12
JZ u < < c í < u o LJ_

Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

JZuaí<<c

2

í<uo

LJ_

Page 2: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

ATERCEIRA PUSSY KÁTIA SAMUTSEVICHNOTRIBUNALONDESE REENCONTROUCOM NÁDIA E MARIA

A neve não tem parado de cair à porta do pavi-lhão 23. É hora de ponta e elas resolveram virde láxi, mesmo sabendo que não há faixas exclu-

sivas para Iransporles públicos. A cidade foi

ocupada por carros alemães. Mercedes, Por

ches, Audis, nas suas versões mais volumosas c

caras. Em Moscovo o dinheiro cheira a casacos

de pele e a gasolina. Depois de um mês anormal-

mente quente, o inverno desceu convicto sobre

as avenidas largas da capital russa, o que só

vem piorar as coisas. Com a neve veio o gelo. O

asfalto ficou escorregadio, tornando o trânsito

penoso. Isso explica o atraso de Nadezhda Tolo-

konnikova e Masha Aliokhina. Ou Nádia e Ma-

ria, como preferem ser tratadas as duas jovens

estrelas do coletivo de música punk Pussy Riot.

Propriedade de Marat Gelman, antigo dire-

tor-adjunto do maior canal de televisão pública,

o pavilhão 2.3 fica no grande pátio do antigo

complexo industrial de Winzavod, a meia hora

de metro do Kremlin. É uma das galerias do cen-

tro de arte contemporânea criado nas instala-

ções onde funcionou, no tempo dos czares, a

maior fábrica de vinho da cidade, com uvas da

Crimeia e do Cáucaso.

Lá denlro eslão umas 100 pessoas, à esperade Nádia c Maria. Apesar de serem cabeças de

cartaz para esta noite, as duas raparigas não

vão encher a casa. Atitudes contra Vladimir Pu-

tin e contra a Igreja ortodoxa dão pouca publici-dade nos noticiários locais, num país submerso

no deslumbramento do capitalismo e no respei-to reverenciai pela autoridade do Estado. A

maioria das pessoas quer ir para casa ao anoite-

cer e, quando muito, passar antes pelos arma-zéns iluminados da Praça Vermelha, para ver

as montras da T.ouis Vuitton e da Cartier ou en-

cher o carrinho na enorme loja gourmet onde,

na secção de caviar, há esturjões vivos a pas-sear nos aquários. Eventos sobre a falta de direi-

tos humanos e a liberdade de expressão são

uma opção marginal e arriscada.

Page 3: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

Porque é que vemos Nádia e Mariasem Kátia ao lado? "Acho que ela traiu

o espírito da banda", admite Andrey

O ambiente é de alguma ansiedade e excita-

ção. Cá fora, Andrey Toiokonnikov enfrenta os

20 graus negativos fumando um cigarro sem

luvas. É um homem de sorriso rasgado. Andreytem 55 anos c c o pai de Nádia. E provavclmcnLe o seu melhor relações públicas, mas é quasetão mau a exprimir-se em inglês como ela. Os

russos não falam inglês, não importa se têmmuita cultura ou não.

Médico, Andrey também se tornou escri-

tor. "Gosto mais de palavras do que de tratar

pessoas, mas só ullimamenle é que comecei a

dedicar-me à escrita." A troca de e-mails comele nos dias anteriores foi produtiva, mas agora,

sem a ajuda do tradutor automático do Google,

a conversa é lenta e difícil. F suficiente, no en-

tanto, para perceber o que Andrey pensa sobre

Yekaterina Samutsevich, ou Kátia, a outra rapa-riga das Pussy Riot condenada à prisão c queacabaria por se declarar inocenle peranle o tri-

bunal, sendo libertada um ano mais cedo do

que as companheiras. Porque é que apenas ve-

mos Nádia e Maria juntas, sem Kátia ao lado?

"Acho o mesmo que muita gente. Que ela traiu

o espírito da banda." Andrey está acompanhado. Jovens inlelecLuais que conhece pelo nome.

Vêm assistir à primeira exibição na Rússia de

um documentário sobre as Pussy Riot.

APOIOS NÁDIA COM O MARIDO, PIETRVERZILOV, NA FOTO DE CIMA, MARIACOM O ADVOGADO DAS PUSSY RIOT

FAMÍLIA E AMIGA ELENA KOSTIUCHENKONA REDAÇÀO DO JORNAL 'NOVAYA GAZETA' 1

NA FOTO DECIMA, NÁDIA COM O PAI, ANDREY

"Desta vez, o evento só foi divulgado entre

amigos nas redes sociais", explica o médico. A

última tentativa de passar um filme sobre a luta

de Nádia e Maria contra o Presidente Vladimir

Putin foi a um domingo, no final de dezembro,

dias depois da saída delas da cadeia, com "A

Punk's Prayer", pré-selecionado para os Óscares.

Várias cópias do documentário viajaram com

êxito de Nova lorque para Moscovo, escondidas

na mala de um dos realizadores, o russo Maxim

Pzdorovkin. A exibição foi proibida por uma car-

ta ameaçadora das autoridades culturais envia

da aos responsáveis do Centro Gogol, um edifí-

cio do Estado para onde aprojeção eslava previs-

ta. "O papel da arte", dizia a carta, "é salvar o mun-

do, torná-lo um lugar melhor, e não inflamar o

público com histórias escandalosas que não têm

mérito cultural. Vamos respeitar estes princípios

c manter toda a gente a salvo."

O documenlário de hoje chama-se "Pussy

versus Putin" e é o terceiro filme a ser produzido

Page 4: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

sobre o coletivo desde que o tribunal condenou

a dois anos de prisão Nádia, Maria e Kátia, porterem aparecido em fevereiro de 2012 de passa--montanhas coloridos na catedral de Cristo-Sal-

vador, em Moscovo, para cantar à Virgem Ma-

ria, denunciando a promiscuidade do patriarcada Igreja ortodoxa com o Kremlin. O suficiente,

segundo os juizes, para uma sentença inédita

por crimes de "hooliganismo motivado poródio religioso".

O filme não tem tido a máquina da produto-ra norte-americana HBO a divulgá-lo e a distri-

buí-lo pelo mundo inteiro, como aconteceu

com "A Punk's Prayer", mas é um retrato mais

próximo das Pussy Riot e revela imagens inédi-

tas desde o tempo da fundação do grupo, em

2011. A realização é assinada por outro coletivo

também feminino, Gogols Wives. Ninguém fi-caria surpreendido se, detrás desse nome, esti-

vessem as próprias Pussy Riot. Tirando Nádia,Maria e Kátia, ninguém sabe quem são as res-

tantes duas raparigas que estavam na catedral

também de passa-montanhas na cabeça. Nem a

meia dúzia de outras performers que participa-ram em ações anteriores.

Elas aparecem, finalmente. O que deveria

ter sido apenas um encontro de amigos trans

forma se num momento mediático. As pessoasacumulam se no canto junto à porta do pavilhão, de onde Nádia e Maria surgem, ainda ves-tidas com os casacos para o frio. Há uma equipade televisão francesa e vieram dois jornalistasde um dos maiores jornais do Canadá, "The Glo-

be and Mail".

As atenções concentram-se em Nádia. É al-

ta, fotogénica e, para desequilibrar mais ainda a

balança com Maria, aparentemente a filha de

Andrey sofreu mais na prisão. As paredes da

galeria de Marat Gelman são-lhe dedicadas. A

estreia do documentário é precedida pela inau-

guração de uma exposição assinada por um ca-

sal de artistas plásticos, Lusine Janyan e Alexei

Knedlyakovsky.São cartazes com o rosto de Nádia e pala-

vras de ordem para a sua libertação, escritas à

mão, como se fosse para uma manifestação de

estudantes. Algumas delas são dirigidas ao dirc

tor da colónia penal IX 2, um estabelecimento

na república da Mordóvia onde mulheres prisio-neiras são obrigadas a costurar uniformes 16 ho-

ras por dia, sujeitas a castigos severos se não tra-

balharem o que lhes é exigido. I.usine e Alexei

passaram meses a expor esses cartazes no exte-

rior da prisão onde a ativista das Pussy Riot cum-

priu a maior parte da sentença, até final de outu-

bro do ano passado, quando, na sequência de

uma greve de fome, foi transferida para um hos-

Page 5: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

pitai noutra cadeia, em Krasnoyarsk, na Sibéria,

a terra onde cresceu e onde a avó ainda vive.

Lusine e Alexei abraçam-se emocionados a

Nádia, sob o olhar compreensivo e cúmplice de

Maria. "Fizemos aquilo que achámos que era a

nossa obrigação", diz Lusine, "para denunciai-

as condições desumanas vividas por Nádia e

por outras prisioneiras". A exposição chama-se,

por isso, "Mordovlag", uma forma abreviada de

dizer Campo da Mordóvia em russo.

As duas Pussy Riot não se sentam para ver

o documentário. Já o conhecem. Sobem as esca-

das da mezzanine que serve de bastidores da ga-leria de arte, para matar saudades dos amigos

que não vêem há muito tempo. Riem-se, tiram

fotografias, fumam. Há miúdas franzinas e rapa-zes de óculos de massa. Parece um inlervalo das

aulas na universidade. Apesar de ambas já se

rem mães, Nádia, com 24 anos, é recém-licencia-

da em Filosofia, enquanto Maria, de 25, ainda é

estudante de Jornalismo e vai voltar este semes-

tre ao curso, para ver se o termina.

Numa das salas da mezzanine está também

Pietr Verzilov, o marido de Nádia, que se assu-

miu como porta-voz do coletivo durante o pe-ríodo de prisão. É um rapaz magro e agitado, o

único no círculo delas que fala inglês fluente,

por ter vivido e estudado em Toronto, no Cana-

dá, quando era adolescente.

"Estamos a morar em Moscovo, mas temos

estado também com frequência na Mordóvia,

por causa do nosso novo projeto", conta Pietr.

"As Pussy Riot continuam a existir, mas nós jánão podemos participar nas ações delas, porqueo conceito do coletivo é manter o anonimato dos

seus membros. Por isso aparecem de cara tapa-da", explica Nádia. "As pessoas precisam de en-

tender que nas prisões, tal como na economia e

na política, a Rússia ainda não saiu verdadeira-

mente da época soviética", acrescenta Maria. "O

que existe ainda se baseia nesses tempos. Há tra-balhos forçados e os direitos dos presos não são

respeitados". Mal foram libertadas por um indul-

to presidencial, antecipando a vinda da imprensa estrangeira para os Jogos Olímpicos de Invcr

no, que estão a decorrer em Sochi, Maria e Nádia

formalizaram a criação de uma nova organiza

ção não governamental, de nome Justice Zonc.

Mas c o que aconteceu a Kátia, para não

eslar com elas? Chalearam-se? "É curioso per-guntar pela Kátia, porque daqui a uma hora va

mos eslar com ela c por isso não nos podemosalrasar". diz Maria. "Vamos preparar a nossa

ida a tribunal daqui a dois dias", justifica Nádia.

Embora já estejam cá fora, nos tribunais as

Pussy Riot ainda são um dossiê em aberto.

"Estamos a morar em Moscovo, mastemos estado também na Mordóvia, porcausa do nosso novo projeto", diz Pietr

ESTREIA O METRODE MOSCOVO FOI OPALCO DA PRIMEIRAATUAÇÃO PÚBLICADAS PUSSY RIOT, EMNOVEMBRO DE 2011

RESISTIR AO REGIME

A "Novaya Gazeta" ocupa um edifício cor de ro-

sa de cinco andares na Rua Potapovsky, dentro

dos limites do bairro boémio de Kitay Gorod,

por onde se espalham os bares e discotecas

mais concorridos de Moscovo, alguns deles

abertos 24 horas por dia. O jornal está a umacurta distância a pé da praça Lubyanka, onde

era a sede do KGB durante a era soviética e é

hoje a sede do FSB, os serviços secretos pós-pe-restroiko. O acesso não se faz pelo edifício, mas

por um anexo que serve de receção, cantina e

dormitório para os seguranças que guardam as

instalações. As paredes têm a tinta gasta e o

chão está sujo de lama. Ouve-se a televisão ao

lado, como numa (ípica sala de eslar. O vigilan-te de serviço verifica o caderno com as exten

soes telefónicas escritas à mão. Procura o nomede Elena Kostiuchenko. "Se ela combinou às

dez da manhã de sábado é porque deve ter fica-

do a dormir cá, como de costume", comenta umconsultor do jornal, que está também à esperade luz verde para entrar.

Elena desce e ouve um pequeno sermão

por não ter o número da sua extensão atualiza-

do. É a jornalista, na história da redação, que

começou a trabalhar mais cedo. com apenas 17

anos, inspirada por Arma Polilkovskaya. Conhe-

cido pelas investigações incómodas sobre cor

rupção c relações promíscuas entre oligarcas c

governantes, o jornal viu cinco jornalistas seus

serem assassinados nos últimos dez anos. O ca-

so mais emblemático é o de Politkovskaya, quehá muito escrevia sobre o conflito armado na

Tchetchénia, criticando o papel do Kremlin, e

que acabou morta a tiro à porta de casa, em

2006, pouco depois de ter concluído o último

dos seus livros, "A Rússia de Putin: como é viver

numa democracia falhada".

Cheira a tabaco, apesar de ser proibido fu-

mar na redação. A "Novaya Gazeta" é um espa-

ço anacrónico. Não há open space e os gabinetesdas secções estão separados por portas de alu

mínio barato. O sofá atrás da secretária de Ele

na tem uma cova profunda. ''Aqui não temos

horas, nem dias certos". Mortes e prisões têmlevado a que haja cada vez menos coragem na

Rússia para denunciar os contornos mais polé-micos do regime político cultivado por Putin,

antigo diretor dos serviços secretos, desde queassumiu pela primeira vez a Presidência, em

2000. Ealta de independência dos tribunais, cor-

rupção endémica do Estado, promiscuidade en-

tre política e religião. Uma das maiores concen-

trações dessa pequena estirpe de resistentes es-

tá na Rua Potapovsky. "Na Rússia de hoje, não

vejo diferença entre ser ativista ou jornalista.Os outros jornais acham que estamos a fazer

oposição, mas o que eu vejo é que estamos ape-nas a fazer o nosso trabalho".

Atualmente com 26 anos, Elena conseguiu

ganhar estatuto dentro do jornal com os seus

próprios artigos de investigação. "Foi só por con-

sideração por mim que o meu editor aceitou

Page 6: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

publicar uma entrevista às Pussy Riot em 2011",

recorda. A banda foi fundada em agosto desse

ano e em novembro estava a fazer as primeirase inesperadas aparições públicas, de forma ile-

gal c em pleno metro de Moscovo, com um for

te pendor feminista ("nunca é tarde para te tor

liares uma dorninatrix", dizia a letra da primeiracanção), gritando para que se fizesse da PraçaVermelha uma nova Praça Tahrir, como no Egi-to. "O meu editor disse-me: isto não tem interes-

se nenhum. Uma banda de punk com umas

miúdas cobertas com passa-montanhas? O

punk é uma coisa dos anos 80."

Mas Elena sabia que o assunto era mais vas-

to do que um mero grupo de música rebelde.

"Eu já conhecia Nádia e Kátia e tinha acompa-nhado outras ações delas. Eram criativas, ti-nham uma grande dose de coragem e ideias for-

tes". Elena partilhava com elas, além disso, umdos estandartes de luta: a defesa dos direitos

das mulheres e dos homossexuais, temas pre-

sentes nas letras do grupo e mal-amados pelo

Governo, pela Igreja ortodoxa e pela maioria da

sociedade russa, muito conservadora nesse e

noutros aspelos. A jornalista declarou-se publi-camente lésbica nessa altura, assumindo uma

relação com outra mulher para poder reclamar

pelo direito ao casamento entre pessoas do mes

mo sexo.

No bar ao lado do edifício do jornal, em

frente a quatro ovos mexidos e um cinzeiro, Ele-

na conta como o grupo a que Kátia, Nádia e

Pietr pertenceram antes, o Vnina, já fazia cons-

tantes incursões de provocação ao poder. "Uma

vez, foram interromper o trânsito em frente a

uma esquadra para pedir aos condutores di-

nheiro em nome dos polícias, de quem se di-

ziam familiares e de quem lamentavam a falta

de talento para extorquir. Punham-se a limparos sapatos aos polícias que estavam a assistir

àquilo tudo. 'Papá, não podes andar assim tão

sujo. Tens de te cuidar', diziam-lhes a gozar".

Era esse o espírito, testar os limites. Voina

significa guerra em russo. O grupo foi fundado

cm 2006, quando Nádia era ainda adolescente

e estava a entrar como estudante de Filosofia

na Universidade Estatal de Moscovo, onde Pietr

era colega de carteira. Sete anos mais velha, Ká-

tia já era então uma especialista em software e

tinha ido tirar um curso de fotografia numa es-

cola de artes, a Rodchenko, um dos locais de

recrutamento do Voina, a par da universidade.

SÍMBOLO A CATEDRAL DE CRISTO-SALVADOR,EM MOSCOVO, ON DE A ATUAÇÃO DAS PUSSY RIOTAS LEVOU À PRISÃO

A INSPIRAÇÃO DE KHODORKOVSKY

O pai de Nádia tinha explicado, na troca de

e-moils, que o interesse dela por questões políti-cas e sociais surgiu pouco tempo antes disso,

em 2005, com 16 anos. Foi despertado pelo jul-

gamento de Mikhail Khodorkovsky, o oligarca

que chegou a ser o homem mais rico da Rússia,

dono da petrolífera Yukos, até ter começado a

financiar partidos políticos da oposição c a criti

car Putin. Preso durante dez anos, Khodor-

Page 7: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

kovsky foi amnistiado, ironicamente, na mes-

ma semana que as Pussy Riot. Mas enquanto o

ex-empresário aceitou sair de imediato do país,

recusando lançar-se na arena política, as duas

raparigas denunciaram Putiii assim que se vi

iam fora da cadeia, acusando-o de usar a amnis-

tia como um "embuste" para limpar a sua ima-

gem em vésperas dos Jogos Olímpicos."Nádia já mostrava ser muito independen-

te quando tinha quatro anos. A frase-chave dela

era: 'Não me obrigues'", recordou Andrey numdos muitos elogios à filha. "A história infantil

preferida dela era uma história sobre revolta".

Escrito por Aleksandr Solzhenitsyn, prémio No-

bel da Literatura condenado a trabalhos força-dos por criticar Estaline, o conto 'O Carvalho e o

Bezerro' encarna o provérbio nisso que diz que

o bezerro marra no carvalho ate ele cair. O con

to vem a calhar para o seu perfil como heroína,

mas parece um pouco de mais. À mesa do bar,

Hiena avisa que é preciso dar algum desconto

ao que Andrey diz. "Ela não cresceu com o pai".

A mais célebre e controversa ação do Voi-

na aconteceu em fevereiro de 2008, quandoPictr e Nádia já eram casados c ela estava grávida de Gera. Foram um dos cinco casais que fize-

ram sexo ao vivo no museu de biologia de Mos-

covo e que serviu para contestara eleição como

Presidente do então vice-primeiro-ministro Di-mitri Medvedev, garantindo a Putin o regressoao lugar mais tarde. Medvedev é a palavra rus-

sa para urso e a performance chamava-se "uma

f... para o ursinho herdeiro". Ainda há vídeos

desse momento na internet.

Era grande a bagagem que levavam quan-do Kátia e Nádia lançaram as Pussy Riot. E ti-nham pressa. Depois de uni interregno de qua-tro anos como primeiro ministro, Putin arrisca

va-se a ganhar novamente as eleições para pre-sidente em março de 2012.

Tinham passado apenas seis meses desde a

formação do coletivo até ao dia em que as rapa-

rigas entraram na catedral de Cristo-Salvador,

a 21 de fevereiro de 2012, para uma última atua

ção. A 20 de janeiro, quatro semanas antes, tinham dado nas vistas fora do país. Imagens de

oito raparigas de cara tapada a agitarem-se em

"Uma vez interromperam o trânsitopara pedir dinheiro aos condutores em

nome dos polícias", conta Elena

MANOBRA O KREMLIN É ACUSADODE QUERER LIMPAR A SUA IMAGEM

COM UMA AMNISTIA ÀS PUSSY RIOT

Page 8: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

frente à catedral de São Basílio, o símbolo mais

iconográfico da Rússia, na Praça Vermelha, cir-

cularam nas agências de notícias internacio-

nais, com a leira da canção a lazer o resto: "l'u-

tin fez xixi nas calças". Mas era apenas um cn

saio para o que veio depois.

A catedral de Cristo-Salvador é maior do

que parece quando se vê à distância, da colina

do Kremlin, encostada ao rio Moscovo. Foi arra-sada por Estaline e reconstruída nos anos 90 tal

como era no século XIX, para ser de novo o tem-

plo mais alto da Rússia. F uma espécie de basíli-

ca de São Pedro para a Igreja ortodoxa. A nave

circular está coberta de ouro até ao cimo da cú-

pula central, a 100 metros de altura. As longasmissas das manhãs de domingo são presididas

por Kirill, ou Vladimir Gundyaev na versão civil

do seu nome. o "patriarca de Moscovo e de toda

a Rússia". Os fiéis e turistas passam pelo contro-

lo de metais, os seguranças inspecionam as ma-las c c proibido fotografar ou filmar. No último

domingo de janeiro, o aparato c grande. Em pie

no dia, há milhares de luzes acesas para a ceie

bração. Do lado esquerdo do altar principal um

estrado está reservado a convidados especiais,

aparentando serem altas figuras do Estado, pe-los carros que se vêem estacionados numa área

vedada ao público, junto à catedral. Há milita-

res fardados que marcham durante a celebra-

ção, empunhando estandartes.

Mas, naquela terça-feira de carnaval de

2012, quando as raparigas entraram com os pas-sa-montanhas nas mochilas e os seus vestidos

de alças escondidos por casados de inverno, a

ESPERANÁDIA E KÁTIA EMSOKOLNIKI. APORTADO TRIBUNAL, DIASANTES DE VIAJAREMPARA NOVA lORQUE,ONDE APARECERAMNUM CONCERTO AOLADO DE MADONNA

Page 9: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,

catedral estava vazia. Elena foi avisada e apa-receu lá, como repórter da "Novaya Gazeta".

"Os seguranças estranharam. De repente, tan-

ta gente com um aspeto diferente do habi-

tual? Começaram a falar entre eles. Percebe-

ram que se ia passar alguma coisa. Havia gen-te inexperiente, as pessoas que iam ajudar a

filmar e andavam ali à volta. Olhavam uns pa-ra os outros com ar de caso". A performancefoi muito curta. Mal deu para cantarem "Vir-

gem Maria, mãe de Deus, afasta o Putin. afasta

o Putin, afasta o Putin. Merda, merda, a merda

de Deus". O refrão de 'Oração Punk'.

"O patriarca Gundyaev acredita em Pu-

lin, cão, seria melhor acreditar em Deus", di-

zia mais à frente a letra escrita por Andrey a

pedido da filha, mas então já as raparigas ti-

nham sido expulsas da catedral. Só a 12 de

março, depois de Putin ganhar as eleições,

Nádia, Maria e Kátia foram intcrcctadas pela

polícia no metro. "Kátia deu outro nome e foi

deixada em paz", conta Elena. "Mas quandorecebeu uma notificação cm casa para se

apresentar no Ministério Público, resolveu

comparecer. E também foi presa". Nas sema-

nas seguintes, Kirill repudiaria os apelos pa-ra que a Igreja fosse complacente e deixasse

cair a queixa-crime contra elas. "O diabo riu-se na nossa cara."

O Supremo Tribunal concluiu quehouve irregularidades na sentençae ordenou a revisão do processo

UM CASO EM ABERTO

Em Sokolniki. bairro do clube de futebol Spar-tak de Moscovo, o isolamento do tribunal ser-

ve de tampão a protestos durante o inverno.

O edifício tem a dimensão de um quarteirãointeiro. À volta não há cafés, lojas, abrigos.

Apenas jardins, parques e, a uma distância ra-

zoável, blocos de apartamentos da era soviéti-

ca, altos e indiferenciados. Numa torre aban-

donada sobrevive um cartaz do proporções

gigantescas glorificando o ideal atlético comu

nista para os jogos olímpicos de 19S0. Na ma-nhã mais fria de janeiro, os 24 graus negati-vos justificam que haja um único manifestan-

te junto ao portão do tribunal, com um texto

impresso num placard, prontamente cumpri-mentado por Nádia, Maria e Pietr.

Vêm com um advogado que estava nos

bastidores da galeria de Marat Gelman, na ou-

tra noite. Pouco depois aparece Kátia, acom-

panhada por uma amiga. As três só se cumpri-

mentam lá dentro. O Tribunal da Cidade de

Moscovo, como se chama formalmente o edi-

fício, funciona simultaneamente como pri-meira instância e instância de recurso. Rece-

be os processos considerados mais importan-tes e complicados, incluindo os que envolvem

dissidentes, ativistas e oligarcas caídos em

desgraça. É aqui que está a decorrer o conturbado julgamento sobre o assassínio de Arma

Politkovskaya.No caso das Pussy Riot, um acórdão do Supre-mo Tribunal de Justiça concluiu em dezem-

bro que houve irregularidades na sentença e

mandou o Tribunal da Cidade de Moscovo re-

ver o processo. O julgamento de Nádia, Mariae Kátia realizou- se noutro tribunal, em Kha-

movnichesky, o mesmo que condenou Mi-khail Khodorkovsky. Os juízes-conselheirosdizem agora que os factos apresentados du-

rante as audiências não provam que a atua-

ção das raparigas tenha sido motivada poródio contra um grupo social, a justificação le-

gal para o crime. E que, por outro lado, não foi

levantada a hipótese de lerem as penas sus-

pensas, apesar de Nádia e Maria serem mães

de crianças pequenas. Tudo isto será suficien

te, teoricamente, para anulara sentença.Uma hora mais tarde, surgem as três à

porta, para darem explicações a alguns jorna-listas locais. Kátia é muito furtiva e desapare-ce em passo acelerado por um dos lados do

edifício. Tentando articular-se em inglês, Ma-ria conta o que se passou: a sessão foi adiada

para 27 de fevereiro. "Nada que nos surpreen-da, tendo em conta a falta de independênciada Justiça. Vão esperar que acabem primeiroos Jogos Olímpicos". As duas, de qualquer for-

ma, estão de viagem. "Vamos a um concerto

da Amnistia Internacional, nos Estados Uni-dos". Nádia quer aproveitar a presença ao la-do de Madonna, em Nova lorque, para de-

nunciar os sucessivos períodos numa cela so-

litária de Vika Dubrovina, uma antiga com-

panheira na colónia penal da Mordóvia. Vi-ka esteve isolada durante 30 dias e o castigofoi renovado por mais duas semanas por terdado a conhecer a sua situação. As raparigasacreditam que a viagem faz sentido. Porque,

para as Pussy Riot, a realidade na Rússia só

recomeça depois de Sochi. O

mrpereira&expresso, impresa.pt

Page 10: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,
Page 11: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,
Page 12: Press Review page - ClipQuick · cher o carrinho na enorme loja gourmet onde, na secção de caviar, há esturjões vivos a pas- ... sem a ajuda do tradutor automático do Google,