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8/12/2019 Prescries Peditricas Em Um Pronto-socorro de Cidade Do Interior de So Paulo
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UNIVERSIDADE DE SOROCABA
PR-REITORIA ACADMICA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FARMACUTICAS
Soraya Ayres Pedroso
PRESCRIES PEDITRICAS EM UM PRONTO-SOCORRO DE
CIDADE DO INTERIOR DE SO PAULO
SOROCABA/SP
2011
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Soraya Ayres Pedroso
PRESCRIES PEDITRICAS EM UM PRONTO-SOCORRO DECIDADE DO INTERIOR DE SO PAULO
Dissertao apresentada Banca Examinadora doPrograma de Ps-Graduao em Cincias
Farmacuticasda Universidade de Sorocaba, comoexigncia parcial para obteno do ttulo de Mestreem Cincias Farmacuticas
Orientadora: Prof Dr Luciane Cruz LopesColaboradora: Prof Dr Maria Ins de Toledo
Sorocaba/SP
2011
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Soraya Ayres Pedroso
PRESCRIES PEDITRICAS EM UM PRONTO-SOCORRO DECIDADE DO INTERIOR DE SO PAULO
Dissertao aprovada como requisito parcial
para obteno do grau de Mestre no Programa
de Ps-Graduao em Cincias Farmacuticas
da Universidade de Sorocaba.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Ass: _______________________________
Pres. Prof. Dr Luciane Cruz Lopes /
Universidade de Sorocaba
Ass:_______________________________
1Exam.: Prof. Dr. Fernando de S Del Fiol /
Universidade de Sorocaba
Ass:_______________________________
2Exam.: Prof Dr Maria Ins de Toledo /Universidade de Braslia
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram naelaborao deste trabalho.
Primeiramente a Deus, que governa nossos caminhos e zela por nossas vidas.
Aos meus pais Joo (in memorian) e Martha, pela pacincia, amor, incentivo eapoio em todos os momentos.
minha tia Eliza, pelo carinho, pacincia e disponibilidade.
minha orientadora, pela sua dedicao, pacincia, disponibilidade e dedicaodurante todo o tempo.
Ao corpo docente e aos colegas do curso de mestrado, pelos ensinamentos eincentivo.
Aos funcionrios e colegas mdicos da URE Peditrica do Conjunto Hospitalarde Sorocaba, pelo apoio indispensvel ao bom andamento do trabalho.
Aos funcionrios da Gerncia de Risco do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, em
nome da enfermeira Ivanilda, pela pacincia e apoio demonstrados.
Agradeo especialmente aos acompanhantes dos pacientes que participaramdesta pesquisa, tornando possvel a sua realizao.
OBRIGADA
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Para realizar grandes conquistas, devemos no
apenas agir, mas tambm sonhar; no apenas planejar, mas
tambm acreditar
(Anatole France)
A menos que modifiquemos a nossa maneira de
pensar, no seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma como nos
acostumamos a ver o mundo
(Albert Einstein)
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RESUMO
Introduo:A prescrio na faixa etria peditrica muitas vezes baseia-se em extrapolaes eadaptaes do uso em adultos, informaes obtidas de raros estudos populacionais econsensos de especialistas. A avaliao da segurana dos medicamentos para crianas no
pode ser extrapolada de dados obtidos em adultos, pois os medicamentos tendem a tertoxicidade distinta nesta populao.Objetivo: Identificar o padro de utilizaode medicamentos em uma unidade regional deemergncia peditrica e relacionar com uso off label, suspeitas de reaes adversas (RAM) eindicaes clnicas sem evidncias.Mtodos: Estudo observacional, transversal, descritivo. A amostra foi composta por 100
pacientes atendidos entre 0 e 12 anos, admitidos por um perodo mnimo de 4 horas de
permanncia na Unidade Regional de Emergncia (URE) de Pediatria do Conjunto Hospitalarde Sorocaba. O cuidador responsvel pelo paciente foi entrevistado com o auxlio deinstrumento semi-estruturado para verificao de dados sociodemogrficos, antecedentesfamiliares e possveis fatores de risco para RAM. Os pronturios e as prescries mdicasforam examinados durante a coleta de dados. O algoritmo de Naranjo et al. (1981) foiutilizado para estabelecer o nexo causal entre o frmaco e a suspeita de RAM. A anliseestatstica dos dados obtidos foi realizada atravs do programa Graph Pad In Stat, verso 3.0
para Windows.Resultados:A maioria dos pacientes tinha mais de dois diagnsticos (56%). Cinquenta e oito
por cento dos pacientes permaneceram por mais de 24 horas em observao no setor; destes60% necessitaram de internao e 44% haviam sido submetidos a alguma internaoanteriormente. Foram prescritos 744 medicamentos aos pacientes, o que corresponde a 82frmacos, distribudos em 35 classes teraputicas. Cerca de 93% utilizaram quatro ou maismedicamentos aps a admisso na URE. Houve prevalncia dos medicamentos com aosobre o sangue e rgos hematopoiticos e daqueles que atuam sobre o sistema nervoso(85%); antiinfecciosos para uso sistmico (58%) e finalmente os que atuam sobre o sistemadigestrio (27%). Em relao ao uso racional dos medicamentos, verificou-se que o usoapropriado do medicamento variou entre 0 (cloridrato de cetamina, citrato de fentanila,
cloridrato de metoclopramida e cloridrato de tramadol) e 100% (cloridrato de cefepima). Asvariveis com prevalncia de uso no racional foram dose e frequncia. As suspeitas de RAMocorreram em trs pacientes, envolvendo o sistema dermatolgico. Setenta e dois por centodos pacientes receberam de 5 a 16 medicamentos injetveis, no pertencentes classe dosanti-infecciosos. Verifica-se que houve uso de medicamentos para indicaes (n=89, 33,2%),doses (n=129, 48%) e frequncia (n=145, 54%) no aprovadas pela Anvisa (off label) nas
prescries peditricas na URE, CHS Sorocaba. Doze medicamentos dos quinze estudadostiveram uso off labelquanto indicao em mais de 20% das prescries. Do grupo dos anti-infecciosos, (oito frmacos) trs foram prescritos para indicaes no aprovadas em mais de30% das prescries (cloridrato de vancomicina - 33%; claritromicina 100% e ceftriaxona
sdica 85%). Os prescritores modificaram o uso registrado na Anvisa quanto a indicao
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clnica, dose e frequncia de utilizao da maioria dos medicamentos, caracterizando assim ouso off label, que foi estatisticamente significativo entre os grupos (p
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ABSTRACT
Introduction: The prescription in the pediatric age group often based on extrapolations andadaptations of adults, information obtained from rare population studies and consensus of
experts. The assessment of the safety of medicines for children cannot be extrapolated fromdata obtained in adults, as medications tend to have distinct toxicity in this population.
Objectives:Identify the pattern of use of medicinal products in a regional pediatricemergency unit and relate with use off label, suspected adverse reactions (RAM) and clinicalindications without evidence.
Methods:Observational Study, prospective descriptive, transversal. The sample wascomprised of 100 patients served between 0 and 12 years, allowed for a minimum period ofresidence in the 4:0 Regional Emergency Unit (URE) of Pediatrics Hospital set of Sorocaba.
The caregiver responsible patient was interviewed with the aid of a semistructured instrumentfor data verification sociodemographic, family history and possible risk factors for RAM. The
patient records and prescriptions were examined during data collection. The algorithm ofNaranjo et al. (1981) was used to establish the causal link between the drug and the suspicionof RAM. The statistical analysis of data obtained was held through the program Graph Pad InStat, version 3.0 for Windows.
Results: Most patients had more than two diagnoses (56%). Fifty-eight percent of patientsremained for more than 12:0 am on watch in the hospital; of these 60% requiredhospitalization and 44% had undergone some hospitalization earlier. 744 were prescribed
medicines to patients, which is distributed in 35 therapeutic classes. About 93% have four ormore medications after admission into the URE. There was the prevalence of drugs withaction on the blood and organs and of those that Act on the nervous system (85%); anti-infective agents for systemic use (58%) and finally the acting on the digestive system (27%).In relation to the rational use of medicines, it was found that the appropriate use of themedicinal product ranged between 0 (ketamine hydrochloride, fentanila citrate andmetoclopramide hydrochloride tramadol hydrochloride) and 100% (cefepime hydrochloride).Variables with rational not use prevalence were dose and frequency. The suspected RAMoccurred in three patients, involving the skin system. Seventy-two percent of patients received
from 5 to 16 injectable medicines, not belonging to the class of anti-infectious. It turns outthat there was use of medicines for indications (n = 89, 33.2%),doses (n = 129, 48%) andfrequency (n = 145, 54%) are not approved by Anvisa (off label) in pediatric prescriptions inURE, CHS Sorocaba. Twelve of the fifteen studied had use drugs off label regarding theindication in more than 20% of prescriptions. The Group of anti-infective, (eight drugs) threewere prescribed for indications unapproved by more than 30% of the requirements(vancomycin hydrochloride-33%; clarithromycin100% and ceftriaxone sodium- 85%). the
prescribers changed the recorded use. The prescribers registered in Anvisa usage havechanged as the clinical indication, dosage and frequency of use of most drugs, featuring theuse off label, which was statistically significant between the groups (p < 0.0001).
Conclusion: Off label use of drugs was related mainly to age, frequency and doses used, whatmay be showing often the lack of knowledge of prescribers, using untrusted reference sources
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or even the lack of more detailed studies on the use of medicines in children. It was noted thatthe drugs were prescribed improperly in most cases, with errors in relation to dose andfrequency, as well as non-approved indication in age. Some antibiotics for therapeutic reserve,such as vancomycin hydrochloride, were prescribed misrepresent, increasing the occurrenceof adverse effects and inducing bacterial resistance. The standardization of medicines in thehospital, as well as clinical protocols should be developed by a multidisciplinary team, withstrict criteria and defined in evidence-based pipelines. It is necessary to improve theeducational level of future prescribers and emphasize the need for refresher courses for
professionals who are already active.
Keywords: child, off-label use, drug prescriptions, anti-bacterial agents.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfil dos pacientes peditricos (n=100) atendidos pela URE-CHS, Sorocaba,SP, jan.-ago. 2010.........................................................................................48
Tabela 2 Caractersticas sociodemogrficas dos pacientes peditricos atendidos pelaURE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago. 2010..................................................49
Tabela 3 Classes teraputicas mais prescritas aos pacientes atendidos pela URE-CHS,
Sorocaba, SP, jan.-ago. 2010.......................................................................50
Tabela 4 Medicamentos prescritos (n=100) aos pacientes atendidos pela URE-CHS,Sorocaba, SP, jan.-ago.2010.......................................................................................................51
Tabela 5 Medicamentos e respectivas indicaes prescritas aos pacientes peditricos naURE-CHS, aprovao da indicao por faixa etria, nas agncias reguladoras
(Anvisa e FDA) Sorocaba, SP, jan.-ago2010............................................................................................................55
Tabela 6 Frequncia dos medicamentos prescritos aos pacientes peditricos (n=100) naURE-CHS, segundo a aprovao de indicao na agncia reguladora (Anvisa)e contraindicao na faixa etria, Sorocaba, SP, jan.-ago2010...................................................................................................................56
Tabela 7 Frequncia dos frmacos selecionados para estudo quanto a indicao clnicasegundo evidncia cientfica, ausncia de contraindicao absoluta e ausnciade interao medicamentosa grave/contrainicada, prescritos aos pacientesatendidos pela URE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago.2010...........................................................................................................57
Tabela 8 Indicadores do uso racional dos medicamentos mais prescritos aos pacientes
peditricos atendidos da URE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago.2010.................................................................................................................58
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Tabela 9 Uso off label dos medicamentos mais prescritos aos pacientes peditricos daURE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago.
2010................................................................................................................59
Tabela 10 Frequncia do uso da via intravenosa para administrao dos medicamentos aospacientes peditricos atendidos pela URE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago.2010.................................................................................................................60
Tabela 11 Fatores predisponentes para RAM e a relao com a sua ocorrncia nospacientes atendidos pela URE-CHS, Sorocaba, SP, jan.-ago.
2010.................................................................................................................61
Tabela 12 Presena dos medicamentos prescritos aos pacientes peditricos na URE-CHSna lista de medicamentos padronizados no hospital e na Rename 2010,Sorocaba, SP, jan.-ago.2010........................................................................................................62
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LISTA DE ABREVIATURAS
ANVISA: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
ATC:Anatomical Therapeutical Chemical
BNF:British National Formulary
CCIH: Comisso de Controle de Infeco Hospitalar
CEME: Central de Medicamentos
CEP-UNISO: Comit de tica em Pesquisa da Universidade de Sorocaba
CHS: Conjunto Hospitalar de Sorocaba
COEP-CHS: Comisso de tica em Pesquisa do CHS
DDD: Dose Diria Definida
DRS: Diviso Regional de Sade
DURG:Drug Utilization Research Group
EBHGA: Estreptococo beta-hemoltico do grupo A
ECC: Ensaio clnico controlado
EEG: Eletroencefalograma
EMEA: European Medicines Agency
EUA: Estados Unidos da Amrica
FDA:Food and Drug Administration
FDMA:Food and Drug Administration ModernizationAct
FI: Folheto Informativo
IRA: Infeco Respiratria Aguda
N-RAM: No-RAM
NMD:Norwegian Medicinal Depot
OMA: Otite Media AgudaOME: Otite Media com efuso
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PA: Pronto - Atendimento
PBM:Pharmacy Benefits Management
PEG:Paediatric Expert Group
PUC-SP: Pontifcia Universidade Catlica de Sorocaba - So Paulo
PUMA: The Paediatric Use Marketing Authorisation
RAM: Reao Adversa aos Medicamentos
RCM: Resumo das Caractersticas do Medicamento
RENAME: Relao Nacional de medicamentos Essenciais
SUS: Sistema nico de Sade
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS: Unidade Bsica de Sade
URE: Unidade Regional de Emergncia
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
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SUMRIO
1 INTRODUO...............................................................................................................16
2 REVISO DA LITERATURA.......................................................................................182.1 Histria dos estudos de utilizao de medicamentos.................................................182.1.1 O uso de medicamentos em pediatria..........................................................................232.1.2 O uso de antimicrobianos em pediatria.......................................................................272.2 Reao adversa aos medicamentos.................................................................................33
2.3 Farmacovigilncia no Brasil...........................................................................................38
3 OBJETIVO........................................................................................................................413.1 Geral.................................................................................................................................413.2 Especficos........................................................................................................................41
4 CASUSTICA E MTODO............................................................................................424.1 Tipos de estudo...............................................................................................................42
4.2 Local e estrutura de funcionamento................................................................................424.3 A equipe de atendimento.................................................................................................434.4 Populao e Amostra.......................................................................................................434.4.1 Critrios de incluso.....................................................................................................434.4.2 Critrio de excluso......................................................................................................434.5 Aspectos ticos e perodo de realizao da pesquisa.......................................................434.6 O instrumento da pesquisa e as variveis do estudo........................................................444.7 Procedimento para a coleta dos dados.............................................................................444.8 Anlise dos dados............................................................................................................444.8.1 Classificao das reaes adversas aos medicamentos................................................454.8.2 Anlise estatstica.........................................................................................................46
5 RESULTADOS.................................................................................................................475.1 Caracterizao do perfil dos pacientes peditricos..........................................................495.2 Caracterizao da utilizao de medicamentos...............................................................495.3 Caracterizao das suspeitas de RAM.............................................................................605.3.1 Fatores de risco para RAM...........................................................................................60
6 DISCUSSO......................................................................................................................636.1 Uso racional, uso off labelde medicamentos e a padronizao de medicamentos na URE-
CHS......................................................................................................................70
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7 CONSIDERAES FINAIS...........................................................................................75
REFERNCIAS...................................................................................................................77
APNDICE A-Instrumento da pesquisa......................................................................................98
APNDICE B-Frequncia dos diagnsticos dos pacientes peditricos atendidos pela URE-CHS,Sorocaba, SP, jan.-ago.
2010.................................................................................................................................................102
APNDICE C -Medicamentos prescritos aos pacientes peditricos (n=100) atendidos pela URE-CHS, Sorocaba, SP, jan - ago.2010.................................................................................................................................................109
ANEXO A- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)............................................111
ANEXO B-Autorizao do Comit de tica em Pesquisa (CEP-UNISO)...........................................................................................................................................114
ANEXO C-Algoritmo de Naranjo(modificado)........................................................................................................................117
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1 INTRODUO
A prescrio mdica consiste em uma ferramenta essencial para a teraputica epara o uso racional de medicamentos, pois deve conter as informaes necessrias sobre o
medicamento: a dose, a frequncia e a durao do tratamento adequados para as doenas dos
pacientes. um importante fator para a qualidade e a quantidade do consumo de
medicamentos, embora o ato de prescrever sofra influncias do conhecimento do prescritor,
das expectativas do paciente e do assdio da indstria farmacutica (FARIAS et al., 2007).
A prescrio mdica incorreta pode acarretar gastos de 50 a 70% mais elevados
dos recursos governamentais destinados a medicamentos (LE GRAND et al., 1999).Uma boa prescrio ou um tratamento bem escolhido deve conter o mnimo de
medicamentos possvel e estes devem ter o menor potencial de provocar reaes adversas,
inexistncia de contraindicaes, ao rpida, forma farmacutica adequada para a faixa etria
do paciente, posologia simples e por um curto espao de tempo (GIROTTO; SILVA, 2006).
A utilizao irracional dos medicamentos acarreta no s perdas de ordem
econmica para o governo e o indivduo, como tambm pode produzir danos no contexto
sanitrio, atravs do aumento das reaes adversas que podem ser muito graves (PORTELA
et al., 2010).
As crianas constituem uma grande parcela da populao nos pases em
desenvolvimento e so especialmente vulnerveis s doenas e aos efeitos adversos dos
medicamentos devido s diferenas na farmacodinmica e farmacocintica dos mesmos
(GILMAN et al., 1992; SOUMERAI et al., 1990).
Nas crianas, o uso racional de medicamentos deve levar em conta as
especificidades dos subgrupos etrios e as peculiaridades de seu desenvolvimento. Muitos
medicamentos prescritos em pediatria no foram testados em crianas. Uma pesquisa recente
demonstrou que acima de 80% das prescries para crianas em hospitais e na prtica diria no
possuem licena para uso em crianas ou esto sendo utilizados fora de suas indicaes oficiais
(off label) (PANDOLFINI et al. 2005; BOOTS, et al., 2007). Apenas 35% dos medicamentos
comercializados na Europa tm seu uso aprovado em crianas (CECI et al., 2002).
Para muitas classes de frmacos no temos quase nenhuma informao do seu uso
em menores de dois anos (MOORE et al., 2002). Desta forma, a prtica do uso de medicamentos
em crianas baseada principalmente em extrapolaes e adaptaes do uso em adultos,
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informaes obtidas de raros estudos observacionais, consensos de especialistas e ensaios
clnicos nessa populao (BONATI, 1994; SOUMERAI et al., 1990, STEPHENSON, 2006).
A escassez de estudos clnicos envolvendo crianas frequentemente utilizada para
justificar o tratamento emprico neste grupo (SANTOS et al., 2006).
Embora existam razes pelas quais as crianas no possam participar
frequentemente de ensaios clnicos, incluindo consideraes ticas, cientficas e comerciais,
deve-se considerar com cuidado administrar s crianas medicamentos que ainda no foram
estudados adequadamente (CALDWELL et al., 2004).
No Brasil h poucos estudos publicados sobre o uso de frmacos na faixa etria
peditrica, apesar do uso significativo de medicamentos e da grande parte da populao que as
crianas constituem no pas (PANDOLFINI et al, 2005).Em um estudo em que foram avaliadas as prescries de medicamentos no
apropriados para crianas em uma unidade de terapia intensiva peditrica terciria (Hospital
das Clnicas de Porto Alegre), num total de 747 itens de prescrio, houve prevalncia de
10,5% de medicamentos no aprovados e 49,5% de medicamentos no padronizados
(CARVALHO et al., 2003).
Outro estudo avaliou 272 pacientes internados em enfermaria peditrica em
Fortaleza (Cear), dos quais 82,6% receberam pelo menos um medicamento no aprovado ouum medicamento off label e 17% receberam ambos. O uso off label em relao a dose ou a
frequncia dos medicamentos foi o mais prevalente e esteve significativamente associado com a
ocorrncia de reaes adversas (SANTOS et al., 2008).
Em uma investigao a respeito da utilizao de antimicrobianos sistmicos em
crianas e adolescentes em dois hospitais de ensino (Minas Gerais), verificou-se que 97,2% dos
medicamentos analisados foram considerados inadequados para uso em recm-nascidos
prematuros; 82,5% foram inadequados para recm-nascidos a termo e 68,1% para lactentes(GONALVES et al., 2009).
Considerando-se a relevncia do uso racional de medicamentos em pediatria e a
escassez de estudos de utilizao de medicamentos na populao peditrica, principalmente
no Brasil, esta pesquisa se prope a avaliar qualitativamente as prescries para crianas
atendidas na Unidade Regional de Emergncia (URE) Peditrica no Conjunto Hospitalar de
Sorocaba (CHS), no perodo compreendido entre janeiro e agosto de 2010.
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2 REVISO DA LITERATURA
Para elaborao do referencial terico, foram considerados artigos publicados
em ingls, espanhol, francs e portugus, os quais foram obtidos atravs dos descritores:
medicamentos, crianas, prescrio, peditrica, uso racional, uso off label de medicamentos,
reao adversa aos medicamentos, uso parenteral de medicamentos nas bases de dados
cientficas Lilacs, Scielo e Pub Med, sem restrio temporal.
A reviso apresenta-se dividida como se segue: histria dos estudos de utilizao
de medicamentos, uso de medicamentos em pediatria, uso de antimicrobianos em pediatria e
reaes adversas aos medicamentos.
2.1 Histria dos estudos de utilizao de medicamentos
No comeo do sculo XIX a maioria dos medicamentos era de origem natural,
mas de estrutura qumica e natureza desconhecidas (LAPORTE et al., 1989). Aps 1940,
ocorreu a introduo macia de novos frmacos, que trouxeram populao a possibilidade
de cura para enfermidades at ento fatais, sobretudo no campo de doenas infecciosas. Os
avanos na pesquisa de novos frmacos, em conjunto com sua promoo comercial, criaramuma excessiva crena da sociedade em relao ao poder dos medicamentos.
De acordo com Nascimento (2002), a produo de medicamentos em escala
industrial, segundo especificaes tcnicas e legais, fez com que esses produtos alcanassem
papel central na teraputica, deixando de ser um mero recurso teraputico. Sua prescrio
torna-se quase obrigatria nas consultas mdicas, sendo o mdico avaliado pelo paciente por
meio do nmero de formas farmacuticas que prescreve. Como exemplos de motivaes que
contribuem para a utilizao irracional dos medicamentos tm-se a enorme oferta (emquantidade e variedade), a atrao por novidades teraputicas, o poderoso marketing e o
direito, supostamente inalienvel, do mdico em prescrever (CASTRO, 2000).
Um fato que se torna comum a necessidade de informao, sobre o tratamento
e medicamentos, para os pacientes e seus familiares. Essa informao deve ser proveniente de
fontes fidedignas e atualizadas, o que, muitas vezes, no possvel, dependendo-se apenas
dos bulrios e da propaganda. Sendo assim, so necessrios estudos de utilizao de
medicamentos para detectar reaes adversas, ineficcia do tratamento, efeitos colaterais, bem
como a m utilizao dos mesmos, o que possibilitaria a realizao de intervenes adequadas
e oportunas (SOBRAVIME, 2001).
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Nesse contexto surgiram os Centros de Informao de Medicamentos (CIMs), os
quais tm como meta principal a promoo do uso racional dos medicamentos. Esse objetivo
deve ser trabalhado em conjunto com a Comisso de Farmcia e Teraputica (CFT),
importante frum de discusso e divulgao de informaes para os profissionais de sade
(VIDOTTI et al., 2000).
Os efeitos benficos potenciais dos frmacos geralmente so conhecidos durante
sua pesquisa e comercializao. Mesmo na poca da introduo dos primeiros antibiticos, a
possibilidade das reaes adversas j era conhecida. Os dois episdios mais conhecidos de
reaes adversas, que inclusive fomentaram a necessidade de definir, quantificar, estudar e
prevenir os efeitos indesejveis provocados por medicamentos foram o emprego de
dietilenoglicol como solvente de um xarope de sulfanilamida - que ocorreu nos anos trinta eprovocou mais de cem mortese o caso da talidomida seu uso durante a gestao causou
um surto de focomelia, malformao congnita rara, com cerca de 4000 ocorrncias e 498
mortes. Especificamente para a talidomida, uma reviso dos trabalhos experimentais,
anteriores sua comercializao, revelou que foram publicados e mal interpretados dados
toxicolgicos insuficientes e errneos (LENZ, 1989).
A partir desse quadro h uma evoluo da farmacologia clnica, especialmente
da farmacovigilncia. Desde 1950 h o emprego do ensaio clnico controlado (ECC) comopadro no processo de avaliao de um medicamento. A principal limitao do ECC sua
restrio a indivduos ou a grupos de pacientes, os quais podem no ser representativos dos
futuros usurios e acabam recebendo o tratamento em condies diferentes (CASTRO, 2000).
Em 1988, a OMS publicou uma viso do uso de medicamentos, dividindo o
planeta em dois blocos, de acordo com as caractersticas do atendimento populaopases
desenvolvidos e pases em desenvolvimento. Nos pases em desenvolvimento, havia pouca ou
nenhuma organizao quanto ao uso de medicamentos e a polticas que garantissem adisponibilidade dos mesmos (CROZARA, 2001). Um tero da populao mundial no tem
acesso aos medicamentos dito essenciais, enquanto a populao dos pases ricos consome
cerca de 80% dos medicamentos produzidos no mundo (WHO, 1988).
O Brasil e outros pases em desenvolvimento, a partir da dcada de 1970,
tentaram desenvolver programas governamentais que garantissem a disponibilidade ao menos
dos medicamentos mais importantes. No Brasil, em 1970, foi instituda a Central deMedicamentos (CEME). Apesar de muitos dos programas no terem sucesso, os esforos para
garantir os medicamentos essenciais populao geraram o surgimento da RENAME
(Relao de Medicamentos Essenciais) e dos formulrios e guias farmacuticos que
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padronizam os medicamentos utilizados nos hospitais, diminuindo custos e possibilitando
melhor atendimento (CROZARA, 2001).
Entre os anos de 1950 e 1960 ocorreu a chamada exploso farmacolgica
devido aos desenvolvimentos fundamentais em cincias biolgicas, possibilitando uma
melhor compreenso dos mecanismos moleculares, celulares e homeostticos relacionados
com a sade e a doena (LAPORTE et al., 1989) e s conquistas tecnolgicas aps a
Segunda Guerra Mundial.
Entre 1987 e 1988, a indstria farmacutica apresentou um crescimento de 13%,
superando o crescimento mdio da economia mundial, que em geral resumiu-se a 4%. Apesar
desse fato, de acordo com avaliao realizada pela Administrao de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (Food and Drug Administration FDA), relativa a 348novos medicamentos das 25 maiores corporaes farmacuticas americanascomercializados
entre 1981 e 1988 apenas 3% (12 medicamentos) foram considerados como importante
contribuio em relao aos tratamentos existentes (BERMUDEZ et al., 1999).
Em 2003, o mercado brasileiro movimentou cerca de cinco bilhes de dlares,
situando-se entre os 15 pases de maior faturamento no varejo (FEBRAFARMA, 2004). Um
estudo do Instituto IMSHealth, empresa dedicada ao acompanhamento do mercado
farmacutico, estimou crescimento de 5% ao ano das vendas no Brasil, entre 2001 e 2005 ,baseado tanto na melhoria do poder de compra quanto pela contnua oferta de frmacos novos
(NELSON, 2005).
A utilizao irracional de medicamentos no uma prtica apenas brasileira,
mas disseminada em todo o mundo. Algumas informaes da OMS a respeito deste hbito: 25
a 70% dos gastos em sade correspondem a medicamentos nos pases em desenvolvimento,
enquanto menos de 15% so gastos nos pases desenvolvidos; 50 a 70% das consultas geram
prescrio medicamentosa; 50% de todos os medicamentos so prescritos, dispensados ouusados inadequadamente; 75% das prescries com antibiticos so errneas; 2/3 dos
antibiticos so utilizados sem prescrio mdica em muitos pases; cresce constantemente a
resistncia da maioria dos microorganismos causadores de enfermidades infecciosas
prevalentes; 53% de todas as prescries de antibiticos nos Estados Unidos so feitas para
crianas de 0 a 4 anos; os hospitais gastam de 15 a 20% de seus oramentos para lidar com as
complicaes causadas pelo mau uso dos medicamentos (AQUINO, 2008).
Em conformidade com o Guia Para a Boa Prescrio Mdica da Organizao
Mundial da Sade, aps selecionar o tratamento medicamentoso e elaborar a receita, o mdico
deve informar o paciente sobre: os objetivos a curto ou longo prazo do tratamento; como
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quando e por quanto tempo deve tomar o medicamento; seus benefcios e possveis riscos
(interaes medicamentosas, reaes adversas e intoxicaes); procedimentos a seguir se
surgirem alguns efeitos adversos; como armazenar os medicamentos e o que fazer com o
excedente. responsabilidade do farmacutico durante a dispensao: respeitar o direito do
usurio de conhecer o medicamento que est sendo fornecido e de decidir sobre sua sade e
seu bem-estar, informar e auxiliar o paciente sobre o uso adequado do medicamento
(SILVRIO et al., 2010).
De acordo com a Organizao Mundial da Sade, os estudos de utilizao de
medicamentos atendem importantes fins, dependendo da metodologia empregada, como:
descries de padro de uso de medicamentos; constatao de variaes nos padres
teraputicos no curso do tempo; avaliao dos efeitos de medidas educativas, informativas,reguladoras; estimativa do nmero de indivduos expostos a medicamentos; deteco de doses
excessivas, mau uso, doses insuficientes e abuso dos medicamentos; estimativa das
necessidades de medicamentos de uma sociedade, entre outros. Para elaborar esse tipo de
estudo foi necessrio criar mtodos aplicveis internacionalmente. O Norwegian Medicinal
Depot (NMD) desenvolveu um sistema de classificao de medicamentos conhecido como
Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) e uma unidade de medida uniformizada parapossibilitar a comparao estatstica dos dados e interpretao mais ampla dos estudos Definided Daily Dose ou Dose Diria Definida (DDD) (CROZARA, 2001).
A DDD foi adotada pelo Drug Utilization Research Group (DURG) e
recomendada pela OMS, a partir de 1981, para uso em estudos de utilizao de medicamentos
(BRASIL, 1996). Essa unidade difere para cada frmaco e representa a dose mdia diria
suposta do frmaco quando utilizado para sua principal indicao. Sua principal vantagem a
possibilidade de se fazer comparaes entre pases ou atravs do tempo, sem que os resultados
sejam comprometidos por mudanas de preo ou de apresentao. Talvez o maiorinconveniente de sua utilizao seja o fato de que essa medida nem sempre equivale,
necessariamente, dose mdia prescrita, ou mesmo dose mdia ingerida. importante frisar
que a DDD no se trata de uma dose recomendada, mas de uma unidade de medida que
permite comparao entre resultados (CASTRO, 2000).
Os estudos de utilizao incluem aqueles que podem ser realizados dentro de seu
conceito, entre os quais se mencionam: estudos de oferta de medicamentos, estudos
quantitativos de consumo de medicamentos; estudos qualitativos sobre a qualidade da
prescrio; estudos sobre hbitos de prescrio mdica; estudos de cumprimento da prescrio
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mdica; vigilncia orientada a problemas especficos; planejamento; oramento; estudos para
avaliar o impacto de intervenes especficas (CROZARA, 2001).
No Brasil, ainda existem poucos estudos sobre a utilizao de medicamentos,
sendo a maioria estudos quantitativos e apenas alguns adotam o sistema ATC de classificao
de medicamentos e a unidade de medida Dose Diria Definida.
Os primeiros trabalhos realizados na dcada de 80 por Simes e Farache Filho
(1988) e Haak (1989), descrevem o impacto da difuso das especialidades farmacuticas e o
perfil da populao que as utilizavam.
Os estudos publicados nas dcadas seguintes apresentam o perfil de utilizao
dos medicamentos pela populao e grupos de risco como idosos, gestantes e crianas
(BRICKS et al., 1996; WEIDERPASS et al., 1998; MOSEGNI et al. , 1999; MENGUE et al.,2001; TEIXEIRA et al., 2001; FONSECA et al., 2002; CUNHA et al., 2002; CARVALHO et
al. , 2003; COELHO FILHO, 2004; BERTOLDI et al. , 2004; BERQU et al. , 2004), da
automedicao (ARRAIS et al. , 1997; VILARINO et al. ,1998; LOYOLA FILHO et al.,
2002); das prescries de medicamentos realizadas por mdicos e dentistas para populao ou
para grupos especficos (CASTILHO et al., 1999).
Os estudos mais recentes utilizam o Sistema ATC e expressam os resultados em
Dose Diria Definida, em gastos para a instituio e/ ou avaliam o impacto de interveneseducativas (PASSIANOTTO, et al., 1998; CROZARA, 2001; RIBEIRO, 2002; CASTRO et
al. , 2002).
Com a conscientizao de que os estudos de utilizao de medicamentos so
imprescindveis para a deteco, anlise e soluo dos problemas advindos da utilizaoinadequada dos medicamentos, refora-se a tendncia de que cresa o nmero desses estudos
e das instituies que apiem sua realizao, dando-lhes condies de serem realizados com
maior fidedignidade dos dados como prescrio eletrnica, melhoria da qualidade dospronturios, tanto em sua organizao como na melhor descrio da evoluo clnica (MELO,
RIBEIRO; STORPIRTIS, 2006).
Nos Estados Unidos, a partir da dcada de 1990, surgiram empresas de
gerenciamento de medicamentosPharmacy Benefits Management (PBM)que se baseiam
nos estudos de utilizao e na farmacoeconomia para otimizar os gastos com medicamentos.
No Brasil, estas empresas tambm esto sendo implantadas, prestando servios, atualmente,
para rede de drogarias visando ao melhor gerenciamento de estoques. Entretanto, h
perspectivas de aplicao dos Estudos de Utilizao de Medicamentos na gesto pblica de
recursos destinados sade, com nfase no consumo de medicamentos (MELO et al., 2006).
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2.1.1 O uso de medicamentos em pediatria
As crianas apresentam caractersticas farmacocinticas e farmacodinmicas que
se modificam ao longo do seu desenvolvimento, tornando-as especialmente vulnerveis
quanto utilizao de medicamentos (MEINERS et al., 2001; KIMLAND et al. , 2007;
SANTOS et al., 2008).
Desde o nascimento at a idade adulta se produzem vrias modificaes
anatmicas, fisiolgicas e bioqumicas que afetam os processos de absoro, distribuio,
metabolizao e excreo dos frmacos (MALGOR et al., 2000; RAHKMANINA et al.,
2006). A idade uma das principais variveis que influenciaro na metabolizao dos
frmacos e nos subsequentes efeitos no organismo (NOVAK et al., 2007). Diante disso, ascrianas no podem ser consideradas como adultos pequenos, pois reagem de forma diferente
destes (MALGOR et al., 2000; DELL AERA et al., 2007).
Os medicamentos utilizados em adultos so exaustivamente estudados quanto
sua qualidade, segurana e eficcia, por imperativo legal (EMEA, 2002). Curiosamente,
apesar de o atual sistema de investigao e regulao dos medicamentos ter sido inicialmente
desenvolvido em resposta a acidentes farmacolgicos verificados na populao peditrica, a
maioria dos medicamentos utilizados em pediatria no foram estudados em crianas.Nos Estados Unidos da Amrica (EUA), cerca de 50 a 75% dos medicamentos
utilizados em pediatria no foram avaliados adequadamente no grupo etrio em que so
utilizados (ROBERTS et al.,2003).
A utilizao na prtica clnica de medicamentos que no so adequados para
crianas leva a uma situao em que as crianas foram referidas, por alguns autores, como
rfos teraputicos (SHIRKEY, 1968; KUHN, 1998).
Existem inmeras referncias que demonstram a elevada prevalncia dautilizao de medicamentos no apropriados para crianas, tanto em nvel dos cuidados de
sade primrios como a nvel hospitalar (JONG et al., 2001; CONROY et al., 1999).
O termo no apropriado encerra os conceitos de medicamento no aprovado
no autorizado (sem uma Autorizao de Introduo no Mercado- AIM) ou contraindicado
em crianas, e o termo no-padronizado (off label) medicamento prescrito de forma
diferente da preconizada na informao que acompanha o medicamento (JONG et al., 2001;
TURNER et al., 1997; Mc INTYRE et al., 2000; GRAVILOV et al., 2000).
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A utilizao de medicamentos no autorizados ou em regime de off labelest
associada a um risco aumentado de reaes adversas, em relao aos medicamentos
autorizados (TURNER et al., 1999; HOREN et al., 2002).
Considerando-se a questo da extrapolao da dose adulta para a idade
peditrica, fundamental considerar a enorme variao de peso em crianas, desde o
nascimento at os 18 anos, bem como as diferentes propores relativas dos vrios
compartimentos e diferenas no desenvolvimento dos sistemas de metabolizao e excreo
de medicamentos (CHRISTENSEN et al., 1999).
A prtica clnica peditrica (particularmente perante situaes crticas) envolve
decises baseadas na experincia acumulada acerca de doses, segurana e eficcia. Os
mdicos so confrontados com o dilema de prescreverem para crianas, sem informaosuficiente para lhes dar segurana, ou deixar seus doentes sem teraputica potencialmente
eficaz e, por vezes, imprescindvel (DUARTE et al., 2008).
Nos EUA, o processo de desenvolvimento de medicamentos peditricos
dirigido pela combinao da Pediatric Rule (Regra Peditrica) e da Pediatric Exclusivity
Provision (Exclusividade Peditrica). A Pediatric Rule orienta a indstria farmacutica
responsvel pelo desenvolvimento de medicamentos passveis de serem utilizados em
crianas, a estud-los na populao peditrica relevante, de modo a tornar acessvelinformao suficiente e assim permitir uma indicao peditrica. O FDA pode solicitar a
realizao de uma avaliao peditrica nas reas que considerar relevantes e necessrias:
indicao teraputica, dosagem, regime posolgico ou via de administrao, em todas as
subpopulaes peditricas. Caso seja considerado necessrio, pode ser obrigatrio o
desenvolvimento de uma formulao, adaptada populao peditrica alvo. possvel
extrapolar para crianas os resultados relativos eficcia de medicamentos investigados em
adultos, desde que o curso da doena a ser tratada e os efeitos do medicamento sejamsuficientemente semelhantes em adultos e crianas. (Department of Health and Human
Services, 1994).
O mesmo no se aplica avaliao da segurana nos medicamentos para
crianas. A segurana de um medicamento em crianas geralmente no pode ser extrapolada a
partir de dados obtidos em adultos, porque os medicamentos podero ser mais ou menos
txicos nesta populao. Alm disso, a informao precisa das doses nos diferentes grupos
etrios de extrema importncia, devido ao risco de utilizao de doses no adequadas
(subteraputicas ou txicas). Os medicamentos so aprovados em pediatria com base em
ensaios clnicos efetuados em crianas usufruindo de benefcios no perodo de exclusividade
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de mercado da substncia ativa. A Pediatric Exclusivity Provision uma lei segundo a qual a
indstria farmacutica que voluntariamente investigue os seus medicamentos em crianas,
obter uma proteo de patente adicional de seis meses em relao exclusividade de
mercado (FDAModernization Act, 1997).
Este programa de Exclusividade Peditrica foi estendido aos medicamentos no
protegidos por patente e em que no existe interesse da indstria farmacutica em realizar
ensaios em pediatria, com a publicao de legislao Best Pharmaceuticals for Children Act
(BPCA). Esta legislao tem permitido um aumento dos ensaios clnicos em crianas, de
forma a chegar a informaes vlidas que sustentem as indicaes teraputicas em crianas,
combatendo assim o seu uso off label. (Best Pharmaceuticals for Children Act, 2007).
O programa de exclusividade peditrica tem tido repercusses positivas noaumento de ensaios clnicos em crianas. No entanto, a publicao dos resultados decorrentes
destes estudos limitada, conforme se prova pelas concluses de um estudo de coorte
(BENJAMIN et al., 2006): menos de metade dos estudos peditricos submetidos ao FDA
(entre 1998 e 2004) para obteno de Exclusividade Peditrica foram publicados em
revistas cientficas biomdicas com arbitragem ou reviso pelos pares.
Mais recentemente a eficcia destas estratgias regulamentares na estimulao
da investigao em pediatria foi avaliada por uma equipe de investigadores coordenada porIsabel Boots, tendo sido analisados todos os medicamentos com Exclusividade Peditrica,
entre 1998 e 2006 (135 substncias ativas). Os autores concluram que a distribuio dos
medicamentos com exclusividade peditrica por reas teraputicas mimetiza fielmente a
distribuio dos medicamentos no mercado de medicamentos para adultos, e no- conforme
seria esperado- o padro de necessidades reais de medicamentos peditricos. De acordo com
estes resultados, preconizam que a investigao peditrica seja reorientada para as
necessidades das crianas e no determinada por condicionalismos econmicos ou presses demercado (BOOTS et al., 2007).
As iniciativas europeias para melhorar a situao insatisfatria dos
medicamentos para crianas foram iniciadas h quase uma dcada, no que pode ser
considerada a Iniciativa Peditrica Europeia (EMEA, 2007).
Em novembro de 2001, o Comit Farmacutico da Comisso Europeia discutiu a
problemtica dos medicamentos peditricos, levando criao do documento de consulta
Better Medicines for Children proposed regulatory actions in paediatric medicinal
products, publicado pela Comisso Europeia em fevereiro de 2002 (Reflection paper on
Better Medicines for Children, 2002).
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Em 2001, foi criado na EMEA o Paediatric Expert Group (PEG), grupo de
trabalho com o objetivo de emitir opinies cientficas acerca de medicamentos para utilizao
em pediatria, na tentativa de melhorar a situao existente relativa utilizao racional de
medicamentos nesta populao (EMEA, 2004).
Em 2006 foi aprovado o Regulamento Europeu de Medicamentos para Uso
Peditrico (REMUP). Oobjetivo desta legislao melhorar a sade das crianas na Europa,
atravs da garantia que os medicamentos para uso peditrico sejam objeto de investigao de
elevada qualidade, do desenvolvimento e autorizao de medicamentos para uso peditrico, e
da melhoria da informao disponvel relativa utilizao de medicamentos destinados
especificamente s crianas (Regulamento do Parlamento Europeu, 2006).
Um dos incentivos mais promissores deste Regulamento a criao de um novotipo de autorizao, The Paediatric Use Marketing Authorisation (PUMA), associada a um
perodo de dez anos de proteo de dados e comercializao. Esta autorizao destina-se
especificamente a produtos j comercializados e sem proteo de patente ou de certificado
complementar de proteo. Desta forma, a investigao clnica em pediatria dever deixar de
ser uma rea adicional, realizada nas fases finais do desenvolvimento do medicamento, para
se transformar numa parte integrada do desenvolvimento de medicamentos (Regulamento do
Parlamento Europeu, 2006).No final de 2009, 564 ensaios clnicos em crianas idealizados pelas companhias
farmacuticas foram submetidos ao Comit Peditrico da EMEA; 294 foram aprovados e
referem-se s diferentes reas teraputicas. necessrio que os ensaios apresentem benefcios
teraputicos significativos populao peditrica para que sejam aprovados. Para evitar a
repetio desnecessria destes estudos em crianas, existe um acordo de cooperao mtua
entre o FDA e a EMEA, que se comunicam atravs de teleconferncias mensais (ROCCHI et
al., 2010).
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2.1.2 Uso de antimicrobianos em pediatria
Apesar dos progressos nos conhecimentos sobre a etiologia e a fisiopatologia das
doenas e do surgimento de novos medicamentos e vacinas, as infeces respiratrias agudas
persistem como a mais importante causa de morbidade e mortalidade em crianas menores de
cinco anos (BRICKS et al., 1997; GADOMSKI, 1993).
O uso abusivo de antimicrobianos para o tratamento de infeces respiratrias
agudas de etiologia viral bastante comum, tanto em pases desenvolvidos como naqueles em
desenvolvimento. Isto se deve a uma multiplicidade de fatores, dentre os quais merecem
destaque os seguintes: as dificuldades para diferenciar clinicamente infeces de etiologia
viral das bacterianas, a falsa crena de que o uso profiltico de antimicrobianos poderia evitara ocorrncia de complicaes, a presso dos familiares pela prescrio de antimicrobianos, a
falta de controle na venda desses frmacos, o desconhecimento sobre os possveis eventos
adversos associados ao uso inadequado de antimicrobianos, incluindo o impacto sobre o
aumento da resistncia bacteriana (BRICKS et al., 1997; GADOMSKI, 1993; DOWELL et
al., 1998).
Em um estudo realizado na cidade de So Paulo, verificou-se que 68% dos
antimicrobianos prescritos para crianas menores de sete anos com infeces respiratriasagudas eram inadequados; a maioria foi indicada para o tratamento do resfriado comum
(associado ou no a episdios de sibilncia). Nos casos de otites e amidalites, os maiores
problemas encontrados foram o uso de antimicrobianos de amplo espectro e/ou alto custo,
tempo curto de tratamento, erros no intervalo entre as doses ou prescrio de antimicrobianos
ineficazes para a erradicao do estreptococo da faringe (BRICKS et al., 1997).
A prescrio de antimicrobianos para crianas com infeces virais como
tentativa de impedir possveis complicaes bacterianas ineficaz e, alm disso, o usoexcessivo de antimicrobianos e os tratamentos inadequados acarretam uma srie de problemas
para a criana e para a comunidade. As reaes adversas aos antimicrobianos no so raras e,
em alguns casos, podem ser bastante graves; o uso abusivo de antimicrobianos interfere com o
diagnstico de doenas bacterianas potencialmente graves, impedindo o crescimento dos
agentes em culturas, aumenta o custo dos tratamentos mdicos e favorece o crescimento e a
disseminao de cepas bacterianas resistentes aos antibiticos (BRICKS et al., 1999;
DOWELL et al., 1998).
O uso de antimicrobianos (apropriado ou no) contribuiu para o surgimento e a
disseminao da resistncia bacteriana e o uso recente de antimicrobianos ,
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Em uma reviso sistemtica da Cochrane em que foram selecionados 10 ensaios
clnicos controlados e randomizados (2928 crianas) provenientes da Holanda, Estados
Unidos e Austrlia, comparando-se: 1) o tratamento com antimicrobianos ou com placebo e
2)se o tratamento foi iniciado imediatamente ou houve observao clnica por 3 a 7 dias.
Concluiu-se que a otalgia s melhora aps 2 a 7 dias de utilizao de antimicrobianos; no
houve diferenas significativas entre ensaios em que o tratamento foi iniciado imediatamente
aps o diagnstico ou aps 3 a 7 dias de observao; o nico caso de mastoidite ocorreu em
um paciente tratado com antimicrobiano. Vmitos, diarria e rash cutneo foram mais
freqentes nos pacientes que receberam antimicrobianos. Os pacientes em que se recomenda o
tratamento com antimicrobianos so os menores de 2 anos, com OMA bilateral e/ou otorreia
(SANDERS et al., 2011).
2.1.2.2 Tratamento das Faringites Agudas
A maioria das faringites agudas tem etiologia viral; o uso de antimicrobianos
deve ser reservado para os casos em que a infeco causada por bactrias, como o
estreptococo do grupo A (EBHGA). A principal dificuldade em diferenciar as faringites virais
daquelas de etiologia bacteriana est relacionada baixa sensibilidade dos critrios clnicospara o diagnstico etiolgico. Os dados clnicos mais sugestivos de etiologia bacteriana so
incio agudo, mal-estar, dor abdominal, vmitos, presena de exsudato, adenopatia dolorosa,
petquias e edema no palato. So sugestivos de etiologia viral: rinorreia, tosse, rouquido,
conjuntivite e diarreia. Como os sinais e sintomas de faringite estreptoccica so pouco
especficos, preferencialmente, deve-se isolar o EBHGA da orofaringe (BRICKS, 2003).
Na suspeita de infeco por EBHGA, a cultura de orofaringe considerada o
padro-ouro para o diagnstico e, sempre que possvel, deveria ser colhida para evitar o usodesnecessrio de antibiticos. Os testes de deteco rpida para antgenos estreptoccicos so
uma boa alternativa para a cultura, pois so de mais fcil realizao, no prprio consultrio, e
apresentam excelente especificidade (>90%) para o diagnstico de infeco pelo EBH do
grupo A (SCHWARTZ et al., 1998).
Um dos principais motivos para o uso excessivo de antimicrobianos para tratar
amidalite o temor das complicaes supurativas e no supurativas (febre reumtica e
glomerulonefrite), associadas s infeces pelo EBHGA, porm o uso de antimicrobianos
capaz de impedir as complicaes tardias at 9 dias aps o incio do quadro. Para evitar o uso
desnecessrio de antimicrobianos, se no for possvel realizar os testes laboratoriais,
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recomenda-se reavaliar a criana com febre e dor de garganta aps 24 a 48 horas, lembrando
que a amidalite estreptoccica rara em lactentes (BRICKS et al., 1999; DEL MAR et al.,
1997).
A penicilina (penicilina benzatina, penicilina oral ou amoxicilina) permanece
como frmaco de escolha para o tratamento da faringite por estreptococos do grupo A. A
azitromicina e as cefalosporinas tm custo mais elevado e estas ltimas, por seu mais amplo
espectro, exercem maior presso seletiva sobre as bactrias, gerando maiores ndices de
resistncia bacteriana. Em casos de alergia penicilina, pode-se utilizar a eritromicina ou
azitromicina, entretanto, quando se optar pelo uso de azitromicina, recomenda-se administrar
esse antimicrobiano pelo tempo mnimo de cinco dias (BRICKS et al., 1999; SCHWARTZ et
al., 1998).Em uma reviso sistemtica de 25 estudos realizada pela Cochrane, em 11.452
pacientes com faringite aguda que foram tratados com antimicrobianos houve benefcios na
preveno das complicaes no-supurativas (glomerulonefrite aguda e febre reumtica) e das
supurativas (sinusites e otites mdias agudas, em metade e dos casos, respectivamente). A
utilizao dos antimicrobianos reduziu a durao dos sintomas (dor e febre) em dezesseis
horas no total (SPINKS et al., 2011).
2.1.2.3 Tratamento das Rinossinusites
As rinossinusites de origem viral so 20 a 200 vezes mais frequentes do que as
de etiologia bacteriana. Estima-se que a superinfeco bacteriana ocorra em 0,5% a 5% das
infeces respiratrias agudas de etiologia viral, e que a maioria dos quadros evolua para cura
espontnea (O'BRIEN et al., 1998).
Portanto, antes de indicar antimicrobianos para crianas com quadro clnicocompatvel com rinossinusite, deve-se considerar a histria natural das IRAs, que evoluem
com dor de garganta e coriza por trs a seis dias, e os sintomas gerais (febre, mal-estar e
mialgia) por seis a oito dias. At 25% das crianas com infeco respiratria aguda
apresentam tosse e secreo nasal por at 14 dias (BRICKS et al., 1999; O'BRIEN et al.,
1998; ROSENSTEIN et al., 1998).
A indicao de antimicrobianos parece beneficiar poucas crianas com
rinossinusite; a reviso dos resultados de seis estudos incluindo 562 crianas que receberam
antimicrobiano por 10 dias ou placebo revelou que apenas uma em cada oito crianas tratadas
com antimicrobianos apresentou melhora significativa dos sintomas (MORRIS et al., 2002).
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Portanto, recomenda-se a prescrio de antimicrobianos apenas nos casos em que a criana
persiste com tosse e secreo nasal ou retrofarngea por 10 a 14 dias aps o incio da IRA
(BRICKS et al., 1999; O'BRIEN et al., 1998; ROSENSTEIN et al., 1998).
Apesar do surgimento de bactrias produtoras de beta-lactamase, a amoxicilina
persiste como droga de escolha para o tratamento da sinusite, devendo-se manter o tratamento
por 10 a 14 dias em casos de rinossinusopatia no complicada em crianas previamente
saudveis (BRICKS et al., 1999).
A recomendao para terapia inicial em crianas com doena leve, que fizeram
uso de antimicrobianos nas ltimas 4 ou 6 semanas, ou em crianas com doena moderada -
grave, inclui altas doses de amoxicilina - inibidores de beta-lactamase e cefalosporinas de
segunda gerao (axetil cefuroxima, cefprozil e cefaclor). Trimetoprima-sulfametoxazol,azitromicina ou claritromicina so recomendados se o paciente apresenta histrico de reao
alrgica aos betalactmicos (MELLO JR., 2008).
Crianas com quadro de tosse e secreo nasal com durao inferior a 10 dias
raramente requerem antimicrobianos, pois na maioria das vezes o quadro de etiologia viral
e/ou alrgica, e o uso de antimicrobianos no previne as complicaes. Se a criana apresentar
tosse por mais de 10 a 14 dias, deve-se suspeitar de sinusite bacteriana, coqueluche ou
infeco por Mycoplasma pneumoniae e, nestas condies, recomenda-se o uso deantimicrobianos. Se a tosse durar mais de um ms, antes de indicar antimicrobianos,
recomenda-se investigar outras patologias, como pneumonia, aspirao de corpo estranho,
fibrose cstica e tuberculose (BRICKS et al., 1999).
2.1.2.4 Tratamento das Pneumonias Adquiridas na Comunidade (PAC)
A estimativa mundial de incidncia de pneumonia adquirida na comunidade nospases em desenvolvimento, entre crianas menores de 5 anos de idade, de cerca de 151,8
milhes de casos/ ano, dos quais de 11 a 20 milhes necessitam de internao hospitalar
(RUDAN et al., 2004).
Nos pases em desenvolvimento, as pneumonias so mais graves e mais
freqentes do que nos pases desenvolvidos e apresentam maiores taxas de incidncia e
mortalidade, sendo responsveis por 1/5 das mortes em crianas menores de 5 anos de idade
(BRYCE et al., 2005).
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O Brasil, segundo o Boletim da Organizao Mundial da Sade de 2008, est
entre os 15 pases de maior incidncia de pneumonia, com 1,8 milhes de casos/ ano
(RUDAN et al., 2008).
Em um estudo realizado na cidade de Sorocaba (SP), houve prevalncia das
infeces com comprometimento pulmonar em 34,2% dos pacientes na faixa etria 0 a 10
anos. Em relao aos antimicrobianos prescritos para o tratamento destas infeces, houve
predominncia das penicilinas em 60,2% dos casos e das cefalosporinas, em 21,4%; outros
menos utilizados foram as sulfas e os macroldeos em 7,1% e as quinolonas, em 4,1% (FIOL
et al., 2010).
Em reviso do tratamento das crianas e adolescentes com pneumonia
comunitria no Brasil, elaborada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, concluiu-se que ascrianas com idade maior ou igual a 2 meses podem ser tratadas com amoxicilina ou
penicilina procana quando o tratamento for ambulatorial, isto , sem sinais de maior
gravidade como tiragem subcostal, convulses, sonolncia, estridor em repouso, desnutrio
grave, sinais de hipoxemia, doena de base debilitante, complicaes como derrame pleural,
pneumatocele, abscesso pulmonar; problemas sociais ou falha teraputica ambulatorial.
Quando o tratamento for hospitalar, deve-se utilizar penicilina cristalina ou ampicilina para os
casos graves, oxacilina associada a cloranfenicol ou a ceftriaxona sdica para os casos muitograves e ampicilina associada a aminoglicosdeo ou a cefalosporina de 3 gerao para os
bebs de menos de 2 meses. Sempre que houver a suspeita de a etiologia ser C. tracomatis, C.
pneumoniae,M. pneumoniae eB. pertussis deve-se utilizar um macroldeo, preferencialmente
a eritromicina (NASCIMENTO-CARVALHO et al., 2004).
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2.2 Reao adversa aos medicamentos
Os conceitos de reaes adversas aos medicamentos (RAM) so to antigos quanto
a Medicina. Desde Hipcrates (460-370 a. C.) j se dizia que um medicamento tanto podia curar
como causar dano sade. Galeno (131-201 d. C.) fez advertncias quanto aos possveis efeitos
txicos dos medicamentos (ROZENFELD; RANGEL, 1988; DAVIES; FERNER;
GLANVILLE, 1998).
Na dcada de sessenta, considerava-se como reao adversa ou efeito indesejvel
como sendo a piora do estado clnico ou biolgico de um indivduo, que o mdico atribua
tomada de um medicamento em doses habitualmente utilizadas e que demandava uma
teraputica, a diminuio da dose ou ainda a suspenso do medicamento, seno geraria um risco
incomum no caso de tratamento posterior com o mesmo medicamento (DANGOMAU;
EVREUX; JOUGLARD, 1978).
Posteriormente, a OMS definiu reao adversa como aquela que nociva,
involuntria e que ocorre nas doses normalmente usadas em seres humanos para a profilaxia,
diagnstico ou tratamento de doenas ou modificao de funo fisiolgica (WHO, 1972). A
maioria delas leve e no requer o uso de antdotos; um nmero menor de gravidade
moderada, podendo causar ou prolongar a internao hospitalar ou demandar o uso de antdotos;
num nmero ainda menor, a reao grave, pois ameaa a vida ou leva morte (ROZENFELD,
1998).
Essa definio da OMS inclui doses prescritas na prtica clnica e exclui superdosagem
(acidental ou intencional). Ela suficientemente ampla para que sejam includos sinais e
sintomas ocasionados pela exposio aos medicamentos e originados por diferentes
mecanismos. Alguns autores se aprofundaram em diferentes estudos, com intuito de especificar,
precisar e diferenciar, por exemplo, termos como efeitos colaterais, efeitos secundrios e
reao de hipersensibilidade. Habitualmente, estes termos so utilizados como sinnimos. Efeito colateral um efeito indesejvel devido ao farmacolgica principal do
medicamento (por exemplo: os anti-histamnicos utilizados em processos alrgicos causam
sonolncia). J o efeito secundrio um efeito indesejvel no devido ao farmacolgica
principal do medicamento (por exemplo, os antimicrobianos causando alterao da flora
bacteriana intestinal, frequentemente causam diarria) (LAPORTE; CAPELL, 1993; WHO,
1972; SCHENKEL, 1996).
Na reao de hipersensibilidade, a reao alrgica no depende da dose administrada,mas depende de sensibilizao prvia do indivduo por exposio anterior ao medicamento.
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Essas reaes no so explicadas pelas propriedades farmacolgicas do medicamento e esto
relacionadas com as defesas imunolgicas dos indivduos. As reaes alrgicas so de diversos
tipos, algumas de extrema gravidade. De modo geral so imprevisveis, ocorrendo com baixa
frequncia na populao. Alguns medicamentos, como as penicilinas e as sulfonamidas,
apresentam elevada incidncia de reaes alrgicas (LAPORTE; CAPELL, 1993; WHO,
1972; SCHENKEL, 1996).
2.2.1.2 Classificao das reaes adversas
As reaes adversas aos medicamentos podem ser classificadas com base emdiferentes critrios; a classificao mais aceita atualmente foi proposta por Rawlins e Thompson
(DAVIES, 1987), que as agrupa em reaes do tipo A ou previsveis e reaes do tipo B ou
imprevisveis.
As reaes do tipo A so farmacologicamente possveis de prever, so dose-
dependentes, tm altas incidncia e morbidade, baixa mortalidade e podem ser tratadas
ajustando-se a dose. As reaes do tipo B no so farmacologicamente previsveis, no so
dose-dependentes, tm incidncia e morbidade baixas, alta mortalidade e devem ser tratadas
com suspenso do frmaco. As reaes adversas do tipo A (aumentada) ocorrem por causas
farmacuticas; farmacocinticas, ligadas ao modo anormal pelo qual o organismo de alguns
indivduos conduzem os frmacos; farmacodinmicas, determinadas por fatores genticos ou
doenas que alteram a sensibilidade dos rgos-alvo. A bradicardia com os - bloqueadores
adrenrgicos, a hemorragia com os anticoagulantes ou a sonolncia com os benzodiazepnicos
so exemplos deste tipo de reao (ROZENFELD, 1998).
As reaes adversas do tipo B (bizarras) caracterizam-se por alguma diferena
qualitativa no frmaco, no paciente ou em ambos. As reaes do tipo B por causas farmacuticas
ocorrem por: decomposio de constituintes ativos; efeito de aditivos, solubilizantes,
estabilizantes, corantes e excipientes; efeitos de produtos secundrios aos constituintes ativos,
provenientes do processo de fabricao. A tetraciclina, quando armazenada em temperaturas
elevadas, degrada-se, transformando-se numa massa viscosa marrom ; produz uma sndrome do
tipo Fanconi com aminoacidria, glicosria, acetonria, albuminria, piria, elevao do
aminonitrognio plasmtico e fotossensibilidade. O propilenoglicol, usado como solvente em
frmacos injetveis, pode ser parcialmente responsabilizado pela hipotenso que se segue com a
injeo intravenosa de fenitona. As reaes por causas farmacocinticas, isto , anormalidades
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na absoro, na distribuio ou na eliminao so escassas, pois a absoro e a distribuio so
predominantemente processos passivos e anormalidades na eliminao podem surgir quando o
metabolismo de um frmaco origina um metablito novo e raro. Nas causas farmacodinmicas,
fatores como peso, idade, sexo, via e tempo de administrao influenciam a resposta dos rgos-
alvo a um dado frmaco, produzindo diferenas quantitativas nas respostas. A presena de
doena pode resultar em diferenas qualitativas ou quantitativas, sendo que as primeiras podem
ser genticas, imunolgicas, neoplsicas ou teratognicas. Entre as causas genticas, uma das
mais conhecidas a deficincia de glicose -6-fosfato desidrogenase, que resulta em hemlise e
envolve um grande nmero de frmacos, tais como, as aminoquinolonas, as sulfonamidas e as
sulfonas, os nitrofuranos, os analgsicos (incluindo a aspirina) (ROZENFELD, 1998).
Entre as causas imunolgicas esto: as anemias hemolticas induzidas porpenicilina; a anemia hemoltica auto-imune induzida por metildopa; a prpura trombocitopnica
induzida por quinidina; a granulocitopenia induzida por sulfonamida e o lpus eritematoso
sistmico induzido por procainamida ou hidralazina (GOODMAN & GILMANS, 1996). No
que se refere s reaes neoplsicas e teratognicas, preciso considerar que uma resposta
qualitativamente anormal a um frmaco pode ocorrer pela presena de tecido potencialmente
neoplsico ou teratolgico no organismo (DAVIES, 1987).
Os algoritmos ou tabelas de tomada de deciso foram desenvolvidos no intuito deauxiliar no estabelecimento da relao causa-efeito entre a administrao de um frmaco e o
surgimento de um evento clnico adverso. Permitem estabelecer dados de incidncia mais
acurados, facilitam as atividades epidemiolgicas e de monitoramento e a tomada de deciso.
Entre os mais utilizados esto os de Naranjo et al. (1981), de Karch & Lasagna (1977), de Jones
(1982) e de Kramer et al. (1979) (CAMARGO, 2005).
Segundo o Programa de Monitorizao Internacional, as suspeitas de reaes
adversas so analisadas e classificadas quanto causalidade e gravidade, utilizando o mtododa Organizao Mundial da Sade (OMS) (WHO, 2000). De acordo com a OMS, quanto
causalidade, deve ser feita uma anlise para estabelecer uma relao causal entre o medicamento
suspeito e a reao ocorrida no indivduo. Para isso, a fora de associao causal, consistncia
das informaes, aspectos de temporalidade, especificidade, plausibilidade, coerncia e
evidncia experimental so critrios fundamentais para a anlise das reaes. Em relao
gravidade, as reaes so avaliadas de acordo com o risco e dano que podem acarretar ao
indivduo (WHO, 2002).
Alguns fatores que favorecem a ocorrncia de reaes adversas podem estar
relacionados s propriedades do prprio frmaco ou s caractersticas do paciente, tais como
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gnero, idade, algumas enfermidades associadas e a polifarmcia. O fator idade torna os
indivduos acima de 60 anos e os de menos de 13 anos mais suscetveis ocorrncia de RAM
(HEINECK et al., 2004).
No Brasil, um estudo retrospectivo de 96 pronturios mdicos demonstrou
frequncia de 32,1% de alteraes referentes teraputica farmacolgica, do total de
complicaes iatrognicas, em pacientes idosos hospitalizados (CARVALHO-FILHO, et al.,
1998). Pode-se atribuir essa vulnerabilidade dos indivduos idosos s deficincias orgnicas
acumuladas com o passar do tempo, podendo resultar em alteraes farmacocinticas e
farmacodinmicas (KATZUNG, 2005).
Em relao ao gnero, as mulheres so mais suscetveis ao aparecimento de RAM,
independentemente de interaes medicamentosas, polifarmcia e idade, sendo a probabilidadede sua ocorrncia duas vezes maior do que nos homens (WIFFEN et al., 2002). A
predominncia de RAM nas mulheres pode estar associada ao uso de alguns medicamentos,
como anticoncepcionais orais por vrios anos, fenilbutazona, cloranfenicol e bloqueadores
neuromusculares. As variaes relacionadas raa e s caractersticas genticas, como os
padres de metabolizao enzimtica, receptores e transportadores celulares de compostos
qumicos, estariam associadas capacidade de resposta individual de eficcia e de toxicidade a
determinados frmacos. Um exemplo o fenmeno do polimorfismo gentico que produzfentipos de metabolizadores lentos ou rpidos para numerosos medicamentos como a
isoniazida, a hidralazina e a dapsona. Neste caso especfico a acetilao lenta associada a um
maior risco de reaes adversas (HEINECK et al., 2004).
Os indivduos que apresentam doenas e condies clnicas associadas, como
alteraes nas funes hepticas e renais, tambm esto mais sujeitos a RAM. O fgado e os rins
so responsveis pela metabolizao e excreo dos medicamentos, respectivamente. Pode
somar-se a isto a hepatotoxicidade e/ ou nefrotoxicidade dos prprios medicamentos. Os rins somenos afetados pelos efeitos txicos, j que alguns metablitos so excretados de forma inativa
(BISSON, 2003).
As alteraes na conduta teraputica, como nmero de frmacos prescritos e
consumidos (polifarmcia), faz aumentar a ocorrncia de reaes adversas de aproximadamente
10% quando o paciente est tomando apenas um frmaco, para quase 100% quando so
utilizados dez medicamentos (KATZUNG, 2005).
Alguns grupos farmacolgicos so sabidamente responsveis pela ocorrncia de
reaes adversas. conhecida a relao entre as arritmias cardacas e o uso dos digitlicos,
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hipoglicemia em pacientes recebendo insulina e as hemorragias em pacientes utilizando
anticoagulantes (BISSON, 2003).
Devido grande repercusso pblica da tragdia da talidomida, surgiu na Europa
uma legislao para garantir a segurana dos medicamentos (STRM, 2000). O termo
farmacovigilncia pode ser definido como a cincia relativa a deteco, avaliao,
compreenso e preveno dos efeitos adversos ou de quaisquer problemas relacionados a
medicamentos, educando os profissionais de sade para uma avaliao de equilbrio entre o
benefcio e o risco dos frmacos comercializados (WHO, 2002).
O mtodo mais empregado para a coleta de dados sobre a ocorrncia de reaes
adversas em Farmacovigilncia a notificao espontnea, quando profissionais de sade
comunicam s autoridades sanitrias as suspeitas que levantam de que eventos clnicosapresentados pelos pacientes sejam decorrentes do uso de medicamentos. Alternativamente,
pode-se ativamente buscar as informaes em determinadas populaes, como, por exemplo,
populao hospitalizada, ao invs de aguardar que sejam feitas as notificaes espontneas.
Estes dois mtodos servem para sinalizar problemas que podero posteriormente ser abordados
por mtodos epidemiolgicos apropriados, como estudos epidemiolgicos observacionais
(estudos de coorte, de casos controles e transversais), ou mesmo estudos experimentais (ensaios
clnicos). Em muitos pases podem-se obter dados automatizados com informaes sobre osfrmacos e as doenas (EDLAVITCH, 1988).
Frequentemente as reaes adversas a medicamentos so descobertas somente
aps o medicamento ter entrado na fase de comercializao. Neste contexto, o papel do
sistema internacional de monitorizao de medicamentos muito importante. Notificaes
espontneas, chamadas de sinais, surgem em diferentes pases, relatando reaes at ento
desconhecidas ou pouco documentadas. a chamada fase degerao do sinal. Quando esses
relatos iniciais so divulgados, a ateno de outros notificadores despertada, e h umatendncia a aumentar o nmero de relatos, ocorrendo o que se chama fortalecimento do sinal.
Neste momento, estudos laboratoriais e clnicos podem ser iniciados para esclarecer o
mecanismo da reao, e estudos epidemiolgicos podem descrever populaes sob risco da
reao. A essa altura podem ser necessrias medidas regulatrias como modificao da bula
do medicamento, recomendao das autoridades sanitrias sobre restrio de uso e at mesmo
cancelamento do registro do produto. O nmero de relatos necessrios para gerar um sinal
depende da gravidade do evento (MEYBOOM et al., 1997).
O Conselho para Organizao Internacional das Cincias Mdicas (CIOMS) em
parceria com a United Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO),
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com o patrocnio da WHO, a partir de 1986 tornou obrigatria a notificao de reaes adversas
a medicamentos por parte das indstrias farmacuticas (CIOMS, 1998).
A OMS coordena o sistema de quantificao e deteco de reaes adversas que
foi estabelecido em 1968, utilizando-se inicialmente de um projeto-piloto implantado em 10
pases que dispunham de um sistema nacional de notificao de reaes adversas. Os pases que
participaram do projeto-piloto foram: ustria, Canad, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Holanda,
Nova Zelndia, Sucia, Reino Unido e EUA (OMS, 2004; UMC, 2005).
O programa da OMS coordenado pelo Centro Colaborador the Uppsala
MonitoringCentreem Uppsala, Sucia, com a superviso de um comit internacional. So 86
pases que participam do programa da OMS, destes 75 so membros oficiais e 11 so
considerados membros associados. Os ltimos pases a entrarem no programa foram Nigria eMalta, no ano de 2004 (OMS, 2004; UMC, 2005). O Brasil foi inserido nesse programa no ano
de 2001, como o 62 membro oficial (OPAS, 2002; PETRAMALE, 2002). Outra funo deste
centro colaborador receber notificaes de todos os pases que mantm a Vigibase, uma base
de dados mundial sobre reaes adversas aos medicamentos que atualmente, contm mais de
trs milhes de notificaes (OMS, 2004; UMC, 2005).
Desde o comeo do Programa Internacional, em 1968, muito j foi realizado.
Muitos pases desenvolveram centros de notificao, grupos interessados, faculdades demedicina e departamentos de farmacologia locais dedicados questo, centros de informao
sobre medicamentos, centros de informaes toxicolgicas e outras organizaes no-
governamentais. A idia de que centros de farmacovigilncia eram um luxo restrito ao mundo
desenvolvido foi substituda pela conscincia de que um sistema confivel de farmacovigilncia
necessrio sade pblica para promover o uso racional e seguro de medicamentos e a um
custo efetivo em todos os pases. Onde no existe nenhuma infra-estrutura regulatria
estabelecida, um sistema de monitorizao de medicamentos uma forma efetiva e custo-eficiente de identificar e minimizar os danos aos pacientes e evitar tragdias em potencial
(OMS, 2005).
2. 3 Farmacovigilncia no Brasil
Os primeiros esforos no sentido de abordar as questes relacionadas a reaes
adversas ocorreram na dcada de setenta. Foram editadas algumas legislaes, que podem ser
consideradas tentativas infrutferas de desenvolvimento da Farmacovigilncia (OPAS, 2002).Todavia, um importante referencial foi a Poltica Nacional de Medicamentos aprovada em 1998
(OPAS, 2002). Esta tem como propsito garantir a necessria segurana, eficcia e qualidade
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dos medicamentos, a promoo do uso racional e o acesso da populao queles considerados
essenciais (Brasil, 2001 apud OPAS, 2002).
Durante as dcadas de 80 e 90, a conscincia sobre farmacovigilncia comeou a
ser formada nas escolas de sade, grupos de defesa do consumidor, centros de informao sobre
medicamentos e associaes de sade do profissional (DIAS, 2002).
Em abril de 1995, ocorreu em Buenos Aires (Argentina) a I reunio para a
Elaborao de Estratgias para a Implantao de Sistemas de Farmacovigilncia na Amrica
Latina, organizada pela ANMAT (Administracin Nacional de Medicamentos, Alimentos y
Tecnologa Mdica Ministerio de Salud y Ambiente de la Nacin ) com o apoio da
Organizao Mundial da Sade e da Organizao Panamericana da Sade, da qual participaram
representantes de toda Amrica Latina. Em decorrncia dessa reunio foi nomeada umacomisso de tcnicos com a finalidade de propor um Sistema Nacional de Farmacovigilncia,
com um centro coordenador ligado a ento Secretaria de Vigilncia Sanitria Ministrio da
Sade e centros regionais.
Nessa comisso foi decidida a realizao de uma fase piloto de implantao do
Sistema de Notificao Voluntria de Reaes Adversas a Medicamentos, que, a partir de 1997,
deveria estar aberto a participao de todos os profissionais da rea da sade que exercem suas
atividades em diferentes nveis do sistema assistencial, bem como na iniciativa privada(ARRAIS, 1996). O projeto no foi adiante e durante a dcada de 90, ocorreram iniciativas
pioneiras em alguns estados como Cear, Paran, So Paulo, Mato Grosso do Sul entre outros
(OPAS, 2002). Destaca-se o Sistema Estadual de Farmacovigilncia do Cear, criado em
novembro de 1996, a partir de um convnio realizado entre a Universidade Federal do Cear
(UFC) e a Secretaria de Estado da Sade (SESA), tendo como rgo executor o GPUIM (Grupo
de Preveno ao Uso Indevido de Medicamentos) (COELHO et al., 1996; SOUZA et al., 1997).
Em 1999, foi criada a ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria(OPAS, 2002; DIAS, 2002) e com ela, o Sistema Nacional de Farmacovigilncia gerenciado
pela Unidade de Farmacovigilncia (UFARM), unidade esta integrante da nova Gerncia Geral
de Segurana Sanitria de Produtos de Sade Ps-Comercializao (DIAS, 2005).
Em maio de 2001, foi institudo o Centro Nacional de Monitorizao de
Medicamentos (CNMM), atravs da Portaria Ministerial MS n 696, de 7/5/2001. O CNMM est
situado na Unidade de Farmacovigilncia (UFARM), da Gerncia Geral de Medicamentos da
ANVISA, responsvel pela implementao e coordenao do SINVAF Sistema Nacional de
Farmacovigilncia (ARRAIS, 2002; SOUZA et al., 2004a).
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A proposta inicial da UFARM envolvia a participao de Centros de
Farmacovigilncia Regionais, j implantados ou em implantao, Hospitais Sentinelas e
Mdicos Sentinelas (ARRAIS, 2002). A UFARM optou por iniciar a construo do SINVAF
com a implantao de Hospitais Sentinelas (ARRAIS, 2002) que uma rede nacional
constituda por cem grandes hospitais, motivada para a notificao de efeitos adversos
advindos do uso de produtos de sade, com vistas para obter a informao para a
regularizao do mercado (PETRAMALE, 2002). Nesse programa so abordados
tecnovigilncia, hemovigilncia, vigilncia de saneantes e infeco hospitalar, alm da rea de
farmacovigilncia que visa monitorar a qualidade e o perfil de segurana dos medicamentos
utilizados em nvel hospitalar, alm de promover o uso racional de medicamentos (OPAS,
2002). importante ressaltar que a Anvisa fornece subsdios financeiros e apoio tcnico-cientfico para o desenvolvimento das atividades acima mencionadas nos hospitais
pertencentes rede.
Entre 2001 e 2003, a UFARM recebeu 3540 solicitaes por e-mail de informaes
sobre medicamentos e os temas mais destacados foram: legislao, RAMs ou queixa tcnica e
restrio ou proibio de medicamentos (LACERDA et al., 2004).
Em 2003, 60% das notificaes recebidas pela UFARM foram dos hospitais
sentinelas (ANVISA) de um total de 1983 notificaes (SOUZA et al., 2004b), e at agosto de2004, o CNMM acumulou 4876 notificaes (SOUZA et al., 2004a).
Os dados brasileiros so limitados, mas um estudo conduzido por pesquisadores da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) relatou que as reaes adversas aos
medicamentos foram responsveis ou estiveram presentes em 6,6% das admisses naquele
hospital-escola tercirio em 1999. Os medicamentos com ao sobre o sistema cardiovascular
contriburam para 66,6% das reaes encontradas (PFAFFENBACH, 2002).
O Programa de Farmacovigilncia do Hospital das Clnicas de Porto Alegre referiuque os antimicrobianos cloridrato de vancomicina (13,6%) e anfotericina B (17,6%)
apresentaram maiores incidncias de reaes adversas (MAHMUD, et al., 2006).
Em um estudo realizado em 2007 em quatro hospitais da Rede Sentinela, para
determinar a prevalncia de admisso por RAM em Salvador, as faixas etrias mais acometidas
foram as dos jovens e idosos, com 28,8% e 31,1% dos pacientes, respectivamente. A prevalncia
de admisso por RAM foi de 0,56% e corrigida (expostos), de 2,1%, com 316 casos. Os
principais grupos farmacolgicos envolvidos foram antineoplsicos, antibiticos e diurticos,
afetando pele, sistema gastrointestinal e hematolgico (NOBLAT, 2011).
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3 OBJETIVO
3.1 Geral
Analisar a utilizao de medicamentos em crianas de 0 a 12 anos, por meio de
prescries provenientes da Unidade de Pronto Socorro Peditrico (URE) do Conjunto
Hospitalar de Sorocaba (CHS).
3.2 Especficos
Caracterizar as prescries peditricas contendo medicamentos
utilizados na URE quanto:
s caractersticas do usurio; s indicaes clnicas, considerando as evidncias cientficas de
eficcia e segurana;
a frequncia de utilizao da via parenteral para a administrao dosmedicamentos;
a frequncia e a relao de causalidade das suspeitas de reao adversaa medicamentos (RAM);
ao uso de medicamentos padronizados pelo hospital; ao uso off label de medicamentos, considerando faixa etria, dose,
proporo, via de administrao e indicao clnica;
ao uso racional dos medicamentos prescritos.
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4 CASUSTICA E MTODO
4.1 Tipos de Estudo
Trata-se de estudo observacional, transversal, analtico, realizado a partir de
anlise das prescries peditricas e de informaes fornecidas pelos familiares.
4.2 Local e estrutura de funcionamento
A pesquisa foi realizada no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). O Pronto-
Socorro do CHS atende a 48 municpios do estado de So Paulo, sendo composto pelo Poli
trauma adulto, Clnica Mdica, Semi-Intensiva, Clnica Cirrgica, Ortopedia e Pediatria. A
URE-CHS presta servio aos pacientes de 0 a 12 anos provenientes de Sorocaba e da regio
abrangida pela DRS-16, contando atualmente com 8 leitos para observao clnica e 2 para poli
trauma infantil. Cerca de 300 crianas so atendidas por ms neste servio, de a