Presidenta Eleganta

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ABORDAGENS SOBRE A FLEXÃO DO TERMO PRESIDENTA

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Presidenta eleganta.Miriam Rita Moro Mine - Universidade Federal do Paran.

No portugus existem os particpios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particpio ativo do verbo atacar atacante, de pedir pedinte, o de cantar cantante, o de existir existente, o de mendigar mendicante... Qual o particpio ativo do verbo ser? O particpio ativo do verbo ser ente. Aquele que : o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar algum com capacidade para exercer a ao que expressa um verbo, h que se adicionarem raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, pessoa que preside PRESIDENTE, e no "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Diz-se: capela ardente, e no capela "ardenta"; se diz estudante, e no "estudanta"; se diz adolescente, e no "adolescenta"; se diz paciente, e no "pacienta". Um bom exemplo do erro grosseiro seria:

"A candidata apresidentase comporta como umaadolescentapoucopacientaque imagina ter viradoelegantapara tentar ser nomeadarepresentanta. Esperamos v-la algum diasorridentanuma capelaardenta, pois estadirigentapoltica, dentre tantas outras suas atitudesbarbarizentas, no tem o direito de violentar o pobre portugus, s para ficarcontenta".

Por favor, pelo amor Lngua Portuguesa, repasse essa informao...Postado porL.D. Dr.med. D.Sc. Sergio Ulhoa Danis21:08Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest13 comentrios:

1. Davi Miranda29 de outubro de 2011 03:30Srgio,

Os principais gramticos brasileiros registram a palavra presidenta como correta.

Em seu Dicionrio de Masculinos e Femininos, Aldo Canazio (1960) registra presidenta como feminino de presidente (ao lado de [a] presidente como substantivo de dois gneros).

Desde sua 1 edio (1963), a Moderna Gramtica Portuguesa de Evanildo Bechara j registrava e abonava essa forma feminina:

Podemos distinguir, na manifestao do feminino, os seguintes processos [...] com a mudana ou acrscimo ao radical, suprimindo a vogal temtica [...] Os [terminados] em e uns h que ficam invariveis, outros acrescentam a depois de suprir a vogal temtica: alfaiate alfaiat(e) + a alfaiata.

Variam:

alfaiate alfaiatainfante infantagovernante governantapresidente presidentaparente parentamonge monja(p. 84, grifo nosso)

Celso Pedro Luft, em seu Dicionrio Gramatical da Lngua Portuguesa (1966), ensina que os substantivos terminados em e so geralmente uniformes (); h, porm, alguns que trocam o e por a: elefante elefanta; governante governanta; infante infanta;[...] ; parente parenta; mais raros: [...] giganta; hspeda; presidenta; alfaiata. Em ABC da Lngua Culta, o autor reafirma: [...] substantivo que se pode tomar como comum de dois gneros (sexo) para pessoa que preside: o presidente, a presidente; mas tambm comporta feminizao flexional: a presidenta.

Rocha Lima (2007), em sua Gramtica Normativa da Lngua Portuguesa, reconhece: a fora do uso j consagrou as formas flexionadas infanta, parenta e presidenta (p. 73).

Luiz Antonio Sacconi (2010), em Nossa Gramtica Completa Sacconi, tambm registra presidenta como o feminino de presidente (p. 133).

Cegalla (2008) diz o seguinte em seu Dicionrio de Dificuldades da Lngua Portuguesa: forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente. A presidenta da Nicargua fez um pronunciamento Nao. / A presidente das Filipinas pediu o apoio o apoio do povo para o seu governo (p. 336).

Finalmente, o Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa (2009), que registra todas as palavras em uso oficial na lngua portuguesa, legitima a palavra (p. 674).Responder2. Sergio Ulhoa Dani29 de outubro de 2011 23:51Davi,

os autores que voc cita confundem particpio ativo com substantivo e adjetivo. "Presidente" no substantivo nem adjetivo. Presidente o estado ou condio da pessoa que preside. A raiz latina, "presidens", o estado ou condio daquele (ou daquela) que preside. "Presidenta" uma "mutao brasileira". Essa mutao cria uma diviso entre a lngua culta e a lngua inculta. E, ao criar essa diviso, acaba dividindo tambm as pessoas entre cultas e incultas. A funo dos dicionrios e gramticas manter e transmitir a "lgica interna" da lngua, os seus recursos lingusticos, de modo que todos possam "falar a mesma lngua", e os semelhantes possam se entender e se reconhecer como semelhantes. Mas, muitos dicionrios so meras colees de palavras, assim como corre o risco de se tornar a "lngua brasileira". Assim como a lngua sofre divises, as pessoas e a sociedade tambm sofrem. Eu acredito que as pessoas que usam a forma errada - "presidenta" - consciente ou inconscientemente, visam criar diviso e discrdia. "Dividir para conquistar" - j diziam os romanos.Responder3. Sergio Ulhoa Dani31 de outubro de 2011 10:05Comentrio de Davi Miranda, encaminhado ao editor do blog parte I:

... Os autores que voc cita confundem particpio ativo com substantivo e adjetivo. "Presidente" no substantivo nem adjetivo. Presidente o estado ou condio da pessoa que preside. A raiz latina, "presidens", o estado ou condio daquele (ou daquela) que preside.

No, no confundem: eles tm conscincia da evoluo, da variao e da mudana numa lngua. E da que 'a raiz latina'? O que o latim tem a ver com o portugus alm da relao de provenincia? O que obriga uma lngua a manter a estrutura e a natureza de algo que no a sua prpria? Por que fazer, sempre, analogias de questes da lngua portuguesa com o seu caso correspondente em latim?

A terminao -nte um sufixo originrio do latim ns, -ntis, desinncia do particpio presente que, na lngua portuguesa, resultou em adjetivos ou substantivos deverbais (formados a partir de verbos) com a noo de agente, como em assaltante, ouvinte, servente.Por si s, esse particpio presente no vingou na lngua portuguesa, tendo se mantido apenas no francs e no italiano. Em O Portugus Arcaico (2006), a linguista Rosa Mattos e Silva observa que, embora o particpio presente ainda pudesse apresentar remanescentes verbais no perodo arcaico, apenas se fixou no portugus contemporneo como adjetivo, substantivo ou em outras classes de palavras (presente, constante, tirante, durante etc) (p. 121). No artigo Flexo Verbal do Portugus, O fillogo Joseph Maria Piel esclarece o desaparecimento dessa forma nominal de verbo:

Tendo o gerndio pouco a pouco assumido, em portugus, as funes verbais do particpio, no admira a ausncia desta ltima categoria no quadro moderno da conjugao portuguesa. Como exemplo, o autor cita uma obra em que as formas estante, dizente, dorminte, em sua verso mais antiga em portugus, mudaram posteriormente, a partir do sculo XV, para estando, dizendo, dormindo.

O autor tambm observa que natural que a lngua no eliminasse simultaneamente todos os particpios em -ante, -ente, -inte [...]. Constituem reminiscncias do particpio as formas invariveis, equivalentes a preposies, salvante, tirante, passante [...]. Abstraindo destes casos, os particpios tornaram-se adjetivos: semelhante, doente, ou substantivos: figurante, tenente, pedinte [...] (p. 220). Por isso, e s por isso, no portugus contemporneo, esse particpio latino ainda reclamado como fator remoto da (relativa) uniformidade dos adjetivos (e substantivos) terminados em -nte em portugus.

A nica justificativa dada para condenar a variao do vocbulo presidente vincul-la obrigatoriamente sua uniformidade latina original. Ora, o fato de os adjetivos terminados em -nte serem, como j no latim, uniformes em nada justifica ou obriga, necessariamente, a preservao de tal uniformidade numa lngua neolatina.

Vale observar o que diz a Gramtica comparativa Houaiss: quatro lnguas romnicas (2010), ao mostrar o quanto as lnguas derivadas do latim comportaram-se de modo peculiar/intrnseco e divergiram em suas formaes de gnero:

H nomes e adjetivos em -a e em -e que podem ser uniformes quanto ao gnero [...] h palavras terminadas em -e que em portugus, espanhol e italiano so uniformes para o masculino e o feminino, mas que em francs apresentam uma diferena entre a forma masculina e a forma feminina. [...] no que diz respeito aos adjetivos, o italiano permaneceu fiel terminao e- do latim; o portugus e o espanhol conservaram-na em palavras como grande ou abandonaram-na em casos como cruel, fcil, corts e jovem/joven. Estas duas lnguas adotaram a desinncia -a para formar o feminino de alguns adjetivos que etimologicamente pertenciam ao grupo dos uniformes (p. 98, grifo nosso)...Responder4. Sergio Ulhoa Dani31 de outubro de 2011 10:23Comentrio de Davi Miranda, encaminhado ao editor do blog parte II:

...Mais adiante, no item oportunamente intitulado O caso particular dos nomes de profisses, temos:

Numerosas profisses reservadas no passado aos homens so atualmente acessveis s mulheres. As lnguas comportam-se de maneira diferente em relao a esta nova realidade. Tal como o portugus, o espanhol e o italiano possuem em geral formas no masculino e no feminino para os nomes de profisses: profesor/profesora (espanhol), professore/professoressa (italiano); escritor/escritora (espanhol), scrittore/scrittrice (italiano).

Em italiano, os vocbulos com o sufixo essa para o feminino de certas profisses ou so antigos, como studentessa, professoressa, ou ento foram criados mais recentemente, como deputadessa, avvocatessa (sendo avvocata mais freqente), ministressa (forma rara). Muitas vezes continua a usar-se a unicamente a forma masculina para homem ou mulher: il deputato, lavvocato, il ministro.

Em francs, os femininos introduzidos h muito tempo na lngua no levantam problemas: boulanger/boulangre, directeur/directrice, vendeur/vendeuse; pelo contrrio, h numerosos outros nomes para os quais no existem femininos e que por isso exprimem s a funo e no a pessoa: professeur, tailleur, peintre, juge, crivain, mdecin, guide, tmoin. Assim, diz-se: Madame Durand, professeur, Madame le professeur (p. 99, grifo nosso).

Como se v, no que diz respeito formao de gnero no feminino, cada lngua neolatina desenvolveu flexes (ou derivaes) distintamente, de acordo com suas respectivas peculiaridades, no seguindo necessariamente a lgica da estrutura vigente no latim. No h, portanto, por que condenar no portugus a realizao de uma determinada flexo (nesse caso, eu diria derivao) tendo como justificativa uma lgica determinista (nesse caso, a uniformidade dos adjetivos latinos terminados em -nte) que vigorava incondicionalmente FORA do portugus, numa lngua hoje morta.

" manter e transmitir a 'lgica interna' da lngua..."

J que voc fala em "lgica interna da lngua", por que no consegue, ento, admitir que o latim e o portugus, possuem, cada um, sua "lgica interna"?

"Presidenta" uma "mutao brasileira".

No. Ela no s brasileira como tambm (pioneiramente) lusitana: o termo surgiu originalmente em Portugal, conforme a 1 edio do Dicionrio Caldas Aulete (1881). Na literatura portuguesa, tem-se o registro impresso mais antigo da palavra na traduo da obra As Sabichonas (Les Femmes Savantes), do dramaturgo francs Molire, por meio do escritor portugus Antonio Feliciano de Castilho, em 1872:

Mais gratido lhe devo, immortal presidenta (p. 128)

nossa presidenta, e s minhas scias, peo se dignem perdoar-me o intempestivo excesso (p. 153); Nada, nada! Escusa, presidenta, de insistir mais (p. 230)...Responder5. Sergio Ulhoa Dani31 de outubro de 2011 13:47Comentrio de Davi Miranda, encaminhado ao editor do blog parte III:

...Anos depois, no Brasil, Machado de Assis utilizaria o vocbulo em Memrias Pstumas de Brs Cubas (publicada pela primeira vez em 1881):

Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretrio, era resolver as cousas de um modo administrativo.

E para lanar por terra a ideia de que a sufixao -nta uma "mutao (apenas) brasileira" (e mesmo que fosse apenas brasileira, no haveria problema algum nisso quanto qualidade culta da lngua), observemos: os estudos da linguista Rosa Virgnia Mattos e Silva (2006) constataram que

No Cancioneiro Medieval Portugus aparecem sergente: sergenta e o sinnimo servente: serventa (servo); [...] no Orto do Esposo, dos fins do sculo XIV, aparecem servente, sergente, mas tambm sergenta (p. 103-104).

Viu s? Ainda acha que seria mera "mutao brasileira"? Por que seria, se essa mutao j ocorria desde o portugus arcaico?...

Para exemplificar outras variaes da terminao -nte com outras palavras do portugus arcaico em uso at hoje, podemos citar infanta e parenta, substantivos surgidos no sculo XIII conforme o Dicionrio Etimolgico da Lngua Portuguesa (2010); giganta, publicado num romance de cavalaria em 1522, conforme Barros (1743); posteriormente, num perodo mais moderno da lngua, teremos elefanta, registrado no sculo XVIII no Diccionario da Lingua Portugueza (SILVA, 1789); e governanta, originado em 1881 por influncia do feminino do francs gouvernante (HOUAISS, 2001). Entre os casos que no se consolidaram na lngua, Said Ali (1964) cita, em sua Gramtica Histrica da Lngua Portuguesa, as palavras comedianta e farsanta, utilizadas na literatura do perodo quinhentista e seiscentista (p. 62).

Voc certamente j ouviu falar, em algum momento de seus estudos, do padre portugus Antnio Vieira, um dos maiores nomes da literatura barroca. Veja s isso:

No estariam, entretanto, grandemente convencidos os quinhentistas da correo desta linguagem se j hesitavam entre infante e infanta, como facilmente se v na Crnica de D. Manuel por Damio de Gis. A forma infanta, tornou-se, contudo, a preferida por Antnio Vieira e outros, e prevaleceu (SAID ALI, 1964, p. 62).

[...] acredito que as pessoas que usam a forma errada - "presidenta" [...]

"Forma errada"? Quem disse, quem estabeleceu, que norma estabelece que "presidenta" errado? As gramticas normativas (como j constatamos) no o fazem... Ento, baseado em QUE se pode afirmar, categoricamente, que essas pessoas usam a forma errada?

[...] Mas, muitos dicionrios so meras colees de palavras, assim como corre o risco de se tornar a "lnguabrasileira.

Em primeiro lugar, exceo do primeiro autor, as citaes no tratam de dicionrios, mas sim das principais gramticas (isto , obras dos principais gramticos brasileiros) nas quais a lngua culta (em portugus) se baseia. No estamos falando de meros professores de portugus com blogs e programas de rdio ou de TV. So os autores das mesmas gramticas que estudantes, vestibulandos, concurseiros, universitrios, professores, mestres e doutores (enfim, todos os membros do segmento culto da sociedade) leem e estudam (ou vai me dizer que voc no conhece nenhum desses autores?).

"[...] Corre o risco de tornar a lngua 'brasileira'..."

Mas que diabos de lngua falamos ento? No corremos esse risco: j falamos uma lngua 'brasileira'.

Davi MirandaRevisor de [email protected]. Sergio Ulhoa Dani31 de outubro de 2011 14:03Ironicamente (ou ironicamento, ironicamenta?), o registro impresso mais antigo da palavra presidenta na literatura portuguesa, em 1872 pode ter sido um erro de grafia, proposital ou no. Na primeira hiptese, o autor da traduo para o portugus da obra As Sabichonas (Les Femmes Savantes, do dramaturgo francs Molire), Antnio Feliciano de Castilho pode ter querido ressaltar a conhecida ironia e sarcasmo dos textos de Molire. Alternativamente, Feliciano de Castilho pode ter deixado passar o erro nas provas de impresso, j que Castilho era cego, sendo obrigado a ditar toda a sua vasta obra literria.

Que o termo presidenta figure em dicionrios lusitanos e outras obras no foi suficiente (ou suficiento, suficienta?) nem para dobrar a lgica do termo, nem para coloc-lo em uso. Esse termo simplesmente (ou simplesmento, simplesmenta?) considerado errado em Portugal. Os dicionrios so como os genomas. Eles absorvem as mutaes da lngua, mas a maioria dessas mutaes no entra em uso. Estima-se que apenas cerca de 10% do nosso genoma constitui informao gentica til, o restante (ou restanto, restanta?) DNA sucata.

No Brasil, onde os limites entre o certo e o errado sao apagados, o DNA sucata est sendo reciclado. As razes do ultra equinotialem non peccavi que orientou a formao da colnia esto fortes na cultura brasileira. O latim ainda est vivo no mundo. Ele ensinado nas escolas alems, como disciplina optativa. At h pouco tempo, tambm era ensinado nas escolas brasileiras. Agora no mais. Nem o Portugus. Nem o Tupi-Guarani. So as mutaes brasileira...Responder7. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:24Primeiramente, voc falha quanto tenta fazer analogias foradas com as formas inexistentes "ironicamenta", "simplesmenta", "suficienta" e "restanta". Isso s demonstra o quanto voc desconhece os motivos pelos quais uma palavra tem seu uso abonado pela norma culta."Ironicamente" e "simplesmente" so advrbios, no substantivos/adjetivos passveis de flexo. Logo, sua analogia completamente intil e descabida nesse sentido.

Em qualquer lngua, uma determinada construo textual torna-se regra e se consolida como norma, no mbito da lngua CULTA, no em funo nica e exclusivamente do critrio da estrutura anteriormente estabelecida de outra lngua, mas sim de um USO, muitas vezes verificado como tendo origem em segmentos sociais diversos (no necessariamente do meio social mais culto e instrudo). Quando o determinado uso de uma palavra, expresso ou construo sinttica (at ento sem amparo na normalizao gramatical vigente) se verifica na literatura da lngua ou na escrita/fala de seus usurios, os gramticos tendem a abon-la. assim que sempre funcionou e assim que sempre fucionar. No existe, em lngua, esse papo de "DNA sucata" (que eu vou descontruir logo a seguir, mostrando o quanto sua argumentao contraditria). H apenas aquilo que usado e o que cai em desuso. Simples assim!

O que os gramticos fazem observar os usos e registr-los. "Suficienta" e "restanta" no existem por no terem emprego percentual de peso na lngua; presidenta sim.

Voc fica tentando explicar (baseado em suposies pessoais) motivos para no legitimar a palavra. Ora, bvio que no houve erro tipogrfico, j que as ocorrncias da palavra na obra de Castilho so inmeras desde a primeira edio, mantendo-se at hoje. E mesmo que assim fosse, no se concentre em Castilho como se ele fosse a uma evidncia isolada, equivocada e "insuficiente" sobre a palavra presidenta. No se trata de mero "incidente isolado" e "insuficiente", como j foi demonstrado em mensagem anterior: a palavra estava dicionarizada EM PORTUGAL desde 1881 e usada pelo maior escritor brasileiro em 1882, tudo ainda em pleno sculo XIX. O nico motivo que te leva desmerecer isso a sua resistncia orgulhosa em aceitar a legitimidade da palavra, nada mais.Responder8. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:25E mesmo que assim no fosse, vamos palavra cujo uso voc tenta a todo custo negar sem ter conhecimento dos fatos.

Que o termo presidenta figure em dicionrios lusitanos e outras obras no foi suficiente (ou suficiento, suficienta?) nem para dobrar a lgica do termo, nem para coloc-lo em uso.

"Dobrar a lgica do termo"? Que lgica? A lgica latina? Essa lgica, por mais til e importante que seja para se entender a forma como o portugus se moldou originalmente, serve de modo completo apenas para o prprio latim. Se o portugus e todas as lnguas neolatinas mantivessem, por algum motivo, a estrutura inteiramente original do latim, ns continuaramos a falar dialetos do latim, e no portugus, espanhol, francs, italiano etc, que, com suas respectivas evolues, so hoje lnguas, e no meros dialetos do latim.

Percebe como voc tenta vincular incondicionalmente e rigorosamente a lngua que falamos e escrevemos hoje a uma lngua sem conseguir explicar por que diabos deveramos, por alguma obrigao constante numa lei ou mesmo em alguma argumentao cientfica, seguir os critrios de uma lngua que no usada no pas? No existe esse rigor, meu caro. Ele se encontra apenas no capricho de quem pretende manter uma suposta ETIQUETA lingustica que, na prtica social, perde totalmente o sentido e a razo de ser. Isso que voc defende (ou melhor, tenta desqualicar) mero juzo de valor. Tenta a todo custo preservar algo que j sofreu transformao. Condenar uma palavra no impede que a natureza espontnea da linguagem a consagre e a torne normalizada, correta e culta, como j aconteceu, pois os principais gramticos da lngua (repito) j registram a forma como adequada em suas obras.Responder9. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:26Voc disse que "Os dicionrios so como os genomas. Eles absorvem as 'mutaes' da lngua, mas a maioria dessas 'mutaes' no entra em uso." E tocou na palavrinha mgica: uso. justamente o uso o que, mais cedo ou mais tarde, contado como critrio para que uma palavra no apenas seja dicionarizada como tambm enquadrada na norma culta. E por quem? Pelos gramticos.

Voc tambm disse "[...]nem para coloc-lo em uso"

E por que voc acha que ela no foi sequer ainda colocada em uso? Dilma Rousseff no inventou essa palavra! Ela j era usada em jornais, tribunais, rgos pblicos h muitas dcadas. A novidade no a forma feminina de presidente. A novidade uma mulher nesse cargo do Executivo. Comprova-se, em vrios meios e pocas, o hbito de se escrever esse feminino, cujas ocorrncias tornaram-se mais frequentes na medida em que as mulheres passaram a assumir cargos de presidncia. Duvida? No mbito jornalstico, constam incontveis registros do uso do termo, conforme pode ser constatado por meio das ferramentas de buscas dos sites de jornais. S vou citar aqui ALGUNS exemplos. O Correio Braziliense possui em seus registros virtuais: J confirmaram presena no vernissage o ministro do Meio Ambiente, Jos Sarney Filho, e a presidenta do Ibama, Marlia Marreco Cerqueira (1999). Em outra edio, consta: Ciclo de palestras com a participao da Dra. Ruth Cardoso, presidenta do Conselho do Comunidade Solidria (1999). Em mais outra edio, temos: A presidenta do Sindicato dos Comercirios, Geralda Godinho, diz que a categoria a favor do novo horrio (2002).Consultando o site de O Estado de S. Paulo, podemos encontrar, entre mais de SETECENTOS registros: Coordenada pela presidenta da Sociedade Brasileira de Arqueologia, Tania Andrade, a mostra permanecer aberta ao pblico at o prximo dia 30 de julho. (2000).No site da Folha de S. Paulo jornal que anunciou a utilizao exclusiva de presidente para se referir Dilma Roussef encontram-se arquivos de edies anteriores com CENTENAS de registros contrariando o to defendido substantivo de dois gneros, como este: [...] Slvia Passarelli, empresria e presidenta da construtora Passarelli [...] (1994). Em outra ocorrncia, temos: A presidenta do partido conservador oposicionista CDU (Unio Democrata-Crist), Angela Merkel [...] (2000).No mbito do Poder Judicirio, o vocbulo pode ser observado em documentos oficiais. Em Ata de Sesso Solene realizada no Superior Tribunal de Justia, datada de 1989, consta: (...) Desembargadora Maria Tereza Braga, Presidenta do Tribunal de Justia do Distrito Federal (...). No site do Superior Tribunal de Justia (STJ), encontram-se vrios registros como este: A juza Sandra de Santis, ento presidenta do Tribunal de Jri, do Tribunal de Justia do Distrito Federal, desclassificou a imputao de crime doloso, passando-a para leso corporal seguida de morte (1999).No de se estranhar, portanto, que a linguista Maria Helena de Moura Neves tenha registrado em seu Guia de Usos do Portugus (2003): usa-se a forma presidente tanto para homem quanto para mulher. [...] Tambm usual, entretanto, a forma regular de feminino, presidenta. >> 'Afinal, era dar ou no dar a renncia da PRESIDENTA da Argentina' (Nos Bastidores da Notcia, de Alexandre Garcia)" (p. 620).Veja s: no estamos falando, aqui, do uso de "Presidenta" por analfabetos ou pessoas de pouca instruo, mas por jornalistas, juzes, camada CULTA da sociedade. Viu s? Quer voc queira, quer no, USA-SE a palavra e h tempos! no mbito da linguagem culta. Ou seja: dizer que "presidenta" no se USA no mbito da lngua CULTA no tem sustentao.Responder10. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:28Voc disse que "esse termo simplesmente [...] considerado errado em Portugal." E da? Mesmo que fosse errada em Portugal (a palavra "presidenta" encontra devidamente dicionarizada em vrios dicionrios portugueses), isso no vale como argumento para desqualific-la no Brasil. H formas em portugus tidas como corretas em Portugal e que no possuem uso em nosso pas (e vice-versa). No h nenhuma razo para se negar a legitimidade de uma palavra AQUI s porque, no pas do qual herdamos a lngua, a forma no existia ou no era usada (e j mostramos que isso no verdade).

Uma lngua, ao ser usada em outro lugar/pas, pode naturalmente criar formas e estruturas estranhas ao lugar onde era originalmente falada. Como, estando em outro continente separado por um imenso oceano, poderia se esperar que o portugus falado e escrito no Brasil pudesse continuar a ser o mesmo portugus pronunciado em Portugal? algo to claro, to bvio... No reconhecer que uma lngua evolui, VARIA e MUDA conforme o tempo, conforme o seu contexto histrico, geogrfico etc. demonstrar total ignorncia e principalmente, teimosia diante de estudos lingusticos que j comprovaram e normalizaram a forma como correta, e basear-se apenas em opinies 'embasadas' em preferncias e inclinaes de gosto, e no em cincia.Responder11. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:29Voc disse "Estima-se que apenas cerca de 10% do nosso genoma constitui informao gentica til, o restante [...] 'DNA sucata'...".

J que voc fez uma analogia prpria de cincia exata ("genoma", "informao gentica til" "DNA") de modo a tentar explicar o que ocorre num objeto prprio das cincias humanas, vamos l: mesmo que validssemos essa estratgia esquisita de comparar o portugus moderno com latim clssico (aquele de Ccero e outros grandes nomes da literatura clssica da Antiguidade), voc continuaria equivocado, j que ponto pacfico na filologia que as lnguas neolatinas (portugus, espanhol, francs, italiano) NO evoluram do chamado latim clssico (apesar da relatinizao ocorrida durante o Renascimento). Elas evoluram do latim vulgar, o mesmo latim que, se seguirmos seu prprio raciocnio, chamaremos de "DNA sucata".

Repetindo para evidenciar seu prprio argumento contra voc: o portugus NO se originou no latim clssico e culto, mas sim do latim vulgar, ou seja, o latim de "DNA sucata".

Isso poderia at parecer um fato irrelevante, mas no , porque a diferena entre o latim da elite romana e o falado pelos soldados e pela plebe era brutal. Sim, o latim vulgar falado pelos soldados e pela plebe (do qual se originou o portugus, o espanhol, o francs etc) o latim "DNA sucata", e no o latim clssico.

Nada acima deprecia ou depe contra o latim. E seria estupidez no reconhecer a importncia dessa lngua morta, que continua sendo estudada no Brasil sim, como disciplina dos departamentos de lingusticas de inmeras universidades do pas. No entanto, dizer que "o latim continua vivo" afirmao meramente romntica, pois, mesmo que ele ainda estivesse vivo e sendo falado por meio de usurios, isso no faria diferena na evoluo do portugus, espanhol etc, que se tornaram lnguas independentes e com estruturas prprias. NO SEGUIMOS A ESTRUTURA SINTTICA DO LATIM (sujeito>objeto>verbo) Em portugus, a estrutura VARIOU e depois MUDOU, EVOLUIU para outra forma (sujeito>verbo>objeto). Como, ainda assim, teimar e querer vincular incondicionalmente uma outra?Responder12. Davi Miranda15 de novembro de 2011 12:29Veja s como o raciocnio que voc usa no favorece seu prprio argumento: "lgica interna de uma lngua" pressupe uma lgica peculiar, inerente a cada lngua. Ora, o latim tem a sua lgica interna, assim como o portugus e qualquer outra lngua. Isso apenas refora o que eu disse no pargrafo anterior.

Os exemplos de feminino das demais lnguas originadas do latim esto l, firmes e fortes (e voc at agora s defendeu a lgica da estrutura latina no portugus, ignorando que isso tambm ocorre nas demais lnguas neolatinas). Voc j constatou o quanto elas tambm VARIAM e MUDAM independentemente de sua raiz latina. E a...? Ou s pro portugus que funciona essa "regra" imaginria e idealizada?...

Declaraes que voc faz tentando defender a lngua culta dela mesma, carentes de qualquer fundamentao cientfica, no passam de meros juzos de valores, que so superados em gerao em gerao. Seus filhos, netos, bisnetos etc encararo diversas "mutaes brasileira" (d o nome que quiser, as mutaes so legtimas, naturais e espontneas, e no subordinadas a alguma lei ou princpio tpico de cincias exatas) como meras normas prprias da lngua culta. De nada adianta tentar fixar, tal qual um modelo enrijecido, uma estrutura que nem mesmo diz respeito natureza da prpria lngua.

Afirmaes como "mutao brasileira" demonstram ainda puro preconceito e preferncia pessoal. Por que tal mutao, ainda que fosse exclusivamente " brasileira", no poderia ser reconhecida e legitimada? Por que diabos a lngua falada em Portugal teria mais legitimidade do que o portugus falado no Brasil, a ponto de legislar e condenar uma forma usada (e consagrada em regra gramatical!) aqui s porque no usada l? Se assim fosse, deveriam tambm ter sido condenadas, na Antiguidade, as formas oriundas do latim vulgar (latim DNA sucata), que deram origem a todo um universo de palavra que compem o portugus, o espanhol etc. E, no entanto, se isso aconteceu, de nada adiantou, porque o que legitima as palavras o seu uso e no uma receita erudita de etiqueta lingustica e nem mesmo alguma lei.Responder13. Sergio Ulhoa Dani16 de novembro de 2011 06:25Entendo que para um corretor de textos como voc, essa discusso toda seja muito interessante, instigante, e at mesmo de importncia existencial.

Outro dia encontrei um angolano nas ruas de Heidelberg, aproveitei e fiz uma consulta "gramatical". L em Angola a mutao "presidenta" tambm considerada errada. Se em Portugal e Angola errado, mas no Brasil certo, ento a "mutao brasileira".

Se a questo fosse defender flexo de gnero e imparcialidade "cientfica", ou ser "justo", em vez de "preconceituoso", deveramos aceitar tambm o "presidento" como mutao vlida. Mas no, a questo parece ser muito mais ideolgica que gramatical, uma homenagem especial brasileira Dilma, a "mutao brasileira".

No me entenda mal, a gentica ensina que toda mutao "neutra", em princpio, que o ambiente determina se uma mutao "pega" ou no. S no entendo por que no inventaram o "presidento" para o presidente Lula da Silva? Talvez os seus filhos e netos ainda inventaro essa e, com alto grau de certeza, voc dever defender esse uso.

O nmero de mutaes, assim como o universo e a ignorncia humana so infinitos, por isso criam-se enzimas de reparo de DNA nos sistemas vivos, e na cultura criam-se regras, conceitos, pr-conceitos e ps-conceitos.

Sua observao que do latim surgiram as lnguas neolatinas procedente e refora meu ponto de vista inicial. A histria mostra que a destruio e a formao das lnguas andam de mos dadas com a destruio e a formao das naes, dos pases e das culturas. As gigantescas contradies brasileiras tambm dividem o pas, desde o incio da sua formao. Em princpio, no vejo mal algum nisso, um sintoma da evoluo natural, que s vezes apressada, s vezes retardada.

Pessoalmente, gostaria que Canudos e o "canuds" tivessem vencido as tropas federais e se tornado independentes, que as diversas outras tentativas de insurreio que marcaram a nossa histria tivessem prosperado, e que de cada uma tivesse resultado nova lngua ou dialeto, nova cultura, nova nao, novo povo, novo territrio, novo governo. Vivendo assim, em novos ambientes coerentes, cada um de ns estaria mais protegido dos erros que a todo momento querem que aceitemos como verdades.