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PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL · reciclagem apontando inúmeros aspectos positivos e da relevância ... com os dados da Associação Brasileira de ... de Cúpula da Terra que aprovou

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PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: sensibilizando os jovens com a

reciclagem.

Emiko Watanabe1

Lucila Akiko Nagashima2

Resumo

A Educação Ambiental na escola, além de ser um processo educacional das

questões ambientais, atinge também os problemas socioeconômicos, políticos,

culturais e históricos pela interação que possui com o meio ambiente. Sua aplicação

tem a extensão de auxiliar na formação dos alunos para o exercício consciente da

cidadania. A escola é um dos locais mais indicados para promover a

conscientização ambiental por meio da ligação das questões ambientais com as

socioculturais. A partir desse enfoque, o presente projeto objetivou conscientizar os

educandos do 6º ano sobre a degradação ambiental em decorrência do lixo

produzido pela humanidade, demonstrando a necessidade primordial da

minimização do lixo gerado desperdiçado diariamente. A aplicação do princípio dos

3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar busca a massificação das mudanças

comportamentais necessárias para a preservação ambiental. Para a execução do

projeto adotou-se a metodologia da pesquisa descritiva, sendo dividido em nove

etapas/ações contextualizadas, facilitando assim, manter a atenção dos alunos e

ajudando-os a assimilar o conteúdo. Essas etapas foram compostas por atividades

diversas, desde monitoramento do lixo gerado durante uma semana na residência

dos alunos, produção de fantoche com materiais recicláveis, palestras, e visita à

Cooperativa de Catadores – COCAMARE, entre outras. Após a execução de todas

as ações, a avaliação dos alunos e do projeto foi realizada mediante a análise dos

resultados das atividades, incluindo criatividade dos alunos na confecção dos

fantoches e interação durante as palestras e visita à COCAMARE. Essa análise

evidenciou que 58% dos estudantes segregam o lixo em suas residências e

1 Professora de Ciências do Colégio Estadual Costa Monteiro Ensino Fundamental e Médio.

2 Docente no Colegiado de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR-

campus de Paranavaí.

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preocupam-se em reduzir a sua geração, reutilizando o que pode ser reaproveitado.

Também ficou evidente que os estudantes têm consciência da importância da

reciclagem apontando inúmeros aspectos positivos e da relevância da prática do

princípio dos 3 Rs e que ações como essas, contribuem para uma educação voltada

para a cidadania.

Palavras-chave: Resíduos sólidos; Cidadania; Coleta Seletiva; Política dos 3 Rs. 1 Introdução

A relação entre o ser humano e o ambiente ultrapassou a questão da

simples sobrevivência. Nas últimas décadas do século XX e também no início deste,

para satisfazer as necessidades humanas, elaborou-se uma equação,

completamente desbalanceada: retirar, consumir e descartar. Diferente de outros

seres vivos, a espécie humana tem dificuldade em estabelecer o seu limite de

crescimento, bem como para relacionar-se com outras espécies e com o planeta.

Dessa forma, mais do que adaptar-se às condições do meio, lei biológica universal,

os seres humanos adaptam o meio às suas necessidades (VON ZUBEN,1998). O

autor ainda afirma que a ação de “transformar a natureza está diretamente

relacionada com o crescente desenvolvimento das funções e habilidades que

caracterizam o ser humano, provocando um impacto que sua ação exercerá sobre o

meio ambiente” (VON ZUBEN, 1998, p.7), favorecendo a geração desordenada de

resíduos sólidos e efluentes de diversas origens.

Em 2009, o Brasil, gerou mais de 185 milhões de toneladas de resíduos

sólidos por dia de acordo com os dados da Associação Brasileira de Empresas de

Limpeza Pública e Resíduos Especiais. A geração per capita no período de 2000 a

2010 passou de 0,7 kg.hab./dia a 0,95 kg.hab./dia (NASCIMENTO NETO;

MOREIRA, 2010). Diante disso, percebe-se a importância de se procurar, por meio

da educação ambiental com foco na Coleta Seletiva, motivar as pessoas a serem as

responsáveis pela primeira triagem dos resíduos, além de desenvolver

simultaneamente uma consciência coletiva e ecológica e também, orientando as

pessoas para contribuírem com a geração de emprego e renda para os catadores,

bem como para a preservação do meio ambiente.

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O trabalho educacional é, sem dúvida, um dos mais urgentes e necessários

meios para minimizar a degradação ambiental, que põe em risco a saúde do planeta

e de seus habitantes. Atualmente, grande parte dos desequilíbrios está relacionada

às condutas humanas ocasionadas pelos apelos consumistas que ocasionam

desperdícios. Percebe-se então, que pouco adiantará os recursos tecnológicos de

controle ambiental de última geração, se as pessoas não refletirem sobre o seu

comportamento no que se refere ao consumo desenfreado e ao uso insustentável

dos recursos naturais.

Acredita-se que, para alcançar o compromisso dos educandos em relação à

qualidade ambiental é necessário que os mesmos façam parte integrante desse

processo, colocando em prática os princípios básicos dos 3 Rs: REDUZIR,

REUTILIZAR e RECICLAR.

Assim, o desenvolvimento do projeto procurou conscientizar os educandos

da 5ª série/6º ano sobre as consequências da geração do lixo pela sociedade e os

impactos desta para o ambiente, demonstrando a necessidade primordial dos

processos de redução na quantidade de resíduos e seu reaproveitamento, através

de ações específicas, tais como:

- apresentar aos estudantes da 5ª série/6º ano a importância do destino

correto do lixo, orientando-os sobre a diferença entre lixo orgânico e reciclável.

- estimular a coleta seletiva nas residências dos educandos e, por extensão

na comunidade, promovendo assim uma consciência ambiental, por intermédio da

educação ambiental na escola.

- demonstrar a importância da coleta seletiva que ocorre de forma

organizada e abrangente, envolvendo a cooperação da sociedade.

- conhecer e aplicar a política dos 3 Rs: REDUZIR, REUTILIZAR e

RECICLAR.

- discutir o impacto ecológico causado pelo lixo, criando uma consciência de

consumo controlado e aproveitamento dos produtos utilizados.

- promover discussões para que os alunos compreendam as implicações

econômicas e sociais do reaproveitamento do lixo.

- discutir o conceito de Desenvolvimento Sustentável, sua responsabilidade

pela manutenção de recursos para gerações futuras.

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2 Fundamentação Teórica 2.1 Educação Ambiental 2.1.1 Histórico

A preocupação com a qualidade ambiental vem crescendo com a evolução

da sociedade, à medida que os problemas se tornam cruciais e exigem soluções,

algumas destas soluções surgidas a partir de iniciativas da Educação Ambiental,

desenvolvidas principalmente a partir da década de setenta. Para Pádua e Tabanez

(1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de

valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior

integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.

A partir da década de setenta, cientes de que a degradação ambiental

ultrapassava os limites das ações isoladas, diversas nações resolveram unir forças

na busca de soluções (PÁDUA; TABANEZ, 1998). Em 1972, a Conferência de

Estocolmo (como ficou conhecida) organizada pela Organização das Nações Unidas

(ONU), mostrou que a degradação ambiental estava relacionada com problemas

políticos, econômicos e sociais, resultantes da cultura humana e que, para se

resolver os problemas ambientais, era preciso mudar valores e unir ações.

Paralelamente a isso, foi publicado, no mesmo ano, um documento reflexivo

resultante das análises do chamado “Clube de Roma”. Diante disso, Reigota (1996)

afirma que o principal mérito dos debates e conclusões do Clube de Roma foi

colocar o problema ambiental em nível planetário e como consequência disso,

realizou-se a Primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano. Nessa

conferência foram elaborados dois documentos: a Declaração sobre o Meio

Ambiente Humano e seu Plano de Ação Mundial que apontava para a educação.

Não uma educação restrita às escolas (formal), multidisciplinar que transmite

conhecimentos, a fim de que os alunos os reproduzam, mas uma educação

interdisciplinar e até transdisciplinar, formada de pessoas críticas sensibilizadas com

questões ambientais e sociais (REIGOTA, 1996).

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O autor (1996, p.53) ainda afirma que “uma resolução importante da

Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução dos

problemas ambientais” resultando no que se convencionou chamar de educação

ambiental. A Conferência de Estocolmo (1972) recomendou que a Educação

Ambiental deveria ter um enfoque interdisciplinar e ser desenvolvida em todos os

níveis de ensino e gradativamente passou a reforçar a necessidade de sua inclusão

no ensino formal, não como uma disciplina a mais nos currículos, mas estando

presente em todas as disciplinas (REIGOTA, 1996).

A Educação Ambiental (EA) emerge, então, como a solução para os

problemas ambientais ou na sensibilização da população a estes problemas.

Reigota (1996, p. 53) chega a afirmar que “(...) nos últimos anos ocorreu o boom da

educação ambiental, tornando-a um modismo que confunde os seus praticantes e

usuários e muitas atividades exóticas têm sido chamadas de educação ambiental.”

Pode-se, assim, afirmar que a Organização para a Educação, a Ciência e a

Cultura das Nações Unidas (UNESCO) foi responsável pela divulgação e realização

dessa nova perspectiva educativa e promoveu três conferências internacionais em

Educação Ambiental, ao longo de três décadas: a Conferência de Belgrado em

1975, a Conferência de Tbilisi em 1977 e Conferência de Moscou em 1987

(REIGOTA, 1996).

Já em 1992, foi realizada a Conferência do Rio de Janeiro (Rio – 92)

também denominada Conferência de Cúpula da Terra que aprovou uma série de

acordos internacionais oficiais, no que diz respeito à Educação Ambiental, no

entendimento de Reigota (1996).

Segundo Guimarães (2001), os problemas ambientais são os problemas do

desenvolvimento desigual para sociedades humanas e nocivo para os sistemas

naturais. Isso

requer declarar reiteradamente que os seres humanos constituem o centro, e a razão de ser do desenvolvimento requer sistemas naturais, bem como critérios superiores de respeito à dignidade humana e de melhoria na qualidade da vida das pessoas (GUIMARÃES, 2001, p. 21).

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No Brasil, a Lei n.º 9.795/99 – que dispõe sobre a política ambiental e institui

a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelece em seu art. 3º, a

responsabilidade de cada um dos segmentos:

I- Poder Público, nos termos do arts. 205 e 225 da Constituição Federal,

definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a

educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na

conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

II- Instituições Educativas, promover a educação ambiental de maneira

integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

III- Órgãos Integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente –

SISNAMA, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de

conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV- Meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e

permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre o meio

ambiente e incorporar a divulgação ambiental em sua programação;

V- Empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas,

promover programas destinados a capacitação dos trabalhadores, visando à

melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como as

recuperações do processo produtivo no meio ambiente;

VI- Sociedade como um todo, manter a atenção permanente à formação

de valores, atitudes e habilidades que propiciam a atuação individual e coletiva

voltada para prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais.

2.1.2 Objetivos da Educação Ambiental

Segundo Souza (2003), a educação ambiental tem os seguintes objetivos:

Consciência – ajudar os grupos sociais e o indivíduo a adquirirem

consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas

questões.

Conhecimento – ajudar os grupos sociais e o indivíduo a adquirirem

diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos

problemas anexos.

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Comportamento – ajudar os grupos sociais e os indivíduos a

comprometerem-se com uma série de valores e a sentirem interesse e preocupação

pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente da

melhoria e da proteção do meio ambiente.

Habilidades – ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem as

habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais.

Participação – proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a

possibilidade de participarem ativamente das tarefas que têm por objetivo resolver

problemas ambientais.

2.1.3 Educação Ambiental no Contexto Escolar

A escola é um dos locais mais indicados para promover a conscientização

ambiental a partir da conjugação das questões ambientais com as questões

socioculturais. A Educação Ambiental (EA) quando aplicada no âmbito escolar,

segundo Gerber et al. (2009, p. 28)

além de ser um processo educacional das questões ambientais, alcança também os problemas socioeconômicos, políticos, culturais e históricos pela interação que possui com o meio ambiente. Sua aplicação tem a extensão de auxiliar na formação dos alunos, desenvolvendo hábitos e atitudes sadias de conservação e respeito ambiental, transformando-os em cidadãos conscientes, de maneira que rompe com o ensino tradicional, pela sua abrangência, incrementa a participação de todos os professores alunos e a comunidade.

As disciplinas são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos

científicos de que as sociedades já dispõem são colocados ao alcance dos alunos,

como afirma Penteado (1994).

2.2 Coleta Seletiva

2.2.1 Princípio da Coleta Seletiva

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A coleta seletiva é uma metodologia que objetiva minimizar o desperdício de

matéria prima, e a reciclagem, a forma mais racional de gerir os resíduos sólidos

urbanos, pois, segundo Calderoni (1996), ela na sua essência, é uma maneira de

educar e fortalecer nas pessoas o vínculo afetivo com o meio ambiente, despertando

o sentimento do poder de cada um para modificar o meio em que vivem.

Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

(2001), a Coleta Seletiva do Lixo é um sistema de recolhimento de materiais

recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na

fonte geradora e que podem ser reutilizados ou reciclados. A coleta seletiva

funciona, também, como um processo de educação ambiental na medida em que

sensibiliza a comunidade sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e

da poluição causada pelo lixo.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão ligado ao

Ministério do Meio Ambiente (MMA) por meio da Resolução 275/2001, dispõe que a

reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e expandida no país, para

reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não renováveis, energia e

água. Enfatiza, também, a necessidade de reduzir o crescente impacto ambiental

associado à extração, geração, beneficiamento, transporte, tratamento e destinação

final de matérias-primas, provocando o aumento de lixões e aterros sanitários

(BRASIL, CONAMA, 2001).

Segundo o Programa da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos

Hídricos (SEMA, 2011), a coleta Seletiva está baseada em um documento universal,

a Agenda 21, que é a proposta mais consistente que existe de como alcançar o

desenvolvimento sustentável, isto é, de como podemos continuar desenvolvendo

nossos países e nossas comunidades sem destruir o meio ambiente e com maior

justiça social. Esta agenda busca através de uma ação conjunta, o consenso entre

vários grupos de interesse, formando-se parcerias entre atores capazes de tomar

decisões que combinem crescimento econômico com equidade social e proteção

ambiental.

A coleta seletiva por si só não trará os resultados esperados, porém se

estiver alicerçada sobre um componente fundamental, a Educação Ambiental, terá

êxito. Assim, o principal objetivo da coleta seletiva é o encaminhamento dos

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materiais para indústrias de reciclagem, o que evita que a disposição destes, venha

a ocorrer em lixões e aterros sanitários (BRASIL, 1992). Ainda de acordo com a

Agenda 21, o processo de coleta seletiva é uma alternativa viável para a redução

dos resíduos descartados em lugares indevidos, sendo também essencial para a

etapa seguinte, caracterizada pela realização da reciclagem destes materiais, que

possibilita a preservação dos recursos naturais e geração de emprego e renda, e

também, alivia os aterros sanitários, cuja vida útil é aumentada, poupando espaços

preciosos do município.

Portanto, de acordo com Agenda 21, a coleta seletiva de lixo é de extrema

importância para uma sociedade consciente e bem educada, que não produz lixo e

sim materiais para reciclar além de gerar renda para milhões de pessoas e

economia para as empresas, também significa uma grande vantagem para o meio

ambiente, na medida em que:

diminui a exploração de recursos naturais;

reduz o consumo de energia;

diminui a poluição do solo, da água e do ar;

prolonga a vida útil dos aterros sanitários;

possibilita a reciclagem de materiais que iriam para o lixo;

diminui os custos da produção, com o aproveitamento de recicláveis

pelas indústrias;

reduz o desperdício e gastos com a limpeza urbana;

cria oportunidade de fortalecer organizações comunitárias;

gera emprego e renda pela comercialização dos recicláveis.

2.2.2 Coleta seletiva nos municípios brasileiros

A sociedade moderna se destaca pelo desperdício e o uso indiscriminado

dos recursos naturais. A preservação destes recursos e a diminuição do desperdício

devem ocorrer por meio do esclarecimento da população quanto à importância na

mudança de seus hábitos e de como é difícil gerenciar os resíduos sólidos urbanos,

por ela gerados (SEMA, 2008).

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Para Layargues (2002, p.179),

apesar da complexidade do tema, muitos programas de educação ambiental na escola são implementados de modo reducionista, já que, em função da reciclagem, desenvolvem apenas a Coleta Seletiva de Lixo, em detrimento de uma reflexão crítica e abrangente a respeito dos valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo, do industrialismo, do modo de produção capitalista e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo.

Segundo pesquisas, menos de 10% dos municípios brasileiros desenvolvem

programas de coleta seletiva. Concentrados nas regiões Sul e Sudeste, a maioria

desses programas tem abrangência territorial limitada e desvia dos aterros sanitários

um volume de materiais recicláveis crescente, porém pouco significativo, se

comparado aos volumes desviados pelos catadores avulsos (RIBEIRO; BESEN,

2007).

Ainda de acordo com os autores citados

no Brasil, os programas municipais de coleta seletiva integram o sistema de gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares. Esses programas podem ser operacionalizados unicamente pelas prefeituras (ou por empresas contratadas para essa finalidade), ou pelas prefeituras em parceria com catadores organizados em cooperativas, associações, ONGs e, recentemente, em Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – as Oscips (RIBEIRO; BESEN, 2007, p.5).

2.2.3 Princípios dos 3 Rs

O excesso de produção de bens de consumo pela humanidade associada à

escassez de recursos não renováveis e contaminação do meio ambiente, leva o ser

humano a ser o maior predador do universo (SEMA, 2008).

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA,

2008), no material denominado Alicerce do GIR – Os 3Rs discute que a redução, a

reutilização e a reciclagem são importantes alternativas para a diminuição da

quantidade de resíduos, aumentando o tempo de vida dos aterros sanitários,

economia de matéria-prima e energia, entre outros benefícios.

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O princípio dos 3Rs contribui para:

- REDUZIR: diminuir a quantidade de resíduo gerado, consumindo apenas o

necessário. Para dar uma esperança ao planeta é necessário que haja uma redução

do volume de produtos consumidos, tendo atenção especial com aqueles

provenientes de recursos naturais não-renováveis, afirma Silva (2010).

- REUTILIZAR: reutilizar o que for possível; ou seja, dar nova utilidade a

materiais que são considerados inúteis.

- RECICLAR: separar todos os materiais potencialmente recicláveis, para a

coleta seletiva que posteriormente serão reaproveitadas pelas indústrias

recicladoras.

Assim, pode-se dizer que o princípio dos 3 Rs está orientado para uma

mudança dos padrões não sustentáveis de produção e de consumo, não devendo,

portanto a reciclagem ser uma ação desvinculada dos dois primeiros Rs, o que

poderia servir para legitimar o desperdício. O princípio dos 3 Rs ganhou visibilidade

após a Rio 92, estando prevista no 21º capítulo da agenda 21 a redução ao mínimo

dos resíduos e a maximização ambientalmente saudável do reaproveitamento e da

reciclagem dos resíduos (MOUSINHO, 2003).

2.3 Resíduos Sólidos

2.3.1 Resíduos sólidos e a sociedade

A sociedade moderna, surgida com a Revolução Industrial em meados do

século XVIII, recebeu inúmeros benefícios na melhoria da qualidade de vida,

proporcionada pelas inovações nos meios de transporte, na calefação das

residências, na disponibilidade de utensílios domésticos e instrumentos de trabalho,

notadamente nos avanços de medicina e de comunicação, afirma Santos (2012). O

autor ainda declara que “a soma de todos esses benefícios econômicos e sociais

teve e está tendo um alto custo, em termos quantitativos da exaustão dos recursos

naturais e qualitativo da poluição da atmosfera, dos solos, das águas” (SANTOS,

2012, p.6), induzindo a uma maior geração de resíduos sólidos.

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Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais (ABRELPE, 2010), a geração de RSU no Brasil novamente

registrou um crescimento expressivo de 2009 para 2010, superando a taxa de

crescimento populacional urbano que foi de cerca de 1% no período. Em 2009, o

Brasil coletou 182.728 ton.dia-1 de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e em 2010, o

valor cresceu para 195.000 ton.dia-1, o que registrou uma geração percapita de

1,152 kg.hab-1/dia (2009) e 1,213 kg.hab-1/dia (2010), mostrando que houve um

aumento de 7,7% na quantidade de RSU coletados em 2010. A comparação da

quantidade total gerada em 2010 com o total de resíduos sólidos urbanos coletados

em 2009 mostrou que 6,7 milhões de toneladas de RSU deixaram de ser coletados

no ano de 2010 e, por consequência, tiveram destino impróprio (ABRELPE, 2010).

A análise sobre RSU efetuada pela ABRELPE revelou que o percentual de

destinação adequada em aterros sanitários cresceu menos de 1% em relação ao

ano de 2009 e, apesar de discreto avanço na regularização, a quantidade de RSU

destinada inadequadamente cresceu, com danos consideráveis ao meio ambiente

(ABRELPE, 2010). O crescimento desenfreado na geração é o principal problema

que demandarão enorme atenção por parte dos municípios, exigindo uma postura

diferente da que vem sendo adotada, segundo as disposições trazidas pela Política

Nacional de Resíduos Sólidos.

2.2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS

Após tramitar na Câmara por mais de duas décadas, foi sancionada em 2 de

agosto de 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que

impõe obrigações a governos, a empresários, a cidadãos a respeito do

gerenciamento de resíduos sólidos e de materiais recicláveis (BRASIL, 2010).

Quanto ao conteúdo da Lei no. 12.305/2010, a mesma engloba apenas 57

artigos, estabelecendo diretrizes, instrumentos e responsabilidades para a gestão

dos resíduos sólidos. Segundo o disposto na Lei, são objetivos da Política Nacional

de Resíduos Sólidos:

I – proteção da saúde pública e de qualidade ambiental:

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II – não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento final

ambientalmente adequado dos rejeitos;

III- estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de

bens e serviços;

IV – adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como

forma de minimizar impactos ambientais;

V – redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-

primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

VI – gestão integrada de resíduos sólidos;

VII – articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com

o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão

integrada de resíduos sólidos;

VIII – capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

IX – regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da

prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,

com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a

recuperação dos custos prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade

operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

X – prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:

a) produtos reciclados e recicláveis;

b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões

de consumo social e ambientalmente sustentáveis;

XI – integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas

ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos;

XII – estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;

XIII – incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e

empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao

reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento

energético;

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XIV – estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável (BRASIL,

art. 7, 2010).

De um modo geral, a PNRS tem por objetivo definir estratégias que

viabilizem agregar valores aos resíduos, incrementando a capacidade competitiva do

setor produtivo, propiciando a inclusão social, e também, delinear o papel dos

Estados e Municípios na gestão dos resíduos sólidos (NASCIMENTO NETO;

MOREIRA, 2010).

Sem dúvida, de acordo com esses autores, o destaque maior do projeto é a

Logística Reversa que é um instrumento de desenvolvimento econômico e social

caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a

viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para

reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação

final ambientalmente adequada.

Outro ponto de destaque se refere à efetiva integração dos catadores,

priorizando a organização e funcionamento de cooperativas e outras formas de

associação de catadores de materiais recicláveis que serão beneficiados com linhas

de financiamento público. Segundo Nascimento Neto e Moreira (2010), essas ações

tendem ampliar, mesmo que implicitamente e sem garantias legais, o respeito aos

direitos dos catadores de materiais recicláveis dentro da cadeia produtiva dos

materiais.

Além disso, a Lei prevê a elaboração de um Plano Nacional de Resíduos

Sólidos, sob coordenação do Ministério do Meio Ambiente, cujo material deverá

contemplar um diagnóstico dos resíduos gerados ou administrados, a definição dos

procedimentos sob responsabilidade do gerador de resíduos, metas para reduzir a

geração desses materiais e medidas corretivas de danos ambientais.

Assim, os municípios são responsáveis pela gestão dos resíduos gerados

em seu território, cabendo aos Estados promover a integração do planejamento e

execução das funções públicas relacionadas à gestão dos resíduos sólidos nas

regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (NASCIMENTO

NETO; MOREIRA, 2010). Além disso, como mencionado pelos mesmos autores,

diversos setores da economia estarão sujeitos às normas, que serão parte

integrante do processo de licenciamento ambiental de empreendimentos, entre eles

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os setores de saneamento básico, de resíduos industriais, de serviços de saúde, de

mineração, empresas de construção civil e responsáveis por portos, aeroportos e

terminais rodoviários.

2.4 Cooperativas de Reciclagem

2.4.1 Cooperativa de Catadores de Lixo de Nova Esperança – ACAMARE

2.4.1.1 Histórico da Entidade

A Cooperativa é originária de uma Associação de Catadores, denominada

“ACAMARE”, fundada em 02 de maio de 2003, com o objetivo de retirar famílias do

antigo lixão, que faziam coleta de materiais recicláveis. Nessa época, formou-se um

grupo gestor com apoio e coordenação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE) para a implantação da atual Associação (NOVA

ESPERANÇA, 2008).

Entre os representantes encontravam-se a Sociedade Civil, Agente da

Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), grupo de catadores e representante do

Poder Público Municipal, criando-se a cooperativa de acordo com a Lei Municipal nº

1.784, de 09 de junho de 2008, que instituiu o Sistema Municipal de Coleta Seletiva

e Reciclagem de Resíduos Sólidos e Urbanos, bem como as licenças ambientais

expedidas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) (NOVA ESPERANÇA, 2008).

A Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis – COCAMARE, está

situada na Rua Dr. Murici, nº 306 - na Vila Garça, no Município de Nova Esperança,

com o CNPJ 09.330.302/0001-00 e Inscrição Estadual 904.40167-69. Atualmente o

diretor presidente da Instituição é Francisco Almeida de Santana.

Inicialmente, com a elaboração de um projeto, organizou-se uma associação

congregando todos os catadores de materiais recicláveis que trabalhavam de forma

autônoma. No entanto, a falta de investimentos, de estrutura, de amparo na gestão e

da atividade comercial dos atravessadores ocasionaram a desagregação dos

cooperados e um grupo de associados retornou à catação autônoma (NOVA

ESPERANÇA, 2008).

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Em janeiro de 2008, graças ao espírito cooperativo de alguns líderes, a

Associação foi transformada em Cooperativa e o Poder Público Municipal criou a Lei

da Coleta Seletiva Municipal, fazendo a doação do galpão, legalizando as Licenças

Sanitárias e a Licenças Ambientais emitidas pelo Instituto Ambiental do Paraná

(IAP), firmando assim, um Protocolo de intenção (NOVA ESPERANÇA, 2008).

Do Termo de Cooperação assinado entre os envolvidos, segundo Nova

Esperança (2008) destaca-se:

- a disponibilidade de todo o combustível necessário para transporte,

despesas com energia elétrica e água;

- a inclusão de programas da Assistência Social para ajudar no crescimento

individual, melhoria da auto-estima, auto-respeito, confiança e melhoria na qualidade

de vida.

- a disponibilidade de um estagiário com remuneração em administração de

empresas e um funcionário, responsável pela coordenação geral da Coleta Seletiva.

Recebeu, também, subsídios financeiros do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio da elaboração de um

projeto, trazendo com isso, o crescimento da cooperativa e muitos benefícios,

principalmente de relevância social. Assim, pode-se afirmar que a COCAMARE, na

sua estrutura atual, possui uma área administrativa com: recepção, banheiro,

almoxarifado, escritório, cozinha com equipamentos industrial, refeitório, banheiro

masculino e feminino com vestiário, área de expedição e dois galpões integrados,

totalizando uma área de 1.300 m². Também, permitiu a aquisição de equipamentos

novos, como duas prensas com capacidade de prensar fardos de 300 kg, uma

esteira com tulha dosadora, uma fragmentadora de papel, um elevador de carga,

balança (1000 kg) e computadores novos com acessos à internet (NOVA

ESPERANÇA, 2008).

Atualmente o índice de coleta seletiva está entre 68% a 70% de todo

material reciclável gerado no município. Para tal sucesso, a cooperativa conta com

perfeito funcionamento da logística: uma carreta, acoplada (com dois associados da

COCAMARE) em cada caminhão coletor do município, faz a coleta simultânea de

resíduos orgânicos e material reciclável, permitindo assim, uma economia de tempo

e combustível na coleta dos resíduos sólidos. Além disso, empenhado na discussão

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e ampliação do conceito de Desenvolvimento Sustentável, a COCAMARE, desde a

sua fundação, juntamente com voluntários, organizam palestras em escolas,

empresas, gincana ecológica e, desenvolve o projeto denominado: RECICLE SEUS

HÁBITOS (NOVA ESPERANÇA, 2008).

Preocupados com a segurança e bem estar dos cooperados, a COCAMARE

oferta cursos de capacitação, participação em fóruns e em feiras, e também a

inserção de consultoria de outras empresas no sentido de agregar valores aos

produtos a serem comercializados (NOVA ESPERANÇA, 2008). Outra conquista dos

associados foi a aquisição do maquinário da Empresa KUBTZ – (Soluções Sociais e

Ambientais), cujo treinamento foi ofertado pela empresa. Os coletores usuários dos

carrinhos elétricos adquiridos da BLAST do Brasil, desenvolvidos pela ITAIPU

BINACIONAL, também receberam treinamentos em Curitiba.

Ainda de acordo com o documento “Nova Esperança” (2008), o potencial

gerencial da COCAMARE caminha para o fortalecimento e maturidade, com as

seguintes ações: reunião mensal com os membros da diretoria e com todos os

cooperados, construção coletiva do Regulamento Interno, transparência no processo

de venda dos produtos através da fixação diária do edital da comercialização e

informatização, proporcionando o acompanhamento diário da movimentação

bancária, criação do cartão pagamento com disponibilidade na conta bancária. A

COCAMARE ainda disponibiliza o caminhão de pequeno porte que faz a coleta nos

dois distritos e atende algumas comunidades rurais e também alguns pontos da

cidade: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica e Fórum.

2.4.1.2 Gestão de Resíduos Sólidos em Nova Esperança

A Gestão de Resíduos Sólidos é tratada no município de Nova Esperança

como um conjunto de atitudes envolvendo a Secretaria de Agricultura e Meio

Ambiente, Secretaria de Obras, Secretaria da Saúde e Secretaria da Educação, as

quais apresentam procedimentos e propósitos interligados, tendo como objetivo

principal a eliminação dos impactos ambientais negativos, associados à produção e

à destinação do lixo (NOVA ESPERANÇA, 2009).

Compete às respectivas secretarias:

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À Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente: administrar todo processo

de coleta seletiva, cuidando da destinação correta dos materiais recicláveis para a

Cooperativa de Catadores e a destinação do lixo orgânico para o aterro sanitário,

bem como o gerenciamento do aterro sanitário. Além disso, acompanhar a

implementação do Plano de Resíduos Sólidos do município e Plano de

Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (NOVA ESPERANÇA, 2009).

À Secretaria da Saúde: compete através da Vigilância Sanitária, da

FUNASA com a equipe da Dengue realizar campanhas educativas mostrando à

população que o tratamento de resíduos e dejetos e sua destinação final apropriada

são essenciais à eliminação de focos transmissores de doenças e à preservação do

meio ambiente (NOVA ESPERANÇA, 2009).

À Secretaria de Obras e Viação: compete manter toda logística, através de

veículos, máquinas e recursos humanos para a sustentação da coleta eletiva e

limpeza dos logradouros públicos (NOVA ESPERANÇA, 2009).

À Secretaria de Educação: compete a implementação de ações de

educação ambiental através de projetos nas escolas com envolvimento de toda

comunidade, a exemplo do Projeto Recicle seus Hábitos, Gincana Ecológica, Feira

do Meio Ambiente (NOVA ESPERANÇA, 2009).

3 Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida no Colégio Estadual Costa Monteiro – Ensino

Fundamental e Educação para Jovens e Adultos (EJA), localizado no município de

Nova Esperança, Estado do Paraná, no segundo semestre de 2011, tendo como

público alvo, estudantes do 6º Ano do Ensino Fundamental, com a participação de

15 alunos, aproximadamente.

Para o desenvolvimento do projeto, as atividades de intervenção pedagógica

foram divididas em noves ações:

Primeira ação:

- Aplicação de uma atividade extraclasse visando o monitoramento do lixo

orgânico e inorgânico gerado pela família de cada estudante durante uma semana.

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- Explanação da diferença entre lixo orgânico e inorgânico.

- Aplicação de um questionário com a finalidade de verificar o percentual de

alunos que efetuam a segregação do lixo em suas residências.

- Realização de uma palestra sobre Educação Ambiental para destacar a

importância da redução na geração de resíduos sólidos.

Segunda ação:

- Análise e interpretação dos resultados obtidos na atividade extraclasse de

monitoramento aplicada na primeira ação.

- Demonstração e discussão dos valores obtidos por meio de gráficos e

percentuais no quadro de giz.

- Apresentação de dois vídeos sobre Reciclagem, com duração de 5 minutos

cada e debate sobre os mesmos.

- Atividade escrita descrevendo os pontos positivos e negativos observados

pelos alunos em relação à reciclagem e promoção de um debate sobre a descrição

efetuada.

Terceira ação:

- Entrega aos estudantes dos Kit’s Resíduos do Programa Desperdício Zero,

(Kit número 14) que foi criado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e

Recursos Hídricos, nos quais contêm informações técnicas, legislações, passos para

implantação da coleta seletiva, entre outros assuntos.

- Estudo em grupo e discussão sobre a coleta seletiva abrangendo os

seguintes tópicos: benefícios da Coleta Seletiva; metodologia para efetuar uma

coleta seletiva; tipos de resíduos e comparativos da reciclagem.

- Apresentações dos trabalhos elaborados pelos grupos e como tarefa de

fixação, atividade de caça-palavras realizada individualmente pelos estudantes.

- Elaboração de frases com as expressões encontradas no caça-palavras.

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Quarta ação:

- Discussão sobre os códigos de cores para os diferentes tipos de resíduos,

a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas

campanhas informativas, com o auxílio dos Kits – Desperdício Zero.

- Realização de uma tarefa de simulação no laboratório de informática, no

Portal Dia a Dia Educação em Simulações e Animações (ícone Brincando de

Reciclar), cuja atividade consistiu no estudo do padrão das cores.

Quinta ação:

- Visita à Cooperativa de Reciclagem – COCAMARE no município de Nova

Esperança com o objetivo de oportunizar aos estudantes o conhecimento dos

passos da separação de materiais recicláveis e entender a importância dessa ação

para a economia e ao meio ambiente. Nesta etapa, os jovens tiveram a oportunidade

de avaliar todo o processo de reciclagem e reutilização dos materiais que chegam a

cooperativa e identificar os diversos tipos de materiais recicláveis, como plásticos,

papéis vidros e metais.

- Assistir uma palestra sobre a gestão de Resíduos Sólidos do município de

Nova Esperança.

- Pesquisa na internet sobre as identificações dos plásticos e coleta de

embalagens plásticas para o estudo da classificação dos polímeros.

Sexta ação:

- Atividade sobre a classificação dos plásticos.

- Atividade em grupo para elaboração de cartazes sobre a identificação dos

plásticos.

- Solicitação da seguinte lista de materiais a ser providenciada para a

próxima ação: duas garrafas de refrigerante do tipo PET, dois rolos de papelão, dois

pedaços de barbantes de varal de três metros de comprimento cada um, quatro

pedaços de madeira de 22 centímetros cada um, papel camurça colorido, durex

colorido e tesoura.

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Sétima ação:

- Construção de um brinquedo chamado “Vai e vem” com os materiais

descritos na ação anterior com o objetivo de destacar a importância de reutilizar o

material reciclável acompanhada de uma palestra enfocando a importância da

reciclagem e a logística reversa.

Oitava ação:

- Confecção de fantoches utilizando os materiais recicláveis para destacar a

importância da reciclagem e incentivar sua ação, mostrando aos estudantes o poder

efetivo de cada um na transformação da realidade.

- Elaboração de um script para apresentação teatral sobre a importância da

reciclagem com os fantoches confeccionados pelos estudantes numa atividade de

oficina.

Nona ação:

- Apresentação de uma peça de teatro com os fantoches confeccionados

pelos estudantes na oficina, cujo principal objetivo é mostrar que o processo de

evolução da sociedade leva ao exercício de três palavras, consideradas

imprescindíveis na discussão atual sobre meio ambiente: reutilizar, reaproveitar e

reciclar.

4 Resultados e Discussão

Após o processamento das respostas dos alunos sobre a Educação

Ambiental e os mecanismos de redução na geração de RSU, foi possível saber o

nível de conhecimento dos estudantes sobre a coleta seletiva de lixo, reciclagem,

tipos de resíduos, que foram sistematizados em forma de tabela (Tabela 1) para

oferecer uma melhor visualização das respostas e um melhor discernimento do

conhecimento dos alunos. Ao analisar as respostas dos estudantes sobre os

mecanismos de redução na produção de RSU na suas residências, observa-se que

as respostas fornecidas são baseadas no seu cotidiano apesar de não vivenciar

sistematicamente os conteúdos da Educação Ambiental. Assim, 31% reutilizam as

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sobras de alimentos na preparação de novos pratos como forma de reduzir a

geração de resíduos orgânicos; 18% declaram que o reaproveitamento de materiais

recicláveis na confecção de artesanato é também outro mecanismo na redução do

lixo nas residências. Outra resposta que merece destaque é evitar o uso de

sacolinhas de supermercado (18%), grandes vilãs do meio ambiente, depois de mais

de sessenta anos de utilização. Outra alternativa encontrada pela família dos

estudantes é a preparação da compostagem a partir do lixo orgânico (6%), sendo

uma prática bastante habitual para transformar resíduos orgânicos em adubos

essenciais para a agricultura. Pode-se afirmar que todas as respostas fornecidas

pelos estudantes evidenciam diferentes formas e alternativas encontradas pelas

famílias na redução do lixo gerado.

Tabela 1 Mecanismos de redução da geração de lixo nas residências dos alunos.

Métodos de redução da geração de lixo %

- Reutilização das sobras de alimentos na preparação de novos pratos. 31%

- Utilização do verso das folhas de impressão como rascunho. 15%

- Evitar pegar muitas sacolinhas de supermercado. 18%

- Não comprar comidas enlatadas. 6%

- Reaproveitar os materiais recicláveis na confecção de artesanato. 24%

- Usar o lixo orgânico para fazer compostagem. 6%

Ao mesmo tempo em que os estudantes têm conhecimento dos mecanismos

que propiciam a redução de resíduos na origem, a Figura 1 mostra que 42% das

famílias dos alunos que participaram das atividades na escola, ainda não segregam

seletivamente o lixo em suas residências.

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Figura 1 Percentual de segregação do lixo pelas famílias dos estudantes

Este resultado revela que mesmo tendo aumentado a consciência dos

impactos causados ao meio ambiente pela grande quantidade de resíduos gerados,

as pessoas, em geral, agem para “se desfazer rapidamente dos resíduos que

produzem e lançá-los o mais longe possível de sua visão e olfato”, como afirma

Mandelli (1999, p. 1795). Além disso, mesmo sendo uma das responsáveis por essa

crescente geração de resíduos, esse comportamento confirma a assertiva de

Mandelli (1999) quanto à população querer livrar-se do lixo e não ter a consciência

de que é necessário se dispor esses resíduos em algum lugar, já que foram

gerados. As pessoas acham, em geral, que é responsabilidade unicamente dos

governos e não se envolvem com essa problemática. Diante desse quadro, foi

necessário reforçar a importância da redução de resíduos na origem, discutindo a

necessidade de uma mudança de comportamento da população na geração e no

trato do lixo, principalmente em relação ao desperdício, característica da sociedade

de consumo. Reforçando também a importância e a necessidade da correta

segregação na origem, discutiu-se novamente os princípios da coleta seletiva e o

processo da reciclagem como algo indispensável que a gestão urbana e a

população não pode mais adiar.

Apesar de estarem fortemente ligados, a coleta seletiva e a reciclagem não

são expressões sinônimas. A reciclagem significa transformar os restos descartados

por residências, fábricas, lojas e escritórios em matéria-prima para a fabricação de

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outros produtos (FRANSCICHETTO; SILVA; CREVELIN, 1997). A coleta seletiva é

um processo que antecede ao da reciclagem que consiste na separação na fonte

geradora dos materiais recicláveis.

Já na Tabela 2 estão representados os resultados de uma outra atividade

efetuada durante a intervenção pedagógica. Nesta tarefa, foi solicitada aos

estudantes a realização de uma análise gravimétrica do resíduo sólido gerado em

residências durante sete dias consecutivos, separando o lixo orgânico do inorgânico.

O resultado revelou que foram gerados 410,70 kg de resíduos, sendo 203,86 kg de

orgânico (49,64%) e 206,84 kg de resíduo inorgânico (50,36%). Discutiu-se porque

nossos resíduos apresentam um percentual alto de matéria orgânica que é

composto de lixo que depois de coletado é transformado em composto orgânico

(adubo), através do processo de decomposição, e pode ser utilizado em hortas e

jardins, servindo de nutrientes para plantas. Além disso, foi apontado o desperdício

de alimentos como sendo uma das razões para os altos percentuais de matéria

orgânica encontrados no lixo brasileiro.

Tabela 2 Geração de lixo na residência dos estudantes durante uma semana.

Geração de lixo durante uma semana

Dias Lixo Orgânico (kg) Lixo Inorgânico (kg) Total

Primeiro 18,44 kg 27,70 kg 46,14 kg

Segundo 23,90 kg 22,18 kg 46,08 kg

Terceiro 21,82 kg 21,20 kg 43,02 kg

Quarto 24,40 kg 26,18 kg 50,58 kg

Quinto 34,60 kg 30,45 kg 65,05 kg

Sexto 38,20 kg 35,54 kg 73,74 kg

Sétimo 42,50 kg 43,59 kg 86,09 kg

Média 29,12 kg/dia 29,54 kg/dia 58,67 kg

Total 203,86 kg 206,84 kg 410,70 kg

Percentual 49,64% 50,36% 100%

Discutiu-se também que o lixo Inorgânico é composto por materiais que, após

a coleta, podem ser reciclados ou encaminhados para locais onde sofram processos

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adequados para seu armazenamento. O lixo inorgânico é constituído por: papéis,

papelão, plásticos, vidros, metais (como latão, alumínio, entre outros), pilhas e

baterias, garrafas plásticas e de vidro, filmes plásticos, saquinhos de suco, entre

outros produtos. Nesse momento foi novamente reforçada a necessidade da coleta

seletiva e a reciclagem dos materiais inorgânicos que não sofrem decomposição e

muitos componentes podem contaminar o meio ambiente, tal como as pilhas e

baterias.

Após essas discussões, os estudantes elaboraram uma tabela apontando os

aspectos positivos da reciclagem e admitindo que não há pontos negativos a serem

inseridos na mesma (Tabela 3).

Tabela 3 Pontos positivos e negativos da Reciclagem

Reciclagem

Pontos Positivos Pontos Negativos

- Diminuição da exploração dos recursos

naturais.

- Ajuda na limpeza das cidades.

- Reaproveitamento de materiais que

iriam para o aterro sanitário.

- Diminui o desperdício.

- Prolonga a vida útil dos aterros

sanitários.

Assim, abriu-se uma nova discussão reforçando que a reciclagem tem

efeitos altamente positivos nos aspectos econômicos, sociais e ambientais e que

sua aplicação como uma das ferramentas do gerenciamento integrado dos resíduos

sólidos promove preservação de fontes esgotáveis de matéria-prima, aumento da

vida útil dos aterros sanitários, redução dos custos da disposição final do lixo,

economia de energia, geração de emprego e renda, redução dos gastos com a

saúde pública, educação ambiental, entre outros benefícios.

Outra ação desenvolvida foi a atividade realizada no laboratório de

informática sobre os padrões das cores baseadas em normas internacionais e

estabelecidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente através da Resolução

275/2001. Nessa atividade, além do trabalho de simulação das cores nos

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computadores, foram discutidos os artigos 1o e 2o constantes na resolução citada,

importantes para coleta seletiva (RESOLUÇÃO CONAMA 275, 2001).

Art.1º Estabelecer o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser

adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas

informativas para a coleta seletiva.

Art. 2º Os programas de coleta seletiva, criados e mantidos no âmbito de órgãos da

administração pública federal, estadual e municipal, direta e indireta, e entidades

paraestatais, devem seguir o padrão de cores.

§ 1o Fica recomendada a adoção de referido código de cores para programas de

coleta seletiva estabelecidos pela iniciativa privada, cooperativas, escolas, igrejas,

organizações não-governamentais e demais entidades interessadas.

Em vigor desde agosto de 2010, a Lei sobre Política Nacional de Resíduos

Sólidos que já foi discutida neste trabalho, apresenta uma peça chave: o trabalho

dos catadores. Eles são essenciais para o fim dos lixões e a implantação da coleta

seletiva nos municípios, com menos poluição e mais renda. Além disso, as

cooperativas são aliadas das empresas nas ações para a reciclagem. Ao reforçar o

aspecto social, a lei prioriza a participação dos catadores a partir da

responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população. Assim, para

avaliar a importância do trabalho dos catadores e o funcionamento de uma

cooperativa de reciclagem, os estudantes visitaram a COCAMARE com o objetivo de

vivenciar amplamente o que foi discutido na sala de aula durante as atividades de

intervenção pedagógica.

A visita buscou especificamente que os alunos compreendam as implicações

econômicas e sociais do reaproveitamento do lixo e através dessa conscientização

apóiem iniciativas tais como a coleta seletiva, observando sempre o princípio dos

3Rs. A palestra ministrada nessa visita destacou aos estudantes o conceito de

desenvolvimento sustentável, sua responsabilidade pela manutenção de recursos

para as gerações futuras, mostrando como a questão do lixo está intimamente ligada

a esses conceitos. Também foram discutidos sobre as etapas de gerenciamento de

resíduos sólidos urbanos do município de Nova Esperança.

Apostar na ideia de que se podem construir brinquedos e outros artefatos a

partir de resíduos sólidos, mais conhecidos como “lixo seco” (MOURA; SOCAL,

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2001), no ambiente escolar foi uma outra alternativa encontrada para discutir a

coleta seletiva e a reciclagem. Com uma diversidade de materiais como jornais,

tintas, fitilhos, tampinhas de garrafa, latinhas, entre outros, é possível aguçar o

potencial imaginativo e criativo dos estudantes e assim educar para um futuro

melhor. Assim, os alunos construíram fantoches com o material reciclável,

prepararam peças de teatro usando os fantoches, destacando a necessidade de

aplicar a política dos 3Rs.

Por meio do teatro foi possível ensinar e informar sobre conceitos ambientais

e de preservação de forma interativa, divertida, prazerosa e envolvente. “O teatro

pode ser uma boa estratégia de ensino aprendizagem oferecendo a possibilidade de

que o educador atinja resultados pedagógicos relevantes” (SOUZA et al., 2007, p.1).

Como afirma Fonseca (2011), a escola possui uma responsabilidade enorme

em tentar conscientizar os jovens sobre a importância da separação dos resíduos

sólidos e seu descarte adequado. E a educação deve ser a base para estas

mudanças e tem a tarefa, enquanto educador, de criar as condições propícias para

que surjam novas visões de mundo repensadas e reavaliadas, visando a um

trabalho redimensionado que produza a partir do reaproveitamento dos resíduos

sólidos, arte e materiais úteis para seu cotidiano e o de sua comunidade (MOURA;

SOCAL, 2001).

5 Conclusão

Os resultados desse projeto voltado para a sensibilização dos jovens por

meio da reciclagem e da prática intensiva dos 3 Rs, demonstraram que os

estudantes possuem noção sobre o impacto que o lixo causa ao ser lançado na

natureza e também dos benefícios que a prática da reciclagem promove ao meio

ambiente. A pesquisa revela, ainda, que nas residências os alunos sabem segregar

o lixo e que há um equilíbrio entre o lixo orgânico e inorgânico produzido.

Ter a educação ambiental como disciplina segundo Fonseca (2011) é

fundamental para conscientizar e causar mudanças em comportamentos que estão

equivocados desde tempos muito remotos, sendo o grande causador de problemas

ambientais e a atual pobreza que nossa sociedade se encontra.

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Tratar das questões ambientais na escola implica na revisão de valores,

princípios, conflitos e tensões que se manifestam nesse e em diversos outros

espaços sociais. Um projeto que se fundamenta no princípio dos 3Rs pressupõe, na

maioria das vezes, mudanças comportamentais difíceis de serem incorporadas ao

cotidiano. Sendo assim, a construção de consciências nesse caso é fundamental;

mas como se trata de um processo subjetivo, depende de vários fatores

intervenientes afirma SILVA (2010).

Para mudar essa realidade as escolas devem proporcionar ao indivíduo uma

educação voltada para a cidadania que represente a possibilidade de motivar e

sensibilizar as pessoas para transformarem as diversas formas de participação, em

potenciais caminhos de dinamização da sociedade e da concretização de uma

proposta de sociedade baseada na educação para a participação.

Sabe-se que o processo de mudança de comportamento e da

conscientização é lento, fica-se na incumbência de ser perseverante e estimulador

nos projetos ambientais. Isso ocorre ao sensibilizar o educando em todas as

ocasiões sobre as suas responsabilidades como cidadão que necessita valorizar a

natureza, que proporciona melhor qualidade de vida ao meio ambiente e ao homem,

atuando de forma coletiva e individual para minimizar os problemas de ontem, de

hoje e de amanhã. (MOURA; SOCAL, 2001). Assim, educação será ponto

fundamental.

6 Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS – ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil – 2010. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2010.pdf>. Acesso em: 04 mai. 2012.

BRASIL. Documento Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992). Instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575>. Acesso em: 25 jan. 2012. BRASIL. Lei nº 12.305/2010, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 de agosto de 2010.

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