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Ano I - Nº 7 13 à 19 de Outubro de 2012 D i o c e s e d e S ã o M i g u e l P a u l i s t a Z o n a L e s t e - S ã o P a u l o - C a p i t a l 1ª Leitura: Sabedoria 7, 711 - Salmo Responsorial: Salmo 89 (90) 2ª Leitura: Hebreus 4, 12-13 - Evangelho: Marcos 10, 17-30 Leituras propostas pela Igreja para o domingo 14 de outubro de 2012 28º Domingo do Tempo Comum Ciclo B do Ano Litúrgico como consciência crítica e lúcida. São duas condições para ser sábio hoje. Ter consciência crítica significa olhar a realidade, penetra a aparência até atingir o real. Nós vivemos num mundo de aparência. As academias existem para que os corpos fiquem bonitos e musculosos por fora, mas, e por dentro? Como ficam os músculos do coração, da afetividade, da generosidade, da pureza? Isso não há academia que dê jeito. Se tiverem dinheiro, as mulheres sonham ir até um Pitanguy * para atingir uma aparência sonhada. Mas onde podem encontrar um Pitanguy para os corações, para a bondade, para conseguirem um olhar bonito e transparente? Já repararam o que a TV Globo nos mostra? Daqui a pouco vem o natal com suas vitrines belíssimas. Tudo é apenas aparência. Vivemos num mundo de aparência, um termo técnico é marketing, palavra bonita que nos seduz. Um marqueteiro é capaz de fazer de um lixeiro presidente da república. Mas um sábio vê a aparência, mas quer ver o que existe além dela: uma criança pequena dormindo no colo do pai, nada mais, nossas relações afetivas, nossas tristezas e angústias, ora melhores, ora piores, saudades. De repente, percebemos que a vida é assim, o cotidiano, sonhos que não conseguimos realizar. É a lucidez de se perceber o real. E vem uma frase que eu gosto muito de repetir: toda realidade humana é ambígua, mas não na mesma medida. Lucidez é perceber a ambiguidade das relações humanas, das coisas, e saber discernir quais as partes escuras e rejeitá-las. Misturamos muito nossos afetos, nossos desejos, nossas utopias, nossos sonhos. Isso serve pra tudo: trabalho, vida profissional, lazer, família. Dizemos que amamos infinitamente, mas esse infinito costuma durar alguns minutos ou, no máximo, uma noite. Precisamos começar a trabalhar isso desde a juventude. Não podemos nos deixar iludir pelos engodos, pelas propagandas, pela vacuidade que nos enchem reparem no paradoxo terrível. Vivemos como balões estufados pelo ar do nada. Precisamos da sabedoria da lucidez. Paulo vai continuar dizendo que a palavra é como uma espada que corta. Uma coisa que Freud nos ensinou e eu gosto de repetir muito é que falando, narrando é que conseguiremos nos libertar. Preocupa-me o silêncio dos jovens. Eles não falam; gemem, interneteiam, emitem ruídos, L I T U R G I A I T U R G I A Homilia de J.B. Libanio Paróquia N sa. S ra. de Lourdes Vespasiano-MG mas não falam. Quando não falamos os problemas permanecem como tumores e metástases no interior dos corpos, e não há cirurgiões que consigam arrancá-los, porque não falamos de nossas paixões, de nossos desejos. É nesse sentido que Paulo nos diz que a palavra corta, pois mostra-nos a verdade de nós mesmos e dos outros. Jesus surge no evangelho, que eu acho lindo, se não levado ao pé da letra. Ele não está parado, mas andando. Jesus não está sentado adiposamente num sofá. Quem caminha nunca está acomodado, satisfeito. Quer sempre ir mais longe, está sempre buscando algum lugar, tem uma meta, um objetivo. Aparece um jovem, olha para Jesus e se encanta, mesmo sem conhecer teologia ou saber quem Ele era. Jesus era um homem como qualquer outro, um jovem de trinta anos, se tanto. Mas aquele jovem se dirige a Ele chamando-o de bom mestre, por ter intuído que ali estava uma beleza que ultrapassava essas belezas pequeninas das aparências. Muitos jovens ficam fascinados pela figura de Jesus. Pena que logo se esqueçam. Aquele rapaz começa pedindo a Jesus o caminho da vida e recebe dele uma primeira lição, que seria observar os mandamentos. Ele diz que já os cumpria, e Marcos usa uma expressão bonita, ao dizer que Jesus olhou nos olhos do jovem e o amou. Intuir é entrar dentro. É isso que Jesus faz e percebe que aquele jovem era bom, mas faltava-lhe alguma coisa. Para caminhar, precisamos estar leves, não podemos carregar tralhas inúteis. É isto que Jesus pede ao jovem como condição para segui-lo: largar tudo e viver de maneira simples como Ele. Como muitos de nós, aquele jovem não deu conta e também perdeu o encanto. Para nós aqui e agora, eu digo que ser cristão é muito mais simples do que imaginamos: é nunca parar, como as crianças nunca param talvez por isso Jesus tenha dito que delas é o reino de Deus. As crianças correm fisicamente, mas nós precisamos caminhar, correr, mas espiritualmente. Não podemos parar nunca! Não precisamos dar grandes saltos radicais, mas continuamente devemos nos perguntar se podemos ter relações mais puras, ser melhores profissionais, atender melhor os nossos doentes, ter um olhar diferente para quem dele precisa. O importante é subir um degrau de cada vez, mas nunca desistir, nunca estacionar. Cada um de nós subirá um degrau diferente. O que Deus pede a mim, não pede a você. Uma Teresa de Calcutá subiu a um ponto que poucos de nós conseguiremos subir. Cabe a nós responder: até onde podemos ir? Mas sempre um pouquinho mais, um pouquinho melhor, até o dia em que encontraremos o Senhor na sua plenitude. Amém. As leituras de hoje nos desafiam. Na primeira, Salomão, diante de todo o esplendor e riqueza, no auge do império judaico, percebe que havia uma coisa melhor do que tudo aquilo, que era a sabedoria. É isso que ele pede a Deus, e a recebe. O que seria sabedoria nos dias de hoje? Em português moderno, para o século XXI, eu traduziria Padre João Batista Libânio * Referência ao cirurgião plástico mineiro Ivo Pitanguy Com muita alegria apresentamos o nosso 7º Informativo IPDM, agradecendo, mais uma vez, a todos os votos de apoio incentivo que recebemos frequentemente. Neste número, trazemos duas reflexões litúrgicas riquíssimas, que por certo enriquecerão ainda mais nossos conhecimentos. Padre Libânio, como sempre, faz uma leitura sob a ótica da Sabedoria que devemos buscar e chama nossa atenção para os jovens em suas formas de expressão. Pagola, por sua vez, nos leva a refletir sobre nossa impulsividade para o consumo, que nos distancia cada vez mais da partilha com os necessitados, e do compromisso com a construção do Reino de Jesus.Somos uma Igreja, Povo de Deus em perene movimento. Veja em nossa agenda nossas próximas atividades e ajude-nos a divulgá-las. Teremos dois grandes momentos nos meses de outubro e novembro. Veja nossa agenda e programe-se já para não perder estas duas importantes datas nas quais poderemos estreitar ainda mais nossas amizade e unidade na construção do Reino de Jesus. De esperança em esperança, na esperança sempre. Equipe de Redação Vivemos como balões estufados pelo ar do nada. Precisamos da sabedoria da lucidez ! (JB Libânio)

Precisamos da sabedoria da lucidez! (JB Libânio) · 2012-10-14 · primeira lição, que seria observar os mandamentos. Ele diz que já os cumpria, e Marcos usa uma expressão bonita,

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Ano I - Nº 7 13 à 19 de Outubro de 2012

D i o c e s e d e S ã o M i g u e l P a u l i s t a – Z o n a L e s t e - S ã o P a u l o - C a p i t a l

1ª Leitura: Sabedoria 7, 7–11 - Salmo Responsorial: Salmo 89 (90)

2ª Leitura: Hebreus 4, 12-13 - Evangelho: Marcos 10, 17-30

Leituras propostas pela Igreja para o domingo 14 de outubro de 2012

28º Domingo do Tempo Comum – Ciclo B do Ano Litúrgico

como consciência crítica e lúcida. São duas condições para ser sábio hoje. Ter consciência crítica significa olhar a realidade, penetra a aparência até atingir o real. Nós vivemos num mundo de aparência. As academias existem para que os corpos fiquem bonitos e musculosos por fora, mas, e por dentro? Como ficam os músculos do coração, da afetividade, da generosidade, da pureza? Isso não há academia que dê jeito. Se tiverem dinheiro, as mulheres sonham ir até um Pitanguy* para atingir uma aparência sonhada. Mas onde podem encontrar um Pitanguy para os corações, para a bondade, para conseguirem um olhar bonito e transparente? Já repararam o que a TV Globo nos mostra? Daqui a pouco vem o natal com suas vitrines belíssimas. Tudo é apenas aparência. Vivemos num mundo de aparência, um termo técnico é marketing, palavra bonita que nos seduz. Um marqueteiro é capaz de fazer de um lixeiro presidente da república. Mas um sábio vê a aparência, mas quer ver o que existe além dela: uma criança pequena dormindo no colo do pai, nada mais, nossas relações afetivas, nossas tristezas e angústias, ora melhores, ora piores, saudades. De repente, percebemos que a vida é assim, o cotidiano, sonhos que não conseguimos realizar. É a lucidez de se perceber o real. E vem uma frase que eu gosto muito de repetir: toda realidade humana é ambígua, mas não na mesma medida. Lucidez é perceber a ambiguidade das relações humanas, das coisas, e saber discernir quais as partes escuras e rejeitá-las. Misturamos muito nossos afetos, nossos desejos, nossas utopias, nossos sonhos. Isso serve pra tudo: trabalho, vida profissional, lazer, família. Dizemos que amamos infinitamente, mas esse infinito costuma durar alguns minutos ou, no máximo, uma noite. Precisamos começar a trabalhar isso desde a juventude. Não podemos nos deixar iludir pelos engodos, pelas propagandas, pela vacuidade que nos enchem – reparem no paradoxo terrível. Vivemos como balões estufados pelo ar do nada. Precisamos da sabedoria da lucidez.

Paulo vai continuar dizendo que a palavra é como uma espada que corta. Uma coisa que Freud nos ensinou e eu gosto de repetir muito é que falando, narrando é que conseguiremos nos libertar. Preocupa-me o silêncio dos jovens. Eles não falam; gemem, interneteiam, emitem ruídos,

L I T U R G I A

I

T

U

R

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I

A

Homilia de J.B. Libanio

Paróquia Nsa.

Sra.

de Lourdes Vespasiano-MG

mas não falam. Quando não falamos os problemas permanecem como tumores e metástases no interior dos corpos, e não há cirurgiões que consigam arrancá-los, porque não falamos de nossas paixões, de nossos desejos. É nesse sentido que Paulo nos diz que a palavra corta, pois mostra-nos a verdade de nós mesmos e dos outros.

Jesus surge no evangelho, que eu acho lindo, se não levado ao pé da letra. Ele não está parado, mas andando. Jesus não está sentado adiposamente num sofá. Quem caminha nunca está acomodado, satisfeito. Quer sempre ir mais longe, está sempre buscando algum lugar, tem uma meta, um objetivo. Aparece um jovem, olha para Jesus e se encanta, mesmo sem conhecer teologia ou saber quem Ele era. Jesus era um homem como qualquer outro, um jovem de trinta anos, se tanto. Mas aquele jovem se dirige a Ele chamando-o de bom mestre, por ter intuído que ali estava uma beleza que ultrapassava essas belezas pequeninas das aparências. Muitos jovens ficam fascinados pela figura de Jesus. Pena que logo se esqueçam. Aquele rapaz começa pedindo a Jesus o caminho da vida e recebe dele uma primeira lição, que seria observar os mandamentos. Ele diz que já os cumpria, e Marcos usa uma expressão bonita, ao dizer que Jesus olhou nos olhos do jovem e o amou. Intuir é entrar dentro. É isso que Jesus faz e percebe que aquele jovem era bom, mas faltava-lhe alguma coisa. Para caminhar, precisamos estar leves, não podemos carregar tralhas inúteis. É isto que Jesus pede ao jovem como condição para segui-lo: largar tudo e viver de maneira simples como Ele. Como muitos de nós, aquele jovem não deu conta e também perdeu o encanto.

Para nós aqui e agora, eu digo que ser cristão é muito mais simples do que imaginamos: é nunca parar, como as crianças nunca param – talvez por isso Jesus tenha dito que delas é o reino de Deus. As crianças correm fisicamente, mas nós precisamos caminhar, correr, mas espiritualmente. Não podemos parar nunca! Não precisamos dar grandes saltos radicais, mas continuamente devemos nos perguntar se podemos ter relações mais puras, ser melhores profissionais, atender melhor os nossos doentes, ter um olhar diferente para quem dele precisa. O importante é subir um degrau de cada vez, mas nunca desistir, nunca estacionar. Cada um de nós subirá um degrau diferente. O que Deus pede a mim, não pede a você. Uma Teresa de Calcutá subiu a um ponto que poucos de nós conseguiremos subir. Cabe a nós responder: até onde podemos ir? Mas sempre um pouquinho mais, um pouquinho melhor, até o dia em que encontraremos o Senhor na sua plenitude.

Amém.

As leituras de hoje nos desafiam. Na primeira, Salomão, diante de todo o esplendor e riqueza, no auge do império judaico, percebe que havia uma coisa melhor do que tudo aquilo, que era a sabedoria. É isso que ele pede a Deus, e a recebe. O que seria sabedoria nos dias de hoje? Em português moderno, para o século XXI, eu traduziria

Padre João Batista Libânio

*Referência ao cirurgião plástico mineiro Ivo Pitanguy

Com muita alegria apresentamos o nosso 7º Informativo IPDM, agradecendo, mais uma vez, a

todos os votos de apoio incentivo que recebemos

frequentemente. Neste número, trazemos duas reflexões litúrgicas

riquíssimas, que por certo enriquecerão ainda mais

nossos conhecimentos. Padre Libânio, como sempre,

faz uma leitura sob a ótica da Sabedoria que devemos buscar e chama nossa atenção para os

jovens em suas formas de expressão.

Pagola, por sua vez, nos leva a refletir sobre nossa impulsividade para o consumo, que nos distancia

cada vez mais da partilha com os necessitados, e do

compromisso com a construção do Reino de

Jesus.Somos uma Igreja, Povo de Deus em perene movimento. Veja em nossa agenda nossas próximas

atividades e ajude-nos a divulgá-las. Teremos dois

grandes momentos nos meses de outubro e novembro. Veja nossa agenda e programe-se já para

não perder estas duas importantes datas nas quais

poderemos estreitar ainda mais nossas amizade e unidade na construção do Reino de Jesus.

De esperança em esperança, na esperança

sempre.

Equipe de Redação

Vivemos como balões estufados pelo ar do nada. Precisamos da sabedoria da lucidez! ( JB Libânio)

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L I T U R G I A

Antes que Jesus se pusesse a caminho, um desconhecido se aproxima Dele correndo. Esta com muita pressa para resolver seu problema e Lhe pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Não lhe preocupam os problema desta vida. É rico. Tem tudo resolvido.

Jesus o coloca diante da Lei de Moisés. Curiosamente, não lhe faz lembrar dos dez mandamentos, mas apenas daqueles que proíbem agir contra o próximo. O jovem é um bom homem, observador fiel da religião judia e diz a Jesus: “Tudo isto tenho observado desde pequeno”. Jesus o olha com muito carinho. É admirável a vida de uma pessoa que nunca causou dano a ninguém. Jesus quer atraí-lo para que colabore com seu projeto de construir um mundo mais humano, e lhe faz uma proposta surpreendente: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, depois vem e segue-me!”

O rico possui muitas coisas, mas lhe falta a única que permite seguir Jesus de verdade. É bom, mas vive apegado ao dinheiro. Jesus lhe pede que renuncie sua riqueza e a coloque a serviço dos pobres. Somente compartilhando o que é seu com os necessitados, poderá seguir a Jesus colaborando com seu projeto.

O Jovem se sente incapaz. Tem necessidade de seu bem-estar. Não tem força suficiente para viver sem sua riqueza. Seu dinheiro está acima de tudo. Renuncia seguir a Jesus. Tinha vindo correndo e entusiasmado para aproximar-se de Jesus. Agora se afasta triste. Não conhecerá nunca a alegria de colaborar com Jesus.

As crises econômicas nos estão convidando, seguidores de Jesus, a dar passos rumo a uma vida mais sóbria, para compartilhar com os necessitados o que temos e não necessitamos para viver com dignidade. Temos que nos perguntar com muita clareza se queremos seguir a Jesus nestes momentos.

Primeiro, devemos revisar nossa relação com o dinheiro: O que fazer com nosso dinheiro? Para que poupar? Investir em que? Com quem compartilhar o que não necessitamos? Em seguida, revisar nosso consumo para torná-lo mais responsável e menos compulsivo e supérfluo. O que compramos? Onde compramos? Para que compramos? A quem podemos ajudar a comprar aquilo que precisa? São Perguntas que temos de fazer a nós mesmos no fundo de nossa consciência e também em nossa família, comunidades cristãs e instituições da Igreja.

Não praticaremos gestos heroicos, mas daremos passos, ainda que pequenos, nesta direção e conheceremos a alegria de seguir a Jesus contribuindo para tornar as crises de alguns um pouco mais humana e suportável. Se não for assim, nos sentiremos bons cristãos; mas à nossa religião faltará alegria.

Um estranho vazio Vivemos na “cultura do ter”. Isto é o que afirmam de

diversas maneiras, quase todos os estudos que analisam a sociedade ocidental. Pouco a pouco o estilo de vida do homem contemporâneo vai sendo orientado pelo ter, controlar e possuir. Para muitos esta é a única tarefa tentável e sensata. Todo o resto vem depois.

Certamente, ganhar dinheiro, poder comprar e possuir todo tipo de bem, produz bem estar. A pessoa se sente mias segura, mais importante, com maior poder e prestigio. Mas quando a vida se orienta apenas na direção do possuir e controlar mais e mais, a pessoa pode acabar arruinando seu ser.

O ter não basta, não sustenta o individuo, não o faz crescer. Sem se dar conta, a pessoa vai introduzindo cada vez mais necessidades artificiais em sua vida, pouco a pouco vai esquecendo o essencial.

Se cerca de objetos, mas se incapacita para relações vivas com as pessoas. Se preocupa com muitas coisas mas não cuida do mais importante. Pretende responder a seus desejos mais profundos satisfazendo necessidades periféricas. Vive no bem-estar, mas não se sente bem.

Este é, precisamente, um dos fenômenos mais paradoxais da sociedade atual: o número de pessoas “satisfeitas” que terminam caindo em depressão e no vazio existencial. A partir de sua ampla e reconhecida obra psicoterapeuta, Viktor Frankl tem mostrado a razão última deste “vazio existencial”. Colhidas pelo bem-estar, estas pessoas esquecem que, para se realizar, o individuo precisa sair de si mesmo, servir a uma causa, entregar-se, amar alguém, compartilhar. Sem esta “auto-transcendência” não há a verdadeira felicidade.

Deste vazio, nem a religião o liberta, quando também ela também se converte em um objeto de consumo. A pessoa “tem” então, uma religião, mas seu coração está longe de Deus, possui um catálogo de verdades que confessa com os lábios, mas não se abre à verdade de Deus. Trata de acumular méritos mas não cresce em capacidade de amar.

É significativa a cena evangélica. Um rico se aproxima de Jesus. Não lhe pergunta por esta vida, pois a tem assegurada. O que quer, é que a religião lhe assegure a vida eterna. Jesus lhe fala claramente: “Uma coisa te falta: libertar-se de teus bens e aprender a compartilhar com os necessitados”.

A mudança fundamental A mudança fundamental à qual nos chama Jesus é clara.

Deixar de ser egoístas que veem os demais em função de seus próprios interesses para iniciar uma vida mais fraterna e solidária. Por isso, a um homem rico que observa fielmente todos os preceitos da lei, mas que vive fechado em sua própria riqueza, lhe falta algo essencial para ser discípulo seu: compartilhar o que tem com os necessitados.

Há algo muito claro no Evangelho de Jesus. A vida não nos foi dada para fazer dinheiro, para ter êxito ou para lograr bens pessoais, mas sim para sermos irmãos. Se pudéssemos ver o projeto de Deus com a transparência com que Jesus o vê, e compreender com apenas uma olhada o fim último da existência, nos daríamos conta de que o mais importante é criar fraternidade. O amor fraterno que nos leva a compartilhar o nosso com os necessitados é “a única força de crescimento”, o único que faz a humanidade avançar decisivamente para a salvação. O homem perfeito não é, como as vezes se pensa, aquele que consegue acumular maior quantidade de dinheiro, mas sim o que sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna. Por isso quando alguém renuncia pouco a pouco à fraternidade e vai se fechando em sua próprias riquezas e interesses, sem resolver o problema do amor, acaba fracassando como homem. Ainda que viva observando fielmente uma normas de conduta religiosas, ao encontrar-se com o Evangelho descobrirá que em sua vida não há a verdadeira alegria, e se afastará da mensagem de Jesus com a mesma tristeza daquele homem que “se foi triste porque era muito rico”.

Frequentemente, nos cristãos nos instalamos comodamente em nossa religião, sem reagir diante da chamada do Evangelho e sem buscar nenhuma mudança decisiva em nossas vidas. Temos “rebaixado” o Evangelho acomodando-o aos nosso interesses. Mas essa religião não pode ser fonte de alegria. Nos deixa tristes e sem consolo verdadeiro.

Ante o Evangelho temos de perguntar sinceramente se nossa maneira de ganhar e de gastar dinheiro é a de quem sabe compartilhar ou a de quem só busca acumular. Se não sabemos dar o que é nosso ao necessitado, algo essencial nos falta para viver com alegria cristã.

*Tradução para o português feita pela equipe de redação.

Em www.musicaliturgica.com 11/10/2012

José Antonio Pagola

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O U T U B R O 2012

Dia 16

Terça-Feira

20h00

REUNIÃO DA COORDENAÇÃO – IPDM

Paróquia São Francisco de Assis – Vila Guilhermina

Praça Porto Ferreira nº 48 – Próximo ao Metrô Guilhermina Esperança

Dia 20

Sábado

8h00

às

12h00

2º encontrão IPDM com a juventude

“O Resgate Histórico da Pastoral da Juventude”

Assessores:

Renato Almeida – Instituto Paulista de Juventude - IPJ

Rogério de Oliveira – Assessor da PJ no Regional Sul 1 da CNBB

Igreja Santuário Nossa Senhora da PazAv. Maria Luiza Americano nº 1550 – Cidade Líder

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através dos e-mails:

[email protected][email protected][email protected]

Dia 26

Sexta-Feira

9h00

Reunião dos padres e religiosos do IPDM

N o v e m b r o 2012

Dia 15

Quinta-Feira

(feriado)

8h30

às

13h00

Grande Encontro com o Filósofo, Teólogo e Escritor

Padre João Batista Libânio

Tema do Encontro:

Vaticano II 50 anos:

Da Igreja que temos para a Igreja que queremos.

Local: Igreja Santuário Nossa Senhora da Paz Av. Maria Luiza Americano, 1550 - Cidade Líder – São Paulo – SP

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através dos e-mails:

[email protected]

“De esperança em esperança, na esperança sempre”

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