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POP SHOCK um styling da moda jovem de Tóquio

POP SHOCK - faac.unesp.br · Ou seja, nossas preferências definem e compõem o que chamamos de estilo pessoal assim como a marca ... se ao profissional que define a imagem de um

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POP SHOCKum styling da moda jovem de Tóquio

POP SHOCK um styling da moda jovem de Tóquio

POP SHOCKum styling da moda jovem de Tóquio

Universidade Estadual Paulista“Júlio de Mesquita Filho”

Faculdade de Arquitetura, Artes e ComunicaçãoDepartamento de Design - Habilitação em Design Gráfico

Projeto de Conclusão de Curso - 2011

Samanta Akemi Araki NagashimaBauru, 2011

orientadora:Profa. Dra. Mônica Moura

Dedico este trabalho aos meus pais, Suzy e Milton, que apesar de nem sempre concordarem com minhas decisões, nunca me fizeram de-sistir dos meus sonhos e sempre estiveram lá quando precisei recompor meus pedaços.

AAgradeço primeiramente à Deus por todas as oportunidades.

À toda a minha família por sempre ter estado ao meu lado, nas horas boas e ruins.Às minhas modelos, Thamy, Letícia e Priscila, que aguentaram incansáveis horas de produções,

seções fotográficas e ocasionais olhares de curiosos que passavam nas ruas. À Gabrielly, Débora, Ana Luíza, Ana Helena, Elaine e Fernanda pelo incentivo, nunca deixando de

me animar quando eu sentia que nada ia dar certo. À Isabella e à Bia, que mesmo fora do país nunca deixaram de me apoiar em todas as horas que

eu precisei. À todos os professores que tive nesses quatro anos e especialmente à minha orientadora, Mônica,

que me guiou até eu conseguir encontrar o caminho. Agradeço à todos as pessoas que sempre acreditaram mais em mim do que mim mesma. Sem

vocês eu nunca teria tido forças para chegar onde cheguei.

GRAMENTOSDECI

RESUMO _______________________________________________INTRODUÇÃO ____________________________________________ Moda de Rua _________________________________ O Styling e o Stylist ______________________________ O Papel do Stylist _______________________________ O quimono e a Imagem ___________________________ O uniforme ___________________________________ O Japão pós-moderno ____________________________ Universo de Harajuku ____________________________ Tóquio, centro global da moda de rua _________________ O Reino Kawaii ________________________________ Estilo Lolita ___________________________________ Fairy Kei ____________________________________ Fenômeno Gyaru _______________________________ Garota da Montanha x Garota da Floresta _______________ Uniforme Escolar________________________________ Cosplay _____________________________________ Conceito _____________________________________ Análise de Referências ___________________________ Processo do Styling _____________________________ Apresentação dos resultados_______________________Conclusão E Considerações Finais ______________________________Bibliografia _____________________________________________

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SUmário

Moda não é algo que existe somente em vestidos. Moda está no céu, nas ruas, moda tem a ver com idéias, com o modo com que vivemos, com o que está acontecendo […]

CHANEL, Coco.(Chanel: a woman of her own. 1991)

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Este projeto trata do styling de looks inspirados no movimento estético-cultural da moda de rua de Tóquio observados entre os anos de 1998 e 2011 e tem como objetivo transmitir, através de um ensaio fotográfico e produção de

moda, os conceitos e ideais por trás do exterior de seus usuários.

Palavras-chave: styling, moda de rua, Tóquio, imagem, looks.

RESUMO

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As novas gerações tinham um grande apreço pela liberdade e utilizaram o visual como meio canali-zador de uma expressividade radicalista e explosiva, pois buscavam definir uma imagem de si mesmos como indivíduos.

Visando a crescente importância da moda de rua no cenário internacional e o destaque da moda japone-sa como uma das maiores autoridades no assunto, este Projeto de Conclusão de Curso tem como objetivo realizar um styling de looks inspirados na moda de rua de Tóquio, buscando não apenas retratar o aspecto visual mas transmitir os ideais e os desejos escondidos por trás do exterior desses jovens através da produção de ensaios fotográficos, no intuito de que este projeto possa despertar o interesse público para o aspecto cultural deste tema.

Para isso faremos uma breve explicação sobre a origem do styling e o papel do Stylist, a moda de rua e uma abordagem sobre a relação dos japoneses com a imagem e o universo da moda de Tóquio, além de clas-sificar alguns dos principais estilos e subculturas que, além de terem influenciado a moda do país, também serviram de inspiração para a criação dos looks que serão colocados em um photobook que será usado para a apresentação e defesa deste trabalho.

Com o fim da Segunda Guerra o governo japonês, em uma tenta-tiva de reerguer o país, adotou um sistema social rígido que consistia

no sacrifício do indivíduo em função do progresso nacional. Nessa

época surgiu aquela ideia de que japoneses eram todos iguais. Não faz muito tempo, porém,

que a sociedade japonesa começou a se desvincular dessa estrutura

social coletivista e começou a de-sejar a explorar os novos valores trazidos pela globalização. Como

conseqüência, nos anos de 1980 o país viveu um Boom na cultura pop

urbana.

introdução

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MODAA moda, entre outros fatores,

nasceu para dar vazão e expressão à necessidade de representação do

homem no ambiente e principalmente na sociedade, auxiliando a construir identidades e imagens por meio de

produções e looks. Essa representação está diretamente conectada ao papel

que a moda exerce na vida de cada pessoa. Para alguns é sinônimo de

arte, é tão essencial quanto o ar ou até mesmo religião, pode ser uma forma

de escape, uma maneira de reafirmar nossa existência, enquanto para outros é simplesmente mais um emprego, uma

fonte rentável de dinheiro. Independente do significado,

a moda deixou de ter um caráter simplesmente alegórico, tornando-se hoje em um dos meios mais significa-tivos de expressão individual. Mesmo ainda existindo uma tendência ditada pelos grandes estilistas, as pessoas

procuram cada vez mais vestir-se de acordo com seu cotidiano, com o jeito

que levam suas vidas, expressam suas personalidades e suas visões de

mundo.

[…] O consumidor, ao mesmo tempo que consome as pro-postas de moda, cada vez mais as produz, uma vez que adapta, renova, mistura, ignora a moda em prol de estilos diferentes daqueles que estão em curso, ainda que isso signifique se lixar para eles, fazendo ou não ideia de que, paradoxalmente, essa atitude é uma das posturas mais desejadas pela própria indústria, pois pode resultar numa de suas mais férteis fontes de informa-ção e criação. (MESQUITA, 2009)

de rua

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Nos últimos anos a área e tambem o mercado de moda parece ter direcionado seu olhar para as ruas das grandes metrópoles. Ao invés de ser utilizada ap-enas em seus modelos criados por grandes nomes do design, a moda de rua nasce por meio de pessoas co-muns nas calçadas pavimentadas das grandes cidades.

Essas pessoas estão criando as novas tendên-cias e são nelas que curiosos, fashionistas, e inclusive estilistas de renome estão buscando inspiração, como podem ser vistas nas últimas décadas onde estilos que nascem nas ruas influenciaram as próprias criações da alta costura. Um exemplo disso são os jeans skinny que antes eram usados apenas pelos Punks e hoje são ex-tremamente comuns em coleções de grandes estilistas.

Considerada a raíz da moda jovem, a moda de rua não se refere especificamente a um determinado estilo, mas a um conjunto de estilos únicos criados e personalizados por pessoas que usam suas roupas como um meio de expressão e de comunicação com o mundo.

Atualmente existem centenas de sites e blogs onde pessoas postam e compartilham seus looks diários. Parte dessa popularidade se dá por conta da globalização e das possibilidades da tecnologia digital; com apenas um clique podemos conferir o que qualquer pessoa em qualquer parte do mundo está usando.

No entanto, a globalização ao mesmo tempo em que evidencia e pop-ulariza, também tem contribuído para padronizar e reduzir a originalidade da moda de rua. Isso porque geralmente esses sites acabam virando referência e de repente um estilo que, por exem-plo, começou na Alemanha acaba se espalhando pela Europa e quando me-nos se espera todos os sites e revistas estão estampando os mesmos looks, só que vestidos por pessoas diferentes em lugares diferentes.

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O STYLINGo stylistNo design, o styling surgiu nos

EUA, por ocasião da queda da bolsa de 1929, como uma filosofia de que os produtos deveriam ser mais atraentes

aos olhos sem que houvesse uma preocupação com a funcionalidade

para atrair os consumidores a gasta-rem mais. Segundo Torrent e Marín (2007) a palavra Styling indica uma

modalidade de desenho industrial que prioriza o aspecto externo dos obje-tos com aplicação de extravagantes

efeitos visuais, ou seja, os designers que atuaram nesse sentido dotavam

os objetos de um aspecto atrativo com referências a Art Déco, ao Futurismo

com o objetivo de aumentar as vendas dos produtos. Burdek (2006) aponta

que o styking era uma ‘agressiva exar-cebacao formal de caráter superficial’ e que a dominação cultural e do produto

americano era determinante nos paises asiáticos, porém nos anos de 1990

países como Japão, Coréia, Taiwan ‘se emanciparam totalmente em termos de

design’. Na moda, o styling é a forma

de comunicação do conceito de uma marca, editorial ou indivíduo.

A palavra Styling, de origem inglesa, é traduzida como adjetivo de style, que no português é traduzido como estilo. Segundo MESQUITA (2009, p.11) estilo, no âmbito individual, é resultado de uma série de com-ponentes subjetivos que dizem respeito desde nossas escolhas sobre roupas e sapatos até o modo como nos comportamos e preferimos determinadas músicas e marcas de perfume.

Ou seja, nossas preferências definem e compõem o que chamamos de estilo pessoal assim como a marca é associada a determinadas características formais e subjetivas que possibilitam o usuário a reconhecer seu estilo e ao mesmo tempo se identificar com ela.

Por exemplo, quando se trata de uma grife, de-terminados valores e características são associadas à marca para que ela seja instantaneamente reconhecida pelo público, portanto é importante que seu estilo se mantenha constante para não arriscar sua identidade.

Diferentemente do Styling de moda, que trabalha com a comunicação do conceito imagético da marca para aquela ocasião, portanto tem mais flexibilidade para trabalhar com elementos que fogem até mesmo do estilo da marca, pois trabalha com o contexto daquele determinado instante.

O Styling é o produto criativo do profissional Styl-ist independentemente de ser ou não executado por ele. Embora tenha surgido oficialmente nos anos de 1960 com Mary Quant, é dito que o Stylist sempre es-teve resente na história da moda, desde seus serviços

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O stylist é um mediador da moda, assim como um curador é para a arte. Cada stylist interpreta a vestimenta e a propõe de uma maneira diferente, inserindo-a em um novo contexto. Ele é um mediador entre o público e o designer, isto é, a maneira como a composição imagética dos elementos é organizada causa uma imagem e um determinado impacto. Se os mesmos elementos fossem organizados de outra maneira, ou por outro curador, a mensagem seria diferente. (RONCOLETTA, 2009)

Diferentemente do designer de moda, o stylist não cria peças, ele simplesmente as dispõe da mel-hor maneira possível para apresentar um conceito e determinar a imagem e o impacto que elas irão causar quando o fizerem. Ou seja, o stylist comunica as cria-ções do designer ao público através de uma interpre-tação onde suas próprias subjetividades são levadas em conta.

Stylist: palavra inglesa para referir-se ao profissional que define a imagem de um desfile, catálogo ou editorial de moda. Sugere e ajuda a selecionar modelos, faz a edição das roupas a serem usadas e ajuda a determinar a maquiagem e o cabelo a serem adotados; nos desfiles, interfere na atitude das modelos e opina sobre cenário e trilha sonora. (SABINO, 2007:563 apud RONCOLETTA; BARROS, 2007)

prestados à realeza, seu papel em consultoria de imagem até sua efe-tiva visibilidade como profissão nos anos de 1990.

O termo Stylist é usado para nomear o profissional especialista em imagem, sendo utilizado mer-cadologicamente no Brasil desde a década de 90. O stylist é aquele que interpreta a Moda e constrói o conceito e a imagem por trás do look para uma determinada mídia. Sendo que, entende-se por look, a orga-nização de determinadas roupas as-sociadas ao conjunto formado pelos acessórios, roupas, postura, cabelo, maquiagem, etc.

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Embora o stylist seja o cérebro por trás de todo o processo e o conceito criativo do look, ele não faz nada sozinho. Trabalha sempre com o consentimento do designer ou do diretor de arte responsável pela produção, seja para um desfile ou um editorial, e conta com o suporte de uma equipe de profissionais como produtores, maquiadores, cabeleireiros e fotógrafos para dar vida ao look.

Cada profissional envolvido tem seu estilo, suas referências, mas é fundamental que isso não se so-breponha ao conceito no resultado do trabalho final. O styling nunca pode ou deve se sobrepor à fotografia, todos os elementos utilizados têm de estar funciona-ndo em plena harmonia.

O foco do stylist não é a modelo que está vestin-do a peça, mas as pessoas que podem se identificar com aquele desfile, aquela produção. O stylist cria uma realidade alternativa para que o consumidor se inspire, se emocione, enxergue o produto com outros olhos e, eventualmente, tenha vontade de tê-lo.

Por isso deve sempre estar atento ao perfil do público-alvo, em manter a identidade da marca e em propor idéias que atendam ao tema, mas ao mesmo tempo sejam inovadoras. Tudo de acordo com o veí-culo em que se está trabalhando.

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O papel dO StyliStSegundo RONCOLETTA e BARROS (2007), no Brasil, o Stylist pode atuar nos seguintes campos:

Fashion stylist ou stylist de moda: responsáveis pelo styling de uma marca de moda, de desfiles ou de campanhas para veículos especializados em moda, como revistas e sites. Geralmente recebem uma pauta do diretor de arte e trabalham no conceito de uma imagem de moda para esses veículos. Os stylists que trabalham com editorial de moda são responsáveis pela elaboração do conceito e geralmente escolhem os outros profissionais envolvidos (maquiadores, ca-beleireiros, etc), participando da produção de moda em si. A maioria dos stylists de desfiles e também trab-alham com editoriais e campanhas de marcas de moda.

Personal Stylist: também conhecido como con-sultor de estilo pessoal é o profissional que escolhe as roupas que favorecem o tipo físico de uma pessoa, associando-os ao seu estilo de vida e às tendências da moda. É aquele que cria e projeta a imagem do seu cliente, trabalhando principalmente para celebridades e empresários.

Stylist Publicitário: também conhecido como figurinista, trabalha para campanhas publici-tárias e comerciais de televisão que podem ser ou não relacionados com o campo da moda.

Stylist de TV (cinema, novela, etc.): No Brasil também conhecidos como figurinistas e inter-nacionalmente como costume designers. Além de possuírem conhecimento de construção de imagem para tais mídias muitas vezes precisam também ter algumas habilidades de designer.

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Todo ser humano possui uma necessidade inerente de comunicar o que sente e o que pensa, o que nos diferencia é o modo como nos expres-samos (ações, palavras, gestos, can-ções, pinturas). Isso está diretamente relacionado com a imagem que quere-mos transmitir de nós mesmos, seja ela a de quem somos realmente ou a da qual queremos ser ou transmitir.

Moda é uma dessas formas de expressão. Segundo o folclorista Yanagita Kunio (1931), a roupa é a indicação mais direta da mente de um povo. Se considerarmos essa afirma-ção verdadeira, podemos dizer que à partir de uma análise dos trajes típicos de um país podemos traçar o perfil de seu povo.

No Japão, a roupa tradicional do país, o quimono, possui apenas dois desenhos, um para os homens e outro para as mulheres. Fora essa diferença entre os genêros, a estrutura dos qui-monos é exatamente igual. O quimono raramente é desenhado para servir na pessoa, pelo contrário, a pessoa é quem tem que se adaptar ao quimono.

Se considerarmons as palavras de

de Kunio, uma das interpretações que podemos chegar é a de que, exceto pela diferenciação sexual, os japoneses procuram passar uma imagem de harmonia e igualdade.

É claro que existem pequenas variações no qui-mono, e essas residem principalmente em cores, pa-drões e materiais, que por si só são capazes de definir a idade, profissão ou condição social de uma pessoa. Por exemplo, uma garota indica que é jovem usando cores vivas enquanto uma senhora admite sua idade pela sobriedade de suas roupas.

&O KIMONOa imagem

(Fig. 2) As cores vivas e os padrões alegres são mais usados pelas crianças e pelas jovens. Fonte: http://japantimes.org

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O quimono, assim como todas as roupas, representa muito mais do que pode ser visto. Richie, famoso crítico de filmes e estudioso da cultura japonesa, (2003) compara o quimono a uma concha, uma casca dura e apertada que além de proteger a criatura frágil em seu inte-rior, também tem o papel de definí-la.

Richie vê essa comparação do quimono com uma concha como uma metáfora da própria imagem que os japoneses têm de si mesmos: não é o que temos dentro que nos define mas sim o que mostramos exterior-mente, portanto tudo o que somos deve ser expressado através da nossa imagem externa. Minha imagem define quem eu sou por mim.

Em uma analogia à esse pensamento japonês podemos dizer que se eles proposital-mente usam o quimono como forma de exibir uma sociedade igualitária, então a imagem que eles querem passar é a de que para os japone-ses, a consciência coletiva vem antes da con-sciência individual e as regras sociais é quem definem quem eles são.

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As roupas ocidentais só foram introduzi-das no Japão durante a Restauração Meiji, na

segunda metade do século XIX, quando o país começou a abrir suas portas para o mundo

após séculos de isolamento. Em contato com o mundo externo, os

japoneses se viram querendo alcançar o mesmo nível de desenvolvimento do Ocidente

e para isso sentiram a necessidade de se modernizarem. Por isso, assim que as roupas

ocidentais foram introduzidas elas rapidam-ente se popularizaram e, em 1960, quase já

não se viam pessoas de Kimono no Japão.Dentro da cultura japonesa nunca houve

nada semelhante com as roupas ocidentais, portanto é claro que quando foram introdu-zidas, os japoneses não apenas se sentiam

desconfortáveis como também as interpreta-vam diferentemente dos ocidentais, resultando

na ressignificação de valores e sentidos das roupas ocidentais.

Apesar de todo o conflito inicial para se adaptarem com as novas roupas, os japone-

ses desde o início se sentiram confortáveis usando uniforme. Uma suposição para essa

conexão quase instantânea talvez seja a proximidade que ele tem com a estrutura do

quimono. O uniforme padroniza, conecta você a um grupo de pessoas iguais e ao mesmo

tempo define quem você é socialmente apenas pelo que você está vestindo. Esse sentimento de definição trazido pelos quimonos e posteriormente os uniformes é uma necessidade muito sentida pelos japoneses.

Até hoje o Japão é conhecido por ser uma socie-dade altamente uniformizada, prova disso é que ele é um dos únicos países no mundo onde os chefs de cozinha usam uniforme completo, inclusive chapéu de cozinheiro.

O famoso escritor e pensador Oscar Wilde es-creveu em seu famoso livro, O Retrato de Dorian Gray, 1891, que “somente as pessoas superficiais não jul-gam pela aparência, o verdadeiro mistério é o visível, não o invisível.[...]” Em uma conversa com a Jornalista Ingrid Sischy da revista Interview publicada em junho de 2005, Richie concorda “Mas é claro que é verdade - A verdade superficial é sempre a verdade real. Isso é algo que todos os japoneses acreditam. Você a proc-lama, coloca no seu cartão de visita e essa é quem você é.”

Não é que eles se prendem à uma fantasia, à uma identidade, eles se vestem para cada ocasião com as roupas devidamente apropriadas para aquela oca-sião. Por isso todo chef que se preza não pode ficar sem o chapéu branco de cozinheiro.

o Uniforme

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O JapãoPÓS-MODERNO

Quando finalmente chegou o final da Segunda Guerra em 1945, o

Governo, visando superar a crise que se instalara, reforçou o espírito de

união do povo Japonês promovendo ainda mais a necessidade de colocar

o coletivo acima do individual. Isso fez com que crescesse em cada um o sentimento de responsabilidade pelo

progresso nacional, resultando no crescimento acelerado do país e na

homogeneização ainda mais acentuada da população.

A rotina, a pressão e principal-mente o uso dos uniformes fazia com

que as pessoas realmente ficassem parecidas. E em um país como o Japão,

onde você é o que você veste, os uni-formes estavam por toda a parte.

“O prego protuberante será martelado”. Esse ditado popular

japonês refletia muito bem o pensam-ento dessa época quanto à uniformi-

dade dos grupos e conformidade com as regras sociais.

Em casa, na escola ou entre amigos a regra era simples: aceitar e seguir os mandamentos impostos pelo grupo. Com quase todos os prazeres individuais negados, a nação perseguia seus objetivos em concordância har-moniosa e sempre com pensamento coletivo, deixando de lado a riqueza cultural e a variedade individual. (FREIRE; CORTEZ, 2010)

(Fig. 3) salaryman, seus ternos e sapatos sociais alinhados nos assen-tos do metrô para ir trabalhar. Fonte: http://osakastreetstyle.blogspot.

com/2011/10/salary-men.html

Com o esforço nacional para recuperar o país, em pouco tempo o Japão cresceu de forma alarmante e de país devastado pela guerra passou a se tornar uma das maiores potências mundiais já na década de 60. Tendo se tornado um dos países mais modernos do mundo e se consolidado como a segunda maior potência mundial na década de 90 foi quase impossível

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evitar a entrada da globalização e com ela os novos costumes, valores e ideologias da contemporaneidade.

Embora a estrutura tradicional ainda permaneça o alicerce da sociedade japone-sa, a pós-modernidade instigou uma trans-formação no perfil das novas gerações. Os jovens, tendo testemunhado todo o stress causado pela pressão e pelo excesso de trabalho da geração anterior, começaram a traçar novos objetivos e a focar mais em benefícios para si mesmos.

O capitalismo aliado à globalização al-imentou o desejo dos jovens de aproveitar a vida ao máximo, fazendo com que as novas gerações dessem mais valor ao dinheiro e as coisas materiais do que à carreira e ao trabalho em si. A consequência é que hoje a sociedade japonesa é uma das mais con-sumistas do mundo, e esse é apenas um dos muitos problemas sociais vividos por essa geração.

A constante exposição da mídia, a internacionalização de costumes e a vida cada vez mais agitada das cidade troux-eram questionamentos que antes passa-vam despercebidos pela maioria da popu-lação. com a Pós-modernidade e a iminente quebra daquela estrutura social coletiva a

a qual estavam acostumados, de repente livres para centrarem em si mesmas, muitas pessoas começaram a questionar sua existência e a sua identidade. Afinal, quem sou eu?

A maioria dos jovens não sabia pensar e se ex-pressar como indivíduo, por isso muitos deles tentaram se libertar das semelhanças abraçando o diferente, o exótico, levando a uma evolução do próprio visual que até hoje parece espetacular para os ocidentais.

Nessa tentativa quase desregrada de manifestar sua individualidade, eles acabaram causando uma ver-dadeira revolução cultural no final da década de 80 que culminou nos anos de 1990, tendo seu epicentro na cidade de Tóquio e mais precisamente na área de Harajuku.

(Fig.4) meninas posando para foto na ponte ‘Jingu’ em Harajuku. Fonte: http://tokyofashion.com/articles/

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UNIVERSOHarajukuGwen Stefani canta sobre as

Harajuku girls e seu ‘estilo selvagem’. Mas Harajuku é também um antro antropológico de jovens que escolhem reagir à todas as mudanças em suas vidas através do seu visual. (Cham-

bers, 2007 p.32, Livre Tradução)

(Fig. 5) cantora Gwen Stefani ao lado de suas Harajuku Girls. Fonte: http://gallery.celebritypro.com/celebrity-photo-23811.htm

Harajuku é o nome popular da área dos arredores da Estação Hara-

juku, na cidade de Tóquio. Inicialmente era um bairro residencial sem grande significado até que em 1915 foi con-

struído o Santuário Meiji, uma grande e bela construção que atraiu muitos

religiosos para a região.No entanto, o mais importante

desenvolvimento cultural ocorreu durante as Olimpíadas de 1964 em

Tóquio, pois o ginásio e a Vila Olímpica ficavam próximos do distrito e jovens

de todo o país infestaram a área, interessados no contato com a cultura ocidental. Mesmo depois das Olimpía-das as pessoas que haviam migrado

para a região continuaram instaladas em Harajuku.

A região ganhou fama nos anos de 1990 devido ao aparecimento de

um grande número de artistas de rua e

grupos de jovens com roupas extravagantes. Re-uniam-se ritualmente todos os domingos, quando a rua principal ficava fechada para o trânsito e ap-ropriavam-se de um espaço público transforman-do-o, uma vez por semana, em um mundo privado completo de regras e costumes próprios onde existia a oportunidade de expressão individual.

Shoichi Aoki é um fotografo que trabalhava para a sua revista STREET, registrando a moda de rua uti-

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(Fig.6) jovens reunidos durante a 6ª Fashion Walk, realizada em Setem-bro de 2011, em Harajuku, um evento que reune pessoas de todos os estilos da moda urbana de Tóquio. Fonte: http://tokyofashion.com/harajuku-fashion-walk-pictures-6/

lizada pelos jovens que encontrava princi-palmente em Paris, Londres e Nova Iorque. Quando então se deparou, em seu próprio país, com uma mudança radical na maneira como os jovens da região de Harajuku se vestiam.

Ao invés de seguirem as tendências européias e americanas, os japoneses se mostravam tão inventivos e até mais radic-ais, misturando elementos de roupas tradi-cionais com peças feitas à mão, usadas e até peças de marca exclusiva.

Aqui, pela primeira vez no Japão e na porta da minha própria casa, estava um exemplo de tendências sendo lançadas pelo próprio usuário da moda (que na minha opinião são de longe os mais importantes elementos da moda). Realmente se tratava do usuário superando o designer para criar uma nova moda tão desafiadora quanto transformadora. Mas acima de tudo, essa nova revolução da moda era de quintes-sência japonesa em sua forma inovadora de juntar códigos e significados da moda tradicional. (AOKI, 2005, Livre Tradução)

Desde então AOKI se tornou um entusiasta pela moda de rua japonesa, dedicando muitos de seus trab-alhos a documentar e fotografar os estilos emergentes desses jovens. Então em 1997 ele criou a FRUiTS, uma revista mensal dedicada a capturar a inventividade da moda de Harajuku e que hoje é cultuada por jovens de todo o país e ainda possui fama internacional.

Segundo AOKI, o modo como essas novas tendências se espalharam foi puramente por osmose. Imagine o seguinte, um grupo de jovens que desejava ser diferente começou a customizar suas roupas para criar o seu próprio estilo. Achando esse novo estilo in-teressante, seus amigos começam a copiá-los e logo eles formam um grupo. Desse mesmo princípio vários outros grupos de estilos diferentes são criados e então começam a dominar a região de Harajuku.

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(Fig.7) Rua Takeshita, a principal rua de roupas alternativas de Hara-juku. Fonte: http://thefashionatetraveller.com/fukubukuro-pictures-part-2

Sendo um dos epicentros da moda de rua do país, centenas de jovens vão à Harajuku para conferir os no-vos estilos, então, influenciados pelo que vêem, logo aqueles estilos que eram restritos aos seus respec-tivos grupos viram tendências que acabam se espal-hando por todo o país. No entanto, ao perceberem que não são mais únicos, os fundadores dos estilos sentem a necessidade de se distinguirem de seus imitadores e reconquistarem novamente sua individualidade reiven-tando o seu visual e assim o ciclo recomeça.

Para que esse “ecossistema” se mantivesse fun-cionando, AOKI afirmava que era fundamental a pre-sença do Hoko-ten ou “paraíso dos pedestres” , nome dado àquele fenômeno que acontecia todo domingo, quando Omotesando, a rua principal de Harajuku, se fechava para o tráfego pelo dia inteiro, dando liber-dade para os pedestres caminharem livremente.

E ele estava certo pois, em 1998, quando o Ho-ko-Ten foi abolido, sem lugar para ficar, a moda explo-siva dos jovens que caracterizavam Harajuku começou a decair com os anos. Embora sua atitude criativa em relação às roupas ainda continue, é evidente a redução da ousadia e intensidade pela qual eram conhecidos no auge dos anos de 1990.

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No contexto atual, onde a moda de rua tem vivenciado cada vez mais destaque é quase impossível não pen-sar em moda japonesa e mais especifi-camente, na moda de Tóquio.

Desde que surgiu, em meados dos anos de 1980, ela vem revolucio-nando o mundo da moda urbana com

algumas das criações mais originais e desafiadoras que o mundo já viu, uma das razões pela qual até hoje desponta como autoridade no assunto, chegando até a influenciar artistas como Gwen Stefani e Nick Minaj e grandes nomes da moda como John Galliano.

Sendo praticamente um centro global da moda de rua, é inevitável que designers de todo o mundo se-jam atraídos pelo pot-pourri da moda de Tóquio, uma vez que o lugar vem se destacando como promessa para o cenário da moda internacional.

Além de ser uma das megalópoles mais moder-nas e populosas do mundo, Tóquio é também o epi-centro de toda a cultura pop emergente do país. Ruas como as de Harajuku e Shibuya não são apenas palco como também servem de incubadora para a criativi-dade explosiva da nova geração.

Não existe uma palavra que possa definir o estilo da moda vista em Tóquio. Gêneros como punk, cyber, new-funk, folk, vitoriano e roupas tradicionais como o kimono são misturados com acessórios e peças oci-dentais.

É como se você fizesse uma colagem de diferen-tes roupas de marca, roupas feitas à mão, tecidos e es-tampas e depois se propusesse a vesti-la. E quando se trata de uma meca da moda como a de Tóquio onde a toda hora estilos mudam, subculturas vem e vão, mar-cas nascem e morrem, é difícil até para os admiradores mais devotos se manterem atualizados.

TÓQUIOCENTRO GLOBAL DA MODA DE RUA

(Fig.8) Vitrine da loja localizada em Shibuya da popu-lar marca WC com roupas do estilo de Harajuku. Fonte: http://tokyofashion.com/wc-shibuya-shop-grand-

opening/

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Bichinhos de pelúcia, desenhos ani-mados, personagens fofinhos, em todo o lugar que você olhar vai encontrar alguma coisa Kawaii e quando se está no Japão ninguém consegue escapar dele. Kawaii pode ser literalmente traduzido como ‘fofo’, ‘meigo’ ou até mesmo ‘legal’, no entanto, para os japoneses é muito mais do que isso.

Para os jovens japoneses, kawaii sig-nifica expressar seus sentimentos relativos ao não querer crescer. Segundo Sebastian Masuda, criador da popular marca de roupas 6% Doki Doki, para os jovens e principalmente para os adolescentes, ter vontade de crescer é o mesmo que desistir dos seus ideais. Então, quando usam roupas coloridas é como se estivessem dizendo não ao mundo cinza e padronizado dos adultos e afirmando que eles possuem uma cultura e um estilo de vida próprios.

Diferente do ocidente onde tendemos a reprimir coisas infantis, no Japão, gostar de coisas fofas é considerado uma coisa boa e até uma qualidade, pois para eles ter uma alma infantil significa ter virtude. Razão talvez pela qual estilos como o Lolita e o Fairy Kei sejam tão populares entre jovens no país.

KAWAIIReino

(Fig.9) Kawaii até na marmita! Os estudantes geralmente levam comida de casa para comer na escola chamados de Bentô. Como tudo no Japão, a apresentação dos pratos é fundamental, mesmo que seja apenas uma marmita. Arroz em forma de personagens e ovos em forma de coração são os mais populares entre mães e estudantes. Fonte: http://susanyuen.wordpress.com/

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Apesar do nome, o estilo Lolita não tem relação com o romance de Vladimir Nabokov e muito menos possui qualquer conotação sexual. Pelo contrário, suas seguidoras valorizam aspectos como pureza, delica-deza e feminilidade e se vestem como bonecas e princ-esas em um estilo muito semelhante à moda vitoriana e rococó. Geralmente as Lolitas são adolescentes mais jovens que vêem no estilo uma oportunidade de fazer seus sonhos se tornarem realidade.

O estilo possui muitas ramificações mas se dife-renciam apenas no visual, sendo os ideais e conceitos basicamente os mesmos. Um exemplo são as Hime Lo-litas que se vestem como as mulheres da realeza fran-cesa do século XIII e as Gothic Lolitas, que apesar do nome não tem relação com os góticos industriais, mas com a moda Vitoriana e seus vestidos mais escuros.

Estilololita

(Fig.10) Na foto uma Hime Lolita, do japonês, princesa Lolita. Para criar seu visual se inspiram principalmente no filme da americana Sofia Cop-

pola, Maria Antonieta. Fonte: http://iamcharon.deviantart.com/

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Cheio de tons pastel, polka-dots e um sentimen-to de nostalgia, o Fairy Kei é um estilo inspirado nos ícones pop infantis dos anos e1980 e se desenvolveu à partir do estilo colorido e alegre da celebridade To-moe Shinohara. No entanto o estilo só se consolidou com o conceito de “Cute and Happy” das coleções de Sebastian Masuda.

Geralmente as seguidoras do Fairy Kei são garo-tas mais velhas, em seus 20 e poucos anos que que-rem trazer um pouco de sentimentos como alegria e espontaneidade que eram tão presentes na infância para suas roupas.

Embora sejam chamativos, nenhum desses esti-los existe para chamar a atenção. Masuda afirma que estilos como o Lolita ou Fairy Kei, assim como o próprio conceito de sua marca, existem simplesmente porque as meninas só querem se sentir bonitas e felizes com o que vestem.

Fairykei

(Fig.12) Na foto, que mostra uma garota do estilo Fairy Kei, con-seguimos perceber que ao contrário das Lolitas, este estilo é mais próximo da moda comum do que do visual ‘figurino’. Fonte: http://

tokyofashion.com/

(Fig.11) Vitrine da Loja da marca de Sebastian Masuda, 6% Doki Doki. Fonte: http://tokyofashion.com/

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Shibuya é um dos bairros mais famosos de Tóquio, conhecido pela movimentação diária de mil-hares de pessoas e pelo seu status de centro Fash-ion, impulsionado pela presença da população jovem e pelas lojas de grandes departamentos. Atualmente, o ícone do cenário da moda de Shibuya é o ‘Shibuya 109’, um grande complexo de lojas organizadas em um alto edifício de forma cilíndrica, que ainda é con-siderado uma das grandes forças motrizes da moda jovem, culminando com a explosão das Gyaru nos anos de 1990.

O fenômeno gyaru emergiu quando a Rainha do Pop japonês Amuro Namie apareceu no cenário musi-cal com a pele bronzeada, cabelo tingido de loiro, sa-patos plataforma que disfarçavam sua baixa estatura,

e muita maquiagem, causando uma sensação instantânea entre os jovens.

O estilo das Gyarus não apenas inspirou o país, mas rapidamente se espalhou pelo continente. Cabelos tingidos, saia minúsculas, cores intensas e uma tendência a glamourizar tudo sobre elas são apenas algumas das car-acterísticas das Gyarus.

Ousadas, adoráveis, divertidas, apesar de todas as loucas manias e ramificações, as Gyaru constituíram uma tribo forte e influente em todo o país. Se tivessem um lema, ele com certeza seria “As Gyaru só querem se divertir”, pois independentemente de parecerem bonitas ou elegantes, elas estão mais preocupadas em fazer das compras e da diversão o seu estilo de vida.

GyaRUfenômeno

(Fig.13) Gyarus e Gyaru Boy passeando no shop-ping. Fonte: http://tokyofashion.com/

(Fig.14)Gyarus sempre superproduzidas, desde os cabelos até as compridas unhas postiças. Fonte: http://tokyofashion.com/

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O mori kei é um estilo que surgiu em 2006 quando sua criadora, Choco, criou uma comunidade em uma rede social para garotas que quisessem partilhar dos conceitos e da sua visão sobre a moda.

O estilo dessas meninas, chamadas de Mori Girls, é exatamente o que alguém teria se saisse de uma floresta encantada. Gostam de fazer sobreposições e usam apenas vestidos e saias; preferem teci-dos naturais como o algodão, a lã e o tricô e cores que lembram a natureza.

No entanto, esse estilo não é baseado apenas no visual, en-volvendo também costumes e todo um estilo de vida próprio. É uma moda mais natural, mais interior, uma forma de trazer o estilo de vida simplista do campo para as ruas agitadas da cidade. Esse estilo cres-ceu tanto que além de invadir as ruas de Tóquio acabou influenciando grande parte da moda comum japonesa.

Em 2010 houve uma espécie de êxodo da floresta para as mon-tanhas, e notou-se que as mulheres estavam cada vez mais inter-essadas pelas atividades ao ar livre. Marcas de esporte e revistas especializadas incentivaram o surgimento de um novo estilo chamado de Yama Girl, tradução do japonês, Garota das montanhas.As Yama Girls, em geral, adoram a natureza e a vida ao ar livre. Como se trata de um estilo que ainda está crescendo não há muitas regras do que pode ou não ser usado, geralmente as pessoas usam cha-péus, saias, leggings, sobreposições e mochilas, mas qualquer roupa que caracterize essa imagem de ‘exploradora da natureza’ também faz parte.

Embora o estilo tenha sido criado para as atividades de escala-da em montanha, também é usado nas cidades, pois mais do que uma tendência, o Mori Kei é um estilo de vida que representa o espírito aventureiro das mulheres, seja na natureza ou na cidade.

GAROTADA MONTANHAda floresta

(Fig.15)Maquiagem simples, roupas leves e chapéu, características de uma yama girl. Fonte: http://

tokyofashion.com/

(Fig.16) Muitas sobreposições, cores neutras e tecidos naturais fazem uma Mori Girl. Fonte: http://

tokyofashion.com/

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Como visto anteriormente, a sociedade japonesa ainda é uma das mais uniformizadas do mundo, talvez por isso uma das visões mais comuns de se encontrar no Japão é a de garotas vestindo seus uniformes de estilo marinheiro.

É dito que sua origem tomou lugar em 1921, quando a diretora de uma escola introduziu uniformes modelados nos uniformes da Marinha Real Britânica. Ao longo das décadas os uniformes perderam sua associação com a origem européia e ganharam uma identidade completamente japonesa.

O uniforme das meninas geralmente consiste de uma saia plissada, uma camisa branca com um lenço amarrado no pescoço, meias até o joelho e um sa-pato Mary Jane. É claro que existem muitas variações do uniforme escolar, algumas incluem blazers e usam gravatas ao invés dos lenços, mas a estrutura básica é geralmente similar à essa.

Ao contrário da cultura ocidental que não tem essa tradição escolar, na cultura japonesa, as crian-ças vestem uniformes desde o maternal até o ensino médio, sendo que até em algumas faculdades também se usa o uniforme. Cada escola possui um uniforme próprio, de estilo e cores diferentes, razão pela qual muitas escolas são conhecidas pelos seus uniformes. Apesar disso, alguns estudantes modificam seus uni-formes como uma forma de mostrar individualidade.

Querendo ou não, o uniforme escolar tem uma simbologia muito forte de juventude e por isso tanto os estudantes quanto os já gradua-dos sentem uma forte atração para vestí-los. Em função disso, surgiu um grande número de marcas e lojas especializadas em diferentes ti-pos de peças para uniformes escolares, tanto para os estudantes que quiserem complemen-tar seus próprios uniformes como para aqueles que usam como próprio estilo.

UNIFORME ESCOLAR

(Fig.17) Uniforme tradicional de estudantes colegiais. Saia plissada, blusa de marinheira e lenço preso na gola. Fonte: http://zh.wikipedia.org/wiki/File:Japanese_schoolgirls_walk-

ing_and_eating.jpg

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Cosplay é uma contração das palavras inglesas “Costume” e “Play”, respectivamente no português, Fantasia e Brincar/Interpretar. Ou seja, Cosplay signifi-ca nada menos do que interpretar um papel. E ao con-trário da crença popular, o Cosplay não é um fenômeno originalmente japonês mas sim americano, surgido em 1939 em um evento de ficção científica.

O Cosplay é mais especificamente uma subcul-tura onde seus integrantes gostam de se vestir como personagens de desenhos, videogames, anime, pro-gramas de tv, filmes, bandas e até icones pop. Consid-erado como hobby, forma de arte, tendência da moda, fenômeno social e até coisa de gente que não tem o que fazer, o Cosplay, embora possa ser considerado pelo menos em parte um pouco de tudo isso, é acima de qualquer coisa uma forma de expressão dos jovens.

Especificamente, Cosplay é muito mais do que apenas recriar os trajes de seus personagens prefe-ridos. É muito mais do que um hobby, pois trata de uma paixão que vai desde a minuciosa confecção das roupas até a interpretação do personagem, reproduz-indo cada pose, cada postura, cada fala típica.

COSPLAY

(Fig.18) Cosplay da personagem Lightning (imagem ao lado) do jogo Final Fantasy XIII da empresa japonesa Square Enix. Fonte: http://blitzroyale.deviantart.com/art/Lightning-cosplay-183334837

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Para este Projeto de Con-clusão de Curso optei por aliar duas áreas que sempre me interessaram muito, tanto dentro quanto fora da minha vida acadêmica: Moda e Cultura Japonesa.

Após conversar com minha orientadora percebi que propor a criação de uma coleção de moda seria completamente inviável pelo tempo mas principalmente pelas minhas próprias limitações no campo do estil-ismo e da costura, por isso, quando foi sugerido, me pareceu mais do que ideal optar pelo Styling.

Após as devidas considerações, foi decidido que o ponto principal do styling seria abordar a profunda relação dos japoneses com a imagem e como a sua necessidade inerente de se definir exteriormente, po-tencializada pela globalização e a pós-modernidade que resultou na intensa exploração da moda urbana como forma de buscar o “eu” em uma sociedade que sempre privilegiou o “nós”.

Para isso, foram criados 07(sete) looks diferen-tes como resultado da minha interpretação dos princi-pais estilos e características da moda de rua de Tóquio com o intuito de transmitir em cada look a essência do que é cada estilo através da produção de ensaios fotográficos. Apesar de toda essa variedade estética, o conceito que une toda essa coleção é exatamente a constante experimentação visual do jovem na busca de sua própria identidade.

Todo o resultado da produção, do styling e dos ensaios será colocado em um photobook para melhor apresentação e maiores detalhes sobre o processo de cada um.

conceitoo

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T endo em vista o enfoque no público jovem feminino, os looks foram desen-volvidos a partir de análises e referên-

cias teóricas, mas principalmente visuais dos diversos estilos e tribos dos jovens de Tóquio. Através desses estudos destacaram-se as principais características estéticas de cada grupo e qual o conceito, qual o sig-nificado por trás de cada uma delas.

Como resultado, muitas particularidades e carac-terísticas foram observadas mas, independentemente da diversidade de estilos, possuiam pelo menos um dos seguintes pontos em comum:

SOBREPOSIÇÃOSe existe uma palavra que

define bem não apenas o conceito da moda urbana de Tóquio, mas a moda japonesa como um todo, é a sobreposição. Desde os estilos mais caóticos até os mais minimal-istas, todos vestem pelo menos um mix de estampas ou camadas de roupas.

Embora não seja uma tarefa fácil e requeira certa prática por parte do usuário, sobreposição é um exercício de estilo. Não se trata apenas de acrescentar casacos ou colocar blusas uma em cima de outra.

Sobreposição significa ser capaz de trabalhar com camadas, de incluir volumes e proporções, de brincar com comprimentos, texturas e estampas e ainda fazê-los funcionar em um look, e quase ninguém faz isso de forma tão cria-tiva e natural quanto os jovens de Tóquio.

Análisede referências

(Fig.19) Sobreposição não é apenas usado por mulheres, no Japão os homens também se preocupam muito em produzir e cuidar do estilo pessoal. Foto de um grupo de skatistas em Harajuku. Fonte: http://tokyofashion.com/

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COMBINAÇÃOde coresEnquanto a maioria do mundo

vive sob as regras do que é permit-ido e do que não é, impostas pelos grandes especialistas da moda, a maioria dos jovens de Tóquio não apenas fazem como também vivem pelas suas próprias regras, e isso in-clui também a combinação de cores. Vários exemplos podem ser encon-trados nas ruas onde, por exemplo, cores que jamais seriam vistas juntas em qualquer outro país do mundo são exibidas naturalmente nas roupas de um jovem qualquer em Tóquio.

Embora seja fato que a moda de rua de Tóquio tenha uma das pal-etas mais coloridas e diversificadas do mundo, não se pode generalizar esse evento dizendo que todos os seus estilos tenham a mesma var-iedade na combinação das cores. Muitos deles têm a paleta de cores restrita ao preto, branco e vermelho.

CUSTOMIZAÇÃOSe você percorrer as ruas de

Tóquio, principalmente na região de Harajuku, vai notar muitas pessoas exibindo roupas e principalmente acessórios peculiares nunca vistos antes. Isso porque muitos jovens customizam suas próprias roupas, modificando o corte e até o visual de peças de marca para que elas pas-sem a corresponder ao seu próprio estilo.

(Fig.20) Meninas desfilando seus estilos coloridos e alegres em Harajuku. Fonte: http://tokyofashion.com/

(Fig.21) Na foto ao lado bolsa feita de retalhos de teci-dos e customizada com rendas e flores. Fonte: http://tokyofashion.com/

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RESSIGNIFICAÇÃOde peçasEm um mundo onde lojas e marcas de

Fast Fashion dominam cada vez mais o mer-cado da moda mundial, o mesmo vestido que é vendido em uma loja da Zara em São paulo é vendido em lojas Zara em Londres. No en-tanto, para manter a originalidade de seus es-tilos, os japoneses além de optar pela custom-ização também gostam de utilizar essas peças de modo inusitado.

Assim como aconteceu na introdução das roupas ocidentais no país, muitos jovens ainda interpretam a roupa ocidental com ol-hos diferentes, e isso acabou intensificando a criatividade com que eles exploram a maneira de se vestir, não apenas modificando suas fun-ções originais como atribuindo novos significa-dos para essas peças.

(Fig.22) Agasalho preso à cintura da calça para simular um macacão. Fonte: http://tokyofashion.com/

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STYLINGprocesso do

O principal objetivo deste trabalho foi realizar o styling, o que incluiu também a produção e a concepção e trabalho fotográfico de cada look para ser posteriormente retrat-ado na produção de ensaios fotográficos es-pecíficos de cada tema. No entanto, como dito antes nesse estudo, o stylist nunca trabalha sozinho e sempre conta com a ajuda de uma equipe de profissionais envolvidos que vai des-de o maquiador até o fotógrafo para executar sua visão.

Para este trabalho, por falta de suporte técnico, acabei assumindo não apenas o papel de stylist mas, excluindo as modelos, de todo o elenco, fases e necessidades envolvidas na produção. Todas as roupas, acessórios e ferra-mentas utilizados durante a produção ou foram adquiridos especificamente para este projeto, ou emprestados ou feitos à mão, mas a maioria é de propriedade particular.

Vale a pena lembrar que este trabalho não foi necessariamente desenvolvido para corresponder à estética desses estilos, e muito menos para ser uma reprodução fiel delas. Este trabalho é, sobretudo, uma reprodução da imagem e da interpretação que eu tive so-bre eles.

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LOOK 1A partir das análises visuais feitas para com-

preender o universo das Gyaru percebemos que sua imagem, apesar de meiga, possui um apelo sexual muito mais evidente do que os outros estilos mencio-nados, embora não seja tão fortemente sugestiva pelo conservadorismo do próprio contexto em que está in-serida. Um adjetivo muito usado é o ‘erokawaii’ que significa algo como Sexy mas Meiga.

Como visto antes, o lema das Gyaru é diversão, e isso se manifesta claramente no seu estilo. Cores chamativas, pedras, brilhos, glitter, renda, saltos altís-simos, flores, laços, maquiagem e cabelo dignos de artista, independentemente se estão bonitas para os outros, elas se produzem porque se sentem bem con-sigo mesmas.

A impressão é que as gyaru estão sempre bril-hando. Independentemente se estão usando uma rou-pa extremamente delicada ou uma coisa que parece ter saído direto da lata de lixo, elas desfilam seu visual com tanta confiança, com tanta naturalidade que é im-possível não pensar que para elas o mundo é uma pas-sarela.

E é exatamente essa imagem que o styling desse look propôs passar. O ar de glamour e diversão e a idéia de que a qualquer hora e em qualquer lugar elas devem estar prontas para aproveitar a vida e brilhar.

mini-saia de cintura alta em camadas de tule preto para destacar ao mesmo tempo a delicadeza do tule e a sensu-alidade evidenciada pelo comprimento da saia;

Blusa de renda com aplicações de paetê usada como top e bolsa clutcher, cinto e colete com botões e rebites metalizados para criar pontos de luz e dar brilho e destaque ao visual;

Sapato de salto com recortes vazados para completar a luxuosidade do look e a meia 7/8 com detalhes em glitter para contrabalancear a sensualidade do look com um aspecto mais meigo;

Olhos marcados e batom vermelho ousado. O cabelo é um contraste entre o romantismo da trança embutida later-al e o visual ‘desregrado’ da estilização de ondas ligeiramente armadas.

GyaruO look desse styling foi composto e produzido da

seguinte maneira:

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Cartela de CoresCroqui

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Modelo: Thamy TsutsuiFotógrafia: Samanta NagashimaMaquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 2LolitaDurante a análise das Lolitas e todo o seu

mundo encantado percebemos que, diferente das Gyaru, elas tem uma imagem completamente ino-

cente. Não apenas suas roupas, mas também seus gestos e expressões são tão delicados que realmente

se parecem com frágeis bonecas de porcelana. Os vestidos são extremamente rodados, as

saias bem bufantes, cheias de contas, laços, fitas, rendas, tudo em cores alegres e muitas vezes

estampas de doces ou animais. Meias até os joelhos com rendas nas pontas, sapatinho de boneca, laços

gigantes na cabeça e às vezes até luvas e guarda-sol.Esse estilo é extremamente feminino e rico em

detalhes e a impressão que se tem é que as Lolitas querem fugir dessa realidade que é extremamente

desagradável então criam e vivem em um mundo próprio onde elas possam “brincar” de se vestir de princesa sem se preocupar com as dificuldades do

dia-a-dia.Diferente das Gyaru, as Lolitas são discretas,

falam baixo e andam mais devagar, e para todo o lugar que vão levam esse ar de timidez e fragilidade

fazendo você sentir que acabou de entrar em um conto de fadas. Essa magia e inocência das Lolitas é

exatamente a imagem que escolhemos passar com esse styling.

• A saia escolhida é ligada ao top por um cinto vermelho que é laçado três vezes ao redor da cintura exatamente onde ambos se encontram para criar a ilusão de que ambos, saia e top, formam única peça. A saia é um dos pontos mais delicados e femininos de todo o look, não apenas pela presença do tule rosa, mas pelas estampas de doces impressas por todo o tecido que, além de tudo, conferem um ar infantil ao conjunto do look;

• Meia 3/4 listrada e o sapato boneca vermelho com o laço dourado fortalecem a imagem de boneca;

• Pulseiras e colares são todos feitos com con-tas razoavelmente grandes para parecer com bolinhas de chiclete;

• Casaquinho vermelho com botões dourados foi adicionado para balancear o look e acrescentar as mangas de princesa;

• Como toda boneca tem o rosto perfeito, a ma-quiagem foi importante para deixar a pele lisa e uniforme para dar um aspecto de porcelana. Nos olhos foram aplicados apenas uma sombra rosa e cílios postiços para dar o efeito de olhos bem grandes. A boca foi desenhada com pincel para destacar o formato de coração dos lábios;

• Cabelo dividido e trançado para criar um visual mais infantil e inocente.

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Cartela de Cores

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Croqui

Modelo: Letícia KakudaFotógrafia: Samanta NagashimaMaquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 3Fairy KeiObservando o Fairy Kei percebemos que o senti-

mento que rege o estilo é puramente nostálgico. Como dito anteriormente, geralmente as meninas desse esti-lo são mais velhas, e com saudade de uma época mais feliz, menos difícil, elas tentam resgatar sua infância incorporando aspectos experienciados nessa fase em suas roupas.

No Fairy Kei as roupas são mais coloridas e jo-viais, existem mais sobreposições e os elementos in-fantis são evidenciados principalmente pelas cores e acessórios. O conceito da coleção que firmou o estilo não podia descrever com mais precisão a imagem do Fairy Kei. “Cute and Happy”. Quando você olha para as roupas alegres e coloridas, as poses meigas e atitude simpática dessas meninas é impossível não abrir um sorriso e se sentir inexplicavelmente feliz.

Minha imagem, fundamentada pela própria expli-cação de Sebastian Masuda, é que esse estilo é um modo dessas meninas trazerem um pouco da alegria e da descontração da infância para a realidade fria e caótica em que vivem. Sobreviver no mundo dos adul-tos sem esquecer de ser criança, esse é o conceito estabelecido para este styling.

Sobreposição de texturas entre a saia de tule rosa pastel, que é extrema-mente feminina e lembra as saias de bailarina, e o tubinho roxo texturado usado como top;

Brincadeira com o cinto vermelho transformado em laço dá um tom alegre e jovial ao look;

Acessórios extremamente coloridos que remetem ao universo infantil com pulseira feita de zíperes coloridos, brinco feito com morangos e anéis em forma de bolos e corações;

Botinha bordô que lembra o estilo do sapato do peter pan;

Cabelo ligeiramente frisado e preso numa trança larga lateral em uma representação mais suave e romântica dos penteados volumosos empregados no estilo. Na maquiagem apenas uma sombra mais marcada.

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Cartela de CoresCroqui

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Modelo: Letícia KakudaFotógrafia: Samanta Nagashima

Maquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 4Mori Girl

De todos os estilos, o Mori Kei é o que mais definido quanto à conceitos e filosofias por trás do vi-sual. Apesar das roupas peculiares, o visual é bem simples, principalmente comparado àos outros estilos, as cores são extremamente suaves, usando principal-mente o branco, o bege e tons de terra. Nas análises pudemos ver o grande uso de sobreposições, de saias e vestidos, tecidos naturais, tricô e crochê, em geral um visual bem romântico.

Assim como em todos os outros estilos observa-dos, as japonesas em geral, apesar do estilo pessoal, gostam de parecer meigas e as Mori Girls não são ex-cessão. No entanto elas parecem ser mais introspec-tivas, do tipo de pessoa que gosta de ficar em casa e relaxar lendo um bom livro.

O nome “Mori Girl” realmente faz juz a aparência dessas meninas. Mais do que a efetiva paixão pela na-tureza, elas gostam do sentimento de simplicidade, de calmaria que ela proporciona. O estilo parece uma for-ma escapista de fugir da realidade dura e agitada das cidades e abraçar a simplicidade e o romantismo do estilo de vida campestre, mesmo vivendo nos grandes centros. E essa é exatamente a imagem que este look quis passar.

Este visual teve o maior uso de sobre-posições: Em cima de tudo, uma blusa de

tricô feita com fios de lã fez o papel de top. Embaixo dela uma bata floral de estilo Folk

e um saiote de tule foram usados para criar o efeito de uma saia volumosa cheia de

camadas. Um cinto marrom vazado foi colo-cado para acinturar e segurar todo o look, criando um visual romântico e campestre;

Sapatilha rosa sem salto foi adicionada para deixar o look mais confortável e

delicado;

O cabelo foi estilizado com ondas mais abertas para dar um ar mais natural e

despreocupado, complementado pela head-band de camurça;

A maquiagem aplicada foi bem sutil, com destaque apenas para o batom rosa quei-

mado;

As cores escolhidas para esta composição foram tons mais neutros como o bege e o

rosa pastel.

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Cartela de Cores

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Croqui

Modelo: Letícia KakudaFotógrafia: Samanta NagashimaMaquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 5Yama GirlApesar das Yama Girls ainda não ter-

em uma estética definida sabe-se que esse estilo surgiu da paixão pela atividade ao ar livre. Quando usadas durante as escaladas nas montanhas, o visual geralmente é composto de roupas apropriadas para o esporte, mas com muitas sobreposições de saias, leggings, coletes e chapéus, já nas cidades, o visual continua esportivo mas muito menos sobrecarregado.

O que pode se perceber é que mais do que uma definição estética, esse estilo procura retratar o espírito desbravador das mulheres, essa vontade de se aventu-rar nas montanhas e de se envolver com a natureza. Diferentemente das Mori Girls, as Yama Girls não apenas gostam da vida ao ar livre, elas realmente são ativas e se aventuram nela.

Independentemente se estão esca-lando montanhas ou andando pela cidade, o conceito proposto para esse styling foi passar a imagem da mulher moderna pronta para encarar os desafios da na-tureza e da cidade.

Saia longa e esvoaçante que possibilita a pessoa a ficar livre para executar qualquer movimento. Regata listrada de viscose e elastano, incrivelmente leve e maleável.

As cores usadas variam nos tons de terra para dar um um aspecto natural. Mix de estampas sempre dá uma elevada elevada no look;

Sapato acolchoado por dentro, apesar do salto é extremamente confortável e se assemelha aos sapatos pesados usados em escalada;

Maquiagem natural com apenas o destaque do batom vermelho. Cabelo preso em uma trança lateral prática;

O chapéu e a bolsa estilo “Indiana Jones” feminino;

As pulseiras, o colar e os brincos tem um aspecto rústico enquanto o anel em forma de folhas ressalta o amor pela natureza.

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Cartela de CoresCroqui

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Modelo: Thamy TsutsuiFotógrafia: Samanta Nagashima

Maquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 6uniformeObservando as meninas que usam uniforme per-

cebemos que toda a magia por trás desse encanto é realmente a forte simbologia da juventude. Estudantes exibem seus uniformes com orgulho, como se eles jus-tificassem sua atitude livre e despreocupada só pelo fato de o estarem usando, graduados, adultos e idosos olham para eles e são tomados por um forte senti-mento saudosista.

Não é difícil entender o porquê dessas pessoas se sentirem tão atraidas à usar o uniforme ou incorpo-rar certos elementos dele em suas roupas. O uniforme tem um forte apelo emocional, trás lembranças de um tempo maravilhoso e faz com que essas pessoas fiquem desejosas de serem jovens de novo.

Durante as análises, o que mais se percebeu é que os jovens gostam de personalizar seus uniformes atribuindo características que os relacionem mais aos seus estilos pessoais, geralmente encurtam as saias, deixam os primeiros botões sem abotoar e usam po-lainas no lugar das meias.

No caso dos não estudantes, mas que usam o uniforme como seu estilo pessoal, diferente dos própri-os estudantes que apesar das modificações precisam seguir certas regras da escola, as roupas são muito mais coloridas e cheias de sobreposições. No styling deste look nos propusemos a retratar como uma pes-soa madura pode aparentar jovialidade apenas comum visual que lembra o uniforme.

Saia longa e esvoaçante que possibilita a Sobre-posição da camisa social xadrez com uma regata azul estampada, para aparecer somente a parte da gola na parte superior e as pontas da camisa aberta sobre o shorts na parte inferior. Uma fita de cetim amarrada embaixo da gola simula o lenço usado pelas estu-dantes e dá um toque mais feminino ao look;

O blazer feminino completa o visual “uniforme” e as ombreiras dão um ar mais maduro e sofisticado. A meia branca tradicional foi substituida por uma ¾ preto e branca listrada e o sapato boneca preto pelo vermelho de salto e laço dourado, formando um look ao mesmo tempo jovem e sofisticado;

As cores usadas foram mais discretas, com excessão de alguns pontos de cor para dar mais vivacidade ao look;

Maquiagem bem natural. Primeiramente tinha-se optado pelo coque, mas como ele passa um ar muito sério, optou-se por um meio rabo de cavalo preso em coque, mantendo ao mesmo tempo a seriedade e a jovialidade do look.

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Cartela de Cores

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Modelo: Letícia KakudaiFotógrafia: Samanta Nagashima

Maquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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LOOK 7CosplayObservando os Cosplayers, percebemos que

mais do que um hobby, fazer Cosplay é uma paixão que não se limita apenas a recriar os trajes de um per-sonagem e imitar seus gestos e personalidade. Fazer Cosplay é poder fugir da sua própria vida pelo menos temporariamente e ser capaz de interpretar um papel e assumir uma vida que não é sua, mas que você gos-taria de ter.

Esse estilo, essa subcultura não tem uma estética definida. O conceito por trás do cosplay não é chamar a atenção, não é vestir roupas estranhas e extravagan-tes, é se permitir ser plenamente feliz embaixo de um disfarce que ao mesmo tempo te permite ser livre e te protege dos problemas do cotidiano.

Neste look em especial, resolvemos nos colocar na pele de um cosplayer e propor a execução de um cosplay. Para isso adotamos um personagem para que pudéssemos criar um look que aliasse tanto as car-acterísticas do personagem quanto os conceitos do cosplay.

No caso, ao invés de um personagem, escolhemos montar o look em cima do videoclipe “The Boys” de uma Girlband Coreana chamada “GIRLS GENERATION”. Não recriamos exatamente os trajes das meninas como os cosplayers fazem, mas montamos um look inspirado nas principais características estéticas observadas no videoclipe.

O Clipe “The Boys” é ambientado em duas esté-ticas diferentes: uma muito mais romântica, delicada, com chuvas de pétalas, pombas, vestidos esvoaçantes,

peças de alta costura, tiaras e jóias e até uma alusão à chapeuzinho vermel-ho. Esse visual é quase uma produção

de moda com uma interpretação moderna e glamourosa dos Contos de

fada (figura a). A outra estética tem um visual e uma ambientação muito mais

urbana, as roupas parecem mais con-fortáveis, usam mais sobreposições, peças esportivas e tem uma proximi-

dade muito maior com a moda de rua. (figura b)

(Fig. a) Cena da abertura do Clipe “The Boys” da girband sul-coreana Girls Generation. Fonte: scan do vídeo “The Boys”.

(Fig. b) Cena de dança da Clipe “The Boys” da girband sul-coreana Girls Generation. Fonte: scan do vídeo “The Boys”.

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Em conexão com a própria estética, o conceito do videoclipe também trata a dualidade entre a ima-gem romântica, delicada, elegante do grupo e a sua atitude completamente dominadora em relação à atra-ção que exercem no sexo oposto, ressaltando aspectos como o feminismo e a independência das mulheres.

Portanto, considerando os estudos feitos previamente sobre o cosplay e as análises fei-tas sobre o videoclipe, o styling realizado gira em torno dessa imagem de mulher auto-suficiente, el-egante e sedutora que está acima de qualquer pessoa.

Vestido verde confeccionado sob medida. Corpete bordado com miçangas e saia bufante drapeada com calda contribui para a elegância e o glamour do look. A jaqueta jeans es-tilo soldado inglês com glitter quebra a aparência delicada do vestido, dando um ar mais moderno e dominador;

A ankle boot vermelha e a meia ¾ deixam o look mais ousado;

Cabelo alisado e esvoaçante, Boca nude e olhos bem marca-dos na maquiagem;Postura elegante e atitude de Diva.

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Cartela de CoresCroqui

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Modelo: Letícia KakudaiFotógrafia: Samanta NagashimaMaquiagem: Samanta NagashimaStyling: Samanta NagashimaCabelo: Samanta Nagashima

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APRESENTAÇÃO de resultadosApós concluído o trabalho percebi que os

ensaios haviam rendido muitas fotos excelen-tes e ao mostrar os resultados para minha ori-entadora concordamos que seria interessante fazer uma seleção de fotos e colocá-las em uma peça gráfica para permitir tanto uma visu-alização mais detalhada do resultado de cada produção, da composição de cada look como tornar a apresentação deste trabalho mais vi-sível e melhor.

Portanto foi decidido a produção de ál-buns de tamanho 20x14cm contendo ao todo 52 fotos selecionadas de todos os looks re-alizados durante os ensaios fotográficos das produções de moda.

Para melhor ilustrar e ajudar na defesa oral, serão expostos 07 (sete) painéis de ta-manho A2 com maiores informações e detalhes sobre cada estilo e o look inspirado nele.

Os painéis têm uma linguagem mais contem-porânea, inspirada no Scrapbook e em uma seção da revista Vogue Itália de mesmo nome realizado pela Lele Acquarone, onde tex-to, anotações, passo-a-passo são misturados à ilustrações e fotos em uma linguagem jovem e contemporânea.

Aquele velho ditado que diz “Não julgue um livro pela capa” não cabe em um país como o Japão onde indepen-dentemente se são gangsters ou alto executivos, todos da nova geração se vestem para corresponder aos seus pa-péis, para se expressarem no ambiente.

Ou seja, do ponto de vista de um japonês, eu não preciso te dizer quem eu sou ou o que eu faço, minha aparên-cia por si só já é capaz de te dizer tudo o que eu sou por mim.

E em uma sociedade fundamentada nesse princípio de definição exterior, a imagem não poderia ser mais fundamental. Como disse RICHIE (2003), a verdade superficial é a verdade que existe, mesmo você sendo ou não o que aparenta ser, essa é a ver-dade que eu vou aceitar.

Quando você está diante de uma cultura tão exótica e estilos tão irreverentes quanto as vistas em Tóquio, é impossível, principalmente para um es-trangeiro, não se apaixonar à primeira vista pela ex-plosão visual que é o lugar.

O que é alheio à maioria do mundo e o que a mídia se abstém de retratar é que, por trás do exte-rior radicalista, esses jovens buscam apenas expres-sar seus ideais, seus interesses, sua individualidade do mesmo modo que os japoneses sempre fizeram, através de sua imagem.

Mais do que os “rebeldes” que a mídia retrata, essa juventude procura apenas livrar-se temporaria-temporariamente dos problemas do cotidiano criando um mundo próprio onde eles são livres para fazer o que quiserem, falar sobre o que quiserem e se ve-stirem sem ter de se preocupar com as diversas forças institucionais (escola, trabalho, pais) dominando suas vidas.

CONCLUSÃOe considerações finais

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Através da sua imagem, esses jovens estão fa-zendo uma declaração social ao país de que eles possuem uma cultura própria e única e que eles não precisam e não querem se enquadrar nos padrões co-letivistas aos quais os japoneses estão acomodados.

Este Projeto de Conclusão de Curso procurou de-mostrar o quanto é significativa a importância da Ima-gem na sociedade contemporânea, especialmente na japonesa, que não é apenas valorizada como também é a principal ferramenta de expressão usada pelos jo-vens da nova geração.

Ao observar esse fenômeno da moda urbana criada pelos jovens, percebemos que através da Ima-gem, através da moda, é possível uma pessoa con-struir inúmeras percepções de si mesma, escolher qual personagem quer viver e ser capaz de criar um mundo cheio de regras e costumes próprios onde é possível fugir das frustrações da realidade cotidiana.

Esses jovens são seus próprios personal stylists, propondo o re-design constante da sua própria ima-gem para melhor definir o seu estilo de vida e a sua identidade. Na tentativa de trazer pelo menos um pou-co desse universo para o repertório acadêmico, este styling resultou não apenas em uma leitura estética mas também social e cultural dessa revolução.

No final, não apenas conclui meu trabalho de forma satisfatória, atingindo e até superando minhas expectativas iniciais de retratar a íntima relação da im-agem com a exploração da moda urbana como forma de expressão individual, como acabei destacando a im-portância do profissional stylist como intérprete e or-questrador de imagens na sociedade contemporânea atual. E a formação e ser design auxilia a ter essa visão ampla e projetual de como é expressar por meio do visual e do estilo de vida.

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Artigos disponíveis em endereço digital

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