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Tiragem: 8585 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Regional Pág: 4 Cores: Preto e Branco Área: 8,84 x 16,19 cm² Corte: 1 de 4 ID: 62255855 12-12-2015 JORNALISMO Acerimónia de entrega do Prémio de Jorna- lismo Adriano Lucas realiza-se hoje, às 16h00, na Casa da Es- crita, em Coimbra, numa ceri- mónia aberta ao público. Carina Leal é a vencedora deste ano, com a reportagem “Filipe Lopes; o jovem que se fez agricultor”, que publicamos na páginas seguintes. Além do trabalho vencedor - a que cor- responde um prémio monetá- rio de 1.500 euros - o júri en- tendeu atribuir duas menções honrosas. Uma ao trabalho “Cochofel: aristocrata e poeta das causas dos simples”, da au- toria de Vitalino José Santos, e outra à reportagem “Portugal tem mais encanto na hora da despedida?”, redigida por Marta Carvalho Costa. O júri foi constituído por ele- mentos da Câmara Municipal, da Universidade e do Diário de Coimbra, a que se juntaram dois convidados: o antigo reitor da Universidade de Coimbra, Rui de Alarcão, e o jornalista Jorge Castilho. Carina Leal - que já trabalhou no Diário de Coimbra - tem 32 anos, é licenciada em Ciências da Educação na Universidade de Coimbra e actualmente free- lancer a colaborar, em Lisboa, com o “Media Lab” do Diário de Notícias. «O Filipe é um exemplo de que, fazendo o de- vido estudo de mercado, se pode investir na terra em que se cresceu. A agricultura não nos é estranha. Crescemos cada qual na sua aldeia, em que as famílias produzem para consu- mir em casa. Escolhi contar a história do Filipe por acreditar que o seu exemplo pode servir de motivação para muitos que, tal como ele o fez, procuram um caminho», explica Carina Leal, sobre a sua reportagem. Este galardão foi instituído pela autarquia, em parceria com a Universidade e o Diário de Coimbra, em homenagem a Adriano Lucas, director in me- moriam do Diário de Coimbra. | Prémio Adriano Lucas é entregue hoje à tarde Carina Leal

Prémio Adriano Lucas é entregue hoje à tarde

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Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 4

Cores: Preto e Branco

Área: 8,84 x 16,19 cm²

Corte: 1 de 4ID: 62255855 12-12-2015

JORNALISMO A cerimónia deentrega do Prémio de Jorna-lismo Adriano Lucas realiza-sehoje, às 16h00, na Casa da Es-crita, em Coimbra, numa ceri-mónia aberta ao público.

Carina Leal é a vencedoradeste ano, com a reportagem“Filipe Lopes; o jovem que sefez agricultor”, que publicamosna páginas seguintes. Além dotrabalho vencedor - a que cor-responde um prémio monetá-rio de 1.500 euros - o júri en-tendeu atribuir duas mençõeshonrosas. Uma ao trabalho“Cochofel: aristocrata e poetadas causas dos simples”, da au-toria de Vitalino José Santos, eoutra à reportagem “Portugaltem mais encanto na hora dadespedida?”, redigida por MartaCarvalho Costa.

O júri foi constituído por ele-mentos da Câmara Municipal,da Universidade e do Diário deCoimbra, a que se juntaramdois convidados: o antigo reitorda Universidade de Coimbra,Rui de Alarcão, e o jornalistaJorge Castilho.

Carina Leal - que já trabalhouno Diário de Coimbra - tem 32anos, é licenciada em Ciênciasda Educação na Universidadede Coimbra e actualmente free-

lancer a colaborar, em Lisboa,com o “Media Lab” do Diáriode Notícias. «O Filipe é umexemplo de que, fazendo o de-vido estudo de mercado, sepode investir na terra em quese cresceu. A agricultura nãonos é estranha. Crescemos cadaqual na sua aldeia, em que asfamílias produzem para consu-mir em casa. Escolhi contar ahistória do Filipe por acreditarque o seu exemplo pode servirde motivação para muitos que,tal como ele o fez, procuramum caminho», explica CarinaLeal, sobre a sua reportagem.

Este galardão foi instituídopela autarquia, em parceriacom a Universidade e o Diáriode Coimbra, em homenagem aAdriano Lucas, director in me-moriam do Diário de Coimbra.|

Prémio Adriano Lucasé entregue hoje à tarde

Carina Leal

Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 4

Cores: Cor

Área: 26,20 x 32,47 cm²

Corte: 2 de 4ID: 62255855 12-12-2015

PRÉMIO DE JORNALISMO ADRIANO LUCAS reportagem vencedora

Carina Leal

D epois de cinco anos aestudar na Universi-dade do Algarve, Fi-lipe Lopes decidiuque chegara a hora

de regressar a casa para, segundo diz,«pensar no futuro». Apesar de lhe fal-tar apenas uma cadeira para termi-nar a licenciatura em Economia, sen-tiu que era momento de «organizara vida». O curso é para terminar, ga-rante. Mas, não tem de ser já. Agora,a prioridade é outra: a produção demorangos.

A aldeia Assanha da Paz, no con-celho de Pombal, viu-o nascer e cres-cer. Foi aí que, em tempos idos, so-nhou com um emprego num banco.Esse sonho levou-o até ao sul do país,onde frequentou o ensino superior.Mas, a vida dá voltas. Aos 29 anos,Filipe, é um claro exemplo disso.

Em 2013, ao regressar a casa per-guntou-se muitas vezes: «o que voufazer agora?». Ainda se candidatou aalgumas ofertas de emprego, mas«foi difícil», assegura. Assustou-secom o cenário de desemprego vividono país, pelo que chegou a consideraremigrar. «Essa hipótese foi colocadaem cima da mesa», conta. «Tenteiperceber porque saíram tantas pes-soas do país». Concluiu, rapidamente,que não era uma opção para si. Ser-lhe-ia «difícil». Porquê? «Não conse-guia ir, é a minha casa, a minha famí-lia. Tenho dois sobrinhos, como es-taria tanto tempo sem poder vê-los?».Filipe poderia ter sido um dos maisde 50 mil portugueses que, de acordocom dados divulgados pelo InstitutoNacional de Estatística (INE), emigra-ram em 2013. Não o foi, contudo.

Filipe tem dois irmãos: Luís e AnaRita. O pai, José Lopes, foi procu-rando soluções e eis que ouviu falarno Programa de DesenvolvimentoRural (PRODER) (ver caixa). «Isto po-dia ser interessante para vocês»,disse-lhes um dia. Filipe, que sempreachou que a agricultura não era paraele, analisou o programa promovidopela União Europeia (UE) «de formamais séria», conta. «A agricultura era-me totalmente desconhecida. Não

percebia nada. Para mim, era sinó-nimo de trabalho duro. Nunca a vicomo profissão, porque achava quenão tinha retorno». Conhecia a agri-cultura de subsistência própria dazona em que reside e que pensavaexigir «demasiado trabalho parameia dúzia de batatas».

Ao ler sobre o PRODER, encontrouuma vertente que não conhecia. «Co-mecei a olhar para isto numa alturade crise, percebi que não se trata da“descoberta do ouro”. Mas, as pes-soas têm uma vida tranquila, apesarde mais ocupada». Esta tranquilidadedespertou-lhe o interesse e levou-oa questionar-se sobre qual seria o seuproduto. Caracol? Mirtilo? Kiwi? Vi-sitou agricultores, sobretudo mais ve-lhos, pois acredita que «é neles queestá o conhecimento». E eles deram--lhe «bons conselhos: por onde se-guir, com quem falar…».

Foi assim que conheceu a hidro-ponia, «uma técnica nova e muito in-teressante» que lhe permitia “fugir” àagricultura tradicional. Decidiu entãoavançar, desenhar o projecto e sub-metê-lo ao PRODER, apesar dasmuitas vozes que ditavam o encer-

ramento do programa. «Tive de reu-nir facturas e orçamentos. Fui tercom um engenheiro». Arranjou en-tretanto um terreno com um hectare.Desenvolveu um plano de negócios,com a ajuda de uma empresa quali-ficada, «pois eram processos alta-mente burocráticos, cujos meandrosainda não dominava». Os ensina-mentos que trouxe do Algarve fo-ram-lhe importantes, uma vez quelhe permitiram perceber a linguagemutilizada.

Filipe viveu a ansiedade própria dequem vê nascer a ideia. Teve dias fe-lizes e de euforia. Também os tevemais cinzentos, como aquele em quese deparou com a impossibilidade deestabelecer o projecto no terreno ini-cialmente previsto: «quando estavapara aprovação, foi-me pedido umparecer da Reserva Ecológica Nacio-nal (REN). Enquanto a Reserva Agrí-cola Nacional (RAN) deu parecer po-sitivo, a outra já não. O terreno coin-cidia com uma zona de cheias».

Nem por isso baixou os braços. Po-dia tê-lo feito. «Pus-me novamenteem campo», à procura de terreno.Movia-o o desejo de criar um negócio

de família, pelo que o factor proxi-midade era muito importante. Teveduas propostas: uma feita pela Juntade Freguesia de Almagreira, outrapela Junta de Freguesia de Vila Cã.Optou por Almagreira que, por sinal,faz parte da sua história. «Lancei-mede cabeça», partilha.

Encontrou na Holanda «muito co-nhecimento técnico em hidroponia»,diz. Estabeleceu contactos, os holan-deses visitaram Almagreira e ele vi-sitou-os. «Fechei negócio com umsistema de cultivo um pouco dife-rente, mas que é mais fácil para co-meçar» (ver caixa). Está convencidode que foi a aposta certa, os resulta-dos acima do esperado provam-no.«Essa viagem foi o ponto de viragemna minha confiança. Senti-me maiscapaz de levar o projecto avante»,afirma.

Com o “sim” dado pelo PRODER,começou a investir. Tinha um anopara fazer o investimento e, sempre,com o devido acompanhamento daUE. A vistoria final aconteceu emAgosto e deu-se, assim, por fechadoo projecto. «Agora, acompanham-medurante cinco anos para garantir que

Empreendedorismo Aos 29 anos, jovem pombalense é responsável por um hectare de terreno, no qualse produzem morangos

Filipe Lopes: o jovem que se fez

Semi-hidroponia:técnica que procuracombater as pragas

Filipe Lopes utiliza o sistema decultivo designado semi-hidro-ponia. A raiz da planta está numlocal húmido, com temperaturaestável e sem depósito de água.A planta é, então, colocada emsacos de substrato. A rega é con-trolada e daí advêm os nutrien-tes que a planta recebe. Os sacosestão apoiados em calhas colo-cadas a 1,2 metros de altura. Deacordo com Filipe Lopes, estemétodo visa tornar a culturamenos susceptível a pragas. |

Filipe Lopes, um almagreirense que investiu num sistema de cultivo proveniente da Holanda

Filipe consideravaque a agricultura"não tinha retorno".Mas, analisou-ae encontrou nelao seu caminho

FOTOS: PEDRO RAMOS

Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 5

Cores: Cor

Área: 26,05 x 23,08 cm²

Corte: 3 de 4ID: 62255855 12-12-2015

reportagem vencedora PRÉMIO DE JORNALISMO ADRIANO LUCAS

tudo bate certo com o plano de ne-gócios». Caso haja algum problema,nos cinco anos que se seguem, o di-nheiro tem de ser devolvido. Filipeconcorda que assim seja, «durantemuito tempo houve ajudas semgrande controlo e o dinheiro nuncafoi para o sítio certo».

Apesar de ter definido com o paique, quando o projecto fosse fe-chado, comemorariam de algummodo, esse dia acabou por passar«completamente ao lado». O trabalhoé muito, garante.

Começou por pisar terreno desco-nhecido. A vontade “de ferro” fê-lodominar o assunto. Hoje fala de mo-rangos como se a lição lhe tivessesido ensinada desde cedo. Já não temquaisquer receios no contacto, porexemplo, com fornecedores. Sabe oque quer e uma coisa é certa: «pro-curo sempre trabalhar com pessoasde perto e com pessoas sérias, queme dêem confiança». Se o sistema decultivo veio da Holanda, a estufa porexemplo adquiriu-a em Ansião e arega em Torres Vedras. Escolheu aplanta em Espanha, quer cultivar doistipos de morangos: um que seja ape-lativo e outro mais doce.

Aos 29 anos, sente o peso da res-ponsabilidade. Está a investir na suaterra. Precisou de envolver outraspessoas nos trabalhos, pois, segundoexplica, «as plantas necessitam decuidados permanentes de limpeza».E a verdade é que o seu um hectarede terreno tem capacidade para 90mil plantas. «Sinto que tenho de cum-prir a responsabilidade que assumopara com a pessoa que me ajuda, porexemplo, na plantação ou a quemadjudico um trabalho. Não posso fa-lhar pagamentos, porque todos te-mos família». Filipe faz com que o

nome “Almagreira” atravesse, hoje,fronteiras. Já escreveram sobre o seuprojecto, por exemplo, num jornalholandês.

Ao longo de toda a conversa, Filipefala sempre no pai, José Lopes. «Foiele que lançou a primeira pedra. Pelapessoa que é, sempre me soube levarpelo caminho certo.» Diz que têm o

feitio parecido e que este negócio fazcom que passem mais tempo juntos.«Não concordamos em tudo. Por termais experiência de vida, tenho difi-culdades em decidir sem, pelo me-nos, sentir que ele sabe». A aprovaçãodo pai é-lhe importante, «pelo res-peito e pela admiração». Nas palavrase no olhar de Filipe há um agradeci-

mento tão explícito: «tenho perfeitanoção de que sem ele não conseguiao que tenho».

Se em 2013 sentiu “na pele” a ditacrise, em 2015 percebeu que é possí-vel fazer outras escolhas que nãopassem obrigatoriamente pela emi-gração. Contrariou a tendência. Acre-ditou em Portugal e na agricultura.Aceitou o desafio da União Europeia.Apostou na sua terra, na sua família,em si. Acredita que a agricultura, nopaís, «está aquém da sua potenciali-dade». Sabe que, contudo, até “estána moda” tornar-se agricultor. Mas,há algo que considera essencial: aformação, o “querer saber sobre”,condições que define como neces-sárias ao desenvolvimento de pro-jectos bons e sustentáveis.

Filipe não esconde que há dias di-fíceis. «Tive de trabalhar arduamente,de ter muita força de vontade». Tevede ler muito, pesquisar bastante paraencontrar um caminho que quis quefosse o seu. «Penso que há jovensque poderiam olhar para a agricul-tura, antes de considerar outras op-ções». Deixa dois conselhos: «nãodesistir»; «fazer uma seleção rigorosadas empresas com quem se vai tra-balhar».

Se um dia quis vestir fato e gravata,hoje Filipe veste roupa própria dequem está preparado para “trabalhara terra”. Não o faz da mesma formaque o fizeram os avós e, até mesmo,os pais. Associou-lhe a inovação pró-pria dos tempos. Há dias em que selevanta muito cedo, em que enfrentao calor e, a partir de agora, os diasfrios e chuvosos no interior da estufaonde, diariamente e ajudado pelospais e trabalhadores que vai contra-tando, produz morango para venderno mercado nacional e internacional.

Filipe é o empreendedor que ousoufazer mais por si, pelos seus e pelasua terra, apesar de todas as dúvidase questões que se colocaram no ca-minho. Filipe é um jovem portuguêsque ousou “ficar cá” e “chutar paracanto” a dita crise. |

agricultor

Terreno tem capacidade para cerca de 90 mil plantas

Segundo informação que constano sítio do PRODER (www.pro-der.pt), trata-se de «um instru-mento estratégico e financeiro deapoio ao desenvolvimento ruraldo continente». Decorreu no pe-ríodo entre 2007-2013, com apro-vação da Comissão Europeia. Co-financiado pelo Fundo EuropeuAgrícola de Desenvolvimento Ru-ral (FEADER), teve como princi-pais objectivos: «aumentar a

competitividade dos setores agrí-cola e florestal»; «promover asustentabilidade dos espaços ru-rais e dos recursos naturais»; «re-vitalizar económica e social-mente as zonas rurais».Filipe viu o seu projecto ser apro-vado no âmbito do subprograma"Instalação de Jovens Agriculto-res", em que o apoio tem por base«um plano empresarial de desen-volvimento e adaptação da ex-

ploração, capaz de gerar impac-tos positivos nos setores e na re-gião onde se insere», explicam noreferido sítio.O PRODER foi substituído peloPrograma de DesenvolvimentoRural para 2014-2020 (PDR2020). Podem ser consultadasmais informações sobre estenovo modelo de apoio ao desen-volvimento de projectos agríco-las em www.pdr-2020.pt. |

PRODER visa desenvolvimento rural

Família foi essencial neste processo

Jovem destacaque é importantetrabalhar compessoas sérias,que transmitamconfiança nosserviços prestados

Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 14,64 x 17,01 cm²

Corte: 4 de 4ID: 62255855 12-12-2015

Filipe Lopes:o jovem que sefez agricultor

Prémio de Jornalismo Adriano Lucas, entregue hoje a Carina Leal, premeiareportagem sobre um jovem que apostou forte na agricultura Páginas 3, 4 e 5

PEDRO RAMOS