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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................ ............................................. 03 2 PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL ............. 04 2.1 PRINCÍPIO DISPOSITIVO ............................................... ......................... 04 2.2 PRINCÍPIO DA ORALIDADE ................................................. ................... 06 2.3 PRINCÍPIO DA VERDADE REAL ...................................................... ....... 08 2.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL ........................................... 10 2.5 PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO .............................................. ............ 12 2.6 PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTÓRIAS ........ 14 2.7 PRINCÍPIO DA LEALDADE E BOA .................................................... 16 3 PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL .......... 17

Princípios Infraconstitucionais do Processo Civil.docx

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SUMRIO

1 INTRODUO ............................................................................................. 032 PRINCPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL ............. 042.1 PRINCPIO DISPOSITIVO ........................................................................ 042.2 PRINCPIO DA ORALIDADE .................................................................... 062.3 PRINCPIO DA VERDADE REAL ............................................................. 082.4 PRINCPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL ........................................... 102.5 PRINCPIO DA CONCENTRAO .......................................................... 122.6 PRINCPIO DA IRRECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTRIAS ........ 142.7 PRINCPIO DA LEALDADE E BOA F .................................................... 163 PRINCPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL .......... 173.1 PRINCPIO DA OFICIALIDADE ................................................................ 173.2 PRINCPIO DO FAVOR REI ..................................................................... 193.3 PRINCPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILCITOS ............................................................................................ 203.4 PRINCDIO DO ESTADO OU PRESUNO DE INOCNCIA ................ 223.5 PRINCPIO DA INICIATIVA DAS PARTES .............................................. 233.6 PRINCPIO DA INDISPONIBILIDADE DO PROCESSO .......................... 254 PRINCPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DO PROCESSO DO TRABALHO..................................................................................................... 264.1 PRINCPIO DA PROTEO .................................................................... 264.2 PRINCPIO DA IRRENUNCIABILIDADE ................................................. 274.3 PRINCPIO DO IUS POSTULENDI .......................................................... 294.4 PRINCPIO DA EXTRAPETIO ............................................................ 304.5 PRINCPIO DA CONCILIAO ............................................................... 325 CONCLUSO .............................................................................................. 34

1 Introduo

O Direito no se configura como uma cincia exata, ao contrrio disso, uma disciplina que abrange discusses e interpretaes diversas e, muitas vezes, conflitantes. Seu escopo de atuao extremamente abrangente mesmo que no se destina a ser uma matria exaustiva.O nascimento do Direito se d com a necessidade de lidar com o prprio ser humano. fruto do homem para organizar a vida do homem. Sendo o gnero humano dotado de profundas complexidades, tambm o o Direito.Ora, se a criao do Direito , entre suas vrias funes, para organizar a vida em sociedade, como pode ele ser de natureza to complexa e passvel de crticas e discusses e, ao mesmo, tempo atingir seus objetivos? Talvez essa resposta ainda esteja sob construo desde os primeiros fundamentos que foram criados. Observa-se com a histria, que a matria sofreu diversas modificaes em seus longos anos de vida. E com todas essas mudanas ganha-se conhecimento, muda-se, constri-se e solidifica-se.Os princpios no so apenas uma forma de se pensar o Direito, mas tm fora norteadora na prpria interpretao da norma jurdica. Tamanha a fora do princpio na construo de uma ideia que assinala Carvalho (2006, pg. 5) princpios so as ideias fundamentais que constituem o arcabouo do ordenamento jurdico; so os valores bsicos da sociedade que podem, ou no, se constiturem em normas jurdicas.O presente trabalho busca compreender alguns destes princpios no qual se baseiam os processos civil, penal e do trabalho. Longe de elencar exaustivamente todos os princpios, procura-se formar uma base de pensamento e concepo de alguns deles e relacion-los com os que esto presentes na Constituio Federal que o pendo ao qual todo ordenamento jurdico deve se curvar.O contedo dos processos (civil, penal e do trabalho) aqui estudado apresenta muitos princpios iguais. No entanto, para efeito de estudo, elencou-se somente aqueles que as doutrinas consultadas coincidem em elucidar.

2 Princpios Infraconstitucionais do Processo Civil

2.1 Princpio Dispositivo

Este princpio deve ser analisado sob dois aspectos muito importantes. O primeiro: da necessidade da parte mover o judicirio e o segundo: da parte prover as provas. Sob o primeiro aspecto e de acordo com o disposto no art. 2 do CPC, cabe ao interessado entrar em juzo, no sendo uma obrigao do Estado de intervir nos conflitos entre as partes. Com efeito, a doutrina trata do assunto:

O juiz, porm, no est autorizado a buscar, por si mesmo, a lide ou a pretenso insatisfeita, para julg-la ou realiz-la, pois que elas s se manifestam, juridicamente, no processo. Para o Estado-Juiz s h litgio, lide ou pretenso insatisfeita, quando o interessado os submete ao Poder Jurisdicional. (SANTOS, 2001)

Outro aspecto a ser explorado a obrigao que o juiz tem de se limitar ao que alegado pelas partes (iudex indicare debet allegata et probata partium). Segundo Carnelutti (apud SILVA, 2002, p. 3)

Tal princpio vincula duplamente o juiz aos fatos alegados, impedindo-o de decidir a causa com base em fatos que as partes no hajam afirmado e obrigando-se a considerar a situao de fato afirmada por todas as partes como verdadeira.

No entanto, existem excees. O texto do art. 333 do CPC afirma que o nus da prova pertence s partes. nos artigos 262, 335, 342, 382, 418, 440 que esto elencadas as possibilidades de independncia do juiz face s partes, no que tange: Art. 262 que trata do impulso oficial na tramitao do processo; Art. 335 que assegura ao juiz a possibilidade de aplicao das regras de experincia comum; Art. 342 onde o juiz tem a prerrogativa de pedir comparecimento das partes para que sejam interrogadas; Art. 382 onde o juiz pode pedir a exibio de documentos para serem usados no litgio; Art. 418, inciso II. O juiz pode exigir de ofcio ou por pedido da parte o comparecimento de testemunhas; Art. 440, tambm de ofcio ou por vontade da parte, pode o juiz inspecionar pessoas ou fatos para satisfazer o processo.

O princpio dispositivo se relaciona com o Princpio Constitucional do Processo, a saber: o da Inafastabilidade do Poder Judicirio, conforme redao do art. 5 inciso XXXV da CF/88. Pois ambos abrangem o fato de a parte ser a responsvel pelo ingresso em juzo. O juiz deve abster-se de ser fonte de provas, a menos quando a lei o permite, obedecendo claramente, assim, a outro Princpio Constitucional do Processo, o Devido Processo Legal.A doutrina relaciona, ainda, o Princpio Dispositivo e o Princpio da Demanda, alegando que o primeiro, diz respeito entrada das partes em juzo e limitao do juiz ao restringir-se de ser fonte probatria, de acordo com Theodoro (2013, p. 36) s se reconhece parte o direito de abrir o processo: nenhum juiz prestar tutela jurisdicional seno quando requerida pela parte; e o segundo que defende a limitao do juiz frente ao que requerido na ao pelas partes, em respeito ao direito subjetivo dos mesmos, conforme explica Silva (2002, p. 65):

Pelo denominado princpio de demanda, o juiz fica limitado aos pedidos formulados pelas partes, ao passo que pelo princpio dispositivo o juiz fica contingenciado pela iniciativa das partes quanto ao modo de conduo da causa e quanto aos meios de obteno dos fatos pertinentes a essa determinada lide.

Relaciona-se, ainda, este princpio com o Princpio Constitucional do Processo do Juiz Natural (art. 5 inciso XXXVII da CF/88), que garante a competncia jurisdicional e imparcialidade do juiz e a existncia de um rgo julgador que preexista quando da entrada da ao. Ainda pode-se citar o Princpio do Devido processo legal, pois o juiz deve atentar para as normas previstas em lei para a sua atuao na resoluo do litgio.Exemplo de acrdo no qual consta o Princpio Dispositivo no STF:

E M E N T A: EMBARGOS DE DECLARAO CARTER INFRINGENTE EXCEPCIONALIDADE INTIMAO DA PARTE CONTRRIA PARA IMPUGN-LOS AQUISIO DE MATRIAS- -PRIMAS, INSUMOS E PRODUTOS INTERMEDIRIOS SOB REGIME DE ISENO, DE NO TRIBUTAO OU DE ALQUOTA ZERO RECONHECIMENTO, PELO TRIBUNAL RECORRIDO, DO DIREITO DA EMPRESA CONTRIBUINTE AO APROVEITAMENTO DO CRDITO DE IPI REFERENTE S HIPTESES DE ISENO E DE ALQUOTA ZERO, COM ATUALIZAO MONETRIA DOS RESPECTIVOS CRDITOS APELO EXTREMO DEDUZIDO PELA UNIO FEDERAL QUE NO SE INSURGIU CONTRA O ACRDO NO PONTO EM QUE ESTE RECONHECEU O DIREITO DE CREDITAMENTO QUANTO AOS INSUMOS E MATRIAS-PRIMAS ISENTOS CONSEQUENTE DEVOLUTIVIDADE PARCIAL DO RECURSO EXTRAORDINRIO TRNSITO EM JULGADO DO ACRDO NO PONTO QUE NO CONSTITUIU OBJETO DE IMPUGNAO RECURSAL IMPOSSIBILIDADE JURDICO-PROCESSUAL DE JULGAMENTO EXTRA PETITA NECESSRIA OBSERVNCIA DO PRINCPIO DISPOSITIVO EMBARGOS DE DECLARAO RECEBIDOS.

(RE 499397 AgR-segundo-ED, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 05/03/2013, ACRDO ELETRNICO DJe-055 DIVULG 21-03-2013 PUBLIC 22-03-2013)

2. 2 Princpio da Oralidade

De cunho doutrinrio, este princpio se refere predominncia no sistema brasileiro da oralidade, ou seja, do fato de que o processo seja oral. Segundo Santos (2001, p. 41) no h propriamente forma escrita pura ou forma oral pura.Este princpio tem grande importncia dentro do processo conforme destaca Silva (2002, p. 66) pelo princpio da oralidade, as alegaes das partes s possuem eficcia quando formuladas oralmente perante o magistrado que haver de julgar a causa [...].No entanto, certos atos do processo devem ser apresentados obrigatoriamente em forma escrita, a exemplo, a petio inicial.No se pode, no entanto, constituir um processo totalmente (ou quase) na forma oral, pois o esquecimento de partes fundamentais do processo seria uma realidade dado ao tempo necessrio para a resoluo do litgio, nesse aspecto aponta Santos (2009, p.43):

Pela simples razo de serem predominantemente orais os atos do processo, no se quer dizer que devam deixar de ser registrada. A apresentao grfica, atravs de termos, necessria para que os atos processuais no caiam no olvido.

Para que seja alcanada a eficcia deste princpio, necessria a observncia de outro: o do juiz natural. Trata-se de um Princpio Constitucional do Processo disposto no art. 5 XXXVII da CF/88. Este princpio trata daquele juiz que previamente constitudo como competente para julgar determinadas causas abstratamente previstas e deve ser o mesmo desde o princpio at o trmino do litgio. Atravs desta relao entre as partes e o juiz que se dialogam necessrio que o mesmo juiz que ouviu as partes e participou dos atos do processo, seja aquele a proferir a sentena.Identifica-se ainda, neste contexto, o princpio infraconstitucional da Identidade Fsica do Juiz, que segundo Silva (2002, p. 68):

o princpio segundo qual o mesmo juiz que haja presidido a instruo da causa h de ser o juiz da sentena. Ora, se a oralidade, como se viu, tem por fim capacitar o julgador para uma avaliao pessoal e direta no s do litgio, mas da forma como as partes procuram provoca-lo no processo, no teria sentido que o juiz a quem incumbisse prolatar a sentena fosse outra pessoa, diversa daquela que tivera esse contato pessoal com a causa.Exemplo retirado do STF:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO. PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANA. CABIMENTO. DECISES INTERLOCUTRIAS PROFERIDAS PELOS JUIZADOS ESPECIAIS. REPERCUSSO GERAL RECONHECIDA PELO PLENRIO VIRTUAL NO RE N 576.847. 1. As decises interlocutrias proferidas no rito sumarssimo da Lei 9.099/95 no so passveis de mandado de segurana. Precedente: RE n. 576.847-RG, Relator o Ministro Eros Grau, Plenrio, DJe de 7/08/2009, RE n 531.531/RS-AgR, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 13/8/09, e AI n 760.025/RS, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 16/12/10. 2. In casu, o acrdo originariamente recorrido assentou: MANDADO DE SEGURANA DECISO INTERLOCUTRIA DESCABIMENTO AUSNCIA DE PREVISO, NO MBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS, DE RECURSO INCIDENTAL SEMELHANTE AO AGRAVO DE INSTRUMENTO DECISO INCIDENTAL NO PRECLUSIVA QUE SOMENTE PODE SER ATACADA POR MEIO DO RECURSO INONIMADO CONTRA A SENTENA A SER PROFERIDA, NOS TERMOS DO ART. 41 DA LEI 9.099/95. As decises interlocutrias proferidas no rito sumarssimo da Lei 9.099/95 so em regra irrecorrveis, em ateno ao princpio da oralidade e celeridade que o orientam. No cabe mandado de segurana como sucedneo do agravo de instrumento, no previsto pela lei de regncia. 3. Agravo regimental desprovido.

(ARE 704232 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 20/11/2012, ACRDO ELETRNICO DJe-247 DIVULG 17-12-2012 PUBLIC 18-12-2012)

2.3 Princpio da Verdade Real

necessrio, antes de tudo, conceituar verdade real e diferenci-la de verdade formal. A primeira se refere verdade que nasce da constatao dos fatos reais; a segunda refere-se verdade apresentada nos autos do processo. Neste aspecto ensina Santos (2009, pg. 42):

Distante da realidade est a afirmao de que, em processo penal, alei exige a verdade absoluta e, em processo civil, contenta-se com a verdade relativa. Nada disso. Em ambos os processos, o juiz pesquisa a verdade real. Caso a ela no se chegue, certo que lana mo de outros critrios, pois em nenhuma hiptese, se exime de sentenciar (art. 126).

Assim sendo, o objetivo do processo a pacificao social atravs da verdade, ainda que esta seja um ideal muitas vezes fora do alcance do homem. Isso no pode, contudo, diminuir a responsabilidade da busca pela verdade real. Com efeito, esclarece Theodoro (2013, pg. 41)

Embora a verdade real, sem sua substncia absoluta, seja um ideal inatingvel pelo conhecimento limitado do homem, o compromisso com sua ampla busca o farol que, no processo, estimula a superao das deficincias do sistema procedimental. E , com o esprito de servir causa da verdade, que o juiz contemporneo assumiu o comando oficial do processo.

Essa busca pela verdade deve trazer resultados prticos para a resoluo do litgio, que , na verdade, a finalidade ltima do processo. Esse resultado se materializa na sentena do juiz. E sob este prisma que o Princpio da Verdade Real guarda uma relao muito prxima com o Principio da Fundamentao das Decises. No tocante a essa relao, observa-se em Santos (2009, pg. 42) a verdade real, no entanto, s deve ser pesquisada nos autos e o juiz, para garantia das partes, deve sempre fundamentar as sentenas (art. 131).Com efeito, a obrigatoriedade do juiz em buscar a verdade real nos autos do processo como dispe o art. 131 do CPC, leva-nos a referir este princpio com o Princpio da Inafastabilidade do Poder Judicirio, disposto no art. 5 XXXV da CF/88. Pois, buscando a parte o judicirio para que se resolva a lide, ser obrigao do poder pblico satisfazer demanda.A verdade real apresentada na deciso fundamentada do juiz elucida, ainda, outro Princpio Constitucional, o Princpio da Definitude das Decises, art. 5 XXXVI da CF/88. Ora, do que nos adiantaria alcanar a verdade real se dela no se pode gozar por conta da falta de uma deciso final e imutvel? necessrio que o processo tenha um fim e que a verdade que se conclui possa ser aproveitada.Conclui-se, ento, que para que a verdade real tenha eficcia, tenhamos o poder judicirio prestando assistncia buscando a verdade real nos autos do processo, uma deciso fundamentada e livre das arbitrariedades que podem tingir o processo com erros e que esta deciso seja final, garantindo assim a eficcia do processo e segurana jurdica.Um ltimo princpio ainda pode ser citado a partir desta reflexo, o da Celeridade, encontrada no art. 5 LXXVIII da CF/88. Embora a busca da verdade real deva ser o norte do processo e da deciso fundamentada do juiz, se faz necessrio que o processo tenha um tempo razovel de existncia. Pois de nada adiantaria chegar a uma verdade real decorrido um tempo muito grande para que esta perca sua aplicabilidade de maneira eficaz.Exemplo retirado do STJ:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. NEGATRIA DE PATERNIDADE. VNCULO DECLARADO EM ANTERIOR AO INVESTIGATRIA. FLEXIBILIZAO DA COISA JULGADA. POSSIBILIDADE. PECULIARIDADES DO CASO. VNCULO GENTICO AFASTADO POR EXAME DE DNA. PRINCPIO DA VERDADE REAL. PREVALNCIA.RECURSO DESPROVIDO.Nas aes de estado, como as de filiao, deve-se dar prevalncia ao princpio da verdade real, admitindo-se a relativizao ou flexibilizao da coisa julgada.Admite-se o processamento e julgamento de ao negatria de paternidade nos casos em que a filiao foi declarada por deciso j transitada em julgado, mas sem amparo em prova gentica (exame de DNA). Precedentes do STJ e do STF.Recurso especial desprovido.(REsp 1375644/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acrdo Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/04/2014, DJe 02/06/2014)

2.4 Princpio da Economia Processual

A Constituio Federal nos confere o direito de ao e coloca o Estado em posio de obrigado a apreciar as lides e satisfaz-las (art. 5 XXXV da CF/88). Para que este direito seja observado necessrio que existam ferramentas que possibilitam todo cidado de realizar seu direito subjetivo de ingresso em juzo. Sabemos, porm, que a sociedade brasileira estratificada em classes, umas com maior poder monetrio e outras com quase nenhum. Esta disparidade que nasce com a hipossuficincia do indivduo em face dos custos processuais. O Princpio da Economia Processual, ento, surge como um mitigante desta discrepncia.A partir desta analise, define-se este princpio como o de oferecer uma justia mais acessvel no tocante ao seu custo e menos morosa. Nas palavras de Theodoro (2013, p. 43):

O ideal seria, portanto, o processo gratuito, com acesso facilitado a todos os cidados, em condio de plena igualdade. Isto porm, ainda no foi atingido nem pelos pases mais adiantados, de modo que as despesas processuais correm por conta dos litigantes, salvo apenas os casos de assistncia judiciria dispensada aos comprovadamente pobres (Lei n 1060/50).

V-se que a economia processual no se refere somente ao custo do processo, mas tambm ao tempo de durao do mesmo. Com efeito alega Santos (2001, p. 43) a economia deve sempre orientas os atos processuais, evitando gasto de tempo e dinheiro inutilmente.Este princpio relaciona-se com os encontrados na Carta Magna: a) Assistncia Jurdica Integral - art. 5 LXIV da CF/88, que oferece a assistncia gratuita para aqueles que so comprovadamente pobres;b) Inafastabilidade do Poder Judicirio art. 5 XXXV da CF/88, que impede o Estado de negar assistncia jurdica, mesmo se a parte no dispor de recursos suficientes para arcar com as despesas processuais;c) Devido Processo Legal art. 5 LIV da CF/88;d) Celeridade art. 5 LXXVIII.A despeito destes dois ltimos explica Theodoro (2013, p. 44):

O princpio da economia processual vincula-se diretamente com a garantia do devido processo legal, porquanto o desvio da atividade processual para os atos onerosos, inteis e desnecessrios gera embarao rpida soluo do litigio, tornando demorada a prestao jurisdicional. Justia tardia , segundo a conscincia geral, justia denegada.

Exemplo de acrdo retirado do STJ:

EMBARGOS DE DECLARAO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL DADO O NTIDO CARTER INFRINGENTE. Admitem-se como agravo regimental os embargos de declarao opostos em face de deciso monocrtica que negou seguimento ao recurso especial, em nome dos princpios da economia processual e da fungibilidade. Precedentes. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO. INCIDNCIA DO NDICE DE 28,86% SOBRE A GRATIFICAO DE ESTMULO FISCALIZAO E ARRECADAO - GEFA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.1. As diferenas entre os valores percebidos por fora da Lei 8.627/93 e o ndice geral mdio de 28,86% devem incidir sobre o vencimento bsico dos servidores, bem como sobre as parcelas que no possuam como base de clculo o prprio vencimento, sob pena de restar configurado o bis in idem.2. A Gratificao de Estmulo Fiscalizao e Arrecadao - GEFA - no pode sofrer diretamente o reajuste de 28,86%, tendo em vista tratar-se de parcela remuneratria que tem por base de clculo o vencimento bsico do servidor. 3. Agravo regimental improvido.(EDcl nos EDcl no REsp 1174894/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/06/2014, DJe 11/06/2014)

2. 5 Princpio da Concentrao

Para que a observao do princpio da oralidade no traga confuso aos atos processuais, usa-se o princpio ora em estudo para que se possa concentrar em um nmero menor de audincias, preferencialmente, segundo Santos (2001, p. 41) aconselha-se tambm que os atos processuais se renam em uma s audincia.Ainda neste pensamento ressalta Silva (2002, p. 68):

Para que a oralidade, representada por esse contato pessoal do julgador com a causa, surta todos os seus benficos efeitos, torna-se necessria a reduo de toda a instruo processual a um nmero mnimo de audincias, se possvel a uma nica audincia, onde se faam, desde logo a instruo da causa e seu julgamento.

Este princpio guarda relao com a Celeridade e o Devido Processo Legal.O primeiro por defender a durao razovel do processo, objetivo tambm do princpio aqui analisado, pois o grande nmero audincias tende a deixar o processo cada vez mais moroso. Silva (2002, pg. 68) defende:

A proximidade temporal entre aquilo que o juiz aprendeu, por sua observao pessoal, e o momento em que dever avalia-lo na sentena elemento decisivo para a preservao das vantagens do princpio, pois um intervalo de tempo excessivo entre a audincia e o julgamento certamente tornar difcil ao julgador conservar, com nitidez, na memoria, os elementos que o tenham impressionado na recepo da prova, fruto de sua observao pessoal, sujeita a desaparecer com o passar do tempo.

O segundo se refere ao respeito s normas dispostas na lei, pois no caso do princpio da concentrao tem seu respaldo nos artigos 300 e 302 do CPC.Exemplo de acrdo retirado do STJ:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RITO SUMRIO. DEFESA DO RU. PRINCPIO DA CONCENTRAO DOS ATOS PROCESSUAIS. EXCEO DE INCOMPETNCIA E CONTESTAO. APRESENTAO CONCOMITANTE. NECESSIDADE. REQUISITO NO ATENDIDO. RU CONSIDERADO REVEL. DIREITO CIVIL. COMPENSAO.CONHECIMENTO DE OFCIO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.1. No procedimento sumrio, vige o princpio da concentrao dos atos processuais. A exceo de incompetncia e a contestao devem ser oferecidas concomitantemente, no sendo possvel, como na hiptese dos autos, a apresentao da exceo de foro e, posteriormente aludida audincia, o oferecimento de pea contestativa.2. A ausncia de contestao na audincia de conciliao do procedimento sumrio acarreta, inequivocamente, a revelia do ru.3. O exerccio do direito compensao gravita na esfera dispositiva do seu detentor. O reclamar do crdito ato voluntrio que pode ser executado, segundo a convenincia de seu titular, no tempo que o considerar mais aprazvel, sendo impossvel o seu exerccio compulsrio.4. A alegao do direito de crdito a compensar, como realizada na hiptese dos autos, se insere no conceito de defesa substantiva ou defesa de mrito, motivo pelo qual o seu reconhecimento pelo rgo judicante demanda provocao, no se admitindo, portanto, o seu reconhecimento ex officio, sob pena de malferir o princpio da demanda.5. Destarte, ocorrendo os efeitos da revelia, em face da ausncia de contestao, no possvel se reconhecer o direito compensao, como reclamado na hiptese em tela.6. Recurso especial improvido.(REsp 657.002/SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 11/05/2010, DJe 24/05/2010)

2.6 Princpio da Irrecorribilidade das InterlocutriasDeciso interlocutria o ato pelo qual o juiz decide questo incidental com o processo ainda em curso. Note-se que a deciso interlocutria no pe fim ao processo, diferente da sentena e encontrado no art. 162 2 do CPC.Houve um momento na histria processual em que tais decises eram passveis de apelao, o que levava a interminveis processos, conforme relatado por Santos (2001, pg. 42):

J houve pocas em que tais decises eram apelveis. Isto trazia enormes prejuzos, j que o processo ficava sujeito a tantas apelaes quantas fossem as decises, fato que concorria substancialmente para eternizao das demandas.

Havendo a possibilidade de apelao constante, constri-se um conflito com o princpio da concentrao, que visa, ao contrrio da possibilidade de vrias apelaes, uma compactao do processo.No entanto, este princpio permite recurso sem suspeno da causa, conforme explica Silva (2002. Pg. 69):

[...] admite-se o recurso sem suspeno da causa, como acontece com o agravo de instrumento, que se processa sem prejuzo da tramitao do feito, podendo, no entanto, pela nova redao do art. 537 do CPC, conceder, o relator do recurso, efeito suspensivo no agravo de instrumento.

V-se, ento, que este princpio protege o processo de mais fatores que contribuem para a morosidade do mesmo. Com isso, este princpio responde ao da Celeridade, pois ambos tratam da razoabilidade do tempo de existncia do processo. Podemos estender a relao do atual princpio com o da Definitude das Decises, no que tange a necessidade do processo de alcanar um fim. Havendo vrias apelaes das interlocutrias, torna-se mais desafiador o sucesso de atingir uma sentena. O princpio da irrecorribilidade das interlocutrias preenche este espao para que as partes possam ter a deciso final julgada pelo juiz.Acrdo retirado do STF:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSO GERAL RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANA. CABIMENTO. DECISO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5, LV DA CONSTITUIO DO BRASIL. PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSNCIA DE VIOLAO. 1. No cabe mandado de segurana das decises interlocutrias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 est voltada promoo de celeridade no processamento e julgamento de causas cveis de complexidade menor. Da ter consagrado a regra da irrecorribilidade das decises interlocutrias, inarredvel. 3. No cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurana. 4. No h afronta ao princpio constitucional da ampla defesa (art. 5, LV da CB), vez que decises interlocutrias podem ser impugnadas quando da interposio de recurso inominado. Recurso extraordinrio a que se nega provimento.

(RE 576847, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009, REPERCUSSO GERAL - MRITO DJe-148 DIVULG 06-08-2009 PUBLIC 07-08-2009 RTJ VOL-00211- PP-00558 EMENT VOL-02368-10 PP-02068 LEXSTF v. 31, n. 368, 2009, p. 310-314)

2.7 Princpio da Lealdade e Boa F

A existncia de trs sujeitos imprescindvel para a instaurao de um processo: o autor, o ru e o Estado.Autor e ru apresentam, primariamente, compromisso com seus interesses e pretenses. Ora, o autor entra em juzo para defender seus interesses; ao passo que o ru usa de dispositivos ao seu alcance para se proteger de tais investidas.O papel do Estado em meio ao litgio o de pacificador social. Interessa ao Estado, representado ento pela figura do juiz, que as contendas sejam resolvidas sempre atentando para o princpio da verdade real. E neste sentido nos ensina Theodoro (2013, pg. 40):

Estado e partes conjugam esforos no processo para solucionar o litgio. Enquanto as partes defendem interesses privados, o Estado procura um objetivo maior que o da pacificao social, mediante a justa composio do litgio e a prevalncia do imprio da ordem jurdica.

Assim, mesmo que as partes estejam vinculadas aos seus interesses particulares, o Estado precisa munir-se de possibilidades de gerenciamento da eventual m-f que provenha das partes, conforme destaca Santos (2001, pg. 40):

O processo no apenas instrumento de soluo de litgios, no interesse das partes. tambm meio de que o Estado se utiliza para impor a paz social. Da no ficar o processo a critrio das partes, a ponto de lhes permitir o uso desregrado de expedientes fraudulentos, procrastinatrios e imorais, para conseguir seus objetivos.

Ento o juiz que tem a responsabilidade de gerenciar tais situaes onde existe o uso da m-f para defender a integridade do processo, respaldado pelo art. 125 inciso III e 129 do CPC.Como este princpio tem como caracterstica principal a proteo do processo contra a m-f para assegurar a integridade do processo, pode ser relacionado com o princpio do Devido Processo Legal, que trata da maneira correta e prevista em lei de organizar os atos processuais.Exemplo retirado do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA INDIVIDUAL. RESCISO UNILATERAL. DESCABIMENTO. RESSALVA DA POSSIBILIDADE DE SUA MODIFICAO PELA SEGURADORA, MEDIANTE A APRESENTAO PRVIA DE EXTENSO CRONOGRAMA, NO QUAL OS AUMENTOS SEJAM APRESENTADOS DE MANEIRA SUAVE E ESCALONADA. SMULA STJ/83.IMPROVIMENTO.1.- Consoante a jurisprudncia da Segunda Seo, em contratos de seguro de vida, cujo vnculo vem se renovando ao longo de anos, no pode a seguradora modificar subitamente as condies da avena nem deixar de renov-la em razo do fator de idade, sem ofender os princpios da boa f objetiva, da cooperao, da confiana e da lealdade que devem orientar a interpretao dos contratos que regulam as relaes de consumo.2.- Admitem-se aumentos suaves e graduais necessrios para reequilbrio da carteira, mediante um cronograma extenso, do qual o segurado tem de ser cientificado previamente. (REsp 1.073.595/MG, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 29.4.11).3.- Inafastvel, no caso em tela, a incidncia da Smula STJ/83 (No se conhece do recurso especial pela divergncia, quando a orientao do tribunal se firmou no mesmo sentido da deciso recorrida).4.- Agravo Regimental improvido.(AgRg no REsp 1408753/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 06/12/2013)

3 Princpios Infraconstitucionais do Processo Penal

3.1 Princpio da OficialidadeMatrias relacionadas ao Direito Penal e Processual Penal devem emanar somente da Unio. Esta caracterstica mostra a seriedade da matria e de como necessrio amadurecimento jurdico e institucional para que se possa com ela trabalhar. Demonstrando ainda este pensamento, este princpio explora a necessidade de o prprio Estado institua rgos responsveis pelo procedimento criminal (investigao e processo). Nesta anlise cita Mirabete (2008, pg. 28):

o princpio da oficialidade, de que os rgos encarregados de deduzir a pretenso punitiva sejam rgos oficiais. No nosso pas em termos constitucionais, a apurao das infraes penais efetuada pela polcia (art. 144 da CF e art. 4 ss do CPP), e a ao penal pblica promovida, privativamente, pelo Ministrio Pblico (art. 129, I da CF), seja ele da Unio ou dos Estados (art. 128, I e II da CF).

No entanto, este princpio no absoluto e, como geralmente acontece no ordenamento jurdico, permite excees conforme explica Capez (2012, pg. 78):

Esse princpio, no entanto, sofre exceo no caso da ao penal privada e da ao penal popular (Lei n1079/50 crimes de responsabilidades cometidos pelo Procurador Geral da Repblica e pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.

funo do Estado garantir a justia e meios para que todos possam ter o mesmo tratamento. Sendo a funo penal de ndole pblica, dever do Estado garantir meios lcitos e legais para que o processo penal seja efetuado de maneira correta. Com isso, garante-se o Princpio Constitucional da Isonomia, pois o Estado deve tratar todos de maneira igual. Se falhar na prestao de rgos pblicos e oficiais para tratar de assuntos penais, a sociedade se ver limitada e , por isso, passar a julgar os cidados sem auxlio estatal, o que, mais recentemente, tem se provado uma ao nociva para a sociedade. Relaciona-se tambm com o Princpio Constitucional da Assistncia Jurdica Integral, sendo dever do Estado de colocar disposio do cidado as ferramentas necessrias para a existncia de um processo justo.Exemplo retirado do TJ de Santa Catarina:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISO DETERMINANDO A PENHORA DE VALORES DEPOSITADOS EM INSTITUIES FINANCEIRAS - BACENJUD - ATO PRATICADO EX OFFICIO - POSSIBILIDADE EM DECORRENCIA DO TRANSCURSO IN ALBIS DO PRAZO PARA NOMEAO DE BENS A PENHORA - PRINCPIO DA OFICIALIDADE - DESPROVIMENTO DO RECURSO. Ex vi do art. 10 da Lei 6.830/80, h possibilidade da prtica de ato executivo de ofcio, inclusive ex vi do art. 262 do CPC, subsidiariamente aplicado, pois verifica-se, na espcie, o transcurso in albis do prazo para nomeao de bens a penhora. No h de se falar em quebra do sigilo bancrio, porque o ato judicial somente determinou a constrio do valor devido, no sendo informado qualquer dado confidencial, resguardado na Lei Complr 105/01, ao juzo.

(TJ-SC - AI: 470999 SC 2006.047099-9, Relator: Francisco Oliveira Filho, Data de Julgamento: 03/04/2007, Segunda Cmara de Direito Pblico, Data de Publicao: Agravo de Instrumento n. , de Lages.)

3.2 Princpio do Favor Rei

Muitas vezes, em um processo, no se atinge a verdade real por uma srie de motivos, ou seja, mesmo com o decorrer do processo pode permanecer dvidas a respeito da verdade real, como no exemplo de insuficincia de provas. Neste caso, aplica-se o princpio aqui estudado, em benefcio do ru, conforme explica Capez (2012, p. 84):

A dvida sempre beneficia o acusado. Se houver duas interpretaes, deve-se optar pela mais benfica; na dvida, absolve-se o ru, por insuficincia de provas; s a defesa possui certos recursos, como os embargos infringentes; s cabe ao rescisria penal em favor do ru (reviso criminal) etc.

Alguns exemplos ainda da aplicao de tal princpio so elencados por Mirabete (2008, pg. 31):

Por isso a prpria lei prev a absolvio por insuficincia de prova; a proibio de reformatio in pejus; os recursos privados de defesa, como o protesto por novo jri, os embargos infringentes ou de nulidade, a reviso criminal, o princpio do estado e inocncia.

A deciso tomada sob a sombra de dvidas, ou seja, sem atingir de fato a verdade real, conflita com o Princpio Constitucional do Processo da Fundamentao das Decises. Ora, para que haja uma condenao necessrio que a deciso do magistrado seja fundamentada, para existir fundamentao necessrio reconhecer a conduta e relacion-la com a lei. Se existe dvida quanto a existncia ou no de ato criminoso, impossvel que se relacione com a deciso punitiva.Exemplo de acrdo do STJ:

RECURSO ESPECIAL. PENAL. PRINCPIO DO FAVOR REI. RECEPTAO (ART. 180 DO CP). CINCIA DA ORIGEM CRIMINOSA DO AUTOMVEL. DOSIMETRIA.CONDENAO POR FATO POSTERIOR DENNCIA. FIXAO DA PENA EM SEUMNIMO LEGAL. PRESCRIO DECRETADA. 1. O princpio do favor rei estabelece, diante do conflito entre ojus puniendi do Estado e o jus libertatis do acusado, ainterpretao mais benfica ao ru do texto legal, a afastar, incasu, a incidncia da Smula 7/STJ (arts. 386, 596 e 621, todos doCPP). 2. O Tribunal de origem, de forma inadequada, fixou a pena-baseacima do mnimo legal em razo de condenao, do ora recorrente, porfato posterior ao indicado na denncia. 3. Fixao da pena definitiva em seu mnimo legal medida que seimpe, isto , 1 ano de recluso. 4. Entre o recebimento implcito da denncia (13/5/2002) e aprolao da sentena (31/5/2007), transcorreu prazo superior a 4anos, o que determina o reconhecimento da prescrio. 5. Extino da punibilidade estatal pela prescrio da pretensopunitiva dos fatos imputados ao ora recorrente. 6. Recurso especial parcialmente provido para declarar, de ofcio, aprescrio da pretenso punitiva estatal.

(STJ - REsp: 1201828 RJ 2010/0126439-9, Relator: Ministro SEBASTIO REIS JNIOR, Data de Julgamento: 01/09/2011, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicao: DJe 05/03/2012)

3.3 Princpio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilcitos

A redao do art. 5 LVI da CF/88 nos trs o conhecimento de que so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos. Porm o princpio no se limita s provas ilcitas e se estende tambm prova ilegtima. Capez (2012, pg.83) explica a distino:

Provas ilcitas so aquelas produzidas com violao a regras de direito material, ou seja, mediante a prtica de algum ilcito penal, civil ou administrativo. Podemos citar como exemplos: a diligncia de busca e apreenso sem prvia autorizao judicial; o emprego de detector de mentiras; as cartas particulares interceptadas por meios criminosos (cf. art. 233 do CPPP) etc. Provas ilegtimas so as produzidas com a violao a regras de natureza meramente processual, tais como: o documento exibido em plenrio do Jri, com desobedincia ao disposto no art. 479, caput (CPP), com a redao determinada pela Lei n. 11689/2008; depoimento prestado com violao regra proibitiva no art. 207 (CPP) (sigilo profissional) etc.

Tourinho (2012, pg. 71) ainda explica que

[...] consoando-se com a Carta Magna dispes o art. 157 do CPP, com a nova redao dada pela lei 11690/2008: So inadmissveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilcitas, assim entendidas as obtidas em violao a normas constitucionais ou legais.

Este princpio guarda estreita relao com o Princpio Constitucional do Processo do Devido Processo Legal, pois ambos visam o respeito s normas processuais para que o processo no seja maculado.Deciso retirada do STF:

EMENTAS: 1. RECURSO. Extraordinrio. Inadmissibilidade. Alegao de ofensa ao inciso LVI do art. 5 da Constituio Federal. Inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilcitos. Matria prequestionada. Direito Processual Civil. Ao de anulao de ato jurdico. Exame de DNA. Prova cientfica julgada lcita e conclusiva pela Corte de origem. Reexame invivel. Smula 279. Deciso mantida. Agravo regimental no provido. No pode conhecido recurso extraordinrio que, para reapreciar questo sobre licitude de prova tcnica, na esfera civil, dependeria do reexame prvio de fatos e provas. 2. RECURSO. Extraordinrio. Inadmissibilidade. Alegao de ofensa ao art. 5, II, da Constituio Federal. Ofensa constitucional indireta. Smula 636. Agravo regimental no provido. Ausncia de razes novas. Deciso mantida. Agravo regimental no provido. Nega-se provimento a agravo regimental tendente a impugnar, sem razes novas, deciso fundada em jurisprudncia assente na Corte.

(STF - AI: 547956 PR , Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 15/08/2006, Segunda Turma, Data de Publicao: DJ 08-09-2006 PP-00046 EMENT VOL-02246-05 PP-00991)

3.4 Princpio do Estado ou Presuno de Inocncia

A Constituio Federal dispe em seu artigo 5 inciso LVII que ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria. Ou seja, s existe culpado depois que a sentena proferida pelo juiz. Este o conceito e a base deste princpio. Acerca do assunto explica Tourinho (2012, pg. 73):

A est o princpio: enquanto no definidamente condenado, presume-se o ru inocente. Claro que a expresso presuno de inocncia no pode ser interpretada ao p da letra, literalmente, do contrrio os inquritos e os processos no seriam tolerveis, visto no ser possvel inqurito ou processo em relao a uma pessoa inocente. Sendo o homem presumidamente inocente, sua priso antes do trnsito em julgado da sentena condenatria implicar antecipao da pena, e ningum pode ser punido antecipadamente, antes de ser definitivamente condenado, a menos que a priso seja indispensvel a ttulo de cautela.

Este princpio guarda relao com o Devido Processo Legal, pois ambos cuidam de que o ru no seja culpado prematuramente e que sejam observados os requisitos para que lhe seja imputada a culpa de moro a evitar arbitrariedades e injustias. Tourinho (2012, pg. 72) afirma que este um ato de f no valor tico da pessoa, prprio de toda sociedade livre [...].Para Capez (2012, pg. 83):

O princpio da presuno de inocncia desdobra-se em trs aspectos: a) no momento da instruo processual, como presuno legal relativa de no culpabilidade, invertendo-se o nus da prova; b) no momento da avaliao da prova, valorando-se em favor do acusado quando houver dvida; c) no curso do processo penal, como paradigma de tratamento imputado, especialmente no que concerne anlise da necessidade da priso processual.

Exemplifica-se o princpio com acrdo do STJ:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE ROUBO QUALIFICADO. CONDENAO PROFERIDA EM SEDE DE APELAO CRIMINAL PELO TRIBUNAL A QUO. RECOLHIMENTO PRISO. VIOLAO AO PRINCPIO DO ESTADO DE INOCNCIA PRESUMIDO. INOCORRNCIA. PRECEDENTES DO STJ. 1. A necessidade do recolhimento do apenado ao crcere, decorrente de sua condenao pela instncia ordinria, em sede de recurso de apelao, providncia compatvel com o sistema processual vigente e no ofende o princpio insculpido no art. 5, inc. LVII, da Constituio Federal. 2. Os recursos de natureza extraordinria, se interpostos e admitidos, a teor da Lei n. 8.038/1990, no possuem efeito suspensivo capaz de impedir o regular curso da execuo da deciso condenatria. 3. Precedentes do STJ e do STF. 4. Ordem denegada

(STJ - HC: 42008 SP 2005/0027725-2, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 21/06/2005, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicao: DJ 01.08.2005 p. 496)

3.5 Princpio da Iniciativa das Partes

Princpio que se assemelha com o Princpio Dispositivo do Processo Civil, que dita que o processo deve existir apenas se as partes moverem o judicirio. Aqui, contudo, existem diferenas que so citadas por Capez (2012, pg. 80):

O juiz no pode dar incio ao processo sem a provocao da parte. Cabe ao Ministrio Pblico promover privativamente a ao penal pblica (CF, art. 129, I) e ao ofendido, a ao penal privada, inclusive a subsidiria da pblica (CPP, arts. 29 e 30; CF, art. 5, LIX).

Aqui, diferentemente do Processo Civil, temos a importante figura do Ministrio Pblico, que segundo o art. 127 da CF/88 instituio permanente, essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis.Tal princpio, segundo Tourinho (2012, pg. 67) vem cristalizado no velho aforismo nemo judex sine actore (no h juiz sem autor) ou ne procedat judex ex officio (o juiz no pode dar incio ao processo sem provocao da parte. Salvo o habeas corpus, que pode ser concedido de ofcio.Este princpio se relaciona de maneira ntima com o Princpio Constitucional da Inafastabilidade do Judicirio, que norteia a ao do poder pblico no tocante prestao de tutela jurisdicional a quem o buscar, sem poder se negar a faz-lo.Exemplo retirado do STJ:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ESTELIONATOS EM CONTINUIDADE DELITIVA. NOVO JULGAMENTO. FIXAO DE PENA SUPERIOR AO PRIMEIRO JULGAMENTO E REGIME CARCERRIO MAIS GRAVOSO. REFORMATIO IN PEJUS. CARACTERIZAO. VIOLAO AO ART. 617 DO CPP. 1. consabido que, ante os termos finais do art. 617 do Cdigo de Processo Penal, fica, expressamente, vedada a reviso da pena que resulte no seu agravamento, em flagrante desrespeito ao Princpio da Reformatio In Pejus. 2.In casu, verifica-se que a fixao da penabase em 03 (trs) anos e 01 (um) ms de recluso, em apelao interposta somente pelo ru, contraria o art. 617 do CPP e jurisprudncia dominante nesta Corte Superior e no E. STF. 3. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido, para anular o acrdo recorrido no que tange, apenas, dosimetria da pena dos crimes de estelionato, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, para que nova deciso seja proferida, como entenderem de direito, respeitados os limites impostos no art. 617 do CPP.

(STJ , Relator: Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), Data de Julgamento: 03/03/2011, T5 - QUINTA TURMA)

3.6 Princpio da Indisponibilidade do Processo

Crimes so atos contra a sociedade, ainda que praticados contra um nico indivduo. Diante de um fato real, o poder pblico no pode dispor de sua obrigao processual frente a estas aes criminosas. Em feito justifica Capez (2012, pg. 67):

[...] prevalece no processo criminal o princpio da indisponibilidade ou da obrigatoriedade. O crime uma leso irreparvel ao interesse coletivo, decorrendo da o dever de o Estado aplicar as regras jurdico-punitivas. Deste modo a autoridade policial no pode se recusar a proceder s investigaes preliminares (CPP, art. 5) nem arquivar inqurito policial (CPP, art. 17), do mesmo modo que o Ministrio Pblico no pode desistir da ao penal (CPP, art. 42) nem do recurso interposto (CPP, art. 156).

Este princpio tem relao com o Princpio Constitucional do Processo da Inafastabilidade do Poder Judicirio, cuja premissa prestar tutela jurisdicional a quem o mover.Sob este tema, trata ainda Mirabete (2008, pg. 29)

O princpio da indisponibilidade do processo no cabe na ao penal privada (renncia, desistncia, perdo, perempo etc.) e a ao penal pblica dependente de representao permite a retratao antes do oferecimento da denncia (art. 25 do CPP).Deciso retirada do STF:E MENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ALEGAO DE ARQUIVAMENTO IMPLCITO. INEXISTNCIA DE PREVISO LEGAL. PACIENTE DENUNCIADO PELO CRIME DE TORTURA APENAS NA SEGUNDA DENNCIA. POSSIBILIDADE. INCIDNCIA DO PRINCPIO DA INDISPONIBILIDADE DA AO PENAL PBLICA. NO APLICAO DO PRINCPIO DA INDIVISIBILIDADE NESSA HIPTESE. ORDEM DENEGADA. PRECEDENTES DA CORTE. I Alegao de ocorrncia de arquivamento implcito do inqurito policial, pois o Ministrio Pblico estadual, apesar de j possuir elementos suficientes para a acusao, deixou de incluir o paciente na primeira denncia, oferecida contra outros sete policiais civis. II Independentemente de a identificao do paciente ter ocorrido antes ou depois da primeira denncia, o fato que no existe, em nosso ordenamento jurdico processual, qualquer dispositivo legal que preveja a figura do arquivamento implcito, devendo ser o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do Cdigo Processual Penal. III Incidncia do postulado da indisponibilidade da ao penal pblica que decorre do elevado valor dos bens jurdicos que ela tutela. IV No aplicao do princpio da indivisibilidade ao penal pblica. Precedentes. V Habeas corpus denegado.

(STF - HC: 104356 RJ , Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 19/10/2010, Primeira Turma, Data de Publicao: DJe-233 DIVULG 01-12-2010 PUBLIC 02-12-2010 EMENT VOL-02443-01 PP-00201)

4 Princpios Infraconstitucionais do Processo do Trabalho

4.1 Princpio da Proteo

O trabalhador quando est diante da necessidade ou mesmo diante de um direito subjetivo de entrar em juzo contra o empregador se encontra numa situao de hipossuficincia, seja para encontrar provas, testemunhas, arcar com os gastos do processo e talvez at mesmo da morosidade do mesmo. Este princpio vem, nesse contexto, beneficiar o trabalhador. Assim explica Martins (2003, pg. 66):

O trabalhador sempre tem melhores meios de conseguir mais facilmente sua prova, escolhendo testemunhas entre seus subordinados, podendo suportar economicamente a demora na soluo do processo. J o empregado no tem essa facilidade ao ter que convidar a testemunha e no saber se esta comparecer, com medo de represlias do empregador, e, muitas vezes, de no ter prova a produzir por esses motivos.

Esta situao relatada fere o principio da Isonomia, pois trabalhador se encontra claramente em situao hipossuficiente. Esta proteo de que se fala, protege a Isonomia, que um Princpio Constitucional do Processo, conforme explica Machado (1995, pg. 155):

No podendo mais conter a fico de igualdade existente entre as partes do contrato de trabalho, inclinou-se o legislador para uma compensao dessa desigualdade econmica desfavorvel ao trabalhador com uma proteo jurdica a ele favorvel.

Alm do princpio da Isonomia, o princpio da Assistncia Jurdica Integral tambm observado quando o trabalhador protegido em face de uma ao claramente desfavorvel no sentido no da deciso, mas dos meios do cidado ver o conflito satisfeito.No fica, porm, a ao deste princpio limitada ao direito processual, como assinala Martins (2003, pg. 66):

O verdadeiro princpio do processo do trabalho o da proteo. Assim como no Direito do Trabalho, as regras so interpretadas mais favoravelmente ao empregado, em caso de dvida, no processo do trabalho tambm vale o princpio protecionista [...]

Exemplo retirado do RTF:

PRINCPIO DA PROTEO - IN DUBIO PRO MISERO. Havendo duas ou mais interpretaes sobre a mesma norma, adotar-se- a mais favorvel para o empregado, aplicando-se um dos princpios da proteo, o do in dubio pro misero.

(TRT-1 - RO: 00008733920125010062 RJ , Relator: Mery Bucker Caminha, Data de Julgamento: 25/03/2014, Primeira Turma, Data de Publicao: 10/04/2014)

4.2 Princpio da Irrenunciabilidade

O conceito deste princpio simples, o empregado no pode renunciar a seus direitos que sejam garantidos pelo Direito do Trabalho, de acordo com Machado (1995, pg. 160): a noo de irrenunciabilidade pode ser assim expressa: a impossibilidade jurdica de privar-se voluntariamente de uma ou mais vantagens concedidas [...].Este princpio fortalece o anterior da proteo para cingir o trabalhador de possibilidades ante o empregador durante uma ao, conforme relata Nascimento (2010, pg. 448):

O princpio da irrenunciabilidade dos direitos pelo trabalhador tem a funo de fortalecer a manuteno dos seus direitos com a substituio da vontade do trabalhador, exposta s fragilidades da sua posio perante o empregador, pela da lei, impeditiva e invalidante da sua alienao.

Este princpio guarda relao com o Devido Processo Legal. Pois o trabalhador pode ser coagido pelo empregador a abrir mo de seus direitos ferindo assim integridade do processo.Exemplo retirado do TRT:

PRINCPIO DA IRRENUNCIABILIDADE. A irrenunciabilidade obsta o titular do direito de privar-se das garantias conquistadas e tem como escopo no somente a proteo individual, mas sobretudo, a proteo da coletividade assegurada pela ordem pblica social. Corolrio de tal limitao objetiva ao poder de dispor, que nulifica inclusive decorrentes atos da vontade livremente manifestos na esfera individual, a forte restrio que as transaes extrajudiciais encontram para serem admitidas no direito brasileiro. Em regra, so invlidas, sendo que as legitimamente realizadas perante as CCPs no tm o condo de obstar o acesso justia (CRFB, art. 5, XXXV), mormente quando a pretenso refere-se a direitos que no foram expressa e especificamente transacionados, em res dubia. Recursos no providos.

(TRT-1 - RO: 2093820105010301 RJ , Relator: Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva, Data de Julgamento: 09/01/2013, Stima Turma, Data de Publicao: 04-03-2013)

4.3 Princpio do Ius Postulandi

Este princpio tem gerado controvrsia e debates no mundo jurdico. Atravs deste fundamento, pode-se mover o judicirio sem a necessidade de um advogado. Embora o princpio da proteo pode levar a crer que este um direito apenas do empregado, a prtica mostra que tanto empregado como empregador podem entrar em ao sem o advogado (podendo inclusive ser ajuizada por sindicatos e representantes). Acerca do tema esclarece Martins (2003, pg. 67):

Na Justia do Trabalho, as partes detm o ius postulandi, ou seja, a capacidade de ingressar em juzo com ao, independentemente da constituio de advogado, principalmente em funo da hipossuficincia do trabalhador, que no tem condies de contratar advogado. Permite o art. 791 da CLT que no s o empregado, como tambm o empregador ajuzem a ao pessoalmente e acompanhem os demais trmites do processo. Segundo Saraiva (2011, pg. 38), a discusso que polemizou o assunto se refere constitucionalidade deste princpio:

Uma corrente minoritria defendia que, apos a Constituio Federal de 1988, em funo de o art. 133 estabelecer que o advogado e indispensvel a administrao da justia, o art. 791 da CLT no mais estaria em vigor, em face da incompatibilidade com o texto constitucional mencionado.

No entanto foi fortalecida a jurisprudncia nos tribunais do trabalho na direo de que o art. 791 permanece vigente e eficaz. A discusso gerou um movimento por parte Associao de Magistrados do Brasil, rgo que props uma ADI 1127, julgando o STF inconstitucional a palavra qualquer do art. 1., I, da Lei 8.906/1994 que o Estatuto da OAB.Contudo, esta capacidade assegurada somente na Justia do Trabalho, conforme smula 425 do TST: "O ius postulandi das partes, estabelecida no art. 791 da CLT, lmita-se s Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, no alcanando a ao rescisria, a ao cautelar, o mandado de segurana e os recursos de competncia".Esta smula, ento, nos alerta para um detalhe muito importante, conforme salienta Saraiva (2011, pg.39):

Portanto, o jus postulandi no prevalece no TST. Logo, em caso de recurso de revista interposto, ele devera ser subscrito por advogado, assim como qualquer outro recurso que venha a tramitar no TST Em outras palavras, o jus postulandi doravante somente prevalecera nas instancias ordinarias.

O princpio do ius postulandi se relaciona com o Princpio Constitucional da Isonomia, Inafastabilidade do Poder Judicirio e Assistncia Jurdica Integral. Permitindo ao hipossuficiente, e alm dele o acesso justia, no tomando a inexistncia da representao atravs de advogado como um impeditivo.Exemplo retirado do TRT:

HONORRIOS CONTRATUAIS. FACULDADE CONFERIDA PARTE. ADMISSO NA JUSTIA DO TRABALHO DO IUS POSTULANDI. DESCABIMENTO DE INDENIZAO. H no processo do trabalho norma especfica dispondo sobre honorrios advocatcios, os quais somente so admitidos na modalidade assistencial (Lei 5.584/70 e Smulas 219, I, e 329 do TST). Assim, inexistente lacuna normativa a respeito (art. 769 da CLT), descabe a incidncia subsdiria do Cdigo Civil a respeito. Ademais, nos termos do art. 791 da CLT admite-se no processo do trabalho o ius postulandi, sendo ainda possvel parte recorrer ao Sindicato da categoria ou Defensoria Pblica da Unio para promover a ao trabalhista desejada sem nus. Destarte, optando a parte pela contratao de advogado particular, no se afigura cabvel transferir ao empregador o nus decorrente do exerccio dessa faculdade, razo pela qual se rejeita o pedido indenizatrio em exame.

(TRT-3 - RO: 00923201201703009 0000923-49.2012.5.03.0017, Relator: Convocada Ana Maria Amorim Reboucas, Oitava Turma, Data de Publicao: 29/01/2013 28/01/2013. DEJT. Pgina 290. Boletim: No.)

4.4 Princpio da Extrapetio

Este princpio de conceituao simples permite que o juiz faa mais do que foi pedido na petio inicial. Com efeito, destaca Saraiva (2011, pg. 47):

O principio da extrapetio permite que o juiz, nos casos expressamente previstos em lei, condene o ru em pedidos no contidos na petio inicial, ou seja, autoriza o julgador a conceder mais do que o pleiteado, ou mesmo vantagem diversa da que foi requerida.

No pode, porm este princpio ser aplicado de maneira arbitrria. necessrio que se preencha certos requisitos. Cita Martins (2003, pg. 68) alguns exemplos:

O referido princpio aplicado no processo do trabalho em certos casos. O art. 467 da CLT permite ao juiz determinar o pagamento das verbas rescisrias incontroversas com ascrscimo de 50%, caso no sejam pagas na primeira audincia que comparecer o ru, ainda que sem pedido do autor (ultrapetio). O art. 496 da CLT dispes que o juiz poder determinar o pagamento de indenizao ao empregado estvel, dada a incompatibilidade do retorno deste servio, mesmo que o empregado s tenha pedido a reintegrao (extrapetio).

Estes atos possveis ao juiz demostram relao com o Devido Processo legal, pois s podem ocorrer de acordo com o rescrito em lei para que a segurana jurdica e a prestao jurisdicional no sejam corrompidas. Bem como se relaciona com Assistncia Jurdica Integral, permitindo ao juiz a possibilidade e demandar aquilo que devido.Exemplo retirado do TRT:

EMENTA - ATIVAO DO PRINCPIO DA EXTRAPETIO - POSSIBILIDADE NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO - INEXISTNCIA DE JULGAMENTO EXTRA PETITA. O princpio da extrapetio estrutura o Direito Processual do Trabalho, estando, inclusive, positivado em diversos sistemas estrangeiros. Da porque o Juiz do Trabalho no est subsumido s restries contidas nos artigos 128 e 460/CPC, sobretudo porque a CLT tem regramento prprio a dispor dos atos decisrios, nos moldes dos artigos 831 a 836/CLT. A pretenso est gizada em pedido de horas extras e horas in itinere, razo pela qual consiste em decorrncia lgica da condenao do pedido principal a determinao para que, na apurao das parcelas, seja aplicado o divisor prprio da jornada contratual, no havendo, assim, que se falar em deciso extra petita.

(TRT-3 - RO: 01491201113603009 0001491-33.2011.5.03.0136, Relator: Convocado Vitor Salino de Moura Eca, Terceira Turma, Data de Publicao: 18/06/2012 15/06/2012. DEJT. Pgina 54. Boletim: Sim.)

4.5 Princpio da Conciliao

Durante um litgio, cada parte faz o que estiver dentro de suas possiblidades para ganhar a ao. uma luta e nem sempre vence aquele que tem razo. a disputa entre duas partes, e mesmo que o Estado preste tutela jurisdicional visando isonomia, uma parte poder ser hipossuficiente em relao outra. Ento, este princpio trata da possibilidade das prprias partes se conciliarem e decidirem da melhor maneira possvel. No tocante a este aspecto, ressalta Schiavi (2009, pg. 92):

Sem dvida, a conciliao a melhor forma de resoluo de conflito trabalhista, pois soluo oriunda das prprias partes que sabem a real dimenso do conflito, suas necessidades e possibilidades para melhor soluo. Muitas vezes, a sentena desagrada a uma das partes e at mesmo as duas partes.

Claro que a conciliao no ser cegamente homologada pelo juiz. Em atendimento aos princpios at agora estudados o juiz dever certificar-se da legalidade do procedimento, conforme assinala Saraiva (2011, pg. 37):

Por outro lado, impende destacar que cabe ao juiz do trabalho, ao celebrar o acordo, verificar a observncia das normas de proteo ao trabalhador (normas imperativas, de ordem publica), bem como atestar se as bases acordadas no so prejudiciais ao obreiro, podendo o magistrado recusar a homologao do acordo quando o mesmo representar, em verdade, renuncia de direitos peio empregado.

Exemplo retirado do TRT:

ACRDO EM RECURSO ORDINRIO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. ART. 285-A DO CPC. INAPLICABILIDADE AO PROCESSO DO TRABALHO. PRINCPIO DA CONCILIAO. vedado o julgamento antecipado da lide no processo do trabalho porquanto incompatvel com sua teleologia, que tem como um dos pilares o princpio da conciliao, sendo imprescindvel a citao da r para que se manifeste acerca da possibilidade de celebrar um acordo ou se defenda e produza as provas que julgar necessrias ao deslinde da controvrsia.

(TRT-1 - RO: 5041220135010482 RJ , Relator: Angelo Galvao Zamorano, Data de Julgamento: 02/09/2013, Dcima Turma, Data de Publicao: 09-09-2013)

5 Concluso

Em uma ilustrao, o Direito como uma rvore com muitos galhos e ramificaes. Equipara-se o tronco com a Constituio. O tronco a parte mais forte, slida e imponente da rvore, e dele sai todos os galhos, que so os demais ramos do Direito: ambiental, civil, internacional, penal, do trabalho, do consumidor etc. Cada um destes galhos depende do tronco para sobreviverem, se forem cortados, morrem. Assim com os demais ramos do Direito. Dependem da Constituio para sua existncia e eficcia e se, por qualquer razo, se desprenderem do que diz a Lei Maior, morrem. Tudo, porm, est ligado pelos canais interiores que sobem desde as razes at s copas e folhas. Estes so os princpios que regem o Direito como um todo. Princpios esto contidos no direcionamento da Constituio e, claro, nas demais subdivises da matria.O estudo, ento, destes princpios constitucionais e infraconstitucionais fundamental para entender o Direito como um todo e em suas partes individuais.Observa-se que os direitos processuais civil, penal e do trabalho guardam muitos princpios semelhantes e idnticos. Por isso a opo de no elencar o mesmo princpio em mais de um ramo aqui explanado. possvel, com este estudo entender o pensamento norteador do direito brasileiro e como tudo se relaciona, por mais distante que possa parecer um ramo de outro.Longe de ser exaustivo, este trabalho busca delinear alguns destes to importantes princpios, dando os primeiros passos dentro de um vasto universo de ideias concluindo-se que o entendimento de nossas instituies jurdicas no ser alcanado sem antes adentrar o universo (e participar de discusses a respeito) dos princpios sob os quais se assenta no nosso Direito.

REFERNCIAS

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2012.

CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. Processo Penal e Constituio: Princpios Constitucionais do Processo Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MACHADO, Csar Pereira da Silva Junior. O nus da Prova no Processo do Trabalho. 2. ed. So Paul: LTr, 1995.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 19. ed. So Paulo: Atlas, 2003.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 18. ed. So Paulo: Atlas S. A., 2008.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curo de direito do Trabalho. 25. ed. So Paulo: Saraiva, 2010.

SANTOS, Ernane Fidlis dos. Manual de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento. 12. ed. So Paulo: Saraiva, 2009.

SANTOS, Ernane Fidlis dos. Manual de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 2001.

SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8. ed. So Paulo: Mtodo, 2011.

SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 2009.

SILVA, Ovdio A. Baptista da. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento. 6. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

THEODORO, Humberto Jnior. Curso de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 54. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

TOURINHO, Fernando da Costa Filho. Manual de Processo Penal. 15. ed. So Paulo: Saraiva, 2012.