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Alentejo

Press Review page - ClipQuicksticas edafo-elimátieas para a produção de uvas e de outros frutos". Porquê? Porque, considera este técnico, "é uma região que usufrui de um clima

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Alentejo

Porteirasda

VIDIGUEIRANa Yidigueira se faz vinho há dois mil anos, como se pode

comprovar pelos vestígios de ruínas locais. 0 clima e o solo

sempre foram propícios aos bons néctares. Que o digamprodutores como António Lança ou Joaquim Morais Rocha.

TEXTO António Falcão * NOTAS DE PROVA Luís Antunes * FOTOS Ricardo Palma Veiga

Não deverá li aver pessoa que conheça tão bem as vinhas da

Vidigueira como Francisco Mata. o secretário executivo da

ATEVA (Associação Técnica para o .Melhoramento da Vi -

ticultura do Alentejo), uma associação de viticultores quenasceu em 1985. Ávida de Francisco, e dos colegas, é andar

pelas vinhas de todo o Alentejo, aconselhando os associa-

dos em tudo o que se refere a viticultura. Francisco tem.claro, uma opinião bem fundamentada sobre a razão por-que existe uma sub -região no Alentejo chamada Vidiguei-ra (é uma das oito, refira-se). A Vidigueira "tem óptimascaracterísticas edafo-elimátieas para a produção de uvas e

de outros frutos". Porquê? Porque, considera este técnico,"é uma região que usufrui de um clima mais ameno, pro-tegida que está pela Serra de Portei, que se estende por cer-ca de 50 quilómetros numa orientação Este -Oeste". Ora,diz Francisco Mata, "este clima proporciona maturaçõesmais completas e homogéneas, o que, por sua vez, dá ori-

gem a uvas que dão mostos mais equilibrados e a vinhos

mais frescos e aromáticos". A diferença de clima para zo-nas mais a sul (como Cuba ou Alvito) ou não tão protegidas(como as vinhas de Francisco Nunes Garcia, por exemplo,na ponta da Serra de Portei) pode não ser grande mas há

de facto uma influência. Esta formação montanhosa, jáagora, é a que faz a divisão do Alto com o Baixo Alentejo.

A PÁTRIA DO AMTÃO VAZ

Lm clima muito propício à casta branca Antão Vaz, queFrancisco Mata garante ter aqui, o seu "território de elei-

ção '. E não surpreende: a área de cultivo desta casta é.

desde há muitos anos. extremamente elevada, e os vinhosdaí resultantes não têm parado de ganhar prémios. A va

riedade Antâo Vaz mostra por vezes falta de acidez e é porisso que nos últimos anos estes vinhos têm sido lotados

com duas companheiras que lhe emprestam a frescura:

Verdelho e Arinto. com índices de plantação em alta. Emalta estão também castas antes menos plantadas aqui, corno

Alicante Bouschet. Touriga -Nacional ou Syrah. Inevitávelé assim que o perfil dos tintos típicos da região tenha so

frido alguma mudança nos últimos anos. até porque, emsentido inverso de popularidade estão castas menos atra-

entes como o Castelào ou a Trincadeira, em evidente de-clínio de plantação.Nesta sub-regiâo de solos geralmente pouco ferieis, mui-tos de origem granítica e xistosa, existem neste momentocerca de 3.300 hectares de vinha, a grande maioria no con-celho da Vidigueira. O grosso da área vai para a adega co-

operativa local, o maior produtor desta sub- região, mas

existem por aqui muitos outros nomes sonantes, comoCortes de Cima. Herdade do Peso, Quinta do Quetzal. Pau-

lo Laureano, Herdade do Monte da Ribeira ou Herdade do

Sobroso. entre outros. A região da Vidigueira alberga as-sim nomes já clássicos, como a Herdade Grande, e outros

que agora começam a ser conhecidos, como Morais Rocha.

Vamos visitá-los.

O CLÁSSICO E O ASPIRANTEAntónio Lança e José Joaquim Morais Rocha são dois pro-dutores que partilham várias coisas em comum: uma delas

é certamente a paixão pela terra e pelo vinho. São da Vidi-

gueira, são quase vizinhos, mas ambos andaram algo afas-

tados da terra e do vinho. António Lança menos, porque a

sua actividade bancária foi exercida pelo Alentejo: Morais

Rocha só 'regressou' de Lisboa à terra nalal em 3005, mas

sem aba ndonar a sua actividade, dedicada à administraçãodo sector portuário. Mas tanto um como outro são descen -

dentes de gente que também fez uvas. vinho, e amou ater -

ra e o olival. Sim. é verdade, ambos tém olivais e fazem azei -

tes com marca própria. É gente da terra, já se vê.

António e José Joaquim são também bons conversadores,

sentindo-se muito à vontade num grupo de amigos, acom-

pa nhados de uma boa refeição e de um bom vinho. Contudo,

as ambições são diferentes: enquanto o primeiro gere mais

de 6o hectares de vinha c produz quase 300.000 litros porano. Morais Rocha fica se por muito menos, apenas 1^,5hectares e uma produção que será um quinto da de Lança.

Mas, claro, existem outras diferenças. 'Obrigado' a esco-

ar uma produção generosa, António Lança tem uma gamade vinhos muito variada, com preços do módico ao quaseluxuoso. Rocha, pelo contrário, pode dedicar-se (pelo me-nos para já), a vinhos mais dispendiosos e. portanto, de

preço mais elevado.

As instalações e adegas são completamentc distintas. En-

quanto António Lança usa uma adega com quase duas dé -

cadas de idade, instalada e adaptada dos imóveis rústicos

da sua Herdade Grande, a de Morais Rocha é completa-mente nova e foi construída e planeada de raiz. Mas ambas

funcionam, claro, e bem.

Depois de vender uva para a cooperativa, António

Lança começou a fazer os seus vinhos em 1995

Equipa da HerdadeGrande: Ricardo Caralho.o ertólogo residente, coma colega Iv/ariara LançaÀ cirei:a. Antcno Lança,o proprietário.

NA HERDADE CRAJNDE

DE AMÓNIO LANÇAEnquanto nos mostra as suas instalações, o agrónomo An-tónio Lança diz-nos um pouco da sua história: "esta her-dade já tem quase um século na família, e já se produziavinho nessa altura, consociada com olival. O meu pai era

viticultor e foi mesmo um dos fundadores da cooperativalocal, em 1962". O filho seguiu as pisadas durante 15 anos

anles de se lançar na produção própria, em 1995, um his-

tórico pouco comum no Alentejo 'moderno'.

Na altura recorreu aos serviços do enólogo Luís Duarte,

que o acompanha desde então. A associação correu tão

bem que o Herdade Grande branco ganhou três primeiros

prémios no concurso da Confraria dos Enófilos do Alen-

tejo, em 2000. 2002, e 2003. A casta AnlãoVaz era o prin-cipal fio condutor destes vinhos, e ainda o é. Mas muita

coisa mudou desde essa altura, incluindo a concorrência,

hoje muito mais diversificada c alguma trabalhando para'nichos': "o Herdade Grande de ?003 teve uma produção

de 85.000 garrafas!", diz Lança com orgulho. Pelo meio

estão muitos outros prémios e elevadas classificações, tan-

to para brancos como para tintos.

Ao longo dos anos a adega foi alvo de muitos melhoramen-

tos e ampliações, incluindo, em breve, a instalação de

energia fotovoltaica, mas as maiores modificações deram-

se na vinha e são relativamente recentes: uma reestrutu-

ração em boa escala continua a ocorrer, com novas castas

a entrar e outras em declínio. Apropria proporção de bran-

cas versus tintas vai dar mais alguma vantagem aos tintos

mas tem que se considerar que, ao contrário da esmaga-dora maioria dos produtores alentejanos, António Lançaestá a produzir apenas 1.5 vezes mais tinto do que branco

.

Avinha vai assim ter mais Cabernet Sauvignon ou Alican-

te Bouschet e novidades como Petit Verdot ou Tinta Miú-da. Nos brancos, os vinhos terão mais Verdelho e Arinto

mas também Viosinho, Rabigato, Chardonnay, Semillon,

Viognier e mesmo Alvarinho. A responsabilidade desta

mudança cabe também a Mariana Lança, a filha que se está

agora a lançar na enologia da casa, depois de terminados

os estudos no ISA, e ao enólogo residente, Ricardo Carva-

lho. Esta nova geração quer fazer coisas diferentes, expe-

riências, mas António Lança, que paga as facturas, não é

homem de entrar em demasiadas aventuras. "Vamos lan-

çar, pela primeira vez, alguns monovarietais, em pequenas

quantidades apenas, para ver no que dá. Queremos antes

melhorar cada vez mais os nossos produtos e tentar con-

solidar a comercialização, especialmente nos mercados

externos". António Lança está a pensar numa associação

com outros produtores de outras regiões para promoçãoe venda dos vinhos no estrangeiro. Os primeiros passos jáforam dados mas o resto é segredo.

Aalguns quilómetros ao pé, a comercialização não é o as-

sunto que mais preocupa muito José Joaquim Morais Ro-

cha. Pelo menos por enquanto.

Morais Rocha começou pouco a poucono vinho mas no futuro próximo

espera fazer 100.000 garrafas

O REFUGIO DE MORAIS ROCHA

José Joaquim Morais Rocha foi nascido e criado na Vidiguei-

ra, embora seja em Lisboa que faz a sua vida. Foi para lá com

15 anos mas aos 3o anos, "jácom os miúdos crescidos, deu-

me a saudade e voltei ao Alentejo, para os fim-de-semana".

Em 2005 herda as terras da família e,diz ele, "fiquei com um

problema.- ou vendia as terras ou fazia algo de novo". Deci-

diu-se pela novidade: "plantei 5 hectares agora, 10 hectares

depois, olival e vinha". Avinha velha quase desapareceu paradar lugar a novas plantas, novas castas. Nova vinha quer uma

adega e iniciou-se o caminho irreversível: com investimen-

tos feitos, há que os amortizar. No caminho encontrou o

enólogo Filipe Carrilho, "que estava disposto a encarar este

projecto". Foi o rastilho que faltava. Hoje Morais Rocha tem

18 hectares de vinha, uma adega com capacidade para 100.000

litros, muito bem equipada, e um lagar de azeite. Tudo a es-

trear, ou quase. Muitas cubas e lagares, pequenas capacida-des, equipamentos de topo, tudo feito muito a sério. Apri-meira colheita foi em 3006 mas pequena (ceTca de 7.000

garrafas, tinto e branco). "Em 2ooB superamos as ao. 000

garrafas e em 2013 esperamos engarrafar cerca de 70 .000",

garante o proprietário. "Não quero mais do que esta. capaci-dade porque quero fazer coisas cuidadas e ter um mercado

que eu consiga controlar. Entretanto vai-se entretendo com

outras actividades: ao lado da adega está uma parcela de ter-

reno com loa áivores de fruta diferentes, duas de cada das

51 espécies plantadas. "Tenho fruta todo o ano mas dá um

trabalhão", diz Morais Rocha. Menos mal que vai compen-sando com as patuscadas, realizadas numa sala ideal para o

efeito, com cozinha e tudo. É aqui que serve (e também tes-

ta) os seus vinhos, da marca JJ, o entrada de gama, e Morais

Rocha reserva.

José Joaquim sabe que o muito que aqui foi investido está

longe de estar amortizado. "Ainda assim", diz, "espero que,

em 2 ou 3 anos de velocidade de cruzeiro, o investimento

pague as despesas. Isto é mais umhobby que um negóciomas não estou arrependido: isto é a minha 'menina', apesarde dar muito trabalho: ora são as regas, as bombas, os trata-

mentos; tudo dá muita dor de cabeça mas há também muita

coisa interessante, dá-me prazer".

Protegida pela Serra de Portei,a região da Vidigueira tem um climamais temperado

EM PROVA

15 O €3,58Condado das Vinhas

Reg. Alentejano branco

2010

António Manuel Lança

Fruta amarela, citrinos, um

toque mineral. Bem

proporcionado, acidez no

ponto, bem harmonioso,

encorpado, final de bom

comprimento. (i.3%)

17,5 O €25Herdade Grande

Reg. Alentejano Reserva

tinto 2008António Manuel LançaFruta preta, lieorados,

tostados e fumados da

barrica com nuances de

ervas aromáticas. Muito

sério na boca, guloso,taninos finos, boa

estrutura, bastante

equilibrado, termina longoe amplo. (14.5%)

15,50€5,60jjReg. Alentejano branco

2010

Fruta citrina no aroma mas

também se nota o lado

mineral, em bom equilí-brio. Médio porte, coma

fruta a mostrar-se bem. a

acidez está muito correcta.

Roa proporção de conjunto.(i 3%)

150€7jjReg. Alentejano tinto 2010

JJMRSoc.Agr.

Fruta azul e preta, grafite,um nada metálico, flores,

folhagens. Sério e

composto na boca. com

acidez firme, corpo médio,

taninos firmes mas macios,

bom equilíbrio. (14,%) LA