128
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA PRÁTICAS CRIATIVAS E TERRITÓRIOS EMERGENTES. O HIBRIDISMO DOS/NOS ELEVADOS. São Paulo 2015

PRÁTICAS CRIATIVAS E TERRITÓRIOS EMERGENTES. O …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/379/1/Elisabete Barbosa... · ativo na solução de problemas complexos, particularmente

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA

PRÁTICAS CRIATIVAS E TERRITÓRIOS EMERGENTES.

O HIBRIDISMO DOS/NOS ELEVADOS.

São Paulo

2015

ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA

PRÁTICAS CRIATIVAS E TERRITÓRIOS EMERGENTES.

O HIBRIDISMO DOS/NOS ELEVADOS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito à

obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo,

área de concentração: Projeto de Arquitetura e Urbanismo.

Orientador Prof. Dr. Carlos Leite de Souza

São Paulo

2015

i

C346p Castanheira, Elisabete Barbosa.

Práticas criativas e territórios emergentes – o hibridismo

do/nos elevados. – 2015.

129 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Referências bibliográficas: f. 108-114.

ii

ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA

PRÁTICAS CRIATIVAS E TERRITÓRIOS EMERGENTES.

O HIBRIDISMO DOS/NOS ELEVADOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Universidade Presbiteriana Mackenzie como

requisito parcial à obtenção do grau de Mestre

em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em______________________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Leite de Souza – Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________________________

Profª. Drª. Maria Isabel Villac

Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________________________

Profª. Drª. Elisabete França

Universidade São Paulo

iii

Para o Tatá, a Bai e o Sr. Mário.

iv

AGRADECIMENTOS

Há muito que agradecer!

Primeiramente agradeço aos meus Pais, que me apoiaram

incondicionalmente e permitiram as minhas escolhas, mesmo não entendendo

muito bem o que é Design... À Mamãe, muito especialmente (que se foi no

percurso do presente trabalho), o meu eterno agradecimento e amor.

Ao Tatá, meu filho amado, pela interlocução lúcida e melódica,

todo o meu amor.

Agradeço aos professores do Programa de Pós Graduação em

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie pelos

momentos de partilha e reflexão.

Deste grupo, agradeço de forma especial ao meu orientador, Prof.

Carlos Leite, que na qualidade de verdadeiro Mestre soube expressar a paixão

por sua atividade e pesquisa, e, sobretudo, ―contaminar‖ e transformar com o

seu entusiasmo.

À Profª Eunice Helena S. Abascal, Coordenadora do Programa de Pós

Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, o meu mais profundo reconhecimento por todo o apoio recebido em

um período tão complexo da minha vida.

À CAPES, agradeço o apoio financeiro.

Agradeço aos colegas de curso que tão plenamente me acolheram e

muitas vezes me guiaram no instigante universo da Arquitetura e do

Urbanismo, um carinhoso e expressivo muito obrigada. Cabe ainda um

agradecimento especial à generosidade explícita de Janaína Stédile, colega de

curso e vizinha querida que tantas caronas proporcionou.

Por fim, um agradecimento especialíssimo àqueles, que fora do círculo

acadêmico, estiveram comigo neste percurso labiríntico: Neusa Romano, Fábio

Pulitta, Cadu Scheliga, Eliane Jimenez e demais amigos queridos, além, claro,

de toda equipe Objeto Brasil na pessoa de Joice Joppert Leal. O

agradecimento e reconhecimento é também transatlântico. Um expressivo e

carinhoso obrigada aos queridos: José e Olga Ucha, Carlos José Ferreira,

Pedro Canas, Natália e Zézinha Regalado.

Eterno agradecimento.

v

―We will make visible the as-yet invisible‖

(Bruce Mau)

vi

RESUMO

A presença da criatividade na sociedade contemporânea se dá de forma

transversal. Como vetor de crescimento, está na origem de inúmeros outros

conceitos. Da Economia Criativa de John Howkins à Classe Criativa de Richard

Florida, a criatividade extrapola o âmbito artístico para se instalar como agente

ativo na solução de problemas complexos, particularmente nas cidades.

Primeiramente em megaescalas, posteriormente a criatividade passa a ser

percebida em uma escala menor: as práticas criativas resultantes de

microplanejamentos urbanos, que surgem a partir da base, da percepção de

uma necessidade local. São as iniciativas Bottom Up, cuja proliferação pode se

dar em territórios inusitados e cuja notabilidade tem se manifestado em cadência

crescente. O presente trabalho atravessa a polivalência de algumas estruturas

urbanas híbridas, similarmente presentes nas cidades de Paris, Nova York e São

Paulo (respectivamente: o Promenade Plantée, o High Line e o Elevado Costa e

Silva, também conhecido como Minhocão), para pontuar a micro escala da

inovação não tecnológica no âmbito da cidade, as práticas criativas que

hibridizam, resignificam e inventam territórios.

Palavras-Chave: Criatividade, Práticas Criativas, Inovação, Inovação Social,

Comportamentos Emergentes, Hibridismo, Design na Escala

da Cidade.

vii

ABSTRACT

The presence of creativity in contemporary society occurs across the board. As

growth driver is the source of many other concepts. Between the concepts from

John Howkins (Creative Economy) and Richard Florida (Creative Class),

creativity goes beyond the artistic context and became an active agent in solving

complex problems, particularly in cities. After large scales, creativity becomes

perceived on a smaller scale: creative practices resulting from urban micro

planning, arising from the base, the perception of a local need. Are the Bottom

Up initiatives, whose proliferation can occur in unusual territory and whose

notability has manifested itself in increasing cadence. This work crosses the

versatility of some hybrid urban structures, similarly present in the cities of Paris,

New York and São Paulo (the Promenade Plantée, the High Line and the High

Costa e Silva, also known as Minhocão), to score the micro scale non-

technological innovation within the city, the creative practices that hybridize,

reframe and invent territories.

Keywords: Creativity, Creative Practices, Innovation, Social Innovation, Emerging

behaviors, Hybridity, Design Scale in the City.

viii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – DIAGRAMA ECONOMIA CRIATIVA ................................................................................ 6

FIGURA 2 - CLASSIFICAÇÃO DAS INDÚSTRIAS CRIATIVAS – UNCTAD ................................... 9

FIGURA 3 – RANKING - INDÚSTRIAS CRIATIVAS/PAÍSES. ......................................................... 10

FIGURA 4 – PARKLETS SÃO PAULO ................................................................................................ 14

FIGURA 5 – PRAÇA VICTOR CIVITA ................................................................................................. 15

FIGURA 6 – PIANO DA ESTAÇÃO DA LUZ EM SÃO PAULO. ....................................................... 16

FIGURA 7 - ESTAÇÃO DA LUZ – INSTALAÇÃO TOQUE-ME SOU SEU ..................................... 17

FIGURA 8 - ESTAÇÃO DA LUZ – INSTALAÇÃO TOQUE-ME SOU SEU ..................................... 17

FIGURA 9 - ESTAÇÃO DA LUZ – INSTALAÇÃO TOQUE-ME SOU SEU ..................................... 17

FIGURA 10 - VIRADA CULTURAL ....................................................................................................... 18

FIGURA 11 – BECO DO BATMAN. ...................................................................................................... 26

FIGURA 12 – BECO DO BATMAN. ...................................................................................................... 26

FIGURA 13 - USUÁRIO DA ACADEMIA CORA GARRIDO. ............................................................ 27

FIGURA 14 - VISTA DO ACESSO À ACADEMIA CORA GARRIDO. ............................................. 27

FIGURA 15 - VISTA PANORÂMICA DA ACADEMIA CORA GARRIDO. ....................................... 28

FIGURA 16 - USUÁRIOS DA ACADEMIA CORA GARRIDO. ......................................................... 28

FIGURA 17 – ESCADÃO DO CAMBUCI – PROJETO BIO URBAN – JEFF ANDERSON. ........ 31

FIGURA 18 – KIT DE INTERVENÇÃO. ............................................................................................... 32

FIGURA 19 – TRANSPORTE DO KIT DE INTERVENÇÃO. ............................................................ 32

FIGURA 20 – UTILIZAÇÃO DO KIT DE INTERVENÇÃO. ................................................................ 33

FIGURA 21 – UTILIZAÇÃO DO KIT DE INTERVENÇÃO................................................................ 33

FIGURA 22 – UTILIZAÇÃO DO KIT DE INTERVENÇÃO. ................................................................ 33

FIGURA 23 - LIVRO COM ILUSTRAÇÕES POP UP ........................................................................ 34

FIGURA 24 - POP UP/INTERNET ........................................................................................................ 34

FIGURA 25 - POP UP STORE ADIDAS .............................................................................................. 34

FIGURA 26 - POP UP PARK – PROGRAMA SURREY – ................................................................ 34

FIGURA 27 – LARGO DA BATATA – PINHEIROS – SÃO PAULO ................................................ 35

FIGURA 28 – LARGO DA BATATA – MOVIMENTO A BATATA PRECISA DE VOCÊ ............... 36

FIGURA 29 - LARGO DA BATATA – MOVIMENTO A BATATA PRECISA DE VOCÊ ............... 37

FIGURA 30 – POP UP PARK INSTALADO NO LARGO DA BATATA, EM PINHEIROS, SÃO

PAULO. ............................................................................................................................................ 37

FIGURA 31 - ÁREA SOB ANDAIMES .................................................................................................. 38

FIGURA 32 - ÁREA SOB ANDAIMES – .............................................................................................. 39

FIGURA 33 - KIT – MONTAGEM POP UP PARKS ........................................................................... 39

FIGURA 34 – POP UP PARK - BALCÃO ............................................................................................ 40

FIGURA 35 – POP UP PARK - CADEIRA ........................................................................................... 40

FIGURA 36 – SIMULAÇÃO DE INSTALAÇÃO DE POP UP PARKS ............................................. 40

FIGURA 37 – PRACINHA OSCAR FREIRE ....................................................................................... 41

FIGURA 38 – PRACINHA OSCAR FREIRE ....................................................................................... 41

FIGURA 39 - PROMENADE PLANTÉE ............................................................................................... 47

FIGURA 40 - VISTA AÉREA PARCIAL DO PROMENADE PLANTÉE ........................................... 48

FIGURA 41 – PROMENADE PLANTÉE EM PARIS. ......................................................................... 48

FIGURA 42 – PROMENADE PLANTÉE EM PARIS. ......................................................................... 49

FIGURA 43 – PROMENADE PLANTÉE EM PARIS. ......................................................................... 49

FIGURA 44 – PROMENADE PLANTÉE EM PARIS. ......................................................................... 50

FIGURA 45 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO PROMENADE PLANTÉE EM PARIS. ................. 50

FIGURA 46 – VISTA AÉREA PARCIAL DO HIGH LINE EM NOVA YORK. .................................. 51

ix

FIGURA 47 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO HIGH LINE EM NOVA YORK. ............................... 52

FIGURA 48– HIGH LINE EM NOVA YORK. ....................................................................................... 52

FIGURA 49 – HIGH LINE EM NOVA YORK. ...................................................................................... 53

FIGURA 50 – HIGH LINE EM NOVA YORK. ...................................................................................... 53

FIGURA 51 – VISTA AÉREA PARCIAL DO ELEVADO COSTA E SILVA, O MINHOCÃO, EM

SÃO PAULO.. .................................................................................................................................. 54

FIGURA 52 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA, SÃO PAULO. ........ 54

FIGURA 53 – VISTA PARCIAL DO ELEVADO COSTA E SILVA, O MINHOCÃO, EM SÃO

PAULO. ............................................................................................................................................ 55

FIGURA 54 – VISTA PARCIAL DO ELEVADO COSTA E SILVA, O MINHOCÃO, EM SÃO

PAULO. ............................................................................................................................................ 55

FIGURA 55 – VISTA PARCIAL DO ELEVADO COSTA E SILVA, O MINHOCÃO, EM SÃO

PAULO E A SUA UTILIZAÇÃO AOS FINS DE SEMANA. ....................................................... 56

FIGURA 56 – VISTA PARCIAL DO ELEVADO COSTA E SILVA, O MINHOCÃO, EM SÃO

PAULO E A SUA UTILIZAÇÃO AOS FINS DE SEMANA. ....................................................... 56

FIGURA 57 – OCUPAÇÃO DA PARTE INFERIOR DO ELEVADO COSTA E SILVA, O

MINHOCÃO, EM SÃO PAULO. .................................................................................................... 56

FIGURA 58 - LINHA FÉRREA AÉREA QUE DEU ORIGEM AO PROMENADE PLANTÉE ....... 57

FIGURA 59 – LA PROMENADE PLANTÉE ........................................................................................ 57

FIGURA 60 – LOCAL DO LA PROMENADE PLANTÉE ANTES DA IMPLANTAÇÃO DO

PROJETO. ....................................................................................................................................... 58

FIGURA 61 – LOCAL DO LA PROMENADE PLANTÉE ANTES DA IMPLANTAÇÃO DO

PROJETO. ....................................................................................................................................... 58

FIGURA 62 – VIADUC DES ARTS. ...................................................................................................... 59

FIGURA 63 – VIADUC DES ARTS. ...................................................................................................... 59

FIGURA 64 – VIADUC DES ARTS. ...................................................................................................... 59

FIGURA 65 – O LOCAL DO HIGH LINE ANTES DE SUA IMPLANTAÇÃO. ................................ 60

FIGURA 66 – O LOCAL DO HIGH LINE ANTES DE SUA IMPLANTAÇÃO. ................................. 61

FIGURA 67 – O LOCAL DO HIGH LINE ANTES DE SUA IMPLANTAÇÃO. ................................. 61

FIGURA 68 – O HIGH LINE. .................................................................................................................. 62

FIGURA 69 – O HIGH LINE. .................................................................................................................. 62

FIGURA 70 – O HIGH LINE. ................................................................................................................. 63

FIGURA 71 – HIGH LINE DÉCADA DE 50. ........................................................................................ 64

FIGURA 72 – HIGH LINE DÉCADA DE 80/90. ................................................................................... 64

FIGURA 73 – HIGH LINE NA ATUALIDADE. ..................................................................................... 64

FIGURA 74 – CONVITE PARA A INAUGURAÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA. ................ 66

FIGURA 75 – PRAÇA MARECHAL DEODORO, EM SÃO PAULO, ANTES DA CONSTRUÇÃO

DO ELEVADO COSTA E SILVA. ................................................................................................. 67

FIGURA 76 – AV. SÃO JOÃO ANTES DA CONSTRUÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA. .. 67

FIGURA 77 – PUBLICIDADE DA CONSTRUTORA DO ELEVADO COSTA E SILVA. .............. 68

FIGURA 78 - AV. GENERAL OLÍMPIO DA SILVEIRA ANTES DA CONSTRUÇÃO DO

ELEVADO COSTA E SILVA. ........................................................................................................ 69

FIGURA 79 – AVENIDA AMARAL GURGEL ANTES DA IMPLANTAÇÃO DO ELEVADO

COSTA E SILVA. ............................................................................................................................ 69

FIGURA 80 – CONSTRUÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA. .................................................... 69

FIGURA 81 – CONSTRUÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA. .................................................... 69

FIGURA 82 – AV. AMARAL GURGEL DURANTE A CONSTRUÇÃO DO ELEVADO COSTA E

SILVA. ............................................................................................................................................... 70

FIGURA 83 – AV. AMARAL GURGEL DURANTE A CONSTRUÇÃO DO ELEVADO COSTA E

SILVA. ............................................................................................................................................... 70

x

FIGURA 84 – PARTE INFERIOR DO ELEVADO COSTA E SILVA. ............................................... 70

FIGURA 85 – PARTE INFERIOR DO ELEVADO COSTA E SILVA. ............................................... 70

FIGURA 86 – DETALHE DOS TRILHOS NO HIGH LINE. ............................................................... 73

FIGURA 87 – DETALHE DO TRILHOS NO HIGH LINE. .................................................................. 74

FIGURA 88– VISTA PARCIAL DO HIGH LINE. ................................................................................. 74

FIGURA 89 – VISTA PARCIAL DO PROMENDE PLANTÉE. .......................................................... 75

FIGURA 90 – DETALHE DO VIADUC DES ARTS. ........................................................................... 76

FIGURA 91 – DETALHE DO VIADUC DES ARTS. ........................................................................... 76

FIGURA 92 – DETALHE DO VIADUC DES ARTS. ........................................................................... 76

FIGURA 93 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................. 77

FIGURA 94 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................. 77

FIGURA 95 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................. 78

FIGURA 96 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................. 78

FIGURA 97 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................ 78

FIGURA 98 – EVENTO NO HIGH LINE. ............................................................................................. 78

FIGURA 99 – CAMPANHA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ÚLTIMO TRECHO DO HIGH

LINE.. ................................................................................................................................................ 79

FIGURA 100 – COMPARAÇÃO DE ÁREAS DE MEATPACK DISTRICT ANTES E DEPOIS DA

IMPLANTAÇÃO DO HIGH LINE................................................................................................... 80

FIGURA 101 – DIVULGAÇÃO DO NOVO HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DO ELEVADO

COSTA E SILVA. ............................................................................................................................ 82

FIGURA 102 – MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DO ELEVADO COSTA E SILVA......................... 82

FIGURA 103 – CORTE GENÉRICO DO ELEVADO COSTA E SILVA. .......................................... 83

FIGURA 104 – INTERVENÇÃO CROMÁTICA DA AUTORIA DE MAURÍCIO NOGUEIRA LIMA.

........................................................................................................................................................... 84

FIGURA 105 – REEDIÇÃO DOS PAINEIS DE FLÁVIO MOTTA NO ELEVADO COSTA E

SILVA. ............................................................................................................................................... 85

FIGURA 106 – INTERVENÇÃO GRÁFICA NO ELEVADO COSTA E SILVA - AUTORIA DE

BUGRE. ............................................................................................................................................ 87

FIGURA 107 – INTERVENÇÃO GRÁFICA NO ELEVADO COSTA E SILVA - AUTORIA DE

FINOK. .............................................................................................................................................. 88

FIGURA 108 – PROJETO GIGANTO – PILARES DO ELEVADO COSTA E SILVA. .................. 89

FIGURA 109– PROJETO GIGANTO – PILARES DO ELEVADO COSTA E SILVA..................... 89

FIGURA 110 – PROJETO GIGANTO – PILARES DO ELEVADO COSTA E SILVA. .................. 89

FIGURA 111 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 91

FIGURA 112 -– ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................ 91

FIGURA 113 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 92

FIGURA 114 - ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS .............................. 92

FIGURA 115 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 93

FIGURA 116 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 93

FIGURA 117 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 93

FIGURA 118 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 93

FIGURA 119 – ELEVADO COSTA E SILVA AOS DOMINGOS E FERIADOS ............................. 94

FIGURA 120 – JARDIM VERTICAL ABSOLUT - ELEVADO COSTA E SILVA ............................. 95

FIGURA 121 – DIVULGAÇÃO INTERVENÇÃO ELEVADO COSTA E SILVA – X BIENAL DE

ARQUITETURA ............................................................................................................................... 95

FIGURA 122 – INTERVENÇÃO ELEVADO COSTA E SILVA – X BIENAL DE ARQUITETURA

........................................................................................................................................................... 96

FIGURA 123 – INTERVENÇÃO ELEVADO COSTA E SILVA – X BIENAL DE ARQUITETURA –

ARTISTA LUANA GEIGER. PAULO ............................................................................................ 96

xi

FIGURA 124 – FESTA JUNINA NO MINHOCÃO . ............................................................................ 97

FIGURA 125 – FESTA JUNINA NO MINHOCÃO . ............................................................................ 97

FIGURA 126 – DIVULGAÇÃO DA FESTA JUNINA NO MINHOCÃO . .......................................... 98

FIGURA 127 – VISTA PARCIAL DO MINHOCÃO A PARTIR DE UM DOS PRÉDIOS QUE

LADEIAM O MINHOCÃO. IMAGENS DO DOCUMENTÁRIO ELEVADO 3.5 DIRIGIDO

POR JOÃO SODRÉ, MAÍRA SANTI BÜHLER E PAULO PASTORELO. .............................. 98

FIGURA 128 – VISTA PARCIAL DO MINHOCÃO A PARTIR DE UM DOS PRÉDIOS QUE

LADEIAM O MINHOCÃO. IMAGENS DO DOCUMENTÁRIO ELEVADO 3.5 DIRIGIDO

POR JOÃO SODRÉ, MAÍRA SANTI BÜHLER E PAULO PASTORELO. .............................. 99

FIGURA 129 – VISTA PARCIAL DE UM DOS PRÉDIOS QUE LADEIAM O MINHOCÃO. ........ 99

FIGURA 130 – PÚBLICO E APRESENTAÇÃO DO GRUPO ESPARRAMA NO MINHOCÃO. 100

FIGURA 131 – PÚBLICO E APRESENTAÇÃO DO GRUPO ESPARRAMA NO MINHOCÃO. 100

FIGURA 132 – CENA DO FILME ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA. .............................................. 101

xii

SUMÁRIO

1. Introdução 01

2. Cidades Criativas, Escalas e Motivações 05

2.1. Derivação de Conceitos:

Indústrias, Classe e Cidades Criativas 09

2.1.1. Indústria Criativa 09

2.1.2. Classe Criativa 11

2.1.3. Cidades Criativas 12

2.2. Escalas e Motivações 19

2.2.1. Escalas 19

2.2.2. Motivações 21

3. Praticas Criativas,

Micro Planejamento Urbano e Iniciativas Bottom Up 25

4. O Hibridismo dos/nos Elevados 43

Paris [Promenade Plantée]

Nova York [High Line]

São Paulo [Minhocão/Baixo Augusta]

4.1.1. Do Lugar ou Espaço ou Território 45

4.1.2. Da Motivação 52

4.1.3. Da Condição de Ser Híbrido &

Da Apropriação do Território 71

5. Considerações Finais 102

6. Referências Bibliográficas 108

1

1. Introdução

A economia atual é, segundo Florida (2002), em essência, uma Economia

Criativa. Embora esta discussão seja tida como atual, já no final da década de

50, no discurso que proferiu por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel da

Paz, Lester B. Pearson mencionava que o bem-estar da humanidade

dependeria de sua habilidade em ultrapassar todos os desafios por meio da

criatividade. (Mau, 2004).

A coexistência entre a intangibilidade das ideias e a materialidade dos

equipamentos e serviços caracteriza a sociedade do conhecimento – como

refere Lojkine (2002) - e, está na origem de inúmeros conceitos

contemporâneos: Economia Criativa, Cidades Criativas, entre outros.

No nível mais básico, a economia do conhecimento refere-se a pessoas criativas se juntando – a cidade é o diferencial que propicia isso – para adicionar valor ao trabalho através da troca de informações, gerando, assim, novas ideias. A economia keynesiana supunha que o consumo era a força motriz da economia, enquanto as teorias atuais sugerem que as ideias que permitem avanços tecnológicos e inovadores são as forças motores do futuro. (Leite, 2012 p. 70)

A relação entre o urbano e a Economia Criativa é muito próxima. O conceito de

Florida (2002) trabalha, sobretudo, a macro escala. Os estudos sobre o tema

materializam o coletivo e os padrões notáveis pela expressão econômico-

financeira que apresentam, ou seja, pela sua dimensão.

As práticas criativas que podem (ou não) apresentar em sua gênese a pequena

dimensão são objetos de estudo, sobretudo na lógica dos APLs (Arranjos

Produtivos Locais) cuja característica principal é o fato de formarem um

agrupamento, circunscrito geograficamente a uma região e onde é possível

perceber alinhamentos em termos de governança1. Nessa perspectiva, o APL é

o uno agrupado, que tem no coletivo a sua identidade.

1 Oficina Regional de Orientação à Instalação de APLs – GTP APL, MDIC, 2006. Disponível em:

http://www.sedes.es.gov.br/index.php/arranjos-produtivos-locais/o-que-sao-apls. Acesso em: 09 de Novembro de 2014.

2

Para Leite (2012) é a grande deformidade na localização de vetores de

crescimento:

a grande contradição do nosso tempo: os novos drivers de desenvolvimento e riqueza econômicos tendem a se concentrar em algumas localidades. As forças do mercado e as economias de aglomeração tendem a concentrar inovações tecnológicas em algumas ilhas territoriais, clusters especializados. (Leite, 2012 p. 70)

Segundo o autor, os clusters pautam a sua estratégia central produtiva em

serviços avançados, parte da chamada nova economia e:

Vale ressaltar, portanto, que os cluster são um formato de arranjo produtivo local com imenso potencial como estratégia na reestruturação de antigas áreas industriais degradadas, ou seja, são um instrumento importante a ser utilizado nos processos de regeneração urbana e na implementação de projetos urbanos inovadores. (Leite, 2012 p. 128)

A Economia Criativa enquanto conceito congrega e, cada vez mais, é traduzida

em números. A isto, Florida (2002) denomina: Estrutura Social da Criatividade.

O autor traça a nova geografia das classes nos Estados Unidos, mensurando a

sua distribuição e a sua relação com a vantagem regional nos Estados Unidos,

chegando a calcular um índice da criatividade que:

combina quatro fatores, todos com o mesmo peso: a parcela de força de trabalho que corresponde à classe criativa; o grau de inovação, avaliado segundo o número de patentes per capita; o índice de alta tecnologia, cuja referência é o Tech Pole Index, do Milken Institute

2;

e a diversidade mensurada pelo índice gay – um referencial cabível para avaliar a abertura de uma área a diversos tipos de pessoas e ideias. Essa combinação de fatores é um instrumento mais eficaz para avaliar os recursos criativos de uma região do que a simples quantificação da classe criativa, pois, associa o impacto da sua concentração a resultados econômicos inovadores. (Florida, 2002, p. 243)

Para este autor, o índice de criatividade é capaz de fazer uma leitura regional

do elemento criativo instalado, bem como, presumir o seu potencial. Florida

(2002) trabalha com a noção do coletivo que aponta possibilidades.

É da abrangência decorrente do conceito da criatividade que trata o capítulo 1.

Cidades Criativas, Escalas e Motivações, busca a origem do significado da

Cidade Criativa (e conceitos correlatos), e ainda, a diferença de escalas,

2 Índice de Tecnologia estabelecido pelo Instituto Milken, Organização Sem Fins Lucrativos, que procura, por meio da

pesquisa, encontrar soluções para os desafios contemporâneos. Tradução da autora. Disponível em: < http://www.milkeninstitute.org/about> Acesso em: 09 de Novembro de 2014.

3

daquilo que transita entre o local e global. Por fim, trata ainda de diferentes

tipos de Motivação e, em que cenário se propicia o seu surgimento.

Vivant (2012) refere o escopo das pesquisas desenvolvidas por Florida (2003)

que evidenciam uma economia da aglomeração. A mesma autora levanta ainda

a questão da instrumentalização da cultura, que despida de espontaneidade ou

serendipidade, articula ações com finalidades políticas: unicamente utilizadas

como estratégia para a valorização do espaço.

Diametralmente oposto a esta prática, o capítulo 2 trata de práticas criativas

que se percebem fruto de ações de micro planejamento urbano. O âmbito da

iniciativa é local, o desdobramento circunscrito e se concretiza como iniciativa

espontânea, fruto de uma observação minuciosa e articulada: são as iniciativas

Bottom Up que podem (ou não) adquirir um comportamento notável. Não é o

uno que adquire a condição de coletivo, mas sim, alça outra dimensão. Esta

prática, que reconhece a necessidade (ou a oportunidade) e é elaborada

segundo a especificidade do locus, reforça a identidade e o contexto em que se

apresenta. Trabalha o uno como condição do complexo.

A cidade, é claro, envolve muito mais do que as relações econômicas que nela se desenrolam. Unem-se a elas as relações sociais, a cultura local, os hábitos e atitudes da população, aquelas peculiaridades que fazem que um espaço seja tão diferente de outro e que dão alma a uma cidade. Diante disso, seria reducionista dizer que uma cidade criativa é aquela em que a economia criativa é essencialmente pujante. (Reis, 2012, pg. 17)

No desenvolvimento do conceito de Classe Criativa, Florida (2003) remete ao

poder que o lugar exerce sobre a classe. Questões como a autenticidade, o

―poder da identidade‖ (Castells 2001 apud Florida, 2003), e, sobretudo, a

qualidade como fruto da experiência (entre tantos outros fatores) dão conta da

apetência da Classe Criativa em privilegiar a cultura vernacular, a criação

orgânica, aquilo que é local. E continua: a Classe Criativa é componente ativo.

Há uma necessidade de participar no processo de edificação. É fundamental

para a Classe Criativa delinear uma identidade própria, contribuir para a

construção de lugares que reflitam e legitimem essa identidade.

4

O terceiro e último capítulo promove, em simultâneo, uma reflexão sobre 3

equipamentos urbanos que contrariando a vocação de origem se

transformaram: o Promenade Plantée em Paris, o High Line em Nova York e o

Elevado Costa e Silva em São Paulo.

Em 43 anos de vida, o Elevado Costa e Silva, embora não reverbere

unanimidade em seus propósitos urbanos, tem vindo a tornar-se local de usos

inusitados, constituindo nas palavras de Koolhaas (apud Guatelli, 2008), objeto

de ―promiscuidade programática‖. As atividades que se desenvolvem no

Minhocão, passaram por distintas fases, em um processo de descoberta e

apropriação que altera por completo a percepção do elevado inserido na

cidade. Alargando a vocação construída, o equipamento urbano vê emergir

uma multiplicidade de usos, e uma intensa discussão sobre o futuro de seu

papel na cidade.

Este trabalho não procura discutir a polarização de opiniões sobre o destino do

Minhocão (transformar ou demolir) nem tampouco o rol de soluções projetuais

destinadas à sua requalificação. Atém-se, em exclusivo, à reflexão sobre a

utilização do Minhocão como suporte de práticas criativas que legitimam o

caráter híbrido do equipamento.

5

2. Cidades Criativas, Escalas e Motivações.

Na introdução do livro a Era das Revoluções, Hobsbawm (2009) elenca uma

série de palavras que nasceram ou aprofundaram os seus significados no

período ao qual se refere o livro: 1789-1848.

São elas: "indústria", "industrial", "fábrica", "classe média" ', "classe trabalhadora", "capitalismo" e "socialismo". Ou ainda "aristocracia" e "ferrovia", "liberal" e "conservador" como termos políticos, "nacionalidade", "cientista" e "engenheiro", "proletariado" e "crise" (econômica). "Utilitário" e "estatística", "sociologia" e vários outros nomes das ciências modernas, "jornalismo" e "ideologia", todas elas cunhagens ou adaptações deste período *. Como também "greve" e "pauperismo". Imaginar o mundo moderno sem estas palavras - isto é, sem as coisas e conceitos a que dão nomes - é medir a profundidade da revolução que eclodiu entre 1789 e 1848, e que constitui a maior transformação da história humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado. (Hobsbawm, 2009, p. 11)

Para pesquisar o panorama atual é necessário acrescentar a esta lista uma

série de palavras que surgiram, ou se evidenciaram neste período e sem as

quais seria impossível descrever ou pensar a sociedade de hoje. São elas:

tecnologia, empreendedorismo, inovação, start up, stakeholders, e entre outras,

a criatividade.

O termo criatividade atravessou a história e passou de inspiração proveniente

das Musas na Grécia antiga a ativo fundamental na economia contemporânea.

A expressão ―Eureka‖ de Arquimedes, certamente contribuiu para o mito do

gênio criador do século XIX, onde, aqueles cujo talento fosse notável, eram

considerados iluminados e dotados de algo divino.

Vários foram os teóricos que se debruçaram sobre o assunto: Rogers (1959

apud Castanheira, 2005) relaciona a criatividade com o meio; Ghiselin (1952

apud Castanheira, 2005) referia que a criatividade é tão ampla quanto possa

ser considerada a estrutura do homem; ou ainda, Guilford (1950 apud

Castanheira, 2005) que trouxe os conceitos de Pensamento Convergente e

Divergente: este último como uma solução inovadora, ou seja, aquela que

responde de maneira distinta do que seria esperado.

6

Cidades Criativas

O conceito de Cidades Criativas deriva de outro conceito mais abrangente (que

o contém), a Economia Criativa, cuja perspectiva contemporânea atrai

interesses distintos, e tem como premissa repensar recursos, formas de

administração, caminhos de contribuição, entre outros.

Figura 1 – Diagrama Economia Criativa

Fonte - Autora

Economia Criativa

O final do século XX trouxe o conceito da Economia Criativa:

Embora não haja consenso quanto às raízes da Economia Criativa, as evidências bibliográficas coletadas indicam sua primeira aparição sob a roupagem da expressão Creative Nation, surgido na Austrália, em 1994 (Department of Comunications, Information Technology and the Arts, Austrália, 2004). (Reis, 2011, pg. 8)

Imediatamente a seguir, na Inglaterra do governo de Tony Blair, há um

meticuloso estudo que reuniu governo e setor privado e do qual resultou um

documento elencando os 13 setores com maior potencial econômico. Este

conjunto recebeu o nome de Indústrias Criativas e tem na criatividade, na

habilidade e nos talentos individuais o potencial para a criação de riqueza e

empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual. (Reis,

2011)

7

Segundo Reis (2011), a propriedade intelectual torna-se a essência da

conceituação de John Howkins (2001) que no início deste século, debruça-se

sobre o tema. A ―moeda da economia criativa‖:

ativo intangível criado pela mente humana, altamente cobiçado pelo valor que agrega a indústrias novas e tradicionais da economia, teria além de tudo uma vantagem extraordinária, em um mundo de produtos e serviços, como vimos, crescentemente padronizados e com ciclos de vida fugazes. Trata-se da menor vulnerabilidade à cópia, em se pressupondo o respeito aos acordos de propriedade intelectual ratificados pelos 184 países membros da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMP) e não obstante a prática da pirataria nos meandros globais, notória inclusive em países signatários da organização. (Reis, 2012, p. 26)

Vivant (2012), por seu turno, refere que:

Na nova economia dita cognitiva, em que as ferramentas de produção e matéria-prima são a informação e o conhecimento, a criatividade constitui uma vantagem comparativa para empresas, indivíduos e territórios. (Vivant, 2012, p. 11)

Crítico em relação à denominação da economia contemporânea como da

―informação‖ ou ―conhecimento‖, Florida (2002) entende ser a criatividade

humana a força motriz desta sociedade. Para o autor, um dos grandes pilares

da teoria da Economia Criativa é o conjunto de indicadores. Este conjunto,

além do número de pessoas com diploma do ensino superior e do ensino

técnico, que Florida (2002) denomina respectivamente de Talento e

Tecnologia, contém também um terceiro T: a Tolerância. Este último contempla

a diversidade, que por sua vez encampa ―o peso da comunidade homossexual

dentro da coletividade‖ e a ―boêmia artística‖. Sobre estes critérios, Vivant

(2012) cita Shearmur (2005) que diz não ser a quantidade de diplomados um

indicador de crescimento, mas antes, as oportunidades ofertadas que são

capazes de atrair um grupo destes graduados.

Florida (2002) refere também que a criatividade é multidimensional,

apresentando diversas formas que se potencializam. A criatividade relacionada

exclusivamente às criações artísticas há muito que não a delimita. A visão

contemporânea a define como sendo proveniente da diversidade, sendo

diretamente proporcional à pluralidade onde pode ser encontrada e se

apresenta na forma de resultados, cada vez mais, em áreas a primeira vista

8

sisudas e despidas de grau criativo. Segundo Florida (2002), a sua

transversalidade:

Desencadeou outra reviravolta impressionante: levou os que antes eram vistos como rebeldes excêntricos atuando à margem para o centro do processo de inovação e crescimento econômico. Essas mudanças na economia e no ambiente de trabalho, por sua vez, ajudaram a propagar e a legitimar transformações semelhantes na sociedade como um todo. O indivíduo criativo não é mais encarado como um iconoclasta; ele – ou ela –faz parte da nova cultura predominante. (Florida, 2002, p. 6)

A criatividade se está presente em produtos, pode estar também em

processos, articulando informações e relacionando-as de modo a obter o

aprimoramento dos modos de fazer, seja um artefato, seja um serviço, seja um

procedimento. Atributo de fundamental importância, a criatividade é hoje um

ativo importante e bastante representativo enquanto indicador econômico na

sociedade contemporânea. No entanto, e como refere Reis (2012):

Embora o aporte que a criatividade gera em termos econômicos, sociais e culturais seja tema corriqueiro na literatura econômica, de Schumpeter aos arautos da economia do conhecimento, ela passa a ser reconhecida cada vez mais como recurso básico, diferencial e imprescindível. (Reis, 2012, p. 18)

Para Reis (2012) a construção do conceito de Economia Criativa tem na

globalização um agente acelerador. Isto se deve não só ao fato do conceito

suscitar ―questionamentos acerca da importância da localização de recursos‖,

mas, também, pela amplitude que a noção de espaço adquiriu e que se reflete

de forma direta na mobilidade, deixando mais ―permeáveis as fronteiras

espaciais e mentais entre local e global‖. (Reis, 2012)

A mesma autora refere ainda que a consequência da globalização da

Economia Criativa pode ser observada sob outra perspectiva: a da

fragmentação das cadeias produtivas que inserida em um cenário de

globalização pode dificultar o resgate dos benefícios gerados pela criatividade,

pois, segundo a autora há um problema crônico: um estrangulamento da

distribuição da indústria cultural.

9

2.1. Derivação de Conceitos: Indústrias, Classe e Cidades Criativas

2.1.1. Indústrias Criativas

Resultado do documento elaborado no governo de Tony Blair, conforme

referido anteriormente, o conceito de Indústrias Criativas, segundo Bendassolli

(2009) contempla a criatividade como matéria-prima da propriedade intelectual;

a percepção de valor atribuído à cultura (o que a transforma em objeto cultural);

a transformação desse valor em propriedade intelectual e, portanto em valor

econômico e, a convergência entre artes, negócios e tecnologia.

Figura 2 - Classificação das Indústrias Criativas – UNCTAD

Fonte - Disponível em: <http://www2.cultura.gov.br/economiacriativa/wp-content/uploads/2013/06/relatorioUNCTAD2010Port.pdf> Acesso em: 17 de maio de 2014.

A análise de Jaguaribe (2006 apud Bendassolli, 2009) sobre as fronteiras das

Indústrias Criativas reforça a ideia de transversalidade do conceito, a

importância da tecnologia que dota o ―analógico‖ de uma possibilidade de

maior abrangência.

Em geral, existe uma espécie de acordo que as Indústrias Criativas têm um coregroup, um coração, que seria composto de música, audiovisual, multimídia, software, broadcasting e todos os processos de editoria em geral. No entanto, a coisa curiosa é que a fronteira das indústrias criativas não é nítida. As pessoas utilizam o termo como sinônimo de indústrias de conteúdo, mas o que se vê cada vez mais é

10

que uma grande gama de processos, produtos e serviços que são baseados na criatividade, mas que têm as suas origens em coisas muito mais tradicionais, como o craft, folclore ou artesanato, estão cada vez mais utilizando tecnologias de management, de informática para se transformarem em bens, produtos e serviços de grande distribuição. (Jaguaribe, 2006 apud Bendassolli, 2009 p.12)

A relevância adquirida pelo tema levou as Nações Unidas a publicarem um

estudo sobre o assunto (2010) que, além de apontar a ação aceleradora que a

Indústria Criativa pode imprimir às economias emergentes, também elenca

seguintes contornos:

_ são ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que utilizam a criatividade e o capital intelectual como insumos primários; _ constituem um conjunto de atividades baseadas em conhecimento, focadas, entre outros, nas artes, que potencialmente geram receitas de vendas e direitos de propriedade intelectual; _ constituem produtos tangíveis e intangíveis e serviços intelectuais ou artísticos intangíveis com conteúdo criativo, valor econômico e objetivos de mercado; _ posicionam-se no cruzamento entre os serviços artísticos, de serviços e industriais; _ constituem um novo setor dinâmico no comércio mundial

3;

Figura 3 – Ranking - Indústrias Criativas/Países.

Fonte - Disponível em: < http://jpress.jornalismojunior.com.br/2012/05/economia-criativa/> Acesso em: 17 de maio de 2014.

3 Relatório de Economia Criativa – 2010. Economia Criativa: Uma Opção de Desenvolvimento Viável. Nações Unidas,

2010. Disponível em: < http://www2.cultura.gov.br/economiacriativa/wp-content/uploads/2013/06/relatorioUNCTAD2010Port.pdf> Acesso: 02 de novembro de 2014.

11

No Brasil, a importância do tema levou a criação da Secretaria de Economia

Criativa (SEC), por meio do Decreto 7743 de 1º de Junho de 2012, vinculado

ao Ministério da Cultura e cujo objetivo centra-se potencialização da cultura

como eixo estratégico nas políticas púbicas de desenvolvimento do Estado

brasileiro4.

2.1.2. Classe Criativa

Florida (2002) cunha o conceito de Classe Criativa como sendo um grupo

formado por indivíduos das ciências, das engenharias, da arquitetura e do

design, da educação, das artes plásticas, da música e do entretenimento.

Basicamente, o objetivo deste grupo é criar novos conteúdos: sejam

tecnológicos, de serviços, de produtos. Nesta definição de Florida (2002) cabe

ainda uma extensão que abarca profissionais das áreas das finanças,

negócios, leis, saúde e afins. Tal definição alarga em muito a já presente

abrangência do conceito. Isto se dá, muito em função do que Florida (2002)

pretende como substrato para o conceito: independentemente da área, os

membros da Classe Criativa compartilham o mesmo Éthos Criativo, que

valoriza a criatividade, a individualidade, as diferenças e o mérito.

Vivant (2012) é bastante crítica em relação ao conceito de Classe Criativa

desenvolvido por Florida (2002) por defini-lo como um pouco simplista.

Segundo a autora. o novo conceito esquiva-se das noções básicas de classe:

um conjunto de interesses e valores compartilhados. Dada a diversidade de

segmentos que a Classe Criativa abarca, a ―pertinência da análise‖ fica

comprometida:

seja sob o ângulo das trajetórias individuais, dos salários e das posições sociais, seja sob o ângulo de uma consciência de pertencimento a uma entidade social, ainda que esta seja vasta. (Vivant, 2012, p.18)

Florida (2002) refere que hoje, nos Estados Unidos, a tradicional Classe

Trabalhadora já é numericamente inferior ao contingente da Classe Criativa,

que por sua vez, também é menor que a Classe de Serviços. Embora assim

4 Secretaria de Economia Criativa – Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/secretaria-da-economia-criativa-sec>

Acesso: 02 de novembro de 2014.

12

seja, o papel vital da Classe Criativa no panorama econômico americano, faz

com que seja muitíssimo influente. No comparativo com a Classe Empresarial,

o autor afirma que a Classe Criativa é substancialmente maior.

A principal diferença entre as atividades desenvolvidas pelas distintas classes

assenta na subordinação ou na liberdade para a realização de tarefas:

enquanto a Classe Trabalhadora realiza funções de acordo com um plano pré-

estabelecido, a Classe Criativa tem autonomia para elaborar a complexidade

de suas atividades.

2.1.3. Cidade Criativa

Para Florida (2002 apud Vivant, 2012) a Cidade Criativa está ligada a sua

dimensão criativa, revelado por seu dinamismo cultural e artístico, único capaz

de fazer frente aos efeitos de desinvestimento causados pelo declínio industrial

e embora as grandes cidades tenham sido sempre espaços de manifestação

da singularidade e da criatividade, estes atributos eram tidos como marginais.

Hoje a efervescência criativa passou para o centro da cidade e de sua

atividade, tomando a dianteira de motor do desenvolvimento econômico.

É sobre a cidade como polo dinamizador da criatividade que Leite (2012)

referencia Schumpeter e o seu pioneirismo em relacionar inovação e

desenvolvimento. Para Schumpeter (1934) a inovação é diretamente

proporcional ao investimento e ao lucro e se apresenta sob duas formas:

inovação radical (que opera alterações) e inovação incremental (que

retroalimenta o processo de inovação). No pós-guerra surge a Economia da

Inovação. A partir da teoria econômica de então, Schumpeter (1934) faz uma

nova leitura na qual insere variáveis dinâmicas e aspectos sociais, o que alarga

o seu espectro de análise. Da leitura resulta o conceito de ―destruição

criadora‖: onde produtos e hábitos estabelecidos são substituídos por novos.

(Haddad, 2010)

As cidades são pensadas como centros de inovação há muito tempo. Em 1606, o padre e pensador liberal italiano Giovanni Botero já dizia

13

que o grande diferencial das cidades não eram nem os prazeres da vida urbana, nem a segurança que elas traziam (em comparação com a vida precária no campo), mas sim, a riqueza (econômica, social e cultural) que provinha da concentração da diversidade de suas populações. O argumento só seria retomado, aprofundado e popularizado mais de 300 anos depois por Jane Jacobs em Vida e Morte das Grandes Cidades. (Leite, 2012 p. 74)

Reis (2010) refere que a Cidade Criativa está diretamente relacionada a uma

cidade na qual prevalece a Economia Criativa, embora não seja de forma

exclusiva. A complexidade de uma cidade contempla dinâmicas próprias

capazes de alavancar iniciativas de forma muito mais amplas.

Vivant (2012) relaciona as cidades pioneiras com aquelas que mais sofreram

com a crise industrial e entende que, a ideia de Cidade Criativa, deve ser

repensada para que com um mínimo de clareza possa escapar da rejeição que

suscita. O grande mérito do conceito, segundo a autora, é repensar a ideia de

cidade, sob uma ótica contemporânea, que expõe seu grande atributo como

―entidade emancipadora‖ e agente facilitador na ―expressão das singularidades,

a reinvindicação e a manifestação das diferenças e da diversidade‖. (Vivant,

2012)

Para a autora há uma incompatibilidade contida no conceito: se por um lado o

processo relaciona de forma crescente aquilo que é urbano com a criatividade,

por outro, se vê diante da possibilidade de romper com a população local que

―garante a autenticidade local‖. (Vivant, 2012)

A questão dos indicadores de Florida (2002) na ótica de Vivant (2012) faz

revelar uma interface com a esfera governativa bastante apetecível. Esta leitura

que a autora faz sobre os conceitos de Florida (2002) tem forte conteúdo

político e remete à utilização da cultura no quadro das políticas urbanas como

ferramenta de valoração, o que seria a expressão mais visível do ―fenômeno‖:

um ativismo cultural dos políticos municipais destinado a suscitar o retorno da

população abastada e culta à cidade. (Vivant, 2012)

Reis (2010), a partir de um estudo desenvolvido em 2009 (Perspectivas sobre

Cidades Criativas/ Creative City Perspectives), cuja transversalidade do

14

conceito reuniu especialistas de 18 áreas distintas, pôde perceber que a

grande característica da Cidade Criativa centra-se em uma dinâmica de

constante mudança o que as incita a lançar novos olhares sobre problemas e a

aproveitar oportunidades que de outra forma passariam despercebidas. (Reis,

2010)

O referido estudo permitiu ainda elencar três atributos, a saber: a inovação, as

conexões e a cultura. Para a autora, o primeiro dos atributos, a inovação (aqui

entendida como a prática da criatividade) abrange processos e produtos e

extrapola o caráter tecnológico e científico das descobertas. Tem um âmbito

transversal, permeando aspectos sociais e administrativos, e ainda,

repensando formatos de desenvolvimento (como os colaborativos, por

exemplo).

Figura 4 – Parklets São Paulo

Fonte - Disponível em: <http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/2161> Acesso em: 17 de maio de 2014.

Os Parklets congregam algumas dessas características. Projetos originalmente

concebidos em São Francisco, nos EUA, os Parklets foram pensados de forma

a, em uma escala muito pequena, prover a cidade de áreas recreativas, de

caráter temporário. Acabam de ser regulamentados pelo poder público local da

cidade de São Paulo, depois de uma implantação-piloto ocorrida em 2012,

muito bem sucedida em termos de aceitação pelos usuários.

15

A instalação de Parklets na cidade pode surgir por iniciativa dos moradores e

propõe a utilização temporária de espaços originalmente destinados ao

estacionamento de carros, para a ampliação do passeio público.

O segundo atributo mencionado pela autora (a conexão) abrange um amplo

espectro: a conexão entre áreas distintas da cidade (promovendo a

mobilidade); o acesso a informação, situando a cidade em termos locais,

regionais ou globais; a interação entre classes sociais, por meio da oferta de

espaços e equipamentos urbanos indistintos; a conexão temporal: a articulação

entre passado, presente e futuro, construindo e consolidando a identidade

urbana; e por fim, a convergência entre os setores público e privado na

concretização de iniciativas urbanas.

Dentro desta perspectiva, está a Praça Victor Civita: equipamento urbano que

oferece ao morador da cidade de São Paulo uma extensa área de lazer, com

programação cultural, esportiva, além de atividades educacionais voltadas para

a reflexão sobre o tema da sustentabilidade.

Figura 5 – Praça Victor Civita

Fonte – Disponível em: <http://uscsqgag.blogspot.com.br/2012/06/sustentabilidade-em-um-dos-maiores.html> Acesso em: 17 de maio de 2014.

Espaço público construído em uma área anteriormente degradada, os

14.000m² foram construídos na sequência de uma parceria público-privada,

instituída entre a Prefeitura do Município de São Paulo e o Instituto Abril. A

16

gestão do equipamento também tem um formato que contempla a articulação

entre empresas, instituições públicas, organizações sem fins lucrativos e o

próprio usuário, por meio da AAPVC – Associação Amigos da Praça Victor

Civita.

O terceiro atributo a que Reis (2010) faz menção no referido estudo é a cultura:

sempre na perspectiva do valor identitário que se constitui como produto de um

―ambiente de liberdade de expressão e comportamento‖, onde coexiste a

diversidade e promoção ―do que é distinto‖. E desta forma, a cultura dá o seu

contributo para a economia, para a qualidade de vida, para a autoestima e para

a participação de quem compõem a cidade, bem como para a formação de um

ambiente favorável a suscitar perspectivas alternativas, como refere Reis

(2010).

Figura 6 – Piano da Estação da Luz em São Paulo.

Fonte - Disponível em: < https://moleskine27.wordpress.com/2012/04/> Acesso em : 09 de novembro de 2014.

Aqui, como nos atributos anteriores, também está presente a questão da

escala. Para reportá-la, faz-se referência à instalação Toque-me, Sou Seu.

Versão nacional do projeto do artista inglês, Luke Jarram. Play Me, I’m Yours

(que nasceu em 2008 por meio da instalação de vários pianos em lugares

públicos na cidade de Londres, com o objetivo de promover a interação) a

instalação paulistana se efetivou por iniciativa do SESC.

17

Figura 7 - Estação da Luz – Instalação Toque-me Sou Seu

Fonte - Disponível em: <http://www.manreza.com.br/2009/03/news/> Acesso em: 17 de maio de 2014.

Figura 8 - Estação da Luz – Instalação Toque-me Sou Seu

Fonte - Disponível em: < http://www.streetpianos.com/saopaulo2008/index.php/2008/10/07/estacao-da-luz/> Acesso em: 17 de maio de 2014.

Figura 9 - Estação da Luz – Instalação Toque-me Sou Seu

Fonte - Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/governosp/4497834892/> Acesso em: 17 de maio de 2014.

18

Na sequência, a CPTM tomou para si a responsabilidade do projeto.

Desde aí, há um piano itinerante e um piano instalado no saguão da Estação da Luz. O Fritz Dobert residente acolhe: tanto o espanto dos passageiros, quanto àqueles que se apropriam do objeto para produzir sonoridade. A Estação da Luz, local de passagem, rápida circulação, que determina trajetórias e impõem fluxos, recebe diariamente 150 mil pessoas. É aqui, inserido na imponência de seu hall de entrada, o abrigo desta que, apesar de micro-intervenção, é capaz de alterar sonoridades, horários e encontros. (Castanheira, 2013 p.3)

Na outra extremidade da análise feita por Reis (2010) para o atributo cultura,

faz-se referência à Virada Cultural e aos números que contempla: 10 anos de

existência, 28 munícipios participantes, 900 atrações, 24 horas de

programação, mais de 4 milhões de espectadores e uma movimentação

financeira superior a 100 milhões de reais5.

Figura 10 - Virada Cultural

Fonte - Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/governosp/4497834892/> Acesso em: 17 de maio de 2014.

5 Virada Cultural 2014 – Disponível em: <viradacultural.prefeitura.sp.gov.br > Acesso: 02 de novembro de 2014.

19

2.2. Escalas e Motivações

2.2.1. Escalas

Para refletir sobre a escala busca-se referência em Deleuze (1983 apud

Zourabichvili, 2004) e no conceito de Agenciamento:

Esse conceito pode parecer à primeira vista de uso amplo e indeterminado: remete, segundo o caso, a instituições muito fortemente territorializadas (agenciamento judiciário, conjugal, familiar etc), a formações íntimas desterritorializantes (devir animal etc), enfim ao campo de experiência em que se elaboram essas formações (o plano de imanência como "agenciamento maquinico das imagens-movimentos"). (Zourabichvili, 2004, p. 9).

Segundo Gomes (2008), este conceito de Deleuze (1983 apud Zourabichvili,

2004) contempla a coexistência de distintos elementos, justapostos, cujos

comportamentos estão diretamente relacionados à configuração que adquirem.

Para o mesmo autor, há uma relação de horizontalidade cuja abrangência

abarca a corporeidade das ações, dos atos e das transformações, definindo

assim, conteúdo e forma de expressão. A relação de verticalidade apresentada

pelo conceito define a sua identidade.

O conceito de Univocidade do Ser (Deleuze 1983 apud Zourabichvili, 2004)

também contempla o atributo da transversalidade e remete ao conceito de

Emergência, na medida em que detecta que esta comunicação acontece de

forma horizontal entre seres que apenas diferem, mas, onde não é possível

perceber um comando ou uma hierarquia.

O Rizoma, outro conceito de Deleuze (1983 apud Zourabichvili, 2004) fala de

subtrair o único da multiplicidade a ser construída, mas, ressalta que não se

refere ao uno ou ao múltiplo. Refuta a ideia de unidade em detrimento da ideia

de dimensão.

Mas, para falar de outra escala que não a macro, retoma-se, por meio de

Zourabichvili (2004) o conceito de Agenciamento (Deleuze 1983 apud

20

Zourabichvili, 2004) que segundo o autor, em essência, se constitui todas as

vezes que for possível identificar e descrever o acoplamento de um conjunto de

relações materiais e de um regime de signos correspondentes. O mesmo autor

acrescenta que o indivíduo, por meio de códigos específicos (que incluem uma

redução no campo de experimentação), processa os agenciamentos sociais.

Este é o polo estrato dos agenciamentos denominados pelo autor como

―Molares‖. A forma como o indivíduo intervém e participa nos agenciamentos

sociais está diretamente relacionado aos agenciamentos locais, denominado

pelo autor como ―Moleculares‖:

nos quais ele próprio é apanhado, seja porque, limitando-se a efetuar as formas socialmente disponíveis, a modelar sua existência segundo os códigos em vigor, ele aí introduz sua pequena irregularidade, seja porque procede à elaboração involuntária e tateante de agenciamentos próprios que "decodificam" ou "fazem fugir" o agenciamento estratificado: esse é o pólo máquina abstrata (entre os quais é preciso incluir os agenciamentos artísticos). (Zourabichvili, 2004, p. 9).

Para Rodovic (2012) (fundador do Co + Lab da Universidade de Keio) alguns

dos fenômenos urbanos se prestam a uma mensuração exata e outros não,

como é o caso da cultura urbana e da sustentabilidade ambiental que ―resistem

ao exercício de quantificação‖. Em associação à Gehl Architects, o Co + Lab

desenvolveu um método de percepção da cidade – que tem como

característica principal a atenção ao detalhe e à escala humana, a partir

daquilo que foi desenvolvido na década de 1960 por Jan Gehl. Denominado

Mensurando o Não-Mensurável, o projeto liderado por Rodovic, pretende fazer

esta leitura e tem como premissa levar em conta a especificidade cultural e

ambiental no desenvolvimento urbano, enfatizando a complexidade decorrente

da identidade local por meio de critérios de avaliação circunscritos6. A pesquisa

de Rodovic (2012) encontra convergência em Deleuze, no conceito dos

agenciamentos locais – moleculares - que constituem, segundo o autor, a

dimensão em que o indivíduo imprime a sua assinatura, por meio de uma

participação que identifica a personalidade, a especificidade: a micro escala.

Franco (2013 apud Rosa, 2013) refere a dicotomia presente nas iniciativas

macro/micro, top down/bottom up, plano/tática, enquanto contrários e

6 Co + Labo Radovic -– Disponível em: <http://radovic.sd.keio.ac.jp/> Acesso: 02 de novembro de 2014.

21

complementares. O autor trabalha a ideia de complementaridade sob a

perspectiva da filosofia e da dialética platônica: repartição de um conceito em

dois outros, geralmente contrários e complementares. Na perspectiva da

dicotomia que traduz a coexistência entre o macro e o micro, entende-se ser

possível remeter à utilização flexível dos espaços urbanos. Entende-se o uso

temporário como uma micro escala, uma parcela da totalidade possível de

ocupação.

2.2.2. Motivações

A referência que Vivant (2012) faz à dimensão polissêmica da cidade criativa

vai de encontro ao que Florida (2002) pensa sobre a transversalidade da

criatividade: é proveniente da diversidade, há uma relação de

proporcionalidade entre criatividade e pluralidade. Jacobs, no início da década

de 1960, já discutia esta questão. Florida (2002) reforça o seu argumento

citando a autora: lugares bem sucedidos são multidimensionais e diversificados

– eles não apelam a um único setor ou grupo demográfico; eles são repletos de

estímulo e troca criativa.

O lugar geográfico para Florida (2002) desempenha hoje o papel agregador

que antes pertencia à empresa. A questão do lugar, segundo o autor, é de

suma importância para os indivíduos criativos: é fundamental haver a troca

entre pares. Para Vivant (2012) a Cidade Criativa remete a dois fenômenos: o

processo de gentrificação dos bairros dos artistas e a política de valorização da

cidade, como polo atrativo. (Vivant, 2012) Para a mesma autora, a promoção

da Cidade Criativa por meio de um processo conduzido, inibe aquela que é a

conjuntura fundamental para a sua proliferação: a serendipidade, que a autora

chama de a condição urbana da criatividade. Este termo, segundo Ferreira

(1986) é aquele usado na ciência para descrever o processo da descoberta

científica, como se de um acaso esperado se tratasse. Há muitos relatos de

acasos na história da ciência. E, para Vivant (2012), é só neste terreno propício

que a criatividade urbana se desenvolve e concretiza a Cidade Criativa. Dos

22

encontros e das conexões randômicas surgem as distintas formas de construir

e viabilizar o novo.

Mais do que conceber uma cidade criativa, o desafio do urbanista é criar condições de serendipidade e de criatividade, deixando espaço para o desconhecido e aceitando que apareçam na região práticas não planejadas, até mesmo não autorizadas, que tornam possíveis encontros imprevistos e improváveis. (Ascher, 2007 apud Vivant, 2012, p. 84)

Morin (2005), na elaboração do conceito Pensamento Complexo, também faz

referência ao acaso. Para este autor, a complexidade não compreende apenas

quantidades de unidades e interações que desafiam nossas possibilidades de

cálculo: ela compreende também incertezas, indeterminações, fenômenos

aleatórios. A complexidade num certo sentido sempre tem relação com o

acaso.

Johnson (2001) também recorre à Jacobs (1961) para referenciar a questão da

vida própria que o espaço urbano apresenta e que somente por meio da leitura

atenta da cidade, em um processo endogênico, será possível entender,

apreender e aprender com a própria cidade. As pesquisas deste autor que tem

origem nos estudos da biologia remetem à complexidade, emergência e auto-

organização.

A complexidade de Morin (2005) está presente em Johnson (2001) e o seu

conceito de comportamentos emergentes. Sendo a complexidade uma palavra

que recorrentemente surge em ―relatos críticos sobre o espaço metropolitano‖,

Johnson (2001) faz a distinção entre dois tipos:

A primeira, segundo o autor, que está circunscrita a uma sobrecarga sensorial,

se relaciona à expansão da cidade, em um processo de quase resiliência, onde

os novos cenários repercutem novos reflexos e novos valores.

A segunda, que diz respeito a um processo de auto-organização, ao contrário

da primeira, não se constitui como um processo sensorial, mas, sim, descritivo

do sistema da própria cidade.

23

A cidade é complexa porque surpreende, sim, mas também porque tem uma personalidade coerente, uma personalidade que se auto-organiza a partir de milhões de decisões individuais, uma ordem global construída a partir das interações locais. (Johnson, 2002, p. 28/29)

O conceito de complexidade em Morin (2005) pode ser entendido como uma

sobreposição de camadas que se observadas de forma conjunta tem o seu

entendimento dificultado, mas, por outro lado, se dissecadas e observados em

sua condição unitária, possibilitam a construção da percepção individual que

constitui o conjunto. Está próximo do que Johnson (2001) refere como sendo o

comportamento complexo: um sistema com múltiplos agentes interagindo

dinamicamente de diversas formas - a partir de complexas interações paralelas

entre agentes locais, seguindo regras locais e não percebendo qualquer

instrução de nível mais alto. Este comportamento se efetiva verdadeiramente

emergente - na confluência entre ordem e anarquia, quando todas as

interações locais resultam em algum tipo de macro comportamento observável.

A auto-organização a que Johnson (2002) se refere diz respeito a um arranjo

em determinado sentido, sem haver a presença de uma entidade superior. No

conceito de comportamentos emergentes, Jonhson (2002) faz referência a

Morfogênese, conceito de Allan Turing (1954): como a partir de algo muito

simples é possível atingir um estágio de complexidade e sofisticação. Turing

(1954) teve um papel essencial na criação do hardware e do software, a partir

de seu trabalho sobre a morfogênese: uma das primeiras tentativas

sistemáticas de conceber o desenvolvimento como um problema de

complexidade organizada (Johnson, 2001, p. 36)

Para que a ocorrência possa se tornar um padrão, é necessário que seja

reconhecida em distintos contextos. Jonhson (2002) refere que Keller7 e Segel8

7 Evelyn Fox Keller, doutora em Física, pela Universidade de Harvard, que no final de década de 1960 desenvolveu

pesquisa no campo da ―termodinâmica do não equilíbrio‖ que, posteriormente se associaria a Teoria da Complexidade (Johnson, 2001, p. 9)

8 Em 1968 Keller conheceu o pesquisador Lee Segel, cuja pesquisa em matemática aplicada em muito se alinhava à

sua pesquisa. Foi Segel que apresentou à Keller o inusitado comportamento do Dyctyostelium discoideum, a partir do qual foram desenvolvidas pesquisas em conjunto que contribuíram de forma relevante para o entendimento contemporâneo quer da evolução biológica, do design de software ou dos estudos urbanos. (Johnson, 2001, p. 10)

24

perceberam o padrão nas agregações do Dyctyostelium discoideum9; Jane

Jacobs o viu na formação das comunidades urbanas; Marvin Minsky10; nas

redes distribuídas do cérebro humano. (Johnson, 2001)

Para Johnson (2001) o traço comum entre os referidos sistemas é o fato de

todos eles serem capazes de resolver problemas:

com o auxílio de massas de elementos relativamente ―simplórios‖11

, em vez de contar com uma única ―divisão executiva‖ inteligente. São sistemas Bottom Up, e não, Top Down. Pegam seus conhecimentos a partir de baixo. Em uma linguagem mais técnica, são complexos sistemas adaptativos que mostram comportamento emergente. (Johnson, 2001, p. 14)

O autor quer referir que o comportamento emergente é resultado de um

comportamento atípico para a escala dos atores, ou seja, estes se auto

induzem a produzir ações típicas de uma escala superior, partindo de algo

simples para chegar a algo sofisticado, caracterizando assim aquilo que se

denomina emergência. Este comportamento adaptativo trabalha a micro

escala: se utiliza de regras circunscritas, apropriadas ao local e que alçam este

nível superior. Se assim não for, ou seja, se não houver esta componente

adaptativa, não há funcionalidade. A complexidade do comportamento,

segundo Johnson (2001), é:

Um sistema com múltiplos agentes interagindo dinamicamente de diversas formas, seguindo regras locais e não percebendo qualquer instrução de nível mais alto. Contudo, o sistema só seria considerado verdadeiramente emergente quando todas as interações locais resultassem em algum tipo de macrocomportamento observável. (Johnson, 2001, p. 14)

9 Dictyostelium discoideum, é uma espécie de amebóide, que pela simplicidade de sua constituição é amplamente

usado como modelo para estudos do desenvolvimento multicelular. Disponível em: <http://www.nature.com/nature/journal/v408/n6815/abs/408965a0.html> Acesso em: 02 de novembro de 2014. 10

Marvin Minsky é um cientista americano e professor do MIT, cuja pesquisa centra-se nos estudos cognitivos no campo da inteligência artificial. Disponível em: < https://web.media.mit.edu/~minsky/> Acesso em: 02 de novembro de 2014. 11

Aspas da autora.

25

3. Praticas criativas, micro planejamento urbano e iniciativas Bottom Up

Ao contrário das grandes intervenções urbanas, para Rosa (2011), a

invisibilidade das micro ações represa o enorme potencial desses projetos, que

indicam a escala local e as táticas urbanas (como definido por Certeau, 1998)

como uma (outra) forma de pensar a cidade. Para o mesmo autor, a cidade se

constitui como um grande laboratório de experimentações múltiplas, onde ―as

novas conexões e redes estratégicas focam processos locais abertos a táticas

Bottom Up (de baixo para cima)‖ e que carece de um ―planejamento capaz de

absorver o que emerge e o que é gerado pelos meios urbanos‖.

As ―microrresistências‖ referidas por Jacques (apud Rosa 2013) convergem

para Guatelli (2008). As práticas transdisciplinares que operam em sentido

oposto ao formato estabelecido e regido por regras e leis (Guatelli, 2008)

contribuem para compor o urbano contemporâneo que, propiciadas por

espaços experimentais, atribuem novos significados às interações,

apropriações e relações locais. Guatelli (2008) detecta que esta série

contemporânea de práticas projetuais revela uma preocupação em refletir a

respeito da tradição e das identidades locais. Nesse cenário, segundo o autor,

emerge um usuário capaz de identificar as necessidades e, ao mesmo tempo,

antever potencialidades locais para desta forma, conceber e construir

intervenções, que de outra forma possivelmente não aconteceriam.

Para Rosa (2013) é este envolvimento (a auto-organização) da população que

caracteriza a prática urbana criativa e que, parece ao autor, ser produto da falta

de espaços de coexistência, fruto do processo de urbanização.

Curiosamente, esse mesmo processo produziu espaços urbanos desperdiçados, vazios, subutilizados, residuais que, quando interpretados como campos com potencial para a prática criativa, representam uma possibilidade de reestruturação urbana comprometida com a escala local. Esses pensamentos traduzem a cidade aberta à brincadeira e à experimentação, no espaço aberto à criação, à ação coletiva e à ocupação – a reinterpretação de um cenário construído ao qual novo significado é adicionado. (Rosa, 2013, p. 16/18)

26

O Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo, é uma dessas iniciativas.

Na década de 1980 os muros dos fundos das residências que ladeavam as

ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena,

começaram a atrair estudantes de Artes Plásticas. As intervenções artísticas

tomaram conta das paredes disponíveis e, o que começou como um espaço de

apropriação pela reduzida oferta de suportes semelhantes se notabilizou na

imprensa nacional e estrangeira, tornando-se referência artística e parada

obrigatória no circuito artístico da cidade. Apesar de ser uma galeria de arte

que não funciona nos moldes de uma convencional, a articulação da auto-

organização fez deste vazio urbano, um espaço com uma dinâmica própria de

utilização e alternância das intervenções.12

Figura 11 – Beco do Batman.

Fonte - Disponível em: <http://criancacomconteudo.blogspot.com.br/2012/04/beco-do-batman.html#.VFZ_hPl4r0c> Acesso: 02 de novembro de 2014.

Figura 12 – Beco do Batman.

Fonte - Disponível em: <http://www.guiadasemana.com.br/evento/turismo/caosarte-fornada-da-arte-na-rua-31-08-2013> Divulgação Caos Arte Acesso: 02 de novembro de 2014.

12

Vila Madalena: grafites fazem a fama do Beco do Batman. Revista Veja. Disponível em: < http://vejasp.abril.com.br/materia/vila-madalena-grafite-beco-do-batman> Acesso em: 02 de novembro de 2014.

27

A Academia de Boxe Cora Garrido, que há 10 anos se instalou no Viaduto do

Café, em São Paulo, também é representativa deste formato contemporâneo

de intervenção. Com visibilidade internacional, o projeto Garrido (que tem no

ex-pugilista Nilson Garrido a figura de comando) passou de um formato-mix

com locais inusitados para a prática de boxe para um formato quase-franquia-

social em que o idealizador instala, consolida, delega e parte em busca de

outros locais para a implantação de novos polos. A Cora Garrido já está no

terceiro espaço: sob o Viaduto Alcântara Machado, na Rua Avanhandava e

mais recentemente, na Zona Leste, em São Miguel Paulista.

Figura 13 - Usuário da Academia Cora Garrido.

Fonte - Disponível em: <https://www.facebook.com/ProjetoGarridoBoxe/photos/a.140483032786831.30549.140470149454786/140485336119

934/?type=1&theater> Acesso em: 10 de maio de 2014.

Figura 14 - Vista do acesso à Academia Cora Garrido.

Fonte - Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Nilson_Garrido#mediaviewer/Ficheiro:Academia_de_Nilson_Garrido%2C_Bela_Vista%2C_S

%C3%A3o_Paulo.JPG> Acesso em: 10 de maio de 2014.

28

Figura 15 - Vista Panorâmica da Academia Cora Garrido.

Fonte - Disponível em: <https://www.facebook.com/ProjetoGarridoBoxe/photos/a.140483032786831.30549.140470149454786/140485349453

266/?type=1&theater> Acesso em: 10 de maio de 2014.

Figura 16 - Usuários da Academia Cora Garrido.

Fonte - Disponível em: < https://www.facebook.com/ProjetoGarridoBoxe/photos/a.140483032786831.30549.140470149454786/1404854094532

60/?type=1&theater> Acesso em: 10 de maio de 2014.

Para refletir sobre o trabalho desenvolvido por Garrido busca-se substrato no

conceito de Não-Lugar de Augé (1992) e desta forma, o projeto passa a

expressar uma dicotomia: insere em um Não-Lugar a personalização de um

espaço construído para o resgate pessoal, para a inclusão.

Garrido, em parceria com Cora Batista Garrido, idealizadora e responsável pela associação civil Cora Sol Nascente, minam a ―representação‖ e ―identidade original‖ de um local (Não Lugar?) ―historicamente‖ indesejável e condenável ao criarem e estruturarem um lugar esportivo e cultural hospitaleiro, composto por uma academia de ginástica, ringue de boxe, além de uma biblioteca e escola infantil, ou seja, uma praça esportiva e cultural, pública e gratuita. (Guatelli, 2008 p. 38)

A concretização de uma iniciativa que parte da base, onde o usuário

protagoniza a iniciativa a partir da percepção pessoal das necessidades e das

29

possíveis soluções, caracterizam as iniciativas Bottom Up. Ao contrário das

iniciativas Top Down, nas práticas Bottom Up, não há hierarquia ou figura de

comando. É um sistema transversal, configurando uma ação de auto-

organização. O conjunto trabalha, com um objetivo comum, e no entanto, a

partir dessas rotinas de nível baixo, emerge uma forma coerente. (Johnson,

2001 p.15)

Pleiteando o registro para atuar como uma ONG, estabeleceram recentemente um acordo verbal, uma parceria com o poder municipal para disseminar suas ―praças‖ por locais semelhantes na cidade, gerando intensidades (diferencial qualitativo) sob viadutos, metamorfoseando-os. Incapaz de controlar esses espaços, a prefeitura parece perceber na parceria uma possibilidade de gerenciamento indireto dessas áreas residuais. Ao contrário de estratégias (de negação) baseadas em impedimentos, falsos embelezamentos, esvaziamentos e inibições, o que vemos é a potencialização de um espaço-suporte, agora de acolhimento social incondicional, estimulante à ocupação produtiva, gerada por um congestão e ―promiscuidade

13‖ programáticas, de contiguidade e

concomitâncias de atividades não complementares; afinal, o que historicamente têm em comum uma biblioteca, escola infantil e um ringue de Boxe? (Guatelli, 2008 p. 38)

Na perspectiva de Hehl (apud Rosa 2013), a prática Bottom Up pode ser

considerada a mais significativa inovação em planejamento urbano. O mesmo

autor chama a atenção, não só para a robustez dos desdobramentos Bottom

Up, mas, sobretudo, para a notabilidade que estas práticas vêm conquistando

junto aos ―macro atores‖. O reconhecimento da capacidade de transformação

inerente ao impulso local fica materializado na medida em que estas iniciativas

passam a compor programas oficiais.

Os economistas e sociológos especializados em questões urbanas também têm feito experiências com modelos que podem simular como uma cidade se auto-organiza ao longo do tempo. Embora as cidades atuais sejam rigidamente definidas de cima para baixo, por forças Top-Down, como as leis de zoneamento e as comissões de planejamento, estudiosos há muito tempo reconheceram que forças Bottom-Up desempenham um papel fundamental na formação das cidades, criando comunidades distintas e grupos demográficos não planejados. (Johnson, 2001 p. 65)

Leite (2012) contrapõe, por meio do conceito da externalidade, a presença da

inovação e do conhecimento, proporcional à concentração de capital, às

13 O autor faz referência ao arquiteto Rem Koolhaas que denomina promiscuidade programática, uma situação

projetual onde a densidade e des-hierarquização do programa porpicia a condição fundante de uma arquitetura de acontecimentos inesperados. (Guatelli, 2007 p.3)

30

práticas criativas e Bottom Up, que, por meio de sua reinvenção, emergem dos

territórios informais.

O projeto Bio Urban, de Jeff Anderson, começou reinventado um pequeno

espaço na cidade de São Paulo ―pré-destinado‖ a ser um vazio de urbanidade

preenchido com sujeira, insegurança e feiura. O conceito, desenvolvido por Jeff

Anderson, trabalha a recuperação local (a pequena escala) por meio do

envolvimento dos moradores do entorno, articulados em um processo

colaborativo.

O Bio Urban trabalha, sobretudo, a questão da subutilização dos espaços

urbanos e a ativação destas lacunas por meio da articulação coletiva.

A gênese do projeto está na convergência entre a paixão pela cidade e a

necessária temática para o desenvolvimento do TCC (Trabalho de Conclusão

de Curso) de sua graduação em Ciências Sociais na PUC SP (Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo) 14.

Neste primeiro projeto, o Escadão do Cambuci, o Bio Urban detectou esse

espaço subaproveitado para, por meio de uma intervenção artística coletiva,

transformar o local em um recinto de interação, capaz de receber atividades

festivas e de convívio. O escadão oferecia ainda uma biblioteca, onde era

permitido ao usuário levar o livro de seu interesse sem nenhuma inscrição

prévia ou mesmo sem apresentação de documento, sob o lema ―Confiar é

Fundamental‖15.

Para o pesquisador, a cidade é antes de tudo uma questão de poder. As

problemáticas contidas no urbano se relacionam com o exercício do poder no

espaço e a complexidade da cidade contemporânea há muito que exacerba o

14 Adote um Espaço Público. Jornal do Cambuci e da Aclimação. Disponível em:

<http://projetoamarelo.wordpress.com/2008/03/27/novas_descobertas_novos_horizontes/materia-do-jornal-projeto-biourban/> Acesso: 04 de novembro de 2014. 15 Adote um Espaço Público. Jornal do Cambuci e da Aclimação. Disponível em:

<http://projetoamarelo.wordpress.com/2008/03/27/novas_descobertas_novos_horizontes/materia-do-jornal-projeto-biourban/> Acesso: 04 de novembro de 2014.

31

âmbito de ação do arquiteto e urbanista. O Bio Urban pesquisa formas

complementares de promover a cidadania e o direito à cidade de uma forma

interventiva, responsável e articuladora. Está em muito alinhado ao conceito de

Empoderamento desenvolvido por Freire, que ao contrário do Empowerment16,

contempla um agente ativo no processo, que busca e concretiza.

Figura 17 – Escadão do Cambuci – Projeto Bio Urban – Jeff Anderson.

Fonte - Disponível em: <http://www.midiaindependente.org/pt/red/2008/09/428856.shtml> Acesso: 04 de novembro de

2014.

A consciência dessa possibilidade individual construtiva, o Empoderamento,

permite as novas conexões e a articulação de redes estratégicas locais. As

práticas urbanas coletivas buscam por novas ferramentas capazes de lidar com

estas realidades urbanas emergentes. Desta ―cidade real‖, fruto da

experimentação, como refere Rosa (2013), emerge ―um espaço construído‖

que necessita ser revelado, descoberto, explorado. Para o autor, esta

emergência criativa se constitui como resposta ―à desertificação de espaços

coletivos de qualidade‖. A manualidade das ações diz de sua escala: micro. A

urgência na resolução dessas ações diz de sua temporalidade: agora. É um

repertório gestual, onde cada um deles (o gesto) efetiva este formato de

intervenção e marca a localidade e a sua identidade.

16

Valoura, Leila de Castro. Paulo Freire, o educador brasileiro autor do termo empoderamento, em seu sentido transformador Disponível em: <http://siteantigo.paulofreire.org/pub/Crpf/CrpfAcervo000120/Paulo_Freire_e_o_conceito_de_empoderamento.pdf> Acesso: 04 de novembro de 2014.

32

Em 2013, no Rio de Janeiro, paralelamente ao trabalho desenvolvido na

curadoria do Deustche Bank Urban Age Award17 e ao mapeamento das práticas

criativas locais, o arquiteto Marcos Rosa e a designer Andrea Bandoni criaram

kits de intervenção a partir de utensílios cotidianos. Pensando na escala e na

temporalidade (o local, agora), os kits ofertavam a possibilidade imediata de

intervenção a partir de necessidades detectadas pelos usuários locais18.

Figura 18 – Kit de Intervenção.

Fonte – Disponível em: <http://marcoslrosa.com/filter/research/DBUAA-Rio> Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

Figura 19 – Transporte do Kit de Intervenção.

Fonte – Disponível em: <http://marcoslrosa.com/filter/research/DBUAA-Rio> Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

17

O Deutsche Bank Urban foi criado em 2008 e tem por objetivo reconhecer e chancelar respostas criativas aos problemas das cidades contemporâneas. Catálogo Deutsche Bank Urban Age Award. Disponível em: < http://issuu.com/marcoslrosa/docs/dbuaario_brochurept_singles_low> Acesso: 12 de novembro de 2014. 18

Catálogo Deutsche Bank Urban Age Award. Disponível em: < http://issuu.com/marcoslrosa/docs/dbuaario_brochurept_singles_low> Acesso: 12 de novembro de 2014.

33

Figura 20 – Utilização do Kit de Intervenção.

Fonte – Disponível em: <http://marcoslrosa.com/filter/research/DBUAA-Rio> Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

Figura 21 – Utilização do Kit de Intervenção.

Fonte – Disponível em: <http://marcoslrosa.com/filter/research/DBUAA-Rio> Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

Figura 22 – Utilização do Kit de Intervenção. Fonte – Disponível em: <http://marcoslrosa.com/filter/research/DBUAA-Rio> Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

À dualidade que faz coexistir o planejado e o espontâneo no âmbito da cidade,

referenciam-se duas questões contemporâneas: a transitoriedade e a

espetacularização. A transitoriedade, ou a temporalidade líquida, remete a um

conceito surgido nos Estados Unidos: o Pop Up. Termo originalmente

associado a livros com ilustrações dinâmicas, posteriormente à internet e

recentemente ao comércio, as Pop Ups Stores, se caracterizam por

constituírem espaços temporários para a comercialização de produtos,

podendo o local que recebe estes eventos, ser ou não, originalmente

concebido para o efeito.

34

Figura 23 - Livro com Ilustrações Pop Up

Fonte - Disponível em: < https://studioeureka.wordpress.com/2012/09/03/a-arte-dos-livros-pop-art/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 24 - Pop Up/Internet

Fonte - Disponível em: < http://www.enigmasoftware.com/users-beware-searching-free-online-episodes-abc-v-season-2-may-lead-adware/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 25 - Pop Up Store Adidas

Fonte - Disponível em: < http://www.thevandallist.com/adidas-pop-up-stores/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 26 - Pop Up Park – Programa Surrey –

Fonte - Disponível em: < http://www.surrey.ca/culture-recreation/10971.aspx> Acesso em: 31 de maio de 2014

Nesta perspectiva de multiplicidade de usos associado ao que é transitório,

surge, também nos Estados Unidos, o conceito do Pop Up Park (no qual estão

incluídos os Parklets, mencionados anteriormente). Mais recentemente,

arquitetos e designers têm vindo a desenvolver o conceito, cuja premissa

assenta na ativação de espaços subutilizados ou vagos.

Na contramão destas iniciativas de ocupação há o exemplo do Largo da Batata

em Pinheiros, São Paulo. A sua atual configuração resulta dos dez anos de

intervenção da Operação Faria Lima19. O projeto contemplou o alargamento

das avenidas e a delimitação de uma enorme área vizinha a uma igreja, uma

19

Prefeitura de São Paulo – Operação Consorciada Faria Lima. Disponível em: < http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/sp_urbanismo/operacoes_urbanas/faria_lima/index.php?p=19591> Acesso: 04 de novembro de 2014.

35

estação de metrô e ao comércio que resistiu à desapropriação e ao interlúdio

da operação urbana. A requalificação, no entanto, resultou em profusão de

pavimentação e ausência de qualquer mobiliário urbano ou vegetação. A

imensa área (notadamente vocacionada para a implantação de uma praça),

antes ocupada por intensa atividade comercial, materializa agora, a aridez de

um lugar de passagem. Quase um não-lugar.

Figura 27 – Largo da Batata – Pinheiros – São Paulo

Fonte - Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/08/1502076-largo-da-batata-ganha-area-verde-do-dia-para-a-noite.shtml> Imagem: Davi Ribeiro/ Folhapress Acesso em: 07 de novembro de 2014.

Ainda que o Ágora, ou o Fórum ou até mesmo a Praça inserida na escala

urbana contemporânea apresentem configuração e elementos compositivos

distintos, estes espaços mantém-se como áreas simbólicas, apropriadas pelo

cidadão, sobretudo, para fins de interação: primeiramente de teor político,

posteriormente comercial e atualmente, de lazer e cívico. Para Lamas (1990):

Se a rua, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquitecturas significativas...... A praça reúne a ênfase do desenho urbano como espaço colectivo de significação importante. Este é um dos seus atributos principais e que a distingue dos outros vazios da estrutura das cidades. (LAMAS, 1990 p.102)

36

Figura 28 – Largo da Batata – Movimento A Batata Precisa de Você

Fonte - Disponível em: <http://blog.submarino.com.br/sonar/post/batata-precisa-de-voce/> Imagem: A Batata Precisa de Você. Acesso em: 07 de novembro de 2014.

Nesta perspectiva, a fim de promover uma reflexão e ao mesmo tempo reativar

o espaço como local de interação surgiu o movimento A Batata Precisa de

Você. O movimento, ―uma manifestação cidadã propositiva‖, se pauta por ser

uma intervenção minimamente invasiva em termos de equipamentos ou

acessórios.

A ideia, segundo a organização, é ―ocupar o Largo com o que se tem à mão‖. O

acessível torna-se o necessário e, exonera qualquer tipo de ―megaestruturas

ou superproduções‖. A ―gambiarra como manifestação da permanente

criatividade humana e tática social‖ rege a capacidade cidadã de articulação e

concretização20.

Partilhando da insatisfação com a atual configuração do Largo da Batata como

espaço urbano de interação, a Design OK21 consolidou uma ocupação por

ocasião da DW – Design Weekend: um festival de design que promove

20 Grupo de Designers, formado em 2008, com o intuito de propõe promover a colaboração e a troca de

conhecimentos. 21

Sobral, Laura - O Largo da Batata Precisa de Você – Ocupação e Apropriação do Espaço Público. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.166/5176> Acesso: 07 Nov 2014.

37

iniciativas simultâneas em São Paulo e que tem como objetivo promover a

cultura do design e suas conexões com arquitetura, arte, decoração,

urbanismo, inclusão social, negócios e inovação tecnológica22.

Figura 29 - Largo da Batata – Movimento A Batata Precisa de Você

Fonte - Disponível em: <http://paginadarachel.wordpress.com/2014/04/25/a-batata-precisa-de-bikes/> Acesso em: 07 de novembro de 2014.

Figura 30 – Pop Up Park instalado no Largo da Batata, em Pinheiros, São Paulo.

Fonte - Disponível em: < https://catracalivre.com.br/geral/gentileza-urbana/indicacao/largo-da-batata-ganha-jardim-com-parque-em-apenas-24-horas/> Acesso em: 08 de novembro de 2014.

22

São Paulo Design Weekend Disponível em: <http://www.designweekend.com.br/wp/index.php/sobre-o-dw/> Acesso: 08 Nov 2014.

38

O projeto contou com o apoio do movimento A Batata Precisa de Você, da

Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, da Sub

Prefeitura de Pinheiros, entre outros. Ocupando uma área de 200 m², a

iniciativa foi lançada por ocasião da DW – Design Weekend, um festival de

design que promove iniciativas simultâneas em São Paulo e que tem como

objetivo promover a cultura do design e suas conexões com arquitetura, arte,

decoração, urbanismo, inclusão social, negócios e inovação tecnológica23.

Findo o festival, o Pop Up Park foi doado à cidade. A concepção da Design OK

para o mobiliário urbano utilizado assenta em premissas sustentáveis.

Figura 31 - Área sob Andaimes

Fonte - Disponível em: < http://velov.cc/2013/09/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Trabalhando em uma escala menor, a Softwalks, um estúdio americano de

inovação que trabalha o design urbano centrado no usuário, tem como

premissa ativar os espaços (calçadas) delimitados por andaimes. O conceito

trabalha a questão das várias estruturas de andaimes que a cidade comporta,

como uma superestrutura dentro da própria cidade, e que segundo a Softwalks,

também deve receber o mesmo empenho projetual que outros equipamentos,

ofertando desta maneira micro espaços de interação e lazer.

23

São Paulo Design Weekend Disponível em: <http://www.designweekend.com.br/wp/index.php/sobre-o-dw/> Acesso: 08 Nov 2014.

39

Figura 32 - Área sob Andaimes –

Fonte - Disponível em: < http://www.universalscaffold.com/scaffolding-for-sale/pedestrian-canopy.php> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Desta forma, e para suprir a lacuna (ou ativar uma oportunidade) detectada

pelos profissionais, foi desenvolvido um kit com 5 peças (cadeira, balcão,

luminária, suporte para plantas e tela/biombo), que combinadas entre si,

compõem os Pop Up Parks.

Figura 33 - Kit – Montagem Pop Up Parks

Fonte - Disponível em: <http://citysoftwalks.com> Acesso em: 31 de maio de 2014.

40

Figura 34 – Pop Up Park - Balcão

Fonte - Disponível em: < http://citysoftwalks.com> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 35 – Pop Up Park - Cadeira

Fonte - Disponível em: < http://citysoftwalks.com> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 36 – Simulação de Instalação de Pop Up Parks

Fonte - Disponível em: <http://citysoftwalks.com/about/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

41

Em São Paulo, um Pocket Park (derivação da denominação Pop Up Park, que

em essência contempla a mesma proposta urbana) foi inaugurado na Rua

Oscar Freire. O Pocket Park também tem caráter temporário e também procura

ativar espaços da cidade, públicos ou privados, por meio da instalação de

equipamentos que promovam a interação, o lazer e a cultura.

Figura 37 – Pracinha Oscar Freire

Fonte - Disponível em: < http://institutomobilidadeverde.wordpress.com/2014/05/21/instituto-mobilidade-verde-e-reud-inauguram-1o-pocket-park-na-rua-oscar-freire-em-sao-paulo/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Figura 38 – Pracinha Oscar Freire

Fonte - Disponível em: < http://institutomobilidadeverde.wordpress.com/2014/05/21/instituto-mobilidade-verde-e-reud-inauguram-1o-pocket-park-na-rua-oscar-freire-em-sao-paulo/> Acesso em: 31 de maio de 2014.

Este Pocket Park foi instalado por meio de uma iniciativa híbrida: privada-

privada de utilidade pública, entre a Reud, uma empresa de desenvolvimento

42

imobiliário e o Instituto Mobilidade Verde, ONG especializada na transformação

de espaços em lugares humanizados, segundo o site da iniciativa.

A natureza das iniciativas pode ser distinta e a escala de sua reverberação

também, pois, como refere Leite (2013), há uma emergência na construção da

urbanidade, por meio da apropriação e da reativação local.

Em muitas cidades do globo neste século estamos vendo o reflexo no território do final da era fordista – cidades que construíram enormes infraestruturas para os carros, sem urbanidade local (dimensões urbanas locais). As transformações recentes no território urbano são baseadas em forte demanda dos ―urbanoides‖: cidadãos urbanos reinventando lugares em todo lugar para encontrar pessoas, interagir, compartilhar, inovar. (Leite, 2013 p. 4)

Para o mesmo autor a crescente participação da sociedade civil está na origem

de muitas das múltiplas soluções inovadoras e as novas formas de governança

(em especial as do tipo Tríplice: Universidades + Empresas + Governo)

materializam novas formas de viabilização.

Para se refletir sobre o caráter genuíno destas manifestações traz-se a

referência de Jacques (apud Rosa 2013) que fala do processo de

espetacularização da cidade.

A autora traça uma imagem de assepsia urbana, que, despida do seu ritmo

natural, acaba por compor uma dinâmica que não traduz a cidade, se

transformando em um cenário apenas. Em algo para ser visto e não vivido.

As relações entre espaço público e imagens da cidade contemporânea hoje passam inevitavelmente pelo já citado processo de espetacularização, que é um dos maiores responsáveis tanto pelo empobrecimento das experiências corporais no espaço público contemporâneo quanto pela negação dos conflitos e dissensos nesses espaços e, sobretudo, pela negação, eliminação ou ocultação da vitalidade dos espaços opacos das cidades, as quais também buscam tornar-se mais luminosas, midiáticas e espetaculares. (Jacques apud Rosa, 2013 p. 162)

A autora faz uma relação direta entre este cenário urbano espetacular e dois

aspectos: a ausência de experiências corporais urbanas24 e a ―pacificação

24

Para fazer reportar à questão do corpo no espaço urbano, a autor a referencia: Milton Santos e Michel de Certeau. O

primeiro, por meio do conceito da corporeidade dos homens lentos e o segundo, pelo conceito de praticantes ordinários da cidade (Jacques apud Rosa, 2013, p. 162).

43

securitária, homogeneizadora e consensual dos espaços públicos‖. E ainda

conclui que, diametralmente oposto à espetacularização da cidade, há o

―urbanismo mais incorporado‖, que se concretiza por meio de

―microrresistências‖ que só são perceptíveis nos usos e nas práticas urbanas,

―geralmente informais, conflituosos e dissensuais‖. Sobre esta espécie de

assepsia urbana, que Jacques (apud Rosa 2013) chama de espetacularização

da cidade, a autora refere que os projetos contemporâneos:

buscam transformar os espaços públicos em cenários, espaços desencarnados, fachadas sem corpo: pura imagem publicitária. As cidades cenográficas contemporâneas estão cada dia mais padronizadas e uniformizadas. As imagens de marca de cidades distintas (e seus cartões-postais), com culturas singulares, se parecem cada vez mais entre si. Isso já ocorre com os espaços padronizados das cadeias dos grandes hotéis internacionais ou, ainda, dos aeroportos, das redes de fast-food, dos shopping centers, dos parques temáticos, dos condomínios fechados e demais espaços privatizados. (Jacques apud Rosa, 2013 p. 164)

O conceito relaciona a cidade-espetáculo com a ausência, cada vez maior, de

interação entre o usuário e a cidade. Para a autora, esta privação da

participação popular, de teor físico que se constitui em uma experiência

urbana, está diretamente relacionada à construção de uma cidade-cenário.

Para falar da corporeidade, Jacques (2005) busca aporte no conceito da

corporeidade dos homens lentos desenvolvido por Santos. Para o autor a

globalização comporta uma dicotomia, que faz com que só seja possível ao

usuário adquirir a ―noção da sociedade global por meio da concretude da

escala local‖. O que está próximo, ao alcance da mão, é que permite efetivar

este entendimento.

A transitoriedade de algumas iniciativas de apropriação e ocupação da cidade

remete à profunda ligação que Florida (2002) enxerga entre criatividade e

lugar, que por sua vez, busca substrato no conceito da Modernidade Líquida

Bauman (2001).

Na era da economia corporativa, para usar uma expressão de Florida (2002), a

identidade do indivíduo era calcada na construção de uma sólida e duradoura

carreira profissional, onde se buscava a estabilidade das grandes empresas.

44

Na era da Economia Criativa, por outro lado, Florida (2002) se vale de Bauman

(2001) para referenciar a fragilidade das relações de forma geral e, da fluidez

das relações profissionais em especial, para desta forma justificar a volatilidade

das carreiras profissionais construídas pela Classe Criativa. Assim sendo, para

Florida (2002) o lugar é cada vez mais responsável por um aspecto importante

desta classe: a sua identidade. O lugar se torna aos poucos o sinônimo de uma

identidade construída, escolhida.

45

4. O hibridismo dos/nos elevados.

Paris [Promenade Plantée]

Nova York [High Line]

São Paulo [Minhocão]

4.1. Promenade Plantée, High Line e Minhocão|

Do Lugar ou Espaço ou Território

Para que haja uma construção/edificação há necessariamente um lugar (um

espaço ou um território) que a comporta: o lugar é a condição Sine Qua Non da

arquitetura. (Unwin, 2013)

O lugar em Augé (2012) pode ser definido como sendo identitário, relacional e

histórico. Identitário na medida em que comporta as qualidades daquilo que é

idêntico, daquilo que o define e o identifica. Relacional enquanto possibilidade

de interação, ainda que de ―elementos distintos‖, constituindo assim a

efetivação da coexistência. E por fim, o lugar também pode ser definido como

histórico, na medida em que, ao se articular identidade e relação, é possível

definir uma estabilidade mínima. (Augé, 2012 p. 53)

O relacionamento com o urbano é concretizado por meio do lugar, enquanto

agente mediador. Esta mediação, que situa o habitante da/na cidade, é para

Unwin (2013), o que garante a sua existência e, por meio das variáveis de

tempo e lugar (que constituem o situar-se em lugares e momentos específicos),

é possível estar, se deslocar e intentar novos deslocamentos.

Certeau (1998) refere que o lugar ao invés de apresentar uma ordem

geométrica de justaposição, se constrói por meio da sobreposição de

superfícies – ―o empilhamento de camadas heterogêneas‖, sendo que este

conjunto, de alguma forma, apresenta como atributo, a complementaridade.

Segundo o autor, de forma silenciosa, este ato de poder ser complementar

atribui uma falsa inércia ao conjunto.

46

O mesmo autor acrescenta ainda que, o lugar é um palimpsesto, cuja ―análise

erudita‖ só permite conhecer a versão final – a mais recente – e que a mesma,

em muito se assemelha a uma colagem: é possível observar a superfície sem

conhecimento das camadas inferiores.

A imagem resultante da configuração da cidade (ruas, avenidas, entre outras)

sobreposta ao fenômeno urbano (o comércio, a industrialização, entre outros),

que Ferrara (1993) denomina ―robusta realização humana‖, consolidam um

repertório cultural cotidiano, cujas ―características sedimentam a cidade

enquanto império fervilhante de signos‖. Sendo que, estes últimos, na

perspectiva da autora, constituem o único tipo de filtro por meio do qual é

possível pensar o urbano.

Norberg-Schulz (apud Nesbitt, 2006) refere lugar como um termo concreto para

se falar de ambiente. E que este, por sua vez, contempla fenômenos concretos

e fenômenos menos tangíveis, que articulados, constituem a ―qualidade

ambiental‖ como essência do lugar.

A mesma autora refere que o conceito de lugar contempla uma análise em

duas categorias: o espaço e o caráter. Para a autora o espaço constitui a

organização tridimensional dos elementos que formam um lugar e o caráter, a

sua ―atmosfera‖.

O lugar para Certeau (1998) é determinado por uma configuração de

elementos que resultam em ordem e estabilidade enquanto o espaço

contempla variáveis de tempo, direção e velocidade, não constituindo desta

forma, a estabilidade de um lugar: ―em suma o espaço é um lugar praticado‖.

Acrescenta ainda a indissociabilidade entre imprevisto e lugar, sendo que,

eliminar a imprevisibilidade ou o tempo acidentado é como:

Expulsá-lo do cálculo como acidente legítimo e perturbador da racionalidade, é interdizer a possibilidade de uma prática viva e ―mítica‖ da cidade. Seria deixar a seus habitantes apenas os pedaços de uma programação feita pelo poder do outro e alterada pelo acontecimento. O tempo acidentado é o que se narra no discurso efetivo da cidade: fábula indeterminada, melhor articulada em cima das práticas metafóricas e dos lugares estratificados que o império da evidência na tecnocracia funcionalista. (Certeau, 1998 p. 311)

47

O conceito de espaço em Certeau (1998) está para o conceito de espaço

antropológico em Merleau-Ponty (a experiência com o mundo) assim como, o

conceito de lugar em Certeau (1998) está para o conceito de espaço

geométrico em Merleau-Ponty (―espacialidade homogênea e isótropa‖).

Certeau (1998) reforça a conceituação relacionando o lugar aos objetos e o

espaço às operações, ou seja, ―pela ação dos sujeitos históricos‖ há a

efetivação de um espaço e a sua associação a uma história.

A coexistência dos elementos naturais e dos elementos fabricados pelo

homem, na composição do urbano são, segundo Norberg-Schulz (2006 apud

Nesbitt, 2006), o ponto de partida para uma ―fenomenologia do ambiente‖ 25.

Os elementos do ambiente criado pelo homem são, em primeiro lugar, todos os ―assentamentos‖ de diferentes escalas, das casas às fazendas, das aldeias às cidades, e, em segundo lugar, os ―caminhos‖ que os conectam, além dos diversos elementos que transformaram a natureza em ―paisagem cultural‖. Quando os assentamentos estão organicamente integrados ao seu ambiente, supõe-se que são os pontos focais onde a qualidade peculiar do ambiente se condensa e ―explica‖. (Norberg-Schulz 2006 apud Nesbitt, 2006 p. 449)

Figura 39 - Promenade Plantée

Fonte – Disponível em: <http://www.thetimes.co.uk/tto/public/finest/article3903455.ece> Acesso: 15 novembro de 2014.

25

Ramo da ciência que trata da classificação dos fenômenos urbanos. A fenomenologia foi concebida como um ―retorno às coisas‖ em oposição a abstrações e construções mentais. (Norberg-Schulz apud Nesbitt, 2006 p. 445)

48

A integração a que a autora faz referência se consolida de forma natural,

assimilando como conhecido e estabelecendo vínculos. Seja pela qualidade

visual da edificação, seja pela densidade do paisagismo que abriga ou ainda

pelo tempo já decorrido sobre a sua inauguração, a cidade de Paris parece já

ter absorvido aquele que, bem menos midiático que seus congêneres, é

considerado o primeiro parque suspenso inaugurado em 1994: La Promenade

Plantée.

Figura 40 - Vista Aérea Parcial do Promenade Plantée

Fonte – Disponível em: < http://www.parisgarederungis.fr/Mediatheque/La-Semapa/Accueil/Actualites/T7B1-perspective-depuis-la-promenade-plantee/(language)/fre-FR> Acesso: 16 de novembro de 2014.

Figura 41 – Promenade Plantée em Paris.

Fonte - Disponível em: <http://fabioechay.blogspot.com.br/2013/03/promenade-plantee-e-viaduc-des-arts.html> Acesso: 08 de novembro de 2014.

49

Figura 42 – Promenade Plantée em Paris.

Fonte - Disponível em: <http://fabioechay.blogspot.com.br/2013/03/promenade-plantee-e-viaduc-des-arts.html> Acesso: 08 de novembro de 2014.

Figura 43 – Promenade Plantée em Paris.

Fonte - Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/22771024@N02/4163747563/> Acesso: 08 de novembro de 2014.

50

Figura 44 – Promenade Plantée em Paris.

Fonte - Disponível em: < http://www.justacote.com/paris-75012/site-touristique/la-coulee-verte---promenade-plantee-1001223.htm> Acesso: 08 de novembro de 2014.

O espaço que abriga o Promenade Plantée, também conhecido como La

Coulée Verte26, tem uma extensão de 4,5 km, uma área com 3 hectares de

jardins27 e percorre praticamente todo 12º Distrito de Paris, entre a Place de La

Bastille e o Bois de Vincennes.

Figura 45 – Mapa de localização do Promenade Plantée em Paris.

Fonte - Disponível em: <https://www.google.com.br/mapmaker?tab=MM> Acesso: 08 de novembro de 2014.

26

O Corredor Verde

27

Local Nômade – Acesso em: 13 setembro 2014 http://www.localnomad.com/pt/blog/2013/02/13/promenade-plantee-o-high-line-de-paris/

51

Unwin (2013) refere ainda a relevância que a participação coletiva tem na

identificação do lugar que, para o autor, está no núcleo gerador da arquitetura,

como a sua função essencial. Esta articulação dentre os que habitam a cidade

esteve na origem do High Line em Nova York.

Figura 46 – Vista Aérea Parcial do High Line em Nova York.

Fonte - Disponível em: <http://www.domusweb.it/en/architecture/2011/06/10/looking-moving-gathering-functions-of-the-high-line.html> Acesso: 16 de novembro de 2014.

52

Assumidamente inspirado no Promenade Plantée, o seu congênere americano

apresenta 2,6 km de extensão e atravessa 3 bairros de Manhattan:

Meatpacking, West Chelsea e Hell's Kitchen/Clinton. O High Line está dividido

em 3 seções inauguradas respectivamente em 2009, 2011 e 2014: a primeira

compreende o trecho entre a Gansevoort Street e West 20th Street; a segunda

vai até a West 30th Street e a terceira, termina na West 34th Street28.

Figura 47 – Mapa de Localização do High Line em Nova York.

Fonte - Disponível em: <https://www.google.com.br/mapmaker?ll=40.723323,-73.988457&spn=0.035647,0.0739&t=m&z=14&vpsrc=6&q=High+line,+Nova+Iorque,+NY,+Estados+Unidos&hl=pt-

BR&utm_medium=website&utm_campaign=relatedproducts_maps&utm_source=mapseditbutton_normal> Acesso: 08 de novembro de 2014.

Figura 48– High Line em Nova York.

Fonte - Disponível em: < http://gotham-magazine.com/living/articles/the-high-lines-art-side> Acesso: 16 de novembro de 2014.

28

Friends of the High Line. High Line History. In: High Line: The official Web site of the High Line and Friends of the High Line. Disponível em: <http://www.thehighline.org/events/all/2011/12/rail-yards-community-input-meeting>. Acesso em 25 outubro 2014

53

Figura 49 – High Line em Nova York.

Fonte - Disponível em: <http://thethirstygardener.wordpress.com/2011/07/13/the-highline-garden-new-york/> Acesso: 16 de novembro de 2014.

Figura 50 – High Line em Nova York.

Fonte - Disponível em: < http://www.amazing-snaps.com/2013_12_01_archive.html> Acesso: 16 de novembro de 2014.

Por outro lado, para se propor a reflexão acerca dos rebatimentos da instalação

do Elevado Costa e Silva, em São Paulo, o presente trabalho adota a

nomenclatura território, pois, ainda que tenha origem na definição de lugar,

comporta uma parcela política na tessitura do seu conceito e, segundo

Raffestin (1993) está assenta nas relações de poder. Dada a abrangência de

sua definição e uso, o conceito de território abarca ainda a questão do conflito

e da coexistência de distintas intenções que poderão eventualmente resultar na

demarcação territorial.

54

Figura 51 – Vista Aérea Parcial do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo..

Fonte - Disponível em: < http://www.reabilitare.info/2012/02/02/deratizare-urbana-prin-anihilarea-viermelui-brazilian/> Acesso: 16 de novembro de 2014.

Figura 52 – Mapa de Localização do Elevado Costa e Silva, São Paulo.

Fonte - Google Maps Disponível em: <https://www.google.com.br/mapmaker?ll=-23.540383,-46.653013&spn=0.043121,0.0739&t=m&z=14&vpsrc=6&utm_medium=website&utm_campaign=relatedproducts_maps

&utm_source=mapseditbutton_normal> Acesso: 08 Nov 2014.

Minhocão, como também é conhecido o elevado, é o apelido dado ao trecho de

3,5 km (a rigor, a parte elevada em si tem 2 775 m), ligação entre as regiões

Leste e Oeste da cidade de São Paulo, integrante de uma gigantesca estrutura

viária nesta cidade que (Zaidler, 2014 p.108):

Organizada funcionalmente, concebe lugar como pontos de partida ou de chegada, destinos individuais: lugar de trabalho, de moradia, de estudo, de lazer. O deslocamento entre lugares, antes feitos por ruas, alamedas, avenidas, cada vez mais se dá por acessos, corredores, interligações, vias expressas, complexos viários, pelos quais se deve passar sem parar, a não ser em obediência à sinalização de tráfego e nos inevitáveis congestionamentos. (Zaidler, 2014 p.95)

55

O território de que se ocupa o Minhocão, estabelece uma das ligações

possíveis entre a Praça Roosevelt, no centro da cidade e a Praça Padre

Péricles, na Água Branca/Perdizes. O percurso do Minhocão segue pela Rua

Amaral Gurgel, a Praça Marechal Deodoro, parte da Avenida São João e a

Avenida General Olímpio da Silveira tendo atravessado os bairros de Água

Branca, Santa Cecília, Higienópolis e Centro.

Figura 53 – Vista Parcial do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo.

Fonte - Disponível em: < https://blogpontodeonibus.wordpress.com/2014/09/23/elevado-costa-e-silva-proposta-quer-transformar-minhocao-em-corredor-de-onibus/ > Acesso: 16 de novembro de 2014.

Figura 54 – Vista Parcial do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo.

Fonte - Disponível em: < http://jornalestacao.com.br/portal/se-depender-dos-paulistanos-minhocao-nao-sera-demolido/> Imagem: Agestado. Acesso: 16 de novembro de 2014.

56

Figura 55 – Vista Parcial do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo e a sua utilização aos fins de semana. Fonte - Disponível em: < http://comidasebebidas.uol.com.br/noticias/redacao/2014/05/15/virada-cultural-tem-cervejas-artesanais-cerimonia-do-cha-e-chefs-na-rua.htm> Imagem: Reinaldo Canato/Folhapress. Acesso: 16 de novembro de

2014.

Figura 56 – Vista Parcial do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo e a sua utilização aos fins de semana. Fonte - Disponível em: < http://chavedebocabikers.blogspot.com.br/2013/04/76-um-super-role-de-bike-parte-1.html>

Acesso: 16 de novembro de 2014.

Figura 57 – Ocupação da parte inferior do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo.

Fonte: Disponível em: < http://fotospublicas.com/paineis-gigantes-da-fotografa-gaucha-raquel-brust-minhocao-sao-pichados/> Imagem: Fotos Públicas. Acesso: 16 de novembro de 2014.

57

4.2. Promenade Plantée, High Line e Minhocão|

Da Motivação

Depois de um século servindo exclusivamente à Estação Place de La Bastille e

24 anos de desativação (a partir de 1969), a década de 90 viu emergir o

Promenade Plantée.

Figura 58 - Linha Férrea Aérea que deu origem ao Promenade Plantée.

Fonte – Disponível em: <http://fabioechay.blogspot.com.br/2013/03/promenade-plantee-e-viaduc-des-arts.html> Acesso: 15 de novembro de 2014.

Figura 59 – La Promenade Plantée

Fonte - Disponível em:< http://www.localnomad.com/pt/blog/2013/02/13/promenade-plantee-o-high-line-de-paris/> Acesso em: 11 de setembro de 2014.

58

A reflexão sobre o destino a ser dado ao equipamento teve início em 1979.

Jardim (2012) refere que para a linha férrea havia duas possibilidades em

estudo: a primeira previa a implantação de um promenade na parte superior da

linha e a ocupação da parte inferior por meio de fechamentos laterais para a

obtenção de espaços fechados. A segunda propunha a sua demolição para a

construção de edificações ao longo de duas ruas ocupadas pelo Promenade

Plantée. Segundo a autora a escolha da primeira opção, além de preservar os

―raros traços do passado industrial de Paris‖ materializados na estrutura da

linha férrea, propiciava também, o aproveitamento das arcadas na parte inferior

com o objetivo de se criar espaços para distintas atividades, sem a

necessidade de uma construção de raiz.

Figura 60 – Local do La Promenade Plantée antes da implantação do projeto.

Fonte - Disponível em: <http://www.semaest.fr/nos-realisations/zac-promenade-plantee-12e/> Acesso em: 11 de setembro de 2014.

Figura 61 – Local do La Promenade Plantée antes da implantação do projeto. Fonte - Disponível em: <http://www.semaest.fr/nos-realisations/zac-promenade-plantee-12e/> Acesso em: 11 de

setembro de 2014.

Tomada a decisão, a prefeitura de Paris obteve os direitos sobre as instalações

da SNCF (Societé Nationale des Chemins de fer Français) em 1987. No início

da década de 1990, o SEMAEST (Société d’Economie Mixte d’Aménagement

de l’Est Parisien 29 com projeto do Arquiteto Paisagista Jacques Vergely e do

Arquiteto Philippe Mathieux), foi encarregado da obra de transformação da

antiga linha ferroviária. O percurso, com 350 metros, também é formado por um

viaduto suspenso por 71 arcos que, reabilitados por meio de projeto dos

arquitetos Patrick Berger e Jamine Galiano, abrigam hoje uma ―vitrine‖ do

artesanato, do design, da arte e da gastronomia parisiense: o Viaduc des Arts.

29

O SEMAEST é sociedade de economia mista, com base na cidade de Paris, especializada no desenvolvimento de ações para o estímulo econômico dos bairros. A entidade conduz há 30 anos projetos de desenvolvimento, renovação e desenvolvimento econômico a serviço da vitalidade urbana. Fonte: http://www.semaest.fr/la-semaest/nos-missions-amenageur-et-developpeur-economique/

59

Figura 62 – Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: < http://www.cristinamello.com.br/?p=4120> Acesso em: 12 de setembro de 2014.

Figura 63 – Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: < http://www.cristinamello.com.br/?p=4120> Acesso em: 12 de setembro de 2014.

Figura 64 – Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: < http://www.cristinamello.com.br/?p=4120> Acesso em: 12 de setembro de 2014.

60

Nos Estados Unidos, dois anos antes do desaparecimento do World Trade

Center, o então prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, propunha que a

ferrovia elevada desativada desde 1980 (e construída 50 anos antes) fosse

demolida. Em uma das reuniões realizadas para discutir a proposta, que a

esmagadora maioria apoiava, dois vizinhos do equipamento, que não se

conheciam, manifestaram intenção contrária: Joshua David e Robert

Hammond. Apesar destes moradores do Chelsea e do West Village,

respectivamente, orbitarem em mundos muito distantes da política, do

urbanismo ou do associativismo, tiveram a capacidade de articular um enorme

movimento que impediu a demolição do equipamento30.

Existe um processo de reinvenção urbana e inovação social através das pessoas nesses territórios híbridos das cidades emergentes. Em muitas cidades ao redor do globo neste século estamos vendo o reflexo no território do final da era fordista – cidades que construíram enormes infraestruturas para os carros, sem urbanidade local (dimensões urbanas locais). As transformações recentes no território urbano são baseadas em forte demanda dos ―urbanoides‖: cidadãos urbanos reinventando lugares em todo lugar para encontrar pessoas, interagir, compartilhar, inovar. (Leite, 2013 p.4)

Figura 65 – O local do High Line antes de sua implantação.

Fonte - Disponível em: <http://sacolaecologica.wordpress.com/2011/10/11/high-line-park-ny/> Acesso em: 16 de novembro de 2014.

30

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014

61

Figura 66 – O local do High Line antes de sua implantação.

Fonte - Disponível em: <http://laurbana.com/blog/2013/04/29/high-line-park-de-nueva-york-el-triunfo-del-sentido-comun/> Acesso em: 16 de novembro de 2014.

Figura 67 – O local do High Line antes de sua implantação.

Fonte - Disponível em: < http://www.timessquaregossip.com/2009/07/new-york-citys-new-gem-high-line.html> Acesso em: 16 de novembro de 2014.

62

Estava assim fundada a Organização Não Governamental ―Friends of the High

Line‖ que arregimentou artistas, celebridades e moradores do entorno, com o

objetivo de instalar um parque na plataforma abandonada. O ano de 2001

pausou o processo. Além do 11 de setembro, o prefeito Giuliani, pouco antes

de deixar o cargo, assinou a demolição da via férrea elevada (impedida na

época por via judicial colaborativa) 31.

Figura 68 – O High Line.

Fonte - Disponível em: <http://laurbana.com/blog/2013/04/29/high-line-park-de-nueva-york-el-triunfo-del-sentido-comun/ > Acesso em: 16 Nov 2014

Figura 69 – O High Line. Fonte - Disponível em: <http://laurbana.com/blog/2013/04/29/high-line-park-de-nueva-york-el-triunfo-del-sentido-comun/

> Acesso em: 16 Nov 2014

31

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014

63

Só depois de um estudo feito, demonstrando a relação benéfica entre

investimento e valorização da área, é que o sucessor de Giuliani, Michael

Bloomberg, passou a apoiar a iniciativa.

Figura 70 – O High Line.

Fonte - Disponível em: <http://laurbana.com/blog/2013/04/29/high-line-park-de-nueva-york-el-triunfo-del-sentido-comun/ > Acesso em: 16 de novembro de 2014.

Administrado pela ONG, os recursos para a construção (e manutenção) do

complexo, provém da esfera local e federal, da iniciativa privada e do empenho

colaborativo32.

Seguindo o exemplo do Central Park, a gestão do High Line fica a cargo da sociedade de amigos, que precisa arrecadar fundos com programas de doações e sócios. Em 2012, a manutenção é de US$ 4 milhões (R$ 8 milhões) por ano. A prefeitura cuida da segurança,

menos de 9% do custo total33

.

32

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014 33

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014

64

Figura 71 – High Line Década de 50.

Fonte - Disponível em: <http://www.vintag.es/2012/11/new-york-then-and-now.html> Acesso em: 24 de maio de 2014.

Figura 72 – High Line Década de 80/90.

Fonte - Disponível em: < http://www.localnomad.com/en/blog/2013/01/21/the-high-line-an-elevated-park-in-new-york-city/> Acesso em: 24 de maio de 2014.

Figura 73 – High Line na Atualidade.

Fonte - Disponível em: < http://www.theepochtimes.com/n2/united-states/groundbreaking-on-final-section-of-the-high-line-296940.html> Acesso em: 24 de maio de 2014.

65

Um concurso internacional de ideias, com a participação de 730 projetos, foi a

primeira ação rumo à requalificação do espaço.

Em março de 2002, a associação recebeu o primeiro suporte da prefeitura de Nova York: uma resolução advogando pelo reuso da High Line. Em seguida, por meio de estudos conduzidos pelo próprio grupo, a viabilidade econômica do projeto pôde ser comprovada. Feito isso e, por conseguinte, tendo obtido o suporte e a parceria da prefeitura da Cidade de Nova York nesta empreitada, o grupo Friends of the High Line lançou, no início de 2003, um concurso de ideias para o reuso da via férrea abandonada, denominado Designing the

High Line.34

.

Na sequência, foi promovido um concurso internacional de arquitetura que teve

como vencedor os escritórios de James Corner & Piet Oudolf e Diller, Scofidio

+ Renfro. Estava assim, decidida, a primeira fase do High Line35.

Em 2008, nova pausa. Apesar da crise financeira instalada, a primeira fase foi

concluída e aberta ao público em 2009. Em 2011 foi inaugurada a segunda

fase do projeto e em 2014, a terceira. Está prevista para o ano de 2016 a

inauguração de um pequeno teatro36.

No início da década de 1970, a linha férrea que serve hoje como estrutura ao

Promenade Plantée estava desativada havia dois anos, e, a que serve ao High

Line ainda estava ativa. No Brasil, por seu turno, era inaugurado o Elevado

Costa e Silva que, juntamente com o Edifício-Praça Roosevelt inaugurado um

ano antes, constituía a ligação Leste-Oeste, e que, materializava o caráter de

monumentalidade que se pretendia para uma metrópole em plena era do

progresso.

A exemplo do que Guatelli (2008) menciona sobre o Viaduto Spittelau37, o

Elevado Costa e Silva também carrega em seu nome a condição histórica de

sua construção.

35

Friends of the High Line. High Line History. In: High Line: The official Web site of the High Line and Friends of the High Line. Disponível em: <http://www.thehighline.org/events/all/2011/12/rail-yards-community-input-meeting>. Acesso em 25 outubro 2014 36

Terceira e Última Fase do High Line Park é Inaugurada em Nova York. Disponível em: <http://hauertramujas.com.br/index.php/terceira-e-ultima-fase-do-high-line-park-e-inaugurada-em-nova-york/>. Acesso em 25 outubro 2014 37 Spittelau está vinculado ao termo alemão ―Spittel‖, ―hospital de indigentes‖ ou ―asilo de pobres‖. O distrito de

Spittelau, situado ao norte do centro de Viena, em área semiperiférica, destaca-se pela presença de uma incineradora

66

Batizado em homenagem ao marechal presidente que abriu caminho à radicalização do jugo militar, seu nome oficial reforça tais associações com o período sombrio – o peso dos anos de chumbo, a linha dura imposta à força, os tenebrosos porões do regime. (Campos 2008 apud Artigas 2008 p 20)

Figura 74 – Convite para a Inauguração do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < http://spinfoco.wordpress.com/2013/08/04/elevado-costa-e-silva-a-historia-e-construcao-do-minhocao/> Acesso em: 05 de outubro de 2014.

de lixo e usina termal, construída em 1969, responsável por parte do suprimento de energia do município e pelo fornecimento de energia para um novo hospital que estava sendo construído a dois quilômetros dali. (Guatelli, 2008 p. 69)

67

Figura 75 – Praça Marechal Deodoro, em São Paulo, antes da construção do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/por-que-derrubar-o-minhocao/> Acesso em: 27 de setembro de 2014.

Figura 76 – Av. São João antes da construção do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < https://cidadedesaopaulo.wordpress.com/tag/elevado-costa-e-silva/> Acesso em: 27 de setembro de 2014 .

68

A urgência construtiva do regime militar visava unicamente aumentar a oferta

viária e assim, por meio da grandiosidade das construções, traduzir a era do

progresso. A desproporcionalidade do Elevado Costa e Silva em relação à área

de implantação resultou em uma proximidade excessiva: a cinco metros das

janelas dos prédios lindeiros. Zaidler (2014) refere que o Minhocão:

inspirado em soluções viárias consagradas, ao longo do século XX, em diversas cidades norte-americanas e europeias; uma via expressa segregada do tecido urbano, idealizada para aumentar a velocidade de deslocamento de veículos a revelia de condicionantes topográficas, visuais, históricas. (Zaidler, 2014 p.108)

Converge para o que Certeau (1998) denomina de cidade-conceito cujo

atributo funcionalista privilegia o progresso em detrimento da cidade

expectante. Em oposição, o autor refere o que pode (e deve) ser analisado: as

―práticas singulares e plurais‖. Estas que capilarizam ―táticas ilegíveis‖

constituindo ―regulações cotidianas e criatividades sub-reptícias‖ ignoradas por

um modus operandi governativo ―atravancado‖. Para referenciar a escala

destas intervenções (e o respectivo leitmotiv que reside na interação entre o

espaço e o processo) o autor se serve da argumentação de Foucault sobre:

―As instrumentalidades menores‖ capazes, pela mera organização dos ―detalhes‖, de transformar uma multiplicidade humana em sociedade ―disciplinar‖ e de gerir, diferenciar, classificar, hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho. (Certeau, 1998 p. 175)

Figura 77 – Publicidade da construtora do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <https://quandoacidade.wordpress.com/category/minhocao/page/2/> Acesso em: 22 de outubro de 2014.

69

Figura 78 - Av. General Olímpio da Silveira antes da construção do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < https://quandoacidade.wordpress.com/category/minhocao/page/3/> Acesso em: 22 de outubro de 2014.

Figura 79 – Avenida Amaral Gurgel antes da implantação do Elevado Costa e Silva. Fonte – Disponível em: <https://quandoacidade.wordpress.com/category/minhocao/page/3/> Acesso em: 05 de outubro

de 2014.

Muitas são as denominações recebidas pelo Minhocão (fratura, cicatriz urbana,

entre outras) cuja implantação transformou drasticamente o território de

implantação.

Figura 80 – Construção do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < http://viabilyblog.com.br/2014/08/12/como-era-sao-paulo-sem-o-minhocao/> Acesso em: 22 de outubro de 2014.

Figura 81 – Construção do Elevado Costa e Silva. Fonte - Disponível em: < http://viabilyblog.com.br/2014/08/12/como-era-sao-paulo-sem-o-minhocao/> Acesso em: 22 de

outubro de 2014.

70

Figura 82 – Av. Amaral Gurgel durante a construção do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <http://plataformasuperior.com/fotos_mundo/americas/america_sul/amaral_gurgel_libero_badaro.html> Acesso em: 28

de setembro de 2014.

Figura 83 – Av. Amaral Gurgel já com o Elevado Costa e Silva.

Fonte – Disponível em:<http://plataformasuperior.com/fotos_mundo/americas/america_sul/amaral_gurgel_libero_badaro.html> Acesso em:

28 de setembro de 2014 .

Figura 84 – Parte Inferior do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/acaba-logo-sao-silvestre-nos-queremos-o-nosso-trist-minhocao-de-volta-30122010/> Acesso em: 22 de outubro de 2014 .

Figura 85 – Parte Inferior do Elevado Costa e Silva. Fonte - Disponível em: <http://raizasas.blogspot.com.br/2011/02/caos-no-transporte-ii.html> Acesso em: 22 de outubro

de 2014 .

71

4.3. Promenade Plantée, High Line e Minhocão|

Da Condição de Ser Híbrido & Da Apropriação do Território

Os objetivos funcionais dos espaços - o programa, segundo Guatelli (2008), há

muito que comportam uma polivalência ―a ponto de provocar uma dissociação

entre forma e conteúdo‖.

Presenciamos hoje, com mais frequência, o florescimento de acontecimentos, verificados nas mais diversas escalas, que rompem, mesmo que momentaneamente, com o originalmente proposto e pensado para o local, ―excedendo‖, através da utilização, os usos e funções inicialmente previstos como mais apropriados; desde ―alpinistas‖ de pontes e escadas, escadarias urbanas que se transformam em praças (ágoras momentâneas) de contemplação ou local de encontro e conversas, às ruas, arcabouços de todo o tipo de atividades. (Guatelli, 2008 p. 74)

O autor acrescenta a urgência de uma nova ―racionalidade‖, cuja essência

projetual poderia (e deveria) ser ―contaminada por uma outra intuição do

espaço‖:

Um espaço enquanto um meio (inter)ativo, formado por eventos (leia-se, profusão de elementos e acontecimentos imprevistos, por vezes ambivalentes ou bivalentes, de apreensão e leitura não-imediata) adjacentes e remotos, alavancando rotinas e lógicas outras e adversas, um processo o qual denominamos contaminações constitutivas.(Guatelli, 2008 p. 74)

A possibilidade dos múltiplos usos de um equipamento comporta a latência de

sua usabilidade. Conceito presente na física (relacionado à transformação

isotérmica e isobárica ocorrida em condições de equilíbrio), a latência tem na

biologia, uma definição que converge para a polivalência de usos: estado de

repouso de um organismo em que não se percebem as manifestações

vitais que são as mais evidentes nos períodos de plena atividade38.

Para Guatelli (2008), a latência condiciona a Intensidade, conceito oposto ao

de Espaço Suporte39 que, segundo o autor, suscitam combinações

programáticas momentâneas, com a aparição de usos e situações além do

esperado.

38

Do latim latente-, «idem», particípio presente de latēre, «estar escondido». Infopédia – Dicionários Porto Editora. Disponível em: < http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/lat%C3%AAncia> Acesso em: 09 de novembro de 2014. 39

Um espaço suporte capaz de absorver e registrar as marcas deixadas sem, no entanto, adquirir um sentido que pudesse ser adotado como o mais adequado, e, no momento seguinte, capaz de voltar à sua situação de significante, à espera de novos significados, interpretações, intervenções por parte das pessoas. (Guatelli, 2008 p. 121)

72

A transformação do High Line em High Line Park marcou uma vitória

considerável numa longa batalha contra proprietários e empresas de imóveis

que pretendiam lucrar com a venda de terrenos40.

O hiato de quase 20 anos, durante o qual a estrutura esteve abandonada faz

refletir sobre o conceito de latência. Disponível para uma utilização em várias

frentes (a social, a urbana, a sustentável, entre outras), a efetivação do High

Line só foi possível por meio de uma iniciativa citadina, sem recursos e sob

forte oposição. A percepção do que o recurso disponível poderia ofertar, e

ainda mais, a articulação de um conjunto de habitantes na busca de um

objetivo comum, caracterizam as iniciativas Bottom Up.

Uma solução comum para essas estratégias ―out-of-the-box‖ da cidade é a crescente função da sociedade civil e novas formas de governança, espacialmente ações do tipo Hélice Tripla (universidades + empresas + governo), ou projetos os quais são levados pela sociedade ou pelo setor privado e politicamente patrocinado pelo governo local. Além dessa estratégia, que podemos ver em muitas cidades ao redor do mundo hoje em dia, a particularidade básica aqui é um processo menos formal de situações botton-up criativas e inovadoras nesses territórios da cidade. Práticas criativas e micro-planejamento urbano no território híbrido. (Leite, 2013 p.5)

A mobilização que a ONG ―Friends of the High Line‖ consolidou foi capaz de

promover uma lucratividade muito superior: a requalificação do High Line

reverberou valorização para a área do entorno além de ter ofertado um espaço

de lazer e convívio, que preservou a memória por meio da transformação, além

de ter em sua gênese premissas sustentáveis.

Por outro lado, observados que foram aspectos de preservação e

sustentabilidade a concretização do Promenade Plantée tem caráter

governamental: foi uma decisão Top Down. Para Jardim (2012) é muito claro a

distinção que há no processo de origem do High Line e do Promenade Plantée.

nota-se que a comunidade não exerceu o papel de grande incentivadora nem teve participação nas decisões tomadas ao longo dele; o poder público concentrou as deliberações sobre o destino da Promenade Plantée. Em contraste, no caso da High Line, os residentes locais não só foram os detonadores do processo de reconversão como também dele participaram ativamente por meio de

40

MITCHEM S. High Line – Nova York - Um Olhar para o Futuro. Disponível em: <http://www.cbic.org.br/sites/default/files/Um%20olhar%20para%20o%20futuro.pdf>. Acesso em 25 de outubro de 2014.

73

encontros, reuniões e fóruns públicos; foram informados e convidados a tomar parte através de publicidade veiculada em jornais e revistas.

O projeto de requalificação do High Line, segundo o arquiteto Charles Renfro,

do escritório vencedor do concurso partiu da ideia que a intervenção deveria

ser a mais sintética possível, a fim de não subtrair as qualidades natas da

edificação.

Figura 86 – Detalhe dos trilhos no High Line.

Fonte - Disponível em: < http://www.boomsbeat.com/articles/2162/20140416/high-line-check-out-this-beautiful-aerial-greenway-in-new-york-city.htm> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Os próprios trilhos de trem serviram como orientação visual para a construção

do desenho do passeio, além do paisagismo ser projetado a partir da

vegetação nativa (que tomou conta da plataforma durante os anos de

abandono).

O arquiteto acrescenta ainda que a própria cidade de Nova York serviu como

―inspiração‖ para o projeto e que o High Line, mais do que um equipamento

urbano, se constitui como um mediador para ser e ver a cidade de forma

distinta41.

41

MITCHEM S. High Line – Nova York - Um Olhar para o Futuro. Disponível em: <http://www.cbic.org.br/sites/default/files/Um%20olhar%20para%20o%20futuro.pdf>. Acesso em 25 outubro 2014

74

Figura 87 – Detalhe do trilhos no High Line. Fonte - Disponível em: < http://nylcblog.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html> Acesso em: 17 de novembro de

2014.

Esta mediação esta presente na forma como o High Line é gerido. A

administração procura elaborar uma programação de forma transversal: para

adultos, crianças e adolescentes. Tem ainda como objetivo promover

experiências inovadoras no âmbito do equipamento público e, sobretudo,

envolver a comunidade para uma postura participativa e interventiva, ou de

outra forma, renegaria a gênese da própria iniciativa42.

Figura 88– Vista Parcial do High Line.

Fonte - Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/cidades-sem-fronteiras/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

42 Friends of the High Line. High Line History. In: High Line: The official Web site of the High Line and Friends of the

High Line. Disponível em: <http://www.thehighline.org/events/all/2011/12/rail-yards-community-input-meeting>. Acesso em 25 outubro 2014

75

A extensão de 32 quadras do High Line oferta espaços de convivência,

descanso, lazer, mas, sobretudo, construiu uma nova dinâmica na relação do

habitante da cidade com o entorno.

O Promenade Plantée é um parque suspenso que oferta ao visitante

unicamente espaço para lazer por meio de um trabalho de restauro e

intervenção na estrutura com um projeto paisagístico cuidado e exuberante,

mas, que, ao contrário do High Line não mantém uma agenda de atividades e

de interação.

Figura 89 – Vista Parcial do Promende Plantée.

Fonte - Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/cidades-sem-fronteiras/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

O Viaduc des Arts (nome dado ao segmento do Promenade Plantée com lojas

na parte inferior) se constitui como um polo centralizador e difusor da boa

culinária, das artes e do design.

As duas iniciativas acabam por efetivar uma justaposição: embora possam ser

próximas (talvez até complementares) as atividades não mantém interação

entre si. Apesar da implantação do parque ter promovido desdobramentos

positivos no entorno, a presente pesquisa não pôde detectar iniciativas da

administração do parque que procurassem uma interação direta com os

moradores das proximidades.

76

Figura 90 – Detalhe do Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: <http://www.via.fr/evenements-expo-viadesign30> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Figura 91 – Detalhe do Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: < http://www.panoramio.com/photo/14553249> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Figura 92 – Detalhe do Viaduc des Arts.

Fonte - Disponível em: < http://www.turningpointepress.com/blog/2014/4/6/mtiers-dart> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

77

O High Line, por outro lado, além das atividades ofertadas de forma regular,

elabora uma intensa programação, com eventos sazonais que mobilizam um

contingente considerável interessado nas experiências vernaculares e/ou

populares em cenário contemporâneo, que o equipamento oferece.

Figura 93 – Evento no High Line.

Fonte - Disponível em: <http://aizakbuyondo.com/2013/06/13/coach-friends-of-the-high-line-summer-party/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Figura 94 – Evento no High Line. Fonte - Disponível em: < http://www.meetup.com/LOL-MNF/events/122587662/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

78

Estas ações incidem de forma preferencial no entorno procurando estabelecer

e intensificar o engajamento da comunidade imediata com o equipamento. Em

um âmbito geográfico mais alargado, está presente também uma preocupação

em estabelecer o diálogo com os complexos habitacionais da cidade,

concretizada nas atividades comunitárias e pedagógicas ofertadas, bem como,

a inclusão de jovens de baixa renda, por meio da oferta de empregos e

colocações em diversas atividades que realiza43.

Figura 95 – Evento no High Line.

Fonte - Disponível em: < http://www.therovingteddi.com/> Acesso em: 17 de novembro de 2014. Figura 96 – Evento no High Line.

Fonte - Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/lensepix/8126487703/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Figura 97 – Evento no High Line.

Fonte - Disponível em: <https://www.thehighline.org/blog/2012/09/27/high-line-community-engagement-in-%E2%80%98chelsea-now%E2%80%99> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Figura 98 – Evento no High Line. Fonte - Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/lensepix/8126487703/> Acesso em: 17 de novembro de 2014.

Esta proximidade com a população, que afinal está na origem do High Line,

continuou como critério no desenvolvimento dos 2 trechos que completam o

parque. A administração disponibilizou canais de comunicação onde era

43 Friends of the High Line. High Line History. In: High Line: The official Web site of the High Line and Friends of the

High Line. Disponível em: <http://www.thehighline.org/events/all/2011/12/rail-yards-community-input-meeting>. Acesso em 25 outubro 2014

79

possível ao usuário interagir e contribuir com sugestões para o

desenvolvimento do projeto de ampliação do parque.

Figura 99 – Campanha para o desenvolvimento do último trecho do High Line..

Fonte - Disponível em: <http://www.metalocus.es/content/en/blog/high-line-opens-its-third-and-final-phase> Acesso em: 18 de novembro de 2014.

Como desdobramentos perceptíveis e consideráveis, a área do High Line,

anteriormente deteriorada e repleta de galpões, com as mais distintas

atividades, se transformou ante a instalação do parque suspenso. Estima-se

que a concentração de investimentos seja superior a R$ 4 bilhões. A

valorização imediata da área mobilizou designers americanos e estrangeiros na

busca de imóveis disponíveis para a instalação de espaços comerciais44. A dois

quarteirões do parque, a Google instalou o seu escritório em uma sede de 15

andares que custou US$ 1,9 bilhão e, em 2015, está prevista a abertura da

nova sede do Museu Whitney também nas imediações do High Line.

Os 13 anos do High Line condensam o superlativo de seus números: um custo

de US$ 223 milhões para a intervenção com cerca de 5 milhões de visitantes

por ano (um milhão a mais do que o MOMA) 45 e uma arrecadação superior a

R$ 1,8 bi, em tributos, por conta da valorização do entorno46.

44

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014 45

Terceira e Última Fase do High Line Park é Inaugurada em Nova York. Disponível em: <http://hauertramujas.com.br/index.php/terceira-e-ultima-fase-do-high-line-park-e-inaugurada-em-nova-york/>. Acesso em 25 outubro 2014 46

LORES, R. J. - Uma História Americana. In: Revista Serafina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm>. Acesso em 25 outubro 2014

80

Figura 100 – Comparação de áreas de Meatpack District antes e depois da implantação do High Line. Fonte – Disponível em: < http://www.brianrose.com/blog/category/gv/> Acesso: 19 de novembro de 2014.

81

Em Paris, embora não haja mensuração disponível, foi possível detectar que

com a inauguração do Promenade Plantée havia a intenção de devolver ao

entorno da estrutura a qualificação urbana que a implantação da via férrea

deteriorou.

Igualmente, a prefeitura aprovou a criação de um perímetro de ―Declaração de utilidade pública‖, visando a desapropriação de bens em um trecho que abarcava o próprio viaduto e diversos lotes em sua parte posterior (entre a Place de la Bastille e o setor Reuilly). Essa decisão apoiou-se numa tentativa de restaurar a malha urbana da área que, conforme o fragmento destacado abaixo, sofreu com a implantação da linha férrea: A construção do viaduto de fato gerou uma ruptura brutal entre as regiões da Rue du Faubourg Saint-Antoine e da Avenue Daumesnil, deixando expostas as feridas na seção posterior dos quarteirões que beiram a Rue Charenton. (Jardim, 2012 p.115)

A múltipla oferta na realização de eventos promovida pela latência faz do

espaço, um híbrido. Conceito que se empresta da Biologia, o híbrido diz

respeito a um cruzamento inesperado, impensado a priori. Fenton (1985 apud

Neves 2012) organizou três categorias de híbridos: aquele que é orgânico e

resulta da dinâmica urbana – híbridos nos Tecidos; aquele que é resultado da

soma volumétrica, mas, mantém a independência programática das partes –

híbridos Enxertados; e aquele onde os usos coexistem em um mesmo volume

– híbridos Monolíticos.

O híbrido para Canclini (1995 apud Madeira, 2010) comporta uma maior

diversidade: desde aquelas relacionadas às novas tecnologias, passando pelos

processos sociais contemporâneos que têm como cenário a cidade. Para o

mesmo autor, o processo de hibridação apresenta intensidades diferentes cuja

alternância entre processos heterogênos e homogêneos de efetivação do

híbrido, compõem o que o autor denomina de ―Ciclos de Hibridação‖.

A personalidade do híbrido, segundo Per (2008 apud Neves 2012), diz respeito

à sua capacidade de permitir flexibilizar diante da diversidade e da variedade

de programas. A flexibilização de uso do Minhocão tem início em 1976, quando

o seu uso passa a ser interditado para veículos no período noturno. Na gestão

da então Prefeita Luíza Erundina, no ano de 1989, fica estabelecido o

fechamento do viaduto entre 21h30 e 6h30 de segunda a domingo.

82

Figura 101 – Divulgação do novo horário de funcionamento do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <https://quandoacidade.wordpress.com/category/minhocao/page/2/> Acesso em: 22 de outubro de 2014 .

A partir deste momento, o equipamento urbano passa, de forma paulatina, a

ser apropriado pela população para os mais distintos fins. Como suporte, como

recinto ou como coadjuvante em produções fotográficas ou audiovisuais, o

Minhocão se hibridiza, permitindo os mais variados eventos. As possibilidades

se circunscrevem à divisão em dois planos que a construção do Minhocão

sedimentou na região.

Figura 102 – Mapa com a localização do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < http://minhocao.org/mapa-2/> Acesso em: 05 de outubro de 2014 .

<Valorização

> Valorização

83

O plano vertical dividiu o centro tradicional de regiões mais valorizados da

cidade, como refere Campos (2008 apud Artigas, 2008)

Esse verme urbano sem pé nem cabeça costuma ser apreendido de maneira fragmentada. Por cima, por baixo, ou como segmento de algo do qual não se vislumbra começo nem fim. Para motoristas usuários, é sempre trecho de trajeto maior; para transeuntes de baixios e entornos, são pórticos de concreto que se sucedem, perdendo-se na distância e escondendo o lance seguinte. (Campos apud Artigas 2008 p. 20)

O plano horizontal separa os quadrantes superiores (e a circulação viária

Leste-Oeste) dos quadrantes inferiores onde convive a circulação de

automóveis e de pedestres. A fronteira determinada pela construção do

elevado isolou a parte inferior da região, submetida ao que Campos (2008)

chama de ocultação.

Cria uma zona de sombras, um mundo semi-enterrado, em que térreos e primeiros andares se perdem em um longo subsolo. Seu próprio apelido evoca um ser subterrâneo. Nessa área aparentemente escondida, surgem elementos e usos que não ousam se manifestar em locais mais expostos, sempre com mão dupla: da arte proibida das pichações ao apelo ambíguo dos travestir. (Campos apud Artigas 2008 p. 20)

Figura 103 – Corte Genérico do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.147/4455>Acesso em: 19 de outubro de 2014.

A cidade-panorama a que Certeau (1998) se refere como sendo resultado de

uma remota observação, platonicamente empreendida do alto de um edifício,

se contrapõe ao embaixo, ao down, onde estão confinados os ―praticantes

ordinários da cidade‖ cujas impossibilidades visuais efetivam a mobilidade

opaca e cega da cidade habitada. É no rés-do-chão que os passos da pressa

―moldam espaços‖ e ―tecem lugares‖ que efetivam a cidade por meio de um

84

―processo de apropriação do sistema topográfico‖ e da realização espacial do

lugar, implicando, segundo o autor, em ―contratos pragmáticos sob a forma de

movimentos‖.

A justaposição dos universos resultantes (inferior e superior) não permite

interações. A parte superior é determinada pelo contingente de automóveis,

pelo fluxo, pela velocidade (ou a ausência dela). O subterrâneo, também

prescrito em parte pelos mesmos componentes, contempla a interação do

cidadão e do comércio existente. Como limite para estes dois universos

paralelos, há o que é lindeiro, o que emoldura, o que convive.

Na tentativa de diminuir o impacto da construção, em 1997, a FUNARTE

(Fundação Nacional de Arte) propõe a realização do Projeto Elevado à Arte,

cujo propósito era que os 54 mil m² de pintura, que compreendiam toda a

extensão do elevado, tivesse caráter permanente.

Figura 104 – Intervenção cromática da autoria de Maurício Nogueira Lima.

Fonte - Disponível em: <http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2008/09/22/%C2%93vandalismo-cultural%C2%94-apaga-grafite-do-minhocao/> Imagem: Publicada em Cesar Giobbi. Acesso em: 19 de outubro de

2014.

A intervenção na lateral norte ficou a cargo de Maurício Nogueira Lima que por

meio da inserção de linhas diagonais em ocre e amarelo procurou se aproximar

do grafismo dos sinais de trânsito. Para a intervenção na lateral oposta, artista

85

Sônia Von Brusly utilizou as cores cinza, vermelho e azul de ―forma a

contrastar com o aspecto agressivo‖ da edificação47.

Hoje nada resta dessas primeiras intervenções. A via, cada vez mais congestionada, impedia a visão em tempo cinematográfico e a pouca luz na parte inferior igualmente não auxiliava visualização dos trabalhos. Outras camadas foram sobrepostas aos murais: cartazes publicitários, grafites e a própria repintura da estrutura, em cor que mimetiza o concreto. A iniciativa de cobrir parcialmente a enorme estrutura com trabalhos artísticos funcionou como uma espécie de maquiagem, que se esvaiu no tempo. (Nascimento, apud Artigas 2008 p. 49)

Na parte inferior, por sugestão da crítica de arte Radha Abramo, foram

recriados painéis de Flávio Motta como forma de homenagem a um dos

pioneiros interventivos48.

Figura 105 – Reedição dos Paineis de Flávio Motta no Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <https://www.facebook.com/vilanova.artigas/photos/a.237769802917415.72151.218143798213349/709042765790114/

> Acesso em: 19 de outubro de 2014.

Proposta semelhantes de requalificação, por intervenção cromática, ocorreram

na Praça Roosevelt na década de 198049. Ocorre que, para requalificar é

preciso, antes, desqualificar, ou pelo menos classificar como inadequadas ou 47

Urbanismo – Morador e Profissional defendem desativação do elevado - Pintura vira paliativo contra má imagem do polêmico Minhocão. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://acervo.folha.com.br/fsp/1998/11/22/264>. Acesso: 19 de outubro de 2014. 48

Instituto Arte Cidadania. Disponível em: <http://www.artecidadania.org.br/_._Instituto_ArteCidadania_../Publicacoes/Entradas/2013/9/9_Projeto_Elevado_a_Arte.html>. Acesso: 19 de outubro de 2014. 49

Segundo Coelho (2012), a década de 80 do século passado traz duas intervenções cromáticas para a Praça Roosevelt: em 1980 a edificação recebe uma intervenção na cor verde e 4 anos mais tarde, a praça fica povoada pelos pigmentos vermelhos e ocre da obra do artista plástico Maurício Nogueira Lima. (Castanheira, 2013 p.6)

86

insuficientes as qualidades de um objeto para determinadas funções, como

refere Zaidler (2014). Para o autor as intervenções vencedoras:

Atenderam ao edital no ponto que ele tem em comum com muitos outros e que o caracteriza enquanto modelo: o caráter de requalificação, a tentativa de amenizar com tintas uma situação visual complexa gerada por fatores que nada têm a ver com visualidade, ainda que nela sejam sintetizados. Equivale, a meu ver, a oferecer uma corda multicolorida ao condenado à forca, ou a embelezar Quasimodo colocando-lhe uma vistosa peruca. (Zaidler, 2014 p.110)

Diametralmente oposta a ideia de requalificação da edificação, a intervenção

artística passa a enxergar no Minhocão uma possibilidade de suporte-arte,

muito de encontro ao que Sevcenko (2001) chama de a desmaterialização dos

suportes nas artes plásticas face às grandes mudanças tecnológicas e a super

valorização da exposição como exibição, o que de certa maneira, dilui o valor

inerente à expressão artística e distanciam público e arte. (Sevcenko, 2001 p.

127)

Neste que é um avesso urbano, os pilares do Minhocão foram utilizados como

suporte logo após a sua inauguração. Esta que foi a primeira intervenção

realizada no Minhocão teve autoria de Flávio Motta e Marcello Nitsche e

explorava as variáveis de tempo e de posicionamento (conceitos da arte

cinética) para a percepção da obra.

Segundo o artista, o objetivo do projeto era tornar a cidade um campo de relacionamento urbano mais amplo. A intervenção, finalizada em 1974, integrou o projeto ―Arte e Planejamento‖, sob responsabilidade da Coordenadoria Geral de Planejamento do Município (1975). (Nascimento, apud Artigas 2008 p. 48)

Intitulada Caminhos do Jaraguá, a intervenção, segundo Zaidler (2014),

marcou o deslocamento de trabalhos artísticos em empenas cegas para outras

superfícies da cidade. Paralelamente, o ineditismo na utilização dos pilares do

Minhocão teve grande destaque, emancipando este tipo de apropriação, e

―abrindo possibilidades inéditas para a concepção de trabalhos artísticos

visuais na cidade‖, pois, até então, as ―pinturas artísticas a céu aberto‖ tinham

o status de mural ―e as empenas cegas eram o suporte preferencial‖.

As pinturas recobriam a totalidade da área dos pilares, exclusivamente nas cores azul, vermelho e branco; eram em sua maioria geométricas. Em alguns trechos, a sequência sugeria um pôr do sol; em outros, movimentos de expansão e contração. A certa altura tornava-se figurativa: um pássaro ocupava sempre a mesma

87

posição relativa em pilares sucessivos, enquanto suas asas se deslocavam alguns centímetros, primeiro para cima e depois para baixo, criando a ilusão do voo. Tudo isso na direção oeste, na qual era visível o pico do Jaraguá, o mais alto da cidade e marco referencial natural cuja visão, desde a Avenida São João, foi bloqueada pelo elevado. (Zaidler, 2014 p.100)

Note-se ainda o caráter de transitoriedade da obra na qual não foram utilizados

materiais que pudessem perpetuar a sua presença, como refere o mesmo

autor.

As intervenções artísticas na qualidade de agentes transformadores constituem

um modo de construção social dos espaços públicos, uma via de produção

simbólica da cidade, expondo e mediando suas conflitantes relações sociais,

como refere Pallamin (2000).

Figura 106 – Intervenção gráfica no Elevado Costa e Silva - Autoria de Bugre.

Fonte: Disponível em: < https://catracalivre.com.br/geral/gentileza-urbana/indicacao/qual-e-o-graffiti-mais-bonito-de-sp/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Para Campos (2010), a drástica desvalorização do entorno, de uma região até

então extremamente interessante para a construção vertical, contribui para

dotar o Minhocão de uma aura transgressora.

Nos casos dos trechos atravessados pelo Elevado, seu caráter aberto à transgressão e acolhedor da diferença passou a ganhar valor com a ascensão do multiculturalismo, do pluralismo e das identidades alternativas como traços definidores da paulistanidade. Suas pistas passaram a ser aproveitadas, nos finais de semana, como área de lazer, na qual se manifesta a diversidade das tribos urbanas. (Campos 2008 apud Artigas, 2010 p. 42)

88

Figura 107 – Intervenção gráfica no Elevado Costa e Silva - Autoria de Finok.

Fonte: Disponível em: < https://catracalivre.com.br/geral/gentileza-urbana/indicacao/qual-e-o-graffiti-mais-bonito-de-sp/> Acesso em: 23 de outubro de 2014 .

A apropriação, que efetiva a cidade como suporte da manifestação artística

expõem, relata e discute ao mesmo tempo em que promove uma leitura do

espaço urbano como fonte de informação e conexões culturais. É a polivalência

que se transforma na polifonia de Canevacci (1983). Polifonia como definição

de conceito em Canto Coral, se refere a um conjunto de instrumentos que não

tocam em uníssono. Emitem distintos sons, que não constroem uma melodia.

Não está relacionado à qualidade dos sons de forma individual. A sonoridade

produzida, em termos individuais, pode apresentar qualidade musical, que não

é notável de forma coletiva.

a cidade em geral e a comunicação urbana em particular comparam-se a um coro que canta com uma multiplicidade de vozes autônomas que se cruzam, relacionam-se, sobrepõem-se umas às outras, isolam-se ou se contrastam; também designa uma determinada escolha metodológica de dar voz a muitas vozes, experimentando assim um enfoque polifônico com o qual se pode representar o mesmo objeto – justamente a comunicação urbana. A polifonia está no objeto e no método. (Canevacci, 1983 p. 17)

A ocupação do Minhocão como recinto/suporte de eventos tem mobilizado

iniciativas em outras esferas. Uma das mais recentes foi promovida pelo SESC

e autorizada pela subprefeitura da Sé. O projeto Giganto, de autoria da

jornalista Raquel Brust, integrou o festival PhotoEspaña cuja proposta era a

utilização da arquitetura da cidade como suporte e, por meio da inserção de

imagens hiperdimensionadas.

89

Figura 108 – Projeto Giganto – Pilares do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: < http://www.hypeness.com.br/2013/10/minhocao-em-sp-ganha-galeria-de-arte-a-ceu-aberto-com-rostos-dos-moradores/> Imagem: Raquel Brust. Acesso em: 17 de maio de 2014.

Figura 109– Projeto Giganto – Pilares do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2013/10/minhocao-em-sp-ganha-galeria-de-arte-a-ceu-aberto-com-rostos-dos-moradores/> Imagem: Raquel Brust. Acesso em: 17 de maio de 2014.

Figura 110 – Projeto Giganto – Pilares do Elevado Costa e Silva.

Fonte - Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2013/10/minhocao-em-sp-ganha-galeria-de-arte-a-ceu-aberto-com-rostos-dos-moradores/> Imagem: Raquel Brust. Acesso em: 17 de maio de 2014.

90

A temática tinha por objetivo propor uma reflexão sobre a perfeição de rostos

veiculados em publicidade, por meio da utilização da imagem de moradores de

diferentes áreas da cidade, cuja escala das fotografias altera a percepção do

fotografado em relação a si mesmo, e, do observador em relação à cidade.

Procurava ainda, ―enquanto todos fazem parte de uma massa única e sem

rosto‖, discutir a individualidade e a ―complexidade em cada unidade‖, de cada

apartamento que compõem as fronteiras do elevado50.

A utilização das bases do Minhocão como suporte, como tela urbana, remete

ao conceito de arquigrafia que diz respeito aos edifícios que incorporam

imagens em suas superfícies e, cujo resultado interfere diretamente na forma

como se percebe a edificação-suporte no contexto urbano. (Simon, 2006)

Ocupada intensamente por veículos durante a semana, a face solar do

Minhocão, aquela que oculta o lado obscuro, enlutado, o avesso da edificação,

se transmuta ante o final de semana e feriados. Esta transformação efetiva a

qualidade do equipamento de ser híbrido, transgredindo a sua funcionalidade

primeira.

A típica utilização dominical é antes de tudo um grande manifesto de ocupação:

esta via expressa, nega a sua vocação original, facultando o seu território para

uma atividade tão banal quanto caminhar.

O ato de caminhar ou espaço de enunciação como refere Certeau (1998), é

para o autor a privação do lugar em um processo constante de sua procura, o

que faz desta trivialidade ―uma experiência social‖ e faz da cidade, um recinto

próprio para as experimentações, um laboratório onde é possível ao ―usuário

extrair fragmentos do percurso e atualizá-los em segredo‖, como refere Barthes

(1996 apud Certeau, 1998).

O uso (esta relação entre o usuário e o percurso), que em Certeau (1998) se

qualifica como enunciação pedestre e onde o percurso se altera pelas práticas

do usuário, se transmutando ―em singularidades aumentadas e em ilhotas

50

Projeto Giganto - Disponível em: <(http://projetogiganto.com/about/)>. Acesso: 19 de outubro de 2014.

91

separadas‖ (Bourdieu 1996 apud Certeau,1998) – ―define o fenômeno social

pelo qual um sistema de comunicação se manifesta de fato‖, remetendo a um

comportamento, entendido como norma.

A salubridade da ocupação pedestre reverberou e teve desdobramentos: o

Minhocão fez parte do percurso da corrida de São Silvestre entre 1980 e 2010.

Além disto, é cenário frequente de skatistas e ciclistas.

Figura 111 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://www.guiadasemana.com.br/sao-paulo/turismo/pontos-turisticos/minhocao-elevado-costa-e-silva> Imagem: Milton Jung. Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 112 -– Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://arqmodernablog.blogspot.com.br/2011/12/minhocao-em-sao-paulo-e-high-line-park.html> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

92

Figura 113 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: <http://vejasp.abril.com.br/materia/dez-motivos-para-nao-demolir-o-minhocao > Imagem: Folhapress. Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 114 - Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte – Disponível em: < http://vadebike.org/2013/06/passeio-ciclistico-virada-sustentavel-2013-sp-wwf-brasil/> Imagem: Raquel Schein. Acesso: 19 de novembro de 2014.

A apropriação interage, interfere, acrescenta. São muitas as ações que buscam

refletir a falta de verde no Minhocão. Em 2009, o fotógrafo Felipe Morozini com

a ajuda de 20 amigos, realizou uma intervenção denominada Jardim Suspenso

da Babilônia, onde foram desenhadas grandes flores, com cal, na superfície do

equipamento.

93

Figura 115 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://ffw.com.br/blog/comportamento/em-nova-coluna-felipe-morozini-declara-amor-e-odio-a-cidade-de-sao-paulo/> Imagem: Felipe Morozini. Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 116 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://www.hypeness.com.br/2011/03/artista-plastico-pinta-flores-no-asfalto-do-minhocao/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 117 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://www.hypeness.com.br/2011/03/artista-plastico-pinta-flores-no-asfalto-do-minhocao/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 118 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://www.hypeness.com.br/2011/03/artista-plastico-pinta-flores-no-asfalto-do-minhocao/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

94

Em 2012, o Festival Baixo Centro simulou um teaser do que poderá vir a ser o

Parque do Minhocão. O festival é um movimento de ocupação civil, transversal,

que busca de forma colaborativa promover ações de apropriação urbana.

O BaixoCentro é um festival de rua colaborativo, horizontal, independente e autogestionado realizado por uma rede aberta de produtores interessados em ressignificar esta região da capital de São Paulo em torno do Minhocão, que compreende os bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elísios, Barra Funda e Luz. Com o mote ―as ruas são pra dançar‖, busca estimular a apropriação do espaço público pelo público a quem, de fato, pertence, motivando uma maior interação das pessoas com seus locais de passagem, trabalho ou moradia cotidianos

51.

Figura 119 – Elevado Costa e Silva aos domingos e feriados

Fonte - Disponível em: < http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/7094-minhocao> Imagem: Joel Silva/Folhapress. Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Mais recentemente foi instalado um Jardim Vertical na região do Minhocão. O

projeto, iniciativa da marca Absolut e feito em parceria com o Movimento 90º e

a Escola São Paulo, busca colaborar para a mudança na cidade por meio de

intervenções que estejam alinhadas ao mote ―Transform Today‖ (estratégia

concebida pela marca para assim, estabelecer proximidade e vínculos com a

geração Y, também conhecida como Millenials, que para os patrocinadores

constituem uma geração ávida pela materialização do novo52). A instalação de

Parques Verticais, segundo os idealizadores, pode reduzir em 30% a poluição

da área próxima, além de desempenhar papel de isolante térmico.

51

Baixo Centro – Quem Somos – Disponível em: <http://baixocentro.org/quem-somos/ > Acesso em: 09 de novembro de 2014. 52

Jardim Vertical Invade Minhocão – Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/jardim-vertical-invade-minhocao-em-sao-paulo> Acesso em: 09 de novembro de 2014.

95

Figura 120 – Jardim Vertical Absolut - Elevado Costa e Silva

Fonte - Disponível em: <http://hidrosuprimentos.wordpress.com/tag/guil-blanche/> Imagem: Luisa Dorrl/Folhapress. Acesso em: 19 de novembro de 2014.

Independentemente da motivação inicial, a iniciativa gerou desdobramentos.

Em busca de patrocinadores, o Movimento 90º anunciou há pouco a intenção

de instalar 8 mil m² de novos jardins (também denominados ―parques verticais‖)

de forma a ocupar parte das mais de 140 empenas cegas dos prédios que se

debruçam sobre o Minhocão e que se esvaziaram de conteúdo com a

instalação da Lei da Cidade Limpa (2007) 53.

Esta plataforma a céu aberto que é o Minhocão, hospedou, no âmbito da 10ª

Edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo subordinada ao tema ―Cidade:

Modos de Fazer, Modos de Usar‖.

Figura 121 – Divulgação Intervenção Elevado Costa e Silva – X Bienal de Arquitetura Fonte - Disponível em: <

http://madmag.com.br/2014/03/domingo-tem-piscina-no-minhocao/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

53

Minhocão terá Jardins Verticais em 2015 – Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/jardim-vertical-invade-minhocao-em-sao-paulo> Acesso em: 09 de novembro de 2014.

96

A bienal pretendeu promover uma reflexão sobre as possibilidades de

construção do viver urbano e ―sobre a cidade contemporânea a partir da sua

própria estrutura espacial‖, ou seja, os conteúdos foram alocados em diferentes

pontos da cidade, cujos critérios de escolha recaíram sobre a qualidade do

espaço e a respectiva acessibilidade permitindo desta forma, uma ―uma

experiência viva da cidade‖.

Figura 122 – Intervenção Elevado Costa e Silva – X Bienal de Arquitetura –

Artista Luana Geiger. Fonte - Disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,piscina-e-montada-em-cima-do-minhocao,1144198> Imagem: Daniel Teixeira/Estadão. Acesso em: 02 de outubro de 2014.

Figura 123 – Intervenção Elevado Costa e Silva – X Bienal de Arquitetura – Artista Luana Geiger. Fonte - Disponível

em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,piscina-e-montada-em-cima-do-minhocao,1144198> Imagem: Daniel Teixeira/Estadão. Acesso em: 02 de outubro de 2014.

97

Se por um lado a utilização do Minhocão como suporte de intervenções tem

vindo a mobilizar agentes de distintas esferas, por outro, as iniciativas coletivas

que nascem da articulação de moradores se efetivam de forma crescente. Em

2012 aconteceu a primeira Festa Junina no Minhocão. Processo colaborativo, a

iniciativa mobilizou cidadãos animados pelo lema ―A Festa Junina no Minhocão

será dos cidadãos para a cidade e da cidade para cidadãos‖ 54. A iniciativa visa

chamar a atenção para a função social da arte e a relevância da participação

social individual, que constrói a coletiva. É a legitimação de uma identidade

construída, como refere Florida (2011), por meio, da apropriação do espaço

urbano, do exercício do direito à cidade e também, da concretização cultural.

Figura 124 – Festa Junina no Minhocão .

Fonte - Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/foradoeixo/7483683926/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

Figura 125 – Festa Junina no Minhocão .

Fonte - Disponível em: <http://gabrielmedina13.com.br/2012/06/agenda-cultural-2906/> Acesso em: 23 de outubro de 2014

54

Benfeitoria – Mobilização para Projetos de Impacto. Disponível em: <http://benfeitoria.com/festajuninanominhocao>. Acesso: 19 de outubro de 2014.

98

Figura 126 – Divulgação da Festa Junina no Minhocão .

Fonte - Disponível em: <http://gabrielmedina13.com.br/2012/06/agenda-cultural-2906/> Acesso em: 23 de outubro de 2014.

A interação possível entre os prédios (que ladeiam) e o próprio elevado se

resume a uma contemplação (que pode ser mútua), mas, que certamente é

muito mais dos moradores em relação à presença ou a ausência de

automóveis no elevado, do que o contrário. E o que supostamente deveria ser

um brutal contraste (entre o interior dos prédios e o exterior, entre o que é

público e o que é privado), no caso do Minhocão, se confunde pela exagerada

proximidade, pela invasão de uma privacidade inexistente.

Figura 127 – Vista parcial do Minhocão a partir de um dos prédios que ladeiam o Minhocão. Imagens do documentário

Elevado 3.5 dirigido por João Sodré, Maíra Santi Bühler e Paulo Pastorelo. Fonte – Disponível em: <http://colunas.revistaepocasp.globo.com/centroavante/tag/minhocao/> Acesso em 10 de

dezembro de 2014.

99

Figura 128 – Vista parcial do Minhocão a partir de um dos prédios que ladeiam o Minhocão. Imagens do documentário

Elevado 3.5 dirigido por João Sodré, Maíra Santi Bühler e Paulo Pastorelo. Fonte – Disponível em: <http://colunas.revistaepocasp.globo.com/centroavante/tag/minhocao/> Acesso em 10 de

dezembro de 2014.

Figura 129 – Vista parcial de um dos prédios que ladeiam o Minhocão.

Fonte – Disponível em: <http://www.blocob.com.br/2011/08/da-janela-lateral-do-quarto-de-dormir/> Imagem: Coletivo Fotográfico. Acesso em 10 de dezembro de 2014.

A arte, no entanto, mudou a direção deste olhar. O Grupo de Teatro Esparrama

concebeu um espetáculo, ambientado no Minhocão, que discute a convivência

cotidiana com a velocidade, a poluição, o barulho. A narrativa mostra como

esse morador, vizinho do Minhocão, transforma em música essa vivência. A

realidade se mescla à fábula e o prédio se transforma em um castelo. O texto

100

usa o humor e a fantasia para mostrar o caos da metrópole com um olhar

diferente55. A plateia é o chão do Minhocão. O palco se instala em duas

janelas do terceiro andar no Edifício São Benedito e a cenografia se resume a

batentes azuis e uma floreira, além do enfileirado de janelas vizinhas.

Figura 130 – Público e apresentação do Grupo Esparrama no Minhocão.

Fonte – Disponível em: <http://arteessenciadavida.blogspot.com.br/2014/02/grupo-esparrama-da-janela-de-um.html> Acesso em: 08 de novembro de 2014.

Figura 131 – Público e apresentação do Grupo Esparrama no Minhocão.

Fonte – Disponível em: <http://arteessenciadavida.blogspot.com.br/2014/02/grupo-esparrama-da-janela-de-um.html> Acesso em: 08 de novembro de 2014.

55

Grupo Esparrama encena peça em janela do Minhocão - Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2014/01/grupo-esparrama-encena-peca-em-janela-do-minhocao-1686.html>. Acesso: 08 de outubro de 2014.

101

A dramaticidade que o Minhocão atribuiu à região e às suas novas utilizações

foram também apropriadas por cineastas.

Pelo olhar de João Sodré, o documentário Elevado 3.5 traça um panorama da

realidade em primeira pessoa de quem convive com o Minhocão. As distintas

perspectivas mostradas pelo cineasta denunciam enquadramentos

inimagináveis para aqueles que percebem o Minhocão apenas como um

recurso viário.

O elevado serviu de locação para personagens do Ensaio Sobre a Cegueira de

Fernando Meirelles (baseado no livro homônimo de José Saramago) buscarem

uma saída, um novo caminho. O peso da estrutura do Minhocão está presente

no filme Terra Estrangeira de Walter Salles e Daniela Thomas (1995) e é

retratado na dicotomia que a edificação contempla: o barulho e o silencio; a

velocidade e a lentidão; o fluxo e a escassez; a presença e a ausência. Como

pano de fundo (em o Signo da Cidade, de Carlos Alberto Ricceli – 2007), como

cenário romântico (em Estamos Juntos de Toni Venturi – 2011) ou como

espaço de lazer (como em Não Por Acaso, de Philippe Barcinski – 2007) o

Minhocão se presta a construir a realidade urbana com a dramaticidade

inerente a sua presença.

Figura 132 – Cena do Filme Ensaio Sobre a Cegueira.

Fonte – Disponível em: <http://universofantastico.wordpress.com/2008/10/06/so-nao-ve-quem-nao-quer-ensaio-sobre-a-cegueira/> Acesso em: 08 de outubro de 2014.

102

5. Considerações Finais

As transformações econômicas e sociais que grifam o urbano elaboram o que a

Ferrara (1993) chama de a ―história não verbal‖ da cidade. Para além das

motivações socioeconômicas é possível identificar a imagem da cidade, por

meio da realização humana. Na apreensão dessas imagens residem as

representações, que em suas palavras, constituem a linguagem urbana que

não se apreende por meio da abstração, mas, antes, pela recorrência dos fatos

urbanos que inferem e modelam o cotidiano.

Ali, onde é possível fazer a leitura do cotidiano local, o observador manifesta o

seu papel ativo na percepção do mundo por meio de uma participação criativa

no desenvolvimento da imagem ambiental, que afinal, é o resultado de um

processo bilateral entre o observador e o local, reforça Lynch (2011).

Na ―história não verbal‖ da cidade de São Paulo há um episódio de vulto não só

pela dimensão formal que adquiriu, mas, também, por materializar a herança

de um período duro da história recente do Brasil: o Elevado Costa e Silva,

também conhecido como Minhocão.

As prioridades construtivas da administração militar tinham por objetivo ofertar

escoamentos viários em exuberantes equipamentos que revelassem o caráter

de grandiosidade de um país em desenvolvimento. Renunciando a qualquer

condicionante topográfica, visual ou histórica, como refere Zaidler (2014), a

desproporcionalidade do Elevado Costa e Silva em relação à área de

implantação, estabeleceu dois territórios em uma área anteriormente valorizada

da cidade de São Paulo. Além de polarizar a valoração da área (entre maior e

menor valor), a intersecção resultou uma fronteira que materializa a

desproporção, o incômodo e a invasão da privacidade.

Esta, que para Koolhaas (2010), se constitui como uma das categorias

possíveis em arquitetura (a grandeza) e que, para o autor, caminha para a

erradicação pelos atributos que apresenta (imperícia, lentidão, inflexibilidade,

103

entre tantos), é por outro lado, o que instiga o regime da complexidade

mobilizadora em termos da inteligência total da arquitetura e dos seus campos

afiliados.

Argan (1991) no texto o Espaço Visual da Cidade faz a distinção entre a função

e o valor de uma edificação. Embora relacionados, há que distinguir os

conceitos no âmbito urbano. A função é resultado de um projeto, pensado para

atender necessidades e objetivos funcionais. Em relação ao segundo aspecto,

Argan (1991) faz a distinção entre valor (seja estético, formal, histórico) e a

atribuição de valor. Esta concessão só se efetiva por meio da importância que

a totalidade dos usuários de uma cidade é capaz de expressar. O autor refere

que ―devemos levar em conta, então, não o valor em si, mas a atribuição de

valor, venha de quem vier e para o que quer que seja. De fato, o valor de uma

cidade é aquele que a comunidade lhe atribui‖. Nada mais errado do que

identificar função e significado num edifício inserido no contexto urbano. A

função não confere significado, mas, simplesmente a razão de ser. (Argan,

1991 p. 20)

O autor refere ainda que uma arquitetura pode conservar um valor estético,

ainda que a sua funcionalidade não exista mais. Exemplifica esta possibilidade

com o Coliseu, que conservou (e ampliou) o seu valor, embora já não exista a

sua funcionalidade de origem. Por outro lado, o valor estético ou formal pode

preceder à funcionalidade perdida.

Em grande parte, significados e simbolismos hoje associados ao Minhocão nada mais fazem que exacerbar vocações historicamente atribuídas ao eixo da São João: rua desprezada que se quis bulevar, área sempre reproposta para funções de prestígio, e, ao mesmo tempo, sempre reaproveitada para usos ―indesejados‖; vetor de expansão para tudo aquilo que o olhar dominante vê como melhor e pior no centro de São Paulo. (Campos 2008 apud Artigas, 2008 p. 21)

A transformação da linha ferroviária que originou o Promenade Plantée foi

iniciativa pública. O High Line é fruto de uma muito bem sucedida articulação

pública que soube arregimentar força para a sua concretização. É muito claro,

em termos de motivação, as distintas forças propulsoras que deram origem ao

Promenade Plantée e ao High Line. Enquanto a articulação cidadã que resultou

na instalação do High Line constitui uma iniciativa Bottom Up, a efetivação do

104

Promenade Plantée foi um processo que ficou totalmente a cargo da prefeitura,

caracterizando uma iniciativa Top Down. O presente trabalho não pretende

minimizar a assertividade de iniciativas Top Down. Trata-se, sobretudo de uma

reflexão acerca do crescente rol de manifestações diametralmente opostas, as

Botton Up.

O High Line materializa a emergência de um comportamento que se notabilizou

pela abrangência que adquiriu. Entre a antiga linha férrea construída em 1930

(e desativada em 1980) e a articulação empreendida por Robert Hammond e

Joshua David na liderança de um grupo contrário a sua demolição, houve uma

trajetória ―out of the box‖, como refere Leite (2013), através da presença de

personagens locais que alavancaram novos usos e significados,

reprogramando lugares.

Tanto no High Line como no Promenade Plantée é possível à população

usufruir dos equipamentos para o lazer. O High Line, no entanto, além de

ofertar o equipamento, promove também vasta programação e interação com o

entorno e a cidade.

O Minhocão, certamente não se enquadra em nenhuma das referências de

Argan (1991). Há ambiguidades. Embora seja claro que a funcionalidade do

Minhocão não esteja perdida, representando um significativo recurso de

escoamento para o trânsito paulistano, por outro lado, o peso de sua presença

materializou um enorme impacto na região em termos sociais, ambientais e

econômicos.

Enquanto espaço de permanente publicação (o espaço público, do público)

como refere Guatelli (2008), o Minhocão passa paulatinamente a ser visto

como anacrônico, passando a ser objeto de propostas de demolição total ou

parcial, como refere Campos (2008).

Com o novo século, a situação se galvanizou. De um lado, ressuscitou-se mais uma vez a ideia de renovar a área de Santa Ifigênia, transformando a ―cracolândia‖ em Nova Luz; de outro, começou-se a pensar em reaproveitar elementos e situações urbanas até então desprezados, como o próprio Elevado, repropondo-se como ponto de partida para outras visões da cidade. Artistas, cineastas e arquitetos lançam olhares que tentam desvendar essa multiplicidade

105

de sentidos. O Minhocão segue dividindo opiniões, incomodando, revelando diferenças e invertendo valores. (Campos apud Artigas 2008 p. 43)

Apesar da rejeição que o equipamento suscita (diretamente relacionada com o

valor percebido), os usuários souberam reinventar a sua vocação original,

hibridizando usos e legitimando a apropriação em diversos formatos. Tal

capacidade de reinvenção converge para o que Florida (2002) refere sobre a

Classe Criativa e sua vocação para privilegiar a cultura orgânica e vernacular.

Esta expressão artística espontânea é diametralmente oposta ao que Vivant

(2012) chama de cultura instrumentalizada: a produção cultural pasteurizada,

sem conexão.

Converge também para o conceito de Máquina de Guerra em Deleuze (1998

apud Oneto, 2008) que apesar da denominação, contém um sentido bélico-

simbólico em sua essência e se constitui como uma articulada rede cuja

capilaridade alcança de forma transversal a propagação que se deseja. Este

conceito é por definição, como refere Oneto (2008), exterior às diversas formas

de Estado surgidas ao longo da história e se encontra diametralmente oposto

ao seu aparelho.

O Estado é a soberania que está sempre pronta para se apropriar da potência no intuito de interiorizá-la sob a forma de um poder hierarquizado. A forma-Estado tem uma forte tendência a se reproduzir solicitando o reconhecimento público de seus direitos, como uma necessidade – a necessidade da Lei. Mas a máquina de guerra, como pura forma de exterioridade, só aparece e existe em processo, nas suas metamorfoses, como um fluxo com suas regras imanentes: nas informações que circulam na internet, num movimento religioso ou numa manifestação de rua, nas gangues, nos movimentos de sem-terra, sem-teto, sem-voto, sem-formação etc. Sua apropriação ou eliminação pelos aparelhos de Estado é sempre iminente, mas ela acaba implicando abertura para novos fluxos. (Oneto, 2008, p.152)

O Minhocão se por um lado constrói um referencial de apropriação, tem

também nos usuários a diversidade característica desta classe: há skatistas,

grafiteiros, artistas, esportistas, entre tantos outros.

Como referido anteriormente, este trabalho não procurou refletir sobre o que

deve ser feito com a estrutura do Minhocão, embora a discussão tenha estado

106

em pauta muito recentemente com o novo Plano Diretor de São Paulo56,

sancionado pelo Prefeito Fernando Haddad que prevê, entre outras medidas, a

desativação do Minhocão enquanto passagem viária. Importante referir ainda

que, a par desta iniciativa governamental, foi fundada em 2013 a associação

sem fins lucrativos Amigos do Parque Minhocão que tem como objetivo

principal promover a instalação do parque linear. Para a associação o

Minhocão é um ―grande estandarte da cidade‖ que, apesar de materializar a

dinâmica da cidade voltada para o automóvel,

desde a promulgação da lei que o mantém fechado para carros durante as noites e aos domingos, a cidade está sendo testemunha do surgimento de novas apropriações espontâneas desse símbolo de SP: o Minhocão como um espaço de lazer dos moradores, de encontros, de expressão cultural e artística, de esporte. Queremos transformar o Minhocão em um parque linear elevado com ciclovia, criando um espaço público de lazer que reafirma e impulsiona ainda mais a apropriação e ressignificação do lugar pela população, a partir da convicção de que devemos viver em ―cidades

para pessoas‖ 57..

Esta pesquisa procurou antes de tudo, entender o conjunto de manifestações

que o Minhocão alberga, pois, como refere Leite (2013), emerge um poder

contagiante de reinvenção onde é possível se redescobrir a cidade de forma

criativa e inovadora, por meio de situações híbridas contaminadas por pré-

existências e pela emergência do novo: oportunidades, programas, eventos,

pessoas.

A questão da escala, transposta da perspectiva global para a efetivação local,

foi assunto de interesse no percurso do presente trabalho, muito alinhado ao

que refere Madeira (2010) sobre o hibridismo estrutural que, introduz uma

espécie de ―glocalismo‖: ―pensamento global, ação local‖.

A transposição de uma realidade digital emancipadora para a emergência de

uma interação presencial (Leite, 2013), onde as pessoas, cada vez mais,

promovem o convívio e a partilha, também foi de interesse para este trabalho.

É, nas palavras de Leite (2003), o compartilhamento da cooperação: um

56

Projeto de Lei Nº 01-00010/2014 de autoria dos Vereadores José Police Neto (PSD), Nabil Bonduki (PT), Toninho Vespoli (PSOL), Ricardo Young (PPS), Goulart (PSD), Natalini (PV) e Floriano Pesaro (PSDB) que cria o Parque Municipal do Minhocão e Prevê a desativação gradativa do Elevado Costa e Silva. Disponível em: < http://cidadeaberta.org.br/projeto-de-lei-no-01-000102014/>. Acesso: 09 Out 2014. 57

Associação Parque Minhocão - Disponível em: <http://minhocao.org/>. Acesso: 08 de outubro de 2014.

107

urbanismo feito à mão, do tipo ―faça-você-mesmo‖ (Do-It-Yourself – DYI). Uma

espécie de geração Maker Analógica, que ao contrário dos Makers58, vê no

mundo digital apenas como ferramenta pulverizadora das concretizações, da

reinvenção cotidiana, presencial.

Da ocupação do Minhocão emergem, como refere Jonhson (2001), complexas

interações paralelas entre agentes locais, onde é possível verificar um macro

comportamento: o Minhocão como território apropriado na construção e difusão

da cidadania.

58

O que exatamente, define o Movimento Maker? A descrição é ampla e abrange grande diversidade de atividades, desde artesanato clássico até eletrônica avançada, muitas das quais estão por aí há séculos. Porém, os Makers, pelo menos os de que trata este livro, estão fazendo algo novo. Primeiro, usam ferramentas digitais, projetando em computador e produzindo cada vez mais em máquinas de fabricação pessoais. Segundo, como pertencem à geração Web, compartilham instintivamente suas criações on-line. Apenas pelo fato de incluírem no processo a cultura e a colaboração pela Web, os Makers conjugam esforços para construir coisas em escala nunca vista antes em termos de FVM (Faça Você Mesmo). (Anderson, 2013 p.23) Anderson, C. A Nova Revolução Industrial: Makers. São Paulo: Elsevier Editora, 2013. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=J5rOQPDEkNoC&pg=PA23&lpg=PA23&dq=gera%C3%A7%C3%A3o+makers&source=bl&ots=m1jmRGVWQj&sig=RKYlI0zk4JMmanvGl3b9NaFRmcQ&hl=pt-BR&sa=X&ei=OwRgVOLEN4OhgwT5oYS4AQ&ved=0CDYQ6AEwBQ#v=onepage&q=gera%C3%A7%C3%A3o%20makers&f=false>. Acesso em: 09 de novembro de 2014.

108

6. Referências Bibliográficas

ANDERSON, Chris. A Nova Revolução Industrial: Makers. São Paulo:

Elsevier Editora, 2013.

ARGAN, Giulio Carlo. O Espaço Visual da Cidade. Revista de Estudos

Regionais e Urbanos – Ano: XI - São Paulo: Espaços & Debates – Revista de

Estudos Regionais e Urbanos. Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos, 1991.

ARTIGAS, Rosa. Caminhos do Elevado – Memória e Projetos. São Paulo:

Imprensa Oficial, 2008.

AUGÉ, Marc. Não Lugares – Introdução a uma Antropologia da

Supermodernidade. São Paulo: Papirus Editora, 2012.

BARBOSA, Eliana Rosa de Queiroz. Minhocão e suas múltiplas

interpretações. São Paulo: Vitruvius, 2012. Disponível

em:<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.147/4455> Acesso

em: 17 de maio de 2014.

BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. São Paulo: Editora Zahar, 2001.

BENDASSOLLI, Pedro Indústrias Criativas: Definição, Limites e

Possibilidades. São Paulo: RAE, 2009. V. 49 – n.1 jan/mar 2009 – 010.018

Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rae/v49n1/v49n1a03.pdf> Acesso em:

17 de maio de 2014.

CANEVACCI, Massimo A Cidade Polifônica: Ensaio sobre a Antropologia

da Comunicação Urbana. São Paulo: Livros Studio Nobel, 2004. Disponível

em> <

http://books.google.com.br/books?id=W0kP6DobUJYC&pg=PA29&hl=pt-

BR&source=gbs_toc_r&cad=3#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 30 de maio

de 2014.

109

CASTANHEIRA, Elisabete Barbosa. Objeto E Lugar: O Não Presente - Micro

Intervenções Possíveis Para Não-Lugares – São Paulo: Universidade

Presbiteriana Mackenzie, 2013.

_________________ Paisagem Urbana: Leituras Possíveis – São Paulo:

Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013.

CERTEAU, Michel. A invenção do Cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Lisboa: Edições 790, 1971.

FERRARA, Lucrécia D’Alessio. Olhar Periférico. São Paulo: EDUSP – Editora

da Universidade de São Paulo, 1993.

FERREIRA, Pedro Magalhães Guimarães Ferreira. Jesuítas na Ciência. PUC,

2012.

FLORIDA, Richard. A Ascensão da Classe Criativa. Porto Alegre: Editora

L&PM, 2011.

GLAESER, Edward. Os Centros Urbanos – A Maior Invenção da

Humanidade. Rio de Janeiro: Editora Campos, 2011.

GOMES, Pedro Manuel Serrano. As Noções Deleuzo-Guattarianas de

Território e Agenciamento a partir de 1837 – A Lengalenga. Lisboa:

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 2008.

GUATELLI, Igor. Condensadores Urbanos – Baixio Viaduto do Café –

Academia Cora_Garrido. São Paulo: Mack Pesquisa, 2008.

___________, RUBANO, L. M. Os Projetos de Reconfiguração de

Territórios Urbanos: Condições Teóricas. São Paulo: Universidade

Presbiteriana Mackenzie, 2007.

Disponível em: <

110

http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FAU/Publicacoes/PDF_IIIForum

_a/MACK_III_FORUM_IGOR_GUATELLI.pdf> Acesso em: 31 maio 2014.

HADDAD, Evelyn Witt. Inovação Tecnológica em Schumpeter e na Ótica

Neo-Schumpeteriana – Dissertação de Mestrado - Universidade Federal do

Rio Grande do Sul - Porto Alegre – 2010. Disponível em: <

http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/25385/000750582.pdf?sequen

ce=1>. Acesso em: 31 maio 2013.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos – O Breve Século XX – 1914 – 1991.

São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

_______________ Era das Revoluções. São Paulo: Companhia das Letras,

2009.

_______________ Da Revolução Industrial Inglesa Ao Imperialismo. São Paulo:

Companhia das Letras, 2011.

HORTA, Dina Isabel Rodrigues de. Estruturas Industriais Urbanas: O

Emergir de um Novo Conceito Criativo no Projecto de Arquitectura

Paisagista. Dissertação de Mestrado – Arquitetura Paisagística – Faculdade

de Ciência e Tecnologia – Universidade do Algarve. Algarve: Universidade do

Algarve, 2011.

HOWKINS, John. A Economia Criativa. São Paulo: M Books, 2011.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Editora WMF

Martins Fontes, 2013.

JACQUES, Paola Berenstein. Errâncias Urbanas: A Arte de Andar pela

Cidade. ArqTexto, 2005. Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_7/7_Paola%

20Berenstein%20Jacques.pdf> Acesso: 24 de maio de 2014.

111

JARDIM, Renata Maciel. Revitalização de Espaços Urbanos Ociosos como

Estratégia para a Sustentabilidade Ambiental: O Caso do High Line Park

no Contexto do PlaNYC. Dissertação de Mestrado – PUC – RJ - Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio da Janeiro: PUC – RJ - Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2012.

JOHNSON, Steven. Emergência: A Vida Integrada de Formigas, Cérebros,

Cidades e Softwares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

KOOLHAAS, Rem. Três Textos sobre a Cidade. Barcelona: Editorial Gustavo

Gili, 2010.

LAMAS, José Manuel Ressano Garcia. Morfologia Urbana e Desenho da

Cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

LEITE, Carlos de Souza. Cidades Sustentáveis. Cidades Inteligentes. Rio

Grande do Sul: Editora Bookman, 2012.

________ Territórios Híbridos + Reinvenção Urbana: América. São Carlos:

Vírus, n. 9 (Online), 2013.

Disponível em:

<http://www.nomads.usp.br/virus/_virus09/secs/review/virus_09_review_1_pt.p

df>. Acesso em: 09 de novembro de 2014.

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo: Editora WMF Martins

Fontes, 2011.

LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional. São Paulo: Editora Cortez,

2002.

MANZINI, Ennio. Design para a Inovação Social e Sustentabilidade. Rio de

Janeiro: E-Papers, 2008.

112

MADEIRA, Cláudia. Híbrido – Do Mito Ao Paradigma Invasor? Lisboa:

Editora Mundos Sociais, CIES, ISCTE-IUL, 2010.

MAU, Bruce. Massive Change. Londres: Phaidon, 2004.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo:

Editora WMF Martins Fontes, 2011.

MONTENEGRO, Gildo. A Invenção do Projeto. São Paulo: Editora Edgard

Blucher, 2006.

MORIN, Edgar. Introdução Pensamento Complexo. Rio Grande do Sul:

Salina, 2011.

NEVES, Andreia Sofia Felisberto. O Edifício Híbrido Residencial –

Temporalidades Distintas na Vivência da Cidade – Dissertação de Mestrado

– Instituto Superior Técnico – Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa:

Universidade Técnica de Lisboa, 2012.

NESBITT, Kate. Uma Nova Agenda Para a Arquitetura. São Paulo: Editora

Cosac Naify, 2006.

NEWBIGIN, J. A Economia Criativa: Um Guia Introdutório. Reino Unido:

British Council, 2010. Disponível em: <

http://creativeconomy.britishcouncil.org/media/uploads/files/Intro_guide_-

_Portuguese.pdf>. Acesso: 31 de maio de 2014.

ONETO, Paulo Domenech. A Nomadologia de Deleuze-Gattari. Rio de

Janeiro: UFRJ, 2008. Disponível em: < http://uninomade.net/wp-

content/files_mf/112703120549Lugar%20Comum%2023-24_completo.pdf>

Acesso em: 10 de novembro de 2014.

PALLAMIN, Rosa. Arte Urbana ; São Paulo : Região Central (1945 - 1998):

obras de caráter temporário e permanente. São Paulo: FAPESP, 2000.

113

RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Editora Ática,

1993.

REIS, Ana Carla Fonseca. Cidades Criativas – Soluções Inventivas. São

Paulo: Garimpo de Soluções e FUNDARPE, 2010.

____________ Cidades Criativas: Análise de um Conceito em Formação e

da sua Pertinência de sua Aplicação à Cidade de São Paulo. São Paulo:

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo, 2011.

____________ Cidades Criativas – São Paulo: Editora SESI-SP, 2012.

ROSA, Marcos Leite. Micro Planejamento – Práticas Urbanas Criativas –

São Paulo – São Paulo: Cultura, 2011.

RIFKIN, Jeremy. A Terceira Revolução Industrial. São Paulo: M Books, 2012.

SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI – No Loop da Montanha-

Russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

SIMON, Antônio Fernando Bannon. Arquigrafias: O Edifício e o Lugar como

Suporte Gráfico. Dissertação de Mestrado. Rio Grande do Sul: UFRGS, 2006

Disponível em:

<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/11040/000604505.pdf?seque

nce=1> Acesso: 19 de maio de 2014.

SHUMPETER, Joseph. Teoria do Desenvolvimento Econômico. Rio de

Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

____________________Capitalismo, Socialismo e Democracia. São Paulo:

Abril Cultural, 1982.

SUDJIC, Deyan. A Linguagem das Coisas. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,

2008.

114

UNWIN, Simon. A Análise da Arquitetura. Porto Alegre: Editora Bookman,

2013.

Valoura, Leila de Castro. Paulo Freire, o Educador Brasileiro Autor do

Termo Empoderamento, em seu Sentido Transformador. Disponível em:

<http://siteantigo.paulofreire.org/pub/Crpf/CrpfAcervo000120/Paulo_Freire_e_o

_conceito_de_empoderamento.pdf> Acesso: 04 de novembro de 2014.

VIVANT, Elsa. O Que é uma Cidade Criativa. São Paulo: Editora SENAC São

Paulo, 2012.

ZAIDLER JUNIOR, Waldemar. Ratículas: As Superfícies Mudas como Lugar

da Fabulação. Dissertação (Mestrado em Design e Arquitetura) — Faculdade

de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo:

Universidade de São Paulo, 2014.

ZOURABICHVILI, François. O Vocabulário de Deleuze. Campinas: Centro

Interdisciplinar de Estudo em Novas Tecnologias e Informação, 2004.