Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO
PORTO
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP –
Estudo de Caso dos Processos Individuais dos Estudantes
Tiago Flores Gomes Machado
Dissertação submetida à Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto para obtenção do grau de Mestre em Ciência da Informação
Dissertação realizada sob a supervisão da Professora Doutora Maria Cristina
de Carvalho Alves Ribeiro, do Departamento de Engenharia Informática, da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Porto, Julho de 2012
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP – Estudo
de Caso dos Processos Individuais dos Estudantes
Tiago Flores Gomes Machado
Relatório de Projeto/Dissertação
Mestrado em Ciência da Informação
Aprovado em provas públicas pelo júri:
Presidente: António Manuel Lucas Soares, Professor Associado da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)
Vogal Externo: José Carlos Nascimento, Professor Auxiliar da Escola de Engenharia da
Universidade do Minho (EEUM)
Orientador: Maria Cristina Ribeiro, Professora Auxiliar da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP)
____________________________________________
31 de Julho de 2012
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
i
Resumo
A maior parte das organizações está cada vez mais dependente da utilização de
ferramentas digitais e de sistemas de informação para apoiar as suas atividades
organizacionais, mas não existem garantias de que essa informação se mantenha legível
no futuro. Atualmente, é um desafio tornar essa informação acessível a longo prazo, de
forma a preservar a memória das organizações e a promover a sua sustentabilidade
administrativa.
O conceito de preservação digital é indissociável de um processo de gestão
sistemático e estruturado, que compreende a definição da estratégia para a preservação e
o seu alinhamento com a estratégia global, práticas de gestão e ambiente externo da
organização. A preservação digital deverá assegurar que a informação a preservar
mantém as características fundamentais de um documento de arquivo, ou seja, a
autenticidade, a fidedignidade, a integridade e a usabilidade, independentemente do seu
contexto tecnológico. Verifica-se uma tendência crescente na utilização de normas e
modelos internacionais, como o modelo de referência OAIS, e a adoção de formatos
normalizados para assegurar a preservação a longo prazo.
O caso de estudo da informação produzida pelos Serviços Académicos da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, relacionada com os Processos
Individuais de Estudante (PIE), assenta na estrutura orgânica e funcional da organização
e dos serviços envolvidos e propõe o alinhamento da estratégia de preservação às suas
especificidades. Isto significa observar as práticas atuais relacionadas com a gestão dos
PIE, bem como as necessidades de informação decorrentes dessas mesmas práticas.
Este trabalho analisa os sistemas responsáveis pela criação e preservação dos
PIE, nomeadamente a aplicação de Gestão Académica (GAUP), o Sistema de
Informação da FEUP, o Digitary, o GISA e o Arquivo físico da FEUP. Esta análise
permitiu compreender os fluxos da informação relacionada com os PIE e concluir que
os sistemas existentes atualmente não oferecem garantias de preservação digital da
informação a longo prazo.
Tendo em conta as fragilidades dos sistemas existentes, foram definidos os
requisitos para um sistema que preserve a informação relacionada com os PIE. Estes
requisitos incluem a garantia de que a informação mantém as características de arquivo
já referidas, com o respeito pelas restrições legais e organizacionais que os condicionam
e com a necessidade de adotar modelos de arquivo reconhecidos internacionalmente. A
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
ii
informação que interessa realmente preservar corresponde à resultante dos
procedimentos obrigatórios e comuns a todos os PIE.
Traçaram-se algumas estratégias para a preservação da informação em causa
através da construção de diferentes cenários de preservação. São avaliados os principais
riscos e vantagens de não ser executada qualquer ação de preservação, de proceder à
digitalização recorrente da documentação em Arquivo, de implementar um sistema
eletrónico de gestão de arquivo, da preservação digital das bases de dados dedicadas à
gestão de alunos e da utilização do próprio sistema de informação da FEUP para
assegurar a satisfação dos requisitos de preservação.
Avaliadas as diferentes estratégias possíveis, são definidas as linhas gerais de
uma política de preservação digital para a informação permanente da FEUP,
independentemente do tipo de informação em causa ou da estratégia de preservação a
implementar. A proposta da estratégia de preservação digital é feita separadamente para
os PIE produzidos até à implementação da aplicação de gestão académica na FEUP e
para a informação produzida a partir da sua implementação. A primeira consiste na
preservação da documentação em formato digital através da sua digitalização. A
segunda implica que seja o sistema de informação já existente, responsável pela gestão
dos PIE, a garantir a preservação a longo prazo da informação em formato digital,
excluindo a necessidade de implementação de novos sistemas ou aplicações que se
dediquem exclusivamente a esta tarefa.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
iii
Abstract
Most organizations are increasingly dependent on digital tools and information
systems to support their organizational activities but there are no guarantees that the
information will remain readable in the future. Currently, it is a challenge to make this
information accessible in the long term, in order to preserve the memory of the
organizations and promote their administrative sustainability.
The concept of digital preservation is inseparable from a process of systematic and
structured management, which includes setting the strategy for the preservation and its
alignment with the organization overall strategy, management practices and external
environment. Digital preservation will ensure that the information to preserve keeps the
fundamental characteristics of a record, namely the authenticity, trustworthiness,
integrity and usability, regardless of the technological environment. There is a growing
trend in the use of international standards and models such as the OAIS reference
model, and in the adoption of standard formats to ensure long-term preservation.
The case study of the information produced by the Academic Services of the
Faculty of Engineering of the University of Porto, related to the Individual Student
Process (PIE), rests on the organic and functional structure of the organization and
services involved, proposing the alignment of the preservation strategy with their
specificities. This means observing current practices related to management of PIE, as
well as the information needs arising from these same practices.
This paper analyzes the systems responsible for the creation and preservation of the
PIE, including the application of Academic Management (GAUP), FEUP Information
System, Digitary, GISA and FEUP physical Archive. This analysis allowed us to
understand the flow of information relating to the PIE and conclude that existing
systems do not currently offer guarantees for the preservation of digital information
over the long term.
Given the weaknesses of the existing systems, the requirements for a system that
preserves the information related to the IEP were defined. These requirements include
ensuring that information retains the fundamental characteristics of an archive record,
legal and organizational constraints and the need to adopt internationally recognized
archiving models. The information that really needs to be preserved corresponds to the
information that results from the mandatory procedures and that is common to all PIE.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
iv
Strategies for the preservation of the PIE information were studied trough different
preservation scenarios. Main advantages and disadvantages of not enforcing any
preservation action, systematically scanning Archive records, implementing an
electronic record management system, digital preservation of the databases dedicated to
the management of students information and the use of the FEUP information system
itself to ensure compliance with the requirements of preservation, are assessed.
After the evaluation of the different possible strategies, a high level policy for the
preservation of FEUP permanent information in digital form is defined, regardless of
the type of information or the preservation strategy to implement. The proposed strategy
for digital preservation is done separately for the PIE produced before the
implementation of the application of academic management at FEUP (GAUP) and for
the information produced after its implementation. The first consists in the preservation
of documents in digital format through its digitization. The second implies that will be
the existing information systems, which manages the PIE, to ensure the long-term
preservation of information in digital format, excluding the need for implementation of
new systems or applications exclusively dedicated to this task.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
v
Agradecimentos
No final desta etapa tão importante da minha vida, gostaria de expressar o meu
reconhecimento e gratidão a todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para o
sucesso deste trabalho.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Drª Ana Azevedo pela oportunidade de
realizar um trabalho tão repleto de desafios e pela confiança que depositou em mim
desde o primeiro momento.
À Professora Cristina Ribeiro, minha orientadora, pelo apoio e acompanhamento sem o
qual este trabalho não teria sido possível. A disponibilidade demonstrada ao longo deste
percurso e os seus conhecimentos na área da preservação digital foram cruciais para
ultrapassar os obstáculos com que este projeto se deparou.
Ao Dr. Jorge Pópulo, da divisão de Arquivo e Museu dos SDI da FEUP, que foi
também um pilar muito importante ao longo de todo o trabalho e que me proporcionou
as melhores condições possíveis para a sua realização.
Ao Dr. Bernardino Ribeiro, pela disponibilidade demonstrada para responder a todas as
questões que foram surgindo em relação ao funcionamento dos Serviços Académicos.
À minha família e a todos os meus amigos e colegas, pelo apoio e incentivos constantes
que me fizeram sempre acreditar que esta dissertação poderia vir a ser uma realidade.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
vi
Sumário
Resumo .............................................................................................................................. i
Abstract ............................................................................................................................ iii
Agradecimentos ................................................................................................................ v
Sumário ............................................................................................................................ vi
Lista de Figuras ............................................................................................................. viii
Siglas e Abreviaturas ....................................................................................................... ix
1 Introdução.................................................................................................................. 1
1.1 Contexto e Motivação ........................................................................................ 2
1.2 Metodologia e Objetivos .................................................................................... 3
1.3 Estrutura do Documento .................................................................................... 5
2 Documentos de Arquivo e Preservação Digital ........................................................ 7
2.1 Documentos de Arquivo nas Organizações ....................................................... 8
2.2 A Preservação em Ambiente Digital................................................................ 10
2.2.1 Estratégias de Preservação Digital ........................................................... 15
2.2.2 Metainformação de Preservação ............................................................... 17
2.3 O Modelo de Referência OAIS ........................................................................ 18
2.4 Projetos de Preservação Digital ....................................................................... 23
2.5 Planeamento da Preservação Digital ................................................................ 26
2.6 Síntese Crítica .................................................................................................. 28
3 Contexto Institucional e Análise do Objeto de Estudo ........................................... 31
3.1 Caracterização Orgânica e Funcional da FEUP ............................................... 31
3.1.1 Os Serviços Académicos (SERAC) .......................................................... 34
3.1.2 O Arquivo da FEUP ................................................................................. 35
3.2 Os Processos Individuais dos Estudantes ........................................................ 37
3.2.1 Génese e Caracterização dos Processos Individuais dos Estudantes ........ 37
3.2.2 Enquadramento Legal dos Processos Individuais dos Estudantes............ 40
3.3 Identificação e Análise dos Sistemas de Informação ....................................... 41
4 Definição da Estratégia de Preservação Digital para os Processos Individuais dos
Estudantes ....................................................................................................................... 51
4.1 Requisitos para a Preservação Digital ............................................................. 51
4.2 Cenários de Preservação Digital ...................................................................... 57
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
vii
5 Políticas e Recomendações para a Preservação Digital da Informação Permanente
da FEUP .......................................................................................................................... 65
5.1 Políticas para a Preservação Digital da Informação Permanente..................... 65
5.2 Recomendações para a Preservação Digital dos Processos Individuais dos
Estudantes ................................................................................................................... 72
6 Conclusões e Trabalho Futuro................................................................................. 74
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 77
Anexos ............................................................................................................................ 81
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
viii
Lista de Figuras
Fig. 1 Mapa conceptual que representa os diferentes atores identificados num ambiente
de preservação (Maceviciute & Wilson, 2010) .............................................................. 11
Fig. 2 Diferentes níveis de abstração de um objeto digital (Ferreira 2006, 23) ............. 15
Fig. 3 Classificação das diferentes estratégias de preservação digital (Ferreira, 2009:22)
........................................................................................................................................ 17
Fig. 4 Entidades Funcionais OAIS (CCSDS, 2002) ....................................................... 19
Fig. 5 Nº de ingressos por ciclo – 2008/09-2010/11 (Plano Estratégico FEUP 2011-15,
2011) ............................................................................................................................... 32
Fig. 6 Estrutura Orgânica SDI (FEUP, 2012) ................................................................. 36
Fig. 7 Tabela dos procedimentos obrigatórios no percurso académico de um estudante 38
Fig. 8 Tabela dos procedimentos esporádicos no percurso académico de um estudante 39
Fig. 9 Fluxos de informação relacionados com a gestão dos PIE .................................. 42
Fig. 10 Pedido de Equivalência através do SIGARRA .................................................. 43
Fig. 11 Detalhes de uma assinatura digital na plataforma Digitary ............................... 46
Fig. 12 Exemplo de uma certidão na plataforma Digitary ............................................. 47
Fig. 13 Diagrama de Atividades: Processo de Inscrição, 1º ano, 1ª vez (após candidatura
local) ............................................................................................................................... 52
Fig. 14 Diagrama de atividades: Recuperação de informação acerca de um estudante . 53
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
ix
Siglas e Abreviaturas
AIIM Association for Information and Image Management
AIP Archival Information Package (Pacote de Informação de Arquivo)
CCSDS Consultative Committee for Space Data Systems
CI Ciência da Informação
DGARQ Direção Geral de Arquivos
FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
GAUP Gestão Académica da Universidade do Porto
IPQ Instituto Português da Qualidade
JISC Joint Information Systems Committee
OAIS Open Archival Information System
SDI Serviço de Documentação e Informação (FEUP)
SERAC Serviços Académicos (FEUP)
SiFEUP Sistema de Informação (FEUP)
SIGARRA Sistema de Informação para a Gestão Agregada dos Recursos e dos
Registos Académicos (Universidade do Porto)
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação
UP Universidade do Porto
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
1
1 Introdução
O presente trabalho de dissertação justifica-se pela necessidade de definir estratégias de
preservação digital para a informação de arquivo produzida pela Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), de forma a garantir a sua acessibilidade a
longo prazo e a preservação da informação relevante para a gestão e memória da
organização.
A proposta surgiu através dos Serviços de Documentação e Informação (SDI) da
FEUP, onde se insere a divisão de Arquivo e Museu, e o caso de estudo a realizar
incidirá sobre a informação produzida pelos Serviços Académicos da Faculdade
(SERAC) e, mais especificamente, sobre o Processo Individual do Estudante,
documento composto cuja responsabilidade é deste serviço.
Quanto ao sistema de informação utilizado na FEUP, este é comum a todas as
unidades orgânicas da Universidade do Porto (UP) e integra três componentes. Duas
componentes de backoffice, nomeadamente a de Gestão Académica (GA) e a de Gestão
de Recursos Humanos (GRH), são de uso exclusivo dos respetivos serviços das
unidades orgânicas da UP e dos serviços congéneres da Reitoria. A outra componente,
de frontoffice, consiste no sistema de informação (SI) e destina-se a todos os
utilizadores, internos ou externos à comunidade da UP, sendo que determinados
conteúdos só estarão acessíveis após autenticação no sistema. Estes três componentes
(GA, GRH e SI) integram, desde 2003, o SIGARRA – Sistema de Informação para a
Gestão Agregada dos Recursos e dos Registos Académicos1.
Para este estudo será dada especial atenção à componente de Gestão Académica
(GA), visto que é esta a componente que se assume como principal infraestrutura de
trabalho dos SERAC e, portanto, a que mais se relaciona com o objeto de estudo
identificado. Esta componente é a responsável pela gestão da vida académica dos
estudantes, capturando os registos dos processos individuais dos estudantes, desde o
início do seu percurso académico na Faculdade até aos últimos atos administrativos
correspondentes à conclusão desse mesmo percurso.
Em relação ao Arquivo da FEUP, a aplicação informática GISA foi a escolhida
para assegurar a gestão integrada dos sistemas de arquivo. Esta aplicação está adstrita
aos SDI e assume-se como um importante auxiliar na gestão de informação de arquivo,
1 Espaço TIC da UP: https://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=2418 Consultado a 17 de
novembro de 2011.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
2
facilitando o desenvolvimento de atividades como a construção e registo de
metainformação de contexto e de representação da informação.
1.1 Contexto e Motivação
O Arquivo da FEUP possui registos relativos ao percurso académico dos estudantes
desde há várias décadas. Inicialmente, estes registos agregavam a informação
proveniente de vários documentos num único documento, funcionando assim como um
“resumo” dos aspetos mais importantes da vida académica de cada estudante.
Atualmente, o processo individual do estudante contém vários documentos relevantes e
diretamente relacionados com a sua vida académica, sendo que a maior parte deles são
já criados digitalmente.
Até à data, o Arquivo é obrigado por lei a assegurar a existência e a preservação
destes processos em suporte analógico, nomeadamente em papel. Contudo, recentes
alterações à legislação, com vista à desmaterialização integral dos processos individuais
de estudantes de doutoramento, permitem refletir acerca da possibilidade de armazenar
esta informação exclusivamente em formato eletrónico.
De facto, o Decreto-Lei n.º 230/2009, presente no D.R. n.º 178, Série I de 2009-
09-14, abre já caminho para a possibilidade de que os processos individuais dos
estudantes que pretendam obter o grau de Doutor possam “existir apenas em formato
eletrónico no quadro legal aplicável”. A partir deste decreto-lei, é possível antever que o
mesmo possa acontecer para todos os estudantes do ensino superior e urge, portanto,
definir políticas e estratégias para que este processo seja o mais eficaz possível, quando
levado a cabo na instituição em que este projeto se insere.
Apesar de a FEUP possuir excelentes condições para a preservação e
conservação da informação de carácter permanente em papel (mais especificamente, dos
processos individuais dos estudantes), existem questões relacionadas com limitações de
espaço e com a acessibilidade à informação que fazem com que seja necessário
equacionar novas formas de armazenamento de informação. A desmaterialização dos
processos individuais dos estudantes permitiria o armazenamento da informação em
formato digital e, consequentemente, acarretaria menores preocupações com o espaço
físico que toda esta informação poderá vir a ocupar.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
3
Considerando os aspetos supra mencionados, seria desejável que fossem
implementadas estratégias de gestão de informação que permitissem que a informação
relacionada com os processos individuais dos estudantes, da responsabilidade dos
SERAC, pudesse ser diretamente transferida para um sistema de arquivo eletrónico, sem
necessidade de representar essa informação em papel, por exemplo.
Através deste processo, o acesso à informação seria muito mais simples e
imediato, na medida em que os elementos dos serviços da faculdade não teriam que se
deslocar fisicamente ao Arquivo sempre que pretendessem aceder a alguma informação
presente no processo individual de um determinado estudante. Uma simples pesquisa no
computador, dentro da rede da FEUP, seria a única ação necessária para recuperar a
informação pretendida dentro do processo individual do estudante. Assim, seria possível
recuperar apenas a informação desejada, excluindo a restante que se encontra no mesmo
processo e que não é relevante para o objetivo adjacente à pesquisa efetuada.
De facto, tudo isto permitiria uma maior eficiência na gestão da informação dos
serviços académicos da faculdade, reduzindo, por exemplo, o número de documentos
impressos ou duplicados e o tempo despendido pelos seus colaboradores na recuperação
de informação.
Contudo, a aplicação de estratégias de preservação digital para garantir a
autenticidade, integridade, fidedignidade e acessibilidade a longo prazo à informação
armazenada representa um aspeto essencial em todo este processo.
Além do referido, convém ainda salientar que todo o processo de preservação
digital exige um enquadramento técnico e jurídico para garantir a sua legalidade e a
validade dos documentos armazenados digitalmente. A análise da legislação relacionada
com a desmaterialização dos processos individuais dos estudantes do Ensino Superior, a
análise do ciclo de vida da informação e o levantamento das principais estratégias
existentes para a preservação da informação em formato digital assumem-se, assim,
como aspetos fulcrais a ter em conta.
1.2 Metodologia e Objetivos
Para a elaboração da dissertação serão maioritariamente utilizados métodos qualitativos
para a recolha de informação acerca do objeto de estudo, do funcionamento dos serviços
que com ele se relacionam, nomeadamente os SERAC e o Arquivo da FEUP, e dos
sistemas de informação que ambos os serviços utilizam. As entrevistas funcionarão
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
4
como a principal fonte de informação para o estudo a ser desenvolvido, pois permitem
aprofundar o conhecimento acerca de assuntos que não são abrangidos pela literatura e
obter uma noção mais precisa dos procedimentos e da realidade específica dos serviços
em questão.
Além disto, a análise de documentos internos da FEUP, como relatórios ou
estudos desenvolvidos pela faculdade, permitirá também retirar informação bastante
pertinente acerca do objeto de estudo e compreender, de uma forma mais prática e
precisa, as relações complexas existentes entre este e os sistemas e serviços que lhe
estão associados.
Pretende-se ainda proceder à construção de cenários de preservação para ilustrar
diferentes estratégias de preservação digital. Isto irá permitir avaliar as principais
vantagens e as desvantagens de cada estratégia e garantir que a estratégia de
preservação proposta se adequa, de facto, à realidade do objeto de estudo deste trabalho
e às especificidades da instituição e dos serviços envolvidos.
As ferramentas para a identificação e caracterização dos sistemas de informação
deverão aproximar-se o mais possível das disponibilizadas pelo documento que contém
as recomendações da Direção Geral de Arquivos (DGARQ) para a elaboração de Planos
de Preservação Digital (Barbedo, 2010), documento que serve já de referência para
vários projetos nesta área, nomeadamente em Ministérios como o da Educação2 ou o das
Finanças e Administração Pública3.
Tendo em conta a importância crescente do Modelo OAIS (Open Archival
Information System) (CCSDS, 2002) para projetos na área da preservação digital, e o
facto de estar particularmente direcionado para a preservação de informação em formato
digital, este servirá também de referência para o trabalho que se pretende desenvolver.
O recurso a um estudo de caso nos SERAC e a limitação do objeto de estudo ao
processo individual do estudante justifica-se pelo crescente papel desempenhado pelas
tecnologias de informação e comunicação em toda a gestão e atividade da FEUP.
Assim, sentiu-se necessidade de restringir o campo de estudo a uma área específica da
gestão de informação da Faculdade para que o trabalho a realizar fosse concretizável e
também, de alguma forma, útil para projetos que poderão vir a ser desenvolvidos pela
FEUP com vista a melhorar as suas práticas de gestão de informação.
2 Secretaria Geral do Ministério da Educação: http://www.sg.min-edu.pt/pt/servicos-partilhados/gestao-
documental-do-me/ Consultado a 16 de dezembro de 2011 3 Instituto de Informática do Ministério das Finanças: http://www.inst-informatica.pt/noticias/plano-de-
preservacao-digital Consultado a 16 de dezembro de 2011
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
5
Quanto aos objetivos específicos da dissertação, estes podem ser definidos da
seguinte forma:
Identificação, análise e avaliação do estado atual da gestão de
informação relacionada com os Processos Individuais de Estudante nos
SERAC e no Arquivo da FEUP.
Caracterização e avaliação arquivística da informação relacionada com
os Processos Individuais de Estudante com o objetivo de definir o que
interessa realmente preservar e o que poderá ser eliminado.
Identificação e análise dos sistemas de informação que se relacionam
com a gestão dos Processos Individuais de Estudante.
Definição dos requisitos necessários para a preservação digital dos
Processos Individuais de Estudante e ilustração de diferentes estratégias
de preservação digital através da construção de cenários de preservação.
Elaboração de recomendações, de carácter estratégico e orientador, sobre
as políticas e os procedimentos a seguir, com vista à preservação dos
Processos Individuais de Estudante em formato eletrónico.
1.3 Estrutura do Documento
Este documento encontra-se dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo
pretende introduzir o contexto e as principais motivações por detrás deste projeto, bem
como os principais objetivos e a metodologia adotada para o concretizar. No segundo
capítulo, é descrito o estado da arte da preservação digital e são referidos os principais
projetos de preservação digital a nível nacional e internacional. No terceiro capítulo, é
apresentada a instituição e os serviços envolvidos no desenvolvimento deste projeto e é
feita a caracterização dos processos individuais de estudante e do seu enquadramento
legal. Ainda neste capítulo, são identificados e comparados os diferentes sistemas de
informação que se relacionam com a gestão da informação relacionada com os
processos individuais de estudante. No quarto capítulo, é definida a estratégia de
preservação digital através da identificação dos requisitos necessários para um sistema
que se encarregue da preservação digital dos processos individuais de estudante e são
equacionados diferentes cenários para a preservação digital dessa mesma informação.
No quinto capítulo, são definidas as linhas gerais para uma política de preservação
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
6
digital para a instituição e são tecidas algumas recomendações para a implementação
efetiva de ações de preservação sobre o objeto de estudo, ou seja, os processos
individuais de estudante. No sexto, e último, capítulo, são apresentadas as principais
conclusões, é verificado o cumprimento dos objetivos propostos e são referidas as
perspetivas de trabalho futuro. Depois das referências bibliográficas, este documento
contém ainda uma secção destinada a anexos
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
7
2 Documentos de Arquivo e Preservação Digital
Começando pela terminologia mais elementar, e de acordo com o Dicionário da Língua
Portuguesa da Porto Editora, podemos definir o conceito de preservação como o “ato ou
efeito de preservar” ou “ação que visa garantir a continuidade ou sobrevivência de
algo”. A generalidade desta definição pode, no entanto, criar alguma confusão com
outros conceitos (como a conservação, por exemplo) e obriga-nos a definir o nosso
posicionamento em relação a este assunto. De acordo com Paul Conway (citado por
Silva, 2006:159), a preservação é, hoje em dia, “uma palavra que envolve inúmeras
políticas e opções de ação, incluindo tratamentos de conservação. Preservação é a
aquisição, organização e distribuição de recursos, a fim de impedir posterior
deterioração ou renovar a possibilidade de utilização de um seleto grupo de materiais”.
Na ótica da Ciência da Informação (CI), a preservação implica ainda três planos
distintos. Estes consistem: na conservação e restauro do suporte, plano dominado pelo
contributo das Ciências Naturais e gerador de estratégias interdisciplinares; na adoção
de medidas de gestão (políticas públicas) através de legislação e organismos
regulamentadores; e na intencionalidade orgânica de preservar para usar face a
necessidades e imperativos orgânico-funcionais vários (Silva, 2006). Segundo Armando
Malheiro da Silva, é este último plano que se enquadra no objeto de estudo próprio ou
exclusivo da Ciência da Informação, ligando-se a outros tópicos fundamentais como a
Memória Orgânica, a Organicidade e o Sistema de Informação.
Importa ainda distinguir o conceito de preservação dos conceitos de conservação
e de restauro. Durante muito tempo, preservação e conservação eram considerados
termos equivalentes devido a inexistência de definições claras e objetivas que as
distinguissem. No entanto, a preservação assume-se cada vez mais como um processo
indissociável da gestão, com destaque para a importância das políticas de preservação e
de intervenções sistemáticas e estruturadas. Podemos, então, encarar a função de
preservação como a definição da estratégia para a preservação (das políticas; objetivos e
metas a atingir; planeamento estratégico) e o alinhamento, dessa mesma estratégia, com
a estratégia global da instituição/organização e com as suas práticas de gestão, bem
como com o seu ambiente externo (Pinto, 2009).
Considerando a preservação como algo intrínseco à atividade de Gestão,
podemos situa-la ao nível institucional e intermédio. A conservação e o restauro
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
8
assumem-se então como os principais intervenientes a nível operacional para a
concretização da estratégia fixada (Pinto, 2009). A conservação intervém, assim, de
uma forma mais preventiva, aplicando os procedimentos, medidas e técnicas e
desenvolvendo as ações que garantirão a proteção do documento e neutralizando
potenciais fatores de degradação. O restauro centra-se exclusivamente no tratamento e
recuperação, implicando a intervenção direta por parte de profissionais especializados.
Em suma, a preservação envolve então uma componente estratégica e de gestão,
que consiste na adoção de políticas e medidas de gestão para a preservação, e uma
componente operacional, que consiste na aplicação de procedimentos, medidas e
técnicas e de ações de proteção. Nesta perspetiva, a missão e as necessidades da
organização, bem como o sistema de informação utilizado por esta, são os principais
pontos de referência para a função de preservação (Pinto, 2009).
No caso da informação em formato analógico, e tendo em conta que a
informação não se encontra codificada em dígitos binários, a principal função da
preservação consistiria então na definição de estratégias para a continuidade do suporte
em que esta se encontra. Porém, quando estamos perante informação em suportes
digitais a salvaguarda da integridade física do suporte não é suficiente, visto que são
ainda necessárias aplicações de software que sejam capazes de manipular e interpretar
adequadamente os dados armazenados (Ferreira, 2006), de forma a torna-los em
informação inteligível e percetível para o ser humano.
2.1 Documentos de Arquivo nas Organizações
Em alguns países, o conceito de documento de arquivo é definido pela legislação
nacional. Este aspeto deve ser respeitado nos casos em que se justifique mas, de uma
perspetiva mais próxima da arquivística, podemos definir documento de arquivo como
“a informação registada, produzida ou recebida no início, condução ou conclusão de
uma atividade individual ou organizacional, e que compreende suficiente conteúdo,
contexto e estrutura para fazer prova dessa atividade” (ICA 2005:11). Apesar de os
documentos de arquivo poderem assumir diferentes formas e representações, esta
definição é suficientemente ampla para abranger todos os tipos de documentos de
arquivo produzidos nas organizações.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
9
Dependendo da sua natureza e aplicação, os documentos de arquivo reservam
ainda valores distintos (Pópulo, 2010), nomeadamente:
Regulador - fundamento dos atos;
Legal - conformidade dos atos;
Probatório - testemunha dos atos;
Informativo - conhecimento dos atos;
Histórico - memória dos atos.
Em relação às características dos documentos de arquivo, a norma NP 4438-
1:2005 enuncia a autenticidade, a fidedignidade, a integridade e a usabilidade como
características fundamentais (Portugal: IPQ, 2001) e descreve detalhadamente como se
pode assegurar que os documentos as mantenham.
Quanto à autenticidade, esta característica significa que o documento de arquivo
autêntico é aquele do qual se pode provar:
ser aquilo que pretende ser;
ter sido produzido ou enviado pelo alegado produtor ou remetente;
ter sido produzido ou enviado no alegado momento de produção ou
envio.
A mesma norma acrescenta ainda que para assegurar a autenticidade dos
documentos de arquivo, as organizações devem “implementar e documentar políticas e
procedimentos de controlo e produção, receção, transmissão, manutenção e destino dos
mesmos, assegurando que quem produz documentos está devidamente autorizado e
identificado e que os documentos estão protegidos contra qualquer ação não autorizada
(adicionar, apagar ou alterar informação, uso não autorizado ou imposições de acesso
indevidas)” (Portugal: IPQ, 2001).
Em relação à fidedignidade, a norma diz-nos que “um documento de arquivo
fidedigno é aquele cujo conteúdo é digno de crédito enquanto representação completa e
fiel das transações, atividades ou factos que atesta, podendo dele depender subsequentes
transações ou atividades. Os documentos de arquivo devem ser produzidos em
simultâneo com a transação ou facto que representam, ou imediatamente a seguir, pelos
indivíduos que têm conhecimento dos factos ou ainda através de dispositivos usados
sistematicamente, no âmbito do processo de negócio, para cumprir a transação”
(Portugal: IPQ, 2001).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
10
A integridade do documento de arquivo verifica-se quando este permanece
completo e inalterado. “É necessário que os documentos sejam protegidos contra
alterações não autorizadas. As políticas de gestão de documentos de arquivo devem
especificar que tipo de adições ou anotações podem ser feitas a um documento depois
da sua produção, em que circunstâncias essas alterações podem ser autorizadas, e quem
está autorizado a fazê-las. Qualquer alteração autorizada a um documento de arquivo
deve ser explicitamente indicada e reconhecível enquanto tal” (Portugal: IPQ, 2001).
Quanto à utilização, a NP 4438-1:2005 entende que um documento de arquivo
utilizável é “aquele que pode ser localizado, recuperado, apresentado e interpretado”.
Acrescenta ainda que “deve ser capaz de se apresentar como diretamente ligado à
atividade ou transação que o produziu. As ligações contextuais dos documentos de
arquivo devem incluir a informação necessária para a compreensão das transações que
os produziram e os utilizaram. Deve ser possível identificar um documento de arquivo
dentro do contexto mais lato das funções e atividades da organização. As ligações entre
os documentos de arquivo que representam uma sequência de atividades devem ser
mantidas” (Portugal: IPQ, 2001).
Importa referir que os documentos de arquivo são tradicionalmente
representados como objetos de informação logicamente delimitados ou, por outras
palavras, como objetos discretos (ICA, 2005). No entanto, é indiscutível a crescente
preponderância destes documentos nas organizações sob a forma de objetos
distribuídos, como bases de dados relacionais ou documentos compostos.
2.2 A Preservação em Ambiente Digital
Com o aparecimento das primeiras gerações de computadores, em meados do século
XX, deram-se os primeiros passos para uma verdadeira (r)evolução no que diz respeito
às formas de produção, processamento, armazenamento, análise e disseminação da
informação.
No entanto, como os computadores são apenas capazes de armazenar e processar
bits, a informação a armazenar é objeto de codificação no momento da entrada e de
descodificação no momento da saída, ou seja, a informação é representada em formatos
lógicos que dependem, por sua vez, das regras do software que a criou (Pinto, 2009).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
11
Esta é a principal razão pela qual a preservação de informação digital é um assunto tão
complexo. Por outras palavras, a linguagem utilizada pelos computadores não é a
mesma utilizada pelo ser humano, o que implica a existência de mecanismos que sejam
capazes de efetuar a “tradução” entre estas duas linguagens, de uma forma eficaz e em
qualquer altura do tempo.
A multiplicidade de atores envolvidos num ambiente de preservação digital pode
também ser encarada como um dos principais obstáculos na definição de estratégias de
preservação digital. Estes atores podem ser seres humanos, (utilizadores, empregados ou
fornecedores de informação) mas também outras entidades como legislação, um sistema
ou uma organização. Todos eles podem interagir com o sistema para aceder a objetos
digitais ou à sua metainformação, diretamente ou através de um mediador como, por
exemplo, um arquivista (Maceviciute & Wilson, 2010).
Na figura que se segue (Fig. 1), podemos identificar uma descrição genérica das
relações existentes entre os diferentes atores num ambiente de preservação onde
predominam os objetos digitais.
Fig. 1 Mapa conceptual que representa os diferentes atores identificados num ambiente de preservação
(Maceviciute & Wilson, 2010)
Em relação ao conceito de preservação digital, são várias as definições que
podemos encontrar, pois estas tendem a variar de autor para autor e entre os diferentes
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
12
organismos que desenvolvem investigação nesta área (Chapman, 2001). Podemos, no
entanto, destacar aquelas que consideramos mais importantes e que apresentam um
maior consenso entre a comunidade científica no geral.
O JISC encara a preservação digital como o “processo de gestão ativa através do
qual se pode assegurar que um objeto digital estará acessível no futuro” (Beagrie et al,
2008). Apesar de parecer uma definição um pouco genérica, é, na nossa opinião,
bastante importante, pois evidencia a necessidade de uma gestão ativa e continuada para
assegurar o acesso ao objeto digital.
Outra definição muito divulgada teve origem num relatório da RLG/OCLC e
afirma que “a preservação digital se refere às séries de atividades de gestão necessárias
para assegurar o acesso continuado e a preservação de materiais digitais” (Chapman,
2001). Neste caso, a definição evita claramente referir-se a aspetos como a integridade,
autenticidade, aparência ou qualquer outro atributo do ficheiro original, mas, à
semelhança da definição da JISC, encara também a preservação digital como um
processo de gestão ativo e permanente.
Para a AIIM (The Associaton for Information and Image Management), a
preservação digital consiste “na capacidade de manter os documentos e ficheiros
digitais disponíveis por períodos de tempo que possam ultrapassar os avanços
tecnológicos, sem preocupações com perdas ou alteração de legibilidade” (Chapman,
2001). Neste caso, a preservação digital é vista como uma capacidade e não como um
processo de gestão. Esta definição é um pouco mais ambiciosa, visto que garantir a
sobrevivência e o acesso ao objeto digital é uma coisa, mas fazê-lo sem quaisquer
perdas ou alteração de legibilidade é algo bastante diferente.
Para a UNESCO, a preservação digital é o conjunto de atividades ou processos
responsáveis por garantir o acesso contínuo e a longo prazo à informação e ao restante
património cultural existente em formatos digitais (Webb, 2003). Com base nesta
definição, Ferreira (2006) acrescenta que a preservação digital consiste, então, “na
capacidade de garantir que a informação digital permanece acessível e com qualidades
de autenticidade suficientes para que possa ser interpretada no futuro recorrendo a uma
plataforma tecnológica diferente da utilizada no momento da sua criação”. Comparando
com a definição da AIIM, esta é já bastante mais realista, na medida em que admite que
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
13
podem ocorrer perdas relacionadas com a autenticidade quando se refere a “qualidades
de autenticidade suficientes”.
Através da análise destas definições podemos perceber quais os principais
pontos em comum nas diferentes perspetivas da preservação digital. Todas referem
claramente os objetivos tradicionais de preservação, como a manutenção do suporte ou
o acesso ao conteúdo, e reconhecem a obrigação de ter que manter os materiais digitais
indefinidamente. Porém, é também percetível que existem pequenas diferenças no modo
como diferentes investigadores encaram o tema. Algumas definições assumem que a
preservação digital é uma “capacidade” enquanto outras a encaram como “um conjunto
de processos ou atividades de gestão” que deverão ser levados a cabo permanentemente.
A abordagem à preservação digital pode ainda ser feita de acordo com duas
atividades fundamentais, a preservação passiva e a preservação ativa (Brown, 2007). A
preservação passiva limita-se a criar condições para um armazenamento seguro da
informação. A preservação ativa deverá criar as condições necessárias para assegurar o
acesso continuado aos registos armazenados ao longo do tempo, e através de
tecnologias em constante mudança.
Para uma melhor compreensão do exposto importa ainda definir o que se
entende por objetos digitais. Através da definição utilizada por Ferreira (2006),
podemos afirmar que um objeto digital é “todo e qualquer objeto de informação que
possa ser representado através de uma sequência de dígitos binários”. Um objeto digital
pode então ser nado-digital, o que significa que foi criado num contexto tecnológico
digital, ou digitalizado, o que significa que estamos perante informação digital obtida a
partir de suportes analógicos. Alguns exemplos de objetos digitais são aplicações de
software, páginas Web, documentos de texto, fotografias digitais, bases de dados, entre
outros (Ferreira, 2006).
Porém, para que o objeto digital seja percetível para o ser humano, existe uma
sequência de transformações que têm obrigatoriamente que ocorrer. De modo a garantir
a preservação do objeto digital, e como podemos observar os objetos digitais de
diferentes formas, é necessário assegurar que todos os seus níveis de abstração se
encontram acessíveis e interpretáveis (Ferreira, 2006).
No que diz respeito ao primeiro nível de abstração de um objeto digital, este
começa por ser um objeto físico, ou seja, aquilo que o hardware é, em condições
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
14
normais, capaz de interpretar. O objeto físico consiste então num suporte físico (e.g.
DVD, disco rígido, disquete) que contém um conjunto de símbolos ou sinais inscritos,
que o hardware deverá transformar num conjunto de dados, para que o software, por
sua vez, seja capaz de os compreender e manipular. O software utilizado para a
produção do objeto digital é responsável por definir as regras ou as estruturas para a
organização desse conjunto de dados, estruturas estas que normalmente correspondem
ao “formato” do objeto digital. A estas regras ou estruturas está associado o nível de
abstração lógico, ou sintático, do objeto digital.
Para que o objeto lógico seja corretamente apresentado a um recetor humano, o
software encarrega-se de manipular e transformar os sinais digitais em sinais analógicos
que serão apresentados ao recetor humano através de um periférico de saída. Este é o
processo responsável pela criação do objeto digital no nível de abstração conceptual, e é
normalmente designado por objeto conceptual ou objeto semântico. Estes tipos de
objetos digitais tendem a reproduzir formas familiares ao seres humanos e que existem
no mundo real, como livros, filmes ou fotografias, e são, do ponto de vista humano,
aquilo que deve ser preservado (Ferreira, 2006). Após a interpretação que cada
indivíduo faz do objeto conceptual, poderemos ainda estar perante um objeto
experimentado. No entanto, a informação relativa à preservação destes objetos é ainda
bastante escassa e não deverá ser tida em conta para o desenvolvimento deste trabalho.
A análise aos diferentes níveis do objeto digital é, na nossa opinião,
extremamente importante. Não só porque nos irá ajudar a perceber melhor as diferentes
estratégias de preservação existentes, mas também porque nos permite compreender o
percurso da informação desde o seu estado mais abstrato até ao ponto em que o ser o
humano a consegue compreender e assimilar. Além disso, permite-nos também
compreender o sentido inverso, em que o ser humano pretende armazenar um objeto
conceptual, que ganhou forma através da sua mente, num suporte físico (Fig. 2).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
15
Fig. 2 Diferentes níveis de abstração de um objeto digital (Ferreira 2006, 23)
Segundo Kyong-ho Lee (et al, 2002), a preservação digital implica tanto a
salvaguarda do objeto de informação como a do seu significado. Isto significa que as
técnicas de preservação devem ser capazes de compreender e reproduzir a forma ou
função originais do objeto para assegurar a sua autenticidade e acessibilidade (Lee et al,
2002). As ações de preservação devem ainda ser pensadas e aplicadas o mais cedo
possível, nomeadamente enquanto os objetos digitais ainda estão acessíveis e na fase de
produção (Barbedo, 2010). Isto irá aumentar bastante as probabilidades de sucesso na
preservação dos objetos digitais.
Tendo em conta que o principal fator responsável pela complexidade inerente à
preservação digital é precisamente a relação de dependência entre a informação em
formato digital e o seu contexto tecnológico, iremos apresentar, de seguida, as
principais estratégias que se propõem a solucionar as questões relacionadas com a
preservação a longo prazo da informação em formato digital.
2.2.1 Estratégias de Preservação Digital
Após a análise da literatura relacionada com o tema, através de diferentes fontes de
informação, pudemos encontrar diversas estratégias de preservação digital. Apesar de
estas poderem variar ligeiramente de autor para autor, as seguintes são as que
apresentam um maior consenso entre os vários autores e, de acordo com Ferreira
(2006), podemos defini-las da seguinte forma:
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
16
Preservação da Tecnologia – estratégia que consiste na manutenção e
conservação de todo o hardware e software necessários à correta
apresentação dos objetos digitais;
Refrescamento – consiste na transferência de informação de um suporte
físico de armazenamento para outro, antes da sua obsolescência;
Emulação – utilização de um software (emulador) capaz de reproduzir o
comportamento de uma plataforma de hardware e/ou software numa
outra que à partida seria incompatível;
Migração/Conversão – a migração consiste na transferência periódica
de material digital de uma dada configuração de hardware/software para
uma outra, ou de uma geração de tecnologia para outra subsequente.4
Existem ainda diversas variantes de migração como migração para
suportes analógicos, atualização de versões, conversão para formatos
concorrentes, normalização, migração a pedido e migração distribuída;
Encapsulamento – consiste em preservar, juntamente com o objeto
digital, toda a informação necessária e suficiente para permitir o futuro
desenvolvimento de conversores, visualizadores ou emuladores
(descrição formal e detalhada do formato do objeto preservado, por
exemplo);
Pedra de Rosetta digital – estratégia para recuperação de objetos
digitais para os quais não existe informação suficiente sobre o seu
formato. São reunidas amostras de objetos que sejam representativos do
formato que se pretende recuperar.
Segundo Kyong-ho Lee (et al, 2002), as estratégias de preservação digital podem
ser agrupadas em três classes fundamentais: emulação, migração e encapsulamento.
Thibodeau (2002), no entanto, organiza-as num mapa bidimensional onde o eixo
horizontal se refere ao objetivo da preservação, ou seja, no extremo esquerdo o objetivo
seria a preservação do objeto físico ou lógico e no extremo direito o objetivo seria a
preservação do objeto conceptual. No eixo vertical as estratégias são dispostas de
acordo com o grau de aplicabilidade, do mais específico para o mais genérico, ou seja,
4 Definição da Task Force on Archiving of Digital Information. Washington, D.C.: Commission on
Preservation and Access, 1996.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
17
se são estratégias aplicáveis a uma determinada classe de objetos digitais ou se são
estratégias aplicáveis a qualquer classe (Ferreira, 2009). Na sua tese de doutoramento,
Miguel Ferreira (2009) apresenta uma versão deste mapa bidimensional de uma forma
mais simples e percetível, como demonstra a figura seguinte (Fig.3).
Fig. 3 Classificação das diferentes estratégias de preservação digital (Ferreira, 2009:22)
Posto isto, importa ainda referir que a preservação a longo prazo pode incluir
mais do que uma estratégia de preservação (Lee et al, 2002), ou seja, para assegurar o
sucesso da preservação, podem ser combinados aspetos de diferentes estratégias.
2.2.2 Metainformação de Preservação
O principal objetivo da metainformação de preservação é o de descrever e documentar
os processos e as atividades relacionadas com a preservação de materiais digitais. A
metainformação de preservação consiste, assim, na informação detalhada sobre a
proveniência, autenticidade, atividades de preservação, ambiente tecnológico e
condicionantes legais dos materiais sob custódia (Ferreira, 2009).
Apesar de várias organizações internacionais possuírem já propostas próprias
para modelos de metainformação de preservação, o modelo de referência OAIS (Open
Archival Information System) foi o principal ponto de partida para a discussão em torno
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
18
da necessidade da criação de elementos de metainformação para apoiar as atividades de
preservação digital.
A principal referência nesta matéria é o Dicionário de Dados PREMIS, criado
em 2003 por um grupo de trabalho da OCLC/RLG. Este documento identifica e
descreve um conjunto básico de elementos de metainformação de suporte à preservação
digital e de recomendações quanto à forma como estes deverão ser utilizados no
contexto de um arquivo digital (Ferreira, 2009). Os elementos fundamentais
identificados por este documento são: entidades intelectuais, agentes, eventos, objetos e
direitos.
Além do PREMIS, existem outros esquemas de metainformação já bastante
divulgados e que têm também vindo a ser utilizados em diferentes projetos de
preservação digital. Entre estes, destacamos as normas ISAD (G), MARC, Dublin Core,
METS e EAD.
2.3 O Modelo de Referência OAIS
Um Open Archival Information System (OAIS) é um arquivo que consiste numa
organização de pessoas e sistemas, que aceitou a responsabilidade de preservar
informação e torná-la disponível para uma determinada comunidade (CCSDS, 2002). O
termo “Open” (aberto) não implica que o acesso ao arquivo seja necessariamente sem
restrições, mas sim que as recomendações e normas relacionadas com ele são
desenvolvidas em fóruns abertos. Geralmente, o termo “OAIS” refere-se também à
norma ISO 14721:2003 que define o modelo de referência para um Open Archival
Information System. Este modelo de referência foi inicialmente definido pela
recomendação CCSDS 650.0-B-1 do Consultative Committee for Space Data Systems
(CCSDS), comité que envolve as maiores agências espaciais do mundo e que tem por
objetivo dar resposta a problemas de sistemas de informação comuns a todos os
participantes, através da formulação de soluções técnicas.
Considera-se que a informação que será mantida neste sistema necessita de
preservação a longo prazo, ou seja, este sistema foi pensado para fazer face à evolução
da tecnologia e às mudanças na comunidade de utilizadores. Importa ainda referir que a
preservação a longo prazo pode-se prolongar indefinidamente. Este modelo de
referência está particularmente direcionado para a informação em formato digital, seja
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
19
esta informação primária ou informação de suporte para os materiais físicos ou digitais
armazenados (CCSDS, 2002). A modelação e preservação de informação não digital
não se encontram, portanto, definidas com grande detalhe.
O modelo OAIS pode ser aplicado em qualquer arquivo e, especialmente, nas
organizações com a responsabilidade de tornar a informação acessível a longo prazo.
Apesar de este modelo de referência não especificar aspetos como o design ou a
implementação, tem vindo a ser utilizado como referência para inúmeros projetos de
preservação, nacionais e internacionais, e espera-se que seja uma base sólida para uma
futura padronização e homogeneidade das práticas nesta área.
Como mostra a figura seguinte (Fig.4), este modelo de referência trata de várias
funções de preservação de informação de arquivo, nomeadamente as funções de
ingestão (“ingest”), armazenamento em arquivo (“archival storage”), gestão de dados
(“data management”), acesso (“access”) e disseminação (“dissemination”) (CCSDS,
2002). Além disso, lida também com questões de migração de informação digital para
novos suportes ou formatos, modelos de dados utilizados para representação de
informação, papel do software na preservação de informação e trocas de informação
digital entre arquivos. Identifica ainda as interfaces internas e externas às funções de
arquivo, bem como vários serviços de alto nível relacionados com essas interfaces.
Fig. 4 Entidades Funcionais OAIS (CCSDS, 2002)
Ingestão (ingest): Consiste nos serviços e funções necessários para aceitar os
Pacotes de Submissão de Informação (Submission Information Packages ou
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
20
SIPs) dos produtores (producers) e preparar os conteúdos para o armazenamento
e gestão no arquivo.
Armazenamento em arquivo (archival storage): Armazenamento, manutenção e
recuperação dos Pacotes de Informação de Arquivo (Archival Information
Packages ou AIPs).
Gestão de dados (data management): Funções e serviços para preencher, manter
e aceder à informação descritiva (Descriptive Info) que identifica os documentos
do arquivo, bem como a informação administrativa utilizada para gerir o
arquivo.
Administração (administration): Funções e serviços para o funcionamento geral
do arquivo.
Planeamento da preservação (preservation planning): Monitoriza o ambiente do
OAIS e formula recomendações para assegurar que a informação armazenada no
OAIS se mantém acessível a longo prazo para a comunidade de utilizadores
designada, mesmo que o seu contexto tecnológico original se torne obsoleto.
Acesso (access): Apoia os consumidores (consumers) a identificar a existência,
descrição, localização e disponibilidade da informação armazenada no OAIS,
permitindo que os consumidores requisitem e recebam produtos de informação.
Além das entidades referidas, existem ainda vários serviços comuns (common
services) que deverão estar disponíveis. Estes serviços são igualmente considerados
como uma entidade funcional (CCSDS, 2002) mas, por questões de clareza, esta
entidade não é incluída na figura apresentada (Fig. 4).
Objetos de Informação num OAIS
Um dos conceitos mais elementares no Modelo de Referencia OAIS consiste no facto
de o conceito de informação estar sempre associado a uma combinação entre dados e
informação de representação (CCSDS, 2002). O objeto de informação é composto por
um objeto de dados, que pode ser tanto físico como digital, e é a informação de
representação que permite uma interpretação coerente dos dados e que os torna em
informação inteligível. Por outras palavras, é a informação de representação que dá
significado à sequência de bits que constitui o objeto digital. A partir destes aspetos,
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
21
podemos inferir que, para preservar o significado de um objeto de informação, a
informação de representação terá também que ser preservada.
A combinação entre o objeto de dados de conteúdo e a informação de
representação é denominada por Informação de Conteúdo. A Informação de Conteúdo,
que é também um objeto de informação, é o conjunto de informação que foi
inicialmente alvo de preservação pelo OAIS.
Além da informação de conteúdo, a informação de arquivo terá que incluir
informação que permita a compreensão da informação de conteúdo ao longo de um
período de tempo indefinido. O conjunto específico de objetos de informação
necessários para esta função é conhecido como Informação de Descrição de Preservação
(Preservation Description Information – PDI). A PDI foca-se especialmente na
descrição do estado passado e presente da informação de conteúdo, assegurando que
este possui uma identificação única e que não foi alterado sem conhecimento.
A Informação de Descrição de Preservação engloba quatro classes fundamentais
(CCSDS, 2002), nomeadamente:
Informação de Referência – Esta informação identifica, e se necessário
descreve, um ou mais mecanismos utilizados para atribuir os
identificadores à Informação de Conteúdo. Atribui também os
identificadores únicos para que sistemas exteriores possam aceder
inequivocamente à Informação de Conteúdo pretendida;
Informação de Contexto – Documenta a relação entre a Informação de
Conteúdo e o seu ambiente. Isto inclui a razão pela qual a Informação de
Conteúdo foi criada e como esta se relaciona com outros objetos de
Informação de Conteúdo;
Informação de Proveniência – Documenta a história da Informação de
Conteúdo. Esta informação inclui a origem ou fonte da Informação de
Conteúdo, quaisquer alterações que possam ter ocorrido desde a sua
criação e quem teve a sua custódia desde a sua criação;
Informação de Imutabilidade – Esta informação representa os testes de
integridade dos dados e as chaves de validação/verificação utilizadas para
assegurar que o objeto de Informação de Conteúdo não foi alterado sem
ter sido devidamente documentado.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
22
Tipos de Pacotes de Informação num OAIS
Além da monitorização da tecnologia e da comunidade alvo e do desenvolvimento de
estratégias e normas de preservação, uma das principais atividades da entidade
funcional de Planeamento da Preservação, num OAIS, consiste no desenvolvimento e
design dos pacotes necessários à preservação e de planos de migração (CCSDS, 2002).
Esta atividade é desenvolvida através das normas e das políticas estabelecidas pela
entidade funcional Administração e resulta num protótipo de um pacote de informação
de submissão (SIP) ou pacote de informação de arquivo (AIP), que deverá ainda ser
revisto pela Administração antes da sua utilização.
Os pacotes de informação são as estruturas conceptuais que possibilitam a
preservação a longo prazo. Um pacote de informação contém dois tipos de objetos de
informação, a Informação de Conteúdo (constituída pelos dados de conteúdo e pela
informação de representação) e a Informação de Descrição de Preservação (PDI). Um
pacote de informação pode ainda estar associado a outros dois tipos de objetos de
informação, nomeadamente Informação de Empacotamento e Descrição do Pacote. No
processo de arquivo existem vários tipos de pacotes que podem ser utilizados. Estes
podem ser utilizados para estruturar e armazenar a informação do OAIS, para
transportar a informação pretendida do produtor para o OAIS ou para transportar a
informação pretendida entre o OAIS e os consumidores.
Importa ainda realçar que os pacotes de informação para submissão e disseminação
poderão estar organizados de uma forma bastante diferente dos pacotes de informação
que são alvo de preservação pelo OAIS (CCSDS, 2002), ou seja, os pacotes de
informação de arquivo (AIP). Consequentemente, podemos definir os diferentes tipos
de pacotes de informação num OAIS da seguinte forma:
Pacote de Informação de Submissão (SIP)
O Pacote de Submissão de Informação é o pacote que é enviado para um OAIS
pelo produtor. A sua forma e o seu conteúdo são geralmente negociados entre o
produtor e o OAIS.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
23
Pacote de Informação de Arquivo (AIP)
Pacote que contém toda a informação necessária para permitir a preservação a
longo prazo e o acesso ao conteúdo do arquivo. Inclui, portanto, a Informação de
Conteúdo e a Informação de Descrição de Informação.
Pacote de Informação de Disseminação (DIP)
Pacote que contém a informação necessária para responder a um pedido do
consumidor. Pode consistir num AIP inteiro, ou apenas numa parte deste, e pode
ainda incluir coleções de AIPs. Poderá ter, ou não, Informação de Descrição de
Preservação completa, mas deverá fornecer sempre informação suficiente ao
consumidor para que este possa distinguir o DIP em causa de outros pacotes de
informação similares.
Uma das grandes vantagens da construção de AIPs, no contexto de um OAIS,
reside na sua independência em relação à infraestrutura tecnológica. Isto significa que
um AIP bem construído deverá poder ser armazenado e materializado numa grande
variedade de ambientes de computação.
2.4 Projetos de Preservação Digital
A preservação digital de informação institucional é um assunto que tem merecido uma
atenção crescente por parte de organizações de diversas áreas. Podemos encontrar vários
projetos no setor empresarial, na administração pública e órgãos do Estado e em
instituições de Ensino Superior e de investigação, tanto a nível nacional como
internacional.
Em Portugal, estão já em curso projetos de preservação digital, com vista à
elaboração de Planos de Preservação Digital, em vários ministérios. Apesar de ainda
não existir muita informação sobre o estado atual destes projetos, foi possível verificar
que os Ministérios das Finanças e da Administração Pública, o Ministério da Educação
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
24
e o Ministério da Administração Interna5, por exemplo, têm vindo a desenvolver
esforços no sentido da implementação de Planos de Preservação Digital. Importa ainda
referir que estes projetos são, normalmente, apoiados pela DGARQ e por organizações
especializadas em Tecnologias de Informação.
O Projeto DigitArq, desenvolvido em conjunto pelo Arquivo Distrital do Porto,
DGARQ e Universidade do Minho, tem como objetivo a simplificação e otimização do
trabalho num arquivo definitivo tanto ao nível operacional como ao nível da gestão6. O
desenvolvimento da aplicação seguiu as orientações delineadas pela Norma
Internacional de Descrição Arquivística (ISAD(G)) e o Encoded Archival Description7
(EAD) (Ramalho, 2006), e apoiou-se ainda nas normas ISAAR (CPF) e EAC. O
software é constituído por seis módulos funcionais que procuram ir de encontro às
necessidades dos profissionais de arquivo. Entre estes temos, por exemplo, o Módulo de
Descrição Arquivística, o Módulo de Gestão de Objetos Digitais, o Módulo de
Publicação de Objetos Digitais.
O Projeto RODA8 (Repositório de Objetos Digitais Autênticos) visa desenvolver
e promover uma solução tecnológica, ultimada na construção de um protótipo de
repositório digital capaz de incorporar, descrever e dar acesso a todo o tipo de
informação digital produzida no contexto da Administração Pública (Faria, 2007). Este
projeto, da responsabilidade da DGARQ, pretende desenvolver um sistema capaz de
assegurar todas as funcionalidades de um arquivo digital constantes na norma OAIS.
O projeto propõe-se a ingerir três classes de objetos digitais, nomeadamente
documentos de texto, imagens bidimensionais e bases de dados relacionais. O projeto
contempla ainda alguns objetivos secundários como, por exemplo, a definição de
políticas de arquivo para os objetos digitais produzidos pela administração pública
nacional, definição de política de preservação para o arquivo digital, modelos de
financiamento para suportar o arquivo digital, identificação e seleção de esquemas de
metainformação e definição de taxonomias para as diferentes classes de objetos
(Ramalho, 2006).
5Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna:
http://www.sg.mai.gov.pt/?area=000&mid=000&sid=000&cid=CNT4e9d861ae07cd Consultado a 16 de
dezembro de 2011. 6Espaço do DigitArq: http://digitarq.pt/ Consultado a 9 de dezembro de 2011
7 Site oficial da Encoded Archival Description, versão 2002: http://www.loc.gov/ead/ Consultado em 16
de dezembro de 2011. 8 Projeto RODA na DGARQ: http://dgarq.gov.pt/servicos/arquivo-digital-roda/ Consultado em 16 de
dezembro de 2011.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
25
Outro projeto que merece atenção, foi desenvolvido pela Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto e pelo INESC Porto, contando ainda com a
colaboração da DGARQ e da Universidade do Minho. O principal objetivo do
DBPreserve – Armazéns de Dados para a Preservação a Longo Prazo de Documento
Eletrónicos e Bases de Dados Institucionais – foi o do explorar a adequação da
abordagem de Armazém de Dados como veículo para realizar, relativamente a um dado
sistema de informação, funções essenciais do ponto de vista da arquivística como a
avaliação, classificação, eliminação, descrição e acesso, respeitando propriedades como
a autenticidade e a integridade9. Entre os principais resultados deste projeto, destacamos
a proposta de um modelo de migração de bases de dados relacionais para bases de dados
dimensionais. Esta abordagem envolve três atividades principais, nomeadamente, o
cálculo da informação embebida no código, o seu armazenamento num modelo
dimensional e a exportação da informação do modelo dimensional para XML. No
entanto, antes da migração, deverá ser definido o que é necessário manter para o futuro
e o que pode ser descartado, atividade muito similar ao trabalho da arquivística
(Rahman, David e Ribeiro, 2010).
Quanto a projetos internacionais, e dada a enorme quantidade de projetos já
terminados ou em curso, destacamos os que mais são referidos na literatura analisada.
De uma forma muito breve, estes são:
Projeto PANDORA10
– Preserving and Accessing Networked Documentary
Resources of Australia da responsbilidade da National Library of Australia. O
objetivo principal é o de capturar, arquivar e garantir o acesso a longo prazo a
publicações online relevantes.
Projeto CAMiLEON11
– financiado pela Joint Information Systems Committee
(JISC) no Reino Unido e pela National Science Foundation (NSF) nos EUA.
Este projeto estuda os aspetos inerentes à implementação da emulação da
tecnologia como estratégia de preservação digital.
Projeto InterPARES12
– International Research on Permanent Authentic
Records Electronic Systems consiste numa iniciativa de investigação
9 Projeto DBPreserve no SiFEUP: https://www.fe.up.pt/si/projectos_geral.mostra_projecto?P_ID=1349
Consultado em 9 de dezembro de 2011. 10
Website do Projeto PANDORA: http://pandora.nla.gov.au/ Consultado em 16 de dezembro de 2011. 11
Website do projeto CAMiLEON: http://www2.si.umich.edu/CAMILEON/about/aboutcam.html
Consultado em 16 de dezembro de 2011. 12
Website do projeto InterPARES: http://www.interpares.org/ Consultado em 16 de dezembro de 2011.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
26
multinacional com o objetivo de desenvolver a metodologia e o conhecimento
teórico necessários para a preservação permanente de registos criados através de
sistemas eletrónicos. Áreas de investigação divididas em quatro domínios
complementares: autenticidade, avaliação, preservação e estratégias.
Projeto CASPAR13
– Cultural, Artistic and Scientific knowledge for
Preservation, Access and Retrieval cofinanciado pela União Europeia e que
pretende investigar, implementar e disseminar soluções inovadoras para a
preservação digital com base no modelo de referência OAIS.
Projeto PLANETS14
– Preservation and Long-Term Access through
NETworked Services financiado pela União Europeia através da Information
Society Technologies (IST). Dedica-se à investigação sobre estratégias de
preservação de longo prazo, com o objetivo de apoiar as organizações a
encontrar a melhor alternativa para o seu contexto, assegurando o valor dos
conteúdos digitais e gerindo os custos associados aos processos de preservação.
Também neste projeto, o modelo OAIS é usado como base para satisfazer os
requisitos das diferentes organizações.
2.5 Planeamento da Preservação Digital
Atualmente, existe já uma grande variedade de ferramentas para apoiar as diferentes
estratégias de preservação, como a migração ou a emulação, o que dificulta bastante a
decisão sobre qual a solução a implementar. Todas as estratégias têm vantagens e
desvantagens, de acordo com os diferentes tipos de materiais digitais que se pretende
preservar (Lee et al, 2002), e é ainda necessário ter em conta inúmeros fatores, que vão
desde as restrições financeiras até ao próprio objetivo da preservação. Torna-se,
portanto, necessário encontrar modelos e mecanismos que apoiem a decisão a tomar nas
organizações e que permitam implementar a melhor solução possível. Além disto, o
planeamento da preservação, enquanto processo de gestão, deverá ser repetido
regularmente para garantir que a estratégia de preservação se mantém atualizada e
eficaz.
13
Website do projeto CASPAR: http://www.casparpreserves.eu/caspar-project.html Consultado em 16 de
dezembro de 2011. 14
Website do projeto PLANETS: http://www.planets-project.eu/ Consultado em 16 de dezembro de 2011.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
27
Para levar a cabo um projeto de preservação digital deverão, então, ser adotadas
políticas de alto nível e elaborados planos de preservação concretos. As políticas de alto
nível são, normalmente, definidas ao nível institucional e regulam as estratégias e
restrições fundamentais (Becker et al, 2009). O recente estudo sobre políticas de
preservação digital, financiado pelo JISC (Beagrie et al, 2008), é um exemplo de um
documento que apresenta um modelo para políticas de preservação digital, com o
objetivo de ajudar as organizações a desenvolver as suas próprias políticas de
preservação. Este tipo de documentos define as preocupações de preservação de uma
forma mais genérica e de alto nível, mas não especifica passos ou etapas concretas para
assegurar o acesso a longo prazo. Exemplos de elementos de uma política de
preservação são, por exemplo, “as ações de preservação devem ser open source” ou “o
custo da ação de preservação não deverá exceder o valor estimado do objeto digital”
(Becker et al, 2009).
Um plano de preservação, por outro lado, situa-se já num nível bastante mais
concreto, na medida em que especifica um plano de ações para preservar um conjunto
específico de objetos digitais, com um dado propósito (Becker et al, 2009). Podemos,
portanto, definir um plano de preservação como “uma série de ações de preservação a
ser tomadas pela instituição responsável de acordo com um risco identificado para um
determinado conjunto de objetos digitais ou documentos (coleção). O plano de
preservação deverá ter em conta as políticas de preservação, obrigações legais,
restrições organizacionais e técnicas, requisitos de utilizador e objetivos de preservação,
e deverá descrever o contexto de preservação, as estratégias de preservação avaliadas e
a decisão por uma das estratégias, incluindo a justificação da decisão tomada. Especifica
ainda um conjunto de passos ou ações a tomar (“preservation action plan”), que
deverão ser acompanhados de responsabilidades, regras e condições para a execução, na
coleção” 15
(Becker et al, 2009).
Segundo Becker et al (2009), um plano de preservação deverá ainda conter os
seguintes elementos: identificação; estado do plano (em construção, à espera de
aprovação, ativo) e o que despoletou a atividade de planeamento; descrição do contexto
institucional; descrição da coleção; requisitos para a preservação; justificação da escolha
de uma determinada estratégia de preservação; custos; papéis e responsabilidades; e o
plano de ação de preservação.
15
Definição adotada pelo projeto PLANETS (http://www.planets-project.eu/)
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
28
Tendo em conta a atual conjuntura económica e as dificuldades financeiras que
muitas organizações enfrentam, a estimativa dos custos da preservação de objetos
digitais é um dos aspetos mais importantes a ter em conta para o planeamento da
preservação. Apesar de ser um assunto pouco explorado e bastante complexo (Lee et al,
2002), o projeto LIFE2 é já uma das principais referências para compreender os custos a
longo prazo da preservação digital16
. A metodologia presente neste relatório é testada e
avaliada em três casos de estudo, com contextos bastante diferentes, e permite a
estimativa dos custos para um único objeto digital, ao longo de um certo período de
tempo.
2.6 Síntese Crítica
Partindo de uma perspetiva histórica da preservação, foi definido o posicionamento
desta atividade em relação à Ciência da Informação bem como o papel dos documentos
de arquivo nas organizações. Os maiores desafios da preservação em ambiente digital
foram apresentados e o conceito de objeto digital definido em detalhe. Os seus
diferentes níveis de abstração foram também analisados com o objetivo de obter uma
melhor compreensão do impacto das estratégias de preservação existentes. Foram ainda
abordados assuntos indispensáveis para o desenvolvimento de qualquer projeto de
preservação digital, como a metainformação de preservação e a importância da adoção
de modelos de arquivo amplamente divulgados para que a preservação da informação
em formato digital seja o mais coerente possível.
A análise da literatura científica permitiu constatar que existem já inúmeras
iniciativas e projetos de preservação digital, um pouco por todo o mundo. Este fato
revela que existe já um reconhecimento assinalável, por parte de diferentes
organizações, da importância que a preservação digital pode ter para o desenvolvimento
das suas atividades, como parte integrante da gestão de informação da organização e,
em última instância, para a sociedade no geral. No entanto, esta diversidade de projetos
pode ter ainda mais impacto para o desenvolvimento da preservação digital se existir
uma verdadeira colaboração entre eles. A troca de experiências, a discussão e a reflexão
sobre os problemas que afetam os diferentes projetos podem, muitas vezes, abrir novas
16
The LIFE2 Final Project Report (Consultado em 6 de janeiro de 2012 de
http://discovery.ucl.ac.uk/11758/1/11758.pdf)
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
29
portas e despoletar o aparecimento de ideias inovadoras para solucionar esses mesmos
problemas.
Na parte final, é destacada a importância de um planeamento sistemático da
preservação em função das políticas definidas ao nível institucional. Foram
identificados os vários fatores que devem ser tidos em consideração na construção de
planos de preservação e os principais elementos que neles devem constar. Apesar de o
planeamento da preservação digital ser um assunto relativamente recente, foi possível
observar que a necessidade de planeamento desta atividade é já bastante consensual na
generalidade da comunidade científica.
Através da literatura e dos diferentes projetos analisados, podemos ainda concluir
que o maior desafio da preservação digital se prende com a garantia da inteligibilidade
da informação a longo prazo. Existem já várias estratégias que permitem preservar a
informação em formato digital em suportes bastante duradouros ou através da migração
recorrente desses mesmos suportes físicos mas, atualmente, o grande problema reside
em garantir que a constante e acelerada evolução de software, e a sua consequente
obsolescência, não irá afetar uma correta interpretação da informação no futuro.
Algumas das soluções mais promissoras prendem-se com a normalização da
informação ou a migração para formatos abertos que assegurem a interoperabilidade
entre diferentes sistemas. No entanto, e especialmente quando estamos perante
informação confidencial e restrita a uma reduzida comunidade de utilizadores, importa
colocar a questão se soluções deste tipo não poderão pôr em causa a segurança dessa
mesma informação. Apesar de o principal objetivo ser assegurar que a informação se
mantem inteligível a longo prazo, a verdade é que as estratégias necessárias para atingir
esse objetivo terão que ser implementadas no presente. Ou seja, a informação será mais
fácil de compreender não só no futuro, mas também no presente, pois não depende
diretamente de uma infraestrutura tecnológica específica para que possa ser
corretamente interpretada. Isto faz com que sejam necessários cuidados redobrados na
sua proteção e na definição de políticas de segurança de informação, para assegurar que
pessoas mal intencionadas não têm acesso indevido a informação que não lhes diga
respeito.
Apesar de existir uma grande variedade de alternativas em relação às estratégias
de preservação possíveis nos mais diferentes contextos, importa ainda realçar que não
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
30
existem provas conclusivas em relação à eficácia de cada uma delas. Apenas o passar
dos anos poderá provar qual é, de fato, a mais eficaz.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
31
3 Contexto Institucional e Análise do Objeto de Estudo
3.1 Caracterização Orgânica e Funcional da FEUP
As origens da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto remontam ao ano de
1765, ano em que foi criada a Aula Náutica. Esta instituição tinha como principal
objetivo responder à necessidade de formar pessoas capazes de manobrar e comandar as
embarcações que protegiam os navios de mercadorias que se dirigiam para os portos da
América. Posteriormente, em 1837, esta instituição foi substituída pela Academia
Politécnica, primeiro estabelecimento de ensino de engenharia do país, e que tinha como
missão formar engenheiros, oficiais da marinha, pilotos, comerciantes, agricultores,
diretores de fábricas e artistas. Em 1915, após a implantação da República, surge a
Faculdade Técnica, gozando já de autonomia própria, e, em 1930, é decretada a
organização dos cursos do que, então, se passou a designar Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto.
A partir desta data, existiram inúmeros marcos e acontecimentos que
contribuíram para que esta Faculdade se pudesse tornar num dos principais pontos de
referência, a nível nacional e também europeu, no que respeita ao ensino de engenharia.
Entre estes, destacamos a aprovação dos primeiros estatutos da Faculdade de
Engenharia, em 1988, onde foi fixada a sua autonomia administrativa, financeira e
pedagógica. É igualmente de realçar a mudança de instalações, em 2001, de um local
com uma área útil de cerca de 30.000 m2, para outro com uma dimensão quase três
vezes maior.
As novas instalações da Faculdade de Engenharia permitiram, não só melhores
condições técnicas e materiais para o ensino da engenharia, mas também uma
capacidade muito maior para o crescimento da sua comunidade académica. No ano
letivo de 2008/2009, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto contava com
6966 estudantes inscritos, número este que tem vindo a crescer ligeiramente de ano para
ano. De facto, no ano letivo de 2010/2011, contava já com 7145 estudantes inscritos,
sendo que os estudantes em mobilidade, em unidades curriculares singulares ou em
outras unidades de formação contínua não foram incluídos nesta contagem. Estes dados
permitem-nos estimar que já passaram por esta instituição vários milhares de estudantes
ao longo dos tempos e que muitos mais continuarão a fazê-lo.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
32
Na figura que se segue (Fig.5), é possível comprovar, de uma forma mais
detalhada, o número crescente de alunos que tem vindo a ingressar na Faculdade,
nomeadamente através da contabilização do número de ingressos por ciclo, entre o ano
letivo de 2008/09 e o ano letivo de 2010/11.
Fig. 5 Nº de ingressos por ciclo – 2008/09-2010/11 (Plano Estratégico FEUP 2011-15, 2011)
A FEUP goza de vários tipos de autonomia, definidos em Diário da República, e
que podem ser enumerados como autonomia estatutária, autonomia científica,
autonomia pedagógica e autonomia de gestão (Estatutos FEUP, 2009). Quanto à sua
estrutura orgânica, foram identificados os seguintes órgãos de gestão:
Conselho de Representantes
Diretor
Conselho Executivo
Conselho Científico
Conselho Pedagógico
Órgão de Fiscalização
Atualmente, a Faculdade de Engenharia possui uma organização funcional
constituída por nove departamentos, nomeadamente:
Departamento de Engenharia Civil
Departamento de Engenharia de Minas
Departamento de Engenharia e Gestão Industrial
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
33
Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores
Departamento de Engenharia Física
Departamento de Engenharia Informática
Departamento de Engenharia Mecânica
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais
Departamento de Engenharia Química
Esta organização funcional, constituída pelos departamentos referidos
anteriormente, é apoiada pelos seguintes serviços:
Centro de Informática Prof. Correia Araújo
Divisão de Recursos Humanos
Serviços de Documentação e Informação
Serviços Académicos
Serviços de Imagem, Comunicação e Cooperação
Serviços Económico-Financeiros
Serviços Técnicos e de Manutenção
Unidade de Apoio à Direção
As atividades educacionais são dirigidas por diretores de curso e as atividades de
investigação, desenvolvimento, inovação e extensão organizadas em unidades, cada
uma com o respetivo coordenador (Estatutos FEUP, 2009).
Os Estatutos da FEUP, revistos em 2009, propõem um “modelo organizacional e
funcional partilhado, de governo central forte, com intervenção colegial em vários
níveis de decisão, que não só assegure a correta utilização das autonomias que
competem à Faculdade e promova um elevado nível motivacional do seu capital
humano, como garanta a eficaz gestão e controlo dos meios colocados ao seu dispor,
com as necessárias flexibilidade, capacidade de decisão em tempo útil e pro-atividade
nos processos de mudança” (Estatutos FEUP, 2009).
Apesar de no artigo 2º dos Estatutos da FEUP, publicados na 2ª série, nº238, do
Diário da República a missão da FEUP estar definida de uma forma mais genérica como
“uma instituição de criação, transmissão e difusão do conhecimento, da tecnologia e da
cultura na área da engenharia, ao serviço do ser humano, com respeito por todos os seus
direitos” (Estatutos FEUP, 2009) e enumere um conjunto de objetivos necessários para
a prossecução da sua missão, é possível encontrar uma definição mais atual e detalhada
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
34
no Plano Estratégico da FEUP para 2011-2015. Neste segundo documento, a missão da
Faculdade é definida da seguinte forma: “A missão desenvolve-se essencialmente nas
áreas da engenharia e afins, tendo como dimensões principais a formação académica, as
atividades de investigação, desenvolvimento e inovação em estreita ligação com as
formações de segundo e principalmente de terceiro ciclo e, ainda, as atividades da
terceira missão da Universidade que incluem a transferência de conhecimento e
tecnologia, a prestação de serviços, a oferta de formação contínua, a participação na
discussão de políticas nacionais e o envolvimento na vida económica, cultural e social
da nossa região e do país.
Deve ver-se como parte integral dessas dimensões, na sua complementaridade, a
formação cultural, cívica e humanista da Comunidade FEUP, a valorização da
envolvente e do património e a preservação da memória da instituição” (Plano
Estratégico 2011-15, 2011).
Analisando o último ponto da missão da instituição, podemos comprovar a
necessidade e a pertinência da definição de estratégias de preservação digital,
especialmente quando a gestão de informação na Faculdade assenta cada vez mais na
utilização de ferramentas digitais. Além de permitir auxiliar e agilizar os processos de
gestão de informação na Faculdade, a implementação de estratégias de preservação
digital deverá ter uma importância ainda maior no que respeita à “preservação da
memória da instituição”, nomeadamente através da preservação a longo prazo dos
registos de todos os estudantes que já frequentaram a instituição. Será este, então, o
principal objetivo da preservação digital no contexto da preservação dos processos
individuais de estudantes da FEUP.
3.1.1 Os Serviços Académicos (SERAC)
Os Serviços Académicos da Faculdade (SERAC) exercem a sua atividade no âmbito da
administração, da gestão e do apoio às formações pré e pós-graduada e à educação
contínua. Estão organizados em quatro áreas distintas, nomeadamente a de Gestão de
Curso, a de Gestão de Acesso, Ingresso e Certificação, Gestão do Estudante e a Unidade
de Orientação e Integração. Além disto, os serviços encontram-se ainda divididos em
três unidades: Divisão de Pós-Graduação e Formação contínua; Divisão de Pré-
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
35
Graduação; e Unidade de Orientação e Integração. Entre assistentes técnicos e técnicos
superiores, conta, atualmente, com cerca de 20 colaboradores.
Quanto à missão dos Serviços Académicos, esta consiste em “garantir as
atividades no âmbito da administração, gestão e apoio na área de gestão de curso; a área
do acesso, ingresso e certificação; a área de gestão de estudante e na unidade de
orientação e integração, de acordo com as instruções tutelares e as diretivas dos Órgãos
de Gestão, constituindo a relação com o estudante o vetor essencial da sua atuação” e
“exercem a sua atividade no âmbito da administração, da gestão e do apoio às
formações pré e pós-graduada e à educação contínua”.
3.1.2 O Arquivo da FEUP
O Arquivo da FEUP insere-se na Divisão de Arquivo e Museu que, por sua vez, se
insere nos Serviços de Documentação e Informação da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto. As suas principais funções consistem no estudo da informação
produzida, recebida e acumulada, na conceção e génese da documentação, a sua
tramitação, arquivo, conservação, preservação, acesso e difusão. Compete-lhe ainda
apoiar as unidades orgânicas da FEUP na implementação destes procedimentos.
A missão do Arquivo da FEUP pode ser definida da seguinte forma: “O Arquivo
tem por missão promover uma política de gestão da informação gerada, recebida e
arquivada no âmbito das atividades desenvolvidas pela FEUP no cumprimento da sua
missão, compreendendo todo o ciclo de vida da informação, embebida quer nas
tradicionais quer nas novas tecnologias, com o objetivo de a rentabilizar como
referência, prova, informação de apoio à decisão e preservação da memória
institucional”.
Na figura seguinte (Fig. 6), é apresentada a estrutura orgânica dos Serviços de
Documentação e Informação (SDI) da FEUP, onde se insere a Divisão de Arquivo e
Museu.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
36
Fig. 6 Estrutura Orgânica SDI (FEUP, 2012)
Importa ainda realçar que os SDI são os serviços responsáveis pela gestão do
repositório digital da FEUP (ou @FEUP). A missão deste repositório, suportado pela
plataforma DigiTool, é “armazenar, preservar, facultar o acesso e divulgar a produção
intelectual, a documentação administrativa e o património cultural da FEUP em formato
eletrónico e contribuir para o aumento do impacto e visibilidade das atividades de IDI
(Investigação, Desenvolvimento e Inovação) desenvolvidas” (COSTA e AZEVEDO,
2010:2). O @FEUP está ainda integrado com diferentes aplicações especializadas para a
gestão das diferentes tipologias documentais da responsabilidade do SDI e com outras
aplicações da FEUP, armazenando os ficheiros cujo processo de evolução está
estabilizado (COSTA e AZEVEDO, 2010).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
37
3.2 Os Processos Individuais dos Estudantes
Os processos individuais dos estudantes, da responsabilidade dos SERAC, são o objeto
de estudo do trabalho que se pretende realizar. Estes processos são extremamente
importantes para a FEUP, enquanto instituição, na medida em que constituem o
principal testemunho da missão da faculdade, ou seja, a formação de indivíduos. É ainda
inquestionável o seu valor no que diz respeito à gestão e à memória da instituição.
Também para todos indivíduos que frequentam ou já frequentaram a instituição, é
extremamente importante que a informação relativa ao seu percurso académico se
mantenha acessível e inteligível a longo prazo e em qualquer altura do tempo.
3.2.1 Génese e Caracterização dos Processos Individuais dos Estudantes
Quanto às suas origens, os processos individuais dos estudantes podem surgir através de
diferentes contextos, normalmente denominados como regimes de acesso. Isto significa
que existem diferentes situações que podem despoletar a abertura do processo
individual do estudante. Estas podem, então, ser enumeradas da seguinte forma (Pópulo,
2008):
Concurso Nacional de Acesso – 1º ano, 1ª vez; e 1ª, 2ª e 3ª fases
Concursos especiais – Candidatura local (FEUP)
o Maiores de 23 anos;
o DET (Detentores de cursos de especialização tecnológica);
o Titulares de cursos superiores e médios (afins e não afins).
Regimes especiais – Candidatura a nível nacional;
o Atletas de alta competição;
o PALOP.
Reingresso, Mudança de curso, Transferência – Candidatura local.
Titulares de cursos superiores na mesma área.
Quanto à constituição propriamente dita dos Processos Individuais dos
Estudantes, é possível efetuar uma distinção entre a informação considerada
“obrigatória”, ou seja, que terá obrigatoriamente que constar em todos os processos de
estudantes, e a informação esporádica. A informação esporádica poderá, ou não, estar
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
38
presente nos Processos Individuais dos Estudantes dependendo do percurso e situação
específica de cada estudante. De seguida, é apresentada uma tabela com os
procedimentos, comuns a todos os estudantes, que irão obrigatoriamente resultar na
criação de documentação dentro de um Processo Individual do Estudante. Note-se que
estes procedimentos são apresentados de uma forma cronológica, visto que existe um
padrão de sucessão relativamente evidente ao longo do percurso académico do
estudante.
Procedimentos Obrigatórios num Processo Individual de Estudante
Candidaturas (concursos locais)
Matrículas e 1ª inscrição no curso
Inscrições anuais
Pagamento de Propinas
Exames de época normal e recurso
Dissertação/Tese
Conclusão de curso
Fig. 7 Tabela dos procedimentos obrigatórios no percurso académico de um estudante
Procedimentos Esporádicos num Processo Individual do Estudante
Equivalências
Estatutos especiais
Requerimentos
Outros exames (melhoria, época especial, …)
Declarações e certidões
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
39
Justificação de faltas
Mobilidade
Atividades Complementares
Regime de estudo
Fig. 8 Tabela dos procedimentos esporádicos no percurso académico de um estudante
Além disto, destacamos que muitos dos procedimentos referidos se repetem ao
longo da vida académica do estudante. No caso dos procedimentos obrigatórios,
podemos enumerar as inscrições anuais, os exames de época normal e de recurso ou as
propinas como exemplos de acontecimentos que se repetem de uma forma sistemática.
As declarações e certidões, as justificações de faltas ou os requerimentos são exemplos
de procedimentos que se podem repetir se uma forma algo imprevisível, nos casos em
que existam.
Importa ainda realçar que as práticas administrativas até à presente data
permitem que um único estudante possa ter mais do que um processo individual,
nomeadamente um processo por cada ciclo de estudos em que se inscrevia. Esta
situação acontece quando, por exemplo, um estudante conclui uma licenciatura, que
origina a abertura de um processo individual na primeira matrícula, e, posteriormente,
um curso de mestrado, que originará a abertura de outro processo individual, também no
momento da primeira matrícula. No entanto, num futuro próximo, deverá existir apenas
um processo individual por cada estudante, sendo que a documentação relativa a
inscrições em outros ciclos de estudos deverá ser agrupada ao processo individual já
existente.
Entre os vários elementos que constituem um Processo Individual do Estudante,
alguns são gerados em suporte eletrónico e são posteriormente impressos a partir do
SiFEUP, ou mesmo a partir do sistema de Webmail (e-mails, por exemplo), para serem
anexados ao processo individual que se encontra ainda ativo no Arquivo da Faculdade.
Outros documentos, como requerimentos, atestados ou certidões, surgem nos SERAC
muitas vezes em papel, são processados no sistema de informação dos serviços e são
mantidos indefinidamente nesse formato para serem anexados ao processo individual
em Arquivo. Nestes casos, esses documentos são originais e únicos, e a única hipótese
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
40
de os converter para formato eletrónico seria através da sua digitalização, processo que,
por si só, poderá pôr em causa a sua autenticidade.
Note-se que, por limitações de espaço nas instalações dos SERAC, o Arquivo da
FEUP acolhe já, além dos processos individuais já fechados, todos os processos
individuais de estudantes ainda a frequentar a instituição. Os únicos processos
individuais ativos armazenados nas instalações dos SERAC correspondem aos dos
alunos de doutoramento. Para aceder aos processos individuais em papel, os
funcionários dos SERAC têm que se deslocar ao Arquivo e, caso necessitem de
requisitar algum processo, terão que o fazer por escrito (através de assinatura, por
exemplo) para que o Arquivo possa controlar as entradas e saídas da sua documentação.
3.2.2 Enquadramento Legal dos Processos Individuais dos Estudantes
Em relação às disposições legais que regem e condicionam a constituição dos Processos
Individuais dos Estudantes, foi possível verificar que apenas o Despacho nº13/76 de 20
de Setembro de 1976, publicado em Diário da República, II Série, nº 221, nas páginas
6307 a 6308, se debruça exclusivamente sobre esta matéria (PORTUGAL, 1976).
A 5ª alínea, do artigo 3º, deste Despacho destaca-se por impor a abertura de um
Processo Individual a todos os estudantes que realizem uma matrícula no ensino
superior oficial português a partir do ano letivo de 1976-1977. No mesmo artigo, na
alínea 3ª, é possível identificar o conjunto de documentos que um processo individual
terá que conter (PORTUGAL, 1976), nomeadamente:
a) Certificado de habilitações de acesso;
b) Certidão de Nascimento;
c) Documentos referentes à matricula e frequência no ano vestibular, se o estudante
teve de se matricular no mesmo (boletim de matrícula, certificado final, etc);
d) Documentos referentes à matrícula e frequência do ensino superior (cópias dos
boletins de matrícula e inscrição, requerimentos de modificação da sua situação
curricular, boletins de alteração, etc);
e) Toda a restante documentação referente à vida escolar do estudante e que deva
ser conservada.
Na 5ª alínea do artigo 3º, importa destacar que a transferência de documentos
relacionados com os processos individuais deverá ser feita por transferência dos
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
41
originais ou por fotocópia. Na alínea 4ª do mesmo artigo, é ainda possível ler, por
exemplo, que “a documentação do processo individual estará contida em capa de
modelo oficial”, ou que “os originais dos boletins de matrícula e inscrição serão
reunidos em livro (…)”. Estas disposições permitem-nos perceber que a utilização de
computadores ou ferramentas digitais nas práticas administrativas era ainda
completamente inexistente na altura da redação deste Despacho.
De facto, através da análise deste Despacho, redigido no ano de 1976, é evidente
a diferença entre as práticas administrativas existentes na altura da sua redação e as
práticas atuais nas instituições de ensino superior. As disposições presentes neste
Despacho são, portanto, bastante arcaicas, carecendo de atualizações e ajustamentos que
as adequem aos processos de gestão e práticas administrativas existentes atualmente nas
instituições de ensino superior.
No entanto, e como se trata do único diploma legal referente a esta matéria, este
Despacho continua em vigor e deverá ser seguido e adaptado, dentro dos possíveis,
pelas instituições a que se dirige.
3.3 Identificação e Análise dos Sistemas de Informação
Dentro da FEUP, são vários os sistemas de informação e aplicações informáticas que
lidam, de uma forma ou de outra, com a informação relativa ao percurso académico dos
estudantes. Para ilustrar esta complexidade de sistemas e as relações entre eles, serão
apresentados, de seguida, os diferentes contextos tecnológicos e fluxos de informação
que servem de base à gestão da informação relacionada com os PIE (fig. 9).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
42
Fig. 9 Fluxos de informação relacionados com a gestão dos PIE
Como foi já referido, o SIGARRA - Sistema de Informação para a Gestão
Agregada dos Recursos e dos Registos Académicos - é constituído por três
componentes, nomeadamente a componente de Gestão de Alunos (GA), a de Gestão de
Recursos Humanos (GRH) e a de Sistema de Informação (SI), sendo esta última a
componente que oferece a interface que permite o acesso Web aos conteúdos a
utilizadores internos ou externos à FEUP. Contudo, a integração do GAUP com o SI da
FEUP torna a tarefa de análise da informação relativa aos PIE neste sistema bastante
complicada, visto que, por vezes, é difícil distinguir o que se encontra num ou noutro
sistema.
Enquanto o GAUP se encontra exclusivamente sob a alçada dos SERAC, sendo
estes os únicos produtores de informação, são muitas as entidades que contribuem para
a produção de informação para o SI. Desde os serviços de secretariado, departamentos,
professores, estudantes, reitor e direção, até aos próprios elementos dos SERAC, são
muitos os que interagem com este sistema e intervêm nos diversos procedimentos
relacionados com o processo de construção dos PIE. Esta multiplicidade de
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
43
intervenientes em certos procedimentos pode ser observada, por exemplo, nos pedidos
de equivalência por parte de um estudante (Fig. 10).
Fig. 10 Pedido de Equivalência através do SIGARRA
Ao mesmo tempo, a integração e a constante troca de informação entre o SI e o
GAUP permitem que a informação transite do GAUP para o SI, que seja criada mais
informação no SI, e que essa informação seja, posteriormente, reenviada para o GAUP.
No entanto, e apesar de existirem vários intervenientes em alguns procedimentos,
apenas os documentos finais resultantes desses procedimentos deverão ser alvo de
preservação digital. Aspetos relativos ao percurso da informação até ao seu estado final
poderão ter relevância para a meta-informação de preservação, por exemplo.
Como o SIGARRA possibilita o acesso e a visualização de toda a informação
relativa aos estudantes, este acaba por funcionar como arquivo corrente dos SERAC. É
através deste sistema que os SERAC satisfazem quase todas as suas necessidades de
informação relativamente aos PIE, recorrendo ao Arquivo físico apenas em situações
muito esporádicas. Contudo, nem o SI, nem o GAUP oferecem funcionalidades de um
sistema de arquivo que permita preservar a informação a longo prazo e,
consequentemente, existem alguns riscos associados à sua utilização como arquivo.
Quanto ao GAUP (Gestão Académica da Universidade do Porto), este consiste
numa das componentes do SIGARRA e é a ferramenta base dos SERAC. Esta
componente é composta por um vasto conjunto de módulos e a sua principal função é a
de capturar os registos relativos à vida académica do estudante. Entre os vários módulos
que a constituem, destacamos o módulo de ingresso, candidatura, inscrição, matrícula,
ficha do estudante, equivalências, certidões, calendários, cursos, disciplinas, planos de
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
44
estudo, despachos, exames, classificações, médias, listas de estudantes, estatísticas,
propinas, conclusão de curso, entre outros.
Esta ferramenta assenta numa base de dados relacional (Oracle) e o acesso à sua
informação é feito através de servidores Web, permitindo assim que a informação
chegue ao cliente Web através de um browser Web, por exemplo. Além da
consolidação dos dados estruturados numa base de dados relacional, o SI comporta
ainda uma componente importante de dados não estruturados, organizados à volta de
um esqueleto mantido centralmente17
.
Outro aspeto importante prende-se com o facto de a aplicação de gestão de
alunos ser operada em máquinas isoladas da rede FEUPNet18
, por razões de segurança.
Pretende-se, no entanto, obter uma réplica da informação na BD Oracle acessível pela
FEUPNet, de forma a disponibilizar estatísticas e indicadores sobre os alunos. Devido
ao carácter isolado da aplicação GAUP, existe, portanto, alguma duplicação de
informação relativamente a outros recursos e são necessários cuidados especiais na sua
sincronização.
Através da análise da génese dos processos individuais dos estudantes em
Arquivo, como veremos mais à frente, conseguimos ainda perceber que grande parte da
documentação que os constitui é obtida através da interface Web do GAUP, ou seja, os
SERAC dão ordem de impressão através do SIGARRA e os documentos são impressos
e anexados aos já existentes no processo individual do estudante, em papel.
Outra plataforma associada à gestão da informação relacionada com os PIE é o
Digitary. Esta plataforma está disponível para toda a UP e está ligada ao sistema de
informação SIGARRA, permitindo aos estudantes, que tenham concluído um ciclo de
estudos ou um curso, o acesso online às certidões de conclusão de curso e suplementos
de diploma. Estes documentos são assinados digitalmente e têm validade legal. Além
disto, possibilita ainda a partilha da documentação online a terceiros e a verificação do
histórico de acesso a essa mesma documentação. Apesar de esta aplicação ainda não se
encontrar em funcionamento na FEUP por motivos operacionais, as suas linhas gerais
de implementação derivam da Reitoria da UP e, consequentemente, deverá funcionar da
mesma forma para todas as suas unidades orgânicas.
17
Desenvolvimento do SiFEUP no SIGARRA:
https://sigarra.up.pt/feup/WEB_BASE.GERA_PAGINA?p_pagina=1574. Consultado em 27 de Março de
2012. 18
Idem
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
45
Nesta plataforma, os utilizadores podem ser identificados como estudantes,
responsáveis pelos serviços académicos e entidades externas. Os estudantes utilizam-na
para partilhar a sua documentação, o responsável pelos serviços académicos autentica e
valida cada um dos documentos gerados e as entidades externas são as pessoas ou
instituições com quem os estudantes decidam partilhar os seus documentos certificados
e assinados.
As especificações desta plataforma exigem ainda que os estudantes tenham
concluído cursos adequados a Bolonha (a partir de 2006/2007) e que não apresentem
dívidas de pagamento de propinas; que apenas as instituições da UP responsáveis
administrativamente pelos cursos possam ser a fonte de migração da informação,
autenticação e validação da documentação; e que o resultado ECTS seja lançado na
conclusão do diploma do estudante.
Atualmente, apenas os certificados de conclusão de curso adequados a Bolonha
e os respetivos suplementos de diploma é que podem ser disponibilizados no Digitary.
A geração de informação pode ser feita de forma automática ou através de um processo
manual e individual de geração de informação. A primeira consiste num processo
automático, definido pelo administrador do sistema, que deteta as conclusões de curso
no GAUP, que satisfaçam as especificações da plataforma, e gera os correspondentes
documentos digitais. A segunda implica que seja o responsável dos Serviços
Académicos a gerar a informação a enviar de um determinado estudante para a
plataforma, quando necessitar. Para isto, deverá utilizar um formulário específico na
aplicação GAUP e aguardar por um outro processo automático (horário, diário, etc),
parametrizado pelo administrador do sistema, que se encarregue de enviar a informação
para o Digitary.
Após a importação da informação para a plataforma Digitary, os responsáveis
pelos Serviços Académicos terão que validar e autenticar a documentação, podendo
optar por assinar digitalmente documentos específicos de um estudante ou por fazer
assinaturas em bloco. Importa, no entanto, realçar que os documentos apenas são
validos enquanto estão online e que a sua impressão, por exemplo, lhes retira o seu
valor legal e probatório.
Por norma, as assinaturas digitais apenas são válidas a curto prazo, ou seja, até a
validade do certificado digital do assinante expirar. No entanto, os documentos e as
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
46
assinaturas digitais da plataforma Digitary possuem a particularidade de serem ambos
representados em XML. Estes documentos utilizam assinaturas compatíveis com
normas internacionais para assinaturas digitais a longo prazo baseadas em XML,
nomeadamente a XAdES-A19
, garantindo assim a sua validade a longo prazo (fig. 11).
Fig. 11 Detalhes de uma assinatura digital na plataforma Digitary
Na figura anterior, relativa a uma certidão de conclusão de curso disponibilizada
pelo Digitary, é possível comprovar que, apesar de o certificado de assinatura expirar
em Agosto de 2013, existe igualmente um certificado de uma terceira entidade que
assegura que a assinatura digital foi aplicada numa determinada data, ou antes.
19
Ver:
http://www.w3.org/TR/XAdES/#XML_Advanced_Electronic_Signature_Data_Structures_Archive_valid
ation_data
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
47
Desta forma, quando consultamos um documento no Digitary, após este ter sido
assinado digitalmente pelos serviços, é apresentada a informação de que esse
documento não irá expirar (Fig.12).
Fig. 12 Exemplo de uma certidão na plataforma Digitary
Após a análise desta plataforma, podemos concluir que o Digitary, ou um
sistema similar, poderia desempenhar um papel muito importante na preservação a
longo prazo dos processos individuais dos estudantes. Além de poder ser facilmente
ligado ao sistema de informação SIGARRA, é baseado na linguagem XML e
compatível com normas internacionais que oferecem garantias de validade legal e
interoperabilidade a longo prazo. Oferece funcionalidades online que permitem um
arquivamento seguro e a longo prazo de documentos assinados digitalmente e ainda
serviços online para a verificação dos documentos arquivados. Contudo, tal como
acontece com o GAUP, tem por base software proprietário e o seu código não é open
source, logo, não existem garantias que o software continue a existir e a funcionar da
mesma forma no futuro. Um sistema realmente eficaz deveria ser open source e permitir
que a própria aplicação pudesse ser alvo de preservação digital.
Quanto ao GISA (Gestão Integrada de Sistemas de Arquivo), este foi concebido
em 2002, e encontra-se adstrito aos SDI da FEUP na sua valência de Arquivo. A
ParadigmaXis – Arquitetura e Engenharia de Software S.A. é a empresa responsável
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
48
pelo seu desenvolvimento e comercialização. Trata-se portanto de um produto
proprietário e não gratuito, que implica a aquisição de licenças consoante as
necessidades específicas de cada organização.
Este software consiste numa aplicação de Gestão de Arquivos, que assenta num
modelo integrado, concebido para acompanhar diversas fases do ciclo de vida da
informação e as várias operações da cadeia arquivística20
. Permite gerir informação em
serviços centrais de arquivo e em arquivos históricos, e oferece ainda interfaces para a
administração corrente do organismo produtor.
O GISA valoriza a informação no seu contexto orgânico e nas suas múltiplas
relações sistémicas, permitindo associar a documentação aos diferentes estados
evolutivos da entidade produtora. Está preparado para abordar as descrições de arquivo
independentemente do ciclo da informação e do suporte ou técnica de registo utilizada.
Utiliza ainda normas internacionais, nomeadamente a norma ISAD (G) para a descrição
arquivística e a ISAAR (CPF) para o controlo de autoridade.
Além do produto principal, esta aplicação pode ainda ser complementada com
módulos adicionais. Isto permite abranger vários níveis de necessidades, desde
pequenos arquivos pessoais até complexos sistemas de informação e extensos depósitos
de arquivo das organizações. A aplicação “GISA Internet”, utilizada, por exemplo, no
Arquivo Digital da UP, permite a pesquisa online através de um simples browser. A
pesquisa pode ser feita por produtores de informação, tipologias informacionais,
assuntos ou pelas próprias unidades documentais, através de um motor de busca que
oferece ainda funcionalidades de pesquisa avançada.
Quanto às suas principais funcionalidades, podemos enunciar as seguintes:
Recenseamento e avaliação de documentos;
Incorporação e/ou transferência de documentos;
Representação multinível;
Classificação, descrição, indexação;
Catálogos especiais (desenhos, fotografias, material cartográfico, etc);
Recuperação de informação;
Difusão de informação (através da Internet);
Gestão de imagens digitais;
20
Website do GISA: http://gisa.paradigmaxis.pt/. Consultado em 20 de Março de 2012.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
49
Gestão de requisições e de depósitos;
Controlo estatístico e indicadores de desempenho.
Além de todas as características apresentadas, permite ainda gerir utilizadores de
acordo com categorias, nomeadamente em relação à distinção entre utilizadores internos
à organização, como administração e serviços produtores, técnicos de arquivo/serviço
de informação ou administradores de sistema, e a utilizadores externos, como cidadãos
ou investigadores.
Atualmente, no contexto da FEUP, esta aplicação relaciona-se com os PIE
exclusivamente através de meta-informação descritiva genérica acerca dos processos
existentes em Arquivo. Esta informação sobre a informação dos PIE descreve, por
exemplo, o conteúdo informacional geral de um PIE, a história administrativa que
envolveu a criação do PIE, data de produção e fonte de aquisição, identificador e código
parcial, etc. Não existe, portanto, qualquer documentação em formato digital associada
nesta aplicação. O processo de importação da meta-informação para o GISA é feito
diretamente através do GAUP, exigindo, no entanto, algum esforço de normalização da
informação por parte dos técnicos do Arquivo. Este último aspeto reflete algumas das
limitações existentes na interoperabilidade entre os dois sistemas.
Por último, temos os PIE em papel armazenados no Arquivo físico da
faculdade. Através da informação fornecida pelos SERAC, foi possível comprovar que
toda a sua documentação está também representada no sistema de informação da FEUP,
o SIGARRA. As únicas exceções prendem-se com fotocópias do bilhete de identidade
ou do boletim de vacinas, por exemplo. A restante documentação é obtida diretamente
através do SiFEUP através da sua impressão, respondendo assim aos requisitos legais
atuais que exigem o seu armazenamento e conservação em papel.
Os processos individuais em papel contêm, geralmente: dados pessoais;
certidões de habilitações; boletins de matrícula e de inscrição; boletins de pagamento de
propinas; vários tipos de requerimentos; declarações para fins diversos; atestados
médicos e outras justificações de faltas; fotocópias de B.I. (cartão de cidadão) e de
boletim de vacinas; equivalências; plano de estudos por ano letivo; listagem de
disciplinas aprovadas; boletim de cálculo de média final; boletins de reingresso,
mudança de curso ou transferência, entre outros.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
50
Apesar de a gestão da informação relacionada com os PIE ser um elemento
comum em todos os sistemas analisados, os seus objetivos, arquitetura e a forma como
encaram a informação é bastante diferente. Além disso, nenhum oferece garantias de
preservação digital a longo prazo da informação com que lidam.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
51
4 Definição da Estratégia de Preservação Digital para os Processos
Individuais dos Estudantes
4.1 Requisitos para a Preservação Digital
Esta secção pretende definir e apresentar os requisitos organizacionais, de utilizador e
legais que a preservação digital dos processos individuais dos estudantes deverá
respeitar. Além disto, procura expor as necessidades específicas dos SERAC em relação
aos processos individuais, após estes estarem concluídos e em Arquivo, quais as
funções que estes desempenham nos seus processos de trabalho, quem os consulta e
para quê. O que interessa realmente preservar e o que poderá ser descartado será
igualmente definido nesta secção.
Através da análise feita ao funcionamento dos SERAC e aos procedimentos
relacionados com o acesso e consulta de Processos Individuais de Estudantes em
Arquivo, foi possível perceber que a informação presente no sistema de informação da
FEUP satisfaz a maior parte das necessidades de informação dos elementos dos
SERAC. As entrevistas aos responsáveis dos SERAC e do Arquivo permitiram ainda
compreender que o recurso aos PIE arquivados (em papel) acontece apenas em
situações muito esporádicas e de difícil caracterização. A impressão e o envio de
documentação para Arquivo justificam-se, essencialmente, pela necessidade de
salvaguardar alguma perda de informação, como forma de responder aos requisitos
legais referidos anteriormente que exigem que a documentação exista em papel e, em
última instância, como principal contributo para a preservação da memória da
instituição.
O diagrama de atividades seguinte ilustra precisamente o percurso da informação
desde o momento da sua criação até ao momento em que é enviada para o Arquivo.
Neste caso, o exemplo utilizado prende-se com o processo de inscrição de um estudante
na faculdade e nas unidades curriculares através do sistema de informação da faculdade.
Após a conclusão deste processo, os SERAC procedem à impressão dos termos da
inscrição para anexar ao processo individual em Arquivo (ver Anexo A).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
52
Fig. 13 Diagrama de Atividades: Processo de Inscrição, 1º ano, 1ª vez (após candidatura local)
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
53
No diagrama de atividades que se segue, é possível visualizar os procedimentos
necessários para que um funcionário dos SERAC recupere informação acerca de um
estudante. Se a informação pretendida não existir no sistema de informação, ou se não
for coerente com outra informação existente ou apresentada pelo estudante, o técnico
terá que recorrer ao processo individual em papel. Se, por outro lado, o técnico
pretender apenas confirmar alguma informação presente no sistema de informação, a
sequência de atividades será muito similar à verificada quando a informação não existe
ou se revela incoerente e este terá igualmente que recorrer ao processo em papel para
confirmar os dados.
Fig. 14 Diagrama de atividades: Recuperação de informação acerca de um estudante
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
54
No entanto, podemos afirmar que o sistema de informação da Faculdade, como
qualquer sistema de informação, se interessa maioritariamente “pela aquisição e gestão
de informação proveniente de fontes internas e externas com vista a maximizar o
desempenho da organização na elaboração da sua visão e execução estratégica e tática,
ou de excelência de serviço público” (IAN/TT; II, 2002:4). Isto significa que os aspetos
relativos à preservação da informação ou à constituição de evidência das transações em
que essa informação participou não são, normalmente, reconhecidos como requisitos
num sistema de informação comum.
Um sistema de arquivo, por sua vez, permite constituir prova das atividades
organizacionais. Ou seja, assegura que a informação que gere apresenta todas as
caraterísticas de um documento de arquivo (referidas em 2.1) e é concebido de forma a
que estas caraterísticas não sejam postas em causa em consequência das operações que
efetua. Para que isto seja possível, também os sistemas de arquivo deverão reunir
determinadas características em relação à informação que armazenam, nomeadamente:
fidedignidade, integridade, autenticidade e usabilidade (PORTUGAL: IPQ, 2001).
Seguindo esta lógica, e de acordo com a NP 4438-1, podemos utilizar estas
características fundamentais de um sistema de arquivo para definir os requisitos
necessários para um sistema que se encarregue da preservação digital da informação dos
processos individuais dos estudantes. Este sistema poderá ser desenhado de raiz e
implementado exclusivamente para responder às questões de preservação ou, em
alternativa, poderão ser implementadas novas funcionalidades nos sistemas já existentes
(identificados em 3.2) que permitam assegurar que a informação considerada
permanente apresenta as características de arquivo necessárias para a sua preservação a
longo prazo.
Em relação à fidedignidade, o sistema deverá ser capaz de oferecer uma
representação completa e fiel das atividades responsáveis pela informação produzida.
Desta forma, deverão ser produzidas novas manifestações da informação em cada
procedimento ou, em alternativa, deverão ser incluídas funcionalidades nos dispositivos
responsáveis pela gestão dos PIE que garantam a sua interpretação a longo prazo.
Quanto à integridade, o sistema deve permitir medidas que previnam acessos não
autorizados, a eliminação, alteração ou remoção de documentos do sistema, para
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
55
garantir que toda a informação se mantém no sistema, que não é alvo de alterações
indevidas e que apenas é consultada por quem tem permissões para tal.
Como já foi referido, toda a gestão dos Processos Individuais de Estudantes está a
cargo dos Serviços Académicos da Faculdade (SERAC). Esta informação é de carácter
confidencial e, por isso, apenas os funcionários deste serviço poderão visualizá-la ou
manipulá-la.
Ao público em geral apenas deverá ser permitido visualizar a metainformação
descritiva referente aos processos individuais, ou seja, elementos como data de
produção, identificador, produtores, descrição do conteúdo informacional genérico de
um Processo Individual de Estudante, história administrativa, fonte de aquisição, notas,
etc. Toda a documentação ou informação diretamente relacionada com o estudante em
causa apenas poderá ser visualizada pelos serviços com permissão para o efeito.
O acesso aos PIE deverá portanto ser feito mediante autenticação prévia e qualquer
alteração ao seu conteúdo, após o encerramento do processo, deverá ser devidamente
justificada e documentada. Este acesso deverá ser possível a partir dos terminais de
trabalho ligados à rede da FEUP, evitando assim perder tempo e recursos em
deslocações ou na transferência da informação.
Estes requisitos respeitam assim também a caraterística de autenticidade,
caraterística esta que se prende com o enquadramento e funcionamento do sistema de
acordo com as normas em vigor no contexto em que opera, ou seja, as normas legais e
internas da organização em relação à informação a preservar.
Para assegurar a usabilidade, o sistema deverá ser capaz de assegurar que toda a
informação está associada a um determinado procedimento e permitir manter as
ligações entre os documentos que representam uma sequência de atividades, bem como
toda a sua meta-informação. Só desta forma será possível documentar as atividades que
estiveram na sua origem e, portanto, preservar o seu contexto e proveniência.
Tendo em conta a crescente tendência na homogeneização das práticas de
preservação digital a nível mundial e a possível necessidade de interoperabilidade com
outros sistemas, o sistema a implementar deverá suportar as funcionalidades do modelo
de referência OAIS (ingestão, gestão, acesso, etc.), sendo que estas funcionalidades
deverão ser, por sua vez, suportadas por um ou mais esquemas de meta-informação. A
norma OAIS apresenta um modelo de referência de alto nível que pode ser muito útil
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
56
para a implementação deste tipo de sistemas. Identifica os participantes, descreve os
seus papéis e responsabilidades e classifica os tipos de informação que trocam.
Contudo, como se trata de um modelo de referência de alto nível, quase todos os
sistemas que se encarreguem de armazenar e recuperar dados podem satisfazer os
requisitos gerais de um OAIS. Importa, então, incluir outros requisitos que
complementem os definidos pelo modelo OAIS e que respondam aos riscos
identificados para o caso em estudo.
Além dos esquemas de meta-informação que suportam as funcionalidades do
sistema de arquivo, e de acordo com o modelo de referência OAIS, deverá ainda ser
incluída meta-informação de preservação, nomeadamente meta-informação relacionada
com a informação de proveniência, de contexto, de referência e de imutabilidade (ver
2.3.1) para assegurar a preservação a longo prazo da informação em causa.
Em relação aos riscos identificados, pudemos verificar que a instituição dedica
já esforços à neutralização de vários tipos de riscos associados à gestão da informação
na instituição, sejam eles ataques externos ou internos, desastres naturais ou falhas de
hardware ou software. São realizados backups regulares de grandes quantidades de
informação e a própria base de dados de Gestão de Alunos encontra-se duplicada dentro
do sistema da FEUP, o que reduz já um grande número de eventuais perdas de
informação. O risco mais preocupante prende-se então com a obsolescência de software
resultante da evolução tecnológica e de atualizações de software dos sistemas de
informação que se encarregam de gerir a informação dos PIE, ou mesmo da substituição
de sistemas já existentes. Isto significa que, apesar de os bits em que a informação se
encontra codificada se manterem acessíveis, a informação poderá não ser descodificada
do seu formato de armazenamento para um formato legível. No caso do GAUP, cria
ainda uma certa dependência da instituição em relação à empresa proprietária do
software (Oracle) pois, caso surja a necessidade ou vontade de implementar outro
sistema informático para a gestão de alunos, não existem garantias de que a informação
mais antiga se mantenha acessível e inteligível.
Para responder a este problema, é importante que o sistema seja capaz de
preservar o conteúdo textual dos documentos e não tanto a sua aparência tal como a
conhecemos hoje. A migração para formatos normalizados e abertos como, por
exemplo, o XML, poderá ser muito útil para assegurar a legibilidade a longo prazo da
informação. Além disso, os formatos normalizados permitem e facilitam a
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
57
interoperabilidade entre diferentes sistemas e tecnologias. O sistema de preservação
digital deverá ser open source, ou desenvolvido pela própria organização, para garantir
a independência tecnológica em relação a organizações externas e como forma de
possibilitar que o próprio software possa ser também alvo de preservação digital.
No que respeita à seleção da informação que interessa realmente preservar,
podemos afirmar que o essencial será assegurar a sobrevivência a longo prazo da
informação relacionada com os procedimentos obrigatórios identificados em 3.2.1, ou
seja, a informação relativa a candidaturas, matrículas, 1ª inscrição e inscrições anuais,
pagamento de propinas, exames de época normal e recurso e à conclusão de curso. Esta
informação deverá ser capaz de assegurar a preservação da memória da organização e
representa os marcos fundamentais e comuns do percurso académico de todos os
estudantes. No entanto, a legislação atual exige que toda a documentação resultante do
percurso académico dos estudantes seja arquivada e preservada em papel. Apesar de
este enquadramento jurídico carecer de atualizações e não prever ainda a possibilidade
de gerir ou preservar a informação em formato digital, caso os processos individuais
possam vir a existir exclusivamente em formato eletrónico, o mais provável será que
esta condição se mantenha e que também os PIE em formato digital tenham que incluir
toda a documentação resultante da atividade do estudante na instituição.
4.2 Cenários de Preservação Digital
Segundo os pressupostos teóricos relativos ao planeamento da preservação digital (ver
2.5), a escolha da estratégia mais adequada deverá ser feita após a análise e avaliação de
diferentes estratégias. Desta forma, esta secção pretende avaliar os riscos e as vantagens
de diferentes estratégias de preservação para que seja possível identificar a mais
adequada à coleção e averiguar qual delas cumpre o maior número de requisitos
identificados na secção anterior.
Cenário 1: Não fazer nada
Este cenário implica que seria o próprio sistema de informação da Faculdade a manter a
informação digital corrente relativa aos processos individuais dos estudantes, e que os
serviços continuariam a enviar sistematicamente a documentação correspondente para o
Arquivo físico.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
58
Apesar de não ser fácil encontrar vantagens neste cenário, a verdade é que é o
que corresponde às práticas correntes na organização. Os procedimentos e processos de
trabalho necessários estão já bastante enraizados nos técnicos e colaboradores dos
serviços, o que acaba por permitir que normalmente não surjam grandes problemas ou
que, quando surjam, existam já mecanismos próprios para os contornar. Além disto, o
facto de a documentação existir noutro formato além do digital transmite alguma
segurança aos técnicos dos serviços, visto que os documentos em papel são encarados
como algo que complementa e suporta a informação em formato digital que consta no
sistema de informação.
Quanto às desvantagens e aos riscos associados a este cenário, são vários os
aspetos que podem ser destacados. Em primeiro lugar, o sistema de informação em que
a informação se encontra atualmente armazenada não foi pensado para armazenar e
preservar a informação a longo prazo mas sim para a capturar, gerir e disponibilizar de
acordo com os processos de trabalho e necessidades da organização. A plataforma de
gestão de alunos assenta num sistema proprietário de bases de dados, em máquinas
isoladas na rede da FEUP, e está sujeito a constantes atualizações e a atividades de
sincronização com o sistema de informação. O número crescente de registos e de
informação introduzida nas bases de dados poderá ainda ser responsável por uma
possível sobrecarga e diminuição do desempenho da aplicação, tornando o
processamento mais lento e aumentando a probabilidade de erros ou perdas de
informação. Além disso, uma grande parte da informação lá armazenada, em particular
a mais antiga, não terá uma utilidade significativa para a gestão corrente dos serviços,
não trazendo, portanto, qualquer benefício a sua manutenção no sistema.
O sistema atual não oferece portanto funcionalidades que possam garantir uma
correta interpretação da informação a longo prazo ou num contexto tecnológico
diferente daquele em que opera. Ao mesmo tempo, o facto de os elementos dos SERAC
precisarem de se deslocar ao Arquivo e, por vezes, necessitarem de imprimir
documentação que lá se encontra, pois é a única maneira de a “transferirem” para o seu
ambiente de trabalho, torna os serviços prestados menos céleres e eficientes.
Tendo em conta todos os aspetos referidos, podemos ainda concluir que os riscos
inerentes a este cenário se agravam à medida que o tempo passa. Quanto mais tarde
forem tomadas medidas que respondam aos riscos identificados, maiores serão as
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
59
probabilidades de perdas irreversíveis de informação ou de ser necessário recorrer a
ações de “arqueologia digital”.
Cenário 2: Digitalização dos Processos Individuais dos Estudantes
O segundo cenário equacionado prende-se com a digitalização dos Processos
Individuais de Estudante à medida que estes vão sendo concluídos ou no final de cada
ano letivo. Isto significa que todos os processos de trabalho e fluxos de informação dos
SERAC se manteriam tal como se encontram atualmente e que seria o Arquivo o único
organismo responsável pela preservação digital da informação produzida por esses
serviços. Não seria, portanto, necessário recorrer a ações de formação em consequência
da introdução de novas funcionalidades ou soluções tecnológicas nos serviços
envolvidos e o impacto no seu funcionamento normal seria praticamente nulo.
Os SERAC continuariam a imprimir e a enviar para o Arquivo toda a
documentação resultante dos procedimentos relacionados com os processos individuais
e, no final de cada ano letivo, uma equipa especialmente direcionada para este problema
ficaria responsável por digitalizar, classificar e armazenar essa informação.
Apesar de este cenário poder ter algumas vantagens e potencialidades para
arquivos de pequena dimensão ou para a preservação de informação de outra natureza
que não informação administrativa, levanta, para o caso em questão, vários problemas
que nos levam a pensar que não se trata de uma solução credível.
Em primeiro lugar, os custos associados a este cenário são extramente elevados.
Além de um investimento considerável para adquirir o hardware e software
imprescindível para a digitalização, também os custos relacionados com os recursos
humanos necessários para executar esta operação, recorrente ao longo da existência da
instituição, tornariam este cenário, logo à partida, insustentável. Aspetos relacionados
com o tipo de digitalização pretendido, se seria feito apenas através de imagem ou
utilizando software de OCR, poderiam também levar a que todo o processo fosse ainda
mais demorado e falível. A autenticidade dos documentos digitais produzidos poderia
igualmente ser posta em causa e seriam necessários procedimentos complementares
para ultrapassar este problema, visto que mesmo que fossem introduzidos mecanismos
de certificação eletrónica para os documentos digitalizados, esses mesmos mecanismos
teriam igualmente que ser alvo de preservação digital.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
60
Um cenário desta natureza poderia ainda revelar-se bastante redundante, na
medida em que a maior parte da informação é já produzida e gerida em suportes
eletrónicos e seria, portanto, um contrassenso transferi-la para um suporte não digital
para posteriormente voltar a transferi-la para um suporte eletrónico.
Cenário 3: Implementação de um sistema eletrónico de gestão de arquivo (SEGA) nos
SERAC
Outro cenário possível para a preservação digital dos Processos Individuais dos
Estudantes assenta na implementação de um sistema eletrónico de gestão de arquivos
nos Serviços Académicos. Segundo a DGARQ, podemos definir um sistema eletrónico
de gestão de arquivos como um “sistema automatizado utilizado para gestão da criação,
uso, manutenção e eliminação de documentos criados eletronicamente e/ou em papel
com a finalidade de fornecer prova da atividade de negócio. Estes sistemas mantêm a
informação contextual apropriada (meta-informação) e as ligações entre registos para
suportar o seu valor evidencial” (IAN/TT, 2006:12).
Além de permitir a preservação digital da informação dos processos individuais,
esta estratégia oferece uma infraestrutura tecnológica que apoia e acompanha os
processos de trabalho e fluxos de informação associados à coleção, podendo assim
funcionar também como ferramenta de trabalho dos Serviços em questão. Em relação
aos requisitos identificados em 3.2.3, este cenário preenche um grande número de
requisitos para a preservação digital dos PIE, nomeadamente ao assegurar as
características fundamentais de documentação de arquivo.
O facto de a aplicação GISA, inicialmente concebida com a colaboração da UP,
ser já a principal ferramenta de trabalho do Arquivo da UP e da FEUP e uma das
aplicações integradas no repositório digital da FEUP poderia ainda facilitar bastante
todo este processo.
Um sistema deste tipo deve ainda possuir uma estrutura bastante sólida, assente
num sistema de classificação hierárquico, que não poderá ser alterada pelos utilizadores.
Em anexo, é apresentado um possível sistema de classificação para os processos
individuais dos estudantes (Pópulo, 2008).
Como foi já referido, o GISA possui meta-informação relativa aos processos
individuais de cada estudante. Esta meta-informação é obtida diretamente através do
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
61
GAUP, exigindo alguma intervenção humana para a sua importação. O GISA encontra-
se ainda preparado para associar documentação em formato digital aos diferentes
campos de meta-informação existentes. No entanto, um cenário deste tipo implicaria a
existência de um cenário muito semelhante ao anterior (cenário 2), ou seja, a
digitalização de toda a documentação para a associar ao GISA ou, então, a
implementação de um sistema que se encarregasse de assegurar a interoperabilidade e a
automatização entre o GISA e o SIGARRA.
Uma solução deste tipo poderá, contudo, ser a mais indicada para o arquivo e
preservação digital dos PIE, e da documentação relacionada, existente em arquivo até à
implementação do GAUP e do SIGARRA na FEUP. Todos os PIE anteriores à
implementação destes sistemas existem apenas em papel e esta seria, muito
provavelmente, a forma mais eficaz de os preservar em formato digital.
Cenário 4: Preservação Digital da Base de Dados Relacional de Gestão de Alunos
Tendo em conta que a maior parte da informação relativa aos PIE se encontra
armazenada no GAUP, e que este assenta numa base de dados relacional Oracle, uma
outra abordagem possível seria a preservação digital da própria base de dados.
Apesar de terem já sido desenvolvidas várias estratégias para a preservação de
bases de dados, como a preservação da tecnologia, migração, emulação ou o recurso a
um universal virtual computer, existem outras formas bastante eficazes e inovadoras de
assegurar a preservação a longo prazo das bases de dados. Um projeto que aplica um
destes novos conceitos de preservação foi já apresentado resumidamente no ponto 2.4
(ver DBpreserve) e consiste na migração do modelo da base de dados (relacional para
dimensional) para garantir a sua preservação.
Esta abordagem pode ser adaptada a outras iniciativas internacionais preservação
de bases de dados como o Software Independent Archiving of Relational Databases
(SIARD) ou o Digital Preservation Testbed (DPT). O formato SIARD foi desenvolvido
pelos Arquivos Federais Suíços e consiste numa norma aberta não proprietária, que se
baseia, por sua vez, noutras normas abertas como Unicode, XML, SQL ou o ZIP,
garantindo, assim, a interoperabilidade a longo prazo dos conteúdos da base de dados.
Atualmente, é possível migrar bases de dados Oracle, Microsoft SQL Server e
Microsoft Access para o formato SIARD (Rahman, David e Ribeiro, 2010).
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
62
Uma base de dados no formato SIARD permite representar a forma lógica da
base de dados, retendo não só os dados e a meta-informação, mas também todas as
relações existentes. Um arquivo ZIP não comprimido armazena a meta-informação
numa pasta chamada “header” e os dados na pasta “content”. Um arquivo de base de
dados SIARD tem a grande vantagem de, no futuro, poder ser interpretado por qualquer
sistema de gestão de bases de dados relacionais que suporte SQL.
A abordagem do projeto DBpreserve propõe-se a migrar a base de dados para
um modelo dimensional antes da conversão da informação para XML, o que faz com
que a estrutura da base de dados preservada seja diferente da estrutura do sistema
operacional, mas mais fácil de compreender no futuro. O principal objetivo é manter
apenas os dados e tornar a informação independente de qualquer aplicação (Rahman,
David e Ribeiro, 2010).
Apesar de esta abordagem ter enormes potencialidades para a preservação de
bases de dados em determinados contextos, existe ainda trabalho a fazer para tornar
todo este processo mais fácil. A sua aplicação no contexto da preservação dos PIE
poderia revelar-se bastante pesada e pouco eficaz no que respeita às necessidades de
acesso à informação dos possíveis utilizadores.
Outras alternativas para a preservação de aplicações de bases de dados incluem a
preservação dos manuais de utilizador, queries e funções em formato textual ou a
construção de emuladores. No entanto, estas não serão tão eficazes e podem levantar
alguns problemas de preservação a longo prazo. Um emulador, por exemplo, é um
programa que permite recriar virtualmente uma aplicação num computador diferente
daquele em que o programa está instalado, ou seja, permite utilizar aplicações obsoletas
num computador recente. Os principais problemas relacionados com esta alternativa
prendem-se com o facto de ser necessário voltar a desenvolver o emulador sempre que
existam alterações na plataforma para o qual ele foi desenhado e de não existirem
garantias de que os computadores do futuro sejam capazes de executar um emulador de
um computador antigo (Rahman, David e Ribeiro, 2010). Isto faz com que a emulação
não seja também uma solução sustentável para a preservação a longo prazo de bases de
dados tão importantes e dinâmicas como as que se relacionam com a gestão da
informação dos estudantes da FEUP.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
63
Cenário 5: SIGARRA como Arquivo para os Processos Individuais dos Estudantes através
da satisfação dos requisitos de preservação digital
Neste cenário, a informação mantém-se no SIGARRA após o final de cada ano
letivo, ou após o encerramento do processo individual de estudante (interrupção,
anulação de inscrição ou conclusão de ciclo de estudos, por exemplo). É neste contexto
que são implementadas estratégias que permitem a preservação digital a longo prazo e
que garantem que a informação possui as características necessárias de documentação
de arquivo.
Da mesma forma que a informação produzida é impressa e enviada para arquivo,
numa determinada altura, por ser considerada permanente e essencial para a construção
de evidência do percurso académico do estudante na instituição, o mesmo deverá
acontecer nos sistemas que se encarregam da gestão e armazenamento dessa mesma
informação. Isto significa que a informação presente nos sistemas que diga respeito a
procedimentos já concluídos e validados pelos SERAC (inscrições, requerimentos, entre
outros), deverá assumir as características de documentação de arquivo e ser suportada a
sua preservação digital a longo prazo.
Para tal, é importante distinguir as duas principais fases da gestão académica: a fase
operacional, que suporta a gestão corrente da informação relacionada com os
estudantes, e a fase de arquivo, em que existem relativamente poucos cenários de acesso
e utilização dessa informação. É nesta segunda fase da gestão da informação que
deverão ser introduzidas funcionalidades e mecanismos para assegurar os requisitos
identificados na secção anterior e a inteligibilidade da informação a longo prazo.
Atualmente, a aplicação de gestão de alunos (GAUP) encontra-se num processo de
remodelação profunda ao nível tecnológico. A nova aplicação baseia-se em tecnologia
Web e pretende suportar o atual modelo de funcionamento dos cursos e ciclos de
estudos da Universidade do Porto. A automatização e simplificação de certos
procedimentos, que são um dos principais objetivos da reformulação desta aplicação,
podem desempenhar também um papel bastante relevante na automatização dos
procedimentos necessários à preservação digital dos PIE.
As principais vantagens deste cenário prendem-se com o facto de não ser
necessário implementar sistemas adicionais que se dediquem exclusivamente à
preservação da informação em formato digital. Permite ainda aproveitar as
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
64
potencialidades dos sistemas já existentes, valorizando-os e tornando-os mais eficazes,
em vez de dispersar as funções necessárias à gestão e preservação dos PIE por sistemas
e aplicações diferentes.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
65
5 Políticas e Recomendações para a Preservação Digital da
Informação Permanente da FEUP
Como não existem ainda políticas de preservação digital claramente definidas ao nível
institucional, e tendo em conta que “para preservar eficientemente a informação
pretendida, é essencial que as políticas e os procedimentos necessários à sua
preservação estejam devidamente documentados” (CCSDS, 2002), este capítulo
pretende introduzir algumas políticas e recomendações de alto nível para apoiar a
preservação da informação de conservação permanente.
Antes de prosseguir com este assunto, e atendendo a exemplos de outras
instituições um pouco por todo o mundo e à importância crescente da preservação
digital nas organizações no geral, é importante enaltecer as potenciais vantagens e
benefícios que advêm das boas práticas em preservação digital. As boas práticas
deverão, por sua vez, ser definidas e fomentadas ao nível institucional como forma de
apoiar os projetos já existentes, ou em curso, e todos aqueles que possam vir a ser
desenvolvidos no futuro.
5.1 Políticas para a Preservação Digital da Informação Permanente
De seguida, é apresentada uma proposta de uma política para a preservação
digital dos recursos informacionais da instituição, que se encontrem em formato
eletrónico. As suas linhas gerais derivam da política de preservação digital definida para
o Parlamento Britânico, pelos próprios Arquivos do Parlamento, em Março de 2009
(UK Parliamentary Archives, 2009). Através da sua adaptação para a realidade
específica da FEUP, esperamos criar condições para uma preservação eficiente e
coerente de toda a informação permanente em formato eletrónico. Desta forma, os
pontos que se seguem deverão servir como principal referência para a implementação de
soluções de preservação digital, independentemente da estratégia de preservação
escolhida ou do tipo de informação em causa.
Esta política aplica-se a todos os recursos informacionais que se encontram em
formato eletrónico e estes podem ser caracterizados da seguinte forma:
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
66
Recursos nado-digitais, ou seja, recursos criados e geridos em formato
eletrónico;
Recursos digitalizados, o que significa que são criados em formato não
digital, mas que são posteriormente convertidos para formato digital;
Recursos “re-digitalizados”, ou seja, recursos que são criados
digitalmente, são geridos em formato não digital para responder às
necessidades do serviço, e são novamente digitalizados para fins
administrativos, de preservação ou de acesso.
Em relação às normas para preservação digital, recomenda-se a utilização de
normas associadas às melhores práticas e reconhecidas a nível nacional e internacional.
Dentro destas, destacamos a ISO 14721:2003 relativa ao modelo de referência Open
Archival Information System. Este modelo de referência define um modelo funcional de
alto nível para repositórios digitais e é já amplamente utilizado e reconhecido na
comunidade de preservação digital. A FEUP deverá tentar alinhar as suas políticas com
o modelo OAIS, sempre que tal seja possível.
REQUISITOS PARA A PRESERVAÇÃO DIGITAL
A preservação digital pode ser dividida em duas atividades fundamentais,
preservação da sequência de bits e preservação de conteúdo. A primeira é normalmente
denominada como preservação passiva e preocupa-se em manter as manifestações
existentes do recurso digital. A sua função consiste em assegurar a integridade e o
acesso controlado aos objetos digitais que se encontram armazenados no ambiente de
preservação, incluindo a sua meta-informação. A preservação de conteúdo,
normalmente denominada como preservação ativa, procura assegurar o acesso
continuado aos recursos digitais ao longo do tempo e das mudanças tecnológicas,
através de intervenção ativa. Pode gerar novas manifestações dos recursos digitais
através de processos como a migração de formatos. Essas novas manifestações são,
então, incorporadas e armazenadas no ambiente de preservação para a preservação da
sequência de bits.
Os tópicos que se seguem descrevem os requisitos para a preservação digital de
uma forma mais detalhada:
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
67
Infraestrutura
A infraestrutura necessária para a preservação digital deverá ser sustentável
por tanto tempo quanto os recursos digitais nela armazenados. Ou seja, a
arquitetura da infraestrutura deverá ser desenhada de modo a permitir a sua
sustentabilidade a longo prazo. Nos casos em que sejam requisitados
componentes ou serviços a organizações externas à FEUP, deverá ser
assegurado que estes se adequam a esta política.
Criação
A sustentabilidade dos recursos digitais deverá ser considerada o mais cedo
possível no seu ciclo de vida. Investir num planeamento cuidado da criação
dos recursos digitais poderá reduzir substancialmente os custos de
preservação e ainda evitar a necessidade de proceder a ações de
“arqueologia digital” para recuperar os recursos. Deverão, portanto, ser
considerados aspetos como os formatos de criação de ficheiros e de seleção
de tecnologias, normas de metainformação e outras normas de gestão de
informação.
Seleção e Incorporações
Os recursos digitais que necessitem de preservação poderão ser
provenientes de uma grande variedade de fontes e poderão também estar
associados a tecnologias bastante diferentes. Alguns exemplos são:
Sistema de Webmail da FEUP;
Ferramentas colaborativas;
Conteúdos Web;
Sistema de Gestão Académica (GAUP);
Projetos de Digitalização;
Atas e documentação administrativa.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
68
Os recursos digitais selecionados para preservação deverão ser incorporados
num ambiente de preservação apropriado, de acordo com as suas
características e natureza.
Preservação da sequência de bits
Os serviços de preservação de sequência de bits poderão ser prestados, em
parte, por algum tipo de repositório digital, ou seja, um ambiente de
armazenamento seguro que assegure a integridade, a segurança e a
usabilidade dos recursos digitais armazenados. No entanto, esta política
preocupa-se com o conjunto de funções necessárias para implementar a
preservação de sequência de dados, e não tanto com os sistemas físicos
necessários para o fazer.
Preservação do Conteúdo
A preservação de conteúdo engloba três tipos de atividades fundamentais,
que deverão ser executas sistematicamente. Estas atividades consistem na
caracterização, no planeamento da preservação e em ações de preservação.
Acesso e utilização
Quanto ao acesso aos documentos preservados digitalmente, este deverá ser
feito de acordo com certas restrições. Sempre que possível, os conteúdos
preservados deverão ser disponibilizados para a comunidade académica no
geral. No que respeita a informação mais sensível ou pessoal, deverão ser
definidas permissões de acesso aos recursos digitais de acordo com a sua
proveniência e com os objetivos de preservação previamente estabelecidos.
Alguns documentos preservados em formato digital só poderão ser
consultados através dos serviços responsáveis pela preservação digital, ou
com o apoio e autorização destes. A informação preservada digitalmente
deverá estar acessível tanto no presente como a longo prazo.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
69
COMPETÊNCIAS E FORMAÇÃO
As atividades de preservação deverão ser levadas a cabo por pessoal suficiente e
com as competências apropriadas às suas funções. Poderão ser utilizados colaboradores
internos, de instituições parceiras, estudantes e investigadores ou serviços de consultoria
externos.
Deverão ser oferecidas oportunidades de formação aos colaboradores da instituição
para que mantenham ou melhorem as suas competências de preservação digital. Estas
oportunidades poderão incluir a participação em cursos de formação, oportunidades
para autoaprendizagem, participação em seminários nacionais e internacionais,
workshops e conferências, visitas de estudo, estágios e intercâmbio de experiências com
outras instituições e profissionais.
INVESTIGAÇÃO E COLABORAÇÃO
Tendo em conta a elevada reputação e a excelência da FEUP em termos de
investigação e desenvolvimento, deverão ser desenvolvidos projetos direcionados para o
apoio à investigação autónoma em preservação digital. Além disso, as atividades de
preservação digital deverão basear-se nas melhores práticas existentes e na investigação
mais recente.
Para atingir estes fins, deverá ser fomentada a colaboração com instituições
parceiras ou especializadas em preservação digital, bem como com a comunidade de
preservação digital em Portugal e no estrangeiro. A participação em iniciativas e
projetos mais abrangentes de organizações que se dediquem a este tipo de atividades
deverá também ser encorajada. A FEUP deverá, portanto, colaborar, sempre que
possível, com projetos internacionais de investigação.
PAPÉIS E RESPONSABILIDADES
A implementação de soluções de preservação digital exigirá trabalhar ao longo
de toda a estrutura orgânica e funcional da FEUP e, por vezes, poderá também envolver
parceiros externos. As entidades responsáveis por definir, manter e monitorizar a
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
70
conformidade com as políticas e as estratégias de preservação deverão ser claramente
atribuídas.
Os produtores de conteúdos serão também responsáveis por assegurar que os
recursos digitais são criados e geridos de acordo com esta política e com as normas que
lhe estão associadas. Os papéis desempenhados por cada colaborador, no processo de
preservação digital, deverão ser amplamente divulgados.
CUSTÓDIA E ARMAZENAMENTO
Para minimizar os danos causados por eventuais incidentes ou desastres naturais,
deverão ser efetuadas cópias de segurança das coleções alvo de preservação e estas
deverão ser armazenadas em locais distintos das originais. Estas cópias de segurança
deverão ser efetuadas regularmente e deverão ainda ser alvo de manutenção ativa para
assegurar que a informação se mantém inteligível. Deverão, portanto, ser criadas as
condições que assegurem que tanto as coleções como as infraestruturas tecnológicas,
necessárias para gerir e aceder às coleções, possam ser repostas após um acidente ou
desastre.
A preservação digital deverá ainda envolver o tratamento dos suportes físicos de
armazenamento (limpeza, por exemplo) e do seu conteúdo intelectual (migração, por
exemplo). A migração dos objetos nado-digitais poderá ser necessária para aumentar a
usabilidade de um objeto digital ou em resposta a mudanças tecnológicas que ameacem
o acesso continuado ao objeto digital, devido à obsolescência tecnológica. Esta
estratégia de preservação deverá ser uma atividade recorrente ao longo do ciclo de vida
dos objetos digitais e deverá sempre ser levada a cabo de uma forma controlada e como
resultado de um planeamento de preservação e testes bastante cuidados e rigorosos. A
história da migração deverá ainda ser totalmente documentada como parte integrante da
metainformação associada ao documento.
Nos casos em que a FEUP recorra a serviços ou parceiros externos para que estes
forneçam serviços de preservação ou de acesso, para todas ou algumas das coleções
preservadas, deverão ser assegurados alguns aspetos, nomeadamente que:
A propriedade dos conteúdos pertence à FEUP;
A custódia formal e o controlo da informação pelos colaboradores da
FEUP não são postos em causa;
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
71
Os serviços de preservação externos utilizam as mesmas normas que
os serviços da FEUP;
A informação disponível a toda a comunidade académica se mantém
sob o controlo da FEUP, é definida pelas normas e políticas internas e
pode ser integrada com outros recursos de informação; e
A informação, incluindo a metainformação, pode ser transferida,
tanto para a FEUP como para outra entidade previamente definida, no
futuro e de acordo com as normas apropriadas de interoperabilidade.
COMUNICAÇÃO DA POLÍTICA
A comunidade FEUP, e em especial os colaboradores dos serviços, deverá ser
consciencializada para a importância da preservação digital e dos contributos que esta
poderá trazer para o bom funcionamento e preservação da memória da instituição. Desta
forma, esta política é particularmente dirigida a:
gestores de projeto, técnicos e equipas responsáveis por desenhar
e implementar sistemas destinados a gerir informação digital
com valor a longo prazo;
serviços de documentação e informação (SDI);
utilizadores dos serviços de informação da faculdade, incluindo
colaboradores e a comunidade académica no geral.
Esta comunicação deverá ser feita de forma proactiva para todos os stakeholders
através de ferramentas de comunicação interna, como e-mails dinâmicos, newsletters ou
o próprio website da Faculdade.
AUDITORIAS
A FEUP deverá desenvolver e implementar procedimentos que permitam verificar
que a política está a ser seguida pelos serviços, realizando auditorias periódicas. As
auditorias deverão ser usadas para medir a eficiência da implementação da política,
identificar prioridades e apoiar futuras revisões.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
72
REVISÃO DA POLÍTICA
A política deverá ser revista de acordo com as necessidades de preservação
decorrentes da evolução tecnológica, com o objetivo de dar resposta a alterações
significativas. Caso tal não se verifique, de dois em dois anos, no mínimo.
5.2 Recomendações para a Preservação Digital dos Processos Individuais
dos Estudantes
Considera-se que a informação que constituí os processos individuais dos alunos é
de conservação permanente, ou seja, independentemente de qualquer condicionante para
a preservação da informação em questão, esta deverá ser preservada indefinidamente.
Além disso, a implementação de estratégias que permitam a preservação digital dos PIE
não implica que as formas tradicionais de preservação dessa informação deixem de
existir, nomeadamente no que respeita à sua impressão e envio para o Arquivo.
Caso surja a necessidade de proceder à preservação em formato digital dos PIE
existentes em arquivo, e anteriores à implementação do GAUP na FEUP, a solução mais
adequada deverá passar por um projeto de digitalização em grande escala. Como foi já
referido no capítulo 4, este cenário será bastante exigente em relação aos meios técnicos
e humanos necessários para o efeito. No entanto, poderá ter algumas vantagens no
respeita, por exemplo, ao espaço físico necessário para armazenar a informação e à
possibilidade de poder armazenar a mesma informação em mais do que um sítio ao
mesmo tempo, garantindo assim um armazenamento mais seguro da informação.
Através da análise dos sistemas que se relacionam com a gestão de informação
relativa aos PIE na FEUP, e do funcionamento e particularidades da própria instituição,
é ainda possível concluir que a solução mais realista para este contexto se prende com a
implementação de novas funcionalidades nos sistemas já existentes, que se destinem a
assegurar a preservação a longo prazo da informação que gerem. Isto significa que, em
vez de serem implementados e integrados novos sistemas que se encarreguem da
preservação digital dos PIE, ou mesmo de toda a informação administrativa da FEUP, a
estratégia mais adequada deverá corresponder à apresentada no cenário 5 (capítulo 4).
Atualmente, não existem mecanismos que impeçam a manipulação de dados no
GAUP após o encerramento dos processos. Apesar de tal apenas ser permitido por
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
73
despacho ou em situações excecionais, devidamente justificadas e documentadas, a
verdade é que o sistema continua a permitir a manipulação dessa informação. Este será
outro aspeto a que a estratégia de preservação deverá responder, nomeadamente ao não
permitir a alteração ou eliminação de informação após o encerramento dos processos.
Caso tal aconteça, a informação relativa às alterações efetuadas deverá constar na meta-
informação do respetivo processo.
Para que este processo seja o mais eficaz possível, também as funcionalidades de
verificação de conclusão de curso do GAUP deverão ser revistas. Através das
entrevistas aos SERAC, foi possível observar que existem opções para verificar
automaticamente quais os alunos que se encontram no estado “concluído”, mas que esse
processo não é totalmente eficaz. São, portanto, necessários procedimentos manuais
adicionais para confirmar a conclusão de curso por parte dos estudantes.
Quando todos os procedimentos relacionados com o percurso académico do
estudante forem obrigatoriamente feitos por meios eletrónicos, poderão ser
equacionadas novas formas de preservação desta informação. Apesar de ser uma
tendência crescente na gestão académica dos estudantes, existem ainda muitos
documentos que são entregues em papel, ou impressos para serem assinados e
associados aos PIE em papel, coexistindo assim com a informação digital existente. Ou
seja, enquanto o estudante está a frequentar a instituição, alguma da sua informação
existe apenas em papel (no arquivo), enquanto outra existe apenas na base de dados dos
SERAC (até ser impressa através da interface Web e anexada ao processo individual).
Este facto dificulta bastante as atividades de preservação necessárias e a própria
abordagem à sua preservação em formato digital.
A evolução orgânica e funcional, o processo de Bolonha, novos processos e
procedimentos de trabalho, a crescente utilização de ferramentas digitais e eventuais
reformulações de tipologias documentais obrigam ainda a um acompanhamento e
monitorização cuidados de todo o processo de preservação digital dos processos
individuais.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
74
6 Conclusões e Trabalho Futuro
Em plena Era da Informação, a preservação digital é um assunto que tem vindo a
merecer cada vez mais atenção por parte da comunidade científica e das organizações
no geral. Seja devido ao crescente número de projetos de desmaterialização de
processos a que as mais diversas organizações têm dedicado esforços, ou à necessidade
de preservação de informação científica e técnica, que poderá ser muito relevante para
as gerações vindouras, são muitas as razões que contribuem para o aumento dos estudos
e projetos relacionados com a preservação digital. De facto, não só o número destes
projetos tem vindo a aumentar, como também o seu financiamento por parte de
entidades governamentais de vários pontos do globo, como a Austrália, a União
Europeia ou os EUA, é cada vez mais significativo, o que demonstra já preocupações
políticas comuns muito sérias em relação a este tema.
O presente trabalho de dissertação permitiu analisar a pertinência, as condições
necessárias e as diferentes hipóteses de implementação de estratégias de preservação
digital num contexto muito específico, nomeadamente em relação aos processos
individuais de estudantes de uma instituição de ensino superior, a Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto. No entanto, dada a complexidade inerente a toda
a gestão da informação relacionada com os estudantes e à multiplicidade de sistemas e
aplicações informáticas que a suportam, muito próprios da instituição e da Universidade
do Porto, uma grande parte do trabalho foi direcionada para a identificação do estado
atual da gestão dessa mesma informação. Esta tarefa fica ainda marcada por alguns
contratempos, pois a FEUP e a própria UP estão a atravessar processos de
reestruturação organizacional e de adaptação a novas realidades, sejam elas políticas ou
tecnológicas. A adaptação da gestão de alunos à entrada em vigor do processo de
Bolonha, a recente associação da plataforma Digitary à aplicação de gestão académica
(GAUP) ou a reformulação profunda em que se encontra atualmente a aplicação GAUP,
com vista à sua substituição por uma nova aplicação baseada na Web (WebGA), foram
algumas das condicionantes que influenciaram a identificação do estado atual da gestão
académica na instituição.
Sendo a FEUP uma instituição que pretende estar na vanguarda do
desenvolvimento tecnológico, tanto nas suas práticas internas como através da
investigação e divulgação científica, também os seus sistemas e infra estruturas
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
75
tecnológicas estão em constante evolução. Este facto dificulta bastante a tarefa de
caracterização da realidade existente mas, ao mesmo tempo, é o que justifica e serve de
principal motivação para projetos como este. Além de contribuírem para uma melhoria
nas práticas organizacionais da FEUP, podem ainda contribuir para que a instituição
reforce a sua posição como principal referência em investigação e desenvolvimento na
área das novas tecnologias.
Quanto aos objetivos propostos no primeiro capítulo, estes foram atingidos, na sua
maioria, através da identificação e análise dos sistemas que se relacionam com a gestão
dos processos individuais de estudante e da exposição das suas principais diferenças e
particularidades. Descreveram-se também os diferentes procedimentos responsáveis
pela criação dos PIE e definiu-se o que interessa realmente preservar face aos requisitos
legais atuais e à realidade específica da FEUP. Os requisitos para a preservação digital
dos PIE foram definidos, e as diferentes estratégias de preservação analisadas e
avaliadas através da construção de cenários de preservação. Finalmente, foram
elaboradas recomendações e políticas para guiar as práticas de preservação digital, tanto
para os PIE, como para toda a informação permanente da FEUP.
Uma conclusão importante que se pode retirar de todo o processo de análise da
realidade da gestão de informação relacionada com o percurso académico dos
estudantes na instituição, prende-se com a necessidade de colaboração intensa, não só
das partes interessadas, como os SDI/Arquivo e os SERAC, mas também dos serviços
responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção dos sistemas de informação
responsáveis pela gestão da informação em questão. São estes últimos que conhecem
melhor as características e as potencialidades dos sistemas analisados e que podem
desempenhar um papel fundamental na identificação de soluções de preservação digital
compatíveis com esses mesmos sistemas, excluindo assim a necessidade de
implementar novos sistemas ou aplicações.
Podemos portanto afirmar que, para o sucesso de um projeto deste tipo, é
indispensável o contributo de outras disciplinas além da Ciência da Informação. A
engenharia informática e de computação e, mais especificamente, a engenharia de
sistemas, deverão desempenhar também um papel de relevo na seleção e implementação
da estratégia mais adequada. Este aspeto reflete ainda a mudança de paradigma em
relação à preservação da informação, tradicionalmente muito ligada a informação
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
76
logicamente delimitada, ou seja, a objetos discretos, e à existência de uma classe única
de profissionais que se encarregava desta atividade.
Atualmente, assistimos a um crescimento enorme da informação sob a forma de
objetos distribuídos, como bases de dados relacionais ou documentos compostos, nas
mais diversas organizações. Este facto, além de criar uma grande dependência em
relação às aplicações necessárias para uma correta interpretação da informação, leva
ainda à procura de soluções automatizadas e à necessidade de integração de diferentes
profissionais para a implementação dessas soluções. Além da preservação da
informação propriamente dita ou, por outras palavras, das suas diferentes manifestações,
também o contexto de produção da informação, e o seu ciclo de vida, têm vindo a
merecer cada vez mais atenção.
Em relação a trabalho futuro, deverá ser tida em consideração a reformulação da
aplicação de gestão académica que está atualmente a decorrer para, desde o primeiro
momento, serem implementadas estratégias de preservação digital coerentes com o
funcionamento da nova aplicação. Outro aspeto bastante relevante prende-se com a
homogeneização das práticas de preservação digital entre as diversas unidades que
integram a UP. Devido à sua experiência e capacidade nesta matéria, a FEUP poderia
ter um papel determinante na implementação das funcionalidades necessárias para a
preservação digital nas restantes unidades orgânicas da UP.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
77
Referências Bibliográficas
BARBEDO, Francisco; CORUJO, Luís; SANT’ANA, Mário (2010) – Recomendações
para a produção de planos de preservação digital. Lisboa: DGARQ. (Em linha)
[Acedido em 2 de Novembro de 2011 de
http://dgarq.gov.pt/files/2008/10/PlanoPreservacaoDigital_V2-02.pdf]
BEAGRIE, Neil; SEMPLE, Najla; WILLIAMS, Peter; WRIGHT, Richard (2008) –
Digital Preservation Policies Study. Joint Information Systems Committee (JISC), Final
Report, Part 1.
BECKER, Christoph; KULOVITS, Hannes; GUTTENBRUNNER, Mark; STRODL,
Stephan; RAUBER, Andreas; HOFMAN, Hans (2009) – Systematic planning for digital
preservation: evaluating potential strategies and building preservation plans.
International Journal on Digital Libraries (IJDL), Dezembro de 2009. (Em linha)
[Acedido em 10 de Dezembro de 2011 de http://dx.doi.org/10.1007/s00799-009-0057-
1]
BROWN, Adrian (2007) – Developing Practical Approaches to Active Preservation.
The International Journal of Digital Curation, vol 2, issue 1, pp. 3-11.
CCSDS (2002) – Reference Model for an Open Archival Information System (OAIS).
CCSDS 650.0-B-1. Blue Book, issue 1. [Recuperado a 1 de Dezembro de 2011 de
http://public.ccsds.org/publications/archive/650x0b1.pdf]
CHAPMAN, Stephen (2001) – What is digital preservation? (Em linha) [Acedido em
13 de Novembro de 2011 de
http://www.oclc.org/news/events/presentations/2001/preservation/chapman.htm]
COSTA, Luís Miguel; AZEVEDO, Ana (2010) – Sustentabilidade dos Repositórios
Institucionais. Políticas de Informação na Sociedade em Rede, nº10. Guimarães:
Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas
FARIA, Luís; CASTRO, Rui (2007) – RODA: Repositório de Objectos Digitais
Autênticos. Lisboa: DGARQ. Relatório Final. (Em linha) [Acedido em 16 de Dezembro
de 2011 de http://dgarq.gov.pt/files/2008/10/roda_relatorio1.pdf]
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
78
FERREIRA, Miguel (2006) – Introdução à preservação digital: conceitos, estratégias e
actuais consensos. Guimarães, Portugal: Faculdade de Engenharia da Universidade do
Minho.
FERREIRA, Miguel (2009) – Preservação de Longa Duração de Informação Digital
no Contexto de um Arquivo Histórico. Guimarães: Departamento de Sistemas de
Informação, Escola de Engenharia, Universidade do Minho. Tese de Doutoramento.
FEUP – FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO (2009)
Estatutos FEUP. Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
FEUP – FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO (2011)
– Plano Estratégico 2011-2015. Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto.
ICA – INTERNATIONAL COUNCIL ON ARCHIVES (2005) – Documentos de
Arquivo Electrónicos: Manual para Arquivistas (ICA, Estudo n.º 16). Comité de
arquivos correntes em ambiente electrónico do ICA.
IAN/TT – INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS/TORRE DO TOMBO (2006)
– Guia para a elaboração de cadernos de encargos e avaliação de software de sistemas
electrónicos de gestão de arquivos. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do
Tombo.
IAN/TT – INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS/TORRE DO TOMBO;
INSTITUTO DE INFORMÁTICA (2000) – Recomendações para a gestão de
documentos de arquivo electrónicos: contexto de suporte. Lisboa: Instituto dos
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.
IAN/TT – INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS/TORRE DO TOMBO;
INSTITUTO DE INFORMÁTICA (2002) – Recomendações para a gestão de
documentos de arquivo electrónicos: modelo de requisitos para a gestão de arquivos
electrónicos. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.
KUNY, Terry (1997) – A Digital Dark Ages? Challenges in the Preservation of
Electronic Information. 63rd
IFLA Council and General Conference.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
79
LEE, Kyong-Ho; SLATTERY, Oliver; LU, Richang; TANG, Xiao; McCRARY, Victor
(2002) – The State of the Art and Practice in Digital Preservation. Journal of Research
of the National Institute of Standards and Technology, vol. 107, no. 1, pp. 93-106.
LEVY, David M. (1998) – Heroic Measures: Reflections on the Possibility and Purpose
of Digital Preservation. California: Xerox Palo Alto Research Center, pp. 152-161.
MACEVICIUTE, Elena; WILSON, T.D. (2010) – Information Behavior research and
information systems development: the SHAMAN project, an example of collaboration.
Information Research, 15(4) paper 445. (Em linha) [Disponível em
http://InformationR.net/ir/15-4/paper445.html ]
PINTO, Maria Manuela (2009) – PRESERVMAP: um roteiro da preservação digital.
Porto: Edições Afrontamento (Comunicação, Arte, Informação; 8). ISBN 978-972-36-
1070-3
PÓPULO, Jorge (2008) – Subsídios para o Estudo do Arquivo Eletrónico da FEUP: A
produção digital do Processo Individual do Aluno
PÓPULO, Jorge (2010) – O Sistema de Informação Digital da FEUP na Perspectiva da
Preservação da Informação. Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Dissertação de Mestrado.
PORTUGAL. IPQ – INSTITUTO PORTUGUÊS DA QUALIDADE (2001).
Informação e documentação – Gestão de documentos de arquivo – Parte 1: Princípios
básicos. NP 4438-1:2005. Versão portuguesa da ISSO 15489-1:2001. Lisboa: Instituto
Português da Qualidade.
PORTUGAL. Ministério da Educação e Investigação Científica (1976). Despacho
nº13/76, de 20 de Setembro. Diário da República. 2ª Série. Lisboa. 221, p. 6307-6308.
RAHMAN, Arif Ur; DAVID, Gabriel; RIBEIRO, Cristina (2010) – Model Migration
Approach for Database Preservation. Lecture Notes in Computer Science 6102, pp. 81-
90. In: International Digital Libraries Conference, Gold Coast Australia, 21-25 de
Junho, 2010.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
80
RAMALHO, José Carlos; FEREIRA, Miguel; FERROS, Luís; LIMA, Maria João Pires;
Sousa, António (2006) – DigitArq2: Nova arquitetura aplicacional para gestão de
Arquivos Definitivos. CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE ARQUIVOS
EMPRESARIAIS, 2, Seixal, Portugal – “2ª Conferência Internacional de Arquivos
Empresariais”. (Em linha) [Acedido em 2 de Novembro de 2011 de
http://hdl.handle.net/1822/6038 ]
SILVA, Armando Malheiro da (2006) – A informação: da compreensão do fenómeno e
construção do objecto científico. Porto: Edições Afrontamento (Comunicação, Arte,
Informação; 1). ISBN 972-36-0622-4.
Task Force on Archiving of Digital Information (1996) – Commission on Preservation
and Access and Research Libraries Group, Preserving digital information: report of the
Task Force on Archiving of Digital Information. Washington, D.C.: Commission on
Preservation and Access.
THIBODEAU, Kenneth (2002) – Overview of Technological Approaches to Digital
Preservation and Challenges in Coming Years. Paper presented at “The State of Digital
Preservation: An International Perspective”, Washington D.C.
UK PARLIAMENTARY ARCHIVES (2009). Digital Preservation Policy 1.0. (Em
linha) [Disponível em
http://www.parliament.uk/documents/upload/digitalpreservationpolicy1.0.pdf ]
WEBB, Colin (2003) – Guidelines for the Preservation of Digital Heritage. United
Nations Educational Scientific and Cultural Organization: Information Society Division.
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
81
Anexos
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
82
Anexo A – Exemplo de um Boletim de Inscrição no Ensino Superior de um PIE
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
83
Anexo B - Proposta de Classificação Documental para o Processo Individual de
Estudante (Jorge Pópulo, 2008)
GA Gestão de Alunos
1 Processos Individuais de Estudantes
1.1 Candidaturas
Boletim de Candidatura
Lista de Seriação
Referência Multibanco de Candidatura
Outros Documentos
1.2 Matrículas
Ofício DGES
Lista Colocados DGES
Pauta de Matrícula DGES
Historial de Candidatura
Transferência Oficiosa de Matrícula
1.3 Inscrições
Boletim de Inscrição
Referência Multibanco de Inscrição
1.4 Propinas
Referência Multibanco de Propina
Guia de Pagamento de Propina
Pagamento
Pedido de Bolsa
Exceções
1.5 Exames
Inscrição em Exame de Época Normal
Inscrição em Exame de Recurso
Inscrição em Exame de Melhoria de Classificação
Inscrição em Exame de Época Especial
Inscrição em Exame em Outros Exames
Guia de Pagamento para Realização de Exame
Resultado de Exame
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
84
1.6 Dissertação / Tese
Título da Tese
Tema Definitivo
Tema Provisório
Orientador
Coorientador
Estados
Júri
1.7 Conclusão de Curso
Ata
Resultado (Doutoramento)
Ofício com a Média Final
Talão de Curso
Carta de Curso
Ata de Mestrado
1.8 Equivalências
Pedido de Equivalências
Outros Documentos
Guia de Pagamento de Pedido de Equivalências
Resposta a Pedido de Equivalências
1.9 Estatutos Especiais
Comprovativo de Estatuto
Pedido de Reconhecimento de Estatuto
Resposta a Pedido de Reconhecimento de Estatuto
1.10 Requerimentos
Requerimento
Anexo de Requerimento
Resposta a Requerimento
1.11 Declarações
Pedido de Declaração
Declaração
1.12 Certidões
Pedido de Certidão
Guia de Pagamento de Pedido de Certidão
Preservação Digital da Informação Permanente da FEUP - Estudo de Caso dos Processos Individuais de Estudante
85
Certidão
1.13 Justificação de Faltas
Atestado Médico
Outras Justificações
1.14 Mobilidade
1.15 Atividades Complementares
1.16 Regime de Estudo