Porto Belo Vol II

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Antnio Carlos Peixoto

PORTO BELOSanta Catarina (1600 1700)VOLUME II ABANDONO

Rio de Janeiro 2010

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Porto Belo Santa Catarina (1600 1700) Copyright (c) Antnio Carlos Peixoto, 2010 Volume II - Abandono Todos os direitos autorais reservados ao autor Proibida a reproduo no autorizada Peixoto, Antnio Carlos PORTO BELO Santa Catarina (1600 1700) Volume II Abandono I. Histria Brasil I. Ttulo PORTO BELO Santa Catarina (1600 1700) I. Subttulo - Abandono ISBN: ................................ 1a. Edio Rio de Janeiro - 2010 Fundao Biblioteca Nacional Reg. ...............................

Edio: Jacyra SantAna Reviso: Marco Antnio Corra Arte: Vladimir Calado Impresso: .................... Rio de Janeiro - RJ 2010

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Dedico esta obra minha filha Aratani

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Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos. (William Shakespeare)

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ApresentaoO que leva um advogado que atua no mercado de imveis, sobrecarregado de trabalho, encontrar tempo para pesquisa e publicao de livros sobre a histria da sua terra? Antnio Carlos Peixoto, Tonho para os amigos, encontrou espao dentro de si para viver a realidade e o sonho. O dedicado pai de famlia, amoroso av de Alcia, convive muito bem com o entusiasmado pesquisador e escritor. Ele capaz de percorrer sebos em busca de obras raras sobre os primrdios de Santa Catarina e pagar por elas valores elevados. Com o maior prazer. Neste seu segundo livro, Tonho fala do perodo de abandono, em que a Coroa Portuguesa s se interessava pelos territrios ricos em jazidas de ouro ou prprios para a agricultura. A Enseada das Garoupas ficou intacta, com sua beleza estonteante. Ns, que hoje desfrutamos a calmaria dos veres em Porto Belo, louvamos aquele abandono interesseiro dos portugueses, que acabou preservando este pedacinho de terra e mar. No toa que Porto Belo entrou para a rota dos transatlnticos e costuma receber milhares de turistas de todo o mundo nas altas temporadas. Conforme o relato do homem do mar Daniel Gonalves, em 1683, reproduzido na obra de Antnio Carlos, a enseada que chamam de Garoupas muito grande e tem boca a leste e de largura duas lguas, limpa e toda ela navegvel ... a entrada limpa e muito funda, sem risco nenhum de ventos... Com determinao e entusiasmo, o autor nos presenteia com mais este trabalho, a caminho de sua obra completa, os cinco volumes. Quem se importa com a histria de seus antepassados tem muito mais chance de compreender a existncia humana e garantir a felicidade no Planeta. Ncia Cherem Ribas (Jornalista, autora dos livros Histrias da Casa da V, Mais Histrias da Casa da V, Delcias da Casa da V e Entra, a Casa Tua Histrias da Casa de Tijucas e da Famlia Gallotti.)

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PrefcioDepois de mais de uma dcada, finalmente consegui levar adiante a rdua, mas prazerosa ideia da publicao do meu primeiro livro. Finalmente consegui, mesmo tendo de superar algumas dificuldades, encontrar pessoas capacitadas para a edio, para a impresso etc. E quando a gente acha que est tudo pronto, depara-se com a burocracia estatal, como sempre morosa e protelatria. A princpio, a obra seria de apenas um s volume, que contaria a histria de cinco sculos de Santa Catarina, principalmente da regio onde nasci, Porto Belo e Tijucas, iniciando-se em 1500, com o descobrimento, e terminando no ano de 2000. Mas, seguindo conselho editorial, resolvi dividi-lo em cinco volumes, cada um com cem anos de histria. Espero chegar ao final deste projeto, pois outros tenho a terminar, e poder reunir os cinco volumes, depois de publicados e revisados, em um nico livro, este, sim, com objetivo comercial. O volume I desta obra, em circulao, trata do perodo entre o descobrimento, 1500/1600. Perodo farto na passagem de navegadores portugueses rumo regio do Rio da Prata. Neste segundo volume, uma nova etapa abordada, que acredito ser uma das mais difceis por se tratar do sculo denominado por muitos como o sculo do abandono, ou seja, o sculo XVII, quando Portugal deu as costas para o novo continente. Neste perodo, reinam absolutos, de norte a sul, jesutas e bandeirantes, buscando a mo de obra do ndio carij para o estado de So Paulo e para o uso nas guerras contra os tupinambs. Na verdade, nesse perodo temos praticamente a consolidao da fundao das principais cidades de Santa Catarina, quando ocorre estrategicamente a fundao dos trs ncleos catarinenses: Laguna, ao sul; Florianpolis (Desterro), ao centro; e So Francisco do Sul, ao norte do estado.

O autor

CAPTULO I 6

A GEOGRAFIA DO LITORAL CATARINENSE

1.1 A geografia do litoral catarinense. 1.2 Ilha de Santa Catarina 1.3 Os carijs 1.4 A transformao dos carijs 1.5 As canoas indgenas

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1.1 A GEOGRAFIA DO LITORAL CATARINENSE O povoamento do territrio catarinense est intimamente ligado, nos seus primrdios, aos interesses de navegadores portugueses e espanhis, que tiveram o litoral de Santa Catarina como ponto de apoio para atingir, principalmente, a regio do Rio da Prata. Mas a sua topografia foi fator determinante para a ocupao, levando os primeiros ncleos a fixarem-se prximo ao litoral. Santa Catarina , sem dvida, dentre todos os estados da federao, o que tem a maior diversidade geogrfica e humana, surpreendente para um territrio de apenas 95,4 mil km, mas nosso estudo prende-se exclusivamente regio do litoral catarinense, com uma extenso de 561,4 km. No litoral, formado pela plancie costeira, encontramos pontas, cabos, ilhas, praias, lagoas e portos, bem como vrias enseadas. Ainda prximo ao litoral est localizada uma pequena parcela do chamado Planalto Atlntico. Na faixa do litoral a vegetao variada, formada por mangues, restingas, praias, dunas e Mata Atlntica. Em alguns trechos observa-se pontas, que so pores de terra que avanam para o mar. As principais pontas so: do Gi (Laguna), de Imbituba (Imbituba), do Ouvidor (Garopaba), Armao (Governador Celso Ramos), das Bombas (Bombinhas), Taquara (Balnerio Cambori), das Cabeudas (Itaja), das Estrelas (Penha) e dos Morretes (So Francisco do Sul). Estas pontas foram fundamentais nos traados dos primeiros caminhos trilhados pelos indgenas de Santa Catarina e, posteriormente, na construo das atuais rodovias. a) Litoral Norte: caracteriza-o a extensa plancie, interpolada por formaes cristalinas, com predominncia arenosa. Estende-se desde a barra do Rio So Francisco at a barra do Itapocu. Remanescente do relevo cristalino, destaca-se na paisagem e condiciona a funo porturia da cidade de So Francisco. O predomnio das formaes sedimentares neste trecho do litoral de grande contedo silicioso fator negativo da qualidade do solo agrcola. Formaes florestais a existentes permitiram, todavia, acumulao de detritos orgnicos que atenuam a pobreza do solo. b) Litoral Central: vai desde a barra do Itapocu at a altura da extremidade sul da Ilha de Santa Catarina. A morfologia se caracteriza pela maior movimentao, isto , as formaes cristalinas esbarram mais frequentemente no mar, guardando as cristas; entretanto, sua direo mais ou menos oblqua. Da o resultado de uma frente mais contnua. Em consequncia, muitas enseadas e baas de forma elptica tornam-se numerosas e apresentam fundos lodosos ou de mangues. Alguns rios importantes desguam no litoral central, formando plancies de sedimentao tambm martimas: Itaja e Tijucas. A Ilha de Santa Catarina um conjunto de espores que o processo de sedimentao, ainda no quaternrio, culminou por unir, prevendo ainda em seu 8

interior duas lagoas. A mais ampla a da Conceio, que uma das principais atraes tursticas. A do Peru, pouco extensa, j dessalinizada, hoje campo experimental de piscicultura; j a da Conceio rea ativa de pesca. c) Litoral Sul: marca o predomnio das baixadas. O processo de retificao por efeito da sedimentao elio-marinha, combinado com a deposio de detritos de rios importantes, como o Tubaro e o Ararangu, est bem avanado e por isso se apresenta bastante retilneo, sobretudo a partir da cidade de Laguna. Entre os acidentes mais importantes, est a plancie em forma de delta do Rio Tubaro, em parte ocupada para fins agrcolas e de criao. A cidade de Laguna est construda na extremidade interior da ria que constitui a lagoa mais ampla do estado, estreitada mediante a formao ao Norte, a que se denomina de Imaru. A cidade se ergue tanto nas pores baixas quanto no sap de formaes cristalinas, sendo que o centro comercial e porturio se localiza na parte baixa. As numerosas praias do litoral meridional lhe do grande beleza panormica, nas proximidades de Ararangu, onde o mar aberto e as elevadas dunas esbarram nas formaes sedimentares antigas que se apresentam como paredes abruptos, de nveis modestos. Outra caracterizao de traos morfolgicos no litoral Sul reside no grande nmero de sambaquis e cacheiros, atestando, os primeiros, a presena de antigas populaes indgenas, e os segundos evidenciam a dinmica da sedimentao marinha da regio, em funo das variaes do nvel do mar. 1.2 ILHA DE SANTA CATARINA A Ilha de Santa Catarina, situada entre as latitudes 27,22 e 2750, tem uma rea de aproximadamente 424,4 km. Est separada do Continente pelas baas Norte e Sul, cujas profundidades mximas variam em torno de 11m. A primeira tem seu canal de entrada entre o macio costeiro da Armao da Piedade na parte continental e o Morro do Forte insular, e a segunda entre a ponta dos Naufragados e o Tombolo do Papagaio. Neste ltimo canal de acesso, excepcionalmente encontram-se profundidades de at 30m, as maiores verificadas na regio. As duas baas so separadas por um estreito de cerca de 500 m de largura no qual tambm a profundidade pode chegar a 28m. Esta configurao geogrfica da Ilha de Santa Catarina sendo uma extenso dos grandes traos geolgicos continentais permite classific-la como uma ilha continental. Seu relevo caracterizado pela associao de duas unidades geolgicas maiores: as elevaes dos macios rochosos, que compem o embasamento cristalino, e as reas planas de sedimentao, delineando, respectivamente, as denominadas servas litorneas e plancies costeiras, unidades geomorfolgicas que caracterizam a paisagem da Ilha.

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As serras litorneas em geral apresentam aspecto de cista, devido sua posio alongada e ao acentuado declive das encostas. A ilha atravessada em toda a sua extenso por uma dorsal central orientada NNE e SSW, cujos divisores de gua separam pequenas bacias fluviais e plancies costeiras. Essa dorsal ramifica-se lateralmente em espores, que se prolongam submersos ou emergem na forma de ilhas. Podemos distinguir dois espaos desta dorsal no territrio ilhu. Um setor centro norte, mais extenso na rea central e diminuindo em direo ao norte, com uma altitude mxima de 493m no Morro da Costa da Lagoa. O outro, no sul, separado do setor central por uma plancie, atingindo 540m no Morro do Ribeiro. Seus topos so angulosos ou cncavos e as encostas apresentam declividades acentuadas, chegando a mais de 45, delicadamente drenadas atravs dos vales em forma de V, geralmente encaixados e pouco profundos. As vertentes so irregulares e definem vrios patamares em diversos nveis. A espessura reduzida do manto de alterao sobre estes relevos leva alguns pontos exposio de blocos e mataes (pedras soltas, muito grandes e arredondadas), como, por exemplo, no Morro da Cruz, provocada pela remoo de matrias finas pelos processos erosivos. De norte a sul, esta dorsal separa os ambientes das plancies costeiras voltadas para leste daqueles orientados para o norte ou para as baas a oeste. As plancies costeiras so formadas pela decomposio de sedimentos marinhos e fluviomarinhos, representando os terrenos mais recentes na escala geolgica. A formao destas plancies est associada s oscilaes do nvel do mar durante perodo quaternrio, resultantes principalmente da alternncia de perodos glaciais e interglaciais que alteram o volume das guas ocenicas. Na Ilha de Santa Catarina distinguem-se trs ambientes de plancies costeiras, de acordo com o nvel de energia ambiental a que esto sujeitos: o setor leste, submetido atuao das ondas e ventos de alta energia, provenientes do quadrante sul; o setor oeste, compreendendo as guas protegidas das baas Norte e Sul; e o litoral norte, de nvel energtico intermedirio, que atingido pelos ventos e ondulaes oriundas do quadrante norte e protegido dos ventos do sul pelas elevaes da dorsal central. Setor Oeste: As guas protegidas das baas Norte e Sul, associadas s pequenas profundidades e ao acmulo de finos sedimentos transportados pelos rios, proporcionaram a formao de manguezais, que se situam no baixo curso dos sistemas submetidos influncia das mars e diretamente relacionados magnitude dos sistemas fluviais montante. Por ordem decrescente de rea, destacam-se os trs principais manguezais: do Rio Ratones, Itacorubi e Saco Grande, todos na Baa Norte. Outro trao morfolgico do litoral neste setor a ocorrncia de pequenos arcos praiais junto s reentrncias dos macios rochosos, tais como as praias de Caieira

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e da Tapera, na Baa Sul, e as praias de Cacup, Santo Agostinho de Lisboa e do Sambaqui, na Baa Norte. Linhas de costes mais ou menos abruptos caracterizam a morfologia dos locais nos quais as elevaes rochosas esto em contato direto com as guas das duas baas. Setor Norte: Dois arcos praiais, ancorados e individualizados por elevaes rochosas, delineiam o litoral da ilha: a leste, com 4,5 km, as areias de CanavieirasCachoeira do Bom Jesus, delimitadas pelo extremo norte da dorsal central e pela Ponta dos Morretes; a oeste, Praia do Jurer, com 3,5 km, entre as pontas dos Morretes e do Forte. Estas praias so rodeadas de plancies constitudas pela sucesso de cristas praiais e seus cavados, que do paisagem um aspecto ondulado. A formao destas plancies est associada, principalmente, ao rebaixamento progressivo do nvel do mar a partir de 5.100 anos, poca em que se encontra em torno de 3,5 m acima da sua altura atual. Esta baixa no nvel marinho afastou as guas de antigos depsitos de areias, causando o desenvolvimento destas plancies de progradao. Observa-se ainda, neste setor, a presena de duas flechas arenosas formadas pelo transporte de sedimentos costeiros e pela atuao de correntes de deriva litorneas, no sentido geral N-S e NE-SW. So depsitos recentes, ainda deste sculo. A mais antiga flecha o pontal da Daniela, situado junto entrada da Baa Norte. A outra, que se formou nos ltimos anos, o Pontal de Ponta das Canas, que isola do mar um dos poucos corpos lagunares encontrados no setor norte. Setor Leste: No litoral da Ilha de Santa Catarina, os macios rochosos e as reas de sedimentao quaternria configuram uma alternncia de costes e praias de vrias formas e extenses. Trs tipos de praias podem ser distinguidos: a) praias em forma de espiral ou parbolas, como as dos Ingleses (3 km) e da Armao (4 km); b) praias de bolso, como a Brava, a do Santinho, a da Galheta, a Moe e a Matadeiro (1 km); c) praias alongadas, tais como Barra da Lagoa-Moambique e Joaquina-Campeche (10 km), estas praias encontram-se ancoradas a um cordo arenoso denominado externo, cujas altitudes so de 4 a 6 m acima do nvel do mar, isolando do mar terraos planos e alongados que representam antigas lagunas ressecadas com o rebaixamento da altura do oceano. Tm cotas em torno de 1,0 e 1,5 m, constituindo-se em depsitos de caractersticas pantanosas, com a formao de turfas. A oeste, estes remotos corpos lagunares esto em contato com um segundo cordo, desta vez interno, elevando-se de 6 a 10 m acima do nvel do oceano. Ele isola do mar os dois maiores corpos dgua da Ilha: a Lagoa da Conceio, no centro-norte, e a Lagoa do Peri, no sul, ambas confinadas a oeste pelas encostas do dorsal central. 11

A Lagoa da Conceio, com 17,6 km, e profundidade mxima de 8,7 m, tem a sua comunicao com o mar assegurada pelo canal da Barra da Lagoa, que permite trocas entre a laguna e o oceano. Com uma rea menor (5,2 km), a Lagoa do Peri j no recebe contribuio de guas marinhas, em virtude de suas cotas em relao ao nvel mdio do mar, constituindo-se desta forma no maior reservatrio insular de gua doce. Finalmente, trs grandes planos arenosos horizontalizados completam este quadro geral das unidades geoambientais da Ilha. O primeiro, situado ao norte, entre as encostas da dorsal centro-norte, a Praia de Canavieiras, Cachoeira de Bom Jesus e o Manguezal do Rio Ratones; outro plano, localizado na rea que secciona a dorsal central em direo ao sul; e o terceiro na extremidade sul da Ilha, situado retaguarda da Praia do Pntano do Sul, delimitando no norte, leste e oeste pelas elevaes do compartimento sul da dorsal central. Essas reas planas esto aproximadamente 2,5 m acima da altura mdia das guas ocenicas e correspondem s antigas extenses lagunares ou de mar raso, que foram ressecadas a partir de uma primeira, durante fase de rebaixamento, aps seu nvel alto de 51 sculos atrs. 1.3 OS CARIJS O primeiro contato de que se tem notcia dos carijs catarinenses com os europeus se deu em 1.504, quando o veleiro LEspoir, capitaneado pelo francs Binot Paulmier de Gonneville, de 120 toneladas, abasteceu-se, sem nenhuma economia, o que foi feito pelos burgueses para bem aprovisionar o dito navio, segundo o inventrio de mostra, excetuando-se os artigos de artilharia. Quanto s mercadorias, o navio foi carregado de: Trezentas peas de tecidos diversos; Machados, enxadas, foices, relhas, segadeiras, num total de quatro milheiros; Dois mil pentes, de vrias espcies; Cinquenta dzias de espelhinhos; Seis quintais de miangas de vidro; Oito de quinquilharias de Ruo; Vinte grosas de facas e canivetes; Um fardo de alfinetes e agulhas; Vinte peas de droguete; Trinta de fusto; Quatro de tecido tingido escarlate; Oito outras de diversas estampas; Uma de veludo com figuras; Algumas outras douradas; E moedas de prata que, segundo souberam, valiam na ndia tanto quanto ouro. Alm disso, foi o dito navio abastecido de biscoito, gro e farinha para cerca de dois anos, devido ao nmero de pessoas da tripulao, ervilhas, favas, 12

toucinho, carne de cabra e peixes salgados e secos, sidras e outras bebidas, sem contar a proviso de gua, para um ano ou mais. Foi tambm abastecido de muitos alimentos frescos antes da partida, e a arca do cirurgio do navio foi aviada com numerosos medicamentos de primeira necessidade e com os instrumentos e utenslios de sua arte. Durante a permanncia em So Francisco do Sul, os europeus conversavam cordialmente com as gentes dali, depois que elas foram cativadas pelos cristos por meio das festas e pequenos presentes que esses lhes davam. Os ndios eram gente simples, que no pediam mais do que levar uma vida alegre, sem muito trabalho; viviam da caa e da pesca e do que a terra lhes dava de per si, alm de alguns legumes e razes que plantavam. Eles so descritos assim pelos europeus: Andavam meio nus, os jovens e a maioria dos homens usando mantos, ora de fibras tranadas, ora de couro, ora de plumas, como aqueles que usam em seus pases os egpcios e os bomios, exceto que so mais curtos, com uma espcie de avental amarrado sobre as ancas, indo at os joelhos, nos homens, e nas mulheres at o meio das pernas; pois homens e mulheres se vestem da mesma maneira, sendo que a vestimenta da mulher mais longa. As fmeas usavam colares e pulseiras de osso e de conchas; no os homens, que usam, em vez disso, arco e flecha tendo por viroto um osso devidamente acerado, e um chuo de madeira muito duro, queimado e afiado no alto, o que constitui toda a sua armadura. E vo as mulheres e as meninas com a cabea descoberta, tendo os cabelos gentilmente tranados com cordis de ervas tingidas de cores vivas e brilhantes. Quanto aos homens, usam longos cabelos soltos, com um crculo de plumas altas, de cores vivas e bem dispostas. E as habitaes dos ndios formam aldeias de trinta, quarenta, cinquenta ou oitenta cabanas, feitas maneira de galpes com estacas unidas umas s outras, ligadas por ervas e folhas, com as quais os ditos habitantes so igualmente cobertos; e tm por chamin um buraco, para fazer sair a fumaa. As portas so bastes corretamente ligados; e eles as fecham com chaves de madeira, quase como as que se usam, nos campos da Normandia, nos estbulos. E seus leitos so esteiras macias cheias de folhas ou penas, suas cobertas so esteiras, peles de animais ou plumagens; e seus utenslios domsticos so de madeira, mesmo as panelas, mas estas so revestidas de uma espcie de argila da espessura de um dedo, o que impede que o fogo as queime. Tambm dizem ter notado que o dito pas est dividido em cantes, cada um com seu rei; e embora os ditos reis no sejam mais bem alojados e vestidos do que os outros, so muito reverenciados por seus sditos; e nenhum to atrevido que ouse desobedecer-lhes, j que eles tm poder de vida e de morte sobre seus vassalos. Disso alguns do navio viram um exemplo digno de memria, a saber, o de um rapaz de 18 a vinte anos que, num momento de exaltao, deu uma bofetada em sua me; tendo isso chegado ao conhecimento do chefe, embora a me no se tenha queixado, este mandou buscar o rapaz e ordenou que o 13

jogassem no rio, com uma pedra no pescoo, depois de chamar, por aviso pblico, os jovens da aldeia e das aldeias vizinhas; e ningum conseguiu obter remisso, nem mesmo a me que, de joelhos, veio implorar perdo para seu filho. O dito rei era aquele em cuja terra permaneceu o navio; seu nome era Arosca. Seu pas tinha a extenso de um dia, e era povoado de cerca de uma dzia de aldeias, cada uma das quais tinha seu capito particular, e todos obedeciam ao dito Arosca. Arosca tinha, ao que parece, uns sessenta anos, e era vivo; tinha seis filhos machos de trinta at 15 anos; e vinham, ele e os filhos, frequentemente ao navio. Homem de postura grave, estatura mdia, gordinho, de olhar bondoso; em paz com os reis vizinhos, mas ele e estes guerreavam com outros povos das terras interiores, contra os quais investiu duas vezes, durante a estada do navio, levando de quinhentos a seiscentos homens cada vez. E da ltima vez, seu retorno foi motivo de grande alegria para todo o seu povo, porque ele tinha alcanado grande vitria; suas ditas guerras no eram mais do que excurses de poucos dias contra o inimigo. E ele bem que gostaria que alguns do navio o acompanhassem com suas armas de fogo e artilharia, para atemorizar e desbaratar seus ditos inimigos; mas disso a gente se escusou. Tambm dizem que no notaram nenhum sinal particular que distinguisse o dito rei dos outros reis do dito pas, dos quais cinco vieram ver o navio, afora que os ditos reis usam na cabea plumagens de uma nica cor; e seus vassalos, pelo menos os principais, usam em seus crculos de penas algumas da cor de seu chefe, que era o verde na de Arosca, seu hospedeiro. Tambm dizem que se os cristos fossem anjos descidos do cu no seriam mais estimados por esses pobres ndios, que estavam todos assombrados com a grandeza do navio, com a artilharia, os espelhos e outras coisas que eles a viam e, sobretudo, com o fato de que, por um recado escrito que se enviasse de bordo aos tripulantes que estavam nas aldeias, se lhes fizesse saber o que se queria; eles no conseguiam explicar como o papel podia falar. Tambm por isso os cristos eram por eles temidos, e pelo amor de algumas pequenas liberalidades que lhes faziam, pentes, facas, machados, espelhos, miangas e outras bugigangas, to amadas que por elas se deixariam esquartejar, e lhes traziam abundncia de carne e peixes, frutas e vveres, e tudo o que eles viam ser agradvel aos cristos, como peles, plumagens e razes para tingir; em troca do que lhes eram dadas quinquilharias e outras coisas de baixo preo, de modo que se reuniu cerca de cem quintais das ditas mercadorias, que na Frana teriam alcanado bom preo. Dizem tambm que, desejando deixar, no dito pas, marcas de que ali haviam chegado cristos, foi feita uma grande cruz de madeira, alta de 35 ps ou mais, bem pintada; a qual foi plantada num outeiro com vista para o mar, em bela e devota cerimnia, tambor e trombeta soando, em dia bem escolhido, a saber, o dia de Pscoa de 1504. E foi a dita cruz carregada pelo capito e pelos principais do navio, todos descalos; e ajudavam-nos o dito chefe Arosca e seus filhos e outros 14

ndios notveis, que para tanto foram convidados de honra; e eles se mostravam alegres. Seguia a tripulao armada, cantando a ladainha, e um grande povo de ndios de todas as idades, aos quais h muito fazamos festa, quietos e muito atentos ao mistrio. Plantada a dita cruz, foram dados vrios tiros de escopeta e artilharia, e oferecidos festim e presentes honestos ao chefe Arosca e principais ndios; e quanto populao, no houve ningum a quem no se fizesse algum dom de bugigangas baratas, mas por eles prezadas, tudo para que o fato lhes ficasse na memria; dando-lhes a entender, por sinais e de outras formas, o melhor possvel, que eles deviam conservar e honrar a dita cruz. Outro contato que deixou profundas marcas na nao carij do litoral catarinense, desta vez na ilha de Santa Catarina, foi a de Sebastio Caboto, em 1526, passagem vastamente documentada atravs de Enrique Montes, de 30 de setembro de 1527, e por Luiz Ramirez, em carta de 10 de julho de 1528. Precedido de um introito sobre os objetos que recebera para negociar com os referidos ndios, principia Henrique Montes a expor os negcios que chegou a realizar, deles prestando contas. De mais de cinquenta negcios, citaremos alguns: Relao do gasto que eu, Enrique Montes, fiz por mandado do Sr. Capito General na Ilha de Santa Catarina desde 10 do ms de novembro de 1526 at 3 de fevereiro de 1527. E fala tambm de compra de abboras. Ao mesmo produto se referiro de futuro tambm os missionrios jesutas. As casas construdas ficaram para os mesmos ndios, depois que o pessoal de Caboto se retirou. De como isto se exercia, ilustra com grandes detalhes um documento. Detalhes aparentemente sem significao abrem luz sobre as atividades agrcolas e o comrcio dos ndios, que trabalhavam, inclusive, para os brancos, que os contratavam para transporte de materiais nas construes de casas e barcos: Primeiramente comprei 273 veados, que custaram 273 cunhas e 273 anzis mdios. Mais comprei 298 galinhas, que custaram 70 cunhas e mais 40 facas e 30 anzis medianos. Mais comprei 2 antas, que custaram 2 cunhas grandes e 4 pares de tesouras. Mais comprei 80 patos, que custaram 20 cunhas e 6 anzis. Mais comprei 52 calabaas de mel cru, que custaram 40 cunhas e 12 de tesouras e 52 anzis, com as quais houve depois de feita de 4 barris e meio nos quais havia pouco ou mais ou menos 14 arrobas. Mais dei por 5 cargas de milho, 5 cunhas e 5 anzis. Mais dei por 20 cargas de carvo, 4 cunhas e 2 espelhos e 10 anzis. Mais dei por uma canoa para servio da dita armada, uma cunha e uma faca. Mais dei por fazer por os arsenais em que se fez a galera, a 16 ndios principais que a faziam, 16 facas, porque a fizeram de madeira. Mais dei por 300 artigos de palha com que a fizeram, 300 anzis mdios. 15

Mais dei por fazer uma Igreja, duas facas. Mais dei por 5 calabaas de manteiga, 5 cunhas e 6 anzis. Mais dei por 300 cargas de razes de mandioca para fazer po e para vinho para os ndios que trabalhavam em serrar a madeira para a dita galera, 76 cristalinas por 38 cargas. Mais dei a Castilho que ia fazer carvo para a frgua, 30 anzis. Mais dei por 3 arrobas de mel. Mais s mulheres que faziam vinho aos ndios por vez 20 pentes. Mais por palmitos para salada, para comer na mesa de sua merc, 50 anzis. Mais por 40 cestos de inhame, assim para todos os doentes como para a mesa de sua merc, 19 facas e 20 pentes e 1 espelho. Mais 200 mos de milho para se fazer o vinho misturado com a mandioca e tambm para dar s galinhas e patos, que se gastavam com os doentes, 5 maos de matamugo e 11 espelhos. Mais para fazer a casa dos carpinteiros, 2 facas e 15 anzis. Pela casa da ferraria, 3 facas e 20 anzis pela palha. Dei isto para fazer a casa onde estava a dispensa de sua merc, 3 facas e 16 pontas. Dei para fazer uma casa para a plvora, 8 anzis. Dei a Martinho Viscainho por certas aves, as quais esto assentadas em poder de Ponce, 30 anzis, que jurou havia gasto. Dei mais por mandado de sua merc a 4 ndios que trouxeram Talavera, grumete, 4 facas e 4 anzis. Mais a Durango, que foi por patos e galinhas e outras coisas a terra Dararega, que ter 40 lguas da Ilha de Santa Catalina, para gasto seu e do que trouxe, 300 anzis mdios e 16 pontas e 100 anzis de alfinetes bonitos. Custou mais duzentos e tantos pedaos de cera negra, que era para misturar com o pez, 150 anzis. Mais gastei em outros gastos midos com os ndios, assim em acarrear a dita madeira como em outras obras que neste dito tempo se ofereceram em servio da dita armada, 412 anzis bonitos de alfinete e 28 anzis mdios. (Arquivo das ndias, 41-1-1/12) Havia aldeias indgenas na Ilha de Santa Catarina. Tambm as havia pelo lado fronteiro do continente, onde hoje se situa o Estreito, sendo este conhecido sob a denominao de Acutia, conforme informao de Hans Staden, quando ali esteve em 1549. Pelo lado da Ilha encontraram-se algumas aldeias. Onde Sebastio Caboto aportou, diz a carta de Ramirez, houvera cinco ou seis casas de ndios, depois que chegaram afluram mais ndios, os quais fizeram mais outras. Os documentos ora dizem casa, ora aldeia, para um ajuntamento de ndios, portanto, se juntavam em grupo dentro de uma s construo mais ou menos alongada. Algumas so denominadas pelo nome: Ribarc (= roa brilhante), Tigu (= o poo), Aboa-pea- (= Porto do rio dos patos), Trinoga (= a casa do morro), Temeubre.

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1.4 A TRANSFORMAO DOS CARIJS Os ndios carijs passaram subitamente para um mundo tecnolgico que revolucionou muitos dos seus hbitos da idade da pedra. Para isto contribuiu a convivncia pacfica desde o incio com a populao flutuante espanhola, como tambm o comrcio com os navegadores em trnsito mais ou menos regular. A moeda adotada fora a troca de anzis, facas, cunhas, espelhos, etc. por mantimentos e servios. Alm dos animais de caa, os ndios negociavam mel, milho, mandioca, inhame, palmito, vinho. Os ndios carijs conheceram, com o branco europeu, tecnologia, produtos, plantas, mas, ao final do sculo XVII, veremos que o preo pago foi muito alto, com a quase total aniquilao desta grande nao guarani, devido a doenas, ao preamento, escravido, principalmente pelos bandeirantes paulistas. Antes os ndios carijs pescavam com anzis feitos de ossos e dentes de animais ou com redes feitas de fibras vegetais. Em contato com os colonizadores europeus, passaram a utilizar anzis metlicos. Devido ao clima frio, os ndios do sul do Brasil eram os nicos que no andavam nus o ano todo. Homens vestiam-se pendurando nas costas pelegos, do tamanho de um cobertor pequeno, feitos de couro de veados ou de rates do banhado. Na falta de barro, as ocas dos carijs catarinenses eram feitas de juara (espcie de palmito) a pique, cobertas com folhas de coqueiros e palmeiras. Em mdia comportavam de 30 a 40 pessoas, sendo que algumas chegavam a abrigar at duzentas pessoas ou mais. As de Laguna seriam consideravelmente menores e teriam s nove ou dez moradores. De certo, os colonizadores europeus adaptaram conhecimentos indgenas, em condies bem diferentes de Portugal e da Espanha, onde eram pastores. Transformaram-se em lavradores, artesos e pescadores. Aprenderam com os ndios as tcnicas necessrias sobrevivncia no espao que passaram a habitar. Abandonaram o cultivo de cereais como o trigo e o centeio a que estavam acostumados, para adotar a mandioca, o milho e o peixe na brasa em sua alimentao. O linho continuou sendo usado, mas passaram a tecer com o algodo, a fibra nativa disponvel. Isso ocorreu tambm com a horticultura, a cestaria e a olaria. Na obra Por Mares Grossos e Areias Finas, de Ruy Ruben Ruschel, encontramos o relato da viagem do Pe. Jernimo Rodrigues, ocorrida entre 27 de maro de 1605, iniciando em Mongag, no estado de So Paulo e terminando em 15 de agosto de 1605, em Laguna, Santa Catarina, quando descreve os carijs como antropfagos, displicentes, preguiosos, sujos e incestuosos. Passados quase um sculo do primeiro contato com o homem europeu, na viso do missionrio degradante a situao do ndio catarinense, ficando clara a transformao ocorrida neste perodo, em contraste com os cronistas anteriores.

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Mas no podemos esquecer que, neste perodo, os carijs sofreram a quase total dizimao, passando do primeiro contato amvel do francs Binot Paulmier de Gonneville (1504), s brutalidades de Sebastiao Caboto (1526) at as atrocidades de Juan Ortiz de Zrate (1573), sendo que os carijs j estavam rarefeitos nesta poca, a grande maioria tinha deixado a ilha de Santa Catarina e descido para a regio de Laguna. 1.5 AS CANOAS INDGENAS Com quantos paus se faz uma canoa? Geralmente com um s, e em geral da rvore do Garapuvu y gyapiruvu (Schizolobium parahyba), rvore smbolo do litoral catarinense, utilizada na construo de canoas. Os carijs usavam duas espcies de canoas. Uma, era construda de um pau s, inteirio (monxilo), que cavavam a frio quando a madeira era mole ou por meio de fogo no caso contrrio; e chamavam a este tipo ingar, de y-gra (a que flutua). As grandes canoas deste sistema chamavam igara-ou ou igara-t (canoa de vulto ou verdadeira), que comportavam muitas vezes, de 40 a 60 pessoas. As pequenas eram conhecidas por igara-mirim. Na construo destas embarcaes empregavam geralmente as seguintes madeiras (ibira): garapuvu, tamuri, ou tambui (caxeta), guaruva, figueira branca, cedro etc. Ao pau de canoa chamavam ubiragra. A outra canoa era construda de casca de certas rvores escoradas por dentro, tendo os extremos ligados com cip. As canoas deste tipo eram menores e mais fracas. Chamavam-nas oba, de oba-y (casca aberta) ou piroga (esfolada). Denominavam as maiores embarcaes deste tipo ub-u ou bacu. Conta-nos Hans Staden: No pas h uma espcie de rvore que se chama Yga Ivera (ig ibira, pau de canoa), cuja casca (pyrra) eles desprendem de cima at em baixo, fazendo uma armao especial ao redor da rvore para tir-la inteira. Depois, tomam a casca e levam da serra at o mar, aquecem no fogo, dobram-na para diante e por de trs e lhe amarram dois paus atravessados no centro para que no achate, e fazem assim uma canoa, na qual cabem 30 pessoas, para ir guerra. A casca tem a grossura de um dedo polegar, certamente 4 ps de largura e 40 ps de comprimento; algumas mais longas e outras mais curtas. Nelas remam depressa e navegam to longe quanto querem. Quando o mar est bravo, puxam as canoas para a terra at o tempo ficar bom. Vo mais de duas milhas (a milha alem tem 7.408 metros) mar a fora; mas ao longo da terra navegam muito longe. Conta Thevet1 que estas embarcaes feitas de casca tinham 5 a 6 braas de comprido e 3 ps de largura, comportando de 40 a 50 homens e mulheres, empregando-se estas em esgotarem a gua que entrava. No dia da extrao da casca da rvore, os que executavam da raiz at a copa abstinham-se de tomar

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qualquer alimento ou bebida com receio de lhes sobrevir alguma desgraa no mar. E quando este se encrespava, lanavam s ondas uma pena de perdiz ou outra ddiva para aplac-lo. Viajavam costeando a terra. Remavam de p com um remo chato dos dois lados o qual o seguram pelo meio. Guerreiam nelas. E quando o pede o perigo diz o P. Simo de Vasconcelos , com o mesmo remo se escudam, porque era o seu remar em p, e tinham os remos, uns como escudete, com que aparavam as flechas dos contrrios. Andam tambm vela, segundo a conjuno o pede. Tanto as igras, como as obas e pirogas eram usadas na pesca, no transporte de mercancias e na guerra. As destinadas a este ltimo propsito, em que ia o chefe tuchaua, traziam como distintivo um chocalho marac proa e, por isso, eram denominadas igatim (canoa de bico) ou marac-tim. Ao canoeiro chamavam yb yara; as canoas ronceiras chamavam -uat; quando a embarcao se prendia, diziam y-rec; a canoa solta, ob yera; para dizer que estava algo na canoa, diziam igra-pup. proa da embarcao chamavam tim; ao remo, apcuit; ao leme ou remo de p, yacum; ao remador, yacumahua; boa ou amarrao da canoa, yga-ra-ta; para funde-la empregavam uma pedra pesada ligada a um cabo ou cip pit (poita) ou itaguau (pedra grande). No sabemos se antes da descoberta eles conheciam o uso da vela; em todo o caso, ficou ela conhecida pelo nome de igare-tinga (o branco da canoa) ou ctinga (lngua branca). Ao mastro chamavam i e cting-yba ao pano da vela. No ponto onde encalhavam as embarcaes denominavam igara-paba. grande quantidade de canoas diziam igara-tuba ou ob-tuba. Os carijs empunhavam o remo com rara maestria e o manejavam com cadncia. Remavam, em geral, de p. O naufrgio diziam Mur ou Murur; enquanto remavam, em geral cantavam suas cantigas (nheengareava). Faziam tambm uma espcie de regata (Mo nheenga), que por muito tempo existiu entre ns com o nome de Morenga. Desde o descobrimento com Pedro lvares Cabral, passando pelo navegador francs Binot Paulmier de Gonneville (1504), Sebastio Caboto em 1526, farto os registros sobre a abordagem dos indgenas s embarcaes dos navegantes, chegando em grande nmero a bordo de canoas feitas de troncos escavados.1Andr de Thevet (1516 em Angoulme - 23 de novembro de 1590 em Paris) foi um sacerdote francs franciscano, explorador, cosmgrafo e escritor que viajou ao Brasil no sculo XVI. He described the country, its aboriginal inhabitants and the historical episodes involved in the France Antarctique , a French settlement in Rio de Janeiro , in his book Singularities of France Antarctique. Ele descreveu o pas, seus habitantes aborgenes e os episdios histricos envolvidos na Frana Antrtica, uma colnia francesa no Rio de Janeiro, em seu livro Singularidades da Frana Antrtica.

O alemo Hans Staden esteve duas vezes no Brasil na primeira metade do sculo XVI. Na segunda, foi aprisionado pelos indgenas em Bertioga, com os 19

quais conviveu durante meses at ser resgatado por um navio francs. Ao retornar sua terra, escreveu um livro contando suas experincias, publicado em 1557, que um dos documentos mais preciosos sobre os anos iniciais do Brasil colonial. Existe l, naquela terra, uma espcie de rvore, que chamam ig-ibira. Tiramlhe a casca, de alto a baixo, numa s pea e para isso levantam em volta da rvore uma estrutura especial, a fim de sac-la inteira. Depois trazem essa casca das montanhas ao mar. Aquecem-na ao fogo e recurvam-na para cima, diante e atrs, amarrando-lhe antes, ao meio, transversalmente, madeira, para que no se distenda. Assim fabricam botes nos quais podem ir trinta dos seus para a guerra. As cascas tm a grossura dum polegar, mais ou menos quatro ps de largura e quarenta de comprimento, algumas mais longas, outras menos. Remam rpido com estes barcos e neles viajam to distante quanto lhes apraz. Quando o mar est tormentoso, puxam as embarcaes para a praia, at que se torne manso de novo. No remam mais que duas milhas mar afora, mas ao longo da costa viajam longe. A canoa junto com a jangada e a balsa foram as primeiras embarcaes utilizadas pelo homem, constituindo-se em autntica proeza e representando um dos grandes saltos qualitativos da histria do homem: a inveno da navegao, isto , atravessar uma superfcie lquida sem molhar-se. Este avano, provavelmente, foi obtido de duas maneiras: unindo com cips e ataduras vrios pedaos de rvores (balsa) ou escavando um tronco (canoa). Existiram canoas em todos os continentes, utilizadas por praticamente todos os povos primitivos litorneos. Dependendo do avano tecnolgico da humanidade, das rvores disponveis e das necessidades humanas, diferentes tipos de canoas foram sendo criados em todo o mundo. Inicialmente, escavavam-se troncos grossos com o auxlio de fogo e pedras, em um penoso processo que trazia como recompensa slidas embarcaes. Onde a natureza proporcionava a ocorrncia de grandes rvores dotadas de grossas cascas, o homem aprendeu, atravs do calor, a desprender a camada externa do caule, de modo a construir canoas como quem dobra uma folha de papel. Descobertos os metais, tornou-se muito mais fcil a escavao de toras de madeira, mas logo a evoluo permitiu que o homem aperfeioasse suas ferramentas e trabalhasse a madeira de modo a obter peas com sees esbeltas, de uma maneira que teria sido impossvel com fogo ou rochas. Surgiram as ripas, as tbuas e com elas o desmembramento dos barcos em estruturas autnomas cobertas com tabuado, couros e produtos diversos: estavam criados os barcos propriamente ditos. O Almirante Antnio Alves Cmara, o primeiro estudioso a interessar-se pelo fabuloso patrimnio naval dos rios, lagoas e mares do Brasil, na publicao ainda no superada de 1888 Ensaio sobre as Construes Navaes Indgenas do Brasil , afirma que a origem desta palavra americana, das carabas.

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Depois de confirmar que a denominao foi citada por Colombo e os primeiros viajantes da Amrica, refere-se ao vocabulrio portugus latino do padre Rafael Bluteau, publicado em 1712, que descreve: Canoa Embarcao de que usam os gentios da Amrica para a guerra, de que mais se aproveitam os moradores para o servio, pela pouca gua que demandam e pela facilidade com que navegam (...). Cada qual se forma de um s pau comprido e boleado, a que tirada a face de cima, arrancam todo o mago, e fica a moda de lanadeira de tear, e capaz de vinte ou trinta remeiros. Poucos anos depois da expedio de Cristvo Colombo, Pero Vaz de Caminha, o insigne cronista da frota comandada por Pedro lvares Cabral, oficialmente os primeiros europeus a chegarem ao Brasil, em seu pormenorizado relato do gentio (os portugueses no tinham dvidas quanto verdadeira posio do oriente e s muito mais tarde chamaram de ndios aos nativos que encontraram vivendo no Brasil) no deixa de citar as embarcaes que chamou de almadias: ... as quais no so feitas como as que eu j vi; somente so trs traves atadas entre si. E ali se metiam quatro ou cinco.... O padre Leonardo Nunes, jesuta chegado ao Brasil com Tom de Souza e Manoel da Nbrega, relata que: ... dez ou doze lguas junto do porto de S. Vicente, um sbado em amanhecendo, viemos a vista de umas canoas de ndios, que so uma certa maneira de barcos em que se navega (...) e dizendo isto nos comearam a cercar ao redor, porque eram sete e cada uma tinha trinta ou quarenta remeiros, s quais correm tanto que no h navio por ligeiro que seja que se tenha com elas.... Frei Vicente do Salvador, frade franciscano que foi o autor da primeira Histria do Brasil, editada ainda no sculo XVII, afirma: Mas os ndios naturais da terra as embarcaes de que usam so canoas de um pau s, que lavram a forro e ferro; e h paus to grandes que ficam depois de cavadas com dez palmos de bocas de bordo a bordo, e to compridas que remam a vinte remos por banda. Sobre a guerra entre portugueses e tamoios, no sul do Brasil, afirma o cronista que: Haviam os tamoios ajuntado ao nmero ordinrio de suas canoas outras novas que chegavam a cento e oitenta.... J conhecidas, portanto, dos indgenas, utilizadas no litoral, na Amaznia, no Pantanal e nos rios do interior brasileiro, as canoas receberam, com a chegada dos portugueses (vindos da Europa e do Oriente) e logo depois dos escravos africanos, novas influncias, detalhes e desenhos. Segundo todos os depoimentos, as canoas indgenas anteriores ao Descobrimento locomoviam-se a remos, inexistindo o uso ou o conhecimento da vela em toda a Amrica. A introduo de mastros e velas foi a primeira adaptao importante nas canoas brasileiras, trazendo como consequncia lemes e bolinas, seguindo-se logo vrias adequaes, surgindo assim a enorme variedade deste tipo de embarcao ainda encontrada em todo o Brasil. De uma maneira geral, pode-se afirmar que as canoas do interior do pas guardaram mais as suas origens indgenas no formato dos cascos, nos remos, na 21

ausncia de velas e na falta de pinturas vivas. No litoral, de onde os ndios foram quase que totalmente desalojados ainda no sculo XVI, prevaleceram modelos africanos, europeus ou asiticos. No litoral, do sul para o norte, existem diversas variedades: as canoas bordadas e as de borda lisa, com variantes gachas/sulcatarinenses, norte-catarinenses/paranaenses e paulistas/cariocas, as canoas baianas, as canoas cearenses (desde h muito confeccionadas com cavernas e tabuado) e as maranhenses (inclusive as montarias). Na regio centralizada por Santa Catarina, existem alguns tipos das belas canoas bordadas, assim chamadas porque, nas bordas dos troncos escavados, adicionam-se, com grande maestria, tabues que ampliam a borda livre e aumentam a fora e velocidade dos remos. Estas canoas so pintadas com cores vivas e inserem-se entre as embarcaes plasticamente mais expressivas do mundo. Com algumas variaes, existem at no Rio de Janeiro. Aparentemente toscas, as canoas so na verdade barcos dos mais antigos do mundo e que sobreviveram milnios em funo de sua adaptabilidade e facilidade construtiva. No Brasil, representam a sntese de modelos de origem indgena ou de outros continentes, adequados s necessidades de cada uma das baas, enseadas, praias, ilhas, esturios e cursos de gua deste pas continental. Pertence ao documentrio geral relativo a Sebastio Caboto parte de uma longa missiva com a data de 10 de julho de 1528, que descreve a Ilha de Santa Catarina e os acontecimentos que nela ento se sucediam, escrita por um dos seus marujos, o espanhol Luiz Ramirez. Foi esta carta enviada a seu pai, tudo depois de haver sado a armada da Ilha de Santa Catarina e j se encontrar dois anos em San Salvador, em Rio La Plata. Representa a carta de Luiz Ramirez para a Ilha de Santa Catarina algo similar de Pero Vaz de Caminha, de 1500, com referncia ao Brasil. Era Luiz Ramirez pessoa bem informada e que viajara com o prprio Sebastio Caboto, na Capitnia, que houvera naufragado na Baa Sul da Ilha de Santa Catarina. O texto est guardado na biblioteca do Escorial, proximidades de Madri, Espanha. No Brasil, a carta foi publicada pela primeira vez na revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro (Tomo XV, 1852, p. 14-41). Para esta Enciclopdia fizemos, todavia, a presente traduo, restrita parte referente Ilha. Acrescemos uma numerao com vistas a facilitar citaes. A carta, depois de narrar o aportamento em Pernambuco e referir-se s bondades dos moradores e aos indgenas daquelas costas nordestinas, descreve ainda longamente o curso ao longo da costa, na qual se perdeu um batel, episdio que motivou o aportamento na Ilha de Santa Catarina, para finalmente abordar os acontecimentos aqui acorridos. 1. As naus desfizeram-se de alguns objetos inteis para dar-lhes alvio. A nau capitania perdeu o batel que trazia na popa. A tormenta, da maneira como tenho dito, e muito pior, nos durou toda a noite at domingo. Amanheceu o dia com muito e bom sol como se no houvesse passado nada, e assim andamos at que sexta-feira seguinte, dezenove do dito 22

ms (de outubro), chegamos a surgir em uma Ilha atravs de uma grande montanha, porque parecera ao Capito General ser aparelhada de madeira para fazer batel para a nau capitnia, porque, como digo, na tormenta passada havia perdido o seu. 2. E estando nisto, vimos vir uma canoa de ndios, a qual veio nau capitania, por sinais nos deu a entender que havia ali cristos. O que ainda no acabado de entender, o senhor Capito General lhes deu a estes ndios algum resgate, os quais foram muito contentes. Estes ndios, segundo parece, foram por terra adentro e deram novas de nossa vinda. De maneira que, outro dia de manh, vimos vir outra canoa de ndios e um cristo dentro dela. No transcorrer desse sculo (1500/1600) veremos a importncia das canoas indgenas, como elemento fundamental na descida dos jesutas paulistas, com destino s misses pelo litoral catarinense.

CAPTULO II

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OS PRIMEIROS CAMINHOS

2.1 Os primeiros caminhos 2.2 Rumo ao Norte 2.3 Caminhos do Peabiru

2.1 OS PRIMEIROS CAMINHOS

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A princpio h de se pensar que o ndio catarinense, em sua maioria da grande nao Guarani, dividido em diversas etnias, era nmade, mas este conceito vai se transformando, a partir do descobrimento, com o contato com o homem europeu. Os carijs, em se tratando de litoral, estavam fixados entre as cidades de So Vicente, no litoral do Estado de So Paulo, passando pelo Paran, indo at a extremidade do Brasil, na regio da Lagoa dos Patos, no atual estado do Rio Grande do Sul. Os carijs fixados no litoral catarinense pouco se movimentavam. Os primeiros passos dados no interior das matas foram para buscar alimentos, principalmente a caa. No inicio eram somente algumas picadas abertas na mata, que, com o uso repetitivo e com o tempo, foram se transformando em caminhos, e num futuro mais distante em estradas. As andanas e caminhos percorridos pelos nossos ndios catarinenses tiveram as primeiras trilhas abertas no sculo passado (15001600), partindo de Florianpolis, e foram direcionadas para o sul de Laguna, na tentativa frustrada de colonizao ou para fugir das atrocidades de portugueses e espanhis. Somente a partir da chegada dos primeiros colonizadores, principalmente Sebastio Caboto e Cabeza de Vaca, os carijs catarinenses comearam a ser utilizados para abrir trilhas, carregar mantimentos e tambm como guias das expedies, na tentativa de se chegar regio do Prata atravs do planalto catarinense, especialmente nas expedies feitas por terra, no sentido sudestenoroeste, de Aleixo Garcia, em 1523, e de Cristoval de Saavedra, em 1551, quando ambos saram por terra das proximidades da Ilha de Santa Catarina em direo ao Paraguai, e ainda da expedio de Hernando de Salazar e Afonso Bellido, em 1552, que saram da cidade de Laguna. Tambm nas expedies que saram do Paraguai e que fizeram o caminho inverso, sentido noroeste-sudeste, dos freis Bernardo de Armenta, Alonso Lebron e Afonso Vellido, em 1544-1545, em direo Ilha de Santa Catarina, bem como a Laguna ou Mbia. Alguns outros desbravadores da Coroa espanhola fizeram o caminho inverso noroestesudeste em direo Ilha de Santa Catarina e cidade de Laguna. Nestas expedies, de Aleixo Garcia, de Cristval de Saavedra, dos freis Bernardo de Armenta, Alonso Lebron, Afonso Vellido e tambm de Hernando de Salazar, no se tem notcias de que os mesmos se utilizavam de embarcaes partindo da Ilha de Santa Catarina e da cidade de Laguna para se chegar diretamente foz do rio Itapocu e vice-versa Concordo com a opinio do Padre Tarcsio Marchiori, que, em seu livro Terra dos Carijs, afirma que em muitos casos o caminho era percorrido por terra pelos ndios, desde a Ilha de Santa Catarina, passando pela orla martima e atravessando apenas alguns acidentes geogrficos, que possivelmente impediriam o trnsito por alguma praia, entre a sada da Ilha de Santa Catarina e o Norte do Estado. Teramos alguns pontos que impediriam que o trajeto fosse feito totalmente pelo litoral, Morro dos Ganchos (Governador Celso Ramos), Morro dos Bobos (Porto Belo), das Bombas (Bombinhas), Taquara (Balnerio de Cambori), 25

das Cabeudas (Itaja), das Estrelas (Penha) e dos Morretes (So Francisco do Sul). Esta afirmao tambm se baseia nos dados coletados das expedies dos desbravadores espanhis no sculo XVI, com citaes de acidentes geogrficos que coincidem com este itinerrio dentro do vale do rio Itapocu. Um exemplo seria uma citao na expedio de Cabeza de Vaca, em 1541, onde parte desta expedio se utilizou de algumas canoas, e que os mesmos chegaram num porto que seria as confluncias dos atuais rios Humboldt e Novo, em Corup. A expedio de Hernando de Trejo, Mencia Calderon e outros, em 1554, citada no livro de Ruy Diaz de Gusmn, chamado popularmente de La Argentina Manuscrita, de 1612, onde tambm se referem que esta expedio subiu o rio Itapocu e, aps contratempos e mortes causadas pela fome e doenas, chegaram a um porto de onde desembarcaram e deixaram as canoas para seguirem serra acima. Esta confluncia seria a mais aceita porque at naquele ponto possvel navegar com pequenas embarcaes. Nada impede que as confluncias dos rios Jaragu e Itapocu, e um pouco mais abaixo pelo rio Itapocu-mirim (Itapocuzinho) com o Itapocu poderiam ser tambm local de algum porto de canoas utilizadas por indgenas e pelos desbravadores da Coroa espanhola no sculo XVI. Porm, no se tem comprovaes historiogrficas e arqueolgicas a respeito. Tese defendida principalmente pelo pesquisador e historiador catarinense, Lucas Alexandre Boiteux, em seu livro Santa Catarina no sculo XVI (Anais do primeiro congresso catarinense de Histria, em 1950), na qual deu o nome de Campo dos Anris, que situava prximo da regio da bacia hidrogrfica do rio Preto (afluente do rio Negro), referente ao primeiro chefe da povoao indgena da nao guarani e vassala da Coroa espanhola, que foi descrito na expedio de Cabeza de Vaca, em 1541, como Anriri. Tambm na expedio de Hernando de Trejo e Maria de Sanabria, eles citam o chefe da povoao indgena vassala da Coroa espanhola ao subirem a serra descrevendo com o nome de Gapa ou Guapa. No se sabe se seria exatamente a mesma povoao indgena com chefes distintos em pocas diferentes. Este assunto tratado at os dias atuais com profunda polmica e total falta de consenso historiogrfico sobre os primeiros caminhos abertos no territrio catarinense, principalmente relacionados ao ramal catarinense do Peabiru. A coerncia dos primeiros caminhos aponta para a proximidade com o litoral, falando da continuao terrestre do ramal do Peabiru saindo prximo da foz do rio Itapocu at a Ilha de Santa Catarina e at mesmo a cidade de Laguna ou Mbia (uma espcie de marap ou parap, que significa caminho do mar, utilizado pelos tupis a partir do litoral paulista). Deduz-se que alguns pontos da atual BR101 (trecho norte da rodovia) poderiam ter sido trechos antigos do Peabiru na costa catarinense. Box

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Os registros cartogrficos holandeses, alm de estarem anos frente dos de origem ibrica, traziam tambm muitas referncias quanto s tribos indgenas que habitavam as regies demonstradas. As primeiras menes em mapas da Holanda aos ndios Patos, alm dos relatos dos primeiros navegadores portugueses que passaram pela atual Florianpolis no incio do sculo XVII (inicialmente chamada de Porto dos Patos) e pelos bandeirantes paulistas, foram feitas por Jodocus Hondius, em 1622, que destacou o R. Patus Plaia e as Seis Ilheas. Em compensao, o gegrafo no mostrou o contorno da ilha que hoje a capital do Estado de Santa Catarina, representada em seu atlas por uma pennsula apenas em 1631 Henricus Hondius vai revelar o formato da Ilha de Santa Catarina. Mesmo assim Jodocus Hondius no levou isso em conta em seu novo Atlas de 1633. Willem Blaeu reproduziu tambm a ilha, em 1635, seguido pelos cartgrafos holandeses Jan Jansson, em 1650, Frederik de Wit, em 1670, Petrus Berius, em 1675, Carel Allard, em 1680, Robert Mordern e, novamente, De Wit, em 1688, e Nikolaus Visscher, em 1698.

2.2 RUMO AO NORTE A Ilha de Santa Catarina sempre foi, desde o incio, o principal ponto de convergncia dos carijs catarinenses. Ali se deu o maior ajuntamento; dali partiram para diversos pontos da Amrica do Sul, mas primeiro precisavam transpor o mar que separava a ilha do Continente. A travessia do Estreito (0 KM) A travessia entre a Ilha de Santa Catarina feita na regio do estreito, assim chamado por ser o ponto de menor distncia entre o Continente e a parte insular da ilha, com cerca de 400 metros. Estava evidentemente no interesse dos ndios como o ponto mais fcil de passagem, local onde mais tarde foi construda a ponte Herclio Luz (1924). Neste trecho, o mar extremamente calmo, entre as baas norte e sul pode-se fazer a travessia at mesmo com pequenas embarcaes, como as canoas indgenas. So Jos (1 KM) Com uma rea total de 114,7 km, localizado na latitude 27, 36, 55 S, altitude ao nvel do mar, tem como limite a leste as guas da baa sul da ilha de Santa Catarina, a oeste So Pedro de Alcntara e Antnio Carlos, a norte Biguau e Florianpolis, e a sul Palhoa (Rio Imarui). As terras elevadas existentes na regio fazem parte do conjunto geomorfolgico conhecido por Serra do Tabuleiro, cuja maior expresso no 27

municpio de So Jos o Morro da Pedra Branca, de 450 m de altura. Com superfcies planas, permite percorrer uma extensa plancie costeira, sendo que o solo em toda a regio de baixada de argila arenosa. Avista-se a Ilha das Noivas, atravessa-se o Rio Buchele, passa-se por Barreiros, Serraria, depois vem o Rio Serraria, que faz a divisa com Biguau. Biguau1 (16 km) rea total de 326 km, localizado na latitude 27, 49, 27 S, altitude 0,2 m acima do nvel do mar. Divisa a oeste com os municpios de Antnio Carlos e So Joo Batista, a leste com o Oceano Atlntico (baa Norte da Ilha de Santa Catarina) e tambm com o municpio de Governador Celso Ramos. Divisa ao norte com Tijucas e Canelinha e ao sul com Antnio Carlos e So Jos. Est localizada entre as serras do leste catarinense (vertentes do Atlntico) e o mar (baa Norte da Ilha de Santa Catarina). Suas serras cobertas de mata atlntica so: da Queimada, Timb, Cabo Frio, do Itinga, da Dona ou Boa Vista ou Major, da Guiomar, das Congonhas, ponto mais alto do municpio com 900 m. Seu territrio cortado pelo Rio Biguau, que nasce na serra do Pai Joo, municpio de Antonio Carlos, e sua extenso de 46.800 m, sendo o maior do municpio. Outro rio importante que corta a regio de Biguau o Rio Inferninho, que nasce na Serra da Dona e desemboca no Oceano Atlntico. H ainda os rios Serraria, que nasce na Serra de Santa Filomena, com 21.750 m, em parte encachoeirado; o rio Trs Riachos, que nasce na serra da Guiomar; e o Cachoeiras, na Graciosa. Temos ainda os rios Felicio, divisor distrital de Sorocaba do Sul e Guaporanga e o do Camaro, que nasce na Estiva e desemboca no Oceano Atlntico. Prossegue-se beira-mar at a regio da Tijuquinhas, em seguida chega-se divisa do municpio de Governador Celso Ramos.

1Biguau, nome de origem indgena. Existe pelo menos trs verses para seu significado, a mais aceita a que significa Bigu Grande. Bigu um pssaro aqutico ainda hoje encontrado no rio Biguau.

Governador Celso Ramos (30 KM) A regio conhecida como Ganchos, com 93 km, faz divisa a oeste com Biguau, com Tijucas e o Oceano Atlntico, ao norte; ao sul e a leste com o Oceano Atlntico; latitude 27 18' 53", com altitude de 35 m acima do nvel do mar. Surge o primeiro obstculo no caminho beira-mar, a Serra da Piedade (Armao), coberta pela Mata Atlntica tropical, com seu cume tendo 620 m de altura. Neste ponto o caminho segue paralelo ao Rio Jordo at o Canto dos 28

Ganchos, tendo os morros Vira Saias e dos Ganchos, direita, no municpio de Gov. Celso Ramos (Ganchos); do lado esquerdo da plancie as serras de So Miguel e Queimada, numa extensa plancie de sedimentao martima que vai at a foz do Rio Tijucas. Tijucas2 (55 Km) Localiza-se a uma latitude 27 14' 29", com altitude mdia de 2 m acima do nvel do mar e uma rea de 278,9 km. Limita-se ao sul com Biguau e Governador Celso Ramos, a leste com o Oceano Atlntico, a oeste com Canelinha e So Joo Batista, ao norte com Porto Belo, Itapema e Cambori. O caminho a era pela estrada do Timb, pois surge novo obstculo caminhada, que no mais a topografia, e, sim, a hidrografia, ou seja, o grande rio Tijucas3, com mais de 150 m de uma margem outra. Tinha que se seguir margeando o Rio, transpondo tiriricas e muita lama, at onde o rio ficasse mais estreito, para que se pudesse fazer a travessia a nado, utilizando-se troncos de rvores para colocar os pertences e tambm ajudar na travessia, quando no se podia contar com a ajuda de outros indgenas que viviam nas margens do rio. Geralmente esta travessia ocorria na regio de Nova Descoberta, onde hoje a travessia da rodovia SC-411. Do outro lado do rio, caminha-se pelas suas margens, em linha reta, por uma extensa plancie, at o atual bairro da Praa; da segue-se em direo ao hoje bairro de Santa Luzia, onde se depara com o Rio Santa Luzia (Bobos). No h dificuldades na travessia pela sua largura, entre 8 e 15 m, j feita agora sobre enormes troncos de rvores (pinguelas).2 Com o passar dos tempos, foi observado na foz do Rio Tijucas e nos arredores uma lama escura, que na lngua dos indgenas quer dizer Tiyuco. 3O rio Tijucas (Tiyuco na lngua dos ndios) nasce na serra da Boa Vista numa altitude prxima dos 1.000 m, no municpio de Rancho Queimado. Passa entre a sede do municpio e o distrito de Taquaras, segue a oeste de Angelina e, prximo pequena localidade de Garcia, recebe as guas do rio Engano, vindo do oeste. Passa tambm ao oeste das cidades de Major Gercino e So Joo Batista, onde recebe as guas do rio do Brao e a partir de onde passa a correr paralelo rodovia SC-411, seguindo, ento, por Canelinha e, finalmente, banhando a cidade de Tijucas, onde cruza com a rodovia BR- 101, na qual h duas grandes pontes. Poucos quilmetros aps, desgua no Oceano Atlntico, a cerca de 50 km ao norte de Florianpolis

Porto Belo (56 KM)

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A Enseada das Garoupas localiza-se a 27 9, 28, com 95 km e com uma altitude mdia de 1m acima do nvel do mar. Seus limites so: ao norte, com os municpios de Itapema e Cambori e Oceano Atlntico; ao oeste, com o municpio de Tijucas; ao sul, com os municpios de Tijucas e Bombinhas e o Oceano Atlntico; ao leste com o municpio de Bombinhas. O relevo do municpio muito acidentado, com colinas e morros. Sua costa bastante recortada, dando lugar s praias e enseadas, como a baa de Porto Belo, a enseada da Encantada e da Caixa dAo, as praias de Perequ, de Porto Belo, das Vieiras, do Ara, do Estaleiro, do Cangu, do Fagundes, do Arajo e da Ilha do Joo Cunha. Os rios mais importantes so o Perequ e o Perequezinho, que fazem divisa com o municpio de Itapema. O Rio dos Bobos (Santa Luzia) faz divisa com Tijucas, e na sede do municpio esto os rios Rebelo e da Vina, ambos de menor porte. Nesta caminhada em direo ao norte, em uma extensa plancie desde o rio Tijucas, agora segue-se pela estrada geral de Santa Luzia, com o morro dos Bobos direita, chega-se ao rio Perequ, de igual largura ao dos Bobos, anteriormente transpassado. Itapema4 (60 KM) Localiza-se latitude 27, 05, 25 S, com altitude de 2 m acima do nvel do mar. Seus limites so: ao norte, com Balnerio de Cambori; ao sul, com Porto Belo; a leste, com o Oceano Atlntico; e, a oeste, com Balnerio de Cambori. O solo predominante no municpio de Itapema argilo-arenoso, prximo ao litoral, enquanto nas terras elevadas o solo pedregoso. O municpio faz parte do conjunto geomorfolgico denominado regionalmente Serra do Tabuleiro/Itaja e Plancie Costeira. Em nvel microrregional, a serra recebe o nome de Tijucas e ainda de Areal ou Maados, do Cantagalo e do Encano. O ponto mais elevado do conjunto em terras de Itapema de 365 m e fica na Serra do Cantagalo, onde se destacam as diversas cachoeiras, como: Cachoeira do Serto, localizada no Serto do Trombudo, a cerca de 8 km do centro, possui guas claras e lmpidas, que abastecem os municpios de Itapema (Meia Praia), Porto Belo, Bombas e Bombinhas. Possui um riacho com pedras, sem muita profundidade e cercada de rvores exticas e Mata Atlntica; Cachoeira do So Paulinho, situada na bacia do Bairro So Paulinho, a aproximadamente 3 km do centro, na Mata Atlntica; Cachoeira do Sertozinho, uma das menores, fica no Bairro do Sertozinho, a cerca de um quilmetro; Cachoeira do Bairro Ilhota, distante 12 km do centro, fica no Bairro Ilhota e rea de preservao ambiental.4 Itapema significa: ITA, pedra, e PEMA, monte, na lngua Tupy Guarani.

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Seu litoral mede 16 km de extenso e composto de cinco praias de caractersticas distintas: a Meia Praia, a maior de todas; Praia do Costo (ou Canto da Praia), tem o clima tranquilo de uma vila de pescadores, paisagem tpica aoriana, que deu origem colonizao de Itapema; Praia do Cabeo, ou Grossa, cercada pelo verde exuberante das encostas, uma praia selvagem; Praia de Ilhota, com guas cristalinas e fortes correntes, o local fica distante cerca de cinco quilmetros do centro de Itapema, na direo Norte; e Praia do Centro, a praia que banha o centro de Itapema, que tambm tem mar calmo e cristalino. A regio da baa de Porto Belo, onde se localiza Itapema, apresenta uma excelente rede hidrogrfica, destancando-se o Rio Perequ, o mais importante do municpio, tanto em volume de gua como em extenso. Nasce no Morro da Misria, no conjunto geomorfolgico da Serra do Tijucas. Tem-se tambm o Rio Areal (Paulino) e o Rio Itapema, resultado de diversas cachoeiras nascidas nas serras dos Macacos e Encano, e ainda o Rio Itapema, que o resultado de inmeras cachoeiras nascidas nas serras dos Maados e Encano, que se juntam para formar inicialmente dois pequenos rios, o Areal e o Fabrcio.

Cambori5 (82 KM) O significado do nome Cambori de origem tupi-guarani e, assim sendo, a grafia deveria ser Camburi. Os indgenas inspiraram-se no relevo da Pedra Branca, morro que lembra um seio de mulher e que visvel de diversos pontos do municpio. Este morro hoje pertence ao Balnerio Cambori. De acordo com Patrianova, em seu Pequeno Livro, Cambu significa mamar e Ryry, que igual a Ruru e que igual a Riu, significa recipiente de mamar, ou seja, seio. Cambori corruptela de Camburiru, como era conhecido o lugar, depois mudado pelos caiaras para Cambori. Existem no Brasil vrios lugares com o nome de Cambu ou Camburi e em todos se observam relevos geogrficos em forma de mama. Sua rea total de 211,6 km, localizado na latitude 27, 01, 31 S, com altitude de 8 m acima do nvel do mar.5De origem indgena tupi, h vrias denominaes, como: Camboriasu, em 1779; Cambariguassu, em 1797; Camborigu-assu, em 1816, at chegar a uma referncia de Henrique Boiteux como Camborihu; que significa Rio de muito robalo ou criadouro de robalo, peixe muito comum nesta regio. Cambori uma palavra de origem tupi formada pela aglutinao de uma palavra Cambori e do sufixo u. Cambori significa robalo e o sufixo u neste caso seria criadouro, comedouro, habitat. Ento, se considerada esta hiptese, Cambori significa onde h robalo ou criadouro de robalo.

A rede hidrogrfica constituda pelo Rio Cambori. Formam ainda a rede os afluentes do Rio dos Macacos, o Rio Canoas, Rio Pequeno, Rio do Cedro, Rio 31

Peroba e Rio Canhanduba, todos desembocando no Rio Cambori e este no mar, em Balnerio Cambori. O Rio Cambori tem uma extenso de 40 km, da nascente a foz, e corta o municpio de oeste a leste. O volume de gua regular e tem pouca correnteza, deslizando por entre ribanceiras, em geral elevadas. O relevo de superfcies onduladas e montanhosas, serras cristalinas de embasamento cristalino, formao escudo cristalino, sendo parte do complexo litorneo de Santa Catarina. O solo de textura argilosa e mdia/argilosa, em muitos casos com cascalho ou cascalhenta. Balnerio Cambori (83 KM) Sua rea total de 46,4 km, localizado na latitude 26 59 26 S, altitude de 2 m acima do nvel do mar. Superfcies planas e onduladas com formao do complexo litorneo. Seus limites so: ao norte com Itaja, ao sul com Itapema, a leste com o Oceano Atlntico e a oeste com o municpio de Cambori. Todo o municpio banhado a leste pelo Oceano Atlntico. O rio Cambori, com seus 40 km de extenso e com sua nascente no municpio vizinho (Cambori), corta a cidade de oeste a leste em 2,5 km. Ao norte, na divisa com Itaja, est o rio Aririb, com sua nascente na Serra do Aririb, desaguando no Oceano Atlntico e na Praia dos Amores. A leste do rio Cambori est o rio Peroba. O municpio caracterizado por morros em suas divisas, pontos extremos ao sul, o Morro do Boi, e ao norte o Morro do Careca. Entre eles estende-se mais de 6 Km de praias: Central, Laranjeiras, Taquarinhas, Taquaras, do Pinho, Estaleiro, Estaleirinho, Buraco, Canto e dos Amores. Para se chegar a Itaja eram abertas picadas, atravs das praias do Buraco, Brava e Cabeudas. Itaja6 (98 KM) Territrio ocupado pelos carijs e, posteriormente, pelos ndios botocudos ou caigangues, do grupo tapuia (hoje conhecidos por Xokleng). Com uma rea total de 304 km, localizado na latitude 26 54 06 S, predomina a faixa altimtrica de 0 a 200 m. No noroeste de Ilhota, no sul de Cambori e em Itapema a altimetria atinge os 400 m.6 O nome ITAJA de origem indgena e significa: ITA = pedra, JA = pssaro, ave, ou seja, pssaro de pedra.

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Seu relevo caracterizado por duas regies, a primeira de topografia acidentada, formada por estrutura cristalina do perodo algonquiano, litologicamente formada por quartzitos, filitos e mrmores. Esta regio situa-se na parte sul do municpio, onde se destacam a serra de Cambori, na divisa Itaja/Cambori, e a serra do Brilhante, tambm divisa Itaja/Brusque. Dentro da rea do municpio, na faixa compreendida entre a divisa de Itaja/Cambori, at atingir o Rio Itaja-Mirim, aparece uma srie de elevaes que recebem as denominaes de Morro do Gavio, Morro da Canhanduba, Morro de Cabeudas. Na faixa compreendida entre o Rio Itaja-Mirim e a divisa com o municpio de Ilhota, aparecem duas elevaes denominadas Morro da Ona e Morro da Espinheira. A segunda regio da plancie constituda de sedimentos recentes, do perodo quaternrio, litologicamente formado de cascalhos pleistocnicos encontrados nas partes baixas e colinas marginais, e por sedimentos flviomarinhos a nordeste do municpio. As restingas so parcialmente cobertas por aluvies do Rio Itaja-Mirim, cujas margens so, por isso, ligeiramente elevadas. As plancies costeiras, que evidenciam aes e processos marinhos e elicos, ocorrem no litoral de Piarras e Navegantes e nos vales dos rios Itaja-Au e ItajaMirim. As plancies fluviais salientam-se no mdio vale do Rio Itaja-Mirim, no baixo vale do Rio Lus Alves e no vale do Rio Cambori. As serras do leste catarinense, com baixa altimetria, aparecem na ponta de Penha e no restante da microrregio. Toda a costa apresenta pontas, promontrios, praias, enseadas e ilhas. A vegetao nesta regio, em toda sua extenso, pouco densa, constituda principalmente de arbustos e restingas. No interior do municpio se verificam as maiores concentraes, sobretudo nas serras e encostas, dando assim uma pequena amostra da vegetao litornea. Podemos destacar as duas reas de distribuio vegetal: a plancie quaternria, onde as rvores variam de 10 a 15 m de altura, destacando-se a figueira de folha mida, a cupiva, canela amarela e, nas regies mais midas, o ip amarelo; nas serras e encostas variam entre 25 m e 30 m, sobressaindo-se a canela preta, a peroba, a cupiva e a canela amarela. A geologia composta de uma cobertura sedimentar quaternria, aparece no litoral e no vale do Rio Itaja. O embasamento cristalino, predominantemente os xistos, os filitos, os calcrios e os quartzitos, surge no vale do Rio Cambori; as reas de cobertura vulcano-sedimentar da era paleozica se encontram no norte de Ilhota. Ainda no embasamento cristalino, os granulitos aparecem no norte da microrregio; os gnaisses e migmticos e os granitos salientam-se no sul da microrregio geralmente em altos topogrficos , em Itapema e Porto Belo. O solo da regio de Itaja composto dos vales dos rios Itaja-Au, Itaja-Mirim e Lus Alves e possuem solos glei hmico e glei pouco hmico (solos de elevado teor de matria orgnica, em ambiente com excesso de umidade, usados para o plantio de arroz irrigado, 33

hortalias e cana-de-acar). Itaja subaproveita sua capacidade minerria. O municpio tem registro de 44 km de reas de minerao, o que representa 14,47% da rea do municpio nas mos de empresas mineradoras. Com relao ao solo urbano, de uso predominantemente residencial, pode-se destacar as seguintes reas: rea de ocupao antiga, limitada pelo rio Itaja-Mirim; encosta do Saco da Fazenda e eixo rodovirio Navegantes Lus Alves; Balnerio de Cabeudas e Balnerio de Praia Brava uma rea de ocupao recente situada ao longo da margem esquerda do Rio Itaja-Mirim, ao norte do canal oeste. O Rio Itaja-Au7 o rio mais importante do Vale do Itaja. Forma-se no municpio de Rio do Sul, pela confluncia dos rios Itaja do Sul e Itaja do Oeste. Seus maiores tributrios, pela margem esquerda, so: o Rio Herclio (na divisa de Lontras e Ibirama), o Rio Benedito (em Indaial) e o Rio Lus Alves (em Ilhota). Pouco antes da foz do Oceano Atlntico mais precisamente 8 km o Rio ItajaAu recebe as guas do principal tributrio pela margem direita: o Rio Itaja-Mirim. Passa, a partir da, a chamar-se Rio Itaja. Este rio, depois do Rio Tijucas, era o principal obstculo para se chegar foz do Rio Itapocu, com uma profundidade mdia de 12 m, e largura mdia entre 100/150 m, no trecho entre Blumenau e Ihota, e nos prximos 20 km a desembocadura varia entre 150 e 300 m, somente em alguns pontos localizados, devido presena de afloramentos naturais. A travessia do Rio Itaja se dava geralmente na sua foz, ou barra, onde havia aldeias carijs nas duas margens, facilitando assim o uso de canoas para este fim.7 O nome ITAJA-A de origem indgena e foi adotado pelos ndios que ocuparam a praia de Cabeudas em Itaja, estando ligado formao de pedra conhecida atualmente como Bico do Papagaio. Na sua forma original, assemelhava-se a cabea de uma ave, o Ja. Por este motivo a palavra Itaja-A significa: ITA = pedra, JA = o pssaro, a ave, YA = rio grande do Ja de Pedra, ou seja, rio grande do pssaro de pedra.

Navegantes (111 KM) Aps cruzar o Rio Itaja-au, encontramos o municpio de Navegantes, com uma rea de 111 km, localizada na latitude 26, 53, 56 S, altitude de 12 m acima do nvel do mar. O trajeto feito totalmente pelo litoral sem qualquer interrupo, passando-se pelo Ribeiro das Pedras e So Domingos, e chega-se ao Rio Gravat, divisa com o municpio de Penha.

Penha8 (121 KM) 34

Sua rea de 59 km, localizado na latitude 26, 46, 20 S, altitude 20 m acima do nvel do mar. A serra da armao do Itapocoroy, nome derivado do guarani Itapocor, que tem como significado parecido com um muro de pedra, , para alguns, o bero dos ndios carijs. Surge aps longo trecho de praia, ltimo acidente geogrfico beira-mar, no trajeto entre a Ilha de Santa Catarina e a entrada do rio Itapocu. Balnerio Piarras9 (118 KM) rea total de 85,4 km, est localizada na latitude 26 25 50 S, altitude de 18 m acima do nvel do mar. O relevo constitudo de plancie litornea com montanhas esparsas, altitude mdia de 30 m. Piarras est praticamente integrada enseada de Itapocoroy, separada apenas pelo morro do Cambri. A serra (Armao) de Itapocoroia, segundo algumas teses sobre o itinerrio do caminho do Peabiru, desde a ilha de Santa Catarina e Laguna, seria uma suposta continuao, por onde seguiria o caminho indgena por terra at a ilha de Santa Catarina e Laguna. Esta pequena serra seria o ltimo acidente geogrfico por onde o caminho indgena litorneo transpassaria antes de se chegar foz ou prximo da foz do rio Itapocu, localizada ao norte no municpio de Barra Velha. Barra Velha10 (120 KM) Sua rea total de 278 km, localizado na latitude 26 3756 S, altitude de 35 m acima do nvel do mar. Com plancies rasteiras e diversidade de solos e vegetao, faz parte do complexo litorneo de Santa Catarina. Seus limites so: ao sul Piarras, com a serra (armao) Itapocoroia, e ao norte a atual desembocadura do rio Itapocu, na Lagoa do Norte, ou da Cruz. Serve de limite territorial das cidades de Barra Velha e Barra do Sul. Ao leste, o Oceano Atlntico, ao oeste com Luiz Alves e So Joo do Itaperiu. Com plancies rasteiras e diversidade de solos e vegetao, sua hidrografia constituda do rio Itapocu (principal bacia) e pequenos mananciais, como os rios Itajuba, do Peixe, Novo e Luis Alves. A captao de gua vem do Ribeiro do Machado (afluente do Rio Itapocu). A vegetao predominante mata Atlntica (ombrofila densa). (Esta caminhada de 120/150 km, com incio na Ilha de Santa Catarina e terminando na foz do Rio Itapocu, em Barra Velha, levava, em mdia, de sete a dez dias.)

8 O nome Penha em homenagem a Nossa Senhora da Penha.

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9 O nome Piarras tem origem em piarra, rochas de argila abundantes no subsolo do municpio. 10 A origem do nome Barra Velha est ligada mudana da sada do rio Itapocu no oceano Atlntico. De acordo com os historiadores, tudo comeou em 1504, quando o navegador Binot de Godville observou que havia uma barra que recebia guas de dois rios que desembocavam junto s pedras de um costo. Assim se formou uma barra de boa profundidade. Com o tempo a ao dos ventos na areia foi assoreando at fechar completamente. Isto causou uma inundao na regio que provocou a abertura de uma nova barra, atualmente chamada de Boca da Barra. E foi assim que a regio passou a ser conhecida como Barra Velha

2.3 CAMINHOS DO PEABIRU Com certeza o rio Itapocu, que j foi chamado neste mapa de rio del Ancon, tem mostrado sua importncia como referncia por sua imponncia em todo o vale do Rio Itapocu. Os desbravadores da Coroa espanhola no deixaram de marcar este acidente geogrfico ao passar pelo rio Itapocu em direo aos altiplanos e, consequentemente, ao Paraguai. O Padre Tarcsio Marchiori, em seu livro Terra dos Carijs, se baseando numa das cartas do frei Bernardo de Armenta, afirma que o frei teria descoberto ouro prximo da serra do Jaragu, ao retornar de Assuno no Paraguai, em 1544/1545. Com base nestes registros e outros, como os de Hans Staden e Cabeza de Vaca, surgiram diversas teorias sobre o provvel caminho do Peabiru em territrio catarinense: 1) O itinerrio mais aceitvel do ramal do Peabiru em Santa Catarina, num consenso histrico, geogrfico e arqueolgico, o que se baseia na hidrografia do Rio Itapocu. Ele tem incio desde a sua foz, no municpio de Barra Velha, at as confluncias dos rios Humboldt e Novo, em Corup, de onde o caminho, a partir deste ponto, comeava exclusivamente por terra, a subir a serra at os Campos dos Anris (ou dilatadas llanuras de Ytatu, descritas por Cabeza de Vaca), entre So Bento do Sul (bairro Lenol) e Rio Negrinho (regio entre Rio do Salto ao Rio Preto), se estendendo paralelamente este caminho prximo das margens do Rio Negro at a cidade de Mafra (SC) com Rio Negro (PR), de onde se tem estudo de que o caminho subia em direo cidade de Lapa (PR) at chegar ao tronco principal paranaense na cidade de Castro. Outra prova material a favor deste itinerrio seriam os vestgios de caminhos indgenas antigos no trajeto de serra entre Corup e So Bento do Sul, que possuem caractersticas semelhantes aos vestgios do Peabiru encontrados no Estado do Paran. Quem defende esta teoria seria o pesquisador Igor Schmyz, que acredita que existiu uma tribo, provavelmente da nao Guarani, na regio dos altiplanos do territrio que compreende hoje Joinville e Campo Alegre, no sculo XVI, chamada Itaguau ou Pedra Grande, fazendo uma aluso a este itinerrio por ficar

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prximo de uma formao rochosa chamada Castelo dos Bugres, de onde se tm algumas presunes e lendas de que foi um dia um local sagrado para esta povoao indgena. Outro pesquisador, cuja teoria o Itapocuzinho poderia ser a continuao do itinerrio do Peabiru pelo vale do Rio Itapocu, Reinhard Maack, em seu esboo sobre o itinerrio feito pelos desbravadores da esquadra de Sanbria. O mesmo ilustra em um croqui, feito juntamente com Karl Fouquet, no livro chamado Hans Stadens Wahrhaftige Historia, mostrando que do rio Itapocuzinho seria mais fcil para se chegar a Abapany e Tindiquera, ou ao vale do Rio Tibagi, no Paran, nos dias de hoje, onde se encontra com o tronco principal do Peabiru. O pesquisador Cyro Ehlke tambm tem sua teoria a respeito deste possvel itinerrio pelo rio Itapocuzinho, pois acreditava que o dito campo seria em Campo Alegre. 2) Outra tese hipottica de que haveria uma interligao dos dois caminhos indgenas usados com pretenses e pocas diferentes, pois tudo indica possa ter existido como uma interligao entre o ramal do Peabiru, no vale do rio Itapocu, com o caminho de Trs Barras ou Caminho Velho, mais ou menos na altura do afluente do rio Itapocu, um pouco acima de sua desembocadura, prximo das margens do afluente chamado de rio Pira, ou Piranga, como era conhecido antigamente, passando mais ou menos na regio oeste da cidade de Joinville, aos ps da serra do mar (tambm prximo da formao rochosa dos altiplanos, chamada de Castelo do Bugres), seguindo mais ou menos pela mesma direo paralelamente BR-101 at a cidade de Garuva, onde hipoteticamente se interligaria com o caminho de Trs Barras e dos Ambrsios. O pesquisador Luiz Galdino, em seu livro Peabiru Os Incas no Brasil, em um de seus croquis mostra esta possibilidade. Para outros, esta teoria seria apenas a nica possibilidade de o rio Itapocu ter alguma participao histrica como ponto de referncia do itinerrio do Peabiru em Santa Catarina, quando o trecho no era percorrido por mar at a foz do rio Itapocu, pois estes mesmos defensores desta tese no aceitam a possibilidade de o rio Itapocu ter sido historiograficamente o ramal do Peabiru em Santa Catarina, dando nfase apenas suposta historiografia no comprovada para o caminho de Trs Barras ou Caminho Velho em relao aos desbravadores da Coroa espanhola no sculo XVI, e tendo como ponto de chegada por este caminho pelo mar, no a foz do rio Itapocu, e, sim,mais ao norte, na baa do Palmital, em Garuva, ou na pennsula do Sa, entre Itapo e So Francisco do Sul. 3) Alguns pesquisadores fazem conjecturas de que o ramal do Peabiru do vale do rio Itapocu continuava a partir das margens de um dos afluentes do rio principal chamado rio Itapocuzinho ou Itapocu-Mirim, percorrendo o pequeno vale do Itapocuzinho, subindo os contrafortes da Serra do Mar, mais ou menos onde se localiza a continuao do afluente principal do rio Itapocuzinho, chamado de rio Manso, chegando nos primeiros altiplanos chamados naquela regio de Campos 37

de So Miguel, e, dali, hipoteticamente falando, o caminho tende a ir em direo oeste ao Campo dos Anris em So Bento do Sul e rio Negrinho. Dai este caminho seguiria tradicionalmente passando por Mafra (SC) e Rio Negro (PR). 4) H ainda uma tese aceitvel que a possibilidade de ter existido uma segunda subida pela serra, tambm a partir das confluncias dos rios Humboldt e Novo, em Corup, pois, geograficamente, por ali se consegue chegar aos altiplanos tambm por um caminho de subida de serra menos ngreme, margeando, neste caso, atravs do rio Novo at os contrafortes da serra, contornando por baixo ao p da serra do Guarajuva, pois nessa serra invivel um caminho. Apesar de existir uma descrio histrica relatando a presena de ndios no final do sculo XIX, se encontrando novamente com o itinerrio mais aceitvel no lugar conhecido como rio Mandioca, j em territrio altiplano de So Bento do Sul (SC). Mas o que sugere um desvio do itinerrio a partir das confluncias na cidade de Corup seria alguns mapas do sculo XVII mostrando uma acentuao considervel da nascente do rio Itapocu esquerda. Aos ps da serra este seria o nico rio e confluncia que se encaixaria numa analogia interpretao e leitura dos mapas consultados. Nos mapas da segunda metade do sculo XVII, o rio Itapocu j aparece com dois braos de rio perto de suas nascentes. 5) Duas outras possibilidades desta interpretao referentes aos mapas consultados seriam de que o desvio poderia ser uma aluso ao outro afluente do rio Novo chamado de Ribeiro Correas, de onde tambm poderia se chegar com mais dificuldade aos contrafortes da serra e, consecutivamente, ao Campo dos Anris, em Rio Negrinho. A outra possibilidade de esta interpretao ser referida s confluncias dos rios Itapocu com o Jaragu, porm no se tem notcias e comprovaes historiogrficas de que por este afluente poderia ter existido um caminho, muito menos esta direo estaria fora do padro de navegao sudestenoroeste e noroeste-sudeste. E, ainda, geograficamente falando, o lugar mais acessvel de entrar serra acima nesta direo seria pelo vale do rio Jaraguazinho, de onde tambm poderia se chegar ao Campo dos Anris, em Rio Negrinho, pela regio altiplana do rio Preto, no mesmo limite territorial desta cidade. O adelantado Cabeza de Vaca, em 1541, quando ele e sua expedio chegaram ao dito Campo, se referiu ao local como sendo as dilatadas llanuras de Ytatu (Tatu) pobladas de ndios guaranis. Segundo uma das tradues desta palavra indgena, o possvel significado de ytatu ou Tatu seria aproximadamente esta: faixa de terras planas povoadas por ndios, aonde desaguam grandes quedas dgua. Provavelmente, por ele e o resto da expedio terem visto as grandes quedas dgua nos arredores da serra.

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Joinville11 No incio da imigrao europia, na metade do sculo XIX, na antiga colnia Dona Francisca (atualmente a cidade de Joinville), j existia um caminho indgena antigo denominado Jurap ou Jurap, que ia no sentido leste-oeste, a partir da beira do rio Cachoeira/Lagoa do Saguau, e comeava antigamente na MathiasStrasse (rua Matias), onde atualmente fica a rua Nove de Maro, bem no centro da cidade, em direo ao bairro Vila Nova. Porm, este caminho aparentemente no tinha correlao alguma com o Caminho do Peabiru, mas no deixa de ser um caminho indgena, e apenas interligava os pontos da regio prxima da baa da Babitonga (centro de Joinville) com a regio da bacia hidrogrfica do rio Pira at os contrafortes da serra (onde possui o acidente geogrfico com o mesmo nome chamado pico Jurap ou Jurap), alm do outro acidente geogrfico de formao rochosa chamado Castelo dos Bugres.11A Colnia Dona Francisca foi fundada onde hoje se localiza a cidade, pois a Princesa Dona Francisca, filha de Dom Pedro I, recebeu estas terras como dote do seu casamento (1 de maio de 1843) com D. Franois Ferdinand Philippe (Francisco Fernando Philippe Luiz Maria de Orleans), o Prncipe de Joinville, na Frana, que posteriormente originou o nome da cidade.

So Francisco do Sul Antigamente, o itinerrio do caminho de Trs Barras ou Caminho Velho era utilizado, historiograficamente, pelos jesutas da Companhia de Jesus, vindos da regio do Guair, e por vicentistas da capitania de So Paulo, no sculo XVII, alm de tropeiros que passavam por este caminho trazendo gado dos altiplanos para a regio litornea catarinense, no sculo XVIII, em direo a So Francisco do Sul e para as demais vilas menores do litoral de Santa Catarina, que havia naqueles tempos. Este caminho provavelmente comeava no pontal do Sa (lugar mais prximo para se chegar e sair da antiga vila de So Francisco Xavier do Sul), seguindo pelos banhados e manguezais, entre a serra que separa o Sa e o mar, e tambm na divisa do Paran, passando provavelmente prximo das desembocaduras da foz de trs riachos que desguam na baa do Palmital, chamados neste ponto de Trs Barras (da veio o nome do caminho), tendo como ponto de referncia uma das margens de um destes rios, chamado rio de Trs Barras, chegando at os 39

contrafortes da serra, conhecidos como serra do Quiriri, antigamente conhecidos tambm pelos nomes de Icrn, Iquerm, Iqueririm, Iquiri (nome dado por causa de um pequeno riacho que corta aquela serra). H ainda outros nomes parecidos, passando pelo trecho conhecido como saboneteira, onde o calamento de pedras macias e que foi comprovado recentemente pelo pesquisador Gleison Vieira, em seu livro Porto Barrancos/Bero de Garuva, conforme documento encontrado no Arquivo Histrico no Rio de Janeiro, dando a ordem da construo do trecho da escadaria de pedras, pelo governador da provncia de Santa Catarina, Joo Coutinho, em 1852. Alguns anos atrs, o caminho de Itupava tambm tinha sido calado com pedras, a mando da provncia daquele estado. Deste trecho em diante tambm existia um caminho secundrio, paralelo ao que se usado como padro hoje, passando pela pedra dos Jesutas (supostamente atribudo aos mesmos) e rochedo conhecido popularmente como Pedra do Guardio, chegando ao cume chamado de Monte Crista, seguindo prximo pelo divisor de guas desta serra, passando pela pedra conhecida como cabea de Dinossauro, at atingir os Campos do Quiriri e tambm ao Campo dos Ambrsios e percorrendo o caminho com o mesmo nome em sentido norte-noroeste em direo grande Curitiba (PR). O pesquisador joinvillense, Olavo Raul Quandt, tenta defender de forma hipottica e irredutvel que o nico caminho do Peabiru em Santa Catarina era feito por este itinerrio desde os tempos imemoriveis. Garuva 12 Por esse lugar passava um caminho antigo indgena conhecido como Trs Barras (ou Caminho Velho) por causa da desembocadura de trs riachos num mesmo ponto na baa do Palmital, em Garuva. Temos ali os acidentes geogrficos chamados popularmente de Saboneteira, Pedra do Guardio e Monte Crista. So estes trs que mais se destacam, mas somente o cume do Monte Crista pode ser visto aos ps da serra do Quiriri at o mar, na altura de Itapo, e tambm da baa do Palmital, em Garuva. Com 432 km e 6 m acima do nvel do mar, Garuva faz fronteira ao norte com o estado do Paran, ao sul com a cidade de Joinville e So Francisco do Sul, ao leste com Itapo e ao oeste com Campo Alegre. Corup13 O trecho da subida da serra leva tambm localidade do rio Mandioca, entre Corup e So Bento do Sul. O relevo desta pequena serra favorece a subida sem maiores dificuldades. A linha que percorre paralelamente ao itinerrio principal entre Corup e So Bento do Sul, porm ainda aos ps da serra do mar, se baseia nas descries de um caminho indgena que existiu segundo os primeiro moradores de origem europeia e brasileira, nas margens do rio Vermelho at os

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contrafortes da serra, em So Bento do Sul, numa confluncia de seu afluente, chamado rio dos Bugres, at chegar s localidades de Rio Vermelho (prximo das margens do rio Banhados), passando pela localidade de Serra Alta e prximo das margens do rio Banhados, onde este rio percorre dentro do Campo dos Anris at a cidade de Rio Negrinho. Segundo a histria local, os ndios xoklengs, da etnia ou nao J, utilizavam este trecho preexistente para subir e descer a serra no vale do rio Itapocu. As duas estradas que existem naquele lugar supostamente seriam uma extenso de um caminho indgena, tanto a estrada dos Bugres, ou Buger Strasse, e tambm com uma bifurcao desta estrada chamada de Carvoeiro. Confluncia do rio Natal ( direita) com o rio Vermelho ( esquerda), se originando ali o nome do rio Humboldt, nas divisas territoriais de Corup e So Bento do Sul. Segundo esta tese, o caminho continuava margeando os rios H