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1 SPM - Serviço Pastoral dos Migrantes Rua CaiambØ, 126 - Ipiranga - Sªo Paulo/SP - 04264-060 - Tel.: (11) 2063-7064 - e-mail: [email protected] - blog: www.spmigrantes.worldpress.com POR UMA ECONOMIA A SERVI˙O DA VIDA O O O O O ano de 2010 Ø muito especial para o SPM Serviço Pastoral dos Migrantes e para a Semana do Migrante. A marca dos 25 anos caracteriza a ambos. Nªo por mera coincidŒncia. Mas pela identificaçªo de estratØgias e de objetivos entre o trabalho organizado e persistente em favor dos migrantes, e a abordagem aberta e provocativa de sua problemÆtica, que Ø divulgada por esta iniciativa que vem sendo promovida e sustentada todos os anos, como Ø a Semana do Migrante. Ao chegar aos 25 anos, tanto o SPM, como a Semana do Migrante, percebem sua integraçªo no conjunto maior da açªo evangelizadora da Igreja no Brasil, onde se sentem inseridos, e onde tŒm uma contribuiçªo específica a dar, cuja importância vem se comprovando a cada ano. Uma das boas razıes que ajudam a entender a incidŒncia prÆtica da Semana do Migrante, Ø sua acertada opçªo de sempre retomar em cada ano o tema da Campanha da Fraternidade, direcionando- o para a realidade dos migrantes. Assim acontece tambØm neste ano. A vinculaçªo com a CF fica evidente no lema da semana: POR UMA ECONOMIA A SERVI˙O DA VIDA. O fato da CF ser ecumŒnica acentua outra dimensªo importante da açªo pastoral junto aos migrantes. Ela nªo pode ser condicionada por interesses proselitistas. Ela se preocupa com a vida dos migrantes. Ela busca promover o que pode melhorar as suas condiçıes de vida. Nisto ela acaba encontrando tambØm a verdadeira motivaçªo religiosa, que sempre pode iluminar e fortalecer nossos compromissos sociais, ao recordar as palavras que o próprio Cristo colocou com objetivo de sua missªo: Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância. (Jo 10,10). A Campanha deste ano vincula com a fraternidade um tema ao mesmo tempo complexo e cotidiano, como Ø a economia. A Semana coloca este tema em forma dinâmica, e com um direcionamento bem claro. A economia precisa estar a serviço da vida. E nªo a vida a serviço da economia. Pode parecer estranho um tema como este, para ser colocado no clima de fØ e de fraternidade que a Campanha quer suscitar. Com muita freqüŒncia se pensa que a economia tem lÆ suas leis imutÆveis, que nªo adianta querer mudar. Desfazer este preconceito Ø a primeira incumbŒncia da Campanha, que a Semana do Migrante quer assumir com garra e convicçªo. A economia pode, sim, ser pensada de maneira diferente, de tal modo que ela se torne uma realidade promotora de solidariedade, de justiça, de cuidado com a natureza, de atençªo às necessidades bÆsicas de todos. Em síntese, como a Semana estÆ propondo, uma economia que esteja a serviço da vida. A própria palavra tem ressonâncias sociais. Por economia se queria designar as normas para administrar bem a casa, a convivŒncia familiar, os frutos do trabalho, de tal modo que ficasse garantida a mesa comum, para sustento da própria vida e para o convívio entre as pessoas. A sabedoria popular acaba confirmando este sentido antigo e original da palavra, quando diz que Ø a dona de casa quem verdadeiramente sabe fazer economia, para em meio às limitaçıes do cotidiano, garantir o essencial para o bem de todos. Na verdade, a Campanha deste ano sobre a Economia, nos coloca desafios muito amplos e fecundos, que levam a questionar o modelo econômico predominante nos œltimos sØculos, que levou aos impasses que a recente crise econômica mundial acabou revelando. Por sua natureza, a economia tem tudo a ver com o cotidiano das pessoas. Uma razªo a mais para retomar este tema, como faz a Semana do Migrante, para perceber os muitos desdobramentos prÆticos que ele nos apresenta. Colocada a serviço da vida, a economia nos abre perspectivas mais amplas. A fartura da mesa nos faz pensar na abundância de vida que Deus quer nos proporcionar, convidando-nos a fazer parte do seu mistØrio. Nªo Ø de estranhar que se fale tambØm em economia da salvaçªo para usar uma expressªo antiga que designa os planos de vida que Deus tem a nosso respeito. Por isto, na medida em que trazemos de volta a economia para os seus verdadeiros objetivos, nos damos conta da dimensªo transcendente da existŒncia humana, chamada a participar da abundância de bens divinos, que jÆ começam a ser partilhados neste mundo, pelos valores que a fØ cristª nos apresenta. A Semana do Migrante continua associada ao mistØrio pascal de Cristo, como a Campanha da Fraternidade. Na diversidade do cotidiano, percebemos os valores do Reino, que enriquecem nossa vida e lhe dªo o seu significado verdadeiro. D.DemØtrio Valentini Bispo de Jales e Presidente do SPM

POR UMA ECONOMIA A SERVI˙O DA VIDA O Serviço Pastoral ... · Nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI, ... e o mundo pobre, ... estimulados a se fazer discípulos

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SPM - Serviço Pastoral dos MigrantesRua Caiambé, 126 - Ipiranga - São Paulo/SP - 04264-060 - Tel.: (11) 2063-7064 - e-mail: [email protected] - blog: www.spmigrantes.worldpress.com

POR UMA ECONOMIA A SERVIÇO DA VIDA

OOOOO ano de 2010 é muito especial para o SPM � Serviço Pastoral dos Migrantes e para aSemana do Migrante. A marca dos 25 anos

caracteriza a ambos. Não por mera coincidência. Mas pelaidentificação de estratégias e de objetivos entre o trabalhoorganizado e persistente em favor dos migrantes, e aabordagem aberta e provocativa de sua problemática, queé divulgada por esta iniciativa que vem sendo promovida esustentada todos os anos, como é a Semana do Migrante.

Ao chegar aos 25 anos, tanto o SPM, como a Semanado Migrante, percebem sua integração no conjunto maiorda ação evangelizadora da Igreja no Brasil, onde se senteminseridos, e onde têm uma contribuiçãoespecífica a dar, cuja importância vemse comprovando a cada ano.

Uma das boas razões que ajudam aentender a incidência prática da Semanado Migrante, é sua acertada opção desempre retomar em cada ano o tema daCampanha da Fraternidade, direcionando-o para a realidade dos migrantes.

Assim acontece também neste ano.A vinculação com a CF fica evidente nolema da semana: POR UMA ECONOMIA ASERVIÇO DA VIDA.

O fato da CF ser ecumênica acentuaoutra dimensão importante da açãopastoral junto aos migrantes. Ela nãopode ser condicionada por interessesproselitistas. Ela se preocupa com a vidados migrantes. Ela busca promover oque pode melhorar as suas condiçõesde vida. Nisto ela acaba encontrandotambém a verdadeira motivaçãoreligiosa, que sempre pode iluminar e fortalecer nossoscompromissos sociais, ao recordar as palavras que o próprioCristo colocou com objetivo de sua missão: �Eu vim paraque todos tenham vida, e vida em abundância�. (Jo 10,10).

A Campanha deste ano vincula com a fraternidade umtema ao mesmo tempo complexo e cotidiano, como é aeconomia. A Semana coloca este tema em forma dinâmica,e com um direcionamento bem claro. A economia precisaestar a serviço da vida. E não a vida a serviço da economia.

Pode parecer estranho um tema como este, para sercolocado no clima de fé e de fraternidade que a Campanhaquer suscitar. Com muita freqüência se pensa que aeconomia tem lá suas leis imutáveis, que não adianta querermudar. Desfazer este preconceito é a primeira incumbênciada Campanha, que a Semana do Migrante quer assumir comgarra e convicção.

A economia pode, sim, ser pensada de maneiradiferente, de tal modo que ela se torne uma realidadepromotora de solidariedade, de justiça, de cuidado com anatureza, de atenção às necessidades básicas de todos. Emsíntese, como a Semana está propondo, uma economia queesteja a serviço da vida.

A própria palavra tem ressonâncias sociais. Por�economia� se queria designar as normas para administrarbem a casa, a convivência familiar, os frutos do trabalho,de tal modo que ficasse garantida a mesa comum, parasustento da própria vida e para o convívio entre as pessoas.

A sabedoria popular acaba confirmando este sentidoantigo e original da palavra, quando dizque é a dona de casa quemverdadeiramente sabe �fazer economia�,para em meio às limitações do cotidiano,garantir o essencial para o bem de todos.

Na verdade, a Campanha deste anosobre a Economia, nos coloca desafiosmuito amplos e fecundos, que levam aquestionar o �modelo econômico�predominante nos últimos séculos, quelevou aos impasses que a recente �criseeconômica mundial� acabou revelando.

Por sua natureza, a economia temtudo a ver com o cotidiano das pessoas.Uma razão a mais para retomar este tema,como faz a Semana do Migrante, paraperceber os muitos desdobramentospráticos que ele nos apresenta.

Colocada a serviço da vida, aeconomia nos abre perspectivas maisamplas. A fartura da mesa nos fazpensar na abundância de vida que Deus

quer nos proporcionar, convidando-nos a fazer parte doseu mistério. Não é de estranhar que se fale também em�economia da salvação� para usar uma expressão antiga quedesigna os planos de vida que Deus tem a nosso respeito.

Por isto, na medida em que trazemos de volta aeconomia para os seus verdadeiros objetivos, nos damosconta da dimensão transcendente da existência humana,chamada a participar da abundância de bens divinos, quejá começam a ser partilhados neste mundo, pelos valoresque a fé cristã nos apresenta.

A Semana do Migrante continua associada ao mistériopascal de Cristo, como a Campanha da Fraternidade. Nadiversidade do cotidiano, percebemos os valores do Reino, queenriquecem nossa vida e lhe dão o seu significado verdadeiro.

D.Demétrio ValentiniBispo de Jales e Presidente do SPM

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ECONOMIA, MIGRAÇÃO E VIDAPe. Alfredo José Gonçalves, CS

A Semana do Migrante de 2010 temno tema da vida sua espinha dorsal.Isso nos remete à Campanha da

Fraternidade Ecumênica do mesmo ano, querefletiu sobre o tema Economia e Vida, tendocomo lema uma frase bíblica: “Vocês nãopodem servir a Deus e a ao dinheiro” (Mt, 6,24). Remete também ao Documento deAparecida e às Diretrizes Gerais da AçãoEvangelizadora da Igreja no Brasil, em que avida se torna uma espécie de fio condutor; àsmanifestações do Grito dos Excluídosclamando por vida com dignidade; àspropostas da Assembleia Popular quereivindica um novo projeto de Brasil; àsatividades das Pastorais Sociais junto aosoprimidos, e, a própria trajetória do ServiçoPastoral dos Migrantes que neste ano (2010)celebra 25 anos de caminhada com osmigrantes em busca de melhores condiçõesde vida. O objetivo dos parágrafos queseguem é enfocar essa temática desde aperspectiva do migrante e das migrações.

Vida e biodiversidadeNas últimas décadas do século XX e no

início do século XXI, a temática da vidaemerge em variadas áreas do conhecimentoe da vida cotidiana. Duas razões correlataslevam a isso: a ameaça que pesa sobre asdiversas formas de vida, incluindo o homeme a mulher, e a consciência crescente sobre adeterioração da vida em geral.

Os cientistas, os meio de comunicaçãosocial, os movimentos sociais, com destaquepara os ambientalistas, não se cansam de alertarsobre os sintomas de tal ameaça: destruiçãodas florestas e desertificação de extensosterrenos, a poluição do ar e das águas, olançamento de gás carbônico na atmosfera,aquecimento global, lixo atômico, entre tantosoutros. Também os resultados são bem visíveisatravés das câmeras e holofotes da mídia emesmo a olho nu: ondas desproporcionais defrio e calor, tornados e furacões devastadores,tempestades e inundações nunca vistas...

Outros estudiosos tentam apontar para ascausas mais profundas dessas ameaças. O modeloeconômico vigente, de filosofia neoliberal – ocapitalismo – tem como motor o lucro e aacumulação a qualquer custo. Isso explica seuavanço inescrupuloso e indiscriminado sobre aface da terra. É capaz de tudo devastar paraconverter em dinheiro ou capital. A partir daRevolução Industrial, instala um ritmo semprecedentes de produtivismo consumista quemercantiliza os recursos naturais, a força detrabalho humano, o patrimônio cultural dospovos. Hoje, com a revolução dos transportes,das telecomuni-cações e da informática, o sistemade produção capitalista penetra em todas asdimensões da vida.

Tal modelo, por um lado, gerou um padrãode vida ecologicamente incompatível einsustentável com a natureza, especialmentenos países centrais; por outro lado, aprofundouas injustiças e assimetrias entre o mundo ricoe o mundo pobre, e mesmo no interior daspróprias nações. Resulta daí um perigoprogressivo para todas as formas de vida quepovoam o planeta, isto é, para a biodiversidade.

As quatro crisesQuatro crises conjugadas nos conduzem

atualmente a uma verdadeira encruzilhada. Aprimeira, de caráter econômico e sócio-político,costuma responder pelo nome de globalizaçãoe se desencadeia no início dos anos 70. Adesaceleração da economia capitalista leva-a, a

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ROMARIA DO MIGRROMARIA DO MIGRROMARIA DO MIGRROMARIA DO MIGRROMARIA DO MIGRANTANTANTANTANTE - PARE - PARE - PARE - PARE - PARAÍBAAÍBAAÍBAAÍBAAÍBA

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ampliar sua ação a todo globo, seja em termosextensivos, incorporando novos territórios enovas populações ao sistema de mercado, sejaem termos intensivos, criando novas necessidadesnos povos já incorporados, através do marketing,da publicação e da propaganda cada vez maisagressivas. Conceitos como flexibilização,terceirização, precarização das relações detrabalho, desemprego, subemprego e migraçõesem massa fazem parte desse avanço.

Junta-se a ela uma crise de ordem filosófico-cultural dos valores e referências. É marcada,segundo alguns, por uma transição paradigmáticada modernidade para a pós-modernidade. Suasraízes são mais antigas,remontam ao final do séculoXIX, mas ganha relevo nosúltimos tempos. Gerainsegurança, instabilidade elevanta perguntas novas anovos desafios. Não se tratade uma época de mudanças,mas de uma mudança deépoca. As dúvidas substituemas certezas e o chão parecefugir debaixo dos pés.

Em terceiro lugar,voltamos à crise ambiental.A voracidade do modeloeconômico vigente procuravencer a crise do mercadocom mais mercado. Oremédio tende a matar o doente, na medidaem que se gera uma relação cada vez maisdevastadora com a natureza. O círculo viciosoda produção, mercantilização e consumo nãotem como sustentar-se a médio e longo prazo.O grito da terra é hoje uma realidade que se fazsentir em todos os continentes.

Por último, a transferência de milhões emilhões de pessoas da zona rural para a zonaurbana, particularmente nos países pobres ouemergentes, reflete-se no êxodo em massa e nafalta de condições mínimas para uma vida digna.Crise de urbanização acelerada e caótica. NoBrasil, por exemplo, cerca de 85% da populaçãoreside na cidade. Se olharmos para a AméricaLatina, África e Ásia, aí encontraremos as maioresmetrópoles, com uma série de consequênciasem termos de qualidade de vida.

Como pequenos igarapés, essas quatrocrises convergem para formar um grande rio.Podemos aqui introduzir o conceito deencruzilhada. Toda crise costuma levar aoberço, para depois avançar para a fronteira. Aencruzilhada, portanto, seria o lado positivoda crise. Ali estão os novos desafios que exigemnovas respostas. Passado o lado negativo esombrio dos momentos críticos, a encruzilhadapressupõe bifurcação e tomada de decisões.Numa palavra, pressupõe opções concretas:ou continuar servindo ao dinheiro e ao sistemacapitalista, ou servir ao projeto de Deus deuma terra onde todos se sintam cidadãos.

Migrante e encruzilhadaNas crises apontadas, os migrantes figuram

simultaneamente como vítimas eprotagonistas. Se, por uma parte, se veemforçados a deslocar-se aos milhões por causada pobreza, das “catástrofes naturais”, dabusca de trabalho ou de problemas políticos,por outra parte, sua resistência e teimosiasemeiam, por onde passam e onde chegam,a utopia de uma nova vida. Ou melhor, deuma economia toda ela voltada para a vida, aserviço de todas as formas de vida. O migranteé antes de tudo um forte, diríamosparafraseando Euclides da Cunha, símbolo daprópria superação humana, eterno lutador porvida e “vida em plenitude” (Jo, 10, 10).

É o que se lê no documento de Aparecida:“Os migrantes devem ser acompanhados

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FACE DA EXFACE DA EXFACE DA EXFACE DA EXFACE DA EXCLUSÃO URBANACLUSÃO URBANACLUSÃO URBANACLUSÃO URBANACLUSÃO URBANA

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1 Copenhague – capital da Dinamarca, onde foi realizada a 15° Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) emDezembro de 2009.

pastoralmente por suas Igrejas de origem eestimulados a se fazer discípulos e missionáriosnas terras e comunidades que os acolhem,compartilhando com eles as riquezas de suafé e de suas tradições religiosas. Os migrantesque partem de nossas comunidades podemoferecer valiosa contribuição missionária àscomunidades que os acolhem” (DA, n°415).Podem também contribuir para o ecumenismo,dada a pluralidade de seus credos.

Não é difícil encontrar essa ambiguidadedas migrações no rosto de um trabalhadortemporário atrás das safras agrícolas ou de umhispano-americano tentando encontrar trabalhonuma cidade como São Paulo, no rosto dosmilhares de camponeses que acorrem à zonaurbana com sua família, ou dos brasileiros quese aventuram a um futuro mais promissor nosEstados Unidos, Europa, Japão, enfim, no rostodos refugiados, de itinerantes e de toda amultidão que compõe o quarto mundo damobilidade humana. Mobilidade que, nocontinente americano, diminui em direção aosEstados Unidos e Europa, mas cresce na buscados países vizinhos. Fuga e busca, dor eesperança, fracassos e vitórias se mesclam, seconfundem e se alternam.

Na base está o direito à vida, pois, lembraainda o Documento de Aparecida: “Já não setrata simplesmente do fenômeno daexploração ou da opressão, mas de algo novo:a exclusão social (...). Os excluídos não sãosomente ‘explorados’, mas ‘supérfluos’ e‘descartáveis’”(DA, n°65). Nessas condições,quase sempre resta a solução de migrar.Solução que não raro torna um migrante umsuspeito, especialmente a partir dos atentadosde 11 de Setembro de 2001. A criminalizaçãoda migração e dos migrantes é hoje um fatoconhecido e notório.

Em sua última encíclica, sobre a questãosocial, o papa Bento XVI afirma: “Outroaspecto merecedor de atenção, ao tratar dodesenvolvimento humano integral, é ofenômeno das migrações. É um fenômenoimpressionante pela quantidade de pessoasenvolvidas, pelas problemáticas sociais,

econômicas, políticas, culturais e religiosasque levanta, pelos desafios dramáticos quecoloca às comunidades nacional einternacional. Pode–se dizer que estamosperante um fenômeno social de naturezaepocal, que requer uma forte e clarividentepolítica de cooperação internacional para serconvenientemente enfrentado” (Caritas inVeritate, n°62).

Essas multidões em êxodo, na medida emque trazem na pele e na alma as lições docaminho e da fronteira, nos ajudam a definiros rumos a tomar diante da encruzilhada. Nãopodemos seguir com um modelo econômico,uma cultura e uma civilização que privilegia opadrão de vida de uma minoria, em detrimentoda imensa maioria da população mundial. Daía necessidade de mudanças, de reciclar a vidano planeta, de repensar a relação entre vidahumana e outras formas de vida, ou debiodiversidade e natureza. Trata-se, por umlado, de gerar, sustentar, fortalecer e consolidariniciativas populares de economia solidária, oua “economia verde” da Conferência deCopenhague1 , mas por outro lado, de seguirdenunciando os estragos do mercado totalsobre a sustentabilidade do planeta.

Como lemos no Livro de Gênesis, a aliançade Deus com o Povo de Israel é estabelecidanão somente com os homens e mulheres, mascom “todos os seres vivos” e com “todas asgerações futuras”. Não somente garantir a vidano presente, mas preservar suas condiçõespara o futuro. Também São Paulo na Cartaaos Romanos salienta que a “criação inteirageme e sofre as dores do parto até o presente”(Rm 8, 22), ao passo que o Livro doApocalipse termina apontando para “um novocéu e uma nova terra” (Ap 21, 1).

Não serão os migrantes uma espécie de“parteiros” da nova criação? Como profetas,pelo simples fato de migrar, denunciam asatuais desigualdades e injustiças que deslocamos povos em massa e anunciam a necessidadede mudanças urgentes. Como protagonistas,carregam valores e aspirações que descortinamo horizonte de uma cidadania sem fronteiras.

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1 Empresa de capital nacional e internacional possuidora de 36 fazendas que juntas somam 60 mil hectares. Dedica-se ao monocultivo de laranjae produz 80% do suco dessa fruta no Brasil. Todavia, exporta 90% de sua produção.

MIGRANTE: MERCADORIA OU SUJEITO?Ivo Poletto

Imaginem uma sala deconferências cheia deempresários, a quem

um conferencista pergunta,de surpresa: qual o maiorde todos os direitos?Haveria algum tempo desilêncio, mas logo um dospresentes, suspirando,sente-se forte paradeclarar: o direito à livreiniciativa e à propriedadeprivada.

Diante da resposta, oconferencista pergunta:pode algum ser humanocolocar em prática a livreiniciativa e a propriedade privada se não estivervivo? Não seria, então, a vida um direito anteriorà livre iniciativa e à propriedade privada?

Esta pergunta foi tomada como umaagressão. Empresários não admitemquestionamentos em relação à sua verdade.Considerando-se os únicos geradores dariqueza, como admitir a vida como o primeirodos direitos? Se o aceitassem admitiriam ser,em alguma coisa, iguais a todas as pessoas; oumelhor, iguais a todos os seres vivos, e issolhes pareceria muito perigoso. Em sua visão,tem direito de viver só quem consegue, atravésde sua iniciativa, comprar os bens necessáriosa ela; por isso, o direito à vida depende dalivre iniciativa e da propriedade privada.

Esse tipo de “verdade” empresarial sobredireitos levou a humanidade a uma divisãoodiosa: numa ponta, uns poucos concentramem suas mãos a maior parte da riqueza,enquanto, na outra, mais de um bilhão deseres humanos morrem antes do tempo porcausa da miséria. Além disso, entre as duaspontas, a maioria sobrevive na pobreza,lutando para sobreviver, de modo especial

os mais jovens, como acontece no Brasil: maisde 60% dos que estão entre 17 e 24 anos estãodesempregados ou em trabalhos inseguros.

Segundo os empresários e os que pensamcomo eles, os miseráveis e os pobres estãonessa situação por sua culpa: não seprepararam para concorrer com os outros,nem que seja para um emprego, em “livreiniciativa”. Já os empobrecidos emiserabilizados estão vendo com mais clarezaque os ricos não enriquecem por causa deseu trabalho; a riqueza é fruto de negociatas,de corrupção, de ilegalidades... Há poucosdias, por exemplo, os grandes meios decomunicação apresentaram como bandidosos Sem-Terra que entraram numa das fazendasda Cutrale1 , em São Paulo, mas esconderamo que estes Sem-Terra, e, depois, muitas outraspessoas ficaram sabendo: a Cutrale grilou aárea desta fazenda, fez negócios e enriqueceutomando terras “públicas”, de todos, quedeveriam ser destinadas pelos governantes àreforma agrária, ao assentamento detrabalhadores sem terra.

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Os migrantes nesse mundo do�salve-se quem puder�

Por que migram dentro dos países e paraoutros países, tantas pessoas e famílias? Issose deve ao fato de que a propriedade privadae a livre iniciativa são mais importantes doque a vida. Quem não tem terra própria, porexemplo, sobra e é forçado a partir do campona hora que o proprietário tem outras formasde produzir riqueza em sua terra. E parte como que teve oportunidade de escola, em geralquase nada, e sem preparo para outrostrabalhos. Com o domínio da globalizaçãocapitalista neoliberal, também as empresasindustriais, comerciais, financeiras, dispensamtrabalhadores, substituídos por novasmáquinas e computadores. Tudo somado,cresce o número de pessoas que partem paraoutras regiões ou países em busca deoportunidades de trabalho para sobreviver.

Fonte: IBGE/2009 – Censo Agropecuário Brasil -2006

2 Reportagem de Cledis Candelaresi, publicada no jornal. Página 12, 04-11-2009. In. IHU, 5-11-2009

Com o aumento das enchentes, secas,furacões, vendavais, provocados pelasMudanças Climáticas e pelo Aquecimento doPlaneta, causado pela emissão cada vez maiorde gases do efeito estufa na atmosfera, jáexistem e aumentará o número de “RefugiadosClimáticos”. “Os números são contundentes.De acordo com a Agência para RefugiadosAgência para RefugiadosAgência para RefugiadosAgência para RefugiadosAgência para Refugiadosda ONUda ONUda ONUda ONUda ONU, nos últimos 20 anos duplicou aquantidade de desastres naturais e o númerode pessoas que perderam tudo emconseqüência disso. E nos próximos 50 anos,250 milhões de pessoas poderiam ver-seobrigadas a deslocamentos em conseqüênciadas mudanças climáticas.

Fonte: IBGE/2009 – Censo Agropecuário Brasil -2006

E há mais. Só no ano passadohouve mais de 300 mil mortos nomundo em decorrência deviolentos “desequilíbriosnaturais”, que afetam basicamenteos mais pobres. Vale a penaapresentar um dado ilustrativo:para cada uma dessas mortes emum país desenvolvido – onde oaquecimento global tambémpassa a sua fatura, como a

fortíssima onda de calor que afetou a Europa– se leva sessenta pessoas à morte no outrolado do mundo2 ”.

Em outras palavras, migram pelo mundoos que sobram por causa do domínio dapropriedade privada e da livre iniciativacapitalista e os que, agora, são vítimas dasrevoltas da Terra por causa dos gases queessas mesmas empresas jogam na atmosfera.Se elas continuarem dominando o mundocom o seu progresso, os desempregados emigrantes serão apenas sobrantes. Nãoprecisam deles para produzir, mas desejamsua participação como consumidores. Mas,como ser consumidor sem ter renda?!

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Os migrantes na construção deum outro mundo

Toda pessoa e família é migranteportadoras de um sério questionamento àsregiões de origem e aos países: que tipo dedesenvolvimento é o de vocês, se tantaspessoas não tem oportunidade de viver comdignidade nele? E pelo fato de não aceitar oabandono e a exclusão, e partir em busca dealternativas, o migrante apresenta outrodesafio: baseado em quê somos mal vistos ereprimidos, se estamos apenas buscandooportunidade de trabalhar para ter vida digna?

livremente. Mas como o migrante não tempropriedade nem capital, sua decisão decolocar-se a caminho é vista como umaameaça à ordem existente. E merecedora derepressão, por isso.

O que resta, então, aos empobrecidos alémda humilhação do assistencialismo e daaceitação passiva da morte prematura? Paraquem se submete às exigências do sistemacapitalista, não há alternativas.

Por isso, o fato de ser migrante, dentro dopaís ou em outro país, já indica ser um“desobediente civil”: alguém que não aceitae se rebela contra a ordem existente, suasleis e políticas; alguém decidido a buscar suaprópria sorte, construída com luta e trabalho.A migração carrega em seu seio o sentimentode condenação do sistema que nega o direitoà vida a tantas pessoas. É, por isso, gérmende consciência crítica e de ação organizadapara construir outra ordem, outro direito àvida, ao trabalho, à liberdade, à cidadania. Omigrante é juiz da sociedade em que nasceu,desmascarando a falsa propaganda, revelandoa falta de conteúdo de sua democracia. E eleé cidadão de outra sociedade. O sentidopolítico de sua existência está na conquista econstrução de outro mundo, em que todas aspessoas tenham lugar e vez, direito e poder.

Desigualdade de distribuição de rDesigualdade de distribuição de rDesigualdade de distribuição de rDesigualdade de distribuição de rDesigualdade de distribuição de rendaendaendaendaendae pobre pobre pobre pobre pobrezaezaezaezaeza - A renda apropriada pelo 1%mais rico é igual à dos 45% mais pobres.O que um brasileiro pertencente ao 1%mais rico pode gastar em três dias equivaleao que um brasileiro nos 10% mais pobreslevaria um ano para gastar.

Fonte: IPEA: 2009Fonte: IPEA: 2009Fonte: IPEA: 2009Fonte: IPEA: 2009Fonte: IPEA: 2009

Economia Popular Solidária – geraçãoEconomia Popular Solidária – geraçãoEconomia Popular Solidária – geraçãoEconomia Popular Solidária – geraçãoEconomia Popular Solidária – geraçãode rde rde rde rde renda e inclusão social -enda e inclusão social -enda e inclusão social -enda e inclusão social -enda e inclusão social - Uma dassaídas da economia orientada pelaexpropriação, acumulação de riqueza parapoucos e produção de pobreza para amaioria é a Economia Popular Solidária.Ela aponta para a inclusão social, a livreparticipação nos processos decisórios deprodução, comercialização e distribuiçãojusta das riquezas geradas. Em 2007, haviano Brasil, 21.626 Empreendimentos deEconomia Popular Solidária beneficiando1.687.035 pessoas. Juntos, essesempreendimentos tem um faturamentomensal de R$ 653.029.449,45.

Fonte: Atlas da Economia SolidáriaFonte: Atlas da Economia SolidáriaFonte: Atlas da Economia SolidáriaFonte: Atlas da Economia SolidáriaFonte: Atlas da Economia SolidáriaMTE/Senaes, 2009.MTE/Senaes, 2009.MTE/Senaes, 2009.MTE/Senaes, 2009.MTE/Senaes, 2009.

FFFFFoto: Arquivo SPMoto: Arquivo SPMoto: Arquivo SPMoto: Arquivo SPMoto: Arquivo SPM

GERGERGERGERGERAÇÃO DE RENDA – NOAÇÃO DE RENDA – NOAÇÃO DE RENDA – NOAÇÃO DE RENDA – NOAÇÃO DE RENDA – NOVVVVVA ROA ROA ROA ROA ROSSSSSA DA PENHA - CARIACICA-ESA DA PENHA - CARIACICA-ESA DA PENHA - CARIACICA-ESA DA PENHA - CARIACICA-ESA DA PENHA - CARIACICA-ES

O sistema de livre iniciativa no “mercadocapitalista” não tem resposta para essasquestões. Deveria respeitar a decisão demigrar como expressão de uma livre iniciativa,garantida também pelo direito de ir e vir

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Lemas das Semanas do Migrante1111199999888881 – “P1 – “P1 – “P1 – “P1 – “Por que somos obrigaor que somos obrigaor que somos obrigaor que somos obrigaor que somos obrigados a sair ddos a sair ddos a sair ddos a sair ddos a sair de nossa terra?” / 1e nossa terra?” / 1e nossa terra?” / 1e nossa terra?” / 1e nossa terra?” / 199999888882 – “Sair ou lutar?” / 12 – “Sair ou lutar?” / 12 – “Sair ou lutar?” / 12 – “Sair ou lutar?” / 12 – “Sair ou lutar?” / 199999888883 – “Ai dos que planejam o mal...apod3 – “Ai dos que planejam o mal...apod3 – “Ai dos que planejam o mal...apod3 – “Ai dos que planejam o mal...apod3 – “Ai dos que planejam o mal...apoderando-se das terras, roubam as casaserando-se das terras, roubam as casaserando-se das terras, roubam as casaserando-se das terras, roubam as casaserando-se das terras, roubam as casasdos po bres... A pados po bres... A pados po bres... A pados po bres... A pados po bres... A paciência do Senhor chegou ao fciência do Senhor chegou ao fciência do Senhor chegou ao fciência do Senhor chegou ao fciência do Senhor chegou ao fim.” / 1im.” / 1im.” / 1im.” / 1im.” / 199999888884 – “T4 – “T4 – “T4 – “T4 – “Terra é vida. Resiserra é vida. Resiserra é vida. Resiserra é vida. Resiserra é vida. Resistirtirtirtirtir, não migrar e a terra par, não migrar e a terra par, não migrar e a terra par, não migrar e a terra par, não migrar e a terra par tilhar”. / 1tilhar”. / 1tilhar”. / 1tilhar”. / 1tilhar”. / 199999888885 – “Eu os plantarei em sua terra e não5 – “Eu os plantarei em sua terra e não5 – “Eu os plantarei em sua terra e não5 – “Eu os plantarei em sua terra e não5 – “Eu os plantarei em sua terra e nãomais serão arrancamais serão arrancamais serão arrancamais serão arrancamais serão arrancados da terra que eu lhes ddos da terra que eu lhes ddos da terra que eu lhes ddos da terra que eu lhes ddos da terra que eu lhes dei – disse Deus.” / 1ei – disse Deus.” / 1ei – disse Deus.” / 1ei – disse Deus.” / 1ei – disse Deus.” / 199999888886 – “T6 – “T6 – “T6 – “T6 – “Tomareis posse da terra e nela habitareis”. / 1omareis posse da terra e nela habitareis”. / 1omareis posse da terra e nela habitareis”. / 1omareis posse da terra e nela habitareis”. / 1omareis posse da terra e nela habitareis”. / 199999888887 – “De7 – “De7 – “De7 – “De7 – “Devemos marchar e conquisvemos marchar e conquisvemos marchar e conquisvemos marchar e conquisvemos marchar e conquistar essatar essatar essatar essatar essaterra”. / 1terra”. / 1terra”. / 1terra”. / 1terra”. / 199999888888 – “...cons8 – “...cons8 – “...cons8 – “...cons8 – “...consttttt ruirão casa e as habitarão”. / 1ruirão casa e as habitarão”. / 1ruirão casa e as habitarão”. / 1ruirão casa e as habitarão”. / 1ruirão casa e as habitarão”. / 199999888889 – “V9 – “V9 – “V9 – “V9 – “Vamos famos famos famos famos fincar o nosso pé e pelejar pra fazer a nossa hisincar o nosso pé e pelejar pra fazer a nossa hisincar o nosso pé e pelejar pra fazer a nossa hisincar o nosso pé e pelejar pra fazer a nossa hisincar o nosso pé e pelejar pra fazer a nossa história”. / 1tória”. / 1tória”. / 1tória”. / 1tória”. / 19999990 – “M90 – “M90 – “M90 – “M90 – “Mulherulherulherulherulher, reclama o que é teu”., reclama o que é teu”., reclama o que é teu”., reclama o que é teu”., reclama o que é teu”./ 1/ 1/ 1/ 1/ 199999999991 – “R1 – “R1 – “R1 – “R1 – “Rosososososto softo softo softo softo sofrido, trido, trido, trido, trido, t rabalho roubarabalho roubarabalho roubarabalho roubarabalho roubado”. / 1do”. / 1do”. / 1do”. / 1do”. / 199999999992 – “Buscando saídas”. / 12 – “Buscando saídas”. / 12 – “Buscando saídas”. / 12 – “Buscando saídas”. / 12 – “Buscando saídas”. / 199999999993 – “Ond3 – “Ond3 – “Ond3 – “Ond3 – “Onde moras?” / 1e moras?” / 1e moras?” / 1e moras?” / 1e moras?” / 199999999994 – “Abra a por4 – “Abra a por4 – “Abra a por4 – “Abra a por4 – “Abra a por ta”. / 1ta”. / 1ta”. / 1ta”. / 1ta”. / 199999999995 – “Gente é pra brilhar”. / 15 – “Gente é pra brilhar”. / 15 – “Gente é pra brilhar”. / 15 – “Gente é pra brilhar”. / 15 – “Gente é pra brilhar”. / 1999999999966666– “Refazer caminhos”. / 1– “Refazer caminhos”. / 1– “Refazer caminhos”. / 1– “Refazer caminhos”. / 1– “Refazer caminhos”. / 199999999997 – “Conquis7 – “Conquis7 – “Conquis7 – “Conquis7 – “Conquistar a liberdatar a liberdatar a liberdatar a liberdatar a liberdaddddde”. / 1e”. / 1e”. / 1e”. / 1e”. / 199999999998 – “Quem sabe faz a hora”. / 18 – “Quem sabe faz a hora”. / 18 – “Quem sabe faz a hora”. / 18 – “Quem sabe faz a hora”. / 18 – “Quem sabe faz a hora”. / 199999999999 – “Pão em todas as mesas”. / 29 – “Pão em todas as mesas”. / 29 – “Pão em todas as mesas”. / 29 – “Pão em todas as mesas”. / 29 – “Pão em todas as mesas”. / 2000 – “Pát000 – “Pát000 – “Pát000 – “Pát000 – “Pátria é a terra que lheria é a terra que lheria é a terra que lheria é a terra que lheria é a terra que lhedá o pão”. / 2dá o pão”. / 2dá o pão”. / 2dá o pão”. / 2dá o pão”. / 200000000001 – “Escolha o caminho da vida”. / 21 – “Escolha o caminho da vida”. / 21 – “Escolha o caminho da vida”. / 21 – “Escolha o caminho da vida”. / 21 – “Escolha o caminho da vida”. / 200000000002 – “T2 – “T2 – “T2 – “T2 – “Terra sem males, um mundo possível”. / 2erra sem males, um mundo possível”. / 2erra sem males, um mundo possível”. / 2erra sem males, um mundo possível”. / 2erra sem males, um mundo possível”. / 200000000003 – “Nossos pais nos contaram”. / 23 – “Nossos pais nos contaram”. / 23 – “Nossos pais nos contaram”. / 23 – “Nossos pais nos contaram”. / 23 – “Nossos pais nos contaram”. / 200000000004 – “Água é vida4 – “Água é vida4 – “Água é vida4 – “Água é vida4 – “Água é vidanão podnão podnão podnão podnão pode ser vendida”. / 2e ser vendida”. / 2e ser vendida”. / 2e ser vendida”. / 2e ser vendida”. / 200000000005 – “Mensageiros da jus5 – “Mensageiros da jus5 – “Mensageiros da jus5 – “Mensageiros da jus5 – “Mensageiros da justiça e paz”. / 2tiça e paz”. / 2tiça e paz”. / 2tiça e paz”. / 2tiça e paz”. / 200000000006 – “O mundo é nossa Pát6 – “O mundo é nossa Pát6 – “O mundo é nossa Pát6 – “O mundo é nossa Pát6 – “O mundo é nossa Pátria”. / 2ria”. / 2ria”. / 2ria”. / 2ria”. / 200000000007 – “Deus viu que t7 – “Deus viu que t7 – “Deus viu que t7 – “Deus viu que t7 – “Deus viu que tudo era muito bom”. / 2udo era muito bom”. / 2udo era muito bom”. / 2udo era muito bom”. / 2udo era muito bom”. / 200000000008 – “Bas8 – “Bas8 – “Bas8 – “Bas8 – “Bastatatatataddddde migração forçae migração forçae migração forçae migração forçae migração forçada!” / 2da!” / 2da!” / 2da!” / 2da!” / 200000000009 – “Exis9 – “Exis9 – “Exis9 – “Exis9 – “Existe juste juste juste juste justiça para todos?”tiça para todos?”tiça para todos?”tiça para todos?”tiça para todos?”

ANO JUBILAR DO SPMPe. Antonio Garcia Peres, cs

Secretário Executivo do SPM.

Nós, agentes pastorais, lideranças comunitárias, parceiros eparceiras espalhados pelo Brasil e pelo mundo, constituímoso Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), cujos 25 anos de

existência celebramos em 31 de outubro de 2010.Vamos celebrar festivamente esta histórica trajetória jubilar,

trazendo para a grande mesa do tempo os frutos que colhemos noperíodo e, ao mesmo tempo, revendo alegremente a variedade deopções de trabalho pastoral que realizamos até agora como membrosdesta entidade eclesial. Imbuídos pela inquietude da nossa místicamilitante, desejamos reprojetar e revitalizar nossos compromissos,nossas maneiras de atuar e nossa capacidade de fazer o SPM incidirsempre mais no processo de construção de uma sociedade justa,equilibrada e fraterna, a partir do foco de sua preocupaçãofundamental: os migrantes.

Relembrar este passado, de um lado, é levar esta entidade aposicionar-se na perspectiva de continuar repensando o presente e ofuturo dos migrantes internos que hoje seguem convivendo com apobreza, violências, desemprego, preconceitos e abandonados pelopoder público; de outro lado, solidarizando-se com os imigrantesque sofrem devido a existência de muros e leis que impõem todotipo de restrição ao seu direito de transitar pelo mundo em buscade um lugar onde possam conquistar seu ávido desejo de possuíremuma cidadania universal, sem servilismos e xenofobia.

Inspirado na pessoa e nas atitudes de Jesus Cristo, cujo projetoevangelizador está fundamentado no anúncio do Reino de Deus comoserviço em favor da humanidade, o carisma do SPM tem sido o derepresentar e marcar, na medida de suas capacidades e limites, umasingular presença profética da Igreja na sociedade, suscitando nela umaprogressiva e necessária atividade sócio pastoral específica para atendere servir aos migrantes nas variadas e complexas realidades que os cercam,ainda hoje, de maneira muito sofrível para a grande maioria deles.

Gestado e alicerçado à sombra acolhedora do carisma e damística dos padres, irmãs, leigos e leigas scalabrinianos, o SPM foiadquirindo um rosto próprio e mais amadurecido ao longo dos anos.Ele nascera com a missão de redimensionar e de tornar o serviçopastoral aos migrantes não apenas algo da competência exclusivadas Congregações Scalabrinianas, mas uma missão de toda a Igreja.

Organizado em três setores (Migrantes Urbanos, MigrantesTemporários e Imigrantes) e em regionais, expandiu-se por quasetodo o Brasil e conta agora com a colaboração de numerosos agentespastorais leigos, bispos, padres diocesanos, religiosos e religiosas. Aequipe da Secretaria Nacional em São Paulo, tem prestado umrelevante serviço de apoio logístico a todas as bases e missões queatuam em paróquias com migrantes internos e imigrantes.

Integrante da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade,da Justiça e da Paz e da rede de Pastorais Sociais e Organismos daConferência Nacional dos Bispos do Brasil, o SPM coparticipou dainserção da Doutrina Social da Igreja na sociedade brasileira, quandocolaborou com o processo de construção e efetivação das SemanasSociais Brasileiras e em campanhas nacionais como: Plebiscitos,

Assembléia Popular Nacional, Campanha Jubileu Sul, Campanhacontra a ALCA, Grito dos Excluídos, dentre outros eventos nacionaisem favor da construção de um projeto popular para o Brasil.

Vale lembrar ainda o profundo reconhecimento e reafirmadoapoio dispensados pelo conjunto da Igreja Católica em relação aostrabalhos sócio pastorais no mundo das migrações, compromissoassumido pelo SPM nos seus 25 anos. O Documento de Aparecidaatesta e reforça que é muito importante a Igreja estar mais presentee ativamente solidária nessa realidade tão fragilizada dos migrantes.

Pastorais Socias e Organismos da CNBB, movimentos sociais eorganizações da sociedade civil, universidades, pesquisadores,assessores, congregações religiosas, dioceses, Ministério Público doTrabalho e Emprego, poder público municipal, Direitos Humanos, Gritodos Excluídos, Fórum Mundial das Migrações, meios de comunicação,etc., constituíram-se em importantes parceiros com os quais a Pastoraldos Migrantes tem mantido estreitas e frutuosas relações de cooperação,partilhando “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias”(GS, nº 1) de todos os seus agentes, mas principalmente dos migrantes.Este conjunto de colaboradores pautou e visibilizou rapidamente aproblemática das migrações na opinião pública nacional e internacional,a partir do contexto da realidade social, política e econômica brasileira,fazendo emergir sensíveis melhorias nas condições de vida, trabalho,saúde e moradia de milhares de migrantes. Porém, ainda resta aosmigrantes percorrer longos caminhos até a conquista de uma substancialqualidade de vida.

Destacamos neste período jubilar a dedicação terna de todos osbispos que exerceram a presidência do SPM, as coordenaçõesnacionais, as assembléias, os encontros formativos e as reuniões.Variados e incansáveis foram os empenhos de todas as pessoas daentidade pela elaboração e realização celebrativa, de dimensãoreligiosa e cultural, da Semana do Migrante de cada um destes anos.Seus respectivos temas e lemas sempre estiveram vinculados àstemáticas apresentadas pelas Campanhas de Fraternidade da CNBBe ora do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). Merecemser lembrados e homenageados os grupos da Pastoral quedesenvolvem as multivariadas atividades junto aos migrantes emmuitos recantos do país, visando despertar neles um protagonismoque os leve a conquistar uma gradual inserção afirmadora de seupotencial humano na construção de uma sociedade transformada,culturalmente plural, justa e solidária.

Os tempos avançaram e o SPM intuiu que chegara a hora dereafirmar-se ante os novos desafios que a globalização trouxe para ocontexto das migrações no Brasil e no mundo: Visando tornar maisabrangente sua inserção no mundo das migrações, potencializou amissão da Paraíba e, em julho de 2005, instituiu o Centro de Apoioao Migrante (CAMI) em São Paulo.

A Pastoral dos Migrantes consolida-se cada vez mais como fiel‘discípula missionária de Jesus Cristo’, para que Nele os povosmigrantes tenham vida plena, sejam acolhidos e respeitados a partirde sua diversidade cultural e religiosa.