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2016 . Nº 15 . JANEIRO / FEVEREIRO . PREÇO: 3,50€ www.revistaport.com Os candidatos e o problema da abstenção nas comunidades 30 anos da entrada de Portugal na CEE Troca de influências entre Portugal e Brasil ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS PATRIMÓNIO DE ORIGEM MACAU OURO PRETO GOA MAZAGÃO MUNDIAL PORTUGUESA Os locais fundados pelos portugueses, e reconhecidos pela UNESCO, em Marrocos, Cabo Verde, Moçambique, Brasil, Índia e China UNIÃO EUROPEIA CARNAVAL Visite o site www.revistaport.com e fique mais perto de Portugal +

PORT.COM - Edição nº 15 - Janeiro/Fevereiro de 2016

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2016 . Nº 15 . JANEIRO / FEVEREIRO . PREÇO: 3,50€ www. rev i s tapo r t .co m

Os candidatos e o problema da abstenção nas comunidades

30 anos da entrada de Portugal na CEE

Troca de influências entre Portugal

e Brasil

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

PATRIMÓNIO

DE ORIGEM

MACAU OURO PRETOGOA MAZAGÃO

MUNDIALPORTUGUESA

Os locais fundados pelos portugueses, e reconhecidos pela

UNESCO, em Marrocos, Cabo Verde,

Moçambique, Brasil, Índia e China

UNIÃO EUROPEIACARNAVAL

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www.revistaport.com

SUMÁRIO

Entrada de Portugal na CEE

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4 EDITORIAL

COMUNIDADES5. Breves

10. Entrevista a Patrícia Marcelino, autora do projeto “Ó Mãe, Vou Emigrar”

POLÍTICA14. Abstenção no estrangeiro sem fim à vista16. Marcelo e os outros candidatos a Belém

DESTAQUE19. O inestimável legado português além-fronteiras24. Mazagão: a primeira fortaleza da era moderna27. Mazagão, a odisseia de uma cidade em bolandas

28 HISTÓRIA30 anos da entrada na CEE

32 NEGÓCIOSMáquina de venda automática de conservas

de peixe: a primeira em todo o mundo

DESTAQUE34. As estrelas Michelin de Portugal

38. Fumeiro volta a encher a pequena vila de Vinhais39. Receita: Alheira com batata e grelos

40 CULTURACarnaval: De Portugal para o Brasil, do Brasil para Portugal

44 TURISMOMadeira eleita melhor destino insular do mundo

46 DESPORTOEuro 2016: Sorteio favorável não é o mesmo

que jogos fáceis

50 DISCURSO DIRETOO Dino, “La boulangerie de Ventabren” e a Emília

do Sítio do Pica-pau Amarelo

Carnaval

Receitade alheira

Negócios

P39

P32

EURO 2016

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Quando o final do ano passado trouxe a notícia que mais um elemento distintivo da cultura de Portugal havia sido distinguido pela UNESCO como

património mundial, muitos portugueses ficaram a saber o que são os chocalhos alentejanos. Portugal é mesmo assim. Pequeno em tamanho, mas com um património tão rico que os próprios habitantes ficam admirados quando chega o reconhecimento externo.

Se o património dentro das fronteiras do país é muitas vezes um segredo para tantos portugueses, o que dizer do património fundado noutros pontos do mundo: Quantos saberão que a UNESCO já reconheceu mais de uma dezena de locais no estrangeiro de origem portuguesa?

Foi a partir desta questão que na Revista PORT.COM se começou a pôr mãos à obra na primeira edição do ano. Estas páginas viajam assim até si com a história de lugares que nem a distância de milhares e milhares de quilómetros dissocia de Portugal.

Para além do tema que inspira a capa desta revista, destaque para o 30.º aniversário da entrada de Portugal na CEE, momento decisivo para a forma como o país ainda hoje é gerido.

Traçamos ainda o perfil aos principais candidatos à Presidência da República, assim como aos adversários da seleção portuguesa de futebol na fase de grupos de um dos eventos desportivos que marcarão o novo ano, o Europeu de França.

Se se puder resumir a um slogan a primeira Revista PORT.COM de 2016, uma das possibilidades mais certeiras será: “Vá para Portugal, lá fora”.

EDITORIAL

LUÍS CARLOS SOARESCoordenador Editorial

A AJBB Network não é responsável pelo conteúdo dos anúncios nem pela exatidão

das características e propriedades dos produtos e/ou bens anunciados. A respetiva veracidade e conformidade com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade

dos anunciantes e agências ou empresas publicitárias. Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações, - sob quaisquer meios e para quaisquer fins,

inclusive comerciais.

FICHA TÉCNICA

REVISTA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES

Edição Janeiro / Fevereiro 2016www.revistaport.com

Nº de registo na ERC: 126526

Rua João de Ruão, nº 12 – 8º3000-299 Coimbra (Portugal)

Tel: (+351) 239 820 688

[email protected]

ESTATUTO EDITORIAL www.revistaport.com/estatuto-editorial

EDITOR E PROPRIETÁRIO

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NIF: 510 475 353

DIREÇÃO Abílio Bebiano

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COORDENAÇÃO EDITORIALLuís Carlos Soares (CP-9959)[email protected]

REDAÇÃO Luís Carlos Soares,

Márcia de Oliveira, Filipa Marques Colaboradores: Gil Moleiro

PLATAFORMA ONLINE Márcia de Oliveira - Edição de conteúdos

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DESIGN E PAGINAÇÃO BDMP, LDA

www.bdmp.pt

ASSINATURAS [email protected]

PUBLICIDADE AJBB Network

Rua João de Ruão, 12 – 1º 3000-229 Coimbra (Portugal)

(+351) 967 583 [email protected]

EDIÇÃO PAPEL: Janeiro/Fevereiro 2016

Tiragem: 30.000 Exemplares Impressão: Studioprint

Depósito Legal: 376930/14Distrib. nacional e internacional: CTT

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A influência da comu-nidade portuguesa em Belém do Pará continua bem presente na atualidade. Nota-se nas ruas pavimentadas a calçada à portugue-

sa, na arquitetura da zona histórica da cidade, na confeção de alguns pratos de peixe por parte dos restaurantes locais, nas práticas religiosas seguidas à risca pelos habitantes.

A padroeira do Estado é Nossa Senho-ra da Nazaré, também conhecida como “Rainha da Amazónia”. Conta a lenda que a devoção começou a ser alimenta-da, por volta do ano 1700, por um luso-descendente mestiço chamado Plácido José Souza, filho de um português e de uma indígena nativa.

Atualmente, a veneração a Nossa Senhora da Nazaré tem expoente máximo no Círio de Nazaré, a maior procissão católica do Brasil, que todos os anos reúne mais de dois milhões de pessoas em Belém.

Para além da Basílica de Nazaré, onde termina a procissão, entre os maiores atrativos turísticos de Belém do Pará consta o Forte do Presépio, construído por Francisco Caldeira Cas-telo Branco, para proteger a Amazónia dos invasores holandeses e franceses, no século XVII.

Atualmente estima-se que o Pará seja o terceiro estado brasileiro com maior número de lusodescendentes, depois de Rio de Janeiro e São Paulo. Para além de Belém, entre as principais localidades estaduais constam nomes como Bra-gança, Aveiro, Faro, Viseu, Santarém, Chaves, Baião, Óbidos e Almeirim.

PORTUGUESES FUNDARAM BELÉM DO PARÁ

HÁ 400 ANOSBelém, a capital do Estado brasileiro do Pará (atualmente com mais 1,4 milhões de

habitantes), foi fundada pelo português Francisco Caldeira Castelo Branco a 12 de janeiro de 1616. Ainda hoje as influências portuguesas estão bem presentes no quotidiano de

milhares de paraenses, sejam ou não descendentes de portugueses.

OMUNIDADESC

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Os governos português e nami-biano assinaram, em 2012, um memorando de entendimento sobre a adoção do Português

como disciplina de opção curricular no sistema educativo da Namíbia, país que faz fronteira a sul com Angola. Desde então, o número de alunos a aprender a “Língua de Camões” mais do que quadruplicou. Facilitar as relações co-merciais com os angolanos é um dos prin-cipais objetivos dos alunos namibianos.

Nessa altura, o projeto foi implemen-tado em nove escolas para um total de 371 alunos. Atualmente, estão envolvidos 21 estabelecimentos de ensino e há 1 616 alunos a aprender Português.

O projeto tem uma particularidade: a maior parte dos professores envolvidos têm nacionalidade namibiana. São for-

mados no Centro de Língua Portuguesa na Universidade da Namíbia, depois re-cebem uma bolsa para estudar oito meses em Portugal e de regresso são colocados nas escolas pelo ministério da Educação namibiano.

As forças policiais e os funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, uma vez que a Namíbia é membro obser-vador da CPLP, podem ser os próximos alunos de Português na Namíbia.

Mais de 1 600 alunosaprendem Portuguêsna Namíbia

Uma das maiores associações de portugueses em França, a Cap Magellan, distribuiu 12 bolsas, cada uma no valor de 1 600 euros, por jovens portugueses e estudantes de língua portuguesa residentes em França. A cerimónia teve lugar no Consulado de Portugal em Paris e contou com a presença de Paulo Pisco, um dos deputados portugue-ses eleitos pelos círculos eleitorais da emigração.

O estudo do idioma e a certifica-ção de cursos de ensino de língua portuguesa são os principais obje-tivos da Associação Venezuelana de Ensino da Língua Portuguesa (AVELP), entidade oficializada em dezembro, em Caracas, depois de ter sido criada em setembro do ano passado. Professores, estudantes, coordenadores e representantes de instituições portuguesas fazem parte da AVELP.

Cap Magellan entrega bolsas a alunos de Português

Associação de ensino de língua portuguesa oficializada na VenezuelaLusodescendentes de países asiáticos

preparam cimeiraOs lusodescendentes de dez países asiáticos - Malásia (Mala-ca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri Lanka, Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Aus-trália (Perth), Indonésia (Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar - estão a organizar a primeira Cimeira da Comunidade dos Portugueses Asiáticos.

Este encontro terá lugar em Mala-ca, onde residem milhares de des-cendentes de portugueses, entre 23 e 29 de junho. O principal objetivo passa pela aproximação destas comunidades, de forma a contribuir para o desenvolvi-mento de projetos conjuntos de divulgação da cultura e da língua portuguesa.

COMUNIDADES

Aula de Português

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ESCOLA ANGLO-PORTUGUESA PERTO DE ABRIR EM LONDRES

Universidade em Toronto cria prémio para alunos de Língua Portuguesa

A Universidade de York, no Canadá, criou o prémio “Portuguese Gives you Wings!” (que significa “O Português dá-te asas”),

com o objetivo de distinguir o melhor aluno inscrito na disciplina de iniciação ao Português. O aluno agraciado vai receber uma viagem ao arquipélago dos Açores, oferecida pela companhia aérea açoriana SATA, que patrocina o prémio.

Desde 2008 que a entidade de en-sino superior localizada em Toronto conta com um programa chamado Estudos Portugueses e Luso-brasi-leiros, que é frequentado por cerca de 100 alunos, tanto lusodescendentes

que desejam conhecer melhor as suas raízes como pessoas sem qualquer ligação a Portugal ou outro país lusó-fono. Dessa centena de alunos, são 25 os que atualmente têm aulas de Língua Portuguesa.

A Universidade de York, que conta com universo próximo dos 60 000 alunos, apresenta a Língua Portuguesa como uma ferramenta para a inserção profissional em empresas que utilizam este idioma. Recorde-se que o Canadá é um país com uma comunidade por-tuguesa bastante numerosa, sobretu-do de pessoas oriundas do arquipélago dos Açores e de vários distritos do norte de Portugal Continental.

Se tudo correr como previsto, em setembro de 2017 abrirá portas na capital britânica a primeira escola anglo-portuguesa, ou seja, uma escola inglesa com um plano curricular lecionado em Inglês e Português, um dos desejos mais antigos da cada vez maior comuni-dade portuguesa no Reino Unido. O projeto já teve uma primeira luz verde, mas falta ainda uma segun-da fase de avaliação por parte das entidades britânicas, processo que deverá ser concluído em meados deste ano. Se for aprovada, inicial-mente a escola ficará restrita ao ensino pré-escolar e primário, que no Reino Unido vai até ao 6.º ano. Mais tarde, com o crescimento das primeiras gerações neste regime escolar, o projeto inclui a abertura de ensino secundário.

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COMUNIDADES

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José Luís Carneiro, o eleito do governo de António Costa para secretário de Estado das Comu-nidades Portuguesas, aprovei-tou a quadra natalícia para, pela

primeira vez, se dirigir aos portugueses emigrantes: “Quero expressar a minha profunda admiração pela sua coragem, pela sua determinação em construir um futuro melhor e pela sua solidariedade nos momentos adversos”, lê-se no início da mensagem.

O governante, que durante uma déca-da foi presidente da Câmara Municipal de Baião (entre 2005 e 2015), revelou ainda alguns dos principais objetivos da secretaria de Estado que agora lidera: “A todas as Comunidades Portuguesas,

queremos assegurar uma maior ligação à sua Administração e ao seu país. A todas e todos, procuraremos facilitar o exercício da sua cidadania e a sua par-ticipação cívica (…). E porque sabemos que a “saudade da terra” melhor se alivia no reencontro com o sentimento de pertença e de identidade, tudo fare-mos, nos próximos anos, por manter vivas a nossa cultura, a nossa língua e a nossa memória”.

A mensagem termina com Carneiro a apelidar os emigrantes portugueses de “os melhores embaixadores de Portugal, porque prestigiam o nosso país e a nossa imagem no mundo, uma imagem de um Portugal cada vez mais moderno e inovador”. Recorde-se que o baionense é o sucessor de José Cesário, secretário de Estado das Comunida-des Portuguesas entre junho de 2011 e novembro do ano passado.

Pelo 9.º ano consecutivo, a Associação Cultural e Humani-tária da Bairrada no Luxemburgo organizou, em colabora-ção com a Caritas, uma ceia de Natal para os sem-abrigo da cidade do Luxemburgo. Vários membros desta associa-ção voluntariam-se para preparar as iguarias gastronómi-cas típicas de um Natal à portuguesa. A Miss Portugal no Luxemburgo, Jéssica Duarte, “amadrinhou” a iniciativa e distribuiu lembranças aos sem-abrigo.

Associação luso-luxemburguesa serviu ceia de Natal aos sem-abrigo

Novo secretário de Estado das Comunidades apresentou-se com mensagem de boas festas

José Luís Carneiro

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O ministério da Cultura de Portu-gal entrou em contacto com a secretaria de Estado da Cultura do Brasil para demonstrar intenção de apoiar a renovação do Museu da Língua Portuguesa. No final de dezembro, este espaço em São Paulo sofreu um incêndio que destruiu quase totalmente as suas instalações. Apesar dos danos, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, já garan-tiu a reconstrução. A maior parte do acervo é recuperável, uma vez que estava em formato digital e a instituição tem cópias das obras. Desde que havia aberto ao público no final de 2012, o Museu da Lín-gua Portuguesa recebeu mais de três milhões de visitantes.

Grupos de portugueses em Mineola preparam fusão

O Mineola Portuguese Center, a Portuguese Heritage So-ciety e o Alheirense Cultural Center, três grupos culturais da comunidade portuguesa

de Mineola, nos arredores de Nova Iorque, estão a considerar unir-se. O principal ob-jetivo desta provável fusão passa por atrair os jovens da comunidade, uma vez que os lusodescendentes nem sempre demons-tram interesse pelas origens familiares, e esta localidade não tem assistido à chega-da de muitos novos jovens portugueses.

Outro passa pela possibilidade de passarem a operar a partir de um novo e maior edifício, que inclui ginásio, salão de bailes, biblioteca, salas de aula, espaço para estudos, um museu e um café. Apesar de a junção ainda não estar orçamentada, instituições privadas e publicas já se comprometeram com doações financeiras e de peças para o museu. Os três clubes vão organizar um debate público a 26 de fevereiro, para que os membros possam dar a sua opinião e fazer sugestões.

António Albuquerque Moniz assumiu funções

como Cônsul-Geral de Portugal em Paris no final de novembro. Tal como José Luís

Carneiro, aproveitou a tradicional mensagem

de boas festas para dirigir

Novo Cônsul-Geral em Paris define prioridades

Portugal apoia recuperação do Museu da Língua Portuguesa

Desfile do Dia de Portugal

a primeira mensagem aos portugueses emigrados, neste caso em particular aos radicados na região da capital francesa. O diplomata apontou algumas das prio-ridades da sua nova função, nomeada-mente “reforçar e melhorar a eficiência dos serviços consulares”, “prestar parti-cular atenção à qualidade do ensino da nossa língua” e “participar nas ativida-des sociais, culturais e económicas que promovam o desenvolvimento, o pro-gresso e a visibilidade dos portugueses nesta região”.

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COMUNIDADES

Patrícia Marcelino é a fundadora do PM Excel Group, empresa de con-sultadoria que opera junto de pessoas que pretendam emigrar para o Reino Unido. A antiga funcioná-

ria do Consulado Geral de Portugal em Londres, que também já chegou a dar aulas gratuitas de Inglês a portugueses, explicou à Revista PORT.COM o conjun-to de serviços e de ferramentas que tem prestado aos seus compatriotas.

O que levou ao início do projeto “Ó Mãe, Vou Emigrar”?

Tudo começou no Natal de 2014, quando fui voluntária numa organiza-ção britânica que apoia os “sem abrigo”. Tínhamos que usar uns crachás cuja cor indicava a nossa função e que línguas falamos para além do inglês, para poder-mos ajudar quem fala o nosso idioma. Rapidamente me vieram dizer que havia portugueses a quem eu eventualmente teria que dar apoio, o que para mim foi um choque. Fui para ali para ajudar,

mas nem me passou pela cabeça que naquelas circunstâncias pudessem estar pessoas “nossas”. Encontrei cinco por-tugueses, um em particular dificuldade, que tive que ajudar mesmo após essa experiência, porque nem documentos tinha, uma vez que tinha sido assal-tado enquanto dormia nas ruas. Sem documentos obviamente nada avançava na sua vida. Foi o confronto com esta realidade que eu não esperei nunca en-

contrar que me fez criar o projeto. Desde então felizmente já conseguimos ajudar muita gente.

A realização de workshops e a publi-cação de livros têm sido as principais áreas de atuação deste projeto. Com que objetivos?

O que nós tentamos fazer é fornecer ferramentas e dar dicas que conside-

“NÃO PINTAMOS O CENÁRIO COR DE ROSA”

Realização de workshops e publicação de livros que preparam quem tenciona emigrar para o Reino Unido. Apoio aos novos emigrantes assim que chegam à nova realidade. Estas três atividades marcaram o primeiro ano do projeto “Ó Mãe, Vou Emigrar”, que

trabalha agora na adaptação a mais formatos e no alargamento a novos públicos.

ENTREVISTA A PATRÍCIA MARCELINO, AUTORA DO PROJETO “Ó MÃE, VOU EMIGRAR”

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ramos essenciais para que as pessoas tomem as decisões mais ponderadas e certeiras com vista ao alcançar do sucesso aqui no Reino Unido. Mas antes de mais gostava de deixar claro que o que fazemos não é incentivar à emigração para o Reino Unido. Essa emigração já se verifica há muitos anos, mas nos últimos tem-se acentuado.

Qual é o perfil das pessoas que par-ticipam nos workshops sobre o que fazer antes de mudar de país?

Tentar caracterizar os nossos formandos é difícil, porque há um pouco de tudo. Procuram-nos imensas pessoas com baixa escolaridade e que desempenham profissões com muita procura cá no Reino Unido, como fun-cionários de estabelecimentos de res-tauração ou operários da construção civil. Nestes campos abundam maiori-tariamente homens entre os 20 e os 45 anos, que em Portugal estão desempre-gados ou com contratos precários. Mas também há muitas senhoras que estão dispostas a trabalhar em qualquer ramo, pois normalmente procuram acompanhar a família na deslocação e “sujeitam-se” ao que conseguirem. Es-sas pessoas depois costumam voltar a contactar-nos para solicitar outro tipo de apoio, como arranjar casa, colocar as crianças na escola, etc. Também temos notado um aumento da chegada aqui a Londres de um novo grupo de pessoas, a quem eu chamo “Os pais”, pessoas que decidem vir para ficar mais perto dos filhos que emigraram e decidiram ficar por cá.

O Reino Unido tem sido o principal destino recente de jovens portugue-ses com formação superior. Também procuram estes workshops?

Sim. Esses jovens vão aos workshops sobretudo para confirmar se já possuem toda a informação necessária para uma mudança de sucesso. Essas pessoas, normalmente com idades compreendi-das entre os 23 e os 35 anos, são aquelas de que mais rapidamente deixamos de ouvir falar assim que se instalam no Reino Unido. As pessoas com formação superior conseguem mais facilmente empregos de qualidade. Mesmo que não seja logo à primeira, rapidamente chegam a boas posições, desde que o seu inglês seja “desembaraçado” e tenham na ponta da língua os termos técnicos da sua área específica. Curiosamente, tam-

bém temos tido um acentuado aumento de procura por parte de profissionais bem-sucedidos, que ponderam uma experiencia internacional no Reino Uni-do para “abrilhantar” ainda mais o seu currículo, e para tal solicitam o nosso apoio e orientação.

Quais são os principais conselhos que costumam dar aos portugueses que estão na iminência de partir para o Reino Unido?

Tentamos informar as pessoas para que adiem o máximo possível a sua deci-são e para que comecem a fazer algumas coisas a partir de Portugal, quando ainda estão no conforto do lar, como por exemplo traduzir o currículo e adaptá--lo à moda do Reino Unido, porque aqui não se usa o CV Europass. Os que me procuram mais antes de partirem são os licenciados, mas os que me preocupam mais são as pessoas com menos habi-litações, que na maioria das vezes ou não sabem ou têm grandes limitações em falar inglês. Em contraste, aqui no Reino Unido, essas pessoas com menos formação são as que mais me contactam para pedir apoio quando chegam.

As Terras de Sua Majestade são terras de oportunidades de emprego para os portugueses?

Como eu menciono numa das três partes do guia “Ó Mãe, Vou Emigrar”, aqui as oportunidades de trabalho exis-tem, mas são-nos oferecidas na mesma proporção da nossa capacidade para falar inglês. Ou seja, por muita formação que tenhamos, se o nosso inglês não é suficiente para desenvolvermos a nossa profissão com destreza e assertividade, esta formação de nada nos vai valer. Por isso, o conselho que dou sempre é

“TENTAMOS FORNECER FERRAMENTAS E DAR DICAS QUE CONSIDERAMOS ESSENCIAIS PARA QUE AS PESSOAS TOMEM AS DECISÕES MAIS PONDERADAS E CERTEIRAS COM VISTA AO ALCANÇAR DO SUCESSO AQUI NO REINO UNIDO”

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES12

COMUNIDADES

treinar a língua o máximo que possam antes de partir, tentando desenvolver e desenferrujar, porque a pronúncia não é o mais importante numa terra em que quase todos somos “estrangeiros”.

É mais fácil encontrar emprego em Londres ou fora da capital?

Em 2014 vieram para o Reino Unido cerca de 31 000 portugueses, com cerca de metade a procurarem Londres para começar uma nova vida. Há muita ofer-ta, mais do que numa cidade piscatória do sul de Inglaterra, por exemplo, mas também depende do que se procura. Os enfermeiros e os professores terão colocação muito mais facilmente fora de Londres, pois é onde escasseia mão-de-obra qualificada nessas duas profissões. Quem já frequentou uma das nossas sessões sabe bem que “não pintamos o cenário cor de rosa”, pois tal como existem mais oportunidades, tam-bém existe mais procura. E na mesma situação que os portugueses à procura de trabalho, estão muitas mais pessoas de muitas mais nacionalidades. O que se pretende com os nossos workshops é que as pessoas tenham consciência que pode não ser fácil ao princípio e que se começarem a preparar-se antes de saí-rem de Portugal, as hipóteses de sucesso são as mesmas ou ainda mais elevadas.

Cursos online e mais workshops na calha

O que pode ser encontrado nos guias que ajudam as pessoas que querem emigrar ou que o tenham feito recen-temente?

A coleção tem três volumes. Começou por ser disponibilizada no formato de livros online, que neste momento já

podem ser adquiridos em versão papel, por exemplo através do nosso website. Não se pretende que as pessoas fiquem preparadas após lerem os livros ou fre-quentarem os nossos workshops, mas sim que tenham noção do que devem saber e fazer antes de partir e quando cá chegam, bem como todos os passos para um processo de recrutamento de sucesso no Reino Unido. Estas são as grandes temáticas abordadas nestes três livros que constituem a coleção “Ó Mãe, Vou Emigrar”.

Depois dos workshops e dos guias, o que é que se segue? Existe algo que ainda não tenha conseguido alcançar nesta área?

Sim há. Já estão a ser preparadas as traduções para inglês destes nossos guias e a criação de um curso online, em português e em inglês, com os mesmos conteúdos dos workshops. Já não são só os portugueses que nos procuram, temos tido imensos con-tactos sobretudo a partir do Brasil e de Angola, dois países que também estão a ver o fluxo de emigrantes para o Reino Unido a aumentar todos os anos. Daí os guias terem sido primeiro criados em versão online e dos cursos online esta-rem já a ser gravados. Também estamos a trabalhar em grande escala com empresas portuguesas que pretendem entrar ou testar o mercado britânico, pelo que teremos novidades para muito em breve a este respeito. Estamos ainda a colaborar com instituições britânicas que nos contactaram para os apoiar-mos na seleção e recrutamento de pro-fissionais de saúde, para já enfermeiros e Community Care Workers.

Os workshops continuam neste novo ano de 2016?

Sim. Não só continuam como temos ambição de chegar a mais pontos do país, depois de já termos realizado em Lisboa, Porto, Viseu e Braga. Mas ainda não conseguimos chegar ao Algarve, Alentejo, Açores e Madeira. Estamos a tratar de arranjar apoios para que isso se torne realidade muito rapidamente. Procuramos parceiros e patrocinadores que permitam conti-nuarmos estas ações, para que a médio prazo consigamos que estas sejam gratuitas.

“JÁ NÃO SÃO SÓ OS PORTUGUESES QUE NOS PROCURAM, TEMOS TIDO IMENSOS CONTACTOS SOBRETUDO A PARTIR DO BRASIL E DE ANGOLA, DOIS PAÍSES QUE TAMBÉM ESTÃO A VER O FLUXO DE EMIGRANTES PARA O REINO UNIDO A AUMENTAR TODOS OS ANOS”

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A Revista PORT.COM nasceu para fomentar a identidade nacional entre os portugueses espalhados pelo mundo. Porque há um imenso Portugal, desconhecido, que saiu das fronteiras da pátria e se espalhou pelo globo.

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES14

OLÍTICAP

A Revista PORT.COM visitou a Comissão Nacional de Eleições (CNE) com o objetivo de averiguar o que pode ser feito para contra-

riar níveis abstencionistas tão elevados. Os motivos são vários, quase todos difíceis de contornar. “Há constrangi-mentos pelos quais ninguém tem culpa”, aponta João Almeida, porta-voz da CNE. Começa no próprio desinteresse pela política do país que ficou para trás, mas há muitos mais.

Exemplo premente é dado pelos cidadãos que confundem a inscrição nos consulados com o recenseamento eleitoral. “Depois mesmo que tenham vontade de votar, quando o vão fazer, não podem”, especifica.

Também há os que mudam de morada dentro do país de emigração e não a atualizam no recenseamento, o que leva a que nas eleições em que os boletins de votos são distribuídos por correio, como é o caso das Legislativas, estes não cheguem aos eleitores.

Existem ainda os que simplesmente nunca chegam a atualizar os seus dados, por mais anos que passem fora do país. “Estima-se que há uns 15% de portugue-

ses emigrados que continuam recensea-dos em Portugal”, indica João Almeida.

Muitos constrangimentos que se opõem a um ato que se pretende simples e acessível, tanto no momento do recen-seamento como no acesso às votações. Posto isto, o porta-voz da CNE discorda dos que apontam os métodos de votação como justificação para o elevado absten-cionismo, “até porque temos dois méto-dos de votação [presencial e por correio] e ambos resultam em muita abstenção. Se criássemos outro método provavel-mente também teria muita abstenção”.

Voto eletrónico é solução?

O voto eletrónico é uma hipótese que analistas e cidadãos no geral costumam referir como possível solução para a ele-vada abstenção. Há países onde já está implementado, com os eleitores a terem que se deslocar a um organismo onde exista um sistema que o permita.

Alguns opositores temem que o voto eletrónico possibilite casos de fraude, como a venda de votos. Outros indicam que este sistema compromete o requisi-to da liberdade de consciência, que ga-

Os círculos eleitorais no estrangeiro continuam a deter as maiores taxas de abstenção nas eleições portuguesas. Nas Legislativas do ano passado votaram apenas 11,68% dos cidadãos nacionais recenseados

no exterior, ou seja, pouco mais de 28 000 votantes entre os mais de 242 000 inscritos. Não há nenhum indicador que permita antecipar um cenário distinto nas eleições presidenciais.

ABSTENÇÃO NO ESTRANGEIRO SEM FIM À VISTA

A Embaixada de Portugal em Oslo é um dos espaços onde é possível votar nas eleições presidenciais

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rante que no momento de voto o eleitor não está sujeito a nenhuma pressão.

A CNE não apoia essas teorias: “Se uma pessoa pretender vender o voto a um amigo ou ao vizinho, tanto vende uma senha para votar pela internet como o boletim de voto por correio”, compara João Almeida.

Também há quem tema possíveis fraudes proporcionadas por hackers, que possam intrometer-se na trans-missão dos votos. O representante da CNE também não as vê como um problema incontornável, uma vez que “a confirmação dos votos pode viajar por CD-ROM assim que a votação termine”.

O voto eletrónico “teria a vantagem de encurtar o período entre as votações e o apuramento dos votos nos círculos eleitorais do estrangeiro”, processo que atrasa os resultados definitivos das elei-ções portuguesas. Porém, João Almeida não acredita que este método contribua para diminuir a abstenção, “uma vez que às pessoas é indiferente votar com cane-

ta ou eletronicamente no consulado”. A distância continuaria a afastar do voto os que moram mais longe destes postos.

Existe ainda a possibilidade do voto por telemóvel, “o sonho de muitas pessoas”. João Almeida conta que “há uns anos no Reino Unido, numas elei-ções autárquicas, instituiu-se o voto eletrónico por internet e em mobili-dade. A taxa de abstenção decresceu apenas 5%”.

A percentagem não é contunden-te, mas já seria um avanço. Porém, também aqui há um revés: “Se tal acontecesse, as pessoas dentro do país iriam questionar-se porque é que os portugueses no estrangeiro pode-riam fazê-lo e no país não”.

Os elevados valores de abstenção dos portugueses no estrangeiro continuam a ser um problema mediatizado no final de cada período eleitoral. Dada a diver-sidade de motivos que os justificam, a redução destes valores dificilmente passará por uma só solução.

Depois do voto por correio nas Le-gislativas de outubro, o sufrágio para a eleição do Presidente da República tem que ser feito presencialmente no consulado ou na embaixada em que o cidadão se encontre recenseado.

A Assembleia da República aprovou, a 29 de outubro de 2010, alterações à lei eleitoral para a Presidência da República que acabaram com as limitações ao universo eleitoral do estrangeiro, criando um círculo único que engloba os votos dos portugueses em todo o mundo.

Assim, nos dias 23 e 24 de janeiro, e de acordo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro podem exercer o seu direito de voto para as eleições presidenciais, desde que se desloquem ao consulado ou embaixada mais próxima para o fazer presencialmente.

Para isso necessitam de estar inscritos no caderno eleitoral existente no consulado de carreira ou secção consular a que pertence a localidade onde reside. A inscrição é presencial, sendo necessária a apresentação do cartão de cidadão ou bilhete de identidade, e a certificação de residência, que pode ser feita com esse documento ou com o título de residência emitido pela entidade competente do país onde se encontra.

No ato de inscrição a embaixada ou consulado imprime uma ficha de eleitor que é assinada pelo cidadão e que substitui, para todos os efeitos, o cartão de eleitor. A inscrição, alteração ou eliminação do recenseamento eleitoral pode ser realizada em qualquer altura, ficando o processo suspenso nos 60 dias anteriores à eleição.

Caso haja uma mudança de residência, o cidadão deve requerer a transferência junto da entidade recenseadora da nova área de residência, sendo eliminada a inscrição anterior.

Como votar nas Presidenciais?

O Brasil é um dos países em que a votação eletrónica é praticada nalguns sufrágios

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POLÍTICA

Parece haver poucas dúvidas sobre quem será o Presidente da República escolhido pelos portugueses nas eleições de 24 de janei-ro. As várias sondagens

realizadas durante o mês de dezem-bro dão Marcelo Rebelo de Sousa como vencedor à primeira volta, a larga distância dos adversários.

A generalidade dos inquéritos atribui ao antigo comentador da T VI resultados acima dos 60%, ao nível do que o general Ramalho Eanes teve em 1976, quando se candidatou pela primeira vez a Belém. Só Mário Soa-res suplantou estes números, quando se recandidatou a um segundo mandato, em 1991, e obteve 70,35% dos votos.

Marcelo Rebelo de Sousa é o único candidato com um percurso polí-tico de centro-direita, embora as mesmas sondagens também o deem como o favorito entre os eleitores de esquerda. Sem esquecer que Marcelo passou pela última Festa do Avante, onde foi cumprimentado por deze-nas e dezenas de pessoas.

A esquerda divide-se em cinco candidatos, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém, Edgar Silva, Marisa Matias e Henrique Neto. As sondagens atri-buem cerca de 15% às candidaturas dos dois primeiros, à volta de 3% para os candidatos apoiados pela CDU e pelo Bloco de Esquerda, e apenas 1% para Henrique Neto.

A Revista PORT.COM apresenta breves perfis de sete candidatos ao Palácio de Belém.

Marcelo Rebelo de SousaAgora sim, candidato com notoriedade

Marcelo Rebelo de Sousa nasceu a 12 de dezembro de 1948 (tem 67 anos), filho de um médico e de uma assisten-te social, em Lisboa. Atualmente vive

em Cascais. Mas é em Celorico de Basto que é visto como um “filho da terra”, ou antes, “neto da terra”, dado que deve essas raízes à avó materna. Foi na vila do distrito de Braga que apresentou a candidatura à Presidên-cia da República (numa biblioteca com o seu nome), é lá que votará a 24 de janeiro.

Ao contrário de muitos outros, não foi na faculdade (estudou na Facul-dade de Direito de Lisboa) que teve o primeiro contacto com a política. Marcelo Rebelo de Sousa nasceu e cresceu no meio dela. Conviveu desde cedo com a família do então primeiro-ministro do Estado Novo, Marcello Caetano, devido ao envolvimento político do pai, Baltazar Rebelo de Sousa, que chegou a ser ministro das Corporações e do Ultramar.

O seu percurso no PSD começou aos 26 anos, em 1974, ano em que se tor-nou militante do partido que lideraria entre 1996 e 1999. Antes, em 1989, o agora candidato presidencial disputou as suas primeiras eleições, como nú-mero um da lista do PSD e do CDS-PP à Câmara de Lisboa. Perdeu. Dizia-se que tinha falta de notoriedade…

MARCELO E OS OUTROS CANDIDATOS A BELÉM

Não há sondagem que não indique o antigo comentador televisivo como sucessor de Cavaco Silva. Ligado historicamente à direita política, Rebelo de Sousa até é apontado como

mais popular entre os eleitores de esquerda do que Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa.

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Mais de duas décadas e meia depois, notoriedade é algo que não lhe falta, depois de ter sido comentador político durante 15 anos, divididos em duas etapas na TVI (entre 2000 e 2004, 2010 e 2015) e outra na RTP (de 2005 a 2010). Os seus comentários em horário nobre, ao domingo, valeram à estação de Queluz tantas e tantas lideranças da tabela de audiências.

Agora, chegou a hora do professor que avaliava os políticos na televisão, ser avaliado nas urnas pelos portugue-ses, para tentar chegar ao cargo que muitos dizem ambicionar há vários anos.

Maria de BelémUma carreira com muita Saúde

A candidata a primeira mulher Presi-dente da República tem idade próxima

à de Marcelo (66 anos, feitos a 28 de ju-lho), mas as semelhanças acabam aqui. Apesar de não ter sido médica, mas sim jurista (licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra), foi na área da Saúde que se destacou no mundo da política, como ministra no governo do seu amigo António Guterres, em 1995. Não queria assumir a pasta, mas a mulher do ex-primeiro-ministro, que era médica, convenceu-a.

Antes disso, a portuense fora admi-nistradora do IPO (Instituto Portu-guês de Oncologia) entre 1992 e 1995. Depois da passagem pelo governo foi presidente da Assembleia Geral da Or-ganização Mundial de Saúde, em 1999.

Militante do PS desde 1976, tor-nou-se, em 2012, a primeira mulher a

Os inquéritos feitos desde dezembro preveem que Marcelo, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa concentrem 90% dos votos

APESAR DO PERCURSO POLÍTICO LIGADO AO CENTRO-DIREITA, AS SONDAGENS TAMBÉM DÃO MARCELO REBELO DE SOUSA COMO O PREFERIDO DOS ELEITORES DA ESQUERDA

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POLÍTICA

presidir ao partido, após convite do então secretário-geral António José Seguro. No mesmo ano publicou o livro “Mulheres Livres”, com cerca de uma dezena de biografias de escrito-ras, políticas, filósofas e artistas.

Desde 2005 que detém a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, ao ser condecora-da pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio. Concorre agora para suceder ao antigo secretário-geral so-cialista como Presidente da República com filiação no PS.

Sampaio da NóvoaAs viagens do senhor Reitor

Nasceu em Valença do Minho há 61 anos, a 12 de dezembro de 1954, cresceu em Oeiras, partiu para Coimbra, voltou a Lisboa, partiu para a Suíça, voltou a Lisboa, partiu para o Brasil, é candidato a Belém. Este trajeto resume as principais paragens da vida de um candidato sem um percurso no mundo da política.

Cresceu com duas paixões, o futebol e o teatro. O talento para a primeira reservou-lhe um convite dos escalões de formação da Académica, chegando à Universidade de Coimbra em 1971, com 16 anos. Apesar do convite para passar à equipa principal da “Briosa”, acabou por trocar os relvados pela Escola de Teatro do Conservatório Nacional, regressando assim a Lisboa.

Com 25 anos, parte com destino à Europa, concretamente à Suíça, onde se forma em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra, e é convidado para prosseguir estudos de doutoramento, ao mesmo tempo que começa uma carreira como professor. É no desempenho desta profissão que volta para a capital portuguesa, em 1985, para a Universidade de Lisboa.

Três décadas depois é eleito reitor, em 2006, e lidera o processo de fusão da Universidade de Lisboa com a Uni-versidade Técnica de Lisboa. Antes de se candidatar à Presidência da Repú-blica esteve no Brasil, em 2014, numa missão internacional da UNESCO junto do governo brasileiro, e como professor visitante na Universidade de Brasília. Chegar ao próximo destino traçado está na mão dos portugueses.

Edgar Silva

Membro do Comité Central do Par-tido Comunista Português e deputado na Assembleia Legislativa Regional da Madeira desde 1996, tem 53 anos e foi padre católico.

Henrique NetoEx-deputado do PS, tem 78 anos

e é empresário, pertencente a uma família ligada à indústria vidreira da Marinha Grande.

Marisa MatiasEurodeputada, eleita pelo Bloco de

Esquerda, é doutorada em Sociologia pela Faculdade de Economia da Uni-versidade de Coimbra.

Paulo MoraisAntigo vice-presidente da câmara

do Porto, durante o primeiro manda-to de Rui Rio (PSD), tem 51 anos e é professor universitário.

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D E S TAQ U E

O selo de Património Mundial voltou a ser atribuído a um elemento da cultura portuguesa. Depois do cante alentejano em 2014, foi a vez da arte chocalheira no final de 2015.

Mas o legado português laureado não se esgota no retângulo à beira-mar plantado. Meio milénio após a época dos Descobrimentos, há muito de Portugal por todo o mundo,

para além da herança imaterial. No total são 11 os pontos de origem portuguesa, em três diferentes continentes, também reconhecidos pela UNESCO.

O INESTIMÁVEL LEGADO PORTUGUÊS ALÉM-FRONTEIRAS

D

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

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DESTAQUE

Luís de Camões e Fernando Pessoa ficaram imortalizados por obras literárias como “Os Lusíadas” e “Mensagem”, onde narravam as proezas do povo português por todo o mundo. Não faltou por onde se inspira-

rem, dada a vasta presença nacional além-fronteiras, num dos maiores impérios que o mundo conheceu. Atualmente 11 desses pontos internacionais fundados pelos por-tugueses são reconhecidos pela UNESCO como Património Mundial.

Os navegadores da época dos Descobri-mentos levaram Portugal a geografias até aí desconhecidas pela generalidade dos povos europeus. Esses 11 pontos distri-buem-se pelos três continentes para onde se dirigiam as caravelas portuguesas.

África é o continente de Mazagão (Marrocos), Ribeira Grande (Cabo Verde) e a Ilha de Moçambique. Na América do Sul encontram-se Olinda, São Salvador da Baía, Ouro Preto, Goiás e Diamantina, tudo localidades brasileiras cujos centros históricos também são reconhecidos pela UNESCO. No mesmo continente, e no mesmo país, fica ainda o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, também Património Mundial. Ásia conta com as igrejas e conventos de Goa, na Índia, e com o centro histórico de Macau.

Apesar de alguns destes locais ficarem separados por centenas e até milhares de quilómetros, partilham entre si muitos pontos em comum. O porto de Mazagão, por exemplo, serviu de modelo ao de São Salvador da Baía. Na maior parte destes locais foram construídos edifícios inspi-rados na arquitetura de algumas regiões portuguesas, tanto casas como igrejas, conventos e santuários.

A Índia passava pela “Ribeira” e pela “Ilha”

Mazagão, Ribeira Grande e a Ilha de Moçambique (Património Mundial desde 2004, 2009 e 1991, respetivamente) foram pontos estratégicos para proteger e pres-tar assistência às embarcações que faziam a rota comercial de Portugal para a Índia. A sua importância geográfica, assim como os bens que guardavam, tornaram-nos alvos frequentes de investidas adversárias, de diferentes povos, com diferentes efeitos.

Mazagão mostrou-se intransponível aos ataques mouros ao longo de 228 anos de presença portuguesa, devido à inova-ção promovida pela sua fortaleza construí-

da em 1541 (ler págs. 26, 27 e 28). O sistema defensivo na Ribeira Grande (encabeçado pela Fortaleza de São Filipe) não era tão eficaz, sobretudo face a quem desembar-casse noutro ponto da ilha e investisse por terra, como se verificou num destruidor ataque francês em 1712.

Ribeira Grande nasceu em 1462, tornan-do-se na primeira localidade fundada por europeus a sul do deserto do Saara, dois anos após a chegada dos navegadores portugueses a Santiago, a primeira das ilhas do arquipélago de Cabo Verde a ser descoberta. Para além do já referido valor estratégico do seu porto marítimo, tam-bém foi um precioso laboratório onde se testava a adaptação de espécies agrícolas

Convento de São Francisco, em Olinda, Brasil

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e animais, europeias e africanas, antes de serem introduzidas no Brasil.

A presença portuguesa na Ribeira Gran-de tornou-se menos notória no século XVIII, não só por ser vulnerável a ataques, como também por ser um território propí-cio à propagação de febres. Ribeira Grande acabaria por perder o estatuto de capital de Cabo Verde em 1769, a favor da cidade da Praia.

A Ilha de Moçambique começou a ser povoada por portugueses no final do século XV. A importância estratégica do território valeu várias tentativas de ocu-pação por parte dos holandeses, como os cercos de 1607 e 1608. Outro motivo para a presença dos portugueses nesta ilha no Índico, que duraria mais de 300 anos, é o comércio de exportação de escravos para o Brasil, que teve início no século XVII.

A independência do Brasil em 1822 e a abolição da escravatura em 1837 contribuí-

ram para o decréscimo da importância da Ilha de Moçambique no século XIX. Por essa altura, há muitos que os portugueses haviam construído edificações que ainda hoje perduram, como a Fortaleza de São Sebastião, as igrejas de Santo António, de Nossa Senhora da Saúde e da Misericórdia, e até um hospital.

Olinda e Salvador “nasceram” da cana-de-açúcar

Das cinco localidades brasileiras de origem portuguesa cujos centros históri-cos atualmente são Património Mundial, as duas mais antigas foram fundadas no século XVI. Fala-se de Olinda e São Salvador da Baía, duas cidades no litoral criadas em territórios com abundância de cana-de-açúcar.

Olinda foi fundada em 1537 com o nome Nova Lusitana, sendo a segunda cidade instituída pelos portugueses no Brasil, apenas após São Vicente, de 1532. Não tar-

dou a tornar-se no mais importante centro de comércio do litoral norte do território que hoje pertence ao Brasil.

A riqueza permitiu aos portugueses construírem vários edifícios essen-ciais para o reconhecimento enquanto Património Mundial em 1982, apesar de os holandeses terem invadido, saqueado e incendiado a localidade apenas um século após a sua fundação, mudando a capital do Estado para a vizinha Recife.

A Sé, o Convento de São Francisco e as igrejas do Carmo e de Nossa Senhora da Misericórdia são alguns dos monumen-tos entretanto reabilitados. Atualmente continuam a subsistir símbolos decora-tivos da época portuguesa, como painéis de azulejos e estátuas de padroeiros de regiões de Portugal.

São Salvador da Baía sucedeu a Olinda na cronologia das cidades fundadas pelos portugueses no Brasil, sendo assim a

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Belo

Horizonte, Brasil

Chafariz de Cauda, em Goiás, Brasil

Cidade Velha, Cabo Verde

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DESTAQUE

terceira, instituída em 1549 pelo primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa. Desde logo tornou-se na primeira capital do Brasil, título que manteve até 1763, ano em que o poder foi transferido para a cidade de São Sebastião, atual Rio de Janeiro. A importância das plantações de cana-de-açúcar foi o fator decisivo para o título de capital.

Património Mundial desde 1985, o centro histórico de Salvador preserva a malha urbana traçada no século XVI, sendo considerado o maior conjunto arquitetónico do período colonial de toda a América Latina. Um dos monumen-tos mais visitados é o Convento de São Francisco, que apresenta o maior conjunto de azulejos portugueses do mundo, com cerca de 55 000 peças.

Património em terras de ouro e diamantes

Ouro Preto, Goiás e Diamantina nasce-ram no interior brasileiro entre os séculos XVII e XVIII, em resultado da presença de ouro e até de diamantes nos respetivos territórios. Vivia-se uma altura em que a procura dos materiais geológicos já se sobrepunha à exploração agrícola de cana-de-açúcar ou de pau-brasil.

Atualmente a cidade de Ouro Preto localiza-se no Estado de Minas Gerais, a sul da capital Belo Horizonte. O seu centro histórico foi o primeiro no Brasil a receber a denominação de Património Mundial, o que aconteceu em 1980.

O nome Ouro Preto surgiu do mesmo episódio que, segundo relatos do século XVII, deu origem à cidade. Quando um mulato chamado Duarte Nunes retirou da água a gamela que mergulhara num rio local, observou algumas pedras escuras

que estranhamente brilhavam. Tratava-se de ouro coberto por uma fina camada de óxido de ferro.

A construção da cidade foi inspirada na arquitetura tradicional de localidades portugueses no Minho e no Alto Douro. Muitos dos principais edifícios da época continuam a fazer parte do centro históri-co local, como as igrejas de Nossa Senhora do Rosário, de Nossa Senhora do Pilar e de São Francisco de Assis, a Casa dos Contos e o antigo Palácio dos Governadores.

Na vizinhança de Ouro Preto fica o úni-co monumento criado pelos portugueses no Brasil que por si só foi distinguido pela UNESCO como Património Mundial, em 1985. Trata-se do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. A edificação deste espaço foi inspirada no Santuário do Bom Jesus de Braga e na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos.

Ainda no Estado de Minas Gerais também fica o centro histórico de Dia-

mantina, Património Mundial desde 1999. Tal como o nome ajuda a adivinhar, esta localidade foi fundada numa área onde foram encontradas jazidas de diamantes, já no século XVIII.

A exploração exaustiva fez com que durasse pouco mais do que 100 anos, ainda assim tempo suficiente para que a presença portuguesa seja bem notó-ria na atualidade, com as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo a subsistirem como exemplos do legado português.

A existência de jazidas de ouro também fez com que os portugueses se instalassem num território que atualmente pertence ao Estado de Goiás, na região central do Brasil.

O centro histórico da cidade de Goiás é Património Mundial desde 2001, com a contribuição de monumentos deixados pelos portugueses, como a Igreja da Boa Morte, o Chafariz de Cauda e o antigo Palácio do Governador.

Mapa do património de origem portuguesaNos hemisférios norte e sul, a oriente e a ocidente, em três continentes e seis países.

Localização dos 11 pontos reconhecidos oficialmente pela UNESCO:

Centro Histórico de Macau (China)

Igrejas e Conventos de Goa (Índia)

Ilha de Moçambique

Cidade Velha(Cabo Verde)

Cidade Portuguesa de Mazagão - El Jadida (Marrocos)

Centro Históricode Olinda (Brasil)

Centro Históricode S. Salvador (Brasil)

Centro Históricode Diamantina (Brasil)

Centro Históricode Goiás (Brasil)

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Brasil)

Centro Históricode Ouro Preto (Brasil)

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Em Goa e Macau, ainda presente a oriente

Na Ásia, as igrejas e conventos de Goa são considerados Património Mundial desde 1986, com o centro histórico de Macau a ter sido reconhecido pela UNESCO em 2005. O legado português de ambas as localizações data sobretudo da segunda metade do século XVI.

Vasco da Gama é hoje a localidade mais populosa do Estado de Goa, mas é na cidade histórica Velha Goa que se po-dem encontrar os exemplos do encontro entre as culturas europeias e asiáticas, tão procurados pelos turistas. A Sé de Goa, por exemplo, segue a tipologia arquitetónica empregue em Portugal na Sé de Portalegre.

A Capela do Monte é outro monumen-to que se mantém mais fiel às origens, ao contrário de outros edifícios portugue-ses, que com o passar dos séculos sofre-ram adaptações tipicamente asiáticas.

Apesar de Macau ser agora conhecida mundialmente como a capital asiática do jogo, edifícios construídos pelos portu-gueses, sobretudo os que foram construí-dos com objetivos militares e religiosos, continuam presentes no centro histórico desta espécie de Las Vegas oriental.

Os casinos e os hotéis luxuosos não tomaram de assalto fortalezas criadas outrora para controlar as investidas de salteadores e piratas, que tanto perturba-vam os oficiais chineses antes de Portugal se ter tornado na primeira nação ocidental a estabelecer colónias e postos comerciais no Extremo Oriente.

Os turistas podem assim visitar estru-turas como as fortalezas da Taipa e de São Paulo do Monte, assim como igrejas como as de São Domingos, de Santo Agostinho, de São Francisco Xavier ou de São Lázaro, esta última que funcionou como hospital para leprosos. Do Colégio de São Paulo, e anexa Igreja da Madre de Deus, é que resta apenas a fachada, as agora emblemáticas

Ruínas de São Paulo, um dos maiores sím-bolos de Macau e da presença portuguesa por todo o mundo.

O próprio Luís de Camões foi um dos portugueses que passaram por Macau, onde terá permanecido entre 1557 e 1559, na designada “Gruta de Camões”, onde se terá inspirado para escrever ex-certos de “Os Lusíadas”. Meio milénio depois, o mundo continua a reconhecer o valor do inestimável legado portu-guês além-fronteiras.

Sé Catedral de Velha Goa, Índia

Catedral de São Paulo, Macau

Forte de São Sebastião, Ilha de Moçambique

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DESTAQUE

A fortaleza de Mazagão, na cidade marroqui-na de El-Jadida, e a cidadela que guarda dentro das suas muralhas, ainda hoje conhecida como “Cité

Portugaise”, é considerada património mundial pela UNESCO desde 2004. Edificada pelos portugueses no ano 1541, por decisão do rei D. João III, chegou a ser considerada o expoente máximo da arquitetura militar da época, a primeira fortaleza da era moderna. Nunca foi transposta por invasores, apesar de sucessivas tentativas ao longo de mais de dois séculos de permanência portuguesa no local.

A fortaleza foi construída em apenas dois meses, devido aos esforços de perto de 1 500 homens provenientes de Portugal, que trabalharam dia e noite sem parar, à luz das tochas. O modelo do projeto, com três lados da fortaleza cercados pelo mar (de forma a prevenir possíveis ataques surpresa), foi definido pelos mestres-arquitetos eborenses Diogo e Francisco de Arruda, que entre si trabalharam em obras como a Torre de Belém, o Paço da Ribeira de Lisboa, a Casa dos Bicos, o Castelo de Évora Monte e o Palácio da Bacalhoa.

Em Marrocos também já haviam tra-balhado nas fortificações portuguesas de Safim e Azamor, mas a de Mazagão

é que se tornou num modelo a seguir, repercutido em outras fortalezas por-tuguesas edificadas pelo mundo, como as de Diu e de São Salvador da Baía. Isto numa época em que já estava em marcha um plano de mudança na política portu-guesa em relação às praças no norte de África, devido à sua insustentabilidade económica e militar (os meios humanos e materiais exigidos na defesa desta pre-sença portuguesa faziam falta noutras partes do Império), aliada à perda de valor estratégico face ao novo contex-to criado com as descobertas na Ásia, América do Sul e até noutros pontos de África mais a sul.

A edificação de Mazagão surgiu em

Criada para prestar apoio às frotas que atravessavam a costa de Marrocos rumo aos destinos distantes do Império Português, Mazagão manteve-se inviolável mesmo quando já era o último e único bastião

nacional no norte de África, depois dos abandonos de Ceuta e de Tânger. Reabilitada desde 1994 e tornada património mundial em 2004, atualmente é visitada por turistas de todo o mundo.

MAZAGÃOA PRIMEIRA FORTALEZA

DA ERA MODERNA

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contraciclo com o abandono, entre 1541 e 1542, de Safim, Azamor, Arzila, Alcácer-Ceguer e o Castelo de Aguz, decisão tomada após a queda de Santa Cruz do Cabo Gué, atual Agadir, a pri-meira conquista marroquina na guerra santa contra as praças portuguesas. O principal objetivo da nova fortaleza era assegurar uma posição estável na costa atlântica de Marrocos, essencial para o apoio às frotas portuguesas que faziam a rota da costa africana rumo a paragens bem mais distantes e rentáveis.

Ex-libris turístico de El-Jadida

Atualmente a cidade de El-Jadida é visi-tada por turistas das mais variadas pro-veniências, com a fortaleza de Mazagão a constituir o principal atrativo turístico. A restauração do património dentro das muralhas começou a ser priorizado pelas entidades marroquinas em 1994, devido a uma visita do rei Hassan II.

A placa que garante que a fortaleza é património mundial reconhecido pela UNESCO está escrita em árabe, francês e inglês, mas a porta principal ainda é ornamentada por um escudo português. No interior mantém-se o traçado original das ruas, com as placas toponímicas a conservarem denominações como Rua da Carreira, Rua Direita, Rua da Nazaré, Rua do Arco, Rua do Governador, Rua da Mina ou Rua do Celeiro.

A única rua comercial da cidadela vai dar à Porta do Mar, onde os portugueses carregavam e descarregavam mercado-rias trazidas nas caravelas de e para o Oriente. A Igreja de Nossa Senhora da As-sunção, padroeira da localidade durante a presença portuguesa, é um dos edifícios que beneficiaram da referida reabilita-ção. A poucos metros existe agora uma mesquita, criada nos vestígios do antigo Palácio do Governador português. O ex-libris turístico é a cisterna manuelina,

com 460 m2 escavados no interior das muralhas, que lhe conferiam capacidade para 50 000 m3 de água, deixando assim a população preparada para a possibili-dade de um cerco prolongado. Um poço com 3,5 m de diâmetro (que permite a entrada de luz) e as 25 colunas que com-põem o interior da cisterna conferem-lhe um ambiente misterioso, o que fez com que o histórico realizador Orson Welles a visitasse para gravar algumas cenas do filme Otelo, de 1952.

Abandono após 228 anos de resistência

O trabalho de recuperação da forta-leza esconde os estragos que fizeram com que após o abandono português, em 1769, a cidadela no interior ficasse conhecida entre a população marroqui-na como “Al-Mahdouma”, que significa “A arruinada”. Só em 1821 o sultão Sidi Mohammed Ben Ettayeb ordenou a

MAZAGÃO TORNOU-SE NUM MODELO A SEGUIR NOUTRAS FORTALEZAS PORTUGUESAS EDIFICADAS PELO MUNDO, COMO AS DE DIU E DE SÃO SALVADOR DA BAÍA

Cisterna de MazagãoPorta do Mar, Mazagão

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DESTAQUE

recuperação e o repovoamento, com a localidade a adotar a atual designação, El-Jadida, que significa “A nova”.

Tânger foi entregue aos ingleses em 1661 e Ceuta deixou de ser portuguesa em 1665. Mazagão ficou assim perto de um século como o último bastião portu-guês no Magrebe, mas mesmo assim in-transponível aos vários ataques e cercos promovidos pelas tropas marroquinas.

Em janeiro de 1769, o sultão Sidi Mohammed Ben Abdallah pôs cerco a Mazagão com um exército de 120 000

homens, exigindo a rendição ao gover-nador Dinis de Melo e Castro. No mês seguinte chegaram 14 navios portugue-ses com uma mensagem do rei D. José, também com aprovação do Marquês de Pombal, a indicar o abandono da fortale-za, que seria consumado em março.

Para além dos habitantes, com mulheres e crianças em primeiro lugar, embarcaram para Portugal os objetos de maior valor, como imagens sagradas, figuras em bronze e toda a artilharia possível, com o resto a ser destruído ou deitado ao mar, para que os mouros não utilizassem esse legado.

Os mais de 2 000 habitantes de Mazagão ficaram em Portugal até 15 de setembro, data em que embarcaram para o Brasil, onde iriam fundar a Vila Nova de Mazagão, localidade na Amazónia atual-mente conhecida como Mazagão Velho.

Para trás ficaram 228 anos de luta e resistência de uma comunidade por-tuguesa que mesmo isolada se man-teve inviolável, devido à resistência e inovação arquitetónica de um dos mais importantes marcos da história do pla-neamento urbano, a primeira fortaleza da era moderna.

Na história da humanidade existem mui-tos casos de localidades desaparecidas, evacuadas, destruídas e também deslo-calizadas, mas em nenhuma dessas há um caso semelhante ao de Mazagão, o de uma localidade que mudou de con-tinente. Os mais de 2 000 portugueses que, em março de 1769, abandonaram o interior da fortaleza no norte de África, só ficaram em Portugal até setembro do mesmo ano, quando foram obriga-dos a rumar ao Brasil.

Começaram por desembarcar em Belém do Pará, já em 1770, cidade onde ainda hoje há uma populosa comunida-de de lusodescendentes. O destino final ficava umas centenas de quilómetros mais a norte, já na Amazónia, nas mar-gens do rio Mutuacá, onde o rei D. José I fundou uma localidade chamada Vila Nova de Mazagão.

Os relatos da época contam que a adaptação ao novo território foi bastan-te problemática, devido às condições precárias de alojamento, a uma pro-dução agrícola decadente (que gerava escassez de alimentos) e à proliferação de epidemias tropicais.

Atualmente a vila brasileira é conhecida por Mazagão Velho. Nas celebrações do 245.º aniversário da localidade, assina-ladas no ano passado, foram hasteadas as bandeiras do Brasil, do estado do Amapá (onde se situa), do município de Mazagão, de Marrocos e de Portugal. Ainda hoje é conhecida como a locali-dade que atravessou o Atlântico.

Do Magrebe para a Amazónia, a localidade que atravessou o Atlântico

A PLACA QUE APONTA A FORTALEZA COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL ESTÁ ESCRITA EM ÁRABE, FRANCÊS E INGLÊS, MAS A PORTA PRINCIPAL AINDA É ORNAMENTADA POR UM ESCUDO PORTUGUÊS

Planta do interior da fortaleza (à esq.); Placas toponímicas em português e árabe (em cima)

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Cidades, vilas e aldeias desaparecidas, des-truídas, evacuadas, deslocalizadas, houve muitas no transcur-so dos tempos, em diversas partes do

mundo e por razões várias. Mas não há memória, na História da Humani-dade, de um caso semelhante ao de Mazagão.

Com a conquista de Ceuta, em 1415, D. João I sonhou ser senhor de um vasto domínio em Marrocos. Seria para Portugal a continuação da luta contra a moirama, dilatando a Fé e o Império, como prolongamento natural do Reino (o Algarve d Além--Mar). D. Afonso V, D. João II e D. Manuel deram sequência a esse sonho. Depois de Ceuta, seguiram-se Alcácer Ceguer, Arzila, Tânger, Mogador (perdido em 1510), Larache, Mazagão, Azamor, Safim, Santa Cruz do Cabo de Guer (Agadir).

Porém, o sonho viria a tornar-se num pesadelo para a Coroa/Estado, face às avultadas perdas de homens e de dinheiro. E os monarcas portu-gueses precisavam de gente e de meios materiais na Índia e no Brasil.

Face a esta realidade, Portugal foi o primeiro país a colonizar e o primeiro a descolonizar. Assim, na sequência da queda de Santa Cruz do Cabo de Guer, em março de 1541, D. João III decidiu abandonar Safim e Azamor, em outubro desse mesmo ano, man-dou evacuar Alcácer Ceguer (1549) e Arzila (1550).

A partir dos meados do século XVI, Portugal ficará, em Marrocos, apenas com as praças de Ceuta, de Tânger, de Larache e de Mazagão. Ceuta passará para a posse de Espanha, em 1640; Tânger será doada à Inglaterra, em 1662, englobada no dote de ca-samento da princesa D. Catarina de Bragança com Carlos II e pelo apoio inglês na Guerra da Restauração; Larache, após várias conquistas e reconquistas, voltará definitivamente à posse de Marrocos, em 1689.

Ficou-nos apenas Mazagão (al-Ja-dida), no Marrocos Setentrional. A imponência da fortaleza e o sim-bolismo de ser o último bastião português em Marrocos terão sido determinantes na decisão da sua elevação a património da Humani-dade, pela UNESCO, em 24 de junho de 2004.

Em 1769, por ordem do marquês de Pombal, as 425 famílias (2092 pes-soas) da cidadela foram evacuadas em 12 navios para Belém do Tejo, meses depois foram deportadas para Belém do Pará, atravessaram o largo estuário do Amazonas e aí fundaram Vila Nova de Mazagão. Curioso: de Belém a Belém; de Ma-zagão a Mazagão.

MAZAGÃO, A ODISSEIA DE UMA CIDADE EM BOLANDAS

“A IMPONÊNCIA DA FORTALEZA E O SIMBOLISMO DE SER O ÚLTIMO BASTIÃO PORTUGUÊS EM MARROCOS TERÃO SIDO DETERMINANTES NA DECISÃO DA SUA ELEVAÇÃO A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE”

José Azevedo e Silva – Professor jubilado da Universidade de Coimbra, autor do livro “Mazagão – Uma cidade luso-marroquina deportada para a Amazónia”

O P I N I ÃO

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES28

ISTÓRIAH

Janeiro de 1986 foi o mês em que os primeiros eurodeputa-dos portugueses entraram no Parlamento Europeu, o mês em que foi efetivada a entrada de

Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), cujo Tratado de Ade-são havia sido assinado a 12 de junho de 1985. O país tardou a aperceber-se, mas assistia a um dos acontecimentos mais relevantes da sua história política e económica.

Entre 1986 e 2001, ou seja, entre a adesão à CEE e a entrada em circulação do Euro, o PIB cresceu 86,11%, a uma taxa média anual de 3,96%, bem superior aos 3,19% de crescimento entre 1976 (ano da redação da ainda atual Constituição da República Portuguesa, a primeira pós-25 de abril) e 1986. O principal motivo aponta para a entrada massiva de fundos comunitários destinados à moderniza-ção da economia portuguesa, um dos maiores frutos da entrada na CEE.

Os fundos europeus foram aprovei-tados para alavancar muitas empresas e apoiar a produção em vários setores de atividade, para fazer melhoramentos ao nível da educação e da saúde, para cons-truir diversos tipos de infraestruturas um pouco por todo o país.

Só quando estas alterações proporcio-nadas pela entrada de capital externo se tornaram visíveis, é que os portugueses começaram a dedicar mais atenção ao

30 ANOS DA ENTRADA NA CEEReceção de fundos europeus para alavancar empresas, para melhoramentos na educação e na saúde, para a construção de infraestruturas. Tudo isso teve início em 1986, o primeiro ano de Portugal enquanto estado-membro da atual União Europeia. Até ao momento da adesão não faltaram dúvidas por parte de outros países e indiferença por parte dos cidadãos portugueses.

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

Mário Soares, Rui Machete, Jaime Gama e Ernâni Lopes assinam o Tratado de Adesão, no Mosteiro dos Jerónimos

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facto de Portugal se ter tornado num estado-membro da CEE. De acordo com uma sondagem do Eurobarómetro rea-lizada em 1984, quando as negociações para a adesão estavam já na reta final, a esmagadora maioria da população estava completamente alheada do processo.

Relutância estrangeira ao alargamento

Desde que o primeiro governo de Mário Soares fez o pedido de adesão, a 28 de março de 1977, até à assinatura da mesma, novamente com Soares como primeiro-ministro, os países que já per-tenciam à CEE dividiram opiniões sobre a possibilidade de alargamento.

A França é o melhor exemplo de país que balançou vários argumentos a favor e contra a adesão portuguesa. Temia que os baixos preços dos produtos agrícolas por-tugueses colocassem sérias dificuldades à comercialização dos produzidos no país gaulês. Receava também o desemprego dos trabalhadores locais provocado por um excesso de mão-de-obra migrante, até porque desde a década de 60 que milhares de portugueses chegavam todos os anos ao país à procura de trabalho.

Por outro lado, desde que o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca haviam aderido à CEE em 1973, que a França assistia a uma deslocação do centro de gravidade da Comunidade para o norte da Europa, a qual não lhe agradava. O alargamento a sul, através dos dois países da Península Ibérica, voltaria a colocar o país numa posição central em termos político-geográficos.

O posicionamento estratégico da localização geográfica de Portugal, que permitia um alargamento da CEE para

ocidente e uma maior aproxi-mação ao Atlântico, também foi um dos fatores mais decisivos para desequilibrar os pratos da balança a favor dos desejos de Mário Soares e companhia.

Fim das fronteiras e início do Euro

O Tratado de Adesão de Portugal à CEE, e por inerência à CEEA (Comunidade Europeia da Energia Atómica), seria por fim assinado a 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jeróni-mos, em Lisboa. O país mais ocidental da Europa continental tornava-se no 11.º estado-mem-bro, com a Espanha a assinar a adesão a esta família europeia no mesmo dia, mas algumas horas mais tarde, em Madrid.

Mário Soares foi um dos assinantes e descreveu o momento aos portugueses que assistiam à cerimónia em direto pela

televisão: “Para Portugal, a ade-são à CEE representa uma opção fundamental para um futuro de progresso e modernidade. Mas não se pense que seja uma opção de facilidade. Exige muito dos portugueses, embora lhes abra simultaneamente, largas perspe-tivas de desenvolvimento”.

Com o passar dos anos, a CEE, agora União Europeia, signifi-caria também o fim das frontei-ras entre os estados-membro, através do acordo Schengen, assinado a 26 de março de 1995. Implicaria ainda a troca da moeda nacional, o escudo, pela moeda única europeia, o Euro, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2002.

Por esta altura já os portugueses esta-vam bem cientes que a mudança ocorrida a partir de 1 de janeiro de 1986 se tratava de um dos acontecimentos mais relevan-tes da história recente de Portugal.

Eurodeputados ibéricos recebidos por uma banda de música no aeroporto de Estrasburgo

“Para Portugal, a adesão à CEE representa uma

opção fundamen-tal para um futuro

de progresso e modernidade. Mas não se pense que seja uma opção

de facilidade. Exige muito dos

portugueses, embora lhes abra simultaneamente, largas perspetivas

de desenvolvi-mento”

Mário Soares, na assinatura do Tra-tado de Adesão

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES32

A indústria portuguesa de conservas de peixe apresentou, no âmbito do projeto Loja das Conservas, a primeira máquina de venda automática de con-

servas em todo o mundo. Na primeira fase, a decorrer já em 2016, exemplares deste novo canal de distribuição vão ser instalados em empresas portuguesas com mais de 300 colaboradores, dispo-nibilizando uma extensa variedade de marcas, sabores e referências.

As máquinas têm desde o tradicional atum e sardinha (em várias preparações e com ou sem acompanhamento), a sabores em conserva mais desconheci-dos dos portugueses, como o bacalhau, a cavala, as lulas recheadas, o mexilhão e a enguia. As máquinas incluem talheres e guardanapos, assim como uma varieda-de de tostas, numa parceria estabelecida com a marca “Pão do Rogil”.

Com estas máquinas, o projeto Loja das Conservas, criado pela ANICP (As-sociação Nacional da Indústria de Con-servas de Peixe), pretende proporcionar refeições saudáveis e equilibradas no

lugar de trabalho dos portugueses, com produtos sem quaisquer corantes ou conservantes, e ricos em ómega três.

Para além da mais-valia nutricional e da rapidez de uma refeição pronta a con-sumir em alguns segundos, os preços dos produtos também são acessíveis, variando entre um euro – para os patés – e os três euros.

Este projeto abre assim um novo mercado para as conservas de peixe portuguesas em Portugal. As empresas interessadas podem adaptar as máqui-nas à sua própria imagem.

O novo secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, testemunhou o lançamento desta máquina pioneira

Máquina de venda

automática de conservas

de peixe:A primeira em todo o mundoEntre atum, sardinha, cavala

ou até bacalhau enlatado, a máquina pioneira reúne

produtos de 18 conserveiras nacionais. Destina-se a

empresas, com o objetivo de proporcionar aos trabalhadores

refeições saudáveis, prontas a consumir e a um preço

acessível.

Números do setor das

conservas de peixeAtualmente a indústria portuguesa

de conservas de peixe emprega diretamente mais de 3 500 pessoas. A tradição do pescado em conserva

portuguesa conta com mais de 160 anos de história e existem

presentemente 21 fábricas ativas e em laboração, exportando

entre 60 a 95 por cento da produção.

EGÓCIOSN

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Breves

Cristiano Ronaldo investe na hotelaria com o Grupo Pestana

Caixa Totta passa a Caixa Angola

Cerveja Sagres patrocina Vitória S.C.

Lusodescendente cria roupa para cães

no Canadá

O capitão da seleção portuguesa de futebol uniu-se ao também madeirense Dionísio Pestana, dono da maior cadeia portuguesa de hotelaria, na criação de uma marca de hotéis. Na primeira fase, o projeto CR7 Pestana vai abrir quatro uni-dades, que resultam de um investimento de €75 milhões por parte desta socieda-de detida em partes iguais entre os dois parceiros. O primeiro hotel Pestana CR7 abrirá portas ainda antes do próximo ve-rão, no porto de cruzeiros do Funchal, na Madeira. Os outros três terão lugar em Lisboa (Baixa), Madrid (Gran Vía) e Nova Iorque (perto de Times Square).

A marca portuguesa de moda infantil alargou a sua presença internacional a um novo mercado, o moçambica-no, onde a Sonae estava já presen-te através da marca de moda MO

(antiga Modalfa). A primeira loja Zippy em Moçambique abriu

no Maputo Shopping, com uma oferta variada de vestuário, calçado e acessórios adaptada ao clima e cultura local.

A marca de cervejas e o clube de Gui-marães formalizaram um acordo de patrocínio válido por três épocas. “Es-te é um patrocínio que uma vez mais vai ao encontro do ADN da marca Sagres e da nossa relação com o fu-tebol nacional, de norte a sul do país”, justifica Felipe Gomes, responsável de patrocínios da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC). Recorde-se que a marca portuguesa patrocina a seleção portuguesa de futebol desde 1993, e está ainda ligada a clubes como Benfica, SC Braga, Belenenses, Boavista e Académica.

Sonae abre primeira loja Zippy em Moçambique

Banco Caixa Geral Angola. Assim se chama, desde dezembro, o até agora Banco Caixa Geral Totta de Angola. A nova marca reforçar a visão da Caixa Geral de Depósitos para o mercado angolano, que desde julho do ano passado detém 51% do capital social do Caixa Totta, assumindo a importância do mercado angolano para o reforço da sua estratégia de internacionalização. A nova designação comercial deste banco para a ser Caixa Angola.

Criar e comercializar roupa e acessórios para cães, desde co-leiras com diamantes até calças de ganga. Este é o negócio de Lucy Medeiros, uma lusodes-cendente que nasceu há 52 anos em Montreal, filha de açorianos da ilha de São Miguel, formada em design de moda no Lasalle College, na mesma cidade ca-nadiana. A empresa chama-se Roxy and Lulu, e dispõe de duas coleções permanentes, uma pa-ra utilização diária (“Urban dog-gie wear”) e outra com roupa de alta gama (“High Fashion Line”), cujos preços variam entre os 60 e os 600 dólares (56 e 565 euros). Atualmente vende para lojas no Canadá e nalguns Es-tados americanos, como Texas, Florida e Nova Iorque. O pró-ximo objetivo da marca passa pela comercialização dos seus produtos em grandes superfí-cies comerciais.

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES34

Entrou um, saiu outro. Mantém-se o número recorde de restaurantes portugueses no Guia Michelin. O Algarve é a região nacional que engloba mais estabelecimentos distinguidos.

França é o país do mundo com maior número de estrelas.

AS ESTRELAS MICHELIN DE PORTUGAL

Pormenor do restaurante Ocean

ASTRONOMIAG

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www.revistaport.com 35

O Guia Michelin Espa-nha e Portugal 2016 distingue 14 restau-rantes portugueses, igualando o recorde nacional que havia sido estabelecido no ano passado. Apesar

do mesmo número de distinções, há alterações a verificar. O restaurante Bon Bon, em Sesmarias (Carvoeiro, Algarve), tem uma estrela pela primeira vez. Em sentido inverso, o L’And Vineyards, na vila alentejana de Montemor-o-Novo, este ano não ostenta uma estrela, ao contrário do que aconteceu na edição de 2015.

Portugal mantém ainda três res-taurantes com duas estrelas Michelin. Do “guia vermelho”, que engloba os estabelecimentos com esta classificação, fazem parte os restaurantes Belcanto, em Lisboa, e os algarvios Vila Joya, em Albufeira, e Ocean, em Porches.

O já referido restaurante Bon Bon junta-se a outros dez estabelecimen-tos que traziam uma estrela da edição passada: Pedro Lemos (Porto), São Gabriel (Almancil), Willie’s (Vilamoura), Henrique Leis (Almancil), Il Gallo d’Oro (Funchal), Casa da Calçada (Amarante), Fortaleza do Guincho (Cascais), The Yeatman (Vila Nova de Gaia), Feitoria (Lisboa) e Eleven (Lisboa).

Se se separar o país por regiões turís-ticas, o Algarve é a zona de Portugal que engloba o maior número entre os 14 res-taurantes galardoados, com seis estrelas Michelin. Segue-se Lisboa, com quatro, uma mais do que a região norte. A lista fica completa com a Madeira, com uma. O Alentejo perdeu a única que detinha.

Na Península Ibérica, são distinguidos

um total de 188 restaurantes, dos quais 23 com duas estrelas (duas novidades nesta categoria, ambas em Espanha) e oito com três estrelas, todos em Espanha.

Com os 14 restaurantes premiados, Portugal é 16.º no ranking mundial de países com estabelecimentos com estrelas Michelin. O pódio é ocupado por França, Japão e Itália, respetivamente. Do top-15 fazem parte nações com populosas comu-nidades portuguesas, como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Suíça e Brasil.

Entre os estabelecimentos norte-a-mericanos destaque para a estrela Mi-chelin do restaurante Aldea, em Nova Iorque, liderado pelo chef luso-ameri-cano George Mendes.

PORTUGAL É 16.º NO RANKING MUNDIAL DE PAÍSES COM ESTABELECIMENTOS COM ESTRELAS MICHELIN. HÁ RESTAURANTES GALARDOADOS NO ALGARVE (SEIS), LISBOA (QUATRO), NORTE (TRÊS) E MADEIRA (UM)

Vila Joya

Belcanto

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES36

GASTRONOMIA

QUADRO MICHELIN PARA PORTUGAL EM 2016

««DUAS ESTRELAS Vila Joya, Albufeira chef Dieter Koschina

Ocean, Alporchinhoschef Hans Neuner

Belcanto, Lisboa chef José Avillez

«UMA ESTRELA

Willie’s, Vilamoura chef Willie Wurger

São Gabriel, Almancil chef Leonel Pereira

Henrique Leis, Almancil chef Henrique Leis

Bon Bon, Carvoeirochef Rui Silvestre

Eleven, Lisboa chef Joachim Koerper

Feitoria, Lisboa chef João Rodrigues

Fortaleza do Guincho, Cascais chef Miguel Rocha Vieira

Pedro Lemos, Porto chef Pedro Lemos

The Yeatman, Gaia chef Ricardo Costa

Casa da Calçada, Amarantechef André Silva

Il Gallo d’Oro, Funchal chef Benoit Sinthon

Do Algarve para o Guia, o estreante Bon Bon

A cozinha do Bon Bon, a única novi-dade entre as estrelas Michelin portu-guesas, é liderada por Rui Silvestre, um chef de 29 anos nascido nos arredores do Porto, em Valongo, mas que vive no Al-garve desde criança. Está no restaurante perto da praia do Carvoeiro desde maio de 2014, quando aceitou um convite de Nuno Diogo, o proprietário, chefe de sala e escanção do estabelecimento.

A gastronomia portuguesa destaca-se na ementa, sobretudo a de inspiração atlântica, à base de peixe e marisco locais, como é usual nos restaurantes algarvios. A criatividade do jovem chef evidencia-se no sabor e na apresentação, dois dos valores avaliados pelos jurados do Guia Michelin. A carta de vinhos também aposta maioritariamente em rótulos nacionais.

Os preços deste restaurante com mais de duas décadas de existência variam entre os 73€, por três pratos, e 194€, por nove pratos com harmoniza-ção com vinhos. Como é habitual nos restaurantes algarvios, o Bon Bon está fechado durante a maior parte da época baixa. A reabertura de portas está mar-cada para 7 de fevereiro.

Restaurante Bon Bon «R. do Cabeço de Pias, CarvoeiroT: 282 341 496

Chef Rui Silvestre

Bon Bon

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Cerveja artesanal portuguesa premiada em Bruxelas

Lusodescendente abre em Paris casa especializada em vinho do Porto

A capital do Estado brasileiro do Pará, fundada há 400 anos pelos portugue-ses (onde vivem milhares de lusodes-cendentes), foi eleita Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO, pas-sando a integrar uma rede de cerca de 120 cidades que se distinguem numa ou mais das seguintes áreas: literatu-ra, cinema, música, artesanato e arte popular, design, artes e gastronomia.

Belém do Pará eleita Cidade Criativa da Gastronomia

Garrafeira e espaço de degus-tação de vinhos do Porto e do Douro, onde é possível fazer provas comentadas, assim co-mo associações com charcuta-ria, queijos, chocolates, entre outros produtos. Esta é a pro-posta de Portologia, uma casa especializada em vinho do Porto que abriu em Paris, em dezem-bro, no bairro do Marais, perto do Centro do Pompidou. Julien dos Santos, um empresário de 27 anos f i lho de um casal de Vila Flor, é o responsável por esta abertura, sendo também proprietário do Vinologia, um bar especializado em vinho do Porto na zona portuense da Ri-beira. Em cima da mesa está a possibilidade de exportação do conceito para outras cidades europeias, como Londres.

Pastel de nata e bica ganham espaço em Berlim

Um ano após ter brilhado no pro-grama televisivo “A Melhor Padaria da Alemanha”, ficando em 1.º lugar em Berlim e em 6.º a nível nacional, a portuguesa Paula Gouveia abriu, em dezembro, uma pastelaria na capital alemã (bairro de Kreuzberg), chamada Pastel. O mais famoso dos pastéis portugueses, o pastel de nata, é protagonista neste novo estabeleci-mento, onde a única variedade de café servida é “à portuguesa”.

Breves

Gallo celebra a primeira colheita de 2015/16A marca portuguesa de azeites volta a celebrar o início da colheita, com uma nova edição limitada de Gallo Azeite Novo, feito com as primeiras azeitonas do ano. Este ano, além de um novo design exclusivo, o produto apresenta um prato de degustação Vista Alegre, graças a uma parceria com a marca portuguesa de porcelana. A Cerveja Vadia terminou 2015 a ser

premiada, pelo 4.º ano consecutivo, no BBC – Brussels Beer Challen-ge, concurso mundial de cervejas realizado na capital belga. A cerveja Vadia Preta renovou a medalha de prata na categoria “Dark/Dunkel Lager”, num concurso que reuniu mais de 1 100 cervejas oriundas de todo o mundo.

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES38

GASTRONOMIA

O início do ano traz uma das tipologias de eventos mais espera-das pelos apreciado-res da gastronomia portuguesa. Trata-se das feiras do fumei-

ro, realizadas em vários concelhos de Trás-os-Montes. Uma das mais procura-das é a Feira do Fumeiro de Vinhais, que este ano se realiza entre os dias 4 e 7 de fevereiro.

Na 26.ª edição são novamente espe-radas as visitas de milhares de pessoas, provenientes de todo o país, da vizinha Espanha e de algumas comunidades por-tuguesas no estrangeiro, principalmente as europeias. Estima-se que no ano passado o Pavilhão do Fumeiro tenha sido visitado por cerca de 70 000 pessoas ao longo dos quatro dias.

Tantas visitas resultaram na venda de mais de 50 toneladas de fumeiro, entre salpicões, chouriças de carne, butelos, alheiras, chouriços azedos, chouriças doces e presuntos. Este número assume grande importância na dinamização da economia local de uma das regiões mais desertificadas do país.

A feira do fumeiro é, de longe, o evento mais importante para a atividade de cerca de meia centena de produtores indivi-duais. Vinhais tem perto de duas dezenas de cozinhas regionais licenciadas no concelho, sendo assim o município portu-guês com o maior número destes espaços, segundo dados da organização do evento.

Cada unidade trabalha durante nove meses por ano, durante os quais pode transformar até três mil quilos. Existem ainda cinco unidades industriais no concelho, que não têm a mesma limitação da quantidade produzida. Ambas as tipo-logias de unidades produtoras de fumeiro têm por base a mesma matéria-prima, tempero e métodos de secagem.

Obedecem assim às normas que permi-tiram aos produtos da região obter o selo de proteção comunitária IGP - Indicação Geográfica Protegida, atribuído pela União Europeia.

O sucesso do porco bísaro

O selo certifica a qualidade dos produ-tos comercializados na Feira do Fumeiro. Garante também que a matéria-prima utilizada é a carne de porco bísaro, raça autóctone da região de Vinhais, alimen-tada à base de produtos naturais, como a castanha, contribuindo para que a sua carne seja suculenta e saborosa.

Para além do fumeiro de raça bísara, nos quatro dias da feira estão disponíveis espaços com outros produtos naturais da região e artesanato, decorrem espetácu-los musicais e luta de touros. Os restau-rantes do concelho preparam-se para dias de enchentes, mais uma consequência da qualidade dos produtos provenientes do porco bísaro.

Toneladas de salpicões, chouriças de carne, butelos, alheiras, chouriços azedos,

chouriças doces e presuntos, confecionados com recurso à carne de porco bísaro, atraem

milhares de portugueses e espanhóis aos expositores

da Feira do Fumeiro.

Fumeiro volta a encher a pequena vila

de Vinhais

Porco bísaro

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A origem da alheira está associada à ordem de expulsão dos judeus do país por D. Manuel I. A lei permitia a sua permanência

se abraçassem o catolicismo e muitos fingiram converter-se. A sua criação é atribuída aos “convertidos”, que imagi-naram um enchido semelhante aos que na época eram prato forte do povo, mas não levava porco, a carne proibida pela fé judaica.

Em lugar de meter na tripa seca a carne de porco, usavam a galinha, o coelho-bravo, a perdiz, tudo amassa-do com pão, servindo de excipiente o azeite e de condimento o sabor agressivo do alho silvestre. Uma forma engenhosa de ludibriar o Santo Ofício. A receita acabaria por se popularizar

RECEITA

ALHEIRA COM BATATA E GRELOS

entre os cristãos, mas estes juntavam-lhe a carne de porco. A verdade é que com o decorrer dos tempos foi este animal quem melhor sabor começou a fornecer a este alimento.

A alheira, que deve o nome ao característico sabor a alho, é hoje consumida de norte a sul de Portugal. Habitualmente grelhada ou assada nas brasas, para eliminar algum excesso de gordura, a tradição transmontana acompanha-a com batatas cozidas e grelos amargos.

Ingredientes: • Alheiras• Batatas• Grelos de nabo• Um dente de alho• Banha

Preparação:Picar as alheiras, que devem estar à temperatura ambiente (para não rebentarem).

Cozer os grelos, escorrer e cortá-los. Mantê-los tapados para não arrefece-rem.

Cozer as batatas e reservar. Grelhar as alheiras em lume forte numa frigidei-ra, sem gordura e tapadas, para que ganhem uma capa tostada.

Na gordura que largaram, deitar um dente de alho e, se necessário, acres-centar banha. Introduzir os grelos e salteá-los durante alguns minutos.

Servir as alheiras com os grelos saltea-dos e as batatas cozidas.

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ULTURAC

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O futebol nasceu em Inglaterra, mas atual-mente é no Brasil que se pensa como o máximo embaixador da modalidade. De forma semelhante,

a existência do carnaval é anterior à do Brasil enquanto nação, mas agora não há ponto do mundo onde as celebrações deste momento sejam tão exuberantes e mediatizadas. Portugal é um dos países com várias localidades que reproduzem as celebrações brasileiras.

Curiosamente, foram os portugueses que levaram o carnaval para o “país--irmão”. Quando Pedro Álvares Cabral desembarcou em Porto Seguro, no ano 1500, o entrudo em Portugal era celebrado através de comportamentos espontâneos por parte da população, com os cidadãos a lançarem entre si baldes de água, ovos, laranjas, farinha, farelos, entre outros produtos. Muitas pessoas usavam máscaras, semelhantes às utilizadas nos teatros da Grécia Anti-ga e em bailes em Paris (ver caixa).

Vivia-se uma espécie de inversão das regras do mundo, nos três dias que precediam o período regrado e austero da Quaresma. Os portugueses no

Brasil depressa passaram a reproduzir no território colonizado os hábitos e costumes que Portugal havia imitado de outros países da Europa.

Com o passar dos anos, as comemo-rações do carnaval no Brasil passaram por mudanças fruto das diversas cultu-ras que sempre existiram no seu terri-tório. O folclore indígena foi o primeiro a ganhar espaço, com os seus ritmos dançantes e as vestimentas com cores garridas. A estas influências também se juntariam as africanas, levadas para o continente sul-americano através dos escravos.

Todas essas distintas influências culturais, portuguesas, indígenas e africanas, deram origem a diferentes comemorações do carnaval em cada

parte do Brasil. Na segunda metade do século XX foi a vez do carnaval brasi-leiro influenciar as comemorações em localidades portuguesas em que esta celebração é vivida com mais intensi-dade.

Ovar e Estarreja, ossambódromos de Portugal

Ovar, Estarreja e Mealhada exem-plificam anualmente a influência brasileira nas celebrações do carnaval em Portugal, com centenas de pes-soas a transformarem as suas ruas em autênticos sambódromos, à imagem do desfile mais famoso do mundo, o do Rio de Janeiro. Nem mesmo as baixas tem-peraturas que se costumam fazer sentir em Portugal impedem a reprodução das vestimentas do entrudo carioca, com o

CARNAVALDE PORTUGAL

PARA O BRASIL, DO BRASIL PARA

PORTUGALDepois do desembarque de Pedro Álvares Cabral, os colonizadores portugueses depressa passaram a reproduzir no Brasil os costumes carnavalescos

transportados da Europa. Mais de 500 anos depois, são as celebrações brasileiras que influenciam

o entrudo em Portugal. Com tantas outras, esta relação bilateral não tem fim à vista.

A ESCOLA DE SAMBA QUE VENCEU A ÚLTIMA EDIÇÃO DO CARNAVAL DO RIO FÊ-LO A EXALTAR A CULTURA DO MAIS RECENTE MEMBRO DA CPLP, A GUINÉ-EQUATORIAL

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CULTURA

pouco agasalho a ser compensado pelo muito movimento a que o samba obriga.

No Rio de Janeiro, cada escola de sam-ba começa a trabalhar a participação nos desfiles de carnaval com vários meses de antecedência. As diversas regiões da cidade competem fervorosamente pela melhor apresentação, de acordo com sete parâmetros: harmonia, fantasia, alegorias e adereços, mestre-sala e por-ta-bandeira, comissão de frente, samba--enredo, bateria, enredo e evolução.

Os enredos muitas vezes evocam mo-mentos da história do Brasil e da Língua Portuguesa. No ano passado o desfile foi ganho pela escola de samba Beija-Flor, com um desfile em que exaltava a história e a cultura da Guiné-Equato-rial, poucos meses depois de este país africano ter sido aceite como membro da CPLP.

Famalicão como Recife, Torres Vedras como Olinda

Em estados brasileiros como Pernam-buco e Minas Gerais é mais popular o carnaval de rua, em que os foliões feste-jam livremente pela rua, sem obedece-rem a uma coreografia ou a um guarda--roupa específico. Centenas de milhares de pessoas, entre habitantes e visitantes,

fazem a festa em cidades como Recife, Belo Horizonte e Uberlândia. Estas ce-lebrações podem ser comparadas às que em Portugal têm lugar em Vila Nova de

AS CELEBRAÇÕES NO BRASIL ATUAL RESULTAM DE INFLUÊNCIAS PORTUGUESAS, INDÍGENAS E AFRICANAS

NEM MESMO AS BAIXAS TEMPERATURAS DO INVERNO PORTUGUÊS IMPEDEM A REPRODUÇÃO DAS VESTIMENTAS DO ENTRUDO CARIOCA EM CIDADES COMO OVAR E ESTARREJA

Estarreja

Torres Vedras Olinda

Estarreja

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Diferentes costumes do entrudoO carnaval surgiu ainda na Antigui-dade com o intuito de celebrar os deuses pagãos e a natureza. Ainda hoje é comemorado em vários pontos do mundo. Com maior ou menor entu-siasmo, as características das celebra-ções variam de lugar para lugar.

Veneza e as máscaras

Esta cidade italiana festeja o car-naval desde o final da Idade Média, época em que se tornou num centro comercial entre vários pontos da Europa e o Oriente, o que permitiu a confluência de várias culturas. No século XVII, os nobres locais habitua-ram-se a assinalar a época vestidos com trajes luxuosos, chapéus e as famosas máscaras venezianas, que ainda hoje são utilizadas. As celebra-ções na atualidade atraem dezenas de milhares de turistas, muitos deles portugueses, que procuram cada vez mais este destino turístico para festejar o carnaval.

Nova Orleães e os colares

Nesta cidade no sul dos Estados Unidos da América a festa carna-valesca é chamada de Mardi Gras, por influência dos franceses que colonizaram a região no século XVII. Hoje trata-se de uma festa de rua que acontece durante vários dias até à terça-feira de carnaval. Milhares de pessoas, provenientes de todo o país, passeiam pelas ruas da cidade com máscaras e principalmente com colares, o principal símbolo destas festividades. As comunidades portu-guesas nos EUA festejam o carnaval sobretudo na costa leste do país, em diferentes zonas de metrópoles como Nova Iorque e Boston.

Paris e os bailes

A capital francesa responde pelas primeiras festas de mascarados, a partir do século XII, quando nobres começaram a reunir-se em grandes salões, com o uso obrigatório de máscaras e roupas luxuosas. Esta prática nunca chegou às ruas de Paris, mas foi-se reproduzindo em festas por toda a Europa, influen-ciando a utilização de máscaras no entrudo. Atualmente existem várias associações portuguesas que na época do carnaval organizam festas de mascarados, sobretudo para os mais jovens.

Famalicão, embora estas últimas a uma escala bem mais reduzida.

Também no estado do Pernambuco destaca-se o carnaval de Olinda, um misto de carnaval de rua com a partici-pação organizada de várias agremiações carnavalescas, cujos elementos desfilam de acordo com manifestações culturais que refletem os costumes e tradições de brancos, negros e índios, a base da formação desta localidade fundada por portugueses.

O carnaval de Olinda distingue-se da generalidade das comemorações brasi-leiras através da utilização de bonecos gigantes, uma prática que os portugue-ses tentaram reproduzir logo no século XVI e que seria recuperada por Olinda em 1932. Ao contrário das portuguesas Torres Vedras e Loulé, na cidade per-nambucana os bonecos não fazem sátira político-social.

Seja qual for o motivo, a folia do entrudo continua a levar milhares de portugueses e milhões de brasileiros para as ruas. Foi inventado por outros povos, mas a Língua Portuguesa é certa-mente aquela em que o carnaval é mais festejado em todo o mundo.

Rio de Janeiro

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Os World Travel Awards (WTA), reconhecidos in-ternacionalmente como os prémios mais importantes do turismo a nível mundial,

distinguiram o arquipélago da Madeira como o melhor destino insular do mun-do. A atribuição do prémio foi conhecida a 12 de dezembro em El Jadida, a cidade marroquina onde os portugueses cons-truíram a Fortaleza de Mazagão.

Para triunfar nos “Óscares do Turismo”, como os WTA também são apelidados, a candidatura madeirense superou finalistas como Bali, Barbados, Creta, Ilhas Cook, Jamaica, Maldivas, Maurícias, Santa Lúcia, Sardenha, Sey-chelles, Sicília e Zanzibar, o que acentua a importância do feito. Bali havia sido a vencedora em 2014.

Numa nota à imprensa distribuída pela Secretaria Regional de Economia, Turismo e Cultura (SRETC), a enti-dade madeirense considerou que este prémio homenageia toda a população da Madeira, “que há mais de dois séculos se aperfeiçoou na arte de bem receber e sempre soube acolher as pessoas que nos visitaram”.

Sublinhou ainda a importância do mais famoso de todos os madeirenses,

Cristiano Ronaldo, no apelo aos votos que valeram este prémio, “ao associar-se a este apelo, de forma assumida, nas suas várias plataformas digitais e so-ciais”. O capitão da seleção portugue-sa de futebol é a pessoa mais popular do mundo no Facebook, com mais de 108 milhões de seguidores.

O início de 2016 marca aquele que é o momento mais importante do ano para o turismo do arquipélago, o Ré-veillon. Entre os principais atrativos turísticos da Madeira constam os miradouros do Cabo Girão e do Pico Arieiro, as casas típicas de Santana, as piscinas naturais de Porto Moniz, o jardim botânico do Funchal, a cascata do Véu da Noiva, os carros de cesto do Monte, a vereda da Ponta de São Lou-renço e as grutas de São Vicente.

Para além do madeirense, houve mais três prémios WTA a voar para Portugal, dois deles para hotéis al-garvios. O Vila Vita Park, em Porches, foi eleito o melhor resort verde de luxo, e o Conrad Algarve, na Quinta do Lago, o melhor resort de lazer de luxo. A Parques de Sintra, cuja ação foi retratada na Revista PORT.COM de dezembro, foi distinguida como a melhor empresa em conservação de espaços turísticos.

O arquipélago superou Bali, Maldivas, Seychelles, entre outros, nos World Travel Awards. De El Jadida para Portugal voou um total de quatro “Óscares do Turismo”.

MADEIRA ELEITA MELHOR DESTINO

INSULAR DO MUNDO

Miradouro do Cabo Girão

Cascata do Véu da Noiva

Pico Arieiro

URISMOT

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Breves

Fotógrafo russo ganha concursocom foto de Lisboa

TAP eleita melhor companhia aérea europeia

A EDIÇÃO holandesa da revista National Geographic Traveler colocou os Açores em primeiro lugar numa seleção dos 20 mais belos locais do mundo para visitar em 2016. O artigo destaca algumas das atividades turísticas que se podem fazer no ar-quipélago, como observação de baleias, nadar com golfinhos selvagens, caminhar ou pedalar por entre vinhas em solo vulcânico. Entre os outros destinos turísticos selecionados constam o Estado brasileiro de Rio Grande do Norte, a Gronelândia, a cidade eslovena Ljubljana ou a região do Delta do Okavango, no Botswana.

O Alto Minho é a primeira NUT III (uni-dade territorial para fins estatísticos) de Portugal Continental com todo o território certificado com a Carta Euro-peia do Turismo Sustentável, atribuída pela Federação Europeia de Parques Nacionais e Naturais (EUROPARC). Um conjunto de oito áreas protegidas, que engloba território de sete dos dez concelhos da região (Caminha, Pare-des de Coura, Ponte de Lima, Monção, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira) passou a obter tal classi-ficação no início de dezembro. Estes municípios somam-se assim aos outros três da região (Arcos de Valdevez, Mel-gaço e Ponte da Barca), que possuem a mesma classificação desde 2002, através de uma candidatura aprovada do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

A revista Global Traveler, uma das publicações especializadas em turismo mais prestigiadas dos Estados Unidos, premiou a TAP como a “Melhor compa-nhia aérea na Europa”. Atualmente a empresa portuguesa serve dois des-tinos nos EUA (Nova Iorque e Miami), operando em média dez frequências semanais. Os vencedores dos prémios anuais Global Traveler resultam de uma sondagem promovida pela revista junto de viajantes frequentes e execu-tivos, que são convidados a votar nos seus favoritos em cada uma das várias categorias selecionadas.

Turismo sustentável certificado em todo o Alto Minho

Uma fotografia com a Ponte 25 de Abril como pano de fundo, escondida sobre um nevoeiro cerrado, foi a grande vencedo-ra de uma das três categorias do Metro Photo Challenge 2015. Este concurso é organizado conjuntamente pelas várias subsidiárias internacionais do jornal Metro, que conta com uma versão portuguesa. O fo-tógrafo russo Eduard Gordeev,

de São Petersburgo, é o autor da imagem que mais cativou um júri composto por especia-listas de vários países, tendo assim ganho uma expedição fotográfica à Índia.

Açores, o local mais belo para a National Geographic

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O sorteio da fase fi-nal do EURO 2016 deixou a gene-ralidade dos portu-gueses satisfeitos. A seleção nacional

divide o Grupo F com os conjuntos da Áustria, Hungria e Islândia, cujos responsáveis não tardaram a reconhecer o favoritismo de Portu-gal. Mas analisando o percurso re-cente dessas seleções, sobretudo da austríaca e da islandesa, percebe-se que a tarefa não é tão fácil como pode parecer à primeira vista.

A realização do primeiro Europeu com 24 equipas permitiu alargar a fase final a seleções pouco ou nada habituadas a disputar esse tipo de decisões. A Islândia é uma das es-treantes, tal como Irlanda do Norte, País de Gales, Albânia e Eslováquia. Mas também foi a 3.ª equipa das 23

que disputaram a fase de qualifica-ção a garantir viagem até França, apenas após as habitués Inglaterra e a República Checa. Para trás deixou, por exemplo, a Holanda.

A Áustria foi a seleção seguinte a apurar-se, ao vencer o Grupo G de qualificação, o qual incluía outros nomes que inicialmente eram con-siderados favoritos, como a Rússia e a Suécia. Foi também a segunda equipa de toda a fase de qualifica-ção que somou mais pontos: 28 em dez jogos, como resultado de nove vitórias e um empate. Só a Inglater-ra, com dez vitórias em dez jogos, fez melhor.

Áustria, o dobro dos golos de Portugal

Postos estes números, não estranha que a Áustria seja teorica-

mente considerada o adversário mais complicado de Portugal. No ranking FIFA, que engloba as seleções de todo o mundo, ocupa atualmente a 10.ª posição, apenas três lugares abaixo da “Equipa das Quinas”.

David Alaba é indubitavelmen-te o melhor futebolista austríaco da atualidade (ler caixa), mas há mais ameaças no coletivo orientado pelo suíço Marcel Koller. O gigante Marc Janko, ponta-de-lança que representou o FC Porto na segunda metade da temporada 2011/2012, está a atravessar uma das fases mais goleadoras da sua carreira, tanto no Basileia como na seleção: marcou sete golos em nove jogos na qualificação, um deles um pontapé à bicicleta que valeu a vitória austríaca na Rússia (0-1).

SORTEIO FAVORÁVEL NÃO É O MESMO

QUE JOGOS FÁCEISNunca uma fase final teve tantas seleções como as que viajarão para o EURO 2016,

o que permite que várias estreantes tenham um bilhete para França. Portugal apadrinha a estreia da Islândia, que os holandeses já sabem tratar-se de um lobo em pele de cordeiro.

A Áustria também aponta a fazer surpresas, menos prováveis por parte da Hungria.

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

ESPORTOD

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www.revistaport.com 47

Marko Arnautovic, do Stoke City, é outra das referências ofensivas de uma seleção que na qualificação marcou o dobro dos golos de Portugal (22 contra 11). No balanço de confrontos a seleção portuguesa também fica a perder: três vitórias austríacas e duas lusas, em dez jogos.

Portugal terá oportunidade de terminar com este registo negativo a 18 de junho, data da 2.ª jornada do Grupo F, no Parque dos Príncipes, em Paris.

Islândia, a maior surpresa da qualificação

Quando defrontar a Áustria, Portugal já terá apadrinhado a estreia da Islândia na fase final de uma grande competição de seleções de futebol. O confronto com os nórdicos, para muitos o conjunto mais surpreendente de toda a fase de qualificação, está marcado para 14 de junho, no

Estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne.

No tal Grupo A que dividia com seleções como a Holanda, a República Checa e a Turquia, a Is-lândia terminou apenas atrás dos checos. Somou seis vitórias nos primeiros sete jogos, a primeira das quais com uns esclarecedores 3-0 contra a Turquia, e a mais ce-lebrada na Arena de Amesterdão, onde derrotou a Holanda por 0-1.

A estrela Gylfi Sigurdsson marcou esse golo, mas há mais armas de respeito no ataque islandês, como Kolbeinn Sig-thórsson (Nantes), que tem uma média notável de um tento a cada dois jogos pela seleção (18 em 35 internacionalizações), e Alfred Finnbogason (Olympiacos), que há duas temporadas se sagrou melhor marcador do campeona-to holandês, com a camisola do Heerenveen.

Islândia

Áustria

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES48

DESPORTO

Estes são alguns dos argumentos com que o selecionador Lars Lagerback ten-tará contrariar o histórico islandês de confrontos contra Portugal, com duas vitórias portuguesas no mesmo número de jogos, ambos na fase de qualificação para o EURO 2012.

Hungria, o regresso dos compatriotas de Puskas

Teoricamente o jogo mais acessível para Portugal será contra a Hungria, no Estádio des Lumières, em Lyon, a 22 de junho. Para voltarem a disputar uma fase final, o que não acontece há 30 anos, os húngaros precisaram de vencer um play-off contra a Noruega, depois de não terem conseguido melhor do que o 3.º lugar de um dos grupos mais acessíveis da qualificação, atrás da Irlanda do Norte e da Roménia.

Há muitas décadas que faltam à Aranycsapat (como os húngaros cha-mam à sua seleção) estrelas lendárias como Puskas, Czibor e Kocsis. Atual-mente as referências da Hungria são jogadores como Balázs Dzsudzsák (Bursaspor) e Ádám Nágy (Ferencvá-ros), elementos que atuam à frente de um elemento que se prepara para fazer história.

Gábor Kiraly, guarda-redes tão co-nhecido pelas suas defesas como pelas

AS “ESTRELAS” DOS ADVERSÁRIOS

PORTUGUESES

David AlabaO lateral transformado

em “box to box”

O mundo do futebol conhece-o sobretudo como

lateral esquerdo de forte vocação ofensiva, tarefa

que desempenha no Bayern de Munique, com exibições que fazem com que muitos o considerem o melhor do

mundo na posição. Mas na seleção este jovem de 23 anos veste a camisola oito, não só literalmente como no papel de um

médio influente perto das duas grandes áreas, um verdadeiro “box to box”. Os quatro golos e três

assistências que somou na fase de qualificação

comprovam a sua extrema importância no conjunto

austríaco.

Gylfi SigurdssonO “playmaker”

que arrasou a Holanda

Era um dos jogadores em quem André Villas-Boas mais confiava no Tottenham, até que a saída do português

levou à perda de influência deste islandês. Agora ao serviço do Swansea, este

médio ofensivo continua a ter como imagem de marca as diagonais a partir do flanco esquerdo que lhe permitem rematar com o seu apurado pé direito. Na seleção atua

preferencialmente pelo centro, como “playmaker”

com a baliza adversária sempre presente. Dos seis golos (e três assistências)

que marcou na qualificação, três foram os que valeram as vitórias contra a Holanda em

casa (2-0) e fora (0-1).

Balázs DzsudzsákExtremo à procura

de reacender a chama

Tinha acabado de cumprir 20 anos quando o PSV

Eindhoven o descobriu nos húngaros do Debrecen, onde

havia chegado à equipa principal com apenas 16.

Extremo bastante habilidoso, não tardou a impor-se na equipa que na segunda

metade da década passada dominava o futebol holandês.

Aos 23 anos deixou-se seduzir pelos rublos

acenados pelos milionários do Anzhi, e a sua carreira

começou a perder chama no frio da Rússia. Aos 29 anos, o agora jogador dos turcos do Bursaspor tem no EURO 2016 a melhor oportunidade para reacender o seu futebol

explosivo.

calças de fato de treino que costuma usar, pode tornar-se no futebolista mais velho a jogar num Europeu. Completa 40 anos em abril e em princípio basta-lhe evitar qualquer lesão, dado que é o habitual titular da baliza húngara, na qual já soma mais de uma centena de internacionalizações.

Portugal já defrontou a Hungria por dez vezes e nunca perdeu, somando sete vitórias e três empates, vencendo todos

os jogos oficiais, quatro em fase de qua-lificação e um no Mundial de 1966 (3-1).

A seleção de Cristiano Ronaldo nem precisa de imitar a de Eusébio para alcançar os oitavos de final. Vitórias nos dois primeiros jogos são suficientes para o apuramento. Mas apesar de um sorteio com Áustria, Islândia e Hungria ser legitimamente considerado favorá-vel, tal não significa que vencer esses jogos seja uma tarefa fácil. Kiraly

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Os portugueses a residir em Saint--Étienne, Paris e Lyon foram os que tiveram mais motivos de conten-tamento com o sorteio do EURO 2016, que garantiu jogos da seleção nacional nessas três cidades france-sas. O primeiro é a 14 de junho, no Estádio Geoffroy-Guichard, contra a Islândia, quatro dias antes do Portu-gal – Áustria, no Parque dos Príncipes. A participação portuguesa na frase de grupos termina a 22 de junho, no Estádio des Lumières.

Mas há outras cidades que podem ser visitadas por Cristiano Ronaldo e com-panhia. No cenário ideal, ou seja, em caso de apuramento para os oitavos de final como 1.ª classificada do Grupo F, a seleção portuguesa jogará em Toulouse, a 26 de junho. Esta espécie de “Volta à França” continua por Lille, nos quartos de final, a 1 de julho, com as “meias” a terem lugar novamente em Lyon, no dia 6. A tão desejada final está marcada para o Stade de France, em Saint-Dennis (Paris), a 10 de julho.

Na lista de 18 árbitros escolhidos pela UEFA para arbitrarem os jogos do Europeu de França não consta nenhum português. Pedro Proença fica assim sem sucessor, depois de ter arbitrado a final do antecessor EURO 2012, entre Espanha e Itália. A lista inclui juízes de 17 países, com a Inglaterra a ser o único com dois representantes.

O duplo-confronto entre Benfica e Ze-nit de São Petersburgo, para os oitavos de final da Liga dos Campeões, levará a equipa encarnada a jogar na Rússia a 9 de março, na 2.ª mão do embate. O FC Porto atua na Alemanha a 18 de fevereiro, onde defronta o Borussia Dortmund, na 1.ª mão dos 1/16 de final da Liga Europa. No mesmo dia o Spor-ting de Braga joga na Suíça, contra o Sion. A vez do Sporting regressar a um relvado alemão é a 25 de fevereiro, contra o Bayer Leverkusen, na 2.ª mão da mesma fase da competição.

A judoca e o canoísta foram distingui-dos com o prémio de atletas do ano pelo Comité Olímpico de Portugal (COP). Em 2015, Telma Monteiro con-quistou o título de campeã europeia, na categoria de -57kg, e chegou a ocu-par o primeiro lugar do ranking mun-dial. Fernando Pimenta foi vice-cam-peão europeu em K4 1 000 metros e conquistou as medalhas de bronze nos campeonatos do mundo e da Europa, em K1 1 000, além das medalhas de prata nos Jogos Europeus, em Baku, também em K1 1000 e em K1 5 000.

Trajeto ideal da seleção também passa por Toulouse e Lille

EURO 2016 sem árbitros portugueses

Telma Monteiro e Fernando Pimenta atletas do ano

Breves

Benfica visita Rússia, FC Porto e Sportinga Alemanha

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Aterrei no aeroporto de Marselha na véspera de fazer 42 “primaveras”. Ti-nha à minha espera o meu cunhado, nascido e criado em França. Lembro-me

perfeitamente da primeira coisa que ele me disse: “agora é a sério, tens de falar sempre em francês!”.

Pronto, e é ao ouvi-lo que de repente me comecei a questionar: “Afinal, sou bilíngue ou apenas me desenrasco nisto de falar em francês?”, “Será que consigo manter uma conversa sobre hortoflori-cultura ou sobre os aborígenes de Alice Springs?” ou “Será que vou ser mais um daqueles emigrantes que, como não per-cebem patavina do que lhes estão a dizer, estão sempre a sorrir na esperança que a conversa não seja sobre doenças termi-nais ou sobre uma ninhada de cachorros que acabou de “calçar” um carro?”.

Mas mais importante do que todas estas questões, assaltou-me outra, nuclear, fundamental na vida de um emigrante, a saber: “Será que consigo ir à padaria comprar pão?!”. A respos-ta não tardou… Na aldeia onde agora moro, existe uma padaria/ pastelaria, tipicamente francesa, cuja variedade de bolos e de pães deixa qualquer mortal faminto. Idealizas então que podes entrar e contemplar, em ambiente de paz e harmonia, toda aquela oferta…

Mas não, naquela padaria não podes! E “Porquê”», perguntam os meus amigos. Porque trabalha lá uma loira que parece a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo e que não deixa! Sempre que é ela a aten-der penso duas vezes se compro pão ou entro na farmácia ao lado para comprar pensos rápidos.

Vou-vos explicar tudo: Da entrada ao balcão distam cerca de cinco metros. Mal entro, ela solta um estridente “Bonjour”, uma coisa estranha, qual gato a miar. Manda-me um grande de um sorriso para, logo a seguir, fechar-se-lhe o rosto e partir com fúria, àquela distância, para a pergunta “O que vai ser hoje?”… Acontece que entre esses cinco metros que nos separam estão sempre umas três a quatro pessoas que já foram rapidamente servidas pela Emília e que apenas estão a pagar… Como eu não con-sigo decorar os nomes dos pães, porque a Emília simplesmente não me deixa, digo lá do fundo: “Quero uma baguette”.

Às vezes tenho sorte e há a clássica baguette. Outras, tenho azar e ela diz que não há, e é nesse momento que o inferno se concretiza à frente dos meus olhos… Remata logo “Quer levar então o quê?!” Eu já todo transpirado, pergunto o que há e a Emília, no seu miar, diz ra-pidamente que tem o “anz”, o “chonis-sons” e o “patati”, pelo menos é o que eu percebo da boca do Anticristo.

Deserto que aquele tormento acabe, digo rapidamente, mas baixinho: “Levo dois chonissons” e ela, do alto da cabana que suporta sobre a sua cabeça, diz “pardon?”. Eu elevo a voz e digo já todo nervoso: “quero dois chonissonssssss!”. E é neste momento que todos se viram para mim… uns com cara de cheira-me aqui a caca, outros, desejosos de sair dali para ir rir de uma coisa que certamente nada tem a ver com a cena e que lhes aconteceu no primeiro trimestre de 2009. Assim, tenho de tomar uma decisão: Ou passo a comprar pão no Intermarché ou aumento o meu stock de pensos rápidos…

Gil Moleiro tem 43 anos e partiu de Pombal para o sul de França em maio de 2014, onde as diferenças linguísticas continuam a atormentá-lo, situação que encara com muito humor.

O DINO, “LA BOULANGERIE DE VENTABREN” E A EMÍLIA DO SÍTIO

DO PICA-PAU AMARELO

“EU JÁ TODO TRANSPIRADO, PERGUNTO O QUE HÁ E A EMÍLIA, NO SEU MIAR, DIZ RAPIDAMENTE QUE TEM O “ANZ”, O “CHONISSONS” E O “PATATI”, PELO MENOS É O QUE EU PERCEBO DA BOCA DO ANTICRISTO”

ISCURSO DIRETOD

Texto publicado originalmente no Jornal de Cá - Cartaxo. Saiba mais em http://jornaldeca.pt/

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