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Os princípios constitucionais do Direito do Trabalho e os direitos trabalhistas constitucionais: uma breve reflexão crítica http://jus.uol.com.br/revista/texto/5915 Publicado em 11/2004 Ricardo Luiz Alves I.Introdução Iniciamos o presente trabalho afirmando que o Direito é constituído de princípios e normas jurídicas. Tal constatação, aparentemente óbvia, é, no dia-a-dia profissional dos operadores do Direito, muitas vezes desconsiderada. De fato, na esteira do magistério do emérito jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez, os princípios jurídicos do Direito do trabalho é um tema pouco estudado, apesar de que o Direito do Trabalho, como os demais ramos do Direito, não pode prescindir dos princípios jurídicos que os informam e delimitam, quer no plano axiológico stricto sensu, quer a nível da operacionalização dos próprios institutos jurídicos integrante desta disciplina jurídica. Destarte, julgo que é sumamente importante para o Direito do Trabalho, enquanto disciplina jurídica eminentemente vinculada a um fenômeno sócio-econômico de grande importância nas sociedades modernas - a relação de trabalho -, conhecer de maneira sistemática e racional os princípios jurídicos que o delimitam, a começar pelos princípios jurídicos constitucionais, bem como uma análise das garantias e dos direitos constitucionais trabalhistas. O império do Positivismo Jurídico ao longo de boa parte dos séculos XIX e XX da Era Cristã fez com que a análise dos princípios jurídicos - incluindo os princípios constitucionais - fosse relegada a um segundo plano. Somente com a gradual extirpação da "camisa-de-força" do Positivismo Jurídico do mundo do Direito, ocorrida após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é que o estudo dos princípios jurídicos adquiriram uma nova importância e amplitude.

Os princípios constitucionais do Direito do Trabalho e os direitos trabalhistas constitucionais

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Os princpios constitucionais do Direito do Trabalho e os direitos trabalhistas constitucionais: uma breve reflexo crtica http://jus.uol.com.br/revista/texto/5915 Publicado em 11/2004 Ricardo Luiz Alves I.Introduo Iniciamos o presente trabalho afirmando que o Direito constitudo de princpios e normas jurdicas. Tal constatao, apare ntemente bvia, , no dia -a-dia profissional dos operadores do Direito, muitas vezes desconsiderada. De fato, na esteira do magistrio do emrito jurista uruguaio Amrico Pl Rodriguez, os princpios jurdicos do Direito do trabalho um tema pouco estudad o, apesar de que o Direito do Trabalho, como os demais ramos do Direito, no pode prescindir dos princpios jurdicos que os informam e delimitam, quer no plano axiolgico stricto sensu, quer a nvel da operacionalizao dos prprios institutos jurdicos i ntegrante desta disciplina jurdica. Destarte, julgo que sumamente importante para o Direito do Trabalho, enquanto disciplina jurdica eminentemente vinculada a um fenmeno scio -econmico de grande importncia nas sociedades modernas - a relao de trabalho -, conhecer de maneira sistemtica e racional os princpios jurdicos que o delimitam, a comear pelos princpios jurdicos constitucionais, bem como uma anlise das garantias e dos direitos constitucionais trabalhistas. O imprio do Positivismo Jurd ico ao longo de boa parte dos sculos XIX e XX da Era Crist fez com que a anlise dos princpios jurdicos - a incluindo os princpios constitucionais - fosse relegada a um segundo plano. Somente com a gradual extirpao da "camisa-de-fora" do Positivismo Jurdico do mundo do Direito, ocorrida aps a Segunda Guerra Mundial (1939 -1945), que o estudo dos princpios jurdicos adquiriram uma nova importncia e amplitude. De um ponto de vista geral, uma investigao cuidadosa acerca do Direito Constitucional Trabalhista imprescindvel se quisermos compreender as categorias analticas dogmticas do Direito do Trabalho no seu espectro mais amplo, bem como estabelecer, de maneira consistente, os prprios fundamentos jurdicos e meta jurdicos desta disciplina jurdica. Assim procedendo, acabaremos por alar o Direito do Trabalho a um patamar axiolgico mais elevado, bem como a um nvel cientfico mais apurado. Na verdade, uma melhor compreenso dos princpios constitucionais trabalhistas certamente contribui p ara um maior discernimento acerca das estruturas jurdico teleolgica e jurdico -formal do Direito do Trabalho.

II.Delimitao do Assunto e Hiptese de Trabalho II.1-Delimitao do Assunto II.1.1-Consideraes prvias gerais nossa inteno procurar dis cutir os princpios constitucionais vigentes que regem o Direito do Trabalho a partir de uma anlise abrangente dos dispositivos da Constituio da Repblica de 1988 que informam e conformam os princpios jurdicos objeto deste trabalho. Neste diapaso, pretendemos focalizar nossa ateno, na medida do possvel, nos dispositivos constitucionais pertinentes ao Direito do Trabalho, em especial os artigos 5. e 7. da atual Carta Poltica. Por outro lado, se faz necessrio ao bom andamento do presente trabalho a fixao, desde j, de determinados conceitos e a delimitao de algumas categorias analticas. o que passaremos a fazer neste item e no item III infra. O Direito uma Cincia Social de cunho normativo cujas regras de conduta so coercitivamente impostas coletividade social com vistas a estabilidade poltica e a segurana social da Sociedade. Tal fato no implica, em termos histricos e sociolgicos, na identificao mecnica do Direito com o monoplio estatal da soluo jurdica dos litgios havidos no seio da Sociedade. Sem embargo, a Histria do Direito e a Sociologia Jurdica demonstram a exausto que a equao Direito = Estado, nem sempre foi, no passado, ou ainda , nos dias de hoje, acurada em termos histricos e scio -culturais. Os dados histricos disponveis apontam que em inmeras sociedades tradicionais no-estatais, passadas e presentes, a Coletividade Social no esperou o desenvolvimento do Estado para regulamentar os conflitos existentes no seu seio. Mesmo no mbito das Civilizaes que desenvolveram o Estado ao longo de sculos, as anlises sociolgica e histrica apontam claramente que o Direito oriundo do Estado foi um fenmeno relativamente tardio, e que, em determinadas condies, o tecido social sofreu menos com a sua quase ausncia do que com a sua presena e atuao explcita. Em suma, se no Ocidente a Sociedade, mediante uma evoluo multissecular, acabou por constituir um sistema legal coercitivo -sancionador embasado no poder do Estado, em outras Culturas, em especial aquelas exi stentes no Extremo Oriente, a jurisdio legal estatal coexiste com outras modalidades de composio dos litgios sociais, modalidades essas que, via de regra, so de carter arbitral e no -coercitivo. Por via de conseqncia, nas sociedades no -ocidentais os princpios que delimitam a composio dos litgios sociais no so, via de regra, de origem estatal. II.1.2-Conceitos iniciais imprescindvel elaborarmos uma distino ntida entre o que seja norma legal e o que seja princpio jurdico.

O perclaro jurista Celso Ribeiro Bastos, com a sua habitual sapincia, aponta que tal distino no tarefa fcil de ser levada a cabo e relaciona os trs principais critrios utilizados pela Doutrina e pela Jurisprudncia a fim de estabelecer as diferenas entre ambos, quais sejam: 1.)o critrio do grau de abstrao, que vem a ser o critrio mais utilizado no mbito doutrinrio; 2.)o critrio de aplicabilidade; 3.)o critrio da separao radical. Ainda conforme o emrito tratadista supramencionado, os princpios jurdicos, "... juntamente com as normas, fazem parte do ordenamento jurdico. No se contrapem s normas, mas to-somente aos preceitos." (1) No Dicionrio Houssais da Lngua Portuguesa, o vocbulo princpio tem como acepes bsicas, verbis: "1.o primeiro momento de existncia (de algo) ou de uma ao ou processo; comeo; incio (...); 2.o que serve da base para alguma coisa; causa primeira, raiz, razo." (2) Com fulcro na definio gramatical supracitada cedio, no mbito da Cincia do Direito e das diversas disciplinas que o integram, que os princpios jurdicos exercem uma dupla funo distintas e autnomas, mas conexas, a saber: 1.)a de servir como preceitos elementares que norteiam, enquanto pressupostos axiolgicos fundamentais, todo ato jurdico substantivo ou adjetivo; 2)traar os limites jurdicos, e sobretudo os limites meta -jurdicos, de uma dada conduta legal prevista numa norma positivada. No tocante a primeira funo, os princpios jurdicos derivam diretamente dos padres ou valores sociais, culturais, econmicos, polticos e ticos da Sociedade em um dado perodo de tempo. O professor Jos J. Bezerra Diniz preleciona que os princpios jurdicos atuam como guias ou balizas valorativas em funo dos padres ou valores em questo, principalmente durante a fase de elaborao das normas legais pelo legislador. Pessoalmente, entendo que, quanto maior for a identificao existente entre os princpios jurdicos e os supracitados valores da Sociedade, maior ser a eficcia jurdica dos princpios jurdicos, quer sejam princpios constitucionais, quer sejam aqueles princpios prprios de uma determinada disciplina jurdica. Nestes termos, a imperatividade dos princpios jurdicos sobre as demais normas legais vigentes em um determinado sistema jurd ico se subsume aos valores sociais, polticos e culturais vigentes em determinada poca se manifestando conforme o grau de observncia dos valores em tela. Tal identificao no , e nem deve ser, determinista e finalstica, mas to -somente condicional. Qu ero dizer com isto que o nexo de causalidade entre os princpios jurdicos e as demais normas legais de um ordenamento jurdico opera -se de forma

contingente, isto , tal nexo se fundamento na existncia de um conjunto de acontecimentos de ocorrncia poss vel, mas no necessariamente certos, em funo direta das alteraes havidas nos padres scio -axiolgicos vigentes na Sociedade. Quanto a segunda funo, os princpios jurdicos atuam como elementos de integrao das lacunas existentes nos diversos subsis temas normativos legais de um dado ordenamento jurdico no sentido de servirem como guias normativos postos disposio dos aplicadores do Direito a fim de suprir as eventuais omisses legais frente ao caso concreto. (3) Com base no que foi discorrido at agora, e em sntese, podemos conceituar princpio jurdico como toda regra jurdica de aplicao geral dotada de elementos de cunho tico-normativo que servem de fundamento axiolgico para as demais normas legais (quer sejam normas de eficcia imediata, q uer sejam normas de eficcia contida), sejam elas normas positivadas ou no -positivadas, e que tiram dos princpios jurdicos as suas validade e eficcia jurdicas . Em outras palavras, os princpios jurdicos so proposies abstratas meta -jurdicas estruturadas racionalmente, proposies essas que servem no s de fundamentos axiolgicos das normas legais stricto sensu, sejam elas regras legais positivadas ou no-positivadas em cdigos ou em legislao esparsa, como tambm atuam enquanto elementos de integ rao do prprio ordenamento jurdico mediante a harmonizao dos vrios institutos jurdicos que compem o ordenamento jurdico em tela, evitando, tanto quanto possvel, o surgimento, de lacunas ou contradies intrnsecas. Nesta acepo, aos princpios j urdicos constitucionais se incorporam determinados valores extra-jurdicos que o legislador constitucional opta agregar norma positivada constitucional com o escopo de servir como parmetro fundante de interpretao da norma legal positivada. Evidenteme nte que tais valores extra -jurdicos trazem em si uma inegvel carga ideolgica subjetiva que se encontra subjacente, via de regra, no somente s funes institucionais stricto sensu do Estado previstas no prprio ordenamento jurdico, como tambm est vi nculada ao prprio ethos poltico da Sociedade Civil. Em suma, os princpios jurdicos esto aqum e alm da lei enquanto norma positivada ou consuetudinria, eis que se reportam diretamente realidade social. Neste sentido, so preceitos axiolgicos que promanam da Sociedade e, enquanto tal, desempenham a funo de conformar a ordem jurdica como um todo, seja como um elemento integrador do Direito na hiptese de omisso de norma legal especfica, seja como fonte formal do Direito no caso de ausncia de n ormas legais aptas a incidir sobre o fato concreto. Na esteira do magistrio do professor Marcello Ciotola, no existem diferenas ontolgicas substanciais entre os princpios constitucionais e os princpios gerais de direito. A razo principal para tal que os princpios constitucionais, tal como os princpios gerais de direito, exprimem um conjunto axiolgico de preferncias comportamentais da coletividade, conjunto axiolgico esse de carter obrigatrio e detentor de uma identidade social e cultural esp ecfica. Os princpios jurdicos no podem ser confundidos com os costumes, na medida em que a validade e eficcia legal formal dos princpios jurdicos se submete axiologia

jurdica stricto sensu, apesar de eventualmente os mesmos se vincularem s prti cas sociais existentes, enquanto a normatividade dos costumes prescinde de tal submisso axiologia jurdica para ter validade e eficcia. Isto posto, podemos conceituar os princpios jurdicos constitucionais como "... ordenaes que se irradiam e imanta m os sistemas de normas, so ... ncleos de condensaes nos quais confluem valores e bens constitucionais." (4) No que tange natureza jurdica dos princpios jurdicos constitucionais, importante lembrar que, quando se indaga acerca da natureza jur dica de um instituto jurdico, de uma determinada norma legal ou mesmo acerca de princpios jurdicos que norteiam as normas infraconstitucionais, se est perquirindo, na verdade, sobre a essncia daquilo que se est analisando, tanto nvel tcnico -jurdico stricto sensu, quanto nvel meta-jurdico. Com efeito, no basta obtermos a verdadeira definio de algo para sabermos aquilo que efetivamente acerca do nosso objeto de estudo, posto que devemos ir muito alm das meras definies formais caso tenha mos a inteno de alcanar o real significado do objeto de estudo em foco. guisa de concluso deste tpico, e em funo de tudo o que foi discutido at aqui, importa destacar que os princpios jurdicos constitucionais no podem ir de encontro realidade social; ao contrrio, devem estar sempre em perfeita sintonia com ela, sob pena de se tornarem, necessariamente, letra morta. Caso os princpios jurdicos venham a se opor realidade social que os delimita e informa, eles - princpios jurdicos - tendem a se tornar meras proposies jurdicas carentes de legitimidade e eficcia social. II.2-Hiptese de Trabalho A hiptese de trabalho que norteia este trabalho que a atual Lex Fundamentalis, a par de ampliar as garantias e os direitos trabalhistas stricto sensu (quer individuais, quer coletivos), redesenhou os princpios jurdicos fundantes do Direito do Trabalho, na medida em que lhes deu uma nova roupagem teleolgica, a saber: alm de conferir proteo ao hipossuficiente no tocante a um quantum mnimo de direitos e garantias legais, a atual Constituio da Repblica procurou redefinir a prpria natureza e finalidade do trabalho humano e da relao de emprego a fim de compatibilizar a ordem social com os legtimos anseios e direitos da Sociedade, direitos e anseios esses dirigidos no sentido da realizao individual e da criao de uma Sociedade mais justa em termos econmicos, sociais e polticos. Tal reengenharia jurdica encontra -se expressa no art. 1., inciso IV, c/c o caput do artigo 170, ambos da at ual Carta Poltica. Neste sentido, me parece claro que o legislador constituinte de 1988 procurou conferir aos princpios constitucionais trabalhistas um statusmaior que aquele existente nas nossas Constituies da Repblica anteriores. Na verdade, entendo que os princpios constitucionais trabalhistas vigentes so verdadeiras clusulas ptreas que no podem ser modificados ou extintos sob nenhum pretexto, sob pena de violar os fundamentos do Estado Democrtico de Direito.

III.Consideraes Histricas Iniciamos o presente tpico lembrando que os princpios jurdicos que nortearam e ainda guiam o Direito do Trabalho nos dia atuais, como qualquer outro ramo da Cincia do Direito, encontram -se expressos em alguns brocardos jurdicos, v.g., in dubio pro misero. Tais brocardos expressam a natureza nitidamente protecionista desta disciplina jurdica. Tendo em vista a sua natureza protecionista, j destacada acima, no de se surpreender que, historicamente, o Direito Laboral seja classificado como um subsistema jurdico - isto , um dos ramos da Cincia do Direito - que enfatize a ordem negocial sobre a ordem imposta e a informalidade processual sobre a formalidade processual. Justamente em decorrncia disto, os princpios jurdicos constitucionais do Direito do Trabalho so preceitos jurdicos que, apesar de serem os fundamentos das regras legais que regulam as relaes jurdicas eminentemente privadas, contm uma carga volitiva scio-poltica de cunho impositivo que se impe ao prprio Estado. Por outro lado, nunca se deve esquecer que, em termos histricos, o Direito do Trabalho uma das disciplinas jurdicas mais dinmica, na medida em que se encontra sob a constante influncia das transformaes havidas no campo social, poltico, cultural e econmico. Nascido tendo como referencial bsico o emprego tpico (alicerado no trabalho subordinado, oneroso, contrato de trabalho por tempo indeterminado, etc.), o Direito do Trabalho evoluiu mediante a criao e incorporao de novas e diversas garanti as e direitos individuais, ao ponto de transmudar -se, nos dias de hoje, para uma disciplina jurdica que concede um lugar de destaque tutela das garantias e dos direitos difusos e trans-individuais laborais. Tal fenmeno deriva, em parte ao menos, do pro gressivo aumento da complexidade da tecitura social moderna mediante o desenvolvimento de uma profuso de grupos e subgrupos sociais resultou num acrscimo proporcional nas relaes econmicas e sociais intergrupais e, por via de conseqncia, na alterao do formato ou do desenho dos padres de vnculo entre os indivduos e entre estes e a Sociedade e/ou o prprio Estado. Um exame histrico, ainda que rpido, conduz a constatao de que os ordenamentos constitucionais contemporneos tem uma origem recente, no mais de dois sculos e meio. Em especial, as constituies escritas dos estados europeus e americanos rgidas e/ou semi -rgidas -, tem origem remota nos acontecimentos desenrolados durante as Revoluo Americana e Francesa, ambas ocorridas no ltimo quartel do sculo XVIII d. C. (5) A partir de meados do sculo XIX d. C. as constituies escritas da maioria dos pases enveredaram por direes distintas e contrastantes. Neste diapaso, o sculo XX d. C. presenciou a gnese e evoluo de um amplo movim ento que englobou vrios pases no tocante a disciplinar diversos direitos sociais fundamentais no texto das suas respectivas constituies. Dentre os direitos sociais se elencaram muitos direitos e garantias laborais (tanto individuais, quanto coletivos), vrios dos quais j estavam

incorporados legislao infraconstitucional ou amplamente reconhecidos pela jurisprudncia de cada ordenamento jurdico nacional e pelos costumes. Tal movimento, sob o impacto direto da Primeira Guerra Mundial (1914 -1918) e da Revoluo Bolchevique de 1917 na Rssia que levou os comunistas ao poder na Rssia, se alicerou em dois acontecimentos distintos e autnomos, ainda que conexos: 1.)as reivindicaes sociais, polticas e econmicas das classes trabalhadoras ocorridas desde o sculo XIX d. C.; 2.)a expectativa das elites dirigentes de que a regulamentao de um ncleo mnimo de direitos e garantias evitaria, ou ao menos reduzira, os perigos de um conflito social de propores inimaginveis. Numa perspectiva histrica mai s ampla, podemos deduzir que o movimento em tela decorreu da falncia poltica e scio -econmica do Estado Liberal Clssico que subsistiu at meados da dcada de 20 e incio da dcada de 30 do sculo XX d. C. O Estado Liberal Clssico absentesta, totalmen te alheio aos anseios e necessidades das camadas mais pobres da Sociedade, acabou cedendo lugar ao Estado Intervencionista e este, por sua vez, foi substitudo pelo Estado Democrtico de Direito, onde os direitos sociais individuais ou coletivos de cunho d ifuso se constituem numa evoluo dos direitos individuais to duramente conquistados ao longo dos sculos XVIII d. C. e XIX d. C. com a derrocada do Estado Absolutista e o surgimento daqueles alicerados na Democracia Liberal Clssica. (6) Sem embargo, o atual Estado Democrtico de Direito reconhece que a extrema complexidade das estruturas inerentes do prprio Estado Moderno requerem que, alm da atuao dos rgos funcionais clssicos do Estado previsto desde as primeiras constituies, sejam criados nov os paradigmas normativos de abrangncia poltica, social e jurdica mais amplos a fim de extinguir ou minorar as desigualdades sociais e econmicas porventura existentes no seio da Sociedade. Tal exigncia corresponde ao reconhecimento ou, como querem algu ns doutos, a superao do conceito de que o Estado o nico ente produtor da Lei. O Brasil no ficou indiferente esse movimento de constitucionalizao dos direitos sociais, e mais especificamente das vrias garantias e direitos trabalhistas arduamente conquistadas ao longo dos sculos XIX d. C. e XX d. C. A partir da Constituio de 1934, (que, diga -se de passagem, rompeu com os fundamentos da tradio liberal da Constituio da Repblica de 1891 quanto aos direitos e garantias sociais), todas as nossas Cartas Magnas trouxeram princpios jurdicos e normas legais pertinentes ao Direito do Trabalho. In casu, os princpios e normas em tela passaram a ser enunciados em um captulo especial acerca da matria, com um ttulo apropriado. A nossa atual Lex Fundamentalis, de inegvel cunho socializante poca da sua Promulgao - 05.10.1988 -, ampliou sensivelmente o campo normativo e principiolgico no que tange s garantias e direitos fundamentais dos trabalhadores brasileiros, tendo como meta criar uma ordem s ocial com base no primado do trabalho

e como escopo o bem-estar e a justia sociais (Constituio Federal de 1988, artigo 193, caput). As principais garantias e direitos fundamentais trabalhistas encontram -se elencados em sua maioria no artigo 7. da Const ituio Federal vigente. (7) Entendo que os direitos ali relacionados no podem ser alterados ou extintos por mero capricho das partes envolvidas na relao laboral mediante simples convenincia ou oportunidade conjuntural, eis que se constituem em clusul a ptrea. Impe-se, por outro lado, reconhecer que "o problema constitucional do Brasil ... passa por uma enorme contradio entre a constitucionalidade formal e a constitucionalidade material." (8) As sbias palavras supra, proferidas pelos ilustres profe ssores e juristas Paulo Bonavides e Paes de Andrade, sintetizam muito bem o dilema histrico dos princpios jurdicos do Direito do Trabalho e dos direitos laborais do povo brasileiro insertos nas nossas Cartas Magnas que eventualmente contiveram em seu corpus normativo tal espcie de princpios e direitos. De fato, salta aos olhos do operador do Direito e do estudioso da Histria do Trabalho no Brasil a disparidade entre o que est contido na nossa atual Lex Fundamentalisno tocante aos princpios jurdicos que regem o Direito do Trabalho e a sua efetiva aplicao (ou ausncia de aplicao, o que mais usual) no dia -a-dia das relaes laborais. A incorporao de vrios direitos sociais na Carta Poltica em vigor, com a nobre finalidade de conferir dignidade constitucional s diversas conquistas do movimento obreiro nacional, no representou, na prtica, a elevao da tutela jurdica dos direitos em tela a um patamar de eficcia plena, quer no mbito jurisdicional stricto sensu, quer nvel dos rgos estatais administrativos incumbidos de zelar pela correta aplicao da legislao laboral vigente. Por oportuno, ressalte -se que a institucionalizao do Direito do Trabalho em nosso pas - institucionalizao essa cristalizada na criao da Justia do Trabalho em meados da dcada de 30 e a outorga da vestuta CLT por Getlio Dorneles Vargas no incio da dcada de 40 do sculo XX d. C. - , se inseriu num momento de transio scio-econmico importante na Histria brasileira, eis que o Brasil estava deixando de ser um pas eminentemente rural e alicerado numa economia agrcola -extrativista de carter exportadora para se tornar uma naes urbana alicerada nos setores econmicos secundrio e tercirio (indstria e servios, respectivamente). Diga-se de passagem que tanto a Justia Laboral, quanto o Diploma Consolidado, tiveram uma gnese claramente autoritria, eis que impostas Sociedade Brasileira sem qualquer considerao com as necessidades e interesses reais da classe obreira nacional, e muito menos com a reali dade conjuntural, tanto do ordenamento jurdico quanto da estrutura do aparelho judicial da poca da outorga da vestuta Consolidao das Leis Trabalhistas por Getlio D. Vargas. Dentro deste contexto histrico conclumos este tpico afirmando que uma parce la significativa dos princpios jurdicos que regem o Direito do Trabalho nacional ainda

so preceitos normativos gerais voltados tutela dos direitos e das garantias individuais dos trabalhadores em detrimento ao estmulo ou apoio negociao coletiva, eis que no fazia parte, como ainda no faz parte nos dias atuais, da nossa cultura empresarial e jurdica o estmulo ou apoio tal espcie de negociao entre patres e empregados.

IV.Os Princpios Constitucionais Trabalhistas Inicialmente, convm destacar que os princpios constitucionais do Direito do Trabalho esto voltados para o trabalhador enquanto indivduo e enquanto parte integrante de uma coletividade social e econmica especfica. Neste sentido, o eminente professor Celso Ribeiro Bastos obser va que a expresso trabalhador empregada pela Constituio vigente refere -se, a princpio, ao empregado, cuja definio legal dada pela legislao infraconstitucional ordinria, mas precisamente pelo artigo 3. davestuta CLT. Vislumbro que os princpios jurdicos constitucionais que delimitam o Direito do Trabalho se fundamentam numa srie de pressupostos abstratos de carter jurdico que conferem validade e eficcia jurdica s normas legais dessa disciplina jurdica, quer a nvel constitucional, quer a nvel infra-constitucional, pressupostos abstratos esses alicerados num conjunto integrado de valores de cunho poltico e social aceitos pela Sociedade Brasileira. Em outras palavras, os princpios constitucionais trabalhistas so preceitos jurdicos de carter geral e abstrato que delimitam os contornos das solues dos litgios judiciais laborais, quer no mbito do dissdio individual, quer no mbito do dissdio coletivo. Por via de conseqncia, a aferio da validade e eficcia jurdicas das garantias e direitos trabalhistas agasalhados no texto constitucional vinculam -se diretamente aplicabilidade dos princpios constitucionais trabalhistas tanto em termos sociais e polticos, no sentido amplo, quanto em termos jurdicos stricto sensu. In casu, seguindo o magistrio do ilustre jurista e tratadista Jos Afonso da Silva, as normas e princpios jurdicos constitucionais podem ser classificadas quanto a sua eficcia, como se segue: 1.)normas e princpios jurdicos constitucionais de eficcia plena e aplicabilidade imediata; 2.)normas e princpios jurdicos constitucionais de eficcia contida e aplicabilidade imediata, mas passveis de restries; e 3.)normas e princpios jurdicos constitucionais de eficcia limitada ou reduzida. Os princpios jurdicos constitucionais e as garantias e os direitos laborais insertos na LexLegum de 1988, infelizmente, so normas e princpios jurdicos, via de regra, de carter programtico e, enquanto tal, despidas de eficcia jurdica imediata. (9) Entendo que no deveri a ser assim. Em especial, vejo que os princpios constitucionais trabalhistas - enquanto bens jurdicos fundamentais pertinentes toda Sociedade Brasileira - correspondem a normas de observncia obrigatria e dotadas de funo pragmtica no mbito do sist ema jurdico, qual seja a de definir, mediante a

imposio de limites tico -jurdicos e parmetros scio -polticos, a eficcia jurdica dos direitos e garantias constitucionais trabalhistas. Ressalto que a minha concepo acima exposta no metafsica, ma s uma concepo de cunho sociolgico e histrico. Quanto maior for o consenso acerca da validade dos princpios jurdicos constitucionais, maior ser a sua eficcia e, portanto, maior ser o seu grau de legitimao perante a Sociedade. Os princpios jurdi cos constitucionais e as garantias e os direitos laborais constantes na atual Carta Poltica se classificam em: 1.)princpios, garantias e direitos materiais trabalhistas; e 2.)princpios, garantias e direitos processuais trabalhistas. Os primeiros, por sua vez, se subdividem em: 1.)princpios, garantias e direitos materiais trabalhistas individuais; e 2.)princpios, garantias e direitos materiais trabalhistas coletivos. As garantias e direitos constitucionais materiais trabalhistas, apesar de serem, em grande sua maioria, normas de eficcia de eficcia contida, so normas que tem "... eficcia paralisante de efeitos de normas que forem incompatveis e impeditiva de qualquer contrria ao que estabelecerem." (10) Neste diapaso, ad exemplum, o prazo do aviso prvio no poder ser nunca inferior a 30 (trinta) dias (Constituio Federal de 1988, artigo 7., inciso XXI). Julgo que o Constituinte de 1988 deixou escapar a oportunidade de dar um significativo passo adiante, qual seja o de fixar de maneira precis a os limites da eficcia das garantias e dos direitos laborais, eis que tais espcies de garantias e direitos reclamam do Estado, necessariamente, uma postura ativa, a fim de propiciar uma liberdade concreta do hipossuficiente - o obreiro -, e no apenas uma liberdade formal, possibilitando, desta maneira, a criao de um equilbrio jurdico na relao capital x trabalho. Incluo as garantias e os direitos trabalhistas reconhecidos pela Lex Legum vigente no mbito das liberdades pblicas, cabendo ao cidado destinatrio de tais garantias e direitos - o trabalhador - o sagrado direito de reivindicar do Estado a sua fruio plena. Nesta ordem de idias, entendo que aquelas garantias e direitos trabalhistas constitucionalmente previstos que ainda aguardam regula mentao, ou que foram regulamentados de forma incompleta pelo legislador ordinrio, so passveis de serem tutelados via Mandado de Injuno a ser ajuizado perante o Pretrio Excelso, com fulcro no disposto no artigo 5., inciso LXXI. (11) No meu entendimento, concessamaximavenia de todos os doutos que porventura tenham viso divergente da ora perfilhada, a principal inovao da assim denominada Constituio Cidad no mbito das garantias e dos direitos trabalhistas constitucionais, foi o seu redimencionam ento tico-jurdico no sentido de coloc -los no mais como no mbito dos direitos individuais stricto sensu mas como direitos sociais alicerados no trabalho como elemento definidor da dignidade humana. Ressalte-se, por oportuno, que o artigo 6. da "Const ituio Cidad" elenca o trabalho como direito social, na forma da Constituio.

Tal dispositivo constitucional, nos moldes que se encontra redigido, no encontra paralelo no nosso ordenamento jurdico pretrito, quer a nvel constitucional, quer a nvel infraconstitucional. At as normas processuais constitucionais aplicveis ao Direito do Trabalho adquiriram, salvo melhor juzo, um novo dimensionamento jurdico, eis que devem serem aplicadas, a partir da vigncia da Constituio de 1988, em conformidade c om a valorizao do trabalho enquanto elemento da aludida dignidade humana. A competncia da Justia do Trabalho foi ampliada, o que representa, sem a menor sombra de dvida, uma conquista de enorme importncia no s para a classe obreira, como tambm par a a Sociedade como um todo. Sem embargo, e na esteira do entendimento acima firmado, vejo que a atual Constituio trouxe inovaes de monta no mbito das garantias postas disposio do trabalhador a fim de fazer valer os seus direitos, em especial o Man dado de Injuno, o Mandado de Segurana Coletivo, o Habeas Data e a ampliao do campo de abrangncia da Ao Civil Pblica. Da resultar que a eficcia jurdica das garantias e direitos constitucionais trabalhistas vigentes deve ser aferida tendo como pa rmetro fundante ou principal a sua adequao realidade da Sociedade como um todo e, no particular, s necessidades econmicas do destinatrio ltimo das garantias e direitos ora em comento: o obreiro. O real sentido da supremacia jurdica das normas pri ncipiolgicas constitucionais relativas s garantias e aos direitos laborais deve ser buscado na sua aplicabilidade de forma a mais abrangente possvel e nunca de maneira restritiva. Por outras palavras, creio que os princpios constitucionais trabalhistas devem ser mesurados tomando como ponto de partida a sua efetividade social. Cumpre destacar que a atual Carta Magna apresentou duas inovaes principiolgicas de monta no tocante aos princpios jurdicos trabalhistas, qual sejam: 1.)o Princpio da Igualdade de Direitos entre os Trabalhadores Urbanos e Rurais (12); 2.)o Princpio da Proteo contra Despedida Arbitrria ou Sem Justa Causa. Desde a Constituio de 1934, quando foram introduzidos os primeiros direitos sociais no nosso ordenamento jurdico, n o se dava um passo to significativo no tocante ao reconhecimento da igualdade entre ambas as espcies de trabalhadores. Na esteira do magistrio sempre preciso do ilustre mestre Arnaldo Sssekind, os direitos trabalhistas elencados no artigo 7. da atual Lex Fundamentalis aplicam-se, exceto as excees legalmente previstas, aos empregados urbanos e rurais, sem distino de sexo, idade, estado civil e credo religioso. No tocante ao segundo princpio, expresso no inciso I do art. 7. da Constituio da Repblica, "... corresponde, na verdade, um conjunto de normas aplicveis despedida arbitrria ou sem juta causa: a)indenizao compensatria (inc. I); b)seguro-desemprego (inc. II);

c)levantamento dos depsitos do Fundo de Garantia do Tempo de Servio - FGTS (inc. III)." (13) O Princpio de Direito de Greve insculpido no caput do artigo 9. da atual Lex Legum abrangente, eis que engloba os empregados das empresas privadas, das empresas pblicas para-estatais e servidores pblicos da administrao pblica d ireta e indireta da Unio Federal, Estados -Membros, Distrito Federal e Municpios. Esta abrangncia outra inovao de monta havida na Constituio vigente. O exerccio do direito de greve, evidentemente, no irrestrito, submetendo -se s restries legais em conformidade com os interesses da Coletividade. Por fim, resta abordar uma questo que julgo de extrema importncia, a saber: como interpretar os princpios constitucionais do Direito do Trabalho? Em sntese, julgo que a interpretao dos princpios constitucionais trabalhistas deve ser feita de forma sistmica, isto , levando -se em considerao as regras constitucionais em seu conjunto. Em outras palavras, os aludidos princpios constitucionais devem ser interpretados levando -se em considerao a es trutura normativa constitucional como um todo, tanto sob aspecto teleolgico quanto sob o aspecto histrico e sociolgico e, nesta medida, deve necessariamente ter como fundamentos ou parmetros principais: 1.)a proteo do hipossuficiente; 2.)a preponderncia dos interesses coletivos sobre os interesses individuais; 3.)a desconsiderao de eventuais formalismos legais em face das necessidades reais, concretas, da Sociedade como um todo. Isto posto, e a partir de uma anlise lgico -sistemtica da atual Carta Poltica, podemos concluir este tpico afirmando que os princpios jurdicos constitucionais do Direito do Trabalho so todos aqueles preceitos que informam a construo de uma ordem social mais justa e um sistema econmico mais eficiente, ordem e estrutura essas que tem como primado o trabalho e que possuem como objetivos primrios o bem-estar geral da populao e uma justia social. Quando digo uma ordem social mais justa e um sistema econmico mais eficiente alicerados no trabalho no estou pugnado o estabelecimento de um regime jurdico do Estado de cunho socialista, mas to-somente a criao de um sistema legal que priorize a eliminao, tanto quanto possvel, das gritantes desigualdades sc io-econmicas existentes no nosso pas. Por via de conseqncia, os princpios constitucionais do Direito do Trabalho devem delimitar, fixar, os principais parmetros legais da atuao do Estado Democrtico de Direito no em termos abstratos, mas em um pla no prtico atravs de metas tico jurdicas de amplo alcance scio -econmico e poltico que venham a diminuir os desnveis sociais e econmicos mais agudos hoje existentes no Brasil.

V.Reflexes Finais Os princpios jurdicos constitucionais se constitue m num dos principais pilares de um ordenamento jurdico, seja positivado, seja consuetudinrio.

A no observncia dos princpios jurdicos ocasiona, via de regra, a ruptura do sistema legal positivado, em especial quanto no -efetividade da aplicao conc reta das normas legais, resultando, no raro, na ruptura do Estado Democrtico de Direito. Independentemente da criao de novos direitos e garantias a nvel constitucional, tanto o legislador, quanto os operadores do Direito (juiz, procurador, advogado, e tc.), devem estar sempre em busca de novos mecanismos jurdicos que permitam efetivar os princpios jurdicos constitucionais j existentes. Nesta ordem de idias, apesar de sua origem claramente corporativista -autoritria, vislumbro que o Direito do Traba lho no Brasil tem um desgnio de fundamental importncia a cumprir, qual seja de ser "... o amparo aos trabalhadores e a consecuo de uma igualdade substancial e prtica para os sujeitos envolvidos." (14) Em especial, entendo que os operadores do Direito do Trabalho devem apoiar as modalidades de tutelas extrajudiciais de soluo dos litgios trabalhistas, sem perder de vista os princpios basilares dessa disciplina jurdica, sobretudo a tutela protetora do hipossuficiente: o obreiro. Na verdade, considero que o constituinte de 1988, quando pretendeu permitir a flexibilizao dos direitos laborais reconhecidos constitucionalmente, o fez privilegiando a negociao coletiva em detrimento da negociao individual, procurando, desta maneira, criar ou estimular as condies mnimas para a autocomposio dos litgios trabalhistas, sem, contudo, cair na falcia dos dogmas neo liberais, como, adexemplum, os mitos da autonomia da vontade e da liberdade absoluta das partes na gnese e desenvolvimento dos contratos tr abalhistas. (15) Ante tudo o que foi exposto e analisado acima, concluo a presente obra afirmando que os princpios constitucionais que informam o Direito do Trabalho adquirem uma importncia capital no mbito da Cincia do Direito, transcendendo em muito o estreito campo de atuao do Direito do Trabalho, eis que se constituem atualmente num dos principais pressupostos jurdicos e meta -jurdicos garantidores do modelo de Estado Democrtico de Direito almejado pelo Constituinte de 1988, modelo esse que, com o tempo, deve lograr realizar, de maneira efetiva, real, os direitos sociais insertos no bojo do texto constitucional em vigor. Neste contexto, considerando que no h Sociedade sem ordem e nem ordem social sem normatividade jurdica, porque esta o espelho daquela, entendo que os princpios constitucionais que regem o Direito do Trabalho devem servir de bssola para as futuras reformas do Direito Laboral, reformas essas que devem ser efetuadas no pela mera vontade ou capricho do legislador ptrio ou dos poderosos de planto, mas pelo prisma dos valores ticos e sociais e das reais necessidades sociais da vontade popular, em especial da classe obreira.

Notas (1)Bastos, Celso Ribeiro: Curso de Direito Constitucional. pg. 53. (2)Houssais, Antnio: Dicion rio Houssais da Lngua Portuguesa. Ed. Objetiva, 1999.

(3)Convm ressaltar, na esteira do magistrio da professora Maria Helena Diniz, que o vocbulo "lacuna", no mbito da Cincia do Direito, se refere a um estado incompleto do sistema legal ao ponto de no permitir uma soluo imediata lide posta apreciao do Poder Judicirio. (4)Silva, Jos Afonso da: Curso de Direito Constitucional Positivo. pg. 96. (5)"Todas lasConstituciones escritas de la poca moderna hantenidosuapoyoenlos acontecimentos de l as revoluciones norteamericana y francesa, conla nica excepcin de la Grand Bretana" (Ruffia, Paolo Biscaretti: Introduccin al Derecho Constitucional Comparado, pg. 93). (6)A Democracia Liberal Clssica parte do pressuposto que a liberdade individual se alicerava sob dois requisitos, um negativo e outro positivo, a saber: a)a ausncia de uma coero poltica sobre o indivduo no tocante ao exerccio da liberdade de expresso e de conscincia; e b)a existncia de uma igualdade legal formal entre indivduos que eram social e economicamente desiguais. Tal viso , no meu entendimento, por demais formalista em termos jurdicos e no -histrica para ser aceita nos dias atuais como verdadeira. (7)O comando constitucional ora em comento estipula, verbis: "Art. 7. So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: I -relao de emprego protegida contra despedida arbitrria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que prever indenizao compensatria, dentre outros direitos; II -seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntrio; III -fundo de garantia do tempo de servio; IV -salrio mnimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender s suas necessidades vitais bsicas e s de sua f amlia com moradia, alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene, transporte e previdncia social, com reajustes peridicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim; V -piso salarial proporcional exten so e complexidade do trabalho; VI -irredutibilidade do salrio, salvo o disposto em conveno ou acordo coletivo; VII -garantia de salrio, nunca inferior ao mnimo, para os que percebem remunerao varivel; VIII -dcimo terceiro salrio com base na remun erao integral ou no valor da aposentadoria; IX remunerao do trabalho noturno superior do diurno; X -proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa; XI -participao nos lucros, ou resultados, desvinculada da remunerao, e, excepcionalmente, participao na gesto da empresa, conforme definido em lei; XII -salrio-famlia pago em razo do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Redao dada pela E.C. n. 20/98, DOU de 16.12.98) XIII -durao do trabalho no rmal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho; XIV -jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociao coletiva; XV -repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI-remunerao do servio extraordinrio superior, no mnimo, em cinqenta por cento do normal; XVII -gozo de frias anuais remuneradas com, pelo menos, um tero a mais do que o salrio normal; XVIII -licena gestante, sem prejuzo do emprego e do salrio, com a durao de cento e vinte dias; XIX -licena-

paternidade, nos termos fixados em lei; XX -proteo do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especficos, nos termos da lei; XXI -aviso prvio proporcional ao tempo de servio, sendo no mnimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII-reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana; XXIII-adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV -aposentadoria; XXV -assistncia gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento at seis anos de idade em creches e pr -escolas; XXVI-reconhecimento das convene s e acordos coletivos de trabalho; XXVII proteo em face da automao, na forma da lei; XXVIII -seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; XXIX -ao, quanto aos crditos resultantes das relaes de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, at o limite de dois anos aps a extino do contrato de trabalho; (Redao dada pela E.C. n. 28/2000, DOU de 26 e 29.05.0 0) XXX-proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI -proibio de qualquer discriminao no tocante a salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de de ficincia; XXXII-proibio de distino entre trabalho manual, tcnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII-proibio de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condio de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redao dada pela E.C. n. 20/98, DOU de 16.12.98) XXXIV -igualdade de direitos entre o trabalhador com vnculo empregatcio permanente e o trabalhador avulso. Pargrafo nico. So assegurados ca tegoria dos trabalhadores domsticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integrao previdncia social." (8)Bonavides, Paulo e Andrade, Paes de: Histria Constitucional do Brasil. pg. 9. (9)A nossa assim denominada Constituio Cidad foi elaborada num momento de grandes anseios populares, eis que a Nao Brasileira estava saindo de um longo perodo de arbtrio ditatorial e, alm disso, se encontrava em meio de uma sria crise econmica e financeira, cujos efeitos ainda podemos sentir nos dias de hoje. Desta maneira, no surpreendente que a Constituio da Repblica de 1988 fosse recebida por uma parcela significativa da populao brasileira como uma panacia para todos os males nacionais ou c omo uma divindade exmachina que solucionaria por completo os nossos graves problemas sociais e econmicos da noite para o dia. (10)Santos, Luiz Wanderley dos: Normas Constitucionais e Seus Efeitos. pg. 9. (11)O inciso LXXI do artigo 5. determina, verbis: "Art. 5. .................. ( omissis) LXXI - conceder-se- mandado de injuno sempre que a falta de norma regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes nacionalidade, soberania e cidadania;" (grifo nosso) (12)Tal princpio encontra -se expresso no caput do artigo 7.

(13)Sssekind, Arnaldo: Direito Constitucional do Trabalho. pg. 129. (14)Gis, Ancelmo Csar Lins de et all: O Novo Direito do Trabalho. Sem pgina. (15)Ressalte-se que, quando o Constituinte de 1988 admitiu a flexibilizao de garantias direitos trabalhistas reconhecidos, tal flexibilizao expressamente configurada ou prevista mediante os vocbulos negociao coletiva, acordo ou conveno coletiva (Constituio Fe deral, artigo 7., incisos VI, XIII e XIV). Nesta medida, em que pese a atual fragilizao do movimento operrio ptrio resultante de um processo de desemprego em massa superveniente promulgao da Constituio de 1988 (desemprego esse que, diga -se de passagem, sem precedentes em nossa Histria), ainda assim entendo que a negociao coletiva o melhor caminho para a composio dos litgios envolvendo capital x trabalho.

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Ricardo Luiz Alves

licenciado em Histria pela PUC/RJ, bacharel em Direito pelo Centro Integrado de Ensino Superior do Amazonas (CIESA), servidor da Justia do Trabalho em Manaus (AM) Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNT ALVES, Ricardo Luiz. Os princpios constitucionais do Direi to do Trabalho e os direitos trabalhistas constitucionais: uma breve reflexo crtica. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 490, 9 nov. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 31 mar. 2011.