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PRIMEIRA TURMA

PRIMEIRA TURMA - Superior Tribunal de Justiça · 597); não se admite habilitação de herdeiros; não cabe agravo de ins trumento, salvo no caso expresso no art. 13, no art. 8~

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 96.920 - RS

(Registro n~ 96.0002520-7)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Agravante: Companhia Real de Crédito Imobiliário

Advogados: Drs. Ivan Gomes Pereira e outros

Agravados: Maria Isabel Herz da Jornada e outros

Advogados: Drs. Felipe Neri Dresch da Silveira e outros

Interessado: Bamerindus S/A - Crédito Imobiliário

Advogados: Drs. Kurt Ering Castring e outros

Interessado: Habitasul Crédito Imobiliário S/A

Advogados: Drs. Jaqueline da Rosa Garcez Silva e outros

Interessado: Sul Brasileiro Crédito Imobiliário S/A - em liquidação ex-trajudicial

Advogados: Drs. Janney Camargo Bina e outros

Interessada: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogados: Drs. Paulo Roberto Felix da Silva e outros

RMENTA: Agravo regimental. Não se conhece do agravo regimen­tal, se a parte não apresenta peça obrigatória legível para a forma­ção do instrumento, descurando do dever de vigilância que lhe compete.

Agravo regimental não conhecido.

ACÓRDÃO Decide a Primeira TInma do Su-perior Tribunal de Justiça, por una­

Vistos e relatados estes autos, em nimidade, não conhecer do agravo que são partes as acima indicadas: regimental, na forma do relatório e

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notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Partici­param do julgamento os Srs. Minis­tros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pe­reira. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 29 de abril de 1996 (da­ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator

Publicado no DJ de 10-06-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Trata-se de agravo re­gimental manifestado pela Compa­nhia Real de Crédito Imobiliário (Sul) contra decisão proferida por mim nestes termos:

"Não conheço do agravo, visto que a decisão agravada apresentada pelo agravante (fls. 71), é ilegível, vale dizer, inexistente a teor do § 12 do art. 544 do CPC." (fls. 89)

Diz a agravante, em resumo, que o despacho laborou em equívoco,

porquanto deixou de observar que a ora agravante requereu expressa­mente o traslado da decisão agrava­da, não se podendo transferir-lhe o ônus da transcrição ilegível por par­te do Cartório.

É este o relatório que apresento à consideração de meus ilustres cole­gas.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): Não consta da minuta do agravo de instrumen­to o requerimento expresso das pe­ças a serem trasladadas para a for­mação do instrumento, como afirma a agravante. Aliás, pouco importa, em face dos termos do § 12, do art. 544 do CPC, na redação da Lei 8.950/94, que o agravo de instrumento será instruí­do com as peças apresentadas pelas partes. E se a parte que tem o dever de vigilância na apresentação das peças, segundo a lei, descura da sua obrigação, não é o Juiz que vai regu­larizar o instrumento, mandando juntar peça legível para o traslado.

Pelo exposto, não conheço do agravo.

É o meu voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N2 5.247-8 - GO

(Registro n2 94.0040741-6)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrentes: Empresa Hélios de Transportes Ltda. e outros

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Tribunal de Origem: Tribunal Regional Federal da 1f! Região

Impetrado: Juízo Federal da 3f! Vara da Seção Judiciária do Estado de Goiás

Recorridos: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER e União

Advogados: Drs. Mário Geraldo de Almeida Martins Costa e outros, e Francisco Vicente P. Catunda e outros

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança. Suspensão de liminar através de outra segurança. Impossibilidade.

No sistema jurídico-processual brasileiro, é impraticável a sus­pensão de liminar concedida em mandado de segurança, de forma oblíqua, mediante o conferimento de efeito suspensivo a agravo de instrumento contra aquela (liminar), interposto.

Contra o deferimento de liminar em mandado de segurança des­cabe qualquer outro remédio processual, senão aquele (suspensão) previsto no art. 4e da Lei 4.348/64, em combinação com o art. 25 da Lei n e 8.038/90, cujo procedimento não pode ser substituído por li­minar em outra segurança.

A jurisprudência tem proclamado ser inviável o agravo de ins­trumento, em mandado de segurança, porquanto os recursos cabí­veis, em primeira instância, são os definidos na lei específica (Lei n e 1.533/51, arts. 8e e 12).

Recursos a que se nega provimento. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira 'furma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, negar provimento aos recur­sos, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hum­berto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha. Ausen-

te, justificadamente, o Sr. Ministro Garcia Vieira. Custas, como de lei.

Brasília, 30 de agosto de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 02-10-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: As Empresas Hélios de

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Transportes Ltda. e Lopestur Lopes 'Ibrismo e Transportes Ltda. impe­traram mandado de segurança, pe­rante o Tribunal Regional Federal da 1!:! Região.

Com a impetração, visaram, as au­toras, atribuir efeito suspensivo a agravo de instrumento interposto con­tra liminar concessiva em outra se­gurança (esta requerida pela Trans­brasiliana Transportes e 'Ibrismo Ltda.).

Alegam, as impetrantes, que o juiz de primeiro grau (autoridade coatora) concedeu liminar em segu­rança para paralisar os serviços de transporte executados em trechos que, supostamente, estariam explo­rando em concorrência danosa à li­tisconsorte.

-Aduzem, ademais, que manifesta-_ ram, contra a liminar concessória, agravo de instrumento e, a impetra­ção tem o viso de emprestar efeito suspensivo a esse recurso.

Citados, os litisconsortes se mani­festaram.

Denegada a segurança, as venci­das manifestaram recursos ordiná­rios, repisando a argumentação da inicial.

Recebidos, na origem, nesta ins­tância, o Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Mi­nistros,

As Empresas Hélios de Transpor­tes Ltda. e Lopestur 'Ibrismo e Transportes Ltda. impetraram man­dado de segurança visando à cassa­ção de ato judicial ou atribuição de efeito "suspensivo" a recursos de agravo de instrumento interposto contra decisão "concessiva de limi­nar", em outro mandado de seguran­ça (este requerido pela Transbrasilia­na Transportes e 'Ibrismo Ltda. con­tra ato do Engenheiro Chefe do 12~ Distrito Rodoviário Federal do De­partamento Nacional de Estrada de Rodagem).

A liminar desafiada pelo agravo de instrumento foi concedida pelo juiz titular da 3!! Vara Federal da Seção Judiciária de Goiás.

Alegam, os impetrantes que, em­bora explorem desde 1979 os trechos mencionados, como permissionários, o Juiz concedeu a liminar, em outra segurança e determinou a paralisa­ção dos serviços de Transporte, rea­lizados pelas impetrantes, em linhas que indicam.

Pedem efeito suspensivo ao agra­vo, eis que, exercem as atividades de transporte por longos anos, o que re­sulta situação de fato consolidada pelo tempo e que, portanto, devem ser mantidas.

A segurança foi denegada, sob o argumento de que, "o mandado de segurança contra ato judicial é res­trito à probabilidade de dano irrepa­rável deste resultante e à ilegalida~ de flagrante, não sendo lícito ao Ju­diciário substituir o Legislativo pa­ra atribuir a recurso, efeito que o le­gislador lhe negara".

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É contra esta decisão que as ven­cidas manifestam recursos ordiná­rios, repisando os fundamentos da impetração e pugnando pelo respec­tivo provimento e a cassação da multa que lhes foi imposta, como li­tigantes de má-fé.

Não me parecem, com a razão, as recorrentes.

Em primeiro lugar, o que se pre­tende, com a segurança, enviesada­mente, é suspender os "efeitos" da li­minar concedida em outro mandado de segurança, mediante o conferi­mento de "suspensividade, ao agra­vo de instrumento contra ela (limi­nar) interposto. 'Ibdavia, como é en­tendimento prevalecente na juris­prudência, "não cabe qualquer remé­dio processual contra a concessão de liminar em mandado de segurança que não o previsto no artigo 4~ da Lei n~ 4.348/64 - suspensão de exe­cução por Tribunal imediatamente superior" (STF, RTJ, voI. 119/477). E esse procedimento (suspensão da li­minar) não pode ser substituído por mandado de segurança, visando à cassação da liminar em outro man­dado de segurança" (STF, RTJ, voI. 119/474), enquanto a lei (1.533/51) só permite em casos estritos que a limi­nar seja suspensa por Tribunal di­verso daquele em que foi concedida.

Por outro lado, como já se obser­vou acima, o mandado de segurança cujos recursos ordinários estão em julgamento, tem o viso de em­prestar efeito suspensivo a agravo de instrumento manifestado contra

liminar concessiva em outra segu­rança. E como tem proclamado a ju­risprudência, inclusive desta Corte, "é incabível agravo de instrumento, em processo de mandado de segu­rança, porquanto os recursos cabí­veis em primeira instância são os previstos nos artigos 8~ e 12 da Lei n~ 1.533/51. É que, o mandado de se­gurança tem rito específico e célere, não comportando incidentes que lhe retirem a feição de remédio constitu­cional pronto, rápido e eficaz" (REsp n~ 13.473-0). E o agravo de instru­mento não se compatibiliza com o sistema processual peculiaríssimo estabelecido pela legislação especí­fica do mandado de segurança. Por essa razão que enfatiza Theotonio Negrão:

"De acordo com os arts. 19 e 20, o Código de Processo Civil não é supletivo da LMS. Por isso, não cabe assistência em mandado de segurança; não são admissíveis embargos infringentes (Súmula 597); não se admite habilitação de herdeiros; não cabe agravo de ins­trumento, salvo no caso expresso no art. 13, no art. 8~ e no de dene­gação de apelação contra a sen­tença proferida no mandado de segurança; não cabe agravo reti­do" (C.P.C.) e legislação proces­sual em vigor, 22'o! edição, pág. 1.076, nota 2 ao art. 20).

Nessa linha de raciocínio é a lição de Alfredo Buzaid:

"Não estava certamente na in­tenção da lei prodigalizar recursos

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no mandado de segurança. As de­cisões interlocutórias, não impug­náveis por meio de recurso ade­quado previsto em lei, não ope­ram preclusão e, portanto, podem ser examinadas quando os autos subirem ao Tribunal de apelação da parte vencida. Não se compa­dece com a índole do mandado de segurança o agravo de instrumen­to de decisão interlocutória" (Do Mandado de Segurança, pág. 261).

É o magistério de Othon Sidon:

"Especificamente, apenas o agra­vo de instrumento e seu correla­tivo agravo retido, por motivo téc­nico, e o recurso ordinário, por prescrição constitucional, não se aplicam ao mandado de seguran­ça" (Habeas Data, Mandado de Segurança, pág. 260).

Não há, pois, como se argumentar que o agravo de instrumento é recur­so definido na Lei Processual. É que o mandado de segurança é regido por legislação específica e tem feição pró­pria. Esse é o entendimento do STF ao manifestar-se sobre os recursos cabíveis, no âmbito da segurança, ao dizer:

"A simples mudança de agravo de instrumento para apelação (Leis n M 6.014/73 e 6.071/73) não importou em incorporar o proces­so da ação de segurança ao vigen­te Código de Processo Civil. Con­tinua regido por lei especial (Lei

n!! 1.533/51), com as alterações formais nela introduzidas. Os re­cursos, pois, cingem-se, fora da­quela exceção, aos das leis espe­ciais, nos termos da própria res­salva do art. 1.217 do Código de Processo Civil" (José Nunes Fer­reira, Súmulas do STF, pág. 450).

Por outro lado, parece-me judicio­sa a fundamentação do acórdão, so­bre justificar a inexistência dos pres­supostos legais para a concessão do remédio heróico, com estas palavras: "concede-se mandado de segurança contra ilegalidade e abuso de poder, inexistentes na espécie. Não fora is­so, as impetrantes não comprovaram a probabilidade de dano irreparável na espécie, circunstância que, em te­se, autoriza o remédio heróico, mes­mo porque, os agravos de instrumen­to poderão ser-lhes favoráveis com a conseqüente modificação da decisão e os trechos de transporte em litígio recuperados se regulares. As impe­trantes não comprovaram, ainda, ser titulares de exploração de linhas de transporte rodoviário pertinente aos trechos impugnados, declarando que o transporte nesses trechos não é re­gular, mas, atípico, pormenor que afasta a possibilidade de dano" (fls. 1.052/53).

Com essas considerações, nego provimento aos recursos.

É como voto.

ADITAMENTO AO VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Agradeço ao Eminente

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Advogado, Dr. Dárcio Vieira Marques, em nome da 'Ib.rma, as palavras elo­giosas e até bondosas dirigidas aos componentes desta Egrégia Corte.

Em primeiro lugar, antes de pro­ferir o meu voto, quero colocar os pon­tos nos "is". Não cuidei, sequer, do exame mais aprofundado das ques­tões de mérito, porque se trata de três empresas, sendo uma concessionária e duas em condições precárias, que exploram determinadas linhas de transporte.

A questão é essencialmente proces­sual. Uma das empresas, a Transbra­siliana, impetrou mandado de segu­rança perante o Tribunal Regional da Primeira Região e obteve a liminar; as demais, julgando-se prejudicadas, pretendem, agora, através da conces­são de efeito suspensivo a um agra­vo de instrumento interposto contra essa liminar, suspender os seus efei­tos (da liminar).

Como sabemos, da decisão que concede liminar, em mandado de se­gurança, não cabe agravo de instru­mento, mas somente pedido de sus­pensão, cuja competência para julga­mento é do Presidente do Tribunal de hierarquia maior. Sequer se pode conferir efeito suspensivo a esse agravo de instrumento, pois, quan­do assim fosse, estaríamos usurpan­do competência que não é nossa, mas do Presidente do Tribunal, do Presidente desta Corte.

Nego provimento a ambos os re­cursos.

É como voto.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: As recorren­tes pediram Mandado de Segurança, visando emprestar efeito suspensivo a agravo de instrumento.

O agravo a ter seus efeitos am­pliados desafia decisão que - em outro processo - concedera liminar, para suspender a execução de trans­portes rodoviários executados pelas ora recorrentes.

O E. Tribunal de Justiça de Goiás denegou a Segurança. Fincou-se no argumento de que não havia dano irreparável.

Em seu voto de Relator, o Minis­tro Demócrito Reinaldo nega provi­mento ao recurso. Vale-se da consta­tação de que o único remédio, contra o deferimento de liminar, em Man­dado de Segurança, é a suspensão da liminar, nos termos da Lei 4.348/64.

Estou de acordo com esta orienta­ção.

Esta 'Ib.rma, contra o voto do Mi­nistro Milton Pereira, consolidou o entendimento.

Reporto-me ao Julgamento do RMS 4.753, em que decidimos:

"- Não cabe recurso, contra decisão que concede liminar em processo de Mandado de Seguran­ça. O remédio específico para en­frentar a liminar é a suspensão prevista na Lei 4.348/64 (art. 5~)."

N a assentada daquele julgamen-to, em que funcionei como relator, disse, a propósito:

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o pedido de Segurança não foi conhecido, porque, "a impetrante não comprovou a interposição do recurso cabível, a que pretenda efeito suspensivo, bem como a de­cisão atacada não é absurda, tera­tológica, nem flagrantemente ile­gal." (fi. 66)

Em Acórdão recente, esta Thr­ma enfrentou o tema relativo ao cabimento de recurso, contra de­cisão ocorrida no processo de Man­dado de Segurança. Isto ocorreu no julgamento do RMS 4.715-6/PR.

Decidimos, naquela assentada:

"I - Não cabe recurso con­tra decisão que denega liminar, em Mandado de Segurança -salvo nos processos originários de Tribunal em que se admita agravo regimental."

Relator, no referido julgamen­to, emiti voto, dizendo:

"A Lei 1.533/51 não reserva, expressamente, qualquer recur­so, para enfrentar a denegação de liminar.

Aliás, aquele diploma so­mente faz referência a um re­curso: a apelação (arts. 8~ e 12).

Trago comigo a convicção de que os dispositivos do Código de Processo Civil não funcio­nam como supletivos da Lei de Mandado de Segurança, a não ser aqueles referentes ao litis­consórcio (art. 12 da LMS) e os que disciplinam a apelação.

Vale observar que, no tocan­te à apelação, a Jurisprudência restringiu a aplicação do CPC: o Supremo Tribunal Federal in­seriu na Súmula de sua Juris­prudência, o Verbete 597, a di­zer:

"Não cabem embargos in­fringentes de acórdão que, em mandado de segurança decidiu, por maioria de vo­tos, a apelação."

A Recorrente ilustra suas razões de apelo, transcrevendo vários acórdãos, oriundos de Tribunais Regionais Federais e do Tribunal Federal de Recur­sos. Todos eles afirmam a ine­xistência de recurso contra a denegação de liminar, em Man­dado de Segurança.

Filio-me a esta linha de en­tendimento.

Ora, se não cabe recurso con­tra a denegação da liminar, afasta-se a vedação contida no art. 5~ da Lei n~ 1.533/51, lI.

'Ial vedação incide, somente, nos processos de competência originária dos Tribunais. É que em tais processos, normalmen­te, o ato do relator se expõe a agravo regimental.

Assim - salvo nos processos de competência originária dos tribunais - Cabe Mandado de Segurança, diretamente contra o ato em que juiz denega limi­nar em outro processo de Segu­rança."

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Se não existe recurso contra a denegação de liminar, com maior certeza não existirá, quando se trata de decisão concessiva.

É que, o Ordenamento Jurídi­co reserva, para tais decisões, o

remédio da suspensão (Lei 4.348/ 64, art. 4~)."

Com estas considerações acompa­nho o E. Relator.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 6.180 - RJ

(Registro n~ 95.0044465-8)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Tivoli Park Ltda.

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Impetrado: Prefeito do Município do Rio de Janeiro

Recorrido: Município do Rio de Janeiro

Advogados: Drs. Julio Zimerman e outros, e Eduardo Braga Tàvares Paes e outros

Sustentação Oral: Drs. Julio Zimerman, pela recorrente e Eduardo Bra­ga Tàvares Paes, pelo recorrido

EMENTA: Recurso ordinário em mandado de segurança - Me­dida cautelar - Reclamação - Permissão de uso precário de ter­renos públicos - Vencido o respectivo prazo contratual, nada im­pede a Administração de retomar a posse de área cuja ocupação ce­deu. Inexistente prova de desvio de finalidade, inexiste, tampou­co, lesão a direito líquido e certo a ser protegido na via do manda­mus. Medida cautelar negada por ausência de seus pressupostos. Reclamação julgada procedente a teor do parágrafo único do art. 800 do CPC na redação da Lei 8.952/94. Recurso ordinário e medi­da cautelar improvidos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por una-

nimidade, rejeitar a preliminar de nulidade da reclamação, ainda, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário, julgar improce­dente a medida cautelar e proceden­te a reclamação, determinando a ex-

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tração de peças do processo e remes­sa ao Conselho de Magistratura pa­ra apuração das providências cabí­veis, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demó­crito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira. Au­sente, justificadamente, o Sr. Minis­tro Cesar Asfor Rocha.

Custas, como de lei.

Brasília, 06 de dezembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 11-03-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: No 4~ Grupo de Câma­ras Cíveis do 'lHbunal de Justiça do Rio de Janeiro a questão foi assim relatada:

"A espécie é de mandado de segu­rança impetrado por Tivoli Park Ltda., contra o Prefeito do Muni­cípio do Rio de Janeiro, insurgin­do-se o impetrante contra dois atos: a) o copiado a fls. 34, pelo qual o Chefe do Executivo Muni­cipal, acolhendo sugestão da Se­cretaria de Urbanismo, deliberou não renovar a permissão de uso do terreno que, em certo trecho, margeia a Lagoa Rodrigo de Frei­tas; e b) o reproduzido a fls. 46, que é uma notificação do Diretor

da Divisão de Controle de Pró­prios Municipais para que o impe­trante desocupe, em 30 dias, o terreno acima referido.

A liminar foi deferida (fls. 58); o Município interpôs agravo regi­mental (fls. 62); e o C. Grupo manteve a decisão (fls. 107).

A autoridade impetrada prestou informações (fls. 86) e a Procura­doria do Município manifestou-se a fls. 91, alegando ser o Prefeito parte ilegítima ad causam.

A douta Procuradoria de Justiça, após observar que a impetração se dirige contra dois atos (um do Prefeito e outro da Divisão de Controle de Próprios Municipais), opinou pela rej eição da argüição de ilegitimidade ad causam do Prefeito, em relação ao primeiro ato, e pela denegação da seguran­ça, no tocante a ele, e pelo acolhi­mento da preliminar, relativa­mente ao segundo ato (fls. 166/ 168)." (fls. 170)

A segurança veio a ser denegada por unanimidade de votos em acór­dão que guarda esta ementa:

"Mandado de segurança requeri­do por ocupante de terreno a títu­lo precário, contra ato que não re­novou a permissão de ocupação.

Não se afigurando ilegal ou abu­siva a deliberação de não renovar a permissão de ocupação e não tendo o ocupante direito líquido e certo à renovação, denega-se a se­gurança." (fls. 173)

84 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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A par de embargos de declaração que foram rejeitados, interpôs Tivo­li Park Ltda. recurso ordinário plei­teando a reforma do julgado.

Ouvida, manifestou-se a douta Subprocuradoria Geral da Repúbli­ca pelo improvimento do recurso.

A fim de continuar ocupando o imóvel, requereu Tivoli Park Ltda. medida cautelar com vistas a usu­fruir o status quo ante até o julga­mento do recurso ordinário. A dou­ta Subprocuradoria Geral da Repú­blica opinou pelo improvimento do recurso.

Por sua vez, o Município do Rio de Janeiro apresentou reclamação contra atos praticados pelos MM. Juízos das 7'!: e lO'!: Varas da Fazen­da Pública da Comarca do Rio de Janeiro. Aduz que os MM. Juízos das 7'!: e lO'!: Varas da Fazenda Públi­ca não podem processar a Ação Cau­telar n!! 5.249/95 e o Mandado de Se­gurança n!! 5.045, sob pena de inva­são de competência dessa Egrégia Corte Superior, fixada a partir do mandado em que o Tivoli apresentou o Recurso Ordinário no MS 371/94. E que as liminares concedidas e a própria segurança que foi deferida não podem prevalecer, eis que as respectivas decisões foram proferidas por Juízos absolutamente incompe­tentes. Ao final requer na forma do art. 14, II da Lei 8.038/90 e art. 188, II do RIST J a suspensão dos atos praticados pelas autoridades acima referidas, cassadas as decisões pro­feridas e a determinação do julga­mento conjunto dos feitos com o re­curso ordinário. Aqui, opinou a dou-

ta Subprocuradoria Geral da Repú­blica pelo acolhimento da reclama­ção.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): Havendo co­nexão entre as ações, mandei reunir a Medida Cautelar n!! 211 e a Recla­mação n!! 313 ao Recurso Ordinário n!! 6.180. Assim as ações serão julga­das simultaneamente para evitar de­cisões conflitantes. Neste passo os Juízes do 4!! Grupo de Câmaras Cí­veis do 'Iribunal de Justiça do Rio de Janeiro ao julgar o Mandado de Se­gurança impetrado por Tivoli Park Ltda. assim decidiram:

"Embora, a princípio, pudesse pa­recer que o impetrante se insur­gia contra um ato administrativo complexo, o exame aprofundado dos atos revela que, na realidade, a impetração se dirigia contra dois atos distintos: o do Sr. Prefei­to, deliberando não renovar a per­missão de uso do terreno em que se encontra instalado o parque de diversões do impetrante (fls. 34), e a notificação da Divisão de Con­trole de Próprios Municipais fei­ta ao requerente do mandamus para desocupação do local em trinta (30) dias. (fls. 46).

Quanto à notificação copiada a fls. 46, apesar de o seu signatário di­zer que o fazia com base em des­pacho do Sr. Secretário de Urba­nismo e com aprovação do Sr. Prefeito, o certo é que dito aviso

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se constituiu em ato autônomo do Diretor de Divisão de Controle dos Próprios Municipais, não se podendo considerar o Sr. Prefeito como autoridade coatora, em rela­ção àquele ato.

De acolher-se, pois, no particular, a argüição de ilegitimidade do im­petrado, extingüindo-se o proces­so, sem julgamento do mérito, nessa parte.

No que concerne ao primeiro ato, a legitimação do Sr. Prefeito é inegável, pois, como signatário da decisão que deliberou não renovar a ocupação, a impetração teria mesmo de ser dirigida contra ele.

De rejeitar-se, portanto, a alega­ção de ilegitimatio ad causam formulada a fls. 91.

No mérito, porém, em relação a esse ato, o pedido de segurança improcede.

Com efeito, a ocupação do terreno pelo impetrante se deu em razão de contrato de permissão de uso, cujo instrumento está copiado a fls. 80/84.

Na cláusula 3~ desse instrumen­to, ficou expresso que a permissão era concedida em caráter precário, podendo ser cancelada a qualquer tempo e o prazo da permissão era de cinco anos (fls. 81), tendo ven­cido em 28 de julho de 1993.

Em sendo assim, dúvida não há de que, ao deliberar não renovar a permissão, o impetrado não pra­ticou qualquer ilegalidade ou abu­so de poder, o que seria bastante

para afastar a possibilidade de concessão de segurança, sendo certo, ademais, que a sociedade impetrante não tem direito líqui­do e certo à continuação da ocu­pação.

Ad colorandum, observe-se, co­mo fez a douta Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra do eminente Procurador Dr. Hélcio Alves de Assumpção (fls. 169, item 4), que a alegação de desvio de poder não está demonstrada nos autos, o que, aliás, seria difí­cil aferir em autos de pedido de segurança, e a assertiva referen­te à ocupação das margens da La­goa por outros estabelecimentos particulares é questão que não po­de repercutir no resultado do re­querimento formulado a fls. 2.

Por todo o exposto, impõe-se a de­negação da segurança, com a con­seqüente cassação da liminar." (fls. 173/175).

Sustentando a manutenção desse entendimento, e em conseqüência, o improvimento do recurso ordinário, opinou o Ministério Público Federal:

"Sucede que a decisão recorrida parece ter bem resolvido a ques­tão, adotando entendimento coe­rente com as lições da doutrina e tranqüila orientação da jurispru­dência desse próprio S.T.J.

Ora, não se podendo negar que o Administrador é o juiz exclusivo da oportunidade e conveniência dos atos que pratica, nem que

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a ocupação do terreno público fo­ra autorizada a título precário, já se encontrando vencido o prazo contratual, fica prejudicada toda a argumentação do Impetrante­Recorrente, salvo a questão do su­posto desvio de finalidade, que, no entanto, dificilmente poderia ser verificada, na via expedita do Mandado de Segurança, a não ser que o vício fosse evidente.

Ao contrário, todavia, todas as pe­ças do processo apontam para a falta de razão da reclamação do Parque, ora Recorrente.

Note-se que, ainda na cláusula nona do contrato administrativo de permissão de uso (fls. 77), ...

"A permissionária reconhece o caráter precário de presente permissão e obriga-se por si ou sucessores (. . .) a desocupar a área e restitUÍ-la ao município completamente desimpedida e limpa no prazo de 90 (noventa) dias contados do aviso que lhe for dirigido, sem necessidade de qualquer interpelação ou noti­ficação judicial, sob pena de de­socupação compulsória por via administrativa ... "

A precariedade dessa permissão, aliás, tem razões públicas e notó­rias, porque sempre foi condena­da a instalação de parques de di­versões em áreas centrais das ci­dades, e, no caso do Rio de Janei­ro, a exemplo dos que se instala­ram, no passado, nos terrenos da Central do Brasil, da antiga Pra­ça Onze, da Quinta da Boa Vista,

etc., derivando, a autorização do caso presente, excepcionalmente, da momentânea conveniência de assegurar a ocupação imediata dos terrenos reconquistados pela municipalidade, a partir da remo­ção da antiga favela da Praia do Pinto, aproveitando-se a Adminis­tração local para trazer alguns dos estabelecimentos de diversão popular que recalcitravam em de­socupar a região de São Conrado, que estava sendo urbanizada, com a vênia da Corte para essas remi­niscências, de evidente irrelevân­cia para o desate da questão, mas que sempre servem para melhor compreensão dos antecedentes da disputa.

De qualquer forma, no entanto, mesmo que o Tivoli Parque pare­ça estar longe de ser um "mafuá" (epíteto evidentemente pejorativo utilizado pelos opositores da per­missão), e que goze de estima e bom conceito por parte da popula­ção, segundo mostra a pesquisa de opinião anexada aos autos, não pode, de forma alguma, esquecer que a permissão para a sua insta­lação nas margens da Lagoa Ro­drigo de Freitas sempre foi consi­derada precária e incompatível com a destinação urbanística da área, como, em circunstâncias se­melhantes, seria igualmente recri­minada em qualquer outra cida­de.

Nenhuma estranheza, pois, com a decisão administrativa, que, for­malmente, se revela compatível com o que se conhece publicamen­te sobre a matéria, como, aliás,

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parece atender a uma exigência preservacionista natural, capaz de ser cobrada via ação civil pública, em caso de inércia da Administra­ção.

Por outro lado, pretender condi­cionar a desocupação do bem à re­tirada simultânea dos demais ocu­pantes de terrenos nas margens da citada Lagoa, não é argumen­to relevante, até porque depende­ria da demonstração de estarem todos na mesma situação, seja quanto aos aspectos formais e ju­rídicos, seja quanto aos aspectos materiais relativos à destinação e utilização dos terrenos e aos efei­tos paisagísticos dessa ocupação, o que não foi sequer esboçado pe­lo Recorrente.

Na parte, todavia, em que se no­ticia nos autos a agressão ao meio natural e paisagístico da região urbana por outras empresas e en­tidades, vale a reclamação como denúncia, que merece ser conve­nientemente apurada." (fls. 261/ 263)

Com relação à medida cautelar requerida por Tivoli Park Ltda. não é de ser deferida por ausência de seus pressupostos, como demonstra a douta Subprocuradoria Geral da República:

"O requisito essencial para a con­cessão de liminar é a presença do fumus boni juris e o periculum in mora, inexistentes no presen­te caso. No exame do Mandado de Segurança em apenso, foi reco­nhecido pela 4~ Câmara Cível do

TJERJ que o impetrante não pos­sui o direito que afirma e que o ato do Exmo. Sr. Prefeito que ne­gou a renovação não se reveste de qualquer ilegalidade. A precarie­dade da permissão do uso da área pelo Tivoli Park decorre de lei municipal e cláusula contratual onde a municipalidade no exercí­cio de seu poder discricionário po­de negar-se a renovar tal conces­são, ademais, o prazo da referida concessão já está vencido desde 28/07/93.

Diante do exposto, opina-se pelo improvimento do recurso." (fls. 286/287)

E por último procede a Reclama­ção do Município do Rio de Janeiro, uma vez que encontrando-se nesta Corte o Recurso Ordinário interpos­to por Tivoli Park, as medidas re­queridas nos Juízos inferiores são destituídas de eficácia, pois proferi­das por Juízes incompetentes, a teor do parágrafo único do art. 800 do CPC na redação da Lei 8.952/94.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso ordinário e à medida caute­lar e julgo procedente a reclamação para cassar todos os atos praticados pelos MM. Juízos das 7~ e 10~ Varas da Fazenda Pública da Comarca do Rio de Janeiro.

É o meu voto.

VOTO - PRELIMINAR

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Presidente): Srs. Minis­tros, também, rejeito a preliminar.

88 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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Em primeiro lugar, porque o pedido de informações na reclamação, se­gundo a lei, é feito, diretamente, à autoridade, na hipótese, coatora ou que está descumprindo decisão des­ta Egrégia Corte.

As partes que figuram na ação principal não são litisconsortes ne­cessárias na reclamação, que é um procedimento de feição administra­tiva. Além do mais, nada impede que esta Egrégia Corte, tomando co­nhecimento do descumprimento de uma de suas decisões, para preser­var a autoridade de seus acórdãos, tome providências, inclusive de ofí­cio, independentemente de requeri­mento de quem quer que seja.

O art. 14 da Lei de Recursos, Lei 8.038, diz o seguinte: "Ao despachar informação, o Relator requisitará in­formações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugna­do". Não pede informações às partes

da ação principal. O art. 15 estabe­lece: "Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante". Quer dizer, qualquer interessado, uma vez tomando conhecimento da existência dessa reclamação, terá a faculdade de impugná-la, mas não há obrigatoriedade, segundo a lei, do pedido de informações a todos inte­ressados, porque poderão existir muitos dentro de uma ação de man­dado de segurança, cuja decisão es­teja sendo descumprida.

Com essas considerações, estou de inteiro acordo com o voto de V. Exa., Sr. Ministro-Relator, rejeitando a preliminar de nulidade, porque a lei não obriga a intervenção ou a cita­ção de qualquer interessado, para fi­gurar no pólo passivo ou ativo da re­clamação, que é um procedimento célere e que tem feição administra­tiva, embora disciplinada em lei.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N~ 53.192 - RS

(Registro n~ 94.0026240-0)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Fazenda Nacional

Recorrida: Comércio e Representações Frimata Ltda.

Procuradores: Drs. Cezar Saldanha Souza Júnior e outros

Advogados: Drs. Paulo Márcio Gewehr e outros

EMENTA: Tributário - Imposto de renda - Microempresas -Representação comercial - Corretagem - CTN, arts. lU e 178 -Leis n2Ji. 7.256/84 e 7.713/88 - Ato Declaratório n 2 24/89.

R. Sup. 'lrib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 89

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1. Cuidando-se de interpretação da legislação tributária, sob a réstia da similitude de atividades, a analogia ou compreensão ex­tensiva não se presta para fincar ato administrativo declaratório, com o viso de arquear isenção prevista em lei.

2. Diante da lei, hierarquicamente inferiorizado o ato adminis­trativo, deve prevalecer a isenção constituída em favor dos repre­sentantes comerciais.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a egrégia Primeira 'llirma do Superior 'fribunal de Justiça, por maioria, vencido o Sr. Ministro Hum­berto Gomes de Barros, negar provi­mento ao recurso, na forma do rela­tório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Par­ticiparam do julgamento os Srs. Mi­nistros Cesar Asfor Rocha, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócri­to Reinaldo.

Custas, como de lei.

Brasília, 18 de setembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 23·10·95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ

lU, alínea a, da Carta Magna, mal­ferindo o v. acórdão do egrégio 'Ih­bunal a quo, assim ementado:

"Tributário. Lei 7.713-88, art. 51. Ato Declaratório Normativo n~ 24. Empresas de representação comercial.

1. Não podia o ato declaratório revogar a isenção do imposto de renda, sob o argumento da simi­litude das atividades do represen­tante comercial com as do corre­tor.

2. Apelação e remessa oficial improvidas" (fl. 148).

Alega a Recorrente que o v. deci­sum objurgado negou vigência ao artigo 51, da Lei 7.713/88.

As contra-razões foram apresen­tadas às fls. 159/160.

Por julgar relevantes os fundamen­tos do pedido, o egrégio Tribunal a quo admitiu a via Especial.

É o relatório.

VOTO

PEREIRA: Cuida-se de Recurso Es- O SR. MINISTRO MILTON LUIZ pecial, apoiado no artigo 105, inciso PEREIRA (Relator): Para favorecer

90 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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a compreensão trago da memória que, em Mandado de Segurança, no cenáculo do reconhecimento de direi­to líquido e certo à isenção no reco­lhimento do Imposto de Renda (Leis nllâ 7.256/84, art. 11, e 7.713/88), con­soante o v. acórdão, resumido na se­guinte ementa:

"Tributário. Lei 7.713/88, art. 51. Ato Declaratório Normativo n~ 24. Empresas de representação comercial.

1. Não podia o ato declaratório revogar a isenção do imposto de renda, sob o argumento da simi­litude das atividades do represen­tante comercial com as do corre­tor.

2. Apelação e remessa improvi­das".

No exame do recurso, lançado processualmente com arrimo no art. 105, IH, a, Constituição Federal, fa­zem-se presentes os requisitos de ad­missibilidade, impondo-se o seu co­nhecimento.

Descerrado o pórtico para o exame, imana forte que a controvérsia tem como ponto crucial a equiparação de atividades (por "assemelhação"), pro­clamada no Ato Declaratório N orma­tivo CST n~ 24, de 13.12.89, como vis­to, inadmitida pelo v. aresto. Assen­tou, firmemente, que a isenção não pode ser revogada sob o argumento de similitude, utilizando-se a auto­ridade fiscal de inadequado ato ad­ministrativo, interpretando extensi­vamente o art. 51, Lei n~ 7.713/88,

restringindo o número de microem­presas beneficiárias da isenção do Imposto de Renda.

A motivação do ato malsinado, pois, foi a Lei n~ 7.713/88 (art. 51), alvoroçando as atividades asseme­lhadas, como base para a exclusão da empresa de representação comer­cial, por alegada similitude com a corretagem.

Eis, pois, a questão: as empresas de representação comercial asseme­lham-se às relacionadas no art. 51, Lei n~ 7.713/88, conseqüentemente, perdendo o benefício isencional ques­tionado?

Para o deslinde, necessariamente, deve ser comemorada a pertinente legislação:

- Lei n~ 7.256/84, art. 11, I:

"A microempresa fica isenta dos seguintes impostos:

I - Imposto sobre a Ren­da e Proventos de qualquer Natureza".

Assinale-se que não se discute, no caso, a qualificação das Impetrantes como microempresas, mas, isto sim, a sua exclusão do favorecimento fis­cal, a teor da Lei n~ 7.713/88, art. 51:

"A isenção do imposto de renda de que trata o artigo 11, item I, da Lei n~ 7.656, de 27 de novembro de 1984, não se aplica à empresa que se encontre nas situações previs­tas no artigo 3~, itens I a IV da re-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 91

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ferida Lei, nem às empresas que prestem serviços profissionais de corretor, despachante, ator, empre­sário e produtor de espetáculos pú­blicos, cantor, músico, médico, den­tista, enfermeiro, engenheiro, fí­sico, químico, economista, conta­dor, auditor, estatístico, adminis­trador, programador, analista de sistema, advogado, psicólogo, pro­fessor, jornalista, publicitário, ou assemelhado, e qualquer outra pro­fissão cujo exercício dependa de ha­bilitação profissional legalmente exigida". (grifei).

Nesse contexto, se a parte recor­rida atende aos requisitos comuns fi­xados na Lei n2 7.256/84, o nó górdio está unicamente na legalidade, ou não, do comentado entendimento ad­ministrativo consubstanciado no Ato Declaratório CST n2 24, de 1989, as­semelhando as empresas representan­tes comerciais com as empresas des­favorecidas (art. 51, ref.).

Por essa via, contudo, tal como posto no v. acórdão, compreendo que a representação comercial não se "as­semelha" à da corretagem, descaben­do à Administração Pública, na pers­pectiva da Lei n2 7.713/88 (art. 51), com elastério, sob o argumento da similitude, revogar isenção ditada em lei.

Desse modo, a interpretação da autoridade fiscal não foi de feliz ins­piração, uma vez que não se confun­dem, no particular, bem se adequan­do as agudas anotações feitas, em trabalho doutrinário, pelo ilustre Rubens Edmundo Requião, con­forme anotei no meu voto-vista, pro-

ferido no REsp n2 67.486-7-RS, ver­bis:

"A característica básica da cor­retagem é a sua transitoriedade. O corretor, sob a forma autônoma ou de pessoa jurídica, não se liga ao comitente de modo permanen­te ... Já o representante comercial, pessoa física ou jurídica, tem ca­racterísticas profissionais comple­tamente diferentes. A que mais ressalta é a permanência da sua relação com a representada. A Lei 4.886/65, já no art. 12, dando con­ceito da profissão, acentua aque­la qualidade (permanência), ao as­sinalar o caráter não eventual da ligação representante/representa­do." (g[).

Colocadas essas razões, convenci­do de que as atividades afeitas à re­presentação comercial não se "asse­melham" àquelas da corretagem, na viseira do contido no art. 51, Lei n2

7.713/88, parece-me conclusivo que a declaração normativa CST n 2 24, de 1989, interpretando extensiva e analogicamente, por equiparação de­cidida administrativamente, com ile­galidade, excluiu microempresa be­neficiária de isenção do Imposto de Renda.

Por todo o exposto, favorecida a parte impetrante, ora recorrida, pe­la isenção estabelecida no art. 11, I, da Lei n2 7.256/84, no pertinente à parte recorrida, disposições não abrangidas pelo enunciado do art. 51, da Lei n2 7.713/88 e nem arquea­das pelo multicitado Ato Declarató-

92 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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rio Normativo CST n~ 24/89, voto improvendo o recurso.

É o voto.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Sr. Presiden­te, data venia meu voto diverge do voto do Eminente Ministro-Relator. Farei juntar cópia de voto que pro­feri sobre esta matéria.

"ANEXO

RECURSO ESPECIAL N~ 67.486 - RS

(Registro n~ 95.0027743-3)

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): A União Federal pretende tributar mi­croempresa de representação comer­cial. Argumenta com a afirmação de que a atividade por esta desenvolvi­da se assemelha à corretagem.

Vejamos, pois:

O art. 51 da Lei 7.713/88 exclui da isenção do Imposto de Renda outor­gada pelo art. 11 da Lei 7.256/84 as microempresas que prestam serviços enumerados em seu próprio texto. Eis o texto:

"Art. 51 - A isenção do impos­to de renda de que trata o art. 11, item I, da Lei n~ 7.256, de 27 de

novembro de 1984, não se aplica à empresa que se encontre nas si­tuações previstas no art. 3~, itens I a V, da referida lei, nem às em­presas que prestem serviços pro­fissionais de corretor, despachan­te, ator, empresário e produtor de espetáculos públicos, cantor, mú­sico, médico, dentista, enfermeiro, engenheiro, físico, químico, econo­mista, contador, auditor, estatís­tico, administrador, programador, analista de sistema, advogado, psicólogo, professor, jornalista, pu­blicitário, ou assemelhados, e qualquer outra profissão cujo exercício dependa de habilitação profissional legalmente exigida."

A enumeração, no entanto, não é exaustiva: o texto legal afasta da isenção todas as atividades asseme­lhadas àquelas integrantes do rol e, ainda, "qualquer outra profissão cujo exercício dependa de habilitação profissional legalmente exigida."

O Coordenador do Sistema de 'fri­butação baixou o Ato Declaratório Normativo n~ 24, em que considera a representação comercial, ativida­de assemelhada àquela de correta­gem e a excluiu dos benefícios asse­gurados à microempresa.

O V. Acórdão recorrido declarou improcedente a pretensão de tribu­tar a microempresa de representa­ção comercial. Fincou-se no ensina­mento de Rubens Requião, in ver­bis:

"A característica básica da cor­retagem é a sua transitoriedade.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 93

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o corretor, sob a forma autônoma ou de pessoa jurídica, não se liga ao comitente de modo permanen­te ... Já o representante comercial, pessoa física ou jurídica, tem ca­racterísticas profissionais comple­tamente diferentes. A que mais ressalta é a permanência de sua relação com a representada. A Lei 4.886/65, já no art. 1~, dando con­ceito da profissão, acentua aque­la qualidade (permanência), ao as­sinalar o caráter não eventual da ligação representantelrepresenta­do" (fi. 109).

A Recorrente afirma que o art. 51, ao fazer referência a atividades as­semelhadas, deixa em branco o al­cance da norma. Assim, incumbe ao regulamento dizer quais atividades cabem no conceito de similitude.

No entendimento da Recorrente, o Ato Declaratório CST n~ 24/89 fun­cionou como regulamento, quando fez a equiparação entre corretagem e representação. Quando negou efi­cácia a esta equiparação, o V. Acór­dão teria desprezado o art. 51 da Lei 7.713/88.

De outro lado, o Aresto teria afrontado o art. 111, II do Código Tributário NacionaL

Esta, em resumo, a controvérsia.

Deixo de tecer considerações a propósito da alegada ofensa ao art. 111 do CTN, porque este tema não foi agitado na formação do Aresto.

No que respeita ao suposto des­prezo do art. 51, é oportuno traçar

um paralelo entre as duas ativida­des postas em confronto. Vejamos os conceitos de cada uma delas:

Corretagem é o contrato pelo qual uma das partes (o corretor) atua como intermediário entre o outro contratante e terceiro, pro­piciando a efetivação de negócio entre estes.

Representação comercial - a teor da Lei 4.886/65, "exerce repre­sentação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que de­sempenha, em caráter não even­tual por conta de uma ou duas pes­soas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agencian­do propostas ou pedidos, para transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relaciona­dos com execução dos negócios."

Como é fácil de perceber, as duas atividades têm como escopo a apro­ximação de pessoas interessadas na consumação de um negócio.

A característica diferencial entre elas não é substancial, mas adjetiva: enquanto a corretagem se exerce em caráter eventual, a representação co­mercial constitui atividade perma­nente.

Como se percebe, existe profunda semelhança entre as duas ativida­des. Pode-se dizer, com segurança, que:

94 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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corretagem é a representação comercial exercida eventualmen­te, ou;

representação comercial é a corretagem que se exercita em ca­ráter permanente.

Acrescente-se, ainda, a circuns­tância de que o exercício da repre­sentação comercial depende, neces­sariamente, de habilitação profissio­nal para ser exercida (Lei 4.886/65 - art. 2~).

Dou provimento ao recurso, para negar a segurança."

"ANEXO

RECURSO ESPECIAL

N~ 67.486-7 - RS

(Registro n~ 95.0027743-3)

RATIFICAÇÃO DE VOTO VENCIDO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Sr. Presidente, como faz algum tempo que li meu voto, com a licença do Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, passo a reproduzi-lo. (lê)

"A União Federal pretende ...... . ...... dar provimento ao recurso"."

RECURSO ESPECIAL N~ 54.387-8 - RJ

(Registro n~ 94.0029093-4)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrentes: Soletur Sol Transportadora Turística Ltda. e outros

Recorrido: Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro - Detro/RJ

Advogados: Drs. Paulo Roberto Wiedmann e outros, e José Eduardo San­tos Neves

EMENTA: Mandado de segurança - Transportadora e agência de viagens e turismo - Embratur - DetrolRJ - Lei n~ 6.505/77 - De­cretos n~ 84.934/80 e 87.342/82 - Decreto Estadual n!? 3.893/81.

1. As empresas e agências de viagens prestadoras de transporte e serviços turísticos devem ser registradas na Embratur, que tem competência administrativa para exercer o controle e fiscalização, diretamente ou por intermédio de órgãos públicos.

2. Devidamente registradas na Embratur, no caso, as empresas recorrentes não podem ser compelidas a fazer registro no DetrolRJ, constituindo-se ilegalidade a exigência e fiscalização referentes às suas atividades turísticas.

3. Recurso provido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 95

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a egrégia Primeira 'llirma do Superior 'fribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao re­curso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Go­mes de Barros. Presidiu o julgamen­to o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.

Custas, como de lei.

Brasília, 18 de setembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 16-10-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Com amparo nas alíneas a e b, do autorizativo constitucional, foi proposto o presente Recurso Es­pecial que impugna o v. decisum exarado pelo colendo 'fribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assim ementado:

"Administrativo. 'fransporte de passageiro. Empresa de turismo que, sob a alegação de exercitar sua atividade normal, deseja fugir da fiscalização do Detro, embora

narre os fatos de outro modo. Não concessão de uma segurança, até mesmo com o propósito preventi­vo. Provimento do apelo" (202).

Foram opostos Embargos de De­claração que não lograram acolhi­mento.

Funda-se o pedido na negativa de vigência aos artigos I!!, 2!! e 4!!, da Lei 6.505/77, 3!!, do Decreto 84.934/80.

'franscorreu o prazo legal sem que fossem apresentadas contra-razões.

O recurso foi admitido pelo íncli­to Presidente do egrégio 'fribunal de origem, que teceu as seguintes con­siderações:

"'Ibdavia, verifica-se que o Re­gulamento de 'fransporte Coletivo Intermunicipal de Passageiros por ônibus, aprovado pela referida le­gislação estadual, não se aplica às impetrantes, que por serem em­presas de 'llirismo estão submeti­das à fiscalização da Embratur, nos termos do Decreto Federal n!! 84.934/80, tanto mais que não há na referida legislação estadual previsão de abrangência das em­presas que operam com 'llirismo.

Ressalte-se que estão as recor­rentes registradas na Embratur e não cabe, portanto, obrigá-las a registrarem-se no Detro/RJ.

Houve, portanto, em tese, ofen­sa à referida legislação federal, devendo a questão ser submetida à Egrégia Superior Corte de Jus­tiça" (fls. 224/225).

É o relatório_

96 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Como prenun­ciado no relatório, da leitura das pá­ginas dos autos surge espaço para fincar, em Mandado de Segurança, relação jurídico-litigiosa resolvida aconsoantado à fundamentação do confrontado v. acórdão, resumido na seguinte ementa:

"Administrativo. Transporte de passageiros. Empresa de turismo que, sob a alegação de exercitar sua atividade normal, deseja fugir da fiscalização do Detro, embora narre os fatos de outro modo. Não concessão de uma segurança, até mesmo com o propósito preventi­vo. Provimento do apelo".

A insurgência fluiu de alegada ne­gativa de vigência aos artigos 1~, 2~ e 4~, da Lei n~ 6.505/77, e ao artigo 3~, do Decreto n~ 84.934/80, presen­tes os requisitos de admissibilidade, merecendo ser conhecida (art. 105, IlI, a, b, C.F.).

Colocada a questão e aberto o pórtico recursal para o exame, sem enleios, evidencia-se que as Impe­trantes, ora recorrentes, conforme a respectiva organização social, de­monstrada nos contratos sociais re­gistrados na Junta Comercial, qua­lificam-se como "transportadora tu­rística e agência de viagens e turis­mo" (Lei n~ 6.505/77, art. 2~, IV e V, c/c os arts. 1~ e 2~, III e IV, c/c art. 3~, IlI, do Decreto n~ 84.934/80, e art. 2~, I, II e lII, e art. 4~, § 2~, De­creto n~ 87.348/82).

Liberada a atividade de turismo (Dec.-Lei n~ 2.294/86), o necessário registro é na Embratur, responsável pelo cadastramento e fiscalização (art. 7~, Lei n~ 6.505/77).

Obvia-se da legislação comemora­da que - para a atividade ligada ao turismo - o registro somente pode ser exigido pela Embratur, ficando subjacente a fiscalização e, por evi­dente, excluindo-se o transporte co­mum de passageiros, tratado pelo Decreto Estadual n~ 3.893/8l.

Daí as observações feitas pelo douto agente do Ministério Público local, certeiramente, aduzindo:

"Como empresas de turismo que são, as Apeladas se subme­tem à fiscalização da Embratur, nos termos do Decreto Federal n~ 84.934/80, arts. 22 e segs. (fi. 51).

Ao revés, o Dec. Estadual n~ 3.893/81, que aprovou o Regula­mento do Transporte Coletivo In­termunicipal de Passageiros por Ônibus (fls. 56 e segs.) não se aplica às Apeladas, que não efe­tuam dito transporte. A fiscaliza­ção com fincas nesse Regulamen­to só diz respeito aos serviços de que ele trata (art. 85).

Logo, ilegal a fiscalização exer­citada pelo DetrolRJ em relação a empresas de turismo, com invasão da esfera regulamentar deferida a entidade federal.

Essa ilegalidade está documen­talmente comprovada pelo Memo de fls. 39, no qual agente do De­trolRJ comunicou a uma empresa ter sido determinada a paralisa-

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ção do serviço de um ônibus e a apresentação do mesmo ao DNER. Ainda que aplicável em tese tal pe­nalidade, afigura-se óbvio que te­ria que ser lavrado auto de infra­ção e ensejada oportunidade de de­fesa, em atenção à normação cons­titucional da matéria". (fls. 196 e 197).

À sua vez, repara-se que o v. acórdão, data venia, fugidio da análise pertinente à legislação de re­gência, aprisionou-se à argumenta­ção de conteúdo fático, deduzindo que as atividades das empresas, ora recorrentes, deixam vislumbrar que elas estão procurando escapar da fis­calização do DetrolRJ, comportamen­to que constituiria "um estímulo à fraude e ao chamado transporte fan­tasma ou ônibus pirata". (fi. 203).

Conquanto se trate de compreen­sível preocupação, manifestada por autorizada fonte judicial, tem a na-

tureza subjetiva, desbordando da questão crucial: a legalidade, ou não, da fiscalização e autuação por agen­tes do DetrolRJ, quanto às ativida­des de empresas registradas na Em­bratur, tendo como frontispício a le­gislação federal colacionada.

Enfim, a legalidade, ou não, da aplicação do Regulamento Estadual de Transporte Coletivo Intermunici­pal de Passageiros (Decreto n 2 3.893/81) às empresas de turismo.

N esse contexto, no pertinente às empresas de turismo registradas na Embratur não se amoldando à lega­lidade a exigência de registro junto ao DetrolRJ e sujeição à fiscalização deste, certo que não recebeu delega­ção ou autorização conveniada. Divi­sada, pois, contrariedade à examina­da legislação federal de regência, vo­to provendo o recurso, com a reani­mação do julgado que concedeu a se­gurança.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N2 60.637-3 - RS

(Registro n2 95.0006605-0)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul

Recorrida: Cyanamid Química do Brasil Ltda.

Advogados: Drs. Vera Maria Oliveira Dornelles e outros, e João Alber­to Schenkel Filho e outro

EMENTA: Processual Civil. Art. 515, CPC. Preliminar de coisajul­gada rejeitada pela sentença. Mérito favorável a quem a alegou. Fal­ta de interesse para recorrer. Ausência de preclusão. Apelação da

98 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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parte vencida. Devolução de toda matéria discutida na causa, in­clusive da preliminar.

A parte vitoriosa, em primeira instância, quanto ao mérito da causa, não tem interesse para recorrer por não ter sido acolhido o seu pedido preliminar de coisa julgada.

Ausente esse requisito de admissibilidade do recurso, não se ope­ra, quanto a esse aspecto, a preclusão.

A apelação devolverá ao 'ftibunal o conhecimento de todas as ma­térias discutidas na causa, com exceção das preclusas.

Assim, deve o 'Iribunal em sede de recurso apelatório, apreciar a preliminar de coisa julgada, sobretudo quando a parte vitoriosa em primeiro grau ficou vencida na apelação, por ter a sentença si­do reformada no seu mérito.

Recurso parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar par­cial provimento ao recurso, nos ter­mos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Ausen­tes, justificadamente, os Srs. Minis­tros Garcia Vieira e Milton Luiz Pe­reira.

Brasília, 03 de maio de 1995 (da­ta do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 29-05-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: O recorrente promoveu con-

tra a recorrida uma execução fiscal para cobrança de crédito referente a multa diária por infração ao regula­mento sanitário que consistiria na sua omissão em se cadastrar peran­te o Departamento do Meio Ambien­te da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente do Estado.

Oferecidos embargos, nesses ale­gou-se a inconstitucionalidade da Lei Estadual n~ 7.747/82; existência de legislação federal regulamentando o licenciamento e o registro de defen­sivos utilizados na agricultura (Có­digo Nacional de Saúde), o que limi­taria a iniciativa legiferante dos Es­tados; falta de amparo legal para a cobrança de acréscimos de incentivo à arrecadação, lançado sobre o valor da multa.

Impugnando os embargos, o recor­rente argüiu a preliminar de coisa julgada, além da matéria de mérito.

A sentença de primeiro grau rejei­tou a preliminar de coisa julgada e,

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no mérito, julgou os embargos im­procedentes.

Em grau apelatório, o ego llihLmal a quo reformou o decisum mono­crático para o fim de considerar ine­xigível o crédito tributário eis que lançado com fincas em leis estaduais que foram consideradas inconstitu­cionais.

Inconformado, o recorrente lançou embargos de declaração postulando, dentre outras coisas, pronunciamen­to sobre a preliminar de coisa julga­da que deveria ter sido apreciada pelo Tribunal, em sede de reexame necessário.

Quanto a esse aspecto, o r. ares­to que o apreciou consignou que "não se pode falar nem exigir reexame da sentença, quando o Estado foi vence­dor em primeiro grau de jurisdição. O duplo grau de jurisdição é cabível e até imprescindível, quando a sen­tença de primeiro grau decide contra a Fazenda Pública ou lhe julga im­procedente a execução de dívida ati­va" (fls. 426).

Daí o recurso especial em exame, interposto com base nas alíneas a e c do permissivo constitucional por alegada ofensa aos arts. 467, 468, 471,475 e 515 do Código de Proces­so Civil, e ainda aos arts. 18 e 19 da Lei Federal n~ 6.437/77, além da di­vergência com os arestos que indica.

Contra-arrazoado, o recurso foi admitido na origem, tendo sido rece­bido no meu gabinete em 17.03.95 e indicado para pauta no dia 17 do mês seguinte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): Conforme obser­vado no relatório supra, a Fazenda estadual, ora recorrente, promoveu execução fiscal contra a recorrida.

Ao impugnar os embargos, levan­tou a preliminar de coisa julgada, que foi desacolhida pela sentença que os julgou, embora tenha, no mé­rito, tido pela improcedência dos em­bargos.

Dessa decisão apelou a executada, ora recorrida, não o tendo feito a Fa­zenda já que fora vitoriosa na ques­tão de mérito, em razão do que lhe faltaria interesse para recorrer.

Ao julgar a apelação, o ego Tribu­nal a quo reformou o decisum mo­nocrático para o fim de dar pelo pro­vimento dos embargos.

Com os aclaratórios, que foram rejeitados, a recorrente reclamou omissão no atinente ao disposto nos arts. 475 e 515 do Código de Proces­so Civil, visto que, além de tratar-se de reexame necessário, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimen­to de todas as matérias discutidas na causa.

Assim, o primeiro tema discutido neste recurso especial cuida de se saber se, tendo sido vencedora no mérito dos embargos à execução, mas vencida na preliminar de coisa julgada, teria a recorrente interesse para recorrer.

Tenho para mim que não.

100 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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É que o pressuposto básico para a interposição de qualquer recurso é o interesse para recorrer. Ora, a par­te que foi vitoriosa no julgamento do mérito da causa não sofreu nenhum gravame, falecendo, assim, de um dos requisitos de admissibilidade de qualquer recurso, que é o interesse, decorrente do prejuízo que a decisão a ser atacada possa ter ocasionado ao recorrente.

Assim, não podia a Fazenda Esta­dual recorrer da decisão de primei­ra instância.

Fixada essa premissa, resta saber se, ao examinar e dar provimento à apelação, deveria a colenda Corte Estadual apreciar o tema referente à preliminar de coisa julgada, que fora a debate desde a impugnação aos embargos.

Em argumentação apressada, po­der-se-ia afirmar que, tendo a Fa­zenda Pública se conformado com a rejeição da preliminar que ela levan­tara, a matéria estaria preclusa.

Mas, não é assim. Ora, se o órgão estadual não tinha interesse para recorrer, não tinha como irresignar­se contra o decisum monocrático que lhe fora favorável, ainda que não atendendo o pleito preliminar.

De decorrência, não poderia operar­se contra ele a preclusão.

Com efeito, a matéria poderia ser objeto de decisão na Corte apelató­ria, desde que fosse desfavorável, co­mo efetivamente o foi, a decisão de mérito, já que serão "objeto de apre­ciação e julgamento pelo tribunal to­das as questões suscitadas no pro­cesso", conforme dispõe o § 1~ do art. 515 do Código de Processo Civil.

É que, não tendo sido acolhidos todos os fundamentos lançados na impugnação aos embargos, a Fazen­da Pública, que obteve sentença fa­vorável, não precisava recorrer pa­ra ter por prevalecidos os argumen­tos não admitidos, porquanto o Tri­bunal, em sede apelatória, pode ree­xaminá-los.

E ao assim agir, ainda que recu­sando o fundamento acolhido na sentença, pode aceitar outro que por ela fora recusado.

Diante de tais pressupostos, dou parcial provimento ao recurso, e de­volvo o processo ao ego Tribunal a quo para que, superado o óbice de preclusão, aprecie, como bem enten­der, se deve ou não ser acolhida a preliminar de coisa julgada.

RECURSO ESPECIAL N~ 60.952-6 - PE

(Registro n~ 95.0007480-0)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Banco Central do Brasil

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 101

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Recorrido: Plantes Planejamento Técnico e Serviços Agropecuários

Advogados: Drs. Wagner 1enório Fontes e outros, e Antônio Lizardo Cou­tinho e outros

EMENTA: Processo Civil e Civil.

A prescrição cogitada no art. 178, § 7';!, IV, do Código Civil, repor­ta-se a créditos de profissionais liberais e não a empresas presta­doras de serviços.

Não há decisão extra petita se a sentença confere ao autor aquém do que postulado e nos limites do pedido inicial.

Não ocorre a reformatio in pejus quando o recorrente não demons­tra em que teria se dado o agravamento da condenação quando do julgamento do recurso.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Gar­cia Vieira, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Ausen­te, justificadamente, o Sr. Ministro Milton Luiz Pereira.

Brasília, 17 de abril de 1995 (da­ta do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 22-05-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: A recorrida é uma empresa

que atua no ramo de assistência téc­nica rural e, nessa condição, era cre­denciada pelo requerido para reali­zar perícias indispensáveis à indeni­zação dos seguros do Pro agro contra­tados por produtores rurais.

Assinala que inicialmente o valor dos seus honorários era da ordem de dois MVR's (maior valor de referên­cia) da data de realização de cada perícia, cabendo, entretanto, no ca­so de culturas consorciadas (milho, feijão e mandioca, por exemplo), o pagamento de três perícias e não de uma só.

Tendo a recorrida reclamado do pagamento incorreto, o recorrente atendeu, administrativamente, a re­clamação, pagando a importância correspondente, inclusive acrescida de correção monetária e juros, mas, quase um ano depois, reconsiderou tal decisão por entender que ditos honorários deveriam ser pagos pelos

102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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MVR's da época dos respectivos pa­gamentos, pelo que creditava esses valores reclamados sem correção.

A par disso, o recorrente dirigiu várias correspondências à recorrida instando-a a devolver as importân­cias que teriam sido recebidas a maior, quando efetuou o pagamento com a correção correta.

Em face desse quadro, a recorri­da promoveu uma ação ordinária em que requereu o pagamento, com ju­ros e correção monetária, das dife­renças apuradas entre o que lhe foi creditado a título de honorários por perícias realizadas e o valor corres­pondente à correção monetária ple­na segundo a variação das OTN's, com o reconhecimento concomitante da impossibilidade de exigir da re­corrida as diferenças referentes à correção monetária que já haviam sido pagas.

Postulou, mais, pelo pagamento de perdas e danos e lucros cessantes a serem apurados em execução e mais as verbas sucumbenciais.

Contestando o feito, o recorrente, dentre outras preliminares, argüiu a ocorrência da prescrição bienal de que cuida o art. 178, § 7~, IV, do Có­digo Civil, igualmente refutando o mérito.

O juízo monocrático julgou par­cialmente procedente a ação para condenar o recorrente a pagar à re­corrida os honorários devidamente corrigidos, bem como, a título de perdas e danos, a devolver à recor­rida, com correção monetária e juros, os valores que já haviam sido pagos e que teriam sido depois incorreta-

mente recuperados referentes aos pagamentos atrasados das perícias, a ser apurado em liquidação de sen­tença, além de honorários advocatí­cios na base de 10% sobre o valor da condenação e custas.

Desacolheu o pedido de lucros ces­santes.

A promovida apelou. Insistiu no pedido de prescrição, pois que a ação foi proposta após decorridos mais de dois anos do término do trabalho. Alegou ainda, em preliminar, que o decisum teria sido extra petita, uma vez que a sentença teria conde­nado a ré em devolver o que havia recuperado sem que tivesse essa parcela sido pedida na inicial, tendo, por fim, refutado o mérito.

Mantida a sentença, adveio o re­curso especial em análise, lançado com fincas na letra a do permissivo constitucional, por alegada ofensa aos arts. 178, § 7~, IV, do Código Ci­vil, referente à prescrição; 125, I, 515 e 512 do Código de Processo Civil, visto que o r. aresto da apelação te­ria decidido sobre questão não ven­tilada na apelação, agravando a con­denação da recorrente; arts. 464 e 465 do Código de Processo Civil, por­que teria explicitado ponto da sen­tença que estaria omisso; art. 264, porque teria ferido o princípio da es­tabilização da relação processual.

Sem resposta, o recurso foi admi­tido na origem, tendo chegado ao meu Gabinete no dia 17 de março de 1995 e remetido para pauta no dia 21 do mesmo mês, dispensada a ma­nifestação da douta Subprocuradoria Geral da República.

É o relatório.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 103

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VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): Pontifica o art. 178, § 7~, IV, do Código Civil que "prescreve ... em dois anos ... a ação dos engenheiros, arquitetos, agrimen­sores e estereômetros, por seus hono­rários, contado o prazo do termo dos seus trabalhos".

Tivesse a ação sido proposta por alguns daqueles profissionais men­cionados no dispositivo acima indi­cado, efetivamente o direito à ação estaria prescrito.

Ocorre, todavia, que a ação foi proposta por uma empresa prestado­ra de serviço que nem pode e não deve nunca ser confundida com aqueles profissionais de que cuida a lei cogitada.

Ali, a prescrição reporta-se a ho­norários devidos a profissionais libe­rais; aqui, cuida-se de parcelas devi­das a uma empresa prestadora de serviço que, por qualquer ângulo que se queira apreciar, nunca pode ser confundida com profissionais libe­rais.

Destarte, supero a preliminar de prescrição.

Os demais dispositivos trazidos à colação como supostamente violados podem ser tratados conjuntamente, eis que o recorrente ampara-se em todos eles para dizer que a decisão monocrática concedeu ao autor além do que fora pedido e que o r. aresto objurgado ampliara a condenação.

Ao promover a ação a recorrida requereu o pagamento, com juros e

correção monetária, das diferenças apuradas entre o que lhe foi credita­do a título de honorários por perícias realizadas e o valor correspondente à correção monetária plena segundo a variação das OTN's, com o reconhe­cimento concomitante da impossibi­lidade de a recorrente exigir da re­corrida as diferenças referentes à correção monetária que já haviam sido pagas.

Postulou, mais, pelo pagamento de perdas e danos e lucros cessantes a serem apurados em execução, além das verbas sucumbenciais.

A sentença, ao julgar parcialmen­te a ação, negou o pedido de lucros cessantes e condenou o recorrente a pagar à recorrida os honorários de­vidamente corrigidos, bem como, a título de perdas e danos, a devolver à recorrida, com correção monetária e juros, os valores que já haviam si­do pagos e que teriam sido depois incorretamente recuperados referen­tes aos pagamentos atrasados das perícias, a ser apurado em liquida­ção de sentença, além de honorários advocatícios na base de 10% sobre o valor da condenação e custas.

Quer isso dizer que concedeu, com exclusão da parcela referente a lu­cros cessantes, exatamente o que foi requerido pela recorrida, valendo-se, apenas, de uma linguagem diferente.

O v. aresto hostilizado, ao funda­mentar a manutenção da sentença, apenas explicitou as razões porque a mantinha, sem ferir nenhum dos dispositivos arrolados pela recorren­te.

104 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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Ao contrário, agiu com correção, posto ter prestigiado a clareza do texto, proferindo uma decisão mais escorreita, evitando, preventivamen­te, a interposição de aclaratórios.

Quanto à reformatio in pejus, tal não ocorre se o recorrente não

demonstra em que teria se dado o agravamento quando do julgamento do recurso.

No caso em exame, não houve ne­nhuma demonstração a tal respeito.

Diante de tais circunstâncias, ne­go provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 61.174-1 - SP

(Registro n~ 95.0008032-0)

Relator: O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Unifértil Comércio e Representações de Produtos Agrícolas Ltda.

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Drs. José Luís jl1atthes e outro, e José Ramos Nogueira Ne­to e outros

EMENTA: Tributário. Lançamento. Decadência não configurada.

Com a lavratura do auto de infração se consuma o lançamento tributário, não se podendo mais, depois disso, falar em decadência.

Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Thrma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros De­mócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira. Au­sente, justificadamente, o Sr. Minis­tro Garcia Vieira.

Brasília, 03 de maio de 1995 (da­ta do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Relator.

Publicado no DJ de 29-05-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: A recorrida promoveu uma

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 105

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execução fiscal contra a recorrente pretendendo receber ICM e seus acréscimos, sob a alegação de que esta teria promovido a saída de mer­cadorias desacompanhadas de docu­mentação fiscal.

Ao julgar os embargos à execução, em grau apelatório, o ego Tribunal a quo consignou que "a infração data de 06.04.83 e o lançamento ocorreu em 01.06.84, com a lavratura do au­to de infração e imposição de multa. Daí para a frente não corre mais o prazo decadencial. Somente a partir da constituição definitiva do crédito tributário, aqui ocorrida em 23.09.89, data da publicação da última decisão do Tribunal de Impostos e Thxas (fls. 106v. dos autos do processo adminis­trativo em apenso) é que passou a fluir o prazo prescricional, sendo cer­to que a execução foi ajuizada em 25.07.90, com citação em 07.08.90, dentro do prazo, portanto." (fls. 156).

Desacolheu, também, o alegado cerceamento de defesa, por não ter sido procedida a produção de prova oral, por entender suficiente a pro­va documental.

Quanto ao mérito ficou registrado que a recorrente foi autuada por ter promovido a saída de mercadorias desacompanhadas de documentação fiscal, daí a multa por infração (fls. 157).

Daí o recurso especial em exame, aviado com base na letra a do per­missivo constitucional, por alegada ofensa aos arts. 173, I, 112, 113, 142 e 204, par. único, do Código Tributá­rio Nacional.

Respondido, o recurso foi admiti­do na origem, tendo ingressado no meu Gabinete em 16 de março do corrente ano de 1995 e sido indicado para pauta no dia 11 do mês seguin­te, dispensada a manifestação da douta Subprocuradoria Geral da Re­pública.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): De logo observo que o decisum que destramou a apelação não apreciou a lide sob as luzes dos arts. 112, 113, 142 e 204, par. único do Código Tributário N a­cionaI, não tendo a parte o cuidado de opor, contra eventual omissão, os necessários embargos declaratórios.

Aplicação, pois, dos Verbetes ni!.§. 282 e 356 da Súmula do Pretório Excelso.

Para que a matéria objeto do ape­lo nobre reste prequestionada há ne­cessidade tanto que seja levantada pela parte quando da impetração do recurso comum na Corte ordinária, quanto que seja por esta debatida ao decidir a apelação.

Ausente o debate, inexistente o prequestionamento, por isso que obs­taculizada a via de acesso ao apelo excepcional.

Examino, todavia, a questão refe­rente à alegada decadência.

Pontifica o inciso I do art. 173 do Código Tributário Nacional que o di­reito de a Fazenda Pública constituir

106 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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o crédito tributário extingue-se após cinco anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efe­tuado.

Ora, a infração cometida pela re­corrente deu-se em 06.04.83, tendo sido lavrado o auto de infração já em 01.06.84.

É certo que o lançamento só se consumou no dia 23 de setembro de 1989, data em que a recorrente foi notificada do último, definitivo e ir­recorrível julgamento administrati­vo.

O eminente Professor Hugo Ma­chado (in "Curso de Direito Tribu­tário", ed. Malheiros, SP, 1994, 9~ ed., pág. 121) leciona que "lançamen­to tributário é o procedimento admi­nistrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obriga­ção correspondente, identificar o seu sujeito passivo, determinar a maté­ria tributável e calcular, se for o ca­so, a penalidade cabível".

Destarte, do lançamento decorre a constituição do crédito tributário ao mesmo tempo a declaração da obrigação correspondente.

Ou, no momento em que o fisco elabora o auto de infração, está con-

sumado o lançamento tributário pa­ra fins do disposto no art. 173, I, do CTN, não se podendo, pois, mais fa­lar em decadência.

Eventual demora, nas vias admi­nistrativas, na aferição do valor exa­to do crédito, não importa em afas­tar a existência do lançamento, des­de que o auto já tenha sido lavrado, pois os recursos acaso manifestados na esfera administrativa apenas sus­pendem a exigibilidade do crédito tributário.

Não fora assim, o demorado julga­mento de uma autuação na esfera contenciosa administrativa, poderia desaguar na decadência, servindo, pois, de estímulo a que o contribuin­te autuado procrastinasse, a mais não poder, o andamento desses fei­tos.

O objetivo da norma em comento não foi esse, senão o de penalizar o fisco pela inércia em praticar um ato administrativo vinculado e obrigató­rio, para que não perdure eternamen­te o seu direito de constituir o crédi­to tributário.

Diante de tais pressupostos, co­nheço parcialmente do recurso e, nesta parte, nego-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL N~ 73.687 - RS

(Registro n~ 95.0044606-5)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: União Federal (Fazenda Nacional)

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 107

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Recorrida: Reny Porciuncula Amaral

Advogados: Drs. Maria da Graça Hahn e outros, e Arno Uhlein

EMENTA: Administrativo - Tributário - Aposentadoria volun­tária - Moléstia grave - Retificação do ato - Isenção do impos­to de renda.

I - Retificação e conversão do ato administrativo são fenômenos que não se podem confundir.

II - Se o servidor foi aposentado a pedido, quando já sofria de car­diopatia grave, a retificação do ato, para se registrar como causa da aposentadoria, a doença cardíaca, tem efeito ex tunc. A teor da regra contida no art. 17, III da Lei 4.506/64, os proventos de tal apo­sentadoria não se incluem entre os rendimentos suscetíveis de tri­butação pelo Imposto de Renda.

III - A isenção do IR, em favor dos inativados por efeito de molés­tia grave tem como objetivo diminuir o sacrifício do aposentado, aliviando os encargos financeiros relativos ao tratamento.

IV - Não se considera rendimento tributável, o provento de apo­sentadoria, percebido pelo cardiopata, "mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma" (art. 40 do RIR/94 (Dec. 1.041/94, inciso XXVII).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'lbrma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros José de Jesus Filho e Demócrito Rei­naldo. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha.

Brasília, 29 de novembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro HUMBER­TO GOMES DE BARROS, Relator.

Publicado no DJ de 04-03-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A Recorrida é inativa do Serviço Público.

Sua aposentadoria - originaria­mente resultante de tempo de servi­ço - foi convertida: passou a ter co­mo causa, a invalidez (L. 1.050/50).

Efetivada a conversão, a ora Re­corrida propôs ação declaratória, de

108 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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isenção de imposto de renda, nos termos do Dec. 85.450/80 (RIR), art. 22, IX.

O E. TRF da Quarta Região, ne­gando provimento à apelação, decla­rou procedente o pedido.

O acórdão foi reduzido a ementa, nestes termos:

"Tributário. Aposentadoria. IR sobre proventos.

Precedentes que garantem a isenção em caso de conversão de aposentadoria voluntária para in­validez." (fl. 71)

A União Federal interpôs recurso especial, fincado na alínea a. Quei­xa-se de maltrato aos arts. 17, III da Lei n~ 4.506/64; 22, IX do RIR/80 e 111 do CTN.

Este, o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): O Recurso Especial fomenta-se na as­sertiva de que a Recorrida aposen­tou-se voluntariamente; a conversão do fundamento somente ocorreu de­pois.

Semelhante modo de encarar o fe­nômeno ocorrido com a aposentado­ria da Recorrente carece, data ve­nia, de precisão.

Com efeito, não houve conversão.

A ora Recorrente requereu apo­sentadoria, porque já completara o

tempo de serviço necessário à obten­ção do status de inativa.

Posteriormente, percebeu-se que ela, antes de ser aposentada, padecia de moléstia, cuja descoberta oportu­na teria gerado a inatividade, ex of­fido.

Constatada a preexistência do mal, a Administração retificou o ato de aposentadoria e o registro respec­tivo.

Passou-se, então, a tratar a Re­corrida como aposentada por invali­dez e não mais como inativada por vontade própria.

Em rigor, não houve conversão.

Converter é:

"Mudar a natureza de (dívida pública).

Mudar (uma coisa) em outra de forma e/ou propriedade diferente; transformar, transmutar" (Dicio­nário Aurélio Eletrônico).

Na hipótese, não ocorreu mudan­ça. O fenômeno foi bem outro.

Como restou claro, no Acórdão em que se louvou o Aresto recorrido, o ato de aposentação foi retificado.

Retificar é corrigir o que está er­rado.

Ao contrário da transformação, a retificação tem eficácia ex tunc.

O ato que transferiu a Recorrida para a inatividade padecia de um desvio relativo aos motivos que o ge­raram. Retificado o ato, a aposenta­doria passou a ser considerada cor­reta em sua etiologia.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 109

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Assim, a Administração conside­ra que a ora Recorrida foi aposenta­da por efeito de cardiopatia grave.

Ora, a teor da regra contida no art. 17, IH da Lei 4.506/64, não se incluem entre os rendimentos susce­tíveis de tributação,

"os proventos de aposentadoria ou reforma, quando motivada por moléstias numeradas no item IH do artigo 178 da Lei n~ 1.711, de 28 de outubro de 1952".

O Regulamento do Imposto de Renda é mais explícito, retirando do cômputo do vencimento bruto os pro­ventos de aposentadoria motivada por cardiopatia grave (art. 22, XI).

Se ocorre assim, os textos da Lei 4.506/64 (art. 17, lI!) e de seu Regu­lamento (art. 22, XI) foram objeto de estreita interpretação literal.

Não há como pensar em ofensa à Lei 4.506/64, nem ao art. 111 do CTN.

Aliás, a solução não se alteraria, caso a moléstia houvesse atingido a recorrente, após consumada a apo­sentadoria e a hipótese coubesse no conceito de conversão.

Como registrou o E. Ministro Car­los Mário Velloso,

"o objetivo da Lei é o de não permitir a cobrança do tributo de quem se encontra na situação ti­pificada pela norma, assim em si­tuação de desvantagem ditada pe­la necessidade de uma maior car­ga de dinheiro no tratamento do maL" (AC 146.455 - TFR)

Ora, a doença não faz diferença entre suas VÍtimas: agride, com igual intensidade, pessoas ativas e apo­sentados. Muito menos, distingue entre aqueles que se aposentaram em razão da moléstia e os outros, inativados por motivos diversos.

Bem por isto, o art. 40 do RIR/94 (Dec. 1.041/94), no inciso XXVII, não considera rendimento tributável o provento de aposentadoria, percebi­do pelo cardiopata, "mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma."

Hoje, próprio regulamento afasta perplexidades, explicitando a inter­pretação teleológica do preceito le­gal.

Nego provimento ao Recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 74.157 - RS

(Registro n~ 95.0045492-0)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul

110 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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Recorrido: BMW Shoes Assessoria e Exportação Ltda. - massa falida

Advogados: Drs. Alexandre Mariotti e outros, e Maria Helena Zottmann - síndica

EMENTA: Processual - Execução fiscal - Massa falida - Bens penhorados - Dinheiro obtido com a arrematação - Entrega ao juízo universal - Credores privilegiados.

I - Os créditos fiscais não estão sujeitos a habilitação no juízo fa­limentar, mas não se livram de classificação, para disputa de pre­ferência com créditos trabalhistas (Dl. 7.661/45, art. 126).

II - Na execução fiscal contra falido, o dinheiro resultante da alie­nação de bens penhorados deve ser entregue ao juízo da falência, para que se incorpore ao monte e seja distribuído, observadas as preferências e as forças da massa.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José de Jesus Filho e Demócrito Reinaldo. Ausen­te, justificadamente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.

Brasília, 04 de dezembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro DEMÓCRITO REINAL­DO, Presidente. Ministro HUMBER­TO GOMES DE BARROS, Relator.

Publicado no DJ de 04-03-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O Estado do

Rio Grande do Sul promoveu execu­ção fiscal, contra pessoa jurídica.

O Juiz do processo, em razão de a executada ser falida, determinou se recolhesse à massa e ao juízo da fa­lência, o produto da alienação judi­cial dos bens penhorados.

'Ial Decisão foi desafiada por agra­vo de instrumento.

O Agravo montou-se nos argumen­tos de que a Decisão contraria o enunciado da Súmula 44 do TFR e ofende os Artigos:

a) 70, § 42, 24, § 22, I, da Lei de Falências;

b) 187 do CTN;

c) 29 da LEF.

O V. Acórdão recorrido negou pro­vimento ao Agravo, dizendo, em su­ma:

"Efetuada a venda em hasta pública de bem penhorado antes

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 111

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da decretação da quebra da em­presa executada, o produto da praça é arrecadado para o juízo da falência que, no pagamento das dívidas, observará as prefe­rências legais.

Aplicação dos arts. 178 do CTN e 29 e parágrafo da Lei n2 6.830, de 1980, em combinação com os arts. 102 e 124 do Decreto-Lei n2 7.661, de 1945." (fi. 32).

o Estado, em recurso especial fo­mentado nas alíneas a e c, traz a controvérsia ao STJ. Alega violação dos arts. 52 e 29 da L. 6.830/80 e, ainda, do art. 187 do CTN.

Chama a confronto a Súmula 44 do Tribunal Federal de Recursos e Acórdão proveniente do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Eis o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Masto a suposta divergência entre o Acórdão recorrido e a Súmula 44/ TFR.

O dispositivo sumulado afirma que, penhorados antes da quebra, os bens ficam livres de arrecadação.

O Acórdão recorrido acata esta proposição - tanto que admite a venda do bem penhorado, em execu­ção fiscal.

A tese prestigiada pelo Aresto e contraditada pelo Estado recorren­te é bem diferente: nela se afirma

que os valores produzidos pelos bens alienados no processo de execução sejam levados ao Juízo da falência, para apuração dos privilégios.

Merece conhecimento, o dissídio com o E. Tribunal de Justiça de São Paulo.

De qualquer sorte, os dispositivos de lei federal apontados pelo recor­rente foram questionados na forma­ção do Acórdão.

Passo a examiná-los.

O art. 52 da Lei de Execução Fis­cal exclui a competência do juízo fa­limentar, para processar e julgar a execução da dívida fiscal.

O art. 29 desta Lei libera de habi­litação em falência a cobrança judi­cial da dívida ativa fiscal. Preceito coincidente é proclamado no art. 187 do CTN.

Estas regras envolvem dois insti­tutos de direito, a saber:

a) a competência para proces­sar e julgar a execução da dívida fiscal;

b) a habilitação em falência.

Para avaliar o alcance destes pre­ceitos é oportuno recordar, em aper­tado resumo, o escopo do processo falimentar. Acredito que podemos resumi-lo assim:

a) quando o montante da dívi­da contra determinado comercian­te ultrapassa o valor de seu ativo, a Justiça decreta-lhe a falência;

b) instaura-se um juízo univer­sal, em que, sob o controle do

112 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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Juiz, um administrador nomeado por ele, apura todo o patrimônio do falido, liquida-o e rateia entre os credores;

c) para segurança geral e eco­nomia processual, os credores são instados a apresentarem seus cré­ditos, para habilitação;

d) apresentados os créditos, o juiz da falência, depois de exami­nar os respectivos títulos, declara­os habilitados (aptos à participa­ção no rateio) ou inabilitados;

e) depois de habilitados, os cré­ditos são classificados segundo o grau de preferência.

o Estado brasileiro, em seus di­versos graus de competência (União, Estados, Municípios) - certamente por efeito da vocação autoritária que o caracteriza - não se afina com tão racional procedimento.

Por isto, a execução de seus crédi­tos desenvolve-se em juízos aparta­dos daquele a quem se confiam os negócios da massa falida.

Os dispositivos legais a que me referi há pouco dizem assim: os cré­ditos do Estado não se subordinam à habilitação. Esta é a vontade da Lei.

Resta-nos obedecer.

'fudo seria muito simples: o Esta­do apuraria seus créditos, os execu­taria, deixando que os demais credo­res disputassem os sobejos.

Isto, porém, é impossível. Existe uma circunstância complicadora: os créditos fiscais não se livram da classificação.

É que o art. 102 da Lei de Falên­cias estabelece uma gradação de pri­vilégios. Nela, os créditos provenien­tes de remunerações aos servidores do falido colocam-se em primeiro lu­gar.

Os créditos tributários assumem o segundo lugar, nesta hierarquia de prioridades.

Se assim ocorre, o Estado somen­te recebe, depois que os titulares de créditos provenientes da prestação de trabalho estiverem satisfeitos.

Em tal circunstância, embora o Estado esteja livre de habilitar-se, não foge ao confronto classificatório.

Aliás, de tal confronto, nem mes­mo os titulares de créditos trabalhis­tas escapam.

A Quarta 'furma do Superior Tri­bunal de Justiça, no julgamento do RMS 1.459/SP foi conduzida pelo Ministro Sálvio de Figueiredo ao en­tendimento de que:

"O crédito trabalhista, conquan­to goze de privilégio absoluto e não esteja sujeito à impugnação pre­vista no § 1~, art. 98 do Dec.-lei 7.661/45, necessita, após reconhe­cido por decisão da Justiça labo­ral, ser habilitado no juízo falimen­tar. Somente a partir de então as­siste ao seu titular legitimidade pa­ra requerer ao juiz da falência as providências que lhe interessam."

Não pode ser diferente.

É possível que as forças da mas­sa falida não bastem para safisfazer os créditos trabalhistas.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 113

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Em tal hipótese, os titulares des­tes créditos passarão por um rateio e obterão a parcela que lhes couber, na divisão. É o que determina o art. 126 da Lei de Falências.

Nada mais racional de que se ele­ger como sede para apurar as forças da massa, um juízo universal.

N a ausência do juízo universal, é impossível avaliar-se o montante do patrimônio: instalar-se-á o caos; al­guns credores receberão integral­mente, ao tempo em que outros -donos de igual preferência - ficarão sem nada.

O Recorrente pretende que o di­nheiro produzido pela alienação do bem permaneça no juízo da execu­ção. Para este juízo, os credores con­vergiriam, para fazerem valer seus créditos.

Semelhante proposição - data venia - acarretaria para os credo­res privilegiados, mais um encargo: o de peregrinarem pelas varas de Fazenda Pública, em busca de exe-

cutivos fiscais, onde se habilitariam. Seria um trabalho insano, inglório e irracional. Mais ainda: atentatório aos artigos 102 e 126 da Lei de Fa­lências, bem como, ao art. 186 do CTN.

Dela resultaria mais um inconve­niente: a pulverização da massa fa­lida, com o esvaziamento do Juízo universal.

No escopo de evitar anomalia des­te quilate, o Legislador limitou-se em livrar o Estado da habilitação, sem o excluir da classificação dos créditos.

Por todas estas razões, a confluên­cia para o juízo da falência, de todos os recursos gerados pela massa é um imperativo do bom senso e uma im­posição do ordenamento jurídico.

Dar provimento ao Recurso seria negar vigência aos artigos 102 e 126 da Lei de Falências e ao art. 186 do CTN.

Nego provimento ao Recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 81.071 - SP

(Registro n~ 95.0063028-1)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Churrascaria Galão Ltda. e outros

Advogados: Drs. Vera Helena Pereira Vidigal Bucci e outros, e Adauto da Silva Oliveira e outros

EMENTA: Processual Civil. Levantamento de depósito judicial. Execução.

114 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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1- Com o trânsito em julgado de decisão que beneficiou o contri­buinte, tem este o direito de levantar integralmente os depósitos efetuados para suspender a exigibilidade do crédito tributário.

2 - Lide discutida sob a égide da Lei Paulista n~ 5.886/87. Impos­sibilidade de se aplicar, na fase da execução do julgado, legislação superveniente, no caso a Lei Paulista n~ 6.374/89, que não foi mo­tivo de apreciação pelo julgado.

3 - Recurso especial conhecido, porém, não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior 'Ib­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 14 de março de 1996 (da­ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 15-04-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: A Fazenda do Estado de São Paulo interpõe Recurso Especial (fls. 104/111), com fulcro no art. 105, III, a, da CF, contra acórdão (fi. 100) da 16~ Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, em embargos de declaração (fls. 94/96), decidiu em síntese:

a) confirmar decisão do acórdão embargado, permitindo o levanta­mento integral dos depósitos efe­tuados face à procedência da ação;

b) não aplicar os artigos 151, II e 156, incisos VI e X, do CTN, por considerá-los estranhos à hipóte­se em tela.

Trata-se de levantamento de depó­sitos realizados em ação que visava ao reconhecimento da inexigibilida­de de relação jurídica tributária ao recolhimento do ICMS incidente so­bre o fornecimento de alimentação e bebidas. Reconheceu-se procedência à ação, face à Lei Estadual n~ 8.198/ 92, permitindo-se, destarte, o levan­tamento dos depósitos efetuados pa­ra garantir a suspensão da exigên­cia do débito tributário. Ofertadas as razões, aduz a Recorrente violação aos artigos 151, II e 156, incisos VI e X, do CTN, pelo acórdão destaca­do, ao permitir o levantamento de depósitos realizados pelas Recorri­das, que não dizem respeito a perío­dos discutidos na ação proposta, vis­to que os créditos tributários garan­tidos por tal meio foram constituídos sob a égide de outra lei que determi-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 115

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nava a incidência do ICMS sobre o fornecimento de alimentação, deven­do, portanto, a quantia em questão ser convertida em renda, posto que pertence à Fazenda Estadual.

Oferecidas as contra-razões (fls. 130/135), aduzem as recorridas que, inexistindo relação entre os depósi­tos judiciais e o mérito discutido e definido, impõe-se seu levantamen­to, posto que a Lei n~ 5.886/87 já es­tava revogada quando foi questiona­da no presente processo.

Consta de fls. 137/138, despacho do Exmo. Sr. Desembargador Lair da Silva Loureiro, dando seguimen­to ao REsp proposto.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): A parte recorrida, em­presa comercial exploradora de bar e restaurante, obteve êxito em ação movida contra a Recorrente, Fazen­da do Estado de São Paulo, para não pagar ICMS sobre o fornecimento de alimentação e bebidas em bares, res­taurantes e estabelecimentos simi­lares.

A decisão que beneficiou a Recor­rida foi esclarecida, em embargos de­claratórios, onde ficou estabelecido que o julgado teve "inspiração, ape-

nas, na Lei Estadual n~ 5.886/87, tanto que o andamento do feito foi sobrestado, só tendo prosseguimen­to após deslindado o Incidente de Uniformização de Jurisprudência (fls. 210/229), que expressamente se reporta à dita Lei n~ 5.886/87" (fl. 210).

Os depósitos judiciais suspende­ram a exigibilidade tributária rela­tiva ao ICMS que era cobrado com base na Lei n~ 5.886/87, conforme foi bem aclarado no acórdão proferido pela egrégia Thrma do Tribunal de Justiça de São Paulo.

O êxito da demanda a favor das empresas, de modo integral, lhes as­segurou o direito do recebimento das quantias depositadas, sem qualquer restrição, haja vista o trânsito em julgado da sentença.

É indiscutível, sem apoio jurídico, a pretensão da Fazenda de, com ba­se em legislação superveniente, não apreciada na decisão favorável ao contribuinte, de só ser liberada uma parte do depósito.

Inova-se por inteiro o julgado, na fase de execução, prosseguindo-se prestação jurisdicional que não foi entregue.

Inexistindo violação à lei federal, conheço do recurso, porém, para lhe negar provimento.

É como voto.

116 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.

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RECURSO ESPECIAL N2 88.152 - BA

(Registro n2 96.0009516-7)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: União Federal

Recorridos: Osvaldo Teodoro dos Santos e cônjuge

Advogado: Dr. Wilson Pires Nascimento

EMENTA: Recurso especial. Imóvel adquirido com recursos do Sis­tema Financeiro da Habitação. CMN. Legitimidade passiva da União Federal. Decreto-lei 2.291/86.

Nas ações em que se discute o reajuste das prestações da casa pró­pria, com recursos oriundos do Sistema Financeiro da Habitação, nas quais o gestor do Sistema seja réu ou litisconsorte necessário, até a vigência do Decreto-lei 2.291/86, a substituição processual dá­se pela Caixa Econômica Federal (art. 12). Como o Conselho Mone­tário Nacional não tem personalidade jurídica, é representado pe­la União Federal (art. 72), nas ações propostas depois da edição do Decreto-lei 2.291/86.

Recurso Especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Thrma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taqui­gráficas constantes dos autos, que fi­cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demó­crito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 06 de maio de 1996 (da­

ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES

DE BARROS, Presidente. Ministro

JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 10-06-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Trata-se de agravo de instrumento convertido em recurso especial (fls. 99), manifestado pela União Federal, escorada na letra a da previsão constitucional contra de-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996. 117

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cisão que não admitiu a sua exclu­são da relação processual, em ques­tão das prestações para a aquisição da casa própria pelo Sistema Finan­ceiro da Habitação. Alega a União que o v. acórdão recorrido teria ne­gado vigência ao artigo 1~, § 1~ do Decreto-lei 2.291/86.

É este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): Converti o agravo de instrumento em recurso especial, porque a legislação invoca­da pela recorrente foi prequestiona­da no acórdão recorrido. Com efeito, ao examinar a posição da União na relação processual, disse o voto con­dutor: "A União é parte legítima porque se trata de ação ajuizada após a extinção do B.N.H. pelo De­creto-lei 2.291/86. Com o advento desse Decreto-lei o C.M.N. passou a normalizar e a controlar o S.F.H." Assim, o C.M.N. é órgão da União,

daí decorrendo a legitimidade da úl­tima. A decisão está correta. A juris­prudência pacífica, tanto do extin­to e sempre lembrado Tribunal Fede­ral de Recursos quanto do STJ é no sentido de que após a extinção do B.N.H., pelo Decreto-lei 2.291/86, art. 1~ , para os processos já em cur­so, o seu sucessor é, nos termos do § 12 , do Decreto-lei invocado, a Caixa Econômica Federal. Apesar disto, as demandas instauradas por mutuá­rios após a extinção do B.N.H. têm, no Conselho Monetário Nacional, o seu sucessor processual. No presen­te caso, a ação foi proposta em se­tembro de 1993, após a extinção do B.N.H. Como o Conselho Monetário Nacional não tem personalidade ju­rídica, é representado pela União Federal (art. 7~ do Decreto-lei 2.291/ 86), pois a demanda foi instaurada depois da edição do citado Decreto­lei.

Pelo exposto, não conheço do re­curso.

É o meu voto.

118 R. Sup. 'lrib. Just., Brasília, a. 8, (84): 73-118, agosto 1996.