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PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MANEJO DAS PASTAGENS 1 Paulo César de Faccio Carvalho Zootecnista, Doutor em Produção Animal. Professor da Faculdade de Agronomia - UFRGS Independentemente do tipo de animal que utilizará a pastagem, os princípios básicos de manejo são os mesmos e valem para qualquer pastagem, em qualquer lugar do mundo. Esses princípios básicos giram em torno da administração de dois processos aparentemente conflitantes: as plantas necessitam de folhas para crescer, e os animais necessitam das folhas para se alimentarem. Como é impossível maximizar esses dois processos de forma simultânea, o sucesso no manejo de pastagens estará para aqueles que tenham sensibilidade de não fazer o pêndulo do manejo se deslocar numa única direção. O manejo que visa potencializar a produção de forragem se inicia na escolha de espécies forrageiras de boa qualidade, e se estende pela necessidade de se oferecer condições adequadas de crescimento a elas. A fertilização e o manejo da área foliar são os elementos centrais determinantes do crescimento da pastagem que mais podemos modificar através do manejo. Uma vez que se crie condições de obtenção de uma elevada produção de forragem, esta tem de ser colhida através do pastejo. O oferecimento da forragem através de uma quantidade que potencialize o consumo dos animais é essencial, pois a eficiência no colher a forragem produzida não significa, necessariamente, alta produção animal. Lotações excessivas são eficientes em colher forragem, mas produzem pastagens degradadas, cuja estrutura limita a ingestão de forragem e o desempenho dos animais. O manejo dos animais, destacando-se o controle da oferta de forragem e da altura da pastagem, é fundamental para se buscar acoplar o crescimento da pastagem à demanda dos animais. 1 Carvalho, P. C. F. . Princípios básicos do manejo das pastagens. In: Octaviano Alves Pereira Neto. (Org.). Práticas em ovinocultura: ferramentas para o sucesso. 1 ed. Porto Alegre: Gráfica e Editora Solidus Ltda., 2004, v. 1, p. 9-14.

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PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MANEJO DAS PASTAGENS1

Paulo César de Faccio Carvalho Zootecnista, Doutor em Produção Animal.

Professor da Faculdade de Agronomia - UFRGS

Independentemente do tipo de animal que utilizará a pastagem, os princípios básicos de manejo são os mesmos e valem para qualquer pastagem, em qualquer lugar do mundo. Esses princípios básicos giram em torno da administração de dois processos aparentemente conflitantes: as plantas necessitam de folhas para crescer, e os animais necessitam das folhas para se alimentarem. Como é impossível maximizar esses dois processos de forma simultânea, o sucesso no manejo de pastagens estará para aqueles que tenham sensibilidade de não fazer o pêndulo do manejo se deslocar numa única direção.

O manejo que visa potencializar a produção de forragem se inicia na escolha de espécies forrageiras de boa qualidade, e se estende pela necessidade de se oferecer condições adequadas de crescimento a elas. A fertilização e o manejo da área foliar são os elementos centrais determinantes do crescimento da pastagem que mais podemos modificar através do manejo.

Uma vez que se crie condições de obtenção de uma elevada produção de forragem, esta tem de ser colhida através do pastejo. O oferecimento da forragem através de uma quantidade que potencialize o consumo dos animais é essencial, pois a eficiência no colher a forragem produzida não significa, necessariamente, alta produção animal. Lotações excessivas são eficientes em colher forragem, mas produzem pastagens degradadas, cuja estrutura limita a ingestão de forragem e o desempenho dos animais. O manejo dos animais, destacando-se o controle da oferta de forragem e da altura da pastagem, é fundamental para se buscar acoplar o crescimento da pastagem à demanda dos animais.

1 Carvalho, P. C. F. . Princípios básicos do manejo das pastagens. In: Octaviano Alves Pereira Neto. (Org.). Práticas em ovinocultura: ferramentas para o sucesso. 1 ed. Porto Alegre: Gráfica e Editora Solidus Ltda., 2004, v. 1, p. 9-14.

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 2

Assim como os animais, as plantas também têm suas exigências. Os insucessos no estabelecimento ou manejo de pastagens, invariavelmente, decorrem do não atendimento destas. Os erros comuns na condução de uma pastagem podem ser evitados atendendo-se os 10 mandamentos de uma boa pastagem. São eles:

1) Não economize em sementes ou mudas. Use sementes e mudas de boa qualidade e em abundância.

2) Entenda que as plantas precisam ser alimentadas para produzir. Se o solo não for suficientemente fértil (99,99% dos casos...), o que elas necessitam tem que ser provido via fertilização. Faça periodicamente uma análise de solo. Não caia no conto da planta rústica que vai bem em qualquer solo, ou de métodos de pastejo que “criam nutrientes”.

3) Não coloque os animais na pastagem antes do tempo necessário ao seu pleno estabelecimento. O que você vê crescer acima do solo, também cresce abaixo dele. Espere as plantas dobrarem as folhas e cobrirem totalmente o solo. Em pastagens anuais de inverno, neste ponto algumas plantas já deverão entrar em estádio de pré-florescimento. Não se assuste, você não estará perdendo pasto. Ao contrário. Se a desculpa é que os animais estão precisando e você não pode esperar, você não está suficientemente bem organizado.

4) Entenda que a capacidade de suporte de uma pastagem significa a quantidade de animais que podemos ter nela com os animais expressando o máximo de seu potencial. Pastagem não é garagem ou galpão, e lotação não remunera. Para bem focar o manejo da pastagem, ajuda em muito refletirmos sobre qual o produto que a remunera. O que você vende da pastagem? Este produto é que tem que ser priorizado no manejo. Animais jovens, normalmente, aumentam o rendimento da pastagem por terem melhor conversão alimentar e porque uma mesma área alimenta mais animais jovens que animais adultos.

5) Não reclame que você não tem pasto. Toda e qualquer pastagem, em qualquer lugar do mundo, tem comportamento de

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crescimento errático e variável. Em determinados momentos do ano ela produz bastante e com qualidade, noutros é o inverso que acontece. O sucesso no manejo de pastagens é o resultado de como conseguimos nos adaptar, e nos moldar, a essas variações. Um exemplo muito simples disto é o direcionamento da estação reprodutiva dos animais visando concentrar parições primaveris. Há pastagens, em certos locais do mundo, que levam 1 ano para produzirem o mesmo que se produz num único dia no RS. Portanto, reflita antes de se julgar desafortunado.

6) Saiba que as pastagens necessitam de folhas para crescer. São elas que interceptam a radiação solar e a transformam em crescimento. Se faltarem folhas na pastagem haverá crescimento aquém de seu potencial. Sempre que houver eliminação demasiada de folhas, o crescimento será prejudicado.

7) Não ignore ou subestime sua pastagem nativa. As pastagens nativas, quando fertilizadas e bem manejadas, produzem tão bem quanto as melhores pastagens cultivadas. Se você acredita que esta afirmação não se aplica à sua, pense há quanto tempo ela não vem sendo bem tratada. Invista nela porque as espécies que ela contém certamente são as espécies mais adaptadas a sua região.

8) Permita aos animais consumirem o que eles mais gostam. O que define o desempenho de um animal em pastejo é a abundância de folhas que ele encontra para se alimentar. As folhas são as partes mais nutritivas e preferidas pelo animal. O manejo deve priorizar o fácil e abundante encontro do animal com elas. Manejar bem uma pastagem significa permitir os animais fazerem o que eles melhor aprenderam ao longo da seleção evolutiva, ou seja, exercerem seletividade no pastejo. Não confunda, como ocorre com muitos técnicos, pastejo seletivo com pastejo excessivo sobre espécies preferidas.

9) Conheça e respeite o zoneamento agroclimático para forrageiras, bem como as épocas de plantio. Por exemplo, pastagens perenes de verão têm poucas chances de sucesso nos Campos de Cima da Serra. Não existe espécie milagrosa que se adapte a todas as condições.

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10) O entendimento da relação entre taxa de lotação e o desempenho dos animais é primordial no manejo das pastagens (FIGURA 1).

Figura 1. Relação entre taxa de lotação e desempenho de cordeiros em pastagens. Taxas de lotação referentes a pastagens altamente produtivas (Reproduzido de HODGSON, 1990).

Em lotações muito baixas a pastagem não é bem aproveitada e perde qualidade, embora o desempenho individual dos animais seja elevado. Em lotações excessivas a pastagem parece ser melhor aproveitada, mas é menos produtiva porque as folhas são contínua e excessivamente consumidas. Em outras palavras, em lotações baixas há alto consumo de pasto por cabeça, mas pouco consumo de pasto por hectare. Em lotações altas ocorre o contrário, o consumo por hectare é alto, mas o consumo por animal é baixo. Portanto, o segredo é encontrar uma lotação moderada tal que signifique razoável consumo de pasto por animal e por hectare. Não há como ter as duas coisas ao mesmo tempo. O erro mais comum é o excesso de lotação por medo de perder pasto. Senescência é um processo natural das pastagens e não algo a ser interpretado como perda ou algo a ser combatido.

Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 4

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Para saber se a pastagem está sendo bem conduzida, eis aqui alguns indicadores práticos:

• Pastagem folhosa e abundante.

• Pouco ou nenhum solo descoberto.

• Pouca ou nenhuma espécie indesejável.

• Folhas com coloração verde intensa.

• Raízes profundas, abundantes e vigorosas.

• Os animais passam pouco tempo pastejando e bastante tempo ruminando ou em outras atividades. Mais do que 8 horas de pastejo por dia, em geral, significa insuficiência de alimento.

• Os animais pastejam ao início da manhã e ao final da tarde. Quando houver ciclos de pastejo ao meio-dia ou à noite, é um indicativo de falta de alimento.

• Os animais têm elevada condição corporal e apresentam desempenho próximo de seu potencial.

GLOSSÁRIO Altura da pastagem: corresponde à altura média das folhas na pastagem.

Forrageira: planta que serve para a alimentação dos animais.

Mantilho: material morto que fica acima do solo.

Lotação: número de animais por unidade de área.

Massa de forragem: quantidade de pasto encontrada num dado momento na pastagem.

Matéria seca: quantidade de pasto desprovido de seu teor em água.

Matéria verde seca: quantidade de pasto desprovido de seu teor em água e de todo e qualquer material senescente.

Oferta de forragem: quantidade de forragem disponível por dia para o animal.

Senescência: processo de morte dos tecidos das plantas.

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 6

Taxa de acúmulo: quantificação do crescimento diário da pastagem.

PARA SABER MAIS

CARVALHO, P. C. F. Relações entre a estrutura da pastagem e o comportamento ingestivo de ruminantes em pastejo. In: JOBIM, C. C. et al. (Eds.). SIMPÓSIO SOBRE AVALIAÇÃO DE PASTAGENS COM ANIMAIS, 1, Maringá-PR. Anais...1997. p. 25-52.

CARVALHO, P.C.F. Pastagens cultivadas para caprinos e ovinos. In: SALES, R. de O. (Org.). Pecnordeste 2002: compromisso com o desenvolvimento sustentável. VI. ed. Fortaleza, 2002, v. 1, p. 22-43.

CARVALHO, P.C.F.; POLI, C. H E C; HERINGER, I. et al. Normas racionais de manejo de pastagens para ovinos em sistema exclusivo e integrado com bovinos. In: SIQUEIRA, E. R. (Org.). Anais do VI Simpósio Paulista de Ovinocultura. 6. ed. Botucatu, 2002, v. 1, p. 21-50.

HODGSON, J. Grazing management: science into practice. Longman Handbooks in Agriculture. 203p. 1990.

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MANEJANDO PASTAGENS PARA OVINOS2

Paulo César de Faccio Carvalho3 Zootecnista, Doutor em Produção Animal.

Professor da Faculdade de Agronomia - UFRGS

A máxima do manejo de pastagens para ovinos é a de que “ovelha gosta de pasto baixo”. Esta frase, tão repetida, é fruto da correta observação, porém simplista, dos peões, técnicos e produtores de que as ovelhas, freqüentemente, se encontram nos locais onde o pasto é baixo. Elas raramente, pastejam os pastos altos. Observação correta, mas expressão equivocada. Confunde-se aquilo que é alto com aquilo que é grosseiro, de pior qualidade. A rejeição dos animais que é observada não se dá pela altura, e sim pelo teor de fibra. Este aparentemente inofensivo erro de interpretação tem enormes conseqüências negativas sobre a cadeia produtiva ovina e tem pautado ações de manejo que acarretam superpastejo pelo excesso de lotação e baixa produção de forragem pela excessiva remoção de área foliar. A conseqüência são índices zootécnicos muito aquém do potencial e pastagens degradadas. Tudo isto por se acreditar que os ovinos “gostem” de pasto baixo. Vejamos o quão perigoso pode ser este conceito.

A altura, de forma geral, é indicadora da quantidade de massa de forragem presente. Quanto mais alto for o pasto, maior a quantidade de alimento disponível ao animal (FIGURA 1).

2 O autor agradece o auxílio da Cabanha Cerro Coroado, sem o qual não seria possível a execução deste trabalho. 3 Carvalho, P. C. F. . Manejando pastagens para ovinos. In: Octaviano Alves Pereira Neto. (Org.). Práticas em ovinocultura: ferramentas para o sucesso. 1 ed. Porto Alegre: Gráfica e Editora Solidus Ltda, 2004, v. 1, p. 15-26.

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1500

2800

4100

5450

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

10 20 30 40

Altura da pastagem (cm)

Mas

sa d

e fo

rrag

em (k

g/ha

)

Figura 1. Massas de forragem encontradas em diferentes alturas

de manejo de uma pastagem de aveia + azevém (CASSOL et al., 2003, média de dois anos). Quanto maior a altura de manejo, maior

a quantidade de forragem.

Como pode ser observado na FIGURA 1, muito cuidado devemos tomar quando nos referimos a uma pastagem tentando classificá-la como alta ou baixa. Cada 1,0 cm a mais de altura numa pastagem consorciada de aveia + azevém, no exemplo acima, representa, aproximadamente, 130 kg de MS/ha. Esta quantidade de forragem, de um simples centímetro, pode alimentar um cordeiro a mais por hectare durante todo o ciclo da pastagem.

A altura de manejo não afeta somente a quantidade de alimento existente na pastagem, num dado momento, mas também a quantidade de alimento que é produzida diariamente na pastagem. Na FIGURA 2 pode-se verificar, através das fotos do perfil de uma pastagem de azevém, as massas de forragem decorrentes de um manejo com 5, 10, 15 ou 20 cm de altura e as respectivas taxas de acúmulo observadas nessas pastagens.

Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 8

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Figura 2. Taxas de acúmulo (kg de matéria seca/ ha/ dia) em

pastagens de azevém manejadas com cordeiros nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (PONTES et al., 2001). Pastagens muito baixas ou

muito altas produzem menos.

Observe que pastagens muito baixas produzem menos, isto porque há poucas folhas para interceptarem radiação solar e fazer crescimento. Já em pastagens demasiadamente altas, atinge-se o máximo de interceptação e o excessivo envelhecimento consome energia da planta, o que faz cair a produção.

A conseqüência das diferentes formas de condução da pastagem sobre o desempenho dos cordeiros pode ser atestada nas FIGURAS 3 e 4.

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113

219 221236

0

50

100

150

200

250

300

5 10 15 20

Altura da pastagem (cm)

Gan

ho d

e pe

so d

e co

rdei

ros

(g/d

ia)

Figura 3. Desempenho de cordeiros (g/dia) em pastagens de

azevém manejadas nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (CARVALHO et al., 2001a). Alturas de manejo abaixo de 10 cm em azevém

restringem o consumo de forragem e o desempenho de cordeiros.

240

662

480 461

0

100

200

300

400

500

600

700

800

5 10 15 20

Altura da pastagem (cm)

Gan

ho d

e pe

so v

ivo

(kg/

ha)

Figura 4. Desempenho de cordeiros (kg/ha) em pastagens de

azevém manejadas nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (CARVALHO et al., 2001a). O ganho por hectare é produto de bom ganho

individual multiplicado pelo nº de animais na área.

Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 10

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Nas pastagens excessivamente baixas a lotação é alta, mas o ganho de peso é baixo porque não existe alimento suficiente para todos. Nas pastagens manejadas acima de 15 cm a quantidade de alimento disponível por animal é maior que o necessário, e o desempenho não melhora a partir desse ponto. Pastagens manejadas a 10 cm permitem bom ganho de peso individual em lotações razoavelmente altas para proverem um bom rendimento por hectare. Notem a enorme diferença de rendimento da pastagem com poucos centímetros acima ou abaixo de seu ponto ótimo de manejo. Isto deve nos fazer refletir sobre o que consideramos como uma pastagem alta ou baixa, pois apenas 5 cm de altura a mais fazem mais que dobrar o rendimento da pastagem.

Outro componente a ser considerado quando nos reportamos a altura de manejo de uma pastagem diz respeito às temíveis verminoses. A FIGURA 5 demonstra que o pastejo baixo acarreta numa maior ingestão de larvas e, conseqüentemente, numa maior infestação dos animais (VLASSOF, 1982).

Figura 5. Distribuição vertical de larvas infectantes no perfil da

pastagem (VLASSOF, 1982). Ovinos que pastejam em estratos inferiores das pastagens, próximos ao solo, terão probabilidade de

terem maior ingestão de larvas.

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Grande parte das larvas está concentrada nos primeiros centímetros acima do solo por razões associadas ao microclima local. Pastagens excessivamente baixas aumentam a proporção de larvas expostas a condições climáticas adversas. Embora isto acarrete alta mortalidade de larvas, o potencial de infestação ainda é extremamente elevado na medida em que o número de ovos depositados é sempre impressionante (GUMBRELL, 1986).

Além dos fatores que vêm sendo mencionados, a altura de manejo afeta também a proporção de solo descoberto e a proporção de invasoras na pastagem. Em pastagens excessivamente baixas a cobertura do solo diminui e há aumento de plantas invasoras na medida em que a pastagem se enfraquece pela desfolha contínua e intensa.

O produto final, que é levado à mesa do consumidor, também é afetado pelas alturas de manejo (FIGURA 6).

1368

18131947

1811

0

500

1000

1500

2000

2500

5 10 15 20

Altura da pastagem (cm)

Peso

da

cost

ela

(gra

mas

)

Figura 6. Peso da costela de cordeiros (gramas) em pastagens

de azevém manejadas nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (OLIVEIRA et al., 2001a). O impacto das alturas de manejo sobre o ganho de

peso se refletem na carcaça dos animais.

O exemplo acima ilustra o efeito das alturas de manejo sobre o peso da costela. O mesmo tipo de resposta é observado para os pesos do carré, filé mignon, pernil e paleta, ou seja, os melhores rendimentos se encontram nas altura intermediárias. O próprio rendimento das carcaças apresenta a mesma resposta às alturas de manejo, sendo melhores para as pastagens manejadas entre 10 e 15 cm de altura (FIGURA 7).

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42,76

43,82

44,28

42,97

42

42,5

43

43,5

44

44,5

5 10 15 20

Altura da pastagem (cm)

Rend

imen

to d

e ca

rcaç

a (%

)

Figura 7. Rendimento da carcaça quente de cordeiros (%) em

pastagens de azevém manejadas nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (OLIVEIRA et al., 2001b). O impacto das alturas de manejo sobre o

ganho de peso se refletem na carcaça dos animais.

Quando se classificam as carcaças usando-se o Sistema Nacional de Classificação de Carcaças Ovinas, pastagens manejadas a 20 cm se destacam por produzirem a maior quantidade de carcaças tipo B, que são as melhores. Carcaças de baixa qualidade, tipo I, só são observadas em pastagens manejadas a 5 cm (FIGURA 8).

5 cm20 cm

Figura 8. Carcaças de cordeiros em pastagens de azevém

manejadas nas alturas de 5, 10, 15 e 20 cm (OLIVEIRA et al., 2001a). Na foto, as duas carcaças da esquerda são de pastagens

manejadas a 20 cm. As outras são de pastagens manejadas a 5 cm. As diferenças se produzem em apenas três meses de pastejo.

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As relações entre altura de manejo da pastagem e o rendimento animal foram ilustradas por resultados obtidos em azevém. Pode-se concluir que a melhor condução de manejo para uma pastagem de azevém seja através de uma lotação tal que a mantenha entre 10 e 15 cm de altura. Poucos centímetros a mais, ou a menos, influenciam fortemente o rendimento da pastagem. Portanto, muito cuidado com a afirmação de que ovelha gosta de pasto baixo (FIGURA 9).

Figura 9. Cordeiro pastejando numa “floresta de forragem”.

Revendo paradigma sobre altura de pastagem para ovinos.

O mesmo tipo de resposta se observa com todo e qualquer tipo de pastagem. Obviamente, as alturas ótimas de manejo não são as mesmas para as diferentes espécies forrageiras, mas é importante frisar que tudo acontece da mesma forma. Por exemplo, milheto pastejado por cordeiros a 10, 20, 30 e 40 cm acarretam em ganhos de peso da ordem de 67, 107, 116 e 121 g/dia, respectivamente. O impressionante, no entanto, é o efeito das alturas de manejo sobre a produção de matéria seca da pastagem e, consequentemente, sobre a lotação e o ganho por hectare (TABELA 1).

Tabela 1. Rendimento de uma pastagem de milheto conduzida em diferentes alturas (CASTRO, 2002).

Alturas de manejo

Produção de forragem

Lotação (cordeiros/ha)

Ganho de peso (kg/ha)

Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 14

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(cm) (t/ha)

10 10,3 49 443

20 19,2 75 763

30 18,8 83 859

40 20,6 70 801

Uma mesma pastagem de milheto, com o mesmo nível de adubação, pode produzir duas vezes mais apenas se modificando o manejo da altura! Notem o poder que o manejo priorizando a área foliar tem sobre o crescimento da pastagem. No caso de encontrar dificuldades em manter pastagens do tipo do milheto na altura indicada (30 cm), o uso de pastejo misto deve ser considerado com uma alternativa de manejo bastante recomendada (vide capítulos posteriores).

1 REFERÊNCIAS GERAIS DE MANEJO

amental para se corrigir e adequar o manejo a nos

al, hora para max A 2).

. Referênc e manejo

Forrageiras Categoria

Animal

e jo

(cm)

de

No intuito de prover elementos práticos de manejo, apresentamos algumas referências gerais que devem auxiliar no manejo das pastagens com ovinos. Algumas proposições não foram suficientemente estudadas e devem ser tomadas como indicadoras de manejo. A palavra final é do animal, e o controle de suas funções produtivas é fund

sos objetivos.

As recomendações são baseadas, dependendo da categoria animal, hora para maximizar o desempenho anim

imizar o desempenho da pastagem (TABEL

Tabela 2 ias gerais d de pastagen

Altura dmane

s

Massa deforragem

(kg MS/ha)

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 16

Pastagens de inverno

em 10-15 1600-2000 Animais crescimento

Ovelhas secas ou nos 2/3 iniciais da

10 1400-1600

gestação

Ovelhas no 1/3 final de gestação e

15-20 2000-2400

lactação

Pastagens de verão de porte decumbente -prostrado

em 15-20 2500-3000 Animais crescimento

Ovelhas secas ou nos 2/3 iniciais da

10-15 2000-2500

gestação

Ovelhas no 1/3 final de gestação e

20-25 3000-3500

lactação

Pastagens de verão de porte cespitoso

em 25 – 30 3500-4000 Animais crescimento

Ovelhas secas ou nos 2/3 iniciais da

20 – 25 3000-3500

gestação

Ovelhas no 1/3 final da gestação e lactação

30 – 35 4000-4500

Obviamente que existem diferenças entre espécies dentro de uma mesma classificação, assim como dentro de uma mesma espécie haverá pastagens que serão diferentes mesmo que conduzidas numa mesma altura por força de diferenças de fertilização, estádio fenológico, etc. Portanto, reiteramos que são números indicadores que deverão ser aferidos por meio da observação contínua da performance dos animais e das pastagens.

2 ESPÉCIES RECOMENDADAS

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As gramíneas cultivadas tropicais mais freqüentemente recomendadas são as dos gêneros Cynodon, Digitaria e Panicum,. No gênero Cynodon destacam-se o Coast cross, as estrelas e o Tifton 85. Pangola e Transvala têm sido as mais utilizadas no gênero Digitaria. O gênero Panicum é representado por iniciativas com o Aruana, particularmente em São Paulo, mas ainda de uso pouco expressivo. O Tanzânia é um outro Panicum maximum que pode vir a ser uma opção interessante, porém, gramíneas eretas e de alto potencial de crescimento são de difícil manejo. Pennisetum americanum, o milheto, é bastante utilizado no sul, mas é de difícil controle pela mesma razão do Panicum. Espécies estoloníferas e/ou rizomatosas, ao conterem estas estruturas, têm vantagem em suportar desfolhas intensas causadas por situações de mau manejo, freqüentes de se encontrar. Gramíneas do gênero Paspalum também têm sido usadas em alguns sistemas de produção, destacando-se a Pensacola. Cenchrus ciliaris (capim búfel), Urochloa mosambicensis (capim corrente) e o Andropogon gayanus (andropogon) são gramíneas recomendadas para a região do semi-árido nordestino. Brachiaria decumbens apresenta o problema do desenvolvimento do fungo saprófito que causa fotossensibilização. A Brachiaria humidicola seria uma opção para quem não exija qualidade. O kikuyo (Pennisetum clandestinum) e o capim de Rhodes (Chloris gayana) também são espécies recomendadas para pequenos ruminantes.

A Cunhã (Clitória Ternatea L.) e a erva-de-ovelha (Stylosanthes humilis) têm sido reportadas como as melhores opções de leguminosas para o nordeste brasileiro com vistas à melhoria do estrato herbáceo, enquanto o estrato lenhoso poderia ser melhorado com a introdução não somente da Leucena, mas também do sabiá (Mimosa caesalpinifolia), o mororó (Bauhinia cheilantha), a algaroba (Prosopis judiflora) e o carquejo (Caliandra depauperata). O Stylosanthes guyanensis seria recomendado particularmente para ovinos deslanados. O amendoim forrageiro (Arachis pintoi) parece ser uma alternativa bastante promissora para sistemas de produção ovina no RS. Sua morfologia é toda direcionada ao suporte de pastejo intenso. É agressiva e de alta qualidade, sendo conhecida como trevo branco dos trópicos. A variedade Alqueire foi desenvolvida especificamente para tolerância ao frio e geadas do inverno sulino.

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 18

Dentre as espécies de inverno mais comumente utilizadas no RS com ovinos estão o azevém anual (Lolium multiflorum) e a aveia preta (Avena strigosa). São espécies anuais, de excelente valor forrageiro. Muitas vezes são semeadas conjuntamente visando um período maior de utilização da pastagem, na medida em que a aveia é mais precoce, e o ciclo do azevém se estende até novembro. Dentre as leguminosas, destacam-se o trevo branco (Trifolium repens) e o cornichão (Lotus corniculatus). Também são espécies de alto valor forrageiro e altamente indicadas. O cornichão apresenta mais problemas para manejo com ovinos, pois expõe muito os seus pontos de crescimento, sendo sensível a pastejo intenso. Já o trevo branco tem sua morfologia completamente adaptada ao pastejo. O trevo vermelho (Trifolium pratense) e o vesiculoso (Trifolium vesiculosum) também são opções consagradas.

PARA SABER MAIS

CANTO, M. W.; MOOJEN, E. L.; CARVALHO, P.C.F. et al.. Produção de cordeiros em pastagem de azevém e trevo branco sob diferentes níveis de resíduos de forragem. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasilia, v. 34, n. 2, p. 309-316, 1999.

CARVALHO, P.C.F.; MARÇAL, G. K; RIBEIRO FILHO, H. M N; et al. Pastagens altas podem limitar o consumo dos animais. In: Anais da Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia Piracicaba-SP. FEALQ, 2001. v. 38, p. 265-266.

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FREITAS, T. M. S. ; CARVALHO, P.C.F.; NABINGER, C. et al. Produção de cordeiros em pastagem de azevém (Lolium multiflorum) submetida a doses de nitrogênio. 1. características da pastagem. Anais da Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba-SP:Infovia, 2003. p. 1-3.

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 20

EXIGÊNCIAS DE FORRAGEM DISPONÍVEL PARA OVINOS EM PASTAGENS 4

Paulo César de Faccio Carvalho5 Zootecnista, Doutor em Produção Animal.

Professor da Faculdade de Agronomia - UFRGS No capítulo anterior demonstramos como o manejo através da

altura da pastagem tem impacto sobre a produção ovina. Trata-se de uma ferramenta de manejo muito potente e de simples aplicação prática. Ela funciona muito bem pela simples e robusta relação entre altura da pastagem e quantidade de alimento disponível. A partir deste capítulo, para aqueles que queiram trabalhar numa sintonia ainda mais fina de manejo, utilizando vários conceitos, discutiremos os requerimentos específicos de diferentes categorias, utilizando-nos do conceito de oferta de forragem.

Oferta de forragem é um parâmetro central no manejo alimentar de qualquer animal em pastejo e indica a oportunidade de consumo de forragem que o indivíduo tem, ou seja, a quantidade de pasto de que o animal dispõe. Ela é o principal determinante do desempenho produtivo e do rendimento animal. A exemplo de sistemas confinados, onde se determina a quantidade e a qualidade do alimento para o animal através de cálculo em relação a suas necessidades, o mesmo tem que ser feito com relação à pastagem.

As situações que descreveremos correspondem a relações de oferta/demanda para ovelhas de 50 kg de peso vivo em pastagens cuja concentração energética seja de pelo menos 10,5 MJ de energia metabolizável (EM) por kg de matéria seca (alta qualidade).

1 EXIGÊNCIAS DE OVELHAS EM PASTEJO

3 O autor agradece o auxílio da Cabanha Cerro Coroado, sem o qual não seria possível a execução deste trabalho. 5 Carvalho, P. C. F. Exigências de forragem disponível para ovinos em pastagens. In: Octaviano Alves Pereira Neto. (Org.). Práticas em ovinocultura: ferramentas para o sucesso. Porto Alegre: Gráfica e Editora Solidus Ltda., 2004, v. 1, p. 29-38.

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O ganho de peso das ovelhas aumenta com o aumento da oferta de forragem, porém, a magnitude deste aumento depende do peso da ovelha e de sua condição corporal. Em ofertas de forragem menores, ovelhas leves ganham mais, ou perdem menos peso que ovelhas mais pesadas ou de maior condição corporal. Isto é resultado do maior valor energético do ganho em ovelhas de maior condição corporal (deposição de gordura) e da maior exigência de manutenção para as ovelhas mais pesadas.

Ovelhas secas, com condição corporal média e com peso de 50 kg, ingerem para sua manutenção algo em torno de 1 kg de MS/dia. Esta ovelha, parindo um cordeiro ao longo do ano, necessitará de 580 kg de MS para cumprir suas funções produtivas. O uso prático desta informação, por exemplo, pode ser ilustrado para um campo nativo que produza 2.000 kg de MS/ha/ano. Um campo desses pode suportar não mais que 3,5 ovelhas/ha.

A preparação de um novo ciclo produtivo se inicia com o manejo pré-encarneiramento. Os ganhos de peso e a taxa de ovulação aumentam com a oferta de forragem e a massa de forragem presente no potreiro (FIGURA 1). Altas ofertas de forragem não são suficientes quando oferecidas em situações de pastagens rapadas.

Figura 1. Efeito de ofertas (1 a 5 kg de MS verde/ovelha/dia) e

massas de forragem (500 a 2.500 kg de MS verde/ha) para ovelhas no ganho de peso, consumo, taxas de ovulação e de desmame

(RATTRAY et al., 1987).

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 22

Ovelhas que, no momento do encarneiramento, estejam ganhando peso, aumentam a taxa de ovulação e a conseqüência é um maior número de cordeiros desmamados por ovelha. Observa-se na FIGURA 1 a necessidade de, aproximadamente, 4 kg de matéria verde seca/ovelha/dia neste período, e que a pastagem tenha uma massa de forragem verde elevada para permitir que a ovelha possa colher aquilo que lhe é colocado em oferta. Pastagens rapadas com pouca massa (baixa altura) limitam a ingestão mesmo em altas ofertas.

Os 2/3 iniciais do período da gestação são caracterizados por um período de baixa exigência, onde o crescimento do feto é desprezível (em massa), e onde o consumo se situa na faixa de 1 kg de MS/ovelha/dia. Ofertas de forragem da ordem de 1,3 kg de MS/ovelha/dia podem ser suficientes para que as ovelhas atinjam este nível de ingestão. Uma ovelha nesta fase pode perder até 5% do seu peso vivo, sem representar prejuízo ao peso do cordeiro ao nascer.

O 1/3 final da gestação se caracteriza por um aumento da exigência da ovelha. Os ganhos de peso (ovelha+feto) não aumentam em ofertas de forragem superiores a 4 kg de MS/ovelha/dia. Massas de forragem abaixo de 1.000 kg de MS/ha limitam o ganho de peso nesta fase. BEATTIE e THOMPSON (1989) recomendam ofertas de forragem da ordem de 1,4 e 2,3 kg de matéria verde seca/dia, respectivamente para gestação simples e dupla, com níveis de consumo pretendidos de 1,13 e 1,8 kg de matéria verde seca/dia.

O peso do cordeiro ao nascer é determinado durante o 1/3 final da gestação e é este peso que é de extrema importância na maior ou menor ocorrência de mortalidade perinatal dos cordeiros. O aumento do peso ao nascer de 3,0 para 3,5 kg aumenta as chances de sobrevivência do cordeiro em aproximadamente 20%.

2 EXIGÊNCIAS DE CORDEIROS AO PÉ DA MÃE

Com a parição da ovelha inicia-se o grande desafio da produção de cordeiros. Trata-se de um período da mais alta exigência, onde a ingestão de forragem da ovelha é 2,5 vezes maior que o necessário

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para a manutenção. O objetivo deve ser maximizar todo o processo, permitindo que os cordeiros expressem o máximo ganho de peso.

A primeira fase é aquela na qual o desempenho do cordeiro é diretamente dependente do leite fornecido pela mãe e estende-se até aproximadamente seis semanas pós-parto. Nessa fase, ganhos de peso entre 300 e 350 g/dia são plenamente possíveis de serem atingidos e atestam o incomparável potencial que os cordeiros têm de ganhar peso, com índices de conversão de alimento comparáveis aos melhores sistemas de produção com monogástricos. A relação entre oferta de forragem e produção de leite é a mesma de outras funções produtivas (FIGURA 2).

Figura 2. Relação entre oferta de forragem e produção de leite

em ovelhas de parto duplo, com (�) ou sem ( ) perda de peso durante a gestação (GEENTY e SYKES, 1986).

Cada 6-7 litros de leite ingeridos são convertidos em 1 kg de ganho de peso. A ingestão de forragem dos cordeiros, então, começa a aumentar e a participação do leite no ganho de peso diminui de importância, particularmente quando os cordeiros atingem 12 semanas de vida. Ganhos de peso nessa fase, em geral, diminuem, atingindo 200 a 250 g/dia. No entanto, embora a contribuição do leite seja pequena em termos absolutos, em termos

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 24

relativos ainda é muito importante. Em cordeiros de 25 kg o leite ainda é responsável por 25% da energia ingerida. Além disto, cordeiros nesta fase ao pé da mãe têm baixa exigência energética para manutenção e alta exigência em aminoácidos, pois a composição do ganho de peso é basicamente derivada da deposição de proteína. O leite tem alta relação aminoácido/energia metabolizável e a sua alta densidade e acessibilidade pelo cordeiro asseguram o atendimento dos requerimentos e a manutenção de altas taxas de ganho. A privação desta importantíssima fonte de nutrientes, como por exemplo, em desmames antecipados, é mais do que um simples desafio nutricional para aquele que deve, então, substituí-lo por uma outra fonte alimentar.

Ofertas de forragem da ordem de 5-8 kg de MS/ovelha/dia são necessários para a ovelha e seu cordeiro enquanto permanecerem juntos. Logicamente, há uma variação nas exigências nessa fase, onde as exigências da ovelha diminuem e as do cordeiro aumentam (TABELA 1).

Tabela 1. Ofertas de forragem para ovelhas com parto simples ou duplo em relação às exigências de ovelhas e cordeiros para altos níveis de produção no período de lactação (GEENTY, 1986).

Partos simples Partos múltiplos

Mês de lactação 1 2 3 1 2 3

Produção de leite (kg/dia) 2,0 1,5 1,0 3,0 2,5 1,5

Consumo da ovelha* 2,0 1,7 1,5 2,8 2,5 2,0

Consumo do cordeiro* 0,34 0,9 1,2 0,2 0,42 0,75

Consumo ovelha + cordeiro* 2,34 2,6 2,7 3,2 3,34 3,5

Oferta de forragem* 5,0 6,0 7,0 6,0 7,0 8,0

(*) Unidade - kg de MS/dia

Os cordeiros quadruplicam a ingestão de forragem entre o 1º e o 3º meses de vida e esta necessidade é raramente prevista no manejo da pastagem. A conseqüência mais comum é um decréscimo no ritmo de crescimento do cordeiro pela sua incapacidade de competir com a ovelha pela forragem. Os “erros”

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de manejo associados à oferta de forragem insuficiente para a ovelha e sua cria têm, pois, efeitos distintos sobre o cordeiro segundo a sua dependência da pastagem (FIGURA 3).

Figura 3. Efeito da oferta de forragem para ovelhas no ganho de peso dos cordeiros nos 1º (�), 2º (∆) e 3º ( ) meses de lactação

(PENNING et al., 1986). Em situações de oferta deficiente, os cordeiros são fortemente penalizados a partir do 3º mês de vida.

Baixas ofertas de forragem no primeiro mês de lactação são, de alguma forma, sobrepujadas pela ovelha através do uso de sua reserva corporal e os ganhos de peso dos cordeiros não são muito afetados. O efeito negativo de baixas ofertas de forragem aumenta na medida em que o manejo incorreto torna mãe e filho competidores pelo mesmo alimento. No terceiro mês de lactação, onde os cordeiros já se tornaram efetivamente ruminantes e onde a participação da pastagem na dieta é grande, baixas ofertas de forragem limitam a ingestão dos cordeiros em detrimento das ovelhas, mais experientes no pastejo, e o custo é o baixo desempenho dos primeiros. De forma errônea, muitas vezes este baixo desempenho é associado ao início da infestação parasitária.

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 26

O manejo das pastagens, nessa fase, é fundamental no sucesso da exploração ovina. No entanto, é nela que vemos freqüentemente erros de manejo grosseiros, a ponto de vários técnicos entenderem que a única forma de lidar com o desafio do crescimento do cordeiro seja o de realizá-lo em confinamento. Assume-se o “papel de mãe”, e desmama-se o cordeiro quando se imagina que tenha capacidade de ruminante, acreditando ser esse o caminho mais fácil. Desmames antes de 14-16 semanas só em casos muito especiais, pois normalmente penalizam o cordeiro com uma perda de 1-2 kg de peso vivo ao longo do terceiro mês de vida (para desmames com 8 semanas), perda esta que pode atingir ocasionalmente 4-5 kg.

Em mercados, como o incipiente mercado brasileiro, onde o consumidor prefere carcaças pequenas, entre 12 e 16 kg, é plenamente possível que o cordeiro atinja 30 a 35 kg de peso aos 4 meses de idade, ao pé da mãe, numa situação onde se desmamaria “direto para o caminhão”. O planejamento adequado das pastagens associado aos cuidados preventivos de combate à verminose neste ciclo de 4-5 meses é muito mais simples que a interrupção da relação mãe-filho e o desafio de se assumir este papel. Ao contrário de sistemas de exploração de bovinos, onde esta prática pode beneficiar os índices reprodutivos, não se trata do mesmo processo no sistema com ovinos, onde há tempo mais que suficiente para recuperação da ovelha.

3 EXIGÊNCIAS PARA RECRIA DE CORDEIROS

Em casos extremos, onde não haja alimento suficiente para a ovelha e seu cordeiro, ou em situações de desmame normal com cordeiras, segue-se um período onde temos os animais num período pós-desmama. Este é caracterizado por queda acentuada de desempenho, fruto do estresse da desmama e da inexperiência de pastejo em animais jovens.

A TABELA 2 mostra como pode ser crítica esta fase através da eficiência obtida em diferentes ritmos de crescimento do cordeiro.

Tabela 2. Exigências nutricionais e eficiência de cordeiros em diferentes ritmos de crescimento do desmame (30 kg) ao abate (40 kg) (VIPOND, 1999).

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Exigências

Taxa de crescimento (g/dia)

Dias para terminação

Por dia (kg)

Total (kg)

100 100 1,0 100

200 50 1,4 70

300 33 1,7 55

Observa-se que ritmos modestos de crescimento são extremamente ineficientes e muito da forragem ingerida é utilizada em processos não produtivos, para a manutenção do cordeiro. Um animal com crescimento lento por uma baixa oferta de forragem ou pela oferta de uma forragem de qualidade insuficiente, utiliza duas vezes mais alimento que um outro cordeiro cujo potencial não esteja sendo, de alguma forma, limitado. Além disso, um menor ritmo de crescimento significa mais tempo para se chegar a um mesmo peso ao abate ou encarneiramento, aumentando o tempo de permanência do cordeiro na propriedade, com conseqüente dispêndio de mão-de-obra, insumos e risco de mortalidade.

A oferta de forragem que maximiza o desempenho dos cordeiros deve ser quatro vezes superior ao seu nível de ingestão potencial (GIBB e TREACHER, 1976). Isto significa que para um cordeiro preencher sua capacidade de consumo é necessário oferecer três a quatro vezes mais do que efetivamente ele consome! Neste cálculo incluem-se as condições necessárias para pastejo seletivo de alto nível de ingestão, bem como as exigências das plantas de área foliar residual permanente. O segredo, portanto, está no conhecimento de que quanto mais exigente for a categoria animal com que estamos trabalhando, maior a diferença entre o que devemos oferecer e o que o animal realmente consome.

PARA SABER MAIS CARVALHO, P.C.F.; POLI, C. H. E. C; PEREIRA NETO O. Manejo de pastagens para ovinos: uma abordagem contemporânea de uma

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Práticas em Ovinocultura – SENAR-RS 28

antigo desafio. In: SIMPOSIO PARANAENSE DE OVINOCULTURA. Ponta Grossa, 2001.

GIBB, M., TREACHER, T. T. The effect of herbage allowance on herbage intake and performance of lambs grazing perennial ryegrass and red clover swards. Journal of Agricultural Science, v.86, p.355-365. 1976

GEENTY, K. Pasture feeding for maximum lamb growth. In: In: Lamb growth. Lincoln College, NZ. p.105-110. 1983.

GEENTY, K., SYKES, A. R. Feed requirements of lamb between birth and weaning. In: Familton, A. S. (Ed.). Lamb growth. Lincoln College, NZ. p.95-104. 1983.

GUMBRELL, R. C. Miscellaneous diseases affecting the growth of lambs. In: Lamb growth. Lincoln College, NZ. p.161-164. 1983.

PENNING, P. D. Some effects of sward conditions on grazing behavior and intake by sheep. In: GRAZING RESEARCH AT NOTHERN LATITUDES, 1, 1985, Hvanneyri. Workshop..., 1986. p.219-226.

PENNING, P. D., HOOPER, G. E., TREACHER, T. T. The effect of herbage allowance on intake and performance of ewes suckling twin lambs. Grass and Forage Science, v.41, p.199-208. 1986.

RATTRAY, P. V., THOMPSON, K. F., HAWKER, H., et al. Pastures for sheep production. In: Nicol, A. M. (Ed.). Livestock feeding on pasture. New Zealand Society of Animal Production. p.89-104. 1987.

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Vipond, J. Finishing lambs at pasture. Grass Farmer. v. 63, p.6-7. 1999.

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PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA OVINOS

Paulo César de Faccio Carvalho1 Zootecnista, Doutor em Produção Animal.

Professor da Faculdade de Agronomia - UFRGS

Sistemas eficientes de uso da pastagem necessitam de algum grau de planejamento. Para se ter uma idéia do objetivo central do planejamento alimentar em pastagens, façamos uma comparação com alguém que fará um churrasco para a família. A partir de uma estimativa de quantas pessoas virão, e de quanto deverá comer cada uma dessas pessoas (demanda), providencia-se uma quantidade de carne que seja suficiente (oferta) para que todos comam a vontade. Exatamente assim deve ser encarado o planejamento alimentar na pastagem. Quando pretendemos alimentar algum rebanho, duas questões básicas têm de respondidas:

1) Quanto pasto eu tenho ?

2) Quantos animais eu alimento com tal quantidade de pasto?

O resultado da resposta às questões 1 e 2 é que direciona as ações de manejo. Se tivermos mais pasto do que precisamos, ou se temos mais demanda do que pasto, temos de tomar uma atitude visando a eficiência do processo. O que o planejamento proporciona é a quantificação da falta ou do excesso de forragem, o que torna as ações de manejo menos “artesanais”. Portanto, vejamos o que é necessário para responder a essas questões centrais do manejo. Usaremos um exemplo simples para ilustrar os princípios de um planejamento forrageiro.

1 QUANTO PASTO EU TENHO?

1 Carvalho, P. C. F. . Planejamento forrageiro para ovinos. In: Octaviano Alves Pereira Neto. (Org.). Práticas em ovinocultura: ferramentas para o sucesso. Porto Alegre: Gráfica e Editora Solidus Ltda., 2004, v. 1, p. 39-56.

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O procedimento para quantificar a quantidade de pasto existente num potreiro é, num primeiro momento, simples. É necessário:

- Uma balança que pese em gramas.

- Uma tesoura, tesoura de esquila, tesoura de jardim, etc.

- Sacos para recolher a amostra,

- Um quadrado de vergalhão de área conhecida (pode ser em formato de U),

- Forno de microondas, estufa ou fogão, para secar a amostra2

Digamos que o potreiro tenha uma área de 10 ha. Escolha vários lugares da pastagem que lhe parecem corresponder à média do potreiro3. Com um quadrado de ferro de área conhecida, por exemplo, 0,5 x 0,5 m (0,25 m2), corte todo o pasto contido dentro do quadrado, o mais próximo possível do solo, mas acima do mantilho. Recolha o pasto em um saco. Pese a amostra. No caso de ter microondas, ponha um copo de água junto com a amostra e seque em potência máxima por três minutos. Pese novamente a amostra, e novamente a coloque no forno de microondas por um minuto. Pese a amostra. Repita esta última operação até que se atinja um peso constante (não altere mais).

Digamos que a amostra tenha pesado 50 gramas, temos então que a quantidade de pasto contida no quadrado corresponde a 50 gramas de matéria seca4. Como o quadrado tem dimensões de 0,25 m2, isto significa 200 gramas de matéria seca/m2. Isto corresponde a 2.000 kg de matéria seca/ha, pois o ha tem 10.000 m2.

2 No caso de não ser possível secar as amostras, informe-se em tabelas de composição bromatológica das forragens e desconte o valor aproximado de teor em água. 3 Se o potreiro está sendo manejado em pastejo rotacionado, deve-se fazer o mesmo procedimento nos sub-potreiros. Dependendo da quantidade de divisões, não há necessidade de amostrar todos os sub-potreiros, mas é importante que igual número de amostras seja feito em todos os sub-potreiros amostrados. 4 As diferentes espécies forrageiras e mesmo uma mesma espécie pode ter um conteúdo de água bastante variável. Por isso, no planejamento devemos sempre trabalhar, com a forragem desprovida de seu teor em água, o que chamamos de matéria seca (MS).

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Finalmente, como o potreiro tem 10 ha, respondemos parcialmente à primeira pergunta. Naquele momento, contamos com 20.000 kg de matéria seca.

Algumas dicas são importantes para esta etapa. Como o conteúdo de poucos metros quadrados expressará a quantidade de pasto de vários hectares, a representatividade da amostra é fundamental. Sempre se questiona quantas amostras têm que ser feitas. Infelizmente, não há resposta objetiva para esta questão. Quanto mais variáveis forem as condições do potreiro, maior o número de amostras requeridas. Lembre-se que a idéia é bem representar a área, e deve-se cortar a quantidade de amostras necessárias para tal. Outro ponto importante é que qualquer material estranho à forragem, se for pesado junto, poderá induzir a erros enormes. Cada grama no exemplo acima corresponde a quase meia tonelada de pasto. Portanto, uma simples pedrinha, resíduos de solo, etc., que acompanhem a amostra são contaminantes que não podem ser pesados.

Retomemos os 20.000 kg de MS de que dispomos em todo o potreiro, que são os 2.000 kg de MS/ha que determinamos. Este quantificação da quantidade de pasto, como se viu, é instantânea, ou seja, temos um estoque imediato de forragem da ordem de 2.000 kg de MS/ha, valor este que denominamos, tecnicamente, de massa de forragem. Para responder totalmente à primeira pergunta, uma segunda informação faz-se necessária. Além de saber o quanto de pasto tenho hoje, qualquer planejamento só poderá ocorrer se soubermos quanto de pasto terei ao longo de um determinado período. Para isto, temos que medir o crescimento das pastagens, ou sua taxa de acúmulo. As necessidades de materiais são as mesmas para amostragem da massa de forragem, acrescidas de uma estrutura que isole uma pequena área (por exemplo, 1 m2) do pastejo dos animais. A criatividade é livre, mas uma opção simples, para ovinos, são telas para cerca que são atilhadas nas suas extremidades em conjunto com uma trama ou vergalhão que dê solidez à estrutura, que fica com um formato redondo (FIGURA 1).

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Figura 1. Gaiola de exclusão de pastejo para medição de taxa

de acúmulo.

O procedimento para quantificar o crescimento das pastagens também é simples. No mesmo momento em que se escolhe uma área representativa do potreiro para avaliação da massa de forragem, escolha um segundo local idêntico àquele em que você irá cortar a amostra e o proteja com a gaiola. O local amostrado, como vimos anteriormente, informa que, neste dia, temos o equivalente a 2.000 kg de MS/ha. O local protegido com gaiola deve ficar sem pastejo por um período de, por exemplo, 30 dias5. No final dos 30 dias, retira-se a gaiola e corta-se o pasto com o mesmo procedimento descrito anteriormente6. Digamos que o peso indique 7 gramas, ou o equivalente a 2.800 kg de MS/ha. Isto significa que em 30 dias teria havido um acúmulo de 800 kg de MS, equivalente a uma taxa de acúmulo de 26,7 kg de MS/ha/dia.

Com isto se tem as duas informações fundamentais para realizarmos um planejamento alimentar. Com elas temos que, num 5 Períodos muito menores, ou muito superiores a 30 dias aumentam o erro da estimativa de crescimento

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6 Em pastejo rotacionado não há necessidade de exclusão da área, pois a exclusão já se faz com o descanso. Amostre a massa de forragem do sub-potreiro que os animais acabaram de sair, e a massa de forragem do sub-potreiro que os animais estão para entrar. A diferença de massa entre eles, dividido pelo período de descanso nos dá a taxa de acúmulo.

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mês, contamos com um total de 28 000 kg de MS no potreiro para alimentarmos uma quantidade de animais a ser definida.

3 QUANTOS ANIMAIS EU ALIMENTO COM TAL QUANTIDADE DE PASTO ?

Supondo um grupo de cordeiros com 35 kg de peso vivo e utilizando as informações do capítulo anterior, onde um cordeiro de 35 kg ingeriria 1,7 kg de MS/ dia e que para que consiga ingerir isso plenamente é necessário lhe oferecer pelo menos 4 vezes mais forragem7. Isto nos dá uma necessidade diária de oferecimento, por cordeiro, de 6,8 kg de MS (1,7 x 4=6,8). Ao longo de 30 dias será necessário oferecer 204 kg de MS para cada cordeiro (6,8 x 30=204). Se na primeira etapa definimos que dispomos de 28.000 kg de MS ao longo do mês, concluímos que podemos lotar os 10 ha de pastagem com 137 cordeiros (28.000/204=137).

Cordeiros em crescimento têm requerimentos de consumo que podem variar de 2,8 a 6,0 % do peso vivo dependendo do ritmo de crescimento e do potencial genético. Ovelhas também têm variação de seu potencial de consumo, mas relacionado particularmente às diferentes fases de produção (FIGURA 2)

7 Este oferecimento superior ao consumo é o ponto chave do planejamento em pastagens, e o grande diferencial com relação a sistemas de alimentação em cocho. Nele estão incluídas as necessidades de um resíduo permanente na pastagem, perdas por pisoteio, dejeções, senescência, etc. Erros comuns são observados nesta etapa, e a conseqüência invariavelmente é a alocação excessiva de animais.

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Figura 2. Padrões anuais (em semanas pós-encarneiramento)

de requerimentos alimentares de ovelhas em produção e respectivas ofertas de forragem necessárias ao atendimento de tal demanda (em kg de MS/ovelha/dia). Reproduzido de BEATTIE e THOMPSON (1989).

Como pode ser visto, há momentos em que a oferta de apenas 3 kg de MS/ovelha é suficiente para atendimento de seus requerimentos. Isto ocorre quando ela está vazia ou nos 2/3 iniciais da gestação. Em outros, a oferta chega a 7 kg de MS/ovelha, situação esta que ocorre na lactação.

4 PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS PASTORIS

Para se fazer um planejamento ao longo prazo é importante que identificar tanto a oferta quanto a demanda numa escala anual. A FIGURA 3 ilustra essa recomendação através de um sistema de criação baseado em campo nativo com lotação de 4 ovelhas/ ha.

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25

30

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

meses do ano

Kg

de M

S/ha

/dia

Demanda Taxas de crescimento

Figura 3. Perfil alimentar de um rebanho ovino em pastagem

nativa no RS.

Note que as taxas de acúmulo do campo nativo são superiores à demanda do rebanho nos meses de verão e outono. Porém, no inverno a elevação da demanda do rebanho pela parição junto com a diminuição do crescimento do campo promove um acentuado déficit alimentar que ocorre justamente no final da gestação e todo período de lactação da ovelha. Para se atender a uma demanda próxima a 10 kg de MS/ha/dia neste período seria necessário uma pastagem que crescesse a uma taxa de 30 kg de MS/ha/dia, aproximadamente.

Através da concepção da FIGURA 3 consegue-se diagnosticar, localizar e quantificar os problemas alimentares de uma produção ovina corrente no RS. A Nova Zelândia é o país que melhor usa esses conceitos para o planejamento alimentar dos rebanhos. A sua experiência indica que a forma mais barata de produzir cordeiros é respeitando a curva de crescimento da pastagem, moldando a estação reprodutiva dos animais de modo a se encaixar da melhor forma os picos de demanda animal aos picos de crescimento da pastagem. O “deslocamento horizontal” da curva de demanda dos animais sempre é a alternativa mais barata e simples frente ao “deslocamento vertical” dela.

As taxas de acúmulo variam bastante para uma mesma pastagem em diferentes níveis de fertilização, épocas do ano, manejo, etc. Por exemplo, uma mesma pastagem de azevém

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manejada com ovelhas com cria ao pé, com a mesma fertilização de base, mesmo custo fixo de estabelecimento, mas recebendo diferentes doses de nitrogênio, pode produzir 6.000 kg de MS/ha ou 12.000 kg de MS/ha se aplicarmos 25 ou 325 kg de N/ha. Isso é só para ilustrar a magnitude das diferenças de crescimento que podemos encontrar para uma mesma pastagem. A avaliação, econômica e biológica, de diferentes doses de nitrogênio, neste trabalho, demonstrou que quando o custo é pago com crescimento de cordeiro ao pé da mãe a dose ótima de nitrogênio é em torno de 150 kg/ha.

Um outro exemplo interessante com respeito a taxas de crescimento vem de um experimento de engorda de cordeiros em azevém usando-se pastejo contínuo ou rotacionado (FIGURA 4).

Figura 4. Taxas de acúmulo em azevém manejado em pastejo

contínuo ou rotacionado com cordeiros (CAUDURO et al., 2004). Períodos 1= julho; 2=agosto; 3=setembro; 4=outubro

Pode-se observar que, embora a taxa de acúmulo média de todo o ciclo da pastagem tenha sida a mesma para ambos os métodos de pastejo (67 kg de MS/ha/dia), elas se comportam de forma diferente ao longo do ciclo de crescimento da pastagem. Se por um lado exista uma remoção de área foliar mais expressiva no pastejo rotacionado no início do uso do azevém, por outro lado isto

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faz com que, no final da estação de crescimento, uma menor população de perfilhos exista em fase reprodutiva, o que faz com que os métodos venham a se equivaler no final.

A taxa de acúmulo é uma variável fundamental no planejamento, pois a magnitude dela é que define em nível de lotação que podemos trabalhar. Se você não puder medi-la a campo, procure valores aproximados fornecidos pela pesquisa.

5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ROTACIONADOS

Sistemas de utilização de pastagens que fazem uso de pastejo rotacionado têm algumas particularidades para o planejamento forrageiro. Longe de se pretender esgotar o assunto, pretendemos apenas fornecer elementos básicos para iniciar aqueles que, porventura, queiram utilizá-lo.

Antes de abordarmos esse assunto, é importante que se coloquem os métodos de pastejo, contínuo e rotacionado, nos seus devidos lugares, ou seja, eles são apenas ferramentas que escolhemos para fornecer forragem aos animais. Não se esqueça que o método não alimenta o animal. O método não “cria nutrientes”. Não é o fato de que o animal fique no mesmo potreiro toda a sua vida, ou que “rode pela direita, ou pela esquerda”, que fará com ele tenha desempenho adequado. O que é fundamental é a quantidade de alimento que disponibilizamos aos animais. O método, como diz a palavra, é apenas a forma com que fazemos chegar esse alimento até os animais. Portanto, não se baseie em discussões apaixonadas para se definir por um ou outro método, pois o “time do torcedor” é sempre o melhor. Se você quer uma dica, use aquele que considere ser o mais adaptado às características de sua propriedade, que você se sinta mais a vontade para manejar e, principalmente, aquele que lhe traga mais segurança para conseguir atingir as metas de oferta de forragem necessárias aos animais. Inúmeras informações de pesquisa, de vários locais do mundo, nas mais diferentes situações, demonstram que os métodos de pastejo são praticamente idênticos em desempenho animal, quando comparados em ofertas de forragem adequadas aos animais.

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Para se planejar um sistema rotacionado, uma fórmula simples para se calcular o número de sub-potreiros necessários é:

NP = PD/PO + 1

Onde NP é o número de sub-potreiros, PD refere-se ao período de descanso da pastagem, e PO o período de ocupação dos animais no sub-potreiro. Um sistema que se planeje um PO de 4 dias e um PD de 28 dias tem que ser constituído de 8 sub-potreiros pois:

NP=28/4 + 1

NP=8

A particularidade do PO quando utilizamos ovinos é que ele não deve ser superior a 5 dias, caso contrário o risco de infecção parasitária é bastante elevado, pois as larvas depositadas nos primeiros dias do período de uso do potreiro atingem a forma infectante (L3) neste período. Por outro lado, quanto menor o período de ocupação, maior o número de divisões e maior o custo com cercas, etc. Informações de pesquisa informam que muito pouco benefício ocorre quando o número de potreiros for superior a 12. Do ponto de vista de flexibilidade, uma estrutura com 28-30 potreiros permite períodos de descanso de:

- 28 dias, com PO de 1 dia

- 56 dias, com PO de 2 dias

- 84 dias, com PO de 3 dias

Esta flexibilidade pode ser importante em sistemas de ciclo completo, pois os ventres em produção atravessam na pastagem por períodos de alta produção de forragem, e outros de pouca produção ao mesmo tempo em que seus requerimentos podem variar em até 3 vezes. Neste caso, pode ser interessante ter uma estrutura com maior número de potreiros,.pois o manejo é facilitado.

Com relação ao PD, normalmente usa-se períodos de descanso menores no período de crescimento da pastagem, e maiores no restante do ano. Assim como no pastejo contínuo, o segredo do bom uso do pastejo rotacionado é o acompanhamento da curva de crescimento da pastagem. Para isso, em pastejo rotacionado, é necessário algum tipo de flexibilidade no ciclo de pastejo.

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Pastagens de alta produtividade, em situações climáticas favoráveis, podem requerer pastejo a cada 3 semanas!

Para ilustrar a possibilidade de definição do PD, tomemos um exemplo neo-zelandês de planejamento para ovelhas no início da gestação no período de menor crescimento da pastagem (MATTHEWS et al., 1999).

Perfil do sistema

Tamanho da propriedade: 100 ha

Rebanho: 1200 ovelhas

Massa de forragem média na propriedade: 1200 kg de MS/ha em 01/04. Meta de se chegar com 1500 kg de MS/ha em 01/08.

Meta de consumo no período: 1 kg de MS/ovelha/dia

Taxa de acúmulo média no período de inverno: 10 kg de MS/ha/dia

No início de maio, a massa de forragem pré-pastejo é de 1600 kg de MS/ha, e a massa de forragem pós-pastejo é de 800 kg de MS/ha.

Cálculo

As ovelhas ingerem 800 kg/ha da massa de forragem, pois a massa de forragem pré-pastejo é de 1600 kg de MS/ha, e quando os animais deixam o sub-potreiro a massa de forragem pós-pastejo é de 800 kg de MS/ha. Há que se repor essa massa.

Além disso, a massa de forragem média na propriedade é de 1200 kg de MS/ha. Para adequada alimentação das ovelhas na parição é necessário que essa massa chegue a 1500 kg de MS/ha no início de agosto. Tem-se, portanto, a necessidade de um acúmulo de 800+300=1100 kg de MS/ha. Como a taxa de acúmulo no período é de 10 kg de MS/ha/dia, para se acumular os 1100 kg de MS/ha necessários requere-se um período de descanso de 1100/10=110 dias.

Pode-se usar o exemplo acima para se calcular o PD, sabendo-se que é necessário uma estimativa da taxa de acúmulo e das massas de forragem como acima demonstrado.

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Uma dica importante em pastejo rotacionado é que o desempenho dos animais é diretamente relacionado à massa de forragem pós-pastejo. Quanto menor a massa de forragem pós-pastejo, menor o consumo de forragem dos animais e menor o desempenho animal. Portanto, se o sub-potreiro fica completamente rapado na saída dos animais, isto não é sinal de bom manejo.

Por último, prefira formato de potreiro circular e quadrado. Potreiros retangulares, triangulares e outros consomem mais cerca pela mesma unidade de área.

5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PASTEJO MISTO

A exploração integrada, ou pastejo misto, envolve mais de uma espécie de herbívoro pastejando um mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em períodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das espécies animais envolvidas (CARVALHO e RODRIGUES, 1997). Praticada em várias partes do mundo, a exploração integrada tem em sua fundamentação a maximização da utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de produção animal que ultrapasse a soma do ganho das espécies utilizadas de forma isolada.

CARVALHO et al. (2002) resumiram assim as benesses do pastejo misto para o manejo da pastagem e produção das espécies envolvidas:

- Vantagens sanitárias que resultam na menor incidência de parasitas de uma espécie sobre a outra e da maior limpeza da pastagem, conseqüência da remoção de larvas pelo pastoreio com animais resistentes a espécies distintas do hóspede normal.

- Aproveitamento de áreas inacessíveis, com base na tendência dos bovinos de utilizarem as áreas planas, enquanto que caprinos e ovinos se aproveitam de áreas acidentadas.

- Complementaridade potencial em pastejo.

- Utilização de ofertas de alto valor nutritivo aos animais em produção, sem prejuízo do uso correto da pastagem, quando o

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rebanho é dividido em classes de produção, iniciando-se com o grupo mais produtivo.

- Aumento da capacidade de suporte em decorrência das diferentes preferências alimentares (aumento do número de itens vegetais que se constituem em forragem).

- Diversificação da produção.

- Melhor aproveitamento da forragem disponível. Em pastagem cultivada, apesar da menor heterogeneidade do recurso forrageiro, uma superioridade na eficiência de utilização da pastagem de no mínimo 10 % pode ser esperada em se utilizando pastejo misto, sendo que este efeito estaria principalmente associado à utilização da forragem rejeitada pelos bovinos.

- Manipulação da estrutura da vegetação. Nota-se uma menor porcentagem de material morto na forragem em oferta, e uma densidade maior dos perfilhos situados próximos a locais de dejeção no pastejo misto bovino/ovino. A melhoria no uso deste tipo de forragem facilita a penetração de luz na base da pastagem, favorecendo o aumento do perfilhamento, incrementando, portanto, a produção de forragem.

- Estabilidade em ecossistemas complexos.

- Controle de espécies indesejáveis.

Portanto, o pastejo misto é uma técnica altamente desejável no manejo de pastagens, particularmente de pastagens naturais. No entanto, ela vem sendo cada vez menos usada pela diminuição do rebanho ovino, e pela “especialização” crescente dos sistemas de produção.

Se você quiser fazer uso do pastejo misto para melhorar o desempenho de seus ovinos, por exemplo, é importante que saiba como planejá-lo. Para calcularmos a lotação em pastejo misto é necessário esclarecermos os conceitos de unidade animal e taxa de substituição partindo de uma simples pergunta: Quantas ovelhas equivalem a uma vaca?

Embora existam diferenças entre indivíduos e espécies, o peso vivo elevado à potência 0,75 (PV0,75) define o tamanho metabólico de um animal. Ele expressa o fato de que animais menores produzem mais calor e consomem mais alimento por unidade de

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peso vivo que animais de porte maior. Por exemplo, uma vaca de 450 kg e uma ovelha de 50 kg têm tamanhos metabólicos da ordem de 97,7 e 18,8, respectivamente. A relação em peso vivo é de 9:1, mas a correta é, levando em consideração o tamanho metabólico, de aproximadamente 5:1. Utilizaremos a definição empregada pela Society for Range Management, segundo a qual uma vaca adulta de 454 kg , seca ou com cria de mais de 6 meses e com um consumo de 12 kg de matéria seca/dia equivale a uma unidade animal (U.A.). Esta definição é muito interessante porque define uma unidade de demanda animal de 12 kg de MS/dia que pode ser utilizada para se calcular qualquer taxa de substituição. Exemplificaremos este cálculo assumindo uma pastagem onde se utiliza uma lotação de 2 U.A./ha. Para simplificação do raciocínio assumiremos que esta pastagem vinha sendo manejada com duas vacas de 450 kg /ha. Pretende-se iniciar o emprego de exploração integrada e decide-se substituir uma das vacas por ovelhas. O cálculo é o seguinte:

1) fazer a equivalência do animal a ser substituído em unidade animal;

1 vaca de 450 kg = 1 unidade animal (U.A.)

2) transformar a quantidade de unidade animal a ser substituída pelo número de animais da espécie que fará a substituição;

1 (U.A.) = 5 ovelhas

3) utilizando os dados contidos em CARVALHO et al. (2002), considerar a taxa de sobreposição de dietas entre as espécies

No referido trabalho demonstra-se que, em pastagens naturais, o índice de sobreposição de dietas pode ser de apenas 50 %, ou seja, apenas 50 % do que ovinos e bovinos consomem constituem-se nas mesmas plantas. Neste caso:

n° de animais / taxa de sobreposição

5 ovelhas / 0.5 = 10 ovelhas

A taxa de substituição de vaca:ovelha nestas condições é de 1/10. A grande limitação para o emprego correto da taxa de substituição é que, embora a equivalência animal possa ser facilmente calculada ou mesmo encontrada em tabelas, a taxa de

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sobreposição é extremamente variável em função da época do ano e do tipo, abundância e diversidade da forragem em oferta e esta informação é praticamente indisponível em nossas condições. Considerando uma pastagem mono-específica a taxa teórica de sobreposição passa a ser 100 %.

Um forte apelo do pastejo misto está no impacto sobre a sanidade dos ovinos. Vários trabalhos demonstram a diminuição da infestação parasitária como produto da redução da densidade de ovinos por unidade de área. Várias são as possibilidades de planejamento do pastejo misto. Aqui ilustramos uma delas onde se observam ovelhas e vacas em pastejo rotacionado “desencontrado” (FIGURA 5).

Figura 5. Pastejo misto em sistema rotacionado

“desencontrado”. O número de potreiros e a posição dos lotes é meramente ilustrativa.

Apesar de haver infestação cruzada, há menor infestação pela associação do descanso com a diminuição da densidade específica dos ovinos.

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Erroneamente se afirma que em pastejo rotacionado a ovelha deve ir após os bovinos para “acertar o pasto”, como se ela fosse uma roçadeira qualquer. Deve-se saber que vai na frente (entra primeiro no potreiro) aquela categoria que, naquele momento, é a mais exigente.

PARA SABER MAIS

BARBOSA, C. M. P.; CARVALHO, P. C. F.; CAUDURO, G.F. et al. Produção de cordeiros em pastagem de azevém anual (Lolium multiflorum Lam) manejada em diferentes intensidades e métodos de pastejo. Anais da 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. p. 1-4.

CARVALHO, P. C. F.; PONTES, L. da S.; BARBOSA, C. M. P.; et al. Pastejo misto: alternativa para a utilização eficiente das pastagens.In: Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94.

CARVALHO, P. C. F., RODRIGUES, L. R. A. Potencial de exploração integrada de bovinos e outras espécies para utilização intensiva de pastagens. In: PEIXOTO, A. M., et al. (Eds.). SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS: PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO, 13, Piracicaba-SP. Anais...1997. p. 275-301.

CAUDURO, G. F.; CARVALHO, P. C. F.; BARBOSA, C. M. P.; et al. Dinâmica da produção vegetal de pastagem de azevém anual (Lolium multiflorum Lam) submetida a intensidades e métodos de pastejo com cordeiros. Anais da 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. p. 1-5.

MATTHEWS, P.N.P.; HARRINGTON, K.C.; HAMPTON. J.G. Management of grazing Systems. In: New Zealand Pasture and Crop Science. 1999. pg 153-174.

NRC. Nutritional Requirements of Sheep. 1985. 99 pg.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Planejamento alimentar de animais: proposta de gerenciamento para sistema a base de

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pasto. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre, v. 07, n. 01, p. 145-156, 2001.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Requerimentos nutricionais dos ovinos. In: OLIVEIRA, N. M. de. (Org.). Sistemas de criação de ovinos nos ambientes ecológicos do sul do Rio Grande do Sul. Bagé, 2003, p. 67-72.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Sistemas de alimentação para os ovinos em pastagens cultivadas. In: OLIVEIRA, N. M. de. (Org.). Sistemas de criação de ovinos nos ambientes ecológicos do sul do Rio Grande do Sul. Bagé, 2003, p. 81-86.

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