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Outubro 2008 n o 54 • Ano XIV AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA RECICLAGEM Empresas descobrem oportunidades de negócios jogadas na lata do lixo TRAJETÓRIA EXEMPLAR Conheça os vencedores do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador POR UM BRASIL INOVADOR O desenvolvimento sustentável depende de inovações que ajudem a equilibrar crescimento econômico, conquistas sociais e preservação ambiental

POR UM BRASIL INOVADORanprotec.org.br/ArquivosDin/LOCUS_54_pdf_20.pdf · Coordenação de Comunicação e Marketing ... nosso manual e procurar o auxílio sempre ... Entrevista Os

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Outubro 2008 no 54 • Ano XIVambiente da inovação brasileira

RECICLAGEMEmpresas descobrem oportunidades de negócios jogadas na lata do lixo

TRAJETÓRIA EXEMPLARConheça os vencedores do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador

POR UM BRASIL INOVADORO desenvolvimento sustentável depende de inovações que ajudem a equilibrar crescimento econômico, conquistas sociais e preservação ambiental

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A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

Conselho editorial Maurício Guedes – presidente Carlos Américo Pacheco, Gina Paladino, Helena Lastres e Josealdo Tonholo

Coordenação editorialDébora Horn Márcio CaetanoColaboraçãoAdriane Alice Pereira, Alexandra Alencar, Bruno Moreschi, Eduardo Kormives, Emília Chagas, Leo Branco, Priscila Grison, Rodrigo Lóssio, Rosalvo Streit Junior e Talita MarçalJornalista responsávelDébora Horn – MTb/SC 02714 JPDireção de arteLuiz Acácio de SouzaEdição de arteGustavo de SouzaRevisãoSérgio RibeiroFoto da capaShutterstock

PresidenteGuilherme Ary PlonskiDiretoriaFrancilene Procópio Garcia, Gisa Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre Labiak Junior e Paulo Gonzalez SuperintendênciaSheila Oliveira Pires Coordenação de Comunicação e MarketingMárcio Caetano Setúbal Alves

EndereçoSCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília / DF – CEP 70711-902Contatos(61) 3202-1555E-mail: [email protected]: www.anprotec.org.brAnúncios: (61) [email protected]

Produção Patrocínio

Apoio

Setembro 2008 • no 54 • Ano XIV

ISSN 1980-3842

ambiente da inovação brasileira

Índice

26 C A P A Caminhos da sustentabilidadeEmpreendedorismo inovador colabora com o desenvolvimento regional sustentável, gerando conquistas econômicas, sociais e ambientais em diversas partes do país.

E N t R E V I S t AO engenheiro Carlos Tadeu Fraga, diretor do Centro de Pesquisas da Petro-bras, fala sobre desafios tecnológicos na era da sustentabilidade.

E M M O V I M E N t OA eleição de um brasileiro para a vice-presidência da IASP, notícias das incubadoras, edital na área de biocombustíveis e mais uma conquista da Anprotec. As novidades do movimento estão aqui.

N E g ó C I O SFerramentas do Google conquistam micro e pequenas empresas, tanto para auxiliar na gestão quanto para servir como base ao desenvolvimento de produtos.

O P O R t U N I D A D EFundamental a um planeta mais limpo, o setor de reciclagem atrai empreen-dedores e investidores pelas possibilidades de inovação.

I N V E S t I M E N t ODescubra as vantagens e riscos das linhas de crédito oferecidas pelos bancos aos micro e pequenos empresários.

S U C E S S OConheça a trajetória e os segredos dos cinco vencedores do Prêmio Nacio-nal de Empreendedorismo Inovador 2008.

g E S t à OPolíticas de proteção intelectual bem definidas podem garantir o futuro de empresas inovadoras.

I N t E R N A C I O N A LRedes de incubadoras e parques tecnológicos começam a construir novas (e sólidas) bases para a integração latino-americana.

E D U C A ç Ã OEntrave ao desenvolvimento, falta de mão-de-obra qualificada pode ser amenizada com a ampliação de vagas no ensino profissionalizante.

C R I A t I V I D A D EConheça mais uma iniciativa inovadora do projeto Cidade do Conhecimen-to: a inserção de empreendedores na civilização audiovisual digital.

C U L t U R AFilmes, livros e exposições imperdíveis para refletir sobre os negócios e a vida extra-empresa.

O P I N I Ã OPara o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Rodrigo Loures, a construção de um mundo sustentável depende da capaci-dade humana de inovar .

ImpressãoGráfica Brasiltiragem5.000 exemplares

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as últimas edições, temos nos dedi-cado a retratar na LOCUS o poten-

cial do empreendedorismo inovador como instrumento de transformação econômica e social. Já relatamos diversas histórias de empresas e pessoas que apostaram no co-nhecimento, científico e popular, para tor-nar realidade idéias e projetos. Nesse pro-cesso, incubadoras de empresas e parques tecnológicos também vêm desenvolvendo papel fundamental, ao fomentar, abrigar e alavancar negócios que poderiam ficar fa-dados ao esquecimento, escondidos em trabalhos acadêmicos ou perdidos em co-munidades desesperançosas. A reporta-gem de capa desta edição revela que os benefícios do empreendedorismo inova-dor vão além. Inseridas na sociedade do conhecimento, iniciativas empreendedo-ras provam que o desenvolvimento susten-tável de uma região está cada vez menos relacionado a fronteiras geográficas ou econômicas, mas depende da capacidade de inovação que se dispõe ao seu redor. O grande segredo está em saber aproveitar a capacidade criativa de redes sociais e vol-tar esse potencial ao equilíbrio entre cres-cimento econômico, desenvolvimento hu-mano e preservação ambiental.

A busca por esse equilíbrio tem gerado novos nichos de mercado, como o que apresentamos na seção Oportunidade. Se há alguns anos a reciclagem era apenas uma tendência, hoje é uma atividade abso-lutamente necessária para manter o plane-ta mais limpo. Impulsionado pelas exigên-cias tanto de consumidores quanto de órgãos de fiscalização, o mercado de resí-duos cria negócios em diversas frentes, que vão da simples coleta seletiva a inova-dores processos de transformação de ma-teriais. Em um país onde se produz 150 milhões de toneladas de lixo doméstico por dia, empreendimentos desse tipo ga-

rantem qualidade de vida às futuras gerações.

Para que a boa herança não venha acompanhada de dívidas, LOCUS dedi-cou-se a estudar as ar-madilhas, e também as vantagens, do crédito bancário, que, em franca expansão, tem salvado muitas empresas brasi-leiras. Diante de tanta oferta, preparamos um passo a passo do acesso ao crédito, que começa com uma pergunta essencial: o empréstimo é mesmo necessá-rio? Se a resposta for sim, basta seguir nosso manual e procurar o auxílio sempre que houver dúvida.

Tão prioritária quanto a captação de re-cursos deveria ser a gestão da propriedade intelectual nas empresas nascentes, em es-pecial as de caráter inovador. Para desven-dar o misterioso mundo das patentes, a seção Gestão traz a opinião de especialis-tas e empreendedores, que foram unâni-mes: a política de proteção deve ser defi-nida ainda no plano de negócios. Vista como custo, e não como investimento, a proteção do ativo intelectual não faz parte do cotiadiano da maioria das MPEs e aler-tá-las para o riscos também é função das incubadoras.

Esse e outros temas abordados nesta edição são inspirados na programação do 18º Seminário Nacional de Parques Tecno-lógicos e Incubadoras de Empresas, que ocorre de 22 a 26 de setembro em Aracaju (SE). Nós, da LOCUS, torcemos para que o tema do evento se concretize rapida-mente, de modo que o empreendedorismo se torne “a energia de um Brasil inovador”. Boa leitura!

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Conselho editorial

Setembro 2008 no 54 • Ano XIVAMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA

RECICLAGEMEmpresas descobrem oportunidades de negócios jogadas na lata do lixo

TRAJETÓRIA EXEMPLARConheça os vencedores do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador

POR UM BRASIL INOVADORO desenvolvimento sustentável depende de inovações que ajudem a equilibrar crescimento econômico, conquistas sociais e preservação ambiental

C a r t a a o l e i t o r

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ta Os desafios de um gigante

O nome é imponente: Centro de Pesquisas e Desenvolvimento

Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). A função, também. Criado em 1963, o Cenpes atende às demandas de tecnologia da Petrobras, garantindo à instituição lugar de destaque mundial no setor energético. À frente do Cenpes desde 2003, o engenheiro Carlos Tadeu da Costa Fraga recebeu LOCUS para conversar sobre inovação, sustentabilidade e desafios tecnológicos. Em pauta, as energias renováveis e as particularidades do tão falado pré-sal. Em meio às reflexões de Fraga, valiosas dicas para micro e pequenas empresas que desejam integrar a cadeia de petróleo, gás e biocombustíveis, fazendo da inovação seu principal diferencial.

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Locus: Nos anos 70, a Petrobras instalou o centro de pesquisas da empresa dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na época, havia pouquíssimas experiências como essa no mundo – os primeiros parques tecnológicos ainda começavam a ser criados. Passados 30 anos, qual o balanço que se faz dessa experiência?Fraga: A criação de um centro de pes-quisas é anterior à abertura do Cenpes no campus do Fundão (UFRJ). Há mais de 40 anos, a Petrobras decidiu criar uma unidade voltada para Pesquisa e Desenvolvimento, que, inicialmente, operou na Praia Vermelha, também em terreno da UFRJ. Só depois, quando se optou pela expansão em uma área que tivesse laboratórios modernos e abran-gentes, foi construída a instalação atu-al do Cenpes. Essa decisão estratégica visava abrigar no campus de uma das

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maiores universidades brasileiras o que, naquela época, tinha a ambição de se transformar no maior parque tecno-lógico do setor de petróleo e gás do he-misfério sul. Hoje, o Cenpes é um dos maiores centros de pesquisa do mundo, reconhecido como referência no que diz respeito a desenvolvimento tecno-lógico em petróleo, gás e, recentemen-te, em energia renovável. Ele possui es-pecialistas renomados e apresenta um histórico de grandes contribuições aos resultados da Petrobras. Para citar um exemplo, todo o desenvolvimento tec-nológico que permite à companhia ser líder mundial de exploração e produ-ção em águas profundas está intrinse-camente ligado ao Cenpes. Agora, as descobertas do pré-sal, objeto de estu-dos do Centro por anos, confirmam nossa trajetória.

Locus: No ano passado, a Petrobras anunciou a descoberta de Tupi, na Bacia de Santos, com grandes reservas de petróleo e gás em seções de pré-sal. Que tipos de pesquisa e tecnologia estão sendo desenvolvidos para exploração dessas reservas? Fraga: O fato de a Petrobras ter experi-ência acumulada em exploração e pro-dução em águas profundas nos ajuda bastante, embora o pré-sal tenha desa-fios tecnológicos específicos. A logísti-ca é mais complexa, pois estamos dis-tantes da costa cerca de 300 quilômetros e não existem dutos para exportação do gás. Por isso, estamos focando em tec-nologias alternativas para o aproveita-mento do gás natural. Construir gaso-dutos tradicionais é dispendioso e leva tempo. O ideal, e existem pesquisas nessa linha, são formas que permitam transformar o gás natural, por exemplo, em líquido, transportando-o nesse es-tado. Outro empecilho é a camada es-pessa de sal, com quase dois quilôme-tros. O sal dificulta o uso da sísmica,

tecnologia convencional para enxergar o uso dos reservatórios do subsolo. En-tão são necessárias técnicas que aper-feiçoem a obtenção dos dados sísmicos. No mais, perfurar dois mil metros de sal até chegar aos poços está longe do trivial. O sal se movimenta e é solúvel em água. Durante o processo, a estabili-dade do poço tem que ser garantida. A perfuração tem desafios tecnológicos adicionais para ser realizada com segu-rança, mas no menor tempo e custo.

Locus: A busca por alternativas energéticas ocupa, cada vez mais, o centro das discussões mundiais sobre energia. O que o Cenpes está fazendo para o Brasil sair na frente de outros países nesse quesito? Fraga: De todas as energias renováveis, a produção de biocombustíveis é aquela que, na Petrobras, tem recebido maio-res investimentos e na qual as expecta-tivas se concentram. São três as princi-pais “rotas tecnológicas” da empresa na área. A primeira é o H-Bio ou diesel verde. Em vez de se processar apenas o petróleo nos parques de refino existen-tes, a tecnologia H-Bio permite que em algumas unidades se processe petróleo misturado ao óleo vegetal. Já temos seis refinarias adaptadas. Outra linha de pesquisa é a do bioetanol, o etanol de lignocelulose. Nosso foco é o bagaço da velha conhecida cana-de-açúcar. A Pe-trobras e outras empresas estrangeiras estão à procura de uma tecnologia que viabilize a substituição do produto agrícola, também destinado à alimen-tação, pelo resíduo agrícola enquanto matéria-prima do etanol. A terceira rota tecnológica é o biodiesel. Estamos

A combinação de algumas tecnologias emergentes representa oportunidade

ímpar para pequenas e microempresas

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apostando em uma tecnologia de me-lhor qualidade, na qual a matéria-prima tenha menor custo por ser abundante. Daí o estudo de várias alternativas como óleos de mamona, soja, dendê, al-godão, amendoim, pinhão-manso, além de sementes diversas.

Locus: Qual a importância de pequenas e microempresas de base tecnológica no processo de inovação? De que forma as incubadoras de empresas podem contribuir nesse processo?Fraga: As empresas de base tecnológica de pequeno porte são importantes para qualquer sociedade na era do conheci-mento. A literatura recente mostra que os maiores campos de sucesso empre-sarial, sob o ponto de vista de grandes inovações, estão associados às empre-sas que começaram a partir de incuba-ção, da atividade vinda das universida-

des. São pessoas que tiveram idéias brilhantes e que resolveram, com seu espírito empreendedor, criar atividades que mais tarde se transformaram em empresas e ganharam o mercado. A Pe-trobras estimula esse tipo de aborda-gem, ao incentivar, junto ao meio acadê-mico, o desenvolvimento de tecnologias de nosso interesse, almejando que elas se transformem em produto e que os inovadores possam estabelecer negó-cios de sucesso ao fornecerem bens e serviços à companhia e à indústria como um todo.

Locus: Especificamente sobre o setor de energia, quais os caminhos para pequenas e microempresas que

queiram se inserir no processo? Fraga: O que mais nos interessa é o de-senvolvimento tecnológico. Principal-mente, a combinação de algumas tec-nologias emergentes. Elas representam oportunidade ímpar para pequenas e microempresas. Existem quatro áreas do conhecimento que vêm se desen-volvendo nos últimos anos: a biotec-nologia, a nanotecnologia, a tecnolo-gia da informação e a tecnologia de materiais, que acaba de algum modo esbarrando na nanotecnologia. Espe-ra-se que a combinação dos conheci-mentos obtidos nessas áreas possa ofe-recer soluções radicalmente inovadoras para o negócio de petróleo, gás e bio-combustível. Estamos diante de um conjunto de oportunidades pouco ex-plorado, são áreas em estágio inicial de desenvolvimento e que representam oportunidades fantásticas para quem quer desenvolver tecnologia de ponta e inovadora.

Locus: Como o senhor analisa a interação da Petrobras com as universidades brasileiras? A empresa também mantém parcerias com universidades de outros países?Fraga: Temos, no Brasil, trabalho de pesquisa e desenvolvimento com mais de 100 universidades, situadas nos mais diferentes estados. Quando estabelece-mos parceria em uma área específica, não fazemos o acordo com uma única universidade e sim com um conjunto de instituições que passam a trabalhar de modo cooperativo entre elas e com a Petrobras. Fora do Brasil, temos em torno de 60 entidades de pesquisa cola-borando conosco. Estamos em quase todos os países da Europa. Na Ásia, te-mos ótimas parcerias como a da Uni-versidade de Tóquio, no Japão. Na América do Norte, a Universidade de Alberta, no Canadá, e o MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), nos Es-tados Unidos, entre outras.

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Existem quatro áreas do conhecimento que vêm se desenvolvendo nos últimos anos: a

biotecnologia, a nanotecnologia, a tecnologia da informação e a tecnologia de materiais

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Locus: Nem sempre pesquisas que deram origem a trabalhos acadêmicos e à publicação de artigos resultam na criação de produtos e serviços. Mas a Petrobras já ultrapassou a marca das mil patentes. Qual o segredo?Fraga: São três os ingredientes dessa receita de sucesso. Para começar, uma agenda estratégica de identificação não apenas do que é importante na estraté-gia da companhia, mas também dos principais gargalos tecnológicos e do que é preciso fazer para transpô-los. O segundo elemento é recurso, no sentido amplo do termo: recursos financeiros, humanos e de infra-estrutura. O ter-ceiro item da receita é a capacidade de cooperação e coordenação. O meio aca-dêmico tem aptidão para a pesquisa bá-sica, mas não podemos esquecer de vol-tar o olhar para a aplicação, revertendo a pesquisa básica em aplicada.

Locus: No caso de tecnologias desenvolvidas pelo Cenpes, mas que não são de aplicação direta pela Petrobras, como se dá a transferência tecnológica? Fraga: Nossa política, quando um de-senvolvimento tecnológico resulta numa inovação que não vai ser aplicada direta-mente pela Petrobras, é licenciá-la. Exis-tem vários casos em que processos de-senvolvidos por nós, inclusive, em parceria com as universidades, se mate-rializaram por meio do licenciamento da tecnologia para empresas, algumas delas incubadas. Em outros casos, os in-teressados em utilizar certas inovações se manifestam e fazemos acordos de li-cenciamentos. Para desmistificar a transferência, vou exemplificar. Desen-volvemos uma tecnologia de inspeção de tubulações, dutos que transportam óleo e gás, com uma universidade brasi-leira. Esse avanço resultou num produto que precisava ser comercializado. O grupo de pesquisadores da universidade criou uma empresa, na época incubada,

e nós licenciamos a tecnologia para ela. Detalhe: até então só havia fornecedo-res estrangeiros, que praticavam valores altíssimos. Hoje, a PipeWay atua inter-nacionalmente, competindo com gigan-tes do setor.

Locus: O exemplo reforça a conclusão de que o país precisa fortalecer mecanismos que possibilitem a transformação de pesquisa em produtos e serviços. Mas como conseguir isso?Fraga: Nós costumamos dizer que a melhor maneira de se matar uma boa idéia é submetê-la, logo de início, a um engenheiro, porque ele é pragmático, pensa imediatamente na aplicação e não vai dar chance à idéia de crescer e se fortalecer. Durante a gestação da idéia, deve-se dar espaço à criativida-de, às tentativas, aos erros. O outro lado da moeda é que se você quer ter uma boa idéia e nunca quiser ter um produto, deve deixá-la o resto da vida nas mãos dos pesquisadores. É uma mensagem forte, mas é necessário que a partir de certo momento do desenvol-vimento de uma idéia, as alternativas têm que parar de ser testadas e deve ser iniciada a convergência para que aquilo possa se transformar em um bem ou em um serviço comercializável. O pa-ralelo que eu traço é que as empresas incubadas têm o papel de transformar as idéias que estão em estágio de matu-ridade avançado em produtos e servi-ços. Para isso, são fundamentais o setor comercial e as divisões de engenharia e de engenharia de processo.

Costumamos dizer que a melhor maneira de se matar uma boa idéia é submetê-la, logo de

início, a um engenheiro (...) O outro lado da moeda é que se você nunca quiser ter um produto, deve deixá-la o resto da vida nas mãos dos pesquisadores

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Incamp divulga agenda de oportunidades

A partir de agosto, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp/SP) disponibiliza para suas incubadoras uma agenda de oportunidades na área de inova-ção, relacionadas ao segmento de base tecnológica. Produzida pelo Grupo Anima, conveniado à incuba-dora, a agenda será enviada por e-mail e também estará disponível no site: www.incamp.unicamp.br. Para facilitar a busca, os eventos estão classificados em diferentes áreas de interesse: P&D, inovação, sustenta-bilidade, biotecnologia, gestão, le-gislação e propriedade intelectual, entre outros.

Várias outras ações estão previstas no convênio entre a Incamp e o Gru-po Anima, como o desenvolvimento do programa Prime (Primeira Em-presa Inovadora). Recentemente apresentado pela Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep), o Prime des-tinará cerca de R$ 1,3 bilhão a micro e pequenas empresas inovadoras.

Brasileiro assume vice-presidência da IASP

No último dia 15 de setembro, Mauricio Guedes, diretor da Incuba-dora de Empresas da Coppe/UFRJ e do Parque Tecnológico da universi-dade, foi eleito vice-presidente da Associação Internacional de Parques Tecnológicos (IASP) para o período 2008 - 2010. É a primeira vez que um brasileiro ocupa esse cargo.

Confome o estatuto da instituição, que reúne 374 sócios de 71 paí-ses, após dois anos como vice-presidente, Guedes deve assumir a pre-sidência até 2012. A eleição aconteceu durante o 25º Congresso Mun-dial da IASP, realizado em Johannesburgo, na África do Sul.

No evento, especialistas do mundo inteiro discutiram a perspectiva dos parques tecnológicos para a próxima década. As cidades de Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Recife (PE) e São José dos Campos (SP) foram apontadas como grandes apostas da inovação tecnológica. “Isso mostra que o Brasil está conquistando uma imagem internacional de grande potencial para a inovação tecnológica. Parece que finalmente o futuro está chegando para o ‘país do futuro’”, comemora Guedes.

O programa global de financiamento pertencente ao Banco Mundial, Information for Development Program (Infodev), aprovou o projeto que inclui, entre outras entidades, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte (Insoft-BH), gerida pela Fumsoft – Sociedade Mineira de Software. O objetivo é promover o intercâmbio internacional de empresas e desenvolver um trabalho conjunto para aprimorar os modelos de apoio e incentivo ao empreen-dedorismo. O projeto Facilitation of Internation Working Groups on High-growth ICT Enterprise Business Incubation é conduzido pela Octantis Potenciadora de Negócios, do Chile. Além da Insoft-BH, o Brasil será representado no grupo pela Incubadora Gênesis, da Ponti-fícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Incubadoras brasileiras participam de projeto internacional

Incubadora Gênesis, do Rio de Janeiro, participará do projeto junto com a Insoft-BH

Joan Bellavista (à direita) e Mauricio Guedes (à esquerda): novos presidente e vice-presidente da IASP

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Nova graduada em Lins

A Incubadora de Empresas de Lins (SP) graduou no último mês de julho mais uma empresa: a Brenner Biotéc-nicas Aplicadas à Reprodução. Depois de dois anos e meio incubada, a em-presa, que possui atividades relaciona-das à reprodução de animais de grande porte, passou a ocupar novo espaço, no centro da cidade. Agora na condi-ção de associada, a Brenner continuará recebendo o apoio da incubadora, par-ticipando de consultorias, cursos e eventos. E como uma das intenções da Incubadora de Empresas de Lins é am-pliar ainda mais sua rede, já há uma nova empresa incubada: a Tomatony. Há nove anos no mercado, a empresa fabrica tomates secos e beringelas ma-rinados em azeite e óleo de girassol e também atua na produção de molho de tomate e de pimenta. Durante a nova fase, as metas da Tomatony são a busca de novos clientes em Lins e região, o lançamento de novos produtos e a con-quista do mercado externo.

No último mês de agosto o portal Buscaki selecionou o site da Anprotec como um dos melhores do país. A certificação foi concedida pelo departamento de marketing do Buscaki, que faz avaliações periódicas sobre os sites mais bem desenvolvidos e requisitados pelos internautas. A seleção é feita com base em critérios relacionados a design e funcionalidade.

O site da Anprotec foi criado pela empresa curitibana Brasil Oikos, nascida na Pré-Incubadora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Produtora de novas mídias, com cinco anos no mercado, a Oikos desenvolveu inúmeros serviços na área au-diovisual e de internet, além de produtos de educação ambien-tal e entretenimento, por meio de filmes e instalações artísticas. Atualmente a empresa pretende focar no aprimoramento de seus produtos de entretenimento eco-social tendo a TV digital como plataforma de convergência para seus projetos.

Para conferir a relação dos melhores sites do Brasil na área de ciência e tecnologia, segundo o portal Buscaki, basta acessar: www.buscaki.com.br/ciencia_tecnologia/ciencias.php.

Site da Anprotec é eleito entre os melhores da web

Finep promove o 3º Seed Fórum

No próximo dia 16 de outubro, a Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep) promove o 3º Seed Fórum, que acontece em Pouso Alegre (MG) e terá a participação de 20 empresas, todas graduadas ou incubadas por importantes incubadoras das cidades de Santa Rita do Sa-pucaí e Itajubá. De Santa Rita, participam a Incubadora de Em-presas e Projetos do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e as incubadoras que integram o Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica (Prointec). Da cidade de Itajubá, participa a Incubadora de Em-presas de Base Tecnológica de Itajubá (Incit).

O Seed Fórum pretende promover o encontro de empresas geradoras de inovação, de alto potencial de crescimento, com investidores. A seleção das empresas será realizada por uma banca examinadora organizada pela própria Finep, composta por especialistas e gerentes de incubadoras. Para as empresas selecionadas, a Finep disponibilizará uma capa-citação aos empresários envolvidos, através de experientes consultores e executivos, com o objetivo de prepará-los para o fórum. A primeira seleção acontece entre os dias 9 e 11 deste mês no Inatel.

Incubadora do Inatel

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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) publicou, no último dia 7 de setem-bro, o edital de seleção pública de propostas para o apoio a projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação rela-cionados à utilização de subprodutos associados à cadeia do biodiesel. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) destinará cerca de R$ 5 milhões para projetos com valor máximo de R$ 400 mil para gastos com custeio, capital e bolsa. As institui-ções e grupos de pesquisa com experiência consolidada na área de bioenergia ou temas correlatos podem con-correr ao edital nº 30/2008, enviando suas propostas até dia 22 de setembro por meio do formulário de propostas on-line, disponíveis na página do CNPq (www.cnpq.br). Os resultados serão divulgados até dia 24 de outubro.

Promoção de negócios no ABC paulista

Entre os dias 5 e 8 de novembro deste ano, São Bernardo do Campo (SP) será sede da Feira Industrial e de Subcontratação de Ser-viços do Grande ABC (FEIABC). O evento tem como objetivo integrar empresários, instituições públicas e entidades de apoio ao empreendedorismo, para alavancar opor-tunidades de negócios na região do ABC.

Os organizadores da feira esperam rece-ber cerca de 20 mil empresários durante o evento. Entre os atrativos estão a Rodada de Negócios e o Projeto Comprador, ambientes organizados para aproximação entre gran-des empresas compradoras e fornecedores em potencial, em especial micro, pequenas e médias empresas. Nos três primeiros dias de feira, companhias de grande porte e ins-tituições públicas apresentarão suas políti-cas de compra e desenvolvimento de forne-cedores por meio de palestras.

CdT realiza  Semana do  Empreendedor 

Despertar nos estudantes e em toda a comunidade a necessidade de desenvolver a capacidade e habili-dade em empreender e inovar. Esse é o principal ob-jetivo da 10ª Semana do Empreendedor, que será re-alizada no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília (UnB), entre os dias 18 e 20 de novembro deste ano. Palestras, jogos e mesas redondas integram a progra-mação, que pretende ampliar o conhecimento sobre incubadoras e parques tecnológicos e motivar uni-versitários a tornarem-se empreendedores. A 10ª edição do evento ocorre em um momento muito es-pecial do CDT: no último mês de agosto foi inaugu-rada a nova sede da entidade, que abrigará o primei-ro parque tecnológico e científico de Brasília.

CNPq abre edital para projetos de biodiesel

Inauguração da nova sede do CdT

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Inovação antienchente 

Um equipamento desenvolvido pela Tolomelli & Paiva, residente na Insoft-BH, está monitorando o nível da água no Rio das Velhas, que freqüentemente causa enchentes na cidade de Rio Acima (MG). Instalado em uma ponte, o equipamento envia sinais por meio de um sistema GPRS e os dados podem ser acessados, via web, de qualquer lugar do mundo. Além disso, se a água começa a subir rapidamente, o dispositivo envia um alerta para prevenir o risco de enchente.Saiba mais: www.fumsoft.softex.br

Estudar brincando

Alunos e professores do ensino fundamental contam com mais um aliado na hora de aprender: o software Conexão do Saber. desenvolvido pela IgnisCom, empresa graduada na Incamp, o programa é um instrumento de fixação do conteúdo ensinado em sala de aula. Reúne mais de 1.400 módulos em 8,5 mil páginas de atividades, que podem ser acessadas da escola ou de casa. Mais de 80 escolas já adotaram a solução.Saiba mais: www.conexaodosaber.com.br

Assinatura virtualA Pandorga Tecnologia, da Incubadora 

Raiar, lançou três novos produtos da família  de software OKey, composta por aplicativos de simples operação que permitem a geração e verificação de assinaturas digitais  com total segurança e garantia. Os novos aplicativos  da Pandorga são o OKey Service – voltado  para nota fiscal eletrônica –, OKey Premium – versão aprimorada do já consagrado assinador digital de documentos – e o OKey developer Kit – conjunto de bibliotecas de código que oferecem suporte aos diferentes processos de assinatura digital existentes no mercado. Saiba mais: www.pandorga.com.br

HigH-teCH

OUTUBRO5ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia Para despertar o interesse da população por C&T, atividades diversas acontecem em todo o país durante o evento: dias de portas abertas em instituições de pesquisa, feiras de ciência, concursos, oficinas, cursos e palestras; jornadas de iniciação científica e produção e distribuição de publicações, entre outros. Empresas e instituições de ensino e pesquisa podem participar da iniciativa.data: 20 a 26 de outubro de 2008Local: em todo o BrasilInformações: semanact.mct.gov.br

NOVEMBRO 5º ERINCO - Encontro Regional do Centro–Oeste Promovido pela Anprotec em parceria com a RedeMS, o evento reúne coordenadores de redes, gestores, empresários e agentes voltados para o movimento de incubadoras. Durante o encontro serão discutidos temas centrais ao movimento, como a integração das redes de incubadoras de empresas da região. data: 12 a 14 de novembro de 2008Local: Campo Grande (MS)Informações: (67) 3348-8113

5ª Conferência Internacional de Integração de Sistemas (ICSI’08)Entre os palestrantes estarão o diretor de software do Pentágono, dos EUA, o cientista considerado o Einstein atual, o criador do 1º computador transtorizado, a pesquisadora-chefe do Laboratório de Pesquisa da Força Aérea Americana. O evento é organizado pela Celler, empresa residente na Multincubadora do CdT/UnB.data: 12 a 14 de novembro de 2008Local: Brasília – DFInformações: www.icsi.org.br

dEzEMBROEnergia e negóciosA Capital Federal sedia a terceira edição da Expowec 2008, uma exposição internacional de produtos e serviços voltados à geração de energia. Promovido pela Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABPTI), a Expowec promete repetir o sucesso que obteve em Hannover (2000) e Xangai (2004). data: 2 a 6 de dezembro de 2008Local: BrasíliaInformações: www.expowec.org.br

agenda

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AÇÃO

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n e g ó C i o s

á 10 anos, dois estudantes de douto-rado da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, fundaram o

Google, empresa que se tornou um dos maiores ícones da internet mundial e uma das marcas mais valiosas da atuali-dade. Com uma missão simples e objeti-va – tornar as informações mundiais acessíveis e úteis a todos –, Larry Page e Sergey Brin criaram um dos mecanismos mais eficazes de busca e que responde hoje por mais de 100 milhões de consul-tas por dia.

Alguns milhões de usuários têm acesso a mais de 1,3 bilhão de páginas por meio de resultados de busca relevantes, nor-malmente em até menos de meio segun-do. A tecnologia de pesquisa inovadora,

Muito além da buscaExemplo de empresa inovadora, Google eleva faturamento ao oferecer soluções simples e baratas para gestão de negócios

aliada à simplicidade da interface com o usuário, fez com que rapidamente o Goo-gle se tornasse a empresa mais valiosa do mundo, atingindo, no início de 2008, um valor de mercado de US$ 86 bilhões.

O sistema de busca do Google é hoje só um cartão de visitas diante das dezenas de produtos e serviços que o grupo ofere-ce a empresas, profissionais e usuários de todo o mundo. São soluções para e-mail, calendário, editor de textos e planilhas, construção de sites rápidos e colaborati-vos, mapas, grupos de discussão, rede so-cial, mensagens instantâneas, notícias e leitor de RSS (Really Simple Syndication), entre diversos outros serviços.

São todas ferramentas on-line que pe-quenas, médias e até grandes empresas

H rodrigo lóssio

O buscador Google: 100 milhões de consultas por dia

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Ferramentas como a agenda 

e Google docs fazem sucesso 

entre pequenas e médias empresas

podem aproveitar e adotar para tornar mais fácil o dia-a-dia, com custos míni-mos – a maioria delas, até gratuitamente. Isso foi possível, pois, para manter os ser-viços sem cobranças, o Google implemen-tou um mecanismo que só se tornou po-pular depois que a empresa passou a oferecer: os links patrocinados.

São anúncios em formato texto ou ima-gem que dividem a atenção do usuário quando uma busca é feita, um e-mail é lido no Gmail ou ainda uma comunidade é conferida no Orkut. A grande diferença se comparado com uma simples publici-dade na internet é que o anunciante só paga se o usuário clicar no link. Nos Esta-dos Unidos, só em 2007 o Google faturou mais de US$ 5 bilhões com esse sistema.

Com o crescimento consistente da in-ternet brasileira e de olho no grande mer-cado consumidor de seus produtos e ser-viços, o grupo, que tem sede no Vale do Silício, resolveu em 2005 abrir um escri-tório no Brasil. E ampliar a utilização pe-las empresas brasileiras dos links patroci-nados – serviço chamado de Google AdWords – foi justamente uma das pri-meiras ações dos americanos em terras tupiniquins.

Executivos do escritório brasileiro não revelam números, mas afirmam que algu-mas dezenas de milhares de empresas do Brasil já investem nesse tipo de anúncio – muitas delas micro e pequenas, atraídas pelo baixo investimento inicial. É o caso da loja virtual CorpoPerfeito.com.br, que comercializa produtos nutricionais, aces-sórios esportivos e aparelhos de ginástica. Criada em 2000, a empresa foi em 2005 a primeira brasileira a utilizar o serviço de links patrocinados do Google, investindo apenas R$ 200 por mês.

Não por acaso foi o ano que o negócio veio a despontar, com um crescimento de 350%. “Poucas pessoas conheciam o Goo-gle naquela época, mas eu posso garantir que, sem a abrangência e eficácia do AdWords teria sido muito difícil para uma empresa pequena alcançar resulta-

dos tão significativos”, confirma Leonar-do Grinstein, um dos fundadores da Cor-po Perfeito.

No início de 2006, a loja iniciava o pro-cesso de internacionalização. “Partindo do pressuposto que todo aquele que busca uma informação sobre fitness ou produtos

Faturamento do Google Investimentos em P&D  (Em milhões de dólares)  (Em milhões de dólares)

2005 6.138,56 599,5 (9,8% do faturamento)

2006 10.604,92 1.228,6 (11,6% do faturamento)

2007 16.593,99 2.120,00 (12,8% do faturamento)

Números invejáveis

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nutricionais é um comprador em poten-cial, a empresa anunciante está no lugar e na hora certos para converter a busca em uma venda concreta”, avalia Grinstein.

Investimento inicial baixo também foi o que atraiu o Instituto Desenvolvimento Logístico (Indelog), empresa incubada do Centro de Geração de Novos Empreendi-mentos em Software e Serviços (GeNESS), de Florianópolis (SC).

O instituto utiliza há alguns meses o AdWords para fixar sua marca no seg-mento que atua – capacitação em logísti-ca – e também vender os cursos que pro-move. Em agosto, aconteceu a primeira venda de um treinamento por meio dos links patrocinados. O diretor do Indelog, Daniel Radicchi, afirma investir entre R$ 100 e R$ 300 ao mês para ter links pa-trocinados quando há uma busca pelas palavras-chave do seu negócio no Google. Nos meses em que o instituto oferece cur-sos, investe até R$ 500. “Uma venda reali-zada por meio do AdWords paga alguns meses de publicidade intensiva do Inde-log”, comenta Radicchi. “Ao contrário de

outros meios de publicidade, percebe-se claramente a focalização do esforço de propaganda. Eu posiciono o anúncio ape-nas paras regiões potenciais e segmento as buscas e os canais especializados”, ex-plica o diretor.

Aplicativos on-line

O Indelog também faz uso de outros serviços que o Google oferece a pequenas e médias empresas em diversas versões. São ferramentas de produtividade e cola-boração que os diretores e funcionários do instituto fazem uso de forma on-line. Todos os e-mails do domínio do Indelog são administrados e acessados por meio do pacote de ferramentas Google Apps. A tecnologia por trás do sistema de e-mails é idêntica ao Gmail – que possui uma in-terface simples e ágil e oferece 7 gigabytes de espaço para mensagens.

Integrado ao Apps está ainda o calendá-rio, que permite, além de registrar reuni-ões e tarefas para cada colaborador, com-partilhar agendas e compromissos. O Google Docs é outro aplicativo disponí-vel. Com ele é possível criar documentos de texto, planilhas, apresentações e, re-centemente, o sistema ganhou uma nova funcionalidade: a de criar formulários de pesquisa que permitem colher dados e in-formações e, automaticamente, tabular os resultados em uma tabela.

Outra ferramenta que compõe o pacote é o Google Sites, pelo qual os usuários po-dem compartilhar informações de proje-tos e também da organização interna da empresa. O acesso ao Apps funciona como uma espécie de intranet da empresa. Além da versão gratuita utilizada pelo Indelog, o Google Apps dispõe de uma versão paga: o Premier Edition, uma das apostas do escritório regional do Google. “O mer-cado de tecnologia empresarial representa uma grande oportunidade para o Google, na medida em que estamos passando por uma transição de modelos de infra-estru-

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AÇÃO

Radicchi, do Indelog, investe em links patrocinados para divulgar cursos

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necendo ainda a possibilidade de o inte-ressado traçar rotas para chegar ao desti-no almejado.

Além de softwares e aplicativos on-line, o Google também desenvolve e comerciali-za uma linha própria de equipamentos destinada a empresas de médio e grande portes. Por meio do Google Search Ap-pliance (GSA) e do Google Mini, é possível realizar buscas de informações e documen-tos dentro das redes de computadores das empresas com a mesma eficiência e agili-dade com que o Google encontra dados na internet. A distribuidora Westcon está res-ponsável no país por importar, distribuir, comercializar e oferecer assistência técnica aos clientes brasileiros.

Entre eles já estão grandes empresas como o Grupo Pão de Açúcar, que utiliza o Appliance como ferramenta de busca do site de comércio eletrônico Extra. “Com o GSA melhoramos a navegabilidade do ex-tra.com.br, especialmente em quesitos li-gados à velocidade e à assertividade, pro-porcionando uma navegação mais amigável e diferenciada”, afirma Argeu Pereira, gerente de Tecnologia da Infor-mação do Grupo.

De dentro para fora

Entre a gama de produtos e serviços que o Google oferece estão diversas ferramen-tas que as empresas podem utilizar sem nenhum custo e que oportunizam negó-cios, possibilitam analisar informações, traçam comparativos e ajudam a estabele-cer estratégias.

tura tecnológica”, afirma Clifton Ashley, diretor da unidade para a América Latina da Google Enterprise, divisão voltada para a comercialização de produtos em-presariais. “A importância crescente de novos paradigmas como o de ‘software como serviço’ e ‘cloud computing’ repre-senta uma mudança radical da forma que os consumidores e empresas utilizam ser-viços de tecnologia da informação”, diz José Nilo, gerente sênior da unidade Goo-gle Enterprise para o Brasil.

A empresa brasileira Spread, provedora de soluções em TI, é a responsável pelas vendas do Google Apps no país. Entre os diferenciais dessa edição paga, que custa US$ 74 por usuário ao ano, estão a garan-tia contratual do Google de 99,9% de dis-ponibilidade no ano, suporte telefônico em português, 25 gigabytes de espaço por caixa postal e funcionalidades adicionais de segurança.

Outro esforço na atuação comercial do Google Brasil está na versão empresarial do Google Maps. Coube à empresa Apon-tador Maplink, reconhecida nacionalmen-te por suas soluções e serviços de mapas, a comercialização do produto do Google que trabalha com o conceito de localiza-ção georreferenciada. O serviço é destina-do a grandes bancos, redes de varejo, montadoras, empresas de seguro, rastrea-doras de veículos e operadoras de telefo-nia fixa e móvel. A Apontador Maplink também comercializa uma versão profis-sional do Google Earth.

Empresas de todos os portes têm ainda a opção de usar o próprio Google Maps para, além de localizar o ponto físico para clientes, parceiros e fornecedores, cadas-trar seu negócio no serviço. É possível co-locar informações como telefone, fax, site, descrição de serviços e produtos. Dessa forma, o Google acaba funcionando como uma extensa lista telefônica de empresas. Com poucos cliques, o Maps oferece ain-da a possibilidade de inserir dentro do website institucional a localização exata da empresa em determinada região, for-

Google é um trocadilho com a palavra ‘googol’, que foi criada por Milton Sirotta, sobrinho do matemático americano Edward Kasner, para designar o número representado por 1 seguido de 100 zeros. Segundo a companhia, ”o uso do termo Google reflete a missão da empresa de organizar o enorme montante de informações disponíveis na web e no mundo.” 

Você sabia?

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Otimização

Quando uma empresa resolve desenvol-ver e lançar seu website institucional, seus diretores têm em mente como clientes, geralmente, seus consumidores ou então prospects – possíveis pessoas físicas ou ju-rídicas que possam vir a adquirir seus produtos ou contratar seus serviços. Mas poucas pensam que um dos principais clientes de um website pode ser o próprio Google. É de lá que grande parte dos aces-sos de um site pode ser originado.

“Já aprendemos o quão importante é es-tarmos com nossos produtos e serviços na internet. Mas é preciso saber como ser en-contrado, como estar em primeiro lugar nas buscas de determinado termo”, expli-ca o especialista gaúcho em otimização de buscas na internet, Tiago Jaime Machado, diretor da Polkadots Planejamento Digi-tal. Machado indica ferramentas como o Google Analytics e o Webmasters Tools para que as empresas possam obter infor-mações relevantes sobre o tráfego de seu site, definir um perfil de quem o visita, de como chegou até ele, quais os assuntos mais procurados e as páginas mais acessa-das, de que região do país ou do mundo há mais acessos, entre outros.

Com essas informações analisadas, pro-fissionais como Tiago Machado atuam de forma a preparar os sites para que sejam mais bem visualizados pelo Google. Essa consultoria é baseada no conceito de oti-mização de buscas, chamado de SEO (Se-arch Engine Optimization). Machado uti-

liza o próprio serviço a seu favor: ao se digitar planejamento digital no Google, o site da Polkadots aparece como a primeira opção em destaque, mesmo sendo esse um termo complexo para posicionamento no Google, já que existem no Brasil cente-nas de blogs e empresas que trabalham com essa expressão. A empresa gaúcha UniqueIT, incubada da Raiar, do Tecno-Puc, fez sua aposta em um serviço que o Google oferece para desenvolvedores de softwares. São funcionalidades e recursos que estão disponíveis nas tecnologias da empresa americana e que podem ser utili-zadas em sistemas de terceiros. No lin-guajar técnico, são os chamados APIs (Application Programming Interface).

Por meio deles, a UniqueTI está cons-truindo uma plataforma tecnológica que será utilizada para o desenvolvimento dos mais diversos tipos de aplicações na web. “Pretendemos integrar serviços como calendário corporativo por meio do Google Agenda, mapas com localização de clientes com o Maps e uma rede inter-na de relacionamento entre funcionários com o Open Social e o Orkut, entre ou-tros”, explica Carlos Alberto Hoffmann, diretor da empresa. A expectativa de Ho-ffmann é que a plataforma com serviços do Google, além de sistemas próprios de-senvolvidos pela UniqueIT, represente nos próximos anos cerca de 80% dos ne-gócios da empresa, que está há dois incu-bada e possui uma equipe de cinco fun-cionários, além de consultorias e profissionais terceirizados.

Alguns serviços do Google à disposição das empresas:

Apps – Utilize o pacote de ferramentas de escritório, e-mail e colaboração – www.google.com/aAdWords – Planeje sua campanha de links patrocinados – www.google.com/adwordsSearch Appliance e Mini – Tenha a tecnologia de busca do Google dentro da sua empresa – www.google.com.br/enterpriseAnalytics – Analise os acessos ao seu site – www.google.com/analyticsMapas – Localize e cadastre sua empresa no mapa – maps.google.com.brOrkut – Sua empresa já tem uma comunidade própria? www.orkut.com

Soluções em um clique

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o P o r t U n i d a d e

Negócios na lata do lixoProjetos de reciclagem desenvolvidos em incubadoras de todo o país vão além da preservação do meio ambiente e revelam um mercado em pleno crescimento

rosalvo streit Juniorcena pode parecer familiar a qual-quer brasileiro: um casal vai à porta

da residência, coloca uma sacola plástica cheia de resíduos na lixeira e retorna. Em meio ao material eliminado, contas anti-gas, recibos de pagamento e documentos com informações sigilosas. O catador de lixo, sem a devida instrução, não sabe como dar um destino correto aos papéis e os abandona a poucos metros dali, em um terreno baldio. Resultado: senhas de con-tas bancárias e cartões de crédito – além de dados como RG e CPF – são elimina-dos sem qualquer medida de segurança.

A situação descrita no parágrafo acima é verdadeira e ocorreu no município de Bebedouro (SP), no início de 2006. Mas a experiência serviu de alerta para o dono da casa – o empreendedor Adílson Coe-lho Júnior – e trouxe uma idéia de negó-cio. Hoje ele é proprietário da Invert Re-cicláveis. A empresa fragmenta arquivos e documentos com informações confiden-ciais de cartórios, agências bancárias e es-critórios de Bebedouro e de mais três ci-dades vizinhas.

Por mês, 40 toneladas de papel são re-cicladas. Ao invés de ser queimado, o material ganha novo destino. Após ser fragmentado, é vendido para indústrias – o quilo sai, em média, a R$ 0,35. “Emi-timos um laudo aos clientes garantindo o serviço. Além da segurança, eles têm a certeza de que estão ajudando o meio ambiente por meio da reciclagem”, conta Adílson. Assim como ele, centenas de micro e pequenos empresários estão in-vestindo na reciclagem de resíduos, um setor que não pára de crescer, gerar ren-da e empregos.

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Especialistas confirmam a tendência. “Muitas empresas e indústrias têm adota-do uma postura ecologicamente correta para ir ao encontro das exigências dos consumidores e dos órgãos de fiscaliza-ção”, afirma o diretor do Núcleo Interdis-ciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvi-mento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ciro Alberto de Oliveira Ribeiro.

Apesar da taxa de reciclagem crescer, em média, 30% ao ano no país, dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sóli-dos Urbanos, realizado em 2006 pelo Sis-tema Nacional de Informação sobre Sane-

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o P o r t U n i d a d e

amento (SNIS), revelam que os números poderiam ser bem maiores. O Brasil, que produz aproximadamente 150 mil tonela-das de lixo por dia – sem incluir indús-trias, serviços de saúde e a construção ci-vil –, só recicla 10% dessa quantidade. Com isso, estima-se que cerca de R$ 10 bilhões são desperdiçados todos os anos, na lata do lixo.

Abrigando soluções

Algumas incubadoras de negócios perce-beram o potencial da reciclagem e apostam no desenvolvimento de um novo nicho de mercado. “A incubadora é nosso alicerce, onde identificamos problemas e buscamos soluções criativas para resolvê-los’’, afirma

Adílson, da Invert, elogiando o apoio da Agência de Desenvolvimento Econômico de Bebedouro e região, a Adebe.

Assim como na incubadora do interior, a iniciativa vem tomando conta da capital paulista. O Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), de São Paulo, criou há três anos um núcleo específico para re-síduos e reciclagem. Atualmente, nove empresas contam com o apoio do Cietec para planejamento de ações em conjunto. “O setor está impulsionado pela impor-tância do conceito de sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente. As oportunidades de negócios não param de aumentar”, afirma o coordenador de mar-keting do Cietec, Eduardo Giacomazzi.

Das nove empresas incubadas, algumas já receberam prêmios pela excelência dos

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AÇÃO

Invert: documentos fragmentados geram 40 toneladas de papel reciclado por mês

dados de 2007 da Associação Brasileira de Iluminação (Abilux) revelam que 50 milhões de lâmpadas fluorescentes são produzidas no Brasil anualmente. Apesar de serem mais econômicas, elas têm na composição um elemento químico prejudicial à saúde, o mercúrio. Atualmente, a maior parte dessas lâmpadas é descartada de forma incorreta, normalmente jogada em lixões, contaminando o meio ambiente.Atentos ao potencial desse mercado, sócios da Tramppo, incubada no Cietec/SP, resolveram investir na reciclagem de lâmpadas. Por meio de uma tecnologia desenvolvida há seis anos, os clientes da empresa podem dar destino correto às lâmpadas inutilizadas. Com um sistema a vácuo, elas são quebradas a seco e todos os componentes (mercúrio, vidro, alumínio e pó fosfórico) são reaproveitados. “Podemos vender esse material a diversos tipos de indústrias. O melhor de tudo é não contaminar o meio ambiente com metais pesados como o mercúrio”, comemora a sócia-diretora da empresa, Elaine Menegon. Ela, assim como outros empresários do ramo de reciclagem no país, está otimista. “Esse mercado está em crescimento porque as pessoas estão se conscientizando da importância da reciclagem”, afirma. Os planos da Tramppo confirmam a expansão do mercado: mais seis unidades da empresa devem ser implantadas até 2011.

Idéia luminosa

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serviços prestados. É o caso da Tramppo Recicla Lâmpadas, ganhadora em 2005 do prêmio New Venture Brasil, na categoria Modelo de Negócio em Desenvolvimento Sustentável, concedido pela Fundação Ge-tulio Vargas (FGV). Desde 2002, a empre-sa trabalha com uma tecnologia capaz de reaproveitar 100% dos componentes de lâmpadas fluorescentes, que contêm com-postos prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana (veja box).

Em Santa Rita do Sapucaí (MG), a Amma Home Care, empresa residente na Incubadora do Instituto Nacional de Te-lecomunicações (Inatel), desenvolveu um equipamento para facilitar o descar-te correto de seringas em laboratórios, hospitais e clínicas. O aparelho, chama-do de NEX, tem a função de reciclar a agulha e o plástico, que, após o uso da seringa, são depositados em comparti-mentos diferentes e aquecidos a 1.680 graus. Esse processo derrete e estereliza por completo os resíduos da seringa, que podem ser transformados em blocos, para venda e reciclagem. Segundo os só-cios da empresa, Amine Youssef e Mar-celo Bitencourt, o NEX tem capacidade para incinerar até 40 seringas por hora, evitando acidentes de trabalho e descar-te indevido de lixo hospitalar.

Procuram-se parceiros

No Rio de Janeiro, a Polinova, empresa graduada na Incubadora da Coppe/UFRJ, tem um de seus projetos mais inovadores em fase piloto, à espera de parceiros que viabilizem a implantação de uma unidade de produção. A partir da transformação de garrafas PET, a Polinova – em parceria com a empresa Ambio Engenharia – de-senvolveu uma resina de poliéster que pode ser usada na fabricação de piscinas, embarcações, telhas e estações de trata-mento de esgoto. Tudo isso com tecnolo-gia 100% nacional. “O mercado de reci-clagem está aquecido e as garrafas PET

são um produto com alto valor agregado. Precisamos de um parceiro, público ou privado, para continuar com o projeto”, destaca Fabio Ladeira Barcia, pesquisador e um dos sócios da Polinova.

A lucratividade do negócio, segundo Barcia, está garantida. Com um quilo do material (cerca de 30 garrafas PET de dois litros) é possível produzir um quilo da re-sina de poliéster. A matéria-prima, com-prada a R$ 1,5 por quilo, se transforma em produto final vendido a R$ 6,7. “Além de ser ecologicamente correta, a resina é 40% mais barata que a convencional”, afirma o pesquisador. Ele explica que o investimento previsto na construção da fábrica é de R$ 1 milhão. Mas quando funcionar, o local vai ter capacidade para produzir três toneladas de resina por dia, o equivalente a R$ 20,1 mil. É dinheiro achado no lixo.

Garrafas PET são transformadas 

em resina plástica pela Polinova

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i n v e s t i m e n t o

m 2006 o jovem Eduardo Camilo de-cidiu realizar um antigo sonho: viver

da música. Montou com dois amigos uma empresa para agenciar artistas e organi-zar eventos musicais. A Wave Produções ganhou o apoio da incubadora do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), a Casulo. Em cerca de um ano, os negócios deslancharam e os garotos decidiram abrir o próprio estúdio musical, para ampliar a carteira de clientes e o portfólio de servi-ços. O retorno, segundo eles, era garanti-do. Mas faltava o crédito para dar esse próximo passo.

A situação da Wave é comum à maioria das micro e pequenas empresas brasileiras. O crédito é, muitas vezes, essencial para a sobrevivência do negócio. No caso da in-cubada de Brasília, eles foram atrás das fontes. Pesquisaram as alternativas dispo-

Os dois lados da moedaExpansão de crédito para micro e pequenas empresas amplia patamar de investimentos. Mas é preciso cuidado para não cair nas armadilhas do endividamento

níveis no mercado e escolheram aquela que melhor se adaptava às necessidades da empresa. Queriam R$ 75 mil, para pagar com o rendimento do próprio estúdio, quando ele estivesse em funcionamento.

A relação com o banco escolhido come-çou em novembro de 2007, com o envio dos planos, orçamentos e documentos solicita-dos. A garantia foi dada por meio do Fun-do de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do Sebrae, projeto que já atendeu a outros 40 mil empreendedores, garantin-do R$ 1,2 bilhão em financiamento.

Parecia que tudo ia bem, mas os sócios da Wave logo perceberam que esse era apenas o início do processo. “O banco co-meçou a pedir cada vez mais documentos. Precisamos até providenciar o espaço para a instalação do estúdio, antes mes-mo de termos certeza se teríamos os re-

EeMília Chagas

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Se os recursos existem, por que parece tão difícil conseguir financiamento? Para o especialista do Sebrae, a culpa, em boa parte, é dos próprios empresários. “Muitas empresas não estão preparadas para obter os recursos”, constata zica. A primeira dificuldade é operacional. Muitas vezes é o próprio empreendedor que precisa entrar em contato com os bancos, reunir a documentação e ainda conciliar as tarefas com o atendimento aos clientes e as outras demandas da empresa. Há ainda outros problemas comuns às pequenas: falta de registro, de documentos que comprovem o faturamento e de preparo para obter os recursos. Essa última dificuldade pode ser superada em alguns poucos passos.

1 – Olhe para dentro. Perceba se o recurso que você busca é mesmo necessário. Responda, antes, para você mesmo, as perguntas que o gerente certamente irá fazer. de quanto precisa? Estabeleça o valor de acordo com seu plano de negócios. É para um novo equipamento? Saiba, exatamente, quanto ele custa. É para capital de giro? Verifique o valor necessário. E não responda “o máximo que der”.Como vai pagar? Verifique qual o acréscimo de capital que o novo equipamento trará. Se você conseguirá produzir 30% mais, parte do recurso gerado pelo aumento de produção deve ser destinado para pagar o financiamento. Lembre-se que “não sei” não é resposta.Em que prazo pode pagar? Estabeleça metas e verifique quando terá o valor gerado pelo novo equipamento ou novo serviço. Fuja do “quanto maior o prazo, melhor”.Qual a taxa de juros? Responda algo mais preciso do que “o menor que vocês tiverem”. Se, de acordo com seus planos, o capital irá trazer lucros de mais 5% ao mês, diga que poderá se comprometer a pagar até 2% ao mês, por exemplo.Quando precisa? Ao invés de “o quanto antes”, seria melhor precisar seu planejamento. Exemplo: “A reforma do espaço que abrigará este maquinário fica pronta no próximo mês. O ideal é ter os recursos em, no máximo, três meses”.Se essas são perguntas difíceis de responder no momento, procure auxílio. Várias instituições prestam consultorias para quem está planejando obter financiamento, como Sebrae, associações comerciais e federação de indústrias. “O próprio contador tem deixado de ser um emissor de dARFs para se tornar o consultor contábil da empresa”, sugere zica.

2 – Pesquise. Procure diferentes linhas de crédito, taxas de juros, condições de pagamento e outras modalidades 

junto à rede bancária. O ideal é ir pessoalmente em cada agência e abrir o leque de possibilidades ao máximo, Se a empresa for informal, há instituições de microcrédito que operam com esse mercado.Pequenas indústrias de São Paulo podem procurar a sala de crédito da Fiesp. No espaço montado na federação há três anos, o empresário consegue atendimento junto às instituições financeiras parceiras (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco e Banco Nossa Caixa, além do Bndes). O serviço é agendado e o empresário também pode participar, antes, de uma palestra que esclarece as principais dúvidas dos empreendedores sobre financiamento. “de cada 100 pedidos de crédito, conseguimos atender de 73% a 75% da demanda dos empresários que vêm à sala”, comemora o diretor de micro, pequena e média indústria da Fiesp, José Antônio Cipolla.Uma experiência semelhante é realizada em convênio entre a Anprotec e o Banco do Brasil. A intenção é atender a demanda de crédito de empresas incubadas e graduadas das incubadoras. A parceria promove treinamentos e prepara as agências credenciadas a prestar atendimento diferenciado a essas empresas. O convênio está em fase de testes em Brasília e deve ser estendido em breve a todo o país.

3 – Siga o trâmite. Essa parte do processo varia muito de instituição para instituição. Mas a quantidade e a qualidade das informações que o empresário presta ao banco são decisivas para a liberação ou não do financiamento. Quanto mais a instituição souber sobre sua empresa, maior será o nível de confiança. Fornecer dados corretos sobre o faturamento, o histórico e a relação de custos e despesas é essencial. Organize no documento a lista dos principais clientes e os prazos de produção e venda. No caso de prestadores de serviços, a saída pode ser anexar contratos com vencimentos futuros, notas emitidas e comprovantes de movimentação bancária. Quanto mais transparência, maiores são suas chances.

4 – Espere. Todas as etapas até aqui dão trabalho, mas uma vez que você passa por elas resta apenas aguardar. O tempo varia de acordo com o tipo de crédito, o valor e a autonomia do gerente. Pode ser uma semana. Pode ser mais de seis meses.

5 – Siga os planos. Uma vez que o crédito é liberado, faça o máximo para atender o que você imaginou no plano de negócios. Seja fiel e não utilize os recursos para outras finalidades. 

Como ter acesso

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i n v e s t i m e n t o

cursos para montá-lo”, conta o agora di-retor de marketing Eduardo Camilo. Desde março deste ano, eles desembol-sam R$ 900 por mês no aluguel de uma sala que está vazia. E, 10 meses depois do início da negociação, os recursos para a montagem do estúdio ainda não saíram. “Mas está quase. Já recebemos uma liga-ção do gerente do banco e é só uma ques-tão de duas semanas”, afirma Eduardo.

O crédito existe

As dificuldades enfrentadas pelos sócios da Wave – e por muitos outros empreende-dores do país – não estão relacionadas com a falta de recursos para financiar micro e pequenas empresas brasileiras. Dados do Banco Central apontam que o volume de crédito vem aumentando no país. O esto-que total das operações de crédito do siste-ma financeiro foi de mais de R$ 1 trilhão em julho – um aumento de 32,7% no perí-odo de um ano. Não há dados que apon-tem exatamente quanto desse bolo é desti-nado às micro e pequenas empresas, mas os especialistas concordam que essa fatia aumenta junto com o todo.

As pequenas empresas são a nova fron-teira para os bancos poderem ampliar o número de clientes. Segundo o analista técnico da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae Nacional, Roberto Marinho Zica, essa é a razão para a am-pliação das operações voltadas a elas. “As instituições financeiras mudaram a estra-tégia de atuação”, diz Zica. Muitos bancos acionam o Sebrae para receber informa-ções de como melhor atender às micro e pequenas empresas e treinam seus geren-tes nesse sentido.

Além disso, há a ampliação das coopera-tivas de crédito e outras instituições que conseguem atender empreendedores em áreas que os bancos não conseguem pene-trar. E como não têm os custos de manu-tenção dos grandes bancos, as cooperati-vas conseguem operar os financiamentos a

custos mais baixos, com taxas de juros atrativas para o empreendedor.

Outra boa alternativa para os micro e pequenos empresários são as linhas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Cen-tro-Oeste (FNO, FNE e FCO, respectiva-mente). Os fundos são operados pelo Banco do Brasil, pelo Banco do Nordeste e pelo Banco da Amazônia, com juros in-feriores a 1% ao mês. Recursos do Proger, o Programa de Geração de Emprego e Renda, também têm custo atrativo. As li-nhas são operadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, a 5% ao ano, mais a TJLP.

Não caia nessa

Conseguir o tão sonhado crédito pode transformar uma empresa. Só que tam-bém pode ser uma fonte de dores de cabe-ça para o empreendedor. Mas há como evitar alguns riscos.

O principal deles é se endividar exces-sivamente. Por isso, os especialistas reco-mendam que o empresário não adquira financiamento para fazer rolar outras dí-vidas. A única exceção é quando a dívida em questão tem custo superior ao novo crédito, que será usado para sanar aquele saldo negativo. Se, por exemplo, a empre-sa estiver pagando juros de 5% ao mês e puder cobrir essa dívida tomando novo empréstimo de 2% ao mês, a operação va-lerá a pena.

Outro risco é usar o capital para suprir uma deficiência de gestão. Por exemplo, aquela venda que a empresa fez ao cliente a prazo, mas que precisa pagar ao forne-cedor à vista. Muitas vezes o crediário pode ser um diferencial, mas é preciso ter capital de giro e contratos com fornece-dores que acompanhem as condições de pagamento. Seja para evitar enganos, para conseguir o crédito ou para aproveitá-lo da melhor forma o melhor caminho para o empreendedor é o planejamento.

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e s P e C i a l

esde o início da Revolução Indus-trial, o acesso à inovação e aos novos

processos tecnológicos nunca foi tão va-lorizado nas empresas e no mercado de trabalho. Se antes a proximidade de ma-térias-primas era uma condição funda-mental ao desenvolvimento econômico, atualmente o crescimento de uma região depende menos de seus atributos físicos e mais da disponibilidade de inovação que está ao seu redor. Nessa nova topografia econômica, em que a sustentabilidade de um negócio está em sua capacidade de criação, cresce mais quem tem informa-ção e acesso às redes de conhecimento, independentemente das condições físicas territoriais.

Dleo BranCo e déBora horn

Inovação a serviço do desenvolvimento sustentável Ao potencializar características regionais, empreendedorismo inovador pode ser o ponto de equilíbrio entre crescimento econômico, desenvolvimento humano e preservação ambiental

dIVULG

AÇÃO

O fenômeno pôde ser detectado nos Es-tados Unidos e na Europa no momento em que empresas do mesmo ramo se agru-param em conglomerados de negócios, os clusters, para reduzir custos e facilitar o acesso às novas tecnologias. Um exemplo são as empresas de informática que se ins-talaram no Vale do Silício, na Califórnia, uma região desértica porém próxima a centros de pesquisa e inovação ligados à Universidade de Stanford. “Cada vez mais a localização da infra-estrutura do conhe-cimento próxima ao setor produtivo cria um diferencial de competitividade para os profissionais que trabalham nessas em-presas”, afirma o gerente de tecnologia e inovação do Sebrae Nacional, Paulo Al-

A cidade de Santa Rita do Sapucaí (MG): aproveitamento da vocação tecnológica gera altos níveis de renda per capita

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vim. Segundo ele, a proximidade cria um ambiente mais favorável ao surgimento de empresas que fazem uso intensivo de co-nhecimento e que produzem bens de maior valor agregado.

No Brasil, o gerente de tecnologia do Sebrae cita o exemplo positivo de cidades que investiram em centros de pesquisa e que apostaram na conexão entre pesquisa e mercado a partir de incubadoras tecno-lógicas. É o caso de Santa Rita do Sapucaí, cidade de 35 mil habitantes no sul de Mi-nas Gerais, sede do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Na unidade de ensino superior de Engenharia, os alunos são incentivados a usar os conhecimentos aprendidos na sala de aula em iniciativas empreendedoras. Para isso, contam com o apoio de duas incubadoras, uma mantida pela universidade e outra pela prefeitura.

Atualmente a cidade é reconhecida como sede do Vale da Eletrônica, devido à diversidade de produtos de ponta desen-volvidos, que vão desde equipamentos de automação a distância a aplicações domés-ticas. O setor industrial é responsável por 30% do PIB local, estimado em R$ 510 mi-lhões (IBGE – 2005). A renda per capita dos moradores é de quase R$ 15 mil, um terço a mais do que a média estadual.

Outra cidade que encontrou sua vocação é São José dos Campos, que abriga grandes empresas do setor aeronáutico, como a Embraer, por conta da presença do Institu-to Tecnológico de Aeronáutica, o ITA. “São territórios que têm uma infra-estrutura de conhecimento das pessoas e um nível de inovação tecnológica que está muito próxi-mo do setor produtivo local e cada vez mais agrega valor”, diz Alvim. Em São José dos Campos, empresas de diferentes portes do setor de aviação se reuniram em um Ar-ranjo Produtivo Local (APL) voltado à fa-bricação de peças para aeronaves e dividem custos com mão-de-obra, material e loca-ção de espaço, por exemplo. “Dessa forma, as empresas conseguem ter lucro e produ-tividade”, afirma Mauro Medeiros, gerente do Sebrae na cidade.

Redes sociais

Mas nem só de alta tecnologia são os exemplos de inovação e empreendedoris-mo que impulsionam o desenvolvimento sustentável de uma região. Iniciativas que aliem vocações históricas também podem gerar emprego e renda, se souberem apro-veitar-se da capacidade criativa de suas redes sociais. Essa é a proposta da Incu-badora Social de Comunidades, criada em 2006 no Instituto Gênesis da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). “Nosso objetivo é promover desenvolvimento local, de forma susten-tável. E isso se torna possível quando apoiamos empreendimentos nascidos nas comunidades”, explica a gerente da Incu-badora Social, Catia Jourdan.

Desde que começou a atuar, a incuba-dora vem consolidando uma relação de parceria com várias comunidades da re-gião metropolitana do Rio de Janeiro, dis-seminando a cultura empreendedora, com base na identidade local, e estimulando a geração de novas tecnologias sociais e práticas de comércio justo. “Normalmen-te somos procurados por líderes comuni-tários, que nos ajudam a fazer um diagnós-tico do potencial criativo da comunidade. Então avaliamos a viabilidade de empreen-dimentos que já funcionam ou que ainda estão no plano das idéias”, explica Catia.

Alvim, do Sebrae: infra-estrutura de 

conhecimento contribui para agregar valor à 

atividade produtiva

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e s P e C i a l

Atualmente, a Incu-badora Social de Comu-nidades apóia dois em-preendimentos de moda, três de artesanato, um de tecnologia e um de turismo. Para que sua atuação não seja con-fundida com práticas de

assistencialismo, a instituição não utiliza o risco social como critério de seleção para os projetos incubados. “Apoiamos empre-endimentos localizados em comunidades com índice de violência muito baixo e em outras em que esse índice é altíssimo, por exemplo”, afirma Catia. Entre as de índi-ce altíssimo, está a comunidade do Sal-gueiro, em São Gonçalo, que em 2005 viu nascer um bem-sucedido empreendimen-to de moda.

Alguns anos antes, o fechamento de di-versas indústrias têxteis na região de São Gonçalo havia causado o empobrecimento da comunidade e um acúmulo de mão-de-obra ociosa. Insatisfeitas com a situação, mulheres da comunidade se mobilizaram e, com a ajuda de uma organização não-governamental, identificaram a vocação comunitária. Para viabilizar o negócio, procuraram a Incubadora Social do Gêne-sis. “Inscrevemos o projeto em um edital da Finep voltado à economia solidária e conquistamos os recursos para que elas iniciassem a produção”, conta Catia. Com o apoio da incubadora, as empreendedoras conseguiram profissionalizar a gestão do negócio. Hoje, o projeto “Mulheres do Sal-gueiro” tem um ateliê próprio no Centro de Integração e Desenvolvimento da co-munidade, onde são produzidas peças a partir de materiais doados e retalhos de tecido, agregando valor com bordados de alta qualidade. “Os benefícios de um em-preendimento como esse vão além da ge-ração de emprego e renda, da movimenta-ção do comércio local. Ocorre também o processo de empoderamento, ou seja, a co-munidade se sente mais responsável por ela mesma”, afirma Catia.

Os resultados obtidos pela Incubadora Social de Comunidades do Instituto Gêne-sis, assim como por dezenas de outras in-cubadoras do gênero no Brasil, reforçam a necessidade de mapear as competências regionais e estabelecer projetos que ve-nham ao encontro dessas características, mesclando apoio de instituições governa-mentais, iniciativa privada e institutos de pesquisa e tecnologia. Para Gilson Schwartz, jornalista, sociólogo e professor da Univer-sidade de São Paulo (USP), levando-se em consideração a criatividade como fator po-tencial de crescimento econômico, o Brasil tem um futuro promissor. “Há muita ener-gia criativa que pode ser convertida em renda, identidade e conhecimento. Dizem que ela é mais abundante que o petróleo do pré-sal”, afirma. O despertar dessa energia, segundo ele, depende da capaci-dade das lideranças em tomar consciência da importância da educação e do acesso aos bens culturais. “Somente sociedades com alta densidade de educação e familia-ridade com essas tecnologias poderão ex-plorar o potencial econômico, social e técnico inerente à civilização do audiovi-sual digital”, conclui Schwartz, que foi o fundador do projeto Cidade do Conheci-mento na USP, um núcleo de estudos em redes digitais.

Fomento sustentável

Diversos estudos têm comprovado que as incubadoras de empreendimentos ino-vadores exercem papel fundamental no fomento à criatividade de uma região, ao oferecerem soluções em tecnologia em es-truturas integradas e de baixo custo. “Por priorizarem micro e pequenas empresas, que dificilmente teriam acesso às novas tecnologias de outra maneira, as incuba-doras reduzem as desigualdades regionais que afetam países como o Brasil”, afirma Antonio Carlos Filgueira Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégi-cos (CGEE) do Ministério do Planeja-

dIVULG

AÇÃO / 

INST

ITUTO

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desfile da coleção produzida pelo empreendimento social “Mulheres do Salgueiro”: empoderamento e renda

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mento e coordenador do estudo “Dimen-são territorial do Plano Plurianual 2008-2011”, que estabelece diretrizes go-vernamentais para reduzir as desigualda-des regionais.

As diretrizes partem do princípio de que o acesso à inovação e à tecnologia é fundamental para definir o desenvolvi-mento sustentável de uma região. “O ter-ritório não é mais uma base geofísica, é também um conjunto de atores sociais e de relações sociais entre indivíduos e ins-tituições”, afirma. O papel do governo, nesse caso, é fomentar o acesso a novas tecnologias. Isso é ainda um desafio no país, por conta da falta de visibilidade dos fundos constitucionais e dos organismos existentes, a exemplo da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Grande parte dos pequenos empreendedores não tem idéia das possibilidades de ser mais ousa-do em sua relação com ciência, tecnologia e inovação”, conclui Galvão.

Segundo o pesquisador, falta ainda ao Brasil uma política nacional de desenvol-vimento regional que leve em considera-ção o acesso de pequenos empreendedores a esses três componentes. Uma das pri-meiras iniciativas nesse sentido foi a apro-vação, em novembro de 2006, da Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas, o novo marco regulatório do setor. Além de medi-das de renúncia fiscal, a lei tem um capítu-lo inteiro dedicado aos mecanismos de fomento às iniciativas inovadoras. Entre eles, a destinação de 20% dos programas de financiamento mantidos por União, es-tados e municípios a micro e pequenas empresas. O desafio é fazer valer os prin-cípios da lei no que se refere à inovação. “A política praticamente não saiu do pa-pel”, afirma o gerente de políticas públicas do Sebrae nacional, Bruno Quick.

Entre os entraves para o desenvolvi-mento de empreendimentos inovadores está a falta de programas claros de finan-ciamento com base na nova lei. “A política tem que alinhar os atores federais, estadu-

ais e municipais e fazer com que eles tra-balhem de forma integrada. Na parte de tecnologia é preciso mobilizar universi-dades, centros de pesquisa, órgãos públi-cos, além das incubadoras, para saber suas demandas. Depois estruturar um portfólio de serviços e soluções de inova-ção e formar uma rede de instituições vol-tadas para inovação e tecnologia e fazer com que essa rede trabalhe para as peque-nas empresas, sensibilizando o empresá-rio”, afirma. Para o gerente de políticas públicas do Sebrae, o Brasil deveria am-pliar as linhas de crédito não-retornáveis, que concedem empréstimos na modalida-de de fundo perdido. “Países que têm bons resultados em pequenos negócios com-preendem o risco inerente às atividades inovadoras”, afirma.

Ambiente preservado

Certos de que vale a pena correr esse ris-co, empreendedores brasileiros estão pro-vando que colaborar com o desenvolvimen-to sustentável também faz bem ao bolso. Micro e pequenas empresas têm protagoni-zado a busca por soluções que garantam sustentabilidade a processos e produtos, transformando os negócios verdes em uma via de inovação. Entre os objetivos das cha-madas tecnologias sustentáveis, a preserva-ção ambiental é o grande destaque.

dIVULG

AÇÃO

Galvão, do CGEE:  pequenos empreendedores 

precisam ter  mais acesso ao 

sistema de CT&I

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Somente no Centro Incubador de Em-presas Tecnológicas (Cietec) de São Pau-lo, uma rede de 47 empresas desenvolve soluções sustentáveis voltadas a meio am-biente, recursos hídricos e saneamento, energia, agronegócio, resíduos e recicla-gem, produtos ecológicos e construção civil. Uma das integrantes dessa rede é a ONG Sociedade do Sol, que ficou conhe-cida pelo desenvolvimento de uma tecno-logia capaz de aliar benefícios econômi-cos, sociais e ambientais: o aquecedor solar de baixo custo (ASBC). Podendo ser construído por qualquer pessoa, com itens disponíveis em lojas de materiais elétricos, o ASBC pode substituir o chu-veiro, um dos maiores consumidores de energia elétrica, hoje presente em 31 mi-lhões de residências brasileiras. Desen-volvida pelo engenheiro eletricista Au-gustin Woelz desde 1992, a tecnologia só chegou ao mercado em 2001, tendo como produtos finais duas famílias de aquece-dores. A primeira, de alta eficiência, pode ser fabricada por pequenas empresas ou pelo próprio consumidor, custando cerca de R$ 150,00. A segunda, considerada de média eficiência, pode ser produzida em escala industrial, custando até 10 vezes menos. Estima-se que se o ASBC substi-tuísse todos os chuveiros do país, 18 mi-lhões de toneladas de gás carbônico dei-xariam de ser lançadas, por ano, na atmosfera.

A inovação da Sociedade do Sol está in-serida em um contexto mundial de busca por fontes limpas de energia, que inspirou a escolha do tema central do 18º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incu-badoras de Empresas, promovido pela An-protec em Aracaju (SE), entre os dias 22 e 26 de setembro. Devido ao etanol produzi-do a partir da cana-de-açúcar, o Brasil tem a chance de adquirir uma posição de desta-que frente aos demais países. Mas ainda há muito a fazer: aumentar os investimentos em pesquisas por fontes alternativas de energia, trabalhar com as vozes internas dissonantes e aplacar o desmatamento da Amazônia – anulando, assim, a imagem de que o etanol brasileiro é produzido às cus-tas da destruição da floresta.

No ano passado, a cana-de-açúcar al-cançou um patamar inédito na matriz energética brasileira. Conforme dados preliminares do Balanço Energético Na-cional – BEN, divulgados no último mês de maio pela Empresa de Pesquisa Ener-gética (EPE), chegou a 16% a participação dos produtos derivados da cana (entre eles o etanol e o bagaço) na composição das fontes primárias de energia utilizadas no país. Com esses resultados, a cana-de-açúcar passou a ocupar a segunda posição entre os energéticos mais demandados – superando a energia hidráulica, com 14,7%, e atrás apenas do petróleo e deri-vados, com 36,7%.

Respondendo por mais de 70% das ex-portações brasileiras do setor sucroalcoo-leiro, com faturamento de US$ 4,57 bilhões somente em 2007, o estado de São Paulo decidiu aproveitar o crescimento do mer-cado para alavancar o desenvolvimento re-gional. No último mês de junho, foi anun-ciada a criação do Parque Tecnológico de Piracicaba, destinado a pesquisa e desen-volvimento em quatro áreas específicas: biocombustíveis, matéria-prima renovável, tecnologias de conversão de biomassa e de resíduos agroindustriais, além de tecnolo-gias ambientais. “O Parque de Piracicaba representa a convergência do conhecimen-

dIVULG

AÇÃO

Quick, do Sebrae:  Brasil deveria ampliarlinhas de crédito  não-retornáveis

31Locus  •  Outubro 2008 

58,4

45,649,1

41,046,4

41,6

54,450,9

59,053,6

1970 1980 1990 2000 2007

Renovável

Não-renovável

Fonte: EPE/MME, 2007.

Oferta interna de energia – Brasil

Produtos da cana-de-açúcar

16%

Energia hidráulica e eletricidade

14,7%

Biomassa*

15,6%

Petróleo e derivados

36,7%

Gás natural

9,3%

Carvão mineral e derivados

6,2%

Urânio e derivados

1,4%

* Inclui lenha, carvão vegetal e outras fontes renováveis.

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AÇÃO

to na área de biocombustíveis, seja ele pú-blico ou privado”, afirmou o secretário-ad-junto da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Luciano de Almeida, ao anunciar a implantação do empreendi-mento. A iniciativa é uma parceria entre a Secretaria Estadual do Desenvolvimento, por meio do Sistema Paulista de Parques, prefeitura, instituições de pesquisa e inicia-tiva privada de Piracicaba. De acordo com o projeto, o parque terá incubadora de em-presas e laboratórios focados em tecnolo-gias para produção de biocombustíveis.

Alternativas viáveis

A demanda brasileira por todas as for-mas de energia cresceu 5,9% em 2007, to-talizando 239,4 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep). A taxa de expansão foi superior à da economia bra-sileira no ano passado, de 5,4% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE). Outras fontes renováveis, como resíduos industriais e a energia eó-lica, somadas, cresceram 11,8%. Com isso, a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira elevou-se de 44,9% em 2006 para 46,4% em 2007. A proporção de fontes renováveis na matriz energética mundial é de 12,7%, enquanto que nos países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico (OCDE) – na maioria desenvolvi-dos – essa relação é de apenas 6,2%.

Para ampliar a matriz energética limpa, o Brasil conta com uma série de empreen-dimentos inovadores, como a Eletrovento, empresa graduada na Incubadora Tecnoló-gica da Unicamp (Incamp). Para reduzir o alto custo de instalação e distribuição de energia eólica – uma das justificativas para sua baixa utilização no país –, a empresa desenvolveu geradores de pequeno porte, com potência de 5 kW, que possuem um conjunto de baterias para suprir o abaste-cimento na ausência de vento – o que o torna independente da rede elétrica. Ven-didos por cerca de R$ 20 mil, os geradores

Gerador de energia eólica da Eletrovento: 

eficiência e baixo custo

Oferta interna de energia – Brasil

Evolução do uso de energia renovável no Brasil

da Eletrovento tornam-se competitivos em regiões onde não há energia elétrica – esti-ma-se que no Brasil existam cerca de 2 mi-lhões de residências nessa situação, por estarem em locais onde o custo para levar a rede torna-se muito elevado.

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s U C e s s o

melhor empresa graduada do país nasceu há cin-co anos, com seis pessoas trabalhando na sala de

um apartamento. Hoje, são 37 funcionários em um es-paço de 180 metros quadrados, onde são desenvolvi-dos os softwares que tornaram a Pixeon, de Florianó-polis, referência no setor de radiologia digital.

A Pixeon é especializada no desenvolvimento de soluções PACS (Sistema de Armazenamento e Comu-nicação de Imagens). O PACS da Pixeon, o Aurora, é composto por um conjunto de softwares que abrange as etapas de armazenamento, interpretação, distri-buição e gerenciamento de imagens médicas em for-mato digital.

A Pixeon nasceu da parceria entre os sócios Iomani Engelmann e Fernando Peixoto Coelho de Souza, que trabalhavam juntos no desenvolvimento sob demanda de sistemas especializados na área médica. Após seis meses funcionando improvisadamente, a primeira grande vitória da empresa foi a incubação no MIDI Tecnológico, em agosto de 2003. “A incubação mate-rializou e formalizou a empresa”, diz Engelmann.

A incubadora também foi importante para mudar a proposta de atuação da Pixeon. “A consultoria de marketing nos conscientizou sobre a importância da identidade da empresa, seus valores, sua postura e como isso deve ser exposto. Chegamos ao mercado com a atitude de uma empresa mais experiente, o que surpreendeu positivamente os clientes”, avalia Engel-mann. “Já a consultoria comercial mudou o foco da empresa. Planejávamos atuar com produtos peque-nos e baratos, mas o consultor mostrou que tínha-mos potencial para desenvolver soluções grandes e caras”, complementa o sócio da Pixeon.

Antes mesmo de completar o período mínimo de incubação a empresa decidiu se graduar – um ano e 11 meses depois de entrar no MIDI Tecnológico. Foi quando veio o momento de maior dificuldade na tra-jetória da Pixeon, gerado por um erro de planeja-mento que levou a empresa a se atolar em dívidas. “Reconhecemos nosso erro, respiramos fundo e se-

A imagem do crescimentoCom a terceira maior carteira de clientes do Brasil, Pixeon prevê faturar R$ 2,1 milhões em 2008

Pixeon: incubação contribuiu para descoberta de novas áreas de atuação e desenvolvimento de produtos com alto valor agregado

guimos em frente”, conta Engelmann. A recuperação chegou em 2006, quando a Pixeon

conquistou clientes que deram novo fôlego ao negó-cio. Após uma fase conturbada, 2007 foi o grande ano da empresa. De 2006 para 2007, o faturamento da Pixeon cresceu mais de 250%, saltando de R$ 550 mil para R$ 1,4 milhão. A previsão é faturar R$ 2,1 milhões em 2008. Atualmente a Pixeon está em ter-ceiro lugar em market share no Brasil em soluções de PACS, atrás das gigantes Fuji e Carestream Health. “A nossa meta é ampliar a carteira de clientes em 40% nos próximos três anos, alcançando a liderança em 2010”, aponta o sócio da empresa. Para chegar lá, a Pixeon trabalha com três linhas de pesquisa de no-vos produtos inovadores.

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Sede: Florianópolis (SC)Fundação: 2003Faturamento: R$ 1,41 milhão (2007)Funcionários: 34Vencedora do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2008, na categoria Empresa Graduada

Raio X

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ano de 2008 ficará marcado por grandes con-quistas na história da Automatisa Sistemas, de

Florianópolis (SC). A empresa catarinense consoli-dou sua atuação no mercado nacional de equipamen-tos de corte e gravação a laser em diversos segmentos, como têxtil, acrileiro, madeireiro e de comunicação visual. Além disso, incrementou em 70% seu fatura-mento, se comparado ao do mesmo período do ano passado. O mercado externo está cada vez mais pró-ximo, após a exportação de máquinas para países da América Latina e da Europa.

A conquista do título de melhor empresa incubada no Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador coroa o crescimento da empresa em 2008, último ano em que ficará abrigada no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta). Desde sua criação, a empresa sempre teve a tecnologia como um diferencial competitivo, em um mercado até en-tão dominado por concorrentes internacionais. “Nos-sos clientes e parceiros reconhecem a empresa como desenvolvedora de soluções inovadoras no segmento de gravação e corte a laser, com tecnologia, expertise e suporte nacional”, explica o diretor geral da empre-sa Hugo Vivanco.

Fundada em 2001 por quatro sócios, entre eles pes-quisadores da Universidade Federal de Santa Catari-na (UFSC), a Automatisa tem desenvolvido equipa-mentos de alto valor agregado que combinam tecnologias de mecânica, óptica, eletrônica e softwa-re. A empresa encontrou na incubadora o ambiente ideal para garantir o crescimento sustentável. “O Cel-ta foi um parceiro importante no início, na abertura de canais e contatos estratégicos com os primeiros clientes”, destaca o diretor de recursos humanos, ma-teriais e financeiros Marcos Lichtblau.

Atualmente a empresa desenvolve, fabrica e comer-cializa mais de uma dezena de equipamentos que cor-tam e gravam os mais diversos tipos de materiais: te-cidos como jeans, couro e confecções, MDF, acrílico, plásticos, vidro, madeira e metais, entre outros. De-

Expansão à vistaAutomatisa Sistemas investe em pesquisa e desenvolvimento para conquistar mercado internacional

Empreendedores da Automatisa: proximidade com centros de ensino e pesquisa garante desenvolvimento tecnológico

senvolveu de forma pioneira aditivos que permitem a marcação com laser de materiais como metais, plásti-cos e cerâmicas. A especialização fez com que a em-presa criasse uma spin-off voltada ao aprimoramento e comercialização desses produtos, com foco no mer-cado internacional. O grande diferencial da tecnolo-gia da Automatisa está na visão artificial, a principal inovação da empresa. O sistema faz o processamento e reconhecimento prévio do contorno de imagens em tecidos, por exemplo, e permite um corte a laser mais preciso, gerando economia de matéria-prima. “Nossa competência interdisciplinar e a proximidade com centros de ensino e pesquisa garantem que a empresa esteja sempre no estado da arte do desenvolvimento tecnológico no segmento laser”, aponta o diretor de desenvolvimento e novos negócios José Maria Mas-cheroni. Para se manter nesse patamar, a Automatisa investe pesado em pesquisa e desenvolvimento. Em 2007, 8,5% dos cerca de R$ 7 milhões faturados pela empresa foram destinados a atividades de P&D.

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Sede: Florianópolis (SC)Fundação: 2001Faturamento: R$ 7,12 milhõesFuncionários: 39Vencedora do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, na categoria Empresa Incubada.

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m agosto deste ano, a incubadora MIDI Tecnoló-gico, de Florianópolis, completou uma década de

atividades, contabilizando 39 empresas graduadas, 26 incubadas, 400 empregos gerados e faturamento de R$ 25 milhões no último ano. O MIDI Tecnológico também tem a comemorar neste ano o título de melhor programa de incubação de empreendimentos inovado-res orientados para o desenvolvimento de produtos in-tensivos em tecnologias, de acordo com o Prêmio Na-cional de Empreendedorismo Inovador 2008, promovido pela Anprotec.

Mantido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC) e administrado pela Associação Catarinense de Empre-sas de Tecnologia (Acate), o MIDI Tecnológico registra um índice de sobrevivência de 93% das suas empresas. Esse resultado, segundo a coordenadora da incubado-ra, deve-se, principalmente, ao trabalho junto aos em-preendedores. “Uma das questões que diferencia a in-cubadora é a ênfase na oferta de cursos e atividades voltadas para o aperfeiçoamento de talentos humanos e gerenciais”, diz Jamile Sabatini Marques, coordenadora do MIDI Tecnológico.

Os incubados recebem consultorias gratuitas nas á-reas de recursos humanos, marketing, jurídica, finan-ceira e de plano de negócios. “O trabalho participativo e proativo dos consultores junto aos empresários promo-ve um maior desenvolvimento comercial, organizacio-nal, maior consolidação e aumento na competitividade, incentivo e apoio na participação em feiras e eventos e em editais na busca de recursos”, destaca Jamile.

A incubadora também oferece programas para a in-tegração entre os incubados. Um dos exemplos é o projeto Segunda-Segunda, reunião mensal em que to-dos se apresentam e trocam experiências. Diariamente também é realizado o café de relacionamento, no qual os empresários se reúnem por 15 minutos para intera-gir. A incubadora possui no corredor o sino da prospe-ridade, que as empresas tocam cada vez que fecham novos negócios.

Relacionamento empreendedorMIDI Tecnológico oferece consultorias, infra-estrutura e integração com o setor industrial para impulsionar o crescimento das incubadas

Outro benefício que a incubadora oferece é o intenso contato com empresas do setor tecnológico de Santa Catarina, por meio da Acate, instituição gestora do MIDI. “Esse relacionamento é característica estratégica para o ingresso no mercado das empresas incubadas. Ao conviver com as demais empresas do setor, as incu-badas têm importantes oportunidades de troca de ex-periências e desenvolvimento de parcerias, além de participarem de um ambiente altamente empreendedor e inovador”, ressalta a coordenadora da incubadora.

Além dos cursos, consultorias e atividades de capa-citação, a incubadora oferece salas entre 22 e 52 metros quadrados, telefone, móveis de escritório, estrutura para reuniões e serviços de secretaria e recepcionista.

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Sede: Florianópolis (SC)Fundação: 1998N° de empresas incubadas: 26N° de empresas graduadas: 38Faturamento das empresas incubadas e graduadas: R$ 25,3 milhões (2007)Vencedor do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, na categoria nacional Programa de Incubação de Empreendimentos Inovadores Orientados para o Desenvolvimento de Produtos Intensivos em Tecnologia (PIT)

Raio X

Empreendedores encontram no MIdI  Tecnológico a estrutura necessária para crescer com competitividade 

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gerente Davi Salles Júnior até brinca que na In-cubadora de Empresas de Base Tecnológica da

Unicamp (Incamp), em Campinas, interior paulista, o espaço físico é disputado “no tapa”. Não apenas por conta de limitações de infra-estrutura. É verdade que não cabe mais ninguém na Incamp neste momento. São 10 as empresas incubadas e nove os módulos de 25 metros quadrados disponíveis. Para fechar a conta, uma delas, explica Salles, foi autorizada a funcionar em um laboratório. A maior causa da disputa pela in-cubadora é motivada, de fato, pelo endereço privile-giado. “O nosso diferencial é estarmos dentro da Uni-camp, que tem tradição de pesquisa e desenvolvimento e de interação com empresas”, afirma o gerente. “Esse endereço faz toda a diferença”.

Salles cita a primeira incubadora do país, a Compa-nhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), que nasceu na universidade em medos da década de 1970, para ressaltar que a Unicamp sempre teve um viés de integração com o mercado. A Incamp propriamente dita recebeu as primeiras empresas em 2002. Elas já nasceram com a vantagem competitiva do acesso fa-cilitado a alguns dos melhores laboratórios e centros de pesquisa da América Latina. Salles, que está à frente da incubadora desde a sua fundação, conta que a interação entre universidade e mercado é feita sem-pre na base do networking, que ele cultiva desde que foi admitido na Unicamp, em 1983, como engenheiro de manutenção de equipamentos médicos.

O objetivo é estabelecer convênios formais e infor-mais com as diversas unidades da universidade a fim de atender as necessidades técnicas dos incubados. Entre os parceiros estão os laboratórios de biotecno-logia do Instituto de Biologia, o Centro de Tecnolo-gia, o Instituto de Física e o curso de Engenharia de Alimentos.

Salles cita o caso da Griaule Biometrics como um exemplo de sucesso nesse processo. A empresa, gradu-ada em 2005, desenvolveu produtos na área de reco-nhecimento de impressão digital. Mesmo deixando a

Endereço privilegiadoSituada em uma das maiores universidades do país, Incamp aproveita o ambiente favorável ao desenvolvimento de produtos e processos inovadores

incubadora por conta do seu crescimento (emprega 14 pessoas atualmente), que resultou em filiais nos Esta-dos Unidos e na Alemanha, a Griaule fixou-se no en-torno da Unicamp e possui diversos projetos de coope-ração com a universidade, financiados por instituições de fomento. “Há uma sinergia entre empreendedores. Eles não querem sair de perto da Unicamp”, observa Salles. Os números provam que essa proximidade faz bem. Desde 2002, quando a Incamp começou a funcio-nar, empresas incubadas solicitaram 58 registros de propriedade intelectual (registro de software, registro de marcas e relatórios de patentes).

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Sede: Campinas (SP)Fundação: 2002N° de empresas incubadas: 10N° de empresas graduadas: 15Faturamento das empresas incubadas e graduadas: R$ 3,9 milhões (2005-2007)Vencedor do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, na categoria Programa de Incubação de Empreendimentos Inovadores Orientados para o Desenvolvimento de Produtos Intensivos em Tecnologia (PIT) – Regional (Sudeste)

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Sede da Incamp: empresas incubadas se beneficiam com a cultura de integração entre a Unicamp e o mercado

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) descobriu o caminho das pedras

para se fazer pesquisa sustentável no Brasil. Apenas de janeiro a julho deste ano, 507 visitantes de empresas, do governo e de outras instituições de ensino foram a Por-to Alegre conhecê-lo. Trata-se de uma rede de inovação e empreendedorismo, batizada de Inovapuc, criada em setembro de 2006 para fazer a ponte entre universidade e mercado.

A rede busca garantir que o conhecimento e as tecno-logias gerados na instituição de ensino gaúcha sejam transformados em novos produtos, patentes ou até mesmo empresas. “Percebemos que eram dois mundos muito espaçados entre si. A Inovapuc veio aproximar e estruturar o processo de inovação dentro da universi-dade”, conta a coordenadora da rede, Gabriela Cardozo Ferreira. O grupo logo constatou que, apesar de a PUC-RS possuir competências em diversas áreas, havia uma deficiência no fluxo de informação. Como descreve Gabriela, havia muita coisa que as unidades acadêmicas nem sequer sabiam da existência.

O primeiro passo para a elaboração de uma rede foi a seleção de agentes de inovação, indicados pelos direto-res de unidades do Núcleo Acadêmico (que inclui insti-tutos de pesquisa). Durante um ano foram organizadas reuniões presenciais e videoconferências, a fim de ni-velar conceitos de inovação para professores e pesqui-sadores de áreas de conhecimento tão diferentes quanto teologia e informática.

São esses agentes que garantem o fluxo de informa-ção. Ao mesmo tempo em que mantêm as chamadas unidades periféricas (mecanismo institucionais em contato com empresas e governo) atualizadas sobre projetos de pesquisa em andamento, eles repassam de-mandas e oportunidades aos seus pares, como a abertu-ra de editais de financiamento.

Duas unidades periféricas, o Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc) e a incubadora Raiar, dão provas da expansão da pesquisa sustentável na univer-sidade. Em três anos, as 42 empresas instaladas no Tec-

A ponte que faltavaNa PUC-RS, uma rede de pesquisadores organiza o fluxo de informação na universidade e aproxima projetos inovadores do mercado

nopuc geraram mais de 2,5 mil empregos qualificados e investiram cerca de R$ 60 milhões em pesquisa e de-senvolvimento. Totalmente ocupado hoje, o parque deve praticamente dobrar de área em 2009, com a inauguração de um novo prédio, de 15 andares – 60% do edifício já está reservado.

A Raiar, por sua vez, tem atualmente 21 empresas in-cubadas, que geram 215 postos de trabalho. Isso sem falar no registro de 33 patentes de invenções, 13 marcas e quatro softwares. “Só estão no parque tecnológico empresas que têm projetos de pesquisa com a universi-dade. Os recursos do Tecnopuc são traduzidos em bol-sas automaticamente. Quase 80% dos estudantes de pós-graduação da universidade possuem bolsas”, expli-ca Gabriela Ferreira. Os alunos também não foram es-quecidos nesse processo.

No ano passado, o Inovapuc realizou o Torneio Em-preendedor. Disputado por 78 equipes, obrigatoria-mente multidisciplinares, ele premiou os melhores pla-nos de negócios apresentados. Duas das quatro equipes vencedoras acabaram faturando também o Prêmio San-tander de Ciência e Inovação.

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Sede: Porto Alegre (RS)Fundação: 2006Vencedora do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador na categoria Promoção da Cultura do Empreendedorismo Inovador (CEI).

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No Tecnopuc, rede de inovação contribui com a viabilização de projetos acadêmicos 

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que fazer quando se tem uma grande idéia? Ganhar dinheiro com ela seria

a resposta da maioria. Para a arquiteta e ex-aeromoça Célia Jaber de Oliveira, o primeiro passo foi proteger a sua criação. Em 1996, ela depositou a patente da Agillisa, uma máquina para alisar roupas usando vapor. Após três anos de absoluto sigilo, a patente foi expedida e a Agillisa tornou-se oficialmente a primeira alisa-dora de roupas do Brasil.

Com a patente expedida, Célia elaborou um projeto, abriu uma empresa e, em 2001, abrigou o negócio no Centro Incu-bador de Empresas Tecnológicas (Cietec), em São Paulo. “A patente nos deu a segu-rança para investir no desenvolvimento

Segurança para crescerProteger a propriedade intelectual é realidade não apenas de grandes organizações, mas também de pequenas empresas inovadoras

adriane aliCe Pereira do produto”, destaca. No Cietec, Célia de-senvolveu o protótipo da Agillisa e depo-sitou outra patente para incorporar as al-terações ao projeto original. Registrou também a marca e o desenho industrial, além de depositar uma patente para o magneto – acessório para facilitar o alisa-mento de roupas sociais.

Quando saiu da incubadora, em 2005, a empresa estava com o produto pronto, com local para a produção de pilotos e com seu conhecimento protegido. “O brasileiro é muito criativo, mas precisa entender me-lhor como proteger as suas criações. Hoje as pessoas têm uma boa idéia, testam o projeto, vendem o produto e perdem tudo para outro que copia”, avalia Célia.

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Acima, o equipamento desenvolvido pela Agillisa e abaixo  o robô  SACI: duas inovações protegidas 

Assim como no caso de Célia, a preocu-pação com a proteção da propriedade in-telectual deveria ser uma das prioridades de empresas nascentes, em especial as que possuem desenvolvimento tecnológico. “Um desenvolvimento não protegido po-der ser usado por qualquer outra empre-sa, torna-se domínio público”, explica a presidente da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI), Juliana Viegas. “Ao perder a sua idéia, a empresa perde o seu diferencial e a sua competiti-vidade”, reforça.

Para evitar esse prejuízo, a orientação é definir, desde o início da empresa, uma política de proteção. “Muitas vezes a pro-priedade intelectual – a competência e o conhecimento dos empreendedores – é o único ativo de uma pequena empresa, que não pode deixá-lo desprotegido”, afirma o assessor da presidência do Instituto Na-cional de Propriedade Industrial (INPI), Sérgio Medeiros Paulino de Carvalho.

Com essa visão, o pesquisador Roberto

Menescal de Macedo, de Fortaleza, depo-sitou a patente do Robô SACI – Sistema de Apoio ao Combate de Incidentes, em maio de 2004. Resultado do seu trabalho de conclusão de curso de graduação na Universidade de Fortaleza (Unifor), o

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SACI foi registrado antes mesmo da apre-sentação do projeto à banca avaliadora. Poucos meses depois, Macedo criou a Ar-mtec Tecnologia em Robótica, que foi convidada a ser a primeira empresa a in-gressar na incubadora da Unifor.

Curvas de aprendizado

Desde o primeiro depósito de patente até hoje, a Armtec já registrou no INPI cinco produtos. Nos próximos quatro anos, a previsão da empresa é alcançar 19 pedidos de patente, registros de mo-delos de utilidade, software ou marcas. “Não existe um único produto da Arm-tec que não esteja protegido”, afirma Macedo. Com alto desenvolvimento tec-nológico, a Armtec criou uma estrutura de propriedade intelectual que a mantém protegida. “Todos os funcionários, pes-

Juliana, da ABPI: proteção de conhecimento envolve aprendizado gradual

A Propriedade Intelectual se divide em duas categorias:

1) Direito Autoral – se refere a obras literárias e artístiscas. A proteção nasce com a obra e o registro é opcional.

2) Propriedade Industrial – serve para patentes, marcas, desenho industrial, indicações geográficas e transferência de tecnologia. Nesses casos, a proteção só existe após o registro ser validado pelo órgão competente.

Para softwares é diferente

O software é obra intelectual. Por esse motivo, o direito sobre o software deve ser equiparado ao direito autoral. “Portanto, mesmo sem registro, um software é um bem tutelado desde o momento de sua codificação”, explica o advogado especialista em direito da informática, Alexandre Pesserl. Mesmo condicional, o registro de software tem duas finalidades. “A primeira é a emissão de um certificado de titularidade daquelas porções específicas de códigos-fonte. Isso é muito útil, especialmente se houver uma situação de conflito potencial, como uma discussão contratual entre cliente e fornecedor, ou durante uma prospecção por investidores. A segunda finalidade, não menos importante, é a proteção ao nome do software. O registro deve ser feito junto ao INPI”, explica Pesserl.

Saiba mais

quisadores, bolsistas, consultores e for-necedores assinam termo de confiden-cialidade”, explica Macedo.

A presidente da ABPI, Juliana Viegas, lembra que as empresas passam por curvas de aprendizado no processo de proteção do conhecimento. “No início da organiza-ção, proteção é considerada um custo não-essencial. No segundo movimento, passa a ser um ativo intelectual importante. Por último a empresa passa a receber recursos desse conjunto de ativos”, explica.

De acordo com Juliana, grande parte das pequenas empresas brasileiras estacio-na na primeira “curva”. “A maioria dos empresários ainda não conseguem aferir as vantagens de proteger seus ativos ima-teriais”, diz. Mas, segundo ela, o custo do processo não pode ser usado como descul-pa, já que é um importante investimento.

As microempresas possuem, por exem-plo, redução de algumas taxas na tabela de preços do INPI. A taxa de depósito de um pedido de patente é de R$ 140,00, mas cai para R$ 55,00 no caso de microempresas. O pedido de exame de invenção com até 10 reivindicações custa R$ 400,00, mas sai por R$ 160,00 para MPEs. “Em um merca-do que exige cada vez mais contingências, as empresas estão usando a inovação para competir e as pequenas não são exceção”, afirma o assessor do INPI.

Muitos dos ativos de uma pequena em-presa não são patenteáveis ou passíveis de registro, mas podem ser mantidos como segredos empresariais, sem custos. “A empresa pode proteger seu conhecimento de forma interna. Para isso basta tomar atitudes simples como proteção de docu-mentos e contratos de confidencialidade”, explica Juliana. No ambiente de incuba-doras essa preocupação é importante também em caso de visitas às empresas. Por serem ambientes voltados ao empre-endedorismo inovador, as incubadoras são muito visadas pela concentração de novas idéias – se não estiverem bem pro-tegidas, essas idéias podem ser colocadas em prática por visitantes.

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Paulino, do INPI: conhecimento é ativo que não pode ficar desprotegido

Sem patente

É controlando o acesso a sua tecnolo-gia que a Pam Membranas Seletivas, em-presa da Incubadora da Coppe/UFRJ, protege seus ativos intelectuais. A Pam não exige contratos de sigilo, mas não abre para funcionários e parceiros a to-talidade das fórmulas e procedimentos que originam as membranas de microfil-tração, principal inovação desenvolvida pela empresa.

A diretoria realizou diversas discus-sões para avaliar também a necessidade de registro de patente, o que não se mos-trou adequado para a Pam Membranas. “Para chegar ao nosso produto há uma série de variações. Ao registrar esse pro-cesso em uma patente estamos expondo o nosso conhecimento e outras pessoas podem mudar apenas uma das variáveis e registrar como um novo produto”, ex-plica o diretor da empresa, Ronaldo Nó-brega. “Por enquanto estamos mais pro-tegidos sem a patente”, conclui.

As discussões sobre a necessidade de patentear ou não o produto foram enca-minhadas junto à incubadora. “A coor-denação da incubadora fica à disposição das empresas para orientar sobre pro-priedade intelectual”, diz a gerente da Incubadora da Coppe/UFRJ, Regina Fá-tima Faria. Atualmente as empresas in-cubadas na Coppe já depositaram cerca de 20 patentes.

O tema é discutido com os empreende-dores desde o início do processo de in-cubação. “Ainda no processo seletivo, na capacitação oferecida aos candidatos, um dos cursos ministrados é sobre pro-priedade intelectual. Nossa preocupação é internalizar os conceitos nas empresas para que elas saibam como usar”, com-pleta Regina. No caso da Pam Membra-nas, a incubadora auxiliou também no contrato de transferência de tecnologia que a empresa assinou com a UFRJ, já que o desenvolvimento do produto ini-ciou na universidade.

Conhecimento protegido

Patentes Concedidas e Desenhos Industriais

3.1565.9258.1859.2597.5768.864

10.1797.047

2.833**2.7851.855

Pedidos de Patentes e Desenhos Industriais

20.38821.59323.94724.19223.70724.09824.87222.35921.18721.31424.107

199719981999200020012002200320042005*20062007

*A partir de 2005 os pedidos de desenho Industrial passaram a ser considerados para efeitos de estatística pela diretoria de Transferência de Tecnologia. de janeiro a dezembro de 2005 foram solicitados ao INPI 5.142 registros de desenho Industrial. **de janeiro a dezembro de 2005 foram registrados 4.886 desenhos Industriais.

Fonte: INPI

As incubadoras assumem um papel de-cisivo para disseminar a importância da propriedade intelectual e para auxiliar as empresas nesse processo. “O apoio da in-cubadora encurta o caminho. Com a orientação que recebemos ficamos mais seguros para escolher a melhor opção. Sem o auxílio da incubadora demos al-gumas cabeçadas”, conta Célia, inventora da Agillisa.

Auxílio estratégico

Para a Versis, incubada da Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tec-nonologia de Campinas (SP), o apoio da incubadora foi fundamental para o depó-sito da primeira patente da empresa, em 2007, e do primeiro pedido internacional, nos Estados Unidos, feito neste ano. A empresa pleiteia o registro do Smart, um sistema para testes de circuitos eletrôni-cos. A incubadora ofereceu apoio finan-ceiro para o pagamento da consultoria e do processo de depósito da patente. “Para

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Millan, da UFMG: coordenadoria da universidade apóia pesquisadores e empreendedores no processo de proteção intelectual

uma empresa pequena como a nossa, mas com grande custo de desenvolvimento, sem o apoio da incubadora levaríamos muito mais tempo para registrarmos nos-so produto”, afirma o diretor-presidente da empresa Gilberto Possa.

Para as empresas que não contam com o apoio de incubadora, se informar e procurar um escritório de consultoria de confiança e com experiência na área de propriedade intelectual é o primeiro passo. “Se você teve a idéia, teste o pro-duto. Se ele for passível de industrializa-ção procure um escritório e busque orientação. Não deixe de procurar livros sobre a legislação da propriedade inte-lectual. Tudo para não perder uma boa idéia”, ensina a empreendedora Célia de Oliveira.

A instituição responsável pelo maior número de depósitos de patentes no Brasil é uma universidade: a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de acordo com levantamento do INPI realizado entre 1999 e 2003. desde 1984, foram 579 famílias de patentes depositadas pela universidade, 70 delas concedidas. “A Unicamp é a universidade com maior nível de produtividade científica no Brasil, responsável por 15% de toda a produção científica do país”, diz Marcelo Menossi, diretor de Propriedade Intelectual da Unicamp. Por ano são depositadas em média 50 patentes pela universidade.

A Unicamp desenvolve uma política de inovação desde 1984, quando foi constituída a CPPI – Comissão Permanente de Propriedade Industrial. Em 2003 criou a Agência de Inovação (Inova). “A partir da criação da Inova tornou-se possível a avaliação das tecnologias da universidade sob o ponto de vista técnico e comercial. Todas as tecnologias passaram a ser submetidas a um rigoroso processo de exame interno”, relata Menossi. Aproximadamente 80% das invenções comunicadas para a Inova são aprovadas após o exame interno.

Antes da Inova Unicamp, os pedidos de patentes redigidos pelos próprios pesquisadores eram submetidos somente a uma verificação de formatação do texto (margens, figuras etc.). Em outros casos, quando o pesquisador apresentava apenas a descrição da tecnologia, sem um documento formal de pedido de patente, o documento era enviado a escritórios terceirizados para avaliação e redação das tecnologias. 

Segunda na lista das instituições de ensino que mais depositam patentes, décima no ranking geral dos depositantes brasileiros e primeira universidade no número de patentes internacionais, a Universidade Federal de Minas Geras (UFMG) conta com uma estrutura multidisciplinar para fomentar a sua propriedade intelectual. Com 260 patentes depositadas no Brasil e 15 no exterior, o destaque da UFMG é a área de biotecnologia, que concentra 51% dos depósitos.

O desempenho da universidade é subsidiado pelo trabalho da Coordenadoria de Inovação e Transferência Tecnológica (CT&IT ), que envolve cinco grandes áreas: redação e acompanhamento dos processos de patentes, avaliação das tecnologias, apoio jurídico, depósitos internacionais e incubadora de empresas. “A coordenadoria dá o apoio completo ao processo de inovação, da proteção ao licenciamento e até a incubação”, diz o diretor da CT&IT, Rubén dario Sinisterra Millan. Atualmente três contratos de transferência de tecnologia estão sendo negociados entre a UFMG e empresas incubadas.

Universidades na liderança

dIVULG

AÇÃO

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i n t e r n a C i o n a l

Incubadoras e parques tecnológicos aproximam países da América Latina, promovendo intercâmbio de conhecimento e perspectiva de bons negócios na região

Ambientes de integração

pós ter desempenhado papel de lide-rança no desenvolvimento do empre-

endedorismo inovador, o movimento de incubadoras e parques tecnológicos come-ça a assumir um novo desafio: capitanear uma integração científico-tecnológica en-tre os países no mundo. Fundamentais nesse processo, as redes e associações da área pretendem estimular interações entre as nações, proporcionando desde a trans-ferência de conhecimento e tecnologia até a troca de experiências culturais sobre empreendedorismo.

Na América Latina começa a ser desen-volvida uma iniciativa para articular coo-perações e trocas de experiência entre parques e incubadoras de diversos países. A Rede Latino-Americana de Associações de Parques e Incubadoras (Relapi), entida-de vinculada à Associação Internacional de Parques Científicos (IASP, na sigla em inglês), está liderando esse processo. Em seu primeiro projeto, a entidade promo-veu um programa de formação de gerentes de incubadoras em diferentes países da re-gião. No decorrer do programa, percebeu-

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se a necessidade de divulgação internacio-nal dos produtos de empresas incubadas.

A ação seguinte, ainda em desenvolvi-mento, é atrair novos parques e incubado-ras para realizar a divulgação, atuando como núcleos de promoção das propostas da integração tecnológica em suas regiões. “Esperamos que ao menos cinco novas en-tidades dos países da região venham a aderir à associação nos próximos meses”, afirma o chefe da divisão latino-americana da IASP, Gregorio Paluszny.

Desequilíbrio

Entidade representativa de parques tec-nológicos de todo o mundo, a IASP está presente em 11 países da América Latina, dos quais sete são da América do Sul, três da América Central e o México. Esse de-sequilíbrio, explica Paluszny, é uma das motivações para a busca pela integração regional, que deve ocorrer com a criação de novos parques e incubadoras e o forta-lecimento dos existentes.

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Nesse sentido, a associação vem ten-tando ampliar sua atuação em regiões de presença menos consolidada. Em 2008, os diretores da IASP participaram de conferências e eventos em países como México, Costa Rica e Guatemala, nos quais estiveram presentes representantes de El Salvador, Nicarágua, República Dominicana, Honduras, Belize e Pana-má, entre outros países.

Em outra frente, também é promovido o intercâmbio de conhecimento e experi-ência entre parques e incubadoras estabe-lecidas e em implantação. Dessa forma, os novos membros dispõem das vanta-gens de trabalhar em rede e de comparti-lhar experiências acumuladas. Em geral, processos como esses são caros e só se-riam possíveis com o pagamento por par-te da instituição que recebe o conheci-mento gerado por outra.

O presidente do Parque Tec, da Costa Rica, Marcelo Lebendiker, afirma que aprender com experiências que tiveram êxito está sendo de fundamental impor-tância para o segmento de incubadoras e parques, que ainda é bastante incipiente em seu país. “Estamos começando agora, mas essa interação já nos permite estudar atentamente os diferentes modelos e adaptá-los a nossas realidades”.

Para ele, o associativismo também é de grande importância para a construção da chamada “sociedade do empreendedoris-mo”. “As sociedades empreendedoras pre-cisam de redes para potencializar as ex-periências exitosas e minimizar riscos na implantação de novos modelos”.

As mesmas palmeiras

Na análise de Paluszny, da IASP, é fun-damental que os países da região iniciem esse associativismo e integração dentro da América Latina. Isso porque com idiomas e, principalmente, necessidades seme-lhantes, as possibilidades de trabalho em conjunto são potencializadas. “Deve ser

lembrado que em todos os nossos países “crescem as mesmas palmeiras”, ou seja, compartilhamos de problemas similares, que não seriam facilmente entendidos, por exemplo, pelos finlandeses”, conclui.

Apesar de um pouco mais afastado dos demais devido ao idioma, o Brasil tam-bém deve traçar o caminho de integração com a América Latina. Conforme o dire-tor da IASP, Maurício Guedes, tendo em vista que cerca de 20% das exportações brasileiras têm como destino a América do Sul – volume superior ao vendido para os Estados Unidos –, seria natural que o país tivesse desempenho semelhan-te no setor de produtos de alta densidade tecnológica.

Além de a região ter uma importância comercial crescente para o Brasil, há van-tagens de menores barreiras tarifárias e, principalmente, culturais. “A dimensão cultural da integração tecnológica tem im-portância equivalente à econômica”, expli-ca Guedes. Segundo ele, as possibilidades de transferências efetivas de tecnologia posicionam-se no campo econômico. Se-riam trocas formais, por meio de contra-tos para negociação de patentes e proces-sos, ou na forma de investimentos, com uma empresa instalando-se e levando sua tecnologia a outro país, por exemplo.

No campo cultural, estariam influências sobre a forma de se ver o empreendedoris-mo inovador e disseminar seu conceito-chave: a transformação de conhecimento em riqueza. Para alcançar esse patamar de integração, Guedes sugere que os parques ou incubadoras poderiam até mesmo de-senvolver programas para abrigar empre-sas de outros países. “A principal expecta-tiva é que os laços institucionais e acadêmicos que já existem hoje possam se transformar em parcerias comerciais e em cooperação entre micro e pequenas em-presas inovadoras”, afirma. Com o fortale-cimento de redes e associações de parques e incubadoras, inovação e empreendedo-rismo tendem a formar as novas bases para a integração latino-americana.

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e d U C a ç Ã o

erca de mil currículos repousam so-bre a mesa de Francisco Saboya, dire-

tor-presidente do Porto Digital, em Recife (PE). Mesmo assim, o maior parque tecno-lógico do país, que contabiliza 117 empre-sas, 4 mil pessoas e faturamento de R$ 600 milhões no ano passado, não consegue preencher as 200 vagas em aberto para profissionais de Tecnologia da Informação. “Na produção de software, capital humano equivale à infra-estrutura clássica para a indústria tradicional”, compara Saboya.

Esse descompasso existente entre oferta e procura de mão-de-obra qualificada não se restringe ao caso do Porto Digital: trata-se de um problema generalizado no país. A pesquisa Sondagem Especial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em setembro de 2007, aponta que a falta de pessoal qualificado é um gargalo para 56% de todas as indústrias consulta-das, especialmente as de pequeno porte (60%). Por afetar, sobretudo, a área de pro-

Para acabar com o gargaloMudanças no ensino profissionalizante prometem minimizar a carência de mão-de-obra qualificada, uma das principais barreiras ao crescimento sustentável da economia

dução, a carência de mão-de-obra termina freando a competitividade da indústria e obriga nada menos do que 84% delas a in-vestir pesadamente na capacitação de seus funcionários. “O custo adicional para for-mação de pessoas causa um impacto às empresas que não têm como ser repassado aos clientes”, explica Saboya.

Alternativa rápida e eficaz de suprir a demanda da indústria, a educação profis-sional e técnica ainda tem participação tímida no Brasil. Apenas 688,7 mil estu-dantes (8,2%) de um total de 8,4 milhões no ensino médio no país estavam matri-culados em cursos técnicos em 2007, se-gundo dados do Censo Escolar do Minis-tério da Educação (MEC). No último mês de julho, a CNI e o MEC firmaram um acordo que pode mudar esse quadro. A principal definição está no aumento gra-dativo da oferta de vagas gratuitas para estudantes de baixa renda e trabalhado-res, empregados ou não, nos cursos técni-cos oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Co-mercial (Senac) a partir do ano que vem.

Em 2014, dois terços da renda líquida compulsória das duas entidades, que pro-vêm de um encargo de 2,5% cobrado na folha salarial das empresas, deverão fi-nanciar esses cursos gratuitos – atualmen-te o Senai aplica 50% e o Senac, 20%. Fi-cou estabelecido, também, o aumento da carga horária dos cursos de formação ini-cial, que passam a ter 160 horas no míni-mo. E que um terço dos recursos destina-dos ao Serviço Social da Indústria (SESI) e ao Serviço Social do Comércio (SESC) serão empregados em educação, metade do montante em atividades gratuitas.

Ceduardo KorMives

JOSÉ

 PAU

LO LACE

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Alunos do Senai: cursos profissionalizantes voltados às demandas da indústria garantem empregabilidade

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Agenda fundamental

Um debate acalorado precedeu o acerto. A proposta inicial do governo, porém, era criar um fundo centralizado e estabelecer mecanismos de desempenho para definir a alocação de recursos – quem abrisse mais vagas gratuitas receberia mais dinheiro. Hoje, o Sistema S de cada estado tem auto-nomia para aplicar as suas verbas. Consi-derada uma idéia “intervencionista”, o pro-jeto foi rechaçado pela indústria.

Para Rafael Luchesi, coordenador de operações da CNI, que esteve envolvido nas negociações, o mais importante do episódio foi a criação de uma agenda fun-damental e gratuita para o ensino técnico e profissionalizante no país. “Isso abre possibilidade para o futuro, cria a ajuda necessária ao Brasil. O governo acordou para a realidade e está pensando no longo prazo”, observa ele, para quem o sistema educacional volta-se excessivamente ao bacharelado.

Apesar da expectativa positiva, Luchesi enumera pontos que precisam ser mais bem definidos no acordo. Em primeiro lu-gar, não está claro se o número de estudan-tes matriculados no Senai e no Senac cres-cerá. A tendência é justamente o inverso: a ampliação da gratuidade deve reduzir o to-tal de vagas por conta da perda de arreca-dação de mensalidades. Um segundo pon-to a ser considerado é a qualidade do ensino oferecido pela rede pública.

Uma pesquisa da Organização de Coo-peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) classificou os estudantes do ensi-no médio brasileiro em 50º e 53º lugares, numa lista de 57 países, em proficiência em ciências e matemática, respectivamen-te. “Os processos tecnológicos são cada vez mais complexos. Se você recebe um aluno que não consegue ler e interpretar, como vai ensiná-lo?”, argumenta Luchesi.

Dois outros gargalos ainda precisam ser acrescidos à equação: qualidade e posição geográfica. O primeiro é facilmente veri-ficável no Porto Digital. Nas palavras do

diretor-presidente do parque tecnológico, Francisco Saboya, ape-sar do componente so-cial relevante, vagas gratuitas podem não significar absoluta-mente nada. Será pre-ciso formar profissio-nais “empregáveis”. “Necessitamos de qua-lidade e quantidade combinadas. As insti-tuições de ensino de-vem conhecer as ne-cessidades atuais e as futuras do mercado. As grades curriculares não se modernizam na velocidade do mer-cado”, aponta ele.

A ausência de força de trabalho qualifi-cada também pode ser explicada pela ex-pansão de atividades econômicas impor-tantes para outras regiões do país. Como os portos de Suape (PE) e Pecém (CE), o sur-gimento da indústria automotiva e petro-química na Bahia, que ainda viu surgir um pólo de celulose ao Sul do estado e outro calçadista, a exemplo do Ceará.

Procurado por empresas que buscam ca-pital intelectual, o Porto Digital decidiu agir para segurar as oportunidades. Criou a rede informal Edunet, que reúne 15 das 27 instituições de ensino de Tecnologia da In-formação da região metropolitana de Reci-fe. A rede articulou com a Microsoft uma parceria que trará qualificação por meio de atividades extraclasse. As faculdades en-tram com a infra-estrutura e os professo-res; a gigante americana, com a metodolo-gia, e o parque tecnológico, com a gestão e o subsídio no gastos para se receber a certi-ficação Microsoft. A idéia é formar 500 pessoas ainda neste ano e ampliar para ou-tras plataformas. “Recife não quer só cobrir a demanda atual, mas fazer dessas pessoas os maiores atrativos para fisgar empresas de Tecnologia da Informação”, afirma Sa-boya. É a competição do século 21.

Luchesi, da CNI: governo acordou para a realidade e está pensando no 

longo prazo

dIVULG

AÇÃO

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C r i a t i v i d a d e

té que ponto pode chegar o grau de criatividade em negócios de mídia

audiovisual digital? Quais as vantagens possíveis para o desenvolvimento local quando esses negócios estão em incuba-doras e compartilham de redes sociais de educação, tecnologia, conhecimento e cultura de todo o mundo?

Chegar a essas respostas é o objetivo do projeto Gestão de Mídias Audiovisu-ais para o Desenvolvimento Local (GeMA 2008), uma iniciativa da Cidade do Co-nhecimento, o núcleo de pesquisa em mídias digitais da Escola de Comunica-ção e Artes da Universidade de São Paulo (ECA – USP) coordenado pelo sociólogo, jornalista e professor Gilson Schwartz.

O curso de extensão envolve desde a elaboração até a execução de projetos de mídia audiovisual digital por meio de ofi-cinas realizadas semanalmente desde agosto. O programa de ensino inclui con-ceitos como imersão e interação em mer-cados virtuais, além de explanações sobre a cultura audiovisual e o mercado digital no Japão, país que tem tradição nessa área. Entre os 300 participantes da inicia-tiva estão empreendedores do meio au-

Um mundo sem fronteirasProjeto desenvolvido na USP aproxima empreendedores de um novo conceito de civilização

A

Portal do projeto Cidade do Conhecimento 

diovisual digital, lideranças comunitárias e professores do ensino médio.

Após o término das oficinas, cada par-ticipante vai elaborar e gerenciar um tra-balho, que pode variar desde produções em TV e cinema digital até projetos de gestão de mídias móveis ou ilhas no Se-cond Life. Essa é a pré-condição para a entrega do diploma de término do curso de extensão, reconhecido pela USP, que será concedido aos participantes. “Essa é uma iniciativa para mobilizar conexões inteligentes e criativas entre universida-des, empresas, organizações sociais e mo-vimentos culturais. Vamos produzir indi-cadores sobre o grau de abertura, inovação e impacto dessa incubadora criativa vir-tual. Ela é uma riqueza para o desenvol-vimento local, mas pode não estar sendo usada em todo o seu potencial. Com mí-dia digital é possível extrair e distribuir essa riqueza em prazos e retornos muito mais tangíveis”, afirma Schwartz.

A importância do projeto, de acordo com Schwartz, está no estímulo às inicia-tivas que utilizam interfaces digitais, pre-dominantes no mundo contemporâneo. Dominar essas tecnologias é vital para a inserção de pessoas e regiões na chamada “civilização do audiovisual digital”. “Cada vez surgem mais mundos verdadeiramen-te virtuais, onde é possível estudar, nego-ciar, trabalhar e se divertir por meio de interfaces digitais. Somente sociedades com alta densidade de educação e fami-liaridade com essas tecnologias poderão explorar esse potencial econômico, social e técnico”, afirma.Mais informações sobre o programa podem ser obtidas no site www.cidade.usp.br ou pelo e-mail [email protected].

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C U l t U r a

B r u n o M o r e s C h i

O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, 2007). 

Direção: Julian Schnabel. Com Mathieu Amalric e Emma-nuelle Seigner.

O diretor de Antes do Anoitecer e Basquiat se redime desses dois filmes bastante regulares ao realizar O Escafandro e a Borbo-leta, obra de simples concepção, não por isso menos encantadora. Premiado como melhor diretor no festival de Cannes, Schnabel conduz bem a história real do editor da revista Elle, Jean-Domini-que Bauby, que sofreu um derrame cuja conseqüência foi uma paralisia que deixou apenas seu olho direito respondendo a estí-mulos. A mensagem do filme é a de superação humana, mas sem desandar no melodrama.

l e i t U r a Maria de Sanabria Autor: Diego Bracco. Editora Record. 272 páginas. A obra conta a história de determinação da espanhola Maria de Sanabria e sua expedição, realizada em 1550 e ainda pouco conhecida. Empreendedora, ela liderou três embarcações partindo da praia de Sanlúcar de Barrameda, na Espanha, até o Rio da Prata, na América do Sul. Soa inovador uma mulher ter enfrentado os mistérios do mar em pleno século XVI? Pois saiba que Maria estava acompanhada de outras mulheres.

C i n e m a

Veja a exposição fotográfica O Japão de Pierre Verger - Anos 30. O fotógrafo retrata a aristocracia japonesa da época, mas não esquece dos humildes moradores de Tóquio, Kioto, Nara e Nikko. 

Caixa Cultural, (61) 3206 9448, Brasília.

Não perca o espetáculo teatral divina Elizeth, musical que conta a vida da cantora Elizeth Cardoso. Teatro SESC Ginástico, (21) 2220 8394, Rio de Janeiro.

Ouça Julieta Venegas, cantora mexicana despretensiosa e com repertório repleto de canções deliciosas.

Machado de Assis Mas Este Capítulo Não É Sério.

Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, sem número, São Paulo, (11) 3326 0775. Terça a domingo, das 10h às 17h. R$ 4. Até 26/10.

Indo na contramão da impressão geral de que museu e literatura não são sinônimos de popular, o Mu-seu da Língua Portuguesa abriu há pouco mais de dois anos e é o mais visitado de São Paulo, com até 50 mil pessoas por mês. O público já se amontoou para ver exposições que homenagearam Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Gilberto Freyre. Até final de outubro é a vez de Machado de Assis. Os visitantes são em sua maioria crianças, que se impressionam com as mostras repletas de vídeos, áudios e interatividade. Tudo para mostrar que literatura não é coisa chata.

i m P e r at i v o

i m P e r at i v o

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INOVAR NA SUSTENTABILIDADE

Rodrigo da Rocha Loures

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ãO uito do que se identifica como progresso está intimamente liga-

do à moderna sociedade industrial. O aumento sistemático da produtividade está no âmago dessa trajetória.

Hoje, contudo, somos muito mais céti-cos sobre as conquistas desta civilização material e estamos revendo muitos de nossos valores. Deixamos de tratar como sinônimos o progresso material e a me-lhoria da vida.

Esse ceticismo é parte essencial da cri-se da sociedade humana neste século. Estamos cada dia mais conscientes dos limites do consumo perdulário e da ex-ploração de recursos naturais f initos.

Mas será que ainda há espaço para a esperança iluminista que alimentava o sonho de progresso e pleno desenvolvi-mento das capacidades da humanidade? Creio que há, e muito.

Contudo, um mundo sustentável de-pende, incondicionalmente, da capaci-dade humana de inovar na sociedade, nos governos, na academia e na indús-tria. E mais. As inovações de que neces-sitamos não são de qualquer natureza.

Elas têm que ser concebidas dentro de princípios de sustentabilidade. Precisa-mos, portanto, de um novo paradigma,

uma nova linguagem e um novo entendi-mento das coisas. Inovação é a manifes-tação prática da sustentabilidade. Sus-tentabilidade é a outra face do desenvolvimento.

Peter Drucker já dizia que todos os problemas do planeta devem ser vistos como oportunidades de negócio. Agora, mais do que nunca, essa é uma verdade incontestável. Por isso devemos desen-volver a habilidade de gerar inovações para criar valor de forma sustentável. É possível lucrar fazendo bem ao planeta.

Esses novos desafios exigem respostas criativas e ambientes propícios para que se possa mobilizar o que de melhor a hu-manidade possui. Sua condição humana, o conhecimento, suas capacitações.

Especialmente as empresas e as uni-versidades têm muito que fazer no cam-po da inovação. Mas para além da pes-quisa, da difusão do conhecimento, há uma responsabilidade maior de ambas, que é incorporar em suas estratégias o tema da sustentabilidade.

É a determinação e o entendimento acerca da necessidade de assegurar for-mas sustentáveis de desenvolvimento das novas gerações que pode nos trazer espe-rança num futuro melhor.

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O p i n i ã O

Quem examina a história do desenvolvimento com um olhar de longo prazo sabe que o aumento da produtividade, da renda e mesmo da esperança de vida é um fato muito recente

Presidente da Federação das Indústrias do Estado  do Paraná - FIEP