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POR UMA GEOGRAFIA DA EDUCAÇÃO Alexandre André dos Santos 1 RESUMO: O autor apresenta elementos para a definição de uma Geografia da Educação como um novo campo de estudo interdisciplinar da geografia, onde a aplicação das informações geográficas e de metodologias da geografia potencializem reflexão e o entendimento dos atuais desafios da política educacional e oportunizem análise para o seu contínuo aprimoramento. PALAVRAS-CHAVES: geografia, educação, geografia da educação, política educacional, escala, região, lugar, território, espaço, INTRODUÇÃO A demanda por uma geografia da educação surge quando se observa que o recorte espacial tem importância e peso na análise sobre qualidade educacional. O geografia pode dar importante contribuição ao debate ao analisar e refletir como a política educacional é marcada territorialmente por assimetrias e semelhanças espaciais, operando dinâmicas em diferentes escalas. Categorias geográficas, tais como escala, lugar, território e região quando trabalhadas para promover capacidade explicativa ao processo educacional podem favorecer a reconfiguração de políticas públicas educacionais, em busca de diminuir as assimetrias e deficiências de natureza espacial. ÁREAS DE ESTUDO Existem muitas questões, para além da questão sobre qual a importância do espaço no debate sobre a política educacional, e sobre a qualidade da política educacional, que tem viés nitidamente geográfico, e que permitem demarcar um campo da geografia da educação, em busca de territorializar o debate, e levar em conta os territórios concretos onde residem as pessoas na formulação e implementação da política educacional. Entre as quais é possível destacar: a) as diferenças e simetrias espaciais de diferentes elementos que contribuem para o acesso ao ensino de diferentes lugares e regiões; 1 Geógrafo, mestre em geografia, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. [email protected] SANTOS, Alexandre André dos. “Por uma Geografia da Educação” In SANTOS, Alexandre André dos. Blog do Alexandre André dos Santos – Blog sobre gestão e políticas públicas sociais [internet]. Brasília, 20 fev. 2015. Disponível em https://geoalexandre.wordpress.com/2015/02/20/por-uma-geografia-da-educacao

Por Uma Geografia Da Educação

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O autor apresenta elementos para a definição de uma Geografia da Educação como um novo campo de estudo interdisciplinar da geografia, onde a aplicação das informações geográficas e de metodologias da geografia potencializem reflexão e o entendimento dos atuais desafios da política educacional e oportunizem análise para o seu contínuo aprimoramento. A demanda por uma geografia da educação surge quando se observa que o recorte espacial tem importância e peso na análise sobre qualidade educacional. O geografia pode dar importante contribuição ao debate ao analisar e refletir como a política educacional é marcada territorialmente por assimetrias e semelhanças espaciais, operando dinâmicas em diferentes escalas. Categorias geográficas, tais como escala, lugar, território e região quando trabalhadas para promover capacidade explicativa ao processo educacional podem favorecer a reconfiguração de políticas públicas educacionais, em busca de diminuir as assimetrias e deficiências de natureza espacial.

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POR UMA GEOGRAFIA DA EDUCAÇÃO

Alexandre André dos Santos1

RESUMO: O autor apresenta elementos para a definição de uma Geografia da Educação como

um novo campo de estudo interdisciplinar da geografia, onde a aplicação das informações

geográficas e de metodologias da geografia potencializem reflexão e o entendimento dos

atuais desafios da política educacional e oportunizem análise para o seu contínuo

aprimoramento.

PALAVRAS-CHAVES: geografia, educação, geografia da educação, política educacional, escala,

região, lugar, território, espaço,

INTRODUÇÃO

A demanda por uma geografia da educação surge quando se observa que o recorte espacial

tem importância e peso na análise sobre qualidade educacional. O geografia pode dar

importante contribuição ao debate ao analisar e refletir como a política educacional é marcada

territorialmente por assimetrias e semelhanças espaciais, operando dinâmicas em diferentes

escalas. Categorias geográficas, tais como escala, lugar, território e região quando trabalhadas

para promover capacidade explicativa ao processo educacional podem favorecer a

reconfiguração de políticas públicas educacionais, em busca de diminuir as assimetrias e

deficiências de natureza espacial.

ÁREAS DE ESTUDO

Existem muitas questões, para além da questão sobre qual a importância do espaço no debate

sobre a política educacional, e sobre a qualidade da política educacional, que tem viés

nitidamente geográfico, e que permitem demarcar um campo da geografia da educação, em

busca de territorializar o debate, e levar em conta os territórios concretos onde residem as

pessoas na formulação e implementação da política educacional.

Entre as quais é possível destacar:

a) as diferenças e simetrias espaciais de diferentes elementos que contribuem para o

acesso ao ensino de diferentes lugares e regiões;

1 Geógrafo, mestre em geografia, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira - INEP. [email protected] SANTOS, Alexandre André dos. “Por uma Geografia da Educação” In SANTOS, Alexandre André dos. Blog do Alexandre André dos Santos – Blog sobre gestão e políticas públicas sociais [internet]. Brasília, 20 fev. 2015. Disponível em https://geoalexandre.wordpress.com/2015/02/20/por-uma-geografia-da-educacao

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b) as diferenças e simetrias espaciais de diferentes elementos que contribuem para a

qualidade do aprendizado de diferentes lugares e regiões;

c) as dinâmicas que operam nos espaços em diferentes escalas que contribuem para

explicar o acesso e a qualidade do ensino;

d) a configuração de regiões no processo de organização de redes de ensino;

e) a definição de diferentes escalas territoriais de atuação da política educacional;

f) a definição de indicadores que possibilitem realizar análises e sínteses sobre o acesso e

a qualidade do ensino sob o viés geográfico;

g) a análise de complexas dinâmicas espaciais ocorrendo em simultâneas escalas e

afetando diretamente o sucesso de políticas educacionais.

A geografia busca responder como as coisas, atividades ou fenômenos estão localizados, por

que eles estão ali localizados, como os diferentes recursos e atividades interagem

espacialmente e quais os fatores que causam esta distribuição. Um geógrafo exerce assim

habilidades analíticas científicas e sociais, trabalhando ainda como ciência de síntese, e como

tal a geografia tem sido chamada a ser uma ponte entre as ciências humanas e físicas. Por

outro lado, a política educacional do Brasil carece de uma reflexão geográfica e especial de

suas deficiências e assimetrias.

São raros na atualidade os estudos que problematizam a relação entre a política educacional

com o espaço geográfico. Hato (2010) identificou que a análise especial ou a importância do

espaço no debate sobre a política educacional carece de referências bibliográficas e apresenta

o termo “Geografia da Educação” como uma importante ferramenta de diagnóstico e análise

para o planejamento e implementação das políticas públicas de educação.

Um levantamento bibliográfico realizado pelo autor ratificou essa visão, ao identificar poucos

estudos publicados, em que pese haver grande demanda por estudos dessa natureza, inclusive

por ser o processo de regionalização em educação uma previsão constitucional, conforme

preceitua o parágrafo 4º do art. 211 da Constituição Federal,

Art. 211 – [...].

§ 4º - na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito

Federal e os municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a

universalização do ensino obrigatório (BRASIL, 1988).

Avançando nesse entendimento, o Plano Nacional de Educação aprovado e transformado na

Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, destacou em vários trechos a importância do espaço na

configuração de políticas educacionais, por exemplo no parágrafo 4º do Artigo 7º, que

demandou considerar a demarcação de territórios étnico-educacionais para fins de

implementação de modalidades da educação escolar

§ 4o Haverá regime de colaboração específico para a implementação de modalidades

de educação escolar que necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a

utilização de estratégias que levem em conta as identidades e especificidades

socioculturais e linguísticas de cada comunidade envolvida, assegurada a consulta

prévia e informada a essa comunidade (BRASIL, 2014).

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E ainda na mesma lei e artigo 7º, no parágrafo 7º se previu a possiblidade de criação de

arranjos de desenvolvimento educacional, definidos através do Parecer CNE/CEB 09/2011,

homologado em despacho do Ministro da Educação em 22/11/2011.

§ 7o O fortalecimento do regime de colaboração entre os Municípios dar-se-á,

inclusive, mediante a adoção de arranjos de desenvolvimento da educação.

ESTUDOS REALIZADOS

Para ilustrar como pode haver contribuição, uma breve sistematização de alguns poucos

estudos apontam para o campo de contribuição da geografia da educação.

Hato estudou a relação entre a educação com a economia e suas repercussões no espaço

social utilizando-se a cartografia temática digital como método de análise dos dados

estatísticos educacionais e econômicos na geração de informações espaciais para uma análise

comparativa (Hato, 2010, p. 14). Pesquisa realizada por Moreira identificou que

investimentos na área educacional alavancam o desenvolvimento de muitas cidades do

interior (Moreira et all, p. 49). Já estudo realizado por Ubirajara (2012, p. 169), apontou que a

educação, através das instituições de ensino passam a desempenhar também a função

articuladora do contexto regional em que estão inseridas atuando como objeto transformador

do cenário socioespacial em que se encontram contribuindo para a solidificação de um espaço

fluido e dinâmico traduzindo a espacialidade complexa . Ribeiro, (2012, p. 217) identificou que

o surgimento de uma universidade também consegue promover mudanças no local de sua

instalação, conseguindo transformar as estruturas econômicas e sociais de um lugar.

Estudo realizado por de Souza (2012, p. 234), ao estudar como a transformação no bairro de

Benfica como bairro universitário, apontou que tal transformação tem ofertado

transformações no espaço geográfico em escala local. “Nos últimos cinquenta anos o bairro

vem concentrando inúmeras instituições educacionais, provocando no mesmo diversas

transformações. Uma das mudanças ocorridas foi a concentração de estudantes e professores

intensificando novos fixos e fluxos, organizando e produzindo o espaço geográfico de acordo

com os interesses dos grupos sociais que o compõem.” Assim, a produção espacial

influenciada pela educação, modificou a estrutura espacial do bairro (de Souza, 2012, p. 235).

DESAFIOS

Os desafios da educação brasileira são vários e complexos. A contribuição da geografia no

debate auxiliar no enfrentamento do desafio, pela riqueza que de sua capacidade analítica, e

pela sua capacidade em operar em espaços de complexidade.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, lei 13.005 de 25 de junho de 2014. Disponível em:

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HATO, Júlio Takahiro. Geografia da educação. 2010. Dissertação (Mestrado em Geografia

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Otávio José Lemos Costa, Josier Ferreira da Silva, Keila Andrade Haiashida e Stanley Braz de

oliveira (Organizadores). Fortaleza: RDS, 2012.