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Análise de Investimentos: um estudo de viabilidade econômico-financeira em uma indústria de alimentos em Goiás Autoria Wilson Luis de Oliveira Pós Graduação/IPOG Leandro Silva Lemos Pós Graduação/IPOG Resumo O presente artigo apresenta a importância da análise de investimentos, através de um estudo de viabilidade econômico-financeira em uma indústria de alimentos no estado de Goiás, embasados em sofisticadas ferramentas de análise encontradas na literatura. A pergunta que se pretende responder é se os investimentos em uma linha de produção de polpa de tomate são viáveis. A hipótese preliminar é que o investimento é viável, pelo aumento da capacidade de produção diária, pela autossuficiência em produção de polpa de tomate, geração de receita e consequentemente pela diluição do custo fixo. O objetivo deste trabalho é analisar e demonstrar se o investimento objeto de estudo é economicamente viável e mostrar a importância da análise de investimentos. O método de pesquisa utilizado foi pesquisa bibliográfica, embasada em renomados autores, como Gitman (2009), Casarotto Filho e Kopittke (2008), Hoji (2009) e Ross (2008). Também foi realizado um estudo de caso de análise de investimentos de linha de produção de polpa de tomate. Os resultados encontrados apresentam análises em três cenários diferentes, de acordo com as cotações do dólar, moeda na qual o produto final do projeto é comercializado. Conclui-se ao fim deste trabalho que o projeto somente é viável nos cenários mediano e otimista.

Pós Graduação/IPOG · principais temas que devem ser levados em consideração numa ... e medidas de opinião. O ... excedente de 4.106 toneladas de polpa que poderá ser vendida

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Análise de Investimentos: um estudo de viabilidade econômico-financeira em umaindústria de alimentos em Goiás

AutoriaWilson Luis de Oliveira

Pós Graduação/IPOG

Leandro Silva Lemos Pós Graduação/IPOG

ResumoO presente artigo apresenta a importância da análise de investimentos, através de um estudode viabilidade econômico-financeira em uma indústria de alimentos no estado de Goiás,embasados em sofisticadas ferramentas de análise encontradas na literatura. A pergunta quese pretende responder é se os investimentos em uma linha de produção de polpa de tomatesão viáveis. A hipótese preliminar é que o investimento é viável, pelo aumento dacapacidade de produção diária, pela autossuficiência em produção de polpa de tomate,geração de receita e consequentemente pela diluição do custo fixo. O objetivo deste trabalhoé analisar e demonstrar se o investimento objeto de estudo é economicamente viável emostrar a importância da análise de investimentos. O método de pesquisa utilizado foipesquisa bibliográfica, embasada em renomados autores, como Gitman (2009), CasarottoFilho e Kopittke (2008), Hoji (2009) e Ross (2008). Também foi realizado um estudo decaso de análise de investimentos de linha de produção de polpa de tomate. Os resultadosencontrados apresentam análises em três cenários diferentes, de acordo com as cotações dodólar, moeda na qual o produto final do projeto é comercializado. Conclui-se ao fim destetrabalho que o projeto somente é viável nos cenários mediano e otimista.

Finanças

Análise de Investimentos: um estudo de viabilidade econômico-financeira em uma indústria de alimentos em Goiás

RESUMO

O presente artigo apresenta a importância da análise de investimentos, através de um estudo de viabilidade econômico-financeira em uma indústria de alimentos no estado de Goiás, embasados em sofisticadas ferramentas de análise encontradas na literatura. A pergunta que se pretende responder é se os investimentos em uma linha de produção de polpa de tomate são viáveis. A hipótese preliminar é que o investimento é viável, pelo aumento da capacidade de produção diária, pela autossuficiência em produção de polpa de tomate, geração de receita e consequentemente pela diluição do custo fixo. O objetivo deste trabalho é analisar e demonstrar se o investimento objeto de estudo é economicamente viável e mostrar a importância da análise de investimentos. O método de pesquisa utilizado foi pesquisa bibliográfica, embasada em renomados autores, como Gitman (2009), Casarotto Filho e Kopittke (2008), Hoji (2009) e Ross (2008). Também foi realizado um estudo de caso de análise de investimentos de linha de produção de polpa de tomate. Os resultados encontrados apresentam análises em três cenários diferentes, de acordo com as cotações do dólar, moeda na qual o produto final do projeto é comercializado. Conclui-se ao fim deste trabalho que o projeto somente é viável nos cenários mediano e otimista. Palavras-chave: Viabilidade. Investimentos. Econômico-Financeira. Indústria. Abtract The article present the importance of the analysis of investments, through an economic and financial feasibility study in a food industry in the state of Goiás, based on sophisticated analysis tools found in the literature. The question is whether investments in a tomato pulp production line are viable. The preliminary hypothesis is that the investment is feasible, by increasing daily production capacity, by self-sufficiency in tomato pulp production, revenue generation and consequently by dilution of the fixed cost. The objective of this work is to analyze and demonstrate if the investment object of study is economically feasible and show the importance of the investment analysis. The research method used was a bibliographical research, based on renowned authors such as Gitman (2009), Casarotto Filho and Kopittke (2008), Hoji (2009) and Ross (2008). A case study of the analysis of tomato pulp production line investments was also carried out. The results obtained present analyzes in three different scenarios, according to the dollar prices, the currency in which the final product of the project is marketed. It is concluded at the end of this work that the project is only feasible in the medium and optimistic scenarios. Key words: Feasibility. Investments. Economic-Financial. Industry.

Introdução A análise de investimentos deve estar presente em todas as decisões de novos empreendimentos/investimentos, aumento de capacidade fabril, aquisição de novos maquinários, enfim, em todas as decisões que envolvem dispêndios de dinheiro. Nesse processo de análise de viabilidade econômico-financeira de novos investimentos é preciso um domínio de diversas áreas do conhecimento, portanto, faz-se necessário a participação dos gestores de todos os setores envolvidos no projeto. No presente trabalho foi apresentada uma pesquisa bibliográfica abordando os principais temas que devem ser levados em consideração numa análise de investimentos, tais como: Análise e Decisões de Investimentos; Valor Presente Líquido; Taxa Mínima de Atratividade; Taxa Interna de Retorno; Período de Payback e Payback Descontado; Fluxo de Caixa Descontado; Capital de Giro; Taxa de Câmbio; Ponto de Equilíbrio; Fontes de Financiamento; Gastos Gerais de Fabricação. Cada tema foi explicado numa linguagem clara e concisa de forma que o leitor consiga compreender sua aplicação na prática. Os temas, ou “ferramentas de análise” citadas acima, serviram de base para todo o estudo de caso de viabilidade econômico-financeira de implantação de uma nova linha de produção de polpa de tomate com capacidade de processamento de tomate que foi realizado numa indústria de alimentos no estado de Goiás. Desta forma o desenvolvimento prático e a conclusão do trabalho tiveram base científica e teórica. O problema de pesquisa consiste na seguinte indagação: os investimentos em uma linha de produção de polpa de tomate com capacidade de processamento de 700 toneladas de tomate por dia é economicamente viável? O objetivo geral deste trabalho foi analisar e demonstrar se o investimento objeto de estudo é economicamente viável. Os objetivos específicos são: verificar o período de Payback; calcular o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR); demonstrar o Fluxo de Caixa Descontado e analisar a Viabilidade do Projeto. O trabalho se justifica pela necessidade de se analisar minuciosamente todas as variáveis do projeto a fim de concluir se o investimento é ou não viável, subsidiando dessa forma as decisões dos gestores. As hipóteses são de que o investimento é viável, devido ao aumento da capacidade de produção diária, pela autossuficiência em produção de polpa de tomate, geração de receita e consequentemente pela diluição do custo fixo. 1. Métodos e Procedimentos A metodologia utilizada nesse artigo foi pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Segundo Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. O Estudo de caso é uma forma de levantamento de dados no próprio local onde ocorrem os fenômenos, através da observação direta, entrevistas e medidas de opinião. O estudo de caso foi realizado na filial de uma indústria de alimentos situada na região sudeste de Goiás. Trata-se de uma empresa familiar de grande porte, com mais de 100 anos de mercado e conta atualmente com mais de 2 mil funcionários. Sociedade Anônima de Capital Fechado com sede no estado do Rio Grande do Sul possui mais duas filiais no RS e apenas uma filial em Goiás.

A filial de Goiás na qual a pesquisa foi desenvolvida possui um parque industrial com produção de vegetais enlatados: milho verde, ervilha e seleta de legumes; compotas de abacaxi e também uma linha de atomatados, produzindo polpa de tomate e também envasando extrato de tomate e molhos diversos. Será tratado a partir desse momento somente sobre a linha de produção de polpa de tomate, objeto de estudo do projeto. Atualmente a empresa possui capacidade de processamento de 200 toneladas de tomate in natura por dia, durante a safra que ocorre entre os meses de julho a outubro. Essa capacidade de processamento atual é responsável pela produção de 1.620 toneladas de polpa de tomate por ano. O projeto consiste na análise de viabilidade econômico-financeira de implantação de uma linha de processamento com capacidade para 700 toneladas de tomate in natura por dia, e 7.500 toneladas de polpa de tomate anualmente. A coleta de dados foi feita com o auxílio dos gestores da área agrícola, produção, administrativo, gerência geral e também através de informações vindas do fornecedor dos equipamentos industriais (JBT Food Tech), que inclusive já disponibilizou a tabela de financiamento FINAME/BNDES própria para esse tipo de investimento. Para os cálculos foi desenvolvida uma planilha de Excel, em formato de DRE (Demonstração de Resultados do Exercício) horizontal, possibilitando a comparação dos 5 anos iniciais do projeto, bem como facilitando as análises de VPL, Payback, TIR, Lucratividade, Rentabilidade, Ponto de Equilíbrio, Fluxo de Caixa, Prazo Médio de Retorno, etc. O projeto de viabilidade se justifica pela possibilidade da empresa se tornar autossuficiente em processamento de polpa, pois atualmente além da produção da filial, a matriz ainda importa em média 1600 toneladas de polpa por ano, para a fabricação de extrato de tomate, molhos e catchup. Com a implantação da nova linha a empresa produzirá 7.500 toneladas de polpa por ano e além de deixar de importar a polpa que normalmente não tem a mesma qualidade ainda terá um excedente de 4.106 toneladas de polpa que poderá ser vendida no mercado, trazendo assim mais receita para empresa. Os preços de polpa são cotados em dólar, e a tabela histórica dos preços que dá base ao trabalho foi baseada no Índice Mundial de Preços de Polpa de Tomate (JBT FOOD TECH, 2015) Como os preços são cotados em dólar, foi feito uma pesquisa das taxas de câmbio do período entre abril/2000 e dezembro/2015, através do site do Banco Central do Brasil (BACEN), a fim de visualizar as variações cambiais ao longo dos anos, e assim projetar os cenários para os próximos anos. Para o cálculo dos GGF (Gastos Gerais de Fabricação) foram utilizados os mesmos dados da linha de produção atual, fazendo ajustes proporcionais à nova linha com capacidade maior. Os critérios de rateios foram os mesmos utilizados atualmente pela companhia. Os principais GGF são: Salários e Encargos, Energia Elétrica, Lenha de Eucalipto (para produção de vapor), Manutenção de Máquinas e Equipamentos, Combustíveis, Depreciações, Água, Bags Assépticos, Matéria Prima e respectivos fretes. Destaca-se ainda que a quantidade de pessoal necessário para operar os equipamentos, a energia elétrica e o vapor consumidos, foi fornecida pela empresa fabricante dos equipamentos. Para a atribuição do preço da matéria prima (tomate in natura + frete) foi utilizado os mesmos valores praticados no mercado atualmente.

Outros dados coletados para as análises foram Juros sobre o Capital (para investimentos fixos e para capital de giro; gastos com estrutura metálica necessária para o recebimento e classificação do tomate in natura; valor de entrada do financiamento e as parcelas do financiamento). Todos esses gastos impactam diretamente no fluxo de caixa. A seguir serão apresentados os dados coletados, que darão base para os cálculos dos índices e respectivas análises de viabilidade financeira. 2. Apresentação dos Dados O valor do investimento para montagem da linha de produção com capacidade de fabricação de 7.500 toneladas de polpa de tomate/ano é de R$ 13.635.914,00. Esse valor é financiado, sendo 30% de entrada, que equivale à R$ 4.090.774,20 e o restante (R$ 9.545.139,80) é parcelado em 60 meses, com amortizações pelo SAC – Sistema de Amortizações Constantes aonde as parcelas vão reduzindo gradativamente ao longo do tempo, com carência de 12 meses para o pagamento da primeira parcela. O Financiamento é feito através da FINAME – Agência Especial de Financiamento Industrial – programa do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. No Quadro 1 abaixo segue os dados do financiamento:

Quadro 1 – Dados do Financiamento dos Equipamentos

Entrada 30% 4.090.774,20 Taxa de juros (aa) 14,36%

Valor Financiado 70% 9.545.139,80 Carência (meses) 12

Taxa de juros (am) 1,12%

Prazo (meses) 60

Taxa de juros (ad) 0,0368%

Fonte: BNDES - Aquisição e Comercialização de Bens de Capital (BK Aquisição)

Os equipamentos necessários para a montagem da linha de processamento do projeto está disponível na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Equipamentos Linha Tomate 700 ton/dia

Equipamento Código Finame

Qtde Preço sem

impostos R$ Preço c/ impostos

R$

Inativador Enzimático Hot Break 3130743 1 1.576.200,00 1.939.020,00

Turbo extrator modelo FTE-100 3130720 1 964.100,00 1.126.154,00

Evaporador 3 efeitos / 3 estágios 3130714 1 5.186.600,00 6.058.411,00

Esterilizador Tubular 4.500 kg/h 3130737 1 2.230.100,00 2.604.956,00

Enchedora Asséptica AF - Imperial 2392323 1 1.632.900,00 1.907.373,00

Total da Linha 11.589.900,00 13.635.914,00

Fonte: JBT Food Tech (Indústria dos equipamentos)

Para o cálculo da viabilidade, foi usada uma planilha de Excel em formato de DRE (Demonstração de Resultados), portanto, o primeiro valor calculado foi a receita gerada com a produção de polpa e depois calculado os gastos de fabricação. O valor de venda/compra da polpa de tomate foi embasada no Gráfico 1, que demonstra o histórico mundial dos preços de polpa por tonelada no período de março/2012 à março/2014, em Dólar, Euro e Reais.

Gráfico 1 – Índice Mundial dos Preços de Polpa de Tomate / Tonelada

Fonte: JBT Food Tech (Indústria dos equipamentos)

Como os preços da polpa de tomate são cotados em dólar, a linha azul no Gráfico 1 que representa a moeda norte americana foi destacada com os valores monetários. Para o projeto, foi atribuído o valor da média histórica dos preços, resultando em 1.074 dólares (US$) por tonelada de polpa. Como todo o projeto foi planejado e desenvolvido na moeda nacional brasileira, faz-se necessário a conversão dos valores em Dólar para o Real para posteriormente calcular a receita total. Desta forma, para dar embasamento foi pesquisado no site do Banco Central do Brasil (BACEN) as taxas de câmbio correntes no período de abril/2000 à dez/2015 conforme demonstra o Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2 – Valor do Dólar Americano entre abril/2000 a dez/2015

Fonte: BACEN

Pode-se perceber que o valor médio mensal do dólar chegou a quase R$ 4,00 e o valor mínimo chegou a R$ 1,56. Devido às tendências econômicas seria imprudente simplesmente considerar uma média desse período. Portanto, foram elaborados cálculos para três cenários diferentes, sendo: Pessimista – dólar à R$ 3,50; Mediano

0,000

1,000

2,000

3,000

4,000

AB

R/2

00

0

OU

T/2

00

0

AB

R/2

00

1

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1

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R/2

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OU

T/2

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2

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R/2

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3

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3

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R/2

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4

OU

T/2

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4

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5

OU

T/2

00

5

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R/2

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6

OU

T/2

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6

AB

R/2

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7

OU

T/2

00

7

AB

R/2

00

8

OU

T/2

00

8

AB

R/2

00

9

OU

T/2

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9

AB

R/2

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0

OU

T/2

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0

AB

R/2

01

1

ou

t/2

01

1

abr/

20

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01

2

abr/

20

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20

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ou

t/2

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4

abr/

20

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ou

t/2

01

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– dólar à R$ 3,75 e Otimista com o dólar à R$ 4,00. Como o projeto tem capacidade para suprir todo o consumo da empresa sem necessidade de importar polpa e ainda um terá um excedente para vender, quanto maior for o dólar melhor será a viabilidade do negócio. Os cálculos que estão apresentados com detalhes na Tabela 2 a seguir, foram efetuados considerando um cenário pessimista, com dólar à R$ 3,50.

Tabela 2 – Projeções do Negócio

Fonte: Empresa Pesquisada

Na primeira linha da tabela está demonstrado respectivamente o preço da tonelada de polpa em dólar; o preço da tonelada de polpa convertido em real pela taxa de câmbio 3,50 (cenário pessimista); e em cada ano a quantidade de produção em toneladas. Observa-se que o projeto foi desenvolvido para os próximos cinco anos, período de payback estipulado pela direção da empesa. Na segunda linha estão os valores de receita total, que é a quantidade produzida multiplicada pelo preço já convertido em real. Logo abaixo, seguem os Gastos Gerais de Fabricação (GGF), composto por: Salários e Encargos (que representa a mão de obra direta e indireta); Energia Elétrica (conforme dados de consumo dos equipamentos - fornecidos pelo fabricante); Lenha (necessária para a produção de vapor em quantidade também informada pelo fabricante); Manutenção de Máquinas e Equipamentos (que compreende a 8,25% do valor dos equipamentos – média gasta pela empresa); Combustíveis e Lubrificantes (incluindo óleo diesel para a geração de energia elétrica nos horários de pico); Depreciações dos equipamentos (calculado pelo percentual sobre o valor do equipamento, com base em históricos de outros maquinários da empresa e dentro do limite permitido pela legislação do imposto de

renda); Outros Gastos de Fabricação (compreendem outros valores que não se enquadram nas contas exibidas na tabela); Bag Asséptico 220 litros (saco aluminado utilizado para armazenar a polpa de tomate em tambores); Matéria Prima (valor do tomate in natura mais o frete pago aos produtores rurais – preço usado atualmente). Na terceira faixa estão os gastos financeiros, sendo: Juros sobre Capital Próprio ou de Terceiros (para Investimento Fixo e para financiar o Capital de Giro); Investimento em Estrutura Metálica para o recebimento e classificação do tomate in natura (vale ressaltar que a estrutura – galpão – necessária para instalar a linha de processamento já existe na empresa e está em desuso, por isso não foi contemplado no investimento); Valor de entrada do financiamento exigida pelo BNDES (corresponde a 30% do valor total do investimento); e por fim o valor das parcelas do financiamento em cada ano). É prudente mencionar que mesmo com 1 ano de carência, a produção de polpa só começaria a partir do 1º ano de pagamento das parcelas, devido ao prazo para fabricação e instalação dos equipamentos. Para os investimentos iniciais em estrutura metálica, entrada do financiamento e parcelas do financiamento foi atribuído um custo de capital próprio de 1,5 % ao mês. Para o cálculo da necessidade de capital de giro para manter a operação foi desenvolvido planilhas de fluxos de caixa mensais contemplando os 5 anos do projeto. Para os valores negativos de cada período foi projetado um custo de capital de terceiros (bancos) de 1,5% ao mês, taxa normalmente cobrada pelas instituições financeiras. Alguns aspectos importantes foram considerados para a elaboração do cálculo dos fluxos de caixa. Como explanado anteriormente a empresa deixará de importar polpa e ainda terá um excedente para vender no mercado interno. Na Tabela 3 abaixo seguem os valores de consumo de polpa anual, compras de polpa importada e o excedente que poderá ser comercializado.

Tabela 3 – Consumo Interno de Polpa Anual em Toneladas

Ano 2012 2013 2014 2015 TOTAL MÉDIA

Nacional 2.442 1.287 824 2.465 7.019 1.755

Importada 2.008 2.622 824 1.102 6.556 1.639

Total 4.450 3.909 1.649 3.567 13.575 3.394

Fonte: Empresa Pesquisada

Como pode ser observado, como a empresa passará a produzir 7.500 toneladas de polpa de tomate por ano, consequentemente deixará de comprar 1.639 ton. de polpa, o que impactará positivamente no fluxo de caixa, dando uma certa folga para a empresa, sendo considerado nesse caso com uma receita. Com a venda do excedente de 4.106 ton. de polpa será gerada uma receita que contribuirá para a redução da necessidade de capital de giro. No entanto esses dois itens são os únicos que gerarão valores de receitas propriamente ditas para suportar toda a operação, pois as polpas consumidas pela matriz são transferidas pela filial, não gerando numerários para o caixa. Nesse sentido, o caixa foi sobremaneira prejudicado, causando uma necessidade de capital de giro na casa dos 10 milhões de reais ao longo dos 5 anos, considerando um cenário pessimista. A seguir serão apresentadas as análises do projeto de viabilidade econômico-financeira do investimento objeto de estudo desse artigo científico. Reitera-se que as análises detalhadas serão somente do cenário pessimista com o Dólar à R$ 3,50.

Nas Discussões serão apresentadas apenas comparações dos principais indicadores do projeto em três cenários diferentes. 3. Análise e Resultados Para o Cálculo do Payback, Payback Descontado, VPL, e TIR foi desenvolvido um fluxo de caixa do projeto, conforme demonstra o Quadro 2 abaixo.

Quadro 2 – Fluxo de Caixa do Projeto

Fonte: Dados do projeto de viabilidade

Como pode ser observado, na 2ª coluna estão os valores relativos ao investimento inicial e os valores de entradas de caixa (resultado líquido) ao longo do período em questão. Na terceira coluna foi calculada a acumulação dos resultados sem considerar o valor do dinheiro no tempo. A quarta coluna demonstra o Fluxo de Caixa Descontado pela TMA de 18% determinada pela empresa. E por fim a quinta coluna apresenta os dados acumulados já descontados da TMA. Na sequência é apresentado o Quadro 3 que demonstra as principais análises financeiras.

Quadro 3 – Análises Financeiras Principais

VPL = -R$ 3.074.222

PayBack Clássico = 3 e 11 meses

PayBack Descontado = mais de 5 anos

TIR= 8,57% ao ano

Fonte: Dados do projeto de viabilidade

De acordo com os dados apresentados, considerando o cenário pessimista com o dólar contado à R$ 3,50, o projeto não é viável, pois como se pode perceber o VPL (Valor Presente Líquido) deu negativo e segundo Van Groenendall (1998, apud Hauser 2005) existe viabilidade no projeto quando o VPL é positivo, ou seja, quando as entradas de dinheiro no fluxo de caixa são superiores às saídas. O período de Payback Clássico, ou seja, aquele que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo resultou em 3 anos e 11 meses, ou seja, quase 4 anos para que o investimento seja retornado integralmente. Já no PayBack Descontado,

Período (Anos) Resultado Oper. Acumulação Fl cx desc Acumulação

0 (13.635.914) (13.635.914) (13.635.914)

1 1.640.973 (11.994.941) 1.390.655 (12.245.259)

2 3.959.859 (8.035.082) 2.843.909 (9.401.350)

3 4.039.471 (3.995.611) 2.458.547 (6.942.803)

4 4.113.361 117.750 2.121.626 (4.821.177)

5 3.996.610 4.114.360 1.746.955 (3.074.222)

4.114.360 (3.074.222)

considerando o valor do dinheiro no tempo, descontando os fluxos a uma taxa de 18% o investimento levaria mais de 5 anos para ser quitado, ou seja, acima do período máximo estipulado pela empresa. Nesse sentido o projeto novamente seria rejeitado. Entende-se que Payback Descontado atua justamente nessa falha, pois considera uma taxa de juros para realizar o cálculo do período de retorno do investimento. (OLIVEIRA 2008). O quarto indicador analisado foi a TIR (Taxa Interna de Retorno) que na opinião de Gitman (2010) consiste na taxa de desconto que faz com que o VPL de um investimento se iguale a zero ($ 0,00), nesse caso as entradas de caixa se equiparam ao valor de saída, ou seja, ao valor inicial do investimento. Como é notadamente observado a TIR resultou em 8,57% ao ano e a TMA – Taxa Mínima de Atratividade foi de 18%, ou seja, o resultado do projeto não pagou se quer a taxa mínima do custo de capital estipulada pela empresa. Outras análises financeiras foram feitas para complementar os indicadores principais citados acima. Veja no Quadro 4 a seguir.

Quadro 4 – Análises Financeiras Complementares

Média anual lucro descontado 2.112.338

Lucratividade Operacional Média 33,2%

Fluxo de Caixa Médio Anual 3.550.055

Rentabilidade anual 15%

Rentabilidade mensal 1,3%

Ponto de Equilíbrio Médio Anual (em receitas) 24.644.622

Ponto de Equilíbrio Médio Anual (em toneladas) 6.556 Retorno (prazo médio) meses 77

Retorno (prazo médio) anos 6 anos e 5 meses

Fonte: Dados do projeto de viabilidade

O Quadro 4 demonstra as análises financeiras complementares, a saber: Analisando os índices isoladamente, pressupõe que o projeto é viável, pois apresentou rentabilidade, lucratividade e fluxos de caixa positivos. Um fato que chama atenção é o prazo de retorno médio que chegou a 6 anos e 5 anos, o que corrobora com o cálculo do Payback Descontado que resultou em mais de 5 anos. Entretanto, de acordo com as principais análises apresentadas no Quadro 3, o projeto não é viável nesse cenário. A seguir, no item Discussões, será apresentado as comparações do projeto em três cenários e sequencialmente será feito as considerações finais do trabalho. 4. Discussões Nos resultados e análises foram expostos os cálculos do projeto no cenário pessimista, e a conclusão foi de que o projeto não é viável. Entretanto, qualquer analista financeiro deve levar em consideração outros cenários, ainda mais com as flutuações na economia e nas taxas de câmbio. Como foi ressaltado anteriormente o valor do dólar é um fator crucial para esse projeto, uma vez que o produto final – polpa de tomate – é cotado pela moeda americana. Nesse sentido serão abordados a seguir os cálculos dos outros dois cenários.

Primeiramente será mostrado no Quadro 5 as principais análises financeiras do projeto num cenário Mediano, com dólar cotado a R$ 3,75. Cabe lembrar que esse valor é considerado mediano nos dias atuais, aonde o dólar chegou a mais de 4,00.

Quadro 5 – Análises do projeto – cenário mediano – dólar à R$ 3,75

Fonte: Dados do projeto de viabilidade

Observa-se que no cenário mediano o projeto já se torna viável, pois o VPL já se tornou positivo, com um valor de R$ 5.306.714,00 enquanto no cenário pessimista o VPL foi negativo. O prazo de Payback Descontado, considerando a mesma TMA de 18%, resultou em 3 anos e 5 meses enquanto no cenário pessimista o prazo de retorno ultrapassou 5 anos. A TIR nesse cenário foi de 32% ao ano, enquanto no cenário anterior foi de apenas 8,57%. Pode-se concluir que com uma TIR de 32% ao ano, se descontado a TMA de 18% ainda teria uma Taxa de retorno na casa dos 12% ao ano. Vejamos agora no Quadro 6 o terceiro cenário – otimista – com o dólar cotado à R$ 4,00.

Quadro 6 – Análises do projeto – cenário otimista – dólar à R$ 4,00

Período (Anos) Resultado Oper. Acumulação Fl cx desc Acumulação

0 (13.635.914) (13.635.914) (13.635.914)

1 3.703.597 (9.932.317) 3.138.641 (10.497.273)

2 6.328.055 (3.604.262) 4.544.711 (5.952.562)

3 6.778.761 3.174.499 4.125.763 (1.826.799)

4 7.296.339 10.470.838 3.763.370 1.936.572

5 7.710.068 18.180.906 3.370.142 5.306.714

18.180.906 5.306.714

VPL = 5.306.714R$

PayBack Clássico= 2 anos e 5 meses

PayBack Descontado= 3 anos e 5 meses

TIR= 32% ao ano

Fonte: Dados do projeto de viabilidade

Observa-se que no cenário otimista o projeto é ainda mais viável, pois o VPL resultou num valor de R$ 13.137.160,00, quase maior do que o próprio investimento inicial, ou seja, o valor presente líquido do projeto praticamente já se paga. O prazo de Payback Descontado, considerando a mesma TMA de 18%, resultou em 2 anos e 5 meses contra 3 anos e 5 meses do cenário anterior. A TIR nesse cenário foi de 51% ao ano, índice maior do que no cenário anterior. Pode-se concluir que com uma TIR de 51% ao ano, se descontado a TMA de 18% ainda teria uma Taxa de retorno na casa dos 28% ao ano. Para dar uma visão mais clara entre os três cenários, será explicitado abaixo os gráficos de comparação dos projetos, sendo: Gráfico 3 – VPL; Gráfico 4 – Payback Descontado; e Gráfico 5 - TIR.

Gráfico 3 – Valor Presente Líquido (VPL) em reais

Gráfico 4 – Payback Descontado – em anos

Período (Anos) Resultado Oper. Acumulação Fl cx desc Acumulação

0 (13.635.914) (13.635.914) (13.635.914)

1 5.766.221 (7.869.693) 4.886.628 (8.749.286)

2 8.696.251 826.558 6.245.512 (2.503.774)

3 9.497.759 10.324.316 5.780.629 3.276.855

4 10.195.913 20.520.230 5.258.939 8.535.794

5 10.526.811 31.047.041 4.601.366 13.137.160

31.047.041 13.137.160

VPL = 13.137.160R$

PayBack Clássico= 1 ano e 10 meses

PayBack Descontado= 2 anos e 5 meses

TIR= 51% ao ano

Gráfico 5 – Taxa Interna de Retorno (TIR) ao ano

Diante dos três cenários projetados é possível claramente chegar a uma conclusão. 5. Considerações Finais Ao final deste trabalho, é possível dizer seguramente que a análise de investimentos é de fundamental importância para qualquer empreendimento. Independentemente do porte da empresa, do segmento, da magnitude do projeto ou de qualquer outro fator, é preciso analisar cautelosamente um investimento antes de se arriscar nesse mercado competitivo e cheio de incertezas.

Como foi demonstrado nesse artigo, as ferramentas estão disponíveis para qualquer empresário, investidor, sócio, administrador, economista, engenheiro, advogado, contador, empreendedor e profissionais de qualquer outra área do conhecimento. Ficou claramente que com poucos cálculos é possível fazer uma análise segura de um projeto de viabilidade econômico-financeira de investimentos, até mesmo de grande porte. Pelo estudo de caso abordado neste trabalho, conclui-se que dentre os três cenários apresentados, apenas o cenário pessimista com o dólar cotado à R$ 3,50 não é economicamente viável. Financeiramente falando os outros dois cenários são viáveis, considerando o valor do dólar à R$ 3,75 e R$ 4,00 respectivamente. Essas conclusões dão base científica para a tomada de decisão dos empresários, entretanto, cabem aos mesmos, avaliarem outros fatores qualitativos e intrínsecos, como o custo de oportunidade, estratégias da empresa, perspectivas de estabilização da moeda norte-americana, o próprio mercado, a concorrência, entre outros fatores que não foram tratados no presente artigo. 6. Referências BACEN – Banco Central do Brasil. Taxas de Câmbio. Disponível em:

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