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PRINCESA POR UMA NOITE CARLOTA CÂNCIO CANAS DEBUTOU EM JANEIRO NO CLUB PORTUENSE. APESAR DE SER DE LISBOA, ESCO- LHEU O PORTO PARA O BAILE. PÔS AS FOTOS NO FACEBOOK. OS AMIGOS BRINCARAM: “CASASTE E NÃO DISSESTE NADA?” DIOGO LENCASTRE

PRINCESA POR UMA CARLOTA CÂNCIO CANAS DEBUTOU … · Equem queira ser Cinderela por uma noite TEXTODE KATYA DELIMBEUF PASSAGEM DEBUTANTES 29. se ouvir falar em bailes de debutantes

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PRINCESA POR UMANOITE CARLOTA CÂNCIOCANAS DEBUTOU EMJANEIRO NO CLUBPORTUENSE. APESAR DESER DE LISBOA, ESCO-LHEU O PORTO PARA OBAILE. PÔS AS FOTOS NOFACEBOOK. OS AMIGOSBRINCARAM: “CASASTE ENÃO DISSESTE NADA?”D

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O primeiro

Éuma noite de princesas. Ves-tidas de branco virginal, tia-ras no cabelo, jóias de famí-lia usadas pela primeira vez,as meninas entram no salãode baile, onde o brilho doscandelabros é ofuscado ape-nas pelo da ocasião. A sala es-

tá cheia. De famílias, de gente bem vestida,de ‘sociedade’ que tirou os casacos de pelesdo armário. Nalguns casos, até de príncipes.Estão todos ali para as verem. Pela mão dopai, entram, nervosas, ao anúncio do seu no-me. Percorrida a distância até à mesa de hon-ra, fazem uma vénia e dão meia volta, sobuma chuva de palmas. Depois, já menos ner-vosas, tornarão a entrar para dançar a pri-meira valsa com o pai, dando uso aos mesesde aulas que tiveram para se apresentaremaqui. Nesta noite, elas são quase noivas. São

o centro das atenções. Experimentam pelaprimeira vez os preparativos duma festa, osensaios do vestido, o penteado, a dança... Nofim da noite, só não deixam um sapatinhoperdido na escadaria por mero acaso. E por-que o debute, como é conhecido o baile dedebutantes, nunca termina à meia-noite —mas sim a altas horas da madrugada.

‘Antigamente’, o baile de debutantes re-vestia-se de todo um significado social quehoje já não existe. Era a forma de apresentaras meninas das famílias nobres à sociedade,aos 15 anos, marcando o início da sua vidasocial e o facto de poderem começar a fre-quentar ambientes mais adultos, a namo-rar... Na altura do primeiro baile de debutan-tes, em 1877, em Viena de Áustria — que ain-da é o mais prestigiado da Europa, a par dobaile de Crillon, em Paris, mais aberto —, de-butar (do francês débuter, que significa ‘prin-

cipiar’) era um passo obrigatório na vida deuma menina que quisesse casar bem. Hoje,com o esbater das diferenças entre classessociais, o debute passou a ser opção, tradiçãofamiliar, festa. Primeiro baile.

Mafalda Bravo (hoje Mafalda Gonçalves)lembra-se bem da excitação dos preparativospara o seu baile de debutantes, em 1993. “Aideia de um baile de gala, onde nos íamosvestir de princesas, com tiaras... Nessa idade,não saíamos à noite. Para nós, era a primeirafesta, o primeiro vestido comprido, o primei-ro baile com um rapaz, o aparato de ir aocabeleireiro, várias vezes, ensaiar o pentea-do...” Mafalda foi uma das 49 meninas quedebutaram na Quinta da Penha Longa, comhonras de capa da revista “Olá Semanário” esob o título “O Baile do Ano”. Foi um dosúltimos debutes de relevo na zona de Lisboa.Depois, o fenómeno perdeu força. Deixou de

baileÉ um ritual de outros tempos, quando se apresentavam

as meninas à sociedade, marcando a sua passagempara a idade adulta. Mas ainda há bailes de debutantes.

E quem queira ser Cinderela por uma noiteTEXTO DE KATYA DELIMBEUF

PASSAGEMDEBUTANTES

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se ouvir falar em bailes de debutantes — ex-cepto no Porto, onde se continuam a realizartodos os anos. Em 1993, debutaram dezenasde meninas de boas famílias: nomes como osde Joana e Filipa Champalimaud, Maria eMatilde Queiroz Pereira, Diana de Cadaval,Matilde Horta e Costa, Joana Balsemão, Ma-riana Van Zeller, Maria Ricciardi, CaetanaCorrêa de Barros, Maria Ana Dinis, SofiaBrion, Marta Aragão Pinto e Vanessa Salga-do, entre muitos outros apelidos sonantes,

desfilaram numa festa organizada pelo Pré-mio Infante D. Henrique.

Para Mafalda, a ideia de debutar nasceupor influência do seu grupo de amigas. Acaba-da de sair do Liceu Francês e a frequentar oRainha D. Amélia, as suas melhores amigaseram as manas Champalimaud. E tanto elascomo o seu grupo de férias do Algarve iam de-butar. Pediu à mãe para debutar também. Foiesta quem acabou por lhe explicar a parte da“apresentação à sociedade”, a que ela não deu

na altura qualquer importância. Muito maisempolgantes eram “as aulas de dança comuma bailarina estrangeira, Nina”, para apren-der a valsa, ou a execução do vestido, “secretoaté à última hora”, escolhido pela mãe e man-dado fazer a uma costureira. “Era branco, comdecote em losango, debruado a pérolas, de al-ças”, recorda. “Eu estava muito nervosa. Iamuita família minha e do meu par, um amigode longa data. E estavam lá muitas revistas,que nos pediam para tirarmos fotografias num F

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Cinco geraçõesde debutantes

BENEDITA ORTIGÃOENTRA NO SALÃO DOCLUB PORTUENSE PELAMÃO DO PAI NO SEUDEBUTE EM 2010.EM BAIXO, NO BAILE DAPENHA LONGA DE 1993,OS PARES DAS MENINASQUE DEBUTARAM LEVA-VAM UMA VELA PARAOFERECER. AO LADO,MAFALDA BRAVO NUMAFOTOGRAFIA ANTES DOBAILE

cenário, com guitarras... Depois, chamavam-seos nomes das meninas ao microfone. Entráva-mos com o nosso pai, fazíamos uma vénia aosconvidados — onde estava o duque de Bragan-ça, o príncipe Eduardo de Inglaterra e o secre-tário de Estado da Cultura de então, Pedro San-tana Lopes — e saíamos. Voltávamos para dan-çar a valsa com o pai, e seguia a festa.”

Hoje, a professora de inglês, de 32 anos,casada e com dois filhos, recorda melhor odebute da irmã Inês que o dela, mas sabe quese divertiu imenso. E, embora acredite queisso vai acontecer, lamenta que esta tradiçãose perca, porque o baile deixou-lhe muitoboas recordações. Para ela, que tem uma fi-lha, far-lhe-ia sentido que esta debutasse nocontexto de um grupo de amigas. Mas tem assuas dúvidas: “As miúdas com 15 anos, hoje,já fizeram tudo. Não têm nada a ver com anossa época. Portanto, até que ponto é queelas próprias não achariam isto ridículo?”

De menina a mulher. Seria uma dúvida razoá-vel, até porque há mais de uma década queLisboa não assiste a um baile de debutantes,mas Carlota Câncio Canas vem desfazer essaideia. Aos 16 anos, a estudante do ColégioSão João de Brito (uma escola privada de en-sino religioso, bem cotada e tradicional) de-butou no passado dia 16 de Janeiro. Mas esco-lheu o Porto para o fazer. Foram uns amigosde lá que a incentivaram a debutar no ClubPortuense. Todos os anos, o baile decorre emJaneiro, com entrada restrita a sócios. Assu-midamente elitista e exclusivo, não é qual-quer um que pode tornar-se sócio. As candi-daturas são votadas através de sistema de bo-la preta e bola branca. Também para Carlotafoi marcada uma reunião no Club, para sa-ber se poderia ser apresentada lá. Foi aceite.“Fomos muitíssimo bem recebidos”, partilhaIsabel Câncio, mãe de Carlota. “Reencontreino Club Portuense uma elegância e uma na-turalidade que me fizeram recuar a outrostempos.” Para ela, que não tinha sequer equa-cionado a hipótese de a filha debutar, o balan-ço foi extremamente positivo. “Nos dias dehoje, vejo o debute como uma forma de semanter uma certa ilusão perante a vida. Oque é que leva uma menina desta época aentrar numa sala lindíssima, vestida de bran-co, pela mão do pai? Essa ilusão”, considera.

A filha completa: “Sempre achei a ideia dodebute gira, apesar de não ter nada a ver comas minhas saídas nocturnas para Santos. Éum baile a que vou de vestido comprido. Mastem valores que me fazem sentido”, garante.“Fiz o debute, e isso teve a importância que

ANOS 70 UMA DÉCADACONTURBADA PARA OSBAILES DE DEBUTANTES.ESTE, DE 11 DE JANEIRODE 1974, FOI O ÚLTIMOANTES DA REVOLUÇÃO.DE 1975 A 1982,OS BAILES FORAMINTERROMPIDOSNO CLUB PORTUENSE

ANOS 80 BAILE DE7 DE JANEIRO DE 1989.FOLHOS E “FROUFROUS”ATESTAM A MODADOS ANOS 80. 12MENINAS DEBUTARAM,MAS JÁ NÃO VÊMIDENTIFICADASINDIVIDUALMENTENO LIVRO DO CLUB

ANOS 90 NA ESCADARIADO CLUB PORTUENSE,É PERCEPTÍVEL O AUMEN-TO SUBSTANCIALDO NÚMERO DE MENI-NAS QUE DEBUTAM.NESTE ANO, FORAM30 A QUEREREMCUMPRIR ESTE RITUALDE PASSAGEM

ANOS 50 BAILE DE9 DE JANEIRO DE 1943,NO CLUB PORTUENSE:12 MENINAS DEBUTARAMNESSE TEMPO.ENTRE OS APELIDOSMAIS SONANTES,ESTÃO BRITO E CUNHA,SOTTOMAYORE MAGALHÃES BASTO

ANOS 60 7 DE JANEIRODE 1967. NO SALÃODE BAILE DO CLUBPORTUENSE, 17 MENINASDEBUTARAM. OS PENTEA-DOS VOLUMOSOS ESPE-LHAM A DÉCADA. TALO-NE, PINTO E MELO, PAIVABRANDÃO E MONTENE-GRO SÃO ALGUNSDOS SOBRENOMES

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teve. Não foi para arranjar marido...” Pôs asfotografias no Facebook — tiveram imensosucesso. Os seus amigos escreveram comen-tários como: “Então casaste e não disseste na-da?” “Quanto às minhas amigas, tanto houveas que ficaram com vontade de debutar comoas que acharam uma snobeira ser apresenta-da à sociedade no século XXI”, partilha.

Para mãe e filha, os preparativos para obaile ficaram como uma espécie de bolha,suspensa no tempo, no meio da confusão eda azáfama das suas vidas em Lisboa. Nassemanas anteriores, foram várias vezes aoPorto, para os ensaios da valsa vienense. Iamde comboio, à sexta, jantavam no Club, passa-vam o sábado e voltavam no domingo à noi-te, de regresso aos trabalhos de casa, aos tes-tes e aos negócios. “O sair das aulas a correrpara os ensaios, para voltar a correr para asaulas, era uma espécie de passagem entredois mundos”, conta Carlota. Na noite do bai-le, divertiu-se e adorou a experiência, do ves-tido romântico à pregadeira de família quelhe foi dada pela primeira vez. Reforçou arelação com o pai, que não se cansava de lhedizer que estava lindíssima. “Nesse sentido, odebute foi também um regresso às minhasmemórias mais antigas”, confidencia ela,que vive com a mãe desde os 3 anos, quando

os pais se separaram. “Foi a minha passagemde menina a mulher.” Às 7h45 da madruga-da, a família Câncio abandonou o baile; fo-ram directamente para o hotel tomar o pe-queno-almoço, e Carlota tem fotografiassuas, adormecida à mesa, no seu vestidobranco, com uma multidão à porta a dizerque estava ali uma noiva...

No Porto, o debute é uma instituição. Na In-victa, numa determinada classe, debutar étão natural como respirar. A tradição fami-liar ainda pesa muito, e o baile do Club Por-tuense acontece religiosamente em Janeirodesde os anos 50 — com excepção da inter-rupção entre 1975 e 1984, por causa da revo-lução. Para Maria João Oliveira, “o debute éuma conversa de Natal”. Por altura das fes-tas, havia sempre a pergunta: “Quem é quedebuta este ano?” “Aqui, no Porto, é uma coi-sa instituída. Quando uma menina vai fazer15 anos, é sabido que vai debutar. E, a partirde uma certa idade, nós começávamos a so-nhar com a noite do baile.” Na verdade, to-das as mulheres da família de Maria João de-butaram: “Das minhas tias, que têm 70 anos,às minhas primas, à minha irmã...”

A actual educadora de infância, de 35anos, casada e com dois filhos, debutou em

Às 7h45 damanhã, saídasdo baile, foramdirectas para opequeno-almoço,de vestido de gala

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1990. Há 20 anos. Frequentara o ExternatoFlori, cuja turma também debutou quase to-da. “Na grande noite, chegada do cabeleirei-ro, comia-se uma refeição leve para não es-tragar a maquilhagem, vestia-se o vestido esaía-se para o Club, onde se chegava às 21h.A apresentação das debutantes aconteciauma hora depois.” Para ela, o debute foi umacontecimento fantástico. “Foi o abrir de por-tas para um mundo novo”, confessa, ao pen-sar na quantidade de pessoas que conheceulá. “Nunca tinha visto tanta gente em toda aminha vida.” No salão de baile do Club Por-tuense e espalhados pelas várias salas, esta-vam cerca de 500 convidados.

“Maria João, acompanhada por seu pai...”A frase que antecedia a apresentação das de-butantes ainda lhe ecoa na memória. Entroucom o pai, envergando o vestido de cinturadescaída e decote à barco que a mãe escolhe-ra para ela, não obstante a sua desilusão, quesonhava com um cai-cai cheio de roda. En-tão, outra frase, esta da mãe, assaltou-lhe opensamento: “Não pises ovos”, recomenda-ra-lhe a matriarca, para que o seu caminharfosse natural. Maria João só sabe que, à con-ta do conselho, escorregou duas vezes com ossapatos novos... Seguiu-se a valsa, para a qualnão teve aulas — aprendeu em casa, com amãe, no 1, 2, 3 habitual —, que correu bem. Anoite superou todas as suas expectativas. Che-gou a casa às 8h da manhã, na companhia deprimos — os pais saíram antes. Nos cincoanos seguintes, regressou ao baile do Club,para “voltar a viver aquele acontecimento ex-clusivo, que ocorre uma vez por ano. É umacontecimento social divertido”, considera.“Se calhar, sentido não tem nenhum, mas láque é giro é!”, remata. Acredita que o ritualse vai manter. E espera ver a filha debutar.

Da mesma forma, para Ana Maia Pinto,32 anos, psicóloga numa escola do Porto, obaile de debutantes foi sempre uma tradiçãofamiliar inquestionável. “A minha mãe debu-tou, todas as minhas tias e primas debuta-ram, e já tenho uma sobrinha que vai debu-tar este ano”, enumera. “Cresci a ouvir dizerque aos 16 anos iria ter o meu baile de debu-tante. Todos os anos via os meus pais saíremde casa, arranjados, para irem ao Club”, con-ta, sorriso simpático e aberto, olhos claros,enquanto ajeita o cabelo que o vento em Ser-ralves teima em despentear. “Depois, foramas minhas primas mais velhas. Lembro-mede ir vê-las vestir-se, chegar do cabeleireiro...Da sensação de não poder tocar no vestido,para não estragar. Quando chegou a minhavez, comecei a pensar no que ia vestir muitos

REVIVER O DEBUTEHÁ 17 ANOS, DEBUTARAMNA QUINTA DA PENHALONGA. DA ESQ. PARA ADIR.: MARTA ARAGÃOPINTO, VANESSA SALGA-DO (EM BAIXO), SOFIABRION, MATILDE HORTA ECOSTA, MAFALDA BRAVO,MARIA ANA DINIS, CAETA-NA CORRÊA DE BARROSE MARIA RICCIARDI

INÊS BRAVO (AGORABIANCHI) DEBUTOU EM1994, POR INFLUÊNCIA DAIRMÃ MAIS VELHA, MAFAL-DA. ADOROU AS AULASDE DANÇA E A VALSACOM O PAI. FOI ELA QUEENSINOU O MARIDOA DANÇAR, PARA OCASAMENTO DOS DOIS

MARIA JOÃO OLIVEIRA,35 ANOS, DEBUTOU EM1990, NO CLUB PORTUEN-SE. TODAS AS MULHERESDA SUA FAMÍLIA DEBUTA-RAM. PARA ELA, O DEBU-TE É UMA “CONVERSA DENATAL”. ADOROU O SEUBAILE. NUNCA TINHAVISTO TANTA GENTE

ANA MAIA PINTOA PSICÓLOGA, DE 32ANOS, CONTINUA AFREQUENTAR O CLUB,ONDE DEBUTOU COM OSPAIS. ACREDITA QUE ÉPELO AMBIENTE FAMI-LIAR QUE AQUELE SÍTIOEXCLUSIVO, RESERVADOAOS SÓCIOS, É ESPECIALF

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meses antes. Contactámos uma prima estilis-ta, e, como eu sabia exactamente o que que-ria, lá consegui fazer um vestido com umdecote que deixava os ombros de fora.” Tam-bém nessa noite as primas foram vê-la. Oritual repetia-se, mudavam as protagonis-tas. A avó pôs-lhe a écharpe fúcsia que esco-lhera para a diferenciar das demais... “Lem-bro-me de estar muito feliz na noite do bai-le. Saímos todos, eu e o meu pai muito uni-dos, e, segundos antes de entrarmos no sa-lão para ser apresentada, ele contou-meuma piada ao ouvido para eu descontrair. Omomento da valsa com o meu pai foi talvezo mais forte para mim. Depois, dancei a noi-te toda, até às 7h da manhã.” Maria Joãonão associa o baile de debutantes a um actoelitista — ela andou na escola pública, e boaparte da sua turma também debutou. “OClub Portuense faz parte de uma grande fa-mília. Continuo a frequentá-lo, com os meuspais, em jantares.”

Maria Manuel Ortigão de Oliveira parti-lha a mesma opinião. Para ela, o segredo doClub é o ambiente familiar que proporciona.“É o único sítio onde vejo toda a gente emfamília, os avós com os tios e os jovens emfesta, sem acharem uma seca”, diz. Debutoua 9 de Janeiro de 1960, um sábado, quando

tinha 17 anos. “Não se punha a hipótese denão debutar. Eu nasci, e comigo nasceu aideia do debute”, conta ela, que era a únicamenina. “Na altura, só uma determinadaclasse debutava. Hoje, não há o mesmo ri-gor.” Aos 66 anos, mãe de quatro filhos eavó de seis netos, viu as duas filhas debuta-rem e ainda uma das netas, este ano. “A ou-tra, de 12 anos, também queria quando viu ovestido da irmã”, ri-se. “É uma noite maravi-lhosa, com toda a gente muito bem vestida.”Para o seu baile, não teve aulas de dança.“Nós sabíamos dançar, não precisávamos deaprender a valsa. Antigamente, no dia a se-guir ao debute, íamos comer os restos aoClub, ao lanche. Era quase mais divertidoque o baile!”

Maria Manuel foi muitos anos ao baile doClub — ainda hoje vai —, sempre com o mes-mo vestido preto. O debute da filha, viveu-ocomo se fosse o dela. Deixou-a escolher qua-se tudo. “Trabalho, só deu a minha neta Be-nedita, que não queria ir. Debutou com o ves-tido de casamento da tia. Depois, adorou.Acabou, às 6h da manhã, na pastelaria Ra-inha da Foz (outra tradição do Porto), a to-mar o pequeno-almoço de vestido de gala.Que significado tem o baile de debutantes? Éum dia diferente.” n

“Na altura, sóuma determina-da classe debuta-va. Hoje, não háo mesmo rigor”

MARIA MANUEL ORTI-GÃO DE OLIVEIRADEBUTOU A 9 DE JANEI-RO DE 1960, NO CLUBPORTUENSE, COM 17ANOS. “NÃO SE PUNHAA HIPÓTESE DE EU NÃODEBUTAR”, EXPLICA.“EU NASCI, E COMIGONASCEU A IDEIADO DEBUTE”

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