98
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERONTOLOGIA BIOMÉDICA OBESIDADE E FUNÇÕES EXECUTIVAS EM JOVENS DE VERANÓPOLIS-RS E A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO ENVELHECIMENTO PORTO ALEGRE, MARÇO 2016.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8565/1/000479546-Texto... · em jovens obesos de Veranópolis (RS), visando prevenção

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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GERONTOLOGIA BIOMDICA

OBESIDADE E FUNES EXECUTIVAS EM JOVENS DE VERANPOLIS-RS

E A PROMOO DA SADE NO ENVELHECIMENTO

PORTO ALEGRE, MARO 2016.

Maria Luiza Silveira Braghirolli

OBESIDADE E FUNES EXECUTIVAS EM JOVENS DE VERANPOLIS-RS

E A PROMOO DA SADE NO ENVELHECIMENTO

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Gerontologia Biomdica, do Instituto de Geriatria e Gerontologia Biomdica (IGG) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS) como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profa. Dra. Mirna Wetters Portuguez

Porto Alegre, maro 2016.

FICHA CATALOGRFICA

BRAGHIROLLI, Maria Luiza Silveira.

Obesidade e Funes Executivas em Jovens de Veranpolis-RS e a

Promoo da Sade no Envelhecimento. Porto Alegre: PUCRS, IGG,

2016.

98 p.

Dissertao (Mestrado) Instituto de Geriatria e Gerontologia /

PUCRS, 2016.

1. Obesidade 2. Funes Executivas 3. Adolescncia 4.

Envelhecimento Ativo 5. Dissertao / IGG / Gerontologia /

Obesidade, Funes Executivas e Envelhecimento Ativo

I. Srie II. Ttulo

Maria Luiza Silveira Braghirolli

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

Gerontologia Biomdica, do Instituto de Gerontologia Biomdica (IGG) da Pontifcia

Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS) como requisito parcial para a

obteno do ttulo de Mestre em Gerontologia.

COMISSO EXAMINADORA

_______________________________________________

Profa. Dra. Mirna Wetters Portuguez (IGG / PUCRS)

________________________________________________

Profa. Dra. Masa dos Santos Rigoni (FAPSI / PUCRS)

________________________________________________

Prof. Dr. Irnio Gomes (IGG / PUCRS)

_________________________________________________

Prof. Dr. Newton Terra (IGG / PUCRS)

(Suplente)

Parecer Avaliativo: ____________________________________

Porto Alegre, _________ de ___________________ de _______.

DEDICATRIA

Aos longevos mais prximos, pelo

exemplo caseiro de envelhecimento

ativo:

a meus pais, Altayr (in memoriam) e

Maria Luiza;

s minhas avs (in memoriam),

Amlia e Lina

s minhas tias (in memoriam), Dulce

e Celina

AGRADECIMENTOS

ao Programa de Ps-Graduao em Gerontologia Biomdica (IGG/PUCRS),

pelo curso realizado e pelas oportunidades proporcionadas no decorrer desta

trajetria;

ao Instituto do Crebro (InsCer), pelas oportunidades de aperfeioamento e

capacitao proporcionadas ao longo do percurso;

Profa. Dra. Mirna Wetters Portuguez, professora orientadora, pelo

aprendizado e oportunidades proporcionadas, pela confiana, pelo incentivo

desafiador e assistncia no decorrer desta caminhada;

ao Prof. Dr. Matteo Baldisserotto, Coordenador do Projeto Guarda-Chuva,

pela acolhida, acesso s informaes e reconhecimento;

Dra. Juliana Eloi, pesquisadora do projeto original, pelo compartilhamento

de dados e reconhecimento;

Mnica e Samantha, Secretrias do Programa de Ps-Graduao do

IGG, pela assistncia, ateno, carinho e dedicao;

a todos aqueles amigos e irmos de F que estiveram comigo nesta

caminhada, manifestando carinho e ateno, confiana e apreo, meus

agradecimentos e sincero reconhecimento;

aqueles que a vida levou e trouxe de volta e que fizeram com que passado,

presente e futuro se encontrassem, num pleno testemunho de que um caminho

s um caminho, meu carinho, afeto, admirao, reconhecimento e a alegria em t-

los de volta. Sejam Bem Vindos!

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

aos Adolescentes do Projeto Veranpolis, juntamente com seus pais e ou

responsveis, pela disponibilidade, que tive a oportunidade de conhecer e interagir,

por ocasio da coleta de dados, como pesquisadora de iniciao cientfica;

Neide, representante do Projeto Veranpolis e responsvel institucional

local pelos adolescentes do projeto guarda-chuva, pela ateno, receptividade,

reconhecimento e parceria;

CAPES, pela bolsa de estudos que viabilizou esse mestrado.

No sei... Se a vida curta ou longa

demais pra ns, mas sei que nada do

que vivemos tem sentido, se no

tocarmos o corao das pessoas. Muitas

vezes basta ser: colo que acolhe, brao

que envolve, palavra que conforta,

silncio que respeita, alegria que

contagia, lgrima que corre, olhar que

acaricia, desejo que sacia, amor que

promove. Isso no coisa de outro

mundo. o que d sentindo vida. o

que faz com que ela no seja nem curta,

nem longa demais. Mas que seja

intensa, verdadeira, pura... Enquanto

durar.

SABER VIVER

Cora Coralina

RESUMO

O objetivo desse estudo avaliar o funcionamento executivo do lobo frontal

em jovens obesos de Veranpolis (RS), visando preveno e promoo de sade

no envelhecimento ativo. um estudo transversal, descritivo analtico,

observacional com coleta de dados e anlise retrgrada. Foram avaliados 50

estudantes entre 16 e 18 anos, da rede pblica e privada do ensino mdio de

Veranpolis. O grupo de estudo foi composto por 20 indivduos obesos e com

sobrepeso, e ndice de massa corporal (IMC) igual ou superior ao percentil 97. O

grupo controle foi constitudo por 30 escolares no obesos (eutrficos), com IMCs

entre os percentis trs e 85 da mesma populao, equiparados ao primeiro grupo

por sexo e idade. Os dados antropomtricos e os dados demogrficos foram

obtidos do banco de dados do projeto original. A coleta de dados da avaliao

neuropsicolgica foi obtida no perodo em que os adolescentes realizaram exame

de RM no Inscer. A testagem utilizada consistiu da Escala FrSBe (Frontal Systems

Behavior Scale) e da Escala Beck da Depresso (BDI). A estatstica descritiva foi

empregada na caracterizao demogrfica da amostra e avaliao dos indicadores.

O Teste T foi utilizado na comparao das mdias dos indicadores entre os grupos

e o tamanho de efeito, avaliado. A opo para amostras independentes foi

escolhida, pois os indivduos eram distintos entre o grupo que tem obesidade e o

grupo controle, mesmo sendo oriundos da mesma populao de adolescentes

veronenses. O Teste de Correlao de Pearson verificou a relao entre os

indicadores. O desempenho do funcionamento executivo dos jovens obesos

diferencia-se dos jovens no obesos, por apresentarem apatia, caracterizada por

prejuzos no comportamento, contribuindo para obesidade. Os indicadores

antropomtricos IMC e CA apresentam correlao positiva com a apatia. A

avaliao dos sintomas depressivos no mostrou diferena significativa entre

jovens obesos e no obesos, sendo que os jovens obesos tendem a apresentar

nvel maior de sintomas depressivos em relao aos sujeitos com peso normal,

considerando a mdia de pontos apresentada pelos grupos. Os indicadores

antropomtricos no apresentam correlao com sintomas da depresso, isto , o

IMC e a CA no influenciam o humor dos jovens obesos.

Palavras-Chave: obesidade, funes executivas, adolescncia, envelhecimento

ativo

ABSTRACT

The aim of this study is to analyse the executive functioning of the frontal

lobe in obese teenagers Veranpolis (RS), to prevention and health promotion in

active aging. Its a cross-sectional, descriptive analytic observational with the

collection data and retrograde analysis. Schoolers between 16 and 18 years of

public and private high school of Veranpolis (RS) were evaluated. The study group

consisted of 20 teenagers obese and overweight, and body mass index (BMI) at or

above the percentile 97. The control group consisted of 30 non-obese teenagers

(eutrophics) with BMIs between percentiles three and 85 of the same population

and were equivalent the first group by age and sex. Anthropometric data and

demographic data were obtained of the database from the original project. The

neuropsychological assessment data were obtained in the period in which

adolescents underwent MRI in Inscer. The Frontal Systems Behavior Scale (FrSBe

Scale) and the Beck Depression Scale (BDI) were used. Descriptive statistics were

used in the demographic data of the sample and in the evaluation indicators. The t

Test was used to compare the averages of the indicators between the groups and in

the effect size. The option for independent samples was chosen because

individuals were different between the study group and the control group, even

though they were from the same veronense population. The Pearson correlation

test found the relationship between indicators. The performance of executive

functioning of obese teenagers differs from non-obese young people, because they

have apathy, characterized by impairments in behavior which contributing to

obesity. Anthropometric indicators BMI and abdominal circumference (AC) have a

positive correlation with apathy. The evaluation of depressive symptoms didnt

showed significant difference between obese and non-obese teenagers. Obese

adolescents tend to show higher levels of depressive symptoms than subjects with

normal weight, considering the average points presented by those groups.

Anthropometric indicators BMI and AC dont correlate with depression symptoms

and dont influence the mood of obese young people.

Keywords: obesity, executive functions, adolescence, active aging.

LISTA DE ILUSTRAES

p.

Figura 1 Evoluo da populao brasileira, por grupos etrios, no perodo de 2000-2060...............................................................

19

Figura 2 Sintomatologia de depresso dos adolescentes avaliados, segundo parmetros de investigao da Escala Beck da Depresso (Porto Alegre/RS, 2015).........................................

48

LISTA DE TABELAS

p.

Tabela 1 Populao do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Veranpolis, segundo o Censo de 2010..............................................................

18

Tabela 2 Classificao do nvel de obesidade, atravs do ndice de Massa Corporal (IMC).................................................................................

24

Tabela 3 Avaliao da obesidade e de risco para diabetes e doena cardiovascular, atravs da combinao das medidas de Circunferncia Abdominal (CA) e ndice de Massa Corporal (IMC)

25

Tabela 4 Teste de Kolmogorov-Smirnov de distribuio normal (Porto Alegre/RS, 2015).............................................................................

44

Tabela 5 Perfil demogrfico da amostra pesquisada (Porto Alegre/RS, 2015)...............................................................................................

45

Tabela 6 Indicadores avaliados na amostra pesquisada (Porto Alegre/RS, 2015)...............................................................................................

46

Tabela 7 Frequncia dos jovens por nveis dos sintomas da depresso (Porto Alegre/RS, 2015)..................................................................

47

Tabela 8 Teste de Correlao de Pearson para os indicadores pesquisados no conjunto dos adolescentes (Porto Alegre/RS, 2015)...............................................................................................

50

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

ABESO Associao Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Sndrome

Metablica

ATPIII Adult Treatment Panel III

CA Circunferncia Abdominal

CC Circunferncia da Cintura

CCIGG Comisso Cientfica do Instituto de Geriatria e Gerontologia

CEP Comit de tica e Pesquisa

DA Doena de Alzheimer

DCNT Doena Crnica No Transmissvel

HSL Hospital So Lucas

IDF International Diabetes Federation

IMC ndice de Massa Corporal

INSCER Instituto do Crebro

NCEP National Cholesterol Education Program

OMS Organizao Mundial da Sade

PUCRS Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

SUMRIO

p.

1 INTRODUO......................................................................................... 15

2 JUSTIFICATIVA...................................................................................... 16

3 OBJETIVOS............................................................................................. 17

3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................. 17

3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS.................................................................... 17

4 FUNDAMENTAO TERICA............................................................... 18

4.1 VERANPOLIS: TERRA DA LONGEVIDADE........................................ 18

4.2 OBESIDADE............................................................................................ 21

4.2.1 Obesidade e seus Determinantes......................................................... 22

4.2.2 Obesidade e Doena.............................................................................. 25

4.3 ENVELHECIMENTO ATIVO.................................................................... 27

4.4 FUNES EXECUTIVAS........................................................................ 30

4.4.1 Funes Executivas e suas Definies............................................... 30

4.4.2 Funes Executivas e Envelhecimento Ativo..................................... 36

4.4.3 Funes Executivas e Obesidade........................................................ 37

5 HIPTESES DE PESQUISA................................................................... 40

6 MTODO................................................................................................. 41

7 RESULTADOS........................................................................................ 45

7.1 DEMOGRAFIA DOS GRUPOS PESQUISADOS.................................... 45

7.2 AVALIAO E COMPARAO DOS INDICADORES ENTRE OS GRUPOS.................................................................................................. 46

7.3 RELAO ENTRE OS INDICADORES NOS GRUPOS......................... 50

8 DISCUSSO DOS RESULTADOS......................................................... 52

9 CONCLUSES........................................................................................ 57

10 CONSIDERAES FINAIS..................................................................... 58

REFERNCIAS....................................................................................... 59

ANEXO A Documentos de Aprovao da Pesquisa............................. 68

ANEXO B - Poster Funcionamento Executivo e Depresso em Jovens do Projeto Veranpolis/RS...................................................................... 74

ANEXO C - Artigo Submetido Funcionamento Executivo e Obesidade

em Jovens do Projeto Veranpolis/RS................................................... 76

15

1 INTRODUO

Esse estudo avalia o funcionamento executivo do lobo frontal em jovens

obesos de Veranpolis (RS), visando preveno e promoo de sade no

envelhecimento ativo. Veranpolis, uma referncia mundial em qualidade de vida e

longevidade, entretanto, j conta com ndices alarmantes de obesidade em

adolescentes, conforme dados divulgados no VII Seminrio Cientfico:

Envelhecimento, Longevidade e Qualidade de Vida, realizado na cidade, em outubro

de 2013. Segundo projees feitas, a obesidade na adolescncia ir comprometer

em grande escala a qualidade de vida futura. Isso demanda aes e intervenes

capazes de atuar em preveno e promoo da sade da populao.

Os fatores de risco para um envelhecimento no ativo crescem e se

multiplicam, especialmente quando consideradas as atividades da vida diria e as

caractersticas de alimentao dos adolescentes de hoje. Intervenes junto s

novas geraes que visem o resgate de hbitos saudveis so demandas sociais

crescentes, tendo em vista a vulnerabilidade a que j esto expostas, como a

obesidade.

Esse estudo investiga o funcionamento executivo do lobo frontal desses

adolescentes, isto , avalia suas habilidades, como planejamento de aes

sequenciais, motivao, iniciativa, capacidade de tomada de deciso, flexibilidade

mental, linguagem, memria e controle inibitrio dos impulsos. O comprometimento

dessas habilidades impacta o desempenho do indivduo nas atividades da vida diria

por reduzir a sua capacidade de escolha por opes saudveis e recomendadas,

reduzindo as condies de sade mnimas necessrias para a longevidade com

qualidade de vida.

Essa pesquisa apresenta importncia relevante, pois no foram encontrados

estudos similares para o perfil da populao pesquisada. Isso ainda mais

significativo, considerando a contribuio esperada para programas de preveno de

fatores de risco para o envelhecimento no ativo e promoo da sade pblica que

j considerada uma demanda social no apenas nacional, como mundial.

16

2 JUSTIFICATIVA

A capacidade de estimar a etiologia das doenas e de mensurar seus riscos

tentativa de encontrar o caminho para maior longevidade, prevenindo doenas crnicas

entre elas a obesidade. Jovens obesos com hbitos alimentares inadequados

constituem um pblico propenso a apresentar mais problemas de sade que aqueles

dentro dos padres esperados nas medidas antropomtricas. A alimentao

qualificada, cuidados com a sade e preveno contra a obesidade e o

sedentarismo, so fundamentais para o desenvolvimento do envelhecimento ativo.

Esse estudo destaca a relao entre obesidade em adolescentes e o

funcionamento executivo do crebro, sendo que essa correlao no foi encontrada

em estudos brasileiros. Fatores preditivos de envelhecimento ativo e reduo dos

fatores de risco so fundamentais que sejam investigados. Constituem aspectos

prioritrios em sade pblica, considerando caractersticas de desenvolvimento

social, econmico e populacional brasileiros, e de forma particular a populao de

Veranpolis-RS.

17

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Comparar o funcionamento executivo do lobo frontal do crebro em jovens

obesos do Projeto Veranpolis/RS, visando preveno e promoo de sade no

envelhecimento ativo.

3.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS

Comparar as funes executivas, os sintomas de depresso, o ndice de massa

corporal (IMC) e a circunferncia abdominal (CA) nos grupos dos jovens obesos

e no obesos do Projeto Veranpolis/RS;

Relacionar as funes executivas, os sintomas de depresso e os indicadores

de obesidade nos grupos dos jovens obesos e no obesos do Projeto

Veranpolis/RS.

18

4 FUNDAMENTAO TERICA

4.1 VERANPOLIS: TERRA DA LONGEVIDADE

Veranpolis considerada a Terra da Longevidade, sendo que a expectativa

de vida j foi de 75,5 anos em 2000, enquanto, no Rio Grande do Sul, foi estimada

em 77,5 anos em 2015 e projetada em 78,8 anos para em 2020. A taxa de

analfabetismo foi de 2,7% em 2010 e o municpio tem 9 melhor ndice de

Desenvolvimento Socioeconmico no Estado (ndice de 0,788 em escala at 1,00),

segundo a Fundao de Economia e Estatstica (FEE) do Rio Grande do Sul. J

pelo ndice de Desenvolvimento Humano, divulgado pelo IPEA, Veranpolis alcana

nota 0,850 (tambm em uma escala at 1,00). (PREFEITURA DE MUNICIPAL

VERANPOLIS, 2016).

Segundo o Censo de 2010, os dados da Tabela 1 mostram a populao

nesse ano para o Brasil, Rio Grande do Sul e Veranpolis, bem como a populao

estimada para 2015. Pode-se verificar a participao de idosos e de longevos no

total dessas populaes. Esse pblico, em 2010, constituiu 10,8% da populao

brasileira, 13,7% da rio-grandense e 15,3% da veronense. Conforme projees

feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), os idosos e

longevos representaro 13,8% da populao brasileira em 2020, 16,2% em 2025,

18,6% em 2030, atingindo a marca de 33,7% em 2060. A Figura 1 apresenta essa

evoluo da populao por grupos etrios e o aumento crescente dos grupos de

idosos e de longevos no pas que ganham expresso cada vez maior na dinmica

conjuntural brasileira. (IBGE (a) e (b), 2016)

Tabela 1: Populao do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Veranpolis,

segundo o Censo de 2010.

BRASIL RIO GRANDE DO SUL VERANPOLIS

POPULAO no % n

o % n

o %

2010 190.747.731 100,0 10.693.929 100,0 22.810 100,0

at 59 anos

Idosos

60 a 79 anos

Longevos

80 a 99 anos

100 anos ou mais

170.158.062

17.654.214

2.911.223

24.232

89,2

9,3

1,5

0,0

9.234.332

1.257.696

200.862

1.039

86,4

11,8

1,9

0,0

19.317

2.921

569

3

84,7

12,8

2,5

0,0

2015 (estimativa) 204.450.649 107,2% 11.247.972 105,2% 24.686 108,2%

2010-2015 +7,2% +5,2% +8,2%

Fonte: IBGE (a), 2016.

19

Figura 1: Evoluo da populao brasileira, por grupos etrios,

no perodo de 2000-2060.

Fonte: IBGE (b), 2016.

As polticas pblicas avanam na direo de garantir cada vez mais a sade e

as condies para um envelhecimento saudvel. Investimentos so feitos na direo

de promover e prevenir a sade da terceira idade que j tem um perfil de consumo e

de atividades da vida diria bem diferente daqueles dos tempos passados. um

pblico que viaja, pratica esporte, estuda, adere era digital e inclui-se nas redes

sociais. Entretanto, tambm um grupo vulnervel polimedicao, negligncia e

ao abandono, com comprometimento significativo da qualidade de vida. Assim, os

fatores de risco para um envelhecimento no ativo crescem e se multiplicam,

20

especialmente quando consideradas as atividades da vida diria e as caractersticas

de alimentao dos adolescentes de hoje.

Veranpolis est situada na Serra Gacha, a 170 km de Porto Alegre, na

regio da uva e do vinho. Os habitantes do municpio descendem principalmente de

imigrantes italianos, de poloneses e de outras etnias. A regio valoriza o trabalho

artesanal e tem uma economia diversificada. A indstria local voltada para a

produo de calados, mveis, peas de ao microfundidas, biodiesel, armas,

bebidas e outras. uma localidade rica em belezas naturais e em cultura italiana.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE VERANPOLIS, 2016).

A Organizao Mundial da Sade (OMS) em parceria com o Instituto de

Geriatria e Gerontologia (IGG) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do

Sul (PUCRS) comeou a desenvolver em 1994 o Projeto Veranpolis, baseado num

estudo epidemiolgico sobre envelhecimento. A populao-alvo foi 50 idosos e

longevos que foram investigados atravs de pesquisa de campo e anlises

bioqumicas. Os resultados iniciais mostraram que a garantia da longevidade era

hbitos saudveis dos habitantes: atividades fsicas, ingesto correta de protenas e

gorduras, integrao com a comunidade, vida familiar, despreocupao com a morte

vinda da intensa f em Deus, gosto pelo trabalho, hbito de tomar vinho,

moderadamente, s refeies. Esses fatores foram considerados importantes para

vida longa e projetaram internacionalmente o municpio. (PREFEITURA MUNICIPAL

DE VERANPOLIS, 2016).

Xavier, et al. (2003), em estudo realizado com 35% dos idosos de Veranpolis

com mais de 80 anos, atravs de uma amostra representativa e randmica,

investigou os determinantes da qualidade de vida para esse pblico. Foi identificado

que os indicadores variam de sujeito para sujeito, mas esto associados a

categorias como atividade, renda, vida social e relao com a famlia.

Resultados do Projeto Veranpolis mostram que a baixa incidncia de

doenas isqumicas coronarianas se deve a baixa ingesta de gorduras pela

populao. Tambm mostram que hbitos de vida saudveis diminuam fatores de

risco para essas doenas. Estilo de vida saudvel com atividade fsica, dieta e boa

convivncia so fundamentais para longevidade. Atravs de estudos realizados

entre 1998 e 2001, com grupos etrios mais jovens da populao, foi identificado a

necessidade de intervenes preventivas a partir das investigaes realizadas entre

21

1994 e 2001, para manter ndices de longevidade e de sade que caracterizam

Veranpolis como a Terra da Longevidade. (PREFEITURA MUNICIPAL DE

VERANPOLIS, 2016)

Assim, foi implementado desde 2002 o convnio com o Projeto de Preveno

de Doenas e Promoo da Sade com o objetivo de estabelecer mtodos de

preveno de doenas que afetam a pessoa idosa, bem como mtodos para

preservao de hbitos saudveis dos idosos longevos de Veranpolis em grupos

etrios mais jovens. O Grupo de Convivncia da Longevidade, que surgiu em 1996,

foi uma consequncia dos bons resultados das pesquisas realizadas atravs do

Projeto Veranpolis. Esse grupo formado por 250 idosos (235 do sexo feminino e

15 do sexo masculino), sendo que 190 residem na rea urbana e 60 no interior.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE VERANPOLIS, 2016)

Veranpolis, uma referncia mundial em qualidade de vida e longevidade,

entretanto, j conta com ndices alarmantes de obesidade em adolescentes,

conforme dados divulgados no evento VII Seminrio Cientfico: Envelhecimento,

Longevidade e Qualidade de Vida, realizado na cidade, em outubro de 2013.

Segundo projees feitas, a obesidade na adolescncia ir comprometer em grande

escala a qualidade de vida futura. Isso demanda, cada vez mais, aes e

intervenes capazes de atuar em preveno e promoo da sade da populao.

4.2 OBESIDADE

Obesidade uma doena crnica no transmissvel (DCNT) caracterizada

pelo acmulo excessivo de gordura, com comprometimento da sade do indivduo.

o principal distrbio nutricional das sociedades desenvolvidas e j pode ser

considerada como uma epidemia do mundo moderno. A ingesto cada vez maior de

produtos industrializados, de elevado teor calrico, associada ao sedentarismo, faz

com que o peso da populao aumente progressivamente. Normalmente, a

obesidade est associada a comorbidades, tanto psicolgicas (depresso e

ansiedade), quanto fsicas. uma doena envolvida em diversas complicaes e

comorbidades que elevam a morbimortalidade dos pacientes obesos (TERRA, et al.,

2011; GOTTLIEB, et al., 2010; ABESO, 2009; WHITMER, 2007).

A obesidade refere-se ao excesso da adiposidade corporal. A gordura

corporal responsvel por 25% do peso das mulheres e 18% do peso dos homens

em indivduos sadios. A obesidade funo de fatores de desenvolvimento,

22

atividade fsica, leses cerebrais e fatores clnicos. H um comprometimento da

saciedade do indivduo que sensvel a todos os tipos de estmulo externos para a

alimentao; por vezes, o sujeito no distingue entre fome e outros tipos de disforia

(SADOK e SADOK, 2007)

A etiologia da obesidade complexa e multifatorial, resultante da interao de

genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. H trs componentes do

sistema neuroendcrino envolvidos com a obesidade: o sistema aferente envolve a

leptina e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo; a unidade de

processamento do sistema nervoso central e o sistema eferente, ou seja, um

complexo de apetite, saciedade, efetores autonmicos e termognicos, que leva ao

estoque energtico. O balano energtico pode ser alterado pelo aumento do

consumo calrico, pela diminuio do gasto energtico e por ambos. O gasto

energtico dirio dado pela taxa metablica basal (60% a 70%), pelo efeito trmico

dos alimentos (10%) e pelo gasto de energia com atividade fsica. Essa constitui a

componente varivel mais importante, pois representa 20% a 30% do gasto

energtico total em adultos. (ABESO, 2009)

Segundo El Kik (2011), as causas da obesidade podem ser atribudas a

fatores metablicos, predisposio gentica e estilo de vida. A predisposio

gentica mostra a suscetibilidade dos genes para a obesidade, mas para que se

desenvolva, devem estar presentes outros fatores, como hbitos alimentares

inadequados e o sedentarismo. O sedentarismo um dos fatores que mais facilitam

o desenvolvimento da obesidade. As facilidades tecnolgicas como elevadores,

equipamentos com controle remoto, eletrodomsticos, computadores, automveis e

servios como tele entrega, levam diminuio da atividade fsica, contribuindo para

obesidade.

4.2.1 Obesidade e Seus Determinantes

A obesidade na infncia e na adolescncia est aumentando no mundo e

diminuindo a expectativa de vida desses jovens que esto perdendo a qualidade de

vida de forma significativa. A obesidade uma doena multifatorial e a prevalncia

da obesidade na infncia e na adolescncia est associada a complicaes de curto

e longo prazo, com comprometimentos nas reas psicossociais, metablicas e

endcrinas, cardiovasculares, respiratrias, ortopdicas e dermatolgicas. A causa

principal o erro alimentar, sendo que hbitos sedentrios, cujas atividades esto

23

associadas a computador, televiso e vdeo game, agravam o problema. Tambm

colaboram para o desenvolvimento da obesidade fatores psicossociais,

antecedentes familiares, metablicos, genticos e histria pessoal. Segundo as

diretrizes da World Heart Federation, o sobrepeso constitui fator de risco similar ao

da obesidade (MEDEIROS, et al., 2011; SMITH, et al, 2004).

Estudo realizado com idosos de Veranpolis (RS) verificou a prevalncia de

obesidade em idosos longevos, com idades maiores que 80 anos, e sua associao

com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. Os resultados obtidos mostram

que prevalncia foi alta e similar aos pases desenvolvidos. Tambm a associao

entre obesidade, fatores de risco e morbidades cardiovasculares foi sexo-

dependente. Segundo esse estudo, apesar da obesidade no estar associada a

doenas cardiovasculares e mortalidade no grupo pesquisado, a obesidade pode

estar associada ao desenvolvimento de disfunes e outras doenas, como por

exemplo, a artrose. A obesidade tambm pode influenciar de forma significativa a

carga da morbidade, diminuio da independncia funcional e queda da qualidade

de vida do idoso longevo. Neste contexto, estudos complementares so necessrios

e sugeridos para investigao dessas relaes. (CRUZ, et al., 2004)

Segundo recomendaes da Organizao Mundial de Sade (OMS), o ndice

de Massa Corporal (IMC) utilizado para avaliao do perfil antropomtrico-

nutricional de populaes de adultos, definindo o nvel de obesidade do indivduo e

est baseado na associao entre IMC e doena crnica ou mortalidade. A

classificao da OMS tem como referncia padres internacionais desenvolvidos

para pessoas adultas descendentes de europeus. O IMC dado pela razo entre o

peso em quilo (Kg) e o quadrado da altura em (m2). Esse indicador empregado

para definir o nvel de obesidade do indivduo, cuja classificao apresentada na

Tabela 2. (ABESO, 2009)

O IMC um indicador que no est totalmente correlacionado com a gordura

corporal e apresenta algumas limitaes. O IMC no distingue massa gordurosa de

massa magra, podendo ser pouco estimado em indivduos mais velhos pela perda

da massa magra e de perda de peso e superestimada em indivduos musculosos.

Tambm esse indicador no reflete a distribuio de gordura corporal total, pois

pessoas com o mesmo IMC podem ter nveis de massa gordurosa visceral

diferentes. Os homens tendem a ter o dobro de gordura abdominal em relao

mulher na pr-menopausa. O IMC varia entre populaes, devido s diferentes

24

propores corporais. O uso combinado do IMC com medidas da distribuio de

gordura indicado para minimizar as limitaes do IMC. (ABESO, 2009)

Tabela 2: Classificao do nvel de obesidade, atravs do

ndice de Massa Corporal (IMC)

NVEL DE OBSESIDADE

Classificao IMC (kg/m2) Risco de Comorbidades

Baixo peso < 18,5 Baixo

Peso Normal 18,5 a 24,9 Mdio

Sobrepeso > 25,0 -

Pr-obeso 25,0 a 29,9 Aumentado

Obeso I 30,0 a 34,9 Moderado

Obeso II 35,0 a 39,9 Grave

Obeso III (mrbido) > 40,0 Muito grave

Fonte: ABESO, 2009.

A adiposidade abdominal vem sendo considerada como um indicador

antropomtrico de maior correlao com o perfil lipdico, tanto em homens quanto

em mulheres. A circunferncia da cintura (CC), tambm conhecida como

circunferncia abdominal (CA), expressa o acmulo excessivo de gordura na regio

do corpo e junto com o IMC constituem os principais indicadores antropomtricos

para diagnstico de alteraes metablicas e ou propenses a isto, bem como

enfermidades cardiovasculares. (LIMA, et al, 2011; GLANER, et al, 2011; OLIVEIRA,

et al, 2010; REZENDE, et al., 2006; CABRERA, et al, 2005)

Segundo OMS e a I Diretriz Brasileira de Diagnstico e Tratamento da

Sndrome Metablica, a CA medida do maior permetro abdominal entre a ltima

costela e a crista ilaca. Esse indicador preditor de risco de complicaes

metablicas associadas com obesidade, sendo o principal a hipertenso arterial. A

OMS estabelece como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado 94 cm

em homens e 80 cm em mulheres. J o National Cholesterol Education Program

(NCEP)-Adult Treatment Panel III (ATPIII) adota como critrio 102 cm para homens

e 88 cm para mulheres, para risco aumentado substancialmente. No entanto, difere

entre as etnias. (ABESO, 2009)

Assim, em 2005, a International Diabetes Federation (IDF) props como ponto

de corte da circunferncia abdominal, 94 cm para homens europeus, 90 cm para sul-

25

asiticos e chineses e 85 cm para japoneses. A IDF considera o ponto de corte de

80 cm para as mulheres europeias, sul-asiticas e chinesas, e 90 cm para mulheres

japonesas. A IDF tambm recomenda que centro e sul-americanos sigam medidas

sul-asiticas at que medidas especficas estejam disponveis, e da mesma forma

que africanos e sul arianos sigam medidas europeias. (ABESO, 2009)

J a OMS props uma avaliao combinada da CA com o IMC para avaliar

obesidade e risco de diabetes e doena cardiovascular. A Tabela 3 apresenta a

forma combinada de avaliao proposta pela OMS. (ABESO, 2009)

Tabela 3: Avaliao da obesidade e de risco para diabetes e doena cardiovascular,

atravs da combinao das medidas de

Circunferncia Abdominal (CA) e ndice de Massa Corporal (IMC).

Classificao IMC (kg/m2)

CA (cm)

Homem: 94 - 102 > 102

Mulher: 80 88 > 88

Baixo peso < 18,5 - -

Peso saudvel 18,5 a 24,9 - Aumentado

Sobrepeso 25,0 a 29,9 aumentado Alto

Obesidade > 30,0 alto muito alto

Fonte: IBGE, 2014; ABESO, 2009.

Os idosos apresentam pontos de corte diferentes para o IMC por algumas

alteraes fisiolgicas tpicas. H reduo da gua corporal e da massa muscular

relacionada com o peso, sendo mais evidente no sexo masculino; presena de

alteraes sseas devido osteoporose; mudanas na distribuio do tecido

adiposo subcutneo; declnio da altura resultante da compresso vertebral, perda do

tnus muscular e alteraes posturais; massa muscular transformada em gordura

intramuscular, alterando a elasticidade e capacidade de compresso dos tecidos.

Dessa forma, a classificao do IMC para idosos considerada como baixo peso

quando o IMC menor ou igual a 22; peso adequado ou eutrfico, quando o IMC

maior que 22 e menor que 27 e sobrepeso, quando o IMC for maior ou igual a 27.

(MORIGUCHI, et al, 2015)

4.2.2 Obesidade e Doena

A etiologia de doenas crnicas envolve fatores genticos e ambientais e a

interao entre eles, cuja avaliao da proporo entre eles de fundamental

26

importncia para a determinao da doena. Doenas multifatoriais como as

cardiovasculares, as neoplasias, e do sistema nervoso (as demncias e as

depresses) tem origem em genes que interagem com o ambiente. Os genes atuam

em efeito cascata e ao no ambiente pode modular esse efeito que pode minimizar

ou agravar o risco doena. Dessa forma, estudos voltados para a interao entre

genes e dieta (varivel ambiental), bem como a capacidade de estimar a etiologia

das doenas e mensurar seus riscos, vm ganhando relevncia e destaque. Trata-

se da tentativa de procurar o caminho para maior longevidade, sem doenas

crnicas no transmissveis (DCNTs) como as cardiovasculares, diabetes, cncer e

obesidade (GOTTLIEB, et al., 2010; WHITMER, 2007).

A obesidade e condies dietticas gerais podem afetar o metabolismo,

aumentando o risco de DCNT que no as cardiometablicas, incluindo o risco de

doenas neurodegenerativas, como as demncias. Estudos de neuroimagem

mostram que mais comum em obesos uma diminuio do volume do hipocampo e

uma hiperintensidade da substncia branca, indicador de envelhecimento patolgico

do crebro (BRUEHL, et al., 2011). Tambm pesquisas indicam que a baixa

ingesto de dietas calricas est associada diminuio na incidncia de doenas

neurodegenerativas como as demncias, entre elas a Doena de Alzheimer.

(LUCHSINGER, et al, 2002; KIVIPELTO, et al., 2005). A restrio calrica por seis

meses melhorou biomarcadores associados longevidade, incluindo reduo nos

nveis de insulina em jejum, na temperatura corporal e no dano do DNA em

indivduos com sobrepeso (HEILBRONN, et al, 2006). Assim como achados

epidemiolgicos indicam que dietas altamente calricas associadas ao aumento da

homocistena e deficincia do cido flico aumentam o risco de Alzheimer e de

Parkinson (MATTSON, et al., 2003).

A doena cardaca coronariana tem como principal causa aterosclerose que

resulta da mudana estrutural da camada interna das artrias. O estreitamento

progressivo dos ramos arteriais torna-as mais rgidas. A obesidade em todas as

idades acarreta a rigidez das artrias. (MORIGUCHI, et al, 2015)

A obesidade provoca problemas como doenas geritricas, infertilidade, dor

lombar e dor nos joelhos. A obesidade pode estar associada a doenas como:

diabetes melito tipo 2, hipertenso arterial sistmica, dislipidemias, osteoartropatia

degenerativa, gota, tromboflebites, cardiopatia isqumica, distrbios gestacionais,

dermatite intertriginosa, desnimo, depresso, cansao, nervosismo, neoplasia da

27

mama, endomtrio e clon, disfuno hormonal, colecistopatias, esofagites de

refluxo, varizes de membros inferiores. (MORIGUCHI, et al, 2015)

4.3 ENVELHECIMENTO ATIVO

Envelhecimento refere-se ao impacto da passagem do tempo sobre o curso

da vida do indivduo e velhice se refere forma como a sociedade define pessoas

idosas. Entretanto, estes fenmenos tm as dimenses biolgica, fisiolgica,

psicolgica e sociolgica (GU, 2013).

Envelhecimento ativo um termo que foi adotado pela Organizao Mundial

da Sade (OMS) no final dos anos 90. mais abrangente que o envelhecimento

saudvel, pois alm dos cuidados com a sade, considera outros fatores

importantes no processo de envelhecimento das pessoas e das populaes. uma

abordagem focada nos direitos humanos das pessoas mais velhas, baseando-se

nos princpios de independncia, de participao, de dignidade, de assistncia e de

autorrealizao. Essa abordagem no se refere somente capacidade de estar apto

fisicamente ou de pertencer fora de trabalho, mas sim de aumentar a expectativa

de uma vida saudvel e de qualidade de vida para as pessoas que esto

envelhecendo, inclusive as mais frgeis, as incapacitadas fisicamente e as que

requerem cuidados. O envelhecimento ativo um processo de otimizao das

oportunidades de sade, de participao e de segurana, com vistas melhoria da

qualidade de vida das pessoas que envelhecem (TERRA, et al., 2013)

O envelhecimento ativo um conceito mais abrangente que envelhecimento

saudvel que est fundamentado no paradigma biomdico de sade e est focado

mais no processo individual. O envelhecimento saudvel considera a sade como

bem estar biopsicossocial, onde o processo de envelhecimento decorre das

interaes entra as componentes pessoais e as componentes ambientais. J o

processo de envelhecimento ativo abrange a forma como os indivduos controlam a

sua sade e pelo acesso a cuidados de sade. A adoo de estilos de vida

saudveis, alimentao equilibrada, exerccio fsico regular e sistemtico so

condies que retardam os declnios funcionais. O acesso facilitado a aos cuidados

de sade primrios e hospitalares, aos cuidados continuados ou de longa

permanncia e a servios de sade mental, condio essencial para promoo do

envelhecimento ativo e integrado (FERNANDES e BOTELHO, 2007)

28

O termo envelhecimento ativo diz respeito tambm ao potencial de

participao dos idosos, de acordo com suas necessidades e capacidades, nas

questes sociais, econmicas, culturais, espirituais e civis. Isso inclui a contribuio

ativa do idoso em suas famlias, comunidades e pases. Para atingir os objetivos do

envelhecimento ativo, so necessrias polticas sociais com aes inter-setoriais e

uma sociedade voltada para todas as idades. Incluem aes dos servios sociais e

de sade, educao, emprego, trabalho, segurana social e financeira, habitao,

transporte, justia, desenvolvimento rural e urbano (GU, 2013).

As transformaes mentais ou fsicas, que o indivduo passa ao longo do ciclo

vital geram condies de vida e de trabalho diferenciadas entre as pessoas. O

declnio das funes cognitivas tende a aumentar com a idade e o ritmo do

envelhecimento varia de pessoa para pessoa, segundo funcionamento dos rgos e

idade, sendo que tambm diferente entre pessoas da mesma idade e condies

de qualidade de vida semelhantes. A implementao de programas que promovam o

envelhecimento ativo reduz custos com o cuidado, atravs da incluso dos idosos e

das diferentes formas de viver a velhice. (AUGUSTIN, 2013).

O envelhecimento uma transformao demogrfica e epidemiolgica que se

encontra em diferentes fases, mas que juntas j constituem o principal fenmeno

demogrfico do sculo do sculo XX. Isso exige uma reestruturao do sistema de

sade, dados os cuidados especiais demandados em funo de doenas crnicas.

O envelhecimento populacional resulta do aumento da proporo de pessoas idosas

e diminuio da proporo de pessoas jovens, com reduo da taxa de fecundidade.

(MORIGUCHI, et al, 2015)

A expectativa de vida ao nascer refere-se a idade que se espere que o

indivduo alcance. Enquanto expectativa de vida saudvel a idade em anos do

indivduo com vida saudvel. O aumento dessas expectativas alcanado com a

preveno primria (preveno de agravos sade e antecipao diagnstica). J

diferena entre as duas expectativas reduzida atravs da preveno secundria

(diagnstico e tratamento precoce, limitao da invalidez) e terciria (restabelecer

sequelas deixadas por doenas, introduzir idosos que desenvolvero agravos

previsveis em programa de reabilitao). Destaca-se que os novos conceitos de

geriatria preventiva tm como objetivo prevenir doenas geritricas, manter

qualidade de vida e prevenir a dependncia. Geriatria e gerontologia juntas podem

promover a longevidade com qualidade de vida. (MORIGUCHI, et al, 2015)

29

As polticas de sade voltadas para o envelhecimento ativo devem ser

fortalecidas, garantido igualdade de oportunidades e de tratamento. A inter-

setoralidade das aes vai permitir que o idoso seja considerado na sua totalidade,

pois abrange a ideia de territrio, de equidade e dos direitos sociais. Tambm

viabiliza projetos mais amplos, com parcerias com setores como sade, habitao,

cultura, segurana alimentar e educao. A poltica de envelhecimento ativo vem

proporcionando avanos sociais, tecnolgicos, e de promoo da sade e

autonomia (FARIAS e BELLINI, 2013).

O estilo de vida ativo est associado a fatores como sade, ambiente e

caractersticas scio-demogrficas. O perfil de estilo de vida ativo diferente entre

os gneros; as mulheres realizam com mais frequncia atividades ocupacionais e os

homens atividades fsicas. A realizao das atividades tem associao significativa

com escolaridade, padro de renda e estado de sade. H uma variabilidade no

padro de envelhecimento ativo, associada s caractersticas scio-demogrficas. O

contexto histrico e cultural influncia o estilo de vida do indivduo, determinando o

envelhecimento da infncia at a velhice (RIBEIRO, et al. 2009).

O envelhecimento ativo para alguns idosos estudados por Ferreira, et al.

(2010) est associado s atividades domsticas, como cuidar da casa e dos netos, e

ao lazer, constituindo uma concepo positiva. J a concepo negativa

apresentada por estes idosos diz respeito s dificuldades enfrentadas no quotidiano

no que se refere aos grupos a que pertencem. So perdas e incapacidades

vinculadas ao termo ativo que surgem no compartilhamento de representaes j

espalhadas na sociedade e que demonstram dificuldades que os idosos tm de

aceitao dessa etapa da vida.

No entanto, manter os idosos funcionalmente independentes essencial para

a qualidade de vida. A implementao de programas especficos de interveno que

eliminem fatores de risco incapacidade funcional, fundamental. Torna-se

imprescindvel a elaborao de aes de promoo da sade, preveno de

doenas, recuperao e reabilitao que interfiram diretamente na manuteno da

capacidade funcional dos idosos (FERREIRA, et al., 2010). A independncia, a

autonomia e a boa sade fsica, associadas ao desempenho dos papis sociais,

fazem com que os idosos mantenham-se ativos, com a qualidade de vida

preservada ao longo dos anos (FARIAS e SANTOS, 2012).

30

4.4 FUNES EXECUTIVAS

4.4.1 Funes Executivas e suas Definies

As funes executivas referem-se s capacidades do indivduo de formular

metas e objetivos, planejar e executar planos de forma eficaz. So capacidades que

habilitam o indivduo a ter um comportamento independente, criativo e socialmente

construtivo (LEZAK, 1982). Esto relacionadas a reas do lobo frontal do crebro,

onde esto localizadas as habilidades humanas mais complexas, Tambm so

denominadas de funes frontais, por estarem relacionadas a reas do lobo frontal

do crebro, e abrangem ainda habilidades cognitivas superiores como planejamento

de aes sequenciais, motivao, iniciativa, capacidade de tomada de deciso,

flexibilidade mental, comportamento automtico emocional, linguagem e memria,

controle inibitrio, automonitorizao de comportamentos sociais e motores e

autocorreo (LOUZ NETO e ELKIS, 2007; LIZARRAGA, et al., 2012; MARRONE,

et al., 2013).

O lobo frontal uma das regies do crtex cerebral que est relacionada

programao, regulao e verificao do comportamento (LURIA, 1981). Na regio

posterior, encontram-se as reas motoras que esto conectadas aos ncleos

talmicos (ventral anterior e ventral lateral) que regulam as vias descendentes

motoras do crtex e do cerebelo. O crtex pr-frontal est localizado na regio

anterior lobo frontal e subdivide-se nas regies orbito-frontal, dorsolateral e medial

que so interconectadas entre si. A regio do crtex pr-frontal est ligada ao

sistema lmbico, ao tlamo e a outras reas corticais e capaz de possibilitar a

utilizao sequencial das funes cerebrais na execuo de atividades voltadas para

objetivos. Assim, as regies orbital e medial esto interconectadas com a amgdala e

hipotlamo, envolvidas no comportamento emocional. A regio dorso lateral,

interconectada com reas associativas polimodais, forma o substrato neural das

funes cognitivas relacionadas com a organizao temporal do comportamento.

(FUSTER, 2001; MIOTTO, et al, 2012; FUENTES, et al, 2014; SANTOS, et al, 2015)

As funes do lobo frontal determinam como o crebro atua sobre o seu

conhecimento. Assim, leses nessa regio comprometem as funes executivas,

comportamentos, motivao, cognio, ateno, estimulao, sequncia de aes e

fluncia verbal, bem como erros de planejamento, julgamento, soluo de

problemas, controle de impulsos, raciocnio abstrato e pensamento crtico

31

(RODRIGUEZ-ARANDA e SUNDET, 2006; SADOK e SADOK, 2007; VAN HOOREN

et al., 2007; REPPOLD, et al., 2012; COHEN, et al., 2014; SANTOS, 2015).

As funes executivas compreendem processos independentes que ocorrem

paralelamente, de forma hierrquica e sequencial. Os processos de controle

inibitrio fazem com que as funes executivas atuem de forma eficaz, resultando

em comportamentos adequados do indivduo (BARKLEY, 2001). Os processos

inibitrios esto associados memria operacional que compreende manuteno

das representaes mentais, retrospeco, prospeco e orientao temporal; fala

internalizada que envolve autoinstruo, definio de regras, orientao a partir das

regras definidas, raciocnio moral e autocrtica; autorregulao que engloba

ativao, iniciativa, controle sobre afeto, atividades de perspectiva social, e

conquista de metas e objetivos; e reconstituio que refere fluncia (verbal e no

verbal), criatividade, ensaios mentais, anlise e sntese comportamental (FUENTES,

et al., 2014).

Para Lezak, Howieson, Bigler e Tranel (apud FUENTES, 2014), as funes

executivas apresentam quatro componentes que ocorrem num processo com etapas

sucessivas e interdependentes. A primeira componente a volio, ou esforo

deliberado em formular objetivos e motivao para iniciar um comportamento para

atingir metas. O planejamento, segunda componente, compreende identificao de

etapas e elementos necessrios para alcanar metas, anlise de alternativas

concorrentes e capacidade de escolha em termos de relao custo e benefcio. A

terceira componente a ao propositada que corresponde passagem da inteno

para a ao propriamente dita, momento em que o indivduo deve ser capaz de

verificar se o comportamento est adequado para o objetivo desejado, tendo

flexibilidade para alter-lo e modific-lo caso no esteja adequado; em condies de

inflexibilidade cognitiva, a pessoa pode apresentar comportamentos perseverativos e

estereotipados. Por fim, a quarta componente diz respeito ao desempenho e est

associada capacidade do indivduo de se auto monitorar, de autorregular a

intensidade da resposta dada e de considerar a dimenso de tempo para a

concluso das tarefas realizadas.

Alguns autores como Zelazo e Mller (2002) consideram as funes

executivas como sendo quentes e frias. As funes executivas quentes esto

relacionadas ao processamento emocional e motivacional e se referem a processos

de tomada de deciso, cognio social e teoria da mente. Essas funes esto

32

associadas com o crtex pr-frontal e orbito-frontal. As funes executivas frias

esto associadas a processos essencialmente cognitivos como, por exemplo,

categorizao, flexibilidade cognitiva e fluncia verbal, e esto vinculadas ao crtex

pr-frontal dorsolateral (ZELAZO E MLLER, 2002; FUENTES, et al., 2014;

SANTOS, 2015).

As funes executivas dependem de conexes entre o crtex pr-frontal e

estruturas sub-corticais como circuitos pr-frontais orbito-frontal, dorso lateral e do

cngulo anterior. O circuito dorsolateral est associado a funes executivas

clssicas, ditas frias, como planejamento, soluo de problemas, fluncia,

abstrao e categorizao, memria operacional, flexibilidade cognitiva,

autorregulao, julgamento e insight. O circuito do cngulo anterior est relacionado

com a volio ou motivao e a processos atencionais voltados para a seleo de

respostas. O circuito orbitofrontal est associado ao comportamento social como

empatia, cumprimento de regras sociais, controle inibitrio de respostas socialmente

inadequadas e autorregulao, bem como tomada de deciso afetiva em situaes

de risco que fazem parte das funes executivas quentes (MALLOY-DINIZ, et al.,

2013).

As funes executivas so constitudas por processos cognitivos complexos e

diferentes naturezas e esto associadas foa da fenda sinptica e ao grau de

ativao cognitiva (FUSTER, 2009). A memria de trabalho ou memria operacional

um componente das funes executivas responsvel pelo armazenamento

temporrio de informaes que sero disponibilizadas a outros processos cognitivos

que iro realizar operaes mentais. um sistema de capacidade limitada que

auxilia o processamento de informaes e faz uma interface entre a percepo, a

memria de longo prazo e a ao sobre o ambiente. A memria operacional permite

a ao sobre a informao processada para resoluo de problemas diversificados.

No entanto, a limitao da capacidade de armazenamento e manipulao de

informaes na memria operacional gera dificuldades para planejar, para resolver

problemas novos e complexos, e perde eficincia e fluncia comportamental

(MALLOY- DINIZ, et al, 2010; BUENO, 2012; MALLOY- DINIZ, et al, 2013; COHEN,

et al., 2014).

O modelo cognitivo proposto por Baddley (2000) para memria operacional

consiste num executivo central associado a trs sistemas menores: a ala

fonolgica, o buffer episdico e a ala visuo-espacial. O executivo central o

33

gerenciador das informaes que exerce o controle atencional, inibe a ao dos

distratores e informaes irrelevantes e coordena atividades realizadas

simultaneamente. A ala fonolgica um sistema de apoio para manter informaes

verbais e est associada linguagem. A ala viso-espacial sustenta informaes

temporrias visuais e espaciais, importantes na elaborao de mapas mentais; um

componente associado semntica visual. O buffer episdico um componente que

armazena temporariamente informaes de diferentes naturezas e provenientes dos

outros dois primeiros sistemas e da memria de longo prazo. A ao conjunta de

todos estes componentes permite armazenar informaes para um propsito

especfico como resoluo de problemas, comportamento motor, leitura e escrita.

Recentemente, Baddeley, et al (2011) consideraram uma alterao no

modelo, tendo em vista o papel desempenhado pelo hipocampo na memria

operacional. Essas consideraes partem de investigaes sobre vinculao de

recursos visuais, baseada em processos de armazenagem de objetos na memria

de longo prazo. Os autores apontam para a necessidade de um questionamento e

maior detalhamento sobre a existncia de um filtro atencional que permita vincular

recurso de cor e forma, sobre a fragilidade de determinadas vinculaes

estabelecidas, sobre a capacidade de filtrar entre sufixos plausveis e implausveis e

o sobre mecanismo pelo qual sufixos plausveis atrapalham a reteno de objetos

ligados.

Efeitos similares foram observados em estudos sobre a Doena de Alzheimer

(DA), quando os pacientes apresentaram dficits de vinculao com reteno

temporria de objetos complexos como formas com cores, sugerindo que os dficits

na vinculao da memria visual de curto prazo podem ser marcadores pr-clnicos

para DA (PARRA, et al., 2010). H uma espcie de memria emocional acidental

oferecendo uma plataforma sutil de investigao, visto que as alteraes so

diferentes daquelas observadas pelos testes padro de memria episdica.

Entretanto, o impacto da DA em estruturas como o hipocampo e a amigdala seria o

responsvel pelo mecanismo precursor dessas alteraes, visto que a memria e a

emoo so funes do lobo temporal medial que so fortemente afetadas pela DA

(PARRA, et al., 2013).

A categorizao outro componente das funes executivas e diz respeito

capacidade de identificar traos comuns entre objetos e depois agrup-los em uma

categoria definida a partir desses traos. Organiza as informaes em blocos e est

34

associada capacidade de abstrao do indivduo e s estratgias de evocao e

armazenamento de informaes estabelecidas, o que deficitrio no pensamento

concreto (MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al, 2013).

A flexibilidade cognitiva integra as funes executivas e se refere

capacidade alterar pensamentos e curso das aes, conforme as demandas do

ambiente. a capacidade de alterar de forma dinmica o processamento cognitivo,

pensamentos e comportamentos, conforme as alteraes do ambiente. A

inflexibilidade cognitiva observada, quando o sujeito mantm a escolha apesar do

insucesso que pode ser exemplificada com o erro perseverativo (MALLOY- DINIZ, et

al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al, 2013).

O controle inibitrio refere-se capacidade de inibir uma resposta no

adaptativa, mas com grande tendncia, ou de inibir estmulos distratores. Refere-se

capacidade de interromper uma ao em curso frente sua inadequao ou ao

surgimento de outra ao melhor e mais adequada. A impulsividade demonstra

falhas no controle inibitrio. (MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al,

2013).

O planejamento outra componente das funes executivas e est

relacionado com a capacidade de elaborar uma lista hierrquica e sequencial de

aes para alcanar objetivos identificados e atingir metas. Estabelece estratgias

para resoluo de problemas e permite que seja escolhida a estratgia mais eficaz.

Falhas no planejamento levam soluo de problemas por tentativa e erro, atuao

com metas irreais e escolha de etapas equivocadas para alcanar os objetivos

traados (MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al, 2013).

A fluncia verbal e no verbal corresponde capacidade executiva do sujeito

emitir uma srie de comportamentos dentro de uma estrutura de regras especficas.

A componente verbal associada produo de palavras e a no verbal produo

grfica. A avaliao deve considerar erros perseverativos, e no perseverativos, ou

respostas alheias categoria ou variaes. Comportamentos no fluentes verbais e

no verbais apresentam repeties, lentificaes ou condutas impersistentes

(MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al, 2013).

O monitoramento refere-se capacidade de verificao da adequao das

respostas s condies de contexto, avaliando a pertinncia e eficincia das

mesmas s demandas do meio. A autocorreo demanda uma capacidade de

35

corrigir o errado. A incapacidade de auto-regulao do indivduo resulta em

comportamentos inadequados, descontextualizados e ineficientes para os objetivos

a serem alcanados (MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et al, 2013).

A tomada de deciso est associada capacidade de escolha entre

alternativas concorrentes, considerando relaes custo benefcio, aspectos sociais e

morais, e autoconscincia. A escolha deve ser feita dentro de certo grau de risco e

de ambiguidade. A tomada de deciso deve estar baseada na anlise das

consequncias no curto, mdio e longo prazo, incluindo a componente temporal e a

possibilidade de lucro ou prejuzo (MALLOY- DINIZ, et al, 2010; MALLOY- DINIZ, et

al, 2013). Todas essas funes fazem parte de um comportamento direcionado a

atitudes mais corretas, adequadas e controladas, o que provavelmente est alterado

nos indivduos obesos, impedindo que os mesmos possam tomar decises mais

apropriadas, usar estratgias e planejamento, assim como, controlar os impulsos

visando uma vida mais saudvel.

Durchesne, et al. (2010) estudaram funes executivas de indivduos obesos

com transtorno de compulso alimentar peridica. Os resultados encontrados pelos

autores indicam que os dficits executivos apresentados podem ser explicados pelas

dificuldades na resoluo de problemas, na flexibilidade cognitiva e na memria

operacional. Os sujeitos pesquisados apresentaram menor desempenho em

estabelecer novos comportamentos em relao aos estmulos das atividades com

comida. Tambm tiveram dificuldade na capacidade de planejar ou estabelecer

estratgias de como manejar com as situaes. Essas dificuldades reduzem a

flexibilidade mental e o controle de impulsos, favorecendo a compulso alimentar. A

capacidade de manipular e de manter informaes temporariamente, dada pela

memria de trabalho, crtica nesses casos e impacta a adequada tomada de

decises.

Fagundo, et al. (2012) estudaram a tomada de decises, a resposta ao

controle inibitrio e a flexibilidade cognitiva em pacientes em condies extremas de

peso como indivduos com anorexia nervosa (AN), obesos (OB) e com controle

alimentar (CA). Os achados sugerem que os pacientes com AN e OB apresentam

um perfil disfuncional executivo similar, com papel importante no desenvolvimento e

manuteno de alguns distrbios alimentares. H um padro neuronal disfuncional

nos circuitos cerebrais relacionados ao mecanismo de recompensa e ao

funcionamento executivo, principalmente associado tomada de decises e

36

flexibilidade mental. Os exames de imagem mostram que so dficits que ocorrem

em regies importantes do crebro como sistema lmbico mesocortical e crtex pr-

frontal.

Dficits do funcionamento executivo em crianas obesos resultam em maior

impulsividade, falta do controle cognitivo, inflexibilidade mental e perseverao

(BRAET, et al., 2007; CSERJESI, et al., 2007). J adultos evidenciam que a

obesidade est associada a um baixo desempenho cognitivo, independente da

idade, dos fatores endocrinolgicos, como hipertenso e diabetes (COURNOT, et

al., 2006; ELIAS, et al., 2003). Segundo outros achados, dficits nas funes

executivas como ateno sustentada, falta de controle e depresso, esto

relacionados obesidade. Esses achados mostram que afetividade positiva

facilitador das capacidades cognitivas, sendo importante o tratamento conjunto dos

problemas afetivos e da obesidade e no apenas da obesidade isoladamente

(CSERJESI, et al, 2009).

4.4.2 Funes Executivas e Envelhecimento Ativo

Os indivduos com leses no lobo frontal ou com leses cerebrais difusas

apresentam dificuldades nas habilidades que envolvem as funes executivas

(FUSTER, 2002). H limitaes nas condies de planejamento, tomada de

decises, estabelecimento de metas. Tambm apresentam dificuldades com o

comportamento adaptativo por reduo na flexibilidade, ou seja, apresentam

dificuldades na mudana de comportamento para atender s novas demandas do

ambiente (YUDOFSKY e HALES, 2014).

As funes executivas esto associadas ao crtex pr-frontal, sendo que os

danos na regio dorsolateral relacionam disfunes cognitivas e os danos na regio

orbito-frontal comprometem aspectos comportamentais, especialmente na sndrome

do frontal. Dficits nas funes executivas podem ser provocados por diferentes

condies clnicas como quadros metablicos, intoxicaes e transtornos

psiquitricos (CAIXETA, et al., 2014). Cabe dizer que a disfuno executiva, junto

com alteraes comportamentais so as primeiras evidncias de demncias como

Doena com Corpos de Lewy e Doena de Alzheimer, ainda que na fase pr-

demencial (AMIEVA, et al., 2005; PIGUET, et al., 2011).

Dficits nas funes executivas podem ser verificados em quadros clnicos de

depresso. No estudo que avaliou o funcionamento executivo em adolescentes com

37

transtornos depressivos, os resultados indicaram um continuum da disfuno

executiva e da depresso com o aumento da severidade patolgica. Nesse estudo,

diminuies da memria de trabalho e da ateno foram identificadas nos pacientes

com menor e com maior grau de depresso, enquanto a pouca flexibilidade cognitiva

foi identificada em quadros de depresso maior (WAGNER, et al., 2015; HOLLER, et

al., 2014; PAELECKE-HABERMANN, et al; 2005; HARVEY, et al., 2005; TANDON,

et al., 2002).

O estado depressivo est associado a quadros de dficits neurocognitivos,

incluindo reduo das habilidades atencionais e mnmicas, bem como lentido do

pensamento. Os prejuzos nas funes executivas tambm podem ser percebidos

na reduo da flexibilidade mental e processo de iniciao da tarefa. H tambm

prejuzos na memria tardia e de reconhecimento, associadas ao hipocampo que

responsvel pelos fenmenos dessas memrias. O processamento da informao

pode ter distores que impactam diretamente a qualidade da reteno e da

evocao da informao, em virtude da alterao da percepo, da ateno, do

pensamento e da memria, acarretando falhas de raciocnio e at casos de falsas

memrias (SAFFI e SERAFIM, 2015)

O declnio cognitivo est associado ao nvel de atividade do lobo frontal que

baixo ou reduzido, quando comparado ao desempenho dos sujeitos de maior

desempenho cognitivo. O envelhecimento neurocognitivo aumenta a atividade no

lobo frontal, gerando um fenmeno geral de efeito compensatrio, com um

processamento frontal heterogneo. As respostas do lobo frontal mostram um

recrutamento compensatrio, uma reduo na seletividade, atividade variando com a

natureza da tarefa, conforme processo e regio envolvidas. O envelhecimento

cognitivo timo vai depender de adicionar recursos de tarefas compensatrias que

melhorem as condies de resposta e minimizem os efeitos dos processos de

consumo das reservas cognitivas (GOH, et al, 2013).

4.4.3 Funes Executivas e Obesidade

O sobrepeso e a obesidade tm aumentado entre crianas e adolescentes,

impactando o desempenho cognitivo e as componentes psicossociais. O aumento

do IMC apresenta associao com perdas na organizao viso-espacial, sendo que

a habilidade mental apresenta melhor desempenho, podendo ser explicado pelo

sedentarismo, horas de inatividade diante da TV e baixa prtica de esportes. As

38

consequncias deste comportamento tambm constituem riscos de uma maior

vulnerabilidade para perturbao biolgica, decrscimo no funcionamento social e

gerao de dficits significativos na sade na vida adulta (LI, et al., 2008).

Adolescentes com excesso de peso apresentam menor desempenho

neuropsicolgico em respostas de controle inibitrio, flexibilidade e tomada de

deciso. J no que se refere a testes de memria de trabalho, planejamento,

raciocnio analgico e auto relatos de medidas de impulsividade no so verificadas

diferenas entre o desempenho dos adolescentes com excesso de peso e os com

peso normal. Isso sugere alteraes seletivas nas funes executivas dos

adolescentes com excesso de peso, cujos exames de neuroimagem indicam

disfuno executiva frontal, causadoras de alteraes seletivas em componentes

particulares das funes executivas (GARCA, et al., 2010).

Qavam, et al (2015) estudaram a relao entre obesidade e funcionamento

executivo em 120 estudantes masculinos, de Busherhr, na Provncia do Ir, com

idades entre 15 e 18 anos. Os estudantes foram avaliados, comparando trs grupos:

obesos, com sobrepeso e com peso normal. O foco da investigao do

funcionamento executivo foi a planejamento, organizao e soluo de problemas.

Os estudantes obesos apresentaram o pior desempenho para as funes executivas

investigadas, alertando o staff escolar e familiar para a necessidade de um plano

teraputico para reduo de peso.

Crianas apresentam comportamentos com atitudes positivas e mudanas

significativas na auto regulao e no comportamento alimentar, quando

considerados os programas de TV que preferem assistir quando por ocasio de

escolhas de alimentos (REINERT, et al., 2013). Adolescentes mostram melhor

desempenho no controle inibitrio com a habilidade de perder peso, mediante a

interveno de programas com estes fins, quando comparados com o desempenho

dos indivduos mais jovens (PAULI-POTT, et al., 2010). Entretanto, os estudos

mostram a importncia de um programa de interveno que combine a promoo

das funes executivas, especialmente o controle inibitrio diante da adio

alimentar, com hbitos de comer bem e praticar exerccios (REINERT, et al., 2013).

Os pensamentos automticos em relao comida diferem entre obesos e

no obesos. A maneira como a cognio relacionada comida acessada e a

existncia de moderadores situacionais, como restrio e privao de alimentos,

39

explicam a forma como indivduos obesos e no obesos discriminam comida, sendo

que os obesos no so bem sucedidos nessa discriminao (McKENNA, et al.,

2016).

40

5 HIPTESES DE PESQUISA

Hipteses Principais

o Funes Executivas e Obesidade

H1 - Existe diferena no desempenho das funes executivas entre jovens

obesos e no obesos de Veranpolis-RS.

H0 No existe diferena no desempenho das funes executivas entre

jovens obesos e no obesos de Veranpolis-RS.

o Funes Executivas e Depresso

H1 - Existe diferena em relao presena de sintomas da depresso entre

jovens obesos e no obesos de Veranpolis-RS.

H0 No existe diferena em relao presena de sintomas da depresso

entre jovens obesos e no obesos de Veranpolis-RS.

Hipteses Secundrias

o Distribuio normal da amostra

H0 A amostra segue a distribuio normal.

H1 A amostra no segue a distribuio normal.

o Homogeneidade de varincias nos grupos

H0 A varincia das variveis nos dois grupos assumida como igual.

H1 A varincia das variveis nos dois grupos assumida como diferente.

o Diferena entre as mdias dos indicadores das funes executivas, dos

sintomas da depresso, IMC e CA entre os grupos

H0 As mdias dos indicadores entre os obesos e no obesos so iguais.

H1 - As mdias dos indicadores entre obesos e no obesos so diferentes.

o Correlao entre os indicadores das funes executivas, dos sintomas da

depresso, IMC e CA nos grupos

H0 Existe correlao entre os indicadores.

H1 No existe correlao entre os indicadores.

41

6 MTODO

O delineamento do presente estudo do tipo transversal, observacional,

analtico descritivo, com anlise e coleta de dados retrgrada. um estudo primrio

que tem como unidade de anlise jovens obesos de Veranpolis no Rio Grande do

Sul (RS).

Inicialmente, os estudantes foram sorteados aleatoriamente por um programa

de computador, todos oriundos do Projeto Veranpolis, com a participao dos

alunos e professores do departamento da Ps-graduao da Pediatria e Sade da

Criana do Hospital So Lucas da PUCRS. Nesse projeto, foi realizado um

levantamento antropomtrico dos estudantes do ensino mdio da rede pblica e

privada de cidade de Veranpolis. A partir desse levantamento, foi possvel fazer o

sorteio dos participantes do estudo. Os critrios de excluso dos adolescentes

sorteados foram os jovens com sobrepeso que apresentavam doenas crnicas,

hepatorrenal e em uso de drogas hepatotxicas, nefrotxicas, corticosteroides e

imunossupressores.

Finalmente, chegaram ao Hospital So Lucas da PUCRS e ao Instituto do

Crebro (INSCER) 65 adolescentes variando entre 16 a 18 anos, aproximadamente

metade de indivduos obesos e metade de no obesos, todos realizaram a avaliao

neuropsicolgica. Foram ento separados para anlise em dois grupos de

indivduos, o primeiro grupo, constitudo por 20 adolescentes obesos e ou com

sobrepeso (grupo de estudo), com ndice de massa corporal (IMC) igual ou superior

ao percentil 95 e o grupo controle, constitudo por 30 adolescentes no obesos

(eutrficos), com IMCs entre os percentis 7 e 83 da mesma populao. Os percentis

entre 85 e 97 no entraram na formao para que houvesse a plena separao

destes.

O plano amostral do projeto original configurou em cada um dos grupos o

nmero de 23 adolescentes e baseou-se no estudo de Demircioglu, et al (2008). J

o clculo amostral desse utilizou o software G*Power, verso 3.1.7 para compor

amostras que possibilitassem o emprego de testes-T. Como critrio, foi escolhida e

utilizada a conveno de um tamanho de efeito de 80%, considerado grande, com

nvel de significncia de 5%. Obteve-se como resultado do clculo da amostra para

esse projeto, no mnimo 30 indivduos para cada grupo (estudo e controle).

Considerando-se que foram avaliados 65 indivduos do estudo original, tinham-se

42

atendidas as condies necessrias para anlise e resposta aos objetivos, no que

se referisse ao tamanho da amostra.

Aps aprovao pela Comisso Cientfica do IGG (CCIGG) e Comit de tica

e Pesquisa (CEP) da PUCRS, foram verificados os dados antropomtricos e os

dados demogrficos do banco de dados do projeto original, e correlacionados aos

resultados da avaliao neuropsicolgica. A avaliao neuropsicolgica foi o

procedimento final, aps a coleta de dados, as medidas antropomtricas, os exames

laboratoriais, a ecografia e a ressonncia magntica, realizadas dentro do projeto

original, intitulado Estudo da Relao da Obesidade na Adolescncia com

Alteraes Cerebrovasculares e Hepticas. A avaliao dessas alteraes no

projeto original e demais projetos tem importncia significativa na preveno para

reduzir o elevado risco associado obesidade infantil, evitando patologias

irreversveis como doena de Alzheimer e demncia vascular.

Os procedimentos ocorreram em 10 etapas, todos em sbado pela manh,

entre 7h30min e 12h. Os jovens chegavam de Veranpolis em jejum, em micro-

nibus e no Hospital So Lucas da PUCRS, realizavam coleta para exames

laboratoriais. Em seguida, eram obtidas as medidas antropomtricas (peso, altura,

circunferncia abdominal e IMC) e dirigiam-se para o exame de ecografia abdominal

para avaliao da gordura heptica e visceral. Na sequncia, se alimentavam para

ento, realizarem os exames de ressonncia magntica no INSCER. Por fim,

realizavam os testes de avaliao neuropsicolgica e eram liberados, retornando a

cidade de origem.

Na avaliao dos adolescentes, foi utilizada a Escala FrSBe (Frontal Systems

Behavior Scale) e Escala Beck da Depresso. Os dados foram coletados pela

prpria pesquisadora que na ocasio era aluna de iniciao cientfica e deu

prosseguimento ao estudo, atravs dessa dissertao de mestrado.

A Escala FrSBe (Frontal Systems Behavior Scale), inicialmente denominada

de Escala FLOPS (Frontal Lobe Personality Scale) e criada por Grace, Stout e

Malloy (1999), uma escala adaptada para tipo Likert de 5 pontos, composta por 46

itens, constitudos em trs sub escalas: a sub-escala apatia pode indicar problemas

com iniciao, atraso psicomotor, persistncia, perda de energia ou interesse,

autocuidado e expresso de afeto; a sub-escala desinibio esta associada a

problemas relacionados ao controle inibitrio e a sub-escala disfuno executiva

43

pode indicar alteraes vinculadas a funes executivas, memria de trabalho,

ateno e autocontrole. Ela mensura comportamentos associados a danos do

sistema frontal, sendo que o comportamento alterado pode levar a dficits do

funcionamento ocupacional e social. A Escala FrSBe tem o propsito de identificar e

quantificar problemas de comportamento, facilitando o foco das intervenes e do

tratamento farmacolgico. As leses do lobo frontal incluem mltiplos domnios, tais

como, disfuno motora, disfuno executiva, sndrome da abulia frontal (perda da

espontaneidade, apatia, perda da direo e da curiosidade) e sndrome da

desinibio frontal. (GRACE e MALLOY, 2001).

A Escala Beck da Depresso, criada por Beck, et al (1961) e revisada

(1979/1982), avalia a intensidade de sintomas depressivos em adultos e

adolescentes a partir de 13 anos de idade. composta por 21 itens, com quatro

alternativas de escola simples e escores de zero, um, dois ou trs. O escore total

classifica os sintomas depressivos em mnimo, leve, moderado e severo e permite

identificar caso de provvel doena depressiva grave ou que requer hospitalizao

(GORENSTEIN, et al, 2011 e CUNHA, 2011).

Os adolescentes eram acompanhados por um responsvel por serem

menores de idade e juntamente com estes assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto original seguiu as consideraes ticas da

Resoluo 466/12 do Conselho Nacional de Sade e foi aprovado na Comisso

Cientfica da Pediatria e pelo Comit de tica e Pesquisa (CEP) da PUCRS.

A anlise estatstica descritiva foi empregada para caracterizao da amostra

e avaliao dos indicadores. A anlise de frequncia foi empregada para verificao

da demografia da amostra. A mdia e o desvio padro foram utilizados na avaliao

dos indicadores antropomtricos, de sintomas da depresso e que representaram o

funcionamento executivo do lobo frontal do crebro. Essa avaliao foi feita para o

grupo de obesos e no obesos.

Aps foi empregada a comparao de mdias, com vistas verificao da

significncia estatstica das diferenas encontradas na avaliao dos indicadores.

Para tanto, inicialmente foi utilizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov (Tabela 4) para

definir se amostra avaliada segue a distribuio normal ou no normal e com isso

definir se o teste estatstico a ser empregado paramtrico ou no paramtrico,

respectivamente (FIELD, 2009).

44

Tabela 4: Teste de Kolmogorov-Smirnov de distribuio normal

(Porto Alegre/RS, 2015).

OBESOS NO OBESOS

Variveis K-S

*

Z p

** Distribuio

*** K-S Z P Distribuio

IMC 1,079 0,195 Normal 0,700 0,329 Normal

Circunferncia umbilical 0,907 0,384 Normal 0,948 0,712 Normal

Sintomas de Depresso 0,680 0,744 Normal 0,882 0,418 Normal

Frontal Total (Escala FrSBe) 0,519 0,950 Normal 0,521 0,949 Normal

Apatia (Sub-escala Apatia) 0,559 0,913 Normal 0,594 0,872 Normal

Desinibio (Sub-escala Desinibio) 0,562 0,910 Normal 0,538 0,934 Normal

Disfuno Executiva (Sub-escala Disfuno Executiva)

0,919 0,367 Normal 0,633 0,819 Normal

Observao: *- Kolmogorov Smirnov Z; ** - Asymp. Sig. (2-tailed); *** - Distribuio normal ou no normal

O Teste T, teste estatstico paramtrico, foi empregado na comparao das

mdias. A opo para amostras independentes foi escolhida, pois os indivduos

eram distintos entre o grupo que tem obesidade e o grupo controle, mesmo sendo

oriundos da mesma populao de adolescentes veronenses. Por fim, foi utilizado o

Teste de Correlao de Pearson para verificao da correlao entre os indicadores.

45

7 RESULTADOS

7.1 DEMOGRAFIA DOS GRUPOS PESQUISADOS

A Tabela 5 apresenta o perfil demogrfico do grupo de adolescentes

avaliados, caracterizando a amostra estudada. A frequncia para cada varivel

apresentada em nmero de casos e o respectivo percentual de participao no

grupo.

Tabela 5: Perfil demogrfico da amostra pesquisada (Porto Alegre/RS, 2015).

Total Obesos No-Obesos

Amostra [n (%)] 50 (100%) 20 (40,0%) 30 (60,0%)

Idade Mdia (anos + DP)

Mnima

Mxima

16,6 + 0,8

15

18

16,3 + 0,6

15

18

16,9 + 0,7

16

18

Sexo [n (%)]

.......Feminino

----- Masculino

26 (52,0%)

24 (48,0%)

10 (20,0%)

10 (20,0%)

16 (32,0%)

14 (28,0%)

Estado Civil [n (%)]

Solteiro

50 (100,0%)

20 (40,0%)

29 (60,0%)

Escolaridade [n (%)]

Ensino Fundamental

Ensino Mdio

Ensino Superior

3 (6,0%)

42 (84,0%)

5 (10,0%)

2 (4,0%)

18 (36,0%)

--

1 (2,0%)

24 (48,0%)

5 (10,0%)

Ocupao

Estudante

Comercirio

Prestador de servios

Auxiliar administrativo

Industririo

Militar

Seminarista

30 (60,0%)

6 (12,0%)

5 (10,0%)

4 (8,0%)

3 (6,0%)

1 (2,0%)

1 (2,0%)

15 (30,0%)

1 (2,0%)

--

--

2 (4,0%)

1 (2,0%)

1 (2,0%)

15 (30,0%)

5 (10,0%)

5 (10,0%)

4 (8,0%)

1 (2,0%)

--

--

Observa-se que a idade mdia dos adolescentes, tanto dos obesos quanto

no obesos, em torno dos 16 anos, predominando, na maioria dos casos, o nvel

de escolaridade do ensino mdio incompleto. Alguns adolescentes haviam recm

ingressado no ensino superior no momento da avaliao e alguns poucos estavam

com dependncias no ensino fundamental. Observa-se que 21 (42,0%) dos

adolescentes alm de estudar, trabalham.

A seguir, os indicadores de obesidade, os sintomas de depresso e o

funcionamento executivo do lobo frontal do crebro de jovens obesos e no obesos

46

do Projeto Veranpolis/RS, avaliados em relao s mdias e aos desvios padro

dos indicadores investigados.

7.2 AVALIAO E COMPARAO DOS INDICADORES ENTRE OS GRUPOS

A Tabela 6 mostra a mdia e o desvio-padro dos indicadores pesquisados

nos sujeitos avaliados da amostra e separados entre obesos e no obesos. A

significncia estatstica (p) resultante da comparao das mdias dos indicadores

entre os dois grupos e o tamanho de efeito (R) dos indicadores so tambm

apresentados na Tabela 6. As medidas de peso, altura, que compuseram o IMC, e

circunferncia abdominal foram obtidas do banco de dados do projeto original.

Destaca-se que sujeitos com sobrepeso foram includos no grupo de obesos por j

corresponderem a indivduos com risco aumentado de comorbidades (Tabela 2),

conforme critrios da ABESO.

Tabela 6: Indicadores avaliados na amostra pesquisada (Porto Alegre/RS, 2015).

Total Obesos No Obesos p* R

IMC (Kg/m2) 25,6 + 5,7 31,8 + 3,6 21,4 + 1,6

47

ideia que a mdia do conjunto dos adolescentes j estaria com risco aumentado

desses adolescentes apresentarem comorbidades.

Segundo dados normativos da Escala Beck da Depresso (CUNHA, 2011), o

conjunto dos jovens pesquisados tende a apresentar uma mdia de 9,7 pontos para

sintomas da depresso o que considerado como sendo um nvel mnimo; a maioria

dos sujeitos obesos obteve uma mdia de 11,4 pontos o equivalente a nvel leve dos

sintomas depressivos; j a maior parte dos sujeitos com peso normal apresentou

uma mdia de 8,6 pontos, o que tambm considerado um nvel mnimo de

sintomas depressivos. Entretanto, a diferena percebida entre as mdias dos grupos

para sintomas depressivos no apresentou significncia estatstica (p = 0,199 ou p >

5%) no teste de comparao de mdias. A Tabela 7 mostra a concentrao dos

adolescentes, segundo os nveis de sintomas da depresso registrados, destacando

que os jovens no pontuaram em nveis grave de sintomas da depresso.

Tabela 7: Frequncia dos jovens por nveis dos sintomas da depresso

(Porto Alegre/RS, 2015).

Classificao Total Obesos No Obesos

Nvel Escore n* (%) n (%) n (%)

Mnimo 0 11 32 (64,0%) 11 (22,0%) 21 (42,0%)

Leve 12 19 12 (24,0%) 4 (8,0%) 8 (16,0%)

Moderado 20 - 35 6 (12,0%) 5 (10,0%) 1 (2,0%)

Grave 36 - 63 - - -

Observao:* n nmero de jovens

Observando-se os parmetros investigados pela Escala Beck da Depresso,

verifica-se atravs do grfico de radar da Figura 2 que alteraes no padro de

sono, indeciso e autocrtica so os parmetros que mais contribuem para elevar

o nvel dos sintomas depressivos nos jovens avaliados. Entretanto, pessimismo,

fracasso passado, choro, desvalorizao, irritabilidade e cansao ou fadiga

so mais efetivos entre os jovens obesos, enquanto alteraes no padro de

apetite, dificuldade de concentrao, sentimentos de culpa e falta de energia

predominam entre os indicadores de maior impacto nos sujeitos no obesos. J

48

tristeza, perda de prazer, sentimentos de punio e agitao impactam na

mesma intensidade nos dois grupos.

Figura 2: Sintomatologia de depresso dos adolescentes avaliados, segundo

parmetros de investigao da Escala Beck da Depresso (Porto Alegre/RS, 2015).

Os resultados dos dados coletados com a Escala FrSBe (Frontal Systems

Behavior Scale) tambm so apresentados na Tabela 6. Destaca-se que os escores

brutos ou pontuao realizada em cada uma das escalas foram convertidos em

escores T que tem como propriedade estatstica principal mdia 50, e desvio padro

igual a 10 (GRACE e MALLOY, 2001; COHEN, et al.; 2014).

O desempenho do funcionamento executivo dos sujeitos pesquisados

apresentado no conjunto das funes do lobo frontal (indicador frontal total), e

segundo as sub-escalas de apatia, de desinibio e de disfuno executiva,

representadas pelas variveis de mesmo nome. Destaca-se que escores elevados

na sub-escala apatia pode representar problemas relacionados com iniciao,

retardo psicomotor, espontaneidade, persistncia, autocuidado, embotamento das

expresses afetivas. A sub-escala de desinibio, por sua vez, pode revelar

problemas associados ao controle inibitrio do indivduo, ou seja, capacidade em

inibir impulsos e comportamentos de forma adequada. A disfuno executiva dada

49

pela sub-escala associada memria de trabalho e inabilidade de estabelecer

estratgias para recuperar informaes (GRACE e MALLOY, 2001).

A mdia do escore T do indicador frontal total foi de 56,1 pontos nos obesos,

e de 52,9 pontos nos no obesos, sendo que o desvio padro manteve-se

aproximadamente o mesmo nos dois grupos (Tabela 6). Observa-se que as mdias

dos indicadores apatia e disfuno executiva so maiores nos obesos, sendo

respectivamente de 62,2 pontos e 51,8 pontos. J a mdia de pontos do indicador

desinibio foi