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PPGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO GERALDO LUIZ DE OLIVEIRA SILVA SUSTENTABILIDADE NAS ASSOCIAÇÕES ATLÉTICAS DO BANCO DO BRASIL: uma visão econômica, social e ambiental Biguaçu - SC 2015

PPGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM …siaibib01.univali.br/pdf/Geraldo Luiz de Oliveira Silva.pdf · los a buscarem sempre novos desafios que os tornem cidadãos cada vez mais seguros

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  • PPGA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

    CURSO DE MESTRADO ACADMICO EM ADMINISTRAO

    GERALDO LUIZ DE OLIVEIRA SILVA

    SUSTENTABILIDADE NAS ASSOCIAES ATLTICAS DO BANCO DO BRASIL:

    uma viso econmica, social e ambiental

    Biguau - SC

    2015

  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    Programa de Ps-Graduao em Administrao

    Curso de Mestrado Acadmico em Administrao

    GERALDO LUIZ DE OLIVEIRA SILVA

    SUSTENTABILIDADE NAS ASSOCIAES ATLTICAS DO BANCO DO BRASIL:

    uma viso econmica, social e ambiental

    Biguau - SC

    2015

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

    Acadmico em Administrao da Universidade

    do Vale do Itaja, como requisito obteno do

    ttulo de Mestre em Administrao.

    Orientadora: Prof. Dr. Anete Alberton

  • GERALDO LUIZ DE OLIVEIRA SILVA

    SUSTENTABILIDADE NAS ASSOCIAES ATLTICAS DO BANCO DO BRASIL:

    Uma viso econmica, social e ambiental

    Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao e

    aprovada pelo Curso de Mestrado Acadmico em Administrao, da Universidade do Vale do

    Itaja.

    rea de concentrao: Sustentabilidade, Organizaes e Sociedade

    Biguau, 25 de agosto de 2015

    Prof. Dr. Rosilene Marcon

    Coordenadora do PPGA

    Banca Examinadora:

    Prof. Dr. Anete Alberton

    UNIVALI Biguau

    Orientadora

    Prof. Dr. Maria Jos Barbosa de Souza

    UNIVALI Biguau

    Prof. Dr. Slvio Roberto Stefano

    UNICENTRO Guarapuava - PR

    Prof. Dr. Adriana Marques Rossetto

    UFSC Florianpolis - SC

  • Este trabalho dedicado memria dos

    meus pais, Antonio Ferreira da Silva e

    Josefa de Oliveira Silva, minha esposa

    Dayane, e aos meus filhos Matheus,

    Heitor e Joo Pedro que representam a

    razo maior do meu caminhar.

  • AGRADECIMENTOS

    So tantos os agradecimentos que esto registrados em minha memria e em meu

    corao que me preocupa no ser capaz de nominar todos nesse pequeno espao que

    prenuncia o trabalho de pesquisa e referenda minha conquista ao ttulo de Mestre.

    Deus est sempre no comando e tem feito milagres em minha vida e no foi diferente

    durante as horas, dias e meses de pesquisa. A Ele, devo toda glria das minhas aes. Aos

    meus pais, meus primeiros professores, que me ensinaram valores que carrego em minha vida

    e tento passar com a mesma dignidade e competncia para meus filhos. Aos irmos, irms,

    tios (as), primos (as), sobrinhos (as), cunhados (as) que participaram e participam das minhas

    relaes familiares primitivas, e que me inspiram e enchem minha alma de energia com

    serenidade, paz, harmonia e muita irmandade que fazem com que cada novo encontro seja

    mais fraterno, respeitoso e amoroso entre todos.

    minha esposa, que soube compreender cada momento de isolamento que precisei,

    apoiando e respeitando minha deciso de seguir adiante em minha formao acadmica. Aos

    meus filhos, Matheus, Heitor e Joo Pedro, que so a inspirao maior que tenho na prtica

    dos meus atos e em minha vida acadmica para que, atravs do exemplo, eu possa sensibiliz-

    los a buscarem sempre novos desafios que os tornem cidados cada vez mais seguros em suas

    atitudes e felizes em suas realizaes.

    minha orientadora Anete Alberton que com sua capacidade de sntese e profundo

    conhecimento, no mediu esforos para o aprimoramento e a melhoria constante desta

    pesquisa atuando com vigor, mas, tambm com a compreenso de que somos aprendizes em

    uma rea em que j desfruta com louvor e competncia da titulao de doutora.

    Aos colegas de turma, com os quais tive a satisfao de conviver durante esse breve

    perodo, participando de discusses intelectuais e informais com intensidade e respeito, e que,

    nos momentos de desnimo, foram atores de destaque removendo angstias e florescendo

    jardins com doses de esperana, confiana, entusiasmo e f para que no houvesse interrupo

    no objetivo final.

    Agradeo tambm a coordenao, equipe de professores e aos colaboradores da

    UNIVALI que estiveram atentos em todos os momentos para que o aprendizado fosse a

    contento e que nossas necessidades acadmicas fossem atendidas.

    Aos presidentes e aos associados das AABBs, os quais gentilmente atenderam

    minhas insistentes solicitaes para responderem aos questionrios e a diretoria da FENABB

    que abriu as portas da federao para que eu conseguisse as informaes necessrias para a

    complementao da pesquisa.

    Por fim, no posso deixar de agradecer o auxlio dos amigos e amigas que mesmo

    fora da academia e sem perceberem, em conversas informais inflaram meus sonhos, injetaram

    energias e contriburam, de forma decisiva, para que eu continuasse a buscar os meus

    objetivos acadmicos.

    Obrigado a todos (as).

  • RESUMO

    As Associaes Atlticas Banco do Brasil (AABBs) surgiram no ano de 1928 nas cidades de

    Belm e Rio de Janeiro por iniciativa dos funcionrios da empresa e se expandiram em todos

    os estados do pas e no distrito federal (FENABB, 2014) totalizando, hoje, mais de 1.200

    clubes. Embora as associaes tenham estatutos prprios aprovados em Assembleia Geral dos

    Associados e atuem de maneira independente, so interligadas a Federao Nacional das

    AABBs FENABB. Delimitado ao conjunto de AABBs que desenvolvem o Programa

    Integrao AABB Comunidade (305 AABBs) e que possuem em seu quadro social 92.047

    associados titulares, o objetivo desta pesquisa analisar a sustentabilidade desses clubes nos

    aspectos social, ambiental e econmico tendo como base o Triple bottom line. Para um erro

    amostral mximo de 5% foram pesquisados 398 associados e 173 dirigentes. A pesquisa

    quali-quantitativa com abordagem descritiva. Na parte quantitativa foram analisados os dados

    secundrios fornecidos pela FENABB (Projeto Diagnstico das AABBs) e os questionrios

    on line (surveymonkey) com questes fechadas aplicadas aos dirigentes e associados. A

    estatstica descritiva e anlise fatorial foram utilizadas para melhor compreenso dos fatores

    que determinam a anlise das AABBs na perspectiva da sustentabilidade, considerando

    tambm, amostras regionais. No aspecto qualitativo, foi realizada pesquisa com respostas

    abertas junto aos gestores da FENABB no intuito de se estabelecer uma triangulao entre os

    dados quantitativos e qualitativos. Os resultados apontam que tanto os dirigentes quanto os

    associados no percebem a dimenso ambiental como prioridade em suas aes;

    regionalmente, o Centro-Oeste apresentou os menores ndices de satisfao em todos os itens

    dessa dimenso. Na dimenso social, confirmou-se a caracterstica principal dos clubes

    relacionada ao desenvolvimento de atividades esportivas em todas as regies. Na dimenso

    econmica o valor da mensalidade com os servios oferecidos pelos clubes apresentou

    conformidade o que sustenta o entendimento de que esses pagamentos no esto vinculados

    diretamente com a reduo do quadro associativo. Na anlise final dos gestores da FENABB

    percebeu-se uma mobilizao da federao junto as AABBs nas questes ambientais. Na

    dimenso social a participao da federao tem sido substancial no planejamento, apoio e

    criao de eventos internos e entre os clubes. Economicamente, a federao demonstra

    efetividade no acompanhamento das finanas dos clubes, auxiliando com recursos financeiros

    e desenvolvimento de projetos para melhorias nas instalaes e captao de novos associados.

    Como contribuio terico-prtica, uma das proposies a incluso do tema sustentabilidade

    nos cursos e palestras para os administradores dos clubes proferidas pelos gestores da

    FENABB, bem como a replicao da pesquisa em grupos de AABBs de mesma Unidade

    Federativa ou em clubes similares que poder despertar nos membros dessas instituies,

    reflexes sustentveis e motivao necessrias para a mobilizao em suas comunidades de

    atitudes voltadas para a sustentabilidade. Palavras-chave: Clube social. Sustentabilidade. Triple Bottom Line. Gesto sustentvel.

  • ABSTRACT

    The Associaes Atlticas Banco do Brasil [Banco do Brasil Athletic Associations AABBs

    emerged in 1928 in the cities of Belm and Rio de Janeiro, at the initiative of employees of

    the company. The AABBs then expanded to every state of the country, including the Distrito

    Federal (FENABB, 2014) and there are now more than 1200 clubs. Although the associations

    have their own bylaws, approved in a General Assembly of Members, and act independently,

    they are all interconnected through the National Federation of AABBs the FENABB.

    Focusing only on the AABBS that developed the Programa Integrao AABB Comunidade

    (AABB Community Interaction Program), a group consisting of 305 AABBs and representing

    92,047 full members, the objective of this research was to analyze the sustainability of these

    clubs in relation to social, environmental and economic aspects, based on the Triple bottom

    line. For a maximum sampling error of 5%, 398 members and 173 managers were studied.

    The research is qualitative and quantitative, with a descriptive approach. In the quantitative

    part, the secondary data was supplied by the FENABB (Diagnostic Project of the AABBs)

    and online questionnaires (surveymonkey) with closed questions appplied to the managers and

    the members. Descriptive statistics and factor analysis were used to better understand the

    factors that determine the analysis of the AABBs from a perspective of sustainability, also

    considering regional samples. In the qualitative aspect, a survey was conducted with open

    questions, with the managers of the FENABB, to establish a triangulation between the

    quantitative and qualitative data. The results indicate that both the managers and the members

    do not perceive the environmental dimension as priority in their actions; regionally, the

    Central West presented the lowest indices of satisfaction in all the items of this dimension. In

    the social dimension, the main characteristic of the clubs i.e. the development of sporting

    activities, was confirmed in all the regions. In the economic dimension, the value of the

    monthly fee was comensurate with the services offered by the clubs, suggesting that these

    payments are not directly linked to the reduction in the number of members. In the final

    analysis of the managers of the FENABB, it was seen that there was a mobilization of the

    federation with the AABBs around environmental issues. In the social dimension, the

    participation of the federation has played a substantial role in the planning, support and

    creation of internal events, and events between the clubs. Economically, the federation

    demonstrates effectiveness in monitoring the clubs finances, assisting with financial

    resources and the development of projects to improve facilities and boost membership. As

    theoretical and practical contributions, one of the proposals is the inclusion of the theme of

    sustainability in the courses and lectures for the administers of the clubs, offered by the

    managers of the FENABB, as well as the replication of the group research of the AABBs of

    the same Federative Unit, or in similar clubs, that could promote sustainable reflection among

    the members of these institutions, and the necessary motivation to mobilize attitudes of

    sustainability in their communities.

    Keywords: Social club. Sustainability. Triple Bottom Line. Sustainable Management.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Esquema da estruturao da pesquisa..................................................... 24

    Figura 2 Modelo de Gesto de sustentabilidade.................................................... 36

    Figura 3 Stakeholders mais comuns....................................................................... 38

    Figura 4 Estrutura do desenvolvimento da pesquisa. 66

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Caractersticas das Associaes e das Fundaes........................................... 29

    Quadro 2 Aspectos comparativos entre os paradigmas................................................... 32

    Quadro 3 Cronologia nas ltimas dcadas de acontecimentos sustentveis................... 33

    Quadro 4 Caractersticas de um relatrio de indicadores de qualidade........................... 42

    Quadro 5 Modelos de mensurao da sustentabilidade.................................................. 45

    Quadro 6 Anlise comparativa dos modelos................................................................... 47

    Quadro 7 Integrao dos indicadores na dimenso Econmica..................................... 59

    Quadro 8 Correlao dos indicadores da dimenso social............................................. 60

    Quadro 9 Correlao dos indicadores da dimenso Ambiental..................................... 61

    Quadro 10 Operacionalizao para se alcanar os objetivos especficos........................ 65

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distribuio regional das AABBs e populao da pesquisa............................... 52

    Tabela 2 Amostra mnima e final dos dados secundrios, dirigentes e associados.......... 57

    Tabela 3 Numerao correspondente s respostas............................................................. 63

    Tabela 4 Indicadores secundrios das AABBs.................................................................. 67

    Tabela 5 Frequncias, mdias e percentuais das respostas dos associados e dirigentes na

    dimenso social...................................................................................................

    79

    Tabela 6 Frequncias, mdias e percentuais das respostas dos associados e dirigentes na

    dimenso ambiental.............................................................................................

    82

    Tabela 7 Frequncias, mdias e percentuais das respostas dos associados e dirigentes na

    dimenso econmica............................................................................................

    85

    Tabela 8 Frequncias, mdias e percentuais entre associados e dirigentes da Regio

    Centro-Oeste........................................................................................................

    89

    Tabela 9 Frequncias, mdias, percentuais entre associados e dirigentes da Regio

    Nordeste...........................................................................................................

    93

    Tabela 10 Frequncias, mdias, percentuais entre associados e dirigentes da Regio

    Sudeste.................................................................................................................

    97

    Tabela 11 Frequncias, mdias e percentuais entre associados e dirigentes da Regio

    Norte....................................................................................................................

    101

    Tabela 12 Frequncias, mdias e percentuais entre associados e dirigentes da Regio

    Sul........................................................................................................................

    105

    Tabela 13 Correlao entre as variveis para o grupo dos associados................................. 114

    Tabela 14 Correlao entre as variveis para o grupo dos dirigentes.................................. 115

    Tabela 15 Teste de KMO das perguntas para os dirigentes................................................. 116

    Tabela 16 Resultado do teste de confiabilidades das perguntas-dirigentes e associados..... 116

    Tabela 17 Teste de normalidade entre as perguntas dos dirigentes e associados................. 116

    Tabela 18 Anlise fatorial Componentes Principais com Varimax associados.............. 118

    Tabela 19 Anlise fatorial Componentes Principais com Varimax dirigentes............... 119

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Segmentao das AABBs por categoria............................................................. 54

    Grfico 2 Distribuio regionalizada das AABBs de acordo com a segmentao............. 54

    Grfico 3 Distribuio da populao dos associados e dirigentes de AABBs pesquisadas. 55

    Grfico 4 Pendncias financeiras junto FENABB ou a rgos financiadores.................. 68

    Grfico 5 Aes judiciais/ normativos/ obrigaes legais pendentes/ concludas.............. 69

    Grfico 6 Gerao, contratao e demisso de empregados............................................... 70

    Grfico 7 Crescimento do nmero de associados provenientes da comunidade................. 70

    Grfico 8 Tempo de vinculao a AABB........................................................................... 71

    Grfico 9 Formao acadmica dos associados e dirigentes............................................... 72

    Grfico 10 Distncia entre AABB e residncia dos associados............................................ 73

    Grfico 11 Frequncia mensal a AABB pelos associados................................................. 73

    Grfico 12 Razes pela escolha da AABB como clube social.............................................. 74

    Grfico 13 Mandatos exercidos pelo dirigente da AABB..................................................... 75

    Grfico 14 Razes para administrar a AABB....................................................................... 76

    Grfico 15 Idade mdia dos dirigentes e associados............................................................. 77

    Grfico 16 Nmero de dependentes dos associados e dirigentes........................................... 77

    Grfico 17 Respostas dos associados percentuais Dimenso social................................ 80

    Grfico 18 Respostas dos dirigentes percentuais Dimenso social.................................. 81

    Grfico 19 Respostas dos associados percentuais Dimenso ambiental.......................... 83

    Grfico 20 Respostas dos dirigentes percentuais Dimenso ambiental........................... 83

    Grfico 21 Respostas dos associados percentuais Dimenso econmica........................ 86

    Grfico 22 Respostas dos dirigentes percentuais Dimenso econmica.......................... 86

    Grfico 23 Mdia das frequncias das respostas dos associados e dirigentes....................... 87

    Grfico 24 Representao percentual das respostas dos associados Centro-Oeste............. 90

    Grfico 25 Representao percentual das respostas dos dirigentes Centro-Oeste.............. 91

    Grfico 26 Mdia frequncias das respostas dos associados e dirigentes Centro-Oeste.... 92

    Grfico 27 Representao percentual das respostas dos associados Nordeste.................... 94

    Grfico 28 Representao percentual das respostas dos dirigentes Nordeste..................... 95

    Grfico 29 Mdia frequncias das respostas dos associados e dirigentes Nordeste........... 96

    Grfico 30 Representao percentual das respostas dos associados Sudeste...................... 98

    Grfico 31 Representao percentual das respostas dos dirigentes Sudeste....................... 99

  • Grfico 32 Mdia das frequncias das respostas dos associados e dirigentes Sudeste....... 100

    Grfico 33 Representao percentual das respostas dos associados Norte......................... 102

    Grfico 34 Representao percentual das respostas dos dirigentes Norte.......................... 103

    Grfico 35 Mdia das frequncias das respostas dos associados e dirigentes Norte.......... 104

    Grfico 36 Representao percentual das respostas dos associados Sul............................. 106

    Grfico 37 Representao percentual das respostas dos dirigentes Sul.............................. 107

    Grfico 38 Mdia das frequncias das respostas dos associados e dirigentes Sul............. 108

    Grfico 39 Critrio Scree Plots Mtodo Componentes Principais associados e

    dirigentes............................................................................................................. 117

  • LISTA DE SIGLAS

    AABB

    AGE

    Associao Atltica Banco do Brasil Assembleia Geral Extraordinria

    CBC Confederao Brasileira de Clubes CMMAD Comisso Mundial Sobre o Meio Ambiente CGSDI Consultative Group of Sustainability Development Indicators CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies CBD Conveno de Diversidade Biolgica CSI Center for Sustainable Innovation DJSI Dow Jones Sustainability Index EPI Environmental Performance Index EVI Environmental Vulnerability Index FENABB Federao Nacional das AABBs GRI Global Reporter Institute GPI Genuine Progress Indicator HDI Human Development Index HW Kruskal-Wallis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IISD International Institute for Sustainable Development IDS Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel IUCN World Conservation Union IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change ISO International Organization for Standardization IUCN World Conservation Union IDRC International Development Research Centre IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano IBASE ndice Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas IDH ndice de Desenvolvimento Humano LPI Living Planet Index NEPP Ncleo de Estudos de Polticas Pblicas NCRI ndice Nacional de Responsabilidade Corporativa NY Nova York ONG Organizao No Governamental ONU Organizao das Naes Unidas PIB Produto Interno Bruto PSR Pressure, State, Response PPL Pessoa, Planeta e Lucro PNUMA Programa das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente RNB Rendimento Nacional Bruto RCI Responsible Competitiveness Index SD Dashboard of Sustainability SOPAC Comisso de Geocincia Aplicada do Pacfico Sul TBL Triple Bottom Line UNICAMP Universidade de Campinas UNEP United Nations Environment Programme WN Well-being of Nations WWF World Wildlife Fund

  • SUMRIO

    1. INTRODUO................................................................................................. 16

    1.1 PROBLEMA DE PESQUISA............................................................................. 18

    1.2 Objetivo Geral.................................................................................................... 20

    1.2.1 Objetivos Especficos......................................................................................... 20

    1.3 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO................................................................... 21

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................... 23

    2. FUNDAMENTAO TERICA.................................................................... 26

    2.1 O ASSOCIATIVISMO........................................................................................ 26

    2.1.1 O surgimento da denominao Terceiro Setor no Brasil............................... 27

    2.1.2 A gesto do lazer................................................................................................. 29

    2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E SUSTENTABILIDADE............. 31

    2.2.1 Gesto da sustentabilidade............................................................................... 34

    2.2.2 Partes interessadas (stakeholders) na concepo da sustentabilidade......... 37

    2.2.3 Responsabilidade socialferramenta para sustentabilidade organizacional 39

    2.3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE................................................... 41

    2.4 MODELOS DE MENSURAO DA SUSTENTABILIDADE....................... 43

    2.5 CONSIDERAES ACERCA DOS CRITRIOS ESTABELECIDOS PARA

    ESCOLHA DOS MODELOS..............................................................................

    46

    3. METODOLOGIA DA PESQUISA.................................................................. 49

    3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA................................................................... 49

    3.2 CARACTERSTICAS DO OBJETO DE ESTUDO ........................................... 50

    3.2.1

    3.2.2

    Contextualizao das AABBs............................................................................

    Universo da pesquisa..........................................................................................

    50

    51

    3.2.3

    3.3

    3.3.1

    Decises Amostrais.............................................................................................

    INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS...................................................

    Indicadores dos modelos correlatos com os indicadores das AABBs............

    55

    58

    59

    3.4 COLETA DE DADOS......................................................................................... 62

    3.5 TRATAMENTO E ANLISE DOS DADOS..................................................... 62

    4. RESULTADOS DA PESQUISA....................................................................... 67

    4.1 DADOS SECUNDRIOS DAS AABBS............................................................ 67

  • 4.2 PESQUISA COM DIRIGENTES E ASSOCIADOS........................................... 71

    4.2.1 Caracterizao dos respondentes...................................................................... 71

    4.2.2 Anlise das dimenses social, ambiental e econmica entre associados e

    dirigentes.............................................................................................................

    78

    4.2.3 Anlise regional baseada na opinio dos associados e dirigentes.................. 88

    4.2.3.1 Resultados e anlise da Regio Centro-Oeste.................................................. 89

    4.2.3.2 Resultados e anlise da Regio Nordeste......................................................... 92

    4.2.3.3 Resultados e anlise da Regio Sudeste............................................................ 96

    4.2.3.4 Resultados e anlise da Regio Norte............................................................... 100

    4.2.3.5 Resultados e anlise da Regio Sul................................................................... 104

    4.2.4 Comparao dos resultados entre regies....................................................... 108

    4.3 ASSOCIAO DOS DADOS SECUNDRIOS COM DADOS DOS

    DIRIGENTES E GESTORES DA FENABB......................................................

    111

    4.4 ANLISE FATORIAL DOS DADOS................................................................ 114

    5. CONSIDERAES FINAIS............................................................................ 120

    REFERNCIAS............................................................................................................... 125

    ANEXO 1 Relatrio Projeto Diagnstico da FENABB................................................. 136

    APNDICE A Descrio dos Modelos de Sustentabilidade......................................... 141

    APNDICE B Relao das AABBs participantes da pesquisa por regio.................... 161

    APNDICE C Questionrio direcionado aos associados das AABBs.......................... 164

    APNDICE D Questionrio direcionado aos dirigentes das AABBs........................... 166

    APNDICE E Questionrio direcionado aos dirigentes da FENABB........................ 168

    APNDICE F Tabela do perfil dos associados e dirigentes das AABBs..................... 170

    APNDICE G Comparao das frequncias mdias por Regio................................. 171

  • 16

    1 INTRODUO

    A origem dos clubes pelo mundo remonta poca das grandes navegaes que

    ocorreram entre o sculo XV e o incio do sculo XVII, quando os europeus exploravam as

    rotas martimas em busca de novas terras e diversificao nas especiarias. Segundo Libardi

    (2014), os precursores na criao dos clubes pelo mundo foram os ingleses que, ao sarem de

    seu pas de origem para colonizao de terras longnquas, tinham o desejo de manter as

    tradies e a cultura do seu pas de procedncia.

    Essa prtica inspirou outras naes que passaram a desenvolver esses hbitos dando

    consistncia ao desenvolvimento de outros clubes que, em sua concepo tradicional, trata-se

    da associao de duas ou mais pessoas unidas por interesses e objetivos comuns (LIBARDI,

    2014).

    Os clubes sociais so concebidos de forma associativa e caracterizados, tambm, como

    associaes culturais, desportivas e sociais pelas aes desenvolvidas nessas reas, atuando

    predominantemente de forma interna procurando atender s expectativas dos seus associados

    (SEBRAE, 2014). Diferentemente dos clubes sociais, os clubes de servios que possuem em

    sua essncia, a prestao de servios externos e variados, tendo como filosofia o bem comum,

    so entidades em que os integrantes trabalham desinteressadamente para solucionar, ou pelo

    menos minimizar, os problemas que afligem uma comunidade alicerada no companheirismo

    e na caridade (LIONS CLUB, 2015).

    No Brasil, pela diversidade de etnias, o conceito de clube social se desenvolveu com

    intensidade no sculo XVIII, vsperas da independncia, com grande influncia dos ingleses,

    alemes, portugueses, espanhis e italianos (LIBARDI, 2014). Os clubes sociais so

    instituies regidas juridicamente como sociedades civis sem fins lucrativos e possuem

    estatutos especficos que regem as suas funes e a aplicao dos recursos financeiros e

    econmicos oriundos das mensalidades pagas pelos seus associados e outras arrecadaes

    provenientes de realizao de eventos/atividades cultural, social e esportiva (CAPI;

    MARCELLINO, 2009).

    Essas instituies fazem parte do Terceiro Setor e tm passado por diferentes

    momentos sociais, culturais, polticos e econmicos da sociedade (CAMARGO; SILVA,

    2008). Originalmente, segundo Carvalho (2009), os clubes trouxeram uma importante

    contribuio para a modernizao do Brasil, graas organizao da sociedade no crescente

    processo de urbanizao.

    Bramante (1999) defende que os contedos culturais, sociais, fsico-esportivos,

    manuais, intelectuais, artsticos e tursticos dessas instituies representam um conjunto de

  • 17

    aspectos interdependentes que devem compor o planejamento na realizao dos processos de

    urbanizao das sociedades.

    O autor acrescenta que, sendo os clubes sociais instituies que atuam de acordo com

    o objetivo social dos seus participantes oferecendo uma variedade de opes culturais, alm

    da prtica de lazer e recreao coletiva, podem ser considerados como um aliado na

    construo e aplicao das polticas pblicas voltadas a esse segmento (BRAMANTE, 1999).

    A frequncia a esses locais de lazer e entretenimento e o hbito de vida dessas pessoas

    interfere de modo significativo no comportamento social das comunidades onde esto

    inseridos (CARVALHO, 2009). Suas atividades e diretrizes so regidas por estatuto

    elaborado e aprovado pelos participantes da instituio, no qual se definem direitos e

    obrigaes, cabendo o exerccio da presidncia ao associado eleito entre seus pares pelo voto

    direto.

    Esse associado no necessita possuir formao acadmica ou experincia

    administrativa comprovada, mas, apenas, que tenha bom relacionamento com os associados e

    transmita seriedade e competncia para fazer cumprir as determinaes estabelecidas nos

    normativos. Nesse aspecto, Capi e Marcellino (2009) contestam sobre a falta de exigncia de

    conhecimento administrativo, argumentando que a necessidade de desenvolvimento

    profissional, tcnico e poltico, do pessoal de associaes, clubes e similares deveria fazer

    parte da gesto, mitigando a poltica de animao voltada ao divertimento momentneo.

    Silva (2007) afirma que, embora o gestor do clube social exera uma funo de

    liderana e comando na criao das atividades nos diversos setores para atendimento aos

    associados, no exerce esse cargo como sua principal atividade profissional, realizando-o de

    forma voluntria sem vnculo empregatcio ou remunerao, dedicando uma parcela do seu

    tempo livre para os assuntos relacionados gesto do clube.

    A institucionalizao dos clubes como entidades sem fins lucrativos, segundo a Lei n

    9.790, Cap. I, art. 1, 1, no permite distribuio de eventuais excedentes operacionais, a

    associados, conselheiros e diretores no exerccio da funo, impossibilitando que o gestor

    tenha a atuao diretiva como sua principal atividade profissional. Dessa forma, a

    administrao exercida voluntariamente por um associado disposto a colaborar com a

    instituio.

    As crescentes demandas por qualidade no atendimento e a necessidade de adaptao

    dos clubes s exigncias que a mudana de comportamento da sociedade impe tm sido

    determinantes para a satisfao e manuteno dos associados e, consequentemente, para a

    sustentabilidade dessas instituies que necessitam de uma gesto responsvel para atender s

  • 18

    exigncias atuais, sem perder a conexo com as exigncias e as necessidades das geraes

    futuras.

    A significncia desta pesquisa est em explorar esses fenmenos e despertar o

    interesse no cenrio acadmico, nos administradores dos clubes ligados ao Banco do Brasil e

    nos gestores dos clubes com caractersticas similares sobre o desempenho social, esportivo e

    econmico das Associaes Atlticas Banco do Brasil AABBs, considerando a oferta de

    servios disponibilizados comunidade, a sua reorganizao administrativa e financeira para

    manter-se atraente e atuante diante dos desafios impostos pela mudana de comportamento da

    sociedade e a sua importncia para a disseminao da sustentabilidade.

    Riede (2002) argumenta que essas associaes tm um papel importante na sociedade

    ao oferecerem atividades educativas, artsticas, filantrpicas, sociais tursticas e de lazer, e,

    por sua natureza intrnseca, ao contriburem em larga escala, para o desenvolvimento

    comunitrio. Embora atuem de maneira independente, as AABBs esto interligadas

    Federao Nacional das AABBs FENABB, sediada em Braslia, que atua desenvolvendo a

    integrao do Sistema de clubes assegurando a interao com o conglomerado Banco do

    Brasil BB e com a comunidade (FENABB, 2014).

    Alm de representar os clubes perante o BB, a federao tem a misso de liderar o

    processo de fortalecimento e desenvolvimento do sistema AABB coordenando, orientando e

    auxiliando nas questes jurdicas, administrativas, financeiras; atuando na qualificao dos

    gestores dos clubes por meio de cursos, palestras e congressos; estimulando a interao e

    integrao entre as AABBs e a comunidade; incentivando atividades esportivas, socioculturais

    e de lazer por intermdio das AABBs nas comunidades e desenvolvendo e incentivando

    projetos de interesse das AABBs e comunidades (FENABB, 2014).

    1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

    Os clubes sociais tm sido citados de forma secundria nos estudos acerca de temas

    como a prtica e a atividade esportiva, o lazer e o entretenimento, a atividade profissional,

    deixando-se de mencionar questes relacionadas sua estrutura fsica e sua atuao social,

    econmica e ambiental (CARVALHO, 2009).

    Nas pesquisas de Capi e Marcellino (2009) e Mezzadri (2000), por exemplo,

    destacam-se a importncia da formao profissional qualificada para a gesto dos clubes e a

    sistematizao e o planejamento das prticas do esporte como componentes essenciais para

    sua evoluo. Nos estudos de Bramante (1999) e Silva (2007) so abordados temas

    relacionados importncia do lazer e entretenimento nos clubes sociais. Sherry e Shilbury

  • 19

    (2007) e Skirstad e Chelladurai (2011) analisam as mudanas no clube social partindo de uma

    atuao amadora para uma atuao variada com diferentes enfoques, estabelecendo mltiplos

    campos organizacionais nos quais devem coexistir.

    Os clubes sociais representam uma sociedade formada por grupos de pessoas de

    diferentes reas profissionais, mas que partilham interesses comuns voltados s atividades

    culturais, de lazer e desportivas. Capi e Marcellino (2009) argumentam que o lazer nos clubes

    e nas demais esferas de sua manifestao deve ser capaz de proporcionar, alm de diverso e

    divertimento, desenvolvimento pessoal e social interno e circunjacente.

    Com base nas abordagens que envolvem a formao dos profissionais que atuam nos

    clubes, no lazer e entretenimento como atividades necessrias para o desenvolvimento pessoal

    e social dos associados, na dinmica das administraes voltadas para a adaptao das

    mudanas de preferncias da sociedade e nas prticas esportivas, este estudo se props a

    pesquisar a sustentabilidade das AABBs indagando os gestores e associados, quanto atuao

    desses clubes na sociedade, com o propsito de conhecer a significncia dessas instituies

    em um cenrio globalizado.

    Segundo Giannecchini e Marinoni (2007), as empresas e instituies de qualquer

    natureza j no fazem mais parte apenas de um mercado ou de uma comunidade, mas de uma

    sociedade global que busca estruturar e consolidar um novo paradigma frente s

    transformaes do mundo atual com objetivos econmicos, porm, inserido neles, h a

    preservao do meio ambiente e a promoo da justia social na mesma proporo.

    Neste contexto, a sustentabilidade das AABBs ser baseada no Triple Bottom Line

    (TBL) que preconiza que para uma organizao ser sustentvel deve ser financeiramente

    vivel, socialmente justa e ambientalmente responsvel. Segundo Oliveira et al. (2012), Melo

    (2013) e Boff (2013) o conceito surgiu no ano de 1994 na pesquisa feita pelo socilogo John

    Elkington, conhecido tambm pela expresso 3P (people, planet e profit) e PPL (pessoa,

    planeta e lucro) que orienta a expanso do modelo tradicional de negcios focado em

    resultados financeiros para um novo modelo, que inclui a performance ambiental e social

    atendendo s geraes atuais sem comprometer as geraes futuras.

    Elkington (2012) argumenta que aqueles que defendem e trabalham focados na linha

    dos trs pilares precisam se tornar formadores de opinio e de mercado, trazendo tecnologias

    e abordagens sustentveis que at ento estiveram na periferia do mundo moderno para dentro

    das prticas atuais, independentemente do tamanho da organizao e do ramo em que atua.

    Dados apontados pela Confederao Brasileira de Clubes CBC (2014) atestam a

    existncia de 13.826 clubes no pas que atendem a um nmero aproximado de 55 milhes de

  • 20

    associados entre titulares e dependentes. Libardi (2014) relata que essas instituies

    empregam de forma direta mais de 300 mil pessoas, incluindo profissionais do esporte e lazer.

    Segundo dados da FENABB (2014), as AABBs, totalizam 1.277 clubes distribudos em todas

    as capitais, no Distrito Federal e em 1.250 municpios no interior do pas contemplando,

    aproximadamente, um milho de pessoas entre associados e dependentes.

    Do total das AABBs, 305 desenvolvem o Programa Integrao AABB Comunidade

    idealizado pela FENABB com o apoio da Fundao Banco do Brasil, que atende, anualmente,

    mais de 50 mil crianas e adolescentes das comunidades circunvizinhas, entre 7 e 17 anos,

    que vivem em situao de risco pessoal e social (FENABB, 2014). Esses dados auxiliam no

    entendimento da dimenso desses clubes no cenrio nacional.

    Os impactos sociais, ambientais e econmicos provocados pelas AABBs relacionados

    ao desenvolvimento humano, estabelecido pelo atendimento s pessoas na promoo de

    atividades internas e externas ao clube, a identificao de prticas administrativas e

    econmicas, as contribuies intrnsecas para a melhoria da qualidade de vida da comunidade

    e o envolvimento em programas relacionados conscincia e preservao ambiental

    representam o foco desta pesquisa.

    Baseado nessas premissas a pesquisa pretende responder s seguintes perguntas: como

    atuam as AABBs, considerando os pressupostos do TBL? Como a atuao das AABBs

    percebida pelos associados e dirigentes, considerando as contribuies desses clubes geradas

    para a comunidade sob as dimenses da sustentabilidade? Quais os nveis de satisfao das

    AABBs regionais na perspectiva da sustentabilidade considerando o conceito Triple Bottom

    Line?

    1.2 OBJETIVO GERAL

    Analisar a atuao das AABBs sob a perspectiva da sustentabilidade.

    1.2.1 Objetivos especficos

    a) Identificar, a partir de modelos de avaliao da sustentabilidade, indicadores

    adequados s associaes, mais especificamente s AABBs;

    b) determinar os indicadores de sustentabilidade das AABBs;

    c) avaliar a percepo dos stakeholders (associados e dirigentes) quanto atuao das

    AABBs, considerando as dimenses da sustentabilidade;

    d) comparar o desempenho Regionalizado das AABBs, sob a amplitude da

    sustentabilidade, considerando os conceitos do Triple Bottom Line.

  • 21

    1.3 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

    Elkington (2012) assevera que sem a reestruturao para a sustentabilidade, uma vez

    que a competio ser uma das maiores foras que iro direcionar o sistema Triple: ambiental,

    econmico e social, as organizaes, independentemente da rea de atuao, perdero a

    competitividade e consequentemente, o rumo para o desenvolvimento sustentvel.

    Analisar a atuao das AABBs nos aspectos relacionados sustentabilidade com base

    no Triple Bottom Line (TBL) e identificar perspectivas que possam contribuir para uma

    melhor compreenso na forma de atuao desses clubes, servindo de modelo de gesto

    voltado sustentabilidade nesse segmento, objetivando a sua continuidade no atendimento s

    geraes atuais e futuras, o que se pretende atingir nesta pesquisa.

    Vrias reflexes podem ser feitas para tentar entender necessidade de reorganizao

    dessas entidades no pas, desde a mudana na economia registrada na dcada de 1990 com o

    lanamento do Plano Real, que promoveu uma nova maneira de lidar com as finanas

    pessoais, at a modernizao dos condomnios projetados com reas de lazer comparveis a

    um clube social.

    Segundo dados do IBGE (2008), as associaes sem fins lucrativos e as fundaes

    privadas, representam mais da metade (52,2%) do total de 556,8 mil entidades sem fins

    lucrativos no pas e empregam cerca de 4,9% dos trabalhadores brasileiros, o que significa um

    contingente de aproximadamente 2,1 milhes de pessoas. Todavia, ainda que esses sejam

    nmeros expressivos, no h mecanismos eficientes que possam mensurar o que

    desenvolvido nas organizaes sem fins lucrativos ou nas organizaes do Terceiro Setor com

    segurana. Albuquerque (2006) afirma que o desconhecimento de dados que quantifiquem e

    demonstrem a importncia e a atuao desse segmento dificulta ainda mais o trabalho de

    todos os profissionais e estudiosos interessados nesse tema.

    Meadows (1998) menciona que os resultados so impossveis de se obter sem que

    sejam utilizados indicadores de forma adequada. Nesse sentido, a pesquisa est alinhada com

    a identificao e a utilizao dos indicadores de sustentabilidade capazes de estabelecer

    coerncia nos procedimentos metodolgicos possibilitando o estabelecimento de anlises

    consistentes e confiveis diante dos resultados obtidos.

    Ranganathan (1998) refora a importncia dos indicadores de sustentabilidade, que

    representam o conjunto de informaes sobre o desempenho social, ambiental e econmico

    interligados de uma empresa, utilizados para medir e motivar o progresso em direo s metas

    sustentveis. Com base nessa inter-relao socioeconmica, socioambiental, ecoeficincia e

    em sua integrao, buscar-se- retroalimentar o conglomerado de clubes vinculados ao Banco

  • 22

    do Brasil (BB), identificando potencialidades para aprimorar as atuaes junto aos associados

    e sociedade para a efetividade e a consistncia nas aes internas e externas.

    Van Bellen (2006), Tayra e Ribeiro (2006) caracterizam os indicadores como sendo

    instrumentos de grande importncia na mensurao das diversas dimenses da

    sustentabilidade, revelando-se essenciais na conjugao dos parmetros ambientais, sociais e

    econmicos na busca do desenvolvimento sustentvel. Se o objetivo dos indicadores de

    sustentabilidade encontrar uma medida capaz de mensurar o desenvolvimento sustentvel,

    natural que este direcione ou mostre quais os pontos que foram alcanados com determinadas

    prticas ou polticas (SILVA; WIEN, 2010; VAN BELLEN, 2006).

    Como enfatizam Carvalho e Monzoni (2010), o tema sustentabilidade no representa

    um modismo, visto que, h a necessidade dos gestores compreenderem o papel das

    organizaes no caminho da sociedade rumo ao desenvolvimento sustentvel no apenas

    como um discurso efmero no meio em que esto inseridos, mas, totalmente agregado s

    atividades produtivas e administrativas, haja vista, a dimenso com que o tema vem sendo

    tratado nas organizaes e na sociedade em geral.

    Voltolini (2011) e Boff (2013) complementam relacionando a reestruturao e a

    sensibilizao da forma de pensar dos administradores, o pensamento e a ao no contexto

    global, a tica na gesto dos negcios e a parceria entre governo, sociedade civil e empresa

    como sendo os desafios-chave neste milnio para a adequao e a incluso definitiva da

    sustentabilidade nas empresas para que haja uma governabilidade efetiva que v alm das

    fronteiras econmico-financeiras.

    A criao de bem-estar social, envolvimento da comunidade nas decises das polticas

    pblicas e determinao de indicadores que possam medir e avaliar os impactos provocados

    em todas as instncias no meio ambiente so dinmicas determinantes para o alcance da

    sustentabilidade. Na anlise de Simo et al. (2010), o envolvimento da sociedade na

    formulao e na avaliao das polticas pblicas sustentveis e a escolha de aes especficas

    so fatores fundamentais para determinar os indicadores que se adaptem aos objetivos

    almejados, sejam estes gerais ou especficos.

    Elkington (2012) e Voltolini (2011) atestam que, para guiar as empresas na direo da

    sustentabilidade, essencial promover mudanas drsticas na gesto e quebrar velhos e

    consolidados paradigmas, pois o lucro o foco de qualquer organizao comercial ou

    industrial e a incluso dos aspectos relacionados ao social e ambiental no vislumbram no

    curto prazo, benefcios financeiros.

  • 23

    Loureno e Carvalho (2013) advertem que as organizaes devem envolver aspectos

    relevantes s prticas de sustentabilidade econmica, social, ambiental, e que esses aspectos

    precisam estar relacionados aos recursos humanos internos e externos, participao dos

    stakeholders, e s questes de desempenho macrossocial. Os autores reforam que a relao

    entre as partes interessadas de fundamental importncia para o desenvolvimento

    organizacional apoiado na sustentabilidade (LOURENO; CARVALHO, 2013).

    Ranganathan (1998) e Dias (2011) atestam que a adoo de padres de excelncia

    ambiental por parte das empresas com a sociedade e seu entorno ainda se encontra em fase de

    evoluo, considerando-se a amplitude de que se reveste essa problemtica, e que no h,

    ainda, uma estrutura de mensurao universalmente aceita. Existem sim, prticas isoladas por

    parte dos dirigentes empresariais e por grupos da populao, dependendo do grau de

    organizao local.

    Boff (2013), fazendo meno Carta da Terra, relata que nunca antes na histria o

    destino comum conclamou a se buscar um novo comeo como na atualidade, afirmando que

    isto requer uma mudana na mente e no corao e que requer, tambm, um novo sentido de

    interdependncia global e de responsabilidade universal devendo-se desenvolver e aplicar

    com imaginao a viso de um modo de vida sustentvel nos nveis local, regional, nacional e

    global.

    Diante das variveis apresentadas neste tpico, as anlises das prticas sustentveis

    desenvolvidas nas AABBs foram catalogadas com o apoio da FENABB e com base na

    experincia profissional do autor, que exerceu durante 2 anos a presidncia da AABB Maca-

    RJ, por 12 anos a presidncia da AABB Florianpolis-SC e 6 anos a vice-presidncia da

    FENABB-DF.

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

    O estudo se desenvolve alm desta introduo que compreende a contextualizao, os

    objetivos geral e especfico e a justificativa, e outros quatro captulos.

    No segundo captulo, fundamentao terica, busca-se relacionar autores nacionais e

    internacionais com abordagens voltadas formao das associaes originrias do

    associativismo, o Terceiro Setor, a funo do lazer e entretenimento, o desenvolvimento

    sustentvel e a sustentabilidade, e a compreenso e importncia dos modelos de indicadores,

    principalmente, aqueles voltados para a dimenso social, econmica e ambiental.

    O terceiro captulo refere-se aos procedimentos metodolgicos a serem utilizados para

    o atingimento dos objetivos, demonstrando como foi realizada cada etapa da pesquisa para se

  • 24

    buscar os resultados. O quarto captulo descreve os resultados para a mensurao do tema da

    pesquisa com base nos indicadores definidos e na anlise estatstica destes.

    O quinto captulo apresenta as consideraes do autor com base nos resultados

    encontrados, demonstrando a relevncia do tema para que pesquisas complementares com

    abordagens no contempladas neste estudo sejam aprofundadas no intuito de valorizar e

    entender a funo social, econmica e ambiental dos clubes de lazer em toda a sua amplitude.

    As referncias so apresentadas, ao final, relacionando os autores que deram sustentao a

    este estudo, juntamente com o Anexo e Apndices. A estrutura apresentada na Figura 1

    demonstra as etapas desenvolvidas nesta pesquisa de forma ordenada e sequencial.

    Figura 1 - Estruturao da Dissertao

    Fonte: Elaborada pelo autor

    1. INTRODUO

    Contextualizao e

    problema de pesquisa Objetivos Justificativa Estrutura do trabalho

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    Associativismo

    Desenvolvimento

    Sustentvel/

    Sustentabilidade

    Modelos de

    mensurao da

    sustentabilidade

    Indicadores de

    sustentabilidade

    Integrao dos Indicadores dos

    modelos em

    anlise

    3. METODOLOGIA DA PESQUISA

    Estrutura da

    pesquisa

    Coleta e

    tratamento

    dos dados

    Procedimentos

    metodolgicos

    Objeto de

    estudo e

    amostras

    Seleo de

    indicadores

    4. RESULTADOS

    5. CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS

  • 25

    Com base na descrio dos captulos da Figura 1, este estudo apresenta o

    desenvolvimento dos tpicos que esto relacionados com o tema, estabelecendo uma

    interao permanente entre eles. O captulo seguinte, fundamentao terica, relaciona o

    pensamento de autores nacionais e internacionais, em relao aos tpicos recorrentes da

    pesquisa, que do sustentao a metodologia e aos resultados deste estudo.

  • 26

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    A participao global na busca de resultados que atendam organizaes e sociedades

    no combate a tudo que possa representar escassez para as geraes futuras, a fim de mant-las

    saudveis e sustentveis iminente. Brown (2009) argumenta que a questo que se enfrenta

    no se limita a definir o que precisa ser feito, porque isso parece claro para aqueles que esto

    analisando permanentemente a situao global e empresarial. O desafio que precisa ser

    superado saber como faz-lo no tempo que ainda est disponvel.

    O quadro terico ser apresentado considerando aspectos do associativismo e do

    Terceiro Setor que tm crescido substancialmente, principalmente pelo reconhecimento de sua

    importncia nas transformaes que esto em curso na atualidade (LEONELLO; COSAC,

    2009).

    A importncia da gesto do lazer e da recreao entra nesse contexto em razo de este

    segmento integrar o Terceiro Setor e estar relacionado com as prticas frequentes nos clubes

    sociais. O terceiro ponto desenvolvido nesta teoria relaciona-se s partes interessadas

    (stakeholders) na concepo da sustentabilidade, pela ateno que se deve dar queles que

    participam das associaes como associados e dirigentes dos clubes.

    Na quarta parte, a dimenso da responsabilidade social referenciada por vrios

    autores que veem neste tema um compromisso social em que todos devem se envolver, no

    somente na teoria, mas, principalmente, na prtica. Na sequncia, o tema desenvolvimento

    sustentvel e sustentabilidade sugere uma reflexo sobre o que as organizaes e a sociedade

    esto fazendo para a preservao do planeta e para a sustentabilidade organizacional. No item

    gesto da sustentabilidade, so abordados os sistemas produtivos predominantes na

    administrao e o equvoco do pensamento relacionado aos recursos ilimitados.

    A fundamentao ser complementada com a abordagem feita sobre os indicadores de

    sustentabilidade relacionando diversos modelos, demonstrando que h iniciativas em todas as

    dimenses para a diminuio da degradao do meio ambiente, porm, concentrando-se

    naqueles que tm na sua concepo a trade econmica, social e ambiental.

    2.1 O ASSOCIATIVISMO

    Historicamente, o associativismo se difundiu no Brasil por intermdio da Igreja no

    colonialismo, meados do sculo XV, quando o pas passava por um quadro organizacional

    catico, motivado pelas fortes restries de desenvolvimento das comunidades (CAPI;

    MARCELLINO, 2009). Fernandes e Castro (2005) afirmam que o associativismo se traduz

  • 27

    em uma forma de organizao da sociedade civil, em que os cidados, por livre-arbtrio

    agrupam-se para realizar atividades de interesse comuns sem objetivos econmicos.

    Pode-se afirmar que as entidades associativas contribuem para a reduo de

    desigualdades sociais e para a efetivao dos direitos sociais, por meio de aes que buscam

    melhoria da qualidade de vida e aproveitamento das atividades pblicas como vetor de

    desenvolvimento social (ARAJO; NASCIMENTO, 2012). Salamon (1998) salienta que h

    uma forte tendncia em escala mundial criao de organizaes voluntrias, associativas e

    similares para prestar servios sociais, buscar solues locais nas comunidades, impedir a

    degradao ambiental, defender direitos civis e outras inmeras aes que no so atendidas

    pelo Estado.

    O associativismo no cerne das organizaes, segundo Battisti e Denuzi (2009),

    oportuniza a unio de foras em busca do crescimento coletivo, a obteno de resultados

    favorveis e estabelece um relacionamento de parceria entre as empresas. O enfoque

    associativo das organizaes pode ser considerado como uma alternativa de superao,

    especialmente aps o advento da Segunda Guerra Mundial, quando se fortaleceu de forma

    organizada, sustentado na solidariedade, incluindo organizaes de trabalho voluntrio,

    cooperativas, associaes e instituies assistenciais (MEDEIROS; SOUZA, 2010).

    Na concepo de Capi e Marcellino (2009), de Bramante (1999) e de Mezzadre (2000)

    os clubes esportivos representam uma confraria com objetivos definidos relacionados ao

    entretenimento e ao lazer voltado s populaes capazes de se manifestarem, nas diversas

    camadas sociais, por meio do associativismo.

    2.1.1 O surgimento da denominao Terceiro Setor no Brasil

    Se o associativismo se difundiu no pas em meados do sculo XV, a denominao

    Terceiro Setor ocorreu na dcada de 1990 com a proposta de renovao do espao pblico,

    resgate da solidariedade e da cidadania, humanizao do capitalismo e de superao da

    pobreza, designando o conjunto de iniciativas provenientes da sociedade (FALCONER,

    1999).

    Na avaliao e caracterizao do Terceiro Setor, Salamon (1998), Soares e Scarpin

    (2009) relatam que o surgimento e crescimento do Terceiro Setor decorrem de vrias presses

    e mudanas profundas e significativas no comportamento da sociedade, em suas demandas e

    necessidades, das instituies e at dos prprios governos, em decorrncia de uma mudana

    de orientao poltica no Brasil, no que tange ao papel do Estado (Primeiro Setor), do

    Mercado (Segundo Setor) e, em especial, forma de participao dos cidados na esfera

  • 28

    pblica. Traz na sua concepo um conjunto de mudanas sociais e tecnolgicas, surgidas

    com a contnua crise de confiana da sociedade relacionada capacidade de gerir do Estado.

    Assim, o Terceiro Setor se caracteriza pelas figuras jurdicas, sem fins lucrativos,

    representadas por fundaes e associaes geradoras de bens e servios (SALAMON, 1998).

    Segundo dados do IBGE (2010), o Terceiro Setor cresce de forma exponencial em

    todo o mundo, formando uma imensa rede associativa global, constatando a necessidade da

    participao coletiva organizada nas diversas frentes sociais, atuando sistematicamente em

    aes relacionadas com o bem-estar social, associaes patronais e profissionais, meio

    ambiente, desenvolvimento e defesa de direitos e outras que surgem de acordo com as

    necessidades de grupos de interesses especficos.

    O Terceiro Setor se diferencia do Primeiro e do Segundo Setor, em relao a vrios

    aspectos estruturais e de operaes, como a origem dos recursos, o perfil dos stakeholders e a

    forma de relacionamento interno e externo; por isso, exige papis diferenciados e capacidades

    tcnicas especficas (PEREIRA et al., 2013).

    Salamon (1998) adverte que mesmo a partir de um conjunto claro de mudanas

    sociais e tecnolgicas, aliadas contnua crise de confiana social na capacidade de gesto do

    Estado , no h como o Terceiro Setor atuar de forma totalmente independente. Salimon e

    Siqueira (2013) reforam que a atuao e o crescimento dessas instituies, embora no

    estejam vinculadas aos rgos governamentais e sejam de carter no lucrativo, so

    fiscalizadas com seriedade, e so cobradas em sua capacidade gerencial, em relao aos

    impactos sociais e, principalmente, pela responsabilidade da prestao de contas.

    Apesar de existirem outros termos para denominar as organizaes do Terceiro Setor

    como instituto, entidade, organizao de base comunitria, ONGs, centro de pesquisa, entre

    outros, juridicamente essas organizaes so classificadas como associaes ou fundaes

    (ARAJO; CARRENHO, 2009).

    De acordo com o Cdigo Civil brasileiro (Lei n 10.406/2002) as fundaes, tratadas

    nos arts. 62 a 69, somente podem ser institudas por escritura pblica ou testamento, e ter fins

    religiosos, morais, culturais ou de assistncia sendo o controle e a fiscalizao de

    responsabilidade do Ministrio Pblico. J as associaes so definidas nos arts. 53 a 61 como

    entidades formadas pela unio de pessoas para fins no econmicos, no existindo direitos e

    obrigaes recprocos entre seus associados que possuem direitos iguais e somente podem ser

    excludos por justa causa em procedimento que lhes assegure direito de defesa e de recurso,

    nos termos previstos no estatuto.

  • 29

    As diferenas entre as associaes e fundaes podem ser observadas conforme

    mostra o Quadro 1.

    Quadro 1 Caractersticas das associaes e das fundaes

    Associao Fundao

    Constituda por pessoas Constituda por patrimnio, aprovado previamente pelo Ministrio Pblico

    Pode (ou no) ter patrimnio O patrimnio condio para sua criao A finalidade definida pelos associados A finalidade deve ser religiosa, moral, cultural ou

    de assistncia, definida pelo instituidor

    A finalidade pode ser alterada A finalidade perene Os associados deliberam livremente As regras para deliberao so definidas pelo

    instituidor e fiscalizadas pelo Ministrio Pblico

    Registro e administrao so mais simples Registro e administrao so mais burocrticos Regida pelos arts. 53 a 61 do Cdigo Civil Regida pelos arts. 62 a 69 do Cdigo Civil Criada por intermdio de assembleia, com registro em ata e elaborao de estatuto

    Criada por escritura pblica ou testamento. Atos de criao, inclusive estatuto, condicionados prvia

    aprovao

    Obrigatoriedade de prestao de contas ao rgo cedente do ttulo ou certificao estatal

    Obrigatoriedade de prestao de contas anual ao rgo curador e ao MP at o ltimo dia til do

    primeiro semestre do ano subsequente Fonte: Adaptado de Arajo e Carrenho (2009).

    Conforme pode ser observado no Quadro 1, as diferenas entre associaes e

    fundaes so caracterizadas pela exigncia maior ou menor diante das suas competncias. As

    fundaes possuem critrios mais rigorosos para sua constituio, funcionamento e extino e

    so constitudas por ato inter vivos, com uso de escritura pblica ou por mortis causa,

    utilizando-se de um testamento (PEREIRA, 2008).

    No caso das associaes, sua constituio ocorre pela realizao de assembleia geral,

    quando os integrantes ou associados deliberam para a aprovao do estatuto que

    regulamentar a forma de atuao da nova entidade e que dever seguir as orientaes

    estabelecidas no Cdigo Civil brasileiro. No caso das associaes formadas com

    caractersticas de clubes sociais, suas atividades esto relacionadas com o lazer, o

    entretenimento e o bem-estar de seus integrantes.

    2.1.2 A gesto do lazer

    Integrantes do Terceiro Setor, as associaes sociorrecreativas fazem parte de um

    cenrio social complexo e vm sofrendo transformaes significativas ao longo do tempo

    provocadas por aspectos polticos, sociais, econmicos e culturais (SILVA, 2007;

    CAMARGO; SILVA, 2008). A capacidade transformadora do ser humano de adaptar-se

    permanentemente s mudanas nos aspectos citados por Silva (2007) e Camargo e Silva

  • 30

    (2008), em uma sociedade em permanente processo de evoluo, representa um grande

    desafio na gesto do lazer e da recreao dessas associaes.

    Segundo Bramante (1999), O lazer passou a ocupar espao de relevncia no cenrio

    acadmico internacional a partir da dcada de 1950, tornando-se um amplo campo de estudos

    e pesquisas em diversos enfoques profissionais como a administrao, filosofia, histria,

    antropologia, sociologia, psicologia, geografia, entre outras. Bramante (1999) argumenta

    ainda, que o seu carter interdisciplinar tem sido uma tnica na busca de sua compreenso.

    No Brasil, observa-se um crescimento na visibilidade do lazer enquanto tema de

    estudos, devido aos significativos espaos ocupados nos jornais, nos peridicos de informao

    geral e no mundo acadmico, destacando a organizao de grupos de pesquisa advindo das

    mais diversas reas de conhecimento (GOMES; MELO, 2003).

    Gomes et al. (2010) argumentam, entretanto, que faltam pesquisas que permitam

    conhecer a realidade do lazer de forma mais consistente e que as vivncias de lazer no

    devem ser tratadas somente como meros recursos metodolgicos, mas como importantes

    manifestaes culturais que representem singularidades em cada contexto. Mas, como pode

    ser caracterizado o lazer? O comportamento do ser humano e o prazer em gozar de

    momentos de descontrao so peculiares e definidos individualmente.

    No entendimento de Chaves et al. (2003), o lazer a cultura compreendida no seu

    sentido mais amplo, que praticada, fruda ou conhecida no tempo disponvel das pessoas,

    que propicia determinadas condies que esto ligadas ao descanso, divertimento e

    desenvolvimento. Para Silva (2007), a percepo do lazer uma condio auferida na busca

    pelo prazer e encontra-se, muitas vezes, carregada de valores atribudos pelas pessoas,

    favorecida pelos interesses simblicos construdos na sociedade. Bramante (1999) afirma que

    o lazer se traduz por uma dimenso privilegiada da expresso de uma experincia pessoal

    criativa, de prazer e que no se repete no tempo/espao, cujo eixo principal a ludicidade.

    Embora a percepo do lazer pelos mais variados autores e mesmo pelas pessoas da

    sociedade em geral possa ter caractersticas semelhantes e relao com a ociosidade, Gomes

    et al. (2010) argumentam que o lazer no deve ser pensado apenas como algo que existe para

    renovar as energias para o trabalho, mas sim visto em sua essncia, como um fenmeno

    sociocultural que diz respeito a prticas culturais diversas, as quais so coletivamente

    produzidas em cada realidade histrico-social.

    Esse fenmeno referenciado por Gomes et al. (2010) percebido na mudana do

    comportamento da sociedade, principalmente, em razo do avano tecnolgico. Riede (2002)

    argumenta que a expanso dos centros de compras, shopping centers, com vrias opes de

  • 31

    lazer e entretenimento; os condomnios residenciais, que possuem reas de lazer, muitas vezes

    comparados com verdadeiros clubes sociais; e a televiso, com opes para crianas, jovens e

    adultos, tem contribudo para a diversificao e o crescimento das ofertas de lazer e recreao

    para a sociedade, tornando-se grandes concorrentes indiretos dos clubes sociais.

    Diante dessa diversificao de definies, a gesto eficiente e eficaz do lazer e

    recreao nas instituies associativas manifesta-se como uma importante ferramenta a ser

    explorada na gesto da sustentabilidade.

    2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E SUSTENTABILIDADE

    A sociedade vive uma poca marcada por muitas crises. Crise dos valores morais,

    crise dos valores econmicos e sociais, e crise ambiental. Nos ltimos 200 anos, o problema

    ambiental tem se agravado com a intensificao da industrializao, a interveno do homem

    na natureza, provocando o aquecimento global, o desequilbrio nos ecossistemas e a ameaa

    s reservas de gua (DIAS, 2011; NETO, 2011; PEREIRA et al., 2012).

    Mesmo no sendo recente, somente nas ltimas dcadas do sculo XX a discusso

    sobre desenvolvimento sustentvel passou a ser debatida de forma mais contundente. Breier,

    Jung e Ten Caten (2011); Hogevold e Svensson (2012) e Almeida (2001) asseveram que o

    termo desenvolvimento sustentvel difundiu-se em decorrncia da reunio da Comisso

    Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no ano de 1987, por meio do relatrio

    Brundtland, no documento denominado nosso Futuro Comum que props a utilizao das

    riquezas naturais sem comprometer a capacidade das geraes futuras satisfazerem suas

    prprias necessidades.

    Hogevold e Svensson (2012) enfatizam que o foco em todo o mundo est relacionado

    s tendncias ecolgicas relativas ao meio ambiente natural, ao esgotamento dos recursos

    naturais, e a um reconhecimento sem precedentes sobre as causas e consequncias do

    aquecimento global. O termo sustentabilidade entendido no sentido amplo como o desafio

    da sobrevivncia, a luta pela vida e pela preservao dos elementos naturais, no cabendo

    apenas como uma divagao de natureza ideolgica, mas, sobretudo, pela constatao

    cientfica de que mudanas imediatas so necessrias para o gerenciamento da vida

    (ALMEIDA, 2001).

    A Carta da Terra, documento elaborado no incio do sculo XXI e inspirado na

    consulta a milhares de pessoas de diferentes nacionalidades, culturas, instituies, religies,

    universidades, bem como cientistas, sbios e remanescentes das culturas originrias, feita

    durante oito anos (1992-2000), representa um chamado acerca dos riscos que pesam sobre a

  • 32

    humanidade, e ao mesmo tempo, uma manifestao cheia de esperana, valores e princpios

    que devem ser permanentemente compartilhados e praticados (BOFF, 2013).

    Almeida (2001) assevera que o meio ambiente perpassa as atividades humanas, assim

    como o social e o econmico, no havendo mais espao para uma viso cartesiana e

    mecanicista que considere o universo como um conjunto de partes isoladas. O desequilbrio

    socioambiental e as rpidas transformaes tecnolgicas e industriais representam a urgncia

    na integrao e interao de uma nova maneira de lidar com a mudana desse paradigma.

    O Quadro 2 apresenta aspectos consolidados na viso cartesiana/mecanicista

    comparados viso sustentvel.

    Quadro 2 Aspectos comparativos entre a viso cartesiano/mecanicista e sustentvel

    Cartesiano / Mecanicista Sustentvel

    Reducionista, mecanicista, tecnocntrico Orgnico, holstico, participativo

    Fatos e valores no relacionados Fatos e valores fortemente relacionados

    Preceitos ticos desconectados das prticas cotidianas

    tica integrada ao cotidiano

    Separao entre o objetivo e o subjetivo Interao entre o objetivo e o subjetivo

    Seres humanos e ecossistemas separados, em uma relao de dominao

    Seres humanos inseparveis dos ecossistemas, em uma relao de sinergia

    Conhecimento compartimentado e emprico Conhecimento indivisvel, emprico e intuitivo

    Relao linear de causa e efeito Relao no linear de causa e efeito

    Natureza entendida como descontnua, o todo formado pela soma das partes

    Natureza entendida como conjunto de sistemas interrelacionados. O todo maior que a soma das partes

    Bem-estar avaliado por relao de poder (dinheiro, influncia, recursos)

    Bem-estar avaliado pela qualidade das inter-relaes entre os sistemas ambientais e sociais

    nfase na quantidade (renda per capita) nfase na qualidade (qualidade de vida)

    Anlise Sntese

    Centralizao de poder Descentralizao de poder

    Especializao Transdisciplinaridade

    nfase na competio nfase na cooperao

    Pouco ou nenhum limite tecnolgico Limite tecnolgico definido pela sustentabilidade

    Fonte: Almeida (2001).

    A diferenciao entre a viso cartesiana/mecanicista e a viso sustentvel apresentada

    no Quadro 2 demonstra a interao dos aspectos sustentveis no qual as dimenses ambiental,

    social e econmica se relacionam continuamente e os aspectos cartesiano/mecanicista em que

    as dimenses so tratadas separadamente. Essas transies do tradicional para o sustentvel

    so elementares para que a sustentabilidade seja tratada como um conjunto de prticas que

    tenham como ponto principal uma atuao globalizada e integrada.

    De acordo com Dias (2011), a preocupao com o desenvolvimento sustentvel teve

    incio com os principais acontecimentos relacionados a partir do ano de 1962, conforme

    demonstrado no Quadro 3.

  • 33

    Quadro 3 Cronologia nas ltimas dcadas de acontecimentos sustentveis

    Ano Acontecimento Observao

    1962 Publicao do livro Primavera Silenciosa (Silent Spring)

    Publicado por Rachel Carson. Expunha os perigos do inseticida DDT.

    1968 Criao do Clube de Roma

    Organizao informal. Objetivo: promover o entendimento dos

    componentes interdependentes econmicos, polticos, naturais e sociais.

    1971 Criao do Programa MAB da UNESCO

    Pesquisa das Cincias Naturais/Sociais para a conservao da biodiversidade e melhoria das relaes homem/meio ambiente.

    1972 Publicao do livro Os

    limites do crescimento

    Apresentado pelo Clube de Roma. Previa que as tendncias que imperavam at ento, causariam a escassez catastrfica dos recursos

    naturais e nveis perigosos de contaminao em 100 anos.

    1972

    Conferncia das Naes Unidas

    sobre o Meio Ambiente Humano

    em Estocolmo, Sucia

    Primeira manifestao dos governos do mundo com as

    consequncias da economia sobre meio ambiente. So 113

    Estados-membros da ONU. Criao do Programa das Naes

    Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA).

    1980 I Estratgia Mundial para a

    Conservao

    A IUCN, com a colaborao do PNUMA e do World Wildlife Fund

    (WWF), adota plano de longo prazo para conservar recursos biolgicos

    do planeta. Surgimento do conceito de Desenvolvimento sustentvel.

    1983

    Formada pela ONU a Comisso

    Mundial sobre o Meio Ambiente

    e o Desenvolvimento (CMMAD)

    Presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem

    Brundtland. Objetivo: examinar relaes entre meio ambiente/

    desenvolvimento.

    1987

    Publicado o informe Brundtland, da CMMAD, o

    Nosso Futuro Comum

    Vincula economia e ecologia. Estabelece o eixo em torno do qual se deve discutir o desenvolvimento. Formalizado o conceito de

    desenvolvimento sustentvel.

    1991

    II Estratgia Mundial para a

    Conservao:

    Cuidando da Terra

    Documento do IUCN, PNUMA e WWF. Fundamentado no

    Informe Brundtland. Preconiza o reforo dos nveis polticos e

    sociais para a construo de uma sociedade mais sustentvel.

    1992

    Conferncia das Naes

    Unidas sobre o Meio

    Ambiente e

    Desenvolvimento Rio-92

    Local Rio de Janeiro. Foro mundial que abordou novas perspectivas

    globais e de integrao da questo ambiental planetria. 170 Estados

    presentes. Aprovao da Declarao do Rio e da Agenda 21.

    1997 Rio + 5 Local NY. Objetivo analisar a implementao da Agenda 21.

    2000

    I Foro Mundial de mbito

    Ministerial Malmo

    (Sucia)

    Aprovao da Declarao de Malmo. Examina novas questes

    ambientais para o sculo XXI. Adota compromissos no sentido de

    contribuir para o desenvolvimento sustentvel.

    2002 Desenvolvimento Sustentvel

    Rio + 10

    Local: Johannesburgo. Anlise das metas estabelecidas pela

    Conferncia do Rio-92. Reiterao dos Estados com o

    compromisso do Desenvolvimento Sustentvel.

    2005 Protocolo de Kyoto

    Obriga pases desenvolvidos a reduzirem a emisso de gases que

    provocam o efeito estufa. Estabeleceu Mecanismo de Desenvolvimento

    Limpo para os pases em desenvolvimento.

    2007

    Relatrio do Painel

    Intergovernamental das

    Mudanas Climticas (IPCC)

    O (IPCC) divulga seu mais pretencioso relatrio, apontando as

    consequncias do aquecimento global at 2100, caso os seres

    humanos nada faam para impedi-lo.

    2010

    ISO 26000

    Responsabilidade Social

    A International Standard Organization (ISSO) divulga a norma ISO

    26000 para a responsabilidade social. Gera grande impacto nas

    organizaes, tornando-as mais sensveis ao engajamento em projetos

    visando ao desenvolvimento sustentvel.

    2015

    Protocolo de Paris

    Conveno das Naes

    Unidas sobre Mudana do Clima (COP21)

    Protocolo que complementar o Protocolo de Kyoto, com o

    comprometimento de mais de 190 pases que fazem parte da Conveno

    do Clima da Organizao das Naes Unidas (GRANDA, 2015).

    Fonte: Adaptado de Dias (2011).

  • 34

    Flores (2014) afirma que o desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade,

    responsabilidade social, meio ambiente, transparncia, fazem parte de um todo, e que a

    maneira para se alcanar a sustentabilidade passa, necessariamente, pelo desenvolvimento

    sustentvel, sendo possvel verific-lo se as pessoas, organizaes e instituies estiverem

    envolvidas por um objetivo que direcione seus comportamentos para a sustentabilidade.

    Sachs (2008) complementa o conceito de sustentabilidade relacionando igualdade,

    equidade e solidariedade como fatores essenciais para o desenvolvimento sustentvel com

    resultados de longo alcance para que o pensamento econmico sobre o desenvolvimento se

    diferencie do economicismo redutor.

    Diante dessas afirmativas, o que emerge a demanda por sinais que possam orientar a

    sociedade sobre os caminhos a serem trilhados em termos de polticas sociais, padres de

    consumo e produo, e a mudana de perspectiva que se reflete na tomada de deciso

    intrnseca ao comportamento sustentvel (PHILIPPI et al, 2012).

    2.2.1 Gesto da sustentabilidade

    At a dcada de 1960, as organizaes preocupavam-se apenas com a eficincia dos

    sistemas produtivos, predominando na administrao a noo de mercados e recursos

    ilimitados. Essa prtica revelou-se equivocada a partir do crescimento da conscincia

    ecolgica na sociedade, no governo e nas prprias empresas que passaram a incorporar essa

    orientao em suas estratgias (DONAIRE, 2010).

    No entendimento de Freeman, Martin e Parmar (2007), nos ltimos 200 anos uma

    grande quantidade de inovaes nos costumes e no mercado global transformou a vida de

    milhes de pessoas, porm, as consequncias danosas oriundas da degradao ambiental, da

    desigualdade social e do poder econmico distribudo de forma desigual tm causado

    prejuzos incalculveis s sociedades.

    O principal desafio para as organizaes que buscam ser mais sustentveis

    identificar uma forma adequada de gesto das dimenses ambiental e social, integrando-as aos

    benefcios econmico-financeiros (JABBOUR; JABBOUR, 2013). Segundo Hart e Milstein

    (2003), a gesto sustentvel de uma empresa contribui com o desenvolvimento sustentvel,

    gerando, simultaneamente, benefcios econmicos, sociais e ambientais conhecidos como os

    trs pilares da sustentabilidade.

    Considerando o desenvolvimento sustentvel nesses trs pilares dentro das

    organizaes, Dias (2011) as define da seguinte forma:

  • 35

    a) economicamente: empresas que so economicamente viveis e que deem retorno

    ao investimento realizado;

    b) socialmente: empresas que proporcionam condies de trabalho adequadas aos

    empregados, contemplem a diversidade cultural e ensejem aos deficientes de modo

    geral, oportunidade de vnculo empregatcio;

    c) ambientalmente: empresas que se pautam pela ecoeficincia dos processos

    produtivos, adotam a produo mais limpa e oferecem condies de

    desenvolvimento de uma cultura ambiental organizacional e adotam uma postura

    de responsabilidade ambiental.

    Lai Thyen Tsai (2013) exemplifica, com propriedade, as prticas que direcionam a

    gesto sustentvel:

    Gestores e empresrios esto cada vez mais cientes da importncia da sustentabilidade, pois, apesar de melhorar a sua imagem perante o seu cliente, visto

    que eles esto cada vez mais exigentes e querem solues mais verdes para os

    servios que contratam ou produtos que consomem, ela aumenta a competitividade e

    rentabilidade dos seus negcios. Atualmente, seis em cada dez empresas nacionais

    afirmam sentirem que as mudanas climticas j produzem impacto dirio em sua

    cadeia produtiva. E segundo o Instituto Ilos, que especializado em logstica

    empresarial, quase 50% das empresas j tm polticas especficas para a

    sustentabilidade. (LAI THYEN TSAI, 2013, p. 30).

    Werbach (2010) descreve que pr em prtica uma gesto voltada para a

    sustentabilidade indispensvel para a sobrevivncia das empresas em um mundo no qual as

    mudanas so cada vez mais cleres e as dimenses social, econmica, cultural e ambiental

    no podem ser desprezadas com o argumento empresarial focado simplesmente em aumentar

    receitas ou cortar custos para inflar o lucro final.

    Jabbour e Jabbour (2013) sustentam que, ainda que alguns dirigentes organizacionais

    insistam em desconsiderar os aspectos socioambientais durante a prtica administrativa, a

    incluso das preocupaes socioambientais no dia a dia das organizaes de classe-mundial

    um processo irreversvel. Muito alm desse consenso sobre sustentabilidade, h um desacordo

    entre executivos quanto ao significado e a motivao. Para alguns, um mandato moral; para

    outros, uma exigncia legal. Para alguns outros, a sustentabilidade percebida como um custo

    inerente ao fato de se fazer negcios (HART, MILSTEIN, 2003). Fato que ainda so poucas

    as empresas que tratam a sustentabilidade como uma oportunidade de negcios, que poder

    diminuir seus custos e elevar seus rendimentos e sua participao de mercado.

    A sustentabilidade tem gerado importantes debates no cenrio das organizaes,

    porm, existem comportamentos dissimulados em meio ao percebido aumento das discusses

  • 36

    sobre o tema, demonstrando comportamentos diferentes relacionados ao discurso e prtica.

    Carvalho e Monzoni (2010) asseveram que essa maquiagem verde representa um desservio

    duplo sociedade, afinal, alm de confundir o cidado, banaliza a expresso desenvolvimento

    sustentvel.

    Diante desse debate que acentua a importncia da participao coletiva, Oliveira

    (2013) afirma que a responsabilidade social das empresas envolve determinadas atitudes,

    aes e relaes com um grupo maior de partes interessadas (stakeholders) como

    consumidores, fornecedores, sindicatos e governo. Jabbour e Jabbour (2013), a partir de uma

    ampliao do modelo de gesto da sustentabilidade de Hart e Milstein (2003), incluram

    novos fatores que proporcionaram mais completude ao quadro demonstrativo.

    Essas atitudes podem ser conduzidas, conforme a Figura 2, tanto externa como

    internamente organizao, por meio da combinao entre os horizontes da sustentabilidade,

    hoje e amanh, e os focos das aes de sustentabilidade, internamente ou externamente s

    organizaes.

    Figura 2 Modelo de gesto de sustentabilidade

    Fonte: Adaptada de Jabbour e Jabbour (2013) e de Hart e Milstein (2003).

    No quadrante Interno-Hoje, as organizaes definem estratgias para combater

    poluentes, aumento do consumo e resduos gerados desse consumo com a criao de melhores

    ndices de ecoeficincia, que geram reduo de custos e de riscos gesto organizacional. No

    quadrante Externo-Hoje, mediante a influncia da organizao na sociedade civil em

    crescimento, da transparncia nas decises e nos acontecimentos polticos e da relao das

    pessoas com a tecnologia, busca-se a estratgia de gerenciamento de produtos e servios com

    menores impactos socioambientais (JABBOUR; JABBOUR, 2013).

    Valor ao

    Acionista

    Motivadores

    Populao

    Pobreza

    Desigualdade

    Motivadores:

    Revoluo

    Tecnologia limpa Marcas

    Motivadores:

    Poluio

    Consumo Resduos

    Motivadores:

    Sociedade civil

    Transparncia Conectividade

    Amanh

    Hoje

    Interno Externo

  • 37

    No quadrante Externo-Amanh, Jabbour e Jabbour (2013) esclarecem, ainda, que a

    constatao do aumento populacional, a pobreza e a desigualdade social so vertentes que

    podem beneficiar as organizaes estrategicamente com base na sustentabilidade,

    desenvolvendo maior capacidade de inovao e reposicionamento como organizao mais

    sustentvel perante seus concorrentes. J na construo do quadrante Interno-Amanh as

    organizaes tendem a buscar a revoluo ambiental, tecnologias limpas associadas com

    marcas das organizaes e padres socioambientais.

    Munck (2013) assevera que mesmo quando se busca abordagens, modelos e

    ferramentas para a implantao de uma gesto de sustentabilidade, o que mais de destaca a

    adoo e aplicao de ferramentas prximas dos sistemas de gesto ambiental, porm, afirma

    que a Sustentabilidade Organizacional (SO) vai alm desses modelos. Em sua anlise, a

    nfase nesse processo est nas pessoas, defendendo que o agir coletivo, e o agir individual so

    os alicerces da organizao em busca da gesto sustentvel.

    Cabe salientar, que, segundo Munck (2013) os parmetros conceituais adequados aos

    modelos de gesto da sustentabilidade nas organizaes so: a) a SO deve ser encarada como

    parte integral e contextual dos negcios e estar presente nas estratgias e nas operaes; b) so

    necessrios a identificao e o desenvolvimento de competncias centrais SO que permitam

    entregas, coordenadas e simultneas, econmicas, geradoras de valor social e de preservao

    ambiental; c) a gesto da SO deve proporcionar respostas alm das exigncias legais para que

    contribua para a competitividade, lucratividade e o sucesso em longo prazo.

    Na concepo sintetizada por Munck (2013) em relao gesto da sustentabilidade,

    as empresas so as maiores consumidoras de recursos naturais e as maiores geradoras de

    crescimento econmico, sendo, consequentemente, as principais responsveis pelos grandes

    impactos sociais, econmicos e ambientais.

    2.2.2 Partes interessadas (stakeholders) na concepo da sustentabilidade

    Entender a importncia das partes interessadas (stakeholders) envolvidas na gesto ou

    no resultado de uma organizao, seja ela com fins lucrativos ou sem fins lucrativos, torna-se

    fundamental na construo da sustentabilidade. Na afirmativa de Szabo e Costa (2013), esse

    tema est presente nas pautas e discusses das organizaes e instituies em aspectos que

    vo desde o cotidiano organizacional at complexos processos de mudanas.

    Freeman et al. (2004) definem o foco da teoria dos stakeholders relacionado aos

    objetivos da organizao em duas questes centrais. A primeira questo est relacionada ao

    propsito da empresa, considerando o incentivo dos gestores em articularem o sentimento

  • 38

    comum entre as partes interessadas para caminharem juntos. A segunda refere-se

    responsabilidade da gesto com as partes interessadas, enfatizando a atuao dos gerentes no

    envolvimento de relacionamentos, e criao de comunidades onde todos se comprometam

    para atingir os melhores resultados para a organizao.

    O relatrio GRI (2014) enfatiza a definio dos stakeholders relacionando todos

    queles que direta ou indiretamente esto envolvidos com a organizao.

    [...] os stakeholders podem incluir tanto aqueles diretamente envolvidos nas

    operaes da organizao (p. ex.: empregados, acionistas e fornecedores) como os

    que mantm relaes de outros tipos com ela (p. ex.: grupos vulnerveis dentro das

    comunidades locais, sociedade civil). Refere-se a entidades ou indivduos que

    tendem a ser significativamente afetados pelas atividades, produtos e servios da

    organizao ou cujas aes tendem a afetar a capacidade da organizao de

    implementar suas estratgias e atingir seus objetivos com sucesso (GRI, 2014, p.

    93).

    A influncia dos stakeholders nas tomadas de decises estratgicas gerenciais tem sido

    cada vez mais considerada, haja vista suas contribuies baseadas no conhecimento

    operacional, poltico, social e cultural, e no interesse do fortalecimento e perenidade das

    organizaes. Os stakeholders so responsveis, em parte, pela construo e administrao do

    futuro da rede porque so os elos entre as organizaes conforme demonstrado na Figura 3.

    Figura 3 Stakeholders mais comuns

    Fonte: Adaptada de Almeida (2007).

    Entidades Empresariais

    Consumidores

    em geral

    Governos Comunidades

    Fornecedores

    Universidades

    Mdia

    Clientes

    Colaboradores

    ONGs

    Autoridades

    Investidores

    EMPRESAS

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    A Figura 3 demonstra a ligao inerente entre as empresas e seus principais

    stakeholders no mbito das reas em que aquelas sofrem influncia direta para o seu

    desenvolvimento. Ao proporcionar bem-estar aos colaborado