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FUNDAMENTOS DA QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS SOCIAS NO CONTEXTO ATUAL

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CURRÍCULO RESUMIDO DO PROFESSOR Albérico Cony Cavalcanti

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/3375743575653067 Possui mestrado em Educação em Ciências pela UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso (2006). Possui mestrado incompleto em Filosofia, também pela UFMT. Psicopedagogo, Especialista em Psicologia Transpessoal aplicada à Educação. Especialista em Filosofia Existencial. Graduado em Pedagogia. Graduado em Psicologia. Foi Diretor e Assessor Pedagógico da AJES - Associação Juinense de Ensino Superior. Foi professor do Centro Universitário de Várzea Grande. Atuou na SEDUC-MT/CASIES -Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial. Atua na SEDUC-DEA - Delegacia Especializada do Adolescente como Psicólogo Coordenador do Projeto Cultura de Paz, através da integração Família-Escola-Sociedade. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, Pedagogia, Psicopedagogia e Psicologia, Psicologia Jurídica, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, qualidade, cidadania, educação, relacionamento interpessoal, autoestima e espiritualidade. É Master Practitioner na Arte da Programação Neurolinguística. (Texto informado pelo autor)

EMENTA E BIBLIOGRAFIA Ementa O que é o Serviço Social. O que faz o assistente social. Breve contextualização do surgimento da profissão. A compreensão do significado social da profissão atualmente. O projeto ético-político profissional contemporâneo. A Lei que regulamenta a profissão. Os órgãos de representação da categoria profissional. As demandas atuais da profissão e os campos de intervenção – mercado de trabalho do assistente social. As principais abordagens teóricas da política social. Diferentes concepções de estado e políticas sociais. Políticas sociais e a Assistência social. As politicas sociais e o contexto brasileiro atual. A função da Assistência Social na produção e no redimensionamento da política social. As principais correntes filosóficas no século XX (neotomismo, positivismo, fenomenologia e marxismo) e suas influências no Serviço Social. Bibliografia Básica COUTO, B. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira. São Paulo: Cortez, 2004. DRAIBE, S. M. Brasil: O Sistema de Proteção Social e Suas transformações recentes. Santiago: Cepal, 1992. ESTEVÃO, Ana Maria Ramos. O que é serviço social. São Paulo: Brasiliense, 1984. FALEIROS, V. de P. O que é Política Social. São Paulo: Ed. Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, no. 168, 1988. GENTILLI, Raquel de Matos Lopes. Representações e práticas: identidade e processo de trabalho no serviço social. São Paulo: Veras, 1998. NOGUEIRA, F. M. G. & RIZZOTO, M. L. F. Políticas Sociais e Desenvolvimento: América Latina e Brasil. São Paulo: Xamã, 2007. OLIVEIRA, H. M. J. Cultura Política e Assistência Social. São Paulo: Cortez, 2003. SALUM, B. A Condição Periférica: O Brasil nos Quadros do Capitalismo Mundial (1945-2000). In: SILVA, I.M.F. Questão Social e Serviço Social no Brasil – Fundamentos Sócio históricos. Cuiabá, Edufmt, 2008 SPOSATI, A. et. All. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileira: Uma Questão em Analise. São Paulo: Cortez, 1992.

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. . . . . . . . . . . . . S U M Á R I O. . . . . . . . . . . . .

FUNDAMENTOS DA QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS SOCIAS NO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO

INTRODUÇÃO ................................................................................... 01

1 CAPÍTULO 1 - SERVIÇO SOCIAL E A MOBILIDADE SOCIAL.... 03

2 CAPÍTULO 2 - DA VULNERABILIDADE SOCIAL À VULNERABILIDADE PSÍQUICA........................................................

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3 CAPÍTULO 3 - PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL E A LEI DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO............................................

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4 CAPÍTULO 4 - ÓRGÃOS DE REPRESENTAÇÃO, DEMANDAS ATUAIS, INTERVENÇÃO, MERCADO DE TRABALHO E PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS........................................

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5 CAPÍTULO 5 - PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS DO SÉCULO XX........................................................................................

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CONCIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 41

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PRECE NO LIMIAR

Senhor, no silêncio deste dia Que amanhece,

Venho pedir-te a paz, a sabedoria e a força.

Quero olhar hoje o mundo com os olhos cheios de amor;

ser paciente, compreensível, manso e prudente.

Quero ver os meus irmãos além das aparências;

Quero vê-los como Tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um.

Cerra meus ouvidos a toda calúnia. Guarda a minha língua de toda a maldade.

Que só de bênçãos se encha o meu espírito.

Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos quantos se achegarem a mim

sintam a tua presença.

Reveste-me da tua graça, Senhor, e que no decurso deste dia eu não

te ofenda, e te revele a todos.

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INTRODUÇÃO

Visamos desenvolver com estas reflexões a capacidade de sentir, de compreender, de gerar insights, sobre a sociedade brasileira, dentro do desafio de (re) construí-las mais harmonizadas, equilibradas, igualitárias. É indispensável para o educador, psicólogo, médico etc., para o aluno, esta capacidade que nos leve a compreender1 – além de entender – a sociedade como um todo, constituída pela “soma” dos indivíduos, dos lares, pela formação das instituições, pela constituição do Estado.

Indispensável perceber a panorâmica dos problemas atuais que estamos vivendo: desemprego, violência, criminalidade, poluição, falta de atendimento nos hospitais e nos postos de saúde, falta de estrutura educacional, desigualdade social, falta de habitação, entre outros, onde o indivíduo é o epicentro.

A violência está crescendo a cada dia. Os crimes estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas de tal forma, que parece uma coisa banal. Escutamos uma notícia, por exemplo, uma criança estuprada aos quatro anos pelo próprio tio e continuamos sem nenhum “abalo”, pois isto

“já é normal”. Nunca!

O problema ambiental tem afetado diretamente a saúde das pessoas em nosso país. Os rios estão sendo poluídos por lixo doméstico e industrial, trazendo doenças e afetando os ecossistemas, e estão "morrendo". Basta lembrarmo-nos do mal que fazemos com as sacolas plásticas... O ar está recebendo toneladas de gases poluentes, derivados da queima de combustíveis fósseis,

ampliando, constantemente a temperatura do Planeta.

Os dados sobre o desempenho dos alunos, principalmente da rede pública de ensino, são alarmantes. A educação pública encontra vários problemas e dificuldades: prédios mal conservados, falta de professores, poucos recursos didáticos, baixos salários, greves, violência dentro das escolas, entre outros. Neste sentido, a propaganda governamental é fantástica, informando que os índices estão melhorando. Como? Se cada vez mais o número de alunos que estão ingressando no Ensino Superior nem sequer sabe ler, apenas silabam e, com isto, não sabem interpretar um pequeno texto.

1 Compreender, em sentido próprio, supõe algo mais do que o frio entendimento de uma mensagem objetiva: envolve, de algum modo, a captação de um alguém, um alguém vivo e concreto que expressou aquela mensagem. Nesses contextos, "compreender" não se deixa substituir por "entender", "conhecer" etc.

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Acima falamos em alunos ditos normais. E a educação especial? A educação inclusiva? O Congresso Nacional tem o custo mais alto do mundo: R$ 14.431,30 por minuto com os 513 deputados e 81 senadores. R$ 865.878,00, por hora. R$ 6.927.024,00 por dia trabalhado.

Grandes contrastes sociais. Uma pequena parcela da sociedade é muito rica (8% da população), enquanto grande parte da população vive na pobreza (20% da população). O restante, 72% vai se mantendo do modo que pode. Embora a distribuição de renda

tenha melhorado nos últimos anos, em função dos programas sociais, ainda vivemos num país muito injusto.

O que fazer? Educar. Como?

A construção da identidade pessoal é um processo de construção de sujeito, enquanto pessoa, enquanto ser humano. O indivíduo forma-se a partir da educação recebida no Lar, por seus pais ou responsáveis. Desempenhará seus papéis sociais de forma competente, amável, responsável, em conformidade com os exemplos que receba no Lar, primeiramente. Este fato se consolida, principalmente, quando é ensinado a fazer constantes autoavaliações, num constante relacionamento saudável consigo mesmo.

A posteriori, virá a Escola e a Igreja. Estas duas Instituições formarão, respectivamente, a cidadania e religiosidade, isto é, a vivência das virtudes. Daí, a concepção de sujeito humano como portador da capacidade de simbolizar, de representar, de criar e compartilhar significados em relação aos seres humanos e aos objetos com os quais convive.

Ao nos propormos construir uma apostila dispensando atenção aos FUNDAMENTOS DA QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS NO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO, estudamos algumas contribuições teóricas do Serviço Social, da Psicologia, da Pedagogia, da Antropologia, a Sociologia etc., analisando fatores que interferem na construção do conhecimento, nas possibilidades da ação docente no desenvolvimento cognitivo, emocional e volitivo dos alunos. Tomamos um posicionamento baseado no potencial de realização do ser humano, compreendendo que todas as atitudes sociais devem se desdobrar em ações voltadas para a organização de serviços que valorizem, dignifiquem e enobreçam a vida.

A psicologia nos mostra que muitos de nós ainda pensamos e esperamos por um herói para nos salvar dos problemas que nós mesmos criamos. Temos o hábito de viver no mundo do “se” e do “quando”: “Se eu passar de ano...”, “Se eu ganhar mais...”, “Quando eu me formar...”, etc.

Os comportamentos acabam acompanhando nossos hábitos. Como vivemos com os hábitos de esperar algo acontecer, adquirimos os comportamentos típicos de quem fica esperando.

O que acontece com as pessoas que ficam esperando por algo? Têm de estruturar o seu tempo para que ele possa passar. E qual a melhor forma de esperar algo? Infelizmente, a maioria tem o comportamento de ficar apático. Daí,

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compreendermos porque as crianças apresentarem tal ou qual comportamento. Elas seguem os exemplos dos adultos.

Eis um bom trabalho para os que pensam nas questões sociais, sejam os assistentes sociais, os psicólogos, médicos, pedagogos etc.

CAPÍTULO 1

SERVIÇO SOCIAL E A MOBILIDADE SOCIAL

Não poderíamos iniciar este capítulo sem dizer que o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é um conselho profissional que fiscaliza o exercício profissional dos Assistentes Sociais no Brasil. Órgão regulamentado pela Lei 8662/93. É o próprio Conselho2 que afirma que as primeiras escolas de Serviço Social surgiram no Brasil no final da década de 1930, quando se desencadeou no país o processo de industrialização e urbanização. Nas décadas de 40 e 50 houve um reconhecimento da importância da profissão, que foi regulamentada em 1957 com a lei 3252.

Acompanhando as transformações da sociedade brasileira, a profissão passou por mudanças e necessitou de uma nova regulamentação: a lei 8662/93. Ainda em 1993, o Serviço Social instituiu um novo Código de Ética, expressando o projeto profissional contemporâneo comprometido com a democracia e com o acesso universal aos direitos sociais, civis e políticos.

A prática profissional também é orientada pelos princípios e direitos firmados na Constituição de 1988 e na legislação complementar referente às políticas sociais e aos direitos da população. Não pode haver qualquer tipo de discriminação no atendimento profissional.

Há indícios de que a Sra. Eunice Sousa Gabbi Weaver tenha, pela amizade, influenciado a Sra. Darcy Vargas, Esposa de Getúlio Vargas, a trazer o Serviço Social para o Brasil.

Para contextualizar, destaca-se que no Chile, a fundação da primeira Escola de Serviço Social foi em 1925, pelo médico Alejandro Del Río, sendo que o profissional de Serviço Social era entendido como uma “sub-profissão” médica, frente aos graves problemas de saúde da época. O segundo espaço de formação de profissionais foi a Escola Elvira Matte de Cruchaga criada em 1929 por Miguel Cruchaga Tocornal, a qual obedeceu aos interesses da Igreja Católica em criar um centro ortodoxo para a formação de agentes sociais. A escola visava à formação de visitadoras que, além de cuidar do aspecto material dos assistidos também tratassem de suas almas. Para a escola se concebia mais do que uma simples profissão e sim uma vocação. No Brasil criava-se em 1936 a Escola de Serviço Social de São Paulo inspirada pela Ação Católica e Ação Social. Surge em 1937 no Rio de Janeiro o Instituto de Educação Familiar e Social que foi formado por duas escolas, sendo uma de Serviço Social e outra de Educação familiar.3

Num olhar mais profundo, podemos dizer que em 1844, Karl Mager tematizou a questão da "pedagogia social" na publicação alemã Pädagogischen Revue. 2 http://www.cfess.org.br/servicos_perguntas.php, acessado em 05.02.2016. 3 http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/4350, acessado em 05.02.2016.

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Na prática, a profissão surge em Londres, Inglaterra, e em 1898, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Com a ascensão da sociedade burguesa e o aparecimento de classes sociais, a burguesia (classe social dominante) necessitava de um profissional que cuidasse da área social assistindo a classe proletária. Dessa forma, a classe dominante exerceria certo controle sobre os proletários. No momento, não existia uma metodologia ou teoria acerca da profissão ou o que era a mesma. Há também uma herança intelectual franco-belga que influencia nas explicações sobre o surgimento do serviço social, principalmente no período do Primeiro Pós Guerra e que data do final do século XIX. Na literatura em questão, surge em 1911 a École Normale Sociale (católica) e, em 1912, a École Pratique de Service Social (protestante).

Seja no campo empresarial ou em outras formas de exercício profissional o assistente social formado pelo curso de Serviço Social, tem como objetivo amparar pessoas que de alguma forma não tem total acesso à cidadania, ajudando-os a resolver problemas ligados a educação, habitação, emprego, saúde. É uma profissão de cunho assistencial, ou seja, voltada para a promoção do bem-estar físico, psicológico e social. Este profissional pode trabalhar em empresas privadas, órgãos públicos e ONGs orientando e acompanhando pessoas e desenvolvendo programas de assistência dirigidos a diversos públicos como crianças em situação de risco, populações com poucos recursos financeiros ou afetadas por catástrofes naturais, idosos, etc.

O trabalho em Organizações Não Governamentais (ONG) se inscreve no que é denominado de terceiro setor da economia, ou seja, entidades civis sem fins lucrativos que trabalham com atividades relacionadas com os temas sociais de que se ocupam as políticas públicas (saúde, educação, segurança pública, habitação, etc.). O primeiro Setor se refere à administração pública direta e o Segundo a iniciativa privada.

As ONGs configuraram-se como um dos mercados de trabalho para o assistente social, dada a natureza de suas funções. A criação de uma ONG deve respeitar princípios legais mínimos, como o registro de um estatuto e inscrição em cartório; não há exigência ou impedimento quanto à profissão de seus fundadores. Portanto você poderia fundar uma organização mesmo sem realizar a formação em serviço social. No setor público o acesso se dá via concurso público.

Possivelmente possamos perguntar, neste momento, qual é, teoricamente, o marco conceitual da vulnerabilidade social na medida em que este conceito tem sido difundido no campo das políticas sociais? Aprofundar sua análise pressupõe

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desvelar quais os princípios sustentadores deste conceito e compreender para qual direção social que aponta, de transformação ou de manutenção da realidade, de superação ou de retrocesso.

Analisando o processo de consolidação da proteção social no contexto brasileiro,compreenderemos significativamente a abrangência do conceito, estruturante da política social, princípio fundante, que incorpora de maneira precisa a perspectiva de transformação social, de manutenção da ordem, construindo uma perspectiva inovadora, efetivadora de direitos, afirma Simone Rocha da Rocha Pires Monteiro4.

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Podemos abrir um parêntese? Sem querer interromper o raciocínio que estamos desenvolvendo, necessário compreendermos, na continuidade, as questões paradigmáticas que norteiam as ciências.

PARADIGMA – de acordo com Thomas S. Kuhn5, filósofo e historiador da ciência, paradigma significa “a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade científica.” É o modelo, a maneira, a forma que permite a explicação de certos aspectos da realidade. É um conjunto de regras e padrões que nos mostra como resolver problemas dentro de certos limites. É, de forma simplista, como percebemos o mundo.

PARADIGMA MATERIALISTA - percebe a realidade de uma forma material, mecânica. Interpreta a “realidade” de uma forma newtoniana/cartesiana, isto é, de modo reducionista. Este paradigma reduz e limita o ser humano a um conjunto atômico que, através de um epifenômeno, produz inteligência. Tem o foco nas partes do conjunto e, mesmo quando enxerga o todo não o relaciona com as partes.

PARADIGMA HOLÍSTICO – percebe a realidade de uma maneira mais ampla, mais total. Tem o foco no todo relacionando com as partes, sabendo que o todo é maior que a soma das partes. Nesta dimensão o ser humano é analisado com todas as suas potencialidades: biológicas, psicológicas, sociais e espirituais (não necessariamente um termo religioso). Agora podemos fechar o parêntese.

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Sinto que Sonia Monteiro tem uma visão mais abrangente, do marco conceitual da vulnerabilidade social, se assim pudermos nos expressar. Então vejamos!

Ao se aprofundar propriamente o marco conceitual da vulnerabilidade social, faz-se necessário tecer algumas contribuições sobre a noção de risco social, que, ainda que tênue, apresenta diferenças substanciais.

A compreensão de situação de risco foca-se no indivíduo, portanto, é revestida de caráter subjetivo, o que acaba por naturalizá-la ou legitimá-la. Outro aspecto intimamente ligado à noção de risco é a perspectiva da probabilidade, da previsão (BERNSTEIN,1997).

O tema da vulnerabilidade social não é novo, uma vez que essa terminologia vem sendo usualmente aplicada por cientistas sociais de diferentes disciplinas há bastante tempo. O tema caracteriza-se por um complexo campo conceitual, constituído por diferentes concepções e dimensões que podem voltar-se para o enfoque 4 Assistente social, Mestre e Doutora pela PUCRS, Profª Adjunta na Escola de Serviço Social-UFF. 5 KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. 1ª ed. Editora Perspectiva. São Paulo, 1982.

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econômico, ambiental, de saúde, de direitos, entre tantos outros. Ainda que essa temática venha sendo trabalhada ao longo de anos, cabe salientar que ela consiste em um conceito em construção, tendo em vista sua magnitude e complexidade.

A emergência da temática da vulnerabilidade social se dá nos anos 90, a partir do esgotamento da matriz analítica da pobreza, que se reduzia a questões econômicas. Essa tendência vem sendo difundida, sobretudo por organismos internacionais, entre estes se destacam Organização das Nações Unidas - ONU, Banco Mundial e CEPAL. Portanto essas ideias vêm sendo difundidas como pressupostos orientadores para a consolidação de políticas sociais.

A temática estava mais voltada para o sentido de conhecer os setores mais desprovidos da sociedade (uma vez que se utilizava de indicadores de acesso ou de carências de satisfação das necessidades básicas) do que para compreender os determinantes do processo de empobrecimento. Com isso, foram delineados os grupos de risco na sociedade, com uma visão focalizada do indivíduo e não no contexto social que produziu a vulnerabilidade.

Os primeiros estudos acerca do tema se restringiam à compreensão da vulnerabilidade a partir do viés econômico. Voltaram-se à capacidade de mobilidade social, uma vez que o fator econômico influencia na redução de oportunidades, interferindo diretamente nas possibilidades de acesso a bens e serviços.

Na América Latina, foi realizado por Mozer6, a partir da concepção ativos/estruturas vulneráveis, um significativo avanço no tema ao apontar que os riscos de mobilidade social descendentes não se apresentavam apenas para a população pobre, mas para a sociedade em geral, uma vez que a desproteção e a insegurança transcendem a capacidade de satisfação das necessidades básicas. Outro avanço importante nesse estudo é que ele considera ativos7 individuais como condicionantes do grau de vulnerabilidade, logo, compreende a vulnerabilidade de uma forma mais ampla.

Aqui caberá abrir um outro parêntese para inserir uma visão sociológica sobre a mobilidade social.

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Mobilidade vem do Latim mobilis, “o que pode ser movido, deslocado, é passível de movimento”.

Para sociologia, mobilidade social é um conceito de extrema importância uma vez que tal atributo representa o nível de deslocamento social dentro dos vários estratos que existem na sociedade. Os aspectos dinâmicos do interior dos estratos sociais costumam ser percebidos através do que os sociólogos chamam de mobilidade social e nem sempre esta impressão que temos corresponde de fato com o deslocamento de indivíduos de uma camada para outra da sociedade. Neste sentido, podemos remeter a Giddens (2005) para apresentar o conceito de mobilidade social: “Refere-se ao deslocamento de indivíduos e grupos entre posições socioeconômicas diferentes”

Com base na citação surge a pergunta: professor, como é possível ter um deslocamento se não temos uma distância? Assim como a Geografia usa o conceito de espaço geográfico, um sociólogo chamado Sorokin criou um termo chamado “espaço social”. Enquanto no espaço geográfico as referências são elementos naturais: 6 Carolina Mozer juntamente com um grupo do Banco Mundial, por meio de pesquisa de estratégias de redução da pobreza urbana (1998). 7 Recursos e capacidades.

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montanhas, rios, oceanos e o sol; o espaço social as referências são constituídas socialmente e dentro deste sistema é possível localizar o indivíduo através das suas “coordenadas sociais”: o filho do promotor, advogado ou presidente. Toda esta esfera de localização tem uma dimensão simbólica que alimenta o imaginário popular.

Além destes fatores citados há vários outros que permitem localizar o indivíduo ou grupo dentro do espaço social. Condição financeira, bairro que mora e status social. Giddens chama de mobilidade lateral, por exemplo, o fato de mudar-se de um bairro para o outro.

Principais tipos de mobilidade social são: "horizontal" e "vertical".

Quando há mobilidade horizontal a pessoa muda de posição dentro de um determinado grupo, mas permanece no mesmo estrato social. A exemplo disto temos o caso de morador que se torna síndico. Ele não muda substancialmente de renda, status ou poder aquisitivo, mas percebe-se que a posição social dele é maior dentro da esfera simbólica por conta do cargo que ele ocupa.

No outro exemplo de mobilidade - a vertical - o indivíduo ou grupo mudam nível ou estrato social. Por exemplo, uma pessoa que passa num bom concurso público e outrora era integramente da classe “C”, pode deslocar-se para a “B” ou outra classe.

Agora que vimos os principais tipos de mobilidade, podemos ver como os sociólogos analisam estas dinâmicas. Como possibilidade de estudo podemos fazer um estudo da mobilidade

social de várias gerações diferentes ou a partir da mesma geração. Para isso temos abordagem intrageracional e intergeracional.

Da mesma forma que o indivíduo pode ascender socialmente dentro dessa dinâmica de posições e deslocamentos sociais, é possível ir para um nível ou estrato mais baixo. Para isso, podemos diferenciar a mobilidade social ascendente, quando os sujeitos vão para um nível social superior e descendente, quando vão para um nível social inferior. Resumindo: “E o motivo todo mundo já conhece é que o de cima sobe o debaixo desce...”

Por fim, podemos concluir que mesmo que na sociedade haja elementos estáticos, há outros que são dinâmicos É preciso conhecer bem esta dinâmica para compreender que rumos tomaremos como sujeitos sociais.

Nesta perspectiva, é possível avaliar a meritocracia de um país justamente pela possibilidade de mobilidade social. Nessa direção “analisando esta cadeia hereditária quero me livrar dessa situação precária”. Agora podemos fechar o parêntese.

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Assim, a vulnerabilidade social passa a ser entendida a partir de múltiplos condicionantes. Reflitamos, então, que a vulnerabilidade não é uma essência ou algo

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inerente a algumas pessoas e a alguns grupos; ela diz respeito a determinadas condições e circunstâncias que podem ser ampliadas, minimizadas ou revertidas.

A vulnerabilidade passa a ser compreendida a partir da exposição a riscos de diferentes naturezas, sejam eles econômicos, culturais ou sociais, que colocam diferentes desafios para seu enfrentamento.

CAPÍTULO 2 DA VULNERABILIDADE SOCIAL À VULNERABILIDADE PSÍQUICA

Nas capitais dos Estados, assim como no território central de grandes centros urbanos, encontramos altos índices de criminalidade e violência, desemprego, pobreza e intenso fluxo imigratório das regiões mais pobres do país, cujas contingências se expressam nas fragilidades psicossociais das famílias em prover o sustento, o cuidado e a proteção de suas crianças e jovens. O cenário reflete o impacto de fenômenos macroeconômicos na violação dos Direitos da Criança (LEAL, 2003).

Uma parcela dessa população ocupa as ruas e encontra-se em alta vulnerabilidade para a situação de exploração sexual, apresentando-se esta como mais um fator que acometem suas vidas, dentro de um quadro mais amplo de vulnerabilidade social: vínculos rompidos ou esgarçados com a família, a migração dos jovens das regiões periféricas (carentes de equipamentos sociais) para as ruas da região central da cidade, evasões escolares, práticas de atos infracionais e o uso abusivo de substâncias psicoativas (com preponderância do crack).

Percebe-se um progressivo processo de exclusão e ausência dos direitos básicos, de modo que se envolver com a prática da prostituição nas ruas centrais constitui-se como um meio de aquisição de recursos financeiros ou outras trocas que propiciem o acesso à droga, a um espaço para pernoite, à alimentação e, por que não, como uma forma de atuação como sujeito social, ocupando o cenário disponível.

Um tripé caracteriza a população descrita:

a) estar em situação de rua (residindo ou no trabalho informal);

b) usar, de modo abusivo, substâncias psicoativas;

c) estar em situação de exploração sexual (situação de prostituição).

O conceito de "vulnerabilidade" é originário da área da advocacia internacional pelos Direitos Universais do Homem e designa, em sua origem, grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na proteção ou garantia de seus direitos de cidadania. Penetrou o campo da saúde há aproximadamente dez anos como um

conceito chave nos estudos e intervenções frente à epidemia de HIV/AIDS.

A vulnerabilidade psíquica está presente em larga escala na população que vivencia experiências de rua (com o impacto das violências múltiplas, incluindo a exploração

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sexual, uso de drogas, violência familiar) na forma de depressões, dos transtornos de condutas, da agressividade generalizada, da hiperatividade, do uso abusivo de substâncias psicoativas, dentre outros.

Não temos a intenção de criar "patologias" para o campo social, pelo contrário, a partir do conhecimento acumulado na saúde e na compreensão da complexidade do fenômeno em questão, buscamos trazer contribuições integrando saberes e ações.

Como consequência de todas as "violações" observadas, pauta-se a questão: como fazer a leitura das estruturas intrapsíquicas e das sintomatologias (uma vez que não são dadas naturalmente), levando em conta o contexto sociocultural, com as respectivas transversalidades de gênero, violências, classe social, geração e etnia/raça?

Da mesma maneira que no campo da AIDS a noção de vulnerabilidade foi central para substituir a noção de comportamento de risco – com um caráter de responsabilidade eminentemente individual – transpondo para o campo da saúde mental, a articulação entre as noções de vulnerabilidade social e vulnerabilidade psíquica tem duas consequências positivas: a primeira é a negação de uma tradição "psicologizante", individualista, culpabilizadora e a-histórica, que renega qualquer reflexão sobre os contextos culturais, sociais e políticos "onde" e "como" as pessoas sofrem e adoecem. Tais considerações possibilitam a segunda consequência, ou seja, o estabelecimento de formas de "tratamento" ou ações de caráter terapêutico que ultrapassem e transcendam o que historicamente é entendido como "da saúde", de modo que as mudanças ou propostas das políticas sociais se orientem pela intersetorialidade e interdisciplinaridade. Referimo-nos, objetivamente, a ações com impacto estrutural, no campo da educação, do esporte e da cultura, do trabalho e geração de renda, dos direitos, entre outros.

Pontua-se a relevância acentuada da disponibilidade para a construção em rede e o olhar ampliado no que se refere aos atores sociais que se dediquem ao trabalho com crianças e adolescentes, em especial aquelas em situação de exploração sexual. Deve-se valorizar a singularidade de cada sujeito em situação peculiar de desenvolvimento, buscando o provimento de sua colocação efetiva enquanto sujeito e a sustentabilidade do respeito a seus direitos.

Aqui caberá abrir outro parêntese para inserir uma visão particular.

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Vivemos uma experiência significativa no ano de 2015. Visitamos a Delegacia Especializada do Adolescente - DEA - situada no Parque do Lago, no Grande Cristo Rei, em Várzea Grande-MT, em janeiro. O Delegado de Polícia, titular àquela época, amigo de alguns anos, solicitou-me que escrevesse um Projeto para trabalharmos nas Escolas Estaduais e Municipais. O Projeto deveria encampar dois Projetos da PJC-MT - Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso: o "De cara limpa contra as drogas" e o "De bem com a Vida". O primeiro relacionado às drogas ilícitas e o segundo relacionado às drogas lícitas. Escrevemos o Projeto: "Uma cultura de Paz através da integração família/escola/sociedade".

Estamos em 17 Escolas, sendo 10 Estaduais e 7 Municipais. A vulnerabilidade social encontrada é estarrecedora. A Educação de hoje, como de antes, supervaloriza os aspectos cognitivos, esquecida dos aspectos emocionais e volitivos. Valoriza a autonomia intelectual, esquecida dos valores. Foca as possibilidade de acesso a níveis mais elevados de escolarização com melhor aproveitamento em cada nível e às

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condições dignas de inserção produtiva, esquecida de alguns fatores tão ou mais importantes para a efetiva qualidade de vida. Entre eles, a busca da própria transformação e não a do outro. Por isso, em nosso país temos criados inúmeros “Programas” de formação de professores e dos demais colaboradores da Escola, cuja iniciativa é fantástica, mas praticamente sem acabativas. Ora, a autotransformação está diretamente ligada ao desenvolvimento da inteligência integral: inteligência cognitiva, inteligência emocional e inteligência volitiva, ou seja, o pensar, o sentir e o querer, ou em outras palavras: razão, sentimento e vontade.

Infelizmente, para todos nós, de um modo geral, não poderemos olvidar que a família e a escola, hodiernamente, experimentam e enfrentam muitas dificuldades no que tange à questão da violência, haja vista que está envolvida num cenário perverso de ausências de políticas públicas que sejam iniciadas e acompanhadas até o desfecho que elas preveem. Podemos minimizar, até acabar com a violência, colaborando com as escolas nessa luta. Mas é precioso integração entre as Instituições sociais na ação educativa. Esta deverá sensibilizar e conscientizar a sociedade de que a prevenção é uma ação que trabalhará as causas e não os efeitos. Isto é uma responsabilidade de todo cidadão que deseja um mundo de paz. Promover a melhoria da qualidade do Ensino, criando perspectivas para o futuro das crianças e dos adolescentes, através de capacitação dos profissionais que estão direta e indiretamente envolvidos no mister. Agora podemos fechar o parêntese.

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Na página 5 dissemos que Sonia Monteiro tem uma visão mais abrangente, do marco conceitual da vulnerabilidade social, se assim pudéssemos nos expressar. Então, precisamos nos fazer as seguintes perguntas: como compreendemos o ser humano? Como compreendemos a ciência? Como compreendemos a sociedade?

Vamos considerar, daqui para frente, ainda referenciando a página 5, o paradigma holístico. Considerando, de passagem, a Psicologia Transpessoal que é holocêntrica, podemos dizer que a abordagem Transpessoal é uma área da psicologia que estuda as possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somatosensoriais) do ser humano pelos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa a pessoa (para se ter ideia do que seja estados de consciência, lembre-se que o estado de consciência de quando se está acordado é diferente do estado de consciência de quando se está dormindo; que o estado de consciência de quando se resolve um problema de matemática é diferente de quando se assisti a um filme, etc.).

Em cada um destes estados de consciência (que são vários, alguns ainda desconhecidos) é experimentada uma forma diferente de se perceber ou interpretar a realidade (quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de uma maneira muitíssimo diversa de quando estamos apaixonados).

A Psicologia Transpessoal, considerada a 4ª força, portanto, volta-se para o estudo destes diversos estados, não os encarando como contrários, mas como complementares, dando, porém, especial ênfase aqueles estados de consciência superiores, espirituais ou “transpessoais”, porque em tais estados, o sentimento de separação e de egoísmo tornam-se um segundo plano em relação a um sentimento e identificação mais ampla, cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os seres vivos (consciência crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica). E foram exatamente os grandes mestres, quer religiosos (Cristo, Buda, Francisco de Assis), quer científicos (Einstein, Tesla, Heisenberg), quer políticos (Gandhi, Luther King), quer artísticos (Bach,

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Da Vinci) que experimentaram, em graus variáveis, picos de “Consciência Cósmica” que mudaram não só suas próprias percepções da realidade, como ajudaram a outros (embora de modo diferente, pois a experiência não pode ser facilmente posta em palavras) a atingirem ao menos uma intuição desta “outra maneira de ver e sentir” o mundo, natural e humano. Daí, suas característica dentro do paradigma holístico.

Ora, se adentrarmos também, de passagem, na Antropologia, em sua vertente holística, perguntaremos: quem somos nós? Quem é você? Quem é o outro? De onde viemos? Para onde vamos? São questões filosóficas das mais antigas, mas que continuam desafiando nossa inteligência. Embora pareça ser uma sofisticada interrogação, proveniente de uma mente civilizada e evoluída, essa busca sofisticada por um Eu que sobreviveria à extinção do corpo físico é muito antiga.

Criacionismo ou Evolucionismo?

Ora, a ciência demonstrou de forma positiva a evolução.

A paleontologia não tergiversa.

Dos Australopthecus aos Ptecantropóides, destes ao homo-habilis, ao homo-erectus, ao homem de Neandertal sapiens, ao homem de cro-magnon sapiens, ao homo sapiens e ao homo sapiens-sapiens a evidência empírica, acadêmica é patente.

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Voltemos à vulnerabilidade social e psíquica, visando construir um arcabouço teórico, divisando fatores observados na própria história da humanidade. Daí poderemos inferir sobre o comportamento humano, uma vez que aludimos, acima, questões paradigmáticas sobre as ciências que têm como objeto principal de estudo o homem e seus comportamentos.

Sem desejar um vai e vem, em nossa abordagem, precisamos voltar à Psicologia para esclarecer uma questão: o movimento humanista teve forte influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. As convicções e as certezas começam a ruir no século XX, quando a razão começa a entrar em crise devido à existência da corrida armamentista e a pouca contribuição dos avanços tecnológicos na diminuição da desigualdade social no mundo. O existencialismo tem o homem como ponto de partida nos processos de reflexão e a fenomenologia, a consciência do ser sobre algo, a investigação da experiência consciente: o fenômeno. Com Heidegger, filósofo fenomenológico, há um retorno à teoria do conhecimento e das questões ontológicas. O ser e a existência do todo passam a ser a questão central.

Precisamos de um rápido olhar da Sociologia Compreensiva de Max Weber.

Weber negou-se ao fato de ter inventado um instrumento metodológico novo ao propor a noção de tipo ideal. Entende-se na elaboração de uma lógica, onde as referências são constantes, em um conjunto de explicações, ou seja, um quadro ideal da atividade para compreender uma ação.

Como o próprio autor explica: O tipo ideal é um conceito de grandes recursos, uma vez que alia o vigor na pesquisa ao rigor científico.8

8 FREUND, Julien (1987).

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O que ele demonstra é que em regra não existe um tipo ideal, único da atividade racional. Pode elaborar tantos quantos forem necessários, a fim de compreender a relação de qualquer atividade que implique os meios e fim, visando melhorar e assim aliviar as tensões e perturbações sociais. Esta gama de construir um tipo ideal sofre variações na medida em que buscamos a sua formação a atender as necessidades que importamos.

Vamos dar um exemplo prático. Se tomarmos, por exemplo, Mohandas Karamchand Gandhi (o Mahatma Gandhi) e Agnes Bojaxhiu Goncha (Madre Teresa de Calcutá) como o tipo ideal de homem e de mulher. Partindo desse modelo, é possível analisar diversos fatos reais como desvios do ideal. Tais construções (...) permitem-nos ver se, em traços particulares ou em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas construções, determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia mais lúcidas.

Com Gandhi e Teresa de Calcutá possivelmente compreendamos o suporte emocional, psicológico que ambos construíram para, adequadamente fazer os enfrentamentos propostos a eles no cotidiano. Possivelmente possamos chamar, na atualidade, este suporte de resiliência. Esta é um aspecto psicológico, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico, em conflitos. Ambos tomavam decisões adequadas, equilibradas, com máxima tranquilidade, diante de um contexto de tensões, demonstrando que nada os tiravam da quietude íntima. Logo, enfrentavam a adversidade de forma tranquila.

Uma pergunta não quer calar. Por que eles agiam assim? Simples! Por que foram educados para agir assim. Não há milagres. Há EDUCAÇÃO! Todos nós poderemos desempenhar adequadamente nossas condutas nessa mesma esteira desde que combinemos fatores que nos propiciem condições para enfrentar e superar problemas e adversidades. A educação que constrói características pessoais que contribuem para uma adaptação positiva a adversidades.

A resiliência de um indivíduo dependerá da interação de sistemas adaptativos complexos, como o círculo familiar, social, cultura, entre outros. Mas não há dúvidas. O principal é o familiar.

A construção da identidade pessoal é um processo de construção de sujeito, enquanto pessoa, enquanto ser humano. O indivíduo forma-se a partir da educação recebida no Lar, por seus pais ou responsáveis. Desempenhará seus papéis sociais de forma competente, amável, responsável, em conformidade com os exemplos que receba no Lar, primeiramente. Este fato se consolida, principalmente, quando é ensinado a fazer constantes autoavaliações, num constante relacionamento saudável consigo mesmo.

Percebamos os hábitos.

A existência humana é caracterizada por hábitos. Todo indivíduo afetuoso, tolerante, indulgente, solidário, fraterno, responsável, humilde, terá muita probabilidade de facilitar para outros o processo que ele mesmo vivencia. Da mesma forma àquele inamistoso, intolerante, egoísta, irresponsável facilitará para os outros o processo que ele mesmo vivencia. Logo, podemos compreender que os primeiros serão considerados

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socialmente bons, os segundos, maus. O ato gera o hábito e este constitui uma diferente natureza que se incorpora à conduta.

O hábito é responsável pelo caráter do ser humano, tomando-o digno ou vulgar, conforme a contextura emocional de que se reveste, porquanto os valores que exornam da personalidade definem-lhe a forma de ser, útil à sociedade ou prejudicial a ela.

Ora, como estamos educando? Como estão nossos alunos? Como anda a relação ensino-aprendizagem? Especificamente, como anda a aprendizagem?

A vida oferece recursos preciosos que nem sempre são valorizados conforme deveriam, em face, muitas vezes, da desestruturação dos lares, da inversão de valores humanos, resultando em hábitos nefastos adquiridos nas primeiras idades da vida.

Através dos hábitos expressamos nossas emoções, sentimentos e aspirações, facultando a continuidade e a ampliação dos mesmos, na construção de um mundo melhor quando descobrimos que as faculdades da alegria e do bem-viver consubstanciam novos atos que se converterão em automatismos felizes.

Em uma análise sucinta, que seja, em torno da organização fisiológica, do funcionamento dos órgãos, da saúde, seria fácil constatar que poderemos ser felizes somente apreciando o fenômeno da vida que se inicia, no seu sentido biológico, numa célula e termina no ser humano adulto entre 75 a 100 trilhões, em 150 tipos diferentes. Ora, se assim for feito, logo surge o sentimento de gratidão, que deve exornar a existência humana em todos os momentos. Quanto pagamos por cada célula?

Quanto pagamos pelo litro de oxigênio que respiramos e que faz movimentar todas as células, mantendo-as vivas?

Jéssica Cox nasceu sem os braços, no entanto, seus pais a ajudaram a resignificar sua limitação. Ela se adaptou e aprendeu a fazer praticamente tudo sozinha com o uso dos pés: comer, nadar, lutar caratê, tornar-se psicóloga organizacional, dirigir seu automóvel e pilotar um avião, sendo a primeira mulher no mundo a fazê-lo. Ela desenvolveu a fé, a esperança, a alegria, a honestidade, a confiança, os sentimentos que enriquecem a vida, tornando-se um símbolo de otimismo.

Igualmente, Tonny Melendez, nasceu sem os braços porque sua mãe tomou um remédio chamado Talidomida. Ressignificou seus pensamentos e sentimentos em relação a limitação, superando-se. Aprendeu a tocar violão com os pés, apresentando-se na Gira Papal, em Los Angeles, no ano de 1987.

Homens e mulheres que fizeram sucesso baseados nos padrões da consciência livre de conflitos, harmonizada com os ideais que dignificam, que valorizam, que enobrecem a vida. Estes caracteres ensejam os sentimentos adequados para a existência harmônica, rica de compensações emocionais e psicológicas. Assim procedendo-se, surge a real liberdade do ser, aquela que não pode ser cerceada por imposições políticas, religiosas, sociais, porque de natureza interior. Ninguém consegue impedir outrem de ser o que pensa, especialmente quando vinculado a objetivos dignificadores.

O hábito, portanto, de pensar e de agir corretamente, torna-se indispensável para uma existência digna. Decorrente dele, a ação da gratidão assume postura compatível com as conquistas logradas, ensejando novos horizontes a serem alcançados.

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A gratidão deve presidir todos os hábitos do ser humano, compondo um caráter ilibado pelos atos praticados.

Reflitamos numa Escola, numa sala de aula, onde os procedimentos processuais, dinâmicos e interativos, culminem com avaliação amorosamente assistida. Esta modalidade de avaliação fundamenta-se nos conceitos de aprendizagem mediada e zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky, “somando-se” as sugestões propostas por Carl Roger e Abraham Maslow, fundadores da 3ª e da 4ª forças em Psicologia: a Humanista e a Transpessoal: o terapeuta (termo abrangente que pode ser melhor entendido quando entendemos o método dos doutores da alegria, com base no filme Patch Adams: o amor é contagioso), utilizando um conjunto de estratégias instrucionais, afetivas e ajustáveis ao desempenho da criança, ajudando a revelar o seu desempenho potencial, fazendo-a alcançar um grau crescente de autonomia, de afabilidade, de compreensão, em situações de resolução de problemas.

Falamos em inteligência cognitiva, emocional e volitiva. Precisamos refletir um pouco sobre.

Conhecimento é o que sabemos. Assim falamos quase que diariamente. Mas esta expressão ou este conceito é unilateral. Organiza-se somente no aspecto cognitivo. Contudo, faltam duas outras dimensões: a emocional e a volitiva.

A Inteligência é uma só, contudo, didaticamente podemos dividi-la em três partes, conforme o esquema ao lado.

Assim temos: pensar, sentir e querer; razão, sentimento e vontade. O uso das inteligências emocional e volitiva leva-nos a aplicabilidade do que sabemos, humanizando sempre as nossas relações: primeiramente a intrapessoal e posteriormente a interpessoal. Isto nos traz sucesso.

Os lares, as escolas e as igrejas, nos últimos tempos, têm privilegiado, sobremaneira, as pessoas portadoras de muito conhecimento. Estas, se não usarem correlativamente as inteligências emocional e volitiva, poderão se deixar facilmente trair pela vaidade e com isso se tornarem até arrogantes. Ora, toda ação, todo posicionamento de arrogância não permite aplicar corretamente o que sabemos.

Para encerrar o capítulo voltemos a Gandhi.

Conta-se que uma mãe queria que seu filho parasse de comer doces, pois estava pré-diabético. Como não conseguia convencê-lo, pensou em levá-lo para conversar com Gandhi, na esperança de que este o convencesse. Lá chegando, ela explicou a Gandhi o problema e este, por sua vez, pediu para que retornasse dentro de uma semana.

Decorrida a semana, voltaram mãe e filho para falar com Gandhi. Lá chegando, foram recebidos pelo mesmo, que olhou para os olhos do menino e disse:

- Pare de comer doce. A mãe ficou indignada: - O quê! Uma semana para só dizer isso? Eu moro tão longe!

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No que Gandhi respondeu: - É que há uma semana eu comia doce...

Eis o desafio para mudarmos o nosso comportamento e entrarmos no mundo globalizado com sucesso: cada um de nós deve iniciar o processo de mudanças de hábitos e comportamentos e servir de exemplo para os demais. Não espere que o outro mude. Mude você!

CAPÍTULO 3 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL; ATUAÇÃO DO

ASSISTENTE SOCIAL E A LEI DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.

O que é o Projeto Ético-Político do Serviço Social?9

O que é um projeto?

Um projeto indica a direção que uma sociedade ou uma categoria constrói para concretizar o que idealizou, o que sonhou e sonha.

Os projetos coletivos se relacionam com as diversas particularidades que envolvem vários interesses sociais presentes em uma determinada sociedade. Questões culturais, políticas e econômicas articulam e constituem os projetos coletivos.

Os projetos coletivos de maior abrangência são chamados de projetos societários, constituem-se em projetos macroscópicos, para o conjunto da sociedade. Apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Podem ser de transformação ou conservadores.

Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão; elegem os valores que a legitimam; delimitam e priorizam seus objetivos e funções; formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício; prescrevem normas para o comportamento dos profissionais; estabelecem as balizas da sua relação com os usuários dos serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas; são construídos por um sujeito coletivo – a categoria profissional; e através da sua organização (que envolve os profissionais em atividades, as instituições formadoras, os pesquisadores, os docentes e estudantes da área, seus organismos corporativo e sindicais) que a categoria elabora o seu projeto profissional (NETTO,1999).

O QUE É O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL?

9 Texto adaptado da Coletânea de Leis – CRESS 17ª Região/ES e do texto de Marcelo Braz Moraes dos Reis (professor da ESS/UFRJ. Conselheiro do CFESS - Gestão 2002-2005/2005-2008, ex-diretor CRESS 7a Região), intitulado “Notas sobre o Projeto Ético Político do Serviço Social” e outras referências citadas.

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O termo PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL significa uma projeção coletiva que envolve sujeitos individuais e coletivos (daí a ideia de projeto) em torno de uma determinada valoração ética (daí o termo ético) que está intimamente vinculada a determinados projetos societários (daí o termo político, no seu sentido mais amplo) presentes na sociedade que se relacionam com diversos projetos coletivos em disputa na mesma sociedade (daí o termo profissional, expressando a particularidade de uma categoria).

O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL não foi construído de maneira efêmera. Sua gênese se localiza na segunda metade da década de 70 e teve como marco o III CBAS, conhecido como "Congresso da Virada". Esse mesmo projeto avançou nos anos 80, num processo de redemocratização da sociedade brasileira, recusando o conservadorismo profissional ainda presente no Serviço Social brasileiro. Constata-se o seu amadurecimento na década de 1990, período de profundas transformações societárias que afetam a produção, a economia, a política, o Estado, a cultura, o trabalho, marcadas pelo modelo de acumulação flexível e pelo neoliberalismo. O projeto ético-político profissional hoje ainda se encontra em construção e fortemente tensionado pelos rumos neoliberais da sociedade e por uma nova reação conservadora no seio da profissão.

O processo de construção do projeto ético-político envolve um conjunto de ideias/ideais que se interligam de forma interdisciplinar: são valores, saberes (escolhas teóricas), práticas, políticas, éticas, direitos e deveres, recursos políticos organizativos, processos de debate, investigação, interlocução crítica com o movimento da sociedade, da qual a profissão é parte e expressão.

As condições necessárias para desenvolver e aprofundar o projeto ético-político são:

• Condição política, que teve na luta pela democracia seu principal rebatimento, onde as aspirações democráticas e populares foram incorporadas e intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social.

• Espaço legitimado na academia, que permitiu a profissão estabelecer fecunda interlocução com as Ciências Sociais e criar e revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto da categoria.

• Debate sobre a formação profissional, cujo empenho foi dirigido no sentido de adequá-la às novas condições postas, em um marco democrático da questão social. Em suma, a construção de um novo perfil profissional.

No interior da categoria profissional, modalidades prático-interventivas tradicionais foram ressignificadas e novas áreas e campos de intervenção foram emergindo devido, sobretudo, às conquistas dos direitos cívicos e sociais que acompanharam a restauração democrática na sociedade brasileira (práticas interventivas junto a categorias sociais como criança, adolescente, mulheres, e outras).

ESTRUTURA BÁSICA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO:

Núcleo: • reconhecimento da liberdade como valor central

• Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.

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• Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social

Dimensão política: se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização; a ampliação e consolidação da cidadania. Este projeto se reclama radicalmente democrático – socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida.

Do ponto de vista profissional: o projeto implica o compromisso com a competência, cuja base é o aprimoramento profissional – preocupação com a (auto) formação permanente e uma constante postura investigativa.

Usuários: o projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços oferecidos – compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, a publicização dos recursos institucionais e sobretudo, abrir as decisões institucionais à participação dos usuários.

Articulação com os segmentos de outras categorias profissionais que partilhem de propostas similares e com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.

COMPONENTES QUE MATERIALIZAM O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO:

Dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social: é a esfera da sistematização das modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional.

Dimensão político-organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as entidades representativas conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e as demais associações políticos-profissionais, movimento estudantil etc. É aqui que são tecidos os traços gerais do projeto, quando são reafirmados (ou não) determinados compromissos e princípios.

Dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico estritamente profissional (Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8.662/93 e as novas Diretrizes Curriculares do MEC; aparato jurídico-político de caráter mais abrangente (conjunto das leis advindas do capítulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988).

DESAFIOS IMPOSTOS AO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Com a consolidação e expansão do neoliberalismo que conduz a perdas dos direitos sociais já conquistados, induzindo a massa trabalhadora a um aumento da precariedade de suas condições de vida e de trabalho, diminuindo a empregabilidade, a remuneração, em contrapartida, aumentando a miséria e o Estado tirando sua responsabilidade sobre o investimento nas políticas sociais. Esse é o desafio posto aos assistentes sociais nos dias atuais:

Como reforçar e consolidar este projeto político profissional em um terreno profundamente adverso? Como atualizá-lo ante o novo contexto social, sem abrir mão dos princípios éticos políticos que o norteiam? Ora, a vitalidade deste projeto encontra-se estreitamente relacionada à capacidade de adequá-lo aos novos desafios conjunturais, reconhecendo as tendências dos processos sociais, de modo que torne possível a qualificação do exercício e da formação profissional na concretização dos rumos perseguidos.

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A análise dos espaços ocupacionais do assistente social requer compreensão, sobretudo, nestes últimos 20 anos, da totalidade histórica considerando as formas assumidas pelo capitalismo no processo de revitalização de acumulação de bens, e, ultimamente no cenário da crise mundial. Sob a hegemonia das finanças e na busca incessante da produção de lucros, aquelas estratégias vêm incidindo radicalmente no universo do trabalho e dos direitos. As medidas para superação da crise sustentam-se no aprofundamento da exploração e expropriação dos produtores diretos, com a ampliação da extração do trabalho excedente e a expansão do monopólio da propriedade territorial, comprometendo simultaneamente recursos naturais necessários à preservação da vida e os direitos sociais e humanos das maiorias.

O liberalismo e o capitalismo enfatizam que o mercado é o órgão regulador das relações sociais, destacando-se o indivíduo produtor, impulsionando, assim, a competição e o individualismo e desarticulando formas de negociação coletiva.

O mercado, em si, deseja uma intensa privatização e mercantilização da satisfação das necessidades sociais favorecendo a produção e circulação de mercadorias. O bem-estar social tende a ser transferido ao foro privado dos indivíduos e famílias, dependente do trabalho voluntário ou dos rendimentos familiares dos diferentes segmentos sociais na aquisição de bens e serviços mercantis. Assim, resta ao Estado, a responsabilidade no alívio da pobreza extrema.

Neste cenário, cresce o desemprego que alimenta a expansão da população excedente, ao lado da desregulamentação e informalização das relações de trabalho, com efeitos na luta salarial e na organização autônoma dos trabalhadores. Então, destaca-se, pelo menos, políticas sociais voltadas à preservação dos mínimos vitais dos segmentos da crescente população excedente lançados ao mundo onde praticamente não há

expectativas, pois os riscos de mobilidade social são descendentes.

Nesse cenário, a questão social e as ameaças dela decorrentes assumem um caráter essencialmente político, cujas medidas de enfrentamento expressam projetos para a sociedade. Ora, o que fazer?

Quando falamos em caráter essencialmente político o que lhe vem à mente? A Lava-jato? O Mensalão? O petrolão? Ainda há Angra III e o BNDES?

Pesquisa sobre o perfil dos assistentes sociais no Brasil, promovida pelo Conselho Federal de Serviço Social10, com base em dados em 2004 (CFESS, 2005), constata que, no nível nacional, 78,16% dos assistentes sociais atuam em instituições públicas de natureza estatal, das quais 40,97% atuam no âmbito municipal, 24%, estaduais e 13,19%, federais. Assim, assistente social no Brasil é majoritariamente um funcionário público, que atua predominantemente na formulação, planejamento e execução de políticas sociais com destaque às políticas de saúde, assistência social, educação, habitação, entre outras. O segundo maior empregador são empresas privadas com 13,19% (o mesmo índice que as instituições federais), seguido do 10 Trata-se de pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), em maio de 2004, junto aos assistentes sociais inscritos no CRESS e com registro ativo os quais totalizavam à época um universo de 61.151 profissionais.

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“Terceiro Setor”, com 6,81% (englobando Organizações Não Governamentais (ONGs), Associações, Cooperativas, entre outras que viabilizam a chamada “responsabilidade social”).

A grande maioria dos profissionais, 77,19%, possui apenas um vínculo empregatício; 10,31% registram dois vínculos e apenas 0,76, três ou mais. A ausência de vínculos é expressiva (11,74%), indicando a não inserção no mercado de trabalho na área de Serviço Social.

O perfil desse trabalhador é de uma categoria fundamentalmente feminina (97%) coma presença de apenas 3% de homens; as idades prevalecentes encontram-se nas faixas entre 35 a 44 (38%) e 25 a 34 anos (30%), ainda que 25% estejam na faixa entre 45 e 59 anos. A maioria professa a religião católica (67,65); segue-se a protestante (12,69%) e a espírita kardecista (9,83%), e 7,92% não têm qualquer religião. As demais preferências religiosas não têm incidência significativa. A maioria dos assistentes sociais se identifica como branca (72,14%) e as que se declaram pretas e negras totalizam 20,32%. Em relação à orientação sexual, 95% são heterossexual, 3%, homossexual e 2%, bissexual. A maioria (53%) é casada e 47% são solteiros.

Nosso propósito, neste momento, é compreender todos os elementos para uma análise do trabalho do assistente social, que considere suas particularidades e focalize as tensas relações entre o projeto ético-político profissional e o estatuto assalariado, como núcleo irradiador de reflexões, de argumentações. Isto dá visibilidade, no universo do Serviço Social brasileiro, às determinações do trabalho do assistente social como trabalho concreto, eficiente e eficaz, dentro da sociedade burguesa, cujo pressuposto é o reino mercantil, no qual se assenta a forma social da propriedade privada capitalista e a divisão social do trabalho.

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Voltemos rapidamente à Psicologia. Abraham Maslow considerou as necessidades humanas como segue abaixo:

À ideia de desenvolvimento do ser humano, partindo do pressuposto da existência de necessidades básicas e de crescimento, as quais seriam sequenciais e hierárquicas.

O princípio norteador de seu trabalho é o de que pessoas se desenvolvem mediante a satisfação de necessidades que aparecem escalonadas. Satisfeitas umas, surgem outras, até que se atinja o ponto superior da pirâmide que sintetiza sua proposta.

Na base da pirâmide estariam as necessidades fisiológicas orgânicas, necessárias para sobrevivência física. Estariam incluídos aí, comida, água, sono, sexo, etc. satisfeitas essas necessidades, surgiriam as seguintes:

• Segurança, abrangendo abrigo, emprego, família, uniões, etc.; • Afeto que envolve: carinho, amizade, nos mais diferentes âmbitos;

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• Status ou estima social, enfatizando o reconhecimento nos grupos sociais de amigos, familiares e de trabalho;

• Autorrealização ou atualização, o ápice da pirâmide, que é representada por ideias humanitárias. O indivíduo torna-se mais despojado e voltado para o bem comum. Ele precisa continuamente atualizar-se e concretizar feitos dignificantes.

Desenvolvendo o afeto (meio da pirâmide), iniciará, possivelmente, o desenvolvimento de uma boa autoimagem, num "retrato" ou perfil psicológico de si mesmo que, então, adequadamente organizará e reorganizará constantemente, conservando em sua memória, como resultado feliz das interações vividas, ao longo de sua história de vida.

Com o retrato "adequado" e "constantemente retocado", se assim nos possamos nos expressar, desenvolverá cada vez mais sua autoestima. Neste ponto, não há duvidas, compreendemos a importância da convivência amorosa, amigável, serena, tranquila, harmoniosa com os pais, com a família. Logo em seguida com o ambiente escolar, pois será desde pequeno que o ser - bem educado, saberá lidar com suas emoções, seus sentimentos, sua formação.

Diante das figuras de autoridade (pais, irmãos mais velhos, professores) a criança e o jovem, em sua experiência de vida, estabelecerão critérios para julgar-se a si mesmo, começando a formação de uma opinião favorável ou desfavorável acerca de si mesmo, utilizando uma série de valores familiares e escolares apreendidos durante sua vida. Isto será ou não um marco de referência para sua autorrealização e consequentemente sua autoestima.

A autoestima tem dois componentes inter-relacionados. Um é o senso básico de confiança diante dos desafios da vida: a autoeficiência. O outro, o senso de merecer a felicidade: o autorrespeito.

Autoeficiência significa confiança no funcionamento mental, na capacidade para pensar, compreender, aprender, escolher e tomar decisões; é a confiança na capacidade para compreender os fatos da realidade, que pertencem à esfera dos interesses e necessidades, autoconfiança e segurança pessoal.

Autorrespeito significa a certeza de que se tenha valor como pessoa; é uma atitude de afirmação do direito de viver e de ser feliz; é sentir-se confortável ao expressar, de maneira apropriada, as ideias, vontades e necessidades; é a sensação, é o sentimento de que o prazer e a satisfação são direitos naturais.

Falamos da autoestima. Vamos ver as fontes interiores da autoestima:

Razão – agir com bom-senso em todas as situações, buscando refletir sobre cada ação a ser tomada.

Realismo - Ter uma atitude realista com otimismo perante a vida, sem subestimar ou superestimar suas capacidades; indivíduos com auto-estima elevada tendem a avaliar suas capacidades de maneira realista.

Intuição/ Emoção – buscar ouvir a intuição, sentir a própria emoção nas ações a serem tomadas, valorizando a inspiração, conectando-a com a razão.

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Criatividade - Pessoas criativas ouvem seus sinais interiores e confiam neles mais do que a média. São mais autossuficientes. Podem aprender com os outros ou inspirar-se neles. Mas valorizam os próprios pensamentos e as próprias percepções mais que a média das pessoas.

Independência - A prática de pensar por si mesmo é tanto causa como conseqüência da autoestima saudável. Também o é a prática de assumir toda a responsabilidade pela própria existência - pela concretização de seus objetivos e pela conquista da felicidade.

Flexibilidade - Ser flexível é ser capaz de reagir às mudanças sem apegos inadequados ao passado. O apego ao passado diante de circunstâncias novas e mutáveis é, em si, produto da insegurança, da falta de autoconfiança. A rigidez é, em geral, a reação da mente que não confia em si mesma para lidar com o novo, ou dominar o desconhecido.

Capacidade para enfrentar mudanças - A autoestima não considera a mudança algo assustador, pelas razões descritas no parágrafo anterior. Ela flui com a realidade; a indecisão íntima luta contra ela. Ela acelera o tempo de reação; a indecisão íntima retarda-o.

Disponibilidade para admitir (e corrigir) erros -. A pessoa com autoestima saudável não se envergonha de dizer, quando a ocasião exige, "Eu estava errado".

Benevolência e cooperação - Se estou centrado em mim mesmo, se estou seguro de meus limites, confiante em meu direito de dizer "sim" e "não" quando quero, a benevolência será a conseqüência natural. Não tenho por que ter medo dos outros, nem preciso me proteger atrás das muralhas da hostilidade. Se estou seguro de meu direito de existir, se confio que pertenço a mim mesmo, se não me sinto ameaçado pela certeza e pela autoconfiança dos outros, então a cooperação com eles para obtermos resultados comuns tenderá a ser desenvolvida com espontaneidade.

É muito mais provável encontrarmos empatia e compaixão, tanto quanto benevolência e cooperação, em pessoas com autoestima elevada do que nas de baixa autoestima; o relacionamento com os outros tende a espelhar e refletir o relacionamento comigo mesmo. Se numa destas dimensões - autoimagem e autoestima - que são interdependentes - a pessoa não se encontrar bem, haverá alguma dificuldade para trabalhar, para se relacionar, encontrando-se, destarte, numa situação de risco. Estas dimensões são bem concretas e relativamente fáceis de serem mensuradas, uma vez que houve brecha na resiliência.

Havendo brecha na resiliência não haverá administração das emoções. Então, o "fracasso" surgirá, pois possivelmente, de pronto, haverá uma comunicação inadequada, aparecerão conflitos, deixando a pessoa fora de controle. Daí compreender os sentimentos é requisito fundamental para o desenvolvimento da competência na administração das emoções.

Daniel Goleman, no livro Trabalhando com a inteligência emocional, cuja leitura recomendamos, apresenta uma situação extrema que lustra o que denomina de “seqüestro emocional”. O autor relata o processo que dominou as ações de Mike Tyson numa luta em que arrancou com os dentes um pedaço da orelha de Evander Holyfield. Isso lhe custou três milhões de dólares e a suspensão de um ano do boxe.

Aspectos importantes definem o grau de administração das emoções:

a) Autopercepção (perceber os sentimentos presentes nas situações)

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b) Autoestima e a autoconfiança (habilidade de fornecer e receber)

O que aconteceu com Mike Tyson? Não controlou os impulsos. Não gerenciou as emoções. Não desenvolver adequadamente o nível de tolerância, consequentemente houve brechas na resiliência. Na ação do Tyson não havia prudência nem serenidade. Mas... poderá existir tais competência no local da luta?

A resposta é simples: se não houver, melhor fazer outra coisa, pois no século XXI não há mais necessidade de "gladiadores".

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Conforme Fernanda dos Santos Varanda, o Serviço social foi oficializado no Brasil mediante a Lei 1989/53, sendo que a profissão de Assistente Social foi regulamentada pela Lei 3252, de 27 de agosto de 1957. Hoje a profissão encontra-se regulamentada pela Lei 8662 de 07 de junho de 1993 que legitima o Conselho Federal de Serviço Social e Conselhos Regionais.

A regulamentação profissional ocorreu num contexto em que o Estado Brasileiro assumiu uma perspectiva reguladora delegando aos conselhos profissionais a função de controle. Contudo, o serviço social compreendeu a profissão e suas entidades em outra perspectiva, a partir da adoção de referenciais teórico-metodológicos que possibilitam a construção de um processo crítico, enquanto instrumento de proposição de um projeto profissional ético-político. Os Conselhos passaram, então, a questionar sua função meramente burocrática, repensando seu caráter disciplinador.

Na década de noventa, a Lei 3252, de 27 de agosto de 1957 foi alterada pela Lei 8662, de 7 de junho de 1993, cujo texto legal expressa um conjunto de conhecimentos particulares e especializados, a partir dos quais são elaboradas respostas concretas às demandas sociais. A nova lei de regulamentação da profissão e o Código de Ética/93, forneceram respaldo jurídico e uma nova dimensão aos instrumentos normativos legais, superando os limites apontados até então.

A legislação brasileira do Serviço Social dispõe sobre o exercício profissional, suas competências e atribuições privativas, e os fóruns, que objetivam disciplinar e defender o exercício da profissão. Essa legislação resultou de um amplo processo de debate dos Assistentes Sociais brasileiros e institucionalizou o processo democrático de deliberação coletiva sobre questões da profissão.

Esta lei dispõe em seu artigo 1º que é livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta Lei.

Consideramos que todo profissional formado em Serviço Social, que tenha se inscrito no Conselho Regional de Serviço Social, tem o direito de exercer a profissão no Brasil, sem discriminar ou ser discriminado. O profissional deve atuar de acordo com as suas competências profissionais, sendo que, o não cumprimento ou a violabilidade destas acarretará em uma atuação fragmentada, de senso comum e que não gera transformação social.

A lei da regulamentação da profissão de Serviço Social (artigo 4º - 1993) no Brasil estabelece as competências e atribuições privativas do assistente social, que expressam a capacidade de apreciar e dar resolutividade a determinados assuntos:

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1) coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; com a participação da sociedade civil;

2) planejar, organizar e administrar programas e projetos em unidades de Serviço Social;

3) prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades em matéria do Serviço Social;

4) realizar visitas, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres em matéria do Serviço Social;

5) encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e população;

6) realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais, junto a órgãos da administração pública direta e indireta, a empresas privadas e outras entidades.

Estabelecer competências ao Assistente Social é atribuir contemporaneidade às funções e atribuições, objetivando certamente, apreender e explicar o que o profissional faz na realidade, elucidando os fundamentos do trabalho profissional e seu significado social no processo de reprodução das relações sociais.

Segundo Gentilli (1999, p. 16):

O grande desafio prático que vem sendo encarado para os assistentes sociais para não serem desligados do Conselho Regional, está exatamente na convivência conflituosa entre a observância às novas técnicas, rotinas e discursos administrativos, e a necessidade ética, política e legal de honrar os compromissos com a consolidação da cidadania, da liberdade, da justiça social, dos direitos humanos, do estímulo à participação política dos usuários e dos serviços que prestam na profissão.

Para tanto, é necessário que o assistente social seja um profissional comprometido com a realidade social, tendo em vista o objeto de sua ação: as expressões da questão social, refletindo este através de uma perspectiva crítica dialética e compromisso com os valores e princípios da profissão e da sociedade.

CAPÍTULO 4

ÓRGÃOS DE REPRESENTAÇÃO, DEMANDAS ATUAIS, INTERVENÇÃO, MERCADO DE TRABALHO E PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS.

As principais entidades do serviço social brasileiro são: o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO).

Cabe ao CFESS, na qualidade de autarquia pública normativa de grau superior, a atribuição de orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão, em conjunto com os CRESS. Estes, por sua vez, são órgãos executivos de primeira instância e possuem a competência de orientar a categoria, fiscalizar, disciplinar e defender o exercício profissional, com objetivo principal de garantir a qualidade dos serviços prestados, de modo a preservar os direitos da população atendida e assegurar

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as competências e atribuições profissionais. Os Conselhos Regionais e suas Seccionais atuam em todos os estados brasileiros, em conjunto com o CFESS.

Foi sancionada, no último dia 6 de julho, a Lei Federal no 12.435/2011 que regulamenta o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e altera alguns dispositivos da Lei Orgânica de Assistência Social - Lei no 8.742/1993.

Com a aprovação da Lei, o SUAS, antes colocado como uma orientação para os municípios, passa a ser de observância obrigatória para os órgãos gestores, bem como para os operadores do direito. A medida poderá contribuir para o fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social e para a garantia de direitos dos usuários.

SOBRE O SUAS

O SUAS foi criado em 15 de julho de 2005 pela Resolução n° 130 do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, que aprova a Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB/SUAS, sendo gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS.

INFORMATIVO

SUAS, CRAS, CREAS

O que é o SUAS?

Sistema Único da Assistência Social (SUAS) constitui-se na regularização e organização em todo território nacional das ações sócio-assistênciais. Ações essas, baseadas nas orientações da nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Os serviços, programas e benefícios tem como objetivo atender às famílias, seus membros e indivíduos, estando as suas ações focadas no desenvolvimento das potencialidades de cada um e no fortalecimento dos vínculos familiares.

Nesta concepção, o SUAS é a organização de uma rede de serviços, ações e benefícios de diferentes complexidades que se reorganizam por níveis de proteção social: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial.

Proteção Social Básica

- Objetiva prevenir as situações de risco através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, destinado a população em situação de vulnerabilidade social, em decorrência da pobreza, privação, acesso precário ou nulo aos serviços públicos ou fragilização de vínculos afetivos relacionais (discriminações etárias, étnicas, de gênero, ou por deficiências).

- Os serviços, projetos e benefícios da rede de proteção básica são desenvolvidos nos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS.

O que é o CRAS?

− É uma unidade pública estatal, localizada em áreas de vulnerabilidade social;

− Realiza serviços de proteção social básica;

− Trabalha na perspectiva da prevenção e minimização e/ou superação das desigualdades sociais;

− Organiza e coordena a rede de serviços sócio assistenciais locais;

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Ações

O CRAS desenvolve ações de inclusão sócio-familiar-comunitário através de:

•Acolhida e recepção

•Escuta e encaminhamento

•Oficinas de geração de renda

•Grupos diversos (criança, adolescente, adulto e idoso)

Quais os Programas Desenvolvidos?

- PAIF – Programa de Atenção Integrado às Famílias

- Bolsa Família

- Proteção Social Básica a Infância e Juventude

- Agente Jovem - Proteção Social Básica a Pessoa Idosa

- Proteção Social Básica a Pessoa com Deficiência

Proteção Social Especial ( Média e Alta Complexidade)

− Destina-se a família e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados.

− Diferente da Proteção Social Básica que tem um caráter preventivo, a PSE atua com natureza protetiva.

− As atividades da Proteção Especial são diferenciadas de acordo com níveis de complexidade (média ou alta) e conforme a situação vivenciada pelo indivíduo ou família.

− Os serviços de PSE atuam diretamente ligados com o sistema de garantia de direito, exigindo um gestão mais complexa e compartilhada com o poder judiciário, Ministério Público e com outros órgãos e ações do Executivo.

− Na PSE estão inseridos os Centros de Referência Especializada de Assistência Social – CREAS.

O que é o CREAS?

- É uma unidade pública e estatal, integrante do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

− Os serviços ofertados nos Creas devem ser desenvolvidos de modo articulado com a rede de serviços da assistência social, órgãos de defesa de direitos e das demais políticas públicas.

- Presta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos com seus direitos violados por ocorrência de:

- Negligência e abandono;

- Ameaças e maus tratos;

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- Violações Físicas e psíquicas

- Discriminações Sociais

Quais os Programas Desenvolvidos?

- (PETI) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil;

- Programa de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

- Proteção Social à pessoa com deficiência

-Rede Abrigo - Proteção Social Especial a criança, ao adolescente e à juventude.

Ações

• Promove campanhas educativas:

• Capacita profissionais de saúde, educação e conselheiros tutelares para prevenção e combate a violência contra crianças e adolescentes;

• Realiza cursos de inclusão produtiva para adolescentes e famílias;

• Realiza seminários que combatem qualquer tipo de violência a indivíduos e grupos

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Vivemos tempos marcados por uma crise societária. O atual contexto sócio-histórico é permeado pelas crises ideológicas, de valores, do capital, do trabalho, das utopias, dos paradigmas etc., as quais se definem como um momento de mudanças dentro do funcionamento de um sistema, em sentido positivo ou negativo.

Existe, por vezes, uma virada não prevista e que desenvolve interações dentro do referido sistema. Nessa perspectiva, abre-se um leque com múltiplos caminhos de análise para a abordagem das transformações societárias da atualidade, bem como suas mediações com o Serviço Social.

Observemos a categoria trabalho, considerando que ele se constitui enquanto um pressuposto da existência humana, por meio do qual o homem faz a história, sendo uma atividade que se inscreve na esfera da produção e reprodução da vida material e social. Contudo, na atualidade, afirmar a centralidade do trabalho pode parecer um contrassenso, vez que vivenciamos, por várias vias, o descentramento e a desconstrução da categoria do trabalho, mediante as metamorfoses instaladas nas suas formas de produção e organização. Tal centralidade se reafirma no fato de que o trabalho deriva-se, na sua essência, em uma inter-relação entre o homem e a natureza. O trabalho é uma necessidade natural de efetivar o intercâmbio entre o homem e a natureza. É através do trabalho que o homem transforma a natureza, ao mesmo tempo em que transforma a si mesmo, em busca da satisfação das suas necessidades.

Talvez houvesse necessidades de muito mais tempo de reflexões para relacionarmos as 26 anteriores com a frase acima, em negrito.

O trabalho é a pedra de toque para o progresso intelectual, emocional, volitivo, social, cultural. O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.

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Onde nascerá esta concepção sobre trabalhar? Em primeiro momento nos lares. E como está a maioria dos lares? Quais os programas televisivos que dão ibope para o povo? O FS? O SS? O BBB? Compreendamos! Nada contra! Mas perguntamos: o que aprendemos e apreendemos nestes programas televisivos que propiciará procedimentos, atitudes e posturas adequadas para o enfrentamento cotidiano?

O trabalho é meio de aperfeiçoamento da inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade.

Tudo em a Natureza trabalha. Não existe nada parado, tudo está em movimento. Trabalham os animais que, pelo instinto, se limitam a cuidarem da própria conservação. Já o trabalho do homem tem dupla finalidade: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, de sentir, de querer.

A compreensão do caráter do trabalho para o ser social, isto é, o ser imediato e indeterminado, passa a assumir a posição do ser que se apresenta a partir da materialização do trabalho, porquanto é a categoria de trabalho que potencializa a transformação do ser meramente biológico e indeterminado para o ser efetivamente social. Estabelecida uma mediação que articula a especificidade do ser no mundo dos homens com a totalidade existente, elucidam-se a gênese e o desenvolvimento do ser - o ente - social.

Em face de o trabalho proporcionar a sociabilidade, as transformações societárias em desenvolvimento na contemporaneidade apontam, consequentemente, para a emersão de metamorfoses no mundo do trabalho, que põem em “xeque” as condições de sua realização, organização e reprodução.

Façamos uma reflexão pensando na tecnologia. Poderá ser o smartphone. Pensemos no whatsapp. Qual o reflexo na sociedade? Como ficamos com o barulhinho do Plin-Plin?

Vivenciamos, nas últimas décadas do século XX e se estendendo até os dias atuais, de forma contundente e contínua, o processo de globalização e criação da sociedade global que, em si, formam uma unidade em movimento, expressando um novo ciclo de expansão do capitalismo. Isto é um processo civilizatório de alcance mundial, envolvendo nações, regimes políticos, projetos nacionais, classes e grupos sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações, transpondo as fronteiras geográficas, históricas e políticos-culturais e multiplicando as suas formas de articulação e contradição.

Assim, processa-se uma totalidade abrangente, complexa e contraditória, circunscrevendo uma nova escala de valores, ou mesmo, novas formulações às cartografias geopolíticas, blocos e alianças, polarizações ideológicas e interpretações científicas. Mas esse processo, conforme Ianni (1999), tem-se realizado de forma violenta, no qual se globalizam as coisas, as ideias, as pessoas, num ciclo histórico de continuidades, recorrências, tensões e rupturas, versando, dessa forma, a universalização do capitalismo, corporificado em um novo impulso, de forma extensiva e intensiva, através de novas tecnologias, da criação de novos produtos, recriação do mundo do trabalho e mundialização dos mercados.

Não precisaremos nos delongar nestas reflexões para dizermos que todos aqueles que estão envolvidos com atividades sociais, mormente os assistentes sociais, terão muito trabalho pela frente. Pensamos que a resiliência deverá ser uma força pensada, sentida e vivida para os enfrentamentos gigantescos que surgirão.

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PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS DA POLÍTICA SOCIAL E DA CIDADANIA

Política Social é um tema complexo e que tem assumido significativa relevância, especialmente a partir dos anos 80, tanto no âmbito das ciências sociais, como da ciência política e da economia política.

CONSTRUÇÃO HISTÓRICA:

A existência de políticas sociais é um fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa, e seu específico modo capitalista de produzir e reproduzir-se.

SEMPRE FOI ASSIM?

NÃO, isso acontece a partir do momento em que tem-se um reconhecimento da questão social, e conclui-se que esta tem algo a ver com o modo de produção. Momento em que os trabalhadores assumem um papel político e por vezes revolucionário.

A generalização de medidas de seguridade social no capitalismo, intensifica-se após a segunda guerra mundial, quando assiste-se à uma singular experiência de construção do WELFARE STATE em alguns países da Europa Ocidental.

O PLANO BEVERIDGE (William Henry Beveridge - Inglaterra 1942)

Dirigiu a London School of Economics entre 1919 e 1937, presidente do comitê administrativo britânico elaborou estudo acerca do sistema previdenciário britânico, que resultou no plano, o qual aplicando as teorias Keynesianas de redistribuição da renda, serviu de base para a reforma da estrutura da previdência social na Inglaterra e em vários outros países.

O PADRÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

As políticas sociais mostraram-se com variados padrões de proteção social, no que se refere as coberturas, universalidade, padrão de financiamento (redistributivo ou não, contributivo ou não. Mas há um outro fator relevante...Qual seria?

Dentre os aspectos já citados, existem ainda outros que podem compor uma avaliação deste universo, está relacionada às relações entre as classes sociais e segmentos de classe, e condições econômicas gerais, que interferem nas opções políticas e econômicas dos governos.

O DEBATE CLÁSSICO

Com a decadência da sociedade feudal e da lei divina como fundamento das hierarquias políticas, por volta dos séculos XVI e XVII, foi desencadeada uma discussão sobre o papel do Estado. Desde Maquiavel, tem-se a busca de uma abordagem racional do exercício do poder político por meio do Estado

OS TEÓRICOS DO ESTADO DEBATE CLÁSSICO

Hobbes(1651), em seu Leviathan, apontava que, no estado de natureza, os apetites e as aversões determinam as ações voluntárias dos homens, e entre preservar a liberdade vantajosa da condição natural e o medo da violência e da guerra, impõe-se a renúncia à liberdade individual em favor do soberano, do monarca absoluto.

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John Locke(1632-1704) concordava com essa ideia de que os homens unem-se na sociedade política para se defender da guerra de todos contra todos. Porém, dizia que a monarquia absoluta era incompatível com o governo civil, já que o soberano não teria a quem apelar a não ser a si mesmo. Para Locke, o poder tem origem num pacto estabelecido pelo consentimento mútuo dos indivíduos que compõem a comunidade no sentido der preservar a vida, a liberdade e, sobretudo, a propriedade.

Jean-Jacques Rousseau (1762), com seu contrato social, acrescentou novos e polêmicos elementos ao debate do estado. Para ele até aquele momento o Estado fora uma criação dos ricos para preservar a desigualdade e a propriedade, e não o bem comum. Para Rousseau, o impasse da desigualdade social e política na sociedade civil é a configuração de um Estado cujo poder reside no povo, na cidadania, por meio da vontade geral

Diferentemente de Locke, o pacto não é apenas dos proprietários, mas envolve o conjunto da sociedade em mecanismos de democracia direta. Assim, apenas esse Estado, um Estado de Direito, fundado nas leis definidas pela vontade geral, seria capaz de limitar os extremos de pobreza e riqueza presentes na sociedade civil .

Em síntese:

A consolidação econômica e política do capitalismo nos séculos XVIII e XIX introduziu outros e duradouros condimentos nas discussões em torno da relação Estado, sociedade civil e bem-estar. Se para os pensadores do período de fundação do Estado moderno, este era o mediador civilizador/ideia resgatada pelas perspectivas que preconizaram no século xx, um Estado intervencionista-,para o pensamento liberal emergente, era um mal necessário .

CAPÍTULO 5

PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS DO SÉCULO XX

Sônia Maria de Almeida Figueira

NEOTOMISMO - A presença do neotomismo no Serviço Social marca profundamente a profissão desde a fundação da primeira escola de Serviço Social no Brasil. O Serviço Social, ao surgir atrelado ao projeto da reforma social da Igreja, a serviço de sua ideologia, carrega, além de sua prática, o seu ponto de vista teórico. Toda a visão de homem e de sociedade adotada na profissão se dará a partir da visão católica, tendo como sustentação filosófica o neotomismo11.

A formação cristã do profissional em Serviço Social foi objeto de estudo de alguns encontros de Assistentes Sociais. Segundo Aguiar (1982), até 1967, quando é realizado o Seminário de Araxá, houve 14 convenções da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS), atual Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

11 Movimento de retorno à filosofia tomista da Idade Média, resgatada à luz de tendências intelectuais modernas e retomada esp. a partir de 1879, por influência de uma encíclica do papa Leão XIII; neoescolástica O principal representante deste movimento na contemporaneidade é o filósofo francês Jacques Maritain. O tomismo é a doutrina ou filosofia escolástica de São Tomás de Aquino, adotada oficialmente pela Igreja Católica, e que se caracteriza, sobretudo pela tentativa de conciliar o aristotelismo com o cristianismo.

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Serviço Social (ABEPSS)1, onde o pano de fundo era a doutrina católica. Os encontros da ABESS comumente iniciavam-se com a celebração de uma missa e, por vezes, eram precedidos de um dia de recolhimento, aos moldes dos retiros espirituais promovidos pela Igreja a seus fiéis, tal era estreita a relação da profissão com a prática cristã católica.

Na IV Convenção da ABESS, que ocorreu em São Paulo em 1954, o tema foi “A formação cristã para o Serviço Social e a Metodologia de Ensino de Serviço Social de Grupo e Organização de Comunidade”. Em 1959, em convenção realizada em Porto Alegre para discussão do currículo dos cursos de Serviço Social, foram reafirmadas como importantes para a formação integral do Assistente Social as disciplinas de Religião e Doutrina Social da Igreja. No discurso de encerramento deste evento foi salientada a missão dos Assistentes Sociais do seguinte modo: “o cristianismo humanizante para a conquista da paz. E a exemplo de Maria, os assistentes sociais têm a tarefa de Anunciar a Redenção.” (AGUIAR, 1982, p. 38). Em 1960, um novo encontro realizado em Fortaleza teve como tema “Formação da Personalidade do Assistente Social em todos os Aspectos” e os aspectos analisados foram: a formação psicológica, moral e espiritual. No que se refere ao aspecto espiritual, enfatizou-se que o Assistente Social deve buscar a perfeição e que esta busca da perfeição seja iluminada pelo espírito comunitário e pela doutrina do Corpo Místico de Cristo.

O neotomismo é uma corrente filosófica surgida no século XIX com o objetivo de reviver a filosofia de Santo Tomás de Aquino, do século XIII, o tomismo, a fim de atender aos problemas contemporâneos. A condição de exploração e miséria em que vivem os operários na Europa do final do século XIX, decorrentes da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo, leva a Igreja a se posicionar, pois este momento era visto por esta como de crise e decadência da moral e dos costumes cristãos. A Igreja vê, então, no ressurgimento das ideias de Tomás de Aquino o caminho para o enfrentamento desta realidade.

O Tomismo é a doutrina filosófica cristã elaborada pelo dominicano Tomás de Aquino, estudioso do filósofo grego Aristóteles. Tomás de Aquino dedicou-se ao esclarecimento das relações entre a verdade revelada e a filosofia, isto é, entre a fé e a razão. Segundo sua interpretação, tais conceitos não se chocam nem se confundem, mas são distintos e harmônicos. Segundo Aguiar (1982), Santo Tomás parte da reflexão feita por Aristóteles e a reinterpreta à luz do cenário filosófico de sua época, marcado por questões como: as relações entre Deus e o mundo, fé e ciência, teologia e filosofia, conhecimento e realidade. Para Santo Tomás, a primeira realidade a ser explicada deve ser Deus, que é a fonte de todos os seres. Após analisar a existência de Deus, analisa o homem,a pessoa humana, entendendo que a pessoa humana é composta de duas substâncias incompletas: alma e corpo. É da transformação destas duas substâncias em uma substância única que resulta o ser humano, distinto de qualquer outro ser. Este ser dotado de razão é capaz de escolha, de saber, de vontade. Por ser inteligente afirma Santo Tomás, “a pessoa significa o que há de mais perfeito em todo o universo.” (AGUIAR, 1982, p. 42)

O POSITIVISMO - A presença do Positivismo no Serviço Social pode ser percebida quando a profissão passa a dar ênfase à instrumentalização técnica, ou seja, quando se soma à preocupação do “o que” fazer a preocupação de “como” fazer, embora esta preocupação tenha feito com que o Serviço Social caísse muitas vezes no metodismo.

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O positivismo, no Serviço social, vem acompanhado do funcionalismo e adentra esta profissão através da influência do Serviço Social norte--americano, trazida, na década de 1940, pelos assistentes sociais brasileiros que foram estudar nos Estados Unidos. Esta influência vai marcar sobremaneira o Serviço Social brasileiro. Inicialmente temos a importação das técnicas norte-americanas para aplicação na realidade brasileira. Não é preciso dizer que isto causou alguns problemas, pois, segundo Aguiar (1984), a fundamentação do método e das técnicas não era analisada e traduzida para a nossa realidade, era tão somente transplantada.Nesta fase, o Serviço Social brasileiro ainda estava marcado pelo neotomismo e pela doutrina social da Igreja, havendo, portanto, uma junção dos pressupostos neotomistas e das técnicas vindas do Serviço Social norte-americano.

O positivismo é uma corrente filosófica surgida na primeira metade do século XIX. Foi fundado por Augusto Comte, em contraposição às ideias que nortearam a Revolução Francesa no século XVIII. A doutrina de Comte parte do pressuposto de que a sociedade humana é regulada por leis naturais invariáveis, que independem da vontade e da ação humana. Para ele, as leis que regulam o funcionamento da vida social, econômica e política são do mesmo tipo que as leis naturais, logo, o que predomina na sociedade é uma organização semelhante à da natureza. Para o positivismo, a filosofia baseada nos dados da experiência é a única verdadeira. O conhecimento se afirma numa verdade comprovada, portanto, considera o método experimental o caminho para o pensamento científico e a verdade comprovada jamais é questionada.

Aos 16 anos de idade, Comte ingressou na Escola Politécnica de Paris, fato que teve significativa influência em seu pensamento, a ponto de ele vir a considerá-la a primeira comunidade verdadeiramente científica que deveria servir como modelo de toda educação superior. Embora permanecesse por apenas dois anos nessa escola, ali Comte recebeu a influência do trabalho intelectual de cientistas como o físico Sadi Carnot (1796-1832), o matemático Lagrange (1736-1813) e o astrônomo Pierre Simon de Laplace (1749-1827).Um ano depois de sair da Escola Politécnica, em 1817, Comte tornou-se secretário de Saint--Simon3 (1760-1825), do qual receberia profunda influência. Essa ligação intelectual foi extremamente proveitosa para Comte, porém terminou de maneira tempestuosa quando Comte começou a sentir-se independente do mestre, discordando de suas ideias sobre as relações entre a ciência e a reorganização da sociedade. Comte não aceitava o fato de Saint-Simon, nesse período deixar de lado seus planos de reforma teórica do conhecimento e dedicar-se às tarefas práticas. A separação entre os dois ocorreu em 1824. No mesmo ano, Comte casou-se com Caroline Massin e, não tendo mais os proventos de secretário de Saint-Simon, passou a ganhar a vida dando aulas particulares de matemática. Dois anos depois, exatamente no dia 2 de abril de 1826, iniciou em sua própria casa um curso, do qual resultou uma de suas principais obras: o Curso de Filosofia Positiva, em seis volumes, publicados a partir de 1830. Em 1842, separa-se da esposa e dois anos depois publica o Discurso sobre o Espírito Positivo. No mesmo ano, edita o volume do Curso de Filosofia Positiva, onde ataca os especialistas em matemática e afirma ter chegado o tempo de os biólogos e sociólogos ocuparem o primeiro posto no mundo intelectual.

Os últimos anos da vida de Comte transcorreram em grande solidão e desencanto, sobretudo por ter sido abandonado por Littré, seu mais famoso discípulo, que não concordava com a ideia de uma nova religião.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO POSITIVISMO

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O positivismo rejeita o conhecimento metafísico e considera que devemos nos limitar ao conhecimento positivo, aos dados imediatos da experiência. Defende a ideia de que tanto os fenômenos da natureza como os da sociedade são regidos por leis invariáveis. A filosofia positiva se coloca no extremo oposto da especulação pura, exaltando, sobretudo, os fatos.

Os princípios fundamentais do positivismo são: a busca da explicação dos fenômenos através das relações destes e a exaltação da observação dos fatos, porém, para ligar os fatos, existe a “necessidade de uma teoria”, sem a qual é impossível que os fatos sejam percebidos. “Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados, mas para entregar-se à observação nosso espírito precisa de uma teoria.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 34). O positivismo prega a submissão da imaginação à observação, mas isto não deve transformar “a ciência real numa espécie de estéril acumulação de fatos incoerentes, porque devemos entender que o espírito positivo não está menos afastado, no fundo, do empirismo do que do misticismo.” O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever. “O verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 35).

Para o positivismo, não interessa as causas dos fenômenos, isso não é tarefa da ciência. Isso é metafísico, e um dos traços mais característicos do positivismo é sua rejeição ao conhecimento metafísico, à metafísica.

Há no positivismo uma recusa consciente a mergulhar naquilo que não tem existência empírica. A razão só pode conhecer verdadeiramente aquilo que pode ser verificado empiricamente, seguindo o exemplo das ciências naturais. Quando a razão procurar ir além da matéria empírica, ela se perde ou retorna para o terreno da metafísica. Portanto, a essência não pode, e nem deve, ser conhecida, porque ela está além das possibilidades de conhecimento do ser humano. Assim como com a essência, também acontece com os fins últimos da ação humana (os valores sociais), eles também não podem ser conhecidos racionalmente. Esta cisão entre meios racionais e fins irracionais aparece, por exemplo, na análise das formas de ação social em Max Weber e tem grande importância para o Serviço Social, como veremos adiante. O único objeto da ciência, na visão positivista, portanto, são os fatos que podem ser observados. A atitude positivista consiste em descobrir as relações entre as coisas. A busca científica não está a serviço das necessidades humanas para resolver problemas práticos. O investigador estuda os fatos, estabelece relações entre eles, pela própria ciência, pelos propósitos superiores da alma humana de saber, não está interessado em conhecer as consequências de seus achados. “A ciência estuda os fatos para conhecê-los, e tão-somente para conhecê-los, de modo absolutamente desinteressado.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 36-37). O papel do investigador é exprimir a realidade, não julgá-la, considerando, portanto, o conhecimento científico neutro, visão esta que foi combatida, principalmente, por parte dos cientistas sociais que não podiam conceber que a ciência humana pudesse ficar à margem da influência do ser humano que investigava.

Segundo Triviños (1987, p. 33), é possível distinguir três momentos na evolução do positivismo:

A primeira fase chamaremos de positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, também se sobressaem os nomes de Littré, Spencer e Mill. Logo após o final do século XIX, o empiriocriticismo de Avenarius e Mach. A terceira etapa deno-mina-se de neopositivismo e compreende uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o empirismo lógico, vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath, etc.); o

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atomismo lógico (Russell, 1872-1970, e Witgenstein, 1889-1951); a filosofia analítica (Witgenstein e Ayer, n.1910) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busca da essência dos problemas; o behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, e Skinner, n. 1904).

O Neopositivismo, ou Empirismo Lógico ou Positivismo Lógico, foi fundado por um grupo de filósofos e cientistas, conhecidos como o “Círculo de Viena”, que, no decorrer da década de 1920, se reuniram em Viena, fundando uma das mais influentes correntes filosóficas e epistemológicas de nosso tempo. O Círculo de Viena foi ganhando cada vez mais influência, sobretudo nos países anglo-saxões, onde suas investigações não se limitaram ao campo da teoria da ciência, mas estenderam-se aos domínios da ética, da filosofia da linguagem e da filosofia da história (CARVALHO, 1997).Uma das principais aspirações dos positivistas é alcançar resultados na pesquisa social que possam generalizar-se e, para tal, utilizam-se de técnicas de amostragem, tratamentos estatísticos e estudos experimentais severamente controla dos como instrumentos para concretizar estes propósitos. Mas, na visão de Triviños (1987, p. 38):

a flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que contribui com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc.), não permitirão elaborar um conjunto de conclusões frente à determinada realidade com o nível de objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural.

No positivismo procura-se utilizar o “método científico” das ciências naturais para analisar também a sociedade. Esta é uma das principais características do positivismo. Para isto, é necessário tratar a vida social da mesma forma que é tratada a natureza, ou seja, faz-se a naturalização, ou coisificação, da sociedade.O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas neopositivistas, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (TRIVIÑOS, 1987).

O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO - A partir da década de 1960, passamos a ter a forte influência de outra corrente de pensamento filosófico no Serviço Social brasileiro, o Materialismo Histórico Dialético. Os assistentes sociais neste período passam a fazer uma análise crítica da sociedade, a partir das contradições identificadas e da percepção da necessidade de mudanças. Vale dizer que persiste neste período a postura tradicional do Serviço Social numa linha conservadora, porém passam a surgir movimentos que defendem a intervenção do Serviço Social numa perspectiva crítica e que se somam a outros movimentos, naquele momento, em busca de mudanças estruturais na sociedade brasileira.

Esta postura ganha força no Serviço Social brasileiro a partir da década de 1970, principalmente em algumas escolas de Serviço Social. Obviamente, esta não é uma postura unitária na profissão e é marcada por vários enfoques a partir de diferentes leituras marxistas. Os assistentes sociais entram em contato com teoria marxista, principalmente, a partir das leituras de Althusser, Gramsci e outros.Passa a haver na profissão, também, um esforço para conhecer mais apropriadamente as ideias de Karl Marx.

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Estes profissionais começam a rever suas posições e vão rompendo gradativamente com a visão tradicional do Serviço Social. Isto leva os assistentes sociais a levantar questionamentos, tais como: há serviço de quem está sua prática profissional? Do poder instituído ou do povo? Estes profissionais buscam firmar um vínculo com as classes trabalhadoras e se engajar na luta pela organização das mesmas, participando dos movimentos desencadeados na sociedade brasileira nesse período. A sociedade já não é mais vista como um todo harmônico, mas como uma realidade que carrega contradições e antagonismos resultantes das relações de dominação.

O materialismo Histórico Dialético, ou seja, a filosofia marxista, foi desenvolvido por Karl Marx e Frederich Engels. É importante frisar que antes de Marx e Engels a doutrina socialista já existia, porém o avanço que estes autores apresentam consiste no fato de assegurar aos homens o conhecimento da ideia do desenvolvimento através da dialética e a interpretação materialista da natureza. Trata-se de um avanço com relação ao pensamento filosófico alcançado pela filosofia alemã em fins do século XVIII e início do século XIX, com o idealismo de Hegel e o materialismo de Ludwig Feuerbach. A grande contribuição de Hegel foi os ensinamentos que deram origem ao desenvolvimento da ideia e da consciência, interpretadas pela dialética. Por outro lado, a contribuição de Feuerbach consiste na interpretação materialista da natureza em confronto com o idealismo de Hegel e com a religião.A dialética teve sua origem na Grécia, porém por muito tempo ocupa uma posição secundária e vem ressurgir com força no Renascimento. Significa a arte do diálogo, da controvérsia, a evolução do pensamento a partir das contradições. Porém este termo não foi utilizado na história da filosofia com significado unívoco, recebeu significados diferentes, com diversas inter-relações, não sendo redutível a um significado comum.

Marx e Engels, podemos dizer, reformam o conceito hegeliano de dialética, utilizam a mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo e denominam essa nova dialética de materialista, porque o movimento histórico, para eles, é derivado das condições materiais da vida. A dialética materialista analisa a história do ponto de vista dos processos econômicos e sociais e a divide em quatro momentos: Antiguidade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada um dos três primeiros é superado por uma contradição interna chamada “germe da destruição”. A contradição da Antiguidade é a escravidão; do feudalismo, os servos; e do capitalismo, o proletariado. O socialismo seria a síntese final, em que a história cumpre seu desenvolvimento dialético.

Para eles, o desaparecimento do capitalismo e sua substituição pelo socialismo seriam resultado da ação de determinadas “leis do desenvolvimento da história” e não da vontade de alguns reformadores. Analisando a realidade social em que viviam, Marx e Engels perceberam que ela era dinâmica e contraditória. Enquanto o avanço técnico permitia o domínio crescente do ser humano sobre a natureza, gerando o progresso e o enriquecimento de alguns, a classe operária era cada vez mais explorada, empobrecida e afastada dos bens materiais de que necessitava para sua sobrevivência. Portanto, era fundamental estudar os fatores materiais (econômicos e técnicos) e a forma pela qual os bens eram produzidos, para então compreender a sociedade e explicar seu desenvolvimento. Pelo trabalho o ser humano transforma a natureza, produzindo bens para atender às suas necessidades. Nesse processo de produção de bens, as pessoas estabelecem relações entre si. As relações criadas entre trabalhadores (detentores da força de trabalho) e proprietários dos meios de produção (terra, matéria-prima, fábricas, máquinas e instrumentos de trabalho) são chamadas de relações sociais de produção. Essas relações de produção correspondem, em cada etapa da história, a um determinado estágio de desenvolvimento técnico e econômico, ou seja, a determinadas forças

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produtivas. O conjunto das relações de produção e das forças produtivas constitui a base econômica da sociedade, ou a infraestrutura. Para Marx, a infraestrutura de uma sociedade determina sua superestrutura, que corresponde à organização do Estado, às normas do Direito e à ideologia dominante dessa mesma sociedade. Na análise marxista, os proprietários dos meios de produção, os donos do capital, exploram a maioria operária que é obrigada a vender sua força de trabalho em troca de salários. Este salário, porém, não corresponde, sendo inferior, ao valor produzido pelo operário. Esta diferença, chamada mais-valia, é apropriada pelos donos do capital e constitui a base da acumulação capitalista. Estes interesses antagônicos de capitalistas e proletários geram continuamente a luta de classes.

O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO MARXISTA

O pensamento filosófico de Marx e Engels torna-se conhecido em meados do século XIX, em meio à efervescência dos movimentos operários pela libertação econômica e política, ou seja, surge sob a influência da luta dos proletários contra a exploração e a opressão. Desse modo, o Materialismo Histórico Dialético, de Marx e Engels, surge como uma nova interpretação do mundo, voltado para aos interesses de defesa da classe trabalhadora. O materialismo dialético torna-se, então, um método de análise da realidade, de acordo com o qual tudo se desenvolve e se transforma. Os homens não se limitam a contemplar o mundo, mas exercem influência sobre o mesmo e o modificam. Procuram a ideia, a consciência na própria realidade; ao contrário do idealismo, onde a prioridade é a consciência em relação ao ser, ou a prioridade do pensamento em relação ao real.

Também é uma concepção que diverge do pensamento filosófico que vê os fenômenos como se fossem imutáveis e fossilizados.

A dialética materialista compõe-se de leis básicas que conduzem o desenvolvimento do mundo objetivo e do pensamento do homem na realidade concreta em que vive.

AS LEIS BÁSICAS DA DIALÉTICA

As três leis básicas da dialética são: a lei da unidade e dos contrários, a lei da transição das mudanças quantitativas em qualitativas e a lei da negação da negação. A Lei da Unidade e Luta dos Contrários. O princípio básico desta lei é que os contrários estão inseparavelmente ligados e constituem um único processo contraditório, são interdependentes, isto é, um só existe porque o outro existe. O fato, portanto, de estarem ao mesmo tempo ligados entre si formando uma unidade e repelindo-se mutuamente resulta na luta desses contrários. Nesse sentido, o papel principal é desempenhado não pela unidade, mas pela luta dos contrários, assim a unidade é relativa, temporária e transitória; enquanto a luta é absoluta, como é o movimento.

A LEI DA TRANSIÇÃO DAS MUDANÇAS QUANTITATIVAS EM QUALITATIVAS

O princípio básico desta lei é que as mudanças quantitativas que podem parecer pequenas e imperceptíveis, inicialmente, vão se acumulando e atingem uma fase em que se tornam mudanças qualitativas. A antiga qualidade dá lugar a uma nova qualidade, que na sequência também se transforma pelo mesmo movimento e leva a novas mudanças. A mudança quantitativa pode ser lenta, mas quando dá o salto para

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uma nova qualidade é brusca e transformadora, revolucionária. Esta transformação não é possível sem o acúmulo de pequenas e sucessivas mudanças quantitativas.

A LEI DA NEGAÇÃO DA NEGAÇÃO

O princípio básico desta lei é que cada fase superior nega ou até mesmo elimina a fase anterior. Implica a passagem de um fenômeno para uma nova fase, num processo contínuo de superação a partir da negação.

O materialismo dialético, então, apresenta--se como um método científico e ao mesmo tempo um método de intervenção na realidade social com vistas à transformação e, para tal, é regido por estas leis. A realidade, portanto, é concebida como uma totalidade onde tudo se relaciona e tudo se transforma.

A FENOMENOLOGIA - Na década de 1970, no bojo do Movimento de Reconceituação, ganha espaço no Serviço Social brasileiro a presença da fenomenologia. Segundo Aguiar (1984), já se encontram sinais desta postura no Serviço Social brasileiro desde o período desenvolvimentista, porém somente a partir da década de 1970 é que se pode considerar que esta corrente passa a exercer influência no Serviço Social brasileiro; principalmente a partir da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, com as reflexões da assistente social Ana Augusta de Almeida, que refletiu sobre o Serviço Social brasileiro numa postura fenomenológica. Em 1978, com o III Seminário de Teorização do Serviço Social brasileiro, que resultou no Documento de Sumaré, é explicitada pela primeira vez a presença da fenomenologia no Serviço Social brasileiro.

A entrada da fenomenologia no Serviço Social se dá no processo de busca de renovação da teoria e da prática do Serviço Social e a influência mais marcante desta corrente na filosofia brasileira vem da Bélgica e da França, principalmente a partir da Escola de Louvain. Entre os pensadores que influenciaram os pensadores brasileiros na postura fenomenológica podemos destacar Merleau-Ponty e Husserl.

O QUE É A FENOMENOLOGIA

É uma ciência que se ocupa da descrição e classificação dos fenômenos. O principal autor dessa teoria é Husserl (1859-1938), que exerceu grande influência na filosofia contemporânea. Fenomenologia significa estudo dos fenômenos menos, ciência dos fenômenos. Husserl, em seu trabalho, aborda a ciência da consciência e de seus fenômenos e considera que não se trata de ciência destinada a dar explicações sobre o mundo e as coisas, ou de teoria explicativa que venha a acrescentar às anteriores. Outras correntes do pensamento, como o existencialismo, buscaram elementos da fenomenologia, como Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty, que representam o existencialismo ateísta; enquanto Van Breda, Marcel e Jaspers, entre outros, seguem uma linha de crença em Deus, cujas raízes principais estão em Søren Kierkegaard (1913-1955).A fenomenologia de Husserl germinou durante a crise do subjetivismo e do irracionalismo, no final do século XIX, início do século XX. A fenomenologia se propôs a ser uma meditação acerca do conhecimento, um conhecimento do conhecimento, e para tal propõe o que conhecemos como “pôr entre parêntesis”, ou seja, dispensa a cultura, a história e refaz o saber. Por esta razão, alguns autores afirmam que há uma pretensão a--histórica na fenomenologia. É uma corrente de pensamento que não está interessada em colocar a historicidade dos fenômenos. Não introduz transformações à realidade, ou seja, mantém-se conservadora, apenas estuda a realidade com o desejo de descrevê-la ou apresentá-la tal como ela é, sem mudanças. Exalta a interpretação do mundo que surge

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intencionalmente à nossa consciência, sem abordar conflitos de classes e nem mudanças estruturais.

O QUE É O FENÔMENO?

Fenômeno deriva da palavra grega ‘phainómenon’ que significa ‘iluminar’ e também ‘mostrar--se’ ou ‘parecer’. É, portanto, tudo que e mostra ou aparece, o que se torna visível. A filosofia considera que fenômeno é tudo que se mostra ou aparece para uma consciência. Podemos dizer então que fenômeno é tudo aquilo de que podemos ter consciência.

São considerados fenômenos não só os objetos dos quais podemos ter consciência, mas também os atos da consciência. Os dados imediatos da consciência se constituem, portanto, no ponto de partida da fenomenologia.

PRINCIPAIS IDEIAS DA FENOMENOLOGIA

A contribuição da fenomenologia consiste basicamente na fundamentação do conhecimento a partir da experiência do mundo vivido. Logo, para a fenomenologia, todo o conhecimento e, também, o conhecimento científico têm por base uma experiência vivida e é na medida em que elabora esta vida pré-reflexiva, já vivida, que se vai constituir o momento de reflexão para a ciência.A tarefa inicial para esta elaboração é a descrição do fenômeno como ele se mostra à consciência. A fenomenologia visa então mostrar e descrever o fenômeno tais como foram vividos, tais como se apresentam, mostrando, explicitando, aclarando, desvelando as estruturas da experiência vivida e deixando transparecer na descrição da experiência as estruturas universais (CAPALBO, 1995).

Portanto, a fenomenologia busca nessa descrição encontrar o núcleo fundamental do fenômeno, ou seja, a sua essência, que Husserl chama de eidética. Atingir este núcleo é o que possibilitaria encontrar um significado invariante que teria o status de universal. Isto supõe que todo fenômeno tem uma essência e não pode ser reduzido então a uma única dimensão de fato.A essência é única, por isso permite identificar um fenômeno, ou seja, há uma essência única para cada fenômeno. Neste sentido, o fenômeno não é simplesmente a aparição de alguma coisa, ele é o próprio ser, ele não representa alguma coisa, mas é essa mesma coisa dada à consciência.

A FENOMENOLOGIA E O SERVIÇO SOCIAL

Segundo Macedo (1986), na busca de renovação dos esquemas operativos do Serviço Social, alguns de seus profissionais procuram assumir em suas proposições, como orientação metodológica, uma atitude fenomenológica. Por esta razão, segundo a autora, as leituras de Merleau-Ponty foram as que mais influenciaram os assistentes sociais, visto que este autor dedica-se mais à orientação metodológica da fenomenologia. Para ele, o caráter metodológico da fenomenologia chega até mesmo a anteceder sua formulação filosófica.

A influência da fenomenologia no Serviço Social iniciou-se em programas de pós-gradua-ção, principalmente na PUC do Rio de Janeiro e na PUC de Porto Alegre. Alguns autores foram pioneiros nessa linha, como Ana Augusta de Almeida, Ilda Lopes e Myriam Veras Baptista.

A fenomenologia introduz a visão existencial no trabalho social, proporcionando a aplicação da teoria psicossocial. Na fenomenologia, o Serviço Social se realiza através da intervenção social ou tratamento social. Trata-se de um procedimento

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sistemático onde se desenvolve um processo de ajuda psicossocial, o qual é realizado através de um diálogo que deve levar a mudanças, partindo das experiências da pessoa, grupo e comunidade (BRANDÃO, 2006).

A fenomenologia contribui com o Serviço Social no sentido de dar um sentido novo para o processo de ajuda psicossocial a partir dos princípios: diálogo, pessoa e transformação social. O diálogo constitui um processo de ajuda que visa a transformação social e liberdade responsável. Segundo Brandão (2006), na visão de Anna Augusta de Almeida, o diálogo como ajuda psicossocial constitui-se num processo onde Assistente Social e sujeito realizam uma experiência com todo o seu ser, no contexto da história humana. Trata-se de uma proposta onde se busca conceituar o sujeito como pessoa, o reconhecimento de sua condição humana e não na condição de oprimido, alienado ou desajustado. Neste sentido, a fenomenologia vai trabalhar com a compreensão do ser como pessoa usando o diálogo como o instrumento adequado à sua intervenção profissional.

Segundo Brandão (2006), o assistente social passa a fazer parte da realidade, sendo o instrumento para o desenvolvimento social, estando presente nos processos sociais. A intervenção social vai orientar e transmitir a estratégia para a execução desse novo modelo de prática e/ou operacionalização da técnica. Através da intervenção, o Assistente Social provocará o desenvolvimento de uma consciência teórica que visa assegurar participação e/ou criação de novos mecanismos de cooperação mútua. Essa consciência teórica deve ser entendida como compreensão humanizada do mundo, de si mesmo e das implicações últimas do seu ser no mundo, integrado ao contexto, considerado sujeito ativo, que compreende e critica conscientemente sua realidade, sendo esta condição básica para sua conscientização. Porém, a consciência aqui é compreendida como um ato voltado para o mundo exterior, para as coisas, para os outros homens, para si mesma, para seu ego, para a ação que o homem executa, para seus sentimentos, sua imaginação e memória. A consciência tem um movimento de imanência e de transcendência.

É pela intencionalidade que o homem percebe a si mesmo e a realidade e a transforma pelo pensamento e pela ação. O assistente social busca compreender o sentido da existência humana, analisar as relações estabelecidas pelo homem como ser social. Cada relação é essencial para o Serviço Social, para sua intervenção, pois é na relação com os homens que sua prática ocorre. É na relação de ajuda que se realiza o encontro com o outro, dando um sentido, uma significação à vida, que deve levar a uma transformação, que, em última análise, é a finalidade da intervenção realizada pelo Assistente Social.

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CONCIDERAÇÕES FINAIS

Para alcançarmos o desiderato proposto nesta apostila, nos inspiramos na Universidade Holística Internacional de Brasília, situada na Cidade da Paz, em Brasília, Distrito Federal, cujos princípios ou caminhos descrevemos:

1. A Universidade Holística Internacional - UNHI, antes de qualquer definição particular, deseja formar uma grande corrente de amizade e cooperação entre os diferentes centros e universidades do mundo, inspirados pela perspectiva holística.

2. Na origem deste movimento, reconhecemos como fundamental o paradigma holístico. Este paradigma considera cada elemento de um campo como um evento refletindo e contendo todas as dimensões do campo. E uma visão na qual o todo e cada uma das suas sinergias estão estreitamente ligadas em interações constantes e paradoxais.

3. A Universidade Holística Internacional pretende explorar a sincronicidade entre:

• A emergência deste novo paradigma das ciências físicas, biológicas e humanas.

• A visão de sabedoria do Oriente e do Ocidente.

• A receptividade e o despertar crescente de um grande número de contemporâneos.

4. A abordagem holística se manifesta pelas seguintes características:

- Ao mesmo tempo em que reconhece a seu nível relativo, ela integra e ultrapassa as diversas formas de dualidade e dialética.

- Ela estimula essa integração e transcendência não somente pelo seu apoio à pesquisa racional e experimental, mas também pela abordagem das vias tradicionais, intuitivas e experiências de acesso direto a um nível transpessoal da realidade, evitando extrapolações prematuras.

- Ela reconhece que a alegria e a felicidade que visa todo ser encontra-se na descoberta de sua verdadeira natureza e na expressão constante da sabedoria, do amor, do respeito de si mesmo e de todos os seres.

- Estimular e financiar projetos de pesquisas sob a perspectiva holística e sobre os novos métodos de abordagem holística (Arte, Filosofia, Ciências etc. ...).

5. Consciente dos perigos da globalização e da fragmentação (Totalitarismo e Reducionismo), a UNHI pretende combinar rigor necessário à análise do particular e abertura necessária à intuição da inter-relação inerente a todas as coisas.

6. A UNHI, consciente dos perigos do sectarismo e da ideologia, deseja permanecer livre de todas as formas de dependência, quaisquer sejam elas, de ordem política, doutrinária ou religiosa.”

Embora bastante abrangente a metodologia da Universidade Holística Internacional de Brasília, apresentamo-la apenas como modelo metodológico que adaptaremos à nossa realidade, destacando nela, sobretudo, a abordagem holística. Os

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aspectos da interdisciplinaridade serão intensificados com a matemática, a língua portuguesa, as ciências, as artes, a história e a geografia, demonstrando a não fragmentação do saber para o início de uma formação que se propõe autônoma, crítica, criativa, responsável, includente, cidadã.

Dessa forma, como está no início da metodologia da UNHI, antes de qualquer definição particular, desejamos iniciar uma grande corrente de amizade e cooperação entre os nossos alunos, nossos colegas professores, nossas coordenadoras pedagógicas, nossos diretores, nossos funcionários, ou seja, a comunidade escolar como um todo, inspirados pela perspectiva holística.

Esperamos deixar um bom estímulo para que o trabalho prossiga com, pelo menos, esta visão: formação de profissionais críticos, criativos, cuidadosos, autônomos, capazes de interferir na sociedade, a partir da intervenção que façam em suas próprias atitudes e procedimentos.

Desejo saúde, paz e prosperidade a você caríssimo aluno.

Conte conosco.

Amorosamente,

Professor Albérico Cony Cavalcanti

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