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RENATA CRISTINA MAFRA
ABORDAGEM MULTICRITÉRIO PARA DEFINIÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS À RESTAURAÇÃO FLORESTAL EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS
Presidente Prudente – SP
2018
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Orientadora: Profa Dra. Ana Paula Marques Ramos
Coorientadores: Profa Dra. Marcelo Rodrigo AlvesProfa Dra. Patrícia Alexandra AntunesColaborador técnico: Doutorando Lucas P. Osco
Projeto de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade do Oeste Paulista.
Área de concentração: Ciências Ambientais.
Linha II: Planejamento ambiental e Desenvolvimento Regional
RESUMO
A recuperação florestal em bacias hidrográficas tem sido apontada como um dos principais meios para aumentar a produção de água de boa qualidade para o uso humano. Entretanto, fazer o uso desta prática exige um planejamento que aponte áreas prioritárias para o investimento de recursos, em geral muito limitados, em reflorestamento. O objetivo deste trabalho é identificar áreas prioritárias para a recuperação/restauração de matas em bacias hidrográficas visando à conservação dos recursos hídricos de bacias. Como estudo de caso será utilizado a Bacia do rio Pirapozinho – SP que tem 1.000 km2, mas apenas 6,5% dessa área possui vegetação. Para a determinação das áreas prioritárias à recuperação florestal, será aplicado a abordagem multicritério em ambiente SIG. Serão levantados os critérios relevantes para a determinação de áreas prioritárias e dos pesos relativos de cada critério pelo Processo Analítico Hierárquico (AHP). Além disso, uma análise de qualidade das águas superficiais da bacia de interesse será realizada para descrever a qualidade em função das áreas prioritárias para recuperação florestal. A análise físico-química das águas superficiais será realizada segundo os padrões recomendados por órgãos competentes. Os resultados serão analisados para cada etapa que compõe o método proposto. Ressalta-se que, campanhas de campo serão realizadas tanto para a coleta das amostras de água quanto para a validação dos produtos cartográficos gerados.
Palavras-Chave: Áreas prioritárias; Bacia hidrográfica; Qualidade da água; Restauração florestal; Análise multicritério.
SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO.............................................................................................4
2. OBJETIVOS.................................................................................................5
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................6
3.1. A conservação e a preservação florestal...........................................6
3.2. Análise multicritérios em aplicação ambiental para definição de áreas prioritárias para reflorestamento.......................................................8
3.3. Código florestal..................................................................................11
4. MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................................14
4.1. Materiais..............................................................................................14
4.2. Método................................................................................................14
4.2.1. Área de estudo..............................................................................14
4.2.2. Etapas do método..........................................................................15
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS..................................................................16
6. CRONOGRAMA.........................................................................................16
7. REFERÊNCIAS..........................................................................................17
1. INTRODUÇÃOA supressão de áreas florestadas e a sua substituição por outras
coberturas podem contribuir de forma significativa para os processos de
desagregação, transporte e deposição de sedimentos nos canais de drenagem.
As matas ciliares protegem a superfície do solo do processo erosivo, assim
como a vegetação ao redor de nascentes as protegem contra a compactação e
o assoreamento.
A fim de garantir a conservação e a preservação da estrutura e
processos da paisagem, o reflorestamento dirigido em bacias hidrográficas,
notadamente por meio de ações de restauração florestal em áreas prioritárias,
tem sido apontado como um dos principais meios para aumentar a produção de
água de boa qualidade e, portanto, um método efetivo e econômico no manejo
de bacias. Trabalhos nesse contexto são o de Catelani et al. (2012), Sartori et
al. (2012), Nossack et al. (2015), Vettorazzi e Valente (2016), Valente et al.
(2017), e Mello et al. (2018). No que se refere à espacialização dessas ações,
o principal componente com a capacidade de integração e análise dos
diferentes fatores que compõem a paisagem, é os Sistema de Informação
Geográfica (SIG).
Em uma abordagem multicritério, os fatores característicos de uma
paisagem são representados por pesos diferentes, o que define a importância
de cada um desses fatores no processo de tomada de decisão. As restrições
são características da paisagem que limitam espacialmente aqueles
importantes à geração do mapa de prioridades (Valente, 2005). O Processo
Hierárquico Analítico (AHP), que já se encontra incorporado à maioria dos SIG,
é uma técnica que auxilia na definição dos pesos dos fatores necessários para
o processo de tomada de decisão.
Ferraz e Vetorazzi (2003) utilizaram a análise multicritério para a
identificação de áreas apropriadas à recomposição florestal, com espécies
nativas, em fazendas de reflorestamento, com base em princípios de ecologia
da paisagem. Como resultado foi obtido um mapa das áreas adequadas à
recomposição florestal, segundo os critérios adotados. Com esse mapa
realizou-se uma simulação, alocando-se uma nova área de floresta nativa no
local estudado e o resultado foi avaliado em nível de paisagem, por meio de
índices apropriados.
Uma região no Estado de São Paulo com sérios problemas ambientais
devido à forma de uso e ocupação de suas terras é o Pontal do
Paranapanema. Essa áreas, de aproximadamente 19 mil km2, é considerada
protagonista nas discussões acerca do processo de ocupação territorial e a
participação do agronegócio canavieiro (Evangelista, 2016). Segundo a
Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP, 2013), a região
possui um histórico de intensa ocupação territorial e, de uma forma geral, sem
o devido planejamento ambiental que vise reduzir os impactos oriundos dessa
ocupação.
O Pontal do Paranapanema é formado por 7 bacias hidrográficas,
sendo uma delas a do rio Pirapozinho com 1000 km2. A atual forma de uso e
ocupação da bacia do rio Pirapozinho tem contribuído de forma negativa para a
interferência na qualidade de seus recursos hídricos (Rodrigues et al., 2018).
Essa bacia possui um déficit vegetativo muito alto, visto que apenas 6,5% do
total da área possui vegetação. As áreas de pastagem e de culturas
correspondem a 62,2% e 26,1% respectivamente (Rodrigues et al. 2018).
Assim, a característica de extensão territorial dessa bacia, e a constatação da
necessidade de recuperação da vegetação mostra a urgência de mapear
quais as áreas prioritárias para reflorestamento da Bacia visando à proteção
dos recursos hídricos desse manancial.
2. OBJETIVOSO objetivo geral é identificar áreas prioritárias para restauração florestal
em bacia hidrográfica por meio de abordagem multicritério. Como objetivos
específicos, tem-se:
Definir os critérios (fatores) relevantes à recuperação florestal na bacia
do rio Pirapozinho;
Definir o peso dos fatores por meio da técnica AHP e da Técnica
Participatória de especialistas das respectivas áreas, quando possível;
Definir áreas prioritárias na bacia para a recuperação florestal;
Descrever a qualidade da água da bacia a partir de análises físico-
químicas para analisá-la em função das áreas prioritárias.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICANa fundamentação teórica serão abordados os conceitos
relacionados ao problema da pesquisa. Esses tópicos incluem: A conservação
e a preservação florestal (4.1), Análise multicritério em aplicação ambiental
para definição de áreas prioritárias para reflorestamento (4.2) e Código florestal
(4.3).
3.1. A conservação e a preservação florestalA conservação florestal pode ser definida como o conjunto de ações
que são realizadas em um ecossistema, visando sua proteção, restauração e a
qualidade e quantidade de seus componentes e processos (Dunster e Dunster,
1996). Os mesmos autores descrevem preservação como o uso a algum
ecossistema, onde a intervenção humana deve ser mínima, ou mesmo não
existir.
Um aspecto importante para a conservação e a preservação dos
recursos florestais, segundo Baker e Cai (1992), é o conhecimento da estrutura
(composição e configuração) e processos de sua paisagem, o que torna
possível identificar os fatores importantes à manutenção da biodiversidade, a
qual segundo McNeely et al. (1990) agrega todas as espécies de plantas,
animais e microrganismos, assim como os ecossistemas e os processos
ecológicos nos quais eles tomam parte. As bacias hidrográficas possuem diversos recursos naturais que
sustentam as diversas funções de um ecossistema, além de proporcionar bens
e serviços à sociedade. Entre seus diversos recursos, a água é um dos
principais fatores que influencia na qualidade e dispersão das diversas formas
de vida presente em um ecossistema (Randhir, et al., 2001).
A qualidade e quantidade de água nos recursos hídricos em uma bacia
hidrográfica são essenciais à sobrevivência humana e às diversas atividades
econômicas. Segundo Barbosa (2008) esse recurso é cada vez mais escasso
devida à crescente demanda associada ao crescimento urbano e ao aumento
das descargas de contaminantes, infraestrutura deficiente de abastecimento de
água, mudança climática global associada a eventos hidrológicos, gestão de
água e problemas de governança.
Segundo Karnib (2004), diversos países em desenvolvimento têm
realizado projetos para minimizar a efeitos antrópicos sob os recursos hídricos,
visando que esse problema será ainda mais notável no futuro. Para Randhir
(2012) o problema não está na quantidade de água, uma vez que o grande
desafio, em diversas regiões do mundo, reside na qualidade da água. O
mesmo autor relata a visível relação existente entre a qualidade da água
(superficial e subterrânea) e a substituição da cobertura florestal nativa por
culturas agrícolas.
Segundo Yang et al. (2016) a substituição de mata ciliar por usos da
terra urbana e/ou agrícola, provoca uma diminuição na qualidade da água
devido à erosão das margens, aumentando os nutrientes e sedimentos que são
carregados nos rios. Em um estudo feito por Machado, Vetorazzi e Xavier
(2003) simulou-se dois cenários alternativos, empregando modelo SWAT (Soil
and Water Assessment Roll) no uso da terra na microbacia hidrográfica do
Ribeirão dos Marins, em Piracicaba – SP. O primeiro cenário foi mantido uma
faixa de mata ciliar em 30m em toda a extensão dos cursos d’água e de 50m
ao redor das nascentes, de acordo com o antigo Código Florestal. No segundo
cenário, como as pastagens ocupavam 30,9% da área da microbacia, onde
havia encostas mais íngremes com alto potencial erosivo, foram substituídos
por vegetação florestal.
As simulações dos dois cenários foram comparadas com as condições
reais em termos de produção de sedimento. Os cenários geraram diferentes
padrões espaciais da produção de sedimentos. Uma redução de 94% na
produção de sedimentos foi obtida com a substituição da pastagem por
vegetação nativa (cenário 2). No cenário 1, a redução foi de 10,8%. Esses
resultados evidenciam a necessidade de tratar a paisagem em bacias
hidrográficas de forma global, identificando as “áreas sensíveis
ambientalmente”, onde são necessárias práticas de controle dos processos
erosivos e não somente práticas de proteção dispensadas aos cursos d’agua
por meio da mata ciliar.
Em certas situações, como é o caso de muitas bacias hidrográficas em
regiões desenvolvidas, a cobertura florestal foi tão intensamente removida, que
apenas projetos de restauração em grande escala podem devolver parte dos
elementos e funções do ecossistema original (VETORAZZI, 2006). Diante de
impasses econômicos, é inviável realizar muitos desses projetos, por isso a
importância de elaborar um plano para áreas que sejam prioritárias para a
recuperação da qualidade e quantidade de água nos recursos hídricos,
seguindo assim uma sequencia de projetos a serem executados em uma
ordem de prioridades.
3.2. Análise multicritérios em aplicação ambiental para definição de áreas prioritárias para reflorestamento
O Geoprocessamento integra técnicas matemáticas e computacionais
para o tratamento da informação geográfica, e é aplicado em diversas áreas
como Cartografia, Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e
Planejamento Urbano e Regional (Câmara e Davis, 2004).
Os Sistemas de Informação Geográficas (SIG) são as ferramentas
computacionais para realizar o Geoprocessamento. Dentre as principais tarefas
que um software de SIG possibilita, destacam-se o armazenamento e a
recuperação de dados em banco de dados geográficos, o processamento de
dados para produzir informação e realizar análise espacial e a produção e
visualização de mapas (Longley, et al., 2013). Assim, o uso dos SIG tem
facilitado o planejamento, a otimização e o sucesso nas ações de conservação
e preservação florestal, integrando processos de tomada de decisão como
onde conservar e/ou preservar. Essa ação permite que as ações sejam
direcionadas pela determinação das áreas de maior risco, suscetíveis ou
prioritárias às ações (Kangas et al., 2000).
Em muitas das aplicações de SIG na área de análise ambiental, é
comum o envolvimento de múltiplos critérios para se atender a um ou mais
objetivos, a qual se denomina como Avaliação Multicritério (AMC). A
abordagem multicriterial pode ser considerada como um processo que combina
e transforma dados espaciais (planos de informação de entrada) em mapas
finais para a tomada de decisão, sendo as regras de decisão é que definem as
relações entre os dados de entrada e os mapas finais (Malczewski, 1999).
Malczewski (2004) afirma que a integração entre as técnicas de
tomada de decisão multicritérios e SIGs representa um avanço considerável
nas análises envolvendo adequação de uso da terra, em relação às
abordagens convencionais de sobreposição (overlay) de mapas. Segundo o
autor, a AMC em ambiente SIG pode ser trabalhada como um processo que
combina e transforma dados espaciais e não-espaciais (entrada) em uma
decisão resultante (saída). Os procedimentos envolvem a utilização de dados
geográficos, as preferências dos tomadores de decisão e a manipulação dos
dados e preferências de acordo com regras de decisão especificadas. Desta
maneira, duas considerações são de importância crítica para a AMC: (1) as
capacidades do SIG de aquisição, armazenamento, recuperação, manipulação
e análise de dados; e (2) as capacidades dos métodos de tomada de decisão
multicritérios (TDMC) em combinar os dados geográficos e as preferências dos
tomadores de decisão em valores unidimensionais de decisões alternativas.
Um dos métodos de análise multicriterial mais utilizados é o criado por
Saaty, em 1980, denominado de método AHP – Analytical Hierarchy Process
(Processo Analítico Hierárquico). A aplicação desse método reduz o estudo de
sistemas complexos, a uma sequência de comparações aos pares de
componentes identificados (Silva, 2012). A escala recomendada por Saaty
(1991), varia de 1 a 9, no qual o valor 1 significa a indiferença de importância
de um critério em relação ao outro, e o valor 9 significa a extrema importância
de um critério sobre o outro, com estágios intermediários de importância entre
esses níveis 1 e 9.
Existe na literatura científica, uma série de trabalhos envolvendo a
Avaliação Multicritério em ambiente SIG, nas mais variáveis áreas de
aplicação, como, por exemplo: seleção de áreas apropriadas à implantação de
aterros sanitários (Charnpratheep et al., 1997 e Kontos et al., 2003);
planejamento urbano (Feng e Xu, 1999; Li e Yeh, 2002; impactos ambientais
causados por redes viárias (Klungboonkrong e Taylor, 1998); projetos viários
(Sadek et al., 1999; Panou); recuperação de áreas degradadas por mineração
(Hickey eJankowski, 1997); identificação de áreas apropriadas à implantação
de reservas naturais para pesquisas científicas (Stoms et al., 2002); e
identificação de locais apropriados à criação de ostras (Buitrago et al. 2005).
Santori (2012) definiu áreas prioritárias para favorecer a conectividade
entre fragmentos florestais, visando à restauração florestal, utilizando análise
multicriterial, em ambiente SIG. Para tanto aplicou o Método da Combinação
Linear Ponderada (MCLP) e como critérios adotou: proximidade entre
fragmentos de maior área nuclear; proximidade da cobertura florestal;
proximidade da rede hidrográfica; distância aos centros urbanos; erodibilidade;
e declividade.
Em estudos envolvendo conservação de recursos hídricos através da
recuperação de áreas degradadas, podem ser citados os trabalhos como de
Vetorazzi (2006). Seu estudo, tendo em vista a análise multicritério,
especificamente por meio da comparação entre os métodos da Combinação
Linear Ponderada e da Média Ponderada Ordenada, definiu-se os seguintes
fatores: adequação do uso da terra; erodibilidade do solo; erosividade da
chuva; proximidade à malha viária; e proximidade à rede hidrográfica.
Para a integração dos diferentes fatores, com base na abordagem
multicriterial, vários métodos vêm sendo utilizados, como o Booleano; o do
Ponto Ideal; o da Combinação Linear Ponderada; o da Análise de
Concordância, e mais recentemente o da Média Ponderada Ordenada
(Malczewski, 1999). Dentre esses métodos a Combinação Linear Ponderada e
o Booleano são os mais robustos e os empregados com mais frequência
(Marczewski, 2004).
Para Jiang & Eastman (2000) a Combinação Linear Ponderada, apesar
de sua ampla utilização, apresenta limitações para algumas aplicações no
processo de tomada de decisão. Os autores discutem essas limitações e
sugerem a utilização do método da Média Ponderada Ordenada. Para
Vetorazzi (2006) entre os métodos Combinação Linear Ponderada e Média
Ponderada Ordenada (MPO), este é o mais adequado para a priorização de
áreas à restauração florestal, dada a flexibilidade proporcionada ao analista ao
acomodar o conceito de compensação entre fatores.
3.3. Código florestalA regulamentação da exploração, da conservação e da recuperação da
vegetação nativa começou em 1934, como o primeiro Código Florestal
Brasileiro (Decreto Federal 23.793, de 1934). Este decreto buscava poupar, da
expansão desenfreada da agricultura, trechos de vegetação nativa localizados
em áreas que desempenhassem um papel ambiental importante, como as
margens de rios e nascentes (BRANCALION, 2016). Desde então, a legislação
passou por diversas transformações e após mais de 30 anos, a Lei n° 4.771, de
1965, criou uma versão do CF (Código Florestal) mais efetiva e objetiva, com
mais clareza à conservação e o uso racional da vegetação nativa em
propriedades rurais, como a alteração das Áreas de Preservação Permanente
(APPs) que passaram a ser definidas a partir da largura do curso d’água.
Além do CF de 1965, três leis ainda em vigor, complementaram a
legislação ambiental brasileira: a Lei n° 6.001, de 1973, conhecida como
Estatuto do Índio, que estabeleceu as regras para a conservação de áreas
naturais em terras indígenas; a Lei n° 9.605, de 1998, comumente chamada
“Lei de crimes ambientais”, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente; e a Lei n°
9.984 de 2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (Snuc) e definiu as regras para a preservação da vegetação e da
fauna nativas nessas áreas.
Depois de 13 anos de debates no Congresso Nacional, as novas
normas que regulam a exploração, a conservação e a recuperação da
vegetação nativa em território nacional entraram em vigor. Essas normas estão
previstas pelo Novo Código Florestal, a Lei n° 12.651 de 25 de maio de 2012.
A lei atual, intitulada oficialmente como Lei de Proteção da Vegetação Nativa
(LPVN), segundo Brancalion (2016), é uma denominação inadequada, pois não
se restringe a florestas e sim a qualquer ecossistema terrestre nativo, incluindo
campos, caatingas e cerrados.
Um dos méritos da LPVN está no estabelecimento de programas
inovadores de controle e incentivo ao cumprimento da lei. Antes, a fiscalização
do CF em 1965 dependia de denúncias e de ações circunstanciais dos órgãos
de controle ambiental. A LPVN, em contrapartida, criou o Cadastro Ambiental
Rural (CAR), o Programa de Regularização Ambiental, o Projeto de
Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas e as Cotas de Reserva
Ambiental, com normas já estabelecidas. Essas quatro ferramentas
possibilitam a gestão sistemática e integrada da lei, além de obrigar e monitorar
seu cumprimento. Medidas como a restrição de licenças ambientais e de
crédito agrícola para propriedades não inscritas ou regularizadas no CAR
devem servir de estímulo para a adesão ao sistema (BRANCALION, 2016).
Entretanto, algumas mudanças do novo código reduziram
drasticamente, ou mesmo removeram, a obrigação de proteger determinadas
áreas anteriormente protegidas pelo CF de 1965 e que são de fundamental
importância ambiental. A redução e impasses são evidentes em alguns casos,
tendo a remoção da proteção de áreas ambientalmente sensíveis, como as
nascentes intermitentes da categoria das APPs. Assim como acumulações
naturais ou artificiais de água com superfície inferior a um hectare deixaram de
ter seu perímetro protegido como APP. Já o terceiro ponto de remoção drástica
se refere aos topos de morros, os quais tiveram sua proteção reduzida em até
87%.
O quarto retrocesso vem através do estreitamento da faixa potencial de
vegetação nativa a ser mantida ao longo dos cursos d’água, onde essas faixas
de vegetação são pouco efetivas tanto para a conservação da biodiversidade
como para a manutenção de serviços ambientais. Estudos mostram que os
corredores ciliares precisam ter a largura mínima de 50 metros para que muitas
espécies de animais consigam usá-los (Tubelis et al., 2014; Lees & Peres,
2008; Metzger, 2010; Ramos & Anjos, 2014).
Um dos fatores essenciais para viabilizar a recuperação da vegetação
nativa ao longo dos cursos d’água é isolar o fator de degradação, como a
criação de gado solto ou o cultivo continuado da área. Mesmo assim, outro
retrocesso ambiental foi à concessão de anistia de multas aplicadas por
violação à lei anterior e a permissão de manter atividades agropecuárias e
infraestrutura em áreas protegidas, sem necessidade de recuperação total da
vegetação nativa. Destacou-se também o fim da exigência de recuperar a
Reserva Legal (RL) em propriedades com menos de quatro módulos fiscais de
área, antes obrigatória para todas as propriedades que tivessem déficit de RL,
independentemente de seu tamanho.
Visto que áreas importantes para restauração ecológica estão
localizadas fora de Unidade de Conservação, programas de recuperação
florestal em propriedades particulares são considerados como de extrema
relevância para o bioma Mata Atlântica. Considerando a rápida dinâmica do
desflorestamento na Mata Atlântica, é imprescindível que estes programas
tenham forte embasamento técnico-científico na alocação de metas e recursos.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. MateriaisOs equipamentos e materiais necessários na realização da pesquisa
consistem em computadores, software de SIG (ex.: QGIS), base de dados
vetoriais disponibilizadas, por exemplo, pelo IBGE (2010), imagens de satélite e
Modelo Digital de Elevação (MDE).
Para as análises de água serão coletadas amostras no primeiro
semestre de 2019, as quais passarão por análises físico-químicas nos
laboratórios da UNOESTE. Serão necessários frascos de vidro para coletar as
amostras, isopor para o armazenamento e gelo para manter a temperatura das
amostras. Todo o processo de planejamento e coleta das amostras de água
será realizado seguindo a abordagem de Rodrigues et al. (2018).
4.2. Método4.2.1. Área de estudo
A bacia hidrográfica do rio Pirapozinho está inserida na 22ª Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema (UGRHI-
22). Além dos rios Paraná e Paranapanema, os rios Santo Anastácio e
Pirapozinho são os principais rios da UGRHI-22, a qual tem 26 municípios
inseridos em sua expansão (Figura 1).
Figura 1 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Pirapozinho. Fonte: Rodrigues (2016).
4.2.2. Etapas do método
O método proposto está dividido em cinco etapas: (1) levantamento
dos critérios para a determinação de áreas para recomposição florestal; (2)
determinação dos pesos dos critérios; (3) organização e compatibilização dos
dados cartográficos, incluindo os mapas temáticos elaborados por Rodrigues et
al. (2018); (4) definição das áreas prioritárias para reflorestamento a partir da
abordagem multicritério; e (5) avaliação da qualidade das águas superficiais da
bacia por análise físico-química seguindo a abordagem de Rodrigues et al.
(2018).
O desenvolvimento de cada uma das etapas do método será realizado
tendo a literatura pertinente como base teórica. No que tange às análises de
qualidade de água, os parâmetros serão de Demanda Química de Oxigênio
(DQO), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), pH, turbidez, condutividade,
fósforo total, coliformes totais, Escherichia Coli, nitrogênio total, temperatura e
oxigênio dissolvido, tendo como base os métodos preconizados pelo Standard
Methods (APHA. 2005). Todo o planejamento dessa etapa de análise de
qualidade das águas superficiais da bacia do rio Pirapozinho será realizado
tendo como base o estudo realizado por Rodrigues et al. (2018), no qual se é
determinado a qualidade de água da Bacia para o ano de 2016.
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados serão analisados para cada uma das etapas que
compõe o método proposto nesse trabalho. Todas as discussões dos
resultados serão realizadas com base em trabalhos de literatura, porém
considerando-se a realidade da área de estudo e os dados cartográficos
disponíveis para a pesquisa. Deve-se ressaltar que, embora, as análises dos
resultados serão realizadas com base nos produtos cartográficos elaborados
para o desenvolvimento da pesquisa, pretende-se realizar campanhas de
campo, para validação desses resultados sempre que necessário. Além disso,
análises estatísticas serão realizadas sempre que oportuno para o conjunto de
dados tratado.
6. CRONOGRAMAO Quadro 1 apresenta o cronograma de execução das atividades
a serem desenvolvidas ao longo do período do projeto de mestrado, com início
previsto para março de 2018 e previsão de término em fevereiro de 2020.
Atividades Trimestres1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8°
Obtenção de CréditosRevisão de LiteraturaDefinição de critérios para a definição de áreasLevantamento, organização e compatibilização dos dados cartográficosDefinir os pesos para cada fator
Coletar e análise das amostras de água
Definição das áreas prioritárias
Análise dos resultadosPreparação de trabalho para evento e periódicoElaboração da dissertação
7. REFERÊNCIASBARBOSA, F. A. Ângulos da água: desafios da integração. 1 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2008.
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