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PRIMEIRA TURMA

PRIMEIRA TURMA - Superior Tribunal de Justiça (STJ) · telar que tem caráter satisfativo o que é vedado em lei. Assim, a teor do artigo 801, IIl, do Código de Pro cesso Civil,

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PRIMEIRA TURMA

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MEDIDA CAUTELAR N~ 528 - RS

(Registro n~ 96.0036424-9)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Requerente: Marcos Mayer

Advogados: Drs. Leoveral Vianna de Negreiros e outro

Requerida: Universidade Federal de Santa Maria

EMENTA: Medida cautelar - Ensino superior - Transferência com mudança de domicílio, de uma para outra instituição de en­sino. Concede-se efeito suspensivo a recurso especial, sujeito a tu­tela jurisdicional da Corte, e confirma-se ad referendum da Turma a liminar concedida para garantir a transferência pleiteada. Me­dida cautelar julgada procedente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, julgar procedente a me­dida cautelar, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Partici­param do julgamento os Srs. Minis­tros Demócrito Reinaldo, Humber­to Gomes de Barros e José Delgado. Ausente, justificadamente, o Sr. Mi­nistro Milton Luiz Pereira.

Custas, como de lei.

Brasília, 13 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 17-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Marcos Mayer, qua­lificado na inicial, requer a presen­te medida cautelar tendo como Re­querida a Universidade Federal de Santa Maria-RS.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 47

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Alega ter a seu favor, sentença do ilustrado Juiz Federal, precedida de liminar, sentença essa refonnada pe­la Egrégia Terceira 'furma do Colen­do Tribunal Regional da 4~ Região, de cuja decisão interpôs recurso es­pecial, cujo seguimento foi negado, ensejando tomar agravo de instru­mento, ao qual dei provimento e de­terminei fosse autuado como recur­so especial.

Demonstrando estar presentes os pressupostos legais que autorizam a concessão da cautelar, pede efeito suspensivo ao recurso interposto e, provisoriamente, o restabelecimen­to da decisão de primeiro grau.

Sem dúvida, estão presentes os pressupostos que autorizam a con­cessão da liminar, razão pela qual dou efeito suspensivo ao recurso es­pecial interposto e como conseqüên­cia restabelecida fica a decisão do MM. Juiz de primeiro grau, até o trânsito em julgado do recurso ora em exame.

Em sua contestação, assevera a Universidade Federal de Santa Ma­ria, em preliminar, que a petição ini­cial não menciona qual será a ação que se sobreporá a esta medida cau­telar que tem caráter satisfativo o que é vedado em lei. Assim, a teor do artigo 801, IIl, do Código de Pro­cesso Civil, requer aplicação do art. 295, inciso I do aludido Código. Ade­mais, estão ausentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. No mérito, alega que não há lei que conceda ao servidor esta­dual, ou aos seus pretensos depen­dentes, o direito à transferência do

curso, como ocorre com o servidor federal. E nesse sentido é a sua Re­solução n~ 16/95. Pede a revogação da liminar e a improcedência do pe­dido.

É este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): As duas pre­liminares levantadas pela requeri­da sobre a inépcia da petição inicial, do fumus bonis iuris e do pericu­lum in mora, por envolverem ques­tão de mérito, com ele serão anali­sadas. Com efeito, na forma do § 1~ do art. 288 do Regimento Interno, o pedido cautelar será autuado em apenso e processado sem interrup­ção do processo principal. Com a conversão do agravo de instrumen­to em recurso especial, foi apensa­da a medida cautelar ora em exa­me. Nela se pede efeito suspensivo ao recurso especial que se encontra sob a tutela jurisdicional desta Cor­te. Correto o procedimento adotado pelo autor, pois amparado em nor­ma regimental. Neste passo não há falar em inépcia da inicial. Com re­lação ao periculum in mora e ao fumus boni iuris, também não procede a preliminar, uma vez que a perda das aulas vem acarretando ao requerente sérios prejuízos em sua vida acadêmica, de difícil repa­ração. A par disso, o fumus boni iuris vem revestido de relevância em negar-se o direito de transferên­cia pleiteado com a mudança de do­micílio, de uma para outra institui-

48 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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ção de ensino. A esse respeito con­fira-se a jurisprudência desta Cor­te, a exemplo dos REsps 76.916; 695 e 6.241, relatados respectivamente pelos eminentes Ministros Milton Luiz Pereira, Garcia Vieira e Vicen­te Cernicchiaro. Em face dessas ra­zões, concedi a liminar que pareceu satisfativa à requerida consideran­do julgado deste Tribunal colaciona­do pelo requerente e reproduzido na RSTJ, v. 12, pág. 433, de que foi Re­lator o eminente Ministro Américo Luz, verbis:

"Diante da situação excepcional que o caso encerra, e presente o

periculum in mora, concede-se efeito suspensivo ao recurso es­pecial admitido na origem e sob a jurisdição desta Corte, assegu­rando-se à impetrante-recorren­te a sua permanência na Univer­sidade, matriculada que fora por força de decisão judicial, poste­riormente cassada, até o julga­mento do mérito do aludido re­curso."

Pelo exposto, confirmo a liminar, ad referendum da Corte e julgo procedente a medida cautelar.

É o meu voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 5.811-5 - PE

(Registro n~ 95.0026628-8)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrentes: Irmãos Tavares Ltda. e outro

Tribunal de Origem: Tribunal Regional Federal da S!! Região

Impetrado: Juízo Federal da 2!! Vara da Seção Judiciária do Estado de Pernambuco

Recorrida: Fazenda Nacional

Advogados: Rita Valéria de Carvalho Cavalcante e outros, e Francisco Tadeu Barbosa de Alencar e outros

EMENTA: Tributário. Processual Civil. Conversão de depósito (pa­ra evitar a exigibilidade do crédito) em renda da União. Pedido de devolução pela via do mandado de segurança. Impossibilidade.

A quantia depositada, pelo contribuinte, objetivando a suspen­sividade do crédito tributário, deve ser devolvida ao depositan­te (ou entregue à Fazenda respectiva), monetariamente atualiza­da, após o trânsito em julgado da decisão que julgar o mérito da causa.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 49

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Embora extinto o processo (sem julgamento de mérito) e tendo o depósito, por determinação judicial, sido convertido em renda da União, torna-se impossível, ao contribuinte, reavê-lo (median­te devolução da importância) pela via do mandado de segurança, que não tem a feição de ação de cobrança, podendo utilizar-se, pa­ra a consecução de seu desiderato, da repetição de indébito ou do instituto da compensação (a quantia já se incorporou ao patrimô­nio da União).

Recurso a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira 'IUrma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, negar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Impedido o Sr. Min. José Delgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José de Jesus Filho. Custas, como de lei.

Brasília, 10 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Irmãos Tavares Ltda. e outro impetraram mandado de se­gurança, perante o Juízo Federal da 2~ Vara, em Pernambuco, objetivan-

do a suspensão do pagamento da contribuição do Finsocial (Dec.-Lei n~ 1.940/82), sob color de inconstitu­cionalidade. Efetivaram depósito eli­sivo da exigibilidade do crédito tri­butário.

O juiz indeferiu a Inicial e extin­guiu o processo e determinou a con­versão dos depósitos em renda da União.

Contra esta última parte da deci­são, as requerentes impetraram no­va segurança, que foi denegada pe­lo Tribunal Regional Federal da 5~ Região, indeferindo a devolução das quantias pertinentes aos depósitos.

Contra esta decisão, manifestam, agora, recurso ordinário. Alegam que a conversão dos depósitos em renda da União dependia de senten­ça, com trânsito em julgado e que julgasse o mérito da lide. A extinção do processo não impede que a par­te afore nova ação com o mesmo ob­jetivo (CPC, art. 268).

Contra-arrazoado o recurso, nes­ta instância, o M. Público Federal manifestou-se pelo provimento.

É o relatório.

50 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Cuida-se de mandado de segurança visando à li­beração de depósitos judiciais rea­lizados com o fim de suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art. 151, II, do CTN.

Ocorre que a parte já havia im­petrado uma primeira segurança com o fim de se eximir do recolhi­mento da contribuição para o Finso­ciaI (Dec.-Lei n~ 1.940/82) em face de sua inconstitucionalidade. Este mandamus - o primeiro, teve o processo julgado extinto, com o in­deferimento da Inicial. A decisão transitou em julgado.

Em razão do indeferimento da Inicial, no primeiro writ, o juiz con­verteu o depósito em renda da Fa­zenda Nacional. É contra essa deci­são que se impetrou a segurança, que foi denegada em acórdão que porta a ementa a seguir:

"Tributário. Licença de Depósi­tos Judiciais.

A coisa julgada formal, mesmo não obstaculizando a interposição de ação para atacar o meritum causae, tornou preclusa a interpo­sição de qualquer meio processual, uma vez que a autoridade para as partes, dentro do processo.

Os depósitos judiciais não po­deriam ter outra destinação, que não a conversão em renda da União, pois, além de ser uma li­teralidade da parte impetrante, com vistas à suspensividade do

crédito tributário (art. 151, II, do CTN), a mesma assumiu o risco de sua destinação, caso sucum­bente na ação.

Mesmo sendo os depósitos con­vertidos em renda, a parte inte­ressada pode utilizar-se dos insti­tutos da repetição do indébito (arts. 165 e segs. do CTN) ou da compensação (Lei n~ 8.383/91 e Inst. Normativa n~ 67/92).

É contra esta decisão que se in­surge a vencida, pela via do recurso ordinário. O fundamento basilar con­siste em que, o indeferimento da Ini­cial, com a extinção do processo, em­bora com trânsito em julgado, não decide a lide, em seu mérito. A ação poderia ser renovada para a discus­são da controvérsia. Ao invés de con­verter os depósitos em renda da União, o juiz deveria ter determina­do a sua devolução ao impetrante.

Não vejo como se possa, nesta fa­se, atender ao pleito da recorrente, que é determinar a devolução dos depósitos. A questão se resolve -nos casos despiciendos das nuances do presente - com arrimo no dis­posto no § 2~ do art. 32 da Lei n~ 6.830/80, que estabelece:

Art. 32 ...

§ 1~ omissis;

§ 2~ - Após o trânsito em jul­gado da decisão, o depósito, mo­netariamente atualizado, será de­volvido ao depositante ou entre­gue à Fazenda Pública, median­te ordem do juízo competente.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 51

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É evidente que a decisão a que se refere a lei é a de mérito, a que de­cide a causa em favor de uma das partes, atribuindo o direito a uma delas. A outra suportará o ônus. Sentenças que não enfrentam o pró­prio objeto da lide - e que decidam preliminares do processo - mesmo com a extinção deste, não autorizam nem a devolução do depósito, nem a sua constituição em renda da Fa­zenda respectiva.

Ocorre que, no caso, por determi­nação judicial e logo após a extinção da primeira segurança, os depósitos foram constituídos em renda da União, passando a integrar o seu patrimônio e o orçamento da Repú­blica. Os depósitos, assim, já cons­tituem renda, disponibilidade finan­ceira da União. Portanto, o manda­do de segurança é ação imprópria para alcançar o desiderato preten­dido, qual seja, a devolução das im­portâncias depositadas (que, aliás, não são mais depósito, mas inte­gram as disponibilidades financeiras da União). E o eminente Relator do acórdão recorrido j á acenou com a so­lução jurídica adequada, ao dizer, na ementa do acórdão: "mesmo sendo os depósitos convertidos em renda, a parte interessada pode utilizar-se dos institutos da repetição de indébito ou da compensação". O que se não pode é convolar o mandado de segurança em ação de cobrança.

Já afirmei, repetidas vezes, que, em havendo, na lei processual, um procedimento adequado para a pos­tulação do direito - ainda que lí­quido e certo - a parte não pode utilizar-se do mandado de seguran­ça. A jurisprudência, exemplificati­vamente, vem em prol dessa asser-

tiva: "o mandado de segurança não é ação de cobrança; a segurança não substitui a ação possessória; o writ of mandamus não pode ser convola­do em ação popular, nem em resci­sória etc. No caso, os depósitos já havendo se incorporado à renda da União, o recorrente terá de utilizar­se do procedimento adequado, por­quanto, a segurança não é a via processual eleita para, por meio de­la se impor, à Fazenda, a devolução de quantias. Essa, é, aliás, a juris­prudência do próprio Tribunal a quo, como se vê da ementa abaixo:

"O depósito em dinheiro da quantia correspondente ao crédi­to tributário em litígio não é obri­gatório. É uma faculdade do au­tor, que o efetiva para suspender a exigibilidade do crédito tributá­rio, nos termos do art. 151, II, do Código Tributário N acionaI. As­sim, admissível é o seu levanta­mento, salvo se já determinada a sua conversão em renda da Fa­zenda Pública". (folha 05) (Ag. de Inst. n~ 2.167-PE).

Quanto à alegativa de que, a con­versão dos depósitos, em renda da Fa­zenda, implica em enriquecimento ilí­cito desta, não tem fomento de direi­to, para justificar o procedimento do recurso e conseqüente concessão do writ. É que, como já se afirmou, alhu­res, a recorrente dispõe dos meios pro­cessuais próprios para reaver a quan­tia, devidamente atualizada e com ju­ros e, até, podendo compensá-la, ob­servados os pressupostos da lei.

Com estas considerações, nego provimento ao recurso.

É como voto.

52 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 6.422 - se (Registro n~ 95.0061311-5)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Fazenda Nacional

Procuradores: Drs. Gilberto Etchaluz Villela e outros

Tribunal de Origem: Tribunal Regional Federal da 4:! Região

Impetrado: Juízo Federal de Joinville SJ / SC

Recorrida: Caribor Tecnologia da Borracha Ltda.

Advogados: Drs. Edgar David Gusso e outro

EMENTA: Recurso ordinário. Mandado de segurança contra de­cisão concessiva de liminar. Ato judicial flagrantemente ilegal. Ad­missibilidade da impetração do writ sem a prévia interposição do recurso cabível. Provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Thrma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, dar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros De­mócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Jo­sé Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 10 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 17-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Adoto como relatório, a parte expositiva do parecer da douta Subprocuradoria Geral da Re­pública:

"Trata-se de mandado de seguran­ça, com pedido de linrinar, impetra­do pela União Federal contra ato do Juiz Federal de Joinville-SC, consistente na concessão de limi­nar, nos autos de ação cautelar, de­terminando a suspensão da exigi­bilidade de crédito tributário, me­diante o oferecimento de garantia hipotecária. A liminar requerida no manda­mus foi deferida, às fls. 02, para desconstituir a medida liminar concedida na ação cautelar. Contra esta decisão, Caribor Thc­nologia da Borracha Ltda., auto-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 53

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ra no processo cautelar, interpôs agravo de instrumento, ao qual foi negado seguimento, porquan­to incabível.

Irresignada, a empresa interpôs agravo regimental, que restou improvido por decisão da 1~ 'Th.r­ma, do Tribunal Regional Federal da 4~ Região.

Inconformada, opôs a agravante embargos de declaração, que que­daram rejeitados.

Contra esta decisão, a agravante­embargante interpôs recurso es­pecial, o qual foi inadmitido.

No mérito, a E. 1~ 'Th.rma enten­deu por conceder a segurança.

Todavia, tendo sido novamente opostos embargos de declaração, estes restaram providos, com efei­tos modificativos, para os fins de não conhecer do mandado de se­gurança, sob o fundamento de que a decisão deferitória da medida li­minar, atacada no presente man­damus, não foi impugnada pelo recurso cabível, havendo incidên­cia, conseqüentemente, da Súmu­la n~ 268/STF.

Contra esta decisão, a impetran­te interpôs o presente recurso or­dinário." (fls. 360/361)

É este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): No Tribunal Regional Federal da 4~ Região, deu­se provimento aos embargos de de­claração, com efeito modificativo pa-

ra não se conhecer da segurança impetrada pela Fazenda Nacional, porque da decisão deferitória de me­dida liminar não foi impugnada por agravo de instrumento cabível, ha­vendo a incidência da Súmula 268 do STF. Data venia, a liminar con­cedida na ação cautelar do contri­buinte determinando a suspensão da exigibilidade do crédito tributá­rio, mediante o oferecimento de ga­rantia hipotecária, poderia ser ata­cada diretamente pelo mandado de segurança, uma vez que extrapolou o poder de cautela do juiz, pois con­cedida em afronta ao art. 151, lI, do CTN. Dispensável, portanto, a uti­lização do agravo de instrumento. Sobre a hipótese, manifestou-se o Ministério Público Federal:

"De fato, essa E. Corte tem en­tendido que, em hipóteses excep­cionais, em que a ilegalidade do ato judicial atacado é flagrante, admissível é o mandado de segu­rança, ainda que contra a decisão judicial não tenha sido interpos­to o recurso cabível.

Nesse sentido:

"Processual Civil. Mandado de segurança contra ato Judicial.

Em tese é possível impetrar mandado de segurança contra despacho indeferitório de limi­nar em medida cautelar desde que o ato tenha feições terato­lógicas e tenha sido praticado com ilegalidade ou abuso de poder, e proferido fora do limi­te do poder de cautela do juiz" (ROMS 5.403/SP, 1~ Turma,

54 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 29.05.95, pág. 15.477).

"Processual Civil. Mandado de segurança. Ataque a despacho concessivo de liminar.

Não se concede segurança para desconstituir despacho que con­cede liminar em outro manda­mus se na decisão hostilizada não se vislumbra nem ilegalida­de nem abuso de poder." (ROMS 5.904/SP, 1~ 'furma, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 8.4.96, pág. 10.443).

"Processual - Mandado de se­gurança - Liminar - Nature­za jurídica do ato - Recorribi­lidade - Exposição a outro mandado de segurança.

O pronunciamento liminar do juiz em resposta a pedido de mandado de segurança consti­tui decisão interlocutória. Co­mo tal, pode ser desafiada por agravo de instrumento e, até, por outro pedido de mandado de segurança. No entanto, sua reforma só é possível quando, ao emiti-lo, o juiz cometeu ile­galidade, omissão ou abuso de poder." (ROMS 1.385/PR, 1~ 'furma, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15.02.93, pág. 1.664).

"Processual Civil. Recurso em mandado de segurança. Ato ju­dicial.

Denega-se a segurança quando ataca despacho desacolhedor de liminar postulada em medi­da cautelar, desde que pratica­do sem qualquer ilegalidade ou abuso de poder, e proferido den­tro do estrito limite do poder de cautela do juiz." (ROMS 6.066/ RS, 4~ 'furma, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 13.05.96, pág. 15.558).

In casu, manifesta é a ilegalida­de do ato impugnado, a qual, aliás, já havia sido reconhecida pelo Tri­bunal a quo, por ocasião da prola­ção de fls. 305.

Isto porque, como bem notou a Corte a quo, a garantia hipotecá­ria não suspende a exigibilidade do crédito tributário, a teor do art. 151, lI, do CTN, que dispõe que somente o depósito em di­nheiro determina tal suspensão porque só ele pode ser convertido em renda da Fazenda Pública sem necessidade de ação judicial.

Daí porque impõe-se a desconsti­tuição da decisão judicial hostiliza­da, eis que proferida ao arrepio flagrante da lei.

Diante do exposto, opina-se pelo provimento do recurso." (fls. 361/ 363)

Pelo exposto, conheço do recurso, e dou-lhe provimento para conceder a segurança impetrada.

É o meu voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 55

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N!! 6.685 - ES

(Registro n!! 96.0003656-0)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Supermercados Roncetti S/A

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo

Impetrado: Juízo de Direito da 2q- Vara dos Feitos da Fazenda Públi-ca de Vitória-ES

Recorrido: Estado do Espírito Santo

Advogados: Drs. Beline José Salles Ramos e outro, e Álvaro Manoel Ro­sindo Bourguignon e outros

EMENTA: Processual - Mandado de segurança - Ato judicial - Agravo de instrumento - Efeito suspensivo - CPC, art. 558 (L. 9.139/95).

I - Após o advento da Lei 9.139/95, o Mandado de Segurança, pa­ra imprimir efeito suspensivo só é admissível após o recorrente formular e ver indeferido o pedido a que se refere o art. 558 do Có­digo de Processo Civil.

11 - Se o pedido de segurança é anterior à Lei 9.139/95, nem por isto o agravante perde a oportunidade de pedir ao relator, a sus­pensão do ato recorrido. Em tal circunstância, desaparece o inte­resse em obter o Mandado de Segurança.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Minis­tros Milton Luiz Pereira, José Del­gado e Demócrito Reinaldo. Ausen­te, justificadamente, o Sr. Ministro José de Jesus Filho.

Brasília, 16 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A Recorren­te impetrou Mandado de Seguran­ça, visando imprimir efeito suspen­sivo a Agravo de Instrumento Inter­posto de Decisão judicial que dene­gara liminar, em processo cautelar.

O V. Acórdão recorrido denegou a Segurança, porque:

56 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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"Conquanto aceita a utilização do Mandado de Segurança para dar efeito suspensivo a recurso que não o tenha, atendidas as pe­culiaridades excepcionais de cada situação, não se presta o writ pa­ra forçar-se o Magistrado a prati­car o ato pretendido.

Se assim fosse, haveria substi­tuição daquele, no caso, o agravo de instrumento."

o Recorrente, em longas e erudi­tas razões, procura demonstrar a li­quidez do direito agitado no proces­so de Segurança. 'Thrmina por reque­rer se imprima efeito suspensivo ao agravo de instrumento que interpôs, no processo cautelar.

Este, o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): No RMS n~ 6.959/SP, esta 'furma enten­deu ser inviável Mandado de Segu­rança, para emprestar efeito suspen­sivo a agravo de instrumento, se o Impetrante não teve indeferido o pe­dido a que se refere o art. 558 do CPC, na redação que lhe deu a Lei 9.139/95.

Reporto-me ao voto com que con­duzi a formação do Acórdão, naque­le processo:

"O Ministério Público indicou o desprovimento, porque os arts.

527, II e 558 do Código de Proces­so Civil, em sua atual redação, outorgam competência ao relator, para suspender a eficácia da deci­são agravada.

Acato a sugestão.

Não se admite Mandado de Se­gurança contra ato judicial susce­tível de recurso com efeito suspen­sivo.

O agravo de instrumento não produz, automaticamente, efeito suspensivo. No entanto, a Lei 9.139/95, em oportuna inovação permitiu que o relator, quando provocado pelo agravante, empres­te efeito suspensivo ao recurso.

N a atual conjuntura, somente depois de formular o pedido de suspensão, o agravante pode afir­mar que seu recurso não produz o duplo efeito.

N a hipótese, não houve o pedi­do.

É verdade que o pedido de Se­gurança ocorreu em 27.1.95 - an­tes da Lei nova. No entanto, esta não estabelece prazo para o pedi­do de suspensão. O Agravante ain­da pode formular tal pretensão.

Com a possibilidade de suspen­são pelo relator, desapareceu o in­teresse do Agravante, em obter mandado de segurança."

Lá, como aqui, o deferimento da Segurança é inviável.

Nego provimento ao Recurso.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 57

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 7.155 - MT

(Registro n~ 96.0030979-5)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Banco Itaú S/A

Advogados: Drs. José Manoel de Arruda Aluim Netto e outros

Tribunal de Origem: Tribunal Regional Federal da 1~ Região

Impetrado: Juízo Federal da 3~ Vara da Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso

Recorrido: Ministério Público Federal

EMENTA: Recurso ordinário em mandado de segurança.

É de ser anulado o acórdão recorrido, que julgou prejudicado o mandado de segurança, se este depende de Reclamação que sus­pendeu o processo que se relaciona com ele.

Sobrestamento do mandamus até o pronunciamento definitivo pe­lo STF.

Recurso ordinário conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, dar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros De­mócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira. Ausente, justificadamente, o Sr. Mi­nistro José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 26 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Na parte que interes­sa, adoto, como relatório, a exposi­ção do ilustre Relator no Tribunal Regional Federal da 1~ Região Juiz 'Iburinho Neto:

"Impetra o Banco Itaú S.A. man­dado de segurança contra ato do Juiz Federal da 3~ Vara da Seção Judiciária do Mato Grosso, em ação civil pública, movida pelo

58 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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Ministério Público Federal (n. 95.000964-1) contra o ora impe­trante e mais cinco réus, conces­sivo de liminar, em que suspen­deu todas "as execuções extraju­diciais em curso no Estado do Mato Grosso e que tenham por objeto créditos de agentes do Sis­tema Financeiro da Habitação garantidos por hipotecas inciden­tes sobre as unidades habitacio­nais situadas neste Estado, abs­tendo-se de promover leilões, ar­rematações, adjudicações, notifi­cações extrajudiciais e quaisquer outras providências autorizadas pelo Decreto-lei n. 70/66, Lei n. 5.741, ou delas decorrentes, in­clusive a venda mediante concor­rência dos imóveis que passaram ao domínio da CEF por via de execução extrajudicial, desde que ainda não ocupados pelo novos adquirentes" .

Sustenta o impetrante que "ne­nhum litígio concreto foi retrata­do na inicial", daí a ocorrência do fumus boni iuris, "pela ofensa à competência privativa de se decla­rar a inconstitucionalidade de leis em tese". Sustenta, também, a ine­xistência de "situação homogênea qualquer definitivamente demons­trada na inicial", ainda que se ad­mitisse a legitimidade do Ministé­rio Público para propor a ação em estudo." (fls. 452)

A 2~ Seção, do Tribunal local, jul­gou prejudicado o mandado de segu­rança por perda superveniente de interesse. Opostos embargos de de­claração, foram eles rejeitados.

Daí o recurso ordinário do impe­trante, pleiteando a anulação do acór­dão recorrido. Aqui, opinou a douta Subprocuradoria Geral da República pelo improvimento do recurso.

É este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): O acórdão que se pretende anular tem os se­guintes fundamentos:

"O Supremo Tribunal Federal, na Representação n. 56l-5-MT, em decisão monocrática do Ministro Octavio Gallotti, suspendeu o processo da ação civil pública in­tentada pelo Ministério Público Federal contra o ora impetrante e outros agentes financeiros, bem como a liminar concedida pelo MM. Juiz Federal da 3~ Vara da Seção Judiciária do Mato Grosso, Dr. Rubem Martinez Cunha. O despacho está vazado nestes ter­mos (fls. 420):

"Estando caracterizada a pos­sibilidade da ocorrência de da­no irreparável, determino a suspensão do curso do proces­so, bem como a dos efeitos da liminar impugnada. Solicitem­se informações no prazo de 10 (dez) dias (art. 14, I e II da Lei n. 8.038, de 28.5.90).

Comunique-se e publique-se."

O presente mandado de seguran­ça visa exatamente suspender es-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 59

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sa liminar. Logo, restou prejudi­cado.

Ante o exposto, em face da perda superveniente do interesse pro­cessual do impetrante, julgo pre­judicado o presente mandado de segurança." (fls. 456)

Com a decisão do Excelso Pretó­rio não poderia, data venia, o Tri­bunal local, julgar prejudicado o mandado de segurança. Isto porque ele depende de decisão definitiva na Reclamação 561, que suspendeu o processo que deu origem ao presen­te mandado de segurança. Há uma questão jurídica a ser resolvida com reflexos diretos neste pleito. Em conseqüência disso, nenhum ato po­deria ser praticado, sob pena de ser anulado. Enquanto a Corte Maior não decidir a controvérsia, que es­tá sujeita à sua tutela jurisdicional, fica sobrestada a ação de segurança.

Pelo exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para anular o acórdão recorrido, em conseqüên­cia, sobrestar o julgamento do man­dado de segurança até o pronuncia­mento definitivo pelo Supremo Tri­bunal Federal da Reclamação 56l.

É o meu voto.

VOTO (VISTA)

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Perturbado por dúvidas, para conjurá-las na via de previsão regimental, fiz solitário exame das peças informativas do processo e, concluído, para a continuação do jul­gamento, coloco em mesa os meus re­gistros.

Iniciando, para facilitar, trago da memória que a instituição financei­ra, co-ré em Ação Civil Pública (Lei n2 7.347/85), promovida pelo Minis­tério Publico Federal, decorrente de preambular decisão impositiva de múltiplas obrigações de fazer, impe­trou Mandado de Segurança, com o pedido de liminar, objetivando:

" ... atribuir efeito suspensivo ao recurso de agravo interposto, sus­pendendo-se por conseqüência os efeitos da r. decisão agravada, permitindo-se ao impetrante pros­seguir nas execuções extrajudi­ciais em curso no Estado de Ma­to Grosso e que tenham por obje­to os créditos que possui como agente do Sistema Financeiro de Habitação garantidos por hipóte­ses incidentes sobre as unidades habitacionais situadas neste Es­tado, promovendo leilões, arrema­tações, adjudicações, notificações extrajudiciais e quaisquer outras providências autorizadas pelo De­creto-Lei 70/66, Lei n2 5.741/71 ... " (fl. 41).

A pleiteada liminar, parcialmen­te, foi deferida " ... tão-somente para excluir da liminar concedida pelo juiz impetrado apenas os imóveis que já foram leiloados, permanecen­do, desse modo, suspensas as execu­ções extrajudiciais em curso" (fl. 365).

Adveio a Reclamação n 2 561-5, articulada perante o excelso Supre­mo Tribunal, objetivando o tranca­mento da referida Ação Civil Públi­ca, logrando sucesso com a decisão que determinou "a suspensão do

60 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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curso do processo, bem como a dos efeitos da liminar impugnada" (fi. 420).

Davante, apreciando o manda­mus, o verrumado v. acórdão esta­deou, cônsono sumariado na respec­tiva ementa:

- "Processo Civil. Mandado de segurança. Ato judicial. Perda su­perveniente do interesse.

Suspendendo o Supremo 'fribu­nal Federal, em Reclamação, o processo e a liminar, que, nesse mandado de segurança, se visa cassar, evidentemente perdeu ele seu objeto" (fi. 458).

Rejeitados os embargos, arvoran­do ofensa ao art. 14, II, Lei n~ 8.038/90, e, especificamente, ao art. 265, IV, a, CPC, foi interposto re­curso (art. 105, II, b, C.F./88, e art. 539, II, a, CPC) "para o fim de ser anulado o v. acórdão proferido pelo E. Tribunal Regional Federal da 1~ Região, determinando-se a suspen­são do mandado de segurança impe­trado perante aquela Corte até jul­gamento em definitivo do mérito da reclamação pelo Excelso Supremo Tribunal Federal si et in quantum improcedente" (fi. 481).

Iniciado o julgamento do recurso, o eminente Relator votou proven­do-o, seguindo-se o voto do nobre Ministro Demócrito Reinaldo, "pro­pondo conversão do julgamento em diligência", proposição até aqui re­jeitada (cert. fl. 491).

Anota-se que a mencionada Re­clamação ainda não foi definitiva­mente julgada pela excelsa Corte (fls. 493 e 494).

Concluídas as remInIscências, exaltado ° conteúdo do v. Acórdão vergastado, evidencia-se que, no sen­tido amplo dos seus efeitos, operan­do a extinção do processo, efetiva­mente, o julgado denegou a seguran­ça (RE n~ 148.949-5-SP - in DJU de 28.8.93, pág. 16.339; RMS n~ 877-0/SP, in DJU de 6.6.94, pág. 14.214). Feito esse assentamento bá­sico e erguida a finalidade do man­damus c. .. atribuir efeito suspensi­vo ao recurso de agravo - fl. 41), concludente que a premonitória de­cisão na Reclamação 561-5-STF, ape­nas suspendendo " ... o curso do pro­cesso, bem como a dos efeitos da li­minar impugnada" ( fl. 420), fica ní­tido que os pedidos são diferentes quanto às pretensões e efeitos jurí­dicos.

Por essa espia, em sendo diversos os pedidos, não se pode afirmar que a "suspensão" desfez ou prejudicou aquele deduzido no Mandado de Se­gurança (art. 265, IV, a, CPC). Em outras palavras: a suspensão não afetou a finalidade da segurança pe­dida, apenas obstando provisoria­mente a decorrente atividade juris­dicional, enquanto se aguarda o desfecho de questão precedente e adstrita à outra causa de pedir.

Em assim sendo, e assim é, os provisórios efeitos processuais da multicitada suspensão não extingui­ram o direito à prestação jurisdicio­nal ensejadora do Mandado de Se­gurança contra ato judicial. Apenas­mente, até o julgamento final da­quela Reclamação, ficou suspenso o exercício de competência para a apreciação da causa de pedir e do pedido.

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Daí bem asseverar o eminente Relator que, " ... nenhum ato pode­ria ser praticado, sob pena de ser anulado".

Desse modo, dada a relação con­dicionante vertida da decisão profe­rida na Reclamação, acompanho o voto proferido pelo eminente Rela­tor, conseqüentemente rejeitando a

preliminar suscitada pelo exímio Ministro Demócrito Reinaldo, uma vez que, anulado o confrontado v. acórdão, restabelecido o status quo processual, após o julgamento a ser efetivado na Suprema Corte, então, a instância ordinária apreciará o mandamus como de direito.

É o voto vista.

RECURSO ESPECIAL N~ 86.034 - MG

(Registro n~ 96.0002794-3)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: União Federal

Recorrido: Banco Geral do Comércio S.A

Advogados: Drs. Álvaro Francisco Lobão e outros

EMENTA: Processual Civil. Mandato substabelecido com reser­vas de poderes. Publicação sem o nome do advogado substabele­cido. CPC, art. 236, § 1~.

1. Substabelecido o mandato para Advogado residente na Co­marca onde foi ajuizada a ação, residindo o substabelecente em outro Estado-membro, a publicação para o cumprimento de ato processual, faltando o nome do substabelecido, em conjunto com o do substabelecente ou singularmente, causa prejuízo à vontade e aos interesses da parte no processo, no caso, objetivamente de­monstrado com a declarada deserção do recurso interposto.

2. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a egrégia Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e no-

tas taquigráficas constantes dos au­tos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Partici­param do julgamento os Senhores Ministros José de Jesus Filho, De­mócrito Reinaldo e Humberto Go­mes de Barros. Ausente, justificada­mente, o Senhor Ministro José Del-

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gado. Presidiu o julgamento o Se­nhor Ministro Humberto Gomes de Barros.

Custas, como de lei.

Brasília, 28 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 03-02-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Trata-se de Recurso Es­pecial, fulcrado na alínea c de per­missivo constitucional, impugnando o v. aresto do egrégio Tribunal Re­gional Federal da F Região, assim ementado:

"Processual Civil. Intimação Fei­ta a advogado substabelecente, domiciliado fora da Comarca do ajuizamento da ação. Impossibi­lidade.

1. Havendo substabelecimento para advogado residente na Co­marca do ajuizamento da ação, a ele deverão ser endereçadas as intimações_

2. É nula a intimação feita em no­me exclusivo de advogado substa­belecente, estabelecido fora da Co­marca. Provimento do agravo" (fi. 60).

A Recorrente não se conforma com a interpretação dada pelo v. aresto atacado ao artigo 236, § 12,

do Código de Processo Civil, cujo

entendimento, sustenta, dissentiu daquele esposado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e da Suprema Corte.

Disse que o "substabelecimento in casu foi feito com reserva de poderes ao advogado de Belo Hori­zonte, não deixando de atuar no processo a advogada substabele­cente". Ressaltou que a jurispru­dência da Suprema Corte é no sen­tido de que ainda que o advogado, em cujo nome foi feita a pulJlica­ção, não pertença mais à socieda­de, o ato é válido.

Transcorreu o prazo legal sem que o Recorrido tenha se manifesta­do.

Ao admitir o seguimento da via recursal, o douto Vice-Presidente do Tribunal de origem concluiu:

"Afigura-se razoável a pretensão recursal, vez que a tese defendida pela recorrente encontra respaldo em julgados do Tribunal de Justi­ça de São Paulo (AI 111.486-2 -12!! C - j. 21.10.86 - ReI. Des. Carlos Ortiz; RT 618/88; RJTJSP, Lex, 47/134; R.T_ 530/220), bem assim em julgados do colendo STF (Agravo de Instrumento n2 72.001 AgRg) - SP - 2!! 'lbrma, in RTJ 85/542; Recurso Extraordinário n2

82.093-SP - 2!! 'furma, in RTJ 76/308, Recurso Extraordinário n!! 82.150-SP - 2!! 'furma, in RTJ 79/590)" (fi. 76).

É o relatório.

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VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Pela guia do relatório, plasma-se que, julgado de­serto recurso de apelação em Man­dado de Segurança, debatendo a forma de intimação do Advogado, interposto o Agravo de Instrumen­to, provendo-o, estadeou o verruma­do v. Acórdão, conforme abreviado na ementa:

"Processual Civil. Intimação feita a advogado substabelecente domiciliado fora da Comarca do ajuizamento da ação. Impossibi­lidade.

1. Havendo substabelecimento para advogado residente na Co­marca do ajuizamento da ação, a ele deverão ser endereçadas as intimações.

2. É nula a intimação feita em nome exclusivo de advogado subs­tabelecente, estabelecido fora da Comarca. Provimento do agravo."

A manifestação recursal, avivan­do a interpretação do art. 236, § I!!, CPC, presentes os requisitos de ad­missibilidade, merece ser conhecida.

Aberta oportunidade para o exa­me, ergue-se dos autos que, realmen­te, a Advogada subscritora da inicial, com a reserva dos mesmos, substabe­leceu os poderes que lhe foram outor­gados para outro profissional, resi­dente na sede da Comarca onde foi ajuizada a ação (fi. 15). Ocorreu que a intimação para a prática do ato,

cuja falta motivou a deserção de apelação, foi dirigida somente à substabelecente, residente em São Paulo (fls. 48, 49 e 50 - verso).

Nesse contexto, parece-me ajus­tado à realidade processual o voto condutor do v. Acórdão, a dizer:

"Em tais condições, deveriam efetivamente as intimações men­cioná-lo e não a profissional esta­belecida em São Paulo. A juris­prudência tem admitido que, existindo mais de um advogado constituído nos autos, as intima­ções estarão regulares com a menção de apenas um deles.

Mas isso, como é natural, so­mente é admitido quando os pro­fissionais são estabelecidos no fo­ro do processo. No caso, apenas um tem base profissional em Be­lo Horizonte. A intimação deveria ser no seu nome, para evitar di­ficuldades e não causar prejuízo à parte, como de fato ocorreu, com a perda do prazo de preparo.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça registra pre­cedentes nessa mesma linha de compreensão. No Recurso Espe­cial n!! 91/11.856, relatado pelo Ministro Athos Carneiro, restou decidido que, 'tendo sido reque­rido, pelo advogado substabele­cido domiciliado na Capital do Estado, que as intimações lhe fossem dirigidas, será nula a in­timação para a sessão de julga­mento se da pauta publicada na imprensa oficial constou apenas o nome do advogado substabele-

64 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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cente residente em Comarca do interior' (cf. DJU de 21/09/92).

Já no Recurso Especial n~

94/45298-SP, relatado pelo Minis­tro 'Ibrreão Braz, decidiu a Corte que, substabelecidos os poderes a advogado com escritório na sede da Comarca onde foi ajuizada a ação, a ele devem ser endereça­das as intimações, ainda que não exista requerimento em tal sen­tido (DJU de 09/05/94)" - fls. 57 e 58.

Ora, em residindo o procurador substabelecente em lugar diverso (em outro Estado-membro), juntado aos autos o instrumento de substa­belecimento em favor de Advogado residente no local do ajuizamento da ação impunha-se a inclusão do seu nome na publicação destinada à

intimação, seja sozinho ou, pelo me­nos, em conjunto com o da originá­ria outorgada. Pois, curial que, no caso, a substabelecente pretendeu garantir pronto e eficaz atendimen­to profissional por Advogado local. A falta da sua intimação, sem dúvi­das, causou prejuízo à vontade e aos interesses da parte no processamen­to da ação, na espécie, demonstra­do objetivamente com a declarada deserção do recurso interposto.

Desse modo, demonstrado que nome do Advogado substabelecido, em conjunto com o da substabele­cente ou singularmente, não cons­tou da publicação para o ato, amol­da-se contrariedade ao art. 236, § 1~, CPC.

Nas fincas do exposto, voto im­provendo o recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N~ 88.351 - SC

(Registro n~ 96.0009860-3)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Albaruz S.A. Comercial e Exportadora

Recorrida: Fazenda Nacional

Advogados: Drs. Beatriz Regius Peterffy Von Jagocs e outros, e Cezar Saldanha Souza Júnior e outros

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança para derruir liminar concedida em segurança antecedente. Falta de preceden­te recurso. Adequação do pedido de suspensão da liminar. Lei n~ 4.348/64 (art. 4!!). Lei n!! 8.437/92 (art. 4!!).

1. A falta de antecedente recurso objetando a liminar e viabili­zador do efeito suspensivo, o Mandado de Segurança não pode ser­vir de sucedâneo.

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2. Vezes a basto, a jurisprudência do excelso Supremo Tribunal Federal e desta Corte tem proclamado que o meio processual apro­priado à suspensão de liminar em Mandado de Segurança (ou de sentença concessiva) é o pedido dirigido ao Presidente do Tribu­nal a que cabe o conseqüente recurso. Inadequação processual do Agravo Regimental interposto, com igual fito, perante o órgão ju­dicial competente para julgar a segurança.

3. Precedentes do STF e STJ.

4. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Turma do Su­,perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, dar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Minis­tros José Delgado e Demócrito Rei­naldo. Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros José de Jesus Filho e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Mi­nistro Milton Luiz Pereira.

Custas, como de lei.

Brasília, 6 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: O egrégio Tribunal Re­gional Federal da 4!! Região prola-

tou acórdão, abreviado na seguinte ementa:

"Agravo regimental.

1. Não instaurado o procedimen­to fiscal, não há como o contribuin­te apresentar impugnação.

2. A suspensão da segurança, na forma estabelecida pelo art. 4~ da Lei 8.437/92, só se aplica às hi­póteses nele previstas, que não é o caso dos autos.

3. É entendimento desta Colen­da 2!! Turma de que, do despacho indeferitório de liminar em man­dado de segurança, não cabe re­curso.

4. Agravo regimental improvi­do" (fi. 289).

Os Embargos de Declaração inter­postos foram julgados nos termos da ementa, in verbis:

"Embargos declaratórios. Man­dado de segurança. Omissão.

1. Consoante entendimento do STJ, I!! Seção, não ocorre omissão quando foram examinadas as ques­tões necessárias ao deslinde da con­trovérsia.

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2. Embargos rejeitados" (fl. 299).

Contra o v. aresto foi interposto Recurso Especial, fulcrado no arti­go 105, inciso lU, alíneas a e c, da Constituição Federal, no qual se alega negativa de vigência aos arti­gos 4~ da Lei 8.437/92, 4~ da Lei 4.348/64, 5~, inciso II, 7~, inciso II e 8~, da Lei 1.533/51, 125, inciso I, 165, 267, incisos IV e VI, 458 e 535, inciso II, do Código de Processo Ci­vil, além de dissídio jurisprudencial com outros Tribunais, inclusive a Suprema Corte e este Tribunal.

Sustentou a Recorrente que o v. aresto não se preocupou com "o re­quisito essencial ao cabimento do remédio excepcional e à concessão da liminar representado pelo risco de dano de difícil reparação que po­deria advir daquela originária limi­nar ... ". Sustentou que a Recorrida não demonstrou seu direito líquido e certo neste mandamus. Aduziu que "o recurso cabível em caso de execução de liminares ou de senten­ças concessivas de segurança em ações contra o Poder Público movi­das é o pedido de suspensão junto ao presidente do 'fribunal competen­te para dele conhecer. Ressaltou que restou afrontado o princípio da legalidade. Entendeu que, impõe-se, no caso, a extinção do feito, por au­sência de uma das condições da ação, já que o mandado de seguran­ça não é sucedâneo de recurso, por­que no caso, a decisão contra a qual foi interposto o writ é interlocutória, cabível, assim, o agravo de instru­mento.

A Recorrida, por seu turno, sus­tentou o não cabimento do recurso, já que a "decisão ainda pode ser modificada quando do julgamento do mérito pelo Tribunal Regional Federal". Por isso, em vista da pre­liminar levantada, estaria o exame do mérito prejudicado.

O recurso foi inadmitido na ori­gem, contudo, para melhor exame e julgamento nesta Corte, determinei a subida dos autos, quando da apre­ciação do Agravo de Instrumento in­terposto.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): No horizonte recursal divisa-se que, em Manda­do de Segurança formulado pela União Federal contra ato judicial (liminar), conforme resumido na ementa, o vergastado v. Acórdão as­sentou:

"Agravo Regimental.

1. Não instaurado o procedimen­to fiscal, não há como o contribuin­te apresentar impugnação.

2. A suspensão da segurança, na forma estabelecida pelo art. 4~ da Lei 8.437/92, só se aplica às hipóteses nele previstas, que não é o caso dos autos.

3. É entendimento desta Colen­da 2!:! '!brma de que, do despacho indeferitório de liminar em man­dado de segurança, não cabe re­curso.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 67

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4. Agravo regimental improvi­do" (fl. 289).

Presentes os requisitos de admis­sibilidade, submetendo a exame ale­gada contrariedade aos artigos 4~, Lei n 2 8.437/92, 42, da Lei n 2 4.348/64, 52, lI, 72, lI, e 82, da Lei 1.533/51, e artigos 125, 165, 267, IV e VI, 458 e 535, II, do CPC, o recur­so merece ser conhecido (art. 105, III, a, c, C.F.).

Liberado o conhecimento, para nortear o exame, como memento, aviva-se que, no primeiro grau de jurisdição, definida liminar em Mandado de Segurança impetrado por pessoa jurídica contribuinte, de inopino, agindo na instância ordiná­ria recursal, a União Federal tam­bém articulou mandamus, objeti­vando desconstituir o primeiro ato judicial acautelatório, logrando su­cesso, de início, com preambular de­cisão do Relator e, depois, favoreci­da pelo julgado no Agravo Regimen­tal, cuja ementa foi antes transcri­ta.

Portanto, às claras, cuida-se de questão processual algemada à ade­quação, ou não, e legalidade do ato judicial (liminar deferida pelo Rela­tor) desconstituindo a decisão pro­ferida pelo julgador monocrático. Referida questão não está revestida de ineditismo, uma vez que tem provocado apreciações configuradas em precedentes desta Corte.

Com efeito, já se proclamou que, excepcionalmente, o remédio herói­co pode ser utilizado para empres­tar efeito suspensivo a recurso órfão

dessa conseqüência processual, hi­pótese reveladora da necessidade -antecedendo àquela impetração -, a tempo e modo, visando prevenir dano irreparável ou de difícil repa­ração, da manifestação recursal (p. ex.: Agravo de Instrumento). E quando assim não acontece, harmo­nizou-se a jurisprudência pelo des­cabimento do Mandado de Seguran­ça visando a "suspensão de liminar". Inter alia, confira-se:

- "Reclamação. Suspensão de liminar concedida em mandado de segurança. Competência.

O meio processual próprio pa­ra a suspensão de liminar, conce­dida em mandado de segurança é o requerimento, dirigido ao Pre­sidente do Tribunal a que cabe recurso contra decisão dele. Esse procedimento não pode ser subs­tituído por mandado de seguran­ça, que visa à cassação de limi­nar contida em outro mandado de segurança, e que o litisconsor­te passivo da autoridade coatora impetra perante órgão judiciário do mesmo tribunal que não será sequer competente para conhecer de recurso contra a decisão na primeira segurança. Reclamação que se julga procedente por inva­são de competência declarando­se, conseqüentemente, a nulida­de ab initio, por impossibilidade jurídica, do mandado de seguran­ça impetrado perante o grupo de Câmaras Reunidas Cíveis do Tri­bunal de Justiça de São Paulo" (Recl 1.768-SP, Pleno, ReI. Min. Moreira Alves, in DJU de 5.6.85

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- Rev. TRF - 3!! Região -9/217 - fl. 312 destes autos).

- "Processual. Mandado de segurança. Ato judicial. Descabi­mento. Precedentes.

1. Incabível Mandado de Segu­rança contra ato judicial sem ei­va de ilegalidade ou abuso de po­der e contra o qual não se inter­pôs, tempestivamente, o recurso adequado.

2. Recurso especial conhecido e provido" (REsp 13.655-0-SC -ReI. Min. Peçanha Martins - in DJU de 11.4.94).

- "Mandado de segurança contra liminar concedida em ou­tra ação mandamental.

É inadmissível a utilização de Mandado de Segurança contra decisão concessiva de liminar em outra ação mandamental. O re­curso próprio é o agravo de ins­trumento. Trata-se de medida anômala de caráter acautelatório, admitindo-se, excepcionalmente, o writ quando demonstrada a ile­galidade do ato, dano irreparável ou abuso de poder do Juiz.

Recurso desprovido. Decisão unânime" (REsp 1.070-0-PR -ReI. Min. Américo Luz - in DJU de 21.6.93).

- "Mandado de segurança -Sucedâneo de recurso - Ato ju­dicial.

Não cabe mandado de seguran­ça contra ato judicial passível de recurso (Súmula n~ 267 do STF).

O mandado de segurança não pode ser usado de sucedâneo de recurso cabível não interposto.

Sobreleva que o ato impugna­do não padece de ilegalidade fla­grante e não constitui nenhum abuso de poder. A concessão ou não de liminar decorre da livre convicção e prudente arbítrio do Juiz singular.

Recurso improvido" (RMS n~ 3.570-0-RJ - Rel. Min. Garcia Viera - in DJU de 2.9.94).

- "Processual Civil. Mandado de segurança. Efeito suspensivo a agravo de instrumento. Decisão de Primeira Instância que, em ação civil pública, concedeu limi­nar. Inadequação da via escolhi­da. Incapacidade de provocação de gravame à recorrente. Recur­so desprovido.

I - Segundo jurisprudência firmada pelo Pretório Excelso, 'o meio processual próprio para sus­pensão de liminar concedida em Mandado de Segurança (ou de sentença concessiva) é o requeri­mento dirigido ao Presidente do Tribunal a que cabe o recurso contra decisão dele' (RTJ, voI. 119/474); 'a suspensão (da liminar ou da sentença) não pode ser pleiteada através de agravo regi­mental interposto perante o ór­gão judiciário competente para julgar a segurança'.

II - Na espécie, em se atribuin­do efeito suspensivo ao agravo de instrumento manifestado contra a decisão 'concessiva de liminar, na ação civil proposta pelo Ministé­rio Público, suspender-se-ia, por via transversa e inadequada, a execu­ção da decisão proferida pelo juí­zo de primeiro grau, o que não se compadece com a legislação em vi-

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gor, cujo remédio cabível seria o previsto no artigo 42 da Lei n 2

4.348/64; demais disso, a ordem judicial é incapaz de causar gra­vame à recorrente.

cedentemente, não foi interposto Agravo de Instrumento, querendo a parte interessada, para que se se­guisse o pedido de efeito suspensi­vo, nem se cuidou de pedir a sus­pensão da liminar objurgada, aten­to aos limites da questão processual federal, por si, suficiente para resol­ver a controvérsia, por louvação à compreensão jurisprudencial har­monizada, dispensáveis outras ra­zões, voto provendo o recurso.

Recurso a que se nega provi­mento, sem discrepância." (RMS n 2 3.685-5/SP - ReI. Min. Demó­crito Reinaldo, in DJU de 16.5.94).

Confluente à fundamentação co­memorada, certo que, no caso, ante- É o voto.

RECURSO ESPECIAL N2 88.721 - RS

(Registro n 2 96.0010594-4)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrentes: Lojas Colombina S.A. e outro

Recorrida: Fazenda Nacional

Advogados: Paulo de Vasconcellos Chaves e outros, e Dolizete Fátima Michelin e outros

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Correção monetá­ria das demonstrações financeiras de empresa. Ausência de pre­questionamento e matéria constitucional. Não conhecimento.

No recurso especial somente se aprecia questões jurídicas pre­questionadas e sobre as quais o Tribunal a quo tenha adotado en­tendimento explícito.

Não se conhece do especial quando a controvérsia, no juízo de origem, foi decidida em bases constitucionais (constitucionalida­de de leis, princípios da legalidade e da isonomia).

Se a lide foi dirimida com assento em princípios constitucionais, descabe o especial pela letra c, do preceito constitucional autori­zativo, porquanto a divergência pretoriana para justificar a via­bilidade do recurso derradeiro é a decorrente de interpretação da legislação federal.

Recurso não conhecido. Decisão unânime.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Thrma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigrá­ficas constantes dos autos, que fi­cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hum­berto Gomes de Barros, José Delga­do e José de Jesus Filho. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Milton Luiz Pereira. Custas, como de lei.

Brasília, 13 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: A empresa Lojas Co­lombina S.A. e outro impetraram mandado de segurança preventivo contra o Delegado da Receita Fede­ral, no Rio Grande do Sul, objetivan­do corrigir as demonstrações finan­ceiras (ou os seus balanços), para o fim do recolhimento do imposto de renda, nos períodos considerados, utilizando o índice de variação do IPC e não do BTNF. Igual pedido se estendeu à correção para efeito de aferição das contribuições Sociais so­bre o lucro líquido no exercício fi-

nanceiro de 1991, período-base de 1990, inobservado o diferimento pre­visto no art. 32 da Lei n2 8.200/9l.

Deferida, na primeira instância, a segurança foi denegada em grau de apelação pelo TRF da 4'" Região.

Inconformada, manifesta, a ven­cida, sob o pálio das letras a e c, do admissivo constitucional, recurso es­pecial, sob color de ofensa ao art. 43 do CTN, art. 32 e parágrafo único da Lei n2 7.799/89 e art. 22, § 62 da Lei n 2 8.030/90 e dissenso pretoriano, eis que:

a) a correção monetária dos balanças deve refletir os valores reais da inflação, para evitar a exacerbação do imposto de renda.

Admitido na origem, vieram os autos a esta instância.

É o relatório.

VOTO PRELIMINAR

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Mi­nistros:

Empresa contribuinte impetrou mandado de segurança preventivo contra o Delegado da Receita Fede­ral visando assegurar-se no direito de utilizar os índices de variação do IPC para calcular a correção mone­tária das demonstrações financeiras referentes ao impo;to de renda de pessoa jurídica, contribuição social sobre o lucro líquido no exercício fi­nanceiro de 1991, período-base 1990, sem o diferimento previsto no art. 32

da Lei n 2 8.200/91, para compensa-

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ção em quatro (4) períodos-base, a partir de 1993.

A segurança foi concedida, na pri­meira instância, e, denegada pelo TRF da 4~ Região em grau de apelação.

Irresignada, a empresa vencida interpôs recurso especial, estribada nas alíneas a e c, do permissivo constitucional, sobre alegar: "a lei que alterou os índices de correção monetária do balanço das pessoas jurídicas naquele ano (Lei 8.088/90), afrontou diversos dispositivos cons­titucionais e contrariou disposições de legislação infraconstitucional, qual seja:

a) o art. 43 do CTN, ao legiti­mar atos legais que, impondo Ín­dices subavaliados de correção de balanço, lhe impuseram tributa­ção adicional do imposto de ren­da, mediante majoração artificial da base de cálculo;

b) o art. 3~ e parágrafo único da Lei n~ 7.799/89, que exige que a correção monetária das demons­trações financeiras expresse, em valores reais, os elementos patri­moniais e a base de cálculo do im­posto de renda;

c) o art. 2~, § 6~, da Lei n~ 8.030/ 90, em razão do qual os índices deveriam ter sido apurados pelo IBGE;

d) o acórdão hostilizado dissen­tiu de julgados de outros Tribu­nais.

o recurso maior, todavia, não é de ser conhecido, em face de óbices regimentais e de caráter legal.

De fato, a correção das demons­trações financeiras, na forma preco­nizada, foi disciplinada pelas Leis n~ 7.799/89 e 7.730/89.

Com efeito, preceituam o art. 30 e seu § 1~ da Lei n~ 7.730/89 (que instituiu o cruzado novo e determi­nou o congelamento dos preços):

Art. 30 - No período-base de 1989, a pessoa jurídica deverá efetuar a correção monetária das demonstrações fmanceiras de mo­do a refletir os efeitos da desva­lorização da moeda observada an­teriormente à vigência desta lei.

§ 1~ - Na correção monetária de que trata este artigo a pessoa jurídica deverá utilizar a OTN de 6,92 (seis cruzados novos e noven­ta e dois centavos).

Esses preceitos foram ratificados pelo art. 30 da Lei n~ 7.799/89.

De conseguinte, as leis acima ci­tadas (n~ 7.730/89 e 7.799/89) des­merecem qualquer apreciação, no âmbito do especial, eis que, são leis ordinárias. E tendo sido o manda­mus denegado com apoio em regras da C. Federal e, em cuja decisão se proclamou a compatibilidade entre a legislação citada (Leis n~ 7.730/89 e 7.799/89) com os princípios constitu­cionais tributários; impossível me parece que o decisório com estes fun­damentos possa malferir preceito de lei ordinária. Em outras palavras: tendo o acórdão se estribado na le­gislação pertinente à correção mone­tária - lhe fixando os contornos e a compreensão - e, ainda, em normas

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da Carta Política, torna-se injurídi­co afirmar-se "que uma lei ordinária possa ter afrontado outra lei ordiná­ria". Ocorreu, desenganadamente, que o aresto desafiado optou pela aplicação da legislação específica so­bre correção de balanços (Leis n.Q.ê. 7.730/89 e 7.799/89), sem se ater à legislação pretérita, partindo do princípio de que, "a lei posterior re­voga a anterior naquilo que discipli­na da forma diversa".

Resta, agora, apreciar-se, ainda sob o pálio da letra a, a possível de­safeição ao art. 43 do CTN. Verifico, desde logo, que o preceito indicado como violado (art. 43) não está pre­questionado.

Com efeito, assim definem os Tri­bunais o que seja prequestionamen­to:

"Diz-se prequestionada deter­minada matéria quando o órgão julgador haja adotado entendi­mento explícito a respeito. Este não se configura, através de sim­ples menção, no contexto do acór­dão. É preciso que sobre ele se te­nha manifestado o decisum, de forma a precisar-lhe o sentido e a compreensão, expendendo decisão expressa em relação às matérias que disciplina" (STF e STJ).

In casu, o art. 43 do CTN (nem as matérias que disciplina) não es­tá prequestionado, desde que não foi objeto de decisão expressa, no contexto do acórdão. O voto condu­tor do decisório não fez, sequer, re­ferência ao questionado preceito, mesmo porque, decidiu a lide em

bases constitucionais, sobre concluir inexistir qualquer incompossibilida­de entre a legislação pertinente (Leis n2§. 7.730/89 e 7.799/89) e a C. Federal. E o silêncio do aresto re­corrido a respeito da regra legal, em discussão (art. 43) é significativo, em face de sua impertinência, isto é, de sua não aplicação à hipótese em julgamento. É que, como se sa­be, o art. 43 do CTN se cinge a de­finir o fato gerador do imposto de renda, ao preceituar:

Art. 43 - O imposto, de com­petência da União, sobre a renda e proventos de qualquer nature­za tem como fato gerador a aqui­sição da disponibilidade econômi­ca ou jurídica:

I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos;

II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não com­preendidos no inciso anterior.

O dispositivo, como se vê, enfoca a defrnição de renda em ângulos di­versos: do capital e do trabalho e de proventos, enfrentando-os como acréscimos patrimoniais, sujeitos ao tributo de competência da União. Nenhuma palavra, no preceito, so­bre indexação de renda, correção monetária e muito menos quanto à atualização de demonstrações finan­ceiras de empresas. A lei, no dispo­sitivo invocado (art. 43), sequer im­plicitamente, quer indicar que o produto do capital ou do trabalho e os proventos, para constituir renda

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tributável, devem ou não ser corri­gidos monetariamente.

É certo que, a recorrente, em sua formulação, para justificar o conhe­cimento do especial, estribando-se em matéria essencialmente de fato, "alegou que, uma vez corrigidas, a menor (e com base na Lei n~ 7.799/ 89), as demonstrações financeiras, ter-se-ia - por uma via transversa - o aumento do imposto de renda a recolher, no período considerado e a lei só instituiu a exação para os acréscimos patrimoniais efetivamen­te adquiridos. A correção do balan­ço com índice de percentualização in­ferior implica na aquisição fictícia de renda".

O argumento, ao meu sentir, não tem fomento de direito e não trans­muda o imprequestionável em pre­questionado. É que, como acentuou o STF (Relator Ministro Celso de Mello) no julgamento preliminar da ADln 712, "a correção monetária tal qual preconizada nas Leis n9..§. 7.730/89 e 7.799/89 resultou que, ao final do exercício de 1990, a varia­ção verificada do IPC foi sensivel­mente maior que a variação do BTNF. Essa diferença representou, em termos práticos, uma sub corre­ção monetária dos balanços das em­presas, majorando a carga tributá­ria em alguns casos e atenuando-se em outras". Ora, se a observância da Lei n~ 7.799/89 exacerba o tribu­to, em alguns casos e atenua a car­ga tributária em outros, a questão é meramente de prova. Esta Corte teria que perquirir, em cada caso, se houve decesso ou aumento da carga tributária. E a recorrente, pa-

ra esse fim, teria que fornecer as in­formações necessárias, quanto ao aumento ou a diminuição do tribu­to, juntando cópia do balanço res­pectivo e pertinente ao período con­siderado, e demonstrando, através de cálculos matemáticos (observa­das as regras do imposto de renda) se a correção pelo BTNF alterava para mais ou para menos, o tributo. Todavia, essa demonstração impli­caria em apreciação fática, para me­recer exame nas instâncias ordiná­rias, porquanto, como se sabe, na esfera do especial, não se reestudam os elementos factuais do processo.

O STF firmou escólio "no sentido de que a ofensa a preceito constitu­cional, para justificar o extraordiná­rio é aquela direta e frontal. Por analogia, esta Eg. Corte assentou, em sua jurisprudência "que, se pa­ra se concluir que houve ofensa a lei federal for necessária a incursão nos fatos da causa, descabe o espe­cial".

Ademais, o acórdão recorrido de­cidiu a lide em bases constitucionais (como, aliás, foi posta pela recorren­te), como se depreende de seu con­texto. Em toda a sua fundamentação demonstrou o voto condutor a com­patibilidade da legislação sobre cor­reção monetária dos balanços (Leis n9..§. 7.730/89, 7.799/89 e 8.200/91) com a C. Federal. Está, assim, con­cebida a fundamentação do acórdão a quo, em seus lances essenciais:

"Controverte-se, pois, sobre a constitucionalidade e aplicabilida­de das Medidas Provisórias n9..§. 168, 189, 195, 200, 212 e 237/90

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o da Lei n~ 8.088/90, na parte em que introduziram modificações no critério de atualização do BTN, que o desvinculou da atualização pelo IPC, adotando primeiro o va­lor da cesta básica congelada e depois o índice de reajuste de va­lores Fiscais para a correção mo­netária do valor nominal do BTN.

A inflação apresenta conside­rável repercussão no Imposto de Renda. Na apuração do resultado da empresa, para cálculo do tri­buto, devem ser expurgados os efeitos da inflação do período-ba­se, sob pena de ser tributados va­lores fictícios e aparentes, masca­rados pela inflação.

Não debelada a inflação no país, o Governo Federal, através da Lei n~ 7.799, de 10 de julho de 1989, reintroduziu a correção mo­netária das demonstrações fman­ceiras, estabelecendo como inde­xador o BTN Fiscal, que era atua­lizado com base no Índice de Pre­ços ao Consumidor - IPC. Po­rém, a Medida Provisória n~ 168/ 90 desvinculou o BTN do IPC, ocorrendo o mesmo no tocante ao BTNF. A Medida Provisória n~ 189 instituiu o índice de Reajus­te de Valores Fiscais, com base no qual passaria a atualizar o BTN e o BTNF. Não apreciada a Medi­da Provisória no prazo de trinta dias, a mesma foi reeditada vá­rias vezes através das Medidas Provisórias nM 195, 200 e 212 e 237/90, expedidas pelo Presiden­te da República, até o advento da Lei n~ 8.088/90, que converteu a Medida Provisória em lei, tornan-

do definitiva a vinculação do BTN e do BTNF ao IRVF.

O contribuinte argumenta que o Índice de Reajuste de Valores Fiscais não expressava a inflação ocorrida no país no período-base, pelo que acarretou um resultado fictício, que aumentou a carga fiscal do Imposto de Renda e da Contribuição Social. Porém, não se vislumbra qualquer eiva de in­constitucionalidade na substitui­ção do critério de atualização mo­netária no tocante às demonstra­ções financeiras.

A atualização das demonstra­ções financeiras deve expressar, em valores reais, os elementos patrimoniais e a base de cálculo do imposto de renda e da Contri­buição Social. Não é a atualiza­ção um gravame nem um favor fiscal, mas uma técnica utilizada necessariamente em economias inflacionárias, para ajustar os va­lores nominais da moeda a sua verdadeira expressão real e efe­tiva, com objetivo de expurgar as distorções causadas pela inflação.

A fixação dos índices do BTN e do BTNF, como de resto qualquer indexação no país, se prende à matéria de política econômica do governo federal, em atendimento às circunstâncias ligadas à econo­mia e finanças, sendo insuscetí­vel de apreciação pelo Poder Ju­diciário quanto à oportunidade, conveniência da medida e justiça do ato.

As regras de indexação mone­tária não constituem matéria de

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direito tributário. Inserem-se num contexto maior, pertinente à economia nacional, às finanças públicas, ao valor da moeda na­cional e à recomposição do poder aquisitivo. Se as leis que tratam da indexação da economia não pertencem ao sistema tributário nacional, não se sujeitam aos princípios gerais tributários.

Sequer o instituto da correção monetária tem status constitu­cional. Pode o legislador ordiná­rio alterar toda a sistemática, re­lativa à moeda nacional, bem as­sim quanto à indexação monetá­ria, antes do exercício financeiro, como ocorreu no caso, tendo sido obedecido o princípio da anterio­ridade.

As regras de direito financeiro se aplicam de imediato. Não exis­te direito adquirido a determina­do índice de correção. A mudan­ça de índice de correção monetá­ria não importa em majoração do tributo, conforme dispõe o art. 97, parágrafo único do CTN. A alteração do critério de atualiza­ção, no tocante às demonstrações financeiras, entrou em vigor em 1~.O1.91, depois de ocorrido o fa­to gerador do imposto de renda e da contribuição social.

A capacidade contributiva não restou vulnerada. Nada indica que tenha havido confisco. Nem seria o mandado de segurança medida adequada para exame de tal questão, que depende de pro­va. Se o BTNF serviu para atua­lizar os tributos, também deveria

servir para correção das demons­trações financeiras. A carga maior ou menor de tributos pode deno­tar menor ou maior justiça fiscal, mas isso não implica necessaria­mente em ofensa à capacidade contributiva ou em confisco.

O princípio da legalidade foi respeitado. Não é exigível lei complementar para instituir re­gras sobre a indexação monetá­ria. A desvinculação do BTN ao IPC não foi efetuada através de Portaria, Instrução Normativa ou qualquer outra modalidade de ato administrativo, mas sim por Medida Provisória, com força de lei, segundo a Constituição, que foi convertida em lei.

Não houve ofensa ao princípio da isonomia, visto que todos os contribuintes do imposto de ren­da ficaram sujeitos à incidência do mesmo índice, não existindo tratamento diferenciado quanto à classe ou grupo ou grupos de pes­soas sujeitas ao mesmo tributo. O novo fator de reajuste substituiu abstrata e genericamente o ante­rior.

Não pode o Judiciário deixar de aplicar a lei, sob pretexto de que seja injusta. Somente o Poder Le­gislativo tem o poder de alterar a lei. Seria descabido se o Judiciá­rio se arvorasse em legislador. Não ocorreu contrariedade aos ar­tigos 43 e 44 do CTN. Presume-se juris et de jure que a base de cálculo do imposto de renda cor­responda ao montante real dos acréscimos patrimoniais havidos no período-base.

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Portanto, são constitucionais as Medidas Provisórias nill!. 168, 189, 195, 200, 212 e 237/90 e a Lei n~ 8.088/90, na parte em que determinaram que o valor nomi­nal do BTN fosse atualizado pe­lo Índice de Reajuste de Valores Fiscais - IRVF. Todos os argu­mentos aduzidos pelo contribuin­te na inicial são insubsistentes" (folhas 247/249).

Examinemos, por último, o cabi­mento do especial com arrimo no dissenso pretoriano. Ressalte-se, de logo, que a divergência carece de configuração. É que, se a lide teve o seu desfecho em bases constitucio­nais, descabe o especial com respal­do na alínea c, do admissivo consti­tucional. A divergência a que se re­fere o texto constitucional há de se verificar na interpretação de precei­tos de lei federal. Demais disso, a recorrente descumpriu regras regi­mentais, transcrevendo os arestos paradigmas em ementas sem a de­monstração analítica dos trechos

em que se embutia à disparidade. A caracterização da dissonância exige que o conflito de julgados se verifi­que na interpretação do mesmo dis­positivo de lei federal. Não ocorre, essa exigência, com os arestos cola­cionados, que interpretam e aplicam, como se pode observar, não só a Lei 7.799/89, mas, também, a de n~ 7.777/89, art. 2~, Lei n~ 8.088/90, Lei n~ 8.024/90, além das Medidas Pro­visórias n2li. 195, 200, 212, 237 e 189. Por derradeiro, todos os acórdãos colacionados para efeito de compa­ração, malgrado referência à legis­lação ordinária, encerram matéria constitucional.

Assim, os julgados indicados co­mo paradigmas decidiram questões com apoio em princípios constitucio­nais e em normas legais diversas das referidas no acórdão recorrido, desconfigurada, assim, a divergên­cia.

O meu voto, em preliminar, é não conhecendo do especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N2 88.998 - SP

(Registro n~ 96.0011519-2)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Francisco Sampaio Alvarenga e cônjuge

Advogados: Drs. Yara de Campos Escudero de Paiva e outros, e Márcio Kayati e outros

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EMENTA: Administrativo. Desapropriação de imóvel urbano. Va­lor indenizatório fixado em título sentencial transitado em julga­do. Imissão definitiva na posse antes do pagamento integral. Cons­tituição federal, artigo 182, § 3~. Decreto-Lei n~ 3.365/41 (art. 15). De­creto-Lei n~ 1.075170 (art. 3~).

1. Quando solicitada e reconhecida a necessidade de imediata imissão na posse de imóvel urbano, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça assentou que não ofende a legislação infracons­titucional o condicionamento da imissão antecipada na posse ao de­pósito integral do valor apurado em avaliação judicial provisória (REsp n~ 16.647-SP - ReI. Min. Humberto Gomes de Barros - in DJU de 1.8.94; EREsp n~ 20.788-SP - ReI. Min. Demócrito Reinaldo - in DJU de 20.9.93; EREsp n~ 23.649-SP - ReI. Min. Cesar Asfor Rocha).

2. Por derivação lógica, faltantes o pedido e a precedente decla­ração de urgência, embora fixado o valor indenizatório em título sentencial transitado em julgado, se o expropriante, a tempo e mo­do, não exercitou o direito de se imitir na posse provisória, não po­de objetivá-la na fase de execução de sentença, sem o pagamento integral do "justo preço". Em contrário, no caso, via oblíqua, con­seguiria a posse definitiva, afrontando o princípio constitucional do prévio pagamento integralizado (art. 182, § 3~, C.F.), consagran­do injusto privilégio à expropriante.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Su­perior 'lhbunal de Justiça, por una­nimidade, negar provimento ao re­curso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado e Demócrito Reinaldo. Ausentes, justificadamente, os Se­nhores Ministros José de Jesus Filho e Humberto Gomes de Barros. Pre­sidiu o julgamento o Senhor Minis­tro Milton Luiz Pereira.

Custas, como de lei.

Brasília, 6 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro MILTON LUIZ PEREI­RA, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Ao derredor de Agravo de Instrumento contra decisão deferitó­ria de imissão pela Fazenda Esta­dual em imóvel expropriado, estan­do o processo em fase de pagamen­to das parcelas do valor da indeniza-

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ção, o egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo assentou o en­tendimento, reduzido à seguinte ementa:

"Desapropriação. Imissão de posse requerida após sentença fi­xando o preço, antes de completo o pagamento. Descabimento." (fl. 65).

Nos Embargos de Declaração, em que se sustentou a não-alegação de urgência, mas urgência quando hou­vesse oportunidade, aquele Sodalício rejeitou os embargos, entendendo inocorrente a obscuridade apontada.

Malferindo o v. aresto foi inter­posto Recurso Extraordinário (art. 102, lII, a, C.F.), inadmitido na ori­gem, decisão contra a qual foi inter­posto Agravo de Instrumento.

Simultaneamente foi interposto Recurso Especial, com supedâneo nas alíneas a e c do autorizativo constitucional, no qual alega a Fa­zenda negativa de vigência ao ar­tigo 535, inciso I, do Código de Pro­cesso Civil, porque o v. aresto não teria apreciado os dispositivos legais e constitucionais citados na apela­ção. Sustenta também negativa de vigência ao artigo 15 do Decreto-Lei 3.365/41, ao argumento de que a ale­gação de urgência é facultativa e po­de ser requerida em qualquer fase do processo expropriatório. Disse que "o pagamento integral até o momen­to não se efetuou, repita-se, por dis­posição Constitucional, não havendo que se falar na aplicação do art. 15 do Decreto-Lei 3.365/41, pois o pre­ço que está sendo pago é o definiti-

vo". Sustentou, por fim a ocorrência de dissídio pretoriano.

Ao contra-arrazoar, os Recorridos questionaram a admissibilidade do Recurso, diante da incidência das Súmulas 282 e 291 da Suprema Cor­te, dada a ausência de prequestiona­mento, e da Súmula 83/STJ, por já existir orientação deste Tribunal so­bre a matéria em discussão. Con­cluiu que se o depósito prévio é con­dição para a concessão de imissão provisória na posse, "por maior ra­zão o será na hipótese do imóvel ter sido avaliado por sentença transita­da em julgado".

O Recurso Especial foi admitido pelo ínclito 4~ Vice-Presidente do co­lendo Tribunal a quo, apenas pela alínea a do permissivo constitucio­nal, em virtude da não demonstra­ção analítica do alegado dissídio pretoriano.

Registre-se que contra a decisão que in admitiu o Recurso Especial pela alínea c foi interposto Agravo de Instrumento, o qual não conheci.

A Subsecretaria de Registros e Informações Processuais certifica às fls. 193, que não consta dos autos procuração outorgada ao subscritor da petição de fls. 169/178.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Divisa-se no ce­náculo recursal, lineado no proces­samento de ação desapropriatória, debate vinculado à imissão na pos-

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se, sob a réstia do art. 15, do Decre­to-Lei 3.365/41, ensejador de recur­so, objurgando o venerando julgado que afirmou:

"Se a imissão na posse não é provisória, mas sim, definitiva, en­tão é que não poderá haver dúvi­da de que dependa do pagamento integral do preço." (fl. 67).

A manifestação de inconformismo, além de divergência jurisprudencial, abordoando que houve negativa de vigência ao art. 15, Decreto-Lei n~ 3.365/41, e contrariedade ao art. 535, I, CPC, presentes os requisitos de admissibilidade, merece ser conhe­cida (art. 105, lII, a, c, C.F.). Plas­ma-se que, no pertencente à diver­gência jurisprudencial, fundamento inadmitido na apreciação afeita ao primeiro juízo de admissibilidade (fls. 186 a 188), no particular, ficou vencido no exame do interposto agravo (fls. 163 a 164 - autos apen­sados). Mesmo porque, conseqüente à admissão parcial, aplicam-se as disposições do art. 257, RISTJ (Sú­mula 456/STF).

N a vereda, ainda, do alcance do conhecimento, observando que o ilustre subscritor das contra-razões de fls. 174 e 175 a 178 (cert. fl. 193), não tem procuração nos autos, so­mente outorgada e substabelecida a outros Advogados (fls. 19 e 20), de­las não tomo conhecimento (arts. 36 e 37, CPC), inclusive, compreenden­do que, integrantes das peças recur­sais, também podem ser considera­das como inexistentes (Súmula 115/STJ).

Em relação à ofensa ao art. 535, I, CPC, que verificado o julgado al­voroçou a jurisprudência orientado­ra, favorecendo o entendimento da controvérsia, claro o aresto nas suas premissas e conclusão, não se confi­gurou nenhuma das hipóteses do art. 535, I e lI, CPC.

Assim definida objetivamente o campo de conhecimento da questão básica, favorecendo a compreensão, coloca-se controvérsia decorrente de inicial decisão monocrática, deferitó­ria de imissão na posse de imóvel expropriado (fl. 48), já na fase de execução com pagamentos parcela­dos do valor indenizatório fixado pa­ra imóvel urbano (apartamento), aconsoantado v. Acórdão transitado em julgado (cert. fl. 30).

Eis, pois, a questão jurídica: sem o liminar deferimento, é legal ou ile­gal a imissão definitiva na posse sem o pagamento integral do justo preço fixado judicialmente?

Para a solução, comenta-se que na inicial do processo original, abran­gendo vários imóveis, a Exproprian­te ofereceu o preço, sem reclamar ur­gência e nem fez depósito prévio (fls. 14 a 18). A r. sentença também não registrou a urgência, o depósito pre­cedente e a imissão provisória ou de­finitiva (fls. 21 a 25). No julgamento da apelação, no pormenor da imissão, a sentença não foi modificada, assim transitando em julgado (fls. 28 a 29 e certo fl. 30).

Enfim, a imissão só foi cogitada e deferida na fase de execução do tí­tulo sentencial, dez (10) anos depois (fl. 48).

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Ora, quanto à imissão provisória, embora pense em contrário, a trato de imóvel urbano, a jurisprudência desta Corte, ditada pela Seção de Direito Público, uniformizando en­tendimento divergente, assentou que deve ser feito depósito prévio e integral do valor atribuído ao imó­vel; à mão de conferência:

- "Processual - Desapropria­ção - Imissão provisória - Pré­via avaliação judicial.

A imissão provisória em imó­vel expropriado, somente é pos­sível mediante prévio depósito de valor apurado em avaliação judicial provisória". (REsp n~ 19.647-SP - ReI. Min. Humber­to Gomes de Barros - in DJU de 1.8.94).

- "Administrativo - Desapro­priação - Imissão provisória -Imissão definitiva - Vedação -DL 1.075170 e DL 3.365/41.

O Decreto-Lei n~ 1.075170 per­mite apenas a imissão provisória do expropriante, no bem objeto de desapropriação. Não autoriza imissão definitiva.

Para se valer de seus permissi­vos, o expropriante deve provar que seu ingresso na posse não é definitivo, mas provisório. Permi­tir a imissão definitiva do expro­priante, sem o pagamento integral do valor atribuído ao imóvel, em avaliação especial, é dar ao DL n~ 1.075170 e ao DL n~ 3.365/41 inter­pretação que os tornam inconstitu­cionais" (EREsp 20.788-SP - ReI. Min. Demócrito Reinaldo - DJU de 20.9.93).

- "Administrativo. Desapro­priação. Imissão provisória na posse. Lei n~ 3.365/41 e Decreto­Lei n~ 1.075170. Inteligência. Pre­cedentes.

I - Nos termos da jurisprudên­cia da Primeira Seção desta Cor­te, não ofende a legislação infra­constitucional o condicionamento da imissão antecipada na posse ao depósito integral do valor apurado em avaliação provisória.

II - Embargos de divergência rejeitados" (EREsp 23.649-SP -ReI. Min. Cesar Asfor Rocha - in DJU de 13.12.93).

Em assim compreendida a exigên­cia principal para imissão provisória (depósito prévio e integral do valor apurado em avaliação judicial provi­sória), salta da razão a impossibili­dade do apossamento definitivo, se­ja com valor ficcional ou, depois de estabelecido, sem a concretude do pagamento devido (justo preço). Agrega-se que, na desapropriação que o domínio somente se transfere de vez, após o pagamento definitivo do justo preço indenizatório garan­tido na Constituição. Desse modo, inequívoca a falta de precedente de­claração de urgência e sem o adian­tamento do preço apurado em ava­liação judicial provisória, muito em­bora, no caso, já fixado o valor inde­nizatório e pagas algumas parcelas, se o expropriante não exercitou a tempo e modo, o direito de se imitir na posse provisória, não pode obje­tivá-la na fase de execução de sen­tença, sem o pagamento integral, do "justo preço" fixado definitivamente.

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Contrariamente pensar, via oblíqua, conseguiria a posse definitiva, afron­tando o princípio constitucional do prévio pagamento integralizado (§ 3~, art. 182, C.F.). A justa e prévia inde­nização constituem o portal para a imissão definitiva e à transferência do imóvel à parte expropriante.

Daí porque, no caso, ausente o re­conhecimento da urgência e não sa-

tisfeito o pagamento integral, per­mitir a imissão definitiva na posse, seria derruir o direito de proprieda­de, esmaecendo-se o princípio da prévia e justa indenização, consa­grando-se injusto privilégio à expro­priante.

Confluente às razões motivadoras do convencimento, voto improvendo o recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 92.316 - RJ

(Registro n~ 96.0021095-0)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Petróleo Brasileiro SI A - Petrobrás

Recorrido: Estado do Rio de Janeiro

Advogados: Drs. Cândido Ferreira da Cunha Lobo e outros, e Arthur Jo­sé Faveret Cavalcante e outros

EMENTA: Processual. Ação declaratória. Recurso especial. Incons­titucionalidade de norma tributária. Impossibilidade.

1-É inviável, no estágio atual do nosso ordenamento jurídico, o conhecimento de recurso especial contra acórdão que entendeu ser impossível, em sede de ação declaratória, declarar-se, em tese, a in­constitucionalidade de norma tributária.

2 - Recurso especial que se conhece, porém, nega-se provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior 'Ih­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de

Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 07 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 22-04-97.

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RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: Examina-se inconformismo ex­tremo apresentado pela empresa Pe­tróleo Brasileiro S/A Petrobrás que mereceu, de modo adequado, às fls. 290/291, o seguinte relato:

"Trata a hipótese de recurso es­pecial, tempestivamente interpos­to, com fundamento no artigo 105, IIl, a, da Constituição Federal, que visa a impugnar o venerando acórdão, prolatado pela Egrégia Quinta Câmara Cível do nosso Tribunal de Justiça (fls. 239/246), cuja ementa é a seguinte:

"ICMS - Ações cautelar ino­minada para a suspensão da exigibilidade do crédito Tribu­tário e Declaratória de incons­titucionalidade de ampla legis­lação Tributária Estadual, com a conseqüente declaração de inexistência de relação jurídico­tributária. Não realizado o de­pósito previsto no inciso Il, do art. 151, do Código Tributário Nacional improcede a Cautelar. Simples questão de direito não pode ser objeto de ação declara­tória, que é inadmissível, tam­bém, para declarar sobre lei em abstrato - Não é dado ao Po­der Judiciário, especialmente em sede incidental, declarar in­constitucional norma tributária de enormíssima aplicação a ca­sos concretos sob color de que numa especialíssima hipótese - quando da transferência de

ativo fixo - sua aplicação seria ilegal. A declaratória não se presta para atender mera pre­tensão a interpretação da lei em tese, mas a afastar estado de incerteza objetiva acerca da existência ou não, de relação jurídica, situação não demons­trada pela Autora. Extinção do processo, por impossibilidade jurídica do pedido".

Foram interpostos embargos de declaração (fls. 248 a 252), que fo­ram rejeitados (fls. 251/255) pelo acórdão assim ementado:

"Embargos de declaração. Não são os embargos a via pró­pria a ensejar a reapreciação de matéria decidida".

O recorrente em suas razões (fls. 257 a 271) sustenta que a de­cisão recorrida negou vigência aos artigos 4~, I, 302, 304, segunda parte e 334, III e IV do CPC, ao não considerar que foi pedida a declaração de inexistência de re­lação jurídica tributária entre re­corrente e recorrido, estando em causa a pretensão deste cobrar ICMS sobre "simples transferên­cia de seus próprios bens imobili­zados, de seu ativo fixo, uso e con­sumo, entre seus próprios estabe­lecimentos". Afirma também que o réu não impugnou esse fato nar­rado na inicial e que por isso se presume verdadeiro.

O recorrido contra-arrazoou (fls. 280 a 282).

O Ministério Público opinou (fls. 284 a 288), pela inadmissão do recurso".

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N a instância ad quem o especial não foi admitido, o que mereceu agravo de instrumento provido.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): A matéria jurídica in­vocada pela recorrente não merece ser conhecida pela via do presente especial.

Sustenta esse entendimento as razões desenvolvidas no voto condu­tor do acórdão recorrido, especial­mente, na parte que afirma (fls. 241/245):

"N o que tange, contudo, à ape­lação do Estado do Rio de Janei­ro, comungo da mesma opinião do ilustre e douto Procurador da Jus­tiça, Dr. Jacyr Willar de Oliveira, pois a estou provendo, para extin­guir o processo, sem julgamento do mérito, por impossibilidade ju­rídica do pedido.

N a petição inicial, após uma longa descrição dos fatos, análise de textos legais, invocação de opi­niões doutrinárias e citação de vasta corrente jurisprudencial, a Autora, fls. 34/35, assim formulou seu pedido.

"Diante dos fatos e fundamen­tos jurídicos apresentados, ma­xime pelos próprios suprimen­tos desse D.D. Juízo, a Autora requer seja julgada procedente a presente ação, a fim de que seja declarada a inconstitucio-

nalidade da legislação que de­termina a tributação sobre as transferências de bens de ativo fixo uso e consumo (art. 2~ da Lei 1.423, de 27.01.89); a cláu­sula primeira do Convênio 19/91 e os artigos 1~, parágrafo único e 2~, incisos I, II e V, do Convênio 66/88 e a inexistência de relação jurídica tributária entre a Autora e a Ré a tal tí­tulo".

O Estado argüiu, preliminar­mente, a inépcia da inicial e ser o pedido juridicamente impossível, "por pretender expressamente ver declarada em tese a inconstitucio­nalidade de vasta legislação do Estado do Rio de Janeiro, e, ain­da, por não individualizar, com a necessária precisão, as relações jurídicas cuja inexistência, se por hipótese se pudesse superar o obstáculo anterior, quer que se declare".

Não há dúvida de que o proce­dimento escolhido é inadequado.

Celso Agrícola Barbi, in Co­mentários ao Código de Processo Civil, voI. I, pág. 75, 1~ Edição, 1975, assim ensina:

"A noção corrente de relação ju­rídica - relação entre pessoas ou entre pessoa e a coisa, regu­lada pelo direito - fornece idéia satisfatória para aprecia­ção desse objeto da declaratória.

Assim, não pode ser objeto de ação uma simples questão de direito ...

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Igualmente, não é admissível a ação para declarar sobre lei em abstrato".

Já se tem decidido, de forma as­sente que "não cabe ação declara­tória para a mera interpretação do direito em tese", conforme se pode ver da RTJ voI. 113, pág. 1.322, Rec. Extraordinário 102.734-SP acórdão de que foi relator o Minis­tro Octávio Gallotti.

No mesmo sentido pronunciou­se o Tribunal de Justiça de São Paulo, em acórdão publicado em sua Revista de Jurisprudência 94, pág. 81.

Na espécie, sob apreciação, não se trata de incerteza sobre a exis­tência ou inexistência de relação jurídica, nem sobre autenticidade ou falsidade de documentos, mas de mera quaestio iuris decorren­te de tal relação, a ser dirimida incidentalmente quando for o ca­so e não em caráter principal por ação declaratória, prevista no art. 42, do Estatuto Processual Civil.

O argumento do Réu, ora Ape­lado, manifestado por seu ilustre Procurador, fls. 164/165, n~ 3 e 4, merece inteiro acolhimento, no sentido de que a Declaratória te­ria cabimento se tivesse por obje­to ver reconhecido que na trans­ferência de bens do ativo perma­nente entre dois de seus estabele­cimentos não surge qualquer rela­ção tributária de que decorra a obrigação de pagar ICMS, mas não como fez a Autora, Apelante, que pleiteou a declaração de in-

constitucionalidade de dispositivos legais de ampla abrangência e que, se acolhida, acarretaria que o ICMS fosse abolido do Estado, uma vez que os dispositivos con­siderados inconstitucionais pela sentença são os que definem o fa­to gerador deste imposto.

É de se acentuar, pelo que se lê de fls. 172, n2 16, como bem acen­tuou o Dr. Procurador de Justiça, o Estado não alarga o conceito de mercadoria para nele incluir os bens do ativo financeiro.

Se assim é, também não se po­de admitir a declaratória, que de­ve versar sobre relação jurídica atual, já verificada, e não sobre a existência de futura relação jurí­dica.

O STJ - RT 672/228, assim decidiu:

"Ação declaratória. Objeto. Tra­ta-se de Ação que não presta para atender a mera pretensão à interpretação da lei em tese, mas a afastar estado de incer­teza objetiva acerca da existên­cia ou não de relação jurídica. Caso em que essa circunstância não foi demonstrada pelo recor­rente, a quem incumbia a pro­va de que a dúvida não reside puramente em sua consciência, traduzindo-se, ao revés, em atos exteriores que acarretam, ou podem vir a acarretar, pre­juízo ao seu direito".

É de se transcrever, por abso­lutamente pertinentes, as conside-

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rações feitas pelo douto Promotor de Justiça, Dr. Charles Von Ham­beeck Júnior, em seu Parecer, fls. 210/211, verbis:

"Com efeito, não é dado ao Ju­diciário, especialmente em se­de incidental, declarar incons­titucional norma tributária de enormíssima aplicação a casos concretos sob color de que nu­ma especialíssima hipótese -quando da transferência de ati­vo fixo sua aplicação seria ile­gal.

Como preleciona o Prof. Gil­mar Ferreira Mendes, in Controle de Constitucionalida­de - Saraiva, 1990, fls. 199, verbis:

"Ao revés, o controle de consti­tucionalidade difuso, concreto, ou incidental, caracteriza, fun­damentalmente, também no Direito Brasileiro, pela verifica­ção de uma questão concreta de inconstitucionalidade, ou seja, de dúvida quanto à constitucio­nalidade de ato normativo a ser aplicado num caso subme­tido à apreciação do Poder Ju­diciário: "É mister - diz Lúcio Bittencourt - que se trate de uma controvérsia real, decor­rente de uma situação jurídica objetiva".

Anote-se que não se faz impres­cindível a alegação dos litigan­tes, podendo o Juiz ou o tribu­nal recusar-lhe aplicação, a des­peito do silêncio das partes.

Convém ressaltar que a distin­ção consagrada na doutrina en­tre os controles "abstrato" e "concreto", ou entre controle por via de ação e controle por via de exceção, não tem relevância teó­rica que, normalmente, se lhe atribui".

In casu, a R. Sentença está se antecipando a ocorrência de fa­to juridicamente relevante, ip­so facto impedindo de antemão que a Administração numa es­pecífica hipótese, entenda que efetivamente ocorreu circulação de mercadoria.

A rigor, a eventual coisa julga­da exsurgida deste feito inibiria ad aeternum que a Adminis­tração exercite o poder de auto executividade indispensável à sua própria existência como en­te político.

Nesse contexto, não deve im­pressionar a locução utilizada pela legislação atacada - saí­da de mercadoria a qualquer título - (fls. 08), posto que a manutenção no texto legal da palavra mercadoria, como con­fessa a Petrobrás garante que os bens a que se refere o legis­lador são aqueles objeto de ato de comércio e não objeto de me­ra transferência física por uma mesma pessoa jurídica (fls. 14 e seguintes)" .

É evidente que a recorrente pre­tende, em sede de declaratória, que se declare, de modo indireto, a in­constitucionalidade dos dispositivos

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legais mencionados na petição ini­cial.

A fim de afastar qualquer dúvida sobre o objetivo da pretensão, trans­crevo o conteúdo do pedido formula­do, na petição inicial, pela recorren­te (fl. 281):

"Diante dos fatos e fundamentos jurídicos apresentados, máxime pelos próprios suprimentos desse D.D. Juízo, a Autora requer seja julgada procedente a presente ação, a fim de que seja declarada a inconstitucionalidade da legis­lação que determina a tributação sobre as transferências de bens de ativo fixo uso e consumo (art. 2~, da Lei 1.423, de 27.01.89); a cláu­sula primeira do Convênio 19/91 e os artigos 1~, parágrafo único e 2~, incisos I, II e V, do Convênio 66/88 e a inexistência de relação jurídica tributária entre a Autora e a Ré a tal título."

Em face do teor do acima referido, estou de pleno acordo com o desen­volvido pela recorrida às fls. 281/282, na parte onde afirma:

"Um pedido nesses termos teria razão de ser em uma ação direta de inconstitucionalidade, regida pela artigo 102, I, da Constituição Federal, mas obviamente não em uma simples ação declaratória.

Não restava, pois, ao acórdão re­corrido alternativa senão a de jul­gar a Recorrente carecedora da ação. Ao assim fazer, não violou qualquer disposição legal, mas, pelo contrário deu cumprimento

ao artigo 102, I, da Constituição Federal, segundo o qual cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar as ações diretas de inconstitucio­nalidade".

N a mesma linha do acima expos­to, apresenta-se o conteúdo do des­pacho que inadmitiu o especial. Con­fira-se o inteiro teor (fls. 2911292):

"Não procede a referência aos ci­tados dispositivos legais do CPC, que não tiveram negada a vigên­cia, até mesmo porque não se aplicam à questão aqui submeti­da a exame.

E pífia a afirmação de que o re­corrente pretendeu ver declarada a inexistência de relação jurídico­tributária, e que nisso não foi atendido, porque essa pretensão era secundária e mera conseqüên­cia do pedido principal que, como se vê na inicial (fls. 34) consistia em obter a declaração da incons­titucionalidade da legislação que determina a tributação sobre as transferências de bens do ativo fi­xo, uso e consumo (art. 2~ da Lei 1.423, de 27.01.89, a cláusula pri­meira do Convênio 19/91 e os ar­tigos 1~, parágrafo único e 2~, in­cisos I, II e V da Convênio 66/88) e a inexistência de relação jurídi­ca tributária entre autora e ré a tal título". Sendo o verdadeiro es­copo da ação a declaração de in­constitucionalidade da legislação federal, objetivando o reconheci­mento, por conseqüência da ine­xistência de relação jurídico-tribu­tária voltada para atos futuros,

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inatacável se apresenta a decisão recorrida ao concluir pela impos­sibilidade de se questionar lei em tese, de tal forma que não se jus­tifica a menção aos referidos dis­positivos legais, por serem aqui inaplicáveis, apresentando-se, nesse ponto, o recurso carecedor de mínima razoabilidade".

Por tais fundamentos, conheço do recurso, porém, lhe nego provimento.

É como voto.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Atormentado por dúvi­das, no viés regimental, fiz solitário exame dos autos e, encerrado, apu­rei que, na instância ordinária, con­tra o Estado do Rio de Janeiro, foi ajuizada Ação Declaratória N egati­va de Débito Fiscal, quanto à "legis­lação que determina a tributação s~­bre as transferências de bens de atI­vo fixo, uso e consumo (art. 2~ da Lei 1.423, de 27.1.89, a cláusula primei­ra do Convênio 19/91 e os artigos 1~, parágrafo único e 2~, incisos I, H e V do Convênio 66/88) e a inexistên­ci~ de relação jurídica tributária en­tre a Autora e a Ré a tal título" (fls. 2 usque 35). No julgamento da ape­lação do Estado-membro, foi provida "para julgar extinta a ação" (fls. 241 a 246), rejeitados os Embargos De­claratórios, provocando a interposi­ção do Recurso Especial (art. 105, IH, a, C.F.) - fls. 257 a 271.

Nesse contexto, o eminente Minis­tro José Delgado, relatando, objeti­vamente, aduziu:

(. .. )

"É evidente que a recorrente pretende, em sede de declaratória, que se declare, de modo indireto, a inconstitucionalidade dos dispo­sitivos legais mencionados na pe­tição inicial.

A fim de afastar qualquer dú­vida sobre o objetivo da preten­são transcrevo o conteúdo do pe­did~ formulado, na petição inicial, pela recorrente (fl. 281):

'Diante dos fatos e fundamen­tos jurídicos apresentados, má­xime pelos próprios suprimentos desse D.D. Juízo, a Autora re­quer seja julgada procedente a presente ação, a fim de que se­ja declarada a inconstituciona­lidade da legislação que deter­mina a tributação sobre as trans­ferências de bens de ativo fixo uso e consumo (art. 2~, da Lei 1.423, de 27.01.89); a cláusula primeira do Convênio 19/91 e os artigos 1~, parágrafo único e 2~, incisos I, H e V, do Convênio 66/88 e a inexistência de relação jurídica tributária entre a Auto­ra e a Ré a tal título'.

Em face do teor do acima refe­rido, estou de pleno acordo com o desenvolvido pela recorrida às fls. 281/282, na parte onde afirma:

'Um pedido nesses termos teria razão de ser em uma ação direta de inconstitucionalidade, regida pelo artigo 102, I, da Constituição Federal, mas ob­viamente não em uma simples ação declaratória.

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Não restava, pois, ao acórdão recorrido alternativa senão a de julgar a Recorrente carecedora da ação. Ao assim fazer, não violou qualquer disposição legal, mas, pelo contrário deu cumpri­mento ao artigo 102, l, da Cons­tituição Federal, segundo o qual cabe ao Supremo Tribunal Fe­deral julgar as ações diretas de inconstitucionalidade' .

N a mesma linha do acima ex­posto, apresenta-se o conteúdo do despacho que inadmitiu o espe­cial. Confira-se o inteiro teor (fls. 2911292):

'Não procede a referência aos citados dispositivos legais do CPC, que não tiveram nega­da a vigência, até mesmo por­que não se aplicam à questão aqui submetida a exame'.

É pífia a afirmação de que o re­corrente pretendeu ver declarada a inexistência de relação jurídico­tributária, e que nisso não foi atendido, porque essa pretensão era secundária e mera conseqüên­cia do pedido principal que, como se vê na inicial (fls. 34) consistia em obter a declaração da incons­titucionalidade da legislação que determina a tributação sobre as transferências de bens do ativo fi­xo, uso e consumo (art. 2~ da Lei 1.423, de 27.01.89, a cláusula pri­meira do Convênio 19/91 e os ar­tigos 1~, parágrafo único e 2~, in­cisos l, II e V do Convênio 66/88) e a inexistência de relação jurídi-

co-tributária entre autora e ré a tal título".

Sendo o verdadeiro escopo da ação a declaração de inconstitu­cionalidade da legislação federal, objetivando o reconhecimento, por conseqüência da inexistência de relação jurídico-tributária volta­da para atos futuros, inatacável se apresenta a decisão recorrida ao concluir pela impossibilidade de se questionar lei em tese, de tal forma que não se justifica a menção aos referidos dispositivos legais, por serem aqui inaplicá­veis, apresentando-se, nesse pon­to, o recurso carecedor de mínima razoabilidade" .

Minudenciados os antecedentes, põe-se a seguinte questão: adequa­ção, ou não, da Ação Declaratória sob exame, decorrente da extinção do processo, constituindo questão processual afivelada à alegação de negativa de vigência ao art. 4~, CPC. Aqui, cuida-se, pois, de questão pro­cessual estrita.

Por essa lida, necessariamente fi­xada a atenção ao pedido feito pela parte autora, destacado pelo eminen­te Relator, exaltada a pretendida tu­tela jurisdicional (ação stricto sen­su), vinca-se que a pretensão inau­gural almejou declaração sobre vas­ta legislação, com amplitude, em pe­dindo a declaração de inconstitucio­nalidade, na verdade, não objetivou afastar a incerteza aprisionada à existência, ou não, de relação jurídi­ca. Ao reverso, embora a formulação da parte autora tenha sido provocada pela exigência fiscal relacionada com

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a "transferência de ativo fixo", ver­dadeiramente, configura incidental controle de constitucionalidade.

Desse modo, anotando-se o pedi­do, consubstanciado o "controle de constitucionalidade" sem o apanágio de controvérsia surgida de situação

jurídica apropriada à declaratória (art. 4~, CPC), colocando-me sob o pálio da motivação reanimada e as­soalhada pelo nobre Relator, acom­panhando-o, voto pelo improvimen­to do recurso.

É o voto-vista.

RECURSO ESPECIAL N~ 95.354 - RS

(Registro n~ 96.0029915-3)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul -IPERGS

Recorrida: Ruth Ceni Ramires Braga

Advogados: Drs. Maria Tereza Oltramari Velasques e outros, e Adalber­to Rafael Loch e outro

EMENTA: Processual - Recurso especial - Divergência inexis­tente - Multa (CPC, art. 17) - Execução - Extinção - Ausência de embargos - Decisão fundada nos documentos dos autos.

I - Acórdão que não enxerga má-fé no exercício regular do direi­to de recorrer. Tal aresto não se presta a confronto - para efeito de recurso especial - com outro em que se considerou temerária a execução de crédito manifestamente inexigível.

11 - É licito ao juiz declarar extinto o processo executivo - por im­prestabilidade do título - mesmo que não tenham opostos embar­gos (CPC, arts. 295 e 598).

111 - Não maltrata o art. 128 do CPC o juiz que, para declarar a im­prestabilidade do título executivo, limitou-se ao exame dos docu­mentos contidos nos autos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'Ibrma do Superior Tribu-

nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e nesta parte, ne­gar-lhe provimento. Votaram com o

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Sr. Ministro-Relator os Srs. Minis­tros Milton Luiz Pereira, José Del­gado, José de Jesus Filho e Demócri­to Reinaldo.

Brasília, 03 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 07-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A autarquia recorrente promoveu execução con­tra os recorridos, sob o fundamento de que estes se encontravam em mo­ra, no que respeita à amortização de financiamento.

Os executados alegaram que o fi­nanciamento visava à construção de prédio, em regime de incorporação. A construção, entretanto, não se con­sumara.

Adveio sentença, julgando extin­to o processo, declarando nula a exe­cução e insubsistente a penhora.

A Autarquia apelou, ao fundamen­to de que as executadas não haviam embargado a penhora, admitindo co­mo exigível o crédito. Alegou, tam­bém, que a Sentença padece de nu­lidade, porque emitida com base em conhecimento pessoal do Juiz.

O recurso foi desprovido, sob os fundamentos de que:

a) não houve afronta ao art. 128 do Código de Processo Civil, nem cerceamento de defesa;

b) a execução foi extinta, ao fundamento de nulidade do títu­lo que a instrumentava. Tal modo de extinção encontra agasalho no art. 618, I, do CPC;

c) em havendo nulidade, sua declaração pode ser feita ex offi­cio, independentemente de proce­dimento especial;

d) o próprio Exeqüente admite que o prédio objeto do financia­mento não foi concluído;

e) de acordo com o contrato que instrui a execução, só após termi­nada a construção, seria possível apurar o saldo devedor. Vale dizer: antes de finalizada a obra, não há crédito líquido e certo a ser execu­tado;

f) por outra cláusula contratual, a Autarquia não poderia ter libe­rado a última prestação do contra­to, antes da execução integral das obras;

g) outra cláusula do contrato estabelece que o termo inicial da amortização, somente ocorre trin­ta dias após a liberação da última parcela de financiamento;

h) a teor do CPC (art. 582) é possível a extinção ex officio do processo executório, porque o ina­dimplemento do devedor é condi­ção para a viabilidade do processo.

O Acórdão acolheu pedido de con­denação por litigância de má-fé, por­que "considera-se contrário à boa-fé reclamar alguém a execução, sem executar de sua parte obrigação cor­relativa à que esteja vinculado."

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o Recurso Especial finca-se nas alíneas a e c.

A Recorrente queixa-se de ofensas aos artigos:

a) 17, I e V do CPC, porque a Recorrente nada fez, senão utili­zar o instrumento legal apropria­do para a defesa de seu interesse;

b) 515 do CPC, porque, ao apli­car, sem pedido, a penalidade, o Acórdão operou reformatio in pejus;

c) 128 do CPC, porque o Acór­dão prestigiou sentença que deci­dira a controvérsia à luz de temas não suscitados no processo; em assim fazendo, o Aresto cerceou a defesa da Recorrente;

d) 586, 618, I e 736 do CPC, em razão de se haver declarado im­prestável o título executivo, sem que os executados houvessem oposto embargos;

e) 1.245 do Código Civil, em ra­zão de se haver imposto à Recor­rente - que não é construtora -responsabilidade pela solidez e se­gurança da obra;

No que respeita à condenação que lhe foi imposta, a Recorrente traz a confronto Acórdão formado na 'Iercei­ra Turma do STJ, a dizer que a uti­lização dos recursos previstos em lei não caracteriza litigância de má-fé.

Este, o Relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Pre­liminarmente, observo que não exis­te dissídio entre o Acórdão recorrido e o paradigma trazido a confronto: enquanto este cuida da utilização de recursos legais, aquele refere-se à li­de temerária.

Não enxergo, tampouco, ofensa aos preceitos do art. 17 do CPC.

O Acórdão, em nada ofendeu o art. 17 do CPC, quando julgou teme­rária a conduta de cobrança execu­tiva de crédito manifestamente ine­xigível.

Nego provimento ao Recurso, nes­ta parte.

No que respeita à extinção do pro­cesso, por imprestabilidade do títu­lo executivo, digo que a Sentença confirmada pelo Acórdão não agre­diu o sistema do Código de Processo Civil. Com efeito, a teor do art. 295 do CPC (aplicável ao processo execu­tivo, por força do art. 598), o Juiz bem poderia ter indeferido a inicial.

Por último, diga-se que o art. 128 do CPC não foi maltratado: o juiz, para declarar a imprestabilidade do título executivo limitou-se ao exame dos documentos contidos nos autos.

Conheço em parte e nego provi­mento ao apelo.

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RECURSO ESPECIAL N~ 97.455 - SP

(Registro n~ 96.0035101-5)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Fazenda Nacional

Recorrido: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDE C

Advogados: Olívia da Ascenção Corrêa Farias e outros, e Josué de Oli-veira Rios e outros

EMENTA: Processual Civil. Ação civil pública. Empréstimo com­pulsório (Decreto-lei n g 2.288/86). Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Interesses individuais homogêneos. Impropriedade da tutela, na espécie. Contribuinte e consumidor. Diferença. Falta de legitimidade ativa do autor.

I - O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) não tem legitimidade ativa para ingressar com ação civil pública de res­ponsabilidade civil, por danos provocados a interesses individuais homogêneos, contra a União Federal, objetivando obrigar a esta in­denizar todos os contribuintes do empréstimo compulsório sobre combustíveis, instituído pelo Decreto-lei n!? 2.288/86.

II - Os interesses e direitos individuais homogêneos somente hão de ser tutelados pela via da ação coletiva, na hipótese em que os seus titulares sofrerem danos como consumidores.

III - O contribuinte do empréstimo compulsório sobre o consu­mo de álcool e gasolina não é consumidor, no sentido da lei, des­de que, nem adquire, nem utiliza produto ou serviço, como desti­natário (ou consumidor) final e não intervém em qualquer relação de consumo. Contribuinte é o que arca com o ônus do pagamento do tributo e que, em face do nosso direito, dispõe de uma gama de ações para a defesa de seus direitos, quando se lhe exige imposto ilegal ou inconstitucional.

IV - Quando a Lei n!? 7.347/85 faz remissão ao Código de Defesa do Consumidor, pretende explicitar que os interessas individuais homogêneos só se inserem na defesa de proteção da ação civil, quanto aos prejuízos decorrentes da relação de consumo entre aqueles e os respectivos consumidores. Vale dizer: não é qualquer interesse ou direito individual que repousa sob a égide da ação co­letiva, mas só aquele que tenha vinculação direta com o consumi­dor, porque é a proteção deste o objetivo maior da legislação per­tinente.

V - Recurso provido, sem discrepância.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira 'furma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do relatório e no­tas taquigráficas constantes dos au­tos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Partici­param do julgamento os Srs. Minis­tros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e José de Jesus Filho. Custas, como de lei.

Brasília, 10 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: O IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor ajuizou ação civil pública de respon­sabilidade civil por danos provocados a interesses individuais homogêneos, em face da União Federal, com o fim de obter a restituição aos contribuin­tes do valores pagos a título de em­préstimo compulsório sobre o consu­mo de gasolina e álcool, instituído pelo Decreto-lei 2.288, de 1986.

O Juiz de Primeira Instância ex­tinguiu liminarmente a ação, sem julgamento do mérito, nos termos do

artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil, por entender carac­terizada a ilegitimidade de parte do autor, bem como tendo presente a impossibilidade jurídica do pedido da ação civil pública para proteger di­reitos individuais.

A egrégia Quarta 'furma do Tribu­nal Regional Federal da 3~ Região deu provimento ao recurso de apela­ção manifestado pelo IDEC, anulan­do a sentença de primeiro grau, nos termos do acórdão que porta a se­guinte ementa:

"Processo Civil. Ação civil pú­blica. Empréstimo compulsório. Decreto-lei nó! 2.288/86. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumi­dor - IDEC. Direitos individuais homogêneos. Legitimidade.

I - São objetivos do IDEC, ex­pressamente apontados em seu estatuto, a defesa do contribuin­te bem como a defesa do consumi­dor em suas múltiplas relações.

II - O Código de Defesa do Consumidor introduziu, como ob­jeto da Ação Civil Pública, dentre outros, a defesa dos direitos indi­viduais homogêneos.

III - Tanto o texto constitucio­nal, em seu artigo 29, § r~, como a Lei da Ação Civil Pública; admi­tem a legitimidade disjuntiva e concorrente das Associações com o Ministério Público.

N - Legitimidade do autor re­conhecida, devendo, porém, o juiz a quo atentar para as demais condições da ação, conforme expli­citado na declaração de voto" (fo­lha 98).

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Irresignada, a Fazenda Nacional interpôs recurso especial, com arri­mo na letra a do permissivo consti­tucional, sobre alegar contrariedade ao artigo 81, parágrafo único e inci­so lII, da Lei 8.078, de 1990, artigo 21 da Lei n~ 7.347/85 e artigo 267, VI, do CPC (folhas 101/109).

Transcorrido in albis o prazo pa­ra as contra-razões, por entender presentes os pressupostos gerais e constitucionais, o eminente Vice-Pre­sidente do Tribunal a quo admitiu o recurso, que, devidamente processa­do subiu a esta instância, onde ma­nifestou-se a douta Subprocuradoria Geral pelo seu improvimento (folhas 121/122).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Conforme an­tecipadamente relatado, o nó górdio da questão ora suscitada consiste em saber se o Instituto Brasileiro de De­fesa do Consumidor (IDE C), entida­de associativa de consumidores sem fins lucrativos, tem, ou não, legitimi­dade ativa para ingressar com ação civil pública de responsabilidade ci­vil, por danos provocados a interes­ses individuais homogêneos, contra a União Federal, objetivando seja es­ta obrigada a indenizar todos os con­tribuintes que recolheram o emprés­timo compulsório sobre o consumo de gasolina ou álcool, instituído pe­lo Decreto-lei n~ 2.288/86.

A egrégia 'llirma Julgadora a quo, partindo do pressuposto de que "são

objetivos do IDEC, expressamente apontados em seu estatuto, a defesa do contribuinte, bem como a defe­sa do consumidor em suas múltiplas relações", havendo o Código de De­fesa do Consumidor introduzido, co­mo objeto da Ação Civil Pública, dentre outros, a defesa dos direitos individuais homogêneos, entendeu ter o instituto-autor legitimidade pa­ra propor a ação, como proposta.

Contra tal decisão, insurge-se a Fazenda Nacional (União Federal), via do recurso especial, sob a alega­ção de ter o v. acórdão recorrido con­trariado o artigo 81, parágrafo úni­co e inciso III, da Lei n~ 8.078, de 1990, artigo 21 da Lei n~ 7.347/85, e artigo 267, VI, do CPC, aduzindo, em síntese, que:

a) - o empréstimo compulsório sobre aquisição de gasolina e ál­cool tem presunção de legalidade, tratando-se de tributo "e, por con­seguinte, obrigação lex lege, que não se constitui em sanção por ato ilícito, não pode ser confundi­do com um suposto dano pois não se trata de uma pena imposta, mas provém da prática de um fa­to lícito";

b) - "o interesse individual ho­mogêneo reúne pessoas pela mes­ma situação de fato, sendo divisí­vel, o que difere do interesse cole­tivo que provém de um relação ju­rídica, indivisível, enquanto que o interesse difuso abrange uma si­tuação de fato não quantificável, e indivisível";

c) - "o Decreto-Lei 2.288/86, quando instituído, o foi visando

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 95

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um número ilimitado e indivisível de pessoas, abrangendo, assim, grupos indeterminados, sem uni­formidade", razão pela qual, ad argumentandum, "o dano, caso existisse, não seria homogêneo, muito menos divisível e, por con­seguinte, longe de caracterizar-se em interesse individual homogê­neo, discutível por meio de Ação Civil Pública";

d) - "a jurisdição da Justiça Federal de São Paulo, circunscre­ve-se ao âmbito de seu território, não tendo a mesma competência para proferir decisões que abran­jam todo território nacional" (fo­lhas 1011109).

Com efeito, afigura-se-me com ra­zão a recorrente.

O digno Representante do Minis­tério Público Federal, Miguel Gus­kow, ao reconhecer a ilegitimidade do IDEC para propor a ação civil pú­blica, pondera, in verbis:

"Isto porque não se pode enten­der, sem que isto importe em ofensa à Constituição Federal, que o Ministério Público ou às en­tidades previstas no art. 5~, da Lei 7.347/85, seja atribuída legitimi­dade para ajuizar ação civil públi­ca na defesa de interesses indivi­duais, como são os presentes.

De fato, dispõe o art. 129, da Carta Magna que:

"Art. 129 - São funções ins­titucionais do Ministério Públi­co:

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, pa­ra a proteção do patrimônio pú­blico e social, do meio ambien­te e de outros interesses difu­sos e coletivos;"

Ora, se a norma constitucional não outorgou poderes ao Ministé­rio Público ou à qualquer outra entidade para substituir os indi­víduos na defesa de seus direitos individuais, numa espécie de "to­talização da ação civil pública", não se pode entender que uma lei ordinária, qual seja, o Código de Defesa do Consumidor, possa fa­zê-lo, sem que isso implique ofen­sa à Constituição e ao princípio da autonomia individual.

Daí porque, versando o caso presente sobre a tutela de direito individual homogêneo não indis­ponível, incabível é a propositura de ação civil pública por qualquer associação ou entidade, ainda que nos Estatutos declare a legitimi­dade para este tipo de ação.

Do mesmo modo, não há como se entender que a propositura de referida ação esteja embasada no inciso lI, do artigo 22, da Lei de Ação Civil Pública, de maneira a ressarcir consumidores de danos materiais que hajam sofrido.

Isto porque não se caracterizam como consumidores as pessoas que, por ocasião da compra de combus­tíveis, pagaram o empréstimo com­pulsório.

Estas pessoas são, na verdade, contribuintes, com direito à even-

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tual propositura de ação de repe­tição de indébito, por se tratar de direitos individuais" (folhas 126/ 128).

Nesse passo, também entendo que, na espécie, não se identificam como consumidores aqueles que pagaram o famigerado empréstimo compulsó­rio sobre combustíveis, cuja inconsti­tucionalidade foi reconhecida pelo Pretório Excelso.

É certo, que o artigo 21 da Lei n~ 7.347/85, introduzido pelo art. 117 do CDC, inclui, como passíveis de pro­teção através da ação civil pública, "os interesses ou direitos individuais homogêneos". Não é menos certo, en­tretanto, numa interpretação siste­mática da legislação supracitada, que "os interesses e direitos indivi­duais homogêneos" somente hão de ser tutelados pela via da ação cole­tiva, quando os seus titulares sofre­rem danos na condição de consumi­dores. É que, a Lei n~ 7.347/85, a co­meçar da sinopse com que é encima­da, "disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao consumidor" (meio ambiente, etc.). E, ainda quando, no seu arti­go 21, permite o uso da ação coleti­va para a defesa "dos interesses co­letivos e individuais", faz remissão expressa ao Título lII, do Código de Defesa do Consumidor. Pretendeu, pois, a lei, explicitar, com a remissão (ao CDC), "que os interesses indivi­duais homogêneos só se inserem na defesa de proteção da ação civil, quanto aos prejuízos decorrentes da relação de consumo entre aqueles e os respectivos possuidores. Vale di-

zer: não é qualquer interesse ou di­reito individual que repousa sob a égide da ação coletiva, mas só aque­le que tenha vinculação direta com o consumidor, porque é a proteção deste o objetivo maior da legislação pertinente. É este o entendimento prevalecente na doutrina: "os inte­resses ou direitos individuais podem ser também objeto de defesa coleti­va, enquanto significativos de inte­resses e direitos individuais homogê­neos do consumidor (ou seus suces­sores), que tenham tido origem ou causa comum, no que diz com fatos geradores de tais interesses ou direi­tos individuais ... São esses interes­ses ou direitos defensáveis a título coletivo, porque devem ser despreza­dos e necessariamente desconsidera­das as peculiaridades agregadas à situação pessoal e diferenciada de cada consumidor ... Quanto a estes aspectos pessoais diferenciados, pró­prios de cada situação concreta, de cada consumidor (vítima ou suces­sor), de forma preferencial, poderão vir a ser postulados pelos próprios interessados, o que deve ocorrer na liquidação da sentença genérica, pro­ferida no processo de conhecimento" (Conf. Arruda Alvim - Thereza Alvim, Código do Consumidor Co­mentado, pág. 380).

A propósito do tema, afigura-se­me como de rara oportunidade a contribuição trazida pelo insigne Juiz do Tribunal Regional Federal da 4!! Região, Teori Albino Zavasc­ki, nos estudos realizados em torno da "Defesa de Direitos Coletivos e Defesa Coletiva de Direitos", concei­tuando os direitos individuais homo-

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gêneos e delimitando o campo restri­to de sua interpretação, conforme os excertos a seguir:

"Direitos individuais homogêneos são, como já se disse, simplesmen­te direitos subjetivos individuais, divisíveis e integrados ao patrimô­nio de titulares certos, que sobre eles exercem, com exclusividade, o poder de disposição. Nessas cir­cunstâncias, e ao contrário do que ocorre com os direitos coletivos e difusos (que por não terem titular determinado são defendidos, neces­sariamente, por substitutos proces­suais), os direitos individuais, em regra, só podem ser demandados em juízo pelos seus próprios titu­lares. O regime de substituição processual aqui é exceção e, como toda exceção, merece interpreta­ção restrita, podendo ser invoca­do somente nas hipóteses e nos li­mites que a Lei autorizar (CPC, art. 6!!). O caráter excepcional da substituição processual resulta cla­ramente evidenciado no art. 5!!, inc. XXI, da Constituição que, ao atri­buir às entidades associativas em geral legitimidade para atuar em juízo em defesa de seus filiados, condicionou tal atuação à autori­zação específica do associado, sub­metendo-a, assim, a regime de re­presentação. Desse dispositivo re­sulta confirmada a regra segundo a qual a defesa judicial de direitos individuais depende sempre de au­torização, ou do titular do direito, ou da expressa disposição da Lei. Mais do que um preceito, é um princípio: em se tratando de direi-

tos individuais, ainda que homo­gêneos ou relacionados com inte­resses associativos, o regime de representação é a regra, e o da substituição processual é a exce­ção e como tal deve ser interpre­tado" (in Revista AJUFE, edição n!! 48, janeiro/fevereiro de 1996, pág. 11).

"A segunda observação impor­tante diz com o objeto da deman­da. Em se tratando de direitos co­letivos, o legislador estabeleceu le­gitimação extraordinária amplís­sima, de tal modo que as entida­des legitimadas estão autorizadas a buscar tutela a direitos coletivos relacionados ao consumidor (Lei n!! 8.078, de 1990, art. 81, pará­grafo único, I e II) e também, ao meio ambiente, aos bens e direitos de valor histórico, artístico, esté­tico, paisagístico e turístico e, en­fim, a qualquer outro interesse di­fuso ou coletivo (Lei n!! 7.347, de 1985, art. I!!). Em se tratando de direitos individuais homogêneos, contudo, a legitimação extraordi­nária é restrita à ação coletiva de responsabilidade por danos indi­vidualmente sofridos por consumi­dores (Lei n!! 8.078, de 1990, art. 81, parágrafo único, III e art. 91). Assim, ressalvada a legitimação do Ministério Público, de que mais adiante se tratará, nenhum dos entes mencionados no art. 82 da Lei n!! 8.078, de 1990, está ha­bilitado a defender coletivamente direitos individuais, ainda que ho­mogêneos, a não ser na restrita hipótese de danos decorrentes de relações de consumo. Convém re-

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petir que a legitimação para de­fender em nome próprio direito individual de outrem, em regime de substituição processual, é ex­traordinária e excepcional, que só a Lei pode conferir (CPC, art. 6~) e como tal não está sujeita a in­terpretações ampliativas" (ob. cit., pág. 15).

E ainda, ao tecer considerações em torno das novidades e mecanis­mos processuais, introduzidos pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), quanto à defesa cole­tiva para os direitos individuais ho­mogêneos, alerta, com propriedade, verbis:

"A entusiástica utilização, que se seguiu, dos novos mecanismos processuais, nem sempre se deu de modo apropriado, às vezes por inexperiência de seus operadores - o que é compreensível - ou­tras vezes por se imaginar, equi­vocadamente, que enfim se tinha em mãos o remédio para todos os males: para destravar a máquina judiciária e para salvar a socieda­de de todas as agressões, do Go­verno e dos poderosos em geral. É muito salutar, por isso, o proces­so de revisão crítica que se vem sentindo nos últimos tempos no sentido de coibir exageros e assim não só preservar do descrédito, mas valorizar e aperfeiçoar esses importantes avanços no campo processual. É com esse mesmo propósito que se buscará aqui re­flexão sobre tema que a experiên­cia diária evidencia ser foco de

boa parcela dos equívocos: a dis­tinção entre os mecanismos pro­cessuais para defesa de direitos coletivos e os mecanismos para defesa coletiva de direitos" (ob. cit., pág. 7).

De outra parte, o nobre Juiz Fe­deral Luiz Aírton de Carvalho, em "Anotações sobre Direitos Cole­tivos e Difusos no Direito Brasilei­ro", ao interpretar o artigo 2~ do Có­digo de Defesa do Consumidor, bem define o que seja produto ou serviço adquirido ou utilizado pelo consumi­dor, como destinatário fmal, esclare­cendo acertadamente:

"E efetivamente fala o § 2~ do art. 3~ do Código Brasileiro de De­fesa do Consumidor em "serviço", como sendo "qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financei­ra, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de ca­ráter trabalhista".

Importante salientar-se, desde logo, que aí não se inserem os "tributos", em geral, ou "taxas" e "contribuições de melhoria", espe­cialmente, que se inserem no âm­bito das relações de natureza tri­butária.

Não se há confundir, por outro lado, referidos tributos com as "tarifas", estas sim, inseridas no contexto dos "serviços" ou, mais particularmente, "preço público" pelos "serviços" prestados direta­mente pelo poder público, ou en­tão mediante sua concessão ou permissão pela iniciativa privada.

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o que se pretende dizer é que o "contribuinte" não se confunde com "consumidor", já que no pri­meiro caso o que subsiste é uma relação de direito tributário, inse­rida a prestação de serviços públi­cos, genérica e universalmente considerada, na atividade precí­pua do Estado, ou seja, a persecu­ção do bem comum" (in Revista AJUFE, Edição n~ 48, janeiro/fe­vereiro, 1996, págs. 59/60).

Ora, in casu, pretende o IDE C com o ajuizamento da ação civil pública de responsabilidade civil por danos provocados a interesses indi­viduais homogêneos, obter a conde­nação da União Federal, para inde­nizar todos os contribuintes que pa­garam o empréstimo compulsório so­bre o consumo de gasolina ou álcool, instituído pelo Decreto-Lei 2.288/86 (folha 20). E a Lei 8.078/90 definiu, em seu artigo 2~, com precisão e cla­reza o que seja consumidor, isto é, "toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou servi­ço como destinatário fmal; equipara­se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo".

Decerto, o contribuinte do referi­do empréstimo compulsório não é consumidor, no sentido da lei, desde que, nem adquire, nem utiliza pro­duto ou serviço, como destinatário (ou consumidor) final e não intervém em qualquer relação de consumo.

Contribuinte é o que arca com o ônus do pagamento do tributo e que,

em face do nosso direito, dispõe de uma gama de ações para a defesa de seus direitos, quando se lhe exige imposto ilegal ou inconstitucional. Pode manejar o mandado de segu­rança, a ação declaratória de inexis­tência de relação jurídico-tributária e, ainda, defender-se pela via dos embargos à execução e, por fim, pe­dir a repetição do indébito, acaso te­nha recolhido, aos cofres da Fazen­da, quantia indevida.

Diante de tantos instrumentos le­gais postos à disposição do contri­buinte, que é titular (em caso de pa­gamento indevido) de direito indivi­dual, certo, identificável, divisível, não me parece conveniente, na hipó­tese, o uso da ação coletiva. Não vis­lumbro, outrossim, no caso concreto, ainda que se trate de empréstimo compulsório que alcança considerá­vel número de pessoas, "a presença de manifesto interesse social, evi­denciado pela dimensão ou pelas ca­racterísticas do dano", como quer a doutrina, para justificar a legitima­ção do instituto recorrido.

Dessarte, ao meu sentir, a exege­se que melhor sintoniza com as con­siderações ora expendidas e com orientação predominante nesta Cor­te (ver acórdão no REsp n~ 57.465-0/ PR, da minha lavra, julgado em 01.06.96), é a sustentada pelo MM. Juiz Federal de Primeira Instância, ao concluir:

"Portanto, o titular de eventual direito de repetição do emprésti­mo compulsório sobre combustí­veis não pode ser entendido como

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consumidor e, assim sendo, a to­da evidência, falta legitimidade ao Autor (IDEC) para agir em seu nome.

A Restituição de tributo não se harmoniza com a idéia de consu­midor, pois quem paga tributo é o contribuinte e não o consumidor.

Há que se verificar também, que a exigência do referido em­préstimo compulsório já foi aboli­da, razão pela qual não se pode fa­lar nem em pertinência desta ação, para sustar a exigência.

Thmbém, não seria aplicável a decisão proferida nesta ação a to­dos os brasileiros, mas apenas à parcela da população residente no Estado de São Paulo" (folhas 33/ 34).

'lendo, pois, por violados os dispo­sitivos legais apontados como malfe­ridos, conheço do recurso pela letra a do permissivo constitucional e dou­lhe provimento, restabelecendo a douta sentença monocrática de pri­meiro grau.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N~ 109.078 - PR

(Registro n~ 96.0060774-5)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Jussara Sanches de Jesus Villar

Recorrida: Universidade Federal do Paraná

Advogados: Drs. Isaias Zela Filho e Luiz Guilherme C. M. Sunye

EMENTA: Administrativo - Estudante - Transferência de servi­dor removido - Remoção a pedido (L. 8.112/90, art. 99).

- O direito assegurado pelo art. 99 da Lei 8.112/90 assiste ao ser­vidor e a seus dependentes, mesmo quando sua remoção tenha re­sultado de pedido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi-

mento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado e Demócrito Reinaldo. Ausente, justi­ficadamente, o Sr. Ministro José de Jesus Filho.

Brasília, 06 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

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Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 07-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A Recorren­te é casada com um Procurador da República;

Ela residia, com seu marido, em Campo Grande, MS, onde cursava o terceiro ano de Direito.

Em 1994, seu marido foi removi­do para Curitiba (PR).

Por efeito da transferência, a De­mandante passou a residir na capi­tal paranaense.

Fincada no art. 99 da Lei 8.112/90, pleiteou matrícula no Curso de Direi­to da Universidade do Paraná.

A pretensão foi indeferida, ao fun­damento de que o instituto da matrí­cula compulsória funciona, apenas, em caso de remoção ex officio.

O indeferimento foi afastado, por efeito de Mandado de Segurança, que lhe permitiu cursar todo o quar­to ano.

A Segurança foi, contudo, revoga­da pelo E. TRF da 4~ Região, em Acórdão resumido assim:

"Embora a jurisprudência ve­nha sendo muito liberal ao garan­tir matrícula compulsória em ins­tituições de ensino para servidor estudante e seus dependentes no caso de transferência, o certo é que o judiciário não deveria esten-

der os privilégios além dos estri­tos termos da lei e, se inconstitu­cional a vantagem, funcionar ape­nas como legislador negativo, evi­tando a universalização do favor ilegítimo.

Servidor removido a pedido ou seus dependentes não têm direito à matrícula compulsória, pois a lei restringe o benefício ao caso de transferência ex officio, no inte­resse da administração.

O interesse público ou da ad­ministração não se confunde com o interesse ou a conveniência pes­soal do servidor, mesmo que tais conceitos não sejam necessária e reciprocamente excludentes." (fi. 61)

O Recurso Especial ampara-se na alínea c, invocando, em seguros ar­gumentos, precedente jurisdicional formado no egrégio TRF da Quarta Região.

Este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): A lide envolve tema já conhecido: o di­reito do servidor público a transfe­rência de escola, por efeito de mu­dança na lotação funcional (art. 99 da Lei 8.112/90).

O Acórdão recorrido indeferiu a pretensão da Recorrente, ao funda­mento de que o permissivo legal fun­ciona, somente, quando a mudança resulta de transferência ex officio.

102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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A contrário, quem foi removido "a pedido" não pode trocar de escola.

O art. 99 da Lei 8.112/90 diz:

"Ao servidor estudante que mu­dar de sede no interesse da admi­nistração é assegurada, na locali­dade da nova residência ou na mais próxima, matrícula em insti­tuição de ensino congênere, em qualquer época, independentemen­te de vaga.

"Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao cônju­ge ou companheiro, aos filhos ou enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com au­torização judicial."

Como se percebe, o texto legal re­fere-se apenas à remoção "no interes-

se da administração". Não alude a movimentação resultante de pedido.

A falta de remissão expressa não autoriza, contudo, a interpretação restritiva consagrada no Acórdão re­corrido.

Com efeito, a remoção de servidor - mesmo quando provocada por re­querimento dele - deve atender, ne­cessariamente, o interesse público, que se confunde com o interesse da Administração ou a conveniência do serviço.

Remover o servidor, para simples­mente atender a seu pedido, em de­trimento do interesse público, seria praticar o crime de prevaricação (CP, art. 319).

Dou provimento ao Recurso, para deferir a Segurança.

RECURSO ESPECIAL N~ 110.494 - DF

(Registro n~ 96.0064615-5)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Maurílio Sib'a

Recorridos: Distrito Federal, Câmara Legislativa do Distrito Federal e Paulo César de Ávila e Silva

Advogados: Drs. Osvaldo Flávio Carvalho Degrazia e outros, Sérgio Car­valho e outros, e Paulo César de Ávila e Silva (em causa pró­pria)

Sustentação Oral: Dr. Osvaldo Flávio Carvalho Degrazia, pelo recorren­te e Dr. Sérgio Carvalho, pelo Distrito Federal

EMENTA: Mandado de segurança. Conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Nomeação. Ato de assembléia.

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1- O princípio da legalidade, face a disciplina normativa aplica­da para o preenchimento dos membros do Tribunal de Contas do DF, impõe competência privativa da Câmara Legislativa indicar, ao Governador do Distrito Federal, Conselheiros para a primeira, segunda, quarta, sexta e sétima vagas do mencionado daquele ór­gão.

2 - Não há, na legislação sobre a indicação dos referidos Conse­lheiros, outorga de direito subjetivo a qualquer cidadão de, por in­dicação de três Deputados Distritais, ter o seu nome argüido e, se aprovado, submetido à apreciação da Câmara.

3 - A ação popular é a via própria a ser utilizada pelo cidadão não titular de direito subjetivo individual para atacar ato administra­tivo que entende haver ferido o princípio da moralidade.

4 - Matéria interna corporis do Poder Legislativo não se submete a controle do Poder Judiciário.

5 - Recurso especial conhecido e provido para se declarar extin­to o processo, sem julgamento de mérito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Humberto Gomes de Barros, Demócrito Reinaldo e Mil­ton Luiz Pereira.

Brasília, 10 de dezembro 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: Paulo César de Ávila e Silva impetrou, em data de 15 de dezem­bro de 1994, mandado de segurança contra ato da Mesa Diretora da Câ­mara Legislativa do Distrito Fede­ral, que aprovou o nome de Maurílio Silva para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Fede­ral.

O referido mandado de segurança foi relatado, em segundo grau, pelo eminente Desembargador N atanael Caetano, do modo seguinte (fls. 330/331):

"Paulo César de Ávila e Silva impetra mandado de segurança contra ato da Mesa Diretora da

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Câmara Legislativa do Distrito Federal, alegando, em síntese, que foi indicado, nos termos da le­gislação pertinente, para concor­rer ao cargo de Conselheiro do 'lhbunal de Contas do Distrito Fe­deral, em vaga decorrente da apo­sentadoria voluntária do Conse­lheiro J oel Ferreira da Silva. As­severa que foi "espoliado no seu direito de ser sabatinado pela Co­missão de Constituição e Justiça e, caso lograsse aprovação da mes­ma, submetido ao julgamento de Plenário daquela Casa Legislativa em igualdade de condições com ou­tros candidatos."

Ressalta que a indicação do seu nome foi lida em plenário na sessão imediatamente anterior à que apro­vou o nome do candidato Maurílio Silva para o cargo de Conselheiro do 'lhbunal de Contas do Distrito Fede­ral e que tal ato 'caracteriza a viola­ção de direito líquido e certo poster­gado pela ilegalidade e abuso de po­der praticado.'

Aduz que o candidato eleito foi sa­batinado pela Comissão de Econo­mia, Orçamento e Finanças, quando, na verdade, o deveria ser pela Com­petente Comissão de Constituição e Justiça.

Sustenta que houve descumpri­mento da norma prevista nos incisos IV e V do art. 184, bem como no art. 29 do Regimento Interno da Câma­ra Legislativa do Distrito Federal.

Encerra, requerendo a decretação da nulidade do ato impugnado. Soli­citadas vieram as informações (fls.

195/201), tendo a autoridade tida co­mo coatora reconhecido a ilegalida­de do ato e violação do direito do im­petrante, face à inobservância dos princípios da publicidade, da legali­dade e da razoabilidade jurídica, bem como a incompetência regimen­tal da Comissão de Economia, Orça­mento e Finanças, para apreciar qualquer indicação de nome de auto­ridade. Reconheceu, ainda, a impe­trada, que o candidato aprovado não preenche os requisitos exigidos pa­ra ocupação do cargo de Conselhei­ro e que sua indicação, além de ferir disposições previstas na Lei Orgâni­ca do Distrito Federal e na Lei Com­plementar n. 001194, demonstra a prevalência do interesse político, em detrimento do Direito, afinal, apóia o pedido do impetrante no sentido de que seja decretada a nulidade do ato tido por ilegal e abusivo.

Citado, o litisconsorte ofereceu impugnação, requerendo seja "julga­do improcedente o presente manda­do de segurança, pela ausência de legitimidade ad causam do impe­trante, decorrente da inexistência de direito líquido e certo a ser ampara­do por este rito processual."

A douta Procuradoria de Justiça, em parecer às fls. 219/231, manifes­ta-se pela concessão da ordem plei­teada, porquanto presentes os requi­sitos de liquidez e certeza do direi­to invocado.

Em petitório às fls. 233/306, o li­tisconsorte passivo Maurílio Silva, com fulcro no art. 397 do CPC re­quer a juntada de documentos que entende indispensáveis à solução do litígio.

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o impetrante, instado a se mani­festar sobre ditos documentos, im­pugnou-as, para, a final, reiterar o pedido de concessão da segurança impetrada.

Em nova manifestação (fls. 316/ 318), a douta representante do Mi­nistério Público, após rechaçar os do­cumentos apresentados, opina pelo prosseguimento do feito, nos termos do art. 10 da Lei 1.533/51.

Acrescento a esse relatório, tendo em vista o conteúdo dos autos, os fundamentos apresentados pelas partes, a seguir anotados, de forma resumida.

O impetrante afirma, em síntese, que:

a) - foi indicado, por ocasião da 78:'! Sessão Extraordinária de 07.12.94, com base no art. 82, pa­rágrafo 3~, da Lei Orgânica do Distrito Federal, c/c o art. 70, § 1~, da Lei Complementar do DF de n. 01/94, e art. 184, do Regimento Interno da Câmara Legislativa do Distrito Federal, para concorrer ao cargo de Conselheiro do Tribu­nal de Contas do Distrito Federal, em vaga decorrente da aposenta­doria voluntária do Conselheiro J oel Ferreira da Silva;

b) - não foi, porém, o seu nome sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça para, caso lograsse aprovação, ser submeti­do a julgamento pelo plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal, em igualdade de condi­ções com outros candidatos indi­cados no mesmo dia, pela manhã;

c) - o argumento apresentado para o episódio, o de não ter sido sabatinado o impetrante, foi o de que a outra indicação estava mais adiantada, pelo que deveria, con­seqüentemente, ser aprovada em plenário para votação, conforme decisão tomada pelo Presidente da Casa; d) - ocorreu, porém, que a indi­cação do concorrente foi fabricada na calada da noite e aprovada na 79~ Sessão Extraordinária, de for­ma ilícita e imoral, haja vista não possuir o escolhido, o Sr. Maurí­lio Silva, os requisitos exigidos pa­ra o exercício do cargo, uma vez que é Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Monte Calvá­rio e doutor em Divindade pela J acksonville Theoligical Seminary da Flórida, Estados Unidos, além de não ter, também, concluído o Curso de Administração de Em­presas que afirma ter feito no Ins­tituto Metodista do Ensino Supe­rior e não possuir dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional exigidos pa­ra a assunção do cargo, nem repu­tação ilibada, por ser notório o seu envolvimento em questões de orçamento público, 'quando ao perquirir a conduta de Sua Exce­lência o Senhor Governador Joa­quim Roriz levantou a transferên­cia de quantias correspondentes a U$ 7.500 (sete mil e quinhentos dólares) para a conta do então Deputado Maurílio Silva, segun­do dizem a título de 'empréstimo'.

O impetrante considera, ainda, que o procedimento adotado para a

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escolha do Sr. Maurílio Silva para o cargo de Conselheiro do 'fribunal de Contas do Distrito Federal apresen­ta vários vícios, pelo que não deve subsistir.

No entender do impetrante, tais vícios são:

"Escolhido, por analogia, confor­me o anteriormente demonstrado, com as devidas adaptações, deve­ria a indicação seguir o rito do art. 184 e seus incisos:

a) ser encaminhada à Consti­tuição competente, no caso a de Constituição e Justiça (art. 184, inciso I, in fine, c/c o art. 29, II, alínea n), tudo do Regimen­to Interno;

b) a comissão deveria realizar audiência pública para que os interessados se manifestassem sobre a indicação e a pessoa do indicado, seguida, se necessá­rio, de ampla investigação so­bre as alegações levantadas na audiência. Cabe aqui o seguin­te comentário: Não se pode en­tender como audiência pública, a audiência realizada em uma sala para o público restrito, ape­nas porque a sala da audiência estava aberta. Dita audiência deverá ser precedida de ampla divulgação, pois só assim os in­teressados poderiam se mani­festar sobre a indicação ou a pessoa do indicado. Ao contrá­rio, o que se viu foi que logo após lida em plenário, a indica­ção foi encaminhada à Comis­são de Economia, Orçamento e

Finança que, de imediato, se reuniu pegando de surpresa uma grande parte dos integran­tes da própria Casa e, em me­nos de duas (2) horas estava o nome do Sr. Maurílio Silva aprovado na Comissão que, pa­ra o caso era incompetente;

c) a argüição obedecerá a crité­rios previamente estabelecidos pela Comissão, o que também não foi feito, pois se esses crité­rios foram estabelecidos, o fo­ram na hora da sessão, não ha­vendo falar-se em critérios pre­viamente estabelecidos, pois to­dos os procedimentos foram concluídos em uma só manhã (art. 184, inciso IV, do RI);

d) também o inciso V do artigo 184 não foi cumprido, tendo em que estatui: "o parecer da Co­missão será encaminhado à Mesa, lido em Plenário, publi­cado e, obedecido o interstício regimental, incluído na Ordem do Dia. O parecer da Comissão, ao contrário, foi lido e imedia­tamente votado em plenário, sem o requisito da publicação do interstício."

O impetrante, em sua petição ini­cial, faz referência ao RE n. 167.137-8-TO, relatado pelo eminente Minis­tro Paulo Brossard, cuja ementa ci­tada é a seguinte:

"Tribunal de Contas. Nomeação de seus membros em Estado re­cém-criado. Natureza do ato ad­ministrativo. Parâmetros a serem observados. Ação Popular des­constitutiva dos atos.

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Tribunal de Contas do Estado de Thcantins. Provimento do car­go de Conselheiros.

A nomeação dos membros do Tribunal de Contas do Estado re­cém-criado não é ato discricioná­rio, mas vinculado a determinados critérios, não só estabelecidos pe­lo art. 235, III, das disposições ge­rais, mas também, naquilo que couber, pelo art. 73, § 12, da CF.

Notório saber. Incisos UI, art. 235 e III, § 12, art. 73 da CF. Ne­cessidade de um mínimo de perti­nência entre as qualidades intelec­tuais dos nomeados e o oficio a de­sempenhar. Precedente histórico: parecer de Barbalho e decisão do Senado.

Ação Popular. A não observân­cia dos requisitos que vinculam a nomeação, enseja a qualquer do povo sujeitá-la à correção judicial, com a finalidade de desconstituir o ato lesivo à moralidade adminis­trativa. Recurso Extraordinário conhecido e provido para julgar procedente a ação."

o impetrante, após postular a concessão da segurança para ser de­cretada a nulidade dos atos que aprovaram a indicação do nome do Sr. Maurílio Silva para a vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do DF, pediu a notificação da auto­ridade apontada como coatora, o Se­nhor Presidente da Câmara Legisla­tiva do Distrito Federal, bem como a citação do Sr. Maurílio Silva, este como litisconsorte passivo necessá­rio.

Após requerer a intervenção do Ministério Público Federal, requereu o seguinte:

"Obsecra os doutos suplemen­tos jurídicos desse ilustre Juízo para, se assim o entender neces­sário, seja igualmente citada Sua Excelência o Senhor Governador do Distrito Federal Joaquim Do­mingos Roriz, dúvida que se apre­senta ao impetrante, tendo em vista que a ação de Sua Excelên­cia é mero reflexo do resultado a que chegou a Câmara Legislativa do Distrito Federal."

o impetrante acusa o Deputado Benício Tavares, Presidente da Câ­mara Legislativa do DF, na época dos fatos, como autoridade coatora.

As informações, porém, foram prestadas pelo Deputado Geraldo Magela, novo Presidente da Câma­ra Legislativa do Distrito Federal e em exercício quando do recebimen­to da notificação.

Em tal ocasião, a referida autori­dade informou, o que destaco:

"Senhor Desembargador-Rela­tor, os fatos narrados pelo impe­trante na peça exordial refletem os procedimentos adotados pela Presidência desta Casa Legislati­va. O direito do autor a ter seu nome submetido à Comissão com­petente foi violado no instante em que a Mesa Diretora do biênio 93/95 sequer considerou sua indi­cação publicada no DCL e numa ação rapidíssima, que durou me­nos de nove horas, aprovou outro

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candidato, sem ter observado os princípios da publicidade, da lega­lidade e o da razoabilidade jurídi­ca, como se verá a seguir.

Num primeiro passo, registre­se que o Regimento Interno da CLDF não é omisso no que se re­fere, especificamente , à indicação de autoridades. Da leitura do art. 29, I, n, verifica-se que "indica­ções de autoridades é matéria de apreciação exclusiva da Comissão de Constituição e Justiça - CCJ. Por outro lado, queda induvidoso que se trata de matéria sujeita à apreciação da CLDF e, sendo as­sim, qualquer Deputado Distrital tem o direito de indicar candida­to, por meio de proposição, segun­do dispõe o art. 97 do mencionado Regimento Interno.

Infere-se do documento 01 acos­tado à inicial, que o Impetrante fo­ra devidamente indicado para o cargo em questão, nos termos do art. 82, § 3~, da Lei Orgânica do DF e do art. 70, § 1~, da Lei Com­plementar n. 001/94, e, via de con­seqüência, deveria ter tido seu no­me igualmente apreciado. Com re­ferência à espoliação do direito de ser sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça da CLDF, basta uma breve leitura das notas taquigráficas das sessões pertinen­tes para se comprovar a forma co­mo o caso vertente foi tratado pe­la Mesa Diretora do Legislativo Distrital de então (documentos igualmente anexados à inicial).

Sem sombra de dúvidas, os De­putados Cláudio Monteiro e Ge-

raldo Magela tentaram em vão junto à Mesa Diretora passada, que lhes fossem assegurados, as­sim como aos demais Deputa­dos Distritais, o direito de indicar candidatos ao referido cargo. Con­tudo, nem mesmo a indicação do nome do impetrante apresentada por outros três Deputados Distri­tais foi sequer considerada pela Mesa Diretora da CLDF."

Em conclusão, o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Fe­deral, nas informações, registrou que:

"Dessa forma, o pedido do Im­petrante de que seja decretada a nulidade dos atos relativos à indi­cação em apreço 'para que novo procedimento seja adotado, desta vez com ampla divulgação dos fa­tos e igualdade de tratamento pa­ra que todos os que venham a ser indicados para o processo seletivo' transparece ser a melhor alterna­tiva, para que todos os membros da Câmara Legislativa do DF pos­sam participar do processo de in­dicação, cuja iniciativa lhes per­tence e não apenas ao seu Presi­dente."

O Ministério Público, ao oferecer parecer, opinou pela concessão da segurança, em peça assim ementa­da:

"Mandado de segurança. Indica­ção e nomeação de candidatos ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do DF.

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Nomeação de ex-deputado distri­tal em desconformidade com a Constituição Federal e a Lei Or­gânica do DF. Declaração de nu­lidade do ato impugnado. Admis­sibilidade, por inobservância dos arts. 37 da CF e 82 da LODF.

Direito líquido e certo comprova­do de plano.

Ilegalidade dos atos administrati­vos impugnados - nulidade que acarreta sua inexistência.

Parecer pela concessão da segu­rança."

O litisconsorte passivo necessário, o Sr. Maurílio Silva, defendeu a le­galidade do ato de sua escolha e da sua nomeação, com as razões que passo a demonstrar, de forma sinté­tica, nos enunciados seguintes:

a) - " ... o impetrante quer impor um pretendido direito que não de­tém e nem pode certamente ser conferido, sob pena de se ver o aniquilamento do direito da livre autonomia de vontade da Câmara Legislativa que praticou o mencio­nado ato, ... " apontado como ilegal;

b) - não há possibilidade de se conceder a segurança, uma vez que a menção do nome do impe­trante, "como possível indicado para a vaga no Tribunal de Con­tas do DF, em um suplemento do Diário da Câmara Legislativa, não lhe cria nenhum direito, por não ter força de impor ao Poder Legislativo de submetê-lo à res­pectiva Comissão de Constituição

e Justiça, haja vista que tal com­petência é da Mesa Diretora da Câmara Legislativa;

c) - o ato de indicação do li­tisconsorte impetrado foi pratica­do em razão da conveniência, da oportunidade e do interesse que detinha, na forma da lei, o Poder Legislativo, que o aprovou na for­ma regimental e de acordo com o art. 60 da Lei Orgânica do Distri­to Federal;

d) - "Ora, dentro desses parâme­tros, não se vislumbra que o ato então praticado pela Câmara Le­gislativa, contra o qual se pleiteia a segurança, não é manifestamen­te inconstitucional e nem ilegal, como pretende dar conotação o impetrante. Na verdade, o ato de indicação do Litis/impetrado foi emanado do direito assegurado na lei, acima citada, e tendo sido cumpridos todos os requisitos ali impostos, sem qualquer discre­pância. Conquanto a lei foi aten­dida em toda a sua extensão, com observância de todo o ordenamen­to jurídico ali inserido, seja intrín­seco como extrínseco:

a. foi indicado pelo Presidente da Câmara;

b. foi sabatinado e aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça;

c. foi aprovado o nome em ses­são solene."

Defende, ainda, o litisconsorte Maurílio Silva que inexiste direito líquido e certo a ser protegido via

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mandado de segurança, pela ausên­cia de direito subjetivo a ser prote­gido a favor do impetrante. Este ti­nha, apenas, uma expectativa de di­reito que desapareceu, no momento em que, o nome do litisconsorte foi indicado pela Câmara Legislativa ao Senhor Governador e efetuada a no­meação.

Por fim, o litisconsorte afirma que as demais questões apresentadas pe­lo impetrante não podem ser ques­tionadas em sede de mandado de se­gurança, por exigir exame aprofun­dado de uma dilação probatória.

O acórdão recorrido, primeiramen­te, rejeitou, por maioria, preliminar argüida pelo eminente Desembarga­dor Relator, no sentido de ser julga­da prejudicada a impetração, por per­da de objeto e, de conseqüência, ex­tinguir-se o processo na forma do art. 267, VI, do CPC.

O eminente relator desenvolveu os fundamentos da referida prelimi­nar, do modo seguinte:

"No entanto, a irresignação do impetrante não pode receber o al­cance jurídico pretendido. É que dos atos ora impugnados decorre­ram a nomeação e posse do ora li­tisconsorte no Cargo de Conselhei­ro do Tribunal de Contas do Dis­trito Federal.

Dirigindo-se a impetração con­tra a Mesa Diretora da Câmara Legislativa e insurgindo-se contra a forma pela qual a indicação do litisconsorte se deu, o impetrante ataca fase ultrapassada do proce­dimento e se dirige contra pessoa

errada, É que, como já registrei, à dita irregular indicação seguiram­se a nomeação e posse. Logo, a impetração deveria ter sido diri­gida contra a autoridade que pra­ticou o último ato, ou seja, aque­la que dera posse ao litisconsorte, competente para desfazer o ato, e que por isto mesmo, a única que poderia figurar como autoridade coatora.

A superveniência da nomeação e da posse, torna inoportuna a análise dos fatos que o impetran­te expõe - a inobservância das formalidades legais para a indica­ção de Conselheiro do TribUllal de Contas do Distrito Federal - e coloca em evidência achar-se pre­judicado o presente mandamus por perda de seu objeto."

No mérito, o mandado de seguran­ça foi concedido. A ementa do acór­dão bem sintetiza as razões da men­cionada decisão:

"Mandado de segurança - Provi­mento de vaga no T. C.D.F. - Ato complexo - Nulidade anterior à nomeação. Concessão.

Tratando-se de ato administrati­vo complexo o provimento de va­ga no Tribunal de Contas do Dis­trito Federal, todas as fases do ato hão de se processar com ob­servância das formalidades legais específicas. Assim, se postergadas tais formalidades na fase de esco­lha e indicação do nome, inobser­vando-se as exigências quanto à formação intelectual específica e a regular submissão do nome do

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candidato aos órgãos competen­tes da Câmara Legislativa, com o atropelamento do devido processo, a nulidade que tal fase vicia, al­cança, por inteiro, o ato complexo, aí se incluindo a nomeação e a posse. Se procedimentos como aqueles são adotados de modo que impeçam a apreciação de outro nome, igualmente interessado no cargo a prover, ocorre ofensa ao direito líquido e certo deste de ter o seu nome avaliado em regular processo. Nulo o ato complexo, concede-se a segurança àquele que, legitimamente, contra ele se insurge, para que o ato se repita sem os vícios que o tornaram im­prestável."

o recurso especial interposto está assentado no entendimento de que houve negativa de vigência aos arts. 1~ e seu § 1~ e 6~ da Lei 1.533/51 (LMS) e arts. 116, II, 117, IX, da Lei 8.112, de 11.12.90, Lei do Regime Ju­rídico Único, aplicável aos servidores do Distrito Federal ex vi da Lei n. 197 de 19/12/91 do Distrito Federal, bem como divergência jurispruden­cial.

Afirma o recorrente, em sua peça recursal, que:

a) sustentou, o que faz agora em sede de especial, não possuir o im­petrante legitimidade ad causam e ad processum para defender seu pretenso direito por meio de mandado de segurança, uma vez que seu direito não se revela nem líquido e nem certo, mas se cons­tituía em uma simples expectati­va de direito;

b) não é possível, em sede de man­dado de segurança, discutir-se pro­va, 'pois, a aferição de critérios pa­ra a ocupação do cargo, demanda­ria a perquirição e o confronto de provas que deveriam ser trazidas com a petição do mandamus e que tais provas deveriam ser con­cretas, objetivas e não constituí­rem meras alegações ou manifes­tações subjetivas, fruto da exacer­bação psíquica do impetrante, co­mo de fato ocorreu;

c) houve parcialismo da autorida­de apontada como coatora por, ao invés de prestar as informações de praxe, transformou-se em alia­do do impetrante, desequilibran­do a relação processual que legal­mente se estabelece entre impe­trante, impetrado e litisconsorte passivo;

d) o Poder Judiciário não pode in­tervir na decisão da Câmara Le­gislativa quanto aos critérios que esta adotou para considerá-lo ha­bilitado para o exercício do cargo de Conselheiro, por representar, se isso acontecer, "uma indevida intromissão na autonomia desse Poder, ferindo como tal a indepen­dência e a harmonia que devem presidir as relações entre os três Poderes que formam a organiza­ção política do Estado";

e) o acórdão diverge do decidido no MS n. 8.595-GB, Pleno, ReI. Min. Villas Boas, STF; idem no RE 103.299-5-RJ, ReI. Min. Fran­cisco Rezek, STF; idem no RMS n. 3.175-6-DF, STJ, 5~ 'furma, jul­gado em 17/11/93, ReI. Min. Edson

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Vidigal; RE 79.257-BA, ReI. Min. Soares Munhoz-STF; MS n. 2.723/ DF, ReI. Min. Djaci Falcão, STF; MS n. 116/DF, STJ, ReI. Min. Gar­cia Vieira; RMS n. 202-PA, ReI. Min. Hélio Mosimann, STJ; RMS n. 1.040-0-SP, STJ, Rel. Min. Cláudio Santos, todos demonstran­do que a matéria tratada no acór­dão recorrido não pode ser apre­ciada via mandado de segurança, face a necessidade de ser examina­da prova.

Os acórdãos, em sua maioria, fo­ram apresentados, na íntegra, em cópias xerografadas.

A parte recorrida, o impetrante, apresentou contra-razões. Pugna, em primeiro lugar, pelo não conhecimen­to do recurso pela letra a, por ausên­cia de prequestionamento. Em segun­da posição, defende a autoridade im­petrada, àfirmando que não se pode censurar a sua posição de reconhecer a ilegalidade do ato atacado, por ser do seu dever velar pelo cumprimen­to do princípio da legalidade, não tendo cometido, assim, parcialidade.

Afirma, ainda, ser parte legítima para impetrar o mandado de segu­rança, por ser titular de direito lí­quido e certo de ver o ato apontado como ilegal ser desconstituído, haja vista ter sido indicado por três par­lamentares para concorrer ao cargo.

Defende, por fim, a manutenção do acórdão recorrido, por o nomeado não possuir os requisitos para a in­vestidura do cargo, conforme reco­nheceu o acórdão, bem como, não ser possível se apreciar a larga expe-

riência que o litisconsorte diz pos­suir, face os ditames da Súmula n. 7 do STJ.

O Distrito Federal, por seu procu­rador, mesmo sem ter sido chamado a integrar a lide, atravessou, nos au­tos, razões de contrariedade ao re­curso especial, defendendo o não re­cebimento do recurso especial e, no mérito, a manutenção do acórdão.

O especial foi admitido pela apon­tada violação aos arts. 1~ e 6~ da Lei n. 1.533/51, negando-se a sua aceita­ção pela divergência jurisprudencial pelo atentado à Lei n. 8.112/90.

Recurso extraordinário apresenta­do. Por ter sido negado o seu segui­mento, há agravo de instrumento em curso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): O presente recurso es­pecial merece ser conhecido pela ale­gada violação aos arts. 1~ e seu § 1~ e 6~ da Lei n. 1.533/51 (LMS). Tais questões de direito enfrentadas pelo recorrente foram prequestionadas no acórdão recorrido, conforme demons­tra o conteúdo do relatório supra.

Não conheço, entretanto, do recur­so especial pela apontada violação aos arts. 116, lI, 117, IX, da Lei 8.112, de 11/12/90, Lei do Regime Ju­rídico Único, aplicável aos servidores do Distrito Federal ex vi da Lei n. 197, de 19.12.91, do Distrito Federal, por não ter havido o seu prequestio­namento.

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Conhecendo do recurso passo, em sede de juízo preliminar, ao exame dos pressupostos processuais para a viabilidade do mandado de seguran­ça em questão.

Destaco, unicamente, para orde­nar o desenvolvimento das razões que passam a ser desenvolvidas, que o mandado de segurança contém o seguinte pedido:

"Assim, demonstrado o direito líquido e certo do impetrante de ver o seu nome apreciado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, e, demonstrado, também, que esse direito líquido e certo foi ferido pela Mesa Diretora da Câ­mara Legislativa ao impedir a tramitarão de sua indicação, be­neficiando, flagrantemente e com subterfúgios, conluios e medidas nada éticas e atentatórias à mo­ral, tudo isto com a agravante das inúmeras falhas apontadas, só restou ao impetrante o remédio heróico do presente mandamus razão pela qual requer:

1) a decretação, por todo o ex­posto, da nulidade dos atos que aprovaram a indicação de um no­me para ocupar a vaga de Con­selheiro do 'fribunal de Contas do Distrito Federal aberta com

a aposentadoria do conselhei­ro Joel Ferreira da Silva, pelos vícios apontados, para que no­vo procedimento seja adotado, desta vez com ampla divulga­ção dos fatos e igualdade de tratamento para todos os que

venham a ser indicados para o processo seletivo; ..... '

A segurança foi concedida para o fim acima requerido, conforme se constata no inteiro teor do voto con­dutor do acórdão.

Em primeira linha, destaco, por entender de caráter preferencial, o questionamento suscitado pelo recor­rente de que o impetrante não tem legitimidade para valer-se da via eleita para debater a invalidade do ato administrativo praticado pela Câmara Legislativa do Distrito Fe­deral, por lhe inexistir qualquer di­reito líquido e certo a ter sido saba­tinado pela Comissão de Constitui­ção e Justiça, em ordem preferen­cial, como pretende.

O recorrente, no trato do tema, assim desenvolve as suas razões:

"Sem a existência do direito lí­quido e certo, o acórdão que o re­conhece, contraria o art. 12 da Lei 1.533/51 que dispõe:

'Art. 12• Conceder-se-á manda­do de segurança para proteger direito líquido e certo não am­parado por habeas corpus, sempre que, ilegalmente, ou com abuso de poder, alguém sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que catego­ria for e sejam quais forem as funções que exerça."

Ora, é de ver-se que o v. acór­dão recorrido ao conceder a segu­rança não reconheceu e nem po-

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deria reconhecer a existência de direito líquido e certo em favor do impetrante, pois que, em passo al­gum da ementa do acórdão e dos votos proferidos, foi-lhe assegura­do o direito de vir, obrigatoriamen­te, a ser indicado à vaga de Conse­lheiro destinada à Câmara Legis­lativa, acaso aberta viesse de ser por força do acórdão.

Pois, se entendeu a ego Corte em conceder a segurança, o refle­xo lógico e conseqüente desta de­cisão seria o reconhecimento da existência de um direito individual concreto. E onde está este direito?

Qual foi o benefício direto ou mesmo indireto a ser usufruído pelo impetrante?

Direito de substituir o Recor­rente em seu cargo?

Direito a participar de futura clientela àquela vaga?

Datíssima vênia, o v. acórdão além de não lhe haver reconheci­do direito líquido e certo algum, também não lhe reconheceu, se­quer, a existência de uma válida expectativa de direito, pois que, tal expectativa, qualquer brasilei­ro que possua habilitação e pre­tensão poderá vir manifestá-la. Restará, apenas, saber se encon­trará apoio para tal na Câmara Legislativa.

Desta forma, claríssimo e evi­dente que a via procedimental eleita pelo impetrante era e é im­prestável ao tipo de postulação que formulou. Talvez seu preten­so direito melhor se abrigasse den­tro de ação popular. Talvez!

Ora, sendo imprópria a via elei­ta e o acórdão em sua decisão, di­reito algum lhe outorgou, a deci­são proferida, quanto ao impetran­te, foi inócua e revelou por si só a impropriedade do procedimento usado e, como tal, feriu, de cara, o disposto no art. 1~ da Lei 1.533/51.

A apreciação do tema preliminar permite que, antes de aprofundar o seu mérito, se registre que o manda­do de segurança, como ocorre com as demais ações, exige requisitos de ad­missibilidade da tutela jurisdicional buscada, identificados como sendo os pressupostos processuais e as condi­ções da ação. Não presentes tais con­dições, torna inviável o exame do seu mérito, isto é, se o impetrante tem direito líquido e certo a ser pro­tegido.

A respeito, valho-me da lição de Sálvio de Figueiredo Teixeira, in "Mandado de Segurança: uma visão de conjunto", págs. 107/109, in "Man­dados de Segurança e de Injunção", Ed. Saraiva, do teor que registro:

"Enquanto por pressupostos processuais se tomam os requisi­tos necessários à constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, a saber, juiz compe­tente, partes capazes e pedido vá­lido, classificam-se como condições da ação a legitimação das partes, o interesse de agir e possibilidade jurídica (na teoria do direito con­creto de agir, esta última seria substituída pela "existência da vontade da lei cuja atuação se pleiteia").

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Se em relação aos pressupostos processuais o mandado de segu­rança não apresenta aspectos es­pecíficos, o mesmo não ocorre no que diz respeito às condições da ação.

Em primeiro lugar, como se ve­rá adiante ao focalizar-se a legiti­midade das partes, o mandado de segurança tem, a propósito, trata­mento diverso das demais ações.

Em segundo lugar, porque, no que tange ao interesse de agir, conforme acentuou Walter Veado, 'se a ilegalidade pode ser coibida através dos meios processuais or­dinários, a estes deve recorrer o prejudicado antes de ingressar na via estreita e heróica do mandado de segurança'. Ou seja, não se po­de aviar o mandado de segurança se há ação hábil à disposição. Em outras palavras, tomando por em­préstimo a lição de Celso Barbi, enquanto nos casos de outra natu­reza o interesse de agir se caracte­riza pela 'necessidade de proteção jurisdicional', no mandado de se­gurança a exigência é de 'necessi­dade de acesso pela via específica do mandado de segurança.'

Em terceiro lugar, porque o mandado de segurança reclama a ocorrência de um direito líquido e certo, ou a proteção a interesses legítimos, difusos ou coletivos."

Constitui lição primária em nosso Direito Constitucional que um dos re­quisitos específicos para o cabimen­to da via mandamental é o de que o impetrante seja portador de direito líquido e certo a proteger.

Certo é, por outro lado, que, não obstante a vivência do mandado de segurança, como garantia constitu­cional, em nosso sistema jurídico, há mais de meio século, não há unifor­midade, nem na doutrina, nem na jurisprudência, sobre o conceito de direito líquido e certo.

Thrna-se, portanto, indispensável o exame, em sede primeira, desse re­quisito para o fim de se emprestar efeito a qualquer decisão final em mandado de segurança, porque, pa­ra que tanto se alcance não se torna necessário que o direito exista. Ele, além de existir, tem de se apresen­tar, de modo nítido, líquido e certo, para que surja a sentença manda­mentaL

Surgem, portanto, dois escalona­mentos a serem apreciados, a fim de se definir se o impetrante possui le­gitimação ativa para impetrar o pre­sente mandamus. O primeiro o de se saber se ele tem capacidade jurí­dica para figurar em juízo e que um direito seu foi possivelmente afetado por ato de autoridade. O segundo é se esse direito apresenta-se líquido e certo.

Examino a primeira condição, is­to é, a existência de capacidade ju­rídica do impetrante estar em juízo e a possibilidade de ter sido afetado um direito subjetivo seu por ato de autoridade.

Entrego ao segundo exame a ques­tão relativa ao direito ser líquido e certo, por entender que tal circuns­tância envolve o mérito da demanda, como oportunamente será demons­trado.

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Não há discussão a respeito de que o mandado de segurança é des­tinado a proteger direito subjetivo individual líquido e certo. Assim, só tem legitimidade para requerê-lo quem for titular, primeiramente, de um direito subjetivo individual e, a seguir, líquido e certo.

Indubitável apresenta-se a capa­cidade do impetrante estar em juízo. Examina-se, a seguir, se o mesmo é titular do direito subjetivo alegado. Caso comprovada sua existência, examinar-se-á se o mesmo é líquido e certo.

O art. 82, § 2~, da Lei Orgânica do Distrito Federal, ao tratar da esco­lha dos Conselheiros do Tri.bunal de Contas, está assim redigido:

"Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal se­rão escolhidos:

I - dois pelo Governador do Distrito Federal, com aprova­ção da Câmara Legislativa, sendo um, alternadamente, en­tre auditores e membros do Mi­nistério Público junto ao Tribu­nal de Contas, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, se­gundo os critérios de antigüida­de e merecimento;

II - cinco pela Câmara Legis­lativa,

§ 3~ Caberá à Câmara Legisla­tiva indicar Conselheiros para a primeira, segunda, quarta, sexta e sétima vagas, e ao Po­der Executivo para a terceira e quinta vagas."

O art. 70 da Lei Complementar n. 01, de 09 de maio de 1994, (que dis­põe sobre a Lei Orgânica do Tribu­nal de Contas do Distrito Federal e dá outras providências), tratando do critério para a escolha dos Conse­lheiros para o referido Tribunal, dis­põe:

"Art. 70. Os Conselheiros do Tri­bunal de Contas serão escolhidos:

I - dois pelo Governador do Dis­trito Federal, com aprovação da Câmara Legislativa, sendo um, alternadamente, entre Auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, indi­cados em lista tríplice pelo Tribu­nal, segundo os critérios de anti­güidade e merecimento.

II - cinco pela Câmara Legisla­tiva.

§ 1~ - Caberá à Câmara Legisla­tiva indicar Conselheiros para a primeira, segunda, quarta, sexta e sétima vagas e ao Poder Execu­tivo para a terceira e quinta va­gas."

A seguir, dispõe o art. 60, incisos XVII e XVIII, da Lei Orgânica do Distrito Federal:

"Art. 60 - Compete privativamen­te à Câmara Legislativa do Distri­to Federal: (. ..... );

XVII - escolher cinco entre os se­te membros do Tribunal de Con­tas do Distrito Federal; XVIII - aprovar previamente, em escrutínio secreto, após argüição

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em sessão pública, a escolha dos titulares do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Distri­to Federal, indicados pelo Gover­nador; ... "

o Regimento da Câmara Legisla­tiva do Distrito Federal nada dispõe, de modo específico, a respeito do procedimento a ser adotado em se tratando de indicação feita por ela ao Governador do Distrito Federal para nomeação do Conselheiro do Tribunal de Contas.

Essa afirmação decorre do que re­velam as notas taquigráficas relati­vas à discussão que antecedeu a vo­tação realizada pela mencionada Câ­mara Legislativa onde foi aprovado, de forma secreta, por quatorze votos favoráveis, havendo 10 (dez) ausên­cias, o nome do litisconsorte passivo Maurílio Silva.

Diante do exposto, o princípio da legalidade impõe que é da competên­cia privativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal indicar, ao Go­vernador do Estado do Distrito Fe­deral, Conselheiros para a primeira, segunda, quarta, sexta e sétima va­gas do Tribunal de Contas, sem que conste qualquer exigência relativa a ser o indicado argüido em sessão pú­blica, conforme expressamente dis­põe o art. 60, incisos XVII e XVIII, da Lei Orgânica do Tribunal de Con­tas do Distrito Federal.

Postas tais considerações de or­dem legal a respeito da matéria, confira-se a situação da impetrante. Este, conforme está demonstrado nos autos, teve o seu nome indicado

por três Deputados Distritais para concorrer à escolha a ser feita pela referida Câmara Legislativa para o preenchimento do cargo vago de Conselheiro do Tribunal de Contas.

A Câmara Legislativa, através do seu Presidente, apresentou um outro nome, o do Sr. Maurílio Silva. Este, após ser sabatinado pela Comissão de Economia, Orçamento e Finan­ças, foi aprovado, por votação secre­ta e unânime dos Deputados Distri­tais presentes e, a seguir, nomeado pelo Exmo. Sr. Governador do Dis­trito Federal.

Com a indicação do Sr. Maurílio Silva pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, encerrou-se o pro­cesso de escolha.

O impetrante alega, em face de todos esses fatos, que, por ter sido indicado em Sessão precedente, no caso a 78!! Sessão Extraordinária, por três Deputados, devia o seu no­me ter sido submetido, em primeiro lugar, ao processo de argüição e, se aprovado, em seguida, ser votado pe­lo Plenário. Só se não houvesse a aprovação do seu nome é que deve­ria ser submetido o do litisconsorte passivo, haja vista que a sua indica­ção, pelo Presidente da Casa, só ocorreu na 79!! Sessão Extraordiná­ria seguinte.

Evidencia-se, em decorrência do conteúdo posto na lei Orgânica do Distrito Federal a respeito da indi­cação do Conselheiro do Tribunal de Contas pela Câmara Legislativa que não há direito subjetivo outorgado a qualquer cidadão de, por indicação de três Deputados Distritais, ter o

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seu nome argüido e, se aprovado, submetido à apreciação da Câmara Legislativa.

Outrossim, em nenhuma regra de direito há o alegado direito de prefe­rência.

No caso em espécie, o princípio da preponderância da maioria foi obe­decido, a partir da indicação do no­me do Sr. Maurílio Silva feito pelo Presidente da Câmara Legislativa, pelo que deve ser homenageada, ten­do em vista tal aspecto, a soberania do Plenário da Câmara Legislativa.

O direito subjetivo só nasce quan­do há regra jurídica a protegê-lo, es­pecialmente, em se tratando de rela­ções jurídicas de direito Público, on­de o princípio da legalidade é o con­dutor da prática de todos os atos ad­ministrativos.

Inexistindo nenhuma regra de di­reito material assegurando a preten­são do embargante, não há que se falar em direito subjetivo próprio a ser protegido.

Não há, portanto, interesse indi­vidual a ser protegido, via entrega de prestação jurisdicional.

Na verdade, o impetrante preten­de anular um ato administrativo com­plexo decorrente das vontades do Po­der Legislativo e do Poder Executi­vo, afirmando que o mesmo feriu o princípio da moralidade, da impes­soalidade, da transparência e da pu­blicidade.

Este ato produz efeitos no mundo jurídico, haja vista que emite ações administrativas concretas de natu­reza relevante, entre elas, a do titu-

lar do cargo dele originado proferir julgamento sobre contas da respon­sabilidade de agentes públicos.

Inexistindo direito subjetivo a proteger o impetrante, inviável tor­na-se o mandado de segurança para perseguir a nulidade do mencionado ato.

O fato do impetrante não ter di­reito subjetivo individual a ser pro­tegido por mandado de segurança não implica em se afastar do contro­le do Poder Judiciário a aplicação, aos atos administrativos, dos princí­pios da moralidade, da impessoalida­de, da legalidade e da publicidade.

A via, contudo, para se perseguir, não como titular de direito subjeti­vo, porém, como cidadão, a invali­dade de tal ato, é a ação popular. Aliás, o próprio impetrante apresen­tou como precedente jurisprudencial uma ação popular julgada pelo Co­lendo Supremo Tribunal Federal.

Em tal sentido, há Súmula do Co­lendo Supremo Tribunal Federal, a de n~ 101, cujo verbete enuncia:

"O mandado de segurança não substitui a ação popular."

A revelar a posição acima destaca­da e merecedora do meu seguimento, lembro, por fim, que o ato atacado foi praticado em vinculação com in­terpretação dada pela Câmara Le­gislativa do Distrito Federal ao seu regimento. Possui, assim, rigorosa­mente, natureza interna corporis, insuscetível de ser controlado pela via judiciária, se não feriu, de mo­do frontal, regra jurídica positiva e

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qualquer direito do parlamentar ou do cidadão.

A respeito, tem se pronunciado o Colendo Supremo Tribunal Federal:

"Processo legislativo no Congres­so Nacional. Interna corporis.

Matéria relativa à interpretação, pelo Presidente do Congresso N a­cionaI, de normas de regimento le­gislativo é imune à crítica judiciá­ria, circunscrevendo-se no domínio interna corporis. Pedido de se­gurança não conhecido." (STF­RDA 160/173, v.u.). Neste sentido: STF - Pleno: RTJ 144/488).

Theotônio Negrão, aponta, ain­da, que o STF "não tem admitido mandado de segurança contra atos do Presidente das Casas Legislati­vas, com base em regimento interno delas, na condução do processo de feitura de leis" (RTJ 144/488).

Por tais fundamentos, concluo que há ausência de uma das condições da ação mandamental, no caso, a ausência de qualquer direito subje­tivo do impetrante a ser protegido, faltando, assim, interesse de agir, pelo que acato a preliminar suscita­da pelo recorrente, dando provimen­to ao recurso para julgar extinto o processo, sem julgamento de mérito.

É o voto.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Sr. Presidente, como todos acabam de ouvir, as questões jurídicas trazidas para julgamento

neste recurso especial são deveras complexas. Se se tratasse de um re­curso ordinário ou de um mandado de segurança requerido originaria­mente, as questões, que são inume­ráveis e pertinentes a diversificados dispositivos de lei, ficariam mais fá­ceis de ser apreciadas.

Mas, de qualquer modo, Sr. Presi­dente, Srs. Ministros, este mandado de segurança não pode prosperar. Es­tamos diante de um ato tipicamente complexo, porque foi efetivado com o concurso de vários órgãos adminis­trativos e não de um só.

Se o ato de provimento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Con­tas dependesse exclusivamente da indicação da Câmara Legislativa, não seria complexo. Porém, após a indicação, houve a nomeação pelo Governador do Estado e a posse pe­lo próprio Tribunal de Contas do Es­tado. O desfazimento desse ato im­poria que todos esses órgãos admi­nistrativos, melhor dizendo, que os três poderes do Distrito Federal fos­sem chamados para integrar a rela­ção processual.

Como se sabe, a sentença judicial não alcança aquelas - pessoas ou órgãos - que não integraram a re­lação processual, porque, quando as­sim o fosse, ferido estaria um prin­cípio constitucional basilar, o da am­pla defesa e do contraditório.

Ora, se o Governador do Estado e o Tribunal de Contas não foram cha­mados para integrar a relação pro­cessual, o só desfazimento da indica­ção pela Câmara Legislativa do Dis­trito Federal não anularia o ato de

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provimento do cargo. O Conselheiro nomeado continuaria como Conse­lheiro do Tribunal de Contas, porque o ato do Governador jamais poderia ser desfeito sem que ele tivesse ofe­recido defesa, no âmbito do manda­do de segurança.

De outra feita, o mandado de se­gurança não objetiva, com exclusivi­dade, a declaração da nulidade do ato coator, do ato praticado pela au­toridade indigitada como coatora.

Para que o impetrante tenha legi­timidade para a impetração, é neces­sário que com a nulidade do ato, ha­ja uma contrapartida em seu bene­fício. O impetrante há de visar, tam­bém, com a nulidade do ato, o reco­nhecimento do seu direito líquido e certo.

Pergunta-se: se porventura fosse anulada a indicação da Câmara Le­gislativa, esta teria a obrigação de fazer a indicação do impetrante? Quais seriam os benefícios que o im­petrante teria com o desfazimento do ato de indicação do conselheiro já nomeado? O mandado de segurança não é a via adequada para se postu­lar uma nulidade. Esta poderia ser alcançada, segundo o pedido, que procura fazer uma defesa não pró­pria do impetrante, mas da socieda­de como um todo, até com base em princípios constitucionais da mora­lidade, da impessoalidade, da lega­lidade etc., pela via do mandado de segurança coletivo ou da ação popu­lar.

Em terceiro lugar, é evidente que o impetrante não tem legitimidade para postular o que ele objetiva, exa-

tamente por não ter qualquer direi­to líquido e certo; sua pretensão não passa de uma expectativa de direito. Como já se afirmou: ainda que o ato de indicação fosse desfeito, o mais que ele poderia lograr era uma nova indicação; não dele, mas de qualquer cidadão que preenchesse os requisi­tos da lei e da Constituição. Se em contrapartida, anulado o ato, o im­petrante não fosse obrigatoriamen­te indicado ou não lograsse benefício algum, patrimonial, ou pelo menos moral, a ilegitimidade é evidente.

Por todos esses motivos e por aqueles alinhados pelo Eminente Ministro-Relator, Sr. Presidente, acompanho S. Exa. na totalidade do seu voto.

É como voto.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Discute-se aquele tema relativo à desconstitui­ção da investidura de um conselhei­ro do Tribunal de Contas. O Ministro José Delgado, acompanhado pelos Ministros José de Jesus Filho e De­mócrito Reinaldo, deu provimento ao recurso ao fundamento de que cuida­se de Mandado de Segurança impe­trado contra ato da Assembléia Le­gislativa. O Impetrante se rebela contra a investidura, não contra a in­vestidura em si, mas contra o proces­so - a investidura é feita em duas fases. A rebeldia enfrenta o procedi­mento de investidura no âmbito do Poder Legislativo. O Ministro Demó-

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crito Reinaldo entende que ele foi candidato a esta vaga no 'ITIbunal de Contas, porque a concessão do Man­dado de Segurança não implicaria em reabrir a indicação do impetrante. Por outro lado, o Ministro José Del­gado simplesmente anunciou esta preliminar, mas não penetrou o seu fundamento. É que a investidura se faz através de nomeação do governa­dor. Ele se rebela tão-somente contra

o processo legislativo. Ora, conceden­do o Mandado de Segurança contra a Mesa da Assembléia Legislativa não haveria a desconstituição do ato. En­tão, sob esse fundamento, a Mesa da Câmara Legislativa careceria até de legitimidade passiva para esse man­dado de segurança.

Estou acompanhando S. Exa. tam­bém dando provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N2 111.123 - SP

(Registro n 2 96.0066251-7)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Modas e Creações Rio São Paulo Ltda.

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Drs. José Luiz Matthes e outros, e Rogerio Pereira da Silva

EMENTA: Processual Civil. Apelação. Preparo. Valor. Atualiza­ção da causa.

1- Há dissídio jurisprudencial a justificar conhecimento de recur­so especial, entre decisões não uniformes de Tribunal de Alçada e de Tribunal de Justiça, embora, ambos, do mesmo Estado.

2 - A quantia do preparo para fim de apelação deve ser apurada sobre o valor atualizado da causa.

3 - A jurisprudência dos Tribunais tem assentado que mera atua­lização da quantia do tributo a ser recolhido não implica seu aumento.

4 - Recurso especial conhecido, porém, improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior 'Ih­bunal de Justiça, na conformidade

dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Participa­ram do julgamento os Srs. Minis­tros José de Jesus Filho e Demócri­to Reinaldo.

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Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 27 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro JOSÉ DELGADO, Rela­tor e Presidente.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: Modas e Creações Rio São Pau­lo Ltda. interpõe o presente Recur­so Especial (fls. 65/69), com fulcro no artigo 105, inciso lII, alínea c, da Constituição Federal, contra acórdão (fls. 59/62) proferido pela 1~ Câma­ra de Direito Público do TJSP.

Trata-se de especial interposto contra aresto que negou provimento a recurso de agravo tirado pela re­corrente de decisão que deixou de re­ceber apelação interposta contra sentença que julgou improcedentes embargos opostos à execução fiscal, por falta de preparo calculado com base no valor atualizado da causa.

Sustenta a recorrente a existência de dissídio jurisprudencial entre o aresto ora atacado e decisão do 1~ Tribunal de Alçada Civil de São Paulo.

A parte recorrida, em contra-ra­zões (fls. 73175), alega, preliminar­mente, ser inadmissível o presente recurso, seja pela ausência da neces­sária demonstração analítica da di­vergência suscitada, seja por fundar­se o suposto dissídio em decisões de

'fribunais pertencentes à mesma uni­dade da federação. No mérito, pede pela manutenção do aresto atacado.

Admitido o processamento do es­pecial por despacho (fls. 77178) do Exmo. Sr. Desembargador Lair Lou­reiro, em substituição ao 4~ Vice-Pre­sidente do TJSP, subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): O presente recurso es­pecial merece ser conhecido pelo dis­sídio jurisprudencial.

Não se pode compreender aplicá­vel ao caso a Súmula n~ 13 desta Corte. A divergência presente está caracterizada entre Tribunais dife­rentes: o Tribunal de Alçada e o Tri­bunal de Justiça, embora ambos do mesmo Estado.

Estes, no campo determinado pa­ra o exercício de suas competências, expedem decisões que podem se tor­nar definitivas. Estas, por sua vez, se caracterizam pela autonomia de interpretação de direito que assen­tam, retratam, o posicionamento da Corte que os emitiu.

O que a Súmula n~ 13, deste Tri­bunal, anuncia é a impossibilidade do recurso especial ter curso pela di­vergência, quando essa está situada no seio do mesmo Tribunal.

A razão desse entender é presti­giar os limites impostos pelo art. 105, IH, c, da Constituição Federal, para a admissibilidade do especial.

R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 123

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'lenho, também, em consideração, que a divergência está bem demons­trada e que proporciona pleno conhe­cimento do recurso.

Examino o mérito.

O cerne da discussão caracteriza­da no recurso especial em exame es­tá em se definir se o valor do prepa­ro para fim de apelação deve incidir sobre o valor da causa atualizado, ou não.

O acórdão questionado assim en­tendeu (fl. 61):

"De outro lado, é evidente a insu­ficiência do preparo feito em 24.10.1995, da ordem de R$ 0,15, segundo se vê da cópia da guia de recolhimento de fl. 28, em con­fronto com o valor correto da taxa judiciária contido no demonstra­tivo de fl. 40, de R$ 9,2l.

A alíquota de 1% deve ser calcu­lada sobre o valor atualizado da causa, uma vez que a correção monetária da base de cálculo não constitui majoração do tributo, na dicção do § 22 do artigo 97 do Có­digo Tributário Nacional, mas simples manutenção do valor da moeda."

'lenho como correto o entendimen­to supra. Os termos em que está as­sentado não se afastam dos princí­pios doutrinários e jurisprudenciais rege dores da atualização monetá­ria dos tributos. Corretos se apre­sentam, ao meu convencimento, os fundamentos de fl. 75 e que foram explorados pelo Estado recorrido, transcrevo-os (fl. 75):

"A taxa judiciária, nos termos do art. 12 da Lei n2 4.952/85, decorre da prestação de serviços públicos de natureza forense. Não havia, pois, já a partir dessa considera­ção, qualquer fundamento para a exclusão de preparo em se tratan­do de execução fiscal. Por outro lado, o art. 12 referido indica ser a taxa judiciária verdadeiramen­te tributo, em atenção ainda ao art. 145, II da Constituição Fede­ral e arts. 52 e 77, caput, do CTN.

A mera atualização, pois, do valor da causa, que equivale à base de cálculo, não pode ser considerada majoração do tributo, cf. art. 97, § 22 do CTN. Aliás, no MS n 2

198.607-2/9, a 11~ C. Civil da TJSP decretou expressamente que "para se fazer cálculo da taxa ju­diciária, o valor da causa tem que ser atualizado". Estas considera­ções, impõe-se esclarecer, repor­tam-se e reproduzem, ainda que não literalmente, o entendimento esposado do MM. Juiz nos autos da EF 107.860.450, ao tratar de matéria semelhante, entendimen­to esse que a Fazenda pede vênia adotar.

Assim, não só legal como necessá­ria a atualização do valor monetá­rio da causa, considerando-se ain­da que tal atualização visa ape­nas recompor o valor originário atribuído ao feito que, face ao pe­ríodo de inflação altíssima que o atingiu, além das variações da moeda, está absolutamente defa­sado.

124 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997.

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Por fim, ainda que assim não fo­ra, a taxa judiciária corresponden­te à conversão do valor da causa para reais seria correspondente a R$ 0,50 e não R$ 0,15, cf. recolhi­do, o que implicaria, igualmente, em ser considerado deserto o re­curso de apelação."

Saliento, por último, que o conta­dor do juízo, antes da apresentação do recurso, efetuou a conta de prepa­ro no valor de R$ 9,21, em data de 25/09/95, conforme atesta o documen­to de fi. 40. Não obstante a presença

da referida conta nos autos, sem se argumentar que houve qualquer im­pugnação a respeito, a recorrente, na época apelante, entendeu de, em 24.10.95, ao apresentar o recurso, não cumpri-la e, de modo próprio, re­colheu a tal título a importância de R$ 0,15. Assumiu, portanto, pelo seu próprio entendimento, o risco decor­rente dos efeitos produzidos pelo re­ferido ato de pagamento.

Por tais considerações, conheço do recurso, porém, nego-lhe provimento.

É como voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 45-125, julho 1997. 125

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