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GERMANO SILVA PORTO As melhores crónicas escolhidas por seis figuras da cidade REVISITADO Oo

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germano silva

PORTOAs melhores crónicas escolhidas

por seis figuras da cidade

REVISITADO

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Execução gráfica Bloco GráficoUnidade Industrial da Maia.

DEP. LEGAL 415679/16 ISBN 978-972-0-06308-3

Rua da Restauração, 3654099-023 PortoPortugal

www.portoeditora.pt

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Porto RevisitadoAs melhores crónicas escolhidas por seis figuras da cidadeGermano Silva

Publicado porPorto Editora

© Germano Silva e Porto Editora

DesignGSA Design

1.ª edição: novembro de 2016

Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora.

A cópia ilegal viola os direitos dos autores.Os prejudicados somos todos nós.

Este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, exceto nos casos em que os autores se manifestaram expressamente contrários à sua aplicação.

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5 O PORTO E OS LIVROS

7 COORDENADAS DE UMA VIDA PORTUENSE

35 GERMANO INÉDITO37 A alma salgueirista41 D. Pedro IV no Porto45 António Matos: um jornalista de verdade

49 AS MELHORES CRÓNICAS ESCOLHIDAS POR SEIS FIGURAS DA CIDADE

51 Jorge Gabriel77 Jorge Nuno Pinto da Costa103 Judite de Sousa129 Manuel Sobrinho Simões155 Pedro Abrunhosa181 Sónia Araújo

207 AGRADECIMENTOS

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Com 13 anos, Germano Silva trabalhou na Fábrica de Lordelo, da Sociedade Nacional de Fósforos.

Germano nos primeiros anos como jornalista, “um sujeito janota, bem enfarpelado, cuidado na aparência”.

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COORDENADAS DE UMA VIDA PORTUENSE

Cartão de estagiário no Jornal de Notícias. Germano Silva era o sócio estagiário n.º 39.

Germano Silva ao teclado da sua Remignton, na redação do JN.

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PORTO REVISITADO

O lugar é o papel impresso desse jornal, onde Germano escreve semanalmente, ininterruptamente, religiosamente a página “À descoberta do Porto”. Mas já estamos a dar um passo largo, quando, na nossa cronologia, falamos ainda de um jovem estagiário cheio de dúvidas.

A PAIXÃO PELA CIDADE

Nesses anos, o JN estava ainda a léguas de ser líder nacio-nal. Estava, aliás, longe de ser o mais forte entre os três matutinos portuenses. A postura claramente germanófila do jornal, nos primeiros anos da guerra, penalizara-o muito aos olhos do público, e era um jornal enfraquecido, atraves-sando sérias dificuldades, aquele que, ainda na década de 1940, fora parar às mãos de Manuel Pacheco de Miranda, responsável primeiro pelo grande salto que veio a ser dado pelo JN. Quando Germano Silva ali chegou, Manuel Ramos tinha subido, pouco antes, à posição de subchefe de Reda-ção. Ramos, um homem de feitio difícil e elevado grau de exigência, levava a cabo a sua própria revolução jornalís-tica. Quando substituía o chefe de então, António Bro-chado, fazia um jornal diferente, mais dinâmico, mais noti-cioso, mais moderno, e dessa dinâmica fez parte a aposta no nosso estagiário, para que passasse a fazer o mesmo ho-rário dele, até às quatro da manhã, e assegurasse, diaria-mente, duas colunas de notícias de última hora na última página do jornal. O desafio era estimulante, mas a situação laboral era precária. Enquanto estagiário, Germano não tinha garantias. Podia chegar ao fim do tempo e ser dispen-sado, pelo que ia mantendo o emprego no hospital. Daí que tenha colocado o problema ao subchefe de Redação, que, na hora, lhe deu a palavra de honra em como ficaria defini-tivamente no quadro. Tal tinha força maior do que qual-quer contrato escrito, e foi nessa hora que o Hospital de Santo António perdeu um diligente funcionário administra-tivo. Ganharam o JN e a cidade do Porto.

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E começou ele a ganhar o conhecimento de um outro Porto, até então ignorado, primeiro o das vivências diárias, mais tarde o das memórias históricas. Ao sair do jornal, de madrugada, ia descobrindo outros mundos, seja quando subia a Rua de Passos Manuel para ir cear bacalhau à Gomes de Sá no Transmontano, onde convergia gente dos jornais, gente do teatro, artistas, boémios, seja quando daí descia e, no regresso a casa, pasmava com o espetáculo das carroças largando mercadorias no Bolhão. Tudo isso, apoiado num sentido de observação que o ofício ia estimu-lando, contribuía para nele germinar o amor pelas coisas da cidade. Mas o momento decisivo – e lá continuamos nós com os acasos – foi uma reportagem falhada.

Podem desenvolver-se extensas teorias sobre a essência do trabalho jornalístico, desde essa coisa vaga e com costas largas que é a ideia de ir ao encontro do interesse público, passando pela defesa dos mais fracos e pela missão de dar voz a quem não a tem, desaguando na populista escrita jus-ticeira que hoje em dia, tristemente, parece a melhor receita para vender papel. Tudo isso e muito mais pode ter fundo de verdade, mas, para o jornalista, a verdadeira realização entronca em algo muito mais simples, ou complexo, pois a simplicidade nem sempre é coisa fácil: contar boas histó-rias. E isso aplica-se a todo o tipo de trabalho jornalístico. Seja para denunciar políticos corruptos, para descrever um jogo de futebol ou para criticar um espetáculo, o jornalista só cumpre a sua missão no momento em que consegue en-contrar uma linearidade narrativa cativante, ou seja, quando consegue agarrar o leitor pelos colarinhos da pri-meira à última linha. Pois, certo dia, quando foi chamado a fazer a cobertura de um incêndio, na Rua de Santa Cata-rina, Germano Silva teve o azar (ou a sorte, no longo prazo) de não dar com a história. O grande incêndio, afinal, nem a susto chegara. Um ferro de engomar pousado na tábua cau-sara chamas, rapidamente extintas sem terem causado danos de vulto, e o repórter do JN voltou à Redação sem ter o que escrever. Assim é também a vida dos jornais, por vezes conclui-se que tal assunto não vale a pena e deixa-se cair.

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GERMANO INÉDITO

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A ALMA SALGUEIRISTA

A coletividade que hoje conhecemos como Sport Comércio e Salgueiros resultou da fusão, em 6 de novembro de 1920, de duas outras agremiações: o Sport Grupo e Salgueiros e o Sport Clube e Comércio.

Este último grupo havia sido criado anos antes, e como o próprio nome deixa antever, por rapazes ligados ao comércio. O outro fora fundado em 1911, por gente ligada à já desapare-cida Fábrica do Salgueiros. A fábrica ocupava uma vasta área de terreno hoje ocupada pela Rua de Damião de Góis, na parte compreendida entre a Rua Sport Comércio e Salgueiros (antiga Rua da Fábrica de Salgueiros) e a Rua de Antero de Quental.

A ideia da criação do Sport Grupo e Salgueiros partiu de um grupo de moços que todas as noites se reuniam na Rua da Constituição, junto do candeeiro 1047, que ficava mesmo na esquina com a antiga Rua da Fábrica de Salgueiros. Era um hábito antigo, sobretudo entre os jovens, de se sentarem, à noite, debaixo da luz de um candeeiro da iluminação pública para abordarem problemas da comunidade local ou trocarem ideias, fossem elas de ordem política, cultural, cívica ou des-portiva. Tratava-se de uma curiosa forma de sociabilidade, muito comum entre a classe operária, nos finais do século XIX, começos do seguinte. Um costume que vinha do tempo em que se fazia uso da rua, ou dos espaços públicos, para a realização de reuniões e, quando isso tinha de acontecer, o mais prático era que acontecesse onde existisse iluminação.

Foi, pois, à luz do candeeiro 1047 que se fundou o Sport Porto e Salgueiros.

Os nomes dos fundadores são conhecidos: João da Silva Al-meida, o “Joaninha”; Manuel Diogo e Carlos Augusto; mais o

A antiga Rua da Fábrica do Salgueiros – hoje Rua do Sport Comércio e Salgueiros – na esquina da Rua da Constituição onde estava o candeeiro 1047. À esquerda e ao fundo ruínas da antiga fábrica.

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