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25.° ManuelVicente

• MINISTRO DE ESTADO E DA

COORDENAÇÃO ECONÓMICA

• ENGENHEIRO ELECTROTÉCNICO

• NASCEU EM LUANDA

• CASADO

• 56 ANOS

De um ano para o outro a natureza do poder exercido peloangolano Manuel Vicente mudou. O poder empresarial quedetinha, enquanto presidente da Sonangol, passou para se-

gundo plano, ultrapassado pelo poder político, desde que a 9de Fevereiro deste ano tomou posse como ministro de Esta-do e da Coordenação Económica. E mesmo esta nomeaçãoconstituiu um passo intermédio na sua ascensão na nomen-clatura angola. A l 3de Junho foi escolhido como o númerodois da lista do MPLA às eleições de 31 de Agosto, tendo ape-nas à sua frente José Eduardo dos Santos. Na prática tal re-presentou o anúncio público de que Manuel Vicente será

vice-presidente e o sucessor do actual presidente da Repú-blica de Angola, embora ainda vá ter de enfrentar alguns anti-

corpos no interior do partido.José Eduardo dos Santos e Manuel Vicente partilham uma

amizade de longa data, e que vai muito além do facto do ex--presidente da Sonangol se ter assumido como a sombra fi-nanceira do regime e ser um gestor que granjeou respeito e

admiração. Manuel Vicente foi criado pela irmã mais velha

CELSO FILIPE [email protected] de José Eduardo dos Santos, Isabel Eduardo dos Santos - fa-lecida em Julho de 2008 -, a qual terá desempenhado o pa-pel de verdadeira "mãe" do gestor. Isabel também foi decisi-va nos primeiros passos da vida política do irmão e JoséEduardo reconheceu isso mesmo ao dar à sua primeira filhao nome da irmã, Isabel. A Isabel dos Santos de quem todosfalam. Por isso, em círculos restritos, os dois tratam-se porprimos e só não estão em sintonia quando o assunto é fute-bol. José Eduardo dos Santos é adepto do Porto, Manuel Vi-cente é simpatizante do Benfica.

Manuel Vicente ganhou agora efectivo poder político, masmantém o controlo do império empresarial que foi construin-do na Sonangol e à volta dela. Colocou a petrolífera em negó-cios como a banca, tanto em Angola como em Portugal. Noprimeiro dos casos a Sonangol possui participações accionis-tas no Banco Africano de Investimento e no Banco PrivadoAtlântico. No segundo, assume-se como o maior accionistado Millennium BCP, com 11% do capital. A Sonangol está ain-da nos negócios dos diamantes (comprou a Escom ao Banco

*

continua na página 7

TABELA DE CRITÉRIOS

Ganhou efectivo poder político e, tudo indica,

a 31 de Agosto, com as eleições em Angola,irá reforçá-10. Ao mesmo tempo, mantém

o controlo do império empresarial que foi

construindo na Sonagol e à volta dela.

O QUE FEZ

INVESTIMENTOS EM PORTUGALTransformou a Sonangol numa espécie de Fun-

do Soberano de Angola. Diversificou a activi-

dade da petrolífera e abriu caminho aos inves-

timentos angolanos em Portugal. Soube reunir

na Sonangol técnicos capazes de negociar com

mestria acordos com os gigantes petrolíferos.

APOSTA NA BANCA E NA REFINAÇÃOEm Angola, está nos bancos BAI, BCI e BPA. Em

Portugal a Sonangol é o maior accionista do

BCP, com 11% do capital. Manuel Vicente

utilizou a banca para alavancar os outros

negócios. Na Sonangol deixa como legado a

refinaria de Lobito que, quando a funcionar,

pode acabar com a estranha situação de

Angola exportar petróleo e importar gasolina.

O QUE DISSERAM

Manuel Vicente é umamigo de Portugal. É umentusiasta dosinvestimentos angolanosem Portugal. Muitos dosinvestimentos dos últimosanos devem-se a ele.CARLOS BAYAN FERREIRAPresidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola

O QUE VAI FAZER

TREINO INTENSIVO PARA SUBSTITUIRJOSÉ EDUARDO DOS SANTOSEstá a fazer o seu treino como político e ainda

pode ter alguns percalços. O período de

transição será feito praticando como ministro de

Estado e da Coordenação Económica. Depois das

eleições de 31 de Agosto, se o MPLA ganhar - etudo indica que isso acontecerá - ocupará o

cargo de vice-presidente. Uma antecâmara parasubstituir José Eduardo dos Santos, que está no

poder desde 1979. Pelo caminho vai ter de

ganhar a confiança dos históricos da luta

armada do MPLA que julgam ter direitos

adquiridos e olham com desconfiança para um

tecnocrata. E também da comunidade

internacional. No trajecto irá contar com o apoiodecisivo do general "Kopelipa".

continuação da página 4

Espírito Santo) e na construção (tem49% da Mota-Engil Angola). Com a

aquisição da Escom ficou ainda comoutros activos, entre os quais a Ci-mentos Palanca, onde tem como só-

cio a Camargo Côrrea E a Sonangol,conjuntamente com Isabel dos San-

tos, constituíram a Tiolding1

Espera-za, a qual possui 45% da AmorimEnergia, que por sua vez controla33,34% da Galp. Vicente é tambémum interlocutor privilegiado das au-toridades chinesas, a quem Angolavende petróleo em troca de investi-mentos em infra-estruturas. E hátambém um banco de investimentoentre a CGD e Sonangol, anunciadoem 2009, mas que promete arrancarno segundo semestre deste ano. O su-cessor de Eduardo dos Santos vaimantendo todas estas participaçõesdebaixo de olho, enquanto faz o trei-no político que lhe permita daqui a

dois, três anos, substituir Eduardodos Santos no Palácio da Cidade Alta,a residência oficial do presidente da

República. Já era poderoso em Por-

tugal. Agora, enquanto vice-presi-dente de Angola ainda o será mais,porque terá supremacia política paralegitimar ou anular negócios, umtrunfo esmagador, dado o peso cres-cente daquele país na economia por-tuguesa.

Há uns meses, num jantar de ami-

gos, Manuel Vicente anunciou quedepois das eleições de 31 de Agosto atroika iria chegar a Angola Terá sido

uma forma irónica de avisar que o Es-tado vai ser governado com regrasmais apertadas, limitando os danoscausados pelas políticas de compa-drio.Mastambémpodesersublinha-do da verdadeira troika que toma to-das as decisões: ao centro, JoséEduardo dos Santos, ladeado por Ma-nuel Vicente e pelo general ManuelHélder Vieira Dias ("Kopelipa'o, cujoapoio foi determinante para impor o

ex-líder da Sonangol como númerodoisdoMPLA.

Com casa em Alvalade, um bairrochique e tradicional de Luanda, Ma-nuel Domingos Vicente, nascido a 15

de Maio de 1956, é classificado comouma pessoa discreta É casado, em se-

gundas núpcias, com Marinela Cor-reia Vicente. Têm dois filhos em co-mum (a sua mulher tinha já quatrofilhos quando casaram). Quando vema Lisboa, Vicente fica hospedado nohotel Ritz. Tem também um aparta-mento em Lisboa e uma moradia noAlgarve. Enquanto presidente da So-

nangol respondia a quase todos os e-mails com um abraço de amizade,embora não esclarecesse nenhumadas questões que lhe era levantada.Palavras charmosas de circunstân-cia, para obviar a opacidade que na-turalmente caracteriza ávida empre-sarial e política de Angola.