93
PRH-ANP 45 PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR EM TECNOLOGIA DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS Controle Avançado de Técnicas de Perfuração com Pressão Controlada Taís de Carvalho Calado Orientador: Oscar Alberto Zanabria Sotoayor, D. Sc.,

PRH-ANP 45sicbolsas.anp.gov.br/sicbolsas/Uploads/TrabalhosFinais/2010.3213-9/... · Figura 1- Perfuração rotacional e caminho do fluido de perfuração A eliminação dos cascalhos

  • Upload
    lamnga

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

PRH-ANP 45

PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR EM TECNOLOGIA DE

PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS

Controle Avançado de Técnicas de Perfuração com Pressão Controlada

Taís de Carvalho Calado

Orientador: Oscar Alberto Zanabria Sotoayor, D. Sc.,

ii

Controle Avançado de Técnicas de Perfuração com Pressão Controlada

Taís de Carvalho Calado

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Corpo Docente do Departamento de Engenharia

Elétrica (DEL) e do Programa de Recursos Humanos da ANP/Universidade Federal de Sergipe,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheira Eletricista com

habilitação em eletrônica especialização em Tecnologia de Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis.

Examinado em 03/07/2012.

Examinado por:

_________________________________________

Oscar Alberto Zanabria Sotomyaor

(D. Sc., Engenharia Elérica – DEL/CCET/UFS)

(Orientador)

_________________________________________

José Jailton Marques

(D. Sc., Engenharia Química – DEQ/CCET/UFS)

_________________________________________

Eduardo Oliveira Freire

(D. Sc., Engenharia Elétrica – DEL/CCET/UFS)

iii

Agradecimentos

Aos meus pais Heliana e Murilo, meus amores e maiores exemplos do que eu devo ser

como pessoa e profissional.

Aos meus irmãos Bruna e Leandro por todo o apoio que vocês me derem desde o início

da minha jornada até esse final.

Ao meu namorado Renan por estar sempre comigo e me ajudar nas horas que achei que

não fosse conseguir, por não me deixar desistir e por a melhor coisa que me aconteceu

dentro da UFS.

Aos meus amigos da turma 07 e agregados pelas horas de estudo que vocês tornaram

divertidas e pelos momentos fora classe.

Ao meu orientador Oscar Sotomayor pelo apoio e dedicação ao longo desses quase 2

anos sob o qual estou em sua tutoria.

A ANP e principalmente ao PRH-45 pelo incentivo financeiro ao longo da minha

participação nesse projeto.

iv

Resumo

Enquanto que a demanda por petróleo tem aumentado, as reservas de petróleo

estão cada vez mais difíceis de serem acessadas e perfuradas. Assim para conseguir

perfurá-las um gradiente de pressão no poço deve ser mantido entre as restrições de

pressão da formação. A pressão no poço pode ser controlada restringindo o fluxo do

fluido de perfuração do poço, através de uma válvula na entrada do poço, ou

manipulando o escoamento vindo da região anular do poço, através da válvula choke.

Neste trabalho, dois algoritmos de controle preditivo baseado em modelos (MPC), um

linear (LMPC) e outro não linear (NMPC), para controle de pressão manipulando a

válvula choke e bomba de entrada de lama, são apresentados como alternativa para

melhorar a eficiência da técnica de perfuração com pressão controlada (MPD).

O objetivo desse trabalho visa efetuar uma comparação entre os dois algoritmos

MPC e sua efetiva aplicação e utilização no controle da pressão durante o processo de

perfuração de poços de petróleo.

Palavras-chave: MPC, MPD, perfuração de poço, controle da pressão.

v

Abstract

While oil demand has increased, the remaining reserves of oil are increasingly

difficult to be accessed and drilled. Then to get them drilled, a pressure gradient in the

well must be maintained between the restrictions of the formation pressure. The

pressure in the well can be controlled by restricting the flow of drilling fluid through a

valve at the entrance of the well, or by manipulating the flow from the annulus, by

manipulating a choke valve. In this work two model predictive control (MPC)

algorithms, a linear and a nonlinear, for bottom hole pressure control of an oil well

drilling system, by manipulating the choke valve and the mud pump, were presented as

an alternative way to improve the operational effectiveness of the managed pressure

drilling (MPD) technology.

This work aim a comparison between the two MPC algorithms and their

application and utilization on the pressure control of an oil well drilling process.

Keywords: MPC, MPD, oil well drilling, pressure control.

vi

Sumário

Agradecimentos ............................................................................................................................ iii

Resumo ..........................................................................................................................................iv

Abstract ......................................................................................................................................... v

Lista de Tabelas ........................................................................................................................... viii

Lista de Figuras ............................................................................................................................. ix

Capítulo 1 .................................................................................................................................... 11

1.1 – Perfuração de Poços de Petróleo .................................................................................... 11

1.2 – Controle da Pressão no Poço ...................................................................................... 15

1.2.1 - Gradiente de pressão ................................................................................................ 15

1.2.2 – Técnicas de perfuração para o controle da pressão ................................................. 17

1.2.2.1 – Perfuração sobre balanceada (OBD) .................................................................... 18

1.2.2.2 – Perfuração sub-balanceada (UBD) ....................................................................... 18

1.3 – Objetivos do Trabalho .................................................................................................... 21

1.4 - Motivação ....................................................................................................................... 21

1.5 – Revisão do Estado da Arte ............................................................................................. 25

1.6 – Escopo do Trabalho ........................................................................................................ 29

Capítulo 2 .................................................................................................................................... 31

2.1 – Breve Histórico .............................................................................................................. 31

2.2 – Definição ........................................................................................................................ 32

2.3 – Técnicas MPD ................................................................................................................ 32

Capítulo 3 .................................................................................................................................... 35

3.1 – Introdução ...................................................................................................................... 35

3.2 – Modelo de Nygaard ........................................................................................................ 36

3.3 – Modelo de Stamnes ........................................................................................................ 41

vii

3.3 – Escolha do Modelo ......................................................................................................... 45

3.4 – Simulação em MatLab/Simulink® - Análise em Malha Aberta .................................... 46

Capítulo 4 .................................................................................................................................... 54

4.1 – Introdução ...................................................................................................................... 54

4.2 – LMPC Convencional - O Controlador QDMC .............................................................. 57

4.3 – NMPC Convencional ..................................................................................................... 60

Capítulo 5 .................................................................................................................................... 64

5.1 – Introdução .......................................................................................................................... 64

5.1 – Controle LMPC do Processo de Perfuração ................................................................... 65

5.3 – Controle NMPC do Processo de Perfuração .................................................................. 69

5.4 – Discussão de Resultados ................................................................................................ 74

Capítulo 6 .................................................................................................................................... 76

6.1 – Conclusões ..................................................................................................................... 76

6.2 – Trabalho Futuros ............................................................................................................ 77

Apêndice A .................................................................................................................................. 84

viii

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Parâmetros de simulação do modelo de Stamnes ...................................................... 46

Tabela 2 - Funções de transferência do modelo linear ................................................................ 65

Tabela 3 - Parâmetros de sintonia do controlador LMPC ........................................................... 65

Tabela 4 - Parâmetros de sintonia do controlador NMPC ........................................................... 70

ix

Lista de Figuras

Figura 1- Perfuração rotacional e caminho do fluido de perfuração ........................................... 12

Figura 2 - Sistema de circulação de lama .................................................................................... 13

Figura 3 - Perfil do gradiente de pressão de um poço ................................................................. 16

Figura 4 - Vazamento de óleo na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México. ........... 17

Figura 5 – Camada pré-sal .......................................................................................................... 22

Figura 6 - Localização do poço Tupi .......................................................................................... 23

Figura 7 - Esquema de uma estratégia MPD ............................................................................... 34

Figura 8 - Exemplo de uma sonda de perfuração ........................................................................ 35

Figura 9 - Balanço de massa no modelo de Nygaard .................................................................. 37

Figura 10 - Balanço de pressões no modelo de Nygaard ............................................................ 38

Figura 11 - Divisão do sistema proposto no modelo de Stamnes ............................................... 42

Figura 12 – Implementação do modelo de Stamnes em ambiente MatLab/Simulink® .............. 47

Figura 13 – Sequência de variações na abertura da válvula choke.............................................. 47

Figura 14 - Comportamento da pressão de fundo ( ) a variações na abertura da válvula

choke ........................................................................................................................................... 48

Figura 15 – Resposta dos estados a variações na abertura da válvula choke .............................. 49

Figura 16 – Variações na vazão da bomba de lama .................................................................... 49

Figura 17 - Comportamento da pressão de fundo a variações no fluxo da bomba de lama ........ 50

Figura 18 - Resposta dos estados a variações no fluxo de lama .................................................. 50

Figura 19 – Sequência de variações na vazão do influxo ............................................................ 51

Figura 20 - Comportamento da pressão de fundo a variações na vazão do influxo .................... 52

Figura 21 - Resposta dos estados a variações na vazão do influxo ............................................. 52

Figura 22 – Sequência de variações na vazão da bomba de pressão reversa .............................. 53

Figura 23 – Resposta da pressão de fundo à variações na vazão da bomba de pressão reversa.. 53

Figura 24 – Respostas dos estados a variações na vazão da bomba de pressão reversa ............. 53

x

Figura 25 - Esquema de implementação dos algoritmos MPC ................................................... 56

Figura 26 - Estrutura de um sistema de controle MPC ............................................................... 57

Figura 27 – Controle MPC da coluna de perfuração ................................................................... 64

Figura 28 – Resposta da pressão de fundo com LMPC a variações no setpoint ......................... 66

Figura 29 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variações no setpoint .... 66

Figura 30 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a variação na vazão de influxo do

reservatório .................................................................................................................................. 67

Figura 31 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variação na vazão de

influxo do reservatório ................................................................................................................ 67

Figura 32 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a variação na vazão da bomba de pressão

reversa ......................................................................................................................................... 68

Figura 33 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variação na vazão da

bomba de pressão reversa ............................................................................................................ 68

Figura 34 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a perda de controle da válvula choke .... 69

Figura 35 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a perda de controle da

válvula choke ............................................................................................................................... 69

Figura 36 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variações no setpoint ......................... 70

Figura 37 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variações no setpoint .... 71

Figura 38 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variação na vazão de influxo do

reservatório .................................................................................................................................. 71

Figura 39 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variação na vazão de

influxo do reservatório ................................................................................................................ 72

Figura 40 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variação na vazão da bomba de pressão

reversa ......................................................................................................................................... 72

Figura 41 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variação na vazão da

bomba de pressão reversa ............................................................................................................ 73

Figura 42 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a perda de controle da válvula choke .... 73

Figura 43 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a perda de controle da

válvula choke ............................................................................................................................... 74

11

Capítulo 1

Introdução

1.1 – Perfuração de Poços de Petróleo

Para satisfazer o aumento da demanda por petróleo e gás em escala mundial, há uma

necessidade em encontrar novas reservas e extraí-las. As reservas restantes são mais difíceis

de extrair já que as mais acessíveis já foram exploradas. Desafios relacionados a poços de

perfuração com margens de pressão estreitas exigem um controle de pressão preciso. Assim

há uma demanda por novas tecnologias de perfuração que forneçam um controle de pressão

adequado (Hydro, 2007).

A perfuração de um poço consiste em perfurar a crosta terrestre objetivando a extração

de recursos naturais tais como água, gás natural ou petróleo. Os primeiros poços foram

perfurados com o intuito de obter água diretamente de aquíferos, reserva de água subterrânea,

para suprir a necessidade de uma determinada localização. Porém com o desenvolvimento da

indústria e a urgência de obtenção de novas fontes de energia, as técnicas de perfuração até

então conhecidas foram aprimoradas permitindo a exploração do petróleo subterrâneo em

grande escala, tornando a indústria petrolífera um dos principais expoentes econômicos da

sociedade atual.

Existem basicamente dois métodos de perfuração (Rosenblatt, 2010):

Perfuração percussiva;

Perfuração rotacional.

A perfuração percussiva é a mais antiga das técnicas de perfuração de poços. Ela

consiste em golpear a rocha utilizando uma broca a fim de fragmentá-la através do seu

esmagamento. É um método lento e com um alcance limitado, sendo pouco utilizado

atualmente.

12

A perfuração rotacional consiste em realizar o esmerilhamento da rocha através do

movimento de rotação da broca. Um fluido é bombeado através da coluna de perfuração e

retorna pelo anular, espaço compreendido entre a coluna de perfuração e a parede do poço

conforme a Figura 1, levando consigo o cascalho gerado por esse processo. Esse método pode

ser considerado como o atual padrão da indústria.

Figura 1- Perfuração rotacional e caminho do fluido de perfuração

A eliminação dos cascalhos produzidos ao longo da perfuração fica a cargo do sistema

de circulação do fluido de perfuração, neste caso lama ou lodo de perfuração, representado na

Figura 2. Na sonda, encontra-se um reservatório de lama de perfuração que alimenta uma

bomba de lama, responsável por injetá-la na coluna de perfuração. A cabeça de injeção separa

os elementos rotativos dos estacionários, com isso, somente permite a rotação dos elementos

encontrados em sua parte inferior, como coluna de perfuração, broca etc. O elemento

responsável por transmitir o movimento rotacional à coluna de perfuração é o kelly.

13

Após a passagem do lama pela coluna de perfuração, e seu eventual retorno pelo anular

com os cascalhos provenientes do processo, esse lama volta ao reservatório, passando pela

linha de retorno e posteriormente por uma peneira vibratória com o intuito de separar os

sólidos mais grosseiros do lama de perfuração.

Figura 2 - Sistema de circulação de lama

O lama de perfuração tem várias funções:

1. Arrastar os fragmentos de rocha para a superfície;

2. Limpar e esfriar a broca;

3. Atuar como lubrificante onde houver atrito;

4. Exercer uma contrapressão de forma a evitar a entrada de fluidos no poço;

5. Evitar que os fragmentos de rocha se sedimentem no fundo nas paradas das

perfurações;

6. Obturar os orifícios das camadas porosas atravessadas na perfuração;

14

E as seguintes características:

1. Ser inerte em relação aos detritos;

2. Ser bombeável;

3. Proteger contra a corrosão e

4. Ser formada por materiais baratos e disponíveis.

A lama pode ser constituído a base de água ou a base de óleo. A água leva a vantagem

de ser mais disponível e refrigerar melhor e a desvantagem de encharcar tudo por onde passa,

desestabilizando a rocha. As lamas a base de óleo tem a principal desvantagem de serem

poluentes. Para dar propriedades pseudo-plásticas a lama, uma argila, por exemplo, bentonita,

é adicionada à água. Para dar mais densidade à lama e aumentar a contrapressão, um mineral

denso, por exemplo, barita, pode ser adicionada. Outras substâncias podem ser adicionadas

para adequar as camadas que vão sendo atravessadas.

Existem no mercado diversas técnicas de perfuração de poços de petróleo, porém duas

delas merecem destaque, a perfuração com pressão controlada (MPD- Managed Pressure

Drilling) e a perfuração sub-balanceada (UBD – Underbalanced Drilling). Ambas as técnicas

consistem em executar ações de controle com o intuito de manter a pressão a um determinado

nível. A UBD visa manter o valor da pressão introduzida no poço abaixo do valor da pressão

do fluido, ao longo de toda a formação rochosa. Já a MPD é utilizada para controlar

precisamente o perfil da pressão anular do poço, mantendo-a dentro de um determinado

gradiente, definido entre a pressão de fraturamento (limite superior) e a pressão dos poros

(limite inferior).

O enfoque desses dois métodos é distinto. A UBD foca na preservação do reservatório e

na aquisição de dados do mesmo já que esse método visa manter a pressão sub-balanceada. A

MPD visa o processo de perfuração, tendo como objetivo a eliminação de problemas como a

perda de circulação e entupimento do cano. Outra distinção desses dois métodos é com

relação ao equipamento utilizado. Para a UBD é necessário um equipamento no local para

lidar com os hidrocarbonetos ali produzidos, tornando esse método mais caro se comparado a

MPD. Além disso, algumas agências reguladoras não permitem a utilização da UBD em

operações offshore. Em termos de segurança, o método MPD pode ser considerado mais

15

seguro, pois qualquer incidente com o fluxo durante a operação pode ser seguramente contido

através do seu sistema de controle.

MPD é uma poderosa tecnologia emergente para controlar precisamente a pressão do

poço dentro de uma margem estreita de pressão. Ele conta com certo número de variáveis,

onde cada uma possui uma técnica diferente para controlar a pressão através da criação de um

sistema fechado de pressurização de lama. Enquanto MPD oferece capacidade de controlar a

pressão, ele cria uma complexidade operacional no sistema. Isso ocorre porque a MPD requer

diversas ferramentas (bombas, válvulas choke, válvulas em geral, etc.) que devem ser

coordenadas simultaneamente, uma tarefa onde operadores humanos podem não ser

particularmente eficientes. Uma solução para esse problema é o uso de ferramentas de

automação. Essas ferramentas podem confiavelmente integrar atividades relativas ao MPD

usando uma hierarquia multi-nível, permitindo aos operadores se concentrarem nas decisões

de mais alto-nível, enquanto deixam a execução das atividades de nível mais baixo para a

automação (Breyholtz et al., 2010a). A tecnologia MPD aposta no emprego da automatização

do processo, tornando o sistema mais seguro e melhorando seu desempenho, permitindo ao

operador o controle da situação como um todo dando a ele a possibilidade de definir ações e

objetivos daquela determinada atividade.

1.2 – Controle da Pressão no Poço

1.2.1 - Gradiente de pressão

Para entender as técnicas de perfuração com pressão controlada é preciso antes explicar

os valores e tipos de pressão que são utilizados para compor a janela de gradiente de pressão

que serve como parâmetro para manter os níveis de controle. À medida que o poço é

perfurado, o fluido de perfuração é circulado dentro dele para obter uma pressão de fundo de

poço específica. A densidade do fluido é determinada pelos gradientes da pressão de

formação e porosidade e pela estabilidade do poço (Martin, 2006).

Todas as formações penetradas pela broca de perfuração são porosas em algum grau. Os

espaços porosos podem conter fluidos como: petróleo, gás, água salgada ou uma mistura

deles. A pressão de porosidade é exercida pelos fluidos contidos nos espaços porosos (Skalle,

16

2009). Já a pressão de fraturamento é aquela onde o poço irá começar a apresentar avarias, ou

fraturar, sendo assim um ponto crucial na determinação da estabilidade do poço.

A Figura 3 mostra o comportamento do perfil de um gradiente de pressão de um

determinado poço relacionado à profundidade. O objetivo ao perfurar o poço é manter a

pressão de lama dentro dessa janela delimitada pela pressão de porosidade e a pressão de

fraturamento. É fundamental que essa janela seja mantida. Quando a pressão do fluido é

menor que a pressão de porosidade ocorre os chamados kicks. A denominação kick deriva do

fenômeno observado fora do poço, e quando ele acontece, o lama é lançado para fora dele.

Figura 3 - Perfil do gradiente de pressão de um poço

É necessária uma extrema cautela quando ocorrem os kicks, pois caso esses não sejam

controlados de maneira adequada podem levar a situações de blowout, pondo em risco a

segurança dos trabalhadores e, a depender do caso, podem inutilizar o reservatório. Além de

causar prejuízos financeiros e pessoais, esses acidentes podem vir a gerar um grave problema

ambiental como no caso do acidente ocorrido em 2010 na plataforma Deepwater Horizon,

localizada no Golfo do México que culminou na morte de 11 funcionários e um prejuízo

bilionário para a empresa detentora da plataforma, a BP (British Petroleum).

17

A Figura 4 mostra a extensão do acidente com a plataforma da BP. Com um vazamento

estimado em 205,8 milhões de galões de óleo desde o dia do acidente, em 20 de abril de 2010,

até o fechamento provisório do poço em 15 de Junho de 2010, essa tragédia deixou profundas

marcas no ecossistema e na economia local, uma vez que prejudicou a biodiversidade bem

como a atividade pesqueira e o turismo na região.

Figura 4 - Vazamento de óleo na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México.

1.2.2 – Técnicas de perfuração para o controle da pressão

Com as reservas atuais de petróleo se esgotando, é necessária a perfuração de poços

mais profundos e complexos. Alguns profissionais da indústria diriam que 70% das atuais

reservas offshore são economicamente imperfuráveis usando técnicas convencionais de

perfuração (Coker, 2004), técnicas estas conhecidas como perfuração sobre balanceada (OBD

- Overbalanced Drilling). Assim, novas técnicas de perfuração foram implementadas, as quais

tomam como base a pressão do poço, podendo ser colocada uma pressão menor ou uma

pressão igual ao gradiente de pressão do poço. A técnica para o primeiro caso é conhecida

como perfuração sub-balanceada (UBD) e, para o segundo caso, perfuração com pressão

controlada (MPD), (Shayegi, 2007).

Cada uma dessas técnicas em especial possui suas vantagens e desvantagens que devem

ser analisadas caso a caso, verificando o perfil do poço que será perfurado bem como os riscos

18

e valores intrínsecos a cada operação. O conhecimento da área a ser explorada bem como das

técnicas que possam ser utilizadas torna-se fundamental para o sucesso do processo de

perfuração e da produtividade do poço em questão.

1.2.2.1 – Perfuração sobre balanceada (OBD)

A prática de manter uma pressão no poço que exceda a pressão dos poros é chamada de

perfuração sobre balanceada (OBD). Esse foi o método adotado na perfuração da maioria dos

poços desde o início do século 20 (Elliot et al., 2011). Esse método possui alguns reveses, tais

como:

Danos excessivos à formação, podendo levar o poço a um eventual colapso;

Possuir gradiente de pressão relativamente pequeno, o que torna sua operação

mais delicada e minuciosa a fim de evitar erros que possam provocar problemas

no poço e àqueles que o operam, fazendo assim com que o processo de perfuração

mediante tal técnica seja menos seguro se comparado aos demais métodos;

Custo mais elevado, uma vez que para prevenir as perdas do fluido de perfuração

durante tal processo é necessária à utilização de diversos tubos de revestimento de

poços para manter a densidade de fluido necessária à contenção da pressão da

formação;

Possuir baixa taxa de penetração (ROP – Rate of Penetration), que é a velocidade

com a qual a broca perfura a formação. Uma ROP baixa significa uma maior

lentidão no processo de perfuração, fazendo com que o tempo que o poço passe

inativo seja maior que nos demais casos.

Por ser a técnica de perfuração mais antiga, é possível observar que a aplicabilidade da

OBD pode não mais suprir as necessidades do mercado atual que busca uma maior

produtividade, num menor tempo com custos menores e cujos riscos sejam pequenos. Em

resposta a essa tendência da indústria petrolífera, as duas técnicas a seguir foram

desenvolvidas objetivando suplantar essas brechas proporcionadas pelo OBD.

1.2.2.2 – Perfuração sub-balanceada (UBD)

19

Quando a pressão hidrostática de um fluido de perfuração é intencionalmente projetada

para ser menor que a pressão da formação a ser perfurada, essa operação será considerada

perfuração sub-balanceada (UBD). Essa pressão hidrostática do fluido de perfuração pode ser

naturalmente menor que a pressão da formação ou pode ser induzida. O estado induzido pode

ser criado a partir da injeção de gás natural, nitrogênio, ou ar à fase líquida do fluido (AEUB,

1994).

Existem algumas técnicas para modificar a pressão hidrostática do fluido de perfuração

durante a UBD, sendo os mais conhecidos os seguintes (Perfuração Underbalanced, 2012):

Dry air – Ou empoeiramento, como também é conhecida, consiste na utilização

de compressores de ar combinados com um booster (intensificadores que

aumentam a pressão do ar vindo do compressor, mas não altera o seu volume).

Além disso, uma pequena quantidade de fluido é injetada com o único objetivo de

diminuir a corrosão;

Mist – Uma pequena quantidade de agente espumante é adicionada ao fluxo de ar

dando origem a uma “neblina” que remove os cascalhos resultantes da perfuração

até a superfície;

Foam – Semelhante ao Mist, divergindo somente quanto à quantidade de agente

espumante adicionada, que é um pouco mais elevada, e quanto à consistência,

nesse caso formam-se bolhas e são elas que auxiliam na eliminação dos cascalhos;

Stable foam – Semelhante ao Mist e ao Foam, e com o mesmo objetivo, porém

agora uma grande quantidade de agente espumante é adicionada ao fluxo de ar, a

consistência agora é semelhante a uma espuma de barbear;

Gasified muds – Ar ou outro gás, como nitrogênio, é injetado à lama de

perfuração.

As principais vantagens desse método são a redução de danos à formação, redução na

perda de circulação e aumento no ROP. Quanto às desvantagens, a perfuração UBD é mais

cara se comparada a outros métodos já que é necessária uma estrutura maior e uma quantidade

de equipamentos maior para tornar esse processo realizável.

1.2.2.3 – Perfuração com pressão controlada (MPD)

20

Este item é tratado com maiores detalhes no capítulo 2.

21

1.3 – Objetivos do Trabalho

O objetivo principal deste trabalho é:

Estudo, implementação e avaliação mediante simulações computacionais de um

sistema de controle avançado, baseado em controle preditivo (MPC – Model Predictive

Control), para manipulação simultânea da bomba de lama de perfuração e válvula choke de

recirculação de lama, visando manter a pressão anular de fundo (BHP – Bottomhole Pressure)

no nível de operação desejado.

São objetivos secundários deste trabalho:

Propiciar um melhor entendimento do problema de perfuração e avaliar uma

determinada solução visando o pré-sal;

Aumentar a eficiência, desempenho e segurança nas operações de perfuração de

poços de petróleo;

Contribuir ao desenvolvimento de novas tecnologias de perfuração.

1.4 - Motivação

A camada pré-sal, Figura 5, compreende um conjunto de rochas que se encontra abaixo

da camada de sal. Sua formação ocorreu em períodos anteriores à quebra da Gondwana, o

supercontinente formado pelas Américas do Sul e África, há milhões de anos atrás. Após a

separação do supercontinente, devido aos movimentos das placas tectônicas, uma região

pantanosa se formou no fundo da fenda originaria dessa separação. Matéria orgânica se

misturou a partículas de calcário, argila e areia, dando origem a uma camada rochosa. Com a

continuidade das atividades tectônicas, água salgada passou a invadir essa região pantanosa,

porém ao evaporar deixava uma camada de sal. A continuidade desses depósitos de sal deu

então origem à conhecida camada de sal, composta principalmente por halita e anidrita (Como

foi formada a camada do Pré-sal, 2010).

As rochas que compõem os reservatórios da camada pré-sal são formadas por

carbonatos microbiais ou microbiolitos, colônia de cianobactérias mortas e calcificadas. Sua

complexidade vai além da baixa porosidade e da possibilidade de permeabilidade. Por ser

22

uma formação de ocorrência cujos precedentes são raros, pouco se sabe sobre a sua estrutura e

comportamento com relação à recuperação de óleo (Fraga, 2008).

Figura 5 – Camada pré-sal

Esses reservatórios da camada pré-sal podem ser encontrados ao longo da costa

brasileira numa área compreendida entre a região Nordeste e Sul, na costa Oeste africana bem

como no Golfo do México. O pré-sal recebeu esse nome por ser uma região cujo deposito de

materiais rochosos ocorreu de forma anterior à formação da camada de sal, dessa forma sua

profundidade pode chegar a superar os 7.000 metros com relação à superfície marítima.

A descoberta da camada pré-sal gerou uma especulação sobre a sua capacidade de

produção de petróleo. No Brasil diversos testes foram realizados, sendo o teste no poço agora

nomeado Tupi, cuja profundidade ultrapassou os 5.000 metros da superfície marítima, que

atestou positivamente os indícios de produção petrolífera dessa camada. Após isso, mais sete

poços foram perfurados e todos reafirmam a existência de petróleo nessa região (Entenda o

que é a Camada Pré-Sal, 2010).

23

A perfuração do poço Tupi foi somente o início das descobertas a cerca do pré-sal. Em

uma faixa compreendida entre os litorais de Espírito Santo e Santa Catarina, testes realizados

detectaram a presença de um grande volume de óleos leves e de alta qualidade, podendo vir a

produzir uma elevada quantidade de barris por dia, com expectativas de superação, em termos

de produção, dos poços da camada de sal hoje explorados na região (Entenda o que é a

Camada Pré-Sal, 2010).

Figura 6 - Localização do poço Tupi

Com a confirmação da existência de petróleo nessa região, ocorrem também as

problemáticas com relação à sua exploração. O desconhecimento do comportamento das

rochas dessa camada, as elevadas profundidades e consequentemente pressão e temperatura e

a distância com relação ao litoral, são exemplos de desafios que deverão ser vencidos para só

assim começar efetivamente a exploração do pré-sal (COPPE, 2009).

O principal custo para o pré-sal está na perfuração dos poços, a qual exige

equipamentos complexos, tais como sondas em alto mar, e a busca por novas soluções para os

diversos problemas da perfuração, visando aumentar a eficiência e reduzir o tempo e custo da

operação. A exemplo do poço Tupi, a distância entre esses poços e a costa brasileira pode

superar os 300 km, com isso, todo um aparato logístico de apoio em alto-mar deve ser

preparado para transportar funcionários, equipamentos, matérias etc. Além disso todo um

24

sistema de ancoragem e operação de poço deve ser idealizado para suprir a necessidade dessas

plataformas (COPPE, 2009).

Com relação à profundidade, por superar os 5.000 metros, ela exige uma maior cautela

com relação à perfuração desses poços e a extração dos óleos lá encontrados. Para atingir a

camada pré-sal será necessário ultrapassar 1 km de lâmina d’água, 2 km de sedimentos e mais

2 km da camada de sal, sendo que essa última possui um comportamento de difícil previsão já

que ela age como uma massa plástica impermeável, que volta a se fechar poucos instantes

após aberto o poço. Além disso, a presença do sal provoca distorções nas ondas sísmicas que

são emitidas na região com o intuito de averiguar a estrutura geológica em análise,

dificultando a obtenção de dados sobre as camadas adjacentes. Uma tecnologia de perfuração

e de revestimento de poços mais avançada do que as hoje utilizadas se faz necessária para só

assim evitar um colapso nas paredes do poço e amenizar os efeitos da plasticidade do sal

(COPPE, 2009).

Como a pressão e temperatura são características intimamente ligadas à profundidade,

quanto mais profundo for o poço, maior a pressão com que o óleo ou gás sairá dele e maior a

diferença de temperatura à qual essa produção será submetida. Dutos para escoá-la deverão

ser projetados para aguentar pressões de até 400 atm, cerca de 400 vezes maior que a pressão

no nível do mar, e uma gradiente de temperatura que pode variar entre 150° C e 4° C. Esse

choque térmico pode vir a causar entupimento dos dutos, ou risers, com a possível coagulação

do óleo, demandando assim a necessidade da inserção de um produto químico que seja capaz

de evitar que isso ocorra (COPPE, 2009).

A hostilidade do ambiente onde estão inseridas as rochas do pré-sal é outro ponto a ser

vencido. A presença abundante de gases corrosivos como o dióxido de carbono (CO2) e o

ácido sulfídrico (H2S) nessa região exigem a utilização de materiais capazes de suportar esses

efeitos por um longo tempo, dada a dificuldade de manutenção das peças aí localizadas. A

presença de grande quantidade de CO2 nos reservatórios prejudica também o escoamento.

Essa quantidade aumentada desse gás pode formar padrões de escoamento que aumentam a

perda de carga exigindo consequentemente um aumento na pressão para que esse fluido

continue a escoar normalmente pela tubulação. Com um aumento das perdas a produtividade

se reduz e há um aumento do custo de produção (COPPE, 2009).

25

A exploração da camada pré-sal vai exigir antes de tudo um investimento no setor de

pesquisa e tecnologia devido à inedicidade dessas operações, as adversidades encontradas no

local e de um conhecimento um tanto quanto escasso se comparada à exploração das demais

camadas. O início das atividades ligadas a essa região não será algo imediato, mas a

superação desses desafios é possível e estão fortemente ligados a um esforço coletivo e

multitarefa envolvendo diversos setores da sociedade acadêmica e desenvolvedora de

tecnologia (COPPE, 2009).

1.5 – Revisão do Estado da Arte

Baseada na dificuldade de perfurar novos poços, sendo que estes por ventura podem se

encontrar em ambientes hostis, e vista a necessidade de prover maior segurança para aqueles

envolvidos nesse processo, a perfuração de poços usando a técnica MPD vem sendo alvo de

inúmeros estudos e publicações na área, alguns dos quais são resumidamente apresentados a

seguir:

Martim (2006) observou que ao passo que a demanda por novos poços aumenta,

principalmente aqueles localizados em águas profundas, é necessário uma técnica

mais eficiente que reduza não só os custos do processo, em especial os

relacionados ao valor excessivo da lama de perfuração, como também mitigue

alguns problemas tais como entupimento nos dutos, perdas de circulação, etc. A

introdução da MPD, possibilita a solução desses problemas, tornando

economicamente viável perfurar poços onde anteriormente não seriam possíveis.

Nygaard et al. (2006) apresentaram um esquema de controle proporcional-

integrativo (PI) e controle preditivo não linear (NMPC) para estabilizar a BHP

(Bottomhole Pressure – Pressão de fundo) durante o processo de perfuração de

poços de petróleo. Os parâmetros do controlador PI foram estimados através do

método de Ziegler-Nichols em malha fechada. Resultados de simulações

numéricas evidenciaram que o esquema de controle manual apresentou

desempenho inferior aos esquemas de controle PI e NMPC. No entanto, no

esquema de controle PI, foi necessário re-estimar os parâmetros do controlador

quando as condições de operação se afastavam das condições originais de projeto.

26

Stamnes (2007) manifesta que o controle da pressão durante o processo de

perfuração é de extrema importância para prevenir influxo no reservatório, o que

poderia levar a um blowout e consequentemente a uma tragédia ambiental e

econômica, e resultar também na perda de vidas humanas. Além disso, controlar a

pressão na perfuração pode evitar danos à parede do reservatório e eventuais

colapsos na sonda. Com isso ele desenvolveu um observador adaptativo que pode

ser utilizado em controladores que por ventura viessem a ser desenvolvidos para

tal finalidade.

Para compensar a falta de medições contínuas da BHP durante as operações de

perfuração, Breyholtz (2008) apresenta um observador adaptativo capaz de inferir

a BHP e o coeficiente de fricção no poço. O observador é então usado no

desenvolvimento de um NMPC para manter pressão dentro de limites pré-

estabelecidos. O desempenho do observador e do NMPC são testados por

simulações usando um pacote comercial, com resultados muito promissores.

Zhou et al. (2008) apresentam um esquema de controle baseado em um

observador não-linear para estabilizar e seguir assintoticamente o perfil da BHP,

manipulando a válvula choke e a bomba de pressão reversa. Um modelo dinâmico

simples, que captura o fenômeno dominante do processo de perfuração, é usado

na implementação do observador e do controlador. O observador é desenvolvido

usando técnicas de Lyapunov, para estimar o estado não-medido. Simulações

apresentadas ilustram a efetividade do esquema de controle proposto.

Stamnes et al. (2008) desenvolvem um observador de ordem reduzida para

estimar o coeficiente de fricção, densidade e BHP de um poço durante a

perfuração. O projeto se baseia no uso de um modelo não-linear de 3ª ordem de

um sistema MPD e de uma abordagem via Lyapunov. Aplicação do observador a

dados provenientes de um poço de petróleo no Mar do Norte mostra que a pressão

estimada converge à pressão verdadeira sob condições razoáveis de operação.

Li et al. (2009) propõem um esquema controlador-estimador integrado para

controlar a BHP de um sistema de perfuração. Um estimador adaptativo rápido é

aplicado para estimar os estados não-medidos, os quais são usados no controlador

adaptativo que se adapta a perturbações e parâmetros variantes no tempo do

sistema. Simulações numéricas mostram que o controlador tem desempenho

garantido, verificando os resultados teóricos.

27

Breyholtz et al. (2009) avaliam a aplicação de um NMPC, baseado em um modelo

de ordem reduzida, na coordenação da abertura da válvula choke e das vazões da

bomba principal de lama e da bomba de pressão reversa no controle da BHP. O

desempenho do NMPC é comparado com o desempenho de um controlador PI,

sendo o desenvolvimento de ambos os sistemas de controle combinado com um

observador da pressão de fundo. Os controladores são avaliados por simulações

numéricas usando um modelo de alta fidelidade com dados de um processo de

perfuração offshore no Mar do Norte. Resultados das simulações mostram que o

NMPC melhora o controle da BHP e simplifica de forma significativa os

procedimentos para a equipe de perfuração.

Breyholtz et al. (2010a) introduzem o conceito de controle multi-camadas nas

operações MPD. O controle hierárquico é composto de três diferentes camadas:

um nível inferior de malhas independentes de controle regulatório; um nível

intermediário de controle supervisório baseado em MPC, que coordena os

diferentes controladores de malha, otimizando-os; e finalmente um nível superior

de otimização que tenta encontrar metas operacionais enquanto maximiza os

aspectos econômicos da operação. Resultados das simulações mostraram que o

controle proposto foi capaz de manter a BHP no valor desejado com pequenos

desvios durante períodos transitórios.

Breyholtz et al. (2010b) usam um MPC para controlar a BHP e a posição do

gancho de sustentação da coluna de perfuração, para evitar a ocorrência de

deslizes da coluna, manipulando a bomba de lama, a bomba submarina e a

velocidade da broca em um sistema de perfuração com gradiente dual, uma

variante MPD. Simulações realizadas em um modelo de alta fidelidade atestaram

a habilidade do controlador em manter as variáveis do processo dentro das suas

restrições operacionais, comprovando o MPC como a escolha natural para esses

tipos de sistemas.

Carvalho Neto (2010) propôs um MPC baseado em múltiplos modelos lineares

para controlar a BHP pela manipulação da válvula choke. O MPC multi-modelos

é desenvolvido em dois estágios. No estágio off-line, modelos lineares

identificados em determinados pontos de operação são usados para construir um

banco de controladores MPC sem restrições. No estágio on-line, resolve-se um

problema de otimização com restrições, combinando os controladores obtidos no

28

primeiro estágio. Simulações realizadas mostraram a efetividade e maior

desempenho do MPC proposto quando comparado ao desempenho de um MPC

convencional baseado num único modelo.

Zhou et al. (2010) desenvolveram um sistema de controle chaveado para

regulação da BHP, manipulando a válvula choke e a bomba de pressão reversa.

Um modelo matemático simples, que descreve os fenômenos dominantes do

sistema de perfuração, forma a base para o projeto do observador e do

controlador. Propriedades de estabilidade assintótica são estabelecidas e a

atenuação de kick é garantida, para um conjunto de modelos de poços, incluindo

os mais comuns. Simulações efetuadas com um simulador de alta fidelidade

mostraram a efetividade do esquema de controle proposto.

Helgestad (2010) desenvolve um modelo simplificado em estado estacionário de

um processo de perfuração o qual é usado para otimizar o processo. O objetivo da

otimização é a minimização do custo total da perfuração, incluindo as operações

ativas e não-ativas (tempo para realizar as conexões dos tubos, viagens de

perfuração etc) do processo. A razão para a separação nos modos operação do

processo é a diferença de objetivos de controle. Variáveis controladas foram

identificadas, do ponto de vista de controle auto-otimizante, para atingir a perda

mínima quando o processo está sujeito a perturbações esperadas. Finalmente, um

modelo dinâmico simplificado foi usado para simular o desempenho de uma

estrutura de controle, baseada em controladores PI, implementada para controlar a

BHP pela manipulação da bomba de pressão reversa e a válvula choke. A

estrutura de controle foi capaz cumprir os objetivos estabelecidos, mantendo a

BHP dentro de uma janela de pressão de bar.

Bellumat et al. (2011) fazem um estudo de controlabilidade de um processo de

perfuração, visando obter o melhor emparelhamento entrada/saída para o

desenvolvimento de controladores PI multi-malha. As saídas consideradas são a

BHP e a ROP, tendo como entradas manipuladas a abertura da válvula choke, a

vazão da bomba de lama, a rotação da coluna e o peso sobre a broca. O estudo

conclui que a BHP é controlada de forma mais eficiente através da manipulação

da abertura da válvula choke do que empregando a vazão da bomba de lama.

Além disso, a rotação da coluna e o peso sobre a broca apresentam a mesma

eficiência no controle da ROP.

29

Kaasa et al. (2011) propuseram um modelo simplificado, baseado na dinâmica de

fluidos, que captura as características hidráulicas dominantes de um sistema MPD.

Aplicando algoritmos de estimação de parâmetros on-line, o modelo é calibrado

automaticamente, usando medições de variáveis existentes, para alcançar um nível

de precisão adequado, comparável a um modelo mais rigoroso. Resultados são

demonstrados usando dados reais de um sistema MPD em operação no Mar do

Norte.

1.6 – Escopo do Trabalho

O corpo do presente trabalho de conclusão de curso está estruturado da seguinte forma:

Capítulo 1 – Introdução. Este capítulo apresenta uma breve explanação sobre o

processo de perfuração de poços de petróleo, as principais técnicas aplicadas, bem

como os objetivos do trabalho, a motivação para o desenvolvimento do mesmo e

uma revisão bibliográfica de trabalhos correlatos publicados na literatura.

Capítulo 2 – Perfuração com Pressão Controlada (MPD). Neste capítulo

aborda-se com maiores detalhes a técnica de perfuração com pressão controlada,

técnica que vem sendo atualmente amplamente adotada nos processos de

perfuração de poços de petróleo.

Capítulo 3 – Modelagem do Processo de Perfuração. Este capítulo apresenta

dois modelos de ordem reduzida, amplamente divulgados na literatura, que tratam

de descrever o processo de perfuração. Discute-se a escolha do modelo a ser

utilizado neste trabalho para representar o processo, assim como uma análise da

resposta dinâmica do mesmo a perturbações nas condições de operação nominal.

Capítulo 4 – Teoria de Controle Preditivo (MPC). Este capítulo trata da teoria

básica dos controladores MPC convencionais, linear (LMPC) e não-linear

(NMPC), que serão usados no desenvolvimento do sistema de controle avançado

proposto neste trabalho.

Capítulo 5 – Controle Preditivo do Processo de Perfuração. Neste capítulo são

mostrados os resultados das aplicações dos controladores LMPC e NMPC. Os

desempenhos destes controladores são discutidos e comparados, quando

submetidos a diversas condições de operação.

30

Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações. Aqui são apresentadas as conclusões

gerais do trabalho assim como algumas propostas para dar continuidade ao projeto.

31

Capítulo 2

Perfuração com Pressão Controlada

(MPD)

2.1 – Breve Histórico

Os conceitos das diversas técnicas que compõem a MPD não são exatamente novos.

Ideias iniciais surgiram no século XV, com os esboços de Leonardo da Vinci, e foram

efetivadas recentemente em 2003. O MPD é resultado da observação e evolução do processo

de perfuração partindo dos métodos tradicionais de perfuração OBD e alcançando outro

patamar na tentativa de otimizar a UBD (Tercan, 2010).

Os dispositivos RCD foram mostrados pela primeira vez em 1937 no catálogo da

Shaffer Tool Company. Essas ferramentas permitiram dar início a perfuração com fluidos

compressíveis tais como gás, ar, névoa e espuma, processo que ficou conhecido com

performance drilling (PD). Essa técnica viabilizou uma melhora nos índices de penetração,

uma maior durabilidade das brocas e permitiu a redução de custos na indústria da perfuração

(Tercan, 2010).

Algumas idéias MPD foram formalmente apresentadas nos anais do Abnormal Pressure

Symposium, realizados na Universidade do Estado da Louisiana entre os anos 1967 e 1972.

Esses simpósios visavam discutir e avaliar técnicas parar prever as pressões no fundo do poço

e gradiente de fraturamento a partir de dados disponíveis. Em 1970, houve a primeira real

tentativa de realizar uma perfuração controlada. Uma empresa de petróleo perfurou kick to

kick de forma a evitar perdas com o retorno e aumentar a taxa de perfuração, essa tentativa

ocorreu em um poço offshore no Golfo do México (Tercan, 2010).

Com o passar do tempo, o uso dos RCD’s foi aprimorado e com isso houve a

possibilidade de manipular de forma precisa o perfil da pressão hidráulica do anular. Assim,

em 2003, foi finalmente reconhecida a técnica MPD. Desde 2005, a técnica vem sendo

32

amplamente aplicada o que ocasionou o aumento de sua popularidade tanto na indústria como

na academia (Tercan, 2010).

2.2 – Definição

Segundo a IADC (International Association of Drilling Contactors), MPD é um

processo de perfuração adaptativo usado para controlar de maneira mais precisa o perfil da

pressão anular em todo o poço. Os objetivos são verificar a os limites da pressão de fundo do

ambiente e manipular o perfil da pressão hidráulica de acordo com esses limites. Isso pode

incluir o controle da pressão de retorno usando um sistema de circulação de lama fechado e

pressurizado, bomba de fundo ou qualquer outro equipamento mecânico. A MPD geralmente

evitará o fluxo para dentro do poço (Rehm et al., 2008).

A MPD pode ser adaptativa às condições propostas pelo poço. Para isso, esse método

utiliza um fluido de perfuração monofásico com o intuito de minimizar as perdas causadas

pelo atrito durante o escoamento (Rehm et al., 2008) Além disso, a técnica MPD apresenta

uma redução significativa no tempo não produtivo (NPT), o que é uma característica bastante

apreciada na indústria petrolífera, pois dessa forma pode vir a minimizar os gastos e elevar os

ganhos.

2.3 – Técnicas MPD

As principais técnicas MPD são (Rehm et al., 2008):

Pressão de fundo constante (CBHP – Constant Bottomhole Pressure) – Onde as

ações de controle são tomadas para corrigir ou reduzir o efeito da perda causada

pelo atrito durante a circulação de lama, de forma a manter a pressão dentro dos

limites impostos pela pressão de porosidade e pressão de fraturamento.

Perfuração com camada de lama pressurizada (PMCD – Pressurized Mud-cap

Drilling) – É uma técnica de perfuração sem retornos (perfuração sem riser) à

superfície e com uma coluna de fluido no anular mantida cheia, com o fluido de

perfuração juntamente com os cascalhos produzidos pelo processo, sobre a

formação, A coluna de fluido no anular requer uma pressão de superfície

33

observável para equilibrar a pressão de fundo. Essa técnica é segura com o total

retorno das perdas geradas pela perfuração. Além disso, é uma técnica viável em

áreas onde outras maneiras de perfuração que preveem as perdas não são

aplicáveis ou são mais caras. Ela pode usar água como fluido durante a

perfuração.

Gradiente dual (DG – Dual Gradiente) – Termo utilizado para as mais variadas

tentativas de controlar a pressão anular de topo através do manuseio da densidade

de circulação equivalente (ECD – Equivalente Circulating Density), em operações

de perfuração em águas profundas.

No tocante ao nível de planejamento e otimização, decisões são tomadas visando obter

valores para as variáveis como trajetória de perfuração, peso na broca, RPM da haste de

perfuração e modo de perfuração. No nível de controle, variáveis como pressão, taxa de

escoamento, densidade e viscosidade do lama são continuamente usados para fazer ajustes ou

manipular variáveis como a taxa de escoamento da bomba, válvulas choke, velocidade da

haste de perfuração entre outras baseadas em otimização em tempo real. O objetivo dessas

ações é maximizar a ROP juntamente com objetivos adicionais tais como minimizar o

desgaste da broca de perfuração, diminuir a necessidade da utilização de químicos e aditivos,

etc. Da mesma forma, otimização em tempo real assegura que um número explícito de

restrições seja satisfeito, sendo a mais crítica dessas restrições os limites de pressão

(Breyholtz et al, 2010a).

A Figura 7 representa um sistema MPD. Este sistema utiliza um dispositivo de controle

de rotação (RCD – Rotating Control Device) para selar o anular, uma válvula choke e uma

bomba de pressão reversa. A aplicação desse hardware permite ao operador controlar mais

precisamente o perfil de pressão no poço. Porém ao inserir uma instrumentação adicional

juntamente com esse hardware, o sistema torna-se mais complexo, o que dificulta ao operador

manter o processo controlado. A implementação de um sistema de controle utilizando a

válvula choke vem sendo discutida em diversos artigos (Zhou, 2008; Zhou, 2009; Zhou, 2010;

Nygaard et al. 2007a, 2007b; Kaasa et al, 2011; Stamnes et al, 2008; Breyholtz et al, 2009;

Breyholtz et al, 2010; Helgestad, 2010; Erdem, 2010; Li et al, 2009). Sua aplicação auxilia o

operador, tornando mais viável sua tarefa. A aplicação desse sistema já foi testada com

34

sucesso em algumas perfurações offshore, o que representa um avanço no controle da pressão

durante a perfuração de poços.

Figura 7 - Esquema de uma estratégia MPD

Integrar toda essa variedade de informações obtidas do sistema requer uma definição

dos níveis de abstração de cada dado obtido. Para tanto, é necessária uma definição do nível

hierárquico de cada tarefa para só assim ter uma melhor visão do processo como um todo

para, com isso, ver como a informação irá ser processado com o intuito de melhorar o

desempenho do controle. Quanto mais complexo o sistema a ser controlado, mais níveis

hierárquicos ele possui (Breyholtz et al., 2010a).

35

Capítulo 3

Modelagem do Processo de Perfuração

3.1 – Introdução

A Figura 8 ilustra o exemplo de uma sonda marítima de perfuração de um poço de

petróleo. A coluna de perfuração é presa ao top drive, um motor responsável pela rotação da

coluna, que se situa na parte superior do mastro ou derrick. A essa coluna é permitida também

uma movimentação vertical uma vez que o top drive encontra-se preso a um ganho,

permitindo que a coluna se movimente tanto para cima quanto para baixo, conforme for

necessário para penetrar a formação rochosa. Depois de aproximadamente 27 metros uma

nova seção de encanamento da coluna é conectada ao topo coluna anterior e com isso a

perfuração é retomada. Este procedimento é conhecido como conexão de tubo. Para uma taxa

regular de perfuração de 15m/h uma conexão de tubo é feita a cada duas horas (Stamnes,

2007).

Figura 8 - Exemplo de uma sonda de perfuração

36

Durante o processo de perfuração, um componente conhecido como lama de perfuração

é injetado na coluna de perfuração. A função do lama é unicamente transportar os detritos

resultantes da perfuração. Ela também é responsável pelo controle da pressão durante a

perfuração de um poço. Em técnicas convencionais o anular não é selado, isso torna o

processo menos complexo e mais barato. Porém um sistema selado e contando com uma

válvula de estrangulamento, ou válvula choke, e uma bomba de pressão reversa permite um

melhor controle de sua pressão.

O principal motivo para o controle da pressão é prevenir o kick (influxo incontrolável do

reservatório), que no pior dos casos pode causar o blowout de superfície, que em geral causa

grandes perdas financeiras, danos ao meio ambiente e possíveis perdas de vidas humanas. O

controle da pressão também é importante para prevenir o colapso do poço ou o seu

fraturamento, como também para reduzir o dano à superfície das paredes do poço. Danos à

parede do poço são causados quando o lama penetra ou entope as partes porosas do

reservatório, o que diminui a produção em estágios posteriores (Stamnes, 2007).

Na literatura existem diversos modelos matemáticos que tratam de reproduzir a

dinâmica do processo de perfuração, alguns deles rigorosos e outros mais simplificados.

Dentre destes últimos dois modelos se sobressaem, o modelo de Nygaard et al. (2006) e o

modelo de Stamnes (2007), os quais serão apresentados a seguir.

3.2 – Modelo de Nygaard

No trabalho de Nygaard et al. (2006) foram propostos dois modelos, um modelo de

ordem reduzida e outro modelo que contém um maior detalhamento dos fenômenos que

podem ocorrer no poço durante o processo de perfuração. O modelo de ordem reduzida foi

desenvolvido a partir da observação do comportamento de um fluido bifásico (líquido + gás)

de perfuração no que diz respeito à pressão de fundo.

A Figura 9 apresenta o esquema de balanço de massa de um processo de perfuração,

dividido em dois sistemas: coluna de perfuração e anular. Seguindo esta divisão, o balanço de

massa na coluna de perfuração (denotado pelo sub-índice ) é dado por:

37

Figura 9 - Balanço de massa no modelo de Nygaard

(1)

(2)

(3)

(4)

Sendo um índice, que quando substituído por faz referência à parte gasosa do

sistema e à parte líquida, os parâmetros da equação ficam da seguinte forma:

é o fluxo de massa na bomba;

é o fluxo de massa na broca de perfuração;

é a massa na coluna de perfuração.

O balanço de massa no anular (denotado pelo sub-índice ) é dado por:

(5)

(6)

(7)

(8)

onde:

38

é o fluxo de massa no reservatório;

é o fluxo de massa na saída da válvula choke;

é a massa no anular.

Além disso, é importante inserir no sistema a influência da pressão de fricção

introduzida pela velocidade do líquido. Quando gás é injetado no poço, o volume de gás se

altera da mesma forma que muda a pressão hidrostática devido à variação da densidade da

mistura. Portanto, as pressões que atuam sobre o sistema estão representadas e divididas

conforme Figura 10. Esse balanço é avaliado em dois pontos distintos, de onde são obtidas as

acelerações de massa no final da broca e no topo do anular.

Figura 10 - Balanço de pressões no modelo de Nygaard

A variação na taxa do fluxo de massa da mistura gás-líquido na coluna de perfuração

( é dependente das pressões de compressão da própria coluna ( ) e do anular

( ), da pressão hidrostática da coluna ( ) e do anular ( ), das perdas causadas pela

fricção da coluna de perfuração ( ) e do anular ( ). Assim, temos a Equação (9), sendo

que é a área seccional da coluna de perfuração.

(9)

39

(10)

Adotando como a área seccional do anular, a variação do fluxo de massa da mistura

gás-líquido na válvula choke é dada por:

(11)

(12)

Outro fator que influencia na pressão de fundo é a profundidade do poço. À medida que

essa profundidade vai se tornando cada vez maior, ocorre um acréscimo na taxa de perfuração

. Sendo assim, a profundidade, representada por , é considerada também um estado do

sistema dinâmico proposto por Nygaard et al. (2006), da forma:

(13)

(14)

Organizando as equações de balanço de massa, e definindo as entradas e saída do

sistema, o modelo de ordem reduzida pode ser descrito da seguinte forma:

(15)

(16)

(17)

Sendo o vetor contendo os sete estados de entrada do modelo, a saída, onde

representa a pressão anular de fundo (BHP), que é a variável que deverá ser controlada, e é

o vetor contendo a variável manipulada , que corresponde ao parâmetro de abertura da

válvula choke.

Quando um poço de petróleo é modelado usando a coluna de perfuração e o anular

como dois compartimentos, é assumido que o gás está uniformemente disperso no líquido.

(Nygaard et al., 2006). Assim, a densidade da mistura gás-líquido em cada parte do poço

é dada pela seguinte relação:

40

(18)

Sendo que é a massa de gás, é a massa de líquido e é o volume total no

compartimento analisado.

A porosidade do líquido na mistura ( é usada para calcular a taxa de massa do gás e

do líquido, e é dada por:

(19)

Se a velocidade é reduzida, as perdas devido à pressão de fricção são reduzidas e o gás

se expande, o que causa a fuga do líquido para fora do poço e leva o gás a ficar contido na

parte de dentro. Com isso, a taxa da massa de gás deve ser modificada para misturas com

baixa velocidade e nesse caso é dada por:

(

) (20)

Os cálculos do fluxo de massa da parte gasosa e líquida na broca e na válvula choke são

obtidos a partir do fluxo de massa da mistura e utilizando a Equação (20). Assim, os fluxos de

massa ficam da seguinte maneira:

(21)

(22)

(23)

(24)

A pressão de fundo é dada:

(25)

Sendo o fator de compressão do líquido, a densidade do gás, a constante do gás,

a massa molecular do gás, a temperatura média, a pressão atmosférica, a

41

gravidade, a profundidade do poço, o fator de fricção que ocorre entre o líquido e a parede

do poço e a velocidade da mistura, os termos que compõe a Equação (25) estão

representadas pelas equações:

(

) (26)

(27)

(28)

(

)

(29)

(

)

(30)

Os valores de e são obtidos da Equação (18), é o coeficiente de

descarga da restrição, que é a relação da taxa de fluxo de massa no final da tubulação, e é a

área de restrição, que no caso da válvula choke representa a sua abertura.

3.3 – Modelo de Stamnes

Esse modelo foi originalmente proposto por Kaasa (2007) e posteriormente

desenvolvido por Stamnes (2007). Nele é considerado um fluido de perfuração monofásico e

o poço dividido em dois compartimentos distintos, de maneira semelhante à proposta de

Nygaard et al. (2006). A Figura 11 mostra a divisão do sistema nas duas regiões, isto é a

coluna de perfuração e o anular, sendo estas conectadas pela broca de perfuração.

42

Figura 11 - Divisão do sistema proposto no modelo de Stamnes

Neste sistema, uma bomba de lama bombeia a lama de perfuração para dentro da coluna

de perfuração. Em condições normais o lama flui da bomba para a coluna de perfuração, para

a broca, e depois o anular e sai pela válvula choke. Depois da válvula choke, a lama é

reciclada e retorna ao seu reservatório. O propósito da circulação da lama de perfuração é

limpar os cascalhos e ajudar a manter o perfil de pressão correto no poço. O maior

componente é o peso hidrostático da lama, seguido da pressão da choke e por último a pressão

devido à fricção (Brill & Mukhrtjee, 1999). A Equação (31) mostra a equação em estado

estacionário para a pressão na broca de perfuração ( e seus principais componentes.

| | (31)

Sendo a densidade da lama de perfuração, a gravidade, a profundidade, a

pressão na válvula choke, o fator de fricção e o volume do fluido no anular, pode-se

perceber que modificando qualquer um desses parâmetros é possível modificar a pressão na

broca de perfuração. Porém, variar a densidade leva um tempo considerável para obter

uma resposta, pois essa alteração tem que atingir todo a lama para causar algum efeito e isso

43

demanda tempo. As formas mais rápidas de conseguir uma variação na pressão da broca são

alterando a pressão na válvula choke ( ou modificando o volume de fluido no anular ( ).

Para produzir uma alteração na pressão na choke basta modificar a sua abertura, e para

modificar o volume do fluido no anular é só alterar o fluxo na bomba de lama. Caso a choke

esteja completamente fechada, é possível modificar essa pressão controlando a bomba de

pressão reversa.

Aplicando o princípio do balanço de massa, o sistema mostrado na Figura 11 pode ser

descrito pelo seguinte conjunto de equações:

(32)

(33)

(34)

onde é a pressão na bomba de lama, é o fluxo através da broca de perfuração, é

o fluxo através da bomba de lama, é o fluxo na bomba de pressão reversa, é o

fluxo na válvula choke, é o influxo do reservatório (uma perturbação que pode ocorrer no

sistema). Os demais fatores são:

: Volume na coluna de perfuração;

: Volume no anular;

: Módulo de elasticidade da coluna de perfuração;

: Módulo de elasticidade do anular;

: Massa da coluna de perfuração;

: Massa do anular;

: Fator de fricção da coluna de perfuração;

: Fator de fricção do anular;

: densidade do anular.

e tem os seus valores obtidos por meio das Equações (35) e (36):

44

(35)

(36)

sendo a densidade média no anular, é o comprimento do anular, é a área seccional

do anular, é a densidade média na coluna, é o comprimento total da coluna de

perfuração e é a área seccional da coluna de perfuração.

O fluxo na válvula choke ( é dependente de sua abertura ( ) e de sua pressão

( ). Com isso, o fluxo é dado por:

(37)

onde é a constante de fluxo da válvula e é a pressão de saída na válvula, sendo a

abertura da válvula normalizada, i.e. .

Os fluxos na bomba de lama e na bomba de pressão reversa são dados pelas seguintes

relações:

(38)

(39)

Ambos os fluxos são dependentes da velocidade rotacional da bomba ( para a bomba

de lama e para a bomba de pressão reversa), do número de pistão de cada bomba ( e )

e do volume do golpe por pistão ( e ).

Assumindo as relações:

45

e substituindo as Equações (37), (38) e (39) nas Equações (32), (33) e (34), o modelo pode ser

descrito por:

(40)

( ) | |

| | (41)

(42)

Sendo a entrada de controle dada por:

(43)

As constantes são

;

;

;

; ;

;

; √

, , e .

A saída do modelo, que nesse caso corresponde à pressão da broca de perfuração que é

equivalente a pressão de fundo (BHP), pode ser representada por:

(

) | | (

) (44)

3.3 – Escolha do Modelo

Na avaliação dos modelos apresentados, foi observado que o modelo de Nygaard

apresenta um problema quando posto em prática o conceito de MPD. Ele é válido para um

fluido de perfuração bifásico, e com isso sua aplicabilidade melhor se adéqua ao enunciado de

UBD, onde gás é injetado ao líquido para mudar a densidade do fluido e em geral fazer com

que a pressão de fundo seja inferior à pressão da estrutura. Por isso o modelo de Stamnes, que

considera um fluido de perfuração monofásico, foi adotado no presente trabalho como a

principal ferramenta de suporte à simulação do processo de perfuração e aplicação de técnicas

MPD.

46

3.4 – Simulação em MatLab/Simulink® - Análise em Malha Aberta

Usando as Equações (40), (41), (42) e (44) e os valores dos parâmetros listados na

Tabela 1, foi possível desenvolver um simulador em ambiente MatLab/Simulink®, cujo

layout é apresentado na Figura 12. Este simulador tem como entradas o fluxo da bomba de

lama ( ) e o percentual de abertura da válvula choke ( ), e como saída a pressão da

broca ( ), que equivale à pressão anular de fundo (BHP). Além disso, é possível observar

os estados como a pressão da bomba de entrada ( ), o fluxo na broca ( ) e a pressão da

válvula choke ( ).

Tabela 1 - Parâmetros de simulação do modelo de Stamnes

Parâmetro Valor Unidade

m

-

47

Figura 12 – Implementação do modelo de Stamnes em ambiente MatLab/Simulink®

Para analisar a resposta dinâmica do processo, primeiro foi mantida constante a variável

correspondente à vazão de lama ( ) no valor de , já a variável correspondente

ao percentual de abertura da válvula choke ( ), sendo 0% totalmente fechada e 100%

totalmente aberta, e tendo como ponto de partida da simulação uma abertura de 20%, teve

esse valor variado em conforme mostrado na Figura 13.

Figura 13 – Sequência de variações na abertura da válvula choke

48

A resposta da saída BHP a variações na abertura da válvula choke é mostrada na Figura

14, onde se visualiza claramente que o fechamento da válvula choke resultou no aumento da

pressão no fundo do poço e a abertura resultou na diminuição dessa pressão. Além disso,

embora as variações na entrada sejam simétricas, a resposta é assimétrica ressaltando a grande

não-linearidade do processo.

Figura 14 - Comportamento da pressão de fundo ( ) a variações na abertura da válvula choke

A Figura 15 mostra o comportamento dos estados, pressão na bomba de lama ( ),

fluxo na broca ( ) e pressão na válvula choke ( ). Nela é possível observar o

comportamento das pressões de forma análoga ao comportamento da pressão de fundo. Se a

abertura da válvula choke for alterada, a pressão nela e a pressão na bomba de lama

acompanham inversamente essa alteração, apresentando um aumento na pressão caso ela seja

fechada e um alívio na pressão se ela for aberta. O fluxo na broca tende a responder em forma

direta à abertura da válvula, voltando a estabilizar no ponto de operação nominal.

49

Figura 15 – Resposta dos estados a variações na abertura da válvula choke

Noutro caso, a abertura da válvula choke é mantida constante em 20% e o fluxo na

bomba de lama ( ) é modificado. Essa variável de entrada é inicializada no valor de

e com o tempo sofre alterações em conforme mostrado na Figura 16.

Figura 16 – Variações na vazão da bomba de lama

A Figura 17 mostra o perfil de resposta da pressão de fundo. Nela é possível visualizar

que a pressão varia de maneira diretamente proporcional a variação do fluxo na bomba de

lama. Quando o fluxo de lama aumenta, aumenta a pressão hidrostática e, portanto, a BHP

também aumenta, e quando o fluxo de lama diminui a pressão também o acompanha.

50

Figura 17 - Comportamento da pressão de fundo a variações no fluxo da bomba de lama

A Figura 18 mostra o comportamento dos estados, pressão da bomba de entrada ( ),

fluxo na broca ( ) e pressão da válvula choke ( ), respectivamente. Neste caso, os três

estados se comportam de maneira semelhante à BHP, sendo também diretamente

proporcionais à variação do fluxo na bomba de lama. Isto é, o aumento (diminuição) de fluxo

de lama no sistema, aumenta (diminui) a pressão hidrostática que aumenta (diminui) as

pressões e a vazão na broca.

Figura 18 - Resposta dos estados a variações no fluxo de lama

51

Outras respostas analisadas foram a influencia de perturbações. Enquanto a vazão da

bomba de lama e a abertura da válvula choke foram mantidos constantes nos seus

estados estacionários, ou seja, e respectivamente, foram simulados variações

no influxo no reservatório ( ) e variações na vazão da bomba de pressão reversa ( .

Nas simulações anteriores, estas variáveis permaneceriam em seu valor estacionário

mostrados na Tabela 1.

A primeira perturbação simulada consistiu em variações no influxo no reservatório .

Nesse caso, seu valor estacionário foi modificado em de seu valor inicial, conforme

mostra a Figura 19.

Figura 19 – Sequência de variações na vazão do influxo

O comportamento da pressão de fundo é apresentado na Figura 20. É possível

observar que uma modificação no valor de gera uma variação diretamente proporcional

na pressão de fundo. Essa tendência se repete nos estados mostrados na Figura 21 com

exceção do comportamento da vazão na broca de perfuração . Como a vazão na broca de

perfuração está intimamente ligada com o valor de é ela quem sofre uma alteração

inversamente proporcional a essa modificação do influxo.

52

Figura 20 - Comportamento da pressão de fundo a variações na vazão do influxo

Figura 21 - Resposta dos estados a variações na vazão do influxo

A segunda perturbação analisada é a influência de mudanças na vazão da bomba de

pressão reversa . Neste caso seu valor estacionário foi modificado em de seu

valor inicial, conforme mostrado na Figura 22. O perfil do comportamento da pressão de

fundo é apresentado na Figura 23. É possível observar que uma modificação no valor de

também gera uma variação diretamente proporcional na pressão de fundo. Os estados,

representados na Figura 24, se comportam de maneira semelhante com exceção da vazão na

broca de perfuração . Isso acontece graças à influência que a pressão na válvula choke

tem sobre o fluxo na broca . Nesse caso como ocorre o aumento da pressão na choke há

uma diminuição no valor de e vice-versa.

53

Figura 22 – Sequência de variações na vazão da bomba de pressão reversa

Figura 23 – Resposta da pressão de fundo à variações na vazão da bomba de pressão reversa

Figura 24 – Respostas dos estados a variações na vazão da bomba de pressão reversa

54

Capítulo 4

Teoria de Controle Preditivo (MPC)

4.1 – Introdução

O termo “controle preditivo” (MPC) ou “controle preditivo baseado em modelo”

(MBPC) se refere a uma classe de algoritmos de controle avançado que controla a resposta

futura de uma planta através do uso de um modelo explícito do processo. Em cada instante de

amostragem, o MPC soluciona on-line um problema LQ (linear quadrático) de horizonte

finito, usando o estado atual da planta como estado inicial. O resultado da otimização gera

uma sequência de controle ótimo, que é aplicada de acordo com a filosofia do controle de

horizonte móvel (moving horizon control ou receding horizon control, RHC), fornecendo ao

controlador as características de realimentação desejadas (Sotomayor, 2002).

O MPC não é uma estratégia de controle específica, mas é o nome dado a um conjunto

de métodos de controle que foram desenvolvidos considerando algumas ideias comuns

baseadas no conceito de predição. O modelo de predição é provavelmente o elemento mais

importante dentro do controlador dado que ele deve ser capaz de representar adequadamente a

dinâmica do processo para permitir o cálculo das predições de sua saída, ser intuitivo e ao

mesmo tempo permitir uma análise teórica do sistema (Plucenio et al., 2007).

O MPC surgiu da necessidade prática de lidar com problemas multivariáveis, pois os

controladores convencionais de malha simples foram incapazes de satisfazer os requerimentos

crescentes do desempenho das indústrias. As idéias do MPC tiveram início a partir de 1960

(Garcia et al., 1989), porém, o real interesse neste campo começou a crescer a partir de 1980,

depois da publicação dos primeiros trabalhos sobre o MPHC (model predictive heuristic

control) e o DMC (dynamic matrix control), e particularmente, depois do QDMC (quadratic

dynamic matrix control), que ficaram muito populares na indústria petroquímica e nas

estações de força. Desde essa época, têm surgido novas variantes do MPC. Sem entrar em

detalhes, alguns dos algoritmos MPC são: MAC (model algorithm control), IMC (internal

model control), GPC (generalized predictive control), MOCCA (multivariable, optimal,

55

constrained control algorithm), HIECON (hierarchical constraint control), PFC (predictive

funtional control), OPC (optimum predictive control), PCT (predictive control technology), e

o mais recente RMPCT (robust model predictive control technology). Apesar da enorme

quantidade de abreviações introduzidas, não existem muitas diferenças entre estes algoritmos.

Tipicamente, estes algoritmos diferem no modelo do processo usado, tais como modelos de

parâmetros de Markov (resposta ao impulso), resposta ao degrau, função de transferência,

modelos polinomiais, modelos em espaço de estados, perturbações (constantes, retardos, ruído

branco, etc) e adaptação (Sotomayor, 2002).

Desde 1990, a teoria de controle MPC tem evoluído substancialmente. Questões

teóricas e práticas são tratadas em vários livros (Maciejowski, 2001), (Morari et al., 2002) e

centenas de artigos. Um excelente ponto de partida é o artigo de Qin e Badgwell (1997), que

apresenta uma breve história e comparações de algoritmos MPC, reportando mais de 2200

aplicações industriais. Morari e Lee (1999) discutem o passado, o presente e o futuro do

MPC, enquanto que Rawlings (2000) mostra uma visão geral desta tecnologia. Mayne et al.

(2000) e Löfberg (2001) tratam de otimização, estabilidade e robustez do MPC. No mais

recente trabalho, Nicolaou (2001) trata dos últimos desenvolvimentos do MPC, e discute as

implicações para o futuro da teoria e prática deste controle (Sotomayor, 2002).

Mesmo com o aparecimento de algoritmos MPC não-lineares (NMPC) (Henson, 1998),

(Qin e Badgwell, 2000), a geração corrente de algoritmos MPC comercialmente disponíveis

são baseados em modelos lineares (LMPC, ou simplesmente MPC). Mais ainda, atualmente,

na literatura de pesquisa, o MPC é quase sempre formulado em espaço de estados (Morari e

Lee, 1999). Isto tem simplificado, unificado e generalizado a teoria, incluindo fácil extensão a

sistemas multivariáveis, fácil análise das propriedades em malha fechada e cálculo on-line

(Sotomayor, 2002). As principais vantagens do LMPC estão vinculadas as facilidades de

obtenção de modelos lineares, se comparados aos não lineares, e as menores dificuldades para

se resolver os problemas de otimização associados. Porém, quando os processos têm dinâmica

muito não linear ou quando a faixa de operação é variável, então necessariamente deverá ser

tomado em conta o modelo não linear no projeto do controle, de forma que permita manter o

desempenho desejado para o sistema em malha fechada (Plucenio et al., 2007).

A Figura 25 ilustra a implementação básica de todos os algoritmos de controle MPC.

56

Figura 25 - Esquema de implementação dos algoritmos MPC

No instante de tempo atual usualmente definido como o instante k , o comportamento

do processo ao longo de um horizonte de tempo é considerado. O intervalo de tempo é

conhecido como horizonte de predição. Utilizando um modelo do processo, as respostas deste

processo às mudanças nas variáveis manipuladas são previstas. As ações das variáveis

manipuladas são selecionadas de tal forma que a resposta prevista apresenta determinadas

características que sejam desejáveis. As ações de controle podem variar apenas dentro de um

horizonte conhecido como horizonte de controle. De forma geral, minimiza-se um

critério de desempenho desejado sujeito à dinâmica do modelo e às possíveis restrições nas

variáveis de entrada/saída. Apenas a primeira ação de controle calculada é de fato

implementada no processo real. As variáveis controladas da planta são então medidas. No

próximo instante de amostragem, isto é, em k 1, o mesmo problema de otimização é

resolvido com a nova condição inicial obtida mediante informação tirada das medidas da

planta em k 1 (é desta maneira que se introduz retroalimentação ou feedback no

controlador) e com o horizonte movido adiante por um intervalo de amostragem (Qin e

Badgwell, 2003).

A estrutura inerente a todos os algoritmos MPC é ilustrada na Figura 26, onde o

controlador é também chamado de otimizador.

57

Figura 26 - Estrutura de um sistema de controle MPC

4.2 – LMPC Convencional - O Controlador QDMC

Os primeiros controladores aplicados na indústria no início dos anos 70 utilizavam a

estratégia MPC sem restrições também conhecido como DMC1, que usavam um modelo de

convolução linear de resposta ao degrau e geração da sequência de controle por otimização

analítica. Porém, com o aparecimento de restrições presentes nos processos que necessitavam

a sua inclusão no desenvolvimento do controlador, foi necessária uma evolução do algoritmo

de controle. A otimização neste caso passou a ser numérica e a solução do problema convexo

DMC por meio de programação quadrática (QP) deu origem ao QDMC, proposto por Garcia e

Morshedi (1986).

O QDMC usa as mesmas equações de predição do DMC, ou seja:

euAe (45)

1 A síntese do desenvolvimento do DMC pode ser encontrada no Apêndice A deste trabalho.

58

onde:

- é o vetor de erros entre os valores previstos e o valor desejado.

- é o vetor de erros entre o valor desejado e os valores previstos se não houver

nenhuma ação de controle futura (sistema em malha aberta).

- é a matriz dinâmica.

Considerando a seguinte função objetivo:

uRRu2

1WeWe

2

1 TTTT (46)

sendo que:

- é a matriz de fatores de supressão que atenua as variações das ações de controle

- é a matriz diagonal de ponderação onde os valores da diagonal principal são

proporcionais à importância da variável controlada

Substituindo a Equação (45) na Equação (46), temos:

uRRu2

1euAWWeuA

2

1 TTTT ´´ (47)

´´´ WeWe2

1uWAWeuRRWAWAu

2

1 TTTTTTTT (48)

Como o último termo do segundo membro, não depende da variável de interesse u , a

função objetivo do controlador pode ser escrita como:

ucuHu TT

u

2

1min (49)

onde:

59

RRWAWAH TTT (50)

WAWec TTT ´ (51)

Ao problema definido na Equação (49) podemos incluir as restrições nas variáveis

manipuladas e controladas:

1. Nos incrementos das manipuladas: maxmax uuu

ou seja:

1a) maxuu ou max. uuImNm

1b) maxuu ou max. uuImNm

As condições 1a) e 1b) podem ser resumidas em:

max

max

.

.

u

uu

I

I

m

m

Nm

Nm (52)

2. Nos valores das manipuladas: maxmin uuu

Como:

1

1

1

1

1

1

1 0

00

k

k

k

mk

k

k

NNN

NN

N

mk

k

k

u

u

u

u

u

u

III

II

I

u

u

u

u

mmm

mm

m

ou

60

1 kuuNu

Portanto:

2a) maxuu equivale a 1max kuuuN

2b) minuu equivale a min1 uuuN k

Daí as condições 2a) e 2b) podem ser resumidas em:

min1

1max

uu

uuu

N

N

k

k (53)

Resumindo, o problema de otimização que o QDMC resolve tem a função objetivo

definida na Equação (49) e as restrições representadas pelas Equações (52) e (53). É fácil

observar que a função objetivo é quadrática em u e as restrições são todas lineares. Esse

tipo de problema é clássico dentro da área otimização e é conhecido como o problema de

programação quadrática (PQ). Do resultado da otimização, só a primeira ação de controle do

vetor u é usado na planta.

4.3 – NMPC Convencional

Embora os processos industriais sejam em geral não-lineares, a maior parte das

aplicações MPC são baseadas no uso de modelos lineares. Existem duas principais razões

para isso: por um lado, a identificação de um modelo linear baseado nos dados do processo é

relativamente fácil e, por outro lado, modelos lineares produzem bons resultados quando a

planta opera na vizinhança do ponto de operação. Nas indústrias de processos, onde o LMPC

é amplamente difundido, o objetivo é manter o processo próximo ao estado estacionário ao

invés de mudar frequentemente de um ponto de operação para outro, e, por isso, um modelo

linear preciso é suficiente. Além disso, o uso de um modelo linear em conjunto com função

objetivo quadrática leva a um problema QP que converge e cuja solução é implementada em

diversos produtos comerciais disponíveis. A existência de algoritmos que garantem uma

solução convergente em um período mais curto que o período de amostragem é crucial em

processos com grande número de variáveis (Camacho et al., 2005).

61

Entretanto, a resposta dinâmica resultante de um controlador linear é inaceitável quando

aplicada ao um processo não-linear com vários graus de severidade. Embora em muitas

situações o processo possa estar operando na vizinhança do estado estacionário, e com isso a

representação linear seria adequada, existem diversas situações onde isso não ocorre. Por um

lado, há processos onde a não linearidade é tão severa (até mesmo na proximidade do estado

estacionário), e tão crucial para a estabilidade em malha fechada, que um modelo linear não é

suficiente. Por outro lado, há alguns processos que experimentam transições contínuas

(partidas, desligamentos, etc.) e passam um bom tempo longe da região de operação no estado

estacionário, ou até mesmo processos que nunca estão em operação no estado estacionário,

como no caso dos fornos, onde toda a operação é levada no modo transiente. Para esses

processos uma lei de controle linear não será muito eficiente, sendo os controladores não-

lineares essenciais para melhorar a performance ou estabilizar a operação (Camacho et al.,

2005).

Do ponto de vista conceitual o NMPC não apresenta dificuldades. Considerando a

mesma função objetivo que no caso linear e um modelo não-linear para o cálculo das

predições, o objetivo consiste novamente em encontrar o controle que minimize a função

objetivo num algoritmo de horizonte móvel. Já, do ponto de vista prático, são várias as

dificuldades encontradas neste problema (se comparado ao caso linear): (a) a determinação do

modelo do processo, quando deve ser obtido por identificação, (b) a obtenção do sinal de

controle requer, em geral, a solução de um problema otimização não-convexo, e (c) a análise

de estabilidade e robustez da solução. Por estes motivos o NMPC é um campo aberto para

pesquisas tanto na área de determinação de modelos como nos procedimentos e algoritmos de

otimização para o cálculo do controle (Plucenio et al., 2007).

Existe uma grande quantidade de técnicas MPC que direta ou indiretamente tratam

sistemas não-lineares (Findeisen & Allgöwer, 2002). Uma possível classificação destas

técnicas as divide em 3 grupos: (a) as que utilizam diretamente um modelo não-linear

genérico e um algoritmo de otimização não-linear de propósito geral; (b) as que utilizam

modelos não-lineares particulares (como séries de Volterra ou modelos de Hammerstein) e

métodos de otimização específicos para o modelo escolhido; (c) as que utilizam um ou vários

modelos lineares para representar o processo e algoritmos de otimização lineares.

62

Evidentemente as vantagens e desvantagens de uma ou outra alternativa estão diretamente

relacionadas ao compromisso desempenho-custo computacional (Plucenio et al., 2007).

Definido o modelo não linear que será utilizado no controlador, é hora de montar o

algoritmo de controle. No presente trabalho, adotou-se a técnica do grupo (a), onde é utilizado

um modelo não-linear geral do processo e um algoritmo de otimização de propósito geral.

Uma versão simplificada deste algoritmo NMPC foi desenvolvida por Qin & Badgwell

(2000), a qual é apresentada a seguir.

Levando em consideração que a planta a ser controlada pode ser descrita pelo modelo

em espaço de estados, não-linear e discreto no tempo definido pelas seguintes equações:

(54)

(55)

onde é um vetor de entradas do processo ou variáveis manipuladas,

é um vetor de saídas do processo ou variáveis controladas, é o vetor de

variáveis de estado, é o vetor de variáveis de perturbações medidas,

é um vetor de perturbações não medidas ou ruído, e é o vetor de ruído.

Para resolver o problema de controle é necessário resolver computacionalmente uma

sequência de entradas que levarão o processo do seu estado atual para o estado desejado

. Perturbações feedfoward são removidas incorporando seus efeitos ao modelo .

Perturbações feedback são tipicamente manuseadas assumindo que uma perturbação em

degrau foi colocado na saída e ela permanecerá constante por todo o tempo futuro. Para

alcançar isso, um termo que compara a saída prevista atual com a atual medida da saída

é dado por:

(56)

sendo que o termo será utilizado para as predições subseqüentes, da forma:

( ) (57)

63

O algoritmo de controle aqui descrito minimiza a seguinte função:

∑ ‖

∑ ‖ ‖

(58)

sujeita às seguintes restrições:

( ) (59)

( ) (60)

(61)

(62)

Sendo o horizonte de predição e o horizonte de controle, o comportamento das

futuras saídas é controlado penalizando os desvios do estado estacionário desejado , ou seja,

ela verifica o valor atual e o valor desejado e calcula o erro

representado por:

(63)

O termo corresponde às variações na entrada, representa a entrada num

determinado instante , sendo que nesse caso, varia de acordo com o horizonte de

controle . As matrizes e são as matrizes de peso, elas definem os ganhos que serão

atribuídos a cada variável controlada e manipulada, ou seja, é possível atribuir uma

“importância” a cada saída ou entrada e dessa forma ajustar o controlador parar funcionar de

maneira mais próxima à desejada.

Do ponto de vista prático a principal vantagem desse método reside no uso de um

modelo não linear, que permite em geral, obter predições muito próximas às saídas reais da

planta. Como desvantagens devem citar-se as questões iterativas dos métodos de otimização,

a incerteza no tempo que levam para entregar uma resposta, a convergência, as soluções em

mínimos locais, etc. que fazem com que sua utilização para controle em tempo real seja ainda

pouco difundida (Plucenio et al., 2007).

64

Capítulo 5

Controle Preditivo do Processo de

Perfuração

5.1 – Introdução

Neste capítulo são apresentados os resultados das simulações da aplicação do sistema de

controle avançado no processo de perfuração, cujo layout em ambiente MatLab/Simulink® é

mostrado na Figura 27. Dois sistemas de controle avançado são implementados: um baseado

no LMPC e outro no NMPC, apresentados no capítulo anterior. O objetivo é analisar o

comportamento de ambos os sistemas, bem como tecer comparações acerca de seus

desempenhos quando submetidos a diversas variações nas condições de operação. Seguindo a

estratégia proposta por Breyholtz et al. (2009), aqui a BHP ( ) é controlada pela

manipulação da vazão da bomba de lama ( ) e da abertura da válvula choke

( ). A vazão de influxo do reservatório ( ) e a vazão da bomba de pressão reversa

( são consideradas como perturbações.

Figura 27 – Controle MPC da coluna de perfuração

65

5.1 – Controle LMPC do Processo de Perfuração

A implementação do LMPC usa um modelo linear do processo, em forma de matriz de

funções de transferência, como mostrado na Tabela 2, para predição e os parâmetros de

sintonia listados na Tabela 3. As funções de transferência foram obtidas pela aplicação do

teste de resposta ao degrau no sistema em malha aberta. Os parâmetros de sintonia do

controlador foram definidos após extensivas simulações, usando algumas regras heurísticas da

literatura e o procedimento da tentativa e erro.

Tabela 2 - Funções de transferência do modelo linear

Tabela 3 - Parâmetros de sintonia do controlador LMPC

Parâmetro Descrição Valor

Tempo de amostragem 0,5 s

N Horizonte do modelo 400

Número de saídas 1

Número de entradas 2

Horizonte de predição (otimização) 20

Horizonte de controle 2

Limite mínimo das entradas [0 0]

Limite máximo das entradas [0,03 1]

Incremento máximo das entradas [0,001 0,01]

Fator de ponderação da saída 1

Fator de supressão das entradas [1000 200]

A resposta do processo a mudanças no ponto de operação é mostrada na Figura 28. Na

primeira mudança de setpoint, e após uma oscilação moderada, o sistema demora para

estabilizar aproximadamente 65 s. Já na segunda e terceira mudança de setpoint, o sistema

estabiliza em 25s e 15s, respectivamente, com um pequeno sobressinal na segunda mudança.

66

A Figura 29 mostra a coordenação das variáveis manipuladas para atingir o ponto de operação

desejado.

Figura 28 – Resposta da pressão de fundo com LMPC a variações no setpoint

Figura 29 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variações no setpoint

Influência da variação de influxo do reservatório é apresentada na Figura 30. Neste

caso, o valor de é alterado de para , no tempo t = 100 s. Como

pode ser observado, depois de um aumento da BHP, esta não volta a seu ponto de operação,

exibindo um offset com respeito ao setpoint. Esta falta de controle pode ser explicada pela

saturação das duas variáveis manipuladas, conforme mostrado na Figura 31.

67

Figura 30 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a variação na vazão de influxo do reservatório

Figura 31 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variação na vazão de influxo do reservatório

Efeito da variação da vazão da bomba de pressão reversa é mostrado na Figura 32. Esta

perturbação acontece no tempo t = 100s, quando a vazão muda de e para

, provocando um pico positivo considerável no valor da pressão que estabiliza no

ponto de operação nominal depois de aproximadamente 100 s. As variações das variáveis

manipuladas para compensar a perturbação são mostradas na Figura 33, exigindo um aumento

da abertura da válvula choke e a diminuição quase total da vazão de lama de perfuração.

68

Figura 32 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a variação na vazão da bomba de pressão reversa

Figura 33 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a variação na vazão da bomba de pressão reversa

Finalmente, verifica-se a resposta do processo a uma perda de efetividade do controle,

provocada por um travamento da válvula choke em 25% da sua abertura, ocorrendo no tempo

t = 100 s. Este aumento repentino e sustentado da abertura da válvula choke produz o

decaimento da pressão, como mostrado na Figura 34. O controlador consegue acomodar esta

falha em aproximadamente 30 s, aumentando a vazão de lama conforme visto na Figura 35.

69

Figura 34 - Resposta da pressão de fundo com LMPC a perda de controle da válvula choke

Figura 35 - Comportamento das variáveis manipuladas com LMPC a perda de controle da válvula choke

5.3 – Controle NMPC do Processo de Perfuração

A implementação do NMPC usa o mesmo modelo não-linear que descreve o processo

para predição da saída e os parâmetros de sintonia listados na Tabela 4. De maneira

semelhante ao caso linear, os parâmetros de sintonia do controlador foram definidos após

extensivas simulações, usando algumas regras heurísticas da literatura e o procedimento da

tentativa e erro. Para efeitos de comparação de desempenho do NMPC com o LMPC, foram

praticadas as mesmas variações nas condições de operação que no caso linear, apresentadas

na seção 5.2.

70

Tabela 4 - Parâmetros de sintonia do controlador NMPC

Parâmetro Descrição Valor

Tempo de amostragem 0,5 s

Números de saídas 1

Número de entradas 2

Horizonte de predição (otimização) 10

Horizonte de controle 1

Limite mínimo das entradas [0 0]

Limite máximo das entradas [0,03 1]

Fator de ponderação da saída 1

R Fator de supressão das entradas [200 200]

A resposta do processo a uma sequência de mudanças no setpoint é mostrada na Figura

36. Na primeira mudança de setpoint, o sistema atinge, sem oscilações, o novo ponto de

operação em 25s e aí permanece. Na segunda mudança de setpoint o acompanhamento é

quase que imediato, estabilizando em 3s, e na terceira mudança, o sistema alcança o novo

ponto de operação em aproximadamente 13s. O comportamento das variáveis manipuladas é

mostrado na Figura 37. Há uma oscilação brusca em , principalmente na segunda

variação de setpoint, mas em geral as respostas das variáveis manipuladas foram rápidas, o

que permitiu que o processo alcance rapidamente os novos pontos de operação sem

oscilações.

Figura 36 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variações no setpoint

71

Figura 37 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variações no setpoint

A Figura 38 apresenta o perfil de resposta da BHP a uma variação no influxo do

reservatório. Diferente do caso linear, esta perturbação provoca uma diminuição acentuada da

pressão de fundo, mas que se recupera rapidamente, voltando ao setpoint em

aproximadamente 10s. A Figura 39 mostra o comportamento das variáveis manipuladas para

contornar os efeitos desta perturbação.

Figura 38 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variação na vazão de influxo do reservatório

72

Figura 39 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variação na vazão de influxo do reservatório

Ação regulatória do sistema a uma variação da vazão da bomba de pressão reversa é

mostrada na Figura 40. Como pode ser visualizado, o controle compensa perfeitamente a

perturbação, não mostrando nenhuma alteração na BHP. Para conseguir este objetivo, o

controlador aumenta a abertura da válvula choke, mantendo constante a vazão de lama

conforme ilustrado na Figura 41.

Figura 40 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a variação na vazão da bomba de pressão reversa

73

Figura 41 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a variação na vazão da bomba de pressão reversa

Como último caso de avaliação, consideramos a válvula choke presa em 25% de

abertura. Da Figura 42, pode-se observar que a falha provoca uma queda repentina da pressão,

porém de magnitude menor que se comparada ao caso linear, que é acomodada em

aproximadamente 13s. O controlar compensa a perda da efetividade de controle da válvula

choke com o aumento rápido da vazão de lama de perfuração, como mostrada na Figura 43.

Figura 42 - Resposta da pressão de fundo com NMPC a perda de controle da válvula choke

74

Figura 43 - Comportamento das variáveis manipuladas com NMPC a perda de controle da válvula choke

5.4 – Discussão de Resultados

Foram realizadas simulações equivalentes em ambos os controladores, a primeira diz

respeito a variação do setpoint. Nesse caso é possível observar a rapidez com que o

controlador LMPC responde se comparado ao NMPC. Um exemplo disso é que para a

primeira entrada de um degrau positivo no sistema o LMPC demora apenas 25 segundos para

efetivamente controlar o processo já o NMPC demora cerca de 65 segundos.

Mediante a ocorrência de um aumento na vazão do influxo do reservatório, o NMPC

sofre uma alteração mais brusca em sua saída, porém rapidamente compensada, levando a

pressão de fundo novamente ao valor desejado. O mesmo não ocorre no LMPC. Nesse caso a

variação da saída é um pouco mais branda, mas o controlador após a ocorrência dessa

perturbação não consegue levar a saída ao valor desejado.

Quando alterada a vazão da bomba de pressão reversa novamente o NMPC possui

uma melhor resposta, pois mesmo com a inserção dessa perturbação a saída não foi afetada,

graças à rápida ação das variáveis manipuladas. Já a saída do LMPC sofreu uma modificação

que resultou em uma demora do sistema a controlar a pressão de fundo novamente.

Ao simular um problema na válvula choke, nesse caso seu travamento em um

determinado valor, o tempo de resposta de ambos os controladores foram bem próximos,

75

ficando a diferença entre eles a variação que ocorreu na saída do controlador. O NMPC teve

uma variação ligeiramente menor que o LMPC.

Ao serem realizadas as devidas comparações de desempenho dos sistemas de controle

avançado, foi possível notar a superioridade do NMPC quando comparado ao LMPC. Nas

simulações realizadas, o controlador NMPC obteve um comportamento mais suave da saída e

mesmo nos momentos em que houve a presença de variações e perturbações, as variáveis

manipuladas, nesse caso a bomba de entrada de lama e a válvula choke, não apresentaram

oscilações que pudessem prejudicar o desempenho do sistema ao longo de sua utilização.

O fato de algoritmo NMPC responder de forma rápida resulta inclusive em uma

diferença entre as repostas quando é inserida no sistema a ocorrência de um influxo sob a

forma da variável . De acordo com o modelo (Figuras 19 e 20) quando o valor do influxo

aumenta, a pressão de fundo deveria aumentar. Esse evento pode ser observado nas

Figuras 30 e 31 que representam essa variação no controlador linear (LMPC). Porém, no

controlador não linear (NMPC), as Figuras 38 e 39 mostram que isso não ocorre.

Esse fenômeno se deve ao fato de que como o esse controlador possui duas entradas e

uma saída, e seu grau de liberdade é positivo, podem, nesse sistema, ocorrer variações quanto

ao comportamento das entradas. E como nesse caso, o controlador responde de maneira muito

rápida ele gera distúrbios nos comportamentos das variáveis de entrada e consequentemente

retorna a resposta mostrada na Figura 38.

76

Capítulo 6

Conclusões e Recomendações

6.1 – Conclusões

É de extrema importância durante o processo de perfuração ter controle sobre a pressão

de fundo do poço a ser perfurado, tanto para evitar acidentes que possam vir a causar perdas

de vidas humanas, ambientais e financeiras quanto para minimizar o desperdício da lama de

perfuração, que é quem encarece o processo como um todo, e diminuir o tempo em que a

sonda passa não operante. Esse trabalho teve como objetivo estudar algumas técnicas de

controle avançado aplicadas a perfuração de poços de petróleo.

No desenvolvimento e implementação do modelo da coluna de perfuração, dois

modelos foram estudados, porém vista a necessidade de um fluido monofásico imposta pelo

MPD, o modelo de Nygaard (2006) foi descartado e foi utilizado como base das

implementações o modelo de Stamnes (2007). As simulações realizadas em malha aberta

condizem com o esperado de um sistema real.

No tocante as técnicas de controle, dois controladores foram implementados. O primeiro

foi baseado em um modelo linearizado da coluna de perfuração resultando em um algoritmo

de controle LMPC. Já o segundo controlador, um NMPC, foi obtido a partir de um modelo

não linear do processo. Para efeitos de comparação, foram realizadas as mesmas simulações

em ambos os controladores. Ao longo do trabalho foi possível visualizar a superioridade do

algoritmo NMPC, algoritmo esse que resultou em respostas mais rápidas e um controle mais

suave com poucas penalizações aos componentes manipulados do sistema, o que, para o caso

do processo de perfuração, é algo bastante útil visto que uma demora em controlar a pressão

pode resultar em acidentes que possam a levar a perdas financeiras, ecológicas e até humanas.

A utilização de algoritmos LMPC é mais difundida no mercado, mas isso não significa

que algoritmos NMPC sofrem de deméritos, sua aplicação é mais escassa devido à dificuldade

77

intrínseca a um processo não linear. Porém como visto nesse trabalho é possível implementar

um controlador NMPC de maneira relativamente simples e cujos resultados são satisfatórios

e, como nesse caso, superiores àqueles obtidos com a utilização de algoritmos LMPC.

6.2 – Trabalho Futuros

A vertente dos controladores NMPC vem ganhando espaço diante as publicações

acadêmicas e científicas. Os algoritmos de controle não-linear são ferramentas poderosas na

manutenção e controle de processos industriais dos mais variados graus de complexidade.

Com isso a continuidade do estudo desse tipo de controle é válida principalmente quando

aplicada a setores cuja exploração tende a crescer como no caso da indústria de petróleo e

mais especificamente no processo de perfuração de poços.

Como trabalho futuros, recomenda-se usar modelos mais rigorosos de processos de

perfuração, visto que os contidos nesse trabalho são modelos de ordem reduzida de

parâmetros concentrados. Outra sugestão é a avaliação dos controladores sujeita a variações

nos parâmetros do processo, como densidade do lama de perfuração, ou que levem em

consideração outras variáveis manipuladas, como a bomba de pressão reversa, ou outras

variáveis controladas como a ROP. Além disso, os controladores avançados LMPC e NMPC

aqui testados, podem ser implementados como sendo parte de uma estrutura de controle

hierárquica, conforme proposto em Breyholtz (2010a). Estruturas de controle hierárquico são

comumente adotadas para controlar plantas completas, não só relacionadas à indústria do

petróleo, como também em setores da indústria em geral, cujos processos são dotadas de uma

certa complexidade.

78

Referências Bibliográficas

Alberta Energy and Utilities Board (1994). ID 94-3: Underbalanced drilling. Technical

Report. Alberta, Canadá.

Bellumat, E.; Perezynski, W. C.; Araújo, N. F.; Freitas, M. G.; Veja, M. P. (2011).

Controle de pressão anular de fundo e da taxa de penetração durante a perfuração de poços de

petróleo. In: Anais do IX Congresso Brasileiro de Engenharia Química – Iniciação Científica

(COBEQ-IC 2009), Maringá, Brasil.

Breyholtz, Ø. (2008). Nonlinear model predictive pressure control during drilling

operations. Master Thesis. Norwegian University of Science and Technology. Noruega.

Breyholtz, Ø.; Nygaard, G.; Godhavn, J. M.; Vefring, E. H. (2009). Evaluating control

designs for co-ordinating pump rates and choke valve during managed pressure drilling

operations. In: Proceeding of the IEEE Multi-conference on Systems and Control (MSC

2009), São Petersburgo, Rússia.

Breyholtz, Ø.; Nygaard, G.; Siahaan, H.; Nikolaou, M. (2010a). Managed pressure

drilling: a multi-level control approach. In Proceeding of SPE Intelligent Energy Conference

and Exhibition, Utrecht, Holanda.

Breyholtz, Ø.; Nygaard, G.; Nikolaou, M. (2010b). Automatic control of managed

pressure drilling. In: Proceeding of the 2010 American Control Conference (ACC’2010),

Baltimore, USA.

Camacho, E. F; Bordons, C. (2005). Nonlinear model preditive control: an

introductory review. In: International Workshop on Assessment and Future Directions of

Nonlinear Model Predictive Control (NMPC05), Freudenstadt-Lauterbad, Germany.

79

Carvalho Neto, H. S. (2010). Controle preditivo multi-modelos da pressão anular de

fundo na perfuração de poços de petróleo. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade

Federal de Sergipe.

Coker, I. (2004). Managed pressure drilling applications index. In: Proceeding of the

Offshore Technology Conference, Houston, USA.

Como foi formada a camada do pré-sal. Disponível em:

<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-foi-formada-a-camada-do-presal>

Acessado em: 05/09/2010.

COPPE (2009). Corrida para o mar: os desafios tecnológicos e ambientais do pré-sal.

UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.

Deepwater Horizon. Disponível em <http://deepwaterhorizon.com/>. Acessado em:

18/09/2011.

Elliot, D.; Montilva, J.; Francis, P.; Reistman, D.; Shelton, J.; Roes, V. (2011).

Managed pressure drilling erases the lines. Oilfield Review, 23(1):14-23.

Entenda o que é a camada pré-sal. Disponível em

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/cult91u440468.shtml> Acessado em:

05/09/2010

Fraga, C.T.C. (2008). O pré-sal e seus desafios. Audiência Pública no Senado Federal,

Brasília, Brasil.

Findeisen, R; Allgöwer, F. (2002). An Introduction to nonlinear model predictive

control. In: Proceedings of the 21st Benelux Meeting on Systems and Control, Veldhoven,

Holanda.

Garcia, C. E; Morshedi, A. M. (1986). Quadratic programming solution of dynamic

matrix control (QDMC). Chemical Engineering Communications, 46(1-3):73-87.

80

Helgestad, D.-E. (2010). The drilling process: a plantwide control approach. Master

Thesis, Norwegian University of Science and Technology, Noruega.

Henson, M.E. (1998). Nonlinear model predictive control: current status and future

directions. Computers and Chemical Engineering, 23(2):187-202.

Hydro. (2007). Technology outlook 2007 - efficient well construction. Technical

report, Hydro.

Kaasa, G.-O. (2007). A simple dynamic model of drilling for control. Technical

Report, Statoil Hydro Resarch Centre Porsgrunn.

Kaasa, G.-O.; Stamnes, Ø. N.; Imsland, L.; Aamo, O. M. (2011). Intelligent estimation

of downhole pressure using a simple hydraulic model. In: Proceedings of the IADC/SPE

Managed Pressure Drilling and Underbalanced Operations Conference and Exhibition,

Denver, USA.

Li, Z., Hovakimyan, N.; Cao C.; Kaasa, G.-O. (2009). Integrated estimator and

adaptive controller for well drilling systems. In: Proceedings of the 2009 American Control

Conference (ACC’09), St. Louis, USA.

Löfberg, J. (2001). Linear model predictive control: stability and robustness. PhD.

Thesis, Linköping University, Suécia.

Martin, M.D. (2006). Managed pressure drilling techniques and tools. Mater Thesis,

A&M University. Texas, EUA.

Mayne, D.Q.; Rawlings, J.B.; Rao, C.V.; Scokaert, P.O.M (2000). Constrained model

predictive control: stability and optimality. Automatica, 36(6): 789-814.

Morari, M.; lee, J.H. (1999). Model predictive control: past, present and future.

Computers and Chemical Engineering, 23(4-5): 667-682.

81

Morari, M.; Lee, J.H.; Garcia, C.E. (2002). Model predictive control. Prentice-Hall,

2002.

Nygaard, G.; Nævdal, G. (2006). Nonlinear model predictive control scheme for

stabilizing annulus pressure during oil well drilling. Journal of Process Control, 16(7): 719-

732.

Perfuração underbalanced. Disponível em <http://www.qgdopetroleo.com/

2012/01/perfuracao-underbalanced.html>. Acessado em: 19/04/2012.

Plucenio, A; Rico, J. E. N; Pagano; D. J; Bruciapaglia, A. H. (2007). Controle

preditivo não linear na indústria do petróleo e gás. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de

P&D em Petróleo e Gás (4º PDPETRO), Campinas, Brasil.

Qin, S.J.; Badgwell, T.A. (2000). An overview of nonlinear model predictive control

applications. In: “Nonlinear model predictive control”, Allgöwer, F.; Zheng, A. (Eds.),

Progressin Systems and Control Theory Series, v.26. Switzerland: Birkhauser Boston.

Qin, S.J.; Badgwell, T. A. (2003). An overview of industrial model predictive control

technology. Control Engineering Practice, 11(7): 733-764.

Rawlings, J.B. (2000). Tutorial overview of model predictive control. IEEE Control

Systems Magazine, 20(3):38-52.

Rehm, B.; Schubert, J.; Haghshenas, A; Paknejad, A. S; Hughes, J. (2008). Managed

pressure drilling. Gulf Publishing Company, Houston, EUA.

Roosenblatt, L. (2006). Aplicação dinâmica de sistemas ao estudo do comportamento

das taxas diárias de aluguel de sondas de perfuração off-shore. Trabalho de Conclusão de

Curso, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.

Stamnes, N. Ø. (2007). Adaptive observer for bottomhole pressure during drilling.

Master Thesis. Norwegian University of Science and Technology. Noruega.

82

Stamnes, Ø. N.; Zhou, J.; Kaasa, G.-O.; Aamo, O. M. (2008). Adaptive observer

design for the bottomhole pressure of a managed pressure drilling system. In: Proceedings of

47th IEEE Conference on Decision and Control (CDC 2008), Cancun, Mexico.

Shayegi, S. (2007). Underbalanced drilling and managed pressure drilling – two

methods for optimising drilling. Exploration & Production, Oil & Gas Review. Disponível

em: <www.touchbriefings.com/pdf/2590/Shayegi.pdf>.

Skalle, P. (2009). Pressure control during oil well drilling. Ventus Publishing.

Disponível em: < www.bookboon.com>.

Sotomayor, O. A. Z. (2002). Modelagem, identificação e controle de sistemas de

tratamento de lodo ativado com remoção de nitrogênio. PhD. Thesis, Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo, Brasil.

Tercan, E. (2010). Managed pressure drilling techniques, equipment & applications.

Mater Thesis, Middle East Technical University.

Zhou, J.; Stamnes, Ø. N.; Aamo, O. M.; Kaasa, G.-O. (2008). Adaptive output

feedback control of a dynamic drilling system. In: Proceedings of the 47th IEEE Conference

on Decision and Control (CDC 2008), Cancun, Mexico.

Zhou, J.; Stamnes, Ø. N.; Aamo, O. M.; Kaasa, G.-O. (2008). Observer-based control

of a managed pressure drilling system. In: Proceedings of the 27th Chinese Control and

Decision Conference (CCDC’08), Yantai, China.

Zhou, J.; Stamnes, Ø. N.; Aamo, O. M.; Kaasa, G.-O. (2009). Pressure regulation with

kick attenuation in a managed pressure drilling system. In: Proceedings of the 48th IEEE

Conference on Decision and Control and 28th

Chinese Control Conference (CDC/CCC’09),

Shanghai, China.

83

Zhou, J.; Stamnes, Ø. N.; Aamo, O. M.; Kaasa, G.-O. (2010). Swicthed control for

pressure regulation and kick attenuation in a managed pressure drilling system. IEEE

Transactions on Control System Technology. 19(2): 337-350.

Zhou, J.; Nygaard, G.; Godhavn, J.; Breyholtz, Ø.; Vefring, E. H. (2010). Adaptive

observer for kick detection and switched control for bottomhole pressure regulation and kick

attenuation during managed pressure drilling. In: Proceedings of the 2010 American Control

Conference (ACC’2010), Baltimore, EUA.

84

Apêndice A

O Controlador DMC sem Restrições2

Seja um processo com as respostas ao degrau e pulsos unitários representadas na Figura

A1. Sejam N21iai ,,,, os valores de y correspondentes à resposta ao degrau unitário,

nos instantes de amostragem , onde é o período de amostragem e N o instante a partir do

qual a resposta estabiliza. Analogamente, sejam N21ihi ,,,, os valores de

correspondentes à resposta ao pulso unitário nos mesmos instantes de amostragem. Nesse

caso, para o valor de pode ser considerado desprezível. Pode-se demonstrar que:

,,, 23312211 aahaahah (A1)

Ou a forma equivalente:

,,, 123312211 hhhahhaha (A2)

Figura A1: Respostas de um sistema de 2ª ordem ao degrau e pulso unitários.

Com base nessas informações podemos escrever para o instante ( ), o seguinte

modelo de convolução discreta (no domínio do tempo) para a predição da variável :

2 Cutlher, C.R.; Ramaker, B.C. (1980). Dynamic matrix control (DMC) – A computer control algorithm. In: Proc.

Join Automatic Control Conference, San Francisco – CA.

85

N

i

ikik uhy1

11ˆ (A3)

A equação acima pode também ser escrita para o instante :

N

i

ikik uhy1

ˆ (A4)

Subtraindo a equação (A4) da (A3) temos:

N

i

ikikikk uuhyy1

11ˆˆ (A5)

Definindo

1 kkk uuu (A6)

Substituindo (A5) em (A6), temos:

N

i

ikikk uhyy1

11ˆˆ (A7)

A equação (A7) fornece uma estimativa da saída do sistema no instante ( ) futuro,

a partir das variações nas entradas do sistema, até o instante . Se for o instante atual,

teremos uma estimativa futura em função de dados atuais e passados.

Para se obter uma estimativa mais precisa de 1ky ˆ , a equação (A7) deve ser

corrigida, por exemplo, com o erro no valor calculado de no instante :

kkkc yyyyk

ˆˆ 11

(A8)

Onde ky é o valor real medido

ky é o valor calculado no instante k

c1ky é a previsão corrigida no instante k+1

Consideremos agora o valor desejado para 1ky ˆ e vamos designá-lo de

d1ky . Em

geral ele pode estar relacionado com o setpoint dessa variável através de um filtro de primeira

ordem. A introdução desse filtro visa tornar as ações de controle mais suaves. No nosso caso

vamos desconsiderar esse filtro e adotar:

86

spk

d yyk

1 (A9)

Onde spk

y é o valor do setpoint.

No caso ideal, temos:

dc

kkyy

11

(A10)

Daí, substituindo as equações (A9) e (A10) em (A8), ficamos com:

kkspkkk eyyyy ˆˆ 1 (A11)

Onde é o desvio (erro) no instante .

Combinando as equações (A11) e (A8) obtemos:

k

N

i

iki euh

1

1 (A12)

Se é o instante atual, na equação (A12) apenas não conhecemos ku que contém a

ação de controle no instante . As demais ações de controle aconteceram no passado e são,

portanto, conhecidas. Então, resolvendo essa equação para o instante k, obtemos:

N

i

ikikk uheh

u2

1

1

1 (A13)

E podemos calcular :

1 kkk uuu (A14)

A equação (A13) define o controlador preditivo mais simples possível. Esse é o

chamado controlador dead-beat, onde o valor desejado é atingido apenas um período de

amostragem após a aplicação da ação de controle. Esse algoritmo de controle tem os seguintes

inconvenientes:

a) não é aplicável para processos com tempo morto, pois neste caso ;

b) não é aplicável se for pequeno (o que é muito freqüente), pois a ação de

controle seria muito grande;

c) é muito influenciado por ruídos espúrios.

87

Para melhorar a robustez e incorporar processos com tempo morto é necessário

considerar um número maior de instantes futuros (além do instante ). Desta forma, a

ação de controle é amenizada, pois o processo terá mais tempo para atingir o seu objetivo

(atingir o setpoint). Portanto a intervenção do controlador sobre o processo poderá ser mais

suave.

A equação (A7) é válida para qualquer instante futuro. Nesse caso, ficamos

com:

N

iijkijkjk uhyy

11ˆˆ

(A15)

Onde , sendo denominado de horizonte de otimização ou de

predição do controlador, podendo ser usado como um parâmetro de sintonia do controlador.

Vamos admitir agora, que o erro na predição feita pela equação (A15), seja o mesmo

para qualquer valor de . Também, vamos admitir que esse erro seja aquele observado no

instante . Isto equivale a impor que:

1jkc

1jkjkc

jk yyyy ˆˆ (A16)

e kck yy (A17)

Substituindo a equação (A16) em (A15) obtemos

N

1iijki

c1jk

cjk uhyy (A18)

Portanto para :

N

1ii1ki

ck

c1k uhyy (A19)

Usando a equação (A17) e abrindo a somatória, temos:

N1kN2k31k2k1kc

1k uhuhuhuhyy (A20)

Vamos definir :

N

2ii1ki1 uhS (A21)

88

Daí (A20) fica:

1k1kc

1k Suhyy (A22)

Observe que o valor de é conhecido, pois só depende das ações de controle

passadas.

Analogamente, aplicando a equação (A18) para , temos:

N

1ii2ki

c1k

c2k uhyy (A23)

Abrindo a somatória:

N2kN1k3k21k1c

1kc

2k uhuhuhuhyy (A24)

Definindo :

N

3ii2ki2 uhS (A25)

Obtemos:

2k21k1c

1kc

2k Suhuhyy (A26)

O valor de é conhecido, pois ele também só depende das ações de controle

passadas.

Substituindo a equação (A22) na equação (A26), segue:

y y h h u h u S Skc

k k k 2 1 2 1 1 1 2 (A27)

Analogamente, para obtemos:

y y h h h u h h u h u S S Skc

k k k k 3 1 2 3 1 2 1 1 2 1 2 3 (A28)

Onde:

N

4ii3ki3 uhS (A29)

89

Podemos assim definir:

N

1niinkin uhS (A30)

i

1nni SP (A31)

i

1jji ha (A32)

E as equações (A22), (A27) e (A28) podem ser escritas da seguinte maneira:

1k1kc

1k Puayy (A33)

21k1k2kc

2k Puauayy (A34)

32k11k2k3kc

3k Puauauayy (A35)

Assim, por indução podemos generalizar para qualquer e obter:

j1jk11k1jkjkc

jk Puauauayy (A36)

Considerando todos instantes de predição, temos:

npk

npk

k

k

npk

npk

k

k

npnp

npnp

cnpk

cnpk

ck

ck

Py

Py

Py

Py

u

u

u

u

aaaa

aaa

aa

a

y

y

y

y

1

2

1

1

2

1

121

121

12

1

1

2

1

0

000

0000

Ou

PyuAy kc (A37)

Onde:

cy vetor dos valores previstos de y

matriz dinâmica

u vetor das ações de controle no instante k (será calculado)

90

vetor de predições decorrentes das ações de controle passadas

Suponhamos que a trajetória desejada seja dada por:

spk

djk yy (A38)

Escrevendo (A27) para todos os instantes futuros:

spk

spk

spk

spk

dnpk

d1npk

d2k

d1k

y

y

y

y

y

y

y

y

(A39)

Subtraindo a equação (A39) pela (A37), obtemos:

npk

npk

k

k

npk

npk

k

k

npnp

npnp

cnpk

dnpk

cnpk

dnpk

ck

dk

ck

dk

Pe

Pe

Pe

Pe

u

u

u

u

aaaa

aaa

aa

a

yy

yy

yy

yy

1

2

1

1

2

1

121

121

12

1

11

22

11

0

000

0000

(A40)

Onde

kspkk yye (A41)

Ou em uma notação vetorial, a equação (A40) fica:

´euAe (A42)

Onde

- é o vetor de erros entre os valores previstos e o valor desejado.

- é o vetor de erros entre o valor desejado e os valores previstos se não houver

nenhuma ação de controle futura (sistema em malha aberta).

Podemos desejar que o valor calculado para y seja igual à trajetória desejada, portanto

np21jyy cjk

djk ...,,,, (A43)

Ou seja:

91

´´ eAu0euA0e 1 (A44)

Porém as dimensões das matrizes e vetores ) da equação

(A44), podem tornar complicada a manipulação computacional das mesmas. Também a

matriz A pode ser singular (não tem inversa) no caso em que o sistema tem tempo morto. Para

contornar esses problemas consideramos apenas os m primeiros elementos do vetor

assumindo que os demais valores desse vetor sejam nulos. Deste modo a equação (A40)

é escrita da seguinte forma:

npk

mk

mk

k

k

mk

k

k

mnpmnpnpnp

mm

mm

cnpk

dnpk

cmk

dmk

cmk

dmk

ck

dk

ck

dk

Pe

Pe

Pe

Pe

Pe

u

u

u

aaaaa

aaaa

aaa

aa

a

yy

yy

yy

yy

yy

1

2

1

1

1

111

121

11

12

1

11

22

11

0

00

0

000

0000

(A45)

Ou na forma vetorial:

1xnp1xmmxnp1xnp euAe ´ (A46)

Seguindo este procedimento o controlador estará calculando sua saída em m instantes

futuros, ou seja, do instante atual ( ) até o instante ( 1mku ).

Para calcular as ações de controle futuras, o MPC minimiza o erro entre as

trajetórias prevista e desejada, ou seja, ele minimiza o seguinte índice de desempenho:

´ euAeuAeeJ TT (A47)

Queremos então encontrar as ações de controle que minimizem , isto é:

0eAuAA0u

JJ TT

´min

Portanto:

´eAAAu T1T (A48)

92

Ou explicitando as dimensões dos vetores e matrizes envolvidos na equação acima,

temos:

1xnpnpxmT1

mxnpnpxmT

1xm eAAAu ´

(A49)

A equação (A48) determina as futuras ações de controle (vetor u ), porém apenas

a ação do instante será implementada. No instante seguinte , repetimos todo o

processo, fazendo este instante assumir a posição k e calculando tudo novamente. Com este

procedimento, apenas precisamos multiplicar a primeira linha da matriz T1T AAA

pelo

vetor .

Os parâmetros de sintonia do MPC introduzidos até agora são:

- horizonte de convolução ou de estabilização do processo

- horizonte de predição ou otimização

- horizonte de controle

A implementação do índice de desempenho definido na equação (A42), conduz a uma

ação de controle muito violenta. Para atenuar este comportamento é acrescentado um peso na

variação da ação de controle conforme a seguinte equação:

(A50)

Onde é a matriz de fatores de supressão que pondera (atenua) as variações das

ações de controle, é normalmente uma matriz diagonal com todos os valores constantes e

iguais. Quanto maior o valor de , mais suave à ação de controle resultante. Esta matriz é

outro parâmetro de sintonia do controlador.

Daí o índice de desempenho definido em (A47), resulta em:

(A51)

Além disso, existem variáveis controladas que são mais importantes que outras, i.e.

existem variáveis que devem seguir o setpoint com maior fidelidade, enquanto que outras

podem oscilar em torno do valor desejado. Nesse caso é necessário ponderar diferentemente a

93

influência das variáveis controladas na função objetivo. Para implementar tal efeito, basta pré-

multiplicar a equação (A42) por uma matriz diagonal de ponderação cujos valores da

diagonal principal são proporcionais à importância da variável controlada:

´We WA u We (A52)

Neste caso, queremos minimizar os quadrados dos erros ponderados, portanto obtemos

uma expressão análoga à equação (A51):

(A53)

Que é a expressão mais usual para o controlador DMC sem restrições nas variáveis

manipuladas.