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PRINCÍPIOS DE ENSINO APRENDIZADO: UMA teoria do passado?
Aline Mariane de Faria
Angela Benavides Gordillo
Bernadette Lourdes Marinho
Natan de Souza Marques
1. INTRODUÇÃO
O processo de ensino-aprendizagem, não é o simples ato de um professor dar uma
palestra sobre algum tema e os alunos ouvirem. Ensino-aprendizagem é um
processo complexo e dinâmico. “Partindo do pressuposto de que apenas o
conhecimento do assunto a ser ensinado não é suficiente, ou melhor, não confere,
automaticamente, a competência para sua transmissão” (GODOY, 1988, p.1), este
processo precisa não só do conhecimento por parte do professor sobre o conteúdo e
da disponibilidade dos alunos para aprenderem, mas também precisa da
preparaçãodo tema, das habilidades e práticas do professor para ensinar, a fim de
ter uma interrelação entre o professor e o aluno, que é a base para ter um processo
de ensino apropriado e enriquecedor.
Para desenvolver uma boa prática de ensino-aprendizagem, primeiro se deve
reconhecer quais são os princípios que a regem. Estes são sete: a) encorajamento
do contato entre o aluno e o professor, b) encorajamento da cooperação entre os
alunos, c) encorajamento da aprendizagem ativa, d) fornecimento de feedback
imediato aos alunos, e) ênfase no gerenciamento do tempo das tarefas, f)
manutenção das altas expectativas dos alunos e g) promoção do reconhecimento e
respeito aos diversos talentos e às diferentes formas de aprendizagem dos alunos.
Estes foram desenvolvidos na década de 80 em cursos de graduação, pela
Associação Americana de Educação Superior, mas os principais atores dos sete
princípios são: Arthur W. Chickering e Zelda F. Gamson. Para elaborar estes
princípios, Arthur e Zelda promoveram muitos workshops até chegarem à versão
final no ano 1989.
Nesse sentido, o objetivo principal deste trabalho é responder o seguinte problema:
“Quais princípios de ensino-aprendizagem são reconhecidos em cursos de
Pós-graduação?”. A fim de alcançar esse objetivo geral, três outros específicos
foram traçados, a saber: (i) comparar as opiniões do corpo discente com as do corpo
docente sobre os princípios de ensino aprendizagem, (ii) comparar as opiniões dos
discentes dos diferentes cursos de gestão e (iii) identificar outros princípios de
ensino aprendizagem valorizados pelo corpo acadêmico.A fim de que os objetivos
indicados possam ser alcançados, duas ferramentas metodológicas foram utilizadas:
revisão bibliográfica e o questionario, o qual foi aplicado numa universidade de Mina
Gerais para os cursos de pós-graduação de latu sensu.
Este artigo, então, divide-se em cinco partes: (i) a primeira introduz o leitor ao objeto
de pesquisa; (ii) a segunda apresenta uma breve revisão bibliográfica sobre os
conceitos de ensino-aprendizagem e os setes princípios; (iii) a terceira descreve o
problema e a metodologia da pesquisa; (iv) a quarta parte compreende a análise dos
resultados e os principais achados; e por fim, (v) a quinta parte apresenta as
considerações finais, as limitações deste trabalho e as sugestões para pesquisas
futuras.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
As universidades brasileiras são, por força de lei, articuladas em três principais
eixos: ensino; pesquisa e extensão (GODOY, 1988). Porém, não há uma harmonia
na condução das três atividades, existindo uma valorização maior para as atividades
de pesquisa. Essa postura se reflete nos critérios de seleção utilizados para
composição dos quadros de docentes das universidades, onde claramente se
priorizam publicações como critério determinante (SANTOS, 2001).
Porém, é fundamental que as universidades e os professores busquem também a
formação pedagógica. E quando há a preocupação com a formação pedagógica,
torna-se fundamental considerar os processos de ensino e de aprendizagem, assim
como os elementos que compõem essa relação: aluno, conteúdo, escola e
professor.
Nesse sentido, essa seção objetiva apresentar fundamentos teóricos direcionados
ao (1) processo de ensino; (2) processo de aprendizagem; e, por último, os (3) Sete
princípios para a boa prática no ensino superior, desenvolvidos por Chickering e
Gamson (1987).
2.1. Processo de Ensino
O conceito de ensino não encontra uniformidade na literatura. A amplitude de
significados atribuídos ao ensino leva a perceber que não há um consenso, ou
mesmo que não existe um significado amplamente aceito nessa direção. Godoy
(1988) afirma que “a frequência com que o termo ensino aparece no discurso
pedagógico e a variedade de situações em que está inserido não nos permite
concluir que ele já esteja suficientemente analisado a ponto de merecer uma única e
exclusiva definição”.
Para efeito de construção dessa pesquisa, utilizou-se o conceito de ensino proposto
por Smith (1971) apud Godoy (1988), o qual menciona o ensino como um sistema
de ações que tem o propósito de favorecer a aprendizagem. Dessa forma, a
interação de natureza educativa envolve: o docente, o aluno, a ação de ensinar
(relativa ao professor) e a ação de aprender (relativa ao estudante) (GODOY, 1988).
O ensino, então, constitui-se em uma atividade intencional orientada para o alcance
de um objetivo, o qual pode ou não ser alcançado.
2.2. Processo de Aprendizagem
As discussões sobre aprendizagem têm como marco inicial as contribuições de
Piaget para a psicologia,onde seus estudos nos leva a compreender, primeiramente,
os conceitos de crescimento e desenvolvimento. Pádua (2009) menciona que
desenvolvimento e crescimento mental, para Piaget, são devidos à atividade do
sujeito que se defronta com o seu meio, e a inteligência, ou mais especificamente o
desenvolvimento da inteligência é a condição para que os seres humanos construam
conhecimento sobre o meio.
Analisando diretamente o conceito de aprendizagem, pode-se citar o conceito de
Gagné (1974), o qual considera a aprendizagem como “uma modificação na
disposição ou na capacidade do homem, modificação essa que pode ser retida e
que não pode ser simplesmente atribuída ao processo de crescimento”. Assim, essa
modificação por ele mencionada reflete um aumento de capacidade para alguns
tipos de desempenho.
Gagné (1974) apresenta oito tipos de aprendizagem: (1) Aprendizagem de sinais; (2)
aprendizagem por estímulo resposta; (3) Aprendizagem em cadeia; (4)
Aprendizagem por associações verbais; (5) Aprendizagem por discriminações
múltiplas; (6) Aprendizagem de conceitos; (7) Aprendizagem de princípios; e, por
último, (8) Aprendizagem de resolução de problemas.
2.3. Sete Princípios para a Boa Prática no Ensino Superior
A partir das teorias sobre aprendizagem desenvolvidas pelos autores seminais do
campo, vários outros surgiram ao longo dos anos, ampliando o estado da arte sobre
aprendizagem. Porém, os trabalhos surgidos nesse sentido pareciam se mostrar
dispersos e de difícil aplicabilidade prática em sala de aula. Faltava, assim, algo que
os unificassem dentro de postulados que pudessem facilitar a orientação daqueles
que visavam facilitar a aprendizagem de outrem: os professores e as instituições
envolvidas no trabalho.
A partir daí, Arthur W. Chickering e Zelda F. Gamson articularam a construção dos
sete princípios para as boas práticas na educação superior. Esses princípios
resultaram de cinquenta anos de pesquisas realizadas pelos autores no campo da
educação, assim como, a análise dos trabalhos realizados ao longo do mesmo
período. Com base nesses trabalhos, Chickering e Gamson promoveram, por meio
da American Association for HigherEducation(AAHE), um encontro dos mais
renomados pesquisadores sobre educação superior nos Estados Unidos.
Desses esforços surgiram sete princípios apresentados por Chickering e Gamson
(1987), os quais são apresentados a seguir:
1. A boa prática encoraja o contato professor-aluno
Chickering e Gamson (1987) enfatizam que professores que encorajam o contato
por parte dos alunos, tanto dentro como fora da classe, garantem a motivação do
estudante, comprometimento intelectual e o desenvolvimento pessoal.
Nesse sentido, pesquisas verificaram que, aqueles professores apontados como
especialmente efetivos por parte dos alunos apresentaram uma maior interação com
os alunos. Por outro lado, verificou-se que aqueles alunos que apresentavam maior
comprometimento intelectual, convicção com relação à carreira que escolheram e
satisfação com experiências acadêmicas e, também, não acadêmicas, apresentaram
um maior contato com os professores, especialmente, fora do ambiente escolar.
Além do mais, em complementaridade aos achados citados por Chickering e
Gamson (1991), verificou-se também que o contato entre o professor e o aluno que
se mostrava mais eficaz para a aprendizagem eram aqueles contatos informais
construídos encima de temas que interessam aos alunos, principalmente aqueles
que dizem respeito à carreira profissional futura do profissional (PASCARELLA apud
CHICKERING E GAMSON, 1991).
2. A boa prática encoraja a cooperação entre os alunos
Esse princípio se aproxima bastante do terceiro princípio, que menciona a
aprendizagem ativa como encorajada pela boa prática. Porém, apesar da
cooperação entre alunos ser considerada uma maneira de aprendizagem ativa,
nesse caso, a apresentação do mesmo como um princípio separado da
aprendizagem ativa se explica por ser a cooperação entre os alunos uma maneira
coletiva de aprendizagem, enquanto que a aprendizagem ativa propriamente dita
permite a aprendizagem por meio de técnicas e reflexões individuais.
McKeachie, Pintrich, Lin, and Smith (1986, p. 63) afirmam que a melhor resposta
para a pergunta “qual método de ensino é o mais eficiente?” é que isso depende dos
objetivos, do aluno, do professor e do conteúdo. Agora, a segunda melhor resposta
para a mesma questão refere-se aos métodos em que alunos ensinam alunos.
Santos (2001) também salienta que apesar da efetividade de um método ou técnica
de ensino depender diretamente dos fatores como objetivos a serem alcançados,
aluno, conteúdo e professor, pode-se afirmar, com certeza, que técnicas de ensino
que propiciam a interação entre os alunos – aluno ensinando aluno – são superiores
às técnicas mais passivas, como uma aula expositiva, quando os objetivos se
referem ao alcance das aprendizagens cognitivas de nível mais alto ou de
aprendizagens atitudinais.
3. A boa prática encoraja a aprendizagem ativa
Chickering e Gamson (1991) afirmam que pesquisas confirmam que a aprendizagem
cooperativa e social aumenta o envolvimento na aprendizagem. Santos (2001)
afirma também que o baixo índice de aprendizagem dos alunos é resultado,
principalmente, da postura passiva que eles demonstram em relação ao papel que
desempenham nesse processo: ouvir professores, memorizar conceitos e despejar
respostas.
Santos (2001) aponta que o atendimento a tal princípio requer algumas ações
fundamentais dos professores em sala de aula, as quais são: (1) Despertar o
interesse e a curiosidade do aluno; (2) Usar exemplos, fazendo conexões do
conteúdo com a vida real e as experiências pessoais; (3) Estimular o
desenvolvimento de estudos e pesquisas individuais e em grupos; (4) Utilizar
métodos vivenciais de ensino como jogos, simulações, estudos de caso ou
laboratórios; (5) Realizar atividades de extensão extraclasse (visitas, palestras,
seminários).
4. A boa prática fornece feedbackimediato
Menger e Mathis (1968), apontam para relações entre a fixação do conteúdo
passado em um curso e a sequência de testes. Segundo eles, os conteúdos
ensinados são melhor aprendidos quando seguidos por um teste, sendo importante,
portanto, comunicar os resultados do teste assim que possível.
Chickering e Gamson (1991) apontam também, que pesquisas relacionadas com o
ensino superior têm constatado a relação positiva existente entre o pronto feedback
e a satisfação e auto realização dos alunos, e principalmente, que o
feedbackimediato, informativo e direcionado às principais fontes de erros dos alunos
é um dos pontos centrais do processo de aprendizagem.
5. A boa prática enfatiza o tempo da tarefa
Chickering e Gamson (1987), em sua revisão dos trabalhos nas áreas de ensino
superior, identificaram que existem pesquisas direcionadas ao fator tempo da tarefa
que apresentam relação direta entre alocação de tempo (para determinada área,
níveis de aprendizagem), gestão do tempo (depois de alocado o tempo), e tempo da
tarefa por um lado e as realizações dos estudantes, por outro.
Chickering e Gamson (1987) afirmam ainda que há um consenso geral nas
pesquisas de que quanto maior o tempo que os estudantes estão engajados na
aprendizagem, maior a quantidade de coisas que eles aprendem. Porém, ainda
existe um grande gap entre o que entendemos como tempo da tarefa e o que
realmente isso significa. Segundo o autor, o tempo da tarefa diz respeito não apenas
à quantidade de tempo destinado para a realização da tarefa, mas também, à como
esse tempo está sendo gasto, e aqui é onde entra a gestão do tempo como tarefa
fundamental para a aprendizagem.
6. A boa prática comunica altas expectativas
Chickering e Gamson (1987) afirmam que altas expectativas são importantes para
todos, desde o mais pobremente preparado ou motivado até os mais brilhantes e
bem motivados. Os autores sugerem ainda que as expectativas e esforços dos
professores e administradores podem permear a instituição, criando um clima
institucional que seja desafiador para o aluno, ou mesmo que demande pouco deles.
Nesse sentido, é necessário que o professor conheça as características e o perfil
dos alunos com os quais interage no ambiente de sala de aula, para que, no
momento do seu planejamento, ele consiga postular metas desafiadoras a tal ponto
que exijam muito dos alunos, mas que, ao mesmo tempo, não as torne
inalcançáveis.
7. A boa prática respeita os diversos talentos e as diferentes formas de
aprendizagem
Esse sétimo e último princípio, de certa forma, menciona todos os outros citados
anteriormente, pois, considera que o professor, no exercício da atividade de ensino,
deve olhar para os seus educandos e identificar neles a melhor forma pela qual eles
aprendem, para, a partir daí planejar suas aulas de tal forma que contemple os
diferentes tipos de aprendizagem.
Essa tarefa é um tanto quanto desafiadora, visto que, conforme a heterogeneidade
da turma com a qual se está lidando, várias técnicas devem ser desenvolvidas para
que a pluralidade de perfis de aprendizagem seja contemplada.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
O enfoque escolhido para o desenvolvimento deste trabalho foi o quantitativo e
utilizou a (i) Pesquisa Bibliográfica e (ii) Levantamento (Survey).O principal
instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário, que teve como ponto de partida
o instrumento original elaborado dentro da Teoria dos Princípios de Ensino
Aprendizagem de Chikering e Gamson, o chamado FactoryInventory. O
FactoryInventory foi desenvolvido durante a década de 80 para ser aplicado em
cursos de graduação norte americanos. Após a análise e entendimento das 70
questões abordadas pelo instrumento, os autores customizaram-no de acordo com a
realidade brasileira dos cursos de pós-graduação.
Com o questionário adaptado em mãos, os pesquisadores foram à campo no dia 10
de maio de 2014 para realizar um pré-teste, a fim de identificar eventuais erros.
Após correção de algumas ponderações feitas durante o pré-teste, a estrutura do
questionário final foi a seguinte: (i) introdução sobre os objetivos do questionário; (ii)
29 questões fechadas de múltipla escolha por meio de Escala Likert de cinco pontos
(Concordo Totalmente, Concordo Parcialmente, Não Concordo Nem Discordo,
Discordo Parcialmente e Discordo Totalmente). Cada questão está relacionada com
cada um dos 29 indicadores distribuídos entre as 7variáveis, que eram os própios
princípios. Desta forma, 6 das variáveis tiveram 4 questões e 1 variável teve 5
questões; (iii) uma pergunta aberta; e (iv) caracterização do respondente (dados
demográficos).
4. CONTEXTO DA PESQUISA
Por meio do Problema de Pesquisa, pode-se perceber que o objeto de análise do
presente estudo são os cursos de Pós-graduação, mais especificamente, o corpo
acadêmico. É sabido que esses cursos podem ser denominados como Stricto Sensu
ou Lato Sensu, a depender do objetivo, seja acadêmico no caso do primeiro, ou
profissional no caso do segundo. Como os perfis dos alunos dessas duas categorias
são divergentes, optou-se pela escolha de apenas uma: os Cursos de Pós-
graduação Lato Sensu.
O estudo foi delimitando à cidade de Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, em sua
única faculdade com cursos de pós-graduação: a FAI-Centro de Ensino Superior em
Gestão, Tecnologia e Educação. Assim,o universo de pesquisa deste trabalho é
constituído pelo corpo acadêmico dos cursos de Pós-graduação Lato Sensu da FAI,
que são: Gestão Estratégica de Marketing (GEM); Gestão Financeira e Controladoria
(GFC); Gestão Estratégica de Pessoas (GEP); Gestão de Operações e Logística
(GOL); Gestão Estratégica de Projetos com Metodologia PMI (GPMI),
Desenvolvimento Ágil de Aplicativos para Web (DAA), Docência do Ensino Superior
e Supervisão Educacional (DSE) e Psicopedagogia Institucional e Clínica (PIC). A
população de professores em 17 de maio de 2014 era igual à 32, enquanto que a
população de alunos era igual à 204. A distribuição dos alunos nos respectivos
cursos está demonstrada no quadro 1(ver anexo).
Perfil da Amostra
Quantos às características inerentes à amostra,demonstram como os alunos de Pós-
graduação da FAI podem ser perfilados.Por meio dos gráficos 1à5 (ver anexo),
pode-se ressaltar o seguinte perfil dos alunos de Pós graduação da FAI: (i) há mais
mulheres do que homens nos cursos de Pós-graduação da FAI; (ii) o público é
predominantemente adulto-jovem, com apenas 8,4% dos alunos com mais de 40
anos; (iii) os alunos predominantemente graduaram-se em faculdades privadas.
Esse fato pode ser explicado devido à escassez de Universidades Públicas na
Microrregião de Santa Rita do Sapucaí-MG; (iv) a grande maioria dos alunos
formaram-se na graduação a pouco tempo. 65% dos alunos graduaram-se entre
2011 e 2013; e (v) em coerência com a faixa etária dos alunos e tempo de formação
na graduação, a maioria dos alunos (83%) possuem menos de 10 anos de
experiência profissional na área de especialidade do curso da Pós-graduação.
5. PRINCIPAIS ACHADOS
Conforme explicado anteriormente, a Teoria dos Sete Princípios de Ensino
Aprendizagem foi explorada unicamente em cursos de graduação, o que gerou a
motivação para identificar sua aplicabilidade em cursos de Pós-graduação, com a
seguinte Pergunta Problema: “Quais princípios de ensino-aprendizagem são
reconhecidos em cursos de Pós-graduação?”
Por meio de uma análise estatística descritiva das questões de múltipla escolha com
Escala Likert de cinco pontos, (onde 1 ponto significa “Discordo Totalmente” e 5
pontos significa “Concordo Totalmente”) pôde-se perceber que (i) um percentual não
significativo de alunos e professores discordaram dos indicadores que mediam cada
uma das variáveis e (ii) a média do grau de concordância final de todas as variáveis
ficou entre 4 pontos (Concordo Parcialmente) e 5 pontos (Concordo Totalmente). Ou
seja tanto o corpo docente, como o corpo discente dos cursos de Pós-graduação
reconhecem a importância e validez de todos os Sete Princípios de Ensino
Aprendizagem nos cursos de Pós-graduação Lato Sensu, como se pode ver nos
quadro 2 e 3 em anexos.
Por outro lado, ao focar nos objetivos secundários da pesquisa, algumas
constatações puderam ser identificadas.
1) Comparar as opiniões do corpo discente com as do corpo docente sobre os
princípios de ensino aprendizagem: No que diz respeito à comparação da opinião
entre corpo discente e docente, não foram encontradas diferenças significativas em
nenhuma variável, conforme é retrado também nos quadros 2 e 3.
2) Comparar as opiniões dos discentes dos diferentes cursos de pós-
graduação sobre quais são os princípios de ensino aprendizagem: ao se
comparar o reconhecimento dos princípios de ensino-aprendizagem nos diferentes
cursos de pós-graduação, percebeu-se que há uma pequena diferença no Curso de
Docência do Ensino Superior e Supervisão Educacional em dois princípios, (i)
Cooperação entre os alunos e (ii) Feedback imediato, frente ao reconhecimento dos
outros cursos, conforme é demonstrado nos gráficos 5 e 6 em anexo.
No princípio “Cooperação entre Alunos”, os discentes dos cursos da área de
educação tiveram maior grau de concordância quanto à importância de questões
como: (i) trabalho em grupo em sala de aula; (ii) trabalho em grupo fora de sala de
aula; (iii) discussões em grupo em sala de aula; e (iv) coordenação de atividades
entre alunos de diferentes cursos.
Conforme Santos (2001), apesar da efetividade de um método de ensino depender
de fatores como objetivos a serem alcançados, aluno, conteúdo e professor, pode-se
afirmar que técnicas de ensino que propiciam a interação entre os alunos – aluno
ensinando aluno – são superiores às técnicas mais passivas, como uma aula
expositiva.
É importante salientar que os Cursos de Educação são formados por grupos
menores de discentes, o que pode facilitar a relação de cooperação entre os alunos.
Contudo, essa dedução necessitaria de análises mais aprofundadas para ser
certificada.
Quanto ao princípio “Feedback Imediato aos alunos”, os discentes da área de
Educação tiveram maior grau de concordância quanto à importância de questões
como: (i) comentário do professor das avaliações em sala; (ii) acompanhamento
individual do desempenho dos alunos pelo professor; (iii) incentivo da avaliação
mútua entre os alunos; e (iv) existência de tutores para o acompanhamento
individual de alunos com baixo desempenho.
Alguns estudos, a exemplo de Menger e Mathis (1968), salientam que os conteúdos
ensinados são melhor aprendidos quando seguidos por um teste, sendo importante,
portanto, comunicar os resultados do teste assim que possível.
Novamente, o menor número de alunos nos cursos da área de Educação pode ter
influenciado na avaliação dessa variável, uma vez que é mais fácil para o professor
prestar um feedback imediato individual quando as turmas são menores.
Além disso, uma vez que o objetivo dos cursos da área de Educação está
diretamente atrelado ao proceso de ensino-aprendizagem, é esperado que os alunos
concordem em maior grau com a importância de determinados princípios, nesse
caso, o Príncipio de Cooperação entre Alunos e o Princípio de Feedback Imediato.
3)Identificar outros potenciais princípios de ensino aprendizagem
valorizadas pelo corpo acadêmico: finalmente, os alunos e professores, após
responderem questões relacionadas à todos os Sete Princípios de Ensino-
aprendizagem, foram solicitados à indicarem questões importantes para o proceso
de ensino-aprendizagem que não tivessem sido abordadas anteriormente. Essa fase
do questionário foi importante porque os princípios tratados foram desenvolvidos na
década de 80 e, da mesma forma que alguns deles pudessem não ser mais
reconhecidos, outros poderiam não estar sendo abordados para a realidade atual.
Com isso, duas novas questões foram levantadas: (i) Relação/Cooperação da
academia com o mercado profissional; e (ii) Utilização de ambiente virtual de
aprendizagem.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho era identificar quais princípios de ensino-aprendizagem
são reconhecidos em cursos de Pós-graduação. Neste estudo todos os princípios
foram reconhecidos pelo corpo docente e discente, demostrando que o
reconhecimento dos setes princípios é muito importante para gerar um processo
pedagógico efetivo, independetemente da aula, do conteúdo e do nível dos cursos,
seja em cursos de graduação ou pos-graduação.
A pesquisa aqui conduzida, apesar de limitada a uma situação particular, onde a
questão como tal, em si, tem valores implícitos, faz com que as pessoas, pela lógica,
reconheçam a validez do tema. No entanto, o estudo como tal cumpriu, em parte,
com os objetivos ao comparar as opiniões dos discentes dos diferentes cursos
pesquisados, confirmando o reconhecimento da teoría destes setes princípios, os
quais inicialmente só foram aplicados e desenvolvidos nos cursos de graduação
(CHICKERING; GAMSON, 1987).
Em relação ao primeiro objetivo, que foi comparar as opiniões do corpo discente
com as do corpo docente sobre os princípios de ensino aprendizagem, devido ao
tamanho da amostra, principalmente dos professores, não foi possível obter uma
comparação estatísticamente confiável, embora os dois grupos parecem concordar
no reconhecimento dos princípios.
Além desta limitação anteriormente citada, este estudo também foi afetado pelo
tamanho de amostra, a qual tinha muita diferença entre o número de professores e
aluno entrevistados, isto fez com que a analise estatística não resultasse em
comparações que fossem estatísticamente confiáveis.
Para estudos futuros, a contribuição é identificar por meio de outros métodos de
natureza qualitativa,que permitam explorar como os princípios são realmente
aplicados pelo corpo docente e se os alunos consideram que os professores
praticam estes princípios. Este estudo deveria ser feito em cursos de pós-graduação
latu sensu, cursos de graduação e cursos de pós-graduação stricto sensu, levando
em consideração que o perfil dos estudantes é diferente, assim como as
metodologias usadas pelos professores.
Finalmente foram identificadas propostas de possíveis princípios que pudessem ser
valorizados dentro da teoria, as quais estão relacionadas com as mudanças que
vinham acontecendo no campo de ensino, geradas pelo desenvolvimento
tecnológico e a importância da interação entre a academia e mercado profissional.
Estas mudanças influem nos interesses que os professores e alunos têm sobre o
processo de ensino aprendizado, colocando em consideração a reavaliação
contínua desses princípios e a possibilidade de avaliar em estudos futuros outros
princípios que possam afetar o processo de ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS
Chickering, A. W. & Gamson, Z.F. (1991). Applying the Seven Principles for Good Practice in Undergraduate Education . San Francisco: Jossey-Bass.
Chickering, A. W., & Gamson, Z. F. (1987). Seven Principles for Good
Practice in Undergraduate Education. AAHE Bulletin, 39(7), 3-7. Gagné, R. M. (1974). Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos Editora S.A. Godoy, A.S. (1988). Didática para o Ensino Superior. São Paulo: IGLU Editora
Ltda. Lin, Y., Mckeachie, W. J., Pintrich, P. R., & Smith, D. (1986). Teaching and
Learning in the College Clasroom: A review of the research literature. Ann Arbore: National Center for Research to Improve Postsecondary Teaching and Learning, University of Michigan.
Mathis, B., & Menger, R. (1968). Key Resources on Teaching, Learning,
Curriculum, and Faculty Development: A guide to the Higher Education Literature.San Francisco: Jossey-Bass.
Santos, S. (2001). O processo de Ensino-aprendizagem e a relação
professor-aluno:aplicação dos " sete princípios para a boa prática na educação de ensino superior". Caderno de Pesquisa em Administração, 8 (1), 70-82.
Pádua, G. (2009). A Epistemologia Genética de Jean Piaget. Revista
FACEVV, nº2, 22-35.
ANEXOS
Quadro 1: Universo de pesquisa
GEM GFC GEP GOL GPMI DAA DSE PIC
Quant de turmas 02 02 02 02 02 02 02 02
Número de alunos 25 32 28 30 25 24 10 30
Gráfico1: Sexo dos alunos de Pós-graduação da FAI
Gráfico 2: Faixa etária dos alunos de Pós-graduação da FAI
Gráfico 3: Natureza da Instituição de Ensino de Graduação que os alunos de Pós-graduação da FAI procedem.
Gráfico 4: Ano de formação da Graduação dos alunos de Pós-graduação da FAI
Gráfico 5: Anos de experiência profissional na área de especialidade dos alunos de Pós-graduação da FAI
Quadro 2: Apresentação da Estatística Descritiva – Alunos X Variáveis
Femenino 58%
Masculino 42% Feminino
Masculino
0,00%
50,00%
100,00%
De 21 à 30 anos
De 31 à 40 anos
De 41 à 50 anos
De 51 à 60 anos
Privada 95%
Pública 5%
Privada
Pública
4,71% 5,88%
24,71%
64,71%
Anterior à 2000
Entre 2000 e 2005
Entre 2006 e 2010
Entre 2011 e 2013
49%
34%
11% 4% 3%
Entre 0 e 5 anos
Entre 6 e 10 anos
Entre 11 e 15 anos
Entre 16 e 20 anos
21 ou mais
Quadro 3: Apresentação da Estatística Descritiva – Professores X Variáveis
Gráfico 6: Média de Concordância do Princípio “Cooperação entre Alunos” por
Curso de Pós-graduação Lato Sensu
Gráfico 7: Média de Concordância do Princípio “Feedback Imediato aos
Alunos” por Curso de Pós-graduação Lato Sensu