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PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM · 2018-04-17 · estreitamente ligada ao surgimento do Plano de Reforma Longevin-Wallon nos anos de 1946 e 1947. Nesta perspectiva, Mainardes (2009)

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PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO

DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL

CICLOS III E IV

BELÉM-PARÁ 2012

PREFEITO DE BELÉM

Duciomar Gomes da Costa

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO Therezinha Moraes Gueiros

DIRETORA DA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO - DIED Odozina Farias Braga

COORDENAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES Iris Amaral de Sousa

EQUIPE TÉCNICA DE ENSINO FUNDAMENTAL Ana Vasti Freitas de Paula

Andrea Souza de Albuquerque Benedito Fialho Machado

Bianca Venturieri Dionelpho Machado e Cunha Júnior

Edilson Pereira Palheta Ednéa Maria Martins de Azevedo

Elienae da Costa Nascimento Evaldo Ferreira Rodrigues

Iris Amaral de Sousa Jorgete Maria Portal Lago

Kátia Regina Macedo Tavares Madalena Corrêa Pavão

Maria Adelaide Araujo Monteiro Maria de Fátima Avelar Barbosa Maria de Fátima Cravo de Sousa

Maria de Fátima de Oliveira Teixeira Marilza Pontes dos Santos

Nazaré do Socorro Favacho Cezar Raquel dos Anjos Veiga

Rosivaldo Sacramento Caldas Valéria Maria Marques Fernandes

Wilma Célia Marques Ribeiro Zanete Almeida Gusmão

FICHA TÉCNICA PRODUÇÃO TEXTUAL: Equipe Técnica de Ensino Fundamental - ETEF Centro de Formação de Professores Equipe Técnica de Educação Especial – ETEE Núcleo de Informática Educativa – NIED Conselho Municipal de Educação Educadores das Escolas Municipais de Belém SISTEMATIZAÇÃO DO TEXTO Andrea Souza de Albuquerque, Bianca Venturieri, Dionelpho Machado e Cunha Júnior, Evaldo Ferreira Rodrigues, Ednéa Maria Martins de Azevedo, Elienae da Costa Nascimento, Iris Amaral de Sousa, Jorgete Maria Portal Lago, José Pedro Garcia, Maria Adelaide Monteiro, Maria de Fátima Cravo, Maria de Fátima Teixeira, Madalena Corrêa Pavão, Rosivaldo Sacramento Caldas, Valéria Marques Fernandes, Walter Gomes Rodrigues Junior, Zanete Almeida Gusmão, Ricardo Torres, Miguel Brito Picanço, Carlos Roberto da Silva Ferreira, Liliane Barros Fiúza de Melo Cassiano, José Anchieta de Oliveira Bentes, Elisabeth Pessoa Gomes da Silva, José Maria de Souza Cravo, Luiza Maria Pereira da Silva. FICHA CATALOGRÁFICA CORREÇÃO ORTOGRÁFICA Maria Auxiliadora Brito de Sousa CAPA Dionelpho Machado Junior, Walter Junior, Elienae Nascimento

FOTO Arquivo: ACOM/SEMEC

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................

1. A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS CICLOS DE FORMAÇÃO .......................

1.1. Antecedentes Históricos ...................................................................................

1.2. Décadas de 80 e 90: as experiências de ciclo no País ....................................

1.3. A Implantação dos Ciclos na Rede Municipal de Educação de Belém ...........

2. PRESSUPOSTOS DOS CICLOS DE FORMAÇÃO ......................................................

2.1. Perspectivas do Desenvolvimento Humano .....................................................

2.2. Desenvolvimento Humano e Ciclos de Formação ............................................

2.3. Inclusão Social ..................................................................................................

2.3.1. Por uma Educação Inclusiva ...............................................................

2.3.2. As Relações Etnicorraciais ................................................................

2.4. Educação Ambiental .........................................................................................

2.4.1. Breve histórico da Educação Ambiental no Brasil ..............................

2.4.2. A Educação Ambiental na Escola .......................................................

2.5. Interdisciplinaridade ..........................................................................................

3. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO .................................................................................

3.1. LINGUAGENS ..................................................................................................

3.1.1. Língua Portuguesa ..............................................................................

3.1.2. Ensino de Artes ...................................................................................

3.1.3. Educação Física ..................................................................................

3.1.4. Língua Estrangeira Moderna ...............................................................

3.2. CIÊNCIAS HUMANAS ......................................................................................

3.2.1. História ................................................................................................

3.2.2. Geografia ............................................................................................

3.2.3. Filosofia ...............................................................................................

3.2.4. Sociologia ............................................................................................

3.2.5. Ensino Religioso .................................................................................

3.3. CIÊNCIAS DA NATUREZA ...............................................................................

3.3.1. Ciências Naturais ................................................................................

3.4. MATEMÁTICA ..................................................................................................

3.4.1. O Ensino da Matemática .....................................................................

4. MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................

5. METODOLOGIA .............................................................................................................

6. AVALIAÇÃO ...................................................................................................................

7. BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................

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INTRODUÇÃO

As Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de

Educação (SEMEC) tomam como base o Desenvolvimento Humano, a história social do

conhecimento; a diversificação nas novas formas de ensinar e aprender, bem como as

exigências de um ensino mais democrático, includente e de acesso a todos os cidadãos

da sociedade brasileira e, em particular, da paraense e local.

Ao serem proposta as Diretrizes para o ensino fundamental, no âmbito da

Rede Municipal de Educação de Belém (RMEB), as atenções voltam-se para a

necessidade do aprofundamento ao debate sobre a organização do tempo e do espaço

educativo, do ensino e da própria instituição escolar.

Dentro desse contexto destacamos a organização do ensino em ciclos que,

no Brasil, remonta ao início do século XX ao desencadear discussões e debates sobre

a perspectiva de superar os altos índices de reprovação e fracasso escolar nos anos

iniciais de escolarização do regime seriado. No entanto, é com a implantação do Ciclo

Básico de Alfabetização (CBA), no ano de 1984, na Rede Estadual de Ensino de São

Paulo, que se tem, de fato, o início de uma experiência diferenciada com relação à

organização do ensino, que foi seguida por outras gestões públicas como foi o caso dos

Estados de Minas Gerais, Paraná e Goiás.

Não poderíamos deixar de destacar a questão da flexibilização que também

se encontra inserida nesta discussão, uma vez que no Brasil historicamente a mesma

tem sido usada, ora para justificar a permanência e sucesso dos alunos na escola, ora

para garantir um modelo educacional que se preocupa apenas com a questão

financeira quando propõe a redução de custos ao se aprovar em massa os alunos, sem

que se tenham claros os critérios de progressão, em detrimento ao princípio da

democratização do acesso ao conhecimento e das oportunidades de aprendizagem.

Entendemos que o processo de reorientação curricular deve enveredar-se

por um caminho cuja relação teórico-prática deve ser a mola propulsora nessa

discussão, a fim de contribuir para a superação da fragmentação do conhecimento que

ainda está presente em algumas práticas pedagógicas desenvolvidas no ambiente

escolar. Em função disto, a preocupação com a prática curricular ganha destaque, fruto

que é das contribuições teórico-críticas sobre a educação, da análise do currículo como

objeto social e da prática criada em torno do mesmo.

Este processo, por conseguinte, exige a construção de trabalhos coletivos,

cooperativos, participativos, críticos, criativos e inovadores cujas multidimensões

construídas em torno dele devem convergir em pontos comuns, os quais contribuem

para os avanços significativos em prol da concretização de uma educação de qualidade

e da democratização do saber aos cidadãos, independente de crenças, raça e gênero.

O referido processo deve ser entendido como um movimento dialógico que

garante a autonomia dos educadores e das escolas, a fim de criar possibilidades por

meio de ações técnico-pedagógicas que superem os problemas relacionados à prática

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educacional desenvolvida pelos educadores nas escolas municipais.

Para a construção dessa Diretriz Curricular, além da coordenação e

contribuição dos profissionais da Equipe Técnica do Ensino Fundamental (ETEF),

procurou-se ampliar o nível de participação com a inclusão de outras equipes técnicas

como a ETEE (Equipe Técnica de Educação Especial), Centro de Formação, o NIED

(Núcleo de Informática Educativa), o Conselho Municipal de Educação e de educadores

que fazem parte das escolas municipais de Belém, colaborando nas discussões de

acordo com suas áreas de conhecimento, cuja intenção foi absorver as teorias

educacionais e do conhecimento e relacioná-las às práticas vivenciadas nas escolas

pelos professores, gestores e alunos de forma a legitimar os aspectos da educação, do

ensino e da aprendizagem.

Entretanto, não consideramos que esta proposta esteja com seus contornos

acabados. Sabe-se que qualquer orientação curricular só ganha vida no diálogo

permanente com os educadores que, de fato, exercitam e fazem um currículo em

construção permanente.

Por outro lado, ao procurar organizá-lo a partir de uma perspectiva critica,

tornou-se uma necessidade, uma vez que não há como fazer educação hoje, sem

considerar os aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais em que a educação e o

ato pedagógico estão implicados.

Com vistas a atingir esses objetivos apresentamos este documento que está

organizado em 06 (seis) partes, assim distribuídas:

Na primeira, apresentamos a contextualização histórica dos ciclos de

formação, ao desenvolvermos um diálogo sobre a organização do ensino em ciclos,

seus antecedentes históricos e, no Brasil, com destaque para as décadas de 80 e 90 do

século passado, finalizando com o estudo sobre a experiência do ciclo vivenciado no

município de Belém a partir da década de 90 na sua rede de escolas.

Na segunda – pressupostos dos ciclos básicos – discorremos, com base nos

referenciais teóricos sustentados em Piaget, Vygotsky, Wallon, Riegel, Valsiner e

Bronfenbrenner, sobre os pressupostos que norteiam o desenvolvimento humano e sua

conexão com as questões referentes aos ciclos de formação, à inclusão, às relações

étnico-raciais e à educação ambiental.

Na terceira – áreas do conhecimento – serão abordados aspectos teórico-

práticos das áreas de Linguagens, na qual encontram-se as disciplinas Língua

Portuguesa, Ensino da Arte, Educação Física e Língua Estrangeira Moderna; Ciências

Humanas composta das disciplinas História, Geografia, Filosofia, Sociologia e Ensino

Religioso; Ciências da Natureza com a disciplina Ciências e, por último, Matemática.

Na quarta, apresentamos a Matriz Curricular do Ensino Fundamental

desenhada em três quadros. O primeiro refere-se aos Ciclos de Formação I e II, o

segundo aos Ciclos de Formação III e IV como se encontra atualmente, e um terceiro

dos Ciclos III e IV com uma nova organização que suprime o turno intermediário. Todos

representados pelas disciplinas, carga horária e tempo de aula organizado segundo

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legislação educacional em vigência.

Na quinta – Metodologia – descrevemos algumas alternativas metodológicas

para encaminhamento do trabalho com os Ciclos de Formação, quer seja na

perspectiva da pedagogia de projetos, quer seja na perspectiva do tema gerador e/ou

eixos temáticos.

Na última parte – Avaliação - analisaremos as questões avaliativas que se

encontram no cerne dos ciclos de formação, tais como: as instâncias de avaliação da

ação escolar (Conselho Escolar e Conselho de Ciclo), o Projeto Pedagógico de

Intervenção e os instrumentos de registro da avaliação.

Esperamos que estas Diretrizes contribuam para a melhoria da educação

como proposta a ser discutida, refletida, exercitada e aperfeiçoada no cotidiano das

escolas.

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1. A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS CICLOS DE FORMAÇÃO

O percurso histórico sobre a implantação dos Ciclos de Formação, no Brasil,

concretizou-se a partir da década de 80 do século XX e se estende até os dias atuais

sofrendo alterações no decorrer do movimento histórico. Porém, sua origem está ligada,

principalmente, aos países da Europa com a ideia de flexibilização do tempo escolar.

1.1. Antecedentes Históricos

Na França do século XX, a ideia de escola organizada em ciclos esteve

estreitamente ligada ao surgimento do Plano de Reforma Longevin-Wallon nos anos de

1946 e 1947. Nesta perspectiva, Mainardes (2009) afirma que apesar do referido plano

não ter sido aplicado de fato, o mesmo tornou-se referência na área da educação.

Para o referido autor, este plano ao apregoar uma reforma completa do

ensino, partindo do nível maternal ao ensino superior, garantia princípios gerais que

estavam assentados na “justiça, democratização do ensino, valorização das aptidões

individuais, desenvolvimento de uma cultura geral sólida e o aperfeiçoamento contínuo

do cidadão e do trabalhador” (p.52).

Neste plano o ensino estava organizado em ciclos assim distribuídos: 1º

ciclo, chamado de ciclo de orientação, correspondente aos alunos entre as idades de

07 a 11 anos; 2º ciclo, chamado de ciclo de determinação, que incluía alunos de 11 a

15 anos e, finalmente, o 3º ciclo, de 15 a 18 anos, chamado também de ciclo de

determinação.

Com a renovação da escola primária francesa, no ano de 1989, os ciclos

foram retomados e organizados da seguinte forma: ciclo 1, era o ciclo das primeiras

aprendizagens e absorvia alunos entre 3 a 5 anos de idade; ciclo 2, com alunos entre 5

a 8 anos de idade, chamados de ciclos das aprendizagens fundamentais e o ciclo 3,

chamado de ciclo de aprofundamento, com alunos entre as idades de 8 a 11 anos.

Tudo isso para garantir “a continuidade das aprendizagens; evitar a ruptura e

a fragmentação dos percursos escolares e respeitar os ritmos e as especificidades dos

alunos” (MAINARDES, 2009, p. 53).

Com relação à organização do ensino em ciclo no Brasil podemos afirmar

que o termo “ciclo” aparece com a Reforma Francisco Campos na década de 30 do

século XX e com a promulgação das Leis Orgânicas do Ensino da Reforma Capanema

na década de 40 do mesmo século. Em ambas as situações, as organizações do

ensino serviam para se referir a agrupamentos dos anos de estudo.

O ciclo, como forma de designar políticas de não reprovação, surgiu no ano

de 1984 com a implantação do Ciclo Básico de Alfabetização (CBA) na Rede de Ensino

do Estado de São Paulo, o qual serviu de referência para que outros Estados

implantassem o ensino em ciclos.

Muito embora já existisse a sistemática do trabalho seriado juntamente com a

criação dos grupos escolares e o sistema de promoção de alunos de uma série para a

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outra, na década de 30 essa organização trouxe em seu bojo problemas de várias

ordens, tais como: as taxas de evasão, de reprovação e falta de vagas nas escolas que

foram se aprofundando com o decorrer do tempo. A solução dos mesmos ficou por

conta de medidas de promoção de todos os alunos e promoção em massa. É

importante destacar, que tais medidas foram implementadas por autoridades do campo

educacional do Estado de São Paulo sem serem discutidas com os professores,

gestores escolares e demais membros da comunidade escolar.

Como consequência disto, a promoção em massa de todos os alunos

acabou por nivelá-los e, como compreendemos, em condições e níveis de

aprendizagem diferentes, com qualidades e poucas dificuldades para uns e com baixa

qualidade e dificuldades para outros, pois no geral, não avaliavam por critérios

claramente definidos. Adicionado a isso, o fato de não ter havido a participação dos

educadores, na construção dessa diretriz educacional, contribuiu para que tais

propostas fracassassem como ocorreu na maioria dos casos em nosso sistema

educacional brasileiro.

Mais tarde, durante a década de 1950 e 1960, essa discussão foi retomada

por políticos e educadores, desta vez tendo como foco a promoção automática. Neste

sentido, alguns intelectuais e políticos à época chamavam atenção que ao ser adotada

a promoção automática, algumas medidas deviam ser antecipadas como a formação

dos professores e a melhoria da infraestrutura das escolas. E, isso implicaria rever o

conceito de educação e torná-la um serviço obrigatório, sendo que desta forma a

promoção automática seria algo resultante da excelência da escola.

A prerrogativa da promoção automática gerou conflito de posições e de

ideias entre a classe intelectual e a classe política, sendo que os intelectuais entendiam

que tais medidas eram tentativas precárias de se resolver os problemas do ensino,

enquanto que para os políticos eram medidas ideais de superação dos índices de

reprovação e do desperdício de recursos financeiros.

Em meio a esse conflito, muitos políticos e intelectuais defendiam a ideia de

eliminar os exames e o sistema seriado de forma cuidadosa, pois primeiramente

deveriam ser criadas escolas primárias modelos com revisão do currículo, confecção de

materiais pedagógicos alternativos, programas de formação de professores e inovações

nas técnicas pedagógicas, dentre outras.

1.2. Décadas de 80 e 90: as experiências de ciclo no país

Nas décadas de 1980 e 1990, pôde-se verificar um avanço em termos de

concepção por parte dos governos das diversas esferas administrativas na organização

do ensino que, certamente, refletiu/desencadeou todo um processo de luta por uma

educação que atendesse aos interesses da classe popular.

A educação e os sistemas educacionais passaram por um processo de

reforma que se iniciou com a elaboração do Plano Decenal de Educação (1993 a 2003),

tendo como influência organismos de âmbito internacional, interessados em traçar

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propostas em relação ao sistema educacional do país, culminando com a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n.9394/96.

Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná começaram a organizar o

tempo escolar através da criação dos Ciclos Básicos de Alfabetização, cuja proposta

pedagógica visava atender adequadamente à clientela diversificada de alunos nos

aspectos sociais, culturais e econômicos.

Essa proposta de organização em Ciclo Básico de Alfabetização (CBA)

trouxe “uma nova visão do papel da escola pública [...]. o Ciclo Básico de Alfabetização

marcou uma ruptura com a ideia da simples promoção automática” (MAINARDES,

2001, p. 44-45).

A ruptura ocorreu no momento em que essa forma de organização ampliou o

processo de alfabetização, ao eliminar a reprovação no final da primeira série, que

tantos prejuízos causara ao sistema, posto que, a grande quantidade de reprovados,

nesta série, impossibilitava a matrícula de novos alunos, mudando a concepção de

avaliação, que por sua vez, deveria centrar-se no processo de aprendizagem e não no

produto.

Essa contribuição do CBA possibilitou a construção e a elaboração de outras

experiências. Diante disso, assegurou-se a flexibilização curricular, o que não

significava a redução de conteúdos trabalhados nos dois primeiros anos; mas, maior

flexibilidade no agrupamento dos alunos, a busca de outras estratégias de

aprendizagem, critérios de avaliação mais compatíveis às classes heterogêneas e com

atendimento paralelo em grupos menores com dificuldades, incentivo à permanência

dos professores experientes nas séries iniciais, utilização de material pedagógico

específico, além da premissa de se levar em consideração o contexto sociocultural dos

alunos.

As cidades de São Paulo e Belo Horizonte assumiram os pressupostos dos

ciclos, caracterizando-os como Ciclos de Formação, formando grupos de alunos da

mesma faixa etária e tendo como eixo de aprendizagem a vivência sociocultural de

cada idade (infância, pré-adolescência e adolescência). Desta forma, a aprendizagem

passa a ser concebida numa perspectiva global ao resgatar uma visão integrada do

aluno nos aspectos cognitivo, afetivo e social, enfatizando a autoestima, com a

construção da identidade nos grupos de socialização, sendo os conteúdos trabalhados

de forma interdisciplinar, utilizando-se a metodologia do Tema Gerador1.

Outra experiência com os ciclos foi vivenciada no estado do Rio de Janeiro,

com a organização do chamado Bloco Único que se dividia em primeiro segmento e

1 O Tema Gerador segundo Paulo Freire envolvem as “situações-limites” que se apresentam aos homens como se

fossem determinantes históricas, esmagadoras, não lhe cabendo outra alternativa a não ser adaptar-se a esta situação.

Contudo, no momento em que este homem a percebe como uma fronteira a ser vencida, se torna mais crítico e sua

ação volta-se para transformar a realidade. A educação precisa ser problematizadora da realidade, colocar em pauta

as situações limites vivenciadas pelos homens, cuja análise crítica lhes possibilite reconhecer a interação entre as

partes, como dimensões da totalidade. FREIRE (1985).

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segundo segmento. O primeiro segmento abrangia as classes de alfabetização e séries

iniciais: o primeiro momento correspondia aos três anos iniciais (6 a 8 anos) quando a

criança faz a aquisição dos conceitos fundamentais, e o segundo momento, com dois

anos (9 a 10 anos) quando a criança aprofunda os conhecimentos. Já o segundo

segmento (11 a 14 anos) também se dividia em dois momentos, cada um com a

duração de dois anos com aprofundamento dos conteúdos.

A fundamentação dessa organização se baseava na Psicologia com ênfase

nas características do desenvolvimento das crianças. Caso a criança demonstrasse

dificuldades na aprendizagem nos anos iniciais, isso exigiria uma mudança de

abordagem dos conteúdos e reorientação do trabalho dos professores. No quarto e

quinto anos, os alunos com dificuldades teriam atendimento paralelo e recuperação

através de cursos de férias. A avaliação dar-se-ia a partir do desempenho real e em

relação ao progresso manifestado na direção dos objetivos propostos.

Mainardes (2010) afirma que atualmente, no Brasil, a experiência do

processo de implantação dos ciclos demonstra a existência de várias formas de

organização tecidas de acordo com a particularidade de cada localidade, estado e

região, com diferentes nomenclaturas, a saber: Ciclos de Aprendizagem desenvolvidos

nas cidades de Curitiba, Recife e São Luis do Maranhão; Ciclos de Formação ou

Formação Humana vivenciado nas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte e Goiânia;

Regime de Progressão Continuada nas redes estaduais de ensino de São Paulo, Rio

Grande do Sul e rede municipal de ensino de São Paulo; Bloco Inicial de Alfabetização

no Distrito Federal, Florianópolis e Dourado no Mato Grosso do Sul; Ciclo Inicial do

Ensino Fundamental no Rio Branco; Ciclo Inicial de Alfabetização e Ciclo

Complementar de Alfabetização experienciado na rede estadual de ensino de Minas

Gerais e em algumas redes municipais de Minas Gerais; Ciclos de Ensino Fundamental

na cidade de Niterói; Ciclo Básico na Rede estadual de Ensino do Amazonas; Ciclo

Básico de Alfabetização nos anos iniciais na Rede Estadual de Ensino do Paraná e

Organização em ciclos em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo.

O referido autor ressalta ainda que entre essas experiências existem

semelhanças e diferenças nos aspectos que vão desde a concepção até a forma de

operacionalizá-las, refletindo influências político-partidárias, condições financeiras,

infraestruturais, alterações nas políticas implementadas e diferença do nível de

conhecimento que as equipes de gestão educacional possuem.

Portanto, a política educacional dos ciclos está sujeita não só às diversas

concepções educacionais, como também às mudanças econômicas, sociais e políticas,

que por sua vez, estão assentadas em um projeto histórico de sociedade.

1.3. A Implantação dos Ciclos na Rede Municipal de Educação de Belém

No Município de Belém, no período de 1989 a 1992, a Rede Municipal de

Educação (RME) era composta por 43 escolas e estava organizada em séries, sendo

ofertado o ensino de 1º grau, o qual abrangia da 1ª a 8ª séries e correspondia ao

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atendimento de crianças de 7 a 14 anos de idade.

A partir de 1992, seguindo a tendência de algumas capitais do Brasil que

organizaram seu currículo em Ciclos Básicos, iniciou-se, na RME de Belém, um

processo de organização curricular de acordo com o que estava estabelecido no artigo

14 da Lei nº. 5.692/71, que deu origem à elaboração de uma proposta preliminar

intitulada: “Uma Alternativa Curricular para as Escolas Municipais” - um projeto piloto de

implantação de Ciclo Básico, cujo objetivo era a flexibilização da seriação, na busca da

redução do problema da repetência e da evasão escolar (BELÉM, 1992).

Essa proposta definiu como primeira fase as seguintes ações diagnósticas:

levantamento de dados nas escolas da rede municipal; pesquisas bibliográficas;

estudos, análise de relatórios de reuniões, de encontros de avaliações institucionais e

de aprendizagem, além das sugestões e opiniões de professores, técnicos e alunos

recolhidas em diferentes unidades escolares. Vale ressaltar que, para a realização

desse diagnóstico preliminar, foram selecionadas seis escolas municipais: E. M. “Ruy

da Silveira Brito”; E. M. “Palmira Gabriel”; E. M .”Silvio Nascimento”; E. M. “João Nelson

Ribeiro”; E. M. “Mª Heloisa de Castro” e E. M. “Josino Viana”, de diferentes áreas da

capital (BELÉM, 1992).

A segunda fase consistiu em uma operacionalização do processo de

reorganização curricular, considerando as seguintes diretrizes:

a) democratizar o ensino e requalificar a escola pública com a finalidade de

reverter o fracasso escolar;

b) resgatar a visão crítica da escola no exercício de sua função social;

c) fundamentar-se na concepção crítica de educação a partir dos teóricos:

Piaget, Emília Ferreiro, Vygotsky, Freire, Freinet e outros;

d) considerar as experiências e expectativas dos professores para a

elaboração da proposta pedagógica.

Esse processo de reorganização curricular culminou com a elaboração e

publicação do documento intitulado: “Ciclo de estudos da nova proposta curricular -

conclusões” (BELÉM , 1992, p. 8), que serviu de referência para a implementação dos

Ciclos Básicos I e II na RME e para os cursos de formação e pós-graducação para

professores, diretores e coordenadores pedagógicos.

Nesse sentido, a Educação Infantil e o ensino de 1° grau foram estruturados

em ciclos e de acordo com a faixa etária, com vistas a flexibilizar o tempo escolar que

deveria ser adequado e ampliado para a aprendizagem da criança.

A organização curricular baseava-se na concepção dos Ciclos Básicos, que

compreenderiam IV níveis. O I nível, chamado de Ciclo Básico I, contemplava o último

ano da Pré-escola e as duas primeiras séries do 1º grau (idade de 6 a 8 anos,

geralmente), prosseguindo-se para as séries subsequentes; nível II – 3ª e 4ª séries;

nível III – 5ª e 6ª séries e nível IV – 7ª e 8ª séries. Caso o aluno não obtivesse domínio

dos conteúdos curriculares ao final do ciclo, permaneceria no mesmo ciclo por mais um

ano, devendo ser acompanhado pelo professor e pela coordenação pedagógica da

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escola (BELÉM, 1992, p. 38).

O Ciclo Básico I passa inicialmente a ser implantado em três escolas da

RME: Escola Municipal Gabriel Lage, Escola Municipal Comandante Klautau e Escola

Municipal Maria Heloisa de Castro, com alunos da 1ª série.

A partir de 1993, deu-se continuidade à proposta de implantação gradativa

dos Ciclos Básicos em todas as escolas da Rede Municipal. Em 1994, o Ciclo Básico I

foi ampliado e implantado nas escolas envolvendo as 1ª e 2ª séries e o Ciclo Básico II

foi efetivado em apenas quatro escolas da rede: E. M. “Gabriel Lage”, E. M.

“Comandante Klautau”, E. M. “Maria Heloisa de Castro” e E. M. “Palmira de Carvalho”.

Em 1995, os Ciclos Básicos I e II passaram a funcionar em todas as escolas

da rede municipal que ofertavam os anos iniciais do ensino fundamental. No entanto,

até o final de 1996, os últimos anos do Ensino Fundamental, permaneceram no regime

seriado.

Segundo a proposta implementada, uma escola organizada em Ciclo Básico

deveria repensar suas funções, seus objetivos e o significado da educação escolar,

tendo o educando como centro do processo.

A reorganização curricular, mais do que uma medida administrativa,

configurou-se em uma diretriz político-pedagógica, que consistia também na revisão da

prática pedagógica, além de mudança de postura dos educadores.

A política educacional da Rede Municipal de Educação definiu como meta a

universalização da Educação Básica, que consistia no desenvolvimento de seis

programas:

O aprimoramento qualitativo da Educação Básica;

A valorização do magistério;

A ampliação e o aparelhamento da rede;

A autonomia da escola;

A instrumentalização eletrônica do setor educacional;

A modernização da gerência do sistema municipal de educação.

Para implementar tais medidas criou-se a Lei nº. 7.722, de 7 de junho de

1994, a qual dispunha sobre o Sistema Municipal de Educação, que deveria ser

operacionalizado através de dois subsistemas:

A Rede de Unidades de Educação Básica, representado pelas 47

unidades escolares;

A Rede de Unidades de Educação para o Desenvolvimento Sustentável: o

Liceu de Artes e Ofícios do Guamá, o Liceu da Escola Mestre Raimundo Cardoso, a

Escola Parque Amazônia, na Terra Firme, o Liceu de Artes e Ofício de Hotelaria da Ilha

de Cotijuba e o Centro de Referência em Educação Ambiental – Escola Bosque

Professor Eidorfe Moreira, que teria como princípio norteador o desenvolvimento

regional e a melhoria da qualidade de vida da população através do desenvolvimento

sustentável (Lei 7.747 de 02 de Janeiro de 1995).

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Para dar suporte à implementação desta diretriz curricular foi criado o

Instituto de Educadores de Belém – ISEBE, um espaço de formação, onde era ofertado

um curso de 360 horas, cujo objetivo era propiciar aos educadores da RME a

construção de um referencial teórico com foco na pesquisa como princípio educativo, a

fim de subsidiar a prática pedagógica.

A partir de 1997, deu-se continuidade ao processo de implantação dos ciclos

III e IV, com base nos seguintes princípios: democratização do acesso e permanência

com sucesso da criança na escola; gestão democrática; qualidade social da educação e

valorização profissional dos educadores. Buscou-se, com isso, a ressignificação do

ensino em ciclos, assumindo a concepção de Ciclos de Formação.

O trabalho educativo, a partir da concepção de Ciclos de Formação,

concebeu o conhecimento como processo de construção e reconstrução, revestido de

significado, a partir das experiências do educando, sem discriminações que

prejudicassem sua autoestima e sua constituição enquanto sujeito. Nessa perspectiva,

a prática pedagógica deveria favorecer a expressão, o questionamento, a descoberta, a

construção e reconstrução do conhecimento.

Desse modo, o Sistema Municipal de Educação passou a ser organizado em

Ciclos de Formação, obedecendo a seguinte estruturação:

Ciclo de Formação I – 6, 7 e 8 anos (três anos de duração);

Ciclo de Formação II – 9 e 10 anos (dois anos de duração);

Ciclo de Formação III – 11 e 12 anos (dois anos de duração);

Ciclo de Formação IV – 13 e 14 anos (dois anos de duração).

Para a efetivação desse modelo de organização de ensino foram

estabelecidas algumas condições estruturais, a saber: a hora pedagógica2, a formação

continuada dos educadores com base no tema gerador, os conselhos de ciclos, e o

plano pedagógico de apoio.

A partir de 2004, a política educacional do Município de Belém pautou-se

noutra perspectiva, sustentada em três eixos de ação estratégica, a saber: “Expansão

da Educação Infantil”; “Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável” e

“Formação Continuada de Professores”.

A Expansão da Educação Infantil teve como meta a redução do déficit da

educação pré-escolar, com a criação de vagas escolares para crianças de 4 a 5 anos,

mediante a construção de escolas.

A Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável foi efetivada com

a reestruturação da Fundação Escola Bosque e a construção de “ecoescolas”,

2 Hora Pedagógica – HP: passou a garantir aos professores das escolas, quatro horas semanais, destinadas à sua

formação continuada, deixando a cargo da coordenação pedagógica de cada escola a tarefa de coordenar este

processo, cujo espaço deveria ser utilizado pelo professor em conjunto com outros professores e coordenação da

escola para planejar as aulas; discutir metodologias; avaliar o trabalho realizado; estudar; trocar experiências; além

de realizar cursos, oficinas, jornadas pedagógicas, fóruns e encontros promovidos pela Secretaria Municipal com

vistas a socializar as práticas pedagógicas vivenciadas. (I Conferencia Municipal de Educação, Belém, 1999, p. 240).

15

fundamentadas na inserção da dimensão ambiental na prática educativa a partir da

educação infantil, tendo em vista o ser dinâmico, transformador, experimentador e

investigativo que é a criança em desenvolvimento.

Neste sentido, a Prefeitura Municipal de Belém construiu cinco ecoescolas, a

saber: Allana de Souza Barbosa, Professora Alda Eutrópio de Souza, Professora Laís

Fontoura Aderne, Rita Nery e Paraíso. Todas elas adotaram um projeto pedagógico

baseado no conceito de múltiplas inteligências e linguagens. Além disso, fazem parte

de um programa educativo internacional, iniciado na Europa, que propõe uma

pedagogia inovadora, que busca despertar, desde cedo, uma consciência ecológica,

valorizando os recursos naturais existentes.

Os conteúdos da educação infantil são, assim, desenvolvidos através de

salas ambientes, que são espaços pedagógicos organizados com o objetivo de

estimular todas as áreas do conhecimento, de modo a oferecer formação integral à

criança. Utilizam um sistema de rodízio em que elas trocam de sala de aula duas vezes

ao dia, mantendo, no entanto, a divisão por turmas de grupos de crianças, segundo a

idade. O atendimento desses grupos é realizado por um professor de referência. Ao

todo, funcionam nessas escolas, nove salas de aula temáticas: expressão e produção,

jogos, natureza e sociedade, música, brinquedo, artes, multimeios, vivência alimentar e

integração

A Formação Continuada de Professores proposta pelo Programa ECOAR –

Elaborando Conhecimento para Aprender a Reconstruí-lo – da Secretaria Municipal de

Educação de Belém, foi iniciada em 2005, e sustenta-se em três ações a saber:

formação de professores e coordenadores pedagógicos; assessoramento à prática

docente nas escolas e avaliação da aprendizagem dos alunos, mais precisamente

alunos do Ciclo I, (os três primeiros anos) do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,

sendo o foco principal do Programa a aprendizagem do aluno.

Este programa consiste em garantir o direito do professor estudar, como

parte indispensável de seu desempenho durante os 200 dias letivos. De acordo com

Demo (2005), estudar não significa apenas participar de eventos. Significa

substancialmente desconstruir e reconstruir sistematicamente a trajetória formativa e

profissional ao utilizar novas metodologias de aprendizagem: pesquisa, elaboração

própria, relato de experiências, reflexão sobre a própria prática, problematização,

exercício de argumentação e contra-argumentação, debates, leitura sistemática e

verticalizada, dinâmicas, simulação e análise da prática de sala de aula, produção de

material didático próprio, estudo em equipe e individualmente.

A formação dos educadores do Ciclo II acontece através do ALFAMAT

(Alfabetização matemática, leitura e escrita) que configura-se como um programa de

formação continuada desenvolvido e aplicado pelo Núcleo de Informática Educativa

(NIED). Seu objetivo é possibilitar a vivência e discussão de metodologias para o

ensinoaprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática. As referidas metodologias

16

são norteadas pelos descritores da Prova Brasil, instrumento de avaliação do Ministério

da Educação (MEC).

A formação de professores do CI e CII acontece em serviço, utilizando as

horas pedagógicas, com encontros mensais de aprendizagem, realizados no espaço da

escola com acompanhamento dos coordenadores pedagógicos, mediante o

desenvolvimento das ações dos Projetos Expertise em Alfabetização, Expertise em

Leitura e Produção de Textos.

Por sua vez a ETEF (Equipe Técnica do Ensino Fundamental) realiza

formações continuadas de professores dos Ciclos III e IV nas diversas áreas do

conhecimento; orientação dos projetos escolares, disciplinares e interdisciplinares, bem

como assessoramento da prática docente e o acompanhamento do desenvolvimento da

aprendizagem dos alunos, em especial, nas disciplinas de Língua Portuguesa e

Matemática.

O acompanhamento da aprendizagem visa melhorar o desempenho dos

alunos na leitura, interpretação, produção escrita e resolução de problemas

matemáticos tendo como fundamentações teóricas os gêneros textuais, resolução de

problemas, temas e descritores da Prova Brasil.

De um modo geral a ação de acompanhamento e o assessoramento

realizado pelos técnicos da Diretoria de Educação – DIED, junto às escolas, suscitou a

necessidade de elaboração de uma proposta de formação continuada aos

coordenadores e assistentes pedagógicos da RME, uma vez que as práticas

desenvolvidas no cotidiano das escolas demonstraram fragilidades na compreensão do

processo de organização do trabalho pedagógico.

Nesse sentido, desde 2010 a DIED se propôs a realizar este processo

formativo de forma articulada junto com os demais setores da SEMEC e o Conselho

Municipal de Educação, tendo como eixos centrais: formação geral, formação em

serviço nos distritos e o assessoramento permanente nas escolas, na tentativa de:

superar as fragilidades na organização do trabalho pedagógico da escola; acompanhar

o desenvolvimento do trabalho realizado; possibilitar estudos acerca das competências

da equipe de coordenadores e assistentes pedagógicos com base na legislação

vigente; instrumentalizar e fortalecer o trabalho da equipe diretiva tendo em vista a

elaboração dos planos escolares; acompanhar o trabalho do docente e da

aprendizagem discente nas escolas por meio de visitas técnicas mensais; organizar a

HP nas escolas e acompanhar o processo avaliativo (registro síntese, conselho de

ciclo); supervisionar os registros escolares; verificar o cumprimento da carga horária

letiva e a execução do PPA; criar um banco de dados para o contínuo assessoramento

e acompanhamento das escolas, tendo como público alvo das ações os diretores,

coordenadores e assistentes pedagógicos lotados na RME.

Os encontros gerais de formação das coordenações pedagógicas têm como

objetivo refletir uma temática proposta pelos próprios coordenadores das escolas da

RME.

17

Os assessoramentos realizados nas escolas da RME pelos técnicos da DIED

são organizados em cronogramas mensais, com foco determinado pela equipe e de

acordo com as necessidades surgidas.

Diante dessas experiências vivenciadas no transcorrer da trajetória

educacional na RME de Belém, as Diretrizes Curriculares se configuram em orientações

e estratégias pelas quais a escola organiza, trabalha, produz as relações do cotidiano, à

medida que traduz valores, ideias, significados, pensamentos e perspectivas de uma

determinada sociedade, constituindo-se, assim, no currículo escolar. Esse currículo

fundamenta-se em conceitos e concepções, o que procuramos esclarecer abaixo,

explicitando sobre quais fundamentos se assenta a proposta dos Ciclos de Formação

da Rede Municipal de Educação de Belém.

18

2. PRESSUPOSTOS DOS CICLOS DE FORMAÇÃO

2.1. Perspectivas do Desenvolvimento Humano3

Neste momento em que se retoma o debate sobre os Ciclos de Formação na

Rede Municipal de Ensino de Belém, é fundamental recolocar algumas questões que

são imprescindíveis para a compreensão dos mesmos. Uma delas diz respeito ao

Desenvolvimento Humano. Não é possível compreender os Ciclos de Formação sem se

ter uma visão do processo de desenvolvimento pelo qual passam todos os seres

humanos. Sem esse entendimento a ideia de ciclos fica prejudicada, uma vez que é na

articulação entre Desenvolvimento Humano e Educação que os Ciclos de Formação

ganham sentido.

Esta talvez seja uma das maiores dificuldades presentes no cotidiano das

práticas educativas, que pouco ou nunca consideram, na organização dos trabalhos e

dos saberes, as temporalidades do desenvolvimento dos educandos. Educa-se como

se todos fossem iguais, estivessem nos mesmos patamares de aprendizagem, ou

ainda, sem considerar essa aprendizagem. Por isso, faz-se necessário reconsiderar o

processo de Desenvolvimento Humano para que se possa compreender com mais

clareza a ideia dos Ciclos de Formação. A intenção aqui é iniciar o debate sobre a

compreensão de Desenvolvimento Humano, trazer à tona suas principais abordagens e

enfatizar a profunda relação que há entre este e a educação.

As teorias do Desenvolvimento Humano, ao longo do século, envidaram

esforços no sentido de tentar explicar esse intrincado processo de interação recíproca

entre o ser humano em desenvolvimento e seus múltiplos contextos. De acordo com

Krebs (s/d), até meados do século XX, os estudos estavam polarizados entre fatores

inatos, herdados geneticamente, e os fatores ambientais, de natureza física e

sociocultural. Não havia articulação entre esses diferentes saberes, resultando em

pesquisas até mesmo antagônicas. No entanto, devido à complexidade e abrangência

do fenômeno, novas abordagens foram cunhadas nos dois últimos decênios deste

século, procurando superar a dicotomia inato/adquirido ou entre os fatores físico-

biológicos e os socioculturais.

Temos, assim, entre as mais importantes abordagens do Desenvolvimento

Humano, a perspectiva psicogenética de Piaget e Henri Wallon, a sociogenética e

histórico-cultural de Vygotsky e, contemporaneamente, a dialética de Klaus Riegel, a

histórico-cultural de Jaan Valsiner e a bioecológica de Urie Bronfenbrenner.

Na teoria de Piaget, tem-se uma explicação do desenvolvimento psicológico

como uma sequência de estágios4 que vão desde a imaturidade inicial do recém-

3 A íntegra deste texto foi originalmente publicado como artigo pelo professor Dr. Iris Amaral de Sousa no livro:

FETZNER, Andréa Rosana (Org.). Ciclos em Revista: Como romper com as maneiras tradicionais de ensinar?

vol. 6. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012. Direitos autorais cedidos à Secretaria Municipal de Educação de

Belém/PA.

19

nascido até o final da adolescência. Ele demonstrou como evolui o conhecimento desde

a infância até o conhecimento abstrato, altamente organizado, que encontramos no

adulto. O Desenvolvimento Humano, nesse sentido, se realiza em períodos que se

distinguem entre si pelo predomínio de determinadas características e possibilidades.

Wallon também procurou descrever o desenvolvimento como um processo

em estágios, centrando suas pesquisas não mais no psiquismo, mas nos diferentes

aspectos - emocional, intelectual e moral - do ser humano em processo de vir a ser.

Com ele a psicogênese passou a estar articulada à sociogênese, papel atribuído aos

fatores sociais no desenvolvimento humano.

Em Vygotsky não há mais uma descrição em estágios do desenvolvimento

porque para ele, este não segue uma sequência predeterminada e internamente

guiada, mas um percurso sociogeneticamente mediado e dependente dos processos de

aprendizagem que ocorrem no duplo e complementar plano das interações

socioeducativas e culturais organizadas. Isto quer dizer que os processos psicológicos

humanos têm sua gênese no social, ou seja, cada indivíduo se faz na relação e

interação com seu entorno social e com o outro, pela apropriação dos instrumentos de

mediação simbólica construídos pela cultura a que pertence.

Neste sentido, os processos psicológicos sofrem um processo de

transposição do social para o individual, isto é, do plano interpsicológico (das relações

com os demais), para o plano intrapsicológico (do indivíduo). Contudo, esse movimento

de transposição não é algo mecânico, automático, mas se dá através de relações

complexas, dinâmicas e dialéticas (afirmação-negação, continuidade-descontinuidade,

estabilidade-mudança), pois os indivíduos são sujeitos ativos nessas relações e

interações com o outro e com seu meio sociocultural. Essa transposição consiste,

assim, num lento processo que ocorre através das interações educativas e

culturalmente organizadas, nas quais os indivíduos vão ganhando competência e

autonomia progressiva, de maneira que começam sendo apoiados, guiados e

conduzidos, (relação adulto-criança), para pouco a pouco serem capazes de fazer as

coisas de forma autônoma e independente (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004).

Numa visão sintética podemos dizer que os seres humanos se fazem, se

criam e recriam constantemente por intermédio das interações e relações que

estabelecem uns com os outros e com o ambiente ao longo de toda a vida. Esses

outros são, habitualmente, os pais, irmãos, avós, babás, educadores, amigos etc. No

caso da criança, o outro, além de inseri-la em determinados contextos ou posições

sociais, é intérprete, mediador do mundo para ela e dela para o mundo, influenciando

em sua socialização e desenvolvimento. Nesse processo de fazer-se com os outros, as

ações, interações e relações partilhadas e interdependentes, que são

permanentemente co-construídas e articuladas pelas e entre as pessoas, vão

delineando, assim, papéis e contrapapéis que são apropriados, assumidos, negados

4 Esses estágios são: sensório-motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais.

20

e/ou recriados por cada indivíduo ao longo de sua existência. Desse modo, o ser

humano imerso que está no mundo, vai se fazendo em contínua construção de

significados da realidade e de si mesmo enquanto pessoa através do processo de

articulação entre imitação de modelos (fusão, repetição) e o confronto entre eles

(diferenciação, criação), interligados às necessidades, aos sentidos e às

representações sociais.

Nessa complexa rede de significações, o conjunto de elementos orgânicos,

físicos, sociais, históricos, econômicos, políticos e ideológicos em interação dialética

delimitam, estruturam, marcam e transformam as pessoas e a própria rede de

significações em contínua mutação. “Constrói-se, dessa forma, a consciência individual,

formada pela impregnação da pessoa pelo conteúdo semiótico historicamente criado

por grupos sociais organizados, com os quais se relaciona” (ROSSETTI-FERREIRA;

AMORIM; SILVA, 2000, p. 15). Um dos elementos que se destaca nesse complexo

fluxo de interinfluência mútua entre componentes individuais e socioculturais é a

linguagem, que assume papel de mediação cultural e socio-histórica. Assim, em cada

cultura, todos os sujeitos participam ativamente na co-construção uns dos outros.

A partir da década de 1980, novas perspectivas sobre o Desenvolvimento

Humano emergiram, procurando integrar as ideias de Piaget, Wallon e Vygotsky, ou

ainda, aprofundando os pressupostos vygotskianos, articulando-os a outras áreas do

conhecimento.

Essas abordagens abandonaram a compreensão de desenvolvimento como

algo sempre ascendente. Adotou-se a noção epigenética, na qual cada indivíduo tem

seu desenvolvimento delineado por inúmeras possibilidades vinculadas ao tempo, ao

contexto e aos processos que vão se complexificando ao longo da vida, ou seja, à

medida que o indivíduo interage com o ambiente, busca coerência entre suas pré-

disposições genéticas e os padrões socioculturais estabelecidos, ele se constrói e, ao

mesmo tempo, torna-se cada vez mais complexo. Nessa trajetória, cada momento gera

possibilidades e limites para o próximo, num ciclo dinâmico, contínuo, em que a

dialética estabilidade-mudança vai definindo os diferentes estágios de mudança de

acordo com a faixa etária do indivíduo e com a estrutura sociocultural da qual faz parte.

Os estudos de Krebs (s/d) nos permitem compreender algumas dessas

principais teorias contemporâneas do Desenvolvimento Humano. Tendo como suporte

os princípios da dialética de Hegel, Klaus Riegel propõe que os eventos que contribuem

efetivamente para o desenvolvimento da criança possuem quatro dimensões, duas de

natureza interna: a interno-biológica e individual-psicológica, e duas de natureza

externa: cultural-sociológica e externo-física. Essas dimensões se articulam

dialeticamente compondo o modelo conceitual da teoria, onde conflito e contradição são

tratados com a mesma importância que a atenção e estabilização (preconizados por

Piaget) na análise do desenvolvimento. Já Valsiner realiza um esforço para integrar as

ideias de Lewin, Vygotsky e Piaget com algumas noções da biologia evolucionista e

termodinâmica contemporânea. Adotando um interacionismo dinâmico estruturalista,

21

enfatiza que a criança e seu ambiente (ambos estruturalmente organizados) não são

nem estáticos nem imutáveis, mas estão em permanente transformação, tanto

microgeneticamente quanto ontogeneticamente. Desse modo, o desenvolvimento da

criança é definido no contexto de suas relações com o ambiente cultural e fisicamente

estruturado em que suas ações sobre o ambiente são conduzidas pelo outro. Em seu

quadro teórico, Valsiner delimita diferentes áreas de um campo (zona) que canalizam o

desenvolvimento de um organismo. Estabelece, assim, três tipos de zonas. A zona de

movimento livre (ZML), a zona das ações promovidas (ZAP) e a zona de

desenvolvimento proximal (ZDP).

A zona de movimento livre (ZML) caracteriza-se por uma estrutura funcional

que é constantemente criada e recriada na medida em que a criança e seu cuidador

mudam de um ambiente para outro ou de um conjunto de objetivos para alcançar outros

fins, ou seja, dada a mudança de objetivos e condições, a ZML é constantemente

reorganizada. Sendo dinâmica e episódica, a ZML possui quatro propriedades: é

sempre baseada nos relacionamentos da criança com seu ambiente; nos significados

dos diferentes ambientes para o “outro social” (pais irmãos, professores etc.);

organizada com base no entendimento que os outros têm sobre o que a criança pode

ou não fazer; é reconstruída quando o adulto e a criança entram em novo ambiente.

Como um meio e não um fim em si mesmo, quando se torna obsoleta, é substituída por

outra: a zona da ação promovida (ZAP).

A zona de ação promovida (ZAP) é caracterizada pela promoção de

aquisições de novas habilidades, ou seja, envolve um conjunto de atividades, objetos

ou áreas do ambiente onde as ações da criança são promovidas, e que os outros

devem se envolver, direcionando a criança para aqueles objetos ou atividades que

consideram fundamentais para o seu desenvolvimento. Ela é, assim, uma zona

inclusiva, marcada pelo esforço dirigido das pessoas em torno da criança para orientar

suas ações numa direção.

A complexidade das ZML e ZAP depende do contexto cultural em que se

está inserido, isto é, o significado que a cultura atribui a objetos e atividades são

essenciais para a definição da ZML e ZAP, que são interdependentes. Já a zona de

desenvolvimento proximal (ZDP), marcada pela limitação seletiva da variabilidade,

envolve um conjunto de ações que a criança pode desempenhar quando auxiliada pelo

outro. Pode-se afirmar, de modo geral, que a teoria de Valsiner tem as características

de um sistema dinâmico, centrado na compreensão da interação da criança e seus

contextos, sem estruturar o desenvolvimento em estágios.

A perspectiva bioecológica de Bronfenbrenner também fundamentada em

Lewin, Piaget e Vygotsky, destaca que o Desenvolvimento Humano é algo contínuo que

se faz na interface entre aspectos biológicos, psicológicos e sociais, ou seja, um

conjunto de processos através dos quais as propriedades do indivíduo e do ambiente

interagem e produzem continuidades e mudanças nas características da pessoa e no

seu percurso de vida. Desse modo, o desenvolvimento se dá pela acomodação

22

progressiva, mútua entre o ser humano ativo em desenvolvimento e as propriedades

mutantes dos ambientes em que a pessoa vive, sendo esse processo afetado pelos

contextos mais amplos em contínua transformação em que os ambientes estão

inseridos. Todas as características individuais só podem ser compreendidas assim,

nessa relação, interação bioecológica. Propõe, então, um modelo explicativo sistêmico,

composto por cinco subsistemas socialmente organizados que apoiam e orientam o

Desenvolvimento Humano.

O microssistema é a dimensão mais imediata em que a pessoa vive,

participa, interage ativamente, face a face: família, creche, escola. O mesossistema

compreende a relação entre os microssistemas (variedade de ambientes nos quais a

pessoa em desenvolvimento interage): relação família-escola-trabalho. O exossistema é

composto por ambientes ou contextos nos quais a pessoa não participa ou esteja

diretamente relacionada, mas que influenciam, afetam de forma indireta: instituições da

sociedade. O macrossistema diz respeito a um conjunto de valores, crenças, ideologias,

religiões que sustentam as diferentes culturas, subculturas presentes no cotidiano, e

que geram, no indivíduo, o sentimento de pertença a um determinado grupo. Envolve o

contexto mais amplo em que o micro, o meso e o exossistema estão inseridos: sistemas

políticos, sociais e econômicos. Por último, temos o cronossistema que é a dimensão

temporal das mudanças universais, dos acontecimentos históricos.

Esses cinco subsistemas encontram-se dinamicamente inter-relacionados,

uns sustentando e transformando os outros. Esse modelo por ser caracterizado como

processo-pessoa-contexto-tempo, ou seja, integra as características biológicas e sociais

(pessoa), as mudanças que ocorrem ao longo da vida (processo), as características

físicas, políticas, econômicas, culturais etc. dos ambientes (contextos) e os eventos de

ordem biológica e sociocultural que tiveram impacto na vida da pessoa (tempo).

Além dessas perspectivas, temos ainda a teoria das inteligências múltiplas

de Howard Gardner que começou a emergir na psicologia do desenvolvimento. Ela

apresenta a inteligência humana como um construto multidimensional, em que cada

dimensão é constituída de uma modalidade de inteligência. Temos assim, a verbal-

linguística, a lógico-matemática, a espacial, a cinestésico-corporal, a musical, e a

pessoal, dividida entre interpessoal e intrapessoal.

2.2. Desenvolvimento Humano e Ciclos de Formação

Como podemos ver todas essas perspectivas trouxeram novas contribuições

para o entendimento do ser humano como um ser integral em seu processo de

aprendizagem. Não é mais possível, hoje, sustentar que a criança é como uma página

em branco a ser escrita pelos adultos (empirismo); que ela já traz inata conduta, ideias

que serão desenvolvidas em seu processo de maturação pela educação (inatismo);

nem que ela é produto de estímulo-resposta em sua relação com o meio

(behaviorismo). A criança é, pois, um ser humano complexo, ativo que interage com as

23

pessoas e o ambiente e, nessa interação, que é contraditória, conflituosa e dinâmica,

examina, seleciona, recorta, apreende aquilo que atende as suas necessidades, a partir

daquilo que o ambiente cultural e sua biologia permitem que o faça, refazendo-se

permanentemente. Ao reproduzir gestos, posturas e, depois, palavras, toma para si os

recursos mais avançados que o adulto dispõe. Ao internalizar essa relação social,

estabelece nova forma de mediação para o seu próprio comportamento via processos

cognitivo-linguísticos. E esses processos não estão restritos à infância, mas presentes

ao longo de toda a vida, do nascimento à velhice.

O Desenvolvimento Humano se faz, assim, na interface entre um conjunto de

processos, ciclos, estágios através dos quais as propriedades do indivíduo e do

ambiente interagem e produzem continuidades e mudanças nas características da

pessoa e no seu percurso de vida.

Todavia, esse processo não é algo fragmentado, estável, linear, harmonioso

e unidimensional, mas dinâmico, complexo, articulado, contraditório e multidimensional

em que fatores intra e extraorgânicos - biológicos, psicológicos, ambientais, históricos e

sociais em interinfluência mútua e em transformações sucessivas -, marcam a trajetória

de cada pessoa. Podemos afirmar, então, que o Desenvolvimento Humano é um

processo de construção contínua, complexa, multidirecional e multidimensional que

ocorre desde o nascimento até a morte, em que as inúmeras transformações por que

passam os indivíduos são resultantes da dialética entre biologia e cultura.

Compreender, hoje, esse dinâmico processo, exige-nos recorrer a outros

campos do saber, além da Psicologia. É preciso articular um conjunto de estudos,

englobando a Biologia, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, entre outros, de

modo interdisciplinar, para que se possa ter uma visão ampliada, integrada da trajetória

de vida de cada indivíduo, ou seja, requer uma perspectiva sistêmica, totalizante do

desenvolvimento, capaz de integrar os múltiplos subsistemas (cognitivo, emocional,

fisiológico, morfológico, conceitual etc.) do indivíduo.

Esta compreensão do Desenvolvimento Humano enfatiza que a educação se

faz na articulação de uma multiplicidade de processos formadores dentro e fora da

escola, internos e externos ao indivíduo, através dos quais, nós nos constituímos,

socializamos, aprendemos, tornamo-nos sociais, culturais e humanos.

Nessa perspectiva, os Ciclos de Formação são pensados como uma forma

de organizar os processos educativos, considerando as temporalidades do

Desenvolvimento Humano com suas especificidades e exigências. Seu eixo

estruturante são as idades da vida, a formação humana em seus tempos-ciclos da

infância, da adolescência, da juventude e da idade adulta. Os Ciclos de Formação não

podem, portanto, ser visualizados como “[...] um amontoado de séries, para acabar com

a retenção, acelerar o fluxo, ou acabar com a defasagem idade-série em nome do

respeito à diversidade de ritmos de aprendizagem, com processos mais leves de

avaliação contínua, ao longo do ciclo” (ARROYO, 1999, p. 10).

24

Os Ciclos de Formação são, assim, “[...] uma procura, nada fácil, de

organizar o trabalho, os tempos e espaços, os saberes, as experiências de socialização

da maneira mais respeitosa para com as temporalidades do desenvolvimento humano”

(ARROYO, 1999, p. 11). Sua lógica não pode ser da seletividade e da exclusão, mas da

inclusão, do respeito aos saberes dos educandos, do outro, ou, como nos diz Paulo

Freire, ao “saber de experiência feito”. Aqui, o trabalho educativo deve estar centrado

no educando, no seu desenvolvimento, na sua aprendizagem. É preciso perceber o

educando como um ser interativo que sofre influência do contexto, mas que tem

potencial também para modificá-lo.

Nessa visão de Desenvolvimento Humano, o conhecimento é compreendido

como uma construção, reconstrução permanente, cujos sujeitos participam ativamente

porque é mediação, construto sociocultural dinâmico, do qual se apropriam em

interação. Não é algo meramente transmissivo, transferido, estanque, linear, pronto,

acabado, dado. A aprendizagem, assim, é socialização de aprendizados que fizemos e

fazemos; que a sociedade construiu; que nós construímos como indivíduos e como

coletivos: no convívio com os pais, mães, irmãos, avós, parentes, na escola, com os

amigos, nos movimentos sociais etc. Não pode ser vista como ensino cognitivo, mas um

processo de construção de práticas sociais e culturais envolvendo o corpo, a mente, a

experiência, o sentimento, a emoção, os valores, o ambiente, o contexto, enfim, a

totalidade do ser “aprendente”. A cultura é, pois, constitutiva dos processos de

desenvolvimento e de aprendizagem.

Esta é a concepção que fundamenta os Ciclos de Formação e que se espera

seja resgatada na rede Municipal de Ensino neste processo de reorientação curricular.

Sem ela, os Ciclos se deformam e não superam a velha lógica seriada.

Enquanto a escola tradicional sustenta-se no “conteudismo”, na certeza

científica e na passividade do aprendiz, o trabalho nos Ciclos de Formação proposto

para RME de Belém mobiliza a escola para os princípios de totalidade entre conteúdo e

forma, de incompletude do conhecimento científico, de participação dialógica na

aprendizagem, de transformação e intervenção democrática. A prática pedagógica

deverá avançar para a compreensão dos processos de desenvolvimento humano e em

direção à escola enquanto espaço-tempo sociocultural de formação.

Desse modo, a RME de Belém deve considerar os aspectos formativos como

os mais relevantes e que a informação só é educativa quando processada e analisada

criticamente. Portanto, ao invés de definir conteúdos curriculares fechados, define

rumos, posturas e caminhos metodológicos que passam a dar suporte ao conhecimento

sistematizado que a escola veicula. Assim, os referenciais curriculares devem

comportar a noção de experiência do passado e a intervenção transformadora do

presente.

Porém, não apenas o Desenvolvimento Humano é pressuposto dos Ciclos.

Há, além dele, outros fatores que devem ser considerados no processo de construção

25

curricular dos ciclos de formação, a saber: a inclusão social, a interdisciplinaridade e a

educação ambiental.

2.3. Inclusão Social

Falar de inclusão social é falar das possibilidades que todo ser humano

dever ter para desenvolver-se como tal; é falar da exclusão social que nos afeta direta

ou indiretamente e provoca entre nós segregações, discriminações, preconceitos, uma

vez que a desigualdade social nos atinge não apenas economicamente, mas também

corporalmente. Por outro lado, temos que considerar que somos diferentes uns dos

outros e devemos aprender a conviver com essas diferenças pessoais, sem que

ninguém se envergonhe delas ou se sinta menos gente que outros. Como nos diz

Boaventura de Sousa Santos “[...] temos o direito a ser iguais sempre que a diferença

nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos

descaracteriza”5.

Inclusão é, pois, um processo que busca transformação das relações sociais,

garantia de direitos e oportunidades iguais para todos, democratização das relações de

poder, participação social, respeito às diferenças e reconhecimento da diversidade

sociocultural do ser humano.

Na educação, a inclusão ganha sentido de luta pela redução de todo e

qualquer tipo de barreira ou exclusão que venha a impedir os educandos de se

desenvolverem plenamente, maximizando sua participação, independente de sua

origem étnica, racial, socioeconômica ou religiosa. E isso não apenas dos alunos ditos

“especiais”, mas de todos. Nesse sentido, ela supõe uma mudança de paradigma,

reformulação de nosso sistema de educação, uma vez que nosso modelo atual de

ensino ainda reproduz a lógica da exclusão em que o caráter seletivo do currículo

escolar disciplinar acaba funcionando como homogeneizador do aluno “padrão”. Nele,

persiste uma concepção de conhecimento academicista e conteudista que classifica e

exclui os educandos, principalmente os mais necessitados pessoal e economicamente.

Esta concepção cartesiana, positivista do currículo acaba por banalizar as

desigualdades sociais, não considerar a diversidade sociocultural nem as diferenças

individuais. Como nos explica Montoan (2003, p. 19)

Os sistemas escolares também estão montados a partir de um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa organização é marcada por uma visão determinista, mecanicista, formalista, reducionista, própria do pensamento científico moderno que ignora o subjetivo, o afetivo, o

5 Palestra proferida no VII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 4 a 6 de setembro de 1995.

26

criador, sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe.

Uma escola organizada em ciclos de formação que quer ser séria,

competente e inclusiva não pode aceitar essa lógica ou reforçar a desigualdade que

exclui e descaracteriza os sujeitos.

2.3.1 - Por uma Educação Inclusiva

A realidade social, marcada pelas desigualdades no exercício da cidadania,

tem reflexos na educação e faz emergir o debate acerca da educação que queremos. A

partir da ideia da educação inclusiva como um novo modo de pensar a educação,

coloca-se o desafio de repensar a escola, planejá-la para que se torne efetivamente

aberta às diferenças.

O debate sobre as diferenças e a inclusão das pessoas com deficiência

ganhou bastante destaque a partir da década de 1990, particularmente com a resolução

das Nações Unidas intitulada “Declaração de Salamanca”, em 1994, que

institucionalizou princípios e políticas públicas direcionados à educação especial. A

partir dessa resolução, criou-se um movimento mundial de desenvolvimento de

sistemas educacionais inclusivos com a defesa de uma Educação para Todos.

Trata-se de uma mudança histórica de apropriação de um conjunto de

saberes teóricos na constituição de um discurso sobre o corpo da pessoa deficiente e

sobre seus espaços e formas de adquirir conhecimentos. Dentre essas mudanças, está

a adoção da escola construtiva que vê a deficiência como um processo social em

confronto com as designações e estereótipos atribuídos por qualquer diferença física,

sensorial ou cognitiva a uma pessoa ou comunidade.

Em nosso País, a educação inclusiva é pressuposto da política educacional,

inspirada na concepção de direitos humanos que clama por mudanças no sistema

educacional em todos os níveis e orienta para a garantia da equidade no processo

educacional, fazendo avançar a responsabilidade da escola com a promoção da

cidadania.

Em consonância com as diretrizes e resoluções nacionais e internacionais, a

SEMEC, enquanto direcionadora da política pública de educação na Rede Municipal de

Ensino em Belém, defende o acesso de oportunidades de aprendizagens, promovendo

mudanças arquitetônicas, comunicacionais, atitudinais e curriculares que beneficiem

grupos historicamente excluídos do processo educacional. Reconhecendo como prova

inequívoca o respeito pelo tempo, pelo ritmo e pela pluralidade humana, comungando

com o princípio da igualdade de oportunidades e com o tratamento humano igualitário,

reafirma, através de sua organização escolar em ciclos de formação, que é possível

ocorrer aprendizagens de todas as crianças, jovens e adultos na Rede Municipal de

Ensino Público de Belém.

Uma escola inclusiva é uma escola preparada para identificar e eliminar as

barreiras que impedem o acesso dos alunos ao conhecimento, efetivando mudanças

27

que se iniciam na construção do projeto político pedagógico e na gestão participativa.

Trabalha a inclusão como um processo que deve fundamentar-se em fatores como: a

presença do aluno na escola enquanto sujeito de direito, junto aos demais colegas da

sua faixa etária e na sua comunidade; a participação, o relacionamento livre de

preconceito e discriminação, em ambiente acessível para que realmente todos

participem das atividades escolares, com um currículo aberto e flexível; e o respeito às

diferentes formas de aprender, o que significa que as aprendizagens devem estar em

função de que: a) o falar e o escutar, assim como o escrever e o ler, desenvolvem-se de

maneira paralela e em inter-relação, não de forma sequencial e nem a partir da

aquisição prévia de fonemas; b) o desenho, a dança, a dramatização, os gestos, a

língua de sinais e quaisquer outras formas de expressão e recepção carreiam sentidos,

da mesma forma que o oralizar e o escrever no papel: todas essas modalidades são

instrumentos semióticos de interação social; c) os objetos de ensino devem partir de

práticas comunicativas e da funcionalidade dos textos que podem ocorrer não apenas

no papel, mas também no computador ou outras tecnologias assistivas, disponibilizadas

para os alunos em sala de aula.

Desse modo, a escola que se quer inclusiva não pode apagar as diferenças

individuais, ao contrário, trabalha com elas, possibilita a convivência dessas diferenças,

reeduca os educandos para que se reconheçam iguais, apesar de diferentes e nunca

inferiores uns aos outros; valoriza a multiplicidade humana visando materializar o

caráter democrático da educação, acompanhando as diferenças sociais, econômicas,

geográficas, linguísticas, culturais e individuais.

Blanco (2002) nos explica que os diversos grupos sociais, étnicos e culturais

dispõem de normas, valores, crenças e comportamentos distintos que, em geral, não

fazem parte da cultura das escolas. Por isso, é compromisso a reconstrução crítica do

papel da escola, do fazer pedagógico, da participação efetiva das famílias e,

principalmente, das diretrizes curriculares acolhedoras de todos os alunos,

independente de suas condições pessoais, culturais ou sociais.

Nessa perspectiva, a inclusão desafia a cada momento a construção de uma

escola democrática e inclusiva, bem como exige que os sistemas de ensino sejam

fomentadores de políticas públicas inclusivas. Nesse sentido, fruto das necessidades,

desejos, esperanças, vontades, lutas e desafios, foi implantado o Centro de

Atendimento Educacional Especializado Gabriel Lima Mendes – CAEE, em 25 de

janeiro de 2006, como possibilidade concreta de ser uma referência às escolas da Rede

Municipal para viabilizar a inclusão educacional, com a seriedade que os princípios do

Desenvolvimento e dos Direitos Humanos impõem aos sistemas de ensino. Seu

principal objetivo é garantir o acesso à aprendizagem das pessoas deficientes, que a

cada ano se amplia, por meio do atendimento educacional especializado nas Salas de

Recursos Multifuncionais (SRM).

A SRM tem como objetivo prestar atendimento educacional especializado

aos alunos, público alvo da Educação Inclusiva, efetivamente matriculados em classe

28

comum do ensino regular. O trabalho é desenvolvido obedecendo às leis que garantem

o Atendimento Educacional Especializado — AEE à pessoa com deficiência.

Portanto, o CAEE se constitui como ambiente pedagógico articulador de

referências, práticas e princípios, responsável em fomentar nas escolas, para além do

objetivo técnico e instrumental, a inclusão educacional, baseado na perspectiva do

direito e da diversidade humana.

2.3.2 - As Relações Etnicorraciais

Uma escola que busca ser inclusiva não pode deixar de considerar que as

práticas educacionais revelam relações de poder, que na maioria das vezes

desconsideram a diversidade sociocultural, impondo valores da cultura hegemônica em

detrimento de outras. Isto, infelizmente, ainda marca o presente de nosso país, onde as

culturas afroindígenas, que estão na origem de nossa formação social, são banalizadas

ou desrespeitadas no interior das escolas.

Verifica-se, por exemplo, que a desigualdade de oportunidades que a

população negra e indígena brasileiras enfrentam no âmbito da educação é

profundamente percebida no cotidiano escolar, o que interfere no direito de aprender de

crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Estudos realizados no campo das relações raciais e educação explicitam que

as populações afrodescendentes e indígenas estão entre aquelas que mais enfrentam

cotidianamente as diferentes facetas do preconceito, do racismo e da discriminação que

marcam, nem sempre silenciosamente, a sociedade brasileira.

Sabemos que a população de nosso país foi formada a partir da

miscigenação de vários grupos humanos: brancos, negros e índios, fundamentalmente,

e que estabeleceram trocas materiais, culturais e genéticas que resultou em um povo

diversificado em seus mais variados aspectos. Apesar da miscigenação e da troca ser

o componente original da formação da população e da cultura brasileira, estas trocas e

contribuições se estabeleceram de forma desigual devido a interesses políticos,

econômicos e religiosos dos colonizadores europeus, que consideravam sua cultura

como referencial daquilo que era civilizado e desenvolvido.

A este tipo de visão sócio-político-econômica e cultural, imposta em nossa

sociedade pelos europeus, chamamos de visão eurocêntrica do mundo. Visão esta que

se tornou parâmetro para as demais culturas, desconstruindo identidades, gerando

atitudes de preconceito e discriminação com os povos indígenas que aqui se

encontravam há centenas de anos e que viram sua população dizimada e sua cultura

desintegrada, provocando a extinção de várias etnias e a marginalização das

sobreviventes, que sofrem até o presente com os conflitos travados com os

interessados em manter seus privilégios econômicos, políticos e religiosos, invadindo

suas terras, destruindo suas culturas e suas vidas com projetos que nunca atendem

suas necessidades e bem-estar.

29

Assim como os povos indígenas, os africanos e seus descendentes também

passaram pela mesma situação de marginalização. O caráter eurocêntrico imposto fez

com que os africanos e consequentemente seus descendentes fossem alijados do

processo de desenvolvimento social e cultural do país, embora tenham dado

significativa contribuição em todas as áreas, principalmente na econômica, motivo pela

qual os africanos foram trazidos para o nosso território. O resultado desta visão

equivocada é, ainda hoje, o preconceito e a discriminação estabelecidos, embora de

maneira velada contra a cultura afro-brasileira, tornando-a desconhecida ou vista como

exótica e sendo permeada de concepções distorcidas.

Embora se configurem como contingente populacional que corresponde a

aproximadamente metade da população brasileira, os afrodescendentes não têm seus

direitos de cidadãos assegurados, sobrevivendo às dificuldades ocasionadas pela

precariedade dos serviços básicos de saúde, segurança, saneamento, educação e

lazer. Sofreram e sofrem a carga do preconceito e discriminação originados no

processo civilizador do Brasil.

Na educação isso se manifesta como desigualdade de oportunidades aos

afro-indígenas ao pleno direito de aprender que possuem. O acesso às séries iniciais

do Ensino Fundamental, praticamente universalizado no país, não se concretiza, para

índios e negros, nas séries finais da educação básica. Há evidências de que processos

discriminatórios operam nos sistemas de ensino, penalizando crianças, adolescentes,

jovens e adultos, levando-os à evasão e ao fracasso, resultando no reduzido número

deles, que chegam ao ensino superior.

Sabe-se, hoje, que há correlação entre pertencimento etnicorracial e sucesso

escolar, indicando, portanto, que é necessária a firme determinação para que a

diversidade cultural brasileira passe a integrar o ideário educacional não como um

problema, mas como um rico acervo de valores, posturas e práticas que devem

conduzir ao melhor acolhimento e maior valorização dessa diversidade no ambiente

escolar.

Neste sentido, o governo brasileiro, no intuito de romper com as exclusões a

que afrodescendentes e indígenas vêm sofrendo, instituiu a Lei 10.639/2003 (alterada

depois pela 11.645/2008), orientando os sistemas de ensino e as instituições dedicadas

à educação, a voltarem cuidadosa atenção à incorporação da diversidade etnicorracial

da sociedade brasileira nas práticas escolares.

Ciente desses desafios, o Conselho Nacional de Educação, já em 2004,

elaborou parecer CNE/CP nº 3 (10/03/2004) e emitiu resolução CNE/CP nº 1

(17/06/2004), homologada pelo Ministro da Educação, estabelecendo as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais.

No que tange ao papel do Governo Municipal, cabe cumprir os dispositivos

legais, que recomendam entre outras coisas, que as escolas reformulem seu Projeto

Político Pedagógico adequando-o às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

das Relações Etnicorraciais; implementem ações de combate ao racismo, preconceito e

30

discriminações em suas dependências e busquem construir projetos pedagógicos

interdisciplinares que abordem e valorizem a diversidade etnicorracial brasileira.

Portanto, cabe ao Sistema Municipal de Educação incorporar em seu

currículo a diversidade étnico-racial como elemento essencial de um Ensino

Fundamental inclusivo.

2.4. Educação Ambiental

Uma escola que tenha por fundamento o Desenvolvimento Humano não

pode se compreender fora do debate sobre os problemas ambientais atuais. Ao

contrário, deve entender que os problemas ambientais são também obstáculos ao pleno

Desenvolvimento do ser Humano. Por isso, precisa fazer disso pauta de sua atuação no

seu cotidiano, de modo a criar uma nova cultura, onde a natureza não seja mais vista

unicamente como matéria-prima a serviço do capital, mas que se compreenda como

parte essencial de nossa existência.

As pesquisas recentes nos têm demonstrado cabalmente que o planeta

Terra é nossa casa, e como tal não há outro habitat humano igual. Desse modo, é

urgente a necessidade de transformação da concepção antropocêntrica, racionalista,

reducionista que estabeleceu a natureza meramente como objeto de exploração e

consumo, desconectou-a da existência humana, promovendo, assim, degradação

ambiental, desigualdade social e cegueira existencial.

Hoje, mais do que em outro período da história, a destruição do planeta é

algo visível e preocupante. Inclusive começamos a sofrer suas consequências com o

aquecimento global. Por isso, precisamos enfrentar os problemas ambientais e os

desafios que eles nos impõem, mudando as práticas existentes e possibilitando a

formação de sujeitos sociais mais conscientes, num processo educativo articulado e

comprometido com a sustentabilidade e a participação, baseado numa lógica que

privilegia o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento.

Vale enfatizar que na Educação Ambiental (AE) existem múltiplas e

diferentes ideias, correntes e manifestações. Portanto, não é possível considerá-la no

singular, como um único modelo alternativo de educação que complemente uma

educação convencional. Desse modo, entende-se que a Educação Ambiental (EA) é

uma forma abrangente de educação que se propõe a atingir todos os cidadãos,

inserindo o meio ambiente em suas dimensões física, química, biológica, econômica,

política e cultural em todas as disciplinas e em todos os veículos de transmissão de

conhecimentos. É um processo participativo, onde o educando deve ser o principal

sujeito do processo de ensinoaprendizagem, com participação ativa no diagnóstico dos

problemas ambientais e busca de soluções, tornando-se um agente transformador,

através de uma nova conduta socioambiental, ética e política. Afinal, a EA não é neutra,

mas uma ação baseada em valores para a transformação social.

31

2.4.1 - Breve histórico da Educação Ambiental no Brasil

A preocupação oficial com a necessidade de um trabalho educativo visando

sensibilizar as pessoas para as questões ambientais evidenciou-se em 1972, na

Conferência sobre Meio Ambiente Humano, realizada pela Organização das Nações

Unidas (ONU), em Estocolmo. Esta conferência gerou a Declaração sobre o Meio

Ambiente Humano e teve como objetivo chamar a atenção dos governos para a adoção

de novas políticas ambientais, entre elas um programa de educação ambiental, com o

objetivo de educar o cidadão para a compreensão e o combate à crise ambiental no

mundo.

No ano de 1977, em Tbilisi, na Geórgia (URSS), foi realizada a Primeira

Conferência sobre Educação Ambiental, a qual recomendou que a prática da EA,

considere todos os aspectos que compõem a questão, ou seja, aspectos econômicos,

sociais, científicos, tecnológicos, éticos, culturais e ecológicos, numa perspectiva inter e

multidisciplinar. Essa Conferência indicou que a AE deveria se efetivar pela educação

formal e informal, atingindo todas as faixas etárias, e cada país implementasse sua

política nacional de educação ambiental.

No Brasil, o processo de institucionalização da EA iniciou em 1973 com a

criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). Um elemento de grande

importância para a EA brasileira foi a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA, Lei n0

6.938/81) que estabeleceu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclusão da EA em

todos os níveis de ensino, incluindo a educação da comunidade, para a participação

ativa na defesa do meio ambiente. Essa recomendação é reforçada pela Constituição

Federal (1988), no artigo 225, inciso VI que estabelece a promoção da “educação

ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação

do meioambiente”.

No ano de 1992, realizou-se, na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência de

Cúpula da Terra – Rio 92. Durante esse evento foi produzida a Carta Brasileira para a

Educação Ambiental, reconhecendo ser a EA um dos instrumentos mais importantes

para viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e,

consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana. Devido aos

compromissos assumidos durante a Rio-92, o governo brasileiro criou o Programa

Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) e a instituição desse Programa levou à

formulação e promulgação de uma legislação especifica para a EA e uma política

nacional de Educação Ambiental - Lei 9.759/99.

Para orientar a escola na elaboração dos projetos educativos, enfocando

procedimentos, atitudes e valores no convívio escolar, assim como a necessidade de

tratar temas sociais urgentes, de abrangência nacional tais como: meio ambiente, ética,

pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo, foram aprovados pelo

Conselho Nacional de Educação, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN). Contudo, vale ressaltar que na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB nº 9.394/1996) a única referência à Educação Ambiental está no artigo 32, inciso

32

II, o qual exige para o Ensino Fundamental a “compreensão ambiental natural e social

do sistema público, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a

sociedade”.

Embora a LDB faça pouca referência à EA houve considerável avanço na

efetivação da mesma nas escolas. Contribuiu significativamente para a realização das

ações em EA, a criação, em 2004, da Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade (SECAD), visto que permitiu um maior enraizamento da EA

no MEC e junto às redes estaduais e municipais de ensino, passando a atuar de forma

integrada às áreas de Diversidade, Educação Escolar Indígena e Educação do Campo.

No município de Belém, a proposta de educação ambiental deve ser parte

importante do currículo de todas as escolas da Rede Municipal e não apenas das

ecoescolas, buscando ressignificar o cuidado para com a diversidade da vida como

valor ético-político que contribua com um projeto de sociedade ambientalmente

sustentável. Essa ideia alimenta o desejo de uma relação simétrica entre os interesses

da sociedade e os processos ambientais, fugindo da dicotomia ambiente-natureza. O

propósito é desenvolver o processo educativo contemplando tanto o conhecimento

científico como os aspectos subjetivos da vida, que incluem as representações sociais,

assim como o imaginário acerca da natureza e da relação do ser humano com ela. Isso

significa trabalhar os vínculos de identidade com o entorno socioambiental.

2.4.2 - A Educação Ambiental na Escola

A dimensão ambiental representa a possibilidade de lidar com conexões

entre diferentes dimensões humanas, propiciando entrelaçamentos e múltiplos

trânsitos entre múltiplos saberes. Nessa teia de aprendizagem, a educação adquire

papel estratégico, com a escola participando como instituição capaz de compreender

e articular os processos cognitivos com os contextos da vida (TRISTÃO, 2002).

Segundo Reigota

[...] a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas (1998, p. 43)

Tomando Vygotsky como referência, podemos dizer que o processo de

reconstrução interna (dos indivíduos) ocorre a partir da interação com uma ação

externa (natureza, ecossistema, recursos hídricos, desmatamento etc.), na qual os

indivíduos se constituem como sujeitos pela internalização de significados que são

construídos e reelaborados no desenvolvimento de suas relações sociais. A educação

ambiental pode assumir uma parte ativa de um processo intelectual, constantemente a

serviço da comunicação, do entendimento e da solução de problemas (VYGOTSKY,

1991). Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em

constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e

33

significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência

pessoal do aluno. Portanto, a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno

terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais,

parte componente de uma realidade mais complexa e multifacetada.

Tendo em vista que a escola é espaço social e local onde o aluno dá

sequência ao seu processo de socialização e aprendizagem e considerando a

importância da questão ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no

espaço, é preciso que o ambiente escolar ofereça meios efetivos para a compreensão

dos fenômenos naturais, das ações humanas e suas consequências para consigo,

para sua própria espécie, para os outros seres vivos e o ambiente. Assim, é

imprescindível que a temática ambiental esteja presente em todas as disciplinas do

currículo, relacionada com a realidade da comunidade, para que o aluno entenda a

correlação dos fatos com uma visão integral do mundo em que vive.

Entende-se que a Educação Ambiental como componente essencial do

processo de formação e educação permanente dos sujeitos, com uma abordagem

direcionada para a resolução de problemas, torna o processo educativo mais relevante

e mais realista e estabelece uma maior interdependência entre os saberes e o

ambiente natural e social. Nesse sentido, como objetivos da EA na escola estão: a

sensibilização e a conscientização; a busca de uma mudança comportamental; a

formação de um cidadão mais atuante com a criação de condições para que isso seja

um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares; a integração

entre escola e comunidade, objetivando a proteção ambiental e a sobrevivência

humana no planeta.

O desenvolvimento de um processo de sensibilização e conscientização da

comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o ambiente

educacional, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como

comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários

que são potenciais multiplicadores de informações e atitudes relacionadas à EA

oferecida na escola, o que possibilita um estreitamento das relações intra e

extraescolar bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o da escola.

Portando, esta diretriz, ao enfocar a educação ambiental pretende

possibilitar aos educandos uma compreensão fundamental dos problemas existentes,

da presença humana no ambiente, da sua responsabilidade e do seu papel político-

crítico como cidadãos de um país e de um planeta. Tem o propósito também de

contribuir para recuperar e reforçar valores que conduzam os alunos a repensar e

avaliar, de outra maneira, as suas atitudes diárias e as consequências destas para o

meio ambiente em que vivem.

34

2.5. Interdisciplinaridade

O Ensino Fundamental, como um direito fundamental, deve ser relevante,

pertinente e equitativo, cuja essência esteja pautada em um ensino que forme

indivíduos que assumam seus papéis nos diferentes tempos e espaços históricos, nos

grupos sociais a que pertencem, realizando-se a partir de seus interesses e valores;

deve conduzir ao convívio democrático com as diferenças, orientado pelo respeito

mútuo e pelo diálogo, em que o indivíduo adquire espírito crítico e condições de

aprender a assumir responsabilidades em relação a si e aos outros; deve também se

constituir em luta permanente pelo acesso ao conhecimento para todos, em especial

àqueles grupos da população que estão em desvantagem social, cultural e financeira,

dentro de um regime social profundamente injusto.

A instituição escolar tem como tarefa fundamental garantir a distribuição

social do conhecimento e a recriação da cultura. Para tanto, o currículo deve ser

constituído pelas experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento

e que contribuem para construir as identidades dos alunos. Ao conceber desta maneira

seu currículo, a instituição escolar compreende que os conhecimentos veiculados não

se constituem em meras transposições didáticas extraídas dos conhecimentos originais

a que estes se referem, como as disciplinas científicas, as diferentes formas de

expressão e comunicação (os idiomas, as artes e outras linguagens), ou ainda de

conhecimentos produzidos no âmbito do trabalho, das tecnologias, dos movimentos

sociais, no campo da saúde, dos desportos. (MEC/SEB, Indagações sobre o Currículo,

2009).

Torna-se necessário, portanto, compreender os conhecimentos escolares

como o conjunto de conhecimentos que a escola tem de selecionar e transformar, para

dar-lhe sentido e torná-los passíveis de serem ensinados, transformando-os em

elementos para a formação ética, estética e política do aluno. As escolas são

instituições destinadas à formação das crianças, jovens e adultos e trazem embutido

nos conhecimentos escolares das diferentes áreas, além do processo de didatização

que sofrem, também um sentido moral e político.

Os conhecimentos produzidos em diversas áreas ao adentrarem a escola

são recontextualizados, obedecendo a lógica que preside as instituições escolares,

evidenciando, desta forma, que a história escolar está indissoluvelmente ligada ao

exercício da cidadania. Portanto, a ciência que a escola ensina está impregnada de

valores que buscam promover determinadas condutas, atitudes e determinados

interesses, como por exemplo, a valorização e preservação do meio ambiente, o

reconhecimento etnicorracial, a inclusão social, entre outros. Assim, fica evidente que o

acesso ao conhecimento escolar tem dupla função: formar habilidades intelectuais e

criar atitudes e comportamentos desejáveis para a vida em sociedade. Como nos diz

Cortella (2009, p. 104)

35

A escola está grávida de história e sociedade, e, sendo esse processo marcado pelas relações de poder, o conhecimento é também político, isto é, articula-se com as relações de poder. Sua transmissão, produção e reprodução do conhecimento no espaço educativo escolar decorre de uma posição ideológica (consciente ou não), de uma direção deliberada e de um conjunto de técnicas que lhes são adequadas.

Desse modo, ao dominar o conhecimento escolar e o conhecimento da

cultura, a escola possibilitaria um bom desempenho do aluno. Para que isso ocorra, faz-

se necessário que ele não apenas apreenda os conteúdos escolares, mas também

saiba se movimentar nessas instituições, através do conhecimento que adquire, de

seus valores, seus rituais e normas, ou seja, pela familiaridade com a cultura da escola.

Para tal o aluno demonstra dominá-la quando compreende não apenas aquilo que fica

explicitado no cotidiano escolar, como também o que está implícito, ou seja, tudo aquilo

que não é dito, mas que é valorizado ou desvalorizado pela escola em termos de

comportamento, atitudes e valores que fazem parte de seu currículo oculto.

Por isso, a ação do professor requer um incisivo recurso que opere a síntese

entre a teoria e a prática, entre o explícito e o implícito, afirmando-se na relação entre

unidade e multiplicidade. Cabe ressaltar que a substancialidade na convivência humana

impõe-se como prática histórica que suscite o problema desta relação que vai além da

perspectiva puramente epistemológica e curricular, ampliada pela perspectiva

antropológica.

Esta possibilidade se traduz na prática interdisciplinar, que supera o

dogmatismo monocromático da ciência positivista e amplia o olhar por sobre a

realidade, enxergando as numerosas vias de acesso a este real, superando nexos

meramente lógicos entre as áreas de conhecimento e as práticas cotidianas,

penetrando as dimensões de valor que envolvem aspectos éticos e políticos realçando

a potencialidade do saber, intrinsecamente relacionado com o ser, o fazer e o poder.

(SEVERINO, 1995).

Compreender isso pressupõe uma prática educativa consubstanciada em

uma ação determinada historicamente, onde o agir determina o ser e que, portanto,

circunscreve a essência humana. Assim, afirma Severino (1995, p.161)

Sem dúvida, a substância do existir é a prática, enquanto que o conhecimento tende naturalmente para a teoria. Só se é algo mediante um contínuo processo de agir, só se é algo mediante a ação. É o que testemunham todos os entes que se revelam a experiência humana. Mesmo quando se está diante de um objeto puramente material, a sua ‘essência’, enquanto conjunto de características mais ou menos fixas, só tem sentido, enquanto capacidade de uma forma de atividade.

A ação educativa deve, pois, se constituir de conhecimentos cuja matriz

esteja fincada no solo de relações sociais, como afirma Severino, (1995, p. 163), não

apenas como referência circunstancial, mas como matriz, como placenta que nutre todo

seu processamento. Desta forma, a educação ganha efetividade, a partir de uma

36

prática interdisciplinar antropologicamente constituída e objetivada pelas relações

histórico-sociais que devem orientar práticas pedagógicas que superem a fragmentação

do conhecimento através da integração dos componentes curriculares, bem como de

atividades didáticas integradoras.

Somente a prática docente embasada na interdisciplinaridade poderá

deslegitimar e superar o discurso decadente do cientificismo, abrindo horizontes para

que o conhecimento esteja a serviço da solução de problemas sociais que os

estudantes, no seu dia a dia, enfrentam, superando de forma saudável e consciente os

desafios que o cercam. A educação que precisamos exercitar é aquela capaz de formar

indivíduos críticos, de raciocínio rápido, com sentido de risco, curiosos e conscientes de

seu papel social e das exigências que estão postas no mundo em que vivem. Embasa

nossa afirmação o que nos diz Frigotto (1995, p. 31)

O conhecimento não tem como ser produzido de forma neutra tendo em vista que as relações que ele tenta apreender não são neutras. É justamente neste âmbito que percebemos que a interdisciplinaridade na produção do conhecimento nos é uma necessidade imperativa, mas nos é também um problema que está plotado na materialidade das relações capitalistas de produção da existência. Sem penetrarmos na aridez desta materialidade a questão do debate da interdisciplinaridade fica num limbo sem pecado e sem prazer - limbo da discussão lógico-formal, discursiva.

Faz-se necessário compreender que o distanciamento que envolve a ação

pedagógica, no que concerne à interdisciplinaridade, deve-se ao fato de que não há

unidade dialética na história das ciências, como também não há unidade dialética nos

discursos científicos, quando muito, estes se unem por recursos menos significativos,

de ordem operacional, destacando a não comensurabilidade da ordem conceitual,

explicitando, desta forma, a falta de unidade dialética da história das ciências.

Ao constatarmos isto, fica evidente o porquê da dificuldade em exercitar e

aplicar a interdisciplinaridade como campo de análise e reflexão do campo social e

político nas salas de aula, torna-se quase impossível empreender uma prática docente

arrojada e multidisciplinar que supere a decadente ação docente monolítica e

maniqueísta tão frequente nas escolas na atualidade.

Sendo o processo educativo permeado pelas relações sociais, fica claro o

equívoco de se compreender este processo como uma mera questão metodológico-

didática. Esta tem sido uma grande limitação, que compromete sobremaneira a

superação da prática disciplinar desenvolvida nas salas de aula.

No momento em que a escola parte para a organização dos conteúdos, há

necessidade de superar o caráter fragmentário das disciplinas, buscando construir um

currículo que possibilite tornar mais significativos para os estudantes os conhecimentos

abordados e favoreça a participação ativa de alunos com habilidades, experiências de

vida e interesses muito diferentes. Neste momento, tanto a gestão como os docentes

devem assumir uma interdisciplinaridade construtiva, em que todos ganham, pois esta

37

ensina e aprecia a tolerância frente às demais teorias. Para ela, não se trata de apenas

uma ser verdadeira, não se trata de excluir todas as outras teorias – sentido metafísico

– pelo contrário, incita todas a criarem novas teorias, assim, aumentando o construto

da liberdade efetiva dos homens neste mundo.

Ao efetivar tal processo o docente verá os educandos realizarem

transposições que desenvolverão campos de ação antes insuspeitados, colocando em

prática novas formas de dizer e de fazer. Os educandos conseguirão deslocar o saber

para outros contextos, efetivando-os no mundo externo, corporificando a ciência,

superando a memorização, o saber bancário, através dos processos interdisciplinares.

O educador deve, pois, se propor efetivamente a instigar no educando a busca pelo

saber, criando neste o incansável interesse por desvendar novos conhecimentos,

através de novos construtos que aumentem a liberdade efetiva dos homens frente ao

mundo. Como nos diz Gusdorf (1977, p. 22), “a inteligência humana já é, por essência,

interdisciplinar”, cabendo, portanto, rever as práticas pedagógicas cuja racionalidade

científica são desumanizantes, tornando-as mais significativas e se traduzindo na

própria ação humana.

Porém, é mister que a interdisciplinaridade na escola não se constitua em

misturar métodos e conteúdos de diferentes disciplinas. É necessário compreender que

vivenciar a interdisciplinaridade requer uma atitude radical de ruptura com a

hierarquização dos conhecimentos escolares, aliando-os de forma a ressignificá-los,

formando numerosas redes horizontais de conhecimentos, afirmando-se, desta forma, o

movimento de conjunto pelo qual se desenvolve a ideia de totalidade teórica e prática.

Convém ainda compreender que interdisciplinaridade nada tem a ver com

homogeneização de conhecimentos; muito pelo contrário, interdisciplinarizar exige ter

consciência das especificidades das áreas do conhecimento, e, como tal deve-se

entender que a totalidade é uma categoria que não está acima das ciências impondo

sua reunião; não tem a ver com a soma de um discurso único, nem com uma única

realidade. Pensar desta forma seria puro reducionismo. Entenda-se, portanto, que a

interdisciplinaridade não é a soma de disciplinas, mas, como afirmamos anteriormente,

ela é a ressignificação dos conteúdos analisados por múltiplos olhares por sobre um

mesmo objeto.

Assim compreendidas, as propostas pedagógicas devem ser colocadas em

prática no sentido de favorecer o acesso aos bens culturais, às práticas culturais, ao

convívio com a natureza, bem como contribuir para a ampliação de experiências de

aprendizagem, como afirma Kramer (2009), mobilizando elementos cognitivos, afetivos

e sociais. Estes aspectos devem servir de base para que os saberes e os

conhecimentos sejam trabalhados, de forma a desenvolver determinadas

especificidades, próprias dos seres humanos.

Ao agir dentro desta compreensão, o currículo no Ensino Fundamental deve

corresponder às experiências vividas pelos estudantes, levando em consideração a

necessidade de articular os saberes que os estudantes aprendem na vivência e na

38

convivência em suas comunidades com os conhecimentos sistematizados que a escola

deve lhes tornar acessíveis.

Dessa maneira, qualquer discussão sobre o currículo neste nível de ensino,

deverá superar sempre duas dificuldades que se complementam: de um lado, torna-se

fundamental empoderar-se do que é comum ser denominado de "realidade do aluno" e,

de outro, conhecer o que se costuma chamar de "saberes escolares", relativos à

Educação Básica; uma vez que no Ensino Fundamental estes parecem ser mais

complexos.

Para se desenvolver esta nova concepção de educação escolar, faz-se

necessário questionar e abandonar o modelo de currículo padronizado, prescrito e

hierarquizado que atualmente colocamos em prática nas escolas, concebendo-a como

um espaço de múltiplos saberes e múltiplas racionalidades, rompendo desta forma, com

a compreensão de escola uniforme e homogênea. Para garantir tal ruptura a escola

deve reconhecer-se como espaço dialógico, que incentiva esforços de práticas

pedagógicas criativas, críticas e inovadoras, escolhendo objetivos, conhecimentos,

saberes e procedimentos oriundos de grupos subalternizados e de “sujeitos negados”

na sociedade, desta forma, abrindo espaço para o diálogo entre tais sujeitos

marginalizados e a ciência, a tecnologia e a cultura dominantes.

Dentro desse contexto, a interdisciplinaridade assume um papel

determinante – não como salvadora de todos os males da educação escolar – pois se

impõe enquanto um processo fundamental para a superação da desarticulação,

hierarquização e dicotomização das disciplinas escolares que tem sido o nó górdio no

percurso acadêmico de todos aqueles que frequentam as instituições que desenvolvem

a educação formal.

Colocar em prática uma ação pedagógica interdisciplinar numa escola

organizada em Ciclos de Formação – como é o caso das escolas da Rede Municipal de

Ensino de Belém – requer assumir uma perspectiva de totalidade perante o universo

disciplinar, compreendendo que as áreas de conhecimentos não podem prescindir

umas das outras, elas são complementares, necessitando, portanto, de um olhar

ampliado que promova o ir e vir substantivo que ressignificará os conhecimentos, numa

soma de esforços coletivos e participativos dos diversos profissionais envolvidos em tal

processo. Para promover este movimento interdisciplinar, torna-se necessário atuar nas

diversas instâncias do planejamento, em especial do planejamento curricular, em que a

escola deve estabelecer novas práticas pedagógicas que nos aproxime uns dos outros

e do mundo em que estamos inseridos.

Vale ressaltar ainda, o fato de que cada disciplina tem sua especificidade e

como tal não pode ser “diluída” e sim integrada, através da compreensão de que um

conhecimento necessita ser ressignificado em outros, garantindo desta forma, uma

compreensão mais ampliada e qualificada desse conhecimento e da forma como este

se estabelece no mundo à nossa volta.

39

Outro aspecto relevante que não pode deixar de ser bem entendido é que a

ação pedagógica, dentro do movimento interdisciplinar, não pode ignorar a

especificidade e a cientificidade de cada área de conhecimento, estas estão garantidas

por sua própria materialidade. E para dar conta desse processo deve-se romper com as

concepções metafísicas da realidade social. Ao professor cabe reconhecer que

delimitar um objeto de estudo, não significa que deva fragmentá-lo ou arbitrariamente

limitá-lo, ou seja, delimitar um problema não significa abandonar as múltiplas

determinações que o compõem, pois mesmo delimitado, um fato não perde o tecido da

totalidade que lhe é indissociável.

O movimento interdisciplinar precisa, pois, respaldar e garantir a amplitude e

a ressignificação dos conhecimentos escolares, levando em consideração todos os que

permeiam a sociedade, favorecendo uma aprendizagem significativa dos educandos,

concorrendo para uma prática de sujeitos propositores de transformações sociais.

Portanto, na escola, espaço onde a educação formal se dá, cabe aos

profissionais assumirem-se como permanentes “aprendentes”; que na análise dos fatos

empreendam esforços que saturem as categorias abstratas de mediações, de

conteúdos que se apresentam dentro de uma dada especificidade de uma determinada

realidade. Cabe aqui destacar a afirmação de Frigotto (1997, p. 45) que fortalece nosso

entendimento.

E o conhecimento do social tem um caráter unitário porque os homens ao produzirem sua existência mediante as diversas relações e práticas sociais o fazem enquanto uma unidade que engendra dimensões biológicas, psíquicas, intelectuais, culturais, estéticas etc. Se do ponto de vista da investigação podemos delimitar uma destas dimensões não podemos perder de vista que para que sua compreensão seja adequada é preciso analisá-la na sua necessária relação com as demais dimensões.

Desta forma, a escola, ao endossar o movimento interdisciplinar, assume que

o processo de conhecimento exige uma ação ativa, uma elaboração cujo trabalho de

construção por parte dos sujeitos coletivos esteja voltado para aprofundar a

compreensão dos fatos. Processo este marcado pelos mais diferentes limites do sujeito

envolvido. Enxergar estes limites torna-se fundamental para que os profissionais

envolvidos em tal movimento possam entendê-los e superá-los, uma vez que estes são

desafios no plano da realidade que devem ser assumidos na perspectiva de

redimensioná-los, a partir de um trabalho interdisciplinar explicitado na integridade dos

saberes e conhecimentos necessários para uma vida plena de justiça, fraternidade e

felicidade.

40

3. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO

O século XVII foi palco de mudanças profundas na forma como o homem

compreendia seu mundo e a si mesmo. Em meio a essas mudanças emerge a forma de

pensar moderna, baseada no conhecimento científico. Antes disso, porém, a Ciência

como conhecemos hoje, não tinha “estatuto” próprio. Por isso, a partir desse período

histórico, ela constrói seu método de investigação do mundo e passa a investigá-lo.

Entretanto, gradativamente, a Ciência vai se tornando uma ciência particular, à medida

que novas ciências nascem e passam a delimitar seu campo de pesquisa e a construir

um método específico. Isto é, a Ciência vai se particularizar em ciências na medida em

que cada uma privilegiará setores distintos da realidade. Cada uma vai se ocupar em

investigar um aspecto da realidade ao definir um objeto de estudo próprio.

No entanto, as conclusões a que os pesquisadores chegarem sobre suas

investigações vão procurar ganhar sentido geral na medida em que forem validadas em

qualquer outra situação. Isso se dará porque as ciências procurarão pelas

regularidades existentes em determinados fatos e fenômenos da realidade. Assim,

poderão generalizá-los, numa linguagem rigorosa, que permitirá que sejam

comunicados e compreendidos por qualquer sujeito.

Neste processo, as ciências foram aperfeiçoando cada vez mais seus

métodos de investigação, seus instrumentos, na busca do rigor, da precisão, o que

permitiu ao cientista uma verificação mais objetiva dos fenômenos.

Assim, as ciências fundamentadas no racionalismo, no antropocentrismo e

na técnica, se especializaram cada vez mais à medida que mais investigavam as

particularidades da realidade, dos fenômenos. O homem moderno passou, então, a

depositar total e exclusiva confiança em si e na razão humana como instrumento capaz

de conhecer a verdade. Para isso, separou a razão da emoção, o objetivo do subjetivo,

o sujeito do objeto, o conceito da vivência, o ser do saber, a religião da ciência. Enfim,

produziu um conhecimento fragmentado da vida, da realidade e da existência humana.

Para melhor estudar, compreender e explicar a complexidade do universo, a

diversidade dos fenômenos, o homem moderno dividiu as ciências em diversos ramos

de estudo, no intuito de categorizá-las, classificá-las, colocar em ordem um conjunto de

conhecimentos nunca antes produzidos. Surgem então as Ciências Humanas e as

Ciências da Natureza. Porém, esta divisão não foi a única a ser estabelecida. Inúmeras

outras foram criadas procurando dar um sentido mais orgânico para as ciências. De

modo geral, no entanto, as ciências foram agrupadas de acordo com a proximidade dos

objetos de estudo. Cria-se, assim, as Áreas do Conhecimento constituídas de várias

ciências que compartilham determinados aspectos de seus objetos de estudo. Dentro

das Áreas, mais recentemente, surgem subáreas ou disciplinas afins. Temos então a

área das Linguagens, das Ciências Humanas, das Ciências da Natureza e da

Matemática (resolução CNE/CEB nº 7/2010).

É importante frisar que esta divisão das ciências em áreas e subáreas, dá-se

41

mais por uma necessidade de organização e sistematização do conhecimento humano

e não porque a complexidade do universo, a diversidade dos fenômenos e a própria

realidade apontem para esta divisão.

Hoje, sabemos que as Áreas do Conhecimento formam uma complexa teia

de conhecimentos que precisam ser rearticulados, recompostos para que o homem

possa compreender melhor sua realidade, seu mundo. As ciências ao se ocuparem em

desvendar os mais íntimos mistérios da natureza, da realidade, se esqueceram, porém,

de rearticular todo esse conhecimento produzido. É preciso então, que restituamos a

razão comunicativa da Ciência. Afinal, a divisão que existe entre elas, deve-se à

necessidade de abordar, de compreender cientificamente a realidade, viabilizar a ação

humana de produção do conhecimento. Mas isso é uma necessidade didática, imposta

por nossas limitações humanas. Portanto, estudamos as especificidades para melhor

compreender o mundo, a nós mesmos e as nossas relações com os outros (outras

especificidades). Mas a realidade exige sempre uma compreensão de totalidade já que

a mesma é indivisível. Por isso, é necessário que busquemos sempre, mesmo que

parcialmente, mesmo que de forma limitada, uma visão de totalidade da construção do

conhecimento humano. É urgente, pois, que dotemos nossas práticas educativas de

novas abordagens e estratégias que tenham por base referenciais como a

interdisciplinaridade, a complexidade, a inclusão, a diversidade e o Desenvolvimento

Humano.

Organizar a educação fundamental por ciclos de formação significa romper

com a fragmentação do saber e alargar os tempos de aprendizagem/desenvolvimento,

possibilitando a convivência com a diversidade.

Neste sentido, é importante destacar alguns princípios que devem nortear a

ação dos educadores no processo de ensinoaprendizagem escolar nos ciclos de

formação:

I. O desenvolvimento é um processo integrado que abrange todos os

aspectos da vida humana (físico, perceptivo-motor, emocional, cognitivo e social). Não

pode, portanto, restringir-se simplesmente à aprendizagem formal, ao domínio da leitura

e da escrita;

II. O processo de desenvolvimento do ser humano está intrinsecamente

ligado à aprendizagem, sendo, inclusive, influenciado, modificado por ela. Como são

dois processos concomitantes, não devemos trabalhar com a ideia de prontidão, de pré-

requisitos, de encadeamento formal e fragmentado do conhecimento;

III. A aprendizagem é um processo múltiplo. A criança/adolescente utiliza

estratégias diversas interdisciplinares para aprender que estão vinculadas à sua

experiência de vida. Portanto, a brincadeira, o jogo simbólico, a imitação e os gestos

são formas da criança/adolescente aprender a dar significados à sua realidade e

desenvolver habilidades;

42

IV. As crianças/adolescentes apresentam ritmos diferentes de

desenvolvimento. É importante, então, que a escola possibilite tempos e ritmos mais

flexíveis no processo de apropriação do conhecimento;

V. O professor deve compreender o processo de

desenvolvimento/aprendizagem da criança/adolescente, para que, a partir disso, possa

definir as metodologias de ensino que utilizará em sua prática pedagógica;

VI. A socialização de vivências, experiências, valores, representações da

cultura e do conhecimento formal privilegia o ser humano em seu complexo processo

de conhecer, vivenciar, construir e reconstruir a realidade, assim como resguarda a

memória coletiva.

3.1. LINGUAGENS

A área das Linguagens constitui-se de um conjunto de disciplinas como a

Língua Portuguesa, a Língua Estrangeira, o Ensino da Arte e a Educação Física que

estudam os vários significados das linguagens: os códigos (sinais, símbolos, signos) e

a linguagem (capacidade de significação e comunicação, nos seus vários sentidos) do

ser humano. É o universo da expressão humana; produto das relações com a natureza

e com os outros homens. Seus objetos são: a língua e suas variedades, as formas de

expressão simbólica (musical, cênica, visual) e o movimento humano.

O que caracteriza esta área, além da questão propriamente didática, são as

atividades das disciplinas específicas, que devem buscar fundamentação nas opções

teóricas e metodológicas da área. Na verdade essa inter-relação da Língua Portuguesa,

Língua Estrangeira, Arte, Educação Física atende ao progresso das ciências nas

últimas décadas e das demandas sociais e culturais.

O conceito de linguagem (capacidade de significação e comunicação)

funciona como elemento unificador do agrupamento. Busca-se uma ação

interdisciplinar, uma integração mútua dos conceitos, da terminologia, da metodologia:

uma postura interacionista das disciplinas; uma intercomunicação através da inter-

relação dos objetos diante dos quais os objetos particulares constituem-se enquanto

subobjetos.

Historicamente a escola se organiza em segmentos variados quer de tempo,

de pessoas, ou de saber, fragmentando-se na sua ação pedagógica. É necessário

superar as particularidades e constituir, através de uma postura e uma prática

interdisciplinar, uma consciência totalizadora na escola.

As ações pedagógicas devem ter uma visão global da linguagem, buscando

transcender as compreensões isoladas de cada componente de área, estabelecendo

um mínimo denominador comum – que constitui-se nas ações, em projetos, pesquisas

e planejamento afins.

43

3.1.1. Língua Portuguesa

“Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular como um paradigma da primeira conjugação. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético, de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido em sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas Expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.”

Paulo Leminsky

O poema de Leminsky traduz, em linhas gerais, a concepção de língua que,

comumente, tem como principais objetivos definir termos, classificar e reconhecer

classes gramaticais, confundindo, desse modo, o uso de uma metalinguagem reduzida

a uma terminologia gramatical com práticas de linguagem que proporcionam ao aluno o

uso da língua com mais competência em situações concretas e/ou simuladas de uso.

De acordo com Silva (1986. p. 17) “quando interagimos [...] não pensamos

antes: – ‘agora vou falar uma sílaba, depois uma palavra’ – porque é mais fácil ou

porque se deve graduar o que se fala. Interagimos, simplesmente” através das ações

que os homens fazem com a língua/linguagem. Através dela, o falante age sobre seu

interlocutor, sobre o mundo e sobre a própria interlocução. Este agir só é possível

porque “a língua pertence a todos e não é um instrumento puramente linguístico” (idem,

p. 37).

A visão equivocada de que a língua está à disposição para ser dissecada,

classificada, copiada e transformada em algo sem vida é uma das causas do fracasso

do ensino-aprendizagem do português língua materna, pois, apesar da enorme

quantidade de aulas de português, o que constatamos é que o aluno, de modo geral,

tem muita dificuldade para se expressar oralmente e por escrito, principalmente em

situações formais de comunicação.

Essa concepção de ensino – onde a gramática normativa é, ao mesmo

tempo meio e fim do ensinoaprendizagem – leva o aluno a decorar regras, a etiquetar,

mas não o ajuda a desenvolver as quatro habilidades linguísticas: ler, escrever, ouvir e

falar nas diferentes situações de uso; apesar de o aluno passar onze, doze anos na

escola “aprendendo” sua língua.

No contexto de ensinoaprendizagem do português, faz-se necessário, então,

que o professor, antes de qualquer consideração sobre as metodologias aplicadas em

44

sala de aula, saiba qual é a sua concepção de língua/linguagem e suas implicações

para o processo de ensinoaprendizagem da língua materna, pois “o como se concebe a

natureza fundamental da língua (e/ou linguagem) altera em muito o como se estrutura o

trabalho com a língua ou linguagem em termos de ensino”. (TRAVAGLIA, 1996, p. 21).

Por isso, a resposta ao “para que” ensinar língua portuguesa envolve tanto uma

concepção de linguagem quanto de educação, pois o ponto de vista cria o objeto de

ensino.

Segundo Geraldi (1997, p. 41), a linguagem humana tem sido concebida de

maneiras bastante diversas que podem ser sintetizadas em três principais concepções.

A primeira concepção afirma que a linguagem é a representação do mundo e

de seu pensamento: está relacionada aos estudos tradicionais, em que o aluno

representa para si o mundo através da linguagem. Nesta concepção, a linguagem é o

reflexo do pensamento humano; logo, “as pessoas que não conseguem se expressar

não pensam” (Idem, p. 41).

Já a segunda concepção destaca que a linguagem é um instrumento de

comunicação: sua principal função é a transmissão de informações. Aqui, a linguagem

é vista como um código que transmite a um receptor determinadas mensagens. Trata-

se, sobretudo, de compreender a linguagem como decodificação mecânica,

dispensando-se, desse modo, a reflexão feita pelo falante.

A terceira concepção trata a linguagem como uma forma de interação,

resultado das ações entre os homens, em que mais do que refletir pensamento ou

transmitir mensagens, o falante, através dela, age sobre o outro. Desse modo, a

linguagem funciona como um jogo cujas regras podem ser estabelecidas no processo

de interação que acontece entre os falantes de uma sociedade.

A concepção de linguagem assumida nestas Diretrizes corresponde a esta

última, por acreditarmos que ela possui um papel fundamental na interação social dos

falantes que são sujeitos das ações que realizam através dela.

Para Soares (2004, p. 155), “extrair de uma área de conhecimento uma

disciplina curricular é, fundamentalmente, escolarizar esse conhecimento, ou seja, é

instituir um certo saber a ser ensinado e aprendido na escola”.

Historicamente, o uso da língua portuguesa foi gradativamente tornando-se

obrigatória. No começo, coexistiam três línguas: a língua geral13, o latim e a língua

portuguesa. O latim era ensinado pelos jesuítas aos alunos (normalmente, os filhos dos

portugueses) no ensino secundário e superior. A língua portuguesa servia como

instrumento para a alfabetização desses poucos privilegiados que se escolarizavam:

após aprenderem a ler e a escrever em português, aprendiam o latim.

Porém, a partir da metade do século XVII, o Marquês de Pombal tornou

obrigatório o uso da língua portuguesa no Brasil. Com a vinda da família real para o

13

“Recobria as línguas indígenas faladas no território brasileiro (estas, embora várias, provinham, em sua maioria, de

um mesmo tronco, o tupi, o que possibilitou que se condensassem em uma língua comum)” (SOARES 1996, p. 3).

45

Brasil (século XIX) o ensino da gramática portuguesa ganha “ênfase” e, aos poucos, o

ensino da gramática latina vai desaparecendo.

Nesse período, estudava-se a gramática da língua portuguesa e analisavam-

se os textos de autores consagrados. Os manuais didáticos ofereciam apenas os textos

dos autores, sem qualquer tipo de comentário, pois esta tarefa cabia ao professor de

Português; ao contrário dos manuais didáticos que são utilizados a partir dos anos 60 e

70, com exercícios, respostas e comentários, pois no dizer de Britto (1997, p. 4)

o aumento da oferta de vagas criou a necessidade de recrutamento mais

amplo e menos seletivo de professores, promoveu rebaixamento

salarial, condições de trabalho precárias e formação profissional

deficiente, fatores estes que, por sua vez, reduziram a autonomia

intelectual dos professores, obrigando-o a buscar formas de facilitação e

de suporte de sua atividade docente.

A partir dos anos 80, aproximadamente, sob influência das teorias e estudos

ligados à Pragmática, o ensino de língua portuguesa começa timidamente a apresentar

uma concepção interativa de língua/linguagem, ou seja, começa-se a ver a língua como

instrumento que leva o aluno a interagir com o outro e com o mundo, considerando as

condições sociais e históricas de sua utilização.

Assim, a partir do conhecimento do percurso histórico da disciplina Língua

Portuguesa na Educação Brasileira e das dificuldades encontradas pelos alunos no

processo de leitura e compreensão de textos, as Diretrizes Curriculares de Língua

Portuguesa do Município de Belém requerem, neste momento histórico, novos

posicionamentos, levando em consideração a adoção das práticas de linguagem como

ponto central do trabalho pedagógico.

Portanto, ao longo dos nove anos do Ensino Fundamental, espera-se que os

alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes

possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e

alcançar a participação plena no mundo letrado, “daí a importância de promover-se o

desenvolvimento, no aluno, da capacidade de produzir e compreender textos dos mais

diversos gêneros e, em diferentes situações comunicativas, tanto na modalidade escrita

quanto na modalidade oral” (Matrizes de Referência, Temas, Tópicos e Descritores da

Prova Brasil).

A fim de que esses objetivos sejam alcançados, o ensino da Língua

Portuguesa deve articula-se em torno de três eixos básicos: Práticas de Leitura e/ou

escuta de textos orais e escritos; Práticas de Produção de textos orais e escritos e

Práticas de Análise e Reflexão sobre a Língua.

a) Prática de escuta de textos orais e leitura de textos escritos: de

acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o ensino de Língua

Portuguesa deve estar centrado num processo de contextualização, o qual se

materializa nos diferentes gêneros textuais que circulam socialmente. Tal prática

46

possibilita ao aluno a percepção das situações reais de comunicação, garantindo que

ele elucide as diferentes situações-problema encontradas no seu dia a dia.

Desse modo,

para se falar em leitura no seu sentido mais amplo, é preciso superar

algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A principal

delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em

sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação. Por

conta dessa concepção equivocada, a escola vem produzindo grande

quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer texto, mas com

enormes dificuldades para compreender o que tentam ler” (PCN: Língua

Portuguesa, 1998, p. 37).

Outro aspecto a ser considerado é a leitura literária, que deve ser vista como

a arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade. Logo, podemos dizer que “a

literatura, assim como a língua que ela utiliza, é um instrumento de comunicação e de

interação social e, por isso, cumpre também o papel social de transmitir os

conhecimentos e a cultura de uma comunidade” (CEREJA & MAGALHÃES, 2000, p.

39).

Para Silva (1998, p. 89),

a literatura, enquanto expressão da vida tem a capacidade de

redimensionar as percepções que o sujeito possui de suas experiências

e do seu mundo. Por isso mesmo, a leitura da literatura, pela sua

natureza e pela sua força estética, colabora significativamente para a

formação da pessoa, influindo nas suas formas de pensar e encarar a

vida.

Em se tratando de leitura literária, é importante que o professor apresente

para o aluno os textos de bons autores desde as primeiras leituras, sem, é claro, proibi-

los de fazerem leituras de outros textos, como gibis, folhetos diversos e outras leituras

de preferência dele.

De acordo com Cagliari (1993, p.179),

como alguém pode aprender a escrever se é privado desde cedo da

leitura dos bons leitores? A escola reclama muito de que os alunos

escrevem mal, mas o que eles leem? São alunos subnutridos

literariamente e, é claro, em decorrência disso, não vão saber escrever.

Sob esse enfoque sugere-se, nestas Diretrizes, que o ensino da literatura

seja trabalhado, em sala de aula, a partir de uma metodologia que leve em

consideração o letramento literário, ou seja, que o aluno seja exposto a práticas de

leitura, de maneira sistematizada, obedecendo a uma sequência pedagógica que leve

em consideração o conhecimento de bons textos literários, a motivação para ler

diferentes textos, a leitura e interpretação desses textos em diferentes contextos.

47

Outro aspecto que deve ser mencionado quando se trabalha com práticas

leitoras é a língua oral, que ainda não é ensinada, de maneira sistematizada em sala de

aula, como também continua ausente da prática pedagógica a utilização de

documentos orais. Para Alves (2000, p. 69),

essa negligência em relação à língua falada na prática escolar contrasta

fortemente com as exigências da própria escola. Em quase todas as

disciplinas há seminários a apresentar, debates dos quais participar,

exposições orais a realizar, ocasiões públicas e formais durante as quais

se pode ver claramente o despreparo dos estudantes para a realização

satisfatória dessas atividades.

Por esse motivo, faz-se necessário que o aluno aprenda a interagir com os

textos orais e escritos que circulam no mundo, criar uma expectativa em função daquilo

que vai ler e ouvir e desenvolver diferentes comportamentos diante da diversidade de

gêneros textuais, pois se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem

dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade

letrada.

Destaque-se que o letramento refere-se ao indivíduo que não só sabe ler e

escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e escrita, posiciona-

se e interage com as exigências da sociedade diante das práticas de linguagem,

demarcando a sua voz no contexto social.

Assim, nas Práticas de Leitura de textos orais e escritos, o aluno deve saber

utilizar indicadores para fazer antecipações e inferências em relação aos conteúdos e à

intencionalidade do texto; confirmar ou retificar as hipóteses de sentido do texto a partir

da percepção de elementos discursivos; ler o que não está escrito, identificando

elementos implícitos; estabelecer relações entre o texto que lê e outros textos já lidos a

fim de elaborar o seu próprio discurso; identificar os vários sentidos que podem ser

atribuídos a um texto; escutar e identificar diferentes tipos de textos orais a fim de

reutilizar adequadamente as diferentes possibilidades de expressão que a língua

oferece; comparar diferentes tipos de textos orais e escritos a fim de evidenciar as

especificidades de cada gênero textual; saber como os textos orais e escritos se

estruturam a fim de facilitar a produção; utilizar diferentes textos orais e escritos a fim

de proporcionar uma reflexão linguística, em sala de aula; despertar e cultivar o desejo

de ler textos literários; ler textos literários de forma silenciosa, individualmente ou em

grupo e pela escuta de alguém; identificar as especificidades do texto literário e ler por

prazer.

b) Práticas de Produção de textos orais e escritos: de acordo com

Castilho (1990, p. 120) “A língua é um conjunto de escolhas que o falante procede no

sistema, tendo em vista suas necessidades de interação social”. O falante, ao usar a

língua, não somente a exterioriza, mas também age sobre o interlocutor, pois o objetivo

do locutor é assegurar ao seu interlocutor as condições necessárias para que este seja

48

capaz de reconhecer a intenção daquele a fim de que realmente haja a interação.

Dessa forma, faz-se necessário que os interlocutores conheçam as condições de

produção nas quais o seu texto (oral ou escrito) está inserido (quem fala ou escreve,

para quem, onde, como, quando e para que se fala ou escreve) e tenham um

conhecimento prévio sobre o assunto abordado na interlocução.

Acrescente-se a isso que para se escrever bem, é necessário antes de

qualquer coisa ler. No dizer de Soares (2000, p. 85),

evidentemente, não se deve generalizar com afirmações do tipo todo

aquele que lê muito escreve bem, como se tratasse de uma relação

mecânica, automática. No entanto, ninguém duvida de que há relações

estreitas e positivas entre a experiência em leitura e o bom desempenho

em escrita. Além de fornecer matéria-prima para a escrita, a leitura pode

revelar pistas de como se deve escrever. Ora, para escrever, é

necessário ter o que dizer/escrever e saber como dizer/escrever. Sem

ter muito o que dizer, não se terá o que escrever. Se não se tem opinião

formada, se não se discutem ideias, se não se especula, duvida,

conjectura, compara, escrever torna-se tarefa árdua. E a leitura é uma

forma privilegiada de se adquirir informações, aprofundar

conhecimentos... Mas não é só isso. A leitura leva também a uma

familiarização com as formas da língua. As pessoas que têm o costume

de ler habituam-se ao contato com o texto escrito.

O mesmo acontece com a produção do texto oral. É preciso ter contato com

diferentes textos, de maneira sistematizada, empregar a língua oral em diferentes

situações de uso, saber adequá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as

intenções implícitas nos discursos do cotidiano e demais esferas discursivas a fim de

propiciar a possibilidade de um posicionamento do falante diante deles. Por isso, nas

Práticas de Produção de Textos orais e escritos, os alunos devem saber produzir

textos, levando em consideração o destinatário, a finalidade do texto e as

características do gênero; articular, no processo de produção textual, as seguintes

operações: planejamento, textualização e revisão, assim como utilizar os mecanismos

linguísticos necessários para a articulação das diferentes partes do texto.

c) Práticas de Análise e Reflexão sobre a Língua: o objetivo das Aulas de

Português é formar alunos capazes de usar adequadamente a língua materna, em suas

modalidades escrita e oral, assim como refletir sobre o que leem e escrevem, a fim de

entenderem as regularidades linguísticas, os funcionamentos discursivos e as intenções

comunicativas.

No dizer de Cunha (2000, p. 40),

afirmar a primazia funcional da linguagem não significa, portanto, que o

ensino da norma gramatical e a manipulação de objetos metalinguísticos

que acompanham este ensino sejam sistematicamente banidos da sala

de aula. O componente linguístico da competência comunicativa engloba

49

todas as dimensões do sistema da língua, e estas não podem ser

ignoradas em nome de uma suposta modernidade.

Neste sentido, nas atividades de análise e reflexão sobre a língua, os alunos

precisam ter um controle consciente do uso que fazem da linguagem. Assim, a

metalinguagem é um processo imprescindível para o ensinoaprendizagem do

português, mas é preciso que não se perca de vista que a sua função deve ser a de

meio e não a de fim.

Nesta perspectiva, nas Práticas de Análise e Reflexão sobre a Língua,

espera-se que os alunos saibam comparar os diferentes registros utilizados em

diferentes situações comunicativas; saibam revisar o próprio texto, relendo cada parte

escrita, verificando a articulação com o já escrito e planejando aquilo que falta escrever;

analisem a regularidade da escrita; saibam explorar os recursos da linguagem a fim de

garantir a coerência e a coesão textuais; saibam organizar seu texto oral, refletindo

sobre o uso adequado das repetições, elipses, redundâncias, autocorreções e

marcadores conversacionais, presentes nos diferentes textos orais; percebam as

propriedades específicas e as marcas linguísticas peculiares dos textos orais e escritos.

Finalmente, essas Diretrizes elencam alguns objetivos desejáveis ao ensino

da língua portuguesa para cada ciclo escolar, a saber:

3.1.1.1 - Objetivos do Ensino de Língua Portuguesa para o Terceiro Ciclo

As práticas educativas devem ser organizadas de maneira a garantir,

progressivamente, que os alunos sejam capazes de:

Desenvolver o domínio da expressão oral e escrita em diferentes

situações de produção, levando em consideração “o quê, para quê, para quem e como”

ler e/ou escrever diferentes tipos de texto;

Considerar os papéis assumidos pelos falantes, ajustando o texto à

variedade linguística adequada;

Considerar possíveis efeitos de sentido produzidos pela utilização de

elementos não-verbais;

Compreender e saber utilizar os diferentes gêneros orais previstos para

este ciclo;

Saber fazer inferências;

Identificar informações pontuais no texto;

Reconhecer as marcas linguísticas específicas de cada texto;

Identificar e utilizar recursos que estabelecem a coesão no texto;

Empregar adequadamente as palavras, segundo o valor semântico que

expressam no texto;

Ler e produzir diferentes gêneros textuais;

Ler textos literários;

Vivenciar, em contexto escolar, práticas de letramento literário.

50

3.1.1.2 - Objetivos do Ensino de Língua Portuguesa para o Quarto Ciclo

As práticas educativas devem ser organizadas de maneira a garantir,

progressivamente, que os alunos sejam capazes de:

Ler e escrever textos mais complexos, com padrões linguísticos mais

distanciados daqueles da oralidade e com sistemas de referência mais distantes do

senso comum e das atividades da vida diária;

Reconhecer e saber utilizar os implícitos, presentes nos textos orais e

escritos;

Utilizar os marcadores dos textos orais de acordo com o grau de

formalidade/informalidade das situações de comunicação;

Redigir diferentes tipos de texto, estruturando-os de maneira a garantir

fidelidade ao tema, continuidade temática, uso adequado dos recursos linguísticos

(retomadas, anáforas e conectivos) e saiba utilizar os padrões da escrita de acordo com

a função do gênero em questão e das condições de produção;

Saber utilizar marcas de segmentação em função do texto, a citar: título,

paragrafação, periodização, pontuação e acentuação;

Utilizar a língua, levando em consideração o processo de variação da

linguagem;

Identificar as características descritivas, narrativas, dissertativas/

argumentativas em textos orais e escritos;

Localizar informações no texto, fazendo uso de inferências;

Identificar, no texto, ideias centrais e periféricas;

Identificar relações lógico-semânticas (causa, condição, concessão,

conclusão, explicação, exclusão, oposição etc.) entre ideias no texto e os recursos

linguísticos usados em função dessas relações;

Reconhecer e saber usar a linguagem denotativa e a linguagem

conotativa, considerando as intenções comunicativas do texto oral e/ou escrito;

Identificar mudanças de sentido ocasionadas pela inversão da ordem das

palavras no enunciado;

Relacionar recursos de escrita (pontuação, aspas, letra maiúscula etc.)

com propósitos do texto;

Comentar ideias do texto (oralmente e/ou por escrito);

Resumir texto oral e/ou escrito;

Empregar adequadamente as palavras, segundo o valor semântico que

expressam no texto oral e/ou escrito;

Grafar corretamente as palavras; saber separar corretamente; acentuar;

assinalar a crase e fazer adequadamente a pontuação;

Ler por prazer diferentes gêneros textuais (crônicas, entrevistas,

memórias, propagandas etc.).

51

Ressalta-se que a expectativa no quarto ciclo é de que os alunos tenham um

desempenho mais autônomo em relação àqueles conteúdos que já vinham sendo

trabalhados sistematicamente no ciclo anterior.

3.1.2. Ensino de Artes

A disciplina Ensino de Arte, anteriormente intitulada Educação Artística, foi

instituída pela Lei 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esta

disciplina chegou a ser sinalizada na perspectiva de tornar-se Arte-educação. Hoje, é

entendida, por sua própria essência simbolizadora, como parte integrante da área de

conhecimento Ciências da Linguagem, funcionando como mais um elemento

consolidador desta proposta, sendo um processo educativo inclusivo, uma vez que a

Arte configura-se como síntese da capacidade simbolizadora do indivíduo, a partir de

um processo de (re) significação de valores e códigos construídos e partilhados

coletivamente pelo constante diálogo entre subjetividade e intersubjetividade.

O caráter em construção da disciplina Ensino de Arte, na RME, rompe

concepções que vão em direção à primazia da técnica (formação do artista) ou do

espontaneísmo (laisser-faire – fazer por fazer), tendo como foco a organização de um

processo democrático de vivências a partir da configuração de um ambiente estimulante

e desafiador que possibilite aos educandos – para todos e não somente para os mais

talentosos, – a interação com situações de aprendizagem diversas que lhes

proporcionem vivências e posse de saberes artísticos, críticos e estéticos para sua

relação subjetiva com o mundo através de sua expressividade individual ou coletiva.

A criança pensa poeticamente por natureza, partir de seu contexto

sociocultural, tendo seu canal direto e aberto permanentemente com o lúdico e, desta

maneira, torna a fantasia, o imaginário, como o melhor caminho para se chegar à

realidade. Faz-se necessária, então, a ampliação de sua capacidade simbolizadora

singular na perspectiva da integração aos códigos e linguagens construídos e já

vivenciados em sua sociedade, pela sua capacidade de ver, ouvir, apreciar, criticar,

(re)criar. Daí a importância e o desafio da criança desde o seu primeiro ciclo de

formação, ter acesso a conhecimentos artísticos-estéticos que lhe possibilitem um olhar

integrador às manifestações e produções culturais com as quais interage

cotidianamente ou não.

Neste sentido, o professor de Arte configura-se num mediador nesse

processo de construção e significação de saberes artísticos-estéticos, críticos, políticos,

que para além de sua sala de aula, ou, a partir dela, ecoando para toda a escola, na

perspectiva de ensinar, produzir e incentivar arte em seu contexto escolar num viés

interdisciplinar, sem no entanto, reduzir suas funções em “organizador de eventos” ou

em apoio/reforço para outras disciplinas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam o ensino e a aprendizagem

de conteúdos que colaboram para a formação do cidadão, buscando igualdade de

52

participação e compreensão sobre a produção local, regional, nacional e universal de

arte. A seleção e a ordenação de conteúdos gerais do ensino de Artes têm como

pressupostos a clarificação de alguns critérios, que também encaminham a elaboração

dos conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança e, no conjunto, procuram

promover a formação artística e estética do aprendiz e a sua participação na sociedade.

É desejável que o aluno ao longo da escolaridade tenha oportunidade de

vivenciar experimentos e expressar-se em arte nas diversas modalidades artísticas no

ambiente escolar e fora deste, visitando, conhecendo e identificando o patrimônio

cultural e artístico de seu bairro, de sua cidade, como também, espaços culturais e

museus de artes, apreciando a sua cultura e a cultura do outro, estabelecendo e

ampliando o conhecimento individual e coletivo, adquirindo, assim, a compreensão de

pertencimento dos bens culturais.

Partindo dessas premissas, os conteúdos do ensino de Artes devem estar

relacionados de tal maneira que possam sedimentar a aprendizagem artística e estética

dos alunos do ensino fundamental da RME.

Visando garantir ao educando experiências significativas nas diversas

linguagens artísticas, caberá ao professor do ensino de Artes da RME trabalhar sua

habilitação específica de formação, elencar seus respectivos conteúdos significativos e

métodos de avaliação em todos os ciclos de formação, com vistas a garantir aos

alunos, durante o percurso escolar, projetos e trabalhos que inter-relacionem as demais

linguagens artísticas e seus respectivos conteúdos, sem, contudo, apropriar-se de uma

abordagem polivalente.

Tal aprendizagem diz respeito à possibilidade dos alunos desenvolverem um

processo contínuo e cada vez mais complexo no domínio do conhecimento artístico e

estético, seja no exercício do seu próprio processo criador, por meio das formas

artísticas, seja no contato com obras de arte e com outras formas presentes nas

culturas ou na natureza. O estudo, a análise e a apreciação das formas podem

contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como também para o

conhecimento progressivo e significativo da função que a Arte desempenha nas

culturas humanas.

Assim, um conjunto de conhecimentos devem estar articulados na prática, ao

mesmo tempo em que mantêm seus espaços próprios, dentro do contexto de ensino e

aprendizagem em três eixos norteadores conexos: a produção, a fruição e a reflexão.

a) A produção: refere-se ao fazer artístico e ao conjunto de questões a ele

relacionadas, no âmbito do fazer do aluno e dos produtores sociais de arte.

b) A fruição: refere-se à apreciação significativa de Arte e do universo a ela

relacionado. Tal ação contempla a fruição da produção dos alunos e da produção

histórico-social em sua diversidade.

c) A reflexão: refere-se à construção de conhecimento sobre o trabalho

artístico pessoal, dos colegas e sobre a Arte como produto da história e da

multiplicidade das culturas humanas, com ênfase na formação cultivada do cidadão.

53

Desta maneira, a disciplina ensino de Artes precisa ser/estar

integrada/integradora ao/do Projeto Político Pedagógico e, por conseguinte, ao trabalho

coletivo na escola, na perspectiva de estabelecer diálogos permanentes com as demais

disciplinas do currículo pela ênfase aos seus elementos específicos, para a contribuição

na construção de um sujeito crítico e atuante na sociedade.

3.1.2.1 - Objetivos do Ensino de Arte para o Terceiro Ciclo

Espera-se que, ao final do terceiro ciclo, os alunos sejam capazes de:

Identificar a diversidade e inter-relações de elementos das linguagens

artísticas que se encontram em múltiplas realidades (vitrines, cenário, roupas,

adereços, objetos domésticos, movimentos corporais, meios de comunicação); perceber

e analisá-los criticamente;

Discutir e refletir sobre as preferências artísticas e influências do contexto

sociocultural, conhecendo usos e funções da Arte em épocas e sociedades distintas,

percebendo as participações diferenciadas de gênero, minorias e etnias;

Compreender a organização dos papéis sociais em relação aos gêneros

(masculino e feminino) e contextos específicos como etnias, diferenças culturais, de

costumes e crenças, para o uso propositivo das linguagens artísticas;

Interpretar e apreciar obras de arte (artes visuais, música, teatro e dança)

do próprio meio sociocultural e as nacionais e internacionais que fazem parte do

conhecimento artístico construído pela humanidade no decorrer de sua história e nos

diferentes espaços geográficos, estabelecendo inter-relações com as outras

modalidades e as demais áreas do conhecimento;

Pesquisar, explorar, improvisar, compor e interpretar obras de arte de

diversas naturezas e procedências, desenvolvendo autoconfiança, senso estético

crítico, concentração, capacidade de análise e síntese, trabalho em equipe com diálogo,

respeito e cooperação;

Compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado

nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo observar as produções

presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo

natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos;

Frequentar e saber utilizar as fontes de documentação de arte,

valorizando os modos de preservação, conservação e restauração dos acervos

artísticos e objetos presentes em variados meios culturais, físicos e virtuais, museus,

praças, galerias, ateliês de artistas, centros de cultura, oficinas populares, feiras,

mercados.

3.1.2.2 - Objetivos do Ensino de Arte para o Quarto Ciclo

Espera-se que, ao final do quarto ciclo, os alunos sejam capazes de:

Compreender, analisar e observar as relações entre as linguagens

artísticas, entre outras áreas do conhecimento humano (Educação Física, Matemática,

54

Ciências, Filosofia etc.), estabelecendo as conexões entre elas e sabendo utilizar tais

áreas nos trabalhos individuais e coletivos;

Conhecer e situar profissões e os profissionais das Artes, observando o

momento presente, as transformações históricas já ocorridas e pensar sobre o cenário

profissional do futuro;

Conhecer, apreciar e adotar atitudes de respeito diante da variedade de

manifestações artísticas e analisar as interpenetrações que se dão

contemporaneamente entre elas, refletindo sobre suas respectivas estéticas e valores;

Buscar e saber organizar informações sobre a Arte em contato com

artistas, documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas,

jornais, ilustrações, diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos (museus,

galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, videotecas, cinematecas),

reconhecendo e compreendendo a variedade dos produtos artísticos e concepções

estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias;

Fazer uso de formas de registro artístico, convencionais ou não, na grafia

e leitura de produções próprias ou de outros, desenvolvendo variadas maneiras de

comunicação;

Refletir e discutir os múltiplos aspectos das relações comunicacionais dos

alunos com a arte produzida pelos meios tecnológicos contemporâneos (que trazem

novos paradigmas perceptivos e novas relações de tempo/espaço), bem como com o

mercado cultural (indústria de produção, distribuição e formas de consumo);

Conhecer e distinguir diferentes momentos da História da Arte, os

aspectos estéticos predominantes, a tradição dos estilos e a presença dessa tradição

na produção artística contemporânea;

Conhecer a documentação existente nos acervos e arquivos públicos

sobre as artes, sua história e seus profissionais;

Conhecer, relacionar, apreciar arte, concepções artísticas e estéticas —

na sua dimensão material e de significação — criadas por produtores de distintos

grupos étnicos em diferentes tempos e espaços físicos e virtuais, observando a

conexão entre essas produções e a experiência artística pessoal e cultural do aluno.

3.1.3. Educação Física

A Educação Física enquanto componente curricular tem assumido diversos

papéis na educação brasileira, porém sua trajetória nos aponta, cada vez mais, na

direção de sua importância como prática educativa que contribui para uma

compreensão mais integrada das múltiplas dimensões do ser humano.

É imprescindível, ao falar da história da Educação Física, mencionar a

concepção dualista de homem que tem suas raízes históricas nas ciências biológicas e

que ainda hoje exerce forte influência na formação e na prática pedagógica dos

professores. Esta concepção apresenta como objetivos principais a manutenção da

55

saúde corporal, a aquisição de aptidão física que preza apenas pelo desenvolvimento

de capacidades físicas e habilidades motoras. No dizer de Gonçalves

Essa tendência dissocia a Educação Física de um conceito de Educação, aproximando-se mais de um conceito do adestramento físico. Aliadas a essa concepção, estão as tendências à militarização e à higienização, que perpassam a Educação Física. (1994, p. 136).

Por suas origens militares e médicas e por seu atrelamento aos mecanismos

de poder, a Educação Física ficou, por muito tempo, restrita aos aspectos fisiológico,

técnico, higiênico e, sobretudo à disciplinarização do corpo. Isso acabou obstruindo, na

prática pedagógica, a reflexão, tanto prática como teórica, sobre os constructos

pertinentes ao corpo e ao movimento humano como fundamentos conceituais que

perpassam os eixos da construção de seu campo de conhecimento.

Ressalta-se, entretanto, que os conhecimentos sobre corpo e movimento

eram unicamente trabalhados na perspectiva biologizante, configurando-se numa

prática específica de lidar com aqueles conceitos, pela influência de paradigmas que

em geral circulavam nas teorias da Educação.

Hoje, a Educação Física deve ser compreendida como disciplina que

contempla os múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a

respeito do corpo e do movimento. E deve constituir-se num esforço em face à

necessidade de se fundamentar de maneira articulada ao que o homem tem produzido

historicamente, cuja finalidade é alcançar a construção e sistematização do

conhecimento, a forma como este conhecimento se expressa na realidade e como o

homem atua sobre ele (SOARES, et al 1992).

Ao ampliar seu foco principal de ação na busca da formação plena de

homens e mulheres, garantindo uma educação de qualidade para todos, a Educação

Física, conforme a legislação em vigor (LDB/1996), ganhou igual valor aos demais

componentes curriculares, sendo considerada, desde a legislação de 1971, como área

de conhecimento.

Isto favoreceu para que ela assumisse, como um componente curricular, a

tarefa de contribuir para uma educação compreendida como processo de formação

humana que prioriza não só o domínio de conhecimentos, competências e habilidades,

sejam intelectuais ou motoras, mas também a formação estética, política e ética dos

educandos (PCN: Educação Física, 1997). Além disso, seu trabalho pedagógico,

deverá ser permeado pelos princípios da inclusão, da diversidade e da

heterogeneidade.

Nessa perspectiva, a orientação pedagógica da Educação Física na escola,

deverá fundamentar-se na prática da cultura corporal de movimento e visar suprir as

necessidades dos alunos, compreendo suas singularidades, com ênfase na pluralidade

sociocultural dos indivíduos, em busca de democratizar, humanizar e diversificar o

ensino, para que a compreensão dessa cultura corporal de movimento possibilite a

prática de atitudes e hábitos de atividade física como fundamentais em suas vidas.

56

Desse modo, a Educação Física tem como foco as práticas corporais

construídas ao longo dos tempos, mas não qualquer prática ou movimento, e sim

aquelas que se apresentam como resultado da produção humana historicamente

construída, dentre outras atividades, com finalidades de lazer, expressão de

sentimentos, afetos e emoção; todas com características lúdicas, das diversas culturas

humanas (BRASIL, 1997, p. 27). Essas vivências, seus conceitos, sentidos e

significados são conteúdos legítimos a serem problematizados em todos os níveis da

educação básica.

Ao estudar os fenômenos das práticas corporais enquanto produção cultural

da humanidade, entre eles: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, a luta e as

atividades em que estão presentes o lazer, o lúdico, a expressão corporal e formas de

expressão outras que demandam sentimentos, afetos e interações, a Educação Física

colabora para a concretização de um intenso diálogo intercultural e interdisciplinar, que

no espaço educativo escolar, deve refletir na compreensão e na produção do

conhecimento traduzido no fazer pedagógico daqueles que estão envolvidos, para que

possam se movimentar intencionalmente como sujeitos sociais e como cidadãos

apropriando-se dos bens culturais disponíveis na sociedade (PCN: Educação Física,

1997).

É importante frisar ainda que o trabalho educativo do corpo não é exclusivo

da Educação Física. A educação corporal envolve todas as áreas do conhecimento e

está, dentro da escola, articulada com outras práticas, muitas vezes ocultas – por

exemplo, na organização dos espaços e tempos escolares, nos conteúdos e

metodologias de ensino, nos livros didáticos, nos rituais que envolvem entre outros, as

filas, as formas de se assentar, as formas de se movimentar, os regulamentos e

eventos comemorativos (MCLAREN, 1997; MARCELLINO, 1999).

Por essa razão, a Educação Física escolar deve, assim, oportunizar a todos

os educandos o desenvolvimento de suas potencialidades de forma democrática e não

seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Como as outras disciplinas

que compõem o currículo, deve também estar articulada com o projeto maior da escola

e primar por uma visão de homem, enquanto unidade, que reflita sobre suas

contradições e conflitos na direção de sua humanização e emancipação.

Como parte constituinte da Educação, a Educação Física escolar está

comprometida com a formação humana e é partícipe na construção de uma escola

compreendida como tempo e espaço de vivência sociocultural, aprendizado de saberes

e desenvolvimento de sujeitos, considerando a pluralidade das potencialidades

humanas, valorizando o conhecimento, a arte, a estética, a identidade, o sentimento e a

emoção. Manifestações estas expressas na cultura corporal que assume formas de

representações simbólicas de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidas, exteriorizadas nas expressões corporais como a dança, o

jogo etc. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.38).

A partir desta compreensão, propomos que o exercício teórico-prático da

57

disciplina na escola, leve em consideração os seguintes eixos norteadores:

a) Conhecimento sobre o corpo: conjunto de conhecimentos que

subsidiam as práticas corporais. Entre eles, encontram-se os anatômicos, fisiológicos,

biomecânicos e bioquímicos que possibilitam o estabelecimento de critérios para

julgamento, escolha e realização de atividades corporais saudáveis.

b) Esportes, jogos, lutas e ginásticas: conjuntos de práticas corporais que

subsidiam a compreensão de regras, posturas, técnicas, valores e atitudes

colaborativas, competitivas e recreativas.

c) Atividades rítmicas e expressivas: são códigos simbólicos, através dos

quais o ser humano, em interação sociocultural, produz a possibilidade de comunicação

por gestos e posturas. “Têm como característica comum a intenção explícita de

expressão e comunicação por meio dos gestos na presença de ritmos, sons e da

música na construção da expressão corporal.” (PCN: Educação Física, 1998, p. 71).

3.1.3.1 - Objetivos do Ensino de Educação Física para Terceiro Ciclo

Espera-se que, ao final do terceiro ciclo, os alunos sejam capazes de:

Participar de atividades de natureza relacional, reconhecendo e

respeitando suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus

colegas, sem discriminá-los por suas características pessoais, físicas, sexuais ou

socioculturais;

Apropriar-se de processos de aperfeiçoamento das capacidades físicas,

das habilidades motoras próprias das situações relacionais, aplicando-os com

discernimento em situações-problema que surjam no cotidiano;

Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade na prática

dos jogos, lutas e dos esportes, buscando encaminhar os conflitos de forma não-

violenta, através do diálogo;

Diferenciar os contextos amador, recreativo, escolar e profissional do

esporte, reconhecendo e evitando o caráter excessivamente competitivo em quaisquer

desses contextos;

Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar das diferentes manifestações da

cultura corporal, adotando uma postura despojada de preconceitos ou discriminações;

Aprofundar-se no conhecimento dos limites e das possibilidades do

próprio corpo, de forma a poder controlar algumas de suas posturas e atividades

corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para melhoria de suas aptidões

físicas;

Aprofundar as noções conceituais de esforço, intensidade e frequência por

meio do planejamento e sistematização de suas práticas corporais, e buscar

informações para seu aprofundamento teórico de forma a construir e qualificar sua

própria aptidão física;

Organizar e praticar atividades corporais, valorizando-as como recurso

para usufruto do tempo disponível, bem como ter a capacidade de alterar ou interferir

58

nas regras convencionais, com o intuito de torná-las mais adequadas ao momento do

grupo, favorecendo a inclusão dos praticantes;

Analisar, compreender e manipular os elementos que compõem as regras

como instrumentos de criação e transformação.

3.1.3.2 - Objetivos do Ensino de Educação Física para Quarto Ciclo

Espera-se que, ao final do quarto ciclo, os alunos sejam capazes de:

Valorizar a cultura corporal de movimento como parte do patrimônio

cultural da comunidade;

Relacionar a diversidade de manifestações da cultura corporal de seu

ambiente e de outros, com o contexto em que são produzidas e valorizadas;

Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como

reivindicar locais adequados para a promoção de atividades corporais e de lazer,

reconhecendo-as como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão, em

busca de uma melhor qualidade de vida;

Cuidar e responsabilizar-se pelo desenvolvimento e manutenção de suas

capacidades físicas (resistência aeróbica, força, velocidade, flexibilidade);

Reconhecer e valorizar os efeitos que as práticas corporais e hábitos

saudáveis exercem sobre a aptidão física e a qualidade de vida;

Compreender que o competir com outros não significa rivalidade,

entendendo a oposição como uma estratégia do jogo e não como uma atitude frente

aos demais;

Reconhecer e valorizar as diferenças de desempenho, linguagem e

expressividade decorrentes, inclusive, das diferenças físicas, sexuais e socioculturais;

Respeitar a integridade física, limite pessoal e moral do outro e de si

próprio;

Analisar alguns dos padrões de beleza, saúde e desempenho difundidos

pela mídia, e compreender sua inserção no contexto sociocultural em que são

produzidos, despertando para o senso crítico e relacionando-os com as práticas da

cultura corporal de movimento.

3.1.4. Língua Estrangeira Moderna

O ensino da língua estrangeira deve representar uma postura e uma prática

construtiva em relação à educação, que oportunizam a inclusão e igualdade na

aquisição de saberes sob a ótica da multipluralidade cultural, também para aqueles de

classes sociais menos favorecidas. Deve, portanto, respaldar-se numa prática de

inclusão pedagógica de saberes e identidade cultural e, ainda, conhecer outros

saberes, outras identidades para que se possa ter uma visão ampla não somente do

espaço em que se vive, mas do mundo a que pertence.

59

Neste contexto, o ensino da Língua Estrangeira é uma forma de aumentar a

auto-percepção do aprendente e, por esse motivo, ela deve centrar-se no engajamento

discursivo, a fim de envolver os aprendentes no discurso, e agir no mundo social, pois a

língua não é somente um fenômeno lingüístico; é também um fenômeno

sociolinguístico.

Nesse sentido é primordial restaurar o papel da língua estrangeira na

formação educacional, pois a sua aprendizagem juntamente com a aprendizagem da

língua materna é um direito de todo cidadão, conforme expresso na Lei de Diretrizes e

Bases e na Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, publicadas pelo Centro

Internacional Escarré para Minorias Étnicas e Nações (Ciemen) e pelo PEN-Club

Internacional. Sendo assim, a escola não pode mais se omitir em relação a essa

aprendizagem.

Assim, é necessário refletir sobre uma ação pedagógica que possibilite a

aproximação metodológica entre a língua portuguesa e a língua estrangeira para o

desenvolvimento das competências de leitura e escrita, e, a partir daí, ir-se construindo

objetivos comunicacionais, pois língua é fundamentalmente um fenômeno oral.

Portanto, é indispensável desenvolver uma certa familiaridade com o idioma falado, e

mais especificamente, com a sua pronúncia, antes de se procurar dominar o idioma

escrito. Todavia, não é possível considerar o desenvolvimento de habilidades orais

como objetivo central do ensino de língua estrangeira nas escolas.

Dessa maneira, com exceção de algumas situações específicas de

comunicação, o uso de uma língua estrangeira parece estar, em geral, mais vinculado à

leitura e ainda se observa que os únicos exames formais em língua estrangeira

(vestibular e admissão em concursos e cursos de pós-graduação) requerem o domínio

de uma competência leitora. Portanto, a leitura atende, por um lado, às necessidades

da educação formal, e, por outro, é a habilidade que o aprendente pode usar em seu

contexto social imediato.

Logo, as competências de leitura devem iniciar a partir de textos com

vocabulário reduzido, de preferência com uso moderado de expressões idiomáticas,

regionalismos, e em seguida, palavras "difíceis" (de rara ocorrência), pois a proximidade

do conteúdo do texto ao nível de conhecimento do aluno é uma condição importante.

Outro aspecto, também importante, é o grau de atratividade do texto, em que o assunto,

se possível, deve ser de alto interesse para o leitor e a atenção deve concentrar-se na

ideia central, mesmo que detalhes se percam. Assim, o leitor deve habituar-se a buscar

identificar sempre em primeiro lugar os elementos essenciais da oração, ou seja,

sujeito, verbo e complemento porque a maior dificuldade nem sempre é entender o

significado das palavras, mas sua função gramatical e, consequentemente, a estrutura

da frase. Então, o grau de dificuldade dos textos deve avançar gradativamente, e o

aluno deve procurar fazer da leitura um hábito frequente e permanente.

Desse modo, para facilitar a aquisição das competências de leitura,

propomos uma ação pedagógica que tenha como princípio experimentar uma

60

abordagem integrada do ensino/aprendizagem das línguas materna e estrangeira com

a intenção de efetivar uma prática pedagógica sistematizada que abranja ambas as

disciplinas, a fim de que sejam essencialmente desenvolvidas as capacidades de

produzir condutas de linguagem as mais atuantes possíveis. De acordo com os estudos

de MOSQUERA (1984), a compreensão de outras culturas, ações humanas, produtos

de experiências sociais são enormemente enriquecedoras quando nos servem como

conhecimento da nossa cultura.

Assim, a Didática Integrada das Línguas propõe desenvolver as habilidades

básicas de expressão discursiva dos aprendentes, tendo em vista que a proficiência em

línguas estrangeiras tem efeito positivo sobre a língua materna, em virtude de, com

isso, poder-se entender a riqueza, nuances e nível de comunicação que contém e pode

expressar o nosso idioma, o que certamente será, por sua vez, de acordo com CHISS

(apud PRADO; CUNHA, 2003, p. 13), “fonte de experiências e a ocasião para novas

interrogações teóricas”.

Portanto, ao longo dos ciclos III e IV do Ensino Fundamental, espera-se que

os aprendentes adquiram, progressivamente, as competências em relação ao

desenvolvimento da comunicação e da habilidade de leitura. Para isso, propõe-se o

ensino integrado da Língua Materna e da Língua Estrangeira que possibilite ao

aprendente resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e

alcançar a participação plena no mundo letrado. Espera-se, ainda, que através da

pesquisa, discussão e produção de textos, estimule-se a compreensão dos mais

diversos gêneros, em diferentes situações comunicativas, tanto na modalidade escrita

quanto na oral (Matrizes de Referência, Temas, Tópicos e Descritores da Prova Brasil).

Por esse motivo, propomos que o ensino da Língua Estrangeira tenha os

seguintes eixos conceituais norteadores:

a) Discurso/interdiscurso: percurso dinâmico, movimento realizado pela

prática da língua (enunciados orais, escritos) em variados contextos sociais, espaço-

tempo diferenciados, que permeiam as relações sociais e de poder e que permitem aos

sujeitos significar e intervir no real.

b) Variedade e análise linguística: são os diferentes modos de expressar a

língua, compreendida e analisada em sua complexidade, variedade e riqueza.

c) Gênero: é a forma codificada em que a língua se manifesta em diferentes

formas de textualização e em diferentes contextos sócio-históricos e culturais.

3.1.4.1 - Objetivos do Ensino da Língua Estrangeira para o Terceiro Ciclo

As práticas educativas devem ser organizadas de maneira a garantir,

progressivamente, que os alunos sejam capazes de:

Entender a mensagem do texto, reconhecendo as palavras cognatas e os

falsos cognatos;

61

Ler texto na língua estrangeira fazendo inferências contextuais sobre o

mesmo, recorrendo a materiais escritos na língua portuguesa para buscar informações

sobre o conteúdo do qual está lendo;

Utilizar a linguagem oral com eficácia, adequando-a às intenções e

situações comunicativas e estratégias dentro de contextos específicos;

Ler e interpretar textos, sabendo reconhecê-los de acordo com os gêneros

previstos para o ciclo;

Possibilitar a ampliação da competência de leitura do aprendente, ou seja,

uma prática de leitura a partir da leitura de textos cuidadosamente selecionados para

que os mesmos sejam de interesse do leitor;

Utilizar o dicionário em momentos apropriados e quando necessário;

Desenvolver no aluno comportamentos de leitores e escritores,

considerando as especificidades do gênero textual, do suporte e das condições de

produção;

Ler textos, na língua estrangeira, utilizando estratégias de leituras para

melhor compreendê-los, tais como a inferência contextual que possibilita a mediação de

sentidos entre o sujeito e o mundo, entre a imagem e o objeto;

Identificar no universo que o cerca as línguas estrangeiras que cooperam

nos sistemas de comunicação, percebendo-se como parte integrante de um mundo

plurilíngue e compreendendo o papel hegemônico que algumas línguas desempenham

em determinado momento histórico;

Reconhecer que o aprendizado de uma ou mais línguas lhe possibilita o

acesso a bens culturais da humanidade construídos em outras partes do mundo;

Ler e valorizar a leitura como fonte de informação e prazer, utilizando-a

como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avançados.

3.1.4.2 - Objetivos do Ensino da Língua Estrangeira para o Quarto Ciclo

As práticas educativas devem ser organizadas de maneira a garantir,

progressivamente, que os alunos sejam capazes de:

Vivenciar uma experiência de comunicação humana, pelo uso de uma

língua estrangeira, no que se refere a novas maneiras de se expressar e de ver o

mundo, refletindo sobre os costumes ou maneiras de agir e interagir e as visões de seu

próprio mundo, possibilitando maior entendimento de um mundo plural e de seu próprio

papel como cidadão de seu país e do mundo;

Construir conhecimento sistemático, sobre a organização textual e sobre

como e quando utilizar a linguagem nas situações de comunicação, tendo como base

os conhecimentos da língua materna;

Desenvolver consciência linguística e consciência crítica dos usos que se

fazem da língua estrangeira que está aprendendo;

Ler não somente os textos de situações diárias como também textos

literários apresentando os autores da literatura estrangeira;

62

Identificar as características descritivas, narrativas, dissertativas,

argumentativas em textos;

Identificar, no texto, ideias centrais e periféricas, localizando informações e

fazendo uso de inferências;

Promover debates e seminários sobre temas contemporâneos dos textos

lidos que necessitem reflexão detalhada para desenvolvimento da consciência do

aprendente;

Ler diferentes gêneros textuais, interagindo com os diferentes tipos de

textos, a fim de estabelecer relações entre as ideias do texto;

Saber reconhecer a que nomes os pronomes se referem;

Saber inferir o significado de palavras e expressões desconhecidas.

3.2. CIÊNCIAS HUMANAS

A área das Ciências Humanas se constitui de um conjunto de várias ciências

– Sociologia, Filosofia, Antropologia, História, Geografia, Política e outras – que têm

como objeto de estudo a vida do homem em sociedade e sua relação com o meio

ambiente. Estas ciências devem permitir a compreensão crítica e global da vida em

sociedade, seu funcionamento e sua historicidade; compreender a organização social

através de suas múltiplas facetas: o político, o social, o econômico, o religioso e o

cultural. Elas produziram e produzem conhecimentos que devem se articular entre si

para dar ao homem uma compreensão coerente, abrangente de sua realidade, do

mundo em que vive.

E essa compreensão deve ter por base o vivido e o conceitual, isto é, deve-

se partir das vivências e experiências concretas dos educandos, a fim de se ter uma

leitura da sociedade como totalidade. É necessário, pois, que tomemos a realidade

como ponto de partida para a construção do conhecimento, estabelecendo relações

entre os saberes que os educandos trazem e o conhecimento sistematizado e

acumulado historicamente, articulando o particular e o universal, o próximo e o distante,

o concreto e o abstrato, em diferentes níveis de abrangência, dando assim, significado

à existência dos sujeitos e ao seu mundo.

A Geografia, a História, a Sociologia, a Filosofia e o Ensino Religioso são as

disciplinas que representam, no Ensino Fundamental, esta área de conhecimento, e

pela proximidade dos objetos, devem caminhar articuladamente para dar sentido à

formação global dos educandos. Apesar de saberem-se diferentes, são

complementares, pois todas trabalham no sentido de dar um significado ético-histórico-

cultural para a vida humana.

3.2.1 História

A constituição da disciplina História como um componente curricular no

âmbito escolar brasileiro teve inicio no século XIX, ao definir seus pressupostos teórico-

63

metodológicos baseados no pensamento positivista, exercendo, neste contexto, a

função político-educacional de formar uma identidade comum. O objetivo era conceber

o cidadão nacional, o qual, segundo a ideologia dominante da época, era o responsável

em continuar a construção da nação brasileira. Desse modo, o currículo escolar

privilegiava conteúdos e atividades que exalassem as realizações das elites; o culto à

pátria, através das comemorações cívicas e reverência aos Símbolos Nacionais como a

Bandeira, o Hino e as Armas.

Na perspectiva positivista, à disciplina História cabia implementar os

princípios curriculares estabelecidos pelas elites, a fim de garantir o projeto de

dominação burguesa por meio de um discurso de homogeneidade e unidade das ações

humanas para a construção de uma cultura nacional, buscando negar a exclusão social

e as discriminações de gênero e etnicorraciais. Na metodologia de ensino predominava

a narrativa de fatos do passado e de feitos heróicos com base em uma abordagem

linear, mecânica, pré-determinada e fragmentada do processo histórico, o que

impossibilitava ao aluno desenvolver a percepção de que a História é um fazer

dinâmico, construído por meio da interferência do ser humano.

O ensino escolar de História passou a sofrer alterações de concepções a

partir da década de 1970, com as reflexões sobre as estruturas educacionais

tradicionais, influenciadas por um processo político e social iniciado pelos movimentos

sociais de contestação à dominação econômica, social e étnico-cultural, à exploração

do trabalhador e à expansão do lucro liderado pela sociedade capitalista excludente na

Europa, nos anos 60, que se estendeu a outros continentes.

Nesse período foram formuladas, por historiadores adeptos da corrente

marxista, teorias críticas da educação provocando reflexões acerca do ensino da

disciplina História na escola, com ênfase na necessidade do ensino centrar-se na

análise critica dos fatos sociais, no desvelar dos conflitos de interesse, no

questionamento da História Universal e incluir a história das classes sociais

economicamente menos favorecidas. A orientação foi uma revisão dos conhecimentos

e metodologias a serem adotados pelos professores de História de forma a dar

significado reflexivo ao processo pedagógico.

Assim, os programas de ensino deslocaram o eixo de visão da história: da

narrativa dos feitos heróicos, para o estudo das lutas de classe e da determinação do

movimento da história a partir das estruturas econômicas e sociais, determinando o

desenvolvimento das forças produtivas como motor da história. Contudo, esta

abordagem não rompeu com a concepção determinista e etapista da história, uma vez

que a mesma pautava o ensino na segmentação dos períodos históricos (SOUSA,

2008).

Historiadores como Le Goff (1993), Lucien Febvre e Marc Bloch defenderam

os aportes metodológicos da Nova História, a qual colocava em foco a história das

pessoas, costumes, valores, lugares, mentalidades, crenças, manifestações artístico-

64

culturais diversas, práticas religiosas que por muito tempo foram silenciadas pela

opressão da cultura das elites.

Ainda na década de 80-90, os estudos realizados por Clifford Geertz, Mikhail

Bakhtin, Norbert Elias, Michel Foucault e Pierre Bourdieu, influenciaram um conjunto de

historiadores que abriram perspectivas para novas reflexões, possibilitando a

elaboração de novos conceitos e distintos aportes, fazendo emergir uma nova

tendência na historiografia denominada de Nova História Cultural que valoriza as ações

e concepções de mundo dos sujeitos das classes populares em seu contexto espaço-

temporal. Tal abordagem enfatiza a necessidade da microanálise, ou seja, a micro-

história, fundamentada numa racionalidade não-linear, que reavalia a macro-história,

com recortes que valorizam os sujeitos como indivíduos que sofrem e enfrentam os

condicionantes do processo histórico mais amplo. Isso permite estabelecer relações

interdisciplinares, capazes de analisar relações múltiplas de temporalidades e construir

uma consciência histórica que considera as diversas práticas culturais dos sujeitos.

Nesse sentido, para a implementação de uma perspectiva reflexiva ao ensino

de História é fundamental considerar-se o cotidiano e a história de vida dos sujeitos que

até o momento não foram priorizados na historiografia oficial. A história local se

apresenta como uma alternativa metodológica de organização do conhecimento

histórico escolar e da condução didática, tendo em vista que a mesma possibilita ao

educando estabelecer uma relação de sua realidade local com o saber sistematizado,

facilitando a construção de novos saberes acerca de seu contexto histórico-social.

Desse modo, o ensino de História deve privilegiar os processos históricos

relativos às ações e às relações humanas praticadas no tempo, bem como o significado

atribuído pelos sujeitos, ou melhor, desenvolver linguagens e princípios que permitam

aos educandos ler e interpretar os fatos em diferentes sociedades, tempos e espaços.

Por este motivo, estamos propondo que a abordagem histórica leve em consideração

os seguintes eixos conceituais norteadores:

a) Sociedade: o homem é um ser de grupo que carrega consigo as marcas

de um legado cultural. Suas necessidades são muitas e se preenchem ou são

aperfeiçoadas na interação com os outros ao longo da vida. Nesse sentido, sociedade

aqui é entendida como uma rede de relacionamentos entre pessoas; um tipo de

organização social formada pelo conjunto interdependente de sujeitos que

compartilham interesses, preocupação, intenções, valores, gostos e costumes, e que

interagem entre si e com a natureza, constituindo um sistema semiaberto ou uma

comunidade. O significado mais geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo

de pessoas vivendo juntas numa comunidade organizada. Como tal, o termo sociedade

é muitas vezes usado como sinônimo para o coletivo de cidadãos de um país,

governados por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico.

A vida social, no entanto, é marcada por conflitos ou visões de mundo

alternativas, competidoras e conflitantes. É neste contexto que a História busca

compreender e explicar os fenômenos sociais, as contradições existentes, contribuindo,

65

assim, para a construção de um aluno crítico e questionador.

b) Cultura: o termo é compreendido aqui como a maneira de viver de um

povo, isto é, tudo o que um povo aprende, produz e adota como hábitos de vida, sua

língua, sua história, suas obras de arte, seus costumes e suas tradições religiosas.

Cultura é, assim, o aspecto da vida social que se relaciona com a produção do saber,

arte, folclore, mitologia, bem como com a sua perpetuação pela transmissão de uma

geração a outra. É, portanto, um sistema de símbolos compartilhados com os quais se

interpreta a realidade e se confere sentido à vida dos seres humanos. Muitas culturas

diferentes podem existir num mesmo país. Tudo o que é aprendido e partilhado pelos

indivíduos de uma determinada comunidade e que confere uma identidade dentro do

seu grupo de pertença é considerado cultura. Por isso, a cultura é o resultado dos

modos como os diversos grupos humanos buscaram resolver os seus problemas ao

longo da história. O homem tanto recebe a cultura dos seus antepassados como cria

elementos que a renova. Desse modo, o homem se fez homem social porque vive num

meio cultural. Cultura é, pois, o conjunto de manifestações humanas que contrastam

com a natureza ou comportamento natural; é criação; é fator de humanização.

c) Espaço: é abordado nas diversas áreas do conhecimento sob os aspectos

históricos, sociológicos, etnológicos e outros. No entanto, procura-se analisá-lo tendo

como referencial sua construção e organização pelos mais diferentes grupos sociais.

À escola cabe oportunizar aos educandos a percepção das relações que são

estabelecidas pelas mais distintas sociedades num dado momento histórico. Porém, é

necessário ensinar aos educandos a não observarem apenas de forma superficial, mas

a terem um olhar mais aprofundado e crítico acerca do espaço. Dessa forma, o espaço

será compreendido não como mera reunião de casas e prédios, mas enquanto uma

construção humana para atender as necessidades materiais e culturais retratando seus

contrastes, conflitos e lutas de classes.

A organização espacial, na verdade, está alicerçada de acordo com a

estrutura da sociedade, ou seja, de acordo com os interesses das classes sociais aí

existentes. Não é sem fundamento que algumas áreas da cidade, por exemplo, sejam

melhores equipadas em termos infraestruturais do que outras, que convivem sem os

serviços básicos essenciais como energia elétrica, água encanada, rede de esgoto. Isto

é fruto das contradições existentes na sociedade.

d) Tempo: é na cultura que o tempo se produz, ou seja, o ser humano vive e

se faz no tempo e com o tempo. Construindo cultura, modos de vida social e de

existência, o homem se historiciza, se contextualiza no tempo. Por isso, o tempo se

configura como uma categoria fundamental para o ensino de história escolar uma vez

que a história é a história das sociedades e/ou algum grupo social que sofre mudanças

a partir das relações de trabalho, de poder e produção cultural, estabelecidas entre os

sujeitos e destes com o espaço em que vivem.

Bittencourt (2004) estabelece algumas especificidades do tempo histórico. O

tempo vivido pode ser concebido como o psicológico – o tempo da experiência

66

individual; o biológico - as etapas da vida do ser humano. O tempo concebido varia de

acordo com a cultura e as relações vividas. O tempo intuitivo definido pelas relações de

sucessão e de duração fornecidas pela percepção imediata externa e interna. O tempo

operatório pode ser métrico-cronológico e periodizações ou qualitativo – relações de

simultaneidade, sucessão e duração.

Neste sentido, o conceito de tempo histórico não pode ficar limitado ao

tempo cronológico. Os alunos precisam compreender a sequência dos acontecimentos,

mas superando as uniformidades, as regularidades, o sentido de sucessão crescente e

cumulativa, para que possam perceber com mais clareza as mudanças e as

permanências nas vivências humanas.

3.2.1.1 - Objetivos do Ensino de História para o Terceiro Ciclo

Conhecer realidades históricas singulares, distinguindo diferentes modos

de convivência nelas existentes;

Caracterizar e distinguir relações sociais da cultura com a natureza em

diferentes realidades históricas;

Caracterizar e distinguir relações sociais de trabalho, de poder em

diferentes realidades históricas;

Refletir sobre as transformações tecnológicas e as modificações que elas

geram no modo de vida das populações e nas relações de trabalho nos vários

contextos;

Localizar acontecimentos no tempo, dominando padrões de medida e

noções para distingui-los por critérios de anterioridade, posterioridade e simultaneidade;

Utilizar diferentes fontes históricas em suas pesquisas escolares;

Ter iniciativa e autonomia na realização de trabalhos individuais e

coletivos.

3.2.1.2 - Objetivos do Ensino de História para o Quarto Ciclo

Utilizar conceitos para explicar relações sociais, econômicas e políticas de

realidades históricas singulares, com destaque para a questão da cidadania;

Reconhecer as diferentes formas de relações de poder inter e intragrupos

sociais;

Identificar e analisar lutas sociais, guerras e revoluções na História do

Brasil e do mundo;

Conhecer as principais características do processo de formação e das

dinâmicas dos Estados Nacionais;

Refletir sobre as grandes transformações tecnológicas e os impactos que

elas produzem na vida das sociedades;

Localizar acontecimentos no tempo, dominando padrões de medida e

noções para compará-los por critérios de anterioridade, posterioridade e

simultaneidade;

67

Debater ideias sobre as diferentes concepções da história e expressá-las

por escrito e por outras formas de comunicação;

Utilizar diferentes fontes históricas em suas pesquisas escolares.

3.2.2 Geografia

Quando se pensa em uma Geografia para o século XXI, devemos considerar

que essa disciplina, assim como as outras, resulta da influência direta promovida pelas

alterações impostas pelo meio técnico-científico-informacional.

A partir do final do século XX, as mudanças resultantes das novas formas de

comunicação, responsáveis, inclusive, por criar uma nova perspectiva de espaço — o

virtual —, transformaram a maneira como a sociedade lida com o conhecimento,

impondo também ao ensino da disciplina uma nova perspectiva. Essa nova concepção

de Geografia incorpora um segundo momento, quando os desafios impostos pelas

transformações do meio técnico-científico-informacional inseridos em sala de aula e fora

dela promovem uma conexão on-line e passam a influir e a modificar o local, o regional

e o global ao mesmo tempo.

O encurtamento das distâncias associado à expansão dos meios de

transporte tanto de pessoas e mercadorias como de informações, assim como as

alterações promovidas no mundo do trabalho, permitem a cada momento vislumbrar um

leque de aproximações capazes de romper com as barreiras culturais, aproximando

mundos diferentes. Essa nova concepção de espaço influencia os modos de agir e de

pensar da humanidade em sua totalidade.

O ensino de Geografia ganha, portanto, uma nova dimensão de espaço — o

espaço virtual e se materializa numa concepção de ensino diferenciada, em que os

conteúdos específicos de Geografia, ao interagirem com os de outras ciências,

possibilitam ao educando, por intermédio da mediação realizada pela escola, a

ampliação de um conhecimento autônomo e abrangente.

Também é fundamental desenvolver uma atitude de respeito aos saberes

que o estudante traz à escola, adquiridos em seu meio cultural, pois é certo que

envolvem uma variada gama de discussões com temas da atualidade, como a urgência

ambiental, os diferentes níveis de bem-estar das populações, as questões de saúde

pública, as políticas assistenciais, as greves, o desemprego, a globalização, as relações

internacionais, os conflitos de diferentes ordens, as crises econômicas, entre outros.

O objeto central da investigação geográfica reside, portanto, no estudo do

espaço geográfico, abrangendo o conjunto de relações que se estabelece entre os

objetos naturais e os construídos pela atividade humana, ou seja, os artefatos sociais.

Nesse sentido, enquanto o “tempo da natureza” é regulado por processos bioquímicos

e físicos responsáveis pela produção e pela interação dos objetos naturais, o “tempo

histórico” responsabiliza-se por perpetuar as marcas acumuladas pela atividade

humana como produtora de artefatos sociais. Ao considerar tais premissas, o ensino de

68

Geografia deve priorizar o estudo do território, da paisagem e do lugar em suas

diferentes escalas. Assim, rompe-se com uma visão estática na qual a natureza segue

o seu curso imutável e irreal, enquanto a humanidade é vista como uma entidade a ser

estudada à parte, como se não interagisse com o meio.

O conceito de escala geográfica expressa as diferentes dimensões que

podem ser escolhidas para o estudo do espaço geográfico, passível de ser abordado a

partir de recortes tais como o lugar, a região, o território nacional ou o mundo.

Entretanto, as diferentes escalas geográficas estão sempre inter-relacionadas: é

preciso, por exemplo, considerar o mundo, a região e o território nacional na análise

dos fenômenos que ocorrem no lugar. Desse modo, assim como os demais

componentes curriculares da educação básica, cabe ao ensino de Geografia privilegiar

a alfabetização geográfica, ou seja, desenvolver linguagens e princípios que permitam

ao aluno ler e compreender o espaço geográfico. Em virtude disso propomos uma

abordagem que leve em consideração os seguintes eixos conceituais norteadores:

a) Território: o termo foi originalmente formulado pela Biologia,

compreendendo a área delimitada por uma espécie na qual são desempenhadas as

suas funções vitais. Incorporado posteriormente pela Geografia, o conceito ganhou

contornos geopolíticos ao configurar-se como o espaço físico no qual o Estado se

concretiza. Porém, ao se compreender o Estado nacional como a nação politicamente

organizada, estruturada sobre uma base física, não é possível considerar apenas sua

função política, mas também o espaço construído pela sociedade. Portanto, o território

deve ser considerado a extensão apropriada e usada pela sociedade. Ao compreender

o que é o território, deve-se levar em conta toda a diversidade e a complexidade de

relações sociais, de convivências e diferenças culturais que se estabelecem em um

mesmo espaço.

b) Paisagem: distinto do senso comum, esse conceito tem um caráter

específico para a Geografia. A paisagem geográfica é a unidade visível do real e que

incorpora todos os fatores resultantes da construção natural e social. A paisagem

acumula tempos e deve ser considerada como tudo aquilo que vemos; o que nossa

visão alcança (SANTOS, 2001). Dessa forma, uma paisagem nunca pode ser destruída,

ela está sempre se modificando. As paisagens devem ser consideradas como a forma

de um processo em contínua construção, pois representam a aparência dos elementos

construídos socialmente e, portanto, representam a essência da própria sociedade que

as constrói.

c) Lugar: o conceito de paisagem vincula-se fortemente ao conceito de lugar,

e este também se distingue do senso comum. Para a Geografia, o lugar traduz os

espaços nos quais as pessoas constroem os seus laços afetivos e subjetivos, pois

pertencer a um território e fazer parte de sua paisagem significa estabelecer laços de

identidade com cada um deles. É no lugar que cada pessoa busca suas referências

pessoais e constrói o seu sistema de valores. São esses valores que fundamentam a

vida em sociedade, permitindo, a cada lugar, construir uma identidade própria.

69

d) Educação cartográfica: a alfabetização cartográfica deve ser entendida

como um dos instrumentos indispensáveis para a cidadania. Como diria Lacoste,

cartas, para quem não aprendeu a lê-las e a utilizá-las, sem dúvida não têm qualquer

sentido, como não teria uma página escrita para quem não aprendeu a ler. Portanto,

uma educação que objetiva a formação do cidadão consciente e autônomo deve

incorporar no currículo os fundamentos para o desenvolvimento da alfabetização

cartográfica, da leitura e da interpretação de gráficos e tabelas, além de leitura,

interpretação e confecção de mapas.

3.2.2.1 - Objetivos do Ensino de Geografia para o Terceiro Ciclo

Reconhecer que a sociedade e a natureza possuem princípios e leis

próprios e que o espaço geográfico resulta das interações entre elas, historicamente

definidas;

Compreender a escala de importância, no tempo e no espaço, do local e

do global e da multiplicidade de vivências com os lugares;

Reconhecer a importância da cartografia como uma forma de linguagem

para trabalhar em diferentes escalas espaciais as representações locais e globais do

espaço geográfico;

Distinguir as grandes unidades de paisagens em seus diferentes graus de

humanização da natureza, inclusive a dinâmica de suas fronteiras, sejam elas naturais

ou históricas, a exemplo das grandes paisagens naturais, e das sociopolíticas como dos

Estados nacionais e cidade-campo;

Compreender que os conhecimentos geográficos que adquiriram ao longo

da escolaridade são parte da construção da sua cidadania, pois os homens constroem,

se apropriam e interagem com o espaço geográfico nem sempre de forma igual;

Perceber na paisagem local e no lugar em que vivem as diferentes

manifestações da natureza, sua apropriação e transformação pela ação da coletividade,

de seu grupo social;

Reconhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem

local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens;

Reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos

sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas determinações

nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no

lazer;

Conhecer e utilizar fontes de informação escritas e imagéticas, utilizando

para tanto alguns procedimentos básicos;

Criar uma linguagem comunicativa, apropriando-se de elementos da

linguagem gráfica utilizada nas representações cartográficas;

Saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da

paisagem, sobretudo mediante ilustrações e linguagem oral;

70

Reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização,

orientação e distância, de modo que se desloquem com autonomia e representem os

lugares onde vivem e se relacionam;

Reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidado com o

meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se devem

ter na preservação e na conservação da natureza.

3.2.2.2 - Objetivos do Ensino de Geografia para o Quarto Ciclo

Neste ciclo, pretende-se que os educandos construam um conjunto de

conhecimentos, referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à

Geografia, que lhes permitam ser capazes de:

Compreender as múltiplas interações entre sociedade e natureza nos

conceitos de território, lugar e região, explicitando que de sua interação resulta a

identidade das paisagens e lugares;

Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas

consequências em diferentes espaços e tempos, de modo que construam referenciais

que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões sociais, culturais e

ambientais;

Compreender a espacialidade e a temporalidade dos fenômenos

geográficos estudados em suas dinâmicas e interações;

Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos

políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são

conquistas decorrentes de conflitos e acordos que ainda não são usufruídas por todos

os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las;

Utilizar corretamente procedimentos de pesquisa da Geografia para

compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de

construção, identificando suas relações, problemas e contradições;

Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes

de informação, de modo que interprete, analise e relacione informações sobre o

território, os lugares e as diferentes paisagens;

Utilizar a linguagem gráfica para obter informações e representar a

espacialidade dos fenômenos geográficos;

Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade,

reconhecendo-os como direitos dos povos e indivíduos e elementos de fortalecimento

da democracia;

Perceber que a sociedade e a natureza possuem princípios e leis próprias,

e que o espaço resulta das interações entre elas, historicamente definidas;

Relativizar a escala de importância, no tempo e no espaço, do local e do

global e da multiplicidade de vivências com os lugares;

Conseguir distinguir as grandes unidades de paisagens em seus

diferentes graus de humanização da natureza, inclusive a dinâmica de suas fronteiras,

71

sejam elas naturais ou históricas, a exemplo das grandes paisagens naturais e das

sociopolíticas, como dos Estados nacionais e cidade-campo;

Explicar que a natureza do espaço como território e lugar é dotada de uma

historicidade em que o trabalho social tem uma grande importância para a

compreensão da dinâmica de suas interações e transformações;

Desenvolver no aluno o espírito de pesquisa, fundamentado na ideia de

que para compreender a natureza do território, paisagens e lugares, é importante valer-

se do recurso das imagens e de vários documentos que possam oferecer informações,

ajudando-o a fazer sua leitura para desvendar essa natureza;

Fortalecer o significado da cartografia como uma forma de linguagem que

dá identidade à Geografia, mostrando que ela se apresenta como uma forma de leitura

e de registro da espacialidade dos fatos do seu cotidiano e do mundo;

Criar condições para que o aluno possa começar, a partir de sua

localidade e do cotidiano do lugar, a construir sua ideia do mundo, valorizando,

inclusive, o imaginário que tem dele.

3.2.3 Filosofia

Historicamente as professoras e os professores de Filosofia sempre tiveram

sua presença posta em xeque na estrutura educacional brasileira, pois a maioria do

público não via utilidade no ensino ou aprendizado dos chamados temas filosóficos,

soando como coisa vaga e puramente abstrata. Atualmente, apesar de muitos falarem

da importância da Filosofia na escola, isto é justificado, por vezes, de maneira

moralista.

O Estado do Pará foi um dos primeiros a promover o regresso da disciplina

ao Ensino Básico, após o período de exceção vivido durante os anos de “chumbo” no

Brasil, período político em que os governos militares retiraram o ensino de Filosofia e

Sociologia das escolas, pois, – segundo um discurso bastante utilizado – os

governantes temiam que se questionasse o status quo, que tal ensino pudesse

esclarecer as massas e fazer com que as crianças e os jovens aprendessem a

contestar a ordem vigente do poder e da autoridade.

Na Secretaria Municipal de Educação de Belém, seu retorno tem caminhado

para o amadurecimento, pois começou com a inclusão da Filosofia e da Sociologia

como disciplinas obrigatórias na estrutura curricular do ensino fundamental (Ciclos III e

IV), a partir da Lei Municipal nº 8.338, de 8 de julho de 2004. Sua implantação se deu

através do que se denominou de “Projeto Piloto”, de caráter experimental, em dez

escolas da Rede Municipal. Em 2005, numa parceria com o Departamento de Filosofia

da Universidade Federal do Pará (UFPA), realizou-se um curso de Ensino de Filosofia

no Ensino Fundamental que culminou por selecionar alguns professores de Filosofia

para ingressarem na rede municipal de ensino. Desta parceria, surgiu também um

72

primeiro programa para o ensino fundamental da disciplina, organizado pelo citado

Departamento de Filosofia da UFPA.

Esse retorno ganhou respaldo com a aprovação da LDB (Lei nº 9394/1996)

que reconheceu a Filosofia e a Sociologia como conhecimentos necessários ao

exercício da cidadania (art. 36, Inciso IV). Porém, há que se esclarecer que até mesmo

o sentido de cidadania precisa ser visto como algo a se discutir, afinal vivemos num

estado democrático de direito, onde não se deve impor currículos, mas discuti-los. Se

cada um tiver de admitir-se e agir como cidadão, com determinadas atitudes de justiça

e demais valores, isso cabe ao indivíduo decidir. O compromisso deve ser, pois, com o

permitir, possibilitar a livre escolha do educando, colocando-o em contato com os

modos filosóficos de pensar, para que possam pensar melhor, cobrando-lhe somente

o que é de praxe nas disciplinas, a compreensão da realidade dos fatos relacionando-

os com as teorias. Não se pode é cobrar concordância com tudo, nem que cada

educando passe a assumir uma postura filosófica diante do mundo, tampouco que

aceite como verdade as ideologias de poder vigentes.

Filosofar subverte essa ordem, não é proibido, mas antifilosófico praticar o

pensamento filosófico como educação moral a serviço de uma civilidade e uma

ordenação social estabelecidas.

No ensino de Filosofia o importante é apresentar as várias possíveis atitudes

e sentidos filosóficos e avaliar nos educandos a compreensão disso. O que se pretende

neste nível não é o engajamento filosófico dos alunos nem a sua tutela para adequá-lo

ao sistema, mas oportunizar contato com os modos de pensar dos filósofos, estimular e

orientar a análise do processo de pensamento e a aplicação dos mesmos como se faz

com qualquer componente curricular, até o limite de complexidade que os educandos o

conseguirem. Daí, então, cada um escolhe o que julgar melhor pensar, numa atitude

livre.

Isso não significa memorização de teorias, mas aprender a pensar mais

atentamente e pensar por si mesmo, tendo a Filosofia enquanto prática do pensamento,

ou seja, desenvolver a capacidade de pensar analítica e criticamente a realidade

humana; permitir que os alunos tenham contato com releituras de suas convicções,

críticas às suas ideias e tradições, percebam aos poucos que as questões filosóficas

podem ser compreendidas por dentro e por fora de suas vivências e saberes, mas

sempre em alguma relação com elas, desafiando-os.

Quanto mais próximas as temáticas tratadas nas aulas de Filosofia da

realidade dos educandos, mais produtivas as reflexões, uma vez que pensar junto com

eles suas experiências e vivências, não é propriamente ensinar, mas polemizar,

desestruturar, desconstruir, fruir, valorizar a problematização, a dúvida filosófica – tarefa

da Filosofia como mobilizadora do pensamento.

Desse modo, temos um primeiro pressuposto sugerido: a investigação

filosófica como provocação, como propõe o pensador Gilles Deleuze em seu

73

Abecedário (exemplo moderno de como relacionar o cotidiano com a teoria), que passa

a ser suporte imprescindível no ensino de Filosofia.

O educador faz-se provocador e possível orientador do pensar, mas não um

condutor ou tutor que vá impedir a liberdade criativa do educando. Mais do que

aperfeiçoar o pensamento na produção de explicações, o ensino do filosofar permite a

elaboração de questionamentos que libertam o pensar do indivíduo de suas amarras,

como aponta a tão citada e incompreendida proposição de Kant sobre o ensino

filosófico: “Só é possível aprender a filosofar”6.

Consoante essas intenções anunciadas, é que podem ser respondidas as

graves questões colocadas pela prática educativa: Quais são os sentidos necessários à

formação dos jovens? O que se deve ensinar como valor às crianças? Sejam quais

forem as respostas dadas a essas perguntas, cabe ao professor de Filosofia, além de

examinar a coerência de tais significados, fazer a crítica dos fundamentos em que

assentam esses valores, pois deles dependem a regulação de nosso agir cotidiano e a

garantia do pensamento em geral, num processo que se faz e refaz continuamente.

Realizando essa proposta provocativa, o que se tem é o início de uma cultura reflexiva

e dialógica que não permite ou exige, mas reconhece e gera nos jovens e adolescentes

autonomia e percepção ética, por meio do convívio e da compreensão do pensar e do

agir diferentes, do incentivo à sua capacidade de argumentação, colaborando

inevitavelmente para o que se propõem como competências básicas de aprendizado

nos Ciclos de Formação III e IV.

Um segundo pressuposto sugerido do ensino de Filosofia no Ensino

Fundamental é o processo de discussão da postura diante do mundo, auxiliando as

crianças e os jovens a refletirem sobre as atitudes e problemas da existência humana

de modo autônomo. Como prevê a Declaração de Paris (de 1995, que reuniu

Professoras e Professores Filósofos de diversos continentes)

Reafirmamos que a educação filosófica, formando espíritos livres e reflexivos, capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusão e de intolerância, contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes

interrogações contemporâneas7.

O diálogo de ensinoaprendizagem filosófico mobiliza todo o arcabouço de

valores, conceitos e preconceitos que educandos e educadores utilizam em sua vida,

contrapondo-os no exercício de polemização que possibilita um amadurecimento

progressivo do pensar, numa elaboração contínua e necessária à vida humana. Isso dá

pertinência ao filosofar nos Ciclos III e IV, tendo em vista que vai além da exigência de

6 KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. 1983, p.407-408.

7 A Declaração de Paris é produto de um encontro internacional que pautou a relevância do ensino de Filosofia para a

humanidade no ano de 1995. Pode ser encontrada no endereço eletrônico

edsongil.files.wordpress.com/.../declaracaodeparisparaafilosofia.doc, em tradução feita por componentes do Centro

Acadêmico de Filosofia da UFPA.

74

direitos e cumprimento de deveres da cidadania, abrindo espaço para a atividade

básica de construção da política, a discordância crítica, universalizante e livre,

possibilitando uma prática cidadã que não é uniformizante e sim dialética. A

responsabilidade, o respeito e outros valores acabam por advir, do modo como for

decidido livremente, de uma compreensão necessária e não de uma necessidade

compreendida, pensando e constituindo suas ideias na prática. A forma de conduzir ou

permitir a fluência do processo de ensinoaprendizagem é fundamental, mas isso

depende, no entanto, de uma teoria filosófica ou várias que constituam um conjunto

norteador do trabalho do (a) professor (a) de Filosofia. Neste sentido, alguns conceitos

norteadores podem fundamentar o trabalho a ser desenvolvido na escola e fora dela,

nos momentos de pensar filosófico:

a) O Ser: mediante as teorias existentes acerca do que é o ser de um modo

geral e o Ser Humano, a partir do pensamento de filósofos Pré-Socráticos e de

Aristóteles, é possível iniciar a compreensão das mais básicas investigações,

apresentando não propriamente toda a teoria desses pensadores em sua

complexidade, mas começando por mostrar como é possível construir as questões

trabalhadas por eles: O que sustenta o todo do que existe? É possível explicá-lo? Como

ele se encontra atualmente? O que é o Ser Humano? O que é o Pensar? É possível e

necessário defini-los?

b) A Linguagem: demonstrando nas teorias e com exemplos da vivência

humana sobre as mais diversas formas de dizer, exprimir, afirmar, negar, debater,

argumentar etc., pode-se iniciar a percepção dos diferentes níveis das linguagens,

levando a pensar seu papel: se instrumento, inventora de sentidos, belezas; se espaço

de transformação; enfim, provocar a análise de toda a capacidade simbólica humana.

c) O Fazer: buscar a apresentação espontânea e estimular a contraposição

das visões e posturas de mundo, num movimento dialético de enfrentamento do que se

pensa e propõe como verdade ou certeza, investigando de modo conjunto os meandros

dos discursos, produções e atitudes estéticas, morais, políticas. As teorias filosóficas

juntam-se num coletivo de construção e desconstrução de juízos.

3.2.3.1 - Objetivos do Ensino de Filosofia para o Terceiro Ciclo

A especificidade do ensino filosófico é justamente ensinar a interpretação

filosófica das ideias e coisas em geral. No Ciclo III, isso significa estimular, orientar e

avaliar a partir dos seguintes objetivos:

Compreender as ideias e atitudes filosóficas iniciais;

Utilizar de recursos lógicos e linguísticos próprios da Filosofia;

Compreender a problematização filosófica de realidades, linguagens e

ideias, fazendo-se uso de conceitos filosóficos básicos;

Compreender o questionamento filosófico de ideias de outras áreas de

estudo; tipos de pensamento e da própria Filosofia em trabalhos interdisciplinares;

75

Compreender o questionamento do próprio pensamento, do ser, do agir e

do fazer humano e da realidade em geral;

Leitura filosófica inicial dos mais diversos tipos de textos e obras

humanas, inclusive os filosóficos, e realidades próximas aos educandos;

Produção de discurso escrito, falado ou outras expressões que

demonstrem compreensão inicial de como é realizado o modo de pensar filosófico e

suas articulações.

3.2.4 Sociologia

O homem se diferencia dos animais por sua capacidade de se relacionar e

produzir; isso graças, dentre outros fatores, à linguagem que lhe possibilita comunicar-

se com outros homens e tornar-se um ser social. Neste sentido, é imprescindível

compreender como o homem biológico torna-se um ser social e produtor de cultura. Tal

processo envolve todos os sujeitos sociais, modelando comportamentos e

personalidades, internalizando regras sociais, maneiras de ser, de pensar e de agir

transmitidas por meio da socialização. O homem, portanto, precisa compreender-se e

compreender os outros e, para isso, busca respostas.

A Sociologia é uma ciência que tem como objetivo responder aos

questionamentos a respeito da existência humana, enquanto sujeito social, explicando

os fenômenos sociais, observando os homens e suas relações de interdependência, em

interação e os produtos dessa interação, compreendendo-os como ser sociocultural.

Enquanto ciência social tem como foco o estudo do homem em sociedade, o homo

socius, portanto, o homem e seu universo sociocultural como um todo, analisando as

inter-relações entre os diversos fenômenos sociais.

A Sociologia como um conhecimento que procura demonstrar a “verdade”

sobre a natureza dos fenômenos sociais ganha importância no Ensino Fundamental,

uma vez que é uma ciência que possibilita aos alunos compreenderem-se enquanto

sujeitos sociais e também compreender o outro que faz parte desse universo social,

percebendo também a relação existente entre homem e sociedade.

Por outro lado, são várias as concepções sobre Sociologia. Para alguns ela

está a serviço dos interesses dominantes; para outros, ela representa, teoricamente,

uma intimidade com os movimentos revolucionários. Segundo Martins (2006) a

Sociologia é “este conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos de investigação

produzidos para explicar a vida social” (p. 8). Ele afirma também que a Sociologia [...] “é

o resultado de uma tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas,

criadas pela então nascente sociedade capitalista” (p. 8). Desde seus primórdios esteve

para além da tentativa de refletir sobre a sociedade moderna; na verdade, esta ciência

ao explicar os fenômenos sociais, teve e tem intenções e interesses de interferir na

realidade social. Os conflitos e contradições existentes na sociedade capitalista entre as

76

classes sociais, em especial entre burguesia e proletariado, influenciaram e continuam

influenciando significativamente a construção e sistematização da Sociologia.

A Sociologia surgiu num contexto histórico que culminou com a decadência

da sociedade feudal e consolidação da sociedade capitalista, e “sua criação não é obra

de um único filósofo ou cientista, mas representa o resultado da elaboração de um

conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de

existência que estavam em curso” (MARTINS, 2006, p. 10-11). No século XVIII,

profundas transformações de cunho socioeconômico, político e culturais ocorreram no

mundo ocidental, trazendo situações até então inexistentes para os homens. Essas

transformações foram provocadas tanto pela Revolução Industrial, quanto pela

Revolução Francesa. Tais movimentos foram decisivos para a perpetuação do

capitalismo e também para o surgimento de uma nova ciência, a Sociologia, que

procurou compreender e explicar as permanências e as transformações que ocorriam

na sociedade e, em alguns casos, até a se arriscar a propor encaminhamentos para

dadas situações sociais. Por isso é que a Sociologia busca responder algumas

questões referentes à vida dos homens em sociedade, estudar e explicar as relações

sociais e também sistematizar conhecimento científico sobre os fenômenos sociais.

Porém, é no século XIX que a Sociologia se firma enquanto ciência social,

por meio de estudos científicos realizados por autores como Augusto Comte, Émile

Durkheim, Karl Marx, Max Weber, entre outros que procuraram analisar e explicar a

dinâmica da nova realidade social: o capitalismo. Cada um a seu modo procurou

fundamentar suas explicações, chegando a conclusões que se diferenciam uns dos

outros sobre os problemas que emergiam ou eram provocados pela consolidação da

sociedade capitalista. Alguns consideravam que ela produzia solidariedade (Durkheim),

outros que era uma sociedade extremamente desigual.

Karl Marx, por exemplo, considerou-a como um modo de produção que

provocava uma divisão do trabalho entre os proprietários e os não proprietários dos

meios de produção. Esta divisão, segundo ele, é responsável pela luta de classe entre

trabalhadores (proletariado) e capitalista (burguesia) e pela exploração através do maior

valor produzido pelo trabalho (mais-valia). É esse movimento contraditório entre

trabalho e capital que permitiria a superação da atual sociedade e a construção de

outra.

Outro sociólogo que muito contribuiu para a compreensão da sociedade

capitalista foi Max Weber que parte da análise desenvolvida por Marx, mas a modifica,

remetendo-a a outros encaminhamentos. Weber, assim como Marx, acreditava que a

noção de classe tem um determinante econômico fundamental. Porém, aponta outros

elementos que não têm vínculo direto com a riqueza, mas que são importantes para a

definição do conceito de classe social, tais como: o prestigio hereditário, a participação,

a autoidentificação, o reconhecimento dos outros, os estilos de vida, a educação, as

atitudes e os valores que os indivíduos possuem. Para Weber, as desigualdades não

77

resultam somente da divisão da sociedade em classes; elas são modeladas

principalmente pelo status e pelo partido.

Podemos perceber que tanto Marx quanto Weber divergem em suas análises

sobre a sociedade capitalista. No entanto, ambos têm pontos em comum:

compreenderam que a sociedade capitalista é uma sociedade desigual e que as

classes sociais são fundamentalmente determinadas pelo fator econômico.

É, portanto, pelos estudos pioneiros desses autores que a Sociologia

penetrou nas Universidades, já no século XX, e ganhou o reconhecimento de Ciência

Social.

Como uma disciplina que tem por objetivo possibilitar aos alunos uma

reflexão acerca da realidade sociocultural em que estão imersos, e nela se

compreenderem enquanto sujeitos, é que propomos uma abordagem que leve em

consideração os seguintes eixos conceituais norteadores:

a) Socialização: processo pelo qual nós nos fazemos uns com os outros e a

própria sociedade, através da complexa teia de relações sociais que estabelecemos

desde criança. Para Berger e Luckmann (2002, p. 175) é “a ampla e consistente

introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”.

A socialização se constitui de socialização primária, aquela que acontece na infância e

a socialização secundária, que diz respeito a outros processos que introduzem o

indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de uma sociedade.

b) Classe Social: para a visão weberiana, classe social corresponde à

posição de um dado grupo no sistema predominante de estratificação social da

sociedade industrial, considerando-se para isso os rendimentos, o prestígio e o poder.

Para Marx, no entanto, classe social representa o lugar que grupos humanos ocupam

no interior das relações sociais de produção, como se relacionam e desempenham

seus papéis na organização social do trabalho.

Embora, hoje, surjam determinadas interpretações que buscam esvaziar o

conceito de classe social, ele é ainda uma ferramenta de análise importante para se

compreender nossa sociedade capitalista.

c) Diversidade Cultural: do ponto de vista antropológico, a cultura é

entendida como um processo histórico, dinâmico e pode representar também um

processo de dominação, político e ideológico. Desse modo, o povo brasileiro é,

enquanto cultura brasileira, fruto de um processo sócio-histórico, em que os

fundamentos culturais encontram-se arraigados nas questões de âmbito econômico,

social, político e ideológico. Os problemas vivenciados no decorrer do processo sócio-

histórico brasileiro influenciaram e influenciam decisivamente na formação da cultura e

identidade do povo brasileiro. Assim, no decorrer da história foi se criando uma

identidade nacional brasileira. Tal identidade se firmou e se consolidou a partir da

diversidade cultural criada e exteriorizada por milhões de brasileiros.

Nos dias atuais, não há como falarmos de identidade nacional sem

considerar seus símbolos identitários que representam o “jeitinho” peculiar de ser de

78

cada brasileiro. Esses símbolos são configurados através do carnaval, do samba, das

festas religiosas das regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte; no futebol etc.

d) Instituições Sociais: as instituições sociais são organizações sociais e

como tal formam sistemas sociais. Para Fichter, (apud LAKATOS 1995, p.166), a

instituição possui “uma estrutura relativamente permanente de padrões, papéis e

relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e

unificadas, com o objetivo de satisfazer necessidades sociais básicas”. Em todas as

sociedades as instituições sociais se fizeram e se fazem presentes e são de

fundamental importância para o funcionamento da sociedade e para o processo de

socialização.

Nas sociedades contemporâneas as instituições sociais mais importantes

são: a família, considerada o fundamento básico e universal das sociedades; a religião,

que também faz parte de toda e qualquer sociedade; o Estado, organização que exerce

autoridade sobre o povo, por meio de um governo consentido, dentro de um território

delimitado, com direito exclusivo ao uso da força; a escola, indispensável para a

sobrevivência de uma sociedade e que tem como função produzir, transmitir, socializar

e perpetuar o acervo de conhecimentos, normas, valores, ideias, ideologias, tradições

etc. que são inerentes ao grupo. É através da diversidade de instituições que a

sociedade se organiza e funciona.

3.2.4.1 - Objetivos do Ensino da Sociologia para o Quarto Ciclo

Compreender a Sociologia enquanto Ciência contemporânea capaz de

contribuir para a formação de mentalidades crítico-transformadoras;

Perceber e analisar as características do sistema capitalista de produção,

sua origem e perpetuação; as relações sociais e seus conflitos; a divisão social do

trabalho e a luta de classes;

Perceber o processo global como uma prática que ratifica os princípios

capitalistas e analisar as consequências desse fenômeno para a sociedade;

Perceber o homem como ser cultural, compreendendo a cultura humana

como um fazer constante, refletindo os vários sistemas simbólicos que compõem a

cultura de uma sociedade;

Compreender a diversidade cultural e o processo de formação da

identidade nacional e regional da sociedade brasileira;

Identificar e compreender as instituições básicas de uma sociedade e suas

principais funções sociais, econômicas, culturais e políticas.

3.2.5 Ensino Religioso

Por séculos o Ensino Religioso foi tratado como ensino da religião ou mais

precisamente ensino do Catolicismo. Assumiu, assim, o caráter de catequese,

evangelização, excluindo-se qualquer referência a outras manifestações religiosas.

79

Porém, ao longo das décadas de 70, 80 e 90 começou a sofrer mudanças profundas.

Foi aos poucos transitando de uma perspectiva catequética para uma visão mais

ecumênica, interconfessional, até definir-se, hoje, como inter-religioso. Essas mudanças

aconteceram em virtude do amadurecimento da compreensão de sua natureza e seu

papel na escola pública, do avanço do conhecimento antropo-socio-teológico sobre o

fenômeno religioso; do pluralismo religioso da sociedade; das lutas sociais por

cidadania e democratização da sociedade brasileira e, sobretudo, pelo empenho de

educadores em resgatar e tornar possível aos educandos o acesso a uma parcela do

conhecimento historicamente acumulado pela humanidade: o conhecimento religioso.

O Ensino Religioso tem como núcleo central de sua ação-reflexão-ação o

estudo da religiosidade humana. Religiosidade essa expressa, manifestada ao longo de

toda a história da humanidade, desde as sociedades pré-históricas, até hoje, pois não

há civilização – seja no oriente, seja no ocidente – que não tenha deixado marcas

profundas de sua vivência religiosa.

Essa religiosidade é a dimensão mais profunda da totalidade do Ser, exprime

a aposta humana de que o universo todo faça sentido; é esforço humano para pensar a

realidade toda a partir da experiência de que a vida tenha sentido. O homem tendo

tomado consciência de sua finitude, limite, inconclusão e fragilidade deparou-se com a

necessidade de sua vida ter sentido. Esse sentimento é, então, externalizado das mais

diversas formas, na tentativa de dominar os mistérios da vida. Este esforço para que a

vida faça sentido e, consequentemente, mereça ser vivida, fez o Homo sapiens sapiens

tornar-se Homo regiliosus.

Esse é o fundamento do fenômeno religioso – objeto de estudo do Ensino

Religioso – que é intrinsecamente humano, universal e está inscrito na radicalidade da

existência humana, porque é abertura ao Transcendente, àquilo ou àquele que

ultrapassa a superfície da vida, que pode lhe dar um sentido último a sua existência.

Ainda que possa ter sido vivenciado em cada época histórica, culturas ou grupos

sociais de modo diferente, expressa a recusa humana de encarar o desconhecido como

barreira definitiva, de não se render ao caos e de se opor às ameaças do não-ser.

Enquanto disciplina que trata do conhecimento religioso, uma das dimensões

do conhecimento humano, o Ensino Religioso possibilita uma reflexão crítica sobre a

práxis sociocultural que estabelece significados, oportunizando novas relações do ser

humano com a natureza, com o mundo e com o outro. Possibilita ao educando reflexão

sobre sua religiosidade, permitindo-lhe encontrar respostas ao seus questionamentos

existenciais mais profundos, indo além da aparência das coisas, acontecimentos, ritos,

símbolos, formulações para interpretar toda a realidade em profundidade crescente, de

modo crítico e transformador.

Nesse percurso, é preciso ter cuidado com a banalização do religioso, com

as verdades absolutas, com o fanatismo, a intolerância e o proselitismo. O Ensino

Religioso não pode ser confundido com o ensino de religião, que é de competência de

cada denominação religiosa e não da escola pública. Como área do conhecimento,

80

deve buscar uma visão interdisciplinar do conhecimento religioso, articulando os vários

aspectos: sociológico, antropológico, filosófico, teológico e psicológico que permitam

um entendimento mais abrangente e consistente do fenômeno religioso. Por isso, não

pode ser mera informação de conteúdos religiosos, um saber pelo saber, sem sabor.

Portanto, o Ensino Religioso como disciplina escolar deve valorizar o

pluralismo religioso, a diversidade cultural e religiosa presentes na sociedade brasileira

e paraense, tendo como finalidade: facilitar a compreensão do educando, de si próprio,

do outro que o diferencia, do mundo com e no qual se inter-relaciona, do

Transcendente que se manifesta plural e diverso no processo de construção da

Humanidade.

Deve garantir e afirmar o direito à diferença e apresentar uma prática

docente própria, alicerçada no exercício e no aprendizado da cidadania, no respeito, no

compromisso com uma sociedade democrática, plural, menos desigual, solidária e

fraterna. Sua práxis não deve descurar de considerar sempre, o convívio social dos

educandos, sua tradição religiosa e de sua família, a liberdade de expressão religiosa,

sem comparações, confrontos ou preconceitos de qualquer espécie, isto é, deve ter

como eixos conceituais norteadores do conhecimento: as culturas e tradições

religiosas, as escrituras sagradas (escritas e orais), as teologias, os ritos e os ethos que

sustentam a pluralidade cultural e religiosa das mais diversas raízes: européia, oriental,

africana e indígena, desencadeando, assim, o diálogo e a reverência8.

a) Culturas e Tradições Religiosas: reúne um conjunto de conhecimentos

ligados ao fenômeno religioso que lhe servem de fundamento e que discutem a “função

e valores da tradição religiosa, relação entre tradição religiosa e ética, teodicéia,

tradição religiosa natural e revelada, existência e destino do ser humano nas diferentes

culturas” (PCN: Ensino Religioso, p. 33). Falar de cultura e tradições religiosas é falar

da profunda relação que há entre elas, dos elementos que a conectam, pois é

impossível entender a religião fora do universo cultural. É estabelecer diálogo entre o

núcleo “ético-mitico” da cultura, com a aquilo que fomos (passado), somos (presente) e

que seremos (futuro).

b) Escrituras Sagradas (orais e escritas): estudo dos textos, narrativas que

transmitem, de acordo com a crença de seus fiés, uma mensagem do Transcendente,

isto é, através dessas escrituras o Transcendente revela, faz conhecer aos seres

humanos seus mistérios, sua vontade, seus preceitos e suas orientações para a vida

neste mundo em um tempo histórico e contexto cultural determinado (PCN: Ensino

Religioso).

c) Teologias: é o conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados,

organizados e sistematizados por cada tradição religiosa sobre o Transcendente e

repassado ao fieis.

8 Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino religioso, 1997.

81

d) Ritos: é o conjunto de práticas religiosas das diferentes religiões. É o

estudo do complexo universo simbólico dessas religiões.

e) Ethos: “É a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio

sentido do ser” (PCN: Ensino Religioso, p. 37). São as orientações, as normas, os

valores de cada tradição religiosa apresentados aos fiéis no contexto sociocultural para

o relacionamento com o outro. São os fundamentos éticos propostos pelas religiões.

3.2.5.1 - Objetivos do Ensino Religioso para o Terceiro Ciclo

Conhecer a evolução das estruturas religiosas nas organizações humanas

no decorrer do tempo;

Compreender a formação histórica da ideia do Transcendente;

Analisar, nas diferentes mudanças culturais, como as ideologias religiosas

chegaram a determinar as verdades de que se nutrem;

Perceber que os textos sagrados e as narrativas religiosas são marcados

pelo contexto sociopolítico e religioso e que a verdade contida neles é fruto da

experiência mística de um povo;

Propiciar aos educandos conhecimento do significado dos símbolos

sagrados dos diversos grupos religiosos presentes no mundo;

Valorizar a vida como criação transcendente, desenvolvendo atitudes de

respeito, responsabilidade e preservação para consigo mesmo, com o outro, com a

natureza e com o Transcendente;

Conhecer a sua própria cultura, respeitando os valores das diversas

tradições religiosas, possibilitando a convivência, o respeito, a tolerância e a

solidariedade com o diferente;

Reconhecer que as manifestações de fé: acontecimentos, ritos, símbolos,

formulações e até interpretações do sagrado podem ser utilizadas pelo mercado de

bens simbólicos capitalista, tornando-as instrumento de alienação, exploração e

dominação sociocultural;

Contribuir para o desenvolvimento da capacidade de pensar e agir

criticamente diante de um sistema social injusto que alimenta o preconceito, a

discriminação e as desigualdades;

Possibilitar a reconstrução da relação entre ciência, cultura e fé como

formas de compreensão do humano que não são mutuamente excludentes.

3.2.5.2 - Objetivos do Ensino Religioso para o Quarto Ciclo

Proporcionar ao educando o conhecimento do sentido da vida/morte

sustentado pelas tradições religiosas através das crenças, doutrinas, normas e métodos

de relacionamento com o transcendente, com os outros, com o mundo e consigo

mesmo;

Perceber que as determinações religiosas influenciam na construção

mental do inconsciente coletivo;

82

Compreender que as tradições religiosas edificam e estabelecem

concepções, métodos e exercícios de autoconhecimento, do conhecimento do

Transcendente e do mundo que influenciam e regulam práticas sociais;

Compreender o conhecimento do sagrado como parte fundamental do

conhecimento humano que deve ser integrado, interligado as suas outras dimensões,

na busca de superação de uma visão estreita da vida e do universo;

Perceber que as representações do Transcendente de cada Tradição

Religiosa constituem-se como valor significativo de uma cultura;

Entender a espiritualidade como o cultivo da vivência com o mistério,

elemento vital na relação do fiel com o sagrado;

Promover através da vivência de valores morais, éticos, hábitos e atitudes,

o diálogo inter-religioso de modo a superar preconceitos e proselitismos;

Desenvolver uma postura crítica diante das situações desumanas que se

opõem à vida digna do ser humano (injustiça social, ausência de postura ética,

degradação moral, dominação, exploração, autoritarismo etc.), cultivando a alteridade,

valores e atitudes de solidariedade, cooperação, respeito e repúdio à negação da vida;

Despertar a consciência ecológica como chave para compreensão da vida

como complexidade cósmica integrada.

3.3. CIÊNCIAS DA NATUREZA

A área de conhecimento das Ciências da Natureza reúne um conjunto de

conceitos das Ciências Físicas e Biológicas. As Ciências Físicas compreendem a

Física, a Química, a Geologia e a Astronomia; as Ciências Biológicas abrangem a

Biologia Geral, Botânica, Zoologia e outras (ALMEIDA; OLIVEIRA, 1971; BRASIL,

1998a). Seu objeto de estudo são os fenômenos naturais e os processos de

abstração e generalização. Num trabalho de leitura e interpretação dos fenômenos

naturais, procuram compreender o mundo onde o homem está inserido, constituindo-se

numa via de acesso ao pensamento científico e tecnológico, em que se tratam os

processos de pensamento, os modos de explicar, de entender e atuar na realidade

social e cultural.

Historicamente, até o século XVII, a relação homem-natureza pautou-se na

mutualidade, quando o homem retirava da mãe terra (Gaia) o suficiente para o seu

sustento, o qual podemos ainda verificar na prática de muitos povos indígenas que

mantêm finos laços com a natureza.

A partir do século XVII, surge uma nova concepção da relação homem-

natureza, quando este deixa de ser pertencente ao meio para se tornar o proprietário

dos recursos naturais. Surge, assim, uma nova concepção de Ciências, onde o rigor

proposto por uma estrutura matemática de fragmentação gera inúmeros campos de

estudo, com o propósito de produzir conhecimentos específicos e, consequentemente,

83

isolados entre si e das demais áreas do conhecimento. No entanto, todo o saber

fragmentado construído não perdeu seu caráter eminentemente humano.

Essa estrutura de Ciências que conhecemos como “paradigma da

fragmentação ou cartesiano”, porque foi proposta pelo matemático, filósofo, René

Descartes, passou a ser contestado na primeira metade do século XX, com o fim da

Segunda Guerra Mundial. Então, uma nova abordagem de estruturação do

conhecimento científico passou a ter como base a conexão entre os saberes buscando

a “totalidade” do conhecimento.

Com essa proposta de mudança das estruturas de organização do

conhecimento humano, surgiram novas formas de produção científica, que passaram a

exigir também alteração nas concepções trabalhadas nas escolas e universidades,

apesar de existir ainda forte enraizamento da concepção cartesiana, onde prevalecem a

ênfase nos conteúdos e nos pré-requisitos.

As produções científicas geradas nesse período objetivaram a valorização do

homem a partir da melhoria de sua qualidade de vida. A construção desse novo

parâmetro de leitura da realidade procurou resgatar a complexidade do homem e suas

relações com o meio e com o outro.

Nesse contexto de reconstrução das estruturas do conhecimento humano,

surgiram as chamadas “novas Ciências” das quais podemos identificar a “Física

Quântica” e a “Psicologia”, dentre outras. Essa nova concepção científica procurou

identificar o homem não mais como simples ser biológico, mas agora como ser

sociocultural, produtor e produto das relações que constrói no contexto ao qual

pertence.

Assim, é notório que já não há mais espaço para uma escola que não pensa

os fenômenos sociais e o próprio homem na sua totalidade e complexidade. Portanto,

as propostas de formação de um homem crítico que busque exercitar a sua cidadania e

tenha condições de (re) construir a realidade, objetivando a melhoria da qualidade de

vida, necessita de uma Ciência que não lhe proponha recortes da natureza, mas que

traga propostas de (re) integração desta com os recursos de que dispõe sem perder de

vista as limitações existentes nas relações homem-meio-homem.

Na reconstrução deste conhecimento “totalizante”, a área das Ciências da

Natureza busca a integração de diferentes conjuntos de fenômenos naturais e sociais,

gerando representações da realidade, buscando compreender o universo, a vida e seus

processos de transformação, sem desconsiderar a sabedoria popular. A produção

tecnológica é outro contexto no qual as Ciências Naturais estão relacionadas

operacionalizando o aproveitamento desses recursos tendo em vista a melhoria da

qualidade de vida no planeta.

Hoje, discutir Ciências Naturais na Rede Municipal de Ensino de Belém é

buscar a reconstrução das nossas estruturas cognitivas com o propósito de construir

uma abordagem mais holística, mais complexa do universo que o homem habita com

84

suas múltiplas dimensões, não se deixando vencer apenas pelo cientificismo que ainda

é muito presente nas aulas de Ciências.

A tomada de consciência quanto às necessidades de melhoria das relações

com o outro e com o meio ambiente perpassa, antes de tudo, pela valorização do “eu”

(autoestima) e da incorporação de que as ações individuais devem estar integradas ao

contexto coletivo na construção de uma nova realidade.

3.3.1 Ciências Naturais

O mundo contemporâneo não poderia ser compreendido sem os

conhecimentos científicos e tecnológicos que estão presentes em praticamente todos

os setores e esferas da nossa sociedade. Conhecimentos esses que envolvem

aspectos práticos, históricos e filosóficos, éticos e sociais, que nos permitem

compreender fenômenos presentes em nosso cotidiano, enfrentar problemas na vida

doméstica ou social, participar de forma crítica de debates públicos relevantes no

mundo atual acerca dos usos da Ciência e da Tecnologia, de seus benefícios e riscos.

Ao lado de outras áreas do conhecimento, as Ciências Naturais propiciam

condições para ampliar o conhecimento de mundo, promovem valores humanos e

fornecem instrumentos para a percepção, a interpretação crítica e a intervenção

fundamentada para a transformação da realidade. Assim como as outras disciplinas -

Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História –, os conhecimentos científicos e

tecnológicos também devem fazer parte da cultura e da vida de todo cidadão.

O estudo de Ciências Naturais tem, hoje, como um de seus principais

desafios a formação dos estudantes para uma sociedade que cada vez mais acredita

que o conhecimento científico possa representar um elemento básico para que as

crianças e os jovens tanto compreendam os fenômenos observáveis em seu corpo, na

natureza e no universo, como se posicionem diante das mudanças contínuas do mundo

em que vivem.

Para tanto, a escola deve proporcionar aos estudantes o desenvolvimento de

habilidades que lhes permitam elaborar critérios para orientá-los em suas decisões

pessoais; para que saibam analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos de

seu cotidiano; e a fim de que se utilizem, em novas situações, de informações,

conceitos e procedimentos construídos na aprendizagem escolar. Para que esses

objetivos sejam alcançados, é preciso que os “temas científicos” sejam vivenciados de

modo a permitir também o desenvolvimento de valores éticos, articuladamente à

alfabetização científica que se deseja.

O ensino de Ciências estimula a curiosidade natural dos estudantes pela

natureza; a inquietação pelas explicações; valoriza a construção social do

conhecimento e a necessidade da criação de soluções para a sobrevivência humana no

planeta, diante dos impasses colocados pela realidade do nosso tempo.

85

A educação em Ciências deve proporcionar aos estudantes a oportunidade

de desenvolver capacidades que neles despertem a inquietação diante do

desconhecido, buscando explicações lógicas e razoáveis, levando os alunos a

desenvolverem posturas críticas, realizarem julgamentos e tomarem decisões

fundamentadas em critérios objetivos, baseados em conhecimentos compartilhados por

uma comunidade escolarizada (BIZZO, 1998).

Além desses aspectos relevantes, Miguens e Garret (1991) destacam outros

como: ajudam os alunos a obterem um conhecimento sobre fenômenos naturais

através de novas experiências; facilitam uma primeira experiência, um contato com a

natureza e com o fenômeno que eles estudam; desenvolvem algumas habilidades

científicas práticas como observar e manipular; oportunizam a exploração, a extensão e

o limite de determinados modelos e teorias; permitem comprovar ideias alternativas

experimentalmente; possibilitam aumentar a confiança ao aplicá-las na prática e

explorar e comprovar a teoria através da experimentação.

A importância do trabalho prático é inquestionável na Ciência e deveria

ocupar lugar central no seu ensino (SMITH, 1975). No entanto, o aspecto formativo das

atividades práticas experimentais tem sido negligenciado, muitas vezes, ao caráter

superficial, mecânico e repetitivo em detrimento aos aprendizados teórico-práticos que

se mostram dinâmicos, processuais e significativos (SILVA & ZANON, 2000).

Borges (1997, p. 22) ressalta que “precisamos encontrar novas maneiras de

usar as atividades prático-experimentais mais eficientemente e com propósitos bem

definidos”, mesmo sabendo que isso não é a única solução para os problemas

relacionados com a aprendizagem de Ciências. Em outras palavras, devem-se ensinar

Ciências para ampliar as possibilidades de compreensão do mundo e de suas

transformações e especialmente para o reconhecimento do homem como parte do

universo e como indivíduo. Por isso, consideramos como eixos fundamentais:

a) Os seres vivos e o ambiente: neste eixo, deve-se possibilitar ao

estudante visão crítica sobre as relações entre o ser humano e a natureza,

contrapondo-se à visão de um homem que se exclui do meio ambiente, para que

compreenda as questões ambientais para além de suas fronteiras biológicas,

abrangendo tanto aspectos físicos e químicos, bem como dimensões históricas, sociais,

econômicas, políticas, culturais e éticas; e para que valorize a preservação dos

ambientes e do planeta, sendo capaz de compreender e propor soluções para as

degradações e recuperações ambientais.

b) Ser humano e saúde: neste eixo, devem ser integrados conhecimentos

do ser humano nos seus aspectos biológicos, físicos, químicos e afetivos, além das

relações do ser humano com sua cultura e com a sociedade. Esses conhecimentos

devem ter como base o ser humano enquanto um todo integrado e dinâmico,

relacionando as condições necessárias para a saúde individual e coletiva.

c) Transformações da matéria e energia: neste eixo, os temas e conteúdos

relacionados com essa área de conhecimento devem contribuir para uma melhor

86

compreensão das questões relativas aos usos de recursos materiais e energéticos.

Aqui estão colocadas questões sociopolíticas e éticas, para as quais devem ser

discutidos e desenvolvidos argumentos relativos aos modos de consumo, valorizando-

se as atitudes individuais e coletivas adequadas ao uso de materiais e recursos

naturais, no consumo de alimentos, do vestuário, da água, da energia elétrica, nos

meios de transporte, na habitação, assim como nos descartes e destinações dos

resíduos sólidos (lixo) e líquidos (esgoto).

d) Dinâmica e evolução da Terra e do Universo: este eixo tem como

objetivo oportunizar a construção de uma visão de mundo mais abrangente, nele

situando-se histórica e espacialmente. Os conhecimentos aqui relacionados devem

possibilitar uma concepção da ciência enquanto construção humana em constante

mudança, cujos modelos explicativos estão fundamentados para além da mera

observação, mas que são permeados por valores culturais e sociopolíticos.

Possibilitam, ao mesmo tempo, a elaboração de hipóteses e o debate sobre indagações

acerca da origem da vida, do planeta e do Universo.

3.3.1.1 - Objetivos do Ensino de Ciências Naturais para o Terceiro Ciclo

Para o terceiro ciclo, os temas de estudo e as atividades de Ciências

Naturais devem ser organizados para que os alunos ganhem progressivamente as

seguintes capacidades:

Reconhecer que a humanidade sempre se envolveu com o conhecimento

da natureza e que a Ciência, uma forma de desenvolver este conhecimento, relaciona-

se com outras atividades humanas;

Valorizar a disseminação de informações científicas socialmente

relevantes aos membros da sua comunidade;

Construir relatos orais e outras formas de registros acerca do tema em

estudo relacionado às informações das Ciências Naturais, considerando informações

obtidas por meio de observação, experimentação, textos ou outras fontes;

Reconhecer descrições de galáxias, estrelas, planetas e satélites

relacionando informações sobre as características da Terra com o surgimento e

evolução da vida;

Identificar e caracterizar as principais regiões formadoras da estrutura do

planeta Terra, enfatizando sua importância dinâmica e equilíbrio na vida do planeta;

Reconhecer, em textos, representações figurativas e nos ambientes

vivenciados a natureza cíclica das transformações da água na natureza, inclusive em

sistemas experimentais;

Associar a variação de pressão atmosférica às variações de altitude,

identificando as características dos gases que entram na composição do ar atmosférico;

Caracterizar as condições e a diversidade de vida no planeta Terra em

diferentes espaços, particularmente nos ecossistemas brasileiros;

87

Conhecer e caracterizar os diferentes biomas brasileiros, enfatizando a

fauna e flora da Amazônia;

Interpretar situações de equilíbrio e desequilíbrio ambiental relacionando

informações sobre a interferência do ser humano e a dinâmica das cadeias alimentares;

Reconhecer as doenças transmitidas pela água, pelo solo e pelo ar e as

maneiras de evitá-las relacionando-as aos hábitos de higiene;

Identificar diferentes tecnologias que permitem as transformações de

materiais e de energia necessárias às atividades humanas essenciais hoje e no

passado;

Identificar padrões de semelhança e características comuns entre

variedade de plantas, de animais e de outros seres vivos e analisar hipóteses sobre a

diversidade e as adaptações dos seres vivos.

3.3.1.2 - Objetivos do Ensino de Ciências Naturais para o Quarto Ciclo

As atividades e os temas de estudo de Ciências Naturais devem ser

organizados para que os estudantes ganhem progressivamente as seguintes

capacidades:

Compreender e exemplificar como as necessidades humanas, de caráter

social, prático ou cultural, contribuem para o desenvolvimento do conhecimento

científico ou, no sentido inverso, beneficiam-se desse conhecimento;

Compreender as relações existentes entre o processo social e a evolução

das tecnologias, associadas à compreensão dos processos de transformação de

energia, dos materiais e da vida;

Confrontar as diferentes explicações individuais e coletivas, reconhecendo

a existência de diferentes modelos explicativos na Ciência, inclusive de caráter

histórico, respeitando as opiniões, para reelaborar suas ideias e interpretações;

Compreender o corpo humano e sua saúde como um todo integrado por

dimensões biológicas, afetivas e sociais, relacionando à prevenção de doenças e

promoção de saúde das comunidades a políticas públicas adequadas;

Compreender as diferentes dimensões da reprodução humana e os

métodos anticoncepcionais, valorizando o sexo seguro e a gravidez planejada;

Conhecer a estrutura da matéria, suas transformações físicas e químicas

e suas aplicações nas atividades cotidianas;

Relacionar as ideias de espaço e tempo, considerando unidades de

medida, compreendendo conceitos de velocidade e aceleração e suas relações com o

conceito de energia e sua variação;

Avaliar implicações sociais, econômicas e ambientais nos processos de

geração e transformações de energia.

88

3.4. MATEMÁTICA

A compreensão da Matemática como área de conhecimento deve-se ao seu

entendimento como saber dinâmico, prático e relativo, estruturado numa linguagem que

possibilita ao ser humano investigar, compreender, explicar e atuar no mundo, ou seja,

atribuir sentido e construir significados para sua existência, em interação constante com

os avanços do contexto sócio-histórico e cultural.

Etimologicamente, a palavra Matemática é a composição dos termos

máthema (matema = ensinar, conhecer, entender, explicar) e techné (tica = técnicas e

artes) e assim, originalmente, Matemática é a técnica de conhecer, entender e explicar

o mundo visível.

Historicamente, a Matemática sofreu influência de saberes culturais de

diversos povos do mundo, em especial, das sociedades egípcias, babilônicas, hindus e

arábicas. Sistematizados ao longo da história da humanidade, geraram no ser humano

um pensamento matemático, que foram aos poucos sendo organizados, sistematizados

e ganhando o caráter de conhecimento rigoroso, formal e dedutivo, produto da atividade

humana tanto dentro como fora da academia.

Sabe-se hoje que o desenvolvimento do pensamento matemático promove

no sujeito uma melhor compreensão dos fenômenos naturais, sociais, econômicos e

tecnológicos e, consequentemente, pode influenciar na melhoria e na evolução de

produtos, bens e serviços ao bem-estar de sua sociedade.

Como perspectiva para o século XXI, a Matemática busca a valorização dos

diversos saberes matemáticos (etnomatemáticos) de povos e grupos étnicos que

produziram matemáticas diferenciadas da matemática escolar e acadêmica, bem como

de novas possibilidades (tendências da educação matemática) como a modelagem

matemática, informática na educação matemática, história da matemática, psicologia na

educação matemática, educação matemática crítica e etc., com a intenção de tornar a

matemática mais compreensível a todos.

3.4.1 O Ensino da Matemática

No Brasil, durante meados da década de 1920, ocorreram movimentos

direcionados à reorganização curricular da Matemática que se caracterizava por ser um

ensino baseado na aritmética e na geometria euclidiana. Influenciados pelo movimento

escolanovista, procurou-se mudar o caráter elitista presente no ensino da Matemática

neste período, bem como, ampliar seu acesso a um maior número de pessoas,

democratizando-a.

Entretanto, somente nas décadas de 60/70, após o 1º Colóquio Brasileiro de

Matemática, ocorreu uma mudança na abordagem do conhecimento matemático, que

foi influenciado pelo Movimento da Matemática Moderna. A partir de então, o ensino da

89

Matemática passou a considerar a teoria dos conjuntos como base para o

desenvolvimento de todo o seu conhecimento científico.

Tal mudança contribuiu para uma política de modernização econômica que

se apresentava como uma via privilegiada para o pensamento científico e tecnológico, e

assim, buscava relacionar a matemática escolar com a matemática formal, rigorosa,

dedutiva e tecnicista existente nos ambientes acadêmico-científicos.

Este novo cenário tinha o formal e o simbólico prevalecendo ao prático. Isto

acabou promovendo, nas décadas seguintes, um elevado índice de reprovação devido

ao grau de complexidade e pouco significado para os alunos, em especial aos alunos

do ensino de 1º grau.

No final da década de 1980, ocorreram novos debates a respeito da

apresentação do ensino de Matemática, com o propósito de mudar o crítico cenário

existente, dentre eles: ensino focado para o desenvolvimento das competências

básicas do estudante; melhorar a autonomia do aluno para a construção do seu

conhecimento; ressignificar o conhecimento matemático por meio da resolução de

problemas de situações do cotidiano; o uso das novas tecnologias como importante

instrumento neste processo de aprendizagem em Matemática etc.

Os estudos sobre Educação Matemática, que se sucederam os anos 80,

mostraram que muitos aspectos do processo de ensino, aprendizagem e avaliação do

conhecimento matemático na Educação Básica, necessitavam ser revistos, pois havia

de se valorizar a aprendizagem tanto quanto aos conteúdos.

Como consequência desses estudos, em 1995, são apresentados os PCN –

Parâmetros Curriculares Nacionais, para promover um novo olhar sobre a educação,

com a intenção de valorizar as diversidades regionais, culturais e políticas, e de

melhorar o acesso à educação, principalmente aos brasileiros menos favorecidos, e

assim, o ensino de Matemática sofreu uma importante reformulação, tendo agora o

sujeito “aprendente” de Matemática como foco principal da organização curricular da

escola.

Desta forma, compartilhamos dos mesmos preceitos propostos pelos PCN:

Matemática (1997, 1998) e definimos o ensino e aprendizagem em Matemática nos

seguintes eixos conceituais:

a) Números e Operações/Álgebra: eixo referente aos distintos significados

de número, algoritmos operatórios e aplicações em diferentes contextos. Além da

utilização de representações algébricas na resolução de problemas que requerem as

funções numéricas.

b) Espaço e Forma: eixo caracterizado pelo estudo do espaço e das formas

geométricas planas e espaciais e suas características e propriedades.

c) Grandezas e Medidas: eixo caracterizado pelo estudo das grandezas

oficiais e não oficiais utilizadas nas atividades cotidianas para determinar medidas de

comprimento, área, volume e tempo entre outras e seus respectivos múltiplos e

submúltiplos.

90

d) Tratamento da Informação: corresponde ao eixo caracterizado pelo

estudo das técnicas analíticas e críticas de fluxogramas, tabelas e gráficos, bem como

do significado de média aritmética, frequência, valores absoluto e relativo, incluindo

estudos preliminares de análise combinatória e probabilidade.

É importante ressaltar que estes eixos não sejam realizados isoladamente. E

que todos os quatro eixos aconteçam de forma clara e com significado ao estudante,

por meio de problemas de contexto real que favoreçam a compreensão e o

desenvolvimento do pensamento matemático.

3.4.1.1 - Objetivos do Ensino de Matemática para o Terceiro Ciclo

Neste ciclo, o ensino de Matemática tem como objetivos:

Ampliar e construir novos significados para os números naturais, inteiros e

racionais a partir de sua utilização no contexto;

Resolver situações-problema envolvendo números naturais, inteiros,

racionais e a partir delas ampliar e construir novos significados da adição, subtração,

multiplicação, divisão, potenciação e radiciação;

Identificar, interpretar e utilizar diferentes representações dos números

naturais, racionais e inteiros, indicadas por diferentes notações, vinculando-as aos

contextos matemáticos e não-matemáticos;

Identificar a localização de números inteiros na reta numérica;

Selecionar e utilizar procedimentos de cálculo (exato ou aproximado,

mental ou escrito) em função da situação-problema proposta;

Reconhecer que representações algébricas permitem expressar

generalizações sobre propriedades das operações aritméticas;

Traduzir informações contidas em tabelas e gráficos em linguagem

algébrica e vice-versa, generalizando regularidades e identificar os significados das

letras;

Utilizar conhecimentos sobre as operações numéricas e suas

propriedades para construir estratégias de cálculo algébrico;

Identificar e resolver equações e inequações do 1.º grau que expressem

um problema;

Resolver situações-problema de localização e deslocamento de pontos no

espaço, reconhecendo nas noções de direção e sentido, de ângulo, de paralelismo e de

perpendicularismo, elementos fundamentais para a constituição de sistemas de

coordenadas cartesianas;

Estabelecer relações entre figuras espaciais e suas representações

planas, envolvendo a observação das figuras sob diferentes pontos de vista,

construindo e interpretando suas representações;

Resolver situações-problema que envolvam figuras geométricas planas,

utilizando procedimentos de decomposição e composição, transformação, ampliação e

redução;

91

Ampliar e construir noções de medida, pelo estudo de diferentes

grandezas, a partir de sua utilização no contexto social e da análise de alguns dos

problemas históricos que motivaram sua construção;

Resolver problemas que envolvam diferentes grandezas, selecionando

unidades de medida e instrumentos adequados à precisão requerida;

Resolver situações-problema por meio de equações e inequações do

primeiro grau, compreendendo os procedimentos envolvidos;

Observar a variação entre grandezas, estabelecendo relação entre elas e

construindo estratégias de solução para resolver situações diretas ou inversamente

proporcionais;

Compreender e calcular problemas envolvendo porcentagem;

Coletar, organizar e analisar informações, construir e interpretar tabelas e

gráficos, formular argumentos convincentes, tendo por base a análise de dados

organizados em representações matemáticas diversas;

Utilizar a capacidade de investigação com perseverança na busca de

resultados, valorizando o uso de estratégias de verificação e controle de resultados;

Demonstrar predisposição para alterar a estratégia prevista para resolver

uma situação-problema quando o resultado não for satisfatório;

Demonstrar reconhecimento do fato de que pode haver diversas formas

de resolução para uma mesma situação-problema e conhecê-las;

Valorizar e usar a linguagem matemática para expressar-se com clareza,

precisão e concisão;

Interpretar situações-problema para a elaboração de estratégias de

resolução e na sua validação;

Demonstrar interesse pelo uso dos recursos tecnológicos, como

instrumentos que podem auxiliar na realização de alguns trabalhos, sem anular o

esforço da atividade compreensiva;

Resolver situações-problema que envolvam o raciocínio combinatório e a

determinação da probabilidade de sucesso de um determinado evento por meio de uma

razão;

Resolver problema utilizando propriedades dos polígonos (soma de seus

ângulos internos, número de diagonais, cálculo da medida de cada ângulo interno nos

polígonos regulares);

Resolver problema envolvendo o cálculo de perímetro e área de figuras

planas.

3.4.1.2 - Objetivos do Ensino de Matemática para o Quarto Ciclo

Neste ciclo, o ensino de Matemática visa aos seguintes objetivos:

Resolver situações-problemas envolvendo números naturais, inteiros,

racionais e irracionais, ampliando e consolidando os significados da adição, subtração,

multiplicação, divisão, potenciação e radiciação;

92

Ampliar e consolidar os significados dos números reais e suas operações

por meio de situações-problemas e de diferentes usos em contextos sociais e

específicos da Matemática;

Produzir e interpretar diferentes escritas algébricas, expressões,

igualdades e desigualdades, identificando as equações, inequações e sistemas;

Selecionar e utilizar diferentes procedimentos de cálculo com números

reais;

Calcular o valor numérico de expressões algébricas;

Compreender e calcular equações do 2º grau por meio de várias

estratégias coerentes;

Resolver problema que envolva equação do 2.º grau;

Interpretar e representar a localização e o deslocamento de uma figura no

plano cartesiano;

Produzir e analisar transformações e ampliações/reduções de figuras

geométricas planas, identificando seus elementos variantes e invariantes,

desenvolvendo o conceito de congruência e semelhança;

Ampliar e aprofundar noções geométricas como incidência, paralelismo,

perpendicularismo e ângulo para estabelecer relações, inclusive as métricas, em figuras

bidimensionais e tridimensionais;

Ampliar e construir noções de medida, pelo estudo de diferentes

grandezas, utilizando dígitos significativos para representar as medidas, efetuar

cálculos e aproximar resultados de acordo com o grau de precisão desejável;

Obter e utilizar possibilidades para cálculo da área de superfícies planas e

para o cálculo de volumes de sólidos geométricos (prismas retos e composições desses

prismas) por meio de problemas;

Identificar e calcular um sistema de equações do 1.º grau que expressa

um problema;

Representar graficamente um sistema de equações do 1.º grau em um

plano cartesiano;

Representar em um sistema de coordenadas cartesianas a variação de

grandezas, analisando e caracterizando o comportamento dessa variação em

diretamente proporcional, inversamente proporcional ou não proporcional;

Construir tabelas de frequência e representar graficamente dados

estatísticos, utilizando diferentes recursos, bem como elaborar conclusões a partir da

leitura, análise, interpretação de informações apresentadas em tabelas e gráficos;

Construir um espaço amostral de eventos equiprováveis, utilizando o

princípio multiplicativo ou simulações, para estimar a probabilidade de sucesso de um

dos eventos;

Resolver problema envolvendo informações apresentadas em tabelas e/ou

gráficos;

93

Associar informações apresentadas em listas e/ou tabelas simples aos

gráficos que as representam e vice-versa;

Demonstrar compreensão da importância da estatística na atividade

humana e de que ela pode induzir a erros de julgamento, pela manipulação de dados e

pela apresentação incorreta das informações (ausência da frequência relativa, gráficos

com escalas inadequadas).

94

4. MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL

Considerando os objetivos previstos pelas Áreas do Conhecimento acima

descritas, a matriz curricular se constitui no elemento que traduz em disciplinas e

cargas horárias os fundamentos legais previstos nas Diretrizes Curriculares para o

Ensino Fundamental, organizado em Ciclos de Formação na Rede Municipal de

Educação (RME) de Belém, conforme desenho abaixo:

QUADRO I: MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL CIII e CIV

AMPARO LEGAL

Base

Nacional

Comum

Disciplinas Estudos

Obrigatórios

Semanal Mensal

CIII (1º ano)

CIII (2º ano)

CIV (1º ano)

CIV (2º ano)

CIII CIV

Lei d

e D

iretr

ize

s e

Bas

es d

a E

du

cação

Nacio

na

l – L

DB

EN

– 9

394/9

6

(Art

. 26)

Língua Portuguesa

5 aulas 5 aulas 5 aulas 5 aulas 25 aulas 25 aulas

Matemática 5 aulas 5 aulas 5 aulas 5 aulas 25 aulas 25 aulas

Ciências 3 aulas 3 aulas 3 aulas 3 aulas 15 aulas 15 aulas

História 4 aulas 4 aulas 3 aulas 3 aulas 20 aulas 15 aulas

Geografia 3 aulas 3 aulas 4 aulas 4 aulas 15 aulas 20 aulas

Ensino da Arte 2 aulas 2 aulas 2 aulas 2 aulas 10 aulas 10 aulas

Educação Física (Lei 10.793/03)

2 aulas 2 aulas 2 aulas 2 aulas 10 aulas 10 aulas

Art

. 33

da L

ei

9394

/96

Ensino Religioso 1 aula 1 aula 1 aula 1 aula 5 aulas 5 aulas

Part

e

Div

ers

ific

ad

a

Língua Est. Moderna

2 aulas 2 aulas 2 aulas 2 aulas 10 aulas 10 aulas

OBSERVAÇÕES:

I - Carga Horária anual mínima de 800 horas e 200 dias letivos, em atendimento ao disposto no artigo 34 da

Lei nº 9394/96.

II - Projetos da Rede Municipal de Educação de Belém: Sala de Leitura e Laboratório de Informática cujas

cargas horárias estão inclusas na carga horária semanal.

95

III - Os conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena serão ministrados no âmbito de todo

currículo escolar, em especial nas disciplinas Arte e História, conforme a Lei Nº 11.465/2008 e são obrigatórios

para todas as escolas.

IV - O conteúdo de Música, conforme determina a Lei nº 11.769/2008, será trabalhado na disciplina Arte e é

obrigatório para todas as escolas.

V - O Ensino Religioso será oferecido aos alunos dos III e IV Ciclos, assegurando o que diz a LDBEN Nº

9.394/96, em seu artigo 33.

VI – As escolas oferecem 5 (cinco) tempos de aula, sendo computada a Hora-aula ao tempo de 45 minutos.

VII – Os componentes: Filosofia e Sociologia funcionam como disciplinas nas 30 escolas que não possuem o

turno intermediário, no anexo I.

VIII – Esta matriz está sendo utilizada nas escolas de Ciclo de Formação III e IV que possuem o turno do

intermediário.

QUADRO II: MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL CIII e CIV

AMPARO LEGAL

Base

Nacional

Comum

Disciplinas Estudos

Obrigatórios

Semanal Mensal

CIII (1º ano)

CIII (2º ano)

CIV (1º ano)

CIV (2º ano)

CIII CIV

Lei d

e D

iretr

ize

s e

Bas

es d

a E

du

ca

ção

Nacio

na

l – L

DB

EN

– 9

394/9

6

(Art

. 26)

Língua Portuguesa

5 aulas 5 aulas 5 aulas 5 aulas 25 aulas 25 aulas

Matemática 5 aulas 5 aulas 5 aulas 5 aulas 25 aulas 25 aulas

Ciências 4 aulas 4 aulas 4 aulas 4 aulas 20 aulas 20 aulas

História 4 aulas 4 aulas 4 aulas 4 aulas 20 aulas 20 aulas

Geografia 4 aulas 4 aulas 4 aulas 4 aulas 20 aulas 20 aulas

Ensino da Arte 3 aulas 3 aulas 3 aulas 3 aulas 15 aulas 15 aulas

Educação Física (Lei 10.793/03)

3 aulas 3 aulas 3 aulas 3 aulas 15 aulas 15 aulas

Art

. 33

da L

ei

9394

/96

Ensino Religioso 1 aula 1 aula 1 aula 1 aula 5 aulas 5 aulas

Part

e

Div

ers

ific

ad

a Língua. Est.

Moderna 2 aulas 2 aulas 2 aulas 2 aulas 10 aulas 10 aulas

Filosofia 2 aulas 2 aulas ------ ----- 10 aulas ------

Sociologia ----- ----- 2 aulas 2 aulas ------ 10 aulas

96

OBSERVAÇÕES:

I - Carga Horária anual mínima de 800 horas e 200 dias letivos, em atendimento ao disposto no artigo 34 da

Lei nº 9394/96.

II - Projetos da Rede Municipal de Educação de Belém: Sala de Leitura e Laboratório de Informática cujas

cargas horárias estão inclusas na carga horária semanal.

III - Os conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena serão ministrados no âmbito de todo

currículo escolar, em especial nas disciplinas Arte e História, conforme a Lei Nº 11.465/2008 e são

obrigatórios para todas as escolas.

IV - O conteúdo de Música, conforme determina a Lei nº 11.769/2008, será trabalhado na disciplina Arte e é

obrigatório para todas as escolas.

V - O Ensino Religioso será oferecido aos alunos dos III e IV Ciclos, assegurando o que diz a LDBEN Nº

9.394/96, em seu artigo 33.

VI – As escolas oferecem 6 (seis) tempos de aula, sendo computada a Hora-aula ao tempo de 45 minutos.

VII – Os componentes: Filosofia e Sociologia funcionam como disciplinas nas 30 escolas que não possuem o

turno intermediário, no anexo I.

VIII – As 11 escolas que possuem turmas de CIII e CIV funcionando no turno intermediário até o ano de 2012

deverão deixar de ofertá-lo para se enquadrar a esta matriz, ver anexo II.

IX – A disciplina Educação Física será ministrada no contraturno.

97

5. METODOLOGIA

O desenvolvimento dos Ciclos de Formação perpassa necessariamente pelo

uso de alternativas metodológicas que possibilitem a melhoria da aprendizagem

escolar, sucesso e permanência do aluno na escola, a reflexão crítica e o cumprimento

da função social da Escola Pública Municipal de Belém.

A análise da prática pedagógica tem demonstrado que só serão possíveis

mudanças significativas na educação, à medida que os educadores tiverem uma

compreensão profunda da razão de ser da sua prática e uma clara opção política

acerca do seu ato pedagógico.

Nas condições objetivas do trabalho docente, é necessário ao professor e à

coordenação pedagógica da escola organizarem o tempo e o espaço para a reflexão

coletiva dos educadores sobre as experiências pedagógicas e o estudo de um

instrumental teórico sistematizado que auxilie na compreensão da razão de ser dos

problemas enfrentados.

Segundo Vasconcellos (2006, p. 147), de acordo com a teoria do

conhecimento que fundamenta o trabalho do professor, é necessário tomar como

referência a concepção dialética de conhecimento, destacando a problematização como

elemento nuclear na metodologia de trabalho em sala de aula. Se forem

adequadamente trabalhadas, as perguntas deverão provocar e direcionar de forma

significativa e participativa o processo de construção do conhecimento por parte do

aluno, sendo também um elemento mobilizador para esta construção, tendo em vista a

formação integral do educando.

Os conhecimentos das disciplinas devem se interligar para desenvolver o

espírito crítico e os valores que se constroem socialmente. Assim, educandos e

educadores poderão interagir em sala de aula num processo coletivo direcionado para

um saber mais elaborado.

Neste sentido, a aprendizagem é produto da interação entre o conhecimento

que o educando possui e as novas informações que lhe serão proporcionadas. “O

aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual

as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 1987,

p.99).

No planejamento e na execução das atividades, deverão ser levados em

conta o nível de conhecimento dos alunos e seu ritmo de aprendizagem. Esse

procedimento visa respeitar as diferenças individuais e as características dos alunos.

Nesta perspectiva, a escola, enquanto espaço autônomo de produção do

Projeto Político Pedagógico, o qual reflete a realidade e necessidades dos educandos,

precisa refletir a opção metodológica de organização do currículo sem perder de vista

os pressupostos descritos nesta diretriz como processo de construção do

conhecimento, com vistas ao pleno desenvolvimento do educando.

A organização do ensino em Ciclos de Formação na RME de Belém

98

caracteriza-se pela renovação das experiências educacionais em que a inversão dos

fundamentos curriculares são pautados na reconstrução social, uma vez que volta-se

para o aluno e para os conteúdos de aprendizagem e orienta para a sua autonomia e

desenvolvimento pessoal. Portanto, há preocupação com a autorrealização dos alunos

como sujeitos do processo educativo, pois os conteúdos são formas de ajudar a pensar

e organizar a aprendizagem.

Para tanto, a escola, dotada de autonomia para a construção de seu Projeto

Político Pedagógico, poderá optar por uma metodologia que melhor se identifique com

a proposta pedagógica que a escola já trabalha. Nesta perspectiva, conceituamos

abaixo algumas linhas metodológicas que poderão ser analisadas pelas escolas.

A Pedagogia de Projetos é uma alternativa metodológica que surge na

primeira metade do século passado, nos Estados Unidos, imbuída da ideia de que a

educação é um processo de vida e que a escola deve representar a vida presente real

para o (a) aluno (a) como ele vive socialmente (DEWEY, 1987), pois é somente com o

uso do projeto, com atitude didática que se alcança os propósitos educacionais. A

expansão dessa ideia ocorre com maior ênfase a partir da década de 90 com Coll

(1994), Hernandez (1998), Jolibert (1994), Bomtempo (1997) e Nogueira (2005),

Valente e Almeida (1999), Almeida e Júnior (2000), Leite (1994), Abrantes (1995),

dentre outros, quando esses pensadores encaminham proposições de análises e

reflexões sobre a importância, função e significado das experiências escolares trazidas

pelos alunos para a escola.

No trabalho por projetos as mudanças na concepção de ensino,

aprendizagem e na própria postura do professor são fatores imprescindíveis para

viabilizar as questões relacionadas à educação; é uma maneira de repensar a função

social da escola e da sala de aula em suas complexidades.

A metodologia de projetos consiste em organizar os estudantes em torno de

diretrizes, objetivos, ações, metas, atividades e tarefas definidas coletivamente pelos

professores, alunos, técnicos em educação e outros profissionais para intervir didática e

pedagogicamente no aprender, dando-lhes novo sentido às vivências e experiências

positivas; essa atitude metodológica ajuda na organização, no estabelecimento de

normas de convivência e de funcionamento da sala de aula para o alcance da

autonomia e autodisciplina, considerando que são dimensões pensadas para favorecer

a tomada de decisões, as escolhas, o levantamento de hipóteses, o significado das

experiências pedagógicas e a manifestação política de cada estudante.

Desse modo, o trabalho pedagógico a partir do uso de projetos favorece o

acesso, a permanência, o sucesso da aprendizagem, a participação ativa, significativa,

atrativa, real e mobilizadora dos alunos, bem como a apresentação dos conteúdos

como momentos de revitalização, de mobilização, de orientações, de fixação de

diretrizes, subsídios, tratamento, interpretação e meios para contribuir no

desenvolvimento de habilidades e o gosto pelo processo de análise, de crítica e de

aprender.

99

Para Valente e Almeida (1999), é uma proposta de intervenção pedagógica,

onde as necessidades de aprendizagem aparecem nas tentativas de resolver situações

problemáticas, o que exige uma reorganização nos espaços e tempos escolares. A

aprendizagem tem que ser significativa para o aluno em que o conteúdo curricular e as

demais estratégias educativas permeiem por uma intencionalidade pedagógica que

contribua para a construção do conhecimento.

Nessa nova visão de conceber o currículo, os professores necessitam

planejar suas atividades conjuntamente com novas estratégias de ensino de forma que

suas disciplinas possam interagir e proporcionar ao aluno o acesso integral ao

conhecimento.

Decorrente deste processo surge o conceito de interdisciplinaridade que

perpassa pela superação da fragmentação do trabalho disciplinar e estabelecimento de

parcerias de forma que as disciplinas possam estar articuladas entre si e cheguem ao

aluno de forma totalizante. Para tanto, o trabalho em conjunto e em cooperação das

diferentes áreas do saber é importante para se construir essa prática no interior da

escola.

Ao se pensar na estrutura de desenvolvimento de trabalho com projetos,

Waldhelm (2000, p. 2) propõe a seguinte estrutura: problematização de contextos

significativos para o aluno; pesquisa e seleção de fontes de informação; relação da

problemática levantada com outras; a vivência de atividades que favoreçam a

cooperação, o trabalho em equipe; o registro do percurso feito; a avaliação processual;

propostas de intervenção e o levantamento de novas questões a partir do conhecimento

construído.

Portanto, a Pedagogia de Projetos como atitude metodológica estimula o

desenvolvimento do pensamento por meio de um diálogo constante entre os

estudantes, mediado pela atuação do professor competente e comprometido, além de

incentivar a interação dos estudantes com o meio físico, social e cultural.

Outra metodologia de trabalho é o Tema Gerador que toma por base as

ideias defendidas pelo educador Paulo Freire que busca problematizar as questões

sociais. Nessa metodologia predomina o diálogo entre educador e educandos

envolvidos num processo que deve propiciar a construção de um diálogo inteligente

com o mundo, problematizando o conteúdo que os mediatiza.

O Tema Gerador é uma proposta de trabalho pedagógico fundada em uma

concepção crítica do processo educacional, baseada na pesquisa socioantropológica,

na interdisciplinaridade, e tem como princípio metodológico a promoção de uma

aprendizagem global, não fragmentada, que promova a integração do conhecimento e a

transformação social.

A investigação no processo educacional é o ponto de partida da proposta e

permite aos educadores conhecer a realidade de vida de seus alunos, tomar

consciência das situações que estes vivenciam e, a partir destas, propor atividades

contextualizadas relacionadas a este cotidiano, para que os conteúdos se tornem

100

significativos para os educandos, rompendo com o ensino tradicional que prioriza a

fragmentação dos conteúdos abordados e a memorização.

Através da seleção do tema gerador, é realizada a codificação e

decodificação do tema, buscando-se o seu significado social; assim, é possível avançar

para além do limite de conhecimento que os educandos têm da realidade e melhor

compreendê-la, a fim de poder intervir criticamente. Do tema gerador deverão sair as

palavras geradoras e o recorte para cada uma das áreas do conhecimento. Cada

palavra geradora deverá ter a sua ilustração que, por sua vez, suscitará novos debates.

O trabalho com o Tema Gerador rompe com a compreensão de que o

currículo baseia-se em uma ordem sequencial e as disciplinas estão hierarquicamente

estruturadas, o que leva o aluno a fragmentar sua compreensão da realidade. Os

conteúdos curriculares passam a ser trabalhados de forma interdisciplinar e são

definidos de acordo com a necessidade de desvelamento do Tema Gerador pelo

coletivo dos educadores da escola. A educação escolar, neste sentido, vai além da

mera transmissão de conteúdos dispostos nos livros didáticos; as contribuições do

conhecimento científico vão sendo incorporados à realidade de vida dos alunos e esta

ganha significado. A escola, nesta perspectiva, é um espaço democrático de

socialização de saberes.

A organização didática nas salas de aula é realizada por meio de três

momentos pedagógicos: o estudo da realidade/pesquisa sócio-antropológica; a

organização do conhecimento/análise das falas significativas com redução temática,

seleção de conteúdos significativos; e a aplicação do conhecimento/programação das

aulas.

Uma terceira possibilidade metodológica está em se trabalhar com os Eixos

Temáticos. Isso significa que o trabalho pedagógico do educador deve enveredar para

a flexibilização dos conteúdos fixos e libertá-los das amarras que as sequências de

unidades curriculares exigem em uma ordem temporal e linear. Desta forma, os eixos

temáticos podem ser negociados em sala de aula entre professores e alunos a partir de

seleção, junção de temas, respeitando às particularidades do ensino, da aprendizagem

e da realidade em que os sujeitos estão inseridos. Sendo também necessário relacioná-

los com os conteúdos universalmente fornecidos pelas áreas do conhecimento humano

e absorvidos nas disciplinas escolares.

Para Neves (1998), o trabalho com eixos temáticos possibilita a articulação

de saberes adquiridos por alunos e professores em diferentes contextos, pois organiza

os conteúdos de forma ampla e abrangente por meio da problematização, do

encadeamento lógico dos conteúdos, da abordagem e da análise dos temas propostos.

Dentro dessa perspectiva, a fonte global de resumos e críticas (2011),

extraída do site shvoong (www.shvoong.com), define eixo temático como

[...] a espinha dorsal de um determinado assunto, abrangendo apenas sua parte principal e sem divagar por sub caminhos ou links relativos a ele. [...] é um recorte, conquanto ainda um tanto amplo, na área de

101

conhecimento. Nos eixos temáticos, o programa aglutina investigações e estudos de diferentes enfoques. O eixo temático organiza a estrutura, limita a dispersão temática e fornece o cenário no qual são construídos os objetos de pesquisa.

Diante disso, percebemos que o eixo temático tem foco centrado em

assuntos mais gerais, sustentado nas questões investigativas para uma melhor

organização e consequentemente operacionalização do planejamento de ensino.

Muitos professores e alunos ao se depararem com o trabalho pedagógico por

eixos temáticos têm a possibilidade de escolherem temas e assuntos que desejam

estudar, os quais não exigem necessariamente pré-requisitos e tampouco o

conhecimento programado de todos os conteúdos inseridos nas áreas do

conhecimento.

Acreditamos, assim, que é possível trabalhar com os eixos temáticos os

conteúdos escolares partindo das partes para o todo e do todo para as partes, com

possibilidade de desvelamento das múltiplas faces de um determinado assunto, sem

que necessariamente ocorra de forma linear, temporal e evolutiva. A partir das questões

investigadas os professores podem oferecer condições aos alunos de tecerem seus

conhecimentos em uma rede de saberes onde é possível construir e reconstruir seu

universo conceitual e situacional sobre os assuntos inerentes às diversas áreas do

conhecimento.

Em outras palavras, podemos afirmar que os eixos temáticos são

agrupamentos de temas que dão suporte ao planejamento do trabalho no campo

educacional e, que ao serem levantadas questões, as quais abarcam determinado

assunto, necessitam ser articuladas com outros assuntos, de forma que os mesmos

possam estabelecer conexões entre si e constantemente serem avaliados e

repensados em um processo dialético e dialógico.

A resolução nº 04/2010-CNE/CEB, de 13 de julho de 2010, ao definir as

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, enfatiza a

necessidade de se trabalhar com essa linha metodológica, uma vez que os

[...] eixos temáticos são uma forma de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do conhecimento, fornecendo o cenário no qual se constroem objetos de estudo, propiciando a concretização da proposta pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superando o isolamento das pessoas e a compartimentalização de conteúdos rígidos”; (Art. 13, § 3º, VI).

A respeito disso, Ribeiro (2006, p. 2), se referindo a uma experiência no

ensino de história, afirma que

Um ensino da história por eixos temáticos pressupõe a quebra dos conteúdos fixos, da linearidade temporal e da cronologia política. Possibilita o trabalho com recortes diferentes, partindo do presente para o passado, num constante ir e vir. Teoricamente, a prática desse ensino proporciona maior liberdade na escolha dos temas.

102

Se há na escola, noutro exemplo, a necessidade de se discutir a questão do

Meio Ambiente, como pode, então, ser garantido no planejamento dos professores esse

tema? Não se trata de entender que tal discussão esteja somente inserida na disciplina

Ciências, mas como os desdobramentos deste tema podem ser assegurados em outras

disciplinas, como é o caso da relação estabelecida entre o homem-natureza e homem-

homem no meio em que ele vive. Assim, acreditamos que os eixos temáticos permitem

que as disciplinas estabeleçam interfaces de diálogo entre si, a partir de seu próprio

objeto de estudo, e quebrem com o a linearidade com que, quase sempre, abordam

seus conteúdos.

Por outro lado, não podemos esquecer que os eixos temáticos estão

estreitamente condicionados aos planejamentos educacionais e de ensino das

disciplinas escolares, e podem ser propostos durante o período letivo de forma

bimestral, trimestral, semestral em consonância com a organização do trabalho da

escola e orientado pelas diretrizes gerais traduzidas em seu projeto pedagógico.

A despeito desta proposta metodológica na organização do currículo, é

importante mencionarmos alguns dispositivos legais como a Lei 9394/96 que

estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (especificamente os artigos 26,

27 e 28, da seção I, e capítulo II, que tratam, dentre outras coisas, da obrigatoriedade

de uma base curricular comum obrigatória em todo o território nacional e uma parte

diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura,

da economia, escola e da sua clientela.

Consideramos que tais componentes curriculares podem ser organizados em

eixos temáticos integralizados às disciplinas e às áreas de conhecimento clássicas e,

dependendo da política educacional implementada nos sistemas de ensino, adotada

como metodologia oficial.

Ainda com base na Resolução nº 04/2010-CNE/CEB-2010, a parte

diversificada do currículo é entendida como a complementação da base nacional e que

ao situá-la, prevê o “estudo das características regionais e locais da sociedade, da

cultura, da economia e da comunidade escolar (Art.15), e que também “pode ser

organizada em temas gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados

colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade escolar” (art.15, § 1º).

Outra prerrogativa legal da resolução nº 04/2010-CNE/CEB-2010 são as

referentes aos art. 13 (§ 3º - III, V e VI; § 4º), art. 15 (§ 1º) e art.17 (§ 2º), onde exige-se,

dentre outras coisas, que o currículo escolar tenha como referência a construção de

valores, práticas, identidades e significados socioculturais dos alunos em sintonia com

as peculiaridades do meio em que vivem e suas próprias necessidades conforme

apregoado na parte diversificada do currículo.

Tudo isso precisa estar assegurado no projeto pedagógico de cada unidade

escolar, cujos procedimentos didático-pedagógicos abranjam aspectos disciplinares,

interdisciplinares e transdisciplinares aprovados por todos os segmentos e instâncias

103

colegiadas da escola, o que devem nortear como princípio “a organização da matriz

curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de redes de aprendizagem”

(Art. 13, § 3º, III), com interfaces nas diversas áreas de conhecimento.

104

6. AVALIAÇÃO

A avaliação é um dos aspectos fundamentais da prática educativa, uma vez

que está intrinsecamente relacionada à concepção da proposta político-pedagógica que

se adota na escola. Isso significa dizer que ela não é neutra, pois ao avaliarmos

acabamos por exercer um ato político, quer seja quando reforçamos a manutenção das

desigualdades sociais com atos e posturas acríticas ao não nos posicionamos diante

das discussões e práticas; quer seja quando combatemos certos fazeres educativos e

colocamos em pauta as discussões no sentido de buscar caminhos e respostas por

meio da consciência crítica diante de posturas que são inerentes aos paradigmas tidos

como verdades absolutas, com o objetivo de problematizar as questões inerentes à

realidade em suas múltiplas dimensões.

Ao repensar o processo avaliativo na RME de Belém, levamos em

consideração a postura crítica que envereda para a transformação do contexto

socioeducacional, pois compactuamos com práticas reflexivas que são salutares ao

serem trabalhalhadas por meio dos conhecimentos disciplinares na escola, bem como a

sua socialização e seus significados práticos na vida dos alunos. Essa dinâmica de

avaliação exige dar novos significados à cultura escolar.

A avaliação do ponto de vista da aprendizagem e como componente do

processo educacional define a vida escolar do aluno no que concerne à sua

permanência, continuidade e desenvolvimento no ciclo de aprendizagem. Por meio da

avaliação é possível que o aluno compreenda que a aprendizagem é construída e

reconstruída dentro do seu ciclo de vida, antes e depois de ingressar nas instituições

educacionais. Tal processo contribui para a sua formação, ajuda a construir consciência

crítica diante do seu próprio desenvolvimento intelectual, social e afetivo, como também

contribui com a do grupo social o qual é parte integrante.

Nos ciclos de formação, a avaliação exerce papel fundamental, pois subsidia

os educadores em seu fazer pedagógico ao garantir uma análise reflexiva dos avanços

e dificuldades vivenciados na prática educacional, revendo e redefinindo novas

intervenções, proposições de atividades, estratégias e metodologias mais adequadas

às fases de desenvolvimento dos alunos.

Visualizada neste enfoque, a avaliação fundamenta-se na perspectiva

dialética, cuja finalidade principal é fornecer informações sobre o processo pedagógico,

de forma que permita aos agentes escolares decidir sobre intervenções e

redirecionamentos necessários em face ao projeto pedagógico definido coletivamente e

comprometido com a garantia da aprendizagem. Então, a avaliação deixa de ser um ato

de cobrança para se transformar em mais um momento de aprendizagem, assumindo

um caráter diagnóstico e de respeito ao nível de desenvolvimento do aluno.

Segundo Saul (2000), avaliação

[...] é dimensão intrínseca do ato de conhecer e, portanto, fundamentalmente compromissada com o diagnóstico do avanço do

105

conhecimento quer na perspectiva de sistematização, quer na produção do novo conhecimento de modo a se construir em estímulo para o avanço da produção do conhecimento. (p. 129)

As ideias de Saul (2000) partem do pressuposto de que a avaliação é

concebida como processual, contínua, participativa, diagnóstica e investigativa; cujas

informações nela expressas propiciam o redimensionamento da ação pedagógica e

educativa, reorganizando as próximas ações do aluno, da turma, do educador, do

coletivo no ciclo de formação e mesmo na escola quando se propõe a avançar no

entendimento e desenvolvimento do processo de aprendizagem.

O esquema a seguir demonstra a concepção defendida por Saul

Nessa abordagem, a avaliação tem as seguintes funções:

a) Contínua: permanente no processo de aprendizagem do educando, pois

estimula e alavanca seu desenvolvimento por meio de avanços, dificuldades e

possibilidades;

b) Dinâmica: utiliza diferentes instrumentos e na reflexão dos seus

resultados inclui a diversidade de intervenções que desencadeiam todo o processo

educativo;

c) Investigativa: levanta e mapeia dados para a compreensão do processo

de aprendizagem do educando ao oferecer subsídios para os profissionais refletirem

sobre a prática pedagógica que realizam;

d) Diagnóstica: levanta dados que descrevem como está se dando e em

que processo se encontra a aprendizagem, para subsidiar ações futuras e, com isso,

retroalimentar a prática pedagógica do educador;

INV

ES

TI

GA

TIV

A

PROCES

SUAL

DIAGNÓS

TICA

PROCESSO

AVALIATIVO

ENSINO

APRENDIZAGEM

COGNITIVO

SOCIAL

CULTURAL

EMOTIVO

AFETIVO

CO

NT

Í

NU

A

PARTICI

PATIVA

106

e) Participativa: é fundamental para que os diversos sujeitos (alunos, pais e

outros profissionais da escola) envolvidos no processo de ensinoaprendizagem possam

conjuntamente contribuir e avaliar cotidianamente as ações educativas desenvolvidas

na escola e em sala de aula.

Desta forma, entende-se que uma proposta de avaliação não se limita

meramente ao aspecto cognitivo, mas aos conhecimentos elaborados e reelaborados

advindos de múltiplos saberes e ao desenvolvimento dos estágios da criança

anunciados na teoria piagetiana; aos aspectos emocionais, intelectual e moral

defendidos por Wallon e também aos aspectos socioculturais encontrados nas ideias de

Vygotsky.

Ao centralizar a avaliação no aspecto cognitivo o educador corre o risco de

restringir sua prática pedagógica na quantidade de erros e de acertos dos alunos sobre

determinados conteúdos, deixando de ampliar seu campo de análises em outras

dimensões. A despeito disso, Luckesi (1995), ao propor a substituição do erro como

fonte de castigo pelo erro como fonte de virtude, aponta algumas questões que

merecem destaque.

Nos tempos atuais, sabe-se que o castigo se manifesta de outras maneiras

que afetam não somente o físico e sim a personalidade dos alunos. No entanto, essa

outra modalidade de castigo surte o mesmo efeito que aquele ao criar um clima de

medo, tensão e ansiedade nos alunos a ponto de não conseguirem se “adaptar” ao

sistema e, ao fracassarem, se sentirem incapacitados e inúteis por não terem

conseguido atingir o objetivo proposto pela escola e pelo professor.

Diante de tais circunstâncias, os alunos vão perdendo o interesse por tudo

que é oferecido na escola, evidência detectada na fala de Luckesi (1995, p. 51) quando

expressa: “o clima de culpa, castigo e medo, que tem sido um dos elementos da

configuração da prática docente, é um dos fatores que impedem a escola e a sala de

aula de serem um ambiente de alegria, satisfação e vida feliz”.

Por outro lado, o ato amoroso anunciado pelo referido autor está relacionado

com o não julgamento que integra, inclui, acolhe atos, ações, alegrias, pois é

compreendido como o ato que diferencia o certo do errado. Ao acolher uma situação se

preocupa, posteriormente, em ajuizar a sua qualidade e, caso necessário, realiza as

mudanças. Por essa razão, esta ideia de avaliação se distingue da avaliação do

julgamento, da medida e da punição.

Portanto, a avaliação da aprendizagem como categoria constitutiva do

trabalho pedagógico, precisa promover avanços na vida escolar dos alunos ao qualificar

o trabalho do conjunto da escola, pois as situações de aprendizagem e produção de

conhecimentos não são responsabilidades apenas do professor regente, mas são

partilhadas por outros profissionais que atuam nos diversos ambientes de

aprendizagem da escola.

Neste sentido, a avaliação da aprendizagem precisa estar em sintonia com o

que se propõe no projeto político pedagógico da escola, pois para Sordi e Ludke (2009,

107

p. 4) “a autonomia do docente não pode ser confundida com autonomização. Não tem

ele a prerrogativa de decidir, por si só, algo que afeta o bem comum e marca o projeto

pedagógico da escola”.

Por essa razão, é importante incluir as questões com quem e para quem se

avalia e introduzir indagações que fazemos quando discutimos e praticamos a

avaliação, ou seja: o quê, quando, como, com que e para quê avaliamos.

O objetivo de construir uma escola na perspectiva democrática precisa

favorecer não só o acesso, mas a permanência dos alunos na escola, de forma efetiva,

sistemática e com desempenho satisfatório diante da trajetória de sua vida escolar. É o

que assegura Jacomini (2008, p. 93-94) quando expressa que

A democratização do acesso à escola questionou e, em certa medida, flexibilizou algumas características da avaliação tradicional; porém somente a democratização do ensino pode efetivamente pôr um fim na avaliação classificatória e seletiva, tendo em vista que o direito à educação não pode ser realizado em uma escola que preserve esse tipo de avaliação. Isso porque, se se propõe garantir a aprendizagem a todos, a avaliação deverá servir a esse objetivo, deixando, então, de ser instrumento de classificação e seleção.

A RME de Belém, ao assumir o Ciclo de Formação como forma de organizar

o ensino, procura romper com a lógica seletiva, punitiva, classificatória e excludente da

avaliação. E, ao fazer isto, aponta caminhos que contribuem para a reconstrução da

prática pedagógica, visto que concebe a ação educativa como um exercício constante

do pensar e do fazer escolar.

Desse modo, compreende que a avaliação deve ter como preocupação:

a) Identificar as dificuldades, sucessos e fracassos no contexto da escola,

com vistas a tomar decisões diante das ações pedagógicas, administrativas ou

estruturais garantidas no projeto político-pedagógico da escola e apontar novos

caminhos a serem trilhados;

b) Incluir todos os segmentos escolares na avaliação do trabalho escolar

assumindo uma postura cooperativa e colaborativa entre os sujeitos da ação educativa;

c) Incorporar as dimensões formativas e diagnósticas da avaliação da

aprendizagem e estimular a aquisição de conhecimento;

d) Superar a dicotomia entre ensino e avaliação e entender que os

resultados obtidos contribuem para orientar a aprendizagem e os objetivos

educacionais assumidos pela escola;

e) Sustentar o trabalho escolar em novas bases conceituais, coletivas,

consensuais, crítica e cidadã;

f) Entender que os sujeitos do processo educacional são seres inacabados e

construtores de significados com base nas relações que estabelecem com o mundo e

outros seres humanos;

108

g) Compreender que o conhecimento é dinâmico, relativo, plural,

investigativo e reflexivo;

h) Assumir as diferenças individuais e socioculturais dos educandos e incluir

todos no contexto escolar;

i) Garantir o acesso, permanência e progressão dos educandos de forma

responsável;

j) Estimular a prática de uma cultura totalizante, mas entendendo que as

partes estão interligadas e interdependentes entre si e integram uma mesma

engrenagem que abrange multidimensões, tais como: psicológicas, sociais, culturais,

políticas, econômicas, tecnológicas, artísticas e científicas.

Com vistas a sistematizar o processo avaliativo do regime de ensino

organizado em ciclos, faz-se necessário a institucionalização de instâncias e criação de

estratégias no interior da escola que sejam responsáveis pelo planejamento das ações

e avaliação das formas de aprendizagem e da organização do trabalho escolar. Desta

forma, os registros, instrumentos e relatórios são elementos indispensáveis para

subsidiar as dinâmicas de avaliação na escola.

Neste sentido, vários instrumentos são considerados para analisar os

resultados quanto à apreensão dos conteúdos trabalhados pelos alunos e ao trabalho

escolar dos profissionais da educação. Portanto, ao se propor uma abordagem dialética

e processual de avaliação é imprescindível a construção de instrumentos e registros

que alcancem os objetivos educacionais vividos na escola pelos seus segmentos.

Em primeiro lugar, pelo fato de perceber a avaliação enquanto elemento

inserido na dinâmica de trabalho da escola em seus processos de planejamento e

organização curricular.

Posteriormente, por demonstrar ou aliar dimensões da organização do

trabalho pedagógico e do processo de formação do aluno; ou seja, que deixem às

claras a proposta pedagógica da escola, do professor e a forma como cada aluno se

envolve e reage com esse trabalho com vistas a construir seu próprio processo de

aprendizagem e formação.

E, finalmente, por envolver diferentes sujeitos do processo educativo (pais,

responsáveis, gestores, técnicos, professores), pois são agentes que contribuem com a

formação dos alunos nas dimensões afetiva, social, cultural e política, os quais indicam

continuadamente novos rumos ao redimensionar a prática pedagógica.

Apontamos, abaixo, algumas instâncias, procedimentos e instrumentos de

registros da avaliação escolar, os quais são vivenciados nas escolas municipais.

Procedimentos esses que por si só não responderão a uma prática avaliativa inclusiva,

mas que se revestem de significados na medida em que são trabalhados no cotidiano

escolar ao buscarem a construção de um novo paradigma para a prática de avaliação

escolar e da aprendizagem.

Isso implica na organização consciente desse cotidiano, com princípios

claros de aprendizagem construídos e apropriados em cada ciclo e na escola, pois é

109

necessário constituir elementos para que a prática pedagógica possa ser discutida e

aprofundada, captando o que ocorre e do que se deseja na escola. É o momento da

crítica, da reflexão e da consciência da trajetória que se percorre, sem desvinculá-la do

contexto social mais amplo, para que todos saibam para onde estão caminhando e em

que circunstâncias.

Assim, eliminar-se-á o caráter meramente subjetivo da avaliação realizada,

na maioria das vezes, solitariamente pelo educador, abrindo-se espaço para que todos

os segmentos sejam coparticipantes, coautores e corresponsáveis na práxis durante o

processo ensinoaprendizagem.

6.1. Instâncias de Avaliação da Ação Escolar

6.1.1. Conselho Escolar

O conselho escolar, enquanto instância consultiva, deliberativa, fiscalizadora

e mobilizadora da gestão escolar, possui as representações de todos o segmentos da

comunidade intra e extraescolar e, por se caracterizar como espaço colegiado e de

tomadas de decisões coletivas, contribui para a construção, execução e avaliação de

projetos e planos de interesse da comunidade escolar, democratiza e intervém também

nos aspectos pedagógicos, com vistas a superar os problemas e responder pelas

necessidades da escola e dos sujeitos que nela atuam.

Dentre as competências do conselho escolar está a de discutir, definir e

avaliar, em conjunto com o coletivo da escola, a organização do currículo escolar, o

projeto pedagógico e também as formas de avaliação da aprendizagem por serem

consideradas um desdobramento do aspecto pedagógico da escola.

A avaliação escolar não deve ser entendida como um instrumento de

recompensa e de controle, pois não se resume somente em verificar o desempenho

dos alunos em determinadas disciplinas, áreas do conhecimento ou do comportamento

humano, mas reside, principalmente, na revisão do trabalho docente, da coordenação

pedagógica e da própria instituição escolar, neste caso, representada pela equipe

diretiva e pelas demais categorias representadas do Conselho Escolar.

A avaliação do trabalho dos docentes e da coordenação pedagógica da

escola deve ser realizada com o objetivo de melhorar o desempenho profissional e dar

excelência à qualidade do ensino e da educação como atividade fim. Deve propor

analisar as condições e necessidades dos docentes, coordenadores pedagógicos e

equipe gestora da escola de forma que possam realizar seus trabalhos com êxito para a

promoção de suas realizações profissionais.

A respeito da escola certamente se faz necessário avaliar o desempenho da

equipe gestora sobre os aspectos administrativos, pedagógicos do trabalho escolar,

diagnosticar se as pretensões estão sendo alcançadas, replanejar o que for necessário

para mudar ou melhorar a instituição escolar. Isso possibilita detectar as necessidades

da escola para melhorar seus resultados como um todo.

110

Neste sentido, o Projeto Político Pedagógico, enquanto elemento subsidiador

do trabalho escolar, qualifica as ações da escola que é construída pelos vários olhares

de forma colaborativa. Por isso, requer parcerias e a constituição de espaços de

trabalho verdadeiramente coletivos que reflitam os diferentes níveis de atuação de

todos os segmentos da escola. Nessas condições os conselhos escolares

São, primordialmente, o sustentáculo de projetos político-pedagógicos que permitem a definição dos rumos e das prioridades das escolas numa perspectiva emancipadora, que realmente considera os interesses e as necessidades da maioria da sociedade. (Conselhos Escolares: MEC/SEB, p. 33)

Entende-se, assim, que o Conselho Escolar é um desses espaços

privilegiado para a efetivação deste trabalho coletivo na sua forma mais ampla e

representativa.

6.1.2. Conselhos de Ciclo

São instâncias avaliativas que analisam as dificuldades e os avanços dos

alunos, o desempenho dos professores e possibilitam a superação de práticas

fragmentadas, em especial nos Ciclos III e IV, onde o trabalho curricular tem como

desafio a efetivação de uma prática interdisciplinar, pois para se alcançar tal desejo,

Hoffmann (1995, p. 112) assegura que é preciso:

[...] uma ação coletiva e cooperativa entre os educadores no levantamento e discussão de questões avaliativas, uma aproximação necessária entre professores de diferentes disciplinas, no sentido de trocar idéias, levantar problemas, construir em conjunto um ressignificado para a sua prática.

Para tanto é preciso agregar os diversos saberes dos profissionais da escola

(experienciais, epistemológicos, disciplinares etc.) que segundo Tardiff (2002) e

Pimenta (1999) são aqueles acumulados historicamente pelos sujeitos nos grupos

sociais os quais frequentou e frequenta e aqueles adquiridos nos diversos campos de

conhecimento. Esses conhecimentos também podem ser elaborados e reelaborados

por via do trabalho interdisciplinar.

Os conselhos de ciclo constituem-se em um espaço de troca e reflexão entre

professores, coordenadores pedagógicos, pais e alunos com o objetivo de construir

alternativas pedagógicas que auxiliem alunos e professores na superação das

dificuldades apresentadas (individuais ou coletivas) no desenvolvimento de suas ações

e reflexões educativas.

Nessas instâncias os alunos têm condições de tomarem ciência do seu

desempenho escolar e lhes são dadas as oportunidades de manifestarem suas

opiniões. Aos professores e coordenadores pedagógicos é o momento propício de se

reunirem para conversar, trocar ideias, sugerir alternativas de “intervenção” para

solucionar as dificuldades.

111

A implementação desta experiência ajuda a romper com práticas avaliativas

centradas no aluno, sob a ótica de um único professor, de forma unilateral, e busca

entender a totalidade dos processos vivenciados nas escolas.

Nesse momento de avaliação, os diários de classe, cadernos de campo,

registros de reuniões, anotações do professor e outros registros da aprendizagem

devem ser levados ao conselho para apreciação e análise do desempenho dos alunos.

O que requer que esses registros sejam permanentemente utilizados, explicitando,

neles, os avanços e recuos do desenvolvimento dos educandos.

Ao serem diagnosticados em seus desempenhos escolares, chamamos

atenção para aqueles alunos que encontram dificuldades em seus processos de

aprendizagem, pois é preciso que o coletivo de profissionais da educação, coloque em

prática diversas estratégias pedagógicas para que eles possam construir seus próprios

processos de aquisição de conhecimento, superar gradativamente tais dificuldades e

terem condições de continuar progredindo juntamente com os demais alunos que se

encontram em um nível mais avançado de aprendizagem.

Para tanto, citamos algumas dessas estratégias como:

Plano Pedagógico de Apoio (PPA);

Plantão Pedagógico pré e pós-conselhos de ciclos;

Projetos de qualificação de estudos (oficinas, palestras, gincanas etc.).

6.2. Plano Pedagógica de Apoio (PPA)

O Plano Pedagógica de Apoio (PPA) é estratégico para se alcançar os

objetivos de uma avaliação mais humana, transformadora e emancipadora conforme

apregoa Saul (2000, p. 61) ao afirmar que

A avaliação emancipatória caracteriza-se como um processo de descrição, análise e crítica de uma dada realidade, visando transformá-la [...] está situada numa vertente político-pedagógica cujo interesse primordial é emancipador [...], de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua “própria história” e gerem as suas próprias alternativas de ação.

Neste sentido e na perspectiva de garantir o sucesso escolar dos alunos, o

Projeto Político-Pedagógico deverá incluir como uma de suas ações o PPA, como mais

uma ferramenta de caráter obrigatório destinado aos alunos que necessitarem de

melhor aproveitamento em seu processo de formação plena e garantia do processo

continuado de formação dos sujeitos, através de um acompanhamento pedagógico

realmente priorizado e diferenciado.

O PPA deve ser compreendido e trabalhado na perspectiva da progressão

continuada. Ele se realiza nas ações que os professores desenvolvem no processo

educativo, com aqueles alunos que, mesmo com todas as atividades realizadas,

apresentam dificuldades no domínio de determinados conhecimentos. Entendendo

112

dificuldade de aprendizagem como dificuldades específicas que persistem e prejudicam

o processo de desenvolvimento dos educandos.

Necessitar de um PPA é reconhecer que alguns alunos necessitam de um

acompanhamento pedagógico específico, que respeite seu ritmo de aprendizagem. E

tal projeto, não deve ser entendido como mera repetição das informações, em que

predomina a lógica do “mais do mesmo”. De fato, apesar de retomar às informações

que o aluno não revelou domínio, deve conter um conjunto de novas situações que

consigam alterar as suas dificuldades e que lhes permitam desenvolver “competências”

para que tais dificuldades sejam superadas. Neste sentido, o PPA não se qualifica

como aula de reforço, nem como recuperação paralela.

O PPA se configura assim, como mais uma estratégia que os professores

poderão lançar mão na busca do sucesso da aprendizagem dos educandos. Para que

um trabalho dessa natureza se efetive, é fundamental que os profissionais da escola

busquem um trabalho mais articulado, onde a individualidade professor/turma, não seja

preponderante, mas que o conjunto de profissionais da escola possa ser responsável

pelo conjunto de alunos que nela estudam, planejando coletivamente as atividades

necessárias à aprendizagem com sucesso dos mesmos.

Com base nesses pressupostos, não é possível pensar num modelo único de

PPA que dê conta das diferentes necessidades, especificidades que poderão ser

percebidas em relação a um aluno ou grupo de alunos. É a reflexão coletiva dos

profissionais concretos, em uma escola concreta, discutindo sobre alunos concretos

que irá delinear a essência do trabalho a ser efetivado, no sentido de apoiar aqueles

que estão com maiores dificuldades de aprendizagem.

Podemos, portanto, apresentar alguns elementos que norteiem o trabalho

das escolas na elaboração do PPA e que poderão e deverão ser redimensionados em

função das diferentes realidades das escolas da Rede Municipal de Educação.

6.2.1. Elementos Norteadores de um Plano Pedagógico de Apoio

a) O Plano Pedagógico de Apoio enquanto ação pedagógica insere-se no

procedimento de avaliação contínua e diagnóstica. Desta forma, considera-se que os

princípios da avaliação educacional previstos no Projeto Político-Pedagógico da escola,

assim como os eixos que são apontados no Registro Síntese do Desenvolvimento do

Aluno, são elementos básicos para a observação, interpretação e indicativos de

estratégias que necessitam ser encaminhadas junto aos alunos com maiores

dificuldades na aprendizagem.

b) As especificidades/necessidades dos alunos a serem trabalhadas a

partir de indicativos apresentados nos registros sínteses.

Apontar as dimensões do desenvolvimento e de aprendizagem,

especificando os objetivos a serem atingidos, as relações e conceitos, o tempo previsto

para superação das dificuldades percebidas, os envolvidos no processo, os

aspectos/interações psico-sócio-afetivas dos educandos.

113

c) A necessidade de construção de estratégias que, ao mesmo tempo,

trabalhem as dificuldades destacadas no Registro Síntese do aluno e os avanços

necessários no ciclo do qual o aluno participa.

Como a organização do espaço/tempo de vivência escolar ocorre através de

ciclos, é importante que o Projeto aponte elementos pedagógicos como os objetivos,

princípios de convivência, conteúdos e habilidades curriculares etc., que expressem

situações de aprendizagem e desenvolvimento que precisam ser trabalhadas nos

Ciclos de Formação.

d) Definição das ações pelo conjunto de profissionais que atuam nos

Ciclos.

Para que o PPA cumpra seus objetivos, é fundamental que ele seja

amplamente discutido e elaborado pelo conjunto de profissionais que atuam nos ciclos.

Tal postura visa à superação de atitudes de trabalho fragmentados, que se centralizam

em determinados elementos do processo em desenvolvimento pelo aluno, como por

exemplo, a predominância por procedimentos de reforço aos conteúdos disciplinares

em detrimento de situações concretas de aprendizagem, que abrangem as várias

dimensões do conhecimento e da ação escolar.

6.3. Instrumentos de Registro da Avaliação

Registrar os vários níveis e fases da produção do conhecimento vivenciados

pelos alunos, pela turma e trabalho docente é uma atitude fundamental.

A sistematização destas informações subsidia de forma “visível” a trajetória

do grupo, construindo parte da memória coletiva, além de permitir aos professores,

coordenadores pedagógicos e responsáveis a percepção de como o aluno se

desenvolve através das várias produções que ele apresenta e representa no cotidiano

de sala de aula e de outros espaços educativos na escola.

As possibilidades de acompanhamento e registros deste processo são inúmeras

e podem ser materializadas nos seguintes recursos de apoio:

6.3.1. Arquivo de Atividades dos Alunos

A organização de uma coletânea das produções significativas realizadas pelo

aluno e pela turma (exercícios, trabalhos e pesquisas individuais e em grupos, os

textos, a participação nas programações da escola, relatos orais e escritos,

observações) que recebem tratamento específico pelo professor, o qual faz suas

observações, registrando suas análises, será instrumento importante para historicizar

os diferentes momentos do processo de ensinoaprendizagem, podendo ser observados

aspectos referentes ao trabalho docente e dos coordenadores pedagógicos, ao

desenvolvimento da turma e às reuniões pedagógicas.

A utilização deste material dá elementos para a realização da avaliação ao

permitir aos profissionais da escola e à comunidade em geral pesquisar, analisar e

114

ressignificar a proposta de trabalho que vem sendo encaminhada em sala de aula com

os alunos e na escola pelos professores e equipe diretiva.

6.3.2. Diário de Classe

O Diário de Classe utilizado nas escolas da RME de Belém possui

características de documento síntese das anotações, referentes ao desenvolvimento da

turma e de cada aluno, através de elementos descritivos e analíticos que permitem

acompanhar aspectos significativos do trabalho pedagógico efetivado, tornando-se uma

fonte subsidiadora nas reuniões de pais, de professores, do Conselho de Ciclo e da

equipe diretiva. Algumas escolas também já experimentam outras formas de registro

das atividades diárias que lhes fornecem informações relativas às várias dimensões

inerentes ao processo de desenvolvimento de aprendizagem dos alunos.

6.3.3. Registro Síntese de Acompanhamento Individual do Aluno

O acompanhamento sistemático do processo de desenvolvimento e

aprendizagem dos alunos é elemento fundamental para o trabalho pedagógico, que

busca superar a prática avaliativa centrada em instrumentos de medida. Esse é um

desafio a mais enfrentado de forma coletiva nas escolas da RME de Belém.

Experienciar um instrumento que sintetize aspectos globais do

desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, durante o Ciclo de Formação,

considerando seus avanços e dificuldades, apontando elementos do processo de

formação que redimensionem a ação educativa, é uma das bases do trabalho proposto.

O Registro Síntese de Avaliação descreve de forma clara e sintética a

interação socioeducativa vivenciada pelo aluno; construção de conhecimento nas

diversas áreas de conhecimento humano com base nas produções realizadas pelos

alunos e, ao final, quando é definida a progressão do aluno.

Todas essas situações devem retratar as conquistas e as dificuldades

apresentadas pelo aluno ao longo do ano letivo no Ciclo de Formação de modo

individual e no grupo; as proposições de ações interventivas e de solução dos

problemas. Nesse movimento a avaliação reflete a imagem da ação desenvolvida pelo

professor. Tende a ficar falsa quando os códigos a serem utilizados não permitem uma

representação clara e significativa do que se observou no trabalho realizado junto com

os alunos. Esse registro só pode se constituir ao longo do processo educacional e de

trajeto de aprendizagem do aluno, sendo inútil tentar descrever o que não se viu, o que

não foi trabalhado e o que não foi vivenciado.

Entretanto, é importante ressaltar que o que faz a avaliação ser formativa

não é a utilização ou não de determinado instrumento. Segundo Villas Boas (2006), o

que faz a avaliação ser formativa é a prática do professor.

Não podemos esquecer que neste processo avaliativo a instituição escolar

precisa também ser avaliada com a finalidade de diagnosticar a sua dinâmica de

funcionamento, se as metas e os objetivos pretendidos estão sendo alcançados e

115

replanejar o que for necessário, para mudar ou melhorar a instituição. É uma forma de

indicar as necessidades da escola para melhorar seus resultados pedagógicos e de

rendimento dos alunos. Desta forma, o processo avaliativo será geral, participativo e

atuante em todos os setores da escola e do trabalho docente.

116

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