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1
PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E
FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES
Luciana Frutuoso de Oliveira
Dissertao de Mestrado
Salvador (Bahia), 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO
EM SADE, AMBIENTE E TRABALHO
2
UFBA/SIBI/Bibliotheca Gonalo Moniz: Memria da Sade Brasileira
Oliveira, Luciana Frutuoso de O48 Prevalncia de transtornos mentais comuns e fatores associados em professores/ Luciana Frutuoso de Oliveira. Salvador: 2013. 57 f. [tab. Anexos. Orientador: Prof. Dr. Lauro Antonio Porto.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, 2013. 1. Transtornos mentais - Docentes. 2. Epidemiologia. 3. Sade ocupacional. 4. Estudos transversais. I. Porto, Lauro Antonio. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Ttulo.
CDU 616.89-008
3
Luciana Frutuoso de Oliveira, PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS
COMUNS E FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES, 2013.
4
PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E
FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES
Luciana Frutuoso de Oliveira
Professor-orientador: LAURO ANTONIO PORTO
Dissertao apresentada ao Colegiado do Curso
de Ps-graduao em Sade, Ambiente e
Trabalho da Faculdade de Medicina da Bahia da
Universidade Federal da Bahia, como pr-
requisito obrigatrio para a obteno do grau de
Mestre em Sade, Ambiente e Trabalho.
Salvador (Bahia), 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO
EM SADE, AMBIENTE E TRABALHO
5
COMISSO EXAMINADORA
Membros Titulares:
I. Fernando Martins Carvalho, Professor Titular do Departamento de Medicina
Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia, Professor do Programa
de Ps-Graduao em Sade, Ambiente e Trabalho da Faculdade de Medicina da
Bahia da Universidade Federal da Bahia.
II. Snia Regina Pereira Fernandes, Professora Participante da Ps-Graduao em
Psicologia, Instituto de Psicologia, Mestrado em Psicologia, Universidade
Federal da Bahia.
III. Lauro Antonio Porto (Professor-orientador), Professor Adjunto do Departamento
de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da
Universidade Federal da Bahia.
6
FRONTISPCIO
Se no existisse professor sua assinatura seria assim:
(autor desconhecido)
7
DEDICATRIA
Dedico este trabalho a Deus por ter me
proporcionado todas as coisas, minha famlia
pela torcida, a alguns amigos que direta ou
indiretamente estiveram comigo nesta empreitada.
8
FONTES DE FINANCIAMENTO
CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior).
9
AGRADECIMENTOS
- UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Faculdade de Medicina
Programa de Ps-graduao em Sade, Ambiente e Trabalho
- UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
Ncleo de Estudos em Sade da Populao
- Ao professor orientador Lauro Antonio Porto pela orientao cabida,
dedicao e pacincia, ensinando no de forma pronta, mas dentro de seu amplo
saber, dando espao ao pensamento e a certo grau de liberdade do aluno em
expressar e valorizar suas ideias e propostas, fazendo com que o pensamento crtico
e o conhecimento sejam construdos ao longo do tempo de maneira muito tranquila.
- Ao professor Fernando Martins Carvalho, por todo o apoio e instruo durante
o perodo de pr-qualificao, sempre com sugestes oportunas para a
implementao deste trabalho, bem como pela sugesto final do delineamento do
objeto estudo.
- A todos os professores do Programa do Mestrado em Sade, Ambiente e
Trabalho pela contribuio direta ou indiretamente atravs de seus ensinamentos
que foram de grande valia e amadurecimento de todas as etapas de construo desta
proposta investigativa, bem como aos convidados que estiveram ligados ao meu
tema de estudo.
- professora Sonia Regina, pelas sugestes durante a qualificao que foram
muito bem vindas em destaque ao uso de um dos questionrios aplicados.
- Aos meus queridos amigos Jefferson Paixo Cardoso e Saulo Rocha Vasconcelos
que foram os pioneiros em acreditar em mim, no incentivo, na ajuda, nas parcerias
de trabalhos, de resumos e da minha introduo ao universo da pesquisa, este
mestrado uma pontinha do investimento deles na minha pessoa. Em especial a
Jefferson que abriu as portas do ncleo de pesquisa sob sua coordenao para que
pudssemos trabalhar em parceria de uma maneira muito harmoniosa.
10
- equipe de trabalho, composta por estudantes de graduao de cursos diversos
que atuou comigo durante a primeira e segunda fase de coleta e da digitao dos
dados:
Adriana Moura Maia, graduanda de Psicologia, FTC;
Agatha Thais Serto, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Alexandre de Almeida Macedo, graduando de Psicologia, FTC;
Alvaro Alves de Oliveira Junior, graduando de Psicologia, FTC;
Ana Paulo Melo da Silva, graduanda de Psicologia, FTC;
Ariane Lima Ribeiro, graduanda de Psicologia, FTC;
Dhssica Thais Arajo de Almeida, graduanda de Psicologia, FTC;
Diego Henrique Alves Santos, graduando de Enfermagem, FAPEC;
Ester Goes Aguiar Neta, graduanda de Psicologia, FTC;
Fernanda Paula Silva Santos, graduanda de Psicologia, FTC;
Fernanda Piton Florncio, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Geisa Magalhes Silva, graduanda de Psicologia, FTC;
Hozana Andrade Moreira, graduanda de Psicologia, FTC;
Iara Ribeiro Sodr, graduanda Enfermagem. FAPEC;
Islane Santos Vieira, graduanda de Psicologia, FTC;
Joo Florencio Damasceno Neto, graduando de Psicologia, FTC ;
Joise Souza Leal, graduanda de Enfermagem, FAPEC;
Keila dos Santos Matos, graduanda de Psicologia, FTC;
Leivila dos Santos Soares, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Lvia Bastos de Novaes, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Lorena Frana Carso, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Manfred Silva Santos Junior, graduando de Psicologia, FTC;
Mara Jssica da Anunciao dos Santos Rocha, graduanda de Psicologia.
FTC;
Maria Silva Santos, graduanda de Psicologia, FTC;
Marta Vanessa Ferreira Bertoso, Biomedicina, FAPEC;
Michele Brito da Silva, graduanda de Psicologia, FTC;
Mirella Lago Nascimento, Enfermeira, FTC/NESO/UESB;
Mirelle Fontoura Carvalho, graduanda de Psicologia, FTC;
Naiane de Paula Vieira, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Natalie de Almeida Barros, graduanda de Fisioterapia, NESP/UESB;
Patrcia Almeida Lago, Enfermeira, FTC/NESP/UESB;
Rosana Pereira de Carvalho, graduanda de Enfermagem, FAPEC;
11
Silvana Cardoso de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;
Simone Martins de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;
Taiara Silva Ferreira, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Tislei Cesar Matos, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Thadeu Henrique da Silva Aguiar, graduando de Psicologia, FTC;
Vana Licia de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;
Vaneide Maria Rufino Sampaio, graduanda de Psicologia, FTC;
Vanessa Cardoso Botelho, graduanda de Biomedicina, FAPEC;
Yann Kevin Fontes Barros Bomfim, graduando de Enfermagem, FAPEC;
- minha famlia que me apoiou durante todo o processo e durante toda a minha
ausncia;
- A todos os professores de forma geral, que alimentam o sonho e a esperana de
proporcionar a educao digna e de qualidade em busca de tornar melhor nossa
sociedade.
- A DEUS, acima de todas as coisas.
12
NDICE
LISTA DE TABELAS i
LISTA DE SIGLAS ii
RESUMO iii
ABSTRACT iv
I OBJETIVOS 18
I.1 Objetivo geral 18
I.2 Objetivos especficos 18
II INTRODUO 19
III FUNDAMENTAO TERICA 21
III.1 O professor: conjuntura social e sofrimento psquico 21
III.2 Epidemiologia dos transtornos mentais e impactos sociais 23
III.3 Sade mental e ocupao
III.4 Alguns aspectos do processo de trabalho dos professores da Educao
Bsica
25
27
IV MATERIAIS E MTODOS 30
IV.1 Delineamento do estudo 30
IV.2 Populao do estudo 30
IV.3 Critrios de incluso e excluso 30
IV.4 Definio das variveis 30
IV.5 Instrumentos 32
IV.6 Treinamento e preparao para a coleta 34
IV.7 Equipe auxiliar 34
IV.8 Coleta de dados e procedimentos 35
IV.9 Construo do banco de dados 35
IV.10 Anlise descritiva dos dados 35
IV.11 Anlise de regresso logstica 36
IV.12 Aspectos ticos da pesquisa 37
V RESULTADOS GERAIS 38
V.1 Informaes sociodemogrficas dos trabalhadores estudados 38
V.2 Informaes sobre as caractersticas ocupacionais 39
V.3 Prevalncia de transtornos mentais comuns e demais associaes 40
V.4 Fatores associados 43
V.4.1 Resultados 45
VI DISCUSSO 48
13
VII CONCLUSO 53
VIII REFERNCIAS 54
IX. ARTIGO 59
ANEXOS 79
Anexo 1: Ofcio de aprovao da pesquisa pelo Comit de tica em Pesquisa
(CEP) da Maternidade Climrio de Oliveira da UFBA (MCO/UFBA)
79
Anexo 2: Termo aditivo 81
Anexo 3: Termo de consentimento livre e esclarecido 82
Anexo 4: Questionrios 83
Anexo 5: Normas para submisso do artigo Revista Brasileira de
Epidemiologia.
95
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Caractersticas sociodemogrficas em professoras da rede
municipal de ensino (variveis categricas), Jequi, Bahia,
Brasil, 2012.
38
Tabela 2: Distribuio de professoras da rede municipal de ensino por
caractersticas ocupacionais, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
39
Tabela 3: Caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais em professoras
da rede municipal de ensino (variveis contnuas), Jequi, Bahia,
Brasil, 2012.
40
Tabela 4: Prevalncia de transtornos mentais comuns em professoras da
rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
40
Tabela 5: Prevalncias de transtornos mentais comuns segundo aspectos
sociodemogrficos e transtornos mentais comuns em professoras
da rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
41
Tabela 6: Prevalncias entre aspectos ocupacionais e transtornos mentais
comuns em professoras da rede municipal de ensino, Jequi,
Bahia, Brasil, 2012.
42
Tabela 7: Prevalncias entre aspectos sociodemogrficos e ocupacionais
em professoras da rede municipal de ensino e TMC (para
variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
43
Tabela 8: Razes de chances e razes de prevalncias de transtornos
mentais comuns em professoras da rede municipal de ensino de
Jequi, Bahia, 2012, segundo as variveis presentes no modelo
final de anlise de regresso logstica mltipla.
46
i
15
LISTA DE SIGLAS
BA Bahia
TMC Transtornos mentais comuns
OMS Organizao mundial de sade
QSG Questionrio de sade geral
PQSNordic Questionrio geral nrdico de psicologia social para o trabalho
SPSS Pacote estatstica para cincias sociais
DP Desvio padro
RP Razo de prevalncia
N Nmero total de sujeitos
n Nmero parcial de sujeitos
CONFL Conflito entre colegas
PELE Cor da pele
CONJ Situao conjugal
CMD Common mental disorders
ttap Tempo de trabalho como professor
pele Cor da pele
ssup Suporte social pelos supervisores
confl Conflito entre colegas de trabalho
ii
16
RESUMO
PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E
FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES
Introduo: O adoecimento psquico um dos dilemas da sade pblica, neste contexto
destacam-se os TMC que so sintomas somticos tais como esquecimento, falta de
concentrao, fadiga, depresso, irritabilidade, insnia e demais queixas aos quais os
professores expem-se cotidianamente. Objetivo: Determinar a prevalncia de
transtornos mentais comuns e fatores associados em professores da rede pblica
municipal de ensino na cidade de Jequi-Bahia. Material e mtodos: Estudo de corte
transversal realizado com 186 professoras efetivas da rede municipal de ensino da
referida cidade entre maro a junho de 2012. A varivel dependente foi os transtornos
mentais comuns, definida segundo o QSG-60 (Questionrio de Sade Geral) de
Goldberg. A medida de associao foi a razo de prevalncia e a principal tcnica
estatstica utilizada a anlise de regresso logstica. Resultados: A prevalncia de
transtornos mentais comuns entre as professoras foi de 54,7%. As maiores prevalncias
de TMC ocorreram em professoras com menor escolaridade; cor da pele preta e parda,
separadas e vivas; com at 40 anos de idade, presena de filhos, menor tempo de
atuao, carga horria alta e com relaes interpessoais no satisfatrias. Os fatores
associados foram tempo de trabalho como professor, cor da pele, suporte social pelos
supervisores e conflito entre colegas de trabalho. Concluses: Encontrou-se prevalncia
elevada de transtornos mentais comuns nestas professoras com expressivas prevalncias
em extratos de algumas caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais. Estudos como
estes so necessrios para levantar informaes, sugestes e propostas para reduzir os
danos em sade mental dos seus envolvidos com vistas s polticas de proteo docente.
Palavras-chave: 1.transtornos mentais; 2. docentes; 3. epidemiologia; 4. sade
ocupacional; 5. estudos transversais; 6. prevalncia.
iii
17
ABSTRACT
PREVALENCE OF COMMON MENTAL DISORDERS AND
ASSOCIATED FACTORS IN TEACHERS
Introduction: The mental illness is one of the dilemmas of public health in this context
we highlight the CMD that are somatic symptoms such as forgetfulness, lack of
concentration, fatigue, depression, irritability, insomnia, and other complaints to which
teachers are exposed daily . Objective: To determine the prevalence of common mental
disorders and associated factors in municipal teachers of public schools in the city of
Jequie-Bahia. Methods: Cross-sectional study conducted with 186 effective teachers of
municipal schools of that city between April-June 2012. The dependent variable was the
common mental disorders, defined according to the GHQ-60 (General Health
Questionnaire) Goldberg. The measure of association was the prevalence ratio and the
main statistical technique used logistic regression analysis. Results: The prevalence of
common mental disorders among teachers was 54.7%. The highest prevalence of CMD
occurred in teachers with less education, skin color of black and brown, separated and
widowed, with up to 40 years of age, presence of children, shorter acting, high workload
and unsatisfactory interpersonal relationships. The factors were associated working time
as a teacher, skin color, social support by supervisors and conflict between colleagues.
Conclusions: We found a high prevalence of common mental disorders in these teachers
with significant prevalence in extracts of some sociodemographic and occupational.
Studies like these are needed to gather information, suggestions and proposals to reduce
damage mental health of its stakeholders with a view to protection policies teaching.
Key-words: 1. mental disorders; 2. facult; 3. epidemiology; 4. occupational health; 5.
cross-sectional studies; 6. prevalence.
iv
18
I OBJETIVOS
II.1 Objetivo geral
Determinar a prevalncia de transtornos mentais comuns e identificar fatores
associados em professores da rede pblica municipal de ensino na cidade de Jequi- BA.
II.2 Objetivos especficos
II.2.1 Estimar a prevalncia de transtornos mentais comuns em professores da rede
municipal de ensino de Jequi-BA;
II.2.2 Avaliar a associao entre fatores sociodemogrficos e do trabalho docente;
19
II INTRODUO
Os transtornos mentais comuns so aqueles que se apresentam de forma sutil e
que abrangem sintomas tais quais o esquecimento, falta de concentrao, fadiga,
depresso, irritabilidade, insnia e queixas somticas (LUDERMIR & MELO FILHO,
2002). Esta expresso foi proposta por Goldberg e Huxley (1992) e tem sido
amplamente utilizada para descrever essas vrias sintomatologias (LLOYD, 2009). So
comumente encontrados em ambientes coletivos, como o docente por exemplo,
apresentando uma variedade de formas clnicas, podendo estes sintomas se tornar
crnicos (SHANKAR, SARAVANAN & JACOB, 2006).
Pela crescente significncia social e epidemiolgica, os TMC representam
morbidade psquica com prevalncias significantes nas sociedades, independente da
localizao territorial e faixa etria, correspondendo a um desafio sade pblica
(ROCHA et al., 2010). So responsveis por estados incapacitantes em adultos e por
absentesmos laborais em cerca de um tero dos dias de trabalho perdidos no mundo
(WHO, 2001).
Estudos realizados desde a dcada de 1990 apontam que os problemas com a
sade mental constituem um dos grandes entraves para o bem-estar docente (ARAJO
& CARVALHO, 2009). As interaes variadas que existem no ambiente e na dinmica
do trabalho do professor podem ser influenciadoras de processos desencadeantes de
TMC neste grupo especfico.
Estudos realizados com docentes apontaram prevalncias elevadas de transtornos
mentais comuns: 55,4% (REIS et al., 2006); 41,5% (DELCOR et al., 2004); 29,6%
(CEBALLOS, 2009); 22.5% (SOUZA, 2008) - associados a fatores como o sexo
(mulheres apresentam maior acometimento por TMC do que homens) e a algumas
caractersticas ocupacionais, tais como o trabalho repetitivo, insatisfao do desempenho
das atividades, desgastes nas relaes interpessoais com alunos, ambiente conflitante,
falta de autonomia no planejamento das atividades, falta de materiais e equipamentos
adequados (infra-estrutura oferecida), salas de aulas inadequadas e ritmo acelerado de
trabalho (ARAJO & CARVALHO, 2009).
comum tambm, nestas demandas das caractersticas ocupacionais do trabalho
docente, os professores referirem duplos vnculos ou mais, carga horria semanal de
trabalho elevada e diversas demandas psicolgicas e fsicas como a fiscalizao contnua
do desempenho (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), nvel elevado de
rudo na sala de aula (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), violncia
contra o patrimnio e pessoal (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000),
20
insatisfao salarial (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), exigncia
por concentrao por perodos longos de tempo (DELCOR, et al., 2004), tempo
insuficiente para a realizao das tarefas e estudo (ARAJO & CARVALHO, 2009),
ritmo acelerado do trabalho (DELCOR, et al., 2004), manuteno de posio inadequada
para o corpo, principalmente cabea e pescoo (DELCOR, et al., 2004), dificuldade do
trabalho disciplinar em sala de aula (SOUZA, 2008) e inexistncia de local para
descanso dos professores (FARIAS, 2004).
Dado o contexto problemtico vivenciado pelos docentes, este estudo busca
determinar a prevalncia de transtornos mentais comuns e fatores associados em
professoras da rede pblica municipal de ensino, numa cidade do interior baiano, por
acreditar que este grupo populacional sofre as implicaes do sofrimento laboral com
prejuzos do ato docente e repercusses fortes na sade mental e fsica destes sujeitos.
Este estudo parte da justificativa ocasionada pelas experincias vividas pela autora
dentro da sala de aula enquanto docente, o que criou a motivao para estudar aspectos
voltados sade mental dos professores, uma vez que so muito correntes as queixas
somticas e os prejuzos cumulativos ocasionados pela prtica docente que no podem
passar em vo, simplesmente como se fosse um desvio do profissional por no dar
conta do servio. Infelizmente muitos professores se veem nesta condio e por medo
ou preconceito, no procuram por atendimento especializado, ou simplesmente vo
deixando de lado, o que lhes traduz em adoecimento. Na prtica laboral diria, so
nitidamente gritantes os fatores estressores ao qual lidam os professores, contudo, pouco
ou nada feito para garantir que o trabalho seja realizado de maneira harmoniosa para o
professor. Os professores so cobrados em relao aos alunos de diversas formas,
contudo no h polticas por parte das escolas, que entendam o professor integralmente
como sujeito que sofre as demandas dirias do seu trabalho que o coloca em situao de
sofrimento que lhe adoece inclusive mentalmente.
Apresentamos a seguir, no Captulo III a Fundamentao Terica do estudo com o
que h de mais relevante dentro da proposta do contexto desta pesquisa: 1) O professor:
conjuntura social e sofrimento psquico; 2) Epidemiologia dos transtornos mentais e
impactos sociais; 3) Sade mental e ocupao e 4) Alguns aspectos do processo de
trabalho dos professores da Rede Bsica. A seguir, no Captulo IV apresentamos os
Materiais e Mtodos onde buscamos justificar e explicar todo o arcabouo de
desenvolvimento da pesquisa; o Captulo V em seguida, com a apresentao dos
Resultados Gerais; o Captulo VI com a Discusso dos achados e no por fim o Captulo
VII com a Concluso do estudo. Ainda, apresentamos no Captulo IX o Artigo fruto
desta investigao.
21
III FUNDAMENTAO TERICA
III.1 O professor: conjuntura social e sofrimento psquico
Os professores so cada vez mais cobrados por alta produtividade, dadas as
exigncias profissionais impostas pelas mudanas tcnicas e cientficas das ltimas
dcadas (SCHEER, 2008). Neste contexto, o ambiente de trabalho do professor
complexo e apresenta mltiplas interaes que repercutem na dinmica da vida e da
sade fsica e psquica dos docentes, provocando tenses associadas a sentimentos e
emoes negativas que constituem a base emprica do mal-estar docente, de forma a
afetar a motivao e a implicao deste professor (ESTEVE,1995).
Os professores, a exemplo dos docentes da rede bsica (municipal de ensino),
apresentam no seu processo de trabalho, a necessidade da polivalncia (SOUZA &
FONSECA, 2006; OLIVEIRA, 2003), de acolherem aos alunos, se fazerem pais,
psiclogos, educadores e possurem capacidade de tomada de decises e da dinmica
natural de suas tarefas dirias docentes, como a preparao e a correo de atividades, a
proposio de tantas outras e a necessidade contnua de aperfeioamento. Ressalta-se
ainda que so estes os profissionais que lidam diretamente com os alunos em fase de
alfabetizao ou adolescentes e abarcam um leque de contribuies que extrapolam os
limites de seus horrios de trabalho, sendo o ato docente transcendente realizao das
aes em sala de aula.
Assim, o acompanhamento contnuo, as sobrecargas de trabalho e sociais,
dilemas enfrentados e a falta de condies saudveis para a execuo do ato docente
decaem sobre estes profissionais, resultando em expectativas que os desgastam
(GASPARINI, BARRETO & ASSUNO, 2006).
Crticas e responsabilidades pelas falhas do sistema educacional so atribudas ao
professor culminando em sofrimento psquico (SOUZA & FONSECA, 2006). Estes
requerimentos da condio docente repercutem nas condies de trabalho, na imagem
social do professor e no valor que a sociedade atribui prpria educao com efeitos
importantes sobre a sade fsica e mental dos educadores (ARAJO et al., 2005, p.8).
Uma ocorrncia importante que acompanha o trabalho docente a violncia
cotidiana e do entorno dos estabelecimentos de ensino, uma vez que a escola deixa de
ser ambiente protetor e seguro, incorporando fenmenos oriundos da excluso social e
dos acontecimentos aos quais se inserem (GASPARINI, BARRETO & ASSUNO,
2006). O professor, neste caso, se torna um mediador entre os conflitos que
22
intercambiam do ambiente escolar ao ambiente extramuros institucional, gerando
estresse ocupacional contnuo.
De forma geral, a escola como agncia educacional procura direcionar o
comportamento humano s finalidades de carter social (MIZUKAMI, 1986, p.29),
contextualizada segundo as condies histrico-sociais que a envolvem (SCHEER,
2008), em que o professor influencia e influenciador. Desta maneira, ensinar uma
atividade em geral altamente estressante, com repercusses evidentes na sade fsica,
mental e no desempenho profissional dos professores (REIS et al., 2006).
O professor, em seu contexto de trabalho, lida com vrios aspectos estressores,
sejam eles fsicos, ambientais, e psquicos. Scheer (2008) afirma que o trabalho
pedaggico, quando realizado em condies estressantes e por excesso de exigncias e
presso, acomete a qualidade de vida do professor, na proporo em que seu organismo
responde a essa sobrecarga.
Quando o problema o sofrimento psquico, o professor, sujeito histrico e
social, est no centro das exigncias enquanto cidado comum e enquanto profissional
responsvel pela formao de outros tantos sujeitos, conforme demandas do mercado.
Assim, as responsabilidades sociais decaem simultnea e respectivamente s Instituies
Educacionais e ao corpo docente. Nesse sentido, a qualidade de vida dos sujeitos,
compreendida como a sua cultura pessoal construda socialmente nos diferentes meios
onde se relaciona, condicionada s circunstncias de seu trabalho (SCHEER, 2008).
Em todos estes processos, os docentes se tornam alvo para enfermidades, uma
vez que o sofrimento psquico ocupacional lhes causa o adoecimento cumulativo,
processual, constituindo experincia incmoda, associada a sentimentos de hostilidade,
tenso, ansiedade, frustrao e depresso. Nesta conjectura de desgaste emocional,
situam-se os transtornos mentais comuns que so sintomas que se apresentam de forma
sutil, cumulativos e que abrangem sintomas tais como o esquecimento, fadiga,
depresso, irritabilidade, insnia, dificuldades de concentrao e demais queixas
somticas.
Lembremos que, doentes, alguns professores sem muitas alternativas de
mudana, tendem a permanecer em atividade, gerando efeitos desgastantes. H muitos
que tomam por caminho o abandono da profisso buscando desta forma, a melhoria das
condies de trabalho e de sade em outras atividades ocupacionais, como o evidenciado
por Esteve (1995) sobre as conseqncias do mal-estar docente: desajustamento; pedidos
de transferncias; esquema de inibio; desejo manifesto de abandonar a docncia;
absentesmo laboral; esgotamento; stress; autoculpabilizao; reaes neurticas;
23
depresses e ansiedade como estado permanente, associado em termos de causa-efeito a
diagnsticos de sade mental (ESTEVE, 1995).
As caractersticas ocupacionais docentes expem os professores a estressores
cotidianos tais como o excesso de alunos nas salas de aula, a baixa remunerao, longa
jornada de trabalho, polivinculao empregatcia, desvalorizao laboral, excesso de
presses, avaliaes, cobrana intelectual, preparao de aulas, ameaas verbais e
fsicas, peculiaridades de cada escola, baixa autoestima, descaso, ausncia de resultados
percebidos entre outros que geram efeitos de adoecimento somatizado.
Desta forma, as interaes entre sade e doena tambm so construdas no
ambiente de trabalho pois neste espao se pode reafirmar a auto-estima, desenvolver as
habilidades, expressar as emoes, a personalidade, tornando-se tambm espao de
construo da histria individual e de identidade social (ARAJO et al., 2005, p.7).
Portanto, compreendendo a relao do processo de trabalho e o contexto social
em que os docentes se inserem, causando-lhes sofrimento mental, torna-se evidente que
a melhoria da qualidade de vida do professor repercutir na sua maior satisfao e
possibilidade de desenvolver e aplicar as habilidades pedaggicas. Assim, sade mental
ocupacional precisa ser integrada aos objetivos institucionais, pressupondo que os
resultados se refletem diretamente nos alunos, na prpria instituio e na sociedade
(SCHEER, 2008).
III.2 Epidemiologia dos transtornos mentais e impactos sociais
Sabe-se que um dos atuais dilemas da sade pblica o adoecimento psquico,
somatizado ou derivado de causas mltiplas, e que vem a comprometer a sade mental
das populaes humanas representando portanto, nus aos cofres pblicos sem
precedentes (ROCHA et al., 2010), alm de outros custos em termos humanos, sociais,
prejuzos econmicos (OMS, 2002, p.15), incapacidades e sofrimento humano.
Em termos globais, as perturbaes mentais representam 4 das 10 principais
causas de incapacidade em todo o mundo, respondendo a 12% do peso mundial de
doenas, embora os investimentos no mbito da sade mental sejam extremamente
desproporcionais, correspondendo a menos de 1% dos gastos com sade.
Cerca de 40% dos pases tem dficit de polticas em sade mental, sendo que em
90% dos pases que a tais polticas, no incluem as crianas e nem os adolescentes; mais
de 30% dos pases no tem programa algum direcionado para esta parcela. E, alm da
escassez de acesso e servios especializados, os que pagam pelos planos de sade,
24
contam com o descaso de assistncia para esta especialidade, pois os planos no
abordam as perturbaes mentais (OMS, 2002).
Existem muitas barreiras para os portadores de transtornos mentais, como o
estigma, a discriminao, a invisibilidade, a insuficincia dos servios e do atendimento
especializado, que impedem que milhes de pessoas recebam tratamento adequado
(OMS, 2002).
O Relatrio Mundial da Sade Mental da OMS (2002, p.29) evidencia que a
sade mental indispensvel para o bem geral dos indivduos, das sociedades e dos
pases que, junto com a sade fsica e social, profundamente interligada e
interdependente. Contudo, na maior parte do mundo, o que se evidencia a sade fsica
e no a mental em si, de forma que no h muita importncia quando se trata da sade
mental: seus portadores e as aes neste quesito so ignorados ou negligenciados,
acarretando problemas crescentes pelo desnvel de tratamento. H que se estimar
obviamente, que com o crescimento populacional e com o aumento da expectativa de
vida em todo o mundo, haver aumento do nmero de acometidos por perturbaes
mentais, dado o envelhecimento populacional, alm do agravamento dos problemas
sociais e desestabilizao civil (OMS, 2002).
importante que se tenha uma maior apreenso das doenas mentais nas
populaes humanas e existe uma lacuna neste campo, lembrando que o que se conhece
hoje tem uma contribuio importante para se avaliar quais as associaes da vida
moderna e fatores desencadeantes de doenas mentais, dentre eles os transtornos mentais
comuns, para que se possam avaliar aes de impacto neste mbito.
Muito do que sabemos hoje sobre transtornos mentais devemos contribuio da
epidemiologia que no campo psiquitrico colaborou notoriamente para fornecer dados
sobre as limitaes dos casos clnicos que so atendidos nos servios especializados e
fazendo relaes com a populao de onde estes provem, completando as informaes
dos quadros clnicos de algumas incapacidades mentais, especialmente quando se trata
de uma populao que mais necessite destes servios especializados. Assim, a
epidemiologia como ferramenta possibilita termos informaes sobre a distribuio e
frequncia dos agravos, bem como os fatores determinantes dos transtornos mentais,
como parte importante do desenvolvimento da psicopatologia clnica. Com a utilizao
de questionrios a obteno dos fatores de exposio foi largamente adotados por
socilogos e psiclogos, como uma caracterstica de apreenso metodolgica de
informaes. A utilizao destes instrumentos padronizados foi interessante para
apreenso da epidemiologia em sade mental e a investigao clnica (BORGES,
MEDINA-MORA, LPEZ-MORENO, 2004).
25
A epidemiologia tambm veio ao encontro para entendermos as associaes de
transtornos mentais comuns e outras doenas mentais embora caream de abordagens
que tragam outras realidades. Em estudos de base populacional, condies de moradia,
estrutura ocupacional, escolaridade, renda, hbitos de vida e doenas crnicas estiveram
associados aos TMC (LUDERMIR E MELO FILHO, 2002; ALMEIDA FILHO et al.,
1997; ROCHA et al., 2010).
Assim, em concordncia com Lloyd (2009, p. 342), a compreenso e o
comportamento das prevalncias de TMC e suas mudanas ao longo do tempo so
importantes para que se desenvolvam polticas pblicas tanto na clnica prtica quanto
na pesquisa. Podemos evidenciar, de acordo com o apontado por Lima, Soares & Mari
(1999), que o nmero de pesquisas epidemiolgicas conduzidas tem se acentuado. O
aumento significativo de informaes no campo da sade mental permite descrever
como se d a distribuio de tais agravos e como contorn-los, possibilitando atravs do
conhecimento, que novas abordagens sejam pensadas e polticas pblicas desenvolvidas.
III.3 Sade mental e ocupao
A ocorrncia de transtornos mentais tem direta associao com a (estrutura
ocupacional, escolaridade, condies de moradia e insero no processo produtivo e
renda (LUDERMIR & MELO-FILHO, 2002).
Pesquisas em pases desenvolvidos e em desenvolvimento tem mostrado que os
transtornos mentais so mais comuns entre os mais socialmente desfavorecidos, pessoas
que j tenham sido casadas e mulheres; e os fatores associados tem a ver com a
educao, renda e classe social (ARAYA et al., 2001). Assim, dadas os fatores
associados s caractersticas ocupacionais dos indivduos, necessrio enfatizar que a
maioria das doenas mentais sofrem influncia de diversos fatores biolgicos,
psicolgicos e sociais, que afetam todas as faixas etrias, causando sofrimento s
famlias e comunidades e sobretudo, ao indivduo (OMS, 2002).
Estudos indicam que parte considervel dos trabalhadores ocupados
mundialmente apresentam algum tipo de transtorno mental, sendo que no Brasil, os
distrbios psquicos (Gasparini, Barreto e Assuno, 2006) respondem como importante
papel entre os benefcios concedidos pela previdncia como no caso de afastamento de
trabalho por mais de 15 dias e auxlio doena por invalidez.
Embora haja lacunas, estudos que abordem a sade mental e as implicaes do
trabalho vem aumentando significantemente, principalmente pela deteco do aumento
da prevalncia dos transtornos mentais, problemas emocionais de ordem somtica,
26
distrbios do comportamento e do que isto representa para a sade pblica
(GASPARINI; BARRETO & ASSUNO, 2006).
Em um outro aspecto, as modificaes ocorridas na dinmica do trabalho, como
aspectos gerenciais, de novos mtodos e tcnicas organizacionais tal como evidenciam
Gasparini; Barreto & Assuno (2006), produziu significativas conseqncias para a
vida e sade dos trabalhadores em geral, a partir destas novas exigncias do mercado,
reproduzindo um contexto de aumento de doenas mentais, psicossomticas,
cardiovasculares entre outras.
Os indivduos acometidos por transtornos mentais de forma geral so
gerenciados quase que exclusivamente na ateno primria (LLOYD, 2009, p. 342).
Conseqentemente a falta de acesso e tratamento adequados, o no conhecimento das
procedncias cabveis e a descontinuidade do tratamento so quesitos preocupantes.
Ainda, a subnotificao em sade mental prejudica os indicadores, repercutindo na falta
de ateno e orientao do cuidado para estes indivduos.
A falta de soluo para os casos de problemas de ordem psquica evidente nos
primrdios da abordagem da epidemiologia psiquitrica, desta forma so raros os
indivduos que dispem de ateno direcionada e a grande maioria dos casos permanece
seguramente sem tratamento (BORGES, MEDINA-MORA & LPEZ-MORENO,
2004). Ainda, segundo o Relatrio Mundial da Sade Mental da OMS (2002, p.27),
uma pequena minoria das 450 milhes de pessoas que apresenta perturbaes mentais
no mundo, recebem tratamento.
A no notificao adequada prejudica a epidemiologia na obteno de dados
fidedignos para atuar na preveno das manifestaes psiquitricas, nos desafios de suas
associaes ao cotidiano, bem como no planejamento de recursos para a internao
prolongada. Desta forma, a subnotificao das informaes sobre a situao de sade
mental contribui para que os dados sejam insuficientes, e agrave ainda mais a ateno
dispensada para esta parcela populacional especfica (ROCHA, et al., 2010).
Com base na discrepncia que acomete as populaes humanas e as
complexidades existentes em cada forma organizativa mundial, a Organizao Mundial
da Sade, em seu Relatrio Mundial da Sade Mental oferece dez passos para que a
prestao de cuidado adequada ao portador de perturbaes mentais possa ser
apreendida. Na verdade, tratam-se de recomendaes de aes que possam ser seguidas
e/ou direcionadas a partir de cada realidade: proporcionar tratamento em cuidados
primrios; disponibilizar medicamentos psicotrpicos; proporcionar cuidados na
comunidade; educar o pblico; envolver as comunidades, as famlias e os utentes
(usurios); estabelecer polticas, programas e legislao nacionais; preparar recursos
27
humanos, estabelecer vnculos com outros setores; monitorizar a sade mental na
comunidade e por finalmente o apoio s pesquisas (OMS, 2002).
III.4 Alguns aspectos do processo de trabalho dos professores da Rede Bsica
O Brasil possui atualmente, segundo o Censo Escolar de 2009, quase 2 milhes
de docentes na Educao Bsica que so responsveis por lecionar para mais de 52
milhes de alunos (BRASIL, 2009). Parte destes professores leciona em mais de uma
etapa de ensino. Ainda segundo o Censo, a distribuio por nveis : professores que
lecionam em creches 127.657; pr-escola 258.225; ensino fundamental I (at a quarta-
srie) 721.513; ensino fundamental II (de quinta a nono ano) 783.194; e ensino mdio
461.542 alunos. O perfil dos professores no Brasil de maioria mulheres 81,5%; 58%
tem at 40 anos de idade; 23% dos docentes trabalham em mais de uma escola para
complementar a renda familiar e o piso salarial de R$ 1.024,67.
Em relao ao estado da Bahia, os maiores empregadores dos professores da
Educao Bsica so os municpios, seguidos pelo estado e pela rede privada. Porm,
este cenrio se modifica quando analisamos separadamente os diversos nveis de
educao bsica, assim como quando nos referimos a cada cidade e, nestas, s zonas
urbana e rural (FERREIRA; ARAJO & BATISTA; 2009, p. 21).
Segundo a lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) Lei 9.394/96 a
educao escolar bsica compreende trs nveis de ensino: a Educao Infantil, o Ensino
Fundamental e o Ensino Mdio (BRASIL, 1996a).
A Educao Infantil, primeira etapa da Educao Bsica, oferecida em creches
ou entidades equivalentes para crianas de at trs anos de idade e em pr escolas para as
crianas de quatro a cinco anos de idade; o Ensino Fundamental , obrigatrio e gratuito
na escola pblica, antes com a durao de oito anos, aps a lei 11.274/96, passou a ser
de nove anos (BRASIL, 2006), iniciando-se aos seis anos de idade, medida implantada
em todo o Brasil desde 2010; e por ltimo o Ensino Mdio com durao mnima de trs
anos (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).
A LDB (BRASIL, 1996a) preconiza ainda, a oferta das seguintes modalidades:
Educao de Jovens e Adultos (EJA), destinada queles que no tiveram acesso ou
continuidade de estudos nos Ensinos Fundamental e Mdio na idade apropriada;
Educao Profissional integrada s diferentes formas de educao, ao trabalho, cincia
e tecnologia; e Educao Especial, modalidade de educao escolar oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino para educandos portadores de necessidades
especiais (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).
28
No Ensino Fundamental, a grande maioria das funes docentes municipal. No
estado da Bahia em 2007, segundo a Sinopse Estatstica do professor (BRASIL, 2007)
havia 145.084 docentes na Educao bsica, deixando o estado em terceiro lugar no
ranking nacional em relao ao nmero de docentes, atrs apenas dos estados de So
Paulo e Minas Gerais.
Esses professores estavam distribudos segundo as dependncias
administrativas, ou seja, segundo quem os empregava. A grande parte dos professores
trabalham em apenas uma rede de ensino, embora hajam outros que possuem outras
atividades laborais para renda extra (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).
Muitos contextos vivenciados por professores traduzem de maneira bem
profunda os desdobramentos de sua vida laboral que repercutem diretamente na sade
mental, como a relao com o trabalho, o papel do professor, a necessidade de
valorizao profissional, doenas e dissabores do trabalho.
Em relao atividade e emprego, o professor sabe que sofre as influncias de
mercado e toda a cobrana social, possuindo inmeras atividades que o afastam do
convvio familiar, cultural e participativo. O papel do professor tambm mudou muito
nas ltimas dcadas a partir no apenas das transformaes sociais e tecnolgicas mas
bem como fortes transformaes polticas no sistema de ensino que reduziu a autonomia
do professor.
O alunado hoje no v mais o professor como um sinnimo de autoridade. Por
vezes os alunos frequentam as escolas com objetivos diversos que o de estudar,
comprometendo ainda mais o processo de trabalho do professor. No so poucas as
ameaas verbais, fsicas, tratamentos hostis para com os docentes todos os dias assim o
professor se v confuso entre qual realmente o seu papel, de educador, de mediador, de
pai, de psiclogo, pois infelizmente o respeito para com este profissional e a indisciplina
por parte do alunado tem se afastado demasiadamente do aceitvel.
Contradies quanto ao papel do professor, tambm dizem respeito atribuio
de muitas atividades no docentes transferidas aos professores ao longo do tempo, de
forma que algumas aes ultrapassam as obrigaes docentes e o ato educacional.
Esto sendo transferidas para o professor algumas responsabilidades na formao
dos alunos que no so dos professores. A famlia transferiu para o professor uma
demanda que no remunerada, que dificulta e avoluma seu trabalho e no de sua
competncia, mas de competncia da famlia (FERREIRA, ARAJO & BATISTA
2009, p.56).
A indisciplina nas salas de aula alarmante, e o professor se esfora muito por
demandar um tempo maior preparando atividades aos quais os alunos se mostram
29
desinteressados ou pouco participantes, gerando-lhe frustraes. Utiliza-se portanto,
certos mecanismos ou tticas para prender ateno dos alunos. Outro fator que gera
presso aos docentes o fato dos alunos possurem comportamentos diferentes a
disciplinas diferentes.
Os professores no so valorizados porque a educao tambm no passa por um
processo de valorizao e so raras as aes realizadas na prtica.
Todas as expectativas no alcanadas nos docentes em relao ao seu trabalho,
culminam em algum tipo de angstia, ou sofrimento, ou desgaste, ou desmotivao
chegando a extremos de abandono da profisso ou situaes de estresse acentuado e
doenas no apenas de carter emocional mental mas fsicas tambm.
Em estudos realizados na Bahia (SILVANY-NETO, 2000; REIS et. al, 2005;
PARANHOS & ARAJO, 2008; SOUZA, 2008; FARIAS, 2009; DELCOR et. al, 2004;
CEBALLOS, 2009 & ARAJO, 2008) as queixas de doenas mais relevantes entre
docentes foram as relacionadas ao uso contnuo da voz (dor de garganta, rouquido),
postura corporal (dor nas costas e pernas) e problemas psicoemocionais (cansao mental
e nervosismo). Entre estes estudos, os que abordaram professores municipais (SOUZA,
2008; CEBALLOS, 2009 & REIS et. al, 2005) relatou-se prevalncias de 22,8%; 30,7%
e 56,8% respectivamente de transtornos mentais comuns.
Outra questo enftica que os professores que mais apresentavam queixas de
problemas gerais de sade foram justamente, os que mais apresentaram TMC em
comparao aos que no apresentaram. Esta uma informao importante para que
novas abordagens sejam levantadas e que culminem em polticas pblicas voltadas a esta
parcela de trabalhadores.
30
IV MATERIAL E MTODOS
IV.1 Delineamento do estudo
Tratou-se de um estudo epidemiolgico de corte transversal realizado no
primeiro semestre de 2012.
IV.2 Populao do estudo
O presente estudo constituiu um censo cuja populao foi composta por
professoras efetivas, atuantes em 40 escolas da rede pblica municipal bsica de ensino
em Jequi Bahia e que aceitaram participar do estudo. O nmero de professores totais
segundo informaes das escolas de 530 docentes.
IV.3 Critrios de incluso e excluso
Incluram-se no estudo mulheres, que exerciam a funo de professora com
vnculo empregatcio direto com a instituio pblica escolar e que estavam em efetivo
exerccio profissional dentro da zona limtrofe urbana, mesmo as que se apresentavam
sob licena.
Excluram-se as professoras que lecionavam disciplinas diferentes das
convencionais por acreditarmos que estas docentes tivessem caractersticas ocupacionais
diferenciadas. Assim, foram excludas do estudo professoras de religio, educao fsica,
artesanato, msica e capoeira bem como as que no exerciam sua funo de classe no
momento de coleta (como coordenadoras e diretoras), pois as que se encontram nesta
ltima situao, podem estar atuando em funes cujas demandas psicolgicas so
diferentes do que a das profissionais que exercem funo propriamente ligada docncia
apresentam. Os critrios de excluso justificam-se pelo fato destas outras profissionais
embora tambm ligadas funo educativa, possuem caractersticas profissionais
peculiares quanto carga horria, envolvimento e atividades docentes.
IV.4 Definio das variveis
Considerou-se como varivel dependente os transtornos mentais comuns e, como
variveis independentes, aspectos sociodemogrficos, caractersticas ocupacionais e
31
apoio social descritos adiante. A medio da suspeio de transtornos mentais comuns se
deu atravs do questionrio QSG - 60 Questionrio de Sade Geral.
As variveis das condies sociodemogrficas foram: idade, situao conjugal
(solteira, casada, unio estvel, separada, viva), escolaridade (ensino mdio, magistrio,
superior incompleto, superior completo, mestrado/doutorado), cor da pele (branca, preta,
amarela, parda ou indgena), filhos (sim/no), nmero de filhos, rendimento/ms aula
(em reais), outra atividade remunerada (sim/no).
As variveis sobre caractersticas ocupacionais analisadas foram: tempo de
trabalho (anos/meses), nmero de vnculos, nmero de escolas em que atua, carga
horria total semanal na rede municipal, trabalho fora da rede municipal (sim/no),
trabalho docente fora da rede municipal (sim/no), duplo vnculo municipal docente (sim
/no), turnos de trabalho (matutino, vespertino, noturno), nvel de ensino (creche,
fundamental I, fundamental II, ensino mdio, outro), nmero de turmas, mdia do
nmero de alunos/turma, proximidade do local de trabalho (sim/no) e relaes
interpessoais.
As variveis de aspectos sobre o estado de sade so aquelas contidas no
questionrio QSG-60 (Questionrio de Sade Geral) de Goldberg na verso brasileira
adaptada por Pasquali et al. (1996) que traz questes com variveis sobre tenso ou
estresse psquico; desejo de morte, desempenho pessoal, distrbios do sono e
psicossomticos (vide ANEXO 3).
Por ltimo, as variveis sobre o trabalho do indivduo, numa perspectiva
coletiva do apoio/suporte social com o questionrio QPSNordic. O suporte social
apresenta tanto efeitos diretos na sade humana, com menor grau de sofrimento e de
transtornos psquicos na medida em que seja mais elevado o nvel de apoio social,
quanto efeitos indiretos, funcionando como moderador de fatores que influenciam
negativamente o bem-estar (RODRIGUES & MADEIRA, 2009).
Inicialmente, o QPSNordic foi elaborado por um Conselho de Pases Nrdicos
(Finlndia, Noruega, Sucia, Dinamarca, Irlanda e Groenlndia). Tal instrumento
designado para avaliao de condies psicolgicas, sociais e organizacionais do
trabalho, fornecer uma base para a implementao do desenvolvimento organizacional e
intervenes, para a documentao de mudanas nas condies de trabalho e para a
investigao e ou pesquisas de associaes entre trabalho e sade. importante
reconhecer que os fatores psicolgicos, sociais e organizacionais do ambiente de
trabalho so potenciais contribuintes para a sade e bem-estar dos trabalhadores
individuais, grupos de trabalho, e toda a organizao e tais fatores, contribuem para o
32
trabalho de aprendizagem, motivao organizacional e eficincia (LINDSTRM et al.,
2000).
IV.5 Instrumentos
Foram utilizados instrumentos compartilhados com outra instituio universitria
em forma de parceria, aproveitando o momento da coleta de dados para as mesmas.
Para a presente pesquisa, utilizou-se instrumentos constitudos de cinco blocos de
questes: o primeiro, referente condies sociodemogrficas; o segundo bloco sobre
caractersticas ocupacionais, o terceiro sobre aspectos do estado de sade, o quarto sobre
aspectos da sade mental e o quinto e ltimo bloco sobre o trabalho enfocando o apoio
social.
Bloco I Condies sociodemogrficas: Conteve este bloco questes sobre
idade, situao conjugal, grau de escolaridade, cor da pele, filhos, rendimento ao ms
por aulas e a realizao pelo professor de mais de uma atividade remunerada.
Bloco II Caractersticas ocupacionais: Deste bloco constaram caractersticas
voltadas ao mundo laboral do profissional, bem como sua relao com proximidade com
o local de trabalho, nmero de vnculos, alunos por turma, carga horria e outros
aspectos que poderiam influenciar as demandas laborais.
Bloco III Aspectos sobre o estado de sade: Foi utilizado o Questionrio de
Sade Geral de Goldberg (QSG-60). Trata-se de instrumento que objetiva fornecer uma
perspectiva do estado de sade mental de sujeitos no-psicticos. Quanto validade, em
estudos ambulatoriais apresentou sensibilidade de 87,1% e especificidade de 93,3%
(Goldberg, 1972). um questionrio extenso, auto preenchido, composto por 60
questes com 4 alternativas cada tipo escala likert. Estas alternativas se apresentam das
formas 1) no absolutamente; 2) no mais do que de costume; 3) um pouco mais
do que de costume at 4) muito mais do que de costume ou 1) melhor do que de
costume; 2) como de costume; 3) pior do que de costume at 4) muito pior do que
de costume, podendo variar a depender da pergunta para 1) mais do que de costume;
2) como de costume; 3) um pouco menos do que de costume at 4) muito menos do
que de costume. Estas escalas variam de acordo com a pergunta. Parte dos itens
expressa sintomas e outra parte expressa comportamento normal, sendo, por vezes,
necessrio inverter a pontuao da escala. O grau de severidade da ausncia de sade
mental definido em relao a sintomas desviantes da populao. O fator geral (escore
total) foi utilizado para se referir sade mental e, para sua interpretao, o autor
considera que quanto maior for o escore maior ser o nvel de distrbios psiquitricos.
33
Alm do escore geral, os resultados do QSG originaram cinco fatores: a) tenso
ou estresse psquico (experincias de tenso, irritao, impacincia, cansao e
sobrecarga, tornando a vida uma luta constante, desgastante e infeliz); b) desejo de
morte (vida sem sentido, intil e sem perspectivas); c) desconfiana no prprio
desempenho (conscincia da capacidade de desempenhar ou realizar tarefas dirias de
forma satisfatria escala invertida); d) distrbios do sono (insnia e pesadelos); e)
distrbios psicossomticos (dores de cabea, fraqueza e calafrios) (SOUZA, BAPTISTA
& ALVES, 2008).
Bloco IV Aspectos da sade mental : Para este bloco foi utilizado o SRQ-20
Self Reporting Questionnaire (OMS) teste auto aplicvel que avalia o sofrimento
mental, largamente utilizado, com 20 questes relativas mal-estares psquicos,
(BEUSENBERG & ORLEY, 1994, p.26), abordando itens relativos a ansiedade e
depresso, sintomas somticos, humor e pensamentos depressivos, sendo quatro sobre
sintomas fsicos e dezesseis sobre sintomas psicoemocionais (PINHEIRO, 2003). Este
questionrio um teste que apresenta questes dicotmicas do tipo sim e no e identifica
a suspeio de casos de TMC levando em conta o ms anterior realizao da entrevista.
Em geral, tem-se adotado ponto de corte de 7/8 pontos no SRQ-20 baseado no estudo
brasileiro de Mari & Willians (1986) como o mais prximo suspeio de TMC,
oferecendo valores de sensibilidade e especificidade respectivamente de 83% a 80%. O
SRQ-20 foi validado em estudos internacionais e nacionais com sensibilidade variando
de 62,9% a 90% e especificidade de 44% a 95% (SILVA & MENEZES, 2008,p.923-4).
Bloco V Sobre seu trabalho: Para este ltimo bloco foram enfocadas questes
sobre apoio e/ou suporte social onde se utilizou a parte do questionrio QPSNordic
(General Nordic Questionnaire for Psychological and Social at Work) de Lindstrm et
al (2000) que se refere a Social Interactions, apresentando nove itens em escala likert
de cinco pontos variando entre: 1) muito pouco, de modo nenhum ou nada; 2) pouco; 3)
um pouco; 4) bastante e 5) muito. O questionrio QPS Nordic possui 123 perguntas de
mltipla escolha enfocando 14 dimenses psicolgicas e sociais no trabalho:
antecedentes pessoais, demandas do trabalho, expectativas da funo no trabalho,
controle no trabalho, previsibilidade no trabalho, domnio de trabalho, interaes sociais,
liderana, cultura organizacional, interao entre o trabalho e a vida privada,
centralidade do trabalho, compromisso organizacional, trabalho em grupo e motivos
trabalho.
Foi utilizada parte do questionrio - QPSNordic (General Nordic Questionnaire
for Psychological and Social Factors at Work) de Lindstrm et al., (2000) que traz as
variveis respectivas dimenso Social Interactions com nove questes sobre apoio
34
social: se a pessoa possui apoio ou ajuda dos colegas de trabalho, ajuda do superior
imediato no trabalho, se o superior est disposto a ouvir os seus problemas relacionados
ao trabalho, se a pessoa tem possibilidade de conversar sobre os problemas com
companheiro(a) ou algum prximo sobre os problemas de trabalho , se h valorao das
aes desempenhadas no trabalho, se h algum conflito entre os colegas de trabalho e se
o trabalhador se sente amparado por amigos ou familiares em relao aos problemas no
trabalho.
IV.6 Treinamento e preparao para a coleta
Para a aplicao dos questionrios coleta de dados, de forma que fossem
reduzidos possveis vieses de entrevista e de coleta, contamos com o auxlio do manual
do aplicador que trouxe informaes relevantes sobre como se proceder durante a fase de
coleta. O manual apresentou informaes pertinentes aos aplicadores com o intuito de
buscar um padro nas entrevistas para contornar possveis situaes que impedissem ou
prejudicassem a qualidade das informaes colhidas. Nesta etapa, tambm foram
discutidos os aspectos referentes carta-convite e ao termo de consentimento livre e
esclarecido. Os aplicadores passaram por treinamento durante o perodo de uma semana,
para apresentao da pesquisa, os objetivos, aspectos metodolgicos, leitura do manual
do aplicador, apresentao do questionrio, discusso, explanao de possveis dvidas,
os detalhes do preenchimento dos questionrios contidos em cada bloco e demais
explicaes que se fizessem pertinentes. Ressalta-se que, em perodo anterior fase de
campo, as escolas que compuseram os locais de coleta foram previamente avisadas sobre
o que seria realizado tanto por meio telefnico quando pelo envio da carta convite.
Durante o treinamento, ao aplicador tambm foi enfatizado como proceder
chegada s escolas e abordagem aos professores, da necessidade de identificao e
solicitao de permisso.
IV.7 Equipe auxiliar
Foi composta equipe para participao na coleta de dados e digitao dos dados
ps-coleta. Houve recrutamento de estudantes da graduao nos cursos de Biomedicina,
Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia de duas faculdades locais de realizao da
pesquisa, totalizando na primeira fase 25 estudantes e na segunda fase totalizando 42
estudantes, sendo a fase de digitao dos dados contamos com 23 alunos voluntrios que
se revezavam em duplas, onde um ditava as respostas e o outro digitava.
35
IV.8 Coleta de dados e procedimentos
A coleta de dados ocorreu entre maro a maio de 2012 e se realizou a partir do
preenchimento e recolhimento dos questionrios pelos docentes. Os questionrios foram
entregues na forma de folheto devidamente identificado constando de 10 laudas, sendo
uma delas o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que se destinou ao controle da
pesquisa e uma folha avulsa com o mesmo contedo que se destinava ao professor.
Os questionrios foram entregues s professoras em cada uma das escolas e em
seus respectivos turnos (matutino, vespertino ou noturno) de forma a tentar abordar
todos as docentes possveis. Coube aos sujeitos da pesquisa responder o questionrio ou
enquanto este estivesse na escola, ou em perodo posterior sendo combinado o dia da
entrega. Foi deixada em cada escola uma caixa coletora devidamente identificada.
IV.9 Construo do banco de dados
Aps findado o perodo de coleta, os dados dos questionrios foram digitados.
Para isto foi utilizado o software Epidata verso 3.1 que um aplicativo simples,
utilizado para a informatizao de dados que j foram coletados e que sero submetidos
a exploraes, tabulaes e anlises (BRASIL, ANDRADE & OLIVEIRA, 2007, p.3),
com arquivos de sada com vrias opes de formatos para exportao de dados.
Primeiramente, foram treinados digitadores para digitao dos 186 questionrios
vlidos em duas mquinas de forma independente, sendo controladas com pasta controle
de digitao. Aps o fim da digitao, foram comparados os bancos, corregidos os dados
e estes, exportados para software de anlise.
Aps a construo e estruturao do banco optamos em no utilizar o
instrumento SRQ-20 por no apresentar a mesma robustez do QSG-60.
IV.10 Anlise descritiva dos dados
As anlises descritivas foram calculadas pelo software SPSS verso 13
(Statistical Package for the Social Science). Foram utilizadas para as variveis contnuas
a mdia e o desvio-padro e, para as variveis categricas, a proporo.
36
IV.11 Anlise de regresso logstica
A seleo das variveis independentes para a composio do modelo de anlise
de regresso logstica foi feita por meio da anlise univarivel, tendo como critrio de
incluso o valor p 0,25 no Teste de Wald. As variveis qualitativas politmicas foram
representadas por variveis indicadoras.
O modelo inicial de regresso logstica multivarivel com todas as variveis
selecionadas na etapa anterior (modelo completo) foi executado e as variveis que
alcanaram um valor p 0,20 permaneceram no modelo. Houve uma reavaliao das
variveis qualitativas politmicas visando uma categorizao mais adequada dos dados
do estudo.
A comparao do modelo completo com modelos reduzidos (pela excluso das
variveis com valor p > 0,20) foi feita por meio do Teste da Razo de Verossimilhana
para verificar a equivalncia dos modelos em relao a sua capacidade explicativa do
evento resposta. Consideraram-se como modelos equivalentes aqueles que apresentaram
resultados do teste de razo de verossimilhana com valor p > 0,05. Nesta situao,
optou-se pelo modelo mais parcimonioso, ou seja, com menor nmero de variveis.
Definido o modelo de efeitos principais foi analisada a presena de modificao
de efeito com uso do teste de razo de verossimilhana entre este modelo e o modelo
contendo termos de interao (produto de duas variveis), considerando-se o nvel de
significncia de 0,05.
A medida da associao possibilitada pela anlise de regresso logstica a razo
de chances. Com prevalncias elevadas nas respostas, a razo de chances superestima a
associao real, devendo ser substituda pela razo de prevalncia. Considerou-se a
prevalncia elevada acima de 10%. Para a anlise de regresso logstica foi usado o
software STATA 12.0.
IV.12 Aspectos ticos da pesquisa
Este estudo observou, durante todas as etapas de sua realizao, as
recomendaes previstas na Resoluo 196/96 da Legislao Brasileira editada pelo
Ministrio da Sade (BRASIL, 1996) que regulamenta pesquisas envolvendo seres
humanos. Desta maneira, buscou-se respeitar a autonomia, a justia, a beneficncia e a
no maleficncia de cada participante. A pesquisa foi submetida aprovao do Comit
de tica em Pesquisa da Maternidade Climrio de Oliveira da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) sob o protocolo 003/12 (ANEXO 1) e parecer positivo quanto sua
37
realizao mediante Parecer/Resoluo aditiva 026/2012 (ANEXO 2). Os indivduos
participantes foram devidamente informados sobre os possveis riscos e benefcios da
pesquisa e concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(ANEXO 3) que consta de convite participao voluntria, objetivos da pesquisa,
informaes de que no haveria nus para o participante, conduta de arquivamento e
confidencialidade dos dados, justificativa, e contatos dos responsveis pelo estudo.
38
V RESULTADOS GERAIS
Investigaram-se 210 professores, sendo 186 vlidos para compor o banco de dados
utilizado por esta pesquisa. No foi possvel calcular as perdas, visto que o espao
amostral foi inconclusivo.
V.1 Informaes sociodemogrficas dos trabalhadores estudados
Com base nos dados obtidos referentes s variveis correspondentes ao Bloco 1:
Informaes sociodemogrficas, observou-se que 61,3% das professoras investigadas
so casadas; 93,5% apresentam ensino superior completo; cor da pele predominante a
parda com 61,8%; 85,5% possuem filhos e a quase totalidade 91,9% no possuem outra
atividade remunerada que no seja a docente (Tabela 1).
Tabela 1. Caractersticas sociodemogrficas em professoras da rede municipal de ensino
(variveis categricas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Varivel de exposio n %
Situao conjugal Solteira 26 14
Casada 114 61,3
Unio estvel 15 8,1
Separada 26 14
Viva 5 2,7
Escolaridade
Ensino mdio 1 0,5
Magistrio 4 2,2
Superior incompleto 4 2,2
Superior completo 174 93,5
Mestrado/Doutorado 3 1,6
Cor da pele
Branca 39 21
Preta 28 15,1
Amarela 4 2,2
Parda 115 61,8
Filhos
Sim 159 85,5
No 27 14,5
Outra atividade remunerada
Sim 15 8,1
No 171 91,9
39
V.2 Informaes sobre as caractersticas ocupacionais
J com relao ao Bloco 2: caractersticas ocupacionais, observou-se que 87,6%
das professoras possuem um nico vnculo empregatcio, atuam em apenas uma nica
escola 72%; principalmente no Ensino Fundamental I (at a quarta srie) 51,6%;
lecionando em grande parte em at 5 turmas 79,6%; com relaes interpessoais no
ambiente de trabalho entre boa a tima respectivamente 54,3% e 34,4% (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuio de professoras da rede municipal de ensino por caractersticas
ocupacionais, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Varivel de exposio n %
Quantidade de vnculos empregatcios
Um
163 87,6
Dois 22 11,8
Trs
1 0,5
Nmero de escolas em que atua
Uma 134 72
Duas 52 28
Trs
Nvel das turmas em que ensina
Creche 46 24,7
Fundamental I (at 4 srie) 96 51,6
Fundamental II (at 8 srie) 36 19,4
Outros
8 4,3
Quantidade de turmas que ensina
At 5 turmas 148 79,6
De 6 a 10 turmas 25 13,5
Mais de 10 turmas
13 6,8
Relaes Interpessoais no trabalho
tima 64 34,4
Boa 101 54,3
Regular 20 10,8
Pssima 1 0,5
Observou-se nas professoras estudadas mdia de idade de 42 anos (DP = 6,6);
tempo de atuao mdio de 20 anos (DP = 6,3); carga horria mdia de 37,9 horas
semanais (DP = 6,5) o que podemos configurar como regime de 40 horas semanais,
atuando em mdia em 4 turmas (DP = 4,1), em geral tendo 25 alunos por turma (DP =
5,9) e renda mensal de R$ 2.571,20 (DP = 682,4) (Tabela 3).
40
Tabela 3. Caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais em professoras da rede
municipal de ensino (variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Varivel N Extremos Mdia Desvio-padro
Idade (anos) 146 31 67 42,8 6,6
tempo de atuao (anos) 184 10 49 20 6,3
carga horria semanal 179 20 60 37,9 6,5
mdia de turmas 186 1 22 4 4,1
mdia de alunos por turma 186 10 58 25,4 5,9
renda (ganho mensal) (R$) 186 870 5800 2571,2 682,4
V.3 Prevalncia de transtornos mentais comuns e demais associaes
No Bloco 3: aspectos da sade mental, enfatizou-se o estado de sade mental
para transtornos mentais comuns (TMC) no qual foi encontrada a prevalncia bruta de
TMC de 54,7% entre as docentes (Tabela 4).
A prevalncia entre as professoras com ensino superior completo foi de 54,4%;
quanto cor da pele, algo marcante foi o valor alto de suspeio de TMC para
professoras declaradas de cor de pele preta e parda respectivamente 63,2% e 60,3%. A
prevalncia em relao situao conjugal foi de 60% para separadas e vivas, 56,8%
em casadas, e 40% em solteiras; e as professoras que possuem filhos apresentaram
56,2% (Tabela 5).
Tabela 4. Prevalncia de transtornos mentais comuns em professoras da rede
municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Transtornos Mentais Comuns Frequncias
Absolutas
Frequncias Relativas
Presentes 98 54,7%
Ausentes 81 45,3%
Total 179 100%
41
Tabela 5. Prevalncias de transtornos mentais comuns segundo aspectos
sociodemogrficos e transtornos mentais comuns em professoras da rede municipal de
ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Varivel N Suspeitos RP
179 (n/%)
Escolaridade
Ensino mdio 1 1 (100%) 4,0
Magistrio 4 1 (25%) Superior incompleto 4 3 (75%) 3,0
Superior completo 167 91 (54,4%) 2,17
Mestrado ou doutorado 3 2 (66,6%) 2,6
Cor de pele
Branca 39 16 (41%)
Preta 25 15 (63,2%) 1,67
Amarela 4 0 (0%)
Parda 111 67 (60,3%) 1,5
Situao conjugal
Solteira 25 10 (40%)
Casada 109 62 (56,8%) 1,42
unio estvel 15 8 (53,3%) 1,33
Separada 25 15 (60%) 1,5
viva 5 3 (60%) 1,5
Filhos
Sim 153 86 (56,2%) 1,21
No 26 12 (46,1%)
Em relao a aspectos ocupacionais e suspeio de TMC, na varivel vnculos
empregatcios, as professoras com um nico vnculo apresentaram prevalncia de 56,4%
de TMC e com dois vnculos 40,9%; a prevalncia em relao a atuar em uma ou duas
escolas ficou em torno de 54%. Professoras que lecionam no ensino fundamental I e
creches apresentaram prevalncia de 56,6% e 55,5% respectivamente. Professoras que
no possuem outra atividade remunerada apresentaram prevalncia de 56,7% e quanto s
relaes interpessoais, destacam-se as docentes que consideram tais relaes regulares
com 66,6% (Tabela 6).
42
Tabela 6. Prevalncias entre aspectos ocupacionais e transtornos mentais comuns em
professoras da rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.
Varivel N Suspeitos RP
(n/%)
Vnculos empregatcios
Um 156 88 (56,4%) 1,37
Dois 22 9 (40,9%)
Trs 1 1 (100%) 2,44
Nmero de escolas em que atua
Um 128 70 (54,6%)
Dois 51 28 (54,9%) 1,0
Nivel de ensino
Creche 45 25 (55,5%) 1,33
fundamental I 90 51 (56,6%) 1,36
fundamental II 36 15 (41,6%)
ensino mdio 8 7 (87,5%) 2,10
Outra atividade remunerada
Sim 15 5 (33,3%)
No 164 93 (56,7%) 1,70
Relaes interpessoais
timas 62 29 (46,7%)
Boas 98 56 (57,1%) 1,22
Regulares 18 12 (66,6%) 1,42
Pssimas 1 1 (100%) 2,14
Na tabela abaixo apresentamos valores das prevalncias entre aspectos
sociodemogrficos e ocupacionais, onde para a varivel idade, prevalncia maior foi
encontrada em professoras com at 40 anos com 67,8%; tempo de atuao de at 14 anos
com 70%; as que apresentavam carga horria de trabalho de 40 horas ou mais com
57,8% e que lecionam em duas turmas com 61,8% ou com 6 ou mais turmas com 54%.
Destacam-se ainda as prevalncias em professoras que possuem 20 a 29 alunos
por turma com 57,8% e que possuem uma renda mensal na faixa intermediria de R$
2001,00 a R$ 3000,00 (Tabela 7).
43
Tabela 7. Prevalncias entre aspectos sociodemogrficos e ocupacionais em professoras
da rede municipal de ensino e TMC (para variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil,
2012.
Varivel N Suspeitos RP
(n/%)
Idade (em anos)
At 40 56 38 (67,8%) 1,61
41 a 50 67 34 (50,7%) 1,2
+ de 50 19 8 (42,1%)
Tempo de atuao (em anos)
At 14 anos 40 28 (70%) 1,5
15-19 anos 41 22 (53,6%) 1,22
20-24 55 30 (54,5%) 1,24
25 ou mais 41 18 (43,9%)
Carga horria semanal
20 20 8 (40%)
40 ou + 152 88 (57,8%) 1,44
Quantidade de turmas
1 34 15 (44,1%)
2 76 47 (61,8%) 1,4
3-5 32 16 (50%) 1,13
6 ou + 37 20 (54%) 1,22
Alunos por turma
At 19 16 7 (43,7%)
20-29 114 66 (57,8%) 1,32
30 ou + 49 25 (51%) 1,16
Renda mensal (R$)
870,00-2000,00 40 21 (52,5%) 1,0
2001,00- 3000,00 114 65 (57%) 1,18
3001,00 ou mais 25 12 (48%)
V.4 Fatores associados
Para avaliao da associao entre mltiplas variveis, utilizou-se a anlise de
regresso logstica. Adotou-se a estratgia proposta por Hosmer, Lemeshow &
Sturdivant (2013), para a definio do modelo de regresso logstica com resposta
binria:
1. Avaliao individual cuidadosa de cada varivel independente, selecionando-
se aquelas cujo teste univarivel tenha tido um valor p < 0,25 pela estatstica de Wald
para serem includas no primeiro modelo multivarivel, juntamente com todas as
variveis de reconhecida importncia clnica e/ou epidemiolgica;
44
2. Ajuste do modelo multivarivel contendo todas as covariveis selecionadas no
passo 1, eliminando-se, ao longo desta etapa, as que no apresentaram contribuio em
nveis tradicionais de significncia estatstica;
3. Comparao dos valores dos coeficientes estimados no modelo reduzido (com
eliminao de parte das covariveis do passo 2 com os respectivos valores no modelo
completo (todas as covariveis selecionadas no passo 1);
4. Definio do modelo preliminar de efeitos principais: reincluso, uma a uma,
das covariveis no selecionadas no passo 1, e avaliao de sua significncia pelo valor
p da estatstica de Wald;
5. Definio do modelo de efeitos principais: exame das covariveis presentes no
modelo, em particular quanto ao atendimento do pressuposto de aumento ou reduo
linear do logito em funo de cada covarivel contnua; para tanto, utilizou-se o grfico
da varivel tempo de trabalho como professor com o logito suavizado da regresso
robusta dos mnimos quadrados localmente ponderados (robust locally weighted least
squares regression - lowess) da varivel resposta (transtorno mental comum), grfico
dos coeficientes de regresso dos quartis do tempo de trabalho e de categoria do tempo
de trabalho propores mdias de transtorno mental comum por categoria do tempo de
trabalho; ajuste de modelo multivarivel em que a varivel contnua tempo de trabalho
foi substituda por variveis indicadoras com base em seus quartis, tomando-se como
grupo de referncia o quartil inferior; grfico dos coeficientes de regresso estimados
por esse modelo para as variveis indicadoras versus os pontos mdios dos quartis do
tempo de trabalho; mtodo dos polinmios fracionrios para determinar o melhor
modelo para a covarivel contnua;
6. Verificao da presena de interao entre as variveis do modelo tomando-se
como referncia o nvel de significncia estatstica de 0,05 definio do modelo
preliminar final.
No foi avaliada a adequao do modelo nem verificado seu ajustamento, stimo
passo proposto por Hosmer, Lemeshow & Sturdivant (2013), para a definio do modelo
de regresso logstica com resposta binria.
Na explorao inicial, as variveis categricas cor da pele, situao conjugal e
carga horria semanal de trabalho foram recodificadas para que categorias mais
apropriadas fossem obtidas para represent-las, chegando-se a sua dicotomizao.
No ajuste do modelo multivarivel, procedeu-se imputao dos valores
ausentes para que a comparao dos modelos completo e reduzidos fosse feita entre
modelos com o mesmo nmero de observaes. A imputao sequencial dos dados
45
ausentes em mltiplas variveis foi feita por meio de equaes em cadeia de imputao
(HOSMER, LEMESHOW & STURDIVANT, 2013, p. 91-397).
A anlise estatstica foi realizada no programa STATA 12.0.
Uma vez que a varivel resposta teve uma prevalncia elevada, a razo de
chances pode superestimar fortemente a razo de prevalncias. Por isto, razes de
prevalncias de transtornos mentais comuns foram estimadas pela regresso de Poisson
com um estimador robusto da varincia para corrigir os erros-padro (BARROS &
HIRAKATA, 2003; CUMMINGS, 2009).
Como a amplitude do tempo de trabalho como professor situou-se entre 10 e 49
anos, as razes de prevalncias foram estimadas para incrementos de cinco anos no
tempo de trabalho.
V.4.1 Resultados
As variveis selecionadas na avaliao individual por meio de regresso logstica
foram: idade, tempo de trabalho como professor, outra atividade remunerada, alm de
professor (sim ou no), relaes interpessoais com outros docentes (timas, boas,
regulares, ruins, pssimas), cor da pele (branca ou amarela versus preta ou parda),
situao conjugal (solteiro versus no solteiro), suporte social pelos supervisores
(frequente/sempre versus ocasional/raro/nunca), conflito entre colegas de trabalho
(ocasional/raro/nunca versus frequente/sempre), carga horria semanal de trabalho na
rede municipal de ensino (menos de 40 horas versus 40 horas ou mais).
Com a excluso das covariveis com valor p superior a 0,10 pela estatstica de
Wald, permaneceram no modelo de anlise para a presena de transtornos mentais
comuns (tmc): tempo de trabalho como professor (ttap), cor da pele (pele), suporte social
pelos supervisores (ssup) e conflito entre colegas de trabalho (confl). Estas variveis
compuseram o modelo de efeitos principais, uma vez que nenhuma das no selecionadas
anteriormente apresentou significncia ao ser reincluda no modelo e a varivel tempo de
trabalho como professor suportou o exame do atendimento do pressuposto da linearidade
do logito em funo de sua presena como varivel contnua.
No se verificou presena de interao entre as variveis do modelo.
Portanto, o modelo final foi: tmc = 0,26 - 0,06 (ttap) + 1,00 (pele) + 0,90 (ssup) + 1,19
(confl).
As razes de prevalncias de transtornos mentais comuns associados a cada
uma dessas variveis e ajustando-se pela demais covariveis (Tabela 8).
46
Tabela 8. Razes de chances e razes de prevalncias de transtornos mentais comuns
em professoras da rede municipal de ensino de Jequi, Bahia, 2012, segundo as
variveis presentes no modelo final de anlise de regresso logstica mltipla.
varivel de exposio categorias
razo de
chances
bruta
razo de
chances
ajustada
razo de
prevalncias
estimadas
tempo de trabalho
como professor
por ano a mais de
trabalho 0,95 0,95 0,98
tempo de trabalho
como professor
para cada cinco anos a
mais de trabalho 0,76 0,57 0,89
cor da pele
preta ou parda em
relao a branca ou
amarela
2,77 2,72 1,59
suporte social pelos
supervisores
frequente/continuado
em relao a
ocasional/raro/nunca
2,23 2,46 1,33
conflito entre colegas
de trabalho
conflito frequente em
relao a conflito
ocasional
3,08 3,29 1,44
Razo de chances bruta (no ajustada): obtida em anlise de regresso logstica
univarivel.
Razo de chances ajustada: obtida em anlise de regresso logstica
multivarivel, ajustada pelas outras covariveis.
Razo de prevalncias estimadas: obtida em anlise de regresso de Poisson
robusta multivarivel, ajustada pelas outras covariveis.
As razes de chances brutas e ajustadas tm valores prximos para tempo de
trabalho como professor em escala anual e cor da pele, e nem to semelhantes para
suporte social pelos supervisores e conflito entre colegas de trabalho. Para incrementos
de cinco anos no tempo de trabalho os valores so bem distintos. O que mais relevante,
contudo, que as razes de prevalncias estimadas so bastante diferentes das razes de
chances, em consonncia com a assero de que quanto mais frequente for um desfecho,
mais a razo de chances superestimar a razo de prevalncias maior que 1 e
subestimar a razo de prevalncias menor que 1 (Zhang & Yu, 1998).
No grupo estudado de professoras, para cada incremento de cinco anos no tempo
de trabalho h uma reduo de 11% na prevalncia de transtornos mentais comuns,
ajustada pela presena das demais covariveis; as professoras de pele preta ou parda tm
prevalncia de transtornos mentais comuns 1,6 vezes maior que as de pele branca ou
amarela; as professoras que recebem suporte ocasional, raro ou completamente ausente
de seus supervisores apresentam prevalncia de transtornos mentais comuns 1,3 vezes
47
maior que as que tm suporte frequente ou continuado; e aquelas que vivenciam conflito
frequente entre colegas de trabalho apresentam prevalncia de transtornos mentais
comuns 1,4 vezes maior em relao as que experimentam conflito ocasional.
48
VI DISCUSSO
Em relao aos aspectos sociodemogrficos, optamos por abordar neste estudo
apenas mulheres, pois so predominantes na distribuio por gnero neste grupo
ocupacional, em consonncia a outros estudos realizados tambm com professores no
estado da Bahia (SILVANY-NETO et al, 2000; DELCOR et al, 2004; REIS et al, 2005;
SOUZA, 2008; CEBALLOS, 2009; FARIAS, 2004 & PORTO et al., 2004) bem como a
situao conjugal como casadas (FARIAS, 2004; REIS et al., 2005 & DELCOR et al,
2004).
escolaridade as professores possuem ensino superior completo, tal qual o
exigido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao (1996). O nvel de escolaridade com
predominncia do ensino superior tambm foi averiguado por outros estudos na Bahia,
Souza (2008), Delcor et al., (2004) e Arajo et al (1998) variando entre 71,9% a 80,3%.
Quanto ocupao destas professoras, grande parte referiu no ter outra
atividade remunerada que no docente - dado equivalente ao apresentado em outros
estudos na literatura, onde poucos docentes optaram por atividades extra muros da
instituio (REIS et al., 2005; SOUZA, 2008; PORTO et al., 2004; DELCOR et al,
2004; FARIAS, 2004 & SILVANY-NETO et al, 2000). Em geral, trabalham em um
nico vnculo empregatcio, com poucas atuando paralelamente em outra rede de ensino,
embora haja algumas que ensinem em mais de uma escola municipal (SILVANY NETO
et al, 2000 & SOUZA 2008).
Em relao ao nvel das turmas, um pouco mais da metade das professoras
investigadas lecionam para o Ensino fundamental I (at a quarta srie, tambm chamada
de educao infantil), o que indica que o perfil do alunado so crianas e pr-
adolescentes. Esta informao contrasta completamente com os dados encontrados em
estudo realizado na rede estadual de ensino no mesmo municpio em 2010*, onde a
proporo dos alunos do ensino Fundamental I foi de apenas 10,2% e o predominante
foi o Ensino Fundamental II (quinta srie a oitava srie agora chamado nono ano) com
51,3%. Isto implica que o forte da rede estadual abordar as sries mais avanadas do
ensino bsico neste municpio. O ensino fundamental I se destaca na literatura como o
mais frequente das escolas municipais (CEBALLOS, 2009; REIS et al., 2005; SOUZA,
2008).
_________________________
* Cardoso, J.P. Sade na escola: o cuidado com professores. [Projeto de pesquisa no publicado].
Condies de trabalho e sade de professores da rede estadual de ensino de Jequi-Ba. Ncleo de
estudos em sade da populao. Ncleo de estudos em atividade fsica e sade. Laboratrio de Sade
Coletiva. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia [Jequi], Bahia, 2010.
49
Dado destoante foi que o nmero de turmas que os docentes lecionam se mostrou
o dobro em relao a outros estudos realizados com docentes municipais tambm na
Bahia (REIS et al., 2005 & SOUZA, 2008) e que a mdia de tempo de atuao na
docncia foi de 20 anos variando entre 10 a 49 anos - mdia maior do que encontrada em
demais estudos (REIS et al., 2005; CEBALLOS, 2009 & SOUZA, 2008).
Quanto s prevalncias, este estudo concorda com a literatura, j que sabido
que TMC em mulheres so mais prevalentes do que em homens (SANTOS &
SIQUEIRA, 2010; ROCHA et al., 2010).
Observou-se que quanto maior a idade do professor e o tempo de sua atuao
profissional menores foram as prevalncias de TMC resultado inverso ao encontrado
por Reis et al., (2005) em relao a tempo de atuao profissional onde a relao foi de
quanto maior esse tempo, maior a prevalncia de TMC. Outros achados destoantes
foram prevalncias acentuadas em docentes com um nico vnculo empregatcio 56,4%
e em professoras que no possuem outra atividade remunerada com 56,7%. As
professoras que atuam em duas escolas apresentaram 54,9% de suspeio de TMC, uma
prevalncia alta como a observada por Gasparini, Barreto & Assuno (2006) que
encontraram para esta mesma varivel o valor de 46,7% em professores da rede
municipal de Belo Horizonte MG.
Quanto s relaes interpessoais dos professores no trabalho, quanto melhores
foram estas relaes menores as prevalncias de TMC encontradas. Uma boa relao
interpessoal no trabalho, predispe o trabalhador a experimentar menos situaes
conflitantes (LINDSTRM et al., 2000).
Professores com idade entre at 40 anos apresentaram maior prevalncia de TMC
em relao aos demais, concordando com a mesma faixa etria observada por Gasparini,
Barreto & Assuno (2006). Os que apresentam carga horria semanal igual ou acima de
40 horas tambm se mostraram com valor acentuado para TMC, em concordncia com
Reis et al., (2005), com resultados bem equivalentes.
Em relao aos fatores associados, no modelo final de regresso logstica
mltipla, as variveis que permaneceram no modelo foram tempo de trabalho como
professor, cor da pele, suporte social pelos supervisores e conflito entre colegas de
trabalho.
O tempo de trabalho como professor se mostrou como fator associado, ao passo
que os docentes para cada ano trabalhado, ou conjunto de cada cinco anos a mais de
trabalho h uma progressiva reduo da chance de acometimento por TMC.
J para a varivel cor da pele como fator associado, professoras cuja cor de pele
seja preta ou parda, apresentam prevalncia de transtornos mentais comuns 1,5