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1 CNEF FASE DE FORMAÇÃO INICIAL PROGRAMA DE PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL I I – LEI DE ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS II – JULGADOS DE PAZ III – JURISDIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO IV – JURISDIÇÃO DO CONSERVADOR DO REGISTO CIVIL V - ACESSO AO DIREITO Modalidades do acesso ao direito e à justiça. O conceito de insuficiência económica. Revogação e caducidade do benefício. Efeitos na instância. Protecção jurídica em casos de litígios transfronteiriços. VI - ACTOS PROCESSUAIS DAS PARTES Forma dos actos. Lugar da prática dos actos. Modalidades do prazo. Prazo supletivo legal. Suspensão e interrupção do prazo. Justo impedimento. VII – ACTOS DA SECRETARIA Distribuição Distribuição de papeis. Papeis sujeitos a distribuição.

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CNEF

FASE DE FORMAÇÃO INICIAL

PROGRAMA DE PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL I

I – LEI DE ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS

II – JULGADOS DE PAZ

III – JURISDIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

IV – JURISDIÇÃO DO CONSERVADOR DO REGISTO CIVIL

V - ACESSO AO DIREITO

Modalidades do acesso ao direito e à justiça.

O conceito de insuficiência económica.

Revogação e caducidade do benefício.

Efeitos na instância.

Protecção jurídica em casos de litígios transfronteiriços.

VI - ACTOS PROCESSUAIS DAS PARTES Forma dos actos.

Lugar da prática dos actos.

Modalidades do prazo.

Prazo supletivo legal.

Suspensão e interrupção do prazo.

Justo impedimento.

VII – ACTOS DA SECRETARIA

Distribuição

Distribuição de papeis.

Papeis sujeitos a distribuição.

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Como e quando se faz distribuição.

Modalidades de distribuição.

VIII - EXAMES DE PROCESSOS E PASSAGEM DE CERTIDÕES

Processos que podem ser examinados na secretaria e em que condições.

Processos que podem ser examinados fora da secretária e em que condições.

Prazo para exame.

Dever de restituição do processo à secretaria.

Limites e prazo para passagem de certidões.

IX – CUSTAS, MULTAS, TAXAS DE JUSTIÇA E PREPAROS

As taxas de justiça.

Iniciativas e prazos de pagamento.

Consequências de falta de pagamento.

Responsabilidade pelas custas.

A restituição de custas de parte.

X - COMUNICAÇÃO DE ACTOS

Formas de requisição e comunicação dos actos.

Cartas precatórias e cartas rogatórias.

Prazos de cumprimento.

Efeitos no desenvolvimento da instância.

Outras formas possíveis de comunicação de actos pela secretaria.

XI - CITAÇÃO E NOTIFICAÇÃO

Modalidades da citação.

A regra da oficiosidade das diligências de citação.

Citação promovida por mandatário judicial.

Quando pode ser adoptada.

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Responsabilidades.

Notificação.

As notificações entre mandatários.

A notificação judicial avulsa.

XII - PATROCÍNIO JUDICIÁRIO

O mandato judicial.

Consequências da não atribuição do mandato.

Poderes forenses gerais e especiais.

O estabelecimento do mandato judicial.

A representação sem mandato.

A insuficiência de poderes.

Ratificação da gestão.

Renúncia ao mandato.

XIII - A INSTÂNCIA

O princípio da estabilidade.

O princípio da cooperação.

A iniciativa da instância.

Incidentes da instância.

Suspensão, interrupção e extinção da instância.

XIV - O PROCESSO

Formas de processo comum e especial.

O processo especial para cumprimento de pequenas obrigações.

XV - PROCEDIMENTOS CAUTELARES

Noção e natureza.

Tramitação processual.

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Regras gerais.

Caducidade.

Recursos e seus efeitos.

O procedimento cautelar comum.

Os procedimentos cautelares especificados.

XVI - O PROCESSO COMUM DE DECLARAÇÃO

A) PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial

A apresentação da petição inicial.

Requisitos essenciais.

A causa de pedir e a formulação do pedido.

O pedido alternativo e o pedido subsidiário

Os pedidos genéricos e de prestações vincendas.

A cumulação de pedidos

Indicação do valor.

Pagamento da taxa de justiça.

B) – CONTESTAÇÃO

Prazo em que deve ser apresentada.

A defesa: por impugnação e por excepção.

Ónus de impugnação especificada.

A alegação de desconhecimento de factos: consequências.

A reconvenção.

Requisitos substanciais e formais.

Pagamento da taxa de justiça.

Revelia.

C) – RÉPLICA

Quando é admitida.

Prazo em que deve ser apresentada.

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Alteração da causa de pedir e do pedido.

Consequências da causa de pedir e do pedido.

Consequências da não apresentação da réplica.

Casos em que deve ter lugar pagamento de taxa de justiça.

D) – TRÉPLICA

Quando é admitida.

Prazo em que deve ser apresentada.

E) – ARTICULADOS SUPERVENIENTES

Noção.

Quando podem ser deduzidos e relativamente a que factos.

Oferecimento da prova da superveniência.

Aproveitamento dos factos que eles objectivaram.

F) – AUDIÊNCIA PRELIMINAR.

Quando pode ter lugar.

Definição do respectivo objecto.

Discussão de excepções.

Discussão acerca dos termos da lide.

Fixação da base instrutória.

Reclamações.

Indicação dos meios de prova.

Requerimento da gravação da audiência final.

Designação de data para a audiência final.

G) – DESPACHO SANEADOR

Sua formulação fora da audiência preliminar.

Como pode ser elaborado.

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O requerimento de prova.

Reclamação e resposta.

Irrecorribilidade da decisão proferida sobre reclamação.

Atendibilidade da matéria objecto da reclamação.

H) – AS PROVAS Provas admissíveis.

Espécies de provas.

Prova por confissão.

Prova testemunhal.

Prova pericial

Prova documental.

Produção antecipada de prova.

I) – AUDIÊNCIA FINAL

Sua marcação consensual.

Casos de adiamentos.

Disciplina da audiência.

Gravação da audiência.

Sequência dos actos.

Disciplina dos depoimentos de parte.

Limitações quanto às matérias a que cada testemunha deporá.

A “razão de ciência”.

Possibilidade de se ouvir testemunha que não foi arrolada.

Acareação.

Contradita.

Junção de documentos fora dos articulados.

Alegações sobre a matéria de facto.

Respostas aos quesitos da base instrutória e sua fundamentação.

Reclamação.

Alegações de direito.

J) – SENTENÇA

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Limites da condenação e extinção do poder jurisdicional.

Nulidades da sentença.

Rectificação da sentença.

Aclaração.

Reforma quanto a condenação em custas e em multa.

Noção de trânsito em julgado.

Valor do trânsito em julgado.

L) – RECURSOS

Espécies.

Indeferimento do recurso.

Recursos ordinários:

Recurso de apelação.

Recurso de revista.

Recurso “per saltum”.

Recursos extraordinários:

Recurso para uniformização de jurisprudência.

Recurso de revisão.

XVII - OUTROS PROCESSOS.COMUNS

Processo sumário.

Processo sumaríssimo.

XVIII – PROCESSOS DE APLICAÇÃO RESTRITA

Processo simplificado.

Processo de injunção.

Processo experimental.

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ORDEM DOS ADVOGADOS

CONSELHO DISTRITAL DO PORTO

CENTRO DISTRITAL DE ESTÁGIO

PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL

(Tópicos para Orientação)

ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

A principal base legal está na Lei nº. 3/99, de 13 de Janeiro, com as alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº. 101/99, de 26 de Julho, pelos Decs.-Lei nº. 323/01, de 17 de Dezembro, 38/03, de 8 de Março, pela Lei nº. 105/03, de 10 de Dezembro, pelo Dec.-Lei nº. 53/04, de 18 de Março, pela Lei nº. 42/05, de 29 de Agosto, e pelo Dec.-Lei nº. 303/07, de 24 de Agosto. A regulamentação da Organização Judiciária consta do Dec.-Lei nº. 186-A/99, de 31 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Dec.-Lei nº. 148/04, de 21 de Junho. A Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (LOFTJ), porém, só se aplica a estes, pelo que não estão abrangidos por ela outros tribunais que também existem: os Tribunais Administrativos, os Tribunais Tributários, os Tribunais Militares, o Tribunal Constitucional e o Tribunal de Contas. Estes tribunais dispõem da sua própria lei orgânica. Principais aspectos a sublinhar: a) - a correspondência do ano judicial com o ano civil (art. 11º-1 da Lei 3/99); b) - as férias judiciais, que são (art. 12º): de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro (Natal) de Domingo de Ramos à 2ª feira de Páscoa (Páscoa) de 1 a 31 de Agosto (Verão); c) - as audiências de julgamento: 1 - são públicas (art. 9º), excepto:

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a) - para salvaguardar a dignidade das pessoas (v. gr., certas acções de divórcio litigioso), b) - para salvaguarda da moral pública (v. gr., julgamento de certos crimes), c) - para garantir o normal funcionamento do próprio tribunal (v. gr., quando o assunto a julgar se mostre exageradamente sensível na opinião pública local). Contudo, a decisão no sentido de que a audiência de julgamento decorra à porta fechada terá de ser proferida em despacho fundamentado, pois que se não trata de exercício de poder discricionário do Juiz. 2 - em princípio, têm lugar na Sede do respectivo tribunal judicial (art. 10º), excepto: a) - se o interesse da justiça justificar que decorram noutro local (v. gr., o julgamento no local dos factos, para melhor esclarecimento do tribunal acerca deles), b) - quando circunstâncias ponderosas o justifiquem (v. gr., se for excessiva a quantidade de pessoas que participarão nela para as dimensões da Sede, ou quando razões de segurança do próprio tribunal o aconselhem). Em tais casos, os tribunais judiciais poderão funcionar noutro local, seja da mesma circunscrição, seja mesmo de fora dela. d) - a Organização Judicial: - o território nacional divide-se em 4 Distritos Judiciais (Porto, Coimbra, Lisboa e Évora), Círculos Judiciais (cf. Mapa II anexo ao Dec.-Lei 186-A/99) e Comarcas (art. 15º) - cf. Mapa III, idem. - há tribunais judiciais de 1ª Instância, de 2ª Instância e o Supremo Tribunal de Justiça (art. 16º-1). Os Tribunais da Relação são, em regra, tribunais de 2ª Instância (art. 16º-2). - os Tribunais de 1ª Instância são, em regra, de comarca (art. 62º-1), sendo que, nos casos em que o volume ou a natureza do serviço o justifiquem, na mesma comarca podem existir vários tribunais (art. 62º-2). Normalmente, a área de competência dos tribunais judiciais de 1ª Instância é a comarca (art. 63º-1). São de primeiro acesso e de acesso final, sendo a sua classificação definida por Portaria do Ministro da Justiça, ouvidos o Conselho Superior da Magistratura, a Procuradoria Geral da República e a Ordem dos Advogados, de acordo com a natureza, complexidade e volume do serviço (art. 16º-4). e) - quanto à competência em razão da matéria, os Tribunais Judiciais têm competência para julgar todas as causas que não sejam atribuidas a outros tribunais (art. 18º-1). Os Tribunais Judiciais podem ser (arts. 77º e segs.):

de Competência Genérica (art. 77º)

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de Competência Especializada (arts. 78º e segs.).

Conhecem de matérias determinadas, independentemente da forma de processo aplicável (art. 64º-2). São os

Tribunais de Instrução Criminal Tribunais de Família e Menores

Tribunais do Trabalho Tribunais de Comércio Tribunais Marítimos

Tribunais de Execução das Penas

de Competência Específica (art. 96º e segs.).

Conhecem de matérias determinadas pela espécie de acção ou pela forma de processo aplicável, assim como de recursos administrativos em processo

de contra-ordenação, nos termos do art. 102º-2 (art. 64º-2). São

Varas Cíveis Varas Criminais Juízos Cíveis

Juízos Criminais Juízos de Pequena Instância Cível

Juízos de Pequena Instância Criminal Juízos de Execução

Em casos em que isso se justifique podem ser criados tribunais

de Competência Especializada Mista (art. 64º-3).

Todavia, sem prejuízo da competência dos Juízos de Execução, os tribunais de competência especializada e de competência específica são competentes para executar as respectivas decisões (art. 103º).

Os Tribunais Judiciais podem desdobrar-se em juízos (art. 65º-1) e os Tribunais de Comarca podem ainda desdobrar-se em Varas com competência específica (art. 65º-3). Os Círculos Judiciais podem abranger a área de uma só ou de várias comarcas e em cada um exerce funções o Juiz de Círculo (art. 66º-1 e 2). Os que existem são os que constam do Mapa II anexo ao Dec.-Lei 186-A/99. f) - para efeitos de recurso das decisões proferidas, os tribunais estão hierarquizados (art. 19º): - o Supremo Tribunal de Justiça tem jurisdição em todo o território nacional (art. 21º-1). - as Relações têm, em regra, jurisdição no respectivo Distrito Judicial (idem). Mas, no mesmo Distrito Judicial pode haver mais que um Tribunal da Relação, como são os casos das Relações de Guimarães (Distrito Judicial do Porto) e de Faro (Distrito Judicial de Évora). - os Tribunais de 1ª Instância têm jurisdição na área da respectiva circunscrição (ibidem).

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g) - Os factores que definem a competência territorial estão definidos no Cód. Proc. Civil (arts. 73º e segs. da Secção IV - Cap. III). h) - a competência fixa-se no momento da propositura da acção (art. 22º-1 e 2), sendo, em princípio, irrelevantes modificações de facto ou de direito que surjam mais tarde. i) - quanto ao valor, existem as alçadas que, em matéria cível, são (art. 24º da Lei nº. 3/99, na redacção dada pelo Dec.-Lei nº. 303/07, de 24 de Agosto): - de EURO 30.000,00, para as Relações, - de EURO 5.000,00, para os Tribunais de 1ª Instância. A admissibilidade de recurso em função das alçadas é aferida pela lei em vigor à data em que foi instaurada a acção (art. 24º-3). Para matéria criminal não há alçadas mas outras regras referentes à admissibilidade de interposição de recursos, regras que estão definidas no Cód. Proc. Penal (art. 24º-2). j) - Os tribunais judiciais de 1ª Instância podem ser singulares, colectivos, com ou sem juízes sociais, e de júri (art. 67º). l) - o Supremo Tribunal de Justiça tem a sede em Lisboa e Secções em matéria cível, em matéria penal e em matéria social (arts. 25º-2º e 27º-1). Pode funcionar em Plenário, em pleno das secções especializadas e por Secções (art. 28º-1). Em regra, o Supremo apenas conhece de matéria de direito (art. 26º). m) - as Relações têm também Secções em matéria cível, penal e social (art. 51º-1), com excepção das Relações de Guimarães e de Faro, pois estas não têm Secção Social - cf. Mapa V anexo ao Dec.-Lei 186-A/99. Podem funcionar em Plenário e por Secções (art. 52º). n) - os tribunais são Órgãos de Soberania (art. 1º; Constituição da República, arts. 205º-1 e 113º-1). E têm uma tripla função (art. 2º): a) - a defesa dos direitos e interesses dos cidadãos legalmente protegidos; b) - a repressão da violação da legalidade democrática; c) - dirimir os conflitos de interesses, públicos e privados. São independentes em relação aos demais Órgãos de Soberania (art. 3º; CRP, art. 207º), e as suas decisões prevalecem sobre quaisquer outras, pelo que se tornam obrigatórias, no seu acatamento, para todas as autoridades (art. 8º; CRP, art. 209º).

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Para o cumprimento das suas decisões, os tribunais têm direito a obter a colaboração das outras autoridades públicas (p. ex., organismos policiais e administrativos). Existem mesmo sanções previstas nas leis de processo aplicáveis aos responsáveis pela inexecução delas.

OS JULGADOS DE PAZ

A Lei nº. 78/2001, de 13 de Julho, criou os Julgados de Paz, que podem ser concelhios, de agrupamentos de concelhos contíguos, de freguesia ou de agrupamentos de freguesias contíguas (art. 4º-1). Nos processos que corram nestes tribunais há lugar a custas mas estas são calculadas por tabela definida em Portaria do Ministro da Justiça (art. 5º). O Dec.-Lei nº. 329/2001, de 20 de Dezembro, veio regulamentar aquela Lei. Os procedimentos nos Julgados de Paz estão concebidos e orientados pelos princípios da simplicidade, adequação, informalidade, oralidade e absoluta economia processual (art. 2º-2). Os Julgados de Paz apenas têm competência material para dirimir acções declarativas, pelo que as execuções correrão no Tribunal Judicial e mediante a aplicação do que, a este respeito, consta do Cód. Proc. Civil e legislação conexa (art. 6º-1 e 2). A sua competência em razão da matéria é, porém, pelo menos por agora, alternativa em relação à dos tribunais judiciais com competência territorial concorrente (Ac. 11/2007 do STJ, no Dº. Repª. – 1ª Série – nº. 142, de 25 de Julho de 2007, pág. 4733). Os Julgados de Paz só podem julgar acções de valor não excedente ao da alçada dos Tribunais Judiciais de 1ª Instância e quanto às seguintes matérias (arts. 8º e 9º): a) - cumprimento de obrigações, com excepção das que sejam obrigações pecuniárias e quanto às quais seja, ou tenha sido, credor originário uma pessoa colectiva; b) - entrega de coisas móveis; c) - acções que resultem de direitos e deveres de condóminos, quando a assembleia de condóminos não tenha deliberado sobre a obrigatoriedade de compromisso arbitral para a resolução de litígios entre os condóminos ou entre eles e o administrador do condomínio; d) - resolução de litígios entre proprietários de prédios e relativos a passagem forçada momentânea, escoamento natural de águas, obras defensivas de águas, comunhão de valas, regueiras e valados, sebes vivas, abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes, estilicídio, plantação de árvores e arbustos, paredes e muros divisórios; e) - acções possessórias, usucapião e acessão; f) - direito de uso e administração da compropriedade, da superfície, do usufruto, de uso e habitação e direito real de habitação periódica;

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g) - acções respeitantes ao arrendamento urbano, com excepção de acções de despejo; h) - responsabilidade civil contratual e extra-contratual; i) - incumprimento de contrato, exceptuados os casos de contrato de trabalho e de arrendamento rural; j) - garantia geral das obrigações; l) - apreciação de pedidos de indemnização civil, quando não tenha sido apresentada participação criminal ou depois de desistência desta, o que fará caducar a possibilidade de instaurar o respectivo procedimento criminal, emergentes de: 1 - ofensas corporais simples; 2 - ofensas, por negligência, à integridade física; 3 - difamação e injúrias; 4 - furto simples; 5 - dano simples; 6 - alteração de marcos; 7 - burla para obtenção de alimentos, bebidas ou serviços.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL DOS JULGADOS DE PAZ

a) - no Julgado da situação dos bens, as acções referentes a direitos reais ou pessoais de gozo sobre imóveis, assim como acções de divisão de coisa comum (art. 11º-1); b) - no Julgado da situação dos bens imóveis de maior valor patrimonial, as acções que objectivem uma universalidade de facto, bens móveis ou imóveis sitos em diferentes circunscrições, mas se o prédio objecto da acção se situar em mais de uma circunscrição, pode a acção ser proposta em qualquer delas (art. 11º-2); c) - no Julgado em que a obrigação deveria ser cumprida, ou no do domicílio do réu, quando se trate de acções para exigência de cumprimento de obrigações ou para exigência de indemnização pelo não cumprimento ou por cumprimento defeituoso, ou para resolução de contrato por falta de cumprimento (art. 12º-1); d) - no Julgado do lugar onde o facto ocorreu, para acções destinadas a exigir indemnização por responsabilidade civil emergente de facto ilícito ou de risco (art. 12º-2); e) - se o réu for pessoa colectiva, é competente o Julgado da sede principal ou de sucursal, agência, filial, delegação ou representação, conforme a acção seja intentada contra a primeira ou contra qualquer das demais (art. 14º); f) - regra supletiva - para os casos não previstos como atrás, é competente o Julgado de Paz do domicílio do réu, a menos que este seja incerto ou ausente ou domiciliado no estrangeiro, casos em que será competente o do domicílio do autor; se este residir no estrangeiro, é competente Julgado de Paz de Lisboa (art. 13º).

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PROCESSO

As partes têm de comparecer pessoalmente e podem fazer-se acompanhar por Advogado, Advogado-estagiário ou Solicitador, assistência que é obrigatória quando a parte seja cega, surda, muda, analfabeta, não souber falar português ou esteja em posição de manifesta inferioridade (art. 38º-1). É obrigatória a constituição de Advogado na fase de recurso, se a houver (art. 38º-2). Tem aplicabilidade o regime do apoio judiciário (art. 40º). I - O processo inicia-se com a apresentação do requerimento inicial na secretaria do Julgado, verbalmente ou por escrito, em formulário próprio, com (art. 43º): - nome e domicílio do autor - nome e domicílio do réu; - exposição sucinta dos factos; - formulação do pedido; - indicação do valor da causa. Se o requerimento inicial for verbal, o funcionário deve reduzi-lo a escrito no formulário. No acto da apresentação na secretaria esta cobra a taxa de justiça. II - Se o réu estiver presente, pode desde logo apresentar a sua contestação que conterá os elementos exigidos para o requerimento inicial, nas partes aplicáveis. III - Se o réu não estiver presente na altura da apresentação do requerimento inicial, será citado pela Secretaria para que tome conhecimento de que lhe foi instaurado um processo, enviando-se-lhe cópia daquele requerimento (art. 45º-1) e advertindo-se-lhe quanto à data da sessão de pre-mediação, quanto ao prazo para contestar e quanto a cominações em caso de revelia (nº. 2); IV - a citação faz-se por via postal ou pessoalmente e pelo funcionário e não é admissível a citação edital (art. 46º-1 e 2); V - a contestação também pode ser apresentada por escrito ou verbalmente, sendo, neste caso, reduzida a escrito pelo funcionário, e no prazo de 10 dias a contar da citação (art. 47º-1); não é permitida reconvenção a não ser para compensação ou para exigir direito a benfeitorias ou a reembolso de despesas feitas com a coisa cuja entrega está a ser exigida ao réu (art. 48º); VI - o Autor é imediatamente notificado da apresentação da contestação assim como da data designada para a sessão de pre-mediação, se o não tiver sido já (art. 47º-3); VII - tem lugar sessão de pre-mediação se alguma das partes não tiver afastado essa possibilidade (art. 49º), que se destina a explicar às partes em que consiste a mediação e a explorar acerca de possibilidade de acordo (art. 50º); VIII - segue-se a fase de mediação, escolhendo as partes mediador dentro dos constantes de lista anexa à Lei (art. 51º);

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IX - se alguma das partes faltar à sessão de pre-mediação ou à mediação mesmo em segunda marcação, o processo segue para julgamento a realizar em 10 dias (art. 54º); X - as partes apresentam as provas até ao dia designado para a audiência de julgamento, sendo que, quanto a testemunhas, não poderão indicar mais que cinco, e estas não serão notificadas (art. art. 59º); XI - a sentença é proferida em audiência, reduzida a escrito e logo notificada às partes pessoalmente antes do encerramento da audiência (art. 60º); XII - as decisões proferidas têm o valor de sentença proferida por tribunal de 1ª Instância (art. 61º); XIII - se a causa tiver valor que exceda metade do valor da alçada da 1ª Instância, da sentença cabe recurso para o Tribunal de Comarca ou para o tribunal de competência específica que for o competente, em que esteja sediado o Julgado de Paz, recurso que tem efeito meramente devolutivo e segue o regime da apelação (art. 62º - desapareceu o recurso de agravo); XIV – com a apresentação das alegações de recurso anexa-se o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça devida, paga em auto-liquidação.

COMPETÊNCIA ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Dec.-Lei nº. 272/01, de 13 de Outubro, veio atribuir competência exclusiva ao Ministério Público quanto a: a) - suprimento do consentimento com fundamento em incapacidade ou ausência da pessoa, a não ser quando seja do Conservador do Registo Civil a competência, nos termos do disposto no art. 1604º-a) do Cód. Civil (falta de autorização dos pais ou do tutor para casamento de nubente menor); b) - autorização para a prática de actos pelo representante legal de incapaz, quando exigida por lei, a não ser quando esteja em causa autorização para outorga em partilha extrajudicial e o legal representante concorra à sucessão com o seu representado e ainda quando se trate de caso em que o pedido de autorização seja dependente de processo de inventário ou de interdição; c) - autorização para a alienação ou oneração de bens do ausente, quando lhe tenha sido deferida a curadoria provisória ou definitiva; d) - confirmação de actos praticados sem a necessária autorização pelo representante do incapaz (art. 2º); e) - decisões relativas a pedidos de notificação do representante legal para providenciar quanto a aceitação ou rejeição de liberalidades a favor de incapaz (art. 4º-1).

COMPETÊNCIA TERRITORIAL

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As pretensões são formuladas perante o magistrado do Ministério Público: a) - junto do tribunal onde teve lugar a nomeação do representante, quando tenha havido nomeação judicial; b) - junto do tribunal onde tenha corrido o processo de curadoria para as autorizações de alienação ou de oneração de bens do ausente: c) - junto do tribunal de 1ª Instância competente em razão da matéria, no âmbito da circunscrição da residência do representante (art. 3º-1).

PROCESSO

a) - com a petição formula-se o pedido, são apresentados os fundamentos de facto e de direito, junta-se a prova documental e requerem-se as demais provas pertinentes; b) - procede-se à citação e a oposição é deduzida no prazo de 15 dias; c) - o Ministério Público decide depois de produzidas as provas que admitir, de concluídas outras diligências que entenda necessárias e de ouvir o Conselho de Família quando o seu parecer for obrigatório; d) - em 10 dias, contados da notificação da decisão, o requerente ou o oponente poderão requerer a reapreciação da pretensão junto do tribunal (art.3º-2 a 6).

COMPETÊNCIA ESPECIAL DO CONSERVADOR DO REGISTO CIVIL

O Cód. do Registo Civil aprovado pelo Dec.-Lei nº. 131/95, de 6 de Junho, cometera ao Conservador do Registo Civil competência para homologar divórcios por mútuo consentimento nos quais não houvesse, ou já não houvesse, que providenciar quanto a regulação do exercício do poder paternal. O processo respectivo está regulado nos arts. 271º e segs. desse diploma, sendo que a petição é instruída com os seguintes elementos documentais: a) - assento do registo de casamento; b) – assentos de nascimento de filhos; c) - certidão da sentença que procedeu à regulação do exercício do poder paternal, se houver filhos menores, ou acordo sobre esse exercício se não houve já regulação judicial (alteração introduzida pelo Dec.-Lei nº. 272/01, art. 14º-2, cf. adiante); d) - acordo sobre alimentos entre os cônjuges; e) - certidão de convenção ante-nupcial, se a houver; f) - acordo quanto ao destino da casa de morada da família; g) – relação especificada dos bens comuns, com a indicação dos valores dos bens. O Dec.-Lei nº. 272/01, atrás citado, veio atribuir ao Conservador do Registo Civil mais as seguintes competências não exclusivas (art. 5º):

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a) - pedidos de alimentos para filhos maiores ou emancipados; b) - pedidos de atribuição da casa de morada da família; c) - privação do direito ao uso dos apelidos do outro cônjuge; d) - autorização de uso dos apelidos do ex-cônjuge, - todos desde que não tenham sido cumulados com outros pedidos no âmbito da mesma acção judicial, nem sejam incidente ou dependência de acção que esteja pendente - e) - conversão de separação judicial de pessoas e bens em divórcio. E as seguintes competências exclusivas (art. 12º): f) - reconciliação dos cônjuges separados; g) - separação e divórcio por mútuo consentimento, fora dos casos resultantes de acordo obtido no âmbito de separações ou divórcios litigiosos; h) - declaração de dispensa do prazo inter-nupcial.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL

a) - a da área da residência do requerido, quanto a a), c) e d); b) - a da área da situação da casa de morada da família, quanto a b); c) - a da área da residência de qualquer dos cônjuges, ou outra por ambos escolhida, quanto a e), f) e g) - (arts. 6º e 12º-2); d) - a da Conservatória competente para a organização do processo de publicações para o casamento da requerente, quanto a h) (art. 12º-3).

PROCESSOS

a) - o pedido é apresentado por requerimento com fundamentação de facto e de direito, logo com a indicação das provas e junta a prova documental; b) - o requerido é citado e pode apresentar a sua oposição no prazo de 15 dias, com ela oferecendo logo a prova e juntando a prova documental adequada; c) - se não for deduzida oposição e devendo considerar-se confessados os factos aduzidos no requerimento inicial, verificados os pressupostos legais, o Conservador declara a procedência do pedido; d) - se houve oposição, o Conservador designa tentativa de conciliação, que deverá realizar-se em 15 dias; e) - o Conservador pode mandar proceder à prática de actos e à produção de prova necessária à verificação dos pressupostos legais (art. 7º); f) - se houve oposição e não há possibilidade de acordo, as partes são convidadas a, em 8 dias, alegarem e requererem a produção de novos meios de prova; g) - o processo é, seguidamente, remetido ao tribunal judicial de 1ª Instância competente em razão da matéria dentro da circunscrição a que pertença a Conservatória (art. 8º); h) - aqui, o Juiz ordena a produção de prova e marca a audiência de julgamento com observância da disciplina das regras gerais dos

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processos de jurisdição voluntária (art. 9º e arts. 1409º a 1411º do Cód. Proc. Civil); i) - das decisões do Conservador do Registo Civil cabe recurso para o tribunal judicial de 1ª Instância dentro do prazo de 10 dias a contar da notificação delas (art. 10º); j) - nos casos de separação ou de divórcio por mútuo consentimento em que seja apresentado acordo dos progenitores sobre regulação do exercício do poder paternal, o processo vai ao visto do Ministério Público junto do tribunal judicial de 1ª Instância competente, para que ele se pronuncie sobre o acordo gizado, no prazo de 30 dias (art. 14º-4); l) - se o Ministério Público não concordar com o acordo, os requerentes poderão alterá-lo em conformidade e há nova vista àquele (nº. 5); m) - se os requerentes não concordarem com as alterações ao acordo impostas pelo Ministério Público, o processo é remetido ao tribunal da comarca a que pertença a Conservatória (nº. 7), para decisão; n) - estando tudo em ordem, o Conservador convoca os requerentes para uma conferência na qual procurará reconciliá-los e, caso eles mantenham o propósito de se separarem ou divorciarem, verificados os pressupostos legais, o Conservador decreta a separação ou o divórcio e procede-se ao correspondente registo (nºs. 3 e 6).

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ACESSO AO DIREITO

Mostra-se consagrado o acesso ao direito e aos tribunais na Constituição da República (art. 20º), princípio reafirmado no art. 7º da Lei nº. 3/99, de 13 de Janeiro (Lei Orgânica): não pode ser denegada a justiça por insuficiência de meios económicos. É na Lei nº. 34/2004, de 29 de Julho, com as alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº. 47/2007, de 28 de Agosto, que se encontra regulado o referido acesso. Tal Lei transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva nº. 2003/8/CE, do Conselho, de 27 de Janeiro de 2004, relativa à melhoria do acesso à justiça nos litígios transfronteiriços. A mencionada Lei foi regulamentada pela Portaria nº. 1085-A/2004, de 31 de Agosto (que definiu os critérios de prova e de apreciação da insuficiência económica), pela nº. 10/2008, de 3 de Janeiro (que, além do mais, disciplina a intervenção de profissionais do direito no esquema do acesso ao direito e sua remuneração) e veio a ser alterada pela nº. 210/2008, de 29 de Fevereiro, e a nº. 11/2008, da mesma data (que aprovou novos formulários de requerimento de protecção jurídica). O acesso ao direito e à justiça é conceito que se desdobra em dois aspectos: - a informação jurídica (arts. 4º e 5º) - papel do Estado, através do Ministério da Justiça, na divulgação pública do direito e do ordenamento legal, mediante eventuais protocolos a celebrar por ele com as entidades interessadas; e - a protecção jurídica (arts. 6º e segs.) - que, por sua vez, se desdobra em: - consulta jurídica (arts. 14º e seg.) - feita pelo Ministério da Justiça em cooperação com a Ordem dos Advogados e com as autarquias locais interessadas.

Pode ser prestada em gabinetes de consulta jurídica e em escritórios de advogados que sejam participantes no sistema de acesso ao direito (Portaria nº. 10/08, art. 1º-2).

A nomeação de advogados para a prestação de consulta jurídica é feita pela Ordem dos Advogados a pedido dos Serviços de Segurança Social (art. 1º-3) e é devido o pagamento de uma taxa de € 30,00, cujo pagamento se faz na Caixa Geral de Depósitos ou, através do sistema electrónico, a favor do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça (art. 1º-4 e 5).

- apoio judiciário (arts. 16º e segs.; Portaria nº. 10/08, arts. 2º e segs.) - que tem a cooperação da Ordem dos Advogados ao nível da designação de patronos oficiosos, sem prejuízo das nomeações a que, em sede de processo penal, sejam feitas pelo Ministério Público em casos de diligências de carácter urgente (Portaria, art. 3º). As nomeações são sempre comunicadas à Ordem dos Advogados. Para candidatura de profissionais do foro à prestação de serviços no esquema do acesso ao direito, os candidatos devem optar por (art. 18º-1):

a) – lotes de processos;

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b) – nomeação isolada para processos; c) – lotes de escalas de prevenção; d) – designação isolada para escalas de prevenção; e) – designação para consulta jurídica.

A PROTECÇÃO JURÍDICA

A - CONCESSÃO

É concedida para as questões e causas, deflagradas ou a intentar, nas quais o interessado tenha um interesse próprio (art. 6º-2). Quando se trate de litígio transfronteiriço, em que os tribunais competentes pertençam a outro Estado da União Europeia (UE), abrange ainda o apoio pre-contencioso e os encargos específicos que decorram do carácter transfronteiriço do litígio (nº. 4). Pode ser concedida a todos os cidadãos nacionais e da UE, assim como a estrangeiros e apátridas com título de residência válido num Estado membro da UE, os quais demonstrem ter insuficiência económica (art. 7º-1). Os estrangeiros sem título de residência válido em Estado da UE terão direito a protecção jurídica na medida em que tal direito seja atribuido aos Portugueses nos seus Estados (nº. 2). Quanto a pessoas colectivas, se tiverem fins lucrativos, não terão direito a protecção jurídica, assim como não o têm os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada (nº. 3); se aquelas não tiverem fins lucrativos, apenas poderão ter direito a protecção jurídica na modalidade de apoio judiciário e desde que façam prova da sua insuficiência económica (nº. 4). Não pode ser concedida a protecção jurídica a quem tenha alienado ou onerado todos ou parte dos seus bens para se colocar em condições de a obter (art. 7º-5). Quanto a cessionários do direito ou do objecto controvertido, e relativamente ao apoio judiciário, este não poderá ser-lhes concedido quando a cessão tenha sido realizada com o propósito de o obter (idem). Há isenção de impostos, de emolumentos e de taxas quanto a requerimentos, certidões e outros documentos que sejam pedidos para instruir pedido de protecção jurídica (art. 9º).

B – REVOGAÇÃO

A protecção jurídica será retirada, no seu todo ou quanto a alguma das suas modalidades, oficiosamente, pelos serviços da segurança social, ou a requerimento do Ministério Público, da Ordem dos Advogados, da parte contrária, do patrono ou do solicitador de execução nomeados (art. 10º-1 e 3): a) – se o beneficiário, ou o seu agregado familiar, vieram a adquirir meios que lhe permitam dispensá-la; b) – quando se prove, através de novos documentos, a insubsistência das razões pelas quais ela fora concedida;

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c) – se os documentos com base nos quais ela foi concedida forem declarados falsos por decisão transitada em julgado; d) – se, em recurso, veio a ser confirmada a condenação do beneficiário como litigante de má fé; e) – se, em procedimento cautelar de alimentos provisórios, for atribuída ao requerente uma quantia para custeio das despesas da demanda; f) – se o beneficiário na modalidade de pagamento faseado não pagar uma prestação e assim se mantiver mesmo depois de ter sido notificado para pagá-la com multa equivalente à prestação não paga. O beneficiário da protecção jurídica será sempre ouvido antes de ser proferida decisão de revogação (arts. 10º-4 e 23º-1). Se, notificado, nada disser, a proposta é automaticamente convertida em decisão definitiva, de revogação ou de indeferimento, total ou parcial (art. 23º-2 e 3). Relativamente a a), o beneficiário deverá, logo que o facto se verifique, declarar que já se encontra em condições de dispensar a protecção jurídica, em alguma ou em todas as suas modalidades, pois, não o fazendo, ficará sujeito às sanções próprias da litigância de má fé (art. 10º-2). A decisão de revogação é comunicada ao tribunal competente e à Ordem dos Advogados ou à Câmara de Solicitadores, consoante os casos (nº. 5). Tal decisão é susceptível de impugnação judicial, como adiante se explicará (art. 12º).

C – CADUCIDADE

A protecção jurídica caduca (art. 11º-1): a) – com o falecimento da pessoa singular ou com a extinção ou dissolução da pessoa colectiva beneficiárias, a não ser que os sucessores na causa, em incidente de habilitação, juntem cópia de requerimento seu de apoio judiciário e este lhes venha a ser deferido; b) – decorrido o prazo de um ano após a sua concessão, sem que tenha sido prestada consulta ou sem que tenha sido instaurada a acção pretendida, por razão imputável ao requerente. A decisão que verifique a caducidade é susceptível de impugnação judicial, como adiante se explicará (art. 12º).

D – REEMBOLSOS

Se se vier a verificar que o beneficiário da protecção jurídica já tinha, à data do pedido que formulou, ou veio a adquirir no decurso da causa ou dentro dos quatro anos após o termo dela, meios económicos suficientes para poder pagar honorários, despesas, custas, imposto, emolumentos, taxas e outros quaisquer encargos de que estivera isento, o Ministério Público ou outro qualquer interessado instaurará acção para cobrança dessas importâncias (art. 13º-1). Tal acção segue a forma sumaríssima e o juiz pode condenar no próprio processo, precedendo parecer a ser por ele pedido à segurança social, quando, neste, o beneficiário obteve vencimento, total ou parcial, a menos que o que, pela sentença, obtenha não possa ser tido em conta na apreciação da insuficiência económica (nºs. 2, 3 e 4).

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1 - CONSULTA JURÍDICA

Tem que ver com o aconselhamento e orientação técnicos das pessoas com carências económicas que afluem aos locais previamente definidos como gabinetes de consulta para atendimento gratuito. Compreende ainda a realização de diligências extra-judiciais que directamente decorram do conselho jurídico dado ou que sejam necessárias para o devido esclarecimento da questão colocada (nº. 2). É prestada por advogados em gabinetes de consulta jurídica ou em escritórios de advogados que tenham aderido ao sistema de acesso ao direito (art. 15º-1), ou por outras entidades sem fins lucrativos, públicas ou privadas, protocoladas para esse efeito, com a Ordem dos Advogados (nº. 5)

2 – APOIO JUDICIÁRIO

Reveste as seguintes modalidades e pode ser requerido apenas quanto a uma delas ou quanto a mais que uma (art. 16º-1): - dispensa de pagamento das taxas de justiça e demais encargos com o processo (alínea a); - nomeação e pagamento de compensação de patrono (b); - pagamento de remuneração de defensor oficioso (c); - pagamento faseado de taxas de justiça e demais encargos com o processo, e de compensações de patrono ou de defensor oficioso (d) a f)); - atribuição de agente de execução (g). Na modalidade de pagamento faseado não são exigíveis as prestações que se vençam volvidos quatro anos a partir do trânsito em julgado da decisão final sobre a causa (art. 16º-3). Esta modalidade, por outro lado, é incompatível com o patrocínio pelo Ministério Público como previsto do Cód. Proc. Trabalho (art. 11º-2). E não se aplica aos casos em que o requerente seja pessoa colectiva (art. 16º-6). Em geral: - a) - o apoio judiciário aplica-se a todos os tribunais e aos julgados de paz, noutras estruturas de resolução alternativa de litígios definidas por Portaria, seja qual seja a forma do processo, assim como, com as devidas adaptações, a processos de contra-ordenações e aos processos de divórcio por mútuo consentimento que corram nas Conservatórias do Registo Civil (art. 17º). - b) – o procedimento de protecção jurídica na modalidade de apoio judiciário é autónomo quanto à causa a que respeite, não tendo, em regra, nenhuma repercussão no andamento dessa causa (art. 24º-1, ver adiante excepções).

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- c) – o apoio judiciário é concedido independentemente da posição processual que o seu requerente ocupe na causa, tenha ou não tenha sido já concedido à parte contrária (art. 18º-1). - d) - pode ser requerido em qualquer estado da causa (sem prejuízo do que vai dito adiante em Iniciativa – b)), e, concedido, mantém-se para efeitos de recurso, qualquer que tenha sido a decisão da causa, e é extensivo a todos os processos que se tramitem por apenso à causa respectiva (art. 17º-2), e vice-versa. - e) – estende-se ainda às execuções baseadas na sentença proferida no processo em que ele foi concedido (nº. 5). - f) – se um processo for desapensado por decisão com trânsito, mantém-se o apoio concedido, devendo ser-lhe junta, oficiosamente, certidão da decisão que concedeu o apoio (nº. 7). - g) – se, com decisão transitada, vier a ser declarada a incompetência relativa do tribunal, mantém-se a concessão do apoio judiciário, mas a decisão será notificada ao patrono oficioso para que este se pronuncie sobre a manutenção ou a escusa do patrocínio (nº 6). - h) – a prova da entrega do requerimento de protecção jurídica no serviço de segurança social faz-se ou por exibição ou entrega da sua cópia com carimbo da recepção, ou por qualquer meio idóneo de certificação mecânica ou electrónica da recepção nesse serviço, quando ele foi enviado por tele-cópia ou por correio electrónico (art. 22º-6). - i) - os encargos decorrentes da concessão do apoio judiciário são incluídos na conta de custas a final, quando haja processo judicial (art. 36º-1) - o que se afigura iníquo: a parte vencida, v. gr., vai suportar os honorários da vencedora que tenha litigado sob patrocínio oficioso. Iniciativa: - a) - o pedido de apoio judiciário pode ser formulado ainda antes da propositura de acção ou de intervenção do requerente como parte, em acção que tenha sido contra ele intentada. - b) – o apoio judiciário deve ser requerido antes da primeira intervenção processual do requerente (art. 18º-2), a não ser que: 1 – seja superveniente a situação de insuficiência económica; 2 – em virtude do decurso do processo, ocorra um encargo excepcional (idem). - c) – nos casos referidos em b) o apoio judiciário deve ser requerido antes da primeira intervenção processual após o conhecimento da respectiva situação (nº. 2) e, requerido que seja, suspende-se o prazo de pagamento da taxa de justiça e demais encargos com o processo até decisão definitiva do pedido de apoio (nº. 3), ou interrompe-se o prazo se tal pedido envolver a nomeação de patrono. - d) - o pedido de apoio judiciário pode ser feito pelo directo interessado, pelo Ministério Público em sua representação,

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por advogado ou por advogado-estagiário ou por solicitador em sua representação, o que é bastante para comprovar a representação (art. 19º). - e) – o pedido é formulado em modelo aprovado pela Portaria nº. 1085-B/2004 (art. 22º-2). - f) - pode ser apresentado em qualquer serviço de atendimento ao público dos serviços de segurança social (art. 22º-1), pessoalmente, por tele-cópia, por via postal ou por transmissão electrónica, aqui mediante o preenchimento do respectivo formulário digital, acessível por ligação e comunicação informática (art. 22º-2). - g) – quando seja apresentado por via postal, o serviço que o receba enviará ao requerente uma cópia com o carimbo de entrada (art. 22º-3). - h) – o pedido de concessão de apoio judiciário deve especificar a modalidade ou as modalidades de apoio que o interessado pretende (art. 22º-4). O que deve ser alegado e junto: - a) – deve ser indicado o rendimento anual líquido do agregado familiar, quanto a pessoa singular, o número de trabalhadores e o património quanto a pessoa colectiva ou equiparada (Portaria nº. 1085-B/2004). - b) – deve ser descrito o agregado familiar (idem). - c) – quanto a pessoa singular, devem inventariar-se os bens de que seja proprietária, com seus valores de aquisição, e enumerar-se os encargos do requerente (idem). - d) – quanto a pessoa colectiva ou equiparada, deve ser indicado o seu activo e o seu passivo (idem). - e) – devem juntar-se com o formulário do requerimento:

I – Pessoas singulares:

1 – cópia da última declaração de rendimentos apresentada para efeitos do IRS (Portaria nº. 1085-A/2004, art. 3º-1); 2 – cópias dos recibos de vencimentos de salários emitidos pela entidade patronal nos últimos seis meses, do requerente e das pessoas do seu agregado familiar (idem, art. 3º-2-a); 3 – cópias das declarações apresentadas de IVA dos dois últimos trimestres e dos documentos comprovativos do respectivo pagamento (idem, b); 4 – se o requerente for trabalhador independente, cópias dos recibos por si emitidos nos últimos seis meses (idem); 5 – documento comprovativo do valor actualizado de qualquer prestação social de que beneficie e se não inclua no sistema de segurança social português (idem, c); 6 – declaração de inscrição no Centro de Emprego (idem, d); 7 – cópias actualizadas das cadernetas prediais ou certidão emitida pelo serviço de finanças (idem, art. 4º-1-a);

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8 – quanto a valores mobiliários, documento comprovativo do valor da sua cotação no dia anterior ou cópia do documento que titulou a respectiva aquisição (idem, b); 9 – cópia do livrete e do registo de propriedade, quanto a automóveis (idem, c); 10 – cópia de contrato de arrendamento da casa de morada da família ou do último recibo da renda paga (idem, art. 5º-a); 11 – documento comprovativo do pagamento da última prestação quanto a empréstimo para aquisição de casa de morada da família (idem, b).

II – Pessoas colectivas ou equiparadas:

1 – cópia da última declaração de rendimentos para efeitos do IRC ou do IRS, consoante os casos (cit. Portaria, art. 14º-a); 2 – cópias das declarações de IVA dos últimos 12 meses e documentos comprovativos do seu pagamento (idem, b); 3 – cópias dos documentos de prestação de contas dos 3 últimos exercícios findos ou dos exercícios findos desde a constituição da pessoa colectiva (idem, c). Processo: - a) – a competência para decidir sobre pedido de concessão de protecção jurídica é do dirigente máximo dos serviços de segurança social da área da residência ou da sede do requerente (art. 20º-1). - b) – se o requerente não tiver domicílio em território nacional, a competência cabe ao dirigente máximo do serviço de segurança social onde tiver sido entregue o requerimento (nº. 2). - c) – há lugar à audiência prévia do requerente quando esteja proposta uma decisão de indeferimento, nos termos do Código do Procedimento Administrativo (art. 23º). - d) – o prazo para conclusão do procedimento administrativo e decisão quanto ao pedido de protecção jurídica é de 30 dias, contínuo, que não se suspende em férias judiciais e, se terminar em dia no qual os serviços de segurança social estejam encerrados, o seu termo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte (art. 25º-1). - e) – decorrido tal prazo sem que tenha sido proferida decisão, o pedido considera-se tacitamente deferido (nº. 2), o que deve ser confirmado junto dos serviços da Segurança Social pelo tribunal ou pela Ordem dos Advogados, devendo os ditos serviços responder no prazo máximo de dois dias úteis (nº. 4). - f) – a decisão final é notificada ao requerente e, quando o pedido tenha envolvido designação de patrono, também ao Conselho Distrital da OA (art. 26º-1). - g) – quando o pedido de apoio judiciário tiver sido apresentado na pendência de causa, a decisão final é notificada ao tribunal em que a causa pende e, através do mesmo tribunal, notificada à parte contrária, e, se estiver em causa nomeação de patrono, o tribunal deve solicitar à Ordem dos Advogados que faça nomeação de patrono (art. 25º-3-a).

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- h) – se o pedido não tiver sido apresentado na pendência da causa e estiver em causa a nomeação de patrono, cabe ao interessado pedir a nomeação à Ordem dos Advogados (b). - i) – a decisão sobre o pedido de protecção jurídica não admite nem recurso hierárquico ou tutelar, nem reclamação, mas é susceptível de impugnação judicial, por escrito, que não precisa de ser articulada e só admite prova documental, que pode ser requerida através do tribunal (arts. 26º-2 e 27º-2), impugnação para a qual têm legitimidade o requerente e a parte contrária (arts. 26º-3 e 27º-1). - j) – a impugnação pode ser intentada, directamente pelo interessado, mesmo sem advogado, e deve ser apresentada no serviço de segurança social que apreciara o pedido (art. 27º-1). - l) – a impugnação não tem efeito suspensivo, pelo que, se já tiver sido proferida decisão negativa pelo serviço da segurança social, relativamente ao pedido de concessão de apoio judiciário, o requerente terá de pagar o que seja devido, desde a data em que lhe foi comunicada tal decisão, sem prejuízo do ulterior reembolso das quantias pagas como resultado de procedência daquela impugnação (art. 29º-5-c). - m) – é deduzida no prazo de 15 dias a contar do conhecimento da decisão impugnada (art. 27º-1). - n) – o serviço de segurança social dispõe do prazo de 10 dias a contar do recebimento da impugnação, para revogar a decisão impugnada ou para, se a mantiver, enviar a impugnação, com cópia autenticada do processo administrativo, ao tribunal competente (nº. 3). - o) – o tribunal competente para apreciação da impugnação judicial é o da comarca na qual tem sede o serviço de segurança social que proferiu a decisão impugnada, ou será o da causa quando o pedido de protecção jurídica tenha sido deduzido na pendência de causa (art. 28º-1). - p) – a impugnação é distribuída, quando for caso disso, e logo conclusa ao juiz para decisão, que profere através de despacho concisamente fundamentado, concedendo-lhe provimento, caso em que especificará as modalidades e a concreta medida do apoio concedido, ou recusando-lho, neste caso com fundamento em extemporaneidade ou em manifesta inviabilidade do pedido (nº. 4 e art. 29º-1). - q) – aplicam-se à contagem dos prazos processuais as regras do Cód. Proc. Civil (art. 38º). - r) – aplica-se supletivamente o Cód. do Proced. Administrativo (art. 37º). Critérios de prova e de apreciação: - a) – o rendimento relevante, para efeitos de protecção jurídica (Yap), expressa-se em múltiplos do indexante de apoios sociais (Anexo, I-2).

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- b) – o Yap é o montante que resulta da diferença entre o valor do rendimento líquido completo do agregado familiar (Yc) e o valor da dedução relevante para efeitos de protecção jurídica (A), portanto, Yap = Yc-A (nº. 1). - c) – Yc é o resultado da soma do valor da receita líquida do agregado familiar (Y) com a renda financeira implícita calculada com base nos activos patrimoniais do agregado familiar (Yr), ou seja Yc = Y+Yr (Anexo, II-1). - d) – Y é o rendimento depois de deduzido o imposto sobre o rendimento, das contribuições obrigatórias dos empregados para regimes da segurança social e das contribuições dos empregadores para a segurança social (nº. 2). - e) – A resulta da soma do valor da dedução de encargos com necessidades básicas do agregado familiar (D) com o montante da dedução de encargos com a habitação do agregado familiar (H), portanto A = D+H (Anexo, III-1). - f) – os valores das prestações previstas para as modalidades de pagamento faseado são, em princípio, os seguintes (art. 16º-2):

a) – 1/72 do valor anual do rendimento relevante, se este for igual ou inferior a uma vez e meia o valor do indexante de apoios sociais;

b) – 1/36 daquele valor, se ele for superior a essa uma vez e meia.

Efeitos:

I – ANTES DE PROPOSITURA DE CAUSA

a) - nos casos de protecção jurídica nas modalidades de dispensa total ou parcial de taxas e de encargos, ou de pagamento faseado, o autor da acção ou o exequente na execução deverão juntar à sua petição o documento comprovativo da concessão dela, expresso ou tácito, o que, desde logo, dispensa os pagamentos (arts. 24º-3 e 29º-5).

b) – para situações de carácter urgente (procedimentos cautelares e quando o direito esteja em risco de se extinguir, o que deve ser invocado e explicado), a Secretaria aceitará receber a petição acompanhada de duplicado do requerimento do pedido de concessão da protecção jurídica em modalidade que implique dispensa de pagamento de encargos ou faseamento do pagamento, o que, desde logo, dispensa a exigência dos pagamentos (art. 29º-2).

c) – quando houver decisão desfavorável à pretensão, o

requerente disporá do prazo de 10 dias, contado a partir da notificação dela, para efectuar o pagamento de que ficara provisoriamente dispensado (arts. 24º-3 e 29º-5-c), sob a cominação prevista no art. 467º-5 do Cód. Proc. Civil (nº. 3 – desentranhamento da petição inicial, a não ser quando o indeferimento do pedido de apoio judiciário só foi notificado ao autor já depois da citação do réu).

d) – se o pedido de concessão de apoio judiciário não tiver

sido apresentado na pendência da causa é ao interessado a quem incumbe a obrigação de solicitar a nomeação do patrono (art. 25º-3-b).

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II – NA PENDÊNCIA DE CAUSA

a) – depois de formulado o pedido de concessão de apoio judiciário junto dos serviços de segurança social, ou de obtido, em modalidade que tenha apenas que ver com pagamentos de encargos com o processo, deve ser apresentado o duplicado desse pedido juntamente com o acto com o qual deveriam apresentar o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça (art. 29º-2).

b) – se o pedido de concessão de apoio judiciário for deduzido na pendência de causa e envolver a nomeação oficiosa de patrono, o tribunal da causa pendente solicitará à Ordem dos Advogados que nomeie patrono (art. 25º-3-a). c) - quando a formulação do pedido de apoio judiciário envolva a nomeação de patrono, interrompe-se o decurso de prazo que estiver a correr com a junção aos autos do documento comprovativo da apresentação do seu requerimento (art. 24º-4), voltando este a correr, mas de novo, a partir da notificação ao patrono nomeado da sua designação ou a partir da notificação ao requerente da decisão de indeferimento do seu pedido de nomeação de patrono (art. 24º-5). d) – o mesmo efeito dito em c) ocorre quando surja um pedido de escusa do patrono nomeado na pendência da causa (art. 34º-2 e 3). e) – nos casos em que esteja em causa apoio judiciário na modalidade de nomeação de patrono, na pendência da causa, o tribunal desta notificará o Conselho Distrital da OA para proceder à nomeação do patrono (art. 25º-3-a). f) – quando houver decisão desfavorável à pretensão de dispensa de pagamentos de encargos ou de faseamento do seu pagamento, o requerente deverá proceder ao pagamento do que ficara provisoriamente dispensado, no prazo de 10 dias a contar da notificação daquela decisão (arts. 24º-3 e 29º-5-c), sob a cominação prevista no art. 467º-5 do Cód. Proc. Civil.

ESPECIFICIDADES DA NOMEAÇÃO DE PATRONO

- a) – é à OA, através do Conselho Distrital competente, a quem compete a escolha e a nomeação de patrono segundo Portaria do Ministério da Justiça (arts. 30º-1 e 45º-2; Portaria nº. 10/2008, arts. 10º e segs.). - b) – quando a nomeação de patrono decorra de deferimento tácito de pedido de protecção jurídica, e não esteja pendente acção judicial, o interessado deve pedir a nomeação de patrono junto da segurança social para que esta, no prazo máximo de dois dias úteis, solicite a nomeação à OA (Portaria 10/08, art. 6º). - c) – se o mesmo facto der causa a mais que um processo, deverá, preferencialmente, nomear-se o mesmo patrono ou defensor oficioso ao beneficiário, desde que o profissional forense esteja inscrito para lotes de processos (arts. 7º-1 e 2 e 18º-1-a).

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- d) – a nomeação de patrono é notificada pelo Conselho Distrital da OA quer ao requerente quer ao patrono nomeado, àquele se comunicando a identificação e localização do escritório deste e se lhe sublinhando o dever de ao patrono dar toda a colaboração, sob pena de lhe ser retirado o apoio judiciário (Lei nº. 34/04, art. 31º-1 e 2). - e) – as notificações a que se alude em b) são feitas com advertência expressa de início de contagem de prazo judicial (nº. 1). - f) – quando o pedido de nomeação de patrono tenha sido formulado na pendência de causa (veja “Processo-Efeitos-II-b”), a notificação aludida em b) e c) é feita também ao tribunal (idem). - g) – o beneficiário pode requerer à Ordem dos Advogados a substituição do patrono nomeado, fundamentando a sua pretensão, e, no caso de tal lhe ser deferido, aplicam-se as regras da escusa do patrono (art. 32º; veja infra l) e segs.). - h) – o patrono que tenha sido nomeado para propositura de acção deve propor esta no prazo de 30 dias a contar da notificação da nomeação, prazo que poderá ser-lhe prorrogado pela OA a seu pedido fundamentado (art. 33º-1 e 2). - i) – se o patrono nomeado não propuser a acção no prazo terá de apresentar justificação dessa omissão junto da OA, e se o não fizer, ou se a justificação não for achada satisfatória, a OA notifica o Conselho de Deontologia do Conselho Distrital onde esteja inscrito o patrono para que proceda à apreciação de eventual responsabilidade disciplinar e promoverá a nomeação de novo patrono (nº. 3). - j) – a acção considera-se proposta na data em que foi apresentado o pedido de nomeação de patrono (nº. 4). - l) – o patrono pode pedir escusa junto do Presidente do Conselho Distrital da OA, em requerimento onde explique os motivos da escusa pretendida (art. 34º-1).

- m) – se o pedido de escusa for apresentado na pendência da causa, interrompe o prazo que nela estiver em curso com a junção aos autos, pelo patrono escusante, de requerimento no qual comunique e comprove a dedução de pedido de escusa (nºs. 2 e 3). - n) – a apreciação e deliberação sobre o pedido de escusa devem ter lugar no prazo de 15 dias e, sendo deferido, a OA procede imediatamente à nomeação de novo patrono a não ser quando o fundamento da escusa seja a inexistência de fundamento legal da pretensão, pois que, neste caso, pode recusar nova nomeação para o mesmo fim (nºs. 4 e 5). - o) – as regras de l) e segs. são aplicáveis aos casos de dedução de pedido de escusa com fundamento em circunstâncias supervenientes (nº. 6). - p) – o patrono nomeado pode substabelecer, com reserva, para diligência concreta, indicando logo o substabelecido (art.

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35º-1 e Portaria nº. 10/08, art. 17º-1), casos em que será da sua responsabilidade e remuneração do substituto (nº. 2).

ESPECIFICIDADES EM PROCESSO PENAL - a) – a nomeação de defensor ao arguido, sua dispensa ou substituição fazem-se nos termos do Cód. Proc. Penal e da Portaria do Ministério da Justiça (nº. 10/2008, de 3 de Janeiro), antecedidas da advertência de que ele tem o direito de constituir mandatário (art. 39º-1 e 2). - b) – o requerimento para concessão de apoio judiciário não afecta a marcha do processo (nº. 10). - c) – as funções de defensor oficioso cessam automaticamente quando o arguido constitua mandatário (art. 43º-1), e ele não pode aceitar mandato do mesmo arguido (nº. 2). - d) – o advogado nomeado defensor pode pedir dispensa sob fundamento em motivo justo (art. 42º-1), em requerimento que é dirigido à Ordem dos Advogados. - e) – esse pedido é decidido pela Ordem dos Advogados no prazo de 5 dias (art. 42º-2). - f) – em caso de urgência, o tribunal pode nomear outro defensor até que o Conselho Distrital da OA se pronuncie (nº. 5).

A INSUFICIÊNCIA ECONÓMICA

Encontra-se regulada no Anexo.

Critérios: a) – não tem condições objectivas para suportar qualquer

quantia com o processo, requerente cujo agregado familiar tenha rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica igual ou inferior a ¾ do indexante de apoios sociais – além do mais, deverá beneficiar da atribuição de agente de execução e de consulta jurídica gratuita (art. 8º-A-1-a).

b) – tem condições objectivas para custear uma consulta

jurídica sujeita ao pagamento prévio duma taxa, mas não dispõe de condições objectivas para suportar pontualmente as despesas do processo, requerente cujo agregado familiar tenha rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica superior a ¾ e igual ou inferior a duas vezes e meia o valor do indexante de apoios sociais – beneficiará de apoio judiciário nas modalidades de pagamento faseado e de atribuição de agente de execução (art. 8º-A-1-b).

c) – não tem insuficiência económica, requerente cujo

agregado familiar tenha rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica que seja superior a duas vezes e meia o valor do indexante de apoios sociais (art. 8º-A-1-c).

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O rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica é o correspondente à diferença entre o valor do rendimento líquido completo do agregado familiar e o valor da dedução relevante para efeitos da protecção jurídica (art. 8º-A-2). Pertencem ao mesmo agregado familiar os que vivem em economia comum com o requerente (nº. 3). Caso a entidade que deve decidir quanto a pedido de concessão de apoio judiciário entender que a aplicação dos critérios aludidos conduz a manifesta negação do acesso ao direito e aos tribunais, poderá, através de despacho especialmente fundamentado, que não admite delegação, decidir de maneira diferente (art. 8º-A-8).

PROTECÇÃO JURÍDICA EM CASOS DE LITÍGIOS TRANSFRONTEIRIÇOS

Após a transposição para a ordem jurídica portuguesa da Directiva nº. 2003/8/CE do Conselho, de 27 de Janeiro de 2004, foi publicado o Dec.-Lei nº. 71/2005, de 17 de Março, que entrou em vigor a 1 de Maio (art. 14º). Para o efeito deste diploma, entende-se que há “litígio transfronteiriço” quando, à data da apresentação do seu requerimento de protecção jurídica, o requerente tenha domicílio ou residência habitual num Estado membro da UE diferente do Estado membro do foro (art. 2º-2).

A – PARA ACÇÃO A INTENTAR EM PORTUGAL

Se o pedido de apoio judiciário for apresentado por interessado que resida noutro Estado da UE para acção em que seja competente tribunal português, esse apoio abrangerá ainda (art. 3º): - os serviços prestados por intérprete; - a tradução dos documentos necessários para o litígio;

- as despesas de deslocação das pessoas a ouvir, quando seja exigida a sua presença física na audiência por o tribunal entender que não poderão ser ouvidas satisfatoriamente através doutros meios.

B – PARA ACÇÃO A INTENTAR NOUTRO ESTADO DA UE

Nestes casos, a protecção jurídica abrange, também, o apoio pre-contencioso (art. 4º-1), o qual se destina a assegurar a assistência jurídica até à recepção do pedido de protecção no Estado membro do foro (art. 4º-2). Segue as regras da consulta jurídica. A protecção jurídica abrange os encargos de tradução do pedido dela, assim como dos documentos necessários se o requerente for pessoa singular e se trate de litígio transfronteiriço em matéria civil e comercial (art. 5º-2).

MODO DE PROCEDER

O requerimento de protecção jurídica e o requerimento para a sua transmissão são formulados em modelos aprovados pela Comissão Europeia, publicados no Jornal Oficial da UE (art. 11º-1).

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O pedido de apoio pre-contencioso é formulado em modelo aprovado nos termos do art. 22º-2 da Lei nº. 34/2004 (art. 11º-2). Os requerimentos e pedidos são dirigidos à autoridade nacional competente, que é a segurança social, entidade que tem a competência quer para transmitir, quer para receber, esses pedidos, através dos seguintes serviços (art. 6º-1):

- Instituto da Segurança Social, IP, no território continental; - Centro da Segurança Social, na Região Autónoma da Madeira; - Instituto da Acção Social, na Região Autónoma dos Açores.

À autoridade nacional compete (art. 6º-2): - auxiliar o requerente a certificar-se de que o seu pedido vai acompanhado de todos os documentos necessários à sua apreciação (art. 6º-3-a); - sempre que necessário, traduzir os pedidos e os seus documentos probatórios (art. 6º-3-b); - transmitir, no prazo de 15 dias a contar da data de apresentação do pedido (art. 9º-1), ou a contar da data de conclusão da tradução, quando a esta houve lugar (art. 9º-2), os pedidos de protecção jurídica apresentados por interessado residente em Portugal à autoridade do Estado membro do foro que seja o competente para a recepção (art. 6º-2-a); - receber, quando seja Portugal o membro do foro, os pedidos de protecção jurídica que tenham sido apresentados por residentes noutro Estado da UE, directamente ou através da autoridade competente para a transmissão dos pedidos nesse Estado (art. 6º-2-b); - prestar as informações pedidas pelos interessados quanto ao andamento do seu pedido de protecção jurídica (art. 6º-2-c).

Os pedidos devem ser redigidos em português ou em inglês, se vindos de residente noutro Estado da UE e para acção em que são os tribunais portugueses os competentes (art. 7º-1). Para situações contrárias, os pedidos podem ser redigidos em português, ou na língua oficial do Estado da UE competente para a acção, ou noutra das línguas das instituições comunitárias, ou ainda noutra língua que esse Estado indique como aceitável nos termos do art. 14º-3 da Directiva nº. 2003/8/CE (art. 7º-2). Nestes casos, se redigido em português, o pedido, se for apresentado junto da autoridade nacional de transmissão e recepção, será por esta traduzido, se necessário, para uma das referidas línguas (art. 7º-3). Conjuntamente com o pedido de protecção jurídica é remetido o requerimento para a sua transmissão, que deve ser redigido pela autoridade nacional de transmissão e recepção numa das línguas que se referiram (art. 9º-3). A autoridade nacional pode recusar a transmissão (art. 10º):

- quando manifestamente não exista litígio transfronteiriço segundo a lei (art. 10º-1-a); - quando manifestamente o pedido careça de fundamento (art. 10º-1-b); - quando o requerente não seja pessoa singular ou o litígio não respeite a matéria cível ou comercial (art. 10º-1-c);

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- se for Portugal o Estado do foro, se o pedido de protecção jurídica não estiver redigido em português ou em inglês (art. 10º-3).

A decisão de recusa pode ser judicialmente impugnável, aplicando-se à impugnação a disciplina dos arts. 27º e 28º da Lei nº. 34/2004 (art. 10º-2).

APRECIAÇÃO DO PEDIDO

Nos casos de litígio transfronteiriço em que os tribunais competentes do foro sejam doutro Estado da UE, que não Portugal, a competência para a decisão de concessão de apoio pre-contencioso cabe à entidade competente para decidir sobre a concessão de protecção jurídica como previsto na Lei nº. 34/2004 (art. 12º-2). Nos demais casos, a decisão cabe à autoridade competente do Estado membro do foro (art. 12º-1).

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A REFORMA PROCESSUAL

Consta do Dec.-Lei nº. 329-A/95, de 12 de Dezembro, com as alterações que lhe foram sendo introduzidas pelos Dec.-Lei nº. 180/96, de 25 de Setembro, Dec.-Lei nº. 375-A/99, de 20 de Setembro, Decs.-Lei nºs. 183/00 e 184/00, de 10 de Agosto, e Dec.-Lei nº. 38/03, de 8 de Março, a Lei nº. 30-D/00, de 20 de Dezembro, e ainda pelo Dec.-Lei nº. 303/07, de 24 de Agosto, e pelo Cód. das Custas Judiciais aprovado pelo Dec.-Lei nº. 224-A/96, de 26 de Novembro, com as alterações que lhe foram introduzidas pelos Decs.-Lei nºs. 320-B/00, de 15 de Dezembro, citado 38/03, este alterado pelo Dec.-Lei nº. 199/03, de 10 de Setembro, Dec.-Lei nº. 324/03, de 27 de Dezembro, e ainda de outros diplomas que nos lugares próprios serão referidos.

OS ACTOS PROCESSUAIS

Noção - actos que conduzem ao exercício dos direitos tutelados pela lei e promovem a sequência dos trâmites do respectivo processo. Têm de ser praticados nas oportunidades devidas e mediante a observância de prazos. Deverão revestir a forma que melhor corresponda ao fim que visam atingir (art. 138º-1). Mas podem ter de obedecer a modelos aprovados por entidade competente que, relativos a actos da secretaria, sejam considerados obrigatórios por disposição especial (art. 138º-2).

Não se praticam, porém (art. 143º):

- nos dias em que os tribunais estiverem encerrados, e - durante o período de férias judiciais, excepto

- actos praticados pelas partes através de tele-cópia ou de correio electrónico, que o podem ser em qualquer dia e independentemente da

abertura ou do encerramento dos tribunais (seu nº. 4 e art. 260º-A-1);

Excepto (art. 143º-2):

a) - citações

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b) - notificações c) - actos que visem evitar dano irreparável.

I - ACTOS DAS PARTES

É às partes a quem incumbe a iniciativa processual e, em regra, a promoção dos trâmites do processo.

A - Os PRAZOS

A-1 - Classificam-se:

a) - quanto à natureza, em:

- substantivos (art. 279º Cód. Civil); - adjectivos ou judiciais (art. 144º CPC).

b) - quanto à fonte (art. 144º-1), em:

- legais - marcados pela lei; - jurisdicionais - fixados por despacho do juiz.

c) - quanto aos efeitos (art. 145º), em:

- dilatórios - diferem para outra altura a possibilidade de prática do acto ou o início de contagem dum outro prazo (dilação) - art. 252º-A; - peremptórios - o seu decurso extingue o direito de praticar o acto.

Se a prazo dilatório se segue o decurso de um prazo peremptório, os dois tipos de prazos contar-se-ão como sendo um só prazo (art. 148º).

A-2 - Características do prazo judicial:

- é contínuo (art. 144º-1), pois:

a) - começa a correr independentemente de assinação ou outra formalidade,

b) - corre seguido, embora

c) - se suspenda:

- durante as férias judiciais, salvo se - a sua duração for igual ou superior a 6 meses;

- se tratar de actos a praticar em processos que a lei considere urgentes.

d) - na contagem de um prazo não se inclui nem o dia nem a hora em que tenha ocorrido o evento a partir do qual o prazo começa a correr (Cód.

Civil, art. 279º-b).

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e) - quando um prazo termine em dia em que os tribunais estejam encerrados, ou em tolerância de ponto, o seu termo transfere-se para o

primeiro dia útil seguinte (art. 144º-2 e 3).

f) - nos casos de notificação entre mandatários, se ela ocorrer no dia anterior a feriado, sábado, domingo ou início de férias judiciais, o prazo para resposta a essa notificação inicia-se no primeiro dia útil seguinte ou no primeiro dia posterior ao termo das férias judiciais,

respectivamente, a menos que se trate de processos que corram durante as férias judiciais (art. 260º-A-3).

g) - é prorrogável, o prazo legal processual, nos casos previstos na lei (art. 147º-1). - E também o é, existindo acordo das partes, por uma vez e por igual período (art. 147º-2). A prorrogabilidade deve, porém, entender-se apenas quanto ao prazo peremptório. E deve considerar-se que, quando admitida, a norma que a preveja deve ser interpretada como definindo um limite máximo da prorrogação possível, pelo que será lícito alcançar prorrogação por tempo inferior.

A-3 - Prazo supletivo geral Quando outro prazo não seja assinalado, é de 10 dias (art. 153º-

1).

A-4- Prazo do registo Nas notificações postais, presume-se que elas foram feitas no terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil a ele seguinte (art. 254º-2).

A-5 - Prática do acto fora do prazo

I - É válida a prática do acto processual num dos 3 dias úteis subsequentes ao termo do prazo, desde que (art. 145º-5): a) - seja feito, até ao termo do 1º dia útil posterior ao da prática do acto, o pagamento de multa correspondente a um quarto da taxa de justiça inicial por cada dia de atraso, multa que, porém, nunca poderá exceder 3 UCs,

ou

b) - se o acto for praticado sem que seja efectuado o pagamento dessa multa, seja paga multa de montante igual ao dobro da mais elevada, precedendo notificação oficiosa da Secretaria, não podendo, apesar de tudo, tal multa exceder 20 UCs. (art. 145º-6). O Juiz pode, porém, determinar a redução, ou mesmo a dispensa, da multa quando se esteja perante caso de manifesta carência económica ou quando o montante da multa se revele manifestamente desproporcionado (art. 145º-7).

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II - É sempre possível praticar o acto fora do prazo com fundamento em justo impedimento (art. 146º). Todavia, o JUSTO IMPEDIMENTO tem de se caracterizar por ser (art. 146º-1): a) - um evento estranho à vontade da parte ou dos seus representantes ou mandatários, e que b) - impossibilite a prática atempada do acto. Quem pretenda praticar o acto omitido, fora do prazo e mediante a invocação de justo impedimento, terá de: a) - ter requerido a prática do acto omitido logo que tenha cessado o efeito do facto determinativo do impedimento, b) - alegar desde logo o justo impedimento e descrever o facto que o traduza, c) - oferecer logo, no requerimento, os meios de prova acerca dele. Há a possibilidade de conhecimento oficioso da verificação de justo impedimento, isto para os casos em que o evento invocado seja facto notório (facto de conhecimento geral - art. 514º-1) e o juiz considere previsível, atendendo a esse facto, a impossibilidade da prática do acto dentro do prazo (art. 146º-3). Fora desses casos, ouvida a parte contrária, o juiz admitirá a prática do acto se julgar verificados os requisitos expostos e reconhecer que a parte se apresentou a requerer logo que cessou o impedimento invocado (art. 146º-2).

B - LUGAR da prática dos actos processuais (art. 149º)

REGRA GERAL - no lugar em que o Tribunal tem a sede (art. 149º-2), sem prejuízo de deverem realizar-se no lugar em que possam ser mais eficazes (art. 149º-1). EXCEPÇÕES à regra da prática na sede: a) - por natureza e finalidade do acto (v.gr., arrolamento, penhora, etc.), b) - por mera conveniência (v.gr., julgamento no local, etc.), c) - por justo impedimento ou por necessidade (v.gr., inadequação física, etc.), d) - por deferência (v.gr., inquirição de determinadas pessoas, etc.).

C - MEIOS UTILIZÁVEIS Os actos que devam ser praticados pelas partes e por escrito (art. 150º):

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I – Em geral Devem ser preferencialmente apresentados em juízo por transmissão electrónica de harmonia com Portaria a que se refere o art. 138º-A (Portaria nº. 642/04, de 16 de Junho).

II – Em papel 1 – Vale como data da prática do acto a data da efectiva entrega em mão na Secretaria (art. 150º-1-a). 2 – Se o acto exigir o pagamento de taxa de justiça, inicial ou subsequente, nos termos do CCJ, deve ir acompanhado do documento que comprove ter sido realizado tal pagamento ou de documento que comprove que a parte beneficia de apoio judiciário que a dispense do pagamento (se esta informação não se contiver já nos autos) – art. 150º-A-1. 3 – Fora do caso de o acto praticado ser petição inicial, não será motivo de recusa do acto pela Secretaria a circunstância de não ir acompanhado de comprovativo do pagamento da taxa que seja devida, pois este documento pode ser remetido para o tribunal no prazo de 10 dias seguintes à prática do acto (art. 150º-A-2). 4 – O acto deve ser praticado com oferta de duplicados, tantos quantos as partes a quem se oponha (com excepção dos casos de actos sujeitos a notificação entre mandatários) – art. 152º-1 e 2.

III – Envio por correio registado

1 – Vale como data da prática do acto a data em que foi feito o registo postal (art. 150º-1-b). 2 – Observa-se o mesmo que ficou referido quanto a II.

IV – Envio por tele-cópia ou fax 1 – Vale como data da prática do acto a data da expedição (art. 150º-2-c); Dec.-Lei nº. 28/92, de 27 de Fevereiro, art. 4º-6). 2 - A tele-cópia (Dec.-Lei nº. 28/92, de 27 de Fevereiro) pode ser de equipamento de serviço público ou de equipamento do próprio advogado, neste caso desde que conste de lista organizada na Ordem dos Advogados (art. 2º). 3 - Presumem-se verdadeiros e exactos os articulados, demais papeis processuais assinados pelo Advogado, seus duplicados assim como os documentos assim remetidos ao tribunal (iuris tantum), quando provenientes do aparelho com o número constante daquela lista (cit. Dec-Lei nº. 28/92, art. 4º-1). 4 - O suporte em papel (original) e os documentos autênticos ou autenticados apresentados pela parte, devem ser remetidos por ela ao tribunal ou entregues na Secretaria no prazo de 10 dias a contar da data do envio da tele-cópia (Dec.-Lei nº. 329-A/95, de 12 de

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Dezembro, art. 6º-1-b e Cód. Proc. Civil, art. 150º-3, a contrario, na redacção que lhe foi dada pelo Dec.-Lei nº. 303/2007, de 24 de Agosto), com suas cópias na medida do necessário para contra-partes. 5 – Os originais de outras quaisquer peças processuais ou de documentos que tenham sido remetidos por fax deverão ser conservados pela parte e o Juiz pode, a todo o tempo, determinar a apresentação deles, o que terá de ser feito sob pena de a parte não poder usar essas peças ou documentos (Dec.-Lei nº. 28/92, art. 4º-4 e 5). 6 - Se se tratar de envio de petição inicial, o documento comprovativo do pagamento de taxa de justiça inicial, quando devida, deve ser entregue ou enviado para o tribunal no prazo referido em 4. 7 - Pode utilizar-se em qualquer dia e independentemente da abertura ou do encerramento dos tribunais (art. 143º-4).

V – Envio por correio electrónico ou outro meio electrónico de transmissão de dados

1 – Os termos a que deve obedecer estão regulados pela Portaria nº. 642/04, de 16 de Junho (art. 150º-2). 2 – O envio por correio electrónico faz-se com aposição de assinatura electrónica avançada (art. 150º-1-d). 3 – Vale como data da prática do acto a da expedição, devidamente certificada (idem). 4 - Quando se pratique o acto através de meios electrónicos há que enviar para o tribunal, no prazo de 5 dias, os documentos que devam acompanhar a peça processual (art. 150º-3), com cópias deles para as contra-partes (art. 152º-8). 5 – Se o envio foi de petição inicial, o prazo referido em 4 conta-se a partir da data da distribuição dela (art. 150º-4).

6 – A parte que realizou a apresentação da peça processual por correio electrónico ou outro meio de expedição electrónica de dados, está dispensada de oferecer duplicados ou cópias da peça, trabalho que é assumido pela Secretaria (art. 152º-7), isto sem prejuízo de, sendo a parte representada por mandatário, dever ser facultado, sempre que o Juiz o peça, ficheiro informático com as peças escritas que foram apresentadas em papel (art. 152º-6). 7 – Sempre que for utilizado o correio electrónico para a apresentação de peças processuais, o tribunal fica obrigado a comunicar tal facto à contra-parte e com a indicação dos elementos que sejam necessários para o contacto através desse meio (art. 7º-1 da cit. Portaria nº. 642/04). 8 – O envio de peça através de correio electrónico oferece redução em 1/10 no valor da taxa de justiça a satisfazer (CCJ, art. 15º-1). 9 – No mais, observa-se como ficou referido em IV (art. 10º da Portaria).

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VI – OS CASOS ESPECIAIS DA PORTARIA Nº. 114/2008

A Portaria 114/08, de 6 de Fevereiro, entrou em vigor, no geral, em 7 do mesmo mês (art. 30º-1). Aplica-se (art. 2º) à tramitação electrónica de: a) – acções declarativas cíveis; b) – providências cautelares;

c) - notificações judiciais avulsas, excepto: • pedidos de indemnização civil • processos de execução de natureza cível,

no âmbito de um processo penal. d) – acções executivas cíveis, mas não quanto a apresentação do requerimento de execução.

Relativamente a estas acções foi revogada a aplicação das Portarias nºs. 642/04, de 16 de Junho, e 593/07, de 14 de Maio (art. 27º).

Esta Portaria regula (artº. 1º): 1 – a apresentação de peças processuais e de documentos por transmissão electrónica de dados (CPC, art. 150º-1, 3 e 4); 2 – a comprovação do prévio pagamento da taxa de justiça ou da concessão de apoio judiciário (CPC, arts. 150º-A-3 e 467º-4); 3 – a designação de solicitador de execução para fazer a citação (CPC, art. 467º-1-g, 7 e 8); 4 – a distribuição por meios electrónicos (CPC, arts. 209º-A, 211º, 213º, 213º e 219º); 5 – a prática de actos processuais por meios electrónicos por magistrados e por funcionários judiciais; 6 – a consulta de processos (CPC, art. 167º-1 e 3). Tal como já acontecia (supra V-6), a apresentação de peças processuais e de documentos por via electrónica dispensa a remessa dos originais, duplicados e cópias (art. 3º-1), mas sem prejuízo da obrigação de exibir as peças em suporte de papel e os originais de documentos enviados electronicamente quando o Juiz o exija, designadamente se duvidar da autenticidade e genuinidade das peças ou dos documentos, ou quando for preciso realizar perícia a letra ou a assinatura de documento (nº. 2). A apresentação de peças processuais e de documentos é feita através do sistema informático CITIUS que está no endereço electrónico <http://citius.tribunaisnet.mj.pt> e cujo acesso para advogados, advogados estagiários e solicitadores requer o seu registo junto da entidade responsável pela gestão dos acessos ao sistema informático (art. 4º-1 e 2). Usam-se os formulários próprios referidos no art. 5º. As peças processuais e os documentos devem ser assinados digitalmente através de certificado de assinatura electrónica feita pelo sistema CITIUS no momento da apresentação da peça processual (art. 5º-3 e 4), mas podem ser entregues fisicamente, no prazo de 5 dias após o envio dos formulários, os documentos que não sejam em papel ou, sendo em papel, este tenha espessura superior a 127 g/m2 ou inferior a 50 g/m2, ou sejam de formato superior a A4 (nºs. 5 e 6). Está anunciado que a utilização destes meios de apresentação e prática de actos determinará sensíveis reduções de taxas e de custas na revisão do CCJ que se fará previsivelmente em Setembro próximo.

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D – CUIDADOS FISCAIS

Se o acto processual exigir, de harmonia com o Cód. Custas Judiciais, pagamento de taxa de justiça, deve ser junto com ele o documento que comprove ter sido realizado esse pagamento, ou documento que comprove que a parte litiga com apoio judiciário que a dispense de suportar encargos com o processo (se este documento não constar já do processo) – art. 150º-A-1. No caso de o acto ser praticado sem a junção, desde logo, de tal documento, e não se tratando de petição inicial, o acto é aceite, mas a parte que o praticou deve, nos 10 dias seguintes à prática do acto, juntar esse documento sob pena das cominações previstas nos arts. 486º-A, 512º-B e 690º-B: em geral, notificação pela Secretaria para pagamento da taxa elevada ao dobro, mas não inferior a 1 UC nem superior a 10 UCs, depois, e mantendo-se o incumprimento, despacho do Juiz a convidar a proceder ao pagamento do já devido acrescido de multa de valor igual ao da taxa de justiça inicial, com o limite mínimo de 10 UCs. Finalmente, não cumprindo, desentranhamentos.

II - ACTOS DA SECRETARIA

1 - Exame de Processos

I - Na Secretaria

a) - de processos pendentes ou arquivados:

- podem ser examinados na Secretaria pelas partes ou por quem exercer o mandato judicial (art. 168º), excepto: 1 - processos de anulação de casamento, de divórcio, de separação judicial e de estabelecimento ou impugnação de paternidade - apenas podem ser mostrados às partes e a seus mandatários (art. 168º-2-a); 2 - procedimentos cautelares pendentes - apenas podem ser mostrados aos requerentes e a seus mandatários, e, quanto aos requeridos e respectivos mandatários, somente quando sejam ouvidos antes de ordenada a providência (art. 168º-2-b); 3 - de um modo geral, em todos os casos em que a divulgação do conteúdo do processo seja susceptível de causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar, ou à moral pública (art. 168º-1).

II - Fora da Secretaria

b) - de processos pendentes ou findos:

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- os mandatários constituídos pelas partes, os Magistrados do Mº. Pº. e quem exerça o patrocínio oficioso podem solicitar, por escrito ou verbalmente, a confiança do processo para exame fora da Secretaria (art. 169º-1), quanto a processos pendentes. - qualquer pessoa capaz de exercer o mandato judicial pode requerer a confiança de processos findos, para exame fora da Secretaria, desde que lhe seja lícito examiná-los na Secretaria (art. 169º-2). Se não houver motivo para recusa, a Secretaria facultará a confiança pelo prazo de 5 dias, que poderá ser menor se a confiança causar embaraço grave ao andamento da causa (art. 169º-3). A recusa pela Secretaria tem de ser fundamentada e comunicada por escrito, e dela cabe reclamação para o Juiz (arts. 169º-4 e 172º), que, se deferir, fixará o prazo para exame (art. 171º-1). Os prazos de exame de processos findos ou pendentes podem ser prorrogados, a não ser, quanto a estes, se existir em curso prazo para a prática de acto que só à parte caiba praticar e para além desse prazo. - os mandatários judiciais têm direito a confiança do processo para exame fora da Secretaria quando se trate de processo em que, por disposição legal ou em resultado de despacho do juiz, haja prazo para exame dele (art. 171º-1 e 2), e por tempo igual a esse prazo:

- por pedido meramente verbal - independentemente doutro qualquer despacho.

- contudo, em casos de recursos, e havendo vários recorrentes, ou vários recorridos, ainda que representados por diferentes Advogados, é único o prazo para apresentação das respectivas alegações, e cabe à Secretaria gerir o tempo de confiança do processo de maneira a que todos possam beneficiar de exame do processo confiado, durante o prazo (art. 685º-9).

CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE RESTITUIÇÃO

- se a restituição não for feita até ao termo do prazo (art. 170º): a) - a Secretaria notifica oficiosamente o mandatário judicial que tem o processo confiado, para que, em 2 dias, justifique o seu procedimento (nº. 1); b) - se não justificar, ou se a justificação não for facto de conhecimento pessoal do juiz ou justo impedimento, ele é condenado no máximo de multa, e esta será elevada ao dobro se, notificado da aplicação da multa, não devolver o processo no prazo de 5 dias (nº. 2); c) - se, decorrido o prazo de b), continuar a não devolver o processo, dar-se-á conhecimento do facto ao Mº. Pº. para que promova procedimento criminal pelo crime de desobediência e a apreensão do processo (nº. 3);

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d) - do facto se dará conhecimento à Ordem dos Advogados ou à Câmara dos Solicitadores para efeitos disciplinares (nº. 4).

2 - Passagem de Certidões

A Secretaria, sem precedência de despacho, deve passar as certidões que lhe sejam pedidas, oralmente ou por escrito, quer pelas partes, quer por quem possa exercer o mandato judicial, quer por quem tenha interesse atendível em as obter (art. 174º-1), excepto: a) - nos processos que só possam ser examinados pela parte ou seu mandatário, casos em que: - só precedendo requerimento escrito e com justificação da necessidade da certidão - mediante despacho que a autorize e fixe os limites da certidão a passar (art. 174º-2). b) - quanto a procedimentos cautelares que ainda estejam em segredo, apenas às pessoas a quem seja facultável o seu exame. O prazo normal para a passagem de certidões é de 5 dias (art. 175º), e pode ser menor se houver urgência nelas, ou maior em caso de manifesta impossibilidade de passagem em tal prazo, hipóteses em que se fixará o dia em que deverão ser levantadas. Se a Secretaria recusar a passagem da certidão requerida, fará o processo concluso ao Juiz, com a informação que entender pertinente, para que ele decida (arts. 175º-2 e 172º-2). Se a Secretaria demorar a passagem da certidão, poderá requerer-se ao Juiz que ordene a passagem dela ou fixe prazo para que seja passada, sendo o requerimento sujeito a despacho com informação escrita do funcionário (art. 175º-3).

3 - Comunicação dos actos

a) - a prática de actos judiciais que exijam a intervenção dos serviços judiciários pode ser solicitada a outros tribunais ou a outras autoridades, por (art. 176º): - mandado - quando o acto ordenado deva ser praticado por autoridade que esteja funcionalmente subordinada ao Tribunal de que se trata (art. 176º-2). - carta - quando o acto deva ser praticado fora dos limites territoriais de jurisdição do tribunal de que se trata. A carta pode ser:

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- precatória - para acto solicitado a um tribunal ou a um cônsul português; - rogatória - para acto solicitado a autoridade estrangeira. - telegrama, telefone ou outro meio de telecomunicações - para casos de urgência (art. 176º-5). Mas: - o telefonema tem de ser documentado nos autos e seguido de confirmação por escrito; - o telefonema, quanto às partes, só pode servir para transmitir uma convocação ou desconvocação para actos processuais (art. 176º-6). - ofício ou outro meio de comunicação - para solicitar informações, envios de documentos ou a realização de actos que não exijam, por sua natureza, a intervenção dos serviços judiciários, e é remetido directamente às entidades, públicas ou privadas, cuja colaboração se pede (art. 176º-4). - tele-cópia - para transmissão de documentos, cartas precatórias e quaisquer solicitações, informações ou mensagens entre serviços judiciais ou entre serviços judiciais e outros serviços ou organismos equipados com meios de tele-cópia (Dec.-Lei nº. 28/92, de 27 de Fevereiro, art. 1º). b) - as citações e as notificações pelo correio são enviadas directamente ao interessado a quem se destinem, seja qual seja a circunscrição onde ele se encontre (art. 176º-3).

CARTAS c) - quem emite e a quem se dirigem as cartas precatórias, e seu conteúdo (arts. 177º a 182º): - são expedidas pela Secretaria e dirigidas ao tribunal da comarca em cuja área o acto deva ser praticado, ou ao Tribunal de Círculo, conforme a organização judiciária, ou ao cônsul português da área em que o acto deva ser praticado; - são assinadas pelo Juiz ou Relator e devem conter o estritamente necessário para a realização da diligência. d) - e quanto às cartas rogatórias (art. 182º-2): - são expedidas pela Secretaria e dirigidas directamente à autoridade ou tribunal estrangeiro, salvo existindo tratado ou convenção em contrário; - se a carta se dirigir a Estado que só receba cartas por via diplomática ou consular, a expedição faz-se por essa via cabendo ao Ministério Público promovê-la (art. 182º-3 e 4); - recebida a carta, dá-se vista ao Ministério Público para, se entender que está em causa o interesse público, se opor

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ao seu cumprimento, em seguida se decidindo se deve ser cumprida (art. 186º-2); - o Ministério Público pode interpor recurso de apelação, com efeito suspensivo, de despacho que a mande cumprir, seja qual seja o valor da causa (art. 186º-3). e) - Prazo para cumprimento das cartas (art. 181º): - máximo de 2 meses a contar da expedição (se se destinarem a produção de prova, a expedição é notificada às partes); - de 3 meses, se a diligência se dever realizar no estrangeiro; - o juiz deprecante, se isso se justificar, pode estabelecer prazo mais curto ou até mais longo, e, mesmo, depois de ouvidas as partes e colhida oficiosamente informação sobre motivos da demora, prorrogar o prazo pelo tempo que entenda necessário (art. 181º-3). f) - Consequências da expedição da carta: - não obsta a que o processo continue nos seus demais termos que não dependam absolutamente do objecto dela; - contudo, a discussão e julgamento da causa não terão lugar sem a apresentação da carta ou sem que tenha terminado o prazo aplicável ao seu cumprimento (art. 183º).

4 - Distribuição

Finalidade e como se faz - a repartição igualitária do serviço do tribunal (art. 209º). Faz-se por meios electrónicos (arts. 209º-A e 226º). Quando ocorre – todos os dias e de forma automática, em qualquer das instâncias (arts. 214º e 223º-1). Há, em regra, lugar a uma distribuição de manhã (pelas 10,30 horas) e outra à tarde (pelas 15,30 horas). Papeis sujeitos a distribuição na 1ª Instância (art. 211º-1): - papeis que importem começo de causa, a não ser que se trate de causa que seja dependência doutra já distribuída; - papeis que venham doutro tribunal, excepto: - cartas precatórias, mandados, ofícios ou telegramas para simples citação, notificação ou afixação de editais. Papeis não sujeitos a distribuição (art. 212º), mas atribuidos por escala ou por certeza:

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- ofícios ou telegramas para citação, notificação ou afixação de editais (certeza - art. 211º-1-b) - cartas precatórias (escala - art. 211º-1-b) - notificações judiciais avulsas (escala) - diligências de carácter urgente a promover antes do início de causa ou antes da citação do R. (escala) - papeis que importem começo de causa que seja dependência doutra já distribuída (certeza - art. 211º-1-a) - arrecadações e os actos preparatórios (escala). Espécies:

a) – na 1ª instâncis (art. 222º): 1ª - acções de processo ordinário. 2ª - acções de processo sumário. 3ª - acções sumaríssimas e as especiais para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos. 4ª - acções de processo especial. 5ª - divórcios e separações litigiosos. 6ª - execuções comuns que não provenham de acções intentadas no tribunal e não sejam execuções por custas ou outros encargos determinados em conta de custas. 7ª - execuções por custas, especiais por alimentos e outras que não provenham de acções intentadas no tribunal. 8ª - inventários. 9ª - processos especiais de recuperação de empresa e de falência. 10ª - cartas precatórias e cartas rogatórias, recursos de actos de Conservadores, de Notários e doutros funcionários, e todos os outros papeis não classificados.

b) – nas Relações (art. 224º): 1ª - apelações em processos ordinário e especial. 2ª - apelações em processos sumário e sumaríssimo. 3ª - recursos em processo penal. 4ª - conflitos e revisão de sentenças estrangeiras. 5ª - causas nas quais a Relação conheça em 1ª instância.

c) – no Supremo Tribunal de Justiça (art. 225º): 1ª - revistas. 2ª - recursos em processo penal. 3ª - conflitos. 4ª - apelações. 5ª - causas de que o Supremo conheça em única instância.

Conhecimento da distribuição – através do acesso aos ficheiros informáticos existentes nas Secretarias (art. 209º-A-3) ou por consulta da Internet.

5 - Recusa da Petição inicial pela Secretaria

Ver adiante em "DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO COMUM ORDINÁRIO DE DECLARAÇÃO".

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C - CUSTAS, MULTAS, TAXAS DE JUSTIÇA e PREPAROS

O Código das Custas Judiciais consta actualmente do Dec.-Lei nº. 224-A/96, de 26 de Novembro, com as alterações introduzidas pelos Dec.-Lei nºs. 91/97, de 22 de Abril, Lei nº. 59/98, de 25 de Agosto, e Decs.-Lei nºs. 304/99, de 6 de Agosto, 320-B/2000, de 15 de Dezembro, 323/01, de 17 de Dezembro, 38/03, de 8 de Março, e 324/03, de 27 de Dezembro. Este republicou-o.

Noção: a) - Custas - despesas e impostos com o processo. b) - Multa - penalização por prática tardia de acto judicial, injustificação de omissão, ou por litigância ilegítima. c) - Taxas de Justiça - adiantamentos das partes, por conta das custas. d) - Preparos - pagamentos antecipados de diligências.

a) - CUSTAS

I – Noções Gerais

O que se considera no conceito de custas: os encargos discriminados no art. 32º-1 do CCJ, neles incluídos os encargos com o apoio judiciário, como até já resultava da Lei nº. 34/2004, de 29 de Julho, art. 40º. São custas de parte: tudo o que a parte tenha despendido com o processo e quanto a que tenha direito a reembolso (art. 33º-1 do CCJ), designadamente:

a) – custas adiantadas; b) – as taxas de justiça pagas; c) – procuradoria; d) – preparos; e) – remunerações pagas a solicitador de execução, despesas feitas

por ele; f) - demais encargos da execução; g) – outras despesas que a parte tiver feito com o processo (v.

gr., expediente, comunicações, custo de certidões que juntou, deslocações, publicações, traduções, etc.).

As isenções de custas não abrangem os reembolsos de custas de parte (artº. 4º-1).

II – Contas e Reclamação Necessidade de elaborar nota discriminativa e justificativa dos encargos integráveis em custas de parte (art. 33º-2 e 4). Havendo solicitador de execução designado na execução, este deve apresentar nota discriminativa e justificativa autónoma no prazo de 60 dias a contar do trânsito em julgado da sentença (art. 33º-3).

A parte que tenha direito a ser reembolsada de custas de parte deve remeter à parte responsável, no prazo de 60 dias a contar do trânsito em julgado da sentença, a respectiva nota discriminativa e justificativa, para que ela proceda ao respectivo pagamento, sem prejuizo da sua cobrança em execução da sentença (art. 33º-A-1).

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Se o pagamento dever ser efectuado por quantias depositadas à ordem do processo, essa nota discriminativa deve ser também entregue no tribunal para que ele proceda ao pagamento dela. Há lugar a reclamação quanto à organização da aludida nota, nos mesmos termos que quanto à organização da conta de custas (arts. 60º a 62º). Apesar de o art. 61º-1 parecer estatuir que, deduzida reclamação da conta, apenas se pronunciará acerca dela o contador, seguindo depois o processo com vista ao Ministério Público e, a seguir, a decisão da reclamação pelo Juiz, deve entender-se que haverá lugar a pronunciar-se, também, a contra-parte quando a reclamação seja de molde a alterar a sua quota-parte de responsabilização pelas custas, agravando-a, isto dentro da observância do princípio do contraditório (Cód. Proc. Civil, art. 3º-1).

III – Responsabilização quanto a custas

A responsabilidade pelo pagamento das custas (arts. 446º e segs. CPC): a) - a parte vencida, e na medida em que o tenha sido (art. 446º); b) - na extinção da instância, o A., a menos que ela resulte de facto do R. (art. 447º); c) - o A., quando o R. não tenha dado causa à acção e a não conteste (art. 449º); d) - o desistente e quem confesse a acção (art. 451º-1); e) - na transacção, e se diferente repartição não for convencionada, a meias (art. 451º-2); f) - o requerente, nos procedimentos cautelares e no incidente de habilitação, se não tiver sido deduzida oposição (art. 453º), mas são atendidas na acção respectiva; g) - na produção de prova antes da propositura da acção, as custas serão suportadas pelo respectivo requerente, mas atendidas na acção que venha a ser proposta (art. 453º-2); h) - nas notificações avulsas as custas são pagas pelo requerente (art. 453º-3). A regra do art. 51º-2-b) do CCJ: o processo irá à conta, automaticamente, decorridos 5 meses (que incluem os períodos de férias judiciais) após notificação que determine a prática de acto pela parte, ou sem que tenha tido movimento, ficando as custas a cargo da parte que lhe deveria ter promovido o andamento.

IV – Pagamento

As custas são pagáveis nos terminais Multibanco ou através do sistema de “Homebanking” e consideram-se realizados os pagamentos quando for junto ao processo documento que comprove terem sido efectuados, o que deve ser feito nos 30 dias seguintes à data do Pagamento (Portaria nº. 1433-A/2006, de 29 de Dezembro, art. 2º-1 a 3, com as alterações nela introduzidas pela Portaria nº. 1375/07, de 23 de Outubro). Se o comprovante do pagamento for junto fora do prazo, haverá lugar a multa de ½ UC, a menos que o valor a pagar seja a isso

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inferior. Neste caso, o valor da multa será igual ao do pagamento efectuado (art. 2º-4).

V – Execução por custas

Se a parte responsável não pagar, e não houver lugar à execução da sentença, a parte com direito ao reembolso pode requerer ao Ministério Público que instaure execução por custas (arts. 33º-A-6 e 116º-3). A sentença constitui título executivo também no que respeita a custas de parte (art. 33º-5).

b) - MULTAS

São aplicáveis às partes e também mesmo a quem não seja parte no processo, mas nele tenha, ou deva ter, alguma intervenção. Exemplos de casos de aplicação de multas: v.gr. por litigância de má fé; por junção extemporânea de documento; a testemunha que, notificada para comparecer, falte e não justifique oportunamente a falta; etc.. Litiga de má fé quem (art. 456º-2): - tenha deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar; - tenha alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa; - tenha usado de omissão grave no dever de cooperação; - tiver feito do processo uso manifestamente reprovável para conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade ou entorpecer a acção da justiça, ou protelar sem motivo sério o trânsito em julgado duma decisão judicial. A condenação como litigante de má fé admite sempre recurso em um grau, independentemente do valor da causa e da sucumbência (art. 456º-3).

Seu pagamento: observa-se o mesmo que quanto ao pagamento das custas.

c) - TAXAS DE JUSTIÇA e PREPAROS PARA DESPESAS

Espécies de taxas de justiça: - iniciais - devidas para propositura de acções ou promoção de incidentes e recursos (CCJ, art. 23º). O seu pagamento é realizado previamente à distribuição de petição inicial, se houver lugar a distribuição, ou à apresentação doutra petição não sujeita a distribuição, e o seu documento comprovativo é entregue ou remetido ao tribunal com a apresentação, ou a partir da data da apresentação, de (CCJ, art. 24º-1): a) - petição ou requerimento do autor, do exequente ou do requerente; b) - oposição ou contestação do réu ou do requerido; c) - alegações e contra-alegações nos recursos - (art. 24º-1 do CCJ).

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- subsequentes - são devidas noutras situações e são de montante igual ao da taxa de justiça inicial (CCJ, art. 25º-1). Se houver mais que um autor, requerente ou recorrente, ou mais que um réu, um requerido ou recorrido, e o montante de taxa de justiça inicial já paga for suficiente para assegurar o pagamento da taxa de justiça subsequente devida, aqueles são dispensados desta (art. 25º-2). O seu pagamento é realizado, e deve ser entregue ou remetido ao tribunal o seu documento comprovativo, no prazo de 10 dias, a contar (CCJ, art. 26º-1): a) - da notificação para audiência final; b) - da notificação de despacho que mande inscrever o processo em tabela, nos recursos. Os valores das taxas de justiça são indexados à Unidade de Conta e constam da tabela que se contém no Anexo publicado com o Dec.-Lei nº. 320-B/2000, de 15 de Dezembro. A Unidade de Conta (UC) é equivalente a um quarto da remuneração mínima mensal (Dec.-Lei nº. 387-D/87, de 29 de Dezembro, art. 5º-2). O valor da UC é automaticamente actualizado trienalmente, a partir de 1 de Janeiro de 1992, pelo que, desde 1 de Janeiro de 2007, é de € 96,00 (art. 3º do Dec.-Lei nº. 323/01, de 17 de Dezembro). Pagamentos: Os pagamentos das taxas de justiça e dos preparos podem ser efectuados (Portaria nº. 1433-A/2006, de 29 de Dezembro, art. 1º): a) - directamente em qualquer Agência da Caixa Geral de Depósitos por depósito em conta; b) - através do "multibanco" (sistema electrónico); c) - através de terminais de pagamento automático (sistema electrónico); d) - através do "Homebanking" (sistema electrónico).

a) - na CGD

- indicar ao balcão que tipo de pagamento se quer fazer: p.ex. taxa inicial ou taxa subsequente; - indicar o valor da acção/incidente/recurso; - se se pretender fazer pagamentos de mais que uma taxa do mesmo montante unitário, indicar o número de pagamentos desse valor; - perante a informação do funcionário da CGD de qual o valor a pagar, o pagamento poderá ser feito em numerário, por cheque ou por débito em conta da CGD, por cheque visado doutros bancos.

b) - por "Multibanco"

- introduzido o cartão e digitado o código secreto, escolher a opção "Pagamentos"; - escolher a sub-opção "Pagamento de Custas Judiciais" e, dentro desta, o pagamento que pretenda efectuar: taxa de justiça inicial ou taxa de justiça subsequente; - assinale o escalão onde se contenha o valor da acção/incidente/recurso, contra o que surgirá no ecrã a indicação do valor a pagar;

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- confirme; - recolher o talão de recibo, que é o documento comprovativo do pagamento a apresentar no tribunal.

OU

- introduzido o cartão e digitado o código secreto, escolher a opção "Pagamentos"; - escolher a sub-opção "Pagamento de Serviços"; - preencher o ecrã com auto-liquidação; - confirme; - recolher o talão de recibo, que é o documento comprovativo do pagamento a apresentar em tribunal.

c) - por Terminais de Pagamento Automático (TPA)

- estão à disposição nos tribunais e só servem para pagamento das taxas de justiça; - informar o funcionário judicial acerca da taxa que se pretende pagar e fornecer-lhe o seu cartão bancário; - o funcionário seleccionará "Pagamento de Serviços" e introduzirá na máquina TPA os dados (número de entidade, referência e valor a pagar), confirmando com a tecla verde; - devolve ao interessado o cartão e entrega-lhe o documento comprovativo do pagamento.

d) - por "Homebanking"

- possibilidade dada por bancos a certos clientes de realização de algumas operações bancárias através da utilização da Internet; - é preciso dispor de computador ligado à Internet; - ser-se cliente da CGD. Reduções:

1 - o valor da taxa de justiça inicial é reduzido a metade e não há lugar a pagamento de taxa de justiça subsequente (art. 14º-1):

a) – nas acções em que não haja lugar a citação do réu, a oposição ou a audiência de julgamento;

b) – nas acções que terminem antes de oferecida oposição ou em que, devido à sua falta, seja proferida sentença, ainda que precedida de alegações;

c) – nas acções que terminem antes da designação da audiência final;

d) – nos processos emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional que terminem na fase contenciosa por decisão condenatória imediata ao exame médico;

e) – nos inventários em que não haja operações de partilha ou que terminem antes da conferência de interessados;

f) – nas autorizações e confirmações de actos praticados por incapazes, nas autorizações par alienação ou oneração de bens de ausentes, nas divisões de coisa comum, nas prestações de contas de cabeça de casal e semelhantes, processadas por dependência de processos de incapazes;

g) – nas acções para contribuição para as despesas domésticas; h) – nas conversões de separação judicial de pessoas e bens em

divórcio;

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i) – nas oposições ao inventário; j) – nos embargos e anulação de concordatas; k) – nas oposições à penhora; l) – nos concursos de credores; m) – nos procedimentos cautelares e na respectiva oposição; n) – nos processos de jurisdição de menores o) – nos depósitos e nos levantamentos; p) – nos acordos em matéria laboral homologados na fase

conciliatória, desde que nessa fase tenha sido posto termo ao processo, ainda que por sentença condenatória imediata à diligência de conciliação;

q) – na remição, caducidade e actualização de pensões; r) – nas revisões de incapacidade ou de pensões; s) – nas acções para convocação de assembleias gerais ou de órgãos

equivalentes, de impugnação das suas deliberações e de reclamações de decisões disciplinares de instituições de previdência ou de organismos sindicais;

t) – nas acções de processo civil simplificado; u) – nos incidentes de escolha de prestação em obrigação

alternativa, de verificação da condição ou da prestação e de liquidação da obrigação (arts. 803º-3, 804º-2 e 805º-4 do CPC);

v) – nos incidentes de intervenção principal, de intervenção acessória e de oposição.

2 – É reduzido em 1/10 o valor da taxa de justiça inicial e o da taxa subsequente relativamente às partes cujos mandatários optem pelo envio de todos os articulados, alegações, contra-alegações e requerimentos de prova por correio electrónico ou por outro meio de transmissão electrónica (art. 15º-1).

Dispensas objectivas: 1 - não há lugar a pagamento de taxas de justiça, inicial e subsequente, salvo nos recursos (art. 29º-3):

a) – nas execuções (têm taxas de justiça próprias referidas no art. 23º-2), sem prejuízo dos casos previstos no art. 14º;

b) – nas acções sobre o estado das pessoas; c) – nos processos de jurisdição de menores; d) – nas expropriações; e) – nos inventários em que a herança seja deferida a incapazes,

ausentes ou a pessoas colectivas; f) – nas acções cíveis declarativas e nos arrestos processados

conjuntamente com a acção penal; g) – nos pedidos de reforma da decisão quanto a custas e multa; h) – nas reclamações da conta.

2 – nos inventários, nas falências e nas situações de pluralidade de parte (v. artº 25º-2), não há lugar ao pagamento prévio de taxa de justiça subsequente (art. 29º-4). Penalizações pelo não pagamento: a) - se se tratar de pagamento, que não seja logo realizado, de taxa de justiça inicial, exigido por apresentação de petição inicial em juizo, quando não haja isenção por força de benefício de apoio judiciário, a petição será rejeitada pela Secretaria (art.

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474º-f), a não ser quando se esteja em presença de casos de urgência e o autor estiver a aguardar decisão sobre apoio judiciário que requereu, comprovando tê-lo requerido; b)-1 - no caso de não ser junto ao processo o documento comprovativo do pagamento doutras taxas de justiça, sejam iniciais, sejam subsequentes, no prazo de 10 dias a contar da prática dos actos processuais e notificações que se discriminaram, a Secretaria logo notifica os interessados para, em 10 dias, efectuarem o pagamento omitido com acréscimo de multa de igual valor, nunca inferior a 1 UC. nem superior a 10 UCs. (arts. 486º-A-3 e 4, 512º-B e 690º-B); -2 – para contestação, findos os articulados, continuando a não estar nos autos o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça inicial, com multa, pelo réu, o Juiz profere despacho a convidar este a, em 10 dias, proceder ao pagamento da taxa e dita multa, acrescida de nova multa de valor igual ao da taxa de justiça inicial, com o limite mínimo de 10 UCs (art. 486º-A-5); -3 – se esses pagamentos continuarem a não ser feitos, o tribunal determina o desentranhamento da contestação e da tréplica, se a houve (art. 486º-A-6); -4 – para pagamentos de taxas de justiça subsequentes observa-se o mesmo que se deixou referido em 1 e 2, e, se os pagamentos não foram feitos, chegada a oportunidade da realização da audiência final ou da realização de qualquer diligência de prova, o tribunal determina a impossibilidade de realização das diligências de prova (art. 512º-B-1 e 2); -5 - nos recursos, não sendo comprovado nos autos o pagamento da taxa de justiça inicial ou subsequente como em 1, a Secretaria procede como se disse aí e, continuando a não se mostrar paga a taxa devida, e multa, o tribunal determina o desentranhamento da alegação, do requerimento ou da resposta (art. 690º-B-1 e 2). c) - o não pagamento atempado do preparo para despesas impede a realização das diligências a cujo pagamento ele se destinava (cit. Dec.-Lei, art. 14º-1, e art. 45º-1 do CCJ). O pagamento do preparo pode, porém, ser ainda efectuado fora do prazo por quem o deveria ter feito, nos 5 dias seguintes, mediante o pagamento de taxa de justiça igual ao preparo em falta, com o limite de 3 UCs (cit. art. 45º-2). Também a parte contrária pode depositar o valor do preparo que a outra não fez, solicitando guias para o depósito, no prazo de 5 dias depois de esgotado o prazo atrás referido (art. 46º do CCJ).

A INSTÂNCIA

Noção - sequência de actos processuais que constituem o processo e se destinam a disciplinar a defesa dos direitos das partes

tutelados pela lei.

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Articulado (sentido amplo) - peça escrita em que é apresentada uma petição de acção, ou a defesa nesta acção, assim como tomadas de posição, de facto ou de direito, quanto aos termos da causa. Articulado (sentido restrito) - peça escrita em que, com subordinação a artigos, a parte descreve os factos e as razões de direito da sua pretensão ou oposição, e conclui por estas. Artigo - item designado sequencialmente por ordem numérica em que o articulado se desenvolve duma maneira intelectualmente lógica. Deve tender para que apenas contenha um facto. Razão de ser - a apresentação do articulado em sentido restrito apenas é exigida nas causas em que haja lugar à elaboração de despacho saneador, com selecção dos factos com relevância para a decisão da causa já assentes e dos controvertidos, e visa facilitar a produção destas peças. Mas é de recomendar a prática de tal articulado, quanto mais não seja para disciplina mental.

1 - Patrocínio Judiciário

A - A constituição de advogado é obrigatória (art. 32º): a) - nas causas dirimidas em tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário; b) - nas causas em que seja sempre admissível recurso independentemente do valor; c) - nos recursos e causas propostas nos tribunais superiores; d) - nas execuções de valor superior à alçada da Relação e nas de valor inferior a tal alçada, mas excedente à alçada da 1ª Instância, quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos do processo declarativo (art. 60º-1); e) - nas demais execuções de valor superior à alçada do tribunal da 1ª Instância (por advogado, advogado estagiário ou solicitador - art. 60º-3). Mesmo quando seja obrigatória a constituição de advogado, os advogados estagiários, os solicitadores e as próprias partes podem fazer requerimentos nos quais se não suscitem questões de direito (art. 32º-2 e 3). B - Confere-se o mandato judicial (art. 35º): a) - por instrumento particular (minuta), para poderes forenses (arts. 36º e 37º); b) - por instrumento público com intervenção notarial em casos especiais; c) - por declaração verbal da parte exarada em auto no processo (art. 35º-b). C - Consequência: a confissão e afirmação de factos (art. 38º):

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as feitas pelo mandatário nos articulados vinculam a parte, a menos que ela os rectifique ou retire enquanto não tenham sido aceites pela outra parte. D - Substabelecimento do mandato: - o direito de substabelecer está implícito nos poderes forenses gerais conferidos pelo mandato judicial (art. 36º-2); - substabelecimento com reserva e sem reserva (este implica a exclusão do mandatário que substabelece - art. 36º-3). E - Procurações com poderes especiais (art. 37º). F - Revogação e renúncia (art. 39º): a) - são requeridas no processo e notificadas ao mandatário, ou ao mandante, conforme os casos, e à parte contrária; b) - só produzem efeitos a partir da notificação, mas a renúncia tem de ser notificada pessoalmente ao mandante e, quando seja caso disso, com a advertência a que se refere a alínea c); c) - se for obrigatória a constituição de advogado, a parte mandante é notificada da renúncia com a advertência de que deverá constituir novo mandatário no prazo de 20 dias (art. 39º-3); d) - se a parte, notificada da renúncia e quando seja obrigatório o patrocínio, não constituir novo mandatário no aludido prazo, suspende-se a instância se a falta for do autor, sem prejuízo do que adiante se diz em h), e, se for do réu, o processo segue os seus termos aproveitando-se os actos que anteriormente tinham sido praticados pelo advogado (art. 39º-3); e) - se for caso de patrocínio obrigatório e o réu ou o reconvindo não puderem ser notificados, o Juiz solicita ao Conselho Distrital da Ordem dos Advogados a nomeação de mandatário oficioso, que deve ser feita no prazo de 10 dias; f) - se não for feita a nomeação nesse prazo, a instância prossegue, e o Juiz nomeará, por sua iniciativa, mandatário oficioso (arts. 39º-4 e 44º-2); g) - o advogado oficioso nomeado tem direito a exame do processo por 10 dias (art. 39º-5); h) - se se verificar a situação prevista em d), e a falta de constituição de novo mandatário seja do réu-reconvinte, a reconvenção fica sem efeito; se a falta for do autor-reconvindo, o processo segue para conhecimento apenas do pedido da reconvenção, decorridos que sejam 10 dias sobre a suspensão da acção (art. 39º-6). G - Representação sem poderes (arts. 40º e 41º):

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a) - a falta de mandato, a sua irregularidade ou a sua insuficiência podem ser arguidas em qualquer altura pela parte contrária ou podem ser conhecidas oficiosamente; b) - verificadas, o juiz marca prazo para a regularização do patrocínio e ratificação do processado (art. 40º-2); c) - se não for regularizado, fica sem efeito o que o mandatário possa ter praticado, e ele é condenado nas custas e, se tiver agido com culpa, no ressarcimento dos prejuízos que tenha causado (art. 40º-2); d) - se o vício tiver resultado de excesso de mandato, o tribunal participará o facto ao Conselho Distrital da Ordem dos Advogados (art. 40º-3); e) - a gestão de negócios deve ser ratificada pelo beneficiário no prazo assinalado pelo juiz, prazo que é notificado pessoalmente ao interessado; f) - se ele não ratificar, o gestor é condenado nas custas e em indemnização à parte contrária e ao beneficiário (art. 41º-2).

2 - Coligações

Admissibilidade:

1 - a coligação - de autores contra um ou vários réus, ou de um autor para demandar, em conjunto, vários réus, por pedidos diferentes - é permitida não só quando a causa de pedir seja uma só, mas também quando haja relação de dependência ou de prejudicialidade entre os pedidos (art. 30º-1). 2 - É também admissível a coligação se, sendo diferente a causa de pedir, a procedência dos pedidos principais depender da apreciação dos mesmos factos, ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito, ou de cláusulas contratuais análogas (art. 30º-2). 3 - É ainda admissível quando os pedidos feitos contra os RR. radicam em obrigação cartular quanto a uns e na relação subjacente quanto aos outros (art. 30º-3). 4 – Sem prejuízo do que vai dito em 6, não é admissível a coligação se aos pedidos corresponderem formas de processo diferentes ou se a coligação ofender as regras da competência internacional, em razão da matéria ou da hierarquia (art. 31º-1). 5 - Não é impeditiva de coligação a diversidade de formas de processo que apenas seja resultado do seu valor (art. 31º-1). 6 - O juiz pode autorizar a coligação mesmo quando dela resultem pedidos a que correspondam formas de processo diferentes, se não seguirem tramitação absolutamente incompatível e se o juiz entender que há interesse relevante na coligação ou que a apreciação conjunta dos pedidos se mostre indispensável para a justa composição do

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litígio, casos em que deverá adaptar o processo à coligação que autorizou (art. 31º-2 e 3). 7 - Mas o juiz pode entender, depois, por despacho, que, não obstante, será preferível a separação das acções, e, neste caso, se as novas acções forem propostas dentro do prazo de 30 dias a contar do trânsito em julgado dessa decisão, os efeitos civis da propositura da acção e da citação do réu, retrotraem-se à data em que esses factos se produziram no primeiro processo (art. 31º-5). Coligação ilegal: 1 - Se se fizer uso de coligação na qual não exista conexão como se deixou referido nos nºs. 1, 2 e 3, o Juiz mandará notificar o autor para, no prazo que lhe arbitre, vir indicar qual seja o pedido que pretende ver apreciado, sob pena de, não o indicando, ser o réu absolvido da instância quanto a todos os pedidos (art. 31º-A-1). 2 - Se forem mais que um os autores, todos serão notificados para, por acordo, esclarecerem quais os pedidos que pretendem ver apreciados (art. 31º-A-2). 3 - Feitas as indicações previstas nos números anteriores, o réu é absolvido da instância quanto aos demais pedidos (art. 31º-A-3).

3 - Citação e Notificação

Citação - acto pelo qual se dá conhecimento ao R. de que foi proposta contra ele uma acção, para que nela se defenda, ou pelo qual se chama pela primeira vez ao processo algum interessado nessa causa (art. 228º-1). É citado para contestar e advertido da cominação (arts. 480º, 783º e 794º). Notificação - acto que visa chamar alguém a juizo ou dar-lhe conhecimento de um facto (art. 228º-2). Elementos complementares - ambas devem ser sempre acompanhadas dos elementos e de cópias legíveis de documentos e de peças do processo que habilitem à plena compreensão do seu objecto (art. 228º-3). Lugar de realização - em qualquer onde esteja o destinatário do acto, excepto nos templos e enquanto ele estiver ocupado em acto de serviço público que não deva ser interrompido (art. 232º).

3.1. - Citação

Modalidades - pessoal e edital (art. 233º-1). I) - citação pessoal (art. 233º-2):

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a) – pode ser feita ou por entrega ao citando de carta registada e com aviso de recepção (alínea a) e 236º) remetida para a sua residência ou para o seu local de trabalho (pessoa singular) ou para a sua sede ou para o local onde funciona a sua administração (pessoa colectiva); ou

b) – em terceira pessoa que se encontre na sua residência ou local

de trabalho que se declare estar em condições de entregar prontamente a carta ao citando (art. 236º-2), caso em que se lhe fará a advertência de que a não entrega da carta determinará que incorra em responsabilidade análoga à da litigância de má fé (nº. 1).

c) – se não for possível a entrega da carta, deixar-se-á aviso

identificando-se o tribunal donde ela proveio e o processo a que respeita, dizendo-se as razões por que foi impossível entregar a carta, e esta ficará por 8 dias à disposição do destinatário em estabelecimento postal devidamente identificado (art. 236º-5); ou

d) – por certificação da recusa do recebimento da carta pelo

citando, feita pelo distribuidor, que lavrará nota da ocorrência antes de devolver ao remetente a carta, tendo-se por ocorrida a citação face a tal certificação (art. 233º-2 e 237º-A-3): ou

e) – por contacto pessoal do solicitador de execução ou do

funcionário judicial com o citando, se requerido (arts. 233º-2-b) e 239º) ou quando se frustrou a citação postal, excepto: 1 - quando a lei expressamente permita que seja feita noutra pessoa; 2 - quando o citando tenha constituído mandatário com poderes especiais para a receber, através de procuração passada há menos de 4 anos (art. 233º-5); ou

f) - promovida por mandatário judicial (arts. 233º-3, 239º, 245º e 246º). II) - citação edital - usa-se quando o citando esteja ausente em parte incerta (arts. 244º e 248º) ou quando sejam incertas as pessoas a citar ao abrigo do art. 251º (art. 233º-6). Citação de incapazes, incertos, pessoas colectivas e patrimónios autónomos - faz-se na pessoa dos seus representantes (art. 231º-1). Quanto a pessoas colectivas e sociedades, faz-se na Sede e na pessoa dos seus legais representantes, a quem pode ser enviada, para o seu domicílio pessoal, carta registada e com aviso de recepção para tal efeito, quando não seja possível a citação postal na Sede (art. 237º). A citação de pessoas colectivas e de sociedades pode ser também feita na pessoa de um seu empregado, se não se encontrar na Sede nenhum dos seus legais representantes (art. 231º-3). Citação de réu residente em país estrangeiro (art. 247º):

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a) - observa-se o que constar de tratado ou convenção internacional; b) - se os não houver, faz-se por carta registada e com aviso de recepção; c) - se se frustrar a via da carta registada e com aviso de recepção, tentar-se-á fazer a citação através do Consulado mais próximo, se o réu for português; se for estrangeiro, usar-se-á a carta rogatória, após ouvido o autor. Regra da Oficiosidade - é à Secretaria a quem, sem necessidade de despacho prévio, cabe promover oficiosamente as diligências adequadas à consecução da citação pessoal do réu (arts. 234º-1 e 479º), sem prejuízo das citações que devam ser promovidas por solicitador de execução ou por mandatário judicial. Porém, quando não seja desde logo obrigatório ter lugar despacho liminar a ordenar a citação, a Secretaria pode suscitar a intervenção do Juiz quando entenda que manifestamente falta um pressuposto processual insuprível da qual o Juiz deva oficiosamente conhecer (art. 234º-A-5). Decorridos 30 dias sem que a citação se realize, o autor é informado das diligências efectuadas e dos motivos da não citação ainda (art. 234º-2), e o processo é logo concluso ao Juiz com fornecimento dessas mesmas informações (art. 234º-3). Excepções à regra da oficiosidade - a citação exige despacho prévio do Juiz a ordená-la: a) - nos casos especialmente previstos na lei; b) - nos procedimentos cautelares e em todos os casos em que o Juiz tenha de previamente decidir quanto a audição antecipada do requerido; c) - quando a propositura da acção deva ser anunciada; d) - quando se trate de chamar terceiros a intervirem em causa pendente; e) - nos processos executivos sob as previsões dos arts. 812º-1 e 812º-A-2; f) - nos casos de citação urgente e que deva preceder a distribuição (art. 234º-4). g) – quando a Secretaria suscite a intervenção do Juiz por entender que falta manifestamente um pressuposto processual insuprível, falta que deva ser conhecida oficiosamente (art. 234º-A-5). Não é recorrível o despacho que ordene a citação (art. 234º-5). Todavia, isso não significa que não possam, mais tarde, vir a ser conhecidas questões que deveriam ter determinado o indeferimento liminar da petição. A - Formalidades da citação pessoal por via postal registada (art. 236º): a) - é enviada a carta ao citando para a sua residência ou para o seu local de trabalho, ou, nos casos de pessoa colectiva ou sociedade, para o local onde funcione usualmente a sua administração (art. 236º-1);

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b) - a carta deve ir acompanhada de duplicado da petição inicial e de cópia dos documentos com ela oferecidos e comunicar ao citando que fica citado para a acção, identificar o tribunal, juízo ou vara e secção em que o processo corre, se já tiver sido distribuída a petição e quando haja lugar a distribuição, o número dele e, ainda, o prazo no qual poderá ser apresentada a defesa, a necessidade de constituir mandatário judicial e a cominação para a hipótese de não contestar (arts. 236º-1 e 235º); c) - se se tratar de citando que seja pessoa singular, depois de o funcionário dos CTT proceder à identificação da pessoa a quem entregará a carta, anotados os elementos que constem do documento de identificação exibido e, assinado o aviso de recepção, a carta é por ele entregue ou ao citando ou a outrem que se encontre no local da sua residência ou do trabalho e se diga em condições de entregar prontamente a carta àquele (art. 236º-2 e 3); d) - se a carta for entregue a pessoa diversa do citando, o funcionário dos CTT deverá adverti-la expressamente de que tem o dever de a entregar prontamente a este, com a advertência de que a não entrega da carta ao citando logo que possível, a fará incorrer em responsabilidade em termos análogos aos da litigância de má fé (art. 236º-1 e 4), e há lugar a dilação mínima (5 dias - cf. art. 252º-A-1-a); e) - se não for possível entregar a carta, o funcionário deixará aviso ao destinatário, identificando o tribunal do qual a carta é originária e o processo a que respeita, consignando as causas da impossibilidade da entrega e ficando, por 8 dias, a carta à disposição deste em estabelecimento postal que será identificado (art.236º-5); f) - se o citando, ou outrem como referido em c), se recusarem a assinar o aviso de recepção ou recusarem o recebimento da carta, o funcionário dos CTT certificará esse facto e lavra nota disso antes de devolver a carta, e ter-se-á a citação como tendo sido realizada face a essa certificação (arts. 236º-6 e 237º-A-3); g) – se se apurar que o citando reside ou trabalha efectivamente no local indicado, mas se não consiga realizar a citação por ele não ser aí encontrado, procede-se à citação com hora certa, deixando-se no local aviso a anunciar dia e hora para a diligência (art. 240º); h) - se não se puder realizar a citação de pessoa colectiva ou sociedade no local da administração por lá não estar legal representante nem empregado, faz-se a citação dela na pessoa de seu legal representante por carta registada que se lhe remete para a residência ou local do trabalho (art. 237º); i) - a citação considera-se feita no dia em que for assinado o aviso de recepção e tem-se por realizada na própria pessoa do citando, mesmo quando o aviso venha assinado por terceiro, havendo a presunção iuris tantum de que a carta foi oportunamente entregue ao destinatário (art. 238º-A-1). B - Formalidades da Citação Pessoal por contacto pessoal:

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I - por contacto pessoal do Solicitador de Execução: 1 - quando não teve êxito a citação pessoal por via postal (art. 239º-1). 2 - quando, logo na petição, o autor declarar pretendê-la (art. 239º-7). II - por contacto pessoal do Oficial de Justiça:

1 - o citando é citado por contacto pessoal (art. 239º-1) do oficial de justiça quando o autor declare na petição que o pretende, para o que terá de pagar taxa especial (art. 239º-8), ou

2 - quando não haja na comarca solicitador de execução inscrito (art. 239º-8) e se frustrou a citação pessoal por via postal.

III – modo de agir: a) – elabora-se nota com as indicações referidas no art. 235º: cópia da petição e dos documentos com ela juntos, aviso de que fica citado, especificação da identificação do processo (se já houve distribuição), o prazo para contestar, informação acerca da obrigatoriedade de constituição de mandatário e cominações;

b) – entrega da nota e cópias referidas em a)ao citando;

c) – lavra-se certidão do acto, que deve ser assinada pelo citado. C - Dificuldades surgidas na concretização da citação: 1 - se o citando se recusar a assinar a certidão ou a receber o duplicado, a citação considera-se feita e o solicitador de execução lavra certidão da ocorrência, e o citando é advertido verbalmente de que o duplicado fica à sua disposição na Secretaria e é notificado depois, pela Secretaria, por carta registada, de que o duplicado está nesta à sua disposição (art. 239º-4 e 5); 2 - citação com hora certa (art. 240º); 3 - citação em pessoa diversa do citando (art. 241º): tem lugar dilação mínima - 5 dias (art. 252º-A-1-a). A Secretaria envia ao citando, em 2 dias úteis, carta registada comunicando-lhe a data e o modo pelo qual o acto se considera realizado, o prazo para apresentação da defesa e suas cominações, o destino dado ao duplicado e a identificação da pessoa em quem a citação foi feita (art. 24lº); 4 – se não for possível a colaboração de terceiros, faz-se a citação por afixação, no local mais adequado e na presença de duas testemunhas, da nota de citação e com os mais elementos ditos em 3. (art. 240º-3); 5 - citação pessoal, por contacto pessoal, quando o citando esteja impossibilitado de a receber (art. 242º):

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a) - o solicitador de execução, ou o funcionário, lavra certidão da ocorrência; b) - a certidão é notificada ao A.; c) - o processo é concluso ao Juiz e este decide acerca da existência da incapacidade, depois de recolhidas as informações e provas que ele entender necessárias; d) - reconhecida a incapacidade, seja temporária seja duradoura, é nomeado curador provisório ao citando, e é nele que se fará a citação. D - ausência do citando (arts. 243º e 244º): a) - se for em parte certa, procede-se como for achado mais conveniente face às circunstâncias, conforme as hipóteses já referidas; b) - se for em parte incerta, a Secretaria procurará obter informação acerca do último paradeiro dele; c) - citação edital, se não for conhecido. E - citação pelo Solicitador de Execução e pelo Mandatário Judicial (arts. 239º e 245º e segs.): 1) – o autor ou o mandatário declararão, na petição inicial, o propósito de promover tal citação, por solicitador de execução ou por si ou outro mandatário judicial, que será identificado, o que dispensará a citação pessoal por via postal; 2) - tal declaração poderá ser feita em momento posterior, quando se tenha frustrado outra forma de citação anteriormente tentada; 3) - se se frustrou a citação pessoal por via postal pela Secretaria, a citação é efectuada por contacto pessoal do solicitador de execução com o citando, ou por contacto pessoal pelo funcionário judicial quando na comarca não haja solicitador de execução; 4) - a citação é feita com as mesmas formalidades da realizável por funcionário judicial; 5) - se a citação se não efectivar no prazo de 30 dias contados da declaração de 1) ou 2), o solicitador de execução (arts. 239º-10 e 234º-2) ou o mandatário judicial (art. 246º-2) darão disso conhecimento no processo e procede-se à citação nos termos gerais; 6) - o mandatário judicial é civilmente responsável por actos e omissões culposamente praticados pela pessoa encarregada de fazer a citação, sem prejuízo de responsabilidade disciplinar e criminal (art. 246º-3).

II - Citação Edital

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Formalidades da citação edital: a) - por incerteza do lugar (art. 248º): - afixação de editais: - 1 na porta do tribunal - 1 na porta da casa da última residência do citando no país - l na sede da respectiva Junta de Freguesia. - publicação de anúncios: - em 2 números seguidos de um dos jornais mais lidos na localidade da última residência conhecida do citando no País, excepto (art. 248º-4): - nos inventários em que a herança foi deferida a incapazes, ausentes ou pessoas colectivas; - nos processos sumaríssimos; - nos casos de pouca importância, em que o Juiz os dispense. b) - por incerteza das pessoas (art. 251º): - afixação de 1 edital na porta do tribunal, excepto: - se se tratar de citação de herdeiros ou representantes de pessoa falecida, caso em que são publicados 3 editais como acima; - anúncios num dos jornais mais lidos da sede da comarca. Na citação edital há sempre lugar à dilação de 30 dias (art. 252º-A-3), sem prejuízo doutras dilações aplicáveis.

III - Citação Urgente (art. 478º)

Noção: é a que precede a distribuição da petição. Requisitos: a) - não pode ser feita editalmente; b) - tem de ser requerida pelo A., que a fundamentará; c) - o Juiz defira, por justificada face aos motivos invocados pelo A.; d) - a petição, quando requerida esta citação, é logo submetida a despacho do Juiz e, caso ele a ordene, só depois de feita a citação se fará a distribuição da petição.

IV - Falta de citação (art. 195º)

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Há falta de citação: a) - quando ela não tenha tido lugar (1-a); b) - quando houve erro na identificação do citando (1-b); c) - quando houve uso indevido da citação edital (1-c); d) - quando tenha sido feita depois da morte ou da extinção do citando (1-d); e) - quando se verifique que o destinatário da citação pessoal não chegou a ter conhecimento do acto, sem culpa sua (1-e), e, se se tratou de envio de carta para citação para domicílio convencionado, o destinatário logo prove a sua mudança de domicílio em data posterior àquela em que ele proclama que se extinguiram as relações emergentes do contrato (nº. 2). Consequências, no caso de, havendo vários réus, ocorrer a falta de citação de um deles (art. 197º): a) - sendo caso de litisconsórcio necessário, anula-se quanto tenha sido praticado após as citações; b) - se se tratar de litisconsórcio voluntário, nada é anulado, mas, se o processo não tiver atingido ainda a fase de marcação de dia para julgamento, o autor pode requerer que se faça a citação omitida e o julgamento não se fará sem que o réu ainda não citado tenha sido admitido a exercer a actividade processual de que tinha ficado privado. Ficará o vício sanado se o réu intervier no processo sem logo o arguir (art. 196º).

V - Consequências da Citação (art. 481º)

a) - faz cessar a boa fé do possuidor; b) - ocasiona estabilidade nos elementos essenciais da causa; c) - impede o réu de propor contra o A. acção para dirimir a mesma questão; d) - interrompe prazo prescricional (art. 323º-1 do Cód. Civil); e) - constitui o devedor em mora, nas obrigações sem prazo certo (art. 805º-1 do Cód. Civil).

VI - Nulidade da Citação

Tem de ser arguida no prazo que foi indicado para apresentação da contestação (art. 198º-2). Só é atendida se se verificar que a falta cometida pode prejudicar a defesa (art. 198º-4). Se o réu ou o Ministério Público intervierem no processo sem logo arguirem a nulidade da falta de citação, a nulidade considera-se sanada (art. 196º).

VII - Falsidade da Citação e outros Actos Judiciais(art. 551º-A)

a) - a da citação deve ser arguida no prazo de 10 dias a contar da intervenção do réu no processo (art. 551º-A-1);

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b) - a dos outros actos, no prazo de 10 dias a contar da data em que se deva entender que a parte teve conhecimento do acto (art. 551º-A-2).

VIII – Efeitos da arguição da falsidade da citação:

a) - suspende-se a instância logo que seja admitida a arguição e quando a falsidade respeitante à citação possa prejudicar a defesa do citando. A suspensão cessa a partir da decisão definitiva da arguição (art. 551º-A-4); b) - o incidente da arguição de falsidade da citação não seguirá se o A., notificado da arguição, requerer a repetição da citação (art. 551º-A-4).

3.2. - Notificação

A - Notificação Judicial Avulsa (art. 261º)

- sua utilidade - em que consiste

- requer-se no tribunal com jurisdição na área de residência do notificando (art. 84º)

- na própria pessoa do notificando - feita por solicitador de execução designado pelo requerente ou pela Secretaria, ou por funcionário judicial se, no requerimento, isso se

requereu - precedendo despacho do juiz

- entrega do duplicado ao notificado, com cópia dos documentos que a acompanhassem

- o executor da notificação lavra certidão, que é assinada pelo notificado

- devolução do original ao requerente - não admite qualquer oposição (art. 262º-1)

- o despacho que a indefira admite recurso, só até à Relação (art. 262º-2).

B - Notificações pela Secretaria

a) - são feitas nas pessoas dos mandatários judiciais constituídos como tais pelas partes, em processos pendentes (art. 253º-1), ou na pessoa da própria parte, se ela não constituiu mandatário (art. 255º-1), mas b) - se se tratar de notificação para a prática de acto pessoal, serão feitas também à parte (art. 253º-2), através de aviso postal registado que indique a data, local e o fim da comparência. c) - se a parte estiver também representada por solicitador, as notificações serão feitas na pessoa deste (art. 253º-3). d) – se os mandatários praticaram os actos processuais através do uso de meios electrónicos, com aposição de assinatura

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electrónica avançada (art. 150º-1-d e e), a Secretaria fará as notificações por correio electrónico e com aposição de assinatura electrónica qualificada (art. 254º-2); fora disso, as notificações e) - são feitas por carta registada dirigida para o escritório ou domicílio escolhido (art. 254º-1), ou pessoalmente, pelo funcionário e no edifício do tribunal, se aí estiverem os mandatários. f) - presumem-se feitas no terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil seguinte, quando o não seja (art. 254º-2), presunção ilidível. g) - não deixam de produzir efeitos se os papeis vierem devolvidos, desde que a remessa tenha sido feita para o escritório ou domicílio escolhido conhecidos no processo, casos em que se consideram feitas no terceiro dia posterior ao do registo e como em f) (art. 254º-3). h) - as notificações para chamar a juízo testemunhas, peritos ou outras pessoas com intervenção acidental fazem-se através de aviso pelo correio, registado, nele se indicando a data, local e fim da comparência (art. 257º-1).

C - Notificações entre os Mandatários das Partes

a) - nas causas em que as partes tenham constituído mandatário judicial, depois da notificação da contestação apresentada pelo réu, ao autor, todos os articulados e requerimentos autónomos serão notificados pelo mandatário judicial do apresentante ao mandatário judicial da contra-parte e no seu respectivo domicílio profissional (art. 229º-A-1), com excepção: I - dos casos previstos no art. 670º-1, ou seja, para arguição de nulidades da sentença ou pedido da sua aclaração ou reforma;

II – do caso previsto no art. 688º-4, ou seja, reclamação contra despacho que não admitiu recurso ou que, admitindo-o, o retenha.

b) - o mandatário judicial que só assuma o patrocínio estando já o processo a correr termos, indicará o seu domicílio profissional ao mandatário judicial da outra parte e, se for caso disso, o seu endereço de correio electrónico (art. 229º-A-2); c) - a notificação faz-se por qualquer dos meios legalmente admissíveis (art. 260º-A-1), e o notificante deverá juntar ao processo o documento comprovativo da data de notificação à contra-parte (art. 260º-A-2), juntamente com a prática do acto no processo; d) – se o mandatário da contra-parte praticou actos processuais por meios electrónicos e com assinatura electrónica avançada (art. 150º-1-d e e), a notificação poderá fazer-se com envio simultâneo do acto processual, através de correio electrónico, para o tribunal e para esse mandatário, ficando, assim, dispensada a junção aos autos do documento comprovativo da notificação (art. 260º-A-3);

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e) - para os casos em que a notificação não foi feita através de correio registado, se a data da notificação for a de dia anterior a feriado, sábado, domingo ou de início de férias judiciais, o prazo para reacção a essa notificação começa a contar-se no primeiro dia útil seguinte ou no primeiro dia posterior ao termo das férias, salvo se se tratar de processo que corra termos durante as férias judiciais (art. 260º-A-3). f) - Nas notificações por correio registado o prazo conta-se do mesmo modo que o aplicável a notificações feitas pela Secretaria (v. supra, A-Os Prazos-A-2, e 3.2-Notificação-B).

I - INÍCIO DA INSTÂNCIA

Início - com a apresentação da petição na Secretaria Geral do tribunal (art. 267º-1). Estabilidade - com a citação do R. (art. 267º-2). Admissibilidade de Indeferimento Liminar (art. 234º-A): a) – quando a citação dependa de despacho prévio a ordená-la e: b) – o pedido seja manifestamente improcedente, ou c) – se ocorrerem, de forma evidente, excepções dilatórias insupríveis de conhecimento oficioso. Nesta hipótese, o autor pode, em 10 dias a contar da notificação do despacho de indeferimento, ou da notificação de decisão que o tenha confirmado, apresentar nova petição, e a acção considera-se proposta na data em que a anterior fora apresentada em juízo (art. 476º). Há recurso do despacho de indeferimento liminar, até à Relação, seja de acção, seja de procedimento cautelar, mesmo quando o valor se contenha na alçada do tribunal de 1ª Instância (art. 234º-A-2). O despacho que admita o recurso ordenará a citação do réu não só para os termos do recurso mas também para os da causa, a não ser que o requerido do procedimento cautelar não deva ser previamente ouvido (art. 234º-A-3). O prazo para a apresentação da contestação começará a contar-se da citação ou a partir da notificação, em 1ª Instância, de que foi revogado o despacho que indeferira liminarmente (art. 234º-A-4), conforme os casos. O princípio da estabilidade da instância admite, porém, que a instância sofra: a) - modificações subjectivas (arts. 269º e 270º): 1 - por incidente de intervenção provocada (art. 325º e segs.), mesmo depois de extinta a instância em virtude de decisão de ilegitimidade de parte, transitada em julgado, proferida no despacho

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saneador (art. 269º-1) e deduzido em 30 dias a contar do trânsito, caso em que a instância se renovará (art. 269º-2); 2 - por substituição de pessoas na relação do objecto da lide, seja por sucessão, seja em consequência de acto entre vivos (art. 270º-a); 3 - como consequência doutros incidentes de intervenção de terceiros (arts. 270º-b e 320º e segs.). b) - modificações objectivas (arts. 272º e segs.): 1 - caso da reconvenção (art. 274º); 2 - a apensação de acções (art. 275º); 3 - alterações do pedido e da causa de pedir (arts. 272º e 273º): 3.1. - por acordo, podem ser alterados ou ampliados em qualquer altura, a não ser que isso perturbe inconvenientemente a instrução, discussão e julgamento da causa; 3.2. - na falta de acordo, a causa de pedir só na réplica, se a houver, a menos que a alteração resulte de confissão feita pelo R. e aceite pelo A.; 3.3. - na falta de acordo, o pedido: I - pode ser alterado ou ampliado na réplica; II - pode ser reduzido em qualquer altura; III - pode ser ampliado até ao encerramento da discussão em 1ª Instância, se for desenvolvimento ou consequência do pedido primitivo; IV - considera-se admissível, ainda, o pedido em que o A. peça a imposição ao réu da sanção a que se refere o art. 829º-A do Código Civil (art. 273º-4); V - nas acções de indemnização por responsabilidade civil, o A. pode alterar o pedido requerendo, até ao encerramento da discussão em 1ª Instância, a condenação do réu em pensão (art. 567º do Código Civil), mesmo que inicialmente tivesse deduzido pedido de condenação em quantia certa (art. 273º-5). VI - podem simultaneamente modificar-se o pedido e a causa de pedir, desde que isso não determine a convolação para diferente relação jurídica (art. 273º-6). VII - a reconvenção é admissível nas hipóteses previstas no art. 274º-2 e ainda se o juiz a autorizar (art. 274º-3), e, se envolver outros sujeitos, o R., na contestação, pode suscitar, quanto a eles, a respectiva intervenção principal provocada (art. 326º), o que, porém, pode ser indeferido pelo juiz se entender que daí resulta inconveniente grave para a instrução (art. 274º-4 e 5).

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VIII - não obsta à apreciação do pedido reconvencional ter havido improcedência da acção ou a absolvição do réu da instância, a não ser que o pedido reconvencional esteja dependente do pedido que o autor formulara (art. 274º-6).

II - SUSPENSÃO DA INSTÂNCIA (art. 276º)

Casos em que ocorre:

a) - por falecimento ou extinção de parte, sem prejuizo do que dispõe o art. 162º do Código das Sociedades Comerciais; b) - quando, sendo obrigatória a intervenção de advogado, este faleça ou se incapacite; c) - quando, não sendo obrigatória a constituição de advogado, faleça ou se incapacite o representante legal do incapaz, a menos que exista mandatário judicial constituído; d) - quando o juiz a ordene; e) - quando a lei a determine expressamente; f) - por acordo das partes, mas por prazo não superior a 6 meses (art. 279º-4).

Consequências:

a) - só se torna admissível a prática de actos urgentes e para evitar dano irreparável (art. 283º-1); b) - inutiliza o tempo já decorrido de prazo em curso, nos casos de a) e b) (art. 283º-2);

c) - os prazos judiciais suspendem-se e, portanto, não correm enquanto dure a suspensão (art. 283º-2).

III - INTERRUPÇÃO DA INSTÂNCIA (art. 285º)

processo parado por mais de 1 ano, por negligência das partes.

IV - EXTINÇÃO DA INSTÂNCIA (arts. 287º e segs.)

a) - com o julgamento; b) - com o compromisso arbitral;

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c) - verificando-se a deserção da instância (ver VI); d) - pela desistência, confissão ou transacção das partes; e) - ocorrendo a impossibilidade ou a inutilidade superveniente da lide.

V - ABSOLVIÇÃO DA INSTÂNCIA (arts. 288º e 289º)

a) - caso de procedência de excepção de incompetência absoluta do tribunal; b) - anulação de todo o processo (arts. 193º e 194º); c) - parte sem personalidade judiciária ou incapaz sem devida representação; d) - ilegitimidade de parte; e) - procedência doutra excepção dilatória. MAS: 1 - não tem lugar se for caso em que o processo deva ser remetido para outro tribunal, ou quando a irregularidade for sanada (art. 288º-2 - v.gr. caso de incompetência relativa (arts. 109º a 111º). 2 - não impede que seja proposta nova acção com o mesmo objecto (art. 289º-1). 3 - sem prejuízo da eventual prescrição ou da caducidade dos direitos, os efeitos civis da propositura da primeira acção mantêm-se se nova acção for proposta, ou o réu for citado para ela, dentro de 30 dias a contar do trânsito em julgado da decisão de absolvição (art. 289º-2).

VI - DESERÇÃO DA INSTÂNCIA (arts. 291º e 292º)

a) - instância interrompida durante 2 anos (ver, supra III); b) - nos recursos: 1 - falta de alegação do recorrente; 2 - parados por mais de 1 ano por inércia do recorrente; 3 - incidente que surja com efeito suspensivo, parado por mais de 1 ano.

VII - RENOVAÇÃO DA INSTÂNCIA

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a) – alguns dos casos vistos em ABSOLVIÇÃO (ver V). b) - nos casos de cessação ou alteração de obrigação alimentícia judicialmente fixada, e em todos os casos de obrigação duradoura modificável com base em circunstâncias super-venientes (art. 292º-1 e 2). c) - quando o incidente de instância de liquidação que seja admitido tenha sido deduzido depois de já ter sido proferida sentença de condenação genérica (arts. 378º-2 e 661º-2).

VIII - CONSEQUÊNCIAS E OPORTUNIDADES DAS DESISTÊNCIAS

a) - A do pedido (extingue o direito - art. 295º-1): 1 - o A. pode fazê-lo em qualquer altura, no todo ou em parte (art. 293º), e 2 - o R. pode confessar o pedido, no todo ou em parte (idem). - a desistência do pedido é livre, salvo quanto a direitos indisponíveis, mas não prejudica a reconvenção, a menos que esta esteja dependente da aceitação do R. (arts. 296º-2 e 299º-1). b) - da instância (extingue o processo - art. 295º-2): 1 - pode fazer-se livremente até ao oferecimento da contestação (art. 296º-1); 2 - após oferecimento da contestação, depende da aceitação do R. (art. 296º-1). MAS: - as pessoas colectivas, as sociedades e os incapazes só podem confessar, desistir e transigir precedendo autorização especial aos seus representantes (art. 297º).

IX - INCIDENTES DA INSTÂNCIA

A - Noção: questão à margem da relação jurídica controvertida com influência no andamento do processo. B - Regras gerais:

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a) - com o respectivo requerimento ou petição, assim como com a oposição que seja deduzida, é logo oferecida e requerida a prova (art. 303º-1); b) - a oposição é apresentada no prazo de 10 dias (art. 303º-2); c) - a falta de oposição determina, quanto à matéria do incidente, o efeito cominatório que vigore na causa em que o incidente foi deduzido (art. 303º-3); d) - há limites quanto à prova testemunhal: 8 testemunhas de cada parte e não mais de 3 quanto a cada facto (art. 304º-1); e) - são gravados ou registados os depoimentos prestados antecipadamente ou por carta (arts. 304º-2 e 522º-A); f) - se prestados no tribunal da causa, são gravados os depoimentos feitos em incidentes que não devam ser instruídos e julgados conjuntamente com a matéria dela, quando da decisão do incidente caiba recurso ordinário e alguma das partes requeira a gravação na petição do incidente ou na oposição deduzida a este (art. 304º-3 e 4); g) - acabada a produção da prova, o Juiz declarará quais os factos provados e não provados, como se procede num normal julgamento (ver adiante) - (art. 304º-5). C - Incidentes Típicos:

C.1. - Verificação do valor da causa (arts. 305º e segs.):

- toda a causa tem um valor (arts. 306º a 312º) - a reconvenção tem um valor, que se soma ao valor da causa (art. 308º-2) - se houver intervenção principal e o interveniente formular pedido distinto do deduzido pelo A., o valor do seu pedido soma-se ao valor da causa (art. 308º-2) - os procedimentos cautelares têm um valor (art. 313º-3) - os incidentes também têm um valor (arts. 313º-1 e 2 e 316º-1), e - se lhes não tiver sido atribuído, terão o valor da causa a que respeitam (art. 313º-1) - o valor do incidente de caução é o da importância a caucionar (art. 313º-2). a) - o R. pode, na defesa, impugnar o valor da causa, mas tem de indicar o valor que lhe reputa adequado (art. 314º-1). b) - do incidente da verificação do valor da causa pode resultar alteração na forma do processo e na competência do tribunal para a causa (art. 319º).

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C.2. - Intervenção de terceiros (arts. 320º e segs.):

C.2.1. - Intervenção Principal (arts. 320º a 334º)

C.2.1.a. - Espontânea (arts. 320º a 324º)

Quem não é parte numa causa pode intervir nela como parte principal: a) - se tiver, em relação ao objecto dessa causa, um interesse igual ao do A. ou ao do R. em situações de litisconsórcio voluntário e necessário (arts. 27º e 28º); b) - se pudesse coligar-se com o A. (veja COLIGAÇÕES). O interveniente faz valer direito próprio, paralelo ao do A. ou ao do réu (art. 321º). Pode fazê-lo em articulado próprio, ou aderindo aos apresentados pela parte a quem se vai associar. Nos casos de a), pode deduzir a intervenção a todo o tempo, enquanto a causa não esteja definitivamente decidida (art. 322º-1). Nos casos de b), só pode deduzir a intervenção enquanto o possa fazer em articulado próprio (idem), ou seja até ao despacho saneador ou, quando a este não houver lugar, até ser designado dia para a audiência de julgamento em 1ª instância ou até ser proferida a sentença, se não houve lugar nem a saneador nem à audiência (art. 322º-2). Na dedução em articulado próprio (por petição ou por contestação) o interveniente ou formula a sua própria petição (intervenção activa), ou contesta a pretensão do A. (intervenção passiva) – art. 323º-1. A dedução em simples requerimento, aceitando a causa no estado em que se encontrar e fazendo seus os articulados ou do A. ou do réu, ocorre se deduzida após proferido o despacho saneador, ou, não havendo lugar a ele, se deduzida até ser designado dia para o julgamento em 1ª Instância, ou até ser proferida a sentença em 1ª Instância (art. 323º-2 e 3), se não houver lugar nem a saneador nem a audiência final. Sequência: a) - se não houver motivo para rejeição liminar, o Juiz manda notificar ambas as partes para responderem; b) - as partes primitivas poderão opor-se com fundamento em não ocorrer nenhum dos casos de admissibilidade; c) - a oposição da parte com a qual o requerente se pretende associar pode fazer-se em simples requerimento a apresentar no prazo de 10 dias; d) - a oposição da outra parte poderá fazer-se também por simples requerimento, e em 10 dias, se não houve dedução do incidente em articulado próprio; e) - se o requerente suscitou a sua intervenção em articulado próprio, a parte contrária deduzirá simultânea oposição ao incidente e oposição ao articulado do interveniente, e seguem-se os demais articulados que sejam admissíveis;

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f) - o Juiz decide da admissibilidade do incidente no despacho saneador ou, se não houver lugar a ele ou ele já tiver sido produzido, logo após o termo do prazo para a oposição (art. 324º).

C.2.1.b. - Provocada (arts. 325º a 329º)

Resulta da iniciativa das partes que chamarão a juízo alguém interessado com direito a intervir (art. 325º-1): a) - o requerente explicitará no requerimento a causa do chamamento e o interesse que, por ele, pretende acautelar (art. 325º-3); b) - o interveniente pode ser chamado para intervir como associado de quem requer ou como associado da parte contrária (art. 325º-1); c) - nos casos de dedução de pedido subsidiário nos termos do art. 31º-B (pedido contra réu diverso do demandado como principal, quando haja dúvida relativamente a quem seja o efectivo sujeito da relação material controvertida), o A. pode também chamar a intervir, na qualidade de réu, terceiro contra quem pretenda deduzir aquele pedido (art. 325º-2); d) - o chamamento para intervenção só pode ser deduzido até ao momento em que poderia ser suscitada a intervenção espontânea em articulado próprio, em articulado ou em requerimento autónomo (art. 326º), excepto: I - nos casos de chamamento para ultrapassar decisão de ilegitimidade (art. 269º - veja I - INÍCIO DA INSTÂNCIA - a)-1); II - nos casos de chamamento, pelo réu, de condevedores ou de principal devedor (art. 329º-1); III - no processo executivo, nos casos de credor ainda não munido de título exequível (art. 869º-2); e) - o chamamento de condevedores ou de principal devedor suscitado pelo réu é deduzido na contestação ou, se ele não pretender contestar, dentro do prazo em que a contestação deverá ser apresentada (art. 329º-1); f) – nos casos de se tratar de obrigação solidária, o condevedor demandado pela totalidade poderá requerer este incidente contra outro ou outros condevedores para exercício do direito de regresso contra estes (art. 329º-2). Sequência: 1) - sobre o incidente é ouvida a parte contrária e, a seguir, o Juiz decide da admissibilidade (art. 326º-2); 2) - admitido, o terceiro é citado, recebendo cópias dos articulados já apresentados, que são fornecidas pelo requerente do chamamento (art. 327º-1 e 2); 3) - o terceiro, citado, pode oferecer articulado próprio ou fazer seus os articulados do A. ou do réu, no prazo da contestação e segue como na intervenção espontânea (art. 327º-3). f) - Consequências: 1 - se o chamado intervier, a sentença julgará do seu direito e fará caso julgado em relação a ele (art. 328º-1);

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2 - se não intervier, a sentença só fará caso julgado quanto a ele se o seu interesse fosse igual ao do A. ou do réu, a não ser se se tratar de chamamento feito pelo A. a eventuais litisconsórcios voluntários activos (art. 328º-2-a), ou quando o A. tenha feito pedido subsidiário nos termos do art. 31º-B (art. 328º-2-b).

C.2.2. - Intervenção Acessória (arts. 330º e segs.)

C.2.2.a. - Provocada

a) - usa-se quando o réu tenha acção de regresso contra terceiro e este não tenha legitimidade para intervir como parte principal (art. 330º-1); b) - o chamado circunscreve a sua intervenção à discussão das questões que tenham repercussão na acção de regresso (art. 330º-2); c) - é deduzida na contestação ou no prazo em que esta deva ser apresentada, no caso de o réu não querer contestar (art. 331º-1); d) - o interveniente passa a ter a posição de assistente (art. 332º-1). Sequência: 1 - ouvido o A., o Juiz decide, deferindo se se convencer da viabilidade da acção de regresso e da sua conexão com a causa principal (art. 331º-2); 2 - é citado o chamado, só se admitindo que o seja pessoalmente, e corre novamente a seu favor o prazo para contestar (art. 332º-1 e 2); 3 - os chamados podem sucessivamente suscitar o chamamento doutros terceiros (art. 332º-3); 4 - a sentença é caso julgado quanto ao chamado nas questões de que dependa o direito de regresso (art. 332º-4); 5 - se decorrerem 3 meses sobre a data em que foi inicialmente deduzido o incidente sem que estejam concretizadas todas as citações necessárias, o A. pode requerer o prosseguimento da causa principal (art. 333º).

C.2.2.b. - Do Ministério Público

De acordo com a Lei Orgânica do Ministério Público (art. 334º).

C.3. - Assistência (arts. 335º e segs.)

Noção - intervenção como auxiliar de qualquer das partes de alguém com interesse jurídico em que a decisão seja favorável a essa parte. Sequência: a) - o requerimento pode ser apresentado em qualquer altura (art. 336º-1); b) - pode ser apresentado autonomamente ou na mesma altura de articulado ou alegação que o assistido esteja em tempo de oferecer (art. 336º-2);

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c) - o requerente tem de aceitar a causa no estado em que ela se encontrar (art. 336º-1); d) - quanto a testemunhas, só poderá completar o rol do assistido (art. 339º); e) - pode requerer-se o depoimento do assistente como parte (art. 337º-3); f) - o assistente tem os mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres que o assistido, mas não pode praticar actos que este tenha perdido o direito de praticar nem estar em oposição com ele (art. 337º-2); g) - em princípio, a sentença faz caso julgado quanto ao assistente (art. 341º).

C.4. - Oposição (arts. 342º e segs.)

C.4.a. - Espontânea

Noção - alguém pretende fazer valer direito próprio, total ou parcialmente incompatível com a pretensão do A. ou do reconvinte (art. 342º-1). Sequência: a) - o requerimento reveste a forma de toda a petição inicial (art. 343º); b) - pode ser apresentado até à designação de dia para a discussão e julgamento da causa, ou, se não houver esta audiência, enquanto não for proferida sentença (art. 342º-2). c) - se a oposição for admitida, o oponente assume na instância a posição de parte principal e é ordenada a notificação das partes primitivas para que, em prazo igual ao que o réu teve para contestar, contestem o seu pedido (art. 344º-1); d) - se uma das partes principais reconhecer o direito do oponente, o processo segue apenas entre este e a outra parte, como A. ou como réu, conforme os casos (art. 346º-1); e) - se ambas as partes principais impugnarem o direito do oponente, o processo segue entre as três partes, com duas causas conexas: uma entre as primitivas partes e a outra entre o oponente e elas (art. 346º-2).

C.4.b. - Provocada

Noção - suscitada pelo réu que, demandado, está disposto a satisfazer a pretensão do A. mas sabe que terceiro se arroga, ou pode arrogar-se, o direito a ela também (art. 347º). Sequência: a) - suscitada dentro do prazo da contestação (art. 347º); b) - o terceiro é citado para deduzir a sua pretensão em prazo igual ao concedido ao réu para a sua defesa (art. 348º); c) - se o terceiro tiver sido citado pessoalmente e não deduzir pretensão alguma, o réu é logo condenado a satisfazer a pretensão do A. e a sentença tem efeito de caso julgado contra o terceiro (art. 349º-1 e 2);

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d) - se o terceiro não foi citado pessoalmente e não deduziu pretensão, a acção segue para que se decida da titularidade do direito (art. 349º-3), caso em que a sentença não impede que o terceiro ou venha exigir do A. o que indevidamente tenha recebido, ou venha reclamar do réu o que lhe seja devido, se demonstrar que o réu omitiu dolosamente ou com culpa grave factos essenciais (art. 349º-4).

C.4.c. - Por Embargos de Terceiro

Noção - alguém, que não é parte na causa, vê-se lesado na sua posse por qualquer acto judicial de apreensão ou entrega de bens (art. 351º-1), ou vê ofendido qualquer direito seu incompatível com a realização ou com o âmbito da diligência. Sequência: a) - processado por apenso à causa em que tenha sido ordenado o acto ofensivo do direito do embargante ou em que a penhora tenha tido lugar (arts. 353º-1 e 832º-1); b) - é deduzido através de petição a apresentar nos 30 dias seguintes àquele em que teve lugar o acto ofensivo, ou em que o embargante teve conhecimento da ofensa, mas não depois de já terem sido vendidos ou adjudicados os bens (art. 353º-2); c) - com a petição se oferecem as provas (art. 353º-2); d) - produzida a prova necessária, os embargos são recebidos ou rejeitados (art. 354º); e) - a rejeição não impede que o embargante intente acção para ver declarada a titularidade do seu direito ou em que reivindique a coisa apreendida (art. 355º); f) - o recebimento determina a suspensão dos termos do processo quanto aos bens a que os embargos digam respeito, e a restituição deles ao embargante, se este a pediu, mas o Juiz pode condicionar esta restituição à prestação de caução (art. 356º); g) - recebidos os embargos, notificam-se as partes primitivas para que os contestem (art. 357º-1).

C.5. - Habilitação

C.5.1. - De herdeiros ou sucessores

Noção - visa, na pendência da causa, habilitar no processo os sucessores de parte falecida. Se, como consequência das diligências para citação do réu, vier a certificar-se o falecimento dele, pode requerer-se a habilitação dos seus sucessores, mesmo que o óbito seja anterior à propositura da acção (art. 371º-2). Pode ser promovida por qualquer das partes que sobrevivem, ou por qualquer dos sucessores da parte falecida (art. 371º-1). É requerida contra as partes sobrevivas e contra os sucessores do falecido que não sejam os requerentes dela. Sequência: a) - o incidente é autuado por apenso, a menos que a qualidade de herdeiro já tenha sido declarada noutro processo ou tenha

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sido reconhecida em habilitação notarial, casos em que se processa nos autos com base em certidão da sentença ou da escritura (arts. 372º-2 e 373º-1); b) - são citados os requeridos ainda não citados para a causa; c) - são notificados os demais requeridos (art. 372º-1); d) - a improcedência não obsta a que se suscite um novo incidente de habilitação (art. 372º-2); e) – se a nova habilitação for fundamentada nos mesmos factos, poderá ser deduzida no mesmo processo da primeira e com oferta doutras provas, mas, neste caso, o requerente não verá as custas da primeira habilitação consideradas na conta final da acção respectiva (idem); f) - o incidente suscitado nos tribunais superiores é julgado pelo Relator (art. 377º-1).

C.5.2. - De Cessionário

A habilitação é sempre autuada por apenso (art. 376º-1-a). Pode ser requerida pelo cedente, pelo cessionário ou pela parte contrária (art. 376º-2). Na contestação, o requerido pode impugnar a validade do acto de transmissão ou sustentar que ele foi realizado para tornar mais difícil a sua posição no processo (art. 376º-1-a). Há possibilidade de resposta à contestação. Se não for apresentada contestação, o Juiz analisa se o documento faz prova da realidade da cessão e, considerando que sim, julga habilitado o cessionário (art. 376º-1-b).

C.6. - Liquidação

Noção - incidente destinado a tornar líquido um pedido genérico (arts. 378º a 380º), quando se refira a uma universalidade ou a consequências de um facto ilícito. Sequência: a) - a deduzir antes de começar a discussão da causa ou mesmo depois de proferida sentença de condenação genérica (art. 378º-1 e 2); b) - deduzido em duplicado, no qual se conclui por pedido de quantia certa (art. 379º); c) - a oposição é apresentada em duplicado (art. 380º-1); d) - a liquidação é discutida e julgada com a causa principal (art. 380º-2), quando tenha sido deduzida antes de começar a discussão da causa; e) - se a liquidação foi deduzida depois de proferida a sentença, e se o réu a contestar, ou se, não a contestando ele, a revelia deva ter-se por inoperante, seguem-se os termos do processo sumário de declaração (art.380º-3); f) – se a prova produzida se afigurar ao Juiz insuficiente, este completá-la-á através de indagação oficiosa, mesmo fazendo uso da prova pericial (art. 380º-4).

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PROCEDIMENTOS CAUTELARES

A - Em Geral / Cautelar Comum

Noção - Alguém mostra receio fundado em que outrem cause lesão grave ou dificilmente reparável ao seu direito, seja este existente ou direito emergente de decisão a proferir em acção já proposta ou a propor (art. 381º). Pode requerer a adequada providência conservatória ou antecipatória, e o respectivo processo tem carácter urgente (art. 382º). Regras Gerais: obedecem às regras que lhes são próprias e, subsidiariamente às dos incidentes da instância (arts. 384º-1 e 3 e 302º a 304º), ou seja: a) - com a petição são logo indicados os meios de prova (arts. 384º-3 e 303º-1); b) - nela, o requerente oferece prova sumária do seu direito ameaçado e justificará o receio da lesão, com excepção, neste aspecto, dos casos de arrolamento de bens quanto a casais desavindos (art. 427º-3); c) - o tribunal ouvirá o requerido, a menos que a sua audição ponha em risco sério o fim ou a eficácia da providência (art. 385º-1); d) - se deva ser ouvido antes do decretamento da providência, o requerido é citado para deduzir oposição; será notificado para tanto se já foi citado para a causa principal (art. 385º-2); e) - a dilação, quando a ela haja lugar, nunca pode exceder a duração de 10 dias (art. 385º-3); f) - a oposição é deduzida em 10 dias, também com inclusão dos meios de prova (arts. 384º-3 e 303º-1 e 2); g) - quanto a testemunhas, só 3 para cada facto e até 8 no total, para cada parte (arts. 384º-3 e 304º-1); h) - são sempre gravados os depoimentos quando o requerido não haja de ser previamente ouvido (art. 386º-4); i) - a audiência final só pode ser adiada uma vez, no caso de falta de mandatário de parte, e deve realizar-se num dos cinco dias seguintes (art. 386º-2). Ficam sem efeito (art. 389º):

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a) - se não for proposta a acção de que sejam dependência dentro do prazo de 30 dias a contar da notificação da decisão que os decrete (art. 389º-1-a); b) – se, porém, a providência tiver sido decretada sem audição prévia do requerido, é de 10 dias o prazo para propositura da acção principal, contado da notificação ao requerente de que teve lugar a notificação ao requerido da decisão que a decretou (art. 389º-2), salvo o caso especial do arresto (veja infra f); c) - se, proposta essa acção, o processo estiver parado por mais de 30 dias por negligência do requerente (art. 389º-1-b); d) - se essa acção vier a ser julgada improcedente, com trânsito em julgado (art. 389º-1-c); e) - se, tendo havido absolvição da instância, o requerente não propuser nova acção, ou o requerido não for citado para ela, dentro de 30 dias contados do trânsito em julgado da sentença de absolvição (arts. 389º-1-d e 289º-2); f) - no caso do arresto, também se, obtida sentença condenatória transitada, o requerente não promover a respectiva execução dentro do prazo de 2 meses, ou se, promovida a execução, o processo estiver parado por mais de 30 dias por negligência do exequente (art. 410º); g) - se se extinguiu o direito que o requerente procurara acautelar (art. 389º-1-e). Outros aspectos: a) - são sempre dependência duma acção que tenha por fundamento o direito acautelado, pelo que são apensos aos autos desta (art. 383º-1): 1 - depois de processados, se foram preliminares a esta acção; OU 2 - processados por apenso, se requeridos como incidente dela (art. 383º-2 e 3). b) - só podem requerer-se se houver ainda dano a acautelar. c) - o tribunal pode recusar a providência pedida se o prejuízo dela resultante para o requerido exceder consideravelmente o dano que o requerente pretende evitar (art. 387º-2). d) - o tribunal, se o julgar conveniente em face das circunstâncias do caso, mesmo sem audição prévia do requerido, pode tornar o deferimento da providência dependente da prestação de caução adequada pelo requerente (art. 390º-2), nos casos de arresto e de embargo de obra nova (art. 392º-2). e) - a pedido do requerido, a providência poderá ser substituída por adequada caução se, ouvido o requerente, esta se mostrar suficiente para acautelar ou reparar a lesão (art. 387º-3).

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f) - se indeferidos, ou se caducarem, não pode o requerente tentar outra providência idêntica como dependência da mesma causa (art. 381º-4). g) - se injustificados, ou se caducarem por facto do requerente, este é responsável pelos danos que tenha com eles causado ao requerido, quando não tenha agido com a normal prudência, a não ser quando se trate de alimentos provisórios, pois que, aqui, só responderá se tiver agido com má fé (art. 402º), sendo a indemnização fixada equitativamente; não haverá, porém, lugar à restituição dos alimentos entretanto pagos (art. 2.007º-2 CC.). h) - no procedimento cautelar comum, no caso de deferimento, o Juiz não está vinculado à providência concretamente requerida, pelo que pode decretar medida cautelar diferente que a ele lhe pareça mais conveniente à defesa do direito ameaçado (art. 392º-3). i) - no procedimento cautelar comum podem cumular-se pedidos de providências cautelares, mas com observância das regras da coligação (art. 31º-2 e 3). j) - não cabe recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de decisões proferidas em procedimentos cautelares, a não ser nos casos em que, por lei, o recurso seja sempre admissível (art. 387º-A). Oposição: a) - se o requerido não foi previamente ouvido, pode, em alternativa (art. 388º): 1 - recorrer do despacho que decretou a providência, se entender que ela não devia ter sido deferida face aos elementos dos autos; OU 2 - deduzir oposição se pretender alegar factos ou fornecer meios de prova que o tribunal não teve em conta. b) - se o requerido foi previamente ouvido, pode, apenas recorrer, pois que já se opôs (arts. 385º e 388º).

B - Especificados (arts. 393º e segs.)

I - Restituição Provisória de Posse

Tem lugar quando tenha havido esbulho violento da posse. Há que alegar: a) - factos constitutivos da posse; b) - o esbulho; c) - a violência (art. 393º). É ordenada, face às provas produzidas, sem citação nem audiência do esbulhador (art. 394º).

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Se não se verificar o esbulho com violência mas simples esbulho ou perturbação da posse, o possuidor pode socorrer-se de procedimento cautelar comum (art. 395º).

II - Suspensão de Deliberações Sociais

A requerer em 10 dias após a deliberação a suspender ou, se o requerente não foi regularmente convocado para a assembleia, da data em que teve conhecimento daquela (art. 396º-1 e 3). Há que alegar: a) - a qualidade de sócio; b) - factos dos quais se depreenda que a execução da deliberação pode causar dano apreciável; c) - a violação da lei, dos estatutos ou do contrato. Mesmo que a deliberação seja ilegal, o Juiz pode não deferir a suspensão se entender que o prejuízo resultante dela é superior ao que derivará da sua execução (art. 397º-2). Este procedimento é aplicável a deliberações de assembleia de condóminos (art. 398º). Há registo da suspensão na Conservatória do Registo Comercial (art. 9º).

III - Alimentos Provisórios

Noção: requer-se a fixação de quantia mensal a receber a título de alimentos enquanto não houver pagamento da primeira prestação de alimentos definitivos, como dependência de acção na qual, principal ou acessoriamente, se peça a prestação de alimentos (art. 399º-1). Há que invocar o direito a alimentos à custa do requerido e alegar as necessidades no que seja o estritamente necessário para sustento, habitação e vestuário (art. 399º-2). Complementarmente, o requerente, se não tiver por si o benefício do apoio judiciário, pode pedir, ainda, verba para custear as despesas da acção, que será definida à parte da que tiver que ver com os alimentos propriamente ditos. Regras: a) - recebida a petição, logo instruída com os meios de prova, é designado dia para o julgamento (art. 400º-1); b) - são advertidas as partes de que devem comparecer pessoalmente ou fazer-se representar através de procurador com poderes especiais para transigir, na audiência; c) - a contestação e os meios de prova desta são apresentados no acto do julgamento (art. 400º-2); d) - na audiência, o Juiz procura obter a fixação da pensão de alimentos por acordo e, se o obtiver, homologá-lo-á por sentença; e) - se alguma das partes faltar, ou se se frustrar a tentativa de conciliação, far-se-á a produção da prova e o Juiz decide oralmente, por decisão sucintamente fundamentada (art. 400º-3);

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f) - os alimentos são devidos a partir do primeiro dia do mês subsequente à data da dedução do pedido (art. 401º-1); g) - alteração ou cessação ulterior da prestação de alimentos é deduzida no mesmo processo (art. 401º-2).

IV - Arbitramento de Reparação Provisória

Noção: é a adjectivação da faculdade conferida no art. 495º-3 do Cód. Civil (3º com direito a alimentos à custa de lesado que faleceu), assim como aplicável aos lesados nos casos de acção de indemnização por morte ou lesão corporal (art. 403º-1) e em casos em que a pretensão se fundamente em dano susceptível de pôr seriamente em causa o sustento ou a habitação do lesado (nº. 4). O arbitramento é requerido como dependência dessa acção e sob a forma de renda mensal em quantia certa, como reparação provisória desse dano. A fixação é feita equitativamente pelo Juiz (art. 403º-3). Há que alegar (art. 403º-2 e 4): a) - a necessidade; b) - indícios da existência da obrigação. Regras: as próprias dos Alimentos Provisórios, sendo que a falta de pagamento da reparação provisória provocará que a decisão seja logo exequível e segundo a execução especial por alimentos (art. 404º). Se a providência vier a caducar, o requerente dela terá de restituir as prestações que tiver recebido, segundo as regras do enriquecimento sem causa (art. 405º-1).

V - Arresto

Noção: apreensão judicial de bens, sendo aplicáveis as regras da penhora (art. 406º-2), para defesa da eventual perda de garantia patrimonial de direito de crédito. Há, portanto, desapossamento de quem possuía os bens. Regras: a) - processado sem audição prévia da parte contrária (art. 408º-1); b) - o requerente deve alegar e referir (art. 407º): 1 - factos que tornam provável a existência do seu crédito; 2 - factos dos quais se depreenda o justo receio invocado; 3 - se o arresto for requerido contra o adquirente de bens do devedor, o requerente deve, ainda, deduzir factos que tornem provável a procedência da impugnação da aquisição, se não mostrar que já a impugnou judicialmente; 4 - a relacionação dos bens que devem ser arrestados, com as indicações necessárias à realização da diligência.

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c) - se o arresto tiver sido requerido em mais bens que os necessários à segurança normal do crédito, será reduzido aos seus justos limites (art. 408º-2); d) - o arrestado não pode ser privado do necessário aos alimentos, seus e da sua família, arbitrados como nos alimentos provisórios (art. 408º-3); e) - no caso especial de arresto em navios e sua carga, além dos requisitos já ditos, o requerente deve demonstrar que a penhora é admissível atenta a natureza do crédito (art. 409º-1) e a apreensão não terá lugar a partir do momento em que o devedor ofereça caução que seja aceite pelo credor ou que o Juiz julgue idónea, em decisão a proferir em dois dias (art. 409º-2); f) - sujeito a prazo especial de caducidade (art. 410º).

VI - Embargo de Obra Nova Noção: defesa do direito de propriedade, singular ou comum, de qualquer outro direito real ou pessoal de gozo, ou da posse, por virtude de obra, trabalho ou serviço que cause ou ameace causar prejuízo (art. 412º-1). Há que alegar (arts. 412º-1 e 419º): a) - o direito ou a posse; b) - a obra, trabalho ou serviço; c) - o prejuízo. Especialidades: a) - a requerer judicialmente dentro do prazo de 30 dias a contar do conhecimento do facto (art. 412º-1); b) - o embargo extrajudicial (art. 412º-2); c) - necessidade de ratificação judicial dele em 5 dias, sob pena de ficar sem efeito (art. 412º-3); d) - embargante e embargado podem, no acto do embargo, mandar tirar fotografias da obra que serão juntas ao processo, com indicação do nome do fotógrafo e identificação da chapa fotográfica (art. 418º-3); e) - a autorização para continuação da obra (art. 419º): 1 - quando se reconheça que a demolição restituirá o embargante ao estado anterior à continuação da obra; OU 2 - quando se verifique que o prejuízo resultante da paralisação da obra é consideravelmente superior ao que advirá da continuação dela. Em qualquer dos casos, mediante prestação prévia de caução às despesas de demolição total.

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f) - se o embargado continuar a obra, depois de lhe ter sido notificado o embargo, o embargante pode exigir a destruição da parte inovada, e, se o embargado, condenado a destrui-la, a não destruir, o embargante pode promover execução para prestação de facto, a processar nos autos (art. 420º).

VII - Arrolamento

Noção: descrição, avaliação e depósito dos bens acerca dos quais o requerente tenha justo receio de extravio, ocultação ou dissipação, sejam bens móveis, sejam imóveis, sejam documentos (arts. 421º-1 e 424º), salvo o caso dos arrolamentos especiais em que o justo receio se presume (art. 427º). Não há, portanto, desapossamento dos bens quanto a quem os tenha. Regras: a) - é dependência da acção à qual interesse a especificação dos bens ou a prova da titularidade dos direitos referentes aos bens arrolados (art. 421º-2); b) - descrição, avaliação e depósito dos bens (art. 424º), excepto quanto a documentos, pois estes não têm de ser avaliados (art. 424º-4); c) - nomeação de fiel depositário e de avaliador, sendo este dispensado de juramento (art. 423º-2); d) - o depositário será o cabeça de casal, se houver de proceder-se a inventário quanto aos bens arrolados, e, nos demais casos, o próprio possuidor ou detentor dos bens, a menos que haja claro inconveniente nisso (art. 426º-1 e 2).

DESENVOLVIMENTO DA INSTÂNCIA

Formas de Processos Declarativos:

I - Comuns:

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a) - Ordinário: quando o valor da causa exceda o da alçada da Relação (art. 462º na redacção dada pelo Dec.-Lei nº. 375-A/99, de 20 de

Setembro); b) - Sumário: quando o valor da causa não exceda o valor da alçada da

Relação (art. 462º, idem); c) - Sumaríssimo: quando o valor da causa não exceda o da alçada da 1ª

Instância e a acção se destinar: * ao cumprimento de obrigações pecuniárias não emergentes de

contratos, ou * à indemnização por dano; ou * à entrega de coisas móveis (art. 462º, idem).

As disposições da disciplina do processo ordinário são supletivas para todas as formas de processos de declaração (art. 463º-1). O processo sumário regula-se pelas regras que lhe são próprias e, supletivamente, pelas do ordinário. O processo sumaríssimo regula-se pelas regras que lhe são próprias e, supletivamente, primeiro pelas do sumário e, em segundo lugar, pelas do ordinário (art. 464º)

II - Especiais: Existe o que foi criado para os casos de acções que se destinam a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não excedente ao da alçada da 1ª instância, pelo Dec.-Lei nº. 269/98, de 1 de Setembro, que depois seria alargado a acções dessas de valor não excedente ao da alçada da Relação. Há vários outros que se mostram regulados no Título IV do Cód. Proc. Civil: v. gr., interdições, prestações de contas, acções de arbitramento, inventário, separações e divórcios, fixação judicial de prazo, notificações para preferência, exercício de direitos sociais, etc., etc.. Os processos especiais regulam-se pelas regras que lhes são próprias e, supletivamente, pelas do ordinário. Neles, há lugar ao registo ou gravação dos depoimentos prestados antecipadamente ou por carta, ou nos casos em que assim seja requerido pela parte ou o tribunal o determine, quando a decisão final seja susceptível de recurso ordinário (arts. 463º-2, 522º-A e 522º-B). Neles, os recursos que sejam interpostos de sentença ou de despachos que decidam do mérito da causa, são de apelação (art. 463º-5).

O PROCESSO ESPECIAL PARA CUMPRIMENTO DE PEQUENAS OBRIGAÇÕES

O Dec.-Lei nº. 269/98, de 1 de Setembro, que entrou em vigor em 1 de Novembro do mesmo ano, aprovou um processo especial que, nessa altura, era o aplicável quando se pretendesse exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor que não excedesse o da alçada do tribunal de 1ª Instância. Este diploma foi mais tarde alterado pelos Decs.-Lei nºs. 383/99, de 23 de Setembro, 183/2000, de 10 de Agosto, e 107/05, de 1 de Julho, e agora este processo é

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aplicável para exigência do cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor que não exceda o da alçada do Tribunal da Relação (art. 1º). As regras deste processo especial são fundamentalmente as seguintes: a) - sem necessidade de revestirem a forma de articulado, a petição e a contestação são apresentadas em duplicado, devem expor sucintamente a pretensão e a oposição, e seus fundamentos, e aquela dizer se o local referido para nele ter lugar a citação é o de domicílio convencionado (art. 1º-1 e 3 do Anexo e art. 2º-1 do cit. Dec.-Lei); b) - nos casos de domicílio não convencionado, a citação é feita através dos meios utilizáveis em geral para a citação; c) – nos casos de domicílio convencionado, a citação faz-se por via postal registada e com aviso de recepção e, se houver recusa pelo destinatário, o distribuidor lavra nota disso antes de devolver a carta, considerando-se feita a citação face à certificação da ocorrência (arts. 1º-A e 12º-A, e CPC, art. 237º-A-3); d) - se a devolução da carta foi pelo facto de o destinatário não a ter procurado no prazo legal, ou por ter havido recusa de assinatura do aviso de recepção ou do recebimento da carta por pessoa diversa do citando, repete-se a citação mediante o envio de nova carta registada e com aviso de recepção ao citando, agora com a advertência de que a citação se considerará feita na data que for certificada pelo distribuidor ou no 8º dia posterior à data em que lhe tenha sido deixado aviso para levantamento dela, presumindo-se que o citando ficou conhecedor de todos os elementos necessários (CPC, art. 237º-A-4); e) - a contestação deve ser apresentada dentro do prazo de 15 dias, a contar da citação (art. 1º-2), se o valor da acção não exceder a alçada do tribunal de 1ª Instância, ou no prazo de 20 dias nos demais casos; f) - se, citado pessoalmente, o réu não contestar, o Juiz confere força executiva à petição, a menos que surpreenda alguma excepção dilatória que proceda ou se o pedido se lhe afigurar manifestamente improcedente (art. 2º); g) - se a acção dever prosseguir, o Juiz marca data para a audiência de julgamento, a realizar dentro de 30 dias.

A notificação desta ao autor deverá ir acompanhada do duplicado da contestação que o réu tenha apresentado;

h) - é na audiência que as partes oferecerão as provas que, quanto

a testemunhas, não poderão exceder o número de 3 por cada parte se o valor da causa não exceder a alçada da 1ª Instância, e de 5 nos demais casos (arts. 1º-4 e 3º); i) – não é aplicável o disposto no art. 155º-1 a 3 do Cód. Proc. Civil para a marcação da audiência, quanto a acções cujo valor não exceda a alçada da 1ª Instância (art. 3º-2); j) – se a decisão final admitir recurso ordinário, qualquer das partes poderá requerer a gravação da audiência (art. 3º-3);

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l) - não é motivo de adiamento do julgamento a falta de qualquer das partes, ainda que justificada, e, nas acções de valor não superior à alçada do Tribunal de 1ª Instância, também a dos seus mandatários (art. 4º-2); m) – nas acções de valor superior à alçada da 1ª Instância, havendo adiamento da audiência, esta deverá realizar-se num dos 30 dias seguintes e não poderá haver segundo adiamento (art. 4º-3);

n) - estando as partes presentes ou representadas, o Juiz tentará conciliá-las; frustrando-se a conciliação, procede-se à produção da prova pertinente (art. 4º-1); o) - é o Juiz quem faz a inquirição das testemunhas quando falte o mandatário ou quando a parte o não tenha constituído, nas acções de valor não superior à alçada da 1ª Instância (art. 4º-4); p) – a parte não poderá produzir mais de 3 testemunhas sobre cada um dos factos que pretenda provar, mas não se contam aquelas que tenham declarado nada saber (art. 3º-5);

q) - é permitido o depoimento por escrito quanto a testemunha que tenha conhecimento dos factos por causa do exercício das suas funções; o escrito terá de ser datado e assinado pelo depoente, que nele deverá ainda indicar a acção a que respeita, os factos que conhece e a sua razão de ciência, e deverá ir acompanhado de cópia de documento de identificação da testemunha e consignar se esta tem alguma relação de parentesco, de afinidade ou de dependência com qualquer das partes e se tem algum interesse na causa (art. 5º-1 e 2). Se o entender, o Juiz poderá, oficiosamente ou a requerimento das partes, ordenar a renovação deste depoimento na sua presença (art. 5º-3); r) - o Juiz pode suspender a audiência quando entenda necessário que se proceda a alguma diligência para bem decidir, e a prova pericial é feita com recurso apenas a um perito (art. 4º-5); s) - a sentença é sucintamente fundamentada e é logo ditada para a acta (art. 4º-7).

Formas de Processos Executivos:

Existem os processos de execução para pagamento de quantia certa, para entrega de coisa certa e para prestação de facto. Há o processo comum, que segue forma única (art. 465º) e execuções especiais, às quais se aplicam subsidiariamente as disposições do processo comum (art. 466º-3). Ao processo comum são subsidiariamente aplicáveis, com as necessárias adaptações, as normas que regulam o processo de declaração que se mostrem compatíveis com a natureza da acção executiva (art. 466º-3). Às execuções para entrega de coisa certa e para prestação de facto são aplicáveis, na medida do possível, as disposições da execução para pagamento de quantia certa (art. 466º-2).

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DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO COMUM ORDINÁRIO DE DECLARAÇÃO

I - A PETIÇÃO INICIAL

a) - deve ser elaborada por artigos (articulado), tal como a contestação, por regra, como modo de facilitar a futura elaboração do despacho saneador, quando deva ter lugar a sua elaboração, e mesmo sempre, quanto mais não seja como exercício mental. A articulação: cada item, tendencialmente um facto. Redacção clara e curta. Sequencialmente, desenvolvimento de raciocínio lógico. A distinção entre matéria de facto e matéria de direito. O silogismo que conduz à correcta formulação do pedido, ou dos pedidos. b) – se apresentada sem utilização de meios electrónicos deve ir acompanhada de duplicados em número suficiente consoante o número de pessoas contra as quais a acção seja intentada (art. 152º-1), mais um exemplar para arquivo e para eventual reforma dos autos (nº. 5); c) – a petição pode ser entregue directamente na Secretaria, pode ser a ela remetida pelo correio, sob registo, ou ainda ser-lhe enviada por tele-cópia ou por correio electrónico, mas, se usado este, tem de ter a aposição da assinatura digital do seu signatário, certificada (art. 150º-2); d) – se foi remetida através de tele-cópia, há que entregar-se na Secretaria, e no prazo geral, o seu original, com necessários duplicados e documentos com suas cópias no número necessário, além do documento que comprove o pagamento da taxa de justiça inicial, quando devida; e) – se foi remetida através de correio electrónico, o autor terá de, no prazo de 5 dias a contar da distribuição, apresentar todos os documentos que a devam acompanhar (art. 150º-3 e 4), assim como o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça inicial, sob pena de desentranhamento desta (art. 150º-A-3), e a citação não se fará enquanto não estiver no processo esse documento (nº. 4); fora disso, f) – a petição, em geral, deve ser acompanhada do documento comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça ou da concessão do benefício de apoio judiciário correspondente (arts. 150º-A-1 e 467º-3); g) - nos casos de procedimento de carácter urgente, se foi requerida a citação urgente (art. 478º), ou se, no dia da apresentação da petição, faltarem menos de 5 dias para o termo de prazo de caducidade do direito exercitado na acção e o autor estiver a aguardar decisão sobre a concessão de apoio judiciário, o autor deve juntar documento comprovativo da apresentação do pedido de apoio judiciário (art. 467º-4); h) - nos casos excepcionais referidos em g), o autor tem de fazer o pagamento da taxa de justiça inicial no prazo de 10 dias a contar da notificação da decisão que tenha indeferido o pedido de apoio

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judiciário sob pena de desentranhamento da petição, a não ser que aquela decisão só lhe tenha sido notificada depois de feita a citação do réu (art. 467º-5); i) – se utilizado o envio por correio electrónico, não há que oferecer duplicados em papel, pois é a Secretaria que os extrairá na medida do necessário para realizar a citação (art. 152º-7).

Elementos que deve conter (art. 467º):

a) - identificação do Tribunal a que se dirige, b) - identificação das partes (nomes, domicílios ou sedes e, se

possível, profissões e locais de trabalho), c) - indicação da forma do processo,

d) - articulação dos factos que sirvam de fundamento à acção, e) - indicação das razões de direito aplicáveis,

f) - conclusão por formulação de pedido, ou pedidos, g) - indicação do valor da causa,

h) - designação do solicitador de execução que efectuará a citação ou do mandatário judicial que a promoverá,

i) – indicação do domicílio profissional do mandatário judicial.

Elementos acessórios que pode conter:

a) - a indicação de testemunhas, b) - requerimento doutras provas (art. 467º-2).

NOTE, porém, a final em “PROCESSO EXPERIMENTAL”.

Como deve ser apresentada: a) - se não a apresentar digitalizada, os duplicados (art. 152º-1 e 5),

b) - consequência da não entrega dos duplicados (art. 152º-3), c) - acompanhada dos documentos pertinentes aos factos, com cópias

(arts. 523º e 152º-2), d) - acompanhada do instrumento de mandato forense,

e) - se bem que o papel seja indiferente, conveniência em que seja de cor, pois que facilita a consulta dos autos,

f) - assinada.

Onde deve ser apresentada: na Secretaria Geral.

Recusa da petição pela Secretaria (art. 474º)

Pode fazê-lo mediante indicação por escrito das razões da rejeição, que podem ser: a) - a petição não se mostrar endereçada; b) - a petição vir endereçada a outro tribunal ou autoridade; c) - a petição omitir a identificação das partes e dos seus elementos identificativos obrigatórios; d) - a petição não indicar o domicílio profissional do mandatário judicial; e) - a petição não indicar a forma do processo; f) - a petição não conter a indicação do valor da causa;

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g) - a petição não vir acompanhada do documento comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça inicial, fora dos casos de envio por meios electrónicos, ou de documento que ateste a concessão de apoio judiciário ou a apresentação do respectivo requerimento, nos termos gerais; h) - a petição não se mostrar assinada; i) - a petição não estar redigida em língua portuguesa; j) - o papel usado na petição não obedecer aos requisitos regulamentares (folhas de papel A4, brancas ou de côr pálida - Dec.-Lei nº. 112/90, de 4 de Abril).

Consequências: a) - cabe reclamação para o Juiz do acto de recusa (art. 475º-1); b) - cabe recurso até à Relação do despacho do Juiz que confirme a recusa da petição (art. 475º-2); c) - o A. tem a faculdade de apresentar outra petição, ou de juntar o documento comprovativo do pagamento prévio da taxa de justiça inicial ou o documento que comprove a concessão de apoio judiciário fora dos casos do nº. 4 do art. 467º, dentro do prazo de 10 dias contado da recusa ou da notificação do despacho que tenha confirmado esta. Se o fizer, considera-se a acção proposta na data em que a primeira entrou em juízo (art. 476º). Cuidado subsequente: quando tenha sido formulado pedido de apoio judiciário, a consulta da pauta da distribuição, se houve esta, a fim de poder saber dar conhecimento no processo do que venha a ocorrer relativamente àquele pedido.

II - PEDIDOS

a) - Alternativos: deduzidos com relação a direitos que, por sua natureza ou origem, sejam alternativos ou se resolvam em alternativa (art. 468º). b) - Subsidiários: são deduzidos para serem tomados em consideração apenas quando não proceda um outro pedido anterior (art. 469º). c) - Genéricos: 1 - quando o objecto mediato da acção seja uma universalidade; 2 - quando ainda não seja possível determinar, definitivamente, as consequências de facto ilícito, ou o lesado use da faculdade dada pelo art. 569º do Cód. Civil; 3 - quando a liquidação esteja dependente de prestação de contas ou doutro acto que o réu deva praticar (art. 471º-1). d) - Cumulação: pode o autor deduzir, no mesmo processo e contra o mesmo réu, vários pedidos que se mostrem compatíveis se não existirem impedimentos à coligação, e, nas acções de divórcio ou de separação litigiosas, pode cumular-se o pedido de fixação de direito a alimentos (art. 470º-2).

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III - INDEFERIMENTO LIMINAR DA PETIÇÃO

Veja o que ficou explicado acerca da Admissibilidade de INDEFERIMENTO LIMINAR.

IV - CITAÇÃO DO RÉU

Veja o que ficou explicado em 3 - 1.1. CITAÇÃO.

V - REVELIA DO RÉU

Noção – dá-se quando o réu não contestar e não constituir mandatário, nem intervier no processo de qualquer forma, nas situações em que foi, ou deva considerar-se como tendo sido, regularmente citado (art. 483º), e o tribunal verificar que a citação foi realizada com as formalidades legais (revelia absoluta). Se o tribunal verificar que houve preterição de formalidades na citação, mandará repetir esta. Consequências (cominação) - consideram-se confessados os factos articulados pelo autor (arts. 480º e 484º-1), excepto: a) - quando, havendo vários réus, um deles conteste, mas quanto aos factos que este impugne (art. 485º-a); b) - quando o réu, ou algum deles, for incapaz e a causa estiver no âmbito da sua incapacidade (art. 485º-b); c) - se houve lugar a citação edital de réu incapaz e este permaneça em revelia absoluta (art. 485º-b); d) - quando se discutam direitos indisponíveis (art. 485º-c); e) - quando se trate de factos para cuja prova a lei exija documento escrito (art. 485º-d). Sequência: a) - é facultado o processo a exame por 10 dias (art. 484º-2); b) - apresentação, no dito prazo, das alegações; c) - é proferida sentença, que pode excepcionalmente, limitar-se à decisão (art. 484º-2 e 3).

VI - CONTESTAÇÃO

Prazo - Em 30 dias, a contar da citação (art. 486º-1). O prazo começa a correr desde o termo da dilação: a) - nos casos de citação em pessoa diversa do réu, de 5 dias; b) - quando o réu foi citado fora da área da comarca, de 5 dias (arts. 148º e 252º-A-1);

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c) – se o réu foi citado em território de Regiões Autónomas, correndo a causa no Continente ou noutra Ilha, e vice-versa, de 15 dias (art. 252º-A-2); d) - se o réu foi citado para a causa no estrangeiro, a dilação é de 30 dias (art. 252º-A-3); e) - se o réu foi citado por via edital ou quando houve recusa de aceitação da carta para citação, ou não reclamação desta carta e também não foi possível citar em pessoa diversa do citando, casos em que o distribuidor certifica a data e o local em que depositou o expediente, a dilação é de 30 dias (arts. 252º-A-3 e 237º-A-5); f) - se se tratar de procedimento cautelar, a dilação nunca pode exceder a duração de 10 dias (art. 385º-3). Se houver diversos réus, e o prazo para cada um contestar terminar em dia diferente, a contestação pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar (art. 486º-2). Se o autor desistir da instância ou do pedido quanto a réu ainda não citado, os demais que ainda não contestaram serão notificados dessa desistência e conta-se a partir desta notificação o prazo para apresentação da contestação deles ou das contestações deles (art. 486º-3). Pode ainda ser pedida prorrogação do prazo, e esta ser concedida até ao limite máximo de 30 dias, quando o tribunal entender que existe motivo sério que impede ou dificulta anormalmente ao réu ou ao seu mandatário judicial a organização da defesa, mas a formulação de tal pedido não suspende o prazo em curso (art. 486º-5 e 6). Esta extensão do prazo nada tem que ver com as possibilidades de praticar acto judicial fora do prazo (arts. 145º-5 e 146º). Se formulado esse pedido, o juiz decidirá em 24 horas, sem possibilidade de recurso, e a decisão é imediatamente notificada ao requerente (486º-6). Há lugar ao pagamento da taxa de justiça inicial, comprovado com a apresentação da contestação, ou nos 10 dias subsequentes a esta apresentação, ou em 10 dias a contar da notificação de indeferimento de pedido de apoio judiciário correspondente, conforme já oportunamente dito (art. 24º-1-b do Cód. Custas Judiciais). Requisitos da contestação (art. 488º): a) - identificação da acção; b) - articulação das razões de facto e de direito por que o réu se opõe à pretensão do A.; c) - especificação separada das excepções deduzidas nela; d) - indicação do domicílio profissional do mandatário judicial; e) - facultativamente, o rol de testemunhas e requerimento de prova (art. 467º-2); f) - assinatura do réu ou do seu mandatário judicial, quando a constituição de mandatário for obrigatória. Apresentação:

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a) - apresentada como se disse quanto à petição inicial (art. 150º); b) – embora com a apresentação da contestação deva ir o documento que comprove o pagamento da taxa de justiça inicial que seja devida, o facto de a não acompanhar não pode ser motivo de recusa da contestação pela Secretaria e o referido documento deverá ser apresentado dentro do prazo de 10 dias a contar da apresentação da contestação (art. 150º-A-2). Tipos de defesa (art. 487º): a) - por impugnação (simples contradição dos factos ou negação de que eles produzam o efeito jurídico pretendido pelo A.); b) - por excepção (invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da causa ou que sirvam de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito do autor, conduzindo à improcedência total ou parcial do pedido).

Excepções: a) - dilatórias: obstam a que o tribunal conheça do mérito:

− absolvição da instância; − indeferimento liminar, se houver lugar a

despacho liminar, em casos de incompetência absoluta (art. 105º-1);

− remessa do processo a outro tribunal (art. 493º-2).

ver exemplificação no art. 494º. b) - peremptórias: acarretam a absolvição total ou parcial do pedido, pela invocação de factos que impedem, modifiquem ou extingam o efeito jurídico dos factos articulados pelo autor (art. 493º-3). Litispendência: repetição de causa estando a anterior ainda em curso, com identidade de sujeitos, de pedido e de causa de pedir (art. 498º). Deve ser deduzida na segunda causa (art. 499º-1). É excepção dilatória (art. 494º-i). Caso julgado: repetição de causa depois de a anterior já ter sido decidida com trânsito em julgado (art. 497º-1). É excepção dilatória (art. 494º-i). Conhecimento das excepções:

1 – Quanto às dilatórias a) - são de conhecimento oficioso ou levantadas pelas partes: I – em qualquer estado do processo (quanto à incompetência absoluta) enquanto não houver sentença de mérito transitada – art. 102º-1); II – se se tratar de violação da competência em razão da matéria, restrita aos tribunais judiciais, o conhecimento é só até ao despacho saneador ou, não tendo este lugar, até ao início da audiência de julgamento (art. 102º-2).

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b) – são levantadas pelas partes, na contestação, na oposição ou na resposta (art. 109º), as incompetências relativas;

c) – são de conhecimento oficioso: - todas, excepto as de incompetência relativa nos casos não abrangidos pelo art. 110º; - a de preterição de tribunal arbitral voluntário (art. 495º).

2 – Quanto às peremptórias

É de conhecimento oficioso a excepção peremptória cuja invocação a lei não faça depender da vontade do interessado (art. 496º). Casos abrangidos pelo art. 110º, isto é, casos que são de incompetências relativas de conhecimento oficioso: 1 - incompetências em razão do território, quando o processo forneça os elementos pertinentes à sua apreciação: - foro de situação dos bens (art. 73º); - acção por facto ilícito ou de responsabilidade pelo risco, que será proposta no lugar onde o facto ocorreu (art. 74º-2); - processos especiais de recuperação de empresa e de falência (lugar da sede ou principal actividade (art. 82º); - procedimentos cautelares e produção antecipada de prova (art. 83º); - recursos (art. 88º); - acções em que seja parte o Juiz, seu cônjuge e certos parentes - tribunal da circunscrição de sede mais próxima da do tribunal desse Juiz (art. 89º); - execuções com base em sentença proferida por tribunais portugueses (art. 90º-1); - regras gerais das execuções (art. 94º). 2 - incompetência em razão do valor da causa ou da forma do processo aplicável. Oposição: a) - o réu tem de tomar posição definida quanto a cada facto da petição (art. 490º-1), a menos que se trate de incapaz, ausente ou incerto que seja representado pelo Mº. Pº ou por advogado oficioso (art. 490º-4). b) - serão considerados provados por acordo das partes os factos que não forem especificadamente impugnados (art. 490º-2), a menos que: - estejam em manifesta oposição com a defesa no seu conjunto, - se trate de matéria indisponível, - só possam ser provados por documento escrito. c) - se o réu declarar que não sabe se certo facto é ou não verdadeiro:

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- isso valerá como confissão desse facto pelo réu, se se tratar de facto pessoal dele ou de facto do qual ele deva ter conhecimento, - e valerá como impugnação nos restantes casos (art. 490º-3). Todavia, esta regra não se aplica quanto a incapazes, ausentes ou incertos representados pelo Mº. Pº. ou por advogado oficioso (art. 490º-4). d) - é na contestação que toda a defesa deve ser deduzida, salvos os incidentes que a lei mande deduzir em separado (art. 489º-1). e) - depois da contestação só se podem deduzir excepções, incidentes e outros meios de defesa super-venientes ou nos casos especiais consentidos por lei, mas podem conhecer-se excepções que devam ser conhecidas oficiosamente (art. 489º-2). Reconvenção (arts. 274º e 501º): a) - é deduzida na contestação (art. 501º-1), expressamente identificada como tal e deduzida separadamente. b) - termina por formulação de pedido ou pedidos, como na petição, e é admissível: 1 - quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que sirva de fundamento à acção ou à defesa (art. 274º-2-a), 2 - quando o réu se proponha obter a compensação, para além do pedido da acção (art. 274º-2-b), 3 - quando o réu pretenda exercer o direito a benfeitorias ou a despesas relativas à coisa cuja entrega lhe vem exigida (art. 274º-2-b), 4 - quando o pedido do réu visa conseguir, mas em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor pretendia (art. 274º-2-c). c) - não é admissível se ao pedido do réu corresponder forma de processo diferente da que correspondia ao pedido do autor, para além do que seja determinado pelo valor da causa (art. 274º-3). d) - tem de se lhe indicar valor (art. 501º-2) e, se tanto não se fizer, o reconvinte é notificado para o indicar sob pena de a reconvenção não ser atendida. e) - a reconvenção determina, por isso, o cuidado de efectuar o pagamento de taxa de justiça inicial eventualmente de valor superior ao que foi satisfeito pelo A.-reconvindo; f) - quando o prosseguimento da reconvenção depender de realização de registo ou doutro acto a praticar pelo reconvinte, o reconvindo será absolvido da instância se o registo ou esse acto não tiverem sido realizados no prazo que para eles fora fixado (art. 501º-3).

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VII - RÉPLICA

Admissibilidade: a) - se tiver sido deduzida na contestação alguma excepção e apenas quanto à matéria desta; b) - se tiver sido deduzida na contestação reconvenção, para contestação desta (art. 502º-1). c) - nas acções de simples apreciação negativa, para impugnação dos factos constitutivos alegados pelo réu e para alegação dos factos impeditivos ou extintivos do direito que o réu tenha invocado (art. 502º-2) Prazo de oferecimento: 15 dias a contar da notificação da contestação, mas - 30 dias: - se tiver havido reconvenção, ou se - a acção for de simples apreciação negativa (art. 502º-3). Pode pedir-se a prorrogação do prazo de apresentação como quanto à contestação, e com as mesmas consequências, mas a prorrogação não pode ir além de 15 dias (art. 504º). Apresentação: a) – no essencial, como ficou referido relativamente à petição inicial (art. 150º), não havendo, porém, que oferecer duplicados destinados a contra-parte, pois que a notificação da apresentação se fará entre mandatários; b) – eventual pagamento de taxa de justiça inicial da oposição à reconvenção a juntar como se pode proceder quanto à contestação.

VIII - TRÉPLICA

Admissibilidade: a) - se, na réplica, o autor modificou o pedido ou a causa de pedir; b) - se, aí, o autor contestou a reconvenção por excepção (art. 503º-1). Prazo de oferecimento: 15 dias a contar da notificação da réplica ou da data em que esta se deva ter por notificada (art. 503º-2). Pode pedir-se prorrogação do prazo em que devia ser apresentada, tal como ficou dito para a réplica (art. 504º). Apresentação: como se observou relativamente à réplica apenas com a diferença de que, aqui, nunca há lugar a pagamento de taxa de justiça inicial.

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IX - ARTICULADOS SUPERVENIENTES

Noção: os constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que sejam supervenientes (art. 506º-1). Oportunidade de dedução: a) - na audiência preliminar, se a ela houver lugar, quando os factos aconteceram, ou só foram conhecidos pela parte, até ao encerramento daquela (art. 506º-3-a); b) - nos 10 dias posteriores à notificação da data designada para a audiência de discussão e julgamento, se forem posteriores ao termo da audiência preliminar, ou quando a esta não houve lugar (art. 506º-3-b); c) - na audiência de discussão e julgamento, se os factos ocorreram, ou a parte deles teve conhecimento, posteriormente às oportunidades ditas em b) (art. 506º-3-c), e até ao encerramento da audiência. Cuidados a ter: logo oferecer as provas da superveniência (art. 506º-4). A oposição é em 10 dias após a sua admissão pelo juiz, que só os poderá rejeitar se: - tiverem sido apresentados fora de tempo, - for manifesto que não interessam à boa decisão da causa (art. 506º-4). Apresentação: - como se deixou referido quanto à petição inicial (art. 150º); - até serão oralmente apresentados, admitidos ou rejeitados e contestados, sendo estes elementos exarados na acta, se ocorrerem depois de aberta a audiência de discussão e julgamento (art. 507º). Aproveitamento: − os factos que interessem à decisão da causa são incluídos na base

instrutória e, se esta já tiver sido elaborada, são-lhe aditados, e há lugar à aplicação da disciplina do art. 511º (art. 506º-6);

− quando foram oralmente apresentados e apreciados, também são aditados à base instrutória;

− nestas situações, não há lugar à interrupção da audiência se a parte contrária prescindir do prazo de 10 dias para apresentação da sua resposta e provas, a não ser que exista inconveniente na imediata produção das provas quanto à outra matéria em discussão (art. 507º-2).

APÓS OS ARTICULADOS

Tendo sido deduzida alguma excepção no último articulado admissível, a parte contrária poderá responder-lhe na audiência

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preliminar, ou, se esta não tiver lugar, no início da audiência final (art. 3º-4). Se for caso disso, o Juiz profere despacho em que (art. 508º-1): a) - providencie pelo suprimento de excepções dilatórias; b) - convide as partes ao aperfeiçoamento dos articulados, caso em que: 1 - fixará prazo para suprimento de irregularidades ou correcção do vício (art. 508º-2); 2 - o Juiz pode convidar, sem que este despacho seja passível de recurso, qualquer das partes a suprir insuficiências ou imprecisões na matéria de facto alegada, com apresentação de novo articulado no qual se complete ou corrija o anteriormente apresentado (art. 508º-3 e 6).

A Audiência Preliminar (art. 508º-A): Concluídas as diligências previstas no art. 508º-1, se as houve, o Juiz pode convocar uma audiência preliminar a realizar nos 30 dias seguintes, necessariamente para algum dos fins seguintes: a) - tentativa de conciliação, se a causa se dirimir no âmbito dos poderes de disposição das partes (arts. 508º-A-1-a e 509º); b) - discussão pelas partes quanto à matéria de facto e quanto à matéria de direito, se o Juiz tiver de apreciar excepções dilatórias ou tencionar decidir imediatamente a causa, no todo ou em parte (art. 508º-A-1-b); c) - discussão das posições das partes para delimitação dos termos do litígio (art. 508º-A-1- c); d) - suprir deficiências ou imprecisões na matéria de facto, que ainda subsistam ou resultem na sequência do debate (art. 508º-A-1-c); e) - proferir o despacho saneador (arts. 508º-A-1-d e 510º); f) - se a acção foi contestada, após debate, definir a matéria de facto com interesse que se considera assente e a que deva integrar a base instrutória (arts. 508º-A-1-e e 511º), logo decidindo as reclamações apresentadas pelas partes. Complementarmente, a audiência preliminar pode destinar-se ainda: g) - à indicação dos meios de prova (art. 508º-A-2-a); h) - à admissão e preparação das diligências de prova requeridas pelas partes ou ordenadas oficiosamente pelo Juiz, a não ser que alguma das partes requeira a indicação ulterior dos meios de prova, caso em que se lhe assinalará prazo para isso (art. 508º-A-2-a); i) - se o processo dever prosseguir, a designar data para a audiência final (art. 508º-A-2-b); j) - a requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do tribunal colectivo (art. 508º-A-2-c).

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O despacho que designe a audiência preliminar deve indicar o seu objecto e finalidade. Não constitui, porém, caso julgado quanto à possibilidade de decisão imediata do mérito da causa (art. 508º-A-3). A falta das partes, ou dos seus mandatários, a esta audiência, não é fundamento de adiamento dela (art. 508º-A-4). Se algum mandatário faltar, este poderá ainda apresentar o requerimento de prova dentro do prazo dos 5 dias seguintes à data em que se realizou a audiência preliminar e, nesse prazo, requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do tribunal colectivo (idem). Pode não haver lugar a audiência preliminar (art. 508º-B): a) - se apenas visasse a fixação da base instrutória e a causa seja simples (art. 508º-B-1-a); b) - se tivesse como finalidade a discussão de alguma excepção dilatória já debatida nos articulados, quando ela se revista de clara simplicidade (art. 508º-B-1-b); c) - se tivesse como finalidade decidir do mérito da causa e essa decisão revestir manifesta simplicidade (art. 508º-B-1-b). Se não houver lugar a audiência preliminar, mas a acção tiver sido contestada e dever prosseguir, o Juiz fará despacho saneador e seleccionará a matéria de facto, mesmo por remissão aos articulados (art. 508º-B-2). As partes poderão apresentar as suas reclamações no prazo geral supletivo, que, após observância do contraditório, são logo decididas (art. 508º-B-2). Organização do DESPACHO SANEADOR (art. 510º): a) - quando tenha lugar a audiência preliminar, o despacho saneador é logo ditado para a acta, mas, excepcionalmente, face à complexidade das questões a resolver, o Juiz poderá lavrá-lo por escrito a produzir em 20 dias, ficando suspensa até lá a audiência preliminar, mas designando-se logo data para a sua continuação, se for caso disso (art. 510º-2); b) - quando não tiver lugar a audiência preliminar (art. 510º-1): 1 - a proferir no prazo de 20 dias (idem); 2 - destinado a: I - conhecer das excepções dilatórias suscitadas pelas partes ou de conhecimento oficioso, face aos elementos constantes dos autos (art. 510º-1-a); II - conhecer das nulidades processuais arguidas pelas partes ou de conhecimento oficioso (idem); III - conhecer directamente do pedido, total ou parcialmente, ou de alguma excepção peremptória (art. 510º-1-b). Se considerar procedente alguma excepção peremptória ou conhecer directamente do pedido, o despacho tem o valor de sentença (art. 510º-3). Não é recorrível o despacho que relegue para a sentença o conhecimento de matérias de que lhe cumpra conhecer (art. 510º-4).

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Fixação da BASE INSTRUTÓRIA (art. 511º)

Noção: selecção feita pelo Juiz da matéria de facto controvertida que seja relevante para a decisão da causa, segundo as várias soluções plausíveis da questão de direito, se não houve lugar a audiência preliminar, ou com a colaboração dos advogados das partes, se a houve (arts. 511º-1 e 508º-A-1-e). Sequência: a) - há lugar a eventuais reclamações das partes contra a selecção feita, seja quanto aos factos incluídos na base instrutória, seja quanto aos factos considerados já assentes, com fundamento em deficiência, excesso ou obscuridade, quando não tenha havido a audiência preliminar (art. 511º-2); b) - se tiver havido audiência preliminar, as reclamações são apresentadas nessa altura; c) - se não tiver havido lugar a audiência preliminar, as reclamações são apresentadas no prazo de 10 dias, com sujeição a contraditório (art. 153º-1); d) - a decisão que incida sobre as reclamações somente poderá ser impugnada em recurso interposto da decisão final (art. 511º-3).

Interesse em reclamar, como condição de discussão do problema no recurso final. Se não teve lugar a audiência preliminar, e o processo dever prosseguir, a Secretaria notifica as partes do despacho saneador e para, no prazo de 15 dias (art. 512º-1): a) - apresentarem o rol de testemunhas; b) - requererem outras provas; c) - alterarem, se quiserem, requerimento de prova que fizeram incluir nos articulados; d) - requererem a gravação da audiência final ou a intervenção do tribunal colectivo. Findo o prazo aludido, o Juiz designa dia para a audiência final (art. 512º-2).

AS PROVAS

Em geral, ao Juiz é dada grande latitude no apuramento da verdade dos factos. Não carecem de ser alegados nem provados (art. 514º): a) - os factos notórios, ou sejam os que são do conhecimento geral (art. 514º-1); b) - os factos que o tribunal conhece por virtude do exercício das suas funções (art. 514º-2).

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As provas devem e podem incidir sobre (art. 513º) os factos controvertidos ou necessitados de prova que sejam relevantes para o exame e decisão da causa. A não ser quando a lei estabeleça por forma contrária (v. gr. certos procedimentos cautelares), as provas não serão admitidas nem produzidas sem audiência contraditória da outra parte (art. 517º-1 e Cód. Civil, art. 346º). A dúvida sobre a realidade de certo facto e sobre a repartição do ónus da prova é resolvida contra a parte a quem o facto aproveita (art. 516º). Os depoimentos e arbitramentos realizados num processo com contraditório da parte podem ser invocados noutro processo contra a mesma parte. Mas se as garantias da produção da prova naquele processo forem inferiores às oferecidas neste, as provas só valerão como princípio de prova (art. 522º-1). São sempre gravados os depoimentos prestados antecipadamente ou através de carta (art. 522º-A). Fora disso, são gravadas as audiências finais e os depoimentos, informações e esclarecimentos nelas prestados quando: a) - alguma das partes o requeira; b) - o tribunal assim o determine, oficiosamente (art. 522º-B).

REPARTIÇÃO DO ÓNUS DA PROVA

As regras a este respeito encontram-se nos arts. 341º e segs. do Cód. Civil: a) - cabe a quem invocar um direito o ónus de provar os factos constitutivos dele (art. 342º-1); b) - cabe àquele contra quem a invocação do direito é feita o ónus de provar os factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito que foi invocado (art. 342º-2); c) - na dúvida, consideram-se os factos como constitutivos do direito (art. 342º-3); d) - nas acções de simples apreciação ou declaração negativa, é ao réu a quem compete provar os factos constitutivos do direito que se arroga (art. 343º-1); e) - nas acções que devam ser intentadas em certo prazo a contar da data em que o autor conheceu certo facto, é ao réu a quem compete provar que já decorreu o prazo, a menos que esteja prevista na lei outra solução (art. 343º-2); f) - se o direito que o autor invoca estiver sujeito a condição suspensiva ou a termo inicial, o autor terá que provar que a condição ou o termo já se verificaram (art. 343º-3); g) - se o direito estiver sujeito a condição resolutiva ou a termo final, é ao réu a quem cabe provar que se verificou a condição ou o vencimento do prazo (art. 343º-3); h) - há inversão do ónus da prova quando exista presunção legal, dispensa ou liberação do ónus, ou convenção válida para isso, ou quando a lei o determine (art. 344º-1); i) - também há inversão do ónus quando a parte contrária tenha, com culpa, tornado impossível a prova (art. 344º-2);

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j) - é nula a convenção que inverta o ónus da prova quando se esteja em presença de direitos indisponíveis (art. 345º-1); l) – é nula a convenção que inverta o ónus da prova quando a inversão determine excesso de dificuldade do exercício do seu direito a uma das partes (idem); m) – é nula a convenção que inverta o ónus da prova ou quando exclua algum meio legal de prova ou admita um meio de prova não previsto na lei (art. 345º-2).

PRODUÇÃO ANTECIPADA (arts. 520º e 521º)

Noção: requerida, porventura mesmo antes de ser proposta a acção, sob fundamento de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a sua produção, quanto a 1 - depoimentos 2 - arbitramento ou inspecção para verificação de certos factos. Onde deve requerer-se: no tribunal do lugar onde deva efectuar-se a prova (art. 83º-1-d). Como deve requerer-se (art. 521º-1): a) - justificando sumariamente a necessidade da antecipação; b) – fornecendo-se prova acerca dessa necessidade (regras dos incidentes da instância); c) - mencionando com rigor os factos sobre os quais a prova irá recair; d) - identificando-se as pessoas a ouvir (depoimentos). E se for requerida antes da propositura da acção (art. 521º-2), mais: a) - indicando-se sucintamente o pedido da acção a propor; b) - indicando-se sucintamente os fundamentos dessa acção; c) - identificando-se a pessoa contra quem se pretende produzir a prova, para que seja notificada pessoalmente (art. 517º); d) - se esta não puder ser notificada, notificar-se-á o Mº.Pº., se a parte for incerta ou ausente, ou um advogado que o Juiz nomeará, se for ausente em parte certa.

DEVER DE COOPERAÇÃO

Todos, sejam ou não parte na causa, têm o dever de colaborar para a descoberta da verdade (art. 519º-1) - princípio da cooperação - e, se o não fizerem (art. 519º-2): a) - serão condenados em multa, sem prejuízo da coerção possível, se não forem partes na causa;

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b) - serão condenados em multa, sem prejuízo da coerção possível, e o tribunal apreciará livremente a sua conduta, se forem partes na causa (veja também a inversão do ónus da prova como resulta do art. 344º-2 do Cód. Civil). Não obstante, será legítima a recusa de cooperação se houver: a) - violação da integridade física ou moral das pessoas; b) - intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, correspondência e telecomunicações; c) - violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos ou de segredo do Estado (art. 519º-3). Tudo, porém, fortes motivos a apreciar segundo as regras do processo penal (art. 519º-4).

ELABORAÇÃO DO REQUERIMENTO DE PROVA E PROVAS

a) - APRESENTAÇÃO:

quando a ele houver lugar, em suporte digitalizado e o mais que se deixou referido quanto à petição inicial (arts. 150º e 152º-2); quem apresente como prova alguma reprodução cinematográfica ou registo fonográfico, terá de fornecer ao tribunal os meios técnicos de a exibir, sem prejuízo da iniciativa do Juiz a tal respeito (arts. 527º e 265º-3).

b) - DOCUMENTOS:

Espécies de Documentos (Cód. Civil, arts. 369º e segs.): a) - Autênticos: os exarados por autoridade ou oficial público com competência para tanto em razão da matéria e do lugar, e não impedido de o lavrar (art. 369º-1), assim como por quem exerça publicamente essas funções mas sem que os intervenientes ou beneficiários do documento conhecessem, no momento da feitura, a falsa qualidade de quem os fez (idem, 2). Fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade ou oficial público seu autor, assim como dos factos que neles são atestados com base na percepção da entidade documentadora (art. 371º). A sua força probatória só pode ser elidida com base na sua falsidade (arts. 372º do Cód. Civil e 546º a 549º do Cód. Proc. Civil). Se, porém, pelos seus sinais exteriores, for evidente a falsidade, o tribunal poderá declará-la oficiosamente. Falsidade: 1 - é atestar-se como tendo sido objecto de percepção pelo autor do documento facto que na realidade se não verificou (falsidade subjectiva),

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2 - é atestar-se como tendo sido praticado pela entidade responsável qualquer acto que na realidade o não foi (falsidade objectiva)- art. 372º-2. b) - Autenticados: são os documentos particulares levados a intervenção notarial (art. 377º). Têm a força probatória dos documentos autênticos. Não os podem substituir quando a lei exija documento autêntico para a validade do acto. Se a letra e a assinatura estiverem reconhecidas presencialmente por Notário, a letra e a assinatura, ou só esta, têm-se por verdadeiras e cabe à parte contrária elidir esta presunção (art. 375º-1 e 2). O reconhecimento por semelhança, em princípio, só vale como mero juízo pericial (art. 375º-3). c) - Particulares: documentos assinados pelo seu autor, ou por outrem a seu rogo, se ele não souber ou não puder assinar (art. 373º-1). A letra e a assinatura deles consideram-se reconhecidas como verdadeiras se não impugnadas pela parte contrária, ou, nos casos em que, sendo-lhe atribuídas, esta declare que não sabe se lhe pertencem (art. 374º-1). Também se considerarão como verdadeiras se assim forem havidas, legal ou judicialmente. Nos casos em que a parte contrária não for a pessoa a quem seja atribuída a autoria da letra e da assinatura do documento, e ela impugne a sua veracidade ou diga que não sabe se são verdadeiras, o ónus da prova da autenticidade é do apresentante (art. 374º-2). Se forem apresentados documentos escritos em língua estrangeira que careçam de tradução, o Juiz ordenará, oficiosamente ou a requerimento, que o apresentante a obtenha e a junte (art. 140º). Momentos de apresentação: - devem ser apresentados com o articulado em que se aleguem os factos correspondentes (art. 523º-2); - podem ainda ser apresentados até ao encerramento da discussão em 1ª Instância, mas haverá penalização em multa por isso, a menos que se justifique a sua junção apenas agora (art. 523º-2); - não há lugar à dita penalização se se destinam à prova de factos posteriores à apresentação dos articulados (art. 524º-2); - também não haverá lugar a essa penalização se a sua apresentação apenas se tornou necessária por causa de ocorrência posterior aos articulados (art. 524º-2); - depois de encerrada a discussão em 1ª Instância, os documentos só podem ser admitidos se a sua apresentação não foi possível até essa altura, o que terá de ser alegado e provado (art. 524º-1);

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- oferta de cópias para as contra-partes (art. 152º-2). Impugnação de documentos: I - Particulares a) - A impugnação de documento particular apresentado, a declaração de que se não sabe se é ou não verdadeira a letra e a assinatura de documento particular e o pedido de confronto da certidão ou da cópia com o original ou com a certidão de que foi tirada a cópia, são feitas no articulado seguinte àquele com o qual o documento foi oferecido, e, se o não houver, no prazo de 10 dias a contar da notificação da sua apresentação (art. 544º); b) – não servirá de impugnação a afirmação de que não sabe se é ou não sua a letra e/ou a assinatura que conste de documento particular que lhe sejam atribuídas (Cód. Civil, art. 374º-1);

c) - o impugnante pode requerer a produção de prova da impugnação (art. 545º-1); d) - a impugnação é notificada à parte que ofereceu o documento e esta, em 10 dias, pode requerer a produção de prova para convencer da genuinidade do documento impugnado (art. 545º-2), mas nunca para além do termo da discussão da matéria de facto. II - Autênticos a) - A arguição da falsidade de documentos autênticos, bem como a de subscrição, sem a intervenção notarial, de documento particular por quem não sabia ou não podia ler (Cód. Civil, art. 373º) e a subtracção de documento particular assinado em branco e inserção nele de declarações que não foram as combinadas com o signatário são feitas no prazo de impugnação de documentos, logo se oferecendo as respectivas provas (arts. 546º-1- e 549º); b) - feita a arguição, a parte contrária é notificada para lhe responder, com a resposta oferecendo logo as provas respectivas (arts. 548º-1 e 549º); c) - a resposta é apresentada no articulado seguinte, se a arguição foi feita em articulado que não foi o último (art. 548º-1); d) - se a parte contrária não responder ou se declarar que não quer fazer uso do documento, este não poderá ser atendido para qualquer efeito que seja (art. 548º-2); e) - tendo sido apresentada resposta, a arguição poderá, apesar disso, não ter seguimento se for manifesta a sua improcedência ou o seu carácter dilatório, ou se o documento em causa não tiver influência na decisão da causa (art. 548º-3). Documentos em poder da parte contrária: Se se pretender fazer uso de documento que se diz estar em poder da parte contrária: 1 - procurar-se-á identificar, na medida do possível, o documento que se pretende; 2 - concretizar-se-á que factos com ele se pretendem provar;

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3 - requerer-se-á que a parte contrária o apresente no prazo que o juiz, para esse efeito, lhe assinalará (art. 528º). A parte contrária, notificada, poderá tomar as seguintes atitudes: a) - a de nada dizer e também não apresentar o documento pretendido: - neste caso, o tribunal apreciará livremente a sua conduta, para efeitos probatórios (arts. 529º e 519º-2), e haverá inversão do ónus da prova nos termos do art. 344º-2 do Cód. Civil. b) - a de declarar que não possui tal documento: - neste caso, o requerente poderá, por qualquer meio, provar que tal declaração não corresponde à verdade (art. 530º-1). c) – a de afirmar que o teve, mas o não tem já: - neste caso, incumbe-lhe provar que o documento desapareceu ou se destruiu mas sem culpa sua, sob pena de operar o efeito da inversão do ónus da prova (arts. 344º-2 e 530º-2). Documentos em poder de terceiro - estando o documento em poder de terceiro, a parte pode requerer que este seja notificado para que, em prazo a fixar, o entregue na Secretaria; - o tribunal poderá e deverá requisitar, oficiosamente ou a requerimento, documentos que se mostrem necessários ao esclarecimento da verdade, seja a organismos oficiais, às partes ou a terceiros (art. 535º).

c) - DEPOIMENTO DE PARTE: Se requerido por alguma das partes, concretização da matéria de facto a que deporá (art. 552º-2). Pode ser requerido quanto à parte contrária como quanto a comparte (art. 553º-3). A prestação de depoimento de parte poderá ser determinada oficiosamente pelo juiz, em qualquer estado do processo (art. 552º-1). Só é admissível quanto aos factos pessoais do depoente ou de que este deva ter conhecimento (art. 554º-1), mas nunca factos torpes ou criminosos de que a parte seja arguida. Tem lugar em audiência de julgamento, a não ser em casos de urgência ou se a parte estiver impossibilitada de comparecer no tribunal (art. 556º-1 na redacção dada pelo Dec.-Lei nº. 183/00). Todavia, se a parte residir fora da circunscrição do tribunal, o seu depoimento será feito através de tele-conferência, como quanto a depoimentos de testemunhas (arts. 556º-2 e 623º). O depoimento pode ainda ser prestado na audiência preliminar (art. 556º-3). Se tiverem sido requeridos os depoimentos de ambas as partes, começa-se pelo do réu (art. 558º-1). Interrogatório feito pelo Juiz, com direito a que a parte contrária requeira as instâncias necessárias para melhor esclarecimento das respostas (art. 561º-1).

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Os advogados podem pedir esclarecimentos ao depoente (art. 562º-1). É sempre reduzido a escrito na parte em que importe confissão do depoente ou em que ele narre factos ou circunstâncias que impliquem indivisibilidade da declaração confessória (art. 563º-1), sendo a redacção dada pelo Juiz passível de reclamações das partes, e, no final, lida ao depoente para ratificação ou rectificação (art. 563º-2 e 3). A confissão é irretratável (art. 567º-1).

d) - PERICIAL: É requisitada pelo tribunal a estabelecimento próprio ou, não o havendo ou sendo inconveniente, feita por um só perito nomeado pelo Juiz (art. 568º-1). As partes são ouvidas quanto à nomeação do perito e podem sugerir outro. Havendo acordo delas, será ele o nomeado (art. 568º-2). A perícia pode ser feita por mais de um perito, até ao máximo de três (art. 569º-1): a) - se o Juiz assim o determinar por entender que ela reveste especial complexidade ou exige conhecimentos de matérias distintas; b) - se alguma das partes assim o requereu. No caso de b), se as partes acordarem quanto aos peritos que intervirão, serão estes os nomeados; se não acordarem, cada uma escolhe um perito e o Juiz nomeia o terceiro (art. 569º-1). Ao requererem a perícia colegial, as partes devem logo fazer indicação dos peritos, a não ser que peçam prorrogação do prazo sob fundamento em dificuldade justificada (art. 569º-3). E têm de, sob pena de rejeição, indicar logo o objecto da perícia, explicando as questões de facto, sejam factos articulados pelo requerente, sejam pela parte contrária, que pretendem ver com ela esclarecidas (art. 577º). Ouvida a parte contrária, o Juiz, no despacho em que ordene a diligência, determina o objecto da perícia, e também o determina quando tenha sido dele a iniciativa da perícia (arts. 578º e 579º). Nesse despacho designa também a data e o local para começo da diligência, do que são as partes notificadas (art. 580º). Se, por razões técnicas ou de serviço, a perícia não puder ser feita dentro do prazo designado pelo juiz, esse facto deve ser imediatamente comunicado ao tribunal para que seja eventualmente designado novo perito para ela (art. 580º-3). Elaborado e apresentado o relatório pericial, é notificado às partes que, quanto a ele, podem reclamar, podendo também o Juiz, oficiosamente, determinar a prestação de esclarecimentos pelos peritos (art. 587º). As partes, no prazo de 10 dias a contar do conhecimento do resultado da perícia, podem requerer, ou o Juiz pode, a todo o tempo, ordenar, segunda perícia (art. 589º). Nesta: a) - não intervém perito que já tenha participado na anterior; b) - a perícia é colegial, em regra, sendo os peritos mais dois que os que intervieram na anterior, dos quais o Juiz apenas nomeia um deles (art. 590º).

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A segunda perícia não invalida a primeira e ambas são livremente apreciadas pelo tribunal (art. 591º). As perícias médico-legais são feitas pelos serviços médico-legais ou por peritos médicos contratados e as restantes perícias podem ser realizadas por entidade contratada pelo estabelecimento, laboratório ou serviço oficial que não tenha qualquer interesse na causa nem ligação com as partes em litígio (art. 568º-3 e 4).

d) - INSPECÇÃO JUDICIAL: De iniciativa oficiosa ou a requerimento das partes, mas com ressalva da intimidade da vida privada e familiar e da dignidade humana (art. 612º-1). A parte que a requeira terá de facultar ao tribunal os meios adequados à sua realização, se não estiver isenta do pagamento de custas (art. 612º-2). Destina-se a inspeccionar coisas e pessoas para esclarecer facto com interesse para a decisão da causa (art. 612º-1). Lavra-se auto no qual se consignarão os elementos úteis surpreendidos (art. 615º), e o Juiz pode mandar que se tirem fotografias para serem juntas ao processo.

e) - TESTEMUNHAL: Não pode depor como testemunha quem possa depor como parte (art. 617º). Quanto a outras pessoas teremos que poderão recusar-se a depor como testemunhas, depois de, acerca disso, serem previamente advertidas pelo Juiz, e desde que se não trate de causas cujo objecto seja o de verificar o nascimento ou o óbito dos filhos (art. 618º-1 e 2): a) - ascendentes nas causas dos descendentes, e vice-versa; b) - adoptantes nas causas dos adoptados, e vice-versa; c) - o sogro ou a sogra nas causas do genro ou da nora, e vice-versa; d) - os cônjuges, ou os ex-cônjuges, nas causas em que seja parte o outro cônjuge ou ex-cônjuge; e) - quem tiver convivido, ou conviver, em situação análoga à de cônjuge, com alguma das partes. As pessoas vinculadas a sigilo profissional, ao segredo de funcionários públicos e a segredo de Estado devem escusar-se a depor quanto a factos abrangidos pelo sigilo (art. 618º-3). A identificação das testemunhas faz-se pela indicação dos nomes, profissões, moradas e, porventura, outras circunstâncias necessárias à sua identificação (art. 619º-1). As testemunhas têm o direito a abono das despesas e a indemnização em função das suas deslocações ao tribunal (art. 644º e CCJ, arts. 93º e 37º-1). A Portaria nº. 799/2006, de 11 de Agosto, do Ministério da Justiça, veio estabelecer que, salvo disposição legal especial, a aludida compensação deverá ser definida entre 1/16 e 1/8 de

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UC por cada deslocação ao tribunal, consoante a distância percorrida pela testemunha e o tempo que ela teve de despender.

REGRAS DA INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS

a) - as testemunhas depõem, em regra, na audiência final, presencialmente ou por tele-conferência (art. 621º), excepto: 1 - nos casos de inquirição antecipada (art. 621º-a) e de depoimentos de pessoas com prerrogativas especiais e em casos especiais (art. 621º-c a g); 2 - se se tratar de testemunha residente fora do círculo judicial ou da respectiva ilha, no caso de Regiões Autónomas, circunstância em que: ou é apresentada pela parte, se esta a isso se comprometeu (arts. 623º-1 e 628º-2); ou é ouvida por tele-conferência na audiência e a partir do tribunal da área da sua residência, ou a partir do tribunal da sede do círculo judicial se naquele tribunal não existirem ainda os meios necessários para isso (art. 623º-1);

3 - se se tratar de testemunha residente no estrangeiro, será inquirida por tele-conferência quando aí existam os meios técnicos a isso necessários (art. 623º-4). Não os havendo, usar-se-á a carta precatória ou a carta rogatória (art. 621º-b). b) - Nas causas pendentes nos tribunais com sede nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto não se fará inquirição por tele-conferência quando a testemunha residir na respectiva circunscrição, a não ser nos casos de grave dificuldade de prestação do seu depoimento (art. 623º-5).

c) - A inquirição de certa testemunha pode ser adiada por motivo de ela faltar e desde que a parte que a arrolou dela não prescinda, mas não pode haver segundo adiamento da inquirição de testemunha faltosa (art. 630º). d) – A falta de testemunha não pode constituir razão para adiamento da produção doutras provas que tenham sido requeridas, sendo, por isso, ouvidas as testemunhas que estejam presentes (art. 629º-2).

e) - O juiz pode ordenar que testemunha que faltou sem justificação venha depor sob custódia, e deve multá-la a não ser que a inquirição seja adiada por razão diferente da da sua falta e a parte que a arrolou se comprometa a apresentar essa testemunha (art. 629º-4 e 5). f) – A todo o tempo, a parte que ofereceu a testemunha pode desistir ou prescindir de a ouvir, mas mantém-se a possibilidade de ela ser ouvida oficiosamente pelo Juiz como adiante se referirá em m). g) - Se a parte não prescindir do depoimento de testemunha faltosa, para além de a poder substituir nos casos de impossibilidade meramente temporária de prestação do seu depoimento, a parte pode requerer o adiamento da inquirição mas nunca para além do prazo de 30

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dias, se não se verificar hipótese de impossibilidade ou de grave dificuldade em comparecer no tribunal (arts. 629º-3-b), 639º e 639º-B). h) - Havendo acordo das partes, e nos casos em que haja impossibilidade ou grave dificuldade de comparência no tribunal, o depoimento pode ser prestado por escrito datado e assinado pelo depoente, com indicação dos factos a que ele assistiu ou que verificou pessoalmente, assim como das razões de ciência (art. 639º-1). Tal escrito conterá a identificação do depoente e informará sobre se existe alguma relação de parentesco, afinidade, amizade ou dependência sua com as partes, ou se há de sua parte algum interesse na causa (art. 639º-A-1), e, bem assim, a declaração feita pelo depoente de que esse escrito se destina a ser apresentado em juizo e de que ele tem consciência de que incorre em responsabilidade criminal por eventuais falsas declarações (art. 639º-A-2). A assinatura do depoente no depoimento feito por escrito deverá ser reconhecida por Notário quando não seja possível a exibição do seu documento de identificação (art. 639º-A-3). i) - Havendo acordo das partes, a testemunha poderá ainda ser inquirida pelos mandatários judiciais no domicílio profissional de um deles, exarando-se em acta o depoimento prestado, datado e assinado pelo depoente e pelos mandatários, com indicação da relação discriminada dos factos presencialmente verificados por ela e das suas razões de ciência, além dos demais requisitos do depoimento prestado por escrito (arts. 638º-A e 639º-A-1, 2 e 4). j) - Nos casos de prestação de depoimento por escrito, o Juiz pode, oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, se tal ainda for possível, a renovação do depoimento prestado na sua presença (art. 639º-A-4). l) - Se existir acordo das partes, e nos casos em que seja impossível ou houver grave dificuldade de comparência da testemunha, a tempo, no tribunal, o Juiz pode determinar que o seu depoimento seja prestado pelo telefone ou por outro meio de comunicação directa do tribunal com ela (art. 639º-B-1). Neste caso, o tribunal deverá assegurar-se da autenticidade e da plena liberdade da prestação do depoimento, nomeadamente mandando que o depoente esteja, no acto, acompanhado por oficial de justiça (art. 639º-B-2). m) - Se a testemunha não tiver sido notificada, devendo tê-lo sido, ou se não comparecer por impedimento legítimo, pode ser adiada a inquirição para data dentro dos 30 dias seguintes, ou ela ser ouvida por escrito ou por telefone ou por via doutra comunicação directa com o tribunal (arts. 629º-3-d), 639º e 639º-B). n) - Se, no decurso da acção, houver razões para presumir que certa pessoa, posto que não indicada como testemunha na causa, tem conhecimento de factos importantes para ela, o Juiz deve ordenar que seja notificada para vir depor (art. 645º-1). Contudo, este depoimento só poderá ocorrer passados 5 dias, se alguma das partes requerer fixação de prazo para tal inquirição (art. 645º-2).

ALTERAÇÕES AO ROL DE TESTEMUNHAS

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a) - é lícito alterar ou aditar o rol de testemunhas que tenha sido apresentado no prazo estabelecido pelo art. 512º-1 desde que o respectivo requerimento de alteração ou de aditamento seja apresentado em juizo até 20 dias antes da data em que se realize a audiência de julgamento (art. 512º-A-l). Neste caso, a parte contrária será notificada desta alteração e/ou aditamento, e poderá, no prazo de 5 dias, usar da mesma faculdade (art. cit.). b) - As testemunhas aditadas serão a apresentar pela parte que as indicou, pelo que não serão notificadas pelo tribunal para comparecer (art. 512º-A-2). c) - se a parte não prescindir do depoimento de testemunha faltosa, pode substitui-la (veja f) de "Regras da Inquirição"). d) - se a testemunha notificada não comparecer e existir impossibilidade definitiva ou temporária dela vir a comparecer, a parte que a indicou poderá substitui-la (art. 629º-3-a). e) - se a testemunha não foi notificada, devendo sê-lo, ou não comparecer por outro motivo legítimo, não sendo possível ouvi-la dentro do prazo de 30 dias, a parte que a ofereceu poderá substitui-la (art. 629º-3-d) - veja l) de "Regras da Inquirição"). f) - se a testemunha mudou, depois de oferecida, de residência, a parte que a ofereceu poderá substitui-la ou comprometer-se a fazê-la comparecer ou requerer ao Juiz que seja ouvida por tele-conferência (arts. 629º-3-c) e 623º-3). g) - se a testemunha faltar sem motivo e não for encontrada, a parte pode substitui-la (art. 629º-3-e). NOTA - nos casos de substituição de testemunhas, a prestação do depoimento só pode ter lugar decorridos 5 dias sobre a notificação da substituição à parte contrária, a menos que esta prescinda do prazo (art. 631º-1).

PRERROGATIVAS ESPECIAIS

Há pessoas que, sendo indicadas como testemunhas, gozam do privilégio de ser inquiridas na sua casa ou na sede dos respectivos serviços (art. 624º-1), ou de deporem por escrito se o quiserem (art. 624º-1 e 2), no prazo de 10 dias a contar de notificação do Tribunal (art. 626º-3). Por isso, quanto a estas pessoas, é necessário concretizar os factos a que deporão, na altura em que elas sejam arroladas pela parte (art. 624º-3). Se estas testemunhas depuserem por escrito, poderão o Tribunal e as partes, por uma vez, solicitar-lhes, também por escrito, esclarecimentos, os quais deverão ser prestados em 10 dias. FALTAS DE C0MPARÊNCIA DE TESTEMUNHAS

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1 - não pode ser motivo para se requerer adiamento dos outros actos de produção de prova, e na audiência se ouvirão as testemunhas que estiverem presentes (art. 629º-2). Nestes casos, qualquer das partes poderá requerer a gravação da inquirição logo após o seu início. 2 - pode ser adiada, mas só por uma vez, a inquirição de testemunha faltosa de quem se não prescinda, e não poderá ter lugar segundo adiamento com base na falta da mesma testemunha (art. 630º); 3 - se a impossibilidade de comparência é temporária ou a testemunha tiver mudado de residência depois de oferecida, ou se ela não tiver sido notificada, devendo tê-lo sido, ou se não comparecer por outro motivo legítimo, pode a testemunha ser substituída, requerer-se o adiamento da inquirição por prazo que nunca exceda os 30 dias, ou, nos casos de grave dificuldade em depor, ser a testemunha ouvida por escrito ou pelo telefone (arts. 629º-2-b), 639º e 639º-B - veja l) de "Regras da Inquirição"); 4 - se a impossibilidade for definitiva ou temporária, a parte pode substituir a testemunha (art. 629º-3-a) - veja c) de "Alterações ao Rol"); 5 - se mudou, entretanto, de residência, a parte pode substitui-la ou comprometer-se a fazê-la comparecer ou requerer ao Juiz que seja ouvida por tele-conferência (arts. 629º-3-c) e 623º-3 - veja e) de "Alterações ao Rol"); 6 - se não foi notificada, devendo sê-lo, ou não comparecer por outro motivo legítimo, e não sendo possível ouvi-la no prazo de 30 dias, a parte pode substitui-la (art. 629º-3-d) - veja d) de "Alterações ao Rol"); 7 - se faltar sem motivo e não for encontrada, pode ser substituída (art. 629º-3-e) - veja g) de "Alterações ao Rol").

LIMITES DA PROVA TESTEMUNHAL

a) – no processo ordinário: - até 20 testemunhas, quer para o A. quer para o réu (art. 632º-1); - mais até 20 testemunhas, quer para reconvinte, quer para reconvindo, para prova da reconvenção e sua defesa (art. 632º-2); - até 5 quanto a cada facto, não se contando as que declarem nada saber (art. 633º).

b) – no processo sumário: - até 10 testemunhas, quer para o A. quer para o réu (art. 789º); - mais até 10 na reconvenção, quer para reconvinte, quer para reconvindo, para prova da reconvenção e sua defesa (art. 789º); - até 3 quanto a cada facto, não se contando as que declarem nada saber (art. 789º).

c) – no processo sumaríssimo:

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- até 6 testemunhas (art. 796º-1). Assim: - consideram-se não escritos os nomes que excedam a capacidade geral (art. 632º-3). No processo sumaríssimo, o rol de testemunhas tem de constar obrigatoriamente nos “articulados” (arts. 793º-1 e 794º-1). Em processo sumaríssimo as testemunhas são sempre a apresentar (art. 796º-4), embora a parte possa requerer que sejam notificadas.

ATAQUES À PROVA TESTEMUNHAL

IMPUGNAÇÃO – a parte contra quem deponha certa testemunha, poderá impugnar a admissão desta a depor invocando os mesmos fundamentos pelos quais o Juiz deve obstar a esse depoimento (arts. 636º, 616º-2, 617º e 635º-2). A impugnação é deduzida logo que terminar o interrogatório preliminar da testemunha em causa (art. 635º-1). Se for admitido este incidente, a testemunha é perguntada pelo Juiz sobre a matéria de facto da impugnação e, caso a não confesse, o impugnante é convidado a oferecer logo prova, por documentos ou testemunhal, quanto a essa matéria, sendo que, quanto a testemunhas, não poderá indicar mais que três a cada facto (art. 637º-1). Produzida a prova do incidente de impugnação, o Juiz decidirá imediatamente se tal testemunha deve ou não depor (art. 637º-2). ACAREAÇÃO - a requerimento de qualquer das partes ou oficiosamente, colocar em confronto directo testemunhas entre si ou com as partes, quando se verifique contradição entre os depoimentos prestados (art. 642º). CONTRADITA - alegação, pela parte contrária à que ofereceu a testemunha, de qualquer circunstância susceptível de abalar a credibilidade do depoimento que prestou, seja por: - afectar a sua razão de ciência, ou - por diminuir a fé de que a testemunha seja digna (art. 640º). Como e quando se deduz a contradita (art. 641º): a) - logo que o depoimento terminou; b) - se admitida pelo Juiz, ouve-se imediatamente a própria testemunha sobre a matéria que é fundamento da contradita; c) - se a testemunha a não confessar, a parte pode fazer, quer por documentos, quer por testemunhas, a prova dos factos que alegou na contradita, sendo que, quanto a testemunhas, não pode ouvir mais que 3 a cada facto; d) - as testemunhas têm de ser imediatamente apresentadas e inquiridas; e) - os documentos podem ser apresentados até à altura em que a causa deva ser julgada.

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AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

As audiências devem ser marcadas mediante prévio acordo entre o Juíz e os Mandatários judiciais (artº. 155º), e não podem essas marcações ser feitas com antecedência superior a 3 meses (Dec.-Lei nº. 184/2000, art. 1º). Nas acções de processo ordinário, o julgamento apenas se faz com intervenção do Tribunal Colectivo quando ambas as partes assim o tiverem requerido (art. 646º-1, na redacção dada pelo Dec.-Lei nº. 183/2000), excepto (art. 646º-2-idem), casos nos quais não é admissível a intervenção do Tribunal Colectivo: a) - nas acções que não tenham sido contestadas e tenham que prosseguir como impõe o art. 485º-b), c) e d) - (réu incapaz, sendo a causa do âmbito da sua incapacidade, réu citado editalmente e em situação de revelia absoluta, causa sobre direitos indisponíveis e causa sobre factos para cuja prova seja exigido documento escrito); b) - nas acções em que todas as provas hajam sido produzidas antes do início da audiência final e tenham sido registadas ou reduzidas a escrito; c) - nas acções em que alguém que seja parte tenha requerido a gravação da audiência final. Como regra geral, pois, o julgamento far-se-á sob a direcção de um só Juiz. Quando não se faça com intervenção de Tribunal Colectivo, o julgamento da matéria de facto e a elaboração da sentença incumbem ao Juiz que deveria presidir ao Tribunal Colectivo, se este tivesse intervindo (art. 646º-5). Nas de processo sumário, será feito apenas perante o Juiz singular (art. 791º, na redacção dada pela Lei nº. 3/99, de 13 de Janeiro). Nas de processo sumaríssimo, o julgamento é, também, sempre feito perante o Juiz singular (art. 796º). Se for prescindida a intervenção do tribunal colectivo, qualquer das partes pode requerer a gravação da audiência final no início desta (art. 651-2). Se faltar Advogado a audiência que tenha sido marcada mediante acordo prévio, ou nos casos em que ele não tenha comunicado previamente a impossibilidade da sua comparência, procede-se à gravação dos depoimentos, e o Advogado que faltou pode, após audição dessa gravação, requerer a renovação de alguma das provas produzidas, desde que alegue e prove que não compareceu por motivo justificado que o impediu de cumprir o disposto no art. 155º-5 (art. 651º-5). Causas de adiamento ou suspensão da audiência (art. 651º-1):

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a) - impossibilidade de constituir-se o Tribunal Colectivo e nenhuma das partes prescindir da intervenção dele; b) - oferecimento de documento que a outra parte não possa desde logo examinar, mesmo com suspensão temporária dos trabalhos, e se o tribunal o entender conveniente; c) - se faltar algum dos Advogados quando a audiência não tenha sido marcada mediante acordo prévio com os mandatários (art. 155º); d) - se faltar Advogado que tenha comunicado a sua impossibilidade de comparência (art. 155º-5); e) – se houve ampliação da base instrutória determinada pelo Juiz e as partes não puderem oferecer logo as provas quanto às matérias de facto da ampliação, ou quando as provas que indicaram para isso não puderem ser logo produzidas (art. 650º-3 e 4). Havendo ampliação da matéria de facto determinada pelo Juiz, as partes devem indicar imediatamente as provas quanto a essa nova matéria, ou, não lhes sendo isso possível, no prazo de 10 dias (art. 650º-3). A audiência não pode ser adiada por acordo das partes nem mais que uma vez, a não ser por impossibilidade de constituição do Tribunal Colectivo de cuja intervenção se não prescinda (art. 651º-3). Fora dos casos de c) e d), faltando o Advogado, gravam-se os depoimentos das testemunhas presentes, mas o Advogado faltoso poderá requerer nova inquirição, depois da audição da gravação (art. 651º-5). Se a causa objectivar direitos disponíveis, o Juiz procurará, antes de dar início à audiência de julgamento, conciliar as partes (art. 652º-2). Sequência dos actos na audiência de julgamento (art. 652º-3), em princípio, já que o presidente pode alterá-la se isso se justificar (art. 652º-7): a) - prestação dos depoimentos de parte; b) - exibição de reproduções gravadas de provas; c) - esclarecimentos verbais de peritos, quando a presença deles tenha sido requerida por qualquer das partes ou determinada oficiosamente; d) - inquirição das testemunhas; e) - debates dos advogados sobre a matéria de facto, em primeiro lugar o do autor e em seguida o do réu, podendo, cada um deles, replicar uma vez. Em regra, a audiência é pública (art. 656º-1). Em seguida, reunirá o tribunal colectivo a fim de, com base nas provas produzidas, e segundo a sua convicção, o presidente elaborar acórdão no qual declarará os factos que o tribunal julga provados e os não provados (art. 653º-2), analisando e criticando as provas e especificando os fundamentos que levaram à convicção adquirida. Voltando os Juízes à sala da audiência, o presidente lê o acórdão e faculta-o para exame a cada um dos Advogados pelo tempo necessário à sua apreciação ponderada, tendo em conta a complexidade da causa. Feito o exame, no prazo concedido, poderão ser apresentadas, logo ou nesse prazo, reclamações fundamentadas em deficiência, obscuridade ou contradição entre as respostas dadas aos quesitos, ou contra a falta de fundamentação.

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As reclamações são decididas pelo tribunal em definitivo (art. 653º-4). Decididas as reclamações, ou não as havendo, seguem-se as alegações sobre a matéria de direito, ou seja a aplicação da lei aos factos dados por provados, e sua interpretação. Estas alegações serão orais se as partes nisso acordarem, e feitas perante o Juiz a quem caiba lavrar a sentença (art. 653º-5); no caso de as partes não terem prescindido da discussão, por escrito, do aspecto jurídico da causa, o processo é facultado para exame aos Advogados, primeiro ao do A. e depois ao do réu, para, em 10 dias, alegarem por escrito (art. 657º). No processo sumário, a discussão jurídica da causa é sempre feita oralmente e os Advogados apenas podem usar da palavra uma vez (art. 790º-1). No processo sumaríssimo, a sentença julga das matérias de facto e de direito, é sucintamente fundamentada e logo ditada para a acta (art. 796º-7). A falta de qualquer das partes ou de seus mandatários, ainda que justificada, não é motivo de adiamento (art. 796º-2). A inquirição das testemunhas é feita pelo Juiz se as partes não tiverem constituido mandatário judicial ou este não comparecer (art. 796º-3). Nas acções de indemnização por responsabilidade civil, se o exame para determinação dos danos se prolongar por mais de 3 meses, o Juiz, a requerimento do autor, pode determinar a realização da audiência, podendo condenar em quantia ilíquida, no todo ou em parte (arts. 647º-1 e 661º-2), mas aquele exame prosseguirá e às suas conclusões se atenderá na liquidação em execução de sentença (art. 647º-2). O presidente do tribunal goza de amplos poderes, podendo, inclusivamente, e até ao encerramento da discussão, ampliar a base instrutória da causa (arts. 650º-2-f e 264º), caso em que as partes poderão deduzir reclamação quanto às ampliações determinadas nos mesmos moldes que as reclamações feitas quanto ao despacho saneador (art. 650º-5) e poderão indicar as provas respectivas desde logo ou, não sendo possível, em 10 dias (art. 650º-3).

A SENTENÇA

O seu conteúdo (arts. 659º e 660º). As suas limitações (art. 661º). Todavia: 1 - se foi requerida a manutenção na posse, em lugar da sua restituição, ou vice-versa, a sentença conhecerá da situação realmente verificada (art. 661º-2). 2 - desde que a causa se mova em direitos disponíveis, aquelas limitações não subsistem, sendo lícito às partes porem termo ao litígio por via de transacção que será homologada por sentença a proferir nos precisos termos da transacção feita (arts. 293º-2, 294º e 300º-3 e 4).

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Rectificação da sentença (art. 667º-1): a) - se omitir a identificação das partes; b) - se for omissa quanto a responsabilização pelas custas; c) - se cometer erros de cálculo ou inexactidões ou lapsos. A rectificação é feita por simples despacho, oficiosamente ou a requerimento das partes. Se for interposto recurso da sentença, a rectificação só poderá ser feita antes de o recurso subir. Se não for interposto recurso, a rectificação pode ter lugar a todo o tempo. Cabe recurso do despacho que fizer a rectificação (art. 667º-2). Nulidade da sentença (art. 668º-1): a) - se não assinada pelo Juiz; b) - se não especificar os seus fundamentos em matéria de facto ou de direito; c) - se os seus fundamentos se mostrarem em contradição com a decisão; d) - se o Juiz não se pronunciou sobre questões de que devia ter conhecido; e) - se o Juiz conheceu de questões das quais não podia conhecer; f) - se o Juiz condenou em quantidade superior ao pedido; g) - se o Juiz condenou em objecto diferente do pedido. Enquanto for possível colher a assinatura, a falta referida em a) pode ser suprida oficiosamente ou a requerimento das partes, mesmo no tribunal onde a sentença foi proferida, cumprindo que seja consignada a data em que a assinatura foi efectivamente feita. As nulidades de b) a g) só podem ser arguidas no tribunal onde foi proferida a sentença se não couber recurso ordinário; cabendo-o, só podem ser arguidas como fundamento do recurso (art. 668º-2 e 3). Proferida a sentença, fica logo esgotado o poder jurisdicional do Juiz quanto à matéria da causa (art. 666º-1). Todavia: a) - o Juiz pode ainda rectificar erros materiais; b) - o Juiz pode ainda suprir nulidades (veja acima); c) - o Juiz pode ainda esclarecer dúvidas que a sentença suscite (art. 669º-1-a); d) - o Juiz pode ainda reformar a sentença quanto a custas e multas (arts. 666º-2 e 669º-1-b); e) – pode requerer-se a reforma da sentença quando ocorra evidente lapso do juiz na determinação da norma aplicável ou na qualificação jurídica dos factos (art. 669º-2-a); f) – pode requerer-se a reforma da sentença quando do processo constem documentos ou outros elementos que, sem mais, levem a decisão diversa da que foi proferida, e que o Juiz, por claro lapso, não tomou em consideração (art. 669º-2-b).

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As discriminadas rectificações e esclarecimentos podem ser feitas quer a requerimento das partes, quer oficiosamente (art. 667º-1). Se forem arguidas nulidades das previstas nas alíneas b) a e) do art. 668º-1, ou se for pedida a aclaração da sentença ou a sua reforma, é logo ouvida a parte contrária (art. 670º-1). Não é susceptível de recurso o despacho que indefira o requerimento de rectificação, esclarecimento ou reforma (art. 670º-2). Se couber recurso da decisão, o requerimento de reforma da sentença, como dito em e) e f), é feito na própria alegação (art. 669º-3). Se tiver sido requerida rectificação ou aclaração, e, de algum modo, provida, o recurso fica a ter por objecto a nova decisão, e o recorrente pode, em 10 dias, desistir do recurso, e pode restringir ou alargar o seu âmbito, podendo o recorrido responder a essa alteração no mesmo prazo (art. 670º-3). Nestas hipóteses, o recorrido pode recorrer da sentença aclarada, corrigida ou reformada, recurso a interpor no prazo de 15 dias a contar da notificação do despacho que fez a rectificação ou a aclaração (art. 670º-4). O despacho que faça a rectificação ou a aclaração é proferido juntamente com o que admite o recurso e ordena a sua subida, e o relator deve mandar baixar o processo para que seja proferido quando o juiz omitir tal despacho (art. 670º-5). Valor da sentença transitada em julgado, e de quaisquer despachos que recaiam sobre o mérito da causa: a) - a decisão sobre a relação material que se controvertera adquire força obrigatória dentro do processo e fora dele (art. 671º-1), sem prejuízo do recurso extraordinário de revisão. Mas, b) - se a condenação foi na prestação de alimentos ou doutras prestações que dependam de circunstâncias especiais na sua medida ou duração, a sentença pode ser alterada com fundamento em alteração ulterior de circunstâncias (art. 671º-2). c) - se a sentença ou o despacho apenas recaírem sobre a relação processual, apenas têm força obrigatória no processo em que proferidos (art. 672º). d) - se houver duas decisões contraditórias sobre a mesma pretensão, prevalece a que primeiro tenha transitado em julgado (art. 675º). e) - quanto a sentenças proferidas em processo penal, se se tratar de decisão condenatória, há a presunção ilidível de que existiram os factos que fundamentaram a condenação, invocável nas acções cíveis em que se discutam relações jurídicas dependentes da prática da infracção (art. 674º-A).

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f) - se se tratar de decisão penal absolutória, ela constitui simples presunção ilidível da inexistência desses factos (art. 674º-B).

RECURSOS

Podem ser (art. 676º-2): I - Ordinários: - a apelação - a revista II - Extraordinários: - o de uniformização de jurisprudência - a revisão.

I – REGRAS GERAIS

Há trânsito em julgado quando a decisão não seja, ou já não seja, susceptível de recurso ordinário nem de reclamação (art. 677º - ver SENTENÇA, arts. 668º e 669º). Decisões recorríveis em recurso ordinário (art. 678º): a) - as proferidas em causas de valor superior ao da alçada do tribunal, desde que a parte desfavorável ao recorrente, no correspondente, seja também de valor superior a metade dessa alçada (art. 678º-1). Se dúvidas houver quanto ao valor da sucumbência, atender-se-á ao valor da causa (nº. 1); b) - todas, se o fundamento do recurso for a violação das regras de competência internacional, em razão da matéria, em razão da hierarquia, ou a ofensa de caso julgado (art. 678º-2);

c) - de despacho de indeferimento liminar de petição de acção ou de procedimento cautelar, até à Relação, recurso que tem subida nos próprios autos (art. 234º-A-2), independentemente do valor da causa; d) - todas as proferidas sobre requerimento de reforma da sentença nos termos do previsto no art. 669º-2, e pela parte que se veja prejudicada com a alteração da sentença (art. 670º-3); e) - todas as que respeitem ao valor da causa ou dos incidentes, sempre que o recurso tenha por fundamento que o seu valor excede a alçada do tribunal de que se recorre (art. 678º-3); f) - sempre de decisões proferidas, no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito, contra jurisprudência uniformizada do Supremo Tribunal de Justiça (678º-2);

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g) – as decisões respeitantes ao valor da causa nos procedimentos cautelares, com fundamento de que o valor excede a alçada do tribunal de que se recorre, até à Relação (art. 678º-3-b);

h) - seja qual seja o valor da causa e da sucumbência, é sempre admissível recurso para a Relação nas acções em que seja apreciada a validade, a subsistência ou a cessação de contratos de arrendamento, com excepção dos arrendamentos para habitação não permanente ou para fins especiais transitórios (art. 678º-3-a); i)– seja qual for o valor da causa e da sucumbência, é sempre admissível recurso, mas somente em um grau, de decisão que condene por litigância de má fé (art. 456º-3). Decisões não recorríveis (art. 679º): a) - os despachos de mero expediente; b) - os despachos proferidos no uso legal de poder discricionário. Quem pode recorrer (art. 680º): a) - quem, sendo parte principal na causa, tenha ficado vencido (nº. 1); b) - quem se veja directa e efectivamente prejudicado pela decisão, mesmo que não seja parte ou seja somente parte acessória (nº. 2); c) – quem se veja directa e efectivamente prejudicado pela decisão e, sendo incapaz, tenha intervindo na causa como parte, mas por intermédio do seu legal representante (art. 680º-3, segunda parte); d) - quem não seja parte na causa, no âmbito do recurso extraordinário de revisão previsto no art. 771º-g (ver adiante). Extensão (art. 683º): Quando seja caso de litisconsórcio necessário, o recurso interposto por uma das partes aproveita aos seus compartes (art. 683º-1). Quando não seja caso de litisconsórcio necessário, o recurso interposto por uma das partes pode aproveitar aos seus compartes (art. 683º-2): a) – se estes, na parte em que o interesse seja comum, derem a sua adesão ao recurso; b) – se eles tiverem um interesse que dependa essencialmente do interesse do recorrente; c) – se eles tiverem sido condenados como devedores solidários e o recurso, pelos seus fundamentos, não respeite apenas à pessoa do recorrente.

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A adesão ao recurso pode fazer-se por requerimento autónomo ou por subscrição das alegações do recorrente, e até ao início do prazo para elaboração do projecto de acórdão (arts. 683º-3 e 707º-1). Na adesão, o interessado toma como sua a actividade que já foi desenvolvida pelo recorrente e a que ele vier a desenvolver (nº. 4). Em qualquer altura, o aderente pode passar à posição de recorrente principal, desenvolvendo, então, actividade própria (idem). Se o recorrente desistir do seu recurso, o aderente deve ser notificado dessa desistência para que possa seguir com o recurso na condição de recorrente principal (nº. 5). Quando se perde o direito de recorrer (art. 681º): a) - quando a parte renunciar ao recurso, excepto quanto a recurso subordinado e desde que a outra parte tenha interposto recurso (arts. 681º-1 e 682º-3); b) - quando a parte tiver aceitado a decisão proferida (art. 681º-2), expressa ou tacitamente (cf. Ac. Trib. Const. 335/06. de 29 de Junho); c) - quando a parte vier a desistir do recurso (art. 681º-5) . A renúncia antecipada só produz efeitos se provier de ambas as partes (art. 681º-1). Espécies de recursos, quanto ao momento de interposição (art. 682º): I - Recurso Independente: é o que se interpõe dentro do prazo normal de 30 dias a contar da notificação da decisão, salvo nos processos urgentes e demais casos especiais expressamente previstos na lei, em que o prazo será de 15 dias (arts. 682º-1 e 685º-1). II - Recurso Subordinado: é o que se interpõe quando ambas as partes ficaram vencidas, e em prazo idêntico contado da notificação da interposição de recurso independente pela parte contrária (art. 682º-2). O recurso subordinado caduca se o independente for objecto de desistência do recorrente, se este renunciar ao recurso ou se o tribunal não tomar conhecimento deste (art. 682º-3). O recurso subordinado é sempre admissível desde que o seja o independente, e mesmo que a decisão recorrida seja desfavorável ao nele recorrente em valor igual ou inferior a metade do valor da alçada do tribunal de que se recorre (art.682º-5). Como se interpõem (art. 684º-B):

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a) - por meio de requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão (nº. 1); b) - se a decisão recorrida tiver sido oralmente proferida e estiver reproduzida no processo, o requerimento de interposição pode ser ditado para a acta (nº. 3); c) – no requerimento de interposição deve indicar-se a espécie de recurso que se interpõe, o seu efeito e o modo de subida (nº. 1); d) – nos casos previstos nas alíneas a e c do nº. 2 do art. 678º, no recurso para uniformização de jurisprudência e na revista excepcional, há que concretizar o fundamento do recurso (nº. 1); e) – o requerimento de interposição do recurso deve incluir a alegação do recorrente (nº. 2);

f) – na alegação há que concluir, de maneira sintética, pela indicação dos fundamentos pelos quais se pede a alteração ou a anulação da decisão recorrida (art. 685º-A-1);

g) – se o recurso versar sobre matéria de direito, as conclusões terão de indicar:

* as normas jurídicas que se consideram violadas; * o sentido que, segundo o recorrente, essas normas deveriam ter

sido interpretadas e aplicadas; * se se invocou erro na determinação da norma jurídica aplicável,

a indicação de qual deveria ter sido a que se deveria ter aplicado (art. 685º-A-2). h) – quando o recorrente impugne a decisão proferida quanto a matéria de facto, terá de obrigatoriamente indicar, sob pena de rejeição do recurso: * os pontos de facto, concretos, que entende terem sido incorrectamente julgados; * os meios de prova, concretos, constantes do processo ou de registo gravado nele realizado que imporiam diversa decisão em matéria de facto (art. 685º-B-1); i) – podem arguir-se as nulidades que tenham sido cometidas na decisão recorrida, como quanto à sentença (arts. 668º, 716º e 722º). Não pode ser indeferido o requerimento de interposição de recurso com fundamento em que o recorrente tenha cometido erro na espécie de recurso que disse pretender interpor, pois o tribunal oficiosamente admitirá o recurso que entenda adequado ao caso (art. 685º-C-2). Se existirem vários vencedores, todos deverão ser notificados do despacho que admita o recurso, mas o recorrente pode excluir do recurso, no seu requerimento de interposição, algum ou alguns dos vencedores, a não ser que se esteja em caso de litisconsórcio necessário (art. 684º-1). A decisão que admita o recurso, lhe defina a espécie ou o efeito não vincula o tribunal “ad quem” e não pode ser impugnada pelas partes, a não ser nas situações a que alude o art. 315º-3 (nº. 5). Se a sentença contiver decisões diversas, o recorrente pode restringir o objecto do recurso a qualquer delas, assim o especificando no requerimento de interposição (art. 684º-2) ou mesmo nas conclusões da alegação (nº. 3). Se houver pluralidade de fundamentos da acção ou da defesa, o tribunal de recurso deverá conhecer do fundamento em que a

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parte vencedora decaiu, requerendo-o esta na respectiva alegação, mesmo a título subsidiário, prevenindo a necessidade da sua apreciação (art. 684º-A-1). O recorrido, na sua alegação e a título subsidiário, pode arguir nulidade da sentença ou impugnar a decisão que tenha sido proferida quanto a matéria de facto que o recorrente não tenha impugnado (art. 684º-A-2). Se o processo não contiver os elementos de facto indispensáveis à apreciação da questão suscitada, o tribunal do recurso pode mandá-lo baixar para que se proceda ao julgamento onde a decisão recorrida foi proferida (art. 684º-A-3). Prazos

a) – o recurso independente interpõe-se, em regra, no prazo de 30 dias a contar da notificação da decisão ou do conhecimento dela (art. 685º-1, 3 e 4).

b) – se se tratar de processo urgente, o prazo para recorrer é de

15 dias (arts. 685º-1, 691º-5 e 724º).

c) – há prazos diferentes expressamente definidos na lei (art. 685º-1).

d) – se o recurso objectivar a reapreciação de prova gravada, aos

prazos aludidos em a), b) e c) acrescem mais 10 dias (art. 685º-7).

e) – o recorrido pode responder à alegação em prazo igual ao de

que dispuser o recorrente (art. 685º-5).

f) – se o recorrido requerer a ampliação do objecto do recurso (art. 684º-A), o recorrente poderá responder à matéria da ampliação nos 15 dias subsequentes à notificação do aludido requerimento (art. 685º-8).

Indeferimento do recurso (art. 685º-C): É proferido despacho, findos os prazos concedidos às partes para interposição do recurso, ordenando a subida do recurso (nº. 1). Todavia, o requerimento de interposição do recurso será indeferido: a) - se a decisão não admitir recurso; b) - se o requerimento de interposição é extemporâneo; c) - se se entender que o recorrente não está nas condições legais de poder recorrer; d) – se o requerimento não contiver as alegações; e) – se o requerimento, posto contenha as alegações, nestas o recorrente não tiver formulado conclusões (nº. 2). A decisão que indefira o recurso pode ser objecto de reclamação para o tribunal que seria o competente para conhecer do recurso, a deduzir em 10 dias a contar da notificação da decisão de

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indeferimento (art. 688º-2), reclamação que é apresentada na secretaria do tribunal recorrido (nº. 3). O recorrido dispõe do prazo de 10 dias para responder à reclamação (nº. 2). A reclamação é autuada por apenso e instruída com o requerimento de interposição do recurso, as alegações com ele apresentadas, a decisão recorrida e o despacho reclamado (nº. 3). A reclamação é logo apresentada ao relator e este, em 10 dias, decide, ou admitindo o recurso, ou mantendo o despacho reclamado (nº. 4). Porém, se o relator entender que se não encontra suficientemente esclarecido, pode requisitar ao tribunal recorrido os esclarecimentos e as certidões que entenda precisos (nº. 5). Se o recurso for admitido, o relator requisitará o processo principal ao tribunal recorrido e este deve fazê-lo subir no prazo de 10 dias (nº. 6). Conteúdo do recurso (art. 690º): a) - sob pena de o recurso ser logo indeferido, o recorrente tem de apresentar, com o requerimento de interposição, a sua alegação (arts. 684º-B-2 e 685º-C-2-b); b) - com a mesma consequência, o recorrente tem de formular, na alegação, conclusões sintéticas, nas quais estabeleça os fundamentos por que pede a alteração ou a anulação da decisão (arts. 685º-A-1 e 2 e 685º-C-2-b); c) – se as conclusões se revelarem deficientes, obscuras, complexas ou não contiverem a concretização das normas que se supõem ofendidas, ou o sentido que se pretende na sua interpretação e aplicação, ou a menção da norma que se pretende que deveria ter sido aplicada diferentemente da que o foi, o relator convidará o recorrente a completá-las, esclarecê-las ou sintetizá-las, no prazo de 5 dias, sob pena de se não conhecer do recurso na parte afectada (art. 685º-A-3); d) – em 5 dias, poderá o recorrido responder ao aditamento ou ao esclarecimento previsto em c) (nº. 4); e) – ao Ministério Público não se aplicam as regras definidas nas alíneas que antecedem, quando recorra por imposição legal (nº. 5).

II – EM ESPECIAL

A – OS RECURSOS ORDINÁRIOS

1 - A APELAÇÃO

Pode apelar-se de decisão de tribunal de 1ª instância que (art. 691º): a) – ponha termo ao processo (nº. 1); b) – aprecie do impedimento do juiz (nº. 2-a); c) – aprecie a competência do tribunal (nº. 2-b); d) – aplique multa (nº. 2-c);

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e) – condene no cumprimento de obrigação pecuniária (nº. 2-d); f) – ordene o cancelamento de qualquer registo (nº. 2-e); g) – ordene a suspensão da instância (nº. 2-f); h) – tenha sido proferida após a decisão final (nº. 2-g); i) – sendo despacho saneador que não ponha termo ao processo, mas decida do mérito da causa (nº. 2-h); j – admita ou rejeite meios de prova (nº. 2-i; l)- não admita o incidente ou lhe ponha termo (nº. 2-j); m) – se pronuncie sobre a concessão de providência cautelar, ordene o seu levantamento ou indefira liminarmente o seu requerimento (nº. 2-l). Além disso: n) – as decisões cuja impugnação apenas com recurso da decisão final seria absolutamente inútil (nº. 2-m). E o) – os casos expressamente previstos na lei (nº. 2-n). Outras decisões que sejam proferidas em tribunal da 1º instância poderão ser impugnadas no recurso que venha a ser interposto da decisão final ou do despacho que se deixou referido em m) (nº. 3). Se não houver recurso da decisão final, as decisões interlocutórias que tenham interesse para o apelante, independentemente daquela, poderão ser impugnadas num recurso único a interpor depois do trânsito em julgado da referida decisão (nº. 4). Prazos:

a) – em geral, no de 30 dias, como se deixou explicado na parte geral;

b) – no prazo de 15 dias para os casos das apelações referidas de b) a h) e j) a o), quando não houver recurso da decisão final e nos processos urgentes (art. 691º-5).

Regimes de subida (art. 691º-A):

a) – nos autos: 1 – as de decisões que ponham termo ao processo (nº. 1-a); 2 – as de decisões que suspendam a instância (nº. 1-b); 3 – as de decisões que indefiram incidente processado por apenso (nº. 2-c); 4 – as de decisões que indefiram liminarmente providência cautelar, ou a não ordenem (nº. 2-d). b) – em separado: as demais (nº. 2).

As apelações que subam conjuntamente formam um só processo, em separado (nº. 3). Para as apelações que subam em separado, as partes devem indicar, no final das conclusões, as peças do processo de que queiram certidão para instrução do recurso, e as peças do processo obtidas por via electrónica têm o valor de certidão (art. 691º-B-1 e 3).

Efeitos: a) - devolutivo, em regra (art. 692º-1).

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b) – suspensivo do processo nos casos previstos na lei (nº. 2); c) – suspensivo da decisão (nº. 3): 1 – a apelação de decisão que ponha termo ao processo nas acções sobre estado das pessoas (art. 692º-3-a); 2 – a apelação interposta em acções em que seja apreciada a validade, a subsistência ou a cessação de contratos de arrendamento, com excepção dos arrendamentos de habitação não permanente ou para fins especiais transitórios (art. 692º-3-b); 3 – a apelação nas acções em que esteja em discussão a posse ou a propriedade de casa de habitação (art. 692º-3-b); 4 – a apelação de despacho de indeferimento de incidente processado por apenso (art. 692º-3-c); 5 – a apelação de despacho que indefira liminarmente providência cautelar, ou a não ordene (art. 692º-3-d); 6 – a apelação das decisões que aplicaram multa, que condenaram no cumprimento de obrigações pecuniárias ou ordenaram o cancelamento de registo (art. 692º-3-e); 7 – outros casos previstos na lei (art. 692º-3-f). 8 - Se a parte vencida, ao interpor o recurso, requerer, na alegação, que lhe seja atribuído o efeito suspensivo, por entender que a execução lhe causará prejuízo considerável, e se oferecer para prestar caução, caso em que a atribuição do efeito suspensivo fica condicionada à efectiva prestação da caução no prazo que o tribunal fixe (art. 692º-4). O apelado pode responder, na sua alegação, quanto ao pedido de atribuição do efeito suspensivo (art. 692º-A-2). A atribuição do efeito suspensivo extingue-se se o recurso estiver parado mais de 30 dias por negligência do recorrente (art. 692º-A-1). A parte vencedora (apelado) pode, a todo o tempo, requerer a extracção de traslado com indicação das peças que o haverão de compor, além da sentença (art. 693º-1). Se o apelado não quiser, ou não puder, requerer a execução provisória da sentença, e não estiver já garantido por hipoteca judicial, pode requerer, na sua alegação, que o apelante preste caução (art. 693º-2). Junção de documentos: Só podem ser juntos com as alegações (art. 693º-B):

a) – os documentos cuja apresentação não tivesse sido possível até esta altura;

b) – os documentos que se destinem à prova de factos posteriores aos articulados;

c) – os documentos cuja junção só se tenha tornado necessária em virtude de facto ocorrido mais tarde (art. 524º);

d) – os documentos cuja junção só se mostre necessária em virtude do julgamento proferido na 1ª instância (art. 693º-B);

e) – nos casos a que se referem as alíneas a) a g) e i) a n) do art. 691º (idem).

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Se houver diversos recorrentes ou recorridos, mesmo que representados por diferentes advogados, é único o prazo para as respectivas alegações (art. 685º-8), ou seja corre imediatamente quanto a todos em paralelo, e cabe à secretaria harmonizar entre todos o direito que cada um tem de examinar o processo no aproveitamento desse único prazo. Julgamento do recurso: 1 - Ao relator cabe deferir todos os termos do processo até final (art. 700º-1), designadamente:

a) – corrigir o efeito atribuído ao recurso; b) – corrigir o seu modo de subida; c) – convidar ao aperfeiçoamento das conclusões; d) – verificar se algo obsta ao conhecimento do recurso; e) – julgar sumariamente o recurso quando entenda que é simples a

questão a decidir, designadamente por já ter sido apreciada de maneira uniforme e repetida, podendo, neste caso, a decisão ser de simples remissão para anteriores decisões, das quais juntará cópia (art. 705º);

f) – ordenar diligências que entenda necessárias; g) – autorizar ou recusar a junção de documentos e de pareceres; h) – julgar incidentes que tenham sido suscitados; i) – decretar a suspensão da instância; j) – julgar extinta a instância por causa diversa do julgamento; l) – julgar findo o recurso por não haver que conhecer dele. A parte que se considere prejudicada por despacho proferido

pelo relator, que não seja de mero expediente, pode requerer que sobre a matéria abordada recaia um acórdão (art. 700º-3).

Neste caso, o relator, após ser ouvida a parte contrária, submeterá o assunto à conferência (idem).

Do acórdão cabe recurso de revista como disciplinado no art. 721º-4.

Se o relator entender que não pode conhecer-se do objecto do recurso, antes de assim decidir terá de ouvir cada uma das partes pelo prazo de 10 dias (art. 704º-1).

Se o relator entender que se deve alterar o efeito do recurso, antes de decidir terá de ouvir as partes no prazo de 5 dias (art. 703º-1).

Se tais questões tiverem sido levantadas pelas partes na respectiva alegação, o relator apenas ouvirá a que não tenha tido oportunidade de responder (arts. 703º-2 e 704º-2).

Alteração da matéria de facto (art. 712º): A Relação só pode alterar a matéria de facto apurada na 1ª

instância: a) – se o processo contiver todos os elementos de prova que tenham

servido de suporte à decisão quanto aos factos em causa; b) – se, tendo havido gravação da prova, tiver sido impugnada a

decisão proferida com base nos depoimentos gravados; c) – se os elementos contidos no processo impuserem decisão

diferente, insusceptível de ser destruída por outras quaisquer provas; d) – se o recorrente apresentar novo documento, superveniente,

que, por si só, seja suficiente para destruir a prova em que assentou a decisão.

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2 - A REVISTA

Noção: recurso que cabe para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdão da Relação que tenha conhecido do mérito da causa, mesmo que não tenha posto fim ao processo (art. 721º-1). Os acórdãos proferidos na pendência do processo na Relação somente podem ser impugnados no recurso de revista a não ser (art. 721º-2):

a) – os acórdãos proferidos sobre incompetência relativa da Relação;

b) – os acórdãos cuja impugnação com a revista seja absolutamente inútil;

c) – demais casos especialmente previstos na lei. Não é admissível recurso de revista de acórdão da Relação que confirme, sem voto de vencido, e ainda que mercê de fundamento diferente, a decisão da 1ª instância, a não ser que (nº. 3 e art. 721º-A):

a) – esteja em causa questão cuja apreciação, pela sua relevância jurídica, seja claramente necessária a uma melhor aplicação do direito;

b) – estejam em causa interesses de especial relevância social; c) – o acórdão da Relação contradiga um outro, transitado em

julgado, proferido por Relação ou pelo Supremo, no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito e desde que não tenha havido acórdão de uniformização de jurisprudência com ele conforme.

Nestes casos, e sob pena de rejeição, o recorrente terá de indicar na sua alegação (art. 721º-A-2):

a) – razões justificativas de se tratar duma questão como em a) supra;

b) – razões demonstrativas de que são de particular relevância social os interesses em causa;

c) – os aspectos de identidade que configuram a alegada contradição de julgados, juntando cópia do acórdão-fundamento com o qual o recorrido está em oposição.

É definitiva a decisão que seja proferida sobre a verificação dos aludidos pressupostos, decisão que cabe ao Supremo Tribunal de Justiça (nºs. 3 e 4).

Fundamentos da revista (art. 722º): a) - a violação da lei substantiva, ou por erro de interpretação,

ou por erro de aplicação, ou por erro na determinação da norma aplicável ao caso;

b) – a violação ou errada aplicação da lei processual; c) - as nulidades já ditas quanto à apelação (arts. 668º e 716º).

Não podem ser fundamento da revista o erro na apreciação das provas ou na fixação dos factos materiais, a menos que tenha havido ofensa de disposição expressa que exija certa espécie de prova ou que fixe a força probatória de certo meio de prova (nº. 3).

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Nestes casos, o processo só baixa à Relação quando o Supremo for de entendimento de que possa e deva ser ampliada a decisão quanto a matéria de facto (art. 729º-3), caso em que o Supremo fixa o direito aplicável e manda que a causa seja julgada de harmonia com a decisão de direito e pelos mesmos juízes que intervieram na Relação (art. 730º). Modos de subida (art. 722º-A):

a) – nos autos – revistas interpostas das decisões da Relação que tenham conhecido do mérito da causa (nº. 1).

b) – em separado – as demais revistas (nº. 2).

Formar-se-á um único processo com as que subam conjuntamente em separado (nº. 3).

Efeito: em regra, o meramente devolutivo. Mas, nas acções sobre o estado de pessoas, tem efeito suspensivo (art. 723º-1). Se o recurso tiver efeito suspensivo, o recorrido pode exigir a prestação de caução pelo recorrente (nº. 2); se tiver efeito meramente devolutivo, o recorrido pode requerer que se extraia traslado para executar (nº. 3). Regime (art. 724º): Regra geral, interposição do recurso no prazo de 30 dias a contar da notificação da decisão recorrida (art. 685º-1). Porém:

Interposição do recurso no prazo de 15 dias quando se trate: a) – de revista de acórdão proferido sobre competência relativa da Relação; b) – de revista de acórdão cuja impugnação com o recurso de revista seria absolutamente inútil;

c) – outros casos especialmente previstos; d) – processos urgentes. Julgamento (arts. 726º e segs.): Pode o relator, por iniciativa oficiosa ou a requerimento

fundamentado de parte, determinar a realização de audiência para discussão do objecto do recurso (art. 727º-A-1).

Na data designada, a audiência não pode ser adiada e ouvir-se-ão as partes que tenham comparecido (nº. 2).

É aplicável a acórdão do Supremo o mesmo regime respeitante a nulidades que lhe sejam arguidas (art. 732º).

Julgamento ampliado para uniformização da jurisprudência

(arts. 732º-A e B): É o julgamento do recurso no Supremo em plenário das Secções Cíveis, quando (art. 732º-A): a) - o Presidente do Supremo o determine até à prolação do acórdão; e b) - isso se mostre necessário ou conveniente para assegurar uniformização de jurisprudência (nº. 1).

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Pode ser requerido pelas partes, nas respectivas alegações de recurso, e deve ser proposto pelo relator ou pelos adjuntos ou pelos presidentes das Secções Cíveis ou pelo Ministério Público (nº. 2). Tem lugar quando seja de prever a possibilidade ou probabilidade de mudar a orientação jurisprudencial, esta definida por uma corrente significativa de decisões, caso em que o relator ou qualquer dos adjuntos deve obrigatoriamente propô-lo (art. 732º-A-3).

3 - RECURSO PER SALTUM

Recurso que se poderá interpor directamente da 1ª Instância para o Supremo, quando (art. 725º-1): a) - o valor da causa for superior à alçada da Relação; b) – o valor da sucumbência seja superior a metade da alçada da Relação; c) - as partes, nas suas alegações, circunscrevam o objecto do recurso à decisão de questões de direito; d) - as partes não impugnem decisões interlocutórias quando a revista tenha sido de acórdão da Relação que conheceu do mérito da causa. A parte contrária é ouvida quanto a esta pretensão pelo prazo de 10 dias e será definitiva a decisão do Juiz que indefira ao requerido e determine que o recurso vá para a Relação (nº. 2). O recurso, quanto aos efeitos, processa-se como o de apelação (nº. 3). Por outro lado, o processo voltará ao tribunal recorrido também se o relator entender que as questões suscitadas ultrapassam o âmbito próprio da revista, decisão que é definitiva (nº. 4). De decisão do relator que admita o recurso per saltum pode haver reclamação para a conferência (nº. 5).

B – OS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS

4 - O RECURSO PARA UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA (arts. 763º e segs.)

Pode ser interposto pelas partes para o pleno das Secções Cíveis do Supremo Tribunal de Justiça quando este proferir acórdão que esteja em contradição com outro já proferido por ele no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito (art. 763º-1). Contudo, não será admitido o recurso se a orientação perfilhada no acórdão recorrido estiver de acordo com jurisprudência uniformizada do Supremo (nº. 3). Pode ainda ser interposto pelo Ministério Público, mesmo quando não seja parte na causa (art. 766º).

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Se o Ministério Público não for parte, o recurso não terá nenhuma influência na causa e destina-se somente à emissão de acórdão de uniformização sobre o conflito de jurisprudência. Prazos: No de 30 dias a contar do trânsito em julgado do acórdão recorrido (art. 764º-1). O recorrido terá igual prazo para resposta à alegação do recorrente, a contar da data em que a apresentação desta lhe tenha sido notificada (nº. 2).

Como se interpõe: Autuado por apenso (art. 765º-1). O requerimento de interposição deve conter a alegação. Nesta deverão identificar-se os elementos que determinam a contradição alegada de julgados. Também na alegação o recorrente terá de concretizar a violação que imputa ao acórdão recorrido. O recorrente deve juntar cópia do acórdão anteriormente proferido pelo Supremo que estará em oposição com o recorrido (nº. 2). Efeito: O meramente devolutivo (art. 768º). Processado: Feitas as alegações, o processo vai concluso ao relator para exame preliminar (art. 767º-1). O relator rejeitará aí o recurso:

* se tiver sido interposto fora do prazo, * se não contiver a alegação, * se o recorrente não identificou os elementos determinantes da

alegada contradição, * se não concretizar a violação imputada ao acórdão recorrido, * se o recorrente não juntar cópia do acórdão anterior em

oposição, * se entender que não existe a alegada oposição, * se a orientação perfilhada no acórdão recorrido estiver de

acordo com jurisprudência uniformizada do Supremo. O recorrente pode reclamar para a conferência da decisão do

relator (nº. 2). É irrecorrível o acórdão da conferência (nº. 4), mas o pleno das Secções Cíveis, ao julgar o recurso, poderá decidir em sentido inverso.

5 – O RECURSO DE REVISÃO (arts. 771º e segs.)

Quando pode ter lugar (art. 771º): a) - se houve, depois do trânsito em julgado da sentença a rever, sentença, transitada em julgado, da qual resulte que se provou que aquela decisão resultou de crime praticado pelo Juiz no exercício das suas funções;

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b) - se se verificou, também depois daquele aludido trânsito, a falsidade de documento ou acto judicial de depoimento ou de declarações de peritos ou árbitros que terão determinado a decisão a rever, não tendo a matéria sido objecto de discussão nessa causa; c) - quando, ulteriormente ao mesmo trânsito, tenha surgido documento, não conhecido antes, que, só por si, leve a modificar a decisão a rever e em sentido mais favorável à parte vencida; d) - quando, por sentença transitada, tenha sido declarada a nulidade ou a anulabilidade de confissão, desistência ou transacção em que a sentença a rever se baseia; e) - quando, decorrendo a acção e a execução à revelia absoluta, se verifique que houve falta de citação ou nulidade da citação feita; f) - quando a decisão a rever seja inconciliável com decisão definitiva de instância internacional de recurso a que esteja vinculado o Estado Português; g) – quando o litígio assente sobre acto simulado das partes e o tribunal não tenha feito uso do poder que lhe é dado pelo art. 665º, por se não ter apercebido dessa fraude. Em todas as situações, o recurso é interposto de decisão já transitada em julgado. Onde se interpõe: no tribunal onde correu o processo em que foi proferida a decisão a rever (art. 772º-1). Prazo de interposição: não pode ser interposto se tiverem decorrido mais de 5 anos sobre o trânsito em julgado da decisão a rever (art. 772º-2). É interposto no prazo de 60 dias contados: 1) - do trânsito em julgado da decisão a que se alude em a); 2) - desde que se tornou definitiva a decisão em que se funda a revisão, para a hipótese de f); 3) – desde o conhecimento da sentença pelo recorrente, para a hipótese de g); 4) – nos restantes casos, desde a data em que o recorrente obteve o documento ou teve conhecimento do facto fundamento da revisão. Se se tratar de caso em que o recorrente seja terceiro incapaz que interveio no processo como parte mas através de legal representante (art. 680º-3, segunda parte), o prazo não finda nunca antes de ter decorrido um ano sobre a aquisição da capacidade pelo incapaz, ou sobre a mudança do seu representante legal (nº. 3). Se, todavia, se verificar demora anormal na tramitação da causa na qual se funda a revisão, e isso criar risco de caducidade, o

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interessado poderá interpor recurso mesmo antes de naquela ser proferida decisão, mas tem de requerer desde logo a suspensão da instância no recurso, até que essa decisão transite em julgado (art. 772º-4). Efeito:

Meramente devolutivo (art. 774º-4).

Tramitação (art. 773º): - por apenso; - o recorrente terá de alegar os factos constitutivos do fundamento do recurso; - na hipótese de se basear em simulação processual, o recorrente deverá indicar o prejuízo dela resultante para si (nº. 1); - nas hipóteses de a), c), f) e g) do art. 771º, o recorrente terá de, com a alegação, juntar certidão ou da decisão ou do documento em que se funde o recurso (nº. 2); - há lugar a despacho liminar que pode indeferir o recurso (art. 774º-1): - se ele não vier instruído como se deixou dito; - se se reconhecer que não existe motivo para a revisão. - se o recurso for admitido, é notificado pessoalmente o recorrido para, em 20 dias, responder (nº. 2). - o recebimento do recurso não suspende a execução da decisão recorrida (nº. 3). - logo em seguida à apresentação da resposta do recorrido, ou esgotado o prazo para apresentação dela, o tribunal conhece do fundamento da revisão após a observância das diligências que se considerem necessárias (art. 775º-1), mas

- nos casos de b), d) e g) do art. 771º seguir-se-ão os termos do processo sumário. - se for julgado procedente o fundamento da revisão, a decisão revidenda é revogada, e: a) – no caso de e) do art. 771º, são anulados os termos do processo posteriores à citação do réu e determina-se que este seja citado (art. 776º-1-a); b) – nos casos de a), c) e f) do art. 771º, é proferida nova decisão após feitas as diligências entendidas como absolutamente necessárias, e ambas as partes dispõem de 20 dias para apresentação de alegações escritas (art. 776º-b); c) – nos casos de b) e d) do art. 771º, ordena-se a observância dos termos necessários para a causa ser de novo instruída e julgada, aproveitando-se do processo o que não tenha sido prejudicado pelo fundamento da revisão (art. 776º-c). - na hipótese de g) do art. 771º, será anulada a decisão recorrida se for julgado procedente o fundamento da revisão (nº. 2).

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- da decisão, ou decisões, que sejam proferidas, cabem os recursos ordinários normais que caberiam na acção onde foi proferida a decisão revidenda (art. 772º-5). Consequências na execução da decisão revidenda: O recebimento do recurso não a suspende (art. 774º-3). Todavia, nem o exequente, nem qualquer credor poderá ser pago em dinheiro ou em quaisquer bens sem que preste caução (art. 777º).

DESENVOLVIMENTO DA INSTÂNCIA NO PROCESSO SUMÁRIO DE DECLARAÇÃO

Articulados: a) - Petição inicial - como no processo ordinário. b) - Contestação - como no processo ordinário, mas: - a apresentar em 20 dias a contar da citação (art. 783º). ADVERTÊNCIA – VEJA NO FINAL “PROCESSO EXPERIMENTAL”. c) - Não há réplica, mas pode haver: 1 - Resposta à contestação (art. 785º): - se tiver sido deduzida excepção na contestação, - para abordagem apenas da matéria de defesa por excepção, - a apresentar em 10 dias contados da notificação da contestação. 2 - Outra Resposta (art. 786º): - à reconvenção, ou - à contestação, se a acção for de simples apreciação negativa; - a apresentar no prazo de 20 dias contados da notificação da contestação. Sequência: - se os factos reconhecidos, em consequência de falta de contestação, determinam a procedência do pedido, o Juiz pode limitar-se a condenar o réu no pedido com simples adesão aos fundamentos invocados na petição pelo A. (art. 784º); - a audiência preliminar só se faz se a complexidade da causa ou a necessidade de funcionamento do princípio do contraditório o exigirem (art. 787º-1); - se for manifestamente simples a selecção da matéria de facto controvertida, ou se, não havendo lugar a audiência preliminar, o juiz pode não proceder à fixação da base instrutória (art. 787º-1 e 2); - se não houve lugar ao saneamento e condensação do processo, o juiz manda notificar as partes para, em 15 dias,

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apresentarem rol de testemunhas, requererem outras provas ou alterarem o rol que que tenham incluído nos articulados, e requererem, querendo, a gravação da audiência final (arts. 787º-3 e 791º-1 e 2), mas - o rol de testemunhas tem o limite de dez; - a cada facto só podem ser indicadas 3 testemunhas (art. 789º).

DESENVOLVIMENTO DA INSTÂNCIA NO PROCESSO SUMARÍSSIMO DE DECLARAÇÃO

"Articulados": - petição, sem necessidade de forma articulada, já com inclusão das provas a produzir, inclusive rol de testemunhas, com o máximo de 6 (arts. 793º e 796º-1); - contestação no prazo de 15 dias a contar da citação, a qual também deve incluir as provas, se rol de testemunhas, também no máximo de 6 (arts. 794º-1 e 796º-1); - a contestação é notificada ao A. (art. 794º-2). Sequência: - se as partes estiverem presentes ou representadas por advogado, o juiz procurará conciliá-las (art. 796º-1);

- a falta de alguma das partes ou de seus mandatários, mesmo justificada, não é motivo de adiamento da audiência final, e cabe ao Juiz decidir ou pelo adiamento ou pela suspensão da audiência, se faltaram testemunhas convocadas (art. 796º-2); - as testemunhas são apresentadas pelas partes a menos que elas tenham requerido a notificação delas (art. 796º-4) e inquiridas pelo Juiz quando não haja mandatário constituído ou este faltar (art. 796º-3); - as testemunhas são inquiridas pelos mandatários judiciais, se os houver e comparecerem (art. 796º-3); - não cabe recurso da sentença a não ser com fundamento em violação de regras da competência internacional, em razão da matéria ou da hierarquia, ou em ofensa de caso julgado, casos em que se pode recorrer de agravo para a Relação (art. 800º).

O PROCESSO SIMPLIFICADO

Encontra-se regulado no Dec.-Lei nº. 211/91, de 14 de Junho. Não pode ser usado em acções que tenham por objecto direitos indisponíveis (art. 1º). Existe uma única petição subscrita pelos mandatários das partes, se for obrigatório o patrocínio. \ A petição, que deve obedecer aos requisitos de toda a petição inicial, e nela:

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a) - as partes formularão as suas pretensões; b) - indicarão os factos sobre os quais estão de acordo, desde que se não trate de factos acerca dos quais o acordo seja legalmente impossível, ou factos para cuja prova exige certo documento; c) - indicarão os factos controvertidos; d) - tomarão posição quanto a questões de direito; e) - requererão logo as provas que querem produzir (art. 2º-1). As testemunhas são apresentadas pela parte que as indicou (art. 2º-2), mas, excepcionalmente, pode haver lugar a carta precatória para as ouvir (art. 2º-3).

PROCESSO DE INJUNÇÃO

Encontra-se regulado no regime aprovado pelo Dec.-Lei nº. 269/98, de 1 de Setembro, com alterações que foram introduzidas pelos Decs.-Lei nºs. 383/99, de 23 de Setembro, 183/00, de 10 de Agosto, 323/01, de 17 de Dezembro, 32/03, de 17 de Fevereiro, 324/03, de 27 de Dezembro, 107/05, de 1 de Julho, e Lei nº. 14/06, de 26 de Abril. A Injunção confere força executiva ao requerimento que visa obter o cumprimento efectivo de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior ao da alçada da Relação ou das obrigações emergentes de transacções comerciais abrangidas pelo Dec.-Lei nº. 32/03, de 17 de Fevereiro (art. 7º). O Dec.-Lei nº. 32/03 transpôs para a ordem jurídica portuguesa a Directiva nº. 35/CE/2000 do Parlamento Europeu, assim como a do Conselho de 29 de Junho (art. 7º). São “transacções comerciais” para os efeitos do Dec.-Lei nº. 32/03: quaisquer transacções entre empresas ou entre estas e entidades públicas, qualquer que seja a respectiva natureza, forma ou designação, que dêem origem ao fornecimento de mercadorias ou à prestação de serviços contra uma remuneração (art.3º-a). O pedido de injunção apresenta-se na Secretaria do tribunal do lugar do cumprimento da obrigação ou na do domicílio do devedor, à opção do credor (art. 8º-1), mas, se existirem tribunais de competência especializada ou de competência específica, deverão ser respeitadas as respectivas regras de competência (art. 8º-2). Poderão ser criadas secretarias judiciais ou secretarias-gerais para assegurarem a tramitação do procedimento de injunção (art. 8º-4). O procedimento passa por uma fase declarativa na qual se observa o princípio do contraditório.

O requerimento é apresentado na Secretaria Judicial aqui se

entregando em suporte de papel ou em ficheiro informático ou a ela se remetendo pelo correio sob registo (Portaria nº. 809/05, de 9 de Setembro, art. 1º). O formato e suporte do ficheiro informático podem ser encontrados na página informática de acesso público com o endereço www.tribunaisnet.mj.pt.

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É utilizado modelo próprio aprovado por Portaria do Ministro da Justiça, que actualmente é a Portaria nº. 808/05, de 9 de Setembro, e conterá (art. 10º-1):

a) - a identificação da secretaria a que se dirige;

b) - a identificação das partes; c) - a indicação do local onde a notificação deve ser

feita; d) - a exposição sucinta dos factos que fundamentem a

pretensão; e) - a formulação do pedido, discriminando o valor de

capital, de juros vencidos e doutras quantias que sejam devidas;

f) - a indicação da taxa de justiça paga;

g) – indicação, se for esse o caso, de que se trata de transacção comercial abrangida pelo Dec.-Lei nº. 32/03;

h) – a indicação do domicílio do requerente e do seu

endereço de correio electrónico, se pretender receber comunicações e notificações através deste meio;

i) – a indicação de pretender que o processo vá a

distribuição no caso de se frustrar a notificação; j) – a indicação de qual será o tribunal competente

para apreciação dos autos, se estes forem apresentados à distribuição;

l) – a indicação de que pretenda que a notificação se

faça por solicitador de execução ou por mandatário judicial e, caso afirmativo, indicação do seu nome e domicílio profissional;

m) – ser assinado.

Sequência: a) – durante o procedimento de injunção não se podem alterar os elementos que ficaram a constar do requerimento, designadamente o pedido (art. 10º-3);

b) – se o requerente fizer indicação de endereço

electrónico seu, as comunicações e notificações da secretaria ser-lhe-ão feitas por essa via (art. 10º-5);

c) – o requerimento pode ser subscrito por

mandatário judicial e, para o legitimar, bastará fazer-se nele a menção da existência do mandato e do domicílio profissional do mandatário (art. 10º-6);

d) – o requerimento só pode ser recusado (art.

11º):

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- se não se mostrar endereçado à secretaria judicial competente ou não indicar o tribunal competente se os autos vierem a ser apresentados a distribuição;

- se omitir a identificação das partes; - se não contiver o domicílio do requerente; - se não mencionar o lugar da notificação do devedor; - se não se mostrar assinado; - se não se mostrar redigido em português; - se não for apresentado no modelo próprio; - se se não mostrar que foi feito o pagamento da taxa devida; - se o valor for superior à alçada da Relação e dele não constar a

indicação de que se trata de transacção comercial abrangida pelo Dec.-Lei nº. 32/03;

- se o pedido se não ajustar ao montante ou à finalidade do procedimento;

f) – da recusa cabe reclamação para o juiz, que será o de turno se no tribunal houver mais que um (art. 11º-2); g) - recebido o requerimento, o secretário judicial notifica o requerido, por carta registada e com A/R, que, porém, será com uso de mera carta simples quando exista domicílio convencionado, para que ele, em 15 dias, pague ao requerente a importância pedida, acrescida da taxa de justiça por este paga, ou para, no mesmo prazo, deduzir oposição (arts. 12º-1, 12º-A-1 e 1º-2);

h) – a notificação conterá (art. 13º):

- os elementos constantes das alíneas a a i do art. 10º-2; - a indicação do prazo para oposição e sua forma de contagem; - a advertência de que, se não for feito o pagamento ou não for

deduzida a oposição, será aposta fórmula executória ao requerimento, o que facultará ao requerente a possibilidade de intentar execução;

- a advertência de que, não realizando o pagamento do pedido e da taxa de justiça paga pelo requerente, serão ainda devidos juros de mora desde a data de apresentação do requerimento e ainda juros da taxa anual de 5% a contar da data de aposição da fórmula executória;

- a indicação de que a oposição com falta de fundamento que o oponente não deveria ignorar determinará a condenação em multa de valor igual a duas vezes a taxa de justiça devida na acção declarativa.

i) - se se frustrou a notificação do requerido e

o requerente não tiver feito a indicação de que pretende que os autos sejam apresentados à distribuição, a secretaria devolve o expediente ao requerente;

j) – se não houver oposição, o Secretário

Judicial apõe no requerimento a carga “Este documento tem força executiva" (art. 14º-1); l) - o Secretário Judicial só pode recusar a aposição dessa carga se o pedido se não ajustar ao montante ou à finalidade do procedimento e dessa recusa cabe reclamação para o juiz (art. 14º-3 e 4); m) - aposta a fórmula executória, é devolvido ao requerente, pela secretaria, todo o expediente respeitante à injunção (art. 14º-5);

n) - se houver oposição, ou se não foi conseguida a notificação do requerido e o requerente indicara que

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pretende que o processo vá a distribuição, ou se se suscitar questão sujeita a decisão judicial, o Secretário apresenta os autos à distribuição imediata (art. 16º);

o) – tratando-se de hipótese em que se frustrara

a notificação do requerido, os autos só são conclusos ao juiz depois de o réu ter sido citado (art. 17º-2);

p) – com a apresentação do requerimento de

injunção há lugar ao pagamento imediato de taxa de justiça, que é de ¼ de UC se o pedido for de valor inferior a € 1.875,00, de ½ UC se o valor for igual ou superior a € 1.875,00 e inferior a € 3.750,00, de 1 UC se o valor for igual ou superior a € 3.750,00 e inferior a € 15.000,00, ou de 2 UCs. quando o valor seja igual ou superior a € 15.000,00 (art. 19º-1);

q) – se o procedimento tiver valor superior a €

30.000,00, acresce às 2 UCs., por cada € 15.000,00 ou fracção, e até ao limite máximo de € 250.000,00, metade da UC (art. 19º-2);

r) – se o procedimento seguir como acção, serão

devidas custas como no CCJ (art. 19º-3); s) – até à dedução de oposição ou até ao termo

do prazo em que ela poderia ter sido apresentada, o requerente pode desistir do procedimento (art. 15º-A-1);

t) – se houver desistência do pedido, a

secretaria devolverá ao requerente o expediente, e notificará dessa desistência o requerido se este já foi notificado do requerimento de injunção (art. 15º-A-2). Há, como se disse, lugar ao pagamento de taxa de justiça, prévio à apresentação. Ela pode ser paga através de estampilha, numerário, cheque visado ou sistema electrónico (Portaria nº. 810/2005, de 9 de Setembro) e nas secretarias judiciais em que seja possível o franquiamento mecânico ou informático, o seu pagamento pode fazer-se em numerário, cheque visado ou sistema electrónico. Se o requerimento de injunção for apresentado em ficheiro informático, o pagamento também poderá ser realizado por depósito em conta. A estampilha utilizável para pagamento da taxa devida é do modelo que saiu em anexo à citada Portaria nº. 810.

PROCESSO EXPERIMENTAL

Tendo em vista descongestionar o volume de pendências em Juízo em certos tribunais, o Dec.-Lei nº. 108/2006, de 8 de Junho, aprovou um regime processual experimental que é o aplicável: a)- às acções declarativas cíveis a que não corresponda processo especial, b) – às acções especiais para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos (art. 1º). Entrou em vigor em 16 de Outubro de 2006.

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Este regime aplica-se apenas nos tribunais que sejam elencados em Portaria do Ministério da Justiça (art. 21º-1), e quanto às acções e procedimentos cautelares intentados, assim como às acções apresentadas a distribuição a partir de processos de injunção, tudo a partir de 16 de Outubro de 2006 (art. 22º).

A Portaria nº. 955/2006, de 13 de Setembro, designou como tribunais nos quais deve ser usado este processo os Juízos de Competência Especializada Cível da comarca de Almada, os Juízos Cíveis e os Juízos de Pequena Instância Cível da comarca do Porto e os Juízos de Competência Especializada Cível da comarca de Seixal.

Trata-se, porém, dum regime que irá ser reavaliado ao fim do prazo

de dois anos (art. 20º-2) e no qual cabe ao juiz a direcção do processo ao nível de adequar a tramitação processual ao caso, de evitar a prática de actos que se ante-olhem inúteis e de agilizar o processado (art. 2º).

Em geral: a) – a distribuição é diária (art. 4º-1); b) – os actos processuais, mesmo os que as partes devam praticar

por escrito, são praticados electronicamente (art. 3º); c) – a citação edital faz-se por publicação de anúncio em página

informática de acesso público, quando o réu tenha sido indicado como ausente em parte incerta, haverá também afixação de edital na porta da sua última residência no País, e, se a citação edital for causada por incerteza das pessoas a citar ou estas sejam herdeiras ou representantes de pessoa falecida, outro edital será afixado na porta da última residência do falecido, se for conhecida, e no País (art. 5º-1, 2 e 3);

d) – há lugar à possibilidade de agregação de acções para a prática de actos processuais em conjunto (arts. 6º e 7º), quando se verifique haver os pressupostos de litisconsórcio, de coligação, da oposição ou da reconvenção;

e) – a agregação de acções pode ser determinada a requerimento de parte ou por iniciativa oficiosa do juiz.

Processado: a) – contestação a apresentar no prazo de 30 dias a contar da

citação (art. 8º-2), sendo admissível, entre outras formas de citação, a citação edital (veja supra c));

b) – só há lugar a resposta à contestação, a apresentar no prazo de 30 dias a contar da notificação da contestação, quando, nesta, tenha sido deduzida reconvenção ou quando a acção seja de simples apreciação negativa (art. 8º-3);

c) – quando o patrocínio judiciário não for obrigatório, os articulados não precisam de revestir a forma articulada (art. 8º-4);

d) – é com os articulados que as partes devem requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do tribunal colectivo, apresentar o rol de testemunhas (não além de 10), com discriminação dos factos a que cada uma deporá (no máximo, 3 a cada facto), e requerer outras provas (arts. 8º-5 e 11º-1 e 3);

e) – se for deduzida reconvenção, podem arrolar-se mais 10 testemunhas para prova dos respectivos factos ou factos de oposição a esta (art. 11º-2);

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f) – a parte a quem seja oposto o último articulado admissível poderá, em 10 dias a contar da notificação deste, alterar o seu requerimento probatório (art. 8º-5);

g) – é facultado às partes apresentar petição conjunta, para saneamento (art. 9º-1 e 2);

h) – se o autor notificar, sob registo postal, a pessoa que pretende demandar, antes de propor a acção, tendo em vista apresentação de petição conjunta e cumprindo esta notificação os requisitos legais, e o notificado recusar a apresentação de petição conjunta ou nada responder em 15 dias a contar da notificação, implicitamente renuncia ao direito de compensação e reembolso das custas de parte a cargo da parte que vier a ficar vencida, e, se o autor for o vencedor, a procuradoria a que terá direito é fixada no máximo legal (art. 9º-3 e 4);

i) – tem carácter urgente o processo introduzido por petição conjunta (art. 9º-5);

j) – o juiz profere despacho saneador, nele conhecendo logo das excepções dilatórias e das nulidades suscitadas pelas partes ou de que deva oficiosamente conhecer, assim como do mérito da causa, se o estado desta o permitir (art. 10º-1);

k) – se a causa não puder ser desde logo decidida, o juiz ordena a prática dos actos e diligências necessários, designadamente a convocação de audiência preliminar para selecção da matéria de facto ou exercício do contraditório e marcação de data para a audiência final (art. 10º-2);

l) – são as partes quem tem de providenciar pela comparência das testemunhas na audiência, a menos que, no requerimento de prova, tenham pedido a notificação delas ou a sua inquirição por tele-conferência (art. 11º-5);

m) – há a admissibilidade de apresentação dos depoimentos por escrito (art. 12º);

n) – além da hipótese que se referiu em h), o processo também passará a ter carácter de urgente quando as partes apresentem acta de inquirição por acordo de todas as testemunhas arroladas (art. 13º);

o) – a menos que exista justo impedimento, a falta de parte ou de mandatário à audiência não é motivo para adiamento desta (art. 14º-1);

p) – na sentença decide-se a matéria de facto, o que pode ser feito por simples remissão para as peças onde se contenha, e limita-se à parte decisória, após a identificação das partes e sumária fundamentação do julgado (art. 15º-1 e 2).

Se houver procedimento cautelar, e dele constarem os elementos

necessários à definitiva resolução do caso, ouvidas as partes, poderá o tribunal antecipar o juízo acerca da causa principal (art. 16º).

As regras referidas como gerais são aplicáveis aos procedimentos cautelares assim como às acções declarativas com processo especial (art. 17º).

O Modelo de notificação para apresentação conjunta da petição deste processo é o aprovado pela Portaria nº. 1096/2006, de 13 de Outubro.

A citação edital a que se refere o art. 5º do Dec.-Lei nº. 108/2006 está regulamentada pela Portaria nº. 1097/2006, de 13 de Outubro: o sítio da Internet de acesso público tem o endereço http://www.tribunaisnet.mj.pt e o anúncio deve especificar a acção, indicar o autor e o pedido deduzido, o tribunal onde corre o processo,

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juízo e secção, o prazo para a defesa, a dilação e a cominação, a data da publicação e a explicitação de que o prazo para apresentação da defesa só começará a correr finda a dilação e esta se contará a partir da data de publicação do anúncio.

ADVERTÊNCIA - a consulta destes tópicos de maneira alguma dispensa a análise e estudo das disposições do Código de Processo Civil e demais legislação conexa.

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