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PRINCÍPIOS E EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL NAS CONSTITUIÇÕES BRAS

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PRINCÍPIOS E EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

INTRODUÇÃO

O meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído do que definível, como conseqüência da riqueza da complexidade do que encerra. Daí a dificuldade para sua adequada classificação jurídica, e, por via de conseqüência, da identificação natureza jurídica do próprio Direito Ambiental.

José Afonso da Silva, por exemplo, recusa a catalogação do patrimônio ambiental como integrante de qualquer das categorias tradicionais de bens, públicos ou privados. Prefere enxergá-lo naquela outra categoria que a doutrina vem chamando de bens de interesse público, na qual se inserem tanto bens pertencentes a entidades públicas como bens dos sujeitos privados subordinados a uma particular disciplina para a consecução de um fim público. Vale transcrita, a respeito, elucidativa e expressiva passagem do insigne Professor: “A Constituição, no art. 225, declara que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Veja-se que o objeto do direito de todos não é o meio ambiente em si, não é qualquer meio ambiente. O que é objeto do Direito é o meio ambiente qualificado. O direito que todos temos é à qualidade satisfatória, o equilíbrio ecológico do meio ambiente . Essa qualidade é que se converteu em um bem jurídico. A isso é que a Constituição define como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

1.       Princípios Fundamentais do Meio Ambiente

O Direito, como ciência social e humana, pauta-se também pelos postulados da Filosofia das Ciências, entre os quais está a necessidade de princípios constitutivos para que a ciência passa a ser considerada autônoma, ou seja, suficientemente desenvolvida e adulta para existir por si e situando-se num contexto científico dado.

Por isso, no natural empenho de legitimar o Direito Ambiental, como ramo autônomo da árvore da ciência jurídica, têm os estudiosos se debruçado na identificação dos princípios ou mandamentos básicos que fundamentam o desenvolvimento da doutrina e que dão consistência às suas concepções.

1.1       Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana

A par dos direitos e deveres individuais e coletivos elencados no art. 5º, o legislador constituinte, no caput do art. 225, um novo direito fundamental da pessoa humana, direcionado ao desfrute de condições de vida adequada em um ambiente saudável, ou, na dicção da lei, “ecologicamente equilibrado”.

O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio configura-se, na verdade, como extensão do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade desta existência – a qualidade de vida – que faz com valha a pena viver.

1.2       Princípio da Natureza Pública da proteção ambiental

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Este princípio decorre da previsão legal que considera o meio ambiente como um valor a ser necessariamente assegurado e protegido para uso de todos ou, como queiram para a fruição humana coletiva.

Por conseguinte, a partir desta constatação, a proteção ao meio ambiente não pode ser mais considerada um luxo ou uma utopia, pois o reconhecimento deste interesse geral permitirá um novo controle de legalidade e estabelecerá instrumentos aptos a fazer respeitar o novo objetivo do Estado. Existiria, assim, uma ordem pública ambiental, tendo por fonte básica a lei, e segundo a qual o Estado asseguraria o equilíbrio harmonioso entre o homem e seu ambiente.

De certa maneira, mantém o princípio ora em exame estreita vinculação com o princípio geral de Direito Público da primazia do interesse público e também com o princípio do Direito Administrativo da indisponibilidade do interesse público. É que o interesse na proteção do ambiente, por ser de natureza pública, deve prevalecer sobre os direitos individuais privados, de sorte que, sempre que houver dúvida sobre a ser norma aplicada a um caso concreto, deve prevalecer aquela que privilegie os interesses da sociedade - a dizer, in dubio pro ambiente. De igual sentir, a natureza pública que qualifica o interesse na tutela do ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o também indisponível.

Não é dado, assim, ao Poder Público – menos ainda aos particulares- transigir em matéria ambiental, apelando para uma disponibilidade impossível.

1.3       Princípio do controle poluidor pelo Poder Público

Resulta das intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente.

A ação dos órgãos e entidades públicas se concretiza através do exercício do seu poder de policiamento administrativo, se utilizando da faculdade inerente à administração pública para limitar o exercício dos direitos individuais, visando o bem-estar coletivo. Mas não só das determinações de polícia se alimenta o princípio, afinal, toda política ambiental tem características pedagógicas, no sentido que é um trabalho mais educativo que repressivo.

No Brasil, o princípio encontra respaldo em vários pontos da lei ordinária (v.g, art 5º, § 6º, da Lei 7.347/85) e na própria Constituição Federal que, expressamente, diz ser incumbência do Poder Público “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (Art. 225, § 1º, V).

1.4       Princípio da consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvimento.

Este princípio diz com elementar obrigação de se levar em conta a variável ambiental em qualquer ação ou decisão –pública ou privada – que possa causar algum impacto negativo sobre o meio . A consagração deste princípio se deu com o surgimento, no final dos anos 60, nos EUA, do Estudo do Impacto Ambiental, mecanismo através do qual se procura prevenir a poluição e outras agressões à natureza, avaliando-se, antecipadamente, os efeitos da ação do homem sobre seu meio.

Entre nós a matéria tem status constitucional, sendo, também, regulamentada pela legislação infraconstitucional.

1.5       Princípio da participação comunitária

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O princípio da participação comunitária, que não é exclusivo do Direito Ambiental, expressa a idéia de que para a resolução dos problemas do ambiente ser dada especial ênfase à cooperação entre o Estado e a sociedade, através da participação dos diferentes grupos sociais na formação e na execução da política ambiental. De fato, é fundamental o envolvimento do cidadão no equacionamento e implementação da política ambiental, dado que o sucesso desta supõe que todas as categorias da população e todas as forças sociais, conscientes de suas responsabilidades contribuam à proteção e melhoria do ambiente, que, afinal, é bem e direito de todos. Exemplo concreto deste princípio são as audiências públicas em sede de estudo prévio de imposto ambiental.

No Brasil, o princípio vem contemplado no art. 225, caput, Constituição Federal, quando ali se prescreve ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

1.6       Princípio do Poluidor-pagador

Assenta-se este princípio na vocação redistributiva do Direito Ambiental e se inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que acompanham o processo produtivo devem ser internalizados, vale dizer, que os agentes econômicos devem levá-los em conta ao elaborados custos de produção e, conseqüentemente, assumi-los. Esse princípio – escreve Prieur – visa a imputar ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, engendrando um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos efeitos da poluição não somente sobre bens e pessoas, mas sobre toda a natureza. Em termos econômicos, é a internacionalização dos custos externos. Com a aplicação do princípio poluidor-pagador , procura-se corrigir este curso adicionado à sociedade, impondo-se sua internacionalização

Entre nós, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, acolheu o princípio do poluidor-pagador , estabelecendo, como um desses fins , a imposição , ao poluidor e ao predador, da obrigação d recuperar e/ou indenizar os danos causados. Em reforço a isso assentou a Constituição Federal “que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar danos causados.

1.7       Princípio da Prevenção

O princípio da prevenção é basilar em Direito Ambiental, concernindo à prioridade que deve ser dada às medidas que evitem o nascimento de atentados ao ambiente, de modo a reduzir ou eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar a sua qualidade. Tendo o Direito Ambiental caráter fundamentalmente preventivo, sua atenção está voltada para o momento anterior à consumação do dano – o do mero risco. Ou seja, diante da pouca valia da simples reparação, sempre incerta e, quando possível, excessivamente onerosa, a prevenção é a melhor, quando não a única solução.

O estudo de impacto ambiental, previsto no art. 225 , §1º,IV, CF, bem como a preocupação do legislador em controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, manifestada no mesmo artigo , inciso IV, são exemplos típicos deste direcionamento preventivo.

Esse princípio da precaução acabou inscrito expressamente na legislação pátria através da “Conferência sobre Mudanças do Clima” , acordada pelo Brasil na âmbito da Organização das Nações Unidas por ocasião da ECO 92, e ratificada pelo Congresso Nacional , via Decreto Legislativo 1, de 3 de fevereiro de 1994.

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1.8       Princípio da Função Sócioambiental da propriedade

Concebida como direito fundamental, a propriedade não é, contudo, aquele direito que se possa erigir à suprema condição de ilimitado e inatingível. Daí o acerto do legislador em proclamar, de maneira veemente, que o uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social.

A função social da propriedade urbana vem qualificada no art. 182, § 2º, da Constituição, ou seja, é cumprida quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor. A função social da propriedade rural, de sua parte, encontra qualificação no art. 186 da mesma Carta , que a tem por cumprida quando atende, entre outros requisitos, à utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e à preservação do meio ambiente.

Destarte, o uso da propriedade pode e deve ser judicialmente controlado, impondo-se-lhes as restrições que forem necessárias para a salva guarda dos bens maiores da coletividade, de modo a conjurar, por comandos prontos e eficientes do Poder Judiciário, qualquer ameaça ou lesão à qualidade de vida.

Com efeito, não se pode falar, na espécie em qualquer direito adquirido na exploração dessas áreas, pois, com a Constituição de 1988, só fica reconhecido o direito de propriedade quando cumprida a função social ambiental, como seu pressuposto e elemento integrante, pena de impedimento ao livre exercício ou até de perda desse direito.

1.9       Princípio do direito ao direito ao desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável é definido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento como “ aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades “, podendo também ser empregado com o significado de “melhorar e qualidade de vida humana, dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas.

No princípio do direito ao desenvolvimento sustentável, direito e dever estão de tal forma imbricados um no outro que, mais do que termos relativos, são termos recíprocos, mutuamente condicionantes. Daí a legitimidade, a força e a oportunidade desse princípio como referência basilar do Direito do Ambiente.

1.10       Princípio da cooperação entre os povos

A Constituição brasileira, em seu art.4º, IX, estabelece como princípio nas suas relações internacionais a “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”.

Ora, uma das áreas de interdependência entre as nações é a relacionada à proteção do ambiente, uma vez que as agressões a ele infligidas nem sempre se circunscrevem aos limites territoriais de um único país, espraiando-se também, não raramente, a outros vizinhos ou ao ambiente global do planeta. O meio ambiente não conhece fronteiras, embora a gestão de recursos naturais possa – e, às vezes, deva – ser objeto de tratados e acordos bilaterais e multilaterais.

2.       A questão ambiental nas Constituições brasileiras

As Constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do ambiente de forma específica e global. Nelas sequer uma vez foi empregada a expressão meio ambiente , a revelar total inadvertência ou, até, despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.

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A Constituição do Império, de 1824, não fez qualquer referência à matéria, apenas cuidando da proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão (art. 179). Sem embargo a medida já trazia certo avanço para o contexto da época.

A Constituição Republicana, 1891, atribuía competência legislativa à União para legislar sobre as minas e terras. (art. 34)

A Constituição de 1934 dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural (art 10, III e 148); conferiu à União competência em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração. (art 5º )

A Carta de 1937 também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza (art. 134); incluiu entre as matérias de competência da União legislar sobre minas , águas, florestas, caça, pesca e sua exploração (art. 16); cuidou ainda da competência legislativa sobre o subsolo, águas e florestas no art. 8, onde também tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos.

A Constituição de 1946, além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico (art. 175), conservou como competência da União legislar sobre normas gerais da defesa da saúde, das riquezas do subsolo, das águas, das florestas, caça e pesca.

A Constituição de 1967 conservou a necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e paisagístico (art. 172, parágrafo único); conservando à União as mesmas atribuições anteriores.

A carta de 1969, emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico(art. 180, parágrafo único). No tocante às competências, manteve as disposições da Constituição emendada.

Do confronto entre as várias Constituições brasileiras, é possível extrair alguns traços comuns:a) desde a Constituição de 1934, todas mantiveram a proteção ao patrimônio histórico, paisagístico e cultural do paísb) houve constante indicação no texto constitucional da função social da propriedade, solução que não tinha em mira - ou era insuficiente para – proteger efetivamente o patrimônio ambientalc) jamais se preocupou o legislador constitucional em proteger o meio ambiente de forma específica e global, mas sim dele cuidou de maneira diluída e mesmo casual, referindo-se separadamente de alguns de seus elementos integrantes (florestas, caça, pesca), ou disciplinando matérias com ele indiretamente relacionadas (mortalidade infantil, saúde, propriedade)

3 A Constituição de 1988

A Constituição de 1988 pode muito bem ser denominada “verde” , tal o destaque que dá a proteção ao meio ambiente.

Na verdade, a nova Constituição captou com indisputável oportunidade o que está na alma nacional – a consciência de que é preciso aprender a conviver harmoniosamente com a natureza - , traduzindo em vários dispositivos o que pode ser considerado um dos sistemas mais abrangentes e atuais do mundo sobre a tutela do meio ambiente. A dimensão conferida ao tema não se resume, bem de ver, aos dispositivos concentrados especialmente no Capítulo VI, no Título VIII, dirigido à Ordem Social, mas alcança também inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos Títulos e Capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria.

A esse texto, tido como o mais avançado do Planeta em matéria ambiental, secundado pelas Cartas

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estaduais e Leis Orgânicas municipais, vieram somar-se novos e copiosos diplomas legais oriundos de todos os níveis do Poder Público e da hierarquia normativa, voltados à proteção do desfalcado patrimônio natural do país.

4.Deveres específicos do Poder Público

O dever estatal geral de defesa e preservação do meio ambiente é fragmentado em deveres específicos, igualmente constitucionalizados. Em síntese são eles:

4.1 Preservação e restauração dos processo ecológicos essenciais (art. 225, §1º, I, 1ª parte)

Cuida-se, aqui, de garantir, através de ações conjugadas de todas as esferas e modalidades do Poder Público, o que se encontra em boas condições originais e recuperar o que foi degradado.

4.2 Promoção do manejo ecológico das espécies e ecossistemas (art. 225, §1º, I, 2ª parte)

Aplicado ao substantivo manejo, o adjetivo ecológico conota o caráter técnico-científico dos recursos naturais, sem embargo, ele deve ser tomado em sua acepção mais ampla, ou seja, à luz do que se conhece por gestão ambiental. Prover o manejo ecológico das espécies significa lidar com elas de modo a conservá-las e, se possível recuperá-las.

4.3 Preservação da biodiversidade e controle da entidades de pesquisa e manipulação de material genético ( art. 225, §1º,II)

Biodiversidade ou diversidade ecológica vem a ser a variedade de seres que compõem a vida na Terra.

Preservar a biodiversidade significa reconhecer, inventariar, e manter o leque dessas diferenças. Quando a variedade de espécies em um ecossistema muda , a sua capacidade em absorver a poluição, manter a fertilidade do solo, purificar a água também é alterada.

4.4 Definição de espaços territoriais protegidos ( art. 225, §1º, III)

Os espaços territoriais especialmente protegidos a que alude a Constituição figuram hoje no rol dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Vale dizer, que este é um dos instrumentos jurídicos para implementação do Direito Constitucional ao ambiente hígido e equiibrado.

O Poder Público deve definir os espaços territoriais a serem protegidos, pode fazê-lo por lei ou por decreto. Porém a alteração ou supressão desses espaços só pode ser feita por lei, mesmo se criados delimitados por decreto.

4.5 Realização de estudo prévio de impacto ambiental( art.225, §1º, IV)

O objetivo central da Estudo de Impacto Ambiental é simples: evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o prisma econômico ou em relação aos interessas imediatos de seu proponente, revele-se posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente.

4.6 Controle da produção, comercialização, e utilização de técnicas, métodos e substâncias nocivas à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente (art.225, §1º,V)

Decompondo o objeto da ação controladora do Poder Público, definido pela nessa lei maior, verificamos que não apenas as substâncias nocivas são proscritas mas, ainda, técnicas e métodos

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danosos à qualidade de vida e meio ambiente. Vale salientar que tecnologias e processos produtivos obsoletos , inadequados ou impróprios, de qualquer forma atentatórios à saúde humana e à ambiental não podem ser produzidos, comercializados ou utilizados.

4.7 Educação Ambiental

A educação ambiental sob o aspecto formal, refere-se ao ensino programado das escolas, em todos os graus, seja no ensino privado, seja no oficial.

As melhores concepções e teorias recomendam que faça parte de um currículo interdisciplinar, ao invés de constituir uma disciplina isolada. É este o sentir da Lei nº 9.795/99, que no seu art. 10, §3º , prescreve que “a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”.

4.8 Proteção à fauna e à flora ( art. 225, §1º,VII)

A Constituição da República de 1988, ao determinar em seu art. 225, §1º, VII, ao Poder Público a incumbência de protegera fauna e a flora, submeteu ao manto da lei todos os animais e vegetais.

CONCLUSÃO

Legislar, não é o bastante. É fundamental que todas as pessoas e autoridades responsáveis se lancem ao trabalho de tirar essas regras do limbo da teoria para a existência efetiva da vida real, pois, na verdade, o maior dos problemas ambientais brasileiros é desrespeito generalizado ,impunido ou impunível, à legislação vigente.

É preciso, numa palavra ultrapassar-se a ineficaz retórica ecológica – tão inócua quanto aborrecia – por ações concretas em favor do ambienta e da vida. Do contrário, em breve, nova modalidade de poluição – poluição regulamentar – ocupará o centro de nossas preocupações.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VIDO MEIO AMBIENTE

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)

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II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;   (Regulamento)     (Regulamento)

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;  (Regulamento)

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.  (Regulamento)

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

 

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A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E O MEIO AMBIENTE

Marcus J.S. Cardinelli *

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A Constituição tem como função organizar o poder do Estado de forma racional e os princípios fundamentais, criando uma ordem coercível, fator indispensável à estrutura estatal e ao Estado Democrático de Direito. É a lei superior na hierarquia das leis de um Estado.

O professor José Afonso da Silva explica que a Constituição “é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas, religiosas etc.); como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, como causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo. Não pode ser compreendida e interpretada, se não se tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, como é tudo aquilo que integra um conjunto de valores.”1

A Constituição brasileira foi criada de forma muito rica e ampla, sendo atualmente uma das que contemplam, com maior detalhamento, os direitos humanos dentre os ordenamentos do mundo, abordando, inclusive, a proteção ambiental, que é o objeto da análise que passamos a tecer.

É necessário, inicialmente, analisar o significado da expressão “meio ambiente”.

Isabella Franco Guerra tece os seguintes comentários, com base na legislação brasileira:

Ambiente, segundo as concepções a seguir reproduzidas, quer dizer: “lugar, espaço, recinto, do latim ambiens, entis”; “o ar que nos rodeia. O meio material ou moral em que vive”; “lugar, espaço, recinto; roda; esfera em que vivemos. (do lat. ambiente = que cerca)”.

Ambiente significa o espaço, o meio em que se vive, é nele que a vida se realiza.

A definição jurídica para meio ambiente foi estabelecida através da promulgação da Lei n.º 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, conceituando-o, no inciso I do art. 3º, como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” 2

A Constituição protege o meio ambiente com os seguintes artigos:

O art. 1º trata dos princípios de organização do Estado brasileiro e da democracia como meio da dignidade da pessoa. Nesse sentido, para assegurar uma vida digna, o ser humano precisa habitar um ambiente sadio, o que é essencial para a saúde e o bem-estar.

O art. 5º consagra direitos humanos fundamentais e instrumentos para sua garantia, como o direito à vida, à igualdade, direitos esses que salvaguardam a dignidade humana, e nos incisos XVII e XVIII trata do direito à propriedade e sua função social.

Os artigos. 23 e 24 definem as competências nas várias esferas de fiscalização e proteção, falando sobre as questões de legislação e meios de proteção ao meio ambiente como fator fundamental nas várias esferas do Município, Estado-membro, Distrito Federal e União.

O art. 30 aborda especificamente a competência municipal de complementar a legislação federal conforme necessidades específicas, inclusive a questão da ocupação do solo e a proteção do patrimônio histórico-cultural.

O art. 170 trata da ordem econômica e da seguridade de uma existência digna, as quais consagram princípios como o da proteção ao meio ambiente e o da função social da propriedade.

O art. 182 trata da propriedade urbana, do papel do Município na garantia da função social da cidade e do bem-estar de seus habitantes e do aproveitamento do espaço urbano.

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O art. 184 aborda a questão da propriedade rural e a reforma agrária, objetivando que seja respeitada a função social e sua regulamentação.

O art. 186 trata da questão rural e define a função social da propriedade através da exigência do aproveitamento adequado dos recursos naturais, observando os preceitos da preservação ambiental para o favorecimento do bem-estar do proprietário e dos trabalhadores.

Os artigos 215 e 216 consideram, na esfera global, a proteção do meio ambiente natural e do meio ambiente construído, na forma de conjuntos de diversos valores que contam a história de um povo e o identificam culturalmente.

O art. 225 especifica o dever de proteção do meio ambiente pela sociedade e pelo poder público.

O meio ambiente é fator essencial à dignidade e à qualidade de vida. Restaurar, manter e proteger o meio ambiente em todas as suas formas é necessário para manter o equilíbrio da vida no planeta, como está definido no referido art. 225 da CRFB/88.

A Constituição de 1988 foi inovadora ao estabelecer a possibilidade de utilização da Ação Popular para tutelar o meio ambiente. No art. 5º, inciso LXXIII da CRFB/88, encontra-se previsto esse instituto da seguinte forma:

Art. 5º “(...)

LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;”

Dessa forma, o cidadão tem um remédio constitucional para assegurar o respeito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

No art. 129, inciso III da CRFB/88, consta a previsão da Ação Civil Pública para tutela do meio ambiente:

Art. 129 “São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;”

Em síntese, os artigos constitucionais, em conjunto, tratam da dignidade da vida humana, da necessidade de proteção a fatores indispensáveis a essa dignidade e do bem-estar com a proteção ambiental. Estabelecem, assim, instrumentos para assegurar um meio ambiente saudável e a preservação à cultura, exigindo o uso racional dos recursos do meio ambiente, a fim de garantir, dessa forma, o bem-estar para todas as pessoas, sem que haja degradação dos ecossistemas e do patrimônio ambiental. O direito ao meio ambiente equilibrado é considerado inalienável, e sua proteção é justificada por trazer o desenvolvimento econômico, a redução da pobreza e a melhoria da qualidade da vida humana.

BIBLIOGRAFIA

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 2ª ed. Trad. Carlos N. Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

GUERRA, Isabella Franco. Ação Civil Pública e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.

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A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NOS 20 ANOS DA

CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988._

A Constituição Federal de 1988 consagrou o direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225), destinando capítulo específico (VI) no Título (VIII) da Ordem Social. O fato de não constar do rol expresso do art. 5º do texto maior não o desqualifica como tal, conforme entendimento da doutrina (Bonavides, 1993) e da jurisdição constitucional (STF, RE 134.297-8-SP – Relator Min. Celso de Mello). Tal caracterização é significativa para reconhecer a titularidade coletiva do bem ambiental “de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” e a legitimação processual do cidadão pela Ação Popular (art. 5º, LXXIII) e do Ministério Público e de Associações legalmente constituídas para agir em prol da defesa deste importante patrimônio público através da Ação Civil Pública (art. 129, III). Sabiamente, o Constituinte de 1988 fixou um compromisso perene na defesa ambiental, pois impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, estabelecendo assim um direito de titularidade intergeracional. É como disse no Sec. XIX o Chefe Sioux à um General americano: Não somos proprietários da terra, nós apenas a tomamos emprestada de nossos filhos. E para tornar efetivo o direito de se usufruir de um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, vale dizer: respirar ar não poluído; habitar locais com áreas verdes; preservar as espécies animais e vegetais; proteger as paisagens e monumentos naturais; identificar e preservar ecossistemas e biomas representativos, o Poder Público foi incumbido de tarefas constitucionais, que de pronto impõem dever de não agir em contrário à estas diretrizes e positivamente ações que constituem a política constitucional de proteção ambiental. Neste passo, cumpre destacar que cabe ao Poder Público, nas três esferas de governo, preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais (art. 225, §1º, I). Estes processos são os que mantém a vida em todas as suas formas. Cumpre ao Poder Público identificar seus elementos, sua interação, seus sistemas, mantê-los e se preciso, restaurá-los. Neste ponto, importante destacar a edição da Lei nº 8171/91, que estabelece a política agrícola, na medida em que determinou a recuperação das reservas florestais legais nas propriedades rurais, fixando prazo para o reflorestamento. É também fixado o dever de prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas (art. 225, §1º, I). A ação de controle envolve tanto a intervenção para minimizar o impacto de excesso de população de determinada espécie: ex. lebres no Sul; como para proteger espécies ameaçadas de extinção para que retornem a níveis equilibrados, como por exemplo o Projeto Tamar, que salvaguarda ninhos de tartarugas marinhas. Foi imposto o dever de preservar a diversidade e a integridade do

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patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação

_ Elizeu de Moraes Corrêa, Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do

Paraná

 

 

 

 

 

 

 

 

Constituição Brasileira de 1988 Meio Ambiente

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada a má fé, isento de custas judiciais e do ônus da subcumbência.

Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

Art. 24 - Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VI - florestas, caça, pesca,fauna, conservação da natureza, defesa o solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Art. 129 - São funções institucionais o Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

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VI -defesa o meio ambiente;

Art. 174 - Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.

Parágrafo 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros.

Art. 200 - Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, ecológico e científico.

CAPÍTULO VI: Do Meio Ambiente

Art. 225 - Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencialmente à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Parágrafo 1º - Para assegurar a efetividade desse direito,incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a biodiversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisas e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus competentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma a lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,estudo prévio de impacto ambiental, a que e dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida,a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a concientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, a práticas que coloquem em rico sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Parágrafo 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

Parágrafo 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados.

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Parágrafo 4º - A Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, a Serra o Mar, o Planalto Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma a lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Parágrafo 5º - São indispensáveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção os ecossistemas naturais.

Parágrafo 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

 

 

 

 

 

Princípios fundamentais em matéria ambiental nas Constituições brasileira e portuguesa

Os célebres princípios em matéria ambiental – nomeadamente, os princípios da prevenção, do desenvolvimento sustentável, do aproveitamento racional dos recursos naturais, do poluidor-pagador, da globalidade e da solidariedade inter-geracional – são formalizados em diversas constituições e tratados, adquirindo notória importância na ordem jurídica e nas agendas políticas governamentais.

O princípio da prevenção, pressupondo uma sociedade de risco, incumbe ao Estado, na figura do decisor público, munido da necessária cautela, a realização de um prognóstico das possíveis e prováveis conseqüências ambientais decorrentes de suas decisões, adotando, assim, as imperiosas medidas que as previnam ou minimizem. A avaliação de impacto ambiental, por exemplo, necessária à licença de atividades públicas e privadas potencialmente lesivas ao meio ambiente, é um procedimento administrativo de cunho preventivo. Através dela, os agentes públicos vetam ou condicionam a aprovação de obras ou projetos econômicos, visando à proteção dos recursos naturais. Tal princípio, no entanto, não somente vincula os Poderes de Estado, como também propicia parâmetros de atuação e comportamento das pessoas físicas e jurídicas. Segundo Luis Ortega Álvarez, "el principio de prevención es fundamental en la actuación ambiental, debido al alto potencial de irreparabilidad de los daños ambientales [...]" (1), considerando, inclusive, a fragilidade e a escassez de inúmeros componentes ecológicos. A despeito da pretensa existência de um princípio da precaução (2), de cunho prospectivo, doutrina Vasco Pereira da Silva:

o conteúdo do princípio da prevenção [...] tanto se destina, em sentido restrito a evitar perigos imediatos e concretos, de acordo com uma lógica imediatista e actualista, como procura, em sentido amplo, afastar eventuais riscos futuros, mesmo que não ainda inteiramente determináveis, de acordo com uma lógica mediatista e prospectiva, de antecipação de acontecimentos futuros. [...] Em minha opinião, preferível à separação entre prevenção e precaução como princípios distintos e autônomos é a construção de uma noção ampla de prevenção, adequada a resolver os problemas com que se defronta o jurista do ambiente. (grifo nosso). (3)

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Tal diretiva da atividade pública é expressamente consagrada nas Constituições brasileira e portuguesa, a saber:

«art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [...]» «§1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;. » (grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988).

« art. 66, n°2: Para assegurar o direito ao ambiente, [...] incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos: a) prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa, 1976).

O princípio do desenvolvimento sustentável, por sua vez, reclama a necessária avaliação e ponderação dos projetos de cunho econômico, tendo em vista os impactos e custos ambientais resultantes. Nesses aspectos, "la importancia de este principio es que pretende modular e integrar dos valores necesarios para la humanidad: el crecimiento económico del que se derive una mejor calidad de vida material y la protección del médio ambiente" (4), consubstanciados em uma relação custo-benefício. Em tal seara, os poderes públicos, no âmbito das atividades administrativa e legislativa, devem, segundo a denominada "fundamentação ecológica", justificar e demonstrar a sustentabilidade ambiental de suas medidas e decisões de desenvolvimento econômico, sob pena de afastamento, por inconstitucionalidade, de atos insuportavelmente gravosos para o meio ambiente (5).

« art. 66, n°2: Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos [...]: b) ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correcta localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-econômico e a valorização da paisagem; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa)       

Considerando a esgotabilidade e a fragilidade de inúmeros recursos naturais, o aproveitamento racional e adequado dos mesmos, pelas esferas pública e privada, é imperioso para o equilíbrio biótico, tornando-se um relevante princípio em matéria ambiental. As crises petrolíferas da década de 70, por exemplo, demonstraram e revelaram a necessária exploração racional de hidrocarbonetos, base das principais matrizes energéticas globais. As constituições brasileira e portuguesa abarcam o princípio nas seguintes disposições:

« art. 186: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.» «art. 225, §4°: A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. » (grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil).

« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: d) promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações. » « art. 93, n° 1: São objectivos da política agrícola: d) assegurar o uso e a gestão racionais do solo e dos restantes

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recursos naturais, bem como a manutenção da sua capacidade de regeneração; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa)

O princípio do poluidor-pagador, a cargo de produtores e consumidores, visa à compensação financeira dos danos ecológicos proporcionados pelas atividades de cunho econômico e os subseqüentes custos tendentes à regeneração ambiental. Em diversos países, a carga tributária existente sobre produtos e serviços abarca as denominadas green taxes, isto é, taxas associadas e direcionadas a fundos de preservação e reabilitação dos componentes ambientais naturais (6). Em Portugal, por exemplo, as reformas no sistema fiscal têm desempenhado um importante papel no cumprimento dos compromissos assumidos pelo país no âmbito do Protocolo de Kyoto. Nesses aspectos, cita-se, exemplificadamente, a redução dos impostos automotivos (7) agregados ao valor de veículos movidos a gás natural ou equipados com motores híbridos, da mesma forma que o Imposto de Valor Acrescentado (IVA), no âmbito do consumo de bens e serviços, é sensivelmente menor para o sistema de transporte público, propiciando um importante incentivo à sua utilização.

A doutrina brasileira, entretanto, apoiando-se na normativa constitucional pátria, alarga o campo de abrangência do princípio em questão, abarcando a responsabilidade civil em matéria ambiental.

« art. 225, §2°: Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. » (grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil).

« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com protecção do ambiente e qualidade de vida. » (Constituição da República Portuguesa)

As conseqüências trans-fronteiriças de inúmeros impactos ambientais propiciaram a formulação doutrinária do princípio da globalidade, cabendo a chefes de Estado, de governo e a autoridades legislativas pátrias o desenvolvimento de políticas ecológicas conexas ou comuns, tendentes à efetiva proteção dos componentes naturais a nível internacional. Deste princípio, emerge a perspectiva solidária, prolatada na Declaração do Rio (1992), pela qual os países desenvolvidos devem cooperar e auxiliar as nações de inferior condição econômica, no que tange à transferência de tecnologias que propiciem o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente nas suas diversas vertentes.

« Princípio 7: Os Estados cooperarão espírito de parceria global para conservar, proteger e recuperar a saúde e integridade do ecossistema da Terra. [...]; »

« Princípio 9: Os Estados deverão cooperar para reforçar as capacidades próprias endógenas necessárias a um desenvolvimento sustentável, melhorando os conhecimentos científicos através do intercâmbio de informações científicas e técnicas, e aumentando o desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de tecnologias incluindo tecnologias novas e inovadoras; »

« Princípio 18: Os Estados deverão notificar imediatamente os outros Estados de quaisquer desastres naturais ou outras emergências que possam produzir efeitos súbitos nocivos no ambiente desses Estados. Deverão ser envidados todos os esforços pela comunidade internacional para ajudar os Estados afetados por tais efeitos; »

O princípio da solidariedade inter-geracional, pressupondo a esgotabilidade dos recursos naturais, acentua o dever de observância dos interesses vindouros, isto é, dos direitos ambientais das futuras gerações. Para tanto, cabe a promoção dos princípios da precaução, do desenvolvimento sustentável e do aproveitamento racional dos recursos naturais, aliados a uma política fiscal reparadora.

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Conforme ensinamentos de Gomes Canotilho, "[...] os comportamentos ecológica e ambientalmente relevantes da geração actual condicionam e comprometem as condições de vida das gerações futuras" (8). Nesses aspectos, in verbis:

« art. 225, caput: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações" » (grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil).

« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: d) promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa)

Referências bibliográficas

(1) ÁLVAREZ, Luis Ortega. Lecciones de Derecho del Medio Ambiente. 2.ed. Valladolid: Editorial Lex Nova, 2000. p.52.

(2) O Tratado constitutivo da União Européia, por exemplo, prescreve que "a política da comunidade [...] basear-se-á nos princípios da precaução e da ação preventiva". Os países de língua inglesa utilizam, mormente, a distinção entre supracitados princípios, caminhando, no mesmo sentido, boa parte da jurisprudência internacional.

(3) SILVA, Vasco Pereira da. Verde: Cor de Direito – Lições de Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002. p.67.

Atentar-se para a distinção existente entre risco, de natureza futura, sobre o qual assenta-se o pretenso princípio da precaução; e perigo, de cunho imediatista, associado à lógica da prevenção, que acreditamos ser artificial e improcedente, assim como entendimento do professor Vasco Pereira da Silva.

(4) ÁLVAREZ, Luis Ortega. Lecciones de Derecho del Medio Ambiente. 2.ed. Valladolid: Editorial Lex Nova, 2000. p.50.

(5) SILVA, Vasco Pereira da. Verde: Cor de Direito – Lições de Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002. p.73.

(6) Parte das receitas lusitanas resultantes dos impostos cobrados em matéria ambiental é direcionada ao Fundo Florestal Permanente, que apóia a prevenção de fogos florestais e a gestão sustentável das reservas naturais.

(7) A tributação automotiva reflete os custos sociais decorrentes das emissões de poluentes, do desgaste das infra-estruturas públicas e da utilização de recursos não-renováveis – nomeadamente, hidrocarbonetos combustíveis –, proporcionados pela utilização de veículos automotores.

(8) CANOTILHO, J.J. Gomes. O direito ao ambiente como direito subjectivo. In: A tutela jurídica do meio ambiente: presente e futuro. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra - Stvdia Ivridica 81, Colloquia 13. Coimbra: Coimbra Editora, 2005. p.47.