PPP na escola

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    PROJETO POLTICO-PEDAGGICO DAESCOLA

    Fundamentos para a sua realia!"oMoacir Gadotti1

    At muito recentemente a questo da escola limitava-se a uma escolha entre ser tradicional e ser moderna, Essatipologia no desapareceu, mas no responde a todas asquestes atuais da escola. Muito menos questo do seuprojeto.

    A crise paradigmtica tam!m atinge a escola e ela sepergunta so!re si mesma, so!re seu papel como institui"onuma sociedade p#s-moderna e p#s-industrial,caracteri$ada pela #lo$alia!"o da e%onomia& das%omuni%a!'es& da edu%a!"o e da %ultura& pelopluralismo pol(ti%o& pela emer#)n%ia do poder lo%al*%essa sociedade cresce a reivindica"o pelaparti%ipa!"oe autonomia contra toda &orma de uni&ormi$a"o e odesejo de a'rma"o da singularidade de cada regio, de

    cada l(ngua etc. A multi%ulturalidade a marca maissigni'cativa do nosso tempo.

    )omo isso se tradu$ na escola*

    %unca o discurso da autonomia, cidadania eparticipa"o no espa"o E+colar ganhou tanta &or"a. Estestm sido temas marcantes do de!ate educacional !rasileirode hoje. Essa preocupa"o tem-se tradu$ido so!retudo pelareivindica"o de um pro+eto pol(ti%o-peda#,#i%opr#priode cada escola. %este teto, gostar(amos de tratar deste

    assunto, su!linhando a sua importncia, seu signi'cado,!em como as di'culdades, o!stculos e elementos&acilitadores da ela!ora"o do projeto pol(tico-pedag#gico.

    )ome"aremos esclarecendo o pr#prio t(tulo/ 0projetopoltico-pedaggico. Entendemos que todo projetopedag#gico necessariamente pol(tico. 1oder(amosdenomin-lo, portanto, apenasprojeto pedaggico. Mas,

    1Moacir Gadotti professor titular da Universidade de So Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire.

    Escreveu, entre outras obras: Escola cidad (199!, Histria das idias pedaggicas (199"! ePedagogia da prxis(199#!.

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    a 'm de dar destaque ao pol(tico dentro do pedag#gico,resolvemos desdo!rar o nome em 0poltico-pedaggico.

    2req3entemente se con&unde pro+eto com plano.

    )ertamente o plano diretor da escola 4 como conjunto deo!jetivos, metas e procedimentos 4 &a$ parte do seuprojeto, mas no todo o seu projeto.

    5sso no signi'ca que o!jetivos, metas eprocedimentos no sejam %Ecessrios. Mas eles soinsu'cientes pois, em geral, o plano 'ca no campo do ins-titu(do ou melhor, no cumprimento mais e'ca$ doinstitu(do, como de&ende hoje todo o discurso o'cial emtorno da 0qualidade6 e, em particular, da 0qualidade total6.

    7m projeto necessita sempre rever o institu(do para, apartir dele, instituir outra coisa. 8ornar-se instituinte. 7mprojeto pol(tico-pedag#gico no nega o institu(do da escolaque a sua hist#ria, que o conjunto dos seus curr(culos,dos seus mtodos, o conjunto dos seus atores internos eeternos e o seu modo de vida. 7m projeto +emprecon&ronta esse institu(do com o instituinte.

    %o se constr#i um projeto sem uma dire"o pol(tica,um norte, um rumo. 1or isso, todo projeto pedag#gico da

    escola tam!m pol(tico. 9 projeto pedag#gico da escola, por isso mesmo, sempre um processo inconcluso, umaetapa em dire"o a uma 'nalidade que permanece comohori$onte da escola.

    : ;e quem a responsa!ilidade da constitui"o doprojeto da escola*

    9 projeto da escola no responsa!ilidade apenas desua dire"o. Ao contrrio, numa gesto democrtica, a

    dire"o escolhida a partir do reconhecimento dacompetncia e da lideran"a de algum capa$ de eecutarum projeto coletivo. A escola, nesse caso, escolhe primeiroum projeto e depois essa pessoa que pode eecut-lo.Assim reali$ada, a elei"o de um diretor ou de umadiretora se d a partir da escolha de um projeto pol(tico-pedag#gico para a escola. 1ortanto, ao se eleger umdiretor de escola, o que se est elegendo um projeto paraa escola.

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    )omo vimos, o projeto pedag#gico da escola est hojeinserido num cenrio marcado pela diersidade* )adaescola resultado de um processo de desenvolvimento desuas pr#prias contradi"es. %o eistem duas escolas i-guais. ;iante disso, desaparece aquela arrogantepretenso de sa!er de antemo quais sero os resultadosdo projeto para todas as escolas de um sistemaeducacional. A arrogncia do dono da verdade d lugar criatividade e ao dilogo. A pluralidade de projetospedag#gicos &a$ parte da hist#ria da educa"o da nossapoca.

    1or isso, no deve eistir um padro

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    da escola est prestando um servi"o tam!m comunidadeque a mantm.

    @a? A gesto democrtica pode melhorar o que

    espe%(0%o da es%ola&isto , o seu ensino. A participa"ona gesto da escola proporcionar um melhorconhecimento do &uncionamento da escola e de todos osseus atores propiciar um contato permanente entrepro&essores e alunos, o que leva ao conhecimento m

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    c! a pr#pria estrutura de nosso sistema educacionalque vertical

    d! o autoritarismo que impregnou nossa prtica

    educacionale! o tipo de lideran"a que tradicionalmente dominanossa atividade p#l(tica no campo educacional.

    En'm, um pro+eto pol(ti%o-peda#,#i%o da escolaap#ia-se/

    a! no desenvolvimento de uma conscincia cr(tica

    b! no envolvimento das pessoas/ comunidade internae eterna escola

    c! na participa"o e na coopera"o das vrias es&erasde governo

    d! na autonomia, responsa!ilidade e criatividadecomo processo e como produto do projeto.

    9 projeto da escola depende, so!retudo, da ousadiados seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-secomo tal, partindo da BcaraB que tem, com o seu cotidiano eo seu tempo-espa"o, isto , o conteto hist#rico em que ela

    se insere.7m projeto pol(tico-pedag#gico constr#i-se de &orma

    interdis%iplinar* %o !asta trocar de teoria como se elapudesse salvar a escola.

    1elo que &oi dito at agora, o projeto pedag#gico daescola pode ser considerado como um momento importantede renova"o da escola. 1rojetar signi'ca 0lan"ar-se para a&rente6, antever um &uturo di&erente do presente. 1rojetopressupe uma a"o intencionada com um sentido de'nido,epl(cito, so!re o que se quer inovar. %esse processopodem-se distinguirdois momentos2

    a! o momento da concep"o do projeto

    b! o momento da institucionali$a"o e implementa"odo projeto.

    8odo projeto supe rupturas com o presente epromessaspara o &uturo. 1rojetar signi'ca tentar que!rarum estado con&ortvel para arriscar-se, atravessar um

    per(odo de insta!ilidade e !uscar uma nova esta!ilidade

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    em &un"o da promessa que cada projeto contm de estadomelhor do que o presente. 7m projeto educativo pode sertomado como promessa &rente a determinadas rupturas. Aspromessas tornam vis(veis os campos de a"o poss(vel,comprometendo seus atores e autores.

    A no"o de projeto implica so!retudotempo2

    a! Tempo pol(ti%o4 de'ne a oportunidade pol(ticade um determinado projeto.

    b! Tempo institu%ional 4 )ada escola encontra-senum determinado tempo de sua hist#ria. 9 projeto quepode ser inovador para uma escola pode no ser paraoutra.

    c! Tempo es%olar 4 9 calendrio da escola, oper(odo no qual o projto ela!orado tam!m decisivopara o seu sucesso.

    d! Tempo para amadure%er as id1ias 4 +# osprojetos !urocrticos so impostos e, por isso, revelam-seine'cientes a mdio pra$o. = um tempo para sedimentaridias. 7m projeto precisa ser discutido e isso leva tempo.

    )omo elementos /a%ilitadores de ito de um

    projeto, podemos dstacar/>o? Comuni%a!"o e'ciente. 7m projeto deve ser

    &act(vel e seu enunciado &acilmente compreendido.

    @o?Ades"o olunt.riae consciente ao projeto. 8odosprecisam estar envolvidos. A co-responsa!ilidade um&ator decisivo no ito de um projeto

    Co? Suporte institu%ional e 0nan%eiro& quesigni'ca/ vontade pol(tica, pleno conhecimento de todos 4

    principalmente dos dirigentes 4 e recursos 'nanceirosclaramente de'nidos.

    Do? Controle& a%ompan3amento e aalia!"o doprojeto. 7m projeto que no pressupe constante avalia"ono consegue sa!er se seus o!jetivos esto sendoatingidos.

    o? 7ma atmos/era&um am!iente &avorvel. %o sedeve despre$ar um certo componente mgico-sim!#licopara o ito de um projeto, uma certa mistica que cimentaa todos os que se envolvem nodesignde um projeto.

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    Fo?Credi$ilidade*As idias podem ser !oas, mas, seos que as de&endem no tm prest(gio, comprovadacompetncia e legitimidade, o projeto pode 'car limitado.

    H? Re/eren%ial te,ri%o que &acilite encontrar osprincipais conceitos estrutura ao projeto.

    A &alta desses elementos o!staculi$a a ela!ora"o e aimplanta"o de um projeto novo para a escola. Aimplanta"o de um novo projeto pol(tico-pedag#gico daescola en&rentar sempre a descren"a generali$ada dos quepensam que de nada adianta projetar uma !oa escolaenquanto no houver vontade pol(tica dos 0de cima6.)ontudo, o pensamento e a prtica dos 0de cima6 no se

    modi'caro enquanto no eistir presso dos 0de !aio6.7m projeto pol(tico-pedag#gico da escola deve constituir-senum verdadeiro processo de %ons%ientia!"o e de/orma!"o %(i%a4deve ser um processo de recupera"o daimportncia e da ne%essidade do plane+amento naeduca"o.

    8udo isso eige certamente uma edu%a!"o para a%idadania*

    9 que Beducar para a cidadaniaB*A resposta a essa pergunta depende da resposta outra pergunta/ 4 09 que cidadania*6

    1ode-se di$er que cidadania essencialmenteconscincia de direitos e deveres e eerc(cio dademocracia. %o h cidadania sem democracia.

    A democracia &undamenta-se em trs direitos/

    direitos %iis&como seguran"a e locomo"o

    direitos so%iais& como tra!alho, salrio justo,sa

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    progressista ou socialista democrtica Ko socialismoautoritrio e !urocrtico no admite a democracia comovalor universal e despre$a a cidadania como valorprogressista?.

    Eiste hoje uma%on%ep!"o %onsumistade cidadaniaKno ser enganado na compra de um !em de consumo? euma concep"o oposta que uma%om%ep!"o plena decidadania, que consiste na mo!ili$a"o da sociedade para aconquista dos direitos acima mencionados e que devem sergarantidos pelo Estado. A concep"o li!eral e neoli!eral decidadania 4 que de&ende o 0Estado m(nimo6, a privati$a"oda educa"o e que estimula a concentra"o de renda 4

    entende que a cidadania apenas um produto dasolidariedade individual Kda 0gente de !em6? entre aspessoas e no uma conquista no interior do pr#prio Estado.A cidadania implica em institui"es e regras justas. 9Estado, numa viso socialista democrtica, precisa eerceruma a"o 4 para evitar, por eemplo, os a!usoseconLmicos dos oligop#lios 4 &a$endo valer as regras de'-nidas socialmente.

    Cidadania e autonomia so hoje duas categorias

    estratgicas de constru"o de uma sociedade melhor emtorno das quais h &req3entemente consenso. Essascategorias se constituem na !ase da nossa identidadenacional to desejada e ainda to long(nqua, em &un"o doarraigado individualismo tanto das nossas elites, quantodas &ortes corpora"es emergentes, am!as dependentes doEstado paternalista.

    9 movimento atual da chamada 0escola cidad6 estinserido nesse novo conteto hist#rico de !usca de

    identidade nacional. A 0escola cidad6 surge como resposta !urocrati$a"o do sistema de ensino e sua ine'cincia.

    nesse conteto hist#rico que vem se desenhando oprojeto e a reali$a"o prtica da escola cidad em diversaspartes do pa(s, como uma alternativa nova e emergente.Ela vem surgindo em numerosos munic(pios e j se mostranas preocupa"es dos dirigentes educacionais em diversosEstados !rasileiros.

    Movimentos semelhantes j ocorreram em outrospa(ses. Nejam-se as 0)iti$enship +chools6 que surgiram nos

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    Estados 7nidos nos anos O, dentro das quais se originou oimportante movimento pelos ;ireitos )ivis naquele pa(s,colocando dentro das escolas americanas a educa"o paraa cidadania e o respeito aos direitos sociais e humanos.

    ;o movimento hist#rico-cultural a que nos re&erimos,esto surgindo alguns ei5os norteadores da escolacidad/ a integra"o entre educa"o e cultura, escola ecomunidade Keduca"o multicultural e comunitria?, ademocrati$a"o das rela"es de poder dentro da escola, oen&rentamento da questo da repetncia e da avalia"o, aviso interdis%iplinar e transdis%iplinar e a &orma"opermanente dos educadores. A interdisciplinaridade re&ere-

    se estreita rela"o que as disciplinas mantm entre si e atransdisciplinaridade, supera"o das &ronteiras eistentesentre as disciplinas, indo, portanto, alm da intera"o ereciprocidade eistentes entre as cincias.

    ;a nossa eperincia vivida nesses a? A es%ola n"o 1 o 6ni%o lo%al de a7uisi!"o dosa$er ela$orado. Aprendemos tam!m nos 'ns de

    semana, como costuma di$er Em(lia 2erreiro.@a?8"o e5iste um 6ni%o modelo capa$ de tornar

    eitosa a a"o educativa da escola. )ada escola &ruto desuas pr#prias contradi"es. Eistem muitos caminhos,inclusive para a aquisi"o do sa!er ela!orado. E o caminhoque pode ser vlido numa determinada conjuntura, numdeterminado local ou conteto, pode no o ser em outraconjuntura ou conteto. 1or isso, preciso incentivar aeperimenta"o pedag#gica e, so!retudo, ter uma

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    mentalidade a!erta ao novo e no atirar pedras no caminhodaqueles que !uscam melhorar a educa"o.

    Ca? 8odos no tero acesso educa"o enquanto todos

    4 tra!alhadores e no tra!alhadores em educa"o, estadoe sociedade civil 4 no se interessarem por ela. Aedu%a!"o para todos sup'e todos pela edu%a!"o*

    Da? =ouve uma poca em que pensvamos que aspequenas mudan"as impediam a reali$a"o de uma grandeBmudan"a. 1or isso, no nosso entender, elas deveriam serevitadas e todo o investimento deveria ser &eito numatrans&orma"o radical e ampla. =oje, minha certe$a outra/ a #rande mudan!a e5i#e tam$1m o es/or!o

    %ont(nuo& solid.rio e pa%iente das pe7uenas a!'es*Estas, no dia-a-dia, constru(das passo a passo, numa certadire"o, tam!m so essenciais grande mudan"a. E omais importante/ devem ser &eitas hoje. )omo di$ia 1aulo2reire, 0a melhor maneira que a gente tem de &a$erposs(vel amanha alguma coisa que no poss(vel ser &eitahoje, &a$er hoje aquilo que hoje pode ser &eito. Mas se euno '$er hoje o que hoje pode ser &eito e tentar &a$er hoje oque hoje no pode ser &eito, di'cilmente eu &a"o amanh o

    que hoje tam!m no pude &a$er6.5sso, de &orma alguma, signi'ca renunciar ao sonho da

    constru"o de uma sociedade justa e humana, nem jogar nolio da =ist#ria nossa utopia revolucionria. 1recisamosso!retudo da utopia neo-socialista contra a ideologianeoli!eral que prega o 'm da utopia e da hist#ria. Estamosconvencidos, acima de tudo, que a educa"o, mais do quepassar por uma melhoria da qualidade do ensino que esta(, como sustenta o Qanco Mundial, ela precisa de uma

    trans&orma"o radical, eigncia premente e concreta deuma mudan"a E+trutural provocada pela inevitvel glo!a-li$a"o da economia e das comunica"es, pela revolu"o dain&ormtica a ela associada e pelos novos valores que estore&undando institui"es e convivncia social na emergentesociedade p#s-moderna. 1or isso, como a'rmamos no in(ciodo teto, no se constr#i um projeto pol(tico-pedag#gicosem uma dire"o pol(tica, um norte, um rumo.

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    8eto etra(do de $%&'I, )oacir. *Pro+eto poltico peda--ico da escola:funda/entos para sua reali0ao2. In: $%&'I, )oacir 3 4')5', 6os Eusta7uio (or-s.!.%utono/ia da escola: princpios e propostas. 8. ed. So Paulo: orte0, 1, p. "";81.