do que as inovações

organizacionais que envolvem uma decisão coletiva. No entanto, para Rogers, a

vantagem relativa é o mais forte indicador da taxa de adoção de uma inovação (p. 221).

São explicadas, a seguir, cada uma das características percebidas da inovação.

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- Vantagem relativa: a vantagem relativa está associada à conveniência,

satisfação e prestígio social, ou seja, é “o nível pelo qual uma inovação é

percebida como sendo melhor do que a ideia que a precede” 22 (ROGERS,

2003, p.229). Quanto mais a vantagem relativa é percebida, mais

rapidamente a inovação é adotada. Status social e fatores econômicos são

alguns dos elementos apontados pelo autor como motivadores de uma

vantagem relativa.

- Compatibilidade: é o nível de percepção consistente com os valores

pessoais, as experiências passadas e as necessidades dos adotantes em

potencial. Uma inovação pode ser compatível ou incompatível com valores

socioculturais e crenças, ideias introduzidas anteriormente e com as

necessidades relativas à adoção da inovação pelas pessoas. Se uma inovação

é compatível com as necessidades de um indivíduo, então, vai diminuir a

incerteza e a taxa de adoção vai aumentar. Rogers diz que “qualquer nova

ideia é avaliada em comparação com a prática existente. Assim, a

compatibilidade, não surpreendentemente, está relacionada com a taxa de

adoção de uma inovação” 23 (p. 249).

- Complexidade: é o grau de percepção de dificuldade para entender e usar a

inovação. “Qualquer ideia nova pode ser classificada em uma complexidade-

simplicidade contínua. Algumas inovações são claras no seu significado para

os adotantes em potencial, enquanto outras não são” 24 (ROGERS, 2003, p.

257). A excessiva complexidade de uma inovação é um importante obstáculo

para a sua adoção. Ao contrário de outros atributos, a complexidade está

negativamente correlacionada com a taxa de adoção.

- Testabilidade: nível de testagem de uma inovação, o que determinará a

intensidade do grau de incerteza para o indivíduo que está considerando a

possibilidade de adoção da inovação. “Se uma inovação pode ser concebida

de modo a ser testada mais facilmente, ela terá uma taxa mais rápida de

                                                                                                                         22 No original: “ is the degree to which an innovation is perceived as better than the idea it supersedes”. 23 No original: “any new idea is evaluated in comparison to existing practice. Thus compatibility is, not

surprisingly, related to the rate of adoption of a innovation.” 24 No original: “Any new idea may be classified on the complexity-simplicity continuum. Some

innovations are clear in their meaning to potential adopters while others are not.”

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adoção” 25 (p. 258). Segundo Rogers, essa característica da inovação está

positivamente correlacionada à taxa de adoção. A tentativa pessoal de lidar

com a inovação é um caminho para a pessoa adquirir conhecimento sobre a

inovação e encontrar o significado do trabalho com a nova ideia. Rogers

observa que os adotantes iniciais percebem, mais do que os adotantes

tardios, a testabilidade da inovação como algo muito importante.

- Observabilidade: Para Rogers,

observabilidade é o nível pelo qual os resultados de uma inovação são visíveis aos outros. Algumas ideias são facilmente observadas e comunicadas para outras pessoas, enquanto que outras inovações são difíceis de serem observadas ou descritas26 (p. 258).

A observabilidade, também, é positivamente correlacionada com a taxa de

adoção de uma inovação.

1.6.3 O estágio de Decisão

É a fase na qual o indivíduo “se engaja em atividades que levam à escolha para

adotar ou rejeitar uma inovação. Adoção é uma decisão de fazer pleno uso de uma

inovação como o melhor curso de ação disponível. Rejeição é uma decisão em não

adotar uma inovação” 27 (p. 177).

Quanto mais flexível for a inovação com relação à possibilidade de ser testada

em partes, mais rapidamente poderá ser adotada, já que a maioria das pessoas, primeiro,

quer testar a inovação ou parte dela em sua própria situação antes de optar pela sua

adoção. Isso facilita a relação com a complexidade da inovação e, ao mesmo tempo, a

compreensão de sua eficácia para um caso específico. O julgamento feito pode acelerar

ou retardar o processo de inovação-decisão.

Rogers observa que existem dois tipos de rejeição: rejeição ativa e rejeição

passiva. Em uma situação de rejeição ativa, o indivíduo testa uma inovação e pensa em

                                                                                                                         25 No original: “If an innovation can be designed so as to be tried more easily, it will have a more rapid

rate of adoption.” 26 No original: “Observability is the degree to which the results of an innovation are visible to others.

Some ideas are easily observed and communicated to other people, whereas other innovations are difficult to observe or to describe to others.”

27 No original: “takes place when an individual engages in activities that lead to a choice to adopt or reject an innovation. Adoption is a decision to make full use of an innovation as the best course of action available. Rejection is a decision not to adopt an innovation.”

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aceitá-la, mas, depois decide por não adotá-la. A decisão de desistência, que é de

rejeitar uma inovação após a adoção prematura, pode ser considerada como um tipo de

rejeição ativa. Em uma rejeição passiva (ou não adoção), o indivíduo sequer pensa em

adotar a inovação.

Outra característica desse estágio se refere à forma de adoção, que pode ser

continuada ou descontinuada. No caso em que a inovação seja adotada, considerando

todo o processo ao longo do tempo, esta pode acontecer de maneira rápida ou lenta,

apresentando perfis diferenciados dos indivíduos que a adotam. Rogers (2003) observou

e descreveu o comportamento das pessoas nestas situações, classificando-as em suas

categorias de adotantes.

Essa classificação inclui os adotantes em suas relações com a inovação,

caracterizando-os como inovadores, adotantes iniciais, maioria inicial, maioria

tardia e retardatários. Em cada categoria de adotantes, os indivíduos são semelhantes

em termos de "innovativeness, que é o nível em que uma pessoa ou outra unidade de

adoção está relativamente antecipada na adoção de novas ideias ante outros membros de

um sistema" 28 (ROGERS, 2003, p. 22).

Rogers observou, ainda, que a curva da taxa de adoção varia de inovação para

inovação e que apenas adotantes de inovações bem sucedidas geram uma curva parecida

com a mostrada na Figura 3. Esta figura, ao relacionar a categorização dos adotantes

com base na velocidade em que a adoção ocorre, mostra como as pessoas podem se

comportar diante da inovação em relação a outras pessoas do mesmo grupo.

Figura 3 - Categorização de adotantes com base em innovativeness Adaptada de Rogers (2003, p. 281)

                                                                                                                         28 No original: “Innovativeness is the degree to which an individual or other unit of adoption is relatively earlier in adopting new ideas than the other members of a system.”

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Assim, ao longo de um período de tempo, o número de pessoas que adotam a

inovação pode ser medido pela taxa de adoção da inovação. Se uma inovação é adotada

mais rapidamente pelas pessoas, significa que as suas características a levaram a ser

aceita mais cedo. Na Figura 3, podemos identificar que os inovadores representam a

minoria, enquanto o número mais elevado de adotantes se encontra entre a maioria

inicial e tardia.

Para compreender melhor essa distribuição, são explicitadas, a seguir, cada uma

das categorias criadas por Rogers.

- Inovadores: os inovadores são pessoas que buscam ativamente informações

sobre novas ideias e podem ser associados à ideia de ousadia. Eles possuem

um alto nível de exposição em mídia de massa, e sua rede interpessoal se

estende por uma vasta área, fora de alcance de seu sistema local. Estão

dispostos a experimentar novas ideias. Assim, estão preparados para lidar

com inovações bem e mal sucedidas e, por isso, são capazes de lidar com

altos níveis de incertezas sobre uma inovação mais do que outras categorias

de adotante.

- Adotantes iniciais: os adeptos iniciais são mais limitados devido ao sistema

social e podem ser associados à ideia de pessoas que possuem opiniões e

ações respeitadas. Rogers argumenta que, mais do que qualquer outra

categoria, são mais propensos a realizar funções de liderança no sistema

social, sendo que os outros membros recorrem a eles para obter informações

ou conselhos sobre a inovação. Assim, servem como modelo para muitos

outros membros de um sistema social. Eles diminuem a incerteza com

relação à inovação adotada levando a sua avaliação pessoal sobre a inovação

e atingindo outros membros do sistema, por meio das redes interpessoais. Os

adotantes iniciais exercem liderança na adoção da inovação e diminuem a

incerteza sobre a inovação no processo de difusão, de acordo com Rogers,

sendo os primeiros, “em certo sentido, os adotantes iniciais colocam seu selo

de aprovação sobre uma nova ideia, por adotá-la” 29 (p. 283), sendo os

primeiros a tomarem tal atitude.

- Maioria inicial: Rogers afirma que, embora a maioria inicial de adotantes

tenha uma boa interação com os outros membros do sistema social, eles não                                                                                                                          29 No original: “in one sense, early adopters put their stamp of approval on a new idea by adopting it.”

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têm o papel de liderança que os adotantes iniciais possuem e são tidos como

cautelosos. No entanto, as suas redes interpessoais são ainda importantes no

processo de difusão da inovação. Esta categoria é, pois, cautelosa na adoção

de uma inovação e não são nem os primeiros nem os últimos a adotá-la.

Assim, sua decisão diante da inovação geralmente leva mais tempo do que

levam as categorias anteriores, mas a adoção já é feita com um grau menor

de incertezas diante da nova ideia.

- Maioria tardia: a maioria tardia adota novas ideias apenas após a média dos

membros de um sistema a terem adotado. São pessoas mais céticas quanto à

nova ideia. De acordo com Rogers (p. 284), esta categoria inclui um terço de

todos os membros do sistema social que esperam até que a maioria de seus

pares adote a inovação. Embora sejam céticos sobre a inovação e seus

resultados, a necessidade econômica e a pressão de seus pares podem levá-

los à adoção da inovação. Para reduzir a incerteza da inovação, as redes

interpessoais de pares próximos fazem o papel de persuadir a maioria tardia

para adotá-la.

- Retardatários: a categoria dos adotantes retardatários é caracterizada pelas

pessoas que possuem uma visão tradicional e são mais céticas com relação

às inovações e aos agentes de mudança que a maioria tardia. Os membros

desse grupo não têm um papel de liderança. Por causa dos recursos limitados

e da falta de conhecimento e consciência de inovações, querem ter certeza,

primeiramente, de que uma inovação é boa antes de adotar. Assim,

retardatários tendem a tomar decisão depois de constatar se a inovação é

adotada ou não com sucesso por outros membros do sistema social. O autor

nos alerta que existem outros fatores que influenciam no processo de adoção

e que “é um erro considerar que ser retardatário implica de alguma forma ser

culpado pela adoção relativamente tardia”30 (p. 285).

1.6.4 O estágio de Implementação

Esse estágio do processo de inovação-decisão é marcado pelo fato de a inovação

ser posta em prática. Agora, “a implementação envolve uma evidente mudança de                                                                                                                          30 No original: “is a mistake to imply that laggards are somehow at fault for being relatively late to adopt”.

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comportamento de como a nova ideia é realmente colocada em prática” 31 (ROGERS,

2003, p. 179).

Nesse estágio, o indivíduo vai se defrontar com a realidade da inovação, assim,

um certo grau de incerteza sobre as consequências esperadas da inovação ainda existe para o indivíduo nesta fase de implementação, embora a decisão de adotar tenha sido feita anteriormente. Um indivíduo em particular quer saber as respostas às perguntas tais como "onde posso obter a inovação?" "como faço para usá-la?" e "quais os problemas operacionais posso encontrar e como posso resolvê-los?". Assim, a procura ativa de informação geralmente ocorre na fase de implementação, a fim de responder a estas perguntas. Aqui, o papel dos agentes de mudança é principalmente o de fornecer assistência técnica ao cliente de como usar a inovação32 (p. 179).

Rogers (2003) usa os conceitos de incerteza e informação. Para ele, incerteza é o

nível para o qual um número de alternativas é percebido com respeito à ocorrência de

um evento e a probabilidade relativa dessas alternativas. Incerteza motiva a pessoa a

procurar informação, por ser uma situação desconfortável. Para reduzir a incerteza da

aprovação da inovação, as pessoas devem ser informadas sobre as vantagens e

desvantagens para se conscientizarem de todas as suas consequências.

Conforme as características da inovação, esta pode levar um longo tempo para

ser implementada. Contudo, ao longo desse período de tempo, explica Rogers (p. 180),

“a nova ideia se torna institucionalizada como parte regularizada das operações em

curso do adotante”33. Dessa forma, a inovação passa a ser incorporada, desaparecendo a

sua qualidade distintiva que a destaca dentre as ações do adotante, podendo representar

a finalização do processo de inovação-decisão para alguns dos envolvidos no processo.

1.6.5 O estágio de Confirmação

Nessa etapa, de acordo com Rogers (p. 189), o indivíduo busca reforços para a

sua tomada de decisão sobre a inovação e pode reverter essa decisão se esta for exposta

                                                                                                                         31 No original: “But implementation involves overt behavior change as the new idea is actually put into

practice”. 32 No original: “A certain degree of uncertainty about the expected consequences of the innovation still

exists for the typical individual at the implementation stage, even though the decision to adopt has been made previously. An individual particularly wants to know the answers to such questions as "Where can I obtain the innovation?" "How do I use it?" and "What operational problems am I likely to encounter, and how can I solve them?" So active information seeking usually takes place at the implementation stage in order to answer these questions. Here the role of change agents is mainly to provide technical assistance to the client as he to use the innovation.”

33 No original: “the new idea becomes institutionalized as a regularized part of an adopter's ongoing operations”.

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32

 

a mensagens conflituosas. No entanto, o indivíduo tende a ficar longe de tais mensagens

e afirmar mensagens de apoio que visam a confirmar a sua decisão. Assim, as atitudes

tornam-se mais cruciais na fase de confirmação. Dependendo do suporte para a adoção

da inovação e da atitude anterior, a adoção individual ou a interrupção acontecem

durante essa fase.

A desistência pode acontecer durante todas as fases do processo de inovação-

decisão, no entanto, nesta etapa pode ocorrer de duas maneiras: a primeira quando o

indivíduo rejeita uma determinada ideia para adotar uma ideia melhor - esse tipo de

decisão é chamada de descontinuidade de substituição; a segunda é a descontinuidade

por desencanto, na qual o indivíduo passa por alguma decepção relacionada à inovação.

No próximo capítulo, será feita uma revisão da literatura, abordando-se a

temática de educação a distância e formação de professores ante as demandas da

sociedade contemporânea e seus reflexos na prática educativa.

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33

CAPÍTULO 2 - ENSINO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Neste capítulo é levantada a produção existente em relação ao ensino a distância

e à formação de professores, com o intuito de perceber como tem sido tratada a questão

da inovação no contexto educacional.

2.1 Ensino a distância, formação de professores e inovação

Cavalcante (2010) utiliza-se de pesquisa quantitativa para trabalhar com os

elementos da inovação, buscando o entendimento de como os docentes reagem a

questões que dizem respeito à vantagem, compatibilidade, complexidade e

experimentação da prática do ensino a distância. A autora se mostra preocupada em

saber como a eficácia do processo de ensino e de aprendizagem a distância é percebida

pelo corpo docente e pelo corpo discente. A partir dos pressupostos da teoria de Rogers

e da identificação das atitudes e crenças dos professores, a autora pretende validar a

importância do uso da tecnologia no ambiente universitário por meio da educação a

distância, além de confirmar os elementos identificados por Rogers (2003), em um

comparativo com uma pesquisa anterior realizada com alunos, na qual estes adotam a

educação a distância como a inovação proposta.

Em sua tese, Hoerup (2001) traz um estudo sobre a teoria de Rogers, destacando

a integração da tecnologia e as regras de colaboração. Apoiada em pesquisas que

relacionam a tecnologia com a inovação no meio educacional e a relação de adoção por

professores e alunos, a autora conclui que os professores percebem que a inovação

tecnológica no ensino tem valor para sua formação e atuação docente, o que os levou a

adotá-la.

Jacobsen (1998) utilizou a teoria da difusão de inovação e as categorias de

adotantes de Rogers para determinar os padrões de adoção e as características dos

professores que integram a tecnologia do computador ao ensino e aprendizagem.

Utilizando métodos qualitativos e quantitativos, procurou identificar em um grupo de

professores características típicas daqueles que prontamente adotam a tecnologia e

daqueles que não a adotam: padrões de uso do computador, conhecimentos

informáticos, generalização da autoeficácia, informações dos participantes, obstáculos à

integração da tecnologia para ensinar e aprender, métodos para utilização e integração

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34

 

da tecnologia ao ensino e aprendizagem e resultados da utilização da tecnologia no

ensino e aprendizagem.

O autor constata que foram encontradas algumas diferenças entre as categorias

de adotantes, com relação à autoavaliação dos professores referente aos seus

conhecimentos sobre informática e a adoção da tecnologia no processo de ensino e de

aprendizagem. Houve, também, diferenças entre os adotantes retardatários que usaram

pesquisa na web ou em papel. Como consequência dos resultados obtidos, Jacobsen

(1998) menciona que adotantes retardatários preferem métodos diferentes para aprender

sobre a tecnologia, suporte e treinamento. Esse grupo de professores apresenta

diferentes razões como motivadores ou impedimentos para adotar a tecnologia em sua

prática.

Medlin (2001), formulou seus estudos para verificar os fatores que podem

influenciar a motivação de professores considerados adotantes retardatários em sua

decisão de adotar tecnologias eletrônicas em seu ensino. Organizou os resultados em

três grupos: social, organizacional e pessoal. A influência de amigos, o apoio de seus

pares e alunos foram consideradas como variáveis sociais significativas que podem

influenciar na decisão do professor de adotar tecnologias nas salas de aula. Outras duas

variáveis, foram consideradas no estudo dessa autora: a organizacional - que inclui o

suporte de recursos físicos; e a variável pessoal - de apoio e gestão. “Interesse em

tecnologia instrucional", "interesse pessoal na melhoria do meu ensino" e "interesse

pessoal em melhorar a aprendizagem dos alunos" foram citadas como três variáveis

motivacionais pessoais que podem afetar a decisão dos docentes sobre a adoção de

tecnologias no ensino. Com a identificação dessas variáveis, Medlin (2001) conclui que,

sendo consideradas como fatores motivacionais, pode-se desenvolver um ambiente que

aumente as possibilidades de incorporação de tecnologias na educação superior.

Usando métodos de pesquisa quantitativa, Surendra (2001) examina os fatores

de difusão propostos por Rogers, como fatores internos ao sistema de adotantes

relativos à inovação, e Fullan, para verificar os fatores externos, relacionados ao

processo de inovação, tendo como foco a aceitação da tecnologia web por professores e

gestores. A receptividade com relação à inovação e a formação para a sua utilização por

parte dos professores, em particular, foram considerados os melhores indicadores no

processo de difusão da inovação baseada na tecnologia web.

Surendra (2001) chega a conclusões, tais como: quanto maior a percepção dos

fatores de difusão da tecnologia, maior a receptividade de adoção da inovação; existe

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uma relação entre o tempo de serviço e a receptividade da inovação pelo usuário ou

percepção dos fatores de inovação; não existe relação entre o tempo de uso do

computador e a receptividade da inovação pelo usuário; não existe relação entre idade e

receptividade da inovação; existe relação entre o domínio que o adotante tem do

computador e receptividade da inovação.

Segenreich (2009) discute a inserção da educação a distância em cursos

regulares do ensino superior. Em seu trabalho, a autora apresenta uma argumentação, a

partir de investigação documental e aplicação de questionários para professores e

alunos, tendo como base teórica o modelo de análise do processo de introdução de

inovações de Rogers. Por meio de sua investigação, a autora diz que um fator que

contribuiu negativamente para a implantação de disciplinas de educação a distância diz

respeito aos professores que passaram rapidamente por um processo de capacitação,

além de não possuírem informações anteriores a respeito da implantação de cursos a

distância em sua instituição. Esta situação levou à resistência dos professores, o que foi

apontado pela “falta de conhecimento sobre a modalidade de educação a distância, à

resistência ao novo e ao receio da perda de carga-horária” (Segenreich, 2009, p. 6),

visto que os professores temiam que a inserção da educação a distância em disciplinas

dos cursos presenciais levasse a um esvaziamento de suas atividades.

Neste estudo, Segenreich (2009) considera os estágios de Conhecimento,

Persuasão, Decisão e Implementação para o processo de aceitação da educação a

distância. Os apontamentos da autora estão relacionados às características do estágio de

Persuasão (vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, testabilidade e

observabilidade) como elementos fundamentais a serem analisados como fatores que

facilitam/dificultam a adesão à inovação. Neste sentido, ela afirma que “todas as falhas

nos estágios de Conhecimento, Persuasão e Implantação influenciam, no sentido

negativo, os fatores que irão facilitar/dificultar a confirmação da inovação no cotidiano

da universidade” (p. 9).

A autora relata que, na análise de diferentes experiências institucionais de

implantação da educação a distância nos seus cursos presenciais, os principais entraves

se concentram na falta de uma gestão democrática que envolva alunos e professores em um projeto pedagógico que forneça as diretrizes para o planejamento das atividades virtuais; na ausência ou aligeiramento da capacitação de professores e alunos para essa nova modalidade de ensino; na falta de infraestrutura de laboratórios de informática [...]. Outras dificuldades

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precisam ser enfrentadas no âmbito das políticas publicas [...]” (SEGENREICH, 2009, p. 13).

A autora ainda aponta como questões polêmicas as parcerias que as instituições

fazem e os projetos governamentais.

Anderson, Varnhagen e Campbell (1998) estudaram as atitudes, habilidades e

comportamentos dos docentes relacionados com o uso de tecnologias da informação e

suas possibilidades de adoção, diferenciando os professores adotantes iniciais daqueles

professores convencionais. Baseados em Rogers, estes autores apontam duas categorias

principais de adotantes, definindo os membros do corpo docente como "adotantes

iniciais" e "retardatários" e elaboram estratégias para reduzir o fosso entre estes dois

grupos. Embora o grupo de professores investigados utilizassem tecnologias de

informação para pesquisa e aplicações profissionais da comunicação, a adoção destas

aplicações no ensino era muito baixa.

O modelo de difusão de inovação de Rogers foi utilizado por Liao (2005) em

uma pesquisa quantitativa para examinar a adoção e contribuição de um sistema

baseado na web. Esse estudo verificou que o modelo de Rogers conseguiu explicar a

adoção da inovação e também levou a constatar a interação entre alunos, instrutores e

materiais do curso ao avaliar o impacto dos atributos tecnológicos. Verificou-se que,

apesar de os fatores do modelo predizerem com sucesso a interação, a medida

combinada de vantagem relativa e compatibilidade se apresenta como o indicador mais

forte de interação e, consequentemente, do processo de adoção. Liao (2005) aponta o

aumento da interação como fator significativo para o aprendizado do aluno.

A palavra novidade sugere a sensação de algo novo, desconhecido, gerando

uma incerteza diante de uma nova ideia e, ao mesmo tempo, acena para o surgimento

de uma possibilidade. Ao se deparar com o ensino a distância como uma novidade, o

professor passa pela sensação de estranhamento e de incerteza, mas também se sente

diante da possibilidade de novos caminhos, experimentações e de realização de uma

prática docente em novas perspectivas.

Como Rogers (2003) afirma, uma inovação não é necessariamente algo novo,

mas que representa uma novidade. No caso específico desta pesquisa, o ensino a

distância se apresenta como uma inovação na medida em que os professores da equipe

de Cálculo se iniciam no processo de ensino neste ambiente.

O ensino a distância, em conjunto com as tecnologias de informação e

comunicação, é entendido, aqui, como uma inovação, que nos últimos anos tem

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renovado o processo de ensino-aprendizagem, trazendo, a partir da Internet e das mais

recentes mídias digitais, novas possibilidades para a realização de processos formativos.

Nos autores apresentados, é nítida a preocupação com a tecnologia no sentido de

que esta não pode representar uma barreira para o trabalho do professor. No que se

refere ao ensino a distância, de modo especial, por fazerem parte integrante desta

modalidade de ensino, desde a elaboração de material ao trabalho do tutor, as

tecnologias se apresentam como algo que torna possível uma prática educativa a

distância. O fato de o professor estar ou não aberto ao uso de novas tecnologias precisa

ser levado em conta no desenvolvimento de suas funções nesta modalidade de ensino,

constituindo-se em indispensável aspecto a ser trabalhado em sua formação.

Cruz (2007) discute a preparação do professor universitário que irá trabalhar

como professor conteudista ou como tutor na educação a distância, a partir da

capacitação para a utilização das mídias. A autora diz que a educação a distância

participa de um movimento de formação de professores. Esta autora apresenta teóricos

que contribuem com discussões acerca das mídias no ambiente escolar, como Moran

(2000); Belloni (2003 e 2005), Pinto (2002) e ressalta que esses autores buscaram trazer

teorias e práticas que embasam uma releitura das teorias educacionais no campo

comunicacional. Discute, ainda, as ideias de Freire, Martin-Barbero, Gutierrez e Prieto,

Schön, Nóvoa e Tardif, que propõem um diálogo com foco na aprendizagem, recepção

ativa e dinâmica, a mediação pedagógica tratada como uma linguagem dialógica, a

reflexão na ação como foco da formação baseada no conhecimento e na experiência

prática dos professores.

Assim, diz a autora, se antes os professores eram mais preocupados com os

conteúdos do que com os formatos dos cursos, a sua relação facilitada com as mídias

permite aos mais experientes, produzir, publicar, transmitir e gerenciar livremente

cursos e disciplinas na internet, “eliminando boa parte do trabalho de profissionais

especializados” (CRUZ, 2007). Esse movimento de relação com as mídias é

denominado pela autora como o processo de apropriação que vai gerar “o que autores

como Moran (2000) definem como o de transição para uma nova educação que vai

misturar o presencial e o virtual, sem que seja possível diferenciar a EAD do ensino

tradicional.”

Cruz (2007) se refere às exigências de formação do professor para as mídias.

Essa formação não diz respeito apenas à utilização das mídias, mas a uma cultura para

se relacionar com elas, uma educação voltada para a compreensão destas em várias

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dimensões: instrumental (no sentido de ferramenta), formativa (desenvolvimento de

habilidades) e social (interação).

Apoiada em Libâneo ao dizer que “novas exigências educacionais pedem às

universidades um novo professor capaz de ajustar sua didática às novas realidades da

sociedade, do conhecimento, do aluno, dos meios de comunicação” (Libâneo, 2003, p.

28 apud Cruz, 2007, p. 2), a autora afirma que as atitudes docentes podem ser

consideradas como “pontos de partida” para seu entendimento a respeito do papel do

professor e “da importância da comunicação e das mídias nessa transformação”.

Para Cruz (2007, p. 2), a movimentação em torno das mídias e das

possibilidades para a educação a distância tendem a fazer com que “a aprendizagem das

mídias se coloque como uma necessidade tanto para as instituições de ensino superior

como para os professores”, tornando tal condição como básica para que o professor

ensine “alunos distantes geograficamente, mas próximos afetiva e cognitivamente”.

2.2 A formação do professor de matemática no contexto da inovação

Ponte, Oliveira e Varandas (2003), Penteado (2000), Rezende (2004), Pais

(2005) e Fiorentini e Lorenzato (2009) escrevem sobre a formação dos professores de

matemática. Melo (2002), Celestino (2008), Alves (2010), Marin e Penteado (2011),

apresentam contribuições específicas sobre o ensino de conteúdos de Cálculo,

correlacionando a atuação do professor, o conteúdo matemático e a tecnologia.

Ponte, Oliveira e Varandas (2003), ao falarem sobre as contribuições das

tecnologias da informação e da comunicação (TIC) para o desenvolvimento do

conhecimento do professor e sobre a identidade profissional do professor, reportam-se à

formação inicial do professor de matemática, no entanto, esta discussão deve estar

presente ao se pensar a formação continuada do professor. Neste sentido, os autores

argumentam sobre a importância do professor de matemática lidar com tais tecnologias,

afirmando que Os professores de matemática precisam de saber usar na sua prática as ferramentas das tecnologias de informação e comunicação (TIC), incluindo software educacional próprio para a sua disciplina e software de uso geral (NCTM, 1994). Estas tecnologias permitem perspectivar o ensino da matemática de modo profundamente inovador, reforçando o papel da linguagem gráfica e de novas formas de representação e relativizando a importância do cálculo e da manipulação simbólica. (PONTE, OLIVEIRA e VARANDAS, 2003, p. 159, sic)34

                                                                                                                         34 NCTM: National Council of Teachers of Mathematics.

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Estes autores consideram que aprender a trabalhar com as tecnologias da

informação e da comunicação pode auxiliar “o desenvolvimento de uma identidade

profissional” do professor, “estimulando a adopção do ponto de vista e de valores

próprios de um professor de matemática” (PONTE, OLIVEIRA e VARANDAS, 2003,

p. 160, sic).

Seguindo esta linha de pensamento, os autores apontam as tecnologias de

informação e comunicação como integrantes do desenvolvimento do conhecimento

profissional do professor, considerando-as como “ferramentas cada vez mais presentes

na actividade dos professores de matemática” (p. 161, sic). Para eles, tais ferramentas

constituem: (i) um meio educacional auxiliar para apoiar a aprendizagem dos alunos, (ii) um instrumento de produtividade pessoal, para preparar materiais para as aulas, para realizar tarefas administrativas e para procurar informação e materiais, e (iii) um meio interactivo para interagir e colaborar com outros professores e parceiros educacionais. (PONTE, OLIVEIRA e VARANDAS, 2003, p. 161, sic).

De acordo com Ponte, Oliveira e Varandas (2003), as tecnologias da informação

e comunicação, ao se tornarem parte do ambiente de trabalho do professor, o

modificam, alterando, também, o modo como o professor se relaciona com os outros

professores. Isso proporciona um “impacto importante na natureza do trabalho do

professor e, desse modo, na sua identidade profissional”, conforme asseveram os

autores:

O desenvolvimento de uma identidade profissional envolve adoptar como seus as normas e os valores essenciais de uma profissão. Uma forte identidade profissional está também associada a uma atitude de empenhamento em se aperfeiçoar a si próprio como educador e disponibilidade para contribuir para a melhoria das instituições educativas em que está inserido. Um professor de matemática deve ser capaz de realizar as actividades profissionais próprias de um professor e identificar-se pessoalmente com a profissão. Isso significa assumir o ponto de vista de um professor, interiorizar o respectivo papel e os modos naturais de lidar com as questões profissionais. Por exemplo, ser capaz de decidir sobre o valor de uma variedade de recursos disponíveis para os professores e aprender a usá-los com desembaraço é, cada vez, mais uma parte importante do trabalho do professor (p. 162, sic).

Instigar o professor ao desenvolvimento para alcançar as finalidades

mencionadas por Ponte, Oliveira e Varandas (2003) requer um esforço em direção às

mudanças que assume com relação a novas possibilidades de trabalho docente, à

mobilização de conhecimentos, crenças e concepções.

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Ao discutir as possibilidades de formação do professor de matemática, Penteado

(2000) apresenta uma discussão sobre a inserção das tecnologias de informação no

ambiente de trabalho do professor. A autora defende que é necessário que haja

mudanças no trabalho do professor, para que seja explorado o potencial educacional das

tecnologias da informação.

Tais mudanças

envolvem desde questões operacionais – a organização do espaço físico e a integração do velho com o novo – até questões epistemológicas, como a produção de novos significados para o conteúdo a ser ensinado. São mudanças que afetam a zona de conforto da prática do professor e criam uma zona de risco caracterizada por baixo índice de certeza e controle da situação de ensino (PENTEADO, 2000, p. 23, grifos da autora).

O que a autora denomina “zona de risco” corresponde ao “encontro” com a

inovação, no sentido de que é neste novo espaço que as relações se configuram com as

incertezas, crenças e expectativas diante do trabalho com o ensino a distância.

Independentemente de o trabalho estar focado no ensino presencial ou não, e do

tipo de ferramentas tecnológicas que está sendo usado, a ideia de Penteado (2000) se

aproxima da problemática desta pesquisa, na medida em que estabelece uma relação

entre uma situação em que o professor possui pleno domínio, ou seja, a zona de

conforto, para se lançar em uma “nova” situação, demarcada pelas incertezas e

descobertas que se encontram, então, na zona de risco.

Ao elencar as tendências de pesquisa na área da Educação Matemática,

Fiorentini e Lorenzato (2009) apontam a utilização de tecnologias da informação e

comunicação (TICs) no ensino e na aprendizagem da matemática como uma temática

que vem chamando a atenção dos investigadores e elaboradores de tecnologia

computacional nas últimas décadas. O desenvolvimento de tais ferramentas vem sendo

direcionado a “projetos/programas de ensino, alguns para alunos e outros para

professores, para serem manejados por professores e não por técnicos” (p. 45).

Os autores argumentam que existe

uma crença, entre alguns responsáveis pelas políticas educacionais, de que as novas tecnologias são uma panaceia para solucionar os males da educação atual. Essa é mais uma razão pela qual a comunidade de EM deve investigar seriamente a implementação e utilização das TICs, pois, se, de um lado, pode ser considerado relativamente simples equipar as escolas com essas

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tecnologias, de outro, isso exige profissionais que saibam utilizá-las com eficácia na prática escolar (p. 46) 35.

Pais (2005) diz que as ações docentes devem tratar das potencialidades e dos

desafios decorrentes do uso educacional das tecnologias digitais, solicitando novas

competências para incorporar as inovações tecnológicas emergentes da sociedade da

informação, particularmente aquelas referentes ao fazer pedagógico. Para esse autor, tal

cenário “exige um envolvimento diferenciado por parte dos educadores no sentido de

valorizar iniciativas inovadoras que contribuam para sua própria formação” (p. 15).

Segundo Pais (2005), diante do trabalho com as tecnologias, os professores se

colocam em uma situação de expectativas, as quais, muitas vezes, podem “se

transformar em sentimento de insegurança ou de resistência em alterar a prática de

ensino”. No entanto, acrescenta o autor, “mesmo identificando dificuldades relativas à

formação, percebe-se a existência de uma consciência voltada para a busca de propostas

que possam atender a problemas lançados pela sociedade da informação”, mostrando o

anseio do professor de participar de uma educação atualizada.

2.3 A prática docente no ensino a distância

A formação do professor é um trabalho contínuo e que se transforma conforme

as necessidades das atividades que compõem a sua atuação docente em sala de aula, na

produção de materiais, na administração das atividades acadêmicas, na atuação política

e nas questões profissionais que lhe dizem respeito.

A temática sobre a necessidade de buscar formação ao longo da carreira

profissional, por parte do professor, aparece no Brasil ao longo dos anos noventa, tendo

por referência, entre outros, autores como Nóvoa (1991), Perrenoud (1993) e Schön

(2000) e Tardif (2011), os quais formam uma base importante para a discussão da

formação contínua do professor reflexivo. Assim, a convergência da defesa desses

autores, bem como para Behrens (2007, p. 449), “encontra-se focalizada no processo de

oferecer aos professores no locus da escola ou da universidade a possibilidade de

discutir e encontrar, coletiva e individualmente, os caminhos para transformar a prática

pedagógica”.

Para Behrens (2007), tal paradigma é uma aliança entre a visão sistêmica, a

abordagem progressista do ensino como pesquisa, e a utilização de tecnologias                                                                                                                          35 EM: Educação Matemática.

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inovadoras, compreendendo novas ações individuais e coletivas, que requerem novas

atitudes em relação à vida, ao enfrentamento dos medos e das conquistas, significando,

portanto, mais do que uma ação intelectual.

Nesse sentido, as práticas pedagógicas dos professores tendem a incorporar a

demanda da chamada Sociedade do Conhecimento, mas, para isso, fazem-se necessárias

uma formação continuada dos professores universitários e a proposição de sessões

contínuas de discussão e reflexão sobre as possibilidades de mudança. Esse movimento

precisa contemplar a possibilidade de oferecer metodologias que focalizem a produção

de conhecimento significativo para construir uma formação que leve ao

desenvolvimento pessoal, social e profissional do cidadão.

Em sua opinião,

O movimento paradigmático para preparar os profissionais que convivem com o incerto na Sociedade da Informação exige um processo que envolva propostas de formação de professores que superem o modelar e de conformar. O caminho da superação exige a busca de caminhos que levem à reflexão na e para a ação (NÓVOA,1991). Assim, qualificar os profissionais para desafiá-los a modificar e transformar seu papel como docente com consciência crítica e reflexiva. A formação seria focalizada no processo e não no produto, pois precisa ser contínua, progressiva e ampla e que propicie o desenvolvimento e o aprimoramento da teoria em aliança com a prática docente (Behrens, 2007, p. 446, sic).

O papel do professor neste contexto pressupõe a reformulação de suas práticas,

requerendo que aja uma abertura para a reflexão sobre o seu modo de agir, pensar, de se

relacionar e se envolver com os seus alunos e com outras questões no âmbito

educacional, inclusive aquelas relacionadas à presença das tecnologias emergentes na

prática educativa.

Ao falar da reconfiguração dos espaços e tempos de aprender e do impacto deste

processo na prática docente, Kenski (2006, p. 46) corrobora com esta discussão, ao

afirmar que a perspectiva das novas tecnologias de informação e comunicação, “ao ser

assumida como possibilidade didática, exige que, em termos metodológicos, também se

oriente a prática docente com base em uma nova lógica”.

Neste sentido, esta investigação busca compreender esta “nova lógica”, a partir

da situação de transição do ensino presencial para o ensino a distância, procurando

identificar a percepção que os professores têm deste processo de mudança.

Mais do que buscar uma nova teoria que oriente esta reconfiguração da prática

docente, o momento presente requer a reflexão, a apreensão de novos elementos, o

empreendimento de esforços e o comprometimento com a realização do fazer

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pedagógico sob uma nova perspectiva. Citando Kerckhove, para quem a solução real

“está em mudarmos as nossas percepções e não apenas as nossas teorias”, Kenski (2006,

p. 46) entende que se trata de “compreender esse novo mundo com uma nova lógica,

uma nova cultura, uma nova sensibilidade, uma nova percepção”.

2.4 A configuração de novos papéis

A prática pedagógica dos professores, construída essencialmente ao longo de sua

vida acadêmica, em todos os níveis de ensino, principalmente o superior, é discutida por

Masetto (2003) em termos das competências pedagógicas do professor universitário.

Os discursos sobre as necessidades de formação convergem para o

desenvolvimento e aprimoramento da prática do professor em função de vários fatores,

como as mídias, a pesquisa como incentivo à produção de conhecimento e a habilidade

de trabalhar cooperativamente. Esse discurso se amplia com as possibilidades de uso

das tecnologias no ensino presencial e a distância.

Nessa perspectiva, Belloni (2003, p. 72) diz que não se pode pensar em qualquer

inovação educacional sem a produção do conhecimento pedagógico e a formação de

professores. Essa formação exige uma reflexão sobre como integrar as tecnologias da

informação e comunicação à educação para formar professores enquanto usuários ativos

e críticos.

Ao falar sobre o trabalho do professor de educação a distância a partir de uma

nova divisão de trabalho, a autora diz que o papel a ser desempenhado por esse

professor, agora, é composto por múltiplas funções, devido ao uso dos meios

tecnológicos, e afirma que “o uso mais intenso dos meios tecnológicos de comunicação

e informação torna o ensino mais complexo e exige a segmentação do ato de ensinar em

múltiplas tarefas, sendo esta segmentação a característica principal do ensino a

distância” (Belloni, 2003, p. 79).

A separação das funções docentes no espaço da educação a distância pressupõe,

portanto, uma divisão do trabalho de modo diferente do ensino presencial, como explica

a autora:

as funções de selecionar, organizar e transmitir o conhecimento, exercidas nas aulas magistrais no ensino presencial, correspondem em EaD à preparação e autoria de unidades curriculares (cursos) e de textos que constituem a base dos materiais pedagógicos realizados em diferentes suportes (livro-texto ou

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manual, programas em áudio, vídeo ou informática); a função de orientação e conselho do processo de aprendizagem passa a ser exercida não mais em contatos pessoais e coletivos de sala de aula ou atendimento individual, mas em atividades de tutoria a distância, em geral individualizada, mediatizada através de diversos meios acessíveis (Belloni, 2003, p. 80).

Belloni (2003) considera que a demanda do sistema de educação a distância

requer esta divisão do trabalho devido ao grande número de alunos envolvidos nesta

modalidade e por isso mesmo requer a produção e o controle do processo de ensino e de

aprendizagem condizentes com esta realidade. No entanto, tais funções, embora

racionalizadas e segmentadas, não são desconhecidas dos professores. Apenas se

apresentam dentro de uma nova perspectiva de prática docente, em uma nova

modalidade, uma nova demanda, já que, para a autora, “a maioria destas funções faz

parte do trabalho cotidiano do professor do ensino presencial, só que organizadas de

forma artesanal e intuitiva e trabalhando com grupos reduzidos de alunos” (p. 81).

Em sua definição sobre o papel do professor, Belloni aponta a “transformação

do professor de uma entidade individual em uma entidade coletiva” (2003, p. 81) como

a característica principal do ensino a distância, lembrando que essa transformação, com

a introdução das tecnologias na educação também poderá ocorrer no ensino presencial.

Ao mencionar os desafios do redimensionamento do papel do professor diante

do trabalho de transpor a tecnologia de produção, estocagem e transmissão de

informações para a ampliação das “mensagens inscritas em meios tecnológicos”

(Belloni, 2005, p. 27), seguindo a tendência de um ensino cada vez mais mediatizado, a

autora considera a necessidade de que esse professor “aprenda a trabalhar em equipe e a

transitar com facilidade em muitas áreas disciplinares. Será imprescindível quebrar o

isolamento da sala de aula convencional e assumir funções novas e diferenciadas. A

figura do professor individual tende a ser substituída pelo professor coletivo” (p. 29).

Com relação à formação do professor, Belloni (2003, p. 85) diz que as novas

competências que o professor deve desenvolver diante desse “novo” papel necessitam

de uma redefinição na perspectiva de uma formação profissional adequada às exigências

do cenário do ensino a distância.

A autora fala em termos da formação inicial dos professores e considera,

também, o que chama de “evolução positiva”, ao se referir à inovação pedagógica e à

convicção da necessidade de formação continuada do professor em exercício. Ao longo

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de sua discussão, ressalta que esses professores devem ser preparados para a inovação

tecnológica e suas consequências pedagógicas e, também, para a formação continuada,

a ser considerada na perspectiva de formação ao longo da vida.

Existe uma forte tendência a formar estudantes para exercer funções que ainda

são desconhecidas ou indefinidas, possibilitando a eles a aquisição de autonomia para

aprender o suficiente que lhes permita continuar a sua própria formação ao longo da

vida pessoal e profissional. Para Belloni (2003), essa tendência deve acompanhar a

formação de formadores com essa mesma lógica: “a formação de professores não

escapa a esta lei: estes devem, como o restante da sociedade, levar em consideração a

inovação; mas esta deve ser preparada por uma formação adequada. [...] Todo o pessoal

docente deve aceitar evoluir como as outras profissões” (DIEUZEIDE, 1994 apud

BELLONI, 2003, p. 85).

Com relação às novas perspectivas e competências do professor, Belloni (2003,

p. 87) constata que

[...] qualquer melhoria ou inovação em educação passa necessariamente pela melhoria e inovação na formação de formadores. Novas perspectivas e novas competências têm de ser desenvolvidas, a proposta de uma formação “reflexiva” do professor que pesquisa e reflete sobre sua prática tem de ultrapassar o mero discurso retórico e alcançar um grau maior de sistematização e gerar conhecimento científico novo no campo da pedagogia (NÓVOA, 1995).

A respeito das competências necessárias ao professor, Belloni (2003, p. 87)

apresenta algumas pistas para a definição de tais competências para os profissionais da

educação divididas em quatro grandes áreas: cultura técnica, que significa um domínio

mínimo de técnicas indispensáveis em situações educativas cada vez mais mediatizadas;

competências de comunicação, mediatizadas ou não, que possibilitem ao professor

trabalhar em equipe; capacidade de trabalhar com método, para sistematizar e

formalizar procedimentos e métodos; e capacidade de “capitalizar”, ou “traduzir” e

apresentar seus saberes e experiências de modo que outros possam aproveitá-los e saber

aproveitar e adequar às suas necessidades o saber dos outros formadores, competência

importantíssima para evitar a tendência, muito comum no campo educacional, de

‘reinventar constantemente a roda’ (BLANDIN,1990 apud BELLONI, 2003, p. 87).

Saber selecionar materiais, elaborar estratégias adequadas de utilização e

também produzir novos materiais são habilidades integrantes da competência

relacionada à “cultura técnica e à capacidade de integrar materiais pedagógicos em

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suportes tecnológicos mais sofisticados, especialmente a multimídia” (BELLONI, 2003,

p. 87). Tais fatores pertencem ao que a autora considera como uma das competências

mais difíceis de serem desenvolvidas no contexto do ensino superior.

Ao mencionar os “novos ambientes de aula”, Masetto (2003, p. 81) fala sobre a

necessidade de se transcender a ideia de espaço de aula, pois este deve ser transportado

para “o ambiente onde quer que possa haver uma aprendizagem significativa” Assim, o

autor sugere que a aula como ambiente de aprendizagem seja modificada e alterada para

que venha a se tornar efetivamente ambiente inovador, um espaço para o surgimento de

novas mediações pedagógicas, de possibilidades de encontros, descobertas, rupturas,

revisão de valores e aquisição de competências para o exercício de uma profissão de

modo competente e cidadão, tanto para aluno como para o professor.

Considerando as tecnologias como mediadoras de novos espaços e incluindo os

recursos para criar ambientes virtuais de apoio aos ambientes presenciais ou totalmente

a distância, Masetto (2003) se refere a atitudes a serem desenvolvidas pelo professor,

como dominar ele mesmo os recursos de informática e telemática; aprender como se

comunicar sem ter os alunos presentes fisicamente; saber orientar trabalhos e atividades

a distância; realizar mediação pedagógica a distância.

Kenski (2006) observa que o professor necessita de tempo e oportunidades de

conhecimento e de reflexão sobre as novas tecnologias. As palavras da autora ilustram a

compreensão que o professor requer ao lidar com as tecnologias no processo de

formação e de atuação docente, em que o professor passa por diferentes fases de

adaptação à mudança.

De acordo com a autora, Não é possível pensar na prática docente sem pensar na pessoa do professor e em sua formação, que não se dá apenas durante seu percurso nos cursos de formação de professores, mas durante todo o seu caminho profissional, dentro e fora da sala de aula. Antes de tudo, a esse professor devem ser dadas oportunidades de conhecimento e de reflexão sobre sua identidade pessoal como profissional docente, seus estilos e seus anseios. Em uma outra vertente, é preciso que esse profissional tenha tempo e oportunidades de familiarização com as novas tecnologias educativas, suas possibilidades e seus limites, para que, na prática, faça escolhas conscientes sobre o uso das formas mais adequadas ao ensino de um determinado tipo de conhecimento [...] (KENSKI, 2006, p. 48).

2.5 A formação para novas competências

Masetto (2003, p. 83) nos alerta que, no contexto da incorporação das novas

tecnologias, não é possível improvisar no trabalho docente, pois ele exige planejamento,

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maior detalhamento e precisão. Daí, a necessidade de se ter domínio do conhecimento

tecnológico “para ser usado como recurso, meio, instrumento para as aprendizagens

usuais e para as novas aprendizagens” pois, com todas essas possibilidades, “o que não

poderá acontecer, sob pena de perdermos essa riqueza, é colocarmos nas ferramentas da

informática e da telemática apenas as aulas tradicionais”.

Nas discussões sobre a formação do professor e as perspectivas do trabalho

docente, é nítida a preocupação sobre a necessidade da incorporação das tecnologias em

suas atividades, porém, não apenas como instrumental técnico, mas como possibilidade

de ampliação das mensagens do professor. Assim, a tendência atual da formação do

professor aponta para além do conhecimento específico da área de sua atuação. Ao lado

do saber científico, é considerado imprescindível o conhecimento pedagógico com

ênfase na formação tecnológica ou nos conhecimentos relacionados à tecnologia, vista

não apenas como uma ferramenta técnica, mas assumida em suas possibilidades de

comunicação educativa e formativa.

A esse respeito, Belloni (2003, p. 88) apresenta três grandes dimensões de

formação para o professor:

- A dimensão pedagógica: esta dimensão “se refere às atividades de

orientação, aconselhamento e tutoria e inclui o domínio de conhecimentos

relativos ao campo específico da pedagogia, isto é, aos processos de

aprendizagem e de conhecimentos oriundos da psicologia, ciências

cognitivas, ciências humanas [...]” ;

- A dimensão tecnológica: “abrange as relações entre tecnologia e educação

em todos os aspectos: a utilização dos meios técnicos disponíveis, que inclui

a avaliação, a seleção de materiais pedagógicos utilizando estes meios, isto

é, o conhecimento das suposições metodológicas que a utilização destes

meios implica e a capacidade de tomar decisões sobre o uso e a produção de

materiais”; e

- A dimensão didática: esta dimensão “diz respeito à formação específica do

professor em determinado campo científico e à necessidade constante de

atualização quanto à evolução da disciplina, atualização esta que deve estar

relacionada com a dimensão tecnológica, pois deve referir-se também ao uso

de materiais didáticos em suportes técnicos” (MARTINS RODRIGUEZ,

1994 apud BELLONI, 2003, p. 88).

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Tais dimensões contemplam as necessidades de atualização dos professores,

tanto para o ensino a distância como para o ensino presencial.

Kenski (2006, p. 49) reforça esta tendência de formação para as tecnologias, ao

falar a respeito da desintermediação entre o professor e as novas tecnologias, sugerindo

que o professor participe de equipes produtoras de tecnologias educacionais. A autora

diz que é preciso que os cursos de formação se preocupem em desenvolver essas “novas

competências” para esse fim, ou seja, que “ao lado do saber científico e do saber

pedagógico, sejam oferecidas ao professor as condições para ser agente, produtor,

operador e crítico dessas novas educações mediadas pelas tecnologias eletrônicas de

comunicação e informação”.

Neste sentido, a proposta de formação acrescenta elementos novos ao

desenvolvimento profissional e, consequentemente, contribui para a fortalecimento da

identidade profissional do professor. Com uma formação mais ampla, os professores

adquirem maior segurança para, como argumenta Kenski (2006, p. 50), sobreporem-se,

com conhecimento de causa, às imposições de programas e projetos tecnológicos e,

desse modo, terem uma visão ampla sobre o potencial educativo das novas tecnologias,

podendo, criticamente, “aceitá-las ou rejeitá-las em suas práticas docentes, tirando o

melhor proveito dessas ferramentas para auxiliar o ensino no momento adequado”.

Enfim, situações em que professores se colocam diante do desafio de

desenvolverem cursos a distância são muito complexas, ainda mais quando as

especificidades pedagógicas, metodológicas, tecnológicas e de gestão do ensino a

distância exigem deles mais do que trazem da experiência no ensino presencial.

No próximo capítulo serão discutidos os aportes metodológicos utilizados nesta

pesquisa. A partir da abordagem qualitativa serão apresentados os aportes que

delinearam o processo de coleta, análise e interpretação dos dados obtidos.

 

 

 

 

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CAPÍTULO 3 - APORTES METODOLÓGICOS

Este capítulo trata dos aportes metodológicos que norteiam esta pesquisa. Nele

são expostos os motivos que levaram à opção pela abordagem qualitativa como eixo

norteador de construção da investigação proposta neste trabalho. É explicitada, ainda,

como foi estruturada, a partir da técnica de análise de conteúdo, a forma de coleta, do

tratamento e de análise dos dados.

A base de investigação e tratamento dos dados tem como principais teóricos

Lüdke e André (1986), na fundamentação relativa à abordagem qualitativa, e Laurence

Bardin (2009), no que diz respeito à análise de conteúdo.

Um referencial metodológico deve ter como suporte, ainda, produções

acadêmicas da área, que contribuam na a construção do caminho pretendido. Assim,

procurou-se construir um referencial partindo de temas relacionados ao problema de

pesquisa, com o intuito de verificar como os pesquisadores compreendem ou empregam

estas metodologias em seus trabalhos.

3.1 A abordagem qualitativa

De acordo com Lüdke e André (1986, p. 13), a abordagem qualitativa “envolve

a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a

situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a

perspectiva dos participantes”.

É necessário, portanto, compreender que a pesquisa é constituída de uma

produção humana e, por isso mesmo, carrega em si características próprias de quem a

constrói, ou seja, os valores e princípios que norteiam o pesquisador fazem parte dessa

construção, bem como seu contexto histórico e social.

Para essas autoras, os pressupostos que orientam o pensamento do pesquisador

irão nortear a sua abordagem de pesquisa. Nesse sentido, a abordagem qualitativa

mostrou-se adequada para a realização deste trabalho, visto que o elemento propulsor da

investigação é a preocupação em identificar os elementos presentes nas relações

estabelecidas entre professores e o processo de transição do ensino presencial para o

ensino a distância.

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Para Lüdke e André (1986, p. 4), os atuais desafios da pesquisa educacional

exigem respostas que permitam compreender a trama concernente à situação, pois “os

fatos, os dados, não se revelam gratuita e diretamente aos olhos do pesquisador”.

Ao contrário do que se considerava na tradição investigativa, estes elementos

não se apresentam tais quais são, em sua realidade evidente, alcançando-se perfeita

objetividade, desde que a postura adotada pelo pesquisador o mantivesse o mais

separado possível do objeto de estudo para que suas crenças, valores e ideias não

influenciassem o seu ato de conhecer.

A evolução das ideias sobre as características da pesquisa em ciências sociais e

humanas − o que atingiu, naturalmente, a pesquisa em educação − levou as autoras à

constatação de que “à medida que avançam os estudos da educação, mais evidente se

torna seu caráter de fluidez dinâmica, de mudança natural a todo ser vivo” (LÜDKE;

ANDRÉ, 1986, p. 5).

Desse modo, as autoras compreendem que o fenômeno educacional está situado

dentro de um contexto social, que, por sua vez, está inserido em uma realidade histórica

que sofre uma série de determinações e que o desafio que se coloca à pesquisa nesse

campo é o de tentar captar essa realidade dinâmica e complexa do objeto de

investigação em sua “realização histórica” (p. 5).

Este trabalho possui características de um estudo que se insere em uma realidade

específica, já que seu foco são professores responsáveis pelo ensino dos conteúdos de

Cálculo em um curso a distância. Identificar os elementos para buscar respostas a

questionamentos é fundamental para compreender o fenômeno que ocorre no contexto

que envolve esses sujeitos, isto é, em sua realidade histórica e social.

Lüdke e André (1986) entendem que o pesquisador é influenciado e influencia

os fatos que investiga, colocando-se “no meio da cena investigada, participando dela e

tomando partido na trama da peça” (p.7). De acordo com esse entendimento, esse

envolvimento com o problema de pesquisa humaniza as ações do pesquisador, levando-

o a perceber todos os participantes como realmente são: integrantes fundamentais para o

construto do conhecimento, da compreensão do significado do objeto da investigação e

seus desdobramentos.

Bogdan e Biklen (1994) definem as características de uma investigação

qualitativa afirmando que nem todos os estudos que consideraríamos qualitativos patenteiam estas características com igual eloquência. Alguns deles são, inclusivamente, totalmente desprovidos de uma ou mais das características. A questão não é

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tanto a de se determinada investigação é ou não totalmente qualitativa; trata-se sim de uma questão de grau [...] os estudos que recorrem à observação participante e à entrevista em profundidade tendem a ser bons exemplos. (1994, p. 47)

Tais características podem ser assim sintetizadas:

- “Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural,

constituindo o investigador o instrumento principal” (p. 47). Os autores

supõem o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a

situação que está sendo investigada, assim, as circunstâncias particulares em

que um determinado objeto se insere são essenciais para que se possa

entendê-lo, bem como as pessoas, as palavras estudadas devem ser sempre

referenciadas no contexto em que aparecem.

- “A investigação qualitativa é descritiva” (p. 48). Os dados obtidos nessas

pesquisas são ricos em descrições de pessoas, situações, e todos são

considerados importantes. Os resultados escritos da investigação estão

contidos em citações feitas com base nos dados para ilustrar e substanciar as

inferências a partir de transcrições de entrevistas, notas de campo,

documentos, etc.

- “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos” (p. 49). O estudo volta-se para

clarificar como se desenvolvem as relações, o que interfere ao longo do

caminho e que pode influenciar, consequentemente, no resultado, mas não

está preocupado com o resultado em si.

- “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma

indutiva” (p. 50). O processo de análise dos dados funciona como “um funil:

as coisas estão abertas de início e vão-se tornando mais fechadas e

específicas”. Nesta abordagem, o pesquisador não parte do pressuposto de

que conhece o suficiente antes de realizar a investigação, ele se utiliza da

investigação para perceber quais são as questões mais importantes que

emergem da sua investigação.

- “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa” (p. 50).

Nesse tipo de estudo, há sempre uma preocupação em “capturar” a

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perspectiva dos participantes, permitindo iluminar o dinamismo interno das

situações, geralmente inacessíveis ao observador externo.

3.1.1 Instrumentos de coleta

a) Entrevista semiestruturada

Sobre os métodos de coleta de dados na pesquisa qualitativa, Lüdke e André

(1986, p. 34) discorrem a respeito da entrevista e análise documental; esclarecendo que

“a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação

imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de

informante e sobre os mais variados tópicos”.

De acordo com Mendonça, Rocha e Nunes (2008), a entrevista é caracterizada

“por uma conversação com a finalidade de produzir um relato verbal de ideias, opiniões

e experiências elaborado pelo próprio entrevistado” (p. 50). Para esses autores, a

ausência de determinados dados qualitativos só pode ser superada por meio de

entrevistas com as pessoas que detêm “informações preciosas” a respeito do assunto que

se pretende conhecer.

Embora Lüdke e André ressaltem que o tipo de entrevista que mais está

associada à pesquisa qualitativa seja aquela que dê liberdade de percurso ao diálogo

entre entrevistado e entrevistador, reconhecem a existência de pesquisas que necessitam

de algum tipo de “resultados uniformes entre os entrevistados, permitindo assim uma

comparação imediata” (1986, p. 34). Neste caso, a entrevista se desenrola a partir de um

esquema básico e é feita com base em um roteiro, mas com flexibilidade.

Assim, foi escolhida a entrevista semiestruturada como instrumento para a coleta

de dados, pelo fato de se adequar ao tipo de diálogo pretendido, dado o seu caráter de

interação: “a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência

recíproca entre quem pergunta e quem responde” (MENDONÇA, ROCHA e NUNES,

2008, p. 33).

A entrevista realizada com o auxílio de um roteiro (Apêndice A) previamente

estabelecido permite ao entrevistador maior controle sobre os aspectos a serem

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abordados, deixando-o, ao mesmo tempo, mais à vontade para realizar anotações

adicionais consideradas pertinentes ao trabalho.

Além disso, Triviños (1987, p. 146) entende que a entrevista fornece um

caminho para que o entrevistado participe da pesquisa, por meio de um caminho que

considere os objetivos da investigação paralelamente à liberdade de estruturação de seu

pensamento. Assim, a entrevista

[...] parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa.

Lüdke e André (1986) advertem para uma série de exigências e cuidados que são

requeridos para a realização de uma entrevista: o respeito pelo entrevistado, que envolve

acordo sobre local, data e horário determinados pelo próprio entrevistado; a

pontualidade, que o entrevistador deve prezar; e o respeito pela cultura e valores do

entrevistado.

Outro ponto importante se refere ao fato de o entrevistado estar bem informado

sobre os objetivos da entrevista, sobre o destino das informações fornecidas e sobre o

sigilo em relação aos informantes, o que possibilita ao entrevistador obter sua anuência

e colaboração.

b) Documentos

A respeito da análise documental em pesquisas da área da educação, Lüdke e

André (1986, p. 38) falam que este tipo de atividade “pode se constituir numa técnica

valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações

obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”.

Nesta pesquisa, um dos documentos consultados foi o Projeto Pedagógico e

Curricular do Curso de Licenciatura em Matemática na Modalidade a Distância. A

partir dele, foram obtidas informações que auxiliaram na compreensão do contexto no

qual a equipe de professores realizou seu trabalho, a forma como foi concebida a

proposta do curso, como foi pensada a formação e planejado o apoio aos professores,

levando-se em consideração as especificidades da educação a distância.

Para Lüdke e André (1986, p. 39)

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Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural” de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto.

A abordagem qualitativa e o uso de instrumentos como a entrevista

semiestruturada e a consulta a fontes documentais representam uma opção

metodológica que atendem à natureza e aos objetivos desta investigação.

3.2 A análise de conteúdo

Foram encontrados na literatura especializada vários autores que se utilizam da

análise de conteúdo no desenvolvimento de suas pesquisas. A seguir, são apresentados

alguns trabalhos na área de educação, em geral, e de educação matemática, em especial,

por guardarem semelhanças com os procedimentos adotados nesta pesquisa.

Fiorentini e Lorenzato (2009, p. 138) falam que, em educação matemática,

existem “múltiplas maneiras de se desenvolver uma análise de conteúdo” e, entre alguns

exemplos de utilização na área, fazem referência a:

- análise de livros didáticos: podem-se analisar os conteúdos e a forma como

são abordados, os erros conceituais, a ideologia subjacente ao texto e às

ilustrações, etc.;

- análise de depoimento dos professores: podem-se investigar seus

conhecimentos profissionais, suas crenças, concepções, representações

sociais, ideologias, etc.;

- análise de prática de sala de aula de matemática: podem-se investigar

atitudes, valores subjacentes, contrato didático, currículo oculto, etc.

Ao discutir a relação entre a análise de conteúdo e sua utilização na área da

educação, Oliveira et al. (2003, p. 5) mencionam que os pesquisadores, principalmente

na área social, fazem uso de abordagens de pesquisa com base em dados “que não

possuem atributos de quantidade diretamente associados”, provenientes de coletas de

entrevistas ou questionários com questões abertas. Esses autores defendem que a análise

de conteúdo pode contribuir para a área da educação, ao afirmarem que

Na área de educação a análise de conteúdo pode ser sem dúvida um instrumento de grande utilidade em estudos, em que os dados coletados sejam

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resultados de entrevistas (diretivas ou não), questionários abertos, discursos ou documentos oficiais, textos literários, artigos de jornais, emissões de rádio e de televisão. Ela ajuda o educador a retirar do texto escrito seu conteúdo manifesto ou latente (OLIVEIRA et al., 2003, p. 6).

A pesquisa de Fileno (2007) tem como objetivo apontar as características que

um professor deve apresentar para trabalhar na produção de material para um ambiente

virtual de aprendizagem. Para realizar esta investigação, o autor considera a figura do

professor e sua interação com as tecnologias. Sua pesquisa de campo levantou

informações em um grupo de cinco professoras por meio de questionários e entrevistas,

além de analisar o portal virtual de educação da escola-campo da pesquisa.

As etapas da pesquisa de Fileno (2007, p. 85) incluem, primeiramente, um

processo avaliativo do ambiente virtual de aprendizagem da escola-campo bem como

dos diálogos com seus responsáveis. Na segunda etapa, um questionário é enviado às

professoras responsáveis pela autoria dos materiais didáticos do ambiente e, na terceira

etapa, uma entrevista é realizada com algumas professoras escolhidas com base em

critérios estabelecidos, com o objetivo de “aprofundar algumas questões apontadas no

questionário, tais como: o nível de conhecimento do Portal e da Internet, de modo geral;

o conhecimento sobre hipertexto e sobre novas tecnologias, tanto no ambiente da escola

quanto em sua vida particular”.

A utilização da análise de conteúdo realizada pelo autor categorizou as respostas

a partir da exploração do material e buscou a compreensão dos significados de temas

sugeridos pelas professoras, promovendo um diálogo para aprofundar questões

apontadas na etapa anterior, com vistas a analisar as práticas adotadas pelos professores-

autores na produção de material, bem como em suas concepções e usos das tecnologias.

Triviños (1987, p. 160) aponta três peculiaridades que considera essenciais para

a utilização da análise de conteúdo, “uma delas é a de ser um meio para estudar as

comunicações entre os homens, colocando ênfase no conteúdo das mensagens. Essa

visão privilegia a linguagem escrita e oral, mas não exclui os outros meios de

comunicação”. O autor ainda salienta que usar o método é vantajoso pois as mensagens

escritas são “mais estáveis e constituem um material objetivo ao qual podemos voltar

todas as vezes que desejarmos”.

As outras duas peculiaridades são: a inferência, que pode partir das informações

que fornecem o conteúdo da mensagem ou de premissas que se levantam como

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resultado do estudo dos dados; e um conjunto de técnicas, “que é a descrição dos

procedimentos para se fazer uma análise de conteúdo com clareza, tais como a

classificação dos conceitos, a codificação dos mesmos e a categorização”.

Em seu trabalho, Pryjma (2009) discute a formação continuada do professor do

ensino superior como uma ação contínua de sua própria atividade, sendo seu principal

objetivo analisar as contribuições que a pesquisa proporciona ao desenvolvimento

profissional dos professores do ensino superior. Considera que a pesquisa, como parte

das atividades profissionais, possibilita ao professor compreender sua própria prática.

A abordagem metodológica adotada por essa autora, para levantar os aspectos

referentes ao desenvolvimento profissional, inclui a análise de documentos encontrados

na legislação para o ensino superior brasileiro. A entrevista semiestruturada foi

escolhida para a coleta de dados junto a professores do ensino superior, considerando as

dimensões definidas a priori, as quais serviram de base para o entendimento dos

seguintes eixos: desenvolvimento pessoal, desenvolvimento profissional e contexto

organizacional.

Assim, a análise considerou a articulação entre as categorias, as dimensões e as falas dos sujeitos buscando indicar as suas relações e contradições. A organização das categorias e dimensões possibilitou a organização dos dados coletados para análise em busca de sua compreensão, na tentativa de evitar a sua fragmentação ou rompimento das ideias expressas nas falas dos professores e no conjunto de suas relações (PRYJMA, 2009, p. 105).

Segundo a autora, os procedimentos da análise consistiram de uma leitura geral,

“permitindo desenhar as categorias (palavras-chave) que uma leitura posterior pode

confirmar” (p. 105). Assim, segundo a sua descrição, foram feitas releituras que

permitiram a criação de subcategorias a partir de agrupamento de elementos que

constituíram unidades deste trabalho. Os temas que foram trabalhados emergiram da

análise a partir do critério de pertinência e do estabelecimento das categorias,

considerando o referencial teórico adotado.

A base da pesquisa de Pryjma (2009) é o trabalho com a entrevista e a autora

afirma que

O alcance do rigor científico esteve vinculado à compreensão da técnica de análise de conteúdo, ao tempo destinado à análise das entrevistas e à organização sistemática da seleção e definição das unidades de análise. A reflexão e a interpretação dos resultados resultaram na análise sob diversos ângulos das respostas obtidas para alcançar a confiabilidade solicitada numa pesquisa com abordagem qualitativa (p. 106).

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As aproximações da análise de conteúdo com a área de pesquisa em educação e

educação matemática indicam sua adequação para investigar as falas dos professores

nessa experiência de transição do ensino presencial para o ensino a distância. A seguir,

são apresentados detalhes a respeito da técnica de análise do conteúdo ao mesmo tempo

em que se indica a forma como a mesma é apropriada e aplicada nesta investigação.

3.2.1 A análise temática como opção metodológica

Um trabalho de pesquisa implica a preocupação com as fontes teóricas, com a

coleta e análise das informações e com a coerência entre instrumentos e teoria. A

objetividade dos métodos e, ao mesmo tempo, a subjetividade do pesquisador; a

criatividade, por um lado, e a profundidade da relação que se estabelece entre teoria e

descobertas, por outro, devem expressar confiabilidade e solidez nas afirmações

proporcionadas pela imersão na pesquisa.

É nesse sentido que a análise de conteúdo de Bardin (2009) é tomada como o

referencial para organizar e executar a tarefa de tratamento dos dados.

O histórico de desenvolvimento da análise de conteúdo, descrito por Bardin

(2009, p. 17), revela que esta se desenvolveu nos Estados Unidos, a partir do princípio

do século XX, e começou a ser sistematizada como método devido aos estudos de H.

Lasswell36 sobre a propaganda empregada na primeira guerra mundial, adquirindo,

dessa forma, o caráter de método de investigação.

Nesse percurso histórico, Bardin (2009, p. 20) afirma que a definição de análise

de conteúdo surge no final dos anos 40, com Berelson37, ao dizer que “a análise de

conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva,

sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. Após isso, foram

feitas outras tentativas de aprimoramento, aprofundando-se o significado, regras e

princípios do método, passando a análise de conteúdo a ser definida como um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens” (BARDIN, 2009, p. 44).

                                                                                                                         36 Bardin cita H. Lasswell como o “primeiro nome que de fato ilustra a história da análise de conteúdo” e

relata que este autor fez análises de imprensa e de propaganda desde 1915. 37 Berelson é citado por Bardin por ter, juntamente com Lazarsfeld, elaborado, no final dos anos 40-50,

regras de análise, ampliadas posteriormente por outros pesquisadores.

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A análise de conteúdo apresenta várias técnicas, tais como a análise categorial

ou temática, análise de avaliação, análise da enunciação, análise proposicional do

discurso, análise da expressão e análise das relações.

De acordo com Bardin (2009), a análise por categorias, análise categorial ou

temática é a mais antiga e a mais utilizada, constituindo-se, inclusive, na base da

descrição das fases da análise de conteúdo apresentada em seu livro. Nas leituras

complementares realizadas nos estudos exploratórios, foi observado que a maioria dos

trabalhos que empregam a análise de conteúdo como metodologia também se utilizam

dessa técnica.

Para esta autora, “entre as diferentes possibilidades de categorização, a

investigação dos temas, ou análise temática, é rápida e eficaz na condição de se aplicar

a discursos directos (significações manifestas) e simples” (sic; grifo da autora;

BARDIN, 2009, p. 199).

Fazer uma análise temática “consiste em descobrir os <<núcleos de sentido>>

que compõem a comunicação e cuja presença ou frequência de aparição podem

significar alguma coisa para o objectivo analítico escolhido” (sic; grifo da autora, p.

131).

Para Bardin (2009, p. 131), “o tema é a unidade de significação que se liberta

naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve

de guia à leitura”.

Como unidade de análise, o tema determina a regra pela qual será trabalhado o

texto, a regra de recorte à qual o material será submetido, oportunizando o estudo de

motivações, opiniões, atitudes, valores, crenças e tendências, oriundos de questões

abertas, entrevistas e outros instrumentos, que são frequentemente analisados com base

nesse tipo de unidade de significação.

Ao fazer a opção pela análise temática, o conteúdo trabalhado é produto dos

diálogos travados com os professores e com o seu contexto, rico em elementos que

ensejam a oportunidade de, a partir da interpretação das mensagens obtidas, atingir os

objetivos traçados.

Neste caso, os objetivos de investigação conduziram a determinar como corpus

para a análise, as entrevistas feitas com os professores que formam a equipe de ensino

de conteúdos de Cálculo do Curso de Licenciatura em Matemática, levando-se, ainda,

em conta o Projeto Pedagógico e Curricular do Curso de Licenciatura em Matemática

na Modalidade a Distância e as observações realizadas em campo.

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De acordo com a definição de Berelson, tema é “uma afirmação acerca de um

assunto. Quer dizer, uma frase, ou uma frase composta, habitualmente um resumo ou

uma frase condensada, por influência da qual pode ser afetado um vasto conjunto de

formulações singulares” (BERELSON, apud BARDIN, 2009, p. 131).

Assim, os temas escolhidos foram surgindo a partir do aprofundamento na

leitura das mensagens contidas nas entrevistas juntamente com os objetivos de pesquisa

e o aporte teórico de Rogers (2003).

O tema representa um conjunto de elementos, assim como falas dos professores

que demonstrem relação com os componentes a serem identificados, ou ainda, ideias

que aparecem com certa frequência, convergindo para um item a ser considerado pelo

estudo ou que já havia sido previsto para ser estudado.

Pelas características desse processo de análise, a determinação dos temas já

conduz, paralelamente, à construção das categorias, concluindo as atividades da fase de

pré-análise do material.

3.2.2 Organização da análise de conteúdo

A organização da análise de conteúdo é dividida em três fases: a pré-análise, a

exploração do material e o tratamento dos resultados e interpretações (BARDIN,

2009). A autora apresenta o desenvolvimento dessas fases de acordo com a Figura 4,

relacionando os elementos presentes em cada fase como parte de um processo flexível

que não possui uma rigidez ou uma sequência fechada de execução.

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Figura 4- Desenvolvimento de uma análise de conteúdo

Adaptada de BARDIN (2009, p. 128)

A pré-análise é a fase de organização propriamente dita, na qual é estabelecido

um esquema de trabalho com procedimentos bem definidos, embora flexíveis. Para

Bardin (2009, p. 121), esta fase “tem por objectivo a organização, embora ela própria

seja composta por atividades não estruturadas, <<abertas>>, por oposição à exploração

sistemática dos documentos” (sic; grifo da autora).

A primeira atividade é chamada por Bardin de “leitura <<flutuante>>”(grifo da

autora), cujo objetivo é estabelecer contato com os materiais a serem analisados e

conhecer o texto por suas impressões e orientações. Assim, “pouco a pouco, a leitura

vai-se tornando mais precisa, em função de hipóteses emergentes, da projeção de teorias

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adaptadas sobre o material e da possibilidade de aplicação de técnicas utilizadas sobre

materiais análogos” (p. 122).

Na fase de pré-análise, faz-se a escolha dos documentos que serão utilizados na

análise, ou seja, é constituído o corpus que será submetido aos procedimentos

analíticos, o que também pode ser determinado a priori, de acordo com a relação entre

os objetivos e hipóteses referidos na pesquisa.

Para Bardin (2009, p. 124), “as hipóteses nem sempre são estabelecidas quando

da pré-análise. Por outro lado, não é obrigatório ter-se como guia um corpus de

hipóteses, para se proceder à análise”. Daí a importância de o processo de organização e

desenvolvimento da análise ser flexível e incluir a relação que se estabelece entre o que

o pesquisador possa ter definido a priori e o que pode emergir, à medida que se

aprofunda na leitura do material.

Ainda nesta fase de pré-análise são especificadas as regras de recorte do texto,

ou seja, a escolha das unidades de registro, as quais, para Bardin, são “unidades de

significação a codificar e correspondem ao segmento de conteúdo a considerar como

unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial” (sic, p. 130).

Para Bardin (2009, p. 129), a codificação é o processo de transformação dos

dados brutos do texto, realizada a partir das regras de recorte − o desmembramento do

texto − e posterior agrupamento de acordo com as categorias. Este processo “permite

atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão; susceptível (sic) de

esclarecer o analista acerca das características do texto [...]”.

A exploração do material é a segunda fase do desenvolvimento da análise. De

acordo com a autora, se as operações da fase de pré-análise forem convenientemente

concluídas, esta fase se restringirá meramente à administração sistemática das decisões

tomadas, embora seja “longa e fastidiosa”, pois “consiste essencialmente em operações

de codificação, decomposição ou enumeração, em função das regras previamente

formuladas” (p. 127).

A fase de exploração do material é realizada a partir da elaboração de planilhas.

Estas são elaboradas de acordo com as necessidades do estudo e servem para guiar o

pesquisador na estruturação do material, permitindo uma leitura codificada dos dados,

evidenciando relações e fornecendo informações para as interpretações e

aprofundamentos da análise.

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A terceira e última fase do desenvolvimento da análise é o tratamento dos

resultados e interpretações. É o momento em que os resultados “são tratados de

maneira a serem significativos (<<falantes>>) e válidos.” (p. 127, grifo da autora), para

que inferências e interpretações sejam propostas de acordo com os objetivos da pesquisa

e as descobertas possam surgir em meio às atividades de análise.

3.2.3 O uso do software para o trabalho de codificação dos dados

A exploração do material de análise foi feita por meio de um software de análise

de dados qualitativos. Esta opção teve como objetivo a agilidade na fase inicial de

tratamento dos dados. A partir das transcrições das entrevistas e da relação entre estas e

os demais materiais que compõem os dados de investigação, normalmente o

pesquisador entra numa fase de leitura flutuante, buscando estabelecer contato com os

dados obtidos e o que destes dados pode ser transformado em informações potenciais

para a sua pesquisa.

Bardin (2009, p. 171-196) levanta vários aspectos relativos ao uso da

informática para a análise de conteúdo, uma vez que o computador não irá fazer o

trabalho do investigador relativo a analisar, emitir inferências sobre os dados e

relacioná-los.

No entanto, a autora admite que o uso desta ferramenta pode facilitar o trabalho

do investigador quando este tem que lidar com um grande número de variáveis a serem

tratadas simultaneamente, quando se deseja verificar as ocorrências de certas unidades

de registro ou mesmo quando a investigação implica em várias análises sucessivas, já

que o computador permite armazenar e organizar os dados para tais consultas e, ainda,

quando a investigação necessita de operações estatísticas.

De acordo com Bach e Walter (2009), um software “consiste em uma ferramenta

para a análise de dados qualitativos que pode facilitar o gerenciamento e a interpretação

dos mesmos”(p. 2).

Normalmente, esta fase de exploração do material, de acordo com a proposta de

análise de Bardin, requer muitas anotações, recortes em textos, observações referentes

aos insights do pesquisador com relação ao que lê e observa com o avanço da leitura e

as ligações entre o que está lendo e os parâmetros da pesquisa. É literalmente uma fase

de papel, marcador de texto, tesoura e cola. Fase demorada e que, muitas vezes, leva o

pesquisador a perder raciocínios importantes em meio ao tumulto de frases, categorias

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iniciais e relações. É uma fase em que o pesquisador aproxima ideias, identifica

categorias, junta ou separa estes elementos, o que pode ser facilitado com o uso de um

software para armazenar, organizar e possibilitar uma consulta rápida a estas

informações.

De acordo com Lage (2011), os softwares de apoio à análise de dados

qualitativos, chamados em linguagem técnica de Programa para Análise de Dados

Qualitativos com o Auxílio de Computador (em inglês: Computer Assisted Qualitative

Data Analysis Software (CAQDAS) surgiram na década de 1980, popularizando-se nos

Estados Unidos e Europa. Segundo a autora,

Os primeiros programas foram construídos para atender projetos específicos, sem finalidades comerciais. As interações com o pesquisador aconteciam a partir de terminais de computadores de grande porte, em ambiente restrito e com interface pouco ou nada amigável. […] Atualmente o mercado disponibiliza mais de uma dezena deste tipo de ferramenta informacional ( p. 43).

Em seu levantamento, Lage (2011) relata a inclusão do ensino de software como

ferramenta para a pesquisa com métodos qualitativos em muitas universidades. Para

esta autora, as características que contribuíram para a disseminação deste tipo de

instrumento no meio acadêmico de pesquisa são: a viabilização de pesquisas com

grande quantidade de dados; as funcionalidades destas ferramentas com relação à

agilidade do tempo de codificação e análise; a possibilidade de registrar as etapas de

análise; e as possibilidades de apresentação e visualização dos resultados.

Para Lage, no Brasil, ainda é pequeno o número de pesquisas qualitativas que

utilizam software como apoio. No entanto, constata a autora que este cenário começa a mudar, especialmente pela popularização do uso de recursos computacionais e internet no ambiente acadêmico. Uma visita à biblioteca digital brasileira de teses e dissertações (BDTD) em novembro de 2010, evidenciou que menos de três por cento das pesquisas qualitativas em educação ali registradas utilizaram algum tipo de CAQDAS, sendo que a maioria aconteceu a partir do ano de 2006, evidenciando que a o uso deste tipo de software ainda é um fato recente em comparação com países da Europa (2011, p. 43).

De acordo com o levantamento de Lage (2011), os softwares de apoio à análise

de dados qualitativos mais difundidos no Brasil são o NVivo e o Atlas.ti.

Os principais benefícios citados pela autora para a utilização destes softwares de

apoio à análise qualitativa estão relacionados

[...] à redução de tempo e facilitação do processo de codificação; à possibilidade de maior aprofundamento da análise, devido às opções de consulta aos dados, cruzamento de informações e testes de hipóteses, além

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dos recursos para registro das etapas e resultados intermediários que permitem mostrar não apenas o resultado, mas também como o pesquisador chegou até ele (p. 48).

No entanto, o trabalho com o computador possui também questões que precisam

ser consideradas, como a postura de alguns pesquisadores, que confundem o software

com o método, “apostando” na utilização da ferramenta para uma “análise rigorosa e

com qualidade”, conforme pontua Lage (2011, p. 49). Outro fator que dificulta a

utilização do software se refere ao treinamento para o uso da ferramenta, o que demanda

tempo para que o investigador possa obter uma operacionalização satisfatória.

3.2.4 O software Atlas.ti

O software Atlas.ti foi desenvolvido, inicialmente, entre 1989 e 1992, como um

projeto multidisciplinar, na Universidade Técnica de Berlin, Alemanha. De acordo com

Bach e Walter, “a sigla ‘Atlas’ significa, em alemão, Archivfuer Technik, Lebenswelt

und Alltagssprache e pode ser traduzida como ‘arquivo para tecnologia, o mundo e a

linguagem cotidiana’. Já a sigla ‘.ti’ advém de text interpretation, ou seja, interpretação

de texto” (2009, p. 5).

O Atlas.ti apresenta quatro princípios norteadores da análise, de acordo com Bach e Walter (2009, p. 7):

- visualização: gerenciamento da complexidade do processo de análise,

mantendo o contato do usuário com os dados; - integração: a base de dados e todos os elementos construídos na análise

são integrados em um único projeto, a unidade hermenêutica; - casualidade: promove a descoberta e os insights casualmente, isto é, sem

a busca deliberada por aquilo que foi encontrado; - exploração: a interação entre os diferentes elementos constitutivos do

programa promove descoberta e insights. -

A Figura 5 ilustra a tela principal do software Atlas.ti, apresentando os seus

principais componentes.

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Figura 5 : Tela principal do Atlas.ti, versão 6.2

A tela principal do Atlas.ti é o editor de Unidades Hermenêuticas e nela estão

dispostos quase todos os componentes e ferramentas do software.

Para uma breve descrição dos componentes encontrados na tela principal foi

montado o Quadro 1, adaptado de Barbosa (2006), com os componentes e respectiva

descrição.

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COMPONENTES DESCRIÇÃO 1. Título da Unidade

Hermenêutica É designado pelo usuário ao salvar o trabalho que está desenvolvendo. Pode coincidir ou não com o nome de arquivo.

2. Barra de Menus É o principal acesso às diversas opções e ferramentas e, também, é chamada de menu principal.

3. Barra de Ferramentas

Vertical e Horizontal

Os botões da barra de ferramentas horizontal desempenham, em geral, funções relacionadas à Unidade Hermenêutica como um todo (salvar, abrir, buscar texto, etc); os botões da barra de ferramentas vertical estão associados a tarefas a serem cumpridas nos documentos primários (editar um texto, alterar opções de visualização, etc).

4. Campo de Documentos

Primários Espaço de visualização dos documentos com os quais se está trabalhando (textos, imagens, gravações, etc).

5. Numeração de Parágrafos Quando os documentos primários são textuais é possível fazer a opção para exibir o número dos parágrafos e estes são exibidos neste espaço.

6. Área Marginal Exibe informações e características relacionadas ao documento em exibição no Campo de Documentos Primários. Os colchetes coloridos em preto, vermelho e azul indicam classificações que o pesquisador faz sobre o documento.

7. Barra de Status Exibe informações acerca da localização do arquivo aberto (Unidade Hermenêutica) no computador e também oferece, às vezes, algumas descrições e ajudas.

8. Caixas Combinadas Servem para visualizar os elementos pertencentes a cada um dos componentes principais, Documentos Primários, Citações, Códigos e Anotações.

Quadro 1 - Componentes da tela principal do Atlas.ti e sua descrição

Os elementos de análise que são trabalhados pelo investigador, tais como o

texto, os trechos de recorte ou possíveis unidades de registro, os códigos são

encontrados no software como ferramentas ou, como denominados por Bach e Walter

(2009), elementos constitutivos que compõem o elo de relação do pesquisador com os

conceitos com que está familiarizado dentro do processo de análise, independentemente

da utilização da informática.

Para ilustrar tais elementos, as autoras elaboraram uma descrição dos elementos

contidos no software conforme mostrado no Quadro 2.

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ELEMENTOS DESCRIÇÃO Unidade Hermenêutica

(Hermeneutic unit) Reúne todos os dados e os demais elementos.

Documentos primários (Primary documents)

São os dados primários coletados. Em geral, são transcrições de entrevistas e notas de campo, mas suportam figuras e áudio. Os documentos primários são denominados Px, sendo que x é o número de ordem.

Citações

(Quotes/quotation)

São segmentos de dados, como trechos relevantes das entrevistas que indicam a ocorrência de código. A referência da citação é formada pelo número do documento primário onde está localizada, seguido do seu número de ordem dentro do documento. Também constam da referência as linhas inicial e final, no caso de texto.

Códigos

(Codes)

São os conceitos gerados pelas interpretações do pesquisador. Podem estar associados a uma citação ou a outros códigos para formar uma teoria ou ordenação conceitual).

Notas de análise

(Memos)

Descrevem o histórico da pesquisa. Registram as interpretações do pesquisador, seus insights ao longo do processo de análise.

Esquemas gráficos (Netview)

Esta ferramenta auxilia a visualização do desenvolvimento da teoria e atenua o problema de gerenciamento da complexidade do processo de análise. Os esquemas gráficos são representações gráficas das associações entre códigos.

Comentários

(Comment)

Podem estar presentes em todos os elementos constitutivos. Devem ser utilizados pelos pesquisadores para registrar informações sobre seus significados, bem como para registrar o histórico da importância do elemento para a teoria em desenvolvimento.

Quadro 2 - Principais elementos constitutivos do Atlas.ti

Bach e Walter (2009, p.7)

De acordo com Barbosa (2006, p. 4),

[...] um software de análise de dados qualitativos não processa e interpreta informações – tal como um programa de estatística resolve equações e apresenta resultados. Sua principal função está em garantir maior sistematicidade para o trabalho de análise, através de uma melhor organização do material e do fornecimento de um suporte para as suas ideias” (grifos do autor).

A utilização do software Atlas.ti facilita o trabalho do pesquisador, em termos

de organização dos dados, podendo o mesmo se dedicar à análise propriamente dita, a

qual continua a ser de responsabilidade do investigador em suas inferências e

interpretações.

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No próximo capítulo, serão apresentados o contexto no qual foi realizada a

pesquisa, seus participantes, os procedimentos realizados para a coleta dos dados e as

etapas seguidas para o desenvolvimento do processo de análise, de acordo com a

proposta de Bardin.

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CAPÍTULO 4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, é apresentado o caminho percorrido para a realização desta

pesquisa, indicando-se os procedimentos adotados com base nos aportes teóricos e

metodológicos e discorrendo sobre a construção dos instrumentos utilizados para a

obtenção dos dados.

4.1 O contexto da pesquisa

O contexto desta pesquisa é o curso de Licenciatura em Matemática –

Modalidade Educação a Distância, desenvolvido e implementado pelo Departamento de

Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que teve início em 2009.

De acordo com o seu Projeto Pedagógico e Curricular, é um curso a distância

que utiliza recursos da internet, a partir do ambiente virtual de aprendizagem Moodle38.

O curso está sediado no Polo Tecnológico Marquês de Paranaguá, o qual é considerado

“o locus da organização e gerenciamento do curso, do planejamento das diferentes

atividades curriculares, da autoria e preparação de aulas e de materiais pedagógicos.

Este Polo congrega também os professores que atuam como formadores e/ou tutores”

(PUC-SP, 2007, p. 4).

O curso tem duração de seis semestres, sendo que cada semestre é composto por

três blocos de conteúdos previstos para serem cumpridos, em média, no prazo de cinco

a seis semanas.

A coordenação didática do curso estabelece relação entre os professores do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática e o Departamento de

Matemática da instituição, buscando o curso de Licenciatura em Matemática presencial

como base curricular de experiências e avaliações diagnósticas para o curso na

modalidade a distância.

Esta relação entre os programas permitiu a formação das equipes de trabalho,

constituídas por professores das áreas da Matemática − Álgebra, Cálculo e Geometria −

responsáveis pelas atividades de autoria e tutoria referentes aos conteúdos matemáticos

do curso a distância.                                                                                                                          38 Moodle é um Course Management System (CMS), também conhecido como Learning Management

System (LMS) ou Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). É um aplicativo web gratuito que os educadores podem utilizar na criação de sites para aprendizagem. Informações disponíveis em: http://moodle.org/.

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Os conteúdos de Cálculo encontram-se, de acordo com o projeto pedagógico,

distribuídos ao longo dos três anos do curso, conforme a seguinte orientação: no

primeiro semestre, o curso oferece uma disciplina que envolve o estudo de Funções e

Limites; no segundo, Funções e Continuidade; no terceiro, Introdução ao Cálculo

Diferencial e Integral; no quarto, Cálculo Diferencial; no quinto, Cálculo Integral; e,

no sexto, Tópicos de Análise.

4.2. Participantes da pesquisa

Os sujeitos desta pesquisa são quatro professores da equipe de Cálculo,

responsáveis pelas disciplinas Funções e Limites e Funções e Continuidade, ministradas

no primeiro e segundo semestres do curso. Estes professores e estas disciplinas foram

acompanhados por meio do ambiente virtual (fóruns e material didático disponível no

Moodle), de observações de reuniões da equipe, de encontros presenciais, das atividades

de tutoria e de contatos informais com os professores e alunos.

O Quadro 3 mostra a distribuição das atividades entre os membros da equipe,

com relação à elaboração do material e à tutoria do curso.

DISTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES ENTRE OS MEMBROS DA EQUIPE

Membro da equipe Formação Material pedagógico Tutoria

Professor 1 Pós-doutor Funções e Limites

Professor 2 Pós-doutor Funções e Continuidade

Professor 3 Doutor Funções e Limites Funções e Continuidade Funções e Limites

Professor 4 Mestre Funções e Limites Funções e Continuidade Funções e Continuidade

Quadro 3: Distribuição das atividades entre os docentes do curso

Esta equipe é composta por professores, com titulação de mestrado, doutorado e

pós-doutorado e com longa experiência no ensino de Cálculo em cursos presenciais.

Dois deles pertencem ao quadro de docentes do Programa de Estudos Pós-graduados em

Educação Matemática, possuem trabalhos orientados para a área do ensino e

aprendizagem do Cálculo e desempenharam, predominantemente, a função de produção

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de materiais (autoria); os outros dois atuaram tanto na produção de materiais (autoria)

como na tutoria.

No período de formação da equipe e consolidação do processo de trabalho, este

grupo realizou reuniões sistemáticas a fim de determinar as bases de ensino almejado

para o curso a distância com relação aos conteúdos de Cálculo. Além da elaboração do

material didático e da tutoria, a equipe, também, cuidou da estruturação do ambiente

virtual, contando, porém, com o apoio da equipe de suporte tecnológico da instituição.

A equipe de suporte, por deter conhecimentos técnicos sobre os recursos do ambiente

virtual Moodle, sobre softwares e outras mídias eletrônicas, exerceu função importante

na construção da metodologia de ensino e de comunicação dos professores com os

alunos.

Nessa fase do trabalho, que é o estágio que Rogers (2003) denomina de

Conhecimento, os professores se apropriam de informações sobre o ensino a distância e

suas implicações no processo de ensino e aprendizagem, fazendo aproximações de seus

conhecimentos prévios com aqueles necessários para estabelecer a relação com a nova

ideia.

Os professores também começam a se envolver de forma direta com o ambiente

de ensino a distância, a partir da elaboração do material e da implementação do

ambiente virtual, o que desencadeia o processo de percepção das características da

inovação (vantagem relativa, compatibilidade e complexidade) – as quais formam

algumas das características principais do segundo estágio, o de Persuasão, do modelo

de processo de inovação-decisão de Rogers.

4.3 A coleta de dados  

4.3.1 Observações de campo (diário da pesquisadora)

Com base nos princípios da pesquisa qualitativa, procurei me aproximar dos

atores que fazem parte do objeto de estudo, sem a pretensão de realizar uma observação

participativa, mas com o intuito de perceber melhor o contexto e as relações existentes

neste meio.

Este momento inicial foi importante para delimitar o campo do trabalho,

direcionando a construção dos objetivos e das hipóteses iniciais que nortearam a

pesquisa. As anotações pessoais deram origem a questionamentos, que contribuíram

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para a elaboração do roteiro da entrevista realizada com os professores, para conversas

junto à Coordenação do Curso e para o conhecimento do histórico do mesmo. Assim,

fizemos uso desse material não como uma fonte documental, mas como apontamentos

norteadores para a realização do trabalho formal de investigação.

Foram vários os momentos que ensejaram o registro de observações,

destacando-se, entre eles, as conversas informais com os professores da equipe, com a

Coordenação do Curso e com alguns alunos; a participação, como ouvinte, em reuniões

da equipe; a participação em palestras oferecidas aos alunos; o acompanhamento das

disciplinas no ambiente virtual; o acesso ao conteúdo e às atividades propostas nas

disciplinas de Funções e Limites e Funções e Continuidade.

Durante o acompanhamento do desenvolvimento destas disciplinas por meio do

ambiente virtual, da leitura do material escrito (conteúdo matemático e atividades) e das

interações no Fórum entre alunos e professor-tutor, foi possível perceber como era

realizada a prática dos professores, tanto no que diz respeito à autoria (elaboração do

material escrito e ambiente virtual), quanto à tutoria (gerenciamento das disciplinas e

interação entre professor-tutor e alunos). O ambiente virtual Moodle era utilizado pelo

professor-tutor para disponibilizar material-texto sobre os conteúdos programáticos,

propor atividades, prestar orientações e esclarecer dúvidas.

Nesse momento do trabalho, as características que os professores da equipe

apresentam se assemelham àquelas típicas dos adotantes iniciais (ROGERS, 2003). De

acordo com as observações realizadas, os professores envolvidos, como adotantes

iniciais do ensino a distância, demonstram espírito de iniciativa na busca de soluções

para lidar com a inovação e lideram o processo de adoção da inovação, diminuindo,

assim, as incertezas e colocando em curso as atividades.

4.3.2 Documentos

O Projeto Pedagógico e Curricular do Curso de Licenciatura em Matemática

serviu de documento-base para subsidiar as informações a respeito do curso de

licenciatura em si, servindo de referência para se identificar a abordagem pedagógica do

curso, sua estrutura, os critérios para a formação das equipes de professores, a previsão

da estrutura de apoio técnico e pedagógico; as formas de trabalho para a elaboração de

material e para a execução do curso.

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A consulta a este documento contribuiu para a construção do roteiro da

entrevista, esclarecimento das dúvidas com relação às observações realizadas nas

atividades de campo e para a construção do histórico do curso.

4.3.3 Entrevista

A entrevista semiestruturada foi utilizada como instrumento para se obterem

informações a respeito da primeira experiência dos professores com o processo de

criação de um curso de Cálculo a distância.

O roteiro de entrevista considerou os diferentes momentos vivenciados pelos

professores: o momento anterior ao curso, representado pela experiência acumulada na

prática docente de conteúdos de Cálculo em cursos presenciais; o momento de execução

do curso, em que o professor coloca em prática suas crenças e expectativas com relação

ao trabalho com o ensino a distância; e o momento posterior à experiência vivida, em

que o professor tem condições de se posicionar ante o processo de inovação pelo qual

passou.

Assim, o roteiro de entrevista, mostrado no Apêndice A, foi construído a partir

dos elementos presentes no modelo do processo de inovação-decisão, proposto por

Rogers (2003): conhecimento, persuasão, decisão, implementação e confirmação. Os

elementos apresentados constituíram os subsídios para se compreender a relação da

equipe de professores com o processo de transição, contemplando os objetivos desta

investigação.

Rogers, ao apresentar seu modelo de processo de inovação-decisão, enfatiza a

importância de se levar em conta que a relação com a inovação é algo que ocorre ao

longo do tempo e que, mesmo antes de entrar em contato com a inovação, a pessoa pode

possuir algum conhecimento prévio ou mesmo breves informações que podem vir a

influenciar a sua relação com a inovação, além da influência causada pelos canais de

comunicação, principalmente, entre os membros da equipe e de pessoas próximas.

Desse modo, o roteiro para a entrevista foi elaborado a partir do mapeamento

dos elementos da teoria, considerando-se o tempo anterior ao início das atividades da

equipe, o período de desenvolvimento das atividades de autoria e tutoria e os momentos

imediatamente posteriores à execução dos trabalhos. Tais elementos foram agrupados

como se segue:

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- Grupo A - Experiência anterior: as questões deste grupo pretenderam

verificar a experiência que o entrevistado trouxe para o trabalho com o

ensino a distância, antes de entrar em contato com as atividades do Curso de

Licenciatura em Matemática a distância. Essas informações foram

importantes para apontar seus conhecimentos anteriores ao trabalho

desenvolvido, indicando as possíveis concepções ao lidar com a inovação a

ser implantada e suas expectativas.

- Grupo B - Formação da equipe: as questões deste grupo tiveram por

finalidade verificar as expectativas trazidas para a realização do trabalho, a

percepção do ambiente da equipe, as ideias comuns e divergentes sobre a

inovação e as consequentes negociações determinadas por essas ideias

acerca do trabalho a ser desenvolvido por cada membro. Destas questões

surgiram indícios quanto às atitudes de cada membro em relação à inovação;

quanto ao sentimento ligado à decisão de aceitação desta ideia; quanto à

relação que os membros da equipe estabelecem entre si para o

desenvolvimento do processo de transição do ensino presencial para o ensino

a distância no sentido do trabalho coletivo, e quanto à comunicação que foi

estabelecida entre eles no cumprimento de suas atividades.

- Grupo C - Elaboração do material pedagógico: este tópico englobou a

elaboração dos conteúdos, a estruturação do ambiente virtual, as atividades

realizadas neste ambiente, compreendendo-se por atividades desde o

conteúdo (explicação dos conceitos, exercícios) até a utilização de

ferramentas para a interação com os alunos. As questões pretendiam suscitar

o que cada um entendia a respeito da novidade, levando o entrevistado a

refletir sobre a construção dos conteúdos e do ambiente virtual, sobre os

materiais necessários para as atividades a serem desenvolvidas neste

ambiente (ferramentas para interação, transmissão/tradução da ideia

matemática, visão de aluno, visão de ensino no “novo” ambiente) e sobre a

relação com a formação pedagógica e tecnológica que receberam para

desenvolverem as atividades de tutoria e de autoria deste curso. Estas

questões permitiram, também, verificar o envolvimento, a preocupação e as

dificuldades que cada um teve com essa novidade, além de verificar o grau

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de adoção do trabalho com a inovação (vontade de desistir, possível

encantamento ou desencanto).

- Grupo D - Atuação na disciplina ou o acompanhamento do processo:

este grupo continha questões a serem feitas de acordo com as tarefas

desempenhadas pelos professores integrantes da equipe, uma vez que alguns

atuaram como autores e outros como autores e tutores. As questões foram

direcionadas ao perfil do integrante da equipe: para os que participaram de

todo o processo, as questões objetivaram captar a visão com relação ao seu

trabalho. Foram incluídas questões a respeito do trabalho com os alunos para

verificar se houve influência no processo de adoção e mesmo na visão com

relação à elaboração do material, e do próprio curso em si. Para os que

participaram parcialmente, como autores, mesmo não atuando como

professor-tutor, o objetivo foi identificar a reflexão que fazem a respeito do

acompanhamento da disciplina, demonstrando a sua disponibilidade para o

trabalho e, consequentemente, a sua relação com o processo de decisão de

adotar a nova ideia, verificando a sua relação com a inovação em ambos os

casos.

- Grupo E - Elaboração/avaliação da primeira oferta das disciplinas: as

questões deste grupo referiram-se ao momento subsequente à primeira

execução da disciplina. Tendo sido possível o contato com a nova ideia, ou

seja, a possibilidade de sua experimentação e da observação e avaliação de

lidar na prática com o ensino a distância de conteúdos de Cálculo, o

professor teve a oportunidade de refletir sobre o que foi realizado e

contrastar com as suas concepções e ideias iniciais a respeito de como lidar

com a inovação, tanto individualmente como em equipe. As questões desse

grupo, portanto, pretenderam verificar o processo de reflexão a partir da

primeira experiência com a inovação e a forma como o entrevistado se

relacionou com ela. Assim, tais questões serviram para verificar o grau de

adoção ou aceitação, levando o professor a refletir sobre sua postura inicial e

sua relação atual com a inovação em termos de como assumiu o trabalho

realizado, o fazer com base na experiência, e a visão a respeito da inovação

nessa altura do processo.

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- Grupo F - Momento atual: este grupo de questões abriu espaço para pensar

como estava a relação entre o professor entrevistado e a inovação, no

momento da realização da entrevista, ao refletir sobre a sua participação no

processo, sua visão naquela ocasião, inclusive com relação à adoção da

novidade e perspectiva futura em lidar com a ideia de ensinar a distância.

As entrevistas com os quatro professores membros da equipe de Cálculo foram

realizadas entre os dias sete e oito de junho de 2011.

De posse do roteiro montado para a realização da entrevista, foi explicado a cada

professor o motivo da entrevista, a importância da sua colaboração, o sigilo sobre suas

identidades, o que era pretendido com as informações obtidas, ficando o entrevistado à

vontade para expor suas ideias, a partir do direcionamento proposto. Ao final, foi

pedido o seu ciente no próprio roteiro, concordando com a utilização das informações

para fins dessa pesquisa.

A possibilidade de futuros contatos para novos esclarecimentos foi cogitada com

os professores, os quais prontamente confirmaram a sua participação, caso fosse

necessária.

As entrevistas foram gravadas em aparelho digital de som, MP4, e transcritas em

formato texto, em arquivo digital, na íntegra, para posterior tratamento, utilizando-se

recursos do software de análise de dados qualitativos, Atlas.ti.

4.4 Procedimentos para a análise dos dados

Os dados referidos neste tópico são aqueles obtidos com os instrumentos de

coleta apresentados acima e o desenvolvimento desta etapa da investigação segue

descrito de acordo com as fases sugeridas por Bardin (2009).

4.4.1 Pré-análise

Na primeira fase, a pré-análise, foi feita a leitura dos documentos que

constituíram o corpus de análise: registros das observações realizadas, Projeto

Pedagógico e Curricular do Curso de Licenciatura em Matemática e entrevistas.

O tratamento das informações obtidas por meio da transcrição das entrevistas

partiu das leituras desse material, possibilitando um nível de compreensão das falas dos

professores que levasse a estabelecer uma relação com os objetivos da investigação.

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Esse processo é denominado por Bardin (2009) de decifração estrutural.

Segundo a autora, esse primeiro nível de análise deve levar em conta o que cada

entrevista apresenta. É nesse processo que o investigador “procura compreender a partir

do interior da fala de uma pessoa” (Bardin, 2009, p. 92). A partir da decifração

estrutural, buscou-se compreender o que cada professor apresenta em suas falas,

priorizando não a teoria em si ou a preocupação com os rumos da pesquisa, mas

buscando compreender o indivíduo, assim como orienta Bardin (2009, p. 92), no sentido

de uma “atitude de empatia”, ou seja, “de imersão no mundo subjetivo do outro”.

Como ensina Bardin, na busca pela análise do conteúdo, é necessário

compreender para além das palavras, é preciso buscar o entendimento que possibilite ao

investigador um nível de conhecimento tal que, ao voltar a olhar para o conteúdo

analisado, ele consiga extrair informações coerentes com as mensagens que o

entrevistado transmitiu, com palavras ou não.

Neste sentido, a autora nos diz que

É preciso fazer tábua rasa de a priori pessoais ou da contaminação proveniente de decifrações anteriores, ao mesmo tempo que se beneficia, de algum modo num <<outro cérebro>>, dos conhecimentos adquiridos pela prática ou dos contributos teóricos ou metodológicos exteriores, enquanto se prepara deixando amadurecer aquilo que será a segunda fase da análise, ou seja, a transversalidade temática (BARDIN, 2009, p. 92, grifos da autora).

Em seguida, já de posse de um entendimento do conteúdo de cada entrevista,

passou-se a uma próxima etapa, denominada de transversalidade temática, que visa a

procurar a estruturação específica, a dinâmica pessoal que rege o processo mental do

entrevistado, organizando os temas que surgem em cada entrevista, do modo como são

colocados pela lógica própria do discurso de cada professor entrevistado.

Assim, o processo desta segunda etapa, “tal como numa tela com urdidura e

trama, os temas aparecem e depois reaparecem um pouco mais à frente, em função da

progressão de um pensamento que se procura” (BARDIN, 2009, p. 93).

Nessa fase, foram identificados os temas na medida em que surgiam em cada

entrevista, ainda que de modo não organizado, mas em um processo de procura de

passagens recorrentes sobre um mesmo tema. Esta fase do processo de análise foi

realizada com o auxílio do software Atlas.ti, o qual gerou relatórios contendo os

possíveis temas já relacionados com as respectivas citações, além da frequência com

que apareceram durante a entrevista de cada professor. Exemplos destes relatórios se

encontram nos Apêndices B e C.

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O material gerado pelos relatórios do Atlas.ti possibilitou o agrupamento de

todos os temas em potencial e a frequência com a qual apareceram nas entrevistas em

tabelas, conforme mostrado exemplo no Apêndice D.

A partir dessas informações, foi elaborada uma planilha, mostrada, em parte, no

Apêndice E, para que fosse estruturado o conteúdo com as citações e a indicação dos

temas. Após essa fase, foram retomados os documentos, a questão central de

investigação e o referencial teórico, a fim de se estabelecerem as relações entre o

material analisado e os rumos da pesquisa.

Este material com temas e suas frequências não foi elaborado a partir de critérios

definidos a priori pelo pesquisador, atendo-se aos temas que se mostraram emergentes.

Os temas que emergiram nesta fase inicial foram, então, agrupados e estruturados em

temas mais gerais e subtemas, de acordo com as afinidades apresentadas. A frequência

foi utilizada como um parâmetro para se determinar a intensidade ou não do

aparecimento de cada tema.

É importante ressaltar que esta organização é sugerida por Bardin (2009) como

uma primeira estruturação para que seja realizada a leitura e identificados os possíveis

temas ou categorias a serem trabalhados posteriormente.

Realizadas estas etapas, foi iniciado o processo de codificação do conteúdo

analisado, pois, como explica Bardin (2009, p. 146), “a partir do momento em que a

análise de conteúdo decide codificar o seu material, deve produzir um sistema de

categorias”. O processo de codificação tem como objetivo primeiro fornecer, por

condensação, uma representação simplificada dos dados em bruto. Como esta análise é

de caráter temático, a expressão “categorias de análise” foi considerada como se

tratando dos próprios temas e subtemas resultantes do processo de codificação.

4.4.2 Definição dos temas e subtemas

A análise foi realizada por meio de categorias temáticas, conforme Bardin se

refere, por estarem associadas diretamente às unidades de significação trabalhadas. Para

esta autora, “o critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas, por

exemplo, todos os temas que significam a ansiedade ficam agrupados na categoria

ansiedade” (p. 145). Neste caso, este processo se baseou no que as falas dos

professores denotavam, sendo que cada uma delas foi associada a um tema ou subtema,

de acordo com a sua significação.

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Conforme Bardin (2009, p. 131), “o tema é a unidade de significação que se

liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que

serve de guia à leitura”. Seguindo este raciocínio e de acordo com a sistematização

elaborada anteriormente, foram constituídos os seguintes temas mostrados no Quadro 4.

TEMAS E SUBTEMAS

Sistema de trabalho

- formação da equipe - relações de trabalho - desenvolvimento do trabalho - suporte pedagógico e tecnológico

Conhecimentos prévios

- conhecimento do curso presencial - experiências com o ensino a distância

Formação para o trabalho com o ensino a distância

- formação para o trabalho - formação ao longo do trabalho

Relação com o processo de transição

- atitudes (comprometimento, iniciativa, autonomia, autosuficiência) - crenças (não conseguir trabalhar com o computador, ser capaz de atuar no ensino a distância) - expectativas (receio, medo, preocupação com a qualidade do curso, preocupação com a

formação do aluno, confiança no trabalho da equipe, aceitação do ensino a distância) - avaliação da experiência

Quadro 4: Relação de temas e subtemas

A seguir, é feita uma caracterização da abrangência de cada um dos temas

levantados a partir da análise do material coletado.

- Sistema de trabalho: este tema constitui a unidade de significação referente

ao contexto de trabalho, reunindo os discursos dos professores a respeito das

atividades e rotinas do curso: a forma como foi montada a equipe; as

relações existentes entre os seus membros; as ideias compartilhadas a

respeito das atividades e das tarefas correspondentes; o suporte técnico,

enfim, todo o movimento que cercou o trabalho dos membros da equipe.

Reportando-se à teoria, este tema está relacionado à etapa de persuasão,

mais diretamente às características de complexidade, experimentação ou

testabilidade e observabilidade. A tentativa pessoal de lidar com a inovação,

é um caminho, que, segundo Rogers (2003, p. 258), “[...] pode dissipar a

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incerteza sobre uma nova ideia”39. Essa tentativa passa, também, pela

relação com outras pessoas, das quais os professores recebem informações e

com as quais trocam ideias, podendo rever ou manter a sua concepção com

relação à adoção da inovação. Neste sentido, este tema está ligado, também,

à etapa de decisão.

- Conhecimentos prévios: este tema congrega as falas dos professores

relacionadas às suas experiências anteriores com o ensino presencial: o que

se apresenta para eles como sendo a prática de ensino nesse ambiente; suas

relações com os alunos e com o conteúdo matemático e outras implicações

da prática pedagógica. Conhecimentos prévios se mostraram como um

elemento importante e presente em vários momentos do processo de

transição, configurando-se como um dos componentes na determinação das

estratégias dos professores. Embora não seja um conhecimento relacionado

diretamente à inovação, os conhecimentos prévios se configuram como base

para o estabelecimento das relações com esta “nova ideia” de ensino. Este

tema abrange, também, as experiências dos professores com a Educação a

Distância. Foi usada a expressão Educação a Distância (EaD) em sentido

amplo, não se restringindo apenas ao ensino ministrado a distância,

englobando, pois, qualquer conhecimento ou experiência que os professores

tivessem vivido na modalidade a distância. Este tema está relacionado com a

teoria de Rogers (2003) no que se refere à consciência do conhecimento, a

qual representa a informação da existência da inovação. É a partir das

características desta etapa do processo de inovação, a etapa de

conhecimento, que o indivíduo apresenta as motivações e a forma como vai

lidar com a “nova ideia”.

- Formação para o trabalho com o ensino a distância: este tema reúne os

significados que os professores determinaram em suas falas em relação à

preparação para o trabalho e à formação pedagógica e tecnológica específica

para atuarem na modalidade a distância. Este tema está vinculado à etapa de

persuasão do modelo do processo de inovação-decisão de Rogers e se refere

à identificação, pelos professores, das características da inovação,

abrangendo informações referentes à preparação para o trabalho de autoria e

                                                                                                                         39 No original: “[…] can dispel uncertainty about a new idea”.

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tutoria, às funções a serem desempenhadas, às especificidades do ensino a

distância, em geral, e, em especial, às particularidades do Curso de

Licenciatura em Matemática na modalidade a Distância.

- Relação com o processo de transição: este tema agrupa os significados que

os professores atribuíram à vivência em si com o processo de inovação-

decisão, de acordo com as características da etapa da persuasão de Rogers.

As falas dos professores revelam suas facilidades e dificuldades com o

processo; esclarecem como aconteceram as suas experiências na construção

do material pedagógico e com os alunos e apontam as crenças e expectativas

com as quais ingressaram para executar este trabalho. Evidenciam, ainda, as

relações que travam com os novos conhecimentos e suas atitudes diante da

ideia de ensino a distância. Este tema congrega os relatos dos professores em

relação à visão adquirida a partir do trabalho desempenhado pela equipe.

Diante da experiência e das estratégias adotadas, os membros da equipe

falam da consciência que agora, após a implementação, estabelecem com a

inovação, possibilitando identificar a propensão à ideia de adotar ou não o

ensino a distância como prática pedagógica.

4.5 Exploração do material

A segunda fase do processo de análise de conteúdo, conforme sugerido por

Bardin, é a administração das técnicas no corpus do material a ser analisado. A técnica

de análise temática ou categorial é a mais antiga e, na prática, a mais utilizada e seu

funcionamento se dá por meio de “operações de desmembramento do texto em

unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógos” (BARDIN, 2009, p. 199).

Tomando por base as indicações desta autora, foram montadas planilhas de

referências, utilizando-se as regras de recorte, nas quais os trechos das entrevistas dos

professores foram agrupados por temas.

A terceira fase do processo de análise de conteúdo se refere ao tratamento dos

resultados, interpretações e inferências, o que será feito no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo se refere à terceira etapa da análise de conteúdo, denominada por

Bardin de tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Com base nos temas de

análise, é apresentada a sistematização do tratamento aplicado ao conteúdo das

entrevistas, possibilitando ao pesquisador propor inferências e interpretações.

Concluídas as fases anteriores, as quais destacaram, condensaram e colocaram em

evidência as informações coletadas, neste capítulo serão propostas inferências e

interpretações à luz dos objetivos desta investigação, permitindo que os conteúdos

tratados se constituam em análises reflexivas.

De acordo com Bardin (2009, p. 163), “a análise de conteúdo fornece

informações suplementares ao leitor crítico de uma mensagem [...] para saber mais

sobre esse texto”. Assim, ao falar sobre esta fase da análise, Bardin ressalta que “os

resultados em bruto são tratados para serem significativos (<<falantes>>) e válidos” (p.

127, grifo da autora), levando à compreensão maior sobre o que o conteúdo diz.

Na realização desta etapa, foram utilizadas as planilhas montadas anteriormente,

acrescentando-se em cada tema a transcrição das falas dos professores (unidades de

registro), as inferências extraídas das unidades de registro, e a identificação dos

componentes que facilitaram ou dificultaram a relação com a inovação (Apêndice C).

5.1. Sistema de trabalho

Neste tema, os discursos dos professores foram agrupados nos seguintes

subtemas: formação da equipe; relações de trabalho; desenvolvimento do trabalho; e

suporte pedagógico e tecnológico, retratando a visão sobre as negociações, as trocas de

ideias diante do trabalho com o ensino a distância e a confiança nas ações entre os

membros da equipe.

Tais aspectos já se apresentavam como fatores a serem considerados desde a

construção do roteiro da entrevista por serem elementos importantes para se verificar a

comunicação entre os membros e a relação com a inovação.

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5.1.1 Formação da equipe  

A constituição da equipe é um fator relevante na configuração do sistema de

trabalho em que estão inseridos os professores. Seus membros integram a área

responsável pelo ensino de Cálculo do Departamento de Matemática, sendo que os

Professores 1, 2 e 4 já vêm de uma experiência anterior nesta área de ensino, pois já

trabalharam juntos, em outros momentos, no ensino, na pesquisa e na elaboração de um

livro com atividades que envolvem o uso de ambiente computacional para o ensino de

conteúdos matemáticos.

O Professor 3 não faz parte desse histórico de trabalho anterior, tendo se

integrado à equipe a partir de 2008. No entanto, participa, desde o mestrado, do grupo

de estudos e pesquisa coordenado pelos Professores 1 e 2.

O subtema formação da equipe indica três componentes que facilitaram a

relação dos professores com o processo de transição para o ensino a distância.

O primeiro é o bom relacionamento existente entre os membros da equipe, o que

facilitou o processo de comunicação entre eles.

O segundo é a experiência na elaboração do livro de atividades de conteúdos

matemáticos com o uso de ambiente computacional. O Professor 1 relata que

[...] era um trabalho muito interativo porque todo dia, cada um de nós, com a sua turma, recolhíamos tudo o que eles escreviam durante a aula de laboratório. E é claro que no laboratório você tem aqueles que trabalham muito mais rápido, e isso eu acho que tem alguma semelhança com o ensino a distância, quer dizer, não é a distância, é presencial mas é um ritmo um pouco diferente e certas duplas terminavam muito rápido, e outras eram mais demoradas.

E, neste ritmo, de acordo com as explicações do Professor 1, os professores

envolvidos foram elaborando atividades, trabalhando com os alunos, discutindo e

sistematizando os resultados, chegando a publicar em livro esta experiência40.

Tal experiência na elaboração de material voltado para a utilização do

computador no ensino da matemática se torna ainda mais significativa pelo fato de estes

professores terem trocado informações e ideias e compartilhado conhecimentos acerca                                                                                                                          40  Refere-se à publicação Atividades para o estudo de funções em ambiente computacional, de autoria dos

pesquisadores Ana Lúcia Manrique, Barbara Lutaif Bianchini, Benedito Antônio da Silva, Maria Thereza Goulart Dubus e Vera Helena Giusti Souza, editado pela Iglu, São Paulo, em 2002.

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do que estavam aplicando em sala de aula. Ou seja, estes professores vivenciaram uma

situação em que se envolveram em uma prática docente diferente daquela com a qual

estavam acostumados e desenvolveram, em conjunto e pessoalmente, conhecimentos

acerca de um trabalho inovador.

O terceiro componente facilitador identificado neste subtema é a própria

afinidade acadêmica existente entre os membros da equipe. Pertencendo todos à área de

ensino de conteúdos de Cálculo e sendo responsáveis pela estruturação dos conteúdos

nos cursos presenciais, estão acostumados a atuarem em conjunto, o que reflete

positivamente, também, no ensino a distância.

Relacionando este contexto com o que Rogers diz sobre os canais de

comunicação, trata-se de uma comunicação praticamente de membro a membro, entre

eles, ou seja, com características de canais de comunicação interpessoal. Neste sentido,

as falas nas entrevistas nos dão indícios de que esta comunicação é um elemento

importante, pois os professores conversavam, planejavam e buscavam soluções para a

realização das atividades de autoria e de tutoria. Além das comunicações com membros

externos, a comunicação interpessoal contribuiu para diminuir as incertezas frente à

inovação.

Rogers diz que os canais de comunicação influenciam na taxa de adoção, pois

funcionam face-a-face, ou seja, na conversação pessoal e, por isso, são considerados

canais mais efetivos para romper com resistências e inseguranças diante da inovação.

Este tipo de canal permite que a pessoa assimile mais rapidamente informações sobre

uma inovação, sendo considerado por Rogers (2003, p. 205) como o tipo de canal

especialmente importante para agir na persuasão de um indivíduo no sentido de formar

uma opinião sobre uma nova ideia.

5.1.2 Relações de trabalho

Estão presentes neste subtema os elementos que envolvem as relações e o clima

de trabalho que os professores estabelecem entre si: o compartilhamento das ideias, as

negociações para a construção do material, a troca de opiniões e experiências com

relação à utilização de ferramentas tecnológicas, as formas de interação e de

apresentação dos conteúdos para os alunos.

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Ao mencionarem a relação existente entre os membros da equipe, ao longo das

entrevistas, dois elementos se destacam: a compatibilidade das ideias entre os

professores e a confiança nas ações entre os mesmos.

As falas dos professores indicam a convivência da equipe em equilíbrio com

suas diferenças, principalmente pela disponibilidade de troca existente entre eles. Os

professores, geralmente, concordam com as decisões tomadas em equipe para a

elaboração do material. “Tem que pensar nesta necessidade, nesta disponibilidade de

troca entre todos, nunca houve outra coisa contrária” (Professor 1).

Nesse sentido, o Professor 1 relata que a equipe discutia qual atividade seria

interessante naquele momento e que havia discordâncias naturais em um trabalho

realizado a várias mãos, o que “é uma coisa difícil de ser feita, mas, nada que não se

supere”, pois não havia ideias sedimentadas. Demonstra, ainda, sua confiança na

equipe, graças às experiências bem sucedidas desenvolvidas anteriormente: “eu tinha

confiança porque a gente tinha este passado, porque sem este passado, eu não teria

nem um pouco”. Apresentam-se aqui indícios do aumento da certeza no trabalho que

esta equipe estava realizando, a partir do ajuste das ideias que estavam desenvolvendo.

O Professor 4, também, reforça esta confiança que existe entre os membros da

equipe, ao falar sobre as decisões de adequar o material a seus alunos, em seu trabalho

de tutoria, quando achasse necessário, sem consulta direta à equipe, dizendo que os

Professores 1 e 2 lhe dão “carta aberta” interpretando que esta “é uma ação que pode

não ser da equipe, mas é como se fosse”.

Observa-se, então, que a história da equipe faz com que seus membros encarem

o ensino a distância como mais uma atividade a ser desenvolvida em conjunto,

demonstrando que os vínculos que os unem facilitam o estabelecimento de relações de

confiança, de comunicação e de sintonia de ideias para o desenvolvimento do trabalho

de forma coesa.

A este respeito o Professor 1 diz que as ideias da equipe “foram tão

compartilhadas durante todo o tempo que elas eram de todos nós, não eram ideias

minhas e tal, eram ideias do grupo mesmo, enfim, eram ideias coletivas”.

E o Professor 3 diz que a equipe nunca duvidou “da possibilidade de elaborar

esse material” e “também não acreditamos que haveria um outro material já pronto

que desse conta do que acreditávamos ser bom para esse curso, baseado nas pesquisas

que os membros da equipe elaboraram”. Esse fato demonstra confiança e otimismo na

potencialidade da equipe: “nós acreditávamos sim que seria possível, sabíamos que

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seria um desafio, que seria o nosso primeiro curso, a nossa primeira versão do material

e tudo, mas eu acho que fomos muito otimistas neste sentido”.

Como foi apresentado no Quadro 3, cada disciplina estava sob a

responsabilidade direta de dois professores por vez. Assim, embora nem todos os

membros participassem da elaboração do material e da tutoria de todas as disciplinas o

tempo todo, os membros trocavam informações com certa frequência, dada a

proximidade em que se encontravam.

Devido ao histórico da equipe e ao tipo de relação estabelecida entre os

professores, pode-se inferir que a própria comunicação entre eles se tornou um

facilitador do processo de transição.

Rogers (2003) considera a comunicação interpessoal uma das variáveis que

influenciam o índice de adoção, pois esta é a forma mais imediata da qual uma pessoa

se utiliza quando está procurando informações sobre a inovação. A opinião de pessoas

conhecidas e com alguma experiência a respeito da inovação representa um certo grau

de confiabilidade junto a seus pares.

Evidencia-se, aqui, a comunicação pela característica da homofilia, ou seja, "o

nível em que dois ou mais indivíduos que interagem são semelhantes em determinados

atributos, tais como crenças, educação, situação sócioeconômica, e assim por diante"41

(Rogers, 2003, p. 19). Os professores, de fato, possuem determinados atributos

semelhantes diante de seu contexto profissional de atuação, tais como a formação na

mesma área de conhecimento, as afinidades profissionais pela convergência de trabalho

na área, além do fato de pertencerem ao mesmo departamento, exercerem funções

docentes no mesmo ambiente e estarem dispostos a participar da elaboração do curso de

Licenciatura em Matemática na modalidade a distância, respondendo pela área de

Cálculo.

5.1.3 Desenvolvimento do trabalho

A análise sobre o sistema de trabalho evidenciou que os conhecimentos que os

professores trouxeram da experiência com o ensino presencial constituem um fator

facilitador para o desenvolvimento das atividades no ensino a distância. A experiência

adquirida em vários anos de ensino de conteúdos matemáticos, o uso de ferramentas

                                                                                                                         41 No original: “is the degree to which two or more individuals who interact are similar in certain attributes, such as beliefs, education, socioeconomic status, and the like”.

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tecnológicas, o trabalho em ambiente computacional e, de modo particular, a

experiência do Professor 3, ao participar da elaboração de um material para o ensino de

álgebra na modalidade a distância, facilitaram o desenvolvimento do trabalho.

A experiência adquirida na prática docente e na relação com o aluno constitui

uma base importante para a execução do trabalho a distância, tanto na autoria (forma de

apresentar o conteúdo, as atividades e relacionar os conceitos) quanto na tutoria (as

intermediações necessárias para a compreensão do aluno). Neste sentido, a experiência

que os professores adquiriram ao longo de suas trajetórias docentes no ensino presencial

facilitou no enfrentamento e na superação da problemática existente com relação ao

ensino de Cálculo a distância.

O Professor 1 ressalta a importância da experiência anterior de cada um no

momento em que selecionavam os conteúdos e pensavam sobre a aprendizagem dos

alunos. Neste sentido, o Professor 1, relatando sobre a colaboração do Professor 4, que

tinha um trabalho mais direto com o curso presencial de licenciatura, afirma que

[...] a gente sempre se inspirou mesmo no presencial, [...] e aí foi muito importante a colaboração (do Professor 4) [...] que falava: “olha, não pense que os alunos que estão chegando aqui hoje no presencial são os mesmos que chegavam há 5 anos e muito menos há 10. Eles têm outras dificuldades [...] têm dificuldades tanto de interpretação quanto de integração do que se escreve e do que se fala, porque lá no ensino a distância não se fala, tem que escrever tudo.

Sobre a sua experiência com a preparação do material, o Professor 2 se reporta,

também à sua experiência anterior, dizendo:

[...] na preparação eu já levei em conta as dificuldades que meus alunos do presencial têm. [...] Na parte que eu propus já tinha esse pressuposto, não tanto por ser a distância, mas por ser educador matemático, porque você vai levar em conta conhecimentos prévios, você vai levar em conta a sua própria experiência e as suas leituras teóricas. O Cálculo é uma das áreas que têm mais trabalhos publicados sobre dificuldades de aprendizagem. Então, há possibilidades de você levar em conta essas pesquisas e a sua experiência, mas não por ser a distância. Assim, a experiência de muitos anos trabalhando com o ensino de Cálculo em diversos momentos, porque dou aula há 40 anos [...]e considerando, também, as pesquisas, você tem uma visão de como o aluno reage ao ensino do Cálculo.

Outro elemento importante a ser destacado, quanto à experiência que os

professores trazem do ensino presencial, diz respeito à forma como procediam.

Em sua fala, o Professor 1, ao expor sobre a forma de trabalho da equipe, relata

que, primeiramente, estruturavam os conteúdos matemáticos, como faziam no ensino

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presencial. Em seguida, pensavam nas atividades que poderiam propor, discutiam a

respeito e distribuíam as tarefas. Posteriormente, as propostas eram apreciadas,

decidindo-se pelas que achavam mais condizentes com o ensino a distância. E, assim,

“fomos organizando as atividades como se elas fossem ser apresentadas

presencialmente; o tratamento para o ensino a distância, era um passo posterior.”

Paralelamente a essa colocação, observa-se que, ao se referirem às expressões

“adequação” ou “transferência”, os professores não estavam fazendo uma simples

reprodução do ensino presencial para o ensino a distância, mas pensando nas

implicações pedagógicas do ensino a distância. Como diz o Professor 1,

[...] O nosso curso de licenciatura foi concebido no departamento durante anos e deu subsídios para o curso de licenciatura a distância. Então, muito se discutiu a respeito de avaliação, etc, e, agora, como se transporta isso para o curso a distância? Essa foi uma das questões. [...]. Claramente, o curso não é o mesmo. Evidentemente, não há como fazer o mesmo. Mas a gente queria que tivesse um teor e uma qualidade semelhante àquela que a gente tem aqui no presencial. Não queríamos fazer uma transposição do livro didático para o ensino a distância.

A preocupação com a qualidade do curso a distância passa pelo cuidado para

que ele seja tão bom quanto o que eles consideram ser o curso presencial. Então, o que

pretenderam levar para a construção desta “nova” experiência era o que consideraram

como suas melhores práticas pedagógicas em termos de conhecimento e segurança.

Neste sentido, para garantir a qualidade almejada, os professores partiram do

que lhes era familiar: estruturaram, primeiramente, o conteúdo matemático para,

posteriormente, pensarem no que era “novo”, ou seja, o formato do curso na modalidade

a distância. Isso, de certo modo, representou aquele grau de incerteza no momento da

implementação mencionado por Rogers (2003, p. 179).

Referindo-se, no entanto, à perspectiva do trabalho com as ferramentas

tecnológicas, dentro do que já era de conhecimento dos professores, a ideia de que as

atividades seriam, posteriormente, “tratadas para o ensino a distância” não

representava, propriamente, uma “novidade” para eles, considerando-se suas

experiências anteriores e a própria compreensão da forma de execução de um curso em

ambiente virtual de aprendizagem.

De fato, os professores não manifestaram ter dificuldades no uso dessas

ferramentas tecnológicas. Pelo contrário, apresentaram uma atitude positiva diante do

uso da tecnologia. “Eu acho que toda essa ferramenta tecnológica, para mim, é um

avanço para o ensino da matemática, eu tenho essa visão [...]”, declara o Professor 2.

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Já o Professor 4 afirma que “a simbologia matemática não representa dificuldades, pois

existem os softwares disponíveis e dá pra trabalhar bem. Eu acho que não há grandes

dificuldades”.

A “novidade”, no entanto, que o uso da tecnologia trouxe se referiu, sobretudo,

às mudanças que acarretou na relação entre professor e aluno, principalmente, no que

diz respeito às formas de interação com o aluno, como demonstra a preocupação do

Professor 3: [...] e aí começamos a preparar o curso, sempre com muitas dúvidas a respeito da ferramenta que seria utilizada, quer dizer, seria possível colocar um gráfico, que fosse dinâmico, em que o aluno pudesse mexer? Como iríamos construir os gráficos? quais softwares iríamos usar? Estas discussões estavam sempre presentes.

Enquanto, por um lado, os professores buscaram incorporar as ferramentas

tecnológicas e desenvolver os materiais com base em seus conhecimentos e

experiências, por outro lado, eles demonstraram ter consciência de que necessitavam de

suporte, tanto tecnológico quanto pedagógico, na implementação do curso. Este fato

representa um componente que dificulta, inicialmente, a transição do presencial para o

ensino a distância, pois contribui para o aumento do grau de incerteza diante da relação

com “o novo” nesse momento.

Segundo o modelo de processo de inovação-decisão de Rogers (2003), a partir

do momento em que os professores se envolvem, na prática, com a elaboração e

execução do curso a distância, as características da inovação (vantagem relativa,

compatibilidade, complexidade, testabilidade e observabilidade) vão sendo percebidas.

Ou seja, os professores, ao lidarem concretamente com a inovação, vão formando uma

opinião sobre ela. Neste sentido, o grau de incerteza vivenciado pela equipe afeta, de

acordo com Rogers, a prontidão dos envolvidos e, consequentemente, a taxa de adoção

da inovação.

5.1.4 Suporte pedagógico e tecnológico

Este subtema serve de base para a análise do suporte colocado à disposição dos

professores durante o desenvolvimento e a realização do curso.

Os professores contaram com dois tipos de suporte: o suporte institucional, que

é disponibilizado a qualquer curso; e o suporte específico ao curso de Licenciatura em

Matemática na modalidade a Distância.

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Com relação ao apoio dado pela Instituição, os professores contaram com o

suporte técnico ao ambiente virtual de aprendizagem Moodle e com recursos

tecnológicos da TV PUC.

No âmbito do Departamento de Matemática, um apoio importante foi dado por

um professor, ligado ao grupo de pesquisa que trabalha com recursos tecnológicos e

pedagógicos para o ensino de matemática, o qual foi denominado, nesta pesquisa, de

Professor de Apoio.

O papel do Professor de Apoio foi fundamental para suprir possíveis lacunas na

formação específica dos professores da equipe para atuar no ensino a distância. No

início do trabalho, os professores se depararam com “situações novas para eles” e que

exigiam uma visão mais aprofundada ou, ainda, um pouco de experiência tecnológica e

pedagógica com o ensino a distância, para auxiliá-los na resolução dos problemas que

surgiram no desenvolvimento de suas atividades.

Nas entrevistas, os professores falam a respeito do suporte que a equipe recebeu

e distinguem o suporte técnico, aquele recebido da Instituição e de caráter mais geral e

comum a outros cursos, do suporte pedagógico dado pelo Professor de Apoio,

apresentando indícios de que este, específico da área da matemática, foi o principal

apoio que receberam.

Ao ser questionado a respeito da preparação para o trabalho, o Professor 1

ressalta o papel desempenhado pela figura do Professor de Apoio como a pessoa que

vem suprir as necessidades da equipe sem o qual “a gente não teria montado jamais as

nossas atividades”.

Na percepção da equipe, a atuação do Professor de Apoio ultrapassava o auxílio

específico de suporte sobre as ferramentas tecnológicas para o ensino dos conteúdos

matemáticos, chegando a provocar reflexões sobre os aspectos didáticos pretendidos

com tais conteúdos. O suporte pedagógico abrangia questões como: adequação de uso

de softwares; formas de apresentação das atividades no ambiente virtual; modos de

expor um exemplo para que os alunos compreendessem a ideia envolvida; maneiras de

solicitar a construção de um exemplo para avaliar como estariam entendendo a ideia

matemática. Enfim, o Professor de Apoio oferecia subsídios para as discussões práticas,

visando a solucionar problemas relacionados às questões pedagógicas específicas do

ensino a distância. Foi um suporte técnico, mas o Professor de Apoio direcionava também, quer dizer, indicava o tipo de atividade e como a gente poderia avaliar o aluno por meio daquela atividade. Por exemplo, abria uma atividade que fosse

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tarefa: então, o que você vai pedir para o seu aluno? Você vai pedir para ele construir um gráfico ou observar um gráfico e perceber propriedades? Se a função é crescente ou decrescente, em determinado intervalo, uma coisa seria pedir para ele construir, outra coisa seria fornecer o gráfico e pedir para ele observar. Então, nesse sentido, o Professor de Apoio indicava: se é propriedade, a gente coloca o gráfico, em Java, no recurso Tarefa do Moodle e o aluno vai responder num formato de questionário e você atribui a nota aqui em cima. Agora, se fosse para construção do gráfico, a gente iria inserir outro passo, colocava instruções para que ele salvasse aquele arquivo em extensão .ggb, que é o Geogebra, ou em Word, enviando-o pelo link Enviar Tarefa e nós iríamos fazer um comentário e dar um feedback por meio de outras ferramentas (Professor 3).

A relação com o Professor de Apoio era estabelecida mais continuamente com

os Professores 1 e 3 e, durante o processo de construção e de implementação dos

materiais e no trabalho de tutoria, a confiança no Professor de Apoio é sempre

mencionada como fundamental para as atividades da equipe. “A gente teve essa questão

de trabalhar com o material... Bom, e agora? Como transporto isso para o ambiente do

curso a distância? Aí a gente contou muito com o suporte dado pelo Professor de

Apoio. [...] Para a maioria de nós foi um aprendizado” (Professor 1).

Diferentemente de uma formação prévia, a aquisição de conhecimentos

didáticos específicos do ensino a distância foi construída ao longo da prática, com o

suporte do Professor de Apoio, mostrando os primeiros passos no processo de transição

para o ensino a distância e criando as condições para que, ao longo do tempo,

caminhassem com maior autonomia.

5.2 Conhecimentos prévios

Este tema reúne as informações obtidas sobre o conhecimento que os

professores possuíam acerca do ensino a distância, suas experiências ou outra forma de

conhecimento a esse respeito.

Segundo Rogers (2003), uma pessoa pode apresentar um papel relativamente

passivo quando exposta ao conhecimento sobre uma inovação, o que vai determinar a

sua ação de não ir em busca desta inovação, apenas toma consciência de que ela existe.

Entretanto, outra pessoa, ao tomar consciência de tal conhecimento, pode se interessar

por esta nova ideia. Para Rogers, os “indivíduos tendem a se expor a ideias que estão de

acordo com seus interesses, necessidades e atitudes existentes”42 (2003, p. 171).

                                                                                                                         42 No original: “individuals tend to expose themselves to ideas that are in accordance with their interests, needs and existing attitudes”.

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Neste sentido, os conhecimentos prévios a respeito do ensino a distância

poderiam influenciar o início da relação do professor com o processo de transição,

determinando a forma como cada membro da equipe estaria se envolvendo com as

atividades do curso de licenciatura em matemática.

Os professores que formam a equipe de Cálculo, já reunidos em uma

organização de trabalho dentro de seu Departamento de Matemática, foram

naturalmente encarregados de participarem das atividades de autoria e de tutoria

voltadas à construção do curso para a modalidade a distância.

Não necessariamente, todos os professores se disponibilizariam ou se

envolveriam, mas os que aceitaram integrar tal equipe e suas funções, concordaram em

estabelecer uma relação com o ensino a distância, possuindo ou não algum

conhecimento anterior a seu respeito. Ou, como disse o Professor 3, encararam como

“desafio” a realização deste trabalho.

Nesta adesão, estava implícita a ideia de que cada professor chegaria com a sua

bagagem de experiências anteriores, a qual poderia conter conhecimentos adquiridos

acerca do ensino a distância. Era importante, portanto, para começar a compreender as

relações que os membros desta equipe estabeleceram, identificar o que conheciam a

respeito deste “novo” trabalho.

Dentro do tema Conhecimentos prévios foram destacados dois subtemas que

emergiram das entrevistas, servindo para organizar os conhecimentos iniciais que os

professores apresentam para o desenvolvimento das atividades de autoria e tutoria:

conhecimento do curso presencial e experiências com o ensino a distância.

5.2.1 Conhecimento do curso presencial

Este subtema compreende os conhecimentos relativos ao curso de licenciatura

em matemática presencial e aquelas experiências acumuladas ao longo da prática

docente, seja em relação ao conteúdo matemático, seja em relação ao fazer pedagógico

do ensino da matemática.

Ao fazer menção ao curso de licenciatura em matemática, o Professor 1

demonstra uma preocupação com a estruturação do curso a distância para que possua

características semelhantes ao curso presencial criado no departamento há alguns anos.

Ele afirma que o curso presencial, que deu subsídios para o curso de licenciatura em

matemática na modalidade a distância, foi concebido no departamento de matemática a

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partir de muita discussão para a sua construção. Seu receio era de que o curso na

modalidade a distância não tivesse a mesma qualidade do curso presencial: “Como se

transporta isso para o ensino a distância? [...] Claramente o curso não é o mesmo.

Evidentemente não tem como fazer o mesmo. [...] Não queríamos fazer uma

transposição do livro didático para o ensino a distância”.

Esta fala do Professor 1 evidencia a consciência de que se está diante de uma

situação nova que, embora exija mudanças e traga incertezas, é entendida como “um

pouco diferente de outros cursos”. Portanto, a equipe, apesar de afirmar, no início, ter

pouco conhecimento com o ensino a distância, demonstra saber que “é um curso

inovador” (Professor 2) e percebe que precisa adquirir novos conhecimentos para fazer

esta transição do ensino presencial para o ensino a distância.

Os professores possuem experiência com o ensino de Cálculo no ambiente

presencial. A base da equipe, conforme observado no seu histórico e comentado pelo

Professor 1, é formada por três professores que possuem mais de 30 anos de experiência

nessa função.

Este fato trazia muita confiança para o trabalho que a equipe iria realizar,

principalmente porque todos os professores da equipe indicaram a base de

conhecimentos do conteúdo matemático e da experiência com os alunos no ensino

presencial como importantes para as atividades da equipe: “porque você vai levar em

conta conhecimentos prévios, você vai levar em conta a sua própria experiência e as

suas leituras teóricas” (Professor 2).

Ao longo das entrevistas, os professores relataram suas experiências

profissionais com o ensino presencial, demonstrando a valorização destas experiências

ao longo de suas trajetórias e indicando o quanto são valiosas para este trabalho no

ensino a distância.

Em síntese, o Professor 1 fala sobre a construção e a sua vivência no curso

presencial e sua experiência com o ambiente computacional; o Professor 2 fala sobre a

sua experiência profissional, sua visão sobre a aprendizagem do Cálculo, a relação com

os alunos e com sua atividade acadêmica de modo geral; o Professor 3 conta sobre a sua

forma de ver as atividades do ensino a distância, relacionando-as com a sua experiência

com o ensino presencial; e o Professor 4 fala da experiência e conhecimento adquiridos

na vivência com os alunos em sala de aula.

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5.2.2 Experiências com o ensino a distância

Com relação às experiências anteriores ao curso, apenas um membro da equipe,

o Professor 3, teve uma experiência como autor de um material para o ensino de

Álgebra Linear a distância. A elaboração deste material despertou no Professor 3

reflexões sobre formas de interação a distância: “quais seriam as possíveis dúvidas que

o aluno a distância teria? Como apoiar esse aluno que estaria em outro momento, em

outro lugar diferente do professor?”.

Já os demais professores relatam estarem pouco familiarizados com a área da

educação a distância, em geral. Estes professores desenvolveram pesquisa relacionada

ao ensino de Matemática com utilização do computador no ensino presencial, o que

resultou em um livro de atividades em ambiente computacional.

O Professor 1 relata com certos detalhes este trabalho, o que esclarece essa

relação de alguns membros da equipe com a utilização de ferramentas computacionais

no ensino da matemática. Nessas atividades, realizadas em laboratório de informática, o

professor encontra semelhanças com o ensino a distância por considerar que a

experiência no laboratório de informática, embora seja um ambiente presencial,

“possibilita um ritmo um pouco diferente”.

Neste sentido, esses professores apresentam indícios de conhecimentos prévios

do ensino da matemática com o uso de tecnologia, o que representa um elemento

facilitador para a relação com o trabalho de transição para o ensino a distância.

O Professor 2, ao se reportar à sua experiência com o uso do software Derive

para o ensino de Cálculo e ao acompanhamento de uma pesquisa sobre as vantagens e

desvantagens deste mesmo software, afirma que estas “no fundo se transportam para o

ensino a distância porque no ensino a distância você vai trabalhar por meio de

software. Então, você fica um pouco à mercê destes softwares, o que sempre foi muito

instigante para mim”.

O Professor 4, também, estabelece esta relação das ferramentas tecnológicas

com o ensino a distância, ainda que numa visão mais preocupada com o trabalho que

iria exercer na condição de tutor de disciplinas do curso e, portanto, com a utilização, de

certo modo mais intensivo, destas ferramentas. No entanto, considera que não é “uma

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pessoa muito da máquina”, que não gosta de computador, mas entende que no ensino a

distância “tem que ser assim”.

Para Rogers (2003, p. 172), o fato de o indivíduo ser capaz de estabelecer

ligações entre o que ele já conhece e o que necessita conhecer para adotar uma inovação

é indicativo de que há uma abertura para o seu entendimento acerca da inovação e,

consequentemente, a relação entre a pessoa e a inovação é facilitada.

No processo de inovação-decisão, este tipo de consciência que os professores

demonstram acerca da ideia de ensino a distância, embora não seja um conhecimento

sistematizado, sinaliza uma predisposição para aceitar a inovação. Os conhecimentos

prévios podem influenciar na percepção das características da inovação referentes às

vantagens relativas ao trabalho e à compatibilidade das novas atividades com a prática

pedagógica que já desenvolvem.

A forma como os professores se relacionam com a realidade do ensino a

distância ilustra bem as questões colocadas por Rogers (2003, p. 173), ao categorizar os

três tipos de conhecimentos sobre a inovação. Neste caso, podemos dizer que o

Professor 3, ao passar por uma experiência anterior com a autoria de material, se

encontrava, no início do contato com a inovação, mais “pronto” a desenvolver esta

relação de conhecimento do que os demais membros da equipe. No entanto, indícios dos

relatos dos demais professores levam a considerar que eles também buscaram

estabelecer relação com estes conhecimentos acerca da inovação, cada um, porém, em

seu próprio ritmo.

Confrontando os relatos dos professores quanto à percepção que têm das

características da inovação (ROGERS, 2003, p. 175), surgem elementos que fazem

parte de um exercício mental dos envolvidos com o processo de inovação-decisão sobre

as vantagens que tal relação/adoção poderia lhes proporcionar; sobre o que sabem e o

que a inovação requer de saberes; sobre a compatibilidade entre a sua prática docente e

aquela necessária para realizar as atividades de autoria e de tutoria. Na medida em que

os professores se relacionam com estes conhecimentos, encontram-se em meio a

conjecturas acerca da aceitação ou não da inovação, de acordo com o que possuíam de

conhecimentos e experiências próximas a esta. É assim que, como se expressa o

Professor 3: “enfrentam o desafio”.

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5.3 Formação para o trabalho com o ensino a distância

Este tema reúne as informações referentes à formação que os professores

receberam para exercer seu trabalho de elaboração do material do curso e para

desenvolver esse material com os alunos, na tutoria das disciplinas de Funções e Limites

e de Funções e Continuidade.

Dentro deste tema, agrupam-se dois subtemas, a partir dos quais se concentram

as interpretações conforme os elementos que foram identificados nos relatos dos

professores sobre a preparação para a realização das atividades de autoria e de tutoria.

Ao serem abordados na entrevista a respeito da formação que receberam para

executarem o seu trabalho, foram identificados nos relatos destes professores dois

momentos: um inicial, no qual receberam uma formação sobre o uso de ferramentas

tecnológicas; e um segundo momento, que ocorreu ao longo do trabalho, no qual

buscaram o apoio pedagógico e tecnológico de um professor externo à equipe, o

Professor de Apoio.

5.3.1 Formação para o trabalho

Este subtema reúne as ideias comuns ligadas às questões da formação que os

professores receberam para desenvolverem seu trabalho com o ensino a distância. Os

professores relatam que receberam formação específica sobre tecnologias que seriam

utilizadas para a elaboração do curso.

Tal formação, organizada dentro do próprio Departamento de Matemática, foi

voltada para a utilização das ferramentas tecnológicas, incluindo o ambiente virtual de

aprendizagem Moodle, e softwares matemáticos, tais como o Wiris43 e o Geogebra44.

As falas dos professores nas entrevistas não indicam que tenha ocorrido nesta

formação alguma discussão com relação aos aspectos pedagógicos referentes à

utilização destas ferramentas, embora elas próprias tenham características que auxiliam

o trabalho tanto com o ensino da matemática quanto com a edição do ambiente virtual

no qual o curso se realizaria.

                                                                                                                         43 Wiris é uma ferramenta para edição de fórmulas, cálculos matemáticos e representações gráficas em

ambientes on-line. Informações disponíveis em: http://www.wiris.com/en. 44 Geogebra é um aplicativo de matemática dinâmica que integra conceitos de geometria e álgebra.

Informações disponíveis em: http://www.geogebra.org/cms/.

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Os Professores 1, 2 e 4 afirmam terem feito, inicialmente, uma formação a

respeito do Moodle, mas sem se aprofundarem nos aspectos pedagógicos do uso desta

ferramenta, tendo em vista as especificidades do ensino a distância, conforme registra o

Professor 2, ao afirmar: “tivemos, sim, curso, tipo o Moodle, usar o Wiris, quer dizer,

para usar tecnologia, mais tecnologia”, e complementa dizendo: “fizemos algumas

oficinas, também, mas não especificamente sobre o Cálculo, era sobre o uso de

tecnologia”.

Os professores se referem a esta formação inicial como sendo de cunho mais

tecnológico, dando indícios de que, naquele momento inicial, ainda não era exigida

deles uma reflexão pedagógica a respeito do “novo” ambiente de ensino: “a equipe foi

montada a partir dos seus conhecimentos de Cálculo mais do que do conhecimento de

educação a distância. Então, a gente se organizou de modo diferente”.

O Professor 3 não teve a mesma formação inicial preparatória para o trabalho,

como os demais integrantes da equipe, pois este professor ingressou na equipe

posteriormente. No entanto, realizou a sua capacitação para o uso do Moodle em um

curso de formação que discutiu, também, os aspectos pedagógicos do ambiente. Este

curso de formação não foi como o anterior, sendo realizado em outra unidade da

instituição. Conforme relata o Professor 3, foi um curso presencial em que “a gente

discute as possibilidades da plataforma Moodle, mas também discute aspectos

pedagógicos”.

Nas entrevistas, os professores manifestam suas preocupações com a execução

do trabalho, com a forma de apresentar o conteúdo e como fazer para avaliar se o aluno

estava compreendendo o que estava sendo proposto. Referindo-se à preparação do

material, o Professor 2 afirma que “antes, a minha preocupação era de pensar em como

iria acontecer a aprendizagem de uma disciplina difícil, em que, estando do lado do

aluno a todo momento, mesmo assim, ele fica com dificuldades; a distância será que ele

tem?” (Professor 2).

Uma formação que aborde os aspectos pedagógicos da educação a distância

pode apresentar elementos que permitam ao professor vislumbrar possibilidades para

lidar com o processo de ensino e as especificidades da modalidade a distância, levando

a diminuir as incertezas. Esta reflexão se baseia na relação que o professor pode

estabelecer com a inovação ao obter um conhecimento mais aprofundado a seu respeito,

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ou seja, o conhecimento acerca das especificidades do processo de ensino e de

aprendizagem na educação a distância.

Este tipo de conhecimento é denominado por Rogers como conhecimento-de-

princípios, que consiste no intercâmbio de informações sobre os parâmetros de

funcionamento da inovação. Segundo Rogers, “a competência de indivíduos em julgar a

eficácia de uma inovação é facilitada por sua compreensão sobre os princípios”45 (2003,

p. 173).

Neste caso específico, a formação recebida sobre as ferramentas tecnológicas em

si mesmas não facilitou as atividades da equipe, como demonstra a fala do Professor 3

sobre o início de suas atividades de preparação do curso. Este professor diz que tinham

“sempre muitas dúvidas a respeito da ferramenta que seria utilizada”. Embora seja

compreensível o surgimento de dificuldades, ficam evidenciadas lacunas ocorridas na

formação inicial, como demonstra a seguinte fala: “Seria possível colocar um gráfico,

que fosse dinâmico, que o aluno pudesse mexer? Como iríamos construir os gráficos?

Qual software iríamos usar?” (Professor 3).

Tais lacunas, supridas ao longo do curso, naquele momento, dificultaram a

compreensão do uso das ferramentas e de suas funcionalidades no processo de ensino-

aprendizagem. As falas do Professor 3 mostram que necessitavam ter um outro

conhecimento, além de saber “o que” a ferramenta faz.

A formação para o trabalho apresenta uma relação importante com o processo de

inovação-decisão de Rogers (2003), pois está relacionada com o grau de

conscientização dos elementos que compõem esta nova prática, sejam os aspectos

tecnológicos, sejam os aspectos pedagógicos relativos às especificidades do “novo”

contexto de ensino.

As dificuldades e as facilidades que surgem ao longo do curso contribuem para a

formação da opinião a respeito da inovação, influenciando, também, no tempo que o

professor pode levar para tomar a decisão de adotar a nova ideia, ainda que

parcialmente.

Os indícios levantados neste subtema apontam que a formação inicial foi um

fator que pouco facilitou o trabalho dos professores, tendo contribuído para dar uma

                                                                                                                         45 No original: the competence of individual to judge the effectiveness of an innovation is facilitated by their understanding of principles know-how.

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visão sobre o ambiente de aprendizagem e suas possibilidades técnicas, mas não sobre

as condições referentes aos aspectos pedagógicos do ensino a distância.

5.3.2 Formação ao longo do trabalho

Este subtema agrupa as informações que se referem às necessidades que

surgiram ao longo da realização do trabalho e às estratégias que os professores adotaram

na busca de soluções. Os indícios encontrados nos relatos dos professores apontam que

tais necessidades foram sendo trabalhadas com o suporte de um professor externo à

equipe, o Professor de Apoio.

O Professor 1 relata ter pouco conhecimento a respeito do computador e que na

hora de utilizar os softwares Wiris e Geogebra, a equipe “contou com todo o apoio” do

Professor de Apoio, o qual, além de tirar as dúvidas, auxiliava na estruturação do

próprio material quanto à manipulação das ferramentas tecnológicas. Sem isso, “não

teríamos montado, jamais, as nossas atividades”.

O Professor 3 diz que a presença do Professor de Apoio era tão constante que,

embora não participasse da concepção do material, o seu nome aparece também na

autoria do material da disciplina Função e Limites, dada a participação ativa na sua

implementação.

O Professor de Apoio é apontado como o elemento facilitador do trabalho pelo

seu suporte e desencadeamento das questões referentes ao ensino a distância. O

Professor 3 relata que o suporte que a equipe recebeu, além de ser um suporte técnico,

também oferecia um direcionamento, levando os professores a pensar sobre o tipo de

atividade e o que pretendiam com ela.

Segundo relato do Professor 3, o Professor de Apoio apresentava situações que

os colocava a pensar em seus objetivos, orientando para que a atividade fosse colocada

de acordo com o que a equipe pretendia observar e relacionava a ferramenta com os

aspectos pedagógicos.

É na fase de Implementação que os conhecimentos relativos à inovação se

aprofundam, ou deveriam ser aprofundados para motivar a adoção da nova ideia, a de

ensinar a distância. Quanto mais abrangente for a formação inicial e a que acontece no

decorrer do curso, menor será o grau de incerteza, e maior a probabilidade de aceitação.

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Sendo assim, a formação deve vir acompanhada de elementos que permitam aos

professores refletirem sobre as vantagens e desvantagens da incorporação de recursos

tecnológicos em suas práticas educativas. Para conseguir alcançar seus objetivos com

atividades, como manipulação gráfica de funções ou ideias intuitivas de conceitos

matemáticos com a utilização de softwares, o professor necessita estar familiarizado

com as ferramentas tecnológicas no sentido de conhecê-las e, se possível, manipulá-las,

a fim de explorar o seu potencial pedagógico.

Para isso, o professor precisa ter uma formação que lhe proporcione tais

entendimentos, ao mesmo tempo conceituais, técnicos e práticos, para que possa ter

uma visão acerca da utilização das ferramentas tecnológicas. Assim, o professor vai

conseguir elaborar uma atividade ou demonstrar um conceito matemático, tendo visão

sobre o processo e consciência de que esta é uma atividade para um ambiente “novo”

que, por si só, já requer novos conhecimentos e formas específicas de apresentar o

conteúdo, de relacionar as ideias e de promover um diálogo com o aluno.

Possuir domínio sobre o seu fazer pedagógico, independentemente de ser no

ambiente presencial ou a distância, confere ao professor maior autonomia sobre o seu

processo de ensino e de aprendizagem. A formação, portanto, para além dos aspectos

técnicos, deve desenvolver no professor a consciência de que a experiência acumulada

no ensino presencial e a formação acadêmica são fundamentais, mas que serão, também,

necessárias novas habilidades para atender às especificidades do ensino a distância.

Com base na etapa de Persuasão de Rogers, ao ingressar no processo de

formação e iniciar as atividades do trabalho, o professor se torna psicologicamente mais

envolvido com o ensino a distância, ou seja, já tem consciência de que se encontra em

um processo de transição no qual começa a conhecer, estabelecer relações mais diretas

com as atividades do trabalho que se propôs executar. Encontra-se, por isso mesmo, em

um contexto que favorece a busca ativa por informações sobre a nova ideia, decidindo

que informações são relevantes e como interpretá-las (ROGERS, 2003). Assim, vai

desenvolvendo uma percepção mais geral sobre a inovação, para que possa avançar em

sua decisão (etapa de Decisão) e se engajar na implementação (etapa de

Implementação) com um grau de certeza suficiente para realizar as atividades

demandadas pelo novo contexto.

Ao desenvolver uma atitude favorável ou não quanto à inovação, Rogers (2003,

p. 175) afirma que

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um indivíduo pode mentalmente aplicar a nova ideia à sua situação presente ou antecipar o futuro antes de decidir se vai mesmo experimentá-la. Esse julgamento vicário envolve a habilidade de pensar hipoteticamente e contra factualmente, e para projetar em relação ao futuro: E se eu adotar esta inovação?46.

Conforme o modelo de Rogers (2003), a formação recebida, paralelamente ao

processo de transição do ensino presencial para o ensino a distância, influencia o

comportamento do professor durante a passagem da etapa da Persuasão à

Implementação.

A busca por informações sobre a inovação, as mensagens que chegam ao

professor diante dos novos conhecimentos e da relação com os membros da equipe,

além do apoio externo, se tornam componentes que podem facilitar ou dificultar a

relação do professor com a inovação, determinando estratégias de ação, como

iniciativas pessoais de buscar informações, complementar conhecimentos, estar aberto

para outras possibilidades a partir da vivência com o contexto do trabalho.

5.4. Relação com o processo de transição  

A formulação deste tema foi motivada pela investigação dos elementos que

estão relacionados com o processo vivido pelos professores na transposição didática do

ensino presencial para o ensino a distância, evidenciando as componentes ligadas às

atitudes assumidas diante da inovação, tais como a iniciativa pessoal, tomada de

decisão, organização da equipe e de cada um dos seus membros. Encontram-se

vinculadas a este tema as crenças apresentadas pelos professores em suas falas, tanto

aquelas que os professores possuíam antes do início do trabalho quanto as que

adquiriram a partir da experiência, ou seja, do contato com o ensino a distância. As

expectativas diante do trabalho que iriam executar neste “novo” cenário, também,

compõem o grupo de elementos a serem analisados, bem como as reflexões

desenvolvidas pela equipe na relação com o processo de transição.

5.4.1 Atitudes

Este subtema engloba os elementos relacionados às atitudes dos professores

diante da inovação, ou seja, diante da ideia de ensinar a distância. São identificadas                                                                                                                          46 No original: “an individual may mentally apply the new idea to his or her present or antecipated future

situation before deciding whether or not to try it. This vicarious trial involves the ability to think hypothetically and counterfactually and to project into the future: What if I adopt this innovation?”

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neste subtema as ações pessoais e coletivas que os professores desenvolveram junto ao

processo de transição do ensino presencial para o ensino a distância considerando a

percepção que tiveram sobre esta inovação ao longo desse período.

O Professor 1 dá indícios em suas falas de que possui uma abertura para a

realização do trabalho com o ensino a distância e, embora “reconheça seus limites”,

envolve-se com o processo de construção do material para as disciplinas, buscando

recursos, tais como vídeos e softwares, preocupando-se com a forma de exposição do

conteúdo, acompanhando o curso e tomando iniciativas para que tenha um nível de

qualidade equivalente ao curso de licenciatura em matemática na modalidade

presencial.

O envolvimento do Professor 1 e do Professor 3, principalmente por serem

responsáveis diretos pela primeira disciplina da área de Cálculo, leva-os, a buscar pelo

suporte do Professor de Apoio de modo mais intensivo. Ao longo do processo, estes

professores vão adquirindo uma certa autonomia, ao buscarem e discutirem alternativas

de ferramentas para a elaboração das próximas disciplinas.

A questão era achar a ferramenta que processasse essa simbologia e que a gente pudesse pegar o símbolo e discutir [...] nós fizemos algumas adaptações, por exemplo, o Professor 3 está fazendo algumas questões de Integral e a gente queria discutir bastante essa questão de pegar um ponto arbitrário nos intervalos, e estava difícil de achar um software [...] então, estávamos com um pouco de dificuldades, mas deu pra adaptar o Winplot47.

Um fator a destacar sobre o Professor 1 é que ele apresenta uma motivação

pessoal para trabalhar com a autoria de materiais para o ensino a distância desde que

haja uma equipe engajada como esta com a qual está trabalhando, o que indica que

percebe a importância do trabalho coletivo para o ensino a distância, principalmente

pelas afinidades entre seus membros.

Esta é uma atitude positiva diante da inovação e evidencia uma predisposição

para aceitar a ideia de ensinar a distância, pelo menos, em termos de acompanhar o

processo de desenvolvimento dos alunos do curso.

Quanto ao Professor 3, um fator que facilitou a sua relação com o processo de

transição foi o fato de, ao integrar a equipe, já trazer uma concepção de educação a

distância e uma perspectiva de realizar outros trabalhos nesta modalidade. “Na hora de

fazer parte desta equipe, eu já tinha uma outra visão e envolver com o trabalho foi

                                                                                                                         47 Programa educacional gratuito que resolve funções gráficas e equações matemáticas. Informações disponíveis em:

http://math.exeter.edu/rparris/winplot.html.

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mudando mais ainda. Então, hoje eu acredito que é possível, sim, um curso de

qualidade a distância”.

A experiência anterior ao curso de licenciatura e o fato de ser tutor de disciplinas

deste curso contribuíram para que este professor se despertasse mais profundamente

pelas questões que envolvem o ensino a distância. Na medida em que fazia o

acompanhamento do desenvolvimento do aluno e percebia os resultados de

aprendizagem, aumentava sua confiança na eficácia do ensino a distância, o que o

levava a buscar novas informações e a se envolver mais com o processo de pesquisar

ferramentas tanto para a apresentação do conteúdo quanto para avaliar e acompanhar os

alunos. Eu acho que a nossa equipe procura fazer um trabalho de verdade, um trabalho diferenciado. As pessoas trabalham seriamente, o trabalho que este tutor está fazendo é assim de formiga, indo e vindo e falando... É um trabalho que ele está fazendo maravilhosamente bem. (Professor 1)

O Professor 4, embora, no início, se mostrasse com um certo receio de se

engajar no trabalho de tutoria, pela questão das ferramentas tecnológicas envolvidas, ao

longo do processo consegue ultrapassar esta barreira. A interação com os alunos o faz

“perceber algumas coisas...”, inclusive que “o trabalho precisa ser melhorado”. Ao

final, apesar de ser trabalhoso, admite gostar de interagir com os alunos neste ambiente.

“Dá trabalho, mas é gostoso de trabalhar, principalmente com esses alunos que você

percebe que estão dispostos, que estão envolvidos. É muito bom!”.

Em síntese, as falas dos membros da equipe evidenciam que o Professor 3, por

se colocar mais próximo do Professor de Apoio, assume um papel de destaque na

implementação dos materiais no ambiente virtual e na adequação das atividades às

ferramentas tecnológicas. Em várias oportunidades, este professor é mencionado pelos

outros membros pelo trabalho desempenhado, o que faz emergir aqui mais um elemento

facilitador do processo de transição para o ensino a distância: a existência de um elo que

facilita a comunicação e o encaminhamento das questões que vão surgindo ao longo do

curso.

Rogers (2003) considera que adotantes iniciais que rapidamente estabelecem

uma relação mais próxima com a inovação desenvolvem certas características que

fazem com que sua opinião seja respeitada pelos demais membros e suas ações podem

gerar um grau de certeza maior nos outros membros da equipe, influenciando a decisão

destes quanto à aceitação da inovação.

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5.4.2 Crenças e expectativas

Neste subtema, foram agrupados elementos que, direta ou indiretamente,

contribuem para a compreensão das ações da equipe diante da inovação. Tais elementos

estão relacionados às ideias, crenças e expectativas que os professores possuíam

anteriormente ao trabalho ou que desenvolveram no decorrer do processo.

De acordo com a forma em que a equipe se organizou, alguns membros

assumiram colaborar com o processo assumindo apenas o trabalho de autoria do

material, enquanto outros se dedicaram às funções de autoria e tutoria.

Neste sentido, os Professores 1 e 4, no início, não se consideravam seguros para

interagir com os alunos a distância. Enquanto o Professor 1 mostrava abertura para o

uso das tecnologias, mas preferia a interação presencial, o Professor 4, inicialmente,

preferia não participar da tutoria, preocupado que estava com a quantidade de alunos e

com o uso das ferramentas tecnológicas.

A crença no trabalho que a equipe era capaz de realizar é unanimidade entre os

professores e representa um fator facilitador para a realização das atividades. A

confiança no empenho e na competência para desenvolver o material é reforçada pelas

observações feitas sobre as relações do trabalho em equipe e por suas próprias falas.

“Acho que nós todos nunca duvidamos da possibilidade de elaborar este material [...].

Sabíamos que seria um desafio, que seria o nosso primeiro curso.” (Professor 3).

O Professor 2 fala sobre a sua expectativa em desenvolver algo novo com o

trabalho, o que indica um fator facilitador diante da “inovação” no sentido de ver na

realização das atividades a possibilidade de executar um “ensino diferenciado”.

O Professor 3 revela suas dúvidas quanto à eficácia do ensino a distância na área

de matemática:“Eu tinha a concepção que muitos têm, uma coisa muito do senso

comum, de que seria algo de qualidade duvidosa, algo que seria difícil de fazer em

matemática, principalmente”. Menciona que sua experiência anterior na autoria de

material para o ensino de Álgebra Linear foi restrita à elaboração do conteúdo, sem

estabelecer vínculos com as atividades e com a forma de exposição. Embora tenha

trabalhado na elaboração deste material de modo isolado e sem uma formação

específica, esta experiência já o havia despertado para algumas preocupações quanto à

elaboração de materiais para o ensino a distância.

Ao longo da vivência com o curso de Licenciatura em Matemática, porém, sua

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crença na possibilidade de tal ensino foi sendo modificada, levando-o a pensar em

formas diferentes de apresentar o conteúdo e a explorar os recursos tecnológicos de

modo a tornar significativas para o aluno as ideias matemáticas. Ao final, este professor

revela que acredita no ensino da matemática na modalidade a distância, ponderando que

a qualidade do curso vai depender “da sua estrutura, da instituição da qual faz parte

[...] dos instrumentos, das ferramentas e, [...]também, da organização”.

Um outro ponto importante foi a visão sobre o aluno e o seu comportamento

diante do ensino a distância.

O Professor 3 mostra que a sua ideia com relação à postura do aluno era de que

este tivesse liberdade para fazer o curso quando e como quisesse, porém, a experiência

o levou à constatação de que o aluno a distância tem que se “disciplinar” para poder

fazer o curso. Se ficar assim, a hora que ele quiser, ele não faz, então, é muito diferente do que eu pensava. Neste sentido, é outra visão, se for um aluno mais organizado, mais disciplinado, ele consegue desenvolver autonomia, mas eu não pensava isso da educação a distância. Em relação ao conhecimento matemático, sempre tem [...] uma ou outra descoberta, mas eu diria que o grande diferencial foi a abordagem. Faz a gente repensar a forma de abordar determinado assunto, mesmo que esteja relacionado a uma matemática mais avançada (Professor 3).

Os conhecimentos prévios acumulados em experiências anteriores, seja em

situações presenciais, seja a distância, geraram expectativas sobre a “qualidade” que o

curso viria a ter.

O Professor 1 se refere à sua expectativa de ver refletida no curso a distância a

mesma qualidade do curso presencial de Licenciatura em Matemática.

A expectativa do Professor 3 está voltada para a formação do aluno. “Será que,

realmente, com a abordagem que nós estamos fazendo e com esta dinâmica de curso, o

aluno vai aprender? [...] Que tipo de professor a gente vai formar no futuro?”

O Professor 2 demonstra ter vontade de fazer algo diferente do presencial. “A

minha expectativa era de fazer alguma coisa nova, de poder ter tempo para refletir e

oferecer um novo material, alguma coisa que tivesse um efeito diferente do que uma

aula”.

Já o Professor 4, ao tomar conhecimento do trabalho, achava que “poderia dar

certo” e diz que ficou “bem entusiasmado” com composição da equipe, encarando o

desafio como mais atividade de trabalho. “Não tive nenhuma expectativa, eu fui

trabalhar e pronto”.

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Embora os professores, nesta altura do curso, não tenham parâmetros suficientes

para constatar como os alunos estão, acreditam que a aprendizagem nas disciplinas

introdutórias de Funções e Limites e Funções e Continuidade vai se refletir ao longo do

curso.

Os relatos com relação às expectativas sobre o trabalho antes do seu início

mostram que os professores se preocuparam explicitamente com a aprendizagem dos

alunos, com a forma como seria avaliada a aprendizagem a distância e com a adequação

do material ao perfil dos alunos.

As expectativas dos professores quanto ao uso dos recursos tecnológicos

favoreceram o processo de transição, pelas experiências anteriores e pela consciência de

que o ensino a distância pressupõe o emprego de tecnologias de informação e

comunicação. Mesmo o Professor 4, que apresentava, inicialmente, um “pouco de

receio”, após a experiência com tutoria e interação com os alunos, tem sua visão

ampliada, considerando que este trabalho “é muito bom”.

5.4.3 Avaliação da experiência

As questões norteadoras da entrevista buscaram levar os professores a

formularem uma avaliação informal e pessoal, expressando seu ponto de vista sobre a

experiência.

Neste subtema de análise foram agrupados elementos que os professores

apresentaram em suas colocações a respeito de suas reflexões referentes ao trabalho

realizado nas disciplinas introdutórias.

No geral, fazem uma avaliação positiva do desenvolvimento destas disciplinas,

embora admitam que “sempre tem o que enriquecer e muito”(Professor 3).

Assim, percebem que alguns itens referentes aos conteúdos deverão ser

repensados a partir de algumas práticas já desenvolvidas no presencial, a partir do

acompanhamento dos alunos e da avaliação desta primeira versão do curso. O material não seria uma total reformulação, seria uma complementação [...]. Então, eu acho que o material, a avaliação e, talvez, ferramentas, talvez, a estrutura do curso... acho que deveria colocar Diário de Bordo ao final de cada tópico: o aluno iria relatar o que aprendeu, o que não aprendeu, o que acha que aprendeu, onde teve mais dificuldade, se foi na ferramenta, se foi no conteúdo matemático, nos conceitos. Isso já é uma coisa que vou fazer no próximo (Professor 3).

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Eu acho que o material nunca pode permanecer o mesmo, isso sempre tem idas e vindas. Mas eu acho que ele foi trabalhado com bastante cuidado por todos os professores e que as mudanças que se realizaram e as que precisam ser feitas não são tão grandes... na linha mestra, a gente seguiria no mesmo rumo (Professor 1).

No mesmo sentido, a experiência do Professor 2 o leva a considerar que o curso

tem ainda que melhorar em alguns aspectos, justificando que esta é uma primeira

experiência e ajustes são inevitáveis. “É necessário fazer avaliações periódicas, como

em todos os outros cursos, mas neste, por ser uma novidade, deveria haver um

rompimento, digamos, de prática, de metodologia, de formas de se relacionar, enfim,

são vários elementos que se alteram”. Desse modo, avalia a necessidade de a equipe

aprofundar seus conhecimentos sobre o ensino a distância e sobre a relação professor-

aluno, que entende ser diferenciada na modalidade a distância.

O Professor 3 também demonstra essa preocupação em compreender e buscar

informações de como lidar com estas diferenças, como motivar os alunos e mantê-los

motivados e participantes nas atividades propostas. Talvez esta formação para o professor que vai atuar no curso a distância não só nos aspectos tecnológicos, não só com as ferramentas, mas com relação aos aspectos didáticos, pedagógicos, acho que um curso assim, que leve em conta estas vertentes, não só as ferramentas em si, iria ajudar bastante (Professor 3).

O Professor 2 ressalta o empenho e a “boa vontade” da equipe, reconhecendo

que “a gente foi um pouco, digamos, na esteira do que já sabe, do que acha que está

avançando um pouco, mas não muito metodologicamente ou teoricamente estruturado

[...] Uma equipe com vontade de fazer alguma coisa nova”.

Assim, as especificidades do ensino a distância começam a ser percebidas bem

como a necessidade de promover readequações na estruturação do material, nos

procedimentos metodológicos e no uso das ferramentas. De acordo com Rogers, nesta

etapa de Confirmação, a ampliação do conhecimento sobre as características da

inovação reforça a continuidade de sua adoção.

As falas dos Professores 3 e 4, relatando suas atividades de autoria e de tutoria,

indicam que a visão deles sobre o curso, a elaboração do material e o trabalho com os

alunos foi sendo modificada com a experiência vivida. Ambos passam a sentir a

necessidade de uma formação mais específica em relação aos aspectos do ensino a

distância. Mas, ao mesmo tempo, se mostram capazes de apontar sugestões de

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mudanças, o que evidencia que estão aprendendo com a prática e com a reflexão sobre

esta mesma prática.

Para o Professor 4, a experiência com a prática permite identificar as alterações

a serem feitas, mencionando que “isso só se percebe quando o curso acontece [...]

porque às vezes a gente tem mais dificuldade de perceber quais serão as dificuldades

dos alunos. Eu acho que tem coisas pra rever sim, mas que talvez seja natural que seja

assim”.

Quanto ao instrumental tecnológico, a busca por ferramentas se volta para

aquelas que auxiliam a apresentação do conteúdo, aquelas que permitem aos alunos

visualizarem as ideias matemáticas e, ao mesmo tempo, facilitem o trabalho de

acompanhamento da aprendizagem feito pelos professores-tutores.

Os relatos dos Professores 1 e 3 indicam, inicialmente, que requisitavam de

modo mais intensivo o auxílio do Professor de Apoio. Ao longo do curso, no entanto,

vão adquirindo certa autonomia em pesquisar, testar e inserir, por iniciativa própria,

novos recursos no ambiente virtual, bem como elaborar vídeos para apresentação das

disciplinas Com relação ao trabalho de autoria, o Professor 1 e o Professor 3 falam

sobre a busca por fontes que auxiliassem na construção do material do curso. O

Professor 3 ainda complementa falando sobre a procura por informações que o

ajudassem a entender as relações com esse “novo” ambiente de ensino.

O elemento facilitador da relação com a inovação que se evidencia aqui é o

desenvolvimento da autonomia.

Ao acompanhar o desempenho do Professor 3 em seu trabalho de tutoria, o

Professor 1 afirma que a oportunidade de interagir individualmente com o aluno

provavelmente seja maior no ensino a distância do que no presencial, “porque no

ensino presencial você trabalha todo mundo como a sua classe e aí (no ensino a

distância) você tem uma interação mais pessoal com este aluno, com aquele aluno,

então, dá para acompanhar certas coisas”. Este fato indica que diminuiu a

preocupação inicial do professor com a questão da avaliação no ensino a distância, já

que admite ser possível acompanhar o desenvolvimento dos alunos.

O Professor 1 afirma que aceitaria trabalhar com autoria em outras

oportunidades, dependendo das características da equipe. Problemas ocorridos durante a

primeira oferta da disciplina poderão ser evitados e, assim, se sente mais tranquilo e

seguro na reoferta da disciplina. Para ele, a experiência vivenciada lhe possibilitou

perceber diferenças quanto à maturidade dos alunos do ensino a distância. Em relação

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ao aprendizado, ele não percebe diferença entre os alunos do presencial e do curso a

distância, mas ressalta que o trabalho de autoria requer a necessidade de se colocar mais

no lugar do aluno, de se questionar mais sobre o próprio material e a forma de

apresentá-lo. “Ao preparar um determinado material para a educação a distância, você

se faz muitas e muitas perguntas, se coloca mais no lugar do aluno do que

propriamente se você está ali na presença”.

O Professor 2 percebe a ensino a distância como algo indiscutível, desde que

seja trabalhado com pesquisa, formação e estudos e que não seja algo “assim

espontâneo”, mas que o professor perceba como necessária a evolução do trabalho. “Eu

acho que não tem que se discutir a distância, tem que se aceitar e fazer da melhor

forma possível”.

Para o Professor 3, um fator que gerou preocupação, no início, foi a

possibilidade de uma quantidade maior de alunos e o tempo que isto requer, o que foi

amenizado com o número reduzido de alunos.

O Professor 3 fala, ainda, da necessidade de desenvolver atividades de pesquisa

e grupos de estudos para dar subsídios à elaboração de material. Assim, os professores

que exercem tutoria deveriam estar mais próximos dos professores autores, mesmo que

estes não pertençam à mesma Instituição. “Eu acho que o professor formador deve

fazer parte da equipe ou estar muito próximo dela, ajuda e muito e diria que chega a

ser fundamental”.

O Professor 4 apresenta uma mudança de atitude com relação à aceitação do

trabalho com a tutoria, principalmente, devido à sua experiência. Com relação ao

trabalho, o professor diz que é realizado com uma certa “facilidade”. Embora não tenha

“muita preparação”, percebe que existem diferenças entre o ensino presencial e o

ensino a distância e admite que “apesar disso, está aprendendo”.Para ele, o número

reduzido de alunos também pode ter interferido em sua atitude com relação ao trabalho

com a tutoria, levando-o a querer se envolver mais com o trabalho de tutoria, o que era

impensável antes dessa primeira experiência.

De acordo com a teoria de Rogers (2003), embora a equipe seja um conjunto de

pessoas e o trabalho exija atitudes em conjunto, elas possuem ideias individuais e cada

uma apresenta níveis diferenciados de aceitação do processo de inovação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Neste tópico, são apresentadas as considerações finais acerca do trabalho

realizado nesta pesquisa, apresentando os resultados obtidos à luz dos objetivos

propostos.

A origem desta pesquisa se encontra relacionada com experiências acadêmicas

vivenciadas na relação com professores que iniciam atividades de trabalho no ensino a

distância. Vindos de realidades distintas, estes professores, com conhecimentos ou não a

respeito do que seja educação a distância, se deparam com uma “nova” realidade, que

requer sua “aceitação” e seu envolvimento.

Deste modo, a pesquisa realizada se orientou pela questão central: que

componentes estão presentes nas estratégias adotadas por uma equipe de professores

no processo de transposição didática de um curso presencial para um curso ministrado

a distância e em que medida podem interferir na decisão de aceitar ou não a inovação?

Neste sentido, a ideia de inovação pareceu adequada para compreender a

situação por que passam os professores ao se depararem com uma “nova” situação de

trabalho na qual a experiência acumulada no ensino presencial é muito importante,

porém, insuficiente para atender às novas demandas pedagógicas, tecnológicas e de

gestão específicas da modalidade de ensino a distância.

A atuação docente no ensino a distância exige o repensar do fazer pedagógico do

professor, uma ressignificação de seus saberes e de suas práticas educativas, uma vez

que criar, desenvolver e ministrar um curso a distância não é apenas transpor para um

ambiente virtual o mesmo curso que é ministrado presencialmente. As exigências vão

muito além de um arranjo mecanicamente bem ajustado. Novas competências, atitudes e

valores são requeridos dos professores, que precisam se empenhar na “transposição

didática” do curso para a modalidade a distância, observando-se questões legais,

aspectos pedagógicos, tecnológicos e de gestão específicos deste novo modo de ensinar

e aprender.

O próprio professor vai tomando consciência das suas fragilidades para o efetivo

exercício da docência em cursos a distância, valendo-se, no entanto, dos seus saberes

anteriormente adquiridos para compreender as exigências deste processo de transição.

Neste percurso, surgem elementos que vão contribuir ou dificultar a sua relação com as

atividades desenvolvidas no ensino a distância. Surgem, também, negociações e

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estratégias para o enfrentamento destas situações, propostas por agentes institucionais −

a instituição, a coordenação do curso ou especialistas que acompanham o

desenvolvimento do trabalho − e, também, pelo próprio professor interessado sem o

qual “um processo de inovação educacional não sobrevive” (HERNANDEZ et al.,

2000).

Compreender como se dá este processo pelo qual o professor passa ao se

envolver com a transposição do ensino presencial para o ensino a distância foi o fio

condutor desta investigação.

Partindo, então, da premissa de que se trata de um processo em que o professor

está lidando com uma inovação em sua prática de ensino, foi realizada uma pesquisa

bibliográfica sobre inovação e inovação educacional, o que implicou uma incursão

sobre inovação tecnológica e, em última análise, sobre formação do professor.

Diante deste cenário, buscou-se no modelo de Rogers, conceitos e categorias

explicativas que pudessem servir para aumentar a compreensão a respeito dos elementos

que constituem o processo pelo qual passa o professor desde que entra em contato com

a ideia de ensinar a distância até a sua confirmação ou não pela adoção desta proposta

de trabalho, incorporando-a à sua prática docente.

No contexto educacional, a ideia de inovação recebe denominações, tais como

mudança, e, mesmo, ruptura de uma prática para outra. No entanto, no âmbito desta

investigação, não se trata, necessariamente, de modificá-la. Diante da inovação − o

ensino a distância − o professor reage adequando-se a ela, a partir de seus

conhecimentos, habilidades, visão de mundo e convicções pedagógicas, estabelecendo

novas relações com os elementos inovadores e agregando a eles outros conhecimentos.

A inovação, portanto, se estabelece em um contínuo da ação docente.

Nas incursões ao campo da pesquisa, foram coletadas informações que

subsidiaram a construção do caminho metodológico bem como os parâmetros para a

entrevista aos professores e posterior tratamento dos dados obtidos. As informações

iniciais foram coletadas de modo informal no acompanhamento de atividades e em

diálogos estabelecidos com a coordenação, professores e alunos do curso, o que

proporcionou conhecer o contexto do trabalho destes professores em várias perspectivas

e facilitou, posteriormente, a análise dos seus relatos nas entrevistas. O

acompanhamento do curso no Ambiente Virtual de Aprendizagem durante as

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disciplinas que serviram de base para o tempo de contato inicial do professor com a

inovação, também, proporcionou subsídios importantes para a interpretação dos dados.

Com base neste cenário, foi realizado um processo de trabalho com os dados das

entrevistas, utilizando-se as técnicas de análise de conteúdo propostas por Bardin

(2009).

Os aportes teóricos, as observações e a análise temática dos dados coletados

permitem estabelecer algumas inferências que ampliam a compreensão do processo por

que passam professores que se envolvem com a transposição de um curso presencial

para um curso na modalidade a distância.

A utilização do processo inovação-decisão, de Rogers (2003), como quadro

explicativo para se compreender a relação que o professor estabelece com o processo de

transposição didática do ensino presencial para o ensino a distância, evidenciou que esta

relação consiste em um processo contínuo e não linear no qual as negociações

acontecem a todo momento e no qual o professor avalia e reavalia continuamente suas

decisões.

Assim que o professor entra em contato com a inovação, busca novos

conhecimentos, procurando estabelecer associações com o que já conhece e efetuando

trocas de informações com seus pares, a fim de afirmar as suas opiniões, esclarecer suas

dúvidas e efetivar suas atividades de trabalho. Deste modo, o professor vai, pouco a

pouco, adequando seu desempenho e aperfeiçoando suas condições de trabalho ao longo

do caminho, a partir das estratégias que estabelece pessoal e coletivamente com a

inovação, ou seja, com o ensino a distância.

As condições de trabalho são fundamentais para a relação entre o professor e a

sua prática de ensino. Assim, percebeu-se que para uma equipe em formação para o

ensino a distância é importante dispor de um tempo dedicado a esta atividade.

Um elemento facilitador para a sistematização e realização do trabalho consistiu

no fato de os professores se conhecerem e se reconhecerem como professores de uma

mesma área e se respeitarem mutuamente. Neste caso, academicamente, se consideram

pares, e, ainda que sentindo falta de conhecimentos referentes à educação a distância, se

sentem encorajados pelo espírito do grupo, o que é caracterizado por Rogers (2003)

como indícios de homofilia.

O Professor de Apoio, por ser um professor conhecido dos membros da equipe −

é professor do mesmo convívio, tem a mesma formação profissional e participa da

vivência acadêmica −, mostrou ser um ícone importante, no que se refere à confiança

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para o desenvolvimento do trabalho e ao suporte tecnológico prestado à equipe, além de

ser uma referência pedagógica no que diz respeito a despertar os professores para as

necessidades inerentes à modalidade a distância e para o que pretendiam com o ensino

dos conteúdos de Cálculo.

Ao fazer as análises dos temas, foram identificados em cada um deles, relações

com o processo de inovação-decisão, de Rogers (2003). Nas interpretações das

informações coletadas, foram identificados elementos que surgiam, ora facilitando ora

dificultando a relação dos professores em suas atividades de trabalho com o processo de

transição do ensino presencial para o ensino a distância. Ao mesmo tempo, foi possível

perceber a forma como estes professores lidavam com estes elementos inerentes à nova

prática de ensino na modalidade a distância.

Tal relação se dava na busca de uma negociação mais satisfatória possível para

que ocorresse a continuidade do processo, ou seja, para que todos seguissem juntos, em

equipe, em direção a elaborar as atividades que lhes foram confiadas, referentes à

autoria e à tutoria dos conteúdos de ensino de Cálculo.

Tomando por base o modelo de Rogers e olhando para os temas e subtemas,

observa-se que estes formam dimensões que se cruzam em vários momentos,

encontrando-se durante as etapas do processo de inovação-decisão.

A relação entre os membros da equipe é algo que acontece ao longo de todo o

processo e, consequentemente, as trocas de informações, as opiniões a respeito do

ensino a distância, a influência daqueles professores que mais se aprofundaram em

conhecimentos a respeito das especificidades requeridas para o desenvolvimento das

atividades de trabalho vão permeando o trabalho da equipe ao longo do tempo e, com

isso, influenciando as decisões dos outros membros. Neste sentido, a maneira como a

equipe se relaciona com a inovação pode ser tomada como exemplo para outras equipes.

Neste contexto, as dimensões ligadas às crenças, expectativas, atitudes,

formulação de valores diante da inovação (em particular aqueles que podem facilitar ou

dificultar a adoção da ideia de ensinar a distancia) encontram-se presentes em todas as

etapas do processo de inovação-decisão, pois permeiam as negociações realizadas entre

os membros ao longo do processo.

As características da inovação, tal como elencadas por Rogers (2003), por

fazerem parte do processo mental, são percebidas pelos professores de duas maneiras:

individualmente, pois cada membro formula as suas próprias opiniões a respeito da

inovação; e coletivamente, pois a equipe negocia as suas ideias para que o trabalho

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tenha convergência, tomando um caminho comum, ou seja, aquele em que um membro,

mesmo que não esteja fortemente persuadido a respeito do que será feito, sabe que conta

com o apoio dos demais membros.

Deste modo, a etapa da Persuasão se apresenta em vários temas e subtemas: nas

interpretações referentes aos conhecimentos prévios, quando os professores procuram

estabelecer relações entre os seus conhecimentos e aqueles requisitados para o trabalho

com o ensino a distância; na formação para o trabalho e durante o trabalho; e no suporte

do Professor de Apoio e da instituição. A percepção e o desenvolvimento de opinião por

meio de uma aproximação subjetiva da inovação foram muito importantes,

principalmente para que os professores tomassem uma atitude positiva diante da

inovação, uma vez que a inovação não sobrevive se não tiver a adesão dos professores e

sem que tenham se apropriado do seu significado. A etapa de Persuasão é fundamental

para a afirmação da decisão individual de cada membro e para a Implementação do

trabalho em equipe.

Como a etapa de Implementação do modelo do processo de inovação-decisão

está relacionada diretamente com o fato de colocar a inovação em uso, a partir do

momento em que os professores deram início à elaboração do material, surge a

passagem para esta fase do processo descrito por Rogers. Na etapa de implementação, a

relação com a inovação deixa de ser em nível de conhecimento e de percepção e começa

a ser colocada em prática.

A fase de Implementação está relacionada com o tema Sistema de trabalho e,

especificamente, com os subtemas desenvolvimento do trabalho e suporte, no que se

refere às atividades de autoria e tutoria elaboradas pelos professores. Ao se

confrontarem com a prática, os professores percebem que esta etapa representa,

concretamente, uma formação continuada, que complementa a formação inicial, e

chama a atenção dos professores para especificidades do ensino a distância ainda não

percebidas. A influência do Professor de Apoio e próprio desenvolvimento das

atividades contribuíram, também, para essa tomada de consciência.

Com relação à etapa de Decisão, como o próprio Rogers adverte, ela não ocorre

somente no final do processo de inovação-decisão, mas continuamente, pois a cada

momento a adoção da inovação é questionada por alguma situação ou acontecimento.

Diante da realidade da pesquisa, a partir da formação da equipe, seus membros são

levados a procurar consensos e ponderar decisões com vistas à melhor forma de lidar

com o ensino a distância em meio às demais atividades que desenvolvem dentro do

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departamento de matemática. Ou seja, a decisão passa a ser assumida, ainda que

implicitamente, desde a disponibilidade em participar da equipe e, consequentemente,

das atividades que a precedem.

A etapa de Confirmação é a última a ser apresentada no modelo do processo de

inovação-decisão de Rogers, como mostrado na Figura 1, porém, não é,

necessariamente, a última a ocorrer no processo, já que este é considerado contínuo ao

longo do tempo. E mais, além da decisão de aceitar ou rejeitar uma inovação se

estabelecer em um contínuo, na medida em que o indivíduo recebe uma informação,

pode modificar ou reforçar a sua decisão anteriormente tomada.

De acordo com as atividades que os professores desenvolveram ao longo da sua

relação com a inovação, esse processo de transposição do ensino presencial para o

ensino a distância solicitou deles um esforço para a sua realização, possibilitando o

desenvolvimento de conhecimentos acerca da inovação. As falas dos professores, tendo

em vista a união da equipe, a compatibilidade de ideias, a facilidade de comunicação e a

confiança entre os seus membros, sinalizam a continuidade do processo. Ao realizar a

entrevista, os professores já estavam desenvolvendo materiais para outros conteúdos de

Cálculo e executando uma segunda vez aqueles conteúdos que serviram como base para

observação.

A opção pela continuidade do trabalho, ou seja, a decisão pela adoção do

trabalho com ensino a distância se evidencia nas falas dos professores ao manifestarem

o desejo de buscar mais formação, ao se sentirem motivados a trabalhar com mais

disciplinas e ao se mostrarem preocupados com a avaliação do que foi feito.

As manifestações dos professores no sentido da necessidade de aprofundarem

seus conhecimentos teóricos sobre assuntos relacionados à educação a distância e de

desenvolverem pesquisas que subsidiem o trabalho da equipe sinalizam sua adesão à

inovação vivenciada e aponta para sua continuidade.

Os temas emergidos dos próprios dados e do trabalho realizado com a análise de

conteúdo formam os componentes que estão presentes nas ações dos professores. As

relações que se estabelecem a partir deles e para chegar a eles compõem as estratégias

que os professores adotaram no processo de transposição didática dos conteúdos de

Cálculo do ensino presencial para o ensino a distância.

Assim, as estratégias ou ações executadas por cada professor e pela equipe

tornaram o trabalho exequível e passível de ser adotado como uma inovação. Ou seja, as

estratégias formam os meios de lidar com a inovação. Neste caso, foram importantes,

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entre outras, estratégias, tais como: tomar como base a experiência com o ensino

presencial; definição da qualidade a ser alcançada pelo curso; acompanhamento de

suporte tecnológico e pedagógico; desenvolvimento da autonomia; relação de

colaboração entre os membros da equipe.

Neste sentido, os componentes que surgem na relação entre os professores e a

inovação se baseiam, em grande parte, nos conhecimentos anteriores e na experiência

acumulada com relação a conhecimentos científicos, pedagógicos e tecnológicos e,

ainda, nos relacionamentos profissionais já vividos. Tais componentes formam uma

base de apoio para o professor, conferindo-lhe segurança para lidar com uma situação

nova, condições para estabelecer relações de comunicação e tomadas de decisão.

As crenças, as expectativas, as preocupações e os anseios contidos nas falas dos

professores mostram que a relação com a inovação está repleta de incertezas. Assim, as

negociações, as tomadas de decisões com relação às atividades a serem desempenhadas

pelo professor e o seu papel diante deste contexto são pautados pelo que os professores

já conhecem e, ao mesmo tempo, pelas soluções que vão sendo propostas ante as

dificuldades encontradas.

Com relação à formação para o trabalho, a perspectiva do trabalho docente na

educação a distância, ao mesmo tempo em que necessita de uma reconfiguração,

também requer dimensões formativas que são apontadas nos aportes teóricos que

embasam esta investigação. Tal reconfiguração, pelas especificidades do ensino a

distância aponta para uma formação de competências que inclua as dimensões

científica, pedagógica, tecnológica e, também, de gestão. Embora aconteça uma reação

ou outra de resistência ou de frustração diante da novidade, tais dimensões, em geral,

fazem parte da formação dos professores desta equipe e não representaram dificuldades

para lidar com a educação a distância.

Na revisão da literatura, as ferramentas específicas do ambiente virtual de

aprendizagem e outras questões relacionadas à tecnologia aparecem como fator de

dificuldade de aceitação do trabalho com o ensino a distância. No caso desta pesquisa,

porém, pelo fato de o trabalho ser realizado em equipe, com os professores se apoiando

mutuamente, a tecnologia não aparece como um fator de dificuldade de aceitação da

inovação.

O comprometimento dos membros da equipe com o trabalho a ser realizado, a

autonomia que possuíam para desenvolver o material e as responsabilidades

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profissionais diante do Departamento de Matemática contribuíram positivamente na

relação com a inovação.

Pelo referencial de Rogers, muito do processo vivido pelos envolvidos, inclusive

a aceitação da inovação, está ligado aos aspectos emocionais vividos pelos indivíduos.

Rogers explora em seu modelo as motivações internas do indivíduo e do próprio grupo.

Os resultados desta pesquisa evidenciam esse fato, pois os professores estão mais

ligados pelos aspectos de interesse em realizar um bom trabalho, que tenha qualidade e

que esteja à altura do que eles se propõem a fazer, dentro das competências

profissionais que lhes são inerentes, do que pelos aspectos cognitivos. Embora a

formação para o trabalho exija um embasamento teórico, este vai sendo adquirido ao

longo do processo, o que não os impede de realizarem o trabalho pelo qual se sentem

motivados.

Algumas sugestões que os professores da equipe de Cálculo apontam podem

servir como parâmetro para a realização de futuros trabalhos da equipe e para o

desenvolvimento de outros conhecimentos para o próprio curso. A partir desta

experiência inicial com o ensino a distância, os professores falam sobre a necessidade

de se aperfeiçoarem mais; também falam a respeito de estudo e aprofundamento acerca

dos conhecimentos de educação a distância e da possibilidade de a equipe poder contar

com outros profissionais dedicados a pesquisas para subsidiar o trabalho desenvolvido.

Este espaço para pesquisa seria importante, principalmente porque iria

aproveitar o conhecimento que o grupo já possui agregando, também, o conhecimento e

a experiência dos grupos de pesquisa de tecnologias, de Cálculo, de formação de

professores já existentes no Programa de Pós-Graduação. Estes grupos poderiam

estabelecer uma interseção de saberes em direção à ampliação dos conhecimentos

relativos às especificidades da educação a distância e da educação matemática a

distância. Poderiam, ainda, contribuir para a formação de uma massa crítica sobre a

formação de professores que atuam ou vão atuar em atividades de ensino a distância.

Tal contexto poderia servir de referência para aqueles professores que estão se iniciando

em cursos a distância e para aqueles que estão realizando seus estudos nesta modalidade

de ensino.

Na fase de conclusão dessa pesquisa, verifica-se a possibilidade de prosseguir

com a investigação sobre a relação da equipe com a inovação, principalmente pelo fato

de que os trabalhos com estas disciplinas continuam sendo desenvolvidos, ou seja, a

equipe permanece com a decisão de adotar da inovação.

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Futuras pesquisas poderiam se dedicar à investigação da relação com a inovação

nas equipes de outras áreas do curso, com a finalidade, por exemplo, de identificar o

perfil dos adotantes e os elementos responsáveis pela difusão do ensino a distância

dentro deste Curso.

Outra perspectiva a ser ainda investigada diz respeito ao levantamento das

características dos professores, à definição de papéis em uma equipe de trabalho

envolvida com a inovação e à composição dos membros da equipe, de modo a facilitar

processos de inovação.

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SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SEGENREICH, Stella C. D. A inserção da EAD nos cursos regulares de ensino superior: oito anos de invasão ainda silenciosa dos “vinte por cento”. 2009. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2009/335.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2011.

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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

TEIXEIRA, Claudia M. F. Inovar é preciso: concepções de inovação em educação. 2010. Disponível em: <http://portal.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/14_02_2011_13.47.21.977d2f60a39aa3508f154136c6b7f6d9.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2011. TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VALENTE, José A. (org.) O Computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Unicamp/Nied, Campinas, 1999. WARDE, Mirian J. O Colégio de Aplicação da Universidade de São Paulo. In: GARCIA, Walter E. Inovação educacional no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 1980, p. 101-131.

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Identificação pessoal

Nome: _____________________________________________________________________

Formação acadêmica: _________________________________________________________

Tempo em que atua como professor(a) de ensino superior presencial:____________________

Tempo em que atua como professor(a) de ensino superior a distância: ___________________

Há quanto tempo leciona conteúdos de ensino de Cálculo? ____________________________

Leciona(ou) outras disciplinas? ( ) não ( ) sim. Quais são e há quanto tempo?

___________________________________________________________________________

a) Experiência anterior Com relação ao curso de licenciatura em Matemática a distância, no qual você integra a equipe de Cálculo:

(1) Você já teve alguma experiência anterior com educação a distância? Como foi essa experiência?

(2) Você possuía conhecimentos a respeito de ferramentas tecnológicas e/ou formas pedagógicas para o trabalho na EaD? Se sim, que tipo?

(3) Quais eram as suas expectativas/concepções/ideias com relação ao ensino a distância?

(4) Você já havia pensado em atuar em um ambiente de ensino a distância?

b) Formação da equipe Ao integrar a equipe de Cálculo:

(5) Quais as expectativas que você tinha com relação ao trabalho do qual iria participar?

(6) Que tipo de relação/interação você possuía com os membros da equipe? Como acontecia a comunicação entre a equipe?

(7) Quais as expectativas com relação a produção da equipe?

(8) As suas ideias sobre a EaD eram compatíveis com as ideias dos outros membros da equipe?

(9) Estas ideias tiveram influência no comportamento e no trabalho desenvolvido posteriormente?

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(10) Houve algum momento em que essas ideias eram discordantes? Como lidaram com essas situações?

c) Elaboração do material pedagógico Considerando o material pedagógico, os conteúdo matemático, as atividades propostas, a estrutura e ferramentas utilizadas no ambiente virtual:

(11) A equipe teve alguma preparação para desenvolver seu trabalho de elaboração do material pedagógico? Como foi essa preparação? Você julga ter sido suficiente?

(12) Houve suporte para elaboração dos materiais? Que tipo de suporte?

(13) Como considera a execução do seu trabalho dentro da equipe?

(14) O fato de que a equipe deveria utilizar uma simbologia matemática apresentou alguma dificuldade para o trabalho? Fale a respeito, tanto com relação ao conteúdo quanto com a tecnologia.

(15) Com relação as necessidades dos alunos no ambiente de educação a distância, principalmente para ensinar conteúdos de Cálculo, como foram trabalhados estes elementos por você e pela equipe?

(16) Haviam outras preocupações levantadas pela equipe?

(17) Surgiram outras dificuldades? Quais?

d) Atuação na disciplina/acompanhamento do processo (questões com (*) indicam que são para os professores das disciplinas no ambiente virtual) Com base na execução do que foi elaborado pela equipe, seja atuando como professor no ambiente virtual ou no acompanhamento do que estava sendo realizado:

(18) Qual é a sua visão diante do trabalho como um todo, tanto de elaboração como de atuação pedagógica?

(19)* Como você descreve, após a sua participação na elaboração do material, o seu trabalho com os alunos? Fale sobre a experiência adquirida nesse processo.

(20)* Quais eram as suas expectativas com relação à atuação no ambiente virtual?

(21) Depois desta experiência, qual a sua análise sobre o material elaborado?

(22) Como acompanhou o desenvolvimento do curso e o uso do material? De que forma fez este acompanhamento?

(23) O desenvolvimento do curso aconteceu de acordo com o que havia sido planejado?

e) Elaboração/avaliação do primeiro curso (disciplina de Funções e Limites e Funções e Continuidade)

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(24) Após o desenvolvimento das disciplinas, quais as ações realizadas pela equipe?

(25) Houve uma avaliação do que foi planejado e executado? Se houve, a que conclusões você chegou com relação ao que foi trabalhado na disciplina?

(26) Como foi a sua participação nestas ações?

f) Momento atual (27) Pelo seu ponto de vista, qual é a melhor forma de lidar com o ensino a distância diante do que foi realizado pela equipe? O que falta? O que pode ser acrescentado? Você mudaria alguma coisa? Por quê?

(28) Ao longo de todo o processo, desde a formação da equipe até a avaliação, qual o balanço que você faz a respeito do trabalho desenvolvido pela equipe para ensinar conteúdos de Cálculo a distância?

(29) Você continuaria com este trabalho da forma como está até aqui ou mudaria alguma coisa?

(30) Faltou algo que você considere importante para lhe dar uma visão mais apurada com relação ao trabalho com o ensino a distância?

(31) Fale a respeito do trabalho que vem realizando atualmente em termos de experiência profissional na EaD.

(32) Quais as suas expectativas atuais com relação ao ensino a distância, especificamente nas disciplinas trabalhadas.

Concordo com a divulgação das informações obtidas nesta entrevista, para fins acadêmicos.

São Paulo, ________ de junho de 2011.

________________________________________________________________

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APÊNDICE B – RELATÓRIO DAS CITAÇÕES GERADO PELO SOFTWARE ATLAS.TI

All current quotations (85). Quotation-Filter: All

______________________________________________________________________ HU: analise da entrevista_continuacao File: [C:\Documents and Settings\Elisabeth Cristina\Meus documentos\Scientifi...\analise da entrevista_cont.hpr6] Edited by: Super Date/Time: 2012-01-29 10:57:36 ______________________________________________________________________  P 3: Entrevista 1_Professor 3.doc - 1:1 [Anterior ao curso da PUC, eu t..] (5:5) (Super) Codes: [experiência anterior ao curso]  Anterior ao curso da PUC, eu tive uma experiência, mas foi na elaboração de material para um curso a distância, era um curso no qual eu não atuava e nem atuei, eu não fazia parte da instituição, eu fiz parte só da equipe de autores.    P 3: Entrevista 1_ Professor 3.doc - 1:2 [Então, são algumas das reflexõ..] (5:5) (Super) Codes: [experiência anterior ao curso]  Então, são algumas das reflexões que eu fiz na elaboração do material. Primeiro, buscar dar conta de dúvidas que os alunos mostravam no curso presencial de Álgebra Linear, a partir dali eu já tinha alguma noção de quais seriam possíveis dúvidas que o aluno teria a distância, agora o desafio seria ferramentas que pudessem apoiar esse aluno que estaria em outro momento, em outro lugar, diferente do professor.    P 3: Entrevista 1_ Professor 3.doc - 1:3 [Depois comecei a ler algumas c..] (7:7) (Super) Codes: [formação e atitude]  Depois comecei a ler algumas coisas a respeito. Então, busquei literatura, mas experiência propriamente, não.    P 3: Entrevista 1_ Professor 3.doc - 1:4 [Eu acho que eu tinha a..] (10:10) (Super) Codes: [crenças]  Eu acho que eu tinha a concepção que muitos têm, uma coisa muito do senso comum, de que seria algo de qualidade duvidosa. Algo que seria difícil de fazer em matemática, principalmente. Então, era uma concepção, pela falta de conhecimento a respeito da educação a distância.    P 3: Entrevista 1_ Professor 3.doc - 1:5 [Bem, nesse sentido a equipe é ..] (16:16) (Super) Codes: [historico de formação da equipe]  Bem, nesse sentido a equipe é formada já por professores que eu conheci há algum tempo. Eu entrei na PUC em 2008, mas eu comecei a fazer o mestrado aqui em 2003, depois eu estava fazendo o doutorado e já conhecia os professores da equipe por causa do grupo de pesquisa do qual eu participava.  P 4: Entrevista 1_Professor 4.doc - 2:1 [Não, nem como aluno nem ..] (7:7) (Super) Codes: [conhecimentos ou experiências anteriores] Não, nem como aluno nem como professor.    

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P 4: Entrevista 1_ Professor 4.doc - 2:5 [Porque eu não sei. Não sou uma..] (13:13) (Super) Codes: [crenças] [relação entre ead e tecnologia (softwares, ava, ...)] No memos  Porque eu não sei. Não sou uma pessoa muito da máquina, não gosto de computador. (o computador era o entrave?) Eu acho que sim, era trabalhar com o Moodle, era usar ferramentas.    P 4: Entrevista 1_Professor 4.doc - 2:9 [No primeiro momento sim. Depois…] (21:21) (Super) Codes: [avaliação do trabalho que foi feito pela equipe]  No primeiro momento sim. Depois a gente viu que Funções e Continuidade foi feita de uma forma bem diferente da primeira (Funções e Limites). De qualquer forma, Funções e Limites teve que ser naquele caminho, eu acho que está tudo no caminho que se previu.    P 4: Entrevista 1_ Professor 4.doc - 2:12 [Ambiente eu acho que ...] (25:25) (Super) Codes: [formação específica e atitude] [formação tecnológica]  Eu acho que o Professor de Apoio está sempre orientando muito o Professor 3, que é quem está entrando e colocando material toda hora. P 2: Entrevista 1_Thereza.doc - 2:13 [Eu acho que é porque as pessoa..] (25:25) (Super) Codes: [conhecimentos e/ou experiências anteriores]  Eu acho que é porque as pessoas que estão envolvidas tem um conhecimento bom do Cálculo, do que o aluno precisa, do que vão ter mais dificuldades.  

 

 

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APÊNDICE C – RELATÓRIO DE FREQUÊNCIA DOS TEMAS GERADO PELO SOFTWARE ATLAS.TI

ATLAS.ti Cooccurring Codes

______________________________________________________________________ HU: analise da entrevista File: [C:\Documents and Settings\Elisabeth Cristina\Meus documentos\Scientific Soft...\analise da entrevista.hpr6] Edited by: Super Date/Time: 2012-02-06 09:48:22

aceitação do trabalho {2-0} [2]

expectativas {6-0} [1] 2:22 Eu acho do mesmo jeito quando .. (44:44):

visão do trabalho e a experiência vivida {5-0} [2] 2:23 de que as pessoas se forem, as.. (44:44):

aceitação do trabalho {2-0} [1] formação específica e atitude {5-0} [1]

1:49 Enriquece, mas eu.. (65:65): ______________________________________________________________________ acompanhamento do curso no ava {1-0} [1]

trabalho em equipe - desenvolvimento do curso {2-0} [1] 1:45 O meu acompanhamento foi .. (47:47):

______________________________________________________________________ atitudes {2-0} [3]

expectativas {6-0} [2] 2:16 Isso após, antes a minha preoc.. (31:31): 2:20 Então, eu sinto e pode ser uma.. (31:31):

relação com o trabalho no ead {3-0} [1] 2:20 Então, eu sinto e pode ser uma.. (31:31):

visão do trabalho e a experiência vivida {5-0} [2] 2:15 É a primeira experiência.. (31:31):

______________________________________________________________________ avaliação do desenvolvimento profissional no ead {1-0} [0] avaliação do desempenho profissional no ead {2-0} [1]

visão do trabalho e a experiência vivida {8-0} [1] 2:35 Olha, não percebi isso. Acho que.. (47:47):

______________________________________________________________________ avaliação do material diante da experiencia com o ead {1-0} [1]

avaliação do material que foi planejado e aplicado {2-0} [2] 3:18 Eu acho que talvez a equipe.. (29:29):

avaliação do material que foi planejado e aplicado {5-0} [2] 2:20 eu acho que tem um monte de co.. (29:29):

______________________________________________________________________ avaliação do material que foi planejado e aplicado {7-0} [6]

avaliação do material diante da experiencia com o ead {1-0} [2] 3:18 Eu acho que ai talvez a equipe.. (29:29): 3:19 eu acho que tem um monte de co.. (29:29):

experiência com a aplicação da disciplina {1-0} [2] 3:20 por outro lado, eu acho que is.. (29:29):

avaliação do material diante da experiência com o ead {4-0} [2] 2:19 Eu acho que ai talvez a equipe.. (29:29): 2:20 eu acho que tem um monte de co.. (29:29):

avaliação do trabalho que foi feito pela equipe {4-0} [1] 1:31 participando junto da equipe e.. (46:46):

experiência com a aplicação da disciplina {1-0} [2] 2:19 Eu acho que ai talvez a equipe.. (29:29): 2:21 por outro lado, eu acho que is.. (29:29):

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experiência com o trabalho de tutoria {4-0} [1] 1:31 participando junto da equipe e.. (46:46):

______________________________________________________________________ avaliação do trabalho desempenhado pela equipe {3-0} [0] ______________________________________________________________________ avaliação do trabalho que foi feito pela equipe {3-0} [0] avaliação do trabalho que foi feito pela equipe {4-0} [2]

avaliação do material que foi planejado e aplicado {5-0} [1] 1:31 participando junto da equipe e.. (46:46):

experiência com o trabalho de tutoria {4-0} [1] 1:31 participando junto da equipe e.. (46:46):

______________________________________________________________________ conhecimento do curso presencial {4-0} [2]

expectativas {6-0} [2] 1:5 È preciso que a gente fale um .. (9:9): 1:6 e agora È como se transporta i.. (9:9):

trabalho em equipe - relação autoria {4-0} [1] 1:21 Bom, mas ele faz meia p·gina, .. (17:17):

______________________________________________________________________ conhecimentos e/ou experiências anteriores {10-0} [4]

crenças {9-0} [2] 3:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 3:14 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

formação com a prática no trabalho de autoria {2-0} [2] 3:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 3:14 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

histórico da equipe (antes e do curso) {1-0} [4] 1:10 eu acho que aqui merece um pou.. (15:15): 1:11 mais aos poucos foram, aos pou.. (15:15): 1:12 nÛs formamos uma equipe de 5 p.. (15:15): 1:13 O curso era anual, cada ano ti.. (15:15):

trabalho em equipe - relação autoria {4-0} [2] 1:19 Bom, agora nÛs vamos falar sob.. (17:17): 1:20 como È que a gente diz, em esp.. (17:17):

conhecimentos e/ou experiências anteriores {4-0} [3]

crenças {8-0} [2] 2:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 2:15 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

formação com a prática no trabalho de autoria {1-0} [2] 2:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 2:15 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

trabalho em equipe - construção do curso {2-0} [1] 1:27 Então, na hora de elaborar a g.. (38:38)

______________________________________________________________________ crenças {17-0} [8]

conhecimentos e/ou experiências anteriores {10-0} [2] 3:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 3:14 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

formação com a prática no trabalho de autoria {2-0} [1] 3:14 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

relação entre o ensino a distancia e a tecnologia (softwares, ava, computador) {4-0} [1] 3:5 Não sou uma pessoa muito da má.. (13:13):

conhecimentos e/ou experiências anteriores {4-0} [2] 2:13 Eu acho que é porque as pessoa.. (25:25): 2:15 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

formação com a prática {3-0} [1] 1:44 Primeiro que mudou a minha con.. (65:65):

formação com a prática no trabalho de autoria {1-0} [1] 2:15 então a gente vai assim com mu.. (25:25):

relação entre ead e tecnologia (softwares, ava, ...) {4-0} [1] 2:5 Porque eu não sei. Não sou uma.. (13:13):

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trabalho em equipe - compatibilidade de idéias {4-0} [2] 1:12 Acho que nós todos nunca duvid.. (21:21): 1:13 acho nós acreditávamos sim que.. (21:21):

______________________________________________________________________ dificuldades burocráticas - resolvidas pela coordenação {1-0} [0] ______________________________________________________________________ expectativa {5-0} [2]

trabalho da equipe - planejamento e avaliação do curso {3-0} [1] 1:38 agora aqueles que saíram sim, .. (48:48):

visão do trabalho e a experiência vivida {8-0} [3] 1:18 Então eu acredito que seja pos.. (23:23): 1:38 agora aqueles que saíram sim, .. (48:48):

______________________________________________________________________ expectativa em atuar no ead {9-0} [3]

relação entre o ensino a distancia e a tecnologia (softwares, ava, computador) {4-0} [2] 2:4 Sim, eu acho que toda essa fer.. (11:11): 2:5 E eu fiquei, durante o ano que.. (11:11):

experiência com o trabalho de tutoria {4-0} [1] 1:35 Depois diminuiu bastante, entã.. (48:48):

formação com a prática {3-0} [1] 1:16 Primeiro conhecer um pouco .. (23:23):

______________________________________________________________________ expectativas {6-0} [6]

aceitação do trabalho {2-0} [1] 2:22 Eu acho do mesmo jeito quando .. (44:44):

atitudes {2-0} [2] 2:16 Isso após, antes a minha preoc.. (31:31): 2:20 Então, eu sinto e pode ser uma.. (31:31):

conhecimento do curso presencial {4-0} [2] 1:5 É preciso que a gente fale um .. (9:9): 1:6 e agora, como se transporta i.. (9:9):

idéias prévias ao curso sobre o ensino a distância {1-0} [2] 2:2 Então, acho que a ead é uma co.. (9:9): 2:3 porque de qualquer modo você m.. (9:9):

relação com o trabalho no ead {3-0} [2] 2:16 Isso após, antes a minha preoc.. (31:31): 2:20 Então, eu sinto e pode ser uma.. (31:31):

visão do trabalho e a experiência vivida {5-0} [2] 2:22 Eu acho do mesmo jeito quando .. (44:44): 2:23 de que as pessoas se forem, as.. (44:44):

_______________________________________________________________________

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APÊNDICE D – FREQUÊNCIA DOS TEMAS

TEMAS P1 P2 P3 P4 TOTAL

Curso presencial como base para o curso a distancia 4 1 3 3 11

Conhecimento do curso presencial 7 2 3 12

Conhecimentos anteriores com relação à educação a distancia 1 1 2

Experiência com atividades com uso de computador 3 1 1 5

Relação com o ensino a distancia e o uso de tecnologias 4 3 6 3 16

Experiência com o ensino presencial 8 4 1 5 18

Experiência com a educação a distância 1 2 3

Elaboração de material para o ensino a distância 5 3 5 3 16

Histórico de convivência com a equipe 3 1 1 1 6

Trabalho em equipe anterior ao curso 5 1 1 7

Trabalho em equipe no curso 5 1 3 1 10

Compatibilidade de ideias entre os membros da equipe 3 1 4

Confiança no trabalho dos membros da equipe 6 2 4 2 14

Desenvolvimento do curso pela equipe 8 1 1 1 11

Falta preparação/formação 1 1 2

Avaliação das disciplinas 1 1 2

Planejamento e avaliação das disciplinas 1 1 2

Formação para uso das ferramentas 2 1 4 1 8

Formação pedagógica e tecnológica para o ensino a distância 1 2 4 1 8

Suporte pedagógico e tecnológico 4 1 2 1 8

Suporte – agente externo à equipe 2 1 3 3 9

Atitude de buscar por apoio técnico/tecnológico 3 3 1 7

Formação complementar 3 1 1 5

Crença em não possuir habilidade para trabalhar com o aluno a distancia 1 2 3

Atitudes diante da inovação – busca por formação 2 4 6

Crença no trabalho da equipe 7 1 5 1 14

Crença no trabalho coletivo da equipe como esforço 1 1 2

Mudança de crenças 3 4 7

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Crença em dificuldade com a tecnologia 2 2

Crença na qualidade do curso 4 7 1 12

Expectativas: quanto ao novo 1 4 2 2 9

Expectativa: insegurança 1 1 1 2 5

Expectativas com relação ao novo-aluno 1 1 2

Experiência com o trabalho de tutoria 2 1 3

Crença no trabalho coletivo da equipe 6 1 5 1 13

Expectativas pela experiência com o ensino presencial 2 2

Experiência adquirida com a prática 1 3 6 10

Suporte técnico 6 3 7 4 20

Relação com a tecnologia 1 2 4 2 9

 

 

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APÊNDICE E – AGRUPAMENTO DOS DADOS POR TEMA

Citações do Professor X Temáticas/ categorias Observações

(…) o nosso curso de licenciatura, foi concebido no departamento durante anos e que deu subsídios para o curso de licenciatura a distância, (…) agora é como se transporta isso para o curso a distância?

(…) era ali que se iniciava a introdução de conteúdos, de alguns conceitos prá depois fazer a discussão (…)depois ter a parte de, digamos, papel e lápis e depois voltar, e depois vir e fazer conjecturas etc.

(…) claro que no laboratório tem aqueles que trabalham muito mais rápido, e isso eu acho que tem alguma semelhança com “a distância” já (…) quer dizer, não é a distância, é presencial mas é um ritmo um pouco diferente (…)Não, com a Ead nunca tive. Nem saberia como fazer... aliás não saberia até hoje

Curso presencial como base(+) Experiência com atividades com uso de computador(+) Relação com o ensino a distancia e o uso de tecnologias(+)

- existem 3 elementos distintos: experiência como professor do curso de licenciatura presencial; o trabalho da equipe que atuou com a atividades de laboratório e elaborou o livro; informações atuais dos alunos da licenciatura-pelos professores que atuam nesse curso hoje. - o curso a distância foi “inspirado” na experiência com o curso presencial, considerando também o trabalho em equipe, realizado pelos professores. - o fato de que a equipe já tinha experiência com o uso de software, chegando a elaborar inclusive um livro com as atividades desenvolvidas em aulas, se apresenta como uma relação “tranquila” referente ao uso de softwares no ensino da matemática, para o Professor X.

Inicialmente era um pouco de medo. Quer dizer: em que isso vai dar? Quais as condições que a gente tem de realmente chegar ao aluno, (...) e agora é como se transporta isso para o curso a distância? (…) bom, mas isso a gente vai querer fazer, claramente, o curso não é o mesmo (…) mas a gente queria que tivesse um teor e uma qualidade semelhante àquela que a gente tem aqui, que é um pouco diferente de outros cursos (…) (…) o suporte foi de uma equipe da própria instituição, que era de questões de como abrir o ambiente(…) que era mais geral, não era só prá nossa equipe, mas o geral, sobre o Moodle (…) somos analfabetos nessa máquina (…) na hora de ajustar no Wiris, no Geogebra, (…), e nessa parte a gente contou com todo o apoio do Professor de Apoio sem o qual a gente não teria montado, jamais, as nossas atividades

Expectativas: receio quanto ao novo (-) Insegurança com a qualidade do curso Suporte técnico Suporte tecnológico e pedagógico (+)

Um fator facilitador que identifico, juntando-se ao fato de que a equipe já tinha a experiência de elaboração do curso presencial, é que as preocupações e os receios levantados tornam a elaboração do material mais criteriosa nesse processo de transição A separação em dois momentos, quer dizer, um de elaboração o material e o outro a sua adaptação para o ensino a distância parece ter sido feito pela tomada de confiança nos passos que os professores iam executando com a ajuda do Professor de Apoio.