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PRINCÍPIOS DE DIREITO DE EMPRESA Não é possível negar a importância da pessoa jurídica e da empresa na sociedade contemporânea, e, como partes integrantes da trama social que são, o Estado, por força do Direito, deve tutelar estes institutos de forma a efetivar direitos, garantias e proteções estabelecidas no contrato social. Para isso, o legislador e a doutrina desenvolveram diversos princípios para tutelar relações referentes ao Direito de Empresa, listadas abaixo. Princípios Constitucionais: Princípio da liberdade de iniciativa: por meio deste princípio é assegurado a todos o livre exercício de atividade econômica organizada lícita, sem previa autorização de autoridade estatal, salvo exceções legais, como é o caso da sociedade estrangeira (Artigo 1134 do Código Civil, caput). Princípio da liberdade de concorrência: em termos simples, concorrência é a disputa lícita entre pessoas jurídicas em condições de igualdade por espaço no mercado consumidor. A liberdade de concorrência impõe às pessoas jurídicas um constante aprimoramento de seus métodos tecnológicos e dos seus custos, e tem como resultado o aumento da qualidade de produtos e serviços, bem como queda de preços de mercado, beneficiando o consumidor final. Por conta disto, o princípio da livre concorrência não tolera o regime de monopólio na forma de cartel e truste, espécies de crimes contra a ordem econômica, tributária e relações de consumo em que sociedades do mesmo gênero se organizam para dominar e suprimir a livre concorrência e ditar preços, o que prejudica o comprador e afeta o equilíbrio da ordem econômica, pois raramente é mantida uma faixa de preço condizente com aquela que existiria caso houvesse livre concorrência.

Princípios Constitucionais de Direito de Empresa

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listagem de alguns princípíos de direito de empresa

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PRINCPIOS DE DIREITO DE EMPRESANo possvel negar a importncia da pessoa jurdica e da empresa na sociedade contempornea, e, como partes integrantes da trama social que so, o Estado, por fora do Direito, deve tutelar estes institutos de forma a efetivar direitos, garantias e protees estabelecidas no contrato social. Para isso, o legislador e a doutrina desenvolveram diversos princpios para tutelar relaes referentes ao Direito de Empresa, listadas abaixo. Princpios Constitucionais:Princpio da liberdade de iniciativa: por meio deste princpio assegurado a todos o livre exerccio de atividade econmica organizada lcita, sem previa autorizao de autoridade estatal, salvo excees legais, como o caso da sociedade estrangeira (Artigo 1134 do Cdigo Civil, caput).Princpio da liberdade de concorrncia: em termos simples, concorrncia a disputa lcita entre pessoas jurdicas em condies de igualdade por espao no mercado consumidor. A liberdade de concorrncia impe s pessoas jurdicas um constante aprimoramento de seus mtodos tecnolgicos e dos seus custos, e tem como resultado o aumento da qualidade de produtos e servios, bem como queda de preos de mercado, beneficiando o consumidor final. Por conta disto, o princpio da livre concorrncia no tolera o regime de monoplio na forma de cartel e truste, espcies de crimes contra a ordem econmica, tributria e relaes de consumo em que sociedades do mesmo gnero se organizam para dominar e suprimir a livre concorrncia e ditar preos, o que prejudica o comprador e afeta o equilbrio da ordem econmica, pois raramente mantida uma faixa de preo condizente com aquela que existiria caso houvesse livre concorrncia.Princpio da funo social da pessoa jurdica: via de regra, o indivduo ocupa a maior parte do seu tempo no trabalho, exercido no estabelecimento empresarial, ou no local onde se encontra o complexo de bens materiais e imateriais para o exerccio da atividade econmica organizada. Portanto, possvel afirmar que a pessoa jurdica possui forte carter social, uma vez que absorve mo de obra beneficiando a comunidade em que atua, alm disso de possuir carter econmico igualmente forte, devido sua contribuio para a arrecadao de impostos que sustentam o estado e movimentam a economia pela circulao de bens e servios. A funo social da pessoa jurdica alcanada quando, alm de cumprir os papis supramencionados, ela propaga outros valores protegidos constitucionalmente, como a solidariedade, a justia social, a busca do pleno emprego, a reduo das desigualdades sociais, os valores sociais do trabalho, a dignidade da pessoa humana, observa os valores ambientais, dentre outros princpios constitucionais e infraconstitucionais.Princpio da liberdade de associao: este princpio assegura a liberdade de reunio e associao pacfica e para fins lcitos de um grupo de pessoas agregadas com objetivos comuns, por motivo de interesses econmicos, profissionais e outros, sem constrangimento por parte do Estado. Um evidente exemplo a vedao Constitucional exigncia de autorizao estatal para a fundao de sindicato. Da mesma forma, sem previa autorizao do estado, as pessoas so livres para criarem empresas individuais de responsabilidade limitada e contratarem sociedades empresrias, observando-se determinados empreendimentos excepcionais que exigem prvia autorizao para funcionamento.Princpios infraconstitucionais:Princpio da preservao da pessoa jurdica: a preservao da atividade empresarial no abrange s a proteo dos interesses individuais do titular, scios e acionistas, como tambm da empresa individual, da sociedade empresaria e acima de tudo da coletividade. Isto se d por conta da fundamental importncia da pessoa jurdica na sociedade, j que a atividade empresarial influi diretamente na gerao de empregos, na arrecadao de tributos e no consumo. Portanto, no h dvidas que a falncia de uma empresa representa o fim de empregos e a queda na arrecadao de tributos, gerando problemas para a economia regional e/ou nacional interferindo direta e negativamente na misso constitucional de consolidar os direitos do indivduo. A lei contm normas que tm como objetivo a preservao da pessoa jurdica, como os artigos 1028 a 1032 do Cdigo Civil, que tratam da resoluo da sociedade em relao a um scio, ou seja, dissoluo parcial, ruptura do vnculo contratual de um scio em relao sociedade contratual no caso de retirada voluntria, excluso ou falecimento. No ocorre a ruptura de todos os vnculos contratuais dos scios que participam da pessoa jurdica com a sua consequente extino, o exerccio da atividade econmica organizada tem continuidade com os demais scios. Vale citar tambm o artigo 50 do Cdigo Civil, que cuida da desconsiderao da personalidade jurdica, hiptese em que a sociedade empresria preservada e a pessoa que tem acesso a sua administrao e que usou da sua personalidade jurdica endividando-a em proveito prprio ou de terceiros, mediante fraude a credores e abuso de direito, responde de forma pessoal e direta pelos danos decorrentes do ilcito. Por ltimo, os artigos 47 e seguintes da lei 11101/2005 que dispe sobre falncia e recuperao de empresas, versam sobre recuperao da pessoa jurdica em crise que tem como escopo a preservao da atividade econmica organizada, principalmente por conta seu j mencionado relevante valor social. Visa criar mecanismos para que a pessoa jurdica volte a ser saudvel e pague seus dbitos, com base num plano de recuperao que pode ter como esteio um ou mais meios exemplificativos elencados no artigo 50 do aludido diploma legal, como a ampliao dos prazos de pagamento aos credores e reduo dos seus crditos e operao de incorporao ou fuso.Princpio da autonomia patrimonial da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) e da sociedade empresria: a empresa individual de responsabilidade limitada e sociedades empresrias adquirem personalidade jurdica com o arquivamento do ato constitutivo na Junta Comercial do local de sua sede, autarquia federal, com jurisdio administrativa estadual, subordinada ao Ministrio do desenvolvimento, indstria e Comrcio Exterior, que tem entre as suas atribuies a administrao e execuo dos servios de Registro Pblico de Empresas Mercantis e Atividades Afins, como anotado nos artigos 967 do Cdigo Civil e 3, caput e inciso II, do Decreto 1800/1996. A personalizao jurdica tem como resultado separao entre o patrimnio social da pessoa jurdica e o patrimnio particular do titular, scios e acionistas que dela participam. Em outras palavras, com o registro a pessoa jurdica adquire nome empresarial com exclusividade amparado por lei, capital e patrimnio social prprios, distintos de seu titular, scios e acionistas, direitos prprios e responde pelas obrigaes contradas em seu nome empresarial. As obrigaes de um no podem ser imputadas a outro, protegendo ambos de serem alvos de execuo na hiptese de insolvncia de qualquer uma das partes, formando assim importante proteo personalidade, seja jurdica ou fsica. Todavia, a regra da irresponsabilidade do titular, scios e acionistas pelas obrigaes sociais contradas em nome da pessoa jurdica perante terceiros comporta excees previstas em lei (ex: arts 50 e 1052 do Cdigo Civil)Princpio da subsidiaridade da responsabilidade do titular, scios e acionistas pelas obrigaes sociais: em razo da personalizao da EIRELI e das sociedades empresrias, o titular, scios e acionistas respondem de forma subsidiria ou com benefcio de ordem, em relao pessoa jurdica, pelas obrigaes sociais contradas em seu nome, perante terceiros. Em outras palavras, em primeiro lugar responde a pessoa jurdica, s depois de exaurido o patrimnio social que se pode cogitar de comprometimento do patrimnio particular ou pessoal do titular, scio e acionista para a satisfao de dvida social perante terceiros. Por proteo do Cdigo Civil (Artigo 1024), o titular da empresa individual e os membros da sociedade empresria podem sempre se valer do benefcio de ordem, pela indicao de bens sociais livres e desembaraados sobre os quais pode recair a execuo da obrigao contrada em nome da pessoa jurdica.A nica exceo regra geral da responsabilidade subsidiria est na responsabilizao do scio que atua como representante da sociedade em comum que irregular na sua constituio, porque no registrou o ato constitutivo no rgo competente. Para ele, a lei fixa a responsabilizao pessoal e direta, no subsidiria, conforme artigo 990 do Cdigo Civil; no tem ele direito benefcio de ordem, pois devido a confuso patrimonial, no h como diferenciar patrimnio social da sociedade de patrimnio pessoal do scio. Alm de subsidiria, a responsabilidade dos scios e acionistas pelas obrigaes sociais perante terceiros se classifica em trs espcies de acordo com o tipo da pessoa jurdica:Limitada: o titular, scios e acionistas respondem at o limite da contribuio ao capital social. o caso da EIRELI, sociedade limitada e sociedade por aes.Mista: numa mesma sociedade h scios ou acionistas que respondem de forma subsidiria e limitada e outros de forma subsidiria e ilimitada. Trata-se da sociedade comandita simples e em comandita por aes. Nestas, o scio/acionista comanditado (tambm chamado de diretor) responde de forma subsidiria e ilimitada, enquanto que o scio/acionista comanditrio responde de forma subsidiria e limitada ou at o limite da contribuio ao capital social.Ilimitada: todos os scios respondem de forma subsidiria e ilimitada, ou seja, exaurido o patrimnio social, o patrimnio pessoal ou particular dos scios poder ser alcanado para solver o saldo social. o caso da sociedade em nome coletivo e sociedade em comum.Princpio da limitao da responsabilidade de scios e acionistas pelas obrigaes sociais: atualmente scios e acionistas optam na quase totalidade pela sociedade empresria do tipo limitada, na qual a responsabilidade de cada membro pelas obrigaes sociais contradas em nome da pessoa jurdica limitada pelo valor de suas quotas ou aes, no atingindo o patrimnio pessoal. Esta limitao da responsabilidade dos membros pelas obrigaes da pessoa jurdica serve como forma de estimular a criao de empresas, por meio da reduo dos riscos inerentes atividade empresarial.Princpio da maioria nas deliberaes sociais: o representante da pessoa jurdica, diretor ou administrador pode exercer os poderes que lhe foram outorgados no mandato e/ou no ato constitutivo, devendo tambm observar os limites legais pertinentes. Por exemplo, o artigo 1015 do Cdigo Civil dispe que a venda de bens imveis de propriedade da pessoa jurdica depende da deciso da maioria dos scios. Portanto, o administrador, por fora da lei, no pode tomar algumas decises de forma isolada, dependendo da deliberao dos scios ou acionistas em reunio ou assemblia.O princpio da maioria nas deliberaes est ligado ao direito ao voto e ao risco do empreendimento, e estabelece a diviso do poder decisrio durante a deliberao de acordo com o valor do investimento no capital social, baseado na idia de que os maiores investidores so tambm aqueles que arcam com o maior risco na hiptese de fracasso do empreendimento.Princpio da proteo do scio e acionista minoritrio: quanto maior o total de bens e valores aplicados na sociedade empresria, tanto maior o poder de deciso nas reunies e assemblias. O scio ou acionista majoritrio que detm mais da metade do capital social, em regra e na prtica, determina os rumos da sociedade, pois ele tem o poder de eleger o administrador ou diretor e decidir matrias submetidas aprovao dos membros nas reunies ou assemblias, exceto quando a lei, o contrato ou o estatuto social prev o quorum da unanimidade dos membros para determinada matria. Por sua vez, o scio ou acionista minoritrio aquele que detm menos da metade do capital social. Considerando que este tipo de organizao pode gerar abusos que prejudicam no somente os scios minoritrios como a empresa como um todo, a lei especifica algumas excees para determinadas deliberaes sociais, punies quanto ao abuso do poder do voto, proibio do voto em casos de conflito de interesses, alm de direitos em prol dos minoritrios, restando consagrado portanto o princpio de proteo ao minoritrio, que existe de forma correspondente ao princpio da maioria nas deliberaes sociais.Princpio da proteo do contratante mais fraco da relao jurdica: uma norma de comportamento que evita o exerccio abusivo da maioria societria em detrimento da minoria em posio de inferioridade ou mais fraca. Traduz-se no dever de agir com moderao no exerccio de direitos. Fixa um limite aos poderes das partes, com objetivo de coibir o exerccio abusivo do poder econmico. O princpio da proteo da minoria no interfere diretamente no contedo das clusulas contratuais, mas tem uma funo interpretativa e integradora ao contrato.Princpio do equilbrio econmico da relao contratual: trata-se da mitigao do pacta sunt servanda em forma de princpio, alterando assim a forma obrigatria dos pactos de forma substancial, criando institutos como a leso, a reviso e a resoluo por excessiva onerosidade, previstos nos artigos 157, 317, 478, 479 do Cdigo CivilPrincpio da autonomia da vontade: Por fora constitucional, ningum obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Isto significa que, salvo nas hipteses de servios pblicos monopolizados, onde o consumidor no tem opo em relao a com quem pode contratar, qualquer outro tipo de contrato firmado com base na autonomia da vontade. Vincular-se a outrem contra a vontade, portanto, um vcio de consentimento que atenta contra este princpio. Os membros de uma sociedade empresarial tambm possuem liberdade de determinar o contedo dos atos constitutivos estipulando clusulas, desde que no sejam contrrias a lei e princpios de direito de empresa, que no admitem clusulas leoninas, desonestas e injustificadamente desequilibradas.Princpio da vinculao contratual (pacta sunt servanda): uma vez firmado o ato constitutivo, mostra-se racional e necessrio para a preservao do mercado que ele seja cumprido na ntegra, sob pena da parte lesada pedir proteo ao Estado, j que o contrato faz lei entre as partes. Preserva-se a autonomia da vontade, a liberdade de contratar e a segurana jurdica. Vale ressaltar que o princpio no absoluto, pois se submete teoria da impreviso, que trata da possibilidade de o Magistrado rever, por exemplo, clusula leonina que exclua qualquer membro de participar dos lucros e das perdas, nos termos do artigo 1008 do Cdigo Civil, com o intuito de restabelecer o equilbrio entre as partes contratantes.Princpio da relatividade dos efeitos dos contratos: os efeitos dos contratos esto limitados s partes contratantes. um princpio bastante mitigado, pois como no mais possvel efetivamente limitar os efeitos dos contratos apenas s partes contratantes, busca-se tambm proteger os interesse extracontratuais socialmente relevantes, sendo merecedores de tutela jurdica os interesses individuais dos contratantes e os de todos que sejam atingidos pelos efeitos resultantes do contrato. Com isso, este princpio passa a ser analisado sob a tica da dignidade humana e da coletividade.Princpio da boa-f: previsto no artigo 422 do Cdigo Civil: "Os contratantes so obrigados a guardar, assim na concluso do contrato, como em sua execuo, os princpios de probidade e boa-f". Enaltece os deveres ticos, exigidos nas relaes sejam, quais sejam: a veracidade, integridade, honradez e lealdade. So regras, de condutas exigveis no somente durante as tratativas e efetiva execuo do contrato, tambm no perodo ps-contratual no qual os benefcios buscados e alcanados com a celebrao do contrato devem ser mantidos. uma nova celebrao do contrato devem ser mantidos. uma nova concepo de contrato em que a autonomia da vontade, a concepo de contrato em que a autonomia da vontade, a vinculao contratual das partes e a relatividade dos efeitos dos contratos no desapareceram, mas perderam a condio de elementos nucleares, surgindo em seus lugares um elemento estranho s partes, mas bsico para a comunidade como um todo: o interesse social. Quando da vigncia da legislao anterior, o Magistrado analisava o contrato levando em conta o disposto textualmente. S cabia interpretao da clusulas obscuras, levando-se em conta a boa-f. Com o novo dispositivo legal, a boa-f deixou de ser forma interpretativa e foi alada a forma de comportamento das partes. O julgador poder corrigir a postura de qualquer dos contratantes, sempre que observar desvio de conduta ou de finalidade.Princpio da funo social: O contrato empresarial tem a funo de possibilitar o fluxo das relaes de mercado. Esta funo tem duplo carter de restringir o abuso do direito por uma das partes e proporcionar segurana social nas relaes entre pessoas jurdicas. Com base na moderna teoria contratual, ainda que baseado na autonomia das partes e em sua liberdade de negociao, o contrato no mais visto como uma relao estabelecida unicamente entre os contratantes. Tem ele uma funo social, deve responder a anseios socialmente considerados, dentro de uma tica solidria.Princpio da eficcia dos costumes: costume uma regra de conduta espontnea, uniforme, constante por certo tempo, considerada como referncia de padres sociais, vigente em determinada comunidade, uma vez que o costume define-se em torno de um lugar e tempo. Os costumes de natureza empresarial decorrem da prtica espontnea dos empreendedores e investidores em suas relaes. Nascem de forma espontnea num local, estendem -se para outras regies e se tornam nacionais. So comuns no comrcio exterior os costumes internacionais. Eles tm fora de lei, porque seus valores so reconhecidos em lei, no podem, contudo, contrari-la. Integram-se aos contratos como clusulas implcitas, tcitas ou subentendidas, de maneira constante e habitual sem que seja necessrio enunci-los expressamente.