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Problemática da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos em Angola: Estudo de caso: Província da Huíla Município do Lubango Alcino Raimundo Vaz de Almeida Dissertação de Mestrado em Gestão do Território, Área de Especialização em Ambiente e Recursos Naturais Novembro, 2017

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Problemática da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos em Angola:

Estudo de caso: Província da Huíla Município do Lubango

Alcino Raimundo Vaz de Almeida

Dissertação de Mestrado em Gestão do Território, Área

de Especialização em Ambiente e Recursos Naturais

Novembro, 2017

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em Gestão do Território: Área de Especialização em Ambiente e

Recursos Naturais, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor José

Eduardo Silvério Ventura

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família, que

me incentivou e depositou toda confiança.

Aos meus pais Benicio Mendes Vaz de

Almeida e Margarida Maria que, com muito

carinho e apoio, não mediram esforços para

que eu chegasse até esta etapa da minha

vida.

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AGRADECIMENTO

A Deus, que se mostrou criador, que foi criativo. Seu fôlego de vida em mim me foi

sustendo e me deu coragem para questionar realidades e propor sempre um novo mundo

de possibilidades.

Ao Professor Doutor José Eduardo Ventura, meu orientador de dissertação de Mestrado,

pelos seus ensinamentos, paciência e confiança ao longo das supervisões e por

compreender as minhas dificuldades como estudante, serei grato eternamente.

Aos professores, Pedro Cortesão Casimiro, Fernando Martins, João Figueira de Sousa, e

às professoras Maria José Roxo e Dulce Pimentel, pelos sábios e vastos conhecimentos

proporcionados.

À Administração Municipal e instituições privadas na cidade do Lubango, aos

entrevistados e inquiridos que colaboraram este estudo.

Ao Governador Provincial Dr. João Marcelino Tyipingue, aos Drs. Américo Chicote,

João Vunda, Mateus Tchicolossonhi que não mediram esforços para que se pudesse

efetivar este meu desejo.

Aos meus colegas de Mestrado Ana Isabel Pego, Bernado Nunes, David Huffstot, David

Rodrigues, Eliene Andréia Fermiani, Júlio Fernando, Sónia Rodrigues, pela companhia

durante este período de formação.

Aos meus companheiros de jornada, Júlio Fernando Tyilianga, António Cassinda

KavaloVambili e Gabriel Filipe Satoto que juntos continuam a trilhar esta aventura.

Quero agradecer no fundo do coração às pessoas que estiveram comigo e que me

ajudaram a não desistir dos meus objetivos e me ensinaram a sorrir perante a vida, aos

meus amigos, Zeze Nguelleka, Edson Futy, Khankho Barro, Valentim Sambambi,

Herve Vela, Pedro Duarte, Régio Jaime, Rafael Marques, Agostinho Dias Sumbelelo,

Joaquim Salvador, Leandro Chindele, Edgar Cambinda.

Agradeço também às pessoas que não mencionei, mas que passaram na minha vida,

umas de forma mais curta e outras de forma mais longa, mas que me ajudaram com os

seus conhecimentos e conselhos.

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Por fim, um obrigado muito grande aos meus pais que me ajudaram a chegar aqui

através do seu apoio e das oportunidades que têm proporcionado, à minha tia Fátima

pela hospitalidade e apoio, à minha irmã Ludmila Almeida de quem gosto muito e deve

ter orgulho em si mesma por ser a melhor mana e a melhor mãe do mundo. E à minha

namorada pela extrema paciência, dedicação, amor e compreensão mesmo nos dias de

maior stress e também por me ter ajudado a refletir de forma mais concisa e a organizar

as minha ideias.

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RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo principal o estudo da problemática dos

resíduos sólidos urbanos (RSU) em Angola tendo como caso de estudo o Município do

Lubango. Identifica as principais dificuldades associadas à gestão de resíduos e

apresenta sugestões para melhoria da sua estratégia de gestão. É analisada a produção

de RSU, o seu destino final, o grau de satisfação da população em relação à gestão de

RSU e a sua disponibilidade para futura colaboração na melhoria desta bem como, a

perceção da população relativamente à sua gestão. A metodologia adotada para o

desenvolvimento do trabalho baseou-se em: informações fornecidas pelas empresas

envolvidas e pela Administração Municipal do Lubango; pesquisa bibliográfica,

realização de inquéritos à população e aos estabelecimentos comerciais e de prestação

de serviço e realização de entrevistas às entidades responsáveis pela gestão de resíduos

sólidos urbanos.

Os resultados demonstram que a cidade enfrenta sérias dificuldades e falhas

identificadas ao nível da recolha, tratamento e da informação prestada à população

residente. As autoridades locais não promovem a reciclagem contribuindo, desta forma,

para a perda de resíduos que podem transformar-se em recursos. A deposição ilegal de

resíduos é ainda uma prática habitual, assim como outros meios não adequados

utilizados para o seu descarte.

Perante esta situação, foi efetuada uma proposta para melhorar a gestão dos

resíduos sólidos urbanos em que se destaca a necessidade de investir na educação

ambiental, reforma do sistema de recolha e requalificação do destino final. A sua

implementação exige a participação dos diversos setores da sociedade civil, com a

intenção de promover a elaboração e implementação de estratégias mais eficazes.

PALAVRA CHAVES: Resíduos Sólidos Urbanos, Reciclagem, Educação Ambiental, Gestão de RSU.

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ABSTRACT

The principal aim of this dissertation is to study the urban solid waste (USW)

problem existing in Angola, taking in account as study case the municipality of

Lubango. It identifies the main difficulties associated with waste management and

propounds suggestions to improve its management strategy. Furthermore, it analyzes

the production of USW, its final destination, the satisfaction level of the population

regarding to USW management, and the availability for future collaboration in

improving it, as well as the perception of the population regarding its management. The

methodology adopted in the development of this work was based on: information

provided by the companies involved in treatment of solid waste and by the Lubango

Municipal Administration, bibliographical research, surveys of the population,

commercial establishments, provision of services as well as interviews with the entities

responsible for urban solid waste management.

According to the outcomes, the city faces serious issues and insufficiency in the

collection, treatment and in terms of the level of information provided to the population

of the city under consideration. It can be argued that local authorities do not promote

recycling; therefore, it contributes to the loss of waste that can be transformed into

useful resources. Inappropriate deposition of USW is still a common practice, as are

other unsuitable means used for the disposal of waste.

This situation has boosted the embellishment, of a proposal in order to improve

the management of urban solid waste, in which the need to invest in environmental

education, reform of the collection system and requalification of final destination is

highlighted. The implemention of that proposal requires the participation of several

sectors of the civil society, with intention of promoting the development and

implementation of further effective strategies.

KEY WORDS: Urban Solid Waste, Recycling, Environmental Education, Management

of USW.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AML - Administração Municipal do Lubango

AN - Assembleia Nacional

ARN - Agência Nacional

AS - Aterro Sanitário

CEIC - UCAN - Centro de Estudo e Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola

DMA - Delegação Municipal do Ambiente e Saneamento

DPS - Direção Provincial de Saúde

EU - União Europeia

GPH - Governo Provincial da Huíla

ICGA - Instituto de Cadastramento Geográfico de Angola

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

INE - Instituto Nacional de Estatística

LIPOR - Serviço Intermunicipalização de Tratamento de Lixos da Região do Porto

MAT - Ministério da Administração do Território

MPA - Missão Pedológica de Angola

MINSA - Ministério da Saúde

MINUA - Ministério do Urbanismo e Ambiente

OMS - Organização Mundial da Saúde

OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde

PDL - Plano Diretor do Lubango

PDM - Plano de Desenvolvimento Municipal

PNEGRU - Plano Nacional Estratégico de Gestão de Resíduos Urbanos

RSU - Resíduos Sólidos Urbanos

SEDU - Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano

SIDA - Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

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UNCED - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

VIH - Vírus da Imuno Deficiência Humana

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ÍNDICE GERAL

RESUMO ............................................................................................................................... v

PALAVRA CHAVES .......................................................................................................... v

ABSTRACT ......................................................................................................................... vi

KEY WORDS ...................................................................................................................... vi

LISTA DE ABREVIATURAS ......................................................................................... vii

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1. Aspectos Gerais .................................................................................................. 1

1.2. Pertinência do Tema e da Investigação................................................................ 1

1.3. Hipóteses ............................................................................................................ 2

1.4. Objetivos ............................................................................................................ 3

1.5. Enquadramento do Trabalho ............................................................................... 3

1.6. Organização da Dissertação ................................................................................ 3

II. RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................................... 5

2.1. Classificação dos Resíduos Sólidos ..................................................................... 5

2.2. Composição e caraterísticas dos RSU ................................................................. 7

2.3. Impacto dos resíduos sólidos no ambiente .......................................................... 9

2.4. Transporte dos RSU .......................................................................................... 11

2.5. Aterro Sanitário ................................................................................................ 12

2.6. Reciclagem ....................................................................................................... 13

2.7. Fatores que influenciam na produção de Resíduos Sólidos Urbanos .................. 15

III. CARATERIZAÇÃO GERAL DE ANGOLA ......................................................... 16

3.1. Contexto Económico ........................................................................................ 17

3.2. Contexto Social ............................................................................................... 18

3.2.1. População ................................................................................................... 18

3.2.2. Saúde ......................................................................................................... 20

3.2.3. Educação .................................................................................................... 21

3.3. A Situação dos Resíduos Sólidos ...................................................................... 22

3.4. Enquadramento Legal ....................................................................................... 24

IV. CASO DE ESTUDO - O MUNICÍPIO DO LUBANGO ....................................... 27

4.1. Caraterização Geográfica do Município ............................................................ 27

4.1.1. Clima e Vegetação ..................................................................................... 28

4.1.2. Geologia e Geomorfologia ......................................................................... 30

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4.2. A População e Economia .................................................................................. 36

4.3. Crescimento Urbano ......................................................................................... 37

4.4. Características dos Bairros e sua Tipologia ....................................................... 46

4.4.1. Bairro Comercial ........................................................................................ 46

4.4.2. Zona sul do Bairro Comercial ..................................................................... 47

4.4.3. Bairros Residenciais de Moradias ............................................................... 47

4.4.4. Zona de Construção Anárquica ................................................................... 48

4.5. Situação Atual dos Resíduos sólidos no Município do Lubango ........................ 49

4.5.1 Tipos de resíduos produzidos ...................................................................... 51 4.5.2. Deposição pela população e recolha dos RSU............................................. 52

4.6. Aspetos Sanitários e Epidemiológicos ............................................................... 59

V . Os HABITANTES DO LUBANGO: PERCEÇÃO E COMPORTAMENTO FACE AOS RSU ................................................................................................................. 62

5.1. Amostra e colheita de dados ............................................................................. 63

5.1.1. Amostra ..................................................................................................... 63

5.1.2. Colheita de dados ....................................................................................... 64

5.2. Caracterização Sócio Demográfica da Amostra ................................................. 64

5.3. A apreciação da população face ao serviço prestado aos RSU ........................... 68

5.4. A opinião dos Estabelecimentos Comerciais e Prestação de Serviço ................. 74

VI. CONCLUSÃO E PROPOSTA DE MELHORIA ................................................... 82

VII. FONTES CONSULTADAS...................................................................................... 86

VIII. ANEXOS .................................................................................................................... 93

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Indice de Qudro

Quadro 1 - Composição Média ...................................................................................... 8 Quadra 2 - Distribuição de contentores por bairros ...................................................... 56 Quadro 3 - Distribuição de recolha de resíduos por bairros .......................................... 57 Quadro 4 - Relação entre vetores e doenças por eles transmitidas ................................ 60 Quadro 5 - Número de inquiridos por bairros .............................................................. 65 Quadro 6 - Distribuição dos inquiridos por faixa etária................................................ 66 Quadro 7 - Grau de escolaridade dos inquiridos .......................................................... 66 Quadro 8 - Número de pessoas por residência ............................................................. 68 Quadro 9 - Possibilidade de depositar os resíduos no contentor. .................................. 69 Quadro 10 - A que distância fica o contentor mais próximo......................................... 69 Quadro 11 - Regularidade de recolhados dos resíduos ................................................. 71 Quadro 12 - Satistação dos com o sistema de recolha por parte das autoridades........... 71 Quadro 13 - Já ouviu falar sobre separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização de resíduos ............................................................................................... 73 Quadro 14 - Caso seja implementada a recolha seletiva de resíduos estaria disposto a colaborar ..................................................................................................................... 74 Quadro 15 - Grau de escolaridade dos funcionários ..................................................... 75 Quadro 16 - Distância do contentor mais próximo ....................................................... 76 Quadro 17 - Periodicidade da limpeza e evacuação dos resíduos ................................. 77 Quadro 18 - Práticas de separação do lixo e recolha seletiva........................................ 80

Indice de Figura

Figura 1 - Divisão administrativa de Angola ............................................................... 16 Figura 2 - Densidade populacional por Província em Angola ...................................... 19 Figura 3 - Localização geográfica do Lubango ............................................................ 27 Figura 4 - Precipitação média mensal do Município do Lubango (ano de 2002) .......... 29 Figura 5 - Formação vegetais no Municipio do Lubango ............................................. 30 Figura 6 - Carta Geologica da região do Lubango extraída de Pereira et al 2014 ........ 32 Figura 7 - Extrato da carta geomorfologica da Huíla ( Feio, 1981)............................... 33 Figura 8 - Rede hidrográfica do Lubango .................................................................... 34 Figura 9 - Tipos de solos. Baseado em FAO-SOTER 2007.......................................... 35 Figura 10 - Distribuição da população por Município na Província de Huíla ............... 36 Figura 11 - Estrutura etária do Lubango 2002.............................................................. 38 Figura 12 - Planta do Lubango e traçado previsto pelo Plano Geral de Urbanização 1957 ................................................................................................................................... 42 Figura 13 - Distribuição atual dos principais Bairros na cidade do Lubango ................ 44 Figura 14 - Bairro de construção anárquica (Bairro Calumbiro)................................... 48 Figura 15 - Depósito de resíduos em contentor danificado (Bairro Lucrécia) ............... 50 Figura 16 - Depósito de resíduos no bairro Comercial (Rua da Mongua) ..................... 50

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Figura 17 - Deposição de resíduos sem a separação previa .......................................... 52 Figura 18 - Depósito de Resíduos em cursos de água .................................................. 52 Figura 19 - Deposição de RSU em local de fácil acesso (Bairro Comercial) ................ 53 Figura 20 - Depósto de resíduos em contentores - Bairro Lucrécia (Rua da Marginal do Mucufi) ....................................................................................................................... 53 Figura 21 - Deposição de resíduos em terreno baldio Bairro Santo António (Rua da Maxiqueira) ................................................................................................................ 54 Figura 22 - Distribuição de contentores de recolha de lixo no Munícipio do Lubango . 55 Figura 23 - Mapa de distribuição das zonas de recolha de resíduos sólidos urbanos por empresa ...................................................................................................................... 58 Figura 24 - Lixeira do bairro da Mitcha ....................................................................... 59 Figura 25 - Lixeira ao longo da estrada para Benguela localizada no Luyovo (Comuna da Quilemba) .............................................................................................................. 59 Figura 26 - Tipo de residência ..................................................................................... 67 Figura 27 - Locais de deposição dos resíduos produzidos em casa ............................... 70 Figura 28 - Tipos de resíduos mais produzidos ............................................................ 72 Figura 29 - Uso dos resíduos sólidos ........................................................................... 72 Figura 30 - Número de inquéritos aos estabelecimentos comerciais e prestação de serviço ........................................................................................................................ 75 Figura 31 - Local de depósito dos resíduos sólidos produzidos no estabelecimentos .... 76 Figura 32 - Satisfação com o sistema de recolha .......................................................... 77 Figura 33 - Motivos que levam a insatisfação na recolha dos RSU .............................. 78 Figura 34 - Uso dos resíduos no estabelecimento ........................................................ 78 Figura 35 - Qualidade de resíduos produzidos nos estabelecimentos............................ 79 Figura 36 - Conhecimento sobre matérias como a separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização ............................................................................... 79 Figura 37 - Razões apontadas para não realizar a valorização dos resíduos .................. 80 Figura 38 - Posição dos inquiridos sobre o possível de uma taxa de recolha seletiva dos resíduos ...................................................................................................................... 81

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I. INTRODUÇÃO

1.1. Aspectos Gerais

A gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é uma temática de

grande relevância a nível mundial, socio-económico e ambiental, merecendo uma

crescente e particular atenção, quer por parte das populações quer por parte dos

governos, de modo a minimizar os seus efeitos no ambiente (Martinho et al. 2000,

Russo, 2003).

O aumento da produção de resíduos levanta apreensões para o desenvolvimento

do nosso futuro comum. Pois, se por um lado, se verifica a rápida saturação das

infraestruturas de tratamento e deposição de resíduos, por outro lado, constata-se o

esgotamento eminente dos nossos recursos naturais (Costa, 2009).

Torna-se, assim, urgente inverter esta tendência e, neste sentido, por exemplo na

Europa a Comissão Europeia propôs uma nova estratégia com intuito de fomentar a

redução e reciclagem de resíduos. Neste pressuposto, preconiza-se o aproveitamento dos

resíduos como recursos diminuindo a exploração dos recursos naturais e aumentando o

tempo de vida das estruturas de tratamento e deposição de resíduos.

Em Angola, e em particular no Município do Lubango, tem-se registado, nos

últimos anos, um desenvolvimento económico com reflexos na urbanização e no

aumento dos padrões de consumo que apontam para o crescimento da quantidade e

complexidade dos Resíduos Sólidos Urbanos (R.S.U). Estes desperdícios da atividade

humana favorecem graves problemas sanitários, principalmente nos principais centros

urbanos. De uma forma geral, a gestão de Resíduos Urbanos baseia-se na simples

recolha indiferenciada e em seguida na deposição em lixeira, considerada como aterro

sanitário, acarretando impactos negativos.

1.2. Pertinência do Tema e da Investigação

A gestão dos resíduos sólidos urbanos, segue um circuito desde da sua deposição

até ao destino final, que deve obedecer à seguinte sequência:

Deposição

Recolha

Transporte

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Triagem

Tratamento

Deposição final

Quando os resíduos não são devidamente depositados em aterros sanitários mas

em lixeiras ou em aterros não controlados, tornam-se um problema para a saúde pública

e contribuem para a poluição das águas superficiais e subterrâneas, tornando-as

impróprias para o consumo. Os maus odores provenientes dos resíduos, embora não

prejudiciais para a saúde humana, ajudam a que os locais de destino final de resíduos

não sejam bem aceites pela comunidade (Sousa, 2009).

A correta gestão dos resíduos sólidos urbanos ajuda a proteção da saúde a

minimização de riscos ambientais bem como ao bem estar das populações.

Para além do grande interesse pessoal no tema, há também um interesse social e

de saúde pública nesta investigação. Também a separação e recolha seletiva dos

resíduos sólidos urbanos reveste-se de uma grande importância na criação de ambientes

favoráveis à saúde o que implica uma forte componente de participação ativa da

população e contribui para o ambiente e os recursos naturais.

1.3. Hipóteses

Podemos considerar como pressuposto que, na cidade do Lubango, se tem

registado um forte crescimento demográfico e económico que aumenta a produção de

resíduos e não só. Por estas razões apontamos as seguintes hipóteses que afetam e

afetarão o problema dos Resíduos Sólidos Urbanos:

Insuficiente capacidade institucional;

Deficiência na capacitação técnica e profissional;

Pouco envolvimento da população na deposição dos Resíduos Sólidos

Urbanos;

Ausência de controlo ambiental;

Limitações de ordem financeira;

Difícil acesso às zonas periféricas do Município.

As hipóteses enumeradas acima podem ser testadas e de mododo a averiguar se são verdadeiras ou falsas.

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1.4. Objetivos

Assim, o presente trabalho tem como principais objetivos:

Classificar os RSU produzidos;

Identificar as principais doenças ligadas à inadequada gestão dos resíduos

sólidos;

Relacionar as deficiências na remoção dos resíduos com a qualidade de vida

da população;

Avaliar o conhecimento da população em relação ao tema da gestão de

resíduos;

Contribuir para uma melhor gestão dos resíduos produzidos;

Fazer propostas de melhoria que ajudem a minimizar e resolver o problema.

Os objetivos acima traçados têm como intenção esclarecer a investigação que

pretendemos desenvolver, englobando aspetos teóricos e os resultados alcançados pelo

trabalho de campo.

1.5. Enquadramento do Trabalho

O tema escolhido para esta dissertação, tem como ponto forte o fato do autor

residir no Lubango e conhecer os problemas do país em geral e do Município em

particular, consequentes da inadequada gestão dos resíduos sólidos. Esta situação

resulta quer da falta de conhecimento/informação das populações quer da falta de

sensibilização, vontade das autoridades e também de dificuldade de financiamento.

Os RSU não são causadores diretos de doenças mas podem criar condições

favoráveis à sua disseminação entre a população. Quando se faz uma boa gestão dos

RSU, pode-se ter como vantagens a geração de benefícios económicos, preservação do

ambiente e da saúde da população com redução de gastos públicos.

1.6. Organização da Dissertação

Este trabalho académico de invetigação encontra-se estruturado em seis partes:

I. INTRODUÇÃO - breve introdução à temática dos resíduos sólidos, traçam-se

hipóteses, especificam-se os objetivos que se pretendem alcançar, faz-se um

enquadramento do trabalho e descreve-se a estrutura da dissertação.

II. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS - aborda: os conceitos de resíduos sólidos

e sua classificação tendo em conta a composição e propriedades (químicas, físicas e

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biológicas); impacto no ambiente; transporte; deposição em aterro sanitário; reciclagem;

fatores que influenciam a produção de resíduos sólidos urbanos, nomeadamente as

condições socias e desenvolvimento económico e a consciência ambiental.

III. CARATERIZAÇÃO GERAL DE ANGOLA - apresenta as caraterísticas de

Angola consideradas relevantes para o trabalho de que se destacam: os aspetos ligados

ao setor, económico e contexto social (saúde e educação); a situação dos resíduos

sólidos, com apresentação do Enquadramento Legal, destacando a Lei Geral do

Ambiente como principal normativa em vigor.

IV. CASO DE ESTUDO - MUNÍCIPIO DO LUBANGO - caraterização

Geográfica destacando: o clima, vegetação, geologia, geomorfologia, hidrografia e solo;

a população e economia tendo em conta a evolução da população desde a fundação aos

anos 50, do final dos anos 50 à independência e, também, do pós independência até à

atualidade; as caraterísticas dos bairros e sua tipologia realçando os bairros comercial,

zona sul do bairro comercial, bairros residenciais de moradias e os bairros de construção

anárquica; a situação atual dos resíduos sólidos no Município do Lubango destacando

os tipos de resíduos produzidos, deposição pela população e recolha dos RSU e, por

último, apresentam-se os aspetos sanitários e epidemiológicos.

V. OS HABITANTES DO LUBANGO. PERCEÇÃO E COMPORTAMENTO

FACE AOS RESÍDUOS SOLIDOS URBANOS - apresenta: a amostra utilizada e o

método de colheita de dados; a caraterização sócio demográfica e a apreciação da

população face ao serviço prestado em relação aos Resíduos Sólidos Urbanos bem

como a opinião dos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço.

VI. CONCLUSÕES E PROPOSTA DE MELHORIA - reflete sobre a

problemática da dissertação, com enfoque nos resultados encontrados e apresentação de

propostas de melhorias.

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II. RESÍDUOS SÓLIDOS

Neste o capítulo iremos fazer uma abordagem geral sobre o conceito de RSU

tendo em conta alguns aspetos destes em Angola e em particular no Município do

Lubango. Os termos ´´resíduos sólidos´´ e ´´lixo´´, são muitas vezes utilizados com

significado diferente. Contudo, na linguagem quotidiana o termo ´´resíduos sólidos´´ é

pouco utilizado ao contrário do termo ´´lixo´´ que é usado para designar ´´sobras´´

(restos).

Em Angola, foi publicado em decreto presidencial nº 190/12, de 24 de Agosto, a

aprovação do regulamento sobre a gestão de resíduos em conformidade com o disposto

no nº 1 do artigo 11; da Lei nº 5/98 de 19 de junho (Lei de Base do Ambiente de

Angola). Este regulamento estabelece as regras gerais relativamente à produção de

resíduos depositados no solo, subsolo, tratamento, recolha, armazenamento e transporte

de quaisquer resíduos com exceção dos de natureza radioativa ou sujeitos a

regulamentação específica, por forma a prevenir ou diminuir impactos negativos sobre a

saúde das pessoas e no ambiente. A referida Lei de Base do Ambiente de Angola define

que os resíduos sólidos urbanos ´´correspondem a todo material proveniente das

atividades diárias do homem em sociedade, através dos quais há necessidade de se criar

sistemas que previnem situações que danificam o meio ambiente e que coloquem em

risco a saúde das pessoas e prejudiquem o ambiente´´.

2.1. Classificação dos Resíduos Sólidos

A classificação dos resíduos sólidos é feita com base nas propriedades físicas,

químicas ou biológicas. Em Angola, segundo o referido Decreto Presidencial nº 190/12

de acordo com o seu artigo 4º, os RSU são classificados em:

Perigosos - aqueles que apresentam perigosidade com as características

seguintes: propriedade inflamável, corrosividade, reatividade e toxicidade. E, em função

das suas propriedades físicas químicas ou biológica, podem apresentar risco para saúde

e o meio ambiente.

Não perigosos - os que não apresentam as características descritas anteriormente

e que se subdividem em categorias tais como:

Resíduos sólidos domésticos ou semelhantes originados nas habitações ou

idênticos;

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Resíduos Sólidos comerciais - originados em estabelecimentos comerciais,

escritórios, restaurantes e outros idênticos cujo volume diário não exceda

1.100 litros, sendo estes depositados em recipientes;

Resíduos domésticos volumosos - os originários das habitações, cuja

remoção não se torna possível pelos meios normais atendendo ao volume,

forma ou tamanho que apresentam ou cuja deposição nos contentores

existentes seja considerada prejudicial para a comuna ou município;

Resíduos sectoriais - os produzidos em qualquer atividade agrícola,

industrial, comercial ou de prestação de serviços, cujo volume diário exceda

1.100 litros e que não podem ser depositados ou tratados como resíduos

sólidos urbanos;

Resíduos especiais - os resíduos com características especificas,

designadamente embalagens, resíduos de equipamento elétrico e eletrónicos,

veículos em fim de vida, veículos da construção e demolição, pilhas, pneus,

óleos, minerais e outros que, por sua vez, podem ser objeto de recolha e

tratamento especifico;

Resíduos de jardins - originados nos trabalhos de conservação de jardins

particulares tais como aparas, ramos, troncos ou folhas;

Resíduos Sólidos resultantes da limpeza pública de jardins, parques, vias,

linhas de água, cemitérios e outros espaços públicos;

Resíduos Sólidos industriais - originários de atividades acessórias e

comparadas a resíduos sólidos urbanos com características idênticas à dos

resíduos sólidos domésticos e comerciais sobretudo os originários de

refeitórios, cantinas, escritórios e as embalagens não contaminadas;

Resíduos sólidos hospitalares - não infetados, comparados aos domésticos;

Resíduos originários da defecação de animais nas ruas.

Fazem parte dos resíduos sólidos não perigosos o papel, plástico, vidro, metal,

entulho, sucata, e outros tipos de resíduos que não apresentam características de

perigosidade estabelecidas no regulamento.

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2.2. Composição e caraterísticas dos RSU

Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), são provenientes em maioria da atividade

doméstica e constituídas fundamentalmente por:

Materiais de natureza não orgânica caracterizados pela sua indecomposição

nomeadamente minerais, papéis, couros, trapos, cinzas, vidros, plásticos;

Materiais de natureza orgânica caracterizados pela sua rápida

fermentescilidade, como por exemplo resíduos animais e vegetais, restos de

alimentos, etc.;

Costuma-se incluir os resíduos da varredura das ruas e as folhas caducas de

árvores implantadas nos meios urbanos assim como produtos da limpeza dos

recintos de feiras e mercados e outros lugares públicos;

Não se incluem fezes humanas, as quais devem ser objeto de tratamento

especifíco no que diz respeito aos esgotos (resíduos líquidos) (Sedu, 2001).

Quanto à sua composição física e química os resíduos domésticos são

caracterizados em especial quer pela sua composição química quer pelo seu poder

calorífico.

Os resíduos contêm normalmente uma quantidade de água de 30% (variável

entre o inverno e verão), substâncias minerais entre 35 e 50%, e substâncias orgânicas

entre 20 e 35%.

As percentagens são obtidas a partir do peso, pois o volume aparente tem pouco

significado no caso. No quadro 1 indica-se, de um modo geral, a composição média dos

resíduos sólidos urbanos.

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Quadro 1 - Composição Média

Composição %

Componentes de granulometria fina (0 a 20 mm) 30 a 60

Restos de combustíveis 1 a 8

Restos de madeira e congéneres 1 a 6

Restos de escombro (tijolos, pedras) 3 a 7

Vidros e porcelanas 1 a 7

Materiais vegetais 8 a 35

Metais 1 a 5

Trapos, couros, borrachas 2 a 5

Papéis cartões 5 a 25

Plásticos 1 a 6

Fonte: SEDU, 2001

Segundo Russo (2003), a sua composição apresenta percentagens muito

aleatórias dependendo de vários fatores tais como:

Época do ano (o resíduo de verão geralmente tem mais humidade devido à

presença de vegetais, e no inverno são mais densos devido a existência de

cinzas;

Clima da região;

Distribuição habitacional e tipo de urbanização;

Nível de vida da população;

No que diz respeito à capitação está é definida pela quantidade diária de resíduos

produzida por uma pessoa. Em Angola apresentam valores entre 0.5 e 1.1 kg por

habitantes diariamente (Alves, 2014).

É importante conhecer as propriedades químicas dos resíduos, porque é destas

que depende a sua capacidade de queima e conteúdo energético, elementos importantes

para optar pela sua incineração com recuperação energética. Isto porque os resíduos são

uma combinação de materiais combustíveis e não combustíveis (Russo, 2003).

De acordo com Moreira (2008), as principais características químicas são:

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Percentagem de hidrogénio (Ph) - este indica o teor de acidez ou alcalinidade do

resíduo e que em geral, situa-se na faixa de 5 a 7;

Composição química - consiste na determinação dos teores de cinzas, matéria

orgânica, carbono, potássio, cálcio, fósforo, resíduo mineral total e solúvel, e

gorduras;

Relação carbono/nitrogénio - indica o grau da composição da matéria orgânica

presente no resíduo nos processos de tratamento de deposição final. Situando-se

mais ou menos na ordem de 35/1 a 20/1;

Poder calorífico - capacidade potencial do material libertar calor quando

submetido à queima. É importante nos processos de tratamento térmico dos

resíduos. Existem dois tipos de poder calorífico, poder calorífico superior e o

poder calorífico inferior, a diferença resulta da consideração do estado final da

mistura de gases de combustão e do vapor de água que se forma na queima de

substâncias hidrogenadas (Soares, 2011).

As propriedades biológicas estão relacionadas com as populações de

microrganismos (fungos e bactérias) presentes e responsáveis pela decomposição da

matéria orgânica. Também podem ser encontrados entre os resíduos organismos

patogénicos (bactérias, vírus, protozoários e vermes) potencialmente causadores de

doenças em seres humanos.

Estas caraterísticas, além de serem determinantes na escolha dos métodos de

tratamento e deposição final dos resíduos sólidos, têm sido utilizadas no

desenvolvimento de inibidores de cheiro e de retardadores ou aceleradores da

decomposição da matéria orgânica (Correia, 2012).

2.3. Impacto dos resíduos sólidos no ambiente

Em termos teóricos os resíduos por si só não se movem, isto faz com que sejam

vistos onde foram depositados e o seu grau de impacte varia muito de acordo com o tipo

de resíduo depositado. A água poluída ou mesmo o ar contaminado têm capacidade de

renovação e restabelecimento ambiental devido às suas propriedades físicas e químicas

Os R.S.U têm componentes orgânicas e inorgânicas e, quando não são inertes

sofrem ao longo do tempo processos de natureza bioquímica, física e microbiológica. A

composição física, principalmente a matéria orgânica de origem biológica, como os

resíduos alimentares, contêm nutrientes e desenvolvem microrganismos à temperatura

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ambiente quando em contato com ar, água e solo. Alguns podem ser patogénicos

responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e fundamentais para a manutenção

do ciclo de vida. A produção de odores e lixiviados são os resultados mais evidentes

destes fenómenos (Veiga, 2012).

Os R.S.U´s quando são depositados em espaços abertos e sem qualquer processo

de tratamento causam contaminação dos solos que se pode agravar por escorrência das

águas das chuvas ao arrastaram a excessiva carga orgânica. Esta podem contaminar

aquíferos com elementos patogénicos afetando negativamente a vida aquática

constituindo assim um problema de poluição do solo e aquíferos (Cruz, 2005).

Diariamente, no Município do Lubango, são depositados resíduos sólidos

urbanos sem adequado destino sanitário e ambiental. Embora se tenha investido na sua

melhoria esta tem sido insuficiente. A gestão adequada dos resíduos é uma importante

estratégia de preservação do ambiente assim como de promoção e proteção da saúde.

Deste modo, a inexistência de aterros sanitários continua a comprometer a qualidade do

solo e do ar afetados por compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais

pesados, entre outros.

Podemos, ainda, considerar um outro problema relacionado com a deposição não

controlada de resíduos no que respeita aos aspetos epidemiológicos. Não sendo correto

afirmar que os resíduos sólidos são causadores diretos de doenças, podem, no entanto,

assumir um papel na transmissão destas para o Homem e outros animais por intermédio

de microrganismos que nele se multiplicam e outros que são por eles atraídos. Estes

microrganismos são denominados vetores de transmissão de doenças sendo

classificados em dois grandes grupos: os macrovetores como por exemplo ratos, baratas,

moscas, cães, aves, suínos e equinos (enquadrando o homem neste grupo enquanto

catador) e os microvetores como vermes, bactérias, fungos e vírus, uns que utilizam os

resíduos apenas em determinado período da sua vida e outros que os utilizam a vida

toda. Esta situação é um grave problema por ser uma fonte continua de agentes

patogénicos. Estes, quando em contacto com o Homem, são responsáveis pelo

aparecimento de doenças respiratórias, epidérmicas, intestinais que podem ser letais

como a cólera, a febre tifóide, leptospirose, entre outras (Hester, R et al., 2002).

A inadequada deposição dos RSU favorece, em consequência os riscos para a

saúde humana. Alguns estudos têm indicado que áreas próximas a aterros ou lixeiras

apresentam níveis elevados de compostos orgânicos e metais pesados, e que populações

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residentes nas proximidades desses locais apresentam níveis eleva-dos desses

compostos no sangue. Assim, constituem potenciais fontes de exposição para as

populações, potenciando o aumento de diversos tipos de câncer, anomalias congénitas,

baixo peso ao nascer, abortos e mortes neonatais em populações frequentadoras ou

vizinhas desses locais.

Em Angola os resíduos são depositados em lixeiras e queimados produzindo

quantidades variadas de substâncias tóxicas, como gases, partículas de metais pesados,

compostos orgânicos, dioxinas e furanos emitidos na atmosfera (CEIC-UCA, 2012).

As decisões que envolvem a gestão de R.S.U, deviam ter em conta os problemas

de saúde pública e não apenas as questões políticas, económicas, sociais e ambientais.

Dessa forma seria possível caminhar para um desenvolvimento mais saudável, numa

perspetiva socialmente justa e ambientalmente sustentável.

2.4. Transporte dos RSU

Segundo Correia (2012) o transporte dos RSU é importante tanto para a

confirmação das quantidades produzidas, como para o reconhecimento dos fluxos

origem-destino e identificação dos agentes com os quais deverá ser estabelecido o

diálogo e que induzida à sua participação no processo. Os resíduos produzidos precisam

ser transportados mecanicamente do ponto de geração à deposição final. As viaturas de

recolha e transporte de RSU mais usuais podem ser de dois tipos:

Com compactação

Sem compactação.

Segundo Braga e Morgado (2012) o transporte dos RSU, deve obedecer as

condições seguintes:

Os resíduos sólidos deverão ser transportados em veículos de caixa

fechada ou, pelo menos, com a carga devidamente coberta;

Os resíduos constituintes de um carregamento devem ser devidamente

arrumados e escorados;

Se no carregamento, durante o percurso ou na descarga, ocorrer algum

derrame, a zona contaminada deve ser imediatamente limpa.

Segundo Martinho e Gonçalves (2000) o local de deposição dos resíduos não se

deve distanciar mais do que 25 km da última zona de recolha, isto porque o veículo de

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remoção tem velocidade reduzida e, neste caso, pode ser mais dispendioso no que diz

respeito ao tempo no transporte do que na recolha propriamente dita. Se os volumes

forem significativos, podem-se construir postos de transferência para o transporte para a

maior distância.

2.5. Aterro Sanitário

O decreto presidencial nº 190/12 de 24 de Agosto de Angola, no seu artigo 3º

alínea c) define aterro sanitário como sendo instalação de eliminação utilizada para a

deposição controlada de resíduos, esta pode ser acima ou abaixo da superfície do solo.

A sua técnica consiste em limitar adequadamente os RSU, garantindo a não

poluição do ambiente externo, por meio da cobertura das células de resíduos, todavia

sem promover a recolha e o tratamento dos efluentes líquidos e gasosos produzidos

(Silva et.al. 2011).

´´O sistema de aterro sanitário precisa ser

associado à recolha seletiva de lixo e à reciclagem,

o que permitiria que sua vida útil seja bastante

prolongada, além do aspeto altamente positivo de

se implantar uma educação ambiental com

resultado promissor na comunidade,

desenvolvendo coletivamente uma consciência

ecológica, cujo resultado é sempre uma maior

participação da população na defesa e preservação

do meio ambiente´´ (GADELHA, et al. 2008, p.8).

Os aterros são instalados nas periferias, e encontrar uma área apta para receber

este tipo de infraestrutura é uma tarefa complexa. Em Angola e em particular no

Município do Lubango apesar de haver muito espaço não significa necessariamente que

qualquer área seja adequada para a implementação de um aterro.

Segundo a Revista Brasileira sobre Limpeza Pública de 15 de setembro de 2010,

a área deve atender uma série de requisitos técnicos e ambientais, e para isso, é

necessário um estudo apurado tanto de geomorfologia, como da componente

socioambiental. Do ponto de vista técnico é preciso levar em conta o tipo de solo, a

distância de cursos de água, a profundidade do lençol freático, o volume do solo, a

topografia, o volume do solo disponível, a capacidade volumétrica, a acessibilidade e a

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distância da população instalada na zona. Em relação ao meio ambiente, é necessário

observar as características da flora e fauna, se são áreas de proteção permanente ou de

conservação como parques, áreas de forte declive e considerar as ocupações do entorno

bem como a população que lá vive.

2.6. Reciclagem

Reciclar significa transformar objetos materiais usados em novos produtos para

o consumo. Uma necessidade despertada nos seres humanos, a partir do momento em

que se verificarem os benefícios que este comportamento trás para o planeta Terra.

´´A imagem da Terra vista pelos astronautas teve a

virtude de nos incutir a consciência de que, longe

de habitar um espaço infinito, habitamos uma

espécie de nave espacial isolada, dentro de uma

cápsula de recursos constantes, que consumimos, e

que somente não esgotamos porque reciclamos.

Este conceito da necessidade de reciclagem - de

nada perder, de nada destruir, de tudo usar de novo

- poluição, que interrompe o processo de

reciclagem pela inutilização do recurso ou pelo

envenenamento´´(Silva, 1975:1).

O processo de reciclagem, além de preservar o ambiente também gera riqueza.

Os materiais mais reciclados são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico, contribuindo

para a diminuição significativa da poluição do solo, da água e do ar. Muitas indústrias

utilizam a reciclagem como forma de reduzir custos de produção. Um outro grande

beneficio da reciclagem é a geração de emprego nas grandes cidades.

Um dos primeiros passos para o êxito da reciclagem é a mudança dos nossos

hábitos de consumo, praticando o consumo consciente, evitando o desperdício,

pensando nas embalagens que depois irão para o lixo e dando preferência para as que

sejam recicláveis. Num segundo passo, temos que aprender a separar o material

reciclável do não reciclável e incentivar os amigos, vizinhos e parentes a fazerem o

mesmo.

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Segundo LIPOR (2009), quando falamos em reciclagem é importante deixar

claro 3 conceitos:

Reciclar - Transformar o velho em novo, ao utilizar resíduos como matéria prima para

produzir novos materiais.

Exemplos:

Preferir produtos reciclados ou que incorporam materiais reciclados;

Respeitar os recursos naturais e ter bem presente que são finitos;

Separar e colocar os resíduos nas infraestruturas disponibilizadas para efeito.

Reutilizar - Reaproveitar o material em outra utilidade.

Exemplo:

Utilizar o verso das folhas de papel para rascunho;

Utilizar frascos de vidro para guardar material de escritório ou, em casa, para

conservar compotas caseiras, chá ou especiarias;

Utilizar caixas de cartão para guardar objetos.

Reduzir - diminuir a quantidade de resíduos produzidos.

Exemplo:

Optar por embalagens com retorno;

Comprar produtos reutilizáveis e embalagens de recarga;

Comprar produtos avulsos ou produtos com embalagens simples e sem recursos

a embalagens secundárias supérfluas.

É de referir que os bons hábitos começam em casa. Na família ou comunidade

para fazer a diferença. Por mais que as pessoas não demonstrem interesse pelo que está

a fazer, estarão a reparar e a aprender. Não vai tardar, serão eles a utilizar os seus

hábitos, faça a diferença. Comece por separar materiais recicláveis como: plástico,

papel, vidro e metal, custa apenas alguns segundos da sua vida e dará muitos anos ao

nosso ambiente.

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2.7. Fatores que influenciam na produção de Resíduos Sólidos Urbanos

Cada sector da sociedade é influenciado por diversos fatores interdependentes de

forma direta ou indireta pela evolução da economia e pelos hábitos com forte influência

na produção de resíduos. Segundo Veiga (2012) podemos destacar os seguintes fatores:

Processo de urbanização: a migração do campo para cidade ocasiona a

concentração populacional em centros urbanos contribuindo para o

agravamento dos problemas relacionados com os resíduos devido ao aumento

da sua produção e à falta de locais adequados para sua deposição;

Aumento populacional e o consequente aumento da produção de resíduos;

Industrialização: os processos industriais geram bens e produtos a uma

velocidade cada vez maior, contribuindo para o aumento da produção de

resíduos, seja durante o processo de fabricação, seja pelo estímulo ao

consumo;

Modo de vida e hábitos da população.

Em Angola e de forma particular no Município do Lubango os R.S.U, são

agravados de acordo com MINUA (2006), pelos seguintes fatores:

Mudança de modo de vida da população com dificuldade de adaptação a

novos hábitos de alimentação e higiene;

Gestão pouco ordenada: ausência de uma estrutura pública e privada

responsável pelos resíduos, desde a sua geração até ao destino final, que

caracterize os resíduos e determine o seu destino, de acordo com as suas

características;

Dados básicos inexistentes: poucos trabalhos e estudo da caracterização do

meio físico, destinado à deposição de resíduos e a falta de informações sobre

os resíduos produzidos nas diferentes empresas;

Falta de noções básicas de higiene;

Falta de Educação Ambiental.

Estes fatores levam a um aumento na produção de RSU que vem causar grandes

danos ao ambiente e prejudicar a qualidade de vida nos sistemas urbanos. Uma das

principais causas destes problemas é o padrão de produção e consumo adotado nas

cidades que apresenta-se como inadequado e despreocupado com a sustentabilidade.

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III. CARATERIZAÇÃO GERAL DE ANGOLA

A República de Angola fica situada, na costa ocidental do continente africano a

sul do equador. Está limitada a norte pela República do Congo, a noroeste pela

República Democrática do Congo, a oeste pelo Oceano Atlântico, a sul pela República

da Namíbia e a leste pela República do Zaire e a República da Zâmbia (Fig. 1). As suas

coordenadas terrestres extremas são: 4º 22´ e 18º 3´ de latitude Sul e 24º 05´ e 11º 42´

de longitude Este. A sua altitude vária do nível do mar até altitudes superiores aos 2000

metros. Tem forma aproximadamente de um quadrilátero ocupando uma superfície de

1246.760 km2 e uma fronteira terrestre de 4837 km. Segundo os dados do Censo

realizado em 2014 a população Angolana é estimada cerca de 25.789.024 habitantes.

Figura 1 - Divisão administrativa de Angola

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_de_Angola#/media/File:Angola_Map.jpg

Administrativamente está dividida em dezoito províncias, cento e sessenta e

quadro Municípios e quinhentas e vinte e nove Comunas. A cidade de Luanda é a

capital politica e administrativa. Angola é ex. colónia de Portugal e, depois da

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independência viveu um longo período de guerra civil entre 1979 a 2002. O período de

conflito armado resultou em danos, tantos para as populações como para as

infraestruturas. Hoje, Angola desperta para o Mundo como um país em franco

desenvolvimento, e é o 2º maior produtor de petróleo do continente africano. De 2010

até aos meados do ano 2014 foi a economia que mais cresceu a nível mundial, num

período marcado pela reconstrução nacional. O elevado crescimento populacional,

associado à ocupação desregrada do espaço nas áreas urbanas e sua envolvente, tem

sido um dos principais problemas enfrentados pelo governo das principais cidades, tal

como a falta de saneamento básico, debilidade no fornecimento de energia elétrica e

água e na recolha seleção e deposição dos resíduos sólidos urbanos (Pestana, 2011).

O clima é tropical, fortemente influenciado por um conjunto de fatores, dos

quais se destacam a latitude, altitude, relevo, continentalidade e corrente fria de

Benguela.

3.1. Contexto Económico

Em 2002, com o termino da guerra civil, a economia angolana cresceu

consideravelmente devido ao incremento da produção de petróleo que, enquadrado com

a estabilidade politica e um ambiente de confiança se traduziu numa taxa de

crescimento anual de dois dígitos. De 2003 até aos meados do ano de 2014 era a

economia que registava um maior e rápido crescimento sendo a sua evolução marcada

por forte aumento do PIB, por uma quebra acentuada da inflação e das taxas de juro,

pelo aumento da reserva externa e por um crescimento acentuado das importações, em

especial nos anos de 2006 a 2008. Contudo a economia angolana precisa urgentemente

de ser diversificada, visto que cerca de 70% da composição do PIB depende da indústria

extrativa. A evolução verificada deve-se sobretudo à indústria petrolífera, isto quando o

preço do petróleo, excecionalmente elevado, proporcionou receitas de exportação que

permitiram uma disponibilidade de recursos para o investimento interno (Pestana,

2011).

A crise financeira verificada em 2008, provocou efeitos nefastos no sistema

financeiro mundial o que motivou a descida dos preços das matérias-primas. Angola

não ficou fora da crise e a sua economia entrou em contração, devido à descida do preço

do petróleo que esteve na origem da redução considerável das receitas do Estado com

reflexos nos programas de investimento traçados pelo Governo Angolano.

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No ano de 2010, Angola foi o segundo maior produtor de petróleo em África,

logo a seguir à Nigéria. Com a recuperação dos preços internacionais do petróleo, o

crescimento chegou a atingir 2,4% no ano de 2010 e 3,4% em 2011. Mesmo assim o

crescimento foi prejudicado por atrasos no que diz respeito a pagamentos do governo

aos sectores de construção e infraestruturas. O crescimento económico rondou cerca de

7% em 2011, mais uma vez devido ao preço elevado do petróleo. Em fevereiro de 2011

o barril do brent atingiu o valor mais alto dos últimos 30 meses devido à instabilidade

na Líbia ultrapassando os 100 USD por cada barril (CEIC-UCA, 2013).

Em meados do ano de 2014, nova baixa dos preços do barril de petróleo levou a

nova crise económica e financeira a nível Mundial. E, como já foi referido

anteriormente, Angola com quase metade do Orçamento Geral do Estado proveniente da

receita gerada pelo petróleo não ficou imune. Registou-se uma desvalorização da moeda

nacional, o Kwanza, sendo este um dos episódios da crise que se vive ainda em Angola

e, que acentuou a dependência do país em relação às exportações de petróleo.

Segundo CEIC-UCA (2013), esta crise tem dois aspetos fundamentais:

Uma no plano interno, porque cria pressões sobre o país e pode criar

convulsões a nível social;

Outra sobretudo de natureza externa, em relação às empresas portuguesas

sujeitas a uma quebra de vendas que penaliza as empresas exportadoras

portuguesas, e dificuldade de pagamento pelas autoridades de Angola. Para o

governo angolano esta retração da economia irá penalizar as empresas do

país, seu orçamento e a vida do cidadão.

Apesar que nos últimos meses se ter registado um aumento gradual do preço do

barríl de petróleo, os efeitos desta crise ainda são bem visíveis nos vários domínios

sociais.

3.2. Contexto Social

3.2.1. População

As informações demográficas sobre Angola, até antes da realização do Censo de

2014 eram contraditórias. De acordo com o FNUAP (The State of World Population), a

população de Angola em 2013 era de 21,5 milhões de habitantes, uma diferença de

cerca de 2,3 milhões de habitantes em relação às estimativas do Instituto Nacional de

Estatística (CEIC-UCA 2013).

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Como já foi referido, os resultados definitivos do censo 2014 indicam que em

Angola residem 25.789.024 habitantes, 12.499.041 do sexo masculino (48%) e

13.289.983 do sexo feminino (52%). O índice de masculinidade (rácio homens

/mulheres) é de 94 homens para cada 100 mulheres (INE, 2014).

A província de Luanda é a mais populosa concentrando 27% da população.

Seguindo-se as províncias da Huíla (10%), Benguela e Huambo (8%), Cuanza Sul (7%),

Uíge e Bié (6%). Estas sete províncias concentram 72% da população residente no país.

Em média em cada quilómetro de Angola, residem 20,7 habitantes. A província de

Luanda apresenta a maior densidade populacional do país com 368 hab/Km2, cerca de

18 vezes superior à média nacional. Seguem-se as províncias de Benguela e Huambo

com uma média de 70 e 59 hab/Km2 (Fig. 2). Em Huíla, em média por cada quilómetro

quadrado residem cerca de 30 pessoas. O Lubango além de ser o Munícipio com maior

número de habitantes desta Província é igualmente o Município com maior densidade

populacional com cerca de 233 habitantes por quilómetro quadrado (ob. cit., 116).

Figura 2 - Densidade populacional por Província em Angola

Fonte: INE, 2014

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3.2.2. Saúde

O sistema de saúde angolano, ao longo da sua história, conheceu uma evolução

em que se podem destacar os seguintes períodos:

Colonial: que vai até à independência (11 de novembro de 1975);

Pós-independência: que teve o seu início no dia 11 de novembro de 1975,

sendo este período subdividido em duas épocas (antes e após 1992).

O período pós-independência, foi caraterizado por uma economia planificada de

orientação socialista a que se seguiu o período de economia de mercado, a partir 1992.

Através do serviço nacional de saúde, foram estabelecidos os princípios da

universalidade e gratuitidade dos cuidados de saúde prestados pelo Estado, assentes

numa estratégia de cuidados primários de saúde.

Na primeira década de independência deu-se o alargamento da rede sanitária,

contudo a falta de recursos humanos em saúde, (segundo alguns dados estatísticos, após

a independência encontravam-se em Angola menos de 20 médicos), levou o

Governo/Estado a recorrer à contratação de profissionais de saúde recrutados ao abrigo

dos acordos de cooperação com outros países.

Na segunda década após a independência, agravaram-se os conflitos armados

isto é a guerra civil. E em consequência das reformas políticas, administrativas e

económicas este período pode ser dividido em duas fases. A primeira, marcada pela

destruição drástica da rede sanitária que, de certa maneira, teve um impacto negativo

sobre o sistema de saúde. Na segunda fase, depois de 1992, com a paz, iniciou-se um

período de estabilidade, crescimento económico, intenso esforço de reabilitação e

reconstrução do sistema de saúde (Queza, 2010).

No entanto, as condições de vida da população angolana são ainda

caracterizadas pela baixa esperança de vida ao nascer, altas taxas de mortalidade

materna e infantil, muitas doenças transmissíveis e crescimento das doenças crónicas

principalmente a malária, doenças diarreicas agudas, doenças respiratórias agudas,

tuberculose, doença de sono e, doenças imunopreveníveis, como o sarampo, tétano,

febre amarela, hepatite A, etc.

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21

3.2.3. Educação

Segundo Balgido (2014) ao abordar a educação em Angola devemos adotar uma

perspetiva histórica, analisando aspetos sociológicos tendo em conta o surgimento do

ensino em Angola durante a presença Colonial Europeia, visto que em grande parte a

educação desenvolvida pelos africanos antes da presença colonial se baseava num

quadro não formal.

O ensino escolar em Angola data dos séculos XVI e XVII, isto é, antes do atual

território constituir uma unidade. Durante a sua presença no reino do Congo os padres

católicos na corte de Mbanza Congo empenharam-se em transmitir não só o

cristianismo, mas também a língua portuguesa e a correspondente escrita, assim como

rudimentos de matemática. Com a fundação das praças Fortes de Luanda e de Benguela

estabeleceram-se algumas escolas de nível básico, sobretudo para filhos dos colonos

brancos. Esse panorama alterou-se no século XIX, quando Portugal passou a ocupar

lentamente o território Angolano. A história afirma que, durante vários séculos de

colonização portuguesa, o ensino esteve sob responsabilidade de Missões religiosas e de

algumas instituições não oficiais sofrendo várias controvérsias durante a sua

implementação (Balgido, 2014).

Após a independência da República Popular de Angola, compreendida a

importância da educação no desenvolvimento do país, foi estabelecido um novo sistema

de educação e ensino que eliminou os objetivos e princípios da política da educação

colonial. E, nesta senda, um mês depois da independência foi publicada a lei nº 4/75 de

09 de dezembro de 1975. Tendo em conta as orientações fundamentais para o

desenvolvimento económico e social da República de Angola no período 1978/1980,

definidos no 1º congresso sobre a politica educativa.

Ainda segundo Balgido (2014), redefiniu-se o novo sistema de educação e

ensino da seguinte forma:

Um subsistema do Ensino de Base;

Um subsistema do Ensino Técnico-profissional;

Um subsistema do Ensino Superior.

No ano de 2002 houve nova reforma educativa assente na lei nº 13/01, de 31 de

dezembro. Esta lei de bases do sistema educativo tinha o intuito de formar cidadãos

motivados e capazes de intervir ativamente. O objetivo principal era a melhoria da

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qualidade de ensino através de alterações dos programas, livros, qualificação de

currículos e reclassificação dos agentes de educação.

Contudo a reforma educativa apresenta as seguintes insuficiências:

Escassez de material didático;

Baixa qualificação dos agentes da educação;

Carência de equipamento nas direções provinciais;

Falta de transporte para os professores que trabalham longe de casa;

Número insuficiente de inspetores escolares bem como novas estruturas não

equipadas com o material previsto.

No âmbito da reforma educativa o ensino em Angola passou a ser estruturado da

seguinte forma: Ensino Primário, Primeiro Ciclo, Segundo Ciclo do Ensino Secundário,

Ensino Superior (MED, 2004).

3.3. A Situação dos Resíduos Sólidos

Os quase 30 anos de guerra civil deixaram o país com infraestruturas precárias.

Para fugir da guerra, muitos migraram para a capital (lugar onde a guerra era menos

sentida). Os resultados foram bem visíveis e, num curto período de tempo as

infraestruturas tornaram-se insuficiente face a um crescimento rápido e desordenado.

Hoje, a capital, sofre com o trânsito intenso, falta de água e de energia. Diante de todas

as dificuldades, um dos problemas agravantes na capital é o excesso de resíduos sólidos

urbanos. Na área de RSU salienta-se que o primeiro aterro sanitário de Angola foi

construído em Luanda, em 2007. Antes disso todos os resíduos eram levados para uma

lixeira dentro da cidade (Alves, 2014).

Segundo MINUA (2006) devido aos fatos históricos, hoje o país apresenta muitas

dificuldades que acabam por se refletir diretamente nos serviços de recolha

nomeadamente:

Trânsito intenso - devido à falta de avenidas e vias de escoamento rápido, o que

de certa forma compromete a logística de trabalho de recolha de resíduos;

Período de chuva em que as ruas que antes eram utilizadas como rotas

alternativas ficam intransitáveis devido a alagamento e falta de drenagem

urbana. Os veículos não conseguem fazer a limpeza de certas áreas e sofrem

avarias constantes;

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Falta de peças para manutenção dos veículos - ainda existe muita falta de

material para manutenção dos veículos que têm que ser importadas;

Feiras e mercados de Rua - é muito comum ver feiras e mercados de ruas em

todos os bairros de Luanda e nalgumas províncias. Poucas são organizadas, e a

sua maioria ocorre nas ruas e passeios atrapalhando o trânsito e resultando em

grande quantidade de resíduos acumulados ao final do dia. Resíduos

desordenados e mal-arrumados;

Consciencialização Ambiental - ainda é comum ver a população não

acondicionar os resíduos em sacos, levam-nos em baldes e atiram-nos nalgum

lugar formando pequenas lixeiras o que dificulta os serviços de recolha.

Com a criação da Agência Nacional de Resíduos (ANR), em outubro do ano de

2014, o setor dos resíduos começa a tomar uma nova forma. A Agência traçou como

principais funções a regulamentação da atividade de concessão de serviço público no

setor dos resíduos sólidos e a concretização de políticas públicas para a gestão de

resíduos e, também programas para a prevenção na geração, reutilização, reciclagem,

tratamento e deposição final de resíduos de acordo com critérios de proteção ambiental.

Nos últimos anos, em Angola, vai-se assistindo a um crescimento da produção

de R.S.U, o que levou a definir e implementar o Plano Nacional Estratégico de Gestão

de Resíduos Urbanos (PNEGRU) até ao ano de 2020.

Nas pequenas cidades a produção de resíduos é ainda muito reduzida, podendo-

se constatar poucos focos de acumulação destes. Nas maiores áreas urbana, os valores

da sua produção são preocupantes. Nas províncias com mais população, como por

exemplo no caso de Luanda, a produção de resíduos tem crescido de forma rápida e

assustadora tornando-se a sua gestão um grande desafio.

Em Angola, os principais pontos de geração de resíduos encontram-se na

proximidade dos grandes armazéns de distribuição grossista e retalhista e junto a praças

ou mercados com abandono dos resíduos que se vão acumulando por falta de recolha.

Verificam-se, também outros locais utilizados pela população para deposição de lixo,

nomeadamente as valas de escoamento de águas pluviais, cursos de água e linhas de

comboio.

Segundo Alves (2014) algumas zonas periféricas e os musseques das cidades são

zonas de difícil acesso às viaturas de recolha de resíduos. Isto, como já referido, em

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resultado do estado de degradação das vias, promove uma grande acumulação de lixo,

nomeadamente na época das chuvas. Existem, ainda outros fatores que agravam em

grande a situação nomeadamente:

O incremento rápido da população nos grandes centros urbanos e a

desorganização do tecido urbano;

Falta de regulamentação e fiscalização rigorosa, falta de meios, e empresas

de limpeza e recolha de resíduos nalgumas províncias.

Não menos importante é a existência de lacunas ao nível da formação da

população em termos de educação cívica, educação ambiental e noções básicas de

higiene.

No ano de 2012, segundo estimativas do PESGRU, em Angola, a capitação de

resíduos sólidos urbanos rondava em média, os 0,46 kg (hab./dia). Na província de

Luanda, a taxa média ponderada de produção per capita é de 0,56 kg/dia e na cidade de

Luanda de aproximadamente 1 kg/dia. Ainda de acordo com o mesmo documento no

período de 2012/2013, a produção total de resíduos em Luanda estimou-se em 3,5

milhões de toneladas.

Ainda segundo Alves (2014), a província de Luanda apresenta 40% da produção

total de resíduos do país, sendo a sua capitação como referido, bastante acima da média

nacional, motivo associado ao fato desta província atrair a população levando de certa

forma ao aumento desordenado na produção de resíduos. Podemos ainda destacar a

produção das províncias de Benguela, Huambo e Huíla que contribuem com cerca de

36% do total produzido a nível Nacional.

Nos últimos anos, a nível político, tem-se demonstrando um grande interesse no

que concerne ao desenvolvimento de estratégias e iniciativas focadas na a gestão dos

resíduos sólidos e delineação de novas metas a atingir no controlo e fiscalização na área

dos resíduos em parceria com a Agência Nacional de Resíduos (Alves, 2014).

O atual quadro do saneamento e gestão de resíduos sólidos urbanos, constituem-

se como principais preocupaç para os responsáveis das administrações municipais.

3.4. Enquadramento Legal

Na falta de uma Estratégia Nacional do sector do Saneamento que abarcasse

todas as províncias, foi aprovada pelo Ministério do Urbanismo e Ambiente (MINUA),

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Ministério da Saúde (MINSA) o Ministério da Administração do Território (MAT), a

legislação em vigor, a Lei de Bases do Ambiente nº 5/98.

A principal legislação do MINSA, é constituída pela Lei de Bases do Sistema

Nacional de Saúde 21-B/92 e pelo Regulamento Sanitário da República de Angola 5/87.

Nelas se estabelecem as normas e orientações para a promoção e aplicação das medidas

de higiene, de gestão dos excreta humanos e de saneamento básico para edifícios,

construções destinadas à habitação, estabelecimentos do setor alimentar, controlo de

pragas como a malária, e morgues, contando com a participação das autoridades locais.

A Lei de Base do Ambiente 5/98 contém diretrizes gerais sobre a gestão

ambiental. Esta lei é considerada como de enquadramento legal existente de leis mais

especificas, incluindo a Lei de Associações de Defesa do Ambiente que foi aprovada em

2006, proporcionando aos cidadãos um enquadramento para comunicarem com as

autoridades do governo local e ou nacional sobre os problemas ambientais locais.

O decreto Nº02/07 de 28 de Agosto, realça que as administrações Municipais,

são responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos e a promoção do saneamento básico.

O decreto Presidencial nº 190/12 de 17 de junho, faz menção do regulamento

sobre a Gestão de Resíduos, em cumprimento do disposto nº 1 do artigo 11º, da Lei nº

5/98 (Lei de Base do Ambiente Angola). O presente decreto estabelece regras gerais à

produção, depósito no solo e no subsolo, ao lançamento para a água ou para atmosfera,

ao tratamento, recolha, armazenamento e transporte de quaisquer resíduos, exceto os de

natureza radioativa ou sujeito a regulamentação específica. O regulamento aplica-se às

pessoas singulares e coletivas, públicas ou privadas, que desenvolvem atividades

suscetíveis de produzir resíduos ou envolvidas na gestão de resíduos e a todos tipos os

tipos de resíduos existentes no território angolano.

Dando o cumprimento da Lei de Bases do Ambiente nº 5/98, seguiu-se o decreto

presidencial 196/12 de 30 de Agosto de 2012, que aprovou o Plano Estratégico para a

Gestão de Resíduos Urbanos (PESGRU), anunciado como uma nova filosofia para a

gestão de resíduos.

O decreto executivo 234/13 de 18 de julho, define as Normas Orientadoras para

Elaboração dos Planos Provinciais de Gestão de Resíduos Urbanos.

O MINUA, está constantemente a conceber sem concluir, o quadro legal para a

gestão dos resíduos sólidos, com a elaboração do Projeto Lei de Gestão dos Resíduos

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Sólidos. Esta, de certa forma, inclui lixo comercial, lixo industrial, lixo residencial, os

resíduos perigosos hospitalares, radioativos, petrolíferos e químicos, dentre outros,

devendo os ministérios correspondentes elaborar os regulamentos relativos para cada

setor. Também os Governos Provinciais devem elaborar os seus próprios regulamentos

e diretrizes para gestão dos resíduos sólidos.

Depois de analisados alguns aspetos do enquadramento legal merecem realce

alguns pontos críticos tais como:

A urgência de finalizar e aprovar a Lei de Gestão dos Resíduos Sólidos que,

por sua vez, se encontra quase a meio do projeto, e de certa forma é

partilhada e comentada pelas partes interessadas;

A falta de legislação especifica para o saneamento básico, destacando aspetos

para melhoria dos indicadores de saúde pública;

A falta de parcerias com o Sector Privado para o fornecimento de serviços de

saneamento que não foram totalmente desenvolvidas para implementação

dos Planos Diretores Provinciais;

A necessidade urgente de se fazer uma análise detalhada da legislação

existente com o intuito de se identificar com mais pormenor

responsabilidades e lacunas existentes na área do saneamento antes de se

desenvolver nova legislação.

Pode-se aqui afirmar que não basta ter leis bem elaboradas, é necessário fazê-las

cumprir.

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IV. CASO DE ESTUDO - O MUNICÍPIO DO LUBANGO

4.1. Caraterização Geográfica do Município

O Município do Lubango, localiza-se no Sudoeste de Angola, dentro de um

conjunto de superfícies planálticas, que fazem parte do Planalto Angolano, cujas

altitudes médias se encontram entre as mais elevadas da parte meridional do território

nacional e que no planalto do Bimbe atingem os 2300 m. Está limitado a Norte pelo

Município de Quilengues, a Este pelo Município da Cacula a Sul pelos Municípios da

Chibia e Humpata, e a Oeste pelo Município da Bibala que integra a Província do

Namibe. Administrativamente é composto por 4 comunas (Arimba, Quilemba, Huíla e

Hoque), com uma superfície total de 3140 km2 (Fig. 3).

Figura 3 - Localização geográfica do Lubango

Fonte de dados: IGCA

É dentro da vasta unidade geomorfológica do Planalto Angolano que se

enquadra a cidade, nas denominadas Terras Altas da Huíla, que apresentam singular

identidade, nomeadamente no que se refere aos seus aspetos fisiográficos e agro-

ecológicos.

O setor denominado Terras Altas da Chela, subdivisão das Terras Alta da Huíla,

apresenta limites naturais bem definidos em todo do seu contorno Oeste e Noroeste

correspondendo à imponente escarpa talhada em quartzitos e granitos, separando estas

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da superfície a nível inferior conhecida por Serra Abaixo. Já os seus limites meridionais

e orientais, voltados para o interior, se esbatem na continuidade da superfície do

Planalto Angolano, onde os declives suaves contrastam com as quebras abruptas da

imponente vertente planáltica, a poente, referida como Escarpa da Chela.

Segundo Feio (1981) a região das Terras Alta da Chela apresenta um clima que,

de certa forma, dificulta o estabelecimento agrícola, com chuvas abundantes, de ritmo

tropical, muito irregulares que desfavorecem a implementação de culturas autótones

mais produtivas.

4.1.1. Clima e Vegetação

No Município do Lubango de acordo com Feio (1981), predominam segundo a

classificação climática de Koppen, três grandes tipos climáticos: clima tropical de

altitude com estação seca (CW), clima desértico (BW) e clima semiárido de estepe

(BS).

Os principais fatores responsáveis pelas características dos elementos climáticos

são, como já referido no início do capitulo 3, a latitude, a corrente fria de Benguela, a

continentalidade e a altitude.

O clima caracteriza-se por ter duas estações: a das chuvas, com seis meses de

duração, com início nos meados de outubro e fim em meados de abril e a seca, que

prevalece no restantes período do ano. Nos meses de dezembro e março registam-se os

máximos pluviométricos (Fig. 4). A distribuição quantitativa das chuvas é muito

variável de ano para ano, como de área para área, verificando-se, por vezes, inícios

tardios ou finais precoces da estação chuvosa (Medeiros, 1976).

A média anual de precipitação é de 919 mm no Município do Lubango, com um

regime de 6 meses de estação chuvosa, com forte irregularidade inter-anual, em que o

mês de março se apresenta como o mais chuvoso (Fig. 4).

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Figura 4 - Precipitação média mensal do Município do Lubango (ano de 2002)

Fonte: Chissingui et al. (pag, 35)

A temperatura média anual é de 18.6ºC, registando-se o período mais quente em

setembro e outubro antes do início da estação chuvosa, com uma média de 20.7ºC no

mês de outubro e o mais frio em junho com cerca de 15.6ºC.

Segundo Feio (1981) o vento apresenta um regime com forte componente de

Este e Sudoeste de março a novembro com uma velocidade média entre os 9 e os 12.5

km/h. Observam-se alguns fenómenos extremos nomeadamente episódios de trovoada

e, ainda situações de nevoeiros e de orvalhos.

Em termos de vegetação, no Município do Lubango, as formações vegetais não

acompanham necessariamente a variação espacial das precipitações o que proporciona

uma grande diversidade e heterogeneidade do coberto vegetal. De acordo com a carta

Fitogeográfica de Angola (Barbosa, 1970) e a carta dos Solos, (1º Distrito da Huíla,

1959) sendo o miombo, savana e ongote, submontano mais representado no Município e

distribuem-se de acordo com a figura 5.

J F M A M J J A S O N D

Valores médios de precipitação em mm

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Precipitações

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Figura 5 - Formação vegetais no Municipio do Lubango

Fonte de dados: IGCA

Segundo Feio (1981) o índice de pluviosidade na região é bastante elevada o que

dá um maior sustento ao solo, razão pela qual são númerosas as áreas com coberto

vegetal na região.

4.1.2. Geologia e Geomorfologia

Os vários estudos de geologia regional colocam o Lubango no escudo de Angola

devido à presença da crosta proterozóica composta principalmente de anortositos e

rochas granitóides.

O Município do Lubango é constituído por formações rochosas muito antigas,

que datam do Arcaico e Proterozóico, havendo também formações mais recentes do

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Cenozóico, sobretudo em regiões mais baixas. As rochas mais antigas ocupam uma área

central alongando-se desde o limite Norte até ao limite sul (MC Court et. al. 2013).

Segundo Vale (1971) granito e magmatitos são as rochas que fundamentalmente

constituem o substrato da área. Do primitivo substrato, representado por gnaisses

antibiolitos e micaxistos, existem restos em vários pontos da área. Rochas eruptivas de

diferente natureza e de várias idades, tais como gabros com ou sem olivina, noritos

horneblenditos, doleritos com ou sem olivina, pórfiros (quartzíticos e dioríticos),

riolitos, lamprófiros (espessartitos), andesitos, basaltos olivínicos, etc., afloram, também

em certa profusão na área, constituindo filões, soleiras, etc. Nalguns casos, o modo de

jazida destas rochas parece mesmo traduzir a existência de chaminés vulcânicas (morro

do Hoque), ou testemunham a de mantos de lavas (Serra de Onomono).

Ainda segunda Vale (1971) as rochas de origem sedimentar, mais ou menos

metaformizadas (grés e quartzitos), afloram igualmente na área, repousando diretamente

sobre o granito, fazendo parte do agrupamento estratigráfico designado por ´´Formação

da Chela´´, que se acha largamente representado nas áreas situadas a sul. Das rochas

existentes, o granito é o que ocupa a maior parte da área (cerca de três quartos). Esta

rocha apresenta, porém, consoante a sua situação, variações tanto de textura como

mineralógicas, representadas respetivamente por granito gnaissicos, granodioritos,

granitos porfiróides, etc. A variação mineralógica, vai ao ponto, de certas rochas do

maciço existente terem sido classificadas como dioritos e sienitos. As restantes partes da

área, ocupam espaços restritos em relação ao abrangido pelas rochas graníticas e

magmatíticas (Fig. 6).

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13º30´ 13º45´

14º 45 ́

15º 00´

Figura 6 - Carta Geologica da região do Lubango extraída de Pereira et al 2014

Fonte de Dados: IGCA

Segundo Carvalho (1982) a cidade de Lubango assenta essencialmente sobre

rochas graníticas biotíticas, granulares ou porfiróides, por vezes muito alteradas, mas é

possível encontrar afloramentos de rocha pouco alterada de tonalidade rósea ou

esverdeada se a quantidade de epídoto e clorite for significativa. Estes granitos foram

designados por granito regional, pois apresenta grande extensão no SW angolana. São

intrusivos no Complexo Gnaissico - Migmatítico e Granítico. Como podemos ver na

Fig. 7, o granito regional é coberto pelas rochas sedimentares do grupo da Chela e a

cidade de Lubango já se expande sobre esta formação.

No que diz respeito à geomorfologia, Feio (1981) apresentou um estudo

detalhado sobre a geomorfologia do sudoeste de Angola e no mapa geomorfológico

considerou 10 unidades geomorfológicas. Na fig. 7 apresenta-se um extrato deste mapa

geomorfológico referente à região do Lubango. Na transição entre o Planalto Principal e

o Planalto de Humpata - Bimbe pode-se observar na cidade do Lubango. Um apreciável

degrau de erosão, que assume o aspeto de escarpa, por vezes revestida da rocha nua,

separa as duas unidades nas imediações da cidade de Lubango.

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Segundo Feio (1964), a rutura topográfica que separa as duas estruturas

planálticas será de origem tectónica, na forma de uma escarpa de falha, e não de

processos exclusivamente ligados à erosão, como era defendido por Jessen (1936).

Segundo o referido anteriormente, terá existido uma única superfície de aplanação, com

origem no Cretácico Médio e Superior, que terá sido desnivelada por degrau tectónico,

no Eocénico. Desta forma o anfiteatro do Lubango constitui testemunho orográfico

retocado de imposições tectónicas estruturais.

Figura 7 - Extrato da carta geomorfologica da Huíla ( Feio, 1981)

Legenda 1: Planalto principal; 2 Planalto de Humpata; 3: Superfície intermédia; 4: Superfície de Flexura;

5: Plataformas Litorais; 6: Planalto estrutural do Curoca; 7: Relevo residuais; 8: Depósito da bacia do

Cuanhama.

Ainda na fig. 8 podemos verificar que o Planalto Central é caraterizado por uma

antiga, extensa e monótona superfície, uma peneplanície, fortemente dissecada pela

erosão ativa, em conexão com a forte pluviosidade regional. A extensa superfície

planáltica que atinge o seu topo a 1750 m - 1800 m, de altitude e na região do

Município de Quipungo atinge 1318 m. No seu interior ocorrem montes-ilhas que são

relevos residuais que, contudo, se observam em maior número na superfície intermédia.

4.1.3. Hidrografia e Solo

No Município é conhecida a importância dos rios, devido ao número de

explorações agrícolas que foram surgindo nas suas margens ao longo dos anos.

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Segundo Medeiros (1976), a rede hidrográfica é constituída por rios ou regueiros

quase sempre provisórios, que secam durante o inverno, mas apresentam regime

caudaloso extremo quando as precipitações são intensas.

O Lubango, em termos hidrográficos, integra-se na bacia do Rio Cunene, cujas

nascentes se encontram no planalto central de Angola e se desenvolve para sudeste (Fig.

8). A bacia do rio Caculuvar afluente da margem direita do Cunene é a mais importante

da Região. No Município as principais bacias hidrográficas são as cabeceiras os rios

Mapunda, Mucufi, Muholo e Capitão.

Figura 8 - Rede hidrográfica do Lubango

Fonte de Dados: IGCA

A cartografia de solos da Huíla teve o seu início nos anos cinquenta do século

passado, com a criação da Missão Pedológica de Angola, pertencente à Junta de

Investigação do Ultramar, criada em 1953 (MPA, 1959). A Carta Geral de solos de

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Angola Distrito da Huíla, na escala de 1:1.000.000, ficou disponível oficialmente em

1959, abrangendo uma área aproximada de 170 000 km2 do então Distrito da Huíla.

A classificação dos solos da Huíla, resultante de trabalhos desenvolvidos a partir

da década de 1950, tornou possível recolher um conjunto de perfis até 1965, que

serviram de base para sua caraterização (MPA, 1959; Engelen e Dijkshom, 2013).

A área de estudo está totalmente inserida na carta da Província da Huíla de 1959

onde estão representadas 6 grandes ordens de solos: Ferralíticos, Leptossolos, Arenosos,

Vertissolos, Cambissolos e áreas rochosas, subdivididos em subordens. (Fig. 9).

Figura 9 - Tipos de solos. Baseado em FAO-SOTER 2007

Fonte de Dados: IGCA

A classificação dos solos de Angola tem sido feita com base nos sistemas ou

taxonomias de classificação de solos: Sistema de Classificação de Solos de Portugal

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(Cardoso, 1974) e o sistema da FAO-Unesco (1974), dando origem ao World Reference

Base (WRB) publicado em 2006 e atualizado em 2014.

4.2. A População e Economia

Segundo INE Angola (2014) a Província da Huíla tem uma população estimada

de 2.354.398 de habitantes sendo Município do Lubango o mais numeroso com

população estimada em cerca de 731.575 habitantes, correspondendo 31,1% de

habitantes na Província da Huíla, sendo o Município com maior densidade populacional

como podemos ver na figura 10. Tendo como principal atividade a criação de gado.

Figura 10 - Distribuição da população por Município na Província de Huíla

Fonte: INE, 2014. (Dados preliminares do Censo).

O sector industrial da cidade do Lubango caracteriza-se pelo predomínio de

unidades de pequenas dimensões, com menos de 10 pessoas ao serviço, ligadas aos

ramos alimentar e de transformação de madeira para construção, uma produção

destinada essencialmente para o mercado local. As empresas de média/grande dimensão

estão associadas às industrias de médio e grande porte do ramo alimentar, bem como às

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indústrias de construção civil, olaria e cerâmica. A maior parte da produção destina-se a

outras Províncias (GPH, 2004a).

Ainda de acordo com GPH (2004a) o Município do Lubango no que diz respeito

ao setor terciário verifica-se:

Crescimento do comércio a retalho e a grosso;

Elevada concentração das atividades, principalmente no bairro Comercial;

Grande importância dos mercados informais no mercado de emprego local;

Concentração de serviços desde os qualificados como por exemplo

instituições bancárias, restaurantes de modo geral no bairro Comercial.

Devido à sua posição estratégica, à herança industrial e cultural, e ao dinamismo

recentemente observado na cidade do Lubango esta tem vindo a afirmar-se como um

importante pólo industrial e comercial do Sul de Angola. A atividade agrícola que

inicialmente lhe tinha sido atribuída como função económica principal, deslocou-se para

a periferia e tem vindo a desenvolver-se de forma mais comercial em áreas agrícolas

próximas (ex. Humpata, Huíla, Arimba e Chibia), permanecendo na cidade a chamada

‘’agricultura urbana’’, essencialmente composta por lavras e hortas. Ainda assim, é

possível encontrar traços de ruralidade em áreas de transição urbana, nomeadamente nos

bairro Mapunda e Nambambe.

4.3. Crescimento Urbano

Segundo AML (2002) o crescimento urbano do Município do Lubango pode

dividir-se em três fases de evolução que se seguem:

A 1ª fase compreendida entre os anos 30 e 70 do século XX, é caraterizada por

um crescimento contrastado da população urbana. Em 1960 observou-se um com uma

variação anual superior a 35% sendo o máximo atingido entre 1940 e 1950, com cerca

37%. A 2ª fase entre 1970 a 1987 e a 3ª fase entre 1987-2002 essas duas fases

caraterizaram-se pelo grande crescimento populacional, com taxas de variação

progressivamente mais elevadas entre 231,0% e 316,9% ao ano.

Se, por um lado, na 1ª fase o crescimento populacional decorreu

fundamentalmente dos fluxos migratórios transcontinentais, nas outras duas deveu-se

aos movimentos de migração internos e à manutenção de comportamentos demográficos

pró-natalícios pela maior parte da população rural migrante.

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38

Os primeiros fluxos migratórios internos para a cidade do Lubango

estabeleceram-se na malha urbana estruturada, em prédios e vivendas desocupadas e

deixados ao abandono. À medida que a ocupação do edificado consolidado se foi

completando, registou-se uma procura de terrenos e parcelas para construção por parte

da população, vinda das zonas rurais. Surgiram também bolsas de construção precária

em áreas urbanizadas e infraestruturadas, assim como novos bairros de construções

anárquicas e não infraestruturados, mas com relações de solidariedade e vizinhança

muito fortes (AML, 2002).

De acordo com Medeiros (1976) a construção da cidade do Lubango iniciou-se

no final do ano de 1884, junto à confluência dos rios Mucufi e Mapunda, próximo do

afluente que dava o nome ao sítio, com o estabelecimento do primeiro grupo de colonos

madeirenses. Para além do núcleo principal onde se situou a maioria da população,

verificou-se uma dispersão pelas áreas na envolvente, de acordo com as possibilidades

de fixação e de exploração agrícola. Na generalidade, os bairros não eram consolidados

pelo edificado. Aproximadamente 84,8% da malha edificada era composta por

construções anárquicas e, apenas 15,2% por construções de alvenaria em áreas

infraestruturadas isto na década de 70.

A atual da estrutura etária da população é consequência do grande fluxo de

população rural para a cidade. A cidade do Lubango tem uma população pouco

envelhecida assente na classe de população jovem não ativa e adulta ativa. (Fig. 11).

Figura 11 - Estrutura etária do Lubango 2002

Fonte: AML

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39

Segundo o GPH (2004a) no que diz respeito ao movimento natural da população

na comuna sede do município denotam-se 5 tendências de evolução:

Aumento da população urbana;

Decréscimo da mortalidade;

Decréscimo da mortalidade infantil;

Aumento da taxa de sobrevivência entre a população jovem não ativa e a

população em idade ativa;

Grande variabilidade na evolução do número de nascimento e, por

conseguinte, na taxa de fecundidade.

A recomposição social levou à determinação de diferentes segmentos de

população. Dois grandes grupos se demarcam em termos estruturais: população jovem e

população em idade ativa. Também é visível a diminuição atual da natalidade com

diminuição nos grupos etários dos 5 aos 9 anos sobretudo, nos mais jovens, dos 0 aos 5

anos.

Segundo GPH (2004a) na população ativa verificam-se dois segmentos:

- População urbana residente - composto por indivíduos naturais ou vindos de

outras cidades, que habitam e trabalham no espaço urbano.

- População rural instalada - constituído por indivíduos que emigram do

campo para a cidade e que se fixam em termos físicos fazendo construções precárias, e

económicas, sobrevivendo por intermédio de biscates no mercado informal e de

pequenos negócios no espaço urbano.

A população jovem é, em consequência constituída pelos filhos dos urbanos

residentes e da população rural instalada.

A população suburbana, encontra-se atualmente numa periferia mais afastada, ao

longo das estradas de acesso às províncias de Benguela e Cunene. É constituída por

população rural que frequentemente se desloca à cidade por questões de comércio e

aquisição de bens de serviços.

A atual Estrutura Urbana do Município do Lubango, resulta de uma evolução

espácio-temporal concreta. O estabelecimento de um centro de povoamento urbano nas

Terras Altas da Huíla deveria funcionar como uma área de referência na região,

concentrando em si os serviços necessários ao seu enquadramento administrativo e

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criando as condições de base ao seu desenvolvimento, que na fase inicial era centrado

na prática da agricultura de regadio (AML, 2014).

De acordo com o GPH (2004b) a cidade está marcada, com reflexos bem claros

na organização dos espaços centrados em três grandes períodos:

Da fundação aos anos 50;

Dos anos 50 a meados dos anos 70;

No pós-independência.

Da fundação aos anos 50

O centro da cidade do Lubango foi executado segundo uma malha ortogonal

composta por quarterões quase quadrangulares, com 100 m de largo. Ficando

primeiramente projetada em três ruas no sentido este oeste, com cerca de 550 m de

comprimento e seis alinhadas a Norte-Sul com uma extensão de 300 m todas com

aproximadamente 15 m de largura e acompanhando como eixo guia o curso do Rio

Mucufi, protegendo assim as possibilidades de expansão da malha para Oeste

(Medeiros, 1976).

O centro da malha ficou reservado à construção da Praça Central, em redor da

qual se estabeleceram as principais construções da cidade, como o edifício do Governo

e o Mercado. A Praça Central assumiu uma forma alongada, paralela ao rio Mucufi,

ocupando uma longa faixa através dos quatro quarteirões centrais, onde o edificado

ocupou somente a frente confinante com as vias laterais de circulação. A zona não

povoada foi destinada à construção de cemitério, quartel, cadeia e paiol (ob. cit.:551).

A Praça Central foi exceção do envolvente a julgar pelo edificado remanescente

desse período, uma maior densidade construtiva em preenchimento quase total das

frentes de quarteirões. O povoamento desenvolveu-se seguindo uma ocupação de tipo

rural. Cada quarteirão foi dividido em dez parcelas destinadas cada uma albergar um

casal. As dimensões das parcelas teriam em média 1000 m2, o que permitiu além do uso

que era habitual, o desenvolvimento de atividades de índole rural (ob. cit.:552).

Ainda segundo Medeiros (1976) mesmo não havendo uma regra na disposição

do edificado, este ocupou preferencialmente as frentes de quarteirão mais próximos da

praça, determinando uma ocupação desigual dos quarteirões. Ao longo das vias com

mais construções, as casas possuíam, na sua maioria quintais ou pátios, os anexos em

raros casos e estavam colados aos edifícios vizinhos.

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A escolha desta estrutura com um carácter urbano tão marcado é clara,

especialmente tendo em conta que a colónia se destinava ao desenvolvimento de

atividades rurais, verificando-se situação semelhante nos aglomerados da Chibia e

Humpata, com povoamento da mesma época, onde foi adotada uma malha semelhante à

do Lubango, num procedimento comum e acordado para a implementação de novas

colónias (ob. cit.: 552).

Com o aumento da população a cidade desenvolveu-se gradualmente para Este e

Oeste, com maior incidência na direção da Nossa Senhora do Monte, ocupando os

terrenos com a topografia mais favoráveis para construção. Verificou-se ainda um

prolongamento dos eixos norteados a Este-Oeste e a construção de sucessivos eixos

com sentido Norte-Sul começando-se a definir a forma longilínea da cidade, as vias de

sentido Este-Oeste ganharam importância na malha urbana e afirmaram-se como os

principais eixos de circulação (Medeiros, 1976).

Um outro fator importante ocorrido durante este período com maior realce a

partir de 1923, data da inauguração da linha de caminho-de-ferro entre Moçâmedes

(atual província do Namibe) e Lubango, foi a construção de vários equipamentos de

grande dimensão ligados ao ensino e ao lazer que vieram confirmar e aumentar a

influência do Lubango na região. Destacam-se o Liceu Nacional da Huíla (atual

Universidade Mandume), inaugurado em 1935, o colégio Feminino Paula Franssinette

(posterior ao Liceu da Huíla), a Escola Comercial e Industrial (atual escola do 1º ciclo

27 de Março) e o complexo da Nossa Senhora do Monte (anterior a 1957), (Fig. 12)

construído junto da Capela com o mesmo nome e que ofereceu à população urbana

diversos equipamentos desportivos e lúdicos como por exemplo casinos, campos de

jogos, a piscina e ampla área verde de recreio (ob. cit.: 554).

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Figura 12 - Planta do Lubango e traçado previsto pelo Plano Geral de Urbanização 1957

Fonte: Medeiros, 1976

Verificou-se ainda a expansão de algumas ruas da malha para Norte, em direção

ao Rio Mapunda e terrenos do Colégio Paula Franssinette, onde se começaram a edificar

construções do tipo moradia. Nesse período (1923-1950) a população duplicou-se de

7.000 habitantes para 14.000 habitantes (Medeiros, 1976).

Na envolvente da malha urbana continuou a ocupação dispersa, aliada às

atividades rurais semelhantes à verificada na altura da fundação de cidade. Em termos

arquitetónicos até aos anos 50 houve um acompanhamento dos estilos internacionais ou

Portugueses Continentais. Mais tarde, com o início da ditadura em Portugal, a

linguagem arquitetónica começou a seguir de perto padrões determinados pelo Estado

Novo. Exemplo disso temos algumas construções de edifícios escolares nos bairros

Comercial e na Mapunda.

Do final dos anos 50 à independência

Os anos 50, marcam o início de uma nova fase de crescimento, através dos

Planos de Urbanização do Arquiteto João Aguiar, que se pautava por uma alteração do

modelo espacial pela transposição dos limites físicos impostos pelo rio Mucufi e

Mapunda, tendo como objetivo proceder a uma regularização da cidade, que

apresentava fisionomia rural (Dias, 1957).

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Certamente, que uma das principais preocupações, era conseguir uma

regulamentação na ocupação dos terrenos vagos na envolvente da malha central até aos

rios Mucufi e Mapunda, em terrenos ligados à agricultura devido aos declives mais

acentuados e à proximidade das linhas de água.

No final dos anos 50 verificou-se um crescimento excecional da população

levando ao aparecimento de diversos bairros residenciais de moradias, construídos de

acordo com o traçado do plano de urbanização referido e distribuindo-se de forma

dispersa pela envolvente da cidade em resultado direto da estrutura agrária existente

marcada por propriedades agrícolas de alguma dimensão (GPH, 2004a).

Os novos bairros da envolvente surgiram isolados, preenchendo manchas

pontuais do traçado global do plano, contrariando os objetivos de criar espaços urbanos

contínuos. Outros bairros também tiveram uma ocupação semelhante no que diz

respeito às tipologias arquitetónicas de moradias unifamiliares de um ou dois pisos

(Medeiros, 1976).

Os Bairros do Comandante Nzagi, Dr. António Agostinho Neto, e Dack Doy,

destinaram-se, de início, aos segmentos sociais mais abastados como quadros superiores

do funcionalismo ou profissões liberais (Medeiros, 1976). A nível intermédio, estariam

os Bairros da Outras Bandas (Bairro Lucrécia) e de 14 de Abril, diferenciados dos

anteriores pela dimensão média dos lotes, dirigidos a um extrato social médio com

construção a cargo do proprietário (Fig. 13).

Os outros Bairros construídos neste período, correspondem aos designados

bairros económicos para a classe operária e a famílias de menor rendimento. Como

exemplo temos o Bairro do Tchioco, João de Almeida, Operários do Caminhos-de-Ferro

e o Bairro Industrial. Estes dois últimos desenvolveram-se durante as instalações dos

Caminhos-de-Ferro ambos a Norte do Bairro Dack Doy (ob. cit.: 566).

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Figura 13 - Distribuição atual dos principais Bairros na cidade do Lubango

Fonte de Dados: IGCA

Como já foi referido anteriormente a construção dos novos bairros

corresponderam a mudança significativa do modelo urbanístico representando o fim do

uso da malha ortogonal.

A inclusão de equipamentos de ensino, saúde, desporto e espaços verdes em

função dos planos urbanísticos elaborados para cada um dos bairros deixam bem clara a

preocupação de urbanização (Valente, 1964).

O início da construção em altura, sobretudo no Bairro Comercial, veio acentuar

algumas assimetrias existentes nesta época. No entanto, era já visível uma grande

variedade de tipologias edificadas com estilo arquitetónico e uma ocupação pouco

uniforme do espaço predominando as construções de um ou dois pisos.

Outros edifícios, foram surgindo numa atitude de claro confronto face ao

edificado pré-existente e apontando para a substituição das construções mais antigas.

Segundo Medeiros (1976) durante este período foram verificadas mudanças

arquitetónicas nomeadamente:

Afastamento claro face à realidade vivida na metrópole;

Adesão às novas correntes derivadas do Movimento Moderno.

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Em Angola e no Lubango foi possível experimentar novos conceitos estéticos e

tipologias arquitetónicas e urbanísticas fruto da autonomia aferida pelo distanciamento

geográfico ao contrário do que aconteceu em Portugal. Alguns edifícios como, o Arco

Iris, o Edifício do INEA, a Igreja Imaculada Conceição, a Maternidade Irene Neto, e a

Nova Estação dos Caminhos de Ferro, são alguns exemplos arquitetónicos construídos

neste período na Cidade.

Do pós-independência à atualidade

Com a independência de Angola e o inicio da guerra cívil a cidade do Lubango,

atraiu um elevado número de pessoas que procuravam segurança e subsistência. Em

consequência registou-se um rápido crescimento urbano, baseado em construções

anárquicas sem o devido acompanhamento, na sua maioria feitas de material precário

como adobe, pau a pique e com cobertura de chapa de zinco, ocupando toda a

envolvente da cidade consolidada. O crescimento destes bairros decorreu de forma

desorganizada e sem garantir a continuidade com a restante cidade (GPH, 2004b).

A circulação no interior dos bairros periféricos é garantida por picadas ou

arruamentos principais, onde é possível alguma circulação automóvel. Um outro

elemento importante nestes bairros é a existência de terrenos livres, comunitários, que

funcionam como espaços públicos.

O crescimento anárquico ditou o aparecimento de grandes mercados informais,

como o mercado do Calumbiro, Tchioco e o mercado do João de Almeida localizando-

se em pontos estratégicos do território e, que, de uma ou outra forma, responderam às

grandes necessidades da população. A construção anárquica localizou-se também no

centro da cidade, nos vazios urbanos e interiores de quarteirões feitas com materiais

mais sólidos.

Nos últimos anos, com a estabilidade resultante da paz, acentua-se o

investimento económico e assistiu-se a uma procura de construção definitiva para fins

residenciais e terciários através quer da recuperação de edifícios quer da edificação de

raiz, mas ainda sem uma política orientadora do crescimento urbano, com os

loteamentos feitos de forma pouco esclarecida e aleatória, de acordo com os terrenos

disponíveis e originando novos bairros como por exemplo os da Tchavola, Eywa,

Tchimukua e Kwaha. Nas áreas mais centrais os licenciamentos continuam a ter como

modelo o antigo plano de urbanização determinando, em muitos casos, uma ocupação

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desajustada à realidade. A maioria das construções que estão a surgir na cidade

destinam-se à habitação e correspondem a tipologias unifamiliares do tipo moradia

(GPH, 2004b).

4.4. Características dos Bairros e sua Tipologia

O processo de construção anárquica antes da independência que já é referido

por Medeiros (1976) se agudizou no pós independência. Depois de 1975 Angola entrou

num longo período de conflitos internos e nas últimas três décadas, a cidade do

Lubango foi um dos principais pontos de fixação para os movimentos migratórios

dentro do território angolano. Graças à fraca expressão que os conflitos armados

tiveram na província da Huíla, as populações aí procuraram segurança e formas de

subsistência. Como já referido, o crescimento da cidade e da população foi exponencial

durante este período, sem que se verificasse o acompanhamento devido na construção

de habitação e de novas infraestruturas urbanas. Nascem, assim, vastas áreas de

construção anárquica que envolvem a cidade consolidada. O recente processo de

pacificação e o consequente aumento do investimento económico provocaram uma

procura crescente de construção definitiva. Atualmente, são nítidas as melhorias

verificadas no tecido económico e os seus reflexos na área da construção, com um

elevado número de novos licenciamentos de novas construções (AML, 2014).

As questões ligadas ao ordenamento do território e ao urbanismo ganharam um

novo destaque e, a criação de habitação qualificada bem como a reconversão urbanística

das vastas zonas de construção anárquica surgiram entre as prioridades nas políticas de

desenvolvimento para as áreas urbanas.

4.4.1. Bairro Comercial

Segundo Medeiros (1976) a sua origem deu-se entre a fundação da cidade e o

final dos anos cinquenta com características físicas e funcionais próprias. Um dos

fatores que lhe confere identidade é a manutenção de uma malha urbana uniforme em

toda a área. Esta uniformidade que podemos observar no Lubango até aos anos 50 está

fortemente relacionada com o carácter rural que a cidade manteve até tarde. Com a

substituição gradual das áreas de cultivo por novas construções verificou-se uma

densificação do espaço urbano, que resultou muna distribuição, mais ou menos

uniforme, dos estilos e das tipologias arquitetónicas e também, de algum modo, dos

usos, que têm por vezes uma relação estreita com as tipologias.

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Se por um lado, num contexto global, esta área apresenta uma série de fatores

constantes que permitem considerá-la um todo, por outro lado numa análise detalhada, a

sua lenta consolidação resultou numa descontinuidade volumétrica do edificado e das

fachadas dos quarteirões, na desarticulação entre as tipologias arquitetónicas e as

hierarquias viárias e na existência de uma série de espaços interstíciais. Estas

desarmonias foram agravadas com a construção em altura realizada durante os anos 60 e

70, que veio acentuar as disparidades volumétricas e desalinhadas (GPH, 2004b).

Atualmente no Bairro Comercial, existem ainda espaços vazios e lotes,

contribuindo para a imagem urbana pouco definida e criando situações de degradação,

como as de depósito de lixo em pleno centro da cidade. Ainda no interior do mesmo

podemos encontrar diversas empresas ligadas a atividade industrial ou serviços cujo

funcionamento entra em conflito com os usos habitacional e terciário, nomeadamente,

oficinas, bombas de gasolina, metalomecânica entre outras.

4.4.2. Zona sul do Bairro Comercial

Segundo GPH (2004b) zona compreendida entre o Bairro Comercial e a encosta

da Serra da Chela constitui, divido à sua topografia e rede viária (que prolonga as

principais vias orientadas a Norte-Sul do Bairro Comercial), uma zona estratégica da

cidade para o desenvolvimento de zonas centrais e habitacionais de alta densidade, e

para o estabelecimento de equipamentos. A construção anárquica verificada nas últimas

décadas ocupou a maioria deste território, impossibilitando o desenvolvimento urbano

nesta área.

Atualmente tem-se verificado uma pressão urbanística para construção definitiva

o que tem levado ao licenciamento dos terrenos expectantes do Bairro Lucrécia e dos

livres a Sul da Praça da Revolução de Outubro. Contudo a construção de novas

moradias não tem respeitado os parâmetros urbanísticos das moradias pré-existentes.

4.4.3. Bairros Residenciais de Moradias

Os bairros do Santo António, Lage, Benfica, Hélder Neto, Lucrécia, Senhora do

Monte, Tchioco, Ferrovia, Industrial e do João de Almeida, enquadram-se na categoria

de bairros residenciais de moradias.

Devido à independência (1975) a construção desses bairros ficou incompleta

quer ao nível da rede viária quer ao nível da construção nos lotes existente. A

proliferação da construção anárquica verificada nas últimas décadas veio ocupar a

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envolvente do Bairro Comercial e destes bairros residenciais periféricos, impedindo a

sua posterior conclusão, bem como a construção de outros bairros contemplados no

Plano de Urbanização da cidade (GPH, 2004b).

4.4.4. Zona de Construção Anárquica

Segundo GPH (2004b) as zonas de construção anárquica têm crescido de forma

exponencial nas últimas décadas, constituindo atualmente mais de 60% do tecido

construído da cidade.

As zonas de construção anárquica, destacam-se pela elevada concentração

populacional. Delas, fazem parte os bairros, Patrice Lumumba, em toda a extensão,

Lalula, (a Sul e Norte da Escola de Sargento), Bula Matadi (excetuando a área do Bairro

João de Almeida), Hélder Neto, na zona do Calumbiro (Fig. 14), Comandante Dack-

Doy, a (Norte do Hospital Central), Lucrécia, (junto das linhas de água), 14 de Abril,

(em toda a extensão) e as do Bairro Comercial, (junto aos cursos de água, Norte do

Quartel Militar e a Sul da Praça Antiga) (GPH, 2004b).

Figura 14 - Bairro de construção anárquica (Bairro Calumbiro)

Fonte: GPH, 2004b

Como referido anteriormente, a circulação viária nestas áreas é efetuada em

picadas de terra batida, das quais apenas uma pequena percentagem permite a circulação

automóvel tornando-a inacessível à recolha de resíduos sólidos urbanos. As condições

de habitabilidade são, de um modo geral, muito precárias devido à ausência de

saneamento básico, ao fraco acesso aos cuidados de saúde e ao difícil acesso à água.

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4.5. Situação Atual dos Resíduos sólidos no Município do Lubango

O problema relacionado com a geração de resíduos sólidos urbanos no

município do Lubango, não foge muito à realidade das demais províncias como já foi

referido anteriormente. Destaquem-se, como já referido, as dificuldades relacionadas

por exemplo, com a falta de peças para manutenção dos veículos de recolha dos RSU o,

trânsito intenso e a falta de vias transitáveis em parte das áreas urbanas dentre outras

dificuldades. Estes constrangimentos podem ser considerados como um dos maiores

desafios do presente com que se debate a Administração Municipal. À medida que o

volume de resíduos nas lixeiras cresce, aumentam os custos e surgem dificuldades de

encontrar áreas ambientalmente seguras disponíveis para recebê-los. Em consequência é

necessária a minimização de geração, a partir de uma separação eficiente e métodos de

tratamento que tenham como objetivo diminuir o volume dos resíduos a depositar,

prevenindo a saúde e protegendo o meio ambiente. Assim, a sua gestão passou a ser

uma condição indispensável para se atingir o desenvolvimento sustentável. Desta forma

a gestão de resíduos sólidos é considerada um serviço de interesse público e de carácter

social (AML, 2014).

O Município do Lubango tem, no que diz respeito aos resíduos sólidos urbanos,

uma grande preocupação na sua gestão por parte das entidades governamentais e

munícipes em geral. Apesar disso as infraestruturas existentes não conseguem

acompanhar a produção diária respondendo às necessidades da população.

O próprio estado da rede viária impossibilita, como já foi referido, a recolha em

diferentes artérias da cidade, nomeadamente nas zonas periféricas em que o acesso, é

muito difícil devido ao mau estado da rede viária em áreas não pavimentadas.

É de realçar que a cidade conta com quatro brigadas de limpeza manual a cargo

da administração municipal. Contudo, podemos verificar que em quase todos os bairros

da cidade se encontram resíduos urbanos fora dos locais próprios para sua deposição ou

em contentores danificados, como podemos verificar na fig. 15.

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Figura 15 - Depósito de resíduos em contentor danificado (Bairro Lucrécia)

Fonte: Próprio

As insuficiências do sistema levam o que os solos e linhas de água sejam locais

habituais de deposição dos resíduos pela população. Esta situação contribui para

proliferação de doenças, quer pelo contato direto quer por ser o ambiente preferencial

para o desenvolvimento de animais transmissores de doenças, como ratos e mosquitos

(Fig. 16).

Figura 16 - Depósito de resíduos no bairro Comercial (Rua da Mongua)

Fonte: Próprio

Apesar da preocupação do Município a gestão dos resíduos sólidos não tem

merecido a atenção necessária por parte da Administração local, o que permite

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compreender como já referido, os problemas de saúde da população e a degradação dos

recursos naturais, especialmente o solo e os recursos hídricos.

Segundo GPH (2004a) os RSU, seguem um circuito desde a sua deposição até ao

destino final que se pode resumir nas seguintes operações:

Deposição

Recolha

Transporte

Destino Final

Este circuito mostra por comparação com a situação ideal referida na introdução

que faltam as etapas de triagem e tratamento fazendo-se o transporte diretamente para

os locais de destino final (GPH, 2004a).

4.5.1 Tipos de resíduos produzidos

O Município produz resíduos de origem doméstica, industrial/comercial e

hospitalares, geralmente compostos por resíduos orgânicos, latas de metal, plásticos,

embalagens de produtos alimentares e papel. Em grande parte, esses resíduos são

gerados em bairros periféricos e alguns de construção anárquica que não são abrangidas

pela rede de recolha pública ou então, a recolha é feita de vez em quando, sem

calendarização prévia.

Segundo AML (2014) o tecido produtivo gera fundamentalmente dois tipos de

resíduos:

Industriais - produzidos nas unidades industriais existentes na área de

estudo, que os queimam com exceção de duas empresas (Coca Cola e

Ngola), que fazem reaproveitamento do vasilhame.

Resultantes do comércio e da prestação de serviço - compostos por

embalagens de papel e plástico, caixas de madeira e resíduos associados

a oficinas de recauchutagem.

Os resíduos industriais são dos maiores responsáveis pelas agressões fatais ao

ambiente. Nele estão incluídos produtos químicos, metais e solventes químicos cuja

deposição ameaça os ciclos naturais nos locais onde são abandonados.

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4.5.2. Deposição pela população e recolha dos RSU

A problemática dos resíduos é visível, não só pela dificuldade de recolha mas,

também, como resultado da sua produção em função da mudança da estrutura social e

económica bem como da melhoria dos padrões de consumo e aumento do poder de

compra, o que levou, de certa forma, a um aumento da produção de resíduos urbanos

nós últimos anos e que dificulta o funcionamento do sistema de recolha.

A deposição pela população dos resíduos sólidos urbanos no município do

Lubango é feita geralmente, sem a separação e distinção dos diferentes tipos de resíduos

sólidos urbanos (Fig. 17).

Figura 17 - Deposição de resíduos sem a separação previa

Fonte: Próprio

Os locais de deposição do lixo variam de bairro para bairro mas são

privilegiadas as margens de cursos de água (Fig. 18) e outros locais de fácil acesso

nomeadamente os terrenos desocupados (Fig. 19).

Figura 18 - Depósito de Resíduos em cursos de água

Fonte: Próprio

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Figura 19 - Deposição de RSU em local de fácil acesso (Bairro Comercial)

Fonte: Próprio

Nas áreas de edificado consolidado, servidas pela rede de contentores públicos, a

maior parte dos resíduos domésticos é depositado em recipientes próprios. Em

contrapartida, como podemos verificar na figura 20, estes estão em mau estado de

conservação e são recolhidos sem regularidade pela Administração Municipal e pelas

empresas que fazem prestação de serviços de resíduos.

Figura 20 - Depósto de resíduos em contentores - Bairro Lucrécia (Rua da Marginal do Mucufi)

Fonte: Próprio

Mesmo, no centro da cidade, há alguns casos de insalubridade pública, resultante

de lixo acumulado em zonas impróprias, quer nos já referidos terrenos baldios quer nas

habitações abandonadas (Fig. 21).

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54

Figura 21 - Deposição de resíduos em terreno baldio Bairro Santo António (Rua da Maxiqueira)

Fonte: Próprio

Tal como já referido para o conjunto das áreas urbanas, nos mercados informais

(praças) os resíduos produzidos são colocados em valas abertas. Nas unidades

hospitalares, os resíduos tais como seringas, agulhas, material cirúrgico, medicamentos,

reagentes entre outros, têm sido colocados diretamente em contentores e na falta destes

são colocados em áreas de deposição imprópria e sem nenhum tipo de tratamento.

A recolha e tratamento são da responsabilidade da AML em parceria com

algumas empresas contratadas para os devidos efeitos. Este é um dos segmentos mais

precário do processo, com falta de cobertura junto da população, como consequência da

escassez de meios adequados para a sua recolha por parte da administração e das

empresas de prestação de serviço nesta área. Em termos de limpeza também existem

muitas deficiências pois, só as zonas do centro da cidade têm serviço regulares de

limpeza.

A recolha de resíduos sólidos urbanos é efetuada, com recurso a menos de 100

contentores de metal e plástico, distribuídos sobretudo pelo centro da cidade como

mostra a figura 22. A sua capacidade é de 1100 quilogramas e a maior parte não tem a

respetiva tampa.

O sistema de recolha cobre apenas as áreas associadas à rede viária pavimentada.

A recolha do lixo depositado nos contentores é feita na maior parte dos bairros da

cidade uma a duas vezes por semana ou mesmo quinzenalmente e, em zonas mais

críticas, tem caído mesmo no esquecimento. As duas zonas industriais não detêm

qualquer tipo de contentores para deposição de lixo. No que diz respeito aos resíduos

hospitalares existem menos de 5 contentores destinados a esse fim.

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55

Figura 22 - Distribuição de contentores de recolha de lixo no Munícipio do Lubango

Fonte: AML, 2014

Como podemos observar no quadro 2, apenas 15 dos 19 bairros se encontram

servidos pela rede de contentores que é precária. Nos bairros Comandante, Joaquim

Kapango, Mapunda, Mitcha, Nambambe, Sófrio, não existem contentores de recolha de

lixo. O bairro Comercial é o mais populoso da cidade, tem forte concentração de

serviços e de população detendo, também o maior número de contentores.

O Município, como já referido, possuí cerca de 100 contentores para uma

população estimada aos 437.000 habitantes (Quadro 2). Para assegurar uma recolha

mais ou menos organizada deveriam existir cerca de 1400 contentores com capacidade

de 1,1 m3 (AML, 2014).

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Quadra 2 - Distribuição de contentores por bairros

Bairros Contentores População

Nº %

14 de Abril 7 7 14.910

Bula Matadi 4 4 22.589

Comandante Cow Boy 5 5 31.400

Comandante DackDoy 5 5 8.412

Comandante Joaquim Kapango 0 0 10.952

Comandante N´zagi 5 5 6.876

Comandante Valodia 1 1 11.205

Comercial 27 27 100.068

Dr. António Agostinho Neto 17 17 9.168

Ferrovia 3 3 14.096

Hélder Neto 12 12 25.895

Lalula 1 1 11.933

Lucrécia 9 9 32.088

Mapunda 0 0 14.389

Mitcha 0 0 10.680

Nambambe 0 0 32.665

Patrice Lumumba 2 2 25.445

Sófrio 0 0 41.714

Tchioco 2 2 12.606

Total 100 100 437.100

Fonte: AML, 2014

A recolha de RSU, em teoria é assegurada pela Administração Municipal do

Lubango (AML), por intermédio da empresa de recolha de resíduos Zoonlion e em

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conjunto com outras empresas privadas nomeadamente Huíla Recicling Tahal Angola e

Ambi África cada uma destas empresas tem uma zona de intervenção

própria conforme informação dada no quadro 3 e figura 23.

Quadro 3 - Distribuição de recolha de resíduos por bairros

Empresa Bairro

Tahal Angola

Dr. António Agostinho Neto; Comandante Nzagi; Lucrécia

Joaquim Kapango (parte); Santo António; Sófrio

Ambi África Comandante Cow- Boy

Hélder Neto (parte); Mitcha

Zoolion Comercial (parte); Bula Matadi; Nambambi (parte); Comandante Valódia

Huíla Recicling Lalula; 14 de Abril; Ferrovia (parte)

Tchioco; Nambambi (parte); Mapunda

Fonte: AML, 2014

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Legenda

Tahal Angola

Amb África

Zoolion

Huíla Recycling

Figura 23 - Mapa de distribuição das zonas de recolha de resíduos sólidos urbanos por empresa

Fonte: AML, 2014

No Município os RSU são depositados em duas lixeiras:

Lixeira do bairro da Micha ao pé da Escola 2 de Março (Fig. 24);

Lixeira localizada no Luyovo comuna da Quilemba (Fig. 25).

Em nenhum dos casos se procede à separação de resíduos, nem à sua combustão.

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Figura 24 - Lixeira do bairro da Mitcha

Fonte: Próprio

Figura 25 - Lixeira ao longo da estrada para Benguela localizada no Luyovo (Comuna da Quilemba)

Fonte: Próprio

Como se pode ver nas figuras acima é, necessário a criação de um Projeto para

Implementação e Operação de Aterros sustentáveis de RSU no Município, visto que a

escolha de locais para deposição de resíduos sólidos é um longo processo, que envolve

numerosas considerações sobre aspetos sócias, económicos, políticos e ambientais e que

deve ter por premissas o menor risco possível em termos de saúde humana e impacto

ambiental.

4.6. Aspetos Sanitários e Epidemiológicos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, definiu o conceito de saúde

como o ´´estado de completo bem-estar bem físico, mental e social e não apenas a

ausência de doença’’. A partir dessa definição foram criados índices que quantificam e

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60

qualificam o estado da saúde de um país, cidade ou região como por exemplo a

mortalidade infantil e casos de epidemias de cólera, etc. Os valores desses índices estão

diretamente ligados com a qualidade de saneamento básico da região e da recolha de

resíduos.

A OMS (1996), definiu saneamento básico como ``controle de todos os fatores

do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem

estar físicos, mental e social´´. Portanto, é evidente que, pela sua própria definição, o

saneamento é indissociável do conceito de saúde. Saneamento ambiental é o conjunto

de ações socioeconómicas que têm por objetivo alcançar a salubridade ambiental, por

meio de abastecimento de água potável, recolha e deposição de resíduos sólidos,

líquidos e gasosos, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais

serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições de

vida urbana e rural. Segundo Nascimento (2003), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),

em trabalho realizado na América (México), identificou mais de vinte e oito doenças

que podem ser transmitidas por vetores encontrados em locais onde há má gestão e

acondicionamento de RSU de acordo como apresentado no quadro 4.

Quadro 4 - Relação entre vetores e doenças por eles transmitidas

Vetor Exemplo de doenças transmitidas

Rato Tifo, Peste, Leptospirose

Mosquito AedesAlgypti Paludismo, Febre amarela

Formiga Febre tifóide, Doenças gastrointestinais

Mosquito diverso Febre tifóide, Doenças gastrointestinais

Barata Febre tifóide, Tuberculose, Conjuntivite, Cólera

Fonte: Nascimento, 2003

No Município do Lubango, no período de 2013 a 2014, a falta e/ou deficiência

de saneamento foi a causa de 355.780 casos de malária, 19.359 casos de febre tifóide,

1705 casos de cólera, 89.608 casos de doenças diarreicas agudas e 209.461 casos de

doenças respiratórias agudas. Há estudos revelando que as doenças provocadas pela

falta e/ou deficiência de saneamento representam cerca de 40% de internamento nos

hospitais de maior referência na província (DPS, 2014).

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61

A gestão sustentada dos RSU é importante, tanto para preservar os recursos

naturais e ecossistemas, poupar recursos financeiros e energia, como para preservar a

saúde e bem-estar da sociedade. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento refere que `´todas as pessoas têm direito a um ambiente natural e

social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e bem-estar espiritual,

dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias`´ (UNCED, 1992).

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62

V . OS HABITANTES DO LUBANGO: PERCEÇÃO E COMPORTAMENTO

FACE AOS RSU

A seleção de um tema e de um paradigma, para ajudar a compreensão de um

fenómeno, é dada como a fase inicial do desenho de um trabalho. Estes encaminham

tanto a teoria quanto o método de investigação e ajudam na melhor compreensão do

fenómeno sobre o mundo social (Sousa, 2009).

Ainda segundo Sousa (2009) para compreensão da perceção da população

limitar-nos-emos apenas ao paradigma quantitativo. Este, consiste numa investigação

relativa de um determinado fenómeno que ocorre dentro de uma realidade objetiva e

que existe independentemente da influencia do investigador, podendo esta teoria ser

baseada no teste composto por variáveis medidas por números e analisadas por métodos

estatísticos, permitindo o desenvolvimento teórico para predição, explicação e

compreensão do referido fenómeno.

Os inquéritos, foram conduzidos seguindo um guião de perguntas fechadas,

mistas e abertas no sentido de recolher informações e documentos com uma perceção

mais abrangente, que nos vai permitir identificar os principais itens da problemática dos

Resíduos Sólidos Urbanos no Município do Lubango. Foram aplicados, com caráter

formal e informal, às entidades públicas, privadas e população em geral. Tiveram como

objetivo analisar a problemática dos resíduos sólidos urbanos, avaliar o comportamento,

conhecimento e perceção da população sobre o tema da gestão de resíduos, relacionar as

deficiências na remoção dos resíduos com a qualidade de vida da população e

compreender e auscultar as entidades acima citadas relativamente às medidas e

estratégias usadas para melhorar a referida problemática.

Dada a escassez de tempo de pesquisa no terreno, dificuldades de acesso à

informação e agenda de trabalho por parte das entidades públicas e privadas não foi

possível entrevistar todos os contatos previstos. Mas, de uma maneira geral, recolheu-se

informação pertinente relativamente à problemática em causa.

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63

5.1. Amostra e colheita de dados

Na presente investigação a população irá representar o objeto através do qual se

pretende encontrar conclusões em relação ao modo como encaram a questão dos RSU.

E, de acordo com esta linha de pensamento, a população ou universo deste estudo será

representada pelos cidadãos moradores do Município do Lubango - Província da Huíla.

5.1.1. Amostra

Por limitações de tempo, custo e pelo facto da população ser muito numerosa

esteve fora de questão entrevistá-la e inquiri-la na sua globalidade. Assim, foi

necessário trabalhar com uma parte dessa população obtida pela técnica de amostragem.

A seleção da amostra pode ser feita de forma a que esta seja representativa da

população que se pretende estudar. Existem dois tipos de técnicas de amostragem: a

probabilística e a não probalistica.

Na primeira, a seleção é realizada de modo a que cada elemento da população

tenha probabilidade real, conhecida e não nula, de ser incluído na amostra, enquanto

que na técnica de amostragem não probabilística, a seleção é feita de acordo com um ou

mais critérios julgados importante pelo investigador e onde não está garantida uma

probabilidade, conhecida e não nula, de cada um dos elementos da população ser

incluído na amostra (Carmo e Ferreira, 1998).

Segundo Ribeiro (2010) o número ótimo de participantes depende das

caraterísticas da investigação e do contexto onde a amostra é recolhida. Supostamente,

quanto maior o número de participantes na amostra, menor é o chamado erro de

amostragem. No entanto, quanto a amostra é não probabilística, os cálculos do erro de

amostragem não podem ser feitos, devendo-se neste caso, garantir que a amostra inclua

o número suficiente de participantes para que os resultados estatísticos da análise sejam

seguros.

Os inquéritos e as entrevistas foram realizados nos meses de julho e agosto do

ano de 2016. Foram entrevistadas 4 entidades responsáveis pela gestão dos resíduos

sólidos na cidade do Lubango (que aceitaram participar) e inquiridos 1200 cidadãos

(com idades superiores a 15 anos) e 40 estabelecimento comerciais e de prestação de

serviço.

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64

5.1.2. Colheita de dados

O processo de colheita de dados foi realizado no momento do inquérito, feita

mediante a apresentação de uma folha com frente e verso, com uma breve explicação

com vista à obtenção do consentimento informado por parte de cada um inquiridos, na

parte superior da primeira página. Foram aplicados dois questionários um para as

famílias com 20 questões de escolha múltipla, outro para estabelecimentos comerciais

também com 20 questões de escolha múltiplas e, na entrevista às entidades responsáveis

pela gestão de RSU, utilizou-se um guião com um conjunto de questões previamente

estabelecidas.

É importante referir que foram realizadas entrevistas a duas instituições gestoras

de resíduos sólidos (Zoolion e Huíla Recycling) e inquéritos em cinco bairros

nomeadamente 14 de Abril, Comercial, Dr. António A. Neto, Helder Neto e Lucrécia.

Estes, em função das suas características, são representativos das várias tipologias de

bairros existentes na cidade. Na sua seleção (dos bairros) foram tidos em conta aos

seguintes aspetos:

Falta ou não de saneamento básico principalmente a drenagem de águas

residuais e resíduos sólidos;

A multiplicação de construções anárquicas;

Moradias albergando ou não simultaneamente várias famílias;

Novas construções preenchendo ou não os lotes expectantes sem respeitar os

afastamentos e as densidades das construções preexistentes.

Salienta-se que, em muitos bairros da periferia, como já foi referido, a circulação

viária é efetuada em picada de terra batida, das quais apenas uma pequena percentagem

permite a circulação automóvel. Grande parte dessas áreas só é acessível através da

complexa rede de percursos pedonais que dá acesso às habitações ficando, assim, vastas

áreas inacessíveis as viaturas de recolha do lixo.

5.2. Caracterização Sócio Demográfica da Amostra

Neste ponto iremos fazer um ´´retrato´´ dos cidadãos e dos estabelecimentos

comerciais de prestação de serviço do Município do Lubango no que diz respeito às

variáveis de caracterização sociodemográfica e às principais variáveis dependentes

consideradas nesta investigação.

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65

Os dados a serem apresentados poderão, muitas vezes, antecipar algumas

conclusões deste estudo.

Elaboram-se tabelas com dados das diferentes variáveis com objetivo de

caracterizarmos a amostra.

Como se pode verificar pela análise do quadro 5, dos 1200 inquiridos o seu

maior número (41%) reside no bairro Comercial e o menor valor (8%) reside no bairro

14 de Abril.

Quadro 5 - Número de inquiridos por bairros

Bairros Número de Inqueridos Percentagem

14 de Abril 100 8%

Comercial 500 41%

Dr. António A. Neto 200 17%

Hélder Neto 200 17%

Lucrécia 200 17%

Total 1200 100

Para caraterização dos inquiridos achamos relevante saber a sua faixa etária. O

apuramento dos dados permite verificar que a maior parte do inquiridos, têm a idade

compreendida entre os 20 a 30 anos (50%) e entre 31 a 40 anos (42%). Tendo em conta

que 2% dos inquiridos tem idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos, podemos

concluir 94% da população inquirida tem menos de 40 anos, o que é reflexo da

juventude da população da cidade (Quadro 6).

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66

Quadro 6 - Distribuição dos inquiridos por faixa etária

Faixa etária %

Menos de 20 anos 2

De 20 a 30 anos 50

De 31 a 40 anos 42

Mais de 40 anos 6

Total 100

No quadro 7 - apresenta-se o nível de escolaridade dos inquiridos.

Relativamente ao nível de escolaridade 65% têm o ensino médio e apenas cerca de 2%

dos inquiridos nunca frequentou a escola.

Podemos verificar que, a nível da cidade, o sector da educação tem recebido

mais investimento, pese embora haver ainda fortes diferenças em termos qualitativos e

técnicos na capacidade de dar resposta à procura.

Quadro 7 - Grau de escolaridade dos inquiridos

Grau de Escolaridade %

Nunca frequentou 2

Ensino primário 4

1º Ciclo do Ensino Sec. 20

Segundo Ciclo 65

Ensino Superior 9

Total 100

Quanto ao tipo de residência, a figura 26 mostra que a maior parte, isto é 58%,

vive em prédios, 36% em anexos e 6% em vivendas. Quanto ao tipo de residência

podemos notar que a maior parte dos prédios encontram-se no Bairro Comercial ou seja

no centro da cidade.

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67

Figura 26 - Tipo de residência

Quanto ao nível de vida, a maior parte dos inquiridos tem o nível de vida médio

(83%) ou baixo (17 %).

As casas são construídas em cimento ou adobe, pois este último é o material

disponível mais barato e acessível para a maioria das famílias que têm, como se

assinalou antes, baixos rendimentos.

Quantos ao número de divisões por casa, a maioria é de tipologia T3 (54%) e T2

(25%), sendo os restantes (21%) T1. Nos subúrbios a maior parte das casas são

pequenas com apenas um a dois quartos. É nas zonas com esta tipologia de habitação e

sem eletricidade, água potável e retrete que reside a maior parte da população em

condições de forte vulnerabilidade.

O número de habitantes, por residência é um fator importante na produção de

Resíduos Sólidos Urbanos. Quanto a esta questão é preciso ter em atenção que a

dimensão da família varia muito. As famílias mais pobres têm tendência a ser mais

numerosas por questões culturais e porque, em que muitos casos, desconhecem os

métodos contracetivos. De acordo com o quadro 8 podemos verificar que em média as

residências são habitadas sobretudo por população jovem, correspondendo os jovens e

crianças a 60% dos residentes.

36%

6%

58%

Anexo Vivenda Prédio

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68

Quadro 8 - Número de pessoas por residência

Quantas pessoas vivem em sua casa %

Crianças 20

Jovens 40

Adultos 30

Idosos 10

Total 100

No Município do Lubango, pode-se constatar que as famílias mais numerosas

são as mais vulneráveis. Essa vulnerabilidade está associada ao fraco rendimento

financeiro estrutural das famílias, o que é demonstrado pela necessidade dos pobres, nas

regiões urbanas e suburbanas, recorrem quase sempre ao mercado informal para a

compra de bens de primeira necessidade.

5.3. A apreciação da população face ao serviço prestado aos RSU

Em relação à possibilidade de depositar resíduos no contentor, embora seja um

aspeto os inqueridos atribuíram importância, tanto por questões ambientais como

estéticas a este aspeto não atribuíram a importância esperada. Só nos bairros mais

desenvolvidos (população com mais rendimento como os bairros Lucrécia e uma parte

do bairro 14 de Abril) e com mais população este aspeto foi considerado relevante. Nos

bairros periféricos (grande parte do bairro Helder Neto e uma pequena parte do bairro

Dr. António A. Neto) foi considerado pouco importante. Alguns inquiridos justificaram

este sentimento em função do afastamento dos contentores em relação às suas

habitações. Quanto questionados sobre a possibilidade de depositar os resíduos no

contentor, 65% dos inquiridos responderam que não o conseguem fazer (Quadro 9).

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Quadro 9 - Possibilidade de depositar os resíduos no contentor.

Tens possibilidade de depositar os resíduos no contentor SIM NÃO

14 de Abril 10 % 90%

Comercial 43% 57%

Dr. António A. Neto 40% 60%

Helder Neto 40% 60%

Lucrécia 40% 60%

Média 35 65

Quanto à distância ao contentor mais próximo o quadro 10 leva-nos a entender

que 61% dos inquiridos tem os contentores a uma distância inferior a 50 metros só 22%

estão a uma distância superior a 100 metros. Assim, compreende-se que não é a

distância ao contentor o fator decisivo na sua não utilização.

Quadro 10 - A que distância fica o contentor mais próximo

Inferior a 5 metros

5 a 10 metros

10 a 20 metros

20 a 50 metros50

50 a 100 metros

Superior a 100 metros

% % % % % %

1 3 3 54 17 22

Quanto à questão de quais os locais de deposição dos resíduos produzidos em

casa podemos verificar na figura 27 que há uma grande necessidade de sensibilizar os

residentes do Município. Esta situação é ainda mais urgente nos bairros Lucrécia, Dr.

António A. Neto e outros bairros periféricos da cidade em que a situação de depósito de

RSU é particularmente grave, assim como a rápida intervenção das autoridades

responsáveis no sentido de facilitarem a proximidade de contentores e a respetiva

recolha dos RSU. Para que tal aconteça é necessário que o órgão de tutela vele em

aumentar o número de contentores na cidade, na sua colocação nos bairros periféricos

onde são inexistentes, promover a recolha eficiente dos RSU e persistir na educação

ambiental e cívica da população de modo a subir a percentagem de apenas 25% dos

utilizadores dos contentores. Entre os inquiridos esta situação leva a que 33% faça a

deposição dos resíduos numa encosta ou achada e 25% em becos de habitação

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70

abandonada. Este valor está influenciado pelo elevado número de inquéritos realizados

no Bairro Comercial (41%) que é o Bairro que concentra a maioria dos contentores.

Figura 27 - Locais de deposição dos resíduos produzidos em casa

Um especto referido que afeta o grau de satisfação da população quanto aos

serviços relacionados com os RSU é a irregularidade da sua recolha. Muitos cidadãos

referiram que a recolha não tem regularidade o que representa, muitas vezes, um

transtorno às pessoas que circulam por essas vias. Os resíduos acumulados podem estar

fortemente ligados à irregularidade da recolha (Quadro 12). No que podemos constatar

esta situação resulta da incapacidade de recolha pelas empresas gestoras por falta de

quer de recursos humanos quer de meios adequados.

A maioria dos inquiridos (61%) realça que a frequência de recolha é semanal e

13% responde que esta é feita de forma ocasional, sendo de assinalar e não frequência a

recolha diária ou dia sim dia não (Quadro 11). Esta situação justifica a preocupação e

insatisfação referida pelos inquiridos.

Nalguns bairros de recente crescimento, como é o caso do bairro Lucrécia e

Hélder Neto, entre outros, é dada particular relevância a este aspecto. A População

encontra-se insatisfeita pois a frequência da recolha não satisfaz as suas necessidades e,

por isso, consideram que este fato deve ser destacado. Existem três bairros (Lalula,

Lucrécia e Comercial) com menos de 70% da população servida e em que há o

sentimento de que as autoridades não estão preocupadas com os aspetos ambientais e de

saúde pública inerentes a esta situação.

25%

33%

25%

17%

Contentor Encosta/Achada Beco/ Hab. Aband Outros

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71

Quadro 11 - Regularidade de recolhados dos resíduos

Diário Dois dias Três dias Quatro dias

Cinco dias

Semanal Ocasional

% % % % % % %

0 0 6 0 20 61 13

A larga maioria dos inquiridos nos diversos bairros (97%), não está satisfeita

com o sistema de recolha por parte das autoridades, o que deve reforçar a preocupação

por parte das autoridades nesta matéria e na sua urgente resolução (Quadro 12).

Quadro 12 - Satistação dos com o sistema de recolha por parte das autoridades

Estás satisfeito com o sistema de recolha por parte das autoridades

Sim Não

14 de Abril 2% 98%

Comercial 6% 94%

Dr. António A. Neto 3% 97%

Helder Neto 2% 98%

Lucrecia 4% 96%

Média 3 97

Em resumo, a não satisfação em relação ao sistema de recolha, aspeto

considerado relevante, resulta da demora e da não recolha sobre tudo nos bairros

periféricos aonde o acesso às viaturas de recolha é inexistente o que, por sua vez,

justifica as grandes acumulações de resíduos nas suas principais vias. Quanto às causas

da insatisfação, 75% consideram que o sistema de recolha é pouco eficaz (demora

muito) e os restantes 25% alegam que não passa sempre pela sua rua.

Os resíduos orgânicos são o tipo de resíduos mais produzido com 46% do total

(Fig. 28), o que se pode entender pelo facto da maior parte das famílias inquiridas serem

de classe média e o ganho nos seus trabalhos servir apenas para as necessidades básicas.

Porventura, pela mesma razão, o metal é um dos tipos de resíduos que não é produzido

pelas famílias da cidade do Lubango.

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72

Figura 28 - Tipos de resíduos mais produzidos

A deficiente recolha dos RSU poderia apelar à sua reutilização. Contudo, a

figura 29, que representa o seu modo de aproveitamento, mostra-nos que tal não

acontece. Observa-se que a maior parte dos inquiridos (65%) utiliza resíduos sólidos

urbanos para dar de comer a animais domésticos (cães, galinhas e nos bairros mais

periféricos como Lalula para dar de comer a porcos) e apenas 1% os usa em artesanato

e 2% recolhem as embalagens.

Dentro dos resultados obtidos e das observações feitas podemos constatar que a

população desconhece utilidade aos resíduos sólidos não orgânicos pelo que se torna

clara a importância de sensibilizar os munícipes para que ajam de modo responsável e

com consciência, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro.

Figura 29 - Uso dos resíduos sólidos

No que diz respeito à separação, recolha seletiva, reciclagem e reutilização de

resíduos, quando se pergunta se já ouviu falar destes procedimentos as respostas,

sintetizadas no quadro 13, são elucidativas. Conclui-se que esta é uma temática sobre o

26%

20%

1%

46%

Papel Plástico Vidro Resíduos orgânicos

65%2%1%

32%

Alimentos de animais Embalagem Artesanato Outros

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73

qual a população se mostra pouco informada visto que das 89% das famílias inquiridas

nunca ouviram falar sobre o assunto, facto que se reflete com maior incidência nos

bairros 14 de Abril e Hélder Neto. Contudo embora exista falta de informação

consideram importante avaliar o tipo de tratamento que é dado aos resíduos. Mais uma

vez se constata a necessidade de campanhas de educação ambiental centradas num

programa de recolha seletiva em que se deve incentivar e pôr em prática o principio dos

3R’s (reduzir, reutilizar e reciclar), onde a população deve ser orientada para a redução

dos desperdícios, a reutilização e a participação na separação de materiais para

reciclagem.

Quadro 13 - Já ouviu falar sobre separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização de resíduos

Já alguma vez ouviu falar de separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização de resíduos

Sim Não

14 de Abril 10% 90%

Comercial 16% 84%

Dr. António A. Neto 13% 87%

Helder Neto 7% 93%

Lucrecia 10% 90%

Média 11 89

De entre os 11% que conhecem a temática podemos constatar que um número

muito reduzido (6%) faz a separação dos resíduos e a maioria restante não conhecem e

nunca ouviram falar dela. Isto acontece com maior incidência nos bairros Hélder Neto,

parte periférica do bairro Dr. António A. Neto e 14º de Abril.

Quando questionados, sobre a não prática de valorização dos resíduos, podemos

verificar que, 99% inquiridos responderam que nunca se importaram com isso e 1%

responderam dizendo que dá muito trabalho. Em relação ao pagamento de taxa para

recolha dos resíduos sólidos urbanos todos os inquiridos foram unânimes em afirmar

que não é cobrada.

No que diz respeito à implementação de taxas, a maior parte dos cidadãos

inquiridos (69%) consideram este aspeto importante e referem que têm noção que os

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sistemas de apoio à recolha dos resíduos sólidos urbanos são de elevado custo, sentindo-

se motivadas em pagar pelos serviços de recolha. Da análise feita conclui-se que

estariam dispostos a pagar entre 500 kwanzas (equivalente 2.85 euros) e 1000 kwanzas

(equivalente 5.30 euros) por mês e, apenas 9%, não tinham a certeza se pagariam a

mesma (Quadro 14).

Quadro 14 - Caso seja implementada a recolha seletiva de resíduos estaria disposto a colaborar

Caso seja implementada a recolha seletiva de resíduos estaria disposto a colaborar

Sim Não Talvez

14 de Abril 70% 21% 9%

Comercial 84% 14% 2%

Dr. António A. Neto 75% 20% 5%

Helder Neto 65% 19% 16%

Lucrecia 35% 50% 15%

Média 66% 25% 9%

Este é um facto que consideramos de elevada importância, visto que de certa

forma mostra o interesse das famílias em contribuir para a resolução da problemática

dos resíduos sólidos urbanos no município.

5.4. A opinião dos Estabelecimentos Comerciais e Prestação de Serviço

Para os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, foram aplicados

num total de 40 inquéritos dos quais 50% para comércio geral, 12% para centros de

saúde e 38% para bares e restaurantes (Fig. 30).

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75

Figura 30 - Número de inquéritos aos estabelecimentos comerciais e prestação de serviço

Podemos verificar no quadro 15 que quanto ao grau de escolaridade dos

funcionários dos estabelecimentos inquiridos, quase metade tem o segundo ciclo (45%)

e só 8% têm o ensino primário. O grau de escolaridade pode ser fundamental para a

geração consciente de resíduos sólidos.

Quadro 15 - Grau de escolaridade dos funcionários

Grau de Escolaridade Nº %

Nunca frequentou 0 0

Ensino primário 3 8

1º Ciclo do Ensino Sec. 10 25

Segundo Ciclo 18 45

Ensino Superior 9 22

Total 40 100

Quando à distância dos estabelecimentos inquiridos ao contentor mais próximo,

podemos ver no quadro 16 que a maioria se encontra a menos de 50 metros do contentor

e apenas 10% a mais de 100 metros. Ainda no que diz respeito à distância podemos

notar que os contentores estão relativamente próximo aos estabelecimentos comerciais

pelo que não é este facto que estará na base da não utilização dos contentores de

resíduos sólidos urbanos.

50%

12%

38%

Comércio Geral Centro de Saúde Bar/ Restaurante

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76

Quadro 16 - Distância do contentor mais próximo

Inferior a 5 metros

5 a 10 metros

10 a 20 metros

20 a 50 metros

50 a 100 metros

Superior a 100 metros

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

0 0 4 10 12 30 15 38 5 12 4 10

A principal causa da não utilização dos contentores têm a ver com o

posicionamento destes em locais impróprios para a sua utilização pelos

estabelecimentos comercias e de prestação de serviço. Muitas vezes estão localizados

em estradas com elevado tráfego o que dificulta e desmotiva o acesso aos contentores

além de que estão frequentemente danificados e a recolha está longe de ser eficiente.

Também, a colocação dos contentores em locais não pavimentados prejudica a recolha

por parte das entidades competentes. Contudo, verifica-se que a deposição adequada se

concentra nos bairros de grande dimensão como o Comercial em função do maior

número de contentores e presença de inúmeros estabelecimentos comerciais e de

prestação de serviços.

Contudo, saliente-se que entre os inquiridos 23% não deposita os resíduos no

contentor e 8% destes deposita-os numa encosta ou achada e 15% em estradas. (Fig.

31).

Figura 31 - Local de depósito dos resíduos sólidos produzidos no estabelecimentos

Tomando em consideração, a periodicidade da limpeza e evacuação dos

resíduos, a maior parte dos responsáveis pelos estabelecimentos localizados no bairro

Comercial inquiridos encontra-se insatisfeita com a frequência de recolha dos resíduos

que, mais uma vez, não satisfaz as necessidades, pela falta de regularidade. A este

77%

15%8%

Contentor Estrada Escosta/Achada

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77

respeito apurou-se uma periodicidade na recolha que oscila entre os 3 dias e ocasional

(quadro 17).

Quadro 17 - Periodicidade da limpezae evacuação dos resíduos

Diário Dois dias

Três dias Quatro dias

Cinco dias

Semanal Ocasional

Nº % Nº % Nº % Nº % N % Nº % Nº %

0 0 0 0 13 33 0 0 8 20 11 27 8 20

A fig. 32 mostra-nos o grau de insatisfação dos inquiridos com o sistema de

recolha. Este aspeto, representa uma percentagem de reposta bastante elevada no que

diz respeito à não satisfação. Como já era esperado este aspeto é considerado de grande

importância e os cidadãos sentem, mais uma vez, que as autoridades não estão

preocupadas com as questões ambientais. Dos 40 estabelecimentos comerciais e de

prestação de serviços inquiridos, a sua grande maioria (95%), não está satisfeita com o

sistema de recolha por parte das autoridades o que, de certa forma, deve merecer

atenção por parte das autoridades.

Figura 32 - Satisfação com o sistema de recolha

Como se pode ver na fig. 33, os estabelecimentos comerciais e de prestações de

serviço inquiridos alegaram uma recolha deficiente e 10% afirmam mesmo que os

serviços de recolha não passam pela rua. Aqui podemos constatar que o motivo de não

passarem por algumas ruas da cidade, como já foi referido, pode estar ligado à falta de

acessos em certos bairros, mas parece ser, sobretudo, a falta de meios para a recolha a

causa dos 87% que assinalam a demora como principal causa da sua insatisfação.

5%

95%

Sim Não

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78

Figura 33 - Motivos que levam a insatisfação na recolha dos RSU

Na figura 34 pode-se observar que a maior parte dos estabelecimentos (42%)

utiliza os resíduos sólidos urbanos para alimento para os animais, 35% para outros fins e

23% para embalagens. Podemos verificar, ainda, que nenhum dos inquiridos utiliza os

resíduos para o artesanato. Como já foi frisado acima há que sensibilizar a população

para a prática de utilização dos resíduos para outros fins, daí a importância da educação

ambiental o que seria fundamental para a mudança de comportamentos.

Figura 34 - Uso dos resíduos no estabelecimento

Na opinião dos inquiridos os resíduos orgânicos, são os mais produzidos nos

estabelecimentos comerciais e prestação de serviço (35%) que incluem restaurantes e

outros pontos de venda de produtos alimentares. O plástico com 30% encontra-se em

segundo lugar e o papel ocupa a 3º posição com 27%. O metal é o resíduo menos

produzido representando apenas 3% (Fig. 35). Em conformidade com a questão

podemos verificar que os bairros Comercial e Hélder Neto são os que mais produzem

resíduos orgânicos em função da concentração e da tipologia de estabelecimentos

comerciais referida anteriormente.

87%

3%10%

Demoram muito Não recolhem tudo Não passam por esta rua

42%

23%

35%

Alimentos de animais Embalagem Outros

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Figura 35 - Qualidade de resíduos produzidos nos estabelecimentos

Quando questionados sobre o que poderia fazer-se para a diminuição da

produção de resíduos nos estabelecimentos a maior parte dos inquiridos (70%)

responderam que se devem usar os meios adequados para minimizar a sua produção,

tais como utilizá-los como alimento dos animais. Os outros 30% não sabiam o que fazer

atribuindo esta responsabilidade à Administração Local. Podemos constatar que, em

geral as pessoas estão poucas informadas sobre a valorização dos resíduos.

Em relação a matérias como a separação de resíduos, recolha seletiva reciclagem

e reutilização podemos constatar que esta foi uma das questões mais relevante e

inquietante pelos números apurados. Verificou-se que 90% dos inquiridos nunca

ouviram falar sobre o tratamento que pode ser dado aos resíduos sólidos (Fig. 36).

Figura 36 - Conhecimento sobre matérias como a separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização

No quadro 18 podemos ver que 90% dos inquiridos não fazem nenhum tipo de

valorização de resíduos, 5% fazem a separação de lixo e outros 5% fazem a recolha

27%

30%3%

35%

3%2%

Papel Plástico Vídro Resíduos argânico Metal Outros

10%

90%

Sim Não

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80

seletiva. Contudo, estes resultados revelam uma população pouco informada e

sensibilizada para os diferentes tipos de valorização dos resíduos pelo que se torna

imprescindível a sensibilização e educação ambiental voltada para a valorização dos

resíduos sólidos urbanos.

Quadro 18 - Práticas de separação do lixo e recolha seletiva

Separação de lixo Recolha Seletiva Nenhum

Nº % Nº % Nº %

2 5 2 5 36 90

Quando questionados sobre a não prática de valorização dos resíduos por parte

dos estabelecimentos comerciais e de prestações de serviço (Fig. 37), 80% dos

inquiridos responderam que nunca se importaram com isso e 10% dizem que dá muito

trabalho e os outros 10% dizendo que não gostam. Tendo em conta a análise feita

podemos, mais uma vez, verificar a pouca motivação situação para a qual poderia

contribuir positivamente a educação ambiental.

Figura 37 - Razões apontadas para não realizar a valorização dos resíduos

Todos os inquiridos responderam que não é cobrada taxa para recolha dos

resíduos sólidos. Contudo, a maioria dos inquiridos (87%) diz estar disposta a pagar,

8% admitem colaborar e os restantes (5%) diz que não pagaria (Fig. 38).

10%10%

80%

Não gosto Dá muito trabalho Nunca me importei com isso

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Figura 38 - Posição dos inquiridos sobre o possível de uma taxa de recolha seletiva dos resíduos

A maior parte dos inquiridos considera muito importante a implementação desta

taxa. Referem, também, que têm noção de que os sistemas de recolha e tratamento dos

resíduos sólidos urbanos são de elevados custo, e consideram que quem produz mais

resíduos deveria pagar mais.

87%

5%8%

Sim Não Talvez

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82

VI. CONCLUSÃO E PROPOSTA DE MELHORIA

Este trabalho teve como objetivos: caraterizar à situação em Angola; detalhar o

caso do Município do Lubango; avaliar o conhecimento da população em relação ao

tema da gestão de resíduos; contribuir para a sua melhor gestão e propor medidas que

ajudem resolver ou mitigar o problema. O ser humano é sem dúvida o responsável pelos

resíduos e poluição do planeta sendo incumbência dos Serviços Públicos, com a

colaboração da população, zelar pela defesa e conservação do ambiente implementando

políticas que promovam a resolução destes problemas com os consequentes benefícios

para a saúde pública e bem-estar geral das populações.

A gestão dos resíduos é uma tarefa complexa, pois engloba um conjunto de

ações a implementar articulando fatores político-institucionais, técnico-ecológicos,

socioecónomicos e ambientais, no sentido da promoção da sustentabilidade do sistema

de gestão de resíduos sólidos urbanos.

Em Angola, apesar de ter havido uma melhoria na qualidade de ensino através

de alterações dos programas, livros, qualificação de currículos e reclassificação dos

agentes de educação estes ainda pouco ou nada se refletem, em termos comportamentais

na preservação do ambiente.

No que diz respeito à saúde, a população angolana ainda é caraterizada pela

baixa esperança de vida ao nascer, altas taxas de mortalidade materna e infantil e

incidência assustadora de doenças crónicas, reflexo da falta de saneamento básico e do

pouco investimento nesta área.

Apesar do progresso a nível económico, visível desde 2003 a meados de 2014,

baseado na exportação petrolífera, os problemas persistem e agudizam-se com a crise. A

economia angolana precisa de diversificação, visto que a indústria extrativa é

responsável por 32% do PIB. Apesar dos avanços económicos registados, o setor social

angolano apresenta um quadro muito negativo em consequência do reduzido

investimento. O crescimento do PIB deve ser acompanhado de investimento em

infraestruturas essenciais ao bem-estar da população e pensando de maneira sustentável

no ambiente.

Do trabalho desenvolvido podemos afirmar que a questão dos resíduos sólidos

em Angola e em particular no Município do Lubango é um assunto preocupante e

alarmante que carece de medidas e planos para minimizar a referida problemática.

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83

Os principais problemas encontrados durante a realização do trabalho no âmbito dos

RSU são em seguida enumerados:

Deficiente recolha por falta de meios, levando a uma situação lamentável em

que os resíduos são depositados no chão e ao longo dos cursos de água,

constituído um impacto visual negativo e um problema de saúde pública;

Difícil acesso às zonas periféricas do Município;

Escasso número de contentores de pouca qualidade, frequentemente

vandalizados e ausência de critérios na sua distribuição;

Inexistência de uma lei específica sobre os resíduos sólidos;

Limitações de ordem financeira;

Falta de colaboração por parte da população, dificultando assim o trabalho da

Administração Municipal e das empresas que operam no setor;

Incorreta localização das lixeiras que apresentam vários problemas

ambientais e sanitários. Atraem vetores de transmissão de doenças, provocam

poluição visual do solo e do ar e causam mau cheiro e poluição dos lençóis

freáticos;

Falta de isolamento do local de deposição final dos resíduos, tornando assim

fácil o acesso por parte da população e dos animais e representando, assim

um perigo para a saúde pública.

Conclui-se que há um longo caminho a ser trilhado, para que a gestão dos

resíduos sólidos seja funcional, regular e eficiente no Município. Tal exige que a sua

operacionalização mediante um sistema que se adapte à realidade local e procure

propostas sustentáveis em todas as áreas. As autoridades devem reforçar as políticas de

gestão integrada dos resíduos e encontrar formas de sensibilizar, mobilizar e

responsabilizar a população.

O Município, enfrenta vários problemas descritos propondo-se a reformulação dos

procedimentos atuais e a atuação em domínios que a seguir destacamos.

Educação Ambiental

Sem a participação da população não é possível pensar em gestão eficaz dos

resíduos sólidos. Esta participação passa por campanhas de divulgação e

consciencialização da problemática dos resíduos sólidos.

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84

A Administração Municipal do Lubango deve criar ações de sensibilização e de

formação com vista a minimizar os efeitos das atuais práticas e respetivas

consequências ambientais e de saúde pública. Para a realização deste tipo de ações

informativas, a Administração poderia apostar na formação de técnicos de educação

ambiental para a promoção de campanhas de sensibilização em conjunto com os órgãos

dos Ministérios do Ambiente e da Saúde. Os técnicos de ambiente devem deslocar-se às

escolas e bairros promovendo jogos elaborados sobre diversas temáticas, não só dos

resíduos sólidos, mas também a respeito do ambiente e preservação da natureza. É

essencial sensibilizar as grandes e pequenas superfícies comerciais e de prestação de

serviço de forma a informar o adequado manejo dos resíduos sólidos tendo em conta a

sua separação e diferenciação destacando nestas ações a Regra dos 3R´s (Reduzir,

Reutilizar e Reciclar).

A educação ambiental deve alicerçar-se numa política transversal abarcando

todas as faixas etárias, mas privilegiando os jovens e as crianças, mais recetivos à

mudança por facilidade de adotarem novos comportamentos e boas práticas e porque,

indiretamente, podem induzir um efeito multiplicador junto das suas famílias. Esta

questão é tanto mais pertinente pois, no caso do Lubango, concluiu-se que há muito

para aprender visto que aspetos como a recolha seletiva ainda não ser do conhecimento

da maioria do municípes.

Economia Circular

É de referir que uma economia circular abrange o ciclo de vida de um produto.

Tanto a fase de conceção ou projeto como os processos de produção têm impacto no

aprovisionamento. Apostar numa economia circular, é partir de um pressuposto simples

em que se adopta um modelo circular de renovação e reciclagem constante de modo a

maximizar o valor dos recursos para que estes possam continuar a ser usufruídos.

A hierarquia dos resíduos determina uma ordem de prioridade, desde a

prevenção, passando pela preparação para reutilização, reciclagem e recuperação de

energia, até à eliminação (destino final, inceneração ou deposição em aterro, por

exemplo).

O modo como recolhemos e gerimos os nossos resíduos pode conduzir a taxas

elevadas de reciclagem com a reintrodução de matérias-primas valiosas na economia ou

a um sistema ineficaz em que a maior parte dos resíduos recicláveis termina em aterro

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85

ou vai para incineração, com impactos ambientais potencialmente nocivos e perdas

económicas significativas. Para conseguir um nível elevado de valorização de materiais,

é essencial enviar sinais de longo prazo às autoridades públicas, às empresas e aos

investidores e estabelecer condições favoráveis que serão impostas pela AML incluindo

a aplicação coerente de uma taxa a todos os resíduos, independentemente da sua origem

(agregados familiares, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço).

Reforma do sistema de recolha

Pelas imagens apresentadas ao longo da dissertação podemos observar que a

maioria dos contentores estão cheios, situação que ocorre não só pela sua pouca

capacidade, poucos contentores e distribuição pouco criteriosa mas também pela falta de

gestão que promova uma recolha com periodicidade adequada. Muitos dos contentores

encontram-se em mau estado, nalguns casos por vandalização. Neste aspecto deve-se

apostar nalguns bairros da cidade, como por exemplo nos bairros da Mitcha, Dr.

Agostinho Neto e uma parte do bairro Comercial, em contentores semienterrados tierso,

visto que esta tipologia pode ter tem uma capacidade muito elevada (até 5.000 litros)

permitindo uma frequência de esvaziamento inferior aos usados.

Para melhorar o funcionamento e dar maior sustentabilidade à gestão de R.S.U

no Município deve-se implementar a cobrança de taxa de resíduos sólidos anexada à

fatura de pagamento de água ou da luz e ainda promover recolha seletiva, começando

esta pelos estabelecimentos comerciais (minimercados, mercados, bares e restaurantes).

Quer as famílias quer os estabelecimentos aceitam, na sua maioria, a cobrança desta

taxa para melhorar a eficácia do sistema de recolha e tratamento dos RSU. Também a

separação dos resíduos orgânicos e a sua compostagem em casa traria benefícios para a

produção agrícola local, incrementando a segurança alimentar, sobretudo para quem

dispõe de quintal e contribuiria para diminuir o volume de RSU que são constituídos

por elevada percentagem de materiais orgânicos.

Requalificação do destino final

A Administração Municipal deve apostar na construção de um aterro sanitário

que viabilize o encerramento das duas lixeiras existentes e por questões de segurança a

sua vedação limitando o acesso das pessoas e animais. O aterro deve ser

complementado com a construção de uma estação de triagem porque, através desta, os

resíduos podem torna-se numa fonte de matéria-prima quando devidamente separados.

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86

VII. FONTES CONSULTADAS

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VIII. ANEXOS

Anexo 1

Com este questionário pretende-se recolher informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Município do Lubango. Este instrumento metodológico enquadra-se numa investigação no âmbito do Mestrado em Gestão do Território da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas de Lisboa, a fim de que seja possível produzir a respetiva dissertação.

Todas as informações recolhidas são estritamente confidenciais. Por favor responda com sinceridade. A sua opinião é muito importante. Obrigado pela colaboração.

Preencha, sempre que possível, com um

Ás famílias

Identificação

1-Idade

a) Menos de 20 anos b) De 20 a 30 anos c) De 31 a 40 anos

e) Mais de 40 anos

1.1- Sexo

2- Qual é o nível de escolaridade?

a) Nunca frequentou b) Ensino Primário

c) 1º Ciclo do ensino Secundário e) Segundo Ciclo

f) Ensino Superior

3- Tipo de edifício

a)Anexo b) Vivenda c) Prédio

4- Nível de Vida………………………

5- Qual é o número de divisões?

a) Inclui cozinha b) Inclui casa de banho

c) Dentro ou fora da habitação

x

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94

6- Quantas pessoas vivem em sua casa?

a) Nº de crianças b) Nº de Jovens c) Nº de Adulto d) Nº de Idosos

7-Tens a possibilidade de depositar os resíduos no contentor?

a) Sim b) Não

8- A que distancia fica o contentor mais próximo?

a) Inferior a 5 metros b) 5 a 10 metros c) 10 a 20 metros

d) 20 a 50 metros e) 50 a 100 metros f) Superior a 100 metros

9- Onde sãodepositados os resíduos sólidos produzidos em sua casa?

a) Contentor b) Estrada c) Encosta /achada

d) Becos/habitações abandonadas d) Outros

10- Qual é a distancia entre a sua casa e ponto de deposição

a)Inferior a 5 metros b) 5 a 10 metros c) 10 a 20 metros

d) 20 a 50 metros e) 50 a 100 metros f) Superior 100 metros

11- Se faz a deposição em contentor. Qual é a regularidade de recolha dos resíduos?

a)Diário b) Dois dias c) Três dias

d) Quatro dias e) Cinco dias f) semanal e) Ocasional

12-Estas satisfeito com o sistema de recolha por parte das autoridades?

a)Sim b) Não

13- Se não, porquê?

a) Demoram muito tempo b) Não recolhem tudo

c) Não passam por esta rua d) Outros

14- Usa o resíduos para alguma coisa?

a)Alimentação de animais b) Embalagem c) Artesanato

d) Outros

15- Tem noção do tipo de resíduo mais produzido em sua casa?

a) Papel b) Plástico c) Vidro d) Resíduos orgânicos

d) Metal f) Outros

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16- Já alguma vez ouviu falar de separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização de resíduos?

a)Sim b) Não

17- Se sim, algum dele tem sido uma pratica corrente em sua casa?

a)Separação de lixo b) Recolha seletiva c) Nenhum

18- Se não os tem praticado, porquê?

a)Não gosto b) Dá muito trabalho c) Nunca me importei com isso

19- Sabe se é cobrada alguma taxa pela recolha dos resíduos

a)Sim b) Não

20- Quanto acha razoável pagar mensalmente por um serviço de recolha?

……………………………………………………………………………………………

21- Caso seja implementada a recolha seletiva de resíduos estaria desposto a colaborar?

a)Sim b) Não c) Talvez

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Anexo 2

Com este questionário pretende-se recolher informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Município do Lubango. Este instrumento metodológico enquadra-se numa investigação no âmbito do Mestrado em Gestão do Território da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas de Lisboa, a fim de que seja possível produzir a respetiva dissertação.

Todas as informações recolhidas são estritamente confidenciais. Por favor responda com sinceridade. A sua opinião é muito importante. Obrigado pela colaboração.

Preencha, sempre que possível, com um

Inquérito aos estabelecimentos comerciais e prestação de serviço

1-Estabelecimeto

a)Comércio Geral b)Centro de saúde c)Bar/Restaurante

2-Quantos funcionários/ pessoas afetas

……………………………………………………………………………………………

…………………………………………………………………………………………..

3- Qual é o nível de escolaridade dos funcionários

a) Nunca frequentou b) Ensino Primário c)1º Ciclo do ensino Secundário

e) Segundo Ciclo f) Ensino Superior

4-Quantos funcionários são responsáveis pela limpeza do estabelecimento?

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

5-A que distancia fica o contentor mais próximo?

Inferior a 5 metros b) 5 a 10 metros c) 10 a 20 metros

d) 20 a 50 metros e)50 a 100 metros f) Superior a 100 metros

6-Onde são depositados osresíduos sólidos produzidos no estabelecimento?

x

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97

a) Contentor b) Estrada c) Encosta /achada

7-Qual é a distância entre o estabelecimento e o ponto deposição?

a) Inferior a 5 metros b) 5 a 10 metros c) 10 a 20 metros

d) 20 a 50 metros e) 50 a 100 metros f) Superior 100 metros

8-Qual é a periodicidade da limpeza e evacuação dos resíduos?

a)Diário b)Dois dias c)Três dias

d)Quatro dias e)Cinco dias f) Uma semana

9-Esta satisfeito com o sistema de recolha por parte das autoridades?

a)Sim b) Não

10-Se não, porque?

a)Demoram muito tempo b) Não recolhem tudo

c) Não passam por esta rua

11-Usa os seus resíduos para alguma atividade no estabelecimento?

a)Alimentação de animais b) Embalagem c) Artesanato

e) Outros

12-Tem noção da quantidade de resíduos produzidos no estabelecimento?

a)Papel b) Plástico c) Vidro d) Resíduos orgânicos

d) Metal f) Outros

13-Tem noção do tipo de resíduos mais produzidos diariamente no estabelecimento?

a) Papel b) Plástico c) Vidro d) Resíduos orgânicos

d) Metal f) Outros

14-O que poderia fazer para a diminuição da produção de resíduos no estabelecimento?

……………………………………………………………………………………………

……………………………………………………………………………………………

15-Já alguma vez ouviu falar de separação de resíduos, recolha seletiva, reciclagem e reutilização?

a) Sim b) Não

16-Se sim, algum deles tem sido uma prática corrente no estabelecimento?

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a) Separação de lixo b) Recolha seletiva c) Nenhum

17-Se não os tem praticados, porquê?

a) Não gosto b) Dá muito trabalho c) Nunca me importei com isso

18-Sabes se é cobrada alguma taxa pela recolha dos resíduos?

a)Sim b) Não

20-Caso seja implementada a recolha seletiva para os resíduos estaria desposto a colaborar?

a)Sim b)Não c) Talvez

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Entrevista-guião

Anexo 3

Universidade Nova de Lisboa

Faculdade de Ciências Sociais e Humana

Departamento de Geografia e Planeamento Regional

Guião de entrevista

1-Existe um plano municipal de gestão de Resíduos Sólidos?

Sim Não

2- Quem se responsabiliza pelo sistema de recolha, transporte e destino final dos resíduos sólidos urbanos?

Administração Municipal ONG Privado

3-Qual é área abrangida pelo serviço de recolha dos resíduos sólidos urbanos (Mencione as localidades)

4-Qual é a entidade responsável pela recolha dos resíduos sólidos em:

Habitações ONG Escolas Hospitais Const. Civil

Industria Outros

5-É cobrada alguma taxa pelo serviço de recolha dos R.S.U?

Sim Não

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6- Se sim, á quem écobrada?

Habitações ONG Escolas Hospitais Const. Civil

Industria Outros

7-Qual o valor desta taxa e como é cobrada (se associada a uma outra ex. a fatura da água ou da eletricidade?

8-Com que frequência (s) é feita a recolha dos R.S.U?

Semanal 2X Semana 3X Semana 4 a 6 Semana Diaria

1- GrupoDescrição do processo de recolha

2-Qual o volume diário dos resíduos sólidos urbanos recolhidos?

……………………………………………………………………………………………

……………………………………………………………………………………………

……………………………………………………………………………………………

……………

3-Quais os principais tipos de resíduos do município? Qual o setor que mais resíduos produz (massa e volume)

Sistema de recolha

Número Pessoal Técnico Pessoal qualificado (com formação na área)

Pessoal não qualificado

5- Infraestruturas existentes - Contentores - Total de contentores na cidade - Tipo - Capacidade

6-Viaturas - Número de viaturas - Tipo de veículos (com ou sem cobertura) - Capacidade - Adaptação do veiculo aos contentores – automatismos do que está dotado

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7-Consideram suficientes os meios disponíveis para a recolha?

Sim Não

8-Qual a eficácia do processo de recolha (volume produzido e o volume recolhido)? ………………………………………………………………………………………

………………………………………………………………………………………

………………………………………………………………………………………

……………................................................................................................. 9-Qual a vossa perceção do nível de satisfação dos munícipes face a prestação destes serviços?

Grupo III- Destino Final

1-Qual o destino final dos resíduos sólidos urbanos recolhidos?

3-O porquê da escolha do local?

4- Como é feita a deposição dos resíduos?

Desordenada Estratificada Estratificada na horizontal

5-Que tipo de tratamento/ operações são aplicados aos resíduos sólidos urbanos no destino final?

Separação (ex. entre ferro velho, resíduos da const. Civil, resíduos domésticos

Compactação Combustão

6- Perspetiva Futura