Upload
vukien
View
242
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA
WALMIRTON BEZERRA D’ALESSANDRO
POTENCIAL DE FUNGOS PARA COMBATE DE
CARRAPATOS VETORES DA FEBRE MACULOSA
Orientador: Prof. Dr. Wolf Christian Luz
Co-orientador: Prof. Dr. Éverton Kort Kamp Fernandes
Tese de Doutorado
Goiânia – Goiás, 2012
Termo de Ciência e de Autorização para Disponibilizar as Teses e Dissertações Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal
de Goiás–UFG a disponibilizar gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.
1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [X] Tese
2. Identificação da Tese ou Dissertação Autor(a): Walmirton Bezerra D’Alessandro CPF: 729.439.201-34 E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não
Vínculo Empregatício do autor Não Agência de fomento: - Sigla: País: Brasil UF: GO CNPJ: Título: POTENCIAL DE FUNGOS PARA COMBATE DE CARRAPATOS VETORES DA
FEBRE MACULOSA
Palavras-chave: Amblyomma cajennense, Rhipicephalus sanguineus, Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana, Purpureocillium lilacinum, micoacaricida.
Título em outra língua: POTENTIAL OF FUNGI TO CONTROL TICK VECTORS OF THE ROCKY MOUNTAIN SPOTTED FEVER
Palavras-chave em outra língua: Amblyomma cajennense, Rhipicephalus
sanguineus, Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana, Purpureocillium lilacinum, micoacaricide.
Área de concentração: Parasitologia Data defesa: (dd/mm/aaaa) 12/12/2012 Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical e Saúde Pública Orientador(a): Wolf Christian Luz CPF: 695.616.641-00 E-mail: [email protected] Co-orientador(a): Éverton Kort Kamp Fernandes CPF: 071.248.587-20 E-mail: [email protected]
3. Informações de acesso ao documento: Liberação para disponibilização?1 [X] total [ ] parcial Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões: [ ] Capítulos. Especifique: _____________________________________________ [ ] Outras restrições: _________________________________________________
Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat.
________________________________________ Data: 12/12/ 2012 Assinatura do autor
1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre disponibilizados.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL
WALMIRTON BEZERRA D’ALESSANDRO
POTENCIAL DE FUNGOS PARA COMBATE DE CARRAPATOS
VETORES DA FEBRE MACULOSA
Orientador:
Prof. Dr. Wolf Christian Luz
Co-orientador: Prof. Dr. Éverton Kort Kamp Fernandes
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Doutor em Medicina Tropical e Saúde Pública.
Esse trabalho foi realizado com o auxílio financeiro do CNPq Universal processo
473141/2010-8 e com a taxa de bancada fornecida pelo mesmo órgão.
Goiânia – Goiás, 2012
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(GPT/BC/UFG)
D’Alessandro, Walmirton Bezerra. D141p Potencial de fungos para combate de carrapatos
vetores da febre maculosa [manuscrito]/ Walmirton Bezerra D’Alessandro . - 2012. xi, 86 f.: il., figs., tabs. Orientador: Prof. Wolf Christian Luz. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goias, Instituto de Patologia Tropical e Saude Publica, 2012. Bibliografia Inclui listas de figuras, siglas e abreviaturas
1. Carrapato. 2. Beauveria bassiana 3.
Purpureocillium lilacinum 4. Metarhizium anisopliae 5. micoacaricida. I. Título
CDU: 95.42:616.995.42
iii
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública
da Universidade Federal de Goiás
BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO
Aluno: Walmirton Bezerra D’Alessandro
Orientador: Wolf Christian Luz
Co-orientador: Éverton Kort Kamp Fernandes
Membros:
1. Rogério Biaggioni Lopes
2. Eliane Quintela
3. Walquíria Arruda
4. Lígia Miranda Borges
Data: 12 /12/2012
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 v
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Wolf Christian Luz, pela paciência, estímulo no meu processo de
crescimento pessoal e profissional, além da excepcional dedicação a esta pesquisa.
Ao Professor Éverton Kort Kamp Fernandes pela co-orientação, estímulo e
tranquilidade em repassar seus conhecimentos nos bons e difícies momentos.
Ao Richard A. Humber pela ajuda na identificação de fungos patogênicos de
carrapatos.
Ao CNPq pelo auxílio financeiro o qual me foi concedido e bolsa de estudos,
sendo de extrema importância para o desenvolvimento desta pesquisa.
Ao Jeremias Lunardelli pela oportunidade e espaço concedido na Fazenda
Santa Branca, para realização dos experimentos de semi-campo e levantamento de
fungos neste local.
Ao Professor André Kipnis, pela paciência, dedicação no ensinamento da arte
molecular. Aos colegas do Laboratório de Biologia Molecular em especial ao Lázaro
Moreira Marques Neto, Rogério Coutinho das Neves, Fábio Muniz de Oliveira, Viviane
Lopes Rocha e Renato Beilner Machado.
Aos funcionários do IPTSP, em especial José Clementino de Oliveira Neto
(Zezinho) e Kariny Vieira Soares pelo carinho e atenção.
Ao Bruno Sérgio Alves Silva do Centro de Zoonoses de Goiânia pela
cooperação das coletas de Rhipicephalus sanguineus em cães e toda sua equipe.
Ao Durval da Rocha Ferreira “Ananias”, pela assitência na coleta de carrapatos
em cavalos na Fazenda Santa Branca.
Ao Laboratório de Patologia de Invertebrados LPI/UFG, pelo espaço físico e
equipamentos utilizados na realização dos bioensaios.
A todos os colegas do LPI em especial Renan Nunes Leles, Macsuel Corado
Barreto, Géssica Bueno Bárbara, Flávia Regina Santos da Paixão, Fabrício Moreira
Alves e Tássio Lima Tavares que deram apoio referente aos estudos com carrapatos.
Aos meus pais, Walmirton Thadeu D’Alessandro e Celina Barbosa Bezerra
D’Alessandro que acompanharam diretamente meu esforço e persistência na procura de
Ambyomma cajennense para o desenvolvimento desta pesquisa. A Aline Almeida
Barbaresco, pela paciência, dedicação, amor e companheirismo. Aos meus irmãos
Emmanuel Bezerra D’Alessandro e Andre Luiz Bezerra D’Alessandro, que mesmo
depois de levarem picadas acidentais de ninfas de A. cajennense, decorrente de escapes
das mesmas tiveram paciência e levaram na esportiva.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 vi
“Meus ouvidos tinham
escutado falar de ti, mas agora
meus olhos te viram”.
Jó 42,5
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 vii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................. viii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................................................. ix RESUMO..................................................................................................................................... x ABSTRACT................................................................................................................................. xi
1-INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1
1.1- Carrapatos.......................................................................................................................... 2 1.1.1- Aspectos biológicos de Amblyomma cajennense e Rhipicephalus sanguineus............ 2 1.1.2- A importância de carrapatos na saúde humana e animal.............................................. 6
1.2- Métodos de controle de carrapatos..................................................................................... 9 1.3- Fungos entomopatogênicos................................................................................................ 11 1.4- Aspectos biológicos de fungos entomopatogênicos........................................................... 11 1.5- Associação de carrapatos e fungos..................................................................................... 12 1.6- Desenvolvimento de micoacaricidas.................................................................................. 14
1.6.1-Produção de fungos........................................................................................................ 14 1.6.2-Formulações e aplicações de fungos.............................................................................. 14 1.6.3- Segurança de fungos..................................................................................................... 15
2- JUSTIFICATIVA.................................................................................................................... 16
3- OBJETIVOS............................................................................................................................ 18
3.1- Objetivo Geral.................................................................................................................... 19 3.2- Objetivos Específicos......................................................................................................... 19
4- RESULTADOS....................................................................................................................... 20
4.1-Manuscrito 1- Ocorrência de fungos patogênicos em Amblyomma cajennense em uma área rural do Centro-Oeste do Brasil e sua atividade contra vetores da Febre Maculosa.........
21
4.2-Manuscrito 2- Susceptibilidade de ovos e larvas de Rhipicephalus sanguineus a Metarhizium anisopliae aplicado em solo sob condições de laboratório.................................
34
4.3-Manuscrito 3- Formulados aquoso e oleoso de Metarhizium anisopliae e sua aplicação em ovos de Rhipicephalus sanguineus.....................................................................................
44
4.4-Manuscrito 4- Atividade e persistência de formulação oleosa de Metarhizium anisopliae sobre Amblyomma cajennense em teste de semi-campo no Centro-Oeste do Brasil.........................................................................................................................................
56
5-DISCUSSÃO............................................................................................................................ 70
6- CONCLUSÕES....................................................................................................................... 73
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 75
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Macho de Amblyomma cajennense, com festões (seta) e escudo dorsal (A), espinhos
desiguais entre o primeiro e o quarto par de pernas (seta) (B). Fêmea de A. cajennense, com o
escudo dorsal pequeno (seta) (C) e peritrema após o quarto par de pernas (D).............................
3
Figura 2. Ciclo biológico de Amblyomma cajennense (adaptado de Pereira & Labruna 1998)... 4
Figura 3. Macho (A) e fêmea (B) de Rhipicephalus sanguineus, sendo possível observar o
peritrema (C, D) (seta)...................................................................................................................
5
Figura 4. Ciclo biológico de Rhipicephalus sanguineus............................................................... 6
Figura 5. Lesões em cavalo provocadas por alta taxa de parasitismo de Amblyomma
cajennense......................................................................................................................................
7
Figura 6. Gêneros de fungos mais comuns que ocorrem sobre artrópodes, Metarhizium (A) e
Beauveria (B) (adaptado de Alves 1998).......................................................................................
11
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 ix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AFLP................................................................Amplified fragment length polymorphism
ANOVA............................................................................................ Análise de Variância
APV.......................................................................................................Álcool de Polivinil
B.D.A................................................................................................Batata Dextrose Ágar
CIE50................................................................concentração inibitória de 50% de eclosão
CIE90................................................................concentração inibitória de 90% de eclosão
CL50 ..................................................... Concentração para matar 50% das larvas testadas
CL90 ..................................................... Concentração para matar 90% das larvas testadas
CLs..................................................................................................... Concentrações letais
CTC................................................................Cloranfenicol, Tiabendazol e Cicloexamida
EPM................................................................................................. Erro Padrão da Média
FM..............................................................................................................Febre Maculosa
h...................................................................................................................................horas
IC.....................................................................................................Intervalo de confiança
IPTSP...................................................... Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
K2CO3...............................................................................................Carbonato de potássio
LPI................................................................... Laboratório de Patologia de Invertebrados
NaCl......................................................................................................... Cloreto de sódio
p.....................................................................................................................probabilidade
PCR................................................................................ Reação de Cadeia da Polimerase
RAPD..........................................................Random Amplification of Polymorphic DNA
RFLP............................................................ Restriction Fragment Length Polymorphism
SDAL......................................................................Sabouraud Dextrose Agar e Levedura
SVS/MS.................................. Secretaria da Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde
TL50................................................................................................... Tempo Letal de 50%
TL90................................................................................................... Tempo Letal de 90%
UFC...................................................................................Unidade Formadora de Colônia
UFG................................................................................... Universidade Federal de Goiás
UR...........................................................................................................Umidade Relativa
WGS..............................................................................................World Geodetic System
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 x
RESUMO
Amblyomma cajennense e Rhipicephalus sanguineus são carrapatos que possuem
grande importância médica e veterinária como transmissores de doenças. As
dificuldades existentes no controle de A. cajennense e R. sanguineus, incluindo o
desenvolvimento de resistência a alguns acaricidas químicos sintéticos, principais
produtos utilizados em seu controle, incitam estudos para o desenvolvimento de
medidas alternativas mais eficientes e de menor impacto ambiental. Dentre as
estratégias estudadas, fungos patogênicos para carrapatos parecem ser uma opção
eficiente e segura. O objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência natural de fungos
em solo e em A. cajennense em uma área do Centro-Oeste do Brasil, além de verificar a
patogenicidade destes fungos para A. cajennense e R. sanguineus. Adicionalmente.
foram avaliadas, em condições de laboratório, formulações e aplicações de Metarhizium
anisopliae s.l. IP 46 sobre ovos de R. sanguineus. Em condições de semi-campo IP 46
teve persistência estudada no solo. Fêmeas ingurgitadas de carrapatos foram coletadas
em hospedeiros sem resíduos de acaricidas. No laboratório foram lavadas, com água
estéril e colocadas em placas de Petri. Foi escolhido o menor número de ovos (25 ovos
aglomerados) que pode ser utilizado em teste de laboratório sem que os ovos perdessem
a viabilidade. Suspensões de conídios de IP 46 foram preparadas, e com auxílio de uma
micropipeta foram aplicadas indiretamente em solo ou testadas formulações oleosas ou
aquosas em aglomerados de ovos de R. sanguineus. Beauveria bassiana,
Purpureocillium lilacinum e M. anisopliae foram isolados de A. cajennense ou em
habitats (solo) em uma área do Centro-Oeste do Brasil, especialmente em época
chuvosa. No teste de patogenicidade, teleóginas de R. sanguineus revelaram ser mais
susceptíveis do que A. cajennense. Ovos de R. sanguineus foram altamente susceptíveis
à infecção com M. anisopliae em solo com umidade alta. O desenvolvimento de IP 46
sobre os conjuntos de ovos, eclosão e sobrevivência de larvas dependeram do
formulado, da aplicação e da concentração dos conídios. Larvas eclodidas só foram
observadas em aplicações indiretas. Formulados à base de óleo têm mais atividade
ovicida e larvicida do que formulados aquosos e poderiam ser empregados na
preparação de micoacaricidas, sendo utilizados como nova estratégia para controle de
carrapatos.
Palavras chave: carrapato, Beauveria bassiana, Purpureocillium lilacinum,
Metarhizium anisopliae, micoacaricida, formulação.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 xi
ABSTRACT
Amblyomma cajennense and Rhipicephalus sanguineus ticks have great medical and
veterinary importance as disease carriers. The difficulties in controlling A. cajennense
and R. sanguineus, including the development of acaricide resistance to some synthetic
chemicals, main products used in their control, encourage the development of
alternatives and fewer environments. Among different strategies; pathogenic fungi seem
to be a safe and efficient option to control ticks. The objective of this study was to
evaluate the occurrence of fungi in natural habitats of A. cajennense in an area in the
Midwest of Brazil and to verify the pathogenicity of these fungi to A.cajennense and R.
sanguineus. Additionally, formulations and applications of IP 46 were evaluated in
laboratory on eggs of R. sanguineus. In semi-field conditions persistence of IP 46 was
studied. Engorged female ticks were collected from hosts without residues of acaricides.
In the laboratory they were washed with sterile water and placed in Petri dishes. The
smallest number of eggs (25 egg clusters) was chosen that could be used in a test lab
without losing viability of the eggs. Suspensions of conidia were prepared and
Metarhizium anisopliae s.l. IP 46, was applied indirectly tested in soil or oily and
aqueous formulations containing egg clusters of R. sanguineus. Beauveria bassiana,
Purpureocillium lilacinum and M. anisopliae were isolated in an area of the Midwest of
Brazil, especially in the rainy season. In pathogenicity tests, R. sanguineus proved to be
more susceptible than A. cajennense. Eggs of R. sanguineus were highly susceptible to
infection by M. anisopliae in soil and high humidity. The development of IP 46 over
sets of eggs hatching and larval survival depended on the formulation type, application
method and concentration of conidia. Hatched larvae were only observed in indirect
applications of eggs. Oil-based formulation was more ovicidal than aqueous suspension
and formulated conidia could be used in the preparation of micoacaricidas, being used
as a new strategy for tick control.
Key words: tick, Beauveria bassiana, Paecilomyces lilacinus, Metarhizium anisopliae,
mycoacaricide, formulation.
1- INTRODUÇÃO
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 2
1.1- Carrapatos
Os carrapatos pertencem ao filo Arthropoda e classe Arachnida. Os carrapatos
Amblyomma cajennense e Rhipicephalus sanguineus, estão entre as espécies mais
comuns encontradas no Brasil (Barker & Murrell 2004).
As larvas de carrapatos se transformam em ninfas e depois adultos. As larvas
apresentam três pares de patas podendo ser diferenciadas dos estágios subsequentes, que
possuem quatro pares de patas.
O número de ovos postos pelas fêmeas varia entre espécies (Labruna et al.
1997, Prata & Daemon 1997). Em geral os ovos medem menos de 1 mm e formam
aglomerados que os protegem contra ressecamento, e favorecem maior eclodibilidade
das larvas (Kurup et al. 2008).
Ixodídeos adultos têm dimorfismo sexual acentuado. Nos machos o escudo
dorsal é rígido, quitinoso e cobre todo o dorso. Nas fêmeas o escudo dorsal estende-se
apenas em uma parte do dorso, permitindo a dilatação do abdômen durante a
alimentação.
1.1.1- Aspectos morfológicos e biológicos de Amblyomma cajennense e
Rhipicephalus sanguineus
Os machos de A. cajennense possuem um sulco marginal distinto, com a
presença de festões (Figura 1 A). O escudo dorsal é castanho com faixas esbranquiçadas
ou acobreadas que dão um aspecto de pseudo-escudo à região anterior do corpo
(Flechtmann 1973). Na coxa do primeiro par de pernas do macho encontram-se dois
espinhos desiguais, e no quarto par de pernas um espinho longo (Figura 1 B). Nos tarsos
do primeiro par de pernas localiza-se o órgão de Haller, o qual possui células olfativas
receptoras com as quais o carrapato detecta umidade e odores estimulantes ao carrapato,
como CO2 e feromônios (Gachoka 2010).
As fêmeas têm um escudo dorsal subtriangular, sem vestígios de depressões
laterais, de coloração castanha-escura e com manchas esbranquiçadas ou acobreadas,
contínuas na parte médio-posterior (Figura 1 C). As coxas do primeiro par de pernas
possuem dois espinhos iguais e as do quarto par de pernas têm um espinho. Atrás do
quarto par de pernas encontra-se o peritrema em forma de “ferradura” (Figura 1 D)
(Flechtmann 1973).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 3
Figura 1. Macho de Amblyomma cajennense, com festões (seta) e escudo dorsal (A),
espinhos desiguais entre o primeiro e o quarto par de pernas (seta) (B). Fêmea de
A. cajennense, com o escudo dorsal pequeno (seta) (C) e peritrema após o quarto par
de pernas (D).
A. cajennense é conhecido na fase adulta como “carrapato-estrela” ou
“rodoleiro”, devido a sua ornamentação do escudo dorsal. Na fase de ninfa, por
“vermelhinhos” e quando no estado larval, por “carrapatinhos” ou “micuins” (Pereira &
Labruna 1998).
Larvas e ninfas de A. cajennense têm baixa especificidade por hospedeiros e
parasitam o homem, além de cavalos e outros animais domésticos, como cães e gatos, e
animais silvestres como gambás, ratos, coelhos, capivaras e aves (Lopes et al. 1998,
Oyafuso et al. 2002, Martins et al. 2004). Em ambientes rurais, o cavalo é o hospedeiro
mais parasitado, e em áreas silvestres o hospedeiro mais comumente parasitado é a
capivara.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 4
Esta espécie necessita de três hospedeiros para completar seu ciclo. As fêmeas
adultas, depois de fecundadas e ingurgitadas, desprendem-se do hospedeiro, caem ao
solo à procura de abrigo para realizar postura única com cerca de 6 a 8 mil ovos e
depois morrem. Após aproximadamente 30 dias de incubação à 25ºC as larvas eclodem.
Elas sobem nas gramíneas, arbustos e até em árvores, esperando a passagem de
hospedeiros. Ao encontrar um hospedeiro as larvas iniciam o hematofagismo por um
período entre 3 e 6 dias, desprendem-se e caem no solo onde transformam-se em ninfas
após 18 a 26 dias. Essas ninfas fixam-se em outro hospedeiro e em 6 dias ingurgitam-se
de sangue, voltam ao solo e após 23 a 25 dias transformam-se em adultos (Pereira &
Labruna 1998). O ciclo biológico é sazonal com apenas uma geração (larva, ninfa e
adulto) e marcadamente distribuído ao longo do ano (Pereira & Labruna 1998, Oliveira
et al. 2000, Labruna et al. 2002). As larvas predominam nos meses de março a julho, as
ninfas de julho a novembro e os adultos nos meses quentes e chuvosos, de novembro a
março (Camargo-Neves et al. 2004) (Figura 2).
Figura 2. Ciclo biológico de Amblyomma cajennense (adaptado de
Pereira & Labruna 1998).
Os machos de R. sanguineus possuem um escudo dorsal marrom-avermelhado
(Figura 3 A). Fêmeas adultas de R. sanguineus têm o corpo elíptico e possuem
coloração marrom-avermelhada a amarelada (Figura 3 B). Os peritremas nos dois sexos
têm forma de vírgula (Flechtmann 1973) e situam-se após o quarto par de pernas
(Figura 3 C e D).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 5
Figura 3. Macho (A) e fêmea (B) de Rhipicephalus
sanguineus, sendo possível observar o peritrema (C, D)
(seta).
R. sanguineus é considerado cosmopolita. É conhecido como “carrapato
vermelho do cão”. Esse carrapato parasita principalmente o cão doméstico e
secundariamente outros mamíferos, inclusive o homem (Dantas-Torres et al. 2006,
Louly et al. 2006). Os adultos vivem aproximadamente um ano e sua sobrevivência
prolonga-se em regiões de clima temperado (Rey 2002).
O ciclo biológico de R. sanguineus corresponde a um ciclo trioxeno (Figura 4),
ou seja, necessita de três hospedeiros para desenvolver seus estágios. Fêmeas
ingurgitadas, após destacarem do terceiro hospedeiro, procuram um abrigo no solo,
onde cada fêmea deposita cerca de um mil a três mil ovos aglomerados, sendo o período
de ovipostura em média de 8 a 67 dias (Labruna 2004). O desenvolvimento embrionário
nos ovos depende diretamente da temperatura sendo que em baixas temperaturas é
retardado (Koch & Tuck 1986, Bellato & Daemon 1997, Carneiro & Daemon 2003). As
larvas ao eclodirem (19 a 142 dias), vão procurar abrigo em arbustos e frestas de
paredes. Estas larvas vão ao encontro do hospedeiro e se fixam sugando sangue.
Posteriomente, as larvas caem no solo e se transformam em ninfas sendo este processo,
de 3 a 7 dias, depedente da temperatura local. A ninfa procura um hospedeiro e
ingurgita-se de sangue, dando origem ao adulto entre 12 e 129 dias (Labruna 2004)
(Figura 4).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 6
Figura 4. Ciclo biológico de Rhipicephalus sanguineus.
1.1.2- A importância de carrapatos na saúde humana e animal
Os carrapatos alimentam-se de sangue de vertebrados, principalmente
mamíferos, mas também de aves, répteis e anfíbios. Ocasionam grandes prejuízos, tanto
no meio veterinário infestando equídeos, ovinos, caprinos e animais silvestres, entre
outros, quanto no meio médico, infestando humanos (Rojas et al. 1999, Lemos et al.
2002, Martins et al. 2004, Dantas-Torres et al. 2006). Formas imaturas de
R. sanguineus, parasitam humanos no exterior e no Brasil (Clarck et al. 1996, Felz et al.
1996, Dantas-Torres et al. 2006). Em Goiânia foram observadas larvas em pessoas em
áreas residenciais (Louly et al. 2006, D’Alessandro dados não publicados). Podem
inocular toxinas juntamente com a saliva durante o hematofagismo. Essas toxinas
afetam o metabolismo do hospedeiro e podem causar astenia, hipersensibilidade,
decréscimo do hematócrito, paralisia e até a morte do hospedeiro (Flechtmann 1973).
Os carrapatos são responsáveis por danos físicos a peles e couros de animais. O
homem quando é atacado por larvas e ninfas desenvolve reações alérgicas relacionadas
às picadas que são extremamente pruriginosas. O tamanho reduzido desses estágios
dificulta a localização e a retirada do corpo. Os adultos são relativamente grandes, o que
facilita sua localização e retirada (Camargo-Neves et al. 2004). Além da espoliação
sanguínea do hospedeiro, ocorrem lesões em locais de fixação (Flechtmann 1973,
Marcondes 2001, Costa & Botelho 2005) (Figura 5).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 7
Figura 5. Lesões em cavalo provocadas por alta taxa de parasitismo por
Amblyomma cajennense.
Os carrapatos podem transmitir bactérias, dos gêneros Rickettsia, Ehrlichia,
Anaplasma e Borrelia, provocando enfermidades em humanos e animais como febre
maculosa (FM) (Lemos et al. 1997, Pereira & Labruna 1998, 2002, Leiby 2011),
erliquiose (Almonsny & Massard 1999), anaplasmose (Piesman & Eisen 2008) e doença
de Lyme (Joppert et al. 2001, Fonsesa et al. 2005, Mantovani et al. 2007). Os carrapatos
também estão envolvidos na transmissão do vírus do oeste do Nilo e protozoários como
Leishmania spp. e Babesia spp. em homens e animais (Leiby 2011).
Por desenvolver-se em ambientes sinantrópicos no Centro-Oeste, Sudeste e
Nordeste no Brasil, onde ocorre em altas densidades, existe risco de aumento da
incidência de zooantroponoses emergentes como erliquiose, babesiose e febre maculosa
transmitidas por R. sanguineus (Andereg & Passos 1999, Costa & Botelho 2005).
Devido à semelhança na sintomatologia e métodos pouco específicos de diagnóstico,
tais enfermidades são às vezes confundidas com outras doenças, o que pode levar ao
diagnóstico tardio e até a morte de pacientes (Hoogstraal 1967, Veronesi 1982, Harrison
et al. 1997).
A febre maculosa (FM) é uma enfermidade causada por Rickettsia rickettsii,
uma bactéria gram-negativa intracelular obrigatória. Também é conhecida como febre
maculosa brasileira (Brasil), Rocky Mountain spotted fever (Estados Unidos), fiebre
manchada (México) e fiebre de Tobia (Colômbia). Tem sido relatada em diferentes
estados brasileiros com maior prevalência em Minas Gerais e São Paulo (Del Guercio et
al. 1997, Galvão et al. 2003, SVS/MS 2006). No Centro-Oeste há apenas três casos
registrados, dois foram notificados no Distrito Federal em 2005 e 2006, e outro caso em
Pires do Rio-Goiás em 2010 (SINAN 2011).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 8
Os principais sintomas da FM são pouco específicos como febre alta, cefaléia e
mialgia, o que dificulta o diagnóstico clínico definitivo. Em cerca da metade dos casos,
aparecem petéquias a partir das extremidades, espalhando-se para todo o corpo
(SVS/MS 2006). Além do homem, cães domésticos desenvolvem a forma clínica da
FM, embora seja menos letal do que em humanos. Quanto mais precoce o tratamento,
menor os índices de letalidade (Fortes et al. 2011).
No Brasil o principal vetor de R. rickettsii é o A. cajennense. Há evidências de
que essa espécie seja vetor também na Argentina. Ainda no Brasil, Amblyomma
aureolatum é outro vetor da FM em locais específicos de São Paulo (Barros-Battesti et
al. 2006). Acredita-se que existam cepas brasileiras de R. sanguineus adaptadas ao
homem como hospedeiro, a exemplo, de outros países, como no México, onde essa
espécie é considerada principal vetor da FM para o homem (Sanchez et al. 2009,
Eremeeva et al. 2011).
Os vetores mais comuns de R. rickettsii nos Estados Unidos e no Canadá são
Dermacentor andersoni e Dermacentor variabilis. Além dessas espécies, R. rickettsii já
foi isolada do “carrapato de coelho”, Haemaphysalis leporispalustris, na Costa Rica e
nos Estados Unidos. Suspeita-se de que esta espécie tenha um papel no ciclo enzoótico
da bactéria (Nicholson et al. 2006, Hun et al. 2008). Nos Estados Unidos R. sanguineus
já foi confirmado como vetor (Demma et al. 2005).
Nos carrapatos, R. rickettsii pode ser passada de geração para geração, através
de transmissão transovariana e sobrevivência transestadial (SVS/MS 2006). Resultados
de testes de laboratório demonstraram que a infecção por R. rickettsii pode ser letal
também para o vetor (SVS/MS 2006). Sendo assim, o carrapato, embora seja o principal
reservatório da bactéria, não é suficiente para mantê-la na natureza (SVS/MS 2006).
Hospedeiros vertebrados podem ser amplificadores da infecção por R. rickettsii e
tornam-se essenciais para a sobrevivência do patógeno (SVS/MS 2006). Um hospedeiro
(cavalo, capivara) amplificador é aquele que é frequentemente parasitado por estágios
imaturos do carrapato vetor e, ao mesmo tempo, é capaz de se infectar com bactérias e
desenvolver bacteremia. Para que ocorra a transmissão da bactéria para humanos é
necessário que o artrópode permaneça aderido ao homem, por no mínimo 4 a 6 horas
(SVS/MS 2006).
Síndrome infecto-reacional Lyme símile é conhecida também por doença de
Baggio-Yoshinari e tem A. cajennense como vetor do agente causador desta
enfermidade infecciosa, que é emergente no Brasil. Esta doença está associada com
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 9
bactérias de atividade latente, na qual ocorrem manifestações semelhantes à doença de
Lyme (Shinjo et al. 2009). Os sinais clínicos são erupções na pele, no local de fixação
do carrapato, seguidas por artrite, dores musculares e anormalidades cardíacas ou
neurológicas (Mantovani et al. 2007). Os quadros clínicos seguidos de cardiopatia têm
sido raramente descritos no Brasil. Em apenas 5% dos casos estudados pacientes
apresentaram quadro clínico com cardiomegalia e arritmia. O tratamento da síndrome
infecto-reacional Lyme símile no Brasil é semelhante ao recomendado para a doença de
Lyme nos EUA e Europa, porém é mais prolongado para prevenir recidivas (Mantovani
et al. 2007).
R. sanguineus pode participar na epidemiologia da leishmaniose viceral.
Experimentalmente uma cepa de Leishmania chagasi foi inoculada em R. sanguineus e
posteriormente o macerado de carrapatos inoculado via oral e peritoneal em hamsteres
(Coutinho et al. 2005). O protozoário foi encontrado em maior porcentagem em
hamsteres que receberam cepas inoculadas via peritoneal. O cachorro sendo o principal
animal doméstico parasitado por R. sanguineus poderia ser um reservatório de
protozoários como L. chagasi, tendo em vista que este animal come carrapatos
(Coutinho et al. 2005).
A babesiose é uma doença que é transmitida ao homem por carrapatos
infectados ou por transfusão sanguínea (Leiby 2011). Um estudo feito durante 1979 a
2009 nos Estados Unidos revelou que houve 159 casos da doença associada à transfusão
sanguínea, e que 77% desses casos ocorreram entre 2000 a 2009 (Leiby 2011).
1.2- Métodos de controle de carrapatos
Dentre os métodos de controle empregados contra carrapatos, o uso de
acaricidas químicos sintéticos ainda é a principal ferramenta utilizada. Entretanto, ao
longo dos anos, muitos carrapatos foram capazes de sobreviver à maioria dos produtos
químicos utilizados para o seu controle, fenômeno denominado de resistência (FAO
1995, 2004). A aplicação dos produtos de forma errônea, com dosagens inferiores às
recomendadas pelo fabricante, talvez seja, uma das situações mais relevantes para o
surgimento de resistência em populações de carrapatos (FAO 1995, 2004, Piesman &
Eisen 2008).
Estudos foram feitos para análise da resistência de R. sanguineus a diferentes
grupos de acaricidas e baixa eficiência de cumafós foi detectada sobre fêmeas adultas
dessa espécie na Venezuela (Conrado & Mujica 1998), enquanto que no Panamá, R.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 10
sanguineus mostrou-se resistente não só ao cumafós como também à permetrina, DDT e
amitraz (Miller et al. 2001). No Brasil, o controle de A. cajennense tem sido feito
indiscrimidamente, através do uso de produtos carrapaticidas encontrados no comércio.
São usados acaricidas a base de organofosforados, carbamatos, amidinas e mais
recentemente piretróides sintéticos, em concentrações recomendadas para o controle do
carrapato de bovinos. As concentrações dos diferentes piretróides utilizadas no controle
de R. microplus nao tem mostrado boa eficiência no controle do A. cajennense,
demonstrando que este ixodídeo exige concentrações mais elevadas e intervalos entre
banhos estratégicos, para se obter sucesso no seu controle. Outros pesquisadores
recomendam que seja utilizado no controle quimico de A. cajennense doses de 1,8 vezes
maiores do que as recomendadas para controle de R. microplus (Barros-Battesti et al.
2006, Martins et al. 2006).
O manejo ambiental também é praticado e intercalado com o uso de inseticida.
Este médodo visa diminuir a população de carrapatos de uma determinada região,
retirado-se os animais de áreas infestadas até que todas, ou pelo menos a maioria das
larvas de carrapatos, sejam eliminadas (Mendes et al. 2008). Também o preparo do solo
e principalmente a aração, promove mudanças físicas no ambiente do solo podendo
diminuir a população de carrapatos. Época e profundidade de aração são dois pontos
importantes a serem observados. Além desses benefícios, estas práticas levam
frequentemente ao ressecamento da camada superficial do solo, ao enterrio de ovos,
larvas, ninfas e adultos de carrapatos.
Vacinas contra Rhipicephalus microplus estão disponíveis comercialmente
(GavacTM, Cuba, e Tick Guarda Plus®, Austrália). Estas vacinas possuem antígenos
recombinantes (Bm 86 e Bm 91) do intestino do carrapato. Quando injetada no
hospedeiro, a vacina atua no sistema imunológico do mesmo e produzem anticorpos
específicos que agridem o intestino do carrapato e podem levá-lo à morte ou, em alguns
casos, podem interferir na sua capacidade reprodutiva (Kemp et al. 1989). Entretanto, a
eficiência destas vacinas pode ser de moderada a baixa, em algumas populações de
carrapatos o que tornaria nescessário o emprego de medidas alternativas (Barros-
Battesti et al. 2006).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 11
1.3- Fungos entomopatogênicos
Fungos entomopatogênicos são micro-organismos com grande potencial para o
controle de pragas. Métodos alternativos ao controle químico que auxiliem no controle
de artrópodes causando menor impacto ambiental têm sido muito pesquisados nos
últimos anos. Dentre as estratégias estudadas, fungos entomopatogênicos parecem ser
uma opção eficiente e segura (Zimmermann 2007a,b, Fernandes & Bittencourt 2008).
Fungos patogênicos a invertebrados têm ampla importância como reguladores
naturais (Alves 1998). Cerca de 80% das doenças de artrópodes são causadas por
fungos. Estima-se que existem mais de 700 espécies de fungos entomopatogênicas no
mundo, distribuídas em pelo menos 90 gêneros e muitos desses ocorrem provavelmente
no Brasil (Roy et al. 2006, Sosa-Gómez et al. 2010). Apesar da maioria das espécies
serem desconhecidas, poucas espécies, especialmente as dos gêneros Metarhizium,
Beauveria e Paecilomyces, foram as mais estudadas até o presente (Faria & Wraight
2007, Rocha et al. 2012).
1.4- Aspectos biológicos de fungos entomopatogênicos
A identificação e classificação de fungos entomopatogênicos são baseadas em
características morfológicas e moleculares. Dentre as características morfológicas,
estruturas macroscópicas de colônias sobre meio de cultivo e microscópicas
reprodutivas podem ser utilizadas para a identificação (Figura 6). Porém, meios
diferentes e mutações, podem levar a diferenças morfológicas de um mesmo isolado.
Figura 6. Gêneros de fungos mais comuns que ocorrem
sobre artrópodes, Metarhizium (A) e Beauveria (B)
(adaptado de Alves 1998).
A partir dos anos 80, técnicas moleculares foram se aprimorando e foram
incorporadas na identificação, diferenciação e classificação de fungos (Hibbett et al.
A B
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 12
2007). Com o surgimento da PCR (reação em cadeia de polimerase), foi possível
amplificar regiões do DNA e comparar o tamanho dos fragmentos amplificados entre
diferentes linhagens e espécies de fungos. A técnica de AFLP (amplified fragment
length polymorphism) é uma ferramenta que possibilita avaliar a diversidade genética
de uma população em estudo (Fernandes et al. 2009, 2010a). AFLP produz vários
marcadores de DNA altamente replicáveis de qualquer indivíduo e sua eficiência em
tempo e custo é superior ou igual àqueles de outros marcadores como isoenzimas,
RAPD (Random Amplification of Polymorphic DNA) e RFLP (Restriction Fragment
Length Polymorphism). Devido à sua facilidade de uso, marcadores AFLP estão sendo
aplicados na ecologia molecular de fungos (Fernandes et al. 2009, 2010a).
A maioria dos fungos entomopatogênicos inicia o ciclo biológico com adesão
de conídios à cutícula dos hospedeiros terrestres (carrapatos, baratas, triatomíneos). A
adesão de conídios envolve forças hidrofóbicas, eletrostáticas e interações fisiológicas
entre o fungo e a superfície do hospedeiro. Após a adesão, os conídios formam tubos
germinativos e hifas, e em alguns fungos há formação de apressório e grampo de
penetração. Em seguida, as hifas formadas penetram na cutícula. Proteases, quitinases e
lipases são produzidas e favorecem a penetração do fungo no hospedeiro (Moraes et al.
2003). Após a penetração, as hifas se ramificam e atingem a hemocele. O sistema
imunológico do hospedeiro exerce um papel de defesa e tenta impedir o crescimento
fúngico (Hajek & St. Leger 1994). Porém, fungos patogênicos conseguem vencer a
resposta imune do hospedeiro, colonizam o artrópode e excretam toxinas (Kirkland et
al. 2004, 2005, Pal et al. 2007). Essas toxinas, em associação a distúrbios na hemocele
provocados por crescimento de corpos hifais e micélio, levam o hospedeiro à morte. No
hospedeiro morto, o fungo invade vários sistemas como digestivo, nervoso e muscular
(Garcia et al. 2005) e posteriormente, hifas emergem dos espiráculos e da cutícula e há
esporulação. Os conídios sobre o cadáver podem ser disseminados no ambiente, pela
água, vento, animais e infectar novos hospedeiros (Alves 1998).
1.5- Associação de carrapatos e fungos
A infecção de carrapatos por fungos é favorecida por alta umidade, alta
temperatura e pouca incidência de raios ultravioletas (Fernandes & Bittencourt 2008). A
espécie e estágios de desenvolvimento de carrapatos, também contribuem para a
infecção fúngica (Samish et al. 2001). Estudos histopatológicos revelaram detalhes
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 13
sobre diversas fases da infecção em fêmeas ingurgitadas de R. microplus (Bittencourt et
al. 1995) e em ovos de R. sanguineus (Garcia et al. 2005).
Acredita-se que fungos entomopatogênicos podem exercer papel importante
como reguladores naturais de carrapatos, especialmente daqueles em fase de vida livre,
pois encontram-se no meio ambiente e não sobre o hospedeiro (Fernandes & Bittencourt
2008). Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae já foram isolados de R. microplus
e R. sanguineus coletados no campo, respectivamente (Costa et al. 2002, Fernandes et
al. 2003). No entanto, ainda pouco se sabe como os fungos intervêm na dinâmica de
populações em condições naturais.
A grande maioria das pesquisas sobre interação de carrapatos e fungos
realizadas nos últimos anos focalizou sobre a atividade fúngica em ovos, larvas, ninfas e
adultos, em condições de laboratório. Os resultados têm demonstrado o potencial de
fungos como agentes de controle de carrapatos (Samish & Rehacek 1999, Chandler et
al. 2000, Samish et al. 2004, Fernandes & Bittencourt 2008). Em geral, ovos e larvas
são as fases mais suscetíveis à infecção fúngica. Espécies e linhagens de fungos
entomopatogênicos, no entanto, podem apresentar variação de virulência para as
diferentes espécies e estágios de carrapatos (Fernandes & Bittencourt 2008). A atividade
de B. bassiana e M. anisopliae em condições de laboratório foi mostrada para vários
carrapatos, porém o maior número de estudos foi feito com R. microplus (Fernandes &
Bittencourt 2008).
Os conhecimentos sobre interações entre carrapatos e fungos patogênicos, ainda
são restritos, tanto em condições de laboratório como no campo (Tanada & Kaya 1993,
Hynes et al. 2008) e muitas vezes se baseiam em resultados obtidos com outros
artrópodes. Os primeiros testes combinando fungos com carrapaticidas químicos ou
formulações de fungos à base de óleos indicaram um avanço significativo no
desenvolvimento de métodos integrados eficientes (Lopes et al. 2007, Fernandes &
Bittencourt 2008, Souza et al. 2009).
Atualmente existe uma lista de 171 produtos a base de micopesticidas e
micoacaricidas comercializados no mundo (Faria & Wraight 2007). Estes produtos se
concentram na América do Sul (42,7%), na América do Norte (20,5%), Europa e Ásia
(12,3%), América Central (7%), África (2,9%) e Oceania (2,3%). O produto Metarril
SC 1037 (Itaforte Industrial de BioProdutos Agro-Florestais Ltda., Brasil) à base de M.
anisopliae é comercializado no Brasil e recomendado para o controle de hemipteros e
ixodídeos. Tick-EX EC (Novozymes Biologicals Inc., USA) é registrado nos Estados
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 14
Unidos e recomendado para o controle de ixodídeos e coleópteros. Metazam (Escuela
Agricola Panameriacana, Honduras) é registrado e vendido em Honduras, El Salvador,
Guatemala e Jamaica, para o controle de hemipteros, lepidopteros e ixodídeos (Faria &
Wraight 2007).
1.6- Desenvolvimento de micoacaricidas
1.6.1-Produção de fungos
Existem três sistemas de produção: laboratorial, artesanal e industrial. A
produção laboratorial é a mais utilizada quando visa pequenas quantidades de inóculo.
Nesse nível, fungos patogênicos são produzidos sobre meio de cultura sólido em placas
de Petri ou em meio líquido em frascos de Erlenmeyer para a obtenção de conídios,
corpos hifais ou micélio. A produção artesanal e industrial visa quantidades
intermediárias ou grandes de fungo, para comercialização e aplicações em semi-campo
ou campo (Alves 1998).
1.6.2-Formulações e aplicações de fungos
As formulações e aplicações de fungos entomopatogênicos visam aumentar a
eficiência de linhagens virulentas, adaptadas ao comportamento do hospedeiro-alvo.
Para isso, propágulos fúngicos como conídios, são misturados a veículos que podem ser
líquidos, semi-sólidos ou sólidos. A adição de óleo auxilia na proteção dos conídios a
condições adversas do meio ambiente, como baixa umidade e alta temperatura, além de
proporcionar o aumento da adesão de conídios à cutícula do hospedeiro, quando
comparados a conídios formulados em água (Luz & Batagin 2005).
Formulações à base de óleo-água de conídios de M. anisopliae ou B. bassiana
foram testadas em laboratório em ninfas de A. cajennense, resultando em maior
letalidade quando comparado com formulado aquoso (Lopes et al. 2007).
Emulsificantes também podem ser adicionados em formulados para diminuir a
hidrofobicidade da cutícula (Boucias et al. 1988) e assim aumentar o espalhamento do
formulado sobre a cutícula do hospedeiro (Alves 1998).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 15
1.6.3- Segurança de fungos
A maioria dos fungos entomopatogênicos isolados de artrópodes é considerada
tanto segura para o homem como para o meio ambiente. Relatos de pessoas que
adoeceram ou morreram por infecção de fungos entomopatogênicos ainda são
desconhecidos (Zimmermann 2007a, b). A temperatura elevada é uma das principais
barreiras que impede o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos em mamíferos.
Os carrapatos são invertebrados ectotérmicos e sua temperatura é, em geral,
consideravelmente inferior à temperatura do corpo humano, este fator favorece o
desenvolvimento do fungo no carrapato. Os fungos entomopatogênicos em geral têm
seu crecimento beneficiado abaixo de 30ºC e crescimento reduzido em temperaturas
superiores a 35ºC, sendo uns dos fatores que asseguram que fungos entomopatogênicos,
a princípio, não causariam infecção em humanos (Alves 1998).
2-JUSTIFICATIVA
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 17
2- JUSTIFICATIVA
Altos gastos com acaricidas químicos sintéticos, os quais constituem a
principal forma de combate de A. cajennense e R. sanguineus, somados ao crescente
número de relatos de resistência, suscitam esforços para o desenvolvimento de
estratégias alternativas de controle, mais eficientes, mais econômicas, menos tóxicas ao
homem e aos animais vertebrados e de menor impacto ambiental.
Resultados promissores obtidos com fungos patogênicos, em nível
experimental no controle de A. cajennense e R. sanguineus, colocam-se como uma
alternativa promissora para controle de carrapatos.
Pesquisas com A. cajennense, R. sanguineus e fungos realizadas nos últimos
anos focalizaram, na grande maioria, sobre atividade carrapaticida em ovos, larvas,
ninfas e adultos em condições de laboratório. Porém, conhecimento sobre formulação e
aplicação de fungos adaptadas a carrapatos ainda é escasso. Conhecer melhor as
interações entre fungos e carrapatos reforça a necessidade de mais estudos sobre a
aplicabilidade e formulações de fungos para o combate de carrapatos.
3-OBJETIVOS
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 19
3- OBJETIVOS
3.1- Objetivo Geral
Contribuir para o controle integrado de carrapatos com fungos patogênicos.
3.2- Objetivos Específicos
-Estudar a ocorrência natural de fungos patogênicos em A. cajennense no Centro-
Oeste do Brasil;
-Examinar o crescimento de M. anisopliae sobre ovos de R. sanguineus colocados
em solo, em condições de laboratório;
-Avaliar em condições de laboratório, formulações oleosas e aquosas de
M. anisopliae, em ovos de R. sanguineus.
-Estudar em condições de semi-campo a atividade e persistência de uma
formulação oleosa de M. anisopliae em A. cajennense.
4-RESULTADOS
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 21
4.1- Manuscrito 1- Ocorrência de fungos patogênicos em Amblyomma
cajennense em uma área rural do Centro-Oeste do Brasil e sua
atividade contra vetores da Febre Maculosa
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 22
Resumo: Dois isolados de Beauveria bassiana e um de Purpureocillium lilacinum
foram encontrados infectando fêmeas ingurgitadas de Amblyomma cajennense coletadas
de cavalos (0,15% de 1982 espécimes) e outros dois P. lilacinum e um M. anisopliae
foram isolados de solo, onde havia a presença deste carrapato. As coletas foram
realizadas em uma região do Centro do Brasil, entre outubro de 2009 a março de 2011.
Para isolamento de fungos a partir de amostras de solo foram utilizadas fêmeas
ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus. Não foram encontrados fungos em carrapato
ou em solo em meses secos (Maio a Agosto). Em testes de patogenicidade com R.
sanguineus e A. cajennense, os fungos isolados mataram fêmeas ingurgitadas das duas
espécies. Fêmeas de A. cajennense foram menos suceptíveis à infecção por P. lilacinum.
Em 20 dias de exposição os fungos foram observados esporulando sobre os indivíduos
mortos. Todas as três espécies de fungos provavelmente atuam naturalmente como
antagonistas de A. cajennense particulamente em estações chuvosas e têm interesse para
o controle de vetores da febre maculosa.
Palavras chave: carrapato, Rickettsia, Metarhizium, Beauveria, Paecilomyces.
1. Introdução
Amblyomma cajennense é um ectoparasito heteroxeno que é especialmente
comum em cavalos, embora esta espécie também infesta outros animais domésticos e
selvagens além de causar incômodos em humanos. Na América Latina A. cajennense é
um dos principais vetores de Rickettsia rickettsii, o agente causal da febre maculosa
(Parola et al. 2005). Este carrapato completa somente uma geração por ano e tem uma
sazonalidade distinta. No Centro do Brasil os adultos predominam na estação quente e
chuvosa no período de novembro a março; larvas eclodem na estação mais seca (abril a
julho) e mais fria seguidas pelas ninfas. Frequentemente podem ser achadas ambas as
fases imaturas em pastos, onde elas atacam os hospedeiros que andam na vegetação.
Carrapatos livres, distribuídos em grandes áreas, são difíceis de controlar com
acaricidas químicos sintéticos, mas micro-organismos patogênicos, especialmente
fungos, atuam como antagonistas naturais de muitos artrópodes e podem ser
particularmente importante no controle integrado de carrapatos (Samish et al. 2004,
Fernandes & Bittencourt 2008, Tuininga et al. 2009).
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae infectam ovos, larvas, ninfas e
adultos em condições de laboratório (Lopes et al. 2007, Fernandes & Bittencourt 2008)
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 23
porém, não há registro na literatura de ocorrência natural de fungo patogênico em A.
cajennense. Rhipicephalus sanguineus é outro ixodídeo importante e, vetor em
potencial, de R. rickettsii no Neotrópico, atacando principalmente cachorros e
secundariamente o homem (Parola et al. 2005).
A seleção de fungos altamente virulentos adaptados a espécies de carrapatos e
condições climáticas regionais torna-se ponto de partida importante para o
desenvolvimento de micoacaricidas efetivos.
O presente estudo informa os primeiros isolamentos de fungos patogênicos a
A. cajennense e demonstra a patogenicidade deles a fêmeas de A. cajennense e
R. sanguineus.
2. Material e Métodos
As coletas de A. cajennense e solos foram feitas mensalmente entre outubro de
2009 e março de 2011 na Fazenda Santa Branca, localizada a 40 km de Goiânia (latitude
16º 23’ 41” e longitude 49º 04’ 47’’, WGS 84) (Figura 1 A). A. cajennense é frequente
nesta área e pode ser encontrado em vários hospedeiros, mas predomina em cavalos e
capivaras (Figura 1 B, C, D, E, G). Humanos também são atacados por este carrapato,
mas a febre maculosa nunca foi relatada na área estudada.
Os locais de coleta de solo foram escolhidos de forma aleatória onde havia
pasto (Brachiaria decumbens, Poaceae). Estes locais eram parcialmente sombreados e
serviam de descanso para cavalos, gado e capivaras. De cada um dos oito locais
selecionados (separados entre si por pelo menos 100 m), foram retirados 25 g de solo a
uma profundidade de 2-3 cm, depois de remover folhas ou outra matéria orgânica. A
amostra foi transferida para uma sacola plástica de poliestireno e armazenada em um
caixa térmica a 20⁰C até o processamento em laboratório. Cada mês pelo menos 100
indivíduos de A. cajennense, ninfas e adultos, foram coletados em cavalos livres da
aplicação de acaricidas e armazenados individualmente em tubos de plástico estéreis
(2 ml). Foram monitoradas temperatura ambiente e umidade relativa no início (9:00 da
manhã) de cada coleta ao longo do estudo com termohigrômetro (91 Comercial Química
Americana Ltda, Paulínia, São Paulo, Brasil).
No laboratório a superfície dos carrapatos foi limpa, girando individualmente
cada carrapato durante 10 segundos em 3 ml de água estéril. Os carrapatos foram secos
em papel filtro e colocados dentro de placas de Petri com papel filtro estéril (55 x 10
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 24
mm) e mantidos a 25 ± 1°C em umidade relativa (UR) > 98%. A mortalidade foi
monitorada diariamente durante 20 dias. Carrapatos mortos tiveram sua superfície
esterilizada primeiramente com etanol 93%, hipoclorito de sódio 2,5% durante 3
minutos e por fim lavados três vezes em água estéril. Os carrapatos foram transferidos
para placa de Petri com papel filtro e incubados a >98% UR e 25 ± 1°C durante 15 dias.
O desenvolvimento de fungos em indivíduos mortos foi avaliado diariamente. Fungos
crescidos em carrapatos mortos foram transferidos diretamente sobre meio BDA (Batata
Dextrose Ágar) com clorafenicol (0,5 g/L) (Stevens 1981).
Para isolamento de fungos patogênicos em amostras de solo, fêmeas adultas de
R. sanguineus foram coletadas de cães naturalmente infestados e utilizadas vivas como
“isca”. A escolha desta espécie foi devida as fêmeas adultas estarem disponíveis ao
longo do ano em quantidades suficientes para desenvolvimento dos testes. Três fêmeas
ingurgitadas foram limpas e colocadas em placas de Petri (90 x 20 mm) em contato com
3 g de cada amostra de solo incubadas a >98% UR e 25±1°C durante 20 dias
(Figura 2 A, B). Fungos crescidos em carrapatos mortos foram transferidos diretamente
sobre meio BDA com clorafenicol (Stevens 1981) (Figura 2 C).
Para avaliação da patogenicidade dos fungos isolados, três fêmeas ingurgitadas
de R. sanguineus e A. cajennense foram giradas com auxílio de uma pinça estéril sobre
a cultura esporulada por 10 segundos (Figura 2 D). Posteriomente, os carrapatos com o
inóculo e outros sem tramento foram colocados em placas de Petri (55 x 10 mm),
incubados a 25 ± 1°C e >98% UR. A mortalidade dos carrapatos foi monitorada durante
20 dias. Foram feitas quatro repetições independentes. Indivíduos mortos foram
processados como mencionado acima e os fungos foram reisolados de cadáveres e
comparados com os fungos previamente inoculados (Figura 2 E).
Foram identificados morfologicamente (Humber 1997) todos os fungos que
emergiram de carrapatos mortos e estes se encontram armazenados na Coleção de
Fungos Entomopatogênicos no IPTSP/UFG (Instituto de Patologia Tropical e Saúde
Pública/Universidade Federal de Goiás) em Goiânia, Brasil.
3. Resultados
Um total de 1982 indivíduos de A. cajennense e 144 amostras de solo foi
coletado entre outubro de 2009 e março 2011. Carrapatos adultos prevaleceram de
outubro a maio em ambos os anos testados, com totais de 1041 fêmeas e 630 machos
durante estes períodos, enquanto as ninfas (total de 311) predominaram de junho a
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 25
agosto em 2010 (Figura 3). As temperaturas e umidades relativas medidas no começo
de cada coleta são apresentadas na Figura 4. Fungos patogênicos foram isolados em
A. cajennense e em solo durante os meses chuvosos (Tabela 1). Dos seis fungos
isolados de carrapatos, três (2,1%) foram encontrados em solos (M. anisopliae IP 363 e
Purpureocillium lilacinum [anteriormente chamado de Paecilomyces lilacinus;
Luangsa-ard et al. 2011] IP 359 e IP 360) e outros três (0,15%) de A. cajennense
coletados vivos, em cavalos (B. bassiana IP 361, B. bassiana IP 364 e P. lilacinum IP
362) (Tabela 1).
O teste de patogenicidade para cada isolado de fungo, resultou em 100% de
mortalidade de R. sanguineus em 20 dias de incubação. A mortalidade em A. cajennense
variou de 66,6% (IP 359, IP 360, IP 362) até 100% (IP 361, IP 363, IP 364) no mesmo
período. Não houve morte de carrapatos no grupo controle. Fungos esporularam em
cadáveres em 15 dias de incubação após exposição em câmara úmida (Tabela 1).
4. Discussão
O presente estudo informa a primeira ocorrência natural de B. bassiana e P.
lilacinum em A. cajennense. Ambos P. lilacinum e M. anisopliae ocorreram em solos no
mesmo habitat onde pode ser achado A. cajennense. Nos testes de patogenicidade foi
confirmado que os fungos isolados podem infectar e matar A. cajennense e
R. sanguineus. Todos os fungos isolados foram fungos típicos de solo e B. bassiana e
M. anisopliae são as espécies mais comuns descritas infectando outros carrapatos em
campo em estudos prévios (Chandler et al. 2000, Samish et al. 2004). Este é o primeiro
relato de ocorrência natural deste Purpureocillium em ixodídeos. Outra espécie, como
Isaria fumosorosea (Paecilomyces fumosoroseus) foi anteriomente isolada de Ixodes
ricinus (Hartelt et al. 2007).
A proporção de carrapatos com infecção fúngica (0,15%) e de amostras de
solos com fungos patogênicos (2,1%) no estudo presente foi notavelmente abaixo que
valores achados em outros estudos onde até 25% de Rhipicephalus spp. ou Ixodes
scapularis foram encontrados infectados por B. bassiana ou M. anisopliae (Samish et
al. 2004, Benoit et al. 2005).
Os fungos patogênicos foram isolados de solo ou carrapatos durante o período
chuvoso, mas nunca entre os meses de maio e agosto. Além disso, nunca foram
descobertos fungos em ninfas, só em fêmeas adultas ingurgitadas que parecem ser mais
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 26
suscetíveis à infecção fúngica do que os machos ou fases imaturas, como também
achadas para Ixodes spp. (Samish et al. 2004). Fêmeas ingurgitadas são alvos
fundamentais, pois a morte dessas fêmeas resulta na eliminação de grande número de
ovos.
A esporulação de conídios em indivíduos mortos, provavelmente declinou
durante as épocas de seca (quando o fungo esporula externamente, alguns carrapatos
podem não se infectar, pois ocorre uma diminuição de água no ambiente) e menos
carrapatos podem se infectar devido à quantidade reduzida do inóculo infeccioso e
umidades relativas baixas.
A redução qualitativa e quantitativa de fungos patogênicos em solos coletados
em pastos parece estar relacionada à vegetação e a fatores abióticos (especialmente luz
solar e umidade). Rocha et al. (2009) isolaram M. anisopliae, P. lilacinum, Fusarium sp
e Pochonia chlamydosporia de solo e “lama” colecionados em uma floresta de galeria
tropical na vizinhança da área investigada, utilizando R. microplus como “isca” e
seguindo metodologia similar a do presente estudo.
A efetividade de M. anisopliae e B. bassiana em condições de laboratório é
bem estabelecida para R. sanguineus, mas poucos estudos demonstraram atividades
deles em A. cajennense (Reis et al. 2004, Samish et al. 2004, Lopes et al. 2007,
Fernandes & Bittencourt 2008). R. sanguineus pareceu ser mais suscetível à infecção
por P. lilacinum que A. cajennense. Os fungos isolados tiveram a capacidade de reciclar
através dos carrapatos mortos e assim podem infectar novos indivíduos.
Todas as três espécies de fungos estudadas aqui provavelmente atuam como
antagonistas naturais de populações de A. cajennense na área estudada, particularmente
durante a estação chuvosa. Mais adiante investigações explorarão o potencial destes
fungos para desenvolvimento de micoacaricidas no controle dos vetores da febre
maculosa.
Agradecimentos
Os autores agradecem o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq, Brasil) pelo apoio financeiro, ao Jeremias Lunardelli por permitir a
coleta de fungos na Fazenda Santa Branca, e ao Durval R. Ferreira pela ajuda técnica.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 27
5. Referências
Benoit JB, Yoder JA, Ark JT, Reilingen EJ 2005. Fungal fauna of Ixodes scapularis Say
and Rhicephalus sanguineus (Latreille) (Acari: Ixodida) with special references to
species-associated internal mycoflora. Int J Acarol 31: 417-422.
Chandler D, Davidson G, Pell JK, Ball BV, Shaw K, Sunderland KD 2000. Fungal
biocontrol of Acari. Biocontrol Sci Technol 10: 357-384.
Fernandes ÉKK, Bittencourt VREP, 2008. Entomopathogenic fungi against South
American tick species. Exp Appl Acarol. 46: 71-93.
Hartelt K, Wurst E, Collatz J, Zimmermann G, Kleespies RG, Oehme RM, Kimmig P,
Steidle JLM, Mackenstedt U 2007. Biological control of the tick Ixodes ricinus with
entomopathogenic fungi and nematodes: Preliminary results from laboratory
experiments. Int J Med Microbiol 298: 314-320.
Humber R.A 1997. Fungi: Identification. In: Lacey, L.A. (Ed.), Manual of Techniques
in Insect Pathology. Academic Press, San Diego, p. 153-185.
Lopes R, Alves SB, Padulla LFL, Pérez CA, 2007. Efficiência de formulações de
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae para o controle de ninfas de Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787). Rev Bras Parasitol Vet 16: 27-31.
Luangsa-ard JJ, Houbraken J, van Doorn T, Hong SB, Borman A M, Hywel-Jones, NL.,
Samson, RA, 2011. Purpureocillium, a new genus for the medically important
Paecilomyces lilacinus. FEMS Microbiol Lett 321: 141-149.
Parola P, Paddock CD, Raoult D, 2005. Tick-borne rickettsioses around the world:
emerging diseases challenging old concepts. Clin Microbiol Rev 18: 719-756.
Reis RCS, Melo DR, Bittencourt VREP, 2004. Efeitos de Beauveria bassiana (Bals)
Vuill e Metarhizium anisopliae (Metsch) Sorok sobre fêmeas ingurgitadas de
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 28
Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) em condições de laboratório. Arq Bras Med
Vet Zootec 56: 788-791.
Rocha, LFN, Tai MHH, Santos AH, Albernaz DAS, Humber R.A, Luz C 2009.
Occurrence of invertebrate-pathogenic fungi in a Cerrado ecosystem in Central Brazil.
Biocontrol Sci Technol 19: 547-553.
Samish M, Ginsberg H, Glazer I, 2004. Biological control of ticks. Parasitol 129: 389-
403.
Stevens RB 1981. Mycology Guidebook University of Washington Press, Seattle,
Washington, p. 703.
Tuininga AR, Miller JL, Morath SU, Daniels TJ, Falco R.C, Marchese M, Sahabi S,
Rosa D, Stafford KC 2009. Isolation of entomopathogenic fungi from soils and Ixodes
scapularis (Acari: Ixodidae) ticks: prevalence and methods. J Med Entomol 46: 557-
565.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 29
Figura 1. Área de coleta de solos e carrapatos na Fazenda Santa Branca, Terezópolis –
Goiás. Locais de coleta de solo (círculo vermelho) onde havia circulações de cavalos e
local de coleta de Amblyomma cajennense em cavalos (círculo azul), entre outubro de
2009 e março de 2011 (A). Hospedeiros de Amblyomma cajennense na Fazenda Santa
Branca, onde foram avistados cavalos (B) capivaras (C), animal parasitado (D) e
carrapatos em fase de vida livre (E, F, G).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 30
Figura 2. Amostras de solo com Rhipicephalus sanguineus (A e B -“seta”) e
crescimento de fungo sobre fêmeas de R. sanguineus (C-“seta”). Exposição de fêmeas
em cultura de Purpureocillium lilacinum (D) e reisolamento do fungo a partir de
indivíduos mortos (E).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 31
Figura 3- Ocorrência relativa sazonal de adultos e ninfas de Amblyomma cajennense
sobre cavalos em uma área rural central do Brasil entre outubro de 2009 a março de
2011.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 32
Figura 4- Temperatura (ºC) e umidade relativa matinal (9 h) monitorada entre outubro
de 2009 e março de 2011 na área do experimento.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 33
Tabela 1- Fungos isolados de adultos de Amblyomma cajennense ou solos entre outubro de 2009 a março de
2011 em uma área rural no Central do Brasil e sua atividade patogênica sobre fêmeas adultas de A. cajennense
e Rhipicephalus sanguineus.
Fungos Isolados Origem Mês/ano Mortalidade Acumulada (%) 1,2
A. cajennense R. sanguineus
Beauveria bassiana IP 361 carrapato 01/10 3 100 100
IP 364 carrapato 09/10 4 100 100
Metarhizium anisopliae IP 363 solo 09/10 4 100 100
Purpureocillium lilacinum IP 362 carrapato 04/10 5 66,6 ± 11,6 100
IP 359 solo 10/09 4 66,6 ± 9,1 100
IP 360 solo 01/10 3 66,6 ± 11,6 100 1 20 dias pos-inoculação 2 Todos os indivíduos mortos apresentaram esporulação externa após 15 dias em câmara úmida 3 Época de chuva 4 Início da época de chuva 5 Fim da época de chuva
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 34
4.2-Manuscrito 2- Susceptibilidade de ovos e larvas de
Rhipicephalus sanguineus a Metarhizium anisopliae aplicado em solo
sob condições de laboratório
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 35
Resumo: Metarhizium anisopliae infecta ovos e larvas de Rhipicephalus sanguineus em
condições de laboratório. Estudar o efeito deste fungo em ovos irá esclarecer melhor o
potencial desse fungo para um combate integrado. O objetivo desse trabalho foi avaliar
o efeito de conídios de M. anisopliae aplicados ao solo sobre ovos e larvas eclodidas de
R. sanguineus. Solos esterilizados, hidratados a 25% do peso seco, foram tratados com
conídios de M. anisopliae IP 46 suspensos na concentração final de 3,3x103; 104;
3,3x104; 105; ou 3,3x105 conídios/g de solo ou não solo tratado para o controle. Quatro
conjuntos circulares de 25 ovos de R. sanguineus foram colocados sobre cada amostra
de solo e incubados em câmara úmida (<98%) a 25°C, durante 30 dias. O
desenvolvimento de micélio e conídios na superfície dos ovos, a eclosão e a
sobrevivência de larvas foram avaliados diariamente. Micélio e conídios foram
encontrados na base dos conjuntos de ovos com 5 e 10 dias de incubação,
respectivamente em concentrações superiores a 104 conídios/g. A eclosão de larvas foi
nula ou mínima (<7%) para os ovos expostos a solos tratados para todas as
concentrações testadas. No controle a eclosão das larvos foi >90%. Os ovos de R.
sanguineus foram altamente susceptíveis à infecção com M. anisopliae em solo tratado
com conídios, mesmo em concentrações baixas e quando expostas a umidade alta.
Palavras chave: carrapato, fungos, entomopatogênicos, ovos.
1. Introdução
Rhipicephalus sanguineus é um carrapato que ataca cães e eventualmente o
homem (Felz et al. 1996, Dantas-Torres et al. 2006 ). Em alguns países da América
Latina, em especial no México é considerado o principal vetor da febre maculosa (FM)
(Parola et al. 2005).
Carrapaticidas químicos são, ainda, os produtos mais utilizados para o combate
desse carrapato, mas o surgimento de espécies multirresistentes e problemas que esses
produtos causam ao meio ambiente têm levado à busca de métodos eficientes e
sustentáveis para o controle de R. sanguineus (Miller et al. 2001, Samish et al. 2004).
Aplicações mais específicas e efetivas poderiam ajudar no desenvolvimento de
micoacaricidas e no controle dos vetores da FM.
Metarhizium anisopliae é um fungo patogênico frequentemente isolado de solos
(Samish et al. 2004, Fernandes et al. 2004, Rocha et al. 2009, 2012). Em condições de
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 36
laboratório tem atividade em ovos, larvas, ninfas e adultos de R. sanguineus (Garcia et
al. 2005, Fernandes & Bittencourt 2008). Os ovos deste vetor são colocados em lugares
com alta umidade e protegidos contra raios solares e predadores. Estes microhabitats
favorecem a atividade de fungos patogênicos em ovos e em outras fases de
desenvolvimento (Polar et al. 2005).
Em testes de laboratório são utilizados papéis filtro impregnados com suspensão
de conídios, no entanto, o decréscimo da viabilidade de conídios impossibilita avaliar
efetivamente a ação de fungos (Ment et al. 2010, Hedimbi et al. 2011). Os testes de
aplicação tópica não representam o que ocorre a campo em uma eventual aplicação do
fungo. Por isso, estudos em solo refletem o real potencial, sendo assim, o solo parece
ser um substrato mais natural para a utilização de conídios de fungos patogênicos no
controle de carrapatos (Garrido-Jurado et al. 2011).
O objetivo deste estudo foi avaliar a susceptibilidade de ovos de R. sanguineus a
conídios de M. anisopliae misturados em solo em condições de laboratório.
2. Material e Métodos
M. anisopliae s.l. IP 46 foi isolado de uma amostra de solo no Centro-Oeste do
Brasil em 2001 (Rocha et al. 2012). O fungo foi revigorado infectando fêmeas adultas
de R. sanguineus uma vez antes dos testes e então cultivado em meio BDA (Batata-
Dextrose-Ágar) a 25±1ºC, 75 ± 10% umidade relativa (UR) e fotofase de 12 h durante
15 dias. Foram coletados conídios com uma espátula raspando a superfície de cultura.
Logo após, foram suspensos em 0,1% Tween 80® e a suspensão agitada com vórtex por
um minuto. O número de conídios foi quantificado com câmara de Neubauer. No
começo de cada repetição, a viabilidade dos conídios (>95%) foi confirmada inoculando
100 µl de suspensão conidial em meio SDAL (Sabouraud-Dextrose-Ágar-Levedura) em
uma placa de Petri. Em seguida, a placa de Petri foi incubada a 25±1°C e avaliada a
germinação de conídios em até 24 h.
Cerca de 1 kg de latossolo vermelho sem matéria orgânica macroscopicamente
visível foi coletado no cerrado, na proximidade de Goiânia, Brasil. O solo foi seco por
48 h a 37ºC, peneirado com malha de diâmetro de 0,59 mm e esterelizado. Quatro
gramas de solo foram separados. Os conídios suspensos em água (concentrações finais
de 3,3x103; 104; 3,3x104; 105; 3,3x105 conídios/g de solo) foram aplicados diretamente
no solo, resultando em 25% de hidratação para cada amostra de solo. O tratamento
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 37
controle recebeu apenas água. O solo foi misturado e separadas em alíquotas de 2 g, que
foram transferidas para um tubo (TPP®, Suíça). O solo dentro do tubo foi compactado
mecanicamente com uma pequena espátula, para prover uma superfície consistente.
Fêmeas ingurgitadas coletadas em cães naturalmente infestados foram lavadas
e incubadas para oviposição. Após, quatro aglomerados de 25 ovos de R. sanguineus
com idade de 1 a 3 dias de oviposição foram preparados e colocados sobre a superficie
de cada amostra de solo (Figura 1 A). Posteriormente, as amostras foram incubadas
durante 45 dias a 25 ± 1°C e >98% UR. O desenvolvimento de micélio e conídios nos
ovos e a eclosão e sobrevivência de larvas no solo foram avaliados diariamente. Foram
realizadas quatro repetições independentes.
3. Resultados
Foi observado o aparecimento de micélio e conídios nos aglomerados de ovos
de R. sanguineus em 5 e 10 dias de incubação (3,3x104; 105 e 3,3x105 conídios/cm2)
respectivamente (Figura 1 B, C). A eclosão de larvas no controle foi mais alta (>90%)
quando comparada com a eclosão de larvas na menor concentração (3,3x103 conídios/g)
(Tabela 1). No controle as larvas eclodidas permaneceram vivas (93%), porém, no
grupo tratado a eclosão de larvas foi nula ou reduzida (<7%). Não houve nenhum
sobrevivente nas concentrações de 104; 3,3x104; 105 e 3,3x105 conídios/cm2 45 dias de
observação (Tabela 1). Não foram observados micélio ou conídios sobre os ovos do
controle. As larvas do controle foram as primeiras a eclodir, iniciando em 24 dias e
chegando a 93% em 35 dias de incubação. Para o grupo controle não houve mortalidade
até 45 dias de incubação (Figura 2).
4. Discussão
Os ovos de R. sanguineus expostos ao solo com 25% de hidratação favoreceu a
embriogênese e foram altamente suscetíveis à infecção por M. anisopliae mesmo em
concentrações reduzidas de conídios no solo. A hidaratação do solo e apenas alguns dos
fatores que podemos inferir para uma melhor permanêcia do fungo no solo (Lopes et al.
2013).
A compactação mecânica do solo e colocação de ovos na superfície lisa
provavelmente impediu o desenvolvimento do fungo no solo subjacente devido o
arejamento reduzido, o que pode, por sua vez, resultar em menores exposições efetiva
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 38
dos ovos ao fungo. Esta mesma constatação relatada foi observada em outro estudo
(Leles et al. 2012).
Os efeitos ovicida e larvicida de M. anisopliae dependeram do tempo de
exposição dos ovos sobre o solo tratado. O crescimento de micélio e conídios sobre os
ovos concorreu com a embriogênese, impedindo a eclosão de larvas em concentrações
superiores a 3,3x103 conídios/g. Os ovos foram eliminados em poucos dias e as poucas
larvas que eclodiram na mais baixa concentração (3,3x103 conídios/g) provavelmente já
estavam infectadas antes da eclosão e morreram nos dias seguintes.
Ficou claro que M. anisopliae reciclou sobre os ovos o que leva a um aumento
quantitativo do inóculo e maior probabilidade de infectar fêmeas ovipondo no mesmo
local ou novos ovos ou larvas eclodindo.
M. anisopliae atuou contra R. sanguineus em condições de laboratório,
sobretudo em ovos ou larvas andando no solo e mostrou seu potencial para controle
dessa espécie.
5. Referências
Dantas-Torres F, Figueredo LA, Brandão-Filho SP 2006. Rhipicephalus sanguineus
(Acari: Ixodidae), the brown dog tick, parasitizing humans in Brazil. Rev Soc Bras Med
Trop 39: 64-67.
Felz MW, Durden LA, Oliver Jr JH 1996. Ticks parasitizing humans in Georgia and
South Carolina. J Parasitol 82: 505-508.
Fernandes ÉKK, Costa GL, Moraes AML, Bittencourt VREP 2004. Entomopathogenic
potential of Metarhizium anisopliae isolated from engorged females and tested in eggs
and larvae of Boophilus microplus (Acari: Ixodidae). J Basic Microbiol 44: 270–274
Fernandes ÉKK, Bittencourt VREP 2008. Entomopathogenic fungi against South
American tick species. Exp App Acarol 46:71-93.
Garcia MV, Monteiro AC, Szabo MPJ, Prette N, Bechara GH 2005. Mechanism of
infection and colonization of Rhipicephalus sanguineus eggs by Metarhizium anisopliae
as revealed by scanning electron microscopy and histopathology. Braz J Microbiol 36:
368-372.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 39
Garrido-Jurado I, Torrent J, Barrón V, Corpas A, Quesada-Moraga E 2011. Soil
properties affect the availability, movement, and virulence of entomopathogenic fungi
conidia against puparia of Ceratitis capitata (Diptera: Tephritidae). Biol Control 58:
277-285.
Hedimbi M, Godwin P, Kaaya, G.P, Samish M, Gindin G, Glazer 2011. Pathogenicity
of the entomopathogenic fungus Metarhizium anisopliae to the red-legged tick,
Rhipicephalus evertsi evertsi. J Entomol Nematol 3: 68-7.
Leles RN, D’Alessandro WB, Luz C 2012. Effects of Metarhizium anisopliae conidia
mixed with soil against the eggs of Aedes aegypti. Parasitol Res 110:1579-1582.
Lopes RB, Martins I, Souza DA, Faria M 2013. Influence of some parameters on the
germination assessment of mycopesticides. J Invert Pathol 112: 236-242.
Ment D, Gindin G, Glazer I, Perl S, Elad D, Samish D 2010.The effect of temperature
and relative humidity on the formation of Metarhizium anisopliae chlamydospores in
tick eggs. Fungal Biol 114: 49-56.
Miller RJ, George JE, Guerrero F, Carpenter L, Welch JB 2001. Characterization of
acaricide resistance in Rhipicephalus sanguineus (Latreille) (Acari: Ixodidae) collected
from the Corozal Army Veterinary Quarantine Center, Panama. J Med Entomol 38: 298-
302.
Parola P, Paddock, CD, Raoult D, 2005. Tick-borne rickettsioses around the world:
emerging diseases challenging old concepts. Clin Microbiol Rev 18:719-756.
Polar P, Muro MA, Kairo MTK 2005. Thermal characteristics of Metarhizium
anisopliae isolates important for the development of biological pesticides for the control
of cattle ticks. Vet Parasitol 134:159-167.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 40
Rocha, LFN, Tai MHH, Santos AH, Albernaz DAS, Humber R.A, Luz C 2009.
Occurrence of invertebrate-pathogenic fungi in a Cerrado ecosystem in Central Brazil.
Biocontrol Sci Technol 19: 547-553.
Rocha LFN, Inglis PW, Humber RA, Kipnis A, Luz C 2012. Occurrence of
Metarhizium spp. in Central Brazilian soils. J Basic Microbiol 52: 1-10.
Samish M, Ginsberg H, Glazer I 2004. Biological control of ticks. Parasitol 129: 389-
403.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 41
Figura 1. Conjunto de 25 ovos de Rhipicephalus sanguineus dispostos na superfície de 6
g de latossolo vermelho em tubo (TPP®) (A). Conjunto de 25 ovos de Rhipicephalus
sanguineus com presença de micélio (B) e conídios (C) de Metarhizium anisopliae.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 42
Tabela 1- Média e erro padrão da média ( ±EPM) do aparecimento de micélio e conídios de Metarhizium anisopliae IP 46 sobre
aglomerados de 25 ovos de R. sanguineus, seguido da eclosão e sobreviência de larvas de R. sanguineus a 250C >98% UR.
Concentração
(Conídios/cm2)
Micélio
( ±EPM)
Conídios
( ±EPM)
Eclosão (%)
( ±EPM)
Sobreviventes (%)
( ±EPM)
0 * * 93±2,4a 93±2,4a
3,3x103 7±0,9a 14±1,3a 6,3±1,6b 3,8±0,9b
104 6,5±0,8a 11,5±0,3b 3,2±1,4b 0c
3,3x104 5,2±0,2b 10,7±0,5b 2,5±0,1c 0c
105 5,2±0,4b 10,5±0,3b 2,3±0,1c 0c
3,3x105 5±0,4b 10,5±0,5b 1±0,7c 0c
*Não houve crescimento de micélio e conídios;
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 43
0
20
40
60
80
100
25
30
35
40
45
1e+4
1e+5
Ecl
osão
(%
)
Dias d
e inc
ubaç
ão
Conídios/g(log)
3,3 x 103104
3,3 x 104105
3,3 x 105
Figura 2- Eclosão (%) acumulada de larvas de R. sanguineus depois de
aplicar indiretamente conídios de Metharizium anisopliae em solo. Os
algomerados de ovos e larvas eclodidas permaneceram incubados em 45
dias a UR > 98% em 25°C.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 44
4.3- Manuscrito 3- Formulados aquoso e oleoso de Metarhizium
anisopliae e sua aplicação em ovos de Rhipicephalus sanguineus
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 45
Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar formulações oleosa e aquosa de M.
anisopliae IP 46 em ovos de Rhipicephalus sanguineus. Conjuntos circulares de 25 ovos
de R. sanguineus, foram colocados sobre papel filtro de 1 cm². Formulados de IP 46
aquoso ou oleoso (10% de óleo vegetal) foram aplicados com pipeta semi-automática de
forma direta sobre os ovos ou indireta colocando os ovos sobre papel filtro previamente
tratado, nas concentrações de 3,3x103; 104; 3,3x104; 105 e 3,3x105 conídios/cm2.
Os ovos foram incubados em tubos e o desenvolvimento de micélio, conídios na
superfície dos ovos, eclosão e sobrevivência de larvas foram avaliados diariamente por
até 40 dias. Não houve eclosão de larvas quando as formulações foram aplicadas
diretamente e foi observado que os conjuntos de ovos foram cobertos por micélio e
conídios antes que ocorresse a eclosão de larvas. O aparecimento de micélio e conídios
sobre os ovos ocorreu em média de 4 e 8 dias, respectivamente, quando utilizada a
formulação oleosa. O formulado de IP 46 à base de óleo teve a maior atividade em ovos
de R. sanguineus e tem interesse para combate desse carrapato.
Palavras chave: carrapato, controle biológico, fungo, ovos, Rhipicephalus sanguineus.
1. Introdução
Rhipicephalus sanguineus é um carrapato cosmopolita trioxênico, que parasita
principalmente cães, e ocasionalmente ataca humanos (Dantas-Torres et al. 2006). Esta
espécie transmite vários patógenos importantes para seus hospedeiros, como Rickettsia
rickettsii (Parola et al. 2005). R. sanguineus é controlado principalmente com acaricidas
sintéticos. O uso excessivo desses produtos causa sérios problemas como poluição do
meio ambiente e seleção de populações de carrapatos resistentes (Miller et al. 2001,
Borges et. 2007, Morgan et al. 2009).
A necessidade de controle alternativo de R. sanguineus estimulou o interesse
em produtos à base de fungos que atacam este no meio ambiente ou em seus
hospedeiros (Faria & Wraight 2007). Resultados confirmaram o potencial de fungos
para um controle integrado de carrapatos (Samish & Rehacek 1999, Chandler et al.
2000, Samish et al. 2004, Fernandes & Bittencourt 2008). No entanto, o conhecimento
sobre a eficácia de fungos contra R. sanguineus especialmente em ovos ainda é escasso,
e uma melhor compreensão da efetividade ovicida contribuirá decisivamente para o
desenvolvimento de formulações e aplicações com micoacaricidas voltadas para essa
espécie.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 46
Formulações oleosas visam apoiar o processo de adesão de conídios à cutícula
do carrapato e proteger o fungo contra condições desfavoráveis de temperatura, radiação
ultravioleta e baixa umidade, quando comparadas com formulação aquosa (Polar et al.
2005). Estudos comparativos entre formulado aquoso e oleoso, foram realizados em
ninfas de Amblyomma cajennense, resultando maior letalidade quando aplicado o
formulado oleoso (Lopes et al. 2007).
O objetivo deste estudo foi avaliar em laboratório o efeito de formulação
oleosa e aquosa de conídios de M. anisopliae e de formas de aplicações no colntrole de
R. sanguineus.
2. Material e Métodos
Origem, obtenção e preparação de ovos: Foram coletadas no Centro de
Zoonoses de Goiânia, Goiás, fêmeas ingurgitadas de R. sanguineus, presentes em cães
naturalmente infestados. No laboratório, as fêmeas foram lavadas com água estéril e
secas em papel. Depois foram acondicionadas em placas de Petri (100 x 15 mm) sobre
papel filtro e incubadas a 25±1ºC e umidade relativa (UR) de >98 % para oviposição
(Figura 1 A). Conjuntos de 25 ovos foram preparados com ajuda de uma lupa e pincel
desinfetado (D’alessandro & Luz dados não publicados) (Figura 1 B, C). Estes
aglomerados de 25 ovos foram divididos visualmente em três níveis (0,1 e 2): 0 (base),
1 (seção intermediária) e 2 (topo). Os testes foram iniciados com ovos de 1 a 3 dias de
idade.
Origem, cultivo e preparação de M. anisopliae: M. anisopliae sensu latu (s.l.)
IP 46 foi isolado em solo do cerrado brasileiro (Rocha et al. 2012) e está armazenado na
Coleção de Fungos Entomopatogênicos do IPTSP/UFG. Antes dos testes foi passado
em fêmeas de R. sanguineus, reisolado e cultivado em placa de Petri com meio de
cultura BDA (Batata, Dextrose, Ágar) durante 15 dias a 25ºC, UR 70 ± 10% e fotofase
de 12 h. Para preparação de conídios, estes foram raspados na superfície da cultura e
suspensos em água + Tween 80® (0,1%). A suspensão foi filtrada com algodão
hidrófilo, os conídios quantificados em câmara de Neubauer e as concentrações de
conídios ajustadas (3,3x103; 104; 3,3x104; 105 e 3,3x105 conídios/cm2) para os testes.
Preparação e aplicação do formulado aquoso e oleoso: 50 µL dos formulados
foram aplicados com auxílio de uma micropipeta semi-automática. Foram testados dois
tipos de aplicação: (1) aplicando diretamente o formulado sobre os ovos e (2) tratando
indiretamente papel filtro e expondo em seguida o conjunto de ovos sobre papel tratado
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 47
(Figura 1 D, E). No grupo controle foi utilizado água para o formulado aquoso e óleo -
água (10% Graxol®) para o formulado oleoso. Após o tratamento os papéis filtro com os
ovos foram transferidos, cuidadosamente, para tubos de cultura de células (TPP®,
Suíça), permeáveis para ar, com áreas totais de 63,6cm2 de superfície interna
(Figura 1 F, G). Os tubos foram incubados em umidade >98% a 25±10C, até 40 dias. O
desenvolvimento de micélio e conídios na superfície dos ovos, a eclosão e a
sobrevivência de larvas foram avaliados diariamente (Figura 1 H, I). Foram realizadas
quatro repetições independentes.
Análise de Dados: Dados da eclosão e sobrevivência de larvas foram
transformados em arcsin e submetido a análise de variância (ANOVA) seguida do teste
de comparação múltipla de médias Student-Newman-Keuls (SNK). As médias foram
consideradas estatisticamente diferentes entre si com P <0,05. As concentrações
inibitórias de eclosão para 50% e 90% (CIE50 e CIE90) e tempos letais 50% e 90%
(TL50= Tempo para matar 50% dos indivíduos e TL90 = Tempo para matar 90% dos
indivíduos) de larvas foram calculados pela análise de Probit para valores independentes
e dependentes, respectivamente (Throne et al. 1995).
3. Resultados
O desenvolvimento de IP 46 sobre os conjuntos de ovos, eclosão e sobrevivência
de larvas dependeram do formulado, da aplicação e da concentração de conídios
(Tabela 1). O aparecimento de conídios de IP 46 aplicados diretamente nos ovos de R.
sanguineus foi de 5 e 7 dias para os formulados oleoso e aquoso, respectivamente
(Tabela 1). O crescimento de conídios nos ovos quando aplicados indiretamente foi de
11 e 17 dias para os formulados oleoso e aquoso, respectivamente. Não houve eclosão
de larvas quando os formulados foram aplicados diretamente. Larvas eclodidas só foram
observadas em aplicações indiretas.
O percentual médio de eclosão e sobreviventes para os dois formulados
aplicados indiretamente foi significativamente inferior ao do grupo controle (F5,18 =7,4;
p < 0,001) (Figura 2). A eclosão de larvas foi maior em formulado aquoso quando
comparado com o formulado oleoso. Houve diferenças significativas entre as
concentrações para formulado aquoso (F5,18 = 2,9; p < 0,047) e oleoso (F5,18 = 6,7; p <
0,001). Larvas sobreviventes foram numericamente inferiores com o aumento da
concentração de conídios e o tempo de incubação. A redução de larvas foi maior com
formulado oleoso quando comparado com formulado aquoso (Figura 2).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 48
Os valores de concentração inibitória de eclosão (CIE50 e CIE90) foram menores
para o formulado oleoso em comparação ao formulado aquoso (Tabela 2). Na
concentração de 104 conídios/cm2 o valor do tempo letal TL90 encontrado para o
formulado aquoso foi significativamente maior (19,4 dias) quando comparado com o
formulado oleoso (15,8 dias) (Tabela 3). Para concentrações acima de 3,3x104
conídios/cm2 aplicado com o formulado oleoso, não foi possível calcular os valores de
TL50 e TL90 devido à alta taxa de mortalidade em pouco tempo.
4. Discussão
As formulações de M. anisopliae IP 46 à base de óleo e água foram responsáveis
por inibir a completa eclosão de larvas quando aplicadas diretamente sobre os ovos de
R. sanguineus. Devido ao período de embriogênese desse carrapato ser acima de 20 dias
em UR 98% à 25⁰C (Flechtmann 1973), o fungo conseguiu desenvolver em menos
tempo, inibindo a eclosão das larvas.
Por R. sanguineus ser um carrapato heteroxênico e realizar diversas mudas no
meio ambiente aplicações indiretas seriam mais eficientes que aplicações diretas, pois
cerca de 95% da população de carrapatos fica no meio ambiente (Barros-Battesti et al.
2006). Além disso, aplicações indiretas de fungo poderia ser uma saída mais efetiva
para resolução do problema, pois o fungo entraria em contato com a maioria de
carrapatos circulantes e teria a redução maior da população (Samish et al. 2004).
O fungo foi favorecido no seu crescimento acelerando e concorrendo contra a
eclosão de larvas de R. sanguineus (Polar et al. 2005). Apesar da sobrevivência de
larvas ter atingido um tempo prolongado ao aplicar indiretamente formulado oleoso esta
sobrevivência foi zero em 3,3 x 105 conídios/cm2.
Os fatores abióticos como temperatura, umidade e raios ultravioletas podem
inativar ou retardar o desenvolvimento de M. anisopliae, demonstrando uma
desvantagem. Estes fatores podem ser contornados com a utilização de formulados,
sendo que, o formulado oleoso se mostra mais efetivo.
Formulações e aplicações de IP 46 inibiram a eclosão e sobrevivência de larvas
de R. sanguineus. O formulado testado à base de óleo teve maior atividade ovicida e
larvicida do que o formulado aquoso e poderia ser empregado na preparação de
micoacaricidas.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 49
Agradecimentos
Os autores agradecem o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
(CNPq, Brasil) e Tecnológico pelo apoio financeiro.
5. Referências
Barros-Battesti DM, Arzua M, Bechara GH 2006. Carrapatos de importância médico-
veterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies.
Vox/ICTTD-3/ Butantan, São Paulo, p. 223.
Borges LMF, Soares SF, Fonseca IN, Chaves VV, Louly CCB 2007. Resistência
acaricida em larvas de Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae) de Goiânia-GO,
Brasil. Rev Patol Trop 36:85-97.
Chandler D, Davidson G, Pell JK, Ball BV, Shaw K, Sunderland KD 2000. Fungal
biocontrol of Acari. Biocontrol Sci Technol 10: 357-384.
Dantas-Torres F, Figueredo LA, Brandão-Filho SP 2006. Rhipicephalus sanguineus
(Acari: Ixodidae), the brown dog tick, parasitizing humans in Brazil. Rev Soc Bras Med
Trop 39: 64-67.
Faria MR, Wraight SP 2007. Mycoinsecticides and mycoacaricides: a comprehensive
list with worldwide coverage and international classification of formulation types. Biol
Control 43: 237-256.
Fernandes ÉKK, Bittencourt VREP 2008. Entomopathogenic fungi against South
American tick species. Exp Appl Acarol 46: 71-93.
Flechtmann CHW 1973. Ácaros de Importância Médico-veterinária. Nobel, São Paulo,
192 pp.
Lopes RB, Alves SB, Padulla LFL, Perez CA 2007. Eficiência de formulações de
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae para o controle de ninfas de Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787). Rev Bras Parasitol Vet 16: 27-31.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 50
Miller RJ, George JE, Guerrero F, Carpenter L, WELCH JB 2001. Characterization of
acaricide resistance in Rhipicephalus sanguineus (Latreille) (Acari: Ixodidae) collected
from the Corozal Army Veterinary Quarantine Center, Panama. J Med Entomol 38: 298-
302.
Morgan JAT, Corley SW, Jackson LA, Lew-Tabor AE, Moolhuijzen PM, Nicholas NJ
2009. Identification of a mutation in the para-sodium channel gene of the cattle tick
Rhipicephalus (Boophilus) microplus associated with resistance to synthetic pyrethroid
acaricides. Inter J Parasitol 39: 775-779.
Parola P, Paddock CD, Raoult D, 2005. Tick-borne rickettsioses around the world:
emerging diseases, challenging old concepts. Clin Microbiol Rev 18: 719-756.
Polar P, Kairo MTK, Moore D, Pegram R, John S 2005. Comparison of water, oils and
emulsifiable adjuvant oils as formulating agents for Metarhizium anisopliae for use in
control of Boophilus microplus. Mycopathol 160: 151-157.
Samish M, Ginsberg H, Glazer I 2004. Biological control of ticks. Parasitol 129: 389-
403.
Samish M, Rehacek J 1999. Pathogens and predators of ticks and their potential in
biological control. Ann Rev Entomol 44: 159-182.
Throne JE, Weaver DK, Chew V, Baker J 1995. Probit analysis of correlated data:
Multiple observations over time at one concentration. J Econ Entomology 88: 1510-
1512.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 51
Figura 1. Fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus (A) em oviposição. Após
oviposição, foram montados conjuntos de 25 ovos (B, C) sobre papel filtro. Em
seguida, foi feita uma aplicação direta de IP 46 sobre os ovos de Rhipicephalus
sanguineus (D) ou sobre papel filtro tratado com posterior exposição dos ovos sobre a
área tratada (Aplicação indireta) (E). Os papéis filtros foram inseridos dentro de tubos
com tampa permeável a ar (F, G) e o apareciemto de mícelio e conídios de
Metarhizium anisopliae em ovos (H) e larvas (I) foram observados diariamente.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 52
Tabela 1. Média de dias (dias ± erro padrão da média) para análise de crescimento de
micélio e conídios de Metarhizium anisopliae IP 46 sobre conjuntos de 25 ovos, tratados
diretamente ou indiretamente com formulado aquoso ou oleoso em diferentes
concentrações de conídios (3,3x103 até 3,3 x105 conídios/cm2).
Formulação Aplicação Nível Micélio Conídios aquosa direta 2 5,7 ± 0,5a 14,3± 1,3a
1 4,9 ± 0,3a 11 ± 1,2b 0 4,5 ± 0,2a 4,5± 0,2a
indireta 2 14±1,2c 19 ± 0,6c
1 10±0,0b 13,3 ± 0.2b 0 6 ± 0,1a 8,9 ± 0,8a
oleosa direta 2 4,2±0,0a 7,5 ± 0,3a
1 4,1±0,0a 8,7 ± 0,5b 0 4,1±0,1a 7,9 ± 0,1ab
indireta 2 4,9 ± 0,2a 9 ± 0,3a
1 4,7 ± 0,1a 8,1± 0,3a 0 4,7±0,0a 8
Média de valores calculada para cinco concentrações (3,3x103; 10
4; 3,3x10
4; 10
5; 3,3 x10
5 conídios/cm
2); Conjuntos de 25 ovos foram
divididos em três níveis (0-2): 0 (base), 1 (seção intermediária) e 2 (topo); Valores seguidos de letras diferentes significa diferença entre
as média dos períodos (SNK, p<0,005).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 53
Figura 2. Eclosão (%) acumulada e sobrevivência (%) de larvas de Rhipicephalus
sanguineus submetidas a diferentes concentrações (3,3x103 a 3,3x105 conídios/cm2) em
formulado aquoso (A, B) ou formulado oleoso (C, D), após aplicação indireta de
conídios de Metarhizium anisopliae IP 46.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 54
Tabela 2. Valores de concentração inibitória de eclosão (CIE50 e CIE90) com intervalos de confiança (I.C. 95%),
slope e ± e erro padrão (E.P).
Formulado CIE50 (95% I.C.) CIE90 (95% I.C.) Slope ± EP
Aquoso 5,5 x 103 (2 x 103 – 1 x 104) a 1.69 x 106 (5,5 x 105 – 1,4 x 107) a 0,5 ± 0.1
Oleoso 3,1 x 103 (2,2 x 102 – 6,7 x 103) a 3.8 x 104 (1,8 x 104 – 4 x 105) b 1,2 ± 0.1
Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna, não diferem entre si, pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK; P=0,05%);
Aglomerado de 25 ovos de Rhipicephalus sanguineus, tratadas indiretamente com conídios de Metarhizium anisopliae IP 46 formulados
em água ou óleo, no trigésimo dia de exposição dos ovos a 25°C e > 98% (umidade relativa) UR.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 55
Tabela 3. Valores de tempo letal (TL50 e TL90) em dias com intervalos de confiança (I.C. 95%) (I.C) de larvas de
Rhipicephalus sanguineus submetidas a diferentes concentrações de conídios de Metarhizium anisopliae aplicando
indiretamente formulado aquoso e oleoso sob aglomerados de 25 ovos.
Formulado Aquoso Formulado Oleoso
[ ] de conídios/ cm2 TL50 (95% I.C) TL90 (95% I.C) TL50 (95% I.C) TL90 (95% I.C)
0 ** ** ** **
3,3x103 * * 21,6 (14-37) 51 (36-103)
104 10 (7-12,6) 19,4 (16,2-27) 12,1 (11-13,5) 15,8 (14,1-19)
3,3x104 * * * *
105 10,5 (6,5-13,5) 17,5 (14,4-26,2) * *
3,3x105 9 (4,4-11,4) 15 (12,3-22,5) * *
* Não foi possível calcular devida a alta taxa de mortalidade; **Não houve mortalidade de larvas;
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 56
4.4- Manuscrito 4- Atividade e persistência de formulação oleosa de
Metarhizium anisopliae sobre Amblyomma cajennense em teste de semi-
campo no Centro-Oeste do Brasil
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 57
Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar em condições de semi-campo a
persistência e o efeito de uma formulação oleosa preparada com conídios de
Metarhizium anisopliae (IP 46) em A. cajennense. Uma formulação oleosa foi aplicada
no interior de dispositivos numa concentração de 5x106 conídios/cm2. Estes dispositivos
foram colocados em uma região de pastagem no centro-oeste, Goiás, Brasil. Fêmeas
ingurgitadas coletadas de cavalos foram pesadas e colocadas individualmente, dentro de
dispositivos um dia antes, no dia e até 30 dias (1d, 2d, 3d, 5d, 10d, 15d, 20d, 25d, 30d)
após aplicação. Os dispositivos foram fechados com tecido do tipo voil para evitar o
escape das fêmeas ou larvas emergindo de ovos postos. Após, 74 dias foram
quantificadas as larvas. Amostras de solo previamente tratadas com a mesma
formulação foram coletadas em tempos definidos, conforme supracitado e o número de
colônias de Metarhizium sp. crescidas em meio semi-seletivo foi quantificado. Foram
feitas três repetições independentes. O percentual de eclosão de larvas no dia e após 30
dias de aplicação foi de 8,7% e 70%, respectivamente. Uma redução de 95% do número
de colônias de Metarhizium sp. foi observada após 30 dias de aplicação comparando-se
com o controle. Estes resultados reforçam que novas aplicações poderiam ser utilizadas
para reduzir larvas sobreviventes e aumentar o período do efeito residual ao longo do
tempo.
Palavra-chave: micoacaricida, carrapato, óleo, larvas. 1. Introdução
Amblyomma cajennense é um dos principais vetores da Rickettsia rickettsi, agente
causal da febre maculosa (Parola et a., 2005). As dificuldades existentes no controle de
Amblyomma cajennense, incluindo o desenvolvimento de resistência a alguns acaricidas
químicos sintéticos, incitam mais estudos para desenvolvimento de medidas integradas
em condições de campo. Formulações oleosas de Metarhizium anisopliae têm
comprovada atividade em ovos, larvas, ninfas e adultos de A. cajennense em condições
de laboratório e representam uma opção eficiente e segura (Chandler et al. 2000, Samish
et al. 2004, Fernandes & Bittencourt 2008, ).
Em condições de campo M. anisopliae é utilizado para controlar populações de
insetos-pragas, de importância médica, veterinária e agrícola. No Brasil, M. anisopliae
vem sendo utilizado com sucesso contra cigarrinhas da cana-de-açúcar (Mahanarva
spp.) e das pastagens (Zulia entreriana e Deois flavopicta) (Faria et al. 2002; Leite, et
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 58
al. 2003) e outra espécie, é apontado como um agente de controle biológico de grande
potencialidade para carrapatos. Em alguns países africanos, Metarhizium acridum está
sendo aplicado como bioinseticida no controle de gafanhotos (Driver et al. 2000). No
momento não há produtos comercializados para o controle de A. cajennense.
As condições ambientais têm grande influência sobre os fungos, sendo estas
influências prejudiciais ao controle microbiano. Os fatores ambientais como a
temperatura, a umidade, a luz solar e o pH interferem na germinação, esporulação e
virulência de fungos entomopatogênicos (Blanford & Thomas 2001). Dessa maneira,
apesar da importância dos fungos patogênicos para carrapatos, pouco se sabe sobre seu
potencial de controle quando aplicado no solo em condições de semi-campo. Assim,
tornam-se necessárias pesquisas, visando selecionar e melhorar linhagens fúngicas que
demonstram ser promissoras em estudos em laboratório para emprego destes
microrganismos em testes de semi-campo e campo.
A persistência de fungo no solo está relacionada à sua adaptação em solo e a
tolerância a fatores abióticos adversos. Conídios de M. anisopliae e Beauveria bassiana
foram estudados na superfície de solo argiloso e em condições caracterizadas pela
presença de neve permanente durante o inverno, demonstrando que após três anos da
aplicação do inóculo os propágulos de M. anisopliae permaneceram ativos; o mesmo
não aconteceu com os de B. bassiana, que desapareceram (Vänninen et al. 2000).
O presente trabalho teve por objetivo estudar em condições de semi-campo, a
atividade e persistência de conídios de M. anisopliae formulado em óleo contra
A. cajennense.
2. Material e Métodos
Origem e Cultivo de Metarhizium anisopliae: M. anisopliae sensu lato (s.l) IP
46 foi isolado em 2001 de amostra de solo coletada no cerrado no estado de Goiás,
Brasil. Antes dos testes o fungo foi inoculado em fêmeas de A. cajennense, reisolado e
cultivado em placa de Petri com meio de cultura BDA (batata, dextrose e ágar) durante
15 dias a 25°C, UR 70±10% e fotofase de 12h. A linhagem foi então cultivada em grãos
de arroz parboirizado (Arroz Tio Jorge tipo 1, Goiânia), previamente autoclavada e
hidratada com 30% de peso (1kg/300 ml de água) utilizando-se método de bandeja (Luz
et al. 2004). Após 14 dias de cultivo em arroz, os conídios foram coletados, com uma
peneira de malha de 0,59 mm de diâmetro. Os conídios foram quantificados (números
de conídios/peso) com câmara de Neubauer.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 59
Local de estudo: Os experimentos foram realizados na fazenda Santa Branca
(latitude 16º 23’ 41” e longitude 49º 04’ 47’’, WGS 84) Goiânia, Goiás, Brasil. Os
testes foram feitos entre abril e agosto 2011.
Preparação da área do experimento: No local do experimento foi nivelada a
altura da grama com o uso de um cortador, aproximadamente 5 cm do solo.
Posteriormente, foram feitos buracos para colocação dos tubos de PVC (Dispositivos).
Preparação dos dispositivos: Foram utilizados 72 tubos de PVC com 20 cm de
altura e 15 cm de largura. Estes foram inseridos no solo, numa profundidade de 10 cm
(Figura 1 A). Nas partes de baixo dos tubos ficaram fechadas com “sombrite”, e no
interior de cada tubo, foi colocado solo e um pedaço de grama com 3 cm de altura e 15
cm de largura. A parte superior do tubo ficou aberta, até a aplicação da formulação
oleosa de M. anisopliae em seu interior. Foram feitas três repetições independentes.
Preparação da formulação e tratamento dos dispositivos: Os conídios
oriundos do processo de peneiramento foram misturados com o óleo (Graxol®, Agrária)
e depois com água (10% do óleo). O número de conídios foi ajustado para uma
concentração final de 5x106 conídios/cm2 em solução óleo água 10% de óleo vegetal. A
formulação com conídios ou sem conídios (controle) foi aplicada manualmente com
pulverizador ao final da tarde. Um dia anterior à aplicação (-1d), no dia (0d) da
aplicação e após a aplicação (1d, 2d, 3d, 5d, 10d, 15d, 20d, 25d e 30d) foi colocada uma
fêmea ingurgitada de A. cajennense com peso conhecido (para prévia do número de
ovos e larvas) (Figura 1 B). Um outro dispositivo, contendo as mesmas descrições dos
dispositivos supracitados recebeu o mesmo tratamento, porém sem a fêmea ingurgitada
de A. cajennense em seu interior. Assim, foi feito para avaliar a persistência da
formulação em condições de semi-campo. A persistência de IP 46 foi avaliada com os
mesmos dias interpostos a aplicação da formulação em fêmea ingurgitada de A.
cajennense (Figura 1 B). Após, a aplicação, a parte de cima do tubo foi vedada com um
tecido do tipo voile e esse fixado com uma abraçadeira de borracha (Correia de
tanquinho A 18). A eficácia da formulação oleosa foi avaliada através da presença
quantitativa de larvas em movimento, comparando-se o grupo tratado com o controle.
Coleta e processamento de amostras de solo para análise de persistência de
Metarhizium sp: Com auxílio de uma espátula, cerca de 5 g de solo foi coletado em
tempos definidos: -1d, 0d, 1d, 2d, 3d, 5d, 10d, 15d, 20d, 25d e 30d (Figura 1 B). As
amostras de solo foram transferidas para sacos plásticos rotulados e armazenadas em
caixa térmica.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 60
Quantificação de larvas em dispositivos tratados: Cada dispositivo foi
retirado após 74 dias de tratamento. Estes dispositivos foram encaminhados para o
laboratório e com o uso de uma lâmpada incandescente foi realizado um estímulo
térmico para “fuga” de larvas (Figura 2 A). Em seguida, o tecido voile e a abraçadeira
de borracha foram retirados (Figura 2 B). As larvas que se locomoviam no interior do
tubo foram capturadas com fita-crepe e quantificadas (Figura 2 C). As larvas foram
fixadas em fita dupla-face, que aderia na parte superior de placa de Petri.
Posteriormente, fragmentos da fita contendo larvas foram colocadas dentro de câmera
úmida a 25ºC e monitoradas até 15 dias quanto ao desenvolvimento de fungo sobre as
larvas capturadas.
Isolamento quantitativo in vitro (Persistência) e in vivo de Metarhizium sp.:
Para teste in vitro, um grama de solo foi suspenso e homogeneizada em 9 ml de água e
homogeneizado. A suspensão foi diluída em 10-3 e 200µl da suspensão foi aplicado
sobre meio seletivo CTC (composto de: meio BDA acrecido de extrato de levedura
(1 g), cloranfenicol (0,5 g), cicloexamida (0,25 g), tiabendazol (0,004 g/L), água
destilada (1000 ml) com pH 7) em placa de Petri (9 x 1,5 cm) e a placa incubada a 25°C
(Fernandes et al. 2010). O número de colônias (unidades formadoras de colonias: UFC)
de Metarhizium sp. foi monitorado até 6 dias após inoculação. Para teste in vivo, as
amostras de solo foram homogeneizadas e três gramas de cada amostra foram
transferidas para uma placa de Petri. Três fêmeas ingurgitadas de A. cajennense foram
expostas ao material, “roladas” e incubadas a 25°C e >98% UR. A mortalidade foi
examinada diariamente e indivíduos mortos foram incubados em câmara úmida. O
desenvolvimento de fungos foi examinado diariamente por até 15 dias. Fungos
desenvolvendo-se sobre a superfície de carrapatos mortos foram inoculados em meio
BDA acrescido de cloranfenicol (0,5 g/1000 ml) para posterior identificação.
3. Resultados
Durante o período do experimento não choveu e a temperatura variou de 20⁰C a
34⁰C e a umidade de 25% a 79% (Figura 3). Foi observado durante todas as manhãs
depósitos de gotas de água na pastagem (orvalho). Durante os quatros meses de estudo,
foram encontrados larvas e adultos de A. cajennense livres no ambiente onde foi
realizado o experimento. Não foram visualizados conídios de Metarhizium sp. sobre
larvas de A. cajennese oriundas de dispositivos tratados.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 61
Para o teste in vitro o número de unidades formadoras de colônias, UFC
(1,2x106 UFC/cm2) no dia do tratamento foi reduzido a 6x105 UFC/cm2 nos cinco
primeiros dias, e uma redução > 95% do número de colônias foi observada 30 dias após
aplicação (2x104 UFC/cm2) (Figura 4 A). No teste in vivo as fêmeas ingurgitadas de A.
cajennense que ficaram em contato com os substratos oriundos dos três primeiros dias
resultaram numa redução da sobrevivência de 44%. Foi possível visualizar conídios de
Metarhizium sp. crescendo em fêmeas mortas de A. cajennense. No entanto, exposição
aos substratos coletados do 10º ao 30º dias não ocasionaram mortalidade das fêmeas
(Figura 4 B).
O número de larvas de A. cajennense foi reduzido nos três primeiros dias após a
aplicação da formulação de conídios de IP 46. Porém, ocorreu um aumento de larvas no
quinto dia após a aplicação da formulação. No intervalo de 15 a 20 dias ocorreu uma
redução do número de larvas, que foi rapidamente aumentada nos dias seguintes
(Figura 5).
4. Discussão
No presente estudo, a umidade relativa e a temperatura verificada apresentaram-
se como fatores primordiais para a persistência do fungo no solo. Estes dois fatores
abióticos são essenciais para a disseminação, germinação e penetração do fungo. Porém,
o micro-clima onde estes carrapatos vivem pode ser mais importante para a ocorrência
da doença quando comparada com a umidade relativa atmosférica. Neste estudo foi
possível verificar a presença de conídios em aglomerados de ovos e em larvas que
estavam no interior dos dispositivos.
As fêmeas ingurgitadas de A. cajennense ficaram mantidas durante 74 dias no
interior dos dispositivos e após, este período não havia fêmeas vivas. Porém, um
número expressivo de larva foi encontrado, no tratamento em que fêmeas foram
colocadas três dias após a aplicação de IP 46.
O número de aplicações é importante para manutenção do fungo na natureza
(Lopes 2009). No presente trabalho só foi feita uma aplicação, sendo que esta foi
realizada numa estação quente e seca, quando tem maior frequência de larvas de A.
cajennense em pastagens. As larvas de R. microplus também não foram controladas em
gramíneas que receberam uma aplicação com M. anisopliae (Castro et al. 1999,
Bittencourt et al. 2003). Um estudo de campo com Beauveria bassiana e M. anisopliae
na concentração de 109 conídios/ml verificou mortalidade de 100%, 76-95% e 36-64%
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 62
em larvas, ninfas e adultos de Rhipicephalus appendiculatus, respectivamente. Estes
resultados foram contrários ao do presente trabalho possivelmente devido a diferença
entre as espécies de carrapato e de cepas de fungos utilizadas (Kaaya et al. 1996).
A formulação oleosa é mais eficiente que formulação aquosa. Formulações em
óleos vegetais no controle de artrópodes, provavelmente pela característica lipofílica da
formulação, aumenta a adesão de conídios à cutícula e favorece sua penetração (Lopes
et al. 2007, Lopes 2009).
Os resultados reforçaram o potencial de uma formulação oleosa de M.
anisopliae, mas também a necessidade de mais testes de campo para avaliar questões
cruciais como técnicas de aplicação e persistência de conídios no campo.
Agradecimentos
Os autores agradecem o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
(CNPq, Brasil) e Tecnológico pelo apoio financeiro.
5. Referências
Bittencourt VREP, Bahiense TC, Fernades ÉKK, Souza EJ 2003. Avaliação da ação in
vivo de Metarhizium anisopliae (Metschnikoff, 1879) Sorokin, 1883 aplicado sobre
Brachiaria decumbens infestada com larvas de Boophilus microplus (Canestrini, 1887)
(Acari: Ixodidae). Rev Bras Parasitol Vet 12: 38-42.
Simon Blanford S, Thomas MB 2001. Adult survival, maturation, and reproduction of
the desert locust Schistocerca gregaria infected with the fungus Metarhizium anisopliae
var acridum. J Invertebr Pathol 78: 1-8.
Chandler D, Davidson G, Pell JK, Ball BV, Shaw K, Sunderland KD 2000. Fungal
biocontrol of Acari. Biocontrol Sci Technol 10: 357-384.
Castro ABA, Bittencourt, VREP, Daemon E, Viegas, EC 1999. Efeito do fungo
Metarhizium anisopliae (Metschnikoff, 1879) Sorokin, 1883, aplicado sobre Brachiaria
decumbens infestada com larvas não alimentadas de Boophilus microplus (Canestrini,
1887) (Acari: Ixodidae). Rev. Universidade Rural- Cienc.Vida 21: 95-102.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 63
Driver F, Milner R.F, Trueman, WH 2000. A Taxonomic revision of Metarhizium based
on phylogenetic analysis of ribossomal DNA sequence data. Mycological Research, 14:
134-150.
Fernandes ÉKK, Bittencourt VREP 2008. Entomopathogenic fungi against South
American tick species. Exp App Acarol 46:71-93.
Fernandes EKK, Keyser CA, Rangel DEN, Foster RN, Roberts DW 2010. CTC
medium: A novel dodine-free selective medium for isolating entomopathogenic fungi,
especially Metarhizium acridum, from soil. Biological Control 54: 197-205.
Kaaya GP, Mwangi EN, OUNA EA 1996. Prospects for biological control of livestock
ticks, Rhipicephalus appendiculatus and Amblyomma variegatum, using the
entomogenous fungi Beauveria bassiana and Metarhizium anisopliae. J. Invert. Pathol.
67:15-20.
Leite LG, Batista Filho A, Almeida JEM, Alves SB 2003. Produção de Fungos
Entomopatogênicos, Ribeirão Preto: Alexandre de Sena Pinto, 92p.
Lopes RB, Alves SB, Padulla LFL, Pérez CA, 2007. Efficiência de formulações de
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae para o controle de ninfas de Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787). Rev Bras Parasitol Vet 16: 27-31.
Lopes RB, 2009. Biocontrole de doenças de plantas: uso e perspectiva. A industria no
controle biológico: Produção e comercialização de microrganismo no Brasil. Embrapa
342p.
Luz C, Rocha LFNR, Nery GV, Magalhães BP, Tigano MS, 2004. Activity of oil-
formulated Beauveria bassiana against Triatoma sordida in peridomestic areas in
Central Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 99: 211-218.
Parola P, Paddock CD, Raoult D, 2005. Tick-borne rickettsioses around the world:
emerging diseases challenging old concepts. Clin. Microbiol. 18: 719–756.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 64
Reis RCS, Melo DR, Bittencourt VREP, 2004. Efeitos de Beauveria bassiana (Bals)
Vuill e Metarhizium anisopliae (Metsch) Sorok sobre fêmeas ingurgitadas de
Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) em condições de laboratório. Arq. Bras. Med.
Vet. Zootec. 56: 788–791.
Samish M, Ginsberg H, Glazer I 2004. Biological control of ticks. Parasitol 129: 389-
403.
Vänninen I, Tyni-Juslin J, Hokkanen H 2000. Persistence of augmented Metarhizium
anisopliae and Beauveria bassiana in Finnish agricultural soils. Bio Control: 45: 201-
222.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 65
Figura 1. Esquematização de um tubo de PVC utilizado em teste de semi-campo (A).
Esquema da simulação de tempo (dias) antes, no dia e após aplicação de formulação
oleosa de Metarhizium anisopliae entre tratamento do solo e exposição de fêmeas
ingurgitadas de Amblyomma cajennense (in vivo) ou retirada do solo (in vitro) (B).
B
A
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 66
Figura 2. Abertura do tubo de PVC (A, B) e coleta de larvas de Amblyomma cajennense
com fita-crepe (C).
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 67
Mês
abr mai jun jul ago set
Tem
pera
tura
0 C
0
20
40
60
80
100
Um
idad
e re
lati
va (
%)
0
20
40
60
80
100
Figura 3. Dados climáticos medidos por um equipamento manual (Testo 605-H1) entre
abril e agosto de 2011, Goiânia, Goiás, Brasil.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 68
Dias de exposição
0 5 10 15 20 25 30So
bre
vivê
nci
a d
e A
du
lto
s d
e A
. caje
nn
en
se
0
20
40
60
80
100
Figura 4. Número de unidades formadores de colônias (UFC) de Metarhizium sp.
contadas apartir de uma grama de substrato suspenso em 9 mililitros de água, e
aplicações de alíquota de 200 µl sobre meio CTC e incubado em 6 dias a 75%±10 e
250C (A). Número de adultos de A. cajennense sobreviventes, decorrente do contato
direto com o substrato previamente tratado, e após 25 dias de incubação a 250C em
umidade >98% (B). O substrato foi tratado previamente com 5x 106conidios/cm2 e
exposto 30 dias em condições de semi-campo (A e B).
Dias de exposição
0 5 10 15 20 25 30Nú
mer
os
de
colô
nia
s/cm
2 d
e su
bst
rato
0,0
2,0e+5
4,0e+5
6,0e+5
8,0e+5
1,0e+6
1,2e+6
1,4e+6 A
B
Controle Tratamento
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 69
Dias de aplicação
0 5 10 15 20 25 30
Nú
mer
o d
e la
rvas
so
bre
vive
nte
s
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Figura 5. Número de larvas de Amblyomma cajennense quantificadas 74 dias após
aplicação de 5x 106conidios/cm2 no interior dos dispositivos. Os dispositivos estavam
submetidos a condições de temperatura e umidade local (semi-campo).
Controle Tratamento
5-DISCUSSÃO
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 71
O presente estudo descreve a primeira ocorrência de B. bassiana e P. lilacinum
em A. cajennense. Todos os fungos encontrados são típicos de solo e B. bassiana e M.
anisopliae são as espécies mais comuns isoladas de carrapatos em campo (Chandler et
al. 2000, Samish et al. 2004). A porcentagem (0,1% em carrapatos; 2,1% em solo) de
fungos encontrados em A. cajennense ou na área de estudo foi inferior quando se
comparado a outros estudos em que 25% de Rhipicephalus spp ou Ixodes scapularis
estavam infectados por B. bassiana ou M. anisopliae (Samish et al. 2004, Benoît et al
2005). Sabe-se que o A. cajennese é um carrapato heteroxênico e na fase adulta tem
mais contato com solo e maior probabilidade de se infectar com fungos presentes em
solo, resultando em maior proporção de indivíduos infectados quando comparado com
carrapatos monoxênicos.
A produção pós-morte de conídios, em indivíduos previamente infectados,
provavelmente diminui em épocas mais secas e menos carrapatos se infectam devido à
quantidade reduzida do inóculo infeccioso. Fatores abióticos encontrados nos mais
diferentes tipos de vegetação podem estar relacionados com o encontro de fungos. No
mesmo local de estudo Rocha et al. (2009) isolaram M. anisopliae, P. lilacinum,
Fusarium sp e Pochonia chlamydosporia de solo e “lama” colecionados em uma
floresta de galeria tropical tendo como isca R. microplus.
Sabe-se que aglomerados com grande número de ovos ajudam na embriogênese
de carrapatos e favorece a eclosão de larvas. Porém, em testes de laboratório a análise
de eclosão e sobrevivência de larvas de milhares de indivíduos, se torna difícil. Existe
na literatura registro de 1 g de ovos para cada espécie, correspondente ao número de
indivíduos (Labruna et al. 1997, Prata & Daemon 1997, Kurup et al. 2008). Estes
registros podem ajudar a entender melhor a relação entre o peso da massa de ovos e o
número de indivíduos resultantes. No presente estudo foi possível observar que
quantidades de ovos reduzidas, podem facilitar a observação quantitativa da eclosão e
sobrevivência de larvas. Em condições de laboratório, resultados de estudos anteriores
revelaram que a quantidade mínima de 25 ovos em formato esférico é viável, pois
eclodiram 100% das larvas, podendo ser utilizados para avaliação da atividade ovicida
ou micoacaricida desde que esteja em umidade relativa >98% (D’Alsessandro dados
não publicados).
Na maioria dos estudos laboratoriais, tubos de vidro ou papel filtro são
utilizados como métodos avaliativos, porém isolados de M. anisopliae são
rotineiramente oriundos de solo (Monteiro et al. 1998, Fernandes et al. 2003, Prette et
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 72
al. 2005, Garcia et al. 2005, Ment et al. 2010, Hedimbi et al. 2011). A utilização de solo
como substrato, auxilia no entendimento da relação entre o fungo e o carrapato, tendo
em vista que ambos podem estar localizados no solo. IP 46 colocado em solo infectou
ovos de R. sanguineus em condições de laboratório, impedindo a eclosão de larvas
mesmo em concentrações reduzidas. Estes ovos postos sobre solo misturado com
conídios foram eliminados em poucos dias e as poucas larvas que eclodiram na mais
baixa concentração provavelmente já estavam infectadas e morreram nos dias seguintes.
M. anisopliae reciclou sobre os ovos que levou a um aumento quantitativo do inóculo e
maior probabilidade de infectar fêmeas ovipondo outros ovos ou larvas eclodindo. Os
resultados encontrados reforçaram a hipótese que M. anisopliae atuou como antagonista
de R. sanguineus, sobretudo de fases não parasíticos andando no solo.
Aplicações diretas de conídios de IP 46 inibiram a eclosão e sobrevivência de
larvas de R. sanguineus. Porém, aplicações indiretas são mais eficientes que diretas,
quando se deseja reduzir uma população de carrapatos em uma área infestada, pois
cerca de 95% da população de carrapatos fica no meio ambiente (Samish et al. 2004,
Barros-Battesti et al. 2006). O óleo utilizado nos experimentos acelerou o crescimento
de micélio e conídios nos ovos cobrindo o aglomerado de ovos. O óleo por ser vegetal
pode ter desvantagem, pois microrganismos podem concorrer na degradação
diminuindo a eficiência. No presente estudo um formulado à base de óleo teve mais
atividade ovicida e larvicida do que formulado aquoso e poderia ser empregado na
preparação de micoacaricidas.
6-CONCLUSÕES
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 74
Os isolados de M. anisopliae (IP 363), B. bassiana (IP 361, 364) e P. lilacinum
(IP 362, 359, 360) encontrados em habitats de A. cajennense, têm interesse para o
desenvolvimento de micoacaricidas contra os vetores da febre maculosa.
Conídios de M. anisopliae IP 46 misturados no solo eliminam ovos e larvas de
R. sanguineus, e neste ambiente contribuem para o controle desta espécie.
Em condições de laboratório ovos de R. sanguineus foram eliminados com a
aplicação direta de conídios de IP 46 independentemente da formulação testada.
A formulação óleo-água de conídios de IP 46 acelerou o desenvolvimento do
fungo sobre ovos de R. sanguineus tratados e foi mais eficiente que a formulação
aquosa.
Em condições de semi-campo no centro-oeste do Brasil na época seca a
formulação óleo-água de IP 46 aplicada no solo não eliminou todos os ovos postos por
A. cajennense após aplicação. Devida a baixa persistência dos conídios nas condições
testadas ás aplicações deveriam ser repetidas pelo menos 15 dias. O micro-clima no
local dos ovos pode influenciar a dinâmica da infecção fúngica nos ovos.
7-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 76
Almonsny NR, Massard CL 1999. Erliquiose felina - Revisão. Clin Vet 23: 30-32.
Alves SB 1998. Controle Microbiano de Insetos. Piracicaba FEALQ: pp 1163.
Andereg PI, Passos LMF (1999) Erliquiose canina-revisao. Clinica Veterinaria 12: 31-
38.
Barker SC, Murrell A 2004. Systematics and evolution of ticks with a list of valid genus
and species names. Parasitol 129: S15-S36.
Barros-Battesti DM, Arzua M, Bechara GH 2006. Carrapatos de importância médico-
veterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies.
Vox/ICTTD-3/ Butantan, São Paulo. p.223.
Bellato V, Daemon E 1997. Influencia da temperatura de manutenção da fase não
parasitária sobre a fase parasitária de Rhipicephalus sanguineus (Latreille, 1806) (Acari:
Ixodidae). Rev Bras Parasitol Vet 06: 15-19.
Bittencourt VREL, Massard CL, Lima AF 1995. Dinamica da infecção do carrapato
Boophilus microplus pelo fungo Metarhizium anisopliae. Rev Univ Rural Ser Cienc
Vida 17: 83-88.
Boucias DG, Pendland JC, Latge JP 1988. Nonspecific factors involved in attachment
of entomopathogenic Deuteromycetes to host insect cuticle. Appl Env Microbiol 54:
1795-1805.
Camargo-Neves VLF, Vieira AML, Souza CE, Labruna MB, Mayo RC, Souza SSL
2004. Manual de vigilância acarológica. São Paulo (Estado). Secretaria de Estado da
Saúde. Superintendência de Controle de Endemias - SUCEN: p.66.
Carneiro ME, Daemon E 2003. Influência da temperatura sobre os tipos celulares
presentes na hemolinfa de larvas e ninfas de Rhipicephalus sanguineus. Arqu Bras Med
Vet Zootecn 55: 574-579.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 77
Chandler D, Davidson G, Pell JK, Ball BV, Shaw K, Sunderland KD 2000. Fungal
biocontrol of Acari. Biocontrol Sci Technol 10: 357-384.
Clarck KL, Wills W, Teders SH, Williams DC 1996. Ticks removed from dogs and
animal care personal in Orangeburg county, South Carolina. J Agromed 3: 45-55.
Conrado A, Mujica F 1998. Efficacy of different acaricides in the control of
Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae). Bol Dir Malariol Saneam Amb 38: 119-
122.
Costa GL, Sarquis MI, Moraes AML 2002. Isolation of Beauveria bassiana and
Metarhizium anisopliae var. anisopliae from Boophilus microplus tick (Canestrini,
1887), in Rio de Janeiro State, Brazil. Mycopathologia 154: 207–209.
Costa JO, Botelho JR 2005. Classe Arachnida. In: Neves DP, Melo AL, Genaro O,
Linardi PM. Parasitologia Humana, 11 ed. São Paulo. Ed Atheneu: 413-421.
Coutinho MTZ, Bueno LL, Sterzik A, Fujiwara RT, Botelho JR, Maria M, Genaro O,
Linardi PM 2005. Participation of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae) in the
epidemiology of canine visceral leishmaniasis. Vet Parasitol 128: 149–155.
Dantas-Torres F, Figueredo LA, Brandão-Filho SP 2006. Rhipicephalus sanguineus
(Acari: Ixodidae), the brown dog tick, parasitizing humans in Brazil. Rev Soc Bras Med
Trop 39: 64-67.
Demma LJ, Traeger MD, Nicholson WL, Paddock CD, Blau DM, Eremeeva ME, Dasch
GA, Levin ML, Singleton J, Zaki SR, Cheek JE, Swerdlow DL, Mcquiston JH 2005.
Rocky Mountain spotted fever from an unexpected tick vector in Arizona. N Engl J Med
353:587-594.
Del Guercio VMF, Rocha MMM, Melles HHB, Lima VCL, Pignatti 1997. Rev Soc
Bras Med Trop 30: 47-52.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 78
Eremeeva ME, Zambrano ML, Anaya L,Beati L, Karpathy SE, Santos-Silva MM,
Salceda B, Macbeth D,Olguin H,Dasch GA, Aranda CA 2011. Rickettsia rickettsii in
Rhipicephalus Ticks, Mexicali, Mexico. J Med Entomol 48: 418-421.
FAO (Food and Agriculture Organization of The United Nations) 1995. Acaricide
resistance test kit instructions for use, World Acaricide Resistance Reference Centre
(WARRC), Edition 11/1995, Berlin, Germany.
FAO (Food and Agriculture Organization of The United Nations) 2004. Module 1:
Ticks. In: Guidelines resistance management and integrated parasite control in
ruminants, Rome.
Faria MR, Wraight SP 2007. Mycoinsecticides and mycoacaricides: a comprehensive
list with worldwide coverage and international classification of formulation types. Biol
Control 43: 237-256.
Felz MW, Durden LA, Oliver Jr JH 1996. Ticks parasitizing humans in Georgia and
South Carolina. J Parasitol 82: 505-508.
Fernandes ÉKK, Costa GL, Souza EJ 2003. Beauveria bassiana isolated from engorged
females and tested against eggs and larvae of Boophilus microplus. J Basic Microbiol
43: 393–398.
Fernandes ÉKK, Bittencourt VREP 2008. Entomopathogenic fungi against South
American tick species. Exp App Acarol 46: 71-93.
Fernandes ÉKK, Moraes AML, Pacheco RS, Rangel DEN, Miller MP, Bittencourt
VREP, Roberts 2009. Genetic diversity among Brazilian isolates of Beauveria
bassiana: comparisons with non-Brazilian isolates and other Beauveria species. J App
Microbiol 107: 760-774.
Fernandes ÈKK, Keyser CA, Chong JP, Rangel R, Miller MP, Roberts DW 2010a.
Characterization of Metarhizium species and varieties based on molecular analysis, heat
tolerance and cold activity. J App Microbiol 108: 115-128.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 79
Flechtmann CHW 1973. Ácaros de Importância Médico-veterinária. Nobel, São Paulo,
192 pp.
Fonseca AH, Salles RS, Salles SAN, Madureira RC, Yoshinari NH 2005. Borreliose de
Lyme simile: uma doença emergente e relevante para a dermatologia no Brasil. An Bras
Dermatol 80: 171-178.
Fortes FS; Biondo AW Molento MB 2011. Febre maculosa brasileira em cães.
Seminario: Ciências Agrárias, Londrina 32: 339-354.
Gachoka, KK 2010. Caracterização química e biológica de feromônios de Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae). PhD thesis. Goiânia, Brazil,
Universidade Federal de Goiás.
Galvão MAM, Calic SB, Chamone CB, Mafra SCL Cesarino Filho G, Olano JP, Walker
DH 2003. Spotted fever rickettsiosis in Coronel Fabriciano, Minas Gerais State. Rev Soc
Bras Med Trop 36: 479-481.
Garcia MV, Monteiro AC, Szabo MPJ, Prette N, Bechara GH 2005. Mechanism of
infection and colonization of Rhipicephalus sanguineus eggs by Metarhizium anisopliae
as revealed by scanning electron microscopy and histopathology. Braz J Microbiol 36:
368-372.
Hajek AE, St. Leger RJ 1994. Interactions between fungal pathogens and insects host.
Annu Rev Entomol 39: 293-322.
Harrison BA, Engber BR, Apperson CS 1997. Ticks (Acari: Ixodidae) uncommonly
found biting humans in North Carolina. J Vector Ecol 22: 6-12.
Hibbett DS, Binder M, Bischoff JF, Blackwell M, Cannon PF, Eriksson OE, Huhndorf
S, James T, Kirk PM, Lücking R, Lumbsch HT, Lutzoni F, Matheny PB, Mclaughlin
DJ, Powell MJ, Redhead S, Schoch CL, Spatafora JW, Stalpers JA, Vilgalys R, Aime
MC, Aptroot A, Bauer R, Begerow D, Benny GL, Castlebury LA, Crous PW, DAI Y-C,
Gams W, Geiser DM, Griffith GW, Gueidan C, Hawksworth DL, Hestmark G, Hosaka
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 80
K, Humber RA, Hyde KD, Ironside JE, Kõljalg U, Kurtzman CP, Larsson K-H,
Lichtwardt R, Longcore J, Miadlikowska J, Miller A, Moncalvo J-M, Mozley-
Standridge S, Oberwinkler F, Parmasto E, Reeb V, Rogers JD, Roux C, Ryvarden L,
Sampaio JP, Schüßler A, Sugiyama J, Thorn RG, Tibell L, Untereiner WA, Walker C,
Wang Z, Weir A, Weiss M, White MM, Winka K, Yao Y-J & Zhang N 2007. A higher-
level phylogenetic classification of the fungi. Mycol RES 111: 509-547.
Hedimbi M, Godwin P, Kaaya, G.P, Samish M, Gindin G, Glazer 2011. Pathogenicity
of the entomopathogenic fungus Metarhizium anisopliae to the red-legged tick,
Rhipicephalus evertsi evertsi. J Entomol Nematol 3: 68-7.
Hoogstraal H 1967. Ticks in relation to human diseases caused by Rickettsia species.
Ann Rev Entomol 12: 377-420.
Hun L, Corte´s X, Taylor L 2008. Molecular characterization of rickettsia rickettsii
isolated from human clinical samples and from the rabbit tick haemaphysalis
leporispalustris collected at different geographic zones in Costa Rica. Am J Trop Med
Hyg 79: 899-902.
Hynes WL, Stokes MM, Hensley SM 2008. Using RNA interference to determine the
role of varisin in the innate immune system of the hard tick Dermacentor variabilis
(Acari: Ixodidae). Exp Appl Acarol 46: 7-15
Joppert AM, Hagiware MK, Yoshinari NH 2001. Borrelia burgdorferi antibodies in
dogs from Cotia county, São Paulo State, Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo 43: 251-
255.
Kemp DH, Pearson RD, Gough JM, Willadsen P 1989. Vaccination against Boophilus
microplus: Localization of antigens on tick gut cells and their interaction with the host
immune system. Exp App Acarol 7: 43-58.
Kirkland BH, Westwood GS, Keyhani NO 2004. Pathogenicity of entomopathogenic
fungi Beauveria bassiana and Metarhizium anisopliae to Ixodidae tick species
Dermacentor variabilis, Rhipicephalus sanguineus, and Ixodes scapularis. J Med
Entomol 41: 705-711.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 81
Kirkland BH, Eisa A, Keyhani NO 2005. Oxalic acid as a fungal acaracidal virulence
factor. J Med Entomol 42: 346-351.
Koch HG, Tuck MD 1986. Molting and survival of the brown dog tick (Acari:
Ixodidae) under different temperatures and humidities. Ann Entomol Soc Am 79: 11-14.
Kurup SP, Azhahianambi P, Ghosh S 2008. Effect of surface area to weight ratio of egg
masses on the hatchability of Boophilus microplus eggs. J Vector Borne Dis 45: 164-
169.
Labruna MB 2004. Biológica-ecologia de Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae).
Rev Bras Parasitol Vet 13: 123-124.
Labruna MB, Kasai N, Ferreira F, Faccini JLH, Gemari SM 2002. Seasonal dynamics
of ticks (Acari: Ixodidae) on horses in the state of São Paulo, Brazil. Vet Parasitol 105:
65-77.
Labruna MB, Leite RC, Oliveira PR 1997. Study of the weight of eggs from six ixodid
species from Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 92: 205-207.
Lemos ER, Machado RD, Coura JR, Guimaraes MA, Freire NM, Amorim M, Gazeta
GS 1997. Epidemiological aspects of the Brazilian spotted fever: seasonal activity of
ticks collected in an endemic area in São Paulo, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 30:
181-185.
Leiby DA 2011. Transfusion-transmitted Babesia spp.: bull’s-beye on Babesia microti.
Clin Microbiol Rev 24: 14-28.
Lemos ERS, Rozental T, Villela LC 2002. Brazilian spotted fever: description of a fatal
clinical case in the State of Rio de Janeiro. Rev Soc Bras Med Trop 35: 523-525.
Lopes CML, Leite RC, Labruna MB, Oliveira PR, Borges LMF, Rodrigues ZB,
Carvalho HA, Freitas CMV e Vieira Júnior CR 1998. Host specificity of Amblyomma
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 82
cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) with comments on the drop-off rhythm.
Mem Inst Oswaldo Cruz 93: 347-351.
Lopes RB, Alves SB, Padulla LFL, Perez CA 2007. Eficiência de formulações de
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae para o controle de ninfas de Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787). Rev Bras Parasitol Vet 16: 27-31.
Louly CCB, Fonseca IN, Oliveira VF, Borges LMF 2006. Ocorrência de Rhipicephalus
sanguineus em trabalhadores de clínicas veterinárias e canis, no município de Goiânia,
GO. Ciência Animal Brasileira Goiânia 7: 103-106.
Luz C, Batagin I 2005. Potential of oil-based formulations of Beauveria bassiana to
control Triatoma infestans. Mycopathologia 160: 51-62.
Mantovani E, Costa IP, Gauditano G, Bonoldi VLN, Higuchi ML, Yoahinari NH 2007.
Description of Lyme disease-like syndrome in Brazil. Is it a new tick borne disease or
lyme disease variation? Braz J Med Biol Res 40, 443-456.
Marcondes CB 2001. Moscas. In: Marcondes CB. Entomologia Médica e Veterinária.
São Paulo: Editora Atheneu. 125-156.
Martins JR, Medri IM, Oliveira CM, Guglielmone A 2004. Ocorrência de carrapatos em
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e tamanduá-mirim (Tamandua
tetradactyla) na região do Pantanal Sul Mato-Grossense, Brasil. Cienc Rural 34: 293-
295.
Martins JRS, Furlong J, Leite RC, 2006. Controle de carrapatos. In: Barros-Battesti D,
Arzua M, Bechara GH. (eds.) Carrapatos de importancia Medica e Veterinaria da
Regiao Neotropical: um guia ilustrado para identificacao de especies. Brasil, São Paulo,
pp. 145-153.
FA, Richtzenhain LJ, Labruna MB 2011. Spotted fever group Rickettsia infecting ticks
(Acari: Ixodidae) in the state of Santa Catarina, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 106:
926-930.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 83
Mendes MC, Pinto CKL, JR Pereira JR 2008. Práticas de manejo para o controle de o
carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus (Acari: Ixodidae) em propriedades
localizadas na região de Pindamonhangaba, Vale do Paraíba, São Paulo. Arq Inst Biol
75: 371-373.
Ment D, Gindin G, Glazer I, Perl S, Elad D, Samish D 2010.The effect of temperature
and relative humidity on the formation of Metarhizium anisopliae chlamydospores in
tick eggs. Fungal Biol 114: 49-56.
Miller RJ, George JE, Guerrero F, Carpenter L, Welch JB 2001. Characterization of
acaricide resistance in Rhipicephalus sanguineus (Latreille) (Acari: Ixodidae) collected
from the Corozal Army Veterinary Quarantine Center, Panama. J Med Entomol 38: 298-
302.
Moraes C, Schrank A, Vainstein MH 2003. Regulation of extracellular chitinases and
proteases in the entomopathogen and acaricide Metarhizium anisopliae. Curr Microbiol
46: 205-210.
Nicholson WL, Paddock CD, Demma L, Traeger M, Johnson B, Dickson J Mcquiston J,
Swerdlow D 2006. Rocky Mountain Spotted Fever in Arizona: Documentation of heavy
environmental infestations of Rhipicephalus sanguineus at an endemic site. Ann. N.Y.
Acad. Sci. 1078: 338–341.
Oliveira PR, Borges LMF, Lopes CML, Leite RC 2000. Population dynamics of the free
living stages of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) on pastures
of Pedro Leopoldo, Minas Gerais State, Brazil. Vet Parasitol 92: 295-301.
Oyafuso MK, Dagnone AS, Vidotto O, Morais HSA 2002. Caracterização de carrapatos
parasitas de cães em uma população hospitalar no norte do Paraná. Cienc Ag, Londrina
23: 71-74.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 84
Pal S, St Leger RJ, Wu LP 2007. Fungal peptide destruxin A plays a specific role in
suppressing the innate immune response in Drosophila melanogaster. J Biol Chem 282:
8969-8977.
Pereira MC, Labruna MB 1998. Febre maculosa: aspectos clinico epidemiologicos.
Revista Clínica Veterinária 12: 19-23.
Piesman J, Eisen L 2008. Prevention of Tick-Borne Diseases. Annu Rev Entomol 53:
323-43.
Prata MC, Daemon E 1997. Determinação do número de ovos por grama de postura de
Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae). Rev. Bras. Cien Vet 4: 81-
82.
Rey L 2002. Bases da Parasitologia Médica. 2ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
RJ, p.695.
Rocha LFN, Tai MHH, Santos AH, Albernaz DAS, Humber RA, Luz C 2009.
Occurrence of invertebrate-pathogenic fungi in a Cerrado ecosystem in Central Brazil.
Biocontrol Sci Technol 19: 547-553.
Rocha LFN, Inglis PW, Humber RA, Kipnis A, Luz C 2012. Occurrence of
Metarhizium spp. in Central Brazilian soils. J Basic Microbiol 52: 1-10.
Rojas R, Marini MA, Coutinho MTZ 1999. Wild Birds as Hosts of Amblyomma
cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae). Mem Inst Oswaldo Cruz 94: 315-322.
Roy HE, Steinkraus DC, Eilenberg J, Hajek AE, Pell JK 2006. Bizarre interactions and
endgames: entomopathogenic fungi and their arthropod hosts. Ann Rev Entomol 51:
331-357.
Samish M, Rehacek J 1999. Pathogens and predators of ticks and their potential in
biological control. Ann Rev Entomol 44: 159-182.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 85
Samish M, Gindin G, Alekseev E, Glazer I 2001. Pathogenicity of entomopathogenic
fungi to different developmental stages of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae)
J. Parasitol 87: 1355-1359.
Samish M, Ginsberg H, Glazer I 2004. Biological control of ticks. Parasitol 129: 389-
403.
Sanchez R AC, Lopez-Gatell H, Soria C, Estrada J, Olguin H, et al 2009. Rhipicephalus
sanguineus-associated Rocky Mountain spotted fever in Mexicali, Mexico:
Observations from an outbreak in 2008-2009. Abstract #75. Paper presented at: The
23rd Meeting of the American Society for Rickettsiology; Hilton Head, SC.
Shinjo SK, Gauditano G, Marchiori PE, Bonoldi VLN, Costa IP, Mantovani E
Yoshinari NH 2009. Manifestação neurológica na síndrome de Baggio-Yoshinari
(Síndrome brasileira semelhante à doença de Lyme). Rev Bras Reumatol 49: 492-505.
Souza EJ, Costa GL, Bittencourt VREP, Fagundes AS 2009. Ação do fungo Beauveria
bassiana associado a gel polimerizado de celulose no controle do carrapato Anocentor
nitens em teste de campo. Arq Bras Med Vet Zootec 61: 163-169.
SINAN 2011. Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Acessado em
10/11/2011 no site: http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/.
Tanada Y, Kaya HK 1993. Insect pathology. Academic Press Inc., San Diego. p. 633.
Sosa-Gómez DR, López LCC, Humber RA 2010. Overview of arthropod-associated
fungi from Argentina and Brazil. Mycopathol 170:61-76.
SVS/MS 2006. Secretaria de Vigilância em Saúde/ Ministério da Saúde, 6. ed. Brasília.
Doenças infecciosas e parasitárias. Guia de Vigilância epidemiológica. Febre Maculosa
Brasileira - Características clínicas e epidemiológicas 132-135p.
Veronesi R 1982. Doenças infecciosas e parasitárias, 7ª edição. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. p. 555-568.
D’Alessandro WB – Tese de Doutorado em Medicina Tropical e Saúde Pública – Parasitologia – IPTSP/2012 86
Zimmermann G 2007a. Review on safety of the entomopathogenic fungus Metarhizium
anisopliae. Biocontrol Sci Technol 17: 879-920.
Zimmermann G 2007b. Review on safety of the entomopathogenic fungi Beauveria
bassiana and Beauveria brongniartii. Biocon Sci and Technol 17: 553-596.