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Prehistoria Kraho

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Kraho

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  • Histria KrahM pa inqutj kt harn x

    Francisco Edviges Albuquerque (Org.)

    2014

  • ReitorMrcio Antnio da Silveira

    Pr-Reitoria de Extenso, Cultura e Assuntos Comunitrios - PROEX

    George Frana dos Santos

    Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao - PROPESQWaldecy Rodrigues

    Diretor do Campus de AraguanaLuiz Eduardo Bovolato

    Coordenao do Projeto de Educao Escolar Indgena Krah Bilngue e InterculturalFrancisco Edviges Albuquerque

    Diretora de Formao de Professores da Educao Bsica / CAPESCarmem Moreira de Castro Neves

    Coordenao Geral de Programas de Valorizao do Magistrio CGV/DEB/CAPESHelder Eterno da Silveira

    Coordenao Regional/FUNAI/ PalmasCleso Fernandes de Moraes

    Chefe do NPPDS/FUNAI/ PalmasCorina Maria Rodrigues Costa

    Coordenao Tcnica da FUNAI/ ItacajFrancisco Hyjn Krah

    Diretoria Regional de Gesto e Formao de Pedro AfonsoMaria de Ftima Cmara

    Lder de Grupo de Trabalho de Educao Indgena/SEDUCAldeli Mendes Guerra

  • Francisco Edviges Albuquerque (Org.)

    Histria KrahM pa inqutj kt harn x

  • Histria Krah. Francisco Edviges Albuquerque (Org.)Campinas/SP : Pontes Editores, 2014, 232p.ISBN: 97885711356971. Educao Escolar Indgena Krah Histria 371.322. Diversidade Cultural Interculturalidade 306I. Francisco Edviges Albuquerque (Org.).II. Ttulo.

    Impresso no Brasil - 2014

    Todos os direitos reservados aos Krah: Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio de processo, especialmente por sistemas grficos, microflmicos, fotogrficos, reprogrficos, fonogrficos, videogrficos, internet, notebook. A violao dos direitos autorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal, cf. Lei no 6.895, de 17/12/80) com pena de priso e multa, conjuntamente com busca e apreenso e indenizaes diversas (art. 102, 103 pargrafo nico, 104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3 da Lei n 9.610 de 19/06/98. Lei dos Direitos Autorais).

    A organizao deste livro contou com a participao dos professores bolsistas da Educao Bsica da Escola 19 de Abril, ria Alves da Silva, professora de Histria, Roberto Cahxt Krah e Danilo Soares de Sousa, bolsista do Programa do Observa-trio da Educao Escolar Indgena/CAPES/INEP/UFT.

    Projeto de Educao Escolar Indgena Krah Bilngue e Intercultural

    A publicao deste livro foi viabilizada com apoio do Programa do Observatrio da Educao, Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES / Brasil - Edital 049/2012/OBEDUC - Projeto 11395.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior / Capes / Brasil

    PROEX - Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos ComunitriosPROPESQ - Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao

    LALI - Laboratrio de Lnguas Indgenas / Campus de AraguanaNEPPI - Ncleo de Estudo e Pesquisa com Povos Indgenas / Campus de Araguana.

    PONTES EDITORESRua Francisco Otaviano, 789 - Jd. Chapado - Campinas - SP - 13070-056

    Fone 19 3252.6011 - Fax 19 [email protected]

    www.ponteseditores.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Apoio:

  • Professores Indgenas Krah colaboradores do

    Projeto:

    Andr Phtt Krah, Ariel Pepha Krah Carmem Lcia Krah, Carmem Lcia Nkrt Krah, Daniel Rj Krah, Diana Caxt Krah, Dodanin P Krah, Gelma Kjkwa Krah,Guilherma Xh Krah, Leonardo Tupn Krah, Ovdio Krah, Renato Yah krah, Roberto Cahxt Krah , Simone Crowcy Krah, Tais Pcuhnt Krah

    Alunos Indgenas autores dos textos e desenhos:

    Andr Phtt Krah ,Batista Phy Krah, Carmem Lcia Krah, Carmem Lcia Nkrt Krah, Dbora Intohhc Krah, Devair Tortot Krah, Diana Caxt Krah, Dodanin Krah, Dodanin Wc Krah, Edilson Knyawn Krah, Edinaldo Kx Krah, Edinaldo Pirca Krah, Helena A. Krah, HohKwj Krah, Joaninha Krah, Jos Krah, Jos Messias Krah , Jos Messias Ph Krah, Jucilene Mx Krah, Kapr K Krah, Karina Hhkwj Krah, Karina Krah, Knry Krah, Leonardo Tupn Krah, Luciano Caprn Krah, Magayve Xhx Krah, Marcela Pahnajt Krah, Marcia Krjar Krah, Mrcia Pryhkwj, Marciana Wprp Krah, Marcos Rrehh Krah, Maria Rosa Amxkwj Krah, Mrio Ahkohxt Krah, Mateus Xooc Krah, Matilde Krah, Meiridalva Chhc Krah, Natlia Caxkwj Krah, Natlia Krah, Natlia Kratihkwj Krah, Ovdio Krah, Pahnajt Krah, Rafaela Hok Krah, Raquel Krah, Rayana Krcr Krah, Reinaldo Krah, Roberto Cahxt Krah , Rogrio Xipr Krah, Ronaldo Xyk Krah, Sandra K. H. krah, Sharlene Cahhtu Krah, Sharlene Krah, Simone Crowcy Krah, Tais Pcuhnt Krah, Tiago Caprk Krah, Tiago Capr k Krah, Wacm Krah, Wagner Katamy R.S. Krah-Kanela, Wilson Parkmpe Krah, Xyk Krah, Zacarias Rj Krah

    Professores Indgenas Krah Revisores:

    Andr Chtt Krah, Ariel Pepha Krah, Dodanin Krah, Gelma Kjkwa Krah,Guilherma Xah Krah, Ovdio Krah, Tais Rcuht Krah, Roberto Cahxt Krah Krah e Renato Yah Krah.

    Assessoria Lingustica: Francisco Edviges Albuquerque.

    Equipe do Projeto:

    Coordenao: Francisco Edviges Albuquerque.

    Professores Colaboradores: Miguel Pacfico Filho, Sinval de Oliveira e Thelma Pontes Borges.

    Bolsistas de Graduao:Agnaldo Arajo de Sousa, Ana Beatriz Sena da Silva, Danilo Soares de Souza, Marcos Dione da Silva, Marcela Pereira de Assis, Mariana Sampaio da Silva e Tatiane Pereira de Oliveira

    Bolsista de Doutorado: Marcilene de Assis Alves Arajo.

    Bolsistas de Mestrado: Aurinete Silva Macedo e Marlia Fernanda Pereira leite.

    Professores Bolsistas da Educao Bsica:

    Dilma Mendes de Souza, ria Alves da Silva, Patrcia Tavares Pinhairo Miranda, Renato Yah Krah, Roberto Caxt krah e Rosivnia Freitas Teixeira.

    Capa: Daniel Rj Krah

    Diagramao e Digitao: Wagner Jos Pires

    Reviso: Francisco Edviges Albuquerque.

    Adaptao Grfica: Wagner Jos Pires

  • CONSELHO EDITORIAL

    Clarissa Menezes Jordo (UFPR Curitiba)

    Vera Lcia Menezes de Oliveira e Paiva ( UFMG Belo Horizonte )

    Maria Luisa Ortiz Alvarez (UNB Braslia)

    Edleise Mendes ( UFBA Salvador )

    Eni Puccinelli Orlandi ( Unicamp Campinas )

    Angela B. Kleiman ( Unicamp Campinas )

    Jos Carlos Paes de Almeida Filho (UNB Braslia )

  • Apresentao

    com muita satisfao que apresentamos este, que o segundo Livro, que compe a Trilogia iniciada com o Livro de Geografia Krah, organizado do Professor Dr. Francisco Edviges Albuquer-que, com a participao dos Professores Indgenas Krah.

    Com efeito, a temtica da Interculturalidade est na ordem dos debates atuais e vem adquirindo cada vez mais visibilidade. Nesse contexto, a Educao Escolar Indgena, amplamente amparada por normas e Leis tanto no mbito nacional quanto internacional, est no centro das discusses. Na esfera dessas determinaes se impe o PROJETO DE NCLEO (Ncleo de Estudo e Pesquisa com Povos Indgenas-NEPPI). Vinculado ao Laboratrio de Lnguas Indgenas LALI/UFT, atua tambm na Educa-o Escolar Indgena Krah, na Perspectiva Bilngue e Intercultural sob coordenao do Professor Dr. Francisco Edviges Albuquerque, atravs do Programa do Observatrio da Educao Escolar Indge-na/CAPES/INEP/UFT.

    O Livro de Histria Krah, inicialmente apresenta uma sntese da situao indgena no Es-tado do Tocantins, com importantes registros dos Povos Indgenas do Tocantins, suas populaes e territrios, levando em considerao a histria e os dilemas de cada povo indgena e suas idiossincrasias.

    Escrito bilngue, em Krah e Portugus, o Livro de Histria Krah privilegia o universo in-dgena em sua complexidade, formulando consideraes srias acerca da histria dos Krah e sua inces-sante luta por sobrevivncia e auto-afirmaro, num cenrio marcado por disputas, conflitos, resistncia e obstinao. Isso porque insistem em continuar existindo enquanto povo distinto linguista e cultural-mente da sociedade de seu entorno, majoritria e hegemnica, que tem como caracterstica marcante a aniquilao das formas de ser e de viver dos povos indgenas brasileiros.

    Sendo assim, acreditamos que a importncia do Livro de Histria Krah imensurvel. O autor, de forma clara e objetiva, descreve a saga de um povo que secularmente resiste e persiste num cenrio adverso. Apresenta os Krah desde sua constituio cosmolgica, cultural e histrica, atento aos detalhes que fazem desse povo um universo parte.

    fato que a Histria do Brasil omite perversamente a importncia que nos indgenas tm na constituio da Nao Brasileira. Colocados numa invisibilidade institucionalizada, os Krah historica-mente se mantm silenciados e sobrevivem porque no abriram mo de sua ancestralidade, seus mitos, ritos e universalidade, na dialtica entre o ser e no ser indgena numa realidade onde a sociedade ma-joritria e sua cultura predatria impem a aniquilao de povos cultural e linguisticamente distintos.

    nesse cenrio que o Livro de Histria Krah se caracteriza como um marco, no somente pela imperiosa necessidade que existe nas escolas indgenas no tocante a material didtico e de apoio pedaggico, mas, tambm, por ser um livro no qual os indgenas so participantes ativos, auto identifi-cando-se em cada pgina que nele est escrita, uma vez que os textos e as ilustraes so de autoria dos professores e alunos das aldeias indgenas Krah.

    Um aspecto muito importante do Livro de Histria Krah, o resgate que faz da histria de vida de alguns personagens, com uma mini biografia de indgenas que so referncia na educao das crianas, adolescente e jovens Krah. Aliado a tudo isso, temos de forma muito elucidativa, o modo

  • como os indgenas vem o mundo em que vivem, dando importncia vital natureza e tudo que a com-pe, animais, plantas, sol e chuva, inverno, vero, numa reverncia que comove.

    Enfim, vemos nesta obra um marco no ensino de Histria num contexto intercultural, no so-mente para alunos e professores envolvidos na dinmica da Educao Escolar Indgena, mas tambm, para sensibilizar a comunidade escolar no indgena, num momento histrico em que culturas se en-frentam. Enfrentamento esse que imbrica para o etnocentrismo, mas que pode tambm dialogar po-sitivamente, levando e elevando as relaes interculturais a um patamar de dialogicidade, partilha e reconhecimento da alteridade.

    Severina Alves de Almeida SISSI

    Rosineide Magalhes de Sousa

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 9

    Sumrio

    Histria Indgena ..................................................................................................................................................13Os povos Indgenas do Tocantins .......................................................................................................................23Chkrit Jarn X ...................................................................................................................................................25Biografia de Antnio Jarpt Krah ....................................................................................................................31O Casamento na Cultura Krah .........................................................................................................................33Rituais e Festas Tradicionais ...............................................................................................................................35A Origem do Nome Krah ..................................................................................................................................36Pikn te Crow Jikt jarn x to intuw ihkhhc ita kam.................................................................................37Texto Sobre Pinturas Corporais .........................................................................................................................50Wacmj piihc x ...............................................................................................................................................51Catmj Pihc X .................................................................................................................................................52Aldeia Manoel Alves ............................................................................................................................................53Hhhi Jarn X .....................................................................................................................................................54K po jarn x .......................................................................................................................................................55Biografia de Suzana Xpr Krah .......................................................................................................................56Biografia de ngela Kwmp ..............................................................................................................................57Biografia de Jacinto Kx Krah .......................................................................................................................58Biografia de Francisco Jikyetyc ...........................................................................................................................59Py ri ja k Jarn X ...............................................................................................................................................61Pesquisa de Cukn jh xy ....................................................................................................................................62Caapr cahk jarn x ..........................................................................................................................................63M Hohk jarn x ...............................................................................................................................................64Cuuh m kruw jarn x .....................................................................................................................................65Hh Jarn X. .......................................................................................................................................................66Pytty ......................................................................................................................................................................67Xy Jarn X ............................................................................................................................................................68Crat re Jarn X .....................................................................................................................................................69M pa inqut j n jarn x .................................................................................................................................70Histria do Sol e Lua ............................................................................................................................................85Ampo n m ihhmpej catj ...........................................................................................................................100A Histria da Composio do Cacicado .........................................................................................................102A escolha do Conselho ......................................................................................................................................104Corrida de Tora ..................................................................................................................................................106Corrida da Tora da Batata .................................................................................................................................107Hh Poore............................................................................................................................................................108Cuhtoj ..................................................................................................................................................................109Cuukn j Xy .......................................................................................................................................................110Cajpo ....................................................................................................................................................................111Xy ..........................................................................................................................................................................112Cuuh ...................................................................................................................................................................113Pytty .....................................................................................................................................................................114Kruw .....................................................................................................................................................................115Jm pictor n harn x .......................................................................................................................................116Biografia de Pypr ..............................................................................................................................................120

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x10

    Rituais Fnebres de uma Criana .....................................................................................................................121Mitos do Caador ...............................................................................................................................................122M ihtc ...............................................................................................................................................................131Pat Tre Johkrun X.........................................................................................................................................132Cuuh x n ahkrajre tc x ..............................................................................................................................133Pinturas Corporais .............................................................................................................................................134M ipiihc jarn x .............................................................................................................................................135M humre ............................................................................................................................................................136Hxwa Jarn X ................................................................................................................................................137Ita m jt j p n Hxwa jokrun jarn x .....................................................................................................138Jt j p jarn x ..................................................................................................................................................139Jt j p jarn x n. ............................................................................................................................................140Catmj piihc x. ..............................................................................................................................................141Catamj m wacmej jarn x ..........................................................................................................................142M ipiihc x jarn x. .......................................................................................................................................144Pyj piihc x ......................................................................................................................................................145Partidos vero wacmj kjcatj .....................................................................................................................146Sadona ..................................................................................................................................................................147Massacre do povo Krah ...................................................................................................................................148Kop jarn x ........................................................................................................................................................149Hh jarn x .......................................................................................................................................................150Biografia de Maria Rosa Amxkwj ................................................................................................................151Pr x Jarn X ....................................................................................................................................................152Py Cajc Jarn X ...............................................................................................................................................153Jjj jarn x ........................................................................................................................................................154Xhxre Jarn X ................................................................................................................................................155C p pahhi Curan X .......................................................................................................................................156Vestimentas das Crianas ..................................................................................................................................157Histrias das Lideranas dos Partidos .............................................................................................................158Histria de Wht ..............................................................................................................................................159Festas ....................................................................................................................................................................160Ritual dos Mortos ...............................................................................................................................................161Histria da Esteira Danante ............................................................................................................................163Wht km m increr jarn x ..........................................................................................................................164Kr Capehn mn Crer Jarn X.......................................................................................................................165Corte de Cabelo das Crianas Krah ...............................................................................................................166A cultura Krah ..................................................................................................................................................167Histria do Batismo ...........................................................................................................................................168Histria dos Instrumentos de Caa e Pesca ....................................................................................................170Cup te m hipej jarn x ..................................................................................................................................171Histria do Povo Krah e os Conflitos ............................................................................................................172Relatrio sobre Cacot .........................................................................................................................................173Ropk Kt Harn X ..........................................................................................................................................175M cum hapr hr x. ......................................................................................................................................176Teere m Tep Jatm X ......................................................................................................................................177Corte de Cabelos no Casamento ......................................................................................................................178Corte de Cabelos dos Krah .............................................................................................................................180Vestimentas de Festa ..........................................................................................................................................181

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    Histria das Vestimentas ...................................................................................................................................182Vestimenta de festas culturais ...........................................................................................................................183Vestimenta dos Velhos .......................................................................................................................................184Vestimenta dos Homens, Mulheres e Jovens ..................................................................................................185Vestimentas do Paj ...........................................................................................................................................186Conflitos com os Fazendeiros ...........................................................................................................................187Pr-Histria Krah ............................................................................................................................................188Pr-Histria ........................................................................................................................................................189Pr-histria .........................................................................................................................................................190Pr-histria .........................................................................................................................................................191Contemporneo .................................................................................................................................................192Biografia de Getlio Kruwa Kraj Krah ..........................................................................................................193Biografia de Ismael Ahpracti Krah ................................................................................................................194Histria do Caador ...........................................................................................................................................195Caada Krah ......................................................................................................................................................196Primeira Parte - Jt j p jarn x xaakat ...................................................................................................197Jt j P Jarn X Xaakat ....................................................................................................................................198Segunda Parte - Jt J P Jarn X ....................................................................................................................217Jt J P jarn x .................................................................................................................................................218Referncias bibliogrficas ..................................................................................................................................231

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 13

    Histria Indgena

    Danilo Soares de Souza1

    Francisco Edviges Albuquerque 2

    Este texto parte da introduo do livro de Histria Krah, usado como material didtico, orga-nizado e produzido pelos professores indgenas e comunidade Krah de Manoel Alves Pequeno, onde o Programa do Observatrio da Educao Escolar Indgena/OBEDUC est implantado. Este trabalho tem como objetivo auxiliar os alunos indgenas Krah na compreenso dos aspectos histricos de seu povo, tais como os conflitos entre indgenas e no indgenas e o processo de demarcao de sua rea, bem como orientar os professores indgenas e no indgenas que atuam nas escolas desse povo, con-tribuindo para o conhecimento da Histria Krah, direcionando para a disciplina de Histria, voltado a importncia de se estudar Histria nas Escolas Indgenas. No entanto, orientando os aspectos tericos e metodolgicos de se entender Histria como disciplina que complete a educao indgena, em todos os aspectos necessrios para uma educao de qualidade nas escolas das aldeias.

    A Histria e seus objetivos A palavra histria vem do grego e significa investigar. O primeiro homem a fazer uso da

    investigao em seus estudos realizados, foi o grego Herdoto, considerados por muitos historiadores como o pai da Histria. A ideia de que a Histria uma simples sucesso de fatos interligados por uma relao de causa e efeito foi superada. Como est em permanente construo, a Histria no admite definio nica. Cada poca, cada contexto, cada realidade social formula seu conceito de Histria. Histria uma cincia humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, e segundo Marc Bloch (2002), em seu livro, intitulado Apologia da Histria: ou o Ofcio do Historiador, a histria fundamentada por ser a cincia do homem no tempo, uma interpretao do presente em relao ao passado. Karl Marx (1999) entende a Histria pela perspectiva da produo material de bens. A anlise proposta por Marx (1999), no seu livro A Ideologia Alem se volta para a produo material dos bens e dos elementos que lhes envolvem ou correspondem. A anlise marxista se volta para os modos de pro-duo, a realizao do trabalho e as relaes econmicas que o envolvem, resgatando tais relaes em perspectiva histrica. Dessa maneira a histria vai alm de ser apenas uma disciplina, uma forma de entendermos os processos histricos da humanidade atravs de fontes (livros, objetos, oralidade, entre outros) para conhecermos uma determinada civilizao e seus aspectos culturais. A histria a neces-sidade do homem de explicar para si mesmo e seus pares a sua origem, sua vida. E para entendermos nossas origens temos que observa a transformaes, e de acordo com Vavy Pacheco Borges (2003) no livro O que histria:

    A histria procura especificamente ver as transformaes pelas quais passaram as sociedades humanas. A transformao a essncia da histria; quem olhar para trs, na histria e sua prpria vida isso facilmente. Ns mudamos constantemente; isso valido para o indivduo e tambm validado para a sociedade. Nada permanece igual e atravs do tempo que se percebem as mudanas. (BORGES, 2003, p.50)

    Dessa maneira, a Histria tem como principal objetivo dar significado aos aspectos culturais, sociais e econmicos de um dado povo atravs de um recorte temporal, possibilitando o entendimento do processo de desenvolvimento da humanidade. Com isso, entender o passado fundamental para com-1 Bolsista do Programa Observatrio da Educao Escolar Indgena/CAPES/UFT/OBEDUC/Edital 014/2012/Projeto 113952 Coordenador do Programa Observatrio da Educao Escolar Indgena/CAPES/UFT/OBEDUC/Edital 014/2012/Projeto 11395

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x14

    preenso do presente. Dessa forma, A Histria fundamental para formao escolar de povos indgenas. A histria muito importante, pois nos d condies de entender as estruturas econmicas, sociais, po-lticas, religiosas, ideolgicas e jurdicas dos povos indgenas e no indgenas.

    A histria um campo interdisciplinar Historiador conta com o auxlio das fontes histricas. Fontes histricas so os documentos que

    permitem ao historiador interpretar os fatos passados e dar significado a histria. As fontes histricas so fundamentais para produo de histria. Essas fontes podem ser livros, vestimentas, imagens, vestgios arqueolgicos, objetos materiais, registros orais, documentos, moedas, jornais, gravaes, televiso, ci-nema, entre outros. por meio das relaes entre as vrias fontes histricas que o conhecimento humano sobre o passado interpretado e reconstrudo. Assim, devemos lembrar que uma mesma fonte histrica pode ter diversas interpretaes. Tudo depende do mtodo, teoria e como o historiador trabalha a sua fonte. O uso de diferentes fontes empreende o reconhecimento de novos desafios ao ofcio do historia-dor. Em contrapartida, oferece ao historiador e ao pblico interessado uma oportunidade de renovar e determinar o crescimento da produo tcnica, cientfica e didtica sobre o assunto.

    fundamental tambm entendermos, que os objetos de estudo da Histria so pessoas, sujeitos, fatos, acontecimentos, lugares, culturas, sociedades, memrias e entre outros. Objeto esse, que move mudanas, sofre alteraes, inventa e se reinventa, e est sujeito a vrias interpretaes diferentes. Esse universo da histria envolto de vrios caminhos, vrios significados. Com isso, fundamental fazer uma reflexo histrica sobre as sociedades indgenas brasileiras. Obtendo o entendimento sobre todos os processos histricos e conflitos, que esses povos sofreram. Em suma, o trabalho do historiador est relacionado ao estudo e anlise de fontes histricas diversas, da histria deixada pelos homens, ao longo dos tempos. importante levar em considerao as metodologias de cunho cientficas para este fim. Com isso, sempre que for necessrio, pode haver o auxlio de outras cincias afins, para uma melhor compreenso e entendimento da temtica estudada.

    No mbito do ensino de histria interdisciplinar, compreendemos que esse mecanismo res-ponsvel de organizar e planejar os objetivos os quais pretendemos nos direcionar fortalecendo nossa pratica didtica metodolgica, tanto no ensino de histria, como na pesquisa historiogrfica. E nesse sentido, Albuquerque (2009) e seu artigo interdisciplinaridade X Interculturalidade: Uma pratica peda-ggica Apinay nos apresenta o eixo base dessa didtica:

    Assim a interdisciplinaridade didtica tem como objetivo principal organizar o que exige o currculo es-colar e sua insero nas condies de aprendizagens. o momento e o espao de reflexo sobre o fazer pedaggico, planejando e revisando as estratgias da ao implementadora e intervenes. J no nvel da interdisciplinaridade escolar, o nvel pedaggico o espao de atualizao em sala de aula da interdiscipli-naridade didtica (ALBUQUERQUE, 2009, 21)

    A Histria atual se coloca cada vez mais prxima das outras cincias que estudam o homem (a antropologia, a sociologia, a geografia, a psicologia, entre outras), estudando as transformaes da sociedade no tempo e no espao. Com uma abordagem mais ampla, passando por diversas reas do co-nhecimento. Esse processo fundamentado na interdisciplinaridade, um elo entre o entendimento das disciplinas nas suas mais variadas reas. Sendo importante, pois, abrangem temticas e contedos que se conectam, permitindo, dessa forma, recursos inovadores e dinmicos, onde a aprendizagem amplia-da. A interdisciplinaridade pode integrar-se em outras reas especficas, com o propsito de promover uma interao entre a histria, cotidiano e outras cincias, pois nos dias atuais, podemos considerar a Histria como umas das mais diversas cincias humanas em funo de seus vrios campos de trabalho. Atualmente exigisse que o nvel de atualizao prevalea em qualquer cargo que vai exercer na rea. A interdisciplinaridade configura-se como um principal complemento no conhecimento escolar transmitin-

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    do como uma nova dinmica na metodologia aplicada. Esse conceito fica mais claro quando se considera realmente de que todo conhecimento mantm um dilogo permanente com outros conhecimentos que pode ser de questionamento, de confirmao e de aplicao.

    Essa ampliao de horizontes permite a histria o maior aprofundamento na vida dos povos, em especial, os indgenas. Povos esses que conhecem suas histrias de forma vaga, com lacunas, mas de muito sofrimento, luta e garra. Temos, pois, conscincia da importncia do trabalho do historiador para o preenchimento dessas falhas na histria dos povos indgenas, essencialmente os povos Krah, localizados no Estado do Tocantins.

    As contribuies da Histria para os povos indgenas A maior funo que a histria pode exercer aos povos indgenas, principalmente ao povo Krah,

    sua funo social, sua contribuio como cincia, como disciplina, seu olhar minucioso, sua reflexo e seu entender de cada indivduo como um ser histrico. Isso significa resgatar e preservar a tradio daqueles que contriburam para a formao da cultura de um determinado povo. Por meio da Histria, somos capazes de interpretar acontecimentos e episdios, para descobrir, explorar, projetar, desfazer e refazer novos sentidos que possam produzir perspectivas e atitudes que sejam relevantes na nossa forma-o e atuao. Para o povo Krah, a histria ganha um funo de proporcionar um significo a algumas caractersticas culturais que no fazem mais parte do cotidiano desse povo ou esto se perdendo, ganha tambm a funo de quebrar interpretaes confusas e sem nexo. A Histria diz muito sobre a nossa identidade, crenas e tambm sobre o modo como justificamos as prticas sociais de um determinado povo. Devemos tambm evidenciar a importncia da historiografia como ferramenta organizadora dos direitos indgenas.

    As informaes recolhidas no passado no serviro ao presente se no forem recriadas, ques-tionadas, compreendidas e interpretadas, e cabe essa funo ao historiador. J no que se diz respeito ao povo Krah, a Histria a vida e ressalta a necessidade de percebermos as diferenas culturais da sociedade a que pertencemos, possibilita-nos identificar no tempo e espao; apresentar os processos de formao de uma civilizao, atravs da sua dinmica sociocultural; interpretar a vida dos homens; compreender os processos de mudanas e permanncias dos fenmenos sociopolticos e culturais e, por fim, fazer entender os deveres histricos dos homens, para no cometerem os mesmos erros, alm de in-dicar a grandeza dos que fizerem parte da histria e seus exemplos morais, rumo a eternidade. A histria e outras cincias reconhecem que existe um interesse dos indgenas no resgate e manuteno dos seus aspectos socioculturais e lingusticos. Nos ltimos anos, percebemos um crescente e significativo de movimentos indgenas de manuteno sociocultural. Nesse sentido Circe Maria Fernandes Bittencourt (1994) em artigo O Ensino de Histria Para Populaes Indgenas, j percebia esse movimento:

    Nos ltimos anos, tem sido desenvolvido pela maioria dos grupos indgenas um movimento pela manuten-o de sua identidade social, cultural e tnica. Trata-se, no entanto, de uma forma de resistncia diferencia-da de outras pocas, verificando-se uma enorme capacidade desses povos em manter sua identidade sem se isolar do contato com os brancos mas, ao contrrio, buscando formas de aproximao com as quais seja possvel incorporar e dominar aspectos da cultura dos grupos dominadores. Para a maior parte dos grupos indgenas que tm procurado a preservao de suas culturas, esta afirmao de identidade tem sido entendi-da por eles como uma forma de luta poltica para manuteno de suas terras e direitos de autodeterminao. (BITTENCOURT, 1994, p. 105)

    E para povo Krah, a presena da Histria como disciplina escolar, implantando a identificao cultural, mas que no sejam perdidas as peculiaridades desse povo. E nas ltimas dcadas do sculo XXI, vivenciamos um momento rico de debates, elaborao e implantao de propostas curriculares indgenas, de novos materiais didticos, e de repensar das prticas educativas do Brasil. E nesse perodo de rpidas mudanas. Uma poca de um novo mapa cultural e poltico, um novo processo educativo para

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    os povos indgenas.

    Educao escolar indgena e o ensino de histria aos povos indgenasNo entanto, perceptvel, sim um aumento em debates, mas, o Brasil, mesmo sendo um pas

    multicultural, na maioria das vezes, no discurso da escola, essa diversidade no aparece. Atualmente, entre os problemas enfrentados pelos povos indgenas brasileiros, a educao uma preocupao, mas com as polticas pblicas atuais, muitos projetos tm surgido, para implementarem os processos de edu-cao escolar indgena, atravs da produo de materiais didticos, com a participao efetiva da comu-nidade, como o caso do OBEDUC/CAPES. Estes projetos vm contribuindo significativamente para a elaborao e produo de materiais didticos, principalmente a Educao Indgena Escolar do povo Krah. Assim, na trajetria histrica desse povo, percebemos como a educao indgena Krah im-plementada e reelaborada como um processo prprio e especfico Krah. Segundo Melatti (1978), teve incio como a criao do Servio de Proteo ao ndio (SPI), que apresenta um novo tipo de poltica indi-genista, estabelecido no Brasil. Ficou vedado o desmembramento da famlia indgena, mesmo para fins de educao e catequese de seus filhos. A escola, quando havia, na aldeia, funcionava no posto indgena, mas a educao escolar era ministrada em lngua portuguesa. Durante o perodo do SPI, de 1910 a 1967, e posteriormente com a criao da FUNAI, a educao escolar indgena continuava sendo ministrada apenas em lngua portuguesa, por missionrios ou professores da FUNAI. Aps esse perodo, medidas legais para a adoo da lngua materna no ensino e de outros aspectos relativos educao desses povos s foram tomadas em 1966, com o decreto do Presidente da Repblica, no 58.824, de 14 de julho, que promulga a Conveno 107 sobre a proteo e integrao das populaes indgenas e outras populaes tribais e semi-tribais de pases independentes. Atrelada educao Escolar Indgena, os Krah continu-am a repassar oralmente seus saberes tradicionais, adquiridos ao longo dos tempos, para as crianas e jovens, como forma de manter vivas a lngua e a cultura tradicional Krah. Mesmo diante de um conflito lingstico e cultural, em que vivem os Krah em funo do processo de contato com a sociedade no indgena, as escolas enfrentam uma srie de dificuldades, visto que h pouco material didtico escrito em lngua materna, alm da falta de um calendrio, especfico e diferenciado para as escolas desse povo.

    Contudo, devemos nos atentar no que diz respeito ao modelo e forma de se estabelecer essa educao escolar como um mecanismo de contribuio e conservao sociocultural, ou, uma fonte de distanciamento da cultura. E como nos revela a uma dcada e meia atrs Bittencourt (1994) conseguia visualizar a importncia da escola bilngue

    A escola, sendo uma instituio criada para moldar, divulgar e legitimar determinados conhecimentos e que, primordialmente, serve para a apreenso da cultura escrita, torna-se um complexo informativo de difcil identificao por parte da sociedade indgena, essencialmente grafa. H uma clara compreenso da necessidade de dominar a escrita dos brancos, mas h uma certa inquietao em transformar suas antigas formas de comunicao tambm em registros escritos, criando signos escritos para sua lngua nativa. BIT-TENCOURT, 1994 p.)

    Assim percebemos dois lados de uma mesma proposta mas que favorecem sentidos diferentes e assim a autora descreve:

    O papel da escola percebido, portanto, de forma ambgua e aparentemente contraditria. A escola pode servir como elemento que favorece e acelera a perda da cultura anterior, que substituda por um saber escolar criado pelos brancos, mas ela pode tambm servir para ampliar suas formas culturais de comunica-o, situao que ocorre principalmente quando se desenvolve a alfabetizao bilngue. (BITTENCOURT, 1994 p.)

    E diante do processo da escola indgena e dos cuidados que devemos nos precaver no auxlio da formao escolar indgena. E tendo papel importante nessa educao, a Histria, deve se atentar, que

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    qualquer proposto educacional dessa rea de ensino deve considerar os problemas dos dois grupos en-volvidos, no sentido de possibilitar a construo de uma cultura escolar histrica, por intermdio da qual haja um trabalho mutuo em todas as etapas de implantao desse projeto educacional. Assim, temos que concordar, pois o ensino de Histria para a escolas indgenas no pode ocorrer como mera adaptao de currculos estaduais ou municipais para os alunos no indgenas e que ele se insere em um processo dinmico que afetar a cultura escolar nos dois grupos envolvidos. E de forma esclarecedora Bittencourt (1994) nos apresenta a essncia do ensino de Histria para os povos indgenas, principalmente ao povo Krah:

    A incluso da construo da identidade nas propostas educacionais para o ensino de Histria merece, por-tanto, um tratamento capaz de situar a relao entre o particular e o geral, quer se trate do indivduo, sua ao e papel nas aldeias, quer se trate dos grupos indgenas em suas relaes Inter tnicas e com a sociedade nacional. (BITTENCOURT,1994, p.14)

    E em uma marcao importante a autora segue em linhas mais gerais a proposta educacional:

    Um ponto que importante esclarecer sobre o conhecimento do outro a possibilidade de aumentar o conhecimento sobre si mesmo, medida que conhece outras formas de viver, as diferentes histrias vividas pelas diversas sociedades. Conhecer o outro significa comparar situaes, e nesse processo comparativo o conhecimento sobre si mesmo e sobre seu grupo aumenta consideravelmente. (BITTENCOURT,1994 p.15)

    E nesse senrio, o ensino de histria nas aldeias repleto de enigmas, onde a mente do professor de histria se pergunta como e de qual forma ela ir explicar a importncia dos indgenas de estudarem histria. E assim o REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDGENAS (RCNEI)

    O que Histria? Quais as relaes entre o conhecimento histrico produzido por estudiosos e o ensino de Histria? Por que a Histria faz parte do currculo escolar? Qual a importncia da sua aprendizagem na formao do aluno? Qual o papel do estudo da Histria na relao que os alunos estabelecem com a sua sociedade e com os outros povos do presente e do passado?Essas questes so fundamentais para o professor das escolas indgenas refletir, repensar, e mesmo posi-cionar-se em relao ao estudo da Histria que est sendo praticado na sua comunidade, dedicando uma ateno especial s suas finalidades sociais, polticas, histricas e pedaggicas. (RCNEI, 1998, p. 195)

    Quando analisamos o atual cenrio da educao escolar indgena Krah, fica evidente que mui-tos avanos foram conquistados, principalmente nas ltimas dcadas, mas se lanarmos um olhar mais minucioso sob o cotidiano escolar Krah perceberemos que, infelizmente, ainda se preservam muitos dos aspectos e prticas negativas existentes desde a poca em que o Brasil era uma colnia de Portugal.

    Agora necessrio que sejamos conduzidos a olharmos a etnohistria de que forma ela pode auxilia o historiador e qual sua principal contribuio para os povos Krah. As pesquisas em histria indgena tm crescido tanto numrica, quanto qualitativamente na produo acadmica. Nesse cen-rio os conceitos de etno-histria e histria indgena tm sido utilizados, muitas vezes, de maneira turva. E foi partir da dcada de 1990, os estudos sobre histria indgena no Brasil vivenciaram grande efervescncia que pode ser constatada pelo significativo nmero de trabalhos publicados e tambm pelo crescente nmero de dissertaes e teses que abordaram a questo em diferentes programas de ps-gra-duao do pas. H tambm grupos, linhas, laboratrios e ncleos de pesquisa em diferentes instituies universitrias. Muitos trabalhos so identificados como filiados histria indgena, outros etnohis-tria.

    Esses dois conceitos so utilizados para qualificar diversas pesquisas que, em sua maioria, en-volvem questes indgenas com abordagens histricas. Apesar disso, em alguns casos tais conceitos no so apresentados com clareza. Considerando que podem se desdobrar em diversas semnticas, especial-mente o conceito de Etno-histria, alguns de seus usos podem conduzir a uma confuso. Temos dentre

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    essas ramificaes de acordo com Thiago Leandro Vieira Cavalcante (2011) no artigo Etno-histria e histria indgena: questes sobre conceitos, mtodos e relevncia da pesquisa a) como disciplina aca-dmica independente; b) como compreenso e/ou representao prpria dos povos indgenas acerca de sua histria e do tempo; c) como uma etnocincia; e d) como um mtodo interdisciplinar.

    E em 1909, quando o a Etnohistria foi empregada para se referir utilizao de documentos escritos e dados arqueolgicos para a reconstruo da histria de aspectos culturais indgenas. Inicial-mente a Etnohistria foi ligada apenas ao estudo de sociedades culturalmente no-ocidentais e grafas. Pretendia-se que a histria de povos grafos fosse escrita a partir de fontes produzidas por outros povos. De acordo com essa definio, a Etnohistria estava prxima de ser uma espcie de histria dos povos sem registros. Na Amrica do Norte foi onde o conceito identifica como um mtodo interdisciplinar, isso porque o uso do termo para designar uma disciplina foi julgado inapropriado pela maioria dos es-pecialistas.

    Os primeiros passos da Etno-histria foram dados por antroplogos, mas com o passar do tem-po vrios historiadores e tambm outros pesquisadores, como, por exemplo, gegrafos e arquelogos, passaram a se interessar pela problemtica. Assim a Etno-histria caminhou para se consolidar como um mtodo que congrega, principalmente, aportes da antropologia e da histria, mas tambm e com grande importncia de outras disciplinas, tais como a arqueologia e a lingustica. E Jorge Eremites de Oliveira (2003) em seu texto contribui Sobre os Conceitos de Etnoistria e Histria Indgena: Uma Discusso Ainda Necessria para compreendermos de forma qual o aspecto determinante para descrever o mtodo histrico:

    Em suma, embora os termos Etnoistria e histria indgena venham sendo utilizados como sinnimos um do outro, certo que o uso do primeiro implica em valer-se de um mtodo em construo e de carter inter-disciplinar, cada vez mais slido frente s interfaces entre a antropologia, a arqueologia e a histria, dentre outros campos do conhecimento. (OLIVEIRA, 2003. p.7)

    de fundamental importncia a ndio para composio do Brasil colonial at os dias atuais estudar o indo no est ligado somente a um propsito cientifico mais tambm social, poltico e econ-mico. E assim melhor descreve Vnia Moreira (2010) em sua obra O ofcio do historiador e os ndios: sobre uma querela no Imprio

    O interesse pelos ndios no era, contudo, puramente cientfico, nem tampouco se explica inteiramente pela esttica potica do indianismo que, como se sabe, arrebatou o esprito dos letrados romnticos do pero-do. Alm desses fatores, muitos contemporneos reconheciam que os ndios representavam um dos mais complexos setores da geopoltica imperial que, quela altura, estava centrada na consolidao do territrio do Imprio. Nas regies de fronteira internacional, fatias importantes do territrio estavam povoadas por populaes indgenas tribais e relativamente independentes. A soberania do Estado nesses lugares s estaria assegurada se, de fato, o Imprio fosse capaz de controlar e submeter aquela populao e demonstrar posse efetiva sobre o territrio. (MOREIRA, 2010, p.55)

    A autora conclui seu texto realizando um panorama do processo de como vemos e como foram vistos os ndios:

    A abordagem nacionalista sobre os ndios criou razes profundas na poltica nacional, no apenas preva-lecendo na poltica indigenista imperial, mas tambm tornando-se a matriz dominante ao longo do sculo XX. No indiferente notar, alm disso, que essa orientao criou razes, tambm, na historiografia profis-sional, pois a representao do sculo XIX como um perodo praticamente sem ndios ou no qual eles no tinham a menor importncia para a nao ainda vigora, segundo o argumento de que, quela altura, eles j estavam bastante exterminados ou aculturados, restando um ou outro grup marginal na periferia do Imprio. bem verdade que no se pode mudar o que passou. Mas com outros enfoques, outras perspectivas e mais pesquisa histrica pode-se mudar, e muito, a compreenso que temos do passado, da sociedade, dos ndios e de sua histria nas tramas da histria do Imprio. (MOREIRA, 2010 p.)

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    Contudo, escrever e estudar sobre as populaes indgenas do Brasil, significa compreender uma diversidade de povos, com caractersticas e costumes diferentes dos padres culturais da socie-dade no indgenas, principalmente no que se refere histria, sistemas sociais e econmicos, lnguas, culturas e crenas. Com isso, se torna primordial o trabalho do historiador no que se refere a pesquisa e transmisso da histria indgena. os confirmamos essa diversidade em trecho do historiador Carlos Mag-no Naglis Vieira (2010) no texto A Sociodiversidade Indgena no Brasil, texto esse presente no livro Conhecendo os Povos Indgenas no Brasil Contemporneo

    Do litoral ao serto, da caatinga ao pantanal, da floresta ao cerrado, so muitos os ambientes nos quais os povos indgenas esto localizados, resultando em diferentes formas de interao e adaptao a natureza e em diferentes modos de vida. H povos que tem na agricultura sua principal fonte de alimentos, enquanto outros diversificam suas estratgias de sobrevivncia com atividades de pesca, caa e coleta de produtos silvestres. (VIEIRA. 2010, p10)

    Os povos Timbira dos quais o povo Krah faz parte, tm uma longa histria de contato com os no-indgenas de mais de trs sculos. So unidos por uma Forma Timbira, compartilhando mitos, histria, parentesco, cosmologia, lngua, espacialidade da aldeia, sistema mdico, sistema poltico, orga-nizao social. Continuam reconhecidos como povos conservadores, e uma aldeia Timbira sempre est de festa, alternando em tempos de latncia e tempos j de efervescncia. O que regula a vida so os essas festas rituais, ligados com a colheita, com a iniciao dos jovens, termino de resguardos por doenas e/ou nascimento entre tantos outros.

    Em meio a essa diversidade cultural dos povos indgenas existe o povo Krah, localizado no estado do Tocantins, possuindo sua reserva prxima aos municpios de Itacaj e Goiatins. E de acordo com Marta Virginia de Arajo Batista Abreu (2012) em sua dissertao de mestrado nos apresenta os re-ferentes dados: os Krah habitam entre os rios Manoel Alves Grande e Manoel Alves Pequeno, afluentes da margem direita do Rio Tocantins. A Terra Indgena Kraholndia foi homologada pelo Decreto-Lei n 99.062, de 07 de maro de 1990 e fica localizada, no nordeste do Estado do Tocantins. A Terra Indgena Kraholndia tem uma extenso de 320mil hectares e fica entre as longitudes 4654 W e 5118 W e as latitudes 8 S e 9 S. Ali residem 2.799 indgenas, que se distribuem em 29 aldeias, de acordo com os dados do DISEI (2014). Segundo Rodrigues (1986), a lngua Krah faz parte da Famlia Lingstica J e do tronco Macro-J. Nos aspectos culturais, as casas nas aldeias Krah seguem o modelo Timbira, dessa maneira descreve com clareza Suyene Monteiro da Rocha Diniz (2006), em seu texto Conhecimento Tradicional Indgena e Biodiversidade Brasileira: Os Krah, a saber:

    As aldeias Krah seguem o ideal timbira da disposio das casas ao longo de uma larga via circular, cada qual ligada por um caminho radial ao ptio central. A forma de suas casas indica uma forte influncia do convvio com os civilizados. Externamente so muito similares a dos sertanejos. O teto das casas de duas guas, coberto com folhas de buriti ou de piaava, as paredes so feitas de estacas fincadas no cho uma ao lado da outra, que so preenchidas com palha de buriti ou barro. Porm, as casas so dispostas tradicio-nalmente ao redor do grande ptio central, formando um crculo, se observado num anglo superior. No seu interior veem-se, dependurados, grande nmero de cestos de folhas de buriti, utilizados como transporte ou para guardar alimentos e objetos. Vem-se tambm esteiras tranadas com fibra de buriti, com franjas que forram os estrados de troncos de aa bravo que servem de leito.

    Nas casas moram as mulheres que nasceram ali, e os homens que ao casar vo morar com suas esposas. A oralidade como em maioria dos povos indgenas o principal meio de transmisso cultural, repassando a cultura de gerao para gerao. Na composio poltico social, a aldeia Krah possui um sistema elaborado de organizao poltica. Existindo dois partidos distintos, com prefeito e vice, cada um administra a aldeia em uma estao por eles estabelecida. Um partido pertence ao vero (Wakmj) e outro ao inverno (Katmj). No entanto existe um cacique que s muda quando a comunidade decide. Apesar da organizao poltica krah, Julio Cezar Melatti (1978) Ritos de uma tribo timbira descreve esse sistema com uma celebrao, uma passagem, um rito:

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    Nenhuma disputa entre indivduos ou grupos de indivduos tem por motivo o fato de pertencerem a metades diferentes. Apesar de se exigir que os prefeitos sejam de uma ou de outra metade de um determinado par, segundo as estaes, e que os prefeitos de um mesmo perodo pertenam a metades opostas de um outro par, essa regra no tem carter propriamente poltico, uma vez que no envolve uma disputa por poder; parece que as metades e seus subgrupos so, entre os Krah, antes de tudo, de natureza ritual. (MELATTI, 1978, p. 80-81)

    Ainda dentro dessa composio existe o paj, o responsvel pelos rituais de cura, e o Hxwa, o responsvel pelo riso e o desempenho de papis cmicos, entre outras designaes rituais. Uma parte importante para os Krah so suas crenas, rituais e mitos. Os mitos contam as transformaes que os atos dos heris Sol e Lua provocaram no mundo,(aparecimento dos seres humanos, da menstruao, da morte, do trabalho, dos insetos que picam, das cobras); a obteno das plantas agrcolas da mulher-es-trela; a aquisio do fogo, tirado ao jaguar; a obteno de ritos por homens que visitaram o cu, o fundo das guas, a roa em crescimento, enfim, como se toda a cultura Krah tivesse vindo de fora.

    O povo Krah, por volta do sculo XVIII, vivia prximo ao Rio Balsas, ao Sul do Maranho e migraram para o Tocantins, devido aos conflitos com fazendeiros que avanavam do Piau para o Mara-nho. Os primeiros contatos dos Krah com a populao de origem portuguesa aconteceram no final do sculo XVIII. A princpio, a relao ndio e fazendeiro dava-se de forma amistosa, no entanto devido a confuses sobre possveis furtos de gado, os fazendeiros daquela regio atacaram aldeias Krah mor-reram mais de 20 indgenas. Posterior e essa situao os Kah passaram por um perodo de isolamento. E segundo Cleube Alves da Silva (2010), no livro Histria dos Indgenas no Brasil: uma outra histria brasileira descrevendo assim:

    Todavia a situao mudou bastante entre 1952, ano que os krah fizeram o primeiro movimento messinico para deixarem de ser ndios, e 1986, data na qual se empenharam em uma reivindicao que implicava justamente no oposto a sua afirmao tnica, que foi exigncia de terem de volta o machado de lamina semilunar que o povo havia cedido ao museu paulista a muitos anos. O machado foi retomado pelos Krah depois de muita discusso com a direo da universidade de So Paulo, debates pelos jornais e resoluo de impasses jurdicos. (SILVA, 2010, p. 115)

    Orientados do processo migratrio adentraremos as atividades econmicas Krah, essas ativi-dades que tambm sofreram alteraes com o processo migratrio e com as transformaes ao longo do tempo. De acordo com Albuquerque (2013), em seu artigo ndios do Tocantins: Aspectos Histricos e Culturais, afirma que:

    Os Krah exploravam o cerrado atravs da caa e da coleta, associadas a uma agricultura de coivara com-plementar. A amplitude territorial, portanto, foi sempre a condio bsica de constituio e reproduo do grupo. No por acaso que a identidade masculina Krah est associada diretamente condio de bom caador, andarilho e corredor. As atividades de caa, pesca e coleta bem como da agricultura, esto intimamente associadas ao conhecimento que os Krah possuem sobre a natureza, suas potencialidades e limites.

    Albuquerque (2013), argumenta como um agravante as escassez de material e de alimento:

    Nas atividades Krah, esto includas a colheita de mel, frutos silvestres e razes diversas. A pesca que j foi uma importante fonte de alimentao para os Krah, tem declinado progressivamente com o passar dos anos, devido aos impactos ambientais nos rios da reserva. A caa tambm tem sofrido escassez constante em virtude das presses sobre os recursos naturais. (Albuquerque, 2013, p.148-149)

    E tambm como descreve Terezinha A. B. Dias, Ubiratan Piovezan, Nadi R. Santos, Vitor Ara-tanha e Eliane O da Silva, (2014), no texto Sementes tradicionais Krah: histria, estrela, dinmicas e conservao:

    Ao longo das ltimas dcadas, foram muitas as presses que levaram ao desaparecimento de grande parte da diversidade local de espcies e variedades agrcolas manejadas pelos Krah, o que contribuiu para a

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    situao de pobreza extrema e fome sazonal desse povo. (DIAS, 2014, p.1)

    Uma histria se constri pela permanncia e presena de um povo. Pela luta desse povo no meio onde est inserido. A construo cultural, reconhecimento de valores tnicos. Indgenas, negros e brancos contriburam das mais variadas formas para construo do Brasil. Nao multicultural que se manifesta em cada festa o ritual do povo Krah. Um Brasil acordado pelas diferenas.

    Consideraes finais Cada povo indgena possui tradies culturais prprias, isto , tem uma histria particular, alm

    de possuir prticas e conhecimentos nicos. Devemos tambm termos conscincia de quanto impor-tante a quebra do paradigma de entendimento que a sociedade colonizadora possua sobre as populaes nativas como sendo incapazes ou relativamente capazes, passando-se agora para a compreenso destas populaes enquanto sujeitos histricos capazes de assumir seus destinos e defenderem seus direitos de existncia como povos detentores de culturas diferenciadas, dentro dos Estados Nacionais Latino-Ame-ricanos e que assim desejam permanecer.

    Na perspectiva educacional, as identidades sociais e culturais so construdas no processo edu-cacional como resultado de relaes de poder e dos regimes de verdades existentes na estrutura curri-cular. Devemos procurar entender de que maneira podemos perpetuar essas relaes. Como, elas se en-contram presentes em nosso planejamento? De que forma, podemos contribuir para a problematizao de questes como sexssimo, homofobia e etnocentrismo? Como explicitar no currculo as histrias que foram silenciadas? Como o currculo pode se tornar flexvel, mutante? O multiculturalismo nos auxilia nestas questes, ou seja, na fabricao das identidades e de um currculo pretensamente fixo, imutvel. Ele nos ajuda a rever verdades e a encarar que elas so mltiplas.

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    Os povos Indgenas do Tocantins

    Este trabalho traz uma reflexo sobre as populaes indgenas do Estado do Tocantins, levando em considerao a localizao e a populao de cada povo indgena. O Estado do Tocantins apresenta uma populao de aproximadamente 11.739 mil setecentos e trinta e nove indgenas, que continuam a crescer. Vivem no Estado, os Apinaj, Java, Karaj e Karaj-Xambio (povos iny), os Krah, krah--Kanela e Xerente (akw), alm de constatar a existncia de outros povos indgenas, oriundos de outras regies do pas, vindo se instalarem aqui nas cidades tocantinenses e nas aldeias existentes.

    O Povo Apinay est localizado no extremo norte do Estado do Tocantins, regio compreendida entre os Rios Araguaia e Tocantins, conhecida como Bico-do-Papagaio. A populao Apinay atual de aproximadamente 1.793 indgenas, distribudos em 24 aldeias.

    O Povo Java habita o vale do rio Araguaia, em cujo mdio curso est localizado a Ilha do Ba-nanal, situada no Estado do Tocantins, em uma rea de transio entre o cerrado e a floresta amaznica, e constituda de inmeros rios, lagos, savanas inundveis e matas de galeria. Seu territrio possui cerca de 2 milhes de hectares e coberto pelas guas do Araguaia em quase sua totalidade durante a estao cheia. A populao java composta por 1.173 pessoas distribudas por 13 aldeias.

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    O Povo Karaj habita entre os estados de Gois, Mato Grosso, Par e Tocantins, no Parque Ind-gena do Araguia, tem o rio Araguaia como um eixo de referncia mitolgica e social. O territrio do gru-po definido por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, inclusive a maior ilha fluvial do mundo, a do Bananal, que mede cerca de dois milhes de hectares. Suas aldeias esto preferencialmente prximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio Java. Apesar do contato intenso com a sociedade nacional, tem-se registrado um aumento da populao Karaj, que continua residindo no territrio tradicional. A populao Karaj conta com aproximadamente 2.753 indgenas distribudos em 13 aldeias.

    Os Karaj do Norte ou Karaj-Xambio so tradicionais habitantes da regio do baixo Araguaia e, especificamente, das proximidades de seu trecho encachoeirado. As trs aldeias atuais, Xambio, Ku-rehe e Warilt, no municpio de Santa F (TO), localizam-se na margem direita do Araguaia. A popula-o estava dividida em trs aldeias, com aproximadamente 262 pessoas habitando na Xambio, Kurehe e Warilt. Compe-se majoritariamente de Karaj do Norte, alm de alguns poucos Mbya-Guarani que se casaram na dcada de 1980 com os Karaj do Norte.

    O povo Krah vive no nordeste do Estado do Tocantins, na Terra Indgena Kraolndia, situada nos municpios de Goiatins e Itacaj. Fica entre os rios Manoel Alves Grande e Manoel Alves Pequeno. O povo Krah possui uma populao de aproximadamente 2.465 pessoas, distribudos em 24 aldeias.

    O Povo Krah-Kanela em 1960 fixou-se na terra Mata Alagada, entre os rios Formoso e Java, hoje municpio de Lagoa da Confuso, a cerca de 300 km de Palmas. Trata-se de um povo ind-gena composto de aproximadamente, 84 indgenas vivendo numa nica aldeia.

    O territrio Xerente composto pelas Terras Indgenas Xerente e Funil localiza-se no cerrado do Estado do Tocantins, na banda leste do rio Tocantins, 70 km ao norte da capital, Palmas. A cidade de Tocantnia, localizada entre as duas terras, tem sido, ao longo desse sculo, palco de tenses entre a populao local no-indgena e os Xerente. A populao Xerente constituda de aproximadamente de 2.922 indgenas, distribudos em 59 aldeias.

    Esses povos possuem uma cultura muito rica e uma histria de luta pela sobrevivncia, mesmo assim continuam mantendo seus rituais e festas com uma forte ligao com o seu passado. Os povos in-dgenas do Tocantins tm uma organizao social e poltica prpria que lhes sustentam, correspondendo um processo de crescimento.

    A situao sociolingustica vivida pelos povos indgenas do estado do Tocantins tambm extremamente diversa.

    Quando chegam as chuvas, dedicam-se s atividades agrcolas. Cada famlia tem o seu roado e cultivam: mandioca, banana, cana-de-acar, milho, batata-doce, cana e arroz.

    Texto: Antnio Neto Purcux Krah

    Desenho: Daniel Rj Krah

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    Chkrit Jarn X

    P mam m pa inqutj ma kr p m cato.

    M ht to m n m amj m amkr to ajx n m c to n m kr cape car.

    Pea n m am awjah n cute m chkrit ataj pupun chkm, p ajco ajk n amj m k, p ajco h pr jakr c japj n hapj, p ajco m hmpu.

    M p ipikn kryc kn po n ihkra ita xi p n, p ihcaptti n impej ti n.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Diana Caxt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x26

    M cute m hmpun n ma m impn n ma m to t, me hr x wr.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Tas Pcuhnt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 27

    P m to t n m to cator n kr capehn am amj m cuh n am hmpu.

    Pea p ipikn to ihhi n api n te hap.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Tas Pcuhnt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x28

    Pea, n m ihpry km ihpm n ma m ihkt ajpn to m n kr cahcre ata m cator n m tahn ipixr m c cajpuw chkrit ataj te hajr.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Tas Pcuhnt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 29

    N cute m km cux keanre m hikran.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Tas Pcuhnt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x30

    M m ihkw hi, m hot p hapa m m ihkw m ihtr. Pea m p ma ihkra py n to t. cuto.

    Kt m p m hmpu n ihkt am h amj kn to.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Tas Pcuhnt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 31

    Biografia de Antnio Jarpt Krah

    Antnio Jarpt Krah nasceu prximo aldeia Pedra Branca em uma roa, no dia 15 de Abril de 1925. Filho de Pepxen Krah e Tenco Krah.

    Cresceu na aldeia Pedra Branca e seus amigos de infncia foram: Kmpoc krah e Cupahk Krah com os quais brincava. Quando era adolescente, trabalhava na roa com seus pais, quando tinha corrida de Tora sempre acompanhava o pessoal e depois da corrida ajudava pegar lenha para fazer fo-gueira no ptio.

    Casou-se cedo com a jovem Cristina Crahkwj Krah, com a qual teve 9 filhos. Morou com o sogro, mas j colocava sua roa separada, no esperava pelo sogro dele, ele mesmo se virava.

    Gostava de caar, quando no conseguia matar nada, dormia no mato at conseguir trazer alguma caa. J matou vrios bichos tais como: veado, tatu, caititu, anta, cutia, capivara e outros.

    Na juventude no descansava, vivia sempre fazendo alguma coisa e no deixava faltar alimento em sua casa. Plantava: arroz, milho, mandioca, batata doce, inhame, abbora e outros.

    Tambm gostava muito de tecer, fazendo artesanatos nas horas vagas. Aprendeu a fazer: cesto (cajpo), balaio, tapti, maco, esteira (cahty), arco e flecha, abano, kuj e tambm trabalhava com Pau Brasil fazendo lana, bordunas e outros enfeites usados pelos indgenas.

    Alm dessas atividades gostava muito de pescar e sempre conseguia trazer peixes para sua fa-mlia. Neste tempo usava o arco e a flecha e o tingui na gua para a pescaria. Disse que de todas essas

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x32

    atividades o que mais tinha prazer de fazer era colocar a roa, para alimentar sua famlia.

    Participou do ritual de furar a orelha quando era menino e lembra de todo o resguardo que tinha que fazer at tudo cicatrizar. Usou muito o kuj nas orelhas, gostava de pintar e sempre ter seus cabelos cortados, por ter orgulho de ser um krah.

    Lembra com muita tristeza do episdio do massacre ocorrido com seu povo, fala que umas tro-pas de bandidos atacaram os indgenas e viu seus parentes correndo para todo lado desesperados. Disse que seu pai pegou-o pelo brao e o levou a algum lugar, ele nem sabia onde era, seu pai acompanhou seu av Agostinho onde passaram vrios dias escondidos no mato. Chupava cana na roa do av at tudo acalmar. As tropas dos bandidos mataram muitos ndios e foi muito difcil esse acontecimento na vida deles.

    No ano de 1984 j morando na aldeia Manoel Alves Pequeno, sua esposa faleceu. Depois de um tempo casou-se novamente com Iara Curhkwj Krah com a qual teve dois filhos: Rogrio Hi-twp e Erivelton Herw. Fala que foi um bom corredor, bom caador e fez parte da festa do ktuwaj.

    Hoje continua morando aqui na Aldeia Manoel Alves, conselheiro, mas j no consegue tra-balhar devido a sua frgil sade. J tem vrios netos, bisnetos e sempre que pode participa das reunies dando seus sbios conselhos.

    Texto: Leonardo Tupn Krah

    Desenho: Leonardo Tupn Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 33

    O Casamento na Cultura Krah

    No dia 15 de Maro de 2011, tera feira, convidamos o senhor Xorxo para nos contar sobre o casamento na cultura Krah.

    O casamento na cultura Krah acontece da seguinte forma, o rapaz escolhe uma moa, namora durante um tempo, a moa conta para seus pais que est namorando um rapaz. Ento, a famlia se rene e vai casa dos pais do rapaz para avisar sobre o namoro deles. As duas famlias decidem fazer o casa-mento de seus filhos e marcam a data do casamento.

    Quando chega o dia do casamento, bem cedo, as mulheres preparam a massa de mandioca. Da os pais dos noivos se preparam para fazer o paparuto. Pintam a noiva e pem uma esteira nova para ela sentar. Eles pem no moqum os dois paparutos, um do noivo e outro da noiva, por volta das dez horas da manh.

    Por volta das desesseis horas do incio cerimnia do casamento, um homem mais velho pega no brao do rapaz e leva para o ptio cantando. Eles cantam um pouco l no ptio e levam o noivo para casa da noiva. Quando o noivo chega perto da noiva, o velho pede para os dois ficarem juntos na esteira. Assim eles deitam juntos, esperando o conselheiro da aldeia, realizar o casamento.

    Ento, o conselheiro chega prximo ao noivo e pergunta:

    - Voc ama a sua noiva?

    - Ele responde: Sim, eu a amo!

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x34

    Depois ele pergunta para a moa:

    - E voc moa ama o seu noivo?

    - Ela responde: sim, eu o amo.Da o conselheiro fala para a comunidade, que eles se amam de verdade. A partir dessa hora, j

    esto casados.A comunidade toda assiste ao casamento. As pessoas que participaram do casamento tiram o

    pararuto do moqum, dividem com todos os presentes e comem. D por encerrado o casamento, as pes-soas voltam para suas prprias casas e esperam outro casamento acontecer.

    Texto: Leonardo Tupn Krah

    Desenho: Marcela Pahnajt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 35

    Rituais e Festas Tradicionais

    Nas aldeias Krah, acontece festa do Prcahc. Essa festa sempre acontece quando morre algum e, aps cinco dias, todos juntam as coisas para o Prcahc. O dono do Prcahc vai separar dois homens para cortar o Prcahc que a tora do morto.nDa, a famlia do morto vai cortar os cabelos de todo mundo. Ao anoitecer, as mulheres e os homens vo cantar at de manh.

    Depois todos se pintam com urucum, tanto as mulheres como os homens, para buscarem o Pr-cahc no mato e trazerem para o ptio. Do ptio, a tora ser levada para a casa do morto. As mulheres e os homens vo chorar, quando pararem de chorar, um homem mais velho vai falar para famlia do morto para no lembrar mais, pois ele est em bom lugar.

    Texto: Jucilene Krah

    Desenho: Mateus Xooco Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x36

    A Origem do Nome Krah

    Quando uma mulher Krah engravida, no o pai e nem a me que escolhe algum para por o nome na criana, mas qualquer pessoa de sua famlia.

    Logo que o beb nasce, o tio que escolhe quem vai por o nome na criana. Ele vai at a casa, onde o beb nasceu para por os nomes. Alguns nomes possuem significado e, outros no. Por isso os nomes das crianas so passados de famlia para famlia.

    Texto: Tiago Krah

    Desenho: Tiago Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 37

    Pikn te Crow Jikt jarn x to intuw ihkhhc ita kam

    Crow Jikt apu ipa, ma apu ipa n cute tn curan. Cute tn curan, m ra t n apu tn n incryc, ihtj m, pa mp te ihtj apu cum:

    - Ipntu hm m atmxw j jax kwhkr! M p incryc tu. N ma apu m ihtmxw j jax caaca n ma t. Hama tapn x n t. N cute apu tn capr to jmn. Pa m Crow jikt jaka n ihkr, ihkr, m ram prm am ihkra camx. M apu hxi m:

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Carmem Lcia Kriri Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x38

    -nxi im peju nhto.

    - Waha ma m n jri amx nh cuucc n to m. Qu m akra m cukr, xm ram m cum prm, n m hat am ihcamx.

    Pa m hxi cum:

    - Qu ta! - Ca m qu jri amcro ap!

    Pea p tapan x n cum harkwa to:

    -Qu ta, xm ram m akra jat. Wa pa m n jri amx nh cuucc qu m cukr.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Sharlen Carhtu krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 39

    Pea m p hxi harkwa kt cum peju to. Pea m p ap p ma htktia n m, hprr to. Pean cute ronti jr hr n m n to j n apu hr r. Pea m p pjcre tahn cato n catut rump hrm m n cute cum harkwa mn to:

    -Hp qutti!

    Pea p tapanxh n cum harkwa cator to:

    - h!

    Pea p pjcre ihcukij to:

    - Ampo to m ca j n apu ap?

    M p cum:

    - Ronti jr wa apu amj m hr r!

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Mrcia Krjar Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x40

    M p ra pjcre tapi catut ri xa, pjcre cahj m p. Pean impjn p ampa m xa. N km tahn apu kmpa n m apu hxi m:

    Crow jikt m j!

    P pjcre cum harkwa mn ne cum:

    Qutti, wa ma n awr m, cakra ikmpa! Ampo p ato han m ra ate hjr n ra m ajaka?

    M p Crow Jikt pjcre m:

    Puhop hapar xwj! Nmh caca m ij n m ipupu! Ampo ita kt ram amji pej pa m ra m ijaka!

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Jos Crertyc Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 41

    Pea m pjcre apu tahn acxa n apu cum:

    Pea n curea apu ihkt hapkop n apu ihcahh cute cum hr jacjn n to impej.

    H xampa qutti! Ijhkra kt rt?

    Pea m hkra kt irt, m m hrp hupre te tn capr to km incryc cat apu m.

    Pea m cute amj km hupre jhkra pupun, pean hupre km incryc crinare.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Matilde Caxkwj Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x42

    Pa m Crow jikt apu pjcre m: - Ha, hapar xwj nmha ra ht p r ate ito hjr. Pa waha n j mn nare. P am pjcre cum: - Qutti, ikampa ajco, ajco m n har kt acuhh to m. N h Ca amjim art to m. N hanan n m n hawn m ax n Capra n ma m. Pjcre apu Crow jikt m han. Pa m Crow jikt j n kampa n apu cum. Ma.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Ahkxt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 43

    Pea m Crow jikt apu pjcre m:

    H, hapar xwj nmh ra ht p r ate ito hjr. Pea waha n j mn nare.

    Pa m pjcre cum:

    Qutti, ikampa ajco, ajco m n har kt acuhh to m! N ha ca amjim art to m! N hanean m n hawn m ax n capr n ma m!

    H pjcre apu Crow jikt m han. Pea m Crow Jikt j n kampa n apu cum:

    Ma!

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Mrio Ahkxt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x44

    h! Waha pa caxy m n ijprr to m!

    Pea m pjcre cum:

    - h! Caha ca amji m g prr to m! Pa m tapan xh n pjcre apu Crow Jikt m:

    - Qutti, caxy apu im ajaparxwj jak! Pjcre intore, wetre j n, p hkre km ihcahpa n ajco km ihcuhh.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Wilson Parkmpen Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 45

    M Crow Jikt te tapn apu cum intore m wetre j khkn. M ma hkre m hr. Pa m apu cum:

    - H xampa haparxwj! Caha ca amji m acaxwj jam. Pea m p pjcre apu cum amjijar.

    - Ma, qutti! Waha ma ra m m!

    Pea p Crow Jikt tapanxhn cum:

    - Ma! Wakra j n ronti jr rn pa n pa xwj ha ma ra m!

    Pea p pjcre ataj cum:

    - Ma, cakra ca amji m art to m!

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Natlia Kratihkwj Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x46

    M ra caprnti m, m cute impn n ma to m n hawn m hr, m ra tn n t m cute ih-curan . Pea n ma to m n hh pur m to cator, n cute mr k caxr n tn km hmr. Pea m pyt m ma to m n to ipj, m hxi apu ihcukij to:

    - Hp, ca ra m?

    Pea p tapan xhn n cum:

    h,wa ra m!

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Raquel Hpekwj Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 47

    Pea m hxi apu cum m ihkra jar.

    - M akra ajakn p am amr, wa n n am cum:

    - H ate m hjr ita kt m m apm ham apu m! Qu kra amcro cup! M pancwr japari jri amcro cup!

    Pea ca ra ht p m!

    P cum:

    -h! Wa ra m!

    Pea n m ihcuna am tn ku. Pa m ra m hupre t.

    Hp ipantu m inxi. P ram ajarkrm pj?

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Jucilene Miix Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x48

    Pea p ihtj tapanxhn cum harkwa cator to:

    h, ra m. Tn pjre m cute ihcuran n to m! Pea n tac ihtj te cum tn jkwa hr. M ma to t. Pea m ihpjaj km incryc. Pa m cute am tn kur to ihhi. Pea m awcapt m hxi to n n cute cum harkwa mn.

    Kr! xmpea nxi! Ikmpa, cakra ate ikat amj xm n, pea caha, corma ip apjn, ikmpa! Pa m hxi cum:

    H! caha x ampo itn im jm n ha corm ikampa! Pea m cute cumn amji kt harn partu. Pea m hxi n n kampa n apu cum:

    Puhop, puhop, hum! Ca amj kampa! Xm apre apu ito ihkanere. Wa aprekw rump wa icryc nare! Xmte aricrea m apre apu ato han, ita kt im icryc kn nare te hjr.

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Jos Messias Ph krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 49

    Pea m Crow jikt n ne kampa ne cum:

    H, r ite apar, wakra pa apu amj kampa. Pea m awcahti n awcahti, pea m apu ihpre caxuw amj to ihhimpej to:

    H! Pa waha n ato hjr nare! Caha amj n icapi, amj cux.Ca n atj to n amj japackre nare n ate hamr ito hjr, ate hmr icuran. Hamr

    Texto: Dodanin Krah

    Desenho: Mariana Carhkwj Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x50

    Texto Sobre Pinturas Corporais

    Existem vrios tipos de pinturas corporais Krah. Existem aquelas que os pais pintam o filho, logo que ele nasce, de acordo com o partido, Wacmj e Catmj, os dois nomes representam os partidos de Vero e Inverno.

    As duas pinturas servem para identificar o grupo a que a pessoa pertence, sendo uma na vertical e outra na horizontal. Assim, quando acontece uma competio de corrida de tora ou de flecha, a pessoa j ser identificada pelas pinturas.

    Isso tambm acontece durante a diviso dos alimentos, que distribudo por partido. Da mesma forma se uma menina se casa e o marido pertence a outro partido, dai a mulher troca de partido e passa a pertencer ao partido de seu marido.

    Os dois partidos se dividem durante as estaes do ano, ou seja, durante o Vero e Inverno. As-sim, na estao de inverno s o partido Catmj governa todas as aes dos Krah. Com isso, o partido Catamj s entrega suas tarefas, quando inicia o Vero.

    Assim, o nome do outro partido s revelado durante a festa principal, ser falado (Catmj) har catej n kj catej.

    Texto: Diana Caxt Krah

    Desenho: Diana Caxt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 51

    Wacmj piihc x

    M ipiihc to m ihcaap ita m m cup wacmj m am ipiihc to han. N ihtj hanane h amj kn japr to am wacmj. Qu ha h amcro km ahtw qu ha m crow n catia jakep, pea qu ha ra pyt ihcahpa qu ha m ihwr m te n m to hapj.

    Amcr km m wacm j itaj ame h amj kn itaj to, n hanane am ap. Qu ha m pur n caprprc, n m ihpc, qu ha capa.

    Pea qu corm m catmj m m icaaca qu ha km m ampo kre.

    Texto: Meiridalva Chhc Krah

    Desenho: Carmem Lcia Kriri Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x52

    Catmj Pihc X

    M ip catmj, wa m ajhc n m to amji cajcr, que ha m ihkw n m ihkra, que ha inqutti cum hapr, catmj km, que h ram ihk, que ha m crow jakp, que ha catmj km apu hhcukren to ipa. Catmj m wacmj km m hapra kt m am ahcukre.

    Catmj um dos partidos Krah. Quando algum vai dar nome para outra pessoa ou para o filho de seu parente, todos vo cortar a tora, o homem ou a mulher iro ajudar a seu partido.

    A pintura do Catmj diferente do partido Wacmej.

    Texto: Keila Krah

    Desenho: Mrio Ahlhxt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 53

    Aldeia Manoel Alves

    h. P jm ita apu awjah, n tn cato n apu cukw. N p ra ihkwn to ira to hjr. Pea, p pj cum ampoc. Pea p xwuhn ma t n crow jak km ihpm, pj nhkm n curia cute hr to pyt to ihcahpa. Pea p ra ajpn ihcajpuw crre hhkeat n apu hopn to ipa n jm ata n cato n apu cum:

    - Jm m ate n itar crow jak ita km j? Pea m cum:

    - h! Wa apu tnkw pea m ito pj ipimpoc wa m ajpn t n itar crow jak ita km ipm n itar j, h ite hajr! Pea m crre j pahhi ata apu cum:

    - Crow h jitwt ita n cax n to ajcatw partu ne tahh wr! Pea m cute harkwa kt ton n ahpar m tahh m n iwrc. Pea m ma crre amji kt to m, to hapj x ata wr, m jm ata ihtj ihkt crow m ronre kur to m.

    M awcapt m crre jipcri ht, pea m ap m hipr ihtj crre kt m , n crre japoj x ita n cute to hhhuc n apu cum:

    - Nmri ajco aprin atm n! Xm itar ampo kn crinare! Rohti hakti itaj. Caha m ijipoc ri t! N cute cumm ita m ajkm r hamu ihprt, p ita wr m xy catia to jm ata t. P jm ata crre cajpuw t, pea p rohti ajco hp n crre pra ataj pro.

    Pea m ma p m jm ata to crre cator n apu jm ata m:

    - Hamr! Atj ajrkwa m m! Waha itar am ipa n jhn caxuw hipr m apupu. Pea m p jm ata ma kr m cator n m cum amj jar. Hamr.

    Texto: Leonardo Tupn Krah

    Desenho: Leonardo Tupn Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x54

    Hhhi Jarn X

    h hhhi ita m prykac jpar to m am hipj. Que ha m cuprr peaj to m han, n caxuw m kraati h hu n m to increcrer, n caxuw m pohh jakep n amcro m m cuti, que ha incr, pea que ha m cuprr peaj to han, n m cum prykc jpr jax.

    M hmre wej m apu m ton to ipa, que n m intu n ihn ton nare. Amj kn cuna n qu jum tuw m ihcakr jahkrepej qu ha apu ihcakr to ipa, que n jm cup ihcupn nare. Qu n pyj n ihn ton nare.

    Qu amji kn n harn cato, que ha ra jm ata amji m ihn to ap, ihcakr caxuw. Qu ha ra to amji m hhhi jipej, n ra ihte hc, n to impej peaj to han, n km ra to ajkm pa.

    Mam m intuw p ajco tn japy m awxt japy to ajco am to hhhi to ipa. Pea n amcro ita km m am prykc jpr to m am hhhi jipj. H hhhi jarn x ita te hajr.

    Texto: Caxkwj Krah

    Desenho: Caxkwj Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 55

    K po jarn x

    h, ihkrri que ha ma jm irom m m n to kp n m n to ihcahte, n ma hap m m n to cato n to ihcate n cupr n to k po jipj. Pea n kpo ita m mm m ihtm p ajco am to. Qu ha jm k po ita n jipj n caxuw ipr m qu ha m ac kwh caakn n m hap m kr m to m n to cato n ihpn par n m to cum k po jacre pa, pean que ha hanan impj cum awjah n ampo cura que ha incwn to hacre pea n to hipj. Pea n m hmre m am k po ita ton to m ipa, n k po ita m pp cahc jarahpre n m am to. Pea n amcr cator km m am pp cahc jarpre ita j amj kn jicu. N k po ita m m ihkre m am to, que ne jm intuwre ihn ton nare.

    Texto: Jos Messias Ph Krah

    Desenho: Jos Messias Ph Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x56

    Biografia de Suzana Xpr Krah

    Suzana Xpr nasceu na aldeia Chpohti, cujo nome Cachoeira, filha de Vicente Hjh e de

    Sinh Awrhwyj Krah, casou-se com Maral Ihax Iep, teve trs filhos, Zacarias Ropk, Rosinha Iep-tyc, Ixen. Ela era a principal cantora da aldeia, cantava em todas as aldeias quando aconteciam as festas. Usava hah para se enfeitar e cantar no meio da multido.

    Foi parteira profissional, tirava at o companheiro da criana recm-nascida quando fica dentro da me. Ela tinha uma amiga que se chamava Hapc. Ela andava com a amiga para pegar os frutos do mato e do cerrado, como buriti, bacaba, oiti, caju, e mangaba.

    Ela era uma mulher trabalhadora, plantava milho, mandioca, batata, inhame, banana, melancia, fazia cofo, pegava gua para cozinhar, beber, pegava lenha e cuidava bem dos netos. No deixava as outras crianas brigarem com seus netos. Ela tinha muito cime dos netos.

    Ela gostava muito de criar os filhotes de pssaros, como periquito e dava comida na boca para alimentar os filhotes.

    Ela foi uma mulher guerreira e batalhadora. Morava na casa do Joci Hre e da Wilma Carn, at seus ltimos dias de vida.

    Texto: Iris Krah

    Desenho: Carmem Lcia Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x 57

    Biografia de ngela Kwmp

    ngela Kwmp nasceu na aldeia Galheiro Velho, seu esposo se chamava, Francisco Hikyh-tyc Canela, e seus filhos so Maria Jos Ickwy, Berenice Ahtyckwy, Maria das Graas Krajn, An-tnia Joxen, Fernando Ihhcto e Pyque, que nasceu deficiente, morreu com dois anos, em Goinia e trouxeram o corpo para aldeia, de avio. Seu pai Secundo Iehncuw Krah, sua me era Xerente e seu nome era Mkrt.

    Quando era criana, sua me morreu, porque foi mordida de cobra. Ela foi criada por sua tia Ktj Krah, que a alimentava de sopa de batata doce e de massa de macaxeira.

    Seus melhores amigos eram Iehtyc, Tereza Pyrhkwj, Iara Curhkwj, Rosinha Ieptyc. Seus nomes indgenas so: Kwmp, Impxi, Cypu. Ela pertence ao partido do Vero Wacmj.

    Ela gostava de fazer os seguintes artesanatos tapiti, cofo, balaio, trana do cofo e peneira e ven-dia para sustentar seus filhos. No podia ficar parada por um dia, no importava o dia, se era sbado ou domingo. Inclusive fazia trabalho dos homens como pescaria, brocar roa e capinar, mas adorava colher frutos, tais como bacaba, buriti, cajuzinho, pequi e jatob.

    Ela era cantora das aldeias. Todas as festas sempre so feitas na comunidade. Por vrias vezes, foi escolhida como rainha das festas principais.

    Mas diante de tudo isso, que essa mulher representou para a sociedade Krah, contam que ela morreu assassinada na beira do rio Manoel Alves Pequeno.

    Texto: Edileuza Pyt kw Krah

    Desenho: Marcela Panajt Krah

  • Histria Krah - M pa inqutj kt harn x58

    Biografia de Jacinto Kx Krah

    Jacinto Kx Krah, nasceu na aldeia Cachoeiro. Casado com Antnia Pr Krah teve os seguintes filhos: Ablio Souza, Chcowe Krah e Jos Hhhy Krah.

    Jacinto faleceu no ano de 1940