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PRINCÍPIOS - A ADOÇÃO DE UM PARADIGMA COERENTE
Falar de princípios no direito brasileiro já se tornou lugar-comum... Manuais, tratados, artigos, periódicos e toda a gama de publicações acadêmicas ou voltadas para o público em geral, petições de processos judiciais, estão recheadas de referências a eles, desde o famoso "princípio da dignidade da pessoa humana1" até criações criativas como o "princípio da felicidade" ou "princípio da busca da felicidade2".
Não desprezo o imenso progresso da atribuição da devida eficácia aos princípios, sendo reconhecido a eles, junto com as regras, a integração ao gênero norma jurídica. O problemático é a existência do fenômeno denominado por STRECK3 como “panprincipiologismo” ou “abuso de princípios” na denominação feita por NEVES4
Tal fenômeno é caracterizado pelo uso acrítico e sem balizas dessa categoria de norma jurídica, de modo a albergar dentro dela argumentos retóricos carentes de densidade e até mesmo disparates que se prestam unicamente a justificar decisões discricionárias e alienadas de fundamento no ordenamento jurídico.
A noção de paradigma, tal como formulada por KUHN5 e levada ao mundo jurídico por BINENBOJM6, e que entendo como a realização de determinado indivíduo ou grupo que conquista uma adesão majoritária dentro de uma comunidade científica e que é aberta para abranger toda a espécie de problemas e soluções, possibilitando o delineamento de um saber científico, a sua construção através de perguntas, o seu aperfeiçoamento mediante a obtenção de resposta e a instituição de um cânone interpretativo, é essencial para dar um basta nesse problema que assola o Direito brasileiro como um todo.
Não proponho aqui a escolha de determinado modelo de princípio mas sim a adoção de um paradigma coerente, exigência basilar de todo sistema de saber organizado e inserta explicitamente no art. 926 da Lei 13.105/2015 (Novo CPC) como um atributo da jurisprudência dos tribunais, devendo tal comando pela coerência ser urgentemente utilizado para que os princípios ocupem seu espaço adequado de normas que permitem a abertura do sistema jurídico e não meramente argumentos retóricos para encobrir argumentos de toda a sorte.
1 Art. 1°, III, da CF/1988.2 Como afirma LENZA em http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/principio-constitucional-da-felicidade/
4502 e HORBACH em http://www.conjur.com.br/2013-ago-03/observatorio-constitucional-constitucionalizar-felicidade-cura-ou-placebo
3 STRECK, Lênio Luiz. HERMENÊUTICA JURÍDICA E(M) CRISE: Uma exploração hermenêutica da construção do Direito. Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 10ª ed, 2011, especialmente no item 5.3.4 – Os princípios constitucionais e a superação dos princípios gerais de Direito – o problema do panprincipiologismo, pp. 138 e ss.
4 NEVES, Marcelo. ENTRE HIDRA E HÉRCULES: Princípios e regras constitucionais como diferença paradoxal do sistema jurídico. São Paulo, Editora WMF Martins Fontes 1ª ed, 2013, especialmente o Capítulo IV – Uso e abuso de princípios à prática jurídico-constitucional brasileira, pp. 171 e ss.
5 KUHN, Thomas. A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS.6 BINENBOJM, Gustavo. UMA TEORIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO: Direitos Fundamentais, Democracia e
Constitucionalização. Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 2ª ed., 2008, pp. 26 e ss.